DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Dedico este trabalho a minha família que é a...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
INSERÇÃO DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS NO ENSINO DA
DANÇA CLÁSSICA PARA CRIANÇAS DO NÍVEL BÁSICO, FAIXA
ETÁRIA DE 7 A 10 ANOS
Por: Verônica Borges Azevedo Pizzorno
Orientador
Profa. Msc. Fátima Alves
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
INSERÇÃO DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS NO ENSINO DA
DANÇA CLÁSSICA PARA CRIANÇAS DO NÍVEL BÁSICO, FAIXA
ETÁRIA DE 7 A 10 ANOS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicomotricidade.
Por: Verônica Borges Azevedo Pizzorno.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu marido, por estar
sempre ao meu lado me
acompanhando e incentivando a
realizar meus projetos de vida, te amo!
Aos meus filhos pelos sorrisos a cada
retorno das longas viagens, aos meus
pais e familiares pelo apoio, a minha
orientadora que muito admiro Fátima
Alves, e a Deus por ter me dado
sabedoria e força.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a minha família que
é a base de tudo...
RESUMO
O ballet, que vem sendo praticado desde o século XV, é conhecido por
sua rigidez de padrões que foram perpetuados ao longo do tempo. Nele, os
bailarinos, desde a sua formação vivenciam um aprendizado sistematizado.
Considerando que psicomotricidade busca o autoconhecimento através do
corpo em movimento, neste trabalho discute-se como estas práticas atuam no
processo de desenvolvimento do bailarino em sua fase inicial. O presente
trabalho, realizado por meio de pesquisa bibliográfica e observações em sala
de aula, reforça como atividades psicomotoras favorecem o bailarino a
experimentar o conhecimento de seu próprio corpo e não somente reproduzir
os movimentos codificados da dança clássica e propõe a inserção de
atividades psicomotoras no programa de ensino do ballet clássico.
METODOLOGIA
Este estudo foi realizado com base em pesquisa bibliográfica e
observação das turmas de ballet clássico, nível básico (preliminar e primeiro
ano com faixa etária de 7 a 10 anos) da escola de formação artística do
município de Rio das Ostras.
Esta pesquisa teve caráter direto com a intenção de investigar inserção
de conceitos da psicomotricidade no ensino da dança clássica para crianças.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O bailarino e seu corpo 11
CAPÍTULO II - Psicomotricidade: jogos psicomotores e atividades
lúdicas nas aulas de ballet 17
CAPÍTULO III – Proposta de atividades psicomotoras para o nível
básico do ballet clássico (idades de 7 a 10 anos) 25
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
INDICE 41
8
INTRODUÇÃO
O ballet se desenvolveu em Florença, na Itália, a partir do século XV
onde aconteciam grandes festas no palácio dos Médicis que duravam dias e
simbolizavam riqueza e poder. O termo ballet veio do italiano ballo, que quer
dizer baile. No século XVIII o ballet começou a ser codificado quando Pierre
Beauchamp (1636-1705) criou as cinco posições básicas dos pés para ballet.
A partir daí todos os movimentos e/ou passos se iniciam e terminam nelas que
são acompanhadas de posições de braços e de cabeça e, conhecidas por
todos os bailarinos clássicos (RENGEL & LANGENDONCK, 2006).
Atualmente o ensino do ballet clássico divide-se em três níveis: o
básico (preliminar, primeiro ano e segundo ano), o intermediário (terceiro ano,
quarto ano e quinto ano) e o avançado (sexto ano, sétimo ano e
aperfeiçoamento) (CAMINADA & ARAGÃO, 2006; BERTONI, 1992).
Sabe-se que a técnica do ballet clássico é complexa e exige muito
conhecimento. Na escola de dança a pratica pedagógica do ballet clássico
requer muita disciplina e rigidez. Seus movimentos são codificados e
permanecem fechados dentro de tradições rígidas e resistentes a inovações
(RENGEL & LANGENDONCK, 2006).
A presente pesquisa, que abrange crianças do nível básico do ballet
com idades entre 7 e 10 anos, foi orientada pela seguinte questão: “As
atividades psicomotoras podem favorecer o ensino do ballet clássico para
crianças, sabendo que este requer uma rigidez de disciplina dos alunos em sua
formação?”
Para tal o estudo foi dividido em três capítulos: 1- O bailarino e seu
corpo; 2- Psicomotricidade: jogos psicomotores e atividades lúdicas nas aulas
de ballet; 3- Proposta de atividades psicomotoras para o nível básico do ballet
clássico (idades de 7 a 10 anos).
Capítulo 1 – O bailarino e seu próprio corpo
Na iniciação ao ballet clássico, no nível básico, começa o trabalho de
formatação de uma postura correta, da colocação deste corpo diante de uma
barra e as posições básicas (CAMINADA & ARAGÃO, 2006), surge então a
9
preocupação com o autoconhecimento deste corpo que está reproduzindo
passos/posições antes mesmo de se descobrir.
Este capítulo aborda e discute a importância, para o bailarino, do
conhecimento do seu corpo e das relações deste com o tempo e o espaço.
Capítulo 2 - Psicomotricidade: jogos psicomotores e atividades lúdicas
nas aulas de ballet;
As crianças em movimento e suas relações interpessoais durante as
aulas de ballet remetem a definição de Psicomotricidade: “que é a ciência que
tem por objeto o estudo do homem através do seu corpo em movimento nas
suas relações com seu mundo interno e externo”
(www.psicomotricidade.com.br).
A psicomotricidade tem a preocupação com a experimentação que a
criança faz com o seu próprio corpo em busca de seu autoconhecimento.
Respeitando a ideia de que cada criança é única e que se
comportam/relacionam de maneiras diferentes. O respeito à individualidade da
criança é o primeiro passo. Somos seres únicos e, por isso, devemos
considerar essa singularidade na relação com a criança (PINTO, 2011).
Por meio da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos,
seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz
estimativas compatíveis com o crescimento físico e o desenvolvimento,
ajudando-a na sua integração na sociedade (MACHADO & NUNES, 2011).
As crianças precisam de uma liberdade de movimento para conhecer
seu corpo. Surge daí a necessidade de discutir se existe espaço para a
inserção de conceitos psicomotores na formação inicial do bailarino clássico e
como estas atividades auxiliam no desenvolvimento da criança nesta fase.
Capítulo 3 – Proposta de atividades psicomotoras para o nível básico
do ballet clássico (idades de 7 a 10 anos).
A prática psicomotora é para a criança um espaço acolhedor e seguro
no qual ela poderá experimentar o prazer de movimentar-se (FERREIRA,
2011). Forçar o corpo a agir contra seus reflexos inconscientes não serve para
nada, não tem efeito duradouro. Assim que a atenção se distrai, o corpo
retoma seus velhos hábitos (BERTHERAT & BERNSTEIN, 2003).
10
Na sala de aula, o aluno busca um espaço para o seu corpo, vivendo
intensamente cada momento. Se inibido de imediato, haverá bloqueio
psicomotor, levando ao isolamento, e ele passa a se tornar “observador do
mundo (ALVES, 2012).”
A partir desse olhar, sob a psicomotricidade, foram propostas
atividades psicomotoras a serem inseridas nos planos de aula de ballet
clássico.
O presente trabalho, realizado por meio de pesquisa bibliográfica e
observações em sala de aula, reforça como atividades psicomotoras
favorecem o bailarino a experimentar o conhecimento de seu próprio corpo e
não somente reproduzir os movimentos codificados da dança clássica.
Segundo Bertherat & Bernstein (2003), devemos preparar o corpo
antes de usá-lo, antes de esperar dele “resultados satisfatórios”. É o estado do
corpo que, a priori, determina a riqueza das experiências vividas. O corpo
lúcido toma iniciativas, não se contenta mais com receber, aguentar, “engolir”.
Ao tomar consciência do corpo, damos-lhe a ocasião de comandar a vida.
11
CAPÍTULO I
O BAILARINO E SEU PRÓPRIO CORPO
O ballet clássico carrega na sua história, desde a origem, uma postura
de hierarquia e poder. Iniciado nos salões aristocratas, estes bailes que eram
dançados pela nobreza como forma de diversão, transmitiam os requintes e
códigos de conduta desta e de sua corte.
As primeiras posições relacionadas ao ballet já retratavam o poder,
com corpos sempre eretos, cabeças alongadas e ombros abertos. Todo esse
glamour, essa pose, foi levado para dentro do ensino do ballet que uma vez
codificado trouxe consigo essa postura e até certa rigidez.
Segundo RENGEL & LANGENDONCK (2006), o ballet começou a ser
codificado quando Pierre Beauchamp (1636-1705) criou as cinco posições
básicas dos pés para ballet. A partir daí todos os movimentos e/ou passos se
iniciam e terminam nelas e são acompanhadas de posições de braços e de
cabeça e, conhecidas por todos os bailarinos clássicos.
Em principio o ensino era muito rígido e severo. Sempre em busca da
perfeição, os alunos bailarinos treinavam incansavelmente até que
alcançassem o melhor possível. O ensino do ballet, atualmente não mais tão
severo, mas ainda rígido, exige do aluno uma grande disciplina e uma postura
impecável.
Esse processo de construção do bailarino dentro das escolas traz
muitas preocupações com a formação deste corpo, que neste caso é a
representação de um indivíduo. Mais preocupante é quando vemos neste
corpo uma criança.
Os alunos de ballet clássico iniciam nas escolas aos 7-8 anos de
idade, ainda preocupados em brincar e serem felizes, estão em movimento
livre o tempo todo. Precisam disso para se desenvolver.
Quando entram na escola de dança começam a ser moldados,
ensinados a parar, a ficarem quietos e a ter disciplina. A partir daí começa um
12
trabalho de ensinamento postural e das posições básicas do ballet. É um corpo
livre que começa a ser codificado. Segundo Caminada & Aragão (2006), na
iniciação ao ballet clássico, no nível básico, começa o trabalho de formatação
de uma postura correta, da colocação deste corpo diante de uma barra e as
posições básicas.
Por muitas vezes, ou quase sempre, estes começam a ser codificados
antes de mesmo de se conhecerem. Então surgem os questionamentos por
parte dos alunos: encaixar o quê? Rodar para fora o quê? Sustentar o quê?
Muitas vezes sem entender para quê. Simplesmente reproduzem os
movimentos solicitados.
Um programa de ensino no curso regular de formação de bailarinos
abrange de oito a nove anos de estudo e é normalmente dividido em três
níveis, a saber:
Nível Turma
Básico preliminar, 1º e 2º anos
Preliminar 3º ,4º e 5º anos
Avançado 6º ,7º e aperfeiçoamento
Este estudo terá um foco maior sobre o nível básico, mais precisamente
sobre as turmas preliminares.
Na obra “Programa de Ensino de Ballet: Uma proposição”, Caminada & Aragão
(2006) propõem o seguinte:
O preliminar se compõe de exercícios elementares que
objetivam, principalmente, a conquista da postura básica dos
pés. Trata-se de um estagio obrigatório, independente da faixa
etária do aluno iniciante, uma vez que nele se toma
conhecimento dos fundamentos básicos do ballet clássico.
Nesse nível ensina-se:
• como e por que arrumar o cabelo
• como comprar, vestir as sapatilhas e costuras nelas das fitas e
elásticos
• como é a postura do corpo correta do ballet
• como colocar-se na barra e como segurá-la
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• como decompor o plié
• a posição em dehors das pernas e dos pés
• o movimento em dehors e em dedans
• as cinco posições fundamentais dos pés
• a posição dos braços
• as posições das mãos: arredondadas ou alongadas como nos
arabesques e allongués. Conceituar a importância do trabalho de
mãos e da colocação dos dedos no ballet
• as posições da cabeça
• o que é cou de pied
• como esticar o pé
• quando é permitido levantar o calcanhar
• o que é pé inteiro, meia-ponta e ponta
• o que é posé, piqué, eleve, releve e degagê
• como juntar as posições fundamentais das pernas com as dos
braços
• como trocar de posição através do degagê
• as posições preparatórias para iniciar os exercícios
Uma aula típica de ballet clássico divide-se em barra e centro e todos os
exercícios são executados de forma simétrica, além de iniciarem com a
preparação adequada e finalizarem com as terminações caraterísticas de cada
movimento (CAMINADA & ARAGÃO, 2006).
• Barra é composta de exercícios elementares que são a base do
conhecimento técnico. No nível básico os exercícios na barra
ocupam a maior parte do tempo da aula.
• Centro: onde os exercícios da barra são reforçados e há um
aumento da dificuldade.
Em função da necessidade de disciplina para o domínio da técnica são
exigidas atenção e concentração dos alunos desde o nível básico. Tal
exigência é um facilitador para que os alunos possam estar em alerta na
posição preparatória para assim estarem organizados ao iniciar os
movimentos.
14
Por outro lado, da maneira como é comumente cobrada, a disciplina,
possui um caráter castrador, que tolhe a liberdade ao invés do caráter
organizacional necessário.
A principal preocupação é de que estes pequenos corpos estejam
executando movimentos de forma mecânica. O professor faz e o aluno repete.
As salas de ballet clássico compostas por barras e espelhos remetem
sempre à ideia de parar e olhar e não a de experimentar as sensações de seus
próprios movimentos. Segundo Bambirra (1993), a dança, particularmente, é
rica em estímulos os mais variados: táctil, visual, auditivo, cognitivo, motor e
afetivo. Tais estímulos atuando diretamente no organismo infantil, promovem
respostas de desenvolvimento físico e psicossocial.
Segundo Bertherat & Bernstein (2003), ...há uma casa com seu nome
que abriga lembranças, é o seu corpo. Nele os músculos são como paredes
que registram toda a sua história.
Pensando nas aulas de ballet clássico pode-se imaginar o quanto as
informações que o corpo recebe podem influenciar na memória e na história
que estas paredes irão registrar. Estica o pé, encaixa o quadril, roda a coxa
para fora, encaixa os ombros, mantém os ombros afastados das orelhas,
cuidado com a postura, etc, aos poucos este novo corpo formatado vai
substituindo o seu próprio corpo. Seu corpo de verdade, harmonioso, dinâmico
e feliz por natureza (BERTHERAT & BERNSTEIN, 2003).
Por isso devem ser respeitados os movimentos que nascem de dentro
do corpo, sendo importante tomar consciência deste. Bertherat & Bernstein
(2003) em “O Corpo tem suas razões” afirmam que: “a descoberta que o aluno
faz de si deve vir de dentro dele mesmo e não do exterior. Quando enfim o
aluno consegue tomar consciência de um movimento desajeitado ou da
imobilidade de uma parte do corpo, experimenta um sentimento desagradável,
quase incômodo. O corpo fica com vontade de aprender um jeito melhor de se
movimentar ou de se manter. Cabe a nós dar-lhe a oportunidade de criar
novos reflexos que permitirão o rendimento máximo que deseja. Pois o corpo
foi feito para funcionar ao máximo”.
15
O professor tem um papel muito importante nesse processo de
autoconhecimento do aluno bailarino, ele deve estimulá-lo primeiro a se ver
para depois ver os outros. Para isso, é preciso que o professor de ballet tenha
um olhar diferenciado para cada aluno, principalmente nesta fase a que o
trabalho se refere. As aulas tem que ser elaboradas de acordo com os alunos.
Primeiro o professor tem que saber quem eles são e depois do que eles
precisam.
A partir do seu autoconhecimento, o aluno bailarino poderá se relacionar
com o meio. Começa a se orientar no espaço e no tempo.
Orientar-se no espaço é ver-se e ver as coisas no espaço em relação a
si próprio, é dirigir-se, é avaliar os movimentos e adapta-los ao espaço. É
principalmente, estabilizar o espaço vivido e desta forma poder situar-se e agir
correspondentemente (POPPOVIC, 1996 apud ALVES, 2012).
Segundo Le Bouch (1986), a representação do espaço e a imagem
corporal evoluem paralelamente e suas etapas de evolução são correlativas.
Poppovic (1966) afirma ainda que orientar-se no tempo é avaliar o
movimento no tempo, distinguir o rápido do lento, o sucessivo do simultâneo. É
saber situar os movimentos do tempo, uns em relação aos outros (ALVES,
2012).
Para Jean Piaget, o espaço é um instantâneo tomado sobre o curso do
tempo e o tempo é o espaço em movimento (ALVES, 2012).
Não conseguimos separar o tempo do espaço. Tratamos o assunto
como sendo a percepção espaço-temporal, pois chegamos ao entendimento
de que as noções de corpo devem estar intimamente ligadas ao espaço e ao
tempo. (DEFONTAINE, 1980, apud ALVES, 2012).
O bailarino em formação poderá ter um maior aproveitamento se for
bem trabalhado e bem orientado a conhecer a si mesmo, e consequentemente
sua relação com o meio.
Quando o aluno bailarino compreende melhor tudo isso, seu corpo e
como pode se relacionar, fica mais fácil introduzir a proposta do ensino do
ballet clássico, e a criança bailarina possivelmente terá um melhor rendimento,
podendo tirar o máximo proveito de tudo que esta sendo aprendido.
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E o professor tem um papel fundamental neste processo, segundo
Caminada & Aragão (2006) a relação entre professor e aluno deve ser
marcada por transparência e respeito mútuo. O verdadeiro pedagogo deve ser
ético, exigente sem ser destrutivo, esforçando-se para criar um laço afetivo
com o objetivo de atingir melhores resultados.
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CAPÍTULO II
PSICOMOTRICIDADE: JOGOS PSICOMOTORES E
ATIVIDADES LÚDICAS NAS AULAS DE BALLET
As crianças em movimento e suas relações interpessoais durante as
aulas de ballet remetem a definição de Psicomotricidade: “que é a ciência que
tem por objeto o estudo do homem através do seu corpo em movimento nas
suas relações com seu mundo interno e externo”
(www.psicomotricidade.com.br).
A psicomotricidade tem a preocupação com a experimentação que a
criança faz com o seu próprio corpo em busca de seu autoconhecimento.
Respeitando a ideia de que cada criança é única e que se comporta/relaciona
de maneiras diferentes. O respeito à individualidade da criança é o primeiro
passo. Somos seres únicos e, por isso, devemos considerar essa singularidade
na relação com a criança (PINTO, 2011).
“Ser criança é carregar a esperança na ponta dos pés e no brilho
dos olhos. É sorrir, de improviso, quando a realidade nem
sempre é tão adocicada, como algodão doce. É abraçar com
ternura. É ser um aprendiz de todas as horas. É acreditar que a
demora nada mais e do que uma extensão da alegria. Ser
criança é construir um amanhã sem perceber que o agora é uma
promessa de um futuro, é o semear das horas e dos segundos.
Ser criança é cultuar sonhos, logo ao amanhecer, e no
entardecer, conte figurinhas e gargalhadas... Ser criança é
conjugar o verbo criar faça chuva ou sol. É ser com toda
plenitude. (Fabiana Barros)
Por Nietzsche, ser criança é tornar-se livre. A criança é pura
espontaneidade, necessidade, liberdade, não sente culpa, não tem malícia, é
inocência e sua vida consiste em brincar. Ser criança é não guardar
mágoa...Criança é um espírito livre...Ela deseja a vida, o prazer e as
brincadeiras, mas não sente culpa por isso. A criança é em sua própria
natureza um artista. Ao brincar ela cria e recria, constrói e destrói, pinta e
apaga tal como o artista. Ela é livre para criar novas realidades.
18
Para Nietzsche a natureza humana é uma pluralidade de impulsos e
afetos tal como percebemos nas crianças. Para o filósofo alemão, considerar
fábulas e jogos coisas infantis é sinal de grande pobreza intelectual, pois só as
pessoas capazes de manter a curiosidade e o espírito lúdico da infância terão
sempre novos êxitos ao seu alcance.
A criança encara sua brincadeira como um trabalho e os contos de
fadas como verdade, esta é a base de seu crescimento, de seu
desenvolvimento. Os cientistas, artistas e intelectuais demonstram a mesma
atitude. Por isso devemos sempre manter um pé no mundo da fantasia, jogar,
brincar, dançar.
Nietzsche considerava perdido o dia em que não se dança nenhuma
vez. Afirmava ainda, que a dança talvez seja a expressão mais genuína da
alegria humana.
Os estudos atuais de terapia pela dança demonstram que essa
atividade, em qualquer de suas formas, tem várias aplicações curativas:
• Ao dançar, aumentamos a consciência do próprio corpo e
entendemos melhor como ele se relaciona com as outras
pessoas;
• A dança ativa a espontaneidade e a confiança em si
mesmo. É especialmente indicada para pessoas tímidas,
pois serve como uma forma alternativa de comunicação;
• Dançar alivia as tensões, tanto físicas quanto psicológicas
• A dança nos permite conhecer nossos sentimentos ao
expressá-los como movimentos no espaço.
O quê os pais procuram quando matriculam suas filhas em aulas de
ballet clássico? Estão atrás de uma atividade que auxilie o desenvolvimento de
suas crianças, que as leve para o campo da fantasia. Todas se transformam
em fadas, princesas enquanto estão em movimento e trabalhando o seu
conhecimento, desenvolvimento de forma prazerosa.
O desenvolvimento da percepção do esquema corporal pelas crianças é
e deve ser entrelaçado com o desenvolvimento dos aspectos intelectuais,
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afetivos, sociais. Todos são relevantes e interdependentes. Deve-se permitir
que a criança explore objetos e seu meio, aprendendo a lidar com estes de
acordo com suas vivencias, contribuindo para construção de seus conceitos de
espaço e tempo.
O conceito de espaço é fundamental para sua localização de mundo,
mas para adquiri-la é preciso que vivencie diversas brincadeiras, atividades e
jogos que possibilitem o contato com objetos de tamanho e distância variados
e situações de deslocamento do corpo em relação á espaços variados. O
conceito de tempo se desenvolve mais tardiamente, pois requer maior
capacidade de abstração.
A criança é um ser em constante desenvolvimento que estará
relacionado aos estímulos que forem projetados nela, assim é essencial que
por meio da psicomotricidade busque-se o desenvolvimento da inteligência
pelo movimento.
A faixa etária que o trabalho se refere (de 7 a 10 anos), é a fase da
idade escolar. É o momento em que a criança desenvolve a escrita, o
momento mais importante do seu aprendizado. “A escrita segundo Vygotsky
(2000), é um processo psicológico superior avançado, já que precisa ser
aprendida em um contexto didático e com a consequente tomada de
consciência de suas regras (HEINSIUNS, 2011).”
Esse período da vida caracteriza-se pelas grandes mudanças cognitivas.
As ações que o bebê executava, e que, ao longo do período pré-operatório,
foram internalizadas, agora ganham mobilidade e lógica, tornam-se reversíveis
e se transformam em operações. Operações mentais que permitem uma
melhor organização do mundo e maior capacidade de resolver problemas.
“Conforme Piaget, esse é o estágio operatório-concreto, assim
chamado concreto porque as operações que a criança é capaz de realizar
estão delimitadas pelo conteúdo, presas a realidade.”(Heinsiuns, 2011)
Segundo Alves (2012), nesta etapa observa-se a estruturação do
esquema corporal, pois apresenta a noção do todo e das partes de seu corpo,
conhece as posições e mantém o maior controle e domínio corporal.
20
Crianças que não apresentam consciência e conhecimento de seu corpo
podem experimentar dificuldades de percepção, controle e equilíbrio (ALVES,
2012).
Ao pensar que a dança é a maior expressão do corpo em movimento,
deve-se pensar no ballet clássico como facilitador deste processo, no entanto
muitas vezes o que se vê é que o ballet clássico trabalha corpos que devem se
movimentar quase de forma homogênea.
Quando se trabalha com crianças de 7 a 10 anos de idade, depara-se
com corpos que não param. Não conseguem parar, na verdade não devem e
não precisam parar, pois precisam mover-se para aprender a entender o seu
corpo. Não dá para exigir desse corpo que ele se movimente quase que de
maneira sincronizada, ângulos, posições, linhas, alcançar o máximo da
flexibilidade e pensar não como indivíduo, respeitando suas características e
sim pensando e exigindo que sejam todos como um grande corpo, de baile.
É muito mais fácil quando um professor encontra a aluna flexível, leve,
pronta pra ser orientada e trabalhada à ser uma linda bailarina. Mas os corpos
não são os mesmos. Menos ainda quando pensamos nos corpos
abrasileirados, com quadris e pernas que já não permitem tanta flexibilidade e
leveza. Isso exige do professor mais paciência e dedicação. Isso certamente
demanda mais trabalho.
De forma lenta ou rápida, conquistas são adquiridas, pois o profissional
atento às necessidades trabalha fundamentalmente com o sentido de espaço e
tempo. Sendo o movimento o primeiro a invadir o espaço com o corpo, desse
movimento, inicia-se noção de duração, ritmo e sequencia.
Por meio da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos,
seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções, faz
estimativas compatíveis com o crescimento físico e o desenvolvimento,
ajudando-a na sua integração na sociedade (MACHADO & NUNES, 2011).
As crianças precisam de uma liberdade de movimento para conhecer
seu corpo. Surge daí a necessidade de discutir se existe espaço para a
inserção de conceitos psicomotores na formação inicial do bailarino clássico e
como estas atividades auxiliam no desenvolvimento da criança nesta fase.
21
Ao pensar em psicomotricidade inserida nas aulas de ballet clássico,
pensa-se em jogos psicomotores e atividades lúdicas que motivem as
alunas, que tornem prazerosa a realização da atividade e que as transportem
para o mundo da fantasia. Por definição tem-se:
Jogos psicomotores - geralmente envolvem estimulação mental ou física e
muitas vezes ambos. Muitos deles ajudam a desenvolver habilidades práticas,
servem como uma forma de exercícios ou realizam um papel educativo.
O filósofo Huizinga, argumentou que o jogo é uma categoria absolutamente
primária da vida, tão essencial quanto o raciocínio e a fabricação de objetos, o
que quer dizer que o elemento lúdico esta na base do surgimento e
desenvolvimento da civilização (www.wikipedia.org)
Atividades lúdicas - É todo e qualquer movimento que tem como objetivo
produzir prazer quando de sua execução, ou seja, divertir o praticante.
• São brinquedos ou brincadeiras menos conscientes e mais livres de
regras ou normas;
• São atividades que não visam a competição como objetivo principal,
mas a realização de uma tarefa de forma prazerosa.
• Existe sempre a presença de motivação para atingir os objetivos.
(www.wikipedia.org)
“O brinquedo é a oportunidade do desenvolvimento. Brincando, a
criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além
de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o
desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção.
Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da
criança. Irá contribuir, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto
(www.scribd.com ).”
“Para Piaget (1978), a origem das motivações lúdicas acompanham o
desenvolvimento da inteligência vinculando-se aos estágios do
desenvolvimento cognitivo. Cada etapa do desenvolvimento esta relacionada a
22
um tipo de atividade lúdica que se sucede da mesma maneira para todos os
indivíduos.
Piaget identifica três tipos de estrutura mental que surgem
sucessivamente na evolução do brincar infantil: o exercício, o símbolo, e a
regra.
a) O jogo de exercício
Representa a forma inicial do jogo da criança e caracteriza o período
sensório motor do desenvolvimento cognitivo. Manifesta-se na faixa
etária de zero a dois anos e acompanha o ser humano durante toda
sua existência.
A característica principal do jogo do exercício é a representação de
movimentos e ações que exercitam as funções tais como andar,
correr.
b) Jogo simbólico
Entra na etapa pré-operatória do desenvolvimento cognitivo. Um dos
marcos da função simbólica é a habilidade de estabelecer diferença
entre alguma coisa usada como símbolo e o que ela representa seu
significado
c) Jogo de regras
Constituem-se os jogos do ser socializado e se manifestam quando
por volta dos 4 anos acontecem um declínio nos jogos simbólicos e a
criança começa a se interessar pelas regras. Desenvolve por volta
dos 7/11 anos.” (silvanapsicopedagoga.blogspot.com)
As atividades psicomotoras devem ser utilizadas como uma importante
ferramenta nas aulas de ballet clássico, ajudando a desenvolver as habilidades
e trabalhando através do prazer, são como fonte de motivação para alunos e
professores. Os jogos através do seu experimento e suas regras e as
atividades lúdicas com as mais diversas brincadeiras ajudam a atingir os
objetivos propostos, pois através destas experiências desenvolvem os
aspectos motores, cognitivos e emocionais.
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Todos os professores deveriam criar estratégias para que os alunos pudessem
sentir motivação no processo de aprendizagem. Segundo Alves (2012), a
psicomotricidade pode ajudar e muito, por meio de exercícios preparatórios
como:
• Exercício de esquema corporal;
• Exercício de lateralidade;
• Exercício de coordenação;
• Exercício de orientação temporal;
• Atividades na área de comunicação e expressão;
• Exercício de percepção;
• Exercício de relaxamento.
As aulas de ballet clássico para crianças de 7/10 anos precisam ser
“atraentes” pois, dentro da grade curricular do ballet, nesta fase as turmas do
básico (preparatório) estão no auge do encantamento´, sonham em ser
bailarinas, isso precisa ser prazeroso. Assim as atividades psicomotoras são
grandes aliadas neste momento, e o professor ao inseri-las em suas aulas
deve sempre trabalhar considerando:
• Os limites do corpo;
• As necessidades dos alunos e do professor;
• A relação entre os alunos e o professor;
• A possibilidade e interesse das crianças;
• Em estimular a atenção do aluno;
• Em elevar a autoestima do aluno;
• Em utilizar a linguagem como reforço positivo;
• Que as sensações corporais levam as informações para o
cérebro;
• Que tudo que se fala e faz afeta a criança;
Segundo Bertherat & Bernstein (2003) é só através das atividades que nossas
percepções sensoriais podem desenvolver-se. Mas não de qualquer atividade.
Não da atividade mecânica, da repetição do mesmo movimento dezena de
24
vezes. Isso só serve para exercitar a teimosia, para nos embrutecer. O
movimento só serve como revelação de nós mesmos quando tomamos
consciência do modo pelo qual ela se realiza ou não.
25
CAPÍTULO III
PROPOSTA DE ATIVIDADES PSICOMOTORAS PARA O
NÍVEL BÁSICO DO BALLET CLÁSSICO
(IDADES DE 7 A 10 ANOS)
A prática psicomotora é para a criança um espaço acolhedor e seguro
no qual ela poderá experimentar o prazer de movimentar-se (FERREIRA,
2011). Forçar o corpo a agir contra seus reflexos inconscientes não serve para
nada, não tem efeito duradouro. Assim que a atenção se distrai, o corpo
retoma seus velhos hábitos (BERTHERAT & BERNSTEIN, 2003).
Na sala de aula, o aluno busca um espaço para o seu corpo, vivendo
intensamente cada momento. Se inibido de imediato, haverá bloqueio
psicomotor, levando ao isolamento, e ele passa a se tornar “observador do
mundo” (ALVES, 2012).
A partir desse olhar, entende-se que a inserção de práticas
psicomotoras na grade curricular do curso de formação de balé pode trazer
benefícios para o desenvolvimento dos alunos bem como para motivar e
incrementar o relacionamento professor-aluno.
Este trabalho propõe alguns exemplos de atividades psicomotoras a
serem inseridas nos planos de aula de ballet clássico para turmas iniciantes
(preparatório) com duas aulas semanais e duração de 1 hora. O estudo
oferece um programa de aulas que poderá ser utilizado para este nível durante
o primeiro bimestre.
Neste programa as aulas foram divididas em dois momentos: no
primeiro momento, será proposto um trabalho psicomotor através de jogos e
atividades lúdicas, e no segundo momento, as atividades e exercícios serão
realizados sob a técnica do ballet clássico.
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1ª. semana:
Aula 1:
Primeiro momento:
Iniciar a aula com a turma em circulo, o que possibilita trabalhar
conceitos como:
-Em circulo não há uma hierarquia;
-No circulo não tem inicio meio e fim;
-Em circulo todos se veem, (só não vê a si mesmo);
Esse olhar é um olhar puro, infantil, um olhar da sensação.
A partir daí iniciamos um jogo, o jogo dos nomes: Esse jogo consiste em
uma pessoa pronunciar o seu nome e próxima pessoa da roda tem que falar o
nome da pessoa anterior e o seu, e assim segue sucessivamente. Essa
atividade também pode ser feita com um ritmo, como por exemplo, marcado
por uma palma cada vez que se falar um nome.
O objetivo desse jogo, é que todos se conheçam, facilitando a
memorização dos nomes. É um momento de grande interação do grupo.
Segundo momento:
Ainda em circulo, é o momento de trabalhar a técnica. Mas antes de
qualquer trabalho de alongamento e postura deve ser feito um reconhecimento
do seu próprio corpo. A sugestão é que isso seja feito no chão, deitar de
costas com os braços estendidos junto ao corpo. Procura sentir qual a parte do
corpo que esta mais em contato o chão e tentar fazer o aluno sentir todas as
partes do corpo no chão, massageando as vértebras, com o apoio dos pés.
Apenas sentindo e reconhecendo cada parte do seu corpo.
Em seguida sim, pode-se fazer alguns movimentos de alongamento e
trabalho de postura. É interessante finalizar na postura de pé, para que o aluno
tenha a sensação das mudanças ocorridas em seu corpo.
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Aula 2:
Primeiro momento:
Através da psicomotricidade pode-se trabalhar questões importantes
para o ballet clássico como por exemplo saber como preparar as sapatilhas.
Primeiro os alunos devem saber: “Por que a bailarina usa sapatilhas para
dançar?
Por permitir uma maior fluidez de movimentos e o deslize pelo chão sem
machucar os pés. As sapatilhas devem ser macias e flexíveis, não podem estar
apertadas nem largas demais.”(www.lerevedanca.com.br)
Para este momento foi pedido aos alunos que levassem as sapatilhas,
elásticos, linha e agulha, para aprenderem a prepará-las.
Preparando a sapatilha:
1) Dobre o calcanhar da sapatilha contra a sola, criando um triangulo com
a ponta do calcanhar como vértice.
2) Passe a tira de elástico pela base do triangulo que você criou.
3) Marque ambos os lados do elástico dentro da sapatilha nesta posição.
Costure somente um dos lados, tomando cuidado para manter a ponta
virada a sola.
4) Coloque a sapatilha e meça comprimento do elástico passando ele e
puxando sobre o pé de modo que fique firme. Costure o outro lado do
elástico na sapatilha ( novamente, lado cortado para baixo) para manter
este ajuste.
5) Corte o excesso de elástico. (pt.wikihow.com)
Segundo momento:
Momento de explorar os movimentos dos pés. Esse trabalho pode ser
executado no chão, onde sentados os alunos podem mobilizar todo o pé,
realizando movimentos de flexão, meia ponta e ponta de pé.
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2° Semana
Aula 3
Primeiro momento:
Dando continuidade a ideia da aula anterior o primeiro momento desta
aula será voltada para a questão do coque no cabelo. Para este dia deve-se
combinar para que as alunas levem seus grampos, escova, rede de cabelo, gel
e elástico. Uma aluna pode ser o modelo para que o professor possa ensinar
como se faz. O trabalho pode ser feito em duplas onde a cada hora, uma aluna
é a modelo.
Fazendo o coque:
1) O primeiro passo é fazer um rabo de cavalo prendendo todo o cabelo,
(neste momento é interessante passar o gel para ajudar a fixar o
cabelo);
2) Depois se deve enrolar o cabelo em volta do elástico formando o coque,
lembrar-se de colocar grampos para que o coque não se desfaça.
3) Por fim coloca-se a redinha de cabelo.
4) Sempre se deve explicar as alunas a finalidade do que se ensina, neste
caso além das próprias alunas aprenderem a fazer sozinhas seu coque
elas têm que entender que se o cabelo estiver totalmente preso facilitará
o trabalho de alinhamento do pescoço e da cabeça, facilitará também
nos giros, além de não tirar a atenção das alunas que costumam se
distrair facilmente com os cabelos.
Segundo momento:
Trabalhar a postura dos ombros e cabeça, lembrando que deve-se
manter sempre os ombros afastados das orelhas e o pescoço sempre
alongado.
Pode-se iniciar o estudo das posições da cabeça (ereta, levantada,
abaixada, inclinada e virada), e sua colocação em relação aos movimentos do
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corpo. É fundamental explicar para o aluno a importância de um bom
posicionamento da cabeça para o ballet.
“As posições da cabeça tem grande importância para o ballet. Sem seus
giros e inclinações, nenhuma pose terá acabamento preciso. O foco do olhar
deverá ser claramente definido. Tensões excessivas, freqüentemente refletidas
pela contração do pescoço e dos lábios ou por olhos arregalados, devem ser
corrigidas com presteza, para não se tornarem um cacoete ou um hábito capaz
de interferir no aproveitamento do trabalho e na concepção estética do ballet
clássico (Caminada & Aragão, 2006)”.
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Aula 4:
Primeiro momento:
Agora com o foco na imagem corporal, a psicomotricidade pode se
utilizar da massa de modelar como material a ser trabalhado. A imagem
corporal é na verdade a percepção que o indivíduo tem de si mesmo e de
como ele se vê e se relaciona diante da sociedade. Para que o aluno possa se
desenvolver em uma técnica como o ballet clássico, e imprescindível que o
aluno reconheça a sua imagem corporal.
O trabalho proposto:
O professor distribui certa quantidade de massa de modelar para todos
os alunos e solicita que cada um faça um boneco que represente o seu próprio
corpo.
Em seguida, pede para que façam outro boneco, dessa vez , uma
bailarina.
Juntos avaliarão as semelhanças e diferenças entre os dois bonecos.
Na bailarina poderão estudar o que facilita para que ela realize determinados
movimentos, e o que será preciso fazer para que os dois bonecos se tornem
mais semelhantes um com o outro.
Segundo momento:
Com a ideia da imagem corporal com que já foi trabalhada, o professor
pode começar solicitando que o aluno deite em decúbito dorsal (de barriga
para cima), com as mãos na articulação do quadril, e realize movimentos de
rotação interna e externa com as coxas. Assim perceberá como essa rotação é
responsável pelo en dehors dos pés. O aluno precisa saber, e vivenciar, que o
en dehors dos pés não acontece somente nos pés, e sim a partir do quadril. É
importante lembrar que en dehors significa para fora, ou seja, um movimento
ou giro para fora do eixo central do corpo.
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“O conceito en dehors muito mais que um determinante estético, é um
fundamento básico sobre o qual se construiu a técnica do ballet (CAMINADA &
ARAGÃO, 2006)”.
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3° semana
Aula 5:
Primeiro momento:
Nesta aula com auxilio da psicomotricidade pode-se trabalhar a
coordenação motora.
A atividade proposta é que o professor distribua bexigas para os alunos,
estes deverão encher as bexigas e amarrá-las. O professor começa a dar
alguns comandos como:
Jogar a bola para cima com as duas mãos;
Jogar a bola para cima com um das mãos;
Jogar a bola para cima com a cabeça;
Jogar a bola pra cima com os ombros;
Jogar a bola pra cima com os joelhos,
E assim por diante com diversas partes do corpo, sem deixar a bola cair
no chão.
Outro elemento, que pode ser colocado na brincadeira é que um aluno
de cada vez sai da brincadeira, deixando sua bola, e os que ficam tem que se
responsabilizar pela sua bola e a do que saiu. Lembrando que o ambiente
deve ser seguro, pois o aluno estará focado na bola.
Segundo momento:
No centro da sala, de frente para o espelho, começar a introduzir as
posições de braços e pernas da técnica do ballet clássico assim como suas
combinações. As posições dos pés são cinco, e a dos braços, três (pela escola
Vaganova) e cinco ( pela escola Royal Academy of dancing)
“Os braços devem ser sustentados nas posições estabelecidas, tanto no
que diz respeito ao desenho quanto a altura das formas aceitas pelo ballet
(CAMINADA & ARAGÃO, 2006)”.
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Aula 6:
Primeiro momento:
O trabalho psicomotor proposto para essa aula é o equilíbrio. A
sugestão é que este seja desenvolvido através da interpretação de uma
história, mais precisamente a história de um baile real de onde surgiu o ballet.
É interessante para os alunos conhecerem um pouco da origem do ballet.
A história é narrada pelo professor enquanto os alunos a imaginam e
interpretam.
Segue a história:
O grande baile real
Os convidados começam a chegar ao Palácio Real, mas para entrar é
preciso passar por alguns obstáculos. O primeiro é atravessar uma grande
ponte estreita que passa por cima de um rio cheio de crocodilos, por tanto é
melhor não fazer barulho (andar na ponta dos pés). Depois de atravessar a
ponte, os convidados precisam passar por um caminho cheio de pequenas
pedras (saltar em um pé só) e por fim passar por um grande corredor escuro
(andar de olhos fechados) para chegar ao salão real. Lá, serão anunciados um
por um, e deverão entrar fazendo um grande desfile de chegada. A chegada
ao salão real, onde tudo começou!
É interessante que o professor deixe a sala previamente marcada no
local dos obstáculos.
Segundo momento:
Contato com a barra. A barra é um suporte que fica preso na parede da
sala de ballet, onde os bailarinos iniciam suas aulas. “A barra se compõe de
exercícios que envolvem o estudo de movimentos elementares, a partir dos
quais se constroem formas mais complexas. Esses exercícios, tão necessários
ao estudante quanto ao bailarino profissional, não podem ser encarados como
secundários, ou como simples aquecimento muscular. Eles são um meio
constante de aperfeiçoamento e de reforço dos fundamentos técnicos
(CAMINADA & ARAGÃO, 2006).”
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Este é o momento em que o professor deve ensinar aos alunos a
importância das aulas serem realizadas inicialmente na barra.
“Os bailarinos usam a barra para apoio e equilíbrio, enquanto executam
várias etapas da aula. Os exercícios feitos na barra são o alicerce para todos
os outros exercícios do ballet. Ao realizar a barra deixe os seus braços bem
leves e as mãos sobre a barra de equilíbrio. Tente manter os cotovelos
relaxados.” ( www.dicadeballet.com.br)
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4° semana
Aula 7:
Primeiro momento:
Para esta aula o trabalho proposto envolve a lateralidade importante no
desenvolvimento da criança. Com a idade proposta neste trabalho, a partir de
7 anos, os alunos já tem lateralidade definida o que facilita trabalhos sob o
comando verbal.
Em duplas um aluno de frente para o outro realizarão movimentos, sob
o comando do professor como:
Colocar a mão direito no ombro esquerdo do outro;
Colocar a mão esquerda na cintura do lado esquerdo do outro;
Encostar o pé direito no joelho esquerdo do outro;
Encostar a cabeça no cotovelo direito do outro;
E assim por diante.
Segundo momento:
Neste momento em que os alunos já tiveram seu primeiro contato com a
barra, trabalha-se as preparação dos exercícios do ballet clássico, como plié,
tendu, jeté, rond de jambe à tèrre, foundu, transferências de peso, entre outros.
Para essas aulas de turma iniciante todos os movimentos deverão ser
ensinados decompondo-os. Os exercícios devem ser realizados de frente para
a barra e com as mãos apoiadas sobre elas.
Durante as aulas os movimentos serão realizados inicialmente pelo lado
direito e depois repete-se toda a sequência com o lado esquerdo, assim
trabalhando sempre os dois lados.
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Aula 8:
Primeiro momento:
Trabalhando noções espaço-temporal: a criança precisa ter a noção de
como o seu corpo se localiza no espaço e se orientar em relação ao tempo.
Como prática psicomotora proposta pode-se trabalhar com o Jogo dos
Verbos.
Os alunos livremente distribuídos pela sala de aula, deslocam-se pela
sala atendendo aos comandos do professor, que segue falando alguns verbos
de ação como correr, saltar, caminhar, parar, escorregar, girar, rolar, enrolar,
abrir, fechar,...
Ao final, o professor solicita que os alunos, individualmente selecionem
quatro dos movimentos realizados, e transformem em uma pequena sequência
de movimentos com um determinado tempo.
Segundo momento:
Os alunos colocados no centro da sala, de frente para o espelho, neste
momento aprendem que as diferentes posições do corpo no espaço estão no
próprio corpo.
No ballet, trabalha-se a questão espacial a partir de um quadrado, que
pode ser a sala de aula e até mesmo o palco. Neste, a frente (espelho ou
plateia), é o que se refere ao ponto 1 e a partir daí, considera-se ímpares as
retas do quadrado e pares os cantos, assim enumera-se de 1 a 8.
Com base nesse referencial, o aluno pode estar posicionado de frente, lado,
costas ou em épaulement (de frente para os cantos do quadrado)
A seguir pode-se trabalhar com transferências de um canto para o outro,
(como por exemplo do canto 6 para o canto 2), realizando movimentos com
marcação do tempo. Como caminhar na meia ponta em 8 tempos e fazer uma
reverence.
Outras questões como ritmo – musicalidade, atenção - disciplina,
também devem fazer parte deste programa de ensino.
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Esta proposta de ensino tem como objetivo tornar mais prazeroso para o aluno
o aprendizado de uma técnica que muito exige dos seus alunos. O ballet não é
uma técnica fácil, é preciso muito trabalho e esforço, e a psicomotricidade
pode ser um facilitador para este ensino.
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CONCLUSÃO
Para se realizar um bom trabalho no curso de iniciação ao ballet clássico
é importante que ele seja realizado de forma prazerosa. Por isso a primeira
preocupação que o professor deve ter é a de reconhecer cada corpo que
chegue em sua sala de aula. Conhecer este corpo como um todo, corpo-
mente-relações. A partir daí poderá tratar de que maneira poderá atingir estes
corpos e do que eles realmente precisam, sempre, respeitando as
características individuais.
Considerando que quando se atingem as emoções o registro do que se
aprende é muito maior e consequentemente se tem um melhor resultado.
Esta proposta de inserção das práticas psicomotoras no ensino de ballet
para crianças tem como objetivo tornar mais prazeroso para o aluno e
professor trabalho com uma técnica que apresenta um alto nível de exigência.
O ballet não é uma técnica fácil, é preciso muito trabalho e esforço, e a
psicomotricidade pode ser um facilitador para este ensino.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ALVES, F. Psicomotricidade: corpo ação e emoção. Rio de Janeiro: Ed. WAK
2012.
BAMBIRRA, W. Dançar e sonhar. A didática do ballet infantil. Belo Horizonte.
Inédita Editoria de Arte.1993.
BERTONI, I.G. A dança e a evolução; O ballet e seu contexto teórico;
Programação didática. São Paulo: Tanz do Brasil, 1992.
BERTHERAT, T. & BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões. Antiginástica e
consciência de si. São Paulo. Martins Fontes, 2003.
CAMINADA, E & ARAGÃO, V. Programa de ensino de ballet: uma proposição.
Rio de Janeiro. Univercidade, 2006.
FERREIRA, C.A.M.; HEINSIUS, A.M. & BARROS, D. do R. Psicomotricidade
escolar. Rio de Janeiro. WAK, 2011.
FONSECA, V. Manual de observação psicomotora: significação
psiconeurológica dos fatores psicomotores. Rio de Janeiro. Wak Editora. 2012.
HEINSIUNS, A.M Desenvolvimento psicomotor e construção do sujeito.in
Ferreira, C.A.M.; Heinsinus, A.M & Barros, D do R. Psicomotricidade Escolar
Rio de Janeiro. Wak Editora, 2011.
MACHADO, J.R.M. & NUNES, M.V. Cem jogos psicomotores: uma prática
relacional na escola. Rio de Janeiro. WAK, 2011.
40
MARQUES, I. Dançando na Escola. São Paulo. Cortez, 2007.
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RENGEL, L & LANVENDONC, R. Van. Pequena viagem pelo mundo da dança.
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Disponível http://www.lerevedanca.com.br(Acessado em 10/01/2013)
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Disponível em http://www.scribd.com (Acessado em 21/12/2012)
Disponível em http://www.wikipedia.org (Acessado em 15/12/2012)
41
INDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMARIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
O bailarino e seu corpo 11
CAPÍTULO II
- Psicomotricidade: jogos psicomotores e atividades lúdicas
nas aulas de ballet 17
CAPÍTULO III
Proposta de atividades psicomotoras para o nível básico do
ballet clássico (idades de 7 a 10 anos) 25
CONCLUSÃO 38
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39
INDICE 41