Dom Volodemer Koubetch, OSBM - Somos Descartáveis

1
SOMOS DESCARTÁVEIS? Antigamente, qualquer tipo de produção era duradouro, pois era feito para servir o seu dono durante muito tempo, senão durante toda a sua vida. Um livro era adquirido para ser lido e relido por toda a família e depois era guardado quase como relíquia. Para a maioria das pessoas, a roupa tinha o papel de proteger o corpo decentemente e não havia tanta preocupação com a moda. Um utensílio doméstico, que se ganhava por ocasião do casamento, era para durar durante a formação de toda uma família, e numerosa, com muitos filhos. Depois de velhos, esses utensílios também praticamente viravam relíquias. Em resumo, tudo tinha um valor que ultrapassava sua mera utilidade prática: ficava na memória, ficava na história, ficava um pouco mais no coração das pessoas. Na era da industrialização vieram as máquinas de produção, as fábricas, os caminhões, os carros. Os aparelhos de som, os telefones, a televisão eram objetos para as famílias de maior poder aquisitivo. Os carros eram aquisições dos ricos. Eram coisas de maior durabilidade. Mas com o desenvolvimento rápido da tecnologia e da mentalidade capitalista da lucratividade, tais objetos começaram a ser produzidos em série e em grande escala. Assim, a montadora americana Ford foi a primeira a fabricar carros menos duráveis a fim de garantir a produção continuada e poder crescer sempre mais. Agora, os carros precisam ser trocados com frequência, porque não são feitos para durar toda a vida. Mais ou menos nessa linha é que podemos entender porque hoje muitos produtos têm que ser descartáveis. Hoje em dia, essa “descartabilidade” é estimulada pelo consumismo. Existem muitos produtos descartáveis, que, na verdade, aumentam essa “descartabilidade” num sentido social e ecológico, pois ajudam a descartar o meio ambiente, destruindo-o pela poluição e contaminação, e diminuindo a qualidade de vida. Por outro lado, a tecnologia é tão eficiente e rápida, que é capaz de produzir aparelhos sempre mais potentes, mais interessantes e bonitos; o mesmo acontecendo com outros produtos de consumo. Isso ajuda a criar uma mentalidade de que tudo é provisório, passageiro; nada é definitivo, tudo é de pequeno valor, valendo agora e para mim, enquanto é bom para mim; com a liberdade de se poder fazer o que quiser. Então, tudo é descartável. Sendo assim, as pessoas também são descartáveis. As poderosas máquinas informatizadas, os robôs fazem tudo com muito mais eficiência e rapidez, eliminando a mão de obra humana, ou seja, descartando muitos operários. Por sua vez, esses operários, não tendo com que sustentar suas famílias, descartam as mesmas; ou são eles descartados por suas famílias; ou, em desespero, se descartam, fugindo ou se suicidando. Os homens acima de quarenta anos têm dificuldade de encontrar emprego: são descartados. Mas na sociedade atual existem outros aspectos em que vemos claramente como as pessoas são descartadas: muitos divórcios, desquites e separações são práticas pelas quais os cônjuges se descartam mutuamente; namorados que se descartam tão facilmente; existem pais que descartam seus filhos e filhos que descartam seus pais; alunos que descartam seus professores; a juventude baderneira que descarta a ordem social e suas respectivas autoridades; pais e mães que descartam seus filhos não nascidos pela prática do aborto; amigos se descartam por qualquer coisa; governos que descartam populações inteiras... Somos descartáveis? Já descartei alguém? Por que? Já fui descartado? Por que? Como agir numa sociedade dos descartáveis? Deus quer que sejamos descartáveis? Gostaria que o leitor ou leitora desse antes a sua resposta pessoal. Aqui faço uma rápida conclusão. Todos somos filhos e filhas de Deus. Deus quer o bem de todas as suas criaturas. Ele quer a nossa felicidade, já aqui na terra, mas a verdadeira felicidade é eterna. É exatamente nessa perspectiva de eternidade e diante de Deus que nós precisamos fazer uso dos bens aqui na terra: pensando em Deus, pensando nos outros, pensando na natureza; mas com amor divino, com justiça, com perdão, partilhando, ajudando, respeitando. Se vivermos assim, descartaremos menos e seremos menos descartados. Dom Volodemer Koubetch, OSBM

description

somos descartaveis

Transcript of Dom Volodemer Koubetch, OSBM - Somos Descartáveis

Page 1: Dom Volodemer Koubetch, OSBM - Somos Descartáveis

SSOOMMOOSS DDEESSCCAARRTTÁÁVVEEIISS??

Antigamente, qualquer tipo de produção era

duradouro, pois era feito para servir o seu dono durante

muito tempo, senão durante toda a sua vida. Um livro era

adquirido para ser lido e relido por toda a família e depois

era guardado quase como relíquia. Para a maioria das

pessoas, a roupa tinha o papel de proteger o corpo

decentemente e não havia tanta preocupação com a moda.

Um utensílio doméstico, que se ganhava por ocasião do

casamento, era para durar durante a formação de toda uma

família, e numerosa, com muitos filhos. Depois de velhos,

esses utensílios também praticamente viravam relíquias. Em

resumo, tudo tinha um valor que ultrapassava sua mera utilidade prática: ficava na memória, ficava na

história, ficava um pouco mais no coração das pessoas.

Na era da industrialização vieram as máquinas de produção, as fábricas, os caminhões, os carros. Os

aparelhos de som, os telefones, a televisão eram objetos para as famílias de maior poder aquisitivo. Os carros

eram aquisições dos ricos. Eram coisas de maior durabilidade. Mas com o desenvolvimento rápido da

tecnologia e da mentalidade capitalista da lucratividade, tais objetos começaram a ser produzidos em série e

em grande escala. Assim, a montadora americana Ford foi a primeira a fabricar carros menos duráveis a fim

de garantir a produção continuada e poder crescer sempre mais. Agora, os carros precisam ser trocados com

frequência, porque não são feitos para durar toda a vida. Mais ou menos nessa linha é que podemos entender

porque hoje muitos produtos têm que ser descartáveis.

Hoje em dia, essa “descartabilidade” é estimulada pelo consumismo. Existem muitos produtos

descartáveis, que, na verdade, aumentam essa “descartabilidade” num sentido social e ecológico, pois

ajudam a descartar o meio ambiente, destruindo-o pela poluição e contaminação, e diminuindo a qualidade

de vida. Por outro lado, a tecnologia é tão eficiente e rápida, que é capaz de produzir aparelhos sempre mais

potentes, mais interessantes e bonitos; o mesmo acontecendo com outros produtos de consumo. Isso ajuda a

criar uma mentalidade de que tudo é provisório, passageiro; nada é definitivo, tudo é de pequeno valor,

valendo agora e para mim, enquanto é bom para mim; com a liberdade de se poder fazer o que quiser. Então,

tudo é descartável.

Sendo assim, as pessoas também são descartáveis. As poderosas máquinas informatizadas, os robôs

fazem tudo com muito mais eficiência e rapidez, eliminando a mão de obra humana, ou seja, descartando

muitos operários. Por sua vez, esses operários, não tendo com que sustentar suas famílias, descartam as

mesmas; ou são eles descartados por suas famílias; ou, em desespero, se descartam, fugindo ou se

suicidando. Os homens acima de quarenta anos têm dificuldade de encontrar emprego: são descartados. Mas

na sociedade atual existem outros aspectos em que vemos claramente como as pessoas são descartadas:

muitos divórcios, desquites e separações são práticas pelas quais os cônjuges se descartam mutuamente;

namorados que se descartam tão facilmente; existem pais que descartam seus filhos e filhos que descartam

seus pais; alunos que descartam seus professores; a juventude baderneira que descarta a ordem social e suas

respectivas autoridades; pais e mães que descartam seus filhos não nascidos pela prática do aborto; amigos se

descartam por qualquer coisa; governos que descartam populações inteiras...

Somos descartáveis? Já descartei alguém? Por que? Já fui descartado? Por que? Como agir numa

sociedade dos descartáveis? Deus quer que sejamos descartáveis?

Gostaria que o leitor ou leitora desse antes a sua resposta pessoal. Aqui faço uma rápida conclusão.

Todos somos filhos e filhas de Deus. Deus quer o bem de todas as suas criaturas. Ele quer a nossa felicidade,

já aqui na terra, mas a verdadeira felicidade é eterna. É exatamente nessa perspectiva de eternidade e diante

de Deus que nós precisamos fazer uso dos bens aqui na terra: pensando em Deus, pensando nos outros,

pensando na natureza; mas com amor divino, com justiça, com perdão, partilhando, ajudando, respeitando.

Se vivermos assim, descartaremos menos e seremos menos descartados.

Dom Volodemer Koubetch, OSBM