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DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 01 de Fevereiro de 2021| Edição nº: 400 | Ano: 09 | Tiragem: 7500 exemplares SAI ÀS SEGUNDAS Dossiers Factos 50Mt www.stpc.co.mz TENDAS, LONAS , CAPOTAS PELO AUMENTO DE CASOS DE COVID-19 Governo Governo é Pag 03 e 04 CAÇAR MILITARMENTE NYONGO LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS culpado! também -Afirma Reverendo Macamo “É uma acção legítima” “Activistas fazem pouco” Pag 05 e 06

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DIRECTOR: Serôdio Towo | Segunda-Feira, 01 de Fevereiro de 2021| Edição nº: 400 | Ano: 09 | Tiragem: 7500 exemplares SAI ÀS SEGUNDAS

DossiersFactos& 50Mt

www.stpc.co.mz

TENDAS, LONAS , CAPOTAS

PELO AUMENTO DE CASOS DE COVID-19

GovernoGovernoé

Pag 03 e 04

CAÇAR MILITARMENTE NYONGO

LUTA PELOS DIREITOS HUMANOS

culpado!também

-Afirma Reverendo Macamo

“É uma acção legítima”

“Activistas fazem pouco”

Pag 05 e 06

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&2

Um arguido (Iskandar Safa) que escreve para o PR

O relatório da Kroll sobre o famoso dossier das dívidas ocultas permitiu-nos enxergar com clareza algumas situações. Graças ao documento daquela empresa americana, ficamos a saber, com algum detalhe, dos contornos das dívidas, para além de algumas figuras que poderão – ou talvez não – estar envolvidas.

A publicação do relatório de auditoria às empresas Proindicus, Ematum e MAM aumentou ainda mais o interesse da sociedade civil e da Imprensa no caso, o que resultou no aumento da pressão sobre os três poderes – executivo, judicial e legislativo.

A Assembleia da República deu um passo, ao criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), na altura, liderada por Eneas Comiche, para averiguar o assunto, tendo chegado a ouvir algumas figuras proeminentes do Governo em 2014, ano em que foram contraídos os empréstimos, com destaque para aquelas que eram, à data dos factos, ministro das Finanças e Presidente da República, Manuel Chang e Armando Guebuza, respectivamente.

No essencial, o relatório de auditoria permitiu-nos confirmar aquilo que já se suspeitava. O Estado moçambicano tinha caído numa burla internacional de proporções bíblicas, engendrada e executada por caloteiros nacionais e estrangeiros. Alguns dos presumíveis caloteiros eram altos funcionários do Estado e até oficiais do Serviço de Informação e Segurança do Estado.

Como se sabe, alguns estão agora encarcerados, no âmbito do Processo 1/PGR/2015, aberto pela Procuradoria-Geral da República com vista a esclarecer o assunto. Em Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, foi ouvido o franco-libanês Jean Boustani, que, apesar de ter sido inocentado, é tido, em Moçambique, como um dos grandes obreiros das dívidas que, a dada altura, colocaram Moçambique em maus lençóis, devido à suspensão do apoio ao Orçamento Geral do Estado por parte do Fundo Monetário Internacional e alguns parceiros, sobretudo europeus.

Ora, há dias, aconteceu um episódio que reacendeu os debates, mesmo que informais, sobre esta matéria. Alguma imprensa nacional publicou uma carta de Iskandar Safa, da Privinvest, dirigida ao Chefe do Estado moçambicano, Filipe Nyusi. Na referida missiva, Safa questiona o uso de mercenários no combate ao terrorismo, por considerar que a Proindicus tem capacidade para fazer face ao fenómeno.

“É lamentável que a Repúblic a de Moçambique peça, hoje, a intervenção de empresas de segurança privada, enquanto a Proindicus tem capacidade para lidar com os problemas de segurança que Moçambique enfrenta hoje em Cabo Delgado”, lê-se no documento, no qual Safa refere que foi Filipe Nyusi quem criou a Proindicus, juntamente com o então ministro do Interior, Alberto Mondlane, e o SISE.

Ora, o teor desta carta destapa o carácter caloteiro de Iskandar Safa e, também por isso, põe em xeque a sua credibilidade. Fará algum sentido falar de capacidade militar da Proindicus quando todos sabemos, através do relatório da Kroll, que os navios supostamente adquiridos para proteger a costa moçambicana não são adequados para o efeito? Os navios em causa estiveram durante largos meses atracados no Porto de Maputo e não era preciso ser especialista em segurança para perceber que não reuniam os mínimos requisitos para cumprir a missão para a qual foram, supostamente, comprados.

Iskandar Safa sabe disso, até porque, em sede do tribunal, em Nova Iorque, o seu parceiro Jean Boustani confirmou o carácter burlista do negócio, assegurando que, para além de não serem adequados para missões de segurança marítima, os barcos viram seus preços inflacionados, em prejuízo, uma vez mais, do Estado moçambicano.

Para além da carta ao PR, este fim-de-semana (30 de Janeiro), a “Bloomberg” publicou excertos do documento que o bilionário francês e a Privinvest submeteram ao Tribunal de

Londres, em resposta ao processo que o Estado moçambicano abriu em terras de Sua Majestade.

Entre outros elementos, o businessman fala de supostos pagamentos a altos quadros do Estado, incluindo Filipe Nyusi, que era, na altura, ministro da Defesa Nacional. O francês diz que os pagamentos não devem ser entendidos como subornos, mas sim como doações ou fundos para investimentos.

Ora, não somos especialistas em matéria de apoio ao Estado, mas podemos afirmar, com toda a certeza, que fundos para investimentos do Estado não são canalizados para contas pessoais. Esse processo obedece, de certo, a mecanismos próprios, que possam assegurar a sua transparência.

Dito de outro modo, Safa está ciente de que cometeu actos ilícitos e procura agora, e a todo o custo, empurrar as culpas somente para dirigentes moçambicanos. Sublinhe-se que não estamos a advogar que Nyusi seja inocente ou coisa parecida, mas entendemos que, sendo Iskandar Safa parte do processo – lembremo-nos que é arguido – está claro o “conflito de interesse”, pelo que não nos parece correcto trazer para fora elementos do processo.

Para nós, mesmo que também suspeito, devido a interesses existentes, a Frelimo convidou – e bem – o empresário a dirigir-se à PGR para partilhar o que julga saber sobre o caso, como forma de ajudar a esclarecê-lo melhor.

Entendemos também que tudo quanto diga respeito a este processo deve ser apresentado em fórum próprio, ou seja, nos tribunais. É assim que pensamos que os arguidos devem proceder. Para o debate cá fora, estamos nós, a Imprensa, a sociedade civil e o povo em geral.

Por outro lado, e considerando tratar-se de um arguido, parece-nos excessiva e reveladora de alguma imprudência a credibilidade que certos sectores da nossa sociedade dão ao depoimento de Safa. Da nossa parte, não há julgamentos definitivos nesta fase, até porque o visado, Filipe Nyusi, sequer se pronunciou sobre a matéria.

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3DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021DESTAQUE

“Há ajudas que só te tornam dependente”O ano de 2021 co-

meçou com mui-tos assuntos mal parados, como

é o caso da instabilidade na zona centro do país e da insurgência na zona norte. Em entrevista ao Dossiers & Factos, o Reverendo da Igre-ja Presbiteriana de Moçam-bique, Marcos Macamo, diz que a melhor forma de re-solver os problemas do país é traçar prioridades. Sobre uma eventual ajuda no com-bate ao terrorismo, o religio-so alerta para a possibilida-de de nem todo o apoio ser bem-intencionado. Macamo debruçou-se ainda sobre a intenção do Governo de resolver a instabilidade no centro por via das armas, considerando-a “legítima”.

Dossiers & Factos (D&F): Co-meçamos o ano com a situação

da instabilidade no centro e terrorismo no norte. Reverendo Macamo, acredita que este ano o país será capaz de ultrapassar

estes dois problemas?

Reverendo Marcos Macamo (RMM): Primeiro, temos que dar graças a Deus por termos passa-do do ano 2020 para este, embora com muitos problemas, que não só afectam o nosso país, mas também o continente e o mundo, e não é só a Covid-19. Transitámos com a questão da instabilidade, o que gera problemas sociais, económi-cos e políticos, e o que tem que acontecer é que temos que traçar prioridades, porque não se ataca tudo ao mesmo tempo. Temos que olhar para a pessoa humana e sa-ber que ela quer comer, estar bem e estar em paz, sem isso não há mais nada que se possa fazer, então as nossas estratégias devem partir daí, do factor humano.

D&F: Numa altura em que existem muitas igrejas, qual seria o papel delas na busca de solu-ções para estes problemas que o país enfrenta?

RMM:A natureza nos oferece ferramentas que nos apoiam sem-pre em momentos difíceis, ou seja, não podemos contar apenas com

TERRORISMO E O ALERTA DO REVERENDO MACAMO

a nossa inteligência ou sabedoria, devemos contar com o esforço natural que a natureza nos dá para avançar. A religião aparece para esclarecer essa parte de que a natu-reza nos protege, é necessário uma oração fervorosa das pessoas, as igrejas têm esse papel de fazer com que as pessoas se entreguem, se submetam e dependam totalmen-te do ser Supremo, render-se à ele. Enquanto travamos as batalhas no norte e centro, temos que nos ren-der a Deus, porque nós podemos ter políticas macro, internacionais e bem delineadas, mas elas não vão responder cabalmente aos anseios da sociedade, por isso a religião deve assumir o seu lugar, trans-formar o pensamento das pessoas, transformar o mundo e resolver os problemas do país.

“É difícil travar uma guerra de

carácter religioso” D&F: O país já foi palco de

várias guerras, mas acabou sem-pre por encontrar soluções. Mas desta vez, e olhando particular-mente para o norte, o Governo parece não fazer ideia de por onde começar…

RMM: A questão do centro

e norte apanhou de surpresa o Governo. O nosso Governo tem vindo a lutar contra vários inimi-gos desde a proclamação da in-dependência, foi resistindo, mas nunca esperou uma guerra desta natureza, de decapitações e que está ligada a ideologias um pou-co estranhas, que são ideologias religiosas. Nós sabemos que cada religião tem o seu lado extremista, cada religião tem o seu lado de fa-natismo, e uma pessoa que diz “eu vou morrer para Deus”não tem medo de morrer, e é difícil lutar com alguém que não tem medo de morrer. Por isso, a Igreja tem que se fazer presente lá com a sua mensagem verdadeira, que supera esses extremistas, para encorajar os soldados que estão na frente de batalha.

“A religião é solução para vá-rias coisas, mas, ao mesmo tempo, é problemática. Infelizmente, o terrorismo em Cabo Delgado usa a religião, e quem usa a religião torna as coisas complicadas para o Governo interpretar”

D&F: Então defende que a insurgência em Cabo Delgado é de carácter religioso?

RMM: A religião é solução para várias coisas, mas, ao mes-

mo tempo, é problemática. Infe-lizmente, o terrorismo em Cabo Delgado usa a religião, e quem usa a religião torna as coisas compli-cadas para o Governo interpretar.

Mas há que sublinhar que nem toda a religião é sagrada, e a po-lítica, nas suas guerras, aproveita

essas religiões como seus braços para alcançar os seus intentos, so-bretudo em países onde há muita riqueza, nós sabemos que a rique-za é motivo de muita guerra entre

Estados. É muito fácil manipular

Macamo diz ser difícil travar uma guerra de carácter religioso

Texto: Lídia CossaD&F

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“Na CNE, estamos a iniciar um ciclo da transparência”

“A religião é solução para várias coisas, mas, ao mesmo tempo, é problemática. In-felizmente, o terrorismo em Cabo Delgado usa a religião, e quem usa a religião torna as coisas complicadas para o Governo interpretar

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&4 DESTAQUE

“A UE faz parte desta iniciativa que se chama GAVI e o objectivo é, de facto, providenciar vacinas, não só na Europa, mas também no resto do mundo”

Dom Carlos Matsinhe representa Início do ciclo da transparência na CNE

a religião para esse sentido. Por exemplo, estão a matar no norte mas no fim a zona poderá ser ex-plorada por outros.

D&F: O CCM e Reverendo Macamo, em particular, estariam disponíveis para integrar uma possível equipa de negociação visando pôr fim à instabilidade, havendo condições criadas?

RMM: Como sempre. Pes-soalmente, quando estava no Conselho Cristão - o meu man-dato acabou e estão lá outras pes-soas - sempre acompanhei essa mobilização de busca de paz, e eu acredito que até agora estão a fazer isso, porque desde a guerra dos 16 anos procuram uma plataforma para poder iniciar esse diálogo e promover a paz. Eu viajei para al-guns países da África, onde temos a nossa sede das igrejas africanas, fui lá partilhar a nossa situação no tempo dos conflitos e tensões políticas e eles davam também as suas contribuições, dicas de como outros países estavam a resolver. Nesse contexto, ainda não tive essa oportunidade porque é complexo, tal como eu disse, é preciso um es-tudo, uma análise profunda para evitar coisas precipitadas, mas a vontade existe.

“É legítimo resolver militarmen-

te a questão Nyongo”

D&F: O Estado disse que o conflito na zona centro será re-solvido militarmente. Acha que é o melhor caminho?

RMM: É legítimo que o Go-verno aja militarmente, não por-que quer, mas porque tem que preservar a sua confiança e credi-bilidade. O Governo tem a obriga-ção de defender o seu povo, então estão nesse dilema de ‘se não for agora, quando será, e se não for-mos nós a fazer, quem fará’? São essas questões que ocorrem neste momento, isso acontece em vá-rios Estados. É obrigação do nosso Governo defender sua população, porque, se deixar, vai parecer que o nosso Estado não está interessado em resolver, é um dado que não podemos olhar de forma negati-va, mas pela obrigação que todo o Estado tem de proteger sua po-pulação. Mas também não estão a excluir a negociação, Nyongo devia render-se e conseguir man-ter a sua dignidade, porque não é benéfico nem para ele, nem para a família, nem mesmo para o seu grupo insistir nessa coisa, porque não há nenhum Estado que aceita ser aterrorizado por um pequeno grupo. Já temos experiências de negociações que levam anos, en-tão esse é um caminho necessário agora.

E temos que ter em conta que nem toda ajuda é para ajudar, so-bretudo no aspecto económico, existem instituições internacio-nais que gostam de ajudar para

nos manter dependentes delas D&F: Como avalia a disponi-

bilidade da União Europeia para ajudar na luta contra a insurgên-cia em Cabo Delgado?

RMM: Geopoliticamente, o mundo tem seus interesses parti-culares e, por causa desses vários interesses, nem toda a ajuda é isenta de segundas intenções, toda ajuda é estratégica, envolve laços de cooperação e de compromisso. A geopolítica actual obriga a que haja compromisso entre os Esta-dos, por isso não será uma ajuda só, haverá custos e acordos. E o Presidente da República foi caute-loso, porque são vários os países que estão na fila, mas ele preferiu não correr, a cautela política é uma boa diplomacia. E temos que ter em conta que nem toda a ajuda é para ajudar, sobretudo no aspecto económico, existem instituições internacionais que gostam de aju-dar para nos manterem dependen-tes delas. Não é que não queiramos ajuda, mas que seja uma ajuda es-tratégica, como, por exemplo, para ensinar a guerrilha, por causa da questão da soberania do Estado. É tempo de criar novos Mondlanes, Josinas, porque os que começaram a luta de libertação aqui não espe-raram ajuda de fora em termos de armamentos, arrancaram com o pouco que tinham e avançaram.

D&F: Mudando de assunto, há correntes de opinião que dão conta que a vacina contra a Co-vid-19 é a marca da besta referida no último livro da Bíblia (Apoca-lipse). Que comentário faz?

RMM: Em momentos de pandemias, há muitas incertezas, dúvidas e muita formulação de ideias, há muitas visões apocalíp-ticas. Todos nós encaramos este

momento como se fosse o fim dos tempos, porque perdemos o controlo das coisas. Isso faz parte desse terror que estamos a viver, e as pessoas já não confiam em nada, por isso a Igreja deve trazer mensagens para encorajar e forta-lecer as pessoas. Na África do Sul, tinha uma igreja só de brancos e diziam que nós os moçambicanos representávamos a besta para toda a África Austral, por isso deviam destruir-nos. Aqueles ataques que sofríamos eram para nos destruir. Estão a dizer agora que a vacina representa o fim do mundo, isso é medo produzido pela ausência de mensagens encorajadoras, de esperança. As pessoas estão ater-rorizadas e estão a pensar que o mundo está a acabar.

“Vamos iniciar o ciclo de trans-

parência na CNE” D&F: O novo presidente da

Comissão Nacional de Eleições (CNE) foi proposto pelo Conse-lho Cristão. O que podemos es-perar do Dom Carlos Matsinhe?

RMM: Ele é muito objectivo, é uma pessoa idónea, trabalhei muito com ele e ele tem o dom de explicar as coisas. Eu estou a sentir que ele vem com muita for-ça, e acho que todos nós estamos a sentir isso. E também a CNE é composta por pessoas já maduras e responsáveis, e isso já é um passo para depositarmos confiança. Até este momento, ainda não come-çaram a trabalhar, mas estamos a torcer para ver aquele lado de maturidade e responsabilidade a responder aos nossos anseios, e te-mos que orar para o sucesso não só da comissão mas também de todos nós, e, quiçá, para a estabilidade do

país. Estamos a iniciar uma nova era, o Abdul Carimo fez todo o esforço, e agora é uma nova era, o Dom Carlos é justo e podemos es-perar uma CNE transparente.

D&F: Reverendo Macamo defendeu, em 2019, que não se devia olhar para o pacote de des-centralização como um proces-so acabado. Volvido um ano, e olhando particularmente para a relação entre o governador e o se-cretário de Estado, que avaliação faz do processo e onde se pode melhorar?

RMM: O processo ainda está em curso e é dinâmico, não acabou até hoje, ainda está em construção e as nossas relações de trabalho,

quer no Governo quer na Igreja, es-tão sempre em construção. Ainda

estamos a ver se a descentralização responde aos nossos anseios, esta-mos ainda nessa construção, então vamos esperar para ver se chega-mos à nossa expectativa, porque a descentralização é para a província estar mais autónoma, será que já chegamos a esse nível ou estamos a caminho, ainda não se pode res-ponder. Esse processo não é tão rá-pido como imaginávamos porque é novo, precisa de experiência para a sua implementação, e precisa de muita confiança. Boa relação não posso afirmar que haja, porque em todo o lado onde há trabalho nem sempre há boa relação, até mesmo na Igreja. O importante é não re-cuar, uma vez que já arrancou, tem

que avançar e, lá onde vamos, vere-mos o que terá mudado.

“ E temos que ter em conta que nem toda ajuda é para ajudar, sobretudo no as-pecto económico, existem instituições internacionais que gostam de ajudar para nos manter dependentes delas

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5DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021DESTAQUE

Pecados do Governo na gestão da Covid-19

Desde o início do ano, o núme-ro de infecções pela Covid-19

sobe de forma assustado-ra, pressionando o Siste-ma Nacional de Saúde, que está à beira do colapso. Urge analisar o que terá acontecido para que, de um momento para o outro, o país perdesse o controlo da situação. Neste artigo, são elencados os prováveis erros cometidos sobretu-do pelo Governo na ges-tão desta pandemia, que hoje mata cada vez mais. Também são avançadas al-gumas propostas de como ultrapassar a situação.

Quando a situação come-çou, em Março do ano passado, talvez devia ter se dividido me-lhor as tarefas. O que se pode notar é que o MISAU ‘chamou para si’ toda a responsabilidade. Em outras palavras, diríamos que a Saúde acabou aparecendo como ‘dona’ do problema. En-tendemos que, logo de início, o Governo devia ter criado uma comissão meio autónoma, que envolvesse o então INGC (ac-tual INGD), até porque o Go-verno já assumiu esta pandemia como uma calamidade pública.

Neste contexto, caberia a esse organismo lidar com o processo da Covid-19 em vá-rios aspectos.

Para este caso, e à seme-lhança do que aconteceu em tempos, quando o HIV-SIDA era um problema para o sector da Saúde (foi criado o Conselho Nacional de Combate ao SIDA), devia ter sido criada uma outra estrutura para reduzir a pressão sobre o sector da Saúde. Essa estrutura coordenaria outras componentes do dossier Co-vid-19, como, por exemplo, a educação cívica para a preven-ção e mitigação da Covid-19, e a Saúde ficava com o papel de curar os doentes.

Cometemos erros de estra-tégia e, hoje, o impacto está à vista. Precisamos, urgentemen-te, de corrigi-los, mas isso só se faz de forma arrojada. É chega-do o momento de questionar-mos a razão de ainda estarmos tão desprevenidos em termos de recursos. Tal como se vê, há

NUMA SITUAÇÃO EM QUE AS CULPAS SÃO DIVIDIDAS

insuficiência de camas e de ou-tros meios, volvido quase um ano após o registo do primeiro caso, com o agravante de ter-mos pedido USD 600 milhões, que injectámos no Banco Na-cional de Investimento (BNI).

Até prova em contrário, deve-se assumir que algo está errado, especificamente no que tange à gestão destes fundos. Aliás, há que recordar, neste ca-pítulo, as palavras que os nos-sos dirigentes foram proferindo ao longo do tempo. De modo particular, vale a pena recupe-rar as previsões do Governo, que estimava que mais de 20 milhões de moçambicanos pu-dessem ser infectados.

A este propósito, trazemos aqui as palavras da ministra da Administração Estatal, Ana Comoana, na Reunião do Con-selho Coordenador de Gestão de Calamidades.

“E pensa-se que esta situa-ção poderá durar seis meses, haverá necessidade de criar 15 centros de isolamento, prover um total de três mil camas, constituir quatro equipas de 24 profissionais, que deverão tra-balhar em turnos, de oito em oito horas. Para os cuidados

intensivos, espera-se alocar um médico por cada quatro camas, e uma enfermeira por cada três camas”, disse Ana Comoana.

Isso significa que, mesmo prevendo muitos casos e saben-do o que era necessário para enfrentar o problema, o Gover-no não se preparou devidamen-te, e não se entende porquê.

No nosso entender, seria altura de o BNI financiar o au-mento da capacidade em ter-mos de camas, em especial para o sector privado. Talvez a lógi-ca, naquela altura, tenha sido a de que não teríamos muitos problemas de internamento. E, quando se fala de dinheiro, todos querem se aproveitar, sendo que, ainda por cima, isso coincidiu com a altura em que havia pressão das empresas, que necessitavam de injecção financeira.

Se prestarmos atenção, po-demos concluir que apenas cerca de USD 80 milhões é que foram destinados ao sec-tor da Saúde, tendo sido usados para adquirir consumíveis, tais como luvas, álcool e outros, mas não para investimentos.

Houve distracção e emoção

Julgamos ter havido alguma emoção, porque, se olharmos para a componente tratamen-to, a Saúde distraiu-se de tra-tar e concentrou-se em outras “coisinhas”, que poderiam ser delegadas a outras instituições, tal como fizemos referência anteriormente.

Para nós, e com todo o res-peito que temos para com os que estão na linha da frente, os dirigentes do sector busca-ram mais protagonismo, daí terem usado a mesma equipa para dar a cara durante quase um ano. Hoje, estas pessoas es-tão cansadas. Cansaram-se no aquecimento e já não podem contribuir agora que o ‘jogo’ começou.

Mas que saídas podemos encontrar?

Uma das saídas que pode-mos encontrar a curto prazo é reinventar políticas para o aumento de camas. O Estado tem que incentivar o sector da Saúde a fazer com que os hos-pitais privados aumentem a sua capacidade de internamento, por exemplo. Isso pode ser fei-to através de um financiamento

bonificado pelo Estado, porque o sector privado pode alegar que não vale a pena aumentar camas para, no futuro, quando a situação da Covid-19 estiver controlada, cumprirem fun-ções decorativas.

Por seu turno, o sector pú-blico deve fazer o mesmo: ga-rantir o aumento urgente de camas, mas também descen-tralizar os serviços.

Maputo Província tem uma infra-estrutura, o Hospital Pro-vincial da Matola, que não tem oxigénio canalizado, não pode estar 100% operacional e, ao que se sabe, aparentemente o investimento não é muito alto.

No nosso entender, Isso pode garantir a descentraliza-ção dos serviços, para que na área metropolitana do grande Maputo, por exemplo, não de-pendamos apenas do Centro de Saúde da Polana Caniço. Nos outros pontos, sobretudo nas grandes zonas urbanas e interurbanas, que aconteça o mesmo. Ora, esta não é uma exigência acrescida ao Esta-do, é um dever e de carácter urgente.

Algumas vozes defendem,

A gestão da capacidade de internamento pode ter sido o maior erro de Armindo Tiago

Texto: Serôdio TowoD&F

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&6 DESTAQUE

e talvez com alguma precisão, a criação de um hospital-cam-panha no recinto da FACIM, no distrito de Marracuene, mas outras vozes entendem que a criação de um hospital-campa-nha pode levar o seu tempo.

Ainda em relação a esta matéria, há que lembrar que, em termos de infra-estruturas, cada província possui um hos-pital já identificado para casos de isolamento , só não têm con-dições para tratar casos graves, porque não têm o sistema de fornecimento de oxigénio. En-tão, o Governo deve investir com urgência nessas infra-es-truturas, colocando o sistema de oxigénio e treinando o pes-soal necessário.

Um vice-ministro da Saúde

para a Covid-19

De forma ousada, se calhar o nosso país já devia pensar ra-pidamente no reforço da capa-cidade de gestão do Ministério da Saúde, por intermédio de mais uma estrutura. No míni-mo, devíamos ter um ministé-rio dividido em três ou quatro sectores, com um vice-ministro, quase autónomo, que se ocu-passe apenas da Covid-19.

Pode ser altura de o Presi-dente da República nomear um vice-ministro da Saúde com mandato específico para lidar

com este assunto, sendo que a sua continuidade depois do co-ronavírus poderia, no futuro, ser objecto de análise.

A verdade é que deixar o assunto na responsabilidade do ministro e seu vice é sobrecar-regá-los, atendendo e conside-rando a vastidão de problemas que o sector tem.

Que implicações orçamen-tais isto pode representar?

Sim, isso representaria um acréscimo significativo em ter-mos de despesas e orçamento institucional, mas, por tratar-se de uma emergência, julgamos que pode se solicitar recursos extras. Aliás, a grande mais-va-lia desta hipotética decisão se-ria a dedicação desse organismo a 100% no combate à pandemia.

Por outro lado, esta reestru-turação pode, de igual modo, permitir que outros sectores da Saúde continuem a tratar com a excelência que se exige os ou-tros problemas, que quase fo-ram esquecidos.

Ausência de medidas acerta-

das nos levará ao colapso

Se não forem tomadas me-didas atrevidas e acertadas, nos próximos dois meses, a situação do Sistema Nacional de Saúde pode ser de verdadeiro colap-so. O exemplo prático que po-demos trazer disso é que, hoje,

quando alguém contrai malária ou outras doenças, verifica-se que tem pouca possibilidade de ser tratado.

É que o sector da saúde se centrou numa única doença

(COVID-19).

Daí, outra vez, chamar aten-ção para o facto de que, se vol-tarmos a falhar na estratégia e nas políticas de como lidar com a Covid-19, as consequências, amanhã, poderão ser graves.

MISAU pode ter sido negligente

Depois desta derrapagem, alguns cidadãos estão também preocupados com o futuro da imagem do sector da Saúde no quadro da política governativa nacional.

Na verdade, o ponto é que o Ministério da Saúde nunca de-via ser exclusivamente crucifi-cado por este falhanço, porque se trata de um problema social. Mas o ministério pode vir a ser crucificado pela incapacidade de se preparar para o momen-to em termos de internamen-to.

É que, vir a público, volvi-dos cerca de nove meses depois do registo do primeiro caso da Covid-19, para anunciar que já não há camas para internamen-

tos é, no mínimo, revelador de falta de preparação. Num país com cerca de 30 milhões de habitantes, chega a ser absurdo ter apenas 200 camas.

Esse é, para nós, o erro pelo qual o MISAU pode ser ques-tionado, para além da questão de não ter unidades descentra-lizadas (na prática, e para trata-mentos, só temos o Hospital da Polana Caniço, fora do grande Maputo não há nada). Daí a pergunta que não se quer calar: por que as restantes provín-cias não possuem as mesmas capacidades?

Alguém do sector ou do Governo já devia vir a públi-co para esclarecer o porquê de não se ter expandido a capaci-dade de tratamento para outros pontos do país, se bem que o protocolo abre espaço para que todo o cidadão tenha direito ao tratamento.

Na verdade, não se justifica o facto de não terem sido cria-das condições em outras uni-dades para o tratamento, muito menos que não se tenha refor-çado a capacidade de interna-mento na área metropolitana do grande Maputo.

Isso só seria justificável se o Governo tivesse sido apanhado de surpresa, mas, como referi-mos, foi o próprio Governo que previu prováveis 22 milhões de infectados. Paradoxal.

Governo tem culpa no au-mento assustador de casos

É verdade que em Mo-çambique não há cultura de chamar à responsabilidade os dirigentes pelos eventuais er-ros na tomada de decisões. Em outros cantos, poderia se ques-tionar que medida foi esta (re-laxamento) que hoje mostra ter sido a responsável pelo aumen-to assustador de casos.

Há que recordar que o ci-dadão estava bem em casa e a cumprir estritamente com as normas emanadas pelo Go-verno e já estava habituado, por exemplo, a não abrir as barracas. Foi o Presidente da República que disse: já podem abrir as barracas e frequentar as praias. Para o cidadão co-mum, ficou a ideia de que tudo tinha sido ultrapassado ou, no mínimo, bem controlado. Reconhecemos que havia pre-varicadores, mas a maioria foi cumpridora.

Neste contexto, a respon-sabilização deve ser colectiva, incluindo as lideranças, devi-do à maneira como abriram as fronteiras e tomaram decisões de relaxamento para com as medidas, numa altura em que a África do Sul registava, dia-riamente, milhares de casos da chamada nova variante.

Aliás, aliado a isto, pode se afirmar que a excessiva “curti-ção” que se verificou em todos os cantos do país, de uma ou de outra forma, acabou sendo incentivada pelas medidas de relaxamento.

Há discursos que induziram ao erro o cidadão

Há também que referir outros acontecimentos que antecederam o anúncio das medidas de relaxamento. Por exemplo, o ministro da Saúde, já quase para o final de ano, fez um discurso que, quando analisado hoje, pode suscitar questionamentos.

O ministro Tiago apareceu a dizer que, em termos de in-fecções, o país estava na curva descendente. Para nós, este dis-curso pode ter transmitido ao cidadão comum a mensagem de que tudo estava a passar.

De certeza que o ministro estaria a ver, cientificamente, o sinal da curva decrescente, mas esta comunicação não devia ser feita nestes moldes para a so-ciedade, porque ela tem efeitos menos bons, tal como o relaxa-mento. Aliás, não nos sai da ca-beça que este mesmo discurso possa ter alimentado a posição de relaxamento por parte do Presidente da República.

Só agora o Governo parece estar preocupado em aumentar camas

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7DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021OPINIÃO

Engenharia do amor (14)

D&F

XIPHEFUXIPHEFU

Mateus Licusse | [email protected]

Dia seguinte, a Krisvalda dirige-se a casa da sua irmã e, tempo depois, lá chega e, claro, é recebido com afecto.

- Bom dia, irmã, pode entrar - afirmou Krisalina, cuja face denunciava algu-ma preocupação.

É quando a visitante en-tra e dirige-se ao sofá da sala de visitas, onde um plasma de 64 polegadas es-tava colado na parede. Na tela, eram transmitidas as notícias da manhã. Kri-salina prepara o pequeno matabicho para o seu ma-rido que, dentro de ins-tantes, deve deslocar-se ao serviço. Ele sai do quarto e depara-se com a Krisvalda sentada no sofá:

- Cunhada, afinal estás aqui?

- Estou, cunha, cheguei há poucos instantes - res-pondeu Krisvalda com sus-piro temperado com aque-le sorriso espúrio.

O matabicho está pron-to, vamos á mesa - disse a esposa do Mauro, neste caso, a Krisalina.

Matabicharam e, depois da merenda, Mauro des-pede-se da Krisalina com beijo na boca e ruma para o djob.

- Agora ficamos face--a-face - falava Krisvalda, de forma monóloga, como quem queira ajustar as con-tas do passado.

- Sim, irmã Krisvalda, diga, pois fiquei preocupa-da quando anunciaste este encontro.

- Claro, mas não tens de te preocupar, apenas venho saber os porquês de seres intriguista comigo, só pelo facto de que tiveste roman-ce com o Miko? Tu és uma fingida mesmo, Krisalina.

- Haaaa, vê como fala hein, que nem pareces uma irmãzinha suja.

- O quê? Ir-mãzinha suja eu?- questio-nou enfureci-da a Krisvalda e sem cogitar duas vezes, dá tareia nela. Kri-salina devolve com a mesma moeda. Instala--se confusão no c on d om í n i o, pois a conten-da despertou a atenção da vi-zinhança, que, de imediato, tive que invadir pela causa jus-ta a residência do casal Mau-ro e Krisalina para acudir as duas irmãs que cont inuavam a agredir-se verbalmente.

...Sua ingra-ta, sua louca,

piranha....Me solta moço, está moça

tenho que lhe sovar. Me larga - a Krisvalda tentava se desfazer das mãos da vi-zinhança que as separava.

Krisvalda pára, tenha calma, vocês são irmãs, não fica bem assim, as coi-sas resolvem-se conver-sando, com a imposição da cultura de diálogo e da paz - afirmou o senhor Fir-mino, um dos vizinhos no

condomínio. Mas digam-me as duas,

o que se passa? Qual o mo-tivo desta briga? Tomou atitude de juiz o senhor Firmino, que, primeiro, deu palavra á Krisalina, enquanto, por coincidên-cia , entrava o Mauro, re-gressando do serviço. Fica pasmo pelo ambiente que encontra em sua casa.

A história continua no próximo capítulo

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&8 OPINIÃO

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Quero, do fundo do coração, desejar a todos os meus ilustres leitores um ano próspero e de muitas precauções face à pandemia que, sem dó nem piedade, vai nos tirando a vida! Lembrem-se da más-cara sempre que tiverem que sair de casa, lavem as mãos com água e sabão ou cin-za frequentemente. O assunto é mesmo sério e o que está em causa é a nossa vida.

Um dia fiquei sem chão para pôr os meus pés, quando vi um jovem aparente-mente instruído ser interpelado por um jornalista que lhe perguntou se não tinha medo do coronavírus. O jovem, teimo-so, procurou fazer perceber ao jornalista que em Moçambique não havia corona-vírus, e justificou-se da seguinte forma: na China, onde houve corona, quantas pessoas teriam perdido a vida em conse-quência desta pandemia?

Na óptica do jovem, o Governo mo-çambicano não devia decretar qualquer estado de emergência, mandar fechar bares, redimensionar o número de pas-sageiros nos transportes públicos, nas igrejas, etc., o que não faz sentido, por-que a situação que atravessamos neste momento é triste. Não precisamos de mais tristeza. Hoje em dia, o país perde quadros valiosos, como sãos os médicos, e outro pessoal da saúde, muitos deles em tenra idade, em consequência desta pandemia.

Antes de vivenciar tal programa te-levisivo, em que os jornalistas procura-vam chamar atenção à sociedade sobre o perigo que paira sobre todos nós, e cujos efeitos muitos tentam minimizar ou su-bestimar, lembrei-me de uma aventura que fiz no dia 24 de Dezembro para a pe-quena vila da Manhiça. Para o meu azar, apanhei um semi-colectivo que levava maioritariamente senhoras vendedeiras de bebida de produção caseira, que é destilada nos arredores da empresa açu-careira da Maragra.

Elas comandam o motorista como se o carro fosse delas. Sentei-me atrás de uma delas, que não trazia máscara. Às tantas, entrou uma outra senhora que trazia consigo um bebé. Porque não me sentia confortável com a situação, pedi que elas e o cobrador usassem máscara, para a sua própria protecção, mas tam-bém tendo em conta a minha presença (sou idoso) e a criança, que somos grupo de risco.

A senhora sentada na cadeira antes da minha virou-se para desdenhar-me (ku minula) e, com o braço, mandou-me passear. O cobrador, por sua vez, man-dou-me emitir bem a minha voz para que os passageiros ouvissem o que estava a dizer. Nos transportes semi-colectivos, principalmente na zona metropolitana, o comportamento irresponsável para com a situação da pandemia é generalizado, porque corroborado pelos passageiros.

Fazendo de contas que estamos vi-vendo o novo normal, com uma atitude de conformados, permitam-me que me debruce sobre o ano novo que iniciamos há bem poucos dias, um ano ímpar nos conceitos matemáticos, mas também pe-las adversidades a que os moçambicanos e outros povos da região estão sujeitos, devido às forças da natureza que têm posto à prova a fé e a crença das respecti-vas comunidades e conferindo diplomas de incompetência aos nossos arquitec-tos, deitando abaixo todo um esforço e investimento dos governos e parceiros.

Não sei se seria justo dizer que é um ano que não devia existir no calendário da vida, mas, seja como for, já o disse! Isto resulta da triste situação que atra-vesso, manifestada por dores horríveis da perna direita, sem possibilidade de sentar, nem ficar de pé, com possibilida-de única de dormir apenas de um lado, o contrário do que dói. Nesta altura em que registo alguma melhoria, quero en-

dereçar os meus sinceros agradecimen-tos à minha família, que, pacientemente, foi aturando os meus reboliços, choros e gemidos e ainda as últimas recomenda-ções e opções em relação à minha última morada.

As dores eram tão horríveis que não imaginava um dia estarem atenuadas. Nem a oração do meu pastor era capaz de me conferir sossego. Um dia, à noite e sem sono, decidi passar a informação sobre o que se estava a passar com a mi-nha saúde ao grupo de Whatsapp dos tempos da academia. Não me arrependi de o ter feito. Cada um procurou descar-regar tudo quanto fosse sua experiência e conhecimento, para me encorajar a manter a esperança de que ainda havia solução para a restauração do bem-estar em mim.

Em algum momento, enquanto me davam forças, não acreditava tratar-se dos colegas com quem partilhei manuais de diversos autores durante cinco anos, tais como Sprinthall, Mueller, Linda Da-vidoff, Jean Piaget, Freud, entre outros, pois revelavam um crescimento em re-lação ao aprendido, o que significa que tiveram oportunidade de aplicar o que estudaram, contrariamente a nós outros que fomos à formação em exercício e o diploma era-nos suficiente para conti-nuarmos a fazer o que vínhamos fazen-do. O que me surpreendeu também foi a linguagem religiosa, que a manipulavam como se tivessem passado por alguma escola de Teologia. Permitam-me, agora, que o diga: valeu a pena ler vossas mora-lizadoras SMSs, colegas!

Acreditem que depois de fustigado pelas palavras carinhosas, moralizado-ras, atenuantes, no dia seguinte, o senti-mento de medo fugiu de mim e prevale-ceu a fé, apesar de vivermos momentos conturbados, de incerteza e apreensão constantes, devido à Covid-19.

Este grupo de psicopedagogos tem se evidenciado em causas sociais e de cari-dade, de tal modo que consentiu esforço redobrado para minorar o sofrimento por que estou passando, criando condi-ções para que eu tenha acesso à consulta médica, para que urgentemente eu saísse da crise que me traumatizou sobrema-neira. O grupo alocou-me meios finan-ceiros, fruto da contribuição individual dos membros do grupo, para fazer face aos custos do tratamento da enfermida-de de que padeço.

Foram colegas da academia, alguns deles não os vejo desde 2003, nosso últi-mo ano curricular e cuja presença na fa-culdade era obrigatória. Creio que, dada a idade de alguns deles, já não os posso reconhecer se os encontrar na rua, mas agiram como se nos tivéssemos cruzado ontem. Por tudo quanto escrevi, quero, do fundo do coração, agradecer a cada membro deste prestigiado grupo de psi-copedagogos de 1999. Muito, muito e muito obrigado a todos.

Este grupo de Whatsapp é excep-cional e modelo dos demais que vivem discutindo falsas realidades. O grupo dos psicopedagogos é exemplo do que deviam ser os demais grupos das redes sociais, nomeadamente parte da solu-ção dos problemas dos seus membros e até da sociedade. Há muitos grupos que vivem amordaçando-se uns aos outros, a desenharem estratégias para caluniar este ou aquele, a discriminarem-se entre eles, a ponto de que se a situação X for com o João, este não merece nem simples palavra de conforto, e só quando é com Américo, aí sim, já se pode mexer palha. O grupo dos psicopedagogos provou que nem tudo o que acontece nas redes sociais é péssimo, fazendo a diferença. Parabéns grupo, que todas as bênçãos e honras sejam para este brioso grupo! Amém!

Nem tudo anda mal nas redes sociais!D&F

MALWANDLAMALWANDLA

Fernando Benzane

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9DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021OPINIÃO

Depois de tantas incertezas sobre o arran-que da maior prova futebolística do país, vulgo Moçambola, finalmente, e talvez com aquele puxão e persistência do Presidente da Repúbli-ca, a bola já rola nos campos. O nosso campeo-nato nacional de futebol, que infelizmente, e já há um bom par de anos, tem sido caracterizado pelos mesmo problemas (condições financeiras instáveis) quer para o arranque assim como no seu decurso, já decorre, com as 14 equipes en-volvidas ao rubro e a tentarem encontrar todo o tipo de argumentos para lograr vitórias.

Mas não é da gestão de moçambola que queremos falar neste modesto artigo de opinião.

Queremos, sim, reparar para algumas equi-pas ou clubes envolvidos nesta prova, sendo o reparo virado para a forma como cada clube entrou no campo, as grandes conquistas, desai-res e, porque não, as habituais e famosas falácias em cada rapid interview de cada jornada.

Na semana em que esta competição arran-cou, alegria foi para os vencedores e com gran-de destaque para a vitória do Ferroviário da Beira que, sem pena, despachou o campeão em título, Costa do sol. Chiveve foi, com alguma surpresa, um calvário para a equipa do técnico Horácio Gonçalves. Surpreendente já não foi a derrota infligida ao primeiro campeão nacional pós-independência, o Textáfrica de Chimoio, ali no canavial da província de Maputo.

Nesta jornada, todos ainda estavam de ca-beça fria e as análises mostravam haver fair-play, com o dedo a ser apontado ao início tardio das competições, o que directamente condicionava o ritmo competitivo. Até aqui tudo bem, adep-tos e simpatizantes concordaram com as justifi-cações aplicadas e todos os ânimos e demónios característicos estavam mesmo controlados.

Daí veio a segunda jornada e as coisas mu-daram de cenário, os culpados, desde os visíveis assim como invisíveis, já eram identificáveis e falados nas antenas da imprensa nacional e es-trangeira. Por exemplo, aqui na cidade de Chi-moio, a equipe local recebeu e foi vencida pelo Ferroviário de Nampula.

O Textáfrica perdeu por duas bolas a uma, o que, e de acordo com os relatos locais, teria feito com que a massa associativa ativasse sua raiva. Houve insultos e apupos à equipa técni-ca. Mesmo sem qualquer análise aos problemas que apoquentam a esta colectividade, os “donos do clube” queriam que o técnico principal e seu adjunto (Amide e Caló) fossem despachados para Maputo, isto como corolário das duas der-rotas abertas na primeira e segunda jornadas.

Também sobre lamúrias e cabeça quente, vimos o ex- homem golo, Arnaldo Houana, esgrimindo seu descontentamento com o jogo lá nas bandas de Niassa. Quem não se lembra dos momentos áureos deste ponta-de-lança, da fúria contra as balizas quer no seu Costa de Sol, quer na seleção de todos nós? Arnaldo é trei-nador-adjunto do Ferroviário de Lichinga que, por sinal, nesta segunda jornada inaugurou um campo com relva sintética, fruto do cumpri-mento da promessa política feita por um dos candidatos aquando da campanha eleitoral. O coach não gostou nada daquele jogo, o campo virou uma piscina e isto foi visto como pretexto para a derrota que a equipa teve em seu novo campo.

Na partida entre BB e ADV, também um dos técnicos da segunda equipe denunciou haver perseguição contra a equipa da vila turís-

tica de Vilankulo. Dizia o mister que a vitória conseguida pela ADV na primeira jornada in-comodava algumas frentes e que os árbitros te-riam estado naquele jogo só para aplicar novas regras de ajuizamento. Enfim, este pequeno re-trato oferece oportunidade para que estejamos atentos ao que o moçambola vai produzir nas 22 jornadas que serão ainda disputadas, mas in-teressa aqui produzir algumas ilações, quer para treinadores de futebol, quer para a massa asso-ciativa assim como os dirigentes desportivos.

Liderança no desporto - já por várias vezes foi referenciado que há uma falta de arte e ciên-cia dos líderes para que possam comandar os destinos do futebol nacional. Pouca agressivi-dade no marketing, incapacidade de estabelecer parcerias, gestão danosa e doméstica. Enfim, o futebol não pode ser visto como uma actividade de hobby dos nossos dirigentes desportivos. Em Chimoio, por exemplo, relatos andam que dão conta de que equipa técnica e próprios jogado-res observam um jejum salarial de cerca de 4 meses. O técnico deste clube foi mais ousado, afirmando que, por exemplo, seus jogadores eram vítimas de fome e que se faziam ao cam-po com pouca energia, ou seja, não estão em condições de cumprir com os noventa minutos determinados para uma partida de futebol. A ser isto verdade, é grave, meus senhores. Não brinquem com coisas sérias.

Treinadores de futebol – o vosso talk--show pode ser impor-tante no sentido de dar pressão as equipes de arbitragem, contri-buindo para que estes ajuízem partidas com isenção e transparência, mas atenção, senhores misteres, a vossa tarefa é treinar jogadores e per-mitir que, a cada jorna-da, vossos ensinamentos sejam aplicados com fidelidade, ganhando com isso jogos e pontos para os objectivos pelos quais foram contrata-dos. Deixem de atacar os árbitros porque ainda é cedo.

Amantes, simpa-tizantes dos clubes – é certo que a pandemia da covid-19 faz-nos es-tar um pouco separados da vida diária com os nossos clubes de cora-ção. Porém, não se pode admitir que tenhamos adeptos fervorosos ape-nas quando as equipas perdem este ou aquele ponto. Ser adepto de um clube é um acto oficial-mente estatuído e que define responsabilida-des e obrigações de am-bas as partes. Como é que um adepto que não cumpre com suas obri-gações (por exemplo, pagar quotas, participar na vida democrática do

clube, ou seja, eleger e ser eleito, apoiar o clube cumprindo com actividades simples de gerir in-ternamente, como são os casos de cuidar do ar-relvamento, vedação do clube, reabilitação das bancadas, pequenas acções de ornamentação, incluindo pintura,) enfim, o adepto, querendo, tem espaço para uma participação activa e efec-tiva na vida do clube. Vida de um adepto não pode ser a de promover intriga e desestabiliza-ção no clube. O adepto é o 12º jogador e seus remates são visualizados através de actividades de mérito e disciplina no clube.

Precisamos de sócios, dirigentes e treina-dores que estejam no futebol com paixão e não façam dele um espaço de guerra e desconforto para quem ama e apoia. Não se pode ter uma equipa técnica que não disponha de condições básicas para prosseguir com suas actividades, o treinador do futebol deve somente concentrar--se na construção de um modelo de jogo, no lapidar de novos atletas, definição de melhores abordagens e, por fim, trazer resultados por to-dos esperados. Nosso treinador deve se demi-tir de cuidar de assuntos logísticos dos atletas. No clube há quem deve responder pela boa nutrição dos atletas, há quem deve se respon-sabilizar em pegar ordenados no tempo certo, e estas tarefas não podem ser de um treinador de futebol.

Há um clube que parece ser uma grande escola no que tange a gestão desportiva com

recurso ao casamento com o sector económico. Talvez seja esta altura de baixar as asas e pro-curar quem também pode nos ajudar a resol-vermos problemas internos dos nossos clubes. Futebol faz se com dinheiro, mas futebol tam-bém gera dinheiro.

Massifiquemos a prática desta modalidade, trazendo investimentos sérios a todos os níveis. As infraestruturas desportivas, a formação das capadas inferiores, a formação e capacitação em novos métodos de gestão aos diretores des-portivos e outros membros da equipa, deve isto ser uma prioridade, sob risco de, a cada ano, termos uma lista enorme de treinadores que nem um mês ficaram no banco. Espreitem lá nas europas e ver quando e em que condições se despede um treinador de futebol… deixem de fazer brincadeiras, por favor!

Previna-se da COVID-19, seja vigilante e mais interventivo nas medidas de prevenção.

• Lave sempre as mãos com água e sa-bão ou mesmo cinza

• Use a máscara em todo aglomerado onde estiver

• Mantenha o distanciamento físico de 2 metros

• Use gel desinfectante assim como use braço dobrado em forma de V sempre que tossir

Na preservação da vida e do bem-estar, ame e proteja a sua família.

FUTEBOL NĀO SE FAZ COM ARROGÂNCIA E NEM COM DESEJOS IMAGINÁRIOS

D&F Por: NkassanaWaka-Tembe–[email protected]

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E-mail:[email protected]

Moçambola, ainda na segunda jornada, já carrega nas costas fardos de lamúrias e murmúrios!

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&10 OPINIÃO

Há um facto que está a passar despercebido à sociedade moçambicana: o recente dispêndio de valores do Estado na movimentação de nove membros do governo central (ministros e vice-ministros) para as províncias afectadas pelo maligno ciclone Eloise, supostamente com o objectivo de fazer acompanhamento e avaliação de prejuízos causados.

Para a província de Sofala foram destacados o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine, o ministro dos Transportes e Comunicações, Janfar Abdulai, e o vice-ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas, Henriques Bongece.

Para Zambézia seguiram os ministros dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, da Terra e Ambiente, Ivete Maibasse e a vice-ministra dos Transportes e Comunicações, Manuela Ribeiro. Já os titulares das pastas da Administração Estatal e Função Pública e dos Combatentes, Ana Comoana e Carlos Silliya, respectivamente, trabalham na província de Inhambane.

A estes membros do governo, tal como foi publicamente anunciado, cabe-lhes, igualmente, a tarefa de ajudar as estruturas locais a encontrarem soluções para os diferentes casos.

Não se pretende aqui subestimar o impacto negativo causado por esta intempérie, mas é desnecessário, quanto a mim, empatar ilustres figuras do governo para fazerem trabalhos que os Secretários de Conselhos Provinciais para a representação do Estado podiam realizar.

Os ministros agora enviados teriam sido mais úteis se tivessem feito estas deslocações antes da ocorrência do ciclone. Pelo capital político que têm, inerente ao cargo que ocupam, poderiam ter sido fulcrais nas sempre difíceis campanhas de educação cívica visando persuadir as populações a abandonarem as zonas de risco, que já eram há muito conhecidas.

O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), que é uma instituição recentemente criada em substituição do extinto INGC, tem, ao nível central, um mecanismo de comunicação e articulação com os delegados provinciais

e, até hoje, esse mecanismo tem se revelado eficiente e eficaz. De resto, a instituição sempre demonstrou – e agora não está a ser diferente – ter capacidade mais do que bastante para gerir este tipo de situações.

Neste caso, e na minha opinião, apenas a deslocação de duas figuras do governo central faz sentido. Desde logo, o Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, até porque foi quem presidiu, a 20 de Janeiro, a 1ª reunião extraordinária do Conselho Técnico de Gestão e Redução do Risco de Desastres, que visava analisar a evolução do sistema, que ainda se encontrava em Madagáscar.

A segunda figura seria a ministra da Administração Estatal e Função Pública, Ana Comoana, ambos acompanhando ou acompanhados pela Presidente do INGD, Luísa Meque e pelos respectivos quadros da instituição. A estes juntar-se-iam, naturalmente, os Secretários de Estado nas províncias afectadas e outras estruturas locais.

A pergunta que não quer calar é: porquê e para quê movimentar equipas de nível central às províncias, incluindo o PM, quando, localmente, há dois órgãos, nomeadamente Governador da província e Secretário de Estado na província, que sempre digladiaram-se por espaço para fazer ou pelo menos para mostrar-se mais? O que é que os ministros farão diferente do que estes órgãos fariam?

Vale sublinhar que, para além destes órgãos, existem, em certos casos, como Beira, Dondo e Quelimane, os Presidentes dos Conselhos Autárquicos, que também podiam assumir um papel fulcral nesta frente. Se a estes adicionarmos os administradores distritais, estamos, definitivamente, perante um “engarrafamento” desnecessário de dirigentes. Dito isto, é incompreensível que se tenha movimentado equipas de Maputo para as províncias, mais ainda se considerarmos os custos que isso representa para os governos central e locais.

Como se sabe, este tipo de deslocações implica o pagamento de ajuda de custos, para além do básico: alojamento e alimentação. Só que, estando no local, os

senhores ministros precisam locomover-se de um lado para o outro para fazer a suposta avaliação dos estragos, visitar centros de acolhimento, entre outras acções, e, geralmente, as viaturas para o efeito são abastecidas pelos governos locais e, não raras vezes, pelos Conselhos Autárquicos.

Ora, considerando que o orçamento para o funcionamento quer dos governos provinciais quer dos conselhos autárquicos foi drasticamente reduzido, não deixa de ser cruel que os mesmos órgãos tenham de tirar o pouco que têm para custear parte das despesas que o Estado criou com o envio de membros do governo central às províncias.

Outrossim, a lei n.º 7/2019 de 31 de Maio, que estabelece o quadro legal sobre a organização, as competências e o funcionamento dos órgãos de Representação do Estado na Província, determina, na alínea b) do artigo 26º, que compete ao Secretário do Estado “representar o governo central na província”. Só esta alínea já dispensava a deslocação dos ministros, na medida em que já se acha representado o governo central.

Mas não é tudo. A alínea h) do mesmo artigo confere ao Secretário do Estado a possibilidade de “praticar actos administrativos e tomar decisões indispensáveis sempre que as circunstâncias excepcionais do interesse público o exijam, devendo comunicar imediatamente ao órgão competente”

Ora, considerando que se está, de facto, em presença de “circunstâncias excepcionais”, compreende-se ainda menos a opção do Presidente da República. Em termos práticos, Nyusi “retirou” poderes aos Secretários que ele próprio nomeou e empossou, mostrando, uma vez mais, que estes são autênticos manequins perturbadores do funcionamento da máquina administrativa, ou seja, que não têm capacidades para gestão de assuntos críticos na província.

Prontos, vamos esperar pelos relatórios que os membros do Conselho de Ministros trarão, ansiosos por perceber que soluções especiais estes irão propor.

Nyusi mostra invalidez dos Secretários de Estado

Serôdio Towo

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11DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021NACIONAL

“As pessoas apenas murmuram”“O que me

preocupa não é o grito dos maus, é o silêncio dos

bons”. Esta é uma das frases mais marcantes de Martin Luther King, um pastor que, entre 1955 e 1968, foi um dos mais acérrimos defensores dos direitos civis nos Estados Unidos da América. Esta semana, a mítica frase foi chancelada, mesmo que de forma indirecta, por Alice Mabota, uma combatente em prol dos direitos humanos em Moçambique. Mabota nota que o país regrediu no que diz respeito à observância dos direitos do homem, e critica os cidadãos, que já não denunciam nem protestam, limitando-se a “murmurar”.

“Hoje, todas as vozes estão caladas”, é assim que Alice Mabota denuncia o silêncio dos cidadãos em relação à violação dos direitos do homem. A veterana activista, que falava no lançamento do relatório da Ordem dos Advogados de Moçambique sobre direitos humanos entre 2018 e 2019, manifestou decepção com o alegado recuo que o país registou.

“Sinto-me frustrada, porque, na década de 90, com a entrada em vigor da actual Constituição,

parecia que Moçambique estava a caminhar para a melhoria da situação dos direitos humanos e dos cidadãos. [Mas], hoje, volvidos mais de 30 anos, estou a ver que os cidadãos recuaram”, desabafou a activista que, durante largos anos, presidiu a Liga dos Direitos Humanos.

“Se ontem qualquer cidadão podia reclamar os seus direitos, hoje, todas as vozes estão caladas, todas as pessoas murmuram por dentro”, prosseguiu Mabota, que caracteriza a situação como sendo “terrível”. Para aquela activista, “hoje as pessoas

morrem de tédio”, na medida em que já não exercem o direito de dizer “isto está errado”, que, na sua opinião, é um escape.

“Cabo Delgado é outro Estado dentro de

Moçambique”

Ainda na senda dos direitos do homem, Alice Mabota debruçou-se sobre a situação de Cabo Delgado, fustigada pelo terrorismo há já mais de três anos. Disse que, até hoje, ninguém se atreve a ir a Cabo Delgado para perceber o

que se está a passar e vir com dados concretos. Na opinião daquela defensora dos direitos humanos, tal deve-se ao facto de “tudo estar minado”.

Mabota refere-se a minas verdadeiras, mas também a “um batalhão de agentes secretos que não te permitem circular e saber”, apontou, antes de acrescentar que “Cabo Delgado é outro Estado dentro de Moçambique”.

Polícia na vanguarda

da violação dos direitos humanos

Outro dos intervenientes

no evento foi Adriano Nuvunga, director do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD). Para Nuvunga, a Polícia tem sido instrumentalizada por quem detém o poder para promover uma “violação sistemática dos direitos humanos”, o que faz com que o dia-a-dia dos moçambicanos seja de “muito sofrimento”.

A título de exemplo, o director do CDD aponta os famosos “esquadrões da morte” que, na sua óptica, são responsáveis pelos raptos e pela perseguição e assassinato de jornalistas e activistas sociais. “São ramificações

desta corporação que estão na vanguarda da violação dos direitos humanos em Moçambique”, atirou.

Na sua intervenção, o académico também comentou sobre a actuação das forças policiais no contexto das restrições impostas para conter a propagação da Covid-19. Tem sido a Polícia, considera ele, que, “em claro abuso do poder, arranca produtos das pessoas mais pobres, num contexto em que o Estado moçambicano não deu nada às pessoas para poderem ficar em casa”, disse.

O tema Cabo Delgado também mereceu algumas considerações do professor, que acusa o Estado de ter “escondido a cabeça”. Diz Nuvunga que, sabendo da situação que se vive no terreno, o Estado não está presente para apoiar a população. Para aquele activista, a solução passa pela união e empenho dos moçambicanos no combate à corrupção, porque, defende ele, “todos os problemas que temos estado a assistir têm que ver com a utilização corrupta do poder do Estado”.

Apesar de assinalar algum progresso, o relatório da OAM sobre direitos humanos conclui que, no geral, a situação em Moçambique é preocupante.

Alice Mabota diz que direitos humanos frouxaram desde 2015

Adriano Nuvunga considera relatórios sobre os direitos humanos não profundos

ALICE MABOTA CONDENA SILÊNCIO PERANTE INJUSTIÇAS

Texto: Arão NualaneFotos: Albino MahumanaD&F

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&12 PLANO DE FUNDO

Calton Banze apela para união em prol do clube

É lenda do Desporti-vo de Maputo e da Selecção Nacional. Granjeou admira-

dores em Moçambique e em Portugal, onde também exi-biu um talento diametral-mente oposto à sua altura. De resto, a baixa estatura de Calton valeu-lhe, nos mean-dros do futebol, a alcunha de ‘exportação’, em referên-cia a um pequeno recipien-te usado para medir bebida tradicional. Actualmente treinador no seu emblema de sempre, Banze considera não ser momento de procurar culpados pela crise nos alvi--negros, mas sim de união em prol do clube.

Brilhou intensamente de águia ao peito, mas também fez uma carreira notável nos Mam-bas, e chegou a representar o Sporting Clube de Portugal. Ac-tualmente, o ex-médio trabalha nos escalões de formação do Des-portivo, actividade que se tornou mais difícil agora que o clube está desprovido de campo. De resto, a colectividade está mergulhada numa crise profunda, da qual, diz Calton Banze, só se pode sair se houver união. Também pastor, o antigo craque diz que não vale a pena “apontar dedos a quem quer que seja”.

“Já não tinha esperança de jogar na Europa”

Dossiers & Factos (D&F) -

Calton foi uma referência no futebol nacional, o que lhe va-leu a ida ao futebol português. Fale-nos sobre o seu percurso como jogador.

Calton Banze (CB)– Vim para o Grupo Desportivo de Ma-puto com 13 anos de idade, nas famosas escolas de “Tubarão”. Tubarão foi um atleta brasileiro que veio para o Desportivo e, para além de ser jogador da equi-pa sénior, também era treinador de crianças, eu era uma delas, em 1970. Dois anos depois pas-

sei para os juniores. 1973 foi um marco, porque a equipa de ju-niores ganhou tudo, o torneio de abertura, campeonato da cidade, campeonato nacional, que na al-tura era provincial, e o torneio de encerramento. Em 1974, aconte-ce a preparação da Independên-cia Nacional, e muitos jogadores saem para Portugal. Eu, com 17 anos, fui levado para jogar na equipa principal do Desportivo, treinada por João Albazine. Em 1976, o meu pai falou com os di-rigentes para que fosse jogar na equipa dele, o Grupo Desporti-vo São José, e fui fazer um ano. Foi a jogar nesta equipa que fui seleccionado pela primeira vez para jogar na selecção nacio-nal, treinada por João Carlos da Conceição.

D&F– Quando sai do São José foi fácil reintegrar--se na equipa principal do Desportivo?

CB – Foi. Não houve dificul-dades. Aliás, voltei e conquistá-mos o primeiro campeonato na-cional do Desportivo, em 1977, e ganhámos o segundo em 1978. Foi uma reintegração facílima.

Calton Banze também é pastor na igreja MANA D&F – Quantos títulos ga-

nhou pelo Desportivo? CB – Pelo Desportivo tenho

quatro campeonatos nacionais como jogador (1977, 1978, 1983 e 1988). Tenho uma Taça de Moçambique. Os campeonatos da cidade são muitos e não me lembro. Como treinador, ganhei um campeonato nacional, em 2006, quando coadjuvava o mis-ter Uzaras Momed, numa equipa composta por jogadores como Dominguez, Nelinho,etc.

D&F – Alguma lembran-ça positiva ou negativa que lhe tenha marcado ao longo do seu percurso?

CB – Há um jogo que me marcou pela negativa. No fute-bol, ganha-se, perde-se e empa-ta-se, mas há um jogo que nos marcou pela negativa. Foi quan-do fomos à independência do Zimbabwe, realmente não está-vamos preparados para ir àque-le jogo. Lembro-me que o Zim-babwe estava a preparar-se para receber uma selecção grande e forte, mas depois aquela selecção não foi ao Zimbabwe. Então con-vidaram Moçambique às pressas,

e perdemos seis a zero, por isso é um jogo que me marcou pela negativa. Nós não estivemos lá no jogo. Não jogámos, limitamo--nos a correr atrás deles. Foi um jogo para esquecer. Mas, sema-nas depois, convidámos o Zim-babwe para vir a Moçambique. Um e outro jogador não vieram, é o caso do Grobla, que jogava no Liverpool, mas tinha uma boa selecção, e ganhámos 3-1, no Estádio da Machava. Eu marquei um golo.

D&F – Uma das qualidades do Calton era o remate forte e era tecnicista, numa altura em que os métodos de treinamento não eram avançados como são actualmente. Onde buscava es-sas habilidades?

CB – Fora o talento nato que tinha, tive a felicidade de crescer perto de um antigo armazém de pneus, no Chamanculo, ao lado da fábrica da UFA. De um lado, tinha um muro e do outro não. Íamos lá, afastávamos os pneus e jogávamos. Aconteceram coisas muito importantes nos jogos que fazíamos. No princípio, usáva-mos os pneus para fazer balizas

e quando tínhamos menos gente, púnhamos só um pneu virado para o campo, e tínhamos que meter a bola dentro do pneu. Fa-zíamos isso com tanta facilidade, e foi o que apurou a nossa técni-ca. Fora isso, jogávamos nas va-randas do “mudicatla”, com todo o tipo de bola, e a técnica foi se apurando sem nos darmos conta.

D&F – Como é que é feita a sua saída de Moçambique para Portugal?

CB – A saída para Portu-gal foi uma surpresa para mim, porque já não contava ir para Portugal, uma vez que, com 13 anos, tive a oportunidade de ir para o Porto e não se concreti-zou. Também tive a chance de ir para o Benfica e não fui. Depois da independência, o Belenenses veio cá e fez muita pressão para eu ir. O Boavista propôs uma saí-da por vias não legais e neguei. Mas, em 1988, quase a fazer 32 anos de idade, apareceu a hipó-tese de ir para o Sporting de Por-tugal e, em dez dias, fui embora. Com a idade que tinha, não fui para fazer carreira, mas depois do Sporting emprestaram-nos a

CRISE NO DESPORTIVO

Texto: Arão NualaneFotos: Albino MahumanaD&F

Ø É difícil formar sem campo próprio

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13DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021

“Estamos a “gemer” um pouco para licenciar os clubes, para que haja profissionalismo, pois haverá equilíbrio necessário nas equipas

PLANO DE FUNDO

um clube chamado Atlético, e eu e mais dois jogadores do Spor-ting, para evitarmos que a equipa descesse de divisão. De ano em ano, passei em vários clubes, um deles é o Mirandelas, no norte. Também joguei pelo Vale Passes. Depois passei para Vila Nova de Foz Côa.

D&F – Quando é que deci-de deixar a carreira de jogador e voltar a Moçambique?

CB – Nunca tive a intenção de ficar definitivamente em Por-tugal. Por isso nem casa comprei em Portugal. Sempre tive a ideia de voltar. Então, três anos depois de ensaiar a volta, o Desportivo fez-me uma proposta, aceitei e voltei, em 2005.

Antigos atletas têm que saber

estar D&F – Há jogadores mo-

çambicanos que atingem altos patamares no futebol nacional e internacional, ganham di-nheiro, mas quando terminam as suas carreiras vivem uma vida lastimável. Qual é o seu comentário em relação a esse ponto?

CB – Infelizmente, temos essa situação. Conheço atletas que, realmente, quando os en-contro, fico triste. Não temos protecção de vida, então aconte-cem essas situações. Mas penso que está a mudar, porque a partir da altura em que os clubes estão a fazer o licenciamento, também a defesa do atleta está lá incluída. É onde será defendido o atleta. Os clubes estão todos com proble-mas financeiros graves, e como é

que hão-de ajudar o antigo atle-ta? Nós também, antigos atletas, temos que saber estar para rece-ber certas ajudas. Não é viver de qualquer maneira. Podem nos chamar e dizer ‘venha fazer isto’. O ‘venha fazer isto’, algumas ve-zes, não é porque a gente merece ou tem capacidade. Mas tenho que estar à altura de fazer aquilo que me está a ser pedido. Agora, os miúdos de hoje também estão a ganhar dinheiro e oxalá os seus empresários estejam a encami-nhá-los para que, com o que es-tão a ganhar hoje, possam viver amanhã sem problemas.

D&F – Calton anda no futebol há muito tempo. No seu ponto de vista, o que pode ser melhorado no futebol moçambicano?

CB – É isto que estamos a passar agora. Estamos a “gemer” um pouco para licenciar os clu-bes, para que haja profissionalis-mo, pois haverá equilíbrio neces-sário nas equipas. As equipas hoje estão todas a pedir. Mal fazem re-ceitas. Agora nem há público nas bancadas, por causa do momen-to que estamos a atravessar. Mas mesmo antes disto, pouca gente ia aos campos para ver os jogos. Temos que mudar isto, porque precisamos de ter bons espec-táculos, que atraiam as pessoas, para podermos ter receitas para os clubes sobreviverem. Hoje em dia, os clubes nem têm sócios pa-gantes. Temos que melhorar. Por exemplo, o título dos sub-20 no torneio da COSAFA é importan-te para que todos os agentes do futebol apostem na formação. Podemos dizer todos os anos

que temos que apostar na for-mação, mas nunca há aposta. Só falamos e não fazemos nada. O título dos sub-20 mostra que se fizermos o mínimo, podemos tirar dividendos. Temos muitos campos que são impraticáveis. Como é que queremos formar se a bola não rola? Temos que ter bons treinadores. Os bons treinadores não são só para a equipa principal. Os melhores treinadores para as crianças são

necessários e, para isso, temos que arranjar boas condições para eles, que passam por um bom salário, porque todos nós corremos para treinar os senio-res por ser ali onde se paga.

“Desportivo tem que ter cam-po o mais depressa possível”

D&F – Tem quase a sua his-

tória como jogador ligada ao Desportivo de Maputo. O que

tem a dizer em relação às suces-sivas crises da equipa de algum tempo para cá?

CB – O Desportivo sempre foi um clube formador. Até 2000, a maior parte dos jogadores que era da selecção nacional era do Desportivo. Sendo um clube for-mador, é importante que o mais depressa possível o Desportivo tenha um campo, ou mais de um campo, para que volte a apos-tar na formação, que está em “banho-maria”. Também tenho a dizer que todo aquele que é do Desportivo tem que esquecer o passado e juntar-se. Deixar de apontar erros do passado, por-que essa coisa de procurar cul-pados não nos vai levar a lugar nenhum. Todos temos que nos unir e, a partir daí, podemos fazer muita coisa, porque nós temos o nosso sítio no futebol nacional. Esse sítio não fechou e ninguém vai fechar. É nosso, e como família do Desportivo, temos que nos recolocar naque-le sítio.Volto a frisar Wque para isso aconteça, é preciso termos o nosso campo. Por exemplo, eu ando na rua e há pessoas que me abordam e dizem: ‘há um miú-do bom e mora na Katembe’. Os infantis, iniciados estão a treinar no campo do Ferroviário das Mahotas, no Choupal. Como é que o miúdo da Katembe há-de ir? Agora, com o campo aqui na Baixa era fácil pegar no miúdo e vir para aqui, tal como acontecia no passado.

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&14 SOCIEDADE

Gestores públicos acusados de conivênciaLíderes comunitá-

rios residentes no distrito de Mabote, em Inhambane, de-

nunciaram alegados crimes de contrabando de madeira, acções supostamente prota-gonizadas por indivíduos com fortes ligações com alguns gestores públicos. Os denunciantes dizem, no entanto, que as autori-dades têm menosprezado suas denúncias. Contudo, o Ministério Público garante ter aberto vários processos e diz que os implicados po-dem, a qualquer momento, ir à barra do tribunal.

O contrabando de madei-ra é um dos crimes mais co-muns no distrito de Mabote, na província de Inhambane. O facto levou alguns secre-tários dos bairros a quebrar o silêncio e denunciar as incursões criminosas que lesam o Estado em milhões, para além de prejudicar o meio ambiente.

Segundo contam, os ex-ploradores praticam aquela actividade ilícita sem qual-quer pudor. Em plena luz do dia, invadem florestas e aba-tem, indiscriminadamen-te, as árvores que mais lhes interessam. Chanfuta, mon-zo e simbires são algumas das espécies preferenciais do sindicato criminoso. Os troncos são transportados em camiões, para abastecer estaleiros de cidadãos chi-neses a preços muito baixos.

A revolta dos líderes

As comunidades locais têm sido importantes ze-ladoras daqueles recursos, mas não colhem qualquer benefício, graças à explo-ração ilegal. Revoltadas, le-vantam questões a quem de direito.

“Eu gostava de saber como é feita a concessão de licença para alguém explo-

Pompilio Xavier, procurador provincial

rar madeira e qual é a área que é permitido explorar? Porque o que tem aconte-cido nos últimos dias é que há exploradores com licença válida por 50 anos, já derru-baram todas as árvores e as-sim estão a atacar simbires, também vão acabar e ficare-mos sem floresta”, lamentou Augusto Mapanzene, líder comunitário de Mabote.

Os líderes comunitários denunciaram igualmente o suposto envolvimento de alguns funcionários públi-cos no esquema. Estes são acusados de tudo fazer para inviabilizar o trabalho de fiscalização.

“Queremos saber por que é que, quando os agentes prendem contrabandistas de madeira, há quem os manda soltar? Assim não é possí-vel trabalharmos à vontade, porque o nosso trabalho será em vão, sempre haverá alguém a interferir, porque tem algum interesse nes-

sa bolada”, denunciou Rosa Fernandes.

Procuradoria tem 23 pro-cessos instaurados

Vinte e três (23) é o nú-mero de processos que o Mi-nistério Público abriu para esclarecer crimes contra o meio ambiente, flora e fauna. Os presumíveis autores já fo-ram identificados e, a qual-quer altura, poderão respon-der em sede do tribunal.

A informação foi avan-çada pelo representante da Procuradoria Provincial de Inhambane, Pompílio Xa-vier, em entrevista exclu-siva ao Dossiers & Factos. Xavier desmentiu a infor-mação segundo a qual as autoridades não levam a sé-rio as denúncias dos líderes comunitários.

“Não existe um caso em concreto de Mabote, o que os líderes comunitários e a população estão a dizer

é que têm feito denúncias e depois não têm retorno. O que se espera é que, de-pois das denúncias, as pro-curadorias distritais dêem seguimento aos casos”, dis-se, acrescentando que, “na verdade, todas as denúncias que foram feitas resultaram na abertura de processos. Neste momento, temos cerca de 23 processos, de Janeiro a Novembro de 2020, contra 24 do igual período do ano anterior. Não temos apenas processos, já temos pessoas identificadas e há arguidos”, garantiu.

Crimes em cadeia

Pompílio Xavier conside-ra que o combate ao tráfico de madeira não é fácil, por se tratar de um crime comple-xo, na medida em que envol-ve outros crimes. Assegurou, ainda assim, que o Ministé-rio Público não se vai cansar de fazer o seu trabalho até

conseguir erradicá-lo. “O crime de contrabando

de madeira envolve alguns crimes conexos, como, por exemplo, branqueamento de capitais, corrupção, uso de armas proibidas, portanto, é uma gama de factores que estão ali dentro, que é preci-so que o Ministério Público trabalhe com cautela para não só levar os responsáveis à barra da justiça, mas tam-bém recuperar o dinheiro”.

Questionado sobre as supostas ordens superiores para soltar os infractores, Xavier sublinhou que a Pro-curadoria baseia-se unica-mente na lei. “Não há nin-guém que nos manda soltar, o que estamos a fazer é ve-rificar os elementos em cada um dos processos. Se exis-tirem elementos para que o indiciado X ou Z responda em liberdade condicional mediante caução ou termo de identidade e residência, é posto em liberdade”.

TRÁFICO DE MADEIRA EM INHAMBANE

- MP promete levar todos à barra da justiça

Texto e fotos: Anastácio Chirrute, em InhambaneD&F

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15DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021

Perdidos 50 mil hectares de culturas diversasO ciclone Eloíse

foi devastador por onde pas-sou. Apesar de

ter tido maior incidência na província de Sofala, não se pode dizer que tenha sido particularmente simpático em outras províncias. É o caso de Inhambane, onde o fenómeno destruiu mais de 50 mil hectares de culturas diversas, afectando mais de 40 mil agricultores.

O ciclone Eloise passou por Moçambique entre os dias 23 e 24 de Janeiro, de-vastando as províncias de Inhambane, Sofala, Zam-bézia e Manica. A esta altu-ra, equipas multissectoriais lideradas pelo Instituo Na-cional de Gestão e Redu-ção do Risco de Desastres continuam a fazer balanço, e os dados são pouco ani-madores. Só na província de Inhambane, 57072 hectares de culturas diversas foram destruidas devido à chuva que caiu em excesso, dei-tando por terra o esforço de 41193 agricultores.

Quer isto dizer que a se-gurança alimentar pode estar em causa, numa província que, de resto, tem na prática da agricultura a grande arma para combater a fome.

A boa notícia na terra da boa gente é que nenhum óbito foi registado, mas os danos humanos são signi-ficativos. No total, foram afectadas 1038 pessoas (208 famílias) nos cinco distritos atingidos, nomeadamente Govuro, Vilankuo, Mabote, Massinga e Inhassouro. Al-gumas destas famílias eram proprietárias das 65 casas destruídas, 33 de forma par-cial e 32 de forma total.

Distribuição por distrito

O distrito de Govuro aca-bou por ser o mais fustigado pelo ciclone Eloise. Naque-le ponto da província, a in-tempérie afectou mais que o

A devastação de culturas pode causar bolsas de fome na província

dobro da soma dos restantes distritos. Foram, no total, 708, o correspondente a 142 famílias.

Em segundo plano, sur-ge o distrito turístico de Vilankulo, com 215 pessoas

afectadas, o que corresponde a 43 famílias. Surge depois, a

fechar o pódio, o distrito de Inhassouro, com 115 afec-tados, correspondente a 23 famílias. Apesar de também terem sido atingidos, os dis-tritos de Massinga e Mabo-te não reportaram qualquer

dano humano, conforme os dados do INGD.

Educação sofre baixa

Como era previsível, a intempérie também derru-bou várias infraestruturas sociais, com destaque para escolas, fazendo da educa-ção o sector mais sacrifica-do. Informação divulgada pelo Instituto Nacional de Gestão do Risco de Desas-tres dá conta da destruição parcial de 38 salas de aula e da destruição total de ou-tras. Destas, pelo menos 23 são do distrito de Go-vuro. Há ainda a registar a destruição de dois blocos administrativos, um de for-ma total e outro de forma parcial.

No domínio das infras-truturas e bens públicos, registou-se, igualmente, a destruição parcial de três unidades sanitárias, qua-tro vias de acesso e a que-da de sete postes de energia eléctrica.

O palno do INGD

Entretanto, os danos re-sultantes de desastres impli-cam muito trabalho para o

INGD. Em Inhambane não está a ser diferente. A ins-tituição reportou uma série de acçõoes que estão a ser desenvolvidas para mini-mizar o impacto do ciclone, através dos Centros Ope-rativos de Emergência e do Conselho Técnico Provin-cial de Gestão de Desastres.

A resposta do INGD consistiu na criação de equi-pas de minitoria e avaliação rápida, abrigo, planificação e informação, difusão de mensagens de acções a rea-lizar antes, durante e depois da ocorrência dociclone ELOISE, sensibilização das famílias residentes nas zo-nas propensas a cheias para se retirarem para as seguras, interditação das aulas em es-colas dos distritos em risco(Govuro,Inhassoro,Vilankulo e Mabote), e sensibilização da população sobre as medi-das de prevenção e mitiga-ção de chuvas,ventos fortes e descargas atmosféricas.

Para além disso, o INGD está a prover assistência ali-mentar para os afectados, que se encontram em cen-tros de acomodação.

SOCIEDADE

Eloise em Inhambane

Texto: Amad CandaD&F

“No domínio das infras-

truturas e bens públicos, registou-se, igualmente, a destruição parcial de três unidades sanitárias, qua-tro vias de acesso e a que-da de sete postes de ener-gia eléctrica.

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&16 ECONOMIA

Terrorismo e pandemia “sufocam” contas oúblicas

Desta vez, a instituição fundamenta o alerta com a rápida propagação da Covid-19, desde o início do ano, o prolongamento dos conflitos militares e a ocorrência de calamidades naturais que vão continuar a exigir um maior esforço financeiro do Estado, au-mentando assim as preo-cupações quanto à postura

A pressão sobre as finanças públi-cas tende a au-mentar, alertou,

na última quarta-feira, o Comité de Política Mone-tária (CPMO) do Banco de Moçambique, depois da primeira reunião de 2021. O alerta do Banco Central não é novo, mas tem sido recorrente em cada reunião, principalmente, desde o ano passado.

Texto: RedacçãoD&F

próxima reunião ordinária do CPMO está agendada para o dia 17 de Março de 2021fiscal em 2021.

Devido à pressão, o Ban-co Central reporta que o Estado tem continuado a endividar-se internamente para fazer face ao défice. “Desde o último CPMO, a dívida pública interna, ex-

cluindo contratos de mútuo e de locação e as responsa-bilidades em mora, aumen-tou de 182.325 milhões de meticais para 183.819 mi-lhões de meticais”, relata em comunicado de imprensa.

Após analisar a actual

situação económica e fi-nanceira do país, o CPMO constatou que o mercado cambial nacional regis-ta pressão na procura de moeda estrangeira, prin-cipalmente o Dólar. “Após encerrar o ano de 2020 com

compras líquidas no mon-tante de USD 72,4 milhões, o sistema bancário registou uma pressão cambial no início de 2021, tendo efec-tuado vendas líquidas no montante de USD 16 mi-lhões”, reporta a instituição no comunicado.

Na última reunião, o CPMO constatou também que, durante o período em referência, o Metical con-tinuou a depreciar, reflec-tindo os elevados riscos e incertezas prevalecentes na economia doméstica e o fortalecimento do dólar norte-americano no mer-cado internacional. Entre-tanto, a instituição assegu-ra que o saldo de reservas internacionais brutas in-crementou para USD 4.086 milhões até 22 de Janeiro, o que permite cobrir mais de seis meses de importações de bens e serviços. (Carta)

Total continua a trabalhar a meio gás

"Face à evolução da situa-ção de segurança na província de Cabo Delgado e no distrito de Palma", o consórcio da Área 1 - Mozambique LNG lidera-do pela Total decidiu "reduzir o pessoal presente no local do projecto em Afungi", indicou.

"O processo de desmobili-zação está em curso de forma organizada e em conformidade com os protocolos estabeleci-dos", detalhou hoje a empresa, depois de questionada sobre se já teria havido uma retoma das actividades.

Um primeiro anúncio de redução foi feito em Dezem-bro, logo após o ataque a cinco quilómetros do recinto do in-vestimento. Passado um mês,

A petrolífera To-tal continua a d e s m o b i l i z a r pessoal das

obras do megaprojecto de gás natural em Cabo Del-gado, um mês após ata-ques junto ao empreen-dimento naquela região do norte de Moçambique, disse ontem a empresa em resposta a questões colo-cadas pela Lusa.

Texto: RedacçãoD&F

A primeira exportação de gás liquefeito está prevista para 2024.a Total "está a acompanhar a evolução da situação de segu-rança no norte de Moçambi-que com a maior atenção, em conjunto com as autoridades moçambicanas".

A empresa diz ter em aten-ção "todas as medidas necessá-rias para garantir a segurança

e protecção do seu pessoal e das suas subcontratadas". O contexto levou o presidente da petrolífera francesa, Patrick Pouyanné, a viajar até Maputo e reunir-se com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, em 18 de Janeiro.

O encontro foi mantido

sob máxima discrição e apenas foi anunciado o acordo quanto a um novo reforço de seguran-ça em redor do empreendi-mento de gás natural em Cabo Delgado - isto após uma outra revisão aos termos da protec-ção ao complexo que já tinha sido feita a 24 de Agosto de

2020. Avaliado entre 20 e 25 mil

milhões de euros, o megapro-jecto de extracção de gás da Total é o maior investimento privado em curso em África, suportado por diversas insti-tuições financeiras interna-cionais e prevê a construção de unidades industriais e uma nova cidade entre Palma e a península de Afungi.

No projecto recaem as principais esperanças de cres-cimento económico de Mo-çambique na próxima déca-da, depois de o outro grande projecto de exploração de gás (Área 4), liderado pela Exxon Mobil e ENI, ter sido adiado - cabendo a este consórcio da Área 4 a exploração de uma menor quantidade de gás atra-vés de uma plataforma flutuan-te a partir de 2022.

A violência armada em Cabo Delgado está a provo-car uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba. Al-gumas das incursões de insur-gentes passaram a ser reivin-dicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019. (Lusa)

Ataques Terroristas

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17DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021ECONOMIA

Banco central aumenta taxa de juro de referência

O Banco Central justificou a sua decisão com “a substancial revisão em alta das perspectivas de inflação para o médio prazo, a reflectir a contínua deprecia-ção do Metical, num ambiente de maior agravamento dos ris-cos e incertezas, com destaque para as consequências negati-vas da propagação acelerada da Covid-19 e a ocorrência de ca-lamidades naturais, para além da instabilidade militar”.

O CPMO decidiu, igual-mente, incrementar as taxas de

O comité de Polí-tica Monetária (CPMO) do Ban-co de Moçambi-

que decidiu, na ultima quin-ta-feira (28\01), aumentar a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, em 300 pontos-base (pb), para 13,25%. A MIMO é a que serve de referência para o cálculo da taxa de juro que os bancos comerciais apli-cam aos seus clientes.

Texto: Lídia CossaD&F

BM aumenta taxa de jurojuro da Facilidade Permanente de Depósitos (FPD) e da Fa-cilidade Permanente de Ce-dência (FPC) em 300 pb, para 10,25% e 16,25%, respectiva-mente, e manter os coeficientes de Reservas Obrigatórias (RO) para os passivos em moeda nacional e em moeda estran-geira em 11,50% e 34,50%,

respectivamente.Em comunicado de impren-

sa, o Banco de Moçambique (BM) referiu ainda que as pers-pectivas de curto e médio pra-zos apontam para um aumento expressivo da inflação.

“A inflação anual aumentou pelo quarto mês consecutivo, passando de 2,98% em Setem-

bro para 3,52% em Dezembro de 2020. A inflação subjacente, que exclui os preços dos bens e serviços administrados e das frutas e vegetais, aumentou, no mesmo período, de 2,92% para 5,10%, com perspectivas de agravamento nos próximos trimestres”, frisa.

Paralelamente, acrescentou,

“prevê-se uma aceleração da inflação geral no médio prazo, a traduzir os efeitos da repassa-gem da depreciação do Metical para os preços domésticos, do fim da vigência de parte das medidas de contenção de pre-ços decretadas pelo governo, no âmbito da Covid-19 e dos choques climáticos”.

De referir que, nos últimos tempos, tem-se verificado a materialização de alguns riscos e agravamento de incertezas, destacando-se a rápida propa-gação da Covid-19 e a ocor-rência de calamidades naturais, para além da instabilidade mi-litar nas regiões Centro e Norte do país.

“A nível externo, realça--se o surgimento de novas va-gas de infecções e estirpes do novo coronavírus, não obstante as vacinações em curso, bem como a volatilidade dos preços das principais mercadorias e o fortalecimento do dólar norte--americano. Antecipa-se que estes riscos prevaleçam no cur-to e médio prazos”, realçou o BM. Jornal Notícias

Porto da Beira mantém volumes de tráfego em alta

Em nota de imprensa, a cor-nelder afirmou que, no período em análise, foram manuseadas no terminal de carga geral 3,1 milhões de toneladas contra 2,1 milhões em igual período do ano anterior, representando um crescimento expressivo de 46%.

Ao nível do terminal de contentores, foram manuseados 255,459 TEUs (contentores), contra os 259,938 TEUs em igual período de 2019, repre-sentando um decréscimo de 1,7 %.

“O acentuado crescimento de volumes de tráfego no ter-

Não obstante as a d v e r s i d a d e s ditadas pela pandemia da

Covid-19 e seu impacto ne-gativo na economia global, a Cornelder de Moçambi-que (CdM), concessionária dos terminais de contento-res e de carga geral do por-to da Beira, registou até ao final de Dezembro de 2020 um desempenho operacio-nal positivo.

Texto: RedacçãoD&F

Porto da Beira com desempenho positivo Porto da Beira com desempenho positivominal de carga geral deve-se ao aumento de importações de fertilizantes por parte dos países do hinterland, com particular destaque para Malawi e Zim-babwe, bem como de clinker para Moçambique. Os países da região também incrementaram,

significativamente, as exporta-ções de minérios”, refere a nota.

A fonte acrescentou que a redução de volumes de conten-tores deve-se essencialmente ao abrandamento do transporte marítimo, no primeiro semes-tre do ano, e à paralisação de

várias indústrias à escala global, em face do lockdown verificado em vários países devido à pan-demia do novo coronavírus.

“Contribuiu igualmente para esta redução de volumes o decréscimo registado na expor-tação da madeira nacional e im-

portação de bens diversos para o nosso país”, avança a nota.

Em termos de perspectivas para 2021, a Cornelder de Mo-çambique realçou que vai dar seguimento ao seu plano de in-vestimentos centrado essencial-mente na construção de novos acessos visando melhorar o flu-xo de camiões dentro do porto.

“Vamos também expandir os parques de armazenagem tanto do Terminal de Contento-res como de Carga Geral, inves-tir na aquisição de modernos equipamentos de manusea-mento, introduzir novos siste-mas operativos de gestão, entre outros”, explica-se.

Dada a crescente demanda de navios do tipo Panamax e Post-Panamax, o porto da Beira vai igualmente beneficiar-se da ampliação da bacia de mano-bras na secção E15A, cujo pro-jecto é financiado pela empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), na quali-dade de representante da Auto-ridade Concedente, permitindo assim a navegação segura para os navios de grande dimensão com capacidade que pode che-gar a 9000 TEUs. Jornal Notícias

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&18 MAPUTO PROVINCIA

“Mambinhas prometem conquistar CAN”

Esposa do governador firma parceria para assistência a grupos carenciados

A visita dos "Mambinhas" ao governador de Maputo acontece no âmbito do estágio que o combinado nacional vai realizar durante 7 dias num dos estabelecimentos hoteleiros da província, em preparação para o CAN-21, que se realiza na Mauritânia, de 14 de Fevereiro a 6 de Março.

O primeiro adversário da selecção moçambicana é o Uganda. A propósito, Júlio Parruque disse que os "Mambi-nhas" devem fazer de tudo para vencer este jogo.

A parceria foi firmada atra-vés de um memorando de en-tendimento, ao abrigo do qual as partes pretendem estabele-cer intercâmbio e colaboração nas áreas de intervenção do gabinete da esposa do gover-nador da província de Maputo e da Associação União Para Prosperidade, no desenvolvi-mento de acções visadas.

Intervindo no acto, Nai-

A Selecção Nacional de Futebol de Sub-20, vulgo "Mambi-nhas", foi, semana

finda, recebida pelo gover-nador da província de Ma-puto, Júlio Parruque, na sua residência oficial. Dirigindo--se aos atletas, o governador manifestou-se orgulhoso pela conquista da taça Cosafa em Dezembro, lembrando-lhes que “sois campeões que ali-viam a dor dos moçambica-nos”.

O gabinete da es-posa do governa-dor da província de Maputo (GE-

GPM) e a Associação União Para Prosperidade (AUPP) acordaram, semana finda, estabelecer uma parceria institucional, visando pro-ver assistência a grupos so-cialmente carenciados na província.

Texto: RedacçãoD&F

Texto: Lídia CossaD&F

Mambinhas prometem ganhar o CAN-21 na Mauritânia

Esposa do governador assiste os carenciados na província

O governante apelou, aliás, para que, na Mauritânia, os rapazes treinados pelo mister Dário Monteiro pensem nos 30 milhões de moçambicanos que estarão atentos, acompa-nhando e apoiando a equipa nacional.

Parruque disse que, na go-

vernação descentralizada, o Conselho Executivo Provin-cial de Maputo considera o desporto, em geral, uma prio-ridade, um caminho para em-prego e geração de renda para os jovens. Por isso, reafirmou a aposta de investir na massifica-ção do desporto.

Para além de felicitar a Se-lecção Nacional de Futebol de Sub-20, o governador da pro-víncia de Maputo congratulou de modo especial aos pais e encarregados de educação que, de acordo com as suas pala-vras, acreditam que o futebol em Moçambique só poderá

evoluir deixando os seus filhos jogarem.

Sublinhou que a alegria proporcionada pelo futebol não tem preço, apelando aos jogadores para que, durante o estágio, capitalizem ao máxi-mo as qualidades do treinador Dário Monteiro.

NUM ENCONTRO COM PARRUQUE

dy Parruque afirmou que ao embarcar nesta iniciativa, o gabinete da esposa do gover-nador de Maputo pretende, com pragmatismo e firmeza,

contribuir na providência de acções viradas à promoção da saúde, equidade de género e protecção social dos gru-pos alvo do sector do Géne-

ro, Criança e Acção Social, de modo que este assegure o exercício efectivo dos seus programas e actividades, em todos os campos de comum

interesse.Naidy Parruque destacou

que a materialização do me-morando depende muito do empenho de cada uma das partes, lembrando sempre que a sua acção visa tocar o cora-ção dos mais carenciados.

Por seu turno, o presiden-te da Associação União Para Prosperidade, James Mulum-be, indicou que, em parceria com o gabinete da esposa do governador, a agremiação pre-tende alcançar maior número de pessoas carenciadas na pro-víncia de Maputo, entre crian-ças e idosos.

Anunciou o interesse em abraçar novos projectos, como apoio a área dos direitos hu-manos, no Distrito de Matu-tuíne, a reabilitação do centro de idosos no Distrito de Ma-gude, bem como intervenção no quadro da prevenção e combate à Covid-19.

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19DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021

Texto: Lídia CossaD&F

SOCIEDADE

As obras de construção das casas para as vítimas da lixeira de Hulene ini-ciaram em Novembro de 2019 e estava prevista a entrega de 120 casas num prazo de seis meses. Mas nem água vem, nem água vai, as obras estão paradas há já cinco meses. As fa-mílias afectadas pelo desa-bamento convocaram uma conferência de imprensa, na semana passada, para apresentar uma série de queixas e pedir ao Gover-no para “levar mais a sé-rio” o processo.

A impaciência das

famílias

São já três anos à espe-ra da conclusão do pro-cesso de reassentamento, que começou logo após o desabamento que ceifou a vida de 17 pessoas. O plano passava por colo-car as famílias em casas arrendadas – pagas pelo município de Maputo –

Passam-se três anos desde o deslizamen-to de uma parte da lixeira de Hulene,

matando dezassete pessoas e deixando outras cinco fe-ridas. A tragédia ocorreu na madrugada de 19 de Feverei-ro de 2018, era segunda-feira. Após o incidente, o Conselho Municipal de Maputo retirou as famílias que moravam no local e prometeu erguer novas casas para elas. A edilidade comprometeu-se a arrendar residências para as famílias até que as casas estivessem concluídas. Mas chegam ago-ra informações dando conta da paralisação das obras e de significativos atrasos no de-sembolso do valor de arren-damento.

Vítimas dizem-se “esquecidas” pelas autoridades

enquanto eram erguidas

residências definitivas no

bairro Possulane.

Na altura, o Governo

prometera concluir o pro-cesso em um ano, e, para além das casas, falava-se de construção de várias infra-estruturas sociais. A verdade é que as obras fo-ram iniciadas, mas nunca chegaram ao fim. Aliás, se-gundo nos consta, sequer uma casa está concluída.

Para piorar a situação, os subsídios que o Conse-lho Municipal prometeu para o pagamento da ren-da chegam com atraso, ex-pondo as famílias ao risco de despejo, como já acon-teceu a algumas.

“Neste grupo, há pes-soas muito idosas, que já não estão em condições de trabalhar, e quando atrasa o subsídio não têm como pagar, algumas pes-soas foram expulsas das

casas, por ficar três meses ou mais sem pagar a ren-da. São por aí cinco famí-lias que tiveram o azar de serem expulsas das casas arrendadas”, disse o pre-sidente da comissão dos afectados.

Segundo aquelas famí-lias, que estão agastadas com a situação em que se encontram, a relação com as autoridades já não é das melhores. Dizem que não há mais diálogo, des-de que os novos timonei-ros chegaram à autarquia e ao Ministério da Terra e Ambiente.

Os queixosos garantem que, durante esse período, diversas vezes se pronti-ficaram a conversar com as autoridades que estão

Cansamo-nos de viver em casas arrendadas, cumpram o prometido

TRÊS ANOS DEPOIS DA TRAGÉDIA DE HULENE

“Do mesmo modo que ele

apareceu muito preocupa-do quando houve a tragé-dia, que perceba o nosso sofrimento e traga-nos so-luções, o que nós queremos são as nossas casas, esse é o essencial

Obras iniciadas em Possulane paralisadas há cinco mesesSubsídio de arrendamento chega com quatro meses de atraso

Continua na Pag 20

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&20 SOCIEDADE

Obras paralisadas há cinco meses

na linha da frente desse assunto, nomeadamente o Conselho Municipal de Maputo e o Ministério da Terra e Ambiente. Todavia, nunca tiveram um diálogo profícuo. Falam apenas de “pequenas audiências”, em que as respostas variam entre: “aguardem pelo dia X, o ministério ainda não transferiu o valor e vamos procurar saber”.

“Só queremos nossas

casas”

Em Junho de 2020, o porta-voz do Conselho de Ministros garantiu, após uma manifestação levada a cabo pelos afectados pelo desabamento da lixeira de Hulene, que as casas esta-riam concluídas até ao final do mesmo ano e que havia sido aprovado o orçamento para o efeito.

O ano findou e nada disso aconteceu. As obras continuam paralisadas, e

os valores referentes ao ar-rendamento das casas con-tinuam a ser entregues de forma tardia.

António Massingue, Presidente da Comissão dos afectados pelo desaba-mento da lixeira de Hulene, disse que a sua preocupa-ção se prende com a alega-da falta de comunicação.

“Na altura do antigo edil, havia uma comunica-ção mais positiva, sentía-mo-nos valorizados, mas desde que temos o novo edil, e com a saída do anti-go ministro da Terra, o caso estagnou, ninguém aparece para falar deste assunto. O actual edil nem nos co-nhece fisicamente, só nos conhece no papel, e o sub-sídio de arrendamento vem sempre com atraso de três a quatro meses, e ninguém está a justificar a causa dos atrasos”, lamentou.

Comissão quer novos interlocutores

O desejo de Massin-gue e de todos afectados é que o próprio Presidente da República se preocupe com a situação e a resolva. “Do mesmo modo que ele apareceu muito preocupa-do quando houve a tragé-dia, que perceba o nosso sofrimento e traga-nos soluções, o que nós que-remos são as nossas casas, esse é o essencial”.

De resto, a comissão também acredita que o processo não anda por-que o seu interlocutor no conselho autárquico – a vereadora da Acção So-cial – “não tem autoridade suficiente”.

“O caso não depende dela, ela está muito limita-da, este caso é de instâncias um pouco mais superiores, é muito mais do Governo Central, do Ministério da Terra, e mesmo o Ministé-rio da Terra só nos recebeu uma vez, numa reunião

despachada com a actual ministra, mas não trouxe nada de concreto. Pedimos explicação sobre a para-lisação das obras, porque as obras estão mesmo pa-ralisadas, e agora está uma mata lá, nem dá para en-trar”, explicou.

A desilusão das vítimas

O não andamento do processo está a deixar agastadas as vítimas, que esperavam já ter casas defi-nitivas. É o caso de Emília Langa, mãe de sete filhos.

“Eu residi na zona da lixeira por três anos, quan-do aconteceu a tragédia, tiraram cerca de 200 fa-mílias para um centro de acolhimento, depois de alguns dias, assinámos um contrato de um ano de arrendamento de casas, onde depois desse tempo teríamos nossas próprias casas, mas de lá até cá nada mudou, e continua-

mos com essa situação de pagamento de renda, com um subsídio que chega quando eles entendem que já podem canalizar. Não é porque o Governo não tem condições de termi-nar aquelas casas e encer-rar este processo, mas eles preferem ver a população todos os dias a pedir so-corro por uma coisa que eles mesmos prometeram, e isso é muito chato, esta-mos cansados de falar do mesmo assunto todos os dias”, desabafou.

“Desde a saída de Da-vid Simango, começou a ser muito difícil ter di-nheiro de arrendamento, porque Comiche, desde que entrou no Conselho Municipal, nunca se reu-niu connosco, nem nos conhece, por isso nós tam-bém não o conhecemos”, acrescentou.

António Matias é ou-tra vítima do desabamento da lixeira de Hulene e diz estar cansado de esperar pelo cumprimento das promessas por parte do Governo. Também ele lan-ça pedras à actual lideran-ça do município.

“Simango não acabava dois meses sem se reunir connosco, estava sempre aberto para ouvir nossas inquietações e sempre nos dava alguma resposta, mas este [Comiche] nem nos quer ver, nunca se reuniu connosco, nunca quis nos receber, as coisas muda-ram definitivamente”, rela-tou, para depois fazer um apelo:

“Pedimos ao Governo para levar o nosso assunto mais a sério, não podemos continuar nesta incerte-za, não nos deixem mor-rer nas casas de arrenda-mento. Devolvam a nossa dignidade, como famílias. Cumpram o que promete-ram. Não é um favor que nos fazem!”

O Dossiers & Factos tentou, sem sucesso, con-tactar o Conselho Munici-pal de Maputo para escla-recer o caso.

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21DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021

Os mambinhas sub-20 já fi-zeram história ao se tornarem na primeira selecção nacional de fu-tebol a conquistar uma prova in-ternacional, no caso a taça COSA-FA da categoria, em Dezembro do ano passado. A qualificação para o CAN SUB-20 também é inédi-ta na história do futebol nacional. Agora, os comandados de Dário Monteiro seguem para Mauritâ-nia para espreitar por mais uma oportunidade de engrossar a sua lista de feitos gloriosos.

No seu primeiro jogo de sem-pre no certame, na capital Nou-akchott, os mambinhas terão pela frente a selecção de Uganda,

Quando faltam menos de duas semanas para a estreia no

Campeonato Africano das Nações (CAN) da catego-ria sub-20, os mambinhas intensificam a sua prepa-ração com um só pensa-mento na cabeça: a vitória. Os pupilos de Dário Mon-teiro entram em cena ante a sua congénere ugandesa. A prova será disputada na Mauritânia, que também integra, juntamente com os Camarões, o grupo de Moçambique.

Mambinhas só pensam na vitória no jogo de estreia

DESPORTO

aquela que é vista como a menos forte do grupo A, o que, associado ao facto de os outros adversários serem os temíveis Camarões e anfitriã Mauritânia, confere obri-

gatoriedade de se começar com o pé direito.

Depois de Uganda, seguir-se--á o conjunto que acolhe a prova. Apesar de não poder contar com

o empurrão do décimo segundo jogador – os adeptos – a Mauri-tânia leva, pelo menos em teoria, alguma vantagem, pelo facto de dominar as condições meteoroló-gicas e dos próprios recintos.

Ainda a contar para o grupo “A” e, e desta feita para a última partida, a equipa nacional terá pela frente a “perigosa” selecção dos Camarões, que, entretanto, é a única repetente do grupo e, por sinal, vencedora do troféu no dis-tante ano de 1995. É que, a seme-lhança de Moçambique, também Uganda e Mauritânia vão disputar a prova pela primeira vez.

Acredita-se que Moçambique não terá a vida facilitada, contudo, os jogadores e a equipa técnica co-mandada por Dário Monteiro tra-balham e têm treinado duro para não tombar nos dias de combate.

Só para citar alguns exemplos, para além dos treinos normais com a equipa, Dário Monteiro fez alguns jogos de controlo com equipas nacionais (Associação Black Bulls e União Desportiva de Songo), para tirar algumas ilações a respeito do grupo de trabalho e conferir algum ritmo competitivo

aos atletas. Recorde-se que o CAN da

Mauritânia qualifica quatro selec-ções ao campeonato do mundo da categoria, prova que terá lugar em 2023. Ou seja, as semi-finalistas desta edição do CAN garantem o passaporte ao mundial de sub-20, em representação do continen-te africano. Os pupilos de Dário Monteiro não escondem o desejo de chegar ao mundial e garantem que tudo farão para concretizá-lo. Ainda na semana passada, e num encontro com o governador da Província de Maputo, Júlio Par-ruque, o capitão dos mabinhas foi arrojado e prometeu mesmo o tí-tulo. O CAN Sub-20 vai decorrer de 14 de Fevereiro a 4 de Março, na Mauritânia.

Eis a composição dos grupos do CAN:

Grupo A: Mauritânia, Cama-rões, Uganda e Moçambique

Grupo B: Burquina Faso, Tu-nísia, Namíbia e República Cen-tro Africana

Grupo C: Gana, Tanzânia, Gâmbia e Marrocos

Mambinhas estreiam-se na prova no dia 15 do corrente mês

Dário Monteiro conferiu jogos de treino aos Mambinhas para dar mais rodagem

Texto: Arão NualaneD&F

CAN SUB-20

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SEGUNDA-FEIRA01 de Fevereiro de 2021

DossiersFactos&22 ALVOS & HUMORADAS

A TERRA E OS HOMENS FOTOS: DE ALBINO MAHUMANA

Nossa bandeira, nosso símbolo da unidade

Vespas “ajudam” polícia a prender fugitivo na Alemanha

Um fugitivo da polícia foi preso na A l e m a n h a

graças a um enxame de vespas. A polícia de Ol-denburg disse que o in-cidente ocorreu quando

policiais tentavam pren-der um homem de 32 anos condenado a 11 meses de custódia.

O suspeito fugiu da polí-cia pulando de uma varan-da, mas acabou caindo em um vespeiro.

Os insetos o atacaram, obrigando o homem a cor-rer para a rua. A policia também foi atacada.

O suspeito acabou pulan-do em uma piscina inflável para escapar das vespas, onde acabou sendo preso.

DossiersFactos& HUMORADAS

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23DossiersFactos& SEGUNDA-FEIRA

01 de Fevereiro de 2021CULTURA

Calou-se Calane, mas as obras falam

O mundo da cultura e o país em geral ainda se tentavam recuperar da morte de Bang, um proe-minente impulsionador da música jovem mo-çambicana, mas o destino decidiu interromper esse processo, desferindo mais um soco no estômago do mundo artístico. Na tar-de da última terça-feira (29 de Janeiro), irrompeu a notícia dando conta da morte de Raul Alves Ca-lane da Silva – Calane da Silva nos corredores da literatura.

Nascido a 20 de Outu-bro de 1945, em Lourenço Marques, o escritor dei-xou sua última linha no livro da vida aos 75 anos de idade, vítima deste de-mónio que nos ensombra a todos: a covid-19. Ca-lou-se a voz do também poeta e declamador (tem um disco editado), mas as obras são perenes e falam por si.

Figura mutidimensional

Nos planos intelectual e de criaçãoo, Calane da

O ano de 2021 começou com expectativas bastante opti-

mistas, até porque quase todos acreditavam que dicilmente algum ano se-ria pior que 2020. Mas o início menos bom – mar-cado pelo aumento dos casos de covid-19 e morte de ilustres figuras da nos-sa praça – quase que nos obriga a rever em baixa as nossas expectativas. Na útima sexta-feira, a arte e a comunicaçãoo sofreram mais um duro golpe, a morte do escritor Calane da Silva.

Silva foi exímio, confor-me se pode depreender do seu rico percuso. A sua vasta e riquíssima obra literária conferiu-lhe um lugar na casta dos maio-res cérebros das letras em Moçambique. Entre os seus livros, destacam-se “Dos meninos da Malan-ga”, de 1981 e “Xindarinha na Lenha do Mundo”, de 1987.

Em 2010 conquistou o Prémio José Craveri-nha, que é, porventura, a maior certificaçãoo de qualidade que se pode receber no contexto da literarura moçambica-na. É certo que os livros deram-lhe uma dimensão maior, mas Calane da Sil-va exerceu, também com notável qualidade, as fun-ções de ensaita e jornalis-ta, tendo colaborado com contos na “Gazeta Artes e Letras” da revista “Tem-po”, de que foi coordena-dor. Em 1997, foi chefe

da redacção da Televisão Experimental de Moçam-bique, actual Televisão de Moçambique (TVM). O mesmo cargo exerceu du-tante extensos 23 anos no jornal notícias.

Tmbém foi docente no Centro de Línguas da Universidade Pedagógi-ca, em Maputo. Calane da Silva fez os seus estudos superiores em Portugal. Foi na Universidade do Porto que fez o mestrado e o doutoramenteo em linguística portuguesa. Para a sua dissertação, de-cidiu imortalizar o nome de José Craverinha, apre-sentando o tema “as es-colhas lexicais bantus, os neologismos luso-rongas e a sua função estilística e estético-nacionalista nas obras Xigubo e Karinga-na wa Karingana de José Craveirinha”

Foi membro fundador da Associação Moçam-bicana da Lingua Portu-

guesa (AMOLP), da Or-ganização Nacional dos Jornalistas (actual Sindi-cado dos Jornalistas) e do Instituto Internacional da

Dama do Bling, cantora

“Quando criança e ainda na escola primá-ria, a obra de Calane da Silva fez parte da minha educação.

E tive a honra de ter o Calane no lançamento da minha segunda obra literária - Melissa e o Arco Iris. Esta obra tem a assinatura do Mia Cou-to no prefácio mas foi o grande Calane que fez a introdução e apresenta-ção. Era tão prazeroso quando alguém como o Calane te chamava pelo nome tipo éramos “ami-gos “ de longa data. Des-cansa em Paz Calane, a tua missão na terra foi cumprida”

Salimo Abdula, empresário

“Ainda haverá Xi-candarinha na lenha do mundo. É isto que nos liga Calane da Silva, no seu belíssimo texto. Na hora do adeus, só consi-go dizer "obrigado Cala-ne pelas histórias lindas, pelas crônicas jornalísti-cas e lição de vida".

Língua Portuguesa (IILP).

As homenagens de todas as esferas

Ninguém ficou indife-rente à morte de Calane da Silva. Logo que a no-tícia se espalhou, diversas figuras manifestaram sua consternação nas redes sociais, mas, acima de tudo, deixaram a certeza de que o legado do mul-tifacetado intelectual será eterno.

Calane da Silva também fazia “incuesões pelo teatro e pelo cinema”

Texto: Amad CandaD&F

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GARGANTA FUNDA DossiersFactos&

MPLA vai a eleições de 2022 mais fragilizado do que nunca

O analista Ricardo Soares de Oli-veira considera que o MPLA

vai concorrer às eleições de 2022 particularmente fra-gilizado, já que João Lou-renço não tem beneficiado da luta contra a corrupção em termos de popularida-de, mas sobretudo por que "as pessoas do eduardismo continuam a navegar no mar lourencista", escreve o “Notícias Minuto ao Minu-to.

Para o especialista em política africana e autor do livro "Angola, Magnífica e Miserável", o presidente angolano e líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) "continua a ter à sua volta pessoas muito implicadas no saque pré-2017" (altura em que substituiu o anterior presidente, José Eduardo dos Santos), fragilizando o combate à corrupção.

"João Lourenço não tem colhido muita popularidade da sua luta contra a corrupção. As pessoas têm noção de que o que está em jogo é mais uma vingança pessoal, ou política,

Vodacom e o excesso de velocidade

Garganta não usa internet da vodacom há alguns meses. Não aguentou com a pedalada, com a velocidade com que os dados daquela operadora de telefonia móvel acabam. Só que, na semana passada,

do que uma limpeza estrutural", escreve o Minuto ao Minuto, salientando que o analista fazia alusão aos processos judiciais contra familiares do ex-presidente, em particular a filha, Isabel dos Santos.

Ainda de acordo com o Minuto ao Minuto, citando Oliveira, há uma concentração das sanções mais duras contra a família do ex-presidente, adiantando que, embora a luta contra a corrupção em Angola vise sobretudo pessoas associadas ao anterior regime, nem todas estão a ser incomodadas.

"O domínio judicial em Angola

não é inteiramente independente do poder político e a apreciação generalizada é de que é uma luta política”, considera o investigador, defendendo que João Lourenço não recolheu muitos frutos da "ofensiva" internacional contra Isabel dos Santos, após rebentar o escândalo "Luanda Leaks".

Segundo a fonte que temos vindo a referenciar, a desconfiança da opinião pública face aos verdadeiros objectivos da luta anticorrupção de João aprofundou-se ao longo de 2020, ensombrando até algum do mérito do presidente angolano que trouxe

Garganta ponderou seriamente voltar à casa vermelha, e, antes de tomar a decisão final, resolveu se informar junto dos fiéis, a ver se valia a pena ou “a pele”. “Hiii, vodacom já está a exagerar”, foi a primeira reacção que Garganta obteve. Não satisfeito, dirigiu-se a

um outro cliente, afinal é importante ouvir uma segunda opinião. Mas este foi mais cáustico: “Meu irmão, depois de comprar megas, activa modo voo”. Garganta ficou desmoralizado e percebeu que o povo continua “sem domínio dos celulares”, como explicara em tempos

um gestor da vodacom, quando questionado sobre o porquê dos megabytes daquela operadora acabarem sem terem funcionado. De resto, a rapidez com que os megas desaparecem, na vodacom, é de dar inveja a qualquer Usain Bolt ou Lewis Hamilton. D e f i n i t i v a m e n t e , Garganta não aguentará com a velocidade. Aos fiéis que estejam a sentir dificuldades para acompanhar o ritmo, Garganta dá a mesma dica que lhe foi dada: modo voo.

Locutores, de onde são vocês?

Garganta começa a duvidar da moçambicanidade dos locutores instalados nas cabines das nossas estações de rádio. Vontade de propor uma recolha compulsiva de

BI’s e distribuição de DIRE’s (Documento de Identificação de Residentes Estrangeiros) não lhe falta. É que não podem ser moçambicanos os que nos entulham, e com aparente orgulho, de música estrangeira todos os dias. A avaliar pela origem dos pratos que nos servem, serão angolanos, sul-africanos e americanos a cumprirem agendas diplomático-culturais na Pérola do Índico, mas nunca moçambicanos. Garganta não consegue mais engolir esta salada musical estrangeira sem tempero. Pede-se mais da nossa rica gastronomia musical, mas isso vocês parecem capazes de oferecer, nem? Então abram espaços para quem pode. Abram espaço para os MOÇAMBICANOS DE GEMA (in dicionário patriótico de Guebuza).

DIZ ANALISTA

o tema que até 2017 era tabu para o centro da vida política angolana.

Por outro lado, João Lourenço, ao convergir com os críticos que, historicamente, atribuíram à corrupção um papel fundamental no percurso do MPLA, compromete o próprio partido.

O Minuto ao Minuto escreve também que, para o académico e docente do departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford, "é um pau de dois bicos, revela maturidade e lucidez por parte

do Presidente ao confrontar esse legado da corrupção, mas também o coloca numa situação difícil, pois o partido responsável por essa má governação e pelos resultados decepcionantes da época de ouro em que Angola recebeu receitas petrolíferas extraordinárias é o mesmo partido que está no poder, são as mesmas pessoas”

Por outro lado, o Presidente não foi capaz de inverter a dinâmica de declínio económico e enfrenta questões externas como a pandemia de covid-19.

João Lourenço, actual Presidente de Angola