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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Por: Andréa Duarte da Silva Damasceno Orientadora Prof. Edla Trocoli Niterói 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Por: Andréa Duarte da Silva Damasceno

Orientadora

Prof. Edla Trocoli

Niterói

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção

de grau de especialista em Educação Infantil e

Desenvolvimento.

Por: Andréa Duarte da Silva Damasceno.

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AGRADECIMENTO

A Deus pela oportunidade que me concedeu de estar elaborando este trabalho. Ao meu amado esposo Eliezer que muito me apoiou. A minha filha Isabel pelo incentivo e compreensão.

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DEDICATÓRIA

Ao meu esposo Eliezer dos Santos Damasceno e a

minha filha Isabel da Silva Damasceno, com muito amor e

carinho.

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“Um sujeito que conhece bem a funcionalidade

do seu corpo e sabe se expressar por meio

dele é um ser confiante em si mesmo.”

(Fátima Alves)

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RESUMO

O presente trabalho trata de entender a importância da

psicomotricidade na educação infantil. Destacando a psicomotricidade como

atividade indispensável no contexto escolar. Refletindo sobre a

psicomotricidade e o desenvolvimento da criança em que ela descobre o

mundo através do seu corpo. Mostramos a Educação Psicomotora como uma

ação preventiva das dificuldades de aprendizagem e sendo importante para o

desenvolvimento global da criança. Analisamos a prática psicomotora no

ambiente escolar como um espaço acolhedor e seguro, oferecendo uma

estrutura básica para um trabalho corporal confortável. O lúdico na Educação

Infantil a criança explora o mundo que a cerca, diferenciando aspectos

espaciais reelaborando e reavaliando o seu espaço, suas relações afetivas e o

domínio do seu corpo.

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METODOLOGIA

Para atingirmos o objetivo deste trabalho nos baseamos em um levantamento

bibliográfico amplo e de artigos acadêmicos referentes ao tema. Podemos

destacar alguns autores como Fátima Alves e Geraldo Peça de Almeida que

contribuíram para realização deste trabalho.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 12

CAPÍTULO II

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA PARA O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM 21

CAPÍTULO III

A PRÁTICA EM PSICOMOTRICIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR 30

3.1 O Lúdico na Educação Infantil 34

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 42

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INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da criança envolve a psicomotricidade que irá

intervir sobre o corpo em movimento contribuindo para a formação do indivíduo

em um processo de socialização e aprendizagem.

A educação infantil como sabemos é a primeira etapa da educação

básica que tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis

anos de idade. Pensando sobre isso, podemos refletir através do tema

escolhido “A importância da psicomotricidade na educação infantil”, a nossa

prática pedagógica.

Como educador precisamos respeitar as fases do desenvolvimento

dos alunos, para compreendermos cada momento da sua interação com seu

corpo e o meio social, pois, a criança desde que nasce utiliza seu corpo para

relacionar-se com os outros, para conhecer-se e conhecer o mundo.

Sabemos que a criança é um ser único, particular e se faz presente

nas trocas com o mundo e com as pessoas, vivenciando experiências. Na sua

individualidade, há uma história de vida que precisa ser respeitada e

compreendida pelo educador, que se coloca disponível para o acolhimento da

sua maneira de ser e de suas dificuldade, sejam elas do nível que for:

cognitivo, emocional, motor ou social.

Mediante a isto, perguntamos: como a psicomotricidade pode

contribuir para aprendizagem na educação infantil?

A psicomotricidade na Educação Infantil é importante para a

aprendizagem da criança, pois, envolve o desenvolvimento global, não só no

domínio motor, mas também nos domínios sócio-afetivo e cognitivo.

Infelizmente existem escolas que ainda mantem o caráter

mecanicista instalado na Educação Infantil, professores, preocupados com a

leitura e a escrita, muitas vezes não sabem como resolver as dificuldades

apresentadas por alguns alunos, rotulando-os como portadores de distúrbios

de aprendizagem.

Na ralidade, muitas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas na

mesma escola. Por isso, o ambiente escolar precisa favorecer aos alunos um

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espaço de aprendizagem, no qual ela possa tomar consciência do seu corpo e

das possibilidades de se expressar pôr meio desse corpo localizando-se no

tempo e no espaço.

Em sintonia com alguns estudiosos da área, no desenvolvimento

total da criança a estimulação através do movimento é essencial, por isso a

psicomotricidade ou a manipulação, o uso e manuseio de objetos para ter

todas as habilidades, forma parte de suas aprendizagens naturais que lhes

servirão de base para sua maturidade e estar preparado para escrever, ler e

falar corretamente.

Segundo Le Boulch (1982, apud ALMEIDA, 2014):

A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base da escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas. (p.29)

Ao falar em Psicomotricidade na Educação Infantil, esperamos que

o professor seja um observador em suas atividades diárias para que possa

introduzir práticas com objetivos psicomotores. É difícil aceitar um professor

que não desenvolva um trabalho com seus alunos por falta de material, mas

esperamos que ele seja criativo com os recursos existentes.

Sabemos que a criança necessita de um ambiente favorável para o

seu desenvolvimento cognitivo, afetivo e orgânico e a escola precisa

proporcionar este espaço prazeroso.

A presente monografia discute como a psicomotricidade assume um

papel importante para a aprendizagem na Educação Infantil. Justifica-se no

sentido de entender que hoje, a psicomotricidade dá ao aluno condições de

desenvolver capacidades básicas, aumentando seu potencial motor, utilizando

o movimento para atingir aquisições mais elaboradas, como as intelectuais.

Sendo assim, o presente estudo tem como objetivos:

• Estudar como a psicomotricidade pode contribuir para aprendizagem na

Educação Infantil;

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• Entender a psicomotricidade na educação infantil;

• Compreender a importância da psicomotricidade para a aprendizagem;

• Analisar a psicomotricidade no espaço escolar.

Tenho como referencial teórico Alves, autora que analisa a

psicomotricidade relacionando o corpo, a ação e a emoção. Outros autores

também contribuíram para essa pesquisa como Almeida, que fala sobre teoria

e prática em psicomotricidade.

Em termos metodológicos, trata-se de uma pesquisa de caráter

bibliográfico, organizada em três capítulos. No primeiro capítulo discutimos

sobre a psicomotricidade e o desenvolvimento da criança. No segundo capítulo

analisamos a contribuição da Educação Psicomotora para o desenvolvimento

da aprendizagem. No terceiro capítulo refletimos sobre a prática em

psicomotricidade no ambiente escolar.

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CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

A criança desde cedo se envolve em interações que podem ser

entendidas como trocas de mensagens. A construção de significações, a

gênese do pensamento e a constituição de si mesmo como sujeito se fazem

graças às interações constituídas com outros parceiros em práticas sociais

concretas de um ambiente que reúne circunstâncias, artefatos, práticas sociais

e significações.

A psicomotricidade é vista como ação educativa integrada e

fundamentada na comunicação, na linguagem e nos movimentos naturais

conscientes e espontâneos da criança. Tendo por finalidade normalizar e

aperfeiçoar a conduta global do se humano. Procurando ajudar a pessoa na

melhor tomada de consciência de seu corpo integrada às emoções, a fim de

reencontrar o caminho da comunicação consigo mesma e com os outros.

Os primeiros anos de vida de uma criança são marcados por

grandes transformações e descobertas. Aos poucos, ela começa a entender o

mundo em que vive e aprende a lidar consigo mesma e com os outros.

Conforme alguns conceitos piagetianos a inteligência da criança não

é inata, não surge do nada e não está nunca completa ou acabada, em um

dado momento do seu desenvolvimento. A inteligência nascendo da ação, da

experiência, da vivência e da interação com os outros e com os objetos

provoca na criança uma construção mental que se combina e se complexifica

progressivamente ao longo da sua infância.

O período de bebê é bastante complexo do ponto de vista do

desenvolvimento, pois nele irá ocorrer a organização psicológica básica em

todos os aspectos (perceptivo, motor, intelectual, afetivo, social).

Do ponto de vista do autoconhecimento o bebê explorará seu

próprio corpo, conhecerá os seus vários componentes, sentirá emoções,

estimulará o ambiente social e será por ele estimulado, e assim desenvolverá a

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base do seu auto conhecimento. Este autoconceito estará alicerçado no

esquema corporal, isto é, na ideia que a criança forma de seu próprio corpo.

O conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado desde o nascimento (inatismo), nem como resultado do simples registro de percepções e informações (empirismo). Resulta justamente das ações e interação do sujeito com o ambiente onde vive para ele o conhecimento é uma construção que vai sendo elaborado desde a infância através de interações do sujeito com os objetos que procura conhecer, seja eles do mundo físico ou cultural. (PIAGET, 1971, p.61)

O bebê é um ser ativo e agente de seu próprio desenvolvimento,

pois, ao nascer, apresenta certa organização comportamental e algumas

condições para perceber e reagir às situações, sobretudo aos parceiros

diversos que formam seu meio humano.

Os bebês nascem com estruturas pré-adaptadas para iniciar, manter e terminar interações com parceiros humanos e realizam, desde o nascimento, verdadeira atividade de pesquisa do real, o qual constantemente porém a prova. Os bebês procuram modular seus meios de expressão, mesmo os mais rudimentares(gritos, gesticulações), para obter a satisfação de suas necessidades fisiológicas, afetivas e cognitivas e construir significados.(OLIVEIRA, 2005, p.136)

É por meio do corpo que a criança vai descobrir o mundo,

experimentar sensações e situações, expressar-se, perceber-se e perceber as

coisas que a cercam.

A evolução do eu corporal na criança é a evolução do conhecimento

corporal. A sua imagem corporal tem de passar por várias fases ou períodos de

maturação para que a criança possa vir a construir-se como um ser que atua

sozinha.

Segundo Le Boulch (1982, apud ALMEIDA, 2014, p.28) a imagem do

corpo representa uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras e a

sua maturidade. Ela não corresponde só a uma função, mas sim um conjunto

funcional cuja finalidade é favorecer o desenvolvimento.

O desenvolvimento da criança se inicia a partir do equipamento

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inicial, ou seja, através dos reflexos inatos que vão gradualmente desde o

primeiro ano de vida até se transformar em esquemas sensoriais motores

rudimentares.

Podemos distinguir alguns estágios ou períodos de desenvolvimento

de Piaget:

Sensório motor (0 a 2 anos)- A partir de reflexos neurológicos básicos o bebê

começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. A

inteligência é prática. As noções de espaço e tempo, por exemplo, são

construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem

representação ou pensamento.

Pré-operatório (2 a 7 anos)- A criança se torna capaz de representar

mentalmente pessoas e situações. Já pode agir por simulação “como se”. Sua

percepção é global, sem disseminar detalhes. Deixa-se levar pela aparência,

sem relacionar aspectos. É centrada em si mesma, pois não consegue colocar-

se, abstratamente, no lugar do outro.

Operatório-concreto(7-11 anos)- Nessa fase, a criança já é capaz de relacionar

diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a

representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à

abstração. Desenvolve também a capacidade de refazer um trajeto mental,

voltado ao ponto individual de uma situação.

Lógico-formal (12 anos em diante)- A representação agora permite a abstração

total. A criança não se limita mais à representação imediata nem somente às

relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações

possíveis logicamente.

De acordo com Piaget existe quatro forças que moldam o

desenvolvimento humano:

FORÇA EXPLICAÇÃO IMPLICAÇÃO EDUCACIONAL

Equilibração A tendência em manter um equilíbrio entre assimilação (resposta que utiliza aprendizagem

É necessário proporcionar às crianças, atividades com nível ótimo de dificuldade -

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prévia) e acomodação (mudança do comportamento em resposta ao ambiente)

nem tão difíceis a ponto de elas se sentirem exageradamente desafiadas, nem tão fáceis a ponto de não requererem nenhuma acomodação

Maturação As forças genéticas que, embora não determinem o comportamento, estão relacionadas ao seu desdobramento

Os professores precisam saber alguma coisa sobre como as crianças pensam e aprendem – sobre o seu nível de maturação e compreensão, para otimizar suas experiências educacionais

Experiência ativa A interação com objetos e eventos reais permite aos indivíduos descobrir coisas e inventar (construir) representações do mundo

Essa força apoia um currículo construtivista, aquele no qual o aprendiz é envolvido ativamente no processo de descobrir e aprender

Interação social A interação com as pessoas resulta na elaboração de ideias sobre as coisas, pessoas e sobre si mesmo

As escolas precisam oferecer amplas oportunidades para integração aluno-aluno e professor-aluno nas áreas acadêmicas (playground, biblioteca etc.)

( LEFRANÇOIS, 2008, p.262)

Essas forças que modelam o desenvolvimento da criança, Piaget

atribui a interação social, pois, por meio dela as crianças se tornam conscientes

dos sentimentos e pensamentos alheios, desenvolvem regras morais e de

brincar, e desenvolvem e praticam seus próprios processos de pensamento

lógico.

Quando se fala de interação social não podemos deixar de citar

Vygotsky, quando ele afirma que a interação social está fundamentalmente

envolvida no desenvolvimento da cognição. Por interação social Vygotsky

entende a interação da criança com aquilo que ele chama de cultura e ela se

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dá graças ao uso de signos e ao emprego de instrumentos elaborados através

da história humana em um contexto social determinado.

A cultura especifica o que é um desenvolvimento bem sucedido,

apontando o que temos que aprender e que competências são necessárias

para adaptarmos ao mundo.

A importância da cultura na teoria de Vygotsky é realçada pela distinção que ele faz entre funções mentais elementares e funções mentais superiores. As funções elementares são nossas tendências e comportamentos naturais, não aprendidos, evidentes na capacidade do recém-nascido de sugar, balbuciar e chorar. Durante o desenvolvimento, e principalmente por causa da interação social – ou seja, da interação da cultura -, as funções mentais elementares se transformam em funções superiores. As funções mentais superiores incluem todas as atividades que consideramos pensamento, como a resolução de problemas e a imaginação. (LEFRANÇOIS, 2008, p.266)

Quando incorporamos os signos elaborados pelos grupos sociais

como forma de registrar e transmitir determinadas informações no processo de

trabalho, as ações humanas vão se tornando complexas.

Isso quer dizer que os signos não são criados ou descobertos pelo

sujeito, mas o sujeito deles se apropria desde o nascimento, na sua relação

com parceiros mais experientes que emprestam significações a suas ações em

tarefas realizadas em conjunto.

O conceito criado por Vygotsky chamado zona de desenvolvimento

proximal, nos leva a entender esse processo cultural, no momento que a

criança transforma as informações que recebe de acordo com as estratégias e

conhecimentos por ela já adquiridos em situações vividas com outros parceiros

mais experientes.

A noção de zona de desenvolvimento proximal refere-se à distância entre o nível de desenvolvimento atual do indivíduo (ou seja, sua capacidade de apresentar uma ação independente de pistas externas-compreendendo, portanto, funções já amadurecidas) e a capacidade de responder orientado por indicações externas a ele (ou seja,baseada em funções em processo de amadurecimento). (OLIVEIRA, 2005, p. 129)

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Entre outros signos, a apropriação pela pessoa da linguagem de seu

grupo social, segundo Vygotsky, constitui o processo mais importante no seu

desenvolvimento. A linguagem permite que o mundo seja refratado na

consciência humana por meio dos significados culturais selecionados pelo

sujeito e por ele apropriados com um sentido próprio, embora impregnado de

valores e motivos sociais historicamente determinados.

Tanto a teoria de Vygotsky como a de Wallon, consideram o

desenvolvimento humano como resultante de uma dupla história, que envolve

as condições do sujeito e as sucessivas situações nas quais ele se envolve e

às quais responde. Ele propõe o estudo integrado do desenvolvimento, ou seja,

que este abarque os vários campos funcionais nos quais se distribui atividade

infantil (afetividade, motricidade, inteligência).

Segundo a teoria walloniana toda pessoa constitui um sistema

específico e ótimo de trocas com o meio. Tal sistema integra suas ações num

processo de equilíbrio funcional que envolve motricidade, afeto e cognição,

mas no qual, em cada estágio de desenvolvimento, uma forma particular de

ação predomina sobre as outras.

Para uma compreensão mais concreta, destacaremos as

características centrais de cada um dos estágios proposto pela psicogenética

walloniana.

• Estágio impulsivo-emocional – Abrange o primeiro ano de vida, o

colorido peculiar é dado pela emoção, instrumento privilegiado de

interação da criança com o meio. Resposta ao seu estado de imperícia,

a predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às

pessoas, as quais intermediam sua relação com o mundo físico; a

exuberância de suas manifestações afetivas é diretamente proporcional

a sua inaptidão para agir diretamente sobre a ralidade exterior.

• Estágio sensório -motor e projetivo - Vai até ao terceiro ano, o interesse

da criança se volta para a exploração sensório-motora do mundo físico.

A aquisição da marcha e da preensão possibilitam-lhe maior autonomia

na manipulação de objetos e na exploração de espaços. Outro marco

fundamental neste estágio é o desenvolvimento da função simbólica e

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da linguagem. O termo “projetivo” empregado para nomear o estágio

deve-se à característica do funcionamento mental neste período: ainda

nascente, o pensamento precisa do auxílio dos gestos para se

exteriorizar, o ato mental “projeta-se” em atos motores. Ao contrário do

estágio anterior, neste predominam as relações cognitivas com o meio

(inteligência prática e simbólica).

• Estágio do personalismo – Cobre a faixa dos três anos aos seis anos, a

tarefa central é o processo de formação da personalidade. A construção

da consciência de si, que se dá por meio das interações sociais,

reorienta o interesse da criança para as pessoas definindo o retorno da

predominância das relações afetivas.

• Estágio categorial – A partir dos seis anos acontece a consolidação da

função simbólica e à diferenciação da personalidade realizadas no

estágio anterior, que traz importantes avanços no plano da inteligência.

Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as coisas,

para o conhecimento e conquista do mundo exterior, imprimindo às suas

relações com o meio preponderância do aspecto cognitivo.

• Estágio da adolescência – A crise pubertária rompe a “tranquilidade”

afetiva que caracterizou o estágio categorial e impõe a necessidade de

uma nova definição dos contornos da personalidade, desestruturados

devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal. Este

processo traz à tona questões pessoais, morais e existenciais, numa

retomada da predominância da afetividade.

Le Boulch (FERREIRA; HEINSIUS; BARROS, 2011, p.25)

compreende que uma teoria do desenvolvimento só pode ser articulada ao

relacionar o sujeito com os vínculos que ele estabelece com o seu meio social.

Partindo disto, destacamos que a psicomotricidade envolve toda a

ação realizada pelo indivíduo, que representa suas necessidades e permite sua

relação com os demais. É a integração entre o psiquismo e motricidade, que

tem como objetivo o estudo do homem por meio do seu corpo em movimento.

O movimento permite à criança explorar o mundo exterior por meio

de experiências concretas sobre as quais são construídas as noções básicas

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para o desenvolvimento intelectual.

A psicomotricidade deve ser entendida como uma educação

corporal básica na formação integral da criança, como um meio de expressão

que prioriza a dimensão não-verbal e as atividades não diretivas ou

exploratórias em um período evolutivo concreto, desde os primeiros meses até

os 7 ou 8 anos de idade maturativa.

A partir do momento em que o indivíduo descobre, utiliza e controla

o seu corpo, o esquema corporal é estruturado e passa a ter consciência dele e

suas possibilidades, na relação com o meio ambiente em que vive. Vivenciar

estímulos sensoriais, para discriminar as partes do próprio corpo e executar um

controle sobre elas, implica:

• a percepção do corpo;

• o equilíbrio;

• a lateralidade;

• a independência dos membros em relação ao tronco e entre si;

• o controle muscular;

• o controle da respiração.

À medida que a criança se desenvolve, quanto mais o meio permitir,

ela vai ampliando suas percepções e controlando seu corpo por meio da

interiorização das sensações. Com isso, ela vai conhecendo seu corpo e

ampliando suas possibilidades de ação.

No entanto, entendemos a necessidade da relação social do

indivíduo com o meio em que vive, para estimular o seu desenvolvimento

motor. Mediante a isso, discutiremos no próximo capítulo “a contribuição da

educação psicomotora para o desenvolvimento da aprendizagem”.

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CAPÍTULO II

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA PARA O

DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM

A Educação Psicomotora corresponde às exigências no que tange

ao bem-estar do ser humano, sob o enfoque de sua totalidade. Sua prática

registra-se, historicamente, no processo de desenvolvimento da criança em

suas condutas adaptadas por ações inter-relacionais ao ambiente emocional e

aos processos de comunicação.

É importante destacar que a Educação Psicomotora contribui para a

autonomia da criança, a fim de valorizar a estabilidade e a qualidade das

relações entre ela e o adulto, nas instituições de educação, pois, constrói na

criança condições de aprender a lidar com os diferentes.

A criança necessita do apoio e da mediação do adulto para ajudá-la

a encontrar soluções para constituir a sua autonomia afetiva, corporal, moral e

de integração social.

A psicomotricidade é vista como ação educativa integrada na

comunicação, na linguagem e nos movimentos naturais conscientes e

espontâneos da criança. Tendo como finalidade normatizar e aperfeiçoar a

conduta global do ser humano.

Com base na reeducação e na teoria psicomotora, a Educação

psicomotora irá procurar adaptar-se às dificuldades específicas da pessoa, no

momento que emergirem novas atitudes e comportamentos psicomotores e

sociais, lhe permitindo compreender suas emoções para encontrar respostas

adaptadas.

Podemos destacar as técnicas pedagógicas psicomotoras que se

apresentam sob dois enfoques que estão inter-relacionados: 1- técnicas

psicomotoras de expressão – favorecem prioritariamente as capacidades de

comunicação com o outro, a criatividade e a expressão emocional – dança,

mimo ou mímica, jogo dramático, expressões artísticas, grafismo, linguagem;

2- técnicas psicomotoras de impressibilidade – vistas no sentido figurado,

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por extensão e sob a influência dos órgãos dos sentidos. Favorecem

inicialmente as capacidades de recepção e de conscientização perceptivo-

motor, sensorial e emocional.

Segundo Barros (FERREIRA; HEINSIUS; BARROS, 2011, p.66) as

técnicas pedagógicas psicomotoras são aplicadas de acordo com as

necessidades da criança e com os objetivos a serem alcançados pelos

programas de educação e de ensino, estimulando o desenvolvimento dos

seguintes domínios ou estruturas psicomotoras:

• a psicomotricidade global e fina em que interatuam a coordenação da

dinâmica geral e a coordenação viso-segmentar representadas

concretamente pelo equilíbrio, coordenação diferenciada dos diferentes

segmentos e os movimentos naturais de andar, correr, saltar, saltitar,

girar e lançar;

• o desenvolvimento da coordenação fina e da organização espaço

temporal, com a ampliação da grafomotricidade com ou sem

deslocamento;

• a regulação tônica pelo equilíbrio integrado ao tônus muscular, sob

diversas formas de equilíbrio;

• a orientação espaço-temporal pelos deslocamentos do corpo no espaço

livre, espaço predeterminado e lateralização.

É importante dizer que a Educação Psicomotora somente é viável

com o movimento. A educação do movimento, ou a educação psicomotora,

deve ser vista sob o aspecto orgânico, motor e psicológico, de maneira

integrada, formando uma só unidade psicomotora.

O movimento humano é um meio educativo de ação positiva em

relação às dificuldades da função psicomotora, onde auxiliará a formação do

caráter e o desenvolvimento da capacidade de resolução das tarefas da vida

cotidiana.

A Educação Psicomotora estimula o pleno desenvolvimento da

personalidade na criança e tem por objetivo permitir à criança viver em

harmonia com seu corpo, com os outros e com o ambiente que a envolve.

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Seus objetivos concretos são:

• favorecer o desenvolvimento dos gestos e movimentos e a capacidade

de percepção;

• desenvolver o equilíbrio;

• aprimorar e desenvolver a percepção do corpo e permitir à criança

adquirir o sentimento de segurança;

• favorecer e melhorar a Psicomotricidade global e fina, sobre tudo a

grafomotricidade por meio da manipulação;

• revelar e reforçar o predomínio manual;

• estimular a confiança em si;

• atenuar os bloqueios que interferem na aprendizagem escolar;

• sensibilizar o ambiente envolvente – família, escola – em face das

dificuldades da criança.

Podemos considerar que, dos dois anos aos cinco anos, toda

educação é considerada uma educação psicomotora. Dos cinco aos sete anos,

a psicomotricidade passa a ser apenas a base sobre a qual se constroem as

primeiras relações lógicas e a decorrente aprendizagem escolar.

É possível afirmar que com seis anos, a criança já domina

movimentos fundamentais, como correr, saltar, rolar, equilibrar ao qual

chamamos de corpo vivido, ou seja, a experiência vivida pela criança por meio

da exploração do meio.

Na terceira infância, que vai dos sete aos doze anos, é quando a

diferenciação entre as diversas atividades educativas se faz presente. Nesta

etapa, observa-se a estruturação do esquema corporal, apresentando noção do

todo e das partes de seu corpo, conhecendo as posições e mantendo um maior

controle e domínio corporal.

O estudioso Jean Le Bouch apresenta a necessidade da Educação

Psicomotora baseada no movimento, pois acredita ser esta preventiva,

assegurando que muitos dos problemas dos alunos que são detectados

posteriormente e tratados pela reeducação não ocorreriam se a escola

oferecesse uma maior atenção à Educação Psicomotora, juntamente com a

leitura, a escrita, entre outros.

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Para compreendermos melhor a importância da Psicomotricidade no

desempenho escolar das crianças, apresentaremos algumas funções

importantes para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem:

Esquema corporal

O esquema corporal é estruturado a partir do momento em que o

indivíduo descobre, utiliza e controla o seu corpo e passa a ter consciência dele

e de suas possibilidades, na relação com o meio ambiente em que vive. A

elaboração do esquema corporal se realiza em uma relação contínua que

inclui: o eu, o mundo dos objetos e o mundo dos outros.

Essa primeira imagem de si acompanha o nascimento do “eu” e do

“eu corporal” e, posteriormente, o nascimento do objeto permanente. Do

reconhecimento que a criança tenha de um “eu” e de um “não eu” depende da

construção de sua identidade e uma rica capacidade futura de representar e,

portanto, de acessar a função simbólica, a linguagem, as operações

intelectuais, a socialização e a cultura.

O esquema corporal não é um conceito aprendido, que se pode ensinar. Ele organiza pela experienciação do corpo da criança. É uma construção mental que a criança realiza gradualmente, de acordo com o uso que faz de seu corpo. (ALVES (Org.), 2011, p. 91)

Para o desenvolvimento do esquema corporal, é necessário

identificar, reconhecer, localizar e conhecer as funções de todas as partes do

corpo. São igualmente importantes:

Ø aplicar os conceitos espaciais e temporais, no próprio corpo, no

dos outros, no de bonecos ou em desenhos de pessoas;

Ø manter o equilíbrio estático, reproduzindo e mantendo posições;

Ø expressar, com o corpo, diversos sentimentos;

Ø realizar movimentos complexos e diferenciados;

Ø dissociar movimentos, com vários segmentos corporais, e outros.

O corpo expressa emoções e está repleto de significados que são

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adquiridos por meio da relação da criança com o meio. Portanto, o corpo

servirá de base para o desenvolvimento cognitivo, para aquisição de conceitos

referentes ao espaço e ao tempo, para que a criança tenha um maior domínio

de seus gestos e harmonia de movimentos.

Imagem corporal

A imagem corporal é a representação mental do corpo e não

constitui uma mera percepção, mas, uma integração. Ela se constrói a partir de

informações pessoais, da própria experiência que a criança tem do seu próprio

corpo ou de seu sentimento em relação a ele, não sendo o mesmo para todos

os indivíduos.

A psicomotricidade tem por objetivo levar a criança a dominar seus

movimentos e a perceber seu corpo globalmente, constituindo um todo.

Segundo Ajuriaguerra (1972, Apud ALVES, 2012, p.61) a evolução

da criança é sinônimo de conscientização e conhecimento cada vez mais

profundo do seu corpo, a criança elabora todas as suas experiências vitais e

organiza toda a sua personalidade.

A criança aprende a conhecer e a nomear as diferentes partes do

corpo, por meio de diversas modalidades e levando em consideração:

• identificação da cabeça,das partes do rosto, do pescoço, do tronco, dos

membros superiores em si, nos outros, em objetos, em gravuras;

• representação mental e repetição verbal e mental, que seria a introjeção;

• transposição nos outros, em objetos, em gravuras;

• transcrição: o introjetado é projetado por meio de habilidades manuais e

representações gráficas;

• conhecimento da consciência dos órgãos dos sentidos, com suas

respectivas funções;

• conhecimento, consciência e educação da respiração.

Segundo Morais e Santos (1986, apud ALVES (Org.), 2011, p.90) a

imagem corporal se define como “uma impressão que se tem de si mesmo,

subjetivamente, baseada em percepções internas e externas (exemplo: altura,

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peso, força muscular) e no confronto com outras pessoas do próprio meio

social”.

Lateralidade

A lateralidade se refere ao espaço interno do indivíduo, que

independe da discriminação de um dos lados, mas que se afirma a partir dos

estímulos interiores do corpo.

Segundo Fonseca (1995, apud FERREIRA; HEINSIUS; BARROS,

2011, p. 222), a lateralização pode ser influenciada por fatores genéticos, assim

como ser aperfeiçoada por fatores sociais que a influenciam na preferência

manual.

Em todos os níveis de desenvolvimento da criança, a lateralização

se instalará definitivamente na medida em que a coordenação oculomotora se

realiza, ajustada à motricidade fina e à percepção visual, envolvendo tanto a

estruturação espacial quanto a coordenação motora fina.

Segundo alguns autores, antes da criança iniciar o ensino

fundamental, ela já vai aprender o gesto gráfico, a reprodução de formas de

escrita, os diferentes modelos gráficos que lhe permitirão adquirir todos os

elementos básicos necessários à aprendizagem da escrita no ano seguinte. As

funções linguísticas estão ligadas à parte sensorial de noção do corpo e

espaço.

A lateralização está presente em todos os níveis de desenvolvimento

da criança, mas somente será definitiva à medida que esta criança atravessar

todas as fases de seu desenvolvimento. Deve-se considerar como de grande

importância no desenvolvimento infantil a coordenação visório-motora, a

organização das percepções táteis e visuais, por meio de experiências que

desenvolvam sua estrutura espacial, da qual dependerá a lateralização.

Devemos possibilitar às crianças atividades que envolvam o uso dos

segmentos das mãos, dos pés e até mesmo dos olhos, de forma que

contribuam para o desenvolvimento psicomotor e, ao mesmo tempo, poder

definir sua lateralidade.

Tônus, postura e equilíbrio

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Constituem a capacidade da criança de conquistar atitudes habituais

cômodas e suscetíveis de serem mantidas, com um mínimo de fadiga e sem

desequilíbrios ou vícios de postura. Permitem relaxar e dinamizar articulações,

bem como possibilitam o equilíbrio para os deslocamentos em posição ereta,

com regulação do tônus muscular necessário.

Segundo Ajuriaguerra(1972, apud ALVES, 2012, p.69) “o tônus que

prepara e guia o gesto é simultaneamente a expressão da realização ou

frustração do indivíduo”. O tônus apresenta-se como uma tensão que regula e

controla a atividade postural como suporte do movimento.

O desenvolvimento do tônus, da postura e do equilíbrio envolve,

dentre outros, exercícios para: fortalecimento da tonicidade dos músculos

posturais, equilíbrio dinâmico e força muscular.

Estruturação Espacial

A noção espacial se refere à discriminação conceitual de cada lado

do corpo. Para isso, apontamos a seguinte afirmativa de que a imagem

espacial do corpo favorece a orientação do próprio corpo no espaço.

O corpo é o principal ponto de referência da criança para a

percepção do mundo e a elaboração de sua organização espacial, pois todo e

qualquer ato se desenvolve em um tempo e espaço determinados.

Enquanto a criança aprende noções de situação, tamanho,

movimentos, formas, volume etc., ela constrói as bases da orientação espacial,

ou seja, ela passa a ter acesso a um espaço orientado a partir de seu próprio

corpo, multiplicando suas possibilidades de ações eficazes.

Estruturação temporal

As noções de corpo, espaço e tempo precisa estar intimamente

ligadas para que possamos entender o movimento. Para a criança, o tempo é o

espaço vivido, isto é, a duração de uma ação.

A Educação Psicomotora poderá fornecer os diferentes elementos

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que entram no conceito de tempo, a fim de facilitar o seu reconhecimento. É

brincando com o seu corpo e, dessa forma, multiplicando as sensações, que a

criança toma consciência do desenrolar das experiências em uma determinada

duração.

A estruturação temporal requer, posteriormente, uma construção

intelectual por parte da criança, baseada em operações que são paralelas às

envolvidas no pensamento lógico-matemático e inteligência musical.

O desenvolvimento da estruturação temporal na criança é

importante, pois, por intermédio do ritmo é que ela terá uma boa orientação no

domínio do papel, na escolarização, construindo palavras de forma ordenada e

sucessiva na utilização das letras, umas atrás das outras, obedecendo a um

certo ritmo e dentro de um determinado tempo.

A estruturação temporal e sua atividade é uma sequência de

mudanças condicionadas pelas atividades diárias, na qual insere o homem no

tempo, onde ele nasce, cresce e morre.

O desenvolvimento psicomotor da criança só será progressivo a

partir do momento em que ela realizar por si mesma as suas ações,

exercitando seus músculos, aperfeiçoando seus movimentos, tomando

decisões, treinando a coordenação e a concentração, exercendo, assim, todas

as atividades psicomotoras que necessitem de repetição e de conscientização

para se aperfeiçoarem.

Entendemos então, que a Educação Psicomotora é importante para

o desenvolvimento global, para constituição da imagem e do esquema corporal

com um olhar sobre a perspectiva de inclusão social e, consequentemente,

para formação da cidadania. Diante deste pensamento, discutiremos no

próximo capítulo “a prática em psicomotricidade no ambiente escolar”.

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CAPÍTULO III

A PRÁTICA EM PSICOMOTRICIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR

A criança no ambiente escolar precisa ser vista e ouvida na sua

individualidade, onde ela possa significar simbolicamente suas emoções, para

poder formar uma imagem corporal positiva de si mesma. Por isso, a

importância da prática psicomotora, pois ela possibilita que a criança descubra

seu corpo, vivencie trocas afetivas, estabeleça vínculos e formas de

comunicação, ampliando suas relações sociais que serão essenciais para sua

formação.

A prática psicomotora na educação necessita ser um espaço

acolhedor e seguro em que a criança possa experimentar o prazer de

movimentar-se, viver sua sensório-motricidade e ser ouvida e reconhecida em

sua maneira singular de ser e de estar no mundo.

O ambiente educativo deve proporcionar toda uma exploração por

parte da criança, na qual poderá viver uma porção de faz de contas que lhe

serão importantes fonte de percepções e também experimentar, testar, errar e

concluir.

Os ambientes psicomotores educativos são aqueles em que se busca explorar cada ação acontecida ali. Toda e qualquer relação humana tem de ser considerada porque a criança está em pleno momento de construção de referências para ela e para o mundo. É nesse momento em que a criança está elaborando e apurando sua forma de olhar para o mundo e sua forma de o conceber. (ALMEIDA, 2014, p. 26)

Sendo assim, a escola se configura como um espaço fértil, em que a

prática da psicomotricidade relacional vem ampliando, de forma

transdisciplinar, sua ação transformadora.

A psicomotricidade relacional tem como finalidade na escola, sua

ação preventiva, atendendo a uma perceptiva pedagógica que visa

potencializar o desenvolvimento emocional, a socialização e o desenvolvimento

cognitivo global, com o objetivo final de auxiliar a criança e também o professor

a viver como o outro e se realizar pessoal e socialmente.

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O trabalho psicomotor ainda encontra muitas resistências nos

espaços de educação infantil. Muitos profissionais, muitas escolas e muitos

materiais usados nas escolas deixam a psicomotricidade para um segundo

plano ou às vezes simplesmente ignoram-na.

Diante disto, a criança acaba perdendo o momento certo para

desenvolver suas coordenações motoras, suas percepções temporais, suas

percepções espaciais, sua lateralidade e principalmente, acaba sendo pouca

estimulada para a música, para dança e para pintura.

Entendemos que a prática psicomotora quando utilizada na escola

precisa ter um aspecto preventivo e educativo. Preventivo no sentido de

prevenir certo número de dificuldades de comportamento e de aprendizagem.

O educador ao intervir sobre determinada situação será preciso

levar em consideração os princípios de ação considerando os princípios

metodológicos da prática psicomotora, uma vez que são os recursos que tem à

sua disposição:

• criar um ambiente acolhedor e que dê segurança;

• intervir a partir da organização dos lugares e dos materiais;

• fazer propostas levando em conta atividades das crianças para reforçar

e completar suas ações;

• garantir o respeito e as normas;

• utilizar a linguagem para reconhecer afetivamente a criança;

• favorecer a repetição espontânea das atividades referentes ao prazer

sensório-motor, introduzindo pequenas modificações;

• facilitar atividades compartilhadas com outras crianças;

• antecipar momentos posteriores;

• selecionar os temas a serem desenvolvidos a partir de situações que

surgem interesses das crianças;

• manter um ambiente comunicativo e fazer evoluir comportamentos

provocadores, sedutores, inibidos, agressivos...ajudando as crianças a

melhorarem seus atos comunicativos;

• intervir em momentos determinados jogando para criança, e não com a

criança, com uma implicação próxima em nível emocional, mas

distanciada em nível de expressividade motora;

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• favorecer a autonomia nas ações e nos jogos das crianças; regular os

conflitos intragrupo;

• valorizar os progressos e as competências como reconhecimento;

• compreender a expressão dos comportamento das crianças em

profundidade;

• trabalhar a frustração de forma progressiva, com propostas que facilitem

o andamento da sessão.

A função do professor é trabalhar no aluno cada uma das dimensões, para levá-lo à construção da unidade corporal e à afirmação da identidade. O educador não pode continuar investindo apenas em seu intelecto e em seu corpo como instrumento de aprendizagem. (ALVES (Org.),2011, p.24)

Sabemos da importância da criança frequentar a Educação Infantil,

pois, no meio de outras crianças elas compartilham a sua vivência. Quando os

exercícios de educação psicomotora educativa e preventiva são aplicados por

meio de brincadeiras, jogos, brinquedos cantados, história e atividades em que

alunos e professores confeccionam materiais a serem utilizados, com

exercícios psicomotores, irá despertar na criança de Educação Infantil o

interesse pela atividade proposta.

Seja qual for a experiência proposta eu método adotado, o educador deverá levar em consideração as funções psicomotoras (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio, etc.) que pretende reforçar nas crianças com as quais esta trabalhando. Mesmo levando em conta que, em qualquer exercício ou atividade proposta, uma função psicomotora sempre se encontra associada a outras, o professor deverá estar consciente do que exatamente está almejando e onde pretende chegar.(NEGRINE, 1995, p.25)

A educação psicomotora segundo Le Boulch (1988, apud ALVES,

(2011, p. 54) é uma “Educação de Base”, que trabalha com crianças desde a

mais tenra idade, sendo assim esta Educação de Base que estamos falando é

iniciada na Educação Infantil, onde a criança tem a oportunidade de entrar em

contato com um mundo e um universo de coisas, pessoas, locais, conteúdos

que até então ela desconhecia.

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Portanto, o espaço da sala de aula precisa ser acolhedora e segura,

oferecer uma estrutura básica para um trabalho corporal confortável. A partir da

segurança material e afetiva que a sala proporcionar a criança, ela se permitirá

descobrir as possibilidades de exploração do corpo e, automaticamente

buscará o prazer. Apesar da pouca idade ela própria determinará o que é

importante vivenciar para o seu melhor desenvolvimento.

Segundo Negrine (1995, p.20) um dos argumentos que justificam a

educação psicomotora na educação básica durante a fase pré-escolar é a

evidência sobre seu papel na prevenção das dificuldades de aprendizagem.

Pois, é nesse período que a personalidade de cada indivíduo vai sendo

moldada. É o momento em que a criança constrói os principais instrumentos

internos de que servirá primeiramente de maneira inconsciente e depois

consciente para interagir-se com a sua realidade externa.

O professor através da sua capacidade técnica, do seu

conhecimento, com sua experiência profissional e com a sua didática tem

condições de provocar um maior desenvolvimento cognitivo e proporcionar

uma aprendizagem verdadeiramente significativa em seus alunos.

A escola é uma instituição social onde a criança passa a maior parte do seu dia e, portanto, deve ser ela a proporcionar para seus alunos a integração de todo conhecimento que eles receberem: em nível corporal, mental, emocional, e social, ou seja, trabalhando o aluno como um ser multidimensional, onde a sua motricidade interage de forma complexa com as capacidades cognitivas, sociais e afetivas . (ALVES, 2011, p.158)

A psicomotricidade na escola se compromete a auxiliar o professor e

o aluno na construção de valores necessários às conquistas cotidianas,

pautando o seu trabalho na transformação social, canalizando ações,

efetivando seus sonhos, seus direitos para que possam investir em uma ação

social mais saudável. Para que isso aconteça é necessário a participação e o

comprometimento de todos que integram a comunidade educacional, para que

se construa um projeto coletivo com características preventivo-educacionais.

É necessário criar oportunidades para as crianças descobrirem em si

e nos outros as emoções, os afetos, as necessidades, os desejos, as

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motivações para que possam refletir sobre o mundo dos adultos e suas

possibilidades de inserção social.

3.1 O Lúdico na Educação Infantil

A criança precisa ser estimulada através dos jogos e das

brincadeiras, atividades estas que fazem parte do universo infantil e acaba

favorecendo a relação entre o real e a fantasia.

De acordo com Alves (Org) 2011:

A partir do potencial lúdico, por meio de brincadeiras e jogos, a criança vai estruturando e construindo seu mundo interior e exterior que, apesar de se manterem individualizados, deverão estar sempre inter-relacionados na busca de maior e mais harmônica interação com o ambiente. Por meio de uma brincadeira de criança, podemos compreender como ela vê e constrói o mundo, como ela gostava que fosse, qual as suas preocupações e que problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela se expressa o que teria dificuldades de traduzir com palavras. É necessário considerar sempre o brincar como um ato de grande importância, que oportuniza a escolha entre múltiplos tipos de brinquedos e as brincadeiras que ajudam a criança a estruturar a capacidade de raciocínio e adquirir flexibilidade no contato com o mundo, dando asas à fantasia e à sua criatividade. p. 159

Segundo Aucouturier (1996), existem três níveis de expressão

motora que a criança exterioriza e projeta sua história:

1. Atividades que remetem às sensações internas do corpo: estão

ligadas ao sistema labiríntico, dependendo dele as sensações de equilíbrio. A

criança experiencia essa sensações desde o período pré-natal e nas seguintes

brincadeira:

Ø Brincadeiras de empurrar, resistir, afastar: elas simbolizam o

existir da criança, na medida em que ela (re) atualiza a relação de segurança

vivida com a mãe. Quando a criança afasta ou empurra, ela está pedindo

espaço para romper ou para ir adiante do mundo.

Ø Brincadeiras de balançar, girar e rodar: estão ligadas às rotações

e às girações que a criança viveu na fase pré e pós-natal, ou seja, a maneira

pela qual ela foi manipulada no espaço antes de aprender a ficar de pé e que

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remetem às estimulações labirínticas.

Ø Brincadeiras de subir e cair: caracterizam-se pela passagem da

posição vertical para o horizontal e, dessa forma, torna-se necessário que a

criança tenha um bom equilíbrio dinâmico e uma representação de seu eixo

corporal, senão ela é incapaz de brincar com a queda. Brincar de cair é poder

ultrapassar a angústia da queda que, segundo Aucouturier, é uma sensação de

cair no vazio que se instala nos primeiros meses de vida.

Ø Brincadeiras de equilibrar e desequilibrar: a partir dessas

brincadeiras, a criança constrói seu eixo corporal e sua simetria. Por meio do

desequilíbrio proporcionado pela instabilidade dos blocos e dos colchetes, a

criança busca o equilíbrio. Esta ação está ligada à maneira como a criança foi

sustentada, agarrada e contida na relação com a mãe ou quem ocupou sua

função nos primeiros cuidados a ela.

Ø Brincadeiras de trepar e saltar: estão relacionadas ao desejo que

a criança tem de crescer, “ficar grande”. Também remetem às vezes ao que a

criança foi manipulada nos braços do adulto e, consequentemente, representa

as relações afetivas implícitas nesses atos.

Ø Brincadeiras de saltar em profundidade: também favorecem a

ultrapassagem da angústia da queda, pois trata-se de perder seus apoios e o

limite do seu corpo.

2. Atividades que remetem às experiências de prazer e

desprazer, às imagens e às vivências que surgiram na relação com o outro:

Ø Brincadeiras de esconder e aparecer: representam, segundo a

teoria piagetiana, a noção de objeto permanente que leva a criança a entender

que o objeto continua presente, mesmo na ausência. Contribuem para a

criança lidar com a angústia da perda, que Aucouturier denominou como sendo

a sensação desagradável que a criança vive na ausência da mãe quando ainda

não a tem internalizada em si.

Ø Brincadeira de construir e destruir: o simbolismo aqui presente é

bem inicial à vida. A criança para existir precisa da mãe e, posteriormente, ela

precisa destruí-la para existir e construir, que nasce o prazer de construir. Mais

uma vez, o material utilizado é de extrema importância, pois a destruição se dá

em cima da construção simbólica e não propriamente do material que,

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certamente, se manterá firme e conservado.

Ø Brincadeiras de prender e soltar: ligadas à fase anal descrita por

Freud, têm a ver com a presença e a ausência – perto e longe – significa

aproximar ou colocar longe de si.

Ø Brincadeiras de esvaziar e encher: contêm o simbolismo da

representação da evacuação, também ligadas à fase anal.

Ø Brincar de encaixar e desencaixar: estão ligadas à relação de

interpenetração boca e seio vivida durante a amamentação.

3. Atividades referentes ao simbólico são também chamadas de

brincadeiras de faz de conta ou de identificação. As crianças transformam os

blocos em casas, torres, meios de transporte; os tecidos viram telhados, capas

de super-heróis e princesas, piscinas, roupas variadas, mantas para bebês; o

jornal se transforma em espadas, chapéus, varinha do Harry Potter, dinheiro e

muitas outras possibilidades que a imaginação lhes permitirem para

internalizarem o mundo real. Segundo Piaget (2001), por meio dessas

brincadeiras de fantasiar, a criança compreende e se apropria do mundo que a

cerca, favorecendo sua integração ao meio social cada vez mais complexo.

Essas construções serão fontes de futuras operações mentais.

É possível brincar de explorar o seu corpo com atividades de pular, rolar, se equilibrar, arrastar, se distanciar, cair, entrar, sair, etc. Essas brincadeiras resgatam lembranças arcaicas deixadas no corpo das crianças quando eram bebês, na medida em que eram manipuladas por seus pais ou por outro adulto e, também, no início das principais aquisições motoras. (FERREIRA, HEINSIUS, BARROS, 2011, p.103)

Por meio das atividades lúdicas a criança explora o mundo que a

cerca, diferenciando aspectos espaciais reelaborando e reavaliando o seu

espaço, suas relações afetivas e o domínio do seu corpo.

Alves (2011) afirma que:

É brincando que a criança experimenta o seu mundo e aprende mais sobre ele. Os brinquedos são peças importantíssimas na conquista de habilidades motoras e é uma forma de elaborar conflitos e ansiedade. Brincar pode ser também uma forma de “linguagem” - um simbolismo pelo qual a criança expressa coisas que não consegue fazer verbalmente. (p.83)

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Segundo Oliveira (2005, p.160) ao brincar, afeto, motricidade,

linguagem, percepção, representação, memória e outras funções cognitivas

estão profundamente interligados. A brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da

criança e contribui para o processo de apropriação de signos sociais. Cria

condições para uma transformação significativa da consciência infantil, por

exigir das crianças formas mais complexas de relacionamento com o mundo.

A educação musical também exerce um papel importante na

Educação Infantil, pois contribui para o desenvolvimento harmonioso da

criança, facilitando na educação psicomotora, fazendo com que a criança

possa tomar consciência do seu corpo, da lateralidade, situar-se no espaço, ter

domínio do tempo, coordenar gestos e movimentos.

Por meio das atividades musicais e psicomotoras a criança vai

aprimorar sua habilidade motora, controlar seus músculos e poderá

movimentar-se com desenvoltura.

As brincadeiras quando acompanhadas de música apresenta

movimentos variados (para trás, para frente, para direita, para esquerda, para

cima, para baixo), na qual a criança adquire a noções de corpo, espaço e

tempo.

A percepção musical ao ser desenvolvida na criança faz com que ela

tenha uma audição apurada que levará a prática e o reconhecimento da fala.

Trabalhos que envolvem sonorização como: cantiga de roda, brincadeiras de

trava-línguas, musicas das mais diversas origens e orientações, poesias e

reproduções sonoras são algumas das infinitas atividades que podem ser

desenvolvidas no espaço escolar.

Se hoje usamos músicas para adormecer, para despertar, para dançar, para chorar, para relaxar, para orar e para uma série de outras atividades que realizamos diariamente, porque não poderemos usá-la para o desenvolvimento das expressões corporais as quais deveremos trabalhar com as crianças? (ALMEIDA, 2014, p.71)

Ao trabalhar a música com as crianças favorecemos a elas um

desenvolvimento afetivo e emocional e proporcionamos a autossatisfação e o

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prazer, possibilitando a expansão dos sentimentos. Quando mostram suas

emoções, liberam seus impulsos e utilizam o corpo para criar músicas ou

desenvolver os exercícios psicomotores, que irá desenvolver um sentimento de

autorrealização.

Por isso, a escola deve favorecer a criança um ambiente e espaço

de expressão, onde ela tenha a oportunidade de expressar seus afetos e

emoções por meio do jogo, da música e da psicomotricidade.

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CONCLUSÃO

Sabemos que os primeiros anos de vida são fundamentais para o

desenvolvimento psicomotor infantil. Para que ocorra uma maturação normal

na criança e que sua inteligência seja desenvolvida é necessário que haja um

ambiente favorável.

O tema escolhido para este trabalho “A importância da

psicomotricidade na Educação Infantil”, fez com que compreendêssemos a

Psicomotricidade como parte integrante do processo de aprendizagem.

Quando respeitamos as fases do desenvolvimento infantil e

psicomotor, a criança explora o mundo por meio de experiências concretas,

onde desenvolve a consciência de si mesma e do mundo exterior, além de

construir noções básicas para o desenvolvimento intelectual.

A criança se desenvolve desde os primeiros anos de vida de

maneira continua, por isso, como educador, devemos respeitar as fases do

desenvolvimento da criança para estabelecer condutas educativas que

favoreçam os diversos aspectos de desenvolvimento e conhecimento.

Como vimos, a Educação Psicomotora ou Educação do Movimento

tem por objetivo permitir à criança viver em harmonia com o seu corpo, com os

outros e com o ambiente que a envolve. A criança se sente mais segura na

medida em que conhece bem o seu corpo e que pode utilizá-lo não só para se

movimentar, mas também para agir e transformar o mundo à sua volta.

Quando a criança frequenta a Educação Infantil, compartilha a sua

vivência, por isso, a escola tem um papel importante na contribuição do

desenvolvimento social, afetivo e motor que irá favorecer a aprendizagem

futura. O educador precisa entender que a prática psicomotora é uma

ferramenta aliada a ação preventiva das dificuldades de aprendizagem.

O professor ao compreender que precisa estimular o seu aluno por

meio do movimento, deve criar oportunidades para eles desenvolverem

funções importantes, como: esquema corporal, lateralidade, equilíbrio,

estruturação espacial e temporal.

A prática em motricidade no ambiente escolar nos remete ao

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comprometimento com a prática pedagógica. Como profissionais da educação

não devemos nos preocupar demasiadamente com o ensino das letras e

números, pois assim, tornaremos um ambiente escolar cansativo, repetitivo e

acabaremos privando a criança da vivência corporal, do movimento e das

atividades lúdicas. Sabemos que é através do corpo em um todo, que as

crianças se deslocam, manipulam, experimentam, sentam, fazem e aprendem.

Entendemos que o educador deve estimular seus alunos com

atividades lúdicas que possam permitir o desenvolvimento das sua habilidades

motoras. O professor precisa conhecer seus alunos e estimulá-los com

atividades que trabalhe o corpo e a mente de forma prazerosa e harmoniosa.

Sabemos que na idade pré-escolar, a criança está se descobrindo,

se conhecendo, ou seja, vai se estruturando uma representação coerente de si

mesma. Tudo isso, precisa ser levado em consideração pelo educador para

que ele possa ajudar seus alunos a lidar de forma positiva com os limites e as

possibilidades corporais.

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BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Geraldo Peçanha. Teoria e prática em Psicomotricidade: jogos,

atividades lúdicas, expressão corporal e brincadeiras infantis. 7ª ed. Rio

de Janeiro: Wak, 2014.

AUCOUTURIER, B. Formação em Prática Psicomotora Aucouturier.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

EPÍGRAFE 05

RESUMO 06

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 08

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 12

CAPÍTULO II

A CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA PARA O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM 21

CAPÍTULO III

A PRÁTICA EM PSICOMOTRICIDADE NO AMBIENTE ESCOLAR 30

3.1 O Lúdico na Educação Infantil 34

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41