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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA GLOBALIZAÇÃO: SUAS CONTRIBUIÇÕES E CONSEQÜÊNCIAS PARA A MICRO-EMPRESA Por Maria do Carmo Souza da Silva Orientador: Antônio Fernando Vieira Ney TAPAUÁ/AM 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA

GLOBALIZAÇÃO: SUAS CONTRIBUIÇÕES E CONSEQÜÊNCIAS PARA A MICRO-EMPRESA

Por

Maria do Carmo Souza da Silva

Orientador: Antônio Fernando Vieira Ney

TAPAUÁ/AM

2013

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA

GLOBALIZAÇÃO: SUAS CONTRIBUIÇÕES E CONSEQÜÊNCIAS

PARA A MICRO-EMPRESA

Apresentação da versão final de monografia à AVM Faculdade Integrada – Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão Pública.

Por: Maria do Carmo Souza da Silva

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AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus agradeço o privilégio de

chegar ao final desta etapa com saúde,

dignidade, coragem e respeito. Muitos

foram os obstáculos encontrados nessa

árdua caminhada. Aos meus familiares

minha eterna gratidão. Do incentivo de

cada um foi possível realizar mais um

sonho. Aos mestres da AVM que nos

transmitem seus conhecimentos,

experiências profissionais e de vida com

dedicação e carinho expresso a minha

gratidão. Acredito, com fim inabalável,

que os seus benefícios sociais e humanos

não cessarão jamais.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho acadêmico aos

meus filhos Carla, Carol, Kaylon e Caio,

em especial a meu esposo que

iluminados por Deus foram os melhores

amigos no percurso desta importante e

significativa caminhada.

A autora

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RESUMO

Tema recorrente na agenda contemporânea, a globalização é um fenômeno complexo e multifacetado, com profundas implicações nas mais variadas áreas do conhecimento e nos mais diversos setores da vida social. O objetivo deste trabalho é examinar seu impacto no âmbito específico da economia municipal, referente aos pequenos comércios da cidade de Tapauá/AM. Não se trata de afirmar que um fenômeno como a globalização determina o perfil e a dinâmica da ordem econômica de uma determinada localidade ou região. O que está em questão são as relações de causalidade ou necessidade entre mercado e economia. Para a execução desse propósito, o trabalho foi estruturado em quatro capítulos, além da introdução. Onde seremos convidados a refletir sobre as origens históricas da globalização que se detém mais aprofundadamente sobre os desdobramentos contemporâneos do processo de transnacionalização dos mercados de insumos, produção, consumo, finanças e capitais. Sabemos que o tema é de extrema complexidade, por isso, tentamos encontrar alguma fundamentação empírica para sustentar, dentro do possível, as afirmações feitas ao longo do trabalho. Ele formula críticas às contribuições mais recentes de alguns teóricos empenhados em desenvolver modelos analíticos capazes de dar conta das implicações da globalização na economia dos mercados. Teremos contato com uma importantíssima obra literária, que com certeza, servirá de consulta a outros trabalhos acadêmicos.

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METODOLOGIA

Globalização: suas contribuições e conseqüências para a micro-empresa é

uma pesquisa de campo referente à globalização que utilizará como

procedimento metodológico o método indutivo. Optou-se por esta linha de

pesquisa devido a sua flexibilidade e, que nos ajudará a refletir melhor sobre

esse processo e suas conseqüências para a democracia e o bem-estar social.

Para o desenvolvimento desta pesquisa serão distribuídos 20 questionários,

sendo que, 10 questionários serão destinados aos proprietários e 10 aos

clientes que freqüentam os comércios investigados. O estudo deverá ser

efetuado no período de outubro a dezembro de 2012, no intuito de identificar as

possíveis causas do impacto da globalização aos pequenos comerciantes.

Utilizaremos, também, o estudo bibliográfico, tendo como principais autores:

Martin & Schumann (1998), que discute a globalização do ponto de vista dos

perdedores; Nogueira (2000), que fala da globalização conectando-a com o

pujante surto das regionalizações – com destaque para o MERCOSUL e a

União Européia – em integrativa conexão com o campo tributário; Pierre

Bourdieu (1998), que relata sobre as conseqüências da globalização financeira;

Mazower (2001), Zygmunt Bauman (1999), Vieira (1997), Ortiz (1994) e demais

especialistas renomados na área em questão.

Adotando também a formulação de Anthony Giddens, reconhecida por

inúmeros teóricos do fenômeno, a exemplo de Boaventura, David Held e John

Gray, identifica-se a globalização “como a intensificação das relações sociais

em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que os

acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas

de distância e vice-versa” (LIMA, 2002).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................08

I Globalização e Produção.................................................................................10

1.1 Espaço e produção .....................................................................................12

1.2 A globalização da produção ........................................................................15

1.3 A globalização entendida como o desencadeamento das forças do mercado

mundial .............................................................................................................18

1.4 A globalização cultural ................................................................................19

II Globalização e o MERCOSUL........................................................................22

2.1 MERCOSUL, o que é? ................................................................................27

2.2 A experiência de duas regionalizações: União Européia e o Mercosul ......30

2.3 O mercado comum: o preço da felicidade ..................................................35

2.4 O mercado mundial .....................................................................................38

III Globalização do Capital e suas Conseqüências ...........................................39

3.1 O furacão anunciado ...................................................................................43

3.2 A luta pela liberdade do capital ...................................................................47

3.3 O deslocamento da produção ou migração do trabalho..............................50

3.4 A guerrilha na selva das finanças ...............................................................54

IV Globalização: uma ameaça a democracia....................................................60

4.1 O impacto da globalização e a fragmentação global ..................................64

4.2 A cilada para a democracia ........................................................................67

4.3 A globalização financeira ............................................................................72

4.4 O mercado contra a democracia .................................................................75

CONCLUSÃO ...................................................................................................79

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................84

ANEXOS ...........................................................................................................87

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INTRODUÇÃO

Observamos que o mundo está se transformando muito rapidamente. Isto

só é possível por causa do fenômeno chamado ‘globalização’. Esse

processo tem suas raízes históricas na sociedade industrial, sendo uma de

suas mais marcantes características o papel desempenhado pelos meios de

informação e de comunicação. O desenvolvimento desses meios tem

ocorrido de forma bastante acelerada nas últimas décadas, o que fez com

que a economia mundial mudasse muito.

Muitas mercadorias que não conhecíamos surgem, e, de repente, já

passam a fazer parte do nosso cotidiano. Essas mercadorias que

consumimos vêm de outros países e o que produzimos em nosso país é

vendido para fora. Essa troca entre os países movimenta pessoas, dinheiro,

conhecimento e mercadorias. As populações sempre migraram de um lugar

a outro e, que ao migrar elas estão sendo agentes de circulação. Por isso,

podemos dizer que tudo circula: pessoas, dinheiro, mercadorias e idéias.

A globalização provoca mudanças na vida e no modo de viver das

pessoas. Ao mesmo tempo, que cria oportunidades de crescimento surge

ao lado de crises como o desemprego, redução dos salários, crescimento

da pobreza, destruição ambiental e comprometimento do nível de vida das

pessoas. Assim, precisamos conhecer melhor esse fenômeno, porque

muitos falam, mas temos o compromisso de entender, como ele afeta

nossas vidas, certo? E, é por isso, que dedicamos esta pesquisa aos

estudos sobre esta temática, que tem como título “Globalização: suas

contribuições e conseqüências para a micro-empresa”. Sendo que, a

questão central desta pesquisa será de identificar as repercussões da

globalização no setor empresarial da micro-empresa local. São, portanto,

objetivos desta pesquisa conhecer as principais dificuldades encontradas

pelos pequenos comerciantes na era globalizada, analisar os tipos de

práticas tecnológicas utilizadas pelos pequenos comércios investigados e

apresentar as reflexões e recomendações de variados autores sobre a

globalização.

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Somos conhecedores de que o desenvolvimento da ciência e da

tecnologia tem avançado a passos gigantescos nas últimas décadas e, que

as informações estão em toda parte e como as pessoas podem acessá-las

de suas casas no mundo todo. Também, somos conhecedores, de que a

sociedade globalizada apresenta características bem definidas no nível

político-social. Observa-se, no nível político, que os grandes grupos

impedem ou dificultam aos países mais pobres uma política autônoma de

desenvolvimento. Em termos sociais, a pobreza e a fome, por exemplo, são

encaradas como etapas de um estágio doloroso que os países em

desenvolvimento precisam atravessar, visando alcançar uma verdadeira

democracia.

Nesse sentido, a globalização deve ser entendida como a expansão do

capitalismo numa escala verdadeiramente universal. É, compreendida,

principalmente, em sua dimensão econômica dominante de interligação

mundial de mercados. Ou seja, a globalização significa que todos os países

e os povos estão se tornando mais interligados nas relações econômicas,

comerciais e financeiras.

Assim, a interdependência global de todos os países nos processos

globais não significa a igualdade de poder e riqueza de todo o mundo.

Sendo que, a dívida pública dos países do Terceiro Mundo é um dos

mecanismos que alimentam a especulação financeira global.

No decorrer do desenvolvimento desta pesquisa abordaremos quatro

capítulos importantes para o aprofundamento de nossa aprendizagem. O

primeiro capítulo tratará da “globalização e produção” que identifica a

distribuição da produção econômica no espaço mundial e a produção

brasileira no mercado globalizado: indústria, agropecuária e serviços. No

segundo capítulo discorreremos sobre a “globalização e o MERCOSUL” que

destacará as principais características da globalização e a revolução dos

meios de comunicação e de transporte. Trataremos no terceiro capítulo

sobre a “globalização do capital e suas conseqüências” e no quarto e último

capítulo, sobre a “globalização: uma ameaça a democracia.

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CAPÍTULO I

GLOBALIZAÇÃO E PRODUÇÃO

O mundo está interligado. É a globalização: os países, os povos, as

produções estão inter-relacionadas num feixe de comunicação, circulação

de mercadorias, idéias, pessoas, dinheiro. Tudo ‘circula’, mercadorias,

dinheiro, pessoas e idéias. Toda produção precisa circular. Nenhuma

empresa irá produzir sem intenção de vender. Então, produção e circulação

fazem parte de uma mesma realidade.

Quando se sai de casa e vai ao trabalho, por exemplo, nos tornamos

sujeitos da circulação. Quando se compra feijão, café e outros produtos no

armazém perto de casa, nós nos tornamos sujeitos de consumo e ativamos

a circulação de mercadorias. Os produtos circulam para sair do local de

produção e chegar à sua mão, sujeito de consumo.

Imaginemos, então, que nas negociações entre o dono do armazém e as

pessoas que venderam aquelas mercadorias houve troca de informações,

como preços, prazo de pagamento, qualidade das mercadorias, quantidade,

tempo de entrega e o tipo de transporte. Assim é o mundo.

Sabemos, também, que para uma mercadoria ser produzida, muitas

informações ‘circulam’. Pense, por exemplo, num aparelho de televisão, já

imaginou quantas pesquisas, quantas trocas de informações foram

necessárias para que o aparelho fosse idealizado e produzido?

As idéias circulam também por meios de comunicações, como televisão,

rádio, revistas, jornais. Quantas informações, opiniões, invenções circulam

quando um jornal é lido por milhões de pessoas? A televisão, que hoje

mostra notícias, jogos, filmes e novelas, pode ser vista simultaneamente por

milhares de pessoas.

Muitas vezes, esses meios de comunicação são utilizados para impor

idéias e exercer a dominação. Com a rapidez e a simultaneidade das

comunicações, precisamos prestar muita atenção às idéias que são

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veiculadas. Devemos procurar sempre exercer a capacidade crítica,

verificando se o que dizem as propagandas, o que dizem os noticiários, está

correto. Não devemos esquecer que existe mais de uma forma de ver as

coisas. Aceitar tudo o que é veiculado pela televisão como verdade única é

um problema sério, não acha? É importante, por isso, que as pessoas

sejam autônomas, ou seja, saibam buscar informações e assumir a

responsabilidade de analisá-las e interpretá-las.

Mas, o mundo está mudando muito rapidamente. No espaço mundial

existe uma diversidade muito grande na produção das mercadorias. Existem

países com abundância de matérias-primas e de fontes de energia que

exportam minérios para os centros industriais distribuídos pelo mundo.

Outros países dedicam-se à agropecuária e tornam-se exportadores desses

produtos para o mercado mundial. E existem aqueles que possuem

condições de ter um grande parque industrial, sendo, portanto, compradores

de matérias-primas e exportadores de produtos industrializados.

Assim sendo, nenhum país, por mais rico que seja, consegue ser auto-

suficiente, ou seja, produzir tudo que sua população necessita para viver, e

principalmente para que suas indústrias e firmas prestadoras de serviços

consigam se desenvolver. Essa necessidade de uns e de outros provoca a

circulação de mercadorias. Como nos assinalam Sene e Moreira (1997):

“Circulação é a relação de compra e venda, ou

seja, o comércio. O comércio envolve quase

todos os países, desde aqueles como os

Estados Unidos, o Japão e a Alemanha, que

contam com nível de população altamente

sofisticado, até os países menos desenvolvidos.

O Brasil exporta café, laranja, soja, minério de

ferro e, esse movimento de comprar e vender

forma um feixe de interdependência dos países,

construindo o que podemos chamar de

economia mundializada” (SENE e MOREIRA,

1997).

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Para esses autores, o espaço de circulação é o espaço-mundo. As

mercadorias, as idéias, as pessoas e o dinheiro circulam por todo o mundo.

E isso movimenta uma grande rede de meios de transporte por terra

(rodovias, ferrovias), água (navegação marítima, fluvial e lacustre) e ar

(aviação). Essa imensa rede de transportes faz a ligação entre os espaços

de produção e os espaços de consumo, espalhados no mundo, como, por

exemplo, a sua localidade.

1.1. Espaço e produção

Dependendo do modo como se produz e da quantidade de produtos

disponíveis, dos objetos produzidos em uma sociedade, as formas de

organização do espaço podem ser diferentes. Por exemplo, uma paisagem

com campos de cultivo é diferente de uma paisagem com campos de

criação, ou outra com fábricas ou campos de extração mineral.

Vejamos o caso do petróleo, ele é um bom exemplo e também um velho

conhecido nosso. O “ouro-negro” como é conhecido vulgarmente, continua

sendo importante para a sociedade atual, pois produz energia e é matéria-

prima para muitas indústrias. Em nosso dia-a-dia, convivemos de diferentes

formas, com os derivados do petróleo. Ao se levantar colocamos à mão no

interruptor, que é de plástico (derivado do petróleo), utilizamos o xampu,

que vem em embalagem plástica, vestimos roupas que, se forem de tecido

sintético (como tergal, poliéster), são derivados do petróleo. Saindo à rua,

encontramos carros, caminhões e ônibus movidos a gasolina ou a óleo

diesel, que são derivados de petróleo. E assim, se observamos melhor,

concluímos que esta matéria-prima faz parte do nosso cotidiano de forma

muito intensa.

Segundo Martinelli (1997), a OPEP (Organização de Países

Exportadores de Petróleo) é uma organização tem por objetivo regular

acordos para manter o preço e o volume de negociações de petróleo entre

os países-membros.

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De acordo com Martinelli os maiores produtores mundiais de petróleo são

Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, Cazaquistão, México, Irã, China,

Venezuela, Canadá e Iraque. A Arábia Saudita é grande produtor e um dos

maiores exportadores do mundo. Porém, não consome muito petróleo, pois

não tem necessidade porque o seu parque industrial não está desenvolvido.

Já os Estados Unidos produzem e consomem muito petróleo. Essa

necessidade do país de importar e a necessidade da Arábia Saudita de

exportar provocam o que chamamos de ‘circulação internacional de

mercadoria’. Você deve estar se perguntando: e o Brasil não tem petróleo

em seu subsolo? Tem. Existem vários espaços de extração/produção de

petróleo em nosso país. Muitas perfurações já foram feitas em nosso solo e

subsolo à procura de petróleo. Porém, nem todas as perfurações resultam

em possibilidades rendosas para a obtenção de gás ou óleo. Assim,

segundo Sene (1998):

“A circulação do petróleo utiliza meios especiais

de transporte como é o caso de oleodutos,

caminhões-tanque e navios-tanque. Os

oleodutos são canos por onde passa o petróleo,

no caso do Brasil, o petróleo chega ao porto de

Santos em navios-tanque e de lá vai dentro da

tubulação até a indústria de refinaria, que fica

em Cubatão. De lá ainda sai em outra tubulação,

que sobe a Serra do Mar e leva o petróleo até os

locais onde ele é transformado em gasolina,

querosene, óleo diesel, graxa, etc. Das

indústrias de transformação saem caminhões-

tanque carregados de gasolina para distribuí-la

pelas cidades” (SENE, 1998).

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Nesse sentido, aos poucos o Brasil está diminuindo sua dependência

em relação à importação desse produto. Em parte porque aumentou a

produção, e também porque criou novas alternativas. A diminuição da

dependência externa está ligada em parte à descoberta de uma importante

bacia petrolífera no litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro, a bacia de

Campos, nas águas da costa fluminense. A produção dessa bacia

representa mais de 65% da produção brasileira. Também se destaca a

produção dos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia, que respondem por

quase 14% da produção nacional. Mais da metade do petróleo produzido é

consumido como combustível, devido ao incentivo de transporte rodoviário

no país.

Já existem alternativas para o combustível rodoviário. Atualmente muitas

pesquisas estão sendo realizada, principalmente para substituir a utilização

de combustível poluente por não-poluente, como carros movidos a energia

solar, a biogestor, a vento etc. As organizações ambientalistas pressionam

os governos para que haja incentivo à utilização de combustível limpo.

Algumas prefeituras utilizam o gás natural em sua frota de ônibus

municipais.

Outra pergunta você estar se fazendo nesse momento: o petróleo é o

único produto comercializado no mundo? Não. Exportamos laranja, café,

minérios de ferro para países como os Estados Unidos, Japão e Alemanha.

Esses países, por sua vez, exportam mercadorias tecnologicamente

avançadas – computadores, telefones sem fio, carros, aparelhos médicos

etc. – para os outros países do mundo, inclusive o Brasil. O nosso país, na

verdade, está deixando de ser apenas exportador de produtos agrícolas e

minerais, passou a exportar também carros, geladeiras e computadores.

O mundo está cada vez mais interdependente. As mercadorias, os

serviços e as pessoas circulam o que significa que os países estão cada

vez mais interligados. Ao tempo que, as mercadorias saem dos países, as

mesmas têm que entrar em algum outro país, o comércio internacional tem

esse movimento de mão dupla.

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1.2 A globalização da produção

A globalização da produção significa que o capitalismo contemporâneo

engendrou uma concentração do capital em escala impressionante. É a

época das gigantescas empresas transnacionais que operam em

praticamente todos os países importantes do mundo. Trata-se do que os

economistas chamam de oligopólio global, isto é, poucas empresas

mundiais dominam grandes setores do mercado, expulsando ou comprando

as competidoras nacionais no mundo todo.

“Quarenta mil agentes econômicos em todo o

planeta, oligopólios de alcance mundial em todo

e cada um dos mais da metade do comércio

mundial de manufaturas e três quartas partes da

provisão de serviços; a terça parte do comércio

internacional consiste simplesmente em

transações intrafirma, e as cifras de venda

dessas empresas equivalem aproximadamente à

terça parte do produto bruto do planeta. Calcula-

se, também, que cerca de 300 grandes

monopólios exercem um ‘poder de mercado’

sufocador na economia norte-americana, e que

cerca de 150 fazem o mesmo no Reino Unido.

Cinqüenta das maiores transnacionais possuem

rendas anuais superiores ao produto bruto das

duas terças partes dos países de todo o mundo”

(BORON, 2001, p 46).

Através do processo de fusões e incorporações as grandes empresas

vão se fundindo em escala cada vez maior para poderem competir no

mercado mundial. “O mundo tem assistido, em todas as áreas econômicas,

a um violento processo de fusões e incorporações motivado pela nova

lógica competitiva, que pressupõe saltos tecnológicos e busca de mercados

cada vez mais globais” (Dupas, 1999, p. 40).

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“Já as dez maiores corporações globais que,

além das anteriores, incluíam Itochu, Exxon,

Wal-Mart, Marubeni e Sumitomo, venderam 1,3

trilhão de dólares em 1997. Esse valor aproxima-

se do PIB conjunto de Brasil, México, Argentina,

Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela. É

importante lembrar que essas empresas têm

48% de seus ativos no exterior, 61% de suas

vendas são para o mercado internacional e 57%

de seus empregados são mantidos fora de seu

país sede. São, portanto, empresas, tipicamente,

transnacionais” (DUPAS, 1999, P.41).

As empresas são transnacionais porque desloca parte da produção de

mercadorias e serviços, por diferentes países, o que é chamado por Gilberto

Dupas “de fragmentação da cadeia produtiva global”. A tecnologia da

informação - o processamento de grandes quantidades de informações

pelos computadores cada vez mais potentes- permite conectar as diferentes

partes da cadeia produtiva num sistema mais flexível, que foi denominado

de redes. È o que teoriza Manuel Castells, citado por Duppas (1999).

“A estrutura transnacional possibilita que as

pequenas e médias empresas se relacionem

com empresas maiores, formando redes

capazes de inovar e adaptar-se continuamente.

Desta forma, a unidade operativa atual é o

projeto empresarial, representado pela rede, e

não mais as empresas individuais. Os projetos

empresariais se aplicam a áreas de atividades

que podem ser cadeias de produtos, tarefas de

organização ou âmbitos territoriais. A informação

adequada é crítica para os resultados das

empresas. A informação crucial circula pelas

redes: redes de empresas, redes dentro das

empresas, redes pessoais e redes informáticas.

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As novas tecnologias da informação são

decisivas para permitir que funcione realmente

um modelo tão flexível e adaptável” (Idem, p.

46).

Mas a estrutura em redes concentra a produção de conhecimento

científico e tecnológico nos países de tríade – Estados Unidos, Europa e

Japão – e transfere para os países da periferia e da semi-periferia do

sistema as partes que utilizam mais a mão-de-obra pouco qualificada e

barata. Como reconhece Gilberto Dupas:

“A maioria dos centros de decisão estratégica e

de pesquisa e desenvolvimento das corporações

transnacionais localiza-se nos países

desenvolvidos. Os primeiros, em metrópoles

globais, como Nova York, Londres e Tóquio; e

os segundos, em localidades onde há

concentração de mão-de-obra qualificada, em

geral nas proximidades de centros de pesquisas

ou universidades politécnicas” (DUPAS, 1999, p.

47).

Para a periferia e a semi-periferia, ou os chamados mercados

emergentes, convergem partes das empresas transnacionais que utilizam

mais intensamente a mão-de-obra pouco qualificada e de baixos salários,

as indústrias denominadas de trabalho intensivo. As empresas

transnacionais também buscam países que cobram poucos impostos das

empresas, de modo que quanto maior o incentivo fiscal mais as

transnacionais tendem a barganhar o lugar melhor para se instalar, e que

lhes obrigue a pagar a menor taxa de imposto. Gilberto Dupas aponta que

outro fator reside na “emergência de grandes estoques de reserva de baixos

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salários, como China e Vietnã”. Da mesma forma, “o aumento da pressão

sindical por condições de trabalho nas economias desenvolvidas – são

casos típicos a Alemanha e a França – também serviu como um dos fatores

determinantes adicionais para levar as empresas transnacionais a deslocar

indústrias para países em desenvolvimento” (1999, p. 50).

1.3 A globalização entendida como o desencadeamento das forças

do mercado mundial

A globalização entendida como o desencadeamento das forças do

mercado mundial é, para a maioria das nações, um processo forçado do

qual não podem fugir. Para a América esse foi e continua sendo um

processo que sua elite política pôs em andamento e continua mantendo de

bom grado.

A última superpotência remanescente também é a última nação que tem

conseguido manter um alto grau de soberania. Ao longo de todo o espectro

da política econômica, comercial, social, financeira e cambial, são os

conselheiros de Washington que em última análise ditam as regras para a

integração global, mesmo que possam não estar sempre cônscios disso.

Não é a busca colonial da superioridade militar, mas a simples grandeza da

economia americana que faz dos EUA o último fator de ordem no caos do

emaranhado global. Por isso, é perfeitamente possível que no fim seja o

governo americano o primeiro a libertar-se da globalização.

“[...] um número suficiente de pessoas chega à

conclusão de que a debandada do Estado

também arruína o seu país, já amanhã poderão

provocar uma abrupta mudança de rumo. Afinal

de contas, o Estado do bem-estar social, que

vem sendo triturado na engrenagem da máquina

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econômica, surgiu inicialmente nos EUA.

Quando o impulso de globalização verificado na

década de 1920 terminou em catástrofe

financeira, foi o governo de Franklin Roosevelt

que inventou a proteção social para superar uma

conjuntura difícil. Não é descartável a

possibilidade de que o proverbial pragmatismo

americano repudie as doutrinas dos radicais do

mercado com a mesma rapidez com que as

transformou em dogma em 1980” (MARTIN e

SCHUMANN, 1998, p. 300).

Todos os recentes governos americanos se opuseram com firmeza às

propostas de frear o ritmo da integração econômica e submetê-la

novamente ao controle do Estado. Por esse motivo, aliás, fracassou a única

iniciativa de cooperação global importante, a rodada do G-7, que se esgotou

num palavreado oco. Durante a reunião de cúpula dos sete chefes das

nações mais industrializadas, que se deu em fins de 1996, em Lyon, o

presidente da França, Jacques Chirac, na verdade defendeu uma

globalização controlada.

Nesse sentido, como analisam os autores, a política dos EUA,

impregnada de populismo e demagogia, dificilmente apontará uma saída da

armadilha da globalização. Mas isso não há apenas o aspecto negativo. A

recusa americana abre para os países da Europa uma oportunidade

histórica, como nunca houve antes: a União Européia poderá torna-se uma

realidade e os seus líderes poderão assumir o comando da política

econômica.

1.4 A globalização cultural

No artigo “Cultura e Mega-sociedade Mundial”, o professor Renato Ortiz

(1994) esclarece que a globalização cultural é confundida com a tese da

americanização do mundo. Esta tese é divulgada tanto pelos adeptos

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convictos do modo de vida americano quanto pelos que denunciam o

imperialismo cultural norte-americano.

Disneylândia, calça jeans, McDonald’s, rock, Coca-Cola, Ford e tantos

outros produtos levaram à ilusão de se julgar a globalização pelas

aparências. É verdade que o complexo industrial militar dos EUA, isto é, a

associação da indústria com os interesses militares e a dominação

americana da produção e distribuição de filmes, TV, publicidade etc., são

fatos verdadeiros. Mas não explicam por si sós as mudanças em curso na

nova realidade mundial.

“A ideologia que define ‘os valores’ norte-

americano e a crítica da esquerda ao

imperialismo cultural têm em comum a idéia de

que existe um centro difusor que irradia cultura

para o resto do mundo. Os países

desenvolvidos, principalmente os EUA, são

vistos como núcleos difusores de cultura, e o

resto do mundo como periferia. Os primeiros

transmitem valores culturais que vão se chocar

com os costumes locais, sendo que os valores

nacionais são considerados mais verdadeiros”

(ORTIZ, 1994).

Esta concepção fica presa à idéia de nação e não analisa a globalização

como um processo pluridimensional. A circulação de idéias e de objetos

culturais pode ser ‘melhor’ compreendida quando analisada em termos de

mundialização, e não como difusão, desde que não se percam as relações

da globalização com as instâncias de poder.

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Uma das características da fase contemporânea da modernidade, que

alguns chamam de pós-moderno, é a descentralização, o enfraquecimento

da idéia de centro, que não significa ausência de poder, mas sim novas

formas de dominação baseadas na desterritorialização.

A velocidade das novas tecnologias de comunicação eletrônica levou à

unificação dos espaços, à intercomunicação dos lugares que se tornam

globalizados. Cada local revela o mundo; o global sobrepõe-se e penetra o

local, abrindo passagem para referências culturais globalizadas, do jazz ao

rock, de Madonna a Michael Jackson, de Fellini e Godard a Spielberg.

Os objetos que fazem parte do cotidiano dos cidadãos perderam a

territorialidade. Nos EUA, os americanos convivem hoje com carros

japoneses, produtos europeus, roupas asiáticas. Automóveis de diversas

marcas, por exemplo, são hoje produzidos de forma descentralizada, em

vários países; desenhados em um país, montados em outro, componentes

eletrônicos feitos em um terceiro, e diversas peças provenientes de

diferentes países.

Não há mais ‘grandes’ visões de mundo de validade universal. Os

grandes mitos, ideologias e religiões universais se diluíram diante da

fragmentação pós-moderna. A centralidade, a padronização, a sociedade de

massa, a produção em massa do fordismo e o taylorismo, são

características da fase moderna pré-global. Já a descentralização, a

segmentação do mercado, a produção flexível e o pluralismo são

característicos da fase atual.

Uma cultura mundial penetra os setores heterogêneos dos países,

separando-os de suas raízes nacionais. A mundialização da cultura significa

ao mesmo tempo diferenciação, descentralização, padronização e

segmentação, tanto no plano global como no local (Ortiz, 1994).

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CAPÍTULO II

GLOBALIZAÇÃO E O MERCOSUL

Iniciaremos este capítulo discutindo o conceito de globalização. Este é

um conceito de que já se ouviu falar muito e que, apresenta abordagens

diferentes. Segundo Vesentini (1999), o termo “globalização significa que os

países e os povos estão se tornando mais interligados nas relações

econômicas, comerciais e financeiras” e, que a interdependência global dos

países não significa igualdade de poder e riqueza de todo o mundo.

Para entendermos melhor a configuração deste fenômeno multifário, no

final dos anos 60, um escritor canadense dizia que o mundo iria se tornar

uma aldeia global. Para o nosso entendimento aldeia tem um sentido local,

pequeno, familiar e conhecido, onde moram poucas famílias e todos se

conhecem. Já o termo global dá a idéia do globo terrestre, portanto,

representa o nosso planeta, a Terra. Então, como é possível que uma aldeia

pode se tornar global? “Isto é possível por causa do fenômeno chamado

globalização”, acrescenta o escritor.

Nesse sentido a globalização pode ser entendida como um processo que

tem levado os países a se tornar, cada vez mais interligados em suas

relações culturais, econômicas, comerciais e financeiras. É um dos

fenômenos mais significativos, se não o mais significativo dos tempos

modernos. O processo de globalização, em todas as suas implicações,

inclusive ecológicas e demográficas, étnicas e lingüísticas, já é um dos

temas mais importante do pensamento científico neste início do século XXI.

“Sem dúvida é um tema de maior complexidade, importância e atualidade,

na iminente virada do milênio e tem merecido as mais diversas abordagens”

(NOGUEIRA, 2000).

Para o autor, o tratamento científico do fenômeno da globalização

apresenta consideráveis dificuldades. Dois aspectos em particular impõem

nítidos problemas de análise. O primeiro deles consiste no fato de estarmos

diante de um processo historicamente recente. O que se tem chamado de

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globalização remonta, no máximo, ao início da década de 80 do século

passado. Por outro lado, o processo apresenta-se multifacetado. É possível

mencionar a existência de uma globalização econômica, de uma

globalização política, de uma globalização cultural e assim por diante.

Vejamos o que nos diz Nogueira:

“Existe alguma controvérsia em torno da

tentativa de definir o marco temporal inicial do

fenômeno identificado como globalização. Até

mesmo a denominação utilizada não é uniforme.

Eis algumas formas alternativas de denominar o

fenômeno: aldeia global, economia-mundo,

capitalismo global, fim da história, fim da

geografia e mundo sem fronteiras” (NOGUEIRA,

2000).

Do ponto de vista do autor, definir globalização é uma tarefa das mais

difíceis. São múltiplas as visões sobre o fenômeno, assim como múltiplas

são as suas facetas. Não é exagerado, nem inapropriado, falar em

globalização econômica, globalização política, globalização cultural,

globalização ambiental e assim por diante. Liszt Vieira em sua obra

“Cidadania e Globalização” ‘identifica’ cinco dimensões da globalização, a

saber: economia, política, social, ambiental e cultural.

Ademais, subsiste um razoável consenso entre os mais variados

cientistas sociais quanto à ausência de um marco teórico consistente e

uniforme para o trabalho científico em torno da idéia de globalização. “Além

disso, em que pese à profícua produção bibliográfica sobre o tema,

sobretudo nos últimos quatro anos, ainda não foi produzido um marco

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teórico que possibilitasse a leitura da globalização de forma cabal” (LIMA,

2002).

Em suma, o traço mais fundamental da globalização é justamente a

interferência nos assuntos e definições locais, regionais e nacionais de

decisões adotadas fora destes âmbitos geográficos, mais precisamente no

cenário mundial ou internacional. Sucumbem as barreiras nacionais e a

clássica divisão entre o espaço interno e o externo.

Hoje, tanto mercadorias como conhecimento, dinheiro e pessoas formam

uma teia interligada no mundo, fazendo parte da globalização. Assim, as

principais características da globalização podem ser resumidas nos

seguintes pontos:

• Expansão das empresas multinacionais, que são empresas muito

grandes, com muito dinheiro. Elas participam da economia mundial

com seus bancos, indústrias, empresas de telecomunicações e estão

presentes em muitos países, muitas vezes em todos os continentes;

• Crescimento do comércio internacional: grande parte dos produtos

que as pessoas compram internamente vem de outros países e

muitos produtos locais são vendidos fora do Brasil;

Existe mais um aspecto que está se apresentando: com a globalização

da economia, as empresas utilizam mão-de-obra, matéria-prima, maquinaria

e sistema de comunicações combinados de muitos países. Esse esquema

de produção mundialmente integrado pode ser chamado de

‘internacionalização de produção’.

“A partir de uma maior integração financeira

ocorrida nas décadas de 1980 e 1990, com a

abertura financeira das economias, com o

advento de novas tecnologias na área da

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informática e das telecomunicações e com a

constituição dos chamados ‘mercados

emergentes’, pode se observar a emergência de

um novo ciclo nas finanças internacionais. Este

novo ciclo é marcado pela liberdade com que

grandes fluxos de capitais, muito superiores à

produção de bens e serviços das economias,

cruzam as fronteiras dos países de forma

instantânea, em busca das melhores

oportunidades de ganhos em taxas de juros e,

sobretudo, com variações nas taxas de cambio”

(LIMA, 2002).

Assim, segundo Lima (2002), as principais características ou aspectos da

globalização, notadamente em seu viés econômico, verdadeiro fio condutor

das demais facetas, são as seguintes:

• As empresas transnacionais (organizações ou empresas com gestão

centralizada, notadamente dos aspectos financeiros e tecnológicos, e

atuação em escala planetária)- substituem progressivamente o

Estado como principal ator de ordenação sócio-econômica. A

tradicional soberania do Estado-nação encontra fortíssima limitação

na busca das empresas transnacionais por mercados. Elas escolhem

seu palco de atuação em função de fatores como mercado de

trabalho, sistema tributário, ‘marcos regulatórios da atividade

econômica’ e condições de infra-estrutura. Neste contexto,

negociações em torno de investimento direto e ameaças de retirada

influenciam diretamente as decisões sobre as políticas de governo;

• Os movimentos transnacionais de capitais assumem proporções

gigantescas e gozam de irrestrita liberdade. Estimam-se em cerca de

1,5 trilhão de dólares por dia as transações cambiais, sendo que 95%

delas são meramente especulativas manuseando mecanismos

financeiros complexos baseados nos mercados futuros e de ações.

As recentes revoluções da informática e das comunicações

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forneceram as bases tecnológicas para a criação e o

aperfeiçoamento de um verdadeiro “cassino global”;

• A configuração de uma nova divisão internacional do trabalho. Os

recursos para produção são obtidos ao redor do mundo. São criados

sistemas de produção flexíveis e dispersos em inúmeras operações

em diversos países. Tecnologia de ponta permite “organizar” a cadeia

produtiva em escala global;

• A implantação de um conjunto de políticas de liberalização, de

privatização, de desregulamentação e de superação de inúmeras

conquistas sociais. Conhecidas em seu conjunto como doutrina ou

ideologia neoliberal. Está baseada na premissa básica de que o

mercado deve regular a sociedade e, por via de conseqüência, o

papel e a presença do Estado devem ser reduzidos. O Estado não

deve atenuar as desigualdades promovidas pelo mercado, mas

assegurar a ordem fundada no livre comércio;

• Um processo de cobrança de dívidas em escala mundial que viabiliza

para os interesses bancários e financeiros, o poder de ditar, por

vários meios, a política social e econômica dos governos.

Nesse sentido, refletindo sobre a globalização, a idéia que formamos é

de que cada vez mais o mundo todo caminha para uma integração, e que

isso traz benefícios para as empresas e para as pessoas. Em parte isso é

verdade, no entanto, sabemos que a globalização faz com que haja uma

competição muito grande entre as empresas, e cada vez mais técnicas

sofisticadas estão sendo inventadas para que a produção seja mais rápida e

de melhor qualidade.

Se as pessoas que trabalham nas empresas não acompanharem essa

mudança tecnológica e de ritmo, certamente serão rapidamente

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substituídas. A aldeia global não é uma sociedade em que os esforços

estão levando todos para uma vida melhor. Continuarão existindo

diferenças entre pobre e rico, entre aqueles que têm acesso às tecnologias

de ponta e os outros que ficam à margem dessas melhorias do conforto por

elas.

O autor ainda enfatiza que, a divisão dos países em ricos e pobres é

muito complicada, porque a pobreza e a riqueza não são aspectos de

ocupação, pelas relações no espaço-mundo. Nesse mundo multipolar que

está dividido por blocos de influência ou liderança, alguns países se unem e

formam mercados regionais para se fortalecer economicamente. É o caso

do MERCOSUL, do qual o Brasil faz parte.

2.1. MERCOSUL, o que é?

De acordo com Boniolo (2004), o Mercado Comum do Sul é uma

associação econômica integrada que inclui o Brasil, a Argentina, o Paraguai

e o Uruguai. Os governos destes quatro países assinaram em 1991 um

tratado de união econômica, baseado no Mercado Comum Europeu, com o

objetivo de reduzir e ou eliminar impostos, proibições e restrições entre seus

produtos. Ele é um exemplo de bloco regional geoeconômico. O acordo

entre os países tem por objetivo a integração e o fortalecimento regional,

para alcançar competitividade na participação do mercado mundial, ou seja,

para alcançar tal objetivo, os governos vão criar uma zona de livre comércio.

O primeiro passo é a: livre circulação de mercadorias, de serviços, de

capitais e pessoas. Após o acordo do MERCOSUL, o Brasil aumentou de

forma visível o movimento comercial. E, também, tornou-se comprador de

seus parceiros. Por exemplo: com o fortalecimento do MERCOSUL, o Brasil

compra mais petróleo da Argentina.

Num sentido mais estrito e diverso, a expressão “mercado comum”

significa uma receita econômica formada para remover barreiras comerciais

entre as nações-membros. Atualmente a expressão “mercado comum”

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assume um conteúdo ainda mais específico para designar, além daquele

que tradicionalmente corresponde a uma União Aduaneira, o conjunto de

políticas integrativas e harmonizativas em todos os campos da atividade

econômica, jurídica e social. O termo apropriado se chama “mercado ou

bloco regional” ou “comunidade”. No caso do “Mercado Comum do Sul” –

MERCOSUL, consoante se lê no artigo 1º do TRATADO DE ASSUNÇÃO

concluído em 26 de março de 1991 (aprovado no Brasil por meio do Decreto

Legislativo nº 197, de 25/09/1991, e promulgada pelo Decreto nº 350, de 21

de novembro desse ano), o “mercado comum” implica:

“A livre circulação de bens, serviços e fatores

produtivos entre os países, através, entre outros,

da eliminação dos direitos alfandegários e

restrições não tarifárias à circulação de

mercadorias de qualquer outra medida de efeito

equivalente. [...]. A coordenação de políticas

macroeconômicas e setoriais entre os Estados-

Partes, de comércio exterior, agrícola, industrial,

fiscal, monetária, cambial e de capitais, de

serviços, alfandegária, de transportes e

comunicações e outras que se acordem, a fim

de assegurar condições adequadas de

concorrência entre os Estados- Partes e, o

compromisso de harmonizar suas legislações,

nas áreas pertinentes, para lograr o

fortalecimento do processo de integração”

(CASSONE, 1998, p. 84-85).

Embora tenha o Mercado Comum, nessa última acepção, fortes laços de

ligação e de conexões com a chamada “zona de livre comércio de

qualidade”, pelo que desta muito se aproxima, como bem observa Peña

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(1993), “talvez a diferença substancial, contudo, se mantenha pelo fato de

que esta última não inclui necessariamente a liberdade juridicamente

garantida de circulação do fator trabalho ou o direito de estabelecimento”.

No caso da Europa, desde o início da formação de sua comunidade, que

hoje se reveste na teoria e na prática, de características integrativas cada

vez mais fortes (União Européia), com o TRATADO DE ROMA, firmado em

25 de março de 1957 (constitutivo da Comunidade Européia), os objetivos já

eram profundos e bem definidos, superando largamente o propósito de uma

mera União Aduaneira ou mesmo de um Mercado Comum.

“O Tratado de Assunção, assinado em março de

1991, registra de modo formal o desejo da

Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai de formar

uma união ambiciosa, do tipo da européia, muito

além das tradicionais uniões aduaneiras. O

movimento iniciado nesta data continua em

curso, testemunhado a seriedade de propósito

dos signatários” (FLORES JÚNIOR, 1994, p.

124).

Em 2002, o MERCOSUL foi afetado pela situação econômica da

Argentina, o que levou grandes rumores acerca de uma possível relação

com os Estados Unidos a fim de fragilizá-lo. Em 2004, a Argentina passou a

ter atitudes contrárias às estabelecidas e assinadas no acordo fazendo com

que a expansão do MERCOSUL fosse prejudicada e adiada. Também,

neste mesmo ano, os países Chile, Bolívia, Equador, Colômbia e Peru

associaram-se ao MERCOSUL.

Em 2005, a Venezuela buscou sua adesão ao acordo, mas teve que

cumprir algumas exigências, como adotar a TEC – Tarifa Externa Comum.

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Esse acordo beneficiou as ligações comerciais e financeiras entre os

países parceiros, já que houve implantação de indústrias filiais em países

parceiros e ainda o grande crescimento turístico entre os mesmos.

Segundo Cabral (2007), o Brasil assumiu a liderança do bloco econômico

e a Argentina vem em seguida na segunda colocação. O Brasil exporta,

para os países parceiros, diversos produtos, entre eles, automóveis,

bebidas, cigarros, café, açúcar, eletrodomésticos, produtos eletrônicos,

calçados e óleos. Nesse sentido:

“É fundamental que cada vez mais nossas

sociedades assumam o MERCOSUL e a relação

estratégica entre o Brasil e a Argentina como

fatores fundamentais em uma mudança

verdadeira de perspectivas para os dois países.

Que saibamos ver o outro como parte de nosso

interesse mais essencial, como eixo de nossa

própria inserção no resto do mundo. E que

possamos gerar, em bases duradouras, essa

cultura de integração que significará o passo

definitivo de nossa região, e de nossos países,

em particular, a uma nova etapa de seu

desenvolvimento histórico” (LACERDA, 1999, p.

178).

2.2 A experiência de duas regionalizações: União Européia e

MERCOSUL

A União Européia representa hoje a mais forte experiência de

estruturação política, econômica e jurídica levada a bom termo. Foi ela a

alternativa, talvez única, para a libertação do povo europeu do estigma da

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guerra. Históricas rivalidades puderam, graças a ela, ser superadas,

exorcizando-se recalcitrantes fantasmas e preconceitos de toda ordem.

Do lado de cá do Atlântico a luta vem se travando contra a dependência

econômica e todas as espécies de subdesenvolvimento. Com o

MERCOSUL, hoje também uma realidade concreta por seu dinamismo e

identidade, procura-se consolidar a democracia com o desenvolvimento

econômico em escala regional. Daí o destaque que o presente estudo

conferiu a essas duas estruturas comunitárias, a começar pela União

Européia.

Sobre a União Européia e o MERCOSUL, assinala Porto (1997):

“Numa união aduaneira além da liberdade de

circulação das mercadorias há uma política

comercial comum, traduzida designadamente na

aplicação de uma pauta única face ao exterior e

na negociação conjunta de qualquer acordo com

países terceiros. É como se sabe o caso da

Comunidade Européia, a que acresce agora o

do MERCOSUL” (PORTO, 1997).

Nesse sentido, vale apena destacar, ainda, alguns trechos da lavra desse

jurista:

“As diferenças de dimensão dificultarão, aliás, o

aprofundamento institucional, sendo

designadamente difícil a formação de um

Parlamento ou de um Tribunal quando um dos

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países tem 160 milhões de habitantes, outro de

33 milhões e os outros dois pouco mais de 3

milhões cada. Com uma representação mais ou

menos proporcional a participação destes não

teria significado e uma participação paritária

levaria a uma sub representação inaceitável dos

cidadãos do Brasil, com uma população quatro

vezes superior à dos outros três em conjunto”

(cfr. Porto, 1997, p. 137).

Mais adiante, ainda dentro do tópico posto em relevo, o autor expõe que

“o êxito conseguido tem levado, aliás, a uma vontade de integração no

MERCOSUL de países que há poucos anos estariam longe de encarar tal

hipótese”. Porto (1997) alega que tem sido com avanços e recuos, o caso

do Chile (passada uma maior atração pela NAFTA) e é agora, expressada

formalmente, a vontade dos países da Comunidade Andina (depois de se

terem verificado manifestações isoladas de interesse, na Cimeira de Trujillo,

em 10 de março de 1996, foi decidido que as negociações passassem a ser

feitas em bloco, entre Comunidade Andina e o MERCOSUL.

Assim acontece da parte de um bloco formal (formado pela Bolívia,

Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) com as várias instituições em

funcionamento (incluindo um Parlamento e um Tribunal), o que não

acontece (ainda) no bloco (o MERCOSUL) em que os seus países querem

integrar-se.

As negociações comerciais do MERCOSUL com a União Européia

dependem essencialmente das tentativas para acesso a mercado no setor

agropecuário da chamada Rodada “Doha” da Organização Mundial do

Comercio. A questão fundamental é a redução do protecionismo (eliminação

das barreiras técnicas, fitossanitárias e contingenciamento por intermédio

das malfadadas cotas de importação) e dos subsídios concedidos pelos

países desenvolvidos à produção e à exportação de produtos agrícolas e

pecuários.

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Para nosso entendimento a Rodada Doha é o principal elemento do

comércio mundial. Para Boniolo (2004), trata-se de exaustivas negociações

entre as maiores potências comerciais do mundo, com o objetivo de diminuir

as barreiras comerciais, focando o livre comércio. As negociações

receberam o nome de “Doha”, capital do Qatar, pois foi nessa cidade que os

países começaram a discutir a abertura do comércio mundial.

A teoria mercantilista está presente em todas as negociações, é o “toma

lá da cá”. Usualmente, os países desenvolvidos corrompem certos países

em desenvolvimento em troca de alguma ajuda “humanitária ou financeira”

para apoiar o protecionismo ou a manutenção de subsídios contra os países

emergentes, como é o caso do Brasil. Apesar das inúmeras dificuldades

envolvidas nesse processo, não há como negar que os resultados já obtidos

com o MERCOSUL representam um grande avanço em termos da

integração latino-americana, sobretudo se considerarmos as diferenças

econômicas e demográficas entre os associados do Mercado Comum do

Sul.

O MERCOSUL começou a funcionar como zona de livre comércio e uma

união aduaneira parcial em 12 de janeiro de 1995, pondo fim ao chamado

período de transição do MERCOSUL, esta união ainda não é plena porque

os quatro países continuam adotando políticas comerciais diferenciadas

para algo entre 10% e 15% do universo tarifário.

Segundo Rêgo (1995) os produtos com tarifas divergentes da Tarifa

Externa Comum (TEC) a ela convergirão até 2001 ou 2006. Até que isto

ocorra, esses produtos integrarão as chamadas listas de exceções. No

segundo semestre de 1994, foi decidido que estas listas não deveriam

ultrapassar 299 posições tarifárias da Nomenclatura Comum do

MERCOSUL para Brasil, Uruguai e Argentina, incluindo-se os bens de

capital, de informática e de telecomunicações. A lista do Paraguai, por sua

vez, contaria com 399 itens tarifários, inclusive os bens citados e os

produtos com regime de origem de 50% até 2001.

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Na opinião de Arruda e Prado (1992) o Brasil e o México foram os únicos

países latino-americanos que conseguiram na década de 70 ‘avançar’

significativamente sua industrialização, fazendo parte daquele grupo de

países que ficaram conhecidos como NICs (países de industrialização

recentes).

No que diz respeito ao comércio intra-regional entre os países do

MERCOSUL, os dados são bastante desiguais, como assinalam os citados

autores:

“O comércio intra-regional entre os países do

MERCOSUL é de importância desigual, em

função dos diversos tamanhos de suas

economias e diferente dinamismo de suas

exportações. A importância do comércio intra-

Mercosul para o Brasil é muito pequena,

somente 4,8% de suas exportações (2,9% para

a Argentina) e 5,9% de suas importações (3,7%

da Argentina) vem da região. A região tem

pouca participação nas exportações Argentina,

absorvendo apenas 9,6% dessas (6,7% para o

Brasil); esse país tem nesse mercado uma

importante fonte de suprimentos, sendo que a

região fornece 19,8% do total de suas

importações (17,4% do Brasil). Para os

pequenos países a região é muito mais

importante. O MERCOSUL absorve 29,3% das

exportações paraguaias (22,2% para o Brasil) e

fornece 42,5% de suas importações (33,9% do

Brasil); 24,1% das exportações uruguaias

destinam-se ao Mercosul (16,4% para o Brasil) e

44,7% das importações originam-se na região

(28% do Brasil)” ( ARRUDA e PRADO, 1992).

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Estudos efetuados pelo Instituto de Estudos Políticos e Sociais (Projeto

Alvorada, Rio de Janeiro, 1991) indicam que existe uma importante margem

de substituição de importações a favor do MERCOSUL. Num prazo da

ordem de três a cinco anos esses países serão levados a substituir uma

significativa cota de importações que ora fazem de terceiros países por

importações uns dos outros, cota essa que poderá chegar a triplicar o valor

das importações dentro do MERCOSUL. Assim, mesmo, se considerar esse

mesmo período de 1986 a 1989, a triplicação das exportações para o

MERCOSUL de um país como o Brasil elevaria a taxa de suas exportações

no Cone Sul, relativamente às exportações totais de 2,7% para 8,2%.

Assim, para finalizarmos o nosso entendimento acerca da experiência

entre as duas regionalizações, a visão que temos tanto da União Européia

como do MERCOSUL é a de um longo e semelhante projeto de construção

regional (bloco regional), em que pese à grande diferença de sua genética,

razão de ser e finalidades que se desenvolve a partir do término da

Segunda Guerra Mundial.

Não obstante, é comum que se analise o MERCOSUL como uma

realidade nascida apenas com o Tratado de Assunção, o que leva autores

renomados a cometer equívocos, como o de referir-se à União Européia

“como precursora ou ao menos na figura de irmão mais velho da segunda”

(MERCOSUL), quando na realidade estamos diante de modelos distintos

desenvolvidos de forma diferente em tempos similares: o comunitário, de

características predominantemente institucionais.

2.3 O Mercado Comum: o preço da felicidade

Os espaços denominados União Européia e MERCOSUL são

construções de vocação supranacional, e neles se erguem comunidades de

povos e nações.

Ao mesmo tempo em que os países adquirem fisionomia de “blocos”

econômicos, irrompe outro fenômeno conhecido como “globalização”, na

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qual se posicionam, como nos castelos medievais, “empresas

transnacionais” de porte planetário.

Nesse sentido, a União Européia é, na substância, uma construção da

paz para o Velho Continente e, o MERCOSUL, por seu turno, surge como

uma obra de libertação econômica. A integração jurídica, lá como aqui, se

constitui pressuposto e, ao mesmo tempo, a construção do novo espaço

comunitário.

Uma nova ordem internacional se torna indispensável para a boa

convivência no planeta, uma vez que os países, isoladamente, já não

podem disciplinar as relações impostas por organizações fora do controle

do Estado tradicional, ou Estado- Nação, e que se tornam, nessa posição

privilegiada, detentoras de todos os bens sociais, às experiências dos

cidadãos comuns.

Para superar a ruptura causada pela globalização, e estabelecer uma

verdadeira democracia, também a nível mundial, vários caminhos podem

ser explorados: o dos Direitos Humanos, o do fortalecimento das regras

jurídicas e o da tributação, que não se excluem, mas, ao contrário, se

combinam positivamente.

Em direção ao centro, a União Européia vem procurando intensificar os

valores referentes à democracia, cultura, representação, legitimidade e

cidadania de um modo geral. Com a aplicação do princípio comunitário da

subsidiariedade, fortalecer o direito e a cultura dos países que a integram.

Para fora, a União Européia busca parceiros ou aliados e o MERCOSUL

se esforça na aproximação com outros blocos, tanto no plano econômico

como na concepção cultural e tecnológica.

Na concepção de Porto (1997), as parcerias, diversamente das alianças,

revelam-se, sobretudo, pelo caráter eventual e transitório dos

empreendimentos comuns. E, as alianças têm um sentido mais profundo e

nível de consistência mais forte decorrente da soma de forças e recursos.

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“De fato, só a União Européia com os quinze

membros atuais, constitui um dos maiores

espaços econômicos do mundo, com um PIB

semelhante ao NAFTA - com um mercado

acrescido por países vizinhos também de grande

relevo, incluindo os países da EFTA (com alguns

dos quais é formado o Espaço Econômico

Europeu) e os países ex-comunistas da Europa

Central e Oriental (os PECO’S), que começaram

a ter taxas de crescimento muito promissoras,

além disso têm conosco uma ligação especial,

através dos Acordos Europeus” (PORTO, 1996b,

p.41).

O referido especialista aborda, em outra publicação, a temática do euro e

assinala que “com a publicação atual a União Européia tem um grande

relevo na economia mundial, com cerca de 30, 8% do PIB total, á frente dos

Estados Unidos (26,7) e do Japão (21,0)”. A posição é ainda mais relevante

no comércio, considerando também o comércio intra – UE. Mas mesmo

considerando-se apenas o comércio extra-UE a Europa parece à frente,

com 20,9% do total, tendo os Estados Unidos 18,3 e o Japão 10,3%.

Outro aspecto relevante sobre a integração econômica se refere à

questão no fluxo e refluxo de suas tendências relevadas no passado e

prospectando-se para o futuro, não é fácil avaliar se a União Européia

penderá mais para fora – mundializando-se - ou para dentro, nesse caso

consolidando-se como um só Estado. Hoje em dia a velha idéia dos Estados

Unidos da Europa está fora da moda. Mas isso não significa que esteja

definitivamente afastada, mesmo porque a convivência de duas ordens, a

nacional e a comunitária, hoje fortalecida principalmente com a adoção do

princípio da subsidiariedade, é de difícil manutenção ao longo prazo.

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O pêndulo entre a economia nacionalizada e a mundialização na

economia, hoje em razoável equilíbrio, pesará mais tarde ou mais cedo para

‘um’ dos lados.

2.4 O mercado mundial

Um dos efeitos mais espetaculares da globalização é o surgimento de um

novo ídolo, o mercado mundial. O homem que até a chegada desse

fenômeno se ligava a seu mercado, agora se vê diante de uma inusitada

vitrine mundial abrangente de todos os mercados. A cidadania parece

desaparecer diante do espaço infinito aberto com a globalização, pois os

produtos ofertados são padronizados em escala planetária nessa

racionalidade.

Diante das tentações provocadas pela irresistível rede mercadológica, o

homem perde sua identidade como consumidor. Esse será o preço da

felicidade, a adoração ao novo Brasil, a divinização dos ícones e símbolos

do mercado global.

De acordo com Garrido (1986) “é preciso reconstruir a cidade devastada

pela inundação de produtos mundializados”. O mercado é uma construção

do homem e faz parte da cidade, sendo assim também um espaço humano.

Segundo o autor, o mercado global há de atuar como uma dentre muitas

opções: a feira livre, a loja, o mercado público, o supermercado, o

hipermercado e o global.

“É o homem que escolhe o mercado, e não o contrário, o que significa

dizer que os produtos devem corresponder às suas necessidades reais, sob

pena de degradar valores e culturas tradicionais incorporadas à cidade”,

afirma Garrido (1986), citado por Nogueira (2000 p. 211). Neste aspecto, a

democracia não pode ficar apartada do espaço mercadológico criado pelo

homem.

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CAPÍTULO III

GLOBALIZAÇÃO DO CAPITAL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

A partir de 1973 começam a aparecer os sinais de que o ciclo expansivo

do capitalismo, que caracterizou os chamados anos dourados, chegou ao

fim. Começa então uma fase de queda do crescimento econômico nas

economias mais desenvolvidas, que se acompanha de um retorno da

inflação. Nos anos 90, somente a economia dos Estados Unidos registra

‘certo’ desenvolvimento, mas em 2001 os indicadores sinalizavam o

agravamento de uma recessão na economia mais rica do planeta terra.

Com a recuperação econômica do pós-guerra, o Japão e a Alemanha se

transformam em grandes competidores econômicos dos Estados Unidos.

Com o aumento da competição dentro do capitalismo central tem início a

formação de grandes blocos econômicos que passam a interligar a

economia mundial numa totalidade cada vez mais interdependente e

complexa, configurando o que veio a se chamar de globalização da

economia, da sociedade e da cultura.

A globalização deve ser entendida como a expansão do capitalismo

numa escala verdadeiramente universal. Após o colapso do comunismo

soviético em 1989, podemos afirmar que o capitalismo alcançou

praticamente todos os espaços do planeta. As fronteiras nacionais cada vez

mais perdem a relevância, num contexto em que o capital circula pelo

mundo todo, atravessando todas as fronteiras políticas que venham a se

interpor no seu caminho. Eis como o conceito de globalização pode ser

definido sociologicamente, segundo Piotr Sztompka (1998):

“Uma das mais notáveis tendências históricas da

era moderna é o movimento em direção à

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globalização. Este pode ser definido como o

‘conjunto de processos que conformam um

mundo único’ (Robertson, 1992: 396). As

sociedades se tornam interdependentes em

todos os espaços de suas vidas – político,

econômico, cultural – e o escopo dessas

interdependências torna-se verdadeiramente

global. Nenhum país é uma ilha auto-suficiente.

A humanidade não é mais um mero agregado

estatístico nem uma categoria filosófica ou

ideológica; ela se torna uma autêntica entidade

sociológica, uma totalidade social absolutamente

abrangente, que abarca todas as pessoas que

vivem no planeta. Hoje, pode-se falar de uma

estrutura global de relações políticas,

econômicas e culturais que se estende além das

fronteiras tradicionais e que une sociedades

distintas em um único sistema” (CHIROT, 1997).

A grande interdependência que define o mundo contemporâneo criou

uma situação em que mudou completamente a qualidade dos processos

históricos. “O que quer que aconteça em qualquer lugar tem determinantes

e repercussões globais. A escala nacional e mesmo regional não é

suficiente; história nacional ou regional já não faz sentido. Ao contrário,

todos os acontecimentos históricos devem ser estudados no contexto

global” (Sztompka, 1998, p. 161).

Assim, o atentado terrorista de 11 de setembro nos Estados Unidos foi

visto simultaneamente em todo o globo pela televisão e suas repercussões

econômicas e políticas alcançaram praticamente todo o espaço do globo.

Por isso, se afirma que a diminuição das atividades econômicas dos

Estados Unidos determina que no resto do mundo, será extremamente

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difícil manter uma alta taxa de crescimento da economia nacional de

qualquer país.

A categoria globalização provoca sempre um debate caloroso a respeito

de suas interpretações. A globalização é vista como um processo fatal e

inescapável, ou como mera ideologia propagandeada por agências

multilaterais, como Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI), e

pelos países dominantes do sistema capitalista mundial, para servir aos

interesses das empresas transnacionais.

Para outros, trata-se de um fenômeno real que merece ser levado a sério

e analisado com mais profundidade. Nesta perspectiva estão aqueles que

vêem a globalização como um processo de homogeneização, isto é, de

padronização e estandartização de atitudes e comportamentos em todo o

mundo, colocando em risco a diversidade cultural da humanidade. A

globalização é aqui compreendida principalmente em sua dimensão

econômica dominante de interligação mundial de mercados.

Uma visão diferente procura mostrar que o processo de globalização não

é compatível com a diversidade cultural, podendo coexistir com a

heterogeneidade e a pluralidade das diversas culturas existentes no

planeta. Algumas expressões parecem estar mais de acordo com esta visão

como, por exemplo, “sociedade global e terra-pátria” (VIEIRA, 1997).

Segundo o autor, a globalização redimensionou as noções de espaço e

tempo. Em segundos as notícias dão volta ao mundo, capitais entram e

saem de um país por transferências eletrônicas, novos produtos são

fabricados ao mesmo tempo em muitos países e em nenhum deles

isoladamente. Fenômenos globais influenciam fatos locais e vice-versa.

“O global e o local se interpenetram e se tornam inseparáveis” afirma

Vieira (1997). Isto significa, na concepção do autor que o global investe

sobre o local, o local impregna o global. Ou seja, não se trata mais de duas

instâncias autônomas que se relacionam de determinada maneira,

influenciando-se reciprocamente mais mantendo cada qual a sua

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identidade. Trata-se agora de um processo que engloba, em seu

movimento, o local e o global combinados.

“Estamos diante de uma nova revolução

tecnológica, fundada na microeletrônica, na

informática e nas telecomunicações, que

desterritorializa o indivíduo, configurando um

novo modo de vida. Em seu rastro já se percebe

a tendência ao declínio do Estado-Nação, bem

como a globalização da pobreza e do

desemprego, que torna descartável a maior

parte da humanidade. Simultaneamente, surgem

condições mais favoráveis para a defesa dos

direitos humanos e da democracia” (VIEIRA,

1997).

Como a globalização é regida pelo sistema capitalista, devemos ter bem

claro que a interdependência global de todos os países nos processos

globais não significa a igualdade de poder e riqueza de todo o mundo.

Como afirma Sztompka (1998), “o sistema capitalista apresenta um enorme

potencial para expansão”.

À dinâmica de autopropulsão interna e a capacidade de garantir a

abundância de bens o tornam extraordinariamente atraente para grandes

segmentos da população. O sistema também comanda poder político e

recursos militares que lhe permitem expandir o seu domínio.

Desenvolvimento em transporte, tecnologia militar e comunicações

aceleram seu avanço por todo o mundo. O resultado é a desigualdade e a

hierarquização da sociedade global.

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Sztompka (1998) relata que a sociedade global apresenta-se em três

níveis distintos, a saber: sociedades centrais, sociedades periféricas e uma

tipologia intermediária de sociedades semi-periféricas.

“No século XX, portanto, todo o planeta é

gradualmente incorporado a um único sistema

econômico interdependente, embora preserve

uma marcha desigual de desenvolvimento e,

portanto conserve a constituição assimétrica,

fortemente desigual do sistema, com partes

muito desenvolvidas, partes menos

desenvolvidas e outras relativamente

subdesenvolvidas” (SZTOMPKA, 1998, P. 166).

Segundo o autor, um olhar sociológico crítico deve mostrar que a

globalização é outro termo para designar a expansão do capitalismo em

escala planetária. E que, sendo assim, a distribuição dos benefícios, da

riqueza e do poder global continua extremamente concentrada. Em todo o

planeta, como conseqüência da globalização, os ricos ficaram mais ricos e

os pobres, muito mais pobres como veremos no próximo capítulo.

Vamos examinar a globalização a partir de suas dimensões

socioeconômicas, políticas e culturais a fim de entendermos melhor o

mundo em que vivemos e padecemos sob o impacto da globalização.

3.1 O furacão anunciado

Em todo o mundo mais de dezenas de milhares de pessoas aptas a

trabalhar não encontram trabalho fixo. Segundo os prognósticos do governo

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e de consultores independentes, no mínimo mais de 1 bilhão de empregos

podem ser cortados até o começo do século 21, isso apenas no setor

industrial, conforme previsão de um consultor empresarial de destaque,

Roland Berger. Além disso, afirma Berger “provavelmente desaparecerá um

de cada dois empregos nos níveis médios de gerência”. A cada ano 10.000

postos na indústria são eliminados.

Seu colega Herbert Henzler, chefe da filial alemã da firma de consultoria

Mckinsey, vai mais além: “a indústria seguirá a trilha da agricultura,

profetiza. A produção de mercadorias futuramente só proporcionará ganha-

pão para escassa porcentagem da população ativa.

As explicações de economistas e políticos para declínio culminam

sempre em uma palavra: globalização. Alta tecnologia nas

telecomunicações, preços baixos no transporte e comércio livre sem limites

convertem o mundo inteiro num único mercado, insiste a tese mais

difundida. Isso criaria duras condições de concorrência global, mesmo no

mercado de trabalho.

“Empresas alemãs criariam novos postos de

trabalho apenas em países baratos. De

presidentes de corporação a ministros, todos

repetem a ladainha: nivelamento por baixo.

Ininterruptamente os cidadãos são expostos à

cacofonia de apelos no sentido de apertar o

cinto. [...] o estado do bem-estar social teria se

tornado uma ameaça futura, e uma maior

disparidade social é inevitável. Mesmo o

presidente da República Federal da Alemanha

Roman Herzog, apóia tais declarações com

discursos diretos ao povo. ‘A mudança será

inevitável. Cada um de nós terá de fazer

sacrifícios’” (MARTIN & SCHUMANN, 1998,

P.14).

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Nesse ponto, aliás, ele se equivocou. Não se trata daqueles sacrifícios

habitualmente necessários em tempos de crise. Quando se defende a

redução de salário em caso de doença ou a suspensão das leis que

protegem o trabalhador da demissão, o que está se propondo são cortes

drásticos no quadro de conquistas sociais e diminuição de ganhos, apesar

da produtividade crescente.

Os reformadores da era da globalização põem em marcha algo mais do

que o mero gerenciamento de uma crise. Eles querem rescindir o acordo

tácito do governo alemão com a sociedade, o pacto que mantinha a

disparidade social em limites suportáveis, mediante redistribuição de renda

de cima para baixo. Quem foi atingido entendeu muito bem. Sindicatos e

associações previdenciárias levantaram sua voz indignada em todo o país.

Os autores deixam claro em sua obra que nesse movimento global de

pressões, a nova Internacional do Capital, afeta, Estados inteiros e corrói

sua ordem social vigente até agora. A ofensiva ameaça aqui ou ali com fuga

de capitais, e assim consegue forçar drásticas reduções de tributos, bem

como bilhões em subvenções ou em infra-estrutura gratuita.

Assim sendo, os lucros somente são declarados naqueles países em que

a alíquota de impostos seja realmente mínima. No mundo todo, cai

drasticamente a porcentagem que capitalistas e detentores de patrimônio

concedem ao financiamento das metas sociais dos governos. De outro lado,

os manipuladores dos fluxos globais de capital vivem achatando o nível de

remuneração dos cidadãos, contribuintes de impostos. Também a cota de

salários, a participação dos assalariados na riqueza social, diminui em

proporções mundiais. Nenhuma nação, sozinha, tem condições de opor-se

a tal pressão. O modelo da Alemanha comenta o economista americano

Rudiger Dornbusch está sendo “desmontado” na competição transnacional.

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“Enquanto as cotações nas bolsas e os lucros

dos conglomerados sobem à razão de dois

dígitos, os salários descem. Simultaneamente

aumenta o desemprego, em paralelo com os

déficits dos orçamentos públicos. Ninguém

precisa conhecer economia para entender o que

está acontecendo” (MARTIN & SCHUMANN,

1998).

Após 113 anos da morte de Karl Marx, o capitalismo novamente conduz

àquela direção que o revolucionário pensador tão bem definiu. “A tendência

geral da produção capitalista não é de aumentar o nível das remunerações,

mas sim de reduzi-lo, ou achatar o valor do trabalho até seu limite mínimo”,

disse Marx em 1865, perante o Conselho Geral da Primeira Internacional

em Londres, sem suspeitar que o antigo capitalismo pudesse ser domado

por medidas democráticas.

Após todas as reformas do século social-democrático, porém, inicia-se

agora uma contra-reforma de dimensões históricas: para trás, eis o lema do

futuro. E um vencedor como Heinrich Von Pierer, presidente da Siemens,

triunfa de novo ao afirmar: “O vento da concorrência internacional virou

tempestade e o verdadeiro furacão ainda está por vir”.

A forma de se expressar de Von Pierer e de outros porta-estandartes do

novo “globalismo” quer fazer crer que tudo não passa de um processo

natural, resultante de um progresso técnico e econômico impossível de

deter. Bobagem. A interdependência econômica de forma alguma é

fenômeno natural, mas sim provocado por uma política deliberada,

consciente de suas metas. Cada acordo, cada lei, foi aprovado por

governos e seus parlamentos, cujas deliberações removeram as barreiras

alfandegárias, permitindo o livre trânsito de capital e mercadorias, por cima

das fronteiras nacionais.

Da liberação do comércio de divisas, dentro do mercado interno europeu,

até a expressão contínua de acordo como o Gatt, sobre tarifas e comércio

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internacional, os políticos dos países industrializados do Ocidente

sistematicamente criaram condições com as quais já não sabem lidar.

3.2 A luta pela liberdade do capital

A trajetória que levou ao curto-circuito global da economia começou

quando a Europa teve de superar as conseqüências da Segunda Guerra

Mundial. Em 1948, os EUA e a Europa Ocidental celebraram o Acordo Geral

de Tarifas e Comércio (Gatt), pelo qual os países participantes pela primeira

vez estabeleceram um regime comum e internacional de comércio. Até

agora já foram realizadas oito rodadas de negociações, algumas das quais

com duração de anos, e um dos resultados foi à contínua redução das

tarifas aduaneiras, que hoje praticamente perderam sua importância, entre

os países desenvolvidos.

Aliás, desde princípios de 1994, quando foi criada a sucessora do Gatt, a

World Trade Organization, ou Organização Mundial do Comércio (OMC),

com sede em Genebra, os governos já não mais regateiam barreiras

alfandegárias, mas discutem a redução de outras barreiras comerciais, tais

como os monopólios estatais ou as normas técnicas.

“São relevantes as conseqüências da crescente

liberdade de comércio. Desde há quatro

décadas, o intercâmbio mundial de bens e de

serviços cresce com maior rapidez do que a

produção. A partir de 1985, constatou-se que o

crescimento do volume de comércio excede pelo

dobro o aumento da capacidade econômica. Em

1995, segundo levantamento estatístico, um

quinto de todos os bens e serviços foi negociado

cruzando fronteiras” (MARTIN & SCHUMANN,

1998, p.152).

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Durante muito tempo os cidadãos dos países industrializados podiam

estar certos de que esse intercâmbio crescente também aumentava seu

bem-estar. No entanto, em fins da década de 1970 ocorreu uma reviravolta

na política econômica da Europa Ocidental e dos EUA, que atirou a

economia mundial em nova dimensão.

Até então, enfatizam os autores, a maioria dos países industrializados

havia seguido os princípios estabelecidos pelo economista inglês John

Maynard Keynes, como resposta à catástrofe econômica do período do

entre guerras. Keynes alçara o Estado a investidor financeiro central das

economias nacionais, que intervém com correções através dos orçamentos

governamentais, sempre que o processo de mercado leva a subemprego ou

deflação. Com maiores investimentos, os próprios governos produzem

aumento de demanda, evitando assim as crises de crescimento. Depois,

numa conjuntura aquecida, precisam compensar o endividamento público

com aumentos de receitas tributárias, para prevenir excesso de consumo e

inflação. Muitos Estados subsidiavam novas indústrias, das quais se

esperavam rápido crescimento e demanda de mão-de-obra.

Foi com as duas crises do petróleo, em 1973 e 1979, que esse esquema

começou a balançar. Em muitos casos os governos já não mais conseguiam

controlar o déficit público e a inflação. As taxas de câmbio estáveis para as

moedas fortes já não mais podiam ser mantidas.

Assim, os conservadores, após suas vitórias eleitorais de 1979 na Grã-

Bretanha e de 1980 nos EUA, levantaram dogmas de política econômica

totalmente diferente, como lema de sua política – o chamado

neoliberalismo. A variante de política monetária dessa doutrina também foi

designada como monetarismo.

A grande mudança era que o Estado devia limitar-se ao papel de

preservador da ordem política e econômica. “Quanto mais livres as

empresas privadas em seus investimentos e atividades, tanto maior o

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crescimento e a prosperidade para todos” (Idem, p. 153), prometiam

aqueles teóricos.

Desses preceitos, os governos ocidentais, de maioria liberal,

desenvolveram na década de 1980 uma forma de luta pela liberdade do

capital. Em larga margem aboliram controles e possibilidades de

intervenção do Estado. Além disso, impeliram países parceiros, não tão

convencidos, a seguir o mesmo rumo, até com sanções comerciais e outros

meios de pressão.

Desregulamentação, liberalização e privatização: estes conceitos

tornaram-se os instrumentos estratégicos da política econômica européia e

americana, um programa neoliberal alçado à condição de ideologia de

Estado. Os radicais do mercado, nos governos de Washington e Londres,

mitificaram a lei da oferta e da procura como o melhor de todos os princípios

reguladores. Assim, a ampliação do comércio livre tornou-se fim em si

mesmo, sem questionamento. A liberação total do fluxo internacional de

divisas e capitais representou a intervenção mais radical na estrutura

econômica das democracias ocidentais e conseguiu impor-se quase sem

resistência.

Não demorou a ficar evidente quem no futuro arcaria com o risco do livre

mercado. Particularmente nos setores de demanda intensiva de trabalho,

que ainda empregavam muita mão-de-obra pouco qualificada, as empresas

de todos os tamanhos foram confrontadas com a concorrência de países de

baixos salários. Na Europa Ocidental e nos EUA, a fabricação de móveis,

tecidos, calçados, relógios ou brinquedos, só era compensadora se grande

parte da produção pudesse ser automatizada ou então deslocada para o

Exterior. Simultaneamente, pela primeira vez um novo país industrializado

invadiu a falange dos velhos líderes do mercado mundial: o Japão, com

seus preços baixos, colocou o restante da indústria sob pressão.

Inicialmente o Ocidente reagiu, impondo tarifas protecionistas e forçando

acordos para restrições nas importações, pretensamente voluntárias. Não

obstante, os incentivadores do livre comércio mantinham sua predominância

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política e ideológica – lamentavam que tal protecionismo ‘impediria’ o

avanço tecnológico – e conseguiram que a maioria das medidas defensivas

tivesse validade apenas transitória.

Então, o lema foi abandonar a produção em massa, com intensivo

emprego de mão-de-obra, e voltar-se para a produção em setores high tech

e para o segmento de serviços, achando que tal evolução deveria recuperar

as perdas sofridas pela concorrência internacional e pela automação. Tal

esperança nunca se cumpriu. Não obstante o contínuo crescimento, em

todos os países da OCDE, exceto no Japão, números sempre maiores de

pessoas já não encontravam trabalho bem remunerado.

3.3 O deslocamento da produção ou migração do trabalho

As contradições intrínsecas ao conceito de deslocamento da produção ou

migração do trabalho de um país para outro documentam a falha básica de

raciocínio na política de concorrência global: ela ignora a perspectiva. A

competição desenfreada por fatias de mercado desvaloriza a força de

trabalho em ciclos cada vez mais rápidos e, na visão da grande maioria das

pessoas, isto se afigura como a corrida entre a lebre e a tartaruga. Algum

concorrente mais barato sempre está ou estará presente no cenário.

“Quem apenas se adapta, força a mesma reação

adaptativa em outro lugar, e não tardará a

chegar a sua vez. Não importa o que façam, a

maioria dos empregados tem tudo a perder

nesse jogo. Somente a maioria dos abastados e,

eventualmente, das pessoas altamente

qualificadas levam vantagem – em média cerca

de um quinto da população nos antigos países

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industrializados. A tendência para a sociedade

20 por 80 não pode mais ser desmentida, nem

mesmo pelos defensores profissionais do

liberalismo econômico. A estatística sobre as

fontes de rendimento documenta com clareza o

crescente abismo entre o pobre e o rico”

(MARTIN & SCHUMANN, 1998, p. 224).

Assim, contra essa propagação interminável, são possíveis contra-

estratégias, em grande parte já elaboradas, afirmam os autores. Para

ambos, no centro do remanejamento deveria situar-se a valorização do

trabalho.

São indiscutíveis, mesmo entre os economistas liberais, as enormes

chances que uma reforma tributária ecológica pode proporcionar. Se o

consumo de energia elétrica fosse encarecido paulatinamente e ao longo

prazo, isso não afastaria somente a ameaçadora agressão ao meio

ambiente. No mesmo impulso aumentaria a demanda de força de trabalho e

se tornaria mais lento o avanço da tecnologia e da automação industrial.

Além disso, custos crescentes de transporte imporiam novos limites à

divisão do trabalho. Não valeria mais a pena o depósito rodante de

componentes produzidos por subcontratadas, na forma de intermináveis

filas de caminhões nas rodovias.

“Num cálculo-modelo, com hipóteses

cuidadosamente selecionadas, o Instituto

Alemão de Pesquisa Econômica comprovou

que, com um imposto ecológico sobre o

consumo de óleo combustível, gasolina, gás

natural e energia elétrica, aumentado

anualmente em pequenos passos, poderiam ser

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criados na Alemanha mais de 600.000 postos de

trabalho adicionais dentro de dez anos. A

minimização dos gastos em energia elétrica

ocorreria na sua maior parte por conta de

trabalho operário concentrado em fábricas e

mediante geração descentralizada de energia, e

por isso asseguraria ocupação a muita gente”

(MARTIN & SCHUMANN, 1998, p. 225).

Segundo os autores, mais trabalho ainda se tornaria necessário se o uso

de matéria-prima ficasse mais caro. Nesse contexto, o pesquisador Walter

Stahel elaborou um cálculo notável sob o significativo título de “A armadilha

da aceleração ou a vitória da tartaruga”. Preços mais elevados para

recursos naturais proporcionariam, aos bens duráveis, vantagens de custo

em confronto com artigos perecíveis e produtos concorrenciais – em favor

do trabalho. Stahel, citado por Martin & Schumann (1998), calculou essa

inversão da tendência pelo exemplo da produção de automóveis. Há

tempos já é tecnicamente possível fabricar automóveis cuja carroceria e

bloco do motor duram vinte anos em vez dos dez anos costumeiros

atualmente.

Assim sendo, de acordo com o raciocínio de Stahel, no veículo de dez

anos, o preço de compra perfaz em média 57% do custo total. Apenas 19%

dos gastos são destinados a reparos e consertos. Numa vida útil de vinte

anos, a parcela do preço de compra cai para 31% do custo de um

automóvel novo, enquanto 36% do custo total do carro precisam ser gastos

para consertos. Por hipótese, os compradores gastariam o mesmo em

ambos os casos, mas o trabalho de robôs nas fábricas seria desvalorizado,

enquanto aumentaria a participação intensiva de trabalho nos serviços de

manutenção.

Mesmo em outros setores da sociedade não faltam tarefas criativas. Na

área de saúde pública, na recuperação de zonas agrícolas destruídas ou no

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saneamento de cidades-satélites decadentes não faltaria trabalho. Mas

nada disso pode ser organizado somente por empresas privadas e pelo

mercado. Somente quando o Estado intervir, e quando as próprias cidades

e comunidades tiverem condições de investir em tais projetos, também

serão criados os empregos correspondentes.

Seria necessário captar as receitas públicas necessárias para esse fim.

Sem prejuízo para a economia, o trânsito de capital ‘suprafronteiras’ poderia

ser tributado, abrindo assim uma fonte de receita que não encareceria o

trabalho. Rendimento maior seria proporcionado pela proibição do

deslocamento de patrimônio para os paraísos fiscais do Leichtenstein e

centros off-shore, que com a evasão de receitas tributáveis cava um buraco

negro na economia mundial. Tal reforma tributária também ofereceria

resistência à redistribuição perversa de renda de baixo para cima.

O argumento contra tais propostas é óbvio: justamente devido ao

entrelaçamento da economia mundial, a maioria dos Estados nacionais, ou

pelo menos do grupo de países ricos do Norte, nem sequer reúne mais

condições para reformas tão básicas. Embora todos os partidos na

Alemanha, em princípio, apóiem a reforma tributária ‘ecológica’ bastou à

indicação de representantes da indústria no sentido de que o encarecimento

da energia elétrica impeliria milhares de empresas para o Exterior para fadar

o projeto ao fracasso. É a democracia tornando-se um teatro

inconseqüente.

A tarefa central do futuro é a recuperação da capacidade de agir do

Estado, o restabelecimento do primado da política sobre a economia. Pois

hoje já é possível prever que a trajetória mantida até aqui não poderá valer

por muito tempo. Inevitavelmente, a adaptação cega às imposições do

mercado mundial conduz as atuais sociedades de bem-estar social para a

anarquia, para a desintegração das estruturas sociais de cujo

funcionamento depende estreitamente. Mas para uma nova força destrutiva

– a radicalização – os mercados e as multinacionais não têm resposta.

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3.4 A guerrilha na selva das finanças

Ao menos nos mercados financeiros, até o momento a globalização nada

mais significa do que comercializar o mundo. Para profissionais do ramo

como Möritz, nada a estranhar. “Talvez seja esse o preço a pagar por estar

o EUA intervindo para nós nos Bálcãs”, afirma Möritz, citado por Martin &

Schumann (1998). Mesmo assim, o dano econômico que tal dependência

produz é enorme – o risco existe até para os EUA. Quanto mais

inescrupulosamente o gigante americano abusa de sua supremacia, tanto

mais prováveis e violentas serão as contra-ofensivas. Isso pode acontecer

quando governos se sentem prejudicados, como já foi ‘demonstrado’ pela

emergente Malásia.

Ainda não existe um mercado global interbancário. Além disso, os bancos

centrais da Ásia já controlam quase a metade das reservas em moedas

fortes do mundo. As reservas da China situam-se aproximadamente em 70

bilhões de marcos, o mesmo possui Taiwan, o Japão mais que o dobro.

Diante das crescentes discórdias entre os EUA e seus parceiros comerciais

asiáticos, esses dados dão “assunto suficiente para um thriller sobre o

mundo das finanças”, alertou The Economist em 1995.

“Até agora é impossível que Estados asiáticos,

com seu espírito “anteamericano”, venham a

sabotar o dólar e, por extensão, todo o sistema

financeiro mundial, mediante vendas de divisas

em massa. Esses países ainda dependem do

mercado importador e também da proteção

militar dos EUA. Mas isso pode não prevalecer

para sempre. A dinâmica do crescimento das

nações orientais está deslocando o equilíbrio de

poder em direção à Ásia” (MARTIN &

SCHUMANN, 1998, p. 111).

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Na Europa, esboçam-se tentativas de livrar-se de supremacia do dólar.

Os governos dos dois maiores países da UE (União Européia) - França e

Alemanha – vêm discutindo a introdução de uma moeda comum européia.

Com esse ‘grande lance’ (Helmut Kohl), iniciou-se uma disputa entre

mercado e Estado que manterá a Europa ocupada pelas próximas décadas.

Visivelmente os governos da União Européia se arriscam a uma nova

derrota no jogo de bilhar do mercado financeiro internacional – “uma

brincadeira irresponsável com coisas sérias”, afirma Kohl. Se o projeto de

unificação monetária fracassar, não só a economia européia perderá. Por

tempo imprevisível a idéia de uma integração européia se tornaria inviável e

o velho continente perderia o que suas nações mais precisam na era da

globalização: capacidade de atuação conjunta.

Nesse sentido, o economista americano James Tobin, ganhador do

Prêmio Nobel, já na década de 1970 desenvolveu um plano. “O fluxo de

capital sem controle, com suas oscilações abruptas e diferenças caóticas

nos câmbios, só prejudica a economia real”, argumentava Tobin. Ele

recomendou ‘frear’ um pouco as engrenagens de nossos mercados

monetários internacionais, excessivamente eficientes e, tributar todas as

transferências de divisas com 1% de imposto.

Número baixo, mas de efeito extraordinário. Para começar, os negócios

com base nas diferenças de juros entre os diversos mercados e países só

dariam lucros em casos esporádicos. Por exemplo: ao aplicar ‘marcos

alemães de juros baixos’, em títulos mais bem remunerados, em dólares, o

investidor de antemão precisaria descontar 2% do capital aplicado para

pagar a taxa Tobin, uma vez que precisaria trocar de moeda duas vezes. Na

conjuntura atual, o negócio só seria compensador se a diferença anualizada

entre os juros alemães e americanos fosse de 8% - um cenário improvável.

A vantagem para a economia real é clara: de imediato os bancos centrais

voltariam a monitorar o nível dos juros nos mercados nacionais, da forma

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como a situação econômica de seus países ‘tornar’ preferível –

independentemente de outros. Mesmo que a conjuntura nos EUA se torne

adversa, eventualmente os europeus colhidos pela recessão poderiam

emprestar seu dinheiro a juros até 8% mais baratos que o Fed.

“É verdade que a denominada taxa Tobin não

proporcionaria aos governos a liberdade de

determinar as taxas de câmbio a seu bel-prazer.

Isso também não faria sentido. Se os países

crescerem em ritmos diferentes, também

deverão ter a possibilidade de alterar as

paridades de sua moeda. Mesmo assim, os

negócios especulativos seriam drasticamente

reduzidos e a política de câmbio ficaria mais

colada à economia real. Os bancos centrais

voltariam a assumir seu papel fundamental de

estabilizar as cotações. As compras e vendas

reguladoras que eles fazem, isentas de tributo,

voltariam a ter peso, já que muito menos capital

líquido estaria circulando no sistema” (MARTIN

& SCHUMANN, 1998, p. 120).

Um imposto global sobre a troca de divisas, como o proposto por Tobin,

também traria para o conjunto das nações um acréscimo de arrecadação

estimado entre 150 e 720 bilhões de dólares, mesmo levando em conta a

eventual redução de um terço no volume dos negócios. Seria um belo alívio

para os orçamentos públicos sobrecarregados. A evasão fiscal sistemática

por parte da indústria financeira seria compensada pelo menos em parte. O

professor de Economia Jörg Huffschmidt, de Bremen, escreveu que “essa

seria uma taxa para Wall Street, e não para ruas comuns”.

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Por tudo isso, não existe argumento sério contra a proposta de Tobin.

Sua desvantagem decisiva é que os atingidos são naturalmente contra e –

como nos demais tributos- aproveita-se da rivalidade entre as nações.

Hans-Helmut Kotz, economista chefe do Instituto Central Alemão das

Caixas de Poupança, acha que a taxa Tobin é correta em teoria, mas “Nova

York e Londres sempre impedirão isso”. Isso porque, se apenas uma das

grandes praças financeiras estiver isenta de tributos, os negócios cambiais

se concentrarão naquela praça. E mesmo que os países da G-7

introduzissem conjuntamente a taxa Tobin, o setor monetário poderia

perfeitamente transferir seus negócios para os paraísos fiscais das Ilhas

Cayman e anular o efeito saneador. “Um fracasso anunciado” qualificou um

economista do Deutsche Bank. Mas um de seus colegas americanos levou

a ameaça ao extremo: se o Estado se intrometer em nossos negócios,

“instalaremos nossas sedes em navios, no meio do oceano”.

“Talvez, mesmo com tal imposto, a indústria

financeira selvagem não possa ser domada

enquanto os Estados competirem entre si por

ingressos de capitais. Ainda assim, alguns

países, em particular a União Européia, não

deveriam ficar impotentes. Ela poderia agir

sozinha, assegurou Tobin em novo estudo

dotado de meados de 1995. Só que a tributação

precisaria avançar mais, alcançando até mesmo

os empréstimos concedidos em moeda nacional

aos institutos estrangeiros, inclusive às filiais de

bancos nacionais no Exterior. Isso seria

inevitável: quem desejasse especular em

francos precisaria prover-se de francos primeiro.

Mesmo que a ordem de compra vá para um

banco em Nova York ou Cingapura, este teria de

refinanciar-se em bancos franceses, que

repassariam o acréscimo de imposto aos seus

clientes” (Idem, p. 121).

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Assim, ano a ano, aumenta a probabilidade de que a máquina financeira

enlouquecida provoque ondas de choque no mundo inteiro. As crises não

poderão ser dominadas apenas pela fé no poder regulador do mercado.

Acresce que, no caso, a interferência dos governos também está ficando

impraticável, pois a Internacional das altas finanças vive minando a

capacidade de atuação e controle dos Estados nacionais – seu próprio

terreno de salvação em caso de emergência.

Isso não ocorre só com o setor financeiro. O mesmo galho está sendo

serrado por um novo grupo de predadores mundiais nesta era da

globalização: os dirigentes de grupos empresariais transnacionais, de todos

os segmentos. A partir do momento de transição, em 1989, esses altos

executivos iniciaram sua marcha triunfal, que está mudando o mundo com

maior rapidez e de forma mais radical do que qualquer império ou

movimento político em outras épocas. Mas, também, essa vitória tem gosto

amargo e a sensação de triunfo não permanecerá por muito tempo.

Neste sentido a grandeza econômica é o único fator importante de poder

nos mercados globalizados, como comprovam os estrategistas do comércio

dos EUA há muitos anos. Somente uma Europa unificada será capaz de

impor ao capitalismo global, desenfreado, novas regras de equilíbrio social

de preocupação ecológica.

Portanto, quem afirmar que falta o consenso dos cidadãos para uma

Europa unificada está chutando fora do gol. A democracia não é uma

condição, mas um processo. Existem em todo o mundo milhões de

cidadãos que se engajam na preocupação social, seja em seu local de

trabalho, seja na sua vizinhança. Há inúmeras iniciativas sociais e

ecológicas para a busca de alternativas à loucura do mercado mundial.

Basta lembrar o Greenpeace, as associações de bairros ou as creches

comunitárias, os sindicatos e as igrejas, a assistência a idosos e deficientes,

os atos de solidariedade aos países em desenvolvimento e os numerosos

grupos de apoio a imigrantes. Em todas as partes do mundo muitas

pessoas fazem consideráveis sacrifícios diários para o seu engajamento

civil em prol do bem comum.

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É verdade que a redistribuição globalizada de renda, em favor dos

capitalistas, não nos aproxima nem um passo dessa meta e nos impulsiona

cada vez mais para frente. As perdas salariais dos operários e empregados,

bem como a redução dos serviços sociais, não beneficiam esses países,

mas apenas aquela quinta parte da sociedade de ricos e altamente

qualificados, cujos salários e lucros financeiros aumentam na medida em

que todo o resto precisa satisfazer-se com menos.

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CAPÍTULO IV

GLOBALIZAÇÃO: UMA AMEAÇA A DEMOCRACIA

Neste capítulo veremos que a globalização é normalmente associada a

processos econômicos, como a circulação de capitais, a ampliação dos

mercados ou a integração produtiva em escala mundial. Mas, ‘descreve’

também, fenômenos da esfera social, como a criação e expansão de

instituições supranacionais, a universalização de padrões culturais e o

equacionamento de questões concernentes à totalidade do planeta (meio

ambiente e desarmamento nuclear, crescimento populacional, direitos

humanos, etc.). “O termo globalização tem designado a crescente

transnacionalização das relações econômicas, sociais, políticas e culturais

que ocorrem no mundo” Giddens (1990).

Para o sociólogo Anthony Giddens (1990), a globalização se define como

“a intensificação das relações sociais em escala mundial que ligam

localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são

modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distâncias e vice-

versa”.

Giddens exprime bem o seu ponto de vista sobre tal fenômeno e, ainda,

enfatiza que, o traço mais fundamental da globalização é justamente a

interferência nos assuntos e definições locais, regionais e nacionais de

decisões adotadas fora destes âmbitos geográficos, mais precisamente no

cenário mundial ou internacional.

O pensador português Boaventura de Souza Santos, por sua vez, faz

uma distinção entre ‘localismo’ globalizado e ‘globalismo’ localizado. O

primeiro se refere à globalização bem sucedida de um fenômeno local

como, por exemplo, a transformação da língua inglesa em língua franca,

mundial, a globalização da música popular ou do fast food (comida rápida

americana). O globalismo localizado diz respeito ao impacto específico de

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práticas transnacionais sobre condições locais que se desestruturam ou se

reestruturam para atender aos imperativos transnacionais.

“A globalização implica uma nova configuração

espacial da economia mundial, como resultado

geral de velhos e novos elementos de

internacionalização e integração. Mas se

expressa não somente em termos de maiores

laços e interações internacionais, como também

na difusão de padrões transnacionais de

organização econômica e social, consumo, vida

ou pensamento, que resultam do jogo das

pressões competitivas do mercado, das

experiências políticas ou administrativas, da

amplitude das comunicações ou da similitude de

situações e problemas impostos pelas novas

condições internacionais de produção e

intercâmbio. As principais transformações

acarretadas pela globalização situam-se no

âmbito da organização econômica, das relações

sociais, dos padrões de vida e cultura, das

transformações do Estado e da Política”

(VIEIRA, 1997).

Outros aspectos são as imigrações e viagens internacionais, a

multiplicação dos contatos e das redes de comunicação, a multiplicidade de

relações e organizações inter estatais, o número crescente de organizações

não-governamentais, a difusão de novas tecnologias, a internacionalização

do conhecimento social e novas formas de interdependência mundial. Entre

esses elementos não econômicos destaca-se a expansão da democracia e,

sobretudo, a deterioração ecológica do planeta, que passou a constituir uma

das bases fundamentais da globalização.

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À medida que a sociedade global debilita o Estado nacional, reflorescem

identidades, passadas e presentes. O aparecimento de nacionalismos,

regionalismos, etnicismos, fundamentalismos e identidades enraízam-se no

horizonte dos rearranjos e das tensões provocados pela emergência da

sociedade global. Para o sociólogo americano Roland Robertson, a

globalização não significa homogeneização, mas diferenciação em outros

níveis, diversidades com outras potencialidades, desigualdades com outras

forças.

O ponto de partida da globalização é o processo de internacionalização

da economia, ininterrupta desde a Segunda Guerra Mundial. Por

internacionalização da economia mundial entende-se um crescimento do

comércio e do investimento internacional mais rápido do que o da produção

conjunta dos países, ampliando as bases internacionais do capitalismo

(incorporação de mais áreas e nações) e unindo progressivamente o

conjunto do mundo num circuito único de reprodução das condições

humanas de existência.

Na década de 80, do século XX, inicia-se uma nova história. O mundo

industrial é sacudido por uma profunda reestruturação capitalista,

sustentada tecnicamente na revolução da informática e das comunicações,

tornando possível a descentralização espacial dos processos produtivos. A

nova tecnologia influi em todos os campos da vida econômica e revoluciona

o sistema financeiro pela conexão eletrônica dos distintos mercados.

Esse processo é complementado por privatizações, desregulamentação e

flexibilização do mercado, agudização da concorrência internacional entre

capitais privados e capitalismos acionais, compondo-se um quadro que

modifica o funcionamento do mercado mundial, acelerando a

internacionalização e gerando um conjunto de fenômenos novos, dentre os

quais se destacam:

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• A crescente unificação dos mercados financeiros internacionais e

nacionais num circuito único de modalidade de capital;

• A acelerada regionalização do espaço econômico mundial;

• A generalização de associações entre as corporações transnacionais

de diferente base nacional;

• A necessidade de coordenação das principais políticas econômicas

nacionais. O resultado foi uma nova configuração espacial da

economia mundial que passou a nomear-se globalização.

Na segunda metade dos anos 80 e começo dos 90, dois fenômenos

completarão as premissas espaciais da extensão da globalização no

conjunto do mundo: a derrubada do socialismo de estado na ex- URSS e no

Leste Europeu e o desmoronamento dos nacionalismos corporativos do

Terceiro Mundo, a partir dos processos conjugados de liberação comercial e

financeira.

O sociólogo Francês Alain Touraine (1996) denuncia a exploração

ideológica da globalização, vista apenas como processo econômico que

faria submergir a política. Ele assinala que a globalização se apóia em

quatro grandes transformações:

• A primeira é a criação de uma sociedade informatizada, com a

difusão mundial de indústrias de comunicação que modificam a

nossa experiência do tempo e do espaço, a natureza das cidades

e a relação entre as culturas;

• A segunda é a internacionalização do capital financeiro, que aufere

mais lucros na movimentação de capitais do que no investimento

produtivo;

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• A terceira é a emergência de novos países industriais, sobretudo

os Tigres Asiáticos, que associam abertura econômica do mercado

com rígido autoritarismo político;

• A quarta é a influência cultural norte-americana no resto do

mundo.

Por tanto, a globalização tornou-se o tema crucial da atualidade. Seu

impacto une o mundo – e também o desintegra. Na sociedade de exclusão

e desemprego que ‘desponta’, um quinto da força de trabalho bastará para

manter a economia em movimento.

Sendo assim, o que acontecerá com a grande maioria? O que fazer com

esse quadro tão desigual, composto de ricos confinados em guetos e de

massas pobres lutando pela sobrevivência? Essas e outras questões ficam

evidentes, na obra dos autores Martin & Schumann (A Armadilha da

Globalização: o assalto à democracia e ao bem-estar social, 3ª edição,

1998).

Os autores afirmam que a bomba-relógio montada pelo liberalismo ainda

pode ser desmontada. As alternativas que apresentam à globalização

selvagem teriam como resultado restaurar o primado da política sobre a

economia e salvar a democracia com uma face social.

4.1 O impacto da globalização e a fragmentação global

“O mundo se torna um só. E no princípio a imagem era a de uma só

terra”. A frase descrita pelos autores Martin & Schumann (1998), p. 23,

exprime bem o sentimento de que a globalização transmite.

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“Do outro lado do planeta, nos confins da

Amazônia e perto da fronteira Brasil-Bolívia uma

promessa semelhante domina os cartazes de

rua. A construtora Mendes Júnior faz na floresta

sua propaganda para o sonho da casa própria,

segundo o modelo americano, sem importar-se

com a destruição da natureza. Nos casebres

cheirando a mofo ao longo do Rio Purus, os

jovens caboclos, mestiços de índios e negros,

discutem as medidas da nadadora Pâmela

Anderson, do seriado de televisão californiano

Bay Watch, como se tratasse de uma moça da

vizinhança. Com aparelhos de vídeo e

respectivos filmes de Hollywood, os madeireiros

subornam as poucas tribos de índios ainda

restantes em Rondônia, para poder derrubar as

últimas árvores de mogno de suas reservas”

(MARTIN e SCHUMAN, 1998, P. 24).

Sem dúvida, se hoje a humanidade precisasse votar num estilo de vida

mundial, isto seria possível, afirmam os autores. Hoje, mais de quinhentos

satélites ativos cobrem toda a superfície da Terra com sinais de rádio.

Imagens uniformes, em milhões de telas de televisão, alimentam os

mesmos desejos, seja nas margens do Rio Amur, entre a China e a Rússia,

seja do Yang-tse, do Amazonas, do Ganges ou do Nilo.

Antenas parabólicas, coletores de energia solar empurram milhares de

pessoas, mesmo em regiões desprovidas de força elétrica, como ao longo

do Rio Níger, no oeste da África, “de sua vida de aldeia às dimensões

planetárias”, como resumiu Bertrand Schneider, secretário-geral do Clube

de Roma, a associação informal de empresários e intelectuais, fundada em

1968, que estuda soluções para os dilemas contemporâneos.

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Benjamin R. Barber, diretor do Walt Whitman Center na Universidade

Rutgers, em Nova Jersey, como crítico que é, propôs uma fórmula já

considerada clássica: “Jihad contra Mc World”, ou seja, a Guerra Santa do

Islã contra o Mc Mundo. Barbier chama a tese da multiplicidade de Eisner

de “completa mentira”, um mito que confunde dois aspectos cruciais: a

forma da escolha e a suposta independência dos desejos.

Em muitas cidades americanas, por exemplo, pode-se escolher entre

dúzias de modelo de automóveis, mas não decidir a forma de melhor

transporte público. E como alguém poderá afirmar que o mercado fornece

às pessoas o que elas querem, quando a indústria da propaganda

movimenta uma verba de 250 bilhões de dólares? “Não estaria à emissora

de televisão MTV trabalhando 24 horas por dia, em âmbito planetário, só

para fazer publicidade da indústria musical?”

“O êxito da ‘Colonização Disney da cultura

global’, acrescenta Barbier, baseia-se em

circunstâncias tão antigas quanto à civilização: a

concorrência entre difícil e fácil, lento e rápido,

complexo e simples. Sempre o primeiro, está

relacionado a feito cultural admirado, enquanto

que o segundo corresponde à ‘nossa

indiferença, esgotamento e indolência. Disney,

Mc Donald’s e MTV apelam a tudo que é fácil,

rápido e simples’” (MARTIN e SCHUMAN, 1998,

P.27).

Independente de quem, Eisner ou Barber, tenha avaliado corretamente o

motivo do triunfo de Hollywood, suas conseqüências são globais.

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“Cindy Crawford (a modelo) e Pocahontas (a

indiazinha dos desenhos de Disney) perseguem

você por toda a parte, como faziam as estátuas

de Lênin na ex-União Soviética. Os trinados de

Madona e Michael Jackson são o muezim (o

anunciador da hora das preces mulçumanas) da

nova ordem mundial. É assim que Nathan

Gardels, pensador californiano, resume a

monótona homogeneidade dos dias atuais”

(Idem, p. 27).

No gigantesco império da mídia, o sol já não se põe. Como centro

energético internacional, Hollywood fornece a matéria-prima mais

importante para o pós-materialismo. A Time Warner fundiu suas empresas

com a Ted Turner Corporation e com a sua CNN, o que a tornou líder

mundial no setor; a fusão da Walt Disney Company com a rede de televisão

ABC foi o segundo maior negócio entre empresas de comunicação na

história americana. A Sony possui a Columbia Pictures, a Matsushita

vendeu em 1995 o gigante das diversões MCA à multinacional de bebidas

Seagram.

Os gigantes da mídia, entre os quais o grupo alemão Bertelsmann, seu

tenaz concorrente Leo Kirch e o telecrata italiano Silvio Berlusconi, estão,

portanto, bem aparelhados para aplicar o ‘entretenimento’ recomendado no

encontro de San Francisco, promovido pela Fundação Gorbachev. Suas

imagens já dominam os sonhos. Os sonhos determinam os atos.

4.2 A cilada para a democracia

A integração global é acompanhada da ascensão de uma doutrina

redutora da economia, que um exército de consultores econômicos

constantemente leva à política: o neoliberalismo. Simplificando, eis sua tese

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básica – o mercado é bom e interferências do Estado são ruins. Partindo

das idéias dos expoentes dessa escola, entre os quais o economista

americano e prêmio Nobel Milton Friedman, os governos do Ocidente,

majoritariamente a favor de liberalidade na economia, levantaram esse

dogma como diretriz de sua política no decorrer da década de 1980.

Desregulamentação em vez de controle pelo Estado, liberalização do

comércio e do fluxo de capitais, bem como privatização das empresas

estatais, tornaram-se armas estratégicas no arsenal de governos crentes na

economia de mercado e no das organizações por eles orientados: Banco

Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organizações Mundiais do

Comércio (OMC, a entidade que sucedeu o Gatt).

Com tais instrumentos, todos entraram na luta pela liberdade do capital,

uma batalha que dura até hoje. Não importa se o setor em pauta é

navegação aérea ou telecomunicações, bancos ou seguros, indústria da

construção ou desenvolvimento de software, nem mesmo a mão-de-obra,

nada e ninguém deverá livrar-se da lei da oferta e da procura.

“O colapso das ditaduras monopartidárias do

bloco do Leste Europeu favoreceu ainda mais a

difusão e o impacto global dessa crença. Livre

da ameaça da ditadura do proletariado, parte do

mundo empenha-se agora no estabelecimento

da ditadura do mercado internacional.

Repentinamente, a participação maciça dos

trabalhadores na criação de valores sociais é

apresentada como sendo apenas uma

concessão dos tempos de Guerra Fria,

destinada a minar a agitação comunista em sua

própria base” (MARTIN & SCHUMANN, 1998,

p.18).

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Para centenas de milhões de pessoas, o progresso global inexiste. Soa-

lhes como um escárnio a fórmula que os chefes de governo das sete

nações mais industrializadas levantaram como lema do Encontro de Cúpula

do G-7 em fins de junho de 1996, em Lyon: “fazer da globalização um

sucesso que beneficie a todos” enfatizam os autores.

Sendo assim, se os governos, em todas as questões cruciais de futuro,

nada mais conseguem senão apontar os impactos da economia

transnacional, toda a política torna-se uma farsa, uma demonstração de

impotência, e o Estado democrático pede sua legitimação como tal. A

globalização converte-se em cilada para a democracia.

Somente teóricos ingênuos ou políticos míopes podem julgar que se

possa, como atualmente na Europa, privar ano após ano milhões de

pessoas de seus empregos e do seguro social, sem ter de pagar o devido

preço político algum dia.

“Ao contrário do que sucede dentro da lógica

dos estrategistas de conglomerados, na

sociedade democraticamente constituída não há

surplus people, ou seja, gente em excesso ou

cidadãos supérfluos. Os perdedores têm vez e

voto. Saberão usá-los. Não há motivo para

tranqüilidade: ao terremoto social seguirá o

terremoto político. Social-Democratas ou

Cristãos Socialistas tão cedo não poderão

comemorar novos triunfos. Em vez disso, torna-

se evidente que mais e mais eleitores levam a

sério as fórmulas estereotipadas dos defensores

da globalização. A culpa não é nossa, mais sim

da concorrência estrangeira – eis o que os

cidadãos ouvirão daqueles que deveriam

representar seus interesses” (Idem, p. 20).

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Desse argumento, economicamente errado, é pequeno o passo para o

ódio aberto a tudo o que é estrangeiro. Há algum tempo, milhões de

cidadãos da classe média, sentindo-se inseguro, procuram salvação na

xenofobia, no separatismo, na rejeição ao mercado global. Os que foram

excluídos reagem de seu lado, excluindo outros.

O mundo 20 por 80, a sociedade de um quinto, como os visionários do

Fairmont Hotel pintaram no século 21, é muito coerente com a lógica

técnica e econômica que guia os governos e dirigentes empresariais, rumo

à integração global. Contudo, a corrida mundial por máxima eficiência e

mínimos salários está abrindo as portas do poder à irracionalidade. Não são

os realmente miseráveis que se rebelam. Uma força política tremendamente

explosiva provém do medo do rebaixamento social que agora se manifesta.

Não é a pobreza que ameaça a democracia, mas sim o pavor dela.

Já aconteceu em 1930, um ano após o grande colapso da Bolsa de Nova

York. O descalabro econômico arrastou a política à catástrofe global. Na

ocasião, a revista inglesa The Economist, sempre foi a favor do capital,

comentou:

“O maior problema da nova geração consiste em

que os fatos econômicos superam tanto os

políticos que economia e política não

conseguem manter o mesmo ritmo.

Economicamente, o mundo tornou-se uma

unidade comercial. Politicamente, continuou

fragmentado. As tensões entre os dois

desenvolvimentos opostos provocaram um abalo

em cadeia na vida societária da humanidade”

(Idem, p. 23).

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A história não se repete. Mesmo assim, a guerra continua sendo a

válvula de escape mais provável, quando os conflitos sociais se tornam

insuportáveis, mesmo em forma de guerra fratricida contra minorias étnicas

ou regiões separatistas. A globalização não precisa levar necessariamente

a conflitos armados, mas isso poderá ocorrer caso não se consiga dominar

as forças sociais liberadas pelo desenvolvimento da economia

transnacional.

Portanto, a tarefa mais nobre dos líderes democráticos, no limiar do

século 21, será restaurar o Estado e restabelecer o primado da política

sobre a economia. Se isso não acontecer, a integração dramaticamente

rápida da humanidade pela tecnologia e pelo comércio em breve levará ao

pólo oposto, causando um curto-circuito global. Aos nossos filhos e netos só

restariam lembranças desta década, quando o mundo parecia em ordem e

mudanças de rumo ainda teriam sido possíveis.

“São tantas as ciladas para a democracia que o mundo está se

desintegrando”, afirmam os autores Martin e Schumann (1998). E,

acrescentam ainda:

“Já é de nosso conhecimento que imponentes e

modernas instalações urbanas como aqueles de

Atlanta, não são raras, mas por enquanto

constituem ilhas isoladas. O arquipélago da

riqueza internacional consiste em enclaves de

franco progresso, assim como algumas cidades

dos países em desenvolvimento, a exemplo de

Kuala Lumpur, são apenas fortalezas da

economia global” (MARTIN & SCHUMANN,

1998, P.39).

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72

Enquanto isso, a maior parte do mundo está em mutação para um

planeta de mendigos – de megametrópoles com mega favelas, onde

multidões mal sobrevivem. A cada semana a população mundial cresce 1

milhão de pessoas.

Simultaneamente “nossa indiferença constrangida mudou para uma

indiferença presunçosa”, advertiu o então presidente francês, François

Mitterrand, em março de 1995. Definhou todo e qualquer interesse pela

ajuda aos países subdesenvolvidos. Ao que parece, todo país cuida

somente do seu quintal.

Após a morte do estadista, mesmo o mais ensolarado quintal reduziu-se

a uma clarabóia. Juntos, 358 bilionários deste mundo são tão ricos quanto

2,5 bilhões de pessoas, quase a metade de toda a população do planeta.

4.3 A globalização financeira

Em todas as instâncias do mercado financeiro, a globalização do capital

se apresenta de forma muito mais avançada e completa, com a

constitucionalização de um amplo mercado de capitais que opera em escala

planetária em tempo real, fazendo circular trilhões de dólares em todo o

mundo através do circuito eletrônico.

As transações no mercado financeiro global não servem apenas para

fomentar as indústrias produtivas com o capital captado nas bolsas de

valores em todo o mundo. Na verdade, boa parte dos imensos recursos

financeiros que circulam pelo mundo está voltada basicamente para

atividades chamadas especulativas, onde o dinheiro busca fazer multiplicar

o dinheiro, sem passar pela esfera da produção.

É o que reconhece Paul Kennedy (1993):

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“Embora essa liberalização financeira ajudasse a

expandir o comércio mundial, também teve outro

efeito: a crescente separação dos fluxos

financeiros do comércio em manufaturas e

serviços. Cada vez mais, as transações em

moeda corrente resultavam não do pagamento

de bens estrangeiros por uma empresa, ou do

investimento em instalações no exterior, mas

porque os investidores estavam especulando

com esta ou aquela moeda, ou com outros

instrumentos financeiros. Esse aumento nos

fluxos de capital globais, além do que era

necessário ao financiamento do surto de

prosperidade da indústria e do comércio

mundiais, está intimamente ligado a duas outras

ocorrências: a desregulamentação dos

mercados monetários mundiais e a revolução

nas comunicações globais, ambas resultantes

de novas tecnologias. [...] não poderiam ser

prestadas imediatamente aos bilhões de

pessoas ligadas nesse sistema global de

comunicações” (Idem, p.48).

Como veremos melhor, a grande mobilidade do capital financeiro dificulta

os controles por parte dos Estados nacionais de suas moedas. O dólar é a

moeda dominante no sistema financeiro global e subordina as outras

moedas. Somente o euro, a moeda européia, e o iene, a moeda japonesa,

se encontram em condições de relativa paridade com o dólar. As outras

moedas do mundo se tornam alvos das atividades especulativas, o que tem

gerado sucessivas crises financeiras no mundo.

Assim, tivemos a crise financeira do Leste Asiático em 1997 que jogou as

economias do Terceiro Mundo em recessão. A crise financeira na Rússia

em 1998 levou o Brasil a desvalorizar brutalmente o real em 1999,

ocasionando a recessão da nossa economia.

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A crise da Argentina em 2001 levou os operadores globais a provocarem

uma grande desvalorização do real, agravando a dívida pública e a inflação

no Brasil.

É importante entender que a dívida pública dos países do Terceiro

Mundo é um dos mecanismos que alimentam a especulação financeira

global.

Os operadores do mercado financeiro estão sempre pressionando para

que os juros dos títulos do governo subam a fim de auferirem altos lucros

com a compra desses papéis. Mas os juros altos enfraquecem a atividade

econômica produtiva, contribuindo para reduzir o ritmo do desenvolvimento

de um país.

Pierre Bourdieu (1998) assim nos mostra as conseqüências da

globalização financeira:

“Esse mercado do capital internacional tende a

reduzir a autonomia dos mercados de capital

nacional e, particularmente, a proibir a

manipulação, pelos Estados nacionais, das

taxas de câmbio, das taxas de juros, que são

cada vez mais determinadas por um poder

concentrado nas mãos de um pequeno número

de países. Os poderes nacionais estão

submetidos ao risco de ataques especulativos

por parte de agentes dotados de fundos maciços

que podem provocar uma desvalorização, sendo

evidentemente os governos de esquerda,

particularmente ameaçados, pois provocam a

desconfiança dos mercados financeiros”

(BOURDIEU, 1998, p. 54).

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4.4 O mercado contra a democracia

O estado do Bem-Estar social foi uma das grandes conquistas da classe

operária organizada nos países europeus e que se, difundiu pelo resto do

mundo, sendo aplicado, de forma mais ou menos abrangente, dependendo

da força organizada dos sindicatos e dos partidos representativos da classe

operária.

Quando ocorre a crise econômica do capitalismo a partir de 1973, com a

diminuição do crescimento da economia e o retorno da inflação, o capital

buscou, então, combater o grande poder social alcançado pela classe

trabalhadora ‘no marco’ do Estado Democrático ampliado.

Nos países mais desenvolvidos do capitalismo, Europa e Estados

Unidos, presenciamos a substituição da antiga classe operária industrial

pelo trabalhador imigrante e pela força de trabalho feminina, ambos

recebendo salários mais baixos e sem tradição de luta sindical.

Os sindicatos foram postos na defensiva em razão do crescimento do

desemprego estrutural. De fato, o desemprego se transforma numa arma

política do capital contra os trabalhadores organizados, na medida em que

pressiona os salários para baixo e reduz a militância, pois todos estão

sujeitos ao risco da demissão.

Não há mais empregados seguros nos dias de hoje. A força da

organização sindical sofre reduções nos grandes centros do capitalismo

mundial, Europa e Estados Unidos.

No entanto, na Europa, o Estado do Bem-Estar Social não foi tão

desmontado como nos Estados Unidos. A resistência ao neoliberalismo foi

maior. Mas as altas taxas de desemprego na Europa indicam que as

grandes corporações deixaram de investir na Europa em razão dos custos

mais elevados da força de trabalho.

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Esse desemprego pressiona as estruturas do Estado do Bem-Estar

Social. Uma avaliação do governo Thatcher no plano social foi feita por

Mazower:

“O desemprego em massa elevou os gastos com

a previdência social, apesar de enrijecerem as

normas para concessão de benefícios. As

despesas com habitação reduziram-se, o que,

junto com a paralisação da construção de

moradias populares, ajudou a aumentar

visivelmente o número dos sem-teto. Os

habitantes das cidades acostumaram a ver

pessoas dormindo na soleira das portas ou nos

bancos dos jardins. Por outro lado, ao contrário

do que a população pensava, os gastos com

educação e saúde não sofreram nenhum corte

substancial” (MAZOWER, 2001, p. 327).

Os analistas da globalização convergem para o diagnóstico de que, o

Estado-Nação foi ‘solapado’, substancialmente, ‘reduzido’ em seus poderes

de controle e regulamentação da vida social e econômica. Este é o cenário

descrito pelo sociólogo Zygmunt Bauman (1999):

“Devido à total e inexorável disseminação das

regras do livre mercado e, sobretudo, ao livre

movimento do capital e das finanças, a

‘economia’ é progressivamente isentada do

controle político; com efeito, o significado

primordial do termo ‘economia’ é o de ‘área não

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política’. O que quer que, restou da política, se

espera que deva ser tratado pelo Estado, como

nos bons velhos tempos, mas o Estado não

deve tocar em coisa alguma relacionada à vida

econômica: qualquer tentativa nesse sentido

enfrentaria imediata e furiosa punição dos

mercados mundiais” (ZUGMUNT

BAUMAN,1999).

Nessas condições de enfraquecimento e redução do poder do Estado é

que pode ser situada uma das graves conseqüências da globalização

contemporânea, que é a perda de vigor da democracia como forma de

governo e como ideal de sociedade. É o que considera Atílio Boron (2001):

“Porém, diante de um processo de

reconcentração de lucros e rendas tão

acentuados como o que caracteriza a

reestruturação neoliberal, é muito difícil

sustentar o funcionamento de um regime

democrático. Por quê? Porque, um dos

requisitos mais importantes da democracia é a

existência de um elevado grau de igualdade

social” (BORON, 2001)

.

Para que o regime democrático funcione é necessário que todas as

sociedades superem um determinado limite de igualdade social, e a

igualdade, como lembrava o próprio Adam Smith, deveria ser de condições

e não só de oportunidades. “No fundo, o que está se fazendo é sacrificar a

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democracia no altar do mercado, e a justiça no troco do lucro”, afirma o

autor.

Nessas circunstancias, como reconhece Boron (2001), as reivindicações

dos operários, dos empregados públicos, dos professores, dos

camponeses, dos desocupados, dos aposentados, das diversas minorias e

dos cidadãos em geral se redefinem e se priorizam em função dos

interesses da coligação capitalista que controla os mercados internacionais.

Os trabalhadores poderão organizar greves, invadir terras, ocupar

fábricas e locais urbanos, e quase invariavelmente a resposta oficial oscilará

entre a repressão e a indiferença, mas poucas vezes sentirão temor.

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CONCLUSÃO

Competitividade, produtividade e integração, no plano econômico,

fragmentação, exclusão e marginalidade, no plano social. De um lado, a

diferenciação funcional da sociedade em subsistemas auto-organizados e auto-

regulados, que se coordenam horizontalmente entre si por meio de diferentes

redes de interação e conexão, rompendo as estruturas hierárquicas do Estado

moderno, levando a transformações institucionais profundas e provocando o

esvaziamento dos controles democráticos sobre o jogo da acumulação. De

outro, um crescente desemprego estrutural acompanhado da degradação das

condições de vida daquele que foram expulsos do mercado formal de trabalho

frente aos quais as novas instâncias de poder têm revelado discutível interesse

ou escassa capacidade de resposta. Essas são as tensões geradas pela

transnacionalização dos mercados de insumo, produção, finanças e consumo,

a partir dos anos 80, refletidas, nos modelos do direito social e sistêmico.

No cenário da globalização, este fenômeno pôs em xeque a eficiência da

intervenção governamental no sistema de preços e nos mecanismos

formadores do custo de mão-de-obra e levou ao prevalecimento da visão

seletiva da agenda contemporânea pelas instituições financeiras internacionais,

pelos conglomerados transnacionais e pelos organismos multilaterais, impondo

temas recorrentes como desregulamentação dos mercados, estabilização e

unificação monetária, cortes drásticos de gastos públicos, flexibilização das leis

trabalhistas, privatização dos monopólios estatais e deslegalização.

Neste contexto, portanto, em cujo âmbito dos setores, cidades, regiões e

nações correm permanentemente o risco de perder do dia para a noite sua

base econômica por causa, tanto das possibilidades de deslocamento imediato

dos ativos financeiros para onde podem obter maiores lucros, quanto da

flexibilidade que as empresas possuem para sediar suas atividades produtivas

nos locais que julgam mais adequadas, em termos de custos de insumos, valor

da mão-de-obra e concessão de incentivos, subsídios e créditos favorecidos, o

‘direito social’ carece de condições de efetividade.

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Um dos aspectos mais significativos da economia em escala planetária vive

hoje seu momento de plenitude paradigmática e, está no seu padrão de

estratificação. Neste sentido, a economia-mundo, não se caracteriza apenas

por ter sua força motora e organizadora baseada nos princípios da acumulação

incessante e da maximização do rendimento do capital.

Neste sentido, grandeza é o único fator de poder na economia globalizada.

O fim da dispersão monetária na Europa pela implantação da moeda única – o

euro – pode colocar de pernas pro ar a relação de força entre os mercados

financeiros e os Estados europeus. As taxas cambiais podem ser estabilizadas

e o valor de troca de cada moeda nacional pode ser negociado com os sócios

no Exterior, e não ficar à mercê do arbítrio do banco emissor de dólares dos

EUA e dos banqueiros de Londres, Nova York ou Cingapura. Se for possível

transformar o euro na moeda principal, a União Européia terá vigor suficiente

para obrigar o fechamento dos paraísos fiscais e a justa tributação dos lucros

privados com as diferenças de juros internacionais.

Quanto mais a desigualdade material ameaçar a coesão das sociedades,

tanto mais importante é que os próprios cidadãos defendam os direitos

democráticos básicos e fortaleçam a solidariedade social. Seja na vizinhança

ou no local de trabalho, atendendo numa creche ou em iniciativas em defesa do

meio ambiente, em todos os lugares aparecem chances de se opor à

marginalização dos economicamente fracos e insistir em alternativas ao

radicalismo de mercado e ao desmantelamento das políticas sociais.

Cooperação além-fronteiras e entrosamento são capazes de proporcionar força

insuspeitada à cidadania engajada. É direito de cada um participar da

configuração do futuro, mesmo quando esta se desenvolve em Bruxelas.

Pensar globalmente e agir localmente é bom, mas atuar em conjunto, além-

fronteiras, é melhor.

No cenário da globalização e dos blocos econômicos, a sociedade e os

mercados se reformatam em novos valores para a formação de uma realidade

ainda desvendada.

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Já não se trata de um ‘choque do futuro’ ou de ‘terceira onda’, como

sugerido por Alvin Toffler. “Trata-se, em nosso ponto de vista, de um campo

impositivo, no qual a globalização busca um sentido humano para um mercado

impregnado de tecnologia”.

Assim sendo, o impacto da globalização – fenômeno complexo, com

profundas implicações, nos mais diversos setores da vida social traz em seu

bojo muitas inquietações. Nesse cenário altamente incerto, questões infinitas

acompanham também o cenário globalizado. De que modo sair desse

impasse? Como pensar em democracia num contexto marcado, por novas

formas contratuais nas relações entre os agentes econômicos e pela tensão

permanente entre o nacional e o transnacional, entre o local e global?

Essas sutis interrogações nos remetem ao amplo caminho em face da

rapidez das transformações sócio-econômicas, políticas e institucionais do

contexto globalizado.

Diante das surpresas advindas com a assombrosa velocidade das

transformações históricas, especialmente dos anos 80 para cá, o fenômeno da

globalização econômica desperta do sono dogmático e enfrenta o desafio de

reflexões inéditas.

E, como não existem paradigmas alternativos ao da dogmática economia já

cristalizada ou consolidada, fazer essa reflexão implica repensar

epistemologicamente toda a ciência econômica e colocar em novos termos sua

interface quer com a teoria social quer com a economia política.

O grande risco desse esforço, no entanto, é o de vê-lo inutilizado do dia para

a noite por causa do inesperado, do desconhecido, do indeterminado, do

incerto – enfim, das surpresas e das imprevisibilidades decorrentes das

bifurcações da história. Assim, como nos faz lembrar Fernando Pessoa: tudo

vale a pena, se a alma não é pequena.

Agora, nos reportando à economia interna de nosso país observamos que

até 1980, ninguém dava muita importância para empresas com menos de 100

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funcionários. Só nas duas últimas décadas do século XX, quando as grandes

empresas começaram a diminuir seus custos e o número de empregos, é que a

micro e pequenas empresas começaram a crescer, fornecendo diversos

produtos e serviços para as grandes.

Era o processo de terceirização, que se espalhou por todo o mundo,

aumentando a importância dos pequenos negócios para a economia dos

países.

No mesmo período, a evolução tecnológica encurtou as distâncias e facilitou

o acesso à informação. Hoje, em poucos segundos, uma empresa da Tailândia,

que fabrica rádios de pilha para a Índia, pode fazer um pedido de parafusos

para uma empresa, no interior do Brasil. Este processo de diminuição de

distância e quebra de barreiras comerciais entre nações é chamado de

globalização.

Globalizados, o comércio, a indústria e os serviços vêm mudando em todo o

mundo beneficiando alguns setores e exigindo profundas reformulações de

outros. Foi mais ou menos isso que aconteceu no Brasil, na década de 1990,

durante a abertura da economia. A entrada de produtos importados ajudou a

controlar os preços, uma condição importante para o país voltar a crescer, mas

trouxe problemas para alguns setores que não conseguiam competir com os

importados, como foi o caso dos setores de brinquedos e de confecções.

Para ajustar o passo com o resto do mundo, o país precisou mudar.

Empresas de todos os tamanhos e setores tiveram que se modernizar para

poder competir e voltar a crescer. O governo deu início a uma série de

reformas reduzindo sua interferência na economia. Com o controle da inflação

e o ajuste econômico, em poucos anos o país ganhou estabilidade,

planejamento e respeito. A economia começou a crescer.

Só no ano de 2000 surgiu quase um milhão de novos postos de trabalho.

Investidores de outros países voltaram a aplicar seu dinheiro no Brasil e as

exportações aumentaram. Ano a ano, a micro e pequena empresa ganhou mais

espaço e importância na economia. Hoje, de cada 100 empresas brasileiras, 98

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são pequenas empresas. Juntas elas empregam quase 40 milhões de

trabalhadores, mais da metade de toda a mão-de-obra do país. Os números

são grandes, mas o espaço para crescimento é ainda maior. O futuro é

promissor e cabe, a cada um de nós, fazer dele uma realidade. É hora de se

preparar.

Durante a investigação da pesquisa conhecemos alguns empreendedores,

proprietários de mini-mercado, comerciantes experientes e bem sucedidos,

acostumados a enfrentar e superar as dificuldades do dia-a-dia. Porém, nos

deparamos com outros nem tão experientes assim, que lutam cotidianamente

para sobreviver às mudanças repentinamente do mercado.

Assim, um bom negócio num momento pode não ser tão bom em outro. Por

isso é importante estar sempre atento às transformações, identificando as

oportunidades e pronto para adaptar o seu negócio quando necessário.

Nesse sentido, correr alguns riscos é necessário para fazer sua empresa

crescer. O próprio ato de abrir uma empresa ou investir nela já é arriscado.

Antes de colocar uma idéia em prática, o empreendedor deve analisar

cuidadosamente as chances de lucro ou prejuízo, considerar as possibilidades

de erro e levantar as possíveis soluções para que haja o mínimo de

imprevistos. Descubra o que pode dar errado e faça um plano para reduzir os

efeitos negativos em seu negócio.

Portanto, procure estar sempre atualizado. Procure participar de palestras,

fazer cursos, pesquisar sobre o assunto ligado à sua área de atividade. Essas

são informações importantes que definem o futuro do seu negócio. Procure,

também, conhecer empresas parecidas com a sua. Tente descobrir quais os

pontos fortes e fracos de cada uma. As informações existem, estão disponíveis

e geralmente não custam nada. Basta você pesquisar.

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ANEXOS

Índice dos anexos

Anexo 1 – modelo de questionário aplicado aos clientes

que freqüentam os comércios pesquisados.

Anexo 2 - modelo de questionário aplicado aos

proprietários de micro e pequenas empresas.

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ANEXO 1

Q. 01 - O senhor (a) já ouviu falar da globalização. O que este termo significa

para você? Justifique a sua resposta.

R:

Q. 02 – Quais as contribuições que o processo da globalização trouxe para o

comércio de nossa cidade? Cite alguns itens em que você considera os mais

importantes.

R:

Q. 03 - você já havia observado se as mercadorias que chegam ao comércio,

em que freqüenta, vêm de fora do país ou fazem parte de outros estados

brasileiros, assim como da capital do Amazonas e municípios vizinhos. Por

quer?

R:

Q. 04 – Na sua concepção, o fenômeno da globalização tem provocado

mudanças na sua vida e no seu modo de viver, bem como, nas atividades

rotineiras do comércio que você freqüenta?

R:

Q. 05 – Sabemos que nos últimos anos o desenvolvimento da ciência e da

tecnologia tem avançado a passos gigantescos e provocado grandes

transformações na vida social. Ao tempo que cria oportunidades de

crescimento surge ao lado de crises como o desemprego, redução de

salários, crescimento da pobreza, destruição ambiental e comprometimento

do nível de vida das pessoas. Neste sentido, faça um breve comentário sobre

o que você pensa a respeito de tudo isso.

R:

Q. 06 – Na sociedade globalizada em que vivemos, observa-se que os

grandes grupos empresariais impedem ou dificultam os pequenos comércios

locais, uma política autônoma de crescimento. Dê a sua opinião

apresentando algumas estratégias que considera importante.

R:

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Q. 07 - A micro e pequena empresa é importante para a economia mundial,

será que o comércio em que você freqüenta vem acompanhando e

superando as dificuldades em tempos de globalização?

R:

Q. 08 – ser um empreendedor é muito mais que ter a vontade de chegar ao

topo de uma montanha; é conhecer a montanha e o tamanho do desafio;

planejar cada detalhe da subida, saber o que você precisa levar e que

ferramentas utilizar; encontrar a melhor trilha, estar comprometido com o

resultado, ser persistente, calcular os riscos, preparar-se fisicamente;

acreditar na sua própria capacidade e começar a escalada. Neste sentido,

você se considera um empreendedor?

R:

Q. 09 – Pense e anote 10 características, ou qualidades para ser um

empreendedor?

R:

Q. 10 – Você pretende algum dia ser um empreendedor? Marque na sua lista

quais dessas características você acredita que já possui e quais você acredita

que ainda não tem. Pense bem na importância de cada uma delas para o seu

futuro negócio.

R:

Q. 11 – Estudo realizado pelo SEBRAE em 2001 mostrou que de cada 100

empresas abertas no país, 56% desaparecem no terceiro ano de vida, isto se

dar ao fato de que a falta de preparo, informação, planejamento e

conhecimento específico sobre o negócio influenciam no seu fechamento.

Cite algumas estratégias que poderiam ser utilizadas no seu futuro

estabelecimento para se manter de pé e qual seria a receita do sucesso?

R:

Q. 12 – Este espaço está reservado para você registrar os dados da sua

futura empresa. O que eu quero? Qual a minha meta? Porque essa meta é

importante? O que eu vou fazer para atingir essa meta? Em quanto tempo eu

vou atingir essa meta?

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ANEXO 2

BANCOS DE DADOS

01 - CAPA:

Nome da empresa:

Nome do proprietário:

Telefone/ celular:

e-mail:

site:

02 – NEGÓCIO:

1) Sua empresa tem o conceito de negócio definido e escrito?

Especifique resumidamente.

R:

2) O conceito de seu novo negócio é inédito em Tapauá? Caso não, cite

os já existentes.

R:

3) O conceito de seu negócio tem similares no Brasil ou fora dele? Caso

sim cite-os:

R:

03 – MERCADO E COMPETIDORES:

1) A sua empresa conhece o tamanho do mercado-alvo em reais e em

número de clientes? Caso sim especifique:

2) A empresa sabe qual o crescimento previsto do mercado para os

próximos anos? Caso a resposta seja sim, especifique.

3) A sua empresa conhece seus principais concorrentes?

4) A empresa sabe qual a participação dos seus concorrentes no

mercado? Caso sim especifique a sua participação prevista.

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04 – EQUIPE DE GESTÃO:

1) A equipe de gestão de sua empresa está completa? Caso não

especifique quais profissionais estão faltando.

2) A empresa tem um plano de Recursos Humanos definido, com

benefício e incentivos aos funcionários?

3) Sua empresa possui sócios? Caso a resposta seja positiva especifique

o envolvimento de cada um.

05 - MARKETING E VENDAS:

1) As fontes de receita estão bem definidas? Caso sim especifique

rapidamente.

2) A sua empresa tem uma estratégia de preços definida para os seus

serviços/produtos? Se a resposta for sim especifique resumidamente.

3) Sua empresa tem uma estratégia de comunicação/publicidade? Caso

sim especifique resumidamente.

4) Seus produtos/serviços têm canais de distribuição definidos?

Justifique.

5) Sua empresa tem uma projeção de vendas para os próximos anos?

Especifique.

06 – ESTRUTURA E OPERAÇÃO:

1) A empresa tem uma descrição dos processos básicos para obtenção

do serviço/produto?

2) A empresa possui acordos firmados com fornecedores/parceiros do

negócio?

3) A infra-estrutura tecnológica já está disponível em seu

estabelecimento? Especifique resumidamente a estratégia tecnológica

de sua empresa ou negócio.

4) A sua empresa tem uma visão de futuro definida com cronograma das

ações, com principais metas a ser atingidas e marcos intermediários?

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07 – RESULTADOS FINANCEIROS E INVESTIMENTOS

1) O seu negócio possui um fluxo de caixa projetado para os próximos

anos? Especifique o fluxo de caixa líquido obtido para cada ano e o

valor da empresa hoje.

2) O Sr. (a) conhece bem os pontos fortes e fracos de seu negócio e

como melhorá-los ou minimizá-los?