DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL filedos Contos de fadas e da Literatura Infantil no...
Transcript of DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL filedos Contos de fadas e da Literatura Infantil no...
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
A LITERATURA INFANTIL CONTRIBUINDO PARA O
DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO COGNITIVO INFANTIL.
Evelin Vanessa Cardoso
ORIENTADOR:
Prof. Marta Relvas
Rio de Janeiro
2018
DOCUMENTO P
ROTEGID
O PELA
LEID
E DIR
EITO A
UTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM como requisito
parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Evelin Vanessa Cardoso
A LITERATURA INFANTIL CONTRIBUINDO PARA O
DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO COGNITIVO INFANTIL.
Rio de Janeiro
2018
3
AGRADECIMENTOS
A amiga Maria Tarcilda pela paciência e apoio, ao
meu companheiro Marcos Marqui, pelo incentivo e
a Professora Marta Relvas pela inspiração.
4
DEDICATÓRIA
Dedica-se a minha família, ao Instituto Marcos
Freitas e a C.M Sebastião Bernardes da Souza
Prata.
5
RESUMO
O presente trabalho apresenta as contribuições da Literatura Infantil para o
desenvolvimento do cérebro cognitivo da criança baseado em pesquisas
bibliográficas com características qualitativas e experiências vividas em sala de
aula. Este artigo tem como finalidade analisar a importância da Literatura
Infantil, estabelecendo uma relação com o Neurodesenvolvimento e,
consequentemente, descobrir caminhos que despertam o interesse da criança
pela leitura e contação de histórias. A Literatura Infantil é um terreno muito
fértil, uma fonte enriquecedora de informações, oportunizando à criança o
autoconhecimento e o conhecimento mundo. A Literatura está presente nas
salas de aula, mas, as vezes é utilizada somente para a instrução moral e
cívica ou, até mesmo, como recurso para passar o tempo e acalmar as
crianças. Vale ressaltar o fascínio da criança pelo mundo encantado das
histórias, não se esquecendo do quanto esse método pode se prazeroso,
abrindo portas para a aquisição da leitura e para o seu desenvolvimento
cognitivo. Para isso, é indicado algumas técnicas; desde a escolha do livro, o
tom de voz, até o viveram felizes para sempre ou não tão felizes assim.
A Neuroeducação vê nos contos e na ludicidade das palavras, uma forma de
despertar, sabendo que todo corpo funciona neste contexto. Sendo um
estímulo inicial na sua formação.
Palavras-chave: Literatura Infantil; Neurodesenvolvimento e Desenvolvimento
cognitivo;.
.
6
METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa e consequentemente a discussão e
apresentação de possíveis respostas ao problema apresentado, foi utilizada
pesquisa bibliográfica em livros, artigos e revistas. Dentre as obras
consultadas, destacam-se os dos autores Bruno Battlheim, Richard Bamberger,
Fábio Cardoso e Ana Maria Antunes.
Em complemento a esse referencial, também foram realizadas consultas
em sites específicos. Os materiais disponíveis na web trazem grande
contribuição para ampliação da discussão do problema.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
A importância da Literatura Infantil para o desenvolvimento do cérebro cognitivo
infantil 10
CAPÍTULO II
Cérebro Literatura Infantil e as emoções 18
CAPÍTULO III
Como despertar na criança o interesse pela leitura? 24
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA 35
ÍNDICE 38
8
INTRODUÇÃO
Este trabalho realizar-se-á a partir de discussões sobre a importância
dos Contos de fadas e da Literatura Infantil no processo de desenvolvimento do
cérebro cognitivo, social e emocional da criança, em como formar o sujeito
leitor através da motivação, por parte da família, do professor e da escola.
Uma das maiores preocupações da educação, ao longo desses anos é
formar um sujeito crítico, responsável e sociável. Dado que vivemos em uma
sociedade onde as trocas sociais acontecem ligeiramente, sendo através da
leitura, escrita, linguagem visual ou oral.
É importante entender como a Literatura e os Contos agem no cérebro
infantil, como são estimuladas emocionalmente e tratar também de como os
pais, professores e a escola podem contribuir de forma significativa na
formação de um sujeito leitor ativo, antes mesmo da aquisição da leitura.
Percebendo, ainda a necessidade de aplicações coerentes, de atividades que
despertem o prazer do ato de ler e, estas devem estar presente na vida destas
crianças mesmo antes de saberem ler.
Mesmo “sabendo” da importância que a Literatura Infantil e os Contos de
fadas apresentam na vida da criança para o seu desenvolvimento, há aqueles
que não gostam de ler, e isto é uma realidade que se faz presente a gerações,
daí as questões: por que elas não gostam de ler? Por que isso acontece? Será
que isso ocorre pela falta de exemplos, de estímulos por parte de pais e
educadores? Logo, surge a necessidade de conhecer estratégias para
despertar na criança o interesse pela leitura.
O que se sabe é que a Literatura Infantil e os Contos, assim como toda
cultura questionadora e criadora, não são explorados como deveriam nas
escolas e, na maioria das vezes, isso acontece por falta de informação dos
professores. Infelizmente, a formação acadêmica não dá a devida ênfase à
leitura. O que acaba caindo em contradição.
A curiosidade e o exemplo, são fatores importantíssimos que contribuem
para que a criança sinta prazer em ler. Neste sentido, os pais deveriam ler mais
para si e para seus filhos, ter livros em casa deveria ser tão fundamental
9
quanto ter televisão. E quanto à escola, cabe o papel de ensinar a gostar de
ler, fazendo com que se torne um hábito de deleite, e não leitura por obrigação.
10
CAPÍTULO I
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA O
DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO COGNITIVO
INFANTIL
Para maior entendimento sobre a discussão acerca da importância da
Literatura Infantil para o desenvolvimento cérebro cognitivo infantil,
primeiramente, deve-se abordar alguns detalhes do objeto de estudo em
questão, o cérebro, pois é lá que tudo começa.
As estruturas cerebrais que estão envolvidas com as emoções estão
interligadas intensamente e não se pode dizer que somente uma é responsável
pelo estado emocional de uma pessoa. Logo, umas contribuem mais que
outras para essa ou aquela determinada emoção. (Amaral e Oliveira, 2001,p.3)
Fonte: https://www.emaze.com/@ACWQLWIF
11
AMIGDALA- Sua estrutura tem a forma de uma amêndoa e fica situada
dentro da região antero-inferior do Lobo temporal, se interconecta com o
hipocampo, a área pré-frontal, os núcleos septais e o núcleo dorso medial do
Tálamo.
São essas conexões que garantem o sucesso do seu desempenho na
intercessão e controle das atividades emocionais como o amor, a amizade, a
afeição, os estados de medo, humor, ira e agressividade.
A Amigdala é essencialmente fundamenta para a alto preservação do
homem, pois identifica o perigo, causando ansiedade e medo, deixando assim
o home em sinal de alerta para lutar ou fugir.
HIPOCAMPO - Está relacionado com a memória, principalmente com a
formação da memória de longa duração. Assim permite ao homem comparar
as situações de risco, correlacionado a situação do risco atual com
experiências passadas, garantindo assim a opção que irá garantir a sua
preservação. Importantes vias de conexão do circuito límbico.
TÁLAMO - Importante na regulação do comportamento emocional
decorrente das conexões com outras estruturas do Sistema Líbico, fazendo
parte do circuito de Papez.
Fonte: https://www.emaze.com/@AILFWTRF/Sistema-límbico
12
HIPOTÁLAMO - Localiza-se logo abaixo do Tálamo. Suas conexões
com as outras áreas do Prosencéfalo e Mesencéfalo são amplas. É dele que
surgem os impulsos que irão influenciar as células nervosas, como a
musculatura cardíaca, a musculatura lisa das vísceras e dos vasos, rins e todas
as glândulas entre outros. A porção lateral está envolvida a raiva e o prazer, já
a porção mediana, está ligada à aversão, ao desprazer e ao riso descontrolado.
GIRO CINGULADO - Fica no meio do encéfalo, entre o sulco cingulado
e o corpo caloso. Sua parte frontal coordena os odores, visões agradáveis de
memórias passadas, a reação emocional ao sentir dor e a regulação da
agressividade.
Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Fig-G1-Giro-cingulado-Adaptado-de-Frank-Forney-en-Pinel-
2011_fig15_268926205
TRONCO CEREBRAL – Responsável pelas reações emocionais
operando juntamente com a medula espinhal, controlando as funções vitais.
Controla também a consciência, desligando as atividades do cérebro enquanto
se dorme e lingando quando se acorda.
13
Fonte: http://www.cerebromente.org.br/n05/mente/tronco.gif
ÁREA PRÉ-FRONTAL - É uma área bem desenvolvida particularmente
na espécie humana. Mesmo não fazendo parte do sistema Límbico, as suas
conexões são intensas como oTálamo, Amigda e outras estruturas sub-
corticais. Assim explicam o importante papel que desempenham na gênese e
principalmente no estado afetivo.
Fonte: https://www.thinglink.com/scene/766699406505279489
A literatura infantil além de encantar crianças, jovens e adultos como
forma de entretenimento, nos transmite valores, costumes e ajuda também a
elaborar a própria vida através de situações de conflitos em processo
inconsciente.
Na literatura infantil temos representações simbólicas de conflitos gerais
humanos, tais como a ansiedade, necessidade de amor, medo, desamparo,
rejeição e a morte. Ao lidar com a fantasia a criança consegue lidar com seus
conflitos internos, recuperando assim a sua harmonia existencial. A literatura
14
Infantil é fundamental no processo de aquisição de conhecimentos, como
ressalta Abramovich.
(…) Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de
descoberta e de compreensão do mundo...". Podemos, assim, começar a compreender a importância da Literatura Infantil no desenvolvimento cognitivo das crianças. Ser leitor é o meio para
conhecer os diferentes tipos de textos, de vocabulários. É uma forma de ampliar o universo linguístico. ( ABRAMOVICH, 1997, p.16)
Os contos de fadas são vitais para a grande questão: - Quem sou eu?
Que acontece nas fases de desenvolvimento da criança. Há uma carência do
conhecimento de si mesma e do ambiente em que vive, que primeiramente é o
da família, em seguida o espaço circundante, e finalmente a vida social e a
história. A ficção através de sua linguagem simbólica, preenche as lacunas da
sua falta de vivência e de experiência existencial. ”Quem sou eu” é uma
questão que leva a várias outras conflitantes. Neste momento os contos de
fadas viram respostas a todas essas questões, alimentando-as de forma lúdica,
com a linguagem que é compreensível a ela.
O autor Bruno Bettelheim (1980) publicou o livro Psicanálise dos contos
de Fadas que traz muitas contribuições a respeito do assunto abordado. Nessa
obra, o autor ressalta que, o pensamento da criança é “animista” até a
puberdade. Para as crianças as coisas pensam e agem, por mais que seus
pais lhes mostrem o contrário, elas fingem acreditar para não serem
ridicularizadas e punidas. Temos aqui alguns exemplos de Piaget, como o de
uma criança que com seu pensamento animista acredita que uma pedra tem
vida porque se move ao rolar de uma montanha, assim como um riacho que faz
sua água correr ou como o sol que brilha porque quer brilhar e por tanto
sentem e pensam como pessoas. Para as crianças, os adultos não entendem a
linguagem do sol, do riacho, da pedra ou de uma árvore, porque não estão
suficientemente alinhados com ela.
Assim como a criança que é egocêntrica, ela acredita que os animais
verdadeiros ou os de brinquedos podem conversar com elas somente o que
para ela é satisfatório, como fazem os animais dos Contos de Fadas. Assim
como ela conversa com seus brinquedos, a criança está certa de que eles e os
animais sentem e pensam como ela.
15
Sujeita aos ensinamentos racionais dos outros, a criança apenas
enterra seu conhecimento verdadeiro, mas no fundo da sua alma ele permanece intocado pela racionalidade, no entanto podemos ser formado ou formador pelo que os contos de fadas tem a dizer.
(BETTELHEIM 1980, p 59)
Os contos de fadas, como age de acordo com a mente infantil auxilia a
criança indicando claramente como emergir em toda esta fantasia. Algumas
situações dos Contos de Fadas surgem para as crianças de forma bem
realista: uma menina que vai sozinha visitar a vovó (Chapeuzinho Vermelho);
dificuldades financeiras de uma família (João e Maria). Estes contos iniciam
com circunstâncias reais, porém problemáticas. Confrontadas com essas
situações problemas, que fazem parte do nosso dia-dia, a criança é estimulada
então a entender “como” e o “porque” dessas situações, fazendo com que elas
busquem soluções através de reflexões.
Após uma viagem ao mundo encantado, passando por situações
fantásticas, no final, o conto dá a criança a sua realidade de volta da forma
mais segura e confortável possível, compreendendo assim o que há de mais
necessário para sua fase de desenvolvimento. É saudável que de vez em
quando se deixe dominar pela fantasia, desde que não nos distancie da
realidade permanentemente.
Os contos alimentam os sonhos e sonhar torna cada criança apta a
enfrentar as batalhas diárias, despertando-as renovados. É benéfico elaborar
nos sonhos os problemas inconscientes que os bloqueiam.
Daí destaca-se a importância da compreensão, por parte dos
professores da Educação Infantil, de como acontece o processo de
desenvolvimento cognitivo cerebral através da leitura, o que abre um grande
leque de possibilidades dentro das práticas pedagógicas. Cresce cada vez
mais a necessidade do professor compreender o funcionamento do sistema
nervoso. Adquirido esse conhecimento pelo professor, aumenta a sua
capacidade de análise biopsicológica, sua capacidade de perceber a maneira
mais adequada de se trabalhar com seus alunos, atendendo as necessidades
de cada um, aproveitando o seu conhecimento prévio, agindo de maneira
eficaz, proporcionando a verdadeira compreensão do texto, além do prazer que
seus alunos sentirão e consequentemente, o professor também.
16
Dentro dessa perspectiva, entender como se dá o desenvolvimento
cognitivo cerebral da criança, se torna um desafio aos bons professores.
Segundo Relvas (2012, p.54):
O professor, ao estabelecer as estratégias de ensino em relação ao
seu conteúdo em seus planejamentos, deve se sensibilizar que a sua
turma se constituem em uma biologia cerebral, tal qual uma
verdadeira ecologia cognitiva. Afinal, funcionam em movimentos
ininterruptos de transformações intrínsecas e extrínsecas. É preciso
que o professor perceba, que neurofisiologicamente, os alunos estão
com os sistemas dos sentidos biológicos muito estimulados e, por
conseguinte, existe um movimento de conexões nervosas que nunca
estancam.
Infelizmente ainda hoje, existem adultos pensando, que os contos de
fadas podem afastar os seus filhos da realidade, dando-lhes respostas “falsas”,
que estas histórias nada podem acrescentar, mesmo que seus pais lhes deem
uma resposta realista ela vai duvidar e podendo assim acabar se sentido
“confusa e derrotada intelectualmente”. Existe medo de que seus filhos se
identifiquem com personagens “negativos”. Há também quem a veja como algo
pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de entretenimento), até mesmo nas
instituições de ensino (Bettelheim 1980).
Atualmente, há uma forte tendência entre alguns autores de
reescreverem uma narrativa modificando drasticamente o enredo, ocultando o
mal. Assim também fazem pais e professores desatualizados. Modificam por
conta própria a história, ocultando as situações de medo, de castigo e de
maldade. Afinal, a vovó que outrora foi devorada pelo lobo faminto, hoje, é
trancada pelo lobo no armário. Essas mudanças nas narrativas apaziguam as
emoções que necessitam se vividas.
Clássicos são clássicos, devido a sua perpetuação e devem ser
respeitados assim como a literatura para adultos. Entendemos, porém que na
verdade, as histórias mudam conforme a cultura e a época. Por exemplo, o
canibalismo e o incesto. Estes foram retirados de contos antigos. Na versão
original de Chapeuzinho vermelho, o lobo devora a vovó e a linda menina de
capuz vermelho, e o caçador nem sequer existe.
Contudo, por mais espantoso que pareça, ainda temos outra questão:
ainda existem pais que nunca leram um Conto de fadas sequer para seus
filhos. Será que por isso existem hoje, tantas pessoas sem senso de justiça,
17
solidariedade, ética, tanta gente frustrada, incapaz de resolver seus
problemas? Bom, existe um caminho, que se não foi percorrido pelos pais, será
mesmo difícil que se conduza o seu filho a ele. Porém há exceções, como pais
que queiram que seus filhos sejam melhor que eles, daí vale a dica.
18
CAPÍTULO II
CÉREBRO, LITERATURA INFANTIL E AS EMOÇÕES
A Neuroeducação, vê nos contos, uma forma de despertar e entender
que todo o corpo funciona neste contexto. A criança desde os primeiros meses
de vida, necessita de estímulos com uma linguagem de afeto, com ludicidade e
encantamento. Assim o cérebro vai enriquecendo de informações e de
imaginação criadora.
A Neurociência e a Literatura infantil se tornam parceiras indispensáveis
à educação e nas raízes artísticas. Antigos contadores de histórias já
acreditavam nisso: Ensinar depende do encantamento, do rir, do brincar, do
imaginar e no pensamento livre. Desta forma a mente e o corpo ampliam seu
pertencimento, compreendendo a si mesmo e o mundo.
A teoria de que aprender é adquirir novos conhecimentos, cai em
descrédito quando Neuroeducação passa a fazer parte das nossas vidas, seja
como pais ou educadores. Temos então um novo olhar: Aprender é modificar
comportamentos. Nessa perspectiva, passamos a ver a contação de histórias
como uma oportunidade de intervir de forma positiva na estimulação da mente
dos ouvintes, com intuito de que tenham contato com os objetivos culturais que
intensificam seu desenvolvimento mental.
Cosenza (2011, p.98) reflete sobre o educar e o educador:
O mundo moderno é muito diferente daquele em que nosso cérebro
evoluiu. Hoje, nem sempre há um ambiente estruturado de forma
adequada para o desenvolvimento das funções executivas. Esse é
um problema que deveria ser levado em conta se quisermos
realmente educar nossos jovens para uma vida útil e feliz.
Abordar o tema Educação, hoje, é pensar não só no procedimento, mas
também no processo que se dá a aprendizagem. Para isso precisamos
entender o que desperta e motiva as crianças para esse aprendizado. A
Neuroeducação nos orienta e nos sugere a criação de estratégias pedagógicas
19
que favoreçam a aprendizagem. E uma excelente estratégia é a contação de
histórias.
A criança sente os estímulos do meio, a partir dos órgãos sensoriais.
Assim acontece a transmissão para o cérebro, por meio de correntes elétricas.
Constata-se assim, mudanças nas redes neurais quando a criança é
estimulada a vivenciar experiências e por fim, acontece o amadurecimento do
sistema nervoso central. Vale ressaltar que é impossível isolar a sensação da
consciência, pois estão associadas a elementos preexistentes guardados na
memória, onde se atualizam em um processo de conexão na percepção,
ampliando o seu significado.
É necessário entender que o nosso cérebro é responsável pelo
processamento das informações e pelo armazenamento de conhecimentos e
pela seleção do nosso comportamento.
O Professor carrega consigo a enorme missão de contribuir para a
organização do sistema nervoso do educando, não se esquecendo que o
cérebro vai à escola.
Cabe a reflexão sobre a junção da Neuroeducação e a Educação, pois
todo aprendizado é resultado de uma atividade cerebral.
Cosenza (2011, p. 11) diz que:
O cérebro é a parte mais importante do nosso sistema nervoso, pois é através dele que tomamos consciência das informações e que chegam pelos órgãos dos sentidos e processamos essas
informações, comparando –as com nossas vivencias e expectativas. É dele também que emanam as respostas voluntárias ou involuntárias, que fazem com que o corpo, eventualmente, atue sobre
o ambiente.
O ato de contar histórias, influenciam comportamentos, o
desenvolvimento das competências e as habilidades da criança como o
aprendizado e o desempenho afetivo emocional e social.
É necessário a participação de todos os envolvidos socialmente com a
criança.
A assimilação de um conto, promove várias funções cognitivas e de alto
nível, como a atenção. Ao ouvir o contador de histórias, a criança cria
intimidade com o texto. Tão logo o contador precisa reter a atenção do ouvinte
para a sua fala. A atenção por sua vez, é o mecanismo pelos quais os
20
processos cognitivos se organizam, dando direcionamento e escolhendo
perceptos determinados fontes de informação. Essa atividade mental, não é
consciente.
A voz do contador é o elemento mais importante ao se destacar no
ambiente. Assim o seu processo de atenção irá inibir outros ruídos ou qualquer
outra situação que possa tirar a sua atenção. Desta maneira ela passa
desenvolver o seu foco atencional.
Enquanto ouve uma história, a percepção da criança também está sendo
aprimorada, pois está sendo solicitada a todo instante. A percepção é
entendida como uma atividade mental ativa.
Diferentes áreas corticais são recrutadas quando a criança capta
sensorialmente as informações absorvidas. Essas áreas são a segunda
unidade funcional para o seu processamento.
Quando uma criança se atenta à ilustração de um livro, é promovida a
estimulação nas células receptoras, que se localizam em sua retina e que
seguidamente levará informações até o Lobo occipital do cérebro. Essa região
é responsável pela decomposição dos estímulos. É uma região constituída de
células nervosas especializadas na análise dos perceptos visuais.
Seguidamente, as informações são fracionadas na região primária e levadas as
regiões secundárias do Córtex. É nesta fase que acontece a síntese visual,
organizando as partes assim como um quebra-cabeça. Por fim, possibilitando a
identificação das figuras que compõe aquela ilustração.
Com essas junções, a criança consegue obter a habilidade de manejar
diversos elementos visuais ao mesmo tempo, fixando o núcleo visual, captando
também as informações visuais adjacentes. É essa função no Córtex Pariental
occipital, que se torna possível o processamento espacial que será de suma
importância na aquisição de noções assimétricas (direita e esquerda) e da
coordenação espacial tridimensional.
Ao ouvir histórias, a criança é levada ao campo acústico de ruídos e
vocábulos, que a prepara para a aquisição futura da linguagem oral e escrita e
edificarão o seu acervo lexical mental. Só quando a criança assimila o
conteúdo da língua, é que a sua expressão da linguagem é obtida. Sua
articulação motora da linguagem depende das regiões pré-motoras do cérebro,
21
da sua percepção, do planejamento fonológico, da codificação e da ação
motora (Navas, 2006).
Espera-se que o som emitido pelo contador de histórias, seja de
imediato guardado em um sistema de memória, chamado memória curta. E em
seguida espera-se que haja um resgate para a memória de longo prazo.
A memória de curta duração tem o seu tempo curto de armazenamento
de dados e esses conteúdos brevemente guardados permanecem ali, somente
enquanto forem úteis para uma finalidade determinada. Esses dados podem
ser manejados ou não, se tornando desnecessários e em seguida descartados.
Há uma circuitaria de distintas regiões do sistema nervoso em nossa
memória. A criança atenta e envolvida com uma narração, cheia de fascínios,
permanecerá focada, registrando as partes mais marcantes da história, as
características dos personagens e o desfecho. Neste contexto, a criança estará
alimentando a sua memória semântica.
A criança que solicita ouvir a mesma história inúmeras vezes, está se
beneficiando do artifício da repetição, aumentando o seu nível de retenção de
informações. O que está por detrás das palavras que aparecem na história,
ajudam a criança a organizar e estruturar a sua memória.
Fonte://viniciusborges.com/aprendendo-aprender-memorias-e-aprendizado/
É importante estimular a criança a refletir sobre o que constitui a história,
fazendo um link com os aspectos da sua vida.
Nos contos de fadas, existem conflitos, superação e finais felizes. Isto
deixa a criança instigada a analisa e a levantar hipóteses sobre a realidade e
suas ações. Neste processo, a criança está desenvolvendo também a sua
função executiva. A função executiva, é uma atividade mental que acontece no
Córtex pré-frontal. Sua função executiva é definir metas sobre a qual irá
22
planejar. Essa habilidade torna possível a relação da criança com a realidade.
Ao desenvolver essa área a criança estará apta a ordenar os seus
pensamentos e logo conseguirá controlar o seu sistema atencional, se
ponderando e avaliando riscos.
A Emoção é o condutor da cognição. Não seria possível entender sobre
a aprendizagem, sem saber o seu papel. Neurofuncionalmente, a emoção e a
aprendizagem são inseparáveis. Desta forma a emoção e a cognição estão
enquadradas a um contexto social cultural.
A aprendizagem e a motivação, são o resultado final da emoção e da
cognição. Por estarem conectadas a um nível neurofuncional básico, se uma
não funcionar bem, a outra também será afetada.
Ressaltando que quanto mais envolvidas emocionalmente, mais
mobilizadas serão as suas funções cognitivas de percepção, atenção e
memória. Consequentemente o fortalecimento e o maior empenho das suas
funções executivas.
Privações afetivas, como a carência materna e caos nas demais
relações, podem comprometer todo o desenvolvimento mental futuro do aluno.
Da mesma forma que uma experiência ruim no seu primeiro contato com a
escola.
Existem as emoções positivas como interesse, alegria e surpresa, assim
como as emoções negativas, o medo, a tristeza e a raiva. Ao sentir tais
emoções, é provocado um estado de ânimo de curto ou longo prazo
acompanhado de alterações fisiológicas como sudorese, taquicardia e tremores
com mudanças nas expressões faciais como, olhos bem abertos, sorrisos,
sobrancelhas levantadas entre outras.
As emoções também podem influenciar de maneira positiva ou negativa
nas relações interpessoais. Quando uma criança por exemplo reage a um
conflito de forma agressiva, ela está abalando aquela relação. Por outro lado,
se durante ou após um conflito a criança tentar resolver o verbalizando sua
frustação e o seu ponto de vista, essa relação não será abalada. Lembrando
que as habilidades sociais e de resolução de conflitos ainda está em processo
de desenvolvimento. Além dos livros como recurso, é fundamental o diálogo
entre pais e filhos, aproveitando as situações adversas da vida para explorar o
23
que a criança sente e pensa sobre aquela situação ruim e juntos criarem uma
estratégia para resolver a questão de forma inteligente e tranquila.
Gradativamente esta habilidade vai se sofisticando.
Para Damasio (2000, p.87):
A trama de nossa mente e de nosso comportamento é tecida ao redor de ciclos sucessivos de emoções seguidas por sentimentos que se tornam conhecidos e geram novas emoções, numa polifonia contínua
que sublinha e pontua pensamentos específicos em nossa mente e ações em nosso comportamento.
Entre 6 e 12 anos de idade, é desenvolvida a sua metacognição da
emoção, capacitando-os a expressar seus sentimentos com outras pessoas ou
escondê-los quando for a melhor saída ou mentindo, utilizando expressões
faciais adequadas. Da mesma maneira, esta criança passa a ter percepção do
que está sentindo o outro.
Fonte: del Barrio (2005).1
Estar consciente de uma emoção, é o início do seu engajamento de uma
atividade regulatória voluntária. Ao contrário, a criança se torna menos capaz
de procurar suporte social para alterar aquela experiência emocional.
O ambiente, os recursos mencionados e o apoio parental são
fundamentais para o desenvolvimento de padrões adaptativos de regulação
emocional.
RESUMO DA EVOLUÇÃO EMOCIONAL INFANTIL
Idade Experiência, reconhecimento
0-12 meses Experiência de emoções básicas
6-12 meses Reconhecimento da expressão de emoções básicas no cuidador
18 meses-2 anos Experiência de emoções secundárias
2-3 anos Rótulo verbal das emoções básicas
2-4 anos Reconhecimento do próprio estado emocional
4-5 anos Reconhecimento dos eliciadores das próprias emoções básicas
6-7 anos Reconhecimento discriminante das próprias emoções e de emoções alheias
7 anos Conhecimento das emoções próprias e alheias
24
CAPÍTULO III
DESPERTANDO NA CRIANÇA O INTERESSE PELA
LEITURA
Na sociedade contemporânea, despertar o interesse pela leitura é uma
tarefa dura, diante dos atuais meios de comunicação (internet, jogos
eletrônicos e TV a cabo). É árdua a tarefa de concorrer com a tecnologia e a
rapidez com que se chega as novas informações e as inúmeras formas de
lazer ao nosso redor (shoppings, praias, clubes, parques, lanchonetes). E de
forma errônea muitas escolas utilizam a Literatura como forma de “dever”,
obrigação. Afastando ainda mais as crianças da Literatura, já que existem
milhares de outras coisas mais “atraentes”, lhes saltando aos olhos a todo
instante, em casa ou na rua. Para começarmos a concorrer com a tecnologia
de forma leal, é necessário analisar primeiramente de onde vem a Literatura e
os Contos de fadas e entender definitivamente os seus benefícios.
Para melhor compreensão sobre os contos de fadas, é necessário
entender a sua origem. Os contos de Fadas são narrativas antigas e que eram
destinadas aos adultos. Essas narrativas eram criadas por diferentes povos,
como os judeus, os persas e os hindus. O mito, como era chamado, retratava
os conflitos entre o homem e a natureza. Cheio de seres sobrenaturais,
mistérios e romances. A sua essência está ligada a criação do mundo e do
homem. Naquela época os mitos nada mais eram que passa tempo, uma forma
de manipular a população e um jeito de dar explicações ao desconhecido
naquela época. Por exemplo o trovão que foi considerado, uma arma dos
Deuses. Coelho dá uma importante contribuição no que se refere ao valor dos
contos ao longo dos séculos: “Os contos de fadas fazem parte desses livros
eternos que os séculos não conseguem destruir e que, a cada geração, são
redescobertos e voltam a encantar leitores ou ouvintes de todas as idades”.
(COELHO, 2004, p. 21)
25
Os contos de fadas, passa a atender o público infantil na França, por
volta do século XVII, por Charles Perrault, que só ficou popular no século XIX.
Charles Perrault adaptou alguns contos de adultos para o público infantil.
Ele reescreveu: A Bela Adormecida, O gato de Botas, O Barba Azul,
Chapeuzinho Vermelho, Cinderela, As Fadas, O Pequeno Polegar e Henrique
do Topete.
No século XVIII, este gênero literário infantil, finalmente ganha força com
as obras de Jacob e Wilhelm Grimm. Conhecidos até hoje como “Os irmãos
Grimm”. Os irmãos Grimm também reescreveram os contos, incutindo os
valores do cristianismo. Em seguida, veio o dinamarquês Hans Christian
Andersen com suas estórias. O autor deixa em seus livros a ideia de que para
consegui um objetivo, é necessário passar por muitos obstáculos, mas em seus
contos nem sempre os finais são felizes.
A Literatura infantil iniciou-se no Brasil como obras pedagógicas e na
sua maioria feita de adaptações de textos portugueses. Em cada época a
Literatura Infantil foi produzida de maneira diferente. Mesmo hoje, é entendida
como ”gênero secundário”, com a intenção de tranquilizar as crianças, impondo
silêncio e disciplina.
É preciso resgatar a leitura de Literatura e dos contos por parte das
crianças, já que é nessa fase que se constrói a necessidade pela leitura. Para
isso se faz necessário compreender que a Literatura Infantil, vai além da
função utilitário- pedagógico e além do caráter didático. Profissionais que
utilizam os Contos com esta finalidade, só estão contribuindo para perda do
seu caráter emotivo e encantado deixando a sensação de que leitura é uma
obrigação, um esforço, uma atividade “chata”, segundo as ideias de Zilberman
(2003).
O próximo passo a ser dado para agir de forma positiva em relação a
aceitação da Literatura pelas crianças, é entender primeiramente que não
existe idade para apreciação de livros, inclusive, cabe aos pais propiciar o
primeiro contato com o livro, essa tarefa não é exclusiva da escola. Deve-se
valorizar assim, o momento de intimidade pai e filho que é de suma
importância.
26
Queiroz (2003), diz que os pais ao contar histórias estão inserindo os
filhos na literatura, estimulando-os para a leitura não somente de livros, como
para a leitura do mundo. Essa leitura de mundo se faz presente mesmo antes
da criança saber ler e escrever. Ela já começa a ser percebida pela criança
dentro do seu ambiente familiar, no seu bairro, nos lugares que frequenta com
sua família. Enfim esse é o primeiro contato da criança para tal aquisição da
leitura.
Cabe aos pais e professores saber estimular de maneira correta os
pequenos. Ler não é só compreender as organizações das letras, ”ler” vai
muito mais além. Por exemplo, os bebês até mesmo antes da vida escolar,
podem e devem ser estimulados por seus pais e mesmo nessa fase, já são
capazes de apreciar livros, como exemplo os de imagens com gravuras
atraentes, com rica ilustração despertando a sua curiosidade pelo livro, noções
de cores, textura, formas e memória visual, livros com sons variados,
propiciando um momento de diversão, estimulando sua memória auditiva e
capacidade de associar o toque ao som; livros feitos com materiais
diversificados, proporcionando o prazer de sentir novas texturas e, até mesmo,
propor uma interação física da criança com o livro, outros exemplos: livros de
plástico para interagir na água, de pelúcia, que contenham fantoches e com
espelho. São inúmeros os atrativos para essas crianças. O amor pelos livros
não é coisa que apareça de repente. É preciso ajudar a criança a descobrir o
que eles lhe podem oferecer. (MACHADO,1991).
Ter conhecimento dos critérios usados para analisar os livros, também é
um grande passo.
Os critérios para analisar um livro: primeiramente, não levar em
consideração análises com modelos e padrões determinados. O importante é a
intenção de orientar o professor, causar a reflexão do educador com os livros
que farão parte do universo do aluno. O próximo passo é levar em
consideração a faixa etária e o seu nível de desenvolvimento, como nos mostra
abaixo Zilberman (2003,p.108 ):
27
Desenvolvimento da personalidade e da leitura
Desenvolvimento cognitivo
Infanto-Juvenil Desenvolvimento da leitura
Idade
Estádio do
desenvolvimento
da personalidade
Estádio do
desenvolvimento Tipo de leitura
3 a 6 anos
Pensamento pré-
conceptual –
construção dos
símbolos.
Mentalidade
mágica. Indistinção
eu-mundo.
Pré-Leitura–
Desenvolvimento
da linguagem oral.
Percepção e
relacionamento
entre imagens e
palavras; som,
ritmo.
Livros de imagens,
rimas infantis,
cenas
individualizadas.
Histórias de
animais falantes e
contos de fadas
simples.
6 a 8 anos
Pensamento
intuitivo – Aquisição
de conceitos de
espaço, tempo e
causa. Ainda
mentalidade
mágica. Auto-
estima. Fantasia
como instrumento
para compreensão
e adaptação ao
real.
Leitura
compreensiva –
Textos curtos.
Leitura silábica e
de palavras.
Ilustração
necessária: facilita
associação entre o
que é lido e o
pensamento a que
o texto remete.
Aventuras no
ambiente próximo:
família, escola,
comunidade,
histórias de
animais, fantasia
(contos de fadas),
problemas infantis.
8 a 11 anos
Operações
concretas–
Pensamento
descentrado da
percepção e acção.
Capacidade de
classificar,
enumerar e
ordenar.
Leitura
interpretativa–
Desenvolvimento
da leitura.
Capacidade de ler
e compreender
textos curtos e de
leitura fácil, com
menor dependência
Contos fantásticos,
contos de fadas,
folclore, histórias
de humor,
animismo, aventura
(primeiras
inclinações).
28
da ilustração.
Orientação para o
mundo. Fantasia.
11 a 13 anos
Operações formais
– Domínio das
estruturas lógicas
do pensamento
abstracto. Maior
orientação para o
real. Permanência
eventual da
fantasia.
Leitura informativa
ou factual–
Desenvolvimento
da leitura.
Capacidade de ler
textos mais
extensos e
complexos quanto
à ideia, estrutura e
linguagem.
Introdução à leitura
crítica.
Aventuras
sensacionalistas:
detectives,
fantasmas, ficção
científica, temas da
atualidade,
histórias de amor.
13 a 15 anos
Operações formais
– Descoberta do
mundo interior.
Formalização de
juízos de valor.
Leitura crítica –
Capacidade de
assimilar ideias,
confrontá-las com a
própria experiência
e reelaborá-las em
confronto com o
material de leitura.
Aventuras
intelectualizadas,
narrativas de
viagens, conflitos
psicológicos,
conflitos sociais,
biografias,
crónicas, contos.
Outros critérios que devem ser levados em conta, segundo Coelho
(2000,p.45):
*Estar de acordo com o universo da criança e seus interesses;
*Possibilitar a facilidade de descoberta da criança e seu entendimento
de mundo;
*Levar em consideração a condição de vida da criança;
*Ter em conta a diversidade cultural e regional da criança;
*A linguagem utilizada com o vocabulário adequado a faixa etária da
criança;
*Ter atenção ao ritmo e sonoridade das palavras;
*Evitar livros com erros gramaticais e ortográficos;
29
*Transmitir sentimentos e valores como a solidariedade, igualdade,
justiça, paz, liberdade, amor, dignidade e respeito pelos seres humanos;
*Os livros não devem incentivar o preconceito, racismo e a vulgaridade;
*Os livros devem ter qualidade estética, principalmente por serem feitos
para crianças;
*Quanto a ilustração, deve estar de acordo com a mensagem escrita;
*A ilustração não deve ser feita por estereótipos e sim por imagens
artísticas;
*Na hora de selecionar os livros recuse aqueles que contenham: falsa
simplicidade, tom moralizador, ações e diálogos superficiais, linguagem
impregnada de diminutivos, erros, livros mal encadernados, letra muito
pequena, papel muito fino.
Utilizando a Literatura Infantil na escola, se faz necessário que o
professor tenha formação inicial, continuada, com possibilidades
demonstrativas de como utilizar a Literatura para a formação do ser. Assim,
concordamos que: “Quando coloca que é necessário a introdução da literatura
infantil alçada à condição de participante do currículo do ensino universitário”.
Zilberman (2003, p. 29).
Cabe ao professor então estar repertoriado, possibilitando dessa forma o
desenvolvimento de um bom trabalho com a Literatura Infantil.
Outro aspeto importante é o espaço físico destinado a leitura, a
organização desse ambiente onde a história vai ser lida ou contada. Hoje
algumas escolas particulares ou da rede pública contam com uma Sala do
conto, utilizada para ouvir ou ler histórias, brincadeiras com fantoches, peças
teatrais, sarais, brincadeiras de roda, desenho livre etc. A utilização dessas
salas fazem parte do quadro de horários. Normalmente as atividades feitas
nestas salas, são contextualizadas e dirigidas pelo professor ou coordenador
conforme o Projeto Político Pedagógico da escola.
É válido ressaltar que nem todas as escolas podem contar com uma
sala especifica para tal momento, porem cabe ao Professor e coordenador
usar de criatividade e força de vontade para criar na própria sala de aula um
cantinho da leitura ou rodas de leituras, por exemplo. Contando mesmo com
um pequeno acervo, selecionado e a disposição de todos, ao alcance das
30
mãos e a disposição dos olhos em todos os momentos ou em momentos
programados. Nas paredes pode-se expor as atividades feitas pelos alunos,
durante esse momento, como desenhos, pinturas, releituras de textos, registro
coletivo, produção de personagens feita de material reciclável, mensagens
feitas por eles, até mesmo garatujas, almofadas para quem quiser ler deitado,
ficando por conta da imaginação de cada educador.
Outro espaço físico, que é mais comum nas escolas é a biblioteca que
na sua grande maioria são ineficientes, com um acervo pobre no que se refere
a literatura infantil, um espaço somente para pesquisas propostas em aula, e
tida como depósito de livros e acaba dessa forma passando a ideia de
“punhadinho de livros ali no canto” (Nery,1989, p.20-36).
Há tempos as bibliotecas escolares, em sua maioria são consideradas
como um lugar sagrado, estereótipo do silêncio. Não estou querendo mostrar
que é desnecessário este espaço, mais sim levantar questões para refletirmos
sobre de que forma a biblioteca pode ser de fato fonte de prazer e
conhecimento, tanto na área educacional e cultural. “Pode-se afirmar que uma
escola sem biblioteca, não orientada para um trabalho escolar dinâmico, torna-
se um instrumento estático e improdutivo dentro desse contexto” (Amato e
Garcia, 1989, p.23).
A função da biblioteca escolar é incentivar o gosto pela leitura. Para isso
a biblioteca precisa funcionar de modo menos formal, contando com um acervo
organizado e integrado, ser flexível, ter atrativos despertando a curiosidade,
hábitos, interesse pela leitura e estar em pleno funcionamento.
A forma como a professora conta, escolhendo os livros conforme a faixa
etária, de acordo ao interesse dos ouvintes, e aos objetivos do próprio
professor. Esse procedimento deve ser feito através de um planejamento
prévio. Para contar histórias de maneira significativa não é necessário ser um
especialista em contos, segundo (Tahan, 1957, p.172), algumas características
para ser um bom contador de histórias:
1ª - Sentir, ou melhor, viver a história; ter a expressão viva, ardente,
sugestiva.
A história deve despertar a sensibilidade de quem a conta, sem emoção,
não terá sucesso.
31
2ª - Narrar com naturalidade, sem afetação.
O vocabulário utilizado deve ser adequado ao público ouvinte. Na
oralidade é preciso ser mais claro e objetivo, sendo necessário, às vezes,
completar as ideias da história.
3ª - Conhecer com absoluta confiança o enredo.
O contador tem que estar seguro sobre o que vai contar, do contrário é
melhor não contar.
4ª - Dominar o interesse do público.
Sempre buscar maneiras de fazer com que os ouvintes permaneçam
concentrados na história.
5ª - Contar dramaticamente.
O contador pode se passar por algum dos personagens ou por todos.
6ª - Falar com voz adequada, clara e agradável.
Não convém falar em falsete ou impostando a voz, a não ser que seja
em momentos específicos para caracterizar um personagem.
7ª - Ser comedido nos gestos.
Se exagerar em gestos sem objetivos, quando fizer um que seja
necessário para melhor entender a história, não será notado.
8ª - Ter espírito inventivo e original.
Contar as histórias com suas próprias palavras – contar o que está
velho de forma nova. Se a história for de livro deve ser adaptada, pois a
linguagem escrita é diferente da oral.
9ª - Ter estudado a história.
Não é necessário decorar, mas sim testar diversas possibilidades de
exploração oral para contar com espontaneidade.
É fácil perceber a facilidade das crianças, de inventar histórias e um bom
leitor sabe recriar um texto e para que isso aconteça se faz necessário
desabrochar o seu potencial criativo, apartir de sua experiência pessoal e plena
com a leitura. Não se deve esquecer de incluir este momento mágico nos
Projetos Pedagógicos da escola. Um exemplo é o Projeto “Ler é viver”,
desenvolvido por uma instituição de ensino particular. O projeto tem como
objetivo desenvolver, de forma lúdica, o hábito de ler e o interesse pela leitura
por meio de empréstimos de livros. A professora disponibiliza os livros que
32
foram sugeridos aos pais na lista de material. Em seguida cada criança,
escolhe o livro que levará para casa para ler com seus familiares. Logo após o
retorno do livro, é feita uma roda de conversa, onde cada criança mostra o livro
que levou e conta um pouco sobre sua experiência com aquela história.
Algumas vezes, segue com o livro uma atividade, como por exemplo trazer o
personagem preferido feito de sucata ou ilustrar onde aconteceu a história,
relatar um outro final para a história, conforme o seu desejo e tantas outras
propostas. Esse projeto além de estimular o gosto pela leitura, proporciona
interação com os pais, e atendendo o conceito de que a leitura vai além da
escola, tendo a família como mediador.
São essas e outras experiências de incentivo a leitura, que se pode
forma bons leitores.
Projeto como esse não deve ser voltado para a ideologia de
manipulação da linguagem, incutida de conceitos e padrões comportamentais e
intenções moralistas. Usar a Literatura com este intuito é degradar a infância.
Soares (1991, p 52) afirma:
Pesquisas já demonstraram que, enquanto as classes dominantes veem a leitura como fruição, lazer, ampliação de horizontes, de
conhecimentos, de experiências; as classes dominadas a veem pragmaticamente como instrumento necessário à sobrevivência, ao acesso ao mundo do trabalho, à luta contra suas condições de vida.
Muitos educadores que se preocupam com o incentivo a leitura
(crianças e jovens), já identificam o caráter mecânico do ensino da leitura em
escolas tradicionais. Alguns poetas e escritores denunciam em suas obras tais
procedimentos,com intuito de que se façam uma atualização do saber. Por
exemplo:
“INICIAÇÃO LITERÁRIA” Leituras! Leituras! Como quem diz: Navios...sair pelo mundo voando na capa vermelha de Júlio Verne. Mas por que me deram para livro
escolar a Cultura dos Campos de Assis Brasil? O mundo é só fosfatos- lotes de 25 hectares- soja- fumo- alfafa- batata doce- mandioca- pastos de cria- pastos de engorda. Se algum dia eu for rei, baixarei um
decreto condenando este Assis a ler a sua obra. (ANDRADE, 2006. p. 54).
Nesta obra de Andrade, o poeta ressalta as imposições de uma escola
tradicional, levando o leitor a se questionar, sobre a utilização didática do livro
escolar. O poeta ainda frisa a questão da “leitura de mundo”, pois é incorreto
que se faça somente a leitura objetiva, de olhar oficial, que são impostas,
33
carregadas de valores e ideologias vigente, mas sim pelo olhar encantado da
imaginação que nos conduz aos caminhos da criação, ultrapassando os limites.
Por isso se faz necessário que o educador tenha esse olhar mais apurado, na
hora de fazer a seleção dos livros a serem utilizados em aula. Que os pais
saibam que livro será de fato significativo e de retorno positivo para seus filhos.
Quando a criança apresenta resistência a leitura, cabe pais e
professores investigar de maneira bem ampla as possíveis razões, que podem
ter origem emocional, pode-se tratar de uma criança com dislexia , uma criança
hiperativa, se os livros oferecidos estavam de acordo com a sua fase de
desenvolvimento, se os pais tem o hábito de ler(para si e para seus filhos), a
sua experiência com a leitura, que pode como exemplo já citado, ter sido
utilizada como forma de obrigação, para fazer tarefas e até mesmo cópias,
enfim são inúmeras as possibilidades e detectando a origem de tal aversão da
criança, será o primeiro passo para resolvê-lo.
“Esta moça de trança longa e macia é prisioneira da
bruxa numa torre alta e sombria. Rapunzel das longas tranças. Espera ser livre um dia. Virá alguém libertá-la? A estória aqui
principia.” (Irmãos Grimm)
Fonte:https://loucosportecnologias.blogspot.com.br/2013/11/rapunzel-musicas-e-audios-com-o-tema-do.html
34
CONCLUSÃO
Esse trabalho foi elaborado com uma abordagem de referencial teórico
buscando ressaltar a contribuição dos contos de fadas para a formação da
criança ao longo dos séculos.
Buscou-se ressaltar a Importância da Literatura principalmente os
Contos de fadas para o desenvolvimento cognitivo, dando ênfase às
representações simbólicas de conflitos humanos. São também imensuráveis os
seus benefícios ao Neurodesenvolvimento infantil.
A Neuroeducação vem trazendo um novo olhar sobre a aprendizagem.
Destaca-se então a necessidade de um professor inserido nesta nova
perspectiva.
A pesquisa promoveu o entendimento de que contar histórias não é só
abrir um livro e reproduzir oralmente o que se lê com a finalidade de acalmar as
crianças ou passar o tempo. É necessário entender que a criança precisa,
primeiramente estar motivada a ouvir uma história. Existe também todo um
critério para contar uma história, desde a escolha dos livros, até a escolha do
tom de voz que será usado. Vale ressaltar que existem muitas maneiras e
muitos recursos para se contar uma história. Desta maneira sua imaginação
estará sendo estimulada, sua curiosidade aguçada e progressivamente o
desenvolvimento do seu intelecto. Consequentemente está criança será de fato
um futuro leitor, pois lhe foi despertado o encantamento desde a infância.
Outro aspecto bastante relevante tratado nesta pesquisa e provoca
reflexão, é a concorrência desleal dos livros com a tecnologia, cada vez mais
presente em nossas vidas e de forma tão precoce. Deve haver então, cautela
no contato da criança com o livro, focando no seu encantamento, no seu prazer
e nas suas emoções diante deste universo mágico.
35
BIBLIOGRAFIA
ABRAMOVICH, F. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:
Ed.Scipione,1997.
AMATO, Mirian, GARCIA, Neise Aparecida Rodrigues. A biblioteca na escola.
In: Nery, Alfredina et al. Biblioteca escolar: estrutura e funcionamento. São
Paulo: Loyola, 1989.
ARAÚJO, ANA. Literatura para Bebês. Pátio, São Paulo, n.25, p. 57-59,
Fev/Abr.2003.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Ed. Martins
Fontes,1992.
BAMBERGER, Richard. Como incentivar o hábito da leitura. 7.ed. São
Paulo: Ed.Ática, 2000.
BATTLHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas.16.São Paulo: Ed.
Paz e Terra,2007.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. 3. Brasília:Ed. A
secretaria, 2001. CARDOSO, Fabio e CAMPOS, Ana Maria. A Contação de Histórias
contribuição à neuroeducação. Rio de Janeiro: Ed.Wak, 2016.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. 7.ed.
São Paulo.p. 45:Ed. Moderna, 2000.
COSENZA, Ramon M.; GUERRA, Leonor B.. Neurociência e Educação:
Como o cérebro aprende. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2011.
DAMÁSIO, Antônio. O mistério da consciência. São Paulo: Ed. Companhia
das Letras.2000.
MACHADO, Ana Maria. A literatura deve dar prazer. Rio de Janeiro: Nova
Escola: a revista do professor, São Paulo, v. 16, n. 145, p. 21-23, set. 2001.
Entrevista concedida a Priscila Ramalho.
36
MELO, Priscila, A origem dos Contos de Fadas. Disponível em:
https://www.estudokids.com.br/a-origem-dos-contos-de-fadas/
MIGUEZ,Fátima. Nas arte-manhas do imaginário infantil. São Paulo:
Ed.Zeus,2001.
NAVAS, A. L. G. P. Neurodesenvolvimento. São Paulo: Memmon,2005. P.93-105. NERY, Alfredina. Biblioteca Escolar Estrutura e Funcionamento: Edições
Loyola, 1989.
OLIVEIRA, Patrícia Sueli Teles de. A contribuição dos Contos de fadas no
processo de aprendizagem das crianças. Salvador, 2010, 13 f.
Monografia – Universidade do Estado da Bahia-UNEB, Salvador, 2010.
PIAGET, J. Para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. Campinas:
Ed.Papirus,1991.
QUEIROZ, Márcio Pedro Carvalho Pataro de. A leitura na vida do indivíduo e
sua função curadora nos anciãos do Abrigo do Salvador. Salvador, 2003,
55 f. Monografia – Instituto de Ciência da Informação – ICI/UFBA, Salvador,
2003.
REIS, A. H., Habigzang L.F., & Sperb T. M. (2015). Emoções na infância e
influência parental na regulação emocional infantil em uma perspectiva
cognitivo-comportamental. In Federação Brasileira de Terapias Cognitivas,
Neufeld, C. B., Falcone, E. M. O. & Rangé, B. (Orgs.). PROCOGNITIVA
Programa de Atualização em Terapia Cognitivo-Comportamental: Ciclo 1. (pp.
63-114). Porto Alegre: Artmed Panamericana. (Sistema de Educação
Continuada a Distância, v. 4).
RELVAS, Marta Pires. Neurociência na prática Pedagógica. Rio de Janeiro:
Ed. Wak, 2012.
ROCHA, Julio Amaral do. & MARTINS Jorge oliveira de. Sistema Límbico: O
Centro das Emoções. Disponível em:
http://www.cerebromente.org.br/n05/mente/limbic.htm:
SANDRONI, L. C.; MACHADO, L. R. Ler em casa. In: _____. A criança e o
livro. 2. São Paulo: Ed.Ática,1987,p.18-21.
SANDRONI, L. C.; MACHADO, L. R. A importância da imagem dos livros.
In: _____. A criança e o livro. 2. São Paulo: Ed. Ática, 1987, p. 42-43.SILVA,
37
VICTOR CIVITA.O grande livro das fábulas encantadas. Rapunzel. Irmãos
Grimm. São Paulo:p.393.Ed:Abril.1980.
SANDRONI,L.C;MACHADO,L.R.(ORG). A criança o livro: guia prático de
estímulos à leitura.3.ed.São Paulo:Ed.Ática,1991.
SANT´ANNA, M. Fortalecimento da Memória pelos Contos de Fadas. Rio de
Janeiro: Editora vozes, 2013.
SOARES, M. B. As condições sociais da leitura: uma reflexão em
contraponto. In: ZILBERMAN, R.; SILVA, E. T. (Orgs.). Leitura: perspectivas
interdisciplinares. 2. Ed. São Paulo: Ática, 1991.
TAHAN, MALBA, A arte de ler e contar histórias. Rio de
Janeiro:Ed.conquista,1957.
VYGOTSKY, Lev, Pensamento e linguagem, V. N. Gaia, Estratégias
Criativas. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2001.
ZILBERMAN, REGINA. A literatura infantil na escola. São Paulo:
Ed.Global,2003.
38
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05
METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
A Importância da Literatura Infantil para o Desenvolvimento do Cérebro
Cognitivo Infantil 10
CAPÍTULO II
Cérebro literatura Infantil e as Emoções 18
CAPÍTULO III
Como Despertar na Criança o Interesse pela Leitura? 24
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA 35