DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2018-12-10 · os mistérios que envolvem o...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NO PROCESSO DA
APRENDIZAGEM – UM NOVO OLHAR SOBRE AS DIVERSAS
METODOLOGIAS E A BUSCA DE NOVAS POSSIBILIDADES NO CAMPO EDUCACIONAL
Michele Freires Da Silva
ORIENTADOR:
Prof. Marta Relvas
Niterói
2019
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM como requisito
parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica.
Por: Michele Freires da Silva
A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NO PROCESSO DA
APRENDIZAGEM – UM NOVO OLHAR SOBRE AS DIVERSAS METODOLOGIAS E A BUSCA DE NOVAS POSSIBILIDADES
NO CAMPO EDUCACIONAL
Niterói
2019
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AGRADECIMENTOS
A Deus primeiramente por ter me concedido saúde, às minhas filhas por serem a razão da
minha existência, ao meu marido pela compreensão, à minha mãe pelo incentivo e a todos os professores do curso, especialmente à
professora Marta Relvas por ter fomentado em mim o desejo de ampliar os meus conhecimentos
através da pesquisa.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todos que amo, pessoas
que fazem a diferença na minha vida e enchem o meu ser de alegria e esperança. Aos professores que inovam suas aulas a fim de motivarem os
seus alunos através de aulas mais dinâmicas e atraentes, mesmo aqueles que são carentes dos
conhecimentos da Neurociência.
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RESUMO
Educar constitui-se em uma tarefa complexa e por isso, requer de seus
educadores, a competência e a dedicação para preparar suas aulas de forma
atraente e estimulante para seus alunos em um mundo que ocorre
transformações diariamente. Diante dessa realidade, o maior desafio é planejar
uma educação capaz de preparar o educando para essas transformações.
Nesse sentido, a Neurociência ajuda a identificar o indivíduo como ser único,
pensante e que aprende de forma singular. Ao analisar o processo de
aprendizagem, deve-se perceber um múltiplo panorama, relacionando
propriedades psicológicas, neurológicas e sociais do indivíduo, visto que a
construção da aprendizagem considera aspectos biológicos, cognitivos,
emocionais e do meio que constroem o ser. A baixa autoestima dos alunos
assim como o ensino engessado retratam a escola como um lugar que não
estimula a curiosidade, a assiduidade e principalmente a pesquisa como
geradores de todo o processo da aprendizagem. É de suma importância a
preocupação em estimular, incentivar e atrair os cérebros que chegam à
escola, reconhecendo a individualidade de cada aluno, respeitando os seus
interesses e fomentando a sua curiosidade. No âmbito escolar, o professor é o
mediador no processo da aprendizagem. A Neurociência Pedagógica desvenda
os mistérios que envolvem o cérebro no momento da aprendizagem, como se
processa a aquisição de conhecimento e os processos de desenvolvimento
pleno do ser, contribuindo para uma aprendizagem significativa, bem como
avalia estratégias e metodologias eficazes no processo ensino-aprendizagem a
fim de que se compreenda que os alunos aprendem de forma diferente,
permitindo ao educando uma aprendizagem eficaz e prazerosa.
Palavras-chave: Neurociência, autoestima, motivação e aprendizagem.
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METODOLOGIA
Esta pesquisa monográfica possui cunho qualitativo, com revisão
bibliográfica baseada nas seguintes referências:
ANTUNES, CELSO. As Inteligências Múltiplas e seus Estímulos.14º edição.
2008. São Paulo. Papirus.
BRANDÃO, MARCUS LIRA. As Bases Biológicas do Comportamento:
Introdução à Neurociência. São Paulo, EPU: 2004
CONZENSA, RM, GUERRA LB. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed; 2011.
DAMASIO. ANTÓNIO R. O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano. Companhia das Letras:1996
LENT, ROBERTO. Cem Bilhões de Neurônios. Conceito Fundamental da Neurociência. 2ª edição. Rio de Janeiro. Vieira & Lent Casa Editorial: 2002
MACHADO, ANGELO. Neuroanatomia Funcional. 2ª edição. Minas Gerais. Editora Atheneu: 2004.
MENESES, MURILO S. Neuroanatomia Aplicada. 3ª edição. Rio de Janeiro.
Editora Guanabara Koogan LTDA: 2015. RELVAS, MARTA PIRES. Neurociência na Prática Pedagógica. Rio de Janeiro.
1ª edição. Editora Wak: 2012
RELVAS, MARTA PIRES. A Neurobiologia da Aprendizagem para uma Escola Humanizadora. 1ª edição. Rio de Janeiro. Editora Wak: 2017.
RELVAS, MARTA PIRES. Que Cérebro é esse que chegou à Escola? As Bases Neurocientíficas da Aprendizagem. 2ª edição. Rio de Janeiro. Editora
Wak: 2012
Outra força propulsora para a pesquisa foram os debates ocorridos em
sala de aula durante o curso Neurociência Pedagógica. A instituição de ensino
Babylândia e Atuação Escola Bilíngue constituiu-se como cenário de objeto de
estudo durante toda a pesquisa, contribuindo para a análise dos resultados.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Neurociência e Aprendizagem: Como o Cérebro Aprende 11
CAPÍTULO II
A Influência da Autoestima no Processo da Aprendizagem – Uma Abordagem
Neurocientífica 22
CAPÍTULO III
A Neurociência Diante das Novas Tecnologias Educacionais 29
CONCLUSÃO 36
BIBLIOGRAFIA 38
ÍNDICE 40
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INTRODUÇÃO
Segundo Relvas (2012, p. 16), a Neurociência quando dialoga com a
educação promove caminhos para o educador tornar-se um mediador do como
ensinar com qualidade por meio de recursos pedagógicos que estimulem o
estudante a pensar sobre o pensar. Entretanto, torna-se fundamental para o
professor promover os estímulos corretos no momento certo para que se possa
integrar, associar e entender os conteúdos propostos em sala de aula. Esses
estímulos, quando emoldurados e aplicados no cotidiano, podem ser
transformados em uma aprendizagem significativa e prazerosa no cotidiano
escolar.
Conhecer as conexões neuronais do educando é importante para que
sejam elaboradas atividades que desenvolvam suas funções motoras,
sensitivas e cognitivas. Em geral, o neurocientista é responsável por investigar
a integração do indivíduo com o meio ambiente, detectando os processos
físicos e químicos que desencadeiam respostas musculares e glandulares. É
de suma relevância que os profissionais envolvidos na educação
compreendam que a ação comportamental de seu educando é o resultado de
uma atividade cerebral dinâmica.
A Neurociência e a Educação estão intimamente ligadas ao
desenvolvimento cerebral, o qual se molda aos estímulos do ambiente, sendo
assim, o estudo da aprendizagem une as duas ciências. A aprendizagem é
afinal um processo fundamental da vida. Todo indivíduo aprende e, por meio da
aprendizagem, desenvolve os comportamentos que os possibilitam viver.
Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da
aprendizagem. Dentro deste cenário, pesquisadores em educação tem tido a
postura otimista de que as descobertas em Neurociência contribuem para a
teoria e práticas educacionais. O corpo, a emoção e a razão são indivisíveis e
inseparáveis, é uma visão íntegra e holística. A Neurociência revelou dados
surpreendentes sobre o funcionamento do cérebro, o crescimento de novos
neurônios e afirmou que a inteligência não é única e nem fixa, como se
afirmava no passado, a inteligência é concebida como uma função do cérebro
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e várias partes dele estão envolvidas em qualquer ação inteligente. Nesse
sentido, é fundamental compreender o conceito de plasticidade cerebral.
Relvas (2012, p.119) afirma que a plasticidade cerebral é a
denominação das capacidades adaptativas do sistema nervoso cerebral, ou
seja, é a sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e
funcionamento. É a capacidade que o cérebro tem em se remodelar em função
das experiências do sujeito, reformulando as suas conexões em virtude das
necessidades e dos fatores do meio ambiente.
Considerando a plasticidade do cérebro, o professor que assume o
papel de mediador e estimulador na aprendizagem do aluno, poderá garantir a
qualidade no ensino e resultado em sala de aula. Entretanto, se for precária a
qualidade da mediação, as sinapses provocadas no cérebro deste aluno
também serão ineficientes durante esse processo de aprender. A partir do
momento que o professor passa a entender o funcionamento do sistema
nervoso e do processo de aprendizagem, ele compreende a necessidade de
sempre inovar, instigar, propor atividades diferenciadas e que façam sentido
para o aluno, desenvolvendo melhor seu trabalho, podendo intervir de modo
efetivo em sua prática, para um melhor desempenho do aluno.
A atuação do professor é determinante na interação do processo de
aprendizagem, pois a maneira como o educador vê o educando interfere
significativamente na maneira como a aprendizagem acontece, bem como na
forma como o aprendiz se coloca no seu processo de sujeito construtor do
conhecimento. A confiança da criança é legitimada pelo conhecimento e pelas
atitudes do educador. Não há aprendizagem eficaz, qualquer que seja, sem o
estabelecimento de uma relação segura, constante e franca por meio da qual o
saber possa transitar sem tropeços. No processo ensino-aprendizagem, o
educador pode criar oportunidades e estratégias que permitam que todos os
alunos, e não só os mais rápidos, aprendam de acordo com o ritmo próprio de
cada um, com confiança, sentindo-se apoiados e incentivados a refletir, a
levantar questões, a comparar, a propor, a pesquisar; enfim, a construir a sua
própria aprendizagem. Essa atitude influenciará na autoestima do aluno.
No capítulo 1 será desenvolvido como a Neurociência favorece o
processo da aprendizagem. Em seguida, o capítulo 2 fará uma abordagem
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sobre a influência da autoestima sob o olhar da Neurociência, e posteriormente
será apresentado no capítulo 3 como as metodologias ativas podem estimular
o cérebro.
Os avanços e descobertas na área da Neurociência, o estudo de como o
cérebro aprende desvenda o que antes era desconhecido no momento da
aprendizagem e elucida a necessidade de estratégias adequadas em um
processo de ensino dinâmico e prazeroso.
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CAPÍTULO I
NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM: COMO O
CÉREBRO APRENDE
Neurociência é uma ciência que consiste no estudo do Sistema
Nervoso Central (SNC) e sua funcionalidades, além de estruturas, processos de
desenvolvimento e alguma alteração que possa surgir no decorrer da vida, sobretudo,
como este sistema é capaz de aprender e como o cérebro se molda mediante a
uma nova aprendizagem. Segundo Lent (2010, p. 149)), “A capacidade de
adaptação do sistema nervoso, especialmente a dos neurônios, às mudanças
nas condições do ambiente que ocorrem no dia a dia da vida dos indivíduos,
chama-se neuroplasticidade, ou simplesmente plasticidade, um conceito amplo
que se estende desde a resposta a lesões traumáticas destrutivas, até as sutis
alterações resultantes dos processos de aprendizagem e memória. Toda vez
que alguma forma de energia proveniente do ambiente de algum modo incide
sobre o sistema nervoso, deixa nele alguma marca, isto é, modifica-o de
alguma maneira. E como isso ocorre em todos os momentos da vida, a
neuroplasticidade é uma característica marcante e constante da função neural.”
Relvas (2012, p. 145) salienta a importância da plasticidade cerebral e diz que:
O cérebro humano tem a capacidade de se adaptar às novas situações, isso porque é dotado de estruturas celulares denominadas neurônios que realizam sinapse em cada informação recebida e processada pelo cérebro. Essa capacidade de reorganização denomina-se plasticidade cerebral, considerado o ponto culminante da nossa existência, e desenvolvimento que se dá ao longo da vida.
1.1. A importância dos estímulos na aprendizagem escolar
A partir dos conhecimentos da Neurociência, o professor passa a
compreender o funcionamento do sistema nervoso e como se processa a
aprendizagem. Ele percebe o quão necessário se torna inovar, instigar, propor
atividades diferenciadas e que façam sentido para o aluno, desenvolvendo
melhor seu trabalho, podendo intervir de modo efetivo em sua prática, para um
desempenho progressivo do aluno.
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Na atual conjuntura que a educação vem sendo instituída torna-se
necessário ter clara a importância de desenvolver o potencial do aluno de
forma plena, embasado em suas reais condições, visando sempre a expansão
de sua aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, respeitando suas
limitações e levando em consideração seus aspectos físicos, cognitivos,
emocionais, linguísticos, afetivos e sociais. Afinal, é de extrema importância
que o professor proporcione a seus alunos práticas eficazes de ensino.
Segundo estudos da Neurociência, o neurônio é definido como uma
célula especializada e extremamente estimulável que, junto com as células da
glia (cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu
funcionamento), formam o sistema nervoso. As células nervosas são
constituídas por quatro partes: o corpo celular, que é a região onde se encontra
o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas; os dendritos, que são
prolongamentos finos e ramificados que conduzem os estímulos captados do
ambiente ou de outras células em direção ao corpo celular; o axônio,
responsável por conduzir os sinais; e as terminações do axônio ou botões
terminais.
De acordo com Meneses (2015, p.2), “Os neurônios têm a capacidade
de responder as alterações do meio em que se encontram (estímulos) com
modificações da diferença de potencial elétrico que existe entre as superfícies
externa e interna da membrana celular (É o chamado potencial de membrana).
As células que exibem essa propriedade, neurônios, células musculares e de
algumas glândulas, são ditas excitáveis. Os neurônios reagem prontamente
aos estímulos, e a modificação do potencial elétrico pode restringir-se ao local
do estímulo ou propagar-se ao restante da célula, através da membrana.”
Os neurônios estabelecem conexões entre si, de modo que podem
transmitir aos demais os estímulos recebidos, criando assim uma reação em
cadeia e permitindo que as células do cérebro se comuniquem. Essa
comunicação acontece através das sinapses elétricas e químicas. As sinapses
elétricas ocorrem quando o estímulo entra no organismo através dos nervos
aferentes, chegando ao córtex e desencadeando um potencial de ação.
Quando um impulso nervoso atinge o final de um neurônio, há a liberação de
um produto químico ou neurotransmissor. Assim, a sinapse constitui-se na
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transmissão das informações de uma célula para a outra. Isso acontece
através de uma região de contato muito próxima entre os botões terminais do
neurônio anterior e os dendritos dos neurônios seguintes, de maneira que
quanto mais sinapses se desenvolverem, maior será o aprendizado ao longo
da vida, já que é por meio destas trocas que ocorre a aprendizagem.
É possível afirmar que quanto mais o ser humano, seja em qualquer
fase da sua vida, estimular o cérebro, maior será a sua capacidade de
aprender. Daí a importância de possibilitar na sala de aula diferentes situações
de aprendizagem, com questões desafiadoras que despertem o interesse e a
curiosidade dos estudantes. Isso pode ser favorecido em um ambiente que
promova a interação das crianças, a troca de experiências, o levantamento de
hipóteses, a observação, a experimentação, a discussão das ideias na tentativa
de solucionar os problemas.
Mediante aos estudos da neurociência e suas descobertas, fica claro
que é muito difícil promover os avanços no desenvolvimento do aluno quando o
conteúdo já está pronto e acabado, numa situação em que a criança não
precisa refletir e interagir com os colegas e com o professor, adotando uma
postura passiva em sala de aula. É necessário garantir aos educandos uma
pluralidade de recursos, tais como a leitura e os momentos dos contos para
ativar a imaginação e a criatividade, os jogos de tabuleiro ou de lógica, quebra
cabeça, palavras cruzadas, atividades musicais que trabalhem os sons, ritmos
e passos, a expressão artística. É importante ressaltar a importância dos
projetos, no que diz respeito a mudança de atitude. Um projeto bem elaborado,
com objetivos definidos pautado em uma proposta inovadora e atraente. Do
mesmo modo, as brincadeiras e os diversos tipos de brinquedos, de acordo
com a faixa etária dos alunos, propõem bastantes desafios de uma maneira
lúdica e prazerosa. Enfim, inúmeras são as possibilidades de trabalho para ser
realizado em sala de aula, dada a importância do estímulo para a formação de
novas sinapses.
É imprescindível que o educador saiba intervir adequadamente em prol
do desenvolvimento e da aprendizagem dos alunos. Segundo Relvas (2012,
p.12), “O professor que não fomenta à curiosidade de seus alunos inibe o
potencial de inteligências e afetividade no processo de aprender. O cérebro
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humano no início de uma aula solicita, por meio de suas conexões neurais,
fatos novos, pois a concentração inicial é fundamental para receber novas
informações, devido à produção de acetilcolina, que mantêm os movimentos de
sinapses na célula neural.”
Portanto, o uso de estratégias adequadas em um processo de ensino
dinâmico e prazeroso provocará consequentemente, alterações na quantidade
e qualidade destas conexões sinápticas, afetando assim o funcionamento
cerebral de forma positiva e permanente, com resultados extremamente
satisfatórios.
1.2. Processo da aprendizagem – A importância da memória
Diariamente inúmeras informações são divulgadas, as quais são
selecionadas (de forma consciente ou não), para posteriormente serem
armazenadas ou eliminadas. O processo de armazenamento das informações
que podem ser recuperadas no futuro é designado de memória.
O termo memória é uma ampla denominação para o elevado número de
processos que formam as pontes entre o passado e o presente. A memória é o
processo cognitivo que compreende a retenção e a recuperação da
informação. É um sistema aberto em que a informação é adquirida (aquisição e
codificação), armazenada (retenção), podendo depois ser recuperada ou
evocada (recordação). Lembrar implica um processo ativo de reconstrução das
informações e estímulos anteriormente adquiridos, codificados e armazenados.
Lent (2010, p. 649) afirma que “A memória pode ser classificada em (1)
memória ultrarrápida ou imediata, cuja retenção não dura mais que alguns
segundos; (2) memória de curta duração, que dura minutos ou horas e serve
para proporcionar a continuidade do nosso sentido do presente e (3) memória
de longa duração, que estabelece engramas duradouros (dias, semanas e até
mesmo anos).”
A memória, segundo Lent, também pode ser classificada em memória
explícita ou declarativa, memória implícita ou não declarativa e memória
operacional ou memória de trabalho. A memória explícita armazena e evoca
informação de fatos e de dados levados ao nosso conhecimento através dos
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sentidos e de processos internos do cérebro, como associação de dados,
dedução e criação de ideias. Esse tipo de memória é levado ao nível
consciente através de proposições verbais, imagens, sons, etc. A memória
declarativa inclui a memória de fatos vivenciados pela pessoa (memória
episódica) e de informações adquiridas pela transmissão do saber de forma
escrita, visual e sonora (memória semântica). A memória não declarativa ou
implícita contém dados de acesso inconsciente relacionados a habilidades e
procedimentos automáticos. Dirigir, jogar futebol, dar um nó na gravata são
exemplos de procedimentos que ficam armazenados na memória não-
declarativa, ou seja, no inconsciente. A memória operacional, também
conhecida como memória de trabalho, corresponde à capacidade do cérebro
de assimilar informações à medida que determinadas tarefas são realizadas,
sendo fundamental para o processo de aprendizagem, compreensão da
linguagem, raciocínio lógico e resolução de problemas, além de ser essencial
para melhor desenvolvimento no trabalho e estudos. A memória operacional
pressupõe o armazenamento temporário, mas também a manipulação de
informações, de modo a permitir que as pessoas executem atividades
complexas como raciocínio, aprendizado e a compreensão.
A aprendizagem é a informação que fica na memória de longa duração,
podendo ser resgatada sempre que necessário. Aprender não é só memorizar
informações. É preciso saber relacioná-las e refletir sobre elas. É tarefa do
professor, então, apresentar bons pontos de ancoragem, para que os
conteúdos sejam aprendidos e fiquem na memória, e dar condições para que o
aluno construa sentido sobre o que está vendo em sala. A pedagogia
contemporânea necessita utilizar-se das diversas ferramentas disponíveis para
subsidiar uma diversidade de abordagens que promovam a construção de
habilidades e competências consoantes com as exigências dos contextos
sociais pós-moderno. As novas estratégias de ensino requerem o
conhecimento desses processadores cerebrais complexos para que sejam
melhor ativados e colocados a serviço da construção de novas aprendizagens.
Por conseguinte, o profissional da educação precisa estar apto a conhecer as
mais adequadas formas de ativar as áreas do cérebro responsáveis pela
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melhor apreensão dos conteúdos, aprimorando por essa via sua prática
educativa.
A Neurociência se constitui assim em atual e uma grande aliada do
professor para poder identificar o indivíduo como ser único, pensante, atuante,
que aprende de uma maneira singular. Desvendando os mistérios que
envolvem o cérebro no momento da aprendizagem, a neurociência disponibiliza
ao moderno professor impressionantes e sólidos conhecimentos sobre como se
processam a linguagem, a memória, o esquecimento, o humor, o sono, a
atenção, o medo, como incorporamos o conhecimento, o desenvolvimento
infantil, as nuances do desenvolvimento cerebral e os processos que estão
envolvidos na aprendizagem acadêmica. Reconhecer esses novos e
fascinantes conhecimentos é imprescindível e de fundamental importância para
uma pedagogia moderna, ativa, contemporânea, que se mostre atuante e
voltada às exigências do aprendizado em nosso mundo globalizado, veloz,
complexo e cada vez mais exigente.
De acordo com os estudos da Neurociência, a repetição de uma
informação é essencial para a sua memorização. Mas isso não deve acontecer
de forma simples. É essencial trabalhar uma metodologia em cima da repetição
da informação para que ela seja passada com emoção, despertando outros
sentidos nos alunos que farão com que um conteúdo seja fixado de forma
eficaz. Um dos grandes problemas vistos em sala de aula que dificultam o
processo de aprendizagem, é a explicação de um conteúdo sem uma
contextualização. De acordo com a Neurociência, uma pessoa consegue
compreender uma informação de forma satisfatória quando ela é aplicada ao
seu contexto.
Relvas (2012, p.20) afirma que “Os educadores atualmente precisam
conhecer vesse incrível mundo chamado cérebro humano para elaborar, definir
e organizar melhor conceitos sobre aprendizagem, identificando, por meio do
sistema nervoso central, seus processos e como produzem modificações
funcional ou comportamental, permitindo a melhor adaptação do indivíduo ao
seu meio como resposta a uma solicitação interna ou externa do organismo.
Dito de outra forma, quando um estímulo já é conhecido do sistema nervoso
central, desencadeia uma lembrança; quando um estímulo é novo,
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desencadeia uma mudança. Essa é a maneira de se entender a aprendizagem
do ponto de vista científico.”
1.2.1. O impacto das emoções nos processos de memória
Uma área de pesquisa que vem apresentando resultados promissores é
a investigação da relação entre memória e emoção. Segundo Lent, (2010, p.
670) “Todas as funções do sistema nervoso podem ser moduladas. Isso
significa que o seu funcionamento pode ser ativado ou desativado, acelerado
ou desacelerado, fortalecido ou enfraquecido, segundo as necessidades de
cada momento. (...) Também a memória pode ser modulada, isto é, pode ser
“fortalecida” ou “enfraquecida” por situações que dão contornos aos eventos.
Guardamos com mais facilidade os fatos de nossa vida que têm um forte
componente emocional, positivo ou negativo: a morte de uma pessoa querida,
o nascimento de um filho, um evento trágico presenciado na rua, o primeiro
encontro com uma pessoa amada, e assim por diante. A emoção representa
um importante componente modulador da memória, mas não é o único.
Também o estado de alerta e a atenção atua sobre ela. Lembramos mais
facilmente os acontecimentos de cada dia que ocorrem depois que passamos
aquela fase sonolenta da manhã, e mais ainda se concentramos a atenção em
alguma coisa importante.”
O hipocampo é uma estrutura encontrada nos lóbulos temporais
do cérebro dos seres humanos, tanto do lado direito quanto do lado esquerdo,
abaixo da superfície cortical. Ele possui uma forma que remete a um cavalo
marinho, sendo esta semelhança a origem do seu nome: a junção das palavras
gregas “hipo” para o cavalo e os “kampos” para o mar. Pode ser considerado o
principal local de armazenamento temporário da memória, principalmente a
memória a longo prazo. Faz parte do sistema límbico, que é o conjunto de
estruturas responsáveis basicamente por controlar as emoções e as funções
de aprendizado e da memória.
Pode-se perceber que o hipocampo é um caminho importante para que
as lembranças antigas sejam armazenadas, contudo não é o lugar onde são
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guardadas. As lembranças são levadas para o hipocampo (memória
temporária) e logo depois elas vão para o córtex cerebral (é a camada mais
externa do cérebro dos vertebrados, é rico em neurônios). O hipocampo irá
informar ao córtex cerebral da importância de se reforçar determinada
informação, assim, consolidando a memória sobre algum evento. Quando o
hipocampo é deteriorado por falta de oxigênio, infecção e outras disfunções, a
pessoa irá ter amnésia e não conseguirá mais guardar lembranças.
Sabe-se, então, que o cérebro é ativado em seu aspecto neuroquímico,
biológico, anatômico, psicossocial, fisiológico, celular e emocional. Nesse
aspecto, a neurociência vem como base para a aprendizagem, auxiliando o
educador em suas intervenções para melhor significar a cognição e interesse
para que o cérebro guarde na memória de longo prazo o conhecimento
promovido. Portanto, um clima emocional estável auxilia na aprendizagem, e se
o indivíduo não o tem em seu ambiente social, é possível que o tenha no
ambiente educativo de suas aprendizagens, e aqui conduz o educador-
pesquisador, ciente de seu compromisso com o outro e de sua
responsabilidade. Portanto, a aprendizagem se faz em ambiente agradável,
equilibrado, feliz e isto deve ser pensado pelo educador e de que forma se
dará. Conhecendo sua clientela, se apropriando da afetividade, criando um
ambiente motivacional, ativará áreas do cérebro que estarão em conformidade
com as propostas e regras estabelecidas pelo grupo.
A contribuição da Neurociência apoia e fundamenta a pedagogia da
aprendizagem, fomentando diversificação da aplicabilidade da fala do
educador, da emoção com que ele trabalha com conceitos, da alegria que ele
carrega e mostra aos educandos. As crianças e adolescentes sentem esta
interação e desenvolvem e reagem de acordo com os estímulos que recebe.
Portanto, a afetividade se entrelaça com o saber, com o seu desenvolvimento e
o indivíduo feliz reage positivamente a novas informações. Sendo o estudo das
emoções fator preponderante na descoberta da relação homem e mundo,
necessário se faz integrar a esse contexto reflexões acerca de como o
processo de aprendizagem pode ser melhor trabalhado quando priorizada a
utilização de meios e metodologias que viabilizem sua inserção no processo
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emocional da pessoa, buscando assim a fixação do conhecimento enquanto
parte integrante da vivência de cada um.
A Neurociência tem mostrado que os processos cognitivos e emocionais
estão profundamente relacionados no funcionamento do cérebro. Segundo
Lent (2010, p.715), “Na verdade, razão e emoção são aspectos genéricos de
um mesmo contínuo e expressam as mais sofisticadas propriedades do
cérebro humano.”
Assim, considerar emoção e cognição como elementos separados ou
independentes, impede o verdadeiro estudo de suas relações, pois o ser
humano comunga desta ligação para orientar suas ações e seu processo de
aprendizagem. Os estados mentais são provenientes de padrões de atividades
neurais, logo a aprendizagem é alcançada através da estimulação das
conexões neurais, podendo ou não ser fortalecida, dependendo da qualidade
da intervenção pedagógica. Proporcionar uma boa aprendizagem para o aluno,
não depende só do professor. É fundamental ajudar o aluno a perceber sua
individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de aprender. Nesse
contexto, conhecer o seu padrão de pensamento pessoal e saber como usá-lo,
é o primeiro passo para ser um participante ativo no processo de
aprendizagem. Partindo deste pressuposto, é mister afirmar que cabe ao
professor oferecer através de sua prática, um ambiente que respeite as
diferenças individuais, permitindo que os aprendizes se sintam estimulados do
ponto de vista cognitivo e emocional.
Brandão (2004, p. 121) afirma que “Existe grande concordância na
proposição de que emoção e motivação estão estreitamente relacionados.
Assim, se definirmos estado motivacional por um impulso ou “drive”, que impele
o organismo a alguma ação que visa a satisfação de objetivos ou resulta em
aumento ou diminuição de um conflito, a emoção seria a consequência de um
comportamento motivado, quer tenha ou não cumprido sua finalidade.” Desta
forma, é importante que o professor compreenda o funcionamento, as relações
e a influência que as emoções têm no processo de ensino e aprendizagem,
auxiliando-o na tomada de decisão que irá estimular o aluno efetivamente e
facilitar o processo da aprendizagem.
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Ao dissertar sobre a emoção, Damásio (2012, p. 154), expõe o seu
pensamento: “Vejo a essência da emoção como a coleção de mudanças no
estado do corpo que são induzidas numa infinidade de órgãos por meio das
terminações das células nervosas sob o controle de um sistema cerebral
dedicado, o qual responde ao conteúdo dos pensamentos relativos a uma
determinada entidade ou acontecimento. Muitas das alterações do estado do
corpo – na cor da pele, postura corporal e expressão facial, por exemplo - são
efetivamente perceptíveis para um observador externo. (Com efeito, a
etimologia da palavra sugere corretamente uma direção externa a partir do
corpo: emoção significa literalmente “movimento para fora”.) Existem outras
alterações do estado do corpo que só são perceptíveis para o dono desse
corpo. Mas as emoções vão além da sua essência.”
De acordo com a Neurociência, o aprendizado e a memória são fases
diferentes do mesmo mecanismo progressivo e contínuo. Sem memória, o
aprendizado se torna impossível e, sem aprendizado, não existe memória.
Aprendizagem, memória e emoção ficam interligadas, quando ativadas pelo
processo de aquisição do conhecimento. O desafio para a educação não é
apenas saber como ensinar ou como avaliar, mas apresentar o conhecimento
em um formato que o cérebro aprenda melhor. Salienta-se que, na
aprendizagem, sendo esta uma atividade social, os alunos precisam de
oportunidades para discutir tópicos em um ambiente tranquilo, que possibilita o
encorajamento à exposição de seus sentimentos e ideias.
21
CAPÍTULO II
A INFLUÊNCIA DA AUTOESTIMA NO PROCESSO DA
APRENDIZAGEM – UMA ABORDAGEM
NEUROCIENTÍFICA
“A aprendizagem, a princípio, é cognitiva, mas a base é emocional. O
professor é o encantador dos conteúdos curriculares, podendo promover
sinapses de qualidade no cérebro de seus alunos, com emoções positivas e
ativando o cérebro de recompensa.” (Relvas, 2017, p. 120)
A dopamina é uma substância neuromoduladora que é capaz de
modificar as atividades elétricas dos neurônios quando as recebe. Quanto
maior a quantidade de dopamina que se recebe, maior é a motivação, maior é
a sensação de bem-estar que será associado aquele comportamento.
Portanto, há uma tendência a repetir estímulos que possam ativar nosso
sistema de recompensa. Se o aluno recebe um elogio do professor por
determinada situação, com certeza irá querer repetir a ação para receber novos
elogios. Se disser para tal pessoa que o sorriso dela é encantador, certamente
ela vai sorrir com muito mais frequência.
O objetivo do nosso cérebro é manter-se vivo, e isso inclui a
manutenção de um sentido positivo do Eu. Todos querem ser alguém validado
pelos outros e isso só será possível se houver segurança emocional e uma
autoestima autêntica. A autoestima é uma interação emocional-cognitiva
desenvolvida, existente entre áreas límbicas e o córtex frontal do cérebro. As
redes neuronais associadas à autoestima são construídas ao longo do tempo
através da linguagem, da reflexão, do apoio em aprendizagens anteriores.
Através das experiências, o cérebro torna-se cada vez mais confortável e
a autoestima é desenvolvida. Segundo Relvas (2017) “Educar a emoção é
promover a habilidade relacionada com o motivar a si mesmo e persistir
mediante frustrações, controlar impulsos, canalizando emoções para situações
apropriadas. A escola é um dos espaços para se despertarem essas relações,
sendo necessário que se incluam no currículo escolar estudos sobre as
“Habilidades Sociais e Emocionais, na aprendizagem cognitiva de conteúdos
22
escolares com mais sentido e significado para a vida”. Além disso, praticar
gratificações prorrogadas, incentivar e estimular a criança, ajudando-a a liberar
seu melhor talento e conseguir seu engajamento aos objetivos de interesses
comuns.”
A motivação para a aprendizagem passa pelas emoções e o resultado
delas colore as avaliações e os rótulos aos educandos, desde as séries iniciais,
traçando a trajetória escolar dos mesmos ao longo do processo de aprender.
Desta forma, é de suma importância reconhecer os espaços geográficos, torná-
los agradáveis, equilibrar emoções para atender a demanda existente em
nossos espaços educativos, estabelecer vínculos sólidos, promovendo
segurança, confiança e afeto, pois só desta forma as deficiências/ faltas serão,
de alguma forma, dirimidas nos ambientes educacionais. Cabe ressaltar que o
respeito em relação ao educando é importante, pois somos modelos das ações
dos mesmos.
Para Relvas (2017, p. 80) “É fundamental estabelecer o vínculo de
confiança e afetividade na relação da aprendizagem escolar e compreender
que os “atrasados” não existem no processo educacional. Cada criança é única
dentro dos aspectos cognitivos, emocionais, afetivos e sociais. Para que a
criança goste da escola e transforme as informações em conhecimentos para
vida, o educador precisa estar atento quanto ao domínio da linguagem,
enfatizando textos, poemas, oralidade e sistematizar o conhecimento linguístico
formal e não formal com a criança; à capacidade visual, ao promover a criação
com ou sem estímulos visuais, explorando formas, cores, construção de jogos,
usando o corpo como ferramenta de estímulos; à competência auditiva,
propondo atividades de criação de sons, intensidade e ritmo, ao promover
atividades corporais, usando a dança, música, permitindo uma coreografia
usando fitas, bandeiras, balões para serem habilmente manejados no ar. A
escola não pode ser um ambiente autoritário, deve ser renovadora, flexível e
com possibilidades para questionamentos. É preciso possibilitar a escuta dos
sentimentos e outros estados mentais de si mesmo e do outro, reconhecer que
a aula não precisa ser realizada somente dentro da sala convencional,
permitindo um passeio ao ar livre para observar os pássaros, as árvores, a
construção do espaço físico da escola, promovendo os conhecimentos
23
alicerçados na Ciência, além de permitir que a criança pense e provoque a
reflexão – “a melhor escola não é aquela que transmite conteúdos densos e de
repetição, mas aquela que provoca e promove o pensar e que permite
questionamentos e dúvidas”.
2.1. Afetividade e Aprendizagem
A afetividade se entrelaça com o saber, com o seu desenvolvimento e o
indivíduo feliz reage positivamente a novas informações, pois sua autoestima
está organizada e equilibrada, pronta para novos estímulos, sejam eles
desafiadores, dramáticos, cômicos e físicos. A capacidade dos indivíduos de se
emocionarem os faz diferente, podendo reconstruir o mundo e o conhecimento,
também, a partir das emoções e do afeto que impulsionam a vida, e, não
apenas do ensino mecanizado da vida.
Relvas (2012, p. 141) em seu livro Neurociência na Prática Pedagógica
destaca a importância da afetividade no processo da aprendizagem: “Penso,
que o novo caminho que o professor pode percorrer a fim de despertar o
interesse do estudante diante de novas aprendizagens é por meio das
conexões afetivas e emocionais do sistema límbico, ou melhor, ativando o
cérebro de recompensa, isso sim é que precisamos provocar, porque as
tecnologias sempre mudarão, outras ferramentas mais rápidas, mais eficazes e
menores para atender às necessidades dos espaços físicos e ambientais serão
recriadas ou reinventadas. Porém, as relações afetivas precisam ser
preservadas e respeitadas, pois são centelhas energéticas que provocam a
liberação de substâncias naturais conhecidas como serotonina e dopamina
relacionadas à satisfação, ao prazer e ao humor, sendo que, ao inverso, o
estresse na sala de aula provoca a liberação de adrenalina e cortisol,
substâncias que agem verdadeiramente como bloqueadores da aprendizagem,
pois provocam um alteração na fisiologia do neurônio, interrompendo as
transmissões das informações sinápticas.”
Entende-se que o ambiente alegre e afetivo motiva as interações, gera
alegria, renova energias, gera mudança de ações, impulsiona o indivíduo a
crescer saudável emocionalmente. De acordo com Relvas (2017, p. 60) “A sala
24
de aula pode ser esse espaço de encontro entre os conhecimentos diversos
que permearão pela relação pedagógica, composta por “família – professor –
aluno – conhecimento” e que sempre envolve diferentes dimensões, entre as
quais destacam: as de ordem afetiva, relacionadas às expectativas de cada
um; às de ordem pedagógica, relacionadas aos recursos didáticos e diferentes
estratégias de ensino que o professor tem à sua disposição; e as de ordem
epistemológica, relacionadas às características do conhecimento que se deseja
ensinar. Todas essas dimensões estão envolvidas na tomada de decisões do
professor e em suas ações, o que exige um trabalho constante de
aperfeiçoamento.
No aspecto afetivo trabalham em equipe: a família, a escola e a
sociedade, a primeira dando os primeiros aportes afetivos, sociais, psicológicos
e morais; a segunda dando segmento ao primeiro e promovendo alegria e
prazer no desenvolvimento integral do ser e o terceiro alicerçando o bem estar,
as oportunidades, o reconhecimento das potencialidades individuais na
diversidade da sociedade em que se vive.
A emoção tem um papel fundamental na modulação da memória afetiva.
Ela pode ser fortalecida ou enfraquecida, dependendo da carga emocional que
colocamos no evento, ou seja, cada trauma, conquistas, primeiras
experiências, eventos importantes, entre outras situações, que vêm carregadas
de fortes cargas emocionais, afetam diretamente toda a nossa química
cerebral. Nesse sentido, o sistema límbico influencia a todo o momento o
processo da aprendizagem.
Machado (2004, p.285) conceitua o sistema límbico, explicando que “Na
face medial de cada hemisfério cerebral observa-se um anel cortical contínuo
constituído pelo giro do cíngulo, giro para-hipocampal e hipocampo. Este anel
cortical contorna as formações inter-hemisféricas e foi considerado por Broca
como um lobo independente, o grande lobo límbico (de limbo, contorno). Este
lobo é filogeneticamente muito antigo, existindo em todos os vertebrados.
Apresenta uma certa uniformidade citoarquitetural, pois seu córtex é mais
simples que o do isocórtex que o circunda. Do ponto de vista funcional admitiu-
se durante muito tempo que o lobo límbico teria funções olfatórias, fazendo
parte do chamado rinencéfalo, ou encéfalo olfatório. Em 1937, o
25
neuroanatomista James Papez publicou um trabalho famoso, no qual propunha
uma nova teria para explicar o mecanismo da emoção. Este mecanismo
envolve as estruturas do lobo límbico, do hipotálamo e do tálamo, todas unidas
por um circuito hoje conhecido como circuito de Papez. Estas estruturas
compreenderiam um mecanismo harmonioso, que não só elaboraria o
processo subjetivo central da emoção, mas também participaria de sua
expressão. O trabalho de Papez foi fundamentalmente teórico e especulativo,
embora ele chamasse a atenção para certos dados clínicos, como as
dramáticas alterações do comportamento emocional causadas pela raiva
(hidrofobia), cujo vírus lesa preferencialmente o hipocampo. Embora muitos
aspectos da teoria da emoção de Papez não sejam mais aceitos, o ponto
fundamental, isto é, a importância das estruturas do lobo límbico e de suas
conexões nas manifestações emocionais está hoje, amplamente confirmado.”
A palavra emoção tem a sua origem no verbo mover, que significa tudo
ou aquilo que faz movimentar ou mexer, e isto só ocorre quando o indivíduo se
sente motivado ou impulsionado a fazer algo ou tomar alguma atitude.
Os seres humanos são dotados de sentimentos, emoções, pensamentos
e experiências, que os tornam únicos e especiais, e desta forma levam esta
bagagem de vivencias e emoções em todo e qualquer conhecimento e
aprendizagem que agregam. Isto ocorre porque a amígdala, parte do cérebro
responsável pelo processamento das emoções, também atua de maneira ativa
nas áreas da cognição, memória, atenção e raciocínio.
Para Relvas (2017, p. 71) “O professor que conheça o funcionamento do
cérebro cognitivo, emocional e motor tem mais condições de promover uma
aula mais participativa dos seus educandos, pois seus conteúdos poderão ser
emoldurados de diferentes maneiras com desafios afetivos e emocionais, como
por exemplo, dramatização, textos, filmes, jogos, usando tecnologias etc.”
Para que a aprendizagem ocorra de maneira eficaz e duradoura, é
necessário que ela desperte no aprendiz alguma emoção ou significado, pois
quanto maior for o interesse e a motivação por determinado assunto ou tema,
maior será a absorção e a facilidade na aquisição deste conhecimento. Em
contrapartida, quando um fato gera forte angústia ou carga emocional, podem
ser provocadas falhas temporárias na atenção e na concentração, impedindo o
26
desenvolvimento de uma nova aprendizagem, e gerando no indivíduo o
chamado “branco” em provas ou atividades escolares.
As emoções, quando gerenciadas de forma equilibrada e sadia,
propiciam aprendizagens benéficas e prazerosas, componentes indispensáveis
para o desenvolvimento intelectual e cognitivo de todo aluno.
2.2. Um diálogo entre a Neurociência e a Educação
O foco da Educação por muito tempo esteve direcionado para ensino
mecânico e voltado a um grupo homogêneo de alunos, sem dar a devida
atenção a especificidade, a individualidade e a forma com que cada um
aprende.
As informações eram “transmitidas” pelo docente e os alunos as
recebiam e aceitavam sem questionamento. O problema é que essas
informações eram perdidas, sem ser apreendidas, uma vez que os alunos não
conseguiam relacioná-las às vivências ou conhecimentos anteriores.
De acordo com Relvas (2012, p.82) “As instituições escolares há muitos
anos vêm oferecendo aos seus educandos salas onde estes são colocados de
forma preestabelecidas, obedecendo alguns critérios, tais como: idade,
tamanho, comportamento, capacidade de conhecimentos adquiridos entre
outros dependendo ainda dos critérios adotados pelo professor. Em sua
maioria, encontram-se educandos sentados em carteiras individuais e
enfileirados, uns atrás dos outros, independente de vontade, sensibilidade
auditiva, capacidade visual ou simplesmente sem respeitar as afinidades.
Supõe-se também que as turmas são homogêneas e, apesar de serem
compostas por 30, 40 alunos, todos devem receber a mesma dosagem de
exercícios, esses com o mesmo nível de dificuldades esperando-se que sejam
realizados ao mesmo tempo por todos. E aqueles que não conseguirem por
serem mais lentos podem terminar no recreio, após a aula, em casa ou até
mesmo não terminar, já que são educandos com muita dificuldade e não
possuem competência para tal feito. Essa escola pode não favorecer a
aprendizagem, já que não atende os mais lentos, pois não possuem tempo
27
para esperá-los, e não prende a atenção dos mais rápidos, pois não consegue
corresponder às suas necessidades, obrigando-os a ficarem parados sem
atividades, com as mãos e os cérebros vazios, ouvindo atentamente ao
comando do professor.”
A escola tem a função de ensinar, mas não pode, nunca, ser confundida
com produção em massa. Afinal o “produto da escola” é o mais valioso de
todos: o ser humano, com ideias, opiniões e sentimentos. Neste caso o termo
ensinar acaba tendo uma conotação bem diferente do que antes; pois hoje a
escola tem um papel que vai além de ensinar conteúdos como: auxiliar o aluno
a perceber sua individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de
aprender (metacognição), proporcionar a otimização de suas habilidades,
facilitar o processo de aprendizagem e criar condições de aprender a aprender.
Hoje, a escola tem à disposição uma infinidade de recursos, além de estudos e
pesquisas científicas que podem nortear a prática pedagógica.
A Neurociência é um desses valiosos recursos para os educadores.
Nada mais justo, se é nítido que a aprendizagem se dá por processos neurais
onde se concentram os estudos da Neurociência.
Um engano comum é o fato de muitas vezes o professor conhecer o
perfil de seus alunos, mas esquecer da importância do próprio aluno se
conhecer também. A compreensão de como é possível lidar com certas
características pessoais ajudará o aluno a identificar, mobilizar e utilizar suas
características criativas e intuitivas, pois cada um aprende no seu próprio ritmo
e à sua maneira.
Relvas (2012, p. 83), salienta que “Uma sala de aula repleta de
atividades mecânicas impede os alunos de estarem diante de atividades que os
levem a raciocinar, que possam interagir, questionar, concordar, discordar e
situarem-se enquanto indivíduos levando-os às descobertas de estratégias, de
instrumentos que sirvam para dar soluções ao seu problemas.”
Através de sua prática, o professor deverá oferecer um ambiente que
proporcione estímulos do ponto de vista intelectual e emocional. Daí a
necessidade do educador, consciente de seu papel, buscar estruturar o ensino
de modo que os alunos possam construir adequadamente os conhecimentos a
partir de suas habilidades mentais. E para isso, é imprescindível que conheçam
28
os significativos estudos da Neurociência, uma vez que esses, sem dúvida,
influenciam na compreensão dos processos de ensino/aprendizagem.
A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a
memória, o esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo, o humor, a
afetividade, o movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das
imagens que fazemos mentalmente, as imagens que formam o pensamento e o
próprio desenvolvimento infantil. Essas informações são imprescindíveis para a
ação pedagógica.
29
CAPÍTULO III
A NEUROCIÊNCIA DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS
EDUCACIONAIS
Utilizar a tecnologia na educação já é uma necessidade inadiável,
reconhecida por todo profissional do ensino que anda atualizado com as
últimas tendências na área. Dito isso, no entanto, é preciso se dar conta de que
a forma com que esse recurso deve ser empregado em sala de aula nem
sempre é clara. Simplesmente usar ferramentas tecnológicas na escola, como
fim em si mesmas, não é bem o objetivo. Sendo assim, vale a pena pesquisar e
experimentar para descobrir de que maneiras a tecnologia pode ser empregada
para melhorar efetivamente o aprendizado dos alunos e o dia a dia dos
professores. Apostar no uso de ferramentas tecnológicas no ensino já é
requisito para as escolas que desejam se destacar pela inovação e atualização
com as mais modernas tendências pedagógicas. No capítulo 7 do livro A
Neurobiologia da Aprendizagem – Observar, Investigar e Escutar, Relvas
afirma que “Em qualquer área da sociedade, o uso da tecnologia é fundamental
e, em muitos casos é essencial para o desenvolvimento de todas as atividades,
seja na vida pessoal ou profissional do ser humano. O fato é que o uso de
celulares, computadores, Internet, software, dentre tantas outras, oportunizou
interações em grande escala da humanidade, tornando-se quase utópico a não
utilização de tal ferramenta nos diversos setores profissionais. Sendo assim,
pensar a negação da tecnologia em uma ambiente escolar chega ser
inconcebível, já que a mesma pode trazer dinamismo ao processo de ensino-
aprendizagem. No processo educacional, o uso deste recurso tornou-se um
importante meio de estudo e pesquisa e um grande apoio para a ampliação do
conhecimento do aluno e todos os envolvidos no campo educacional.”
Ainda assim, para que a tecnologia não se torne um fim em si mesma, é
preciso estudar as melhores formas de empregá-la a fim de trazer benefícios
para professores e alunos, aumentando a motivação de ambos em sala de
aula.
Estudos da Neurociência sobre como o cérebro aprende e guarda
saberes permitem ao professor uma diversidade de ferramentas e recursos.
30
Tais recursos, se bem utilizados, podem contribuir significativamente com o
processo de ensino e aprendizagem, levando os alunos a uma aprendizagem
significativa.
Segundo Relvas (2012, p.16), em seu livro Que cérebro é esse que
chegou à escola? “As informações são desenvolvidas pelo Cérebro Cognitivo,
Emocional, Motor, Afetivo e Social. Porém, novas tendências que apontam
para esse século é o desenvolvimento do cérebro criativo, autor, inventivo,
intuitivo, genial, que vivencie as incertezas, gerenciando frustrações cotidianas,
sem perder a autoestima. Um cérebro autopoiético, autorregulador, e
reorganizado, adaptável. Se os seres humanos possuem um cérebro com
estruturas cognitivas evoluídas em relação aos outros animais, um neocórtex
que lhes dá propriedade de pensar, então por que não utilizá-lo corretamente?
O cérebro humano é constituído por dois hemisférios, mas que que se
complementam. Então, quando estimulados, elaboram comandos e respostas,
por meio dos circuitos neurais. Por isso, “desafiar” o cérebro é estimulá-lo para
uma aprendizagem criativa.”
Os avanços tecnológicos, a velocidade da difusão da informação e do
conhecimento e os novos padrões de consumo impactaram decisivamente na
forma como se estabelecem os relacionamentos interpessoais. Em razão disso,
o professor, hoje, encontra um novo aluno na sala de aula, sem dúvida alguma,
com as características comportamentais bem diferentes.
Pesquisas da neurociência mostram que, quanto maior a quantidade e a
qualidade de estímulos oferecidos ao aluno, mais eficiente será o seu cérebro.
Sendo assim, é preciso apostar em recursos variados, atividades diversificadas
e prazerosas, metodologias dinâmicas, conteúdos bem trabalhados e
adequados ao perfil do aluno. É importante também o estímulo de propostas
desafiantes e estratégias que garantam o desenvolvimento do seu potencial
cognitivo. Afinal, oferecer situações de aprendizagem, experiências ricas e
atividades intelectuais promove a plasticidade cerebral e como consequência
disso, a inteligência.
Dentro desse contexto, é importante ressaltar que o uso das novas
tecnologias representam grandes estimuladores das redes neurais, uma vez
que promovem motivação e diversão. Ao mesmo tempo, potencializam o
31
desenvolvimento de estratégias, técnicas de raciocínio e resolução de
problemas. Isso é feito a partir do funcionamento integrado de vários processos
mentais, como memória, atenção, concentração, raciocínio, dentre outros.
Relvas (2017, p. 93) ressalta: “As ferramentas tecnológicas, cujo uso
facilita o ensino e a aprendizagem, ajudam-nos a entender melhor o mundo
atual e conhecer os efeitos que nossas ações sobre os desafios educacionais
proporcionam. Temos hoje discussões, diálogos e debates sobre o uso da
tecnologia na educação, sendo um grande desafio para o professor no
processo de ensino, mesmo sabendo da existência de muitas escolas que
seguem todas as regras e normas culturais, as práticas, os métodos e os
recursos considerados tradicionais, resistentes às inovações educacionais. É
imperativo que essas escolas sejam extintas, na sua forma arcaica de pensar.
Atualmente existem novos valores, um olhar diferente de ver o mundo,
possibilidades e necessidades tecnológicas. Sendo assim, ao que se refere à
educação, os recursos tecnológicos permitem o desenvolvimento do aluno nas
suas diversas relações com a realidade, de modo gradual, fazendo-se
necessário nas instituições de ensino.”
Ao fazer um estudo sobre a evolução da espécie humana, é possível
constatar que a tecnologia sempre existiu. O homem, através de suas
invenções e criações, desenvolveu e criou diversas ferramentas em busca de
sua sobrevivência. O que chama a atenção é a velocidade como as
informações chegam atualmente e principalmente de que maneira ela é
processada, decodificada e armazenada. O professor, aquele que assume
efetivamente a responsabilidade de ensinar e provocar desafios inerentes
diante das possibilidades no processo da construção biológica, psicológica e
social do aluno, precisa urgentemente revitalizar suas práticas cotidianas na
sala de aula, despertando potencialidades e melhorando as já existentes da
espécie humana.
Segundo Relvas (2012, p. 146) “A Neurociência objetiva explicar,
modelar e descrever os mecanismos neuronais que sustentam os atos
perceptivos, cognitivos, motores, afetivos e emocionais, disponibilizando os
fundamentos necessários à orientação de aprendizagem. Desse ponto de vista,
cresce a necessidade do professor de incorporar esse conhecimento
32
aprendendo para o enriquecimento de sua prática, seu desenvolvimento e para
saber como privilegiar suas etapas evolutivas.”
Conhecer o processo de aprendizagem tornou-se um grande desafio
para os professores e o ambiente dessa especificidade é a sala de aula,
porque esse espaço está sendo reavaliado pela importância das novas
tecnologias no desenvolvimento do comportamento dos alunos.
É necessário configurar esse lugar de forma que se possa promover
maior convergência dessas tecnologias como interfaces possíveis de
manutenção das aprendizagens, pois esse estudante traz uma experiência
tecnológica no seu cotidiano, extremamente presente nos dias atuais.
O aluno deve ser o sujeito no processo da aprendizagem. É na sala de
aula que esse sujeito precisa ser respeitado em suas singularidades, em razão
da pluralidade existente diante desse professor. Deve-se provocar o desafio
nesse cérebro pensante, reflexivo e, ao mesmo tempo, permitir o diálogo com
as emoções e os afetos em um movimento do corpo que é o reflexo dessas
reações.
As aprendizagens passam pelas sinapses, pelas conexões neuronais, e
pelo envolvimento/interação no ambiente social, pois o nosso cérebro é
plástico, passível de transformações neuroquímicas depois de armazenada
uma determinada informação.
A escola é constituída por profissionais que precisam cada vez mais
estudar e se aperfeiçoar em saberes do contexto da escolarização e da
educação, não bastando apenas lançar e transmitir conhecimentos. É preciso
fazer o educando perceber e reconhecer suas habilidades e competências,
principalmente ter autoconfiança.
O uso da tecnologia pode ser proveitoso no estudo interativo de conteúdos
tornando-os mais atraentes e fazendo com que o aluno adote uma postura mais
participativa. As ferramentas tecnológicas permitem diversificar as metodologias de
ensino a abrir caminho para infinitas possibilidades didáticas. O trabalho com
ambientes virtuais de aprendizagem são exemplos do potencial da tecnologia para
a educação. Os materiais digitais são outro exemplo de como as ferramentas
tecnológicas são capazes de auxiliar o desenvolvimento da educação.
Disponíveis para leitura em computadores, tablets e celulares, os e-books
33
surgem como uma forma de estimular a leitura, permitindo aos alunos aliar
tecnologia e estudos de forma prática. É possível tornar o ambiente escolar
instigante e atrativo para crianças e adolescentes. Exercícios estimulantes,
jogos desafiadores, vídeos didáticos e atividades lúdicas: há uma série de
recursos a serem explorados por alunos e professores. Desse modo, a escola
torna-se um local agradável de se frequentar, evitando, inclusive, a evasão
escolar.
Professores, pais e educadores são os verdadeiros estimuladores do
potencial de ação celular. As células-neurônios especializadas no sistema
nervoso funcionam na propriedade de excitabilidade, a fim de formar novas
conexões neurais. Diante dessa constatação, estão sempre prontas para
receber, transmitir, decodificar e armazenar informações.
O professor continua tentando transmitir dados sem significados e não
provoca no cérebro de recompensa do seu educando o prazer de aprender. O
professor precisa fazer valer o uso de recursos não necessariamente
tecnológicos, mas da extensão do próprio corpo, que é a principal ferramenta
de aprendizagem.
A Neurociência pode contribuir no processo de ensino e
aprendizagem porque oferece meios e respostas para as seguintes perguntas:
Como os alunos aprendem? Quais as habilidades e competências que podem
ser exploradas? Qual a maneira mais eficaz de mediar o conhecimento? Além
disso, é preciso fazer bom uso das ferramentas tecnológicas disponíveis,
apostando numa metodologia de trabalho que fuja do tradicional, sempre
com intuito de nortear o trabalho do professor, proporcionando o
desenvolvimento integral e completo do aluno, visando a construção do
conhecimento de maneira contextualizada, significativa e prazerosa. Nesse
sentido, muitas são as metodologias que buscam a participação, o
envolvimento e a autonomia dos alunos, a fim de tornar a aprendizagem mais
atraente e torná-los sujeitos na construção dessa aprendizagem.
34
3.1. PEDAGOGIA DE PROJETOS
Pedagogia de Projetos pode ser definida como um método no qual a
classe se ocupa em atividades proveitosas e com propósitos definidos. Em
outras palavras, é o ensino através da experiência. Este método coloca o aluno
em contato com algum projeto concreto em que esteja interessado e em que
planeje o empreendimento, colha as informações, e finalmente, leve a efeito os
seus planos. No trabalho com projetos, o próprio aluno constrói o
conhecimento. O professor apenas propõe situações de ensino baseadas nas
descobertas espontâneas e significativas dos alunos. A Pedagogia de Projetos
visa à ressignificação desse espaço escolar, transformando-o em um espaço
vivo de interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões. O trabalho
com projetos traz uma nova perspectiva para o entendimento do processo de
aprendizagem. Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e
ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos.
Em virtude de as atividades educativas serem elaboradas por alunos e
professores, um dos principais objetivos da Pedagogia de Projetos é promover
a integração e a cooperação entre docentes e discentes em sala de aula.
Os projetos devem visar também a resolução de algum problema ou
algum empreendimento que esteja em harmonia com os interesses dos alunos
e relacionados às suas próprias experiências. Uma das principais
características de um trabalho educativo realizado por projetos é a
intencionalidade. Todo projeto deve ser orientado por objetivos bem claros e
definidos. A flexibilidade é outra característica importante. O planejamento de
trabalho deve ser flexível, de modo que o tempo e as condições para
desenvolvê-lo sejam sempre reavaliados em função dos objetivos inicialmente
propostos, dos recursos à disposição do grupo e das circunstâncias que
envolvem o projeto. A originalidade do projeto demonstra que cada grupo é
único, isto é, possui características próprias. Seus participantes têm ritmos e
estilos diferentes. Portanto, o trabalho de um grupo não deve ser comparado
com o de outro ou contestado. A resolução do problema proposto pelo projeto
de trabalho, se dará em função das experiências e expectativas dos
componentes de cada grupo. O projeto de trabalho deve se desenvolver
apoiado na realidade de cada grupo.
35
3.2. ENSINO HÍBRIDO E AULA INVERTIDA Ensino Híbrido, ou blended learning, é uma das maiores tendências da
Educação do século XXI, que combina o ensino presencial com o ensino
online, integrando a Educação com a tecnologia, que já está presente na vida
dos estudantes. Ele envolve a utilização das tecnologias com foco na
personalização das ações de ensino e de aprendizagem, apresentando aos
educadores formas de integrar tecnologias digitais ao currículo escolar. Além
disso, essa abordagem apresenta práticas que integram o ambiente online e o
presencial, permitindo com que os alunos aprendam mais e melhor, no seu
ritmo. Na adoção do Ensino Híbrido é necessário repensar a organização da
sala de aula, o plano pedagógico e a gestão do tempo para favorecer os
momentos de interação, colaboração, envolvimento com o tema e o uso das
tecnologias digitais para inovar o modelo tradicional de ensino e transformar os
alunos em protagonistas do próprio aprendizado.
Baseada nesta tendência de parceria entre educação e tecnologia,
surgiu a Sala de Aula Invertida, ou Flipped Classroom, criada pelos professores
norte-americanos de Química, Jonathan Bergmann e Aron Sams. Nessa
metodologia, os alunos têm autonomia maior para estudar os conteúdos das
aulas antecipadamente em casa, por meio de material digital fornecido pela
escola (textos, vídeo aulas, games educativos, e outros). Neste momento, os
pais podem participar deste processo com os filhos. Invertendo o processo
tradicional, onde a aula acontece antes, o aluno expõe o que compreendeu,
esclarece suas dúvidas e o professor atua como orientador e conduz a reflexão
sobre o tema de maneira a possibilitar a construção de conhecimento de
maneira relevante para o aluno, pois ele é o protagonista do processo.
A Sala de Aula Invertida promove também uma maior conexão entre os
estudantes e deles com o professor ao criarem o hábito de compartilharem as
informações para solucionarem questões e projetos em conjunto, habilidades
tão importantes para a vida em sociedade e corporativa.
36
3.3. CULTURA MAKER
O Movimento Maker é uma extensão da cultura Faça-Você-Mesmo ou,
em inglês, Do-It-Yourself (ou simplesmente DIY). Esta cultura moderna tem em
sua base a ideia de que pessoas comuns podem construir, consertar, modificar
e fabricar os mais diversos tipos de objetos e projetos com suas próprias mãos.
Na incessante busca por uma pedagogia que privilegie o protagonismo
do aluno, que produza colaboração e criatividade, atitude crítica e autonomia, a
proposta é criar oficinas de invenções – espaços maker – na escola, onde,
além de artefatos, seja produzida uma atitude de empoderamento e
transformação da realidade nos alunos envolvidos e capaz de mobilizar a
atenção dos adultos educadores para que experimentem um pouco dessa
atitude maker em suas práticas, sejam professores de filosofia ou de ciências.
Tanta invenção precisa ser associada ao conhecimento. Por isso, os
laboratórios estão sendo instalados em escolas de todo o Brasil. Algo que
valoriza a experimentação torna o aprendizado muito mais significativo, além
de desenvolver competências muito importantes, como criatividade e
autonomia. A cultura maker fez com que muitos ambientes educacionais
substituam parte das aulas teóricas por produtos experimentais desenvolvidos
em laboratórios. Assim, promovem a interdisciplinaridade, fazendo com que o
aluno entenda tudo o que envolve um processo de criação. É a chamada
educação mão na massa. De fato, muitos educadores veem, na cultura maker,
uma forma de resolver problemas graves enfrentados pela Educação. Entre
eles, a desmotivação, uso de técnicas antiquadas, além de pouca relação do
que se aprende na teoria com o mundo real. Por isso, é mais do que urgente
tirar o estigma de que a sala de aula é um ambiente monótono.
Uma das vantagens da cultura maker é ter estratégias que podem ser
usadas do ensino fundamental ao superior. Principalmente com as crianças, é
possível criar um ambiente colaborativo no qual uma ajuda a outra no processo
de aprendizagem. Mas, as vantagens vão além e chegam no preparo do aluno
para o mercado de trabalho.
A tecnologia nos traz uma vasta gama de recursos, como softwares, kits
robóticos e desenhos 3D. Porém, sabemos que a realidade da grande maioria
37
das escolas no Brasil não é bem essa, o que não impede que a cultura maker
seja, sim, inserida no ambiente educacional. Um só computador pode fazer
uma diferença enorme, além do uso de sucatas como ferramentas para a
construção de protótipos, por exemplo. O importante é o aluno vivenciar a
aprendizagem de forma mais autônoma, criativa e crítica.
Relvas (2012, p. 144), ressalta a relevância das diversa metodologias no
processo da aprendizagem, abrilhantando o final deste capítulo: “O começo da
mudança está nos representantes e atores integrantes e envolvidos na escola,
sem dúvida, alicerçados pela família, nos estudos neuropsicopedagógicos,
viabilizando e contribuindo para o desenvolvimento de metodologias
pedagógicas aplicadas ao funcionamento do sistema nervoso e assim
promovendo qualidade no cotidiano escolar. Só assim, a escola como um todo
poderá conceituar e aplicar de verdade a aprendizagem no tempo de cada um,
respeitando suas individualidades na pluralidade de saberes, chamada
educação.
É importante também repensarem as escolas e se reverem aquelas que
ainda não têm disponível em seus espaços de aprendizagens os recursos
tecnológicos, pois, no nosso País, ainda é um privilégio de poucos, se
considerando os estudos de regiões que não possuem acesso às informações
tampouco possuem uma escola adequada para se estudar e discutir novos
horizontes na dimensão do pensar, ou melhor, promover sinapse neurais em
alunos sem oportunidades efetivas.”
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CONCLUSÃO
Diante do desenvolvimento deste trabalho, conclui-se que os
estudos da neurociência sobre o funcionamento do cérebro, no que diz respeito
à aprendizagem e memória, podem transformar o modo de ensino.
A Neurociência está propondo uma união dos conhecimentos
biológicos, cognitivos e pedagógicos para uma melhor forma de aprendizagem
e desenvolvimento educacional. Isso poderá revolucionar as escolas, gerando
eficiência no ensino-aprendizagem. Além disso, poderá responder o grande
enigma que é como a aprendizagem ocorre no cérebro. A hipótese
anteriormente demonstrada no plano de pesquisa foi comprovada através do
embasamento teórico referente ao tema, visto que a neurociência pode
contribuir de inúmeras formas para a educação de hoje. A neurociência mostra
que ativar as diferentes regiões do cérebro pode melhorar o desempenho das
funções cognitivas relacionadas a estas regiões. Apresentar o conhecimento
num formato em que o cérebro aprenda melhor passa a ser, além da
preocupação com o ensinar e o avaliar o processo de ensino-aprendizagem,
uma necessidade da educação atual. Promover uma aprendizagem
significativa tem como substrato biológico a reorganização das conexões entre
os neurônios e a aplicação ampla do conceito de neuroplasticidade.
Do ponto de vista da Neurociência, uma aprendizagem somente
ocorre porque o cérebro tem a plasticidade necessária para se modificar e se
reorganizar frente a estímulos e se adaptar. A educação amplia sua base
científica com as pesquisas que demonstram que o cérebro humano não
finaliza seu desenvolvimento, mas uma constante reestruturação o reorganiza
a partir de estímulos eficientes. A aprendizagem ocorre com particularidades,
ao longo da vida do indivíduo. Nesse sentido, a Neurociência Pedagógica
assume uma função de suma importância para o bom desempenho do trabalho
do professor e constitui-se como uma brilhante aliada para melhorar processos
de ensino e aprendizagem.
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BIBLIOGRAFIA
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Introdução à Neurociência. São Paulo, EPU: 2004 CALABRY, SUELI. Neurociência: Um Novo Olhar Educacional. 2011.
Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/neurociencia-um-novo-olhar-educacional/63961/
DAMASIO. ANTÓNIO R. O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano. Companhia das Letras:1996
GOUVEIA,THAÍS CECÍLIA. Neurociência e Didática. 2016. Disponível em: https://www.psicologia.pt › Conteúdos › Artigos › Neurociências e Ciências Médicas
LENT, ROBERTO. Cem Bilhões de Neurônios. Conceito Fundamental da Neurociência. 2ª edição. Rio de Janeiro. Vieira & Lent Casa Editorial: 2002
MACHADO, ANGELO. Neuroanatomia Funcional. 2ª edição. Minas Gerais. Editora Atheneu: 2004.
MENESES, MURILO S. Neuroanatomia Aplicada. 3ª edição. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan LTDA: 2015.
RELVAS, MARTA PIRES. Neurociência na Prática Pedagógica. Rio de Janeiro.
1ª edição. Editora Wak: 2012 RELVAS, MARTA PIRES. A Neurobiologia da Aprendizagem para uma Escola
Humanizadora. 1ª edição. Rio de Janeiro. Editora Wak: 2017.
RELVAS, MARTA PIRES. Que Cérebro é esse que chegou à Escola? As Bases Neurocientíficas da Aprendizagem. 2ª edição. Rio de Janeiro. Editora Wak: 2012
REVISTA NOVA ESCOLA. Neurociência: Como ela ajuda a entender a
aprendizagem. 2012. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/217/neurociencia-aprendizagem
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05
METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Neurociência e Aprendizagem: Como o Cérebro Aprende 11
1.1. A Importância dos Estímulos na Aprendizagem Escolar 11
1.2. Processo da Aprendizagem – A Importância da Memória 14
CAPÍTULO II
A Influência da Autoestima no Processo da Aprendizagem – Uma Abordagem Neurocientífica 21
2.1. Afetividade e Aprendizagem 23
2.2. Um Diálogo entre a Neurociência e a Educação 26
CAPÍTULO III
A Neurociência Diante das Novas Tecnologias Educacionais 29
3.1. Pedagogia de Projetos 34
3.2. Ensino Híbrido e Aula Invertida 35
3.3. Cultura Maker 36
CONCLUSÃO 38 BIBLIOGRAFIA 39