DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · Por: Roseni de Lima Ferreira Orientador Prof.ª...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA RECONHECER O
TRANSTORNO DA APRENDIZAGEM: DISLEXIA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Por: Roseni de Lima Ferreira
Orientador
Prof.ª Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA RECONHECER O
TRANSTORNO DA APRENDIZAGEM: DISLEXIA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Neurociência Pedagógica.
Por: Roseni de Lima Ferreira
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Manoel Francisco Ferreira e
Maria Antonia de Lima Ferreira (em
memória) pelo amor e carinho e a Deus.
Pela força e pela vida.
4
DEDICATÓRIA
Aos amigos, a família, a escola (Geraldo
Montedônio Bezerra de Menezes), enfim a
todos os que fazem parte da minha vida e me
ajudam a seguir em frente sempre.
5
RESUMO
O objetivo do presente trabalho – A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA PARA
RECONHECER O TRANSTORNO DA APRENDIZAGEM: DISLEXIA NA
EDUCAÇÃO INFANTIL – é descobrir como a criança, nessa fase escolar, aprende a
ler e escrever sendo disléxica, considerando que a dislexia envolve um contexto
cognitivo dessa criança, podendo intervir na sua vida social e afetiva. Nessa
investigação são analisados meios que possam vir a ajudar a criança disléxica no
processo de leitura e escrita. Serão metodologias que trarão possibilidades de
mudanças nas estruturas pedagógicas, abrindo caminhos para um olhar mais
específico dentro do grande grupo das Necessidades Especiais, onde o lúdico se faz
presente e eficaz na intervenção dos sintomas.
Palavras- chave: Neurociência. Dislexia. Educação Infantil.
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METODOLOGIA
A pesquisa foi desenvolvida através de análises de textos, por ser de caráter
teórico, descritivo. Sendo fundamentada em pesquisa bibliográfica e webgráfica.
Os autores pesquisados possibilitaram uma maior compreensão do objeto
estudado, visto que esse objeto de estudo – A CONTRIBUIÇÃO DA
NEUROCIÊNCIA PARA RECONHECER O TRANSTORNO DA APRENDIZAGEM:
DISLEXIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL – surgiu através do meu trabalho na área em
questão, observando a importância de “alfabetizar letrando”, mexendo, assim, com o
desenvolvimento cognitivo da criança.
Autores como Vygotsky,Marta Relvas, Piaget, Angelo Machado, Euvira Lima,
entre outros que enriqueceram o trabalho com tamanho embasamento teórico e que
com prontidão servirá de objeto de estudo para outras pesquisas, assim como para
educadores que buscam saber mais sobre a dislexia.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - O que é dislexia? 10
CAPÍTULO II - O lúdico na intervenção dos sintomas
da dislexia 20
CAPÍTULO III – Recursos que ajudam a criança disléxica
no processo de leitura e escrita 29
CONCLUSÃO 47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
8
INTRODUÇÃO
O início dessa pesquisa se deu através do meu trabalho na Educação Infantil,
observando a importância de se “alfabetizar letrando”, mexendo, assim, com o
desenvolvimento cognitivo da criança, visto que a finalidade do trabalho é descobrir
como a criança disléxica, na Educação Infantil, aprende a ler e escrever, pois a
dislexia envolve todo o contexto cognitivo, podendo vir a interferir no social e afetivo
da mesma.
No primeiro capítulo desenvolve-se um breve histórico da dislexia para que se
conheça um pouco de como surgiu o termo e também suas implicações a respeito
da leitura e da escrita. Traz algumas contribuições de autores como Vygotsky,
Sirlândia Teixeira, Solange Martins, Nico, Paulo Freire, Diniz, Euvira Lima e Marta
Relvas porque, além do histórico tem a união da Dislexia com a Neurociência que
irão mostrar o funcionamento do cérebro nos disléxicos e uma visão ampliada de
como isso é importante na área da Educação, ajudando a mudar paradigmas.
O segundo capítulo vem falando do lúdico na intervenção dos sintomas da
dislexia, ou seja, como a ludicidade pode contribuir para um aprendizado prazeroso
e eficaz, pois o “brincar” já existia em nossas vidas há muito tempo, desde a
Antiguidade até os dias de hoje, mas que foi perdendo espaço para o progresso, isto
é, o trabalho com o corpo e movimento foi ficando restrito com as novas tecnologias.
De acordo com Adriana Friedmann (2012), Podemos analisar o brincar infantil
sob diferentes enfoques:
• Sociológico: a influência do contexto social em que os diferentes
grupos de crianças brincam;
• Educacional: a contribuição do brincar para a educação,
desenvolvimento e/ou aprendizagem das crianças;
• Psicológico: o brincar como meio para compreender melhor o
funcionamento da psique, das emoções e da personalidade dos
indivíduos (no atendimento clínico, ele é utilizado basicamente para a
observação das diversas condutas e para a recuperação, no caso de
ludoterapia);
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• Antropológico: a maneira como o brincar reflete, em cada sociedade,
os costumes, valores e a história das diferentes culturas;
• Folclórico: o brincar como expressão da cultura infantil por meio das
diversas gerações, bem como das tradições e dos costumes refletidos
ao longo do tempo.
Este trabalho se une a essa diversidade de enfoques, porque faz parte da
criança como um todo. E para embasar esse capítulo, autores como Piaget,
Gardner, Paulo Freire, Vygotsky, entre outros.
No terceiro capítulo alguns recursos lúdicos aparecem para dar ênfase e
contribuir com a pesquisa, mostrando que a criança disléxica aprende com mais
eficácia se for bem estimulada e esses estímulos devem ser objetivados e
planejados, porque a aprendizagem acontece quando há o interesse, o desejo e o
prazer.
“A criança procura o jogo como uma necessidade e não como distração (...). É pelo jogo que a criança se revela. As suas inclinações boas ou más. A sua vocação, as suas habilidades, o seu caráter, tudo que ela traz latente no seu eu em formação, torna-se visível pelo jogo e pelos brinquedos, que ela executa.” (KISHIMOTO, 1993, p.106)
Para ilustrar o terceiro capítulo, autores como Márcia Ferreira, Santos, Kelem
Zapparoli, Vygotsky...
Diante de tantas informações e transformações na vida escolar e na própria
Educação, percebe-se que ainda se pode evoluir para um melhor desempenho
educativo e formativo das crianças disléxicas e, a Neurociência tem grande
importância nesse contexto.
Nesta perspectiva o trabalho em questão traz a relevância dessa importância
da Neurociência como forma de colaborar e contribuir para que se mude paradigmas
pedagógicos que façam o educador repensar suas atitudes e fazer uma Educação
onde a criança disléxica possa encontrar seu espaço na escola e se sentir inserida,
partindo do princípio de que somos seres diferentes, multiculturais e específicos.
10
CAPÍTULO I
O QUE É DISLEXIA?
1.1 – Um breve histórico da Dislexia
Segundo Teixeira e Martins (2012) , entre as variáveis que estão subjacentes
ao fracasso escolar, destacam-se as questões que estão relacionadas com os
sintomas da dislexia, questão essa, que se apresenta quando se aproxima o
momento de iniciação à leitura.
A definição da dislexia é também resultado de impasses teóricos em busca de
uma compreensão do fenômeno da dislexia, que de um lado apresenta uma
sintomática pertinente às características objetivas mais comumente conhecida como
dislexia de evolução ou do desenvolvimento.
O termo dislexia da evolução/desenvolvimento tem sido adotado como critério
de diferenciação para outros tipos de dislexia, como a dislexia adquirida, comumente
denominada de afasias, síndrome resultante de eventos que deram origem a uma
lesão cerebral especifica e ocorre geralmente após o domínio da leitura pelo
indivíduo, sendo possível deixá-lo impossibilitado ou limitado na sua capacidade de
ler e escrever.
Ainda buscam-se respostas para definir o que é dislexia, então as pesquisas
ampliaram-se estudando-se as dificuldades com as linguagens expressivas e
receptivas, oral e escrita, além dos problemas com leitura e soletração. Mais tarde,
incluíram-se as dificuldades matemáticas nessas pesquisas.
Segundo Nico (2005), dislexia é um termo criado por um médico
oftalmologista, alemão, o Doutor Rudolph Berlin, há mais de cem anos.
O médico usava o termo para nomear uma dificuldade de leitura apresentada
por um de seus pacientes. Muitos casos de dificuldades de aprendizagem vem
sendo estudados nesses longos cento e trinta anos de pesquisa científica, por
diferentes profissionais das áreas da Educação e da Saúde.
Os trabalhos de pesquisa relacionadas com a leitura resultou na elaboração
de diferentes outros trabalhos e na publicação de muitos livros sobre o assunto. Por
11
isso muitos profissionais ligam a dislexia à essas pesquisas como sendo somente
uma dificuldade de leitura.
Hoje, na busca de realmente entender o problema de aprendizagem, diversos
autores discutem o fenômeno dislexia.
Etimologicamente, dislexia deriva dos conceitos “dis” (desvio) + “lexia” (leitura,
reconhecimento das palavras).
“É caracterizada por dificuldades na correção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam tipicamente de um défice na componente fonológica da linguagem que é frequentemente imprevisto em relação a outras capacidades cognitivas e às boas condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que podem impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos reconhecimentos gerais. (Associação Internacional de Dislexia, 2003, cit. Por TELES, 2009).
De origem neurobiológica, a dislexia afeta, portanto, a aprendizagem e
utilização instrumental da leitura, resultando de problemas ao nível da consciência
fonológica (capacidade para compreender e analisar os sons que compõem as
palavras), independentemente do quociente de inteligência (QI) dos indivíduos.
Em termos gerais a dislexia pode se manifestar no indivíduo, ao longo da
vida, independentemente de adequada oportunidade de aprendizagem e da sua
intrínseca integridade sensorial, mental, motora e comportamental.
1.2 – Neurociência e Dislexia na Educação Infantil
O diagnóstico da dislexia é multidisciplinar e envolve principalmente as áreas
da psicopedagogia, psicologia e fonoaudiologia, podendo também buscar ajuda em
outras áreas da Ciência como a neurologia, oftalmologia, etc. O trabalho desses
especialistas inclui dinâmicas com exercícios de memória, auditivos e visuais.
Nos últimos anos os avanços da neurociência tem se tornado aliado dos
educadores e neuroeducadores, tornando-se imprescindível e de fundamental
importância no trabalho de intervenção clínica. A neurociência vem desvendar para
a pedagogia o que antes desconhecíamos os mistérios que envolvem o cérebro no
momento da aprendizagem, tornando possível conhecer como se processa a
12
linguagem, memória, atenção, emoção, aprendizagem e outras. E por causa disso, a
compreensão de distúrbios como a dislexia podem ser mais esclarecidos.
É através do estudo do cérebro que a neurociência efetua sua contribuição,
pois ele também se forma integrando as experiências vividas no contexto escolar. O
desenvolvimento do cérebro se faz por um mapa neuronal, ou seja, o conjunto de
redes neuronais criadas pelas sinapses entre os neurônios. Redes que se
constituem de possibilidades biológicas das espécies.
No caso da dislexia, muitos sinais podem ser identificados na pré-escola, mas
ela se inicia com a aprendizagem da leitura, onde se começa a detectar problemas
fonéticos, de reconhecimento de letras, de expressão verbal e de cópia. A
aprendizagem da leitura, então, para essa criança com dislexia, se torna lenta e
precisando de atenção, investindo no seu lado emocional.
Figura 1- daquepensar.com/2012/12/algumas-palavras-acerca-da-dislexia/
A dislexia pode ser classificada de várias formas, dependendo da abordagem
profissional e dos testes usados no seu diagnóstico, que geralmente são feitos por
uma equipe multidisciplinar, como dito anteriormente. Uma possível classificação é:
• Dislexia disfonética – dificuldades de percepção auditiva na análise e
síntese de fonemas, dificuldades temporais e nas percepções da
sucessão e da duração (troca de fonemas e grafemas por outros
similares, dificuldades no reconhecimento e na leitura de palavras que
não tem significado, alterações na ordem das letras e sílabas,
omissões e acréscimos, maior dificuldade na escrita do que na leitura,
substituição de palavras por sinônimos);
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• Dislexia diseidética – dificuldade na percepção visual, na percepção
gestáltica (percepção do todo como maior que a soma das partes), na
análise e síntese de fonemas (ler sílaba por sílaba sem conseguir a
síntese das palavras, misturando e fragmentando as palavras, fazendo
a troca por fonemas similares, com maior dificuldade para a leitura do
que para a escrita);
• Dislexia visual – deficiência na percepção visual e na coordenação
visomotora (dificuldade no processamento cognitivo das imagens);
• Dislexia auditiva – deficiência na percepção auditiva, na memória
auditiva e fonética (dificuldade no processamento cognitivo do som das
sílabas);
• Dislexia mista – que seria a combinação de mais de um tipo de
dislexia.
Uma lesão em qualquer área do cérebro responsável pela compreensão da
linguagem pode causar dislexia. E segundo Marta Relvas (2011), o hemisfério
cerebral esquerdo é responsável por 98% do domínio e do controle da linguagem
falada e escrita.
Figura 2- www.wallstreerfitness.com.br/fique-por-dentro/artigo/4959/estudo-mostra-que-cerebro-aprende-mais-rapido-se-ha-contexto
Continuando sua fala, Relvas conta que à frente do sulco central (Rolando),
estão situados o lobo frontal e a área pré-frontal, que é importante para o controle da
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fala. O córtex situado ao redor da fissura lateral (superior) é denominado de região
perissilvana, em cuja porção controla a compreensão da linguagem.
A dificuldade de ler, escrever e soletrar mostra-se diferente em cada faixa
etária, a criança na Educação Infantil (que já está na fase da pré-alfabetização) que
apresenta algum destes sintomas deve ser encaminhada para que se faça um
diagnóstico e acompanhamento adequado para que possa ser bem atendida e
estimulada.
• Aquisição da fala tardia;
• Pronunciamento constante de fala errada de algumas sílabas;
• Crescimento lento do vocabulário;
• Problemas em seguir rotinas;
• Dificuldades em aprender números e escrever seu próprio nome;
• Falta de habilidades para tarefas motoras finas (abotoar, amarrar
sapato...);
• Não conseguir narrar uma história em sequência correta;
• Não memorizar nomes ou símbolos;
• Dificuldade em pegar uma bola.
Uma vez identificado o problema de rendimento escolar, deve-se procurar
ajuda especializada, pois podem não confirmar a dislexia e só indicar um distúrbio
de aprendizagem.
Entender o que é dislexia é entender o ser humano que somos; o que é Memória e Pensamento – Pensamento e Linguagem; como aprendemos, porquê podemos encontrar facilidades que se entrelaçam com dificuldades até básicas em nosso processo individual de aprendizagem. A dificuldade em entender isso se baseia no conceito arcaico de que quem é bom, é bom em tudo, quem é inteligente tem que saber tudo. Howard Gardner, um dos maiores educadores de todos os tempos, aprofundou essa questão em suas pesquisas e estudos registrados, transformados em pesquisa cientificamente comprovada em sua obra, Inteligências Múltiplas (DINIZ, 2007).
Por isso torna-se necessário a avaliação e o diagnóstico da dislexia. Até
mesmo para melhorar a autoestima da criança disléxica, valorizando seu esforço e
interesse, fazendo-lhe se sentir útil e respeitando seu ritmo.
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Ler é uma atividade cultural e como os comportamentos culturais são
aprendidos, o ser humano precisa de modelos. Por isso a criança precisa
presenciar, desde pequena, pessoas lendo. Ela inicia seu gosto pela leitura,
ouvindo-a e na Educação Infantil isso se faz através das histórias, sejam elas lidas,
dramatizadas, ou simplesmente contadas.
“A primeira ideia que precisa se instalar na pessoa que aprende a ler é a de que se apropriar da linguagem escrita significa conhecer uma nova dimensão da linguagem. A escrita não é uma mera transcrição da palavra falada. A linguagem escrita é diferente da linguagem oral.” (LIMA, 2010, p.14)
Segundo Lima (2010), as dimensões da escrita são tratadas em áreas
diferentes do cérebro. Daí a importância de se ensinar todas as dimensões
linguísticas no processo de escolarização.
A descoberta desses centros para linguagem encontradas no cérebro surgiu
no século XIX com os estudos de Wernicke e Broca com casos de patologia e
comparação de cérebros pós-morte.
Figura 3 - www.sistemanervoso.com/pagina.php?secao=12&materia_id=233&materiaver=1
16
Segundo Relvas (2011), a área de Broca organiza os atos motores para a
produção das palavras que irão formar frases. E o início da escrita parte do córtex
da área de Broca que organiza os atos motores, quando escreve seus pensamentos.
Esta área recebe informações visuais e auditivas, facilitando o planejamento do
controle da mão.
Dando seguimento a Relvas (2011, p.68-69),
“Para a leitura do que está ou for escrito, é necessária a participação da conexão existente entre o córtex-visual (lobo occipital) onde são identificados os grafismos e a área de Wernicke (lobo temporal), onde os símbolos gráficos da escrita são reconhecidos e compreendidos. ... ao ouvir e entender a fala, os sons são captados pelas orelhas e levados até o córtex cerebral da área de Wernicke, ponto convergente entre os lobos temporal, parietal e occipital, onde são decodificados e reconhecidos por meio da comparação com sons já memorizados anteriormente.”
A dislexia é, então, um distúrbio da linguagem relacionada à leitura, escrita,
gramática. Podendo ter problemas com lateralidade, dimensão espacial e histórico
familiar. Indicando que o cérebro não segue essas funcionalidades da linguagem
corretamente.
O domínio da linguagem modifica o processo de desenvolvimento que, de
predominantemente biológico, passa a incorporar o desenvolvimento cultural como
dimensão igualmente importante.
Da mesma maneira que o desenvolvimento interno leva a formar a fala, ele
levará a criança a formar outros comportamentos de natureza simbólica, como o ato
de ler e escrever.
“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto ou aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda.” (FREIRE, 1996, p.115)
O professor atualmente deve estar mais preparado, buscar suportes para que
o aluno se aproprie do conhecimento que lhe é passado, pois cada um tem seu
tempo de aprender e essa aprendizagem deve ser significativa e prazerosa. No
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caso da Educação Infantil (e outros segmentos de escolaridade dentro do contexto
conteudista), o professor pode usar o lúdico a todo o momento tornando a aula mais
dinâmica, mas sempre tendo o cuidado ao mexer com as emoções que iniciam o
processo de decisão e serão determinantes na percepção e atenção.
A percepção está na base da aprendizagem envolvendo os cinco sentidos
externos: paladar, olfato, tato, visão e audição. A realização da percepção se dá no
cérebro, que processa as informações através desses órgãos dos sentidos
integrando-se a outras funções como a memória, pensamento, atenção e
imaginação. As experiências dos órgãos dos sentidos levam à formação de
memórias que é muito importante na aquisição da leitura e da escrita.
Para que se aprenda, precisa-se de intensidade na atenção, por isso deve-se
ter interesse naquilo que se quer aprender ou que se está conhecendo, “filtrar” o que
se percebe fazendo suas escolhas. O foco é o principal objeto da atenção, ou seja,
deve-se estar focado em alguma coisa para que se apreenda o conhecimento,
mesmo que tenha que de “desligar” por um instante do que está fazendo e ter que
voltar ao ponto de partida em seguida (foco). A atenção requer movimento, ela não é
linear, pensando assim, ela deve ser educada e não controlada.
Alunos disléxicos precisam trabalhar essa atenção, e precisam da atenção de
todos ao seu redor, pois a paciência é que vai fazer com que eles tenham um
impulso a mais, sejam estimulados. Muitas vezes sentem-se excluídos e são vistos
como preguiçosos quando deveriam ser compreendidos e incentivados. O elogio a
cada atividade realizada ajuda muito.
No que diz respeito às dimensões da leitura e da escrita, Lima (2010, p.12)
diz que...
“Para atribuir significado ao que lê, a pessoa utiliza seus acervos de memória (memória visual, memória auditiva e memória semântica). Para escrever, necessita “trabalhar” conscientemente com a estrutura da sintaxe para escolher as palavras. Tomar decisões constantemente é uma característica básica da escrita. Recorre-se à memória para buscar palavras e para disponibilizar o método para escrever. Enquanto na leitura a pessoa forma o significado a partir do que o autor escreveu (as escolhas que o autor fez), na escrita, a pessoa é autora das escolhas e estas devem corresponder exatamente à intenção de significado dela (pessoa).”
O que implica na criança com dislexia, por terem essa dificuldade da
semântica, não conseguindo compreender a leitura, mesmo com um bom nível
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intelectual. São capazes de aprender e utilizar alguns meios básicos de
comunicação, porém precisam de cuidados, metodologias especiais e diferenciadas
para seu sucesso.
Figura 4- Fonte: Alila Medical Imagens/ ShutterStock
Entendendo a dislexia – O funcionamento do cérebro
Diferentes partes do cérebro exercem funções específicas. A área esquerda
do cérebro, por exemplo, está mais diretamente relacionada à linguagem nela foram
identificadas três sub-áreas distintas: uma delas processa fonemas, outra analisa
palavras e a última reconhece palavras. Essas três subdivisões trabalham em
conjunto, permitindo que o ser humano aprenda a ler e escrever. Uma criança
aprende a ler ao reconhecer e processar fonemas, memorizando as letras e seus
sons. Ela passa então a analisar as palavras, dividindo-as em sílabas e fonemas e
relacionando as letras a seus respectivos sons. À medida que a criança adquire a
habilidade de ler com mais facilidade, outra parte de seu cérebro passa a se
desenvolver; sua função é a de construir uma memória permanente que
imediatamente reconhece palavras que lhe são familiares. À medida que a criança
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progride no aprendizado da leitura, esta parte do cérebro passa a dominar o
processo e, consequentemente, a leitura passa a exigir menos esforço.
Funcionamento do cérebro do disléxico
O cérebro de disléxicos, devido as falhas nas conexões cerebrais, não
funciona desta forma. No processo de leitura, os disléxicos recorrem somente a área
cerebral que processa fonemas. A consequência disso é que disléxicos tem
dificuldade em diferenciar fonemas de sílabas, pois sua região cerebral responsável
pela análise de palavras permanece inativa. Suas ligações cerebrais não incluem a
área responsável pela identificação de palavras e, portanto, a criança disléxica não
consegue reconhecer palavras que já tenha lido ou estudado. A leitura se torna um
grande esforço para ela, pois toda palavra que ela lê aparenta ser nova e
desconhecida.
“A criança se torna menos dependente da sua percepção e da situação que a afeta de imediato, passando a dirigir seu comportamento também por meio do significado dessa situação: a criança vê um objeto, mas age de uma maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê.” (VYGOTSKY, 1998, p.127)
Essa fala remete ao pensamento envolvendo a neurociência de que com um
estímulo, o disléxico pode vir a obter a plasticidade cerebral, que está envolvida na
possibilidade de realizar a “interdisciplinaridade” do cérebro, aprimorando e
aproveitando áreas cerebrais para aprender outros conhecimentos. E torna-se
imprescindível a integração escola/criança/família para ajudar na questão da dislexia
e também outras dificuldades de aprendizagem, porque só assim é que se faz a
inclusão.
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CAPÍTULO II
O LÚDICO NA INTERVENÇÃO DOS SINTOMAS DA
DISLEXIA
O trabalho envolvendo a ludicidade ajuda no aprendizado escolar em todos os
aspectos: cognitivo, afetivo, social, motor... o que faz com que todos apreciem o
conteúdo em questão , além de dar significado ao conhecimento adquirido.
“Não somente uma aprendizagem não parte jamais do zero, quer dizer que a formação de um novo hábito consiste sempre numa diferenciação a partir de esquemas anteriores; mas ainda, se essa diferenciação é função de todo o passado desses esquemas, isso significa que o conhecimento adquirido por aprendizagem não é jamais nem puro registro nem cópia, mas o resultado de uma organização na qual intervém em graus diversos o sistema total dos esquemas de que o sujeito dispõe.” (PIAGET, 1974, p.69)
Esses esquemas são os estímulos que, se inseridos de forma correta, irão
fazer com que o indivíduo avance formando novos esquemas e com isso ele vai
equilibrando seu conhecimento indo para a zona de conforto onde estará preparado
para o novo ciclo de aprendizagem.
Ler e escrever é uma questão de suma importância na vida do ser humano,
pois faz parte da comunicação e da interação social. E como a dislexia é um
problema que afeta as habilidades linguísticas associadas à leitura e a escrita,
caracterizando-se pela dificuldade de assimilar símbolos gráficos da linguagem,
seus sintomas são mais facilmente percebidos na fase da alfabetização, porém ,
podendo ser detectados na Educação Infantil, quando a criança começa o processo
de leitura e escrita por volta dos quatro a seis anos.
Na Educação Infantil, podem-se observar as mudanças através da linguagem,
quando a criança demonstra certo atraso na fala, dificuldades de pronúncia, omissão
e inversão de sons, etc. Na maioria das vezes, o problema não está só na troca de
letras, mas na identificação de sinais gráficos e códigos que caracterizam o que se
lê.
Pensando nesse contexto, as crianças disléxicas podem se apropriar do uso
de brinquedos e brincadeiras que tenham letras e palavras escritas, um jogo que vai
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ajudá-la e estimulá-la em sua dificuldade de aprendizagem que é, basicamente, a
leitura e a escrita.
E é aí que entra o lúdico, pois nessa brincadeira a criança vai adquirindo mais
confiança, mais autonomia. Através da brincadeira a criança expressa seus
sentimentos e se realiza fazendo o que gosta.
“Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.” (GARDNER apud FERREIRA; MISSE; BONADIO, 2004)
Na Educação Infantil, principalmente, é que a criança necessita explorar e
trabalhar todos os aspectos que englobam o seu ser. O brinquedo vai inseri-la no
contexto social fazendo-a aprender a conviver. Ou melhor, através da brincadeira a
criança compreende, vive os quatro pilares da educação: APRENDER A
CONHECER, APRENDER A FAZER, APRENDER A CONVIVER e APRENDER A
SER.
Figura 4 - intereducacao.blogspot.com.br/2011/04/os-4-pilares-da-educacao.html
“Tanto a dislexia como as demais dificuldades escolares (independente da causa) devem ser motivos de preocupação de professores e pais na tentativa de se fazer um diagnóstico precoce com a finalidade de se desenvolver uma estratégia de ajuda, que auxilia a criança a superar os obstáculos que vão tornando possível o ato de aprender a ler e escrever.” (TEIXEIRA e MARTINS, 2012, p.79)
Ainda segundo Teixeira e Martins (2012), de acordo com as diretrizes da
British Dyslexia Association, a avaliação qualitativa da dislexia deve incluir sinais que
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podem indicá-la. Por isso se a criança apresentar estes sinais (abaixo) deve ser
encaminhada para um profissional.
Capovilla (2002), os sinais que podem indicar dislexia na Educação Infantil
são:
• Histórico familiar de problemas de leitura e escrita;
• Atraso para começar a falar de modo inteligível;
• Frases confusas, com migração de letras; “a gata preta prendeu o
filhote” em vez de “a gata preta perdeu o filhote”;
• Impulsividade no agir;
• Uso excessivo de palavras substitutas ou imprecisas (como coisa,
negócio);
• Nomeação imprecisa (como “helóptero” para “helicóptero”);
• Dificuldade para lembrar nomes de cores e objetos;
• Confusão no uso de palavras que indicam direção, como dentro/fora,
em cima/ embaixo, direita/esquerda;
• Tropeços, colisões com objetos ou quedas frequentes;
• Dificuldade em aprender cantigas infantis com rimas;
• Dificuldade em encontrar palavras que rimam e em julgar se palavras
rimam ou não;
• Dificuldade com sequências verbais (como os dias da semana) ou
visuais (como sequência de blocos coloridos);
• Criatividade aguçada;
• Facilidade com desenhos e boa noção de cores;
• Aptidão para brinquedos de construção ou técnicos como quebra-
cabeças, lego, controle remoto de televisor ou vídeo, teclado de
computadores;
• Prazer em ouvir outras pessoas lendo para ela, mas falta de interesse
em conhecer letras e palavras;
• Discrepância entre diferentes habilidades, parecendo uma criança
brilhante em alguns aspectos, mas desinteressada em outros.
Para Capovilla (2002), há três aspectos que devem ser abordados no caso da
dislexia: os aspectos biológicos (incluindo os genéticos e os neurológicos), os
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cognitivos e os ambientais. Isto quer dizer que a análise e verificação desses
aspectos é que darão possibilidade de apresentação dos sintomas.
“A linguagem oral se constitui em um pré-requisito para a alfabetização e, consequentemente, para a aprendizagem da leitura e da escrita. Desenvolver estas habilidades por meio das atividades lúdicas é favorecer o amadurecimento destes processos.” (TEIXEIRA e MARTINS, 2012, p.83)
As atividades lúdicas possibilitam o desenvolvimento integral da criança a
partir do momento em que está inserida no contexto social, afetivo e cognitivo. E
para as crianças com dificuldades de aprendizagem os jogos e brincadeiras são
muito importantes na aquisição do conhecimento porque essas atividades geram
estímulos e os estímulos são os organizadores da cognição.
Sabendo-se que a cognição advém de situações sensório-motoras, através
dos jogos e brincadeiras a criança aprende com mais facilidade trabalhando o corpo
em sua totalidade.
As sinapses cerebrais, segundo Almeida (2012), são mais ricas e frequentes
no período da infância, a multiplicidade de linguagens e riqueza destas ações pode
colaborar no processo de formação sólida e dinâmica a que uma criança pode
adentrar e de lá nunca mais sair.
Figura 5- www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=290
Todos os estímulos ambientais causam sensações que podem ser prazerosas
ou não. E todas as ações, sensações, emocionais ou motoras são entendidas
através dos neurônios e suas sinapses (comunicação entre os neurônios).
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“Nas crianças em idade pré-escolar, esta atividade está em pleno desenvolvimento. Assim, uma escola rica em estímulos, que garante boa alimentação e valoriza o convívio social, a prática criativa de criar jogos e brinquedos com a criança, já está trabalhando a serviço dessas percepções, sensações e novas sinapses.” (ALMEIDA, 2012, p.37)
A ludicidade é uma forma positiva de se trabalhar com as crianças, pois são
informações que chegam de vários tipos e sentidos, visuais, auditivas, táteis,
transformando-se em estímulos para o cérebro que vão circular pelo córtex onde
serão planejadas, julgadas, etc. Antes de serem descartadas ou armazenadas. E
sempre que precisarem, elas serão resgatadas (apreensão do conhecimento) e
memorizadas.
Figura 6 - córtex cerebral humano, mostrando as principais regiões sensoriais e motoras. Extraído do site: http:/www.psiquiatriageral.com.br/cerebro/texto7.htm
Essa memória pode ser estimulada para se trabalhar a escrita e a leitura com
as crianças disléxicas a partir de jogos e brincadeiras que envolvam a questão “ler e
escrever”, aumentando sua autoestima e fazendo-a adquirir mais autonomia.
Existem outras formas de se possibilitar metodologias diferenciadas,
estratégias que envolvam a emoção. Segundo Almeida (2012), os sentimentos
regulam a formação e a evocação de memórias.
Almeida (2012) cita algumas estratégias que podem ser usadas para evocar e
armazenar conhecimentos:
• Estabelecer relações entre novos conteúdos e aprendizados anteriores
faz com que o caminho daquela informação seja percorrido novamente
(evocação), tornando mais fácil seu reconhecimento;
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• Criar elaborações mentais envolvendo recursos, como sons, imagens,
fantasias, significados e (por que não?) humor, permite que várias
áreas do cérebro trabalhem simultaneamente no resgate de
informações e estimulem a memória;
• Utilizar gráficos, diagramas, tabelas e organogramas para classificar as
informações faz com que o cérebro tenha mais facilidade para
armazená-las e, portanto, resgata-as com mais facilidade;
• Reservar os últimos minutos da aula para conversar sobre o conteúdo
estudado possibilita que o novo conhecimento percorra mais uma vez o
caminho no cérebro dos estudantes. Assim, eles fazem uma releitura
do que aprenderam;
• Usar brincadeiras, dramatizações ou jogos para levar emoção à classe
favorece a aprendizagem. Isso só funciona se houver uma relação
entre o conteúdo e a situação lúdica.
Nunca é tarde demais para ensinar a criança disléxica a ler e a processar
informações com mais eficiência, mas, independente da fala que é adquirida desde
os primeiros anos de vida, a leitura precisa ser ensinada. Com a utilização do lúdico
ela tem mais chance de derrotar a dislexia.
Quando a criança disléxica é assistida desde cedo, apresenta menor
dificuldade de aprender a ler. Por isso a importância do trabalho na Educação
Infantil.
Quanto mais a leitura e a escrita se tornam necessárias no cotidiano escolar,
a dislexia ressalta seus fatores, confundindo-se com as demais dificuldades de
aprendizagem.
Figura 7 - www.nancystoianov.com.br/dislexia.asp
26
Deve-se, então, despertar a consciência fonológica da criança com dislexia
para que ela consiga avanços na aquisição da aprendizagem da leitura e da escrita.
“O lúdico influencia enormemente o desenvolvimento da criança. É através do jogo que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração.” (VYGOTSKY, 1994, p.115)
Brincando a criança também faz interpretações do mundo ao seu redor, ao
mesmo tempo em que se relaciona com esse mundo e com o outro.
Para o professor, a atividade lúdica é de suma importância, pois tem um
retorno mais rápido do que está sendo ensinado. Isso é valoroso para essa
aprendizagem que se integra na criança de forma total, porque o lúdico é uma
prática social e cultural.
Figura 8 - www.cerebromente.org.br/n05/mente/limbic.htm
Na brincadeira o cérebro funciona na sua totalidade, envolvendo as três
unidades cerebrais: o cérebro primitivo ou arquipálio, o cérebro intermediário ou
paleopálio e o neopálio ou cérebro superior ou racional, que compreende a maior
parte dos hemisférios cerebrais (neocórtex).
As atividades multissenssoriais favorecem a aprendizagem dos disléxicos,
essas atividades envolvem os órgãos do sentido como visão, audição, tato e
sinestésico. Através da visão o aluno percebe a forma ortográfica da letra ou
palavra, através da audição ele percebe o processo fonológico, através do tato e
sinestésico ele perceberá o traçado da letra. A atividade espelhada também é muito
27
recomendada, pois ela torna a aula divertida e faz com que os alunos léxicos
compreendam as dificuldades dos disléxicos.
Figura 9 - simonehelendrumond.blogspot.com.br/2012/09/frases-sobre-o-ludico-para-o-mural- da-html
A ludicidade pode ser utilizada como forma de sondar, introduzir os conteúdos
que se quer ensinar, fundamentados nos interesses que podem levar a criança AA
sentir satisfação ao descobrir um novo caminho para a sua aprendizagem.
O lúdico transforma, trazendo mudanças significativas em comportamentos,
pensamentos, atitudes e ações, despertando o desejo de aprender e apreender o
conhecimento.
“Desta maneira, o educador já não é o que apenas educa, mas o que enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem.” (FREIRE, 2005, p.79)
Sabendo-se que a criança disléxica precisa de um trabalho complexo com a
linguagem, deve-se ter uma ordenação em sequência e relação para fazer com que
ela conserve a ideia do que aprendeu. Um processo que requer a ajuda e parceria
da família/escola.
Para tanto, ela precisa de atividades saudáveis que a façam se sentir
inseridas no contexto escolar com mais segurança e autoestima que, com certeza a
levarão a ter mais autonomia e criticidade em suas ações. Atividades estas que
promovam a alegria, o prazer e o desejo de querer mais, uma motivação
permanente.
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Reconhecer quando um sujeito apresenta uma dificuldade de aprendizagem é
o primeiro passo para não rotulá-lo de lento ou preguiçoso. Esses rótulos exercem
um efeito negativo sobre as competências que estão preservadas. Uma vez que
abalam a autoestima do sujeito. O simples fato de reconhecer que existe
possibilidade e capacidade e que se houver ajuda adequada haverá melhora e
redução nos conflitos emocionais resultantes do contínuo fracasso, e isso é muito
importante para todos.
Aprender compromete o ser total, integra e significa o pensar, o sentir, o agir.
A aprendizagem é feita de avanços e retrocessos, de saltos qualitativos e
quantitativos. Todos temos possibilidades de ensinar e aberturas para aprender.
No processo de desenvolvimento infantil a brincadeira é coisa séria. Ela está
inserida na questão do aprender como uma forma mais aberta e prazerosa. E
através dela o sujeito experimenta ações corporais lúdicas, que são expressas para
comunicar atos, emoções, pensamentos e linguagens fazendo a criança se
descobrir como sujeito, descobrir o outro e o mundo que a rodeia.
Segundo Piaget (1971), o lúdico possibilita o estudo da relação do aluno com
o mundo. Através da atividade lúdica e dos jogos, a criança poderá formar conceitos,
selecionar ideias e estabelecer relações lógicas.
Com a ludicidade a criança desenvolve a inteligência e a personalidade, pois
exercita seu intelecto, sua memória, sua atenção e se torna mais observadora. Ela
também aprende a conviver com regras e a lidar melhor com seus conflitos.
Como o lúdico mobiliza a cognição, a criança disléxica pode obter muitos
avanços utilizando dessas estratégias (jogos, brincadeiras...). E, consequentemente,
oportuniza o educador a compreender o significado da importância dessas
atividades que devem ser inseridas nos projetos educativos com a intencionalidade
de provocar nas crianças disléxicas a vontade, o desejo de continuar sua luta pelo
aprender.
A inclusão é isso, fazer com que as diferenças sejam encaradas com
naturalidade, ou seja, entender que todos têm suas especificidades, pois as
dificuldades existem quando, ainda, não se compreende o “novo”, mas que podem
ser superadas quando reconhecidas de forma que se possa fazer mudanças
positivas.
29
“Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades.” (SANTOS, 2003, p.56)
As crianças disléxicas devem ser vistas com um olhar mais cuidadoso, pois
precisam de maior atenção na hora que lhe são passados os conteúdos escolares,
porém, isso não quer dizer que deva ser excluída do grupo, mas, cada vez mais
inserida no contexto e, é através do lúdico que ela conseguirá se superar com mais
tranquilidade.
“O brincar e o desenhar para a criança manifestam-se impulsionados pela ação lúdica. Acontece um constante relacionamento mútuo entre esses dois atos que podem estar interligados, que em vários momentos estarão simultaneamente numa mesma função. A ação de brincar pode acontecer no ato de desenhar, assim como a ação de desenhar pode também se inserir no ato de brincar.” (Paulo de Tarso, 1995, p. 39)
Isto significa que o brincar, desenhar, pintar, dramatizar são linguagens
lúdicas, sem distinção. Perpassam pelo desenvolvimento emocional, do ato criativo,
imaginário e perceptivo até atingir o cognitivo da criança. Porque permite o
desenvolvimento global e uma visão de mundo mais real.
As descobertas e vivências propiciam uma análise, uma crítica e
transformação dessa realidade que, se bem aplicada pode servir para melhorias no
ensino/aprendizagem.
As histórias e contos trazem necessidade de dinamizar as relações de ensinar
e aprender pela leitura, como reascender o desejo de viver dentro de um espaço
altamente desafiador e mágico. Mas, para que isso aconteça todos temos que ser
co-responsáveis com este processo maravilhoso que é o despertar para a leitura e a
escrita de forma grandiosa e atraente, abrindo os olhos para o grande universo que
as histórias e contos revelam .
É também uma forma de ensinar as crianças disléxicas a terem o prazer de
aprender a ler e escrever. Entendendo que o desenvolvimento se faz quando o
indivíduo está em contato com um ambiente sociocultural e, em constante troca com
o outro, caso contrário, esse desenvolvimento fica impedido de ocorrer na falta de
situações propícias ao aprendizado.
30
CAPÍTULO III
RECURSOS QUE AJUDAM A CRIANÇA DISLÉXICA NO
PROCESSO DA LEITURA E DA ESCRITA
Como já foi dito anteriormente, a dislexia é um transtorno da leitura que
reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes até genial, mas que
aprende de forma diferente. Esse transtorno não tem como causa a falta de
interesse, de motivação, de esforço ou de vontade, nem a ver com acuidade visual
ou auditiva como causa primária, sendo assim, algumas estratégias podem ser de
grande utilidade para se trabalhar com crianças disléxicas.
As estratégias que serão abordadas visam o lúdico como ponte para esse
trabalho que propõe muita motivação e estímulo para um aprendizado prazeroso da
leitura e da escrita. Alguns jogos também trazem desafios e, através deles a criança
aprende a lidar com regras e adquirir sua autonomia.
“Os estudos sobre os saberes presentes nos processos educativos escolares vêm sendo realizados na perspectiva de evidenciar diferentes olhares sobre o estudante, o professor, o currículo e as instituições escolares; valorizando os saberes da experiência social e cultural, do senso comum e da prática, como elementos indispensáveis para o desenvolvimento de habilidades e dos complexos problemas da vida pessoal e profissional dos indivíduos.” (SANTOS, 2000, p. 46)
Nesse sentido, entra o professor com seu papel de investigador, dialogando
com as ideias, conceitos, conteúdos e mudando paradigmas.
Agora algumas sugestões de jogos e brincadeiras para se trabalhar com a
criança disléxica, principalmente na fase pré-escolar.
Jogos 1 – Jogos de vocabulário – problemas de leitura e escrita, atraso na
fala, frases confusas, substituição de palavras, dificuldade para lembrar nomes e
cores (áreas do cérebro ativadas: córtex cerebral, tálamo, sistema límbico).
• Palavras cruzadas com nomes simples e figuras;
• Caça-palavras simples;
• Jogo da forca;
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• Faz de conta;
• Jogo com cubos usando figuras e cores para que a criança jogue e, ao
cair diga o nome;
• Jogo usando o tato, onde a criança fica de olhos vendados e tenta
descobrir o objeto através do tato;
• Trava-língua;
• Músicas e mímicas.
Jogos 2 – Jogos de percepção visual – Atenção, discriminação visual,
nomeação imprecisa, dificuldade com sequências, confusão no uso de palavras que
indicam dentro/fora, em cima/embaixo, direita/esquerda (áreas do cérebro ativadas:
mesencéfalo, tálamo, sistema límbico, córtex cerebral).
• Jogo de botão;
• Olhos de Lince;
• Onde está Wally?
• Jogo da memória;
• Jogo do Mico;
• Jogo das cinco pedrinhas;
• Lego;
• Blocos de construção.
Jogos 3 – Jogos de percepção auditiva – Discriminação auditiva, atenção,
desenvolvimento psicomotor, direção e ordem, desenvolvimento de palavras e
números (mesencéfalo, tálamo, sistema límbico, cerebelo, córtex cerebral, tronco
encefálico).
• Gato mia;
• Brincadeiras e músicas envolvendo a rima;
• Brincadeiras de roda;
• Danças e coreografias simples;
• Telefone sem fio.
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Jogos 4 - Jogos de esperar a vez – Autocontrole, concentração, atenção e
escuta, regras, desafios (mesencéfalo, sistema límbico, cerebelo, diencéfalo (tálamo
e hipotálamo), córtex cerebral).
• Seu mestre mandou;
• Chicotinho queimado;
• Mamãe posso ir?;
• Jogos de tabuleiro.
Nosso sistema nervoso, sensorial e motor estão interligados, são
interdependentes e responsáveis por todo o trabalho do corpo. O desenvolvimento
neurossensório-motor do aluno é avaliado na sua totalidade, ou seja, seu esquema
corporal, a lateralidade, a interação espacial, a orientação temporal, a coordenação
dinâmico-manual, a coordenação viso-motora, o desenvolvimento da linguagem e o
desenvolvimento sensorial.
Segundo Márcia Ferreira (2001), a modalidade de aprendizagem é como uma
matriz, um molde, um esquema de operar que utilizamos nas diversas situações de
aprendizagem. O jogo, para Márcia, é fundamental na construção deste molde,
porque oferece dois meios de estruturação importantes: o brinquedo e a
verbalização.
Algumas sugestões de jogos para o desenvolvimento da leitura e escrita:
GINÁSTICA DAS LETRAS
Objetivos:
• Trabalhar a articulação das letras e fazer exercício corretivo;
• Correlacionar o símbolo escrito com o som;
• Trabalhar a ordem alfabética.
(Áreas ativadas do cérebro: sistema límbico, diencéfalo, córtex
cerebral).
Material: Alfabeto (móvel, escrito no quadro).
Técnica: Cada letra deverá ser falada com a ginástica da boca;
A – abrir bem a boca e permanecer:
B – vamos beijar (apertar os lábios e soltar);
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C – fazer o som mudo do “k”, pondo dois dedos sobre o pescoço, na altura da
garganta, para sentir a vibração;
D – encostar a língua no dente superior da frente e fazer o som mudo do “d”;
E – abrir a boca em oval deitado:
F – apertar o lábio inferior no dente de cima e soltar o ar;
G – apertar os dentes superiores e inferiores, dobrando a língua lá dentro.
Soltar o ar. Fazer a ginástica igual ao “c” para o segundo som do “g”;
H – (apenas falar o nome da letra e dizer que se usa muda, sem articular);
I – abrir os lábios com os dentes cerrados:
J – (ginástica igual à primeira ginástica do “g”);
L – dobrar a língua no céu da boca e soltar o ar;
M – apertar um lábio no outro e soltar o ar;
N – apertar a língua no dente superior e soltar o ar;
O – abrir a boca em oval verticalmente:
P – encher a boca de ar e estourar o “ovo”formado, dando um tapinha nas
duas bochechas;
Q – (ginástica igual a do “c”);
R – vamos brincar de carrinho com a boca: o carrinho está na garganta, agora
chegou à ponta da língua;
S – segurar as laterais da língua com os dentes, pôr a pontinha mais solta e
soprar;
T – vamos fazer igual ao “d”, apertando mais a língua;
U – apertar a boca inteira e soltar o som;
V – fazer igual ao “f”, suavemente (sem apertar muito o dente no lábio);
X – cerrar os dentes e soprar;
Z – olha a abelhinha.
ESCRITA NAS COSTAS
Objetivos:
• Verificar a memorização das letras;
• Possibilitar a experiência corporal com as letras;
• Promover contato físico entre uma criança e outra.
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(Áreas ativadas do cérebro: córtex cerebral, cerebelo, mesencéfalo,
sistema límbico, diencéfalo).
Técnica:
• Dispor as crianças em fila;
• Escrever uma letra com o dedo nas costas da última da fila;
• A criança deverá falar que letra foi escrita;
• Se acertar escreverá uma letra nas costas da criança que está na sua
frente;
• Se errar, sai da fila;
• Dar três chances, pois o objetivo é fazer acertar.
Obs.: Atividades tiradas do livro da Márcia Ferreira (2001).
ABSURDOS
Objetivos:
• Desenvolver a leitura;
• Construir a organização do pensamento e o raciocínio lógico;
• Trabalhar a clareza na verbalização.
(Áreas do cérebro ativadas: córtex cerebral, sistema límbico, tálamo).
Material: Pequenos textos com uma ideia absurda.
Técnica: Discutir a ideia do texto organizando seu contexto.
Exemplo do texto: Dei um litro de água quente para a minha galinha beber. E
sabe o que aconteceu? Agora ela só bota ovos cozidos!
Obs.: Atividade do livro de Márcia C. S. Teixeira (1995).
BINGO COM OS NOMES
Objetivos:
• Resgatar a identidade;
• Refletir o sistema da escrita tornando um modelo estável para outras
palavras;
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(Áreas do cérebro ativadas: córtex cerebral, sistema límbico,
mesencéfalo, tálamo).
Técnica:
• Colocar o nome do aluno em uma ficha de cartolina, onde o mesmo
deverá riscar, colocar uma tampinha ou algo que marque (de acordo
com seu comprometimento);
• Poderá ser feitos em cartelas com pelo menos dois nomes de alunos,
onde procurará os nomes sorteados ou as letras.
Obs.: atividade do livro de Kelem Zapparoli (2012).
MEU CORPO FALA
1ª Parte
Objetivo:
• Representar com a expressão corporal e facial as indicações das
fichas para a plateia.
(Áreas do cérebro ativadas: córtex cerebral, sistema límbico, cerebelo,
mesencéfalo, tronco encefálico, diencéfalo).
Procedimento:
Explique as regras.
Ainda sem verbalizar, iremos descobrir, experimentar e experienciar como é
possível dizer sem falar. Jogar sem palavras, permitindo que outras partes do corpo
se expressem, deslocando a atenção da audição.
Fale com o grupo:
“Participaremos do jogo e falaremos após o sinal do professor.”
2ª Parte
Apresente o jogo motivando os participantes!
“Agora deem as mãos e faremos uma grande roda.”
“Podem soltar as mãos e sentar-se.”
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“No centro da roda, há uma caixa. Nela, temos algumas fichas onde
escrevemos ALEGRIA, TRISTEZA, AMOR, PERDÃO, RAIVA, FOME e outras.”
“Para iniciar o jogo, duas pessoas irão até o centro e pegarão cada uma ficha
e mostrarão com expressão facial e uma ajuda do corpo o que está escrito nela, de
maneira que todos da roda possam ver. Nós tentaremos descobrir qual o sentimento
que ela está expressando. Quando descobrirmos, as duas pessoas sentam e outras
duas irão para o centro, fazendo a mesma coisa e assim por diante até todos
participarem.”
A NOSSA HISTÓRIA
1ª Parte
Objetivo:
• Criar uma história coletiva com o grupo.
(Áreas do cérebro ativadas: sistema límbico, córtex cerebral, tronco
encefálico, tálamo).
Procedimento:
Explique as regras.
O participante que receber a bola continuará a história imediatamente.
Silêncio enquanto outros componentes apresentam sua versão da história.
O último da roda a falar termina a história.
Todos os grupos comentarão suas histórias e as demais.
2ª Parte
Apresente o jogo motivando os participantes!
“Faremos uma grande roda.”
“Todos podem soltar as mãos e sentar-se. Hoje criaremos uma história juntos.
Vou começar com uma frase e, quando eu passar a bola, quem receber deverá
continuar a história, acrescentando outra frase e assim por diante.”
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IMAGENS E HISTÓRIAS
1ª Parte
Objetivo:
• Criar uma história em grupo, utilizando apenas imagens.
• Ler as imagens organizadas pelos outros grupos, contar as histórias
das imagens para a turma, o mais próximo possível da intenção do
grupo que a criou.
(Áreas do cérebro ativadas: sistema límbico, córtex cerebral,
mesencéfalo, tronco encefálico, tálamo, cerebelo).
Procedimento:
Explique as regras.
Os participantes não podem contar a história para os outros grupos, antes
que estes tentem contá-la lendo as imagens..
O grupo deve ficar em silêncio enquanto os outros componentes leem as
imagens.
Todos os grupos comentarão suas histórias e as demais.
2ª Parte
Apresente o jogo motivando os participantes!
“Formaremos grupos de quatro. Por favor, juntem as cadeiras.”
Distribua a cola, a cartolina e as revistas para o grupo.
“Hoje cada grupo terá um nome. Podem escolher! Esses nomes serão
anotados nessas tiras de papel.”
Espere. Recolha os papéis e reserve.
“Cada grupo selecionará imagens e montará uma história.”
“É importante que seja possível ler as imagens, em sequência e assim
compreender a história.”
Supervisione os grupos, ajude-os a ver caminhos. Aguarde 15 minutos.
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Distribua as folhas.
“Agora que já contamos nossa história com imagens, iremos escrevê-la.
Coloque o nome do grupo na folha da história, dobre-a e me entregue. Só os
componentes do seu grupo podem ver.”
3ª Parte
Faça um sorteio para que os grupos saibam que história terá de ler. Por
exemplo: o grupo 1 sorteou o grupo 2, assim terá de ler as imagens desse grupo.
Todos os grupos devem expor suas histórias, procure bons lugares.
“Todos agora deverão colar suas cartolinas no quadro. Vocês têm um minuto
para combinar como irão contar as histórias.”
4ª Parte
Organize os grupos. Esses podem ler sentados ou em pé. Lembre-os da
necessidade de todos os componentes se expressarem.
“Ok! O primeiro grupo pode se posicionar. Cada grupo terá 1 a 2 minutos, no
máximo, para contar a história, “escrita” com imagens, com suas palavras e
interpretação.”
Convencione uma contagem para o início.
5ª Parte
Após todos os grupos se apresentarem, entregue a história que os grupos
traduziram em palavras. Peça ao grupo que contou a história com imagens que
leiam a tradução que os autores fizeram.
Provoque uma reflexão, um debate.
“A intenção dos autores que contaram as histórias com imagens eram as
mesmas quando esses traduziram em palavras?”
“Houve muita diferença ou não ao interpretarem as histórias com imagens?”
“Mas, se tudo ficou diferente, qual será o motivo?”
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Espera-se uma reflexão a respeito das interpretações, sobre os signos e seus
significados. Conduza com sensibilidade, de acordo com a experiência dos
participantes.
Estimule-os a refletir sobre a linguagem falada e escrita, questione se esses
tipos de comunicação se diferem.
Obs.: Atividades do livro de Márcia Lisboa (2013).
ESPELHO DIFERENTE
Instruções:
Os participantes em dupla trabalham em espelho, isto é, um sendo modelo e
o outro imitando todos os movimentos feitos; quem imita deve nomear a parte do
corpo e o lado que está sendo utilizado pelo modelo para a realização do
movimento. Posteriormente, repetem-se os movimentos de forma real, isto é, se o
parceiro levanta e movimenta a mão direita, quem está à sua frente deve realizar o
mesmo movimento com a mão direita. Após três minutos, troca-se o modelo, quem
imita, passa a ser o modelo por mais três minutos.
Áreas de intervenção:
Cognitiva: compreensão de instruções, observação e criatividade.
Social: percepção das diferentes possibilidades dos movimentos dos outros
participantes.
Perceptivo-motora: desenvolvimento da coordenação motora, equilíbrio,
lateralidade e imitação.
Afetivo-emocional: controle da impulsividade, respeito às normas.
Linguagem: compreensão de instruções.
Moral: respeitar seu espaço e momento de ação, conseguir lidar com as
limitações do outro participante.
(Áreas do cérebro ativadas: cerebelo, tronco encefálico, sistema límbico, córtex
cerebral, tálamo, mesencéfalo).
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Obs.: Atividade do livro de Sirlândia Teixeira e Solange Martins (2012).
“A imaginação é o novo que está ausente na consciência da criança na primeira infância, absolutamente ausente nos animais, e representa uma forma especificamente humana de atividade da consciência; e, como todas as funções da consciência, forma-se originalmente na ação.” (VIGOTSKY, 2008, p. 25)
As brincadeiras de faz de conta, as construções de histórias, são o resultado
das relações sociais e possibilitam a compreensão e formação da realidade. Então,
a linguagem, seja ela qual for (gestual, escrita...) deve estar associada à vivência e
nada melhor explorá-la através do lúdico.
Figura 10 - http://dislexicosaibaseusdireitos.blogspot.com.br/2011/05/inclusao-do-dislexico-na-escola.html
O objetivo aqui é associar aprendizagem ao prazer. E para a criança
disléxica, planejar e participar de atividades que despertem sua autoestima é fazer
com que essa criança tenha um maior desenvolvimento cognitivo e emocional,
entendendo suas especificidades e priorizando seu ritmo.
41
CONCLUSÃO
A Dislexia é um distúrbio na leitura que afeta a escrita, porém, é possível ser
observada precocemente, antes da criança aprender a ler apesar de, geralmente ser
detectada na alfabetização.
A análise do processo de leitura e escrita na criança disléxica na Educação
Infantil é uma forma de informar o quanto essa dificuldade pode ser a causa de
insucesso escolar para essas crianças, interferindo também na sua vida fora da
escola.
Quando descoberta e compreendida, a Dislexia pode ter cura. A Neurociência
tem ajudado muito a desvendar o mistério da Dislexia, com a descoberta de que
existem mecanismos cerebrais ligados a leitura e a escrita que podem fazer a
identificação dessa dificuldade.
Portanto, pesquisar sobre a Dislexia e Neurociência na Educação Infantil,
objetivando o processo em que se realiza a leitura e a escrita nessa fase, visando a
criança disléxica foi a razão para se alcançar o êxito do trabalho.
Alguns autores como Marta Relvas, Piaget, Paulo Freire, Vygotsky, Elvira
Lima, entre outros, deram embasamento teórico quando se falou sobre a Dislexia, a
Neurociência e, também sua atuação nos processos de leitura e escrita na criança.
Além de ajudarem quando se comentou sobre a importância do lúdico no contexto.
Hoje se tem a certeza de que essa ajuda se faz necessária pedagogicamente,
porque com mais informações, o educador pode estar mais preparado para enfrentar
situações que abrangem as dificuldades de aprendizagem, podendo compreender e
atender melhor esse aluno.
Entende-se que as contribuições da Neurociência vem para ajudar cada vez
mais, abrindo caminhos e ampliando visões, como se fizessem acontecer uma
plasticidade cerebral em cada educador, sem deixar de lado que a parceria
família/escola também se faz importante no processo.
A ação educativa que se faz trabalhando-se a Dislexia ludicamente com as
crianças favorece seu desenvolvimento como um ser total. Ser esse que aprenderá
a viver e conviver no mundo que o rodeia, sem medo ou insegurança de seguir em
frente, enfrentando desafios e resolvendo conflitos com autonomia.
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Em suma, este trabalho alcançou seu objetivo na medida em que pode dar
sua contribuição para pais, e principalmente, educadores, dando possibilidades e
mostrando caminhos para se trabalhar com a criança disléxica que está na fase da
Educação Infantil. Sabendo de suas especificidades e voltando-se para uma
melhora no seu desenvolvimento biopsicossocial e cognitivo.
43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Infantil. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.
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FERREIRA, Márcia. Ação psicopedagógica na sala de aula: uma questão de
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O QUE É DISLEXIA?
1.1 – Um breve histórico da dislexia 10
1.2 – Neurociência e dislexia na Educação Infantil 11
CAPÍTULO II
O LÚDICO NA INTERVENÇÃO DOS SINTOMAS DA
DISLEXIA 20
CAPÍTULO III
RECURSOS QUE AJUDAM A CRIANÇA DISLÉXICA NO
PROCESSO DE LEITURA E ESCRITA 30
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43
WEBGRAFIA 48
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
50
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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