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Dossiê Sapopemba Relatório a ser entregue às Organizações de Defesa de Direitos Humanos acerca da atuação da Polícia Militar de São Paulo junto à população do Bairro de Sapopemba

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Dossiê Sapopemba

Relatório a ser entregue às Organizações de Defesa de Direitos Humanos acerca da atuação da Polícia Militar de São Paulo

junto à população do Bairro de Sapopemba

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Centro de Direitos Humanos do Sapopemba Ação dos Cristãos Para a Abolição da Tortura

Dossiê Sapopemba: Relatório a ser entregue às Organizações de Defesa de Direitos Humanos acerca da atuação da Polícia

Militar de São Paulo junto à população do Bairro de Sapopemba

São Paulo 2005

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Até Quando?

Este Documento - Denúncia, é fruto de uma saudável e responsável parceria entre duas ONGs (Organizações Não-Governamentais) que lutam , pesquisam e buscam incansavelmente o cumprimento sagrado dos Direitos Humanos.Ele retrata fielmente, com dignidade e respeito, o sofrimento que há muito tempo tem sido submetido à população abandonada da periferia de São Paulo, pela Segurança Pública. Nele aparece com clareza, transparência e até com certa rudeza, os traumas causados por uma policia violenta nessa população. Com toda certeza, este documento atingiu ,entre outros , os objetivos a que se propôs o Centro de Direitos Humanos de Sapopemba e a ACAT-Brasil-Ação dos Cristãos pela Abolição da Tortura.Ele retrata a realidade nua e crua de uma situação, como também provoca para uma ação defensiva, consciente e corajosa entre a população alvo, aqueles que não tem voz nem vez,despertando-os para contribuir numa transformação de tudo que nos oprime, principalmente ações dos policiais violentos, pagos por nós e que se voltam contra nós, sem compreender que também são alvos dessa situação de violência.

Como membro de uma organização cristã, me sinto na obrigação de transcrever o Salmo5:”Deus faz justiça ao inocente.

Javé , escuta minhas palavras, leva em conta meu gemido. Ouve atento meu grito por socorro,meu Rei e meu Deus! É a ti que eu suplico Javé!

Pela manhã ouves a minha voz; pela manhã apresento minha causa, e fico esperando... Tu não és um Deus que ame a injustiça.O malvado não é teu hospede. Não, os

arrogantes não se mantêm na tua presença. Odeias todos os malfeitores e destróis os mentirosos.Javé rejeita o homem sanguinário e

traiçoeiro. Quanto a mim, por teu grande amor, eu entro na tua casa.Cheio de temor, eu me

prostro voltado para o teu sagrado santuário. Guia-me Javé, com tua justiça, por causa dos que me espreitam.Endireita na minha

frente o teu caminho! Pois eles não falam com sinceridade, e o seu intimo esta cheio de maquinações.

Sua garganta é um tumulo aberto e sua língua é aduladora. Declara-os culpados, ó Deus.”

Isabel Peres- Educadora Popular e Coordenadora Emérita da ACAT-Brasil.

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MENINOSEU VI! Eu vi Grace Kelly com sua perna quebrada, por não saber se comportar durante a

revista policial. Esta menina de cinco anos, na certa é muito perigosa!

Esta meliante agora treme de medo quando ouve a sirene da policia, pois viu sua mãe ser ameaçada com revolver, e ouviu tiros, e ouviu gritos, e foi pisoteada ...

Meninos eu vi! Dois jovens adolescentes iniciando sua vida conjugal, num pequeno cômodo sobre uma mina de esgoto,em piso de chão batido de terra.A mulher grávida de três meses lavando

roupa.A quase menina executando tarefas de mulher feita,brincando de casinha.O quase menino trabalhando como homem,provendo seu lar.

Meninos eu vi! Este casal tendo seus sonhos roubados,sua casinha de boneca sendo maculada pela intromissão daqueles que juraram protegê-los de todo mal!Aqueles que prometeram

zelar pela paz deles e de todos!A casinha de boneca virou a torre da bruxa malvada.A casa não é mais um lar!

Meninos eu vi! Crianças de alta periculosidade do alto de seus três ou quatro anos treinando para a

maratona de corrida da policia que enfrentarão no futuro, pois a policia só está fazendo prevenção...

Meninos eu vi! As crianças de escondendo entre as pernas de suas mães, trêmulas e assustadas diante da presença anunciada da policia, implorando para se abrigarem dentro de casa para

não serem importunados! As saias de suas mães eram o único refugio seguro!Era o abrigo contra o perigo!

Meninos eu vi! A mãe que serenamente cuidava de seus filhos doentes mentais que lhe destroem a

casa!A mesma mãe que elabora estratégias para preservar os parcos recursos disponíveis para o sustento de seus cinco filhos das garras implacáveis dos policiais, que roubem e

extorquem as famílias sem pudor.Seus sessenta reais estão bem guardados!Eles já tentaram, mas não é fácil vencer aquela que dribla todos os dias os surtos de suas crias!

Meninos eu vi! Mãe menos prevenida, crédula nas instituições de segurança publica ,ser roubada por aqueles que prendem ladrões.Sua mesa gozava de relativa fartura hoje mingua!Seu

filho foi arrancado da cama após dia de trabalho e tratado como perigoso traficante.Sua nora desrespeitada em sua nudez e levada como perigosa à comunidade!

Meninos eu vi! Gente pobre, sofrida, decente, tratada com indecência e crueldade!

Pessoas jovens e adultas,grandes e pequenas,aprendendo como se comportar no futuro quando forem bandidos de verdade!

Darlene Dias da Silva

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SAPOPEMBA:ESTADO DE SÍTIO Este documento pretende trazer à luz a barbárie instalada no bairro de

Sapopemba pelos órgãos oficias de Segurança Pública de São Paulo.Em nome de um Programa de Prevenção,atacam os moradores mais humildes daquela região, submetendo-os a tratamento cruel e degradante simplesmente por que são pobres.Usam da prática de tortura e abuso de poder, com o propósito de aumentar números estatísticos que poderão dar credibilidade a uma política de segurança pública desacreditada e desprestigiada na cidade. Segue abaixo alguns relatórios que ilustram um pouco do muito que tem acontecido.

“Pelo amor, pelo pão, pela libertação,

pela paz, Pelo ar, pelo mar, navegar, descobrir outro dia, outro sol. Hoje eu canto a balada de um lado sem luz a quem não foi permitido viver feliz e cantar como eu “(Gilberto Gil)

Atendendo ao convite do Centro de Direitos Humanos de Sapopemba

(CDH), dois membros da Acat-Brasil estiveram no local. O objetivo da visita era

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escutar as vítimas que sofreram abuso e violência de policiais militares. Dentre os moradores que sofreram violência, apenas nove (09) pessoas registraram os fatos. Sabe-se que muitas outras pessoas tiveram suas casas invadidas, mas por medo da repressão policial não quiseram registrar a ocorrência.

Os moradores que estavam reunidos na sede do CDH relataram que os policiais militares invadiram suas casas reviraram tudo o que havia, e levaram inocentes presos sem ordem judicial. Nos relatos duas moradoras denunciaram que os policiais além das barbáries cometidas levaram também valores em dinheiro. De uma das moradoras foi levado R$6.000,00 (seis mil reais). Valor adquirido da venda de uma casa. Além de levarem o dinheiro, levou também um de seus filhos preso alegando ser traficante. A vítima conta que antes de levá-lo preso os policiais bateram muito em seu filho na sua frente. Ela conta ainda que o filho ajuda muito nas despesas da casa, que os dois catavam papelão e vendiam pano de prato para sobreviverem. Hoje ela está passando dificuldades e com a saúde debilitada, pois é diabética. Desde o fato ocorrido não tem sido possível controlar a diabetes. Lamenta a prisão do filho e que até o momento não conseguiu visitá-lo. Ele está preso na Cadeia Pública de Santo André.

De outra moradora levou R$150,00 (cento e cinqüenta reais), valor recebido do seguro desemprego. Além de levarem seus documentos, ela denuncia que os mesmos foram colocados junto com drogas pelos policiais com o propósito de insinuar que ela estivesse envolvida com tráfico, e assim foi denunciada por tal crime; relata que desde aquela noite não tem conseguido se sentir tranqüila. Diz que não tem dormido bem, tem cefaléia constante e tremores no corpo. Não tem voltado mais à sua residência. Na noite em que tudo aconteceu, ela e seus filhos dormiram na casa de sua mãe. Hoje ela tem medo de retornar, pois teme que os policiais voltem para lhe fazer outro mal maior.

Todos os moradores ouvidos denunciaram a violência com que os policiais agiram. Um jovem de dezessete anos (17), conta que os policiais queriam que ele confirmasse que havia droga em sua residência. Quando ele disse que não tinha e que nem era usuário, os policiais lhe deram coronhadas na frente da mulher grávida de três (03) meses. Os policiais o levaram para um local onde ninguém podia vê-los, o pegaram pelo pomo de Adão e o levantaram por três (03) vezes. Ele relata que desde então tem dificuldades para engolir, inclusive líquido. Conta que como tinha acabado de receber uma quantia de R$100,00 (cem reais) por um serviço prestado, os policiais queriam levar este valor. Chegaram a propor que deixariam R$20,00 (vinte reais). Desistiram quando outras pessoas chegaram.

Terminada a reunião no CDH, a equipe da ACAT-Brasil foi convidada pela advogada do CDH para conhecer o bairro onde os fatos ocorreram. Logo na entrada do bairro se depararam com uma base da polícia militar. Como já era fim do dia, a cavalaria que é usada para adentrar nas vielas do bairro, estava sendo recolhida, porém havia várias viaturas no local. A advogada que acompanhava os membros da Acat-Brasil conta que a entrada principal do bairro é fechada por viaturas e que um grupo de policiais entra para fazer as “vistorias e apreensões”.

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Durante a visita a equipe conheceu um salão comunitário do CDH onde são oferecidas atividades de geração de renda para as crianças, jovens e adultos. No momento da visita, um grupo de mães preparava brindes, bolos e doces para celebrar o dia das crianças. Também se encontrava um grupo de jovens orientados por um monitor voluntário, aprendendo a confeccionar faixas e cartazes.

Continuando a visita pelas vielas do bairro, a equipe presenciou uma “batida” do Grupo do COE – Comando de Operações Especiais - (viatura de placa: CDV 8944) a um grupo de jovens em frente da residência de um deles. Junto ao grupo havia uma criança de aproximadamente três (03) anos. Quando ela avistou o grupo do COE descendo da viatura com armas em punho, a criança saiu correndo em direção a sua casa. Corria com desespero e podia se notar sua palidez e seus olhos esbugalhados tomados pelo medo. Os jovens foram colocados com o rosto voltado para a parede e os braços para o alto por mais de meia hora, deixando-os constrangidos e humilhados. O grupo do COE aborda e vistoria a todos, não encontra nada em poder dos mesmos. Foi solicitado documentos dos jovens, todos apresentam os respectivos documentos; ao mesmo tempo um policial anota numa prancheta as informações contidas nos documentos. Enquanto a batida acontece, um jovem numa moto é impedido de prosseguir viagem. Deste também foi solicitado os documentos e ficasse com o rosto voltado para a parede. Após conferência e contato feito via rádio, o jovem foi liberado.

Em seguida a equipe da ACAT-Brasil visita uma residência onde se encontra um senhor com AVC (Acidente Vascular Cerebral). São informados que a doença foi provocada devido A INVASÕES REPETIDAS por policiais. Hoje ele está inválido e com Pressão Arterial Alta, tendo que fazer uso contínuo de medicação, necessitando de cuidados.

As pessoas que tiveram suas casas invadidas demonstram muito medo, pois temem pelo pior. Com a presença policial no bairro os moradores sentem-se inseguros. Sintomas de estresse pós-traumático na maioria das pessoas ouvidas. Sintomas de seqüelas mentais e psicológicas de tortura em todas as pessoas que sofreram violência policial.

Curiosamente, depois da violência ocorrida nessa região, todos que foram listados durante as batidas (abordagem policial), detidos ou não, tiveram dificuldades para novas colocações de emprego, o que pode evidenciar uma interferência na inserção no mercado de trabalho daqueles moradores.

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(revista em jovens de Sapopemba)

Eu nem sei já se confio na polícia ou no ladrão” .(Gonzaguinha)

(V.A.A.) Idade 25 anos. HISTÓRICO

Em 17 de outubro de 2005, compareceu à sede da ACAT-Brasil, V.A.A. 25 anos, brasileira, solteira, mãe, auxiliar de limpeza. Declara que em 9/09/2005 por volta das 17:00h ao retornar da Creche da Penha onde se encontrava seu filho, deparou-se com policiais militares que estouraram o cadeado da porta de sua residência entrando sem ordem judicial.

Muito assustada, foi para a residência de sua mãe, próxima à sua. Conta que de lá se ouvia muito barulho e que, os policiais ao irem embora, foram vistos por sua mãe e um deles se encontrava com uma sacola de papel nas mãos. Com medo de permanecer na residência da mãe, em companhia de sua irmã se deslocou até uma padaria nas imediações, permanecendo por lá até que os policiais fossem embora da área.

Retornando à sua residência, encontrou tudo revirado, inclusive sua bolsa que se encontrava em cima do sofá e que ao conferir seus pertences sentiu falta de seus documentos (RG, Carteira Profissional e Guia do Seguro Desemprego), bem como uma quantia de R$150,00 (cento

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e cinqüenta reais), parte do valor recebido da parcela do Seguro Desemprego.

Com medo do que podia acontecer, pegou seus filhos e voltou para residência da mãe, permanecendo lá até o dia seguinte quando soube que dois (02) adolescentes foram presos e acusados por tráfico de drogas nas imediações. Ficou sabendo também que seu nome consta no boletim de ocorrência, pois os policiais alegaram que foram até sua residência e encontraram 12 (doze) papelotes de “maconha”.

Declara que não tem e nunca teve qualquer envolvimento com uso,abuso ou comércio de drogas de que está sendo acusada; e que não conhece os adolescentes que foram detidos. Desde o ocorrido, não retornou mais para sua residência, temendo que os policiais voltem lá e façam coisas piores com ela e com seus filhos. Quando os policiais invadiram a favela ,agredindo e ameaçando os moradores já estava com muito medo; quando invadiram sua casa, apropriaram-se de seus pertences e envolveram-na com acusações graves, ela não conseguiu mais chegar perto da favela. DO EXAME

Refere que: “Às vezes eu deito na cama e vem aquela cena deles no beco dentro de minha casa...

Quando eu vejo polícia eu fico assustada e com tremores, fico com muito medo, vejo esta cena várias vezes ao dia, principalmente quando eu deito”.

Relata que acorda assustada, que fica irritada sem motivo:

“Eu não estou mais com minhas crianças porque se elas começam a chorar muito eu começo a bater nelas e não quero parar... quando eu vou perceber não é aquilo que eu queria fazer. Notei que meu filho se afastou de mim, e quando pergunto se ele gosta de mim ele diz que gosta de minha mãe e minha irmã porque agora eu bato nele...antes não era assim.”

Refere cefaléia constante, tremores no corpo, dificuldades para

dormir. “Tenho dificuldades de ficar sozinha em casa, não quero sair de casa e tenho medo de

ir na casa de minha mãe, porque é na favela e eu tenho medo que eles me reconheçam”.

Fala que tem medo de tudo. “Eu tenho que fazer tudo na hora. Eu falto de paciência com tudo”.

Afirma ainda: “Eu fui tão certa sempre perante a justiça e de repente isto acontece justo comigo,

sempre evitei de fazer qualquer coisa errada. Não entendi até hoje, esta injustiça destruiu tudo que eu amo; minha família ficou abalada, meus filhos longe de mim e meu barraco que era simples, mas era meu, acabou. Eu trabalhava para manter e agora nem trabalho mais... Minha vontade é sumir do mundo”.

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Associa toda esta violência à sua situação econômica:

“Se eu fosse rica ou morasse num bairro de classe média, eles não invadiriam minha casa, eles tinham que ter um mandado para entrar.”

Diz que está escondida, com medo, porque ela falou sobre o assunto.

Receia que eles venham a lhe fazer mal: “Podem me matar ou forjar droga em mim”.

Vive angustiada e com medo porque seus documentos (RG, Carteira de

Trabalho e Guia do Seguro Desemprego) estão nas mãos dos policiais que disseram tê-los entregue no 70° DP. Diz que no dia (09 de setembro de 2005) levaram R$150,00 dela, referente à parcela recebida do Seguro Desemprego.

“Pobre, favelada e sem documento é cadeia na certa; e o pior, é que quem roubou os documentos é

a própria polícia que prende”.

V.A.A. atualmente está morando de favor na casa de uma amiga em bairro distante. Receia nos fornecer o endereço atual com medo de que os policiais descubram onde ela está e venha a praticar novas violências ou forjar algum ato ilícito atribuindo-lhe a responsabilidade. CONCLUSÃO

Trata-se de um caso típico de abuso de poder policial, com violação dos direitos individuais e de propriedade, invasão de domicílio sem mandado de busca tendo como conseqüência uma violência psicológica grave alterando toda a estrutura psíquica e moral.

. Sofre hoje de stress pós-traumático e concomitante transtorno depressivo

grave. Há perda de referência e conflito de identidade que geram insegurança com conseqüências imprevisíveis para ela, seus filhos e familiares. Apresenta alteração do sono, perda da concentração, irritabilidade, flash-back (vivência repetida do evento traumático) e sentimento de impotência. Toda esta sintomatologia nos leva a crer que este quadro evoluirá para uma modificação duradoura da personalidade.

No momento está sendo indicada para psicoterapia semanal e tratamento medicamentoso com antidepressivos. Os documentos que se encontram no 70º DP ainda não foram devolvidos, o que prejudica o tratamento medicamentoso, pois necessita dos mesmos para usufruir do atendimento médico, conforme a legislação vigente no país.

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(fechamento das ruas de Sapopemba pelos Policiais)

“E um grande silêncio fez-se dentro do seu coração.

Um silêncio de martírios, um silêncio de prisão. Um silêncio povoado de pedidos de perdão,

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um silêncio de tortura e gritos de maldição, um silêncio de fraturas a se arrastarem no chão.”

(Vinicius de Moraes)

(R.S. 34 anos) DADOS PESSOAIS

R.S., 34 anos, moradora de Sapopemba, São Paulo/SP, casada, catadora de papel para reciclagem. HISTÓRICO

R.S. conta que em 15/09/2005, foi buscar seu filho A, de 15 anos, às 19 horas, no colégio em que ele estuda. O adolescente havia chegado de uma excursão com outros colegas e não queria voltar sozinho para casa por medo de encontrar os policiais que invadiram a favela e estavam agredindo verbal ou fisicamente pessoas que passavam pela rua:

“Ele tinha medo, pois já tinha sido zoado várias vezes, quando a policia o encontrava”.

Quando estavam descendo, já na rua de sua casa, alguns policiais passaram correndo atrás de alguns rapazes e um deles parou exigindo que a família encostasse na parede e pôs o revolver em R.S.; estavam R.S., seu marido, seu filho A. e sua filha G. de apenas 05 anos. Enquanto estavam sendo revistados, os policiais mandaram que pusessem as mãos na parede, ameaçando marido e filho:

“Nós ficamos no cantinho calados e com muito medo porque a polícia não tem respeito por ninguém”.

Enquanto eram revistados, um outro policial veio correndo, derrubou

G. de 05 anos, pisoteando-a .Em seguida. G.de 05 anos começou a chorar reclamando não poder se levantar e somente depois que os policiais saíram que puderam socorrer sua filha:

“Mesmo sabendo que tinham quebrado o pé de minha filha de 05 anos, os policiais não se importaram nem deram socorro”.

R.S. refere que foi até sua casa levando G. no colo enquanto a menina

chorava de dor e medo; Os vizinhos se negaram a socorrer à menina , temendo represálias da policia. O pai também ponderou não ser prudente qualquer atitude, temeroso de outras conseqüências.

Ao ver o estado em que se encontrava a perna dela “inchada e com um buraco”, pediu carona para o motorista de um ônibus que a levou até o Hospital do Jardim Iva.

No Hospital, constatou-se fratura na perna esquerda, sendo imobilizada com gesso, tendo retorno agendado para 10/11/2005. Refere que

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o médico prescreveu medicação, porém, como não tinha dinheiro para comprar os remédios, saiu pedindo para os vizinhos.

Cita que, G. de 05 anos tem muito medo de sair de casa e que às vezes fica gritando e chorando dizendo que os policiais vêm novamente pegá-la e não quer sair de perto de sua mãe, além de não estar freqüentando a EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil).

“Ela fica 24 horas no meu pé, não quer comer, não quer ir para a escola e tem medo de tudo”.

Refere ainda que o filho de 15 anos tem sido vítima de revistas policiais constantes, e que por medo pediu que a mãe passasse a buscá-lo na saída da escola. COMPOSIÇÃO FAMILIAR : Casal e quatro filhos RENDA FAMILIAR :

A família vivia como “catadores de papel”, conseguindo no máximo R$10,00/dia SITUAÇÃO DE MORADIA :

Família reside em barraco de madeira.

EXAME PSIQUICO R.S. veio à entrevista acompanhada de sua filha G. de 05 anos, que se

encontra com a perna engessada. R.S. está consciente, embora demonstre sinais depressivos ao falar. Refere as mudanças que aconteceram na sua vida após o ocorrido:

“Eu entrei em angústia e não tiro da minha cabeça o que ocorreu; vejo o policial pisando na perna de minha filha, tenho pesadelos com isso, tenho medo de sair de casa e fico chorando quase todo o tempo”.

QUANTO A SUA RELAÇÃO COM O MARIDO

Refere que ficou muito revoltada de ver a perna quebrada de sua filha e aceitou denunciar, porém, seu marido pediu para que não o fizesse, pois tem medo que os policiais voltem e matem a ele e a seu filho; prefere deixar como está e não aceitou que ela denunciasse dizendo que já bastava o sofrimento que a filha estava passando:

“Você sabe que quando a policia sabe que alguém denunciou vem aqui e mata”.

Diz que após o ocorrido quer que o marido vá embora de casa.

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QUANTO A SUA RELAÇÃO COM OS POLICIAIS

Refere ter medo e raiva quando vê os policiais; já tinha havido uma ocasião em que ela estava voltando da pré-escola com sua filha G. e eles passaram atirando muito e que para se salvar saiu correndo:

“Eles não respeitam idoso, não respeitam mulheres nem crianças; são muito estúpidos, xingam os

outros e já tentaram bater no meu filho de 15 anos”. Finalmente, R.S. nos conta que apesar de ter denunciado não mostra sua

fisionomia como medo de ser reconhecidas e morta: “Eu só tenho medo de deixar meus filhos para os outros criarem”.

O quadro apresentado pela vitima enquadra-se como típico de

transtorno do estresse pós-traumático e depressão, sendo necessário uso de medicação antidepressiva e ansiolíticos, bem como psicoterapia de apoio.

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G., 5 ANOS DE IDADE, VÍTIMA DE VIOLÊNCIA POLICIAL

Durante a entrevista, a criança referiu que ficou com medo quando os policiais mandaram sua mãe ficar com as mãos para o alto e diz que não gosta da policia:

“Ele quebrou meu pezinho, ficam atirando e brigam com minha mãe”.

G. mostra-se assustada quando fala sobre o assunto. Anda com muita dificuldade em virtude do gesso na perna esquerda que já está esfarelando.

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PROVIDÊNCIAS SOCIAIS Feito contato com a unidade de saúde e solicitada à A. enfermeira, visita

domiciliar pela equipe do Programa de Saúde da Família para acompanhar as questões de saúde da família, especialmente da menina. Caso elegível para benefícios sociais, inclusive em caráter reparatório.

CONCLUSÃO

Vemos que os policias que representam o Estado não respeitam os direitos e as leis da constituição. Chegam a agredir uma criança de 05 anos, ameaçarem seus pais e irmãos (todos menores) sem respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente e as leis vigentes no país. A impunidade faz com que os policiais ameacem e agridam a população da periferia. Neste caso em questão, vemos o Estado responsável diretamente pela fratura da perna de G. de apenas 05 anos de idade, bem como pelas conseqüências físicas ,psicológicas e sociais que resultaram de mais esta violência policial.

Todos os policiais envolvidos nessa ação violenta contra esta família devem responder criminalmente, não só por agredir fisicamente uma criança, como também por omissão de socorro.

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(residência típica da região)

“Para que o dia que o sofrimento degrada, não vos seja chorado, mendigado”

(V.Miacoviski)

(M.C.C.S.) DADOS PESSOAIS:

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M.C.C.S., brasileira, casada, do lar, – Sapopemba, São Paulo. HISTÓRICO:

Compareceu na sede Ação dos Cristãos para a Abolição da Tortura (ACAT-Brasil) no dia 17/10/2005, encaminhada pelo Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Sapopemba (CDHS).

Refere que no dia 16/09/2005, às 02:00h, da manhã, sua residência foi invadida. Relata que neste horário todos os membros de sua família dormiam, quatro crianças e três adultos. Sua casa foi invadida por quatro (04) policiais militares pertencentes à ROTA (RONDA OSTENSIVA TOBIAS DE AGUIAR); um dos policiais portava duas armas que foram apontadas e encostadas no seu peito; depois disso os policiais subiram à escada indo até o quarto do seu filho, S., sendo que ele estava dormindo. Os policiais acordaram S. com tapas, socos e chutes; gritavam com ele: “CADÊ A DROGA?”, “CADÊ O DONO DA BOCA?”, “ONDE É O BARRACO QUE ESTÁ GUARDADO A DROGA?” Seu filho dizia que não tinha droga em sua casa, que não sabia de nada; quanto mais negava mais apanhava. Enquanto um policial interrogava e batia em seu filho, seus netos viam o que acontecia e ficaram apavorados, chorando e tremendo muito. Depois que bateram bastante no seu filho, ordenaram que ele ficasse sentado na cozinha; foram no quarto e pegaram sua nora, mulher de seu filho, e colocaram junto com S. A partir daí começaram novamente a bater nele e diziam que se S. não falasse onde estava a droga e quem era o dono da “boca”, iriam “forjar um 12” nos dois, que para eles era fácil, diziam:

“Nós temos tudo dentro do carro pra te ferrar”. Após revirar toda a casa os policiais encontraram a quantia de R$

900,00 (novecentos reais), dinheiro destinado à compra de material de construção, pois está construindo uma casa,em poder de seu filho. Um policial ficou com S. e a sua esposa,e os outros a levaram para dentro da casa querendo saber se tinha mais dinheiro ou se havia droga. M.C.C.S.disse que só tinha o dinheiro da venda de uma casa em Guaianazes; depois disso foi posta para fora de casa, ficando os policiais sozinhos revirando tudo; AO SAIR LEVARAM SEU FILHO S. PARA A VIATURA SEM DIZER PARA ONDE O ESTAVAM LEVANDO NEM POR QUÊ. Os policiais também levaram 04 aparelhos celulares velhos inutilizados , celulares que deu para seus netos brincarem.

Quando compareceu na Delegacia ficou sabendo que seu filho estava sendo acusado por tráfico de drogas; que os policiais apresentaram (08) OITO CELULARES e não QUATRO que tinham pegado em sua casa; constatou que foi entregue somente R$ 900,00 (novecentos reais). M.C.C.S. refere que tinha em casa R$ 5.975,00, sendo que R$ 75,00 (setenta e cinco reais) que estavam em sua bolsa, R$ 5.000,00 (cinco mil) reais que estavam dentro de uma meia, na gaveta de uma cômoda, mais os R$ 900,00 que estavam com o filho para comprar material de construção.

Portanto a quantia em dinheiro que os policiais deveriam apresentar para a Autoridade Policial era no valor de R$ 5.975,00 (cinco mil, novecentos e setenta e cinco) reais, e em relação aos celulares, conforme disse somente tinham quatro e não oito aparelhos que os policiais apresentaram no Distrito Policial.

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DO EXAME:

M.C.C.S. veio para a entrevista mostrando-se cooperativa, consciente, apesar da face depressiva e olhar amedrontado.

Demonstra revolta ao ser indagada sobre como se sente após a invasão da polícia na sua casa; refere que houve uma época em que ela confiava na policia; após o ocorrido não aceita o que foi feito:

“Eles só invadiram a minha casa e levaram meu filho porque somos negros e pobres”, afirma. “Antes dos policiais invadirem minha casa eu pesava mais de cem quilos e agora peso uns 60

quilos”.

Mostra fotografias em que estava obesa, apresentando perda acelerada de peso. Afirma ter muita dificuldade para dormir; sua diabete piora mesmo sob uso de medicação. Apresenta crise constante de choro, principalmente quando lhe vem à mente as injustiças que estão fazendo com seu filho.

“Lembro na hora que meu menino estava dormindo e os policiais armados invadiram minha casa aos berros, apontando as armas pra gente, pisando nos meus netos que acordaram muito assustados sem saber o que estava acontecendo. Os policiais reviraram tudo que podiam e puxaram meu filho da cama com a mulher que dormia ao seu lado, quase nua e o arrastaram porta afora. Corri para perguntar porque estavam fazendo aquilo. Foi quando colocaram a arma no meu peito e inventaram a história de que meu filho portava drogas”,

Refere temer que os policiais invadam sua casa novamente e peguem

seus netos. Faz associações da invasão da casa, do espancamento do filho, das

humilhações que todos sofreram e do risco de morte com o fato de ser negra, pobre e morar na favela e, às vezes, refere-se culpada por viver nessa situação. Afirma estar passando fome em casa, de onde os policiais teriam “furtado” R$ 5.075,00 (cinco mil e setenta e cinco reais), no dia que invadiram sua casa, conforme afirma a paciente, fato que a deixa inquieta e desconfortável no momento deste exame.

“Nós comíamos, de manhã, pão com manteiga, tomávamos café, leite, as crianças tomavam chocolate e comiam mingau. Almoçávamos arroz, feijão, carne, salada, batata. À tarde sempre preparava um lanche para as crianças antes de elas saírem para brincar; do almoço sempre sobrava para a janta. Agora todos tomam café puro de manhã e depois só almoçamos” lamenta a paciente em voz e cabeça baixas.

Refere que hoje quando sente a aproximação algum policial sente temor

e muito medo: “Às vezes, sinto vontade de morrer por não suportar o desespero que me dá”,

Afirma a paciente, caracterizando um comprometimento da auto-estima típico em quem sofreu um trauma tão violento quanto à tortura.

Ter a casa invadida fez com que mudasse a rotina:

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“A casa ficava com as portas e as janelas abertas para arejar o ambiente e facilitar o entra e sai das crianças que sempre brincaram por ali. Agora, ponho as crianças para fora e tranco a casa inteira, ficando tudo no escuro. As crianças estão mais seguras na rua, aos olhos de toda a vizinhança, em casa não, seria somente nós e a policia. Tenho medo delas [as crianças] serem ameaçadas” Ela afirma pedir paras as crianças voltarem para casa somente na hora

de dormir, por volta das 21 horas. As crianças passaram a dormir todas juntas agarradas à nora

“É como se tivessem medo de serem levadas no meio da noite”

Refere ainda: “Quando a policia chega, tranco a casa e também vou para a rua, estou mais segura lá” Afirma que desenvolvia normalmente atividades diárias e diz nunca ter

sido roubada ou ameaçada por alguém da região. Relata também sentir muito medo e dor de cabeça. Tem muita dificuldade

para dormir, deita-se às 22 horas mas fica preocupada com a fragilidade da casa e pega no sono cerca de três horas depois, quando não se levanta para ver se tem alguém rondando a casa. Quando dorme tem pesadelos constantes com movimentos involuntários do corpo e diz que:

“Se pudesse os enfrentava”.

Dor no corpo repentinamente seguida de tremulações. Sente muita impotência por ter visto o filho ser espancado e arrastado de casa sem poder intervir. Enquanto fazia o relato, a paciente apoiou-se na mesa, apertou as mãos e curvou o tronco como se estivesse com um peso nas costas e desejasse proteção.

Diz ainda que passou a urinar com muita freqüência, até involuntariamente, além de estar com a diabete alta e prisão de ventre. Isolou-se do convívio da comunidade, principalmente dos amigos de longa data ligados à igreja que freqüentava, pois passou a sentir muita vergonha de si mesma e perante a comunidade. O abalo emocional fez com que a paciente ficasse mais sensível e voltasse a fumar cigarros, vício que havia largado há anos devido à idade avançada. A paciente se mostra desanimada, e com dificuldades de tomar iniciativas. Afirma pensar que está ficando louca e que a qualquer momento pode morrer, temendo em deixar os netos sozinhos.

Sofre de uma profunda ansiedade em relação à situação econômica em que se encontra e não entende porque ainda não se fez nada para que fosse restituída da quantia furtada quando sua casa foi invadida pelos policiais.

CONCLUSÃO Um trauma violento pode causar no indivíduo seqüelas psíquicas

irreversíveis. Determinados sintomas colaboram para que a pessoa tenha mais dificuldade de evoluir do quadro clínico de transtorno do estresse pós-traumático. O fato dos entes mais próximos ter testemunhado o ocorrido pode

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agravar ainda mais os sintomas detectados na paciente, e as testemunhas podem desenvolver, em maior ou menor grau, sintomas semelhantes.

A sensação de impotência e as reações subseqüentes podem continuar por muito tempo na vida de uma pessoa. No caso, soma-se à pobreza da paciente a falta de esperança, pouca iniciativa e no receio de que tudo possa se repetir, fato que lhe causa um desequilíbrio e anormalidades no funcionamento fisiológico e psíquico.

Diante da gravidade do quadro clínico apresentado, será acompanhada inicialmente pela equipe multidisciplinar da ACAT-Brasil. Entendo que a situação vivida pela vítima pode ser caracterizada como tortura praticada por agentes do Estado. Seu estado emocional está igualmente abalado pelo medo de que sua casa volte a ser invadida pela policia e pela tensão vivida naquele momento. O quadro apresentado pela paciente enquadra-se no Classificação Internacional das Doenças como típico de Transtorno do Estresse Pós-traumático e depressão. No momento a paciente deverá ser medicada com antidepressivo para atenuar sua sintomatologia e ser encaminhada para psicoterapia de apoio. A restituição do valor subtraído de sua casa é uma obrigação do Estado como a reparação de danos morais, econômicos e emocionais sofridos pela vítima.

(roupas pisadas pelos policiais durante revista em barraco de moradora de Sapopemba)

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Que nas torturas toda carne se trai “e normalmente, comumente, fatalmente, felizmente, displicentemente, o nervo se contrai com precisão”. (Zé Ramalho)

(J. 17 anos e L.16 anos)

DADOS PESSOAIS: J. 17 anos e L. 16 anos e filho de 1 ano. – residentes em Sapopemba. CONDIÇÕES DE MORADIA: Casa de madeira coberta com telhas de amianto.Esgoto corre a céu aberto. Piso de barro, úmido. Cômodos divididos por pano. HISTÓRICO: Em 19/09/ 2005 J. e L. e seu filho de 1 ano estavam em sua residência quando policiais da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) invadiram sua casa com armas em punho e fizeram com que J. fosse para fora.Enquanto J. era revistado por um dos policiais , outro revirava tudo em casa e pedia que L. informasse onde estava a droga.Exigiam que a droga fosse entregue ou “então nós vamos te zuar” a J., e como ele continuasse a negar a existência da droga foi ameaçado com a arma de fogo apontada para sua cabeça , bem como de levar coronhadas.Que agrediriam sua companheira L., e que o quebrariam na porrada.Seguraram J. pelo pescoço, constrangendo-a a dar informações que ele não tinha e foram ficando cada vez mais violentos passando a esganá-lo.Como nada foi encontrado em sua residência e diante do choro de L. e a inusitada visita dos pais dela ,foram embora.J. anotou a placa da viatura e informou à Corregedoria.L.refere ser capaz de reconhecer os policiais que os agrediu. Técnicos da ACAT Brasil procederam à visita domiciliar a família a fim de oferecer assistência. J. diz preferir não tocar no assunto:

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“Quando me lembro do que aconteceu dá dor de cabeça e nervoso” Diz que o que mais lhe incomoda é:

“Quando lembro que o policial falou que ia bater em mim e nela”.

Antes do ocorrido trabalhava como servente de pedreiro e agora está sem serviço.

“Tou vivendo de um terreno que eu vendi por 175 reais há um mês e de 60 reais que eu ganho da escola ‘Ação Jovem”

Perguntado sobre o que mudou, responde:

“Quando alguém vem aqui falar comigo me enche.” Mostra-se irritado quando toca no assunto:

“Eu quero parar por que toda vez que falo dá nervosismo.Isto aí vai corre,correr e não vai dar nada...Nós ta mexendo com gente que tem.Acho que a forma de os policias atuarem, mostra que eles podem fazer qualquer coisa e não acontecer nada.”

Quanto ao ocorrido refere:

“Um dia eles vão ter o troco deles, não por mim mas por DEUS.Eu sei que a policia é deste jeito e já fizeram isto com outras pessoas e nada acontece”.

Mostra-se sem esperança e sem expectativa para o futuro.

“Numa parte foi certo eles virem e revistarem mas deles falarem que tinha coisa aqui dentro e querer bater na gente não!”

Mostra receio em denunciar porque pode haver retaliação.Mostra-se impotente com o ocorrido, tentando ‘apagar da mente’ o ocorrido. L. 16 anos diz que o que mais lhe incomodou é porque estava chorando e os policias puxaram seu braço e a jogaram na cama.

“Eles disseram que se eu não parasse de chorar eles levavam ele preso e eu junto” Diz que nunca havia acontecido isto e ficou triste.Quer mudar de casa.

“Porque é úmido e faz mal pra gente, ainda mais pra mim que estou grávida de três meses”

Relembra os fatos e sente medo quando está sozinha.

“Da policia chegar e jogar droga como eles queriam fazer” Diz que antes ficava em casa.

“Agora eu passo o dia toda na casa da minha mãe” Mostra-se sem esperança de mudança.

“Eu acho que o que eles fizeram foi errado.Eles tinham que apresentar o papel.Nem pedir licença eles pediram.Já foram entrando com tudo”

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Diz que possuía 120 reais em casa e que a policia queria levar 100 reais.

“Eles perguntaram o que eu ia fazer com o dinheiro e eu disse que ia comprar mantimento porque eu estou grávida e eles disseram que iam levar 100 e deixar 20”

Foi quando seus pais chegaram e então o policial mandou que guardasse o dinheiro no bolso, sem levar nada e nem dar explicações.

Diz que no inicio não conseguia dormir;que só abria a porta quando percebia bastante gente na rua.Que quando vê a polícia sente medo que eles queiram lhe fazer alguma coisa e “levar nós”.

CONCLUSÃO É um caso típico de tortura já que a agressão foi praticada por um

agente público.A família encontra-se desestruturada, tanto do ponto de vista social, quanto do ponto de vista emocional.O provedor da casa (J. de 17 anos) já não está trabalhando desde o evento.O impacto econômico torna-se inevitável a partir de então, levando-o a vender um terreno e sobreviver apenas do beneficio da bolsa escola para sustentar a si e à família.As seqüelas são evidentes.Todos estão abalados e em pânico diante da idéia de novo contato com a polícia.Há a convicção de impunidade para os policiais ,referido em várias oportunidades e ela tende a se tornar permanente.A dinâmica familiar foi severamente alterada face ao medo de permanecer na casa, o que os leva à casa da mãe de L.,além do desejo expresso de mudar de residência.

A policia tem se apresentado como um agente estatal não confiável para esta população, que os associam com truculência e ilegalidade.Em nenhuma oportunidade,inclusive nesta, foi apresentado um mandado de busca, ou provas legitimas que justificassem as revistas e/ou as invasões, sempre com ameaça de forjar provas.

A população se sente desrespeitada e humilhada por ser pobre e acreditam que a justiça não foi feita para eles. As freqüentes violações dos direitos humanos pelos policiais só reforçam esta crença .

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(batida padrão durante a noite em Sapopemba)

Eu confesso e nem precisa bater e confessar me alivia me manda logo pra cadeia”(Gonzaguinha)

(C.C.S.)

DADOS PESSOAIS: C.C.S, casada, costureira, moradora de Sapopemba, seu filho M.D.S.

estudante,ajudante de costura e dois netos de C. de 07 e 05 anos.

HISTÓRICO Em 27/09/05 a policia abordou M.D.S de 21 anos na rua e mantiveram-

no algemado em um beco sob a guarda de alguns policiais. Ao mesmo tempo, outros policiais invadiram a residência de C.C.S. onde M.D.S. também reside, com o propósito de localizar uma arma que diziam que seu filho possuía.Após revirarem todos os cômodos da casa e amedrontarem seus netos que estavam presentes,avisaram que estavam detendo seu filho em flagrante por tráfico de drogas.A despeito dos protestos de C.C.S. que garantia que seu filho não tinha envolvimento com drogas, já que trabalha com ela e estuda, os policiais o levaram preso.

QUANTO A POLICIA “Eu quando vejo a policia foge todo o meu sangue,parece que vai acontecer alguma coisa” Refere que depois do ocorrido: “Eu não estou gostando de sair, só acompanhada.Só no conversar deles eu já fico

impressionada.Eu não gosto nem de pensar em encontrar com eles” QUANTO AS CONDIÇÕES SOCIAIS E DE TRABALHO É de Juazeiro do Norte e é religiosa “Sou católica” diz.O marido

migrou primeiro e depois de conseguir moradia ela veio.Trabalhou em um Hospital e atualmente trabalha como costureira em casa.Mãe de

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cinco filhos, cuida de seus três netos, sendo que dois moram com ela e estavam presente na hora dos fatos.A casa é própria e de alvenaria.

QUANTO AO DIA DO OCORRIDO “Eles não tinham mandado de busca” Refere que pessoas que exigiram tal documento quando

abordadas em casa, foram brutalmente agredidas. Diz que os policiais estavam enquadrando todo mundo na rua. “Até mulher tinha” Fala que os policiais pegaram seu filho e outro rapaz. “Meu filho não tinha nada, só que eles dividiram:botaram cocaína para meu filho e

maconha para o rapaz” Fala que o rapaz admitiu que a droga era dele e que depois

que lhe avisaram subiu para ver. “Meu filho não tinha passagem pela policia, não bebe, estuda e era caseiro”. Desde então, refere insônia, pesadelos,tristeza.Relata um

sentimento de assombro: “Até nas mochilas das crianças eles mexeram” SOBRE O FILHO PRESO “Sempre foi um bom filho, ajudava a limpar a casa, sempre foi calmo e sossegado,

mal abria a boca.Na prisão ele só chora e fica angustiado”

(M.C.S.) Diz que a ROTA o pegou dias antes da ocorrência. “Eles deram um couro em nós.Davam chutes e murros.Deram um chute no meu

peito” Cita que depois a policia mandou que eles corressem e

apontavam a arma contra eles.Ele ficou três semanas com dores. “Se fizesse B.O. ia complicar mais:os policiais iam aparecer na delegacia e podiam

me pegar na rua, me matar, me enquadrarem com drogas” SUA OPINIÃO SOBRE A POLICIA: “Acho que a maioria é corrupta”. CONCLUSÃO

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C. encontra-se sob o impacto dos acontecimentos, em especial a prisão arbitraria de seu filho.Está paralisada, angustiada, inerte.

“Eu sinto angustia depois da prisão dele.Eu não tenho paz, eu sei que ele não deve”. Seus conceitos foram abalados e modificados acerca da

instituição policial. “Aqui eles sempre que vêm maltratam o povo”. As ações policiais nesta região carregam um forte preconceito

social e um total desrespeito pelas leis vigentes no país.Em ação para apurar denúncia de tráfico de drogas, a mesma época em um centro comercial de classe média da cidade, a policia se cercou de todos os pré-requisitos legais para efetuar ação de prisão de suspeitos e em nenhum momento há registro de truculência, como ocorre sistematicamente em Sapopemba.Para os padrões locais, a família de C.C.S. está em posição de relativo destaque, já que possui casa própria e de alvenaria. A truculência policial nunca é gratuita, visto que sempre resulta em prisão ou mesmo extorsão e até roubo. Fica claro uma política de controle social através da violência sobre determinados setores sociais, em particular os mais pobres, sem poder de decisão ou acesso à justiça.

Esta família, à semelhança das demais, está definitivamente marcada pelo acontecido.No momento está absolutamente desamparada pelo Estado e se valeu de ajuda de instituições não-governamentais para tentar reverter o quadro de injustiça cometido contra seu filho e de reparação para suas perdas pessoais.Não há justificativa para embasar as violações dos direitos humanos na região e fica evidente que a escolha seguiu critérios de distinção de classe a partir da premissa que onde houver pobre, haverá bandidagem e tráfico.

Dificilmente resgataremos para esta família, especialmente para as crianças valores de respeito às leis, já que para eles , as leis de nada valeram.

Há obtenção de confissão mediante tortura e abuso de poder.

(Vista de rua freqüentemente abordada em Sapopemba)

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“Teve seu rosto cuspido, teve seu braço quebrado” (Vinicius de Moraes)

(C.V.A.) DADOS PESSOAIS:

Mãe de V. que foi vítima de violência policial quando invadiram sua casa e levaram seus documentos e dinheiro.

Dona C. refere que os policiais entraram em sua casa e olharam o guarda-roupa. Diz que dentro da casa estava seu marido de cinqüenta e sete anos, sua filha de vinte e oito anos e sua neta de nove anos. Refere que os policiais falaram assim: “não achei nada. O que me chamou a atenção foi uma criança de nove anos com um senhor trancado. Para ser safado não tem idade”... . A filha de vinte e oito anos, que é mãe da menina de nove anos replicou: “Se eu não confiar neles, vou confiar em quem”. Dona Cecília refere:

“Isto é um absurdo, falar isto com ele e minha neta”. Refere que depois dessa violência em sua casa que tinha duas netas e

agora tem quatro. “Que são os dois da minha filha V, que por ter fugido de sua casa com medo ,não

tem condições de vida”...” Ta muito nervosa e sem teto para cuidar dos filhos... “Ela sempre teve seu barraco e trabalhou para cuidar e sustentar seus filhos.”

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Dona C. mostra-se com o humor deprimido e refere

“Será que é Deus que ta pesando a mão em mim ou será que é porque eu moro na favela e os policiais discriminam quem mora na favela? Na favela mora muita gente boa, muita gente honesta que não merece ser discriminado”.

Devido o seu quadro clinico de depressão evidência sentimento de

culpa. “Eu não sei quais, mas que deve ter”.

Em relação à sua filha V. refere que sente medo por ela, mas não sabe com ajudar

“Eu fico apavorada com medo que os policiais queiram me obrigar a falar onde ela está. Eu sou mãe, não devo nada e mesmo que eles me levem não sou obrigada a falar o que não quero”.

Como nas outras ocasiões nada motiva ou justifica a barbárie a não ser o PRECONCEITO.Assim tem sido a rotina das ações policiais na Região de Sapopemba e em outras regiões pobres da cidade.

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(casa revistada e tida como de traficantes pela policia)

“Acorda amor! eu tive um pesadelo agora

sonhei que tinha gente lá fora” (Chico Buarque)

(I.P.P.) 35 anos HISTÓRICO:

A vítima conta que no dia nove de setembro, por volta das 03:00 h., quando já se encontrava dormindo, foi avisada por sua filha que havia barulho no quintal, e os cachorros latiam muito.Conta que acordaram assustadas e com muito medo.Ao olhar pelo espelho de seu quarto, a vítima conta que avistou três policiais militares no seu quintal. Ao vê-los ela disse:

“Vocês entraram no meu quintal, deixou o portão aberto e não fecharam”

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Ela conta que os policiais não lhe disseram nada.Conta ainda que do seu quintal eles tiveram acesso a outras residências, pois fizeram uma passarela com uma tábua.Por medo que alguém pudesse achar que ela favoreceu a passagem dos policiais, ela retirou a tabua. A vítima conta ainda que sua filha está muito assustada depois do fato.Diz que qualquer barulho, por menor que seja, ela se assusta. Conta que reside no bairro há 29 anos, trabalha como Agente Comunitária de Saúde há 07 anos, e que sente não ter privacidade em sua própria casa depois da invasão dos policiais.

“Eles ignoraram o portão fechado”.

Esta é a sistemática e o código de ética dos policiais: pobre é a priori culpado!

Nossa intenção não é apelar de maneira sensacionalista, mas questionar esta política pública de segurança que usa a tortura, a intimidação, o constrangimento como modo habitual de obter confissões e desta maneira aumentar seus índices estatísticos para a opinião pública.

Queremos que esta população pobre e sem acesso a justiça seja tratada com dignidade e respeito à pessoa humana da mesma forma que toda a sociedade e que métodos desumanos como a tortura, os maus tratos, o abuso de poder e da autoridade sejam punidos de forma exemplar para que a nossa sociedade possa viver uma cultura de paz, onde a lei e os direitos constitucionais sejam respeitados por todos.

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EQUIPE DE ELABORAÇÃO:

CDH DE SAPOPEMBA VALDÊNIA APARECIDA PAULINO (COORDENADORA)

ACAT-BRASIL PAULO CESAR SAMPAIO (COORDENADOR )

COLABORAÇÃO: EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DA ACAT-BRASIL POPULAÇÃO DO BAIRRO DE SAPOPEMBA FVNUVT Fundo Voluntário das Nações Unidas de apoio às vítimas de tortura e seus familiares

REALIZAÇÃO: CENTRO DE DIREITOS HUMANOS DO SAPOPEMBA

CDHS Rua Vicente Franco Tolentino, 45 – Parque Santa Madalena – São Paulo – SP – CEP: 03982-180

Tel/Fax:(11)6703.6654 – [email protected]

filiada à FI-ACAT

AÇÃO DOS CRISTÃOS PARA A ABOLIÇÃO DA TORTURA

Pça. Clóvis Bevilácqua, 351, sala 501 010 18-001 – São Paulo – SP

Tel/fax (00.55.11) 3101-6084 E.mail [email protected] – www.acatbrasil.org.br

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