DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · 2018-12-10 · os mistérios que envolvem o...

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NO PROCESSO DA APRENDIZAGEM UM NOVO OLHAR SOBRE AS DIVERSAS METODOLOGIAS E A BUSCA DE NOVAS POSSIBILIDADES NO CAMPO EDUCACIONAL Michele Freires Da Silva ORIENTADOR: Prof. Marta Relvas Niterói 2019 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NO PROCESSO DA

APRENDIZAGEM – UM NOVO OLHAR SOBRE AS DIVERSAS

METODOLOGIAS E A BUSCA DE NOVAS POSSIBILIDADES NO CAMPO EDUCACIONAL

Michele Freires Da Silva

ORIENTADOR:

Prof. Marta Relvas

Niterói

2019

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UTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM como requisito

parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica.

Por: Michele Freires da Silva

A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NO PROCESSO DA

APRENDIZAGEM – UM NOVO OLHAR SOBRE AS DIVERSAS METODOLOGIAS E A BUSCA DE NOVAS POSSIBILIDADES

NO CAMPO EDUCACIONAL

Niterói

2019

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AGRADECIMENTOS

A Deus primeiramente por ter me concedido saúde, às minhas filhas por serem a razão da

minha existência, ao meu marido pela compreensão, à minha mãe pelo incentivo e a todos os professores do curso, especialmente à

professora Marta Relvas por ter fomentado em mim o desejo de ampliar os meus conhecimentos

através da pesquisa.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a todos que amo, pessoas

que fazem a diferença na minha vida e enchem o meu ser de alegria e esperança. Aos professores que inovam suas aulas a fim de motivarem os

seus alunos através de aulas mais dinâmicas e atraentes, mesmo aqueles que são carentes dos

conhecimentos da Neurociência.

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RESUMO

Educar constitui-se em uma tarefa complexa e por isso, requer de seus

educadores, a competência e a dedicação para preparar suas aulas de forma

atraente e estimulante para seus alunos em um mundo que ocorre

transformações diariamente. Diante dessa realidade, o maior desafio é planejar

uma educação capaz de preparar o educando para essas transformações.

Nesse sentido, a Neurociência ajuda a identificar o indivíduo como ser único,

pensante e que aprende de forma singular. Ao analisar o processo de

aprendizagem, deve-se perceber um múltiplo panorama, relacionando

propriedades psicológicas, neurológicas e sociais do indivíduo, visto que a

construção da aprendizagem considera aspectos biológicos, cognitivos,

emocionais e do meio que constroem o ser. A baixa autoestima dos alunos

assim como o ensino engessado retratam a escola como um lugar que não

estimula a curiosidade, a assiduidade e principalmente a pesquisa como

geradores de todo o processo da aprendizagem. É de suma importância a

preocupação em estimular, incentivar e atrair os cérebros que chegam à

escola, reconhecendo a individualidade de cada aluno, respeitando os seus

interesses e fomentando a sua curiosidade. No âmbito escolar, o professor é o

mediador no processo da aprendizagem. A Neurociência Pedagógica desvenda

os mistérios que envolvem o cérebro no momento da aprendizagem, como se

processa a aquisição de conhecimento e os processos de desenvolvimento

pleno do ser, contribuindo para uma aprendizagem significativa, bem como

avalia estratégias e metodologias eficazes no processo ensino-aprendizagem a

fim de que se compreenda que os alunos aprendem de forma diferente,

permitindo ao educando uma aprendizagem eficaz e prazerosa.

Palavras-chave: Neurociência, autoestima, motivação e aprendizagem.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa monográfica possui cunho qualitativo, com revisão

bibliográfica baseada nas seguintes referências:

ANTUNES, CELSO. As Inteligências Múltiplas e seus Estímulos.14º edição.

2008. São Paulo. Papirus.

BRANDÃO, MARCUS LIRA. As Bases Biológicas do Comportamento:

Introdução à Neurociência. São Paulo, EPU: 2004

CONZENSA, RM, GUERRA LB. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed; 2011.

DAMASIO. ANTÓNIO R. O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano. Companhia das Letras:1996

LENT, ROBERTO. Cem Bilhões de Neurônios. Conceito Fundamental da Neurociência. 2ª edição. Rio de Janeiro. Vieira & Lent Casa Editorial: 2002

MACHADO, ANGELO. Neuroanatomia Funcional. 2ª edição. Minas Gerais. Editora Atheneu: 2004.

MENESES, MURILO S. Neuroanatomia Aplicada. 3ª edição. Rio de Janeiro.

Editora Guanabara Koogan LTDA: 2015. RELVAS, MARTA PIRES. Neurociência na Prática Pedagógica. Rio de Janeiro.

1ª edição. Editora Wak: 2012

RELVAS, MARTA PIRES. A Neurobiologia da Aprendizagem para uma Escola Humanizadora. 1ª edição. Rio de Janeiro. Editora Wak: 2017.

RELVAS, MARTA PIRES. Que Cérebro é esse que chegou à Escola? As Bases Neurocientíficas da Aprendizagem. 2ª edição. Rio de Janeiro. Editora

Wak: 2012

Outra força propulsora para a pesquisa foram os debates ocorridos em

sala de aula durante o curso Neurociência Pedagógica. A instituição de ensino

Babylândia e Atuação Escola Bilíngue constituiu-se como cenário de objeto de

estudo durante toda a pesquisa, contribuindo para a análise dos resultados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Neurociência e Aprendizagem: Como o Cérebro Aprende 11

CAPÍTULO II

A Influência da Autoestima no Processo da Aprendizagem – Uma Abordagem

Neurocientífica 22

CAPÍTULO III

A Neurociência Diante das Novas Tecnologias Educacionais 29

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

ÍNDICE 40

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INTRODUÇÃO

Segundo Relvas (2012, p. 16), a Neurociência quando dialoga com a

educação promove caminhos para o educador tornar-se um mediador do como

ensinar com qualidade por meio de recursos pedagógicos que estimulem o

estudante a pensar sobre o pensar. Entretanto, torna-se fundamental para o

professor promover os estímulos corretos no momento certo para que se possa

integrar, associar e entender os conteúdos propostos em sala de aula. Esses

estímulos, quando emoldurados e aplicados no cotidiano, podem ser

transformados em uma aprendizagem significativa e prazerosa no cotidiano

escolar.

Conhecer as conexões neuronais do educando é importante para que

sejam elaboradas atividades que desenvolvam suas funções motoras,

sensitivas e cognitivas. Em geral, o neurocientista é responsável por investigar

a integração do indivíduo com o meio ambiente, detectando os processos

físicos e químicos que desencadeiam respostas musculares e glandulares. É

de suma relevância que os profissionais envolvidos na educação

compreendam que a ação comportamental de seu educando é o resultado de

uma atividade cerebral dinâmica.

A Neurociência e a Educação estão intimamente ligadas ao

desenvolvimento cerebral, o qual se molda aos estímulos do ambiente, sendo

assim, o estudo da aprendizagem une as duas ciências. A aprendizagem é

afinal um processo fundamental da vida. Todo indivíduo aprende e, por meio da

aprendizagem, desenvolve os comportamentos que os possibilitam viver.

Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados da

aprendizagem. Dentro deste cenário, pesquisadores em educação tem tido a

postura otimista de que as descobertas em Neurociência contribuem para a

teoria e práticas educacionais. O corpo, a emoção e a razão são indivisíveis e

inseparáveis, é uma visão íntegra e holística. A Neurociência revelou dados

surpreendentes sobre o funcionamento do cérebro, o crescimento de novos

neurônios e afirmou que a inteligência não é única e nem fixa, como se

afirmava no passado, a inteligência é concebida como uma função do cérebro

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e várias partes dele estão envolvidas em qualquer ação inteligente. Nesse

sentido, é fundamental compreender o conceito de plasticidade cerebral.

Relvas (2012, p.119) afirma que a plasticidade cerebral é a

denominação das capacidades adaptativas do sistema nervoso cerebral, ou

seja, é a sua habilidade para modificar sua organização estrutural própria e

funcionamento. É a capacidade que o cérebro tem em se remodelar em função

das experiências do sujeito, reformulando as suas conexões em virtude das

necessidades e dos fatores do meio ambiente.

Considerando a plasticidade do cérebro, o professor que assume o

papel de mediador e estimulador na aprendizagem do aluno, poderá garantir a

qualidade no ensino e resultado em sala de aula. Entretanto, se for precária a

qualidade da mediação, as sinapses provocadas no cérebro deste aluno

também serão ineficientes durante esse processo de aprender. A partir do

momento que o professor passa a entender o funcionamento do sistema

nervoso e do processo de aprendizagem, ele compreende a necessidade de

sempre inovar, instigar, propor atividades diferenciadas e que façam sentido

para o aluno, desenvolvendo melhor seu trabalho, podendo intervir de modo

efetivo em sua prática, para um melhor desempenho do aluno.

A atuação do professor é determinante na interação do processo de

aprendizagem, pois a maneira como o educador vê o educando interfere

significativamente na maneira como a aprendizagem acontece, bem como na

forma como o aprendiz se coloca no seu processo de sujeito construtor do

conhecimento. A confiança da criança é legitimada pelo conhecimento e pelas

atitudes do educador. Não há aprendizagem eficaz, qualquer que seja, sem o

estabelecimento de uma relação segura, constante e franca por meio da qual o

saber possa transitar sem tropeços. No processo ensino-aprendizagem, o

educador pode criar oportunidades e estratégias que permitam que todos os

alunos, e não só os mais rápidos, aprendam de acordo com o ritmo próprio de

cada um, com confiança, sentindo-se apoiados e incentivados a refletir, a

levantar questões, a comparar, a propor, a pesquisar; enfim, a construir a sua

própria aprendizagem. Essa atitude influenciará na autoestima do aluno.

No capítulo 1 será desenvolvido como a Neurociência favorece o

processo da aprendizagem. Em seguida, o capítulo 2 fará uma abordagem

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sobre a influência da autoestima sob o olhar da Neurociência, e posteriormente

será apresentado no capítulo 3 como as metodologias ativas podem estimular

o cérebro.

Os avanços e descobertas na área da Neurociência, o estudo de como o

cérebro aprende desvenda o que antes era desconhecido no momento da

aprendizagem e elucida a necessidade de estratégias adequadas em um

processo de ensino dinâmico e prazeroso.

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CAPÍTULO I

NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM: COMO O

CÉREBRO APRENDE

Neurociência é uma ciência que consiste no estudo do Sistema

Nervoso Central (SNC) e sua funcionalidades, além de estruturas, processos de

desenvolvimento e alguma alteração que possa surgir no decorrer da vida, sobretudo,

como este sistema é capaz de aprender e como o cérebro se molda mediante a

uma nova aprendizagem. Segundo Lent (2010, p. 149)), “A capacidade de

adaptação do sistema nervoso, especialmente a dos neurônios, às mudanças

nas condições do ambiente que ocorrem no dia a dia da vida dos indivíduos,

chama-se neuroplasticidade, ou simplesmente plasticidade, um conceito amplo

que se estende desde a resposta a lesões traumáticas destrutivas, até as sutis

alterações resultantes dos processos de aprendizagem e memória. Toda vez

que alguma forma de energia proveniente do ambiente de algum modo incide

sobre o sistema nervoso, deixa nele alguma marca, isto é, modifica-o de

alguma maneira. E como isso ocorre em todos os momentos da vida, a

neuroplasticidade é uma característica marcante e constante da função neural.”

Relvas (2012, p. 145) salienta a importância da plasticidade cerebral e diz que:

O cérebro humano tem a capacidade de se adaptar às novas situações, isso porque é dotado de estruturas celulares denominadas neurônios que realizam sinapse em cada informação recebida e processada pelo cérebro. Essa capacidade de reorganização denomina-se plasticidade cerebral, considerado o ponto culminante da nossa existência, e desenvolvimento que se dá ao longo da vida.

1.1. A importância dos estímulos na aprendizagem escolar

A partir dos conhecimentos da Neurociência, o professor passa a

compreender o funcionamento do sistema nervoso e como se processa a

aprendizagem. Ele percebe o quão necessário se torna inovar, instigar, propor

atividades diferenciadas e que façam sentido para o aluno, desenvolvendo

melhor seu trabalho, podendo intervir de modo efetivo em sua prática, para um

desempenho progressivo do aluno.

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Na atual conjuntura que a educação vem sendo instituída torna-se

necessário ter clara a importância de desenvolver o potencial do aluno de

forma plena, embasado em suas reais condições, visando sempre a expansão

de sua aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, respeitando suas

limitações e levando em consideração seus aspectos físicos, cognitivos,

emocionais, linguísticos, afetivos e sociais. Afinal, é de extrema importância

que o professor proporcione a seus alunos práticas eficazes de ensino.

Segundo estudos da Neurociência, o neurônio é definido como uma

célula especializada e extremamente estimulável que, junto com as células da

glia (cuja função é dar sustentação aos neurônios e auxiliar o seu

funcionamento), formam o sistema nervoso. As células nervosas são

constituídas por quatro partes: o corpo celular, que é a região onde se encontra

o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas; os dendritos, que são

prolongamentos finos e ramificados que conduzem os estímulos captados do

ambiente ou de outras células em direção ao corpo celular; o axônio,

responsável por conduzir os sinais; e as terminações do axônio ou botões

terminais.

De acordo com Meneses (2015, p.2), “Os neurônios têm a capacidade

de responder as alterações do meio em que se encontram (estímulos) com

modificações da diferença de potencial elétrico que existe entre as superfícies

externa e interna da membrana celular (É o chamado potencial de membrana).

As células que exibem essa propriedade, neurônios, células musculares e de

algumas glândulas, são ditas excitáveis. Os neurônios reagem prontamente

aos estímulos, e a modificação do potencial elétrico pode restringir-se ao local

do estímulo ou propagar-se ao restante da célula, através da membrana.”

Os neurônios estabelecem conexões entre si, de modo que podem

transmitir aos demais os estímulos recebidos, criando assim uma reação em

cadeia e permitindo que as células do cérebro se comuniquem. Essa

comunicação acontece através das sinapses elétricas e químicas. As sinapses

elétricas ocorrem quando o estímulo entra no organismo através dos nervos

aferentes, chegando ao córtex e desencadeando um potencial de ação.

Quando um impulso nervoso atinge o final de um neurônio, há a liberação de

um produto químico ou neurotransmissor. Assim, a sinapse constitui-se na

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transmissão das informações de uma célula para a outra. Isso acontece

através de uma região de contato muito próxima entre os botões terminais do

neurônio anterior e os dendritos dos neurônios seguintes, de maneira que

quanto mais sinapses se desenvolverem, maior será o aprendizado ao longo

da vida, já que é por meio destas trocas que ocorre a aprendizagem.

É possível afirmar que quanto mais o ser humano, seja em qualquer

fase da sua vida, estimular o cérebro, maior será a sua capacidade de

aprender. Daí a importância de possibilitar na sala de aula diferentes situações

de aprendizagem, com questões desafiadoras que despertem o interesse e a

curiosidade dos estudantes. Isso pode ser favorecido em um ambiente que

promova a interação das crianças, a troca de experiências, o levantamento de

hipóteses, a observação, a experimentação, a discussão das ideias na tentativa

de solucionar os problemas.

Mediante aos estudos da neurociência e suas descobertas, fica claro

que é muito difícil promover os avanços no desenvolvimento do aluno quando o

conteúdo já está pronto e acabado, numa situação em que a criança não

precisa refletir e interagir com os colegas e com o professor, adotando uma

postura passiva em sala de aula. É necessário garantir aos educandos uma

pluralidade de recursos, tais como a leitura e os momentos dos contos para

ativar a imaginação e a criatividade, os jogos de tabuleiro ou de lógica, quebra

cabeça, palavras cruzadas, atividades musicais que trabalhem os sons, ritmos

e passos, a expressão artística. É importante ressaltar a importância dos

projetos, no que diz respeito a mudança de atitude. Um projeto bem elaborado,

com objetivos definidos pautado em uma proposta inovadora e atraente. Do

mesmo modo, as brincadeiras e os diversos tipos de brinquedos, de acordo

com a faixa etária dos alunos, propõem bastantes desafios de uma maneira

lúdica e prazerosa. Enfim, inúmeras são as possibilidades de trabalho para ser

realizado em sala de aula, dada a importância do estímulo para a formação de

novas sinapses.

É imprescindível que o educador saiba intervir adequadamente em prol

do desenvolvimento e da aprendizagem dos alunos. Segundo Relvas (2012,

p.12), “O professor que não fomenta à curiosidade de seus alunos inibe o

potencial de inteligências e afetividade no processo de aprender. O cérebro

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humano no início de uma aula solicita, por meio de suas conexões neurais,

fatos novos, pois a concentração inicial é fundamental para receber novas

informações, devido à produção de acetilcolina, que mantêm os movimentos de

sinapses na célula neural.”

Portanto, o uso de estratégias adequadas em um processo de ensino

dinâmico e prazeroso provocará consequentemente, alterações na quantidade

e qualidade destas conexões sinápticas, afetando assim o funcionamento

cerebral de forma positiva e permanente, com resultados extremamente

satisfatórios.

1.2. Processo da aprendizagem – A importância da memória

Diariamente inúmeras informações são divulgadas, as quais são

selecionadas (de forma consciente ou não), para posteriormente serem

armazenadas ou eliminadas. O processo de armazenamento das informações

que podem ser recuperadas no futuro é designado de memória.

O termo memória é uma ampla denominação para o elevado número de

processos que formam as pontes entre o passado e o presente. A memória é o

processo cognitivo que compreende a retenção e a recuperação da

informação. É um sistema aberto em que a informação é adquirida (aquisição e

codificação), armazenada (retenção), podendo depois ser recuperada ou

evocada (recordação). Lembrar implica um processo ativo de reconstrução das

informações e estímulos anteriormente adquiridos, codificados e armazenados.

Lent (2010, p. 649) afirma que “A memória pode ser classificada em (1)

memória ultrarrápida ou imediata, cuja retenção não dura mais que alguns

segundos; (2) memória de curta duração, que dura minutos ou horas e serve

para proporcionar a continuidade do nosso sentido do presente e (3) memória

de longa duração, que estabelece engramas duradouros (dias, semanas e até

mesmo anos).”

A memória, segundo Lent, também pode ser classificada em memória

explícita ou declarativa, memória implícita ou não declarativa e memória

operacional ou memória de trabalho. A memória explícita armazena e evoca

informação de fatos e de dados levados ao nosso conhecimento através dos

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sentidos e de processos internos do cérebro, como associação de dados,

dedução e criação de ideias. Esse tipo de memória é levado ao nível

consciente através de proposições verbais, imagens, sons, etc. A memória

declarativa inclui a memória de fatos vivenciados pela pessoa (memória

episódica) e de informações adquiridas pela transmissão do saber de forma

escrita, visual e sonora (memória semântica). A memória não declarativa ou

implícita contém dados de acesso inconsciente relacionados a habilidades e

procedimentos automáticos. Dirigir, jogar futebol, dar um nó na gravata são

exemplos de procedimentos que ficam armazenados na memória não-

declarativa, ou seja, no inconsciente. A memória operacional, também

conhecida como memória de trabalho, corresponde à capacidade do cérebro

de assimilar informações à medida que determinadas tarefas são realizadas,

sendo fundamental para o processo de aprendizagem, compreensão da

linguagem, raciocínio lógico e resolução de problemas, além de ser essencial

para melhor desenvolvimento no trabalho e estudos. A memória operacional

pressupõe o armazenamento temporário, mas também a manipulação de

informações, de modo a permitir que as pessoas executem atividades

complexas como raciocínio, aprendizado e a compreensão.

A aprendizagem é a informação que fica na memória de longa duração,

podendo ser resgatada sempre que necessário. Aprender não é só memorizar

informações. É preciso saber relacioná-las e refletir sobre elas. É tarefa do

professor, então, apresentar bons pontos de ancoragem, para que os

conteúdos sejam aprendidos e fiquem na memória, e dar condições para que o

aluno construa sentido sobre o que está vendo em sala. A pedagogia

contemporânea necessita utilizar-se das diversas ferramentas disponíveis para

subsidiar uma diversidade de abordagens que promovam a construção de

habilidades e competências consoantes com as exigências dos contextos

sociais pós-moderno. As novas estratégias de ensino requerem o

conhecimento desses processadores cerebrais complexos para que sejam

melhor ativados e colocados a serviço da construção de novas aprendizagens.

Por conseguinte, o profissional da educação precisa estar apto a conhecer as

mais adequadas formas de ativar as áreas do cérebro responsáveis pela

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melhor apreensão dos conteúdos, aprimorando por essa via sua prática

educativa.

A Neurociência se constitui assim em atual e uma grande aliada do

professor para poder identificar o indivíduo como ser único, pensante, atuante,

que aprende de uma maneira singular. Desvendando os mistérios que

envolvem o cérebro no momento da aprendizagem, a neurociência disponibiliza

ao moderno professor impressionantes e sólidos conhecimentos sobre como se

processam a linguagem, a memória, o esquecimento, o humor, o sono, a

atenção, o medo, como incorporamos o conhecimento, o desenvolvimento

infantil, as nuances do desenvolvimento cerebral e os processos que estão

envolvidos na aprendizagem acadêmica. Reconhecer esses novos e

fascinantes conhecimentos é imprescindível e de fundamental importância para

uma pedagogia moderna, ativa, contemporânea, que se mostre atuante e

voltada às exigências do aprendizado em nosso mundo globalizado, veloz,

complexo e cada vez mais exigente.

De acordo com os estudos da Neurociência, a repetição de uma

informação é essencial para a sua memorização. Mas isso não deve acontecer

de forma simples. É essencial trabalhar uma metodologia em cima da repetição

da informação para que ela seja passada com emoção, despertando outros

sentidos nos alunos que farão com que um conteúdo seja fixado de forma

eficaz. Um dos grandes problemas vistos em sala de aula que dificultam o

processo de aprendizagem, é a explicação de um conteúdo sem uma

contextualização. De acordo com a Neurociência, uma pessoa consegue

compreender uma informação de forma satisfatória quando ela é aplicada ao

seu contexto.

Relvas (2012, p.20) afirma que “Os educadores atualmente precisam

conhecer vesse incrível mundo chamado cérebro humano para elaborar, definir

e organizar melhor conceitos sobre aprendizagem, identificando, por meio do

sistema nervoso central, seus processos e como produzem modificações

funcional ou comportamental, permitindo a melhor adaptação do indivíduo ao

seu meio como resposta a uma solicitação interna ou externa do organismo.

Dito de outra forma, quando um estímulo já é conhecido do sistema nervoso

central, desencadeia uma lembrança; quando um estímulo é novo,

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desencadeia uma mudança. Essa é a maneira de se entender a aprendizagem

do ponto de vista científico.”

1.2.1. O impacto das emoções nos processos de memória

Uma área de pesquisa que vem apresentando resultados promissores é

a investigação da relação entre memória e emoção. Segundo Lent, (2010, p.

670) “Todas as funções do sistema nervoso podem ser moduladas. Isso

significa que o seu funcionamento pode ser ativado ou desativado, acelerado

ou desacelerado, fortalecido ou enfraquecido, segundo as necessidades de

cada momento. (...) Também a memória pode ser modulada, isto é, pode ser

“fortalecida” ou “enfraquecida” por situações que dão contornos aos eventos.

Guardamos com mais facilidade os fatos de nossa vida que têm um forte

componente emocional, positivo ou negativo: a morte de uma pessoa querida,

o nascimento de um filho, um evento trágico presenciado na rua, o primeiro

encontro com uma pessoa amada, e assim por diante. A emoção representa

um importante componente modulador da memória, mas não é o único.

Também o estado de alerta e a atenção atua sobre ela. Lembramos mais

facilmente os acontecimentos de cada dia que ocorrem depois que passamos

aquela fase sonolenta da manhã, e mais ainda se concentramos a atenção em

alguma coisa importante.”

O hipocampo é uma estrutura encontrada nos lóbulos temporais

do cérebro dos seres humanos, tanto do lado direito quanto do lado esquerdo,

abaixo da superfície cortical. Ele possui uma forma que remete a um cavalo

marinho, sendo esta semelhança a origem do seu nome: a junção das palavras

gregas “hipo” para o cavalo e os “kampos” para o mar. Pode ser considerado o

principal local de armazenamento temporário da memória, principalmente a

memória a longo prazo. Faz parte do sistema límbico, que é o conjunto de

estruturas responsáveis basicamente por controlar as emoções e as funções

de aprendizado e da memória.

Pode-se perceber que o hipocampo é um caminho importante para que

as lembranças antigas sejam armazenadas, contudo não é o lugar onde são

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guardadas. As lembranças são levadas para o hipocampo (memória

temporária) e logo depois elas vão para o córtex cerebral (é a camada mais

externa do cérebro dos vertebrados, é rico em neurônios). O hipocampo irá

informar ao córtex cerebral da importância de se reforçar determinada

informação, assim, consolidando a memória sobre algum evento. Quando o

hipocampo é deteriorado por falta de oxigênio, infecção e outras disfunções, a

pessoa irá ter amnésia e não conseguirá mais guardar lembranças.

Sabe-se, então, que o cérebro é ativado em seu aspecto neuroquímico,

biológico, anatômico, psicossocial, fisiológico, celular e emocional. Nesse

aspecto, a neurociência vem como base para a aprendizagem, auxiliando o

educador em suas intervenções para melhor significar a cognição e interesse

para que o cérebro guarde na memória de longo prazo o conhecimento

promovido. Portanto, um clima emocional estável auxilia na aprendizagem, e se

o indivíduo não o tem em seu ambiente social, é possível que o tenha no

ambiente educativo de suas aprendizagens, e aqui conduz o educador-

pesquisador, ciente de seu compromisso com o outro e de sua

responsabilidade. Portanto, a aprendizagem se faz em ambiente agradável,

equilibrado, feliz e isto deve ser pensado pelo educador e de que forma se

dará. Conhecendo sua clientela, se apropriando da afetividade, criando um

ambiente motivacional, ativará áreas do cérebro que estarão em conformidade

com as propostas e regras estabelecidas pelo grupo.

A contribuição da Neurociência apoia e fundamenta a pedagogia da

aprendizagem, fomentando diversificação da aplicabilidade da fala do

educador, da emoção com que ele trabalha com conceitos, da alegria que ele

carrega e mostra aos educandos. As crianças e adolescentes sentem esta

interação e desenvolvem e reagem de acordo com os estímulos que recebe.

Portanto, a afetividade se entrelaça com o saber, com o seu desenvolvimento e

o indivíduo feliz reage positivamente a novas informações. Sendo o estudo das

emoções fator preponderante na descoberta da relação homem e mundo,

necessário se faz integrar a esse contexto reflexões acerca de como o

processo de aprendizagem pode ser melhor trabalhado quando priorizada a

utilização de meios e metodologias que viabilizem sua inserção no processo

19

emocional da pessoa, buscando assim a fixação do conhecimento enquanto

parte integrante da vivência de cada um.

A Neurociência tem mostrado que os processos cognitivos e emocionais

estão profundamente relacionados no funcionamento do cérebro. Segundo

Lent (2010, p.715), “Na verdade, razão e emoção são aspectos genéricos de

um mesmo contínuo e expressam as mais sofisticadas propriedades do

cérebro humano.”

Assim, considerar emoção e cognição como elementos separados ou

independentes, impede o verdadeiro estudo de suas relações, pois o ser

humano comunga desta ligação para orientar suas ações e seu processo de

aprendizagem. Os estados mentais são provenientes de padrões de atividades

neurais, logo a aprendizagem é alcançada através da estimulação das

conexões neurais, podendo ou não ser fortalecida, dependendo da qualidade

da intervenção pedagógica. Proporcionar uma boa aprendizagem para o aluno,

não depende só do professor. É fundamental ajudar o aluno a perceber sua

individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de aprender. Nesse

contexto, conhecer o seu padrão de pensamento pessoal e saber como usá-lo,

é o primeiro passo para ser um participante ativo no processo de

aprendizagem. Partindo deste pressuposto, é mister afirmar que cabe ao

professor oferecer através de sua prática, um ambiente que respeite as

diferenças individuais, permitindo que os aprendizes se sintam estimulados do

ponto de vista cognitivo e emocional.

Brandão (2004, p. 121) afirma que “Existe grande concordância na

proposição de que emoção e motivação estão estreitamente relacionados.

Assim, se definirmos estado motivacional por um impulso ou “drive”, que impele

o organismo a alguma ação que visa a satisfação de objetivos ou resulta em

aumento ou diminuição de um conflito, a emoção seria a consequência de um

comportamento motivado, quer tenha ou não cumprido sua finalidade.” Desta

forma, é importante que o professor compreenda o funcionamento, as relações

e a influência que as emoções têm no processo de ensino e aprendizagem,

auxiliando-o na tomada de decisão que irá estimular o aluno efetivamente e

facilitar o processo da aprendizagem.

20

Ao dissertar sobre a emoção, Damásio (2012, p. 154), expõe o seu

pensamento: “Vejo a essência da emoção como a coleção de mudanças no

estado do corpo que são induzidas numa infinidade de órgãos por meio das

terminações das células nervosas sob o controle de um sistema cerebral

dedicado, o qual responde ao conteúdo dos pensamentos relativos a uma

determinada entidade ou acontecimento. Muitas das alterações do estado do

corpo – na cor da pele, postura corporal e expressão facial, por exemplo - são

efetivamente perceptíveis para um observador externo. (Com efeito, a

etimologia da palavra sugere corretamente uma direção externa a partir do

corpo: emoção significa literalmente “movimento para fora”.) Existem outras

alterações do estado do corpo que só são perceptíveis para o dono desse

corpo. Mas as emoções vão além da sua essência.”

De acordo com a Neurociência, o aprendizado e a memória são fases

diferentes do mesmo mecanismo progressivo e contínuo. Sem memória, o

aprendizado se torna impossível e, sem aprendizado, não existe memória.

Aprendizagem, memória e emoção ficam interligadas, quando ativadas pelo

processo de aquisição do conhecimento. O desafio para a educação não é

apenas saber como ensinar ou como avaliar, mas apresentar o conhecimento

em um formato que o cérebro aprenda melhor. Salienta-se que, na

aprendizagem, sendo esta uma atividade social, os alunos precisam de

oportunidades para discutir tópicos em um ambiente tranquilo, que possibilita o

encorajamento à exposição de seus sentimentos e ideias.

21

CAPÍTULO II

A INFLUÊNCIA DA AUTOESTIMA NO PROCESSO DA

APRENDIZAGEM – UMA ABORDAGEM

NEUROCIENTÍFICA

“A aprendizagem, a princípio, é cognitiva, mas a base é emocional. O

professor é o encantador dos conteúdos curriculares, podendo promover

sinapses de qualidade no cérebro de seus alunos, com emoções positivas e

ativando o cérebro de recompensa.” (Relvas, 2017, p. 120)

A dopamina é uma substância neuromoduladora que é capaz de

modificar as atividades elétricas dos neurônios quando as recebe. Quanto

maior a quantidade de dopamina que se recebe, maior é a motivação, maior é

a sensação de bem-estar que será associado aquele comportamento.

Portanto, há uma tendência a repetir estímulos que possam ativar nosso

sistema de recompensa. Se o aluno recebe um elogio do professor por

determinada situação, com certeza irá querer repetir a ação para receber novos

elogios. Se disser para tal pessoa que o sorriso dela é encantador, certamente

ela vai sorrir com muito mais frequência.

O objetivo do nosso cérebro é manter-se vivo, e isso inclui a

manutenção de um sentido positivo do Eu. Todos querem ser alguém validado

pelos outros e isso só será possível se houver segurança emocional e uma

autoestima autêntica. A autoestima é uma interação emocional-cognitiva

desenvolvida, existente entre áreas límbicas e o córtex frontal do cérebro. As

redes neuronais associadas à autoestima são construídas ao longo do tempo

através da linguagem, da reflexão, do apoio em aprendizagens anteriores.

Através das experiências, o cérebro torna-se cada vez mais confortável e

a autoestima é desenvolvida. Segundo Relvas (2017) “Educar a emoção é

promover a habilidade relacionada com o motivar a si mesmo e persistir

mediante frustrações, controlar impulsos, canalizando emoções para situações

apropriadas. A escola é um dos espaços para se despertarem essas relações,

sendo necessário que se incluam no currículo escolar estudos sobre as

“Habilidades Sociais e Emocionais, na aprendizagem cognitiva de conteúdos

22

escolares com mais sentido e significado para a vida”. Além disso, praticar

gratificações prorrogadas, incentivar e estimular a criança, ajudando-a a liberar

seu melhor talento e conseguir seu engajamento aos objetivos de interesses

comuns.”

A motivação para a aprendizagem passa pelas emoções e o resultado

delas colore as avaliações e os rótulos aos educandos, desde as séries iniciais,

traçando a trajetória escolar dos mesmos ao longo do processo de aprender.

Desta forma, é de suma importância reconhecer os espaços geográficos, torná-

los agradáveis, equilibrar emoções para atender a demanda existente em

nossos espaços educativos, estabelecer vínculos sólidos, promovendo

segurança, confiança e afeto, pois só desta forma as deficiências/ faltas serão,

de alguma forma, dirimidas nos ambientes educacionais. Cabe ressaltar que o

respeito em relação ao educando é importante, pois somos modelos das ações

dos mesmos.

Para Relvas (2017, p. 80) “É fundamental estabelecer o vínculo de

confiança e afetividade na relação da aprendizagem escolar e compreender

que os “atrasados” não existem no processo educacional. Cada criança é única

dentro dos aspectos cognitivos, emocionais, afetivos e sociais. Para que a

criança goste da escola e transforme as informações em conhecimentos para

vida, o educador precisa estar atento quanto ao domínio da linguagem,

enfatizando textos, poemas, oralidade e sistematizar o conhecimento linguístico

formal e não formal com a criança; à capacidade visual, ao promover a criação

com ou sem estímulos visuais, explorando formas, cores, construção de jogos,

usando o corpo como ferramenta de estímulos; à competência auditiva,

propondo atividades de criação de sons, intensidade e ritmo, ao promover

atividades corporais, usando a dança, música, permitindo uma coreografia

usando fitas, bandeiras, balões para serem habilmente manejados no ar. A

escola não pode ser um ambiente autoritário, deve ser renovadora, flexível e

com possibilidades para questionamentos. É preciso possibilitar a escuta dos

sentimentos e outros estados mentais de si mesmo e do outro, reconhecer que

a aula não precisa ser realizada somente dentro da sala convencional,

permitindo um passeio ao ar livre para observar os pássaros, as árvores, a

construção do espaço físico da escola, promovendo os conhecimentos

23

alicerçados na Ciência, além de permitir que a criança pense e provoque a

reflexão – “a melhor escola não é aquela que transmite conteúdos densos e de

repetição, mas aquela que provoca e promove o pensar e que permite

questionamentos e dúvidas”.

2.1. Afetividade e Aprendizagem

A afetividade se entrelaça com o saber, com o seu desenvolvimento e o

indivíduo feliz reage positivamente a novas informações, pois sua autoestima

está organizada e equilibrada, pronta para novos estímulos, sejam eles

desafiadores, dramáticos, cômicos e físicos. A capacidade dos indivíduos de se

emocionarem os faz diferente, podendo reconstruir o mundo e o conhecimento,

também, a partir das emoções e do afeto que impulsionam a vida, e, não

apenas do ensino mecanizado da vida.

Relvas (2012, p. 141) em seu livro Neurociência na Prática Pedagógica

destaca a importância da afetividade no processo da aprendizagem: “Penso,

que o novo caminho que o professor pode percorrer a fim de despertar o

interesse do estudante diante de novas aprendizagens é por meio das

conexões afetivas e emocionais do sistema límbico, ou melhor, ativando o

cérebro de recompensa, isso sim é que precisamos provocar, porque as

tecnologias sempre mudarão, outras ferramentas mais rápidas, mais eficazes e

menores para atender às necessidades dos espaços físicos e ambientais serão

recriadas ou reinventadas. Porém, as relações afetivas precisam ser

preservadas e respeitadas, pois são centelhas energéticas que provocam a

liberação de substâncias naturais conhecidas como serotonina e dopamina

relacionadas à satisfação, ao prazer e ao humor, sendo que, ao inverso, o

estresse na sala de aula provoca a liberação de adrenalina e cortisol,

substâncias que agem verdadeiramente como bloqueadores da aprendizagem,

pois provocam um alteração na fisiologia do neurônio, interrompendo as

transmissões das informações sinápticas.”

Entende-se que o ambiente alegre e afetivo motiva as interações, gera

alegria, renova energias, gera mudança de ações, impulsiona o indivíduo a

crescer saudável emocionalmente. De acordo com Relvas (2017, p. 60) “A sala

24

de aula pode ser esse espaço de encontro entre os conhecimentos diversos

que permearão pela relação pedagógica, composta por “família – professor –

aluno – conhecimento” e que sempre envolve diferentes dimensões, entre as

quais destacam: as de ordem afetiva, relacionadas às expectativas de cada

um; às de ordem pedagógica, relacionadas aos recursos didáticos e diferentes

estratégias de ensino que o professor tem à sua disposição; e as de ordem

epistemológica, relacionadas às características do conhecimento que se deseja

ensinar. Todas essas dimensões estão envolvidas na tomada de decisões do

professor e em suas ações, o que exige um trabalho constante de

aperfeiçoamento.

No aspecto afetivo trabalham em equipe: a família, a escola e a

sociedade, a primeira dando os primeiros aportes afetivos, sociais, psicológicos

e morais; a segunda dando segmento ao primeiro e promovendo alegria e

prazer no desenvolvimento integral do ser e o terceiro alicerçando o bem estar,

as oportunidades, o reconhecimento das potencialidades individuais na

diversidade da sociedade em que se vive.

A emoção tem um papel fundamental na modulação da memória afetiva.

Ela pode ser fortalecida ou enfraquecida, dependendo da carga emocional que

colocamos no evento, ou seja, cada trauma, conquistas, primeiras

experiências, eventos importantes, entre outras situações, que vêm carregadas

de fortes cargas emocionais, afetam diretamente toda a nossa química

cerebral. Nesse sentido, o sistema límbico influencia a todo o momento o

processo da aprendizagem.

Machado (2004, p.285) conceitua o sistema límbico, explicando que “Na

face medial de cada hemisfério cerebral observa-se um anel cortical contínuo

constituído pelo giro do cíngulo, giro para-hipocampal e hipocampo. Este anel

cortical contorna as formações inter-hemisféricas e foi considerado por Broca

como um lobo independente, o grande lobo límbico (de limbo, contorno). Este

lobo é filogeneticamente muito antigo, existindo em todos os vertebrados.

Apresenta uma certa uniformidade citoarquitetural, pois seu córtex é mais

simples que o do isocórtex que o circunda. Do ponto de vista funcional admitiu-

se durante muito tempo que o lobo límbico teria funções olfatórias, fazendo

parte do chamado rinencéfalo, ou encéfalo olfatório. Em 1937, o

25

neuroanatomista James Papez publicou um trabalho famoso, no qual propunha

uma nova teria para explicar o mecanismo da emoção. Este mecanismo

envolve as estruturas do lobo límbico, do hipotálamo e do tálamo, todas unidas

por um circuito hoje conhecido como circuito de Papez. Estas estruturas

compreenderiam um mecanismo harmonioso, que não só elaboraria o

processo subjetivo central da emoção, mas também participaria de sua

expressão. O trabalho de Papez foi fundamentalmente teórico e especulativo,

embora ele chamasse a atenção para certos dados clínicos, como as

dramáticas alterações do comportamento emocional causadas pela raiva

(hidrofobia), cujo vírus lesa preferencialmente o hipocampo. Embora muitos

aspectos da teoria da emoção de Papez não sejam mais aceitos, o ponto

fundamental, isto é, a importância das estruturas do lobo límbico e de suas

conexões nas manifestações emocionais está hoje, amplamente confirmado.”

A palavra emoção tem a sua origem no verbo mover, que significa tudo

ou aquilo que faz movimentar ou mexer, e isto só ocorre quando o indivíduo se

sente motivado ou impulsionado a fazer algo ou tomar alguma atitude.

Os seres humanos são dotados de sentimentos, emoções, pensamentos

e experiências, que os tornam únicos e especiais, e desta forma levam esta

bagagem de vivencias e emoções em todo e qualquer conhecimento e

aprendizagem que agregam. Isto ocorre porque a amígdala, parte do cérebro

responsável pelo processamento das emoções, também atua de maneira ativa

nas áreas da cognição, memória, atenção e raciocínio.

Para Relvas (2017, p. 71) “O professor que conheça o funcionamento do

cérebro cognitivo, emocional e motor tem mais condições de promover uma

aula mais participativa dos seus educandos, pois seus conteúdos poderão ser

emoldurados de diferentes maneiras com desafios afetivos e emocionais, como

por exemplo, dramatização, textos, filmes, jogos, usando tecnologias etc.”

Para que a aprendizagem ocorra de maneira eficaz e duradoura, é

necessário que ela desperte no aprendiz alguma emoção ou significado, pois

quanto maior for o interesse e a motivação por determinado assunto ou tema,

maior será a absorção e a facilidade na aquisição deste conhecimento. Em

contrapartida, quando um fato gera forte angústia ou carga emocional, podem

ser provocadas falhas temporárias na atenção e na concentração, impedindo o

26

desenvolvimento de uma nova aprendizagem, e gerando no indivíduo o

chamado “branco” em provas ou atividades escolares.

As emoções, quando gerenciadas de forma equilibrada e sadia,

propiciam aprendizagens benéficas e prazerosas, componentes indispensáveis

para o desenvolvimento intelectual e cognitivo de todo aluno.

2.2. Um diálogo entre a Neurociência e a Educação

O foco da Educação por muito tempo esteve direcionado para ensino

mecânico e voltado a um grupo homogêneo de alunos, sem dar a devida

atenção a especificidade, a individualidade e a forma com que cada um

aprende.

As informações eram “transmitidas” pelo docente e os alunos as

recebiam e aceitavam sem questionamento. O problema é que essas

informações eram perdidas, sem ser apreendidas, uma vez que os alunos não

conseguiam relacioná-las às vivências ou conhecimentos anteriores.

De acordo com Relvas (2012, p.82) “As instituições escolares há muitos

anos vêm oferecendo aos seus educandos salas onde estes são colocados de

forma preestabelecidas, obedecendo alguns critérios, tais como: idade,

tamanho, comportamento, capacidade de conhecimentos adquiridos entre

outros dependendo ainda dos critérios adotados pelo professor. Em sua

maioria, encontram-se educandos sentados em carteiras individuais e

enfileirados, uns atrás dos outros, independente de vontade, sensibilidade

auditiva, capacidade visual ou simplesmente sem respeitar as afinidades.

Supõe-se também que as turmas são homogêneas e, apesar de serem

compostas por 30, 40 alunos, todos devem receber a mesma dosagem de

exercícios, esses com o mesmo nível de dificuldades esperando-se que sejam

realizados ao mesmo tempo por todos. E aqueles que não conseguirem por

serem mais lentos podem terminar no recreio, após a aula, em casa ou até

mesmo não terminar, já que são educandos com muita dificuldade e não

possuem competência para tal feito. Essa escola pode não favorecer a

aprendizagem, já que não atende os mais lentos, pois não possuem tempo

27

para esperá-los, e não prende a atenção dos mais rápidos, pois não consegue

corresponder às suas necessidades, obrigando-os a ficarem parados sem

atividades, com as mãos e os cérebros vazios, ouvindo atentamente ao

comando do professor.”

A escola tem a função de ensinar, mas não pode, nunca, ser confundida

com produção em massa. Afinal o “produto da escola” é o mais valioso de

todos: o ser humano, com ideias, opiniões e sentimentos. Neste caso o termo

ensinar acaba tendo uma conotação bem diferente do que antes; pois hoje a

escola tem um papel que vai além de ensinar conteúdos como: auxiliar o aluno

a perceber sua individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de

aprender (metacognição), proporcionar a otimização de suas habilidades,

facilitar o processo de aprendizagem e criar condições de aprender a aprender.

Hoje, a escola tem à disposição uma infinidade de recursos, além de estudos e

pesquisas científicas que podem nortear a prática pedagógica.

A Neurociência é um desses valiosos recursos para os educadores.

Nada mais justo, se é nítido que a aprendizagem se dá por processos neurais

onde se concentram os estudos da Neurociência.

Um engano comum é o fato de muitas vezes o professor conhecer o

perfil de seus alunos, mas esquecer da importância do próprio aluno se

conhecer também. A compreensão de como é possível lidar com certas

características pessoais ajudará o aluno a identificar, mobilizar e utilizar suas

características criativas e intuitivas, pois cada um aprende no seu próprio ritmo

e à sua maneira.

Relvas (2012, p. 83), salienta que “Uma sala de aula repleta de

atividades mecânicas impede os alunos de estarem diante de atividades que os

levem a raciocinar, que possam interagir, questionar, concordar, discordar e

situarem-se enquanto indivíduos levando-os às descobertas de estratégias, de

instrumentos que sirvam para dar soluções ao seu problemas.”

Através de sua prática, o professor deverá oferecer um ambiente que

proporcione estímulos do ponto de vista intelectual e emocional. Daí a

necessidade do educador, consciente de seu papel, buscar estruturar o ensino

de modo que os alunos possam construir adequadamente os conhecimentos a

partir de suas habilidades mentais. E para isso, é imprescindível que conheçam

28

os significativos estudos da Neurociência, uma vez que esses, sem dúvida,

influenciam na compreensão dos processos de ensino/aprendizagem.

A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a

memória, o esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo, o humor, a

afetividade, o movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das

imagens que fazemos mentalmente, as imagens que formam o pensamento e o

próprio desenvolvimento infantil. Essas informações são imprescindíveis para a

ação pedagógica.

29

CAPÍTULO III

A NEUROCIÊNCIA DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS

EDUCACIONAIS

Utilizar a tecnologia na educação já é uma necessidade inadiável,

reconhecida por todo profissional do ensino que anda atualizado com as

últimas tendências na área. Dito isso, no entanto, é preciso se dar conta de que

a forma com que esse recurso deve ser empregado em sala de aula nem

sempre é clara. Simplesmente usar ferramentas tecnológicas na escola, como

fim em si mesmas, não é bem o objetivo. Sendo assim, vale a pena pesquisar e

experimentar para descobrir de que maneiras a tecnologia pode ser empregada

para melhorar efetivamente o aprendizado dos alunos e o dia a dia dos

professores. Apostar no uso de ferramentas tecnológicas no ensino já é

requisito para as escolas que desejam se destacar pela inovação e atualização

com as mais modernas tendências pedagógicas. No capítulo 7 do livro A

Neurobiologia da Aprendizagem – Observar, Investigar e Escutar, Relvas

afirma que “Em qualquer área da sociedade, o uso da tecnologia é fundamental

e, em muitos casos é essencial para o desenvolvimento de todas as atividades,

seja na vida pessoal ou profissional do ser humano. O fato é que o uso de

celulares, computadores, Internet, software, dentre tantas outras, oportunizou

interações em grande escala da humanidade, tornando-se quase utópico a não

utilização de tal ferramenta nos diversos setores profissionais. Sendo assim,

pensar a negação da tecnologia em uma ambiente escolar chega ser

inconcebível, já que a mesma pode trazer dinamismo ao processo de ensino-

aprendizagem. No processo educacional, o uso deste recurso tornou-se um

importante meio de estudo e pesquisa e um grande apoio para a ampliação do

conhecimento do aluno e todos os envolvidos no campo educacional.”

Ainda assim, para que a tecnologia não se torne um fim em si mesma, é

preciso estudar as melhores formas de empregá-la a fim de trazer benefícios

para professores e alunos, aumentando a motivação de ambos em sala de

aula.

Estudos da Neurociência sobre como o cérebro aprende e guarda

saberes permitem ao professor uma diversidade de ferramentas e recursos.

30

Tais recursos, se bem utilizados, podem contribuir significativamente com o

processo de ensino e aprendizagem, levando os alunos a uma aprendizagem

significativa.

Segundo Relvas (2012, p.16), em seu livro Que cérebro é esse que

chegou à escola? “As informações são desenvolvidas pelo Cérebro Cognitivo,

Emocional, Motor, Afetivo e Social. Porém, novas tendências que apontam

para esse século é o desenvolvimento do cérebro criativo, autor, inventivo,

intuitivo, genial, que vivencie as incertezas, gerenciando frustrações cotidianas,

sem perder a autoestima. Um cérebro autopoiético, autorregulador, e

reorganizado, adaptável. Se os seres humanos possuem um cérebro com

estruturas cognitivas evoluídas em relação aos outros animais, um neocórtex

que lhes dá propriedade de pensar, então por que não utilizá-lo corretamente?

O cérebro humano é constituído por dois hemisférios, mas que que se

complementam. Então, quando estimulados, elaboram comandos e respostas,

por meio dos circuitos neurais. Por isso, “desafiar” o cérebro é estimulá-lo para

uma aprendizagem criativa.”

Os avanços tecnológicos, a velocidade da difusão da informação e do

conhecimento e os novos padrões de consumo impactaram decisivamente na

forma como se estabelecem os relacionamentos interpessoais. Em razão disso,

o professor, hoje, encontra um novo aluno na sala de aula, sem dúvida alguma,

com as características comportamentais bem diferentes.

Pesquisas da neurociência mostram que, quanto maior a quantidade e a

qualidade de estímulos oferecidos ao aluno, mais eficiente será o seu cérebro.

Sendo assim, é preciso apostar em recursos variados, atividades diversificadas

e prazerosas, metodologias dinâmicas, conteúdos bem trabalhados e

adequados ao perfil do aluno. É importante também o estímulo de propostas

desafiantes e estratégias que garantam o desenvolvimento do seu potencial

cognitivo. Afinal, oferecer situações de aprendizagem, experiências ricas e

atividades intelectuais promove a plasticidade cerebral e como consequência

disso, a inteligência.

Dentro desse contexto, é importante ressaltar que o uso das novas

tecnologias representam grandes estimuladores das redes neurais, uma vez

que promovem motivação e diversão. Ao mesmo tempo, potencializam o

31

desenvolvimento de estratégias, técnicas de raciocínio e resolução de

problemas. Isso é feito a partir do funcionamento integrado de vários processos

mentais, como memória, atenção, concentração, raciocínio, dentre outros.

Relvas (2017, p. 93) ressalta: “As ferramentas tecnológicas, cujo uso

facilita o ensino e a aprendizagem, ajudam-nos a entender melhor o mundo

atual e conhecer os efeitos que nossas ações sobre os desafios educacionais

proporcionam. Temos hoje discussões, diálogos e debates sobre o uso da

tecnologia na educação, sendo um grande desafio para o professor no

processo de ensino, mesmo sabendo da existência de muitas escolas que

seguem todas as regras e normas culturais, as práticas, os métodos e os

recursos considerados tradicionais, resistentes às inovações educacionais. É

imperativo que essas escolas sejam extintas, na sua forma arcaica de pensar.

Atualmente existem novos valores, um olhar diferente de ver o mundo,

possibilidades e necessidades tecnológicas. Sendo assim, ao que se refere à

educação, os recursos tecnológicos permitem o desenvolvimento do aluno nas

suas diversas relações com a realidade, de modo gradual, fazendo-se

necessário nas instituições de ensino.”

Ao fazer um estudo sobre a evolução da espécie humana, é possível

constatar que a tecnologia sempre existiu. O homem, através de suas

invenções e criações, desenvolveu e criou diversas ferramentas em busca de

sua sobrevivência. O que chama a atenção é a velocidade como as

informações chegam atualmente e principalmente de que maneira ela é

processada, decodificada e armazenada. O professor, aquele que assume

efetivamente a responsabilidade de ensinar e provocar desafios inerentes

diante das possibilidades no processo da construção biológica, psicológica e

social do aluno, precisa urgentemente revitalizar suas práticas cotidianas na

sala de aula, despertando potencialidades e melhorando as já existentes da

espécie humana.

Segundo Relvas (2012, p. 146) “A Neurociência objetiva explicar,

modelar e descrever os mecanismos neuronais que sustentam os atos

perceptivos, cognitivos, motores, afetivos e emocionais, disponibilizando os

fundamentos necessários à orientação de aprendizagem. Desse ponto de vista,

cresce a necessidade do professor de incorporar esse conhecimento

32

aprendendo para o enriquecimento de sua prática, seu desenvolvimento e para

saber como privilegiar suas etapas evolutivas.”

Conhecer o processo de aprendizagem tornou-se um grande desafio

para os professores e o ambiente dessa especificidade é a sala de aula,

porque esse espaço está sendo reavaliado pela importância das novas

tecnologias no desenvolvimento do comportamento dos alunos.

É necessário configurar esse lugar de forma que se possa promover

maior convergência dessas tecnologias como interfaces possíveis de

manutenção das aprendizagens, pois esse estudante traz uma experiência

tecnológica no seu cotidiano, extremamente presente nos dias atuais.

O aluno deve ser o sujeito no processo da aprendizagem. É na sala de

aula que esse sujeito precisa ser respeitado em suas singularidades, em razão

da pluralidade existente diante desse professor. Deve-se provocar o desafio

nesse cérebro pensante, reflexivo e, ao mesmo tempo, permitir o diálogo com

as emoções e os afetos em um movimento do corpo que é o reflexo dessas

reações.

As aprendizagens passam pelas sinapses, pelas conexões neuronais, e

pelo envolvimento/interação no ambiente social, pois o nosso cérebro é

plástico, passível de transformações neuroquímicas depois de armazenada

uma determinada informação.

A escola é constituída por profissionais que precisam cada vez mais

estudar e se aperfeiçoar em saberes do contexto da escolarização e da

educação, não bastando apenas lançar e transmitir conhecimentos. É preciso

fazer o educando perceber e reconhecer suas habilidades e competências,

principalmente ter autoconfiança.

O uso da tecnologia pode ser proveitoso no estudo interativo de conteúdos

tornando-os mais atraentes e fazendo com que o aluno adote uma postura mais

participativa. As ferramentas tecnológicas permitem diversificar as metodologias de

ensino a abrir caminho para infinitas possibilidades didáticas. O trabalho com

ambientes virtuais de aprendizagem são exemplos do potencial da tecnologia para

a educação. Os materiais digitais são outro exemplo de como as ferramentas

tecnológicas são capazes de auxiliar o desenvolvimento da educação.

Disponíveis para leitura em computadores, tablets e celulares, os e-books

33

surgem como uma forma de estimular a leitura, permitindo aos alunos aliar

tecnologia e estudos de forma prática. É possível tornar o ambiente escolar

instigante e atrativo para crianças e adolescentes. Exercícios estimulantes,

jogos desafiadores, vídeos didáticos e atividades lúdicas: há uma série de

recursos a serem explorados por alunos e professores. Desse modo, a escola

torna-se um local agradável de se frequentar, evitando, inclusive, a evasão

escolar.

Professores, pais e educadores são os verdadeiros estimuladores do

potencial de ação celular. As células-neurônios especializadas no sistema

nervoso funcionam na propriedade de excitabilidade, a fim de formar novas

conexões neurais. Diante dessa constatação, estão sempre prontas para

receber, transmitir, decodificar e armazenar informações.

O professor continua tentando transmitir dados sem significados e não

provoca no cérebro de recompensa do seu educando o prazer de aprender. O

professor precisa fazer valer o uso de recursos não necessariamente

tecnológicos, mas da extensão do próprio corpo, que é a principal ferramenta

de aprendizagem.

A Neurociência pode contribuir no processo de ensino e

aprendizagem porque oferece meios e respostas para as seguintes perguntas:

Como os alunos aprendem? Quais as habilidades e competências que podem

ser exploradas? Qual a maneira mais eficaz de mediar o conhecimento? Além

disso, é preciso fazer bom uso das ferramentas tecnológicas disponíveis,

apostando numa metodologia de trabalho que fuja do tradicional, sempre

com intuito de nortear o trabalho do professor, proporcionando o

desenvolvimento integral e completo do aluno, visando a construção do

conhecimento de maneira contextualizada, significativa e prazerosa. Nesse

sentido, muitas são as metodologias que buscam a participação, o

envolvimento e a autonomia dos alunos, a fim de tornar a aprendizagem mais

atraente e torná-los sujeitos na construção dessa aprendizagem.

34

3.1. PEDAGOGIA DE PROJETOS

Pedagogia de Projetos pode ser definida como um método no qual a

classe se ocupa em atividades proveitosas e com propósitos definidos. Em

outras palavras, é o ensino através da experiência. Este método coloca o aluno

em contato com algum projeto concreto em que esteja interessado e em que

planeje o empreendimento, colha as informações, e finalmente, leve a efeito os

seus planos. No trabalho com projetos, o próprio aluno constrói o

conhecimento. O professor apenas propõe situações de ensino baseadas nas

descobertas espontâneas e significativas dos alunos. A Pedagogia de Projetos

visa à ressignificação desse espaço escolar, transformando-o em um espaço

vivo de interações, aberto ao real e às suas múltiplas dimensões. O trabalho

com projetos traz uma nova perspectiva para o entendimento do processo de

aprendizagem. Aprender deixa de ser um simples ato de memorização e

ensinar não significa mais repassar conteúdos prontos.

Em virtude de as atividades educativas serem elaboradas por alunos e

professores, um dos principais objetivos da Pedagogia de Projetos é promover

a integração e a cooperação entre docentes e discentes em sala de aula.

Os projetos devem visar também a resolução de algum problema ou

algum empreendimento que esteja em harmonia com os interesses dos alunos

e relacionados às suas próprias experiências. Uma das principais

características de um trabalho educativo realizado por projetos é a

intencionalidade. Todo projeto deve ser orientado por objetivos bem claros e

definidos. A flexibilidade é outra característica importante. O planejamento de

trabalho deve ser flexível, de modo que o tempo e as condições para

desenvolvê-lo sejam sempre reavaliados em função dos objetivos inicialmente

propostos, dos recursos à disposição do grupo e das circunstâncias que

envolvem o projeto. A originalidade do projeto demonstra que cada grupo é

único, isto é, possui características próprias. Seus participantes têm ritmos e

estilos diferentes. Portanto, o trabalho de um grupo não deve ser comparado

com o de outro ou contestado. A resolução do problema proposto pelo projeto

de trabalho, se dará em função das experiências e expectativas dos

componentes de cada grupo. O projeto de trabalho deve se desenvolver

apoiado na realidade de cada grupo.

35

3.2. ENSINO HÍBRIDO E AULA INVERTIDA Ensino Híbrido, ou blended learning, é uma das maiores tendências da

Educação do século XXI, que combina o ensino presencial com o ensino

online, integrando a Educação com a tecnologia, que já está presente na vida

dos estudantes. Ele envolve a utilização das tecnologias com foco na

personalização das ações de ensino e de aprendizagem, apresentando aos

educadores formas de integrar tecnologias digitais ao currículo escolar. Além

disso, essa abordagem apresenta práticas que integram o ambiente online e o

presencial, permitindo com que os alunos aprendam mais e melhor, no seu

ritmo. Na adoção do Ensino Híbrido é necessário repensar a organização da

sala de aula, o plano pedagógico e a gestão do tempo para favorecer os

momentos de interação, colaboração, envolvimento com o tema e o uso das

tecnologias digitais para inovar o modelo tradicional de ensino e transformar os

alunos em protagonistas do próprio aprendizado.

Baseada nesta tendência de parceria entre educação e tecnologia,

surgiu a Sala de Aula Invertida, ou Flipped Classroom, criada pelos professores

norte-americanos de Química, Jonathan Bergmann e Aron Sams. Nessa

metodologia, os alunos têm autonomia maior para estudar os conteúdos das

aulas antecipadamente em casa, por meio de material digital fornecido pela

escola (textos, vídeo aulas, games educativos, e outros). Neste momento, os

pais podem participar deste processo com os filhos. Invertendo o processo

tradicional, onde a aula acontece antes, o aluno expõe o que compreendeu,

esclarece suas dúvidas e o professor atua como orientador e conduz a reflexão

sobre o tema de maneira a possibilitar a construção de conhecimento de

maneira relevante para o aluno, pois ele é o protagonista do processo.

A Sala de Aula Invertida promove também uma maior conexão entre os

estudantes e deles com o professor ao criarem o hábito de compartilharem as

informações para solucionarem questões e projetos em conjunto, habilidades

tão importantes para a vida em sociedade e corporativa.

36

3.3. CULTURA MAKER

O Movimento Maker é uma extensão da cultura Faça-Você-Mesmo ou,

em inglês, Do-It-Yourself (ou simplesmente DIY). Esta cultura moderna tem em

sua base a ideia de que pessoas comuns podem construir, consertar, modificar

e fabricar os mais diversos tipos de objetos e projetos com suas próprias mãos.

Na incessante busca por uma pedagogia que privilegie o protagonismo

do aluno, que produza colaboração e criatividade, atitude crítica e autonomia, a

proposta é criar oficinas de invenções – espaços maker – na escola, onde,

além de artefatos, seja produzida uma atitude de empoderamento e

transformação da realidade nos alunos envolvidos e capaz de mobilizar a

atenção dos adultos educadores para que experimentem um pouco dessa

atitude maker em suas práticas, sejam professores de filosofia ou de ciências.

Tanta invenção precisa ser associada ao conhecimento. Por isso, os

laboratórios estão sendo instalados em escolas de todo o Brasil. Algo que

valoriza a experimentação torna o aprendizado muito mais significativo, além

de desenvolver competências muito importantes, como criatividade e

autonomia. A cultura maker fez com que muitos ambientes educacionais

substituam parte das aulas teóricas por produtos experimentais desenvolvidos

em laboratórios. Assim, promovem a interdisciplinaridade, fazendo com que o

aluno entenda tudo o que envolve um processo de criação. É a chamada

educação mão na massa. De fato, muitos educadores veem, na cultura maker,

uma forma de resolver problemas graves enfrentados pela Educação. Entre

eles, a desmotivação, uso de técnicas antiquadas, além de pouca relação do

que se aprende na teoria com o mundo real. Por isso, é mais do que urgente

tirar o estigma de que a sala de aula é um ambiente monótono.

Uma das vantagens da cultura maker é ter estratégias que podem ser

usadas do ensino fundamental ao superior. Principalmente com as crianças, é

possível criar um ambiente colaborativo no qual uma ajuda a outra no processo

de aprendizagem. Mas, as vantagens vão além e chegam no preparo do aluno

para o mercado de trabalho.

A tecnologia nos traz uma vasta gama de recursos, como softwares, kits

robóticos e desenhos 3D. Porém, sabemos que a realidade da grande maioria

37

das escolas no Brasil não é bem essa, o que não impede que a cultura maker

seja, sim, inserida no ambiente educacional. Um só computador pode fazer

uma diferença enorme, além do uso de sucatas como ferramentas para a

construção de protótipos, por exemplo. O importante é o aluno vivenciar a

aprendizagem de forma mais autônoma, criativa e crítica.

Relvas (2012, p. 144), ressalta a relevância das diversa metodologias no

processo da aprendizagem, abrilhantando o final deste capítulo: “O começo da

mudança está nos representantes e atores integrantes e envolvidos na escola,

sem dúvida, alicerçados pela família, nos estudos neuropsicopedagógicos,

viabilizando e contribuindo para o desenvolvimento de metodologias

pedagógicas aplicadas ao funcionamento do sistema nervoso e assim

promovendo qualidade no cotidiano escolar. Só assim, a escola como um todo

poderá conceituar e aplicar de verdade a aprendizagem no tempo de cada um,

respeitando suas individualidades na pluralidade de saberes, chamada

educação.

É importante também repensarem as escolas e se reverem aquelas que

ainda não têm disponível em seus espaços de aprendizagens os recursos

tecnológicos, pois, no nosso País, ainda é um privilégio de poucos, se

considerando os estudos de regiões que não possuem acesso às informações

tampouco possuem uma escola adequada para se estudar e discutir novos

horizontes na dimensão do pensar, ou melhor, promover sinapse neurais em

alunos sem oportunidades efetivas.”

38

CONCLUSÃO

Diante do desenvolvimento deste trabalho, conclui-se que os

estudos da neurociência sobre o funcionamento do cérebro, no que diz respeito

à aprendizagem e memória, podem transformar o modo de ensino.

A Neurociência está propondo uma união dos conhecimentos

biológicos, cognitivos e pedagógicos para uma melhor forma de aprendizagem

e desenvolvimento educacional. Isso poderá revolucionar as escolas, gerando

eficiência no ensino-aprendizagem. Além disso, poderá responder o grande

enigma que é como a aprendizagem ocorre no cérebro. A hipótese

anteriormente demonstrada no plano de pesquisa foi comprovada através do

embasamento teórico referente ao tema, visto que a neurociência pode

contribuir de inúmeras formas para a educação de hoje. A neurociência mostra

que ativar as diferentes regiões do cérebro pode melhorar o desempenho das

funções cognitivas relacionadas a estas regiões. Apresentar o conhecimento

num formato em que o cérebro aprenda melhor passa a ser, além da

preocupação com o ensinar e o avaliar o processo de ensino-aprendizagem,

uma necessidade da educação atual. Promover uma aprendizagem

significativa tem como substrato biológico a reorganização das conexões entre

os neurônios e a aplicação ampla do conceito de neuroplasticidade.

Do ponto de vista da Neurociência, uma aprendizagem somente

ocorre porque o cérebro tem a plasticidade necessária para se modificar e se

reorganizar frente a estímulos e se adaptar. A educação amplia sua base

científica com as pesquisas que demonstram que o cérebro humano não

finaliza seu desenvolvimento, mas uma constante reestruturação o reorganiza

a partir de estímulos eficientes. A aprendizagem ocorre com particularidades,

ao longo da vida do indivíduo. Nesse sentido, a Neurociência Pedagógica

assume uma função de suma importância para o bom desempenho do trabalho

do professor e constitui-se como uma brilhante aliada para melhorar processos

de ensino e aprendizagem.

39

BIBLIOGRAFIA

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Introdução à Neurociência. São Paulo, EPU: 2004 CALABRY, SUELI. Neurociência: Um Novo Olhar Educacional. 2011.

Disponível em: https://www.webartigos.com/artigos/neurociencia-um-novo-olhar-educacional/63961/

DAMASIO. ANTÓNIO R. O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano. Companhia das Letras:1996

GOUVEIA,THAÍS CECÍLIA. Neurociência e Didática. 2016. Disponível em: https://www.psicologia.pt › Conteúdos › Artigos › Neurociências e Ciências Médicas

LENT, ROBERTO. Cem Bilhões de Neurônios. Conceito Fundamental da Neurociência. 2ª edição. Rio de Janeiro. Vieira & Lent Casa Editorial: 2002

MACHADO, ANGELO. Neuroanatomia Funcional. 2ª edição. Minas Gerais. Editora Atheneu: 2004.

MENESES, MURILO S. Neuroanatomia Aplicada. 3ª edição. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan LTDA: 2015.

RELVAS, MARTA PIRES. Neurociência na Prática Pedagógica. Rio de Janeiro.

1ª edição. Editora Wak: 2012 RELVAS, MARTA PIRES. A Neurobiologia da Aprendizagem para uma Escola

Humanizadora. 1ª edição. Rio de Janeiro. Editora Wak: 2017.

RELVAS, MARTA PIRES. Que Cérebro é esse que chegou à Escola? As Bases Neurocientíficas da Aprendizagem. 2ª edição. Rio de Janeiro. Editora Wak: 2012

REVISTA NOVA ESCOLA. Neurociência: Como ela ajuda a entender a

aprendizagem. 2012. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/217/neurociencia-aprendizagem

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05

METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Neurociência e Aprendizagem: Como o Cérebro Aprende 11

1.1. A Importância dos Estímulos na Aprendizagem Escolar 11

1.2. Processo da Aprendizagem – A Importância da Memória 14

CAPÍTULO II

A Influência da Autoestima no Processo da Aprendizagem – Uma Abordagem Neurocientífica 21

2.1. Afetividade e Aprendizagem 23

2.2. Um Diálogo entre a Neurociência e a Educação 26

CAPÍTULO III

A Neurociência Diante das Novas Tecnologias Educacionais 29

3.1. Pedagogia de Projetos 34

3.2. Ensino Híbrido e Aula Invertida 35

3.3. Cultura Maker 36

CONCLUSÃO 38 BIBLIOGRAFIA 39