SIDNEY VALEIJE Diretor de Descartáveis ABRALIMP. Higicon Agosto/ 2010.
Dom Volodemer Koubetch, OSBM - Somos Descartáveis
-
Upload
guilherme-oliveira -
Category
Documents
-
view
213 -
download
0
description
Transcript of Dom Volodemer Koubetch, OSBM - Somos Descartáveis
SSOOMMOOSS DDEESSCCAARRTTÁÁVVEEIISS??
Antigamente, qualquer tipo de produção era
duradouro, pois era feito para servir o seu dono durante
muito tempo, senão durante toda a sua vida. Um livro era
adquirido para ser lido e relido por toda a família e depois
era guardado quase como relíquia. Para a maioria das
pessoas, a roupa tinha o papel de proteger o corpo
decentemente e não havia tanta preocupação com a moda.
Um utensílio doméstico, que se ganhava por ocasião do
casamento, era para durar durante a formação de toda uma
família, e numerosa, com muitos filhos. Depois de velhos,
esses utensílios também praticamente viravam relíquias. Em
resumo, tudo tinha um valor que ultrapassava sua mera utilidade prática: ficava na memória, ficava na
história, ficava um pouco mais no coração das pessoas.
Na era da industrialização vieram as máquinas de produção, as fábricas, os caminhões, os carros. Os
aparelhos de som, os telefones, a televisão eram objetos para as famílias de maior poder aquisitivo. Os carros
eram aquisições dos ricos. Eram coisas de maior durabilidade. Mas com o desenvolvimento rápido da
tecnologia e da mentalidade capitalista da lucratividade, tais objetos começaram a ser produzidos em série e
em grande escala. Assim, a montadora americana Ford foi a primeira a fabricar carros menos duráveis a fim
de garantir a produção continuada e poder crescer sempre mais. Agora, os carros precisam ser trocados com
frequência, porque não são feitos para durar toda a vida. Mais ou menos nessa linha é que podemos entender
porque hoje muitos produtos têm que ser descartáveis.
Hoje em dia, essa “descartabilidade” é estimulada pelo consumismo. Existem muitos produtos
descartáveis, que, na verdade, aumentam essa “descartabilidade” num sentido social e ecológico, pois
ajudam a descartar o meio ambiente, destruindo-o pela poluição e contaminação, e diminuindo a qualidade
de vida. Por outro lado, a tecnologia é tão eficiente e rápida, que é capaz de produzir aparelhos sempre mais
potentes, mais interessantes e bonitos; o mesmo acontecendo com outros produtos de consumo. Isso ajuda a
criar uma mentalidade de que tudo é provisório, passageiro; nada é definitivo, tudo é de pequeno valor,
valendo agora e para mim, enquanto é bom para mim; com a liberdade de se poder fazer o que quiser. Então,
tudo é descartável.
Sendo assim, as pessoas também são descartáveis. As poderosas máquinas informatizadas, os robôs
fazem tudo com muito mais eficiência e rapidez, eliminando a mão de obra humana, ou seja, descartando
muitos operários. Por sua vez, esses operários, não tendo com que sustentar suas famílias, descartam as
mesmas; ou são eles descartados por suas famílias; ou, em desespero, se descartam, fugindo ou se
suicidando. Os homens acima de quarenta anos têm dificuldade de encontrar emprego: são descartados. Mas
na sociedade atual existem outros aspectos em que vemos claramente como as pessoas são descartadas:
muitos divórcios, desquites e separações são práticas pelas quais os cônjuges se descartam mutuamente;
namorados que se descartam tão facilmente; existem pais que descartam seus filhos e filhos que descartam
seus pais; alunos que descartam seus professores; a juventude baderneira que descarta a ordem social e suas
respectivas autoridades; pais e mães que descartam seus filhos não nascidos pela prática do aborto; amigos se
descartam por qualquer coisa; governos que descartam populações inteiras...
Somos descartáveis? Já descartei alguém? Por que? Já fui descartado? Por que? Como agir numa
sociedade dos descartáveis? Deus quer que sejamos descartáveis?
Gostaria que o leitor ou leitora desse antes a sua resposta pessoal. Aqui faço uma rápida conclusão.
Todos somos filhos e filhas de Deus. Deus quer o bem de todas as suas criaturas. Ele quer a nossa felicidade,
já aqui na terra, mas a verdadeira felicidade é eterna. É exatamente nessa perspectiva de eternidade e diante
de Deus que nós precisamos fazer uso dos bens aqui na terra: pensando em Deus, pensando nos outros,
pensando na natureza; mas com amor divino, com justiça, com perdão, partilhando, ajudando, respeitando.
Se vivermos assim, descartaremos menos e seremos menos descartados.
Dom Volodemer Koubetch, OSBM