Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

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1 CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA VOZ DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO Conhecer para melhor tratar DENISE DE ARAÚJO PISTARINO RIO DE JANEIRO 1999

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CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA

VOZ

DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

Conhecer para melhor tratar

DENISE DE ARAÚJO PISTARINO

RIO DE JANEIRO

1999

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CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA

VOZ

DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO

Conhecer para melhor tratar

Monografia de conclusão do

curso de especialização em Voz

Orientadora: Mirian Goldenberg

DENISE DE ARAÚJO PISTARINO

RIO DE JANEIRO

1999

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, pela vida dedicada à família e pelo incentivo a tornar-

me profissional.

Aos meus filhos, Sérgio Eduardo e Marcelo, pelas horas de alegria nos

intervalos de estudo.

Ao meu marido, Sérgio, pela admiração aos meus esforços.

A todos os profissionais, que colaboraram na execução deste trabalho:

Dr. José Geraldo de Castro Barros (otorrinolaringologista), Dr. Randolfo S. Thiago

Fernandes (gastroenterologista) e Dr. Rônel Mascarenhas e Silva

(gastroenterologista).

A colega Norma Suely, pelo carinho, e apoio nas horas mais difíceis.

A digitadora Marcela, pelos serviços prestados, carinho e paciência.

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“Não é o desafio com que nos deparamos que determina quem

somos e o que estamos nos tornando, mas a maneira com que respondemos ao

desafio (...)”

Henfil

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SUMÁRIO

1 ) INTRODUÇÃO ...................................................................................................1

2 ) SISTEMA DIGESTIVO .......................................................................................2

2.1 ) Boca ....................................................................................................2

2.2 ) Faringe .................................................................................................3

2.2.1 ) Deglutição ...............................................................................5

2.2.1.1 ) Fase Preparatória - Voluntária ................................6

2.2.1.2 ) Fase Oral – Voluntária ..............................................6

2.2.1.3) Fase Faríngea – Involuntária .....................................6

2.2.1.4 ) Fase Esofágica – Involuntária ...................................8

2.3 ) Esôfago ................................................................................................8

2.3.1 ) Parte Cervical ........................................................................10

2.3.2 ) Parte Torácica .......................................................................10

2.3.3 ) Parte Abdominal ...................................................................11

2.4 ) Estômago ...........................................................................................12

2.4.1 ) Estrutura ...............................................................................14

2.4.2 ) Funções ................................................................................15

2.4.3 ) Inervação ..............................................................................17

2.5 ) Laringe ...............................................................................................17

2.5.1 ) Estruturas da Laringe ...........................................................18

2.5.1.1 ) Cartilagens .............................................................18

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6

2.5.1.2 ) Músculos da Laringe ...............................................21

2.5.1.2.1 ) Músculos Extrínsecos ...............................22

2.5.1.2.2 ) Músculos Intrínsecos .................................23

2.5.1.3 ) Cavidade Laríngea ..................................................26

2.5.1.4 ) Histologia ................................................................27

2.5.1.5 ) Fisiologia .................................................................31

2.5.1.5.1 ) Função Esfinctérica ...................................31

2.5.1.5.2 ) Função Respiratória ..................................32

2.5.1.5.3 ) Função Fonatória ......................................32

3 ) REFLUXO GASTROESOFÁGICO ..................................................................35

3.1 ) Definição ............................................................................................35

3.2 ) Classificação .....................................................................................37

3.3 ) Fisiologia ...........................................................................................40

3.3.1 ) Fatores Anatômicos .............................................................41

3.3.1.1 ) Esfíncter Inferior Esofágico ....................................41

3.3.1.2 ) Pilar Diafragmático / Diafragma Crural ...................42

3.3.1.3 ) Ligamento Frenoesofágico .....................................43

3.3.1.4 ) Ângulo de Hiss ........................................................43

3.3.1.5 ) Roseta Gástrica .....................................................44

3.3.2 ) Fatores Funcionais ..............................................................44

3.3.2.1 ) Esfíncter Inferior Esofágico ....................................44

3.3.2.2 ) Peristalse do Esôfago ...........................................45

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3.3.2.3 ) Secreção Salivar .....................................................45

3.3.2.4 ) Gravidade ...............................................................45

3.3.2.5 ) Resistência Tecidual ...............................................46

3.4 ) Fisiopatologia .....................................................................................47

3.5 ) Fatores Predisponentes .....................................................................50

3.5.1 ) Hérnia de Hiato ....................................................................50

3.5.2 ) Obesidade ............................................................................51

3.5.3 ) Sonda Nasogástrica e Gastrostomia ....................................52

3.5.4 ) Helicobacter Pylori ...............................................................53

3.6 ) Incidência ...........................................................................................54

3.7 ) Sintomas Digestivos ...........................................................................56

3.8 ) Complicações Digestivas ...................................................................59

3.8.1 ) Anemia Secundária à Hemorragia .......................................60

3.8.2 ) Estenose Esofágica ..............................................................60

3.8.3 ) Perfuração ............................................................................61

3.8.4 ) Esôfago de Barrett ................................................................62

3.9 ) Sintomas Extradigestivos ...................................................................63

3.9.1) Sintomas e Manifestações Pulmonares ................................64

3.10 ) Refluxo Gastroesofágico e Doença Otorrinolaringológica ...............65

3.10.1 ) Sintomas e Sinais ..............................................................68

3.10.2 ) Alterações Laríngeas Associadas ao RGE ........................72

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3.10.2.1 ) Úlcera de Contato na Glote e Granuloma Laríngeo .

.................................................................................73

3.10.2.2 ) Edema de Aritenóides e/ou do Terço Posterior

das Pregas Vocais ..................................................75

3.10.2.3 ) Carcinoma Laríngeo .............................................77

3.11 ) Outras Manifestações Relacionadas ao RGE ..................................78

3.11.1 ) Dor Torácica .......................................................................78

3.11.2 ) Anemia ...............................................................................80

3.11.3 ) Morte Súbita .......................................................................80

4 ) DIAGNÓSTICO ................................................................................................81

4.1 ) Métodos Diagnósticos .......................................................................82

4.1.1 ) Exame Radiológico Contrastado com Bário .........................82

4.1.2 ) Exame Endoscópico do Esôfago e do Estômago .................83

4.1.3 ) Exame Endoscópico das Vias Aéreas Superiores ................84

4.1.4 ) Teste de Perfusão de Ácido ou Teste de Bernstein .............45

4.1.5 ) Manometria Esofágica ..........................................................85

4.1.6 ) Teste Cintilográfico ou Cintilografia Gastroesofágica ............86

4.1.7 ) Ultrasonografia de Abdome Superior ...................................87

4.1.8 ) pH metria de 24 horas / Monitoração Prolongada do pH .....

Intraluminar Esofágico .........................................................87

5 ) TRATAMENTO ................................................................................................89

5.1 ) Clínico ................................................................................................90

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5.1.1 ) Medidas Posturais e Dietéticas ...........................................90

5.1.2 ) Tratamento Medicamentoso ...............................................93

5.2 ) Endoscópico .....................................................................................97

5.3 ) Cirúrgico ...........................................................................................99

6 ) ATUAÇÃO DO FONOAUDIÓLOGO ............................................................101

6.1 ) Abordagem nos Quadros de Disfagia .............................................102

6.2 ) Abordagem nos Quadros de Disfonia

...............................................106

7 ) CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................108

8 ) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................111

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RESUMO

A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é patologia amplamente

estudada e discutida atualmente, porém, muitas vezes não diagnosticada na

prática clínica.

O refluxo gastroesofágico (RGE) é freqüente e pode manisfestar-se

através de queixas gastrointestinais, otorrinolaringológicas, pulmonares e

fonoaudiológicas.

Este trabalho trata-se de uma pesquisa descritiva - teórica relacionando

as posições de diferentes autores no que se refere a DRGE, tendo como objetivo

conhecer os mecanismos fisiopatológicos, os diferentes sinais, sintomas e

alterações que o RGE pode produzir, servindo de alerta para os especialistas em

questão, ajudando-os a identificar e diagnosticar a DRGE.

As manifestações otorrinolaringológicas da DRGE ocorrem pelo refluxo

que atinge a área da laringe e faringe.

Os sintomas otorrinolaringológicos podem aparecer isoladamente ou

em combinação, são crônicos, intermitentes e podem não apresentar

manifestações típicas o que dificulta o diagnóstico.

O fonoaudiólogo, com freqüência, trata pacientes com queixas de

disfonia e disfagia, e deve portanto conhecer e investigar a possível relação com a

DRGE, estabelecendo contato com outros especialistas para que o diagnóstico

possa ser definido e condutas terapêuticas estabelecidas.

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SUMMARY

Gastroesophageal Reflux Disease (GERD) is widely studied and

discussed pathologically. However, many times it is not diagnosed in clinical

practice.

Gastroesophageal reflux is common and can appear through

gastrointestinal, otolaryngological, phonological, and lung complaints and

discomfort.

This descriptive-theoretical research offers the positions of different

authors relating to Gastroesophageal Reflux Disease targeting the understanding

of physiopathological mechanisms, different signs, symptoms and alterations that

GERD can produce, and to alert specialists and help them to identify and diagnose

GERD.

GERD’s otolaryngological manifestations occur from the reflux

reaching the larynx and pharynx areas.

ORL symptoms can appear isolated or in combinations, are chronic,

intermittent, and may sometimes not present typical manifestations, which

complicates diagnosis.

Phonologists often treat patients complaining about dysphonia and

dysphagia and should therefore be aware of and investigate the possible

relationship of Gastroesophageal Reflux Disease by contacting other specialists so

that diagnosis can be defined and therapeutic procedure established.

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1 ) INTRODUÇÃO

A doença do refluxo gastroesofágico é definida como o conjunto de

manifestações clínicas e/ou alterações orgânicas decorrentes da ação ácida do

conteúdo gástrico, sobre o esôfago e sistema respiratório.

A sintomatologia é muitas vezes bem referida pelos pacientes, o que

facilita seu diagnóstico e tratamento. Porém, nem sempre os sintomas e/ou sinais

apresentados permitem identificá-la prontamente.

O presente estudo, trata-se de uma pesquisa descritiva – teórica, tendo

como objetivo auxiliar aos diferentes especialistas envolvidos com as

manifestações do refluxo gastroesofágico no reconhecimento e diagnóstico da

doença do refluxo gastroesofágico, que apresenta-se muitas vezes inespecífica

clinicamente, podendo o exame físico nada revelar.

O fonoaudiólogo com frequência trata pacientes que apresentam

queixas como disfonia e disfagia, que podem decorrer da ação lesiva do refluxo

gastroesofágico.

Faz-se necessário muitas vezes um elevado grau de suspeita e para

isso é preciso CONHECER...

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2 ) SISTEMA DIGESTIVO

O sistema digestivo é composto por uma série de órgãos que visam um

objetivo comum: a digestão do alimento.

Podemos entender o sistema digestivo como um longo tubo que tem

início no orifício bucal e se estende até o ânus. Sua longitude no homem é de 10 a

12 metros; e representa 6 a 7 vezes a longitude total do corpo.

No seu longo trajeto, o tubo digestivo está constantemente situado no

plano anterior ou ventral da coluna vertebral.

Ocupa primeiramente a boca, onde se origina e logo descende pelo

pescoço, atravessando sucessivamente as cavidades torácica, abdominal e

pélvica e termina um pouco abaixo do cóccix.

No pescoço, entra em contato com a laringe e particularmente com a

porção deste conduto que está destinada à fonação (Testut e Latarjet, 1960).

Considerado desde o ponto de vista topográfico, o tubo digestivo

compreende sete segmentos: a boca, a faringe, o esôfago, o estômago, o intestino

delgado, o intestino grosso e o ânus.

2.1 ) Boca

Primeira porção do tubo digestivo. Consiste em uma cavidade irregular

onde o alimento começa a sofrer as primeiras etapas do processo digestivo,

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ocorrendo a digestão mecânica pela mastigação e ensalivação, e uma pequena

digestão química relativa aos carboidratos, através da ação enzimática da ptialina

ou amilase salivar (Ganong, 1974 e Soares, 1997).

Na boca, os alimentos são misturados com a saliva e impulsionados

para a faringe, dando início ao processo de deglutição dos alimentos (Bianchini,

1998).

2.2 ) Faringe

A faringe, segunda porção do tubo digestivo, está situada

posteriormente às cavidades nasais, boca e laringe; anteriormente à coluna

cervical e inferiormente à base do crânio.

Trata-se de um tubo músculo-membranoso que se estende da face

inferior do crânio até o nível da cartilagem cricóide ventralmente, e da sexta

vértebra cervical dorsalmente. Ao nível da cartilagem cricóide e sexta vértebra

cervical, a faringe termina dando início ao esôfago (Gardner e col., 1978).

Comunicam-se com a faringe sete cavidades: as duas cavidades nasais

e a boca anteriormente, as duas cavidades timpânicas lateralmente, a laringe e o

esôfago inferiormente.

A faringe pode ser subdividida em três partes: nasal, oral e faríngea. A

parte nasal da faringe recebe o nome de nasofaringe ou cavum; a parte oral da

faringe é denominada orofaringe e a parte faríngea de hipofaringe.

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Histologicamente, a faringe é um tubo composto de três camadas:

mucosa, fibrosa e muscular (Gardner e col., 1978).

A túnica mucosa é contínua com a que reveste as cavidades nasais, a

boca, as tubas auditivas e a laringe. Sendo a parte nasal da faringe revestida por

epitélio cilíndrico ciliado; e nas porções oral e laríngea, o epitélio é pavimentoso

estratificado (Gardner e col., 1978).

O epitélio se diferencia, então, de acordo com as partes e em

correspondência com as diversas funções (Ham, 1970).

Na lâmina própria são encontradas glândulas mucosas salivares

acessórias e tecido linfóide.

A camada fibrosa, situa-se entre as camadas mucosa e muscular;

sendo espessa superiormente e constituída de fibras elásticas.

Fisiologicamente, a faringe atua como um canal comum tanto para a

deglutição quanto para a respiração, as vias aéreas e alimentares cruzam-se na

faringe (Gardner e col, 1978)

A faringe participa da função respiratória dando passagem às correntes

aéreas inspiratória e expiratória; da função fonatória fazendo parte do pavilhão de

ressonância faringobuconasal, e ainda desempenha função primordial na

deglutição dos alimentos.

2.2.1 ) Deglutição

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Tanigute (1998), define que a deglutição é uma seqüência reflexa de

contrações musculares ordenadas que leva o bolo alimentar ou líquidos da

cavidade bucal até o estômago.

O processo de deglutição compreende uma fase inicial voluntária e uma

fase posterior reflexa, e portanto involuntária. Trata-se de uma atividade

neuromuscular complexa e integrada, sabendo-se que a fase reflexa da

deglutição, denominada fase faríngea, é mediada pelo tronco cerebral ao nível da

formação reticular, imediatamente adjacente ao centro respiratório, sofrendo

influência de comando cortical, sendo a sua organização neural pouco conhecida.

O processo da deglutição é dividido por Tanigute (1998) e Zemlin

(2000), para efeito didático, em três fases ou estágios permitindo melhor

compreensão da fisiologia deste processo. São eles: fase oral ou voluntária; fase

faríngea ou involuntária e fase esofágica ou involuntária.

Já Marchesan (1998), Furkim e Carrara-de Angelis (2000) dividem este

processo em quatro fases: fase preparatória; fase oral ou voluntária; fase faríngea

ou involuntária e fase esofágica ou involuntária.

Os diferentes momentos da deglutição, descritos a seguir, buscam

salientar diferentes ações reflexas que objetivam proteger a nasofaringe do

refluxo do alimento deglutido, assim como proteger as vias aéreas inferiores

impedindo a penetração e aspiração de tais alimentos na laringe (Zemlin, 2000).

Entender o comportamento esfinctérico das junções faringoesofágica e

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gastroesofágica é essencial para a compreensão do principal agente etiológico

da DRGE.

2.2.1.1 ) Fase Preparatória - Voluntária

É o momento em que preparamos o alimento mordendo-o e

mastigando-o para transformá-lo em um bolo homogêneo, o que facilitará a

deglutição.

2.2.1.2 ) Fase Oral - Voluntária

O bolo alimentar é recolhido sobre a língua e impelido para trás em

direção a faringe, pela pressão da língua que realiza movimentos ântero-

posteriores contra o palato.

Por meio da movimentação ondulatória da língua, o bolo alimentar

alcança os arcos palatinos anteriores desencadeando o reflexo da deglutição.

Tem-se início a fase faríngica da deglutição.

2.2.1.3 ) Fase Faríngea - Involuntária

Nesta fase a deglutição é reflexa e absolutamente involuntária.

Seu início ocorre com a elevação e aumento da tensão do palato mole,

ao mesmo tempo que ele é firmemente aproximado da parede posterior da faringe

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pela contração do esfíncter velofaríngeo, ocluindo a nasofaringe e portanto

impedindo o refluxo do bolo alimentar (Zemlin, 2000).

A contração do músculo tensor do véu palatino promove, também a

abertura da tuba auditiva.

O fechamento hermético da região orofaríngea ocorre ao mesmo tempo

em que a laringe é direcionada para cima, atrás do osso hióideo, sendo a faringe

levada para cima com ela. Simultaneamente, a entrada da laringe é fechada

através da ação das três válvulas de proteção da via aérea: epiglote e prega

ariepiglótica, pregas vestibulares e pregas vocais.

O fechamento da via aérea é facilitado pela elevação da laringe que

aproxima as cartilagens aritenóides pela inclinação da base da epiglote (Furkin e

Carrara-de Angelis, 2000).

É importante observar que o fechamento da via aérea ocorre somente

durante o tempo em que o alimento está deslocando-se pela base da língua e

faringe, cessando quando o alimento chega ao esôfago.

O bolo alimentar chega à faringe e os músculos levantadores relaxam-

se e a faringe desce.

Em respostas às contrações sucessivas dos constritores superior e

médio – peristaltismo faríngico – o bolo alimentar desliza desde a porção inferior

da faringe até atingir o esôfago. O peristaltismo faríngico é o responsável pela

“limpeza” do alimento localizado em valéculas e no seio piriforme.

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O reflexo de deglutição é responsável pela elevação, anteriorização e

fechamento da laringe assim como pelo fechamento velofaríngico.

2.2.1.4 ) Fase Esofágica - Involuntária

A fase esofágica tem início com a passagem do bolo alimentar pelo

esfíncter esofágico superior ou espaço cricofaríngeo que se relaxa de forma

reflexa ao deglutir, permitindo a entrada do alimento no esôfago (Zemlin, 2000).

Iniciam-se movimentos peristálticos esofágicos que direcionam o

alimento até o estômago.

A musculatura da união gastroesofágica apresenta-se igualmente tensa

à união faringoesofágica, relaxando-se também ao deglutir.

Após descrever as etapas da deglutição que finaliza com a fase

esofágica, o presente estudo seguindo o trajeto percorrido pelo bolo alimentar,

passa a descrever o esôfago, salientando características anatômicas, funcionais e

estruturais desse órgão.

2.3 ) Esôfago

No esôfago encontramos a chamada barreira anti-refluxo fisiológica que

regula a freqüência dos refluxos como também o volume do material refluído;

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impedindo que o refluxo ocorra fora da deglutição e por períodos prolongados

(Chone e Gomes, 1995; Lopes, 1996).

O esôfago constitui-se em um tubo muscular que conecta a faringe,

superiormente, com o estômago, inferiormente, estendendo-se desde o nível da

cartilagem cricóide (6ª vértebra cervical) até próximo da 11ª vértebra torácica

(Gardner e col., 1978).

Na posição ereta tem cerca de 25 a 30 cm de comprimento, sendo 1 a 2

cm mais curto nas mulheres.

Sua forma e calibre variam considerando o mesmo em estado vazio ou

cheio, sendo bastante distensível.

O esôfago é irrigado sobretudo pelos vasos tireóideos e inervado pelos

nervos laríngeos recorrentes (ramificação do vago – X par craniano).

Ham (1970) relata que o esôfago, histologicamente, está formado por

quatro camadas como todo o tubo ou aparelho digestivo, sendo que algumas

variações apresentadas nestas camadas, ocorrem em resposta às funções que as

mesmas desempenham.

O epitélio é do tipo plano estratificado, sem queratina, sendo este uma

camada grossa, existe pequena quantidade de tecido linfático possuindo glândulas

esofágicas na camada submucosa e algumas na lâmina própria próximas ao

estômago, que recebem o nome de glândulas cardíacas, por serem semelhantes

às encontradas na porção cárdica do mesmo.

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A camada muscular é do tipo estriado na porção superior; liso e

estriado no terço médio, passando à musculatura lisa no terço inferior.

A fibra muscular estriada normalmente é de contração voluntária, porém

a musculatura estriada da faringe e da parte alta do esôfago é uma exceção, já

que são inervadas principalmente por fibras parassimpáticas do nervo vago, que

pertence ao sistema nervoso involuntário. O esôfago não está recoberto por

peritônio, e no lugar de serosa possui uma adventícia.

Apresenta, topograficamente, as partes cervical, toráxica e abdominal.

2.3.1 ) Parte Cervical

Corresponde cerca de um quinto de todo o seu comprimento, estando

relacionada na parte anterior com a traquéia e os nervos recorrentes;

posteriormente, com o longo do pescoço e a coluna vertebral e, lateralmente , com

os lobos da glândula tireóidea e artérias carótidas comuns.

2.3.2 ) Parte Torácica

Constitui a porção mais longa do esôfago, estendendo-se desde a 2ª

vértebra torácica até a 10ª - 11ª vértebra torácica.

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Topograficamente encontra-se localizado no mediastino posterior,

relacionando-se posteriomente com a coluna torácica, e anteriormente com a

traquéia, brônquio esquerdo e átrio (Gardner e col., 1978).

2.3.3 ) Parte Abdominal

A parte mais inferior do esôfago desvia-se para a esquerda e atravessa

a abertura esofágica do diafragma, juntando ao estômago na sua curvatura menor.

Esta junção é denominada junção gastroesofágica ou cardioesofágica.

A junção gastroesofágica constitui uma importante barreira para o

refluxo do conteúdo do estômago para o esôfago (Gardner e col., 1978).

Acima da junção gastroesofágica encontra-se um segmento

esfinctérico, caracterizado por uma porção tubular superior e uma porção

expandida inferior ou vestíbulo. As fibras musculares circulares em torno da junção

entre estas duas porções, compreendem o esfíncter esofágico inferior (EIE).

A pressão nesta região é maior do que no fundo do estômago, o que

constitui o mecanismo esfinctérico normal. A pressão diminui, imediatamente,

antes da chegada do bolo alimentar, relaxando o esfíncter que volta a contrair-se

logo a seguir.

O rápido relaxamento e subsequente pós-contração do EIE em

resposta à deglutição encontram-se, principalmente, sob controle neural, sendo

que o tono de repouso parece estar sob controle hormonal.

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O mecânismo de fechamento entre o esôfago e o estômago inclui

pregas mucosas que se reúnem quando o esfíncter se contrai.

2.4 ) Estômago

O estômago constitui-se em uma cavidade intermediária entre o

esôfago e o intestino delgado, onde se acumulam os alimentos sofrendo

importantes modificações biológicas que dão como resultado a transformação em

quimo (Ham, 1970; Gardner e col., 1978).

O estômago apresenta uma parte cárdica, um fundo, um corpo, uma

parte pilórica, duas curvaturas a maior e menor, duas paredes a anterior e a

posterior e duas aberturas a cárdica e a pilórica.

Na abertura cárdica, a cavidade do esôfago junta-se com a do

estômago, e se distingue do fundo e do corpo pelas glândulas cárdicas contidas

em sua mucosa, não existindo linha externa delimitando as mesmas.

O fundo é a parte do estômago acima do nível de entrada do esôfago;

sua mucosa possui uma estrutura similar à do corpo. Ambas contém glândulas

gástricas.

O corpo do estômago é a porção entre o fundo e a parte pilórica.

A parte pilórica é a porção do estômago revestida pela mucosa que

contém glândulas pilóricas, sendo a parte proximal denominada antro pilórico e a

parte distal, canal pilórico.

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O esfíncter pilórico circunda a abertura pilórica que corresponde a uma

área de transição do estômago para o duodeno.

O estômago é um órgão bastante distensível e portanto, não apresenta

forma estável. Quando vazio, se assemelha a uma letra J.

O estômago é um órgão móvel, facilmente deslocável e não apresenta

uma posição fixa.

As relações mais freqüentes e importantes estando o indivíduo em

decúbito e com estômago vazio, são: anteriormente o diafragma, o fígado e a

parede abdominal anterior e, às vezes, o cólon transverso, sendo toda a superfície

anterior coberta por peritônio que também interpõe-se entre o estômago e as

estruturas mencionadas. Posteriormente, de cima para baixo, estão o diafragma, a

glândula supra-renal esquerda, o pâncreas, uma parte do rim esquerdo e o

mesocólon transverso. O peritônio recobre também praticamente toda a superfície

posterior exceto uma pequena área “nua” próximo à abertura cárdica.

O baço também se relaciona com o estômago na parte superior da

curvatura maior da parte adjacente de qualquer das duas superfícies, sendo

freqüentemente a posterior.

2.4.1 ) Estrutura

Page 26: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

26

Ham (1970) relata que a parede do estômago está formada por quatro

camadas: mucosa; sub- mucosa; muscular externa e serosa (peritoneal).

A camada mucosa é relativamente grossa contendo glândulas nas

porções: cárdica, gástrica e pilórica.

A mucosa do estômago vazio apresenta-se em forma de pregas

denominadas rugas ou pregas gástricas, que desaparecem quando o estômago

está cheio.

Através de pequenas aberturas denominadas fávelas ou criptas

gástricas, flui o suco gástrico.

As glândulas encontradas nas mucosas do fundo e do corpo do

estômago produzem quase todas as enzimas e ácido clorídrico secretados pelo

estômago.

No homem foi demonstrado que existe uma produção quase contínua

de suco gástrico que aumenta quando vamos comer ou enquanto comemos.

Diversos fatores aumentam a produção de secreção gástrica. A

regulação fisiológica de secreção gástrica, sofre influências cefálicas, gástricas e

intestinais.

As influências cefálicas são respostas mediadas pelo nervo vago

induzidas pela atividade do Sistema Nervoso Central.

As influências gástricas são respostas reflexas locais e em resposta à

gastrina (hormônio).

Page 27: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

27

Já as influências intestinais ocorrem quando os produtos da digestão e

o próprio suco gástrico alcança a mucosa intestinal e dão origem a um produto

que por via sanguínea estimulam ainda mais as glândulas gástricas.

É importante ressaltar, que determinados alimentos ao chegar no

estômago estimulam ainda mais a produção de ácido gástrico.

A submucosa não contém glândulas, exceto na porção pilórica vizinha

ao duodeno (Ham, 1970).

A muscular externa possui três camadas e por fim uma camada serosa

(Testut e Latarjet, 1960).

O epítélio superficial oferece proteção direta, por ser bastante

consistente e indiretamente por produzir muco que reveste a face interna do

estômago.

As células do epitélio superficial não são digeridas pela ação

enzimática, constituindo uma proteção vital (Ham, 1970).

2.4.2 ) Funções

Ao estômago correspondem várias funções. A primeira seria atuar como

depósito, já que suas paredes são elásticas podendo distender-se até um litro e

meio.

O estômago também realiza a digestão enzimática sendo esta a sua

principal função. A comida permanece em seu interior aproximadamente de 3 a 4

horas dependendo do alimento ingerido. Neste período o alimento sofre digestão

Page 28: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

28

intensa através da ação do suco gástrico que é produzido pelas células e glândula

da mucosa.

O suco gástrico contém três enzimas, ácido clorídrico e muco. As

enzimas são: a pepsina sendo esta a mais importante delas digerindo as

proteínas; a renina, que coagula o leite; e a lipase, que hidrolisa as gorduras,

sendo a ação desta última pequena.

O estômago atua misturando os alimentos através dos movimentos

musculares que realiza com o suco gástrico, transformando o alimento em uma

massa semi líquida de consistência uniforme denominada quimo (Ham, 1970;

Gardner e col., 1978).

Formado o quimo, o mesmo é rapidamente esvaziado para o duodeno

através dos movimentos peristálticos .

O esfíncter pilórico impede o refluxo do material digerido do duodeno

para o estômago. O esfíncter pilórico está também sob controle neural e hormonal.

Outras funções do estômago: produzir o fator necessário para a

absorção da vitamina B12, a absorção de água, sais, glicose, álcool e alguns

fármacos ( Ham, 1970; Ganong, 1974).

2.4.3 ) Inervação

Page 29: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

29

O estômago está inervado pelo plexo celíaco através de plexos ao

longo das artérias do estômago; por fibras simpáticas do nervo frênico esquerdo e

por ramos gástricos do tronco vagal.

2.5 ) Laringe

A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) pode manifestar-se

através de sintomatologia variada, principalmente no campo da

otorrinolaringologia, afetando diretamente a laringe modificando sua anatomia,

estrutura e funcionamento resultando em alterações da qualidade vocal (Chone e

Gomes, 1995; Bretan e Henry, 1995; Costa e col.,1997).

Neste tópico, características anatomofisiológicas e estruturais da laringe

serão consideradas sucintamente de tal forma que os especialistas envolvidos nos

diagnósticos e tratamento das diversas manifestações da DRGE possam

identificar a possível relação do Refluxo Gastroesofágico (RGE) com as alterações

observadas na estrutura e no desempenho da laringe ao realizar suas funções.

2.5.1 ) Estruturas da Laringe

Page 30: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

30

A anatomia macroscópica da laringe é conhecida desde meados do

século XVI porém, os pormenores de sua estrutura continuam a ser desvendados

até hoje (Zemlin, 2000).

A laringe é um órgão situado acima da traquéia e é composto por

cartilagens, músculos e por um epitélio de revestimento especial (Boone e

McFarlane, 1994).

2.5.1.1 ) Cartilagens

O esqueleto da laringe é composto por seis cartilagens que são:

tireóide, cricóide, epiglote, aritenóides, corniculadas ou cartilagens de Santorini,

cuneiformes ou cartilagens de Wrisberg.

As cartilagens estão ligadas entre si por ligamentos e articulações que

permitem o deslizamento de uma sobre a outra, em movimentos ântero-

posteriores, de lateralidade e basculantes, sob a influência da ação muscular.

Tireóide

Situada abaixo do osso hióide, é formada por duas placas

quadrangulares e dois processos posteriores: o superior e o inferior. Anteriormente

estas duas placas se unem constituindo a “proeminência laríngea” ou “ pomo-de-

Page 31: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

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adão” que é palpável e visível principalmente em homens adultos. Pode ser

observada subindo e descendo no pescoço, durante a deglutição, e descendo

durante a fala conversacional, e subindo levemente nas notas agudas, durante o

canto (Boone e McFarlane, 1994).

A cartilagem tireóide está conectada anterior e lateralmente com o osso

hióide pela membrana tireoióidea, e posteriormente pelo ligamento tiroióideo.

Histologicamente, a cartilagem tireóide é composta por tecido hialino e

pode desenvolver calcificação que se inicia em torno dos vinte anos de idade

(Gardner e col., 1978).

Quase toda a sua superfície é coberta por uma camada de pericôndrio,

exceto a parte interna que é coberta por uma membrana mucosa.

A cartilagem tireóide é a maior cartilagem da laringe.

Cricóide

A cartilagem cricóide tem a forma de um anel de sinete formando a

base sólida da laringe.

Localiza-se logo abaixo da tireóide, estando ligada a esta pela

membrana cricotireóidea.

Sobre sua borda superior, giram as duas cartilagens aritenóideas. Uma

depressão, a cada lado, da superfície posterior da lâmina dá inserção ao músculo

cricoaritenóideo posterior e, no plano mediano, uma crista dá inserção ao esôfago

- tendão cricoesofágico - ( Gardner e col., 1978).

Page 32: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

32

A borda inferior da cartilagem cricóide delimita o término da faringe e

laringe, e o início do esôfago e traquéia.

A cartilagem cricóide, assim como a tireóide, apresenta sua face interna

lisa, recoberta por uma membrana mucosa e formada por tecido hialino.

Aritenóides

As aritenóides são em número de duas, em forma de pirâmide, estando

situadas na borda superior da lâmina da cricóide.

Cada aritenóide possui três lados, um ápice e uma base. O ápice dá

apoio às cartilagens corniculadas. A base apresenta duas apófises: a apófise

vocal que dá inserção ao ligamento vocal; a apófise muscular, onde se inserem os

músculos responsáveis pela adução e abdução glotica.

Sua estrutura é formada por tecido hialino, exceto seu ápice e apófise

vocal que são constituídos por tecidos elásticos.

Epiglote

Possui forma de folha (triangular), praticamente toda coberta por

membrana mucosa. O epitélio é basicamente ciliado pseudo-estratificado. A

lâmina própria é frouxa e fina. A cartilagem epiglótica encontra-se abaixo da

mucosa e consiste de tecido elástico.

Page 33: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

33

Topograficamente a cartilagem epiglótica está situada atrás da língua e

do corpo do osso hióide, e anteriormente na entrada da laringe constituindo a sua

porção mais elevada (Gardner e col., 1978).

Sua função como proteção da via aérea no momento da deglutição

vem sendo questionada por alguns autores (Ham, 1970 e Dell Aringa,1997).

Corniculadas ou Cartilagem de Santorini

Constituem-se em pequenos pares de nódulos de fibrocartilagens

elásticas articuladas com os ápices das cartilagens aritenóides, sendo que

algumas vezes funde-se com esta.

Cuneiformes ou Cartilagens de Wrisberg

São pequenos pares de estruturas fibrocartilaginosas elásticas

situadas nas pregas ariepiglóticas.

As cartilagens corniculadas e cuneiformes desempenham papel mínimo

na função fonatória da laringe ( Boone e MacFarlane, 1994).

2.5.1.2 ) Músculos da Laringe

Existem dois grupos principais de músculos da laringe: os

extrínsecos e os intrínsecos.

Page 34: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

34

2.5.1.2.1 ) Músculos Extrínsecos

Os músculos extrínsecos da laringe são aqueles que tem inserção

externa à laringe e movimentam a mesma como um todo, desempenhando

funções de elevação, abaixamento e tração ântero-posterior. Todos estes

músculos são estriados.

Funcionalmente, os músculos extrínsecos, podem ser divididos em dois

grupos: elevadores e abaixadores, com exceção dos cricofaríngeos que atuam na

fixação da laringe durante a vocalização ( Boone e MacFarlane, 1980).

Os músculos situados acima do osso hióide são denominados supra-

hióideos, e são predominantemente elevadores. Os infra-hióideos encontram-se

abaixo do osso hióide e são predominantemente abaixadores.

Os músculos supra-hióideos (elevadores da laringe) são: digástrico, o

estilo-hióideo, o milo-hióideo, o gênio-hióideo, o hioglosso e o genioglosso.

O hioglosso e o genioglosso são músculos da língua que podem

influenciar a posição da laringe indiretamente (Zemlin, 2000).

O tiro-hióideo, músculo extrínseco, pode elevar ou abaixar a laringe, de

acordo com a musculatura envolvida.

A elevação da laringe ocorre durante a deglutição e levemente durante

a produção de notas agudas no canto (Greene, 1983; Boone e McFarlane, 1994;

Pinho, 1998).

Page 35: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

35

O movimento de abaixamento da laringe ocorre após a deglutição e

após o canto de notas agudas. O mesmo acontece para a produção de notas

cantadas graves predominantemente no registro de peito (Pinho, 1998).

A posição alta da laringe, provoca um aumento da adução glótica e uma

tensão muscular excessiva na musculatura extrínseca da laringe, comportamento

observado com freqüência em falantes com distúrbios vocais (Colton e Casper,

1996).

Boone e McFarlane (1994), ressaltam que uma boa voz falada não

requer muita movimentação vertical da laringe.

2.5.1.2.2 ) Músculos Intrínsecos

Os músculos intrínsecos possuem suas ligações confinadas à laringe,

sendo responsáveis pela ação esfinctérica da mesma e pelo refinado controle da

produção do som.

São denominados de acordo com as cartilagens as quais estão ligados.

São eles: cricoaritenóideo posterior, cricoaritenóideo lateral, aritenóideo transverso

ou interaritenóideo, aritenóideo oblíquo, tiroaritenóideo e cricotireóideo.

Cricoaritenóideo Posterior

Page 36: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

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Origina-se da parte posterior da lâmina da cartilagem cricóide e inseri-

se no processo muscular da aritenóide.

Ele desloca para baixo o processo muscular e, desta maneira, gira o

processo vocal lateralmente, determinando a adução glótica.

É o único músculo abdutor da laringe, ação fundamental para a

respiração (Zemlin, 2000).

Cricoaritenóideo Lateral

O músculo cricoaritenóideo lateral origina-se na parte mais lateral da

cartilagem cricóide e termina na porção mais medial das cartilagens aritenóides.

Promove a rotação dos processos vocais em direção à linha média, provocando a

adução glótica.

Os múculos cricoaritenóideos laterais são portanto antagonistas aos

posteriores.

Aritenóideo Transverso ou Interaritenóideo

Este músculo conecta as superfícies mediais das duas cartilagens

aritenóides e ao se contrair aproxima os corpos das cartilagens aritenóides,

resultando na adução das pregas vocais.

É o único músculo ímpar.

Page 37: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

37

Aritenóideo Oblíquo

Conecta o processo muscular de uma das cartilagens aritenóides com o

ápice da cartilagem oposta. Algumas fibras continuam obliquamente até a região

lateral da epligote e são denominadas como músculos ariepiglóticos.

A função destes músculos é promover a adução das pregas vocais,

com a aproximação dos ápices das cartilagens aritenóides.

Tiroaritenóideo

Denominado músculo vocal ou da prega vocal, insere-se anteriormente

na cartilagem tireóide e, posteriormente no processo vocal da cartilagem

aritenóide.

O músculo tiroaritenóide apresenta dois feixes: interno e externo, sendo

o feixe interno predominantemente tensor, encurtando as pregas vocais causando

um aumento da quantidade da massa mucosa solta para vibrar, resultando em

emissões de sons graves. O feixe externo, é predominantemente adutor e

responsável pela firmeza glótica.

Cricotireóideo

O músculo cricotireóideo possui uma forma de leque, sendo composto

por duas partes: oblíqua e reta, que são inseridas entre as cartilagens tireóide e

Page 38: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

38

cricóide, anterior e lateralmente. Sua contração resulta em um movimento de

báscula aproximando as duas cartilagens.

Neste momento a distância entre as cartilagens tireóide e aritenóide

aumenta, alongando as pregas vocais e colocando-as sob maior tensão, ação

necessária para mudanças de altura.

A inervação da musculatura intrínseca da laringe é dada pelo nervo

laringeo inferior ou recorrente, com exceção dos cricotireóideos, cuja a motricidade

é dada pelo laringeo superior (Greene, 1983), sendo esses nervos ramificações do

nervo vago, X par craniano, que possui fibras aferentes e eferentes.

2.5.1.3 ) Cavidade Laríngea

O interior ou cavidade laríngea estende-se desde a entrada da laringe

até a borda inferior da cavidade cricóide.

A laringe é dividida em três cavidades denominadas: cavidade

supraglótica; cavidade subglótica e cavidade glótica.

• Cavidade Supraglótica - Corresponde a todo espaço acima da glote até o

orifício superior da laringe. Nesta cavidade estão situadas as pregas

vestibulares ou falsas pregas vocais.

• Cavidade Subglótica - É a região abaixo das cordas vocais verdadeiras até a

margem inferior da cartilagem cricóide.

Page 39: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

39

• Cavidade Glótica - Refere-se a abertura variável entre as pregas vocais

estendendo-se da comissura anterior aos processos vocais e bases das

cartilagens aritenóides.

2.5.1.4 ) Histologia

A mucosa do tubo digestivo consiste de quatro camadas: o epitélio, a

lâmina própria, a mucosa da lâmina muscular e a tela submucosa.

A mucosa laríngea difere da mucosa do tubo digestivo, pois não

apresenta a mucosa da lâmina muscular. Como conseqüência, a lâmina própria e

a tela submucosa não podem ser diferenciadas e toda a mucosa abaixo do epitélio

é denominada lâmina própria (Colton e Casper, 1996).

A laringe é basicamente revestida por epitélio ciliado pseudo-

estratificado, sofrendo metaplasia para epitélio escamoso estratificado na porção

membranosa da prega vocal e aspecto interno da cartilagem aritenóidea. Estas

regiões são submetidas a desgastes constantes (Greene, 1963; Colton e Casper,

1996).

Na laringe são encontradas numerosas glândulas mucosas

especialmente na região das pregas vestibulares, de tal forma que as pregas

vocais são constantemente banhadas em muco e lubrificadas para evitar o atrito.

As pregas vocais não possuem glândulas em suas bordas livres.

Estrutura da Comissura Posterior da Glote

Page 40: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

40

A mucosa possui um epitélio escamoso pseudo-estratificado. O tecido

da lâmina própria é frouxo na camada superficial, passando a denso com fibras

elásticas e colágenas; e glândulas na camada profunda espessa.

A cartilagem cricóidea encontra-se por baixo da mucosa.

Estrutura da Região Subglótica

O epitélio consiste de epitélio escamoso pseudo-estratificado, sendo a

lâmina própria frouxa contendo algumas glândulas.

Por baixo da mucosa está a cartilagem cricóidea.

Estruturas das Pregas Vocais

O conhecimento da composição das pregas vocais é recente. Zemlim

(2000) relata que Hirano (1974), demonstrou que histologicamente a prega vocal

é composta por cinco camadas.

• Epitélio da Mucosa

O epitélio da mucosa é do tipo celular escamoso estratificado ao redor

da borda da prega vocal sendo bastante resistente ao trauma constante da

fonação.

Page 41: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

41

Logo abaixo do epitélio escamoso está a membrana basal, formada de

proteínas (fibras de ancoramento e fribronectina) que consiste em área transicional

entre o epitélio e a camada superficial da lâmina do epitélio à lâmina própria.

• Camada Superficial da Lâmina Própria da Mucosa ou Espaço de Reinke

Consiste de componentes fibrosos soltos com poucos fibroblastos,

podendo ser considerada uma massa de gelatina mole.

Esta camada vibra de forma intensa durante a fonação.

Inflamações, tumores, patologias e tecido cicatricial, podem enrijecer

esta camada o que irá alterar seus movimentos vibratórios resultando em disfonias

(Colton e Casper, 1996).

• Camada Intermediária da Lâmina Própria

Esta camada consiste principalmente de fibras elásticas e assemelha-

se a um feixe de tiras de borracha macia.

Contém mais fibroblastos que a camada superficial.

• Camada Profunda da Lâmina Própria da Mucosa

A camada da lâmina própria da mucosa está formada por fibras

colágenas, ligeiramente parecidas com um feixe de linhas de algodão; sendo rica

em fibroblastos.

Page 42: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

42

Hirano (1997), afirma que do ponto de vista mecânico as cinco

camadas das pregas vocais podem ser divididas em: cobertura, formada pelo

epitélio e pela camada superficial da lâmina própria; a de transição, formada pelas

camadas intermediárias e profunda da lâmina própria (ligamento vocal); e o corpo

formado pelo músculo vocal.

Existem variações da estrutura de camadas ao longo da extensão das

pregas vocais. Pinho (1998), relata que na extremidade anterior, encontra-se o

tendão da comissura anterior, conectado à cartilagem tireóide e formado de fibras

colagenosas. Aderido a este, está a mácula flava anterior, composta de fibras

elásticas, fibroblastos e estroma. Logo a seguir, encontra-se a estrutura de

camadas e na terminação posterior está a mácula flava posterior, formada pelas

mesmas fibras. A estrutura da camadas encontra-se protegida dos impactos

causados oela vibração por encontrar-se entre estas duas terminações.

Uma cartilagem transicional faz a ligação entre o processo vocal da

cartilagem aritenóide e a mácula flava posterior.

Behlau (1999) cita Hirano, Kurita e Nakashima (1983), relatando que as

estruturas de camadas das pregas vocais envelhecem, sofrendo modificações.

Apenas o epitélio escamoso não sofre alteração ao longo da vida.

Colton e Casper (1996), afirmam que “após os 15 anos de idade,

observa-se consistentemente uma estrutura clara de três camadas da lâmina

própria”.

Page 43: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

43

2.5.1.5 ) Fisiologia

A laringe desempenha três funções básicas: esfinctérica, respiratória e

fonatória.

2.5.1.5.1 ) Função Esfinctérica

A laringe funciona como um dispositivo protetor para as vias aéreas

inferiores. Atua como uma válvula impedindo que o ar escape dos pulmões, que

substâncias estranhas entrem na laringe ou na traquéia através da tosse (Zemlin,

2000).

Sempre que a laringe desempenha este papel esfíncteriano de fechar a

via aérea para permitir a passagem de líquidos ou alimentos, o corpo laríngeo se

eleva (Boone e McFarlane, 1994).

Além da elevação da laringe, o fechamento da via aérea se completa

pela a ação de três válvulas musculares laríngeas: pregas ariepiglóticas, pregas

ventriculares ou falsas pregas e pelos músculos tiroaritenóideos (verdadeiras

pregas vocais).

O fechamento da válvula laríngea impede que o ar escape e facilita

atividades que exigem pressões abdominais muito elevadas, como a evacuação

forçada do intestino e da bexiga e o levantamento de peso.

Page 44: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

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2.5.1.5.2 ) Função Respiratória

Durante a função respiratória, todas as três regiões de válvulas se

abrem. As pregas vocais estão em abdução (abertas) em uma posição

paramediana separando-se um pouco mais na inspiração e aproximando-se

levemente na expiração (Boone e McFarlane, 1994).

Zemlin (2000), afirma que tal espaçamento não varia durante a

inspiração e a expiração, independente até da velocidade da corrente de ar.

Ao tossir, as três válvulas mencionadas aduziriam medianamente,

fechando a via aérea.

A expulsão forçada através do mecanismo da tosse, elimina o muco ou

outro material (corpo estranho, alimento ou líquido).

A tosse é um ato reflexo.

2.5.1.5.3 ) Função Fonatória

A laringe é um órgão belo e versátil, capaz de gerar sons através de

movimentos de adução e abdução das pregas vocais e da vibração da mucosa

que a recobre.

Boone e McFarlane (1994) relatam que Hirano, em 1981, descreveu a

estrutura funcional das pregas vocais, explicando que a onda da mucosa é a

responsável pela vibração das pregas vocais e consequentemente da vocalização.

Estes autores resumem o ciclo vibratório das pregas vocais da seguinte

forma: “os adutores intrínsecos aproximam as pregas vocais quando a expiração

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45

inicia. A pressão subglótica aumenta. O fluxo de ar passa pela abertura glótica e

separa as pregas vocais. A massa estática das pregas e o efeito Bernoülle (de

sucção) as aproxima novamente. O ciclo vibratório então se repete”.

No homem adulto, o ciclo vibratório se repete aproximadamente 125

vezes por segundo; e na mulher adulta aproximadamente 215 vezes por segundo

(Boone e McFarlane, 1994).

O mecanismo que controla a freqüência fundamental ou a altura da voz

que ouvimos é o comprimento e a espessura das pregas vocais.

Uma prega curta espessa e relativamente frouxa, vibra em uma

velocidade lenta, produzindo uma altura grave. Já uma prega longa, fina e tensa

produzirá uma voz mais aguda.

As diferenças relativas ao comprimento das pregas vocais entre

homens e mulheres e a espessura das mesmas parecem ser os principais

determinantes das diferenças da altura da voz.

As pregas vocais podem alongar-se ou encurtar-se produzindo

diferentes freqüências.

O músculo tireoaritenóideo ou músculo vocal, é formado por dois feixes,

interno e externo, sendo o feixe interno responsável pela emissão dos sons graves

que ao se contrair, encurta as pregas vocais causando aumento da quantidade de

massa mucosa solta para vibrar. Já o feixe interno é predominantemente adutor e

responsável pela firmeza glótica.

Page 46: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

46

A tensão e o alongamento das pregas vocais ocorrem pela contração

dos músculos cricotireóideos.

A freqüência fundamental é modificada ao longo do trato vocal sofrendo

amplificação ou filtragem (efeito do mecanismo de ressonância).

A intensidade da voz, percebida como volume da voz, relaciona-se

diretamente a mudanças nas quedas de pressão aérea transglótica e subglótica

(Boone e McFarlane, 1994).

Conforme Pinho (1998), “o aumento da intensidade vocal depende

diretamente do aumento da pressão aérea subglótica, controlada pela adução

glótica e fluxo aéreo expiratório”.

A função de produção de voz, desempenha papel vital na comunicação

entre os seres humanos.

Boone e McFarlane (1994) afirmam que a voz sustenta a linguagem

falada; e citam ainda como funções da laringe a função emocional. Relatam que

“desde a primeira infância e ao longo da duração de vida, o som de nossas

vocalizações, com freqüência espelham nosso estado emocional interno”.

Pelo fato da emotividade e da função vocal serem tão entrelaçados,

considerar o paciente de forma sistêmica se faz necessário para o sucesso da

terapia.

Após descrever aspectos releventes dos órgãos envolvidos no

mecanismo da Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), o presente estudo

Page 47: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

47

passará a definir e salientar diferentes aspectos desta patologia com o objetivo de

promover conhecimento, permitindo que o fonoaudiólogo e demais especialistas,

em sua avaliação, questionem e verifiquem a interferência do Refluxo

Gastroesofágico (RGE) no quadro apresentado pelo paciente.

Defina e col. (1998), salientam que poucos estudos fonoaudiológicos

tem sido realizados verificando a relação disfonia / RGE.

Sabe-se que a disfonia agrava-se quando o paciente desenvolve RGE,

e que nos casos isolados de RGE, existem indicativos de comprometimentos

vocais.

3 ) REFLUXO GASTROESOFÁGICO

3.1 ) Definição

Macedo e col. (1998), relatam que o termo esofagite de refluxo surgiu

em 1935, quando Winkelstein suspeitou da natureza péptica nas lesões que

observou no esôfago de alguns pacientes com queixa de pirose. Até aquele

momento, a etiologia das alterações esofágicas e queixas destes pacientes eram

atribuídas às infecções, agentes químicos ou neoplasias.

Os mesmos autores acrescentam que Allison em 1946, foi quem

introduziu o termo esofagite de refluxo (ER) acreditando no refluxo da secreção

gástrica do estômago para o esôfago.

Page 48: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

48

A esofagite de refluxo resulta da ação das secreções digestivas

produzidas no estômago que refluem para o esôfago, em cuja mucosa provocam

reação inflamatória.

A condição básica para a existência da esofagite de refluxo é o refluxo

gastroesofágico.

O RGE é definido como sendo o refluxo invonlutário do conteúdo

gástrico para o interior do esôfago.

Atualmente, a expressão Doença do Refluxo Gastroesofágico vem

substituindo o termo Esofagite de Refluxo, por ser mais abrangente e fazer

referência não só a uma das conseqüências do refluxo, ou seja, a esofagite, mas

também a característica fisiopatológica que é o RGE.

É importante ressaltar, que entre os pacientes com sintomas da DRGE

que se submetem a avaliação endoscópica, somente 50% a 65% deles

apresentam esofagite pelo aspecto macroscópico.

A ausência de lesões no esôfago endoscopicamente demonstráveis

não excluem a DRGE (Del Claro e Parolin, 1996).

A DRGE pode ser definida, como um conjunto de manifestações

clínicas e/ou alterações orgânicas decorrentes da ação lesiva do conteúdo

gástrico, geralmente ácido, do estômago para o esôfago (Macedo e col., 1998;

Mincis, 1999).

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49

Miszputen (1996), acrescenta que a ação do conteúdo gástrico pode

afetar superficialmente ou profundamente as paredes do esôfago, assim como o

sistema respiratório superior e inferior.

A reação inflamatória causada nas paredes do esôfago inicia-se na

lâmina própria ou nas camadas mais profundas do epitélio da mucosa, alcançando

posteriormente a superfície.

3.2 ) Classificação

De acordo com Jotz e col. (1996); Chehter e Areosa (1998), o RGE

pode ser classificado em: RGE fisiológico e RGE patológico.

Hillemer (1996), acrescenta a esta classificação o RGE oculto ou

silente.

RGE - Fisiológico

Distinguir os casos de refluxo gastroesofágico fisiológico, daqueles de

refluxo gastroesofágico patológico é muitas vezes difícil (Oresntein, 1992).

Tytgat (1991); Chone e Gomes (1995); Miszputen (1996); relatam que o

RGE pode ocorrer em indivíduos normais, sendo considerados fisiológicos os que

ocorrem após as refeições, os de curta duração e assintomáticos.

O RGE fisiológico ocorre quando há relaxamento do esfíncter inferior

esofágico (EIE) espontâneo ou desencadeado pela deglutição ou eructação.

Page 50: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

50

Haddad (1997), relata que a toda deglutição ocorre uma onda

peristáltica correspondente e concomitante relaxamento do EIE; sendo

preocupantes os relaxamentos transitórios do mesmo esfíncter que atuamente

acredita-se ser o fenômeno mais relacionado na fisiopatologia do RGE.

Chehter e Areosa (1998), classificam como refluxo fisiológico os que

não determinam manifestações ou alterações orgânicas mesmo ocorrendo várias

vezes ao dia; e mencionam que indivíduos sadios e doentes não diferem entre si

devido à presença ou ausência do refluxo, e sim pela freqüência com que

ocorrem, pela intensidade e pelos sintomas que provocam.

Toma (1999), considera como RGE fisiológico o refluxo em recém

nascido (RN) e bebês, geralmente com 3 meses de vida, tendo como causa a

imaturidade do complexo EIE.

RGE – Patológico

Chone e Gomes (1995); Jotz e Col (1996), definem o refluxo patológico

como aquele que excede os critérios do refluxo fisiológico, estabelecidos em

estudos de pH–metria contínuo em indivíduos normais, quanto ao número,

freqüência, ao número dos de longa duração (mais de 5 minutos), ao tempo total

com esôfago em níveis de acidez de pH menor que 4 e também relacionando a

posição de pé com o decúbito.

Page 51: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

51

Para Chehter e Areosa (1998), o RGE patológico ocorre quando o

refluxo é de maior freqüência, duração ou de maior potencial agressivo, quando

falham os mecanismos de defesa esofágica ou há dismotilidade gástrica.

Hillemer (1996), refere que na criança o RGE é considerado patológico

quando além de vômitos e ou regurgitações, existem também outras

manifestações clínicas.

O RGE patológico pode ser primário ou secundário. Nos casos

primários, existe disfunção esôfago – gástrica, constituindo a doença do refluxo.

Nos casos secundários existe uma causa subjacente que predispõe a doença.

Caracteriza-se então, o refluxo patológico quando a acidez esofágica

excedeu 4,5% do estudo em 24 horas ou 8,4% no período em que permaneceu

em pé ou 3,5% no período que esteve deitado .

Tytgat (1991), menciona que o RGE, pode ocorrer durante a noite

(refluxo supino), durante o dia (refluxo ereto) ou de dia e à noite (refluxo

combinado).

RGE – Oculto ou Silente

O RGE pode também ser oculto ou silente, não apresentando a

sintomatologia clássica devendo o especialista estar atento a outras

manifestações clínicas como doenças respiratórias de repetição; laringite crônica;

rouquidão, etc... (Meira, 1998).

Page 52: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

52

Martinez e Silva (1996), afirmam que o RGE é assintomático na maioria

dos pacientes, ou os sintomas são aliviados por automedicação, sem que o

paciente procure pelo auxílio médico.

Del Claro e Parolin (1996), referem que a tosse crônica pode ser a

única manifestação do RGE quando ele é clinicamente silencioso. A tosse, seria

devida à estimulação do esôfago distal e não à aspiração.

3.3 ) Fisiologia

Acredita-se atualmente, que a doença do RGE tenha etiologia

multifatorial: onde estão em jogo o nível de pressão do EIE; a habilidade do

esôfago em retirar o material do refluxo; o desempenho do estômago quanto à

secreção gástrica, volume e esvaziamento; o potencial do refluxo em lesar a

mucosa do esôfago e a resistência intrínseca desta mesma mucosa (Bretan e

Henry, 1995).

Vários autores acreditam na etiologia multifatorial do RGE (Bretan e

Henry, 1995; Jotz e Col, 1996; Lopes, 1996; Chinzon , 1997).

Para Chinzon (1997), existe um desequilíbrio entre os mecanismos que

impedem o refluxo do conteúdo gástrico ou defendem a mucosa esofagiana do

material refluído do estômago.

Page 53: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

53

Chehter e Areosa (1998), relatam que o RGE ocorre quando falha a

barreira anti–refluxo da junção esôfago-gástrica.

Durante muitos anos acreditou-se que o EIE era o único componente da

barreira anti-refluxo. Hoje sabe-se que ela é representada por vários elementos

localizados na transição entre o esôfago e o estômago.

Didaticamente esses elementos podem ser divididos em dois grupos:

fatores anatômicos e fatores funcionais (Toma, 1999).

3.3.1 ) Fatores anatômicos

As estruturas anatômicas envolvidas na barreira anti-refluxo são: o EIE,

o pilar diafragmático, o ligamento frenoesofágico, o ângulo de Hiss e a roseta

gástrica.

3.3.1.1 ) Esfíncter Inferior Esofágico

Constituído por uma camada longitudinal externa e de uma camada

interna de músculo liso circular, que envolve a porção distal do esôfago criando

uma zona de alta pressão impedindo o retorno do conteúdo proveniente do

estômago. A caracterização anatômica desse esfíncter ainda não está definida,

sendo bem demonstrada do ponto de vista funcional.

Page 54: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

54

Em repouso este esfíncter encontra-se contraído (Lemme, 1998).

Metade desse esfíncter localiza-se no tórax e a outra metade no

abdômen. No recém-nascido sua extensão é de cerca de 1cm, atingindo do 4 ao 6

meses, a mesma extensão do adulto, 2,5 a 3,5 cm (Diamant, 1989).

Por esse motivo o RGE é mais freqüente no lactente mais novo.

A eficiência desse esfíncter melhora com o efeito da pressão positiva

intra-abdominal que atua sobre sua porção distal.

A pressão de repouso do EIE é modulada por diversas substâncias:

neurotransmissores, hormônios, fármacos e alimentos (Chehter e Areosa, 1998).

O esfíncter esofágico inferior é o mais efetivo dos mecanismos anti-

refluxo.

3.3.1.2 ) Pilar Diafragmático / Diafragma Crural

As fibras musculares do diafragma formam o hiato diafragmático,

através do qual o esôfago passa da cavidade toráxica para a cavidade abdominal.

Inúmeros estudos de acordo com Toma (1999), sugerem que o

diafragma crural, e portanto o pilar diafragmático contrai-se em uma fração de

segundo antes do diafragma costal, tendo essa contração importância fisiológica

Page 55: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

55

principalmente nas situações de aumento súbito da pressão intra-abdominal como

na tosse, inspiração profunda e flexão do tórax.

3.3.1.3 ) Ligamento Frenoesofágico

Constituído pela fáscia subdiafragmática que é dividida em dois folhetos

que se fixam ao esôfago distal, tracionando-o para o abdômen durante a

inspiração, o que impede a ação da pressão negativa intratorácica, que teria efeito

favorecedor para a ocorrência do refluxo.

3.3.1.4 ) Ângulo de Hiss

Formado pela porção abdominal do esôfago e o fundo gástrico, consiste

em uma prega que o esôfago faz ao penetrar no estômago. No recém-nascido é

um ângulo obtuso, tornando-se aguda, mais tarde.

Após o enchimento gástrico, o fundo do estômago se distende,

exercendo pressão extrínseca positiva sobre o esôfago abdominal, o que contribui

para o aumento do tônus do EIE (Diamant, 1989; Toma, 1999).

3.3.1.5 ) Roseta Gástrica

Page 56: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

56

Consiste em pregas concêntricas da mucosa do fundo do estômago

que ao se contraírem provocam fechamento do cárdia, dificultando o retorno do

conteúdo do estômago ao esôfago.

3.3.2 ) Fatores Funcionais

3.3.2.1 ) Esfíncter Inferior Esofágico

O fator funcional principal é representado pelo EIE, sendo o tônus

intrínseco do EIE, o elemento mais importante para a proteção do esôfago distal.

O EIE em repouso no estado basal, apresenta-se tonicamente

contraído.

Outros mecanismos funcionais protegem o esôfago quando ocorrem o

RGE; procurando remover o material refluído. São os chamados mecanismos de

clareamento ou de remoção (Diamant, 1989, Lopes 1996).

A seguir tais mecanismos serão descritos.

3.3.2.2 ) Peristalse do Esôfago

Page 57: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

57

Pode ser primário ou secundário. As ondas peristálticas primárias

desencadeadas pela deglutição, são responsáveis pela propulsão dos alimentos

até o estômago.

As ondas peristálticas secundárias são desencadeadas pela distensão

esofágica e ou pelo material refluido, que são responsáveis pelo clareamento

esofágico, nos casos em que ocorre RGE.

3.3.2.3 ) Secreção Salivar

A peristalse esofágica assim como a saliva, tem como função “lavar e

limpar” o conteúdo ácido presente no esôfago diminuindo o tempo de contato

entre o material refluído e a mucosa esofagiana; sendo que a produção adequada

de saliva e o pH da mesma colaboram nesta função (Chinzon, 1997).

3.3.2.4 ) Gravidade

A ação da gravidade constitui um mecanismo facilitador na remoção do

refluxo.

Lopes (1996), faz referência a estudos que não observaram alterações

significativas quando os pacientes mudaram da posição supina para sentados.

Page 58: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

58

A gravidade é um fator importante de remoção de ácido em pacientes

que apresentam dificuldade para esvaziar o esôfago por apresentarem distúrbios

motores (Lopes, 1996).

A queixa de regurgitação costuma ser associada a ingesta de

determinados alimentos ou bebidas ou ainda pela posição deitada, o que

predispõe a episódios noturnos acordando o paciente (Mizputen, 1996).

3.3.2.5 ) Resistência Tecidual

Após o refluxo da secreção ácida para o esôfago, antes de serem

acionados os mecanismos de remoção, há um tempo de contato do material

refluído com a mucosa sem que se produzam lesões ou sintomas sugestivos da

ação corrosiva do material refluído.

A resistência tecidual constitui então, a primeira barreira esofágica à

entrada do ácido (Chinzon, 1997).

Lopes (1996), menciona que essa resistência pode ser dividida em:

pré-epitelial, epitelial, epitelial propriamente dita e pós - epitelial.

3.4 ) Fisiopatologia

Page 59: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

59

Por muito tempo, relevou-se as alterações anatômicas da barreira

gastroesofágica na determinação da DRGE, somente reconhecendo tal processo

em portadores de hérnia de hiato (Chehter e Areosa, 1998).

Recentemente, passou-se a valorizar as alterações funcionais da

barreira gastroesofágica e a disfunção do EIE que apresenta diminuição da

pressão esfíncterica nos pacientes com RGE, foi considerado o principal

mecanismo responsável pela sua etiologia (Bretan e Henry, 1995).

Características do EIE como pressão do repouso, relaxamento

inapropriado, resposta inadequada aos esforços, e à distenção gástrica,

comprimento esfíncteriano total e abdominal, passaram a ter maior importância.

Chehter e Areosa (1998) relatam que a pressão de repouso do EIE é

modulada por diversas substância: neurotransmissores, hormônios, fármacos e

alimentos, como foi mencionado anteriormente.

Toledo (1998), relata que os hormônios gastrointestinais possuem

vários efeitos na motilidade do trato digestivo alto e muitos deles influenciam na

pressão do EIE.

Alimentos ricos em proteínas, aumentam o tono; e outros como o

chocolate, doces e gorduras diminuem o tono.

Os fármacos também interferem no tono do EIE, sendo responsáveis

pelo aumento do tono: diazepan, barbiturados e prostaglândina F2 - ∝; sendo

Page 60: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

60

responsáveis pela diminuição do tono: a teofilina, cafeína, tabaco,

anticolinérgicos, antinflamatórios e bloqueadores de cálcio.

Sabe-se que outros fatores interferem na pressão do EIE determinando

episódios de RGE e possível desenvolvimento da DRGE, como a gravidez e o

tabaco.

Na gravidez principalmente no 3º trimestre, onde ocorre a diminuição da

pressão do EIE provocada por fatores hormonais (Chehter e Areosa, 1998).

Estudos realizados com o uso de nicotina transdérmica em indivíduos

sadios, não fumantes atuando no EIE e na mobilidade esofágica concluem que a

nicotina transdérmica diminui a pressão do EIE, porém não apresentou efeitos

significativos nas contrações do corpo do esôfago (Ferreira, 1998).

Lopes (1996), refere-se a estudos realizados com voluntários fumantes

onde concluiu-se que o tempo aumentado da remoção do refluxo nestes pacientes

é consequência da diminuição salivar.

Nos indivíduos normais, ocorrem constantes relaxamento do EIE

permitindo um refluxo fisiológico que será removido e neutralizado, reequilibrando

a situação fisiológica, impedindo o início da DRGE.

A integridade funcional do EIE é fundamental na contenção do refluxo

porém, estudos mais recentes demonstram que nem todos os casos de RGE

patológico se acompanham de hipotensão do esfíncter (Lopes, 1996).

Page 61: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

61

Estudos manométricos (que mensuram a pressão do EIE) minimizaram

a importância da redução da pressão do EIE como único fator na produção do

refluxo. A pressão basal normal tem sido observada em pacientes com RGE,

sugerindo outros fatores na etiopatogenia do RGE (Chinzon, 1997; Toma, 1999).

O comportamento do EIE foi melhor observado através do

monitoramento simultâneo do pH esofágico e da motilidade, durante os refluxos

espontâneos. O que foi evidenciado na realidade, é que não existe uma alteração

no comportamento estático do esfíncter, mas no comportamento dinâmico,

caracterizado pela relaxação transitória do esfíncter inferior esofágico (RTEIE),

(Chinzon, 1997).

A cada deglutição, ocorre uma onda peristáltica correspondente e

concomitante relaxamento do EIE. Os relaxamentos transitórios do EIE não são

induzidos pela deglutição, portanto não são acompanhados de ondas peristálticas

do esôfago e ocorrem com duração prolongada de 15 a 40 segundos (Diamant,

1989).

Através do RTEIE o estômago elimina parte do ar deglutido através da

eructação. Acredita-se que os possíveis mecanismos envolvidos neste mesmo

fenômeno com a contração da faringe; distensão do fundo gástrico; certos

hormônios e estímulos exógenos; sendo a distensão gástrica considerada o

principal estímulo para a relaxação (Lopes, 1996).

Page 62: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

62

Acredita-se que o nervo Vago ( X par craniano) por ser o mediador da

relaxação induzida pela deglutição possa também, ser a via eferente da RTEIE

(Donahue, 1997).

Lopes (1996), acredita que novos conhecimentos irão surgir

possibilitando maiores esclarecimentos no mecanismos fisiopatológicos dos

RTEIE e consequentemente melhores possibilidades terapêuticas.

3.5 ) Fatores Predisponentes

Várias são as situações que podem predispor a instalação e

manutenção do RGE.

3.5.1 ) Hérnia de Hiato

Macedo e col. (1998), relatam que a maioria dos autores considera que

as hérnias de hiato por deslizamento constituem um achado anatômico e não uma

manifestação clínica, já que não condicionam o surgimento do RGE.

Acredita-se que a hérnia de hiato pode favorecer o RGE, pelo

comprometimento dos mecanismos de contenção do refluxo ou pelo aparecimento

de alterações motoras que modificam a peristalse, os mecanismos de defesa e

clareamento.

Page 63: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

63

3.5.2 ) Obesidade

Diversos autores mencionam a obesidade como fator predisponente

para o desenvolvimento ou manutenção do quadro de RGE, recomendando a

redução do peso corporal como terapêutica (Jotz e col, 1996; Miszputen, 1996;

Chehter e Areosa, 1998; Stanich, 1999).

A obesidade pode causar o espessamento do panículo adiposo e a

gordura acumulada junto ao hiato diafragmático, determinar alterações anatômicas

ou funcionais que facilitem o refluxo.

Meneghelli (1997), cita o trabalho realizado por Ramel e Thor (1996)

que realizaram uma investigação relacionando obesidade com a esofagite de

refluxo, e concluiram que a obesidade por si só não influencia as manifestações

objetivas e subjetivas da esofagite de refluxo.

Meneghelli (1997), acredita que favorecendo ou não a remissão da

esofagite de refluxo, a obesidade deve ser combatida por ser causadora ou

agravante de muitos problemas de saúde.

3.5.3 ) Sonda Nasogástrica e Gastrostomia

Page 64: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

64

Nos casos onde a alimentação oral não acontece adequadamente o

acesso enteral para nutrição é indicado; sendo o RGE uma das complicações mais

freqüentes.

Toma (1999), relata que diversos autores como Berezim e col. (1986) e

Gauderer (1991), acreditam que 12% a 50% dos pacientes submetidos à

gastrotomia cirúrgica ou endoscópica desenvolve RGE significativo, principalmente

em crianças.

O mesmo autor, menciona também as teorias que tentam explicar o

RGE nos pacientes gastrostomizados:

• alteração do ângulo de HISS e diminuição da pressão do EIE;

• inabilidades do pacientes para tolerar volume gástrico aumentado;

• geração de pressões abdominais altas nos pacientes com hipertonia

consequentes à patologias neurológicas;

• intolerância alimentar.

Del Claro e Parolin (1996), relatam que a sonda nasogástrica pode

favorecer o refluxo por interferir na função do EIE e também, por prolongar o

tempo de contato da mucosa esofágica com o material refluído.

Page 65: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

65

Baptista (1996) cita Young (1993), ao considerar que a sonda

nasogástrica ou orogástrica quando mantidas por longo período promovem

dilatação do EIE podendo causar RGE.

3.5.4 ) Helicobacter Pylori

O papel da bactéria Helicobacter Pylori (HP) na gênese da DRGE vem

sendo estudada e até o momento as evidências científicas foram insuficientes

para vincular o HP à patogenia da DRGE (Castro, 1998).

Mincis (1999), relata que a tendência atual é não tratar o HP em

pacientes com doenças do refluxo; baseando-se em trabalhos que demonstram

que quando há cura da infecção pela bactéria, a função secretora ácida é

preservada o que causaria maior incidência de esofagite de refluxo e

consequentemente, aumento da doença de Barrett, com maior risco de

desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago.

Castro (1998), esclarece que novos estudos deverão aclarar a situação

em futuro próximo.

3.6 ) Incidência

Page 66: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

66

A DRGE é extremamente comum na população em geral. Acredita-se

que pelo menos 7% da população saudável apresente o sintoma clássico da

doença (pirose) diariamente.

Wo e Waring (1977); Del Claro e Parolin (1996); Chelton e Areosa,

(1998), relatam que a DRGE, é doença crônica de elevada freqüência

principalmente no Ocidente; e que nos EUA 7% a 10% da população apresenta

manifestações diárias e 35% a 40% mensalmente; a DRGE está associada à

úcera duodenal em 60% a 70% e se complica com esofagite de refluxo em 2%.

Acredita-se que o comportamento da DRGE seja semelhante em nosso

país, apesar da falta de estatísticas.

Macedo e col. (1998), mencionam que a DRGE é a afecção esofágica

mais freqüente, e provavelmente a que mais prevalece no aparelho digestivo.

Miszputen (1996), ao referir-se sobre a incidência da DRGE, menciona

que 8% da população adulta apresentam sintomas compatíveis com a doença

com predomínio de homens sobre mulheres.

Del Claro e Parolin (1996); Miszputen (1996), mencionam que o

provável aumento do número de casos em todo o mundo, relaciona-se à mudança

de hábitos alimentares e incremento do uso do álcool, ainda que é possível

constatar a doença em membros de uma mesma família, em gerações diferentes,

o que sugere um distúrbio genéticamente manipulado.

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67

Atinge 7% a 8% da população infantil, sendo mais freqüente nos

lactentes jovens (Hillemer, 1996).

O RGE acomete 60% dos recém–nascidos prematuros e 50% das

crianças nos primeiro 4 meses de vida, desaparecendo na maioria até os 18

meses de idade (Marino e col., 1995).

Baptista (1996), relata que em pesquisa realizada no Hospital de

Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio-Palatais da Universidade de São Paulo,

no ano de 1994, foram constatados que 16% dos bebês internados apresentavam

RGE.

A prevalência da DRGE é maior em idosos e na presença de certas

doenças como: esclerodermia e síndrome de Zollinger-Ellison, de acordo com

Macedo e col (1998).

Acredita –se que a DRGE acometa um número maior de pacientes, pois

a automedicação constitui uma prática freqüente além da falta de diagnóstico

correto.

3.7 ) Sintomas Digestivos

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Os sintomas digestivos clássicos provocados pelo RGE são: pirose

(queimação retroesternal), regurgitação influenciada pelo decúbito, azia e

sensação de estômago cheio.

O sintoma mais freqüente e importante é a pirose, ou seja, a sensação

de queimação retroesternal, que muitas vezes pode chegar até a região cervical,

sendo a mesma desencadeada por determinados elementos e acompanhadas de

regugitações ácidas (Lemme, 1997).

Toma (1999), diz que a pirose deve ser diferenciada da azia que

consiste em queimação em nível de epigástrio. A azia pode surgir como sintoma

de RGE, sendo mais freqüente em patologias do estômago.

Outras manifestações digestivas estão associadas ao RGE: odinofagia;

disfagia; náuseas; vômitos; “sensação de bolo na garganta” (globus), salivação

excessiva, dificuldades na alimentação e ruminação (Quintella e Ribeiro, 1995).

O soluço também aparece na literatura como sendo outro sintoma

digestivo da doença (Toma, 1999).

Os soluços persistentes de acordo com Quintella (1998), foram

associados à presença de esofagite, mesmo na ausência de distúrbios da

motilidade esofágica.

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69

A disfagia consiste em qualquer alteração do processo da deglutição e

nos pacientes com refluxo, decorre de processo inflamatório esofágico ou por

etiologia mais severa como estenose cicatricial do esôfago (Rode e col., 1992).

O especialista deve estar atento a outras inúmeras causas que levam a

disfagia como neuropatias, infecções, disfunções do músculo cricofaríngeo entre

outras; realizando o diagnóstico diferencial e verificando se o RGE é o único

agente etiológico ou se existe a associação com outra patologia.

Pontes e col. (1999), apresentaram estudos de casos de disfagia por

acalasia ou barra cricofaríngea e referem que o RGE ou outros distúrbios podem

ser a causa secundária da mesma. Vale ressaltar que o diagnóstico somente é

realizado através do videodeglutoesofagograma, já que se trata de uma alteração

funcional que somente aparece durante o ato de deglutição.

No bebê o RGE patológico é manifestado em 90% dos casos com

vômitos e regurgitações, porém a ausência dos mesmos não afasta a

possibilidade do RGE (Baptista, 1996).

A regurgitação é um sintoma importante pois pode ocasionar aspiração

do conteúdo gástrico principalmente durante o sono, favorecendo o surgimento de

alterações nas cordas vocais, assim como asma, tosse, espasmos dos brônquios,

pneumonia de repetição, entre outros (Macedo e col. 1998; Mincis, 1999).

Page 70: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

70

Uma manifestação grave da DRGE é a ruminação, que consiste em

movimentos de língua e deglutições repetidas realizadas pelo bebê.

Aproximadamente 25% dos casos evoluem a óbito quando não tratados (Baptista,

1996).

A hipersalivação ocorre nos casos de refluxo pela presença do ácido

sobre a mucosa que aciona o reflexo esofago-salivar. A grande produção de saliva

é destinada a neutralizar e “limpar” a mucosa esofágica (Lopes, 1996).

Toma (1999), cita Helm e col. (1987), alertando que a sialorréia deve

ser reconhecida pelo médico como manifestação do RGE .

Em crianças com paralisia cerebral, a piora dos sintomas disfágicos,

acompanhados por aumento da salivação e intolerância alimentar deve fazer, o

especialista suspeitar da DRGE mesmo na ausência de vômitos e/ou

regurgitações.

A odinofagia (dor ao engolir) pode ou não estar relacionada a disfagia

alta (Bretan e Henry, 1995), sendo ambos sintomas relacionados a distúrbios no

esfíncter superior no esôfago (ESE), na faringe, ou inflamação e/ou ulceração

esofágica.

Para Tytgat (1991), a dor durante a deglutição é mais intensa quanto

maior e mais severa for a esofagite .

Page 71: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

71

Miszputen (1996), relata que em estágios mais avançados da esofagite

por RGE, odinofagia e hemorragia são sinais de complicação. O exame físico

poderá identificar sinais de emagrecimento já que o doente restringe a

alimentação.

3.8 ) Complicações Digestivas

As complicações digestivas da DRGE:

• A esofagite de refluxo (ER);

• A anemia secundária à hemorragia;

• A estenose esofágica;

• A perfuração;

• Esôfago de Barrett.

As complicações ocorrem na DRGE de longa duração e de forte

intensidade. Sua incidência é pequena, acometendo os pacientes que não

procuram auxílio médico, que são refratários ao tratamento clínico ou que não o

fazem corretamente.

3.8.1 ) Anemia Secundária à Hemorragia

Page 72: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

72

Os pacientes com erosões e/ou úlceras podem desenvolver

sangramento crônico e anemia por deficiência de ferro; já nos pacientes com

esofagite de refluxo o sangramento gastrointestinal é raro e quando ocorre é

reduzido (Macedo e col., 1998).

A hemorragia severa também pode ocorrer principalmente associada a

presença de úlceras profundas.

Toma (1999), relata que o sangramento é freqüente nos casos de

esôfago de Barrett, associado ao uso de drogas anti - inflamtórias não esteróides,

de antiagragante plaquetário e nos casos de pacientes neurológicos.

3.8.2 ) Estenose Esofágica

Aparece como consequência natural da evolução da doença, como

tentativa de defesa do organismo contra o RGE, já que a estenose reduz o refluxo

e consequentemente a inflamação da mucosa do esôfago. A estenose provoca

disfagia, alteração do estado nutricional e conseqüente piora da qualidade de vida.

Toma (1999), relata que a estenose é mais comum no esôfago distal

medindo aproximadamente 1 a 2cm de comprimento, manifestando-se por disfagia

para sólidos e odinofagia. Podendo ser evidenciada em pacientes anteriormente

assintomáticos.

Page 73: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

73

O tratamento de escolha consiste em dilatação por via endoscópica

(Macedo e col., 1998).

Chone e Gomes (1995), mencionam que alguns casos podem requerer

tratamento cirúrgico para melhor controle.

A doença do RGE, apresenta sintomatologia variada e nem sempre se

restringe ao esôfago ou aparelho digestivo, existindo os sintomas extradigestivos.

chamados também por alguns autores de sintomas típicos e atípicos.

3.8.3 ) Perfuração

Macedo e col. (1998), relatam que a perfuração é complicação rara,

geralmente secundária à úlcera esofágica, ou iatrogênica. A perfuração pode

ocasionar mediastinite que deve ser diagnosticada e tratada rapidamente pela

elevada taxa de mortalidade.

3.8.4 ) Esôfago de Barrett

Page 74: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

74

Lopes (1996), relata que o esôfago de Barrett é uma condição

adquirida, onde existe uma progressiva metaplasia do epitélio colunar distal do

esôfago, ocasionado pelo RGE e esofagite de refluxo.

Sakai (1998), cita que aproximadamente 10 – 15% dos pacientes com

esofagite de refluxo desenvolvem esôfago de Barrett e acrescenta que o

surgimento desta metaplasia parece ser uma forma da mucosa esofágica de se

proteger da ação ácida do refluxo.

Toma (1999), cita Cheu, Grosfeud, Heitetz (1992), ao relatar que 4,5% a

13% das crianças submetidas à biópsia do esôfago por apresentarem sintomas de

esofagite, o esôfago de Barrett é encontrado.

O mesmo autor acrescenta que o esôfago de Barrett é comum em

pacientes idosos com história de alcoolismo e tabagismo e nas crianças com

deficiências neurológicas, provavelmente por estarem em decúbito dorsal por

muito tempo e pela intensidade dos episódios de refluxo.

O mecanismo para o desenvolvimento da metaplasia não está bem

claro, admitindo-se duas possibilidades: ascenção do epitélio gástrico em

substituição do epitélio pavimentoso ou epitelização estimulada pela célula

progenitora localizada na camada basal.

Lopes (1999), menciona que existe evidência associando esôfago de

Barrett com risco no desenvolvimento de adenocarcinoma do esôfago.

Page 75: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

75

Macedo e col. (1998), relatam que a presença de esôfago de Barrett

aumenta também o risco de estenose (30% a 80%) e aumenta o risco de úlceras

esofágicas.

O mesmo autor acrescenta que os pacientes com diagnóstico de

esôfago de Barrett devem ser acompanhados regularmente através de endoscopia

digestiva alta, buscando detectar precocemente a existência de carcinoma.

3.9 ) Sintomas Extradigestivos

Os sintomas extradigestivos ocorrem em outros segmentos do

organismo como no tórax, na cabeça e no pescoço.

Em muitos casos existe grande dificuldade na correlação entre os

sintomas faringolaríngeos, gastrointestinais, respiratórios e vocais, que podem

aparecer isoladamente simulando doenças distintas o que impede o correto

diagnóstico (Costa e col., 1997).

Menon e col. (1994), também ressaltam a dificuldade em relacionar

sintomas otorrinoralingológicos decorrentes de doenças sistêmicas ou de

estruturas vizinhas já que a sintomalogia é por vezes bem referida, mas os sinais

são poucos, levando o médico a ter dificuldade para o diagnóstico final.

Page 76: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

76

Vale ressaltar que muitos sintomas só foram relacionados como

decorrentes do RGE a poucos anos, com o desenvolvimento dos métodos

propedêuticos (Menon e col., 1994).

O especialista envolvido, deve estar atento associando esses tipos de

sintomas, com o refluxo, pesquisando e verificando ser ou não este o agente

etiológico.

Os sintomas extradigestivos relacionados com a presença do RGE,

aparecem na bibliografia pesquisada divididos em sintomas e manifestações:

pulmonares e otorrinolaringológicas (Lemme, 1997).

A seguir, serão descritos apenas os sintomas e manifestações

pulmonares, estando as otorrinolaringológicas contidas no tópico RGE e doença

otorrinolaringológica.

3.9.1 ) Sintomas e Manifestações Pulmonares

Menon e col. (1994), relata que a associação do refluxo com sintomas

cardiopulmonares é reconhecida pelos especialistas a bastante tempo.

A tosse seca, estridor ou infecções repetidas das vias aéreas são

sintomas que os portadores de RGE podem apresentar, muitas vezes referindo

Page 77: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

77

que os mesmos pioram a noite, muitas vezes ocasionando sensação de falta de

ar.

Lemme (1997), menciona que nos últimos anos, novos estudos

associando manifestações pulmonares com a presença da DRGE foram

realizados, e cita: a pneumonia de repetição, a brônquite, tosse, fibrose pulmonar,

morte súbita infantil e mais recentemente a asma.

Toma (1999), relata que a relação RGE e sintomas respiratórios é

muitas vezes difícil de determinar.

3.10 ) Refluxo Gastroesofágico e Doença Otorrinolaringológica

O RGE aparece como etiologia na literatura otorrinolaringológica (ORL)

em 1958 quando Malherbe associa otalgia e hérnia de hiato (Quintella, 1998).

Os primeiros autores a citarem a relação RGE e alterações laríngeas

foram Cherry e Maguilies, 1968, que relacionam RGE à úlcera de contato /

granuloma de larínge.

Outros autores apareceram sustentando tal relação e, até 1994 existiam

três hipóteses:

• a primeira acredita que o refluxo provoca tosse e pigarro que leva a

lesões laríngeas;

Page 78: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

78

• a segunda fala da ação direta do ácido na laringe sendo a origem ou

etiologia das lesões;

• e a terceira hipótese pensa em existir um abuso vocal secundário ao

contato do ácido com a laringe (Kjellén e Brudin, 1994);

Jotz e col. (1996), relatam que os sintomas e sinais observados

secundariamente ao refluxo associados às vias aéro digestivas superiores e

pulmões, ocorrem como consequência direta do efeito do ácido gástrico no tecido

ou indiretamente no tecido por estimulação neural, principalmente por via vagal.

Del Claro e Parolin (1996) citam que a tosse crônica pode ser a única

manifestação do RGE quando o mesmo, é silente na clínica e acredita que o

mecanismo envolvido não é a aspiração mas possivelmente por reflexo vagal, não

necessariamente pela inflamação da mucosa esofágica e nem da permanência

intraluminal do ácido.

É grande o número de trabalhos na atualidade que demonstram a

associação RGE / alterações laríngeas, como foi observado na pesquisa de

Weiner e col., 1995, onde o tratamento para o refluxo foi utilizado e as alterações

laríngeas regrediram.

Bretan e Henry (1995), mencionam estudos que comprovam a

existência de alterações laríngeas produzidas por refluxo como os realizados por

Delahunt (1972), Cherry e col. (1970) e Wilson e col. (1989).

Page 79: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

79

Weiner e col. (1995), relatam três casos de pacientes com sintomas

isolados de disfonia onde o RGE foi suspeitado e tratado de forma medicamentosa

com melhora da qualidade vocal após o mesmo, havendo reicindiva quando a

medicação era interrompida. Afirmam ainda que a DRGE deve ser considerada

como etiologia das disfonias .

Outro trabalhos apontam a disfonia como sendo o único sintoma da

DRGE como os de Hallewell e Cole, (1970)

Koufman (1991), demonstrou através de trabalhos experimentais que a

laringe é muito sensível mesmo a pequenas quantidades de ácido e que os

sintomas que surgem como consequência são de difícil tratamento.

Menon e col. (1994), referem que a presença da secreção ácida na

porção inferior do esôfago estimule o desencadeamento de reflexos

neuromusculares que alteram o padrão de atividade da musculatura da faringe,

gerando sintomas em toda região faringolaríngea.

Os sinais e sintomas otorrinolaringológicos do RGE, de acordo com

Quintella (1998) são dependentes de três mecanismos:

• contato direto com o material refluído e inflamação de qualquer parte

da faringe e/ou laringe;

• microaspiração que desencadeia reflexos protetores das vias aéreas

superiores e inferiores;

Page 80: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

80

• reflexos desencadeados por estímulo de receptores vagais no terço

distal do esôfago.

Koufman (1991) verificou em experiências realizadas com animais que

o refluxo intermitente, três episódios por semana é suficiente para produzir danos

laríngeos e que a substância pepsina encontrada no material refluído era o

principal agente de lesão severa na laringe e não o ácido clorídrico.

Quintella (1998) acrescenta que a maioria das manifestações relativas à

cabeça e pescoço do RGE são justificadas por distúrbios da musculatura

cricofaríngea (EES).

3.10.1 ) Sintomas e Sinais

Os sintomas e sinais otorrinolaringológicos foram relacionadas por

Quintella (1998) de acordo com vários autores:

• Sintomas: hipersalivação, halitose, queimação bucal, engasgos,

disfagia, odinofagia, deglutições repetidas, aerofagia, ruminação,

soluço exagerado, torcicolo, espasmos cervicais, dor cervical lateral,

globus hystericus, globus pharingeus, sensação de sufocação, dor

de garganta crônica, pigarro, drenagem pós nasal, rinorréia e/ou

obstrução nasal persistente, otalgia, tosse crônica, estridor

recorrente e rouquidão persistente.

Page 81: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

81

• Sinais/Diagnóstico: rinite crônica, erosões dentárias, faringite

recorrente crônica, divertículo de Zenker, otite média aguda

recorrente / otite média crônica secretora, sinusite recorrente

crônica, hipertrofia de adenóide, laringite / laringotraqueíte

recorrente, laringite ácida posterior, granuloma de corda vocal,

úlcera de contato, estenose subglótica, fracasso na reconstrução

laríngotraqueal e carcinoma de laringe.

A seguir alguns sintomas serão descritos:

Tosse

Quintella (1998), menciona que estudos atribuem ao RGE a etiologia da

tosse persistente.

Para Lemme (1997), os pacientes asmáticos, com sintomas freqüentes

de refluxo, os que sofrem de pneumonia de repetição sem causa aparente, tosse

crônica não esclarecida e eventuais episódios de asfixia noturna devem ser

investigados verificando a existência ou não de RGE patológico.

Fernandes e col. (1998), relatam que a tosse e o pigarro constante

podem ter dois mecanismos desencadeadores: a própria acidez na laringe e a

irritação nos terminais nervosos diafragmático, que causariam tosse reflexa.

A tosse pode aparecer como sintoma de disfagia que nos pacientes

com RGE freqüentemente é do tipo orofaríngea. Os pacientes têm dificuldade na

Page 82: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

82

passagem de sólidos e líquidos da orofarínge para o esôfago superior, podendo

causar regurgitação e aspiração com tosse reflexa após a deglutição (Chone e

Gomes, 1995; Lemme, 1997).

Hipersalivação

A hipersalivação pode ocorrer na DRGE por ação reflexa

desencadeado pela presença de ácido na mucosa do esôfago (Chone e Gomes,

1995).

Rouquidão (disfonia)

Uma outra queixa referida é a de “rouquidão flutuante” ou também “voz

abafada” principalmente no final do dia (Menon e col., 1994).

De acordo com Pinho (1998), rouquidão corresponde à presença de

irregularidade vibratória da mucosa das pregas vocais durante a fonação, podendo

estar relacionada com: a presença isolada de fenda glótica maior ou igual a

0,5mm2; presença isolada de alteração orgânica em mucosa; ou fenda de

qualquer dimensão associada à presença de alteração mucosa.

Pinho (1998) cita como exemplos típicos de rouquidão a que ocorre nos

nódulos vocais, hiperemia e edema.

Page 83: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

83

Tal sintoma é então justificado nos pacientes com refluxo pelas

alterações que produz na mucosa das pregas vocais.

Jotz e col. (1996), relatam que em estudos realizados, 80% dos

pacientes que apresentavam rouquidão crônica, sofriam de exposição prolongada

ao ácido.

Estridor

Contencim e Narcy (1992), estudaram oito crianças que sofreram de 12

a 15 episódios de estridor noturno grave dos quais apenas 1 (uma) possuía

antecedentes familiares de alergias e puderam documentar o Refluxo

Gastroesofagonasofaríngeo.

Quintella e Ribeiro (1995), também mencionam estridor em crianças

com RGE comprovado.

Chone e Gomes (1995), relatam que de acordo com Koufman os

granulomas de contato, estridor laringite crônica e estenose subglótica,

especialmente em crianças tem sido bem documentada e após o tratamento

medicamentoso para o refluxo as alterações laríngeas melhoram ou desaparecem.

Laringoespasmo

Loughlin e Koulman (1996), referem que o laringoespasmo é incomum,

mas constitui um significativo e estressante sintoma em pacientes com RGE, e

Page 84: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

84

concluiram após estudos com 12 pacientes que apresentavam laringoespasmo

recorrentes que RGE pode ser a causa mais comum de laringoespasmo, sendo

que a sintomatologia clássica estava presente em apenas 1/3 dos pacientes

examinados. Os sintomas mais comuns além do laringoespasmo era: rouquidão,

tosse seca e bolo faríngeo.

A laringoscopia revelou que 11 pacientes apresentavam alterações

relacionadas com o RGE como hiperenia de laringe, edema de Reinke, hiperemia

de aritenóide e região interaritenóidea, espessamento da mucosa laríngea e

granulomas de pregas vocais.

3.10.2 ) Alterações Laríngeas associadas ao RGE

As alterações laríngeas mais freqüentes associadas ao RGE são: úlcera

de contato na glote; granuloma laríngeo; alterações vocais e lesão laríngea ou

traqueal permanente; edema de aritenóides e/ou terço posterior das pregas

vocais; estenose subglótica e laringite hipertrófica (Bretan e Henry, 1995).

3.10.2.1 ) Úlcera de Contato na Glote e Granuloma Laríngeo

Page 85: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

85

Kjellén e Brudin (1994) relatam que, Cherry e Marguilies (1968) foram

os primeiros autores a relacionarem RGE com alterações laríngeas descrevendo a

possível relação do RGE e a úlcera de contato na laringe tratando todos os

pacientes com antiácidos, mudanças alimentares e comportamentais e todos

evoluíram favoravelmente com resolução da úlcera.

O RGE associado ao abuso vocal aparece como etiologia das úlceras

de contato nos trabalhos realizados por Delahunt e Cherry (1968).

Os glanulomas e as úlceras de contato de pregas vocais são

produzidas por fatores mecânicos e irritativos que podem ser classificados sob três

aspectos: hiperfunção, hiperacidez e pós-intubação.

Behlau e col. (2001), citam que os glanulomas causados por

hiperacidez correspondem a 20% dos casos avaliados pelos autores Feder e

Michell (1984).

Boone e McFarlane (1994) citam que cada uma destas etiologias

sugerem um tratamento diferente e acrescentam que os pacientes com granuloma

podem apresentar disfonia severa, caracterizada por rouquidão, soprosidade e

pigarro constante.

Para Boone e McFarlane (1994) a terapia vocal é fundamental na

erradicação de alguns granulomas e necessária após remoção cirúrgica para

recuperação da qualidade vocal.

Page 86: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

86

Capella e Rolim (1998), relatam que além do trauma causado por

intubação traqueal ao nível das apófises vocais das aritenóides, outro fator

etiológico dos granulomas seria o RGE que agride à mucosa; assim como

processos infecciosos gerados por excesso de secreção na árvore respiratória que

altera o movimento mucociliar favorecendo a colonização de bactérias.

Colton e Casper (1996), incluem a terapia vocal no tratamento dos

granulomas, com o objetivo de eliminar os comportamentos abusivos. A avaliação

médica deve incluir a investigação de possível RGE e tratamento.

Brasil e col. (1998) realizaram estudos com objetivo de conhecer os

principais achados videolaringoscópicos sugestivos de RGE e dos 242 exames

realizados, 151 (62%) foram selecionados por apresentarem sinais de RGE, sendo

que 21 casos (14%) apresentavam ulceração e/ou granuloma da apófise vocal

das cartilagens aritenóides.

Kyrillos e col. (1998), relatam a concordância da relação causal

residirem em três fatores: abuso vocal, síndrome do RGE e a intubação

orotraqueal; e nos casos onde a etiologia não é reconhecida a mesma é

considerada como idiopática.

Os mesmos autores após estudo realizado em 66 casos de granuloma

posterior de laringe com o objetivo de caracterizar a configuração laríngea como

fator predisponente na sua formação, concluiram que as laringes com proporção

Page 87: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

87

glótica elevada são as que estão sujeitas a desenvolver granuloma de comissura

posterior quando submetidas a abusos vocal ou ao efeito do RGE, estando as

laringes femininas protegidas quando submetidas a estas condições

provavelmente por apresentarem proporção glótica reduzida.

Navas e Dias (1998), citam outros fatores observados em pacientes

com úlceras ou granulomas: apoio respiratório pobre, uso do ar residual, freqüente

associação ao RGE, hábito de pigarrear e tossir, além do abuso vocal.

Atualmente acredita-se que a irritação da região posterior da laringe

ocorra por refluxo, gerando a disfonia por RGE. O comportamento vocal abusivo

seria apenas o fator desencadeante ou agravante.

O RGE deve ser investigado e tratado medicamente antes de qualquer

outro tipo de tratamento .

3.10.2.2 ) Edema de Aritenóides e /ou do Terço Posterior das Pregas Vocais

O edema da região das aritenóides e/ou do terço posterior das pregas

vocais pode resultar de infecção, reação alérgica, agentes ambientais nocivos,

sinusite crônica com drenagem purulenta e por RGE que pode irritar e inflamar a

mucosa (Colton e Casper, 1996).

Page 88: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

88

Young e col. (1995), mencionam entre outras anomalias estruturais

associadas a DRGE a “laringite posterior” que consiste em edema das pregas

vocais; e eritema na região interaritenóidea e epitélio hipertrófico.

Menon e col. (1994), afirmam que um dos sinais mais importantes em

pacientes com refluxo é a hiperemia da mucosa, que recobre as aritenóides

configurando a chamada laringite posterior.

Quintella (1998), menciona estudos realizados por Kambic & Radsel em

1984, com 44 adultos que apresentavam edema; hipertrofia da mucosa

interaritenóide e granuloma com ou sem úlceras associadas e demonstraram que

as lesões laríngeas possuíam as mesmas alterações histológicas da esofagite de

refluxo.

Os pacientes com laringite crônica normalmente apresentam queixas

como: rouquidão, tosse crônica, sensação de corpo estranho na garganta,

aumento da produção da secreção, pigarro crônico e eventuais dores de garganta.

Kendall (1998), realizou estudos em 117 pacientes com diagnóstico de

laringite crônica avaliando e tratando dos mesmos e sugere que durante a

anamnese, os hábitos alimentares sejam conhecidos, principalmente as refeições

realizadas antes de dormir, já que a DRGE pode ser a etiologia primária dessa

condição, ou ser fator agravante. O mesmo autor alerta que muitas vezes os

Page 89: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

89

pacientes não apresentam sintomatologia clássica o que não elimina o RGE como

fator agravante ou etiológico.

A laringite posterior de acordo com Lemme (1997) é hoje considerada

praticamente um sinônimo da DRGE sendo também conhecida como laringite

ácida.

Brasil e col. (1998), citam que o RGE é freqüente em pacientes com

laringites.

Como tratamento Kendall (1998), menciona a remoção das fontes de

irritação laríngea e noções de higiene vocal assim como modificação

comportamental e uso de medicação quando necessário.

3.10.2.3 ) Carcinoma Laríngeo

A DRGE foi proposta como fator contribuinte nos casos de carcinoma

laríngeo principalmente nos pacientes que não fumam e não bebem (Young e col.,

1995).

Cote e Miller (1995), mencionam que além dos achados clássicos na

laringe associados a DRGE a fixação da articulação cricoaritenóidea, o divertículo

de Zenker, as cáries dentárias, torcicolo e possivelmente o carcinoma laríngeo

também são alterações onde o RGE deve ser suspeitado. E acrescentam que a

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90

relação entre RGE e câncer da laringe ainda não está comprovada, existindo

evidências suficientes para o desenvolvimento de novas pesquisas, principalmente

nos pacientes com carcinoma de laringe sem os principais fatores de risco.

Chone e Gomes (1995), mencionam que o refluxo crônico do conteúdo

gástrico na laringe pode ser fator carcinogênico, semelhante ao que ocorre nos

casos de esôfago de Barrett e na Síndrome de Plummer – Vinson.

3.11 ) Outras Manifestações Relacionadas ao RGE

De acordo com Quintella e Ribeiro (1995), o RGE pode manifestar-se

também por: choro intenso, anorexia severa, soluço, baixo ganho pôndero -

estatural, bradicardia, crises de apnéia, dor torácia, anemia, irritabilidade,

distúrbios do sono e síndrome de quase morte súbita.

3.11.1 ) Dor Torácica

A dor torácica é o sintoma extradigestivo mais importante da doença do

refluxo seguida dos sintomas pulmonares (Lemme, 1997).

O diagnóstico diferencial se faz necessário, uma vez que

freqüentemente os pacientes procuram cardiologistas acreditando serem

portadores de dor anginosa.

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91

A dor de origem esofagiana é muito semelhante a dor de origem

anginosa, podendo apresentar dor central ou précordial, que se irradia para a área

da mandíbula e para o dorso, podendo também irradiar para o braço esquerdo.

Costuma ser mais constritiva e apresentar menos queimação.

O diagnóstico de refluxo pode surgir com aspectos clínicos: dor sem

irradiação, a dor noturna que acorda o paciente, principalmente após libação

alimentar, e a dor relacionada com às refeiçoes sendo esta última não muito clara

na prática clínica.

Lemme (1997), salienta que a dor torácica provocada por esforço é

anginosa até que se prove o contrário. O mesmo autor cita o trabalho de Richter

(1995) que demonstra a manifestação do refluxo através desse tipo de dor.

A pirose, sintoma típico aparece associada a essa dor em 50% dos

casos.

A investigação deve ser iniciada descartando inicialmente origem

coronariana (Misziputem, 1996; Lemme 1997; Mincis, 1999).

Em indivíduos com idade avançada são duas patologias que

freqüentemente aparecem concomitantes, devendo o especialista realizar

investigação rigorosa realizando diagnóstico diferencial.

Page 92: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

92

3.11.2 ) Anemia

A inflamação da mucosa esofágica pode acarretar perda crônica de

sangue levando à anemia. Nos casos de anemia ferropriva sem causa aparente, a

DRGE deve ser investigada (Chone e Gomes, 1995).

3.11.3 ) Morte Súbita

Estudos realizados em crianças que faleceram de morte súbita são

mencionados por Chone e Gomes (1995), onde 20% dos casos apresentavam

lesões faríngeas e/ou esofagianas resultantes de acentuado grau de RGE.

Crianças que choram demasiadamente à noite, sem outros sinais

importantes e/ou nas que demonstram sofrimento após as refeições o refluxo deve

ser investigado.

4 ) DIAGNÓSTICO

Diagnosticar RGE em fases iniciais, muitas vezes se torna difícil pelas

discretas alterações que causa. Por esse motivo as queixas clínicas são

extremamentes importantes para o correto diagnóstico da DRGE, podendo

esperar repercursões em diferentes órgãos.

Page 93: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

93

A complementação com exames laringoscópicos e endoscópicos se

mostram de grande valor documentando e avaliando a gravidade do refluxo,

diagnosticando suas complicações, verificando outras doenças associadas e

afastando outras etiologias, compondo critérios de alta, de indicação cirúrgica e

finalmente, diagnosticando complicações pós-operatórias (Quintella, 1998).

Quintella (1998), acrescenta que nem todos os casos necessitam de

investigação inicialmente e que o teste teraupêtico poderia ser suficiente.

Mincis (1999), recomenda que a prova terapêutica não seja realizada

em pacientes que apresentam além de pirose, dor epigástrica.

Para Chone e Gomes (1995), cada método apresenta vantagens e

desvantagens, nenhum se apresenta 100% eficaz.

Bretan e Henry (1995), sugerem que o especialista realize uma

anamnnese bem cuidadosa. O mesmo foi salientado por Celhter e Areosa (1998),

que acreditam ser fundamental a anamnese como parte da avaliação clínica.

Macedo e col. (1998), relatam que nos pacientes com sintomas

clássicos, a história clínica é suficiente para que o tratamento tenha início devendo

ser investigados os pacientes que não melhoram após o tratamento clínico, os que

apresentam queixa de disfagia, os que apresentam sintomas atípicos da DRGE e

aqueles onde existe a suspeita de complicação como esôfago de Barrett, úlcera,

estenose ou neoplasia.

Page 94: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

94

4.1 ) Métodos Diagnósticos

Dentre os métodos diagnósticos podemos citar:

4.1.1 ) Exame Radiológico Contrastado com Bário

São os mais antigos ainda empregados, sendo útil quando o paciente

apresenta disfagia pois pode evidenciar estenoses. O mesmo estudo revela-se

importante para estudo da motilidade do esôfago e estômago, existência e

tamanho da hérnia hiatal.

Chone e Gomes (1995), acrescentam que deve ser realizado associado

à manobra de Trendelenburg, buscando a ocorrência do refluxo.

Mincis (1999), sugere que o estudo radiológico dos pacientes com

queixa de disfagia deve ser complementado com estudo endoscópico.

4.1.2 ) Exame Endoscópico do Esôfago e do Estômago

A endoscopia digestiva alta com bióspia esofágica documentam as

complicações do RGE como a esofagite e a estenose detectando também

patologias associadas como a hérnia hiatal (Quintella, 1998).

Page 95: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

95

Sender (1996), relata preferência pela endoscopia buscando evidência

de alterações estruturais do esôfago submetido ao refluxo. O procedimento

informa a extensão e a intensidade das lesões, permitindo também obter

fragmentos de biópsia para estudo histológico.

Mincis (1999), salienta que em aproximadamente 50% dos casos de

esofagite de refluxo, o aspecto endoscópico é normal, pois o processo inflamatório

tem início na lâmina própria.

A biópsia é importante para o estudo diagnóstico do esôfago de Barrett

e da coexistência de adenocacinoma.

Quintella (1998), ressalta que endoscopia normal não exclui esofagite

histológica, e acrescenta que a revisão dos critérios diagnósticos de esofagite

histológica determinou que a presença de eosinófilos intra-epiteliais é

patognomônica de esofagite de refluxo na infância.

4.1.3 ) Exame Endoscópio das Vias Aéreas Superiores

Menon e col. (1994), afirmam que qualquer paciente com sintomas

inespecíficos comprometendo a “garganta” , é um candidato potencial a realizar

exame endoscópico da vias aéreas superiores.

Page 96: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

96

O exame pode ser realizado através de endoscopia rígida ou flexível,

sendo a endoscopia flexível mais utilizada atualmente pelas vantagens que

oferece.

O exame consiste na introdução do fibroscópio flexível com ótica de

diâmetro de 3,3 mm e com anestesia tópica (xilocaína 10%) por uma das

cavidades do nariz até atingir o rinofaringe.

O exame permite observar todas as paredes da farínge, inclusive a

movimentação do palato mole, estruturas supraglóticas, presença de êxtase,

refluxo e pregas vocais.

Um dos sinais mais importantes evidenciados pelo exame quando

existe a presença do RGE é hiperemia da mucosa que recobre as aritenóides,

encontrada em 20% dos casos, caracterizando a denominada “laringite posterior”.

4.1.4 ) Teste de Perfusão de Ácido ou Teste de Bernstein

O gotejamento de ácido clorídrico no esôfago reproduz os mesmos

sintomas da esofagite de refluxo de origem ácida.

Menon e col. (1994), relatam que pacientes com queixa de globus

mostraram positividade no teste de Bernstein, evidenciando que a presença de

líquidos na porção inferior do esôfago reproduz sintomas faringolaríngeos e

retroesternais .

Page 97: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

97

Mincis (1999), menciona que o teste de perfusão de ácido é pouco

usado rotineiramente.

4.1.5 ) Manometria Esofágica

O estudo manométrico do esôfago tem por objetivo avaliar a atividade

motora do órgão, e a função dos seus esfíncteres por meio da análise das

pressões intraluminares da região estudada (Nasi e Filho, 1996).

Os mesmos autores também relatam que a manometria esofágica foi

inicialmente utilizada buscando a compreensão dos fatores envolvidos na

determinação da DRGE. Por meio da medida das pressões intraluminares

esofágica é que foi possível identificar um seguimento de pressão elevada na

transição esofagogástrica, que é o esfíncter inferior do esôfago (EIE).

Este estudo revela-se de grande valor no diagnóstico de hérnia hiatal e

de acalasia. Sendo indicada também nos casos onde a clínica sugere discinesia

esofágica: disfagia, odinofagia, globus ou angina torácica não cárdiaca (Quintella,

1998).

Mincis (1999), menciona que o exame pode ser útil nos casos que

recebem indicação cirúrgica, pois permite avaliação da peristalse adequada.

Page 98: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

98

4.1.6 ) Teste Cintilográfico ou Cintilografia Gastroesofágica

Trata-se de um método não invasivo que também pode ajudar no

sentido de documentar e quantificar o refluxo (Menon e col., 1994).

Após a ingestão de leite marcado com tecnécio em gamacâmara,

poderá ser observado a exitência ou não de refluxo aproximadamente de 30 a 120

minutos. A sensibilidade varia de 59% a 93% e a especificidade parece ser

elevada (Quintella, 1998).

Cote e Miller (1995), comentam que o uso de tecnécio em exames de

rastreamento nuclear tem uma especificidade de 68% com variações de 14% a

90%.

Mincis (1999), menciona que o teste cintilográfico possibilita estabelecer

o local do RGE e pode ser utilizado quando a intubação esofagiana não for

esclarecedora. O teste é mais utilizado em crianças, sendo poucos os laboratórios

que oferecem o exame.

Quintella (1998), esclarece que não há padronização da técnica para

crianças, embora possa ser útil nas pesquisas de aspiração pulmonar.

4.1.7 ) Ultra Sonografia de Abdome Superior

Permite estudar a junção gastroesofágica por tempo prolongado. A

sensibilidade é de 95% a 100%, e a especificidade gira em torno de 73%.

Page 99: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

99

Quintella (1998), relata ainda que o estudo é realizado com a ingestão

de leite e não bário, e que o uso do exame é limitado pela falta de ecografistas

com domínio da técnica.

4.1.8 ) pH metria de 24 horas / Monitorização Prolongada do pH Intraluminar

Esofágico

Considerada o “padrão-ouro” no diagnóstico do RGE pela maioria dos

autores pesquisados, sendo reconhecida como o mais sensível e específico

exame complementar (Menon e col., 1994; Nasi e Filho, 1996; Donahue, 1997;

Quintella, 1998).

O teste consiste na introdução por via nasal, de um eletrodo que

detecta as variações de pH.

Mincis (1999), alerta que o eletrodo deve estar situado a 5cm acima do

limite superior do EIE. Variações enquanto a localização do eletrodo pode reduzir

de forma significativa a sensibilidade diagnóstica do RGE.

Chehter e Areosa (1998), mencionam que a presença de um pH de

4,0% ou abaixo de 4,0% com duração superior a 5 segundos é considerado

anormal.

Page 100: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

100

Este teste permite verificar se há correlação de sintomas e episódios de

RGE e também para avaliar os resultados da terapêutica adotada: seja clínica ou

cirúrgica.

O RGE pode ser induzido por atividades cotidianas como alimentação,

atividade física e avaliações posturais. O sistema de monitoriazação portátil

permite ao paciente ser estudado livre para exercer suas atividades cotidianas

(Nasi e Filho, 1996).

Os mesmos autores relatam que a composição das refeições, a

ingestão de bebidas alcólicas, e o hábito de fumar podem influenciar na incidência

de episódios de refluxos, o que provoca questionamento se tais fatores devam ou

não ser controlados durante o exame.

Quintella (1998), menciona que o método é particularmente útil em

crianças com doença otorrinolaringológica, introduzindo um segundo sensor de pH

na hipofaringe ou uma segunda sonda na nasofaringe.

Lemme (1998), relata que o exame está indicado em pacientes com

sintomas típicos, sem esofagite ao exame endoscópico, em casos de sintomas

atípicos, como: dor torácica, sintomas respiratórios ou otorrinolaringológicos, em

pacientes que não respondem a terapêutica convencional e no pré operatório.

Page 101: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

101

Nasi e Filho (1996), comentam sobre as limitações do exame, relatando

que a pHmetria não é útil para o diagnóstico da esofagite de refluxo, e por isso

não é substituto para o estudo endoscópico.

5 ) TRATAMENTO

Após descrever os diferentes métodos propedêuticos disponíveis para

avaliar, quantificar e diagnosticar o RGE, o presente estudo abordará as diferentes

formas de tratamento, procurando dar um cunho prático ao tópico.

Jotz e col. (1996), relatam a evolução ao longo dos anos do tratamento

do RGE. O tratamento da “indigestão” data de mais de 4000 anos, quando os

chineses para aliviar sintomas dispépticos usavam extratos de líquido seminal e

urina de bebês.

No século I, Caius Plínio, tratou com pó de corau de leite a dispépsia,

obtendo bons resultados. Paulus de Aegina, no século XVII, tratava a dispépsia

com caulim.

No tratamento da indigestão e da dispepsia, o leite e os antiácidos se

tornaram agentes terapêuticos eficazes no final do século XIX.

Atualmente, o tratamento da DRGE de acordo com Chehter e Areosa

(1998) e Mincis (1999), pode ser clínico, endoscópico ou cirúrgico.

Page 102: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

102

Leitão (1996), acrescentam que as medidas terapêuticas aplicadas irão

depender da intensidade das manifestações clínicas, que nem sempre refletem a

gravidade das lesões observadas no exame endoscópico.

5.1 ) Clínico

O tratamento clínico é composto por medidas posturais e dietéticas e

por tratamento medicamentoso.

5.1.1 ) Medidas Posturais e Dietéticas

Têm por objetivo diminuir e/ou prevenir o RGE e aumentar a

competência do EIE, devendo ser priorizado em relação aos fármacos.

Leitão (1996), mencionam que a adoção de certas medidas gerais,

podem ser suficientes para a melhora dos sintomas em pacientes com refluxo

ocasional ou em grau leve de lesões esofágicas.

As medidas são:

• Elevar a cabeceira da cama em cerca de 15cm, com blocos de

madeira ou tijolos, o que colabora diminuindo o número de episódios

Page 103: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

103

de refluxo e reduzindo o tempo de clareamento ácido do esôfago.

Este efeito está relacionado com a ação da gravidade. Tal medida

pode não ser bem tolerada em pacientes com “doenças da coluna”.

Os pacientes devem ser prevenidos que a simples colocação de

travesseiros pode ocasionar lombodorsalgia. Quintella (1998), ao

descrever o tratamento do RGE na infância, relata que o tratamento

postural é básico na terapêutica do RGE e que 25% dos láctentes

têm o quadro controlado apenas com orientação postural. Wo e

Waring (1997), relatam que a exposição ácida esofagiana é menor

quando se deita na posição decúbito lateral esquerdo, em

comparação com a posição decúbito lateral direito.

• Reduzir o peso, em obesos é recomendado (Wo e Waring, 1997). É

possível que a melhora observada com a redução de peso possa

ser em função da modificação da dieta.

• Evitar deitar logo após as refeições principais, pois o decúbito

favorece ao RGE. É fundamental que se respeite o prazo de 2 a 3

horas de jejum para que se adote o decúbito horizontal ou se

pratique atividade físicas, acrescenta (Chehter e Areosa, 1998).

• Evitar situações que aumentam a pressão intra - abdominal ou intra–

gástrica: flexão do tórax ou das pernas sobre o abdômem, refeições

copiosas, uso de cintas ou roupas muito apertadas e bebidas

Page 104: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

104

gasosas (propiciam a eructação). As refeições devem ser mais

freqüentes e em menores quantidades por vez (Lemme, 1998).

• Alimentos que diminuem a pressão do EIE: chocolate, gordura,

hortelã, pimenta e cebolas cruas, devem ser evitados, assim como

os que atuam como irritantes sobre a mucosa esofagiana: sucos

cítricos, tomate, café, refrigerantes gasosos. Os alimentos ricos em

açúcar, chás com concentração maior de cafeína, teofilina e

teobromina, também deverão se abolidos pois estimulam a produção

de ácido clorídrico (Leitão, 1996; Wo e Waring, 1997).

• O álcool e fumo também diminui o tônus do EIE, a pressão do

esfíncter superior do esôfago e a peristalse primária do mesmo

Leitão (1996), relata que o cigarro reduz em até 40% a pressão pós

– prandial desse esfíncter. As bebidas alcóolicas exercem papel

estimulante na produção de ácido clorídrico, além de serem irritantes

diretas da mucosa esofágica. Os destilados concentrados como

águardentes, conhaques, uísque e outros são mais irritantes. Já os

licores, além do alto teor alcóolico, aumentam o sintoma de pirose

pela maior concentração de açúcares (Leitão, 1996). Wo e Waring

(1997), relatam que os emplastros transdérmicos de nicotina podem

agravar o RGE na posição supina, aconselhando a remoção durante

a noite.

Page 105: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

105

• Evitar medicamentos que reduzem a pressão do EIE ou atuam como

irritantes diretos da mucosa do esôfago: teofilina e bloqueadores dos

canais do cálcio, anti - inflamatórios não hormonais, mucolíticos,

broncodilatadores orais, barbitúricos, benzodiazepínicos, alguns

antibióticos e antidepressivos (por suas propriedades anti –

colinérgicas).

5.1.2 ) Tratamento Medicamentoso

O tratamento medicamentoso deve ser preconizado nas crianças com

RGE patogênico secundário, e RGE funcional com vômitos exagerados de acordo

com Quintella (1998).

Os medicamentos utilizados são:

Antiácidos

Page 106: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

106

Os antiácidos atuam neutralizando os íons hidrogênio existentes na

secreção gástrica, diminuindo sua concentração no material refluído (Mincis,

1999).

Quintella (1998), relata que o tratamento com antiácidos complementam

o tratamento, principalmente na suspeita de esofagite de refluxo.

Leitão (1996), relata que os antiácidos não possuem ação cicatrizante

das erosões esofagianas e que sua ação benéfica se faz no alívio dos sintomas.

Os antiácidos utilizados são: hidróxido de alumínio e magnésio (Maalox

e Mylanta Plux), sendo que alguns medicamentos associam ao antiácido um ácido

algínico que faz o antiácido flutuar na superfície da secreção gástrica agindo como

uma barreira mecânica, reduzindo o número de refluxo e a exposição de ácido no

esôfago.

Os antiácidos, acrescenta Mincis (1999), que são realmente eficazes no

tratamento sintomático da pirose sendo mais indicados os na forma líquida, e que

os efeitos colaterais como diarréia pelo magnésio e prisão de ventre pelo alumínio

podem ocorrer.

Outros efeitos colaterais são citados por Leitão (1996) como

hipofosfatemia e hipernatremia. O mesmo autor enfatiza que os antiácidos

neutralizam o ácido clorídrico (HCL), mas não apresentam ação sobre o tônus do

EIE.

Page 107: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

107

Drogas Pró – Cinéticas

Estas drogas aumentam o tônus do EIE, estimulam o clareamento

esofágico e aceleram o esvaziamento gástrico, reduzindo o tempo de

permanência dos alimentos na cavidade gástrica e diminuindo a possibilidade do

RGE (Quintella, 1998).

As drogas pró – cinéticas são:

• metoclopramida (Plasil, Eucil)

• domperidona (Motilium)

• bromoprida (Digesan, Plamet, Pridecil)

• alizaprida (Superan)

• cisaprida (Prepulsid, Enteropride)

Bloqueadores da Secreção Ácida

Os antagonistas dos receptores H2 da histamina (ARH2) são mais

eficazes que os antiácidos por atuarem por períodos mais longos e serem capazes

de cicatrizar a esofagite.

Page 108: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

108

Os ARH2 diminuem a produção de HCL, e desse modo reduzem o

conteúdo ácido do estômago do material que reflui para o esôfago (Quintella,

1998; Mincis, 1999).

Neste grupo destacamos: cimetidina, ranitidina, famotidina e nisatidina.

Inibidores da Bomba de Prótons

Inibe tanto a secreção gástrica basal quanto a que ocorre após

estimulação.

Atualmente há três tipos: omeprazol, lanzoprazol e pantoprazol, sendo

o omeprazol o mais antigo e o mais estudado (Leitão, 1996).

Os inibidores da bomba de prótons podem ocasionar raramente

diarréia, cefaléia, tonturas, prurido e exântema (Mincis, 1999).

Citoprotetores

O sucralfato atua localmente ligando-se ao ácido, à pepsina e à bile.

Pode ser utilizada em pacientes que estão usando ARH2 , assim como

durante a gravidez, devendo ser prescrito com cautela em pacientes com

insuficiência renal por conter alumínio. Pode ocasionar prisão de ventre em alguns

casos (Mincis, 1999).

Page 109: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

109

No Brasil, a droga não é comercializada podendo ser manipulada em

farmácias.

5.2 ) Endoscópico

As lesões causadas pelo RGE produzem alterações na mucosa e nas

camadas mais profundas do órgão, desde simples inflamações, até processos

inflamatórios crônicos intensos, podendo levar a estenoses (estreitamentos).

O tratamento endoscópico é indicado nos casos de estenose do

esôfago, conseqüente de esofagite de refluxo, por meio de dilatações

instrumentais (Mincis, 1999).

Hashiba e Silva (1996), relatam que atualmente existem dilatadores que

são introduzidos e manipulados através do canal terapêutico dos endoscópios

flexíveis, o que permite uma visão da região estenosada e o adequado

posicionamento do balão dilatador.

Os mesmos autores acrescentam que o paciente deverá ser preparado

da mesma maneira que para a realização da endoscopia digestiva alta e que os

principais tipos de dilatadores são:

• Sondas de Hurst

• Sondas de Maloney

Page 110: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

110

• Sondas de Turcker

• Dilatador de Eder – Pueston

• Dilatador de Savary – Gilliard

• Balões dilatadores

• Balão Artesanal (Silva – Guimarães)

Os vários métodos e tipos de dilatadores podem ser empregados

isoladamente ou combinados, com ou sem auxílio de endoscopia e radioscopia,

conforme cada situação ( Macedo e col., 1998).

Wo e Waring (1997), relatam que em caso de doença subjacente

tratável como RGE, a terapia específica será necessária além da técnica de

dilatação.

Um dos sintomas de estenose é a disfagia, sendo que a mesma

melhora com a dilatação endoscópica em 85% dos pacientes com complicações

raras (Wo e Waring, 1997; Lemme, 1998).

Hashiba e Silva (1996), concluíram que a dilatação endoscópica é um

método eficiente, com pouca complicação e de baixo custo, tornando-se a primeira

opção para o tratamento das estenoses benignas do esôfago.

Macedo e col. (1998), acrescentam que pacientes com estenoses

esofagianas que não toleram dilatações repetidas e que não são candidatos à

Page 111: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

111

cirurgia, podem receber indicação de prótese esofágica, indicação ainda

controversa.

5.3 ) Cirúrgico

O tratamento cirúrgico até pouco tempo estava reservado para os casos

em que o tratamento clínico falhou, ou complicações foram desenvolvidas (Horgan

e Pellegrini, 1997).

Atualmente, espera-se um encaminhamento mais precoce aos

cirurgiões dos pacientes com DRGE, reduzindo o número de pacientes que sofrem

das complicações tardias e das seqüelas debilitantes do refluxo crônico.

O tratamento clínico atualmente alcança sucesso na maioria dos casos,

requerendo cirurgia aproximadamente 10% dos pacientes (Mincis, 1999).

Horgan e Pellegrini (1997), salientam que por outro lado, para que os

sintomas regridam de forma duradoura, os pacientes com refluxo moderado e

intenso deverão receber medicação indefinidamente . A terapia clínica, a curto

prazo, é eficaz apenas nos casos mais leves. E que as modificações do estilo de

vida deverão ser seguidas sempre, o que não acontece muitas vezes pelo grau de

privação exigido.

A cirurgia oferece alívio completo e duradouro através da competência

gastroesofágica, com poucas modificações do estilo de vida do paciente.

Page 112: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

112

Mincis (1999), cita que desde que os critérios de relação de pacientes

sejam adequados, a cirurgia apresenta bons resultados em 80% dos casos.

Nas crianças, Quintella e col. (1999), relatam que o tratamento cirúrgico

deve ser postergado além de 1 ano de idade sempre que possível, por apresentar

evolução favorável até essa idade.

A cirurgia anti - refluxo pode ser: convencional ou laparoscópica, ambas

operações de fundoplicatura (válvula anti- refluxo).

A cirurgia laparoscópica, exigi menor tempo de internação, retorno às

atividades profissionais, sociais e esportivas mais precocemente, sendo os

resultados estéticos melhores e a taxa de morbidade menor.

Toma (1999), menciona que a fundoplicatura, ou o envolvimento do

esôfago distal pelo fundo gástrico é a operação mais comum nestes casos.

A técnica preconizada atualmente para tratar os pacientes com refluxo

patológicos é uma modificação da fundoplicatura descrita por Nissen, que resultou

em uma melhora na capacidade de eruptação e de deglutição, complicações

observadas freqüentemente com a técnica original (Horgan e Pellegrini, 1997).

A cirurgia para o tratamento da esofagite de refluxo pela técnica da

fundoplicatura de Nissen, é a melhor forma de evitar a progressão do esôfago de

Barrett (Sakai, 1998).

Page 113: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

113

Mincis (1999), salienta que estudos com casuísticas maiores e

avaliações a longo prazo, ainda são necessários para avaliar melhor os resultados

do tratamento cirúrgico da DRGE.

6 ) ATUAÇÃO DO FONOAUDIÓLOGO

A atuação fonoaudiológica vem ampliando suas fronteiras a cada dia

tornando-se cada vez mais científica exigindo dos profissionais dessa área

desenvolver conhecimento que auxiliem não somente na terapêutica, mas na

suspeita de determinadas patologias, favorecendo um diagnóstico preciso.

A DRGE, merece ser estudada pelo fonoaudiólogo, pela interferência

provocada pelo RGE no quadro de distúrbios de alimentação, entre eles a disfagia

e no quadro vocal que o disfônico apresenta.

O fonoaudiólogo irá desempenhar papel importante ao suspeitar da

possível associação do RGE com a sintomatologia apresentada pelo paciente,

colaborando para um correto diagnóstico e tratamento da doença de base.

A intervenção terapêutica do fonoaudiólogo poderá abranger áreas da

motricidade oral e voz isoladamente, ou de forma simultânea quando necessária.

Page 114: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

114

Neste tópico, o presente trabalho irá abordar a atuação do

fonoaudiólogo nos casos de disfagia e disfonia associadas a DRGE, salientando

aspectos mais importantes a serem observados e considerados.

6.1 ) Abordagem nos Quadros de Disfagia

Baptista (1996), relata que o RGE patológico freqüentemente vem

associado a distúrbios de alimentação, entre os quais, a disfagia, e acrescenta

que o fonoaudiólogo vem atuando cada vez mais nos casos de refluxo.

Quintella e col. (1999), ao descrever a abordagem fonoaudiológica nos

casos de disfagia na infância salienta que o fonoaudiológico deve ser integrado

aos demais especialistas envolvidos, sendo funções do fonoaudiólogo atuar

diretamente com o paciente, orientar e intervir na equipe de atendimento de forma

adequada, observar aspectos ambientais como por exemplo luminosidade, ruídos,

excessiva manipulação e dar suporte à família. Como profissional em distúrbios da

comunicação, estar atento à audição e linguagem que muitas vezes encontram-se

alteradas nestas crianças.

Meira (1998), relata que nas crianças com RGE a relação alimentação

associada ao prazer pode não acontecer pelo fato da mesma sofrer “incômodos”

durante sua alimentação (vômitos, regurgitações, falta de ar, disfagia, odinofagia,

pirose, esofagite e dor retroesternal).

Page 115: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

115

Baptista (1996), refere que os comportamentos aversivos à alimentação

observados nos bebês com esosfagite com RGE podem ser evidenciados pela

irritação, choro, movimentos anormais de cabeça, desorganização na

coordenação no processo sucção/deglutição/respiração, e arregalar dos olhos,

esforço para deglutir, náuseas, vômitos, podendo apresentar pausas respiratórias.

A criança portadora de RGE pode apresentar hiperssensibilidade na

cavidade orofaríngea, o que provoca uma anteriorização do reflexo de vômito,

gerando desconforto ao toque, não suportando até mesmo a presença de

alimentos na boca. Tal fato pode persistir mesmo após o tratamento do refluxo.

Uma grande tensão na musculatura posterior da boca: músculos da

base da língua, do palato mole, da laringe e faringe; e da região cervical também

são observados nestes pacientes (Meira, 1998).

O reflexo tônico de mordida nos casos de comprometimento

neurológico pode ocorrer em resposta a espasmos esofagianos causadores da

odinofagia e pirose (Baptista, 1996).

Diante da queixa de rejeição alimentar, o fonoaudiólogo deve suspeitar

da DRGE e uma anamnese detalhada deverá ser realizada.

A avaliação fonoaudiológica deverá observar o bebê antes, durante e

depois do momento da alimentação onde vários aspectos serão considerados.

Page 116: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

116

Baptista (1996), acrescenta que quando a anamnese e a avaliação

levam à suspeita do RGE, o encaminhamento ao especialista deverá ser

realizado.

O fonoaudiólogo poderá efetuar terapêutica, buscando:

• dessensibilizar a boca, posteriorizando o reflexo de vômito quando

necessário, promovendo uma relação prazeirosa com o alimento

(Meira, 1998);

• tratar os distúrbios de alimentação paralelos a patologia do refluxo,

orientando quando necessário manobras específicas para cada

caso, quando na presença de disfagia (Quintella e col., 1999).

O tratamento do RGE patológico corresponde ao médico especialista

que irá determinar o tratamento mais adequado, aliviando a sitomatologia da

esofagite, o que promoverá maior aceitação dos estímulos orais, inclusive do

alimento (Baptista, 1996).

A fonoterapia nos casos da DRGE deve ser iniciada quando o quadro

clínico estiver controlado, caso contrário a terapia poderá agravar o quadro

apresentado, podendo favorecer no aumento dos episódios de refluxo, além de

provocar náuseas e vômitos.

Page 117: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

117

Baptista (1996) e Meira (1998), relacionam procedimentos a serem

considerados pelo fonoaudiólogo ao atender bebês e crianças com RGE

patológico:

• cuidados quanto a postura da criança: quando sentado ou apoiado

nos braços evitar a excessiva flexão do corpo sobre o abdômem

para que o mesmo não seja comprimido. Nos casos de refluxo

severo onde o paciente permite estimulação, o decúbito ventral

elevado a 30º deverá ser preconizado;

• oferecer sucção não nutritiva, como a chupeta, estando o bebê

sentado ou em decúbito ventral elevado a 30º, o que irá promover

aumento da produção de saliva neutralizando o pH esofágico, além

da deglutição repetida aumentar o peristáltismo esofágico

diminuindo a duração do RGE;

• a família deverá acompanhar a terapia observando os

procedimentos e posturas que irão favorecer a evolução do

tratamento.

6.2 ) Abordagem nos Quadros de Disfonia

Page 118: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

118

Poucos estudos fonoaudiológicos têm sido realizados verificando a

relação disfonia com a DRGE. A disfonia agrava-se na presença do RGE, e nos

casos isolados de RGE existe compromentimento vocal (Defina e col., 1998).

Recentemente foi publicado um trabalho de Behlau e col. (2001), onde

o comportamento vocal foi comparado aos resultados de exames laringológicos

em pacientes com RGE. Algumas conclusões serão mencionadas a seguir.

O RGE foi associado às alterações patológicas de terço posterior de

laringe, principalmente no sexo masculino. As alterações laríngeas mais

encontradas foram a úlcera de contato e o granuloma contralateral de prega vocal.

O fechamento glótico encontrado foi do tipo incompleto com alterações

de massa, em ambos os sexos, o que reduziu o tempo máximo de fonação

considerado normal.

A perfil de personalidade foi o autoritário.

A freqüência fundamental apresentou-se mais aguda no sexo

masculino, e a média da proporção harmônico - ruído apresentou-se mais

reduzida igualmente no mesmo sexo.

Boone e McFarlane (1994), associam as úlceras de contato à presença

de RGE e mencionam que o foco de terapia vocal nestes pacientes é eliminar os

esforços da vocalização. Os pacientes devem produzir voz com esforço

relativamente pequeno, e para os autores isso significa elevar a altura; falar com

Page 119: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

119

maior relaxamento de boca e maxilar, utilizar intensidades mais reduzidas e

eliminar o ataque vocal brusco. A resposta a terapia vocal é favorável.

Pinho (1998), cita Bloch, Gold, Hirano (1981), incluindo a terapia vocal

de tratamento dos granulomas e úlceras de contato.

O trabalho de Defina e col. (1998), buscou orientar fonoaudilógicamente

pacientes com e sem disfonia que apresentavam RGE. Nos pacientes sem

comprometimento vocal o objetivo era a prevenção. Os resultados demonstraram

ser eficientes na eliminação ou suavização dos sintomas, mesmo nos pacientes

sem queixa vocal.

A importância do atendimento fonoaudiológico como prevenção de

alterações vocais é salientado pelos autores.

O tratamento fonoterápico irá complementar o tratamento médico

quando o RGE é diagnosticado.

Page 120: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

120

7 ) CONSIDERAÇÕES FINAIS

O refluxo gastroesofágico acomete a população normal, principalmente

após as refeições, sendo considerado um processo fisiológico. Já o refluxo de

maior freqüência, duração e/ou de maior poder lesivo é considerado patológico e

pode induzir à doença.

A DRGE vem merecendo vários estudos médicos, certamente pelo

aumento da freqüência, pela multicausalidade fisiopatológica e pelo seu potencial

de malignização.

É interessante verificar que até pouco tempo, acreditava-se em uma

alteração no comportamento estático do EIE como principal mecanismo

fisiopatológico da doença do refluxo.

Com a moderna técnica diagnóstica e estudos fisiológicos mais

aprofundados pode-se verificar que, na realidade o que existe é uma alteração no

comportamento dinâmico deste esfíncter, produzindo o chamados relaxamentos

transitórios do EIE.

É consenso entre os autores pesquisados que a doença do refluxo tem

caráter multifatorial, e que os mecanismos fisiopatológicos serão melhor

compreendidos em um futuro próximo.

Page 121: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

121

Mesmo provocando uma grande variedade de sintomas e alterações e,

apesar das técnicas de investigação cada vez mais avançadas, o RGE continua

sendo de difícil caracterização em muitos casos clínicos.

O RGE crônico pode provocar sintomas e complicações

otorrinolaringológicas, podendo apresentar exame físico normal ou com alterações

leves.

Faz-se necessário que o profissional verifique a possível interferência

do RGE no quadro clínico, assim como nas queixas relatadas.

Diagnosticar e tratar o RGE precocemente pode previnir alterações

laríngeas, vocais, alimentares, traqueais e gastrointestinais, inclusive o carcinoma

do esôfago e da laringe.

Nem sempre tratar o RGE é fácil. A mudança de hábitos /

comportamento, o uso de medicação prolongada nos casos mais persistentes, a

reincidiva freqüênte, e a necessidade de indicação cirúrgica em alguns casos, faz

com que o RGE seja de difícil tratamento muitas vezes.

A atuação fonoaudiológica pode auxiliar no diagnóstico, na prevenção e

no tratamento das alterações provocadas pelo RGE, portanto após a leitura deste

trabalho, o profissional fonoaudiólogo deve estar atento buscando relacionar os

sintomas e sinais apresentados, com a possível DRGE.

Page 122: Doença do refluxo gastroesofágico conhecer para melhor tratar

122

Não basta tratar dos sintomas. É preciso CONHECER PARA MELHOR

TRATAR.

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