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Fora do Caminho da Graça em Cristo, não há caminho a ser feito! www.caiofabio.com | www.vemevetv.com.br Espírito Santo: O Deus que vive em Nós Caio Fábio D’Araújo Filho CLC Editora Caixa Postal 700 12201 S. José dos Campos (SP)

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Espírito Santo:

O Deus que vive em Nós

Caio Fábio D’Araújo Filho

CLC – Editora Caixa Postal 700

12201 S. José dos Campos (SP)

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Í N D I C E

I − Quem é o Espírito Santo? 11

1. O Espírito Santo é Deus 12

2. O Espírito Santo é Uma Pessoa 15

II − Como Age o Espírito Santo? 21

1. O Espírito Santo em Relação a Jesus 21

2. O Espírito Santo em Relação à Palavra 23

3. O Espírito Santo em Relação ao Mundo 25

4. O Espírito Santo em Relação ao Crente 27

5. O Espírito Santo em Relação à Igreja 33

III − Plenitude do Espírito Santo 37

1. A Plenitude do Espírito Como Experiência de Crise 39

2. A Plenitude do Espírito Como Processo na Vida 42

3. Os Sete Princípios Sobre Como Obter a Plenitude do Espírito 44

Diálogo e Comunhão 44

Nutrição do Amor 45

Ecumenicidade 46

O Ciclo de Efésios 47

Sofrimento e Perseguição 52

A Vida de Oração 54

A Palavra 55

Sinais da Plenitude 57

IV − O Batismo Com o Espírito Santo 59

1. Atos Não Serve à Teologia Sistemática 61

2. Teologia Sistemática, Somente nas Cartas Doutrinárias 62

3. O Batismo Com o Espírito Santo Conforme o Novo Testamento 63

4. Justificativas Quanto à Afirmação Pentecostal de Ser o Batismo

Com o Espírito Santo Uma Segunda Bênção 63

5. Por Que Afirmo Que o Batismo Com o Espírito Santo

é a Conversão? 74

V − Os Dons do Espírito Santo São Para Hoje? 85

1. Argumentos Contestadores à Movimentação Acerca do

Espírito Santo 86

2. O Que Aconteceu aos Dons Espirituais Entre os Anos 400 e 1700 91

3. Os Dons Existem e São Para Hoje 93

VI − Distinguindo os Dons do Espírito 97

1. O Dom de Contribuir 98

2. O Dom de Governo 99

3. O Dom do Socorro 100

4. O Dom de Administração 100

5. O Dom de Misericórdia 101

6. O Dom de Sabedoria 102

7. O Dom de Conhecimento 103

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8. O Dom de Fé 104

9. O Dom de Cura 105

10. O Dom de Operar Milagres 107

11. O Dom de Discernimento de Espíritos 107

12. O Dom de Línguas 109

13. O Dom de Interpretação 112

14. O Dom de Apostolado 113

15. O Dom de Evangelista 115

16. O Dom de Pastor 116

17. O Dom de Solteiro ou de Celibato 117

18. O Dom de Pobreza Voluntária 118

19. O Dom de Martírio 118

20. O Dom de Profecia 119

21. O Dom de Mistério 121

22. O Dom de Ensino 122

23. O Dom de Exortação 122

24. O Dom de Hospitalidade 123

25. O Dom de Missionário 124

VII − Obstáculos ao Funcionamento dos Dons no Corpo de Cristo 125

1. Vencendo os Obstáculos Através de Uma Visão Equilibrada 128

2. A Que Nos Conduz o Equilíbrio? 130

VIII − Como Descobrir Seus Dons Espirituais 133

1. Dom de Apóstolo 133

2. Dom de Profeta 135

3. Dom de Evangelista 136

4. Dom de Pastor-Mestre 140

5. Dom de Operação de Milagre e Cura 142

6. Dom de Socorro 144

7. Dom de Governo, Administração 144

IX − Mutualidade dos Dons no Corpo de Cristo 147

1. Mandamentos de Mutualidade Referentes ao Amor Cristão 149

2. Mandamentos da Mutualidade Referentes ao Serviço 153

3. Comunhão Espiritual Entre Irmãos 157

4. Mandamentos da Mutualidade Relacionados ao Uso da Língua 161

X − Fluxo e Refluxo do Espírito Santo no Homem Interior 167

1. Benção do Fluxo e do Refluxo no Nosso Homem Interior 170

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D A D O S O B R E O A U T O R

Rev. Caio Fábio D‟Araújo Filho

Amazonense, casado, quatro filhos. Converteu-se ao evangelho em junho de 1973.

O encontro com Jesus Cristo revolucionou a sua existência, resgatando-o de um viver

desesperado, e transformando-o num apaixonado pregador do evangelho.

Em 1974 iniciou seu ministério de TV através do programa “Jesus, Esperança das Gerações”,

que após três anos passou a se chamar “Pare e Pense”, hoje transmitido pela Rede Bandeirantes de

Televisão. Este ministério se expande agora com o Projeto VINDESAT.

Em janeiro de 1977 foi ordenado pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, à qual pertence.

Fundou a VINDE − Visão Nacional de Evangelização, missão que preside desde 1978, e que tem

servido de apoio ao seu ministério de evangelização.

Tem realizado cruzadas em todo o Brasil e no exterior.

Conferencista, tem participado como palestrante convidado de eventos de alcance mundial na

Europa, União Soviética, América Latina e Estados Unidos. Além de evangelista e conferencista,

dedica-se com entusiasmo a produzir livros, que muito têm contribuído para a edificação da Igreja

Evangélica do Brasil. Traduzidos vários deles ao espanhol, alcançam já a América Latina e a

América do Norte, tendo sido publicados, até outubro de 1988, 21 títulos, dos quais 7 estão em

processo de distribuição em países de língua espanhola.

Foi evangelista do Presbitério de Manaus (74-76), pastor da Igreja Presbiteriana Central de

Manaus (77-80) e pastor da Igreja Presbiteriana Betânia, em Niterói (81-84). É membro da

Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Comissão Presbiteriana de Evangelização, como

também presidente da VINDE − Visão Nacional de Evangelização, entidade interdenominacional

que presta serviços às igrejas evangélicas na área de reflexão teológica, cruzadas de evangelização

pelo Brasil e exterior, atuando também na produção de programas de televisão.

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P R E F Á C I O

O presente texto é resultado de uma série de palestras sobre o tema “Espírito Santo”, que realizei

no ano de 1982.

Naquele tempo eu era pastor titular da Igreja Presbiteriana Betânia, em Niterói, e sentia, no dia-

a-dia da minha existência pastoral, como a temática do Espírito Santo era mais que uma doutrina ou

um fato abençoador na vida de muitos daqueles irmãos e irmãs. Na realidade este assunto constituía

para eles um elemento doutrinário altamente perturbador. Prova disso é que quase todas as semanas

eu era abordado por pessoas que traziam consigo frustrações, perplexidades e até enfermidades

emocionais pelo fato de terem tido algum tipo de má-relação com grupos chamados carismáticos.

Ora, como pastor, o que muito me perturbava era a constatação de que elas acabavam, além de

enfermas, um tanto cínicas com respeito ao genuíno poder do Espírito de Deus. Também havia

aqueles que não criam nas ações contemporâneas do Espírito, atribuindo quase sempre tais maus-

contatos espirituais ao fato de o Espírito já não estar em ação em nossos dias, razão por que as

chamadas experiências com ele não passavam de meras experiências psicológicas, sendo vivenciadas

com todos os riscos que tais relações trazem em si mesmas.

No entanto, como estava e estou convencido de que não há má-relação com o Espírito, o que

sobrava para mim a nível de conclusão era a dedução de que tais pessoas haviam se relacionado com

uma mera caricatura do Espírito. Eu não negava que houvessem tido alguma experiência com o

Espírito. No entanto estava convencido de que a saúde de nossas relações ─ tanto com os homens

como Deus ─ depende fundamentalmente do modo como entendemos a pessoa com a qual nos

relacionamos. Assim, uma criatura maravilhosa pode se tornar num elemento de promoção de

enfermidade emocional, se aquele que lhe devota tal amizade é alguém que a encara numa

perspectiva errada, distorcida. Foi por isso que resolvi entregar-me a estes estudos, que lhe chegam

agora às mãos na forma de livros. Minha intenção era traçar alguns perfis que pudessem orientar

aqueles irmãos no seu discernimento de experiências carismáticas.

Alguns autores foram minhas fontes originais de inspiração ou confirmação de pensamento.

Entre eles destaco especialmente John Stott (“O Batismo e a Plenitude do Espírito Santo”) e Michael

Green (“Creo en el Espíritu Santo”, livro ainda não traduzido para o

português). Além desses, houve ainda dezenas de pequenos textos que no curso de minha vida têm

não só me influenciado como constituído fontes de inspiração. Digo tudo isso a fim de deixar bem

claro que as idéias aqui defendidas não são originais. Original é apenas a maneira de dizê-las, ou

seja, meu modo particular de dizer coisas. Além disso, fiz tal tentativa, substanciando o livro, tanto

quanto possível, em minhas próprias experiências a fim de tornar evidente que não estou tratando de

algo a cujo respeito simplesmente ouvi falar, mas referindo-me a coisas que não só tenho

experimentado, como inclusive encontrado vasta fundamentação bíblica.

Por ser este um livro cheio de ilustrações relacionadas também à minha própria vida, acredito

que me trará alguns problemas. Primeiro, porque alguns amados irmãos de teologia bastante

reformada poderão afirmar que fui longe demais na questão dos “dons espirituais”. Certamente

muitos ficarão chocados com minhas opiniões pessoais nesta área. Por outro lado, alguns amados

irmãos de teologia pentecostal talvez digam que andei para trás no que se refere à minha persuasão

do que seja “batismo com o Espírito Santo”. Isso porque minhas idéias sobre a contemporaneidade

dos dons espirituais podem ser entendidas como excessivamente carismática, para o sofisticado

sabor dos mais tradicionais. Por outro lado, minhas convicções sobre o que seja batismo com o

Espírito Santo serão certamente entendidas como excessivamente moderadas e decepcionantes, para

o gosto mais picante da fé pentecostal.

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Preferi no entanto correr o risco de ser julgado dessa forma, porque estou convencido de que

apesar dos riscos e das inevitáveis cons que tais “julgamentos” humanos trazem, haverá um grupo

imenso de irmãos e irmãs que se identificarão com a posição aqui advogada. Esses são aqueles que

conhecem suficientemente a Bíblia e o Espírito Santo, a ponto de não se atreverem, a afirmar que ele

limitou e circunscreveu seu exuberante poder aos dias apostólicos. Esses mesmos também são

suficientemente aferrados à compreensão a respeito da imensurável graça de Deus a ponto de se

recusarem a aceitar que ele se haja restringido a certas expressões temperamentais ou religioso-

evangélico-pentecostal-culturais. Em outras palavras: eles crêem que o Espírito age ainda hoje e age

como quer e de diferentes modos em diferentes grupos.

Como membro de uma igreja de teologia chamada tradicional, sinto-me perfeitamente à vontade

para dizer que muitas vezes, em nossas teologias, reservamos um lugarzinho para o Espírito Santo,

sendo amiúde nossa intenção muito mais não ofender o Espírito, através de nosso silêncio a seu

respeito, do que realmente conhecê-lo e conviver com ele de forma consciente e profunda.

Finalmente, quando você já se prepara para dar início à leitura deste livro, faço-lhe dois pedidos.

O primeiro é que o leia com coração de ouvinte. Afinal de contas, o texto foi transcrito de sua forma

falada, sendo, portanto, natural que nele apareçam muitas das maneiras usuais desse tipo de

comunicação. O segundo pedido é que você tente não ser “reformado” ou “pentecostal” em sua

leitura, mas exclusivamente cristão ─ em harmonia com a beleza e a simplicidade neotestamentária

do que significava ser um cristão nos primórdios da fé. Dessa forma você irá perceber que não

obstante simples e teologicamente leve, pelo menos do ponto de vista dos mais exigentes na matéria,

ele irá fazer um grande sentido com a Bíblia e com o bom-senso com os quais a ação de Deus deve

ser interpretada na História.

Rev. Caio Fábio D‟Araújo Filho

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Capítulo I

QUEM É

O ESPÍRITO SANTO?

Seguramente o Espírito Santo é a pessoa da Trindade que menos atenção tem recebido no curso

da história da Igreja, bem como por parte dos teólogos nestes dois mil anos de reflexão teológica.

Muito se fala sobre Deus o Pai e como ele age. Também a Cristologia (doutrinas relacionadas à

obra de Cristo) tem recebido atenção especial, e a tal ponto que muitas vezes nem sabemos que fazer

com tantas teologias a respeito da natureza e da obra de Jesus. Quanto ao Espírito Santo, aparece em

doutrinas mofadas nos pesados livros de teologia sistemática, os quais muito raramente o povo de

Deus abre e folheia; só mesmo os teólogos mais meticulosos o fazem.

Há também um elemento imensamente contraditório relacionado à doutrina do Espírito Santo.

Isso porque não obstante ele seja a Pessoa mais gregária por excelência na Trindade ─ ele é o

supremo edificador, agindo na perspectiva da promoção da Unidade desde a dimensão da matéria

física (da qual é o sustentador) até a vida espiritual da Igreja (da qual é o unificador) ─, sua doutrina

tem sido pomo da discórdia, o elemento mais significantemente divisor da Igreja de Cristo no curso

da história. No entanto, mesmo essa história ─ tão dividida em nome daquele que veio para unir ─

não nos permite negar-lhe a realidade de que o Espírito Santo tem agido.

O Espírito também tem sido objeto de compreensões cristãs a mais variadas, na maioria das

vezes má compreensão. Pois é essa má compreensão acerca do Espírito Santo que ora faz dele um

mero agente especial em pequenas reuniões de oração carismática, ora transforma em “energia” de

Deus, uma espécie de força santa que age em nosso favor. Por outro lado, é comum acontecer de não

o conseguirmos relacionar de modo claro, específico, a uma pessoa que sente. A maioria de nós não

pensa nele como Pessoa e como Deus.

Então quem é, de fato, o Espírito Santo? Antes de mais nada faço esta afirmação categórica ─

que aliás talvez à grande maioria pareça redundante: O Espírito Santo é Deus. Ele não é uma

emanação secundária da divindade, como pensava o presbítero Ário, de Alexandria, aí por volta do

ano 300. Ário propagara a doutrina de que Deus, o Pai, criara Jesus Cristo, o Filho, e o Filho criara o

Espírito Santo e o enviara à Terra. Essa doutrina ganhou algum espaço na Igreja Cristã, até que no

ano 325, o credo niceno estabeleceu que Deus-Pai, Filho e Espírito Santo, são igualmente Deus; ou

seja, um só Deus em três pessoas.

Podemos afirmar que o Espírito Santo é Deus em razão de alguns elementos básicos

significativos que estabelecem esta sua caracterização.

O ESPÍRITO SANTO É DEUS

1. O Espírito Santo é Deus porque Sua natureza é divina; e a natureza básica essencial da

divindade é espírito. Em João 4:24 Jesus fala sobre a natureza essencial de Deus, e afirma que Deus

é espírito. Ora, se Deus é espírito, e o Espírito Santo é o espírito de Deus, e consequentemente tem a

mesma natureza divina, resta-nos afirmar que ele é da mesma substância essencial da divindade.

2. Ele é Deus porque estava presente na criação quando tirou as coisas do nada, do vazio, e do

vazio fez o cosmos. É o que diz Gênesis 1:1-2. No princípio “criou Deus”, diz o v. 1 de Gênesis cap.

1. “Criou” vem do verbo hebraico bara, que significa “tirar do nada”. O texto de Gênesis poderia

então ser lido assim: “No princípio tirou Deus do nada os céus e a Terra. A Terra, porém, era sem

forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”.

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3. Ele é o mantenedor da vida, por isso é Deus. Em Jó 34:14 e 15 encontramos uma das mais

belas e significativas afirmações bíblicas a esse respeito: “Se Deus pensasse apenas em si mesmo e

para si recolhesse o seu Espírito e o seu sopro, toda carne juntamente expiraria e o homem voltaria

ao pó”. O que o texto está dizendo é que quem energiza, quem sustenta toda vida, os corações

latejando, o sangue correndo; quem preserva a fotossíntese dos vegetais; enfim que mantém vivo

tudo que tem vida é o Espírito de Deus.

No Salmo 104 encontramos também a mesma afirmação de que o Espírito Santo é o mantenedor

da vida. Confirme isto lendo o trecho entre os v.5 e 30:

“Lançaste os fundamentos da Terra, para que não vacile em tempo nenhum. Tomaste o abismo

por vestuário e o cobriste; as águas ficaram acima das montanhas; à tua repreensão fugiram, à voz do

teu trovão bateram em retirada. Elevaram-se os montes, desceram os vales, até o lugar que lhes

havias preparado. Puseste às águas divisa que não ultrapassarão, para que não tornem a cobrir a

Terra. Tu fazes rebentar fontes no vale, cujas águas correm entre os montes; dão de beber a todos os

animais do campo; os jumentos selvagens matam a sua sede. Junto delas têm as aves do céu o seu

pouso e, por entre a ramagem, desferem o seu canto. Do alto da tua morada regas os montes; a terra

farta-se do fruto de tuas obras. Fazes crescer a relva para os animais, e as plantas para o serviço do

homem, de sorte que da terra tire o seu pão; o vinho, que alegra o coração do homem, o azeite que

lhe dá brilho ao rosto, e o pão que lhe sustém as forças. Avigoram-se as árvores do Senhor, e os

cedros do Líbano que ele plantou, em que as aves fazem seus ninhos; quanto à cegonha, a sua casa é

nos ciprestes. Os altos montes são das cabras montesinhas, e as rochas o refúgio dos arganazes. Fez a

lua para marcar o tempo: o sol conhece a hora do seu ocaso. Dispõe as trevas, e vem a noite, na qual

vagueiam os animais da selva. Os leõezinhos rugem pela presa, e buscam de Deus o sustento; em

vindo o sol, eles se recolhem e se acomodam nos seus covis. Sai o homem para o seu trabalho, e para

o seu encargo até a tarde”.

E assim o salmista vai passo a passo descrevendo a criação magnificente e grandiosa de Deus,

até declarar: “Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a

Terra das tuas riquezas. Eis o mar, vasto imenso, no qual se movem seres sem conta, animais

pequenos e grandes. Por ele transitam os navios, e o monstro marinho que formaste para nele folgar.

Todos eles esperam em ti, que lhes dês de comer a seu tempo. Se lhes dás, eles o recolhem; se abres

a mão, eles se fartam de bens. Se ocultas o teu rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração,

morrem, e voltam ao seu pó. Envias o teu Espírito; eles são criados e assim renovas a face da terra”.

Esse texto afirma que o Espírito Santo continua atuando hoje na perspectiva de renovação da

natureza e do cosmos. Deus não apenas criou, mas continua mantendo, renovando e criando dentro

da criação. O texto se refere, pois, à preservação da vida, dizendo que Deus prossegue mantendo-a

através do envio do seu Espírito (v.30). Dessa forma poderíamos dizer que vivemos numa Natureza

Carismática. Ou seja, poderíamos ver na chegada da primavera uma manifestação de uma espécie de

pentecoste natural, uma explosão de graça, uma tremenda renovação da vida, um testemunho da

permanente possibilidade de avivamento. Vendo a vida por essa perspectiva, o Cosmos se torna um

grande sacramento. O Espírito Santo é uma entidade confinada e guetos carismáticos e aposentos

escuros. Ele trabalha em todo o cosmos!

4. Ele é Deus porque é chamado Deus da Bíblia. Em atos 5:3 e 4, passagem que narra o caso da

mentira de Ananias e Safira, bem como o juízo que Deus trouxe sobre eles, observe a palavra de

Pedro: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração para que mentisses ao Espírito Santo?” E

conclui: “Não mentiste aos homens, mas a Deus”. O que Pedro diz é que mentir ao Espírito Santo é

o mesmo que mentir a Deus.

Ele é deus, pois é chamado de Senhor. II Coríntios 3 faz esta afirmação no v.17 diz: “Ora, o

Senhor é o Espírito”; e no v. 18 ele diz; todos nós, “contemplando como por espelho a glória do

Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o

Espírito”. Observe que à palavra Senhor segue-se uma vírgula, depois do que está dito: “O Espírito”.

Ou seja; Paulo chama o Espírito de o Senhor.

5. O Espírito Santo é Deus porque possui atributos divinos. Em Hebreus 9:14 o apóstolo diz que

o Espírito possui eternidade, ao chamá-lo de “Espírito eterno”. O Salmo 139:7 e 10 declara que o

Espírito Santo possui onipresença, pois é capaz de estar a um só tempo em todo lugar. O salmista

indaga: “... para onde fugirei da tua face? Para onde me ausentarei do teu Espírito? Se subo aos céus,

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lá, estás; se faço a minha cama mo mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da

alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão e a tua destra

me susterá. Se eu digo: As trevas, com efeito, me encobrirão, e a luz ao redor de mim se fará noite,

até as próprias trevas não te serão escuras: as trevas e a luz são a mesma coisa”. O Espírito do

Senhor tem onipresença! ─ é o que declara este salmo.

Diz ainda a Bíblia que ele tem onipotência. Lucas 1:35 fala sobre a concepção milagrosa de

Jesus no ventre de Maria quando foi engendrado pelo poder do Espírito Santo, e a sombra do

Altíssimo cobriu Maria. O interessante é que na imediata do texto conclui-se dizendo que “não

haverá impossíveis para nenhuma das promessas do Senhor”, outra vez se criando uma conexão

indissolúvel entre a obra do Espírito Santo (na concepção de Jesus) e a onipotência de Deus (aquele

para quem não há impossíveis).

Também nos é dito, em I Coríntios 1:10 e 11, que o Espírito Santo tem onisciência. “... o Espírito

a todas as coisas perscruta; até mesmo as profundezas de Deus” ─ diz Paulo. Ele sabe tudo. Não

existe mistério algum para ele; nada lhe é oculto; as maiores profundidades da inteligência e da

divindade são inteiramente discernidas por ele.

6. O Espírito Santo é Deus porque possui nomes divinos. Em I Coríntios 3:16 ele é chamado de

Espírito de Deus. Em Isaías 11:2, de “Espírito do Senhor”. Em Isaías 61:1, de “Espírito do Senhor

Deus”. E em II Coríntios 3:3, de “Espírito do Deus vivente”. Lembre que a primeira afirmação que

fiz sobre quem é o Espírito Santo foi que ele é Deus. Para a maioria das pessoas isto pode soar

óbvio. O fato, entretanto, é que não poderíamos tratar dos assuntos aqui relacionados sem primeiro

dizer quem é o Espírito Santo.

O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA

O Espírito Santo é Deus e é também uma Pessoa. Ele não é uma energia impessoal, uma mente

fria, sem personalidade, sem coração. A Bíblia não coloca o Espírito Santo na categoria do Isto, da

Coisa, mas do Tu, da Pessoa. Há no entanto muita confusão a esse respeito, inclusive nos meios

evangélicos. Não que afirmemos teológica e doutrinariamente que ele seja apenas uma Coisa Santa.

Mas a verdade é que nós nos relacionamos muitas vezes com ele, e oramos a ele como se ele não

passasse de uma energia, uma força. Você já observou que as nossas orações, quando relacionadas

ao Espírito, muitas vezes lhe atribuem apenas pode energético? Oramos: “Ò Deus, manda a força do

Espírito, o poder do Espírito, a influência do Espírito...”

De onde virá essa idéia a respeito da impessoalidade do Espírito Santo? A mim me parece que

essa idéia resulta da má compreensão das metáforas que a Bíblia usa para caracterizar, manifestar e

expressar a pessoa do Espírito. Se não vejamos:

Em João 20:20, Jesus associa o Espírito ao fôlego. Jesus aparece aos seus discípulos e os saúda:

“Paz seja nesta casa”. Em seguida sopra e diz: “Recebei o Espírito Santo”. O Espírito aparece pois

associado ao fôlego, ao sopro. Em João 3:6-8 ele o associa ao vento; “O vento [ou pneuma] sopra

onde quer”. E acrescenta: “...não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que nascido

do Espírito”. Dessa maneira volta à nossa mente essa idéia de vento.

Em atos 2:1-3 o Espírito se manifesta como fogo: “... e apareceram distribuídas sobre eles

línguas como de fogo”. Portanto, quando o Espírito se manifestou no dia de Pentecoste, o elemento

que ele escolheu para expressar a si mesmo foi o fogo. O próprio João Batista já havia dito que o

batismo do Espírito Santo seria também batismo com fogo: “Aquele que vem após mim vos batizará

com Espírito Santo e com fogo”.

Ora, tudo isso me traz à memória uma singela história vivida por mim e Ciro, meu mais velho.

Na ocasião ele tinha uns três anos, e mostrava muita curiosidade por alguns assuntos de teologia.

Um dia ele me perguntou:

─ Papai, Deus sabe tudo?

─ Sabe! ─ respondi.

─ Se ele sabia de tudo, por que então criou Adão, se sabia que Adão ia pecar, papai?

─ Meu filho ─ esclareci ─, eu pensei nisso pela primeira vez aos 13 anos. Você pensou 10 anos

antes de mim...

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E tentei explicar como pude. Uns dois ou três dias depois, eu estava em casa, à tarde. Ventava

demais. Ele vinha chegando do quintal, cansado, suadinho, com o rosto cheio de terra.

─ Papai, eu queria ser cheio do Espírito Santo. Como é que faço?

O que é o Espírito Santo?

Eu não sabia como explicar e como poderia me fazer entender.

Fui para o quintal com ele. Nosso quintal era muito arborizado; ventava muito. O cabelo de Ciro, um

pouco grande, começou a se agitar.

─ Você está sentindo esse vento em nossa direção? ─ perguntei.

─ Estou.

─ Pense como seria se este vento tivesse a capacidade de amar, de sentir, de saber tudo, de estar

em todo lugar, de morar no seu coração.

Ele estava olhando para mim, atento e curioso. Então acrescentei:

─ O Espírito Santo é como esse vento. Com a diferença de que é um vento que ama; é uma

“pessoa”.

Ele pensou, respirou fundo, e disse:

─ Ah, papai, eu quero ficar cheio do Espírito Santo.

Ora, estou desejando aproveitar essa memória daquela minha conversa com o Ciro para dizer a

você a mesma coisa: O Espírito Santo é Energia, é Força, é Poder, mas é sobretudo Pessoa.

Vejamos as razões por que afirmamos que o Espírito Santo é uma Pessoa.

1. O Espírito Santo é pessoa porque pode entristecer-se. Em Efésios 4:30, Paulo diz: “E não

entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção”. O Espírito Santo é

uma pessoa capaz da tristeza, da dor e do sofrimento. Ele sofre quando eu peco, quando você peca.

Ele vive em nós, e se entristece com as manifestações do nosso pecado.

2. O Espírito Santo é pessoa porque é capaz de sentir ciúmes. É Tiago que nos diz isto quando

afirma:

“Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser

ser amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus. Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É

com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (Tg. 4:4,5).

Quando traímos a Deus através dos nossos pecados, ambiguidades, contradições negações da fé,

amasiamentos com o mundo, o Espírito de Deus sente ciúmes, como o marido, quando a mulher

adultera, e vice-versa. Ele sente ciúmes do adultério moral (impureza) espiritual (idolatria),

econômico (amor ao dinheiro), político (paixão e esperanças políticas mais acentuadas em relação ao

programa humano que ao Reino de Deus). O Espírito não é simplesmente alguém que entra em nós

de vez em quando e depois sai. Ele vem e fica. Além disso, ele não está presente apenas para

energizar-nos a vida. Não: ele é uma Pessoa com a qual mantemos relações pessoais. E é o marido

da nossa alma e da nossa consciência.

3. O Espírito Santo é uma pessoa porque pode gemer de dor empática, é capaz de sentir

conosco as agonias da nossa existência. Este talvez seja o aspecto mais existencial da ação do

Espírito na vida do cristão. Paulo diz:

“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar

como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis. E

aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é

que ele intercede pelos santos” (Rm. 8:26,27).

O Espírito sente dores não apenas em razão de nossos pecados, mas também das nossas dores.

Ele sente não somente as dores que nossos pecados causam nele, mas também as dores que sentimos.

Paulo diz que o Espírito intercede por nós quando a nossa existência está imersa em profunda

fraqueza. O Espírito é aquele que se revolve na nossa interioridade, nos levando a orar. É também

ele que expressa o inexprimível da nossa alma diante de Deus com gemidos inexprimíveis, e faz

orações coadunáveis com a perspectiva do Pai no que diz respeito a responder de acordo com as

nossas necessidades.

Foi por tudo isso que eu disse que provavelmente este seja o elemento mais existencial da ação

do Espírito Santo na vida humana. Jean Paul Sartre afirmou que a vida é angústia. No caso dele era

uma angústia angustiadamente solitária porque não havia ninguém com ele. Não obstante estivesse

repleto de amigos ao redor, estava irremediavelmente sozinho. Mas quando se conhece o Espírito

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Santo, mesmo nos dias mais escuros da alma haverá alguém conosco, gemendo nosso gemido e

orando o inexprimível para o Pai.

4 - O Espírito Santo é pessoa porque tem uma mente que pensa, e pensa de maneira livre! (Rm.

8:27) Paulo fala a respeito da “mente do Espírito”. Ele não é um programado; não é o mecanismo

intercessor da Trindade. Ele não faz apenas aquelas coisas que desde a antiguidade foi determinado

que fizesse. Não é mesmo surpreendente pensar no fato de que essa Pessoa da Trindade, que mora

em nós, tem uma mente, e pensa? E tal poder de pensar acontece simultaneamente ao nosso! O

Espírito que vive em nós é livre para pensar. É por isso que ouso afirmar que todo estado de paz

mental é resultado de uma harmonização entre o nosso pensar e o pensar do Espírito. Quando penso

numa direção diferente daquela na qual o Espírito pensa, então o resultado é angústia e depressão.

5. O Espírito Santo é uma pessoa porque é capaz de ensinar. Em I Coríntios 2:11 e 13, Paulo diz

que o Espírito conhece e perscruta todas as coisas até as profundezas de Deus. No v. 13 está dito que

ele não apenas as conhece e revela, como também as ensina, o que implica o fato de que nos ensina a

pensar. Há sentido e há ordem quando o Espírito fala. Deus não fala com expressões sem sentido. O

Espírito nos ensina a conferir coisa com coisa (I Co. 2:13). Daí a minha certeza de que, quanto mais

sadiamente espiritual uma mente é, mais capaz de reflexão em bom-senso ele será.

6. O Espírito Santo é pessoa porque é capaz de falar. Este é, de acordo com os antropólogos, o

maior sinal de pessoalidade consciente que um ser pode manifestar: o poder de falar. A Bíblia está

repleta de textos que nos afirmam que o Espírito fala. Fala porque é capaz disso. E fala porque faz

isso de modo perceptível e compreensível. O livro de Atos deixa isso muito claro, quando registra

expressões como: “... disse-me o Espírito”, “falou-me o Espírito...”

Em Atos 8:29 lemos: “Então disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro e acompanha-o”.

Em Atos 10:19,20, depois de ter Pedro uma visão, enquanto meditava sobre ela diz-lhe o Espírito:

“Estão aí dois homens que te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles (...)” Ou em Atos 13:2,

onde está escrito: “... disse o Espírito Santo: Separai-me agora o Barnabé e a Saulo para a obra a que

os tenho chamado”.

Vemos que o Espírito não falava apenas no Velho Testamento, aos profetas, mas

neotestamentariamente é descrito como alguém que fala à Igreja. E ele não falava apenas à Igreja no

primeiro século porque o cânon da Escritura ainda não estava terminado. Para os judeus na

antiguidade ─ mesmo considerando que do ponto de vista deles a revelação tinha chegado ao fim ─

o Espírito era livre para continuar se comunicando. Isso porque eles faziam diferença entre o que o

Espírito dizia e deveria ser escrito como Escritura, e o que ele dizia sem finalidade redatorial. É

lamentável que boa parte da Igreja de Cristo no mundo não acredite mais que o Espírito fala. Pois ele

fala quando ilumina a Escritura, mas também fala de acordo com os parâmetros bíblicos. Nem tudo

que o Espírito fala é para ser escrito, mas tudo que ele fala deve ser ouvido.

Uma das máximas do livro de Apocalipse é advertir as igrejas acerca do que o Espírito diz. “O

Espírito diz às igrejas (...)” ─ é o que lemos.

6. O Espírito é pessoa porque tem vontade. Se não,veja o que a esse respeito diz a Escritura.

Talvez a mais importante afirmação seja a de que ele distribui dons segundo seu alvitre, conforme

lhe apraz! Ele tem volição, no sentido divino do termo (I Co. 12:11).

7. O Espírito é uma pessoa porque ama. A esse respeito Paulo diz: “Rogo-vos pelo amor do

Espírito que (...)” (Rm. 15:30). O apóstolo menciona o amor do Espírito num texto cheio de apelo à

solidariedade cristã: “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do

Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor”. Paulo pede que os irmãos

assumam uma espécie de integração de almas para interceder junto com ele, com base no amor do

Espírito. Ora, nesta mesma perspectiva do amor, Neemias chama o Espírito de “o bom Espírito”

(9:20).

O Espírito Santo é realmente uma Pessoa. Ninguém pode entristecer o vento oriental. Ninguém

pode despertar ciúmes no fogo, nem produzir paixão nas águas. Ninguém irrita a lei da gravidade.

Mas ao Espírito é possível entristecer, enciumar, provocar paixão dolorida etc. O Espírito Santo é

força, é poder, e é energia. Entretanto, e antes de tudo, ele é uma Pessoa ─ pessoa que sente, se

entristece, tem ciúmes, geme de dor empática, tem uma mente, conhece, ensina, fala, tem vontade e

ama.

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Capítulo II

COMO AGE

O ESPÍRITO SANTO?

Neste capítulo estudaremos algumas das principais expressões de ação do Espírito Santo. Isso

porque, como vimos no capítulo precedente, o Espírito é pessoa. E tal atributo é a propulsão

essencial para a capacidade de agir com consciência. O Espírito age com base no que sente, pensa,

sofre, ama e deseja. Em outras palavras, suas ações são todas coerentes com seu ser essencial. Neste

capítulo estudaremos cinco das principais relações do Espírito Santo. Começaremos observando o

relacionamento do Espírito com Jesus.

O ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO A JESUS

1. O Espírito foi o agente da fecundação de Jesus “Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder

do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso também o entre santo que há de nascer será

chamado Filho do Altíssimo” (Lc. 1:35). Este é um fato sobejamente conhecido. O milagre do

nascimento de Jesus foi milagre do Espírito. Foi ele quem criou as excepcionais e milagrosas

condições biológicas que permitiram a Maria conceber sem jamais ter tido relação sexual. Assim,

Jesus não foi uma criação de Deus fora da criação, mas também não foi apenas o resultado comum e

natural do ininterrupto processo humano de concepção e transferência ─ via concepção ─ de todos

os nossos legados humanos de corrupção essencial. Jesus nasce de mulher herdando humanidade

total, sem no entanto herdar pecados e corrupção essenciais.

2. Foi o Espírito também quem ungiu Jesus. Jesus, que sumariou o Deus eterno ─ o qual se

encarnou nele, se engendrou nele, porque era Deus ─, foi também ungindo pelo Espírito Santo. É o

que nos diz Lucas 3:22, quando afirma que no batismo de Jesus veio o Espírito em forma corpórea,

como pomba, e pousou sobre ele. Jesus é Deus ungido por Deus como homem, mostrando que nem

Deus no homem quer ser homem sem a unção de Deus. O fato de que Jesus é ungido pelo Espírito

nos mostra que não há possibilidade de se fazer ministério cristão sem a unção do Espírito. Nem

Deus-homem age na história sem unção. Lucas 4:1 nos diz que Jesus estava cheio do Espírito Santo;

o v. 14 do mesmo capítulo nos informa que ao voltar da tentação ele iniciou seu ministério no poder

do Espírito Santo. O livro de Atos dos Apóstolos diz que ele foi ungido pelo Espírito para fazer o

bem, curar e libertar a todos os oprimidos do diabo (10:38).

2. É o Espírito Santo que dá testemunho de Jesus. Em João 15:26, Jesus afirma que ele, o

Espírito, daria testemunho dele, Jesus exaltá-lo-ia acima de tudo e antes de qualquer coisa. Jesus,

em outras palavras, estava dizendo que o maior, mais profundo e essencial assunto e mensagem do

Espírito Santo seria Jesus Cristo, sua morte, sua ressurreição, sua sabedoria, seu poder salvador e seu

senhorio. Assim é o Espírito que glorifica. Acerca disso Jesus afirma: “Ele me glorificará porque há

de receber do que é meu” (Jo. 16:14). Após a obra terrena de Jesus, ele veio habitar o coração dos

crentes. Em João 16:7, Jesus diz: “Convém que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não irá

para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei”. O interessante é que, no cap. 14, v. 14 de João,

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Jesus fala da companhia do Espírito Santo na comunidade dos discípulos. Jesus diz: “Ele habita

convosco”. Ou seja: “Ele está influenciando tudo; está trabalhando o coração de vocês nesses três

anos do meu ministério”. Mas, então Jesus promete que o Espírito não apenas habitaria com eles,

mas estaria neles, não mais como uma simples influência no ambiente, mas como presença real no

interior, no coração, invadindo tudo, se embrenhando em tudo: miscigenando-se, fundindo-se à alma

deles; selando, lacrando, morando definitivamente em seu coração: “Ele habita convosco, mas estará

em vós.

3. A ressurreição de Jesus é obra do Espírito Santo, Jesus ressuscitou dentre os mortos mediante

a ação glorificante do Espírito Santo. Isto está registrado em Romanos 8:11: “Se habita em vós o

Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou Cristo Jesus

entre os mortos vivificará também os vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que em vós

habita.

4. O Espírito Santo foi o agente da entrega dos mandamentos aos discípulos. Em Atos 1:1 e 2,

Lucas afirma que Jesus, antes de ser assunto aos céus, entregou mandamentos por intermédio do

Espírito Santo aos apóstolos por ele escolhidos. Todo o seu ensino foi impresso na mente dos

discípulos pelo poder da manifestação especial do Espírito Santo, que lhes gravou verdades na alma,

mesmo antes do Pentecoste.

O ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO À PALAVRA

1. O Espírito Santo inspirou as Escrituras. Pedro diz a esse respeito “que nenhuma Escritura

provém de particular elucidação humana; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por

vontade humana; entretanto homens santos falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo”

(II Pe. 1:20,21). Não há, à luz desse texto, margem para qualquer debulhação críticas das Escrituras,

ou para descobrirmos a teologia produzida por Paulo, Pedro, Tiago, ou quaisquer outros, como se

concebidas por homens, divorciadas entre si e seccionáveis para estudos que saciem a curiosidade

humana. A Escritura, muito ao contrário, revela-se como um todo; toda ela é inspirada pelo Espírito

Santo, ainda que tal revelação tenha sido gradual e progressiva. Pedro incluía, entre aquilo que ele

chamava de Escritura, as cartas de Paulo. Ainda em sua segunda epístola, cap. 3, v 16, o apóstolo faz

referência a elas dizendo que se equiparavam às “demais Escrituras”. Diz o v. 16: “nas quais há

certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam”. Pedro coloca as cartas de

Paulo em pé de igualdade com Jeremias, Isaías, os profetas, o Pentateuco e tudo o mais. Ele as

considera tão inspiradas quanto as outras partes da Palavra de Deus; corrompê-las equivalia,

portanto, a deturpar a Escritura. Afirma-se assim, mais uma vez, a inspiração do Espírito na Palavra

de Deus. Paulo, como homem, errou algumas vezes. Nem sua conversão o isentou de tal

possibilidade. Todavia suas cartas foram mais que cartas. Foram cartas de Deus à Igreja e à História.

2. O Espírito Santo interpreta as Escrituras. Em Efésios 1:17 Paulo ora, pedindo a Deus que os

homens recebam inspiração, iluminação e espírito de sabedoria e de revelação, no pleno

conhecimento e discernimento das coisas de Deus. Dessa forma a iluminação do coração para

discernir as Escrituras é obra do Espírito. Sem a iluminação do Espírito é possível conhecer muito da

Escritura através dos instrumentos hermenêuticos. Também qualquer estudo histórico-técnico do

texto bíblico é extremamente revelador em si mesmo, ainda que o estudioso não ore e nem creia no

Espírito. No entanto, tais estudos e instrumentos só nos possibilitam sua compreensão objetiva. E

sem dúvida a Escritura se permite tal análise. Contudo, seu significado para hoje como Palavra de

Deus dirigida a nós como pessoas, não se dá, de modo nenhum, mediante os instrumentos

hermenêuticos. Ele decorre da iluminação do Espírito Santo. E nesse sentido toda instrução e

sabedoria do mundo são totalmente inúteis. Afinal, quando somos estimulados pela Escritura a nela

meditar e a entendê-la, somos instigados a um estudo inteligente, conferindo coisas espirituais com

coisas espirituais. Não há, entretanto, um estudo técnico da Escritura. Tais estudos são utilíssimos

quando acompanhados de piedade e reverência diante da Palavra de Deus. Caso contrário eles são

apenas estudos da letra morta da Palavra. Parece que foi exatamente isso que João quis dizer quando

afirmou: “Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanecem em vós, e não tendes

necessidade de que alguém vos ensine; mas como a sua unção vos ensina a respeito de todas as

coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou” (I Jo. 2:27).

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3. O Espírito transforma a Palavra de Deus em espada, Paulo diz, em Efésios 6:17, que ela é a

espada do Espírito. Sem o Espírito, a Escritura é um livro que alguns teólogos céticos conseguem

reduzir a quase nada. Sem ele, ela é lida, manifesta, e amiúde não produz os efeitos esperados

porque, frequentemente, pregamos a Palavra movidos por presunção e não pela unção que faz da

Escritura a Palavra-espada de Deus. Ela é espada, mas tem que ser usada pelo Espírito. Nas mãos do

Espírito ela edifica; nas mãos de um ser humano presunçoso e nem temor de Deus ela é uma

calamidade. Serve para dar base a qualquer loucura humana. Nas mãos do Espírito a Escritura

golpeia o pecado, constrói o amor, defende a verdade, promove a justiça, consola o aflito e entroniza

Jesus, mas, nas mãos do espírita, por exemplo, ela exalta Chico Xavier, porque ele a interpreta de

forma completamente errada, dela se aproveitando de modo desastroso.

4. O Espírito Santo torna a Escritura uma realidade escatológica: “Quando vier, porém, o

Espírito da verdade, ele vos guiará a toda verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo

aquilo que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir” (Jo. 16:13). É portanto o Espírito

Santo quem dá à Escritura essa característica preditiva. Jesus diz que o Espírito viria e anunciaria as

coisas que haveriam de acontecer. Por isso, quando leio Paulo em II Timóteo, que fala das coisas

referentes aos “últimos dias”, ou o Apocalipse, e encontro predições sobre as últimas coisas, meu

coração é confortado, pois tenho o respaldo de Jesus, ensinando e avisando que quando o Espírito

viesse daria à Palavra e à mensagem esse cunho escatológico e preditivo. Por isso, ao estudarmos os

elementos escatológicos contidos no Novo Testamento, as doutrinas das últimas coisas, sentimos a

segurança de não estarmos lidando com sonhos humanos, mas com verdades de Deus para o futuro.

5. Foi o Espírito Santo quem trouxe a Palavra de Deus à memória dos discípulos (Jo 14:26).

Como pôde Mateus lembrar-se de todas aquelas coisas? E João? Marcos narra basicamente fatos, o

que é sem dúvida mais fácil de recordar. Ele escrevia as reminiscências de Pedro. Lucas fez sua

coletânea de “assuntos em ordem”. Entretanto, João apresenta mais do que fatos. Ele diz: “E o

Senhor disse...” e, então, nos apresenta em detalhes discursos inteiros de Jesus, palavra por palavra.

Como tal memória poderia ser tão precisa sem a ação direta e relembradora do Espírito Santo?

Quando ainda jovem na fé eu lia o evangelho de João e me questionava: “Meu Deus, sem um

gravador para gravar tudo isso... Como pôde esse homem reter tanta coisa?...” Mas é aí, que vem a

palavra de Jesus e tira essa crise canônico-tecnológica da nossa mente, quando diz: “Quando o

Espírito Santo vier, ele vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito”. Os teólogos liberais

tiveram muita dificuldade em acreditar que o Evangelho era a expressão original dos ensinos de

Jesus, porque lhes faltava a dimensão “carismática” do modo pelo qual a Palavra foi “preservada” na

“memória” dos apóstolos e da Igreja.

O ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO MUNDO

1. O Espírito Santo convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo. 16:8). É ele quem

dá ao homem convicção de pecado, neste nosso mundo onde dia-a-dia as consciências se

entorpecem, se cauterizam; neste mundo onde certas correntes da Psicologia ensinam que

sentimentos de pecado são apenas subproduto de condicionamentos de opressões culturais, sociais e

religiosas, nada mais. E que não existe nenhum absoluto que possa julgar a conduta e a vida humana,

porque todos os absolutos foram relativizados. Numa sociedade como a nossa, somente o Espírito

Santo pode convencer o homem do pecado. A sociedade brasileira tem atingido índices

inimagináveis de sodomia e perversão. Temos uma das televisões mais sujas do mundo, e a maior

expressão de orgia pública do planeta e da história da raça humana, que é o carnaval. Neste país e

nesta sociedade sem consciência, somente o poder do Espírito Santo pode convencer do pecado. Só

o Espírito Santo pode persuadir de pecado o ser humano identificado com a cultura deste século.

Todas as vezes que vejo alguém considerado “entendido” chorando, quebrantado, eu me regozijo

com o milagre.

Ele convence da justiça. Convence não apenas do fato de que Deus é justo, mas de que ele é

justo e justificador. Quando Jesus afirmou esta obra do Espírito, ele estava falando sobretudo da

justiça e da justificação. O Espírito Santo convence da possibilidade de se ficar em paz com Deus,

com a consciência tranquila; e traz convencimento da justificação. Após convencer do pecado e da

possibilidade da justificação, se o homem confrontado com essas coisas não se apropria delas com fé

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e arrependimento, o Espírito então o convence do juízo, da condenação que vem sobre o diabo e

todos aqueles que se fazem seus filhos pela obediência aos seus desejos (Jo. 8:44).

2. É o Espírito Santo quem detém o poder do anticristo. Em II Tessalonicenses 2:6-8, Paulo fala

da vinda do anticristo, da apostasia dos últimos dias e do poder que hoje detém tal manifestação,

para que esse mistério da impiedade seja manifesto apenas em ocasião própria. Literalmente é assim

que o apóstolo diz: “Com efeito, o ministério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja

afastado aquele que agora o detém.

Há quem diga que quem detém a vinda do anticristo é a igreja. Outros afirmam que é o poder

político que está impedindo a manifestação do anticristo. No entanto, o que penso é que quem detém

o anticristo é o Espírito Santo. Mas à luz do v. 6, seria difícil pensar que é o Espírito, porque o

pronome que aparece aí ─ “e sabeis o que detém” ─ tem no original um sentido totalmente

impessoal, não é pessoa, mas força, energia. Mas o v. 7 anula o questionamento, quando o chama de

aquele, atribuindo-lhe pessoalidade: ou seja, é uma força pessoal que o detém. E a única força

pessoal capaz de deter o anticristo na história é o Espírito Santo. É por isso que até aqui o anticristo

não se manifestou. Têm aparecido os Hitlers, os Idi Amins, os Khomeinis da vida, mas o Espírito do

Senhor continua detendo a manifestação final. No entanto, chegará a hora em que o Espírito cessará

de deter, e essa manifestação será como uma das evidências, claras e inequívocas, de que a vinda do

Senhor está próxima.

3. O Espírito Santo trabalha em toda a Terra. Apocalipse 5:6 diz que o Espírito de Deus é

“enviado pro toda a Terra”. Viajo frequentemente de avião em alturas muito elevadas. Olhando para

baixo avisto choupanas mínimas, em lugares inóspitos. A primeira vez que atravessei o Atlântico e

vi lá do alto as ilhas Canárias, pensei: “Meu Deus, tua Palavra me diz que o Espírito do Senhor está

trabalhando em vidas ali!” Algumas vezes sobrevoei o deserto do Saara. De vez em quando

apareciam povoados. Com a mente cheia do que Jesus dizia, repetia para mim mesmo: “E o Espírito

de Deus será enviado por toda a Terra para aplicar a salvação em Jesus, e para derramar o

conhecimento de Deus sobre a Terra assim como os mares enchem e cobrem a Terra”.

O ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO CRENTE

As relações do Espírito Santo com o cristão devem ser descritas na categoria existencial. Quando

falo em categoria existencial estou me referindo a coisas experienciais, que se provam verdadeiras a

partir de relações interiores e místicas com o Espírito.

Neste particular dois extremos podem ser hoje observados: o teólogo-doutrinário, que diz que

tudo que os cristãos têm que ter do Espírito é conhecimento teológico; e o pentecostal e

neopentecostal, que dão ênfase unicamente à condição existencial, experiencial da relação com o

Espírito. As Escrituras nos apresentam a validade dos dois aspectos apenas se eles estão juntos.

Separados, são deformantes e redutores do projeto da Bíblia, quanto a ensinar qual deva ser a

legítima relação do cristão com o Espírito. Dessa forma, na Bíblia, esses dois aspectos se fundem

equilibradamente. Tenho que ter conhecimento teológico de quem é o Espírito Santo; entretanto esse

conhecimento tem que ser experiencial ─ precisa produzir realidades existenciais, mudanças em

minha vida.

1. O Espírito Santo é quem nos regenera, nos transforma numa nova criação de Deus, nos faz

nascer de novo (Tt. 3:5 e Jo. 3:5). Sem a obra do Espírito, não há nada novo no coração humano.

Somente o Espírito gera uma nova criatura. A moral social faz surgir um moralista. Os

compromissos cívicos fazem aparecer um cidadão responsável. A política faz desabrochar um

homem crítico e esperto. A religião faz nascer um filantropo. O amor pela família torna o ser

humano menos egoísta. Mas nenhuma destas coisas faz nascer o novo homem, segundo a imagem de

Deus. “Quem é nascido da carne”, disse o Senhor Jesus. Somente o “lavar renovador e regenerador

do Espírito Santo” pode fazer aparecer o ser humano cidadão do reino de Deus. Qualquer outra

perspectiva de fazer o Novo Homem sem um encontro radical, essencial, revolucionário e dramático

com o Espírito é totalmente utópica e fadada ao fracasso. Neste século tivemos um tremendo

exemplo disso ─ a derrota do comunismo no seu intento autônomo de resolver o problema da

natureza humana de fora para dentro, apenas com pão e justiça social. O fracasso foi tão retumbante

que dispensa maiores comentários. Ainda neste mesmo filão de raciocínio, devo afirmar que a

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própria igreja-instituição tem sido outro exemplo desse desastre humano quanto a produzir o novo

homem sem o Espírito. A trágica história do Ocidente está intrinsecamente ligada à história da

Igreja. A Europa, os Estados Unidos e a América Latina foram teoricamente continentes cristãos.

Mas esse cristianismo não impediu tais sociedades de se imortalizarem pelas maiores atrocidades já

cometidas na história humana. Sem o Espírito, não há o novo homem segundo Deus, mesmo que

haja abundância de cristianismo.

2. O Espírito Santo é nossa garantia de salvação. Paulo diz em Efésios 1:13 e 14 que Deus

colocou o Espírito no coração como “penhor da nossa herança até o resgate da sua propriedade, em

louvor da sua glória”. O que é penhor? Penhor é algo que se deixa como garantia de que se vai voltar

para efetuar o pagamento; de que se vai retornar para cumprir uma promessa. Veio o Senhor e

deixou o Espírito como penhor, como garantia absoluta da nossa salvação, como prova de que não só

estamos salvos como também ele voltará um dia, ressuscitará nosso corpo mortal e o tomará como

propriedade exclusiva sua, para louvor eterno de sua glória.

3. O Espírito Santo é nossa garantia de comunhão com Deus. Em I João 3:24 está dito: “E

aquele que guarda os seus mandamentos permanece em nós, pelo Espírito que nos deu”. Eu

permaneço em Deus, Deus permanece em mim. Sei que ele permanece em mim pelo Espírito que me

deu. No cap. 4, v. 13 de I João está escrito: “Nisto conhecemos que permanecemos nele, e ele em

nós, em que nos deu do seu Espírito”.

Ninguém tem que conflitar-se a esse respeito. Não se angustie com questões do tipo: “Não sei se

ainda tenho comunhão com Deus... Se a perdi...” “Deus está aí, em e com você, morando em seu

coração! Você tem o Espírito em você. Acredite nisto! Se você tem o Espírito e tem comunhão com

ele, e ele com você, ele permanece em você, e você permanece nele. Aproprie-se disto, pela fé.

4. O Espírito Santo é nossa consolação. Em João 14:16, Jesus prometeu enviar “outro

Controlador”. Este “outro” estabelece uma equivalência comparativa. Os discípulos de vez em

quando se sentiam desanimados, tristes, alquebrados: “Deixamos tudo para te seguir ─ a casa, a

família, a pesca, tudo. Que vamos fazer agora?” Jesus vem e os conforta: “Ouçam, vocês vão ter

aqui cem vezes mais. Quanto ao que está por vir, nem dá para falar”. Então, eles retrucam: “Somos

os párias do mundo! O que vai ser de nós?” Jesus responde: “Você vão reinar, vão governar no reino

de Deus”. Agora Jesus está prestes a partir, e eles estão murchos, deprimidos... Jesus lhes diz:

“Pensem na mulher; quando ela está para dar luz ela fica abatida, sente dores! O que vocês estão

sentido agora são as dores do parto da salvação. Eu vou sentir as agonias. Mas vocês estão vivendo à

sombra desta hora de agonia. A vida, no entanto, não é só parto. A cruz não ficará erguida para

sempre. Eu vou ressuscitar. Vocês então vão ficar alegres como a mulher quando ao ter o filho,

toma-o nos braços, chorando, e diz: „Graças a Deus! Meu neném!‟ A ressurreição vai fazer isso. E

mais ainda: Vou mandar-lhes um outro Controlador”. Pode-se observar que não obstante Jesus tenha

ido para o céu, o livro de Atos não nos passa nenhuma impressão de nostalgia ou sentimentalismo.

Pedro não se queixa: “Há, que saudade do Senhor! Estou triste; tudo tão vazio! Estou a ponto de ser

consumido de angústia!” Isso não aconteceu porque o Senhor derramou o seu Espírito, um outro

Consolador. Ele subiu ao céu, mas a Igreja ficou retumbante como nunca, alegre, poderosa,

transbordante do Espírito Santo. Ela tem a presença do Consolador, presença animadora do Senhor,

do próprio Jesus.

5. O Espírito Santo é quem dá acesso ao Pai em orações mediante Jesus (Ef. 2:18). Ou seja, por

intermédio de Jesus nós nos aproximamos de Deus, “temos acesso ao Pai em um Espírito”. Jesus

também disse “que Deus é espírito e importa que seus adoradores o adorem em espírito e em

verdade”. Na minha maneira de entender, Jesus estava dizendo a mesma coisa que Paulo

posteriormente disse, conforme o texto de Efésios transcrito acima. Não apenas temos que adorar a

Deus em espírito, mas também adorá-lo no Espírito. Em outras palavras: não há qualquer

possibilidade de relação da alma humana com Deus a não ser no Espírito Santo. Quando Jesus disse

que a adoração seria em espírito (espírito com “e” minúsculo), ele estava afirmando a adoração

como tendo que ser livre de quaisquer materialismos condicionantes do sagrado a tempo e espaço

(“nem neste monte nem em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar”). No entanto ele não estava

ensinando o culto a Deus como uma possibilidade fenomenológica inerente ao espírito humano no

seu estado de queda. O homem é capaz de ânsias pelo sagrado mesmo enquanto caído e alienado; no

entanto não está apto de fato a cultuar a Deus, a menos que tal culto se dê no Espírito Santo.

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6. Ele é nosso intercessor espiritual. Devemos aqui fazer uma diferença entre intercessor

existencial e judicial. A Bíblia diz, em I João 2:1 e 2, que Jesus é nosso parácleto, nosso advogado,

nosso intercessor judicial: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se,

todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo; e ele é a propiciação pelos

nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”. Mas em

Romanos 8:26, o Espírito Santo é colocado como o nosso intercessor existencial. Jesus intercede

pelo que fiz de errado. Ele tira, elimina a culpa. Mas o Espírito Santo intercede existencialmente,

tentando me livrar de cair no erro, de ser dominado pela fraqueza. Isto é o que diz Romanos 8:26.

7. O Espírito é nosso vínculo vital com Jesus. É impossível alguém afirmar que é de Jesus se

não tem o Espírito Santo ─ conforme a teologia de Atos 19. Nesse texto vemos que os discípulos

encontrados em Éfeso se diziam discípulos, tinham cara de discípulos, sabiam alguma coisa de

Jesus, e não obstante todas as realidades aparentes, ignoravam que o Espírito Santo existia. A Bíblia

diz em Romanos 8:9 que “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. Quem é de

Jesus tem o Espírito do Senhor.

8. O Espírito Santo é quem transforma nosso corpo ─ enrugado, cansado, estressado, gasto,

exausto ─ em santuário de Deus. I Coríntios 6:19 diz que nós somos templos vivos, onde Deus

habita. E nossos sentimentos, atitudes, motivações e pensamentos são a liturgia viva desse culto que

tem que ser prestado a ele.

9. O Espírito é nossa fonte de sabedoria na tribulação. Mateus 10:20, Marcos 13:14 e Lucas

12:11 e12 são textos sinóticos, onde Jesus fala aos discípulos que na hora do aperto, da tribulação, da

angústia, da opressão, dos tribunais, dos questionamentos; quando estivessem confrontados com

homens maus e situações adversas, o Espírito lhes daria sabedoria, conforme deu a Estevão ─ de

forma tão tremenda, profunda e poderosa que ninguém lhe poderia resistir.

10. O Espírito Santo é nossa fonte de vida existencial. Em João 7:37-39, Jesus, no grande dia da

Festa dos Tabernáculos, em Jerusalém, disse: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer

em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva”. E João interpreta assim

suas palavras: “Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem;

pois o Espírito até esse momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado”.

Com isso Jesus declarando que a vida cristã tem que ter uma fonte existencial cotidiana e

sobrenatural. A intenção de Jesus era que o Espírito nos livrasse da angústia de uma vida seca e sem

propósito. Ele nos propiciaria a novidade de uma fonte que não se esgota.

11. O Espírito é quem contemporaneamente julga os cristãos. Atos 5:1 em diante, narra o fato

de que o Espírito exerceu juízo sobre Ananias e Safira, que haviam mentido, enganado, usado de

hipocrisia. Deus julga hoje, em plena “época” da Graça. Existe uma outra idéia da Graça, segundo a

qual o Deus que ama não julga. Mas de acordo com I Coríntios 11:32 ele nos julga para que não

sejamos condenados com o mundo. Julga na Ceia, julga pelo Espírito, julga pela Palavra; julga a

nossa vida pelas expressões de dor e perplexidade que nos acometem.

12. O Espírito Santo quem nos santifica. II Tessalonicenses 2:13 afirma que nós fomos

escolhidos “para a salvação, pela santificação do Espírito”. Em I Coríntios 6:11 também está claro o

fato de que o Espírito nos santifica, mas não apenas metafisicamente. Paulo, no contexto

antecedente, diz que os impuros, beberrões, adúlteros, injustos, maldizentes, ladrões, não herdarão o

reino dos céus. A seguir declara: “Tais fostes alguns de vós”. A Igreja de Corinto era uma grande

casa de recuperação, um hospital, uma comunidade terapêutica: “Tais fostes alguns de vós”. Em

outras palavras, isto é o que Paulo diz: “Viestes para cá beberrões, prostitutas, lésbicas, sodomitas,

homossexuais, mas fostes feitos de fato santos. Se não, veja o texto: “Tais fostes alguns de vós, mas

vós vos lavastes; mas fostes santificados (...) no Espírito”. Tal significação podia realmente ser vista

na vida deles através de mudanças práticas e perceptíveis.

13. É o Espírito quem fortalece o nosso íntimo (Ef. 3:16). Ele fortifica o nosso homem interior

com “dynamis”, com poder maravilhoso, para não sermos como aquelas horríveis hienas: “Ó mês, ó

dia, ó ano, ó azar!...” Quando lemos o livro de C.S. Lewis, “Cadeira de Prata”, conhecemos um sapo

chamado Paulama, que murmura: “Ó dia” Não vai dar certo! Dia de sol é prenúncio de dia de

chuva...” Mas o que acontece para quem tem Jesus no coração é algo maravilhoso: vem o Espírito e

fortalece o coração com poder; o homem interior com “dynamis”, com explosão, com força

miraculosa.

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14. É o Espírito que nos inunda de amor na tribulação, nas situações amargas e difíceis.

Romanos 5 contém a conhecida sequência que fala da tribulação que produz perseverança; a

perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Após o que o Espírito de Deus se derrama no

coração. Há uma especial inundação do Espírito no coração do cristão que persevera esperançoso em

Deus.

15. O Espírito é o Espírito da alegria. Essa alegria não é simples resultado de música alegre,

animada ─ uma espécie de festival evangélico. Pode até ser; de vez em quando isso é bom. Mas

alegria espiritual não é brincadeira; é fruto do Espírito do Senhor em nossa alma. O Reino de Deus

não é comida nem bebida. Não é através disso que sou feliz. Não é pelo fato de me fartar de delícias

que me encho de contentamento. Paulo afirma que o Reino de Deus não é nada disso; pelo contrário,

“é paz, justiça e alegria no Espírito Santo”. Em I Tessalonicenses 1:16 Paulo dia que a Igreja de

Tessalônica, mesmo em meio à tribulação, “transbordava de alegria no Espírito Santo”.

16. É o Espírito que nos concede a mente de Cristo. O Espírito conhece as profundezas de

Deus. Só ele sabe realmente o que Deus pensa. E é ele quem compartilha conosco o pensar de Deus.

Dessa maneira podemos alcançar o milagre de termos a “mente de Cristo” (I Co. 2:14,15). A

harmonização da nossa mente com a mente de Cristo é, portanto, obra do Espírito, mediante sua

capacidade de imprimir as mais fortes impressões do caráter e da vontade de Deus em nossa mente.

Tal trabalho não nos dispensa a relação com a Palavra de Deus na nossa conformação mental a seus

padrões. Todavia, requer-se de nós mais que leitura e estudo da Palavra. É necessário que se

mantenha essa relação com ela enquanto se assume singeleza intelectual. Através de tal singeleza

nossa mente se oferece ao Espírito de Deus a fim de que ele nos “imprima” a Palavra de Deus no

coração. Essa atitude nos assegura uma relação com a revelação dos referenciais básicos da mente de

Deus (a Palavra), enquanto se tem também percepção da mente de Cristo em relação aos aspectos

particulares da nossa vida (pela aplicação que o Espírito faz da Palavra). Ou seja: a Bíblia nos

oferece a certeza de como é o caráter de Deus. Mas é mediante uma profunda relação com o Espírito

que somos capacitados a discernir quais são os aspectos da mente de Cristo que têm relação com

nossa vida individual. Tal discernimento é a especificação da vontade de Deus com respeito a nós, e

que se dá dentro dos referenciais do caráter de Deus, conforme definidos de maneira inequívoca na

Escritura.

17. É o Espírito quem nos proporciona a vida e paz. Romanos 8:6 diz que “o pendor da carne dá

para a morte, mas o pendor do Espírito dá para vida e paz”. Isso porque ele nos capacita também a

viver em obediência à vontade de Deus, ainda que libertos da lei. Romanos 8:4 diz que agora

estamos aptos, capacitados pelo Espírito a cumprir a lei do Espírito e da vida, porém isentos da lei

moral. Isso parece contraditório, mas não é. De fato, Cristo nos libertou da lei moral a fim de que

vivamos a vontade de Deus. A lei moral é inobedecível porque determina que a relação do indivíduo

com ela tem que ser obediência objetiva absoluta. Caso contrário se está morto. No entanto, a fé

cristã nos apresenta nossa relação com Deus como sendo livre da moral, a fim de que sejamos

escravos do seu amor. Para muitos, isso pode parecer a mesma coisa, mas não é. No primeiro caso

(da lei moral), o indivíduo é pressionado à obediência de fora para dentro. São preceitos externos

que se tornam nos referenciais da vida dele. Já no segundo caso (escravidão ao amor de Deus), nossa

obediência é resultado de um constrangimento de amor não culposo que é derramado pelo Espírito

da graça no nosso coração. A lei gera uma obediência assustada e culposa. O Espírito da graça dá

origem a uma obediência livre, santa, nascida no interior do ser. É o que diz Gálatas 5:23 quando

afirma que quem ainda no Espírito manifesta o fruto do Espírito, que é “amor, alegria, paz,

longanimidade, benignidade, mansidão e domínio próprio”. No final desta afirmação Paulo diz:

“Ora, contra estas coisas não há Lei”. Não há lei porque o amor cumpre toda a lei, daí resultando que

aquele que a cumpre não se sente cumprindo. Ele apenas experimenta a sensação de estar vivendo

em obediência ao amor de Deus. Tudo isso é obra do Espírito no nosso coração: “Andai no Espírito,

e jamais satisfareis as concupiscências da carne” (Gl. 5:16).

18. É o Espírito quem dá testemunho da nossa filiação a Deus. E para que se alcance esse

objetivo não é preciso haver qualquer forma de condicionamento mental, ou lavagem cerebral do

tipo que enfia convicção na cabeça das pessoas pela via de repetições como esta que se ouve por aí:

“Meu filho, você é filho de Deus; você já fez essa declaração, lembra? Você é filho de Deus, e filho

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de Deus, é filho de Deus...” Faz-se muito disso em nossos dias. Contudo, o que a Bíblia diz em

Romanos 8:16 é que”o próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”.

19. É o Espírito quem nos conduz à imagem de Cristo. Em II Coríntios 3:18 está dito que nós

estamos sendo trabalhados, esculpidos, transformados e burilados pelo Espírito à medida que

contemplamos a glória do Senhor como que por um espelho. Vemos a imagem de Cristo no espelho

da Palavra. Mas essa contemplação não é ainda nítida. Vemos como que em diagonal, contemplando

a imagem às vezes turva. No entanto, o Espírito Santo está agindo em nós, fazendo com que nos

conformemos à imagem de Cristo que estamos vendo na Palavra. Se olharmos para Jesus, dia a dia o

Espírito nos vai tornando mais semelhantes a ele. E quando o Senhor vier e nos transformar

plenamente na sua imagem glorificante, esta terá sido também uma obra do Espírito em nossa vida.

O ESPÍRITO EM RELAÇÃO À IGREJA

Neste ponto temos de admitir que vamos trabalhar sobre um ideal, não exatamente em torno de

nossas constatações contemporânea. O que estou querendo dizer é que o que aqui vai ser tratado não

diz respeito às nossas observações sobre a Igreja, mas ao ideal contido nas Escrituras, com referência

ao Espírito Santo movimentando-se nela e nela produzindo trabalho. Em outras palavras: não estou

descrevendo o que a Igreja é, mas o que ela pode ser, caso de renda ao Espírito.

1. O Espírito Santo faz da Igreja seu grande santuário. É o que está dito em I Coríntios 3:16 e

17, onde a palavra “santuário” aparece num contexto no qual se fala em edificação da Igreja ─ seus

alicerces. Paulo afirma que aqueles que destruírem o santuário de Deus (que é a Igreja), Deus o

destruirá. O apóstolo não está se referindo a cristãos como indivíduos-santuários de Deus ─ apesar

de em I Coríntios 6:19 serem eles individualmente assim chamados. Mas no contexto de I Coríntios

3:17 e 18, a idéia que nos vem à mente é que o apóstolo está se referindo à Igreja, nomeando a

templo. Quando dizemos, por exemplo, que vamos esta à porta da Igreja, estamos tomando isto no

sentido material. A Igreja a que a Escritura se refere tem em Jesus a sua Porta. Essa Igreja pode

inclusive estar reunida debaixo de uma mangueira, um pé de Jamelão, uma jaqueira. Ela existe em

qualquer lugar onde haja cristãos juntos, congregados. Ali onde há dois, três ou mais reunidos está

uma catedral do Senhor. E mesmo que não estejam juntos, é dessa maneira que o Espírito vê a Igreja

─ uma grande Catedral espiritual, conforme diz I Pedro 2;5 e 6. Pedro neste texto também a chama

de “casa espiritual para habitação de Deus no Espírito”. Efésios 2:20,21 a nomeia “casa”, santuário

que está sendo dedicado e consagrado ao Senhor.

A primeira relação, pois, que o Espírito Santo mantém com a Igreja é nesse nível ─ de santuário,

catedral, casa espiritual onde ele habita. É o verdadeiro templo, onde se oferecem sacrifícios

espirituais para o louvor de Deus em Jesus Cristo.

2. O Espírito Santo habita também em síntese qualitativa na Igreja. Em Efésios 1:22 e 23, Paulo

diz que Deus estabeleceu Cristo como cabeça e Senhor de tudo, e lhe deu a Igreja para ser o seu

Corpo; e mais: que ela agora é habitada pela plenitude daquele que enche os cosmos. O Deus que

extrapola tudo e todas as coisas que habita nela em síntese qualitativa. É a plenitude daquele que

tudo enche em todas as coisas. O interessante é que Efésios 4:3 e 4 não nos permite separar a Igreja

do Espírito. Neste texto, falando sobre a unidade do Espírito, o vínculo da paz, Paulo diz que “há um

só Senhor, uma só fé, um só batismo”. Ao afirmar que há um só corpo, ele não coloca uma vírgula

para em seguida afirmar que há um só Espírito. Ele não separa as expressões, de modo nenhum ─

nem mesmo em termos literários, Paulo diz “Há somente um corpo e um Espírito”, porque é

impossível fazer referência à Igreja como Corpo de Cristo, sem falar do Espírito.

3. É o Espírito quem promove a vida comunitária da Igreja. Encontramos esta verdade registrada

em Atos 2:42 a 46. O Pentecoste aconteceu, o Espírito banhou, lavou a Igreja, se derramou sobre ela.

Contudo, a mais caracterizadora demonstração de que ele trabalhou nela não foi exclusivamente o

dom de língua; tampouco os milagres. Acima de tudo, o que mais marcou sua presença e atuação foi

o estilo de vida comunitária que ela passou a vivenciar. Essa é a evidência maior, a preocupação

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principal de Atos. Lucas descreve como, depois do Pentecoste, a Igreja passou a viver uma vida

comunitária intensa. Eles repartiam seus bens, perseveravam na doutrina dos apóstolos, no partir do

pão e nas orações, comendo com singeleza e alegria de coração. E todos tinham tudo em comum.

Essa é uma das manifestações mais poderosa do Espírito de Jesus nas igrejas: a intensificação da

Koinonia, da comunhão, da troca, da vida que se doa, se integra, se mistura na vida dos irmãos.

4. O Espírito promove a unidade da Igreja (Ef. 4:3). É “a unidade do Espírito no vinculo da

paz”, no Corpo de Cristo. Sem o Espírito seríamos a mais dividida e beligerante de todas as

comunidades. As nossas inúmeras divisões não nos permitem ver ainda aquilo que seríamos se o

Espírito não estivesse agindo em nós. Mesmo extremamente divididos, ainda somos um povo que se

entende sob a mesma bandeira. A prova disso é que apesar das inúmeras nomenclaturas, quando as

coisas nos assolam, atingem o Corpo de Cristo, logo que descobrimos que somos filhos do mesmo

Pai, temos que viver na mesma família e nos amar com amor fraterno.

5. O Espírito que faz da Igreja a comunidade portadora da mensagem viva da salvação. Somente

ele pode tomar essa igreja de gente complicada que somos e transformá-la numa mensagem para o

mundo. Em II Coríntios 3:2 e 3, Paulo chama a Igreja de Corinto, não obstante ela mesma, de “carta

viva”, escrita no coração para se manifestar e lida por todos os homens. A simples evidência disso

vem do fato de que o testemunho da fé chegou até nós. Já são dois mil anos de testemunho em meio

às mais variadas contradições da Igreja. Sua ambiguidades são inúmeras, mas a mensagens continua

a ser lida na vida daqueles que vivem Jesus na comunidade da fé.

6. Foi o Espírito quem controlou e dirigiu a evangelização da Igreja Primitiva. Este é um ponto

que nos interessa tratar apenas como idealismo, visto que nos nossos dias nem sempre é o Espírito

que se dirige a genuína evangelização. Quase sempre quem diz hoje onde a Igreja tem que ir e

determina o que ele deve fazer são nossos programas engabinetados, produzidos num local de

administração fria, quase num esquema de marketing. Na Igreja Primitiva isto não acontecia; era o

Espírito Santo que controlava de maneira soberana. Todavia, é somente o Espírito quem nos capacita

à verdadeira evangelização, porque é exclusivamente ele quem concede poder para testemunho no

mundo (At. 1:8). Ele enviou evangelistas a lugares improváveis, mas onde havia necessidade (Al.

8:29). Foi o caso de Filipe, que evangelizara multidões nas cruzadas de Samaria. E agora é um

evangelista consagrado naquele lugar. Mas vem o Espírito Santo, acaba com todo aquele frenesi e

diz: Filipe, “Dispõe-te e vai para a banda do sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza

[percurso de 33 a 40 km, mais ou menos]; este se acha deserto”. Imagine o impacto de tal notícia

para um homem de multidões ─ cruzadas em Samaria, povo se convertendo! Vem o Espírito e o

direciona a algo aparentemente absurdo: “Vai para aquela estrada deserta, evangelista!” Mas ele era

obediente. Ele foi, encontrou o eunuco, evangelizou, e algo fantástico aconteceu. Assim, é também o

Espírito quem deve determinar a esfera de atividades dos seus evangelistas. Quando Filipe acabou de

evangelizar o eunuco e o batizou, diz a Bíblia que o Espírito do Senhor arrebatou Filipe. Ele “veio a

achar-se em Azoto”. Não escolheu campo missionário: estava no meio do deserto, acabou de batizar,

de repente se desmaterializou. Diz a Bíblia que o eunuco não o viu mais. O homem evaporou! E se

materializou em Azoto. O mesmo processo de soberania do Espírito aconteceu em relação à

conversão da casa de Cornélio. É o Espírito quem se manifesta a ele através do anjo. É ele que

esvazia de preconceitos a mente de Pedro, a fim de que entenda que seria válido ir à casa de um

gentio. É ele que se derrama poderosamente no momento de sua pregação. Ele monta todo o

esquema da salvação da casa de Cornélio, e o faz de maneira soberana. Ainda mais: separa

missionários e os envia. Atos 13;13 diz: “Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os

tenho chamado”. Ele impede certos alvos missionários e conduz outros. Em atos 16:6-10, vemos

Paulo desejando ir para a Bitínia, na Ásia. Entretanto, o Espírito não o permitiu. Ele tentou duas

vezes, mas não foi. O Espírito o empurrou para o coração da Europa ─ porque esse era o plano de

Deus.

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Capítulo III

PLENITUDE DO

ESPÍRITO SANTO

Quando comecei a estudar o tema Plenitude do Espírito Santo, deparei-me com duas

significativas surpresas. A primeira dela é que no Novo Testamento, em momento algum

encontramos a expressão “Plenitude do Espírito Santo”. Para quem acredita que ao referir-se a ela

está usando um termo eminentemente neotestamentário, fica a surpresa. O que acontece é que

inúmeras bandeiras teológicas e doutrinárias se erguem com base em expressões como esta,

digladiando-se sem que nem ao menos possam justificar inclusive a expressão em função da qual

entram numa acirrada guerra ─ guerra tola, sem sentido, inócuas e não bíblica. Isto mostra quanto

das nossas divisões doutrinárias e teológicas se levanta sobre chavões e tradições infundadas. Isto

me faz lembrar o que aconteceu no meio dos israelitas, quando Jefté ─ tendo saído a enfrentar um

país inimigo ─ convidou a tribo de Efraim a ir junto. Ele se preparou com os gileaditas e convidou

os efraimitas, mas estes não foram. Ao confrontar os adversários, eles os venceram; e ao voltar,

encontraram os efraimitas irritados e belicosos, os quais lhes disseram: “Vocês foram enfrentar os

inimigos e não nos chamaram?”. Jefté respondeu: “Mandei-lhes um recado, e como vocês, não

vieram eu fui”. E os efraimitas contestaram: “Então por causa disto haverá guerra entre nós”. E

começou a guerra entre gileaditas e efraimitas ─ irmãos, membros da mesma nação. Como resultado,

Gileade venceu a guerra. Enquanto isso os efraimitas fugiram à noite, pelos vaus próximos ao

Jordão, na terra de Gileade. E Jefté, querendo vencer definitivamente a peleja, declarou aos seus

soldados que fizessem plantão nos vaus do Jordão, e sempre que chegasse um homem, lhe

perguntassem: “De que tribo tu és?” E se a resposta fosse “Eu sou de Efraim”, deveria morrer. Mas

como ninguém o diria, ele elaborou uma maneira de descobrir quem era e quem não era de Efraim.

Disse então a seus homens: “Quando eles chegarem, vocês os detenham e ordenem que pronunciem

a palavra “CHIBOLETE” ─ pois os de Efraim tinham dificuldades em pronunciar CHI, só

conseguiam pronunciar SI. Assim, mal diziam “Si...”, não terminavam a palavra: a espada

interrompia a prolação.

Muitas das nossas questões evangélicas são tolas, ridículas. Uns falam de um jeito, outros de

outro, e em razão dessas e outras ninharias nos identificamos como irmãos ou nos matamos uns aos

outros nas nossas guerras fratricidas.

A segunda surpresa que se tem quando se pensa no tema Plenitude do Espírito Santo é com

relação ao verbo grego que aparece como equivalente a “ser cheio de”; empregado quase

exclusivamente pelo evangelista Lucas. No Novo Testamento ele tem dois importantes usos. Em

primeiro lugar, Lucas o empregou para denotar características gerais de pessoas. Em Lucas 4:1

lemos que Jesus estava “cheio do Espírito Santo”. Em Atos 11:24 diz-se que Barnabé, tendo ido a

Antioquia, “vendo a Graça de Deus alegrou-se porque era homem bom, cheio de fé e do Espírito

Santo”. Portanto, a idéia que Lucas apresenta quando usa esta palavra relaciona-se à característica

dominante na vida da pessoa. Ele não emprega o verbo com aplicações exclusivas ao Espírito Santo.

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Ao contrário, ele também usa o verbo em relação a outras situações e com características negativas.

Seja como for, tais ocasiões e situações nas quais o evangelista usa a expressão “cheio de” (mesmo

naquelas em que se vale deles negativamente) nos serão muito úteis, pois nos ajudarão a entender o

peso e o significado de tal expressão no Novo Testamento.

Lucas 5:12, por exemplo, nos diz que um certo leproso se aproximou de Jesus, e que ele estava

cheio de lepra; ou seja, ele estava tomado de feridas, do alto da cabeça à planta dos pés. Observe que

no texto grego do Novo Testamento, Lucas usa a mesma expressão que também emprega para

definir a plenitude do Espírito Santo.

Em Atos 13:10, o apóstolo Paulo nos é apresentado tentando evangelizar o procônsul Sérgio

Paulo, mas Elimas, o mágico, se lhe opunha. Elimas criava toda sorte de obstáculos a tudo quanto

Paulo dizia. A ponto de, em meio à conversa, o apóstolo ─ cheio do Espírito Santo ─ o repreender,

dizendo: “Ó filho do diabo, cheio de todo engano e de toda malícia, até quando não cessarás de

perverter os santos e retos caminhos do Senhor? Eis aí está a mão do Senhor sobre ti, e tu ficarás

cego por algum tempo”. E foi exatamente o que aconteceu a Elimas. Ora, no grego a palavra cheio,

que aparece no texto ─ “cheio de todo engano e toda malícia (...)” ─, é a mesma usada por Lucas nas

ocasiões em que ele se refere à plenitude do Espírito Santo.

Nos exemplos por mim dados acima, a idéia que fica a respeito da palavra “cheio” é a de que tal

pessoa “cheia” está repleta e totalmente dominada por aquilo: como o leproso (totalmente cheio de

lepra) ou Elimas (totalmente cheio do engano e da malícia do diabo). Com relação a estar-se cheio

do Espírito Santo, a idéia é de alguém habitualmente governado e controlado pelo Espírito do

Senhor.

No Novo Testamento, a expressão “cheio do Espírito” aparece também em contextos nos quais

se permitem observar duas situações básicas às quais a expressão está relacionada: aquela que se

refere a arraigadas características de toda uma vida com Deus, mas também à repentina inspiração de

um momento. Em outras palavras: o Novo Testamento nos apresenta duas possibilidades de

vivermos na presença de Deus cheios do Espírito Santo. A primeira delas é através, de um

crescimento paulatino, diário, intermitente e contudo frequente, até o ponto de mantermos essa

plenitude de maneira cada vez mais sistemática e contínua.

A segunda situação na qual o Novo Testamento também apresenta essa idéia de plenitude do

Espírito Santo é aquela na qual acontece como coisa que tem a ver com uma positiva crise de

momento. Ou seja, o Novo Testamento nos lança duas possibilidades: a de que se fique cheio do

Espírito Santo num crescente, num caminhar diário e paulatino com o Senhor, ou a de que essa

plenitude sobrevenha através de uma crise poderosa, profunda, repentina, como uma manifestação

inequívoca de Deus. Vejamos, então, no Novo Testamento, os textos que nos apresentam essa

plenitude como vinda através de uma crise instantânea, e outros como um estado a ser desenvolvido

gradativamente.

A PLENITUDE DO ESPÍRITO COMO EXPERIÊNCIA DE CRISE

Observemos agora a relação da plenitude do Espírito Santo com uma experiência de crise.

Examinemos Atos 2:1-4, o conhecido texto que narra o Pentecoste, quando a plenitude do Espírito

veio sobre os discípulos na forma de uma poderosa e repentina experiência carismática: “Estavam

todos reunidos no mesmo lugar, quando de repente veio do céu um som como de um vento

impetuoso e encheu a casa. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras

línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem”. Neste texto a plenitude sobressai de

repente: subitamente todos ficam cheios do Espírito Santo. Em Atos 4 a mesma experiência

acontece: os discípulos, tendo sido oprimido pelas autoridades judaicas, uma vez postos em

liberdade encontram-se com os irmãos e, alegres, felizes, fazem uma oração de gratidão pelo

privilégio de sofrer em nome de Jesus. Exaltam a Deus, o Criador dos céus e da terra, e celebram sua

soberania, referindo-se à sua obra no controle absoluto dos eventos aparentemente ingovernáveis

relacionados à morte de Jesus. Depois disso eles oram pedindo a Deus que confirme a palavra que

estão pregando em seu nome, operando sinais e prodígios enquanto pregam. Diz o v. 31 do cap.4 que

quando acabaram de fazer estar oração houve um tremor de terra ─ tremor esse localizado ─, do

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qual o epicentro foi exatamente a casa onde se reuniam em oração. Era o Espírito do Senhor. E diz a

Bíblia que “todos ficaram cheios do Espírito Santo”.

Vale a pena lembrar ainda o texto de Atos 13:9, já referido neste capítulo. Trata-se da

confrontação de Paulo e Elimas. Subitamente o apostolo interrompe a contradição de Elimas ─

Lucas diz que Paulo estava “cheio do Espírito Santo” ─, trazendo graves e duros juízos sobre a vida

do bruxo, com as implicações imediatas.

Os exemplos acima nos ajudam a entender que a plenitude do Espírito pode vir à nossa vida

através de uma experiência de crise, numa reunião de oração, num instante de devoção, busca,

quebrantamento, entrega, abrir de alma; pode vir de repente, num piscar de olhos, de maneira

instantânea, pela intervenção de Deus.

Em ocasiões diferentes na minha vida com o Senhor tenho experimentado plenitudes do Espírito

que me vêm como experiências de crise. Deixe-me contar-lhe uma delas. Há alguns anos, certo dia

após o almoço, dirigia-me ao escritório da VINDE, a missão que lidero, àquela altura em Manaus,

hoje em Niterói, Rio de Janeiro. Quando ia chegando ali, um rapaz saiu lá de dentro ─ um paraibano

normalmente muito alegre. Nesse dia ele não estava alegre, mas muito atordoado. Eu ia entrando

porta adentro quando ele colocou a mão no meu estômago e disse, rápido como de hábito num

paraibano:

─ Pastor, não entra, que ele fura o bucho!

─ O que? ─ perguntei.

─ Não entra, que ele fura o bucho!

─ Irmão, eu não estou entendendo nada, fale devagar.

─ Pastor, não entra que ele fura o bucho ─ repetiu.

─ Fura o que? ─ insisti.

─ Fura o bucho! Fura o estômago! Há um homem com uma faca aí dentro, ele vai furar sua

barriga ─ explicou.

─ Ah, é? E quem é que está com uma faca aí dentro?

─ Um endemoninhado! ─ ele respondeu.

Aí eu olhei pela fresta da porta e vi o rapaz responsável pelo tráfego de fitas cassete do programa

de TV, PARE E PENSE, e um outro que trabalhava na publicidade do ministério, encostados à

parede, rendidos ─ a parede branca, eles tão brancos quanto ela, num verdadeiro mimetismo.

─ O que foi que aconteceu aí? ─ perguntei.

─ Esse homem chegou endemoninhado com essa faca na mão e disse que se alguém abrir a boca

pra dizer o nome de Jesus ele mata. Lá dentro os rapazes tartamudeiam: Nomeeee... Nomeee deee...

Mas ele bota a faca no pescoço e eles não dizem mais nada.

Minha secretária tinha conseguido se esconder no banheiro, e um dos moços escapara pela

janela. E o paraibano, como não tinha entrado, achou que a melhor política era ficar do lado de fora.

Disse a mim: “Pastor, entre! Fiquei pensando... É nessa hora que os cabelos ficam em pé, arrepiados.

Pensei, e falei “Olhe, irmão, deixe-me avaliar isto bem, com oração”. Entrei, no meu carro, dei uma

volta no quarteirão, orando: “Senhor, o que faço?” E me lembrei de procurar meu pai no templo. Fui

lá, chamei-o, e disse-lhe: “Pai, está havendo, isto e isto. Senti o impulso de entrar, e enfrentar esse

endemoninhado armado, mas confesso que também senti vontade de fugir. Por isso queria que o

senhor orasse comigo. Vamos até lá juntos”. Então fomos e paramos à porta do escritório da

VINDE. Oramos ao Senhor, e quando eu estava acabando de orar, sucedeu exatamente aquilo que o

livro de Atos revela haver acontecido algumas vezes com os discípulos na Igreja Primitiva: num

momento, de repente, a alma foi invadida por uma graça, um poder, um enorme júbilo no Espírito do

Senhor. Então me veio a certeza absoluta de que aquela vitória estava de antemão ganha.

Quando me percebi, estava saindo do carro, gritando no meio da rua. Ergui a voz e comecei a

andar, clamando: “O que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente, diz

ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem cofio (...)”. E quando ia entrando, as

pessoas dos escritórios vizinhos, da sorveteria ao lado, olhavam... Fui atravessando a rua e dizendo:

“... Nenhum mal te sucederá, praga nenhuma chegará à tua tenda. Porque aos seus anjos dará ordens

a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos,

para não tropeçares nalguma pedra. Pisarás o leão e a áspide, calcarás aos pés o leãozinho e a

serpente. Porque a mim se apegou com amor, eu o livrarei; pô-lo-ei a salvo, porque conhece o meu

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nome. Ele me invocará, e eu lhe responderei; na sua angústia estarei com ele, livrá-lo-ei, e o

glorificarei. Saciá-lo-ei com longevidade e lhe mostrarei a minha salvação”.

Quando ia entrando, já gritando as últimas palavras deste salmo, o endemoninhado ─ que tinha

cerca de um metro e oitenta ─ largou os moços e recuou. Ostentava uma faca enorme, de sapateiro,

assustadoramente reluzente. Fui entrando, e ele foi gritando, antes mesmo que eu colocasse o rosto lá

dentro: “Eu odeio este desgraçado. Ele é meu inimigo, eu o detesto!” E quando enfiei a cabeça

dentro do escritório, ele voou para mim, com aquela faca horrível, e eu disse: “Em nome de Jesus sai

dele!” Ele caiu uns dois ou três metros para trás, pegou a faca de novo, correu e eu insisti: “Em nome

de Jesus, sai dele!” Ele caiu outra vez, apanhou a faca, caminhou uns passos e aproximou-a do meu

rosto, tentando enfiá-la. Garanto que em qualquer outra circunstância eu teria ou me defendido, ou

teria azulado dali. No entanto, o que aconteceu é que no meu coração não havia a menor dúvida de

que faca nenhuma deste mundo entraria no meu rosto ou no meu corpo! Ele a aproximou bem rente

ao meu rosto, sem conseguir movê-la. Sua mão foi sendo torcida. Parecia que guerreava. Então

abriram-lhe a mão, a faca caiu, e ele caiu junto, aos meus pés. Aí exclamei: “Sai dele, em nome de

Jesus!! E o demônio o deixou. Abrindo os olhos, atoleimado, espantadíssimo, perguntou: “Onde é

que estou? Que lugar é este? Eu estava trabalhando lá no mercado... Sou sapateiro; estava cortando

couro, quando senti uma personalidade entrar em mim. Não me lembro de mais nada”.

Narro este fato apenas para mostrar que a manifestação da plenitude do Senhor pode nos

alcançar como uma experiência de crise. Isso porque o que aconteceu comigo naquele dia foi sem

dúvida uma dessas experiências. Eu estava cheio de medo e dúvida. Mas de repente o Espírito me

invadiu com coragem e ousadia, que absolutamente naquela hora não existiam em mim.

É importante saber que a plenitude do Espírito pode nos vir numa dessas crises. No entanto

parece que o Novo Testamento ensina ─ em mais vezes e mais doutrinariamente ─ que a experiência

de plenitude do Espírito Santo é comumente algo que acontece num processo gradativo, paulatino,

galgado, perseguido diariamente, no nosso cotidiano.

A PLENITUDE DO ESPÍRITO COMO UM PROCESSO NA VIDA

Os textos que falam a este respeito são basicamente os seguintes: Atos 4:8, onde não se diz que

Pedro ficou, mas que era cheio do Espírito Santo; Atos 6:5, onde o homem, para ser escolhido para o

ministério de serviço na igreja não tinha de estar cheio do Espírito, mas ser cheio do Espírito. Na

passagem de Atos 6 nos é dito que Estêvão era homem cheio do Espírito Santo. Também em Atos

13:52, onde a plenitude do Espírito se manifesta na vida dos discípulos, que “transbordavam da

alegria e do poder do Espírito”, indicando um estado contínuo e crescente, não apenas uma crise

repentina.

Portanto, o Novo Testamento nos apresenta esses dois lados: uma experiência de crise, e também

o galgar, o caminhar diário e cotidiano na presença de Deus, onde a realidade da plenitude do

Espírito se vai consolidando.

Para ilustrar isto, passo a narrar o que aconteceu conosco, durante um retiro que organizamos

para jovens, em 1974. Àquela altura havia na igreja que servíamos, na cidade de Manaus, apenas uns

35 a 40 jovens. Para o retiro levamos conosco uns oitenta moços, não crentes. Eram, pois, cerca de

cento e vinte ─ muito pouco sal para tanta massa! E foram quatro dias pavorosos, nos quais jejuei e

orei da manhã à noite, pedindo ao Senhor que interviesse, que fizesse alguma coisa, que se

manifestasse, que salvasse aqueles moços. Contudo nada acontecia. Havia uma confusão

generalizada, uma leviandade total, uma indiferença absoluta. Nos cultos à noite era como se

estivéssemos lutando de fato contra principados e potestades horroroso.

No último dia, depois de ter orado e jejuado, estava pregando, quando no meio da pregação um

moço que se sentara no primeiro banco fez “Uahh!!!” abrindo escancaradamente os braços, e

fazendo a cadeira quebrar com o violento gesto. Aí foi aquela risada geral. Pensei comigo: “Meu

Deus, decisivamente nada acontecerá neste retiro”. Atalhei meu “esboço” como pude, para terminar

o sermão antes do tempo, e disse a mim mesmo: “Vamos despedir este povo”. Quando acabei de

pregar comecei a ouvir ruídos... Alguns estavam sentados em torno do salão, onde havia madeira à

volta, e batiam com o calcanhar atrás: bum, bum, bum, bum...

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Meu pai tinha estado conosco os quatro dias de retiro, e não disse uma só palavra. Ficou sentado

lá atrás o tempo todo, apenas observando. Naquele mês ele estivera especialmente na presença de

Deus, orando e jejuando. E durante vinte e um dias ─ não é que vinte e um seja um número místico,

mas ele escolheu este referencial para orar e jejuar ─ ficou comendo pão e bebendo água apenas,

orando, e pedindo a Deus que renovasse seu ministério e a Igreja. E continuava lá atrás. Então, para

finalizar, eu disse: “Gostaria de chamar o meu pai aqui à frente para fazer uma oração, encerrando

este retiro”. Ele veio andando pelo corredor. Meu pai usa muleta desde a mais tenra infância.

Quando ia se aproximando, senti que alguma coisa começava a acontecer, em meio a um soberbo

silêncio. Ele pegou o microfone e falou: “Amados irmãos, vamos orar ao Senhor”. E quando ele

disse “Ò pai...” e pôs-se a orar, começou uma choradeira, um quebrantamento, e eu vi aqueles moços

caindo de joelhos ─ algo incrível começou a acontecer naquele lugar! E lá estava eu, estupefato,

boquiaberto. Então, pensei: Meu Deus, eu sussurrei, gritei, falei, e não aconteceu nada. Ele veio

aqui, quietinho, com sua muleta, pegou o microfone e disse: “Ò Pai...” e o povo foi de chofre

quebrantado.

O nome disso é unção! Hoje temos pastores, esposas de pastores, presbíteros, diáconos, rapazes e

moças líderes em muitas igrejas, todos convertidos naquela noite.

Portanto, não vemos o fenômeno acontecer apenas no Novo Testamento; nossa própria vivência

nos ensina que a plenitude do Espírito pode vir como uma experiência de crise, ou de forma mais

normal, geralmente como uma progressão na rendição, na entrega, na vida que busca e se define dia

a dia na presença do Senhor.

Entretanto, a questão básica ─ já que sabemos como essas coisas podem acontecer em termos de

manifestações ─ é perguntar como se dá a plenitude do Espírito Santo conforme o Novo

Testamento; como chegar a ela.

OS SETE PRINCÍPIOS SOBRE COMO OBTER A PLENITUDE DO ESPÍRITO

Deste ponto em diante quero mostrar a você como o Novo Testamento nos apresenta a plenitude

do Espírito. Em outras palavras: como é possível obter e manter essa plenitude. Pessoalmente

acredito que este é o capítulo mais importante deste livro. Isto porque todas as outras coisas sobre as

quais ainda irei tratar, só serão realmente importantes e úteis se as verdades relacionadas à plenitude

do Espírito tiverem sido bem estruturadas na sua vida.

Diálogo e Comunhão

A plenitude do Espírito do Senhor pode vir à nossa vida pelo diálogo e a comunhão dos santos.

O texto registrado em Lucas 1:40-41 nada nos diz, doutrinariamente, sobre ela. No entanto ele nos

apresenta um princípio. Isso porque Isabel, mãe de João Batista, está grávida, tendo João no ventre

como um ser de 6 meses. Ela recebe a visita de Maria, mãe de Jesus, que agasalha Cristo no ventre

como embrião de um mês. Então Maria entra na casa de Isabel e faz uma saudação: “Graça e Paz!” E

acontece que após essa saudação, o bebê João Batista no ventre de sua mãe estremece de alegria, fica

cheio do Espírito Santo. O princípio, então, é este: a plenitude do Espírito pode vir à nossa vida

numa relação dialogal. Quando uma pessoa tem dentro de si a obra estabelecida do Espírito Santo ─

gente em cujo interior o Espírito está formando realidades ─ ao se encontrar com outra, nessa troca

pode surgir essa plenitude.

Em algumas ocasiões, em reuniões de pastores, encontros de líderes, em colóquios agradáveis,

numa troca farta de experiências e de informações daquilo que Deus está fazendo, não raramente

ouço no final algum colega sugerir: “Bem, agora, irmãos, vamos orar um pouquinho porque já

perdemos muito tempo hoje. Ainda não oramos. Vamos pedir ao Senhor que venha nos visitar”. E

eu contesto: “Olhem, irmãos, vamos é agradecer ao Senhor pelo que ele já fez em nós, porque nessa

relação dialogal nossa vida ganhou exuberância, ficou plena de tantas realidades do Espírito do

Senhor que nosso coração está cheio de alegria”. Realmente, nessa troca de relações dialogais, na

comunhão santa com homens e mulheres cheios do Espírito, nossa vida é enriquecida, e a plenitude

do Senhor pode nos vir ao coração.

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Nutrição do Amor

A plenitude do Espírito pode vir à nossa vida através da manifestação e nutrição do amor no

nosso homem interior. Em Efésios 3:16,17, lê-se que Paulo faz uma oração na presença do Pai, de

quem toma o nome toda família, tanto no céu como na terra. O apóstolo faz estar oração: “...para

que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante seu

Espírito no homem interior, e assim habite Cristo nos vossos corações, pela fé, estando vós

arraigados e alicerçados em amor...” Observe que neste texto Paulo parte do efeito para a causa. No

entanto, ele só pode ser entendido se partirmos de causa para o efeito. Paulo fez primeiramente uma

oração pedindo a Deus que o poder, o “dynamis”, a força milagrosa do Espírito Santo enriqueça o

homem interior dos cristãos. Em segundo lugar, que essa plenitude seja tão intensa, que em si

mesma caracterize a plenitude de Cristo habitando nosso coração. Mas não se trata do habitar

primário, relacionado à salvação. A palavra grega habite, aqui, dá idéia de tomar conta de todos os

compartimentos. É uma habitação plena; é manifestação do senhorio total de Jesus. E Paulo diz

como isso acontece: “...estando vós arraigados e alicerçados em amor, Cristo habita em todos os

compartimentos do coração de vocês, e o Espírito Santo, então, segundo a riqueza da sua glória,

enche o homem interior de cada um com poder milagroso, extraordinário”. Dessa forma, para que

compreenda a sequência lógica do que o apóstolo está ensinando, você tem que ir da causa para o

efeito. Ficaria mais ou menos assim: estando você alicerçado em amor, inevitavelmente Cristo vai

habitar todos os compartimentos de sua vida, e o Espírito Santo energizará com poder milagroso seu

homem interior.

Assim é possível perceber a indissociável relação entre a vida arraigada em amor e plenitude do

Espírito Santo. Ninguém que não viva a realidade do amor cristão pode crescer no Espírito. É para

tal realidade não há substitutos. Pode-se orar, jejuar, ler a Bíblia, frequentar os cultos, evangelizar

etc, mas nada disso nos dará a possibilidade de crescermos no Espírito.

Ecumenicidade

Outro princípio sobre como viver de modo pleno a realidade do Espírito Santo se encontra em

Efésios 1;23, texto já referenciado. Em tal passagem a plenitude é afirmada como sendo o resultado

da comunhão e da relação global com o Corpo de Cristo. Em Efésios 1:23, Paulo diz que a Igreja

hoje é seu “corpo, a plenitude daquele que tudo enche em todas as coisas”. Por essa razão posso

afirmar que na Igreja manifesta-se a síntese qualitativa do poder de Deus. Chamo agora sua atenção

para o texto de Efésios 4:4, onde literalmente Paulo faz separação entre todos os elementos

teológicos da unidade: há somente uma fé (vírgula-separação), um só batismo (vírgula-separação),

um só Senhor. Mas quando ele diz que há somente um Corpo e um Espírito, ele não separa os termos

um corpo e um Espírito. Assim, fazendo, ele nos mostra que não pode haver “vírgula” entre o

Espírito Santo e o cristão. Ou seja, só se vive a plenitude do Espírito quando se vive a comunhão do

Corpo de Cristo, sem preconceitos e sem “vírgulas relacionadas” entre nós e os irmãos. E não

somente na nossa igreja local ou denominação, mas em relação a “todo o Corpo”, na sua plenitude e

catolicidade. Só existe Corpo de Cristo onde há o Espírito de Cristo; e onde quer que ele se

manifeste salvadoramente, aí está esse Corpo. E onde está esse Corpo ─ com base em Efésios 1:23

─, aí habita a síntese qualitativa do poder daquele que tudo enche, em todas as coisas no cosmos. De

modo que as implicações, as deduções e inferências deste raciocínio nos levam a concluir que

relações profundas, legítimas, no Corpo de Cristo ─ em serviço e em comunhão ─, inevitavelmente

produzem plenitude na vida daqueles que mantêm de modo sadio essa relação. Quanto mais se vive

no Corpo de Cristo, mais se vive no ambiente existencial onde a plenitude de Cristo se adensa.

O Ciclo de Efésios

A plenitude do Espírito Santo chega ainda à nossa vida quando vivemos no ciclo de Efésios

5:18-21. Paulo diz: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do

Espírito, falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor, com hinos e

cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor

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Jesus Cristo”. É interessante observar que Paulo nos coloca isso na perspectiva do mandamento,

tratando-se, portanto, de um imperativo. Assim, o apóstolo desafia cada um de nós ─ não apenas os

pastores e lideranças da Igreja, mas todos, indiscriminadamente, sem exceção, de modo global ─ a

sermos “cheios do Espírito”. O desafio está feito, é um mandamento, é um imperativo, e é plural ─ é

para todos! “... enchei-vos do Espírito (...)”.

Além disso, o verbo grego traduzidos em português por “enchei-vos” dá a idéia de verdadeira

rendição. Em outras palavras, o que Paulo está dizendo poderia ser colocado da seguinte maneira:

“Entreguem-se ao Espírito, para que ele os encha”. Isso significa que o Espírito Santo está mais

interessado em encher-nos do que nós mesmos em sermos dele cheios. Isso nos traz à mente o

episódio de Maria com o Espírito, quando ele diz: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em

mim conforme a tua palavra”. Aquele foi um dos supremos atos de rendição humana ao Espírito.

Inclusive, sobretudo, rendição da reputação, do casamento, da respeitabilidade moral, do futuro etc.

Porque aquilo que o Espírito estava gerando nela poderia ter implicações perigosíssimas em todas

aquelas áreas. Nenhuma mente humana carnal aceitaria que o que acontecera a ela era obra do

Espírito Santo. Portanto, essa rendição a Deus implica entregar radical de nossa vida e futuro a ele.

A plenitude do Espírito passa pelo caminho dessa entrega ativa de nossa vida ao Espírito.

E mais ainda. O tempo do verbo (enchei-vos), no grego, é o presente, o que sempre nos faz

pensar num ato contínuo, de algo que não cessa, não tem limites, não tem teto, pode continuar

indefinidamente, não tem status definitivo. Dessa forma o texto poderia ser assim traduzido:

“Encham-se sempre, todo dia”.

Desse ponto em diante Paulo diz como tal plenitude pode ser alcançada e mantida.

Primeiramente ele afirma: “... enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos (...)” Quando

alguém aprende a falar com salmos; quando a boca está cheia daquilo que edifica, da palavra de

Deus; quando o falar é rico em instruções; quando a sabedoria é o assunto das nossas conversas, essa

plenitude nos vem ao coração, porque “a boca fala do que está cheio o coração”. Não é apenas a

plenitude do Espírito que nos faz falar com salmos, mas é também o falar com salmos que nos enche

do Espírito. Há um ciclo retro-alimentador; uma coisa leva à outra, num abençoado círculo de

virtudes em nossa vida. Assim, você conhece uma pessoa cheia do Espírito pelo que ela fala e pelo

que deixa de falar. E você pode ser alguém cheio do Espírito Santo se mudar a sua agenda de

conversas: falando com salmos, falando para edificação, para louvor, falando a verdade, falando com

prudência, falando a linguagem da Palavra de Deus. Contudo, preste atenção: não o estou instruindo

a falar abusando de chavões religiosos, travestidos de pseudopiedade. Ao contrário: meu interesse é

que você fale uma linguagem normal, porém cheia de conteúdo da Palavra de Deus. Não se trata de

decorar e repetir versículos, mas falar com o conteúdo da verdade de Deus, ainda que com palavras

seculares.

Paulo então prossegue nos ensinando sobre como viver a plenitude do Espírito. Ele diz “...

entoando e louvando de coração ao Senhor”. Você conhece um ser humano cheio do Espírito Santo

pela maneira como ele adora ao Senhor. Não por sua coreografia ─ se levanta ambas as mãos, a

esquerda ou a direita; se salta de alegria ou não; se é efusivo ou totalmente quieto durante a liturgia.

Muitas vezes gosto do gestual mais carismático quando adoro a Deus. Mas se participo de tal gestual

apenas porque assim se convencionou que uma pessoa livre para louvar a Deus deve fazer, então

serei apenas um ator, e meu louvor não tem nada a ver com o fato de eu estar cheio ou não do

Espírito. Além do que, tais liturgias carismáticas são tão litúrgicas quanto as tradicionais. Mesmo os

carismáticos mais espontâneos têm uma forte liturgia. De fato, tais exteriorismos litúrgicos tem

pouca ou nenhuma significação diante de Deus. Pessoalmente, há dias nos quais tudo que eu quero é

uma liturgia bem tradicional, através da qual possa adorar solenemente ao meu Deus. Mas como já

disse, muitas outras vezes sinto que minha alma pede um pouco mais de descontração litúrgica.

Tudo depende do dia e da hora. Liturgia deveria ser sempre uma expressão existencial da alma.

Ora estou dizendo tudo isso ainda para afirmar que você conhece uma pessoa cheia do Espírito

pela maneira como adora, porque adora ao Senhor “de coração”. Plenitude do Espírito Santo tem a

ver com adoração ao Senhor; adoração desde o íntimo, as entranhas, o cerne da alma. E tal expressão

da alma pode ser alcançada através das expressões litúrgicas as mais variadas. Sinceridade não

conhece formas, conhece apenas conteúdos. Sinceridade prescinde de todas as maneiras

convencionais de expressá-la. Sinceridade é. E só Deus a discerne em seu conteúdo mais verdadeiro.

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Ainda pensando no fato de que a plenitude do Espírito pode ser vivida através do louvor e da

adoração, devo acrescentar algo que para mim é totalmente importante. Hoje tem se associado

demasiadamente o louvor ao fato de o povo de Deus estar reunido para cantar. Assim, atualmente,

vêem-se grupos inteiros especializados em louvor. Vemos também muitos que têm esse ministério.

Todavia, tal associação apenas ao tempo de canções espirituais no culto é extremamente reducionista

e empobrecedor da idéia bíblica de louvor. Quando Paulo diz que podemos ficar e nos manter cheios

do Espírito Santo através do louvor sincero, ele está pensando em louvor como um projeto de vida,

como uma constante e ininterrupta atitude do coração diante de Deus. Trata-se, portanto, do culto da

vida e de uma vida de culto. Tal louvor transcende liturgia, horários marcados e se embrenha na vida

como um todo. Tal louvor é vida em Deus!

Neste ciclo de Efésio, Paulo diz ainda que nós nos enchemos do Espírito Santo quando

aprendemos a reagir com gratidão à vida, sem lamúrias, dando por tudo graças ao nosso Deus e Pai.

Não como o sapo Paulama, do livro “A Cadeira de Prata”, de autoria de C.S. Lewis ─ O Paulama,

que reclamava o dia inteiro. E quanto a isso temos que ser sensíveis a fim de percebermos as

próprias arapucas que o coração nos arma para levar-nos à murmuração. Isso porque muitas vezes

somos induzidos pela nossa alma a atitudes de disfarçada piedade, mas que não passa, na essência,

de pura amargura. Somos assim amargos não apenas quando não somos gratos a Deus, mas também

quando não somos gratos aos homens. Conheço pessoas muito “espirituais” que aparentam ser muito

gratas a Deus, mas são incapazes da mesma atitude essencial de positividade grata para com o

próximo. Estou enfatizando isso porque não tenho a menor dúvida de que reações de gratidão à vida

e a tudo na presença de Deus produzem esse ciclo de Efésios: a nossa vida vai sendo enchida da

plenitude do Espírito.

Paulo ainda nos diz que nós nos enchemos do Espírito Santo quando aprendemos a nos sujeitar

uns aos outros “no temor de Cristo”. É o que diz o v. 21. A essa altura o apóstolo entra numa área de

plenitude do Espírito Santo que nós raramente abordamos. Ele diz quais são os níveis de sujeição. É

uma pena que no mundo todo as entidades que fazem traduções e publicações da Bíblia tenham

interrompido a sequência do texto original, inserindo palavras em negrito, do tipo das que

encontramos aqui em Efésios 5, entre os v. 21 e 22: “O lar cristão: marido e mulher”. Se não

houvesse isto na Bíblia, seguir-se-ia direto a expositiva do texto, a fim de encontrarmos uma

conexão imediata entre os v. 21 e 22. Paulo diz no v.21: “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de

Cristo”. E a pergunta é: “Qual a primeira sujeição?” Na do texto isto fica claro: “As mulheres sejam

submissas aos seus próprios maridos”, diz o v. 22. A lição é simples: mulheres cheias do Espírito

Santo submetem-se ao marido. E mulheres que aprendem a se submeter ao marido no temor do

Senhor são mulheres que ficam cheias do Espírito Santo. Esta é a promessa da Palavra de Deus.

Mulheres que dizem: “Há, eu estou cheia do Espírito Santo, já não posso mais obedecer ao meu

marido, porque agora não obedeço mais a homens, mas somente a Deus”, estão cheias de qualquer

coisa, menos do Espírito. Porque o Espírito Santo só enche as pessoas que estão vivendo de acordo

com os padrões da sua Palavra.

Depois vem a segunda sujeição. No v. 25 está dito: “Maridos, amai vossas mulheres, como

também Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Maridos cheios do Espírito Santo

amam suas mulheres, mas amam-nas de modo altruísta; são capazes de se entregar por amor delas.

Na medida em que fazem isso, Deus os honra e os enche com o Espírito Santo. É nesse ponto que

encontramos o perfeito equilíbrio entre a submissão da mulher e o amor altruísta do marido. Quando

esses princípios bíblicos são obedecidos, já não há maridos machistas, nem mulheres esmagadas.

Não há nem mesmo a necessidade de que tais papéis sejam por ele relembrados. O marido não

necessita lembrar à mulher que ela deve se submeter a ele; e a mulher não precisa lembrar ao marido

que ele deve amá-la como “Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela”. O problema é

que na maioria das vezes apenas as mulheres são lembradas de seu dever cristão de submissão,

enquanto os maridos não são igualmente lembrados de seu tremendo dever de serem generosos e

efusivos em suas expressões familiares e conjugais de amor, tendo como referência o patrão ─

Cristo. A vivência de tal projeto conjugal traz, automaticamente, a plenitude do Espírito ao coração

que a ele se submete em amor a Deus.

A terceira relação de sujeição no temor do Senhor é esta: “Filhos, obedecei a vossos pais (...)”

(6:1). Os filhos cheios do Espírito Santo são submissos aos pais. O apóstolo prossegue: “Pais, (...)

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criai-os (os filhos) na disciplina e na admoestação do Senhor”. Na epístola aos Colossenses Paulo

diz: “... não os trateis com amargura (...)” “... não provoqueis vossos filhos à ira (...)” ─ acrescenta.

De fato, os filhos que se submetem aos pais no temor do Senhor têm a promessa de que serão cheios

do Espírito Santo. E o mesmo sucede aos pais que disciplinam os filhos com amor e sabedoria, não

exercendo sobre ele nenhum tipo de amor opressivo: “não provoqueis vosso filhos à ira”.

A quarta relação de submissão está em Efésios, cap. 6 a partir do v. 5. O apóstolo diz que os

empregados devem ser submeter aos patrões como ao Senhor. Isto dá à vida secular um papel de

culto, liturgia. Transforma nossas atitudes no trabalho e em relação aos nossos patrões ─ seja o

Estado, seja o empresário, seja a diretoria da Companhia, seja a dona da casa ─ num ato de

expressão de nossa honestidade cristã secular diante de Deus. Eu, pessoalmente, reconheço que nos

dias de hoje tal princípio tem sido questionado nas suas bases. Isso porque viemos de um extremo a

outro. Durante muito tempo fomos pessoas submetidas a uma subserviência indigna. Todavia, no

momento parece que fomos para o outro extremo, caindo numa situação na qual há uma

incapacidade quase essencial de aceitarmos qualquer tipo de autoridade e a ela nos submetermos.

Paulo estabelece as relações de trabalho como um dos elementos através dos quais a plenitude do

Espírito opera em nossa vida. O apóstolo diz que no trabalho devemos: 1) “servir com sinceridade de

(...) coração, como a Cristo”; 2) “não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como

servos de Cristo”; 3) “servindo de boa vontade, como ao Senhor, e não como a homens”. Deus honra

esta atitude de sujeição. Vale observar o que se diz: “como a Cristo... como servos de Cristo... como

ao Senhor”. Ora, isso coloca nosso trabalho secular na perspectiva cúltica. Paulo está nos

estimulando a realizar o trabalho chamado secular numa perspectiva ministerial. E vai mais longe

ainda, lembrado-nos que tal trabalho secular terá sua recompensa eterna, quando feito como para o

Senhor: “certos de que cada um, se fizer alguma cousa boa, receberá isso outra vez do Senhor, que

seja servo, quer seja livre”. Deus é o recompensador do trabalho humano. O trabalho secular feito

em Deus tem uma recompensa que transcende os próprios benefícios materiais com os quais é pago

na história.

Paulo prossegue tratando do assunto. Relaciona agora os mesmos princípios aos patrões. Ele diz

que estes devem saber mandar nos empregados; quando assim procedem com base no temor do

Senhor, Deus os enche com o Espírito Santo. Se não observe: “E vós, senhores, de igual modo

procedei para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor, tanto deles como vosso, está

nos céus, e que para com ele não há acepção de pessoas” (6:9). O apóstolo começa evocando a base

motivacional dos mesmos princípios pertinentes aos servos. Por isso diz: “de igual modo procedei

para com eles”. Ora, isso leva os patrões que querem viver cheios do Espírito Santo a se

conscientizarem de que devem tratar seus empregados como se eles fossem o próprio Jesus

trabalhando para eles. Além disso, há ainda duas coisas específicas que o apóstolo relaciona

exclusivamente aos patrões: 1) “deixando as ameaças, sabendo que o Senhor (...)” do homem não é o

homem, mas é aquele “que está nos céus”. 2) “Para com Deus não há acepção de pessoas‟. Este

último princípio é um lembrete aos patrões de que eles são seres iguais a seus servos. Não há

privilégios sociais transferíveis diante de Deus. Também parece estar claro que o empregado não é

um tipo difícil de ser humano, ao contrário do que às vezes muitos patrões tentam fazer crer.

É vivendo nesta perspectiva que patrões e empregados cristãos estarão aptos a viver e

desenvolver a plenitude do Espírito Santo. Caso contrário, suas orações e piedade religiosa fora do

trabalho não terão qualquer significado espiritual, capaz de ajudá-los a ficar cheios do Espírito

Santo.

Ainda na mesma acerca do ciclo de Efésios, Paulo diz que a plenitude do Espírito passa também

pela vivência do ministério cristão ─ uma vida de serviço que não foge à guerra espiritual. E ele

conclui dizendo: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder”. Aí então o

apóstolo introduz o assunto da guerra espiritual nos lugares celestiais (6:11-20). Na sua mente a é

uma só: “... enchei-vos do Espírito (...)” Como? Pelo que você fala. Como? Pela maneira como

adora. Como? Pelo modo como reage. Como? Pela forma em que se relaciona na família ─ com a

esposa, o marido, os filhos, os pais. Como? Pelo modo como trabalha ou trata aqueles que o servem

no trabalho. Relacione-se certo do ponto de vista de Deus, e Deus o honrará e o encherá do Espírito

Santo.

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Sofrimento e Perseguição

As Escrituras nos ensinam que a plenitude do Espírito Santo também pode vir à nossa vida

através do sofrimento e da perseguição. É o que está dito em I Pedro 4:12-14: “Amados, não

estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos como se alguma cousa

extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois co-

participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também na revelação de sua glória vos alegreis

exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa

o Espírito da glória e de Deus” No v. 15 o apóstolo diz que não devo sofrer como “assassino, ladrão,

malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem”. Devo sofrer como cristão, e

sofrendo, glorificar a Deus com esse nome. Observe agora o v. 14, que fala sobre a plenitude do

Espírito. Só que muitas vezes não levamos esse texto muito a sério, pelo fato de ele não ter as

feições carismáticas da nossa preferência. Pedro diz o seguinte: “Se pelo nome de Cristo sois

injuriados, [blasfemados, oprimidos, atribulados], bem-aventurados [ou felizes] sois, porque sobre

vós repousa o Espírito da Glória [o Espírito de Shekiná] e de Deus”.

Você já havia pensado nisso? Já pensou no fato de que quando você é sujeito ao sofrimento

injusto, quando sustenta a justiça do Reino de Deus, quando assume a vida de santidade apesar do

ridículo ao qual tal projeto tantas vezes o submete, quando não afrouxa o compromisso da

obediência a Deus apesar das seduções em volta, sobre você repousa o Espírito da Glória e de

Deus?! Se soubéssemos disso, certamente usaríamos de maneira diferente o sofrimento e a

perseguição. Emprestaríamos aos dissabores da existência e a toda forma de opressão ou

ridicularização sofridas no e pelo evangelho fins litúrgicos. Tais situações tornar-se-iam parte do

nosso sacrifício de louvor e adoração ao Senhor. Diríamos: “Senhor, obrigado pela promessa de que

sobre mim repousa o Espírito da Glória e de Deus! Aquele Espírito da Glória, de Shekiná, que

encheu o Templo de Salomão com glória tamanha que os sacerdotes não puderam permanecer ali.

Assim, ajude-me a sofrer em ti e no teu amor, sem permitir que meu coração se encha de amargura e

autopiedade”.

Você já ouviu a história de Salomão Ginsburg, um jovem judeu que se converteu ao evangelho?

Sua família inteira ─ tradicionalmente judaica, comprometidos todos religiosamente com o judaísmo

─ chamou-o a fim de lhe oferecer uma chance de apostatar do que consideravam heresia cristã. Mas

o jovem estava amando a Jesus. Então um dia, a família reunida, alguém lhe perguntou:

─ Você é capaz de apostatar de Jesus Cristo?

─ Não!

Tentaram persuadi-lo, mas ele, mantendo-se firme, declarou:

─ Não!

A família então o desconsiderou. Abriram-lhe as Escrituras em Deuteronômio, e leram o texto

que fala das maldições da lei que recaem sobre os judeus que não obedecem à Palavra de Deus:

─ Maldito serás ao entrares.

Mas Salomão Ginsburg ouvia outra coisa. Ele ouvia:

─ Bendito serás ao entrares.

─ Maldito serás ao saíres.

─ Bendito serás ao saíres ─ era o que escutava.

─ Quando plantares a terra ela não dará o fruto.

─ Tudo que plantares Eu vou abençoar ─ ouvia.

Liam-se as maldições e ele ouvia as bênçãos. E ele foi ficando embriagado, cheio do Espírito. E

quando a leitura das maldições acabou, disseram-lhe:

─ Fora, cão!

E saiu Salomão, trocando as pernas, agarrou-se a um lampião, e ficou ali louvando a Jesus:

─ Aleluia, glória ao teu nome!

Nisto um guarda, de longe, vê aquele rapaz agarrado ao lampião.

“Tão novinho, a uma hora dessas, bêbado! Vou lá. Vou prendê-lo”, pensou.

─ Meu filho, você está bêbado?

─ Não, seu guarda, não é vinho, é outra coisa.

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E olhando para ele sorriu e começou a falar. E foi falando de Jesus, e o guarda, quebrantado,

disse:

─ Desse vinho eu quero!

E se ajoelharam ali, e oraram o guarda entregando a sua vida a Cristo. “Se pelo nome de Cristo

sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da Glória e de Deus”.

A Vida de Oração

A palavra de Deus também nos ensina que a plenitude do Espírito vem à nossa vida através da

vida de oração. Quando falo em oração estou falando do ato sistemático de orar, da busca intensa de

Deus, com expectativas de que ele nos visite. Não se trata de orações-rezas-evangélicas, feitas

mecanicamente, mas orações cheias de santa expectativa diante de Deus. Como em Atos 2, quando o

Espírito se derramou enquanto oravam às 9:00 horas da manhã; ou em Atos 4:32, quando o Espírito

estremeceu a casa e os encheu enquanto oravam. Em Lucas 11:13 Jesus nos estimula a orar cheios de

expectativa: “Se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai

Celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” É através da oração que você inspira o

amor divino. É mediante ela que você pode dizer “Ó Deus, enche a minha vida. Estou aqui como

uma esponja para beber, absorver a realidade da tua graça”. Não tenha a menor dúvida de que Deus

está mais interessado em enchê-lo do que você em ser cheio de Deus.

Estou convencido de que essa realidade da oração precisa ser urgentemente redescoberta por nós,

pelo simples fato de que nos tornemos uma geração que não ora. Mesmo os movimentos evangélicos

que no passado mais se caracterizaram pela vida de oração já não oram com a mesma intensidade,

dedicação e fé singela e expectante. A tragédia do cristianismo brasileiro, pelo menos a parte

protestante dele, é que à medida que o resto do país se torna mais voltado para as realidades

espirituais ─ ainda que tantas vezes nas negativas ─, nós temos nos tornado cada vez mais

materialistas, tendendo à absolutização da dimensão política acima de qualquer outra, ou cedendo à

tentação de uma existência cristã bem arrumada doutrinariamente, porém totalmente vazia daquela

esperança que faz orar.

Sem vida de oração não há a menor chance de se viver qualquer projeto de vida com a plenitude

do Espírito Santo.

A Palavra

A plenitude do Espírito Santo também acontece em nossa vida pela relação diária, devocional, na

presença de Jesus, com sua Palavra, com o estudo das Escrituras. É o texto de João 7:37, que nos diz

que no último dia da festa dos Tabernáculos, Jesus exclamou: “Se alguém tem sede, venha a mim e

beba”. O interessante é que o original grego desse versículo não dá idéia de algo definitivo. A noção

que ele dá é o seguinte: “Sempre que você tiver sede, venha a mim e beba”. A idéia é de uma atitude

diária, contínua. Como faço isso? Jesus disse: “... quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu

interior fluirão reios de água viva”. Isto ele diz com respeito “ao Espírito que haveriam de receber os

que cressem, visto que até aquele momento o Espírito não havia sido dado, pois Jesus não fora ainda

glorificado” (Jo. 7:39). Então, como bebo de Jesus todas as vezes que tenho sede? Em João, cap. 6

Jesus ensinou que o Verbo que se fez Carne e agora se transformou outra vez em Verbo. “O Verbo

se fez carne e habitou entre nós”. Todavia, o próprio Jesus que disse que deveríamos comer sua

carne e beber seu sangue, a fim de que tivéssemos parte nele mesmo (Jo. 6:53-55). Os discípulos

interpretaram esta sua afirmação numa perspectiva antropofágica. E assim muitos se escandalizaram.

Em outras palavras, o que alguns deles disseram foi: “Que coisa terrível! Esse homem é um

antropófago! Ele nos manda comer carne e beber sangue” (Jo 6:60-61). Jesus então os chamou e lhes

disse: “Ouçam: Eu não estou falando de carne... O espírito é o que vivifica; a carne para nada

aproveita: as palavras que Eu vos tenho dito são espírito e vida” (Jo 6:63). Dessa forma aprendo que

o Verbo que se fez carne agora se faz vida para a minha vida pela Palavra. A única maneira de eu

comer a carne e beber o sangue de Jesus é através da absorção da Palavra, que é espírito e vida. De

modo que todas as vezes que estou precisando me renovar tenho que fazer isso; sempre que tiver

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fome e sede tenho que comer e beber, isto é, ir a ele pela Palavra. E ele promete que do meu interior

fluirão rios de água viva: haverá plenitude!

Todas as vezes que estou com a Palavra, meditando nela, aprendendo, deixando que ela forme o

caráter de Jesus em mim, que me transforme, tornando-me semelhante ao Senhor, pela ação do

Espírito Santo; sempre que deixo esse Verbo se fazer carne de novo na minha existência, o Espírito

fluir em mim, eu me transformo numa espécie de chafariz de Deus. É o que diz o texto: “Do seu

interior fluirão rios de água viva” (Jo. 7:38). Lembra-se daqueles bonequinhos das praças, gordos, de

mármore, que ficam com a boquinha aberta, soltando água a vida inteira? É assim o milagre! Você

tem sede, vai lá e bebe. Isto diz respeito ao fato de que, nesta relação devocional coma a Palavra,

como meio de graça para a minha vida, em cada pouquinho que absorvo, na experiência sistemática

devocional, tenho o suficiente para esse chafariz de Deus, que abençoa vidas, o tempo todo.

Pois assim é a vontade de Deus que sejamos cheios de Espírito Santo, pelo diálogo e a comunhão

santa; pelo amor aos irmãos, germinando e crescendo no coração; pela comunhão de serviço com o

Corpo de Cristo; e pelo ciclo de Efésios, cap. 5: pelo que falamos; pela maneira como adoramos: o

modo como reagimos; a forma em que nos submetemos no temor do Senhor.

Esteja cheio do Espírito Santo, reagindo de modo certo à perseguição e à tribulação ─ pela vida

diária, cotidiana, ininterrupta de oração. Seja cheio do Espírito, indo ao Senhor todas as vezes que

tem sede, e na forma como hoje ele se substancia na sua vida: através da sua Palavra.

Quais são os resultados visíveis e caracterizadores de uma vida cheia do Espírito Santo? O Novo

Testamento ensina que são sinais espirituais, morais e éticos. Você pode ter dons, carismas,

manifestações milagrosas e ser tão carnal como os membros da Igreja de Corinto. Vidas cheias do

Espírito Santo evidenciam isso, através de certos sinais. Gálatas 5:22-23 nos fala do fruto, a

evidência do Espírito: amor,alegria, paz, longaminidade (a palavra grega é macrotomia, significa ser

paciente como Dês tem sido conosco); benignidade (doçura sobretudo com os humildes), bondade

(generosidade), mansidão (placidez, modéstia), domínio próprio (controle sobre vícios etc.),

esperança (Rm. 15:13). Outro sinal da plenitude do Espírito é isenção de legalismo, de

condicionamentos opressivos, conforme diz 2 Coríntios 3:17 “Onde está o Espírito do Senhor aí há

liberdade” A santificação é outra marca, conforme mostra 2 Tessalonicenses 2:13 O Espírito nos

santifica porque Deus nos elegeu “para a salvação pela santificação do Espírito”.

É fácil descobrir pessoas cheias do Espírito Santo. Eles, por exemplo, não produzem divisões

carnais na Igreja. Judas 19 diz que vivem de modo incompatível com o pecado, o que implica não

promover divisões ─ resultado de nossa sensível e egoísta animalidade.

Que Deus nos encha com o Espírito Santo! A ordem do Senhor para hoje, e sempre, é esta:

“Enchei-vos do Espírito!”

Transborde o Espírito! Deixe-se dominar por ele. Permita que ele vá se infiltrando de tal maneira

na forma de você pensar, ser, viver, que se misture, se funda no seu homem interior.

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Capítulo IV

O BATISMO

COM O ESPÍRITO SANTO

A nível de introdução deste capítulo desejo esclarecer, antes de mais nada, que não é minha

intenção, sob hipótese alguma, atiçar polêmica em torno deste tema santo, delicado demais para nos

agredirmos por meio dele. Contudo, devo admitir o fato de que não há assunto ou teologia na Igreja

Evangélica Contemporânea que maior número de interpretações e polêmicas tenha suscitado do que

este. A constatação de tal realidade é fácil quando se vê o número enorme de grupos e de

perspectivas teológicas sobre o Batismo com, em ou no Espírito Santo. Entre as muitas perspectivas

pelas quais se vê este tema, tem-se a dos reformados-conservadores,dos reformados-abertos, dos

reformados carismáticos, dos carismáticos de linha não reformada, dos católicos carismáticos e dos

pentecostais. Estes, por sua vez, se subdividem em outros grupos: os pentecostais-tradicionais

(representadas no Brasil por igrejas como a Assembléia de Deus), os pentecostais-renovados (igrejas

como as Batistas Renovadas ou Presbiterianas Renovadas) e os pentecostais-folclóricos

(genuinamente representada pela Universal do Reino de Deus). São tantos os ramos, que só posso

lamentar tantas divisões. Portanto, não é intenção deste livro ajudar a aumentar ou acirrar tais

segmentações.

Também para abrir este capitulo quero afirmar algo que o Ver. John Stott tem enunciado como

um princípio de sabedoria e cautela em estudos deste gênero e que eu, como não poderia deixar de

acontecer, vou adotar neste livro. Ou seja: não podemos criar doutrina em cima do livro de Atos.

Digo isto baseado no fato de que a maioria das teologias a respeito do Espírito Santo atribuem a ele

sua principal, às vezes única “referência doutrinária”. Mas o livro de Atos ─ como o próprio nome

diz ─ é um livro de atos, de experiências, não de doutrinas. E atos, experiências, não são

padronizáveis, não podem ser absolutizados na sua forma: só doutrinas têm a tal possibilidade. Se

fôssemos erguer doutrinas com base em Atos, imagine que doutrinas ─ como a da conversão ─

ganhariam um lugar sem precedentes na vida e na experiência de Paulo. Porque se há uma

experiência de conversão extraordinária, em Atos, esta é a do apóstolo: “... subitamente uma luz do

céu brilhou no seu redor e, caindo por terra, ouviu uma voz (...) e ficou cego (...)” Baseado nisso eu

poderia escrever um livro sobre “Os sintomas e as evidências da conversão”, no qual afirmaria o

seguinte: “O homem convertido é aquele que viu uma luz no céu ─ mais precisamente ao meio-dia

(Não valeria às 6 da manhã, às 10, ou às 11 horas). Ouviu uma voz e ficou cego três dias”. Já

imaginou pessoas construindo, doutrina sobre conversão em cima da experiência de Paulo?

Estaríamos todos perdidos! Quantos de nós têm encontrado Cristo desse modo? A absolutização da

conversão de Paulo como o verdadeiro padrão doutrinário-experiencial iria criar duas realidades: um

grande grupo de neuróticos procurando viver, sentir e produzir os mesmos fenômenos de conversão;

e um grupo de mentirosos afirmando que experimentaram tais fenômenos. Portanto, transformar

experiências em padrões doutrinários pode ser uma catástrofe.

Também a nível de introdução devo dizer que precisamos estar dispostos a renovar a mente

quanto aos nosso conceitos. Abro aqui um parêntese para dizer que a posição que partilho neste livro

é minha apenas desde 1978. Tive minha genuína experiência de conversão numa igreja das

Assembléias de Deus em Manaus, uma quarta-feira à noite; fiz meu compromisso com Jesus com

um pastor presbiteriano na quinta (meu pai); fui inicialmente muito ajudado por um pastor da Igreja

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Batista (Israel Guerra), e tive a certeza de que Deus me havia chamado para o ministério sagrado

numa experiência com um bispo anglicano do Líbano (Samuel Doctorian). E mais: convivi

intensamente com irmãos batistas e de todas as denominações; contudo minha pneumatologia era

originalmente pentecostal. Nos quatro primeiros anos da minha vida de convertido era um ardoroso

defensor da teologia do Espírito Santo, conforme classicamente ensinada pela Igreja Pentecostal.

Digo isto apenas para mostrar que não estou teorizando quando afirmo que devemos estar dispostos

a renovar a mente ─ se for o caso ─, com honestidade, bom-senso, e à luz das Escrituras. Eu mesmo

tenho tido que rever outras posições à luz da Palavra de Deus.

Algum tempo atrás, fazendo este mesmo estudo, ao terminá-lo (faço-o quase que anualmente

para grupos diversos), um rapaz me procurou e me disse: “Pastor Caio, estou absolutamente

convencido pela Bíblia de que o senhor está certo, mas acontece que tudo isso nega o meu

sentimento”. Então argumentei: “Mas irmão, enganoso é o coração, mais do que todas as coisa, e

desesperadamente corrupto ─ quem entenderá? Meu coração pode dizer mil coisas, mas o meu

compromisso é com a Bíblia, e é com ela que desejo estar em absoluta harmonia”. Mas meu

arrazoado pouco ajudou. O moço dava mais atenção aos meus sentimentos do que à razão que lhe

vinha à mente pela Palavra de Deus. Este é um exemplo típico de alguém que não está disposto a se

abrir para convencimento que vem pela Palavra.

ATOS NÃO SERVEM À TEOLOGIA SISTEMÁTICA

Como já vimos, o livro de Atos nos impossibilita de fazer qualquer sistematização de uma

fórmula teológica sobre como se dá o batismo com o Espírito Santo. Ele não oferece doutrinas,

apenas relata experiências, e estas não obedecem a um padrão. Prova disso são aquelas relacionadas

como recebimento do Espírito Santo. Observe o seguinte. Com os discípulos de Jesus e os cento e

vinte que receberam o Espírito Santo no dia de Pentecoste, qual foi o caminho de fé que eles tinham

percorrido até aquele momento? Em primeiro lugar, eles nutriam fé em Jesus, e isso desde o ano

inicial do seu ministério (At. 1:13-22). Eles haviam sidos batizados ─ ou por João Batista, ou no

começo do ministério de Jesus; foram discipulados por Jesus durante três anos, e no dia de

Pentecoste receberam o Espírito Santo. Nesse mesmo dia três mil pessoas creram na pregação de

Pedro. E o que lhes aconteceu? Pedro os convidou a receber o mesmo dom que haviam recebido (At.

2:38). E qual foi a espiritual, até receberem o Espírito? Arrependimento, batismo, e a promessa do

Espírito Santo. É o que diz Atos 2:38: “Arrependei-vos (...) cada um de vós seja batizado (...) e

recebereis o dom do Espírito Santo”. Assim, trata-se de uma ordem de fatos totalmente diferente das

dos 12 discípulos ou dos 120 da manhã de Pentecoste.

Temos também aquele grupo de Samaria que se converteu com a pregação de Filipe. Diz a Bíblia

que eles creram, foram batizados, e inclusive houve um interregno, até que Pedro e João foram lá,

oraram, e eles receberam o Espírito Santo. Aconteceu então a conversão de Paulo, e a foi:

arrependimento, fé, recebimento do Espírito Santo (quando Ananias orou com ele) e batismo. Depois

vem Cornélio, que ouviu a Palavra, reagiu com fé, recebeu o Espírito Santo e foi batizado. Após ele

vem a dos discípulos de Éfeso, em Atos 19. Eles ouviram a Palavra, receberam o batismo, depois o

Espírito Santo.

Com base nessas experiências, como se poderia afirmar ─ conforme alguns livros de doutrina

pentecostal baseada em Atos ─ que a primeira coisa a se fazer é esta, a segunda essa, a terceira

aquela? Ou que acontece o batismo com ou sem água, e só depois o batismo com o Espírito Santo?

Ou seja: antes, obrigatoriamente, tal passo tem de acontecer, caso contrário nada absolutamente

sucedera. Em muitos casos trata-se quase de uma fórmula como para se ligar um liquidificador.

Pessoalmente, não creio que seja possível definir como essas realidades relacionadas à obra de Deus

“funcionam”.

TEOLOGIA SISTEMÁTICA, SOMENTE NAS CARTaS DOUTRINÁRIAS

Desejo mostrar-lhe que a doutrina do Espírito Santo tem que ser erigida com base nas Cartas

doutrinárias, não em Atos. Em primeiro lugar, não podemos construir doutrinas em Atos e confirmá-

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las nas Cartas. O contrário é que é o certo. Em Atos há somente fatos, não a interpretação teológica

deles.

A que as Cartas nos apresentam sobre o recebimento do Espírito Santo tem a ver sempre com a

pregação da Palavra de Deus. Leia Romanos 10:17, onde se diz que a fé salvadora “vem pelo ouvir,

e pelo ouvir a Palavra de Deus”. Observe ainda o que diz Gálatas 3:2 e 5, onde está registrado que o

Espírito é concedido quando as pessoas estão ouvindo a Palavra com fé. Paulo pergunta: “...

recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?”. Atente sobretudo ao v.5: “Aquele,

pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, porventura o faz pelas obras da lei,

ou pela pregação da fé?” O que Paulo está dizendo é que “a fé vem pela pregação, e a pregação pela

palavra de Cristo” (Rm. 10:17).

E mais, quando ouvimos a Palavra de Deus e ela produz fé no coração, o Espírito do Senhor vem

sobre nós ─ isto acontece na experiência Primeira, no Encontro, a que chamamos regeneração e

conversão. O que também faz sentido com Atos 10:44, que revela que o Espírito Santo do Senhor

caiu sobre todos os que ouviram a Palavra na casa de Cornélio, na hora da pregação. A salvação,

portanto, vem com a invocação de Jesus, como está dito em Romanos 10:13: “Todo aquele que

invocar o nome do Senhor será salvo”. Isto implica a invocação do Espírito Santo. E... “o Pai

celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem” (Lc. 11;13).

O Espírito Santo é concedido àqueles que ouvem a Palavra de Deus com fé. Isto na experiência

primeira, quando o Espírito vem selar, salvar, regenerar, colocar-se como penhor na alma de todo

aquele que crê em Jesus (Ef. 1:13-14). Portanto, qualquer recebimento do Espírito Santo ─

teologicamente falando ─ tem a ver com a pregação das Escrituras. Sem ela não há fé salvadora.

Sem fé salvadora o Espírito não se derrama em selagem, em regeneração salvadora no coração.

Se todos os que são de Cristo têm o Espírito Santo (conforme diz Rm. 8:9: “E se alguém não tem

o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”), então qual é a experiência cristã que deve receber o nome

de batismo com o Espírito Santo?

O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO CONFORME O NOVO TESTAMENTO

Os pentecostais afirmam que é a segunda benção. Isto é o que diz a teologia pentecostal

convencional: “Batismo com o Espírito Santo não é conversão, nem regeneração, mas uma segunda

benção, que acontece após a conversão, e é caracterizada pelo falar em outras línguas”. Os

reformados explicavam isso de modo diferente. Eles diziam que a terminologia “batismo como o

Espírito Santo” é teologicamente sinônima de regeneração e novo nascimento, sendo equivalente à

obra da conversão. São terminologias sinônimas para definir o mesmo acontecimento, afirmavam.

Concordo com eles!

Você pode chamar a mesma experiência de novo nascimento, regeneração, conversão ou batismo

com o Espírito Santo. São termos diferentes para descrever o mesmo acontecimento íntimo.

JUSTIFICATIVAS QUANTO À AFIRMAÇÃO PENTECOSTAL DE SER O BATISMO

COM O ESPÍRITO SANTO UMA SEGUNDA BENÇÃO.

Primeiro argumento: No Pentecoste, Pedro, Tiago, João, os apóstolos e os 120 que tiveram

experiências de discipulado e de caminhar com Jesus (portanto já salvo) foram batizados com o

Espírito Santo. Conclusão: o batismo com o Espírito Santo é para pessoas que já foram salvas, sendo

portanto uma segunda bênção. Que resposta se pode dar a esta argumentação?

Minha resposta é que o Pentecoste não constitui padrão, pelo fato de ser o derramamento inicial

do Espírito Santo. Os implicados no derramamento viviam uma situação sem precedentes, porque o

Espírito não havia ainda sido derramado. O que aconteceu com os 120, repito, não constitui padrão;

seria padrão se durante aqueles três anos que conviveram com Jesus o Espírito do Senhor já

houvesse sido derramado. Mas o Espírito não tinha nem mesmo vindo sobre eles. Então o que antes

lhes sucedeu ─ fé, batismo, discipulado ─ não foram passos anteriores ao batismo, mas apenas

dispensações distintas da história da salvação. Uso aqui o termo “dispensação” apenas para me

referir a um período histórico em que o modo existencial pelo qual o Espírito estava se relacionando

com o homem não era ainda tão “interior” e generalizado quanto é agora. Meu uso do termo nada

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tem a ver com os vigorismos metódicos e, por vezes, domesticadores de Deus dos chamados

dispensacionalistas. Isso porque mesmo antes do Pentecoste a Escritura já atestava a relação do

Espírito com o “íntimo humano”, se bem que esse não fosse ainda padrão, como é hoje. Só depois

que Jesus foi assunto aos céus e derramou o Espírito ─ e daí para a frente é que se pode estabelecer

uma teologia sobre o receber do Espírito, visto que aqueles homens estavam vivendo com Jesus num

contexto onde o Espírito não havia ainda sido derramado. Portanto, a experiência deles não

padroniza esse tipo de teologia.

Também o Pentecoste não constitui padrão por ter em si o cumprimento simultâneo de duas

promessas. Pensamos normalmente que nele há o cumprimento de apenas uma, o que não é

exatamente um fato, pois na realidade são duas: batismo no Espírito Santo e derramamento de poder

para testemunhar ao mundo. Parece-me que é justamente isto que se mistura na mente da maioria das

pessoas. Atos 1:5, por exemplo, faz uma primeira promessa ─ a do batismo com o Espírito Santo,

onde Jesus cita João Batista e diz que depois que ele fosse assunto aos céus os discípulos seriam

batizados com o Espírito. Então os que estavam reunidos indagam: “Senhor, será este o tempo em

que restaures o reino a Israel?” E Jesus lhes responde: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas

que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade: mas recebereis poder, ao descer sobre vós o

Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e

até os confins da terra”. O que está dito no v.8 sobre a concessão de poder espiritual não é uma

resposta ao v.5, mas ao contexto antecedente imediato, em que os discípulos perguntaram: “Senhor,

será este o tempo em que restaures o reino a Israel?” Ou seja: “Vais voltar logo para esta

restauração?” E Jesus responde assim a uma pergunta escatológica: “A questão escatológica de

vocês sobre o fim ─ quando vem, quando não vem ─ não tem que ser respondida com datas, anos,

épocas. A grande resposta a esta questão é a evangelização do mundo, realidade para a qual eu

prepararei vocês, através do poder do Espírito Santo que lhes será concedido”. Isto é quase Mateus

24:14: “E será pregado este evangelho do reino por todo o fim”. Em outras palavras: “Vão por todo

o mundo, preguem o evangelho a toda criatura! E quando o mundo tiver ouvido a Palavra, vocês

estarão mais próximos do que nunca da época em que todas as coisas serão restauradas”. Portanto,

ali no Pentecoste duas promessas se cumpriam simultaneamente: a primeira, batismo com o Espírito

Santo; a segunda, derramamento de poder, para que aqueles homens fossem testemunhas eficazes de

Jesus, em toda a Terra.

É o grupo pentecostal dos três mil ─ os que ouviram a pregação de Pedro e se converteram no

dia de Pentecoste ─ que constitui padrão normal de recebimento do Espírito Santo. Em Atos 2:37-

41, quando se diz que Pedro pregou explicando o que estava acontecendo,alguns retrucaram: “Eles

estão embriagados... Como pôde isto suceder?: Pedro anunciou Cristo, e quando terminou a

pregação eles perguntaram: “Que faremos, irmãos?”E ele respondeu: “Arrependei-vos (...), sede

batizados (...) e recebereis o dom do Espírito Santo”. Esse é o grupo padrão ─ grupo de pessoas que

nada sabiam do Espírito Santo, além do que haviam presenciado. Tudo que Pedro conhecia era o que

experimentara; e tudo quanto oferecia era o que ele mesmo provara ─ e ofereceu de maneira não

dramática, dizendo simplesmente: “Arrependam-se, creiam, seja batizados, e receberão o dom que

recebemos”.

No contexto do Novo Testamento, observe-se que a remissão de pecados e o batismo com o

Espírito Santo são obras praticamente simultâneas. Em João 1:29. João Batista diz: “Eis o Cordeiro

de Deus, que tira o pecado do mundo”. E prossegue falando de Jesus até o v.33, onde afirma de

novo: “Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água, me disse: Aquele sobre

quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo”. O interessante a se

observar é que no grego os dois verbos estão no mesmo tempo. Ou seja, aquele que tira o pecado

(v.29) é o mesmo que batiza com o Espírito Santo. O que nos leva a concluir que quando Cristo tira

o pecado, ele também batiza como Espírito Santo. Ele não tira sem pôr. Na mente de João Batista

não havia diferença. Ele estava falando sobre a vida e obra do Messias: Ele é o Cordeiro que tira o

pecado; é o Cordeiro que batiza com o Espírito Santo. Quando ele tira o pecado, ele batiza com o

Espírito.

O convite de Pedro para que os judeus recebessem o mesmo dom que haviam recebido ─ o do

batismo ─ deu-se em função do fenômeno pentecostal, que atraiu a multidão. No entanto, nada é dito

a respeito de terem tido experiências idênticas às dos 120, naquela mesma manhã de Pentecoste.

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Duvidar de que eles tenham recebido de fato o que Pedro prometeu apenas em razão da ausência dos

“fenômenos pentecostais” é o mesmo que descrer da conversão de alguém pelo fato de não haver

visto uma luz ou ouvido uma voz no meio do caminho, como Paulo. Com base neste episódio do

Pentecoste, o batismo com o Espírito Santo é obra de conversão e regeneração, não a chamada

segunda benção.

Segundo argumento: O segundo argumento pentecostal diz que é possível ser batizado e

convertido, mas ainda não ter sido batizado com o Espírito Santo. Neste caso o batismo seria uma

segunda bênção. É o que muitos amados irmãos e irmãs dizem, baseando-se em Atos 8:4-25, no

chamado Pentecoste Samaritano. Vejamos o que aconteceu em Samaria. Filipe saiu para pregar o

evangelho, depois da morte de Estevão, quando veio a opressão sobre os crentes de Jerusalém, o que

os dispersou por aquelas regiões. Ele pregou aos de Samaria, expulsou demônios, curou enfermos, e

houve grande alegria na cidade; diz ainda a Escritura que Filipe batizou os que iam crendo. Inclusive

o próprio mago da cidade, Simão, foi batizado e abraçou a fé. Alguns dias depois os apóstolos em

Jerusalém souberam que Samaria havia recebido a Palavra de Deus, e enviaram para lá Pedro e João.

Chegando, impunham as mãos sobre os discípulos e eles recebiam o Espírito Santo, porque o

Espírito não tinha “descido ainda sobre nenhum deles”. Nesse caso, pelo menos aparentemente,

cristãos teriam sido batizados com o Espírito Santo, como uma segunda experiência. Que resposta se

pode dar a isto?

Segundo parece, havia necessidade de uma autenticação apostólica no caso da obra missionária

em Samaria, visto tratar-se das primeiras iniciativas da igreja fora de Jerusalém. A viagem

missionária a Samaria foi a primeira que a igreja fez. A Igreja, que estava enclausurada em

Jerusalém, é agora semeada pela perseguição para pregar a Palavra. Ela não tivera até então qualquer

experiência explícita com a pregação da Palavra fora da Judéia, muito menos numa área complicada

como a Samaria. Isso faz o grupo dos cristãos samaritanos ser o primeiro a receber o Senhor, fora do

contexto imediato de Jerusalém e da Judéia ─ fato este que torna aquele acontecimento algo muito

especial e que deveria ser lido na perspectiva dos “começos”. E a Bíblia tem uma teologia apostólica

dos começos. Se não, vejamos: em Mateus 16:18 e 19 Jesus diz a Pedro que lhe daria as chaves do

reino dos céus, e aquilo que fosse ligado na terra teria sido ligado nos céus; e vice-versa. Em João

20:22-23, Jesus lega ─ agora não apenas a Pedro, mas a todos os apóstolos ─ o ministério de

autenticar e legitimar a fé e a conduta dos convertidos, especialmente no tocante a perdão de

pecados. Jesus deixou claro que os apóstolos desempenhariam de modo inicial, na nossa era, um

papel extremamente importante no que diz respeito à autenticação da fé cristã. O que de fato

aconteceu. Talvez essa seja uma das razões pelas quais o Espírito esperou pelos apóstolos. O

Espírito sempre dá chance à Igreja de ser seu instrumento. É só quando a Igreja se nega a ser veículo

de Deus, ou titubeia a ponto de ameaçar atrasar o calendário divino, que ele age sem ou fora dela,

como na casa de Cornélio, onde o Espírito se antecipou a Pedro, a fim de eliminar-lhe as dúvidas do

coração. No mais, o Espírito deixa à Igreja ser instrumento. Ora, nos dias apostólicos tal “abertura”

do Reino era, primordialmente, função deles.

Outra possível razão de o Espírito ter esperado Pedro e João a fim de derramar-se sobre os

cristãos samaritanos era a necessidade de romper o bloqueio entre estes e os judeus. Em João 4:9

lemos que judeus e samaritanos tinham problemas sérios. Ora, o evangelho é sobretudo evangelho de

reconciliação (Rm. 2:11-22). Por isso, a Igreja que foi evangelizar Samaria era da Judéia.

Tal questão não deve ser encarada como sendo de somenos importância. Isso porque a rixa entre

judeus e samaritanos se manifestava entre os próprios apóstolos. É só ler João 4:27, onde se vê que o

fato de Jesus estar conversando com uma mulher samaritana causou neles admiração ─ prova do seu

preconceito em relação aos samaritanos. Também era necessário romper o bloqueio entre o apóstolo

João e estes. Para mim esta é uma das razões pelas quais João foi também a Samaria com Pedro, a

fim de orar por aqueles irmãos. Em Lucas 9:54, quando caminhava na direção de Jerusalém, antes da

sua morte, Jesus instruiu os discípulos a lhe prepararem pousada. João foi um dos que participaram

de tal missão. Mas quando Jesus apareceu entre os samaritanos, estes perceberam que seu semblante

era de quem não queria parar ali, mas dirigir-se imediatamente a Jerusalém. Por isso não lhe

ofereceram pousada. Diz Lucas que João ficou irado, chamou Jesus e lhe disse: “Senhor, queres que

façamos descer fogo dos céus sobre esses samaritanos?” Jesus argumentou: “Não sabem vocês de

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que Espírito são? Eu não vim destruir a alma dos homens, e sim salvá-la”. Era preciso mudar aquela

situação. Acaso seriam Pedro e João diferentes de nós? Há menos de um ano João odiara aquela

gente, e estava agora sentido necessidade de se confrontar com eles para abençoá-los. Antes da

benção precisaria haver reconciliação, perdão mútuo. Sem reconciliação nunca houve, há ou haverá

genuíno derramar do Espírito.

Nesse caso, em Samaria, o derramar do Espírito não era a segunda benção, mas primeira. Atos

8:15-17 nos diz que “o Espírito não havia sido dado a nenhum deles”. Portanto, o que aconteceu não

foi uma segunda benção em si, mas primeira. Ali não existia nenhum cristão. Romanos 8:9 diz: “Se

alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”. A Bíblia deixa claro que o Espírito não

havia caído sobre nenhum deles. Conversão alguma acontecera ali, apenas excitação, frenesi de

milagre, cura divina e outras coisas. O crédito que até então havia sido dado à Palavra de Deus

baseara-se mais nos sinais presenciados do que na Palavra ouvida. Em Atos 8:6-8 tomamos

conhecimento de que curas, milagres e expulsão de demônios haviam sido testemunhados. Por isso

Simão, o mago da cidade, pensou: “Descobri um poder maior do que o meu. Quero abraçar esta fé!

Que coisa extraordinária!” A prova de que a fé daqueles homens não estava firmada no

arrependimento e na Palavra de Deus, mas apenas no delírio dos milagres, é a qualidade de fé que o

próprio Simão manifestou. Nos v. 12 e 13 vemos que “ele abraçou a fé”. Nos v. 18 e 19, entretanto,

ele propõe algo muito excêntrico a Pedro e a João. Ao perceber que ambos os apóstolos impunham

as mãos e as pessoas recebiam o Espírito Santo, pergunta: “Quanto custa? O que é isto, afinal?

Impõem as mãos e eles recebem? Que mistério é esse?” Chamou-os à parte e chegou ao cúmulo de

oferecer-lhes dinheiro em troca do mesmo poder. Pedro então o censurou: “Seja o teu dinheiro

contigo para perdição”. E lhe trouxe uma palavra de juízo, dizendo que ele estava em fel de

amargura, e o juízo de Deus pesaria sobre ele caso não mudasse de atitude.

Precisamos observar que o crédito que os samaritanos haviam dado à Palavra era o equivalente à

mesma qualidade de fé a que Jesus não atribuiu valor algum. João 2:23-25 diz que em Jerusalém

Jesus operou sinais, e que os homens, vendo-os, creram nele; “contudo Jesus não confiava neles”.

Observe o contexto no qual isso aconteceu. O início do cap. 3 registra: “Havia entre os judeus um

teólogo chamado Nicodemos”. Em razão do seu status, prudentemente foi visitar Jesus à noite.

Chegando lá, disse: “Senhor, sabemos que tu és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém,

pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele”. E Jesus respondeu: “Em verdade,

em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Nicodemos

tinha o mesmo tipo de fé dos homens do contexto anterior, que viram sinais, creram em Jesus, mas

aos quais o Senhor não se confiava ─ eram pessoas que ainda não haviam nascido de novo. Não

obstante haverem crido nos sinais, obra nenhuma profunda do Espírito de Deus havia sido feita no

coração deles.

Em Atos 8:26-40, vemos o caso do eunuco, ministro da Fazenda da Etiópia, que se converteu.

Diz a Escritura que ele recebeu Jesus e seguiu seu caminho com alegria. Este exemplo contraria toda

especulação a respeito do assunto. Sabe-se que o eunuco ouviu a Palavra, creu nela, foi batizada em

nome de Jesus, e seguiu alegre seu caminho; no entanto, não se faz qualquer menção a algum sinal

espetacular acontecido em sua vida. Por outro lado, não existe alusão alguma ao fato de não haver

sido completa a obra dele. Não se diz que falou em línguas, que profetizou, ou qualquer outra coisa

especial. Tampouco se vê Filipe sendo arrebatado para Azoto e dizendo: “Que pena! Aquele pobre

homem foi lá para a Etiópia sem ter tido uma experiência carismática. Alguma coisa lhe faltou ─ ele

não recebeu a segunda bênção!” Mas Lucas, o escritor de Atos, não pensava assim. Pelo contrário,

conta ele que o eunuco seguiu cheio de júbilo o seu caminho. E foi só: estava completa a obra na

vida do homem ao qual ele ministrava. O mais era crescer no Senhor.

Terceiro argumento: Na casa de Cornélio a evidência do recebimento do Espírito Santo foi o falar

em línguas. Assim, a maior demonstração acerca do batismo do Espírito é o falar em línguas! Quem

recebeu, fala. Isso porque quando a palavra foi aceita na casa de Cornélio, eles interromperam a

pregação falando em línguas e profetizando ─ um acontecimento maravilhoso (At. 10:44-45).

Mas será que é isto que a Escritura ensina? A evidência de quem recebeu o batismo com o

Espírito Santo é o falar em línguas?

Qual a resposta que se dá a isto?

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Devo dizer que não está em questão aqui ─ pelo menos da minha parte ─ o fato de o recebimento

do dom de línguas poder acontecer no instante ou não da conversão ou do recebimento do Espírito

Santo para regeneração. É até possível que aconteça assim; mas não é norma; e não é algo absoluto.

Mas eu já tenho visto pessoas que no momento em que estão se convertendo, que estão entregando o

coração a Jesus ─ gente que vem do mundo, de fora ─, prorrompem numa experiência carismática

como a de Cornélio. Isto, porém, não significa uma segunda benção, mas a primeira. A conversão,

insisto, pode, esporadicamente, vir acompanhada desse fenômeno.

O que está sendo questionado é o fato de ser ou não o dom de línguas evidência do recebimento

do batismo com o Espírito Santo. Pode acontecer, mas não é o padrão. E qual é o padrão? O padrão

nos é dado pelos três mil de Atos 2:41, que creram no Senhor Jesus, sem que no texto nada se diga a

respeito de terem falado em línguas ou não. O padrão são os dois mil que se agregaram à fé alguns

dias depois, em Atos 4:4, sem que nenhuma referência haja ao fato; diz se apenas que creram em

Jesus e foram batizados. O padrão é Atos 5:14, que fala sobre a multidão de cristãos que se

entregaram ao Senhor com alegria no coração. O padrão são os discípulos que se uniram à fé, em

Atos 6:7, durante o ministério de Estevão, quando a “Palavra de Deus crescia e se multiplicava o

número de discípulos; a Palavra prevalecia e muitos sacerdotes obedeciam à fé”. O padrão é Atos

9:17-18, que narra a experiência de Paulo e sua conversão (digo em relação ao Espírito Santo). Ele

apenas creu, foi batizado e, informa a Bíblia: “... ficou cheio do Espírito Santo”. Também aí nada se

diz sobre ter ele falado ou não em línguas. O padrão é o de Antioquia, em Atos 11:21-23, onde se

conta que creram na Palavra de Deus, e a graça do Senhor estava sobre eles, a ponto de o próprio

Barnabé ficar estupefacto com o que observava. E mais ainda. O padrão é Lidia. Atos 16:14-15 diz

que o Senhor abriu o coração dela para ouvir as palavras de Paulo. Ela creu no Senhor e foi batizada

com toda a sua casa. O padrão é Atos 16:32 e 33, que fala sobre o carcereiro de Filipos, que creu na

palavra e foi batizado. Ele creu no Senhor com alegria, e toda a sua casa, mas nada se fala a respeito

de qualquer sinal incomum. O livro de Atos sobeja em experiências de pessoas que creram em Jesus,

receberam-no com alegria, mas nada relata sobre fenômenos extraordinários. No entanto esses textos

citados ─ sem nos referir a inúmeros outros ─ quase nunca são levados em consideração quando as

teologias pentecostais são escritas. É assim que doutrinas são erigidas sobre um, dois ou três textos

aqui e ali, que não são a norma, apenas exceção; não absolutizam nada, mostram tão-somente que o

Espírito é livre e soberano para agir como quer.

E ainda, respondendo a essa questão levantada pela teologia pentecostal referente à experiência

de Cornélio, podemos dizer que o que aconteceu ali foi a demonstração de que o batismo com o

Espírito Santo é a própria obra da conversão. Leia Atos 11:14, onde Pedro, em Jerusalém, explica o

que havia acontecido na casa de Cornélio; conta ele que este recebera da parte de um anjo a

instrução de mandar chamá-lo, pois ouviria de seus lábios palavras mediante as quais seria salvo ─

ele e toda a sua casa.

Cornélio tinha obras, esmolas, piedade, liturgia e uma série de coisas, mas não era salvo. Foi isto

que Pedro disse. O que aconteceu, então, em sua casa? Às vezes o equívoco é esse: julga-se que

Cornélio já era cristão e que Pedro foi apenas lá para lhe conceder a “segunda bênção”. A verdade é

que ele nem salvo era. O que houve ali foi a primeira bênção com o adicional das línguas e das

profecias, para mostrar aos preconceituosos judeus o que realmente sucedera aos gentios ─ e com os

gentios acontecera o mesmo que com eles, judeus, no Pentecoste.

Observe Atos 10:47, onde Pedro diz aos seis homens judeus que estavam com ele: “Porventura

pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o

Espírito Santo?” As línguas e a profecia tinham por finalidade acabar com os preconceitos dos

judeus; só assim eles creriam que o que acontecera na casa de Cornélio era realmente autêntico. Sem

essa evidência eles não aceitariam o fato, sob hipótese alguma. O grupo de Cornélio está, portanto,

dentro do padrão doutrinário do recebimento do Espírito Santo. Gálatas 3:2 diz que o Espírito é

recebido mediante a pregação da fé. É também o que diz Atos 10:44. Foi enquanto “ouviam a

Palavra” que se derramou sobre eles o Espírito Santo; e isto faz sentido com o que a Escritura ensina

sobre o assunto. E mais: a prova de que para Pedro o batismo com o Espírito era obra de regeneração

é que ele sabia que não poderia negar o símbolo a quem já tinha a realidade. Leia novamente o que

diz o v. 47: “porventura pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim

como nós, receberam o Espírito Santo?”

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Esta é a argumentação teológica de Pedro: o batismo com o Espírito Santo, como obra de

regeneração e conversão, é um acontecimento interno, cuja manifestação externa é simbolizada na

realidade do batismo. O apóstolo diz: Se eles já receberam a realidade, como vou negar-lhes o

símbolo? Pedro sabia que o batismo do Espírito Santo vem com o surgimento da fé salvadora.

Veja como isto está claro no cap. 11 de Atos. Atente bem aos v.16, 17 e 18. Pedro, pregando em

Jerusalém, explicando o que acontecera na casa de Cornélio, diz que se lembrou desta palavra do

Senhor: “João, na verdade batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”.

Portanto, para Pedro, o que aconteceu ali foi o cumprimento de uma palavra de Jesus relacionada ao

batismo com o Espírito Santo: “Pois se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou”

(At. 11:17). Mas quando concedeu Deus esse dom? A resposta está na continuação do v.17: “quando

cremos no Senhor Jesus, e quem era eu para que pudesse resistir a Deus? E, ouvindo eles estas

coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo (...)” Dizendo o que? Dizendo isto: “Logo,

também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida” (At. 11:18). Observe a

conexão: arrependimento, fé, e batismo com o Espírito Santo! Está aqui muito evidente: é só ler e

ficará claro. Leia de baixo para cima, porque a presente do texto vai do efeito para a causa. Temos

que ir da causa para o efeito: arrependimento para vida quando creram no Senhor Jesus; e receberam

o batismo com o Espírito Santo na mesma hora.

Também não é sábio dizer que houve diferença entre o grupo de Cornélio e as conversões

normais ─ apenas em razão das línguas e profecias, como se isso lhes conferisse uma espécie de

segunda bênção. Se assim fosse, teríamos de negar a experiência inicial de Paulo com o Espírito

Santo ─ sem línguas, sem profecia, sem coisa nenhuma. É bem verdade que ele se tornou ímpar no

falar em línguas espirituais. Escrevendo aos coríntios, diz: “Dou graças a Deus porque falo em

outras línguas, mais do que todos vós” (I Co. 14:18). Mas no dia em que recebeu a plenitude do

Espírito Santo ─ conforme diz Atos 9:17 ─, quando Ananias impôs sobre ele as mãos, dizendo “...o

Senhor me enviou (...) para que recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo” ele foi batizado,

comeu, sentiu-se fortalecido, e não se diz nada mais de especial. Certamente se houvesse acontecido,

Lucas não teria perdido a oportunidade de fazer menção ao fato, visto que em todas as ocasiões em

que houve o fenômeno ele o registrou.

Quarto argumento: Encontra-se em Atos19: em Éfeso havia um grupo de discípulos, pessoas já

convertidas, mas que não haviam ainda recebido o Espírito Santo como uma segunda bênção. Ou

seja: eles já eram cristãos, mas receberam ─ segundo esse entendimento ─ o batismo com o Espírito

como termo caracterizador de uma segunda benção espiritual e não de regeneração. Qual a resposta

que se dá a esta questão?

O grupo de Éfeso se compunha de discípulos de João Batista (Leia em Atos 19); ou de Apolo,

antes de ser instruído por Priscila e Áquila. Isso porque o cap. 18:24-26 diz que Priscila e Áquila

encontraram Apolo, viram que ele pregava bem mas estava precisando de instrução, de discipulado,

a fim de ensinar com mais exatidão a respeito de Jesus. Pois bem, esses homens achados em Éfeso ─

por onde Apolo já havia passado ─ poderiam perfeitamente ser discípulos de Apolo, antes de ser

“mais instruídos”; era muito mais provável, porém, que houvessem sido discípulos de João Batista,

em virtude da piedade que manifestavam. Mas eles não eram cristãos, posto que não conheciam a

Jesus (19:4 e 5).

Aqui cabe a pergunta: é possível alguém ser cristão sem conhecer Jesus? Dizem aí esses

versículos que eles só tinham sido batizados no batismo de João, e que Paulo então esclareceu: “Não,

João veio para fazer isso e aquilo...” E lhes ensinou a teologia de João. No entanto, disse-lhes Paulo:

“ele apontava para Jesus”. O fato é que eles tinham parado em João Batista, e não sabiam nada daí

para a frente. Além disso, eles também não eram salvos, porque nem sabiam que existia o Espírito

Santo. Paulo diz: “E se alguém, não tem o Espírito de Cristo esse tal não é dele” (Rm. 8:9).

“Recebestes, porventura, o Espírito Santo quando crestes?” perguntou Paulo aos discípulos em

Éfeso. “Ao que lhe responderam: Pelo contrário, nem mesmo ouvimos que existe o Espírito Santo”

(At. 19;2). E há pessoas que querem fazer desse grupo um grupo de cristãos. Se ignoravam que

existia o Espírito Santo, como poderiam ser cristãos?

Vejamos ainda a primeira pergunta de Paulo ─ e observe o v.2: “Recebestes porventura o

Espírito Santo quando crestes?” Tal pergunta sugere que se recebe o Espírito quando? A resposta é:

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“Quando se crê!” E isso faz sentido com o que Pedro ensinou: “Eles receberam o Espírito Santo

como nós, quando cremos no Senhor Jesus” (At. 11:17). “O que faz sentido também com Gálatas

3:2” ... recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?” Quando se crê, recebe-se o

Espírito. Então, a primeira pergunta de Paulo sugere isto: recebe-se o Espírito quando se crê, quando

se tem a fé legítima.

A segunda pergunta de Paulo indica que os batizados em nome de Jesus batizam-se como sinal

de que já receberam o Espírito. Quando os discípulos demonstram ignorância a respeito do Espírito,

Paulo prossegue com esta outra interrogação: “Em que, pois, fostes batizados?” (19:3) “No batismo

de João”, respondem eles. Outra vez a segunda pergunta sugere que a pessoa é batizada como

evidência externa ─ conforme afirmam nossas melhores confissões de fé teológicas ─ daquilo que já

aconteceu no íntimo: batismo, como sinal externo da obra interna, já realizada pelo Espírito no

coração de cada um. Então, em que foram vocês batizados? ─ eis a pergunta. Porque é de se supor

que o batismo é secundário, é evidência, testemunho de que algo do Espírito já aconteceu no interior.

Assim, mais uma vez o batismo como o Espírito Santo é afirmado como primeira benção, não como

segunda.

E ainda: o que aconteceu em Éfeso é a narrativa da experiência da conversão acompanhada outra

vez do falar em línguas. Poderia ser ou não seguida de línguas, mas era batismo como o Espírito

Santo ou regeneração, já que as terminologias são sinônimas. O que aconteceu em Éfeso foi obra de

regeneração, de conversão, de batismo com o Espírito Santo ─ como sinônimo de novo nascimento e

obra regeneradora no coração. Podia vir com língua ou sem línguas. E eu repito: o caso aqui não é

normativo, mas exceção evidenciadora de que algo extraordinário havia acontecido. Contudo, ainda

que não soubesse, o mesmo batismo sucedera. Lídia não falou em línguas, mas foi batizada com o

Espírito Santo na hora da conversão. E todos os outros acerca dos quais fiz referência.

Até agora só vimos argumentações negativas. Vejamos então argumentações positivas.

POR QUE AFIRMO QUE O BATISMO COM O ESPÍRITO É A CONVERSÃO?

No Novo Testamento há sete alusões ao batismo com o Espírito Santo, sendo que quatro delas

feitas por João Batista, no replay que os evangelhos sinópticos fazem da sua pregação. São os

seguintes: Mateus 3:11, Marcos 1:8, Lucas 3:16, e João 1:33. Diz João, no cap. 3:1: “E vos batizo

com água, para arrependimento, mas aquele que vem depois de mim (...) ele vos batizará com o

Espírito Santo e com fogo”. As quatro primeiras afirmações desta teologia são de João, que gostava

tanto de batizar que recebeu um título: Batista.

A quinta alusão é feita por Jesus antes de ser assunto aos céus. Em Atos 1:15 ele diz aos

discípulos: “João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não

muito depois de sete dias” A outra é feita por Pedro em Jerusalém, quando explica aos judeus

ortodoxos ─ racistas, bloqueados e incapazes de compreender o que havia acontecido na casa de

Cornélio ─ que o que lá sucedera fora o batismo com o Espírito Santo conforme se deu com eles,

como Jesus disse que seria e João vaticinara. Em Atos 11:16 Pedro reafirma o que Jesus dissera. A

última alusão, a sétima, aparece em I Coríntios 12:13, onde Paulo diz: “Pois em um só Espírito todos

nós fomos batizados em um corpo (...) E a todos nós foi dado beber de um só Espírito”.

Preste atenção, porque esta é a parte mais completa da nossa argumentação. Das sete passagens

mencionadas, I Coríntios 12:13 é a única que revela para quem é o Espírito Santo; as seis anteriores

não esclarecem muito a respeito de para quem é o batismo. Dizem apenas que Jesus é quem batiza

com o Espírito. Mas Paulo vem e diz para quem ele é: para todos, “todos nós [que] fomos batizados

em um só corpo (...) e todos [a quem] foi dado beber de um só Espírito”. Neste texto Paulo prova a

unidade do Corpo de Cristo pela diversidade dos dons e convergência de todos no batismo com o

Espírito Santo.

Note que nos onze versículos o apóstolo estava falando de dons. E apresenta uma lista de nove

dons. Aí ele diz que todos fomos batizados num só Espírito, num só corpo. Observe que este é um

texto carismático. Depois, do v. 13 do cap. 12 em diante, o apóstolo começa a comparar a igreja ao

corpo humano. E diz que no corpo, o que difere um membro do outro é a função de cada um. Assim

como ninguém come maçã com o olho nem penteia o cabelo com o pé, de igual modo não

realizamos nossas funções como igreja ou indivíduos sem o auxílio mútuo.

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Também o que faz diferença entre cristão e cristão, no Corpo de Cristo, não é ser um ou alguns

deles batizados com o Espírito Santo, mas terem diferentes dons. Enquanto um é olho, o outro é

ouvido; um tem dom de cura, outro de profecia; um tem visão, outro discernimento de espíritos.

É só ler a Bíblia com os contextos antecedentes e imediatos que as coisas ficam claras e as

discussões, tolas. Portanto, o que Paulo está querendo provar é a diversidade no Corpo de Cristo, e

ao mesmo tempo sua unidade na convergência de todos os cristãos no batismo com o Espírito Santo.

Somos diferentes uns dos outros porque temos dons diversos, mas todos fomos batizados num só

Espírito, num só Corpo.

Neste texto Paulo diz que o batismo e os dons são para todos. Ninguém pode pensar de outra

forma. Nos quinze versículos ele estava falando de dons. No contexto imediato, ele afirma que todos

nós os temos, e todos fomos batizados, no e pelo Espírito. No Pentecoste, Pedro citou a profecia de

Joel 2:28, que diz que o Espírito do Senhor se derramaria sobre toda carne. E aquilo a que os judeus

assistiram no Pentecoste foi o cumprimento dessa promessa. Em Atos 2:17-21, Pedro cita o texto de

Joel, prega com base nele e reafirma o que ele predissera.

Tenho agora uma pergunta: que “toda carne” é essa, acerca da qual Joel fala e Pedro reafirma?

“O Espírito do Senhor se derramará sobre toda a carne”, diz Joel; e Pedro confirma: “O que vocês

estão vendo acontecer é o mesmo que Joel afirmou que aconteceria ─ o Espírito do Senhor se

derramando sobre toda carne”. Mas apenas cento e vinte haviam recebido. Que “toda carne” é essa?

João 17 fará você entender quem é “toda carne”. Jesus, orando, disse: “Pai, é chegada a hora;

glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti; assim como lhe conferiste autoridade (...)”

Autoridade sobre que? Sobre “toda carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos (...)” Todos

quem? Quem é toda carne com base neste texto? “... os que me deste!”

Portanto, o que as Escrituras estão de fato nos ensinando é que toda carne (preste atenção nisto!)

somos todos nós de I Coríntios 12 e 13, os que cremos em Jesus. O batismo com o Espírito Santo é

algo que acontece com todos nós, quando recebemos a vida eterna (Jo. 17:2); quando recebemos a

benção que Jesus Cristo conferiu a toda carne dos que crêem nele. A ênfase de Joel em toda carne

não é ênfase quantitativa, mas qualitativa. O contexto imediato (Jl. 2:28-29) explica o que é toda

carne; velhos, jovens, servos, servas, crianças... Sobre todos eles “derramarei meu Espírito” ─ diz. O

sentido era esse: o derramamento será sem discriminação, se que se classifiquem os homens por cor,

cultura, idade, sexo etc. E isso tem coerência coma teologia de Gálatas, onde se diz que nós

recebemos o Espírito, e agora já “não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem

homem, nem mulher; porque todos nós recebemos o Espírito da doação, somos um em Cristo Jesus”.

A teologia pentecostal contesta a posição que acabo de expor, dizendo que o texto de I Coríntios

12:13 não está se referindo a batismo com o Espírito Santo, mas apenas à sua obra como batizador

no Corpo de Cristo. O que se afirma é que I Coríntios 12?13 não fala de Cristo batizando com o

Espírito Santo, mas o Espírito Santo batizando pessoas no Corpo de Cristo. Nesse caso, o Espírito é

que é o batizador, não Cristo. Nesse caso, de acordo com essa concepção, a primeira benção

acontece quando o Espírito nos batiza no Corpo de Cristo; a segunda, quando nos batiza com o

Espírito Santo. Acho engraçado o fato de as pessoas tentarem dar nó em pingo d‟água. Em tal

situação o batismo com o Espírito Santo é algo que Jesus faz, mas o cumprimento de I Coríntios 12 e

13 é algo que o Espírito realiza, tudo a fim de harmonizar o texto com uma visão teológica a priori

aceita.

Vamos ver que respostas podemos dar a isso. Começamos dizendo que todo batismo tem quatro

partes, teologicamente falando. É isto o que verificamos na Bíblia. Em primeiro lugar, o batismo tem

que ter um batizador, um batizando e o elemento com que batizar. Tem que ter também propósito ou

finalidade; ou seja, um princípio teológico que o determine.

O Novo Testamento apresenta quatro batismos diferentes. O primeiro está em I Coríntios 10:1,2,

e nele Paulo compara a peregrinação do povo de Israel à peregrinação da Igreja do N.T. Diz ele:

“Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram

pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. Todos

ele comeram de um só manjar espiritual (...)” Paulo está se referindo ao batismo que o povo de Israel

recebeu quando saiu do Egito, o qual mostra que Deus é batizador, os batizandos são o povo de

Israel, e o elemento é a água da nuvem (Sl. 77:17). E mais ainda: o propósito era batizar na lei. A

Escritura diz que todos eles foram batizados com respeito a Moisés ─ ou à lei.

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O segundo tipo de batismo sobre o qual o N.T. nos fala é o batismo de João Batista. Quem era o

batizador? João. Quem eram os batizandos? Jerusalém e circunvizinhanças do Jordão, é o que diz

Marcos 1:15. O elemento? Água do Jordão. É o propósito? Arrependimento.

O terceiro tipo de batismo é o batismo cristão, que praticamos no templo. Quem é o batizador? É

o ministro cristão. Os batizandos? São os cristãos confessos. Qual é o elemento? A água ─ pouca ou

muita, mas água. O propósito? Batizar na morte e ressurreição de Jesus, conforme Romanos 6. É

essa a teologia que se desenvolve prioritariamente na questão do batismo cristão.

E o quarto batismo? É o batismo com o Espírito Santo. O batizador é Jesus. O batizando?

Qualquer membro do Corpo de Cristo. E o elemento? É o Espírito Santo. E o propósito? Integrar no

Corpo de Cristo.

Diante disso, temos que concluir o seguinte: o batismo de I Coríntios 12:13 ─ conforme

entendido pela convencional teologia pentecostal ─ faz do batismo algo anômalo. Se entendermos

que o batismo que Paulo menciona nesses textos não é batismo com o Espírito Santo e sim o

Espírito Santo batizando pessoas, esse é, afinal, um batismo aleijado. Vejamos a razão: é que este é

um batismo sem batizador e sem elemento; porque, se o batizador é o Espírito Santo, os batizandos

apenas os cristãos consagrados; o propósito, conceder poder, quem é então o elemento? Será esse

porventura um batismo sem elemento? Alguém diria: Jesus é o elemento! Com base em quê se

afirma isso? ─ pergunto. Em nenhum momento no N.T. Jesus é o elemento batismal. Ele é sempre o

batizador. Por que, pois, apenas neste batismo seria ele o elemento? Há alguma teologia no N.T. que

coloque Jesus como elemento de alguma coisa? O Espírito, sim, sobeja como tal. Mas, Jesus, não.

Ele é o Cordeiro, o batizador, o Senhor; não é o elemento, em momento algum. Se, à maneira da

teologia pentecostal, afirmamos que esse batismo de I Coríntios 12:13 não é o batismo com o

Espírito Santo, e sim o batismo que o Espírito Santo faz batizando pessoas no Corpo de Cristo, então

esse é um batismo teologicamente aleijado, já que o desprovido de elemento ─ o que é impossível

acontecer. Mas se você diz: “Não, o Espírito Santo é o elemento”, eu pergunto: Quem é o batizador?

Se Jesus Cristo é o batizador, então o batismo de I Coríntios 12:13 é de fato o batismo com o

Espírito Santo. Você não tem como escapar. E, neste caso, isso acontece na conversão, e é para todos

os cristãos, não apenas para os mais consagrados.

Como não é possível pensar num batismo anômalo, temos que admitir que para que o batismo de

I Coríntios 12:13 fique teologicamente completo, ele tem que ter quatro partes, e a única maneira de

as ter é entendermos que ele é o próprio batismo com o Espírito Santo. Se admitirmos que I

Coríntios 12:13 é o batismo com o Espírito, então somos forçados pelo texto a acreditar que todos os

que são verdadeiramente salvos o possuem, pois tal terminologia é apenas um sinônimo teológico de

regeneração e novo nascimento.

Note bem agora uma explicação. Estou dizendo que o termo batismo com o Espírito Santo tem

sido mal empregado. Quando você lê certos livros que falam de gente que chorou, falou em línguas,

passou a noite acordada, foi batizada com o Espírito Santo, você se emociona, vibra. Dê qualquer

nome a essa experiência; só não a chame de batismo com o Espírito Santo. Ninguém está negando a

validade de tais experiências. Experiências acontecem sempre. Pode ser a segunda, a terceira, a

quarta etc. Acontecem muitas ─ dramáticas, compulsivas e carismáticas. No entanto, “todos fomos

batizados pelo mesmo Espírito, e a todos nos foi dado beber do mesmo Espírito”.

Já vi cair um endemoninhado na igreja e o pastor dizer: “Fiquem de pé todos os batizados com o

Espírito Santo para expulsar esse demônio”. Na minha igreja, se disserem isso, eu contradigo:

“Fiquem de pé todos. Porque todos fomos batizados com um só Espírito num só Corpo”. Não estou

negando experiência dramática com Deus. Mas não a chamo de batismo com o Espírito Santo,

porque ─ teologicamente falando ─ a terminologia é inadequada para a caracterização de uma

chamada segunda benção; é um termo sinônimo de regeneração e novo nascimento. Por isso, todos

nós que somos verdadeiramente de Jesus somos batizados com o Espírito Santo.

Para concluir, quero pensar com você no seguinte: A bíblia ensina que remissão de pecados e

batismo com o Espírito Santo são obras inseparáveis e quase simultâneas. No primeiro capítulo de

João, o v. 29 diz que Jesus é quem “tira o pecado”, e o v.33 que “ele é o que batiza com o Espírito

Santo”. Vamos ver se isso faz sentido. Em Tito 3:4,5, se lê: “Quando, porém, se manifestou a

benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, não por obras de justiça

praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele (...)” Ele o que? “... nos salvou, mediante

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(...)” Mediante o que? “... o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (...)”. Que ele o quê? “...

derramou (...)” Observe que a palavra carismática usada em Atos 10 ─ como no Pentecoste e em

todas as manifestações e efusões do Espírito ─ é derramou. Paulo prossegue: “... que ele derramou

sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador”.

Vejamos como na teologia de Paulo esse derramar abundante do Espírito acontece na salvação.

Quando Jesus nos salvou ele nos regenerou e derramou o Espírito sobre a nossa vida.

Veja em Ezequiel 36:25-27, na profecia que anunciava essa obra íntima e regeneradora do

Espírito de Deus no coração dos homens que crescem no Messias, o que está dito a esse respeito:

“Diz o Senhor: Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados. Dar-vos-ei coração

novo, e porei dentro em vós o meu Espírito (...)” Observe que quando Deus tira o coração de pedra,

tira o pecado, ele coloca em seu lugar o Espírito e sela, marca.

Esse entendimento sobre o batismo com o Espírito Santo traz algumas vantagens.

Primeira Vantagem. Termina-se com a divisão entre batizados e não batizados com o Espírito

Santo da igreja. Esta é uma separação que acaba se tornando carnal. Para mim ela é um absurdo, um

contra-senso!

Segunda Vantagem. Estimula-se a Igreja a um crescimento constante. Mas o que normalmente

acontece quando se adota a teologia de que o batismo do Espírito Santo é uma segunda bênção é que

o indivíduo, na maioria das vezes, para aí. Nas reuniões de oração anteriores ao recebimento desse

batismo ele chora, crucifica todos os deuses possíveis, mata seu “eu”, cai na impessoalidade. Até que

lá um dia tem uma santa crise, sai abençoado da reunião, e proclama orgulhoso: “Hoje rui batizado

com o Espírito Santo! Agora tenho poder, estou pronto para pregar!” A partir daí pára, estaciona.

Afinal, já tem o status dos abençoados.

Muitas vezes tais pessoas falam desse assunto a vida inteira; não têm outra conversa; não

crescem; não saem disso e vivem de memórias. A experiência delas passa a ser uma relíquia.

Mas quando se adota a perspectiva de enchei-vos do Espírito, “falando entre vós com salmos,

entoando e louvando de coração ao Senhor (...) dando sempre graça por tudo a nosso Deus e Pai (...)

sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. O imperativo plural, no grego, está na voz

reflexiva, o que implica diuturna rendição, como vimos no capítulo anterior; o tempo indica ato

contínuo no original: Continue se enchendo; não há teto, há sempre mais... Ninguém pode dizer:

“Atingi o ápice”. O que precisa é reconhecer sempre: “Estou apenas começando; nada sei, nada

tenho”.

Terceira Vantagem. As pessoas cheias do Espírito Santo não são identificadas apenas porque se

comoveram até as lágrimas numa reunião de oração, mas pelos sinais morais de sua vida. Este é um

outro problema de teologia pentecostal. Conta-me alguém. “Lá na minha igreja houve 30 batismos

com o Espírito Santo na reunião de oração passada”. Aí eu pergunto: “Como é que você sabe?

“Porque 30 pessoas choraram, choraram!...”─ é a resposta. Então eu digo: “Já eu penso que na

minha igreja todos são batizados com o Espírito Santo, senão não pertenceriam a ela. Isso porque

minha pressuposição é de que somente pessoas salvas deveriam ser membros de igreja. Ora, eu não

posso penetrar nesta profundidade do ser humano, mas posso pelo menos ouvir-lhes a confissão de

fé em Cristo e observar-lhes o comportamento cristão. A única diferença entre os cristãos na minha

igreja é que alguns têm vivido mais plenos do Espírito que outros. Mas não é pelo fato de haverem

chorado em reuniões de oração que reconheço aqueles que vivem a plenitude de Espírito. Se bem

que podem até chorar ─ isso pode ser bom para elas. Reconheço os cristãos cheios do Espírito pelos

sinais morais da sua vida, se frutificam ou não amor, alegria, paz, benignidade, bondade, mansidão e

domínio próprio.

Por falar em choro, permita-me dizer-lhe algo pessoal: não pense que falo de choro como se me

incomodasse, ou tivesse algo contra. Tenho de viver me controlando, porque choro demais. Mas isto

é produto da minha sanguinidade. Não se trata, portanto, de uma virtude especial. Isso porque os

homens cheios do Espírito Santo são geralmente identificados apenas por seu temperamento,

coreografia ou performance emocional. Embora muitos imponham sinais coreográficos como

evidência da plenitude do Espírito: se levantam as mãos, estão cheios do Espírito Santo; se batem

palmas, também. As pessoas observam e afirmam, precipitadamente: “O fulano está cheio do

Espírito porque louva com espontaneidade e chora com facilidade”. Assim, para muitos, se alguém

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chora, está cheio de Espírito Santo. Isso tem acontecido pelo fato de sermos ainda muito tolos,

julgando as pessoas pelo temperamento.

A verdade é que o homem cheio do Espírito Santo deve ser conhecido pelos sinais morais na sua

vida: amor, alegria, fé, bondade, longanimidade, mansidão, verdade, justiça, humildade, domínio

próprio. São as evidências, que chamamos de frutos do Espírito. Portanto, de evidência do Espírito ─

talvez fique mais claro!

Quarta Vantagem. O batismo do Espírito Santo como sendo sinônimo de conversão não exclui a

confissão e a utilização hoje dos dons espirituais. Temos dois grupos de teologia na Igreja. Um deles

pensa da maneira como defendi nesta minha tese sobre o batismo com o Espírito ─ a meu ver

justificando até mal a posição. Acontece, porém, que a maioria dos que pensam como eu se colocam

numa posição extremada. Dizem, por exemplo: “Batismo com o Espírito Santo é sinônimo de

regeneração”. Com o que concordo. Então continuam: “Os dons espirituais cessaram no primeiro

século”. Aí eu contesto: “Não”. É nisso que sou diferente deles. Porque eles pensam que o batismo

com o Espírito Santo é sinônimo de regeneração, e que os dons cessaram ─ à exceção de uns poucos,

adotados por eles pelo fato de os terem julgado menos problemáticos.

Vêm então os pentecostais e dizem: “O batismo com o Espírito Santo é a segunda bênção. O

cristão, para ser consagrado, tem que prová-la”. Então contradigo: “Não!” Mas eles insistem: “O

Espírito Santo continua concedendo dons hoje”. E eu confirmo: “Sim!” É fácil concluir onde me

encontro a esta altura: num campo minado, com tiroteio a esmo, de todo lado. Os pentecostais

opinam: “O Pr. Caio é frio; ele nega que o nome da experiência que tivemos seja batismo com o

Espírito Santo”. Esclareço: “Tire apenas o nome; deixe a experiência: você a teve, foi real”. Aí vêm

os reformados e afirmam: “Ele afina conosco sé até certo ponto, mas é quente demais para o nosso

gosto; vai além da conta”.

Desconheço o que ─ após ler este livro ─ você irá opinar a meu respeito. Haja o que houver,

sinto-me muito à vontade para falar sobre este assunto porque, como já disse, pensei

pentecostalmente durante os primeiros quatro ou cinco anos da minha vida de convertido. E mesmo

que não pense sobre o batismo com o Espírito Santo do mesmo modo que os pentecostais pensam,

no entanto tenho tido muitas experiências que poderiam ser classificadas como sendo do tipo

pentecostal. Por isso, embora não deseje escandalizar ninguém, vou compartilhar com você alguma

coisa nesta área.

Quando pensava pentecostalmente eu vivia de joelhos. Dizia: “Senhor, atenta em mim! Tenho

que ser mais consagrado, submeter-me ao teu Espírito”. Pegava minha moto e ia trabalhar, cantando

pela rua, louvando, feliz. No meio do caminho eu me lembrava de que tinha deixado aberto o tubo

de pasta de dentes. Convencia-me então de que o Espírito estava me dizendo: “Volta para fechar o

tubo!” Quatro quilômetros de distância! “Ah, meu Deus! Preciso submeter esta área da minha vida

ao Espírito. Vou voltar”. Chegava lá, fechava o tubo, pegava a moto de novo, andava outra vez os

quatro quilômetros, chegava atrasado no trabalho,dava mau testemunho!

Era assim que eu vivia: “Senhor, faze teu servo falar em línguas! Senhor, eu preciso de dom!”

Frequentemente jejuava sexta, sábado e domingo (a minha testemunhou isso várias vezes), apenas

bebendo água. Ficava de joelhos, clamando: “Senhor, enche a minha vida!” Durante esse tempo

jamais falei em línguas. No entanto, eu vivia com Deus. A tal ponto de alguns amigos pentecostais

tiveram de dar um jeitinho com relação a mim. Disseram-me, pois: “Irmão Caio, é verdade que a

Bíblia ensina que para ser batizado com o Espírito Santo é preciso falar em línguas, mas o irmão

apresenta tantas evidências, que no seu caso específico nós acreditamos que já foi batizado.”

Uma ocasião viajei de avião com um teólogo pentecostal e ele me confirmou exatamente isso.

Respondi a ele: “Ah, meu irmão, ouvir isso é um conforto para minh‟alma. Porque eu me esforço,

nas nunca acontece nada.”

As coisas começaram a mudar quando me dediquei a estudar menos preconceituosamente, a ler a

Escritura com tranquilidade, a esmiuçar as Cartas do N.T., e encarar tudo livre da minha ótica

pentecostal. Finalmente tive condições de chegar a essas conclusões. Numa quinta feira à noite, disse

à minha igreja em Manaus: “Irmãos, até hoje ensinei a vocês assim... Mas preciso confessar que não

creio que estivesse certo! Os dons de fato existem. Biblicamente tenho prova de que isto é uma

realidade. Mas mudei em relação ao que seja batismo com o Espírito Santo. Portanto, não posso

mais sustentar a mesma posição sobre o que é esse batismos”.

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Cerca de três anos mais tarde, estava só, pois minha mulher fora com nossos filhos para o Rio de

Janeiro. Sentia-me muito saudoso, cheio de vontade de estar com eles. Era fim de ano, e eu

participara de uma vigília na igreja. Cedinho, foram me chamar para expulsar um demônio num

bairro próximo. Este foi meu primeiro ato em 1979. Voltei aí pelo meio-dia, cansado de ouvir falar

em demônio, e entrei no quarto para orar. Pus-me a exaltar o Senhor, a exaltá-lo e a louvá-lo. No

meio do louvor comecei a falar numa outra língua que nunca tinha aprendido ─ aquele fluxo desde o

íntimo. Não foi nada violentado, forçado. Algo como sons que jamais ouvira ─ algo novo, edificante

para a minha alma. Mas note-se de passagem: não foi a melhor coisa que me aconteceu até o dia de

hoje. Tenho sido igualmente edificado conversando com irmãos, louvando, lendo a Bíblia, ouvindo a

Palavra. Mas essa experiência me aconteceu profunda e suavemente. Acredito que Deus a permitiu

só depois de eu ter mudado de posição, a fim de me provar duas coisas. Primeiro, que línguas não

evidenciam coisa alguma; segundo, que eu precisava ter autoridade para falar a respeito do assunto.

Porque se eu nunca houvesse passado por essa experiência, a maioria dos carismáticos iria dizer:

“Ele está dizendo isso porque nunca provou”.

Contudo, o que desejo sinceramente não é dividir a Igreja de Cristo, mas chamá-la a uma posição

equilibrada, bíblica, saudável, onde o Espírito não seja o elemento, mas UNIFICADOR; onde todos

tenhamos sido batizados num só Espírito, num só Corpo, e a todos nos haja sido dado beber do

mesmo Espírito.

Capítulo V

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

SÃO PARA HOJE?

Nos últimos 70 anos houve no Brasil e no mundo inteiro uma efervescência especial em função

da redescoberta dos dons do Espírito Santo. Textos como o de I Coríntios 12, empoeirados, tamanho

era o desuso, e assuntos teológicos relacionados ao Espírito Santo e a milagres até então

considerados obsoletos e esclerosados ─ verdadeiros apêndices da teologia, portanto desnecessários

aos olhos dos teólogos ─ ganharam vida e poder de provocar a fé de milhões de pessoas na Igreja de

Cristo em todo o mundo. Assim, teve início um dos mais importantes movimentos na história da fé

cristã. Isso aconteceu quando as pessoas começaram a perquirir, a indagar: “Por quê? Por que estas

coisas estão registradas nas Escrituras? Por que não se dá ênfase a elas? Por que não são usadas na

prática evangelizadora da Igreja? Por que não são ensinadas? Por que não são ministradas ao povo

de Deus?” E quando tudo isto começou a acontecer, surgiu o que hoje conhecemos no mundo inteiro

como o Movimento Pentecostal.

No Brasil ─ como disse há pouco ─ eles chegaram no inicio deste século, e começaram um

trabalho que já perfaz um total de milhões de empregados, sendo sem dúvida a maior força cristão

do país.

Dou graças a Deus, por exemplo, pela experiência das Assembléias de Deus. Elas são mais

frequentes nas nossas esquinas e cidades do que cafezinho e coca-cola. Em cada esquina, cada

biboquinha, cada fim de mundo, pode falar tudo ─ luz, água, esgoto ─, mas um templo na

Assembléia de Deus é que não falta nunca. Não fossem esses amados irmãos, a historia da

evangelização neste país estaria escrita de maneira muito pobre e ainda inexpressiva.

Mas graças a Deus aí estão eles. Concordemos com tudo que dizem, ou não, com a maneira

como atuam, ou não; de uma coisa, porém, tenho certeza: do céu haverá milhões de pessoas que

conheceram Jesus através do trabalho desses queridos irmãos.

Mas a Assembléia de Deus é considerada a Igreja Pentecostal Ortodoxa. Fora dela existem os

inúmeros movimentos pentecostais ─ independentes, carismáticos, e outros aos quais às vezes

chamamos de evangélicos com certa relutância.

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Além disso, há igrejas chamadas pentecostais, com as quais os próprios pentecostais rejeitam ser

identificados, porque em alguns casos são tão bizarras e confusas que, inclusive, é perigoso assumir

tal identificação; ou pelo fato de serem mais uma miscelânia que uma Igreja, ou autênticos antros de

charlatães, ávidos por meter a mão no bolso dos incautos. Ainda assim, vale afirmar, apesar de todos

os aspectos perniciosos de tais grupos: Deus em sua incomparável sabedoria continua salvando

pessoas.

Contudo ninguém pode negar que a revolução que aconteceu no mundo, na teologia e na

doutrina do Espírito Santo, tenha sido apenas o resultado da redescoberta do Espírito feita pelos

chamados pentecostais. Creio que foi sobretudo um bulício, uma efervescência, uma ação do próprio

Deus, tentando suscitar essa indagação, essa preocupação e essa doutrina, tão necessárias à vida da

Igreja, e cuja ação e impactos extrapolaram em muito as fronteiras das igrejas pentecostais.

Meu primeiro ponto é o seguinte: há, em nossos dias, os que afirmam que toda essa

movimentação acerca do Espírito Santo é falsa. Eles apresentam três tipos de argumentação para

provar que ela não faz sentido. Dizem, por exemplo, que os dons espirituais não são

contemporâneos; que esses fenômenos carismáticos cessaram no fim da era apostólica e nada de

legítimo há neles.

ARGUMENTOS CONTESTADORES À MOVIMENTAÇÃO ACERCA DO ESPÍRITO SANTO

Primeiro Argumento: Se a Palavra de Deus, a oração e a Ceia do Senhor são meios de graça pelos

quais Deus abençoa o seu povo, então como podemos admitir a existência de dons espirituais como

o de línguas, que edificam uns e não outros, já que nem todos o possuem, de acordo com I Coríntios

12:28-30? Não seria isso um contra-senso em relação ao fato de que somente uns poucos receberiam

tal edificação?

Chamo a isto de “tensão entre os meios de graça e os dons espirituais”. É o que alguns irmãos de

teologia reformada colocam como primeiro obstáculo para que se admita a vigência dos dons

carismáticos. Eles dizem: “Nós temos a Palavra, meio de graça por excelência, também a oração e os

sacramentos, como a Ceia do Senhor, meios de graça esses que devem edificar todo o povo de Deus.

Como podemos então admitir que alguns possuam um dom especial, como o de línguas? Que diz o

Novo Testamento? Que ele edifica aquele que o usa. Portanto, se outros não o possuem, isto

significa que essas pessoas têm uma espécie de adicional de edificação que outros não têm. Cria-se

dessa maneira uma incongruência, uma espécie de privilégio, de prerrogativa entre o povo de Deus”.

Mas que resposta se pode dar a essa colocação? A resposta é a seguinte: tal tensão nunca existiu

na mente de Paulo, pois ele afirmou a Palavra como meio de graça por excelência no tempo em que

os dons espirituais vigoravam. Em II Timóteo 3:16, O apóstolo diz que: “Toda a Escritura é

inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na

justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado pra toda boa obra”.

Acontece que no tempo em que Paulo disse isso os dons espirituais existiam; esta era uma

declaração contemporânea à manifestação do dom de línguas. Paulo afirma a Palavra como meio de

graça, apta para aperfeiçoar e edificar a nossa vida, mas simplesmente não crê que as coisas sejam

auto-excludentes. Posto que o dom, como o de línguas, é uma espécie de ajuda para quem está

precisando de edificação adicional, e não para aquele que a tem de sobra. Pois não é para sobrar. O

Espírito concede a cada um como lhe apraz, justamente porque alguns carecem desse adicional,

andam tropeçando, necessitando de reforço em sua vida íntima e espiritual. Com isso não estou

dizendo que a Palavra é insuficiente para edificar, mas que ela não é um livro, é a Verdade. Verdade

essa que tem um conteúdo. Conteúdo esse que inclui a realidade dos dons espirituais. Assim, os dons

só seriam competidores da Palavra se ela não os mencionasse. Mas é justamente o contrário que

acontece é que a Palavra que os menciona. Daí serem eles parte da ministração da Palavra como

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meio de graça. Quando ela menciona algo de Deus para a nossa vida, tal coisa passa a ser a própria

Palavra em ação.

Segundo Argumento: O texto de I Coríntios 13:8-10 diz que “quando vier o que é perfeito, então

o que é em parte será aniquilado”. Com base nisto, aqueles não aceitam a contemporaneidade dos

dons espirituais argumentam: “Ora, o que é perfeito e que estava sendo aguardado já veio. “Trata-se

do cânon sagrado, da arrumação da Bíblia na ordem definitiva em que ela se encontra hoje; portanto

os dons cessaram”.

Este segundo argumento contra a contemporaneidade dos dons espirituais gira em torno de

interpretações de I Coríntios 13:8-10 e a presumível cessação dos dons. Que resposta se deve dar a

esse problema?

Antes de mais nada, em momento nenhum, em I Coríntios 13:8-10, ou sequer no N.T.,

menciona-se que e a formação do cânon sagrado faria cesar os dons do Espírito. Acontece que nesse

texto, não se diz qualquer coisa relacionada à formação do cânon sagrado, ou algo semelhante.

Tampouco o N.T., apóia essa teologia. Sabemos que a palavra é perfeita, isenta de erro ou engano.

No entanto, sabemos que o que é perfeito ─ referência feita em I Coríntios 13 ─ não é apenas a

Palavra, conquanto seja ela também perfeita. Além dela há muitas outras coisas perfeitas no mundo

de Deus. A Palavra é perfeita, exata, fiel, mas o texto de I Coríntios parece deixar claro que se trata

de uma perfeita-era, um perfeito-estado, não exclusivamente de uma coisa perfeita. Cumpre-nos

perguntar: quando Paulo fala do que é perfeito teria ele qualquer possibilidade de pensar em algo

como um cânon sagrado? Será então que ao declarar que quando viesse o que é perfeito (supondo

que fosse a formação do cânon sagrado), dons e tudo que é em parte seriam aniquilados? Estaria ele

pensando realmente no cânon sagrado?

Na mente de Paulo ─ sem a menor sombra de dúvida ─ o que era perfeito, o que viria, era a

parousia, ou seja, a segunda vinda de Cristo. Ele se referia à consumação geral de todas as coisas. A

prova de que em I Coríntios 13:8-10 o que é perfeito não é o cânon sagrado, e sim a vinda do

Senhor, está no próprio texto. Ele fala por si mesmo através de algumas das metáforas que usa. E

quais são elas? A primeira metáfora é a que se refere ao desenvolvimento do ser humano. Diz o

texto: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino

(...)”. (v.11) Em II Coríntios 3:18 Paulo se refere mais uma vez ao crescimento humano em Cristo:

“E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando como por espelho a glória do Senhor, somos

transformados de glória em glória na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. E assim se

ensina que o homem-em-Cristo vai se desenvolvendo, atingindo estatura, sendo transformado,

ganhando varonilidade e absorvendo a imagem adulta da própria divindade. Em ambos os textos (I

Co. 13:8 e II Co. 3:18), o mesmo ponto de perfeição é apontado: a realização humana final em

Cristo, na sua volta.

A segunda metáfora que Paulo usa é a contemplação no espelho. Ele diz que hoje nós estamos

contemplando o Senhor como por espelho, opaca e obscuramente, mas um dia iremos vê-lo

plenamente. Outra vez o texto de II Coríntios 3:18 será para nós muito esclarecedor. Nele Paulo usa

de novo essa mesma metáfora, e diz o que tal figura significa. Estamos vendo hoje indiretamente a

face do Senhor, através da Palavra e da reflexão da fé, como por espelho; mas estamos indo de glória

em glória, sendo diariamente mudados pela ação do Espírito, que faz nosso caráter se conformar ao

de Cristo. Tal processo durará até aquele dia, quando o Senhor voltar. Teremos então a nossa

substância-essencial glorificada; seremos semelhantes à sua imagem. Essa será à glorificação da

nossa própria vida no Senhor, quando absorvermos a totalidade da natureza essencial de Deus.

Portanto, o que é perfeito em I Coríntios 13 não é o cânon sagrado ─ ainda que a Palavra seja

perfeita e impoluta. Aquilo a que Paulo se refere é a paraousia, a consumação geral, a glorificação

dos cristãos, quando então seremos semelhantes ao Senhor ─ perfeitos,em comunhão íntima, vendo-

o face a face, quando poderemos abrir mão da fé, porque já não haverá necessidade de crer naquilo

que não vemos; a esperança de nada servirá, pois teremos alcançado tudo quando hoje esperamos; e

ficará tão somente o amor, porquanto tudo quanto se vive diante do Deus que é amor, é amor. Dessa

forma Paulo está ali se referindo à consumação geral, no dia eterno em Cristo Jesus. Esse é o perfeito

que iniquilará todas as coisas temporárias.

Se supusermos que a formação com o consequente encerramento do cânon sagrado, aniquilou os

dons, então esse entendimento vai destruir a própria teologia, pois não apenas as línguas e profecias

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cessariam, mas também ciência passaria. Em I Coríntios 13:10, Paulo diz: “Quando, porém, vier o

que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado”, Lembre que ele disse: “...havendo profecias,

desapararecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará” O que estou querendo dizer é

que esta hermenêutica e esta exegese ─ que diz que o que é perfeito é o cânon sagrado ─ reside no

fato de que o cânon foi formado e as Escrituras estão aqui, completas, perfeitas. Em razão disso

profecias desapareceram, dons passaram; mas nesse caso não só línguas e profecias teriam passado,

mas a própria teologia, pois o texto é claro quando diz: “... havendo ciência passada”. A ciência aí

referida não é, entretanto, a secular. Esta não passou, cresce a cada dia. A referência é à ciência do

contexto antecedente, que é precisamente a espiritual, referida antes (I Co. 12:9), e de cuja sabedoria

a teologia depende fundamentalmente. Então a própria teologia acabaria quando da formação do

cânon sagrado. Por isso é que eu digo que se trata de uma tremenda contradição, essa de, em nome

da teologia reformada e do cânon sagrado, acabar-se com os dons espirituais como línguas e

profecia, e não fazer tal interpretação cair também sobre o dom de ciência. Assim, em nome da

teologia, acabar-se-ia coma teologia. Mas não é assim que eles fazem.

Se os que não crêem na contemporaneidade dos dons espirituais pelos menos fizessem uma

exegese imparcial, sem pretender apenas forçar e arbitrar em cima da cessação de alguma coisa, sem

perceber as implicações amplas do texto, então eu me sentiria satisfeito. Mas como tal raciocínio

acabaria com a própria teologia, como acabaria a ciência do pensar teológico, eles optam então por

fazer sua exegese terminar com as línguas e profecias, nas não com a ciência teológica. Além do

que, mesmo que tais teólogos fossem suficientemente honestos para levar os resultados de sua

teologia às últimas cons, isso também se chocaria com Daniel 12:4, que nos diz o contrário ─ que

nos últimos tempos a ciência teológica estaria em pleno desenvolvimento, ou seja, no tempo do fim,

o Livro Santo teria esquadrinhado e o saber sobre ele se multiplicaria imensamente.

Terceiro Argumento: Neste ponto o discurso é o seguinte: “A História da Igreja não registra, entre

400 e 1700, relatos de legítimas manifestações de dons espirituais. Se tais dons fossem de fato

bíblicos e para hoje a Igreja não nos teria desprezado”.

Admitindo que não possamos acreditar no que dizem alguns biógrafos sobre a prática dos dons

espirituais na vida de Lutero e outros importantes homens de Deus do passado, ainda assim esse

argumento não prova nada além do seguinte: que a vida espiritual da Igreja praticamente morreu

nesse período; que nesse tempo havia total ignorância das Escrituras e que, em vista disso, a ênfase

dos reformadores se dirigia às questões soteriológicas, ou seja, às questões relacionadas à doutrina

da salvação, pois era nesse campo da teologia que residiam as polêmicas daqueles dias.

Argumentar que na história da Igreja não houve manifestação dos dons, e que isso prova que eles

cessaram não evidencia nada, pois entre os anos 400 e 1500 também não houve nenhuma ênfase na

doutrina da justificação, pela fé, o que não significa que Deus parou de salvar. Além do que, usar a

história como meio de provar que os dons cessaram não faz sentido com o melhor da nossa

hermenêutica reformada, que nos ensina que não é a História que julga a Palavra, mas a Palavra que

julga a História.

O QUE ACONTECEU AOS DONS ESPIRITUAIS ENTRE OS ANOS 400 E 1700

Faço, no entanto, uma pergunta: O que aconteceu aos dons espirituais entre os anos 400 e 1700?

Sugiro quatro respostas a esta questão.

Primeira Resposta: A ignorância espiritual e bíblica que o Catolicismo Romano infundiu no povo

impediu o florescimento dos dons durante esse tempo. Do ano 400 até a Reforma, e pouco além,

como os reformadores tinham preocupações de caráter mais soteriológico do que carismático e

escatológico ─ assuntos em que raramente tocam em seus escritos ─, não houve quase nenhuma

reflexão teológica a respeito dos dons. O fato é que a Igreja Católica se encarregou de infundir uma

ignorância espiritual absoluta na mente das pessoas.

Segunda Resposta: Os pré-reformadores ─ levantados por Deus antes da Reforma ─ ergueram sua

voz falando em nome de Deus, sem quase mencionar o assunto dos dons. A verdade é que eles

tinham outros temas a tratar ─ mais importantes e perigosos para o Evangelho ─, e que os

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preocupavam muito mais, como: o poder do papado, a salvação pelas obras, a bruxaria na Igreja, e

inclusive a venda de indulgências.

Terceira Resposta: A mesma preocupação soteriológica dos pré-reformadores também envolveu a

mente dos reformadores. Dizer que os dons não são vigentes porque estes não falaram neles deveria

levar-nos pelo menos às seguintes decisões extremadas:

1 - Jogar fora o livro de Tiago, porque Lutero não o entendia, e era de opinião que não devia

fazer parte do cânon sagrado.

2 - Jogar fora também o livro do Apocalipse, porque Calvino o julgava complicado demais, e

afirmava não o compreender muito bem. Para Lutero, havia uma divergência quase inconciliável

entre a teologia de Paulo e a de Tiago. Para Calvino ─ como já disse ─ o Apocalipse era

inextrincável. Nem por isso desprezamos Tiago, ou queimamos o Apocalipse.

3 - Os dons se manifestaram em algumas ocasiões, e de maneira descontrolada, o que levou os

líderes a temê-los pelo que aconteceu: falta de educação no seu uso. Do ano 400 para cá verificaram-

se manifestações, mas tão loucas, que as lideranças ficaram simplesmente apavoradas.

Além disso, o que sucedeu em Corinto tornou-se célebre, fazendo com que a questão dos dons

espirituais se tornasse ─ e desde sempre ─ um tanto controvertida. Dou graças a Deus pelas igrejas

onde tenho servido. Prefiro mil vezes pastoreá-las a pastorear uma igreja como a de Corinto! Nela

havia problemas tremendos. Daí as afirmações contraditórias: “Eu sou de Paulo, eu sou de Pedro, eu

sou de Apolo, do grupo dos espirituais, eu sou de Cristo (...)” (I Co. 5:1-5). Era uma igreja onde

alguém tinha um caso amoroso com a mulher do pai, a madrasta (5:1-5); ou os irmãos

engalfinhavam-se nos tribunais, em razão de negócios e sociedade (6:1-11); onde as pessoas eram

capazes de sair do culto e ir ao templo de Apolo, sentar-se à mesa do ídolo e comer fartamente do

alimento a ele sacrificado (8 e 10); onde a autoridade do apóstolo era questionada (9:2), como

também a do marido sobre a mulher (a questão do véu, no cap. 11); igreja na qual os dons espirituais

eram uma balbúrdia, o culto uma loucura (14), a questão da ressurreição controvertida, e na qual

inclusive pessoas se batizavam em lembrança de mortos, pela possibilidade de assim se salvarem

(15:29). Ora, tudo isso fez muitos pensarem na igreja de Corinto como um caso clássico de uma

igreja na qual toda essa balbúrdia era o resultado da prática dos dons espirituais, esquecidos de que

ela não era a única a praticá-los.

Além disso, do terceiro para o quarto século houve os problemas com os adventistas montanos,

grupo carismático fanático que se levantou e influenciou tremendamente alguns segmentos da igreja,

os quais viviam profetizando sobre a vinda do Senhor. Eles criaram um alvoroço tão grande na

Igreja, que as lideranças ficaram apavoradas com tudo que dizia respeito a manifestações

carismáticas.

OS DONS EXISTEM E SÃO PARA HOJE

Preciso deixar muito claro o seguinte: os dons espirituais existem e são para todos os cristãos. E

por que?

Primeiramente, porque todos fomos batizados no Corpo de Cristo (I Co. 12:13). Vimos que o que

Paulo diz no contexto que se segue a I Coríntios 12:13 está relacionado ao fato de que a diversidade

dos dons encontra um recíproco positivo na unidade da Igreja através do batismo com o Espírito

Santo, algo que todos os cristãos receberam. O que nos faz diferentes uns dos outros no Corpo de

Cristo são os dons que desenvolvemos (I Co. 12:14-30). Somos todos batizados no Espírito Santo, e

o que nos distingue não é a cor da pele, dos olhos ou do cabelo, mas os dons desenvolvidos para o

serviço do Corpo.

Além disso, a salvação e os dons são acontecimentos inseparáveis. Na epístola de Tito 3:4-7,

vimos que aquele que nos salvou por sua graça é o mesmo que derramou abundantemente o Espírito

sobre nós. Observe que no Novo Testamento, salvação e dons do Espírito são ambos obra da graça

de Deus. Em Efésios 2:8,9 se diz: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto, não vem de

vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”. Em Efésios 4:7, Paulo afirma que os

dons espirituais que recebemos nos foram também dados “segundo a graça de Deus”. A graça que

salva e também aquela que os doa. Acaba-se aqui a famosa teologia das boas obras; teologia que

induz a clamar: “Ó Deus, eu estou jejuando porque quero ser digno dos dons espirituais. Quero ser

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santo a ponto de merecer recebê-lo!” Mas a verdade é que sou tão salvo pela graça quanto recebo

dons por ela. Tudo é favor imerecido; vem de Deus. Não se trata de Deus nos salvar por sua graça,

mas só abençoar por nossas obras. Tudo vem de graça.

O que pode acontecer é que quiçá os dons estejam inibidos em sua vida, ou ainda não tenham

sido exercitados, por falta de prática espiritual. Nem sempre eles aparecem evidentes no cristão. É

por isso que muitos ─ que já concluíram que batismo com o Espírito Santo não é um legado de um

grupo exclusivo de super-santificados, mas se destina a todos os cristãos ─ frequentemente se

perguntam: “Se tenho dons e sou batizado no Espírito Santo, por que ando tão sorumbático, tão

casmurro? tão melancólico, abúlico, sem exuberância, pobre demais de dons na minha vida? Por que

sou tão pouco útil no Corpo de Cristo?

A questão é: se os dons são para todos, qual a razão de nem sempre serem evidentes na vida de

todos os cristãos? Desejo responder a isto tomando em consideração dois prismas. Começaremos

com aquele que afirma que os dons devem ser buscados. É o que diz I Coríntios 12:31, onde Paulo

nos adverte: “procurai com zelo os melhores dons”; e ainda no cap. 14:1 “buscai com zelo os dons

espirituais (...)” No entanto essa busca deve ter sempre como perspectiva servir o Corpo de Cristo.

Observe que em momento nenhum Paulo individualiza a questão. Ele não diz “procure!”, mas

“procurai! buscai!” São imperativos plurais, onde deixa entender que quem busca deve fazê-lo numa

perspectiva de Corpo. Não se trata apenas de eu ter mais dons e me envaidecer com isso. O que

Paulo diz é que devo alimentar o desejo de receber esses dons para servir ─ servir à igreja, aos

irmãos; edificar o Corpo.

Tal perspectiva me faria observar a Igreja com carinho. Se, por exemplo, vejo que ela não está

aquinhoada numa certa área (faltam-lhe dons ali), então eu oro, pedindo a Deus que a supra naquele

setor, inclusive usando-me, para que eu seja uma bênção para ela naquela área de sua carência

espiritual.

É pois nessa perspectiva de serviço ao Corpo, de equipe, de visão orgânica da igreja, que devo

buscar os dons espirituais.

O segundo prisma pelo qual devo encarar essa questão da busca dos dons é o seguinte: além de

procurá-los num prisma global, eclesial, devo buscá-los sem desespero. I Coríntios 12:11 diz que o

“Espírito distribui dons como lhe apraz”. É até possível que eu peça com boas intenções, que deseje

realmente servir ao Corpo, mas o Espírito ─ que é soberano, conhece o que posso desenvolver, sabe

o que é bom para mim ─ pode dar-me ou não. Então, se eles não se evidenciarem quando você os

pedir por notar que há uma certa carência na igreja, não se desespere, não fique se lamentando: “Eu

sabia. É porque não valho nada mesmo. Deus não quer coisa nenhuma comigo. Sou uma pessoa

muito pouco santificada” Não pense dessa maneira! Saiba que o Espírito é soberano. Ele concede

como lhe apraz. Saiba também que nem todos possuem todos os dons. Em Coríntios 12:27-30, Paulo

diz: “Ora, vós sois Corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse Corpo. A uns estabeleceu

Deus na Igreja, primeiramente apóstolo, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois

operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedade de línguas”. Observe as

perguntas retóricas nos v. 29 e 30: “Porventura são todos apóstolos? Que resposta você dá? “Não!”

“Ou todos profetas?” “Não!” São todos mestres? ou operadores de milagres? Têm todos dons de

curar? Falam todos em outras línguas? Interpretam-nas todos?” “Não!”

Por este texto sucumbe a perspectiva pentecostal de que o cristão, para ser espiritual, tem que

falar em línguas.

Deus deseja que estejamos conscientes de que os dons devem ser desenvolvidos. Eles não podem

ser realizados. Eles não podem ser realidades estáticas. Não tem sentido receber um dom e passar a

vida inteira sem ir além do estágio inicial. Deus quer que multipliquemos os dons e cresçamos em

sua prática e uso. Em Hebreus 5:12-14 ─ onde esta idéia está muito clara ─, o escritor da epístola se

refere ao fato de que os hebreus haviam estacionado no crescimento espiritual. Diz ele no v. 12:

“Pois, com efeito, quando devíeis ser mestres (...)” E por que deviam ser mestre? A razão é “...

atendendo ao tempo decorrido...” Ou seja, na perspectiva do escritor de Hebreus, todos os cristãos, à

medida que o tempo passa, devem caminhar, para se transformarem em mestres, em gente que

ensina, e não em eternos assistidores de estudos bíblicos e mensagens abençoadas, ou meros

participantes de louvores calorosos.

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“Atendendo ao tempo decorrido”... Será que a esta altura você já não deveria ser mestre?

Hebreus diz mais: “... tendes novamente necessidade de alguém que vos ensine de novo quais são os

princípios elementares (...)” Diz ainda o texto, no v. 14: “Mas o alimento sólido é para os adultos,

para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exercitadas (...)” Mentes exercitadas para que?

─ “... para discernir não somente o bem, mas também o mal”. Veja como esse dom, o do

discernimento, pode se desenvolver também pela prática das faculdades espirituais. Quando você o

pratica, participa, se desenvolve ele irá manifestar-se na sua vida à medida em que você o exercitar.

Dessa forma o princípio da gradualidade no desenvolvimento dos dons se manifesta mediante o uso

das expressões “tempo decorrido” e “pela prática”. E ainda: pela alusão ao “exercício das

faculdades‟. Os dons podem cessar ou se inibir, dependendo de como os desenvolvemos ou

atrofiamos. Contudo eles estão em nós potencialmente, desde o dia em que fomos batizados com o

Espírito Santo, no Corpo de Cristo, no ato da nossa genuína conversão.

Portanto, que isto fique bem claro: dons espirituais devem ser desenvolvidos.

Quando me converti ao Evangelho fiquei com a nítida idéia de que o Senhor, naquele mesmo dia

em que me chamara pela sua graça, me entregara uma vocação ministerial. Ficou logo evidente que

eu não iria viver de outra coisa, mas ocupado em pregar o evangelho. Quando pensava em me

desenvolver noutras atividades, era dominado por uma profunda nostalgia. Só conseguia pensar em

pregar a Palavra. Lutei alguns meses, orando e pedindo a Deus que ou me tirasse aquela forca de

chamado, ou a confirmasse.

Naqueles primeiros meses e anos eu tinha consciência de que Deus me dera um dom, e este era o

único que eu desenvolvia ─ o de evangelista. Desde os primeiros meses ele me proporcionou

oportunidades de a cada semana levar pessoas a Cristo. Eu as via sendo batizadas, e tinha ocasião de

testemunhar, pregar na praça, nas esquinas, nas escolas, nas universidades e em diferentes lugares,

sempre com uma reação enormemente positiva por parte das pessoas.

A igreja que então dirigia juntamente com meu pai cresceu bastante: nos dois primeiros anos

partimos de oito jovens para quase 180. Porque as coisas estavam acontecendo, aprofundava-se em

mim a certeza de que Deus me havia de fato confiado aquele dom. A princípio imaginei que ele

queria que eu fosse apenas um evangelista. Quando tinha que fazer um estudo bíblico, minha luta era

enorme. Pegava alguns livros de teologia bem elementar e copiava uma série de coisas para entregar

ao povo. Vivia lendo tudo que estava no meu alcance, repetindo mensagens de outros, porque em

termos de ensino e de pastoreio, eu me sentia extremamente limitado, como se as Escrituras

estivessem um tanto fechadas para mim. Mas à medida que o tempo foi passando, Deus me foi

enriquecendo com outros dons. De repente comecei a me sentir muito livre para ensinar a Palavra.

Fui percebendo que estava apto não apenas para ministrar os rudimentos da fé, mas também para

refletir teologicamente com certa relevância e profundidade. Sem dúvida desde então muitos outros

dons têm sido agregados à minha vida e ministério. Sinto-me em permanente mudança e crescimento

diante de Deus e dos homens.

Portanto, se afirmar que sou apenas um evangelista estarei mentindo, sendo um ingrato; porque

sei que nesses vários anos o Senhor acrescentou muitos outros dons à minha vida. Contudo não nasci

no Evangelho vendo-os manifestarem-se todos de uma vez.

Isso nos leva a outra questão: já que os dons espirituais existem, então quais são eles? Esta será a

matéria do nosso próximo capítulo.

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Capítulo VI

DISTINGUINDO OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

Faço, inicialmente, quatro considerações a este respeito.

Primeira Consideração. Não há uma lista exaustiva de dons no Novo Testamento. Cada lista

acrescenta algo à outra. A primeira delas está em Romanos 12:6-8; a segunda, em I Coríntios 7:7; a

terceira, em I Coríntios 12 e 14; a quarta, em Efésios 4:11-13; e a quinta, em Pedro 4:10,11. As listas

são diversas ─ umas com mais outras com menos dons; umas nas quais faltam alguns, outras em que

eles são acrescentados. Consequentemente, não devemos dogmatizar a respeito do assunto,

declarando que os dons existentes são aqueles acerca dos quais o N.T. fala. O N.T. não nos oferece

uma lista exaustiva de dons. Isso porque cada um dos escritores deixou de citar uma série que outros

mencionaram, o que significa que na mente deles não havia o esquema carismático que encontramos

em alguns livros. Isto se explica pelo fato de eles serem mais soltos na perspectiva da soberania de

Deus do que a maioria de nós.

Segunda Consideração: Se entendermos que essas listas não são exaustivas, concluiremos que os

dons podem ser mais numerosos do que aqueles que o N.T. apresenta. De qualquer maneira, porém,

todos os dons ─ estejam eles descritos ou não no N.T. ─ têm que, basicamente, fazer sentido com o

espírito geral das Escrituras. Em outras palavras: é possível que haja mais dons espirituais do que

aqueles nelas mencionados. Eu, pessoalmente, tenho os dons citados no N.T. como minha referência

básica a respeito de sua existência, mas não deixo de reconhecê-los sempre que os vejo em outra

forma na vida de algum irmão ou irmã. Deus é livre e soberano para prover novas formas de

manifestar a sua graça através da vida humana.

Terceira Consideração: Todos os dons são carismas, mesmo os menos aclamados pela teologia

carismática. Temos hoje alguns que ganharam “status quo” espiritual e outros que têm sido

classificados como meramente funcionais. Sobre as pessoas que possuem os dons de “status

espiritual”, opina-se: “Ah, fulano fala em línguas! deve se uma pessoa muito espiritual!” Acerca dos

que curam, diz-se: “Tem as mãos ungidas: ora pelo doente, eles são curados. Deve ser maravilhoso

receber o toque dessas mãos!...” E as pessoas olham para essas criaturas humanas agraciadas por

Deus com esses dons, de uma maneira fascinada, embevecida! Às vezes, inclusive, até enciumada...

Contudo, todos os dons são carismas, inclusive alguns que muitos jamais imaginariam que

fossem. Mas Paulo usa o termo “caris” para caracterizar algumas das coisas que nunca suporíamos

carismáticas. Neste sentido, no N.T. todos os crentes são carismáticos, porque tudo que têm vem da

graça de Deus, da “caris”. Quanto ao dom de línguas ─ que em nosso meio tem sido objeto de

especial admiração ─, se existisse uma hierarquia, ele seria o menor de todos. Observe como tem

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início o v. 28 de I Coríntios 12: “A uns estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente apóstolos; em

segundo lugar, profetas; em terceiro, mestres”. Não se trata de serem esses dons mais importantes do

que outros; suas funções no Corpo é que obedecem a uma ordem de utilidade comunitária. E com

que termina a relação? Com línguas. É o último dom! Juan Carlos Ortiz tem razão quando diz que

“línguas é dom de pijama”. A língua está para o mundo espiritual como o pijama está para você.

Você vai à igreja de pijama? Não! Pijama só se usa na intimidade. Quando vai à igreja você veste

uma roupa decente; se vai a um casamento, usa um traje especial; se a uma solenidade, um smoking;

ou vestido de gala. Assim também é com as línguas. Trata-se de um dom para a intimidade da vida.

Edifica somente aquele que o usa.

Digo isso pelo fato de que não levamos a sério, e muito menos na perspectiva do carisma, certos

dons espirituais que não caíram no gosto das predileções carismáticas. Todavia, do ponto de vista do

que significa carisma na Bíblia, não há a menor dúvida de que são o resultado da graça (caris) de

Deus.

Desejo agora apresentar-lhe alguns desses carismas que habitualmente não tratamos na

perspectiva carismática.

O DOM DE CONTRIBUIR

Um exemplo excelente desse tipo de dom que não tem status carismático entre nós é o dom de

contribuição.

Uma certa manhã, indo para o sul do Brasil, esperava uma conexão às 6:30 em São Paulo, no

saguão do aeroporto. A VINDE ─ organização que fundei e presido ─ tinha uma dívida imensa a

pagar. Com a cabeça quase entre os olhos, orava “Senhor, socorre-me!” Quando levantei os olhos,

vinha um homem de ótima aparência, com um paletó último modelo, um sorriso luminoso nos

lábios.

─ Olá, Pastor Caio, meu irmão.

Aí eu me levantei. Não sabia quem era a pessoa.

─ Oh, como vai, meu irmão? ─ saudei-o.

Chamou-me de Pastor Caio, dever ser evangélico, pensei com meus botões.

─ Está precisando de alguma coisa? ─ ele me perguntou.

─ De alguma ─ respondi hesitante.

─ Do quê, irmão?

─ Eu, não... ─ gaguejei.

─ A VINDE? ─ perguntou, tornando as coisas mais diretas.

─ Ela precisa, sim. Sempre está precisando, todo mês, de algumas coisas ─ acrescentei um tanto

constrangido.

─ Deus me deu um dom, o de contribuir. Sinto prazer com isso; é uma graça que o Senhor me

concedeu. Pegue o meu cartão. Não sei fazer muita coisa, pastor, mas oro e contribuo com alegria.

Seus problemas financeiros são meus. Estou indo ao Nordeste resolver um assunto da minha

empresa; telefone-me! Tomo esta responsabilidade no Corpo de Cristo, a de contribuir ─ disse

aquele irmão, com a alegria de quem tinha ganho o dia.

O pastor daquele homem me revelou que ele realmente tem essa habilidade, a de descobrir, a

necessidade dos irmãos. E quando as descobre tem a alma aberta para investir neles com imensa

alegria.

Falei uma ocasião na minha igreja sobre esse moço e muita gente veio me perguntar: “Qual é o

endereço dele, Pastor?” E eu respondi: “Tenho o dom de ocultar esse endereço. Senão vocês não vão

deixar o irmão em paz”.

O DOM DE GOVERNO

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Encontramos a afirmação bíblica desse dom em Romanos 12:8. “O que preside, faça-o com

diligência”. Quem governa deve governar em cima de cada situação, ser interessado, não afrouxar

nos padrões de controle, estar sempre à frente, tocando as coisas com garra. Tais pessoas dizem:

“Vamos, ânimo! Tem que fazer, faça logo! Vamos lá, faça com eficiência!” Esse Irmão ou irmã é do

tipo que cobra, está vigilante, empurra os irmãos à ação eficiente e comprometida. É também quem

planeja e induz os outros a se empenharem na realização dos planos. É uma espécie de coordenador

de programas. É capaz de trabalhar por delegação. Não tem nenhum problema quanto a aceitar

outros acima dele, desde que tais relações estejam claras. Este deve ser também um dom presente

nos presbíteros, diretorias de igreja, missões de fé etc.

O DOM DO SOCORRO

Aqueles que possuem tal dom geralmente investem sua vida na perspectiva de serviço aos

cristãos em dificuldades. São pessoas que têm um sentido especial para detectar problemas sérios (I

Co. 12:28).

Numa das igrejas em que servi como pastor havia um casal com este dom. Apesar de bastante

novos na fé naquela época, nunca vira nada igual. Pessoas com problemas chegavam à igreja e eles

logo as descobriam. Certo irmão perdeu o emprego na sexta-feira; no domingo o casal já estava a

par. Aproximaram-se de mim e disseram: “Pastor, fulano está desempregado, e o pior é que esta

semana ele tem dívidas a saldar; não vai poder pagar o aluguel”. De três em três meses havia uma

família morando na casa deles. Ficavam ali uma semana, eles arrumavam emprego, davam-lhes um

jeito na vida. Estavam sempre ocupados. Desde o primeiro mês, quando chegaram à Igreja e se

converteram, esse dom começou a se manifestar. Faziam isto num acordo, uma harmonia e alegria

enormes; têm-se por privilegiados neste ministério de socorro.

O DOM DE ADMINISTRAÇÃO

O exercício desse dom significa compreender os objetivos de uma tarefa e criar planos para

alcançá-los (I Co. 12:28). Dessa forma, aquele que preside é quem empurra o projeto; e com decisão.

Mas o que gerencia é quem dá andamento às coisas. É uma espécie de diretor executivo do projeto.

Pertence a um escalão superior, e trabalha para que outros executem a tarefa, atendam às

necessidades.

Hoje, mais do que nunca, valorizo este dom. Certamente não o possuo, mas admiro-o

imensamente quando o vejo sendo exercido com amor, por irmãos que o praticam com devoção e

alegria.

Ao mencionar minha profunda apreciação por aqueles que exercem o dom de administração com

devoção diante de Deus, penso numa situação da qual tenho experiência pessoal. Durante muitos

anos lutei na VINDE com a questão administrativa, porém sem reconhecer a importância do dom de

administrar. Assim, muitas vezes tentei resolver meus problemas nessa área usando pessoas erradas.

Erradas, não porque fossem exatamente erradas, mas simplesmente porque não tinham nenhum dom

nessa área. Dessa forma, bati com a cabeça muitos anos, sempre tendo problemas com relação a

administração. Ora, tais dificuldades minavam-me imensamente a resistência. Tinha que pregar em

cruzadas de evangelização, gravar programas de TV e às vezes rádio, escrever livros e artigos,

ministrar em conferências cristãs e ainda cumprir todas essas responsabilidades em meio a uma

tremenda avalanche de viagem, que me afastavam do escritório da VINDE por semanas, e às vezes

meses.

Frequentemente, quando chegava, encontrava imensas dificuldades para serem resolvidas, todas

relacionadas à área administrativa. Na verdade eu contava com ótimas pessoas, só que eram

excelentes para outros setores de serviço (como pregação, ensino, oração etc.), não para o

gerenciamento da missão. Foi nesse ponto de meu ministério que conheci um moço em Brasília.

Tratava-se de uma pessoa jovem e muito sisuda. Quase não ria. No entanto, à medida que o fui

conhecendo melhor, percebi que ele amava o Senhor com muita maturidade e compromisso. Todos

em volta me davam testemunho de seus dons como administrador. Iniciamos um namoro entre ele e

a VINDE. Dois anos depois ele assumia como nosso diretor executivo. Hoje, alguns anos após o

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início do seu trabalho, posso lhe fazer justiça, afirmando neste livro que ele fez toda a diferença

possível, do ponto de vista administrativo da missão VINDE. Na realidade ele tem me

proporcionado ─ juntamente com outros que hoje nos ajudam nesta área ─ uma total tranquilidade

para realizar o ministério para o qual Deus me chamou e o Espírito me aquinhoou com dons

específicos, a fim de desenvolvê-lo. Esse irmão possui verdadeiramente o carisma de administrar.

O DOM DE MISERICÓRIDA

Este dom é mencionado em Romanos 12:8: “... quem exerce misericórdia, faça-o com alegria”.

O que tem este dom sente alegria, tem empatia, se compadece da dor do próximo, é misericordioso

para com os irmãos, ajuda quem não tem condições de ajudar-se a si mesmo.

Tivemos na VINDE uma moça publicitária ─ que conheço desde seus 9 anos de idade ─, sem

dúvida ricamente dotada com este dom. Ela é uma das pessoas mais compassivas de que tenho

notícia. Tem uma tremenda capacidade de ver as necessidades! Como sofre! Passa ao lado de uma

pessoa carente, suspira; está sempre sentindo as dores alheias, como se tivesse um nervo exposto.

Quando se toca ali, dói! A dor dos outros é dela. Este realmente é uma carisma maravilhoso.

O dom de misericórdia move as ações sociais mais sublimes. De fato, boa parte da polêmica

sobre o que vem primeiro, se evangelização ou ação social, seria totalmente irrelevante se

estivéssemos vivendo a realidade dos dons do Espírito. Pedro reconhecia que não fora chamado para

o exercício sistemático de nenhum dom de serviço social. Suas prioridades eram a oração e a

Palavra. Mas estas eram suas prioridades, não de todos. Na opinião de Pedro, a questão não era o que

vem primeiro, mas quem foi aquinhoado espiritualmente para o quê. Assim, a questão das

prioridades da missão da Igreja passa também pela questão carismática dos dons espirituais. Fazer

ação social apenas em nome de modas político-ideológicas não alcança o sucesso que tal missão

atinge quando é o resultado da ação do Espírito movendo o coração humano em compaixão e

misericórdia.

Madre Tereza de Calcutá é alguém que revela tal dom no dia-a-dia. Sei que muitos evangélicos

ficam chocados com essa minha afirmação. No entanto, há muito que estou livre dos estreitismos

protestantes que afirmam que Deus só está agindo na igreja protestante. Deus está agindo inclusive

na igreja protestante. Deus não reconhece fronteiras religiosas ou denominacionais. O Espírito

continua a ser como o vento: sopra onde quer. Assim, na maioria das vezes, não sabemos de onde

vem nem para onde vai. O Espírito não pede autorização aos teólogos protestantes para se derramar

sobre quem quer que seja. Ela não pediu nem mesmo autorização a Tiago e a alguns renitentes

irmãos da Igreja de Jerusalém, a fim de se derramar sobre a casa de Cornélio. Na maioria das vezes o

Espírito espera pela ação da Igreja ─ conceito este defendido por mim quando analisamos o episódio

do batismo do Espírito Santo dos samaritanos ─, mas quando esta tenta domesticá-lo ele age com

liberdade e, frequentemente, traz tremenda perplexidade para a igreja. Madre Tereza de Calcutá é

um dessas santas perplexidades de Deus. Ela e uma santa perplexidade porque nos choca a nós

protestantes, pois nenhum de nós tem tido sua relevância de boas obras. Ela é uma santa

perplexidade porque também choca os teólogos da libertação que falam em boas obras que não

fazem, e que vêm sendo feitas por alguém cujo coração despolitizado ama com entusiasmo

incontrolável.

Ora, tudo isso leva a pensar que num mundo de tanta miséria como este nosso, nós, como Igreja,

deveríamos orar pedindo os dons de misericórdia e serviço. Buscar os melhores dons tem também

muito a ver com buscar os mais carentes ao redor.

O DOM DE SABEDORIA

Este dom está registrado em I Coríntios 12:8: “O Espírito dá a alguns a palavra de sabedoria”. O

que significa isso? Em primeiro lugar, relaciono este dom à capacidade de defender o evangelho. Em

outras palavras, é ter o dom de apologista. Em segundo lugar, ter a palavra da sabedoria significa

ainda mais: ter sempre uma palavra prudente, a fim de esclarecer questões controvertidas. E, por

último, é também saber o que é prático e correto para o funcionamento do Corpo de Cristo.

Este dom se manifesta em três circunstâncias específicas:

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1 - Diante de situações de dificuldades. Em Lucas 21:14-15, Jesus diz que quando os discípulos

se encontrassem em apuros na presença de autoridades, ele lhes daria palavra de sabedoria, à qual

ninguém poderia assistir. Foi o caso de Estêvão, em Atos 6:10, que falava com tanta sabedoria que

ninguém podia opor-lhe resistência.

2 - Em questões de divisões dentro da Igreja. I Coríntios 6:5 diz que o sábio no meio da

irmandade é aquele que tem uma palavra pacificadora, apazigua ânimos, reaproxima irmãos, acalma

situações, encontra sempre um modo de reconciliação para cada coisa.

3 - Manifesta-se antes de mais nada nas atitudes. É o que diz Tiago 3:13-18:

“Quem entre vos é sábio e entendido? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno

proceder, as suas obras.

Se pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos

gorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto: antes, é

terrena, animal e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda

espécie de cousas ruins. A sabedoria, porém, lá do alto, é primeiramente pura; depois pacífica,

indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. Ora, é em

paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz”.

De nada vale ser um grande apologista do evangelho, defender a fé, inclusive ser um bom

pacificador de eventuais crises de irmãos, se na vida cotidiana, em cada palavra, não se manifestar

indulgência, bom-senso, sabedoria, espírito pacificador em todas as atitudes.

O DOM DE CONHECIMENTO

Paulo diz em I Coríntios 12:8, “que é dado a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra de

conhecimento”. O que significa isso? Significa descobrir, acumular informações e esclarecer

verdades valiosas para a edificação e instrução teológica e espiritual do Corpo de Cristo. É o caso de

Paulo. Apenas para ter uma idéia disso leia comigo II Pedro 3:15, 16 “...e tende por salvação e

longanimidade de Nosso Senhor, como igualmente o nosso irmão Paulo vos escreveu, segundo a

sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como costumam fazer em todas as suas

epístolas, nas quais há coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como

também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.”

A Palavra que aparece no texto de Pedro, relacionada à habilidade espiritual de Paulo, é

sabedoria. Mas o contexto deixa claro que o dom ao qual Pedro se refere ─ e que Paulo possuía ─

era o de conhecimento. Paulo, portanto, tinha palavra de conhecimento; ele acumulava, descobria,

esclarecia informações valiosas para o Corpo de Cristo.

É o dom dos teólogos e dos pensadores realmente piedoso. São pessoas cuja vida é verdadeiro

poço de riquezas, acervo de sabedoria que borbulha na alma de uma forma extraordinária. Assim, a

verdadeira e piedosa reflexão teológica deve ser encarada como profundamente carismática.

Depois de tratarmos daqueles dons não encarados pela Igreja numa perspectiva carismática ─

crasso erro, aliás ─ veremos aqueles dons que desfrutam de status de espiritualidade carismática. Se

bem que o certo seria aceitar a carismaticidade destes sem diminuir aqueles.

O DOM DE FÉ

“... a outros o Espírito concede fé” (I Co. 12:9). O que significa isso? Trata-se da possibilidade

de discernir os propósitos de Deus para o futuro, mesmo que as coisas se desencadeiem em

condições desfavoráveis no presente. Tem relação, por exemplo, com a pessoa que persevera naquilo

que acredita ser da vontade de Deus realizar, não obstante situações diversas.

Esse tipo de fé não é salvadora comum: é mais do que isso: é uma visão ampla, dilatada: é a fé

que nos vem como um dom especial no Corpo de Cristo, a fim de que vejamos a possibilidade do

impossível, a visibilidade do invisível e a exequibilidade do inexequível. Os que possuem tal dom

são responsáveis por ver além da nuvem. E são esses as que lutam contra a mediocridade dentro da

igreja. Eles não se satisfazem com nada menor do que o impossível feito fato. Eles são santamente

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insaciáveis na busca do que poderia ser. Têm, portanto, visão do que pode ser feito; e têm coragem

para aceitar desafios; têm certeza de que o pior passará. Paulo parece também ter possuído esse dom.

Em Atos 27:21-26, num naufrágio, mesmo sem a menor esperança de salvamento ─ as

circunstâncias absolutamente desfavoráveis ─ ele continua crendo e afirmando que Deus os

pouparia a todos.

O DOM DE CURA

Diz I Coríntios 12:9: “a outros, o mesmo Espírito, dons de curar” Isso significa servir de

instrumento para a cura de doenças ou enfermidades. Tais pessoas são instrumentos de Deus para

orar com os doentes. Elas têm um dom que vai além da fé daqueles pelos quais oram.

A leitura do N.T. nos mostra que muitas vezes Jesus curou em função da fé das próprias pessoas

ou de seus familiares. Todavia, há ocasiões ─ a do cego de João 9 é a melhor delas ─ nas quais Jesus

curou sem nenhuma participação dos que foram o objeto da cura. Obviamente ele podia fazer isso,

pois era Deus. No entanto, os que são dotados do dom de curar têm também uma certa liberdade no

exercício desse dom. Tal liberdade não se compra à de Jesus (mesmo a liberdade de Jesus era

historicamente ilimitada ─ veja Marcos 6:6-7), mas existe de alguma maneira.

Será, afinal, que a pessoa com este dom não fica doente? Paulo o possuía, e o exercitou muitas

vezes. Em Atos 14 cura um paralítico em Listra. Em Atos 28 cura o pai de Público ─ a cidade inteira

foi orar com ele, e ele cura todos. Contudo ele próprio, em Gálatas 4:13, afirma ter sido justamente

em razão de uma enfermidade física que pregou o evangelho na Galácia. Ou é o caso de Eliseu. Ele

curou Naamã, o leproso, ressuscitou mortos, salvou águas amargas, e mesmo depois de morto seus

ossos ainda estavam impregnados do poder de Deus: “Sucedeu, que, enquanto alguns enterravam um

homem, eis que viram um bando [moabitas que invadiam o lugar]; então lançaram o homem na

sepultura de Eliseu; e, tanto que o cadáver tocou os ossos de Eliseu, reviveu o homem, e se levantou

sobre os pés” (II Rs. 13:21). No entanto, tal homem, apesar de impregnado por tão imenso poder de

Deus, morreu de uma enfermidade da qual ele não conseguiu se livrar: “Ora, Eliseu estava sofrendo

da doença de que morreu” (II Rs. 13:14). Desse modo se conclui, sem apelação, o fato de que uma

pessoa que possui o dom de cura pode ficar doente e mesmo morrer de tal enfermidade, sem que isso

signifique, necessariamente, que tal pessoa esteja em pecado. Jesus disse que é normal e mesmo

comum que o médico nem sempre seja capaz de curar a si mesmo (Lucas 4:23).

Então veja que mesmo pessoas como Paulo e Eliseu não estavam isentas da possibilidade de

enfermarem. Eram curadores que também, eventualmente, precisavam de cura. Às vezes Deus

permite que o curador necessite de cura, a fim de que ninguém se equivoque com relação a quem é

realmente que está operando, se o Espírito ou o instrumento. Talvez seja também essa a razão pela

qual Paulo disse que Deus lhe pusera um “espinho na carne, mensageiro de Satanás”, a fim de que,

por seu intermédio o apóstolo fosse “esbofeteado”, e assim jamais se ensoberbecesse. Aqueles nos

quais especialíssimas manifestações do poder de Deus acontecem têm que aprender a viver em

fraqueza (I Co. 12:9-10).

Possuir este dom não garante que as pessoas à volta sempre serão curadas, bastando que o

possuidor do dom ore por elas. Timóteo, amigo, companheiro e filho na fé de Paulo, tinha uma

enfermidade crônica, acerca da qual o apóstolo fala em I Timóteo 5 ─ eram problemas de estômago.

Ele inclusive lhe recomenda que não beba só água ─ a água naqueles dias costumava ser

contaminada, salobra ─, mas um pouco de vinho, como medida terapêutica. Paulo, no entanto, não

parece ter sido capaz de exercitar seu dom sobre Timóteo.

E também Epafrodito, amigo de Paulo, ficou doente, à beira de morte. O apóstolo, ao lado dele,

nada pôde fazer. A idéia que o texto nos dá é a de que Epafrodito desceu, botou o pé na cova, e a

misericórdia de Deus o foi tirando de lá, gradativamente, sem nenhuma intenção milagrosamente.

Paulo diz como aconteceu: “Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém se compadeceu dele, e

não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza”.

Quando meu pai foi chamado para o ministério da Palavra, ele jejuava sempre, buscando muito o

Senhor, procurando definições no seu ministério, na presença de Deus. E aqui devo dizer algo a

respeito dele, pois trata-se de um homem muito sóbrio, digno, com a cabeça muito no lugar, uma das

pessoas mais sensatas e controlada que conheço. Numa daquelas noites de jejum ele foi acordado

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ouvindo uma voz ─ não era sonho. “Caio, levanta!” ─ foi o que ouviu. Ele conta que foi algo tão

poderoso, que sentou na cama chorando como uma criança. E aquela voz dizia: “Eu te dou dois

ministérios específicos. Tu vais orar pelos doentes, e eles ficarão curados. E vai expelir demônios, e

verás a minha vitória”. Depois daquele dia, o que começou a aparecer de pessoas oprimidas e

endemoninhadas na vida de meu pai foi algo impressionante. Seguramente, ele tem hoje centenas de

casos para narrar; inclusive cura de doentes cancerosos, gente de enfermidades e problemas terríveis,

mortais. Todavia, ele mesmo tem frequentemente lutado com enfermidades físicas que o assolam.

Portanto, muitas vezes ele próprio carece de cura; os filhos vez por outra caem de cama; os netos

igualmente; mas já tem acontecido de Deus usá-lo dentro da nossa própria casa, com nossos filhos às

vezes doentes. Depois de fazermos de tudo, só buscando sua intervenção quando medicações e

tratamentos de todos os tipos foram exauridos. Pois o Senhor já o tem usado de maneira fantástica. E

ele sabe disso, com temor e tremor, e com o coração humilde na presença de Deus.

O DOM DE OPERAR MILAGRES

O que significa a prática desse dom? É servir de instrumento para Deus realizar coisas

maravilhosas. Elas podem ser de três tipos: primeiramente, realizações ou tarefas impossíveis. Por

exemplo, o homem que teve a visão do navio Doulos, administra e mantém esse ministério, para

mim é alguém que possui esse carisma, porque esta é uma realização fantástica. Há na vida daqueles

irmãos um carisma de milagre todo dia. Já tenho pregado no navio, tido comunhão com pessoas que

nele ministram, e fico estupefacto, ao verificar como de fato cada dia ali é um dia de milagre.

Também esse dom se manifesta em realizações espirituais. Em Atos 19:11-12 Lucas diz que

“Deus, pelas mãos de Paulo, fazia prodígios extraordinários”, milagres fantásticos, a ponto de os

próprios demônios se retirarem de suas vítimas pela simples presença do apóstolo e pela

aproximação de objetos de seu uso pessoal serem as enfermidades sanadas. Esse dom de milagre,

que se manifesta com curas extraordinárias, expulsão de demônios, tem relação com um poder

especial alcançado através de uma comunhão muito estreita com Deus, ao ponto de mesmo à

distância tornar-se real a graça do Senhor. Em Atos 4:22 vemos a cura de um coxo junto à Porta

Formosa do Templo em Jerusalém. Ela foi chamada de cura milagrosa porque nem toda cura é

milagre; mas há muitas curas que são também milagres. Ou seja, algumas acontecem sem que se

tenham usado os meios científicos para isso. Se os houvesse, a pessoa possivelmente ficaria curada;

como não há, ora-se, e Deus ─ quando lhe apraz ─ cura. No entanto, há curas praticamente

impossíveis de acontecer. Portanto, quando sucedem são realmente milagres!

O DOM DE DISCERNIMENTO DE ESPÍRITOS

Significa saber se certas doutrinas, atitudes e motivações são de Deus ou têm outra procedência.

Trata-se, portanto, de se ter a necessidade especial de discernir, perceber o que está por trás das

coisas, sejam heresias, más intenções ou motivações ruins.

1 - O dom de discernimento de espírito é útil na detecção da obra dos espíritos enganadores. Em

Atos 16:17, Lucas narra que Paulo estando em Filipos, passava todos os dias por um certo lugar, e

havia ali uma menina que vinha atrás dele gritando: “Esses são servos de Deus Altíssimo, que vos

anunciam o caminho da salvação”. A maioria de nós diria: “Que boa propaganda! Publicidade

gratuita!” Mas Paulo ouviu aquilo e pensou: “Tem coisa errada nisso. Há um espírito maligno nesta

moça; um espírito de perturbação, de adivinhão”. Um certo dia, diz Lucas que Paulo, indignado,

parou, olhou para ela e disse: “Espírito imundo, sai dela”. E o demônio a deixou, e ela ficou livre.

Paulo, cheio de discernimento, percebeu que ali havia uma manifestação do diabo, não uma

exaltação ao Deus vivo.

2 - O dom serve ainda para identificar os verdadeiros profetas. Primeiramente sabe-se se são

verdadeiros pelo que falam: I Coríntios 14:29 diz que quando um profeta fala, os outros devem

julgar sua profecia. A sua palavra pode ser até introduzida desta maneira: “Servo meu, assim diz o

Senhor”. Ele pode falar o que quiser, usar inclusive o nome de Javé, mas I Coríntios 14:29 manda

que eu julgue a profecia.Tenho que fazer distinção entre a profecia-revelação e a profecia-dom. A

profecia-revelação, expressa através da Bíblia, não é para ser julgada; ela é inspirada, sacramentada;

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é dom de Deus, tem a confirmação e o testemunho de Deus, do Filho, e do Espírito Santo. Já a

profecia dos profetas contemporâneos pode ser dita em nome de Javé: eu o ouço, não a desprezo,

porém julgo ─ como sou instruído em I Tessalonicenses 5:20. Portanto, não aceito insensatamente as

profecias, deixando-me orientar por elas ─ quando a verdade é que nem sempre harmonizam com as

Escritura.

No exercício do dom de discernimento para identificar os verdadeiros profetas de Deus, é

extremamente importante que estes sejam julgados também por aquilo que confessam

teologicamente. Em I João 4:2 vemos que o verdadeiro mensageiro de Deus precisa ter uma teologia

encarnacionista genuinamente evangélica:

“Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne

é Deus: e todo espírito que não confessa a Jesus não concede de Deus; pelo contrário, este é o

espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem, e presentemente já está no mundo”.

Assim, o profeta de Deus precisa anunciar que Deus estava em Cristo, fez-se carne em Jesus.

Isso porque “o testemunho de Jesus é o espírito da profecia” (Ap. 19:10). Portanto, se não se detectar

essa doutrina da encarnação com suas implicações de salvação genuína e única em Cristo ─, o tal

profeta pode ter todos os carismas do mundo, mas não é um verdadeiro profeta:

“Acautelai-vos dos falsos profetas que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro

são lobos roubadores. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas

aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me:

Senhor, Senhor! porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos

demônios, e em teu nome não fizemos muito milagres? Então lhes direi explicitamente: Nunca vos

conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mt. 7:15, 21-23).

O dom de discernimento de espírito também manifesta sua eficácia no discernimento do

ministério dos profetas através de seus testemunho de vida:

“Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos

abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não

pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. Toda árvore que não

produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt.

7:16-20).

É desse modo que Jesus nos diz que o profeta tem que dar frutos; pode operar milagres, expulsar

demônios, fazer curas; mas se pratica a iniquidade, o Senhor nunca o conheceu. Carismas não

evidenciam muita coisa. São apenas aptidões espirituais, poderes. O profeta deve harmonizar seus

dons com uma vida santa, é o que diz o Senhor Jesus.

3- O dom de discernimento serve também para identificar o erro e a verdade. Em Gálatas 2:11-

14 Paulo discerniu que o comportamento de Pedro não estava em harmonia com a verdade, no caso

de Antioquia, quando agia com tibieza em relação aos irmãos judeus, em detrimento do seu

compromisso com os irmãos gentios. Dessa forma, no exercício de seu dom, Paulo confrontou

Pedro. Tratava-se de um problema muito sutil, e o julgamento só seria correto se exercido através da

sensibilidade espiritual dada pelo Espírito Santo.

O DOM DE LÍNGUAS

O que é o dom de línguas? Trata-se de falar numa língua não materna? Como é possível falar

numa língua nunca aprendida, e fazer isto em louvor a Deus?

O N.T. ensina que essas línguas podem ser compreensíveis ou não. No texto de Atos 2:11 parece

que o fenômeno das línguas foi compreensível, porque pessoas de 17 nações, presentes no

Pentecoste, ouviam os centos e vinte falar em sua própria língua materna acerca das grandezas de

Deus.

Há os que pensam que o milagre não estava no falar em línguas, mas no ouvir; isto é, os

estrangeiros presentes no Pentecoste é que ouviam em sua própria língua. É provável que assim

tenha sido; no entanto, o texto também sugere a outra possibilidade, porque se admitimos que o

milagre podia ser auditivo, podia também ser verbal; ou seja, os apóstolos e os cento e vinte falaram

em línguas compreensíveis às pessoas daquelas 17 nações, no dia de Pentecoste.

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Apesar de as línguas poderem ser compreensíveis, isso não significa que também não possam ser

ininteligíveis. Parece que na maioria dos casos elas são ininteligíveis. Digo isso em função do que

Paulo diz a respeito da inteligibilidade das línguas, caso não haja quem as interprete:

“... quem profetiza é superior ao que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a

igreja receba edificação. Agora, porém, irmãos, se eu for ter convosco falando em outras línguas, em

que vos aproveitarei (...)? (I Co. 14:5b, 6a)

O fato da ininteligibilidade das línguas é afirmado ainda por Paulo através das metáforas que ele

usa em associação com o dom de línguas:

É assim que instrumentos inanimados, como as flautas, ou a cítara, quando emitem sons, se não

os derem bem distintos, como se reconhecerá o que se toca na flauta, ou cítara? Pois também se a

trombeta der som incerto, quem, se preparará para a batalha? Assim vós, se, com a língua, não

disserdes palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis? porque estareis como se falásseis

ao ar. Há sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido. Se eu,

pois, ignorar a significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para

mim” (I Co. 14:7-11).

Na primeira metáfora (v. 7) Paulo compara o dom de língua a instrumentos inanimados, como a

flauta e a cítara; e o v. 8 ele fala da trombeta. A idéia que aparece é a seguinte: se instrumentos como

a flauta, o piano, o órgão, o violino ou a trombeta não emitirem sons certos, ninguém vai entender

nada. Assim, o apóstolo está dizendo o que acontece com as línguas: seu uso não é inteligível, por

isso ninguém entende. Então, para que eu me faça compreender na igreja, tenho que falar na minha

própria língua. No v. 9 Paulo usa uma segunda metáfora, a da língua humana, lembrando que é

preciso pronunciar palavras inteligíveis. Se eu chegar à frente do povo e emitir um punhado de

palavras enroladas, ninguém vai me compreender. Também se tiver dicção defeituosa. Aí então o

apóstolo cita sua última comparação metafórica: a conversa entre estrangeiros (11). É inútil tentar

falar com alguém que não entende nada da língua que falamos.

Paulo se vale de três figuras para mostrar que quem fala em línguas na igreja está se fazendo

compreender tão mal quanto alguém que toca um instrumento sem usar harmonia, melodia; ou como

o que fala com dicção incompreensível; ou como dois estrangeiros querendo conversar um com o

outro. A idéia que ele dá é que as línguas, na maioria dos casos, são incompreensíveis. Podem ser

algaravias estáticas; ou seja, não tem que haver necessariamente um cabedal linguístico enorme,

como o do português. Pode inclusive limitar-se a um certo número reduzido de palavras do louvor da

alma.

O N.T. ensina que o propósito básico do dom de línguas é edificar. Os versículos 2, 4, 14, 16, 18

e 19 do cap. 14 falam sobre isso:

“Pois quem fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende,

e em espírito fala mistérios. O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza

edifica a igreja. Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente

fica infrutífera. E se tu bendisseres apenas em espírito, como dirá o indouto o amém depois da tua

ação de graça? visto que não entende o que dizes. Dou graças a Deus, porque falo em outras línguas

mais do que todos vós. Contudo, prefiro falar na igreja cinco palavras com o meu entendimento, para

instruir, outros, a falar dez mil palavras em outra língua”.

Isto é, o dom de línguas tem por finalidade edificar pessoalmente aquele que o usa. Por isso as

línguas só podem ser públicas se houver quem as interprete ─ cap. 14:27-28. Na minha igreja eu

diria o seguinte: com interpretação ou sem interpretação, prefiro que fiquem calados. Isso porque, no

contexto da Igreja Primitiva, os cultos eram muito diferentes; quase só compareciam pessoas da

própria comunidade da fé e um ou outro visitante incrédulo. Mas hoje não acontece assim na maioria

das igrejas, pois frequentemente há muita “gente de fora”, que não entende nada e fica

escandalizada.

Numa igreja a que compareçam visitantes ─ geralmente gente com idéias e conceitos confusos

─, se estes observarem certas coisas que para nós são normais, ou compreensíveis, mas para eles,

estranhas ou extravagantes, acabarão ficando mais confusos ainda. É por esta razão que instruo o

povo com relação a isso. Mesmo que haja interpretação, tal coisa somente deve acontecer em

reuniões domésticas, muito íntimas, e com ajuda e ensino pastoral.

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O DOM DE INTERPRETAÇÃO

Possuir o dom de interpretação não significa ter capacidade linguística, saber traduzir! Não

significa fazer um curso para aprender línguas. Não se trata de ser perito em tradução, ou um

poliglota. Traduzir é uma coisa, interpretar, outra. Uma língua se traduz, mas um quadro interpreta-

se. A palavra que aqui aparece não é traduzir, mas interpretar. Diz respeito a sentir a mensagem

falada. É um sentir profundo daquilo que o outro, que se expressa a Deus, está falando-sentindo em

língua. Isso porque, se as línguas não são ─ pelo menos via de regra ─ inteligíveis, então é óbvio que

sua interpretação também não é uma tradução linguística, mas uma interpretação do dizer místico da

alma do outro que se expressa em línguas.

Quem fala em línguas pode interpretar-se a si mesmo (I Co. 14:13), não sendo preciso

necessariamente que um outro o interprete. Paulo diz: se você fala em línguas e deseja edificar a

igreja, ore para que possa interpretá-las. Desse modo você compartilha edificação com o povo. Mas

quem fala em línguas pode ser interpretado por uma outra pessoa que possua o dom (I Co. 14:27-

28).

Paulo também diz que a interpretação (e isto é fundamental) deverá ser uma oração ou exaltação

a Deus. Não é minha intenção dogmatizar este assunto. Observo, porém, que a maioria das

interpretações de línguas que ouço não casam muito com o que transpira no N.T. a respeito do fato

de serem as línguas louvor ou oração a Deus: “(...) o que fala em línguas não fala a homens, mas a

Deus (...)”; “(...) porque se eu orar em outra língua (...)”; “(...) cantarei com o espírito (...)” (isto é,

em línguas); “(...) se tu bendisseres apenas com o espírito (...)” (isto é, em línguas). Ora, todos esses

textos relacionam o falar em línguas ao ato de orar ou de louvar. Daí eu pensar que, prioritariamente,

a interpretação das línguas deveria revelar que aquele que está falando em línguas está orando ou

louvando, e não exortando a igreja. As línguas equiparam-se à profecia apenas quando interpretadas,

porque é edificante ouvir aquilo que outros estão orando a Deus em outra língua.

Quando digo que as línguas ─ uma vez interpretadas ─ aparecem sempre como louvor ou

oração, não tenho nenhuma intenção de limitar o poder de Deus. Ao contrário, não duvido de que o

Espírito é soberano, pode fazer o que bem entender. Pode mesmo oferecer mensagens através de

uma língua interpretada, por exemplo. Contudo afirmo que o N.T. associa sempre o falar em línguas

a oração e louvor, nunca a mensagem. A prova disso pode ser encontrada em Atos 2:11, onde os

presentes no Pentecostes ouviam os cento e vinte “engrandecendo a Deus em outras línguas”. Atos

10:46 diz que na casa de Cornélio eles falavam em línguas, magnificando a Deus. Pode-se observar

que as alusões que o N.T. faz às línguas dizem respeito a exaltação, oração, cânticos, ações de graça.

Mas como eu disse anteriormente, não posso, nem me atrevo, a dogmatizar. Quem sou eu para

limitar o Espírito Santo? O que estou tentando dizer é que me coloco à distância, com reserva e

cautela em relação àqueles que expressam em línguas tudo, menos louvor. Louvar e orar em línguas

são a regra da comunicação. Qualquer outro tipo de mensagem será exceção.

O DOM DE APOSTOLADO

Num certo sentido este dom passou, morreu com os apóstolos. Se entendermos o apóstolo como

alguém que fala em nome de outrem; que se senta na cátedra de outrem e fala com a autoridade de

outrem; ou que fala em nome de Cristo, com sua autoridade, então, neste sentido, o apostolado já

não existe. Nenhum homem de Deus, por mais santo e usado que seja, pode falar com a mesma

autoridade que a qual Pedro, Paulo, Tiago, João e outros falavam. Eles tinham um comissionamento,

explícito, dado por Jesus, para falar em nome dele. Tal autoridade está hoje totalmente atrelada à

Bíblia. A Palavra de Deus ─ enquanto revelação de Deus ─ está encerrada. Deus fala ainda hoje,

mas tal falar não acrescenta nada à Escritura. Não há mais nenhuma revelação a ser feita. Quando

fala hoje, ele apenas atualiza e revitaliza sua própria Palavra. Portanto, tanto a pregação quanto a

profecia não são uma Palavra adicional de Deus. São apenas uma reinspiração-contextualizada-

vivificada da Palavra eterna. Ora, estou dizendo tudo isso apenas para deixar claro que não há

apóstolos falando hoje com a autoridade dos apóstolos que andaram com Jesus. O conceito de ter

andado com Jesus era essencial na idéia da autoridade apostólica (At. 1:22; I Co. 9:1,2). E quanto a

isso é bom que não haja dúvida ou equívoco.

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Em suma: não há mais apóstolos trazendo palavra ou revelação nova. Nesse aspecto o dom

desapareceu. Contudo, no sentido lato do termo, esse ministério não terminou.

Neste ponto cabe a pergunta: o que significa ser apóstolo hoje? O dom apostólico em nosso

tempo é caracterizado pelo exercício de autoridade e liderança sobre um certo número de igrejas. É

isso que depreendemos do ministério apostólico de Paulo naquilo em que seu apostolado não se

relacionava com o fato de ter autoridade para falar com a autoridade de Jesus. Paulo tinha um grande

campo de trabalho: desde Jerusalém e circunvizinhanças até o Ilírico. Leia também II Coríntios

10:13-14, onde ele diz que havia chegado até os coríntios com o evangelho de Cristo Jesus, mas que

sabia qual era o limite de sua esfera de ação.

Uma outra característica do dom apostólico é que ele manifesta sinais especiais. Em Romanos

15:19, Paulo diz que “ ... por força de sinais e prodígio, pelo poder do Espírito Santo (...)” é que

desenvolvia seu ministério. E a prova de que os prodígios têm que estar necessariamente presentes

na vida e ministério do apóstolo encontra-se em II Coríntios 12:12, onde Paulo afirma claramente:

“Pois as credenciais do apóstolo foram apresentadas no meio de vós, com toda a persistência, por

sinais, prodígios e poderes miraculosos.

Ainda uma outra característica do ministério apostólico está em Romanos 15:20, onde Paulo

afirma seu pioneirismo. Assim, apóstolo é alguém que anuncia o evangelho onde ele ainda não

chegou: “esforçando-me deste modo por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora pregado” II

Coríntios 10:16 reforça esta perspectiva: “... a fim de anunciar o evangelho para além das vossas

fronteiras, sem com isto nos gloriarmos de cousas já realizadas em campo alheio”. Ou seja, pregar

onde a Palavra ainda não foi semeada é uma das características permanentes do apostolado.

A última característica do ministério apostólico é que ele possui especial autoridade espiritual.

Em II Coríntios 10:8-9 Paulo diz: “Porque se eu me gloriar um pouco mais a respeito da nossa

autoridade, a qual o Senhor nos conferiu para edificação, e não para destruição vossa, não me

envergonharei, para que não pareça ser meu intuito intimidar-vos por meio de cartas”. Essa

autoridade não é para estabelecer fundamentos doutrinários. Tais fundamentos já foram

estabelecidos de uma vez para sempre pelos apóstolos de Jesus. Mas na área de suas

responsabilidades ministeriais, tais apóstolos têm, obviamente, uma nítida autoridade que decorre do

fato de eles serem homens dos “começos”, os pais da visão e do trabalho. Todavia, tal autoridade

não é absoluta nem questionável. Mesmo os apóstolos de Jesus se submetiam a um conselho

superior, no qual, mediante a perspectiva de colegiado, as decisões eram tomadas (At. 15:6-29; Gl.

2:1-10).

Há ainda algumas outras características, mas que não definem muito bem o ministério apostólico

contemporâneo. Por isso preferi não incluí-las como uma possibilidade para hoje.

Apóstolo, portanto, é alguém eu exerce autoridade, lidera um certo número de igrejas; tem,

enfim, um campo de trabalho maior do que o comum; manifesta sinais especiais no seu ministério, é

pioneiro no que faz e possui grande autoridade espiritual naquilo que ministra ou empreende.

O DOM DE EVANGELISTA

Este dom diz respeito à capacidade especial de comunicar o evangelho, levar descrentes a Cristo.

Em Efésios 4:11 lemos que Deus “concedeu uns para evangelistas (...)” É importante lembrar que a

evangelização não é tarefa exclusiva de um grupo de especialistas. Todos, como Corpo de Cristo,

temos que mobilizar-nos para a evangelização. Precisamos no entanto reconhecer, à luz das

Escrituras e da experiência, que alguns levam uma vantagem especial na comunicação da

mensagem. Conduzem um número maior de pessoas a Cristo, e com mais facilidade; pois

comunicam melhor a palavra da fé.

Dentre os exemplos máximos disso temos, contemporaneamente, o Dr. Billy Graham, que tem

uma graça e um talento todo especial para atingir pecadores. Isso porque, do ponto de vista da sua

mensagem, nada há de muito especial. Todavia a simplicidade, a convicção e objetividade com que

ele a proclama transformam-na num acontecimento explosivo no coração do pecador que o ouve.

Acima de toda consideração sobre o fenômeno da comunicação em relação ao dom de evangelista, o

fato preponderante se relaciona à realidade da unção de Deus para aquela tarefa. Muitos se

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comunicam muito bem, mas unção é algo que vai além da comunicação. Unção é capacidade de

deixar impressões espirituais no coração dos assistentes ou ouvintes, as quais transcendem todo

poder de comunicação. Unção é comunicação feita sob o poder do Espírito Santo.

O dom de evangelista tem aspectos diferentes. Primeiramente, eu acentuaria o dom de

evangelismo pessoal. Neste caso, trata-se daquela capacidade de comunicar a palavra da fé numa

relação cara a cara, na qual tal comunicação desemboca sempre numa perspectiva fundamentalmente

evangelizadora. Em outras palavras, o evangelista pessoa é dotado da capacidade de transformar

churrascos em eventos evangelísticos, jogos de futebol em cultos informais, jantares informais em

ceias de salvação. Tudo isso, no entanto, num clima de informalidade e espontaneidade, onde as

coisas acontecem sem nenhum tipo de desconforto ou imposição artificial da mensagem. E mais, os

resultados são geralmente muito positivos.

O segundo aspecto relacionado ao dom de evangelista é o evangelismo de massas. Este aspecto

também tem sua fundamentação na Bíblia. Jonas (que levou Nínive à conversão), Pedro (no dia do

Pentecoste), Filipe (em Samaria e cidades vizinhas) e sobretudo Jesus (que viveu boa parte de seu

ministério com as multidões) são exemplos irretorquíveis do fato de que a evangelização de massas

tem seu lugar no ministério cristão.

Obviamente há os meios contemporâneos de evangelização massiva que não eram previstos

objetivamente na Escritura, tais como a TV, a rádio, o jornal, o teatro, a música etc, os quais, no

entanto, devem ser entendidos, em sua validade, à luz do que Paulo diz em relação a fazer “tudo para

com todos, com o fim de salvar alguns”. Tais meios evangélicos não substituem a necessidade básica

da evangelização pessoa-pessoa. Esse método do santo cara-a-cara foi, é e sempre será o maior e

melhor de todos os meios evangelísticos.

O evangelista é um somador no Corpo de Cristo. Digo que ele é somador porque é alguém que

adiciona muitos à igreja. A perspectiva de crescimento do Corpo de Cristo, todavia, conquanto não

prescinda do trabalho fundamental do evangelista que soma, é, basicamente, o resultado do trabalho

de multiplicação de todos os membros do corpo. Assim, o evangelista soma, mas a igreja, como um

todo, multiplica. E como no Reino de Deus todas as operações que façam crescer são úteis, tanto

aqueles que somam como os que multiplicam têm sua utilidade fundamental.

O DOM DE PASTOR

No N.T. o pastorado é um dom, não apenas uma função eclesiástica oficial. Isso me leva a

afirmar que muitos que hoje são chamados pastores não são realmente pastores, na acepção bíblica

do termo. E muitos dos que não são pastores (na perspectiva da oficialidade contemporânea do

título) na verdade são pastores se forem considerados na perspectiva do dom, conforme o N.T. E por

quê? Porque convencionalmente, na eclesiologia reformada, pastor é hoje um título, um cargo. Às

vezes aquele que é ordenado nem é dotado espiritualmente para ser pastor, se bem que possa ter

outros dons. E há muitos na igreja que não são pastores ordenados, mas têm dom e ministério

pastoral. O que o “pastor” de eclesiologia reformada deve é descobrir se tem esse dom; se não o tem,

precisa desenvolver seu próprio dom na liderança da igreja, mas sem inibir ou matar os dons

pastorais que o Espírito partilhou com os irmãos. Se agir assim, ele será imensamente ajudado no

trato e no ministério da igreja.

O pastor, então, é o que possui o dom de assumir responsabilidade pessoal pelo bem-estar

espiritual de um grupo de cristãos. Quem traduz este dom de maneira muito expressiva é o profeta

Zacarias, quando nos diz o que não é um pastor: “... eis que suscitarei um pastor na terra, o qual não

cuidará das que estão perecendo, não buscará a desgarrada, não curará a que foi ferida, nem

apascentará, a sã; mas começará a carne das gordas, e lhes arrancará as unhas. Aí do pastor inútil,

que abandonou o rebanho; a espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho direito; o braço

completamente se lhe secará, e o olho direito de todo se escurecerá” (Zc. 11:16, 17).

Dessa forma, é a explanação negativa de Zacarias sobre o que não é um pastor justamente aquilo

que mais nos ajuda a ver o que é um pastor. Para caracterizar o pastor útil é só inverter o texto. O

inútil é quem faz o que o texto diz; não cuidará, não buscará, não curará, nem apascentará a sã, mas

comerá, arrancará até as unhas e abandonará o rebanho. Obviamente o pastor útil é quem cuida,

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busca, cura, apascenta; quem não usa a ovelha, mas se dedica a ela; quem não arranca as unhas, mas

trata; quem não abandona o rebanho.

Sempre que tal cuidado, amor, discernimento, senso de proteção e zelo para com a alma humana

são encontrados em alguém, aí verdadeiramente o dom de pastor está presente. E é bom que se diga:

isso não tem nada a ver com ordenação pastoral, conforme os melhores ditames da igreja reformada

protestante.

O DOM DE SOLTEIRO OU DE CELIBATO

I Coríntios 7:7 diz literalmente o seguinte: “Quero que todos os homens sejam tais como também

eu sou; no entanto cada um tem de Deus o seu próprio dom...” Aí então Paulo prossegue dizendo a

que dom está se referindo: “E aos solteiros e viúvas digo que lhes seria bom se permanecessem no

estado em que também eu vivo”. Desse modo Paulo estabelece uma profunda conexão entre seu

estado de solteiro e o dom de Deus. Para ele, a vida de solteiro tinha que ser o resultado de uma

vocação. Todavia, para o apóstolo duas coisas estão claras: tal vocação não era rara ou corriqueira; e

tratava-se de um dom de Deus. Percebemos que o fato de Paulo permanecer solteiro, sem estar

abrasado ─ conforme diz no v.9 ─ era um dom, um carisma. Uma graça de Deus para sua vida (v. 7).

Este dom se traduz da seguinte maneira: permanecer solteiro para dedicação exclusiva a certa

finalidade espiritual, e ser feliz nesse estado. Refere-se àqueles que podem se consagrar a um

determinado serviço, sem crises, sem abrasamento, sem dor, sem nostalgia; com satisfação na

presença de Deus.

O DOM DE POBREZA VOLUNTÁRIA

Este é um dom interessante para ser anunciado na nossa sociedade selvagemente capitalista e

profundamente desigual na sua realidade social. O exercício desse dom se resume, basicamente, em

renunciar voluntária e alegremente aos bens materiais em favor dos pobres. Nós o encontramos em I

Coríntios 13, texto no qual Paulo fala do dom de línguas (v. 1), dom de profecias (v. 2), de

conhecimento (v. 2), dom de ciência (v. 2) e dom da fé (v. 2). Aí então ele aparece com o dom de

pobreza voluntária: “e ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres (...)” Certamente,

neste tempo de ênfase extrema na prosperidade material do cristão, como um dos sinais mais fortes

da bênção de Deus, a vivência desse dom não é sequer cogitada, e sua realidade não será admitida

mesmo entre os carismáticos mais ciosos pela descoberta de novos dons.

Têm sido raros aqueles que, na história mais recente da igreja, têm admitido a realidade de tal

dom. O movimento franciscano católico talvez seja um exemplo de como ele não tem sido levado a

sério. Muitas vezes o estereótipo de São Francisco é ridicularizado na igreja evangélica. Há muitos

que dizem com ar de deboche que não têm vocação para São Francisco, afirmando isso como se esse

fosse um dom para loucos, néscios. A ausência de tal dom na igreja nos tem privado de, por meio

daqueles que o vivem, sermos frequentemente confrontados na nossa sempre pronta tendência para

somente abraçarmos aquelas teologias que nos falam de prosperidade material.

Possa o Espírito levantar São Francisco em nosso meio, a fim de despertar nossa consciência

para o exercício da autodoação abnegada.

O DOM DE MARTÍRIO

Os livros carismáticos deveriam falar também sobre esse dom. Pessoalmente, porém, não tenho

visto nada sendo ensinado a seu respeito. Também nunca vi ninguém buscando-o em oração.

Todavia ele é um dos carismas do Espírito para a Igreja. O dom de martírio se resume no fato de que

aquele que o possui tem uma disposição especial para sofrer e morrer por Cristo.

Em I Coríntios 13:3b, na mesma frequência dos dons legitimados pelo amor, diz Paulo: “... e

ainda que eu entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me

aproveitará.

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Creio que meu pai possui esse dom. Ele fala naturalmente do sofrimento e aceita sofrer sem ser

de modo nenhum masoquista. Ele já me disse algumas vezes, com lágrimas nos olhos: “Meu filho,

eu aceitaria de bom grado ser flagelado por amor a Jesus. Eu me submeteria a tudo como libação,

para os homens saberem que não estou brincando de Jesus, que o amo deveras, que ele é tudo na

minha vida”.

Nosso cristianismo muitas vezes é doril, anador, cibalena... Nada de dor... A verdade é que estão

faltando alguns mártires em nosso meio. Quando tais pessoas estão presentes na igreja, a

comunidade do povo de Deus tem o referencial de quão séria é a fé cristã. Talvez hoje esta seja a

nossa área de maior carência. Isso porque a igreja, a fé e a vida com Deus têm sido tratadas com

tamanho desrespeito, que chego a pensar que perdemos a consciência de que a vida cristã é uma

existência que nos deixa na fronteira eterna da vida e da morte, todos os dias. A vida cristã está se

transformando num acontecimento profundamente irresponsável e sem cons. Certos compromissos

políticos de alguns cristãos estão se tornando, inclusive, mais importante que a fé.

A existência de gente que demonstra disposição alegre pelo sofrimento em Cristo traz à vida do

povo de Deus um sentido de profundidade eterna no seu compromisso com o reino de Deus.

Somente os que vêem algo para lá do histórico-imediato admitem a possibilidade do sofrimento que

tem sua recompensa em Deus.

O DOM DE PROFECIA

É Romanos 12:6, que fala deste dom. Lá, o apóstolo dá instruções sobre como dever ser

utilizado: “Se profecia, seja segundo a proporção da fé”. O que ele quer dizer é que não se deve

profetizar algo que esteja além da nossa própria capacidade de crer. Que dom é este? Será este:

“Assim diz o Senhor: Servo meu, farás uma grande viagem; eis que os campos estão brancos, eu

cedo venho!”? Pessoalmente creio que não! Isso porque a maioria das profecias que ouço são meras

compilações de versículos bíblicos. Basta ler a Bíblia e crer: não precisa ninguém reforçar já o que

está escrito, como se Deus tivesse falando algo novo. Se o Senhor vem, e os campos estão brancos, é

para evangelizar mesmo; ninguém tem que me mandar fazer isso, como se a Palavra não tivesse

força em si mesma. A maioria dessas profecias geralmente anuncia que você está prestes a fazer uma

viagem ─ mas ninguém oferece a passagem. Ou então que vai desfazer uma ligação amorosa ou um

compromisso; quem sabe anulá-lo. Assim, muitas vezes, pelo fato de haver recebido a profecia e

ficar impressionado, você acaba comprando a passagem pelo crediário, ou tomando uma

determinada decisão, só para não deixá-la cair por terra. Aí então você diz: “O profeta disse que eu

viajaria, e viajei!”. Viajou, sim, mas você foi o responsável pela viagem. Se ele não lhe houvesse

falado, e você houvesse feito a viagem, nada de especial seria atribuído a tal fato.

Ora, tudo isso me leva a pergunta: afinal de contas, o que é profecia no N.T.? Como acontece?

Ele pode acontecer na vida de alguém através da pregação das Escrituras Sagradas. É I Coríntios

14:24-25 que diz isso: “Porém, se todos profetizarem, e entrar algum incrédulo, ou indouto, é ele por

todos convencido, e por todos julgado; tornam-se-lhe manifestos os segredos do coração, e assim,

prostrando-se com a face em terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato no meio de

vós”.

Por acaso você já ouviu este tipo de narrativa de pessoas convertidas naquele dia em que tal

palavra profética de Deus foi pregada? Normalmente é como Paulo diz que acontece que vemos

acontecer. Pessoas dizendo: “De repente os mistérios do meu coração foram expostos. Deus falou

comigo”.

Às vezes, na igreja, não levamos muito em consideração a palavra profética, a menos que o

pastor feche os olhos e diga carismaticamente: “Assim diz o Senhor...” anunciando alguma coisa.

Mas amiúde o Senhor está falando, e nós nos negamos a ouvir, em virtude dos nossos jargões. Se

não houver um “Assim diz o Senhor... “, não ouvimos o Senhor falar.

Também ele pode ser a expressão de uma exortação consoladora, Atos 15:32 diz o seguinte:

“Judas e Silas, que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os

fortaleceram”. Observe como, na mente de Lucas (que foi o escritor de Atos), o ministério profético

tinha a ver também com conselho e fortalecimento de irmãos. Você talvez não imagine que em

algumas ocasiões, quando se aproxima do pastor ou de algum irmão amado, alguns conselhos que

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você dá ou recebe podem ser verdadeiras profecias. Tais conselhos não têm que vir necessariamente

com a indicação de que sejam diretamente Palavra do Senhor; basta que caiam como fortalecimento

profundo e consolação eficaz no coração.

Observe como funcionava a inspiração profética no coração de Paulo, em I Timóteo 4:13, 14:

“Até a minha chegada, aplica-te à leitura , à exortação, ao ensino. Não te faças negligente para com o

dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do

presbítero‟. Vemos aí que Timóteo recebera um dom. Pelo contexto antecedente ele estava

relacionado a pregação, exortação e ensino. E profecia, entre tantas coisas, de acordo com Coríntios

14, é aquilo que exorta, edifica, consola. Assim, Paulo diz que aquele trabalho de ensino, conselho e

exortação eram parte do ministério profético que Timóteo recebera por profecia.

Também a profecia pode vir advertindo acerca de alguma ameaça para o povo de Deus no futuro;

isto é, pode ter características preditivas. Não é o mais comum, mas é possível. Observe Atos

21;10,11, onde Ágabo profetiza acerca do futuro de Paulo e sua prisão. Ele fez isto pelo fato de ser

profeta. Dessa forma deve-se dizer que o aspecto preditivo da profecia é biblicamente possível,

conquanto não seja a única nem a mais importante e prática de suas manifestações.

Pode ainda acontecer uma revelação específica, referente a realidades e situações particulares na

vida do povo de Deus. Leia I Coríntios 14:29-31, onde profecia é uma revelação, e às vezes

doutrinária; ou é uma visão aprofundada de algum conhecimento de Deus.

A profecia também tem seu caráter teológico-reflexivo: “Tratando-se de profetas, falem apenas dois

ou três , e os outros julguem. Se, porém, vier revelação a outrem que esteja assentado, cale-se o

primeiro. Porque todos podereis profetizar, um após outro, para aprenderdes e serem consolados”.

Observe que as três palavras que o texto usa em relação à profecia são extremamente reflexivas:

julgar, aprender, e consolar (o que pressupõe um arrazoado). E ainda: a afirmação de que um fala e o

outro cala nos mostra a serenidade litúrgica de tal prática. Nessa perspectiva, profecia é um falar

reflexivamente inspirado, no qual aquilo que foi falado anteriormente tem razão de ser e é base para

a reflexão seguinte: No entanto, tal reflexão não é um mero exercício de pensar teológico. É um

teologizar devocionalizado, no qual a reflexão leva em consideração a inspiração de Deus e não

apenas o exercício exegético hermenêutico do pensar teológico.

O DOM DE MINISTÉRIO

Em Romanos 12:7, Paulo diz: “Se você tem o dom de ministério, então dedique-se ao

ministério”. A exigência é de dedicação. Significa ajudar os outros em tudo que é necessário, para

que certas tarefas sejam feitas para Deus. É dom de apoio. Em algumas ocasiões, o N.T. usa a

palavra diácono para o ministro, e diaconia para ministério; exercer diaconia é ajudar, servir, apoiar.

São ajudas que se fazem na igreja, no Corpo de Cristo. Daí concluir que todos os seus membros

podem ter ministérios. Veja como na saudação de Paulo, no cap. 16 de Romanos, aparece este dom

na vida dos irmãos. Observe o v. 6: “Saudai a Maria que muito trabalhou por vós”. O ministério

dessa irmã era serviço, apoio, ajuda. No v. 9: “Saudai a Urbano, que é nosso cooperador em Cristo, e

ao meu amado Estáquis” ─ vemos que Urbano cooperava, exercia ministério. Ainda o v.12: “Saudai

a Trifena e a Trifosa (...) as quais trabalhavam no Senhor”. Ou seja, elas deram apoio à Igreja, aos

irmãos. No v. 13: “Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua mãe, que também tem sido

mãe para mim”. Isso é ministério: é gente apoiando, servindo, estimulando, aquecendo os irmãos.

Trata-se, portanto, de um dom geral. Tem a ver com o serviço em geral, com a diaconia como um

todo. Isso vai do servir mais simples até o mais sofisticado.

O DOM DE ENSINO

Romanos 12:7 diz: “... o que ensina, esmere-se no fazê-lo”. Acaba-se aqui com todo insulamento

didático. Alguns carismáticos chegam ao púlpito e dizem: “Senhor, revela-me a tua Palavra”. E

falam; “O meu texto é este”. Põem então o dedo em cima de qualquer página da Escritura, lêem o

que lhes cai debaixo dos olhos, e acrescentam: “Irmãos, acabo de receber uma revelação para esta

noite...” É ou não é assim que amiúde acontece? Paulo diz: “Você quer ensinar, então estude;

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esmere-se no fazê-lo; prepare, esmiúce a Palavra, trabalhe, faça exegese, compare, compreenda os

tetos; dedique-se”.

O dom de ensino significa, pois, transmitir informações ao Corpo de Cristo com eficiência; e

eficiência didática, de maneira clara, para que as pessoas entendam de forma fluente, além de lógica,

para que fiquem nítidas na mente. O mestre não é necessariamente muito profundo no que diz. Tal

profundidade é mais comum naqueles que têm o dom de conhecimento. Mas quem consegue

arrumar e comunicar de modo prático as descobertas daquele que tem o dom de ciência: o teólogo,

ou o que tem o dom do ensino?

O DOM DE EXORTAÇÃO

Está em Romanos 12:8 “O que exorta, faça-o com dedicação”. Aquele que exorta não é o que

chega e anarquiza os irmãos. Se você, por exemplo, quer ser útil nessa área e sente que Deus lhe deu

tal dom, primeiramente assuma-o em profundo amor, se é que deseja corrigir a vida deles. Envolva-

se, dedique-se, gaste a vida em seu benefício. Não se trata de ficar apontando o dedo; é um

aconselhamento espiritual que transmite ânimo e dá resultados. Um exemplo disto será em Atos

14:21-22, onde Paulo diz: “E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade, e feito muitos

discípulos, voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia, fortalecendo a alma dos discípulos,

exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando, que, através de muitas tribulações, nos

importa entrar no reino de Deus”. Isso é dom de exortação ─ o aconselhamento espiritual que

transmite ânimo, que mostra que a tribulação passa, ou é um meio através do qual haveremos de

herdar o reino de Deus.

O DOM DE HOSPITALIDADE

Significa abrir a casa e receber com especial cuidado e amor os irmãos em Cristo. Em Pedro 4:9,

Pedro fala desse dom: servir a Deus sendo hospitaleiro: “Sede mutuamente hospitaleiro, fazendo isso

sem murmuração”. Tenho me hospedado, por esse Brasil afora, em muitos lugares ─ em alguns

imensos e bonitos, mas também em casas muito pobres, nas quais absolutamente não existe fartura;

onde, no entanto, muitas vezes o dom de hospitalidade é maior do que em meio à riqueza.

Há alguns anos, minha esposa e eu chagamos a uma cidade do sul do Brasil para uma campanha

de evangelização, e o pastor nos levou à casa onde ficaríamos hospedados. Eu estava muito mal

acostumado naqueles dias, pois vinha sendo hospedado em hotéis grandes, em casas boas. No

entanto ali fui levado para um barraco de madeira, com chão enlameado na entrada. Olhei para

minha mulher, ela olhou para mim, e comigo mesmo pequei, pensando: “Bem que o pastor poderia

ter arranjado um lugarzinho um pouco melhor...”

E era longe, pobre e miserável o lugar. A família tinha 10 filhos. Suspirei, horrorizado:

“Misericórdia” Fomos dormir no quarto do casal, a cama apertada num canto. Em meio a uns bibelôs

antiquados havia um relógio arcaico que fazia tique-taque, tique-taque, não nos deixando dormir. E

foi assim a noite toda.

Quando, no entanto, de manhã trocamos a roupa e saímos do quarto para a sala, era como se

houvessem entrado ali dois anjos de Deus. Pois eles nos trataram como anjos. Que carinho, que

amor, que boa-vontade, que hospitalidade, que serviço! E ficamos ali uma hora. E quando depois

voltamos ao quarto, olhei para minha esposa, ela olhou para mim, curvamos a cabeça, querendo

chorar, nos ajoelhamos juntos, e ela falou: “Você está pensando o que eu estou pensando? Você

pensou o que eu pensei? Você pecou também como eu pequei?” E pedimos perdão ao Senhor.

Que dom fantástico tem aquela família!

Assim, hospitalidade é incluída na lista dos carismas do Espírito. Ora, isso amplia bastante a

noção do que seja ser carismático, e do que é de fato, o viver nos dons do Espírito. Saber disso

deveria nos levar a questionar radicalmente nossa atitude para com os dons espirituais,

especialmente quanto ao excesso de atenção que damos a dons como o de línguas, em detrimento de

outros carismas, como por exemplo, o de hospedar com amor.

O DOM DE MISSIONÁRIO

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É Efésio 3:7-8 que atesta a existência deste dom. Nessa passagem Paulo diz que reconhecia

havê-lo recebido “... fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus, a mim concedida

(...) A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho...”

É com tais palavras que Paulo afirma ter certeza de que Deus o chamara para fincar seu ministério

em outra cultura, outros países, a fim de levar pessoas a Cristo. Sabe que seu ministério é

transcultural, para o mundo, muito além de sua própria nação. E encara isto como um ministério, um

chamado, uma vocação, um dom do Senhor para a sua vida, a fim de compartilhar com os gentios as

insondáveis riquezas de Cristo Jesus.

Essa é, portanto, a lista que o N.T. oferece em relação aos dons espirituais. Como disse no início

deste capítulo, tal lista não deve ser encarada como exaustiva, completa, fechada. Deus é livre para

suscitar novos carismas de acordo com a sua vontade e com as necessidades do seu corpo e do

mundo no qual a Igreja tem que ministrar. No entanto, esta lista, fornecida neste livro, é um

excelente referencial a respeito dos dons espirituais, a fim de que você possa se encontrar como

pessoa em relação a eles. Entender quais são os nossos dons nos ajuda muitíssimo em todas as

demais decisões da vida. Mesmo naquelas de natureza eminentemente profissional.

Capítulo VII

OBSTÁCULOS AO FUNCIONAMENTO DOS DONS

NO CORPO DE CRISTO

No capítulo anterior tentei oferecer a você uma lista a respeito dos dons espirituais. Uma lista

que lhe desse a chance de identificar seus próprios dons, e assim você descobrisse sua melhor

utilidade no Corpo de Cristo. No entanto, a vivência prática e harmoniosa de tais dons no espaço

concreto do Corpo de Cristo não é tão simples como de saída nos parece. A prova disso é a própria

experiência carismática da Igreja de Corinto. Isso porque mesmo em meio aos ambientes e coisas

mais espirituais da vida, a natureza humana continua a revelar seu profundo e tremendo espírito

competitivo, centralizador e, por vezes, egoísta. Por isso é que devemos afirmar que há obstáculos ao

funcionamento dos dons espirituais no corpo de Cristo.

Para entendermos quais são esses obstáculos precisamos ler I Coríntios 12. Dizem os v. 12 e13:

“Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos,

constituem um só Corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois em um só Espírito todos nós

fomos batizados em um só corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós

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foi dado beber de um só Espírito”. Como já vimos em capítulos anteriores, a mesma coisa é dita em

Joel 2:28, se bem que com outras palavras, ou seja: O Espírito do Senhor se derramaria sobre toda

carne ─ servos, servas, jovens, velhos, homens, mulheres, gente de todo tipo. E Paulo aqui raciocina

com a mesma teologia, mostrando que o que ele está pensando é exatamente o que Joel havia dito;

também o mesmo texto que Pedro usara no dia de Pentecoste, para falar sobre o batismo com o

Espírito Santo.

Conhecendo a lista de dons, e sabendo que todos nós ─ conforme está aqui claro ─, como

membros do Corpo, temos acesso a eles; sabendo que o que nos diferencia uns dos outros na Igreja

não é cor, cultura, berço ou nível social, mas os dons que desenvolvemos no Corpo, e para seu

serviço, então qual a razão de não ser a Igreja o organismo vibrante, o corpo vivo, onde todos os

membros participam e cooperam com os próprios dons para o bem-estar de todos?

Por que será que o contemplarmos a igreja temos a sensação de que ela sofreu um derrame, parte

dela está paralisada? Ou então está esclerosada, com todas as suas vias de fluxos meio

obstaculizadas? Ou nos parece aleijada, faltam-lhes partes. Por que anda tantas vezes capenga, cheia

de limitações, sem manifestar a amplidão e a força de sua vocação e seu potencial?

Os obstáculos começam a atrapalhar o funcionamento dos dons no Corpo de Cristo quando

acontece à nossa mente a não-aceitação dos dons concedidos por Deus. Observe o que dizem os vs.

15 e 16: “Se disser o pé: porque não sou mão, não sou corpo, nem por isso deixa de ser corpo. Se o

ouvido disser: porque não sou olho, não sou do corpo, nem por isso deixa de o ser”. O pé diz: “Eu

não sou do corpo porque não tenho as funções, não tenho as características daqueles membros que

diferem de mim”. É o dilema daqueles que não querem assumir o dom que Deus lhes deus; são

sempre pés ou mãos com complexo de inferioridade. Deus os fez de um certo jeito; concedeu-lhes

determinados dons e carismas, mas eles não os assumem, não os entendem como dons úteis;

tampouco se agradam na presença de Deus com o que ele lhes deu.

É por exemplo um pé revoltado querendo pentear o cabelo; ou mãos desejando sentir o gosto da

uva. Às vezes tenho a impressão de que a igreja, ou alguns de seus membros, gostariam de ser

malabaristas. Como aqueles que andam ao contrário, com as mãos no chão e os pés para cima. São

os pés que querem ser mãos, as mãos que querem ser pés. Gente incapaz de aceitar o que Deus lhe

concedeu. E isto acontece ou porque não identificam o que lhes foi dado, ou porque têm desejo de

ser como o outro: “Gostaria tanto de ser como fulano! Os dons dele são tão maravilhosos!”

Vou dar um exemplo bem prático do que estou dizendo. No ministério da VINDE isto já

aconteceu muito. Uns estão na dianteira, vendo as coisas acontecerem. Quando organizamos

cruzadas de evangelização, delas consta sempre uma equipe: enquanto eu tenho a função de pregar,

outros a de cantar, alguns têm a de fazer o trabalho de assessoria imediata às necessidades

conhecidas ou que vão surgindo. Há, no entanto, um conjunto de pessoas que ficam atrás dos

eventos e que a eles não comparecem. É o grupo dos que recebem as cartas, respondem a elas; ou

dos que administram a missão, pagam as dívidas e atendem a uma série de outras coisas. Embora às

vezes nem transpareça, já houve, no entanto, ocasiões em que fui obrigado a reunir o pessoal da

missão, em razão de surgir entre eles esse tipo de complexo ─ de mão que inveja a língua. Alguns

deles se queixavam: “Ah, pastor, afinal de contas o privilégio é de fulano, que vai com o senhor lá

para a frente da batalha, vê as pessoas se decidindo, cheias de bulício, participa da alegria do

trabalho da cruzada. Mas eu não. Eu fico aqui atrás pagando dívidas, abrindo ou envelopando

cartas...”

Mas aquela pessoa parecia ignorar que sem elas não haveria cruzada. Além do mais, o que ela

estava fazendo era também parte dos carismas que o Espírito distribui no seu Corpo.

No Corpo de Cristo é assim mesmo que acontece: enquanto uns trabalham, outros sentem o

gosto. Se uns, por um lado, executam uma parte árdua e difícil da obra, outros parece que só lhe

captam o sabor. No entanto, sem a tarefa, a operosidade da mão, o alimento não chega à boca. Não

se planta ou se poda uma videira com os dentes; não se cava um buraco com a boca, nem se planeja

uma visão, um sonho, com as mãos. A mão tem que trabalhar. Precisamos nos compenetrar, no

Corpo de Cristo, de que as coisas fluem dessa maneira. Pois somos Corpo, não partes isoladas e

autônomas, e sem visão de corpo, o sentimento de fracasso e frustração vai durar a vida inteira.

A frustração no Corpo de Cristo só desaparece quando deixo de me ver como mão, como

indivíduo independente e solitário, como membro insulado, e passo a me ver como parte integrante

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dele. A dor da maioria de nós reside justamente nisto: gostaríamos de ser mãos ambulantes, línguas

ambulantes, olhos ambulantes. Gostaría-mos de ser nós mesmos, e somente nós. É este sentimento

egoísta que faz de nós pessoas frustradas na igreja.

Outro obstáculo ao funcionamento dos dons no Corpo de Cristo é o espírito de auto-suficiência.

Observe I Coríntios 12:21: “... não podem os olhos dizer à mão: não precisamos de ti; nem ainda a

cabeça aos pés: não preciso de vós”. O olho que diz à mão “eu não preciso de ti”, obviamente só diz

algo tolo como isso enquanto não cai nele um cisco. Com conjuntivite, todos os olhos apreciam a

solidariedade da mão. Um olho só é autônomo quando está perfeitamente sadio. Mas mesmo quando

totalmente sadio, de manhã ele precisa da mão, para sua assepsia. Ou então é a cabeça que diz aos

pés: “Eu não preciso de vocês”. Imagine uma cabeça andando sozinha pela rua: “Eu me basto! Não

preciso de ninguém! Sozinha vivo melhor!” É o que a maioria dos teólogos pensa ou afirma. O fato

de que têm cabeça muitas vezes os leva ao absurdo e ridículo de tal pretensão. Os teólogos são uma

das partes menos práticas do corpo sem o auxílio do resto.

O mesmo, todavia, tem que ser dito de pés autônomos (evangelistas), mãos independentes

(socorro, administração etc), bocas solitárias (profetas, apóstolos) e assim por diante, quando agem

como se não dependessem do corpo como um todo. No Corpo de Cristo nada ou nenhum dom deve

ser desprezado. Se entendêssemos isso, boa parte de nossas tolas questões sobre quem são aqueles

que estão fazendo a coisa certa em termos de missão estaria totalmente superada. A coisa relevante é

a coisa toda. E a coisa toda só pode ser feita se todos assumirem sua própria parte no processo.

Dessa forma, uns pregam na esquina, outros na TV. Uns desenvolvem um ativíssimo trabalho de

evangelização pessoal, outros fazem cruzadas. Uns se dedicam à ação social, outros oram com os

doentes. Uns são apologistas da fé, alcançando as cabeças pensantes nas universidades, outros

evangelizam a gente simples das favelas. E assim, em todas as outras áreas de ministério cristão.

Essa visão simplesmente deixa de questionar as pessoas ─ do modo como alguns questionam a Billy

Graham sobre a razão de ele realizar cruzadas. A resposta dele deveria ecoar sempre em nossa

mente: “Porque e á única coisa que sei fazer com graça; e também porque sinto que é isto que Deus

quer de mim. Reconheço que não é nem o único nem o mais eficiente meio de evangelizar, mas é

aquele que Deus vai cobrar de mim um dia”.

VENCENDO OS OBSTÁCULOS ATRAVÉS DE UMA VISÃO EQUILIBRADA

Qual, então, a compreensão que produz como con uma visão sadia, equilibrada, justa no Corpo

de Cristo? O v. 22 de I Coríntios 12, nos dá a resposta. Diz o texto: “Pelo contrário, os membros do

corpo que parecem ser mais fracos são necessários”. Ou seja, só quando entendo que os membros

fracos são necessários é que alcanço equilíbrio. Pois os de potencial menor é que são essenciais. Os

dons de menor importância, ou aqueles aos quais costumamos atribuir valor menor, são de capital

importância no Corpo. Talvez você acredite que os dons fundamentais são apostolados, pastoreio,

evangelismo, profecia, curas, milagres, e dê poucas valia a outros como o de socorro; ou àqueles que

estão envolvidos com ministérios de apoio, ajuda ─ que não aparecem tanto, estão ali, escorando o

serviço dos outros. Lembre que a palavra de Deus está falando de membros ou dons ─ ao passo que

nossa idéia eclesiástica de membresia associa apenas membro a membro de igreja. Acontece que

Paulo estava construindo uma metáfora com a idéia do Corpo; portanto, entenda membro em I

Coríntios 12, como dom em função na vida de alguém no Corpo de Cristo, e não como membresia

burocrática da igreja. Dentro, pois, dessa metáfora o membro mais fraco ─ ou o dom mais fraco ─ é

absolutamente necessário à vida do Corpo.

Paulo diz ainda que os aparentemente menos dignos devem ser honrados e tratados com especial

cuidado. Ele deveria estar se referindo às partes mais íntimas do corpo, que geralmente não são

expostas: “... e os que nos parecem menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra;

também os que em nós não são decorosos, revestimos de especial honra” (I Co. 12:23). O que Paulo

está querendo dizer pode ter dois sentidos ─ um, relacionado a pessoas como pessoas, nas igrejas; ou

sejam: os pobres, humildes, os incultos, que devem ser guardados e tratados com atenção, honra e

amor. Mas pode estar relacionado especificamente aos dons em si mesmos. Neste caso, o que ele

está dizendo é que este entendimento deve levar-nos a tratar um dom pouco decoroso, como o de

línguas, com especial cuidado, cobrindo-o com honra íntima. Por que afirmei que o dom de línguas

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pode ser considerado pouco decoroso? Porque em todo o contexto de I Coríntios Paulo mostra que se

ele não for usado com sabedoria e bom-senso ─ sendo praticado na intimidade, ou então com

interpretação ─, só cria problemas. Por isso aconselha que seja coberto com especial cuidado. Que

os irmãos que têm este dom, na medida em que forem crescendo, possam vir a ser uma bênção na

edificação da Igreja.

Prosseguindo, Paulo diz em I Coríntios 12:24 que os membros nobres devem abrir mão de

cuidados especiais; ou seja, quanto mais amadurecidos e desenvolvidos os dons, menos devem

reivindicar-se cuidados. Você já imaginou se eu ficasse triste, desolado, com relação à minha igreja,

caso meus presbíteros não me visitassem? “Ah, estou a ponto de sucumbir, e eles não vêm me ver;

como me sinto solitário! Os presbíteros têm que vir me fortalecer...” O que Paulo está dizendo é que

à medida que crescemos, que os nossos dons se desenvolvem, que vamos sendo considerados como

membros nobres no Corpo, de menos cuidado vamos necessitando. Isso porque, deste ponto em

diante, nos cuidamos de nós mesmos. E se um dia uma pessoa como eu cai na fé, a culpa não é em

nenhum momento dividida com ninguém. Eu seria totalmente culpado, pois a pressuposição é de que

sou apto para cuidar de mim mesmo e também para buscar ajuda de outros, por mim mesmo, em

tempos de especial tentação.

A QUE NOS CONDUZ O EQUILÍBRIO?

Vejamos agora o que o entendimento correto acerca dos dons produz no Corpo de Cristo.

Observemos o texto contido entre os v. 24b e 30: “Contudo Deus coordenou o corpo,

concedendo muito mais honra àquilo que menos tinha, para que não haja divisão no corpo; pelo

contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros. De maneira que, se

um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam. Ora,

vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo. A uns, estabeleceu Deus na

Igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois

operadores de milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedade de línguas. Por ventura

são todos apóstolos? ou todos profetas? são todos mestres? ou operadores de milagres? Têm todos

dons de curar? falam todos em outras línguas? interpretam-nas todos?”

Em primeiro lugar, Paulo diz que Deus estabeleceu que aqueles que possuem dons com menos

honra sejam mais honrados, a fim de que não haja divisão no corpo (v. 25). Se todos são honrados

por todos, então não há divisões no Corpo. O próprio Paulo admoesta os irmãos neste sentido. Se

todos os membros são úteis, o natural é que estejam satisfeitos com o que fazem. Acaba-se a idéia de

formar o grupinho dos sem espaço, que estão em busca de ter seu próprio lugar; acaba-se com a idéia

de criar um rebanho independente e ser o pastor ─ ou pastora ─ desse rebanho, em razão de não dar

o “pastor” espaço para nada no Corpo.

No mundo, os que estão cheios de autoridade dominam e têm grandes privilégios, mas entre nós

o maior, o mais nobre, deve ser aquele que mais serve. Portanto, quando temos esta visão de Corpo,

acabam-se as divisões na Igreja. Também esta visão produz um espírito de equipe e cooperação. Diz

o v. 25: “... pelo contrário, cooperem os membros com igual cuidado, em favor uns dos outros”.

Termina a idéia de que só quem cuida do rebanho, é o pastor, pois também os membros zelam uns

pelos outros.

Existem dezenas de mandamentos de mutualidade no Novo Testamento (Veremos isso no

penúltimo capítulo). Mandamentos de mutualidade são aqueles que dizem: “Amai-vos uns aos

outros”, “Levai as cargas uns dos outros”. “Suportai-vos uns aos outros”, “Aconselhai-vos uns aos

outros, ajudando-vos mutuamente, servindo-vos uns aos outros” etc. Esses mandamentos

estabelecem o princípio da cooperação no Corpo de Cristo como sendo um dos aspectos

fundamentais no seu desenvolvimento.

Costumamos alimentar a idéia de que o pastor faz isso tudo na igreja; mas ele apenas orienta.

Precisamos aprender a ajudar-nos mutuamente, como diz a Palavra: “Cooperem os membros com

igual cuidado, em favor uns dos outros” (I Co. 12:25). E quando esta dimensão é alcançada pela

Igreja, ele desenvolve um espírito de equipe e cooperação, e os dons passam a existir para serviço do

Corpo. É o que diz I Coríntios 14:12: “Assim também vós, posto que desejais dons espirituais,

procurai progredir, para a edificação da Igreja.

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Mediante essa visão de corpo desenvolve-se também o espírito de comunidade que vive em amor

e altruísmo. O v.26 de I Coríntios 12 diz algo maravilhoso: “... de maneira que, se um membro sofre,

todos sofrem com ele; e se um deles é honrado, com ele todos se regozijam”. Só quando temos esta

dimensão de corpo é que isto acontece. Porque geralmente, quando nos vemos como membros

isolados, e deparamos com um irmão sofrendo, não sofremos com ele; mas quando vemos um outro

sendo honrado, o que sentimos é inveja. Contudo, quando temos este sentido de corpo, sofremos

com os irmãos que sofrem, e nos alegramos com os irmãos que se alegram.

Imagine que eu esteja batendo numa parede com um martelo, e este caia em cima do meu dedo.

O que digo? “Este meu dedo está sentindo muita dor hoje”. É isto que eu digo? Ou: “Irmãos, orem

pelo meu dedo, porque ele está morrendo de dor; mas eu nem me importo com ele”. É assim que

reajo? Não; eu digo isto: “Estou com uma dor terrível no dedo!” E meu corpo todo sofre com ele. A

vontade de Deus é que digamos: “Estou sentindo uma dor terrível no dedo”. Meu irmão sofreu, se

escandalizou, está enfermo, está desempregado, está com um filho numa situação difícil, está, enfim,

passando por uma crise ─ eu sofro com ele. Pois eu preciso dele: sem ele sou incompleto; sem ele

posso menos. Fazemos ambos parte do Corpo de Cristo. Por outro lado, se ele é honrado, eu me

alegro com ele. Se minha cabeça recebe uma coroa, minha mão a ajeita. Quando meu irmão é

honrado, o Corpo é que é honrado. Tudo é honrado.

Também, mediante essa visão de corpo, nasce a compreensão de que ninguém tem todos os dons ─

como escreve Paulo. Isto para que ninguém seja auto-suficiente. Em I Coríntios 12:27-30 o apóstolo

anuncia uma de dons, e depois, faz perguntas retóricas: “São todos apóstolos?” Não! “são todos

profetas?” Não, não são. “Falam todos em outras línguas?” Não! Então nem todos têm todos os dons

possíveis? Mesmo Paulo, que tinha uma usina de dons, sentia grande necessidade de irmãos, de

serviço. Veja como ele diz a Timóteo: “Traz-me Marcos, pois é útil para o ministério” (II Tm. 4:11).

Leia o que ele lhe diz: “Vem depressa!” (II Tm. 4:9) De igual maneira pede auxílio a Tito para levar

uma correspondência a Corinto; e o envia, e fica em Trôade aflito, até que ele volta (II Co. 2:12-13).

Paulo foi um desses gigantes de Deus, mas que assumiu intensamente as próprias necessidades,

aliadas às dos irmãos: às do Corpo de Cristo. Era um homem repleto de dons, mas que não queria

viver um minuto sequer longe dos irmãos. Quem acompanha a narrativa de Atos observa como ele

chegava a uma cidade, e logo os procurava. Ao passar por um porto próximo, tendo condições de ir a

Éfeso, envia para lá uma carta, instruindo os presbíteros a se encontrarem com ele em Mileto, pois

queria estar junto com os irmãos (At. 20:15-20).

O fato é que nem todos têm todos os dons, para que ninguém seja auto-suficiente; e isto inclui o

falar em línguas, como o próprio texto revela. Possuir tal visão traz um tremendo equilíbrio ao Corpo

de Cristo.

Capítulo VIII

COMO DESCOBRIR SEUS DONS ESPIRITUAIS

Já vimos os obstáculos ao funcionamento dos dons no Corpo de Cristo. Por outro lado, vimos o

entendimento que traz visão sadia e equilibrada à sua prática, bem como o que tal compreensão

sobre o seu uso produz. Vejamos agora uma parte bem objetiva da nossa reflexão sobre os dons

espirituais, e que diz respeito á descoberta dos próprios dons. Da lista de 25 dons acerca dos quais

estudamos no capítulo anterior, selecionei apenas a de I Coríntios 12:27-31, que registra aqueles que

se apresentam com dificuldade maior de discernirmos se estão ou não presentes em nossa vida.

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“A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em

terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres depois dons de curar, socorros, governos,

variedades de línguas. Porventura são todos apóstolos? ou todos profetas? são todos mestres? ou

operadores de milagres? Têm todos dons de curar? falam todos em outras línguas? Interpretam-nas

todos? Entretanto, procurai com zelo os melhores dons”.

Comecemos então a ver como tais dons podem ser identificados na nossa vida. Na minha

maneira de ver, este pode ser um capítulo muito importante para você. Por isso leia-o com atenção,

oração e desejo de discernir seus próprios dons.

DOM DE APÓSTOLO

Num certo sentido ─ como já disse anteriormente ─, não temos mais apóstolos no mundo; eles

cessaram. Não existe mais gente que senta no lugar de Cristo e fala com sua autoridade, autoridade

essa que Jesus legou aos 12, e depois a Paulo.

Na perspectiva de falar em nome de Cristo como se fosse o próprio Cristo, com sua autoridade

total, então não há mais apóstolos. No entanto, o dom de apóstolo extrapola essa perspectiva e

penetra outras dimensões da vida. São essas outras perspectivas que ainda hoje podem ser

encontrada na vida das pessoas. Apenas para provar o dom apostólico ─ com suas características

outras, não aquelas de falar com a autoridade total de Cristo ─, vale atentar à extensão do dom

apostólico no N.T., para lá da comunidade dos 12 apóstolos, ou de Paulo. Podemos constatar isso

quando Barnabé é chamado de apóstolo junto com Paulo (At. 14:1,4,14); também havia alguns com

título apostólico e que não dignificavam tal honra (II Co. 11:5,13). O fato é que na mente da Igreja

Primitiva, conseguia-se perfeitamente fazer divisão entre os doze ─ os que falavam com a autoridade

decisória do Senhor Jesus e outros que tinham ministérios apostólicos, como parece ser também o

caso de Andrônico e Júnias (Rm. 16:7).

Vimos no capítulo anterior que o apóstolo é responsável por um grande número de igrejas; é um

descobridor de novos campos, um antecipador de iniciativas; um idealizador de novas formas de

atingir o povo; é uma espécie de pioneiro naquilo que faz. Como se manifesta este dom?

Antes de mais nada, o apóstolo não pode contentar-se com modelos eclesiásticos convencionais.

Quase nunca ele consegue ficar aprisionado ao contexto da igreja local. Entretanto, jamais trabalha

sem que seja para ela, e jamais está desligado dela; está livre dela e preso a ela, num ir e vir

constante ─ como Paulo, que ia a Antioquia e depois voltava ao campo missionário. Assim é com o

apóstolo: ele tem raízes na igreja local; é enviado por ela, mantido por ela, mas se sente sufocado

quando se vê constrangido ao espaço de suas quatro paredes. Como Paulo, ele não pode contentar-se

com os modelos eclesiásticos convencionais; sua paróquia é maior do que as paróquias

convencionais; sua geografia, maior que a do pastor local. Ele é alguém que funda novas igrejas e se

sente responsável por elas, sem ser, no entanto, seu pastor local.

O apóstolo manifesta mais dons que os dons normais. Ele é dotado de múltipla capacitação

espiritual. Vejo em Paulo uma multiplicidade de dons e uma versatilidade ministerial

impressionante. Talvez essa seja uma das marcas do ministério apostolar. Ele prega na praça, na

cidade de Atenas (At. 17:17); prega na escola de Tirano, em Éfeso (AT. 19:9); prega no Areópago

dos eruditos e dos intelectuais de Atenas (At. 17:18,19). O mundo é a sua paróquia. Onde quer que

esteja, sua alma está efervescente, pois anseia plantar igrejas, abrir trabalhos, promover o Reino.

Também o apóstolo normalmente tem uma visão elevada da obra de Deus e alvos específicos

com os quais alcançá-la. No caso de Paulo, ele é possuído de uma espécie de obsessão. Ele tinha o

desejo enorme de pregar a César, confrontar o império ─ o foco, o centro, a sede de onde emanavam

todas as decisões daquela civilização. Seu alvo era chegar lá, confrontar aqueles homens, anunciar o

evangelho naquele lugar hermético.

O apóstolo sente ainda uma responsabilidade imensa e total pela obra a ser realizada. Como em I

Coríntios 9:16, o sentimento apostólico é dizer: “Ai de mim, se não pregar o evangelho!” Há um

peso imenso sobre ele, um sentir profundo com respeito ao reino de Deus e à obra a ser realizada.

Finalmente, ele é usado de maneira sobrenatural na área da sua vocação, pois é frequentemente

usado na perspectiva sobrenatural (II Co. 12:12). Uma das credenciais de apóstolo é a manifestação

de sinais, prodígios e coisas extraordinárias.

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Mas os apóstolos não são levantados em grande número. Nunca, num único lugar e numa só

geração, centenas deles são encontrados. Na verdade o grupo de homens que devem assumir não

apenas os privilégios, mas as implicações desta posição, e acima de tudo as inúmeras

responsabilidades a ela inerentes, é bastante reduzido.

Rogo, a Deus que em nossos dias o Espírito do Senhor levante ministérios apostólicos no Brasil.

Gente com uma visão grande da obra de Deus; pessoas comprometidas com o Reino, que consigam

ver para lá das paredes da denominação e da cultura evangélica; e que sejam capazes de enxergar o

reino em sua liberdade e plenitude de salvação. Gente que suspire e declare: “Ai de mim, se não

caminhar nesta direção para a qual o Senhor me envia, e me tem revelado.

DOM DE PROFETA

O profeta, de acordo com I Coríntios 14:3, é aquele que diz uma palavra direta do Senhor,

palavra essa que exorta, edifica. De acordo com Atos 15:32, ele é capaz de dar um conselho que

desnuda a alma do outro, atinge o cerne do problema; ou pode, ainda, ser usado por Deus para

manifestar o futuro. Em alguns casos, inclusive, é capaz de fazer manifestações preditivas; ou

revelar o mundo íntimo das pessoas com as quais trata, a fim de ajudá-las.

Como se manifesta este dom? Primeiramente, através de uma enorme sensibilidade para perceber

o que as pessoas sentem. Um profeta é como um nervo exposto; ele as olha no rosto e ─ através de

uma sensibilidade e uma dotação espiritual que o tornam capaz de discernir ─ percebe o que sofrem,

anelam.

Há pessoas que passam por outras e não obstante toda a maquiagem que estas usam para

disfarçar seu estado interior, são capazes de instantaneamente captar-lhes os sentimentos mais

íntimos. E lhes perguntam: “O que é que você tem hoje? Venha cá!” E as coisas começam a se

manifestar, a se desencapuzar.

O profeta é ainda alguém que tem sensibilidade para perceber o que Deus está sentindo. Porque

ele não é apenas aquele que capta o que o homem sente, mas é quem se coloca entre o homem que

sente e o Deus que sente, dirigindo ao ser humano uma palavra direta do Senhor.

O espírito da profecia é este: dar não só o testemunho de Jesus, mas também receber uma

comunicação no coração referente ao sentimento de Deus.

E mais: o profeta tem um profundo peso no coração pela dor das pessoas. O texto de Jeremias

4:19 nos diz o seguinte: “Ah, meu coração! meu coração! Eu me contorço em dores. Oh! as paredes

do meu coração! Meu coração se agita! Não posso calar-me, porque ouves, ó minha alma, o som da

trombeta, o alarido de guerra”. Que coisa tremenda! Jeremias tem o coração enfartado ao pensar na

iminência de o inimigo sobrevir e o povo ser destruído. E então chora, desabafa, expressando a sua

dor de uma maneira forte e pungente. Este é o sentir do profeta: ele não consegue reprimir o que

experimenta, o que sabe, o que ouve de Deus; anseia compartilhar. E suporta um profundo peso pela

dor das pessoas, pelo que as acometerá, caso persistam em andar fora da vontade divina.

Resumindo e ilustrando, quero dizer que um profeta é um radar. Tudo que passa em determinado

campo de ação ela capta. Pois é capaz de ir percebendo, discernindo e levando a Palavra direta do

Senhor a cada situação. Não é apenas alguém que prega ou dirige uma palavra cativante ao povo.

Pelo contrário, sua palavra é específica, direcionada. Ele confronta as feridas profundas e íntimas das

pessoas, levando-as de maneira clara e objetiva ao arrependimento; advertindo-as e exortando-as.

DOM DE EVANGELISTA

O dom de evangelista é caracterizado primeiramente por uma especial compaixão pelas almas.

Alguém que deseja ser evangelista mas nunca perde o sono pensando no mundo; não experimenta

compulsão diante das pessoas, jamais será um evangelista ─ ainda que fale bem, seja capaz de

argumentar de maneira apologética maravilhosa. Pois antes de qualquer coisa este dom começa na

compulsão; numa paixão, um verdadeiro desespero de conduzir pessoas a Cristo; na visão de um

mundo decaído, sociedades perdidas, guetos fechados, vidas desmoronadas.

Para mim, um dos maiores exemplos dessa compulsão foi o evangelista Moody. Contam-se

acerca dele fatos interessantíssimos, entre os quais o seguinte. Um certo dia ele foi dormir em meio a

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uma chuva muito intensa. Mas ele havia feito um pacto com Deus, de que nunca iria dormir sem

antes haver, pessoalmente, evangelizado alguém. Nesse dia ele tinha pregado a três mil pessoas, que

afluíram ao tabernáculo para ouvi-lo. Mas o acerto dele com Deus não era esse ─ pregar a multidões;

era pregar a indivíduos. Se iam ouvi-lo, ótimo; mas ele tinha de sair todo dia e evangelizar pelo

menos uma pessoa. Nessa oportunidade ele não fez isso: ficou ocupado na igreja, pregou à tarde, à

noite, e foi para casa às dez e pouco, a chuva caindo, uma tempestade torrencial. Ele se aqueceu

bem, vestiu o pijama, meteu-se debaixo do cobertor, e disse: “Boa noite, Jesus”. E tentou dormir,

mas não conseguiu. Virava de um lado para o outro, e o Senhor lhe dizendo:

─ Hoje tu não falaste de mim a ninguém.

─ Como não, Senhor? Falei a três mil, não lembras?

─ O meu acerto contigo não foi este; disseste que irias procurar pessoas individualmente; os três

mil te procuraram, mas tu não procuraste ninguém.

─ Mas Senhor, hoje é um dia diferente. Olha a chuva torrencial! São quase 11 horas, eu aqui de

pijama... tem paciência, Senhor!

Mas Deus instava, e instava com ele. Finalmente, depois de não suportar a pressão de Deus,

levantou-se e vestiu uma capa. Chovia demais, sem parar. Foi até a porta e novamente argumentou:

─ Senhor, não há viva alma nesta rua. A quem vou evangelizar?

Ficou junto à porta, olhando pela fresta, olhando, olhando... E um lampião longe, piscando

timidamente, embaçado pelas torrentes que sobre ele desabavam. De repente, lá adiante, viu passar

um homem com guarda-chuva, apressado, correndo. E falou: “É aquele” Abriu a porta e saiu com

seus 127 kg. Quando foi chegando perto do homem, ofegante, disse:

─ Amigo, você me dá um abrigo?

─ Pois não! ─ respondeu ele.

Acomodou-se então debaixo do guarda-chuva, abraçou-o, e perguntou: E você, já tem um abrigo

para a sua alma?

E falou de Jesus, e levou o homem a Cristo, debaixo do guarda-chuva, no meio da tempestade.

Esta é a compulsão de um evangelista. Dizem que uma certa ocasião Moody começou a

evangelizar uma mocinha no meio da rua. Gritou: “Ei, menina!” Ele simplesmente viu a menina e

sentiu desejo de compartilhar o evangelho: “Filhinha, espere, venha aqui!” Ao ver aquele homem

enorme vindo na sua direção e gritando: “Espere!” ela saiu correndo. E os biógrafos contam que ele

disparou no encalço dela. Ela bateu à porta de sua casa, a porta se abriu, ela entrou, ele entrou atrás.

Ela se jogou debaixo da cama, ele se jogou também, e disse: “Filha, eu só quero falar de Jesus”. A

menina se tornou sua secretária após ter sido levada a Cristo, e haver crescido.

Um evangelista é, pois, alguém que tem no coração primeiramente esta paixão: a de salvar o

povo perdido, como ovelhas sem pastor ─ gente desgarrada, exausta, faminta, sem Deus. Tratava-se

de um sentimento ativo e positivo. Nada tem a ver com aquele homem que fica fazendo contas sobre

quantos estão indo para o inferno a cada segundo.

No primeiro ano do meu ministério eu tinha uma conta perfeita. Sabia quantos se perdiam por

ano, por mês, por hora, por minuto. Ficava murmurando: “Meu Deus, não estou fazendo nada neste

minuto. Quantos estarão se perdendo!” Se houvesse continuado mais um ano daquele jeito eu teria

adoecido; teria ficado preso a uma patologia psicológica terrível. O que deve existir no coração de

um evangelista é paixão, jamais desespero patológico! É compromisso, o sonho e a preocupação de

conduzir pessoas a Cristo.

A segunda característica que Deus faz brotar no coração do evangelista é espontaneidade na

abordagem das pessoas. Trata-se de uma profunda capacidade de confrontá-las sem violência; e falar

sem ter que arrancar de si as palavras. Para tais pessoas, evangelizar é contar uma experiência de

amor, agradável, cativante, que brota espontânea do coração, despertando simpatia, boa-vontade em

ouvi-la.

Paulo, certa ocasião, passa ao lado de um altar pagão e descobre que ele é um grande pretexto

para começar uma pregação “AO DEUS DESCONHECIDO”. “Pois este que adorais sem conhecer é

precisamente aquele que eu vos anuncio”, diz ele aos atenienses em Atos 17:23. Na confrontação e

na abordagem, portanto, deve haver criatividade, naturalidade.

Mas existe ainda a questão dos resultados especiais. Se alguém tem grande compaixão pelas

almas e espontaneidade na abordagem das pessoas, e ainda assim não acontece nada, talvez se julgue

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que não passa de um ótimo comunicador. Mas na verdade há resultados especiais. Não estou

querendo dizer que quando o evangelista prega e não há decisões, a culpa é sua. Estou apenas

afirmando que ele não prega o tempo todo sem que nada aconteça. Uma das evidências de que se

tem o dom não é a absolutização dos resultados, mas o fato de que um número muito grande das

pessoas abordadas ficam profundamente impressionadas. É o Espírito as conduz à presença de

Cristo. Portanto, Deus também manifesta que esse dom está presente na vida do irmão,

prodigalizando a ele resultados especiais naquilo que faz.

Este dom pode estar dividido em dois grupos. Primeiramente há os evangelistas de massa. Em

segundo lugar os evangelistas individuais. No presente momento vou me concentrar apenas no

segundo grupo, visto que os evangelistas de massa sentem as mesmas coisas dos individuais, sendo

que, apenas, numa perspectiva pública e ampla.

Como são os evangelistas individuais? Às vezes, quando se defrontam com a massa, gaguejam,

emudecem ou enrolam tudo. Entretanto, não os deixe sozinhos, num elevador, ou num canto

qualquer. Provavelmente o inverso é que acontece.

Meu pai não é um evangelista de massa. Entretanto, quando a sós com as pessoas, ele se

convence de maneira eficiente e positiva, atraindo-as de forma maravilhosa a Jesus. Nos hospitais,

na oficina mecânica, no posto de gasolina, onde quer que pare, aonde, vá, lá está ele abordando

pessoas, conduzindo-as a Cristo.

Quando advogado, antes de deixar a profissão para ingressar no ministério sagrado, ele criou

problemas tremendos para si mesmo. Porque ao se converter, Deus o aquinhoara com alguns dons,

inclusive esse de evangelismo pessoal, e ele começou a praticá-los como advogado. Conclusão:

chegava um cliente, e dizia o seguinte: “Tenho provas que incriminam o fulano de tal ─ disto, disso

e daquilo. Quero que o senhor as use e arrase com ele”. Então, ele com o coração cheio de

compaixão por este seu constituinte, e pelo outro, visitava o advogado do outro e dizia: “Vamos

fazer uma composição amigável:” Ia à casa do inimigo ─ o adversário do seu constituinte ─, falava-

lhe de Jesus, evangelizava, levava-o à igreja. Em razão disso, não raras vezes os seus constituintes se

encheram de ódio. No entanto, houve casais que se reconciliaram; inimigos que tiveram que fazer as

pazes. Uma ocasião um deles ficou com tanta raiva desses gestos reconciliadores evangelísticos de

meu pai, que tomou de uma arma, ao verificar que toda a documentação de que dispunha não tinha

sido usada para a destruição do outro. No entanto, meu pai tinha conseguido o que ele queria, sem

precisar destruir ou desgraçar a vida do adversário. Então, armado, aquele homem foi ao escritório

de papai. “Vou matar aquele aleijado” (meu pai é aleijado de uma das pernas desde um ano de idade)

─ prometera ele. Naquele dia, após o almoço, enternecido com o evangelho ─ com um ou dói anos

de fé ─, meu pai tinha diante de si a Bíblia, e a lia com muita concentração e avidez. De repente vê

aquele homem pelo vidro da porta do escritório. Ele se aproxima e surpreende meu pai chorando,

aquecido pela Palavra do Senhor. Diz então ao visitante: “Oh, meu querido, eu estava aqui lendo a

Palavra de Deus, sozinho, com a alma pegando fogo. Que bom que o senhor chegou. Que palavras

lindas! Ouça...” E começa a ler o evangelho, e o homem vai sentando, sentando, sentou. E meu pai

enxuga as lágrimas, e lhe fala de Jesus, e lhe diz: “Eu daria tudo para que o senhor compreendesse

como Jesus satisfaz!” E o homem se põe a chorar, levanta a camisa, e fala: “O senhor está vendo

isto? Eu vim aqui para despejar estas balas no seu peito. Mas quem pode matar um homem que ama

como o senhor ama?!” E foi embora.

Uma outra ocasião contrataram-no para arrasar com um comércio de móveis. Ele disse: “Vamos

visitar esse comércio? Eles devem uma fortuna a um constituinte meu, não querem pagar; mas eu

não tenho coragem de fazer isto friamente, dentro dos termos do tribunal, sem conhecer esse homem,

ver-lhe o rosto, saber que ele é, como é”. E fomos lá, e o conhecemos. Meu pai olhou para o homem,

se enterneceu por ele, e falou de Jesus. No domingo seguinte nós passamos por sua casa e o levamos

à igreja. Ele se decidiu por Cristo e batizou-se. Papai discipulou o próprio adversário de seu

constituinte ─ segundo a Bíblia. Chamou então o constituinte e lhe disse: “Olhe, contrate outro

advogado; este aqui é meu discípulo. Vou advogar a causa dele. Porque não posso fazer isso!” E essa

febre de conduzir pessoas a Cristo cresceu tanto dentro dele, que ele deixou a advocacia, preparou-se

e se tornou ministro do evangelho. É fácil acreditar que Deus deu a meu pai o dom da abordagem de

pessoas; mas não lhe deu a vocação de confronto de massas.

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DOM DE PASTOR-MESTRE

Quem sabe este dom pode ser seu ─ não para você tomar o lugar do pastor da igreja, mas para

auxiliá-lo.

Como se manifesta este dom?

Primeiramente, através de um amor especial pelo ensino e a instrução do povo. Aliás, essa era a

promessa do Senhor, encontrada em Jeremias 3:15: “Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração,

que vos apascentem com conhecimento e com inteligência”. Consequentemente, o pastor tem que

manifestar conhecimento e inteligência no ensino e no trato didático e instrutivo do povo de Deus.

O dom de pastor-mestre também se manifesta por uma sabedoria pacificadora especial. I

Coríntios 6:15 diz que é sábio aquele que apazigua os irmãos. Se alguém tem o dom pastoral,

certamente tem esta sabedoria pacificadora. Pois se há quem represente no meio de uma comunidade

uma espécie de receptador de choques, este é sem dúvida o pastor. Poucos podem imaginar o que é

ser pastor ─ lidar com uma comunidade em que as cabeças são diferentes, os sentimentos diversos,

as idéias tantas vezes contraditórias. Mas lá está ele recebendo choques, impactos de um lado e de

outro, tentando manter o povo unido em torno da fraternidade, da convergência do Senhor; sem

desvios, sem dores, divisões, cisões; sem que os problemas sejam levados a culminâncias terríveis

em termos de desavença.

Quem sabe você é engenheiro, médico, professor, advogado ou estudante ─ ou tem outra

profissão qualquer ─, e Deus lhe deu um dom pastoral. Talvez ele queira usá-lo no meio de seu

povo, entre outras coisas, compartilhando com você esta sabedoria pacificadora.

O pastor, ou alguém que tenha esse ministério, é capaz de acalmar, resolver impasses, diminuir

cargas; afofar, desanuviar, ponderar, pacificar.

O pastor deve ter um cuidado muito especial com a saúde espiritual do povo, preocupando-se

quando o vê debilitado, desviando-se, esfriando; quando vê as famílias com problemas, os casais se

engalfinhando, os adolescentes em pecado, cheios de revolta. E não é necessariamente apenas o

pastor ordenado da igreja que deve participar de tais inquietações. A vontade de Deus é que muitos

tenham esse dom, e o desenvolvam para auxílio do ministro que ele colocou como anjo na

comunidade. O texto de Zacarias 11:15-17 mostra que este é o significado do pastor; aquele que

cura, apascenta, trata, faz as unhas das ovelhas; que não apenas quer a sua gordura, mas as alimenta,

dá-se a elas; procura a extraviada, cuida de suas feridas e a conduz de volta ao redil.

Também o pastor deve ter paciência para ouvir. O pastor que não ouve é tudo, menos pastor. Eu

me lembro de dois ou três jovens da minha igreja, em Manaus, que se mudaram para uma cidade e

foram frequentar a igreja de um determinado pastor. Eles estavam diante de um problema: não

sabiam se naquela igreja se podia tocar violão. Ficaram então esperando o pastor chegar num

domingo, um pouco antes do culto, para perguntar: “Pastor, nós estamos vindo lá da Igreja

Presbiteriana de Manaus, onde integramos um conjunto musical; como vamos permanecer aqui dois

anos, queremos saber se nesta igreja é permitido tocar violão”. Com o violão na mão, ficaram a

postos, esperando por ele. Estavam informados de que ele descia do carro e entrava como

relâmpago. De repente vêem-no descer do carro e vão atrás: “Pastor! Pastor!” E ele “Fale, fale!” E

eles: “Pastor, pastor nesta igreja pode-se tocar violão?” E ele: “Trombone, bateria, pandeiro, e tudo

mais”. Os rapazes comentaram comigo: “Nós nunca conseguimos vê-lo quieto um minuto; ele não

pára para ouvir!” E eu perguntei: “Ele prega bem?” “Prega”. “Ensina bem?” “Ensina!” “Ele não

ouve?” “Não, não ouve”. Então pensei comigo: Ele não é pastor! Pastor ouve, tem que ouvir!

Se o profeta é um radar, o pastor é um sonar. Sabe o que é sonar? É aquele aparelho que há nas

lanchas e navios, que joga vibrações para através de ultra-sons, recepção e identificação do eco,

detectar a profundidade. A vibração vai lá no fundo, bate, e o reflexo volta. Ele ouve e avalia a

profundidade. O pastor é assim: ele fala, mas capta a profundidade com a qual as coisas atingiram as

pessoas; em que nível estão.

Se o profeta é a boca de Deus, o pastor é seu ouvido. Se o profeta fala direto em nome do

Senhor, o pastor é alguém que oferece o ouvido para ouvir com o amor do Senhor.

DOM DE OPERAÇÃO DE MILAGRES E CURA

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Quem possui este dom se sente desafiado diante da enfermidade. É o caso de Paulo e de Pedro ─

em atos 3 e 14 ─ que viram os doentes e se sentiram impulsionados a faz que viram os doentes e se

sentiram impulsionados a fazer alguma coisa. O coração é compungido, pressionado a batalhar

contra a doença, a enfrentar o problema, a situação de caos, agonias e emergência. Surge também

uma profunda compaixão. Assim, quem tem o dom de curar, sofrer, tem empatia, sente a dor do

outro como se fosse sua. É capaz de trocar de lugar com ela, experimentar misericórdia em face do

seu sofrimento.

Também é alguém que tem convicção, não titubeia, está convencido do poder de Deus para

realizar o milagre. É preciso entender que a questão básica na hora da cura não é se Deus pode, mas

se Deus quer. O problema é que nem sempre pensamos assim. O homem que ora deve estar disposto

a afirmar: “Senhor, para mim não é problema se tu podes ou não podes, pois eu sei que podes. O que

desejo saber é se realmente queres”.

Eu me recordo de que uma ocasião, quando meu pai ainda advogava em Niterói, ele teve que

entrar em juízo contra o dono de um estabelecimento comercial que não pegava a um cliente seu.

Eles já haviam telefonado pra lá dezenas de vezes, mas ele driblava todo o mundo. Até que um dia

meu pai se decidiu: “Vou pessoalmente conversar com esse homem. Saiu do escritório e seguiu para

lá. Quando entrou em seu gabinete, deu com ele em prantos.

─ Será que isto é uma estratégia? ─ pensou.

Então se aproximou dele, observou-o, e concluiu que de fato havia muita dor.

─ Que está acontecendo?

─ Uma tragédia, doutor, uma tragédia! Meu filho, meu único filho, adolescente, um garoto,

brincando uma espingarda de ar comprimido com um amigo, recebeu um tiro no olho. Hoje, às 2

horas da tarde, os médicos vão extirpar-lhe o olho, e depois colocar em seu lugar um olho artificial.

É uma tragédia!

Era perto do meio-dia. E papai contou que se comoveu profundamente com a dor daquele

homem, e começou a chorar com ele, imaginando a sua dor como se a vítima fosse eu.

─ Nada tenho para lhe dar, mas tenho uma fé imensa num Deus poderoso. O senhor permite que

eu ore? ─ perguntou:

─ Sim, pode orar.

E meu pai se ajoelhou com ele ali, e orou: “Oh! Deus, eu não sei se tu queres, mas sei que tu

podes. Se tu queres ou não é uma questão tua, porque és soberano. No entanto, quanto a mim eu

quero entrar nisso tudo dizendo que sei que tu podes; e se queres alguém para participar com fé neste

milagre, então conta comigo, Senhor, porque eu creio! Peço-te então, em nome de Jesus, e segundo a

tua vontade ─ conforme diz I João 5:14: ─, se queres, cura este menino. Pois eu creio que podes

agora”.

Meu pai, depois de orar, abraçou aquele homem, falou de Jesus, consolou-o, e foi embora. Este

foi para o hospital, e ao ver o médico, ele lhe disse:

─ O seu filho vai ser introduzido na sala daqui a pouco.

Passa então o garoto na maca, com uma faixa preta nos olhos.

O médico agarra o pai e diz:

─ Seja forte! Coragem! Depois nós vamos providenciar um olho artificial. Quase não vai haver

diferença.

Entraram na sala, ele ficou do lado de fora, andando para lá e para cá no corredor. Dez minutos

depois sai o médico, pega-o pelo braço, sacode-o, com os olhos marejados de lágrimas, e lhe diz:

─ Eu não sei qual é o seu Deus, mas o nome dele deve ser o Todo-Poderoso. Acabo de ver um

milagre: tirei a venda do olho do seu filho. Ele está bom! Está bom! Alguma coisa aconteceu!

Então, aquele a quem Deus aquinhoou com este dom é alguém capaz de se sentir desafiado

diante da situação, experimentar compaixão, convicção, e orar!

Eu me recordo de um fato muito interessante que aconteceu no Paraná. Realizava uma Cruzada

de Evangelização em Cascavel, no inverno, num clube, com o pastor Nicolas Van Exel, que hoje

está na Holanda. No último dia resolveram convidar as pessoas doentes para um momento de oração.

Estávamos orando com elas quando se apresentou uma mulher com o ventre inchado, enorme.

Perguntei qual era o seu mal; ela respondeu que era um problema muito sério, mas não sabia ainda

do que se tratava. Impus as mãos sobre ela e orei em nome de Jesus. Durante a oração viu-se o

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milagre acontecer: parece inacreditável, mas aquele ventre enorme murchou, secou na hora! A

mulher saiu louvando e engrandecendo a Deus. Reuniu as senhoras da sociedade de mulheres da

igreja, e foi aquele júbilo, aquela festa espiritual no jardim do templo!

Na segunda feira ele foi buscar o resultado dos exames que tinha feito na semana anterior,

quando ainda enfrentava o problema. O diagnóstico fora câncer generalizado. Ela disse: “Faça outro!

Porque esse exame foi feito antes do milagre” E o médico fez. Uma três semanas depois o pastor me

telefonou dizendo: “Saiu o segundo exame; ela não tem nada, está curada”. É Deus quem faz isso!

Não estou narrando estes fatos para que as pessoas julguem que há algo de especial em meu pai

ou em mim. Não há virtude alguma ─ nem nele, nem em mim. É o Espírito do Senhor que atua para

fins proveitosos: para glorificar o seu nome.

DOM DO SOCORRO

Este dom se manifesta através da capacidade sui generis de descobrir os necessitados, detectar,

pressentir onde estão os verdadeiros carentes; também de experimentar prazer em permanecer junto

a eles. Às vezes as pessoas os descobrem, mas resistem a ficar ao seu lado. Penalizam-se talvez com

a situação, sentem que devem fazer alguma coisa, têm crises de consciência, inclusive, mas não

passam disso. Contudo, apenas descobrir necessidades nada significa. É preciso muito mais que isso:

agir em seu benefício. Na verdade, quem assim se comporta é o grande abençoado!

DOM DE GOVERNO, ADMINISTRAÇÃO

Este dom se manifesta através de uma mente analítica, a capacidade especial de analisar. Mas

não se trata de análise crítica. Conheço pessoas que são peritas em destruir, são verdadeiras bombas.

Vivem vasculhando, catando imperfeições, buscando lixo nos cantinhos mais obscuros, passando o

dedo para descobrir pó, olhando avidamente à volta para flagrar um lapso, um erro qualquer. Algo

patológico, obsessivo! É o pessoal do “mas”: “O pastor pregou muito bem, foi uma bênção, mas...”

Aí arrasam com ele. “O templo está bonito, a cor é ótima, mas... a tinta não presta, à primeira chuva

vai sair tudo.” Não sobra nada! Para eles o melhor é derrubar tudo e fazer de novo: “Está tudo

errado!” São pessoas do contra, que nada de bom vêem ao redor, são destrutivas, implicantes,

arrasadoras.

O indivíduo analítico ─ mas construtivamente analítico ─ analisa e propõe. Antes de mais nada

ele tem propostas, soluções. Ele debulha, vê as coisas por dentro, esmiúça, e então sugere. Em

segundo lugar é organizado; realiza as coisas com um plano, um programa, cada item a seu tempo e

lugar. Tem etapas, diretrizes, módulos; esquematiza-as de maneira correta, visando atingir alvos

inteligentes.

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Capítulo IX

MUTUALIDADE DOS DONS NO CORPO DE CRISTO

Temos estudado até este momento sobre quem é o Espírito Santo, como ele age, como ficar

cheio de sua plenitude, o que é o batismo com o Espírito, quais são os seus dons, como descobri-los

etc. Neste capítulo, meu desejo é refletir com você sobre um outro assunto, aliás intimamente ligado

à questão de como os dons espirituais funcionam no Corpo de Cristo. À primeira vista você

provavelmente não verá muita conexão entre este capítulo e os anteriores. No entanto, seria bom que

o lesse com a certeza de que sem a vivência da mutualidade não há como os dons possam

efetivamente ser úteis na Igreja.

Agora, a nível de introdução, leia o conhecido texto de Efésios, 4:1-6:

“Rogo-vos pois, eu, o prisioneiro do Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes

chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros

em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz: há

somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa

vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre

todos, age por meio de todos e está em todos”.

O Novo Testamento nos ensina que a unidade na Igreja é sobretudo unidade no Espírito Santo.

Tal unidade, no entanto, passa fundamentalmente pela predisposição de os membros do Corpo de

Cristo manterem e preservarem suas relações no vínculo da paz.

Além disso, o N.T. ensina que a unidade cristã acontece também nas seguintes perspectivas:

1 - Unidade metafísica. Em João 17:21 Jesus diz que esta unidade existe na Igreja em Cristo:

“... para que sejam um; como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, assim sejam eles em nós”. Tal unidade

acontece na medida em que convergimos em Cristo. Por isso Jesus fez tal perspectiva ser ilustrada

pelo tipo de relação do Filho com o Pai. A relação do Filho com o Pai não é só ilustração da unidade

da Igreja, mas é também a afirmação de que ela só acontece na nossa convergência em Deus. Se

estamos em Cristo, todos convergimos para ele, de modo que, queiramos ou não, saibamos ou não,

essa unidade existe nele.

2 - Unidade doutrinal e confissional. Esse aspecto da unidade diz respeito à nossa doutrina e

nossas confissões. O texto de Efésios 4:1-6 acentua, enquanto fala de unidade, realidades como: a

teologia do batismo (não quanto à forma, mas quanto à teologia), da existência de um só Deus e um

só Senhor.

Essas realidades ou confissões básicas asseguram o fato de que a Igreja é uma, e onde quer que

os homens admitam isto, aí a Igreja de Jesus é coesa, unificada.

3 - Unidade experiencial. Essa dimensão da unidade tem a ver com as coisas que provamos em

Cristo. Por exemplo, em I Coríntios 12:13, Paulo revela qual é a experiência fundamental pela qual

passam todos os membros da Igreja de Jesus Cristo. Diz ele: “... em um só Espírito, todos nós fomos

batizados em um corpo (...) E a todos nos foi dado beber de um só Espírito‟. Ora, essa realidade

experiencial caracteriza o fato de que a Igreja é uma: todos têm essa vivência com o Espírito.

Apesar de o Novo Testamento nos afirmar essas três razões da unidade da Igreja, ele nos instrui a

preservá-la na prática. Ela existe metafisicamente, doutrinalmente, confissionalmente e

experiencialmente. No entanto, deve ser buscada a nível de visibilidade histórica. Ela tem que ser

vivida e vista. Tem que aparecer através de nossas expressões de convívio pacífico e fraterno.

Por isso Paulo nos instruiu a preservarmos a unidade real, visível, do Espírito com as amarras da

paz. Não temos que nos contentar em ser apenas metafísica e experiencialmente uma Igreja que

converge para os mesmos pontos, mas temos que vivenciar essas verdades no dia-a-dia, de forma

inequívoca, de modo que quem conviva conosco não seja convencido exclusivamente através dos

argumentos teológicos de que somos um, mas veja essa evidência no nosso estilo de vida.

Aí reside o grande problema. E isto porque na medida em que o Novo Testamento ensina que

deve haver unidade entre nós, afirma também que existe entre nós diversidade. Então, como manter

unidade numa comunidade diversa? ─ com raízes históricas, cabeças políticas, histórias, culturas,

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temperamentos, personalidades e dons diferentes? Todavia, não obstante diversos uns dos outros,

somos desafiados a ser uma comunidade que vive em unidade.

Não somos uma comunidade parecida com o “admirável mundo novo” do Aldous Huxley, no

qual todos são iguais. O interessante é que o Novo Testamento nos admoesta à unidade e,

paradoxalmente, nos estimula às diferenças. Isto porque Deus nos fez pessoas. Todavia a questão é:

Como é possível sobreviver em tal dualidade e tensão? Como existir na perspectiva da extrema

premência de unidade e, paradoxalmente, do estímulo que o Novo Testamento nos dá a não nos

despersonalizarmos?

Em meio a essa tensão o Espírito Santo introduz um terceiro agente unificador chamado

mutualidade. Assim, nosso dilema é resolvido quando entendemos as seguintes verdades básicas:

─ A Igreja tem que preservar a unidade.

─ A Igreja tem que manifestar diversidade.

─ A Igreja tem que viver em mutualidade.

Entre unidade e diversidade, o Espírito Santo coloca a argamassa colorida da mutualidade. E a

mutualidade é tão importante que o N.T. fala dela em 49 diferentes ocasiões. No entanto, dos 49

mandamentos de mutualidade do Novo Testamento, 29 não se repetem, o que nos deixa um

resultado final de 29 mandamentos. E quais são eles? São aqueles que, contendo uma ordem,

inserem a expressão “mutuamente”, “reciprocamente”, “entre si” “compartilhando” etc.

Mutualidade e troca, reciprocidade, cooperação, solidariedade. A Igreja precisa urgentemente ser

a comunidade do serviço mútuo.

Vemos então que unidade e diversidade só são suportáveis quando se introduz entre elas este

agente ─ não apenas teológico, mas prático e praticável da mutualidade. A mutualidade é a catálise,

a liga que nos vai manter unidos e diferentes, sem nos coagirmos, sem nos padronizarmos ou nos

dividirmos.

Os mandamentos da mutualidade referem-se basicamente ao amor, ao serviço cristão, à

comunhão espiritual entre os cristãos, e também ao uso da língua nas nossas relações.

MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE REFERENTES AO AMOR CRISTÃO

“O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros assim como eu vos amei” (Jo. 15:12).

Este mandamento é assustador, para nossa natureza egoísta, egocêntrica, ensimesmada. Jesus nos

manda amar-nos uns aos outros não como qualquer ser humano possa amar-nos, mas como ele

próprio nos amou.

O Novo Testamento nos ensina várias coisas sobre o amor e mutualidade no Corpo de Cristo:

1 - O amor cristão tem que ter a qualidade do amor de Cristo. Não é um mero sentimento

agradável, que traz leveza e bem estar; uma simples declaração de amor ou amizade, cercada de

beijos, abraços e sorrisos, mas um amor coma a profundidade e a dimensão do sentimento

resolutamente sacrificial de Cristo por nós. O amor de Jesus foi um dar-se até o fim. João diz, no

cap. 13, v. 1, que ele, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Jesus se

doou totalmente, abrindo mão de quaisquer direitos. Negar-se em benefícios de outrem é a

manifestação mais expressiva de amor. Amar não é proibir-se do desfrutar de coisas bonitas e boas

da vida em benefício dos outros. É, sim, a disposição de renunciar a todas essas coisas sempre que

elas significam um tropeço para os meus irmãos, ou mesmo inimigos.

2 - A mutualidade do amor visa ao amor cordial e voltado para o outro: “Amai-vos cordialmente

uns aos outros”, diz Romanos 12:10. O termo cordial tem a ver com amenidade no trato ─ um sentir

pacífico, não opressivo; uma manifestação educada de um sentimento fraterno, de honra ao irmão.

Lembro-me uma das circunstâncias mais bonitas que ilustram isto, quando tive oportunidade de

conviver com dois pastores durante 15 dias. Um deles era o pastor efetivo, o outro, o auxiliar. Nunca

vi duas pessoas se honrarem tanto. O pastor auxiliar, quando ia passar a palavra ao titular, referia-se

a ele com admiração e carinho. O mesmo acontecia com este, ao mencionar o colega. Cada um

tentava exaltar as virtudes morais, e espirituais do outro, considerando-o superior a si mesmo ─

conforme diz Filipenses 2:3: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade,

considerando cada um os outros superiores a si mesmo”.

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3 - A mutualidade do amor é uma dívida permanente de uns para com os outros. Em Romanos

13:8 Paulo diz: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma”. Paulo diz: devam uns aos outros tão-

somente o amor. Esta é uma dívida permanente, que ninguém pode saldar. Há quem se atribua o fato

de “amar demais” certas pessoas. Biblicamente isto está errado. Nunca o amor é “demais”. Na

verdade, estamos sempre aquém, sempre precisando andar mais uma milha, sempre devendo mais e

mais, cada vez mais amor. O que precisamos é assumir-nos como devedores eternos de amor para

com os irmãos.

4 - Os mandamentos relacionados ao amor mútuo precisam ser vividos com um sentimento

imparcial, que cresce incessantemente. No texto de I Tessalonicenses 3:12, Paulo diz: “... e o Senhor

vos faça crescer, e aumentar no amor uns para com os outros e para com todos, como também nós

para convosco (...)” Não se trata de um amor restrito a uns poucos, mas extensivo indistintamente a

todos, seja qual for a linhagem, formação intelectual, tendências políticas, situação econômica (ainda

que ricos, já que entre nós é o rico quem atualmente sofre maior discriminação) etc.

Paulo diz a mesma coisa em I Tessalonicenses 4:9 e também em II Tessalonicenses 1:3. O que

ele tenta me fazer compreender é que hoje tenho que amar meu irmão mais do que quando o

conheci: tal amor tem que ser crescente. Infelizmente, é o contrário que costuma acontecer. Quando

conhecemos os irmãos nós os julgamos positivamente mantendo com eles um bom relacionamento.

Entretanto, na convivência não é raro acontecerem desencantos. Por trás do sorriso existem amiúde

ciúmes, má vontade, inveja, espírito de crítica; por trás das manifestações efusivas há às vezes ─

inclusive simulado ─ um gênio terrível, irascível, inconformado. Louvamos a Deus em comunhão na

igreja, mas na hora de praticar juntos esporte, honrar e fazer justiça a alguém que cooperou ─ talvez

até demasiadamente ─ num trabalho nosso, levando-nos ao sucesso, sustentando nossa fama na

retaguarda, criando-nos oportunidades, ajudando-nos nas nossas descobertas, a atitude de quem foi

beneficiado é muitas vezes um desastre, a maior decepção. Muitas vezes cometemos o erro de fazer

de alguém um verdadeiro ídolo ─ para um dia o vermos partidos em mil estilhaços. Frequentemente

entramos e saímos juntos, compartimos planos e sonhos, mas diante da necessidade de

eventualmente conviver, surge a ânsia de competir. Aí, então, percebemos que há muitos entraves,

com a aproximação e o ver-se amiúde o amor na verdade encolhe, esfria. Rapidamente, então vamos

nos cansando, nos enjoando, descobrindo falhas, tornando-nos discretos ou ambiciosos, e o amor se

raquitizando. Paulo afirma que o contrário é que precisa acontecer: o amor crescendo dia-a-dia, não

se deixando direcionar apenas a um grupo, não se limitando nunca.

Amem a todos, indistintamente, é o que o apóstolo aconselha; lutem contra as antipatias, a

ambição, o egoísmo e as predileções, fazendo o amor envolver a todos.

5 - A vivência do amor mutual tem que ser sincera e calorosa. I Pedro 1:22 diz “...tendo em vista

o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aos outros ardentemente”. Gosto da palavra

“ardentemente”: ela mostra que o amor entre irmãos tem que ser positiva e santamente caloroso. É

um amor não apenas cordial, mas ao mesmo tempo estimulante vibrante; faz os olhos brilharem,

conforta, anima, aquece. Essa troca deve ser inspirada num amor forte, intenso. I Pedro 4:8 diz: “...

tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados”. Trata-se,

portanto, de um amor que tem força, é extremamente manifestador de uma imensa energia espiritual.

6 - Tal amor mutual é indulgente, cobre multidão de defeitos. A palavra de Deus ensina que esse

amor é suficientemente forte para manter-nos juntos, apesar das diferenças. Em Efésios 4:2, o

Senhor nos manda preservar esta unidade, suportando-nos uns aos outros em amor. Paulo diz a

mesma coisa em Efésios 4:32: “Antes sede uns para com os outros benignos, compassivos,

perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo vos perdoou”.

As pessoas dizem: “É difícil suportar este irmão; ele é tão diferente de mim!” Mas tenha a

certeza de que o que é difícil para você em relação a ele também é para ele em relação a você. Pois

aquilo que o desgosta nele pode ser o que mais agrada a ele ser; e o que mais agrada a você em você

mesmo, pode ser aquilo que em você seja insuportável para ele. Se você se sente mal diante do que o

repugna nele, o mesmo acontece com ele em relação a você. Assim, se você suporta alguém, alguém

também suporta você. Aquilo que o contraria tanto, certamente é em extremo importante para o

outro, a tal ponto que, se você viver a bloqueá-lo, criará nele a mágoa da qual ele irá ressentir-se por

muito tempo, talvez a vida inteira.

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“Amai-vos uns aos outros no amor de Cristo”. A troca mutual, a permutação, é que é suficiente

para cobrir todas as nossas diferenças.

Em certa ocasião, em conversa com um pastor, vieram à tona opiniões muito diferentes,

inclusive fortemente discordantes. Ao terminar a reunião, procurei-o, dei-lhe um abraço, e ele me

entendeu a mão e disse: “Vou estar orando: pedirei ao Senhor que um dia nos encontremos no

mesmo caminho, e com o mesmo pensamento”. Então lhe respondi: “Meu irmão, nós estamos no

mesmo caminho; mas talvez nunca pensemos do mesmo modo. Você nunca ouviu dizer que o amor

cobre multidão de pecados? Como então não acreditar ser possível ─ em nome desse amor ─ cobrir

diferenças banais, teológicas!”

Este é um princípio ─ o da troca ou mutualidade ─ que serve para a família, o casamento, o

trabalho, as amizades, enfim, qualquer relacionamento, seja onde e com quem for ─ não apenas com

referência à Igreja.

Estes princípios de atenção recíproca, entretanto, não podem ser cobrados de outrem, mas

exclusivamente de nós mesmos; têm que partir de nós. Normalmente usamos os mandamentos da

mutualidade para cobrar dos outros: “Ele tinha que demonstrar mais amor por mim; tinha que me

suportar; tinha que me ouvir, me dar mais atenção...” Mas não é assim. Faça sua parte e não cobre de

ninguém a reciprocidade.

Também esses mandamentos do amor mutual não devem ser praticados como pagamento ao bem

recebido. Não é troca no sentido de barganha! Caso contrário, nunca o processo começa ─ fica todos

esperando indefinidamente que o outro time iniciativa.

Esta disposição não deve estar subordinada ao fato de haver devolução da parte do irmão: “Eu fiz

para ele; agora vou esperar que ele faça pra mim. Se ele fizer, então, faço”. Não é troca em nível de

correspondência: “Ele me ajudou na minha mudança (ou no meu trabalho); quando se mudar (ou

quando precisar de mim) eu o ajudarei”. Ainda que o irmão nunca abra os olhos para a sua

necessidade, vá fazendo. É como jogar tênis usando uma parede. A bola bate, volta, você responde.

Não existe um perito para dar cortadas; vá jogando sozinho...

São manifestações de amor em todos os níveis e em qualquer setor da vida, sem estarem

limitadas a discriminações ou quaisquer condicionamentos.

MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE REFERENTES AO SERVIÇO

Tudo na vida cristã decorre do amor. Paulo diz que todos os nossos atos, os nossos serviços,

devem ser inspirados em amor. É isto que os autentica. O serviço é subproduto do amor. É como o

fruto do Espírito, em Gálatas 5:22: amor, alegria, paz, benignidade, longanimidade, bondade,

mansidão, domínio próprio. Todos os frutos do Espírito são apenas subfruto do fruto único que é o

amor.

Vejamos agora como a mutualidade acontece no serviço cristão:

1 - Vendo-nos como servos dos irmãos por amor. Somos o diácono do irmão ─ diácono no

sentido bíblico de servo. O ministério da diaconia é o mais amplo do Corpo de Cristo. Temos o

exemplo de Jesus, que lava os pés dos discípulos e nos instrui a fazer o mesmo.

Um bom exemplo dessa atitude de servo é a atitude simplória de certas pessoas do interior. Elas

se apresentam dizendo: “D. Mariana, sua criada”. Ou: “Seu José, seu criado”. Que bom seria

apresentar-nos à maneira do caipira ingênuo e acanhado ─ mas o de coração puro, não o astuto, o

finório: “Fulano de tal, seu servo”. Não apenas em palavras, mas na disposição de realmente servir!

2 - Usando os dons que a graça de Deus derramou sobre nós. Em I Pedro 4:30, o apóstolo diz:

“Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme

graça de Deus”. O que ele quer dizer é que se eu prego, e Deus me deu capacidade de me expressar,

eu ajudo as pessoas. Contudo, há coisas que elas fazem e que me ajudam. Quando você me socorre,

me exorta, ora por mim se estou enfermo, você coopera comigo. O mesmo acontece na minha

relação com você. Nós trocamos benefícios.

Quando alguém guarda para si, sufoca, embota os dons, está de alguma forma prejudicando o

outro ou o Corpo de Cristo. Se se contém, não entrega os dons em seu proveito, não é servo. Essa

sua atitude contribui para que a Igreja seja empobrecida.

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3 - Vendo-nos como membros essenciais ao bem-estar no Corpo de Cristo. Romanos 12:5 diz

que “somos membros uns dos outros”. Paulo ilustra isto usando a figura do corpo. Quando um

membro não cumpre seu papel, não desenvolve seus dons, o corpo se torna defeituoso. Imagine um

corpo sem braço, sem olhos, sem polegar, impossibilitado de fazer uma série de tarefas! O corpo

inteiro sofre. Se está com comichão no nariz, mas não tem mão para coçar, tem que esfregá-lo na

parede; sente fome, não tem dentes para mastigar ─ é um problema! Assuma, pois, sua

essencialidade no Corpo de Cristo. Sua paralisia individual está paralisando esse Corpo.

Em Goiás conheço uma moça que não temos braços, e pinta com os pés; faz quadros lindos. Ela

não só pinta, como escreve e faz muitas coisas com os pés, como se estes fossem mãos. É um

esforço terrível!

Este fato serve também para lembrar o que pode estar acontecendo no Corpo de Cristo se você,

como membro do Corpo, se mantém paralisado em relação aos seus dons.

Meu pai não tem uma das pernas ─ é seca, murcha, morta, desde um ano de idade. Fez um

esforço tremendo para se adaptar à vida. Pois não é menor o esforço de uma igreja aleijada, com

membros inativos, murchos, secos, mortos. Eles a fazem capengar.

O pastor ou a liderança não são o corpo. Um é cabeça, outro ouvido surdo. É possível que haja

pessoas com sensores mais aguçados, mas sozinhas, sem o corpo, não fazem nada. Por isso entenda-

se como membro essencial. Somos membros uns dos outros.

É preciso compreender que, se por um lado, quando um membro não faz nada o corpo fica

aleijado, por outro, se ele tenta fazer tudo sozinho, este acaba doente, hipertrofiado. Como os braços

de Popeye, disformes ─ um grotesco, enorme, o outro fino, magro ─ ou como os do ginasta que só

exercita o braço direito, o corpo fica feio quando há os “faz-tudo”, os de mil e uma atividades,

absorvendo as possíveis e talvez encolhidas habilidades alheias. Eles fazem tudo melhor do que

ninguém, não passam encargo a quem quer que seja, pois não existem para eles mais competentes ou

melhor dotados. Quando me julgo essencial, acabo sendo a hipertrofia, o aleijão do Corpo.

4 - Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. Isto está dito em Efésios 5:21. Que

significa esta sujeição? É ver cada irmão como autoridade sobre si em amor. É não me ver como

autoridade sobre ele, mas ele sobre mim, empenhando-me em fazer boas coisas para ele, que o

edifiquem. Cria-se respeito e acabam-se as discussões. Contribuo para a unidade e saúde no Corpo

de Cristo quando vejo o irmão com a autoridade; quando faço o que ele pede; quando sua palavra é

tão importante para mim quanto uma ordem, e ao lhe dar ouvidos evito conflitos.

5 - Encarando a mútua cooperação como um sacrifício espiritual que não pode ser negligenciado.

Encontramos isso em Hebreus 13:15 e 16, onde se faz referência a sacrifícios espirituais, liturgia,

culto. Nesse texto se diz que também a mútua cooperação e a prática do bem não devem ser

negligenciadas, pois são sacrifícios espirituais, numa liturgia que agrada a Deus. A palavra grega

correspondente designa oferendas espirituais. No v. 15 o escritor de Hebreus fala de liturgia,

sacrifícios de louvor ─ oferenda vespertina, oferta de manjares, enfim, todas as ofertas de louvor, de

gratidão a Deus. Deus as aspira como um aroma suave. Você já imaginou que o fato de ajudar a

carregar um piano, colaborar na arrumação de uma casa ou na mudança do irmão seja um culto a

Deus? Na verdade é mais importante do que acontece culto que você lhe presta aos domingos, sem

fazer nada para ninguém a semana toda. Você chega, senta, levanta, canta “Não posso viver sem

você, meu irmão”, diz “aleluia!” “aleluia!” “amém!” e é só. O irmão está doente, perdido, solitário,

em crise familiar, passando urgentes necessidades, enfrentando dramas horríveis, sentindo-se

perdido, cansado, desorientado, ou vai se mudar, e você lhe diz: “Deus cuide de você, irmão”. Ou:

“Boa mudança!” E é só. Você vai e vem com o carro vazio, não dá carona a ninguém, não se lembra

da irmã idosa que não tem como chegar à igreja aos domingos e mora em seus arredores; tampouco

se conscientiza das urgências alheias ─ quem sabe a mãe, a esposa, a filha, o filho ... ou dá o mínimo

como paga a alguém por serviços prestados... Talvez você pergunte ao que está se mudando: “Você

vai contratar „Andorinhas‟ [um serviço de mudanças no Rio de Janeiro] para fazer a mudança? “Não,

irmão, eu não tenho dinheiro nem para soprar o vento, quanto mais para requisitar o serviço de

Andorinhas!” “Então, irmão, que o Senhor o fortaleça para a sua mudança.” E lá vão o irmão e o

anjo, carregando o piano.

Algumas ajudas aos irmãos são vistas diante de Deus muito mais importantes do que frequência

dominical aos cultos. Gente inerte, especialistas em levantar as mãos em cultos, se imaginam estar

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no Maracanã de Deus, tacitamente abençoados, estão muito iludidos! A mútua cooperação é muito

mais que um gestual ─ amiúde inútil e estéril: é sacrifício espiritual, aprazível, maravilhoso, diante

do Senhor. Se levarmos isto a sério, a liturgia vai crescer muito; a vida passará a ser uma devoção.

Pois tudo tem a ver com adoração a ele.

6 - Sendo hospitaleiro e entusiasta no servir. I Pedro 4:9 nos instrui a sermos “hospitaleiros, sem

murmuração”. Ser hospitaleiro não é difícil; o difícil é sê-lo com boa disposição de espírito, sem

reclamações (“Puxa vida, a igreja tem tanta gente, e o pastor só manda hóspede para a minha casa!”).

O marido se aproxima da esposa e diz: “Fulana, encontrei um irmão que veio lá de São João das

Barradas, não tinha para onde ir. Como você não estava em casa, tomei a liberdade de trazê-lo”.

“Ah, querido, não tem problema”. Então diz ao irmãozinho: “O senhor fique à vontade”. Fecha a

porta do quarto e diz: “Mas é o cúmulo! Você tinha que trazer este homem para cá? Será que você

não raciocina?” Sai do quarto e pergunta ao hóspede indesejado: “Quer um cafezinho com leite,

irmão?” Entra no quarto outra vez, e repreende o marido: “Não tem leite nem para nós, e você ainda

traz gente de fora!...” Sai de novo e diz ao homem: “Muito prazer em recebê-lo aqui! Sinta-se em

casa, por favor!” E Deus, ouvindo isso tudo, diz: “Hipócrita!”

Tenha coragem de dizer: “Não tenho a menor condição de receber este irmão, pastor!” Mas não

finja! Não faça de conta que está tudo bem. Mas se receber, receba sem murmuração. A casa nem

precisa ser muito grande ou muito farta para hospedar um ou dois...

7 - Compartilhando as necessidades dos irmãos. Romanos 12:13 afirma isso. Parece redundância

o que digo. Paulo diz: “Compartilhai as necessidades dos santos”. No entanto, o que parece é que

compartilhar já virou sinônimo de “dizer algo”. Fulano, venha cá, vamos ter um „compartilhamento‟

hoje à noite...” A pessoa imagina logo que lhe vão abrir o guarda-roupa e falar: “Olhe, eu quero lhe

dar este paletó e algumas camisas. O paletó não abotoa mais: engordei muito!”

No entanto, não se trata disso. Compartilhar, hoje, diz respeito a pessoas se reunirem para dizer

algo, cada um expressando uma idéia, o que pensa. Quando se lê ou se ouve a expressão

“compartilhai as necessidades dos santos” pensa-se logo em aconselhamento. Todavia, a idéia básica

desta palavra tem a ver com fazer minhas as necessidades dos irmãos. Isto tem a ver, por exemplo,

com ajuda financeira. Se o irmão está desempregado, ou receber um salário muito magro,

compartilho seu problema; eu me cotizo, se não tenho condições de ajudar; vou de qualquer modo,

do jeito que posso, ao encontro das suas carências. Ou se ele está com o filho no hospital, não tem

como pagar a conta, procuro participar dos gastos.

COMUNHÃO ESPIRITUAL ENTRE OS IRMÃOS

Trataremos agora do grupo de mandamentos que dizem respeito à comunhão espiritual entre os

irmãos.

Que significa isto? Será que amor não é comunhão? Serviço não é comunhão? Sim, são. E são

coisas tão próximas, que separá-las lembra aquela teologia medieval, que tentava encontrar anjos na

cabeça das agulhas. Há, no entanto diferenças sutis. Tive o cuidado de agrupar todos os

mandamentos relacionados ao amor com imediata conexão com o sentir cristão para com os irmãos;

por outro lado, os mandamentos do serviço fi-los ter conexão com as nossas ações bem práticas. E

agora desejo pensar no convívio, na comunhão espiritual relacionada à convivência, numa espécie de

relação social no Corpo de Cristo.

1 - O Novo Testamento nos ensina que devemos nos saudar com o sincero ósculo da paz. Este é

um mandamento bastante repetido no Novo Testamento. Em Romanos 16:16, Paulo manda:

“Saúdem-se com ósculo santo”. I Pedro 5:14 o repete; II Coríntios 13:12 igualmente.

O ósculo santo significou na história da Igreja uma saudação fraterna. Depois, por vota do ano

80, evoluiu para fazer parte da liturgia da Ceia do Senhor. E as constituições apostólicas ─

documentos da Igreja Primitiva, primeiro e segundo séculos ─ nos dizem que o beijo da paz era um

dos elementos mais essenciais da liturgia cristã. Era uma saudação de chegada; era uma liturgia na

Ceia, e também um momento de fraternidade imprescindível, quando se parava para saudar com um

respeitoso, fraterno e sincero beijo na face. Era o beijo da reconciliação, o beijo da paz entre irmãos.

É verdades que em culturas diferentes às vezes isto soa meio estranho. Paulo não estava

aconselhando nada que constituísse uma agressão à cultura. Ele foi o apóstolo mais contextualizado

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da Igreja Primitiva. Vemos como em I Coríntios 11, aconselha o uso do véu, para manter a idéia de

autoridade do homem sobre a mulher, a fim de não despertar o espírito de insubmissão, comum entre

as prostitutas de Corinto, que não o usavam. Paulo então adverte a Igreja a que não rompa com o

costume, não saia do contexto social de então. Em algumas culturas, encontrarem-se homens na rua

e beijarem-se significaria enfrentar terrível julgamento; seria uma tremenda agressão cultural.

Podemos praticar este mandamento avaliando a nossa cultura e obedecendo a ele sem escândalo.

Não vamos fazer isso em plena avenida ou na frente do McDonald‟s, ao meio-dia. É preciso ter

sabedoria diante de locais e pessoas, ao saudarmos não apenas irmãs, mas também irmãos, com o

ósculo da paz, no nome do Senhor Jesus.

2 - Diz ainda a Escritura que devemos ser humildes no trato (I Pe. 5:1). Nada de ficar nos

orgulhando, referindo-nos, em nossos encontros com os irmãos, a nossos grandiosos feitos. Às vezes

diante de quem nada tem a dizer, permanece mudo, humilde, arrasado, diminuído, frente às

narrativas surpreendentes que fazemos. Não seja, pois, exibido, vaidoso, egocêntrico, na sua relação

com os irmãos.

3 - Diz I Coríntios 5:13 que precisamos nos preocupar em ter paz uns com os outros, fugindo a

tensões que não possam ser resolvidas de forma conciliatória. A reconciliação é a lei das relações no

reino de Deus. Isso porque muito frequentemente encontramos diferenças entre nós. No entanto, a lei

da manutenção das relações no Reino é a conciliação. Se um irmão não concordou comigo, me

magoou, eu o magoei, vamos nos procurar, dialogar, perdoar-nos mutuamente. Busquemos viver em

paz uns com os outros, não permitindo que amarguras se instalem no coração. Vamos deslacrar a

alma e consertar as relações, para vivermos em harmonia (Hb. 12:15).

4 - Ensina ainda a Palavra que devemos ter comunhão uns com os outros, pois este é o resultado

de uma vida que anda na luz. João pergunta: “Vocês andam na luz? Se andam, mantenham

comunhão uns com os outros” (Jo. 1:7). Quem não anda na luz está sempre tropeçando nos irmãos.

O irmão está dormindo na escuridão, tem a perna estendida, ele passa, dá um tropeção (I Jo. 2:10).

Todavia, se andamos na luz, quando acidentalmente esbarramos num irmão, o sangue de Jesus, o

Filho de Deus conserta as relações, purifica de todo pecado e acerta a nossa vida.

5 - Exporta também a Escritura a nos acolhermos não obstante nossas opiniões diferentes.

Romanos 15:7 manda que nos acolhamos; o capítulo 14:1, explica como devemos fazê-lo: “...não,

porém, para discutir opiniões”.

Esse acolher pode ser ilustrado perfeitamente pelo contexto antecedente de Romanos 14 e 15.

Paulo se refere a diferenças de opinião. Observa ele que alguns irmãos (o que faço é parafrasear o

que o apóstolo diz), de consciência fraca, novos na fé, acreditam que se tomam um pouco de vinho

estão em pecado. Mas você, é amadurecido, sabe que o vinho não é mau, e sim o excesso. Contudo,

mesmo sabendo que o irmão se escandaliza, tendo-o diante de si, em sua mesa, você toma um copo

de vinho em sua presença e passa depois o resto do dia tentando provar a ele que a consciência ferida

dele é sinal de fraqueza, enquanto, a sua, de maturidade. Saiba que você pode levar aquele irmão a

tropeçar.

Paulo diz: “Você que é fraco, que pensa que só pode comer legumes e beber água, não pode

comer carne nem beber vinho, não julgue o irmão que come carne e bebe vinho!”

O que acontece é isso; o irmão asceta, vegetariano evangélico, que vê no vinho algo diabólico, se

encontra outro comendo o seu pernil e bebendo o seu vinho, diz: “Perdeu a espiritualidade! O

Espírito Santo deve estar entristecido!” E o que come a carne e bebe o vinho e vê outro com sua

água e alface, despreza o irmão: “Ih, quanto fanatismo!”

“... quem come não despreze o que come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus

o acolheu” ─ diz Paulo. Acolham-se uns aos outros, mas sem discutir ninharias. Vivam em

harmonia. “Bem aventurado o homem que não se condena naquilo que aprova”.

Em outras palavras Tu que tens fé, tem-na para ti mesmo, mas não o empurres mente adentro do

teu irmão. Se as igrejas pentecostais e tradicionais entendessem isso resolveriam boa parte dos

problemas de divisão. Dividiram-se demais em razão de palmas: uns gostam de bater palmas, outros

não. Nenhum deles abre mão. Em razão desses detalhes, brigam, reúnem presbitério, concílio... e

separam-se. Fica de um lado a igreja renovada, do outro a não-renovada.

Se entendêssemos este princípio, aceitaríamos que um irmão sentisse predileção por órgãos,

prelúdios de Bach, músicas de Wagner, Beethoven, enquanto por nosso lado apreciaríamos corinhos

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cantados com entusiasmo. Então, ao invés de ficarmos ressabiados, nós nos alegramos com a

emoção do irmão, que está sendo abençoado com aquilo que muito aprecia. Depois do prelúdio

talvez pudéssemos ouvir o corinho “Batei palmas, todos os povos”. O que não aprecia muito as

palmas diria: “Não são muito do meu gosto esses corinho exuberantes, com palmas, mas mesmo

assim fico feliz, pois sei que lhe alegram o coração e o abençoam”.

Quem não faz não julgue o que faz, e o que faz não despreze o que não faz. Pelo contrário:

“Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente” ─ é o que diz Paulo. Acolham-se,

fugindo a discutir opiniões; vivendo em paz.

6 - Diz no Novo Testamento que devemos ter profunda comunhão de fé, troca de informações

que a robusteçam. Em Romanos 1:12, Paulo, um gigante na fé declara ser-lhe impossível viver sem a

fé dos irmãos. Diz ele: “... muito desejo ver-nos (...) para que, em vossa companhia, reciprocamente

nos confortemos, por intermédio da fé mútua, vossa e minha”.

Paulo não disse: “Vou aí para abençoar vocês. Imagino que devem estar sentindo muita falta do

meu ministério”. Pelo contrário, o que ele diz é isto: “Meus irmãos, vou até aí, e muito feliz, pois sei

que vamos nos abençoar mutuamente: darei o que tenho; sei que vou receber muito de vocês. Nossa

fé vai reciprocamente crescer”.

Nessa troca, nessa mutualidade, nossa fé cresce. Por isso ninguém pode viver sem ela. É o que

diz a Escritura também em Romanos 14:19 e em Tessalonicenses 5:11, onde edificação é algo que

acontece no convívio.

7 - Ensina o Senhor que devemos confessar mutuamente nossos pecados (Tg. 5:16). Também

orar uns pelos outros. Você agiu mal? Confesse ao irmão e peça-lhe perdão. Confesse também os

pecados que cometeu contra outros. Mas não faça tal confissão a qualquer um. Tenha um irmão de

jornada, alguém em quem você confia plenamente, e que por sua vez confia em você. E tome

cuidado para que não seja como um desses “amigos íntimos” que fazem com que nossos segredos

corram de amigo íntimo em amigo íntimo. O segredo é normalmente isto. Você chama um amigo

íntimo e lhe diz: “Fulano, fiz uma coisa errada ─ ajude-me! Aí chora. O amigo ora: “Senhor,

abençoa fulano, salva, restaura, perdoa-lhe!” Então telefona a seu melhor amigo e lhe diz: “Fulano,

você é meu melhor amigo íntimo. Meu melhor amigo íntimo me contou um problema que está

pesado demais para eu carregar. Vou contar a você, que é meu melhor amigo íntimo: Olhe, o fulano

fez isso, assim, assim... Ore por ele!” “Está bem vou orar pelo fulano: Senhor, abençoa o amigo

íntimo do meu amigo íntimo”. Então telefona a seu amigo íntimo e diz “Fulano, o amigo íntimo do

meu melhor amigo íntimo me contou isso, assim, assim, mas é um peso muito grande para eu

carregar sozinho...”

Logo, adivinha você o que vai acontecer? Aquele segredo ─ como sempre ─ será aquilo que

todos os amigos íntimos estarão sabendo, só que todo o mundo não sabe que todo o mundo sabe...

Cuidado! Se alguém compartilhou com você, foi com você que compartilhou. Se quisesse

partilhar seu segredo com seu melhor amigo íntimo, tê-lo-ia chamado. Também, se quisesse tê-lo

feito, com sua esposa, ou esposo, teria feito! Portanto, se alguém lhe abriu a alma contando-lhe um

segredo, você não tem o direito de contar isso nem para a sua esposa ou seu marido, caso você seja

casado.

8 - O apóstolo Paulo nos exorta a sermos solidários com os irmãos. Isto é o que diz Gálatas 6:12.

A solidariedade aí é encarada num nível especial; ela é emocional, espiritual e psicológica. O texto

diz no v. 1: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o

com o espírito de brandura (...)” O v. 2 continua: “Levai as cargas uns dos outros (...)” Que cargas

são essas? Certamente não são as do piano do irmão, mas de suas faltas.

Uma das maneiras de carregar a cruz não é andar o tempo todo se lancetando, se proibindo de

viver, de desfrutar das coisas boas da vida, mas fazer o que Cristo fez. Sua crua não foi uma cruz de

madeira, mas um carregar de pecados. Só que foi um carregar expiatório, e o meu carregar solidário:

meu irmão pecou, falhou, caiu, eu o ajudo, mas levo a sua carga junto com ele.

É a história daquela mulher que vê o marido viajar, fazer um curso de pós-graduação, e nesse

meio-tempo se envolver com uma moça. Quando volta para casa, o coração abatido, uma vergonha

imensa, olha para a mulher e não se contém: conta-lhe o que acontecera durante a viagem. Ela vai se

encostando à parede, em prantos, lamentando-se. Hoje lembrando a amarga situação, o marido diz:

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“Naquele dia eu entendi o que Cristo sentiu por mim. Meus pecados crucificaram minha mulher”.

Na verdade ele levou a carga, absorveu-lhe a falta, andou com ele, perdoou-lhe.

Se você vir o irmão pecar, ajude-o a levar o peso junto. Se a mocinha da igreja engravidou, não

adianta apontar-lhe o dedo, acusá-la. Ela se arrependeu. Ajude-a a ter normalmente seu bebê e

também a criá-lo. Leva a carga junto! Se um irmão fez um negócio ilícito, é inútil condená-lo. É

preciso ajudá-lo a confessar seu erro e resolver a situação. Se o problema constituir um fardo pesado

demais para ele, carregue-o junto com ele.

MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE RELACIONADOS AO USO DA LÍNGUA

Certamente este é um dos pontos em que os piores adversários aparecem. Às vezes é mais fácil

fazer a mudança do piano do irmão do que mudar os maus hábitos da língua.

A Bíblia é abundante neste assunto, no entanto vou cingir-me a apenas cinco aspectos de

mutualidade em relação a ele.

1 - Não devemos falar mal uns dos outros ─ é o que diz Tiago 4:11. Isto significa não destruir a

vida do irmão, contando irresponsavelmente coisas sobre a vida dele. Às vezes nada tem a ver com

algum mal que ele praticou. Não se trata de falar do mal que ele fez, mas falar mal do irmão. Falar

do mal que alguém fez é uma coisa. Falar mal do irmão é outra, muito pior. Quando se fala do mal

do irmão, fala-se de algo que ele fez, não dele próprios; quando se fala mal do irmão, arrasa-se com

ele; destrói-se-lhe o caráter, esmaga-se sua personalidade. Você debulha a vida da pessoa, sendo

verdade ou não, e através dos seus comentários cria uma certa imagem pública a respeito dele,

provavelmente desonrosa; você expõe o que sabe, o que julga ser verdade, o que viu e o que não viu,

o que ouviu e o que não ouviu. E muitas vezes vai para casa sem se dar conta de que acabou com a

existência de uma pessoa, muitas vezes seu irmão, por quem Jesus morreu.

Tiago diz: “Não falem mal uns dos outros” ─ Às vezes isso acontece quando pequenos grupos de

uma comunidade se encontram. De repente surge uma conversa como esta: “Aproveitando a

oportunidade: precisamos orar muito pelo fulano. É tão bom! É uma benção! Tem tantas virtudes!

Porem não estar presente, pois se estivesse eu lhe diria umas coisas que ele precisa ouvir. Como está

ausente, você me ajudam a orar, está bem? A primeira vez que o encontrar vou falar com ele. Ele

tem umas brechas no caráter. Coitadinho só muito jejum por ele... “Então malha, e malha o irmão.

Tal “piedade” é diabólica!

2 - adverte-nos ainda a Bíblia sobre o dever de não julgar ninguém, Paulo diz, em I Coríntios 4:4:

“Eu não julgo ninguém, não me julgo nem a mim mesmo, quem me julga é o Senhor”. Mas o texto

que nos instrui a não nos julgarmos mutuamente é Romanos 14:13. No texto da Ceia do Senhor a

Escritura manda que cada um se examine a sim mesmo (I Co. 11:28). E diz que quem nos julga é o

Senhor, mas que não devo analisar o irmão ou dar veredicto sobre ele. Só Deus o conhece em

profundidade. A Bíblia afirma que se você julga o irmão você se torna o juiz, o legislador. O

veredicto tem que ser perfeito. E você não é perfeito. Sua condenação vai ser maior do que a

realidade. Além do que você mesmo está se condenando, porque certamente você também cai em

coisas semelhantes. Você não é perfeito (Mc. 4:24).

Se o mais rigoroso possível consigo mesmo, e o mais indulgente possível com o irmão. Cuidado

com a língua, que formula veredictos terríveis.

Na ocasião em que Wesley se levantou e Deus começou a usá-lo no grande avivamento na

Inglaterra, ele, o irmão e outros ─ uns seis ou sete ─ fizeram um pacto solene. Wesley lhes propôs

algo assim: “Vamos fazer o pacto solene diante de Deus, de que nunca falaremos mal uns dos outros

a quem quer que seja. E nem falaremos mal uns dos outros entre nós, incluídos neste pacto. Qualquer

diferença resolveremos face a face, e na presença de Deus. E não comentaremos essa diferença com

ouros, a menos que nela todos estejam incluídos. Só a resolveremos com todos presentes. Não

discutiremos o problema com alguns, sem que o maior implicado esteja presente.”

E fizeram um compromisso solene na presença do Deus vivo. Dizem os biógrafos de Wesley que

assim procederam durante toda a vida. Que coisa fantástica!

Este compromisso não tem que ser de um grupo, mas de cada um de nós perante todos.

3 - Devemos admoestar-nos reciprocamente. Observe que o Novo Testamento diz primeiro o que

não devemos: não devemos falar mal dos outros nem julgar. Agora, ele diz o que fazer com a língua.

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Se por um lado ela não serve para falar mal e julgar, por outro serve para admoestar. Romanos 15:14

diz isso. Admoestar é palavra grega que significa encorajar, exortar; mais especificamente,

admoestar contra um perigo que precisa ser evitado; é confrontar acerca de alguma ameaça ou risco.

Se o irmão está andando num caminho perigoso, eu o aviso disso. Mas nada tem a ver com certos

prognósticos feitos a terceiros: “Escreva o que estou dizendo; não dou um ano, esse sujeito cai.” Ou:

“Não dou um mês, esse casamento acaba... Escreva!”

Não é assim que se age. O certo é chamar o irmão e adverti-lo de maneira firme, porém mansa:

“Meu irmão, preciso lhe dizer algo. Você está andando num caminho perigoso, por isso, e isso...” E

confrontá-lo ─ sendo o termo original grego ─ com o que possivelmente aconteceria, e pode ser

evitado.

4 - Lembra-nos ainda a Bíblia que devemos usar a língua para nos exortar mutuamente. Exortar é

encorajar, incitar, estimular ─ que pode ser feito em forma positiva ou negativa. Positiva, quando

digo: “Meu irmão, saia disso! Você pode vencer esse pecado, lançar fora esse peso!” Negativo,

quando advirto: “Meu irmão, você está se afundando. Afaste-se disso! Você vai ser engolido vivo!”

De um modo ou de outro, esta é a maneira correta de agir, de usar a língua. Uma vez admitido o

problema, devo exortá-lo a sair dele, sem me arvorar em juiz.

5 - Devemos também usar a língua para consolar-nos uns aos outros. Isto é o que diz

Tessalonicenses 4:18 e 5:11. Quando vejo um irmão prostrado eu lhe digo: “Sentir-se assim é

natural, mas creia: você vai ter vitória! A luta é grande, mas você vai superar esta situação”. É usar a

língua para encorajar, consolar, confortar, mostrar-se compreensivo e misericordioso. Não para

julgar, falar mal, derrubar.

Se estes mandamentos forem obedecidos, seremos uma Igreja unida, cheia de espaço para o

desenvolvimento das nossas diferenças espirituais e pessoais. Seremos uma Igreja terapêutica, a

comunidade da solidariedade, dos irmãos que se respeitam e se amam, se honram, se ajudam, se

querem, caminham juntos, usam a língua como instrumento não de ruína, mas de edificação e

encorajamento. Veja o que diz Isaías 50:4; “O Senhor Deus me deu a língua de eruditos, para que eu

saiba dizer boa palavra ao cansado. Ele me desperta todas as manhãs, desperta-me o ouvido para que

eu ouça com os que aprendem.”

A Igreja tem unidade ─ metafísica, doutrinal, confissional e experiencial. Tem diversidade ─

dons, gostos, temperamentos, aptidões e personalidades diferentes. Mas ela tem mutualidade. Ela

troca, pratica a reciprocidade, é solidária.

Peçamos a Deus que nos ajude a praticar os mandamentos relacionados ao amor, ao serviço, à

comunhão, ao uso da língua. Se isto acontecer no Espírito do Senhor, a paz em nosso meio nunca

será algo utópico, inatingível. Isto é mais importante que qualquer outra coisa na vida da Igreja. Sem

isso ela não funciona; não suporta as tensões. É nessas trocas que somos muitos em UM. E o Espírito

do Senhor passa a mover-se em nosso meio.

Apenas para concluir. Você lembra que no início deste capítulo eu afirmei que talvez chegando

ao seu fim você viesse a se perguntar qual a relação prática e teológica entre mutualidade e a questão

dos dons do Espírito? Você também lembra que o iniciei com o texto de Efésios 4:1-6, no qual Paulo

afirma a necessidade da unidade, bem como a mutualidade (“suportando-vos uns aos outros em

amor”). Pois bem, nesse mesmo texto o apóstolo prossegue mostrando a conexão profunda entre

unidade, mutualidade e exercício dos dons espirituais.

“E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso diz:

Quando ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e concedeu dons aos homens (...) E ele mesmo

concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e

mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a

edificação do Corpo de Cristo, até que cheguemos todos à unidade da fé (...)” (Ef. 4:7,8, 11,12,13)

Assim somos lembrados de que não há unidade sem diversidade, e não há diversidade sem dons.

Por outro lado, não há unidade diversificada sem mutualidade, e não há mutualidade sem

consciência de nossas carismáticas diferenças promovidas pelos dons diferentes que possuímos.

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Capítulo X

FLUXO E REFLUXO DO ESPÍRITO SANTO

NO HOMEM INTERIOR

“Daí, e dar-se-vos-á, boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão;

porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”. (Lc. 6:38).

Este princípio de dar e ser dado de volta não se aplica exclusivamente às realidades materiais de

compartilhar bens. Ele é muito mais amplo; é de um princípio espiritual que atinge todos os níveis de

relações. O texto ensina que dar é dádiva a si mesmo. A dádiva sempre retorna ao doador.

As nossas relações com o Espírito Santo obedecem também ao mesmo princípio espiritual. São

de relações de fluxo e refluxo. Por isso, quando falamos em dar, em ministrar, em nos deixar

traspassar pelo Espírito de Deus, inevitavelmente estamos pensando no que vai além desse fluxo ─

no refluxo muito maior da graça de Deus sobre a nossa vida. Porque o que o texto nos ensina é algo

inteiramente desproporcional: “Daí, e dar-se-vos-á [em exagero]; boa medida, sacudida, recalcada

[empurrada, socada], transbordante, generosamente vos darão”. Dê um pouco, e você se

surpreenderá com o que irá acontecer! Deixe o fluxo vagar por você, que você verá suceder o

inverso da moeda. Você será profundamente impregnado pelo refluxo. Entretanto, neste princípio de

dar e receber abundantemente de volta há uma lei. Trata-se do princípio da renovação constante,

ininterrupta, ao nosso homem interior.

Este princípio de fluxo e refluxo opera mediante a renovação. Ele não é absolutamente estático.

Quem dá se apropria de uma nova bênção; é invalido por uma nova graça. E eu não vejo como possa

haver em nós renovação espiritual sem que haja este círculo, esta rotatividade do dar e do dar-se-

vos-á, do fluxo e do refluxo do Espírito Santo no coração. Eu lhe diria que há leis inevitáveis para

que isso aconteça.

O primeiro princípio é que renovação é uma necessidade vital. Os pediatras me perdoem pela

anatomia trincada que vou apresentar a respeito de criança. Em algum lugar li que esta, quando no

ventre da mãe, é alimentada através da corrente sanguínea, pelos vínculos, o cordão umbilical, que

leva o sangue a nela circular. Contudo, quando ela nasce, uma válvula é fechada dentro dela, de

forma que seu próprio sangue possa circular, e ir para os alvéolos, onde é oxigenado. É assim, pois,

que a vida acontece ─ através desse fluxo e refluxo, da renovação de sangue; portanto, de vida.

Quando a válvula não é fechada, não dando lugar, consequentemente, a que o sangue vá para os

alvéolos, a criança fica azul. Isto acontece em razão de não haver sido este renovado, ano ter havido

fluxo e refluxo.

Há cristãos que são como crianças azuis ─ gente em cuja vida não está havendo renovação;

pessoas que só recebem, aquinhoam a vida inteira ─ internamente ─, mas não tiveram ainda aquela

válvula fechada para que nelas aconteça o milagre da renovação, autônoma, de uma bênção inerente

à vida. Estamos acostumados apenas à relação umbilical ─ com a igreja, com quem ensina, com o

pastor, mas não temos vida em nós mesmos. Somos crianças azuis!

2 - Renovação é um fenômeno que acontece a quem dá. É o princípio do poço. A água está ali,

parada, inerte. Mas comece a tirar, e veja o que acontece! O de Jacó está lá em Sicar há 4 mil anos,

dele sendo retirada água continuamente, pelos séculos afora, até hoje! A água não acaba nunca. No

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entanto, se não se tira água do poço ela é capaz de apodrecer. Água nova só vem quando se tira

água!

3 - Renovação é algo tão vital quanto sua não-realidade é mortal. Lembre sempre isso: não

renovar-se implica morte. O Mar Morto, lá no sul da Palestina, é a maior depressão da face da terra

─ tem cerca de 400 metros abaixo do nível do Mediterrâneo; e depois que se atinge a folha da água,

ele desce mais 400 metros abaixo de sua própria folha d‟água. O fundo dele está, pois, a 800 metros

abaixo do nível do mar. O Mar Morto é, geograficamente, o lugar mais egoísta do mundo; por isso é

morto. Ele não tem vazante; só tem uma entrada ─ para receber. E vem do Jordão, que desemboca

nele. As águas do Jordão derramam-se ali há milênios. Na época em que Deus destruiu Sodoma e

Gomorra, no extremo sul, onde hoje é o Mar Morto, houve um terremoto e, as cidades se afundaram,

e ele cresceu mais alguns quilômetros em virtude do cataclisma e ficou cheio de sal. E como o sal

não tem por onde vazar, ele se concentra todo ali. Por isso é morto; mas não é morto apenas pelo fato

de ter sal. No mar, há sal numa quantidade imensa, porém ele se movimenta, se agita continuamente,

dá demais de si. Se o Mar Morto tivesse uma saída, o Jordão já teria se encarregado de que suas

águas fossem ficando dia a dia mais notáveis, com maior possibilidade de vida. Seu problema é

indigestão de si mesmo; ele vive para si e em função de si. Não tem saídas, não dá para ninguém,

apenas recebe, e do Jordão.

Jesus Cristo é o modelo do fluxo e do refluxo do Espírito na vida de um ser humano. No

momento, observemos em sua vida o fluxo do Espírito. O fluxo são aquelas saídas do Espírito;

aquelas horas nas quais se vaza, se dá; quando a gente se deixa usar; quando se abrem os canais por

onde a graça de Deus se derrama para abençoar vidas.

Vejamos o fluxo na vida de Jesus através de algumas manifestações na sua existência.

1 - Cada dia de Jesus era vivido intensa e sobrecarregadamente. Ninguém viveu dias mais

estressantes do que ele. Quando lemos os evangelhos, especialmente Mateus e Marcos, ficamos

atônitos com a compulsão, a agitação com a qual ele vivia. Provoca-nos aflição o mero observar do

seu cotidiano. Madrugada, reunidas as multidões, ele ensina e ensina, sem descansar. Ao meio dia

viaja 7 quilômetros num barco para o outro lado do mar da Galiléia. Ao chegar lá enfrenta um

endemoninhado; volta e ensina às multidões; à noite ceia na casa de alguém. O dia é intenso,

humanamente estressante! Dá de si continuamente. É uma sobrecarga tremenda. O fluxo do Espírito

se manifesta nele através das intensas emoções pelas quais se deixava envolver ─ perdoando às

pessoas, comovendo-se com a dor, a desgraça e a tristeza humana. Como diz Mateus 9:36: “Vendo

ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas, como ovelhas que não têm

pastor”. O grego usa para a palavra “compadecer-se” o equivalente a ter tido cólicas intestinais. Suas

emoções o atingiam no íntimo, davam-lhe um nó nas entranhas ─ pela compaixão, o amor, a

misericórdia e compaixão pelas pessoas sobrecarregadas e aflitas, desgarradas e sem pastor.

2 - O fluxo também se manifestava através de cada dia intenso em controvérsia. Em tais dias Ele

viveu a realidade de ser acusado injustamente, ser ameaçado de morte, ter que discutir questões

teológicas as mais variadas, sendo posto no meio de polêmicas políticas etc. Eram controvérsias

frequentes ─ dando de si sempre.

Este era o fluxo do Espírito de Deus na vida de Jesus: curando, abençoando, ajudando, sentindo,

amando, respondendo, confrontando, explicando, trazendo a lume a verdade. Três anos intensos

dessa vida tremenda de salvação e de abundantes jorros do fluxo de Deus.

Para esse fluxo intenso na vida de Jesus vamos observar o refluxo que havia. No fluxo eu deixo

vazar; no refluxo deixo entrar, recebo uma verdadeira inundação, sacudida, abundante, recalcada e

generosa de Deus ─, pois estou dando, e só quem dá é que recebe.

Vejamos o refluxo do Espírito na vida de Jesus.

1 - A Palavra de Deus nos diz que Jesus começava cada dia na presença do Pai. Isaías 50:4 nos

descreve seu cotidiano devocional, dizendo: “Ele me desperta todas as manhãs”. E acrescente: “Pai,

este é um dia de aventura no teu Espírito. Pai, todas as manhãs tu me desperta...” E o Pai responde:

“Filho, Filho, está na hora ─ vamos ficar juntos um pouco”. O despertador de Jesus era o Pai. Ele

não acordava com seu ruído, mas com a voz do Pai. Jesus abria o coração para o refluxo intenso do

Espírito de Deus na sua própria vida.

2 - Também era, a cada dia, uma emoção nova na presença do Pai, deixando-se sensibilizar pelo

Espírito de Deus. Parece-me lindo o que diz Lucas 10:21 ─ quando os setenta regressavam de sua

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grande cruzada, contando os resultados: como os espíritos tinham sido expulsos, a pregação da

Palavra prevalecido: “Naquela hora exultou Jesus no Espírito Santo, e exclamou: Graças te dou, ó

Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultasse estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste

aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”.

Por ver Jesus com a alma exultante, em razão das emoções profundas que o Espírito colocava no

seu coração: refluxo de emoções.

3 - Cada controvérsia era respondida por Jesus em virtude da sabedoria que lhe vinha do Alto, e

que brotava todas as manhãs no coração de Deus. Isaías 50:4 descreve esta sua relação devocional:

“O Senhor meu Deus me deu língua de eruditos para que eu saiba dizer uma palavra”.

Era o reflexo diário da sabedoria divina, em seus momentos na presença do Pai que fazia com

que durante o dia inteiro ele pudesse responder a todas as controvérsias, além de consolar todos os

corações cansados. Ele dava, mas o refluxo era abundante e generoso.

BENÇÃOS DO FLUXO E DO REFLUXO NO NOSSO HOMEM INTERIOR.

A esta altura passaremos a meditar sobre as bênçãos desse agir, desse movimento do Espírito no

nosso homem interior. Outra vez Jesus será nosso melhor modelo.

1 - A descoberta do lugar certo onde estar. Em Mateus 4:1-17 está registrado que Jesus, uma vez

batizado, foi levado pelo Espírito ao deserto, onde fez uma quarentena de jejuns. Lucas diz que ele

voltou de lá “no poder do Espírito” (Lc. 4:14). E Mateus, dando ao acontecimento, narra que ele se

retirou para a Galiléia, a fim de que se cumprissem as Escrituras acerca dele, as quais diziam: “Terra

de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios! O povo que

jazia em trevas viu a grande luz, e aos que viviam na região da sombra, da morte resplandeceu-lhes a

luz!” (Mt. 4:13-16). E foi em razão disso que ele foi morar lá!

É interessante observar que só depois desse refluxo é que Jesus abandonou Nazaré e achou o

lugar certo, enquadrou-se na profecia, identificou o que as Escrituras diziam para a sua vida.

Descobriu qual era a vontade de Deus com relação ao lugar em que devia estar, a cidade onde iria

morar, o círculo de relacionamentos, a partir de onde e em que o Pai haveria de usá-lo com poder.

Saiba que, sem o fluxo e o refluxo do Espírito Santo, ser-lhe-á muito difícil descobrir qual a

cidade de Deus para a sua vida. Pois a verdade é que há uma cidade, um lar para cada um. Nossas

relações são agora as cidades, e Deus nos quer colocar em lugares estratégicos, do ponto de vista da

sua própria vontade, para que a partir daí irradiemos a graça salvadora do Senhor Jesus para os que

jazem na sobra da morte.

2 - Descoberta do cerne da própria missão. Observamos que todas as vezes que Jesus se retira para

algum lugar; sempre que se entrega a uma quarentena, um retiro, no qual fica entregue

completamente à devoção, ao voltar ─ depois de haver recebido o refluxo de Deus ─ vem com uma

nova descoberta, uma nova relação. Após a quarentena no deserto ele descobriu um lugar onde

deveria iniciar seu ministério, onde devia morar. Mateus 16:16 nos diz que depois de um novo

refluxo do Espírito, ele descobre sua missão com absoluta clareza, sem nenhuma dúvida. Mateus 16

nos diz que ele estava em Cafarnaum, no meio do bulício do povo, quando resolveu retirar-se, ir lá

para o pé do Monte Hermom, para Cesaréia de Filipe, mais de 35 km de Cafarnaum, a pé. O

caminho até lá era quase desértico, apenas ocupado por pequenas vilas na planície. Cesaréia de

Filipos era área de estratégia militar dos romanos, diz a Bíblia que no caminho, muito longe das

multidões, uma hora de retiro, ele pergunta: “O que dizem sobre mim as multidões? Ao que

respondem: “Uns dizem que és João Batista; outros, Elias, e outros, Jeremias, ou algum dos

profetas”. Mas vós, continuou ele, “quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: “Tu

és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Então Jesus lhe afirmou: “Bem aventurado és, Simão Barjonas,

porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai que está nos céus”.

E Jesus argumenta: “O Filho do homem via ser morto, vai dar a sua vida, vai ser massacrado,

mas vai ressuscitar ao terceiro dia”. Pedro começou a arguí-lo. E Jesus o repreendeu e

acrescentando: “Quem quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. Em

outras palavras: “Se você quiser ser meu discípulo, tem que andar pela mesma via, caminhar no

mesmo caminho, cumprir idêntica missão. E a missão que vim cumprir é esta: morrer. Se você quer

ser meu discípulo, o caminho é este: morte”. Então acrescentou: “Alguns aqui não vão passar pela

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morte sem que vejam o reino de Deus vir com poder”. E levou-os a um alto monte. Naquele retiro, o

da transfiguração, seu rosto se transfigura e a glória de Deus se manifesta em sua face. E quando ele

desce sob o poderoso fluxo do Espírito, a primeira coisa que diz ao pé do monte é esta: “A ninguém

conteis a visão, até que o Filho do homem ressuscite dentre os mortos” (MT. 17:9).

Quanto mais só, mais firmemente a sua missão se clarificava: morte, sacrifício, salvação.

Se você deseja descobrir qual a sua missão neste mundo, o que está fazendo aqui, em que área

Deus quer usá-lo, quais as suas diretrizes para a sua vida, vá para as regiões silenciosas do Espírito;

vá para um lugar solitário; feche a porta do seu quarto. Mergulhe, abisme-se na presença do Senhor.

Deixe que o refluxo de Deus, a renovação do Espírito, atinja o seu coração. Você então vai saber

exatamente qual é a via da sua vida, o seu caminho, a sua missão, a sua vocação.

3 - Descoberta da inesgotabilidade de suas fontes interiores (Jo. 4:6-14). Jesus dera demasiado de

si naqueles dias. O fluxo de Deus tinha escapado dele com abundância. Agora era hora do refluxo. E

ele chegou a ficar suado, cansado, sandália apertada, sede e fome ─ uma vontade enorme de se

retirar, ficar só. Então ele vai para Samaria. Os discípulos vão à cidade comprar alimento, ele como

que diz: “Que bom!” Senta à beira do poço de Jacó. Posso vê-lo olhando para dentro do escuro poço,

o sol fazendo reluzir a água lá no fundo. E ele, inclinado sobre ele, dizendo: “Pai,...” E o eco

reverberando desde o fundo: “ Pai... Pai... Pai... Estou com tanta sede! Estou tão cansado!” E o Pai

lhe diz: “Tu és a água viva... Tu és a água viva...” E vem aproximando-se aquela mulher, e Jesus se

diz: “É isso...” E o refluxo do Espírito enche com exuberância a sua vida naquele momento de

silêncio, de retiro ao meio-dia, ensolarado e luminoso. Ele então compartilha com ela a essência da

sua própria mensagem.

Só descobrimos que de fato a mensagem do evangelho do Senhor Jesus é vida, e só ganhamos

vida para compartilhar essa mensagem de vida quando somos capazes de nos deixar envolver pelo

refluxo do Espírito num lugar solitário; quando confessamos nosso cansaço: “Estou cansado, Pai”. E

o Pai diz: “A minha mensagem é vida, filho! Vive por meio de mim”.

4 - Descoberta da nossa própria identidade em plenitude. É uma descoberta das mais

psicológicas, das mais importantes. Vamos observar que todas as vezes que Jesus se retirou e ficou

só, recebendo o refluxo de Deus, ou se afastou das multidões, ou participou de um retiro muito

íntimo com os discípulos, ele sempre voltou à vida pública com uma fortíssima manifestação da

própria identidade. Isso é psicológico demais. Freud não soube disso, pois foi para o caixão

ignorando este fato. Só descobrimos nossa identidade na presença de Deus! Longe dele ficamos

disformes, despersonalizados. Não somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as

quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas (Ef. 2:10)? Para sermos feitura sua,

descobrirmos a identidade, a personalidade; para que nosso egoísmo fique sob razoável controle e

nosso ego seja santificado, a pessoa depurada, e a identidade erigida com saúde e santidade, é

preciso haver duas relações na nossa existência: uma com Deus, outra com a vida, o cotidiano.

Ninguém desenvolve a identidade quando vive como uma ilha, afastado do mundo e das pessoas.

Por outro lado, ninguém desenvolve identidade longe de Deus. Nossa identidade se desenvolve na

presença dele, e se manifesta diante dos homens. Este é o princípio que Jesus nos ensina.

Em João 6:1-14 Jesus realizou a multiplicação dos pães. Ele fez algo. Ele viveu uma realidade.

Ele se deixou efervescer pelo milagre da multiplicação. Ele se deu, se gastou. O milagre não

aconteceu fora de Jesus. Ele foi a fonte de tudo. Por isso é que disse depois: “Eu sou o pão da vida”.

Pois o pão que cresceu, que superabundou, foi um dispêndio do fluxo do Espírito na vida de Jesus: a

fonte da multiplicação estava no seu universo interior.

Observe três coisas:

Entre os v. 1 e 14 de João 6, Jesus multiplica os pães. No v. 15 ele sai do meio da multidão, vai

para o alto do monte e reflete. Ele ora. Ele fica com o Pai. Todavia, do v. 18 até o 63 ─

especialmente o 24 ─ ele vem com uma nova afirmação de sua identidade. Aliás, é sua primeira

afirmação de identidade nas Escrituras, feita por ele mesmo: “Eu sou o pão da vida!”

Ele vive algo, vai para a presença do Pai, aquele sentimento de vida o impregna e ele sai de lá

com sua identidade estruturada, construída, modelada, profundamente mais definida.

A Palavra de Deus está querendo nos ensinar que nossa identidade se desenvolve nessa relação

com a reflexão, a oração, a devoção, mas também com o cotidiano, a vida.

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Na segunda manifestação houve também anteriormente um retiro. João 8:1 diz que Jesus se

afastou, foi para o Monte das Oliveiras, perto do jardim do Getsêmani. Passou a noite ali, sozinho,

na presença do Pai. De manhã madrugou, entrou no templo, levaram-lhe uma mulher pecadora e ele

trouxe luz àquela questão perdoando a ela; e após perdoar-lhe, disse: “Eu sou a luz do mundo,

quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo. 8:12).

Sozinho na presença de Deus, essa identidade se constrói, se desenvolve nele, e a vida o ajuda a

manifestá-la.

Vejamos um outro exemplo disso. Jesus cura um homem e aproveita o vento para dizer algo

lindo, que lemos em João 9:39: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem

vejam, e os que vêem se tornem cegos”. Observe outra vez a relação da solidão, da devoção, da reflexão, do estar só diante de Deus com

a construção dessa identidade e o dar de si à vida, propiciando a expressão desse indivíduo

santificado, estruturado, esse caráter forjado na presença de Deus. Em João 11:25 e 26, Jesus diz: “

Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra viverá; e todo o que vive e

crê em mim não morrerá eternamente”. Observe o contexto. No v. 6 Jesus fez um retiro. Os

judeus tinham querido apedrejá-lo e matá-lo (Jo. 11:8). Ele então saiu daquela confusão e foi para

um lugar à parte, com os discípulos, quando chegou a notícia de que Lázaro estava morto, ou

morrendo. E ele ainda permaneceu lá com os discípulos. Só então foi ressuscitá-lo. Mas primeiro ele

ficou longo do bulício e da agitação. Após o que foi levantar o morto. Assim, mais uma vez a

identidade de Jesus (ressurreição e vida) se constrói na solidão da reflexão e outra vez se expressa no

cotidiano, no dar de si às pessoas à sua volta.

Vale ainda ver o texto de João 14:6 Jesus diz: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;

ninguém vem ao Pai senão por mim”. Em que contexto diz Jesus isso? Num dos momentos mais

reflexivos, mais devocionais de sua vida, que começou no capítulo 13 de João ─ a Ceia do Senhor.

Aquela intimidade, aquela comunhão da adoração mais profunda e resolução mais nobre da história

humana: ele ia dar-se a si próprio como oferta pelos nossos pecados. É naquela reflexão da Ceia que

ele faz esta afirmação de identidade: “Eu sou o caminho”. Contudo ele manteve uma relação não só

com a reflexão, mas com a vida também; porque ele foi interpelado por Tomé: “Como saber o

caminho?” E ele respondeu: “Eu sou o caminho”.

O fluxo e o refluxo do Espírito de Deus na nossa vida querem produzir algumas coisas

inteiramente novas e inéditas. As aplicações dessas observações são tríplices.

1 - Nossa vida só estará no lugar certo, com a missão certa, pregando a mensagem certa,

desempenhando a verdadeira identidade, se houver o fluxo e o refluxo do Espírito no nosso coração.

Caso contrário seremos pessoas amorfas, não saberemos nem quem somos nem o que Deus quer de

nós; nem onde devemos estar, nem o que precisamos dizer. Se porventura você quer ser usado por

Deus, quer ter uma identidade cheia do Espírito Santo, deixe o refluxo do Espírito acontecer na sua

vida.

2 - O que somos depende do nosso tempo diante de Deus. Somos o que vivemos perante o

Senhor. Só na presença dele nossa identidade sadia se desenvolve. Esta é a relação entre a reflexão e

a identidade.

3 - O que somos só se manifesta quando nos aplicamos à vida. O que somos só se revela no

vaivém da existência. E essa é a relação que a nossa identidade tem com a vida. A única maneira de

manter relação com a vida é vivendo. É essa relação que nos renova a existência e a identidade. E

renovação é algo vital para nós ─ para que não sejamos crianças azuis ─ se nos dermos, alguma

coisa que tem que acontecer na nossa vida. Renovação só acontece com quem dá de si. Renovação é

tão vital quanto a sua não realidade é mortal.

Por isso quero desafiá-lo a se deixar envolver por esse fluxo e refluxo do Espírito de Deus. Dê de

si, para que você não venha a ser como o Mar Morto; para que não seja uma criança azul espiritual,

que não se renova e morre. Para que seja como um poço com água nova, e não parada, infectada,

onde micróbios, germes e miasmas proliferam em abundância. Dê de si, e você irá descobrir a

realidade do que Jesus disse: “Aquele que crê em mim, do seu interior fluirão rios de água viva”. Dê

de si, e dar-se-lhe-á: “uma medida, sacudida, recalcada, generosamente lhe darão”. Porque com a

medida com que você tiver medido quando der, com ela será medido em multiplicação aquilo que

lhe será devolvido.

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Na verdade o Senhor tem produzido coisas lindas e tremendas em nosso meio ─ no nosso

interior. Mas agora chegou o momento de dar à luz; entretanto, não nos têm sido dadas forças para

isso.

Quando não se dá luz no devido tempo, tem-se que dar à luz de qualquer maneira, caso contrário

entra-se em sofrimento.

Chegou a hora de nos reproduzirmos. Estamos emprenhados pela graça de Deus há muito tempo,

pois há muito vem o Senhor gerando coisas em nós. Chegou o momento do parto. É hora de gerar

algo maravilhoso, para a glória de Deus. O que o Senhor quer fazer é muito grande: trazê-lo à luz vai

exigir enorme esforço, muita dor. E o inimigo não está satisfeito com essa idéia. Vai tentar matá-lo

no nascedouro. Contudo vamos repreendê-lo e resistir, a ele, no nome do Senhor Jesus.

Chegou o tempo do refluxo e do fluxo. Há muito estamos recebendo contínua e abundantemente.

A ordem de Deus agora é abrir um canal no Mar Morto da nossa vida para que as águas saiam; é

tirar água do poço para que as águas se renovem; é fechar a válvula da dependência de outros para

que o sangue se purifique, tenha vida em si mesmo.

Chegou a hora de dar-nos às multidões; de sermos úteis aqui, ali, acolá. Chegou a hora de

aprendermos mais, de sabermos mais ─ para termos mais o que dar. Chegou a hora do fluxo

abundante. Em nome de Jesus!

Deus vai colocá-lo no lugar certo ─ na sua terra de Zebulom e na terra de Naftali, caminho do

mar, Galiléia dos gentios, em São Paulo, Brasília, Belém, sabe-se lá onde... Para a glória de Deus,

você irá descobrir o seu lugar, sua missão, a vida da mensagem do evangelho; vai descobrir sua

identidade: que você é pão, é luz e ressurreição em Cristo. Você vai descobrir quem você é ─ e para

o que está neste mundo. Você é feitura de Deus, para produzir boas obras ─ preparadas para você

desde antes da fundação do mundo.

E você vai descobrir que isso só se desenvolve em você na presença de Deus, mas só se

manifesta na presença dos homens. Por isso precisa haver fluxo e refluxo!

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Caio Fábio D‟Araújo Filho