DORDIO, Paulo et al (2015) – O Plano de Salvaguarda do Património do Aproveitamento...

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O Plano de Salvaguarda do Património do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor (PSP do AHBS), 2010 – 2015

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DORDIO, Paulo et al (2015) – O Plano de Salvaguarda do Património do Aproveitamento Hidroeléctrico do Baixo Sabor (PSP do AHBS), 2009 – 2015, Dossier CoaVisão, nº 17, 2015

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O Plano de Salvaguarda do Patrimnio do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor (PSP do AHBS), 2010 2015Com o Baixo Sabor ameaado de submerso, a oportunidade de elaborar uma narrativa histricaPaulo Dordio*O Vale do Baixo Sabor impe-se a quem o observa cavando o curso vigoroso atravs de uma paisagem de planaltos a perder de vista. As formas so robustas e esmagadoras. Na maior parte do curso, as encostas so abruptas configurando um vale muito encaixado entre arribas. Mas, por vezes, o vale abre, multiplicando-se os subsidirios que rasgam os planaltos de ambos os lados do rio, aplanando as encostas das margens onde se identificam antigos terraos fluviais. So esses nichos alveolares que as populaes mais antigas, desde que se comearam a sedentarizar e a criar aldeamentosFig. 1: Baixo Sabor na zona do Santo Anto (Parada, Alfndega da F) e Crestelos (Meirinhos, Mogadouro). Albufeira de Montante parcialmente cheia em Janeiro de 2015. Foto de Adriano Borges.*Coordenador Geral do PSPpermanentes, escolheram para centro dos seus territrios. Actualmente, porm, nessas mesmas zonas,no se implanta uma nica aldeia. Todas se situam nos planaltos adjacentes. A ruptura e mudana de paradigma parecem ter ocorrido no ltimo milnio, da Baixa Idade Mdia ao Presente.Em 2008, o incio da empreitada da obra do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor (AHBS) colocava um ponto final nas dvidas e incertezas sobre a construo de uma nova barragem hidroelctrica na regio de Trs-os-Montes que se faria acompanhar da submerso de mais de 3000 ha de vale distribudos ao longo de cerca de 60 km do curso do rio. Fig. 3: Baixo Sabor antes do enchimento da Albufeira de Jusante. Fotografia de Jos RodriguesO Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor (AHBS) surgiu ento como a oportunidade de promover a elaborao e o desenvolvimento de um ambicioso plano de minimizao dos impactes da empreitada de obra sobre um conjunto alargado de elementos patrimoniais, entre os quais grande nmero de stios arqueolgicos. O documento orientador desse plano - Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP) props uma aproximao integradacoaviso.17.2015Com o Baixo Sabor ameaado de submerso, a oportunidade de elaborar uma narrativa histrica I Paulo Dordio que visava a investigao das dinmicas de transformao de um territrio, o Baixo Sabor, na longa durao, da Pr-histria aos nossos dias. Aquele Plano, estabelecia assim que a salvaguarda do patrimnio no se realiza apenas atravs do Registo, Monitorizaes ou Preservaes in situ mas, e em primeiro lugar, atravs da Produo de Conhecimento.Fig. 2: Baixo Sabor na zona do Cabeo do Santo Cristo (Castro Vicente, Meirinhos) antes do enchimento da Albufeira de Montante.O Plano de Salvaguarda do Patrimnio do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor foi depois executado entre 2010 e 2015. O Plano, que integra um ncleo de Estudos Especficos (A Pr-histria do Baixo Sabor, A Arte Rupestre, A Proto-histria, A Romanizao, A Idade Mdia ou a Paisagem Tradicional) bem como Programas Especializados (Proteco e Monitorizao de Valores Patrimoniais, Acompanhamento de Obra, Preservao in Situ, Trasladao de Elementos Patrimoniais,), implicou uma inusitada concentrao de recursos humanos e materiais com o objectivo da implementao de um projecto de investigao e salvaguarda patrimonial.Breve Cronologia do Plano de Salvaguarda do Patrimnio1992 Estudos Prvios2004 Declarao de Impacto Ambiental (DIA)2008 Incio da obra e da execuo das primeiras medidas de minimizao2009, maio/agosto definio final do Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP) do AHBS2009, dezembro/2010, fevereiro Entrada ao servio da estrutura e equipa de execuo do PSP2010, agosto /setembro concluso da execuo das medidas de minimizao prioritrias para desbloqueamento das frentes de obra2011, maro incio das escavaes arqueolgicas na rea das albufeiras2011, abril incio da prospeo arqueolgica intensiva e sistemtica na rea das albufeiras2011, dezembro concluso da prospeo arqueolgica intensiva e sistemtica na rea das albufeiras2013, dezembro concluso dos trabalhos de campo2015, abril concluso dos trabalhos de gabinete e redao dos relatrios finais dos EstudosA Declarao de Impacto Ambiental (DIA)de 2004, encontrava-se informada pelos Estudos Prvios, realizados a partir de 1992, que visaram a identificao e avaliao dos valores e elementos patrimoniais arqueolgicos, arquitectnicos, histricos e etnogrficos existentes na rea a inundar e a afectar como resultado do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor (AHBS) A DIA definiu e estabeleceu um conjunto de condies a que o Projecto de Execuo do AHBS deveria obedecer. Posteriormente, o Relatrio de Conformidade Ambiental do Projecto de Execuo (RECAPE) desenvolveu e especificou de forma mais completa essas condies, identificando entre as 17 Medidas de Minimizao elencadas, a obrigao de ser elaborado um Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP).33A Declarao de Impacto Ambiental (DIA) do AHBS, , foi publicada no DIRIO DA REPBLICA II SRIE,N.o 233 2 de Outubro de 2004, p. 14719 - 14726. Disponvel em . [Consulta realizada em 3/02/ 2014]Encetada a Fase de Obra em 2008, foi, em paralelo, iniciada a execuo de diversas tarefas de minimizao e de monitorizao de impactos na rea do patrimnio arqueolgico e arquitectnico. Mas j num momento avanado do ano de 2009 que surge finalmente o Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP), estabelecendo, num nico documento coordenador e globalizante, os objectivos e as especificaes concretas e pormenorizadas do projecto de salvaguarda do patrimnio do Baixo Sabor, assinalando os recursos humanos e materiais mnimos adequados dimenso das tarefas em vista e definindo metodologias.Uma vez que, quer em fase de Estudos Prvios, quer j em fase de RECAPE (Relatrio de Conformidade Ambiental do Projecto de Execuo), todos os trabalhos de prospeco, identificao e inventariao dos elementos patrimoniais existentes na rea a afectar haviam sido realizados com critrios e metodologias de malha excessivamente larga, surgia como prioritria a execuo de uma Prospeco Sistemtica e Intensiva em Fase de Obra. Na verdade, apenas com a realizao dos primeiros trabalhos no sistemticos de prospeco pelas equipas do PSP em 2010, os 253 Elementos Patrimoniais identificados em RECAPE (2008) haviam rapidamente sido incrementados para cerca de 900 stios, o que demonstrava sobejamente quanto o patrimnio do vale do Baixo Sabor se encontrava subavaliado. Foi assim concebido e implementado um plano de aco com a dimenso e os recursos necessrios a que, num prazo de tempo que se apresentava manifestamente escasso, fosse possvel realizar uma prospeco de malha apertada em cerca de 2500 ha de terreno acidentado, com difceis acessibilidades e, na maior parte da rea, coberto com densa vegetao. O resultado obtido pelas equipas de prospeco alterou profundamente o conhecimento do patrimnio arqueolgico, arquitectnico e etnogrfico do vale, tendo multiplicado por 10 o nmero de Elementos Patrimoniais inventariados(2422 Elementos Patrimoniais identificados no mbito do PSP).Ao longo da execuo do Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP), a componente de reconstituio Paleo-ambiental veio a assumir uma crescente importncia no mbito das investigaes realizadas. Esta parece ser alis a consequncia lgica de um Estudo centrado num territrio e na sua longa diacronia. O concurso e colaborao de vrios especialistas, laboratrios e unidades de investigao externas viriam a permitir concretizar o arranque de programas de estudo e analticas especializadas no apenas sobre a dinmica fluvial mas igualmente sobre a dinmica de vertentes, a identificao dos recursos ambientais e da sua manipulao antrpica (paleobotnica, zooarqueologia, recursos minerais nomeadamente metais, ptreos e as argilas) assim como o estudo das populaes humanas (antropologia fsica). Ensaia-se deste modo um esforo de reconstituio paleo-ambiental global e multi-disciplinar.O dilogo que tem vindo a ser implementado entre os diferentes investigadores e especialistas envolvidos, cruzando os sucessivos avanos obtidos no conhecimento, comea a permitir a problematizao das dinmicas da ocupao humana na longa diacronia do Baixo Sabor sobre uma base emprica e analtica de largo espectro. O aprofundar da reconstituio paleoambiental e o emergir da importncia das dinmicas e relaes entre a zona do valee os planaltos adjacentes est tambm a mostrar a urgncia da abertura de uma rea de amostragem nesta ltima zona do planalto uma vez que todo o processo de interveno no mbito do PSP se centra, quase em exclusivo, no fundo do vale, a rea futuramente inundada pelas albufeiras.O Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP) fez parte da Empreitada Geral do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor promovida pela EDP, Produo, e cuja execuo foi da responsabilidade do Baixo Sabor, ACE, constitudo pelo consrcio ODEBRECHT/Bento Pedroso Construes S.A. e LENA, Construes. O Plano de Salvaguarda do Patrimnio teve a seguinte estrutura de coordenao: Coordenao Geral: Paulo Dordio; Coordenao de Equipas e de Estudos: Filipe Santos (Cilhades), Jos Sastre (Proto-histria), Lus Fontes (Idade Mdia), Paulo Dordio (Edificado), Rita Gaspar (Pr-histria), Srgio Antunes (Acompanhamento) Srgio Pereira (Romanizao), Sofia Figueiredo (Arte Rupestre), Susana Lainho (Conservao). O Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP) integrou a rea do Ambiente, Qualidade e Segurana da Empreitada Geral, rea coordenada por Augusta Fernandes.4Estiveram envolvidos os seguintes investigadores, laboratrios e unidades de investigao: CIBIO, Faculdade de Cincias Universidade do Porto, Cegot, Faculdade de Letras - Universidade do Porto, UNIARQ Universidade Nova de Lisboa, ITN Universidade de Lisboa, Universidade do Minho, e Grupo de Tecnologia Mecnica y Arqueometalurgia - Universidade. Complutense, Madrid. Um indicador quantitativo da dimenso do esforo empreendido , por exemplo, o do volume de sedimento arqueolgico sujeito a flutuaes para estudos astrobotnicos que se contabilizava data de 30/10/2013 em 38 505 litros! No que respeita ao programa de dataes absolutas atravs de radiocarbono estiveram envolvidos diversos laboratrios nos EUA e na Holanda, as dataes TL estiveram a cargo do ITN Universidade de Lisboa e Paleo-magnetismo da responsabilidade do GPM - Universiddad Complutense, Madrid. 4CritrioQuantidadesComentrio Prazo de Execuo5 anos e meio2010 - 2015 rea de Afectaoc. 3 093 hectares2 albufeiras e estaleiros Stios/Elementos Patrimoniais individualizados (RECAPE) 243 data de 2008 Stios/Elementos Patrimoniais individualizados (PSP) 2422 At final dos trabalhos emAbril de 2015 Stios/Elementos Patrimoniais objecto de Interveno Arqueolgica 115 At final dos trabalhos emAbril de 2015 rea total de Escavao Arqueolgicac. 24 000 m2 At final dos trabalhos emAbril de 2015 Dimenso total equipas internasc. 200 tcnicos Varivel/mximos atingidos (no inclui laboratrios, unidades de investigao e colaboradores externos) coaviso.17.2015Com o Baixo Sabor ameaado de submerso, a oportunidade de elaborar uma narrativa histrica I Paulo Dordio Fig. 4: Elementos Patrimoniais (EP) identificados. Situao em Fevereiro de 2012: posterior execuo do Plano de Prospeco Sistemtica e IntensivaFig. 5: O Plano de Salvaguarda do Patrimnio do Aproveitamento Hidroeltrico do Baixo Sabor um plano de execuo das Medidas de Minimizao do Impacto de uma Grande Obra de Construo Civil, duas barragens e respectivas albufeiras afectando 23 freguesias distribudas por 4 concelhos ao longo de 60 km do curso final do rio Sabor.Fig. 6:Elementos Patrimoniais (EP) identificados. Situao em Maro de 2011: prvia ao Plano de Prospeco Sistemtica e Intensiva.BibliografiaDORDIO, Paulo (2014) Investigao e Desenvolvimento no Plano de Salvaguarda do Patrimnio do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor. In Actas I Conferncias Museu de Lamego / CITCEM 2013 Histria e patrimnio no/do Douro: Investigao e desenvolvimento. . Disponvel em < http://issuu.com/066239/docs/actas_museu > ou < https://up-pt.academia.edu/PauloDordioGomes >. [Consulta realizada em 22/04/ 2015]FERREIRA, David; DORDIO, Paulo; LIMA, Alexandra Cerveira (2013) Paisagem Como Fonte Histrica. In Actas Congresso Internacional Arqueologia Moderna. Lisboa. 2011. CHAM coaviso.17.2015Com o Baixo Sabor ameaado de submerso, a oportunidade de elaborar uma narrativa histrica I Paulo Dordio A Pr-Histria no Baixo Sabor. Ocupao de um territrio de transio entre o interior ibrico e o litoral.Rita Gaspar*Os territrios a norte do rio Douro, ao contrrio do que tem sucedido nas ltimas dcadas para sul (salientando o caso do vale do Ca), permaneciam marginais relativamente ao processo de incremento do conhecimento arqueolgico verificado desde a criao do Instituto Portugus de Arqueologia. Desde a dcada de 90, altura em que foram produzidos alguns trabalhos de sntese e teses de doutoramento sobre a regio, que pouco se tinha acrescentado relativamente ocupao humana durante a Pr-Histria. A construo do Aproveitamento Hidroeltrico do Baixo Sabor (AHBS) e consequente execuo do Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP) como medida de minimizao de impactes veio alterar por completo o panorama arqueolgico do nordeste portugus.Os trabalhos, que incluram prospeo sistemtica, um plano de sondagens de diagnstico em cerca de 100 stios, escavaes em rea e uma componente analtica e de estudo, decorreram entre 2010 e 2014. A equipa responsvel pelo Estudo da Pr-Histria do vale do Sabor foi apoiada pelas equipas tcnicas de oito empresas de arqueologia. O territrio alvo do estudo equivale ao afetado pelo AHBS, correspondendo Albufeira de Montante numa extenso de 60km (rea de 2820ha at cota de 234m) e Albufeira de Jusante numa extenso de 9,6km (rea de 200ha at cota de 138m). Tendo em conta a natureza do projeto foram ainda intervencionadas pontualmente reas fora do vale, ou a cota mais elevada, como sejam os seis restabelecimentos de vias de comunicao (estradas e caminhos), numa extenso total de 24km, entre outras. O enorme investimento de meios e a estratgia implementada desde a fase inicial dos trabalhos levou identificao de inmeros stiosarqueolgicos e caracterizao das ocupaes Pr-Histricas e da sua relao com o territrio. A densidade de ocupao em algumas zonas e a longa diacronia de ocupao dos stios parece ser uma caracterstica deste territrio de geografia acidentada. Desde o incio que1Neopica, Lda.; Archeoestudos, Lda.; Arqueologia e Patrimnio, Lda.; Crivarque, Lda.; NovaArqueologia, Lda.; Archeoclis, Lda.; Munis, Lda. E Empatia arqueologia, Lda.1se implementou uma estratgia interdisciplinar, de dimenso indita num projeto deste tipo, onde se articularam os vrios laboratrios portugueses e estrangeiros responsveis pelas anlises arqueobotnicas, pedoantracologicas, palinologicas, zooarqueologicas, sedimentologicas, micro-morfologicas, arqueometalrgicas e pelas dataes de OSL, AMS e TL realizadas.A identificao dos inmeros stios arqueolgicos inditos at ao incio deste processo remete o incio da ocupao deste territrio para o Paleoltico inferior. Estas ocupaes mais antigas estavam j bem documentadas na bacia do rio Douro, em territrio espanhol, e pontualmente em territrio portugus. Estes vestgios do Pleistoceno mdio localizam-se nos terraos fluviais de cota mais alta ao longo de todo o curso do Baixo Sabor, superfcie. Estas ocupaes, das quais o Terrao do Pido (Torre de Moncorvo) um bom exemplo, utilizam as litologias locais predominando o quartzo e marginalmente as litologias metamrficas caractersticas do vale. O mesmo sucede durante o Paleoltico mdio (Gaspar et al., no prelo a).Alguns indcios da presena humana durante o Paleoltico superior tinham j sido identificados no vale, nomeadamente o auroque da Ribeira da Sardinha, os auroques de Sampaio e os equdeos e cervdeos de Pousadouro, na zona de Bragana (Baptista, 2004). Os recentes trabalhos, coordenados pela signatria, levaram identificao e caracterizao das ocupaes humanas dos grupos responsveis pela execuo desta arte j identificada, tendo sido ainda intervencionado o stio com a mais importante coleo de arte mvel ao ar livre a nvel peninsular. O stio da Foz do Medal apresenta uma sequncia de ocupaes desde o Paleoltico superior inicial at ao Magdalenense, indicando um ocupao recorrente do espao, e em algumas fases com uma dimenso considervel. A ocupao de cronologiaGravetense estende-se por 210 m2 aproximadamente, tendo sido recolhido um conjunto de cerca de 56 000 peas.O quartzo volta a dominara coleo, no entanto visvel uma maior diversidade de litologia, apontando para uma explorao territorial mais vasta. O slex ganha predominncia sobretudo no fabrico de produtos alongados, e mesmo na produo de utensilagem. Esta ocupao de ar livre caracteriza-se tambm pela presena de um importante conjunto de arte mvel, nico a nvel europeu (Figueiredo et al, 2014). O quartzo predomina enquanto matria-prima utilizada inclusive na utensilagem, que se constitu sobretudo de elementos retocados e entalhes. Surgem ainda as tpicas pontas de gravette e as microgravettes. Durante o Solutrense assiste-se a uma alterao na gesto dos recursos lticos. A seleo do quartzo surge em paralelo com o quartzito e denota-se um incremento da utilizao de rochas exgenas como o slex (Gaspar et al, submetido b). A excelente capacidade para talhar quartzo contnua presente nestas populaes do interior, bem visvel na presena da base de folha de loureiro em quartzo leitoso. Curiosa a presena paralela de seixos talhados de quartzito.A ocupao Magdalenense a mais intensa do local, podendo a densidade de peas por metro quadrado atingir os 3700 elementos. Outra novidade decorrente dos trabalhos no Baixo Sabor a presena de ocupaes mesolticas preservadas. Estas ocupaes do Holoceno inicial indicam uma presena continuada na regio, indicando o estudo das colees uma proximidade com o mesoltico de entalhes e denticulados descrito por Alday (2004) para a regio do Ebro. Em toda a diacronia do Paleoltico superior e Holoceno inicial existe a uma recorrente explorao de recursos locais, nomeadamente quartzo, com aplicao de tcnicas especficas (Gaspar et al, submetido a). As dinmicas destas comunidades esto ainda em estudo, pela equipa responsvel.As ocupaes de comunidades sedimentrias foram tambm identificadas ao longo do vale. Salientam-se os stios Terrao das Laranjeiras, Ncleo da Quinta do Rio (Gaspar et al, 2014b) e Crestelos. Da Idade do Bronze no s foram identificados os stios de povoamento como tambm os stios de sepulcro (Gaspar et al, 2014a; Gaspar et al, 2014c).A caracterizao das ocupaes Pr-Histricas deste territrio de transio para o interior peninsular fundamental, e ir continuar pela equipa responsvel, sendo notrias as singularidades deste vale e a sua relao com o interior ibrico.Fig.1: rea de Crestelos e Foz do Medal como exemplo da densidade e longa diacronia de ocupao humana no vale do Sabor. A ocupao deste espao inicia-se no Paleoltico inferior (a) tendo sido identificada uma longa sequncia desde o Paleoltico superior antigo ao Magdalenense em ambas as margens da foz da ribeira do Medal (b e c). Importante tambm a ocupao de poca Calcoltica e da Idade do Bronze do Povoado de Crestelos (d). A ocupao desta rea continuou durante a Idade do ferro, perodo romano, Idade Mdia at ao sculo XX. tambm nesta rea que se localiza a Capela de Santo Anto.coaviso.17.2015A Pr-Histria no Baixo Sabor. Ocupao de um territrio de transio entre o interior ibrico e o litoral I Rita Gaspar Fig.2: Depsito [1055] correspondendo ocupao Magdalenense do stio Foz do Medal (MD); a) microgravette em cristal de rocha da ocupao Gravetense; b) base de folha de loureiro em quartzo leitoso da ocupao Solutrense; c) lamelas de dorso em cherte da ocupao Magdalenense. As peas a) e c) foram recolhidas nas ocupaes da Margem Direita e a pea b) na ocupao da Margem Esquerda.Fig. 3: Placa em grauvaque com gravura incisa de um caprdeo. Exemplar de arte mvel recolhido no nvel Magdalenense do stio de ar livre Foz do Medal (MD).Fig.4: Pormenor de estruturas dos nveis mesolticos do stio Terrao do Vale da Boua.Fig.5: Componente cermica do perodo Calcoltico e Bronze inicial (em cima) e anel com decorao em espiga (em baixo) proveniente do ncleo de ocupao da Quinta do Rio. Fig.6: Enterramento duplo da Idade do Bronze mdio do stio Foz do Medal (MD).coaviso.17.2015A Pr-Histria no Baixo Sabor. Ocupao de um territrio de transio entre o interior ibrico e o litoral I Rita Gaspar BibliografiaBaptista, A. M. (2004) A arte paleoltica no rio Sabor, Tribuna da Natureza, 18, p 6.Figueiredo, S. S.; Nobre, L.; Gaspar, R.; Carrondo, J.; Cristo-Ropero, A.; Ferreira, J.; Silva, M. J.; Molina, F. J. (2014) Foz do Medal terrace. An open-air settlement with Paleolithic mobile art. INORA International Newsletter on Rock Art 68:12-20. Figueiredo, S. S.; Nobre, L.; Gaspar, R.; Carrondo, J.; Cristo-Ropero; Xavier, P.; Gaspar, R.; Carrondo (no prelo) Reassembly methodology in Palaeolithic engraved plaques from Foz do Medal Terrace (Trs-os-Montes, Portugal). Atas do III Encuentro Internacional de doctorandos y postdoctorandos. El Arte de las Sociedades Prehistoricas, 5-8 de Dezembro de 2013, Museu de Nerja.Gaspar, R. (2014) O vale do Sabor enquanto palco de mudana. O caso de Mogadouro, Atas do I Encontro da Arqueologia de Mogadouro, 19 de abril de 2013. Mogadouro: Cmara Municipal, 33-50.Gaspar, R.; Dias, M. J.; Meireles, J. (no prelo a) O Terrao da Ponte do Sabor. Vestgios de uma ocupao Pleistocnica entre o vale da Vilaria e o vale do Sabor (nordeste portugus), Cadernos do GEEvH.Gaspar, R.; Ferreira, J.; Carrondo, J.; Dias, M. J. (submetido a) The use of quartz during the Upper Paleolithic and Early Mesolithic in Sabor valley (NW Iberia): The Foz do Medal case, Quaternary International.Gaspar, R.; Ferreira, J.; Molina, F. J.; Garca-Vallido, F.; Rebelo, P.; Neto, N. (submetido b) Away from the edges: a new Solutrean site in interior Iberia. Foz do Medal Left Bank, Sabor Valley, Northeast Portugal (NW Iberia), Journal of Anthropological Research.Gaspar, R.; Carrondo, J.; Nobre, L.; Rodrigues, Z.; Donoso, G. (2014a) Espao para a morte. O terrao da Foz do Medal (Vale do Sabor, Nordeste de Portugal) durante a Idade do Bronze, Estudos do Quaternrio, 10: 59-72. Gaspar, R.; May, A.; Donoso, G.; Tereso, J. (2014b) O Abrigo Natural do Lombo de Relvas: um local de enterramento do Neoltico final/ Calcoltico inicial?, Al Madam, 19-1: 25-35.Gaspar, R.; Ribeiro, R.; Rebelo, P.; Neto, N.; Carvalho, M. L. (2014c) Bronze age funerary contexts in northeast Portugal. Terrao das Laranjeiras (Sabor valley), In: A. Bettencourt, B. Comendador, H. Sampaio e E. S (eds), Corpos e metais na fachada Atlntica da Ibria. Do Neoltico Idade do bronze, 49-62.A Proto-histria ou Idade do Ferro no Baixo SaborJos Sastre*Os trabalhos de escavao arqueolgica assim como as prospeces desenvolvidas no Baixo Sabor no mbito do Estudo da Idade do Ferro identificaram uma importante e densa ocupao da regio, especialmente durante a Segunda Idade do Ferro, a partir do sculo IV a.C., at ao incio do perodo romano.Destacam-se os stios arqueolgicos de Crestelos (Meirinhos, Mogadouro), Castelinho (Silhades ou Cilhades do Felgar, Torre de Moncorvo), Ch (Cerejais, Alfndega da F) e Laranjeira (Torre de Moncorvo). Estes stios foram objecto de intensos trabalhos de escavao arqueolgica que esto a permitir um novo conhecimento sobre a ocupao do vale do Baixo Sabor durante a Idade do Ferro assim como sobre o desenvolvimento dessas comunidades e sua posterior incorporao no modelo produtivo e administrativo romano. Assumem particulardestaque,Fig. 1: Fotografia area das escavaes do stio de Crestelos (Meirinhos, Mogadouro).nestes mesmos stios arqueolgicos, as estruturas arquitetonicos documentadas, muitas das quais mostrando bom estado de conservao. Esto presentes estruturas defensivas como muralhas, fossos, torres e portes. No referente arquitetura domstica, predominam as cabanas circulares de pedra e argila,acompanhadas por grande quantidade de fornos, bem como um grande conjunto de celeiros de que se conservaram as bases em pedra.Em relao ao espolio arqueolgico, para alm de uma copiosa coleco de objectos cermicos, identificaram-se interessantes conjuntos de peas de adorno pessoal (fbulas, contas de colar, brincos, fivelas de cinto), ferramentas e objetos agrcolas (facas afalcatadas, foices, picaretas, machados) ou elementos ligados pesca (pesos de rede).Estamos assim actualmente, com a concluso dos trabalhos no Baixo Sabor, diante de uma das reas no noroeste da Pennsula Ibrica que mais relevantes informaes forneceu para a compreenso da Idade do Ferro na regio.Fig. 4: Peso de tear procedente das escavaes no stio arqueolgico de Crestelos.Fig. 2: Cabana em argila do stio arqueolgico de Crestelos.Fig. 3: Lareira domestica localizada no interior de uma das cabanas de Crestelos.Fig. 5: Fbula de bronze localizada em contextos da Segunda Idade do Ferro do Baixo Sabor.coaviso.17.2015A Proto-histria ou Idade do Ferro no Baixo Sabor I Jos Sastre BibliografiaSastre Blanco, J. C. (2014): Da Idade do Ferro Romanizao da rea de Crestelos. I Encontro de Arqueologa de Mogadouro.Mogadouro. Portugal. Pgs: 79 - 94.Sastre Blanco, J. C., Garibo, J. y Rodrguez Monterrubio, O. (2014): Sistemas defensivos del Noroeste de la Pennsula Ibrica: Zamora, Len y Tras os Montes. Investigaciones Arqueolgicas en el valle del Duero: Del Neoltico a la Antigedad tarda. (Coord. Jos Honrado Castro, Miguel ngel Brezmes Escribano, Alicia Tejeiro Pizarro y scar Rodrguez Monterrubio). Glyphos. Valladolid. Pgs: 191 205. ISBN: 978-84-940699-6-3.. Sastre Blanco, J. C. y Garibo Bod, J. (2013): Ruta arqueolgico-cultural por el Concelho de Torre de Moncorvo (Bragana, Portugal). Glyphos: revista de arqueologa, N. 2, Valladolid, pgs. 82-89. ISSN 2254-982X.Sastre Blanco, J. C., Santos, F., Soares Figueiredo, S, Rocha, F., Pinheiro, E., Dias, R. (2012): El sitio fortificado del Castelinho (Felgar, Torre de Moncorvo, Portugal). Estudio preliminar de su diacrona y las plaquetas de piedra con grabados de la Edad del Hierro. Complutum, n23. Madrid. Pp: 165-179. ISSN: 1131-6993.A Romanizao no Baixo SaborSrgio Pereira*Seguindo a sequncia cronolgica, que serviu de base criao de diferentes estudos monogrficos, contemplados no mbito do PSP, deparamo-nos com o perodo romano ou romanizao. Tratando-se de um tema sobejamente investigado em Portugal, as nossas expectativas iniciais eram baixas, sobre o que poderamos acrescentar ao conhecimento da romanizao, desta regio em particular . Os estudos at ento desenvolvidos assentavam na anlise das fontes disponveis, depreende-se que uma das maiores lacunas era, e continua a ser, a escassez de informao proveniente de intervenes arqueolgicas. Neste cenrio, parece-nos que o estudo da Romanizao no Vale do Baixo Sabor foi uma grande surpresa e poder acrescentar um importante contributo, uma vez que as medidas de minimizao promovidas levaram escavao de aproximadamente 18.000 m2, em stios romanizados. Rebuscando a imagem do povoamento da II Idade do Ferro, no Vale do Baixo Sabor, o mesmo assentaria na existncia de alguns povoados estratgicos de mdia-pequena dimenso, implantados no limite do planalto, privilegiando o controlo do rio e a interligao com uma segunda tipologia de habitats, estes edificados em pequenos espores junto ao vale. Enquadram-se neste segundo tipo os Povoados da Quinta de Crestelos (Meirinhos) e Castelinho (Felgar), depreendendo-se pelo enquadramento e evidncias arqueolgicas que se dedicavam agricultura e criao de gado. Existiriam tambm ocupaes menores, talvez do tipo familiar ou sazonal, dispersas na paisagem - Ch (Cerejais) e a Foz da Ribeira do Poio (Brunhoso). O momento em que podemos considerar que esta regio foi conquistada e se submeteu a Roma difcil de precisar, devendo situar-se, algures, entre o final do segundo e o terceiro quartel do sc. I a. C. Perece consensual que no incio do governo de Augusto (27 a. C.) as terras transmontanas se encontrassem definitivamente tomadas e pacificadas. Se por um lado, os diversos povoados indgenas parecem sobreviver ao impacto do invasor, no invalida que se considere a hiptese de alguns terem sido abandonados, temporariamente, na fase do conflito militar nesta regio.De Augusto a Cludio (27 a. C. 54. d. C.) inicia-se o processo de romanizao, que imps uma nova organizao poltico-administrativa e territorial, centrada 1SANDE LEMOS, Francisco (1993) Povoamento Romano de Trs-os-Montes Oriental. Dissertao de Doutoramento na Especialidade de Pr-Histria e Histria da Antiguidade apresentada Universidade do Minho. Braga (no publicado). CRUZ, Carlos Manuel Simes (2000) A Paisagem e o Povoamento na Longa Durao: O Nordeste Transmontano Terra Quente. Dissertao de Mestrado em Arqueologia da Paisagem apresentada ao Departamento de Histria do Instituto de estudos Sociais da Universidade do Minho (no publicado).2Nestas caractersticas enquadram-se os povoados da Fraga do Castelo (Lagoa), Marrua (Parada), Fraga do Poio (Brunhoso), Aguilho ? (Cerejais) e Cizonha (Gouveia).1num centro de poder regional, que neste caso seria a civitas dos baniensis, em pleno Vale da Vilaria. A nova ordem gerou, ainda, um conjunto de alteraes socioculturais, econmicas e mesmo arquitetnicas, documentadas nas intervenes do Sabor. Entre o ltimo quartel do sc. I a. C. e a primeira metade do sc. I d. C. parece ter decorrido uma fase de transio. Ainda que as transformaes ocorridas no povoado da crista de Crestelos, que ditaram a total colmatao do Fosso 1 a edificao de uma cerca envolvendo vrios celeiros, seja apontada para o final da Idade do Ferro, mantemos algumas reservas se no seria j Alto Imperial. Em qualquer dos casos, essa transformao arquitetnica teria resultado de uma nova ordem do foro poltico-administrativo, de necessidades concretas ouestmulos econmicos. Nesta fase, que designamos por jlio-claudiana, parecem surgir algumas construes, habitacionais e ou funcionais, no sop e vertente sul da crista de Crestelos. Sobre nveis de cabanas abandonadas ou aterradas, surgem novas construes, todavia, ainda2com uma configurao indgena (rea 18, Vala 48). Algumas construes ortogonais, quase apagadas em diferentes reas, por desmonte (Zona 5, rea 19), talvez se possam relacionar com esta fase, ainda que a configurao dos edifcios seja irrecupervel. Um dado bem presente, na Quinta de Crestelos e Silhades, a relao destes povoados com as atividades agrcolas, reconhecendo-se em utilizao uma srie de celeiros e talhas de cermica, utilizados no armazenamento de cereal. Os materiais associados a este perodo espelham, em clara maioria, o mundo e a cultura indgena, com exceo de alguns marcadores culturaisromanos (moeda: asse, Figura 1). Pensamos que esta fase se encontre tambm presente em Ch, stio pr-romano, muito destrudo, onde se recolheu, superfcie, um fundo de terra sigillata sudglica, talvez uma baliza do abandono do stio. O perodo seguinte, correspondente segunda metade do sc. I d. C.-incios do sculo II, parece espelhar uma realidade de povoamento e uma dinmica econmica distinta. Crestelos evidencia uma profunda transformao espacial e arquitetnica, com a construo de um edifcio de grandes dimenses, e uma srie de construes menores (sob a Necrpole Oeste e Vala 48). O edifcio maior foi interpretado como rea de trabalho ou lagar, face ao reconhecimento de um tanque de opus signinum, e de um grande armazm, escavado no subsolo, tipo cave, qual se acedia por uma escada. Reconhecem-se outras construes desta fase, ainda que os seus contornos fossem amputados pelos limites das reas intervencionadas - Valas 58, 59, Zonas 5 e 7. Silhades teria desenvolvido uma realidade semelhante, a considerar pela cultura material. Curiosamente, na restante rea do Baixo Sabor, surgiram novas ocupaes, que na sua origem ou num momento a posteriori, se especializaram na produo de vinho - os lagares (torcularia). O stio da Foz da Ribeira do Poio, parece tratar-se de um lagar fundado de raiz. Os stios do Olival da Santa e do Cabeo da Grincha, apesar de serem fundados nesta fase, a funo de lagar resultou de uma remodelao ocorrida num 2. momento. Na Quinta de Crestelos, a construo de um edifcio de grandes dimenses, equipado com lagar e armazm ou cella vinaria, espelha uma tendncia econmica do perodo flaviano-sc. II nesta regio. O stio do Vale da Boua, tambm funcionou como lagar, todavia no seguro que tenha sido implantado neste perodo.O perodo Flvio deixou ainda um notvel legado de cultura material, de tipologia claramente romana, reconhecendo-se inmeras peas importadas, como paredes finas, terra sigillata hispnicas, elementos de adorno e vesturio, e transversais a todo o vale, com maior incidncia em Crestelos e Silhades (Foto 3). Reconhecem-se nas produes locais, nomeadamente de cermica, uma clara viragem, na tentativa de replicar peas e as novas formas importadas. Os prprios fornos cermicos, de tipologia romana do Olival do Poo da Barca e Quinta de Crestelos parecem funcionar nesta fase, cozendo, entre outros objetos, cermica de cobertura, pesos de tear, dolia e, com menos evidncia, cermica comum.Os testemunhos materiais apontam para que a base da economia no vale do Sabor, no perodo imperial, se mantivesse assente na agricultura, transformao deprodutos agrcolas (lagares), criao de gado, caa-pesca e, pontualmente, a minerao.A continuidade desta tendncia agrcola pode reconhecer-se na tipologia das peas cermicas de armazenamento e nas estruturas. Um celeiro, de mdia dimenso, e respetiva cerca envolvente implantados na Zona 6 de Crestelos so claramente do perodo romano. Esta magnfica estrutura documenta a continuidade da tradio agrcola do stio, entre o perodo flaviano e o Baixo-Imprio. Uma pedra de anel encontrada em Crestelos, representa precisamente um ceifeiro e ilustra essa importncia agrcula.A crise poltico-militar e econmica, que caracteriza o Baixo-Imprio, sabe-se que no foi extensvel a todas as provncias. Na regio do Baixo Sabor, poderia ter ditado o abandono de alguns stios, nomeadamente lagares, como o Cabeo da Grincha e Foz da Ribeira do Poio, sendo que o stio da Ch j no seria ocupado. A prpria Quinta de Crestelos, parece ter sofrido uma remodelao e o lagar desmantelado, seguindo a tendncia verificada com o abandono dos outros dois stios, associada ao declnio da produo e comrcio vitivincola. O stio do Vale da Boua, Quinta de Crestelos, Olival da Santa e Silhades mantm-se ainda ocupado at ao final sculo IV d. C.-incios do V, pelo menos, e interligados a rotas comerciais de longo curso, bem como a produtos de importao. medida que avanamos na sequncia cronolgica, a mancha de ocupaes e a prpria populao que habitou e explorou o vale do Sabor parece regredir. Os stios menores parecem transformar-se em lugares sazonais, talvez ligados aos ciclos de cultivo e colheitas agrcolas, ou mesmo abandonar-se. As excees documentam-se em Crestelos e Silhades, assumidos como mais importantes e populosos. Estes acabariam por resistir ao perodo conturbado das Invases Barbaras, que acabariam por ditar o fim do Imprio Romano do Ocidente, em pleno sculo V.Para terminar, importa reforar que o trabalho desenvolvido neste estudo s foi possvel graas ao envolvimento de uma vasta equipa, de arquelogos, antroplogos, tcnicos de arqueologia, topgrafos e operrios de arqueologia, aos quais prestamos o nosso agradecimento, destacando os diretores de escavao dos stios do Olival do Poo da Barca (Jos Antnio Pereira), Olival da Santa (Filipe Pinto,coaviso.17.2015A Romanizao no Baixo Sabor I Srgio Pereira Gabriel Pereira e Joan Garibo Bod), Ch (Hugo Parracho Gomes e Jos Antnio Pereira), Quinta de Crestelos (Alexandrina Amorim, Ana Roriz, Antnio Ginja, Bruno Silva, Cludia Costa, Filipe Pinto, Gabriel Pereira, Javier Larrazabal, Joo Nisa, Jos Antnio Pereira, Marco, Liberato, Rosa Mateos, Susana Cosme e Teresa Barbosa), Vale da Boua (Pedro Costa e Rosa Salvador Mateos), Foz da Ribeira do Poio (Hugo Parracho Gomes e Rosa Salvador Mateos) e Cabeo da Grincha (Bruno Silva e Jos Antnio Pereira). Os trabalhos antropolgicos na Quinta de Crestelos foram da responsabilidade de Linda Melo e Zlia Rodrigues.Fig. 3: Edifcio -lagar construdo, provavelmente, na 2. metade do sc. I d. C. (fotografia area de Arte Fotogrfica Lda); dolium (desenho de Liliana Carvalho).Fig 1: Vista geral do povoado da Quinta de Crestelos - I e II Idade do Ferro (fotografia area de Lus Pinto).Fig 2: Construes do perodo Romano, Alta e Baixa Idade Mdia (fotografia area de Arte Fotogrfica Lda). Direo: Susana Cosme e Joo Nisa.Fig. 5: Complexo oleiro, constitudo por forno, reas de trabalho e lixeira (2. metade do sc. I d . C. ? - fotografias: area de Arte Fotogrfica Lda; pormenor de Jos Antnio Pereira (Novarqueologia).Fig. 6: Celeiro do perodo Romano e pedra de anel representando um ceifeiro, (Alto Imprio ?). Interveno: Susana Cosme e Joo Nisa (Zona 2).Fig 4: Asse de Cludio I (41-54 d. C.), fbula anular (sc. I-IV d. C.), TSH, Drag. 37 (Flvios-meados sc. II), peso de tear (Romano)- materiais provenientes da Quinta de Crestelos; Carimbo de oficina sobre dolium (Fvios ?) Foz da Ribeira do Poio (desenho Liliana Carvalho).coaviso.17.2015A Romanizao no Baixo Sabor I Srgio Pereira BibliografiaPEREIRA, Srgio; Hugo GOMES; Pedro COSTA; Teresa BARBOSA (2013) - Estudo da romanizao no vale do rio Sabor: primeira abordagem. In Atas I Jornadas de Jvenes Investigadores del Duero: Del Neoltico a la Antiguedade Tarda. Zamora.PEREIRA, Srgio; Bruno SILVA; Javier LARRAZABAL; Joan GARIBO; Joo NIZA; Jos Antnio Pereira; Rosa MATEOS; Susana COSME (2014) - A romanizao no vale do Sabor: de Meirinhos a Remondes (Mogadouro). In Atas do I Encontro de Arqueologia de Mogadouro. Municpio de Mogadouro. pp. 95-143.DELGADO, Ana; PANIAGUA, Enrique; GARIBO, Joan; PEREIRA, Srgio Simes (2014) - El Baixo Sabor y el Valle de Vilaria entre los siglos V y XIII. Territorio y espacios funerarios. In Atas III Jornadas de Jvenes Investigadores del Valle del Duero: Del Paleoltico a la Antigedade Tarda. Salamanca: Glyphos. pp. 413-443.PEREIRA, Srgio Simes; SASTRE BLANCO, Jos Carlos; AMORIM, Alexandrina; RORIZ, Ana; ESP, Israel; LIBERATO, Marco; COSME, Susana; RODRIGUES, Zlia; PANIAGUA VARA, Enrique (no prelo) - Espaos funerrios no stio da Quinta de Crestelos: do Baixo-imprio Idade Mdia (Mogadouro, Portugal). In Atas do Colquio Internacional de Vitria (Espanha).CilhadesFilipe Santos*Desenvolvido no mbito do Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP), o estudo Etno-Arqueolgico de Cilhades constitui-se, de igual modo, e semelhana de todos os outros estudos ali contemplados, como uma das medidas mitigadoras da vertente cultural relacionada com a implementao do Aproveitamento Hidroeltrico do Baixo Sabor (AHBS).Inferindo-se sobre o tempo dilatado da presena humana neste pequeno lugar, localizado precisamente na margem direita do rio que engrandece o nome ao empreendimento aludido, ainda que, curiosamente, pertena da freguesia de Felgar (Torre de Moncorvo), cuja restante poro do territrio administrativo se encontra totalmente na margem oposta, optou-se, e bem, por se equacionar uma anlise pormenorizada e muito particular deste espao. Ponto importante da passagem entre margens, h muito assinalado na cartografia antiga por Si(e)lhade(s), ou na forma abrevidada de Barca de Si(e)lhade(s), as intervenes por ns ali levadas a cabo, embora efetivamente transversais, podemos diz-lo, a todos os outros estudos, tendo em conta o que haveria de concluir-se em relao sua extensa diacronia, documentando-a, possibilitaram-nos a construo de uma narrativa histrica coerente, apoiada em distintos suportes - que no apenas aqueles que advieram dos prprios resultados das escavaes arqueolgicas -, sobre a ocupao humana desta rea do vale do Sabor. Revestindo-se, como se depreende, de um carcter assumidamente geogrfico, o mesmo serviria, claro est, para que se pudesse coadjuvar as prprias interpretaes de todos os outros estudos, tambm centrados no Homem, ainda que a tempos precisos, temporal e culturalmente, ao longo de toda a rea de afectao do vale do Sabor. Ter sido a prpria orografia, com a particularidade do vale no ponto que nos ocupa, que por norma se desenvolve ao longo de toda a sua extenso relativamente bem encaixado, se encontrar visivelmente mais aberto, um dos factores preponderantes para a fixao humana. Curiosamente, assiste-se a uma situao geogrfica relativamente similar em Crestelos (Meirinhos, Mogadouro), a montante de Cilhades, no seguimento do curso do rio, tendo-se constatado ali, de igual modo, uma ocupao temporal extremamente dilatada. Estas duasrealidades so, efetivamente, ainda que com as suas especificidades, muito similares, oferecendo-nos uma projeco fidedigna do Homem no vale do Sabor sobre a tela do tempo longo.Muito embora possam parecer tnues esses vestgios, razes h para que se reconhea que a ocupao humana de Cilhades se tenha iniciado, efectivamente, pelo menos, ainda que no podendo descurar-se, de todo, as referncias a achados mais antigos (Santos Jnior, 1977) , durante a Pr-histria recente (III/II milnios a.C). Essas evidncias no s se vislumbram em alguns materiais avulsos, de onde sobressaem um conjunto de elementos de pedra polida, mas ganham ainda maior relevncia pela identificao da parte superior de um dolo estela que a breve trecho publicaremos - com inequvocos paralelos entre as designadas Estelas centro-ocidentais (Bueno Ramirez et al., 2011) -, onde no s outros exemplares foram j reconhecidos no prprio concelho de Torre de Moncorvo como em rea geogrfica prxima, isto atravs dos exemplares recuperados e sobejamente conhecidos do stio de Cabeo da Mina (Vila-Flor) (Jorge, 1999). Por ltimo, esta constatao alicera-se tambm na cronologia apontada para um conjunto de gravuras que se encontram em zona extremamente prxima de Cilhades, a oeste, no stio conhecido por Vale de Figueira (Figueiredo, 2014). Ali, no que eventualmente pode constituir um dos limites naturais para este territrio, vem-se uma srie de gravuras patentes num painel de xisto ao ar livre, gravaes essas que representam armas bem caractersticas. Do conjunto salta facilmente vista uma alabarda de tipo Carrapatas (ou Transmontano), encabada, ladeada ainda por um punhal perfeitamente visvel, apresentando-se este sobre o lado esquerdo da primeira arma referida. Este painel, parte lateral da parede rochosa da prpria ribeira de Figueira, assume particular significncia porquanto elemento documentador da diacronia da ocupao humana do espao que nos importa, sendo comummente aceite, existindo inmeros paralelos conhecidos deste tipo de armamento, que os mesmos se possam incluir no Bronze Antigo (2200-1700 a.C), existindo para alguns dos elementos representados, nomeadamente para a alabarda, inmeros paralelos na regio de Trs-os-Montes, destacando-se, meramente a ttulo de exemplo, as peas achadas tambm de forma fortuita no stio de ValeBemfeito (Macedo de Cavaleiros), com uma figurao deste gnero de elementos de igual modo patente na conhecidssima estela de Longroiva (Mda).Nesta longa diacronia h inmeras intermitncias. H pginas incompletas do livro dos acontecimentos e captulos inteiros ausentes. A narrativa histrica de Cilhades, tal como ns tivemos oportunidade de a documentar, ressalvando-se, claro est, que apenas uma nfima parte daquele territrio pde ser intervencionado, recomea j na segunda metade do I milnio a.C., ou seja, em plena Segunda Idade do Ferro, constituindo este um dos seus perodos mais florescentes. Em momento avanado da II Idade do Ferro, fortifica-se um pequeno esporo sobranceiro ao rio, encerrando o resguardo evidncias de mltiplas transformaes, traduzidas por sucessivas campanhas de monumentalizao, com a ltima etapa a ter-se produzido certamente como medida de salvaguarda sobre os rumores de uma nova ordem que nos alvores do sculo I a.C. se acabaria mesmo por impor sobre todo o nordeste do nosso territrio. Dado o nmero de estruturas de armazenagem que este stio fortificado encerrava no seu interior, e dadas as evidncias da ocupao sidrica no exterior desta fortificao, sobretudo no stio de Cemitrio dos Mouros, onde um conjunto de materiais coevos e de construes negativas a atestam, de crer que o Castelinho tenha sido construdo, sobretudo, para guardar, mais do que para nele se viver. A agricultura, os excedentes agrcolas, desempenhariam um papel fundamental no dia-a-dia da populao e seria, mais do que tudo, a base da sua economia. A conquista de Roma sobre este territrio, e a tomada de lugares chave como o Castelinho, deve entender-se como uma aco inteligente da nova fora ocupante sobre a sua prpria estratgia de ocupao a mdio/longo prazo, controlando-se logo numa fase inicial pontos de significativa importncia poltica, social e econmica da regio. A ocupao sidrea de Cilhades, como o referimos, no se esgota no stio fortificado do Castelinho (Santos et al, 2015), pelo que devemos atender, ainda que num territrio provavelmente no muito vasto, a uma grande mobilidade da populao que nele vivia, mobilidade eventualmente de carcter sazonal que, convenhamos, a prpria ocupao de poca Moderna/Contempornea de Cilhades acaba por ser, se assim quisermos, dessa herana um reflexo natural.Observando-se uma sequncia ocupacional expressiva no stio de Cemitrio dos Mouros, autntico palimpsesto fixado na parte central deste lugar, estabelecendo-se as construes romanas sobre estruturas sidricas anteriores, assim como mais tarde sobre estas se haveriam de estabelecer as relacionadas com a sua ocupao medieval (Miquel Rossell et al, 2015) at quelas que seligaro j ao perodo Moderno e Contemporneo, v-se o espao dos mortos na Alta Idade Mdia, cuja cronologia se pode encerrar entre o Sc. VI e os Scs. XIII/XIV, a poucas dezenas de metros deste ponto, a nordeste, bastando para isso ultrapassar, como fronteira, o ribeiro de So Loureno.Muito embora a necrpole medieval do Laranjal (Santos et al, 2015), um dos trs stios arqueolgicos aqui intervencionados e onde mesma se associar templo religioso - se estenda pela cronologia aludida no pargrafo anterior, parece que este lugar, logo a partir dos incios do Sc. XIII, quando D. Sancho doa o agora reguengo aos povoadores de Ms, esmorece, ligando-se, mais tardiamente, e com todas as construes que lhe esto associadas, a um aproveitamento agrcola e sazonal. Ainda assim, o Homem, neste ponto em concreto do vale do Sabor, vivenciou plenamente este lugar at sua total submerso.coaviso.17.2015Cilhades I Filipe Santos Figura 1: a) Rocha 11 de Vale de Figueira, b) dolo-estela de Cilhades, c) necrpole do Laranjal, d) material cermico da Alta Idade Mdia dos stios de Laranjal e Cemitrio dos Mouros, e) laje gravada 1 do Castelinho, f) stio fortificado do Castelinho.BibliografiaBUENO RAMIREZ, P., BARROSO PERMEJO, R., BALBN BEHRMANN, R. (2011) Identidades y estelas en el calcoltico peninsular. Memorias funerarias en la cuenca del Tajo, In Estelas e esttuas-menires da Pr Proto-histria, Actas das IV Jornadas Raianas, Sabugal, p. 37- 62.FIGUEIREDO, S. C. S. de (2013) A arte esquemtica do Nordeste Transmontano: Contextos e linguagens. Tese de Doutoramento apresentada Universidade do Minho. Policopiada, p. 80.MIQUEL ROSSELL, SANTOS, C., CARVALHO, L., SANTOS. F. (no prelo) - Contributo para o conhecimento das ocupaes Tardo Antiga e Alto-Medieval do vale do Sabor. O caso de Cilhades (Felgar, Torre de Moncorvo), luz do estudo da sua componente cermica, In Arqueologia Medieval 13, Campo Arqueolgico de Mrtola. Edies Afrontamento, Porto.JORGE, S. O. (1999) Cabeo da Mina (Vila Flr, Portugal). Ein Kupferzeitliches Heiligtum mit Stelen, In Gotter und Helden der Bronzezeit. Europa im zeitalter desOdysseus. Ostfilden: Hatje Cntz Verlag, p.137-141.JNIOR, J.S. (1977) O terrao fluvial do Cho de Palheirinhos e o seu possvel interesse arqueolgico, In Trabalhos de Antropologia e Etnografia, Vol. XXIII, fasc.1, p.166-167.SANTOS, F., ROCHA, F., PINHEIRO, E. (no prelo) - Arquitecturas defensivas na Segunda Idade do Ferro. A evoluo do sistema defensivo do stio fortificado do Castelinho (Cilhades, Felgar, Torre de Moncorvo, Portugal), In Actas do Congreso Interncional de fortificaciones de la Edad del Hierro: Control de los recursos y el Territorio, Zamora (no prelo).SANTOS, F., MIQUEL ROSSELL, SANTOS, C., CARVALHO, L., ROCHA, F., (no prelo) - Aspetos da morte no vale do Sabor. O mobilirio funerrio Tardo Antigo das inumaes do Laranjal de Cilhades (Felgar, Torre de Moncorvo). Achegas cronologia de uma necrpole de longa durao, In Arqueologia Medieval 13, Campo Arqueolgico de Mrtola. Edies Afrontamento, Porto.coaviso.17.2015Cilhades I Filipe Santos O Estudo de Arte RupestreSofia Figueiredo*IntroduoO Estudo de Arte Rupestre, conforme definido no Plano e Salvaguarda do Patrimnio (PSP), arrancou no incio de 2010, tendo sido concludo em Abril de 2015. Ao contrrio da maioria dos estudos fixados no PSP, com cronologias e reas delimitadas, o estudo de arte rupestre procurou estudar uma materialidade ambgua, a arte rupestre, numa longa diacronia, desde o paleoltico at ao perodo contemporneo, em toda a rea afetada pelo empreendimento. Referimo-nos arte rupestre enquanto materialidade ambgua, dado o seu estatuto controverso dentro da cincia arqueolgica, dada a notria falta de conceitos que a definam corretamente e, dada a ausncia de metodologias eficientes no seu estudo (Figueiredo, Xavier, Neves, Dias, & Coelho, 2012; Figueiredo, 2013). Assim, importa aqui referir que preferimos termos como grafismos rupestres ao invs de arte rupestre. Relativamente a esta ltima designao, recorremos ao seu uso mediante definio aclarada por Lorblanchet (2009:24) e, concordamos com o mesmo autor quando defende que a extraordinria diversidade da arte contempornea deveria alargar a percepo dos pr-historiadores (2009:15).Objetos de AnliseQuando iniciamos o Estudo de Arte Rupestre no vale do Sabor, estava previsto o estudo de cerca de 40 afloramentos com grafismos rupestres para os quais se previa a mesma metodologia de registo, consubstanciada no levantamento grfico, fotogrfico e topogrfico. No entanto, aquando do incio dos trabalhos em 2010, e aps a intensa fase de prospeco em 2011, o nmero de stios com arte rupestre mais que quadruplicou. De facto, j no plano de prospeco elaborado em 2011 se salientava ser este o estudo onde se previa o maior nmero de novas ocorrncias relativamente ao que ento se conhecia. Terminados os trabalhos de campo e encontrando-nos presentemente a fechar o relatrio final do Estudo de Arte Rupestre do vale do Sabor, foram por ns estudados mais de 200 afloramentos rochosos, consubstanciados tanto em rochas ao ar livre como em abrigos ou paredes protegidas por palas; mais de 750 blocos decorados inseridos em mais de 80 estruturas edificadas; e, por fim, mais de 2000 placas gravadas provenientes de diferentes contextos de escavao (Figueiredo, Xavier, Nobre, et al., n.d.). MetodologiasComo j mencionamos, previa-se inicialmente a aplicao de apenas uma metodologia para todos os achados relativos arte rupestre no vale do Sabor. No entanto, com o alevantado acrscimo verificado nas ocorrncias patrimoniais de arte rupestre, bem como com a variabilidade tcnica e cronolgica verificada dentro desta realidade, onde se congregam figuras picotadas do paleoltico superior com motivos pintados da pr-histria recente e ainda gravuras tnues de perodos histricos, houve a necessidade de redefinir os mtodos de registo de forma a conseguir realizar o trabalho dentro dos prazos limites. Assim, foram definidos diferentes tipos de registo que eram usados de forma isolada ou combinados entre si, mediante o tipo de realidade que se pretendia registar (fig. 1). Figura 1: Trabalhos de levantamento grfico noturno no vale do Sabor.Alguns ResultadosOs resultados obtidos pelo Estudo de Arte Rupestre do vale do Sabor ultrapassaram em muito todas as previses realizadas com base no que at ento se conhecia. Com especial relevncia, tanto nacional como internacional, encontram-se os espantosos mundos de arte mvel paleoltica e da Idade do Ferro, revelados pelas escavaes do Terrao Fluvial da Foz do Medal e pelos stios do Castelinho e Crestelos(Figueiredo et al., 2014; Santos et al., 2012) (figs. 2 e 3). Figura 2: Placas 5046 e 5306 do Terrao Fluvial da Foz do Medal com representaes paleolticas figurando caprdeos.Figura 3: Rocha de Santo Anto da Barca, com cronologia enquadrada na pr-histria recente, com representao de uma cerva. Tambm no que se refere arte rupestre de perodos histricos, cujos estudos se encontram ainda pouco desenvolvidos em Portugal, o Sabor apresentou ocorrncias surpreendentes, no s em termos quantitativos como tambm em termos qualitativos (Silva & Figueiredo, n.d.) (fig. 4).coaviso.17.2015O Estudo de Arte Rupestre I Sofia Figueiredo Figura 4: Placas 16 e 17 do Castelinho, stio muralhado da Idade do Ferro, onde se v a representao de um Por fim, e ao contrrio do que a historiografia nos fazia crer, os testemunhos gravados e pintados da pr-histria recente foram aqueles mais difceis de caracterizar sendo que, do ponto de vista arqueolgico, so essas as manifestaes rupestres que necessitam de mais investigao que nos permita no futuro construir uma narrativa coerente sobre elas (Figueiredo, Xavier, Silva, Neves, & Domnguez Garca, n.d.)(Fig. 5).Figura 5: Placa 9 exumada da necrpole do Laranjal, com cronologia histrica, onde se representaram estrelas de oito pontas. ConclusesNas mais variadas esferas da sociedade, a arte rupestre assume-se como uma das materialidades do passado que maior interesse suscita. Neste mbito, a riqueza do vale do Sabor prende-se sobretudo com dois aspetos. O primeiro liga-se continuidade temporal, sendo que a arte rupestre transversal a todos os perodos da humanidade estendendo-se desde a pr-histria antiga at aos nossos dias. O segundo liga-se importncia, quer qualitativa quer quantitativa, das pinturas e gravuras descobertas, sendo a arte mvel a sua faceta mais original. De facto, o nmero de placas gravadas do vale do Sabor, com cronologias desde o paleoltico at ao perodo histrico, ultrapassou j algumas das maiores colees mundiais de arte mvel conhecidas at ao momento, o que torna este acervo nico. Assim, esperamos que esta coleo de valor incalculvel seja no futuro prximo potencializada, quer ao nvel da promoo turstica, educacional e de investigao cientfica. BibliografiaFigueiredo, S. S. de, Nobre, L., Gaspar, R., Carrondo, J., Cristo Ropero, A., Ferreira, J., Molina, F. J. (2014). Foz do Medal Terrace - an open-air settlement with palaeolithic portable art. INORA, 68, 1220.Figueiredo, S. S. de, Xavier, P., Neves, D., Dias, R., & Coelho, S. (2012). As teorias da arte no estudo da arte rupestre: alimites e possibilidades. In M. de J. Sanches (Ed.), Trabalhos de Arqueologia, 54, IMesa-Redonda Artes rupestres da Pr-Histria e da Proto-Histria: paradigmas e metodologias de registo (pp. 8193). Lisboa: Direo Geral do Patrimnio Cultural.Figueiredo, S. S. de, Xavier, P., Nobre, L., Domnguez Garca, I., Neves, D., & Maciel, J. (n.d.). Illustrating Sabor's Valley (Trs-os-Montes, Portugal): rock art and its long-term diachrony since Upper Palaeolithic till the Iron Age. In XVII World UISPP Congress Proceedings- BAR International Series.Figueiredo, S. S. de, Xavier, P., Silva, A., Neves, D., & Domnguez Garca, I. (n.d.). The Holocene Transition and Post-Palaeolithic Rock Art from the Sabor Valley. In Sobre rocas y huesos: las sociedades pr-histricas y sus manifestaciones plsticas. Conference Proceedings of the III International Meeting of Doctorates and Post doctorates: Art in Prehistoric Societies.Figueiredo, S. S. (2013). A arte esquemtica do Nordeste Transmontano: contextos e linguagens. Universidade do Minho.Lorblanchet, M. (2009). As origens da arte (IGESPAR, C., p. 78.Santos, F., Sastre, J., Figueiredo, S. S. de, Rocha, F., Pinheiro, E., & Dias, R. (2012). El sitio fortificado del Castelinho ( Felgar , Torre de Moncorvo , Portugal ). Estudio preliminar de su diacrona y las plaquetas de piedra con grabados de la Edad del Hierro. Complutum, 23(1), 165179.Silva, A., & Figueiredo, S. S. de. (n.d.). O estudo de gravuras rupestres em blocos de edificados: o exemplo de Cilhades (Trs-os-Montes, Portugal). In Congresso Internacional da IFRAO 2015, Cceres, Espanha. IFRAO.coaviso.17.2015O Estudo de Arte Rupestre I Sofia Figueiredo O Edificado no Baixo SaborPaulo Dordio*O Estudo do Edificado designa normalmente o registo e interpretao das manifestaes da arquitectura vernacular ou popular que chegaram ao presente ainda em uso ou pelo menos, mesmo que em runa e abandonadas, suficientemente identificveis enquanto estruturas edificadas sem o recurso a metodologias de escavao arqueolgica. No Plano de Salvaguarda do Patrimnio do Baixo Sabor houve porm necessidade de reequacionar o objecto e as metodologias de estudo do Edificado. Na verdade, ao valorizar patrimonialmente e fazer incluir no processo da Salvaguarda o Momento Atual da Paisagem, deparamo-nos com um imenso continuum multidimensional constitudo no s por macro arquitecturas mas igualmente por um sem fim de arquitecturas micro, coberturas vegetais, gestos, memrias e representaes dos seus habitantes. Por outro lado, como historiadores e arquelogos, sentimos a urgncia de ganhar profundidade histrica em relao ao que est a perante os nossos prprios sentidos, a fim de retomar a narrativa proposta pelos estudos dos momentos anteriores e mais antigos dessa mesma paisagem. Mas essa aproximao histrica no se perspectiva apenas como ganhar o momento de chegada de uma longa diacronia. Antes, valoriza e pe em relevo processos de pequeno alcance e temporalidades curtas que a densidade da informao, disponvel neste caso, consente.Perspectivando a partir do presente, surge desde logo como primeiro objecto de ateno o da reconstituio e o entendimento daquela paisagem tradicional percebida como o momento de organizao do territrio rural imediatamente anterior s profundas ruturas que no prazo de apenas meio sculo, entre 1950 e 2000, fariam reduzir o peso da populao rural portuguesa de valores superiores a 50% para valores inferiores a 5%. Perspectivada porm na longa durao, a paisagem tradicional preenche o perodo que se estende entre a Idade Mdia Plena (sculo XI) e o auge da ocupao demogrfica do espao rural que acontece precisamente nas dcadas de 1950 e 1960. Mas, daquelas dcadas ao presente, uma mirade de acontecimentos, gestos e aces ou, to s, intenes, so acessveis permitindo a quem os estuda dar conta das transformaes que observa e que trouxeram a paisagem e o territrio ao momento actual que a documentao produzida pelostrabalhos de campo e os registos to intensivamente procuraram preservar.O Plano de Salvaguarda do *Coordenador Geral do PSPPatrimnio do Baixo Sabor, ao recusar uma viso atomstica do patrimnio, prope para o estudo dos elementos patrimoniais - stios arqueolgicos, edificado ou modos de vida e memrias das populaes actuais - uma investigao integrada, perspectivando-os na sua inter-relao e na relao significativa com o territrio e a paisagem em diacronia. Mantendo essa mesma viso, o Estudo do Edificado avana a necessidade de compatibilizar a macro com a micro arquitecturas, o registo do material com o registo das memrias e das representaes dos habitantes. Perspectivar a paisagem e o territrio como um continuum, conduziu a reflexo metodolgica eleio do prdio rstico como a unidade de paisagem e de informao mais comum nas tarefas de descrio e interpretao. a realidade a que se refere a expresso aquele meu prdio ali, continuamente repetida e por ns ouvida ao longo das centenas de horas de entrevistas realizadas aos habitantes do Baixo Sabor no esforo de registar uma descrio do vale que ia ser submerso. Na verdade, cada uma daquelas unidades de paisagem , em primeiro lugar, uma propriedade, quer dizer uma extenso sobre a qual se exercem direitos associados a determinados indivduos ou famlias; os quais foram, ao longo do tempo e das sucessivas geraes, objeto de herana ou alienao. , em segundo lugar, uma unidade de explorao agrcola, quer dizer um conjunto de recursos organizados de acordo com as tecnologias disponveis de forma a garantir subsistncia e rendimento que sofreram ao longo do tempo processos de maior ou menor intensificao ou de abandono. ainda, em terceiro lugar, uma memria, quer dizer um lugar identificvel pelos membros da comunidade por nome prprio (topnimo) no qual se acumulam e ao qual se associam vivncias e expresses que fazem parte da memria e da Histria da mesma comunidade.A paisagem e o territrio transformam-se assim numa rede de lugares, entendido o lugar como um espao individualizvel e delimitado com sentido para os seus ocupantes, individualizao e sentidos esses a que o investigador pode aceder e estudar para construir uma descrio e uma narrativa.Certamente que essa rede exibe lugares a diferentes escalas, lugares mais macro como lugares mais micro, mas tambm certamente o prdio rstico o tipo de lugar mais comum ao longo de ambas as margens do Baixo Sabor.coaviso.17.2015O Edificado no Baixo Sabor I Paulo Dordio Figura 1: Moinho do Freitas (entre Vilar Cho, Alfndega da F e Paradela, MogadouroMoinho de submerso, de carcter sazonal, constituindo o tipo de moagem mais comum do curso do Baixo Sabor no passado. A vontade e a persistncia do seu proprietrio e moleiro Sr. Antnio Freitas mantinham ainda em funcionamento este moinho, at ao ano de 2011. ltimo descendente de uma famlia de moleiros, permitiu o registo vivo do fazer e saber fazer bem como da memria de vrias geraes ligadas utilizao tradicional da fora do rio como elemento essencial de uma paisagem de po como foi a do vale e planaltos do Baixo Sabor.Figura 2 Peges da Ponte de Cilhades, Felgar, Torre de Moncorvo (EP 155, Foto 0155-0002)Figura 3:Reconstituio virtual de Ponte de Cilhades (EP 155, Foto 0155-0057)Os Peges da Ponte erguiam-se nas margens do Sabor junto a Cilhades como uma memria da Tragdia dos Afogados que no ano de 1917 havia feito perecer no rio empreiteiro e trabalhadores que se ocupavam da construo, que no mais seria retomada. A investigao desenvolvida no fundo antigo, no tratado, da Junta Autnoma das Estradas do Arquivo Distrital de Bragana deu a conhecer muitas novas peas documentais deste mesmo processo. O projecto da Ponte do Felgar, elaborado pelo Engenheiro Carvalho e S, natural de Torre de Moncorvo, onde havia nascido a 1875, e que foi chefe do gabinete do Ministrio das Obras Pblicas, tinha sido aprovado entre 1914 e 1915. Os documentos, constitudos pelo projecto inicial com todas as respectivas peas grficas, o caderno de encargos e a memria descritiva, revelaram um ambicioso empreendimento de acessibilidades regionais em arquitectura de ferro que se completaria com uma nova estrada atravs da qual pretendiam os seus promotores por em ligao os planaltos de Gouveia e Ferradosa de Alfndega da F com a linha de caminho-de-ferro do Sabor. A empreitada de pedreiro teria ento incio j no final de 1916, data do envio do auto de consignao antiga Direco-Geral, e acabaria concluda a 13 de Setembro de 1919 pela esposa do empreiteiro falecido, Estelita Amelia Baptista. Aps a concluso dos pilares, porm, a construo do tabuleiro de ferro e da estrada nunca chegaria a concretizar-se, falta de vontades e de recursos, gorando-se as acessibilidades perspectivadas.Figuras 4 a 8 A Mondana e o Vale do Ch na margem direita do Sabor, Cardanha, Torre de Moncorvo. Num disputado limite entre duas comunidades, a Cardanha e o Felgar, localizam-se dois montes, a Mondana, que enquadram a depresso formada por uma das muitas linhas de gua secundrias que correm para o Sabor, o Vale do Ch (Figs. 4, 5 e 6 Modelao de terreno 3D e cobertura de satlite Google Earth, 2003). Os levantamentos topogrficos e arquitectnicos de todo o tipo de construes identificadas no terreno conjugados com o levantamento cadastral e as entrevistas e inquritos orais realizadas junto dos proprietrios e outros habitantes do vale permitiram a individualizao e caracterizao dos prdios rsticos de acordo com as materialidade e as memrias registadas (Fig. 7). A inrcia e longevidade dos limites dos prdios possibilitaram em seguida, identificando e acedendo a documentao arquivstica e grfica, traar uma narrativa individualizada de cada um e ensaiar a reconstituio dos processos e dinmicas que ordenaram a ocupao e utilizao humana daquele espao no ltimo sculo. O Levantamento Areo fotogrfico de 1958 (Voo Americano, Fig. 8) constituiu sempre neste inqurito um valioso e pormenorizado registo do momento que ficou marcado pelo auge da ocupao demogrfica do espao rural.Figura 4Figura 5Figura 6coaviso.17.2015O Edificado no Baixo Sabor I Paulo Dordio Figura 7Figura 8ConservaoSusana Lainho*Durante a construo do Aproveitamento Hidroeltrico do Baixo Sabor foram realizadas diversas operaes de salvaguarda no patrimnio afetado por esta Empreitada, onde se destacam a Trasladao de Imveis de Valor Arquitetnico, a Preservao In Situ de Imveis e de Macios Rochosos com Arte Rupestre, a efetivao do Programa de Manuteno do Patrimnio e do Programa de Proteo de Valores Patrimoniais e todos os trabalhos desenvolvidos no Gabinete de Esplio com vista conservao do esplio arqueolgico e etnogrfico recolhido pelas equipas de Arqueologia.A trasladao de imveis de valor arquitetnico consistiu na relocalizao de dois edifcios os quais, pela sua importncia histrica, artstica e cultural, foram integramente desmontados e remontados numa nova localizao, a uma cota mais elevada. Integrados neste grupo encontram-se a capela de So Loureno, em Felgar, Torre de Moncorvo, e a capela de Santo Anto da Barca, em Parada, Alfndega da F. No decorrer das trasladaes o recheio artstico foi conservado e restaurado, e os edifcios, bem como a sua envolvente, valorizados. Os trabalhos desenvolvidos na capela de Santo Anto revelaram a beleza original do Santurio, colocando a descoberto valiosas pinturas barrocas que cobrem a totalidade das paredes e teto da capela-mor, e uma rica decorao retabular, oculta por pinturas realizadas ao longo dos tempos.Integrado no Plano de Salvaguarda do Patrimnio estava a preservao in situ de algumas construes e macios rochosos com arte rupestre. A sua preservao foi realizada com o objetivo de proteger e preparar a submerso desses Elementos Patrimoniais, considerando os fatores de degradao espectveis aquando e aps a submerso. Cada preservao realizada foi estudada aprofundadamente, sendo elaborados projetos de preservao antes da interveno direta.O gabinete de esplio do AHBS funcionou no decorrer da empreitada, recebendo e tratando o esplio recolhido pelas diversas equipas de arqueologia e etnografia. O objetivo do trabalho foi o de realizar operaes de preservao nas peas mais dbeis, controlando a suadegradao e permitindo o seu estudo. Os tratamentos de conservao decorreram sobre peas de diferentes naturezas, como cermicas, placas com arte rupestre, metais, material osteolgico, fauna, entre outros. O espao funcionou tambm como reserva museolgica para acondicionamento e armazenamento dos materiais no decurso dos trabalhos.Figura 1: Interior da capela de Santo Anto da Barca, antes dos trabalhos de trasladao e conservao.Figura 2. Interior da capela de Santo Anto da Barca, depois dos trabalhos de trasladao e conservao.Figuras 5 e 6: Exemplo de uma interveno de conservao de uma pea cermica - antes e aps o tratamento.Fig. 3: Projeto de preservao in situ de um macio rochoso com arte rupestre, Ep215.Figura 4: Aspeto do macio rochoso EP215 aps execuo do projeto de preservao in situ.coaviso.17.2015Conservao I Susana Lainho E aps o PSP?Paulo Dordio*Concludo o processo enunciado no Plano de Salvaguarda do Patrimnio (PSP) do Aproveitamento Hidroeltrico do Baixo Sabor que, na verdade, s se completar com a publicao e difuso da sntese do conhecimento produzido, j prevista sob a forma de uma coleco de Monografias correspondentes a cada um dos Estudos desenvolvidos possvel traar um esboo de balano do que de mais positivo e, paralelamente tambm, de mais negativo, resultou desta experincia e projecto.No mbito de um ps PSP do AHBS (Plano de Salvaguarda do Patrimnio do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor), o desenvolvimento de uma dinmica regional futura potenciada pelos valores patrimoniais identificados e estudados dever respeitar os seguintes princpios estratgicos:1. A participao e envolvimento das comunidades e dos decisores locais a chave da sustentabilidade de qualquer projecto local.2. Mais do que criar novas estruturas importa requalificar estruturas j existentes na regio e promover redes e parcerias.3. Os valores patrimoniais em presena sustentam absolutamente uma ambio muito elevada nos futuros projectos a implementar.4. No possvel fazer valorizao e educaoNegativoPositivo Escasso conhecimento prvio dos valores patrimoniais em presena no Baixo Sabor Descobertas inesperadas e produo de conhecimento arqueolgico e histrico com contributos excepcionaise novos paradigmas Dificuldades e atrasos ocasionados pelos processos burocrticos de expropriao ou de abate de rvores Dificuldade e atrasos na mobilizao de recursos humanos e materiaisAlargada concentrao de recursos tcnicos e cientficos que transformou o PSP do AHBS num dos maiores projectos arqueolgicos realizados em Portugal Escassos indicadores superfcie do solo com a ocultao dos nveis arqueolgicos sob espessos depsitos de fundo de vertenteou nos terraos do rio; forte aco destrutiva dos nveis arqueolgicos pela dinmica do rioCompatibilizao entre uma obra de construo civil de grande complexidade e um projecto de estudo e salvaguarda patrimonial muito ambicioso num contexto de prazos muito apertados Necessidade muitas vezes de um dilogo musculado entre as partes e interesses envolvidos: Dono de Obra, Empreiteiro Geral, Investigadores e Tutela Empenho e metodologia de proximidade na aco dos organismos e tcnicos da Tutelado Patrimnio Inexistncia de um Plano de Comunicao ao longo da execuo do projectoAtraso na definio e elaborao de uma Estratgia e Plano de Valorizao e Difuso Futura Experincia acumulada de redefinio de objectos de actuao, desenvolvimento de metodologias mais adequadas de registo e estudo e de instrumentos de gesto patrimonial de qualidade sem um continuado suporte em investigao e produo de conhecimento sobre esse mesmo patrimnio.*Coordenador Geral do PSP5. A futura investigao e produo de conhecimento sobre o patrimnio do Baixo Sabor dever promover uma estratgia regional de investigao prosseguindo e potencializando as problemticas abertas e a articulao com linhas de aco complementares do projecto de investigao desenvolvido no mbito do PSP do AHBS, procurando contrariar a tendncia sempre mais comum de comear tudo de novo a cada vez. Neste sentido, ser importante identificar uma Rede regional de stios arqueolgicos e patrimoniais prioritrios e de elevado potencial bem como promover a criao de uma linha editorial associada a um conjunto de exposies temporrias e itinerantes, devotados difuso de qualidade dos resultados da investigao.Com o encerrar do Plano de Salvaguarda do Patrimnio do Aproveitamento Hidroelctrico do Baixo Sabor, num balano que s pode ser considerado positivo, abre-se agora um novo desafio.