DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · contribui também para a vida social do...

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU O JOGO COMO LÚDICO NO ENSINO DE PRIMEIRA FASE E ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO ERINALDA ALVES DE MORAIS RAMOS ANÁPOLIS/GO ABRIL/2007 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

O JOGO COMO LÚDICO NO ENSINO DE PRIMEIRA FASE E

ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

ERINALDA ALVES DE MORAIS RAMOS

ANÁPOLIS/GO

ABRIL/2007

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2UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU

O JOGO COMO LÚDICO NO ENSINO DE PRIMEIRA FASE E

ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

Monografia apresentada à Universidade

Cândido Mendes como requisito básico para

obtenção de título de especialista Lato

Sensu.

ANÁPOLIS/GO

ABRIL/2007

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo discernimento e

inteligência.

Oportunizo-me também deste momento

para agradecer meus familiares e

amigos que, de forma incentivadora me

apoiou dando força, para que eu desse

mais um passo em minha carreira

profissional.

4

DEDICATÓRIA

A minha família em especial e a todos que

de uma forma ou outra me incentivaram a

dar continuidade a minha formação

acadêmica.

5

“Eis aqui a serva do senhor; cumpra-se

em mim segundo a tua palavra”.

Lc 1,38.

6

RESUMO Este trabalho monográfico tem como objetivo fazer um levantamento bibliográfico, além de questionamentos pertinentes ao jogo numa visão psicopedagógica; colhendo informações reais e necessárias em relação ao desenvolvimento da aprendizagem através do jogo, destacando os possíveis benefícios que podem ser adquiridos na aprendizagem quando utilizado o jogo. Observando e apontando também as principais características e contribuições da psicopedagogia em relação ao jogo no campo de atuação em educação. Este trabalho foi baseado somente em bibliografia, ou seja, tendo como suporte a literatura; onde buscou-se em vários autores a fundamentação necessária; utilizando de livros, artigos científicos, periódicos e internet no geral. Palavras-chave: Jogo. Psicopedagogia. Educação.

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METODOLOGIA

A educação é um agente transformador seja no ambiente escolar,

familiar ou social, e o jogo tem como um meio de educação atuar mesmo que

de maneira lúdica nesse processo de transformação. Daí pode-se dizer que os

objetivos e / ou propósitos alcançados com o mesmo pode incluir os gerais

como também os específicos. Portanto, este trabalho pretende percorrer o

ensino de primeira fase com o aprendizado do jogo, enfatizando o tema em

questão.

O presente trabalho baseia-se em pesquisa bibliográfica tendo por

estudos os seguintes autores: BROUGÈRE (1998), KISHIMOTO (1998),

LOPES (2000), MARANHÃO (2003), RAPPAPORT (1981), VYGOTSKY (1991),

e outros autores que também abordem textos relacionados ao tema

mencionado.

A Teoria Positivista foi escolhida como abordagem metodológica por

melhor apresentar o problema, tendo como base a Psicopedagogia e suas

características mais importantes.

Em relação aos resultados, ou seja, a conclusão foi realizado o

método indutivo por meio de uma pesquisa descritiva. Onde, realizou-se uma

pesquisa bibliográfica de livros, artigos de periódicos e científicos e internet em

geral, fundamentando assim este estudo. E, a forma de abordagem foi a

pesquisa qualitativa por melhor se enquadrar neste estudo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................. 06

CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO DE FORMA CRIATIVA ....................................................... 08

1.1 A criatividade e seus conceitos ............................................... 10

CAPÍTULO II

OS PRINCIPAIS CONCEITOS SOBRE O JOGO ....................................... 12

2.1 O jogo e a prática pedagógica ................................................. 15

2.2 A ludicidade do jogo na primeira fase de ensino ...................... 23

2.3 Os tipos de jogos mais usados na primeira fase de

ensino

....... 26

CAPÍTULO III

O JOGO E A PSICOPEDAGOGIA .............................................................. 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 36

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ............................................................ 40

9

INTRODUÇÃO

O jogo no ensino de primeira fase é de extrema importância para a

criança em geral, além de agir como beneficio para rendimento escolar

contribui também para a vida social do indivíduo. De acordo com vários autores

citados no decorrer desta pesquisa, o jogo no período do ensino fundamental

transmite além do conteúdo necessário uma melhor sociabilização entre os

alunos; auxiliando assim em um melhor convívio social, familiar e escolar do

indivíduo.

Maranhão (2003) faz importantes considerações acerca do jogo,

observando e destacando que o brinquedo é a representação da realidade para

a criança, ou seja, o indivíduo vivencia o real através do jogo.

Ressaltando, sem dúvida alguma, que o jogo para a criança

representa uma atividade social; pois possibilita a ela a construção de vários

elementos para a formação de sua personalidade. “Ele apresenta a concepção

da brincadeira como sendo um processo e uma atividade social infantil”

(MARANHÃO, 2003, p.30).

Portanto, a pesquisa justifica-se por cada vez mais o lúdico está se

tornando prioritário como meio de ensino. Muitos são os profissionais que

adotam da ludicidade do jogo para uma melhor educação entre seus alunos.

Pois, através deste, não se trabalha somente a sua disciplina, mas pode

ocorrer de se integrar vários conteúdos, usando assim a interdisciplinaridade.

Pensando desta forma é que se segue o presente estudo, com intuito de

destacar as funções do Psicopedagogo nessa relação.

Assim, o objetivo da pesquisa gira em torno de destacar as possíveis

contribuições que o jogo quando aplicado de maneira lúdica pode proporcionar

ao aluno, além de apontar a função do Psicopedagogo. Entretanto, objetivamos

também em estabelecer um traçado teórico onde consideramos de

10fundamental necessidade e importância abordar variados autores com seus

respectivos pensamentos sobre o tema alvo para assim contribuir na

construção do conhecimento de profissionais em relação ao trabalho a ser

realizado.

Deste modo lançou-se mão do uso de importantes autores na

composição da revisão de literatura ou fundamentação teórica, onde se seguiu

uma estratégia de pesquisa em que no capítulo I buscou-se levantar conceitos

e generalidades sobre a Educação, vista de forma criativa; abordando também

a criatividade e seus principais conceitos. No capítulo II abordaram-se os

principais conceitos sobre o jogo; destacando o jogo e a prática pedagógica; a

ludicidade do jogo na primeira fase de ensino e, os tipos de jogos mais usados

nessa fase. E, no capítulo III destacou-se o jogo e a psicopedagogia, fechando

desta forma a fundamentação teórica da pesquisa.

11

CAPÍTULO I

A EDUCAÇÃO DE FORMA CRIATIVA

O sistema educacional de nosso país é voltado para o

conhecimento, ou seja, o aluno deve somente visar e se preocupar com o

próprio conhecimento, enquanto poderia produzir e criar idéias novas e

também conhecimentos novos. Ou seja, somos metódicos, nossa educação

assume a característica de ensinar o “passado”, sendo que transmitimos fatos

já conhecidos e acontecidos; não procuramos explorar o novo, o desconhecido,

passando assim a realizar o estudo dos mesmos conhecimentos já vistos e

testados. Principalmente, o ensino de primeira fase que tem como foco

proporcionar o lúdico, a fantasia vem deixando esses aspectos e, abordando

conteúdo que não tem necessidade para essa fase. É preciso que nós

profissionais ligados à educação, seja ela infantil ou não passamos a assumir

um caráter de inovação, permitindo combinar fatos, conhecimentos que já

existem com um toque de inovação. Pois, a criatividade no processo de ensino

favorece um maior aprendizado, além de transmitir ao aluno que ele pode ser

criativo em sua vida por completo; fazendo de situações difíceis momentos

mais fáceis de “encarar”; além de criar dessa forma um ambiente cultural, ideal

para a formação do aluno; permitindo ao indivíduo uma melhor socialização e

uma forma mais ampla de ver o mundo e as pessoas.

“A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados

desde o primeiro dia de vida da criança” (VYGOTSKY, 1991, p.95).

Antes de mencionar alguns conceitos sobre educação, vale referir ao

aprender, e ALLESSANDRINI (1996, p.1), afirma que:

“aprender é o grande segredo de vida: transformar toda

ação possível de introjeção e reflexão, bem como toda

oportunidade de crescimento e desenvolvimento, em ação

construtivista. Cada momento de aprendizagem

representa a possibilidade de aprender o sentido do

12conhecimento”.

Allessandrini (1996, p.23), ainda diz:

“aprendemos quando adquirimos conhecimentos.

Situações de aprendizagem desafiadoras geram no

indivíduo a necessidade interna básica de, talvez, romper

com seus próprios limites enquanto movimentos em

busca do novo”.

Conforme Gomes (2003, p.20), pode-se dizer que:

“a educação é um processo que se cria para organizar

esse ambiente cultural, respeitando a progressiva

maturação física, a fim de que a pessoa vá realizando o

seu desenvolvimento de forma equilibrada e atinja mais

rapidamente, com menor dificuldade e de uma maneira

mais completa, os objetivos de sua vida”.

Portanto, de acordo com a autora acima, a educação é um sistema

de ensino que tem como função e objetivo, auxiliar à família, ou seja, a

educação além de ser transmitida e ensinada pela família, ela é

complementada pelo sistema de ensino. Embora, a educação aborde os

conteúdos necessários e obrigatórios pelo currículo escolar, ela também

destaca e desenvolve o sistema social como um todo, abordando o cultural, o

político, o aluno como um todo, parte integrante e integrada de uma sociedade;

tendo direitos, mas também deveres.

Vale dizer que conforme Costi (2007, p.1), sobre a aprendizagem

ainda pode dizer que ela:

a aprendizagem ocorre sob influência de muitos fatores:

um ambiente confortável (arquitetura), a postura e a

atuação do mestre, a relação aluno-professor – que nem

sempre é fácil, devido à singularidade de cada um.

13Atualmente a educação surge de forma bem criativa, sendo que esta

utiliza de vários procedimentos e meios para aprimorar e desenvolver o

conhecimento e aprendizado do aluno. A maioria dos profissionais ligados a

essa área estão a cada dia mais se preocupando com um aperfeiçoamento e

especialização dos seus conteúdos e conhecimentos, para favorecer uma

melhor educação.

“na escola, as crianças terão oportunidades de participar

de atividade de livre escolha, orientadas, mistas, de

rotina, possibilitando-lhes o desenvolvimento da

linguagem, mental, físico e motor, sócio-emocional”.

Há tempos atrás o ensino escolar visava e tinha como principal

objetivo seguir normas e rotinas, porém, atualmente felizmente o que vemos é

bem diferente, a situação de nossas escolas hoje é melhor vista, embora ainda

necessite reformulações. O aluno, o professor e a escola em geral tem a

oportunidade de estar inovando.

1.1 A criatividade e seus conceitos

Segundo Whitehead (1974), pode-se dizer que:

“a criatividade como força vital produz continuamente

experiências e situações sem precedentes, constituindo

em um avanço para o novo, não mantendo apenas o

novo, mas também produzindo formas completamente

novas”.

Com a afirmação do autor anteriormente mencionado, pode-se

concluir que a educação pode e deve através da criatividade desenvolver nos

alunos a imaginação, o descobrir coisas novas; fazendo com que eles se auto-

renovem, permitindo-os desenvolver experiências novas, além de desenvolver

fatos que estejam em mente.

14Quando pensamos em educação infantil, devemos nos atentar para

que o ensino nesta fase deva ser visto de forma global, em todas as áreas do

indivíduo; pois com isto, a criança terá um equilíbrio para que possa se

desenvolver em todos os sentidos, desde o afetivo, até o psicomotor e

cognitivo. É importante que haja visão para que nenhuma área seja menos

desenvolvida. Pois, se ocorrer algum desequilíbrio haverá uma desorganização

em uma visão ampla da criança. Precisamos desta forma, preocuparmos com o

aprendizado e não somente com o ensino.

“para que as crianças possam exercer sua capacidade de

criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas

experiências que lhes são oferecidas nas instituições,

sejam mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens

que ocorrem por meio de uma intervenção direta”

(GOMES, 2003, p.22).

Cabe desta forma ao profissional ligado ao ensino escolar estar

planejando suas aulas de acordo com as necessidades de cada indivíduo,

lembrando que deve ser globalizado.

Segundo Fromm (1941, p.261), “o homem só é verdadeiramente

feliz quando cria, na realização espontânea do Eu, ele une novamente com o

mundo”.

15

CAPÍTULO II

OS PRINCIPAIS CONCEITOS SOBRE O JOGO

“o jogo faz parte da trajetória humana desde tempos

imemoriais. Assim como a escrita, a linguagem e outras

tantas invenções, o jogo é fruto da criatividade dos seres

humanos e sempre foi (é e será) utilizado para buscar

perguntas e encontrar respostas sobre a própria

existência humana e suas imensas possibilidades de

desafios no viver” (BEAUCLAIR, 2004, p.1).

Ou seja, o jogo vai muito além do que simplesmente o brincar, sendo

transmitido os sentimentos humanos em si, a razão, a emoção, por exemplo.

Claro que este propicia o lazer, a diversão, porém, consegue-se com o mesmo

aprofundar-se na existência humana.

Lima (1992, p.1), menciona sobre o brincar que:

“é uma atividade universal, encontrada nos vários grupos

humanos, em diferentes períodos históricos e estágios de

desenvolvimento econômico. Evidentemente, as várias

modalidades lúdicas não existem em todas as épocas e

também não permanecem imutáveis através dos tempos.

Como toda atividade humana, o brincar se constitui na

interação de vários fatores que marcam determinado

momento histórico sendo transformado pela própria ação

dos indivíduos e por suas produções cultural e

tecnológica. Os jogos e as brincadeiras são, assim

transformados continuamente."

De acordo com Friedmann (1998, p.20), pode-se afirmar que:

16“o jogo é, pois um “quebra-cabeça”... Não é, como se

pensava, simplesmente um método para aliviar tensões.

Também não é uma atividade que “prepara” a criança

para o mundo, mas é uma atividade real para aquele que

brinca. Verdadeiramente, brincamos, envolvendo-nos com

paixão no jogo, sem precisarmos, em absoluto, saber o

que ele significa”.

Vale ressaltar que o jogo é um transformador, sendo como uma

atividade lúdica, dinâmica capaz de criar, transformar, mudar vários contextos

de um determinando grupo para outro.

Ressalva “o jogo acontece somente em organismo capazes de

metacomunicações e capazes de distinguir mensagens de tipos lógicos

diferentes” (FRIEDMANN, 1998, p.23).

Segundo a Wikipédia (2007, p.1), ainda pode-se conceituar o jogo

como:

toda e qualquer competição em que as regras são feitas

ou criadas num ambiente restrito ou até mesmo de

imediato, em contrapartida ao desporto (esporte no

Brasil), em que as regras são universais. Geralmente, os

jogos têm poucas regras e estas são simples. Pode

envolver um jogador sozinho ou dois ou mais jogando

cooperativamente. A maioria dos jogos são disputados

como uma forma de lazer, sem que os participantes

enfoquem na competição a vitória como ponto essencial.

Para Neto (1997, apud CARLOS NETO 2007, p.1), “Jogar/brincar é

uma das formas mais comuns de comportamento durante a infância, tornando-

se uma área de grande atracção e interesse para os investigadores no domínio

do desenvolvimento humano, educação, saúde e intervenção social”.

17Conforme Maranhão (2003, p.17), “o brinquedo estimula a

representação da realidade; ao representá-la ela estará vivendo algo ou

alguma situação remota e irreal naquele momento”.

Ainda conforme Maranhão (2003) Vygotsky aponta que o jogo para a

criança representa uma atividade social; pois possibilita a ela a construção de

vários elementos para a formação de sua personalidade. “Ele apresenta a

concepção da brincadeira como sendo um processo e uma atividade social

infantil” (p.30).

Para Lopes (2000) o jogo nada mais é do que uma atividade livre,

que transmiti e proporciona liberdade aos que realizam esta atividade,

lembrando que a mesma engloba o indivíduo de maneira global e intensa. “É

uma atividade desligada de todo e qualquer lucro, praticada dentro dos limites

espaciais e temporais, próprios, segundo uma certa ordem e certas regras”

(p.35).

Gonçalves (2003, apud BEAUCLAIR, 2004, p.1), afirma: “o jogo

revela uma lógica da subjetividade, tão necessária para a estruturação da

personalidade humana, quanto à lógica formal das estruturas cognitivas”.

Conforme Silva; Ortega (2007) quando a criança joga ela exercita

sua coordenação motora, além de estimular também sua concentração;

fazendo com isso com que a criança se sinta obrigada a tentar solucionar

possíveis problemas. Portanto, o jogo para o autor anteriormente mencionado é

um “agente estimulador”, ou seja, desenvolve na criança determinados

sentimentos e reações.

Além desses conceitos mencionados acima, VYGOTSKY (1984,

p.207), ressalta que:

“No brinquedo, a criança opera com significados

desligados dos objetos e ações aos quais estão

habitualmente vinculados; entretanto, uma contradição

muito interessante surge, uma vez que, no brinquedo, ela

18inclui, também, ações reais e objetos reais. Isto

caracteriza a natureza de transição da atividade do

brinquedo: é um estágio entre as restrições puramente

situacionais da primeira infância e o pensamento adulto,

que pode ser totalmente desvinculado de situações reais”.

Essa afirmação de Vygotsky nos faz pensar que o “brinquedo”, ou

melhor, dizendo, o jogo opera através do lúdico uma situação real. Sendo que

a criança usa do imaginário pra realizar o real. Lembrando que a criança acaba

que fazendo o que ela mais gosta, pois o jogo lhe proporciona prazer, ela

brinca com o que gosta, e tendo prazer ao realizar uma brincadeira ela aprende

de maneira inesperada o “correto”.

“Brincar é um componente crucial do desenvolvimento, pois, através

do brincar a criança é capaz de tornar manejáveis e compreensíveis os

aspectos esmagadores e desorientadores do mundo” (GARDNER, 1995).

Carlos Neto (2007, p.9), ressalta:

O Jogo não é só um direito é uma necessidade. Jogar não

deve ser uma imposição, mas uma descoberta.

Brincar/jogar não é só uma idéia é uma vivência. O jogo

não é um processo definido é um processo aleatório.

Jogar/brincar não é só incerteza é uma forma acrescida

de ganhar segurança e autonomia.

2.1 O jogo e a prática pedagógica

Primeiramente devemos entender que a educação é um meio

transformador não só no âmbito escolar, como também no social. Daí a

necessidade de atentarmos para o fato de que a educação, os educadores em

si devem ver seus alunos de maneira global, como um todo, pois assim poderá

se desenvolver uma construção de conhecimentos para o social. A escola

19precisa formar cidadãos responsáveis, honestos, críticos, criativos, solidários e

autônomos. E, através deste meio de ensino consegue-se atingir esses

objetivos.

Bonamigo e Kude (1991, apud SANTOS ORG., 2001, p.81), dizem

que:

“alguns educadores não estão muito seguros do modo

como a criança aprende brincando e como o professor

pode ensinar através de interações espontâneas, embora

compreendam e apreciem as potencialidades do

brinquedo”.

Embora haja essa afirmação dos autores acima vale dizer que o

educador deve estar ciente que para um processo de ensino-aprendizagem ter

êxito ele precisa se motivar e motivar acima de tudo seus alunos. Procurando

ver e suprir os interesses e as necessidades de cada aluno.

Vale dizer que se faz necessário fazer algumas considerações

acerca do desenvolvimento motor, pois este trata de uma constante

transformação comportamental no decorrer de toda uma vida; influenciada pela

interação entre as necessidades, as condições biológicas e os fatores

ambientais, os educadores precisam estar atentos ao desenvolvimento de cada

aluno (GALLAHUE e OZMUN, 2003). “O ensino não explica o aprendizado; o

desenvolvimento sim” (GALLAHUE e OZMUN, 2003, p.3).

Para Carlos Neto (2007) o papel e o valor do jogo no

desenvolvimento humano, principalmente em relação à educação se referem:

a) ao desenvolvimento cognitivo em muitos aspectos, como: a descoberta

de si, do outro e dos objetos a sua volta; a capacidade verbal; a

produção divergente; as habilidades manipulativas; a resolução de

problemas; processos mentais; e, a capacidade de processar

informação;

20b) alteram e provocam mudanças na complexidade das operações

mentais;

c) estruturação da linguagem através do jogo;

d) a transmissão da cultura;

e) as habilidades motoras são formadas e desenvolvidas através de

situações pedagógicas que utilizam o jogo como meio educativo.

Gomes (2003) diz que ao jogar a criança desenvolve em torno de si

um espaço de “convívio”, ou seja, ela passa a experimentar um mundo novo,

compreendendo melhor as pessoas à sua volta, seus sentimentos e os alheios;

além de aprender diversos conhecimentos.

De acordo com Rego (1995) a criança quando joga aprende a atuar

de forma cognitiva. E, na primeira fase de ensino, a criança já passa a imaginar

e ver objetos conforme suas idéias em mente, ou seja, antes a realidade era

ausente, atualmente ela já consegue unir a realidade à sua idéia, por exemplo.

Muitas vezes o indivíduo agirá nessa fase de maneira que no mundo real ele

não age, usando assim do “brinquedo” um meio de se expressar segundo a

sua necessidade e vontade. Mesmo que nesta fase as crianças atuam muito no

mundo imaginário através do jogo consegue-se aproximar o desenvolvimento

da vida real.

Para Santos Org. (2001, p.79), pode-se concluir que:

“Na verdade, o brincar representa um fator de grande

importância na socialização da criança, pois é brincando

que o ser humano se torna apto a viver numa ordem

social e num mundo culturalmente simbólico”.

Rappaport (1981) afirma que com o jogo na fase da educação

infantil o desenvolvimento da criança aumentará, sendo que sua imaginação se

expande, o indivíduo começa a ter idéias e mais idéias, se tornando assim

seres criativos.

21Lopes (2000) diz que o jogo quando aplicado à criança ele tem como

objetivo realizar um exercício, pois através deste as crianças conseguem

assimilar de maneira lúdica o objetivo da “brincadeira”, desenvolvendo deste

modo suas potencialidades.

“O jogo revela sua natureza psicológica real, pois as crianças

mostram suas inclinações reais quando jogam” (BROUGÈRE, 1998, p.57).

Segundo Kishimoto (1998) o jogo quando aplicado de forma

educativa pode realizar duas funções, que são:

• Função lúdica: nesta o jogo pode propiciar ao educando a diversão, o

prazer por “brincar”.

• Função educativa: esta tem como objetivo ensinar a criança “brincando”.

Transmitindo determinados conteúdos ludicamente.

Dolhinow e Bishop (1970, apud MATOS, 1994, p.39): “o jogo, para

as crianças, constitui um comportamento adaptativo, através do qual a criança

aprende as habilidades necessárias para ser um elemento do grupo social”.

Fonseca (1976, apud MATOS, 1994, p.40), dizem:

“uma concepção pedagógica do jogo, apresentando-o

como um meio privilegiado de descoberta pessoal e

social, que permite a aprendizagem e regulação de

relações com o mundo físico e social, atribuindo-lhe ainda

um forte poder terapêutico enquanto actividade redutora

de ansiedade”.

Para Beauclair (2004, p.1), “[...] o jogo, a atividade lúdica, é ação /

reação / conduta, movimento grávido de simbologias ressonâncias do que

carregamos como herança coletiva de nossa ancestralidade humana”.

É preciso que o jogo passe a fazer parte de nossos cotidianos, em

nossas salas de aulas. Aproveitando deste instrumento para aprofundar e

22desenvolver de maneira eficaz o aprendizado em nossos alunos.

Ressalta-se que o jogo pode proporcionar vários benefícios a

criança, dentre eles podemos citar: (MANOEL et al., 1998).

a) O desenvolvimento do “eu”

- o percentual (percepção de si mesmo);

- o conceitual (suas aptidões, recursos, faltas e limitações);

- a atitude (sentimentos que cada um tem sobre si).

b) O desenvolvimento do “eu” e as relações sociais

- constituição da personalidade que vão sendo caracterizadas pelos

diferentes grupos sociais, dos quais cada ser humano faz parte.

c) Os grupos sociais e a integração grupal

- grupos primários (relações humanas universais)

- grupos secundários (relações mais casuais, tipo clube social)

- grupos terciários (caráter eventual, pessoas na rua...)

- interação grupal (interação dentro do próprio grupo e com outros

grupos)

- interação interna (interação entre si, segundo a estrutura do próprio

grupo)

- interação externa (cooperação ou competição)

d) Liderança

- nas escolas os professores devem criar muitas situações que

envolvam grupos. E nesses grupos sempre haverá um líder,

possibilitando assim o aprendizado de ser líder.

23e) Interação social

- essas interações sociais incluem valores culturais

Sadi et al. (2004) ainda dizem que existem mais objetivos que

podem ser proporcionados a criança através do jogo. Como: cooperação,

solidariedade; noção de conjunto; organização; discussão de regras;

socialização; e, interesses da cultura corporal.

De acordo com Ramos e Neves (2004) vale ressaltar que todo

indivíduo evolui tantos os esquemas motores quanto os esquemas mentais,

portanto, a escola que valoriza a ludicidade enquanto via de aprendizagem de

conteúdos deve estar atenta e observar em seus planejamentos alguns pontos,

ou seja, o educador deve observar ao planejar suas atividades:

a) A maneira pela quais as crianças brincam – ou seja, a estrutura social

em que a envolve, se a criança quando brinca apresenta certas

características compatíveis aos dos adultos, sendo: agressivas,

carinhosas, atenciosas, entre outras. Dependendo de como for à

maneira de brincar da criança o educador pode aderir a condutas para

que assim o educando atinja o objetivo desejado;

b) Deve-se estar atento ao espaço onde as crianças brincam – observando

a organização do espaço, se a mesma oferece possibilidades para

exploração das brincadeiras. Se esta não proporcionar a estrutura

necessária cabe ao educador procurar soluções adequadas para que o

espaço propicie o ambiente favorável para que assim a brincadeira

tenha o seu devido êxito.

c) Deve-se observar a sua função enquanto educador – ou seja, ser

realista, deixar com que as crianças tenham o seu espaço, tenham

liberdade. Lembrando que nós precisamos ser mediadores, propondo

desafios e organizando os conflitos e desequilíbrios gerados pela

atividade.

24d) Avaliar os resultados das ações – observar os esquemas motores, as

técnicas usadas durante as aulas se estão corretas ou não. Deve-se

lembrar que a avaliação transmite não só a criança, mas também aos

professores a consciência dos atos realizados durante as aulas.

e) Se necessário deve-se replanejar as atividades propostas a partir da

avaliação – ou seja, após os resultados das atividades se houver

necessidade deve-se reformular o conteúdo, o planejamento. Ressalva,

porém, que a forma com a qual o educador dirige a aula é o diferencial

dos resultados.

Ainda sobre o papel do educador em relação ao jogo ZACHARIAS

(2007, p.1), diz:

“Apesar do jogo ser uma atividade espontânea nas

crianças, isso não significa que o professor não necessite

ter uma atitude ativa sobre ela, inclusive, uma atitude de

observação que lhe permitirá conhecer muito sobre as

crianças com que trabalha”.

Daí a autora aponta algumas funções básicas que os educadores

devem ter em relação ao jogo, observe:

- Procurar um ambiente adequado para o jogo infantil: “a criação de

espaços e tempos para os jogos é uma das tarefas mais importantes do

professor, principalmente na escola de educação infantil”. Isto deve-se

ao fato de que o espaço possa oferecer à criança as diferentes formas

que os jogos possam vim a requerer.

- Selecionar materiais adequados: o educador deve estar atento à idade

e às necessidades de seus alunos, ou seja, tendo disposição dos

materiais apropriados para cada faixa etária. Lembrando que material

deve ser suficiente na quantidade e também na diversidade. Procurando

sempre utilizar materiais que despertem o interesse, a criatividade nas

crianças.

25- Permitir a repetição dos jogos: proporcionar as crianças repetição de

jogos e / ou brincadeiras, pois existem certos jogos que elas gostam e

sentem prazer ao jogar, e isso faz com que elas sintam-se bem. sentem

grande prazer em repetir jogos que conhecem bem.

- Enriquecer e valorizar os jogos realizados pelas crianças: dar o devido

valor as atividades que as crianças realizarem, para que assim elas

possam estar sendo motivadas e se sentirem importantes. Mostre

interesse e incentivo pelo que elas fazem, pelo esforço das mesmas.

- Ajude seu aluno a resolver possíveis conflitos que possam vim a existir:

nós como educadores temos que mostrar aos nossos alunos que todo

conflito que surja deve ser resolvido e que é fácil negociar a resolução

do mesmo, cabe a nós apresentarmos a eles as maneiras e atitudes que

devemos tomar quando isso acontecer.

- Deve-se respeitar as preferências de cada criança: Através dos jogos

cada criança terá a oportunidade de expressar seus interesses,

necessidades e preferências. O papel do professor será o de propiciar-

lhes novas oportunidades e novos materiais que enriqueçam seus jogos,

porém, respeitando os interesses e necessidades da criança de forma a

não forçá-la a realizar determinado jogo ou participar de um jogo

coletivo.

Segundo os pensamentos de Santos Org. (2001) o jogo ou melhor

dizendo a brincadeira possui alguns valores indispensáveis na sua

classificação, como por exemplo: o valor funcional; o valor experimental; o valor

de estruturação e o valor de relação. Ou seja, dentro desses valores estão as

categorias que podem e devem ser trabalhadas e exploradas durante as

brincadeiras. Note:

Ø brinquedos e / ou jogos para atividades sensório-motoras;

Ø brinquedos e / ou jogos para atividades físicas;

26Ø brinquedos e / ou jogos para atividades intelectuais;

Ø brinquedos e / ou jogos que reproduzem o mundo técnico;

Ø brinquedos e / ou jogos para o desenvolvimento afetivo;

Ø brinquedos e / ou jogos para atividades criativas;

Ø brinquedos e / ou jogos para relações sociais.

Portanto, em só jogo e / ou brinquedo pode-se explorar todas essas

categorias mencionadas anteriormente, basta o educador ser criativo e usar

seus mecanismos para isso.

Para Bettelheim (2005, apud ZACHARIAS, 2007, p.1), podemos

afirmar que:

"Através de uma brincadeira de criança, podemos

compreender como ela vê e constrói o mundo- o que ela

gostaria que ele fosse, quais suas preocupações e que

problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela

expressa o que teria dificuldade de colocar em palavras.

Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua

escolha é motivada por processos íntimos, desejos,

problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a

mente da criança determina suas atividades lúdicas;

brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar

mesmo se não a entendemos".

2.2 A ludicidade do jogo na primeira fase de ensino

Segundo Santos Org (2001) cada parte de nosso cérebro é

responsável por determinados movimentos e / ou ações. Daí pode-se dizer que

após vários estudos realizados sobre o mapeamento cerebral, quando a

criança e / ou o adulto brinca significa que a parte do cérebro que estará

27atuando será o quadrante superior do hemisfério direito.

“ser lúdico, portanto significa usar mais o hemisfério

direito do cérebro e, com isto, dar uma nova dimensão à

existência humana, baseado em novos valores e novas

crenças que se fundamentam em pressupostos que

valorizam a criatividade, o cultivo da sensibilidade, a

busca da afetividade, o autoconhecimento, a arte do

relacionamento, a cooperação, a imaginação e a nutrição

da alma” (SANTOS ORG., 2001, p.13).

“admite-se que o brinquedo represente certas habilidades.

Uma representação é algo presente no lugar de algo.

Representar é corresponder alguma coisa e permitir sua

evocação, mesmo em sua ausência. O brinquedo coloca

a criança na presença de reproduções: tudo o que existe

no cotidiano, a natureza e as construções humanas.

Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à

criança um substituto dos objetivos reais, para que

possam manipula-los”. (KISHIMOTO, 1999, p.18).

Ou seja, a criança ao brinca, ao jogar ela imagina o mundo da sua

forma de pensar, como ela quer, ela não importa e nem consegue assimilar

com a verdadeira realidade do mundo, mas sim com os seus pensamentos.

Vygotsky (1991, p.115), diz: “o brinquedo não é o aspecto

predominante da infância, mas é um fator muito importante do

desenvolvimento”.

Conforme Levinzon (1989, apud KISHIMOTO, 1999, p.66), pode-se

dizer que:

“brincando, portanto a criança coloca-se num papel de

poder, em que ela pode dominar os vilões ou as situações

que provocariam medo ou que a fariam sentir-se

28vulnerável e insegura. A brincadeira de super-herói, ao

mesmo tempo que ajuda a criança a construir a

autoconfiança, leva-a a superar obstáculos da vida real,

como vestir-se, comer um alimento sem deixar cair, fazer

amigos, enfim, corresponder às expectativas dos padrões

adultos”.

“Toda brincadeira é uma imitação transformadora, no plano das

emoções e das idéias, de uma realidade anteriormente vivenciada” (GOMES,

2003, p.22).

Ao brincar a criança pensa na realidade, recriando através do

brinquedo, do jogo o que ela vivencia e / ou imagina.

Para Lima (1992, p.1):

"A realização de jogos e brincadeiras na primeira infância

envolve naturalmente o movimento, que vai dominar como

componente, pois através dele a criança se coloca no

meio, inteirando-se com os objetos, com as pessoas,

explorando seu próprio corpo, o espaço físico. Uma das

funções da brincadeira é permitir à criança o exercício do

movimento. (...) O movimento tem, assim, relevância

destacada na infância, pois ele serve para a criança se

relacionar com o outro, explorar o espaço - situando-se

nele -, bem como os objetos e o próprio corpo."

Gomes (2003, p.22), ainda ressalta que: “a brincadeira auxilia a

aprendizagem, favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar

progressivamente suas aquisições de forma criativa”.

292.3 Os tipos de jogos mais usados na primeira fase de ensino

De acordo com Gomes (2003, p.22), no ensino de primeira fase ou

educação infantil, pode-se dizer que:

“As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção

e aqueles que possuem regras, como os jogos de

tabuleiro, tradicionais, didáticos, corporais, imaginativos,

criados pelas próprias crianças, propiciam a ampliação

dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica”.

Segundo Miranda (1991) os jogos motores são ótimos para serem

realizados na primeira fase de ensino, pois estes possibilitam ao educador em

geral analisar a personalidade infantil; podendo desta forma contribuir para o

desenvolvimento não só físico como também social e mental. Além dos jogos

motores os jogos de massa e também coletivos são bons para essa fase, eles

propiciam uma melhor socialização.

Conforme Nardi (2006) Piaget aborda e caracteriza o jogo sob três

estruturas, que são:

a. Jogos de exercício, esses acontecem no estágio sensório motor – que

tem seu período dos 0 aos 2 anos. O que caracteriza o desenvolvimento

desse jogo é o início de pré-verbal, ou seja, inicia-se o processo da

“fala”. Vale dizer que este é o primeiro jogo a aparecer na vida da

criança. O autor ainda ressalta que nesta fase, a criança é totalmente

egocêntrica, ou seja, quando ela brinca geralmente ela está sozinha ou

com a mãe.

“Os jogos de exercícios, que à primeira parecem ser

apenas a repetição mecânica de gestos automáticos,

caracterizam para os bebês os efeitos esperados, isto é, a

criança age para ver o que sua ação vai produzir, sem

30que por isso se trate de uma ação exploratória. O efeito é

buscado pelo efeito naquilo que ele tem justamente de

comum: a criança toca e empurra, desloca e amontoa,

justapõe e superpõe para ver no que vai dar. Portanto,

desde o início introduz na atividade lúdica da criança uma

dimensão de risco e de gratuidade em que o prazer da

surpresa opõe-se à curiosidade satisfeita” (ALMEIDA,

1998, p.43).

b. Jogos simbólicos, esses ocorrem no estágio pré-operacional – acontece

entre os 2 aos 6 anos; este o símbolo representa algum objetivo

ausente, o faz-de-conta, por exemplo. Vale mencionar que neste período

geralmente inicia-se o período da educação infantil.

c. Jogos de regras ocorrem no período operacional concreto – supõe

relações sociais e / ou em grupos; a regra é imposta e deve ser

cumprida, se houver alguma falha há uma penalização. Esta ocorre a

partir dos sete anos.

“Com a capacidade de lidar com operações como a

conservação, a classificação e a seriação, a criança no

estágio operacional concreto, finalmente, desenvolveu um

sistema completo e muito lógico de pensamento. Esse

sistema, no entanto, ainda está ligado à realidade física. A

lógica baseia-se em situações concretas que podem ser

organizadas, classificadas ou manipuladas” (WOOLFOLK,

2000, p.45).

Vale dizer que entre os jogos mencionados acima, os jogos de

construção aparecem entre os três. Pois:

“Com o aumento do equilíbrio consegue alcançar um

certo grau de permanência, imitação e jogo que se

interagem as inteligências, alcançando o nível operatório,

31devido à reversibilidade que caracteriza o equilíbrio (a

imitação torna-se refletida e o jogo torna-se construtivo)”

(NARDI, 2006, p.1).

Para Freire (1999) o quadro abaixo destaca alguns tipos de

atividades que podem e devem ser trabalhadas nas séries iniciais, observer.

QUADRO I – Atividades desenvolvidas nas séries iniciais

CULTURA CORPORAL 1ª 2ª 3ª 4ª

1. Atividades de Sensibilização corporal (SC) X X X X

2. Jogos Simbólicos (JS) X

3. Jogos de Construção (JC) X

4. Jogos de regras (JR) X X X X

5. Rodas Cantadas (RC) X X

6. Brincadeiras Populares (BP) X X X X

7. Ginástica Geral (GR) X X X X

8. Dança Folclórica (DF) X X

9. Lutas Simples (LS) X X

10. Jogos Pré-Desportivos (JP) X X

11. Atividades de Fundamento do Esporte (EF) X

FONTE: FREIRE, 1999, p.79.

Seguindo ainda os pensamentos de Freire, o quadro apresentado a

seguir aponta os sub-temas que também devem ser trabalhados nas séries

iniciais.

32QUADRO II – Sub-temas a serem trabalhados nas séries inicias

Motores Sociais Afetivos Intelectual

Locomoção Manipulação Estabilização Desportivo Capacidades Motoras

Cooperar Amor Táticas

Andar

Correr

Saltar

Desviar

Rolar

Girar

Abaixar

Levantar

Contornar

Subir

Descer

Segurar

Lançar

Chutar

Bater

Rebater

Equilibrar

Torcer

Apertar

Afrouxar

Tocar

Equilibrar-se

Ficar em pé

Ficar

sentado

Ficar deitado

Ficar

agachado

Apoiar-se

Imobilizar-se

Desarmar

Driblar

Fintar

Cabecear

Passar

Finalizar

Conduzir

Antecipar

Força

Resistência

Agilidade

Velocidade

Flexibilidade

Solidarizar

Organizar

grupos

Discutir temas

Competir

Construir

regras

Altruísmo

Agressividade

Violência

Fraternidade

Confiança

Frustração

Realização

Diálogos

Teorias

Textos

Imitações

Tomadas

conscientes

planejamento

FONTE: FREIRE, 1999, p.80.

As colocações feitas por Freire sobre os conteúdos a serem

desenvolvidos e trabalhados nas primeiras séries do ensino fundamental são

de grande importância, pois o autor destaca conteúdos importantes que devem

fazer parte do programa de aula, ou seja, do planejamento favorecendo e

propiciando assim um melhor desenvolvimento do aluno, não só motor como

também no geral.

“A brincadeira é uma atividade informal que se

desenvolve sem que haja investimento de objetivos

pedagógicos. Mas a brincadeira também se desenvolve

no quadro familiar, no quadro das relações de

comunicação, das relações de prazer na construção de

um universo de vida cotidiana entre as crianças e os pais”

33(ROSSI, 2007, p.2).

Conforme Unilever (2007) as crianças precisam sim brincar e

aprender diversos jogos na escola, porém em casa é importante também que

os pais propiciem aos seus filhos momentos de lazer, de brincadeira,

momentos prazeroso, e para os autores acima toda criança até os dez anos de

idade deve fazer todas essas coisas mencionadas na lista abaixo, pois todas

elas funcionam e agem como brincadeira para a criança, verifique:

a. Fazer uma torta de lama;

b. Descer rolando de um gramado;

c. Fazer sua própria massinha de modelar;

d. Fazer perfumes utilizando-se de pétalas de flores;

e. Fazer máscara de papel;

f. Construir castelos de areia;

g. Subir em árvores;

h. Fazer esconderijos no jardim ou quintal;

i. Fazer muitas pinturas;

j. Organizar seu próprio piquenique;

k. Pintar seu rosto;

l. Brincar com amigos na areia;

m. Fazer comidas de verdade, tipo pão com a ajuda de um adulto;

n. Criar escultura de argila;

o. Acampar no jardim;

p. Alimentar os animais;

q. Colher frutas e verduras;

r. Jogar varetas;

s. Ande de bicicleta;

34t. Faça e solte pipa;

u. Plante árvores;

v. Faça uma horta;

w. Sirva café na cama para seus pais;

x. Fazer uma corrida de obstáculos no jardim.

Todos esses itens mencionados acima funcionam como brincadeiras

para as crianças dessa faixa etária, lembrando que sem que elas percebam

essas brincadeiras estarão contribuindo para o crescimento profissional e quem

sabe até profissional delas. Pois, as mesmas estarão contribuindo tanto no

físico quanto no psicológico de cada uma delas.

35

CAPÍTULO III

O JOGO E A PSICOPEDAGOGIA

“A pessoa humana para estar bem precisa relacionar-se

socialmente, trabalhar e amar. A criança saudável brinca

e, dessa maneira, aprende a relacionar-se com o mundo

adulto, a amar e sentir-se amada. A importância que o

trabalho tem para o adulto equivale à importância do

brinquedo para a criança” (FONSECA, 2007, p.1).

Santos (1997, apud MALUF 2000, p.2), diz: “brincar é a forma mais

perfeita para perceber a criança e estimular o que ela precisa aprender e se

desenvolver”. Portanto, pode-se dizer que “o brincar apresenta esquema

semelhante ao aprender” (FONSECA, 2007, p.1).

Ressaltando que não importa qual seja a idade, toda atividade lúdica

proporciona prazer e motivação tanto em crianças, quanto em adolescentes e

também em adultos. E a brincadeira o jogo em si são atividades lúdicas que

podem e devem ser exploradas no dia-a-dia das pessoas (OLIVEIRA e

GOMES, 2005).

Fonseca (2007) ainda nos faz pensar que:

“A criança que não brinca está com seu discurso interno

desestruturado e, a partir de um modelo oferecido pelo

psicopedagogo, ela vai reconstruir o discurso, a

ordenação, o termo-a-termo, a seqüenciação, a seriação,

a classificação, a reversibilidade, etc”.

Nardi (2006, p.1), cita que:

“o desenvolvimento da criança e a relação com o brincar e

o jogo é de fundamental importância para o profissional

de psicopedagogia possibilitando a compreensão das

36relações e entendimento através do jogo e do que a

criança quer nos dizer quando brinca, quando joga”.

O autor quando nos faz essa menção ele se refere ao fato de que

muitas vezes a criança não consegue se expressar na fala ou mesmo por outro

motivo qualquer, então através do jogo ela consegue transmitir o que pensa e o

que deseja. Pois o jogo vai estimular o pensamento da criança; melhorando

assim à linguagem verbal.

“Através da dinâmica do jogar, brincar, sorrir, o espaço de

inserção de nossa prática poder contextualizar / construí /

ampliar novos conhecimentos de modo gratificante, vivo,

onde a dimensão humana do sentir-se pleno, em prazer e

gozo seja mister motivação ao querer continuar em

movimentos de aprender” (BEAUCLAIR, 2004, p.3).

Beauclari (2004, p.1), “a instituição que se move numa perspectiva

psicopedagógica construtivista deve usar, sempre que possível, processos de

ensinagem onde a dinâmica de jogos seja presença constante e fundamental”.

Portanto, enquanto psicopedagógos precisamos “cabe a nós

mesmos a procura por ampliar e desenvolver nossas sabedorias experenciais,

sempre nos propondo a ir além, como nossas próprias criatividades, e na

busca de uma configuração de toda a dinâmica da vida, que se estabelece nos

espaços de nossas inserções cotidianas” (BEAUCLAIR, 2001, apud

BEAUCLAIR, 2004, p.1). MALUF (2000), ainda diz mais, que precisamos ter

espírito aberto ao lúdico, ou seja, reconhecer a importância da criança

enquanto fator de desenvolvimento.

Portanto, faz-se necessário que nós psicopedagogos enquanto

professores tenhamos convicção que somos os responsáveis pela formação do

indivíduo como aluno e, principalmente como cidadão. Lembrando que a

formação deve ocorrer em todos os sentidos, para que a criança atinja o

desenvolvimento psicomotor, cognitivo e afetivo-social.

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Detectou-se com este que a brincadeira é uma situação privilegiada

de aprendizagem infantil onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais

complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma

situação imaginária e pela negociação de regras de convivência e de

conteúdos temáticos. A brincadeira nada mais é do que uma estrada em que a

criança irá percorrer para chegar ao ponto chave, onde a mesma irá desvendar

os segredos que lhe esconde um olhar surpreso ou acolhedor, para desfazer

temores, para explorar o desconhecido. Pois, através do brinquedo ela

conseguirá solucionar todas as suas dúvidas. Vale dizer que toda criança é

verdadeiramente livre quando está brincando, com a brincadeira ela

desenvolve sua autonomia. Lembrando que o melhor brinquedo didático para

uma criança é outra criança brincando com ela, principalmente se forem da

mesma faixa de desenvolvimento.

Com este estudo pode-se perceber também que a atuação do

Psicopedagogo frente à ludicidade de crianças no ensino de primeira fase é de

extrema importância, pois através do lúdico se chegará aos objetivos propostos

de maneira prazerosa e tranqüila. Portanto, a tarefa do Psicopedagogo

consiste em auxiliar o aluno nas dificuldades encontradas; mostrando a ele que

as dificuldades podem ser superadas com prazer e alegria.

Para que a atuação do Psicopedagogo seja realizada com êxito é

necessário que ele esteja atento ao desenvolvimento da criança, observando

suas principais dificuldades como também suas facilidades; procurando desta

forma adequar os conteúdos determinados. Usando do jogo como meio de

auxilio para um melhor ensino.

Segundo Beuaclair (2004) o jogo representa não só o brincar como

também o transmitir sentimentos humanos, a razão, a emoção. Além de

propiciar o lazer, a diversão. Sendo este um transformador, uma atividade

38lúdica, dinâmica capaz de criar, transformar, mudar vários contextos de um

determinando grupo para outro.

Com base neste estudo, conclui-se que todo indivíduo necessita de

momentos lúdicos na vida em geral, e principalmente na escola, onde através

do jogo como lúdico irá ocorrer uma melhor aprendizagem, atingindo todos os

objetivos propostos pela escola e pelo professor. Portanto, cabe a nós,

psicopedagogos, fazer uso de nossos conhecimentos para uma atuação

correta e muitas vezes de solução para possíveis problemas para a

transformação de uma simples aula em aula criativa, divertida e acima de tudo

proveitosa.

39

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