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A RAZÃO POR QUE SE FEZ ESTE LIVRO

O jornalista A N T Ó N I O FEIO, sonhou um dia, arquivar em livro, a vida dos Pioneiros portugueses, espalhados pelos cinco continentes, e mui to principalmente, nos territórios de Áfr ica. Nada havia arquivado até agora, que nos falasse deles. Arquivados, somente os feitos mil i tares, mas quanto aos Pioneiros, os principais obreiros das grandes realidades actuais, no campo da colonização, tudo se ia perdendo com o rodar dos anos . . .

ANTÓNIO FEIO entendia, e mui to justamente, que se historiasse a vida desses Pionei­ros, em todos os seus sectores, que pudesse vir a servir de estímulo para os vindouros, e tam­bém, para não deixar cair no olvido o nome e a obra desses bravos portugueses!

Assim pensando, decidiu que cada Província tivesse o seu volume, e a obra chamar-se-ia «0 LIVRO DE OURO DO M U N D O PORTUGUÊS», seguido do nome da Província a que se referisse o volume.

Este sonho que A N T Ó N I O FEIO tanto desejava concretizar, exigia alguém, que tivesse interesse em realizá-lo, fosse jornalista e conhecesse um pouco de Áf r ica , e se dedicasse, por largo tempo, ao trabalho de pesquisa, indispensável em tal caso, levando anos a sua confecção.

Um dia, fui à Redacção do seu j o r n a l — o semanário « A C T U A L I D A D E S » — p o r motivo de colaboração futura. Nesse dia tivemos uma larga troca de impressões sobre trabalho, e eu pedi a A N T Ó N I O FEIO, que me mandasse em serviço para qualquer ponto longe de Lisboa. É então que surge a sua proposta para ser eu a fazer «O LIVRO DE OURO DO MUNDO PORTUGUÊS», por etapas. Acei te i , pondo apenas uma condição : iniciar esses livros começando por Moçambique, pois desejava imenso voltar à Província onde já estivera a trabalhar, onde deixara amigos, e t inha saudades de tudo voltar a ver : lugares e pessoas! A minha condição foi aceite, e pronto passei aos indispensáveis preparativos, part indo para Moçambique logo que fosse possível. Em Maio de 1964 chegava a Lourenço Marques com o f im de iniciar os trabalhos.

Percorri toda a Província, de Lourenço Marques a Porto Amél ia , pesquisando, contactando, observando, no que gastei quase dois anos!

Em meados de Fevereiro de 1965, encontrava-me na Redacção do « N O T Í C I A S » — q u e era o meu quartel-general de trabalho — quando sou surpreendida por uma terrível notícia, trazida pelo Manuel Pombal, que me d iz : — «Lena, tenho uma notícia mui to triste para lhe dar! Morreu, às portas de Paris, num grave acidente de viação, o jornalista Antón io Feio!» Tal notícia deu-me um grande choque, e pensei com mágoa, que os seus olhos já não veriam as terras de Áf r ica , que ele tanto desejava conhecer, nem veria editar a obra que ele havia so­nhado! No meu coração, porém, estava escrita a promessa de cumprir, custasse o que custasse!

Meses depois, regressei a Lisboa, onde me surgiram mil um problemas, que a sua morte inesperada, me acarretou! Mas eu estava empenhada em cumprir ! Cumprir perante a sua me­mória e a gente de Moçambique, que sempre me tratara com tanto carinho e amizade, e o meu desejo, de com esta modesta obra, poder contr ibuir para um mais profundo conhecimento da vida dos que, espalhados por esta vasta Província, têm lutado e labutado para a tornar fért i l e civi l izada!

Este trabalho não está tão completo como desejaria, mas razões alheias à minha vontade assim o determinaram, pois nem todas as pessoas com quem contactei acederam a dar a sua colaboração, outros ainda, por qualquer impossibilidade no momento próprio. Espero que me relevem essas falhas, pois tudo f iz para que resultasse num trabalho honesto e sério.

Não interessa agora evocar os muitos prejuízos que tal encargo me acarretou, nem as arrelias sofridas para levar a cabo esta obra. Apenas interessa que a tenha fei to.

Neste momento, em que escrevo estas palavras, sinto uma grande satisfação por ver a minha promessa, f inalmente, cumprida! A minha palavra dada a A N T Ó N I O FEIO e ao povo de Moçambique, cumpriu-se!

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UM AGRADECIMENTO

Aqui desejo formular e deixar expresso o reconhecimento e agradecimento, extensivo a todos quantos me ajudaram, por qualquer forma, a levar a bom termo este trabalho.

Às entidades oficiais — de que menciono as p r i nc ipa i s— : o Comandante Peixoto Cor­reia, então Min is t ro do Ul t ramar; à Força Aérea Portuguesa; à DETA, que generosamente me transportou através desta imensa Província, numa colaboração al tamente val iosa; aos meus camaradas jornalistas, que me deram elementos e muita assistência; ao jornal «NOTÍCIAS» e a todos quantos lá trabalhavam nesse tempo pela excelente a juda; aos repórteres fotográ­ficos Carlos Alber to , Ludgero Bispo, Armindo Afonso, Silva, que deram a sua colaboração gra­t u i t a ; aos meus camaradas de «O JORNAL PORTUGUÊS», de Toronto (Canadá), onde uma parte deste livro foi fe i ta ; e a todos quantos em Moçambique me deram a sua prestimosa colaboração. Para todos vai o meu agradecimento e a minha grat idão! Sem ela eu nada poderia ter fei to. Bem ha jam!

A todos quantos tenham contribuído para o engrandecimento desta parcela da terra portuguesa — MOÇAMBIQUE — a minha homenagem sincera, a quem dedico este poema.

MARIA HELENA BRAMÃO

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" Á F R I C A "

Áfr ica . . . Terra descoberta nos confins dos mares por Homens que não t inham medo! Áf r ica : : : com Docas apinhadas de navios que despejam gente cheia de esperanças . . . e de sonhos! Á f r ica : : : com urbes que se erguem altaneiras e vigorosas, criadas pela força e tenacidade do homem branco! Áf r ica . . . obra do homem civi l izado, arrojado . . . que deu ao Mundo novos Mundos, cult ivando o tr igo onde só havia capim . . . Á f r ica : : : lugar da terra onde o Sol bri lha com mais fulgor, com noites de luar branco . . . e poentes de fogo . . . incendiando as almas! Áf r ica . . . terra de permanente chamada ao Sonho e à Aventura . . . numa mistura de etéreo e de real, de anseios e de lutas! Áf r ica . . . com seu «segredo-feit iço», que se entranha . . . nos corações e cria raízes . . . Áf r ica . . . de beleza ímpar, promissora de fecundidades e grandezas, — pedra rara que os portugueses buri laram com sua alma e sangue! Homem branco, meu irmão, que por um sonho todo Ideal ergueste e construíste um Pedestal, — qual símbolo heróico — e nele ficarás perpetuado! A terra virgem, agreste e bela, fecundaste com o teu labor, e tudo lhe ofertaste : o Sonho . . . a Vida . . . o Amor !

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GOVERNADOR-GERAL DE MOÇAMBIQUE

ALGUMAS NOTAS BIOGRÁFICAS

DR. BALTAZAR REBELLO DE SOUZA

O Dr. Baltazar Rebello de Souza é licenciado em Medicina e Cirurgia pela Universidade de Lisboa, possuindo os cursos superiores de Medicina Sanitária e Medicina Tropical.

Figura das mais representativas da sua geração, foi dos primeiros fi l iados da Mocidade Portuguesa, organização em que ingressou logo após ter sido criada, em 1936, e onde exerceu grande actividade, tendo ascendido, sucessivamente, a todos os postos da hierarquia de gra­duado e dir igente.

Ao cumprir o serviço mi l i tar , nas fi leiras do Exército, no Batalhão de Caçadores 5, foi louvado, por ter "revelado qualidades que consti tuem a estrutura das virtudes mil i tares e o clas­sificam como um oficial com que se pode contar e como homem que, pelo seu aprumo, pode ser apontado como exemplo".

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Quando estudante, tomou também parte na actividade de vários organismos da juven­tude católica, e foi secretário-geral da Associação dos Escuteiros de Portugal e comandante do Centro Universitário de Lisboa da MOCIDADE^ PORTUGUESA.

Em 22 de Julho de 1955, assumiu o alto cargo de subsecretário de Estado da Educação, no qual permaneceu cerca de seis anos, e em que revelou excepcionais qualidades de orienta­dor e políticas, mais tarde novamente afirmadas no desempenho de outras importantes fun­ções, nomeadamente como vice-presidente, em exercício, do Conselho Ul t ramarino, lugar que actualmente ocupava.

Deputado à Assembleia Nacional em várias legislaturas, o Dr. Baltazar Rebello de Souza foi também secretário do sr. prof. Marcel lo Caetano, quando este ilustre homem público serviu no Governo como Min is t ro do Ultramar.

Especialmente identif icado com os problemas das pronvíncias ul tramarinas, que por diver­sas vezes visitou, o Dr. Rebello de Souza é autor de numerosos trabalhos, na sua maior parte consagrados a questões de educação e cultura popular.

Instituidor com o Dr. João Havelange (da Confederação Brasileira de Desportos) dos Jogos Desportivos Luso-Brasileiros, chefiou as delegações portuguesas aos 2.0S Jogos e ao II Congresso Luso-Brasileiro de Educação Física, no Brasil, em 1964, tendo visitado o Brasil pouco antes de ser nomeado para o cargo de Governador-Geral de Moçambique, onde proferiu uma importante conferência na sessão realizada no salão nobre do Ginásio Clube Português, do Rio de Janeiro, enquadrada nas comemorações do Dia de Portugal.

Publicou vários trabalhos, entre os quais, "A QUESTÃO F U N D A M E N T A L " , "A RELIGIÃO E A V I D A " , "FÓRMULAS E CRITÉRIOS DA CULTURA POPULAR", " C H A M A DA MOCI­DADE" e o " A M O R PLENITUDE DA LEI " .

Entre outras condecorações, o Dr. Baltazar Rebello de Souza possui a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique, e os grandes oficialatos das Ordens de Cristo, da Instrução Pública, do Cruzeiro do Sul e de Cisneros.

O Doutor Baltazar Rebello de Souza chegou a Moçambique em 23 de Julho de 1968, para iniciar o seu mandato de Governador-Geral, lugar que ocupou até Janeiro de 1970, a l tura em que foi nomeado Min is t ro das Corporações e Previdência Social e da Saúde e Assistência.

O seu governo caracterizou-se por uma notável acção de realizações, em todos os sectores da vida moçambicana, sobre os quais se debruçou com devotado carinho e interesse, não esque­cendo a Arte nas suas diversas formas, fomentando certames artísticos, espectáculos cul tu­rais, promovendo reuniões para intercâmbio social entre art istas, a que o Governador se associava, presidindo com sua Esposa, que no capítulo da promoção social e benemerência igual­mente desenvolveu notável act iv idade!

Também o patr imónio histórico-artístico da Província não foi esquecido pelo Doutor Re­bello de Souza, promovendo restauros e beneficiações.

Era um Governador que se dava por inteiro à tarefa de governar e fazer progredir! Sua Esposa, a Senhora Dona Mar ia das Neves, seguia, em cópia f ie l , a acção de seu marido. Por isso, Moçambique sentiu, simultaneamente, alegria e tr isteza, quando recebeu a notícia de que. o seu Governador fora nomeado Min is t ro do Governo Central. É que o Doutor Baltazar Re­bello de Souza ganhara o coração e estima da gente que governava, sem distinção de classes.

Foi apoteótica a sua part ida, em que o povo de Lourenço Marques e Beira lhe proporcio­naram uma despedida inesquecível, tão grande e calorosa f o i !

Tais provas de consideração e apreço, de que foi alvo, juntamente com sua Esposa, devem tê-los sensibilizado profundamente! Moçambique também o recordará como tendo sido, até ao presente, um dos seus mais notáveis governantes!

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PRESIDENTE DA CAMARÁ MUNICIPAL

DE LOURENÇO MARQUES

ENG.° EMÍLIO EUGÉNIO DE OLIVEIRA MERTENS

O actual Presidente da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, é uma individualidade que tem mui to da sua actividade profissional indelevelmente ligada à Província de Moçambique — nomeadamente à obra do Limpopo — região a que se devotou com todo o seu entusiasmo e saber, ajudando-a a desbravar!

A lguém disse, referindo-se ao Eng.° Emílio Mertens, que «ele era um dos homens obreiros do Limpopo». Efectivamente assim é, pois contr ibuiu, poderosamente, não só com os seus conhe­cimentos profissionais, mas também ,com devotado interesse e carinho por essa obra de povoa­mento, e que é hoje, a imagem do que o homem pode fazer, quando a vontade é f i rme : a obra do Vale do Limpopo! A ela f icará ligado o seu nome, juntamente com outros prestigiosos.

E agora que estas palavras surgiram em primeiro plano na sua biograf ia, à laia de « int ró i to», vamos iniciar uma retrospectiva.

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O Eng." Emílio Eugénio de Oliveira Mertens, nasceu nos arredores de Lisboa, em Algés. Iniciou os seus estudos universitários na Universidade de Coimbra, vindo a concluí-los na Universidade de Lisboa, formando-se simultaneamente, em Engenheiro Geógrafo e em Ciências Matemáticas.

A sua vida pública começou na Metrópole, prestando serviço na Junta Autónoma das Obras de Hidráulica Agrícola, em 1943, ocupando, sucessivamente, vários cargos, entre eles, o de Secretário do Subsecretário de Estado do Ul t ramar, de que recebeu louvor, por «ter exer­cido o cargo com mui ta dedicação, zelo e competência».

Em Março de 1953, o Eng.0 Emílio Mertens, é contratado para prestar serviço como Adjunto do Chefe da Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Limpopo, vindo em seguida, para Moçambique. Em 17 de Dezembro de 1953, passou a exercer, na mesma Brigada, as funções de Engenheiro Chefe. Dez anos depois, em Setembro de 1963, foi nomeado Inspec­tor Provincial dos Serviços Geográficos e Cadastrais da Província de Moçambique, tendo tomado posse em Novembro de 1963. Em Outubro de 1967 foi nomeado para desempenhar, em comissão de Serviço, o cargo de Presidente da Junta Provincial de Povoamento de Moçam­bique, tendo tomado posse em 26 de Fevereiro de 1968.

A 10 de Fevereiro de 1969 é designado para exercer, em comissão de serviço, o cargo de Presidente da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, tendo tomado posse em seguida, a 20 de Fevereiro.

Até ao presente, o Eng.0 Emílio Mertens teve numerosos louvores, sempre por «muita dedicação, zelo e competência técnica», ou ainda pelo bom desempenho de missões fora do país, como por exemplo, por «na qualidade de membro da Comissão dos Rios Internacionais de Moçambique, pela forma intel igente, criteriosa e dedicada como conduziu esses trabalhos, a cargo da referida comissão».

O Eng.0 Emílio Mertens, igualmente tem desempenhado variadíssimas missões especiais, dentro e fora do país, das quais tem sido incumbido of ic ialmente, de que destacamos algumas das mais recentes. Em 1968 chefiou a Delegação Portuguesa à reunião da «SARCCUS», em Salisbúria; nomeado para a Comissão Coordenadora Portuguesa do Congresso Sul-Africano para o avanço das Ciências, realizado em Julho de 1968.

Também durante o ano de 1968 foi o Presidente da Sociedade de Estudos de Moçambique.

Ao dinamismo, visão exacta do tempo presente, e intel igente critério seguido pelo Pre­sidente da Câmara, por certo que, mui to virá a beneficiar a cidade, nele se podendo depositar grandes esperanças. Algumas inovações já surg i ram, entre elas no capítulo c u l t u r a l — a apre­sentação, gratu i ta , de espectáculos no recinto da Câmara — criação de novas secções, tendentes a assegurar uma maior eficiência nos seus serviços.

Dado o crescimento constante de Lourenço Marques, que assim, se associa ao surto de desenvolvimento que se processa por toda a Província, impunha-se ter à frente do município alguém capaz de corresponder a esse progresso de se devotar a ele, debruçando-se sobre os seus variados, e por vezes, tão complexos problemas!

Por tudo quanto já foi d i to em referência à personalidade do Eng.0 Emílio Mertens, tudo leva a supor que melhor escolha não poderia ter sido fe i ta.

Quem ajudou — com «pioneiro» espírito de sacrifício a desbravar terras moçambicanas — não deixará, também, de se dedicar, com igual interesse e carinho a esta nova missão de dirigir e governar o Município lourenço-marquino.

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VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL

DE LOURENÇO MARQUES

JOÃO FERNANDES DELGADO

Pela primeira vez, e dado o grande desenvolvimento da capital da Província, acaba de ser criado o lugar de Vice-Presidente.

Precisamente porque é o primeiro a exercer tal cargo quisemos arquivar neste livro, a f igura de relevo do Eng.° João Fernandes Delgado, o primeiro Vice-Presidente agora nomeado, traçando em resumo a sua biografia.

O Eng.° João Fernandes Delgado nasceu na Metrópole, em Vi la Real de Santo Antón io , tendo-se licenciado em Ciências Matemát icas, em 1937, e terminando o curso de Engenheiro Geógrafo, em 1938, na Universidade de Lisboa, com as classificações de «Bom».

Além destes, possui o curso de Fotogronometria, t i rado na Escola Politécnica Federal de Zur ique, na Suíça. É instrutor de Topograf ia M i l i t a r Apl icada do Serviço Geográfico do Exército, desde 1942, tendo colaborado nas I e II Jornadas de Engenharia do Ul t ramar, reali­zadas em Lourenço Marques e Luanda, respectivamente, em 1965 e 1969.

Iniciou, muito jovem, a sua carreira públ ica, em missões de serviço pelo Ul t ramar, tendo estado em Moçambique, Angola e Guiné, sempre desempenhando com competência e zelo os cargos de que era incumbido.

Em 1963, o Eng.° João Fernandes Delgado foi nomeado Inspector Provincial dos Serviços Geográficos e Cadastrais de Moçambique, lugar que tem desempenhado até à actual idade, sendo também, o Presidente da Sociedade de Estudos de Moçambique.

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LOURENÇO MARQUES

«A capital da Província, Lourenço Marques, e os seus arredores, constituem uma zona turística de invulgar interesse. É-o por virtude da sua famosa praia da Pólvora, quase na foz de três rios que desaguam na Baía do Espírito Santo — o Tembe, o Umbelúzi e o Maputo. As suas águas são de temperatura mui to agradável, sem a fr ieza do mar que al i se junta com as correntes dos rios mencionados; é-o pelo seu palmar à beira da Baía, onde a municipalidade mandou construir as tão conhecidas «palhotas maticas» que servem de residência de férias aos turistas; é-o pela amenidade do seu cl ima, pela beleza da própria cidade, pela maneira franca e aberta com que os portugueses recebem as suas visitas; é-o pelos divertimentos que pode oferecer ao estrangeiro, em espectáculos públicos de que o «bul l - f ight» é o maior cartaz de propaganda; é-o pela categoria dos seus cinemas, pelas especialidades gastronómicas de cada um dos seus restaurantes, pela excelência dos nossos vinhos, pelos passeios na Baía e pela pesca desportiva; é-o pelas provas de vela e pelos desafios de futebol ou pelos combates de boxe. É-o, principalmente, porque Lourenço Marques tem um padrão de vida diferente e é uma cidade l impa.

Um aspecto parcial da cidade

Cidade-jardim, assim classificaram os próprios visitantes a capital moçambicana. E, real­mente, Lourenço Marques é um jardim mult ip l icado por mil jardins, diferentes uns dos outros mas todos igualmente maravilhosos do cor, de perfume, de aspecto próprio, que põem manchas de verdura à beira dos passeios e pur i f icam o ar que se respira.

Seja sob que prisma se pretenda olhar a sempre jovem e bela Xi lunugíne, a verdade é que Lourenço Marques, entre todas as cidades portuguesas, é a mais arrojada na concepção urbanística e a mais f lor ida que o génio lusitano criou.»

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ESTUDOS GERAÍS UNIVERSITÁRIOS DE MOÇAMBIQUE

Alocução do Governador-Geral, Almirante Sarmento Rodrigues

Os Estudos Gerais Universitários de Moçambique, foram solenemente inaugurados a 8 de Novembro de 1963.

Tal criação mui to veio contr ibuir para o desenvolvimento da cultura na Província.

Os Estudos Gerais iniciaram os seus trabalhos com os seguintes Cursos: CIÊNCIAS — ME­D I C I N A E CIRURGIA — E N G E N H A R I A C IV IL — ENGENHARIA DE M I N A S — ENGENHARIA MECÂNICA — E N G E N H A R I A ELECTROTÉCNICA —ELECTRÓNICA — V E T E R I N Á R I A E AGRO­N O M I A .

A 19 de Novembro de 1963 foi solenemente inaugurado, anexo aos Estudos Gerais Uni ­versitários, o Centro de Estudos Humanísticos.

Ampl iando sempre e melhorando as condições de ensino, foram inaugurados em Abr i l de 1964, os Laboratórios de Física, Química e Ciências.

A inda em 1963, a ]0 de Novembro, portanto um mês depois da solene inauguração dos Estudos Gerais Universitários, foi inaugurada a Residência Universitária «Alferes Dr. José Car­los Godinho Ferreira de Almeida».

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O Professor Doutor José Veiga Simão, é desde o início, o Magníf ico Reitor dos Estudos Gerais Universitários de Moçambique.

Alocução do Magnífico Reitor,

Prof. Doutor José Veiga Simão

A FUTURA CIDADE UNIVERSITÁRIA

As Instalações Universitárias que se projectam erguer na Cidade de Lourenço Marques virão ocupar uma área de terreno situado na zona de Sommerschieid, del imitado de acordo com a Câmara Munic ipal e constituída pela parcela actualmente ocupada pelo Centro de Tele­comunicações dos C.T.T. e por uma área adjacente a esta.

0 conjunto das Instalações Universitárias foi concebido plenamente integrado no tecido urbano e social da cidade para estímulo de contacto constante e fecundo entre todos os seus habitantes e a população universitária.

No plano das próprias instalações está implíci to o desejo de promover e fomentar o con­vido diário intenso entre a população escolar e os docentes, técnicos, e seus famil iares.

0 carácter informal dominará tanto o conjunto como as construções, que dispersas no parque Botânico, assumirão um forte sentido funcional e racionalmente económico, na pro­cura do máximo de eficiência no tempo presente, e da maior capacidade de ajustamento ao sentido da evolução que o fu turo exige de uma Universidade.

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A maleabil idade da concepção permite esperar poder fazer-se face a todas as solicitações e exigências que o fu tu ro nos reserve e que, de momento, é imposível prever embora se adi­vinhe que nos surpreenderão.

As instalações Universitárias foram projectadas para servir uma população escolar de cerca de 5.000 a 6.000 alunos, número que se julga seja at ingido dentro de 20 a 25 anos.

Após a sua conclusão calcula-se que possam viver no área das instalações Universitá­rias, aproximadamente, 60 por cento dos estudantes e do pessoal docente, técnico, adminis­t rat ivo e menor.

Desde já , estão previstas instalações para os seguintes serviços:

FACULDADE DE CIÊNCIAS — Com os seus Institutos de Matemát ica , Física, Química, Zoologia, Botânica e Mineralogia.

FACULDADE DE M E D I C I N A — Com os seus diversos Insti tutos e Hospital Escolar.

INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA E SILVICULTURA — Com os seus diversos depar­tamentos e laboratórios.

ESCOLA SUPERIOR DE M E D I C I N A VETERINÁRIA — Com os diferentes Institutos que a integram.

INSTALAÇÕES ACADÉMICAS — Comportando locais para recreio, desporto e actividades culturais.

REITORIA E SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS

As construções que se integram na Cidade Universitária serão erguidas por fases, dan-do-se prioridade absoluta às edificações docentes.

Em vir tude de actualmente serem os Inst i tutos mais deficientemente instalados, os pr i ­meiros edifícios a construir destinam-se à Faculdade de Ciências, esperando-se que o primeiro a estar concluído seja o Inst i tu to de Física.

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SESSÃO SOLENE INAUGURAL

DO CENTRO DE ESTUDOS HUMANÍSTICOS

O Dr. Alexandre Lobato pronunciou

uma conferência subordinada ao tema:

Problemática dos Estudos Humanísticos

numa perspectiva portuguesa

0 Centro de Estudos Humanísticos, criado junto da Universidade de Lourenço Marques por deliberação do Senado, foi solenemente inaugurado, na Sala dos Actos Grandes, no dia 19 de Novembro de 1963.

No acto da inauguração proferiu uma conferência o deputado da Nação e insigne histo­riador moçambicano, Dr. Alexandre Lobato, tendo usado da palavra além do Governador-Geral, Almirante Sarmento Rodrigues, o Magní f ico Reitor, Prof. Doutor Veiga Simão, e o Director do Centro, Prof. dr. Luís Ribeiro Soares.

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SOCIEDADE DE ESTUDOS DE IVfOÇAMBIQUE

UMA INSTITUIÇÃO CULTURAL PIONEIRA

A Sociedade de Estudos de Moçambique foi insti tuída em 6 de Setembro de 1930, data em que foram superiormente aprovados os seus Estatutos, publicados pela Portaria n.° 1185, daquela data.

Resultou de um movimento inspirado pelo Engenheiro de Minas, Antón io Joaquim de Frei­tas, que veio a ser o seu Sócio Fundador n.° 1. Na Circular-Convite que dir ig iu aos intelectuais de Moçambique, a propor a fundação da Sociedade, mencionava Antón io Joaquim de Freitas, ser um dos objectivos «estabelecer um convívio intelectual necessário às pessoas que vivem pelo cérebro».

Os Estatutos aprovados def in i ram como objectivos da Sociedade de Estudos, contr ibuir para o estudo e valorização económica de Moçambique; e contr ibuir para o desenvolvimento inte­lectual, moral e físico dos seus habitantes em geral , e, em especial, dos seus associados.

A Antón io Joaquim de Freitas juntaram-se 101 Sócios Fundadores. E depois, desde 1930, muitos outros, que com esforço, dedicação e inteligência têm vindo a realizar com persistência os objectivos da Sociedade.

Foi o primeiro Presidente da Direcção da Sociedade de Estudos o Coronel Eduardo Augusto da Azambuja Mart ins. Sucederam-lhe o Eng.° Joaquim Jardim Granger (1932-34) ; o Coronel João José Soares Zi lhão (1935 e 1940-41); o Eng.° Már io José Ferreira Mendes (1936-38 e 1946-49); o Comte. José Cardoso (1939); o Eng.° Antón io Joaquim Freitas (1942-45) ; o Dr. Antón io Esquivei (1950-60) ; o Contra-Almirante João Moreira Rato (1961-62) ; e o Prof. Eng.° Manuel Gomes Guerreiro (1963). O actual Presidente é o Eng.° João Fernandes Delgado.

Foram nomeados Sócios Beneméritos, pelos relevantes serviços prestados à Sociedade de Estudos, o Contra-Almirante Manuel Mar ia Sarmento Rodrigues, a Fundação Calouste Gulben­kian e a Câmara Munic ipal de Lourenço Marques.

A Sociedade de Estudos foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem Mi l i t a r de Sant ' lago da Espada (1956), grau de Oficial da Ordem de Instrução Pública (1960), Medalha de Ouro de Serviços Distintos da cidade de Lourenço Marques (1960) e Palma de Ouro da Academia das Ciências de Lisboa (1960).

Dentro da acção desenvolvida desde 1930, a Sociedade de Estudos tem promovido a rea­lização de estudos, cursos, lições, conferências, congressos, exposições e sessões de cinema.

Desde 1931 que se publica o «Boletim da Sociedade de Estudos de Moçambique», que é presentemente t r imestra l .

Tem editado outras publicações entre as quais se destaca «A Cartograf ia An t iga da Áf r ica Central e a Travessia entre Angola e Moçambique, «1500-1860» da autor ia do ilustre historió­grafo Comte. Avel ino Teixeira da Mo ta , que a dedicou ao Contra-Almirante Sarmento Rodrigues e a ofereceu à Província de Moçambique. A edição foi custeada por subsídio especial concedido pelo Governo-Geral de Moçambique, tendo-se fei to a versão inglesa.

As publicações da Sociedade de Estudos são permutadas com as de numerosas instituições nacionais e estrangeiras em todo o Mundo. Foi assim organizada progressivamente uma Biblio­teca de carácter enciclopédico, que conta cerca de 25 000 volumes; e uma biblioteca juveni l , com perto de 1500 volumes, convenientemente escolhidos.

O actual Presidente, é o Eng.° João Fernandes Delgado.

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Vista geral do edifício da Sociedade de Estudos

A Socideade de Estudos tem-se fei to representar em diversos congressos e reuniões de carácter cul tura l , no país e no estrangeiro. Desde 1934 que part icipa nos congressos anuais da Associação Sul-Afr icana para o Progresso da Ciência, tendo colaborado na Organização dos Congressos de 1948 e de 1958, que se realizaram em Lourenço Marques.

Já nos Estatutos aprovados em 1930 se previa a necessidade de se conseguir «uma sede suficientemente ampla, cujos meios de trabalho e conforto irá sucessivamente aumentando, por forma a tornar a sua frequência cada vez mais agradável».

Depois de grandes esforços, foi f inalmente decidia a construção do novo Edifício-Sede em 1962, sendo Presidente da Direcção o Contra-Almirante João Moreira Rato, que desenvolveu valiosa acção para tornar viável a realização. Os encargos foram suportados por subsídio, con­cedidos pelo Governador-Geral de Moçambique, Contra-Almirante Sarmento Rodrigues, pela Fundação Calouste Gulbenkian, por reservas criadas, por quotização suplementar por parte dos sócios, e por um empréstimo a amort izar anualmente.

O edifício, segundo projecto do arquitecto Marcos Guedes e o Eng.° Carlos Pó, foi exe­cutado em 1963, sob a orientação da Direcção presidida pelo Prof. Eng.° Manuel Gomes Guer­reiro, tendo sido inaugurado of ic ialmente em 21 de Abr i l de 1964, pelo Governador-Geral de Moçambique, Contra-Almirante Sarmento Rodrigues. Registam-se também as numerosas e várias ofertas recebidas de diversas entidades para o apetrechamento do novo Edifício-Sede.

Na sua estrutura actua l , a Sociedade de Estudos compreende as seguintes secções: Artes e Humanidades; Ciências Exactas; Ciências Naturais; Ciências Sociais; Agro-Pecuária; Econo­mia e Finanças; Engenharia e Arqu i tec tura ; Legislação e Jurisprudência; Medic ina, Veter inária e Farmácia; Estudos Brasileiros; Estudos Franceses; Etnologia A f r i cana ; Feminina; e de In i ­ciação Cultural.

No relatório da Direcção, relativo a 1964, f igura o seguinte resumo das sessões públicas realizadas naquele ano: 21 conferências; 39 conferências ou lições incluídas em cinco ciclos de conferências e cursos; 6 exposições diversas; 7 sessões de cinema; 18 sessões de cinema para jovens, com fi lmes educativos e recreativos.

A Sociedade de Estudos de Moçambique mui to tem contribuído para o estudo e valoriza­ção da Província de Moçambique, assim como para o seu desenvolvimento moral e intelectual.

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RODRIGUES JÚNIOR

JORNALISTA, ESCRITOR, ENSAÍSTA

O ESCRITOR MAIS REPRESENTATIVO

DE MOÇAMBIQUE

O «Patriarca do jornalismo e das letras moçambicanas» — assim o designa um crítico me t ropo l i t ano—, nasceu em Lisboa, na Freguesia do Socorro — um bairro popular do centro da capital do Império.

Rodrigues Júnior, que descende de uma famíl ia madeirense, veio para Moçambique com seus pais, t inha então 18 anos, em 1919.

Pouco depois da chegada a Moçambique, coíocou-se nos Caminhos de Ferro, e s imulta­neamente, iniciou-se nas lides jornalísticas, escrevendo para o «BRADO AFRICANO». Cola­borou na revista «SEARA N O V A » , de Lisboa; «C IV IL IZAÇÃO» , do Porto; e outras. Foi chefe de Redacção de: «O EMANCIPADOR», «O JORNAL», o «NOTÍCIAS», e redactor pr incipal, bem como proprietário, da revista de arte e crít ica «MIRAGEM». Foi, durante muitos anos, o representante, em Moçambique, do «DIÁRIO de L U A N D A » .

Como jornal ista convidado, esteve na Holanda; em Goa, Damão e D iu ; na Alemanha Ocidental , e por ú l tmo, em 1963, em Angola. Foi, também, o presidente do Centro Cultural dos novos. É membro efectivo da Sociedade de Geografia de Lisboa; sócio da Sociedade Por­tuguesa de Escritores, e vice-presidente do Grupo de Artes, Letras e Actividades Culturais e Jornalismo, da Secção de Estudos Brasileiros da Sociedade de Estudos de Moçambique.

Quase toda a sua actividade de escritor e jornal ista tem sido dedicada ao estudo dos problemas de Moçambique, para o que real izou, durante mais de 20 anos, viagens de inquérito económico-sociais, através de toda a Província. Na opinião da crít ica metropol i tana «os seus estudos sobre Moçambique são, a par de notáveis obras l i terárias, trabalhos de sociólogo, de colonial ista, de moralista e, até, de economista, e muitas das melhores páginas da nossa nove­lística e da nossa reportagem, destes últ imos t r in ta anos, por exemplo, saíram das suas infa­tigáveis mãos».

Falando da sua obra, diremos que durante a sua longa vida profissional, de mais de 40 anos de labor intenso, Rodrigues Júnior editou até ao presente, 42 obras, entre Ensaios,

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Estudos, Romances e Reportagens. Alguns desses valiosos trabalhos foram galardoados com diplomas e prémios nacionais, que passamos a mencionar:

DIPLOMA DE HONRA do Núcleo de Ar te , em 1945; DIPLOMA DE HONRA do Con­curso de Literatura Ul t ramar ina, em 1945; PRÉMIO DE LITERATURA U L T R A M A R I N A , em 1949; 1.° PRÉMIO DE JORNALISMO, em 1950; DIPLOMA DE HONRA do Concurso de Lite­ratura Ul t ramarina, em 1951 ; PRÉMIO «FERNÃO MENDES PINTO», nacional, de Li teratura Ultramarina, em 1960; PRÉMIO «AFONSO DE BRAGANÇA», nacional, de Jornalismo, em 1961. E por ú l t imo, em 1969, recebe da Academia de Ciências, de Lisboa, da Classe Letras, o PRÉMIO «RICARDO MALHEIROS» que premeia a sua ú l t ima obra, o romance «ERA O TERCEIRO DIA DE VENTO SUL».

O que é e o que vale a obra l i terária de Rodrigues Júnior, já todos o sabemos, no entanto parece-nos interessante arquivar nestas páginas, que f icam no presente e para o fu turo, como subsídio histórico, daqueles que, por qualquer forma, contr ibuíram para o engrandecimento da Província, o que a crít ica tem di to a seu respeito.

Referindo-se ao seu trabalho «ENCONTROS», Nuno Silveira, escreve:

«A mesma f ina sensibilidade, o mesmo espírito agudo de romancista, repórter, ensaísta, sociólogo, areja estas páginas com um largo sopro de lírica emoção, de espírito crít ico, de imensa capacidade de vivência dos problemas com que o homem contemporâneo se confronta. Mais um belo, indispensável livro saído do incansável labor intelectual do mais representa­tivo escritor ul t ramarino.

Nós saudamo-lo da forma que nos parece mais indicada: falando em breves linhas de Rodrigues Júnior, da sua obra, da imensa gratidão de uma geração inteira que ele soube comandar, tanto através do exemplo da sua probidade intelectual , como através do dia a dia em que chefiou redacções, estimulando, aconselhando, corrigindo, valorizando aqueles para os quais foi sempre e acima de tudo mestre e camarada.

Rodrigues Júnior conseguiu conquistar um raro equi l íbr io: o da harmonização do seu lirismo e do seu espírito polémico. O escritor está sempre bem, sempre seguro, sempre forte em qualquer dos géneros que solicitem a sua necessidade de cr iação,e de revisão de erros sociais e políticos.»

Quando em 1967, Rodrigues Júnior publicou o estudo «MÃE NEGRA», Amândio César referiu-se elogiosamente a esta obra, dizendo:

«Rodrigues Júnior — um dos raros escritores de Moçambique que conhece a gama toda da sua Província, nas diferenciações e ramificações dos problemas, verif icou que o problema da «mãe negra», era um daqueles que necessitavam de meditação e investigação maior do que lhe poderia dar numa novela, num romance ou numa crónica. Daí a importância deste estudo a que desejou, intencionalmente, t i rar a ganga da erudição demonstrada, para nos apresentar um texto com erudição, assinalada e vazada numa experiência que era a dele próprio.»

E mais adiante a f i rma :

«Escrito com aquela clareza meridiano que Descartes aconselhava para as ideias claras, o estudo de Rodrigues Júnior lê-se e relê-se com o mesmo interese de uma primeira leitura e com a emoção de se estar diante de um texto, sabiamente preparado para a leitura provei­tosa. Isso, bem o sei, é of icinagem. Mas a of icinagem também é uma característica do vir tuo­sismo de um escritor. E só me consta que os grandes escritores sejam capazes desse mi lagre: darem como aparentemente simples de elaborar aquilo que foi d i f íc i l , mui to di f íc i l de cerzir. Que o diga o nosso Eça . . . »

Reis Ventura, do jorna! luandense, «Província de Angola», escreve a propósito e referindo-se a «MÃE NEGRA»:

«0 maior escritor vivo de Moçambique, no seu estilo directo e comunicativo, tão ade­quado à alta dignidade do assunto, fala da mãe afr icana com a justiça de um homem bom, com a competência de um intelectual mui to culto e com a emoção bem característica do seu enternecido coração de português.

Graças a este conjunto de virtudes, produziu um trabalho que f ica a enriquecer a l i te­ratura portuguesa com um depoimento mui to lúcido, grandemente oportuno e todo refulgente daquela beleza a que Platão chamou o esplendor da verdade.»

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Terminamos com algumas palavras insertas na revista «ANHEMBI» , de São Paulo, Bra­si l , que d i z :

«Entendemos, para lá das catalogações momentâneas, que Castro Soromenho é o escritor de Angola. Com a mesma exactidão que vemos em Rodrigues Júnior o escritor de Moçambique, af i rmado pela «moçambicanidade» da sua vasta obra.»

Ela projectou-se para além das fronteiras de Portugal. Assim o comprovam o Ensaio «MOZAMBIQUE, PUEBLO NUEVO» da autor ia de Francisco Elias Tejada, catedrático da Universidade de Sevilha; o Estudo «PORTUGUESE AFRICA», de James Duf fy , catedrático da Harvard University, de Cambridge, Massachussets, o Estudo crítico e histórico «AFRI-C A N LITERATURE IN THE PORTUGUESE LANGUAGE», do Prof. Geraid M. Moser, da Pennsylvania University, que ci tam largamente, com relevo, Rodrigues Júnior.

O laureado escritor é of icial da Ordem do Infante Dom Henrique e Cavaleiro da Soberana Ordem dos Cavaleiros de Colombo.

Eis a traços largos, a biografia do maior e mais representativo escritor de Moçambique: RODRIGUES JÚNIOR.

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CONCHITA BRETON

Conchita Breton, a primeira a ensinar a Ar te do Bailado, em Lourenço Marques, nasceu em Madrid, num dos Bairros castiços da bela capital de Espanha. Com oito anos iniciou a sua aprendizagem na arte de bailar, na Escola de «Ballet» Clássico Espanhol, no Teatro Real de Madrid, passando mais tarde, para a Escola do Maestro Mar t inez — consagrado Mestre — e depois, para a Escola de Mímica de Flora Rossini. Foi, também, aluna do Mestre Montesinos, pai da conhecida art ista de cinema, Rita Hayworth.

Apenas com 14 anos, apresentou-se pela primeira vez, no Teatro da Ópera de Madr id . Depois de ter frequentado o Teatro Liceu, de Barcelona, tornou-se bai lar ina profissional, per­correndo as principais cidades de Espanha. Em Paris, apresentou-se no Teatro A lhambra, céle­bre casa de espectáculos, onde se manteve a trabalhar com sucesso, durante meses.

Anos mais tarde, visitou Portugal, apresentando-se, pela primeira vez, no Casino de Espi­nho. Em Portugal permaneceu oi to anos, tendo estado também, em Angola.

Conchita Breton veio para Moçambique em 1949, por contrato art íst ico, mantendo-se a trabalhar durante seis meses. Veio a casar-se com um português, radicando-se, por tal facto, em Moçambique, ou mais precisamente, em Lourenço Marques.

De início, começou por dar lições em sua casa, e simultaneamente, deu lições no Clube Naval, e depois, nos Velhos Colonos. Depois, leccionou durante 10 anos, no Inst i tu to In fan t i l . Em 1956 abriu a Escola de «Ballet» no Clube Ferroviário, onde continua a ensinar a arte do bailado.

C O N C H I T A BRETON com um grupo de alunas

Todos os anos, as suas alunas se apresentam num grande espectáculo, que além do êxito artístico que sempre alcançam, são ainda uma prova da tenacidade, do carinho e interesse com que Conchita Breton se tem dedicado, através de todos estes anos, ao «Bal let», procurando elevar o nível cul tural da juventude, e ajudando-a a desenvolver-se em linhas harmoniosas.

Além da Escola de «Ballet» do Ferroviário, Conchita Breton continua a leccionar, também, em sua casa.

Eis a traços largos, a biograf ia da ar t is ta que introduziu a Ar te do «Ballet» em Lou­renço Marques.

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Poetas

TIMBRE

de

M O Ç A M B I Q U E

EU, Morreu. Só há ideal No plural . Tecidos Como fios que há nos linhos, Parecidos Entre nós como dois molhos, Somos do tempo de viver aos molhos Para morrer sozinhos

Mín imo sou, Mas quando ao Nada empresto A minha elementar realidade, O Nada é só o resto.

Reinaldo Ferreira

Reinaldo Ferreira

RUMO

BATUQUE

A dissonância que rompe a noite contém mensagens duma alegria rude e desnuda que me trepassa.

A i , noi te, irei contigo. Não serei estrela nem abrigo, nem murmúrio perdido A i , noite, irei contigo. Não serei estrela nem abrigo, nem murmúr io perdido ou voz clara de l inho.

Serei apenas eu que irei contigo.

(Que prossigo descalça e sem caminho.)

Ânsias ocultas, clamores perdidos e tanta coisa que não se indaga

A dissonância que rompe a noite é como o gr i to dum cristal puro que se estilhaça.

Fica pairando, num r i tmo agudo, incompreendido, e permanece ainda, oculto e vivo, na palidez t ranqui la da madrugada.

Glória de SanfAna Glória de SanfAna

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ILHA DOURADA TARDE NO RIO ZAMBEZE

A fortaleza mergulha no mar os cansados flancos e sonha com impossíveis naves moiras. Tudo mais são ruas prisioneiras e casas velhas a mirar o tédio. As gentes calam na voz uma vontade ant iga de lágrimas e um riquexó de sono desde a Travessa da Amizade. Em pleno dia claro vejo-te adormecer na distância, Ilha de Moçambique, e faço-te estes versos de sal e esquecimento

Rui Knopfli

GRITO DE ALMA

Vem de séculos, a lma, essa orgulhosa casta, Repudiando a dor, t r ipudiando a lei. Num gesto de alt ivez que em onda leve, arrasta inteiras gerações de amaldiçoada grei.

Ir procurar, amor, nessa alt ivez madrasta, Um gesto de carinho ou de brandura, eu sei? Ao tigre dos juncais, duma crueza vasta, Quem há que roube a presa? Aponta-me e eu i re i !

Cruel destino o meu, que ao meu caminho trouxe Na fulgurante luz do teu olhar tão doce A mágoa minha eterna, a minha eterna dor.

Vai. Segue o teu destino. A onda quer-te e passa. Vai com ela cantar o orgulho da tua raça Que eu ficarei cantando o nosso eterno amor . . .

Rui de Noronha

Rio calmo. Água de prata a cint i lar Onde as nuvens vulcânicas se mi ram, Almadias que esperam o regressar, Peixes que sal tam, v i ram e reviram.

Na areia, um crocodilo a rastejar, À distância, mais dois que submergiram, Fogo no Céu! Espreitas do Luar Quando a Terra e o Sol se despediram!

Aigretes brancas saltam com leveza, Macacos guincham, correm com destreza, Gigantescos bambus e matagais.

Pretos e pretas que no f im do dia Batucam, gr i tam, dançam de alegria Ritmos inquietos, loucos, sensuas . . .

Anunciação Prudente

A FLORBELA ESPANCA

«Vim de Moi rama, sou f i lha de Rei . . .» Florbela Espanca

Minha pobre princesa destronada Encontraste, a f ina l , onde reinar . . . Ouviu a Morte a prece torturada Que lhe fizeste um dia, a soluçar . . .

Pousaste, enf im, a fronte já cansada, Fechaste as asas tontas de voar — Romeira vagabunda e fat igada, Pálida irmã da noite e do luar.

Para nós, na magia dos teus versos Rezaste inquietações, sonhos dispersos; Caudal imenso de uma angústia vã . . .

Descansa e, dorme no caixão estreito Que para ti foi ninho, berço, leito . . .

Eu sou a tua Amiga . . . a tua Irma . . .

Irene Gil

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HISTORIADOR, ESCRITOR E JORNALISTA

ALFREDO AUGUSTO PEREIRA DE LIMA

ALFREDO AUGUSTO PEREIRA DE LIMA

Al f redo Augusto Pereira de Lima, nasceu em Lourenço Marques em 19 de Fevereiro de 1917, onde fez o Curso Complementar de Ciências dos Liceus, cont inuando os seus estudos na

Áf r ica do Sul. A sua grande aspiração era formar-se em Medicina e Cirurgia, cursando a Facul­dade em Lisboa, o que não pôde fazer por fa l ta de meios, em virtude de ser órfão de pai , desde os vinte meses He idoH^

Al f redo Augusto Pereira de Lima, descende de um casal de pioneiros, chegados a Moçam­bique no ano de 1914. Seu pai , Antón io Lúcio Pereira de Lima, cuja famíl ia originária do Porto se f ixou em Angola, Moçambique, índia Portuguesa e Brasil, era Secretário Administ ra­t ivo do Distr i to Mi l ia r de Gaza, vindo a falecer no Chongoene em 1919. Sua mãe, Mar ia da Conceição Mourão Garcez Palha e Pereira de Lima, f icou em Moçambique com seu f i lho, após a morte do seu marido.

Pereira de Lima foi ajudante do historiador sul-afr icano, Dr. Wi l lem Punt, da Universi­dade de Pretória, em 1944, em investigações históricas sobre as ligações entre pioneiros portu­gueses e transvalianos, na Áf r ica Aust ra l , no século X I X . Em 1946, nomeado pelo Govemador--Geral de Moçambique, General Tr istão de Bettencourt, acompanhou em Moçambique a expedi­ção científ ica organizada pelo Departamento de Educação do Transval, chefiada pelo historiador Dr. Wi l lem Punt, que determinou o trajecto percorrido pelo pioneiro transvaliano, Louis T r i -chardt, até Lourenço Marques, no ano de 1938. Com o mesmo historiador trabalhou noutras pesquisas históricas em Lourenço Marques e Pretória. Em 1949 foi louvado pela Organização das Nações Unidas, pelos serviços prestados como Secretário da Comissão Central de Moçam­bique da «UNITED NATIONS APPEAL FORCHILDREN». No mesmo ano, foi distinguido com o dist int ivo de prata dos «TRANSVAAL VOORTREKKERS», por serviços prestados àquela organização da juventude sul-afr icana, na qualidade de Chefe de Secção de Turismo e Propaganda da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques.

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Como escritor, jornalista e historiador, vem colaborando com Centros Culturais da Re­pública da Áfr ica do Sul e part icipando de Congressos internacionais sobre Economia, Comér­cio e Turismo, realizados na Áf r ica do Sul e nas Rodésias, nos últ imos vinte anos, e ainda, em expedições científ icas de investigação histórica realizadas em Moçambique, sendo a mais recente, a expedição de arqueologia submarina, ao largo da Ilha de Moçambique, organizada pelo Comissão de Monumentos e de Relíquias Históricas de Moçambique. Em 1957, com uma Bolsa de Estudo que lhe foi concedida pela «SOUTH AFRÍCAN BUREAU OF SOCIAL RESEARCH», colaborou com o Dr. Wi l l em Punt, em trabalhos de investigação histórica, em Moçambique, sobre o pioneiro Carolus Tr ichardt . Em Setembro de 1960 fez parte de três expe­dições organizadas pelos Serviços Culturais da « N A T I O N A L PARKS BOARD OF TRUSTEES», para descoberta do local onde ter iam sido massacrados os membros da coluna do pioneiro Van Rensburg, na região do Limpopo, próximo de M A B A L A N E (Moçambique).

Em 1958 exerceu as funções de Chefe do Gabinete de Imprensa do Congresso das Câma­ras de Comércio Federadas da Áf r ica Aust ra l , realizado em Lourenço Marques, pelo que foi louvado pela Câmara de Comércio de Lourenço Marques. Pereira Lima, part icipou no II Con­gresso Ibero-Americano de Municípios, reunido em Lisboa, em Maio de 1959, como Secretário da Delegação da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, presidida pelo respectivo Presidente, Coronel Pedro Pinto Cardoso, junto de quem exerceu as funções de Secretário part icular, por diversas vezes, pelo que foi louvado. Chefiou, ainda, a representação do Automóvel e Tourinfy Clube de Moçambique, à primeira Reunião Provincial do Turismo de Moçambique, realizada na Beira, em Fevereiro de 1964.

Funções oficiais que desempenhou:

Arquivista da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, de 1943 a 1947. Chefe da Secção de Turismo da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, de 1947 a 1948. Chefe das Secções de Turismo e da Informação do Centro de Informação e Turismo de Moçambique, de 1960 a 1962. Inspector de Turismo e Of ic ia l de Relações Públicas do Pavilhão de Portugal, na Feira da Páscoa do Rand, em 1963. Superintendente do Museu Histórico da Cidade de Lourenço Mar­ques, desde 1962. Vogal da Comissão de Inspecção aos Hotéis (despacho do Governador de Distrito, 31 de Janeiro de 1961). Vogal (representante da Câmara Municipal) da Comissão Distrital do Serviço Extra-Escolar de Lourenço Marques. Vogal da Comissão de Propaganda do Automóvel e Tour ing Clube de Moçambique.

Alfredo Augusto Pereira de Lima, possui as seguintes condecorações:

Medalha de Bons Serviços da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, da classe «DEDICAÇÃO» (1960). Medalha Comemorativa do Cinquentenário da Linha Férrea Lourenço Marques-Pretória (1945).

Distinções:

Sócio permanente da Fundação «SIMON V A N DER STEL», de Pretória. Membro da «LOUIS TRICHARDT SOCIETY». de Pretória. Sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa. Proposto para Sócio Correspondente Estrangeiro do Inst i tuto Geográfico e Histórico do Estado de São Paulo, no Brasil. Sócio da Sociedade de Estudos de Moçambique e de outros organismos culturais nacionais e estrangeiros.

Actividades jornalísticas:

Iniciou a sua carreira no jornalismo em 1936, tendo sido redactor dos jornais «LOURENÇO MARQUES GUARDIAN» e do «DIÁRIO»; Chefe da Redacção do semanário «ORIENTE», Chefe da Redacção do «COMÉRCIO DE MOÇAMBIQUE», órgão da Associação Comercial de Lourenço Marques; Redactor-Delegado em Lourenço Marques do «DIÁRIO DE M O Ç A M B I ­QUE», da Beira, e Redactor do jornal «NOTÍCIAS», de Lourenço Marques. Tem ainda, uma vasta colaboração dispersa pela Imprensa nacional e sul-afr icana. Foi correspondente local dos jornais sul-afrícanos «SUNDAY EXPRESS», «DIE TRANSVALER» e «DAGBREEK», e corres­pondente especial em Moçambique da agência noticiosa «UNITED PRESS INTERNATIONAL».

Como historiador:

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Deve-se-lhe a descoberta, em 1944, do local onde foi sepultado em Lourenço Marques, o explorador transvaliano Louis Tr ichardt , fundador do Transval, é sua inic iat iva, o Monumento que a Sociedade Tr ichardt construiu na capital de Moçambique. Colaborou ainda, com o historiador sul-afr icano, Dr. Colin Coetzee na descoberta do local onde os holandeses cons­truíram em 1720 a sua fortaleza, no Estuário do Espírito Santo. Publicou diversos artigos sobre o passado histórico de Lourenço Marques, tendo merecido do eminente historiador moçam­bicano, Dr. Alexandre Lobato, que foi Deputado à Assembleia Nacional , a seguinte apreciação em prefácio do seu livro, «OS MILHÕES DE KRUGER» :

«Sempre me chegaram a Lisboa, pelos jornais daqui, os rastos da sua presença viva, fragmentos do seu labor tenaz e fecundo, a vasculhar cont inuamente, com os modestos recur­sos da casa, os dias passados e obscuros desta mesma casa. Do seu estudo de certos temas, difíceis e nebulosos, e da sua tenacidade na pesquisa de fontes perdidas, f iquei há muitos anos com a ideia segura de que Al f redo Pereira de Lima é um investigador nato, que durante tantos anos se perdeu para a exegese viva da história, porque santos de casa aqui não faziam mila­gres, e a dimensão cultural colectiva quali f icava tudo isso de pura chinesice.»

Publicações de sua autor ia :

«A NOSSA INTERVENÇÃO NA POLÍTICA INDÍGENA DE HÁ 100 ANOS» (1960). «OS MILHÕES DE KRUGER» (1963). «NA PISTA DO TESOURO DE KRUGER» (1963). «LOURENÇO MARQUES» (Monografia — 1963).

No prelo:

«A DELICIOSA MENTIRA DE KUSSUMLATA PRAGJI» (Edição da Agência-Geral do Ul t ramar) .

Em preparação:

«SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO M U N I C Í P I O DE LOURENÇO MARQUES»; «ROTEIRO DOS EDIFÍCIOS HISTÓRICOS DE LOURENÇO MARQUES»; «O PALÁCIO M U N I C I P A L » ; «A HISTÓRIA DE LOUIS T R I C H A R D T » /

Conferências proferidas:

«LOURENÇO MARQUES NASCEU ASSIM», em Março de 1945, na Escola de Telegrafia e Inst i tuto Profissional de Lourenço Marques. «TIMOR E A SOBERANIA PORTUGUESA NA OCEÂNIA» , em 10 de Setembro de 1945, no Salão do Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e da Indústria de Moçambique, dedicado às Forças Expedicionárias Portuguesas enviadas para a l ibertação de Timor, durante a II Grande Guerra. «A LIÇÃO DE M O U Z I N H O » , em Novembro de 1955, no Salão da Associação dos Naturais de Moçambique, integrada nas comemorações do Centenário de Mouzinho.

Louvores:

Da sua folha de serviço, como funcionário público, constam seis Louvores e uma Medalha de Bons Serviços.

Este é o prestigioso «curriculum» do historiador laurentino, Al f redo Pereira de Lima, que com as suas persistentes e laboriosas pesquisas tem engrandecido o patr imónio histórico da Província de Moçambique, bem merecendo por isso, f icar arquivado nestas páginas.

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"MARRABENTA"

UMA DANÇA DO FOLCLORE MOÇAMBICANO

Vamos procurar historiar o que é e de onde veio a dança da «Marrabenta», hoje tão popular em Moçambique e além das suas fronteiras.

A «Marrabenta» vem da amálgama de muitas danças do Norte, Centro e Sul da Província de Moçambique, vert ida sobre uma base «Ronga», possivelmente construída sobre o r i tmo «NTfehna». O contacto, a consequente penetração dessas danças, processou-se na cidade de Lourenço Marques, para onde anualmente convergem moçambicanos das mais diversas regiões do território. O êxodo dessas populações à capi tal , norteia-se na busca de maiores defesas econó­micas junto às nossas zonas industriais.

Grupo da Associação Africana de Moçambique dançando a «Marrabenta»

Quando os grupos dessa gente desembarca na capital da Província, traz consigo uma força rítmica, capaz de vencer o cansaço, e no peito, a força mística das consoladores esperan­ças. A adversidade, a nostalgia ou a tr isteza, não conduzem, nesta gente, a um desajustamento social típico das populações. Chegados à cidade, na necessidade de comentar, narrar e lamentar as desditas, que se revelam comum a centenas de milhar de pessoas., surge prontamente, o r i tmo

da região de proveniência, a sublinhar o espírito de observação dos africanos.

Estabelecido o diálogo, o conceito clássico de tr ibo sofre uma alteração profunda, dando lugar à aceitação da ident idade de um sem-número de factores de ordem económica e social. As fronteiras entre os diversos dialectos rompem-se; a dança, autênt ica forma de expressão — que ainda é em Áfr ica — enriquece-se com a aquisição de novos «vocábulos». No caldea-mento, no cadinho receptivo dos hábitos das gentes, surgem os novos «vocábulos» da nova linguagem «coreográfica». Pode dizer-se, que assim nasceu a «Marrabenta».

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A nova dança, depois de imperar em todo o terr i tór io moçambicano, foi viajar pelos países vizinhos, antes de aparecer no Europa e no Amér ica, obtendo foros de r i tmo do momento.

Espera-a, certamente, uma carreira de êxitos, nesta internacionalização da «Marrabenta».

Foram os conjuntos moçambicanos « H A R M O N I A » , «JOÃO DOMINGOS» e «DJAMBO», que deram a conhecer a «Marrabenta», através das suas interpretações. Foram eles os inicia­dores do sua divulgação. O disco «Alvorada», editado só com «Marrabenta», consti tuiu um êxito, assim como outro disco editado em Moçambique, que foi o primeiro disco editado, de «Marrabenta».

Graças oo trabalho de moralização desenvolvido pelo Centro Associativo dos Negros de Moçambique e a Associação Afr icana de Moçambique, que apoiam os conjuntos já citados, vai-se registando em Lourenço Marques um movimento de interesse pelo genuíno folclore moçambicano.

ARTISTAS PLÁSTICOS

Nesta obra dedicada aos pioneiros serão mencionados também, os Art istas Plásticos mais representativos de Lourenço Marques.

Principiamos pelos pintores pioneiros, de tendência afr icana e «expressionista», a que pertencem os dois primeiros: JOÃO AYRES e JOÃO PAULO. Seguem-se GARIZO DO CARMO, M A L U D A , BERTINA LOPES, M I R A N D A GUEDES e M A L A N G A T A N A VALENTE.

Mencionamos a seguir os pintores com tendências estéticas de raiz europeia: ÁLVARO

PASSOS — « s u r r e a l i s t a » — , ROSA PASSOS, A N T Ó N I O QUADROS, A N T Ó N I O SANTANA,

A N T Ó N I O HELENO e DUGOS BAPTISTA.

No desenho: TERESA ROSA DE OLIVEIRA, A N A MICHAELLIS e JORGE CHAVES.

Na escultura: M A R I A ALICE M E A L H A e A N T Ó N I O MOURA.

Nas artes decorativas: ZECA M E A L H A , JORGE MEALHA e A N T Ó N I O BRONZE.

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RÁDIO CLUBE DE MOÇAMBIQUE

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Hoje, quem passa e olha o Palácio da Rádio, erguido no centro da cidade de Lourenço Marques, dif íci l será imaginar quantas batalhas foi preciso vencer para at ingir o desenvolvi­mento que hoje possui. Todavia o Rádio Clube de Moçambique tem a sua história — uma longa e prodigiosa história que merece contar.

Corria o ano de 1931, quando Augusto das Neves Gonçalves e Firmino Lopes Sarmento conceberam a ideia de criar em Lourenço Marques um posto de radiodifusão. Mas a tentat iva não pode ir por diante. Uma outra, pouco tempo depois, também não encontrou eco na popula­ção, mal amadurecida, ainda, para realizar os grandes sonhos. Volvidos alguns meses, porém, aproveitando o regresso a Lourenço Marques de um dos seus dedicados amigos, Aniano Mendes Serra, puderam então, Augusto das Neves Gonçalves, Alberto José de Morais e Firmino Lopes Sarmento formar com aquele um grupo de vontades fortes para vencer todas as resistências e aplainar as dif iculdades. E a fundação de uma Emissora, que antes t inha sido inviável, teve enf im possibilidades de corporização.

Efectuou-se a 5 de Julho de 1932, numa das salas do Grémio Náut ico, a primeira reunião preparatória para a Fundação do que viria a chamar-se Grémio dos Radiófilos da Colónia de Moçambique. E os seus estatutos, cuidadosamente elaborados, receberam a aprovação do Gover-nador-Geral, Coronel José Cabral.

No dia 1 de Agosto, rea!izou-se no Teatro Scala a primeira Assembleia Geral para elei­ção dos Corpos Gerentes. A assistência, d iminuta embora, não deixou de acarinhar a iniciat iva. E os resultados foram os seguintes: para a Direcção foram escolhidos os nomes de Aniano Mendes Serra, presidente, Alberto José de Morais, vice-presidente, Augusto das Neves Gonçal­ves, secretário, e Ernesto de Bri to, tesoureiro. Para presidentes da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal foram eleitos, respectivamente, Firmino João Lopes Sarmento e Pedro Lúcio de Assunção. Assim, nos lugares de comando f icaram os homens a quem a iniciat iva se deveu, e com os quais o Grémio dos Radiófilos ia começar a caminhada no fu turo. A experiência dizia-lhes todavia, que ter iam de vencer as maiores dif iculdades, previstas al iás; que haviam de aparecer entraves, surgir descrenças, medrar invejas; mas eles, os quatro principais obreiros da radiodifusão moçambicana, não temiam as críticas e consideravam-se precavidos contra os desânimos.

Edifício do Rádio Clube de Moçambique, na Vila Salazar

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A primeira reunião da Direcção efectuou-se no dia 3 de Agosto de 1932, numa sala cedida pelo vice-presidente da Direcção, no seu estabelecimento comercial. Ficou assente que se adoptaria como sede provisória aquela mesma sala, que se deviam pedir cotações para o for­necimento de impressos do expediente do Grémio, e que se designasse a primeira quarta-feira de cada mês para as sessões ordinárias da Direcção. Nessa mesma data foi lida uma carta do sócio Américo Salcedas Pais, a comunicar a existência de uma pequena emissora de radiote­lefonia no Depósito dos C.T.T., de Lourenço Marques, a qual, se pedida fosse, poderia ser cedida ao Grémio para a radiodifusão de concertos.

Na reunião seguinte foram admitidos catorze sócios, amort izado o pagamento das despe­sas feitas com a aprovação dos Estatutos, na importância de 667$90,e autorizada a l iquida­ção da primeira factura, de 590$00, relativa a artigos de expediente. Na rubrica «Outros assuntos» foi resolvido oficiar às casas que já começavam a vender material de rádio e outros artigos vários, a pedir a concessão de bónus nas compras a fazer pelos sócios; e assentou-se, em princípio, na compra do material necessário para a montagem de um pequeno emissor.

Na reunião de 12 de Agosto foram admitidos mais cinco sócios e apareceram os primeiros resultados positivos do pedido fe i to às casas comerciais. Na acta desta sessão não f iguravam quaisquer referências ao posto emissor, mas na seguinte já aparece a primeira alusão, ainda que vaga, ao facto de «se ter discutido os vários assuntos inerentes à construção do emis­sor». Finalmente na acta de 4 de Janeiro de 1933, tomou vul to o «aluguer do edifício para a sede e a montagem do emissor», que f icar iam instalados em duas salas do edifício Já Assam, na Avenida da República, com o pagamento da renda anual de 9.400$00.

Ousadamente, o Grémio dos Radiófilos assumiu nesse dia o seu primeiro encargo f inanceiro de grande magnitude. Os que t iveram conhecimento da resolução, pasmaram — tão despro­porcionados eram os recursos e as imprevisíveis possibilidades da jovem insti tuição com o encargo contraído. E esta at i tude de reparo e de surpresa haveria de acompanhar por mui to tempo, se não para sempre, os actos principais da vida da emissora moçambicana, antes e depois de mudar de nome. Eram e são desculpáveis, todos os receios dos menos confiados, porquanto a evolução do Rádio Clube foi sempre caracterizada por audaciosos rasgos de coragem determi­nada, que não deixaram tolher, antes est imularam, as iniciativas surgidas, aos olhos dos crí­ticos como estando em desproporção com as realidades ou as necessidades da Organização e, até mesmo, do desenvolvimento de Moçambique.

Chegou o mês de Março, previamente escolhido para a inauguração oficial do Grémio dos Radiófilos da Colónia de Moçambique. Na acta n.° 8, relativa à reunião do dia 1 desse mês, considera-se o assunto resolvido: «Para início dos Programas a emit i r pelo posto, resolveu-se contratar um quarteto pelo preço semanal de 250$00». Levantando a cortina que encobria os trabalhos feitos em laboratório (não se fazendo contudo referência às grandes dificuldades sur­gidas com a obtenção do mater ia l , que por estar proibida a importação suscitou a necessidade de recorrer a adaptações ao serviço da radiodifusão, como por exemplo, o de um amplif icador de cinema já fora de uso) dizia-se: «estando já quase terminadas as experiências e ajusta­mento do emissor, resolveu-se f ixar o dia 18 do corrente para inauguração oficial e convidar Sua Exa. o Governador-Geral, a quem a Direcção deliberou conceder o t í tu lo de Sócio Honorário, para fazer a abertura solene da Estação. Resolveu-se, também, convidar a assistir a este acto os representantes da Câmara Munic ipa l , da Associação Comercial, o Director dos Serviços dos Correios e Telégrafos, o Director dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro, e a Imprensa».

Amanheceu quente e abafado aquele dia 18 de Março de 1933, que marcaria, uma notável etapa na vida do emissor. ! Quando a estação foi posta «no ar», e se ouviu a voz de Már io Souteiro — o primeiro locutor de Moçambique — anunciando o início das emissões do Grémio dos Radiófilos, no coração dos presentes bateu forte a comoção, e só depois t iveram consciên­cia do peso das responsabilidades que acabavam de contrair, transformando o sonho naquela certeza que requeria a maior dedicação, o mais forte empenho, todo um somatório de energias e vontades férreas para levar de vencida as contrariedades, que inevitavelmente haviam de surgir com o decorrer dos tempos.

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Mas aquela voz, ouvida a princípio com surpresa, bem depressa se tornou famil iar em todo o terr i tór io de Moçambique, na Rodésia, na Áfr ica do Sul. Solícitas informações acres­centavam, mesmo, que a estação se fazia ouvir, com relativa intensidade, na Madeira, em Londres, em alguns lugares da América do Norte, na cidade de Lisboa. Estava, por conseguinte, at ingido o máximo objectivo, que era levar a voz de Moçambique aos ouvidos da Mãe-Pátr ia.

Durante dois anos o pequenino posto prestou excelentes serviços, amparado carinhosa­mente pelos técnicos. Depois passou a ser uma preocupação constante. Umas vezes, durante as emissões, «não sustentava a onda e o técnico suava e tressuava para a aguentar»; outras vezes, uma válvula deixava de trabalhar ou havia uma peça que t inha de ser substituída — consequência da improvisação que presidiu a manufactura do emissor e a carência de material ut i l izável .

A propósito, pode ler-se em «RÁDIO MOÇAMBIQUE», de 30 de Novembro de 1935, o seguinte comentário elucidat ivo: «O técnico converteu-se em autênt ico médico assistente do débil posto, inclinado sobre a pequena emissora, no permanente receio de que a vida se lhe escapasse, de um momento para o outro, em cualquer acidente terminal das graves lesões que sofria». Assim, graves problemas administrativos e financeiros absorveram a Direcção durante alguns meses.

Na reunião do mês de Maio , a Direcção julgou de absoluta necessidade a aquisição por 25 libras esterlinas, de um novo microfone. Depois de se fazer o estudo pormenorizado das informações chegadas do exterior de Moçambique, decidiu-se suspender temporariamente a actividade do emissor, para se proceder à beneficiação do material e t i rar dele as máximas possibilidades de ser bem ouvido nos territórios vizinhos. A decisão, como é fáci l de calcular, provocou nos seus próprios responsáveis um sentimento de amargura, que mais se acentuou quando o Presidente da Direcção lamentou «ser notório o grande desinteresse, por parte dos sócios, pelo Grémio, pois que a quotização e o número de sócios está diminuindo». Pairava sobre a inst i tuição uma pesada nuvem negra, de consequências imprevisíveis. Havia pois, que proceder de acordo com as circunstâncias e combater o ma! pela raiz. Assim, como medida de urgência, o Presidente da Direcção propôs a melhoria dos programas e a admissão de uma orquestra. Este seria o antídoto para o mal que estava a minar o Grémio dos Radiófilos. Tam­bém se julgou indispensável fazer apelos para a entrada de mais sócios. E a campanha, lan­çada em boa hora, ecoou no coração dos moçambicanos, já habituados a ouvir os programas da «sua» Estação. Na reunião de 5 de Setembro foram aprovados 36 sócios e na de 17 de Outubro, mais 43.

Desanuviada a situação da emissora laurent ina, e depois da sua interrupção de duas sema­nas, começou a pensar-se em mais largos voos. O Dr. Antón io de Sousa Neves, chamado a presidir aos destinos da colectividade, logo na reunião de 5 de Janeiro de 1935, procurou dar solução a assuntos de mui to interesse, tais como: a intensificação da propaganda para angariar fundos destinados à compra de um novo posto emissor; requerer ao Ministér io das Colónias a isenção de direitos aduaneiros do material radiofónico destinado ao Grémio; nomear comissões para se avistarem com o Director dos Caminhos de Ferro de Moçambique e com o Presidente da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, no sentido de solicitar subsídios.

Na Assembleia Geral realizada em 15 de Fevereiro, o Presidente da Direcção leu uma proposta a pedir autorização para o Grémio contrair o empréstimo de vinte mil escudos, para a compra de um novo posto emissor, proposta que foi aprovada por unanimidade. A compra e instalação do emissor «Colins» de 250 watts, marcou, n i t idamente, o progresso que se in i ­ciava. Com este transmissor o Grémio ascendeu a um nível de categoria incontestavelmente marcante, pois passava a dispor de um posto próprio para a radiodifusão, construído por casa especializada, com modulação de al ta qualidade e elevado grau de eficiência. Foi positiva­mente, um paso em frente, e o incentivo para dar outros mais.

Em 1 de Maio de 1935 saiu o 1.° número da revista editada pela Emissora a que foi dado o t í tu lo de «Rádio Moçambique», publicação que sempre se tem mant ido sem interrupções, acompanhando todo o desenvolvimento da referida Emissora.

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 primeira locutora de Português do R.C.M., D. MAF TERESA DE SAMPAIO ARROZ, numa fotografia dessa ép

Em Setembro de 1935 a nova Estação Emissora foi solenemente inaugurada pelo Gover-nador-Geral, Coronel José Cabral e outras individualidades de vul to, fazendo-se transmit i r pela primeira vez o Hino Nacional. O Governador, usando da palavra, louvou publicamente o Gré­mio dos Radiófilos, pondo em relevo o serviço patr iót ico que estava a prestar a toda a Provín­cia de Moçambique.

Dado o franco progresso da Estação, e o sucesso da sua audição que estava a ter no estrangeiro, abriu concurso para locutoras de inglês e português, dando origem na Província, a uma nova profissão para as mulheres.

A primeira locutora de português foi a Sra. D. Mar ia Teresa de Sampaio Arroz, que anun­ciava o programa, dizendo: «Boas noites, minhas senhoras e meus senhores. Aqui Lourenço Marques, CR.7 A A , Estação Emissora do Grémio dos Radiófilos, trabalhando na frequência de 6.137 quilocíclos; onda de 48 metros e 88 centímetros.»

A primeira locutora de inglês foi Miss Edwiges Sequeira, que fazia a locução dir igida aos países de língua inglesa, dizendo: «Good evening, ladies and gentlemens. Thi is Lourenço Marques . . .»

Depois surgiu como segunda locutora da secção portuguesa a jovem senhora D. Mar ia Emília Salvado da Costa, cuja bonita voz se fez ouvir por largos anos ao serviço da Emissora moçambicana, passando, mais tarde, por sua vontade, para Chefe dos Serviços da Discoteca, que reorganizou com a maior eficiência.

Na Áfr ica do Sul, entretanto, a popularidade do CR 7 AA aumentava consideravelmente, expressa através de cartas signif icativas e de notícias publicadas nos principais órgãos da Im­prensa diária. Passaram pelos estúdios do Grémio figuras de relevo nas artes; organizaram-se festas radiofónicas; abriram-se concursos in fant is ; a orquestra privativa actuava com inteira regularidade. E a tudo isto não era estranha a pert inaz actuação do novo locutor e mais tarde Chefe de Produção, Carlos Ahrens Teixeira, que carinhosamente se dedicou à radiodifusão moçambicana à qual deu o melhor da sua experiência teatra l .

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• ' • • . ' • • ' . - .

HA oca MISS EDWIGES SEQUEIRA

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Sempre progredindo, os pequenos estúdios da Rua Araú jo , principiavam a ser pequenos para a grande actividade do Grémio, que entretanto passara a denominar-se Rádio Clube de Moçambique.

Congrassando todas as boas vontades da gente de Moçambique, em 1949 foi iniciada a construção do Palácio da Rádio, que viria a ser o fu turo edifício do Rádio Clube de Moçam­bique, inaugurado em 1951.

O Rádio Clube de Moçambique também mantém intercâmbio de Programas com vários países: «A Voz da Amér ica», «A Voz da Alemanha», «A Voz da Holanda», «A Voz do Brasil», «A Voz da França», «A Voz da Bélgica», «A Voz da Inglaterra», além dos Progra­mas vindos da Emissora Nacional de Lisboa.

Esta é, em síntese um pouco da sua história, através de todos estes anos da sua labo­riosa existência.

Houve dif iculdades tremendas, que foram vencidas, houve algumas crises graves, que foram transpostas; houve momentos de alegria, que serviram para i luminar o fu turo. Mas sempre a dedicação, a força de vontade, a inteligência e o sentido das realidades dos Dirigentes do R.C.M. souberam encaminhá-lo no tr i lho da vitór ia — pois vi tór ia se pode considerar a posição que a estação laurentina ocupa entre as suas congéneres de todo o Mundo!

O t r iunfo do Rádio Clube de Moçambique — justo é que se diga — pertence também, em parte, a toda a Província, que sempre o acarinhou e nele conf iou, considerando-o, orgulhosa­mente, uma das realidades mais signif icativas de quanto podem e sabem fazer os moçambicanos!

Desde 6 de Abr i l de 1958, que o Rádio Clube criou um programa nativo. «A VOZ DE MOÇAMBIQUE», como hoje se in t i tu la toda a programação em línguas nativas — que pre­sentemente emite em 1 1 dialectos — além de programas musicais, mantém variadas rubricas de carácter educativo e cul tural . A média semanal actual de horas de emissão é de 158.

O ú l t imo Presidente do R.C.M. foi o Capitão Antón io dos Santos Figueiredo, que presidiu aos seus destinos de 1941 a 1965, pouco antes do seu falecimento, do qual foi um grande e devotado obreiro. O mesmo poderemos dizer, do Presidente actual , — que se seguiu ao Capi­tão Figueiredo — Augusto das Neves Gonçalves, que é um dos pioneiros da radiodifusão em Moçambique, pois se encontra ligado ao R.C.M. desde o seu início, tendo sido um dos que tomou a iniciat iva de erguer tão meritória obra.

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A ASSOCIAÇÃO DOS VELHOS COLONOS

Este livro f icaria incompleto se nele não se incluísse a biografia desta prestimosa colecti­vidade, que tantos benefícios tem espalhado, mui to principalmente àqueles que para Moçambi­que vieram quando jovens e que com o seu esforço ajudaram a desbravar e a civil izar a terra moçambicana.

Edifício da Mansão dos Velhos Colonos

A Associação dos Velhos Colonos pode dizer-se que nasceu em 28 de Junho de 1919, com a primeira reunião que um grupo de velhos colonos efectuou no Salão Nobre da Câmara Municipal, na qual f icou expresso os f ins a que se destinava a mesma, assim designados:

a) — Protecção e auxíl io, material e moral , aos sócios e seus fi lhos.

b) — Construção de um Mausoléu ou Ossário no novo Cemitério.

c) — Criação de uma Caixa Económica.

d) — Fundação de um jornal.

A Associação foi formada por colonos com mais de 25 anos de residência na Província, considerados fundadores; por colonos que tivessem completado 21 anos de residência na Pro­víncia, como sócios ordinários, e incluindo os fi lhos de colonos sócios, residentes na Província; os naturais de Moçambique de cor, considerados civilizados de maior idade.

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O Governador-Geral, que era nessa época o Doutor Manuel Moreira da Fonseca, deu à jovem Assciação todo o seu apoio e carinho. Como reconhecimento, a Associação fê-lo Sócio Honorário desde o início.

A Associação dos Velhos Colonos foi fundada por 70 colonos portugueses e estrangeiros, cujos nomes vamos transcrever, e bem assim a primeira A C T A :

A C T A N . ° I

Aos 28 dias do mês de Junho de mil novecentos e dezanove nesta cidade de Lourenço Marques e no Sala das Sessões da Câmara Munic ipal nos Paços do Concelho, reuniram-se os velhos colonos: Sebastião Alves, Francisco l.da Cunha, António de Abreu, Harry Wi lson, José Augusto de Aguiar , Andrews Roberts, Rufino de Oliveira, António do Nascimento, Firmo dos Santos, Antón io Silva, Francisco de Oliveira, Luciano Inácio Félix, Manuel Correia, Isidro Lopes, Luís W i l y , Á Ivaro T. da Câmara, A l f redo A. Bastos, Antón io Furtado, Francisco M. Correia de Brito, Antón io C. dos Santos, João P. do Tanque, John Mihaleto, José Ribeiro, Joaquim M. Gouveia, Francisco Xavier da Silva, Fernando Melo Alves, José C. Lopes, João P. Abrantes, M. Araújo Gomes, Filomeno Pereira, Pedro F. Pereira, António José, José C. de Sequeira, Caetano Dias, A. J. Rodrigues de Moura, António G. da Costa Lima, Carlos Galino, Albano Mendonça, Manuel J. Guilherme, C. J. Gonzaga Gomes, J. J. Nunes de Sousa, A. Libâ-nio dos Santos, J. G. dei Val le y Monto jo , Pierre Loze, Pe. J. Vicente do Sacramento, J. J. A lb ino de Sousa, John E. Roberts, Manuel de Paiva, Miguel M. V iana, Manuel Baião, J. C. Dias, Al f redo F. Cernadas, Adr iano I. Mesqui ta, António de Andrade, E. G. Dascalakis, A. Mar­tins Pina, Madaíl dos Santos, J. Miguéns Jorge, J. Paula Reis, J. R. Peixoto, J. T. dos Santos Júnior, Manuel L. Alpalhão, Antón io da Silva Marques, Bernardo C. da Piedade Miranda, Manuel Pedro, Augusto César Ferreira, A. Nunes dos Santos, Nicolau F. Dias, C. F. de Maio, e Napoleão L. F. Leão, para o f im do convite de 29 de Maio do corrente ano, e, sendo quinze horas e um quarto, pelo velho colono Albano de Mendonça foi l ido o seguinte:

«Senhores: Vou dar por f inda a minha missão de organizador desta reunião em que fui auxi l iado nos trabalhos de expediente pelo velho colono Senhor Al f redo A. Bastos a quem aqui deixo o meu agradecimento; cumpre-me também agradecer aos velhos colonos a sua pre­sença a quem vou dar-lhe conhecimento do que f iz desde o seu início. Os meus primeiros passos foram dados em procurar os colonos que assinaram o primeiro convite, a que expus individual­mente a minha ideia, com a qual concordaram, como se prova pelas suas assinaturas no convite original que vou ler e foi o primeiro acto público relativo a esta reunião:

«Convite — Os colonos portugueses ou estrangeiros que tenham completado vinte e cinco anos de residência na Província de Moçambique se achem em Lourenço Marques, são convi­dados pelo abaixo assinado, os seus nomes e moradas até ao dia 15 do próximo mês de Junho, a f im de se promover uma reunião em que se há-de resolver a maneira de se comemorar aquele facto.

A correspondência deve ser dir igida para os Correios desta cidade, caixa postal n.° 364, com a indicação «VELHOS COLONOS».

Lourenço Marques, 29 de Maio de 1919. (ass) Augusto Cardoso, Rufino dos Santos Ol i ­veira, Ângelo Ferreira, Al f redo Bastos, Roque de Aguiar , Melo Alves, H. Beltrão e Albano Mendonça.

A este convite responderam setenta e tantos colonos mandando cartas ou bilhetes com os seus nomes. Entre estas cartas f igura uma do Exmo. Senhor Rv. Paul Bathoud, em que diz não poder comparecer a esta reunião em vir tude do seu estado de saúde o não permit i r , termi ­nando por fazer votos por que alguma coisa de út i l aqui se resolva e outra do colono Eduardo Franco Mar t ins que passo a ler:

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Exmo. Senhor — Satisfazendo ao convite para a reunião dos velhos colonos, associo-me moral e espir i tualmente à reunião projectada para comemorar a residência dos que têm lutado nesta terra há mais de vinte e cinco anos. Desembarquei em Lourenço Marques em Maio de 1891, vindo pelo vapor «Luanda» da M. R. Portuguesa e julgo-me também velhote. Fui em Maio do ano passado a Lisboa, onde estive apenas cinco meses. O resto da minha vida tem sido aqui , onde tenho passado o melhor de vinte e oito anos. Seria ao Governo, a quem devia competir, estabelecer um prémio de colonização como incentivo à estabilidade dos portugueses, muitos dos quais têm lutado contra as maiores indiferenças dos governos, havendo mesmo alguns que têm passado miséria.

Justo é salientar o nome de alguns sócios fundadores beneméritos: F. Dicca, Sebastião Carvalho, Ismael Costa e Capitão Manuel Simões Vaz.

A Associação teve uma fase de grande desenvolvimento quando Ismael Costa se tornou seu Presidente, podendo af irmar-se que ele foi o obreiro dos alicerces do que é hoje a Associa­ção. A ele se deve a construção dos edifícios da Sede e da Mansão; interessando-se pela juventude moçambicana, e por ú l t imo, esboçando um vasto programa de realizações.

Um aspecío do Parque in fan t i l

REALIZAÇÕES

Em 1 de Junho de 1946, foi inaugurada a Mansão dos Velhos Colonos, criada para recolher os velhos colonos de ambos os sexos que vivem na indigência e que, pela sua avançada idade e longa permanência na Província, estejam fisicamente incapacitados de, pelo trabalho, angariarem os meios de subsistência.

Abr iu as suas portas com 27 recolhidos sendo 13 mulheres e 14 homens, e fornecia alimentação a mais 21 comensais externos, necessitados.

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Ao acto inaugural da Mansão presidiu o então Governador-Geral, General José Tristão de Bettencourt.

Actualmente tem 66 recolhidos, sendo 43mulheres e 23 homens, e fornece alimentação diária a 39 comensais externos.

Na Mansão funciona um Posto Médico, devidamente apetrechado com aparelhagem eficiente e tem duas enfermarias para os recolhidos.

Em Novembro de 1947 foi inaugurado pela sua patrona, a Senhora Dona Mar ia João Vieira de Castro Teixeira, o Parque In fant i l . É mui to frequentado pelos filhos dos sócios.

Em Fevereiro de 1950 foi inaugurada a Piscina, que trouxe muitos benefícios para o desenvolvimento da natação em Lourenço Marques.

A l i têm aprendido a nadar algumas centenas de crianças, fi lhos de sócios, e muitas, também, já têm tomado parte em competições da modalidade, representando a Associação.

Funcionam ainda, na Associação, as seguintes Secções:

ARTE FOTOGRÁFICA — BILHARES — ESGRIMA — TÉNIS — XADREZ

OUTROS DEPARTAMENTOS DA ASSOCIAÇÃO

No campo da cul tura física procura a Associação cumprir o melhor possível a sua missão.

Tem, também, três campos de ténis e um de voleibol, que serve de rinque de patinagem.

Pratica-se a esgrima, dir igida por um mestre da especialidade.

Nos seus salões funciona uma Secção de Xadrez, com bom número de jogadores.

A Biblioteca, com alguns milhares de livros, é, também, mui to frequentada, além dos muitos livros que fornece aos sócios para os lerem em casa.

Finalmente, uma das obras a que é dispensado um grande carinho, tão grande como o dispensado à «MANSÃO», é o PARQUE I N F A N T I L , para onde os sócios mandam os f i lhos, que são entregues aos cuidados da Directora, uma senhora especializada.

O PARQUE, que reúne muitos atractivos para as crianças é dotado de uma piscina, cujas águas são purif icadas por maquinismos especiais.

SERVIÇOS DE SAÚDE

Junto da MANSÃO funciona um Posto Médico, para consulta e t ratamento dos inter­nados, sócios e suas famíl ias.

O médico é assistido por duas enfermeiras. A lém dos Postos de Socorros e Consultas, tem sob a sua direcção uma Enfermaria já em actividade e outra que aguarda, apenas, a chegada do material requisitado à Metrópole.

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Uma perspectiva da bela piscina

A MANSÃO é subsidiada pelo Estado — cujo interesse por esta Associação é deveras notável —, pela Câmara Munic ipa l , pela Assistência Pública e pela própria Associação.

No sector da Asistência Social aos Velhos Colonos têm as Direcções dispensado grande interesse e carinho, considerando-se modelar a sua inst i tuição a MANSÃO.

O colono que, f inda uma vida de trabalho por Moçambique, se acolhe à MANSÃO, sabe que vai viver na sua CASA, onde a palavra esmola não é conhecida, e só o termo solidariedade tem signif icado.

Portugueses nascidos em Moçambique ou em Portugal cont inental , gregos, franceses, italianos, sírios e indianos, todos têm encontrado na «MANSÃO» — q u e consideram o seu ú l t imo lar — a paz e sossego merecidos.

A lém dos internados, a «MANSÃO» senta à sua mesa, também, muitos colonos, que mais não pedem que comida e assistência médica.

Merece, ainda, evidenciar a «MANSÃO», onde vivem os velhos colonos, que se acolhe­ram à sombra da sua prestimosa Associação, ali terminando a ú l t ima etapa da sua existência, rodeados de carinho e conforto.

A visita que fizemos à «MANSÃO» deixou-nos francamente bem impressionados com o ambiente acolhedor que al i se respira, do seu conforto, tranqui l idade e carinho, que a todos é prodigal izado!

Assim o deve ter sentido o Senhor Governador-Geral, Dr. Baltazar Rebello de Souza, quando al i esteve, no momento em que se comemoravam os cinquenta anos da Associação dos Velhos Colonos, que tantos e tão valiosos serviços tem prestado, durante estes largos anos da sua existência!

Tal obra bem merece ser acarinhada e ajudada por todos quantos o possam fazer!

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GRUPO DESPORTIVO 1.° DE MAIO

O MAIS ANTIGO DOS CLUBES DESPORTIVOS

DE LOURENÇO MARQUES

O Grupo Desportivo 1.° de Maio , fundado a 1 de Maio de 1917, foi o primeiro Clube desportivo a existir em Lourenço Marques.

Este Clube nasceu da tenacidade e boa vontade de alguns adeptos do Desporto, que forma­ram o grupo fundador: ARTUR JOAQUIM M A I A , M A N U E L V ITORINO, JOSÉ R. FERREIRA, LUÍS GOMES J A R D I M , ARTUR DA CRUZ e M A N U E L DA SILVA QUITÉRIO, que foi o 1.° Presidente da Direcção.

A MAQUETE DA NOVA SEDE

Lutando com inúmeras dif iculdades, o Clube foi singrando, mercê do esforço dos seus dirigentes e sócios.

A sua primeira sede era no A l t o Maé, numa casa de um só piso. Como se tornava neces­sário, e quase premente, ter um edifício conveniente, envidaram-se esforços nesse sentido, e assim, em 1956, o Clube inicia a construção da nova Sede, em moldes adequados de modo a servir ef icientemente os seus desportistas e sócios. Para a realização de tão grande como dispen­diosa aspiração, muitos esforços se despenderam, e algumas boas vontades se conjugaram. Aqui salientamos a acção do seu Presidente da Direcção, Tenente Már io de Almeida Machado, a quem o Grupo Desportivo 1.° de Maio «é devedor de toda a grat idão e reconhecimento pela execução da obra que extraordinariamente valoriza o patr imónio do Grupo e constitui o sím­bolo indestrutível de união de toda a Família a lv i - rubra».

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Em 1961, segundo estatísticas do seu «Bolet im», o Grupo Desportivo 1.° de Maio t inha conquistado 180 Taças, 26 Galhardetes e 9 Salvas de prata, distribuídas pelas várias moda­lidades: Futebol, Ciclismo, Hóquei em Patins, Basquetebol, Voleibol, T i ro aos Pratos, Tiro ao Alvo, Ténis de Mesa, Esgrima, Motocicl ismo, Fox-Ball, Andebol de 7, e diversos, 6.

No Clube, aquando da sua fundação, praticavam-se as seguintes modalidades: Futebol, Ciclismo, Basquetebol, Hóquei e Ginástica. Mais tarde, o Clube teve uma secção de Auto ­mobilismo, de que eram praticantes entusiastas, dois sócios-fundadores: Manuel Alves Car-diga e Bartolomeu Baptista Picolo.

Na vanguarda das realizações culturais, o Grupo Desportivo 1.° de Maio , criou um Cine--Clube, o que revela que a sua Direcção interpreta o Cinema como um valor educativo e como Arte. Segundo a opinião de Faria de Almeida, «o Cinema é a arte que mais faci lmente pode elevar a cultura de um agregado populacional, por ser também, o meio mais acessível de fazer compreender todas as artes, interessando nelas a quem ele assista».

Para terminar esta biografia fei ta a «traços largos» do Grupo Desportivo 1.° de Maio , vamos transcrever algumas palavras que lhe dedicou o jornalista Armando Valério, quando o Clube comemorou os seus 44 anos de existência, com as quais julgamos f inal izar da melhor forma.

«Sou dos que desde há t r in ta anos tem acompanhado a par e passo a activdade desse prestigioso clube que é o Grupo Desportivo 1.° de Maio , o mais ant igo dos clubes ecléticos de Lourenço Marques, pois completa agora 44 anos de labuta em prol do progresso desportivo da capital moçambicana, tem ocupado sempre uma uma posição de relevo, mesmo em épocas di f í ­ceis por que passou, a que sobreviveu mercê da extraordinária dedicação de um grupo de sócios para quem o clube era tudo no vida.

E realmente, só mercê de mui ta carolice, de mui to trabalho e de elevado grau de dedica­ção ao serviço de uma causa, foi possível lograr resistir a mil e uma contrariedades e terminar por vencer, de forma verdadeiramente espectacular como é o caso do 1.° de Maio , cuja situação é hoje um exemplo para todos os clubes desta cidade!»

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CLUBE FERROVIÁRIO DE MOÇAMBIQUE

Como e quais as razões que levaram à fundação do Clube Ferroviário de Moçambique.

«Junto do Matadouro (velho) havia uma cantina onde se jogava o chinqui lho, e ali se reunia, nas horas vagas, o pessoa! de Tracção que cult ivava aquela modalidade de jogo. Perto havia o campo de futebol do Sporting Clube de Lourenço Marques («mais tarde campo de treinos do 1.° de Maio») onde se disputavam os campeonatos da Associação local.»

«Um dia do mês de Setembro de 1924, à porta dessa mesma cant ina, abria-se uma quota entre indivíduos para a compra de uma bola e respectiva bomba. Neste momento não posso deixar de mencionar os nomes desses indivíduos que foram os primeiros a dar o impulso para a fundação do Clube Desportivo Ferroviário («como se escrevia então»). São eles: Antó­nio Joaquim Lourenço, António Ferreira Mouco, Carlos Alves Mi l i ta r , Hernâni Lourenço, José da Silva Teixeira, Joaquim do Nascimento Galha e Nicolau Dias Cardoso.»

«Da compra da bola nasceu a ideia de se fundar o Clube . . .»

Eis o teor da 1 .a A c t a :

«Aos 13 dias de Outubro de 1924, pelas 20 horas, reuniu-se na casa n.° 13 de Vi la Mousi­nho, um grupo de ferroviários que deliberou fundar em Lourenço Marques uma associação desportiva, denominada «Clube Desportivo Ferroviário», destinada a exercer o desporto e bene­f icência; mais deliberou nomear uma comissão composta de sete indivíduos, todos ferroviários para elaborar os estatutos e regulamentos pelos quais se deve reger a mesma.

«A Comissão, segundo a vontade dos indivíduos que reuniram, é composta pelos seguintes ferroviários: Jacinto Francisco V i la Maior , Antón io Ferreira Mouco, Armando Francisco Vi la Maior , José Mar ia de Freitas Júnior, Nicolau Dias Cardoso, José da Silva Teixeira e Luiz Couto do Amaral .»

Edifício Sede do Clube Ferroviário, em Lourenço Marques

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«Começou-se a trabalhar e os primeiros êxitos no campo desportivo surgiram com o Futebol. Porém, em fins de 1925, por um sucesso anormal que abala profundamente a classe ferroviária e se reflecte directamente na vida do Clube, este, desde essa data, até, 1929, só existe a bem dizer . . . no nome. Não faz provas nem entra em competições, porque não possui nem elementos, nem recursos para isso.»

«E se não deixa de existir (o Clube de todo, como várias outras colectividades que por cá tem havido, deve-se isso unicamente, mui to unicamente, à tenacidade forte desse grupo de carolas que nunca perdeu a fé de ver o seu «Ferroviário» chegar a ser ainda alguma coisa em Lourenço Marques.»

E assim, a vontade dos homens de então venceu a dura batalha, como hoje podemos verif icar, pelo momento que se vive.

Passado aquele período, a colectividade entrou na senda do progresso e a sua acção veio a ser reconhecida e veio a fazer «interessar a Administração Ferroviária na educação física dos seus funcionários, delegando no Clube essa missão». Isto aconteceu no ano de 1931.

A part ir de então o clube foi «crescendo» para melhor servir o desporto de Moçambique.

0 PRIMEIRO CAMPO

A Câmara Munic ipal concedeu o terreno necessário para nele o Clube construir o seu campo de jogos que veio a ser i luminado por quotização dos sócios (tal como foi o «Estádio Salazar»).

Em 1944 o campo recebe o nome «Eng.° Freitas e Costa», numa homenagem àquele que foi dos mais dedicados dirigentes do Clube Ferroviário, e então já falecido.

Durante muitos anos as Sedes do Clube foram demasiado modestas, até que, em Dezem­bro de 1944 é inaugurada a sua actual e magníf ica Sede, situada na Avenida da República e Luciano Cordeiro.

DELEGAÇÕES DO CLUBE FERROVIÁRIO

O Clube tem espalhadas pela Província várias delegações que são um prolongamento da sede, consti tuindo, todas elas, elementos válidos no desporto da Província, com acção pre­ponderante na área que servem.

Pela ordem alfabét ica são as seguintes delegações, num total de 21 :

BEIRA, CALDAS XAVIER, GÔNDOLA, IAPALA, I N H A M B A N E , JOÃO BELO, LUMBO, M A C H I P A N D A , MAGUDE, MALVÉRNIA , M A L E M A , M A N G A , M O A T I Z E , M O A M B A , M U T A -RARA, NACALA , N A M P U L A , QUELIMANE, TETE, V I L A M A C H A D O e V I L A PINTO TEIXEIRA.

Todas as Delegações possuem instalações próprias, Sede e Parques Desportivos.

Destacamos:

As instalações da Beira, que incluem um Pavilhão de Desportos. Em Nampula, o con­junto de instalações, que comporta um Pavilhão de Desportos e uma Piscina. A Delegação de Gôndola tem, também, uma Piscina. Pode-se dizer que o maior Parque Desportivo da Provín­cia é o do Clube Ferroviário de Moçambique, em Lourenço Marques.

ACTIVIDADE DESPORTIVA DO CLUBE

O Clube mantém em actividade diversas secções com equipas nas diversas provas dos calendários of iciais, part ic ipando ainda em outras competições a nível inter-clube ou inter--sócios, envolvendo tudo centenas de atletas dos dois sexos.

São as seguintes as modalidades a que o Clube se dedica:

ATLETISMO

Com atletas dos dois sexos e de todas as categorias previstas nos regulamentos. Iniciados, juvenis, juniores e seniores.

BASQUETEBOL

O mesmo que para o at let ismo e, também, equipas femininas. CICLISMO

Categorias regulamentares.

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FUTEBOL

Participação em todas as provas oficiais.

GINÁSTICA DESPORTIVA

São mantidas classes de infantis e adultcs, dos dois sexos.

HÓQUEI EM PATINS

Actividades em todas as categorias.

MINI-BASQUETE

Em funcionamento classes para os dois sexos.

NATAÇÃO

É mant ida uma escola de aprendizagem que funciona na piscina do Desportivo.

A piscina do Ferroviário será a nossa próxima realização.

TÉNIS DE MESA

De momento esta actividade está l imi tada aos sócios.

TIRO

Por fa l ta de «carreira» a acção l imita-se a participar nas provas que se organizam.

TÉNIS

Actividades inter-sócios.

ACTIVIDADE RECREATIVA E CULTURAL

Para atender os sectores recreativo e cultural o Clube mantém:

Uma Biblioteca — Secção de Xadrez — Escola de Ballet — Banda de Música.

Festas na Sede: de Aniversário, Páscoa, Fim de Ano e outras.

O Clube tem um passado verdadeiramente bri lhante no teatro Laurentino, e, embora, de momento, esta secção esteja inactiva, tal como o orfeão, sessões de cinema e a publicação do boletim mensal, são actividades de referir, por ser passageiro e eclipse.

OS TROFÉUS

É grande o patr imónio do Clube em troféus, quer no valor material quer na variedade, como pode ser observado numa visita à sala dos troféus. São taças, medalhas, medalhões, placas, plaquetes, estatuetas, galhardetes, etc.

CAMPOS DE JOGOS

Há junto da Sede do Clube, em Lourenço Marques, um conjunto de instalações depor-tivas, que engloba campos de Futebol, Ténis, Hóquei pat inado e Basquetebol, bem como recinto para Feira Popular.

Na Machava está situado o magnífico «ESTÁDIO S A L A Z A R » — o r g u l h o dos ferroviários — que foi solenemente inaugurado em 30 de Junho de 1968, pelo Subsecretário de Estado do Fomento Ul t ramar ino, Dr. Rui Patrício, em representação do Chefe do Estado.

Estiveram presentes, também, muitas altas individualidades dos países vizinhos e repre­sentantes do corpo consular, creditados em Lourenço KAarqu&s.

O festival inaugural , que se revestiu de grandiosidade, teve várias cerimónias, entre elas, o descerramento de três placas. A primeira assinalando a inauguração oficial do Estádio descerrada pelo Dr. Rui Patrício; a segunda descerrada pelo Presidente da Confederação Bra­sileira de Desportos, Dr. João Havelange, em homenagem do desporto brasileiro; e a terceira, colocada à entrada da Tr ibuna de Honra do Estádio, descerrada pelo chefe da embaixada da Federação Portuguesa de Futebol, Dr. Matos Correia, em homenagem ao Ferroviário.

A bênção do Estádio foi lançada pelo Arcebispo de Lourenço Marques. Do festival fez parte um grandioso e colorido desfile, em que tomaram parte fi l iados da Mocidade Portu­guesa, Escuteiros, delegações de todos os Clubes da Província, assim como de algumas agre­miações da Metrópole, e a inda, um interessante grupo de Marjoretes sul-africanas. Houve, também, grande largada de pombos e balões.

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O Director dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro de Moçambique, Eng.° Fernando Seixas, fez um bri lhante discurto no acto inaugural. Coube a honra de hastear a Bandeira Nacional, ao Eng.° Pinto Teixeira, ex-Director dos Caminhos de Ferro, f igura de grande prestí­gio em Moçambique. Conduziu o facho com a chama da Pátria — vinda da cidade do Porto, berço da nacionalidade, e ali acesa pelo Chefe do Estado em signif icat iva cerimónia — o con­sagrado at leta do Ferroviário, José Magalhães.

Nas cerimónias da inauguração foi condecorado o Eng.° Albano de Sousa Dias, pelo representante do Chefe do Estado. O nome do Eng.° Sousa Dias já havia marcado posição de relevo, pois que ao serviço do Estádio desenvolvera grande actividade, dando-lhe o impulso decisivo para uma mais breve conclusão, pelo que lhe foi dado o epíteto de «O Homem do Estádio», que veio a falecer, repentinamente.

O festival terminou com um encontro de futebol entre as selecções de Portugal e do Brasil, tendo t ido uma assistência «recorde» de 50 mil pessoas!

O dia 30 de Junho de 1968 constitui um marco a assinalar uma progressiva etapa no desporto moçambicano, testemunho de uma valiosa acção desenvolvida pelo Clube Ferroviário, que por tal facto, tornou possível tão magníf ico empreendimento!

Terminamos a biografia com algumas palavras do Presidente Salazar, patrono deste Estádio:

«Temos de reagir pela verdade da vida que é o trabalho : : : e dar aos portugueses, pela disciplina na cultura física, o segredo de fazer duradoura a sua mocidade em benefício de Portugal.»

Vista aérea do «ESTÁDIO SALAZAR»

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CLUBE NAVAL DE LOURENÇO MARQUES

O Clube Naval de Lourenço Marques — o antigo Grémio Náut ico — pode dizer-se que foi fundado em 1912, por um pequeno grupo de rapazes, sob a direcção entusiasta de José Correia Borges, sócio fundador n.° 1 e seu vice-comodoro honorário, embora os seus Estatutos só tivesem sido aprovados por Alvará de 25 de de Agosto de 1913.

As reuniões, nesse tempo, faziam-se nos quartos dos mais entusiastas, tendo sido a primeira quota de cinquenta centavos, passando a um escudo quando foram aprovados os Estatutos.

Em Janeiro de 1919 o número de sócios ainda não at ingia uma centena. Isto quer dizer que o rendimento das quotas do «GRÉMIO» não chegava a ser de cem escudos mensais! Mesmo assim, ainda t inha embarcações e um barracão onde as guardava.

Em Julho de 1913 o Clube realizou a sua primeira Regata, que se efectuou ao longo da Ponte-cais Gorjão, tendo obtido grande êx i to !

O relatório da Direcção, apresentado em Assembleia Geral de 14 de Janeiro de 1914, diz que o mater ial que o «Grémio Náutico» possuía se resumia a uma canoa, dois «inrrigers» e 14 remos.

NJooLjelee tempos distanfes os monífesfações desportivas começavam a despertar.

O «Grupo Náut ico», em 1917, devido aos esforços incansáveis de José Correia Borges, vice-comodoro, e do Eng.° J. Vaz Monte i ro, Presidente da Direcção, conseguem que o Con­selho de Turismo lhe construa o edifício para a sua Sede. E assim, na noite de 2 de Outubro de 1918 realiza-se um memorável Sarau no TEATRO VARIETÁ, com o f im de angariar f un ­dos para mobilar o edifício, que lhe t inha sido entregue. A festa redundou em verdadeiro sucesso, o que mostrava que o «Grémio» sabia cumprir a sua missão.

Desta forma, foi possível à Direcção conseguir com que o Governador-Geral de então, Dr. Moreira da Fonseca, se interessasse pelo «Grémio» e lhe concedesse o subsídio de 1200 libras para mobilar o seu edifício. A inauguração da nova sede fez-se com grande pompa, em 27 de Dezembro de 1919.

Fachada principal do edifício do Clube Naval

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Em 1920 o número de sócios passou para 528, pasando a quota para 10 escudos, e mais tarde, para 50$00.

Depois, a cidade foi evoluindo. Nasceram outros Clubes, o desporto toma o seu lugar e o «Grémio Náutico» passa a denominar-se «Clube Naval», passando a l imi tar a sua acção às actividades para que fora cr iado: Remo e Vela.

O Clube Naval , através da sua longa existência, nem sempre fo i , naturalmente, o que é, devido pr incipalmente, às boas vontades e mui to trabalho, logrou alcançar a posição de relevo que hoje ocupa em Moçambique.

Para isso mui to tem contribuído o auxíl io e simpatia que lhe têm dispensado os Governa-dores-Gerais da Província, a Câmara Munic ipa l , entidades oficiais e particulares, os seus sócios, sem os quais não lhe seria possível vir a cumprir a missão para que fora criado o Clube.

Em Julho de 1969, o Clube Naval de Lourenço Marques apresentou um vasto Programa de comemorações do seu 56.° aniversário, que fez deslocar à capital da Província numerosos estrangeiros que vieram acompanhados de suas famíl ias, part icipar nas várias Regatas, a t in ­gindo cerca de um milhar de visitantes.

O Clube promoveu campeonatos de: SNIPES; Clases de «Spearhead», «505»/ «0» e «FD», além de promover um Concurso Internacional de Pesca, na Inhaca. Também se vem efec­tuando desde 1968, a Regata Oceânica «Vasco da Gama», Lourenço Marques-Durban, a que concorrem iates de Cruzeiro, tendo sido ganha por um sul-africano. O Clube Naval tam­bém promoveu uma competição de Motonáut ica, que teve bastantes concorrentes nacionais e estrangeiros, proporcionando um interessante espectáculo, que a população da cidade pode apreciar gratu i tamente, obtendo grande êxito.

Na mensagem que dir ig iu ao Clube Naval , o actual Presidente da Câmara Munic ipal de Lourenço Marques, Eng.° Emílio Mertens, a f i rmou:

Aspecto geral do Clube

«Lourenço Marques deve todo o prestígio e atracção de que desfruta à sua situação perante o mar e o Clube Naval sempre prestou, através dos tempos, uma destacada contr i ­buição para a sua valorização turíst ica, o que, se representa motivo de orgulho para os seus sócios, garante uma extremosa simpatia extensiva a todos os habitantes desta nossa terra. Com os votos de pleno êxito para as suas organizações, endereço a todos os velejadores e cor­pos directivos as minhas calorosas saudações.»

Também o Dr. Noronha Feio, Presidente do Conselho Provincial de Educação Física e Desportos, referindo-se ao Clube Naval , diz no sua mensagem:

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«O Clube Naval de Lourenço Marques comemora o 56.° aniversário da sua fundação com uma série bri lhantíssima de realizações de nível nacional e internacional, raras vezes igualada no espaço português e em tudo dignas das tradições do Clube.

O Desporto e o Turismo da Província de Moçambique estão mais uma vez de parabéns e, de modo mui to especial, a cidade de Lourenço Marques que na maravilhosa quadra de Julho encontra nos festejos do Naval uma expressão em tudo digna da sua beleza, paz e juventude.

Não contestemos nem uma vez tamanha lição de generosidade e de vida plenamente realizada nestes encontros da juventude com o sol e o mar!

Dias de mui to trabalho e de preocupações sem conta, dias felizes de missão cumprida — há jovens e velas na Baía do Espírito Santo.»

Com as elogiosas referências de duas ilustres entidades oficiais, terminamos a história deste simpático Clube lourenço-marquino.

Entrega de prémios aos vencedores das Regatas Internacionais, em 1969

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O CLUBE MAIS ANTIGO DE LOURENÇO MARQUES

CLUBE DE GOLFE DA POLANA

Edifício do Clube de Golfe

Fundado em 1895, nos terrenos onde actualmente se encontram as instalações fabris da firma P. Santos Gil e os depósitos da Caltex.

Em 1914 mudou-se para a zona de Sommerschield da Polana, ocupando o campo de golf a área onde presentemente se encontra a Igreja de Sto. António da Polana e toda a zona «A» do Bairro dos Cronistas.

O plano de urbanização que criou o Bairro dos Cronistas obrigou o Clube de Golfe da Polana a procurar novamente outras instalações. Em 1955 começou-se a construção do novo campo tendo ficado completados os trabalhos em 1956, com 18 buracos.

Durante alguns anos o Clube continuou a fazer uso da Sede ant iga ao lado do actual Clube de Lourenço Marques, mas em 9 de Abr i l de 1961 foi inaugurada por S. Exa. o Governador-Geral de Moçambique, Comandante Pedro Correia de Barros, a nova Sede. Na ala esquerda

do edifício situa-se o Gabinete da Direcção, Sala de Jogo, Leitura, Bar, etc.

Em 1963 foi inaugurado um parque in fant i l com piscina para a pequenada, fi lhos de sócios.

Em 1964 foi construído um «Court de S q u a s h » — a única instalação em Moçambique para a prática de squash.

Também devido à compreensão e ajuda do Eng.° Lopes Duarte, Director dos Correios, Telégrafos e Telefones, o Clube pôde contrair dois empréstimos à Caixa Económica Postal, sem os quais a construção da Sede cont inuaria, talvez, no plano d a : esperanças . . . E assim, cami­nhando progressiva e t r iunfantemente, mercê da união de todos os sócios e da boa vontade de simpatizantes, a prestigiosa colectividade tem singrado e subsistido.

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Em 31 de_ Dezembro de 1964 o Clube de Golfe da Poiana t inha 308 sóc ios— 190 de golfe — 63 da secção Social e 55 Correspondentes e Juniores.

Todos os anos é disputado nos Campos de Golfe o Campeonato de Moçambique com a par­t icipação de grande número de jogadores dos países vizinhos, incluindo os* melhores amadores da Áf r ica do Sul. Em 1964 inscreveram-se 60 jogadores estrangeiros, incluindo 10 jogadores internacionais de grande categoria.

É, actualmente, o Presidente da Direcção do Clube, João Ferrão.

Sala de convívio do Clube

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SPORTING CLUBE DE LOURENÇO MARQUES

O Sporting Clube de Lourenço Marques foi fundado em 3 de Maio de 1920 e pelos seguin­tes sócios:

Jorge Belo, Joaquim Duarte Saúde, José Roque de Aguiar , Peter Mangos, António José de Sousa Amor im, Alberto Gonçalves Túbio, Júl io Belo, José Nicolau Argent , Edmundo Dantes Couto, Manuel Sousa Mar t ins , José Miguens Jorge, José Mendes Felizardo Mar t ins , Al f redo Carlos Sequeira, João Carvalho, Manuel Dias, José Lopes, Antón io Pimenta Freire, Augusto Gendre Ferreira, Antón io Mar ia Veiga Peres, Abí l io Carmo, João de Freitas e Fernando de Fi­gueiredo Magalhães.

Na actual idade, o Clube tem cerca de 1300 sócios.

Estádio coberto do Sporting

MODALIDADES PRATICADAS E NÚMERO DE ATLETAS

At let ismo — Andebol de 7 — Badminton — Basquetebol — Automobi l ismo — Ciclismo — Futebol — Futebol de Salão — Judo — Ténis de Mesa — Ti ro — Voleibol e Hóquei em Patins, num total de 600 at letas.

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TAÇAS E CAMPEONATOS GANHOS PELO CLUBE

Em 1961 o Sporting Clube de Lourenço Marques foi o campeão do Campeonato de Fute­bol de Moçambique, e vencedor da el iminatór ia do Ultramar para a «TAÇA DE PORTUGAL». Nesse mesmo ano também foi o campeão de ciclismo em Lourenço Marques.

O Sporting Clube de Lourenço Marques, campeão de 1960

Em 1962 foi o vencedor da «TAÇA DE PORTUGAL», em Basquetebol, na categoria de Seniores, disputada em Lisboa.

Em 1962, fo i , também o vencedor do «I TORNEIO INTERNACIONAL DA ÁFRICA AUS­TRAL» , em Basquetebol, na categoria de Seniores.

Foi vencedor do Campeonato Ul t ramarino, em Futebol, em 1963. Em 1964 foi o vencedor do Campeonato Nacional de Basquetebol, na categoria de Juniores. Igualmente foi vencedor de diversos Campeonatos Provinciais e Distr i ta is em diversas modalidades e categorias.

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Campeão Ultramarino em 1963

As instalações do Clube ocupam uma área de cerca de t r in ta e quatro mil metros qua­drados. O seu Pavlihâo de Desportos tem capacidade para cinco mil pessoas. Na Província, é a mais importante Filial do Sporting Clube de Portugal, sendo considerada uma inst i tuição de uti l idade pública.

Em 1965, d i r ig i ram os destinos deste prestigioso Clube, os seguintes Senhores:

Presidente da Direcção: Eng.° Luís Júdice Folque. Vice-Presidente das Relações Públicas: Eng.° Joaquim Cabral Jacobetty. Vice-Presidente Admin is t ra t ivo : Dr. Manuel Lourenço Real. Vice-Presidente das Actividades Desportivas: Luís José Mar inho Falcão. Secretário-Geral: Rolando Maia Vinhos. Tesoureiro: Manuel de Almeida Saraiva.

O Sporting Clube de Lourenço Marques mu i to tem contribuído para o desenvolvimento e prestígio do Desporto na Província.

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CLUBE DE PESCA DESPORTIVA

DE LOURENÇO MARQUES

O belo edifício do Clube de Pesca Desportiva

Considerada como prát ica generalizada a pesca desportiva tem passado pouco remoto em Moçambique, porém, a sua introdução, pelo menos em Lourenço Marques, é bem mais ant iga do que muitos dos seus actuais praticantes poderão supor.

Aí por volta de 1924-25 já existiam aficionados, poucos, é certo, em número reduzido e sempre os mesmos que, quer de cima da velha ponte do Pavilhão da Polana, de saudosa memó­ria, que especados na muralha marginal , passaram horas sem conta na prática da modalidade, alheios às «piadas» dos «mirones» e indiferentes aos conceitos que deles faz iam amigos e desconhecidos.

Todos esses primeiros praticantes se dedicavam à pesca pesada e, munidos de longas canas de bambu natura l , com linhas de algodão ou de linho enroladas em primit ivos carretos «center--pin» ou «Sacarborough», os componentes desse reduzido número de pioneiros — não mais de meia dúzia — cometeram verdadeiras proezas que muitos praticantes de hope, com material aperfeiçoado, não desdenhariam de averbar nos seus palmarés.

Porém, esse pequeno grupo não fez escola e não deixou continuadores. Fechados em si mesmos — talvez por serem tidos como mais ou menos lunáticos e, por isso, frequentemente ridicularizados — os seus componentes não souberam, ou não quiseram, interessar outros, insu-flando-lhes a chama sagrada e criando entre si e nos novos o necessário «espírito de grupo» para que o desporto evoluísse.

A esse grupo pertenceram o velho Sprackett, já falecido, cujas capturas de tubarões, quer em número quer em tamanho, se tornaram famosas, e o Romeu Casaleiro, ainda vivo mas afastado das lides, a quem durante mui to tempo coube a honra de ter, sucessivamente, pescado as maiores garoupas gigantes até então vistas.

Foi só depois da ú l t ima guerra mundial que a pesca desportiva alastrou explosivamente ao mundo inteiro, como epidemia impossível de conter, tendo at ingido Moçambique aí por volta de 1947-48, data em que pode situar-se o começo do af luxo de gente interessada que, em 1952, const i tuiu o primeiro grupo de aficionados que deu origem ao seu actual desen­volvimento.

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Seria ingrato não mencionar a inf luência que neste grupo exerceu, nessa a l tura, Jorge Brun do Canto, grande pescador entre os maiores, que aqui deu proveitosas lições e acendeu o fogo sagrado quando por aí andou f i lmando «Chaimite»; os proveitosos ensinamentos sobre pesca grossa que nos proporcionou o falecido coronel John K. Howard e os contactos com cam­peões como Joe Brooks e com praticantes de experiência internacional como Alber t Van der Riet, Norman Marchai I , George Wooler e W. van Rooyen, para só citar alguns entre os mais notáveis que nos têm visitado e que, directa ou indirectamente, contr ibuíram para a evolução deste desporto entre nós.

A doca do Clube

O rápido desenvolvimento da pesca desportiva conduziu ao necessário agrupamento dos aficionados que, começando por formar «secções» especializadas dentro de alguns clubes de desportos náuticos, como o Clube Náut ico, em Lourenço Marques, e o Clube Náut ico, na Beira (que ainda hoje mantém essas secções em plena actividade), culminaram por fundarem clubes da especialidade.

Deste, foi pioneiro o Clube de Pesca de Moçambique, criado na Beira mas de efémera duração, ao qual se seguiram, por ordem cronológica, o Clube de Pesca Desportiva, de Lourenço Marques e o Clube de Pesca de Gaza, em João Belo, ambos em plena actividade.

O Clube de Pesca Desportiva, com mais de seiscentos associados, entre os quais se con­tam alguns dos mais destacados praticantes, possui embarcações próprias para a pesca grossa de al to mar, uma doca pr ivat iva e uma grandiosa sede, criou já reputação internacional que mui to tem honrado o clube e a Província.

A part i r de 1952 a pesca desportiva evoluiu rapidamente em Moçambique. Primeiro em Lourenço Marques e depois, mais lentamente, em toda a Província, foram aparecendo cada vez mais adeptos deste desporto que hoje tem entre nós alguns milhares de praticantes.

A princípio, como é natura l , o desporto era prat icado de qualquer modo, à maneira de «arranca-nabos», desajeitadamente. Mas dentre esse grupo inicial alguns houve que não se contentaram com apenas «t irar» peixe de qualquer forma e quiseram saber mais. Estabelece­ram contactos, cr iaram relações, aprenderam e, o que é mais importante, foram espalhando entre os confrades, os conhecimentos que iam obtendo, corrigindo-se e aperfeiçoando-se, pas­sando a pescar mais com a cabeça do que com os músculos, mais em «souplesse» do que em forca.

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Entretanto, da Áfr ica do Sul, onde este desporto tem tradições estabelecidas, alguns des­portistas experimentados, apercebendo-se das possibilidades das nossas águas, começaram a visitar-nos com frequência e a contactar cada vez mais com os nosos praticantes que rapi­damente iam absorvendo todos os conhecimentos experimentando todas as novas práticas que :

podiam.

Este facto, al iado às descobertas feitas por Alexander e por van Rooyen (independente­mente um do outro, mas quase simultaneamente) das enormes possibilidades haliêuticas das águas do Bazaruto consolidaram entre nós o estabelecimento da pesca desportiva de alto mar, que culminou na realização ali do primeiro concurso de pesca, aberto a equipas de clubes da Rodésia, da Áf r ica do Sul e de Moçambique.

A part i r de então o concurso de pesca-grossa do Bazaruto que se tem realizado regular­mente há dozes anos sem uma falha graças à iniciat iva do velho colono Joaquim Alves, pro­prietário da organização que tem o seu nome e que explora o turismo no arquipélago, adquir iu foros de tradicional.

Com a nomeação de representantes em Moçambique da Internat ional Game Fish Associa-t ion e a f i l iação dos nossos clubes nesta organização internacional, passaram a adoptar-se as regras internacionais de pesca desportiva em todos os concursos e o regulamento daquela com­petição foi-se tornando cada vez mais rígido e apertado, dando-lhe o nível internacional que lhe trouxe fama e que a ele atrai pescadores experimentados nas Bahamas, em Wedgeport, no Hawai, no Cabo Blanco, no Cabo e na Nova Zelândia.

Assim, em poucos anos, os nossos desportistas foram-se graduando da pesca nas mura­lhas e nas praias à pesca de estuário e a l to-mar; da pesca no estuário e canais, em botes a remos, à pesca nas barras em «ski-boats» com motores fora de borda e, f ina lmente, à pesca grossa em poderosos barcos como os «srikers» do Clube de Pesca Desportiva; das tainhas, douradinhas e carapaus, às cavalas (serras), xaréus e barracudas; dos bonitos, dourados-do--al to e atuns, aos tubarões, veleiros e espadins (marlins).

O prestígio criado pelas equipas portuguesas que têm disputado os concursos da Cidade do Cabo — onde se reúnem os mais experimentados «springbocks» — levou os organizadores a considerar o Clube de Pesca Desportiva como «convidado permanente» nos prélios entre c lu­bes e, nos internacionais, a equipa de Moçambique como um «must».

Em Melinde (Quénia) onde Moçambique se fez representar antes da independência da­quele terr i tór io, ao lado de americanos, australianos, sul-africanos e rodesianos, a nossa equipa foi favori ta e, embora perdendo, os organizadores deram-nos a honra de inst i tuir , para futuras competições, um troféu f lu tuante que designaram por «THE HENRY, THE NAVIGATOR'S TROPHY». Infel izmente, embora convidados, Moçambique não pôde voltar a fazer-se representar.

O concurso do Bazaruto tem sido várias vezes ganho por equipas moçambicanas, sendo de notar que o júri destes concursos, de que fazem parte delegados dos territórios vizinhos, é hoje tradicionalmente presidido por um delegado de Moçambique.

As possibilidades da pesca desportiva das nossas águas são hoje conhecidas a lém-fronte i -ras, não só entre os nossos vizinhos como também na América do Norte, na Europa, na Austrá­lia e Nova Zelândia.

Esta projecção deve-se não só à actuação de alguns dos nossos pescadores mais desta­cados como, u l t imamente, à acção do Clube de Pesca Desportiva de Lourenço Marques, que reúne entre os seus membros alguns dos mais conhecidos pescadores de Áf r ica , tanto nacionais como estrangeiros, através dos quais tem procurado estabelecer contactos com a fraternidade do resto do mundo.

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CLUBE MARÍTIMO DE DESPORTOS

Aspecto exterior do Clube Marítimo de Desportos

Em Lourenço Marques, foi fundado em 3 de Maio de 1948, por oficiais e mais funcionários da Capitania d o > o r t o de Lourenço Marques, o CLUBE M A R Í T I M O DE DESPORTOS. A sua sede e campo de jogos teve lugar nos terrenos da Capitania. Praticavam-se os desportos da Vela, Remo, Futebol e outros.

Mui tos anos depois, mudaram as suas instalações para a Praia do Polana, onde construí­ram a sua nova sede. Esta consta de um grande Salão de Festas; um Bar para Homens; um Bar para Senhoras; cozinha e copa; sala para Direcção e Conselho Técnico; Balneários para ambos os sexos; seis quartos de cama para alojar embaixadas desportivas; um Hangar coberto para t r in ta embarcações e uma esplanada para cem embarcações.

No presente, o Clube dedica-se somente aos desportos náuticos, mui to pr incipalmente, à Vela, Remo, Pesca, Caça Submarina, Ski aquático e Motonáut ica.

Esta é mais uma agremiação desportiva moçambicana, que ao Desporto de Moçambique tem dado valioso contr ibuto.

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ANTÓNIO MELO PEREIRA

O PIONEIRO DO CINEMA

EM MOÇAMBIQUE

António Melo Pereira desde a juventude que se dedica à Sétima Ar te , profissão que iniciou na Metrópole, trabalhando com os melhores realizadores portugueses, como por exem­plo, Leitão de Barros e Brun do Canto, assim como com equipas estrangeiras que se deslo­caram a Portugal para produzirem f i lmes, entre as quais, dos realizadores Alejandro Perla, espanhol, e Max Nosseck, americano. António Melo Pereira também esteve em Londres, onde sstagiou durante seis meses, na Secção de Televisão da BBC.

O produtor de «ACTUALIDADES DE MOÇAMBIQUE» nasceu próximo de Leiria — a linda princesa do Liz — tendo ido depois, para Lisboa, estudar, acabando por se prender aos encantos da capital .

Em 1951, Antón io Melo Pereira vem para Moçambique integrado na equipa cinemato­gráf ica que ia produzir o f i lme « C H A I M I T E » , acabando por se f ixar na Província, ou mais propriamente, em Lourenço Marques.

Sonhando sempre com projectos cinematográficos, inicia em Agosto de 1955 a fe i tura de um jornal mensal, de actualidades da Província, a que foi dado o t í tu lo de «ACTUALI ­DADES DE MOÇAMBIQUE», que desde então aparece regularmente nos écrans dos principais territórios portugueses.

Depois o seu sonho cresceu . . . e há cerca de dois anos montou um laboratório, mo­dernamente apetrechado, no qual labora o seu jornal e Todos os trabalhos cinematográficos idênticos.

Desde que se f ixou em Moçambique, Me lo Pereira tem produzido diversos Documentá­rios de elevado nível técnico e artíst ico, focando diferentes aspectos da Província, grangeando-lhe louros e merecidos elogios.

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JOÃO TERRAMOTO

O primeiro representante da Televisão Portuguesa, em Moçambique, foi o malogrado colega João Terramoto, falecido num brutal desastre, em Julho de 1969, quando se encontrava em serviço, a f i lmar as Corridas de Automóveis, no Autódromo de Lourenço Marques.

Viera para Moçambique em 1959, iniciando a sua vida profissional na Beira, f ixando-se, pouco depois, em Lourenço Marques.

João Terramoto num momento de reportagem

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MANUEL AUGUSTO RODRIGUES

PIONEIRO DO CINEMA E DO TEATRO

Em Janeiro de 1897, desembarcava em Lourenço Marques, o que havia de ser mais tarde o grande pioneiro da indústria do cinema e teatro em Moçambique, Manuel Rodrigues e que ali se f inou no ano de 1944.

A cidade era, então, um pequeno aglomerado de amigos, qual V i la de hoje, que nestas paragens a todos irmanava.

Não eram passados dez anos, e devido a tenacidade forte desse pioneiro, que havia de legar a Moçambique um dos melhores exemplos de colono e patr io ta, saiu Lourenço Marques do seu marasmo, com a inauguração da sua primeira sala de espectáculo, assistida pelo seu Gover-nador-Geral, Major Freire de Andrade e a que lhe deram o nome de «Salão Edison».

Passaram-se os anos, e com eles, o desenvolvimento da cidade evoluiu na rotina própria daquela época. É tal o amor pela terra que o acolheu e tal a boa vontade dos amigos que o rodeavam, que levaram Manuel Augusto Rodrigues a sentir uma maior aspiração. Na reali­dade, o seu já agora modesto salão, não correspondia a digna sala de visitas que a terra merecia.

Vencidos que foram os obstáculos quase intransponíveis, para aqueles tempos, e com o espanto geral da população ante tanta tenacidade e arrojo, seis anos volvidos, lança-se Manuel Augusto Rodrigues, na construção duma já moderníssima e ampla casa de espectáculos que a todos orgulhava.

Esse orgulho foi tão elevado que, ainda hoje, os vindouros o sentem ao ler uma carta dos mais proeminentes velhos colonos dir igida a Manuel Augusto Rodrigues pedindo-lhe que ao novo teatro fosse dado o nome de «Gil Vicente». Essa carta, repassada de amor pela arte por­tuguesa e de sentimentos patriót icos, era assinada por uma centena de vultos de destaque de então e que hoje ainda lembramos com saudade ao ver os seus nomes invocados para designar algumas das Avenidas de Lourenço Marques.

Manuel Augusto Rodrigues, que pertencia também a essa mocidade exuberante, cheia de uma vontade incomensurável de vencer, abraçou com carinho a ideia dos seus amigos e em 1913 inaugurava o seu primeiro teatro já de vu l to , «Teatro Gil V icente», o primeiro teatro em terras de Moçambique e já um dos melhores de toda a Áf r ica. Presidiu à inauguração o Go-vernador-Geral daquele tempo, Sr. Dr. Ferreira dos Santos, tendo como chefe de gabinete, o Comandante João Belo.

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Para a estreia do primeiro teatro de Moçambique veio também a primeira companhia de teatro da Metrópole, empreendimento e organização esta, de que só o arrojado e desprendido empresário, Manuel Augusto Rodrigues, daquele tempo, seria capaz. Que momentos de fe l ic i ­dade e alegria deu, então, aos seus compatr iottas, este homem, à custa de tantos trabalhos e canseiras!

Nós, os vindouros, nesta época dos telefones, correios aéreos, e mil uma facilidades de agora, é que avaliamos bem o trabalho exaustivo e privações até, por que Manuel Augusto teria de passar para alcançar os seus objectivos: apresentar o melhor, do melhor daqueles tempos . . .

Em 1931, porém, contra a maré norma! do seu r i tmo de t r iunfo , uma vaga de pouca sorte, tudo muda, arrebatando-lhe o seu sonho, toda uma vida de trabalho e honestidade. Em poucos minutos, um incênido destruiu por completo todo o edifício e recheio do Gil Vicente», em que nem sequer o seguro lhe valeu por o mesmo não ter sido renovado.

Seguem-se dias de desalento amargo, ao profundo golpe sofrido, na sua alma já abalada pelos anos que avançam e fa t igam as vontades mais fortes. Há amigos, porém, que o não de­samparam e o encorajam a prosseguir.

Manuel Augusto Rodrigues, vê a cidade de Lourenço Marques, a terra dos seus filhos que também já é sua, a al indar-se, a povoar-se cada vez mais. Lembra-se com saudade de seu pas­sado de lutas e contrariedades vencidas. Escudado no seu ânimo forte e persistente, lança-se na construção do novo «Gil V icente», pois sente que ao f indar da sua vida alguma coisa de seu, alguma coisa da sua personalidade tem de legar à cidade a que tanto quis. E ao f indar o ano de 1933 inaugura o novo e elegante teatro da Avenida Aguiar , o seu novo «Gil Vicente».

O que foi a noite de estreia, presidida pelo Encarregado do Governo, Senhor Tenente--coronel Soares Z i lhão, faiam-nos os periódicos daquele tempo. Noite de dist inção, br i lhan­tismo, luz e alegria para todos os que a ela assistiram. A l i acorreu a população em peso, quanto mais não fosse para patentear a sua satisfação e homenagem ao persistente pioneiro do teatro de Moçambique e a quem a cidade já tanto devia Noite de comoção forte para Manuel A u ­gusto Rodrigues, sua famíl ia e seus amigos, para o empresário de larga visão que se agigantava na adversidade e que não passava de uma sombra modesta dos seus tr iunfos. Noite momerá-vel, aquela, nos anais do progresso ci tadino! Estava realizado o sonho do velho colono e pio-nero, Manuel Augusto Rodrigues, que ainda viveu até 1944.

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A representante da « M G M » entrega uma placa de homenagem aos Irmãos Rodrigues, em 1956

Deixou raízes a sua vontade indómita, deixou reflexos o impulso da sua natural vocação. E assim, seus f i lhos, César e Manuel , continuadores da obra orgulhosa do pai , não se l imitando, somente, ao seguimento do t r i lho encetado, resolvem dotar Lourenço Marques, na sua ampla Avenida 24 de Julho, com mais um novo teatro, um dos mais luxuosos e delineados teatros modernos, onde tudo é com gosto e sobriedade.

Como preito de homenagem ao autor dos seus dias e ao justo e valoroso pioneiro da in­dústria teatral de Moçambique, decidem dar-lhe o nome de «Teatro Manuel Rodrigues».

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CAPITÃO MANUEL SIMÕES VAZ

FUNDADOR DO " N O T Í C I A S "

O PRIMEIRO JORNAL DIÁRIO DE MOÇAMBIQUE

O capitão Simões Vaz a ser galardoado pelo Presi­dente da Câmara de L. M. , homenageando os seus 40 anos ao serviço da cidade, em 26 de Setembro

de 1 9 6 1 .

Nasceu em 9 de Setembro de 1889, frequentou a Escola Politécnica e depois as Escolas do Exército e Prática de Cavalaria, sendo promovido a alferes em 15 de Novembro de 1910. Foi promovido a tenente em 23 de Setembro de 1911 para seguir para S. Tomé em comissão ordinária, onde organizou e amestrou em pelotão de Cavalaria da Polícia. Seguiu em Junho de 1913 para Lourenço Marques, onde foi tomar parte num concurso hípico internacional sem vencimento e sem contagem de tempo de serviço, f icando colocado depois em Moçambique, no Quartel General, como defensor oficioso dos Conselhos de Guerra.

Em fins de 1914 foi nomeado ajudante de Campo do Governador-Geral, General Joaquim José Machado, e também taquígrafo do Conselho do Governo, lugares que desempenhou cumu­lat ivamente, até ser concedida, depois de 14 de Maio de 1915, a demissão ao Governador--Geral que acompanhou no seu regresso a Lisboa.

No mesmo ano voltou a Moçambique como subchefe do Estado-Maior da expedição coman­dada pelo coronel de Ar t i lhar ia Moura Mendes e de que era chefe do Estado-Maior o major L i -berato Pinto.

Foi encarregado da missão de proceder ao reconhecimento do vale do rio Rovuma, no que respeitava a recursos alimentares da região e vaus possíveis para passagem de tropas. Fez esse reconhecimento, apenas acompanhado de carregadores e seus cipaios, e gastou nele, numa ex­tensão de cerca de 500 quilómetros, cerca de um ano, tendo elaborado um levantamento expe­dito do percurso fe i to até uma localidade de nome Chivinde no ponto em que o rio saía do nosso terr i tór io.

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Regressando mais tarde à Base, em Palma, depois da queda de Nevala, fo i , apesar de ser capitão de Cavalaria e subchefe do Estado-Maior, nomeado para comandar um batalhão de Infantar ia constituído por uma companhia europeia e uma indígena, com instruções para ir ao encontro duma formação alemã que se encontrava já em terr i tór io português, perto de uma povoação chamada Nhica, na margem direita do Rovuma.

Com a aproximação desta coluna as forças alemãs ret iraram para a margem esquerda sem terem dado combate.

Terminada a guerra f icou em Lourenço Marques e depois duma missão a Singapura de que foi encarregado pelo Governador Massano de Amor im, voltou a Moçambique em fins de 1919, tendo então entrado em licença registada e pouco depois em licença i l imitada.

Em Janeiro de 1920 abraçou def ini t ivamente o jornalismo, entrando como director da sec­ção portuguesa do bisemanário «Lourenço Marques Guardian», hoje «Diário».

O primeiro art igo que escreveu para esse periódico, como jornalista profissional, e publ i ­cação num dos primeiros dias desse ano, foi subordinado ao t í tu lo «Colonização - ligeiras observações» e este mesmo tema serviu de assunto para dezenas de artigos escritos nos anos que se seguiram.

Em 15 de Abr i l de 1926, no desejo de satisfazer uma necessidade que surgia na popula­ção, a de um jornal diário noticioso, iniciou a publicação do «Notícias», publicado regular­mente até hoje.

Para a manutenção desse diár io, iniciado com pequeníssimo capital e l imitados recursos, teve de deitar mão de trabalho a ele estranho para obter recursos para a sua manutenção e assim foi professor de inglês e desenho no Liceu 5 de Outubro, intérprete oficial do Tr ibunal , dando simultaneamente lições de português a estrangeiros residentes em Lourenço Marques. Além disso foi contratado como redactor de actas do Conselho do Governo, ocupações que foi deixando à medida que o «Notícias» ia obtendo popularidade e firmando-se f inanceiramente.

Durante os 42 anos de jornalismo profissional, não só pugnou enérgica e persistentemente pela colonização portuguesa da Província, como em artigos sucessivos pedia o desaparecimento dos Prazos da Zambézia, a passagem para a administração directa do Estado dos territórios na posse das Companhias Magestáticas do Niassa e de Moçambique e a nacionalização dos servi­ços de estiva do porto de Lourenço Marques, o que f inalmente se conseguiu em benefício do interesse nacional.

Debateu em centos de artigos os problemas administrat ivos, económicos e de instrução, assunto duma campanha que se prolongou durante anos.

Nas colunas do «Notícias» das edições publicadas nos 37 anos da sua existência encon-tram-se assinados e não assinados, muitos centos de artigos t ratando da necessidade de se pro­mover o desenvolvimento agrícola e pecuário, defendendo os interesses legítimos da população e das suas actividades, pugnando pelo progresso e desenvolvimento de Moçambique, enf im dando sempre toda a cooperação, sem auxílo ou subsídio de qualquer natureza, aos Governos de Moçambique.

Em 1938 foi eleito vogal do Conselho do Governo pelo distr i to de Gaza, e no mesmo ano escolhido, nesse Conselho, para seu delegado junto do Conselho de Administração dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, lugar que desempenhou durante alguns anos!

Desde essa data nunca mais deixou de fazer parte do Conselho do Governo, eleito por Gaza, ou do Conselho Legislativo, eleito pelos maiores contribuintes.

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Actual edifício do «NOTÍCIAS»

Durante alguns anos teve a honra, nunca anterior ou posteriormente t ida por qualquer outra pessoa, de ser simultaneamente vogal do Conselho do Governo, do Conselho de A d m i ­nistração dos C.F.M., presidente da Câmara do Comércio e director do principal jornal diário de Moçambique, tendo durante esse período defendido e pugnado pelos interesses da Província, seu desenvolvimento e prosperidade.

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TRANSPORTES DE MOÇAMBIQUE

A história dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique inicia-se com a construção do 1.° troço do caminho de ferro Lourenço Marques-Pretória, em 1888, com 53 quilómetros de extensão, l igando Lourenço Marques à Moamba. O segundo troço foi inaugurado em 5 de Outubro de 1914, devendo-se à visão intel igente do Governador Freire de Andrade, prolon-gando-se até Ungubana. Esta via foi a percursora do Caminho de Ferro do Limpopo, tendo em vista a intenção de alargar a zona de colonização europeia, no ubérirmo vale do Gui já, cuja l inha férrea se prolongou até lá, concluindo-se'em 1937. Em 13 de Maio de 1952 a linha foi prolongada mais 24 quilómetros, até à Aldeia da Barragem, centro do Plano de Fomento e Povoamento do Limpopo.

Uma visto aérea do Porto

Em 1 de Janeiro de 1953, foi iniciada a ú l t ima etapa deste grande empreendimento, que se concluiu mais rápido que o previsto, construindo, os portugueses, o caminho de ferro para além das fronteiras, em terr i tór io rodesiano. O primeiro comboio de Mercadorias para a Ro­désia do Norte, saiu de Lourenço Marques às 19 horas do dia 31 de Julho de 1955, chegando à Estação fronteir iça, do Pafúr i , no dia 1 de Agosto às 16.35.

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Cais do Minér io

DISTRITO DE MANICA E SOFALA

Outro troço importante dos Caminhos de Ferro é a l inha Beira-Machipanda, que liga o Porto da Beira à Rodésia do Sul, que teve a sua conclusão em 1896.

Por sua vez, a N iassa lând ia— hoje M a l a v i — d e s e j a v a possuir um fáci l acesso ao l i toral , através do Porto da Beira. Hoje existe um troço, Dondo-Rio Zambeze.

Em 1922 formou-se a Transzambézia-Railway, Companhia part icular, que passou a explo­rar uma l inha, que entroncando no Dondo, alcança a povoação de Murraça, na margem direita do rio Zambeze. Depois de construída a Ponte sobre o rio, estabeleceu-se, f inalmente, a l iga­ção directa da Niassalândia com o Porto da Beira. A Ponte que atravessa o rio Zambeze é uma das maiores do mundo, medindo 3702 metros de comprimento.

Estação Nova dos Caminhos de Ferro, na Beira

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DISTRITO DA ZAMBÉZIA

Em 1 de Junho de 1912 o Estado iniciou a construção da linha férrea de Namacurra a Mocuba, que deveria constituir um ramal da linha Quelimane-Chire, várias vezes estudada, mas não fe i ta . Só em 1914 se deu início à construção dessa l inha, a part ir de Quelimane, que se prolonga até Mocuba.

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Porfo de Quelimane

DISTRITO DE TETE

A Direcção dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, em Abr i l de 1939 iniciou a construção da linha férrea de Tete. Parte de D. Ana , onde entronca com a linha transzambézia e assegura a ligação da rica região mineira do Moat ize com o Porto da Beira.

Esta l inha foi inaugurada em 29 de Julho de 1949, projectando-se o seu prolongamento até aos Planaltos da Angónia e Furancungo, locais privilegiados para a f ixação europeia.

Edifício dos Correios, em Tere

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DISTRITO DE MOÇAMBIQUE

A l inha que começou a ser venti lada por Serpa Pinto, em 1889, só veio a ser realizada em 1912, num primeiro troço, indo do Lumbo ao Rio Monapo e Nacala.

Em 1922, f izeram-se novos estudos e a l inha prolongou-se até Nampula, concluindo-se no ano de 1930. Prosseguindo-se na sua construção, a l inha foi prolongada até Nova Freixo, em 1949, e depois, até ao Catur, e dali até Vi la Cabral, em 1969.

Esta l inha férrea irá até ao Lago Niassa, no local denominado Porto Arroio, onde será construído um porto, destinado a receber o tráfego do Malawi , bem como de outros pontos da Áf r ica Central .

A Barragem de Nampula

A chefia e direcção dos Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique tem estado entregue ao Eng.° Fernando Seixas, desde 3 de Março de 1964, lugar que tem desempenhado com pro­vada competência.

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A "DETA"—TRANSPORTES AÉREOS DE MOÇAMBIQUE

«DETA» é a abreviatura por que é conhecido o Departamento dos Serviços dos Portos, Caminhos de Ferro e Transportes, que tem a seu cargo a Aviação Comercial.

A «DETA» foi criada em Novembro de 1936, com dois aviões, para um total de cinco lugares, iniciando a exploração em 1937.

0 primeiro avião da DETA

Hoje a «DETA», com mais de 30 anos ao serviço de Moçambique, possui avultada e e f i ­ciente f ro ta de aviões, que cruzam a Província de lés-a-lés, em todas as direcções, colocando-se na honrosa posição de pioneira, de que justamente se deve prestar homenagem ao seu presti­gioso fundador, o Engenheiro Francisco dos Santos Pinto Teixeira, quando era Director dos Ser­viços dos Caminhos de Ferro de Moçambique.

A «DETA» tem correspondido às crescentes necessidades do transporte aéreo regular, não se l imi tando à exploração das linhas onde é possível e até fáci l assegurar rentabil idade conside­rável, mas antes alargando a sua acção onde a relevância dos factores de carácter social e polí­t ico assim o aconselham a manter ligações aéreas e por vezes certas de frequências semanais.

Tem excelentes Pilotos, e a bordo um serviço impecável, fe i to por simpáticas e gentis hospedeiras, que com a maior afabil idade t ra tam os passageiros, proporcionando agradáveis viagens.

Também as oficinas da «DETA» podem ser consideradas modelares, equipadas com a apa­relhagem da mais moderna para inspecção, reparação e calibração, não só dos aviões e mo­tores, mas também, de todos os seus pertences e acessórios.

Num terr i tór io como Moçambique, onde as distâncias entre os principais centros contam por muitas centenas de quilómetros — se não por milhares a aviação encontrou todas as con­dições para t r iunfar , impondo-se ao público como meio de transporte corrente e imprescin­dível na vida moderna.

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O Tenente-Coronel A R M A N D O CERQUEIRA DA SILVA PAIS, quando Director da DETA, colocando um emblema de ouro ao Subdirector, Eng.° ABEL DE AZEVEDO,

o actual Director

Deste modo a «DETA» cumpre a sua missão de ligar entre si, e com a maior rapidez, segurança e conforto, os mais distantes pontos da Província, o que mui to contribui para o seu desenvolvimento e progresso.

O pequeno transporte aéreo, geralmente sem carácter regular, já at ingiu em Moçambi­que um notável desenvolvimento, realizado pelas chamadas empresas de táxi-aéreo, actual­mente em número de 5. Dispõem no seu conjunto de 25 aviões, dos quais alguns bimotores, e cerca de vinte pilotos.

Uma panorâmica do Aeroporto Gago Coutinho

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O Comandante Branco ao ser-lhe imposta pelo General Costa Almeida, a Comenda da Ordem do Infante Dom Henrique

Desnecessário será encarecer a importância dos serviços prestados à Província por estas organizações, l igando pontos onde o transporte regular da «DETA» ainda não pode dir igir-se, constituindo, muitas vezes, verdadeiras rotas adjuvantes das rotas regulares.

O tráfego de longo curso é transportado principalmente nos aviões da TAP, através de Lourenço Marques ou da Beira, e em mui to menor volume, via Joanesburgo ou Salisbúria. Com a conclusão das obras de adaptação do aeroporto da Beira, as operações dos grandes jactos, os jactos da TAP passaram a escalar aquele aeroporto, competindo à «DETA» fazer as ligações imediatas com a capita!, o que se tornou desnecessário a part ir de 1 de Junho de 1970.

O antigo edifício do Âeraporío de Mavalane

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A DETA NA ERA DO JACTO

A 10 de Janeiro de 1970, a «DETA», entra na era do jacto com a aquisição de dois aviões de puro jacto «Boeing 737» , com capacidade para 95 passageiros, sendo considerado o mais moderno e versátil da grande famíl ia «Boeing».

Os dois aviões — a que foi dado os nomes de «ANGOLA» e «MOÇAMBIQUE» — tive­ram o seu baptismo solene naquela data, presidido pelo Arcebispo de Lourenço Marques, e por Madr inha, a Esposa do Governador-Geral, Senhora Dona Mar ia das Neves Rebello de Souza, tendo assistido ao acto as mais altas individualidades da Província.

Após a cerimónia do baptismo, usou da palavra o Eng.° Fernando Seixas, Director dos Serviços de Portos, Caminhos de Ferro e Transportes de Moçambique, seguindo-se o Secretário Provincial de Obras Públicas e Comunicações, Eng.° Brazão de Freitas.

Em seguida efectuaram-se dois voos turísticos, em que part ic iparam altas individualida­des civis, mil i tares e religiosas, bem como numerosos convidados

Os elementos da fábrica «Boeing», que se deslocaram a Moçambique, ofereceram lem­branças aos pilotos e mecânicos que se deslocaram aos Estados Unidos para estagiar, durante as cerimónias que se efectuaram no Aeroporto Gago Coutinho. Foram contemplados os Coman­dantes Branco, A lmeida, Virgí l io e Ferreira da Costa; os pilotos Jorge Marques, J. Matos e J. Primavera; os mecânicos Mar t ins , Fidalgo, Fortuna e Castro.

Desta forma, a «DETA», prossegue na sua senda de progresso e renovação, para continuar a oferecer o que de melhor existe no transporte aéreo, e corresponder à confiança nela depo­sitada, cujo lema é: SEGURANÇA — EFICIÊNCIA — REGULARIDADE.

Convidados desembarcando do «Boeing 737» — «MOÇAMBIQUE — após o voo inaugural

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COMO NASCEU UM GRANDE BANCO

O NACIONAL ULTRAMARINO

Sede do Banco, em Lourenço Marques, na A Y . da República

A Carta de Lei «dada no Paço de Sintra aos 16 de Maio de 1864», por El-Rei D. Luís, autor izou a criação do Banco Nacional Ul t ramar ino, vindo, assim, sancionar o Decreto das Cortes Gerais, datado do dia 10 do mesmo mês.

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Aspecto do interior do rés-do-chõo

A criação deste Estabelecimento Bancário deve-se à iniciat iva do Conselheiro Francisco de Oliveira Chamiço, que t inha exercido no Porto e passara a exercer em Lisboa, actividade muito saliente na vida comercial. Arrojado e dinâmico, ele foi o fundador do Banco Nacional Ul t ra­marino, ao qual l igou o seu nome a sua for tuna, tendo sido, também, o seu primeiro Governa­dor, desde a data da sua fundação, em 1864, até 1888, ano em que morreu.

Atravessava-se uma época em que se inst i tuíram muitos Estabelecimentos Bancários, mas este, distinguiu-se de todos, em virtude do seu programa, que consistia não só em realizar ope­rações da sua especialidade, no Continente português, como em levar capitais e estender a sua actividade às Ilhas Adjacentes e a todos os nossos territórios de A lém-Mar . Esta iniciat iva teve o mais caloroso acolhimento, por parte do Min is t ro da Mar inha e Ul t ramar de então.

Como faci lmente se compreende, nos cento e seis anos desde então decorridos, o Banco atravessou vicissitudes mui to diversas, favoráveis umas, desfavoráveis outras. Defron-tou-se com incompreensões, mas também se lhe depararam apoios generosos, alguns prestados por homens da maior estatura moral e polít ica do nosso País, que o ampararam dedicada­mente, com a consciência da importância que para o domínio português representava a exis­tência activa de uma organização bancária nacional.

Dadas as circunstâncias, pode-se dizer que a História do Banco Nacional Ul t ramarino acompanha, desde a sua chegada ao nosso Ul t ramar, a do País, ref lectindo os acontecimen­tos da sua evolução, assim como os da evolução mundial .

O que f icou demonstrado, através dos tempos, e confirmado por observadores dos mais categorizados, é que a intervenção do Banco Nacional Ul t ramar ino, nos nossos terr i tórios, foi uma alavanca poderosíssima para o seu desenvolvimento.

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Tão extensa e vultuosa organização não pode deixar de ser servida por um quadro nume­roso de colaboradores, cuja total idade, em 1962 ascendeu a 2335 e cuja remuneração absor­veu 38 por cento dos lucros brutos.

Desde o ano de 1920, o Banco Nacional Ul t ramarino vem concedendo ao seu pessoal uma participação nos seus lucros, para o que criou «títulos de t rabalho», que são atribuídos nomi­nalmente, segundo o número de anos de serviço. Em princípio, estes títulos vencem 1/5 do dividendo distribuído aos accionistas, mas de facto, por deliberações sucessivas da Assembleia Geral, tem-lhe sido concedido anualmente o nivelamento com os dividendos.

Os empregados com 40 anos de serviço têm recebido um prémio pecuniário, independente­mente da sua categoria, e o mesmo acontece com os que completam 50 anos.

Não f icam por aqui as provas de atenção do Banco Nacional Ul t ramarino para com os seus servidores, pois um Serviço Social, tecnicamente planeado e progressivamente realizado, lhes assiste nas diversas circunstâncias.

Nessa acção se inserem: a concessão de empréstimos, a juro estatístico, para faci l i tar a construção ou aquisição de moradias; ajudas para fazer face a despesas extraordinárias, já par­t icipando nelas o Banco, já concedendo crédito, também a juro estatístico; assistência médica, diagnostica, curativa e de enfermagem, além de comparticipação, em percentagem elevada, no custo dos medicamentos; colónias de férias ou subsídios de viagens de férias aos empregados que não podem aproveitar daquelas colónias; subsídios a cantinas.

Átrio do rés-do-chão e escadaria

Em 1962, também o Banco investiu 7062 contos em casas especialmente destinadas ao pessoal, no Ul t ramar. Não deixam, também de ser consideradas as necessidades recreativas e a promoção cu l tura l , e assim, tem sido for temente coadjuvado um grupo desportivo e foi cons­t i tuída uma biblioteca de milhares de espécies, que proporciona lei tura, a qual pode ser domici l iár ia.

Desta maneira, o Banco Nacional Ul t ramar ino, é um exemplo da consciência equitat iva e moderna atenção aos interesses sociais.

No plano nacional, como inst i tuição bancár ia, honra o País, até por consti tuir , mundia l ­mente uma forte organização, na sua especialidade, de altíssimo relevo.

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FRANCISCO DE OLIVEIRA CHAMIÇO

Propósitos de engrandecimento da Pátria Portuguesa, visão larga das potencialidades do ul t ramar, preocupação valorat iva do patr imónio económico da Nação — una, distr ibuída pelas sete partidas do Mundo — o conselheiro Francisco de Oliveira Chamiço bem merece a admira­ção dos portugueses. Arrojado e dinâmico, foi ele o criador do Banco Nacional Ul t ramar ino, ao qual ligou o seu nome e a sua for tuna. Foi Governador do Banco desde 1864, data da sua fundação, até 1888, ano em que morreu.

Algumas cifras, de signif icado fundamenta l , do balanço do ano de 1962, dão ideia da categoria do Banco Nacional U l t ramar ino: Depósitos, 4 milhões e 286 mil contos; Lucros líquidos, 153 mil contos.

A sua História é um quadro de serviços da mais transcendente importância, durante mais de um século.

Também, nestes cento e seis anos, nenhum empreendimento importante, nos terr i tó­rios do Ul t ramar Português, em que o Banco Nacional Ul t ramar ino actua, deixou de ter, da sua parte, apoio prát ico, franco e eficaz.

Actua lmente, o Banco tem 28 dependências no Ultramar.

No Continente Europeu e nas Ilhas Adjacentes, tem o Banco múlt iplas dependências, delegações, e numerosos Agentes e Correspondentes, que asseguram ao Banco uma acção que mui to vem contr ibuindo para o fomento económico de Portugal Cont inental , Insular e Ul t ramar ino.

Com a sua actividade metódica e cuidada, tem este Banco, ao longo de mais de um século laborioso, contr ibuiu poderosamente para o já apreciável fomento -económico, patente em todas as parcelas do terr i tór io nacional.

O Estado é um importante accionista do Banco Nacional Ul t ramar ino, e sempre tem en­contrado junto deste os melhores propósitos de engrandecimento da Nação.

É seu Governador, o DOUTOR FRANCISCO VIEIRA M A C H A D O , que desde há mui to pre­side à governação do Banco Nacional Ul t ramar ino.

No tempo e no espaço, um grande Banco serve Portugal!

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EMPRESA PECUÁRIA DO SUL DO SAVE, LDA.

MANUEL ALVES CARDIGA

Em 16 de Maio de 1944, Manuel Alves Cardiga, que a esta Província chegou em 1897, apenas com três anos de idade. Formou com sua esposa, Ema Teixeira Cardiga, e os irmãos Ben­jamim e João Cacho, a Empresa Pecuária do Sul do Save, Lda.

O capital inicial era de mil contos, e o objectivo, era a criação de gado, seu comércio e o aperfeiçoamento por selecção e cruzamento de Raças. De início teve esta empresa um dos maiores problemas, que uma organização congénere pode enfrentar: o terreno adequado para uma criação ef ic iente, com pastagens em proporção às cabeças existentes na manada. A luta foi grande, mas alguns anos volvidos a empresa possuía o terreno quase necessário, sendo em parte concedido pelo Estado e parte adquir ido por compra aos seus vizinhos. A área de C H A N -GALANE, riquíssima em pastagens naturais, possuía pouco ou quase nenhum gado bovino. Eis a razão da Empresa se ter radicado nessa área. Boas pastagens; o Rio Umbelúzi , ao Norte; a Ribeira de Changalane ao Sul; um comboio diár io, mas acima de tudo, a sua situação; a noventa quilómetros de Lourenço Marques.

Desde o início, a Empresa, trabalhou sempre com o objectivo de melhorar as suas mana­das, introduzindo e adquir indo reprodutores, não só dos países vizinhos, mas também, dos Es­tados Unidos da América.

A Empresa é visitada constantemente por Técnicos nacionais e estrangeiros estando a mesma à disposição da Universidade de PRETÓRIA, que anualmente envia os seus alunos para uma pequena estadia, para ali obterem dados técnicos, como: temperaturas, fert i l idade, percentagens de nascimentos e mortes, e t c , etc. . . .

Alguns anos atrás teve a honra de receber a visita do Professor Doutor Jacinto Ferreira e um grupo de vinte e cinco Médicos Veterinários, de Lisboa.

Em 1952, e já depois da saída do sócio Benjamim Cacho, o sócio João Cacho cedeu a sua cota, tendo nesta data entrado para a Sociedade os três fi lhos de Manuel Alves Cardiga: VLADIMIRO, VASCO e VERA.

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Pesagem do gado

Desde essa data, a actividade da Empresa aperfeiçoou-se a tal ponto, que em 1958 e quando da visita of icial da Comissão Regional da «Áfr ica Austral para a conservação e u t i l i ­zação do solo» — «S.A.R.C.U.S.»—recebeu do seu Secretário-Geral este agradecimento: «Foi realmente um privi légio para nós, passar algumas horas com V. Exas., e ficamos grandemente impressionados pela qualidade dos animais que nos foi dado ver, e pela vasta Empresa que V. Exas. construíram durante estes anos. Nós achamos que a sua grande propriedade é algo que o Governo de Moçambique pode ter orgulho em mostrar aos seus visitantes.»

Passaremos, numa simples análise, a transcrever alguns números que indicam, efectiva­mente, o valor económico, que representa para Moçambique, como seja:

Dispendido até 1964: VALOR — quarenta mi! contos.

Gado abat ido: V inte mil cabeças.

Gado existente: Nove mil cabeças.

Pessoal ao serviço: Duzentos homens.

Leite produzido: Dois milhões de litros.

Ordenados pagos: Vinte mil contos.

A área hoje ocupada pela Empresa: Tr in ta mil hectares, devidamente vedados, possuindo actualmente, cinquenta cercados para o bom controlo de pastagens.

Em Abr i l de 1964, realizou a Empresa, uma Feira Pecuária, ao Sul do Save. Esta inicia­t iva teve por f im resolver certos problemas de criação de gado, principalmente no que se refere a melhorar muitas das espécies. Esta iniciat iva teve o apoio da Repartição de Veter inár ia e da Cooperativa dos Criadores de Gado. A Empresa leva a efei to, todos os anos, uma Feira Agro-Pecuária. À primeira Feira — organizada pela Empresa Pecuária do Sul do Save — estive­ram presentes, cerca de duas mil pessoas, sendo a mesma inaugurada pelo Sr. Governador do Distr i to, e tendo o Sr. Director dos Serviços de Veter inár ia, a f i rmado: «Quando a Feira é orga­nizada por iniciat iva do criador, podemos estar certos, que há nít ida indicação da existência de uma mental idade que é, igualmente, importante factor da valorização da Pecuária.»

O resultado obtido foi de tal ordem, que depois da Feira e nas semanas seguintes a Em­presa foi procurada por muitos dos Criadores ao Sul do Save, com a intenção única de obter reprodutores para as suas manadas.

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Resta-nos falar da personalidade de Manuel Alves Cardiga, Homem de grande intel igên­cia, actvidade, espírito combativo e recto, bondoso, que há anos Moçambique perdeu! Manuel Alves Cardiga, faleceu em Joanesburgo, na madrugada de 10 de Fevereiro de 1964, numa clí­nica daquela cidade sul-afr icana, após uma intervenção cirúrgica. A notícia da sua morte, célere se espalhou por toda a Província, enchendo de tr isteza e de luto quantos o estimavam — e muitos eram!

Corredor de tratamento

O gigante tombara! Aquele Homem de pensamentos rectos e desassombrados, que tantas vezes pusera a sua pena ao serviço dos seus ideais, não mais vir ia à l iça!

O seu funera l , foi uma verdadeira manifestação colectiva de apreço e saudade, em derra­deira homenagem ao Homem, que nascido na capital do Império português, tanto contribuíra para o engrandecimento de Moçambique, que passara a ser a sua terra! O art icul ista do jornal «Diário», d iz ia , referindo-se a Manuel Alves Card iga: — «Homem para quem a luta fazia parte da própria vida, n u m trabalho constante que se desdobrava em actvidades que tanto o envol­viam nos problemas económicos da Província, como até, no que se planif icava na cena política dos nossos dias, Manuel Alves Cardiga, deixa em todo o Moçambique verdadeiros amigos, e admiradores que mui to o respeitavam. E fo ram inúmeras as pessoas que quiseram acompa­nhá-lo à ú l t ima morada. Pessoas de todas as classes sociais, desde o mais humilde servente, colaboradores, f iguras ligadas às diversas actividades económicas da Província; as entidades governativas, que se f izeram representar. Não o esqueceram, também, a população de Chan-galane e Goba, que se fez representar na sua maior força, numa verdadeira e sentida homena­gem de saudade.»

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O elogio fúnebre foi fe i to em pleno cemitério, pelo advogado Dr. Almeida Santos, que o jornal da cidade, «Tribuna» transcreveu na íntegra, e com o qual f inal iza esta Biografia:

«Sinto-me confuso, num momento e num lugar que é mais de recolhimento e de medita­ção e em que as nossas ati tudes poderiam porventura ser mais caracterizadas pelo silêncio dos nossos sentimentos e pela certeza muda dos anseios de todos nós.

Sei, porém, e sabem-no todos que em vida se honraram de ser amigos e correligionários de Manuel Alves Cardiga, quanto ele desejaria encontrar, em cada um de nós, a mesma von­tade f i rme, a mesma energia e a mesma combatividade que sempre o acompanharam na luta de todos os dias pelas causas que considerava justas.

Por isso entendi eu, entendemos nós, que não poderíamos, até por um dever indeclinável de consciência, f icar calados. Limitarei as minhas palavras ao indispensável para exprimir, neste momento em que dele nos estamos despedindo, a admiração, o respeito e a veneração que foi dado experimentar apreciando, através de uma vida de lutas, de inquietações e de incertezas, a transformação de um homem em pequeno gigante.

Sempre se sabendo conservar em sua posição vert ical , de verdadeiro homem, sem jamais

ter dobrado a cerviz, sem transigências e sem medo, resistindo a ameaças e a aliciações, teve o prazer e deu o prazer aos seus amigos, de sempre ter vividc de pé tendo sido surpreendido pela morte. Foi para além de tudo, quanto dele possam dizer, um verdadeiro homem e um exemplar cidadão.

Desejou que a vida, a sua vida e a vida de todos nós, não tivesse sido tão silenciosa, entendendo que este mundo tão abalado que nos rodeia deveria sofrer grandes remodelações. Para que todos fossem mais felizes, se compreendessem melhor e, em paz, harmonia e justiça pudessem ser resolvidos todos os problemas.

Esta homenagem é a homenagem de todos os homens bons, seus coreligionários e amigos. Homenagem sincera e imorredoura de democratas que f icam de pé a um democrata que, para exemplo nosso, dignamente soube tombar de pé.

Sempre o acompanhou um desejo enorme, um desejo que f ica, apesar da sua morte, v i ­vendo em todos nós: o de ver modificadas as condições de vida dif íc i l e asfixiadora de grande parte da humanidade que chora, porque sofre . . . e que r i , quantas vezes para não chorar.

Que todos os que f icam mantenham aceso o mesmo desejo, tudo fazendo para o trans­formar em realidade. Esta é, a f ina l , a melhor homenagem a Manuel Alves Cardiga, e que ele melhor merece.»

Foi um pioneiro exemplar cidadão, f igura conhecida nos meios comerciais, industriais e agrícolas, onde pont i f icou e se prestigiou. Pode chamar-se-lhe um pequeno gigante que fica de pé, nesta terra que tanto amou!

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ABEL ACÁCIO AZEVEDO

O pioneiro Abel Acácio Azevedo, proprietário da «CASA SPORT», nasceu na Metró­pole, em Freixo de Numão, Distr i to da Guarda, a 17 de Junho de 1881.

A sua chegada a Moçambique verificou-se em 1900, tendo desembarcado na Beira. Empre-gando-se no comércio, foi trabalhar para Macequesse, hoje Vi la de hÁanlca. T inha então, 19 anos. Aos 20 anos veio para Lourenço Marques para cumprir o serviço mi l i tar , tendo ficado isento. Em seguida colocou-se como funcionário da Al fândega, tendo ido prestar serviço na I lha de Moçambique, que nessa época era a capital da Província. A l i se conservou cerca de um ano, e em Março de 1910 estabeleceu-se, sem sócios, com uma casa de artigos de des­porto. Na cidade, era a segunda a existir neste género, ao qual ainda hoje se dedica. Depois, acrescentou-lhe a venda de sobressalentes para automóveis.

O primeiro estabelecimento situava-se na rua que hoje se chama Salazar, onde teve um incêndio, após seis meses da inauguração, que tudo destruiu. Como Abel Azevedo não possuía seguro, f icou sem nada! Contudo, coragem e força de ânimo não fa l tavam ao jovem pioneiro, que recomeçou de novo, a vida comercial, com a ajuda de alguns amigos. Para o efeito con-cederam-lhe um empréstimo, que lhe permitisse abrir um novo estabelecimento, o que veio a fazer na Rua Consiglieri Pedroso, onde cont inua desde essa época até à actual idade, so­frendo, somente, algumas remodelações.

Mais tarde, em 1912, deu sociedade a um cunhado, Amadeu Luís Neves, voltando a f icar único proprietário em 1944.

Em 1917, Abel Azevedo, resolve alargar as suas actividades, e começa a dedicar-se à Agr icu l tura , vindo a formar em 1922 a Sociedade Pecuária A. Neves e Companhia.

Sempre desenvolvendo larga actividade, o pioneiro fundou, ainda, um estabelecimento para venda de Automóveis e Camiões, de marca japonesa, situado na Av. do Trabalho. Foi, também, o fundador da grande e conhecida f i rma «STEIA», em conjunto com seu genro, o Eng.° Flausino Machado, e seu f i lho, Agno Azevedo, desligando-se da organização em 1953.

Desenvolvendo enorme actividade, através de toda a sua vida — Abel Azevedo acaba de completar 88 anos — mantendo-se com excelente saúde física e mental .

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Um aspecto do interior do Estabelecimento

É ele quem dirige a «CASA SPORT», apesar da sua avançada idade! Em 1954, é ainda Abel Azevedo quem toma a direcção tota l da f i rma pecuária, f icando

seu único proprietário, passando a organização a denominar-se «HERDADE DO FREIXO». Esta f ica situada a 8 quilómetros de Boane, e tem a extensão de 8264 hectares. Na Herdade t rabalham cerca de 400 empregados. A sua produção de citr inos — a que se dedica em exclu­sivo na parte agrícola — é de cem mil caixas por ano. Na parte pecuária, tem uma produção diár ia, de mi l l itros de leite.

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Vista parcial dos Pomares de Citrinos

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Neste sector, Abel Azevedo é coadjuvado, mui to especialmente, por seu f i lho Agno, dando também a sua colaboração, seu f i lho Eng.° Abe l , que mui to têm contribuído com a sua criteriosa orientação para um maior e mais eficaz desenvolvimento da propriedade, cujos pomares nos oferecem belas panorâmicas.

Resta-nos ainda dizer, que o pioneiro se casou, pela primeira vez, em 12 de Dezembro de 1914, com uma jovem metropol i tana, de quem teve três f i lhos: A ida , Alda e Abel . Quatro anos após o casamento, a esposa falecia atacada pela epidemia da «pneumónica», que a a t in ­gira. Mais tarde, em 1921, voltou a casar, também com uma metropol i tana, jovem professora, D. Ester de Sousa Lobo, de quem teve mais três f i lhos: Ár io , A lba e Agno.

A todos os fi lhos procurou dar uma boa educação. Actualmente, o f i lho mais velho, Abel , — Engenheiro de Máquinas e Electricidade — é o actual Director da DETA; o segundo f i lho, Ár io, é Engenheiro Agrónomo e Silvicultor — doutorado com 19 valores — e actualmente Prof. Catedrático do Inst i tuto Superior de Agronomia, de Lisboa; o f i lho mais novo, Agno, estudou Engenharia Civil até ao 3.° Ano, dedicando toda a sua actividade às organizações paternas, de que é, actualmente, sócio da «CASA SPORT» e no estabelecimento de venda de automóveis.

Eis a traços largos, a história de mais um pioneiro, que com o seu esforço e tenacidade, mui to contr ibuiu para o progresso da Província.

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BREYNER & WIRTH, LDA.

No panorama económico de Moçambique há f i rmas que, pela sua grande e meritór ia ac t i ­vidade, têm jus ao reconhecimento público. A esse número pertence, sem favor, a f i rma Breyner & W i r t h , Lda., que já tem mais de setenta anos de existência, tendo sido fundada em 1898 por D. Francisco de Melo Breyner e Fri tz Ot to W i r t h .

Entraram posteriormente como sócios o Dr. Francisco Ferrão, Dr. Al f redo Reis, Antón io de Azevedo, Pedro Gaivão, Luís Costa, Eng.° Manuel Prata Dias e Dr. Theodorino Sacadura Botte, que tan to contr ibuíram para prestigiar o nome do comerciante lourenço-marquino. A socie­dade é hoje pertença dos seguintes sócios: — D. Helena Ferrão, Dr. Al f redo Reis, D. Mar ia Ber­nardino Salema Reis, D. Mar ia José Salema Reis de Almeida Garrett , Álvaro Ferrão de Castelo Branco, Alber to Manuel da Gama Lobo Salema Reis, Manuel Ferrão de Lencastre, Manuel da

O edifício actual da BREYNER & W I R T H , LDA.

Gama Lobo Salema Reis, Eng.° Manuel Prata Dias (Herdeiros), Dr. T. Sacadura Botte e João Ferrão de Castelo Branco, dos quais o ú l t imo juntamente com o Eng.° Amândio Borges, cons­t i tuem a Gerência da Firma em Áf r ica .

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Desenvolvendo sempre os seus negócios de forma a acompanhar o progresso de Moçam­bique, a Firma, tem vindo a expandir a sua actividade comercial, de forma que é hoje sub­dividida nas seguintes secções independentes: — Seguros, Armazenagem e Trânsito Interna­cional, Técnica, Comércio Geral, Farmacêutica e Firestone.

«NAVETUR» — Depois de representar durante mais de cinquenta anos a Companhia Na­cional de Navegação no Porto de Lourenço Marques, a Breyner & W i r t h tornou ainda mais estreita esta velha ligação associando-se com a própria C.N.N. , numa f i rma fundada em Agosto de 1969, NAVETUR — Sociedade de Agências de Turismo e Transportes de Moçambique, Lda., que passou a ser Agente Geral da C.N.N. em Lourenço Marques e com Sucursal na Beira.

SEGUROS — Agentes Gerais, desde 1956 para toda a Província de Moçambique, da grande Seguradora Portuguesa, Companhia de Seguros «IMPÉRIO».

ARMAZENAGEM E TRÂNSITO INTERNACIONAL — Para que os exportadores e impor­tadores dos territórios vizinhos sejam bem servidos no trânsito das mercadorias por Lourenço Marques, necessitam de ter neste porto quem lhes t rate da recepção, armazenagem e expedi­ção. É este um dos principais negócios das f i rmas estrangeiras aqui estabelecidas que o fazem ainda hoje, quase em regime de monopólio. Mas a f i rma Breyner & W i r t h montou estes serviços há uns t r in ta anos com armazéns próprios servidos por desvios de linha férrea, e é hoje uma das duas transitárias nacionais em Lourenço Marques. As suas estâncias, em terreno próprio, distam um qui lómetro e meio do Cais Gorjão.

O edifício aniigo, engalanado e iluminado, por ocasião da visita do Presidente da República, Marechal Carmona, em 1939

COMÉRCIO GERAL — A Secção de Comércio Geral trabalha com produtos das mais varia­das origens, em que predominam algumas importantes mercadorias de produção e fabricação da própria Província, como seja o conhecido «Chá Licungo», da Companhia da Zambézia - Queli-mane, o Álcool Puro e Desnaturado da Companhia do Búzi, S.A.R.L. - Nova Lusitânia (Beira) e Sacaria, Serapilheiras e Fios de Juta, da Companhia Têxt i l do Púngoè.

Dos produtos de origem nacional metropol i tana em que esta Secção negoceia podemos destacar toda a vasta gama de fabrico e especialmente os Adubos da sua representada Com­panhia União Fabri l , de Lisboa, a Caixotaria de Madeira da Socomina, de Viana do Costeio e Tintas C.I .N. - Corporação Industrial do Norte.

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Um importante ramo de negócio desta Secção é o de produtos Agro-Pecuários em que prodminam os Adubos da CUF e toda a vasta gama de carracicidas, insecticidas, desinfectan­tes e tudo o mais destinado à Pecuária de que a Cooper £r Newphew S.A. (Pty) Ltd. da Áfr ica do Sul é fabr icante.

Já há muitos anos esta Secção se tem dedicado à venda de mobil iário de aço de fabrico nacional e estrangeiro. Em 1965, todavia, a Breyner £r W i r t h associou-se com a fábrica local, L. Duarte dos Santos, Lda., adquir indo metade do capital social, continuando a comercializa­ção dos produtos fabricados a ser trabalhada por esta Secção. O mobil iário fabricado local­mente rivaliza já com o que de melhor se produz em qualquer outra parte, e dia a dia vai conquistando o mercado.

A Fábrica L. D. Santos também se dedica ao fabrico de casas pré-fabricadas e de estru­turas metálicas, tendo ul t imamente executado os contratos das novas instalações da SICOMO e SOCAJU, em Nacala.

Esta Secção negoceia também noutras linhas que por serem de menor projecção julgamos desnecessário referir especialmente.

SECÇÃO T f C N I C A — Sob a orientação de dois engenheiros e outro pessoal especializado, é promovida a venda para o Estado e entidades particulares, de produtos de fabricantes na­cionais e estrangeiros que nesta Província a Firma representa, dos quais os principais são: C O M P A N H I A U N I Ã O FABRIL —ESTALEIROS NAVAIS DE LISBOA (LISNAVE) — EMPRESA ELECTRO CERÂMICA — SIEMENS — DEMAG — PRATT & W H I T N E Y — DEGRÉMONT — BARBIER BERNARD & TURENNE — D O R M A N , LONG — PETTERS — MERRY WEATHER — A D D I S O N — A . O. SMITH — U N I T E D AIRCRAFT — BRITISH STEEL PILLING — J . STONE — SIGMUND — HALL THERMOTANK — A L L A M — CHRISTIAN & NIELSEN — THE N I S S H O - I W A I CO. e SUPERHEATER CO.

A diversidade da gama de produtos coberta por estas representações é traduzida pelos fornecimentos que têm sido feitos de material de via f ixo (carris, travessas, croximas, eclisses, mudanças de v ia) , sinalização ferroviária «Siemens», guindastes eléctricos e carregadores me­cânicos de navios «Demag», motores e subressalentes «Pratt £r Wh i tney» , para os aviões da DETA, Dragas e Rebocadores da Lisnave para os Serviços de Mar inha, equipamento «Stone» de ar condicionado e i luminação para locomotivas e carruagens, instalações frigoríf icas «Hal l», instalações de t ra tamento de água e centrais eléctricas, e t c , etc.

É também depositária de «stocks» de motores e grupos geradores «Petters»; motores eléc­tricos, alternadores, transformadores, centrais telefónicas, teleimpressores, aparelhagem de corte e protecção «Siemens», lâmpadas Osram, material eléctrico da Electro Cerâmica, aparelhos de ar condicionado «Addison», artigos domésticos, também da «Siemens», gás «Freon», bombas de água e vibradores «Al iam».

SECÇÃO FARMACIUTICÀ — As representações desta Secção são as seguintes: V ICK — GLAXO-ÁLLENBURYS — INFAR — LAKESIDE — LUS OM —^SCIENTIA — ASTRA — HAR-RIET HUBBARD AYER e MARCEL ROCHAS.

SECÇÃO FIRESTONE — Em fins de 1965, foi a Firma nomeada Agente da FIRESTONE PORTUGUESA, S.A.R.L., cujo negócio tem sido desenvolvido através de uma rede de Subagen­tes, de maneira a tornar esta Secção uma das mais valiosas da Firma.

M I N E LABOUR ORGANISATIÓNS (WENELA) LIMITED —A Breyner & W i r t h é repre sentante em Moçambique, há mais de sessenta anos, da M I N E LABOUR ORGANISATIÓNS (WENELA) L IMITED.

B E I R A — N a capital do Distr i to de Manica e Sofala a Breyner & W i r t h , (Beira) Lda., montada em 1956, é consttuído pelos mesmos Sócios da sua associada em Lourenço Marques, sob a Gerência do Dr. Aires Vi terbo de Freitas.

Trata-se, como se vê, de uma organização grande e complexa que há 72 anos se tem vindo a desenvolver, acompanhando o r i tmo de progresso desta parcela de Portugal, e com a preocupação de manter no fu turo , o seu prestígio como comerciantes nesta Província.

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FIRMA MARTHA DA CRUZ & TAVARES

ALEXANDRE MARTHA DA CRUZ

A Firma Mar tha da Cruz & Tavares, foi fundada em 1902, por Alexandre Mar tha da Cruz, com um pequeno estabelecimento na Rua Francisco Ferrer, hoje Rua Salazar. O nome então usado era o de Alexandre Mar tha da Cruz.

Foi em 1912, que vindo da Metrópole, acompanhado de sua esposa, o pioneiro Francisco Tavares Duarte, foi admit ido como guarda-l ivros da Firma, tornando-se sócio da mesma em 1915. Foi nessa al tura que a Firma modif icou a sua designação social para Mar tha da Cruz & Tavares, constituindo-se sociedade em nome colectivo.

Francisco Tavares, natural da Covilhã, alguns anos decorridos, chamou para seus cola­boradores, os irmãos, Sebastião e António, que residiam no sua terra nata l , chegando a Mo­çambique em 1928.

Alexandre Mar tha da Cruz, o fundador da Firma, cedeu a sua posição em 1930, f icando os i rmãos Tavares como únicos propretários. Nessa época, a Firma já ocupava posição de relevo na/ comércio local.

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SEBASTIÃO TAVARES ANTÓNIO TAVARES

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Em Novembro de 1949, todo o act ivo e passivo da Firma passou a designar-se por Tava­res (Irmãos), Lda. Firma que pertence à propriedade «Pote» e terrenos anexos. Os três irmãos Tavares, desenvolveram grande actividade comercial, dispondo de um armazém de Tecidos, que abastecia a região do Sul da Província, além de possuir um estabelecimento de Modas, situado na «Baixa» laurent ina, na Avenida da República — onde existe o seu grande estabelecimento de Modas — e um de Máquinas e Ferramentas, bem como uma Agência de Automóveis. São, ainda, os representantes do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, e há cerca de quarenta anos, os Agentes da Companhia Colonial de Navegação, em Lourenço Marques.

A f i rma possui sólidos alicerces financeiros, f ru to do seu trabalho. Constituída pelos irmãos Tavares, a Firma tem hoje como colaboradores os seus descendentes. Hoje, o irmão mais novo dos fundadores, Manuel Tavares, é também sócio, assim como um dos descendentes, Manuel Lopes Tavares.

Deve ainda, acrescentar-se, que os irmãos Tavares, foram e são, muitíssimo trabalhado­res, e sempre de ati tudes modestas, prestigiando-se com a sua conduta exemplar, no cumpri­mento dos seus encargos comerciais.

Actua lmente, a Firma, continua a manter os mesmos ramos de negócios, valorizando a Província.

Aspecto da fachada do Estabelecimento Martha da Cruz & Tavares

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COMPANHIA DE SEGUROS NAUTICUS

A pioneira dos Seguros, em Moçambique, foi a C O M P A N H I A DE SEGUROS NAUTICUS, fundada em 1 de Julho de 1943, com a base f inanceira de 10 mi l contos.

A iniciat iva foi tomada por um grupo de pioneiros, tendo por objectivo principal, evitar a fuga de divisas para o estrangeiro, nomeadamente, a Áf r ica do Sul, em cujas Companhias as organizações moçambicanas seguravam as suas mercadorias, por não existir nenhuma Com­panhia portuguesa.

Já t inha havido, por duas vezes, a tentat iva para formar uma companhia seguradora moçambicana, que fa lharam.

O grupo que fundou a NAUTICUS procurou fazê-lo em bases seguras, e para o efeito, fez primeiro, uma consulta a todos os comerciantes dispersos pela Província, para que assim, através dessa consulta, o grupo fundador pudesse avaliar do interesse da iniciat iva e saber com o que poderia contar no fu turo.

Como essa consulta foi bastante animadora, prosseguiu-se nos trabalhos para a sua efectivação. Esse grupo fundador era constituído por: PAULINO SANTOS GIL, DR. MANUEL MOREIRA DA FONSECA, ÁLVARO DE SOUSA, CARLOS TEODORO MARTINS, CAPITÃO M A N U E L SIMÕES V A Z e CAPITÃO A N T Ó N I O FIGUEIREDO.

A primeira Direcção foi constituída pelos seguintes fundadores: DR. M A N U E L MOREIRA DA FONSECA, CARLOS TEODORO MARTINS e CAPITÃO M A N U E L SIMÕES V A Z .

Edifício da Companhia de Seguros NAUTICUS

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Todos os comerciantes interessados se subscreveram com acções, formando-se, deste modo a Companhia de Seguros Naut icus, com 475 accionistas. Assim nasceu a «NAUTICUS», a primeira Companhia de Seguros a constituir-se na Província de Moçambique, autent ica­mente moçambicana.

Um dos Regulamentos dos Estatutos, é de que 80 por cento das acções têm de estar em nome de portugueses.

Sempre progredindo, em 1945, a «NAUTICUS», aumentou o seu capital para 20 mil contos. Em 1958, para 45 mil contos. Anos volvidos, em 1966, o capital aumentou para 60 mil contos. Em 1968, o capital e reservas da Companhia ascendem a cerca de 275 mil contos.

Actualmente, a Companhia tem representações próprias em toda a Província.

Igualmente faz seguros em tcdos os ramos, estando ligada a uma das principais Compa­nhias resseguradoras mundiais, da Suíça.

Na parte social, no que se refere aos seus empregados, a Companhia «NAUTICUS» tem um plano, que excede em mui to , as regalias que estão determinadas of icialmente. Nos planos de reforma, os empregados compart ic ipam, mensalmente, para a reforma.

A Companhia dá passagens à Metrópole de 5 em 5 anos, aos empregados e famí l ia. Os empregados beneficiam, também, de «Abono de Famíl ia», que é concedido em função dos filhos que têm. Tem um plano de reforma, no qual os empregados são reformados aos 65 anos, e as empregadas aos 60. À data da reforma, o empregado recebe uma parte substancial dos seus ordenados.

A Companhia tem um Centro Social para convívio, com Biblioteca e variados jogos.

A Companhia de Seguros «NAUTICUS» tem a sua Sede, em Lourenço Marques, em grande imóvel de sua propriedade, que foi construído para esse f im , e ainda, com outra parte destinada a lojas, escritórios e apartamentos de habitação, situado na Avenida da República, Rua Baptista de Carvalho e Rua Lapa.

Actua lmente, a Companhia é constituída por um Conselho de Administração, composto pelas seguintes entidades: Companhia de Seguros Fidelidade (representada pelo Dr. António Mascarenhas Gaivão); Dr. António Cardoso; George Crit ikos e Serafim Rocha.

Esta é a resumida história da primeira Companhia de Seguros Moçambicana, que devido ao esforço de alguns pioneiros, se tornou na mais revelante realidade, para enriquecimento da Província.

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EDIFÍCIO "LAR MODERNO"

Os pioneiros CARLOS BRAGA e A N T Ó N I O MORAIS, são os fundadores da organização denominada «O LAR MODERNO».

CARLOS BRAGA é natural da cidade do Porto, tendo vindo mui to jovem para Moçambique em 1937, fixando-se em Lourenço Marques, juntando-se a um irmão que já residia na

capital da Província, qute era funcionário público. O seu primeiro e único emprego foi nos grandes Armazéns JOHN ORR & C O M P A N H I A , onde permaneceu 1 1 anos, saindo para fundar o seu próprio Estabelecimento em 1947.

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CARLOS BRAGA

Seu sócio, também fundador, A N T Ó N I O MORAIS, é natural de Celorico da Beira, vindo para Lourenço Marques, onde se f ixou em 1930, empregando-se nos mesmos Armazéns JOHN ORR & C O M P A N H I A , onde permaneceu 17 anos.

Trabalhando e progredindo, fundaram na cidade da Beira em 1951, uma f i l ia l . Em 1958 inauguram uma Fábrica para fabrico de mobil iár io de madeira e ferro, com uma Secção de Estofaria, e ainda, para produzir Colchões de Molas, criando as marcas moçambicanas «L.M.» e «MORFEU».

O Estabelecimento que fundaram, era o primeiro a dedicar-se exclusivamente a Móveis e Decorações. Seis meses após a abertura do Estabelecimento, este foi ampliado para o dobro do seu tamanho inicial.

Depois, em 1960, inauguraram um Edifício de 13 pisos, situado no centro da cidade, desti­nado às várias Secções de Móveis e Decorações, que ocupa o rés-do-chão e mais cinco pisos, onde se s i tuam, também, os escritórios da organização.

ANTÓNIO MORAIS

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Do 6.° andar ao 13.°, todos os andares são constituídos por «Apartamentos» para habita­ção, que «O LAR MODERNO» aluga mobilados. Ao Edifício foi dado o nome de «PRÉDIO O LAR MODERNO».

Em Maio de 1965, a organização fundou mais um Estabelecimento do género, na cidade da Beira, a que foi dado o nome de «NOVO LAR».

Estas são as realizações efectuadas pelos pioneiros CARLOS BRAGA e ANTÓNIO MORAIS, em 23 anos de actividade comercial e industr ial , pois foram os primeiros neste ramo de act i ­vidade, assim como no fabrico de Colchões de Molas, criando uma indústria Moçambicana.

A organização emprega nos seus Estabelecimentos, escritórios e Fábricas, 60 europeus e 300 nativos. Todos os empregados têm assistência médica; Seguros contra Acidentes de Trabalho; Férias anuais; Férias à Metrópole de cinco em cinco anos, com passagens e orde­nados pagos pela Firma.

A organização despende em ordenados anuais, 7 mil e 500 contos.

Acontece que, a fábrica de Colchões e Mobi l iár io tr ipl icou entretanto, a sua produção. Por tal facto, António Morais e Carlos Braga decidiram fazer uma nova unidade fabr i l , apta a corresponder a esse grande desenvolvimento industr ial , que se encontra na fase de conclu­são, em terrenos anexos ao já existente.

A nova fábr ica, será inaugurada em 1970, e ocupa uma área de 13 200 metros quadra­dos com 75 metros de fachada e 175 de fundo, sendo equipada com maquinaria moderníssima, que se não supera, iguala ao do que há de melhor na Europa.

Desta forma se conclui o que hoje representa na economia da Província a organização «O LAR MODERNO», que iniciada há 23 anos, se tornou florescente e grandiosa, mercê do trabalho e perseverança dos seus fundadores.

«O LAR MODERNO», é uma organização ao serviço da Província de Moçambique, que honra a Indústria portuguesa nesta parcela do terr i tór io português.

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OS PIONEIROS DA INDÚSTRIA CERVEJEIRA EM MOÇAMBIQUE

MITCHEL PERANDONAKIS CRETIKOS

A Indústria Cervejeira da Província de Moçambique, nasceu em 1922 por intermédio da f i rma «F. Dicca, Lda.» e obteve a garant ia da exclusividade do Governo por 10 anos. Assim, até 1935 a Fábrica Nacional pertencente àquela f i rma, foi d única produtora de cerveja da Província.

A f i rma «Vi tór ia», fundada em 1915, cuja primeira actividade foi a fabricação de refr i c

gerantes, gelo e armazenagem fr igorí f ica, começou a produzir cerveja em 1935. Nesse ano, o consumo total da cerveja em Moçambique, foi de 500 000 l i tros, sendo o mercado abastecido nesse momento pelas duas f irmas «F. Dicca, Lda.» e «Vi tór ia, Lda.», em percentagens sensi­velmente iguais.

Em 1938 a Fábrica Vi tór ia e a Fábrica Nacional formaram uma companhia administra­t iva com o nome de «Fábricas de Cerveja Reunidas de Lourenço Marques, Lda.», com o f im de estabelecer uma orientação comum na produção e venda de cerveja na Província.

Em 1953, verificou-se total fusão entre as duas Empresas e f icou assim constituída a f i rma «Fábricas de Cerveja Reunidas de Moçambique, Lda.», cujas sócias, «F. Dicca, Lda.» e «Vitór ia, Lda», t inham uma posição de 50 por cento cada uma, no seu capital social.

Em 1954, forma-se a empresa «Distr ibuidora, Lda», com um capital de 2 / 3 pertencente à Fábrica de Cervejas Reunidas de Moçambique, Lda., e 1/3 à Empresa das Águas de Monte­mor (Namaacha) S.A.R.L., e cujo objectivo era a venda e distr ibuição dos produtos pertencen­tes às suas associadas.

Em 1959, a «Fábrica de Cerveja do Beira, Lda.» é inaugurada, sendo suas sócias a «Fábrica de Cervejas Reunidas de Moçambique, Lda» com 2 / 3 de capital e a «Empresa das Águas de Montemor, S.A.R.L.», com 1/3.

Em 1960, a f i rma «F. Dicca, Lda» vendeu a sua posição à Companhia Iniciativas Econó­micas de Moçambique.

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Aspecto da Fábrica Vitória, em 1916

A Indústria Cervejeira de Moçambique percorreu através dos anos da sua existência um longo caminho desde as pequenas empresas fundadas por Mi tchel Perandonakis Cretikos (Vi­tór ia, Lda) e Filipe Dicca (F. Dicca, Lda.), que com o seu espírito empreendedor souberam criar uma nova fonte de riqueza para a Província até àquelas existentes nos nossos dias e que são consideradas pela qualidade dos seus produtos, pelas técnicas de produção e controlo ut i l iza-zados, pelas modernas instalações que possuem, pelos métodos de gestão que ut i l iza, pela sua rede de vendas, das mais progressivas de toda a Áf r ica.

A polít ica seguida pelas empresas cervejeiras foi sempre, através da sua história, a de servir a economia de Moçambique e o público consumidor. Foi assim que, depois duma moder­nização constante das suas Fábricas, edi f icaram duas novas unidades fabris, uma na Beira, terminada em 1959, e outra em Lourenço Marques. Os capitais investidos ascendem a mais de 200 000 000$00, sendo a planif icação daquelas, o material existente e os processos fabris uti lzados, dos mais evoluídos de todo o mundo cervejeiro.

Paralelamente com o seu apetrechamento industr ia l , as empresas em questão, conscientes que os objectivos próprios e de comunidade onde exercem a sua actividade só podem ser a t in ­gidos com uma organização perfe i ta, sofreram uma estruturação em 1961 que as colocou na vanguarda das empresas da Província.

As suas vendas, que passaram de 500 000 litros em 1935, para 11 000 000 de litros em 1963 e que dupl icaram nos últ imos 7 anos, são também produto da polít ica seguida. A exportação de_cerveja, que a t ing iu em 1963 cerca de 400 000 litros e que em 1964 at ing iu segundo opi­niões, cerca de 600 000 l i tros, fez-se para alguns países industr ialmente mais desenvolvidos que o nosso, o que demonstra também a qualidade dos produtos fabricados. Para além da produção de cerveja, as empresas em questão fabr icam gelo e refrigerantes de al ta qualidade, como «Canada Dry», «Reunidas», «Pepsi-Cola» e, mais recentemente, «Schweppes».

Pode-se concluir, assim, que a Indústria Cervejeira de Moçambique, pelos processos de gestão ut i l izados, pelo a l to nível dos seus quadros — 8 indivíduos com formação universitária, alguns deles especializados nos maiores centros científicos do m u n d o — , pelos processos de con-torolo empregues — possuem laboratórios que custaram cerca de 2 000 000$Ò0 —, pela orga­nização dos seus serviços de vendas — considerados por algumas f irmas internacionais como das melhores senão a melhor de toda a Áf r ica —, pela qualidade dos seus produtos — a cerveja «Laurentino» e «Manica» obtiveram prémios de excelência nas Olimpíadas de cerveja realiza­das na Alemanha em 1 9 6 3 — , pelos preços que prat ica — desde 1935 o preço dos seus pro-

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Aspecto da fachada da Fábrica Vitória, em 1935

dutos não foi a u m e n t a d o — , pelos altos vencimentos auferidos pelo seu pessoal, tem conse­guido alcançar com a sua actividade os seus oobjectivos económcos e sociais.

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COMPANHIA INDUSTRIAL DA MATOLA

Pode afirmar-se, sem receio de exagero, que o nome da Companhia Industrial da Mato la e hoje conhecido em todo o terr i tór io nacional. Os seus produtos, designadamente massas e bo­lachas, lançadas sob a marca «Polana» — que constitui já um símbolo de qualidade são conhe-dos e apreciados desde a Metrópole até Timor.

Esta empresa consti tui exemplo f lagrante do espírito de iniciat iva que empolga os nossos irmãos ultramarinos para quem os tão falados «novos ventos de história», por outros tão temi ­dos, implicam apenas uma actualização de processos, tanto quanto às realizações técnicas como sociais, mas sempre segundo as tradições bem características da nossa gente.

Integrada na zona industrial do Língamo, Matola, a cerca de 10 km de Lourenço Marques, as instalações da Companhia Industrial da Matola constituem um conjunto do mais elevado

interesse económico

A Companhia Industrial da Mato la é ainda uma empresa jovem pois há apenas 18 anos que iniciou a sua laboração ao inaugurar, precisamente em 28 de Ma io de 1952 a sua primeira unidade fabri l —a primeira e até agora única moagem de tr igo da Província que em conjunto com um silo, veio dar o apoio da indústria à cul tura do tr igo que então mal passava do estágio de ensaio e que já hoje produz mais de 10 000 toneladas anuais.

Estabelecida como sociedade anónima, desde logo reuniu grandes e pequenas economias de cerca de 700 accionistas, que só perante extremas dif iculdades abdicam das suas posições no capital da empresa, que, por florescente e sempre progressiva, é considerada como um dos mais seguros e promissores investimentos.

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Aspecto dos edifícios das fábricas de massas e bolachas. Em 1.° plano, o busto que recorda o Dr. António Félix Pitta Júnior, fundador da Companhia

Mercê de uma Administração cuidada e sempre atenta a todos os progressos que dia a dia se vão verif icando no campo da técnica, o que lhe consigna o espírito do verdadeiro indus­t r ia l , alcançou a Companhia Industrial da Mato la uma posição mui to lisonjeira no conjunto da indústria Moçambicana e que é motivo de orgulho não só para quantos ali t rabalham mas que igualmente se comunica a todos os que apreciam as suas modelares instalações, cujo valor quase alcança hoje 150 mil contos e cujo valor normalmente se inclui no roteiro de nacionais e estrangeiros de passagem por Lourenço Marques.

Vem a propósito referir que as instalações fabris da Companhia, situada nos arredores da capi tal , merecem já a honra de duas visitas presidenciais: em 1956, a do Marechal Craveiro Lopes que inaugurou os refeitórios do pessoal e em 1964 a do A lmi rante Américo Tomás que se dignou inaugurar a 2.a fase do fábrica de massas, constituída por duas linhas automáticas, que levam à capacidade de produção para 600 toneladas mensais, e o primeiro lote de 15 resi­dências do bairro do pessoal.

Como não podia deixar de ser, também nós visitámos as instalações da Companhia Indus­trial da Mato la . Impressionados ainda pela grandiosidade dos edifícios, cuja arqui tectura, embora sóbria e funcional , é harmónica e alegrada por fel iz combinação de cores, logo nos impressionou o ajardinamento e arranjo das largas avenidas que cruzam o recinto e que quase nos fez esquecer que de fábricas se t ratava.

Al iás, em todas as secções e oficinas constatámos sempre a mesma preocupação de arru­mação e l impeza, para o que concorrem as lindas madeiras moçambicanas trabalhadas na car­pintar ia, a que está anexa uma serração. Por outro lado, também nos impressionou o ar prazen-

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WMMB

Aspecto do imponente edifício de moagens a que está anexo o silo cuja capacidade de armazenegem, já ampliada, atinge 17 000 toneladas de cereais

teiro com que todos os empregados nos cumprimentavam ou prestavam ufanos esclarecimentos sobre o diverso equipamento a seu cargo. Logo compreendemos tão simpática at i tude ao veri­ficarmos a atenção que a «C.I.M.» tem dedicado à função social, inerente à administração de uma indústria que já ocupa hoje cerca de 1.000 indivíduos dos dois sexos e todas as raças.

A lém de inspecções periódicas, uma consulta médica diária é facul tada a todos os empre­gados e seus famil iares, a que igualmente são fornecidos medicamentos gratuitos ou com um subsídio, consoante o escalão de salário que recebem.

Éfacil i tado o pagamento de impostos competindo à Secção do Pessoal o processamento e liquidação dos mesmos.

Existe um refeitório que fornece refeições gratui tas e noutro, um almoço custa apenas 5$00. No armazém de abastecimento a que nestas terras se dá o nome de cant ina, pode o pessoal adquir i r a preços reduzidos além de géneros al imentícios, variados, outros artigos de consumo corrente, desde vestuário até bicicletas.

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No laboratório químico-tecnológico, que no género se pode considerar o mais bem equipado de todo o território nacional, procede-se à análise de todas as matérias-primas utilizadas na laboração e bem assim ao controlo dos produtos laborados, além de ensaios de panificação

análises de água e gás dos fornos, etc.

Encantou-nos visitar a Creche e ver dois garotos europeus brincarem com vários bebes negritos e passamos também pela escola onde alunos de todas as idade se preparavam para o exame de instrução pr imária, reparando que alguns dos atentos alunos emparceiravam com os próurios fi lhos.

Finalmente, pudemos apreciar as 15 residências agora inauguradas que quase invejamos por tão alegres e acolhedoras, primeira série com que se iniciou a construção do Bairro e em que as rendas são acessíveis, não excedendo 750$00 as que dispõem de maior número de divisões.

A Casa do Pessoal, dir igida exclusivamente pelos próprios empregados e que em breve terá capacidade jurídica sob a forma de sociedade cooperativa, compete administrar todas as fac i ­lidades de carácter social proporcionadas pela Administração da Companhia, de acordo com o esquema de orientação estabelecido pela mesma.

E porque «iniciat iva acompanha in ic iat iva», , montou a Casa do Pessoal uma pequena explo­ração pecuária com que se propõem abastecer os refeitórios e obter receitas que permitam alar­gar o âmbito das regalias a conceder ao pessoal.

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Aqui se inicia a produção de bolachas, vendo-se a entrada do forno em que a cozedura é efectuada por meio de ondas de alta frequência, sistema revolcionário e ainda recente—

esta instalação foi a terceira a ser montada em todo o mundo

A Companhia Industrial da Mato la dispõem presentemente de 4 unidades fabris a labo­rar com pleno rendimento: moagem de tr igo, moagem de mi lho, fábrica de massas e fábrica de bolachas. Em estágio experimental, iniciou agora a laboração de uma instalação-piloto de moagem de mandioca. Outras indústrias de carácter al imentar estão previstas e para estudo das mesmas e aperfeiçoamento das existentes em todos os sectores, tem a administração da Com­panhia Industrial da Mato la promovido a visita dos seus técnicos à Metrópole e Estrangeiro para que possam acompanhar a evolução técnica nos mais avançados centros de produção.

A lém do laboratório modelarmente apetrechado, este conjunto fabri l é apoiado por bem equipadas oficinas de carpintar ia, de serralharia e de manutenção de viaturas, tendo ainda sec­ções de reparações eléctricas e de construção civi l . Prevenindo eventuais falhas do forneci­mento de energia, existe uma central eléctrica com dois potentes geradores que, hoje de reserva, eram exigidos antes de ser estabelecida a ligação à rede geral. Existem também 3 unidades de destilação de hulha cujo gás é ut i l izado em várias caldeiras e também na cozedura final das bolachas.

No decurso das conversas que tivemos com vários dos empregados desta grande empresa, ouvimos algumas referências a minério de ferro, manganês, asbestos e outros artigos e, manifestada a nossa estranheza, soubemos então que a Companhia Industrial da Mato la , através dos seus Serviços de Navegação e Trânsito, criados inicialmente apenas para uso próprio, de­senvolve larga actividade como agente transitár io procedendo ao desembaraço portuário e

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Neste edifício e sob administração do próprio pessoal, situa-se o Refeitório principal, Salão

de Festas e Biblioteca

alfandegário de mercadorias importadas ou exportadas pela República da Áf r ica do Sul, Sua­zi lândia e Rodésia, através de Lourenço Marques. E deverá notar-se que se t rata de um ramo de actividade al tamente especializado que anteriormente constituía um quase monopólio de empresas estrangeiras. Pois, presentemente, a Mato la é considerada como uma das mais e f i ­cientes transitár ias, agenciando igualmente largo número de navios, e dispondo de um escritó­rio em Joanesburgo para mais ínt imo contacto com os seus clientes.

Para a comercialização dos seus produtos, que exporta em mui to larga escala, tem a Mato la agentes não só em todos os distritos de Moçambique, como em todas as Províncias Ul t ramarinas, tendo estabelecido uma delegação em Lisboa que superintende em todo o mer­cado metropol i tano e ilhas adjacentes.

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Uma das 15 residências recentemente construídas em terreno pouco distante da zona fabril

E ao terminar este apontamento, não podemos deixar de recordar o entusiasmo e dina­mismo patenteado por todos os colaboradores desta Companhia cuja Administração, com pro­funda confiança nos destinos da Província, adoptou o lema famoso:

«Estudar com dúvida e realizar com fé.»

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C A S A C O I M B R A

JOSSUB ABDOOL REHMAN VAKIL Socio-gereni-e da Casa Coimbra

A CASA COIMBRA é hoje um dos estabelecimentos de Modas da cidade de Lourenço Marques, que marca posição de relevo, tendo t ido início em recuados tempos. Fundaram a CASA COIMBRA quatro irmãos de origem paquistanesa, que emigraram para Moçambique.

Em 1887, ABDOOL LATIF AYOB V A K I L veio para Moçambique, onde permaneceu quinze meses, após o que regressou ao seu país, que nessa época era um protectorado britânico.

A lgum tempo depois, ABDOOL LATIF volta para Moçambique em companhia de seus irmãos mais velhos: ABDOOL SACOOR AYOB V A K I L e ABDOOL REHEMAN AYOB V A K I L . Vieram com o consentimento de seu pai , que lhes abr iu um crédito de 10 mi l rupias sobre a praça de Bombaim. Em 1909 veio juntar-se a seus irmãos, o mais jovem de todos, ABDOOL K A R I M AYOB V A K I L .

ABDOOL LATIF AYOB V A K I L ao iniciar a sua vida comercial em Lourenço Marques, na sua primeira fase, fê-lo como vendedor ambulante, pois conseguira por intermédio de alguns patrícios, artigos vendáveis aos indígenas.

Desenvolvendo grande act ividade, lá ia fazendo o seu negócio ambulante, na esperança de melhores dias, sonhando com a possibilidade de abrir um pequeno estabelecimento.

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Quando regressa a Moçambique, na companhia de seus irmãos, ABDOOL LATIF, é já um conhecedor da terra moçambicana, que mais o anima nos seus propósitos empreendedores de expansão comercial.

Foi então, que juntamente com eles, abriu no Bairro da Malanga o seu primeiro esta­belecimento, numa casa fe i ta de madeira e zinco, precursor do colosso que vir ia a ser a CASA COIMBRA!

Depois, abr i ram no mesmo Bairro da Malanga, mais três casas comerciais, pois o negócio prosperava.

Em 1895 os dois irmãos — ABDOOL LATIF e ABDOOL SACOOR — haviam ampliado tanto o seu ramo de negócio, que adquir i ram outro estabelecimento.

ABDOOL LATIF, homem de génio empreendedor, abriu mais tarde, uma casa no centro da cidade, na Travessa da Linha, a que se seguiu outra, na Travessa da Palmeira, também no centro da cidade. Foi, porém, em 1907, que abriram a primeira Casa de Modas, só para homens, e em 1910 tomaram de trespasse outro estabelecimento, no qual instalaram, pela pr i ­meira vez, secções de Modas para Senhora.

FACHADA DA CASA COIMBRA

No mesmo ano de 1910 trespassaram os Estabelecimentos da Malanga e o da Travessa da Palmeira, sendo em 1913, que tomarem de trespasse um grande Estabelecimento situado no centro da cidade, onde registaram o maior desenvolvimento comercial até então nunca a t i n ­gido! Este foi a Casa-Sede, onde nasceu o nome da CASA COIMBRA. Ainda t iveram, em 1915, data em que abr i ram, uma casa de Câmbios, e em 1924, uma outra só de artigos orientais, que fecharam em 1928. /

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Tem interesse explicar-se a razão por que foi dado a esta f i rma paquistanesa, um nome português. Nesses recuados tempos de f ins do século dezanove, os tecidos feitos na Metró­pole, nomeadamente, as fábricas ao redor da cidade de Coimbra, eram exportados para Mo­çambique, e t inham grande procura e preferência entre a clientela que se fornecia dos Estar belecimentos de Abdool Lat i f Ayob Vak i l e seus irmãos, começando a chamar ao fundador da Firma «COIMBRA», cuja alcunha se enraizou por tal modo, que muitos clientes só lhe chamavam «COIMBRA», daí nascendo o nome de CASA COIMBRA.

Adquir indo um grande terreno na Avenida da República — uma das mais belas artérias da Baixa de Lourenço Marques — aí construíram um grande edifício, a que foi dado o nome de CASA COIMBRA, inaugurado em meados de Dezembro de 1940, e onde todas as act ivida­des da f i rma se jun ta ram, continuando esta as suas tradições comerciais, engrandecendo o comércio moçambicano e embelezando, com o seu grande edifício de vários andares, a Baixa laurent ina.

O espírito progressivo dos sócios da CASA COIMBRA não ficou restrito só àquela f i rma, pois além de serem proprietários do PRÉDIO COIMBRA onde têm a f i rma comercial, possuem, também, o PRÉDIO T I V O L I — o n d e está instalado um dos melhores Hotéis da cidade — e o PRÉDIO LOURENÇO MARQUES.

Por morte dos fundadores principais — Abdool Lat i f Ayob Vak i l , Abdool Saccor Ayob Vaki l e Abdool Reheman Ayob Vak i l , tomou uma parte da Gerência da f i rma, o f i lho de Abdool Rehe-man Ayob Vak i l , Jossub Abdool Reheman Vak i l , actualmente gerindo os negócios da f i rma, juntamente com outros membros da famíl ia — fi lhos, sobrinhos e netos dos fundadores — três dos quais são já nascidos em Lourenço Marques e com nacionalidade portuguesa, e que são, também, sócios da f i rma. Todos os sócios da CASA COIMBRA aqui construíram as suas resi­dências, tendo a f i rma cento e dez empregados ao seu serviço, dos quais, noventa são portu­gueses.

A CASA COIMBRA, obra de uma famíl ia paquistanesa, que aqui criou raízes e se propa­gou, concorreu com o seu trabalho e in ic iat iva, para o progresso e desenvolvimento desta Pro­víncia portuguesg de Moçambique.

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FILIPE DICCA

FUNDADOR DA FIRMA F. DICCA LDA.

Filipe Dicca era de nacionalidade albaneza, tendo vindo para Áf r ica do Sul, por ocasião da guerra Anglo-Boyer, alistando-se para combaterão lado dos Boyers. Essa guerra acabou em 1898, data em que ele se refugiou em Moçambique, fixando-se em Lourenço Marques, com a idade de 24 anos.

Filipe Dicca começou a negociar, dedicando-se, em especial, à indústria de refrigerantes. Filipe Dicca t inha sido estudante de Química, na Áustr ia , até se alistar como voluntár io, para combater na Áf r ica do Sul.

Durante a primeira Grande Guerra, negociou, comprando as mercadorias aprezadas aos barcos alemães, na Província de Moçambique, tendo obtido grandes lucros, que empregou, em especial, na compra de prédios urbanos e rústicos, na Província, assim como na pesquisa de minérios.

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Mais tarde, em 1920, adquir iu uma fábrica de refrigerantes que t inha pertencido a um ital iano de apelido Caval lar i , situada na Av. Paiva Manso, onde mais tarde veio a montar a Indústria de Cerveja, de que foi pioneiro.

Para tal obteve uma Concessão de exclusividade de fabrico, durante dez anos, a qual lhe foi concedida pelo A l to Comissário Brito Camacho, que mui to contr ibuiu para que a indústria da Cerveja fosse uma realidade, pois aquele al to funcionário apreciava as grandes qualidades de trabalho e iniciativa de Filipe Dicca, que era um homem dotado de uma grande persistência, actividade, inteligência e espírito progressivo, e foram essas qualidades reunidas, que lhe permi­t i ram criar um pequeno empório comercial e industr ial , que f izeram dele um dos grandes pioneiros de Moçambique.

Possuía uma enorme clarividência comercial, que lhe fazia prever tudo aquilo que seria negócio, como por exemplo, guardar objectos velhos, que qualquer pessoa deitaria fora, e ele conservava, e mais tarde, esses objectos velhos eram vendidos por altos preços!

Para montar a sua Fábrica em Lourenço Marques, Filipe Dicca dirigiu-se ao Sudoeste afr icano, que t inha sido uma possessão alemã, onde existia uma Fábrica de Cerveja, que se encontrava encerrada, comprando-a e trazendo-a com toda a maquinaria para Moçambique, e ainda contratou os respectivos técnicos dessa Fábrica.

A té 1944 Filipe Dicca t inha negociado sempre em nome individual, só vindo a criar a Firma F. Dicca, Lda., naquele ano.

Anter iormente, em 1938, para reduzir os prejuízos existentes pela luta entre a fábrica de Cerveja Nacional , de Filipe Dicca e a Fábrica de Cerveja V i tór ia , fundiram as duas, dando origem à organização REUNIDAS. Metade do capital pertencia a Filipe Dicca. Com a formação da Firma F. Dicca, Lda., todas as propriedades e a quota nas REUNIDAS passaram a pertencer à Firma, que além da exploração destes bens, passou também, a dedicar-se ao Comércio de Importação.

Filipe Dicca faleceu em Janeiro de 1949, tendo sido herdeiros dos seus bens, seus irmãos, Pedro Dicca e Cundegunda Dicca. Hoje existe ainda seu irmão, Pedro Dicca, com 83 anos, tendo falecido sua irmã, deixando como herdeira da sua parte, uma f i lha, Paula Fekete.

Hoje, a Firma, é constituída por Pedro D :cca, Paula Fekete, Álvaro Augusto de Sousa, Manuel João Correia, Augusto Bazílio de Oliveira, Dr. Z la tko Azinovike e Savo Kadik.

A Gerência está normalmente confiada nos Sócios Manuel João Correia, Augusto Bazílio de Oliveira e Dr. Z la tko Azinovike.

Em 1960, a Firma F. Dicca cedeu a sua quota nas Fábricas Reunidas, a um grupo indus­tr ial formado pelas Fábricas de Cerveja da Metrópole.

Na actual idade, a Firma F. Dicca, além dos negócios já apontados, está ligada às seguintes Sociedades : Produtos Al imentares, Lda.; Cartonagens de Moçambique, Lda., para fabrico de Caixas de cartão canelado, ligada à organização sul-afr icana, " N O T I O N A L CONTAINERS" ; à Fonte dos Libombos, Lda., na exploração de água mineral , de mesa, explorando ainda a Cervejaria Nacional e Pedreiras de Goba.

Na parte Agro-Pecuária, dedica-se à exploração de gado leiteiro, sendo um dos principais abastecedores de leite para consumo da cidade de Lourenço Marques, e ainda, da União de Curtumes de Moçambique, Lda.

Este é o resumo da obra efectuada pelo pioneiro FILIPE DICCA, que sendo estrangeiro, dedicou quase toda a sua vida ao engrandecimento de uma terra, a quem queria como se fosse a sua, e tanto ajudou a progredir.

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SOCIEDADE AGRÍCOLA DE TABACOS, LDA.

A Sociedade Agrícola de Tabacos, Lda. foi fundada em 5 de Abr i l de 1935, no Distr i to de Inhambane, pelos cidadãos gregos: Panos Macropulos Manuel Macropulos e Telemachus Tshi-hlakis, que eram agricultores e produtores de Tabaco, naquela época, no Distr i to de Inhamba­ne. A Organização dedicava-se, em especial, àcultura do Tabaco, que é precisamente, a maior produção agrícola da Grécia.

Foram os pioneiros Panos Macropulos, Manuel Macropulos e Telemachus Tsihlakis, que ensinaram aos nossos indígenas o cult ivo do Tabaco. Além da cultura do Tabaco, dedica-vam-se a outras produções agrícolas: Mi lho , Amendoim, Algodão e Sisal, e ao mesmo tempo, dedicavam-se, também, ao Comércio Geral.

Projecto da nova unidade fabril

A primeira Fábrica de Tabaco foi instalada na propriedade agrícola do sócio Panos Macro­pulos, na Circunscrição de Zangamo, criada para manipular o Tabaco das suas colheitas. Por se tornar inconveniente a laboração da Fábrica junto da propriedade, pediram uma licença para instalar na cidade de Inhambane, que nessa época era ainda Vi la . Por f im , por conveniências de vária ordem, foi pedida nova transferência da Fábrica, em 1940, para Lourenço Marques. Como a Sociedade t inha adquir ido um terreno, na Capital da Província, aí construíram um edifício próprio, com instalações adequadas ao f im a que se destinava. Em 1950, a Sociedade decidiu ampl iar a Fábrica, construindo novas Salas, Dependências e Armazéns. Sempre em franco progresso, em 1954, a Sociedade adquir iu novos maquinismos, e em 1957, todas as Sec­ções da Fábrica estavam apetrechadas com as mais modernas máquinas.

A Fábrica possui a sua força motr iz própria,al imentada por dois Geradores de Cinquenta Kw., cada. Os Sócios desta Empresa, homens cheios de iniciat iva e de espírito progressivo, não se tem poupado a sacrifícios e esforços, para tornarem a sua Fábrica numa modelar unidade fabr i l , moderna e ef iciente, como hoje é. Os seus produtos tem apresentação e categoria, honrando a Indústria moçambicana de Tabacos.

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Actualmente a Fábrica tem doze empregados europeus e sessenta indígenas. Da matéria prima que emprega — Tabaco, por exemplo — oitenta e cinco por cento é adquirido da produ­ção da Província. Toda a sua embalagem é, igualmente, adquirida nas Tipografias da Província. A empresa importa papel prateado, celofane, e mais algumas matérias primas que não existem no mercado moçambicano.

A Empresa exporta para: Angola, Cabo Verde, S. Tomé, Guiné e Timor, produzindo, anual­mente, cerca de cem toneladas de Tabaco. Procurando alargar a sua exportação, espera que muito em breve, lhe seja permit ido exportar para a Metrópole.

Os sócios actuais da Sociedade Agrícola de Tabacos, são Manuel Macropulos, Telemachus Tshihlakis e Jorge Tshihlakis. O pioneiro Telemachus Tshihlakis chegou a Moçambique, vindo da Grécia, em 1928, constituindo famíl ia com uma Senhora da mesma nacionalidade. Seu f i lho Jcrge Tshihlakis, que é sócio da Empresa, nasceu em Lourenço Marques.

A Sociedade Agrícola de Tabacos, é uma af irmação de tenacidade e progresso, a enriquecer a Província de Moçambique.

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O Pioneiro do fabrico de Ladrilhos e Mosaicos, de ut i l ização doméstica e para construção civi l , na Província de Moçambique, foi o cidadão grego, originário do arquipélago do Dodecaneso, Vassilis Gianouris, que acompanhado de sua esposa, chegou a Moçambique no ano de 1912, com a idade de 41 anos.

Estabeleceu-se em Lourenço Marques, sem sócios, dedicou-se à construção Civil até ao ano de 1931, a l tura em que inaugurou a sua fábrica, dedicada exclusivamente, ao fabrico de Mosai­cos hidráulicos para pavimentos. Após alguns anos de laboração, a Fábrica passou a produzir, também, ladrilhos, e mosaicos de outros géneros, para aplicação doméstica, como Lava-loiças, Mesas, Banheiros, Lavatórios, Tanques, f iguras decorativas para jardins, Mausoléus, assim como mosaicos granuli tados e marmorizados.

Vassilis Gianouris, espírito construtivo e muitíssimo trabalhador, obreiro incansável da sua fábrica, viveu muitos anos na sua labuta e direcção, sem se ausentar, permanecendo longos anos sem visitar o seu País. Foi em Lourenço Marque que lhe nasceram os seus únicos f i lhos: Irene e John. Vassilis Gianouris faleceu com setenta e um anos, f icando seu f i lho John a dir igir a fábrica, de que hoje é proprietário, juntamenre com sua mãe D. Elefftheria Gianouris.

A Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos emprega no seu serviço de Escritório, seis europeus, e mais de cem operários indígenas. A fábrica produz e exporta para toda a Província de Moçam­bique, mas actualmente, com o grande incremento dado à Construção Civ i l , sobretudo em Lou­renço Marques, a sua produção é prat icamente, absorvida pela capital da Província. Como tantas outras Organizaçõos industriais, a Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos, desempenha im­portante papel na economia da Província. Emprega matéria prima local, como seja, cimento, areia e resíduos, no valor anual de duzentos contos, e importa, corantes, cimento branco e granulíticos, no valor anual de oitocentos contos. A produção anual de material produzido pela fábrica, eleva-se a dois mi l e quatrocentos contos.

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Trabalhos executados pela fábrica

De ati tudes simples e modestas, John Gianouris, procura honrar o nome de seu Pai, con­t inuando e aumentando a Obra deixada por ele. Fora da sua fábr ica, exerce, ainda, o cargo de Cônsul Honorário da Grécia, em Lourenço Marques. A Fábrica de Ladrilhos e Mosaicos, é uma das muitas organizações moçambicanas pioneiras, que contr ibuiu para o engrandecimento da Província de Moçambique.

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GARNET PENDRAY--O FUNDADOR DAS ORGANIZAÇÕES PENDRAY, SOUSA & CA., LDA.

GARNET PENDRAY GEORGE PENDRAY

Escritórios, Oficinas e Salão de Exposição em Lourenço Marques

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Garnet Pendray nasceu em Inglaterra, em Camborne, tendo vindo para Áfr ica — a então Áfr ica Oriental Inglesa — como combatente na Grande Guerra de 1 9 1 4 - 1 8 . Terminada a Guerra, Garnet Pendray veio a Lourenço Marques, onde t inha um amigo, também de nacionali­dade inglesa, de nome Hugo Lemay, que estava estabelecido na capital moçambicana, com a indústria de Automóveis e metalúrgica. Garnet Pendray t inha a profissão de Engenheiro Mecâ­nico, tencionando regressar à Inglaterra. Duas razões, no entanto, f izeram modif icar o seu des­t ino : ter gostado de Lourenço Marques, e o seu amigo ter-lhe oferecido um lugar na Firma. Garnet Pendray aceitou esse lugar, acabando por não regressar à sua pátr ia, e fixando-se em Moçambique.

A lgum tempo depois, estabelece-se com a sua primeira Firma, em Lourenço Marques, de Sociedade com um português — Joaquim de Sousa. Isto passa-se no ano de 1920. Joaquim de Sousa ainda é vivo, contando 88 anos de idade. Depois, sucessivamente, foram estabelecidas novas Firmas, também em Lourenço Marques: "Agências Modernas, Lda." , "A Predial de Mo­çambique, Lda. " , e sucursais na Beira, Tete, Quelimane, Nampula e Porto Amél ia. Todas as Firmas dispersas pela Província representam uma das maiores Organizações mundiais do ramo automóvel — a General Motors.

"A Predial de Moçambique, Lda. " , foi criada para a construção exclusiva das Organiza­ções Pendray, assim como para a compra e vendo de propriedades. "A Predial de Moçambique Lda. " , tem concorrido de forma apreciável para o desenvolvimento dos negócios das restantes f i rmas, construindo prédios para as instalações dos escritórios e das oficinas, não só em Louren­ço Marques, como também, noutros pontos da Província. Independentemente desta função, tem a seu cargo negócio de prédios, sua aquisição e venda. As Organizações Pendray têm em Lou­renço Marques cerca de trezentos empregados, e nas Firmas dispersas pela Província o mesmo número. As Organizações Pendray tem um médico privativo para prestar assistência a tcdo o seu pessoal.

O fundador das Organizações Pendray, que faleceu em 1963, na Suiça, durante uma estadia de t ratamento numa clínica de Montreux, foi um trabalhador incansável e de f ino t ra to, sendo mui to estimado por todos os seus colaboradores e amigos, deixando uma das maiores e mais prósperas Organizações comerciais de Moçambique, contr ibuindo, de forma notável, sob vários aspectos — e part icularmente no dos Transportes — para o seu progresso e engrandecimento.

Na actual idade, encontra-se à frente da Direcção das Organizações Pendray, o f i lho do fundador, George Pendray, seu digno representante e continuador da grandiosa obra de seu pai.

Oficinas da firma, na Beira

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GIUSEPPE BUFFA BUCCELATTO

Giuseppe Buffa Buccelatto chegou a Lourenço Marques em 2 de Dezembro de 1902, vindo da I tá l ia, onde vivia com sua famí l ia , contando então 20 anos de idade, e para se juntar a um irmão mais velho que viera para a cidade da Beira, Província de Moçambique. Esse irmão t inha o Curso da Escola de Belas Artes da I tál ia. Viera para o Egipto trabalhar em grandes obras que se efectuavam naquele país. A í , quando o seu trabalho f inal izara, leu num jornal egípcio uma notícia sobre obras que se ir iam realizar na Beira, Província de Moçambique, e resolveu ir à aventura.

GIUSEPPE BUFFÁ BUCCELATTO, a ser condecorado pelo Presidente da República quando da sua visita em 1964

Chegado à Beira não f icou decepcionado, iniciando aí o seu trabalho, e quando as obras mencionadas no anúncio terminaram, e verif icando que, tão cedo nada teria para fazer resol­veu ir para Lourenço Marques onde f icou. Foi por sugestão sua, que Giuseppe B. Buccelatto veio para Moçambique. Nessa época recuada eram navios alemães que faziam carreiras de pas­sageiros na costa de Moçambique, pois a Alemanha possuia colónias no Tanganica e mui to do seu tráfego fazia-se através do Índico.

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Nesse tempo os navios de guerra portugueses existentes, serviam para trazer os poucos portugueses que nessa época vinham para a Áf r ica. Giuseppe B. Buccelatto desembarcou de um desses navios alemães para uma bateira e desta para as costas dos indígenas, até a terra f i rme, pois nada existia então, senão as margens da baía que constituíam praias, com pequenas pontes de madeira e havendo um barracão que servia de Capitania. Giuseppe Buccelatto é oriundo de Castellamare dei Golfo — Trapani — na Sicília. Chegado a Lourenço Marques, o jo­vem sicil iano, iniciou a sua vida como Construtor Civi l , adoptando a mesma profissão de seu Pai, estabelecendo-se sem sócios. A 16 de Novembro de 1912 casa no seu país com uma i tal ia­na, Francesca Lipari , regressando com a esposa a Moçambique, à sua casa de Lourenço Mar­ques. Do seu casamento nasceram cinco f i lhos: Giuseppina, Gaspare, Antonino, Pierino e Ignázio Giuseppe B. Buccelatto, foi também, um grande at le ta, possuindo várias medalhas ganhas no Desporto. Foi um prat icante de Ginástica apl icada; fez Natação, Futebol, Esgrima e Hóquei em Patins, tendo sido Capitão da primeira equipa de Hóquei Patinado que existiu em Lourenço Marques.

Quando o jovem Príncipe D. Luís Filipe visitou a Província houve um Sarau Desportivo em honra do régio visi tante. Giuseppe B. Buccelatto exibiu-se nesse Sarau, tendo o Príncipe ido depois, cumprimentar o jovem ginasta i tal iano, at i tude essa que o emocionou profundamente, e que ainda hoje recorda com satisfação.

Na sua vida profissional, Giuseppe B. Buccelatto, vai progressivamente desenvolvendo a sua Empresa de Construção Civ i l , a que não f ica alheio o seu dinamismo de trabalhador incan­sável, que é! São obra da sua Empresa a primeira fase da Ponte Cais de Lourenço Marques, e Mura lha do que hoje é o Clube Naval , bem como a Mura lha da Doca seca, cabendo-lhe, parte na construção da Câmara Munic ipa l .

Foi em 1919 que formou a Sociedade que hoje tem o nome G. B. Buccelatto & Filhos, Lda., iniciada com dois sócios. Só em Maio de 1946 é que seus fi lhos entraram para a Sociedade, passando a ser os únicos sócios. Seguidamente foram-se criando; a sua f i l ia l da Beira, especiali­zada em materiais de construção; a Sociedade Metalúrgica Portuguesa, Lda., em 1929, cons­truída em terreno da Empresa; G. B. Buccelatto Construtores, Lda., e a Companhia Industrial de Fundição e Laminagem S. A. R. L. — está commais de duas centenas de accionistas.

Este, é hoje, o desdobramento fantást ico da pequena Empresa iniciada nos princípios deste século pelo pioneiro sicil iano, Giuseppe Buffa Buccelatto, cujos filhos se tornaram os seus melhores continuadores e colaboradores.

Dois formaram-se em Engenharia Civ i l , e Electromecânica; Pierino em Mecânica, e Igná­zio em Contabi l idade, sendo sua f i lha apenas sócia.

Em homenagem carinhosa à terra que o recebeu e acolheu, G. B. Buccelatto deu aos fi lhos a nacionalidade portuguesa.

São numerosas as obras executadas pela f i rma de G. B. Buccelatto & Filhos, Lda., além das já mencionadas, contando-se : PRÉDIOS : " A F R I C A N LIFE", MONTEPIO DE MOÇAMBIQUE, "PABLO PEREZ", CARDOSO E REIS, " H O DICK Y O N G " , "JOSÉ M A R I A " , " H O KA K U I " , "PARISOT" .

AMPLIAÇÕES : C O M P A N H I A DE CIMENTOS DE MOÇAMBIQUE, FÁBRICA DE CERVE­JA REUNIDAS, SHELL MOÇAMBIQUE, SOCIEDADE N A C I O N A L DE REFINARIA DE PETRÓ­LEOS, MOGÁS, CENTRAL TÉRMICA, CAJU INDUSTRIAL E SONEFE. CASAS : ALGODOEIRA DO SUL DO SAVE e BRIGADA DE FOMENTO e POVOAMENTO DO LIMPOPO — GUIJÁ.

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SILOS : C O M P A N H I A INDUSTRIAL DA MATOLA.

FÁBRICAS : C O M P A N H I A INDUSTRIAL DE FUNDIÇÃO E L A M I N A G E M , S. A. R. L.

OBRAS DO ESTADO : OFICINAS DOS CAMINHOS DE FERRO DE LOURENÇO MAR­QUES, NOVAS OFICINAS GERAIS DOS CAMINHOS DE FERRO DE MOÇAMBIQUE, MORGUE — l . a e 2.a FASES — C O N S E L H O DE CÂMBIOS;NOVO HOSPITAL CENTRAL DE LOURENÇO MARQUES.

DEPÓSITOS DE ÁGUA : DEPÓSITO DE ÁGUA DE MAXAQUENE, DEPÓSITO ELEVA­DO DOS CAMINHOS DE FERRO DE MOÇAMBIQUE — GUIJÁ, BARRAGEM, M A P A I , e PAFURI.

HOSPITAL : ORDEM HOSPITALEIRA DE S. JOÃO DE DEUS.

Giuseppe B. Buccelatto, que com seus fi lhos formou uma famíl ia unida, está certo por isso, da continuação da obra por ele iniciada. A sua acção relevante teve um justo prémio, quando da visita do Sr. Presidente da República a Moçambique, que condecorou Giuseppe B. Buccelatto com a ORDEM DE MÉRITO AGRÍCOLA^E INDUSTRIAL, CLASSE DE MÉRI­TO INDUSTRIAL, GRAU OFICIAL. Com esta condecoração dada pelo mais al to Magistrado da Nação, quis assim, o Governo premiar a Obra deste pioneiro de Moçambique, que embora estrangeiro, à terra portuguesa se dedicou como se fosse sua.

Por tudo quanto f ica d i to se conclui , que Giuseppe B. Bucelatto, foi um grande obreiro, desempenhando papel de relevo no engrandecimento e economia da Província de Moçambique, o seu labor intenso, a que veio juntar-se a energia jovem de seus fi lhos. Giuseppe Buffa Bucce­latto soube grangear amigos, e consideração em todos os sectores, pelo seu t ra to simples, a fá­vel, falando numa linguagem onde se adivinha um coração bondoso. Ele amou tanto a terra moçambicana como a sua terra natal . Faleceu quando esta obra se encontrava no prelo.

É interessante salientar, que seu f i lho Ignazio, é o Cônsul Honorário da Finlândia, em Moçambique.

Giuseppe B. Buccelatto fo i , por duas vezes, Cônsul da I tá l ia, em Lourenço Marques. Con­decorado como sócio mais ant igo dos Caminhos de Ferro de Moçambique, e agraciado pelo Go­verno de I tá l ia , com a Comenda de C O N S T A N T I N I A N O ORDINE MIL ITARE Dl SAN GIOR-GIO Dl A N T I O C H I A , e COMENDADORE DELLA STELLA AL MÉRITO.

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SORABJEE EDALJEE GINWALA

Do Pioneiro que nos vamos ocupar — exemplo perfeito de determinação, de sacrifício e de amor por esta boa terra moçambicana — também se pode sentir orgulhosa a Província. O seu trabalho e o seu esforço merecem ser destacados nesta publicação, destinada a pôr em merecido realce o que tem sido o esforço dos pioneiros que f izeram Moçambique.

SORABJEE ADALJEE G I N W A L A , nasceu na aldeia de ANKESWAR, na índia, em 1861, descendente de uma dist inta famíl ia de origem Persa, há muitos séculos f ixada naquele subcon-t inente, por motivo de perseguições regiliosas. Tinha no seu sangue, por ancestralidade de ariano puro, o amor pela aventura e uma intransigência absoluta pelos conceitos filosóficos contidos na Religião que professava e com a qual ZOROASTRO imprimira uma feição de moral pura e incor­ruptível para seus adeptos e que ele seguia com devoção absoluta.

Seus Pais haviam instalado na índia a primeira Fábrica de descaroçamento de algodão. Seus irmãos haviam estado em Moçambique de 1882 a 1885, e no regresso ao País onde a a famíl ia se f ixara, contavam maravilhas do continente onde haviam estado e da hospital i­dade portuguesa que tão generosamente haviam recebido em Moçambique. Isso levou o jovem Sorabjee a sonhar com Moçambique, e a embarcar um dia, num «Pangaio» árabe que deman­dava a Costa Oriental de Áfr ica. Deixaram-no em Durban. Os seus primeiros contactos com os ingleses que dominavam a Colónia do Na ta l , da qual Durban era então o principal porto de mar, não lhe agradou. O seu objectivo não era apenas comerciar, era principalmente, estabe­lecer contactos humanos com raças diferentes da sua, que lhe permitissem ser-lhe út i l em convívios como em produtividade.

Lembrando-se das conversas que seus irmãos t inham ao serão, pôs-se afoi tamente a cami­nho de Lourenço Marques, numa audaciosa jornada por terra, a corta-mato, desafiando as incle­mências do tempo e as incertezas dos caminhos.

Aqui conseguiu o seu primeiro emprego, como guarda-livros da f i rma DADA ABDULLA, instalada no pequeno burgo que era então Lourenço Marques, já há bastantes anos.

Cedo a sua dedicação e a sua inteligência começaram a revelar-se. Entretanto — já no f inal do s é c u l o — dá-se a grande conflagração entre ingleses e Boyers, que para a História f icou designada pela de Guerra Anglo-Boyer de 1899- 1902. Guerra cruel, que opôs contra o poderio da Inglaterra Imperial um pequeno povo cioso da sua liberdade, tendo por Chefe um homem de vontade de grani to — PAULO KRUGER. Por essa al tura Sorabjee, deixando a f i rma onde trabalhava, decidiu estabelecer-se em Lourenço Marques, por conta própria. Ao princípio, com uma pequena loja de artigos de mercearia, tendo anexa, uma pequena l ivraria.

Homem de contas limpas e negócios rectos, em breve prosperou. A sua larga visão enca-minhou-o para a Indústria e com vontade de ferro, não levou mui to tempo a instalar em Lou­renço Marques, em 1907, a primeira Fábrica de extracção de óleos vegetais, ut i l izando unica­mente, a disponibil idade da matér ia-pr ima que Moçambique possuía, não em Lourenço Marques, mas no interior do Distr i to, e ainda copra, que o seu espírito aventureiro levou a adquirir no Porto de Sofala e na histórica Ilha de Moçambique.

A Fábrica prosperou, pois além de satisfazer as necessidades de consumo de óleos no Dis­t r i t o de Lourenço Marques, passou a fornecer, também, desse produto, a Colónia Indiana de Durban, já então numerosa, devido a importação de mão-de-obra indiana para o cult ivo da cana sacarina e sua industrial ização. Isso tornou-se possível devido à conclusão dos trabalhos da Linha Férrea de Lourenço Marques a Pretória, que dir igida pelo General Joaquim José Machado havia sido inaugurada pelo Presidente Kruger, em 1895.

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Mas o pioneiro não descansa sob louros tão di f ic i lmente conquistados. Quando em 1923 se inicia, a sério, em Moçambique a campanha da cultura do Algodão, cujo monopólio dos mer­cados internacionais cabia, quase inteiramente, ao Egipto, Sorabjee, afo i tamente, monta em Lou­renço Marques, uma vez assegurada a matér ia--pr ima, a mais moderna e melhor apetrechada Fábrica de prensagem e descaroçamento do Algodão, dando desta forma continuidade ao espí­r i to aventureiro dos seus corajosos antepassados, cujo sangue irrequieto lhe corria nas veias.

Em Moçambique — pelo seu génio inventivo e espírito de audácia — criou e perdeu, várias vezes, grandes fortunas. Teimosamente não se importou em começar de novo, pelo princípio. Lutou denodadamente, e venceu!

Não admira, pois, que grande tenha sido o amor que votou por esta terra de adopção, que entranhadamente queria como sua e para cujo desenvolvimento tanto contr ibuiu. Foi, em toda a sua vida, um batalhador infat igável , até ao dia em que, no ano de 1937, a morte o veio buscar.

Em Moçambique f icaram seus fi lhos — GODREJ, KEKOBAD e NASSARWAN, este já nas­cido em Lourenço Marques — e seus netos, continuando a tradição respeitabilíssima que lhes legou. Tradição essa, que eles cul t ivam e se mantém bem expresa na Firma S. E. G INWALA, FILHOS, LDA., um dos pilares em que assenta a economia florescente de Moçambique, que mui to f icou devendo ao esforço de um homem notável, que em vida se chamou SORABJEE ADALJEE G I N W A L A e cuja biografia o «LIVRO DE OURO», de MOÇAMBIQUE se orgulha de arquivar nestas páginas.

A lém de pioneiro da Indústria de extracção de óleos, tais como de copra e amendoim, supõe-se que Sorabjee tenha sido, também, o pioneiro no aproveitamento industrial da moagem da semente da mafurra, industr ial ização essa, que era em época tão recuada totalmente des­conhecida fora do ambiente botânico e industr ial .

O seu espírito empreendedor, levou-o a mais esta aventura, conseguindo esse út i l pioneiro moçambicano, pela sua técnica original de industr ial ização, a colocação dos seus produtos nos grandes mercados mundiais, até então dominado pelo Porto de Marselha como seu escoadouro natura l .

Em 1909, já f ixado def in i t ivamente em Lourenço Marques, mandou vir seus fi lhos GODREJ e KEKOBAD. Carecia não só da sua colaboração como ainda desejava incutir neles o seu amor pela Indústria que realizara com esforço da sua inteligência e por esta boa terra portuguesa de Moçambique. E, com o concurso dos f i lhos, já no ano seguinte, pode modernizar, não só as suas instalações, como os métodos de trabalho, substi tuindo os obsoletos moinhos de t ipo indiano por prensas hidráulicas, que produziam maior rendimento na extracção de óleos.

Entretanto, surge a Grande Guerra, e para se defender da concorrência que se lhe depara no campo industrial a que se dedicou, associa-se a outro pioneiro, o português Paulino dos San­tos Gi l , e com ele funda a Fábria de óleos e sabões denominada «MOÇAMBIQUE SOAP A N D 01L COMPANY». Deste modo, a f i rma, com o concurso dos dois industriais pioneiros, conse­gue manter abastecido um mercado deficiente durante todo o período da Grande Guerra, e ainda renovar a Fábrica, adquir indo aparelhagem mais moderna, de recente inventiva americana, e com ela dar prosseguimento em bases mais sólidas à indústria que já vinha honrando a Província de Moçambique.

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A PRIMEIRA LIVRARIA DE MOÇAMBIQUE A "MINERVA CENTRAL"

JOÃO ANTÓNIO DE CARVALHO

A Indústria Gráfica de Moçambique, foi criada por um Decreto saído em 7 de Dezembro de 1836. Todavia o primeiro número da Gazeta Of ic ia l , só em 13 de Maio de 1854 é que foi publicado, iniciando-se assim a primeira publicação moçambicana de carácter of ic ial .

Para se apreender o que foi a acção desenvolvida em prol do livro português e da cul tura, de um modo geral , do pioneiro João Antón io de Carvalho, há que nos reportarmos aos seus pr i ­meiros anos de vida em Moçambique.

João Antón io de Carvalho nasceu na freguesia do Eixo, situada a poucos quilómetros da cidade de Aveiro, vindo da sua terra natal para Lourenço Marques com 16 anos, apenas, e para trabalhar num Estabelecimento de Comércio Geral, que era propriedade de um seu parente, o comerciante Clemente Nunes de Carvalho e Silva. Nesses recuados tempos — como ainda hoje acontece no mato, nas cidades e vilas do interior — os Estabelecimentos de Comércio Geral, como o nome indica, nele se vendiam e vendem, os mais variados art igos, incluindo os jornais desse tempo, em que a Política era uma das razões dominantes da vida afr icana, e se cria­vam pequenos jornais com o f im principal de servirem como arma de combate e defesa dos seus interesses económicos. Neste meio heterogénio formou ele a sua mentalidade.

As diversões, nessa época, eram mui to poucas, e livros não existiam à venda. Para aten­der alguns pedidos de fregueses que desejavam adquir ir livros, João António de Carvalho, come­çou a mandá-los vir da Metrópole, cult ivando cada vez mais o gosto pelo l i teratura e divulgan-do-a. Sempre aumentando os seus conhecimentos, adquiridos, em parte, através da leitura pro­veitosa que faz ia , mais se ia arreigando no seu espírito a ideia de criar um Estabelecimento dedicado exclusivamente ao ramo de l ivraria e papelaria, cujo sonho veio a concretizar, in i ­ciando a sua actividade com a abertura em 14 de Abr i l de 1908, da «MINERVA CENTRAL».

Deste modo, João Antón io de Carvalho iniciava a venda e divulgação do livro português no Província de Moçambique, a ele se f icando a dever esta iniciat iva de divulgar a cultura através do l ivro, dando primazia às obras portuguesas.

Nessa al tura era já casado, coincidindo a inauguração do seu Estabelecimento com o nas­cimento do seu primeiro f i lho. Referimos, a t í tu lo de curiosidade, que João António de Carva­lho, ligou-se pelo casamento, a uma famíl ia já enraizada na Província e de relevo social, que

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é a Família Furtado. Sua esposa era D. Margarida Furtado, f i lha do pioneiro António Furtado, que adquir iu posição de relevo no meio social dessa época. Quando abriu o seu pequeno Esta­belecimento de l ivraria e papelaria, situado na Rua D. Luís, hoje chamada Consiglieri Pedroso, contava 29 anos.

O Estabelecimento constava de um edifício de pedra e cal, de um só piso, coberto de telha, com colunas de ferro, como tantos outros construídos nessa época, a que se dá o nome de «tipo colonial». Ficava quase em frente à Rua Antón io Furtado, a cerca de cinquenta metros para a direi ta do Estabelecimento actual .

Não tardou mui to que, ao pequeno Estabelecimento se juntasse uma oficina de t ipografia que, com o decorrer dos anos, se transformou e cresceu melhorando o seu equipamento, o qua­dro do seu pessoal e os seus serviços.

A história de uma casa comercial é mais alguma coisa do que a narração dos seus traba­lhos, vicissitudes, for tuna e progresso; é um pouco mais que a resenha dos seus negócios e o inventário dos seus bens; ela é sobretudo, a vida dos seus próprios trabalhadores, que lhe con­sagram a sua actividade, a sua inteligência e dedicação!

Logo de começo, a modesta l ivraria da Rua D. Luís, chamou a si uma tarefa demasiado pesada para as suas possibilidades, que foi a difusão do livro português, por todo o terr i tór io de Moçambique.

As perspectivas não eram animadoras para tão delicado quão dif íc i l ramo comercial. Para nos cert i f icarmos disso, basta considerar que a população da cidade de Lourenço Marques, era, então, aproximadamente, de dez mil habitantes, incluindo europeus, asiáticos e africanos, e que as comunicações com os Distritos e territórios majestáticos de I^Aan\ca e Sofala e Niassa, eram difíceis e morosas.

Estas dif iculdades de comunicação levaram João Antón io de Carvalho a pensar com inte­resse e simpatia na situação do colono do interior, longe do mundo civi l izado, muitos sem convívio com europeus, sem revistas, sem jornais ou livros, outros vivendo em pequenas comuni­dades mal servidas pelo telégrafo e pela navegação.

Era preciso servi-los, e o jovem livreiro com optimismo, entusiasmo e vigor, lançou-se na grande aventura do que fez um verdadeiro ideal, a que se conservou fiel até aos seus derra­deiros dias: fazer chegar às mãos dos colonos as publicações que recebia, levar a toda a parte o livro português! Para muitos desses colonos do interior, os livros, jornais e revistas da Minerva Central eram o único elo que os mant inha ligados à Metrópole e à civi l ização!

Um dia v i r ia, em que a escritora Sarah Beirão, ao apreciar o seu labor de livreiro, diria com apreço, sinceridade e just iça: « . . . levou a terras de além-mar o nome dos que, sem a sua actividade, nunca aí seriam conhecidos.»

Foi, na verdade, para si , a parte mais simpática e querida da sua actividade. Conside-rou-se, sempre, acima de tudo, um livreiro, e quando falava da sua obra, referia-se à acção que t inha desenvolvido durante quarenta e cinco anos, que, sem exagero, pode dizer-se, foram devotados à divulgação do livro em Moçambique.

Seguindo a prát ica dos editores do Porto e Lisboa, mais com o f im de desenvolver na população o gosto pela leitura e facul tar- lhe a aquisição de livros, por preços mínimos, rele­gando para um plano secundário a ideia do lucro, inst i tu iu em 1936, a Feira do Livro, a qual se tem realizado todos os anos nos Salões do seu Estabelecimento da R. Consiglieri Pedroso. Esta iniciat iva teve entusiástico acolhimento por parte de todos os sectores da população da cidade.

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As Feiras do Livro const i tuem, hoje, uma tradição da Minerva Central , que procura manter no mais elevado nível. Para isso, sem olhar a despesas, são mandados vir da Metrópole e do Brasil, as últ imas edições dos melhores livros. Da mesma forma são importados livros em espa­nhol, francês, i tal iano e inglês.

O que levou João Antón io de Carvalho a escolher para seu negócio, o precário ramo de l ivraria, foi sem dúvida, o seu amor à instrução, que manteve sempre inalterável, e que o levou a atr ibuir a si mesmo a missão de levar a Cart iha de João de Deus e as jóias da nossa l i tera­tura a todos os pontos da Província, faci l i tando a sua aquisição, fornecendo livros de ensino, gratu i tamente, a estudantes sem recursos.

João Antón io de Carvalho fo i , também, jornal ista, e num art igo int i tu lado «AS M I N H A S RAZÕES», a f i rma : «. . . E é por sentir tudo isto que sofrendo com um tal estado de coisas, resolvi reeditar a «PROVÍNCIA DE MOÇAMBIQUE». E f i - lo para defender os meus haveres, a terra dos meus f i lhos, e mostrar que nem todos se afastam do caminho do dever com uma cobardia que enoja.» Estas duras e enérgicas palavras seguiam-se à análise da grave situação desse momento, em que Lourenço Marques viveu horas de ansiedade, desassossego e dificuldades económicas.

João António de Carvalho ocupou vários lugares de destaque, como por exemplo : Regedor, Jurado do Tr ibunal do Contencioso, Técnico Aduaneiro.

O Governador Freire de Andrade era seu amigo, dist inguindo-o com apreço. E tudo isto acontecia a um homem jovem, que era prestável, estimado e respeitado.

A sua casa comercial abriu sob os auspícios da sua já grande popularidade, apesar de ter, apenas, vinte e nove anos! Popularidade que conquistara com a lhaneza do seu espírito alegre, com a saudável disposição que o levava a ser út i l e o tornou prestável; com a sua bon­dade que o fazia atentar no que se passava à sua volta e a prestar a sua solidariedade, sim­patia e auxíl io, a todas as iniciativas altruístas! Era um jovem que todos conheciam, cha-mando-o afectuosamente pelo d iminui t ivo de «Carval inho», d iminui t ivo que o acompanhou até ao f im da sua existência.

Nestes cinquenta e oi to anos de existência, a «MINERVA CENTRAL» acompanhou a cidade no seu maravilhoso crescimento, part i lhando das suas alegrias e das suas horas de an­siedade, assistindo ao seu progresso e desenvolvimento, dando-lhe, com entusiasmo, a sua quota de trabalho, servindo a sua população.

Hoje, como sempre, a «MINERVA CENTRAL» encara o fu turo com o mesmo optimismo e com confiança. A sua Tipograf ia está, hoje, equipada com as mais modernas máquinas, e possuindo pessoal europeu especializado para todos os géneros de trabalhos, acompanhando o progresso industr ial .

O seu Estabelecimento está instalado num edifício de cinco andares, ocupando dois pavi­mentos de um edifício situado noutra rua paralela ao do Estabelecimento, numa demonstração de desenvolvimento e progresso notáveis.

Em 1943, João Antón io de Carvalho, deu nova ordem à sua casa, associando a si seus f i lhos, e alguns antigos colaboradores, entre eles, seu irmão, Sebastião de Carvalho e Constantino de Castro Lopo, que por morte do fundador, seguiram na mesma rota idealista e progressiva, traçada por ele.

Termina esta biograf ia sumária do pioneiro João Antón io de Carvalho, com as declara­ções de algumas personalidades que visitaram a «MINERVA CENTRAL», e registaram no seu «LIVRO DE OURO» as suas impressões.

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De Gilberto Freyre:

«Admirável f igura de bom português, este João Antón io de Caxvalho, que soube dar ao livro em Lourenço Marques, o prestígio, a dignidade, que o livro merece. A Minerva é, sob sua orientação, um centro de cul tura, em geral, e da cultura lusíada — inclusive a luso-brasileira — em part icular.»

Lourenço Marques, 18 de Janeiro de 1952

De Phil ipp Soupault, DELEGADO DA «U.N.E.S.C.O.» :

«Je suis heureux de pouvoir fel ici ter le fondateur et les Directeurs de Minerva Central car j 'est ime qu'i ls ont fa i t depuis 1908 une oeuvre qui merite toute 1'attention. lis ont aidé precisament a repandre la culture dans un pays qui commençait a penser a vivre. Je suis per­suade que tous ceux qui considerent que le livre est un des meilleurs moyens d eduquer les hommes et de les rendre meilleurs seraient d'accor avec moi pour leur dire notre admiration.»

Lourenço Marques, 24 de Maio de 1951

Do Doutor Mareei lo Caetano, quando Min is t ro das Colónias:

«Tive ocasião de verif icar o papel que a Minerva Central tem desempenhado na difusão do livro na Colónia — especialmente na expansão do livro português. O que mais aprecio nesta acção benemérita é o largo espírito que a anima, sem a mesquinha preocupação dos grandes lucros imediatos e com o respeito devido àqueles que querem aprender, precisam de se cult ivar ou de recrear e não são ricos. É assim que se trabalha.»

Lourenço Marques, 30 de Agosto de 1945

Aspecto do edifício da «MINERVA CENTRAL»

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'PROTAL"— PRODUTOS ALIMENTARES, LDA. COMO NASCEU A " P R O T A L "

Em 1963/ três dos mais importantes f irmas locais, com uma notável contribuição válida já prestada para o desenvolvimento industrial de Moçambique — F. DICCA, LDA, SIPAQ (COMERCIAL), LDA. e VITÓRIA, LDA. — resolveram associar-se para que, de esforços combina­dos, resultassem maiores perspectivas para uma indútsria de lacticínios à escala nacional.

Foi assim que, dessa associação de boa vontade, nasceu a PROTAL (Produtos A l imen­tares, Lda.) com probabilidades mais amplas e o objectivo f i rme de melhor servir e valorizar a economia de Moçambique.

Desenho do aspecto geral do complexo fabril da PROTAL

Uma vez estruturados os destinos da nova indústria de fabrico, preparação e transfor­mação de manteigas e queijos, no que respeita à produção própria, sua composição e valores de consumo, a PROTAL iniciou imediatamente a sua actividade de relevante interesse económico para a colectividade, sob os mais promissores auspícios.

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A PROTAL — unidade fabr i l , fei ta nos mais modernos moldes da técnica moderna, sem paralelo na Metrópole, e de elevado custo de instalação — é o produto de uma já longa experiência no meio da indústria manufactureira local, para a consecução da qual se contou, desde o início, com uma vasta gama de estudos e conhecimentos técnicos adquiridos à luz de princípios que se enunciaram e exempli f icaram, e que, cada f i rma associada trouxe para a nova unidade criada. E ninguém poderá negar — basta fazer uma visita à unidade fabri l para o confirmar — que se fez um esforço notável de industrial ização com a PROTAL em ocasião oportuna, em que os empreendimentos fabris deixaram de situar-se em Moçambique, nos limites do indiv idual, para entrarem nos domínios dos grandes trabalhos de conjunto.

A experiência combinada da especialização em indústria de fr io e de conservação de alimentos e de produtos químicos de base de aplicação al imentar, além de outras, contr ibuiu decisivamente para que a PROTAL se tornasse, bem cedo, numa nova unidade de alto mereci­mento no espaço nacional.

Laboratório da Fábrica

O planejamento desta importante unidade fabri l está, por sua vez, estudado por forma a acompanhar, intensamente, o programa económico de desenvolvimento, que se vem proces­sando aceleradamente, de há anos a esta parte, nesta Província, procurando realizar uma obra que nos tem orgulhado. O elevado grau de industrial ização at ingido já pela PROTAL, em curto espaço de tempo, permit iu a esta organização lançar-se a outra arrojada iniciativa — o fabrico em Lourenço Marques, de leite condensado. Para a inteira satisfação a padrão inter­nacional, a PROTAL foi buscar a técnica especializada que lhe fa l tava, recorrendo àquela que, mundialmente, é reconhecida como a mais perfeita — a técnica holandesa.

A COOPERATIVE CONDENSFABRIEK «FRIESLAND», de Leewarden, Holanda, que se asso­ciou à PROTAL, LDA., é um dos maiores fabricantes mundiais de lacticínios. Essa associação teve por objectivo principal e imediato o fabrico, em Lourenço Marques, de leite condensado da sua patente, que goza de just i f icado alto prestígio no campo da indústria mundial do género.

A poderosa organização industrial holandesa trouxe para Moçambique, deste modo, além do investimento de elevadas somas de capi ta l , a contribuição inestimável da sua técnica no fabrico de toda a l inha de lacticínios.

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A COOPERATIVE CONDENSFABRIEK «FRIESLAND» resultou, por sua vez, da associação livre de cerca de vinte mil criadores de gado das zonas mais ricas da produção do gado leiteiro do Mundo — a província de Friesland, na Ho'anda, que deu o seu nome à raça especial, assim denominada na pecuária internacional.

A organização mantém, além de Cooperativas associadas — de produção de queijo, manT

te iga, leite condensado, leite em pó, etc. — um Banco associado, de sólida garant ia f inanceira, para transacções e investimentos, e outras operações bancárias de rot ina.

Um aspecto 6a laboração

Da produção mundial de leite condensado, quarenta por cento cabe à Holanda, sendo a «C.C.F.» responsável por sessenta por cento da produção holandesa.

E é assim, com sólida confiança no fu turo e o apoio f i rme encontrado por parte do consu­midor, que tanto tem estimulado a iniciat iva, que a PROTAL caminha para a realização plena da sua obra, contr ibuindo para a valorização e progresso de Moçambique!

Uma organização pioneira, que ontem era uma promessa, e hoje é uma realidade!

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JÚLIO GOMES FERREIRA

Júlio Gomes Ferreira nasceu na Freguesia de Lama, Concelho de Barcelos, região de Por­tugal , onde o Artesanato e a Olaria estão rica e largamente difundidas.

De espírito empreendedor, emigrou mui to jovem para o Brasil, no no de 1920, onde pro­curou todas as oportunidades para adquir ir uma maior instrução, pois iniciara a sua vida tendo, apenas, a Instrução Primária. Na ânsia de adquir ir mais conhecimentos, dedicava todo o seu tempo disponível à le i tura, conseguindo assim, uma cultura que lhe abriu novos horizontes espirituais. Igualmente procurou aperfeiçoar-se na Ar te de Ceramista, que era a sua profissão. No Brasil const i tuiu famí l ia , casando com uma jovem de Belo Horizonte, D. Rosa Benvenuta, em 1926. Em fins desse ano regressa a Portugal, com o f im de vir f ixar-se em Moçambique onde t inha um irmão, José Avel ino Gomes Ferreira, que dir igia a Secção de Olaria na Missão Católica de São Jerónimo de Magude, no Sul do Save, que o convidara para vir trabalhar nessa Missão como seu auxi l iar.

O Governador-Geral, Comandante Gabriel Teixeira, durante uma visita à Fábrica, junto de Júlio Gomes Ferreira

Júlio Gomes Ferreira chegou a Moçambique em 8 de Fevereiro de 1927, com a idade de 24 anos. Manteve-se seis anos na Missão de São Jerónimo. A lgum tempo depois de ter saído da Missão, iniciava a sua actividade industr ial , começando por uma pequena Fábrica de Olaria — que teve início em Agosto de 1 9 3 3 — q u e foi sucessivamente aumentando, até ocupar hoje um lugar de relevo na Indústria Moçambicana.

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A sua Fábrica chegou a at ingir uma produção mui to grande, na parte de Olaria, expor­tando largamente para a Áf r ica do Sul e outros países vizinhos, onde as suas cerâmicas eram mui to apreciadas e se tornaram famosas. Esse apogeu foi at ingido no período da segunda Grande Guerra. Desde que se tornaram conhecidas as cerâmicas de Júlio Gomes Ferreira, que a Fábrica passou a ser mui to visitada por turistas, at ingindo essas visitas anuais, entre sete a oito mil pessoas. Por estes números se avalia do interesse despertado pelos trabalhos exe­cutados pelas mãos de Ar t is ta de Júlio Gomes Ferreira. Por sua vez, esses turistas também adquir iam objectos, que constituíam lembranças que serviam de ofertas. Os visitantes estrangei­ros cont inuam a af lu i r em grande número pois a Fábrica há mui to que se tornou conhecida e famosa pelas suas cerâmicas mui to apreciadas além-fronteiras.

Alguns anos após ter inaugurado a sua Fábrica, Júlio Gomes Ferreira, sempre no ânsia de progredir, enriquecendo a economia da Província, criou uma secção dedicada à Construção Civ i l , fabricando telha para cobertura de casas — que nesse tempo, normalmente, eram cober­tas de zinco — e mais tarde, lançou o fabrico de manilhas de grés, também para a Constru­ção Civ i l , que até então era importado da Áf r ica do Sul e da Bélgica. A Fábrica, na actua l i ­dade, produz outros géneros de cerâmicas para a Construção Civi l , a qual se dedica em grande escala, presentemente, pois a sua expansão estende-se até aos mercados dos países vizinhos de Moçambique.

A Fábrica de Cerâmica de Júlio Gomes Ferreira foi a pioneira desta indústr ia, at ingido a sua produção anual o valor de cerca de três mil contos. A Fábrica emprega matérias-primas nacionais no valor anual de setecentos e cinquenta contos. Importa, anualmente, matérias--primas, no valor de cento e t r in ta contos. Paga de mão-de-obra anualmente, mil setecentos e cinquenta contos. Emprega cento e dez indígenas e dezassete empregados europeus. Por estes números se avalia o que representa na economia da Província.

Para além da sua vida industr ial , Júlio Gomes Ferreira tem desempenhado papel relevante nas relações luso-brasileiras, devendo-se a ele a criação do Consulado do Brasil em Lourenço Marques, departamento diplomático que mui to fazia sentir a sua fa l ta . Em 1953, Júlio Gomes Ferreira quis deslocar-se ao Brasil com sua esposa para visitar seus famil iares e seus amigos, e para obter os «vistos» necessários a essa deslocação, por carência de entidades competentes em Moçambique, a sua obtenção demorou três longos meses, depois de várias «démarches» e trocas de correspondência feitas através do Consulado do Brasil na Áf r ica do Sul.

Já no Brasil, Júlio Gomes Ferreira queixou-se dessa fa l ta de uma entidade brasileira em terr i tór io moçambicano, ao Dr. Júlio Pinto Gualberto, Presidente da Academia Belo Horizontina de Letras, e falando da necessidade urgente da criação de um Consulado em Lourenço Marques. Este ilustre brasileiro providenciou sobre o assunto, e assim, a 3 de Outubro de 1953, é criado o Consulado do Brasil em Lourenço Marques, por decreto do Presidente Getúlio Vargas, sendo nomeado Cônsul Honorário do Brasil em Moçambique, Júlio Gomes Ferreira, que exerceu o cargo até 31 de Dezembro de 1961, al tura em que foi criado o Consulado-Geral, vindo ocupar o lugar um diplomata brasileiro, de carreira.

A Academia Belo-Horizonte de Letras, nomeou Júlio Gomes Ferreira Membro Correspon­dente, tendo sido, também, agraciado com a Medalha de Ouro daquela inst i tuição brasileira, pelos serviços prestados desinteressadamente ao Brasil para um maior intercâmbio cultural luso--brasileiro. É Correspondente em Moçambioue, do Jornal «A VOZ DE PORTUGAL», do Rio de Janeiro, bem como Sócio Correspondente do Inst i tuto Histórico e Geográfico de Belo-Horizonte, Minas Gerais.

Desenvolvendo sempre uma benéfica e progressiva actividade cul tura l , em prol do inter­câmbio luso-brasileiro, Júlio Gomes Ferreira, solicitou que fosse criada uma Secção de Estudos Brasileiros na Sociedade de Estudos de Moçambique, e que por sua iniciat iva se inaugurou em 2 de Novembro de 1956.

A lém de Sócio da Sociedade de Estudos, é o Presidente da Secção de Estudos Brasileiros, e desempenha, também o cargo de Tesoureiro da Direcção da Sociedade de Estudos de Moçam­bique. Quando Júlio Gomes Ferreira convidou o Cônsul-Geral do Brasil, em Lourenço Marques, Dr. Ayr ton Dinis, a visitar as novas instalações da Sociedade de Estudos de Moçambique, e espe­cialmente, a «SALA BRASIL», que foi cedida para a Secção de Estudos Brasileiros, usando da palavra, Júlio Gomes Ferreira, a i f rmou:

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— «A Sociedade de Estudos de Moçambique, fundada em 7 de Setembro de 1930, por um grupo de entusiastas em prol do progresso social e cultural de Moçambique, teve como pr i ­mordial obreiro, o Sr. Eng.° António Joaquim de Freitas que, persistente e conf iante, viu a sua ideia vingar e f ru t i f icar , embora houvesse de início certas dúvidas a tal respeito. Mas, fel iz­mente, a obra singrou e está à vista nesta grande realização. Entre as várias Secções exis­tentes no seu seio, conta-se a Secção de Estudos Brasileiros que foi criada por proposta minha, em 2 de Novembro de 1956. Pode-se af i rmar que foi desde então que se começou a desen­volver de forma saliente o intercâmbio cultural entre Moçambique e o Brasil. Neste estrei­tamento de mais íntimas relações é que foram nomeados sócios correspondentes da nossa Sociedade os Exmos. Srs. Drs. Salomão de Vasconcelos e Roberto Pereira de Vasconcelos, Copér­nico Pinto Coelho, membros do Inst i tuto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e o Dr. Júlio Pinto Gualberto, Presidente da Academia Belo-Horizontina de Letras e ainda o muito conhecido homem de Letras, Prof. Dr. George Agostinho da Silva. E há bem pouco tempo outro ilustre brasileiro, o dist into jornalista Dr. Alves Pinheiro, foi igualmente nomeado e por unanimidade, Sócio Correspondente da nossa Sociedade.

E entre os de cá também foram nomeados Sócios Correspondentes do Inst i tuto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, os confrades Drs. António Esquivei, Cónego Jerónimo de Alcântara Guerreiro, Eng.° Manuel Pimentel dos Santos e a minha modesta pessoa, que ainda foi honrada com a nomeação de Sócio Correspondente da Academia Belo-Horizontina de Letras.

A nossa bibl ioteca, a part i r de então, viu-se enriquecida com variada e valiosa l i teratura brasileira. No entanto, é de toda a conveniência que este intercâmbio se avive e se for ta­leça cada vez mais.

Tanto eu como os demais membros desta Secção gostaríamos que a «Sala» fosse apetre­chada condignamente, na sua decoração e mobil iár io, de forma a traduzir um ambiente e estilo t ipicamente brasileiros. Para os nossos irmãos brasileiros que por aqui passassem e viessem visitar a «SALA DO BRASIL», sentir-se-iam como que em sua casa. Para nós, os de cá, ter-se-ia a ideia do progresso e grandeza do Brasil. Mas, para que tal desejo se mater ial ize, eu ouso d i r i ­gir a V. Exa. um apelo solicitando o seu valioso apoio para a dil igência já encetada nesse sen­tido, pois estou certo de que o Governo Brasileiro não deixará de dar o seu contr ibuto.

Estou certo de que não será em vão o desejo que nos anima e a confiança que nos alenta. Sabemos, Sr. Cônsul, que V. Exa., embora esteja há pouco menos de um mês em Lourenço Marques, já grangeou muitas simpatias, o que aliás outra coisa não era de esperar, visto que já em Lisboa criou um ambiente de muitas amizades e simpatias, pelo seu f ino t ra to e lhaneza de maneiras, predicados que V. Exa. reúne e com os quais, estou certo, conquistará entre nós a amizade e o carinho de que é merecedor.

Ao terminar esta singela e despretenciosa saudação, desejo mais uma vez, expressar a V. Exa. os votos que formulo pelo maior fortalecimento das relações luso-brasileiras em terras de Moçambique, onde o elo da língua e da religião mais nos estreitam. Para f inal izar desejo agradecer à actual Direcção desta Sociedade e às Direcções anteriores por todo o carinho que dispensaram às minhas diligências em prol do estreitamento dos laços fraternos luso-brasileiros, pois sempre me animaram, não esquecendo a Imprensa e a Rádio que igualmente me apoiaram nesta cruzada de aproximação.

Para todos vai o meu mui to obrigado.»

Continuando a dar o seu contr ibuto noutros sectores, Júlio Gomes Ferreira foi Membro directivo da Associação Comercial e é Vogal da Junta Distr i tal do Sul do Save.

Na sucessão das suas actividades industriais, Júlio Gomes Ferreira, tem em seu f i lho, Aurélio Gomes Ferreira, o seu melhor colaborador, que será o continuador da obra de pioneiro, de homem de acção, progressivo, patr iota e íntegro que é seu Pai.

Cremos que tudo quanto atrás f ica di to, é suficientemente elucidativo da obra pioneira de um português, que a juntar a tantos outros de ri ja têmpera, f izeram desta parcela de Portu­gal , a bela e florescente terra que é hoje, sem dúvida, a Província de Moçambique.

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EMPRESA DAS AGUAS DE MONTEMOR (NAMAACHA) S.A.R.L.

Vista geral da Fábrica CANADÁ DRY, na N A M A A C H A

A Empresa das Águas de Montemor foi fundada em 7 de Setembro de 1944, com a den< mi nação de «Fonte de Montemor Lda.», com o capital de quatrocentos e vinte e cinco conto dividido em quatro quotas pertencentes a Dr. Maurício Luís Neves, Eurico Mar inha de Can pos e Dr. Jaime Luís Neves e Luz da Aurora Neves.

Em 21 de Abr i l de 1948, o seu pacto social foi alterado, passando a denominar-se, «En presa das Águas de Montemor (Namaacha) Lda.», admit indo novos sócios, e aumentando o se capital para quatro mi l e quinhentos contos.

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Em 17 de Outubro de 1950, a Empresa elevou o seu capital para nove mil contos, e em 17-1-1952, por nova escritura, transformou-se em Sociedade Anónima, elevando o seu capital para doze mil quinhentos e dez contos, e em 20 de Fevereiro do mesmo ano, em t r in ta e cinco mil contos.

O Conselho de Administração, com exercício até 31 de Dezembro de 1966, era composto pelos seguintes administradores : Carlos Theodoro Mar t ins, Presidente; Eng.° Aníbal da Ascen­são Rodrigues Valente, em representação da f i rma P. Santos Gil Cr Ca., Lda.; Eurico Mar inha de Campos, em representação da Sociedade Civil da Quinta de Montemor; João Marques Negrão; D i . Inácio Bragança; José Diogo de Mascarenhas Gaivão e Manuel Nunes. Administrador-dele-gado : Eurico Mar inha de Campos.

Esta Empresa constituiu-se para explorar uma nascente de Água de Mesa, mui to boa e bacteriològicamente pura, situada na povoação da Namaacha, no local denominado «Monte­mor», propriedade do velho pioneiro, Amadeu Luís Neves.

A Empresa começou por explorar a água no estado natural e gazif icado, e mais tarde, enveredou pelo fabrico de refrigerantes de renome mundia l , a marca «Canada Dry» e também, do refrigerante de fama mundia l , «Pepsi Cola».

Esta Empresa foi a pioneira em todo o terr i tór io português, na modernização da indústria de refrigerantes. A Empresa tem o seu estabelecimento industrial na Namaacha e Sede em Lourenço Marques, sendo ainda associada de «A Distr ibuidora, Lda.», «Fábrica de Refrigeran­tes de Gaza, Lda.», «Fábrica de Cerveja da Beira, Lda.», e «União Fabril de Refrigerantes, Lda.», com fábricas em Quelimane e Nampula.

Para se avaliar da extensão e grandeza desta f i rma, refere-se que, os capitais investidos pelo Balanço de 1963 eram na importância de quarenta e quatro mil contos, todos de origem moçambicana, através de quatrocentos e setenta e um accionistas. A capacidade de produção da Fábrica da Namaacha, é de dois milhões e quinhentos mil litros anuais, de refrigerantes e sodas. O processo de fabrico é todo mecânico e do mais moderno, assim como a pasteuriza­ção dos xaropes, tratando-se de águas e esteril ização de vazi lhame.

A matér ia-pr ima importada é apenas as dos extractos, que representa cerca de dez por cento do custo do produto. As restantes matérias-primas são de origem nacional, e na sua maio­ria de produção moçambicana, (gás carbónico, açúcar, cápsulas, garrafas, caixas de madeira, etc.

A mão-de-obra ut i l izada é toda portuguesa e composta por dezassete empregados nos Ser­viços de Administração, Fabrico e Transporte, e ainda, cinquenta e dois auxiliares africanos.

A posição, perante o mercado interno, é bastante satisfatória e a sua produção é toda con­sumida no mercado da Província. A comercialização dos produtos é fei ta através de uma orga­nização comercial, denominada «A Distribuidora Lda.», sendo fe i ta por meio de venda directa, distribuidores e Agentes.

Eis a traços largos, a biografia de uma f i rma que mui to tem contribuído para o progresso da Indústria moçambicana.

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ANTÓNIO AUGUSTO GEMELGO

António Augusto Gemelgo, natural de Macedo de Cavaleiros, Província de Trás-os-Montes, de largas tradições espirituais, onde a sua gente é rude como as serranias, mas albergando no coração, as nobres tradições da gente lusa.

António Augusto Gemelgo, veio para Moçambique mui to jovem, com 25 anos, em busca de melhores condições de vida, chegando à Província em 1944. A sua intenção, era fixar-se e progredir, pois grandes eram os seus anseios e sonhos.

Iniciou a sua vida de trabalho, empregando-se em empresas dedicadas à mecânica, pres­tando a sua colaboração em mais que uma, durante os primeiros dos anos e meio de estada na Província.

Após esse tempo, estabeleceu-se sem sócios, no ramo automóvel, em 1948, mantendo-se nessa actividade até 1954. É nesse ano, que o seu sonho de expansão começa a concretizar-se.

Antón io Augusto Gemelgo estabelece-se,montando uma Fábrica para produzir material agrícola, carrocerias, atrelados, mobil iário de aço e embalagens metálicas. Neste género de indústr ia, foi ele o pioneiro.

A organização é, igualmente, por ele or ientada, e foi- lhe dado o nome da «MAQUINAG.

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A primeira Fábrica, teve início em Lourenço Marques, tendo sido transferida mais tarde, em 1960, para a M A C H A V A , povoação a 10 quilómetros da cidade, onde as várias dependên­cias da Fábrica poderiam ter as condições necessárias à sua constante expansão.

Actualmente, a «MAQUINAG» divide-se em quatro edifícios, tendo construído em terrenos próprios, a maior unidade fabr i l , com todos os requesitos modernos, de modo a bem servir o f im a que se destina.

Sempre em contínuo progresso e crescimento, a «MAQUINAG» exporta para a Província de Angola material agrícola e mobil iário metál ico, assim como para os mercados estrangeiros vizinhos, do M A L A W I e da S U A Z I L Â N D I A .

Em 1957, a «MAQUINAG» iniciou a sua produção com doze empregados, e hoje, tem mais de quinhentos, entre europeus e indígenas.

Para se avaliar do valor económico desta organização industr ial , basta dizer que foi des­pendido em compra de matérias-primas nacionais, só no ano de 1964, cinco mil seiscentos e setenta e três contos.

As vendas, no mesmo ano, a t ing i ram a ci fra de quase vinte mil contos, e os vencimentos, tGmbém em 1964, a t ing i ram cerca de quatro mil e quinhentos contos.

A Fábrica tem vindo sempre a aumentar, de ano para ano, a sua produção, numa demons­tração de progressiva vi ta l idade, a enriquecer a economia da Província.

À tenacidade e esforço de Antón io Augusto Gemelgo, fica-se a dever esta iniciat iva de vasto alcance económico.

Graças ao esforço dos seus pioneiros, Moçambique vai procurando criar as suas indústrias para prover às suas necessidades, e d iminuir as suas importações.

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Laboratório da Fábrica

MANUEL NUNES

M A N U E L NUNES nasceu na Metrópole, sendo natural da Freguesia de Fânzeres, próximo da cidade do Porto.

Com a idade de vinte e seis anos, chegou a Moçambique, em Fevereiro de 1922, trazendo consigo abundância de esperanças e o desejo de vencer !

Dinheiro pouco t razia. Porém, a sua maneira de ser inspirava confiança, e por isso, com a ajuda de alguns amigos, estabeleceu-se, fixando-se então na Vi la de Inhambane, aí permane­cendo durante t r in ta anos! Durante todos esses anos foi estendendo a sua actividade e associan-do-se a outros empreendimentos de vul to, na Província.

O seu estabelecimento de Inhambane dedicava-se ao Comércio Geral — que ainda hoje existe e continua no mesmo ramo de negócio — do qual são sócios sua esposa e alguns filhos. A Firma denomina-se, M A N U E L NUNES, LDA.

Na actual idade, o pioneiro Manuel Nunes, tem a Sede de todas as suas actividades em Lourenço Marques, para onde veio residir em 1951.

Entre as Indústrias e Organizações a que se l igou, contam-se a do CHÁ, estando associado a quatro PLANTAÇÕES DE CHÁ na Circunscrição do GÚRUÈ e do LUGELA.

M A N U E L NUNES, despendeu durante todos estes anos de permanência na Província — até ao presente, mais de quarenta anos — uma extraordinária act ividade, o que o tornou uma f igura de relevo no Comércio e na Indústria.

O seu nome está ligado a várias grandes Organizações moçambicanas, das quais desta­camos :

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"THE DELAGOA BAY LANDS SYNDICATE, LTD. — JOHANNESBURG EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA — LOURENÇO MARQUES EMPRESA DAS ÁGUAS DE MONTEMOR—LOURENÇO MARQUES MANUEL NUNES, LDA. — INHAMBANE; MANUEL NUNES, LDA — M A X I X E MANUEL NUNES, LDA. — JOÃO BELO—; MANUEL NUNES, LDA. — QUELIMANE MANUEL NUNES, LDA .—VILA JUNQUEIRO —MANUEL NUNES, LDA. — L. MARQUES FARMÁCIA COLONIAL— LOURENÇO MARQUES

CARVALHO, COELHO & SOUSA, LDA. EMPRESA DE MADEIRAS DO ULTRAMAR, LDA. EMPRESA INDUSTRIAL DE CONTRAPLACADOS COMPANHIA GERAL DO FOMENTO, LDA. COMPANHIA INDUSTRIAL ALGODOEIRA, LDA. COMPANHIA DOS TRANSPORTES DE MOÇAMBIQUE —MATOLA SOCIEDADE CONSTRUTORA DE SERRALHARIA— MATOLA MECÂNICA, LDA.— (INDÚSTRIAS INÇAR) METI LI LE AGRÍCOLA, LDA. CHÁ METI LI LE, LDA. CHÁ MOÇAMBIQUE, LDA. CHÁ GÚRUÈ, LDA. CHÁ TACUANE, LDA.

Por esta breve resenha de Firmas, se avalia da enorme e vasta actividade que Manuel Nunes tem desenvolvido e continua a desenvolver, com a mesma eficiência de sempre, e já numa altura da vida, em que bem podia e devia, ter uma existência mais sossegada, menos activa, como tem sido sempre a sua vida de autêntico "BUSINESSMAN"!

Manuel Nunes possui a Comenda da Ordem de Santa Eulália, dada pelo Rei da Noruega. Da sua prodigiosa actividade, muito tem beneficiado a Província de Moçambique, que

hoje lhe é tão querida como a terra que o viu nascer!

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FÁBRICA NACIONAL DE MOAGEM E MASSAS ALIMENTÍCIAS, LDA.

A FÁBRICA N A C I O N A L DE MOAGEM E MASSAS AL IMENTÍC IAS , fundada em Lourenço Marques, em 1925, é uma organização pioneira.

Foram seus fundadores alguns pioneiros, cujos nomes estão desde há mui to ligados a Moçambique, pelo contr ibuto dado ao progresso da Província, e são: Paulino Santos Gi l , G. B. Buccelatto e Costa e Cordeiro, sendo constituída em regime de Sociedade Anónima.

Em 1927, a Fábrica foi tomada pelo Banco Nacional Ul t ramarino, que a alugou a uma Sociedade constituída por: Osman Abobakar, Dr. Justino de Abreu, o cidadão i tal iano, Giuseppe Giuste, Jorge Cadete, e ainda por um cidadão sul-afr icano. Com esta Sociedade, a Fábrica la­borou até fins de 1929. Nessa data passou, por compra ao Banco Nacional Ul t ramarino, para outra Sociedade, constituída por outros pioneiros: José Teixeira Catarino, Manuel Teixeira Ca­tar ino, Antón io Vicente Pinheiro e Manuel Ferreira dos Santos, já falecidos. As suas quotas t ransi taram para os respectivos herdeiros, que são os actuais proprietários e administradores da Fábrica.

Encontram-se à frente da Organização, e são seus principais Administradores, Alc ino V i ­cente Pinheiro e Hermes Petiz.

Na actual idade, a Fábrica produz Massas Al imentícias e várias qualidades de far inha de Mi lho para variados fins. A sua capacidade de produção anual pode at ingir as seiscentas tone­ladas de Massas Al imentícias e nove mil toneladas de Farinha de Mi lho.

Fachada da primeira fábrica de Massas Alimentícias de Lourenço Marques

A Fábrica abastece Moçambique e exporta para Angola, Timor, São Tomé, Madeira e Portugal Cont inental . Esta Organização industrial pioneira, honra a indústria moçambicana, e mui to tem contribuído para o progresso da Província.

A Fábrica Nacional de Moagem e Massas Al imentícias foi galardoada em várias exposi­ções, pela superior qualidade dos seus produtos e apresentação, possuindo as seguintes Meda­lhas: "Meda lha de Ouro" da Exposição Internacional de Paris, em 1931 ; "Meda lha de Ouro" p "Meda lha de P ra ta " da Grande Exposição Industrial Portuguesa de Lisboa, em 1932; e "Gran­de Prémio" na Exposição Colonial Portuguesa, efectuada no Porto, em 1933.

Eis a traços largos, a história desta Organização industrial moçambicana, que a enriquece e valoriza.

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"SIPAQ" — SOCIEDADE INDUSTRIAL DE PRODUTOS

ALIMENTÍCIOS QUÍMICOS LDA.

EDIFÍCIO DA «SIPAQ»

Esta importante Firma moçambicana, pioneira do fabrico de Fermentos, Lacticínios e seus derivados, foi iniciada pelo Pioneiro de nacionalidade grega, Manuel Macropulos, que veio da Grécia para a Província de Moçambique no ano de 1926, fixando-se de início, no Distr i to de Inhambane. Manuel Macropulos, estendendo e progredindo as suas actividades faz hoje parte de varias Organizações industriais moçambicanas. J

A "S ipaq " - denominação abreviada da Firma — é constituída por uma Fábrica que produz Fermentos para panif icaçao, cul inária e pastelaria, de que é abastecedora da Província Os seus Fermentos são frescos, prensados e secos, possuindo frigoríf icos para armazenar produtos frescos. Esta Fabrica foi inaugurada em 20 de Agosto de 1940. Os seus fundadores foram Manuel Macropulos, Joaquim Gouveia P i n t o — já falecido — e pelo Dr. Zacarias Falas formado em Quimica pela Universidade de Viena de Áustr ia. Com o falecimento de Joaquim Gouveia Pinto, f icaram como sócios únicos da Firma, Manuel Macropolus e o Dr. Zacarias Falas.

Em 1962, a "S ipaq " iniciou a Indústria do Queijo F u n d i d o — a ela se f icando a dever tombém mais uma iniciativa de a l to interesse e valor económico : a de produzir manteigas Leite Condensado e outros produtos lacticínios. A «Sipaq», é ainda exportadora em larga escala de produtos alimentares. Continuando a sua acção expansiva, a «Sipaq» pediu e obteve uma autorização para instalar na progressiva cidade do Lobito - na Província de A n g o l a - uma fabrica de fermentos secos, que servirá para abastecer aquela Província e para exportação.

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JUSTO MENEZES

Fachada do Edifício da Empresa

Justo Menezes é um metropol i tano ligado a grandes realizações efectuadas na Província de Moçambique. Justo Menezes iniciou a sua vida industr ial , há t r in ta anos, em Lisboa.

Dinâmico e persistente, aliado a uma inteligência viva, não lhe foi d i f íc i l , graças a essas qualidades, a sua vida ser sempre ascensional, guindando-o a pontos altos da sua indústria.

Justo Menezes, iniciou há 17 anos, as suas actividades industriais em Moçambique, fazen­do a electri f icação do Grande Hotel da Beira. A inda naquela cidade, fez a electrif icação do Banco Nacional Ul t ramarino e o Cinema S. Jorge. Mais tarde, em Lourenço Marques, foi a sua Organização que fez a instalação da Rede de Corrente A l te rna, com distr ibuição de Corrente A l t a e Baixa Tensão, em toda a cidade, cuja obra, pelo seu grande volume, foi até hoje, a maior obra eléctrica executada, tanto em Portugal Continental como Ul t ramar ino, no valor de 180 mil contos.

Também foram obra da Organização industrial de Justo Menezes, a electrif icação dos Campos de Aviação de Lourenço Marques e Beira, bem como do novo Edifício do Banco Nacio­nal Ul t ramar ino, em Lourenço Marques. A lém destas, muitas outras obras foram executadas, embora de menos vul to, pela sua Organização.

As instalações industriais de Justo Menezes, em Lourenço Marques, construídas dentro da cidade, ocupam uma área de 18 mil metros quadrados, sendo a área coberta, com a extensão de 12 mi l metros. A l i se concentram: a fábr ica, material eléctrico; a secção de anúncios Lumi­nosos; armazéns e escritórios, construídos nos moldes mais modernos.

A Organização Justo Menezes tem executado obras eléctricas em todas as Províncias U l ­t ramarinas, apenas com excepção de Timor e Macau. Igualmente tem executado obras em Portugal insular. Em Lisboa, na área da Pontinha, estão instaladas as suas organizações fabris.

Eis a traços largos, a biografia de Justo Menezes, que tem dado largo contr ibuto ao progresso de Moçambique.

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HOTEL POLANA

O PRIMEIRO DA CIDADE DE LOURENÇO MARQUES

O HOTEL POLANA — inconfundível marco de turismo da cidade — tem uma história interessante, a que estão ligados alguns nomes grandes dos que ajudaram a civi l izar esta parcela da terra portuguesa e, também, de alguns que a bem governaram. À realização desta obra estão ligados nomes ilustres de pessoas há mui to desaparecidas, e que, por sua vez, ocupam lugar de relevo na História de Lourenço Marques, e, portanto, da Província de Moçambique.

O primeiro nome a f igurar, vem o do Coronel de Engenharia, JOÃO ALEXANDRE LOPES GALVÃO — Membro Superior da Sociedade de Geografia de Lisboa.

O Engenheiro Lopes Galvão — que foi Inspector Superior das Obras Públicas — exercia em 1917, em Lourenço Marques, o cargo de Inspector Provincial de Obras Públicas e era Vogal do Conselho de Turismo, onde ponti f icava o COMANDANTE AUGUSTO CARDOSO, dono do HOTEL CARDOSO.

Vista aérea do Hotel Polana

De variadíssimas insistências para que o Conselho tratasse de arranjar para Lourenço Marques, um hotel decente, feitas pelo Coronel Engenheiro Lopes Galvão — ele cita o seguinte: «Cheguei à conclusão de que o assunto não interessava ao Conselho. Apareceu-me nessa al tura o A D R I A N O M A I A — comerciante categorizado dessa época — que me disse que os seus amigos do Transval estavam dispostos a fazer um grande hotel em Lourenço Marques, em determi­nadas condições. Ouvi-o, ouvi as condições, que me pareceram aceitáveis, e levei o caso ao conhecimento do General MASSANO DE A M O R I M . Este achou bem e autorizou-me a negociar.»

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Dos contactos estabelecidos entre o Engenheiro LOPES GALVÃO e o comerciante A D R I A N O M A I A , resultou que os capitalistas transvalianos interessados no assunto, se deslo­caram a Lourenço Marques, a apresentar directamente à entidade competente as suas propos­tas. Daí chegou a um acordo entre o Governo e a «DELAGOA BAY LANDS SINDICATE», em Julho de 1918, para a construção do Hotel Polana. Levantou-se, em seguida, enorme agi ta­ção por parte daqueles que se consideravam mais lesados pela construção do novo hotel. Estava neste caso o Comandante Cardoso — dono do Hotel que tem o seu nome — fazendo publicar um «manifesto patriótico» ao povo de Lourenço Marques, protestando veementemente contra a construção do Hotel. O General Massano de Amor im, encontrava-se nessa al tura no Norte da Província, quando lhe f izeram ciente da campanha movida, o que lhe fez ter uma frase brusca com a qual pôs termo a tcda essa trapalhada. E o hotel fez-se!

No contrato f icou estipulado um mínimo de 100 quartos. O Governo, por sua vez, garan­t ia o juro de seis por cento do capital a despender com a construção e mobil iário do Hotel e comprometia-se, ainda, a macadamizar a estrada que deveria servir o Hotel — hoje a Avenida Antón io E n e s — e «empregar os necessários esforços no sentido de conseguir da Companhia Concessionária a expansão da Linha dos «Tramways» eléctricos, até àquele local. Era estabele­cida a cláusula de não poder durante os primeiros dez anos construir-se qualauer outro hotel na área da Polana. Nessa al tura o custo do Hotel Polana estava avaliado em cinquenta mil libras.

A inauguração do Hotel Polana efectucu-se no dia 1 de Julho de 1922, tendo sido um acontecimento de grande relevo na vida da cidade. Esta grande iniciativa f icou a dever-se, em grande parte ao Coronel Lopes Galvão e ao Governador-Geral de Moçambique, Massano de Amor im. A assinalar data tão festiva, a «DELAGOA BAY LANDS SINCIDATE», ofereceu nesse dia um almoço a 131 convidados de honra, na Sala de Jantar do novo Hotel , a que assistiu o A l to Comissário Brito Camacho, entre outras individualidades. Aos brindes, Leão Cohen, que representava a f i rma construtora, disse em determinada al tura do seu discurso — onde o magno problerncrtlo Turismo já começava a aflorar — o seguinte:

«Sr. A l to Comissário, estou convencido que com outros diplomas por V. Ex.a já refe­rendados, e com a abertura deste Hotel , o aumento de forasteiros será sucessivo, o que virá a dar uma nova vida a esta cidade e ao seu comércio, assim como um aumento das receitas públicas, e trago a exemplo a cidade de Durban, cujas receitas municipais em 1906 se achavam bem precárias, quando o seu Mayor, tAr. Hollander, estabeleceu a comissão das praias, que fez af lu i r àquele porto o turismo do «Hinter Land» e com tanto êxito, que os hotéis e casas de hóspedes mult ip l icaram-se, e as suas receitas, que em 1906 eram de 391 000, foram cres­cendo de tal forma que em 1921 at ingiram a importante soma de 1 135 000 libras, e as adua­neiras, que em 1907 eram de 863 000 libras, passaram para 1 537 000 libras em 1920, isto é, t r ip l icaram, e o resultado foi a expansão do seu comércio, das suas indústrias e da riqueza públ ica, pois o tur ismo trouxe àquela colónia o mínimo de um milhão de libras anuais de receita para a sua população.

Sr. A l to Comissário e meus Senhores, não vejo razão para que a nossa cidade não venha a compart i lhar de fu turo , dos mesmos benefícios que aufer iu o Na ta l , dotada com as belezas naturais que possui, o melhor porto do Sul de Á f r i ca , cinco rios, qual deles o mais pitoresco e acessível, que desaguam na sua vasta baía, as suas esplêndidas estradas e arredores, e hoje dotado com este magníf ico Hotel , o melhor de toda a Áf r ica do Sul, com o fomento da Comissão de Turismo e outras medidas acertadas que decerto, V. Exa., Sr. A l to Comissário, e o Conselho Legislativo adoptarão, mui to em breve rival izará com qualquer cidade ao Sul do Equador. A construção deste Hotel , cujo custo anda mui to próximo de 300 000 libras, é das mais perfeitas e modernas e não tem rival nos portos do Sul havendo mui to poucos hotéis na Europa que o igualem nas condições em que está montado.

Tem ele vida própria para a sua laboração: máquinas geradoras de electricidade e aque­cimento, f r igorí f ico, lavandaria eléctrica, fábrica de sodas, telefones e água quente em todos os quartos — e para que tudo seja mais completo — vai fazer colocar o Hotel em comuni­cação directa com o Mundo inteiro, abrindo-lhe um serviço permanente de correio e telégrafos. Cabe-me, igualmente, fazer referência ao arqui tecto, Sr. WALTER REI D, e aos construtores, Senhores EAST COAST ENGINIERS, pela bela arquitectura e solidez da construção.»

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A f inal izar todos os discursos, levantou-se o A l t o Comissário Brito Camacho, que foi acolhido com uma vibrante e prolongada salva de palmas. A certa al tura ©f i rmou: «Tive ocasião de percorrer nos últ imos dias uma parte do país viz inho, a União Sul-Afr icana, e de, não direi invejar, que seria uma sentimento baixo, mas de admirar, que é um sentimento nobre, as improvisações inteligentes que se estão fazendo no País que temos à porta. Constatei especialmente, que o Governo previdente daquele País progressivo, cuida dê desenvolver o turismo. Espera-se a l i , que, de fu turo , quem no Europa tiver dinheiro, bom gosto e . . . não enjoar, tenha o prazer especial de visitar a Áf r ica do Sul». Brito Camacho frisou ainda, «que Lourenço Marques era uma cidade pequena mas com condições geográficas diferentes, clima, sociabil idade, características diferentes. Lourenço Marques sendo Lourenço Marques, era superior a qualquer das outras cidade, do que o seria se fosse uma caricatura do Cabo ou de Durban. Era uma cidade pequena, t inha características diferentes, mas . . . era Lourenço Marques»!

Um aspecto geral do Hotel, vendo-se a piscina e o jardim

Completaram-se já , para o Hotel Polana, quarenta e sete anos de existência, continuando a ser, o mais belo Hotel da Província, e grandioso em qualquer parte, rodeado de belos jardins, e tendo voltada para a baía a sua magníf ica piscina, delícia de quantos por lá passam.

O Hotel Polana criou fama em todas as regiões de Á f r i ca , mais próximas da nossa Província, e, também, na Europa, falando-se dele como de* um padrão de beleza hoteleira, em Moçambique.

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De 1922 para cá, os grandes acontecimentos citadinos a ele f icaram ligados, ajudando sobremaneira ao desenvolvimento do turismo na capital moçambicana.

Outro apontamento curioso, relacionado com o Hotel Polana, é que o arquitecto, autor do projecto da fachada, foi o celebrado «SIR» ARTHUR BAKER, que foi autor do grandioso Palá­cio dos Ministérios, em Pretória a «UNION B U I L D I N G S » — q u e tanto se orgulha a capital administrat iva da vizinha República da Áfr ica do Sul.

Sucessivamente, o Hotel Polana, tem vindo a sofrer beneficiações de forma a modernizar o que se tornava necessário, para bem continuar a servir e a receber, aqueles que aos seus tectos se acolhem. Deste modo, o Hotel Polana, continua a servir condignamente os fins para que foi criado.

Actua lmente, o Hotel Polana mudou de dono, mas a garant ir as tradições da sua f idalga hospitalidade, estará a pessoa do seu Gerente, Armando de Matos Ribeiro, técnico de hotela­ria e de turismo dos mais competentes, que dará continuidade às altas tradições daquele verda­deiro marco de tur ismo, de que a cidade, just i f icadamente, se orgulha.

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AIDA SORGENTINI

A pioneira Aida Sorgentini nasceu na Aldeia de TREIA, no Litoral Adr iát ico, próximo da cidade de A N C O N A , na ITÁLIA.

Foi seu marido, o cidadão ital iano GIUSEPPE SORGENTINI, o primeiro a pisar a terra moçambicana. Um seu irmão, mais velho, viera fixar-se em Lourenço Marques, e anos depois manda vir o irmão GIUSEPPE, que era, então, mui to jovem, pois nem sequer cumprira o ser­viço mi l i tar .

A sua chegada a Moçambique, pela primeira vez, verificou-se em 1905. Quando GIU­SEPPE SORGENTINI chegou à idade mi l i tar , teve de regressar à I tá l ia. Uma vez cumprido o serviço mi l i tar , regressou a Moçambique, onde permaneceu mais dois ou três anos, voltando nova­mente a I tá l ia.

Na sua terra natal é-lhe apresentada por uma sua i rmã, uma jovem amiga. Daquele conhecimento resultou uma forte simpatia, que levou Giuseppe e a jovem Aida, ao casamento. Ela f izera o Curso de Professora do Magistér io, t inha terminado o ano obrigatório de t iro­cínio — a que são sujeitos os novos Professores antes de iniciarem a sua vida profissional def in i t ivamente.

Pouco depois de se conhecerem, casaram, e a sua viagem de núpcias foi de Itál ia para Moçambique, onde se vinham f ixar. Isto passava-se no ano de 1919, tendo Aida 25 anos, e Giuseppe, 36. Fixaram-se em Lourenço Marques, onde seu marido t inha negócios, e para onde, mais tarde, vieram fixar-se, também outros dois irmãos mais novos de Giuseppe Sorgentini. Alguns anos depois, juntamente com esses dois irmãos, tomaram de trespasse um Hotel — chamado HOTEL CARDOSO — a que t inha sido dado o nome do seu primeiro proprietário, o C O M A N D A N T E CARDOSO.

Este, era um velho edifício e existia no mesmo local onde hoje se ergue uma bela e mo­derna unidade hoteleira, orgulho e prestígio da capital moçambicana!

Vista geral do Hotel Cardoso

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O HOTEL CARDOSO foi trespassado aos irmãos Sorgentini no ano de 1924. Porém, Giu-seppe Sorgentini sobreviveu apenas um ano, vindo a falecer em 3 de Outubro de 1925. '

A ida Sorgentino, era nessa época, uma jovem, com 27 anos. Em virtude disso, os cunha­dos pretenderam mandar para I tál ia a jovem viúva, fazendo parti lhas e alegando que era mui to nova para tomar a direcção do Hotel e seus encargos. A verdadeira razão era outra, pois dese­javam ficar eles senhores do Hotel.

A ida Sorgentini, no entanto, era uma mulher de ânimo for te, reagindo de forma contrár ia, pois sabia que se regressasse a I tá l ia teria de sofrer uma readaptação à sua vida de Professora' com evidentes inconvenientes, além de ter a seu cargo dois fi lhos pequeninos. Fácil lhe foi compreender que teria de lutar pela sua sobrevivência e de seus f i lhos, e para isso, ela teria de ficar com o Hotel.

Após grande luta com seus cunhados— durou mais de um ano, após a morte do marido — ela conseguiu vencer! Deu aos cunhados a parte que lhes cabia nas part i lhas, tomando ela conta do Hotel , par despacho do Tr ibunal , que se pronunciiou a seu favor. E a luta cont inuou, agora de uma outra forma, em que era necessário uma grande economia para solver os encargos!

Em 1932 terminava o prazo de arrendamento do Hotel fe i to aos Sorgentini. Novas d i f i ­culdades surgiram para a Senhora Sorgentini, pois o Hotel seria vendido e não mais arrendado.

Foi então que, pessoa amiga lhe emprestou uma avultada quant ia, necessária para poder adquir ir o Hotel. Quando a sua dívida foi saldada, ela compreendeu quanto era necessário modif icar aquele velho prédio, e corajosamente, em 1939, poucos meses antes de rebentar a Segunda Grande Guerra, foi começado a deitar abaixo uma das alas do Hotel , para ser fe i to em bases sólidas e modernas.

Outro pormenor do Hotel Cardoso

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Em Fevereiro de 1940 é inaugurada a parte nova, ou seja, metade do Hotel. Os hóspedes que existiam transi taram para a parte nova, e logo no dia seguinte, os martelos começaram a derrubar a outra metade velha.

No f im de 1941 a segunda parte do Hotel era concluída. Quem fez o projecto do novo Hotel foi um i tal iano, de nome G a d i n i — q u e estudara A r q u i t e c t u r a — e que f izera o projecto do Clube Naval de Lourenço Marques.

O novo Hotel levou fundações, de modo a poder levar vários andares. Na primeira fase da sua renovação, apenas f icou c o m u m piso — o rés-do-chão.

A terceira fase de construção foi iniciada em 1948, em que foram construídos quatro an­dares e um quinto andar, somente no vértice do edifício, onde foi construído o Restaurante e Boite, servindo as duas modalidades simultaneamente. Daí se disfruta um panorama maravi­lhoso sobre a cidade e a sua extensa baía. Esta ú l t ima fase foi inaugurada em Agosto de 1965.

A Senhora Sorgentino conservou o ant igo nome do HOTEL CARDOSO, pela simpatia e respeito que lhe merecia esse velho mi l i tar das Campanhas de pacif icação, que era o C O M A N ­DANTE CARDOSO.

O Hotel possui cento e dez quartos. Um Bar denominado «PÔR-DO-SOL», recentemente remodelado; um requintado «SNACK-BAR»; grande Sala de Estar; Piscina e Jardim, de onde se disfruta um belo panorama sobre a cidade e a Baía.

Hoje, A I D A SORGENTINI, tem em seus fi lhos os mais directos colaboradores: ítalo — o mais velho, com largas tendências artísticas para a Decoração — dedica-se a um sector, e Jorge — o mais novo — a outro sector.

Graças à força de vontade, tenacidade e espírito de sacrifício de A I D A SORGENTINI, a c i ­dade de Lourenço Marques possui um dos melhores Hotéis de requintado ambiente e cl ientela, a que os turistas dão grande preferência, servindo, assim, o turismo moçambicano e enri­quecendo a cidade com um belo imóvel!

Grande é o prestígio grangeado por esta Senhora, mercê da sua obra, luta e coragem! É pois, uma pioneira que bem merece o respeito e consideração de quantos a conhecem, e de f igurar nas páginas do «LIVRO DE OURO DO OURO DO M U N D O PORTUGUÊS» neste volume dedicado a MOÇAMBIQUE!

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COOPERATIVA DOS CRIADORES DE GADO

A Cooperativa dos Criadores de Gado teve o seu início em 1956, e foi fundada pelas seguintes entidades: "Sociedade Pecuária, A. Neves & Ca . " , Mar inho da Silva, Padre Vicente, Sousa Costa e Ismael Costa — criadores de gado do Sul do Save. A Cooperativa dos Criadores de Gado foi in t i tu ída com a f inal idade de valorizar, beneficiar e seleccionar o gado pertencente aos seus sócios, melhorar as raças, promover e organizar a exportação do gado.

Não foi necessário mui to tempo para que a Cooperativa consolidasse a sua reputação pe­rante o público, mercê da excelência dos seus produtos, todos eles preparados e presentados para o consumo nas melhores condições de higiene, idênticas às adoptadas nos países mais avançados. Merecem especial referência os talhos da Cooperativa, que possuem as melhores instalações que nos foi dado observar em terr i tór io nacional, onde as carnes estão expostas com apresentação esmeradíssima, igual a qualquer estabelecimento congénere de Paris, Londres ou Genebra.

Toda a gama de carnes — vaco, porco, cabri to, carneiro, gal inha, peru, pato, coelho, bor­racho, e t c . — s ã o expostas em condições de higiene e de arranjo agradável à vista. Aponta­remos alguns números elucidativos do seu movimento. Em 1963 a Cooperativa recebeu, vendeu e transformou 6.526.723 litros de lei te; em 1964, 7.055.304 l itros, sendo vendidos ao natural — em 1964 — 3.308.224 l itros, transformados, 3.743.035. Quanto ao bovino, no que respeita a carnes vendidas através da Cooperativa, traduzem-se pelos seguintes números: em 1963 foram abatidas 12 398 reses, num total de 2 131 401 Kg., e em 1964 12.013 reses, com o peso de 2.065.525 Kg. A seguir apresentamos ainda, alguns números reveladores da grande actividade da Cooperativa, em 1964: Pacotes de mante iga: 358.955; Natas: 17.850 ( l i tros); Queij inhos: 372.053; Iogurte: 43.924 ( l i tros); Masse: 437.081 ( l i tros); Chocolate: 297.165 ( l i tros); Sorve­t e : 109.070 (Mfros); Chupas: 390.000; Carne de vaca: 566.866 (quilos).

Fábrica de Lacticínios da Cooperativa, situada na Matola

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Por vezes, os criadores de gado têm atravessado tremendas dif iculdades, devido às contin­gências do cl ima. Todavia, cremos que essas contingências poderão vir a ser mui to atenuadas, ou até mesmo eliminadas, se forem tomadas medidas adequadas. Tal assunto certamente que não será descurado, por quem de direi to, pois a prosperidade da Pecuária mui to pesa na balan­ça da economia moçambicana e, portanto, da Província.

A Cooperativa executou um grandioso plano, construindo duas modernas e bem apetre­chadas Fábricas de lacticínios e salsicharia, que são das mais importantes de todo o terr i tório português, situadas na Marola.

A Cooperativa tem t ido a dupla missão de bem servir o público e amparar os criadores com a sua orientção e empréstimos, acção que é de louvar.

A Cooperativa dos Criadores de Gado pela acção que tem desenvolvido, foi reconhecida como sendo de ut i l idade pública, pois ela constitui a maior organização no seu género, do espaço português.

Todos esperam a continuação do desenvolvimento da Cooperativa, para bem da economia e prosperidade de Moçambique.

Fábrica de Salsicharia da Cooperativa, situada na Marola

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F A C O B O L FÁBRICA COLONIAL DE BORRACHA

FACHADA DO EDIFÍCIO DA FACOBOL

A FACOBOL — p i o n e i r a da sua i n d ú s t r i a — foi fundada em 1942, com o capital de seis­centos contos, que mais tarde se elevou para doze mil contos.

Na Facobol fabricam-se variados produtos, dos quais destacamos:

Calçado de lona vulcanizada e prensado; sapatos de cabedal com sola sintética- artigos para tarmacra, tais como sacos, tubos para irrigadores, tet inas, chupetas, etc ; bolas- pasta para recauchutagem; câmaras de ar para bicicletas; uma grande variedade de artigos para as mais diversas industrias, para aviões, caminhos de ferro, etc. A Facobol também tem uma secção de plásticos com variados artigos de pol iet i leno e em P.V.C.

Os produtos da Facobol, pela sua excelente qualidade e perfeito acabamento, têm grande preferencia, sendo os seus materiais largamente uti l izados em importantes construções feitas na Província, nao so em organizações particulares, como do Estado.

Alguns números que a Facobol nos forneceu, referentes ao ano de 1964 demonstram o seu vasto contr ibuto económico:

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Pasta de borracha — 790 toneladas.

Calçado de lona vulcanizado — pares produzidos: 133 mi l .

Calçado de lona prensado pares produzidos: 602 mil

Calçado de cabedal — pares produzidos : 103 mi l .

Botas para pescador — pares produzidos 8787.

Bolas — 69 mi l .

Câmaras de ar para bicicletas: 321 mi l .

Pasta para recauchutagem: 82 toneladas.

Vendas feitas em 1964: 42 mil contos.

Ordenados despendidos no mesmo ano : 5326 contos.

Na laboração dos seus produtos, a Facobol emprega algumas centenas de operários, aos quais presta toda a assistência médica, com médico, enfermagem e medicamentos, sendo exten­sivo a suas famílias o serviço clínico e de enfermagem.

Aos empregados são concedidas férias na Metrópole.

Por tudo quanto f ica exposto se avalia do lugar de relevo que a Facobol ocupa no campo industrial e económico da Província, mui to contr ibuindo para a sua valorização e progresso, do qual , mui to justamente, se poderá orgulhar.

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A pioneira de Modas, em Moçambique, foi Laurentino Bo rges—de seu nome completo Laurentino Bárbara Mar ia Silva Carvalho Borges — natural da região do Bombarral, na Me­trópole. Veio para Moçambique com vinte anos, no ano de 1935, já casada. Seu marido, que era Admin is t ra t ivo, foi colocado em Tete, capital do mesmo Distr i to, no Norte da Província, onde Laurentino Borges — nome que adoptou para a sua profissão de M o d i s t a — s e iniciou nos misteres da Moda.

Pequenina ainda, foi residir para Lisboa, e aí iniciou a sua aprendizagem em Costura e Chapéus. Aprendeu Corte e Costura numa Modista francesa — que teve mui to nome nessa época na capital portuguesa, chamada Madame Mar t i n .

A inda em Lisboa, Laurentino Borges, dedicou-se só à confecção de Chapéus, criação que mais a atraía.

Em Tete, durante os anos que lá permaneceu, exerceu o mister de Modista. Em 1949, seu marido foi transferido para Lourenço Marques, abrindo algum tempo depois, o seu pr i ­meiro Atel ier , na Avenida 24 de Julho, junto ao Cinema Manuel Rodrigues. Foi em 1951 que transferiu o seu Atel ier para a Praça 7 de Março, onde abriu a sua Loja, depois transferida para o Prédio Naut icus.

Laurentino Borges não se tem poupado a eforços para servir o público feminino, visitando os grandes centros de Modas e Costureiros da Áf r ica do Sul e, algumas vezes, da Europa.

Para estimular o gosto pela A l t a Confecção, Laurentino Borges iniciou as «Passagens de M o d e l o s » — e m Lourenço Marques e na Beira — que de princípio foram encaradas com certo cepticismo, acabando por se imporem. A té hoje, já efectuou mais de 45 «Passagens de Mode­los», apresentados por manequins sul-africanos e portugueses.

Laurentino Borges, emprega no seu Ate l ier , normalmente, entre vinte a vinte e cinco costu­reiras. Sempre a par do progresso, Laurentino Borges, pensa em vir a ter na sua residência — que se situa na «Baixa» — uma parte dela dedicada à apresentação diária dos seus modelos, isto é, ter um Salão onde as Senhoras pudessem admirar e escolher as toi lettes, com um M a ­nequim privat ivo, ou mais, para apresentação e escolha das suas criações, pelas clientes, ta l qual como se procede nas Casas de A l t a Costura das grandes capi tal .

Laurentino Borges está a apresentar duas «Passagens de Modelos» por ano.

Esta é a br iograf ia — a traços largos — da pioneira da Elegância e da Moda, em Moçam­bique, contr ibuindo e estimulando de modo notável, para o embelezamento e elegância da Mulher moçambicana.

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LAURENTINA BORGES

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CASA EDUARDO SILVA

A PIONEIRA DAS CASAS DE MODAS EM LOURENÇO MARQUES

Aspecto das modernas instalações da Casa Eduardo Silva, na Avenida da República

A Casa Eduardo Silva & C.a Lda., foi o primeiro Estabelecimento do género dedicado a Modas e Confecções, tendo-se fundado em 1898, por dois antigos empregados dos Armazéns Grandela, de Lisboa, José Fernandes Cardoso e Eduardo Silva.

O primeiro estabelecimento teve lugar na Praça 7 de Marco, num edifício onde pr imit iva­mente se encontravam as instalações da Al fândega da República da Áf r ica do Sul passando em seguida para a esquina da mesma Praça com a Rua da Lapa, no mesmo sítio onde hoie se encontra o Prédio Fonte Azu l .

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Em 26 de Outubro de 1906, passou para a Rua Consiglieri Pedroso, que nessa época se chamava, Avenida D. Luís, e esquina da Travessa da Catembe, onde ainda hoje se encontra.

Esta f i rma fundada por dois portugueses, sempre teve sócios portugueses. Sofreu algumas modificações na sua Sociedade, com a entrada e saída de sócios. No entanto nunca deixou de f igurar o nome do seu fundador, José Fernandes Cardoso, ainda fazendo parte da Sociedade, a viúva, Senhora D. Henriqueta Nunes Cardoso.

Em Dezembro de 1958, a Firma abriu uma sucursal no Prédio Naut icus, propriedade da Companhia de Seguros de Moçambique do mesmo nome, cujo imóvel faz esquina para a Ave­nida da Repúb l i ca—ho je a principal artéria da «Baixa» de Lourenço Marques — e a Rua Baptista de Carvalho. É um estabelecimento moderno e dos melhores no seu género, da capita! de Moçambique.

O seu capital social é de dois mil e quinhentos contos.

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D. Judite Reis de Oliveira Belo, nasceu em Lisboa, na Freguesia de São Mamede. Com seus pais e irmãos veio para Moçambique, em 1 892, apenas com nove anos de idade.

Seu pai fora colocado na Província, como Chefe dos Caminhos de Ferro, tendo ido ocupar o seu lugar na Estação fronteir iça de Ressano Garcia, pois nessa época já se t inha concluído a l inha férrea até à f ronte i ra, l igando Moçambique com a Áf r ica do Sul.

Esta Senhora veio a casar com um jovem metropol i tano, que viera para Moçambique com 18 anos — Eduardo Lino de Oliveira Belo — e se oferecera para combater nas Campanhas con­t ra o Gungunhana, sendo integrado nas forças de Mouz inho, em 1895.

Terminadas a Campanhas de pacif icação e ocupação, o jovem soldado colocou-se como funcionário dos Correios de Moçambique. Mais tarde transi tou para os Caminhos de Ferro, reformando-se quando ocupava o lugar de Chefe de Movimento. Depois, dedicou-se a nego­ciar, tendo montado num prédio da Rua Araú jo , alugado para o efei to, um Casino — que teve mui ta fama — a que deu todos os requisitos de beleza e conforto, luxuosamente decorado, o que causava grande admiração naquela época. Chamava-se «CASINO BELO». A sua fama passou além fronteiras, passando por isso, a ser mui to frequentado pelos grandes homens de negócios dos países vizinhos, que vinham jogar e divertir-se. Nessa época, Lourenço Marques, come­çava a dar início às suas expansões urbanísticas, que f izeram dela uma das mais belas cidades da Áf r i ca Or ien ta l !

Conta D. Judite Belo, que quando chegou a Lourenço Marques, havia somente, uma meia dúzia de casais, uma vez que os colonos e Chefes de Serviços dos organismos do Estado viviam sem as famíl ias, pois nessa época as condições sanitárias eram mui to precárias, e por esse facto poucos se aventnuravam a trazer da Metrópole as suas famíl ias.

Deste casal nasceram três fi lhos varões, que cont inuaram radicados em Moçambique. Um deles, é hoje um comerciante mui to conhecido e conceituado, desenvolvendo larga actividade comercial e industr ia l , e ainda o Gerente de uma grande f i rma lourençomarquina — a CASA COIMBRA — além de pertencer a outras organizações de vul to. Trata-se de Ernesto Belo.

D. Judi te, que está v iúva, conta presentemente 87 anos, gozando de boa saúde, conservan­do excelente memória, relatando factos remotos passados na Província. Como distração, faz " T r i c o t " , e aprecia receber a visita dos seus famil iares e,amigos. Reside em Lourenço Marques.

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UM CASAL DE PIONEIROS

D. JUDITE REIS DE OLIVEIRA BELO

E

EDUARDO LINO DE OLIVEIRA BELO

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RESERVA DE ELEFANTES DO MAPUTO

(RESERVA DE PROTECÇÃO)

No dia 19 de Abr i l de 1966 foi inaugurada ofcialmente pelo Governador-Geral A lmirante Sarmento Rodrigues, a reserva especial para protecção dos elefantes no Maputo.

Tal cerimónia pode considerar-se como início da obra proteccionista que o Estado tem a executar para salvar as espécies faunísticas de Moçambique.

_ Sobre este aspecto, pela sua oportunidade vamos reproduzir algumas passagens de disser­tação que fez perante o Governador-Geral, o Director dos Serviços de Veter inária Dr E de Castro Amaro, explicativo das razões da criação da reserva do Maputo :

«O reino animal sofreu, como todos os outros elementos da natureza, profundas transnfor-maçoes ao longo de milénios, apresentando nos nossos dias uma fase da sua evolução processo biológico tao complexo que o homem, sujeito às mesmas leis da natureza, n ã o ' logra ainda senão hipotet icamente, prever a sua sequência.

Hecatombes naturais varreram para sempre da crosta terrestre inúmeras espécies que apenas por circunstâncias fortui tas surgem de novo aos olhos do homem como achados pré--histoncos, relíquias de um passado longínquo e que para os naturalistas são por vezes pre­ciosidades de incalculável valor quando procuram ligar os elos de uma cadeia perdida na tenta­t iva de buscarem a linha ancestral das formas coevas.

Contra estes cataclismos somos impotentes e nada mais nos resta do que conformarmo-nos Ora o homem, o úl t imo dos mamíferos a pisar a terra no f im da era quaternária, tornou-se sem duvida, um dos maiores flagelos da fauna bravia, considerando por esta designação as espécies que não lhe eram imediatamente úteis, ou por melhor expressão, aquelas que reconhecia serem de di f íc i l domesticação. A chacina foi a sua obra indecorosa nos fins do século passado

UMA MANADA DE ELEFANTES

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Na posse de armas e meios, que diminuíam os perigos em favor de uma eficiência mortífera a longa distância, o homem, que no mórbido e simples prazer de matar, ou na mira de lucros avantajados à custa dos despojos e troféus das suas vít imas, como sejam penas, peles, marf im e outros, longe de serem considerados como artigos de primeira necessidade mas antes para satifação fú t i l de certos caprichos, causou tal mortadade que as espécies que Icgraram escapar à sua fúr ia mais não são hoje do que fósseis vivos. Depois de citar uma série de factos, o Dr. Castro Amaro, termina dizendo :

«Por tudo isto, e tanto mais de ver, resultou da Conferência Internacional de Londres em 1933, uma Convenção para a protecção da Flora e Fauna Afr icanas, renovada em Bukavu no ano de 1953».

Como resultante destas reuniões, muitas nações criaram departamentos especiais para a protecção da Natureza, promulgaram medidas proteccionistas, em part icular quanto à cinegé­t ica, e estabeleceram reservas para conservação não só da fauna como da f lora.

Estas reservas têm várias finalidades dentro do espírito de preservação da Natureza. Há aquelas, denominadas internacionalmente com integrais, em que se escolhem áreas que repre­sentam o aspecto característico da região, quer florístico quer faunístico, quer esteja ameaçado de se perder, e se reservam para tcdo o fu turo, nas quais se vão observando os fenómenos da evolução em consociação biológica da vegetação e dos animais sem intromissão do homen. Por isso são vedadas ao público e só inspeccionadas para estudo pela equipa dos biólogos delas encarregados.

Noutras reservas é permit ida a visi ta, como sejam os Parques Nacionais onde os animais vivem no seu meio natural e têm simultaneamente um carácter educacional e turístico. Ainda outras se destinam a preservar espécies que estão em risco de desaparecimento. É este úl t imo c caso da reserva de elefantes do Maputo.

Como se sabe, toda a zona para sul do Umbelúzi até à fronteira era mui to rica em caça existindo numerosas espécies de herbívoros, entre os quais o elefante. Por outro lado, grande parte do seu solo é bastante fé r t i l , apropriado a muitas culturas, em part icular as baixas aluviais dos rios.

Ora a agr icul tura e a pecuária, são imcompatíveis com a fauna selvagem visto esta ser o reservatório de tripanosomas que d iz imam o gado, além de que as espécies herbívoras são naturalmente devastadoras das culturas. Por isso, a reserva foi mais tarde levantada e os caçadores foram dizimando animais, de modo que o valor que, sob o ponto de vista faunístico, t inha essa reserva foi desaparecendo. Como complemento resolveu-se ainda limpar de animais bravios prejudiciais à agr icul tura, toda a região da margem esquerda do rio Maputo. Os elefantes que escaparam refugiaram-se na área compreendida ao norte da povoação de Sialamanga.

Para sua preservação, foi então determinado pelo Governador-Geral, A lmirante Sarmento Rodrigues a constituição duma reserva especial para os elefantes. Para mais estes animais, segundo o estudo fei to pelo cient ista, Prof Dr. Frade, chefe da Missão Zoológica, pertencem a uma raça diferente dos outros elefantes.

Esta reserva pode ser visitada pelo público e, para isso, os Serviços de Veter inár ia, cons­truíram miradouros e acampamentos para os visitantes. Projecta-se, ainda, melhorar a reserva quer sob o aspecto turíst ico quer faunístico. Para este ú l t imo caso tenciona-se prover com mais algumas espécies que não sejam prejudiciais à agricul tura e pecuária e está reguardada e del i -mitaa por uma vedação de arame farpado.

Foram os Serviços de Veter inár ia, a cujo cargo se encontra a protecção da Fauna, que tomaram a iniciat iva de consti tuir a Reserva de Protecção dos elefantes no Maputo, com o cuidado de não prejudicar a Agr icu l tura.

Deve-se ao A lmi rante Sarmento Rodrigues — quando Min is t ro do Ultramar — a publica­ção do Decreto n.° 40 040 , que coordenou e regulamentou a protecção de Natureza nas pro­víncias ul tramarinas.

No acto de inauguração da Reserva, o Governador-Geral, A lmi rante Sarmento Rodrigues descerrou uma lápide, que perpetuará a material ização do seu superior pensamento.

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A COUTADA DE CHICUALACUALA

A Coutada de CHICUALACUALA fica situada na Malvérnia, quase na fronteira com a Rodésia, e foi preparada para o turismo cinegético, isto é, para os «Safaris», tornando-se uma organização, a que foi dado o nome de « N Y A L A L A N D D SAFARIS, LDA.»

Pertence esta organização ao caçador Jcsé Ruiz.

A Coutada, que é enorme e mui to bonita, dispõe de um Acampamento-Base, moderno e mesmo principesco.

Fica situada a meia hora do apeade i ro—da linha férrea que serve a Rodésia — onde grandes morros feitos pela formiga, estão decorados com caveiras de elefantes. Estes morros, por vezes, chegam a ter três metros de al tura.

No Acampmento-Base houve a originalidade prática de escavar um morro, de forma a transformá-lo num forno de pão, e sabemos que o pão ali cozido f ica uma delícia!

Em CHICUALACUALA, as pessoas capricham em alimentar-se com a caça que matam durante os Safaris.

Caçadores profissionais acompanham os Safaris da Coutada. De forma geral todos os caçadores adoram os animais. Por isso, quando têm de matar caça, preferem os búfalos, por acharem que é um animal vincadamente manhoso e traiçoeiro, porque outros animais só o fazem quando obrigados a isso.

Os proprietários da CHICUALACUALA, José Ruiz e sua esposa D. Vera,

participando num Safari

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Abdorreza Pahalavi — irmão do Xá da Pérsia — que esteve acompanhado de alguns mem­bros de famí l ia. O Príncipe Abdorreza Pahalavi é membro do «CONSELHO INTERNACIONAL PARA A PRESERVAÇÃO DA FAUNA». Quando regressou à Pérsia levou cinco troféus excep­cionais, que foram destinados a um museu de Teerão.

A Coutada da « N Y A L A L A N D SAFARIS, LDA.» é uma das melhores de Moçambique e tombem das melhores apetrechadas para proporcionar os mais espectaculres safaris.

Assim, esta organização, dentro das suas possibilidades, e sempre alargando os seus âm­bitos comerciais, tem contribuído para o fomento da indústria cinegética na Província.

Toda a Coutada de CHICUALACUALA é um deslumbramento, onde os animais se vêm por toda a parte em grande abundância, e possuindo inúmeras lagoas que dão imensa beleza à paisagem.

l;itf ;t!

A Princesa ABDORREZA, cunhada do Xá da Pérsia,

participando num Safari

Nesta Coutada existe, também, uma grande floresta composta exclusivamente de acácias, mui to leves. São árvores lindíssimas, elegantes, airosas, com a folhagem mui to leve e os troncos cor de mostarda. Quando a luz do dia se despede em ténues claridades, e os jabirus passeiam por entre os nenúfares brancos e azuis, as acácias põem reflexos suaves nas superfícies das águas das lagoas. É uma paisagem de sonho! Vale a pena ir a CHICUALACUALA só para admirar o paradisíaco das suas lagoas!

Esta Coutada, além das suas surpreendentes paisagens, possui coça grossa, como por exem­plo, o rinoceronte, bem como todas as espécies cinegéticas existentes na Província de Moçam­bique, entre elas a girafa e o avestruz.

A organização de « N Y A L A L A N D SAFARIS, LDA.», é já bastante conhecida em várias partes do mundo. À Coutada de CHICUALAC UALA têm vindo numerosos turistas americanos, sul-africanos, rodesianos e de outros pontos do mundo, como por exemplo, o Príncipe persa, Abdorreza Pahalavi.

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EM IMAGENS, A CALOROSA RECEPÇÃO QUE A GENTE

DE MOÇAMBIQUE FEZ AO PRESIDENTE DO CONSELHO,

QUANDO EM ABRIL DE 1969, VISITOU A PROVÍNCIA

Chegada ao Aeroporto Gago Coutinho, em Lourenço Marqi

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À saída do Aeroporto Gago Coutinho, o Presidente do Conselho e carinhosamente saudado pela população C ° n S e ' h 0

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Prestando homenagem aos que deram a vida pela Pátria

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Um aspecto da apoteótica recepção, na cidade da Beira

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A GRANDE FIGURA DA PÁTRIA EM MOÇAMBIQUE

MOUZINHO DE ALBUQUERQUE

«A vida de Mouzinho, tão meritór ia e digna como exemplo de elevado e esclarecido na­cionalismo, é tão bela que enobrece com rut i lante esplendor as páginas da História de Portu­gal , reeditando nela os mandamentos da vida e da honra que são t imbre do orgulho português.

Conservemos assim o reconhecimento sempre vivo daquela br i lhante f igura da nossa epopeia ul t ramarina e glorif iquemos eternamente, na f idelidade inquebrantável dos nossos corações, o nome sem mácula de JOAQUIM AUGUSTO M O U Z I N H O DE ALBUQUERQUE.»

Palavras do General Luís A. de Carvalho Viegas, com que terminou a sua bri lhante con­ferência, comemorativa do centenário do nascimento de Mouzinho de Albuquerque.

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GOVERNADOR DO DISTRITO DE GAZA

Na faina de levar água às populações rurais

Era Governador do Distr i to de Gaza — n o momento de escrevermos esta obra — o Inspec­tor João Moreira Barbosa Matos, natural de Cabo Verde. A carreira deste Governador teve início em 1932, em Cabo Verde, passando pela Guiné. Veio para a Província de Moçambique em 1940, sendo colocado como Chefe de Posto Estagiário em Cabo Delgado, servindo sucessiva­mente noutros pontos da Província, tendo sido, também, Governador de Quelimane e Inham-bane, antes de presidir aos destinos do Distr i to de Gaza, que governou.

O Inspector Barbosa Matos, durante o tempo que di r ig iu o seu Distr i to, procurou resolver o magno problema do abastecimento da água às populações rurais, mandando fazer represas de terra bat ida, para o gado, e a abertura de poços para abastecimento da população. No campo da instrução, o Governador Barbosa Matos fomentou a construção de novas escolas, de instala­ções sanitárias, enfermarias, postos sanitários, aldeamentos, etc.

Num ano de direcção, o Governador Barbosa Matos promoveu, no aspecto social, os aldea­mentos de Coleia, Aldeia Circular e ainda um terceiro aldeamento, que se situa entre o de Coleia e a sede da circunscrição de Manjacaze. A esses aldeamentos é levada a água, a escola e a formação sanitária. No plano do fomento, há a destacar, entre outras, a ponte sobre o rio Limpopo, inaugurada em Julho de 1964 pelo Presidente Américo Tomás, na al tura da sua visita a Província, e que veio beneficiar extraordinariamente as comunicações entre as várias zonas do Distr i to de Gaza, bem como todo o trânsito que se dirige para o Distr i to de Inhambane.

O Colonato do Limpopo, realização do Engenheiro Trigo de Morais,.é uma obra de grande alcance económico-social e polít ico, da f ixação e racial idade, a que o Governador Barbosa Matos prestou o maior apoio, como aliás a todo o seu Distr i to. A par disso, procurou fomentar o desen­volvimento da cultura do arroz e do tr igo. Para isso se envidam esforços no sentido de vencer a salinidade do rio Limpopo, que tem prejudicado a cultura do arroz, em especial.

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Na faina de levar água aos centros rurais

No Distr i to de Gaza também se cult iva o algodão e com a vinda do Inst i tuto do Algodão, prevê-se que não haja quebra de produção. A lém desta, há a da castanha de caju, existindo algumas fabricas de descasque, tr igo e arroz. Presentemente procede-se à distr ibuição da semente de coco, para elevar a economia do Distr i to, pois o coco tem várias aplicações indus­tr iais, consti tuindo fonte de riqueza. O distr i to tem ainda zonas que produzem amendoim, pro­duto rico que não tem t ido o necessário desenvolvimento em virtude das secas sucessivas, que tem originado o aparecimento de uma «virose — a «roseta» — que danif ica a planta.

O Distr i to de Gaza é dos mais ricos no capítulo da Pecuária. Consciente das necessidades do seu distr i to, o Governador Barbosa Matos procurou desenvolver todos aqueles sectores que mais precisavam do seu auxíl io, procurando fomentá-los, criando assim novas riquezas que elevam a economia do distr i to e, simultaneamente, a da Província.

FALANDO DA HISTÓRIA DO DISTRITO DE GAZA

Gaza foi elevada à categoria de Distr i to M i l i ta r após a Campanha de Pacificação em 1895, que pôs cobro às incursões das hordas que, vindas do exterior, escravizavam e aterror i­zavam as populações locais.

Em 1907, a região foi incorporada no Distr i to de Lourenço Marques. Em 1918 foi definida como Distr i to Civ i l , voltando a ser integrada no Distr i to de Lourenço Marques em 1928. Pelo Decreto 35 733, de 4 de Julho de 1946 voltou a ser criado o Distr i to de Gaza, englobando as seguintes áreas : A l to Limpopo, Bilene, Chibuto, Gaza, Guijá, Magude, Manhiça, Muchopes e Sabié. Em 1954, era estabelecido pelo Decreto n.° 39 858, de 20 de Outubro, o Governo do Dis­t r i to com sede na Cidade de João Belo. Assim, o Distr i to de Gaza tem hoje uma área de 82 937 quilómetros quadrados e a seguinte divisão administrat iva — Concelhos : Baixo Limpopo, Bilene, Chibuto, Gaza e Muchopes; Circunscrições : Gui já, Limpopo e Magude.

Vive neste Distr i to uma população de cerca de 70 000 almas (censo oficial de 1960). A agricul tura da região de Gaza baseia-se em duas grandes culturas : algodão e arroz, havendo no distr i to duas fábricas de descaroçamento e prensagem de algodão e seis fábricas de des­casque de arroz.

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A pecuária tem também condições favoráveis para o seu desenvolvimento. Foi o seguinte, o resultado do arrolamento pecuário efectuado em 1961 : bovino — 445 747 (correspondendo a cerca de metade de toda a Província); ovino — 23 336 ; caprino — 63 212 ; s u í n o — 11 324. A maior parte do leite consumido em Lourenço Marques provém de Gaza.

Merecem referência, no distr i to, o Plano da Brigada de Fomento e Povoamento do Limpopo. Foi dir igido com a maior competência e entusiasmo pelo saudoso Eng.° Trigo de Morais de que resultou o Colonato do Limpopo e o Plano da Brigada Técnica de Fomento Hidroagrícola. Este plano encontra-se em execução há alguns anos e tem por f inalidade o aproveitamento das terras alagadiças do rio Limpopo, entre o Chibuto e João Belo, com a f ixação de alguns milhares de famílias autóctones em pequenas propriedades.

A cidade, capital do Distr i to de Gaza, está situada nas margens do rio Limpopo, sendo atra­vessada pela Estrada Nacional n.° 1. A primeira designação da localidade foi Xa i -Xa i ou Chai--Chai. Em 2 de Dezembro de 1922 passou a chamar-se Vi la Nova de Gaza. Em 10 de Março de 1928 a designação foi alterada para Vi la de João Belo, em homenagem ao ministro e oficial óa Armada com o mesmo nome.

A cidade possui alguns bons edifícios e artérias traçadas com larga visão. Entre outros edifícios, destacam-se os Paços do Concelho, a sede do Governo Dist r i ta l , a Direcção Distrital de Fazenda, o Hospital de Tavene (moderno e bem equipado), o Banco Nacional Ultramarino e o Colégio-Liceu Nossa Senhora do Rosário.

A nova Ponte sobre o rio Limpopo

Próximo do ant igo cais, estendendo-se até à margem do Limpopo, existe um amplo e bem cuidado jard im, com um coreto onde a Banda Munic ipal de Gaza executa concertos públicos. Uma das faces deste jard im confronta com o edifício dos Paços do Concelho. Todos os Serviços Públicos se encontram instalados na cidade com Repartições Distr i tais. A cidade possui um aeró­dromo servido por carreiras regulares e daqui parte um caminho de ferro com a extensão de 90 quilómetros que liga esta povoação a Vi la Álvaro de Castro e Mauele. > -=

Existem na cidade de João Belo as seguintes associações : AssocraeÕo Comercial de Gaza, Associação Agrícola de Gaza, Associação dos Desportos do Distr i to de Gaza, Clube de Gaza, Clube Ferroviário e Aero-Clube de Gaza. João Belo possui, a 7 quilómetros, a magníf ica Praia Sepúlveda, importante ponto de atracção turíst ica, servida por uma boa estrada e um bom hotel. Cerca de 20 quilómetros ao Norte, situa-se outra estância de turismo — o Chongoene.

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Tem sido notável a acção da actual vereação, na presidência da qual se encontra o Eng.° Manuel Dias da Silva. Entre outras realizações destaca-se o melhoramento da captação das águas para fornecimento à população, bem como a modernização da i luminação da cidade, dois sectores deveras importantes na vida de qualquer comunidade.

JOÃO BELO E A SUA MAGNÍF ICA Z O N A TURÍSTICA

Para quem viaja por estrada, a cerca de 188 quilómetros de Lourenço Marques fica o pr i ­meiro centro de veraneio, S. Mar t inho do Bilene que hoje, graças a ousadas iniciativas, já cons­t i t u iu uma estância de turismo com projecção internacional. O seu grande atract ivo é uma longa praia formada por uma lagoa de água salgada, com cerca de 25 quilómetros, que está ligada ao Índico por um canal.

A praia é baixa, sem o mínimo perigo para as crianças. O peixe que abunda nas suas águas leva os pescadores desportivos a atraentes jornadas de barco pela calma lagoa. Nos ú l t i ­mos anos foram construídas no Bilene muitas moradias para férias de residentes na capital de Moçambique. Os CTT, considerando as características da praia, ergueram uma «colónia de fé­rias» da Província, em turnos que funcionam a part i r do encerramento das aulas. Os Caminhos de Ferro de Moçambique, através do Clube Ferroviário, também dispõem de um conjunto de mo­radias, hangar de barcos de recreio e um restaurante.

Quem vem de longe, encontra no Bilene pousadas e organizações que alugam tendas e bar­cos mesmo junto das margens. hAerece especial referência um excelente parque de turismo — sem dúvida o melhor e o mais completo da P rov ínc ia— o «Parque Flores» possuidor dos melhores requisitos, tais como um motel , parque para «camping» para atrelados e tendas, anco­radouro privat ivo, cinema ao ar livre e até mesmo um excelente restaurante «self-service» e muitas outras coisas mais . . . incluindo organização.

A crescente importância turíst ica de S. Mar t inho do Bilene levou o Governo a determinar a construção ali de um areporto. A uma escassa dezena de quilómetros da cidade de João Belo, rodados num asfalto da mais moderna técnica de estradas, f ica a Praia de Sepúlveda, tradicio­nal e internacionalmente conhecida por Xa i -Xa i . A estrada termina numa encosta de exuberante vegetação que quase esconde as belas vivendas. Depois, surge a beleza azul do Índico, beijando um areal branco e macio. Uma l inha de rochas e coral, a cerca de uma centena de metros da praia transforma o local numa original piscina sem medidas, numa defesa natural contra tuba­rões, agora reforçada com uma rede a garant i r ainda mais a segurança do banhista. Existe na Praia Sepúlveda uma juvenil «colónia de férias» da Mocidade Portuguesa. As centenas de turis­tas que vêm da Áf r ica do Sul e da Rodésia dispõem de dois excelentes hotéis, um dos quais se debruça sobre a praia.

Também mui to próxima de João Belo, a Barra do Limpopo é uma zona de pesca privi le­giada. A lém de uma abundância extraordinária de corvinas, serras e muitas outras espécies; ao largo encontra-se com facil idade o mar l in , o peixe dos campeões. O Clube de Pesca de João Belo possui ali um pequeno abrigo, dispondo de barcos para os seus sócios. Mas os turistas da Áfr ica do Sul e da Rodésia, que em grande número visi tam aquela região, também não são esquecidos, pois estão sendo construídos rondáveis e outras instalações para os acolher convenientemente.

A cerca de 22 quilómetros, João Belo oferece outra bela praia no Chongoene, que dispõe de um hotel , beijado quase pelas ondas do Índico, e que sem receio pode ser considerado o mais moderno e audacioso da Província. Aqu i , também nesta praia, uma linha de rochas resguarda a zona de banhos, esmagando-se as vagas do oceano em belíssimos cachões de espuma. A baixa--mar forma inúmeras piscinas naturais. E o at ract ivo da pesca completa-se com a possibilidade da apanha de ostras e mexilhões.

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O arranjo da estrada Moamba-Magude, provocaria um incremento extraordinário no turis­mo das regiões do Bilene, Xa i -Xa i , Chongoene, e até mesmo, de Inhambane, pois encurtaria de maneira extraordinária a distância a percorrer, para a maior parte dos turistas estrangeiros que visitam estas regiões.

Os Marimbeiros de Zavala

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O MOTEL PARQUE FLORES EM S. MARTINHO DO BILENE

HÉLDER FLORES

Moçambique desfruta actualmente de um enorme prestígio turístico graças às condições suaves e amenas do seu cl ima, a beleza da sua paisagem, as suas magníficas praias, a pureza das suas águas e sobretudo ao esforço de homens conscientes que dela f izeram um verdadeiro paraíso terrestre, nestas terras africanas. Aqui como em Portugal, o Turismo está na ordem do dia.

A vila de S. Mar t inho do Bilene com o seu «Parque Flores», constitui um fascinante oásis nessa imensa extensão arenosa. Obra de um só homem, Hélder Flores, que a esta grandiosa construção dedicou os melhores anos da sua vida e bens, à custa de muitos sacrifícios e contra­riedades, o Parque Flores representa por si só, um grande cartaz e reclame do Turismo Moçam­bicano. A sua fama ultrapassa já fronteiras e c seu interesse aumenta dia a dia.

Na «season», milhares de turistas, dos países vizinhos, af luem constantemente a esta bela estância balnear. Inúmeros atractivos constituem prazer e deleite para os visitantes, que neste jard im f lor ido, encontram um cantinho tranqui lo para descansar o corpo e o espírito.

Esta praia difere um pouco das restantes praias da Província : areia doirada, sempre pron­ta a acolher os veraneantes, mar calmo junto à praia, águas puras e cristalinas, deixando ver o fundo do mar, que são uma tentação para os amantes dos desportos náuticos! A té mesmo os menos entusiastas por estas distracções não podem resistir ao prazer de dar um mergulho e de se deixar arrastar ao sabor das ondas!

Ao largo, o mar sempre ondulado e ruidoso, até se sente fascinado por estas maravilhas, e mui to de mansinho, como que a espreitar, vem rebolar-se na areia suavemente.

De uma maneira geral, é possível praticar aqui toda a sorte de desportos náuticos, desde a natação às corridas de barcos.

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Edifício especialmente construído para várias famílias, com as dependências necessárias

Graças a Hélder Flores, S. Mar t inho do Bilene conta actualmente com uma moderna e bem apetrechada estância balnear e de férias, pondo à disposição dos turistas os mais diversos apa­relhos de pesca, para praticar esqui aquático, barcos a motor, de aluguer, e um sem-número de material marí t imo.

Para o interior, um nunca mais acabar de areia, verdadeira continuação do mar, diferente quanto a natureza, mas semelhante nas ondulações. Dunas caprichosamente disseminadas ofe­recem um espectáculo real e emocionante. Um lago de água doce em pleno deserto, aparece aos olhos do visitante como um delicioso oásis!

A inda há poucos anos quase desabitada, esta região constitui hoje, sem dúvida uma das melhores estâncias balneares do Sul do Save!

Para o forasteiro, que se afaste um pouco da vi la, uma grata surpresa surge ante seus olhos o Motel Parque Flores, a grande obra de Hélder Flores. Dividido em três partes, está construído de forma a proporcionar aos turistas a acomodação que mais lhe convenha : uma área destinada a barracas e campismo, para todos aqueles que queiram passar umas férias por pouco dinheiro, ou que pref iram instalações no estilo campista : um edifício, de dois pisos, junto à praia, com 32 apartamentos, para os que pretendem uma estadia cómoda e económica e ainda apartamentos luxuosos, para os turistas mais exigentes.

Um aspecro da Praia do Bilene

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O "Self-Seryice

No edifício do restaurante existe um serviço mui to bem montado de «Self-Service»; uma espaçosa sala de jantar, tendo ainda, no primeiro piso, um estabelecimento para fornecimento dos veraneantes, em instalações eficientes e modernas. No segundo piso existem duas salas e um bar, que durante as «seasons» servem também de «Boite».

A lém de todos estes atractivos está dotada ainda de campos de ténis e de rinques de pat i ­nagem, oferecendo assim, aos turistas, as diversas distracções, adentro de um ambiente elegante e esmerado, não fa l tando o cinema ao ar livre.

Novos blocos habitacionais estão a ser construídos de forma a poderem abrigar essa fantás­t ica avalanche de forasteiros, que inundam por completo as praias de S. Mar t inho do Bilene, em todas as «seasons»!

Hélder Flores deu grande incremento à sua bela estância balnear e turíst ica. Dotada de um campo de aviação. Necessita ser macadamizado o troço de estrada que vai da Macia a S. Mar­t inho. Para essas obras contr ibuirá, certamente, c Clube Ferroviário de Lourenço Marques, que possui ali um bloco de uma vintena de moradias, que será futuramente ampliado, o qual ladeia estupendas avenidas alcatroadas.

A lém de todos estes prazeres e distracções, a caça submarina é outro passatempo atraente e apaixonante. Assim, a praia do Bilene, embelezada por uma profunda e encantadora baía, oferece a todos quantos a procuram, para passar as suas férias, as maravilhas da sua paisagem ou o ar puro e sadio do mar, uma oportunidade única e agradável para se l ibertarem dos incómodos e aborrecidos atavios, que se vêem obrigados a usar nas cidades civil izadas e pro gressivas, onde imperam as etiquetas.

S. Mar t inho merece mui to , pela sua paisagem verdadeiramente paradisíaca e pela contr i ­buição valiosa que dá à economia da Província A obra de Turismo que Hélder Flores ali fez é digna dos maiores elogios pelo extraordinário esforço que representa, obra que bem merece ser ajudada pelas entidades competentes.

Hélder Flores é f i lho da Província. Nasceu Lourenço Marques. O Bilene fê-lo sonhar uma obra de Turismo. Se bem pensou, melhor o fez, vindo há anos a desbravar terrenos, a al indar, dando valia à obra da natureza.

Mu i t o havia a esperar de Hélder Flores, se a morte traiçoeira o não viesse ceifar, de forma trágica, num desastre de viação, em 1969.

Hélder Flores é um símbolo de tenacidade, em que são férteis os portugueses.

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O COLONATO DO VALE DO LIMPOPO

UMA OBRA NOTÁVEL DE ORGANIZAÇÃO

Foi em 1895, depois das campanhas que se desenvolveram nas regiões de Lourenço Mar­ques e Gaza, que o Rio Limpopo — um dos maiores do extremo meridional do continente afr icano — começou a despertar as atenções, como via de penetração, para conhecimento do interior. Foi nesse ano de 1895, que o 1.° Tent. da Armada, Álvaro Soares de Andrea, subiu c rio Limpopo, fazendo o seu reconhecimento hidrográfico e estudos, de forma a que «se habi­litassem com dados certos, as estações competentes, acerca das condições de navigabilidade dessa via f luv ia l».

Depois, foi o Governador Freire de Andrade — q u e mui to se interessou pelas terras férteis de Gaza, e se entusiasmou também, pele fert i l idade do Vale do Limpopo. E todos os que depois vieram a fazer estudos e pesquisas no Vale do Limpopo, t inham opiniões unâni­mes quanto à valia daquelas terras, que por esse facto, mereciam ter uma colonização estu­dada e dir igida. Segundo um contemporâneo do Governador Freire de Andrade, ele deveria ser considerado um dos precursores da colonização do Limpopo. Um dos Governadores de Moçambique, segundo palavras do Comandante João Belo, que contou com o Vale do Limpopo no seu Plano de Fomento da Província, foi o Dr. Moreira da Fonseca, «e de certeza o único que fez estudar o problema e que arrecadou receitas para começar a obra».

Mais tarde, em 1919, passa por Moçambique a caminho do Oriente, um engenheiro inglês, o coronel John Aylmer Balfour, nome famoso em assuntos de Hidráulica Agrícola, a quem o Governador Massano de Amor im convida, em 1920, a pronunciar-se sobre a irrigação nos vales dos principais rios do Sul do Save. Acei te o convite, o engenheiro inglês percorreu toda a região, fazendo um reconhecimento dos rios Maputo , Umbelúzi , Incomáti e Limpopo.

Dos estudos a que procedeu, foi o Limpopo que lhe mereceu especial atenção. Depois, fez novos estudos, que veio a apresentar em 1921 e 1922. Este ú l t imo mereceu «a aprovação das instâncias superiores, e por isso em 1924, o Eng.° Balfour, foi encarregado de elaborar o projecto def in i t ivo da irr igação». Por coincidência, na mesma a l tura, o Professor do Inst i tuto Superior de Agronomia, Eng.° Ruy Mayer e o Eng.° Civil Tr igo de Morais — a c a b a d o de se

Vista geral da Ponte-Barragem do Limpopo

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formar - são encarregados pela Companhia do Búzi, de proceder a estudos no Vale do Búzi.

Estes estudos foram realizados no decurso dos anos de 1919 e 1920, sendo o relatório apresen-tado em Lisboa, em Abril de 1921.

Crê-se que foi assim, que o Eng.º Trigo de Morais tomou contacto com Moçambique e simultaneamente, com os seus problemas de fomento. Numa ocasião em que ele passou por Lourenço Marques a caminho do Búzi, por sugestão do Director dos Caminhos de Ferro, o Governador-Geral, Dr. Moreira da Fonseca, convidou-o a participar nas estudos do aproveitamento hidro-agícola do Limpopo.

Aceite o convite, o Eng.° Trigo de Morais foi contratado pelo Governo da Província para, durante um ano, prestar a sua colaboração técnica ao Engº Balfour. Porém, no decurso daqueles trabalhos, o Engº Trigo de Morais discordou dos planos do engenheiro inglês, e mais tarde, foi encarregado

pelo Alto Comissário de Moçambique, Comandante Vítor Hugo de Azevedo Coutinho, de estudar o problema de valorização do Vale do Limpopo e elaborar um contra projecto de irrigação de 20 mil hectares de terreno, tarefa de que se desempenhou entre Agosto de 1924 e Outubro de 1925.

O Eng.° António Trigo de Morais

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Submetidos os projectos ao Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, o seu parecer é que ambos os projectos são bons, mas o do engenheiro inglês tem preferência, por ser mais barato. Depois do projecto ser debatido, o Minist ro das Colónias resolve que sejam os organis­mos económicos da Província a fazer a escolha dos projectos, «tendo em vista os fins políticos e económicos a alcançar». Assim, procedeu-se a novo relatório apresentado pelo Chefe da Bri­gada de Estudos, que a f i rma : «Não há razão para recear pelo sucesso da Barragem projectada pelo Eng.° Trigo de Morais nem pelo seu plano de irr igação».

Segue-se um período de adormecimento . . . Por f im , em 1933 o projecto volta a ser falado. É o Dr. Francisco Vieira Machado, em 1934, quem chama de novo a atenção do assunto, num extenso e importante art igo publicado na reviste «PORTUGAL COLONIAL», para o abandono em que se encontrava o Sul do Save.

Fábrica de Lacticínios, em Leonde

Em Maio de 1935 — 10 anos d e p o i s — o Conselho Superior Colonial, emit iu o seu parecer favorável ao projecto do Eng.° Tr igo de Morais, mas só em 10 de Setembro de 1950, por deter­minação do Min is t ro do Ul t ramar, parte para Moçambique uma missão, chefiada por aquele engenheiro, que era nessa a l tura o Director Geral dos Serviços Hidráulicos, que t inha sido encarregado de rever o seu projecto, que elaborara há 25 anos! Depois, a esse projecto foram introduzidas algumas alterações feitas pelo seu autor.

Escola Prática de Agricultura

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Finalmente, em 3 de Março de 1951, o Eng.° Trigo de Morais toma posse do cargo de Subsecretário de Estado do Ul t ramar, lugar onde se manteve até 26 de Fevereiro de 1953, tendo dado durante esse tempo, enorme impulso a este magno e discutido projecto do irrigação do Vale do Limpopo, a quem mui to se f icou a dever.

Em 17 de Agosto de 1951, o Presidente do Conselho, Doutor Oliveira Salazar, determina a construção da Barragem e do projecto do Caminho de Ferro do Limpopo, com ligação ferroviá­ria com a Rodésia, convertendo em realidade o grande projecto que antes t inha sido conside­rado utopia!

As primeiras empreitadas são dadas a duas f irmas do Metrópole, de reconhecida competên­cia. Depois, por Portaria Min is ter ia l , de 28 de Novembro de 1952, é criada a Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Limpopo, que tomou a superintendência técnica e administrat iva da obra, que se torna possível, pela sua inclusão no I Plano de Fomento Nacional , para ser executada no sexénio compreendido entre 1953 e 1958.

Finalmente, em Março de 1953, a Brigadc insta!a-se no Vale do Limpopo, iniciando-se assim, a vasta e valiosa obra. O primeiro grupo de colonos, constituído por 10 famílias vindas do Metrópole, eram alentejanas, chegando a Lourenço Marques em 2 de Agosto de 1954, seguindo-se-lhe outros grupos vindos, igualmente, da Metrópole, todos os anos, até preencher o número previsto.

A área reservada ao Colonato do Limpopo estende-se por uma faixa de terreno ao longo da margem direi ta do rio dos Elefantes até defronte da lagoa Chingua, já próximo da Vi la do Chibuto. Este rio caracteriza-se por ter uma bacia hidrográfica de 415 000 quilómetros quadra­dos, dos quais 19 por cento estão em terr i tór io nacional e 81 por cento nos territórios da Repú­blica da Áf r ica do Sul e da Rodésia do Sul. O rio Limpopo nasce a oeste de Pretória, a uma al t i tude de 1500 metros, percorrendo no nosso terr i tór io 561 quilómetros, mais do que o Tejo, em terras portuguesas.

As 13 aldeias de que se compõe o Colonato estão dispersas pelo extenso Vale, com o seu casario num estilo bem português, quer na arquitectura quer na decoração do interior, parecendo trazidas das longínquas províncias metropolitanas. Denominam-se : Barragem, Leonde, Freixiel, Folgares, Sagres, Ourique, Senhora da Graça, S. José de Ribamar, Madragoa, Santana, Pegões e Vi la Tr igo de Morais — a c t u a l m e n t e a Sede do jovem concelho do Baixo L i m p o p o — onde se si tuam todos os organismos oficiais, os Correios, o Hospital , a Escola Prática de Agr icu l tura , e t c , e onde se central iza a vida comercial do Colonato.

Hospital da Vila Trigo de Morais

Encontra-se em adiantada construção, um grande edifício situado no centro da V i la , desti­nado à instalação conjunta, da Administração do Concelho, Câmara Munic ipa l , Fazenda, Tr ibu­nal , Conservatória e Registo Civ i l , Correios, e t c , obra que foi projectada pelo grande obreiro do Limpopo, o Eng.° Tr igo de Morais. A ele se devendo, também, a construção e projecto do mo­derno edifício da Associação Recreativa e Cul tural do Limpopo, que possui uma boa sala de espectáculos — p a r a Cinema e T e a t r o — , Biblioteca, Sala de Jogos, dois Bares e amplo Salão de Festas.

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Os terrenos fronteiros ò Associação estão a ser ajardinados, sendo aí construída uma pis­cina, cujos trabalhos já foram iniciados. Também por iniciat iva do Eng.° Tr igo de Morais, foi construído na V i la , um Convento destinado às Irmãs Carmelitas, que vieram inaugurá-lo em Novembro de 1964, sendo oriundas da Espanha. As Irmãs professoras iniciaram no Convento as primeiras leccionações, enquanto se edificava em terrenos fronteiros, o primeiro edifício desti­nado ao Colégio do Carmelo de Santa Teresinha, destinado a ambos os sexos, e com Internato para meninas. Hoje o Colégio é uma bela realidade, instalado em bem delineado e moderno edifício, com todos os requisitos para bem servir o f im a que se destina : instruir e educar. Este ano, ao iniciar-se o novo ano lectivo de 1969-70, o Colégio inaugurou uma extensão do complexo, destinada a novos dormitórios para as alunas internas — q u e af luem em grande nú­m e r o — um novo refeitório, salas e outras dependências, que reputamos de modelares.

Um aspecto do edifico do Colégio

O Colégio é dir igido pela Superiora, Irmã Santa Clara, que possui o Curso de Música. Al i se ministra o ensino até ao 2.° ciclo l iceal, mui to contr ibuindo para a cultura e formação moral da juventude de toda aquela região, sem o qual a missão do Colonato não estaria completa.

O Govcrnador-Geral, Dr. Baltazar Rebello de Souza, cumprimenta a Madre Superiora Santa Clara, durante uma visita ao Colégio do Carmelo

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Ainda neste capítulo, diremos que existe na Aldeia de Folgares uma Missão de Irmãs de S. Vicente de Paulo, que ministram o ensino de Costura, Corte e Bordados, cuja uti l idade des­necessário se torna encarecer.

Presentemente, as Irmãs têm 26 alunas, divididas em dois turnos, ensino que representa uma ópt ima ajuda e estímulo para as jovens, incluindo o aspecto de promoção social da mu­lher, valorizando-a.

Um grupo de alunas

Ainda no campo do Ensino, o Colonato tem a sua Escola Prática de Agr icu l tura , construída em moldes simples, modernos e funcionais, apta a proporcionar os conhecimentos necessários aos jovens que pretendem dedicar-se à Agr icu l tu ra , em moldes rentáveis, que só assim pode fomentar a riqueza compensadora, seja para f icar no Colonato ou não.

O Estado instalou no Colonato seis Fábricas, situadas nas seguintes aldeias : Em Sagres, uma fábrica de descasque de arroz, com capacidade para 12 mil toneladas anuais. Na aldeia de Leonde — o n d e se situa a zona mais industrial do C o l o n a t o — estão instaladas três fábr i ­cas. Uma destinada à farinacão de tr igo e mi lho, podendo laborar 500 quilos por hora. Uma Fábrica de Lacticínios, apetrechada com o mais moderno equipamento, tendo sido inaugurada pelo Presidente da República, em Julho de 1964, embora só iniciasse a laboração — a i n d a expe­r i m e n t a l — em Maio de 1965, produzindo manteiga e queijo. A fábrica está apetrechada para produzir diversos tipos de queijos, leite em pó — t i p o s gordo, mui to gordo e m a g r o — assim como um subproduto, o soro, com várias aplicações. A té ao presente só tem sido produzido manteiga e queijo do t ipo holandês, por fa l ta de leite.

Uma Fábrica de Salsicharia —a mais recente de t o d a s — construída na zona fabr i l da aldeia, tendo iniciado a sua laboração em meados de 1965. A fábrica é ampla e possui exce­lente equipamento. Na aldeia da Madragoa foi instalada a Fábrica de Concentrados de Tomate, inaugurada em Julho de 1965. Tecnicamente bem apetrechada, possui condições de boa renta­bi l idade, desde que seja suficientemente abastecida. A sua capacidade de produção é para duas mil e quinhentas toneladas. Os produtos obtidos — n a sua maioria concentrados d u p l o s — são vendidos no mercado interno e para a Rodésia.

Na aldeia de Folgares foi instalada a Fábrica de Desidratação de Forragens e Farinacão, podendo laborar com cana-de-açúcar, mi lho, sorgos, fei jão, luzerna, trevo, beterraba, capins de várias espécies, etc. É também, nesta aldeia, que se encontra a sede da Cooperativa Agrícola do Limpopo.

Existe, fora das actividades agrícolas do Colonato, uma fábrica de descaroçamento e pren­sagem de algodão, situada próximo do Caminho de Ferro da V i la Tr igo de Morais, que é pro­priedade da empresa «Algodoeira do Sul do Save, Lda.».

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Edifício da «Pousada do Limpopo»

No Colonato existem duas Pousadas. Uma, construída na V i la Trigo de Morais —a «Pou­sada Limpopo» — com dois pisos e capacidade para 50 pessoas, além de ter Café, Bar e Res­taurante. A outra — «Pousada da Barragem» — situa-se na aldeia do mesmo nome, frente à Barragem, tendo um só piso. Em edifício de linhas modernas e simples, está decorado com bom gosto e sobriedade, sendo o mobil iár io em vários estilos portugueses, desde o mais simples ao mais requintado.

É interessante mencionar que, desde 9 de Julho de 1966, que o Banco de Crédito Comercial e Industrial abriu uma Delegação na Vi la Tr igo de Morais, vindo desde essa data a fomentar notável acção no campo bancário, faci l i tando empréstimos, transferências e outras operações, e oferecendo um serviço semanal i t inerante, de depósitos, para evitar aos colonos a deslocação à Vi la para tal efeito, uma vez que não é possível — p a r a já , abrir Delegações em todas^as a l d e i a s — e faci l i tando, deste modo, os depósitos e evitando perdas de tempo.

Pousada da Barragem

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Aspecto geral do edifício c!a Associação Recreativa e Cultural do Limpopo

No início do I Plano de Fomento, diz-se em certo passo :

«Queremos, é certo, que o maior número possível de famílias brancas da Metrópole se instale nas aldeias do Limpopo, bem arreigadas ao solo, possuindo a terra onde labutam, exer­cendo ali as tradicionais virtudes do agricultor português — tenacidade, sobriedade, apego ao trabalho, servindo de exemplo para os irmãos de Áfr ica.»

«Para cada braço uma enxada. Para cada famíl ia um lar. Para cada boca o seu pão.» Estas foram palavras do Presidente Salazar, que segundo Rodrigues Júnior, «definem um programa e a f i rmam o sentido humano que se impr imiu à obra realizada. Não há semelhante em toda a Áf r ica , de associação de raças com os mesmos objectivos económicos, de combinação simpática de indivíduos de cor di ferente, com propósitos sociais que levam aos mais sólidos laços de natu­reza afect iva, à colaboração que o homem carece sempre do outro homem, da ajuda que cada um deve ao seu próximo».

Na actual idade, o Colonato do Limpopo é uma grandiosa realidade económico-social pondo à prova a capacidade dos portugueses, uma vez mais, para colonizar e civi l izar!

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GOVERNADOR DO DISTRITO DE INHAMBANE

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O Governador do Distrito de Inhambane a ser cumprimentado por um regedor

O Governador do Distr i to de Inhambane, é o Dr. José Dinis Pereira Salvador Paralta nas­cido em Vi la Pery, Moçambique. É licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medi ­cina de Lisboa e diplomado, a inda, com os cursos de Medicina Tropical e Medicina Sanitária.

Em 1949, o Dr. José Dinis Paralta concorreu ao Quadro dos Médicos do Ultramar tendo prestado serviço, de início, no Mossurize, depois em Ribauè e na Beira. Seguidamente, exerceu funções de Chefe Distr i tal de Saúde do Niassa; de Delegado de Saúde de Inhambane" Chefe Distr i tal de Saúde e, por ú l t imo, de 1960 a 1963, foi Presidente da Câmara Municipal de Inhambane. Em 1962 é promovido a médico de 1 .a classe. Em Abr i l de 1963 é nomeado em comissão para o cargo de Governador do Distr i to de Inhambane, funções que assumiu em 15 de Maio de 1963, continuando a estar à frente dos destinos deste Distr i to.

O Dr. José Dinis P. S. Paralta sempre se tem debruçado com o maior interesse para os variadíssimos problemas do seu Distr i to, dos quais nos falou detalhadamente e para eles tem procurado obter as melhores soluções. Assim, o Governador, tem estado a estruturar um plano de desenvolvimento económico, baseado no fomento da agricul tura arbórea do coqueiro do ca­jueiro, e da mafurra. Esse plano é fei to à base das técnicas do desenvolvimento comunitário Pensa-se fazer povoamentos organizados dentro dos princípios da mesma técnica sendo os nat i ­vos a construir a sua escola, a sua casa, maternidade, etc. Este plano será, depois de concluído apresentado as entidades superiores da Província que o estudarão para ser aprovado.

No capítulo de comunicações rodoviárias, está em construção a Estrada Nacional 1 - já quase concluída — que l iga Lourenço Marques a Beira. Uma vez aberta ao tráfego produzirá um incremento extraordinário ao turismo do Distr i to, onde existem condições naturais privilegiadas A estrada servira as praias de Zavala, Závora, Jangamo, do Tofo, da Barra e do Poméne — próxima de Massinga. A nova estrada passará a cerca de 25 quilómetros de Vilanculos e a 40 de Mambone, servindo, também, o turismo cinegético nas regiões de Mambone — o n d e existe já há anos uma organização do género, a «Safarilândia» — do Funhalouro e Panda.

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Dentro da indústr ia, o descasque do caju está a tomar grande incremento. Vai ser insta­lada na Maxixe uma fábr ica, e outra já existente irão aproveitar os restos da castanha de caju para extrair outros sucedâneos, nomeadamente óleo. Também a industrial ização do coco se está a esboçar.

Três empresas já f izeram requerimentos para montarem fábricas para a sua industr ial iza­ção para o aproveitamento da f ibra, copra e da água. Algumas empresas nacionais e estrangei­ras pretendem montar organizações turísticas em determinadas zonas marít imas para a prática de vários desportos, entre eles a pesca. Também está em vista a industrial ização dos citrinos : enlatados em fresco, em compota e sumos, dos seguintes frutos : laranja, tangerina, ananás e caju. O Distr i to de Inhambane está, assim, em vias de entrar num grande desenvolvimento em todos os seus sectores, a que o seu Governador não deixará de dar todo o apoio possível e estímulo.

Ofanato e Colégio de Nossa Senhora da Conceição

HISTÓRIA DE INHAMBANE

A cidade de Inhambane, pequena e graciosa, tem como divisa «Terra da Boa Gente» doada por Vasco da Gama, que segundo a tradição, ali aportou a 10 de Janeiro de 1498, no decurso da tormentosa viagem do descobrimento marí t imo para a índia.

Foi primeiramente um Reino absoluto, e mais tarde feitoria-presídio, sendo-lhe por carta Régia de 9 de Ma io de 1761 dada a faculdade de se erigir em Vi la . Só a 7 de Outubro de 1763 é que Inhambane tem o seu «Registo de Instrução, para por ele se reger o Governador e Capi-tão-Mor de Capi tania». Foi elevada a cidade em 12 de Agosto de 1956, por ocasião da visita a Moçambique do Venerando Chefe do Estado, Marechal Craveiro Lopes.

Ern 1560 ali desembarcou, acompanhado do Padre Fernandes e do Irmão André da Costa, o Padre Gonçalo da Silveira, com o f im de espalhar a fé e radicar a moral cristã naquelas para­gens. Passaram os anos e Inhambane, que D. Sebastião, ao fazer a divisão do Governo do Impé­rio Or iental , deixou na parte que ia desde o Cabo das correntes a Djar -ha- fan, nunca foi esque­cido, tendo sido objecto de estudo e observações por Manuel Mesquita Perestrelo, na viagem que fez em 1575, também por ordem de D. Sebastião, desde o Cabo da Boa Esperança até Inhambane. Inspirando sempre grande interesse comercial, Inhambane passa a ser melhor conhe­cido pelas viagens dos navios chamados do Cabo das Correntes, que faz iam por estas regiões os seus resgates de mar f im e porventura de ouro, t razido pelos mucarangas, das regiões nortenhas de Monomotapa.

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Por ali passaram em 1552, os náufragos do naufrágio do «Sepúlveda» que iam a caminho de Sofala. Em Inhambane, também esteve por duas vezes Antón io Cardim Fróis, encarregado pelos Reis de Portugal de impedir a inf luência comercial dos Holandeses, obtendo a simpatia dos régulos do interior, que em 1727 lhe pediram que os nossos navios ali viessem mais fre­quentemente trazer-lhes fazendas e outros artigos do seu comércio.

Inhambane foi um padrão de ocupação, de domínio e de trabalho, de que deve ter just i­f icado orgulho, ainda que, muitos anos depois, tenha sido vencida pelas circunstâncias várias e determinadas pelo tempo e lugar, que a colocaram em inferioridade de condições, quanto a actividades progressivas no campo polít ico e económico. A soberania portuguesa em Inhambane, pelos recuados tempos da segunda metade do século X V I I I , era protegida pela praça de Nossa Senhora da Conceição e pelo forte de S. João da Boa Vista, ambas as fortif icações completa­mente desaparecidas.

Entregue aos seus parcos recursos, Inhambane, nem sempre estimulada, soube manter com elevação em todos os tempos, o domínio português, cheia de f idel idade, persistência e patrio­tismo. Já em nossos dias, teve Inhambane um papel importante nas Guerras Vátuas de 1895, contra o potentado Gungunhana. Daqui saiu Mouzinho de Albuquerque com a cavalaria, a ca­minho de Coolela.

Praia do «Tofo»

Os arredores de Inhambane são prodigiosamente dotados de condições naturais para fomen­tar o seu turismo. À sua volta há muitas e belíssimas praias, destacando-se entre elas, a Praia do Tofo, onde além das transparentes e aniladas águas para banhos, se pode praticar a pesca, tanto à l inha como submarina. Somente é necessário dotá- la de habitações e das comodidades necessárias e imprescindíveis. A própria baía de Inhambane tem boas condições para a pesca.

A Cidade de Inhambane é a capital do Distr i to do mesmo nome. Situada junto da ampla baía de Inhambane, que tem cerca de 9 milhas de comprimento por 5 de largura.

A área urbana da cidade de Inhambane é de 120 hectares, sendo a área suburbana de 1880 hectares. A cidade de Inhambane f ica a cerca de 15 milhas da entrada da barra, tendo uma rede de distr ibuição eléctrica, em corrente al ternada, e a i luminação das suas ruas, por meio de lâmpadas de vapor de mercúrio. Tem também uma rede de distr ibuição de água potá­vel, considerada mui to boa, captada do Guiua.

Os edifícios mais importantes são : Escola Industrial e Comercial «Vasco da Gama», resi­dência do Governador, Escolas Primárias, Edifício do Governo e Repartições, Câmara Munic ipa l , Colégio de Nossa Senhora da Conceição, Hospital , Caminhos de Ferro, Direcção de Obras Pú­blicas, Direcção e Repartição dos C.T.T., Paço Episcopal, um cinema e um hotel. É testa do caminho de ferro Inhambane- lnharr ime.

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O porto é t ranqui lo e seguro, possuindo uma ponte-cais, em cimento armado para atracação de navios de a l to bordo, dando possibilidade também, a todos os navios costeiros. Inhambane alia à benignidade do seu cl ima, que levou muitos a chamá-la de «Sintra de Áf r ica», uma linda baía, aonde o pôr-do-Sol, de magníficos cambiantes de cor, constitui um espectáculo de sonho, verdadeiramente maravilhoso.

Na cidade existem dois clubes : o Clube Ferroviário de Inhambane e o Clube Desportivo de Inhambane. No Clube Ferroviário praticam-se várias modalidades : futebol , hóquei patinado, classe de «ballet» e patinagem artíst ica, leccionadas pela professora Pilar Sampaio.

Classe de Ballet

HISTÓRIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE INHAMBANE

Vamos falar de alguns ilustres Presidentes da Câmara, cujas figuras são de maior relevo. Aos primeiros livros de Registo da Câmara Munic ipal de Inhambane falta-lhes as primeiras 40 fclhas, que foram dadas como desaparecidas. Assim, o primeiro presidente assinalado, data de 1788, tendo sido Antón io Manuel Fernandes. Segue-se, por ordem cronológica, José de Sousa Teixeira, presidente de 1863 a 1874, voltando à presidência da Câmara Munic ipa l , de 1885 a 1886. Este presidente foi casado com uma senhora descendente do General Fornasini — o f i c i a l do exército i tal iano, que se refugiou em Inhambane por motivos po l í t i cos— tendo chegado a ocupar cargos de relevo, pois natural izara-se português, e ingressara no nosso exército. O Gene­ral Fornasi — c u j o nome completo era Cario Antón io Fornasini — nasceu em Bolonha, na I tá l ia, tendo sido, também, Presidente da Câmara Munic ipal de Inhambane, cargo que desempenhou de 1852 a 1858.

O General Fornasini desenvolveu relevante actividade em prol do engrandecimento da «Terra da Boa Gente», o que levou o Governo a agraciá-lo com a Comenda de Cavaleiro áa Ordem de Cristo. Foi casado com uma natural de Inhambane, D. Augusta Carolina, da qual houve descendentes, assim se iniciando a Família Fornasini, que foi aumentando de geração para geração.

Outro Presidente da Câmara, f igura de relevo, foi João Tamagnini de Sousa Barbosa, o f i ­cial do Exército, que exerceu o seu mandato de 1914 a 1916, desempenhando também, as fun­ções de Engenheiro Chefe das Repartições de Obras Públicas; Eng. Director dos Caminhos de Ferro e Administrador-Delegado da Comissão de Melhoramentos. Foi um homem de acção notá­vel, que desenvolveu grande actividade não só em Inhambane como por todo o distr i to, digna de f icar arquivada nestas páginas.

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O seu actual presidente, Dr. Armando Mar ia Dionísio, foi nomeado Presidente da Câmara de Inhambane em Maio de 1963, lugar que continua ocupando. Nascido na Metrópole — e m Penafiel — fez a sua formatura em Farmácia na Universidade de Coimbra. O Dr. Armando Mar ia Dionísio foi para Moçambique em Janeiro de 1944, como oficial mil iciano do Exército, com o posto de Tenente, fazendo parte da Companhia existente em Porto Amél ia ; mais tarde, em 1947, foi transferido para Inhambane, onde terminou a comissão de serviço, após o que iniciou a sua vida profissional, naquela cidade.

Em 10 de Fevereiro de 1951 foi nomeado vogal efectivo da Junta Provincial do Sul do Save, lugar que ocupou até à sua extinção. Depois, em Abr i l do mesmo ano, foi nomeado vogal suplente da Comissão Adminis t rat iva da Câmara Munic ipal de Inhambane. Em 15 de Junho de 1955 foi chamado à efectividade até à exoneração da mesma, tendo sido nomeado nessa ocasião para vogal efectivo, lugar que ocupou até à sua nomeação — por eleição — para o mesmo cargo, e deste para Presidente da Câmara Munic ipal de Inhambane, tendo tomado posse em 22 de Maio de 1963.

O Dr. Armando Dionísio ocupa também o lugar de Vogal do Conselho Legislativo, como representante do Distr i to de Inhambane, o qual foi eleito para o quadriénio de 1964-68. E ainda vogal eleito da Junta Distr i tal de Inhambane, lugar que ocupa desde 1964. Sempre atento aos interesses do seu município, o Dr. Armando Dionísio tem desenvolvido larga acção no sen­tido de promover o progresso da cidade, que dia a dia cresce e se embeleza, acompanhando o grande desenvolvimento que se verif ica por toda a terra moçambicana.

Clube Ferroviário de Inhambane

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ALFREDO LOPES TOMÉ

Alfredo Lopes Tomé nasceu na V i la do Ma to , Concelho de Tábua, na Beira A l ta .

Veio para Moçambique com a idade de 17 anos, tendo-se colocado numa f i rma de Inham-bane, de nome Manuel Branco Rafael, Lda. Manteve-se nessa f i rma, como empregado, durante treze anos, ao f im dos quais passou a ser o dono, tomando-a de trespasse. A f i rma dedicava-se ao comércio geral, continuando a manter o mesmo género de negócio o pioneiro Al f redo Lopes Tomé.

Trabalhador incansável, ao f im de três anos de estar estabelecido, lançou a ideia da cons­trução de um hotel em moldes modernos, cuja fa l ta mui to se fazia sentir, pedindo Alfredo Lopes Tomé a colaboração de outros comerciantes da cidade, para que fosse fe i ta uma proposta ao Governador do Distr i to. A sugestão foi bem aceite, mas tudo f icou em projectos, caindo no marasmo, e sem se dar solução a esse magno problema. Foi então que Al f redo Lopes Tomé, que possuía um terreno no centro àa cidade, tomou a iniciat iva de, pelos seus próprios meios, cons­t ru i r um edifício que servisse de hotel. Assim se transferiu o velho Hotel de Inhambane para a primeira unidade hoteleira da cidade, construída com esse f im , tendo sido dado ao novo hotel o mesmo nome do antigo. Este foi inaugurado em 1962, tendo-se construído mais uma ala.

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O pioneiro Al f redo Lopes Tomé conseguiu levar a cabo este empreendimento, graças a um empréstimo que lhe foi concedido pelo Barkiays Bank, sem o qual não teria sido possível dotar Inhambane desse melhoramento, que tão indispensável era ao desenvolvimento e progresso da cidade. Se não fora o espírito empreendedor de Al f redo Lopes Tomé, talvez Inhambane ainda estivesse à espera do novo hote l , que servisse convenientemente todos quantos demandam a «Terra da Boa Gente»!

Há vinte anos que Al f redo Lopes Tomé chegou a Inhambane, e durante este longo espaço de tempo ainda não voltou a ver a sua terra na ta l , sempre agarrado ao trabalho, debruçado so­bre os seus negócios, no justo sonho de tornar c sua vida numa independência desafogada! A obra do hotel já concluída, custou mi l e quinhentos contos, e a segunda ala mais quinhen­tos contos.

Este é, sem dúvida, um Pioneiro cuja actividade progressiva tem vindo a enriquecer a terra que o recebeu.

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JOAQUIM ALVES — O PIONEIRO DO TURISMO

Ao Turismo de Moçambique ainda na sua adolescência— está ligado o nome de Joa­quim Alves, o seu iniciador, que há quarenta anos veio fixar-se na paradisíaca região de V i lan-culos, que tornou na mais encantadora Estância Turística de Moçambique, mercê do seu tenaz esforço, ajudado por sua esposa, D. Ana , de espírito tão empreendedor como seu marido.

Joaquim Alves, natural da Metrópole, nasceu na região de Torres Vedras, vindo mui to jovem para a Á f r i ca , apenas com 17 anos. Há quarenta anos, vindo da Beira, chegou a V i lan-culos, Joaquim Alves, acompanhado da esposa, ambos mui to jovens — ela com 18 anos e ele com 20 incompletos.

Joaquim Alves a ser condecorado pelo Sr. Presidente da República quando da sua visita a Moçambique, em 1964

Nessa época, Vilanculos não era mais que floresta virgem, que era necessário desbravar e onde nada havia que pudesse lembrar civi l ização! Foi preciso que D. Ana Alves começasse a ensinar os nativos ali existentes a cozer pão, a cozinhar, a costurar, enf im, a civil izar.

Após terem construído a primeira casa e seus anexos, assim como uma rudimentar estra­da, apareceu-lhes certo dia um amigo inglês, residente na Rodésia, que lhes solicitou aloja­mento para poder permanecer naquela bela zona marí t ima, de que ele sabia ser, também, excelente para a prática da pesca. Joaquim Alves, genti l e hospitaleiro, acedeu ao pedido. Esse amigo regressou fascinado e entusiasmado com as belezas naturais de Vilanculos e do seu arqui­pélago, falando aos seus amigos desta região de Moçambique, iniciando assim a sua propaganda. Mercê dessa mesma propaganda, as visitas sucederam-se cont inuamente, pois cada visitante era mais um propagandista da região de Vilanculos que ia ganhando adeptos e fama além--fronteiras.

Em princípio, o alojamento era constituído por barracas de campanha. Quando estas a t in ­giram algumas dezenas, Joaquim Alves pediu ume licença para a construção de «Bungalows» para assim poder corresponder à af luência, cada vez maior, de turistas e poder proporcionar-lhes um maior número de comodidades. Porém, os meses passavam e a necessária licença não vinha. Um simples pormenor burocrático, que uma vez resolvido visava em maior escala os interesses económicos da Província, e soluciando um problema de carácter geral. Os turistas pergunta-

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vem qual a razão por que Joaquim Alves não construíra os «Bungalows» do que lhes havia falado, não sabendo que resposta dar! Por f im , depois de terem passado dois anos à espera da licença de construção, e envergonhado, sem saber que explicação dar aos turistas — q u e ca de ano af luem em maior número a V i l a n c u l o s — decidiu iniciar, mesmo sem licença, as constru­ções, vindo esta, f inalmente, quando se completava três anos que t inha sido pedida!

A luta despendida por Joaquim Alves para realizar a sua obra gigantesca, que é, sem som­bra de dúvida, tem sido enorme! Joaquim Alves tornou num verdadeiro paraíso toda a zona de Vilanculos que se estende, hoje, até ao Inhassoro e Ponta de Bartolomeu Dias, bem como a todas as iíhas que formam o Arquipélago do Bazaruto, assim constituído : a ilha de maior extensão, Santa Carol ina; Denguera e Magaruque ou Ilha de Santa Isabel.

Restou/ante — Pousada de Vi lanculos

Para se poder avaliar da obra turíst ica, gingantesca, fe i ta nestes quarenta anos, por Joa­quim Alves, é necessário falar do que hoje está fei to. A lém do pr imi t ivo hotel , construído no centro da povoação de Vi lanculos, existe, junto à praia, uma série de casas, t ipo «Bungalow», e um hotel , que após a sua conclusão, foi aumentado quase para o dobro, e f icou concluído nesta segunda fase, def in i t ivamente, em Março de 1965. A inda na parte cont inental , o Inhas­soro possui um hotel de primeira classe, com salões de amplas vistas para o mar, moradias e vivendas para alojamento dos visitantes.

O Inhassoro serve também de base para a pesca do al to, proporcionando passeios ao longo da sua praia, cuja extensão é de setenta quilómetros, e tendo nas suas margens, aldeias de pescadores consti tuindo motivo de interesse apreciar a sua faina piscatória. O Inhassoro fica a cem quilómetros de Vi lanculos, e como meio de transporte, pode usar-se o avião ou o automó­vel. A norte do Inhassoro, ao longo da costa numa língua de terra ladeada pelo mar e por uma grande baía de águas tranqui las, onde desagua o rio Govuro, situa-se a chamada Ponta de Bar­tolomeu Dias. A í , a diversidade de tons das águas e de maravilhosos cambiantes, tornando o local paradisíaco! Nas suas águas há abundância de peixe, oferecendo aos desportistas al iciante distracção, além de haver, também, grande abundância de ostras e caranguejos. Em Bartolomeu Dias construíram-se «bungalows» que f icaram aptos a receber turistas em Março de 1965.

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Falando do arquipélago, a Ilha do Bazaruto, que íhe dá o nome, é a maior e dista do continente 20 quilómetros, tendo de extensão quase t r in ta . É o centro por excelência da pesca do al to-mar fei ta do lado do Canal de Moçambique, que compreende as espécies mais notáveis do género : espadartes, espadins, veleiros, etc. A pesca submarina é outro dos prazeres ofere­cidos, sendo esta fei ta do lado do continente, onde a ilha oferece baías abrigadas, com exce­lentes condições para banhos e natação. A ilha possui frondosa vegetação. O a'ojamento é pro­porcionado por «Bungalows», como os já existentes em Vilanculos. Não há restaurantes, forne­cendo a Organização os serviços de cozinheiro para cada grupo de turistas.

A Ilha de Santa Carolina, com cerca de dois quilómetros de extensão e de uns escassos trezentos metros de largura, é denominada pela gente ant iga, por «Pérola do Índico», e mais recentemente, os pa'ses nossos vizinhos, chamam-lhe a «Ilha do Paraíso», nome que se ajusta à sua beleza. «Santa Carolina possui deslumbrantes areias de coral branco e as suas águas são cristalinas e cálidas, protegidas por recifes coralíferos, que asseguram banhos em condições de segurança a crianças e adultos.

"Bungalows" no Inhassoro

Santa Carolina, igualmente oferece óptimas condições para a pesca submarina. Possui um hotel , moradias e vivendas mobiladas com todos os requisitos modernos. A Ilha de Santa Isabel ou Magaruque, f ica situada em frente de Vi lanculos, sendo de todas a mais próxima, a uma hora de barco. Santa Isabel, tal qual como as outras ilhas, oferece excelentes condições para a pesca do al to-mar e submarina, dada a sua proximidade do Cana\ de Moçambique. A lém disso, a pesca de terra e as praias completam os atr ibutos desta ilha. Para alojamento, existem «Bun­galows» e são fornecidos cozinheiros para cada grupo de turistas, assim como os alimentos.

De Vilanculos e toda a sua zona turíst ica irradiam todos os transportes para as ilhas, quer seja por mar, terra ou ar. A DETA e a Rhodesian A i r Services fazem as ligações directas com a Rodésia e Áf r ica do Sul, além de táxis aéreos, pertencentes à Organização de Joaquim Alves. Existe uma estrada em boas condições até Macovane. O restante percurso até Vilanculos aguardava-se a sua conclusão.

Por tudo atrás descrito se avalia — a i n d a que a traços l a r g o s — a obra turíst ica, gran­diosa, criada pela tenacidade de um homem, que é Joaquim Alves, canalizando um grande af luxo turíst ico para a Província, e fomentando assim uma riqueza imensa de carácter econó­mico e de progresso. Justo é salientar uma obra que merece a melhor atenção do poder gover­nat ivo, para que ela continue a crescer e possa servir condignamente o Turismo de Moçambi-

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que, igualando Vilanculos e o seu arquipélago :.. outras estâncias em idênticas condições, no estrangeiro. Para melhor se avaliar da importância desta zona turíst ica, que tende a aumentar cada vez mais, há um movimento anual de mais de dez mil tur istas!

A terminar, queremos ainda salientar a acção de D. Ana Alves, natural de Moçambique, que ao longo destes quarenta anos tem sido uma companheira admirável e a melhor colabora­dora da obra de seu marido, sacrif icando toda uma vida ao mato e suas lutas, para civilizar s fazer progredir.

Joaquim Alves foi, agraciado pelo Senhor Presidente da República, tendo recebido das mãos do Supremo Magistrado da Nação, quando da sua visita à Província, em Julho de 1964, a Comenda de Mér i to Agrícola e Industr ial , com que foi dist inguido pela sua meritória obra de pioneiro.

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GOVERNADOR DE MANICA E SOFALA

DR. FRANCISCO CASTELO-BRANCO GALVÃO

Na al tura de iniciarmos esta obra, era Governador do Distr i to de Manica e Sofala o Doutor Juiz Dezembargador Francisco Castelo Branco Galvão, natural de Argan i l , tendo-se licenciado em Direito no Universidade de Lisboa, em 1939.

Iniciou a sua carreira profissional como Delegado do Procurador da República, na Comarca de Reguengos de Monsaraz, em Agosto de 1941. A 6 de Maio de 1942 foi nomeado Delegado do Procurador da República para o Ul t ramar, sendo colocado na comarca de S. Tomé, cumu­lat ivamente com as de Conservador do Registo Predial e Comercial. Depois, em Junho de 1943 foi colocado em Angola, na comarca de Nova Lisboa, exercendo as mesmas funções até Agosto de 1945. Em Novembro de 1945 é colocado na índia, na comarca de Ilhas de Goa, onde exer­ceu as referidas funções e cumulat ivamente ainda, as de Procurador da República junto do T r i ­bunal da Relação de Nova Goa.

Nos anos de 1947 e 1949 exerceu também, em comissão, o cargo de Chefe de Gabinete do Governador-Geral do Estado da índia. Promovido a Juiz de Direito e colocado na comarca de Damão, foi depois transferido para Cabo Verde (comarca de Sotavento), com sede na cidade da Praia, onde exerceu o cargo desde 25 de Janeiro de 1951.

Em Fevereiro de 1954 é novamente colocado em Angola, no comarca de Luanda — T r i b u ­nal da 3.a V a r a — . Em Janeiro de 1957 é colocado em Moçambique, na comarca da Beira — Tr ibunal da 1 .a V a r a — sendo promovido em 1960, por distinção, a Juiz-Desembargador e colocado no Tr ibunal da Relação de Lourenço Marques, iniciando essas funções em 5 de Setem­bro desse ano.

Em Março de 1961 é nomeado Inspector Superior de Justiça, tendo procedido à inspecção das comarcas de Angola.

Em 27 de Outubro de 1961 toma posse do lugar para o qual fora nomeado, de Presidente do Tr ibunal da Relação de Luanda. Em 5 de Fevereiro de 1963 toma posse do cargo de Gover­nador de Manica e Sofala.

Este ilustre Governador foi condecorado, em 1964, pelo Chefe de Estado de Espanha, com a Ordem de Mér i to Civil com Placa.

Na actual idade, governa este distr i to o Coronel Sousa Teles.

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IMAGENS DA BEIRA ANTIGA

O 1.° Comandante do Posto Militar do Aruângua

LUÍS INÁCIO

Posto Militar do ARUÂNGUA, Célula-Mãe da futura cidade da Beira, em 1890

Isto era a Beira em 1892

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Isto era a Beira em 1892

Aspecto da Avenida D. Carlos, na Beira, em 1899

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Praça Luís Ignácio, em 1905

A primeira casa de espectáculos, o «VICTORIA MEMORIAL HALL».

construída em 1 9 0 1 , que era utilizada também, para festas de gala

e variadas mannifestacões artísticas

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Quiosque e Coreto, no Largo Conselheiro Almeida, na Beira, em 1918

BEIRA CIDADE DO FUTURO

Centro da cidade moderna

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A cidade do Beira é um testemunho perene do força civil izadora e colonizadora dos portu­gueses, que nesta parcela do terr i tór io de Moçambique, operaram verdadeiro milagre, erguendo dos «pântanos» e das areias, a cidade airosa, que é hoje a capital de M A N I C A E SOFALA!

Crescendo, dia-a-dia, mercê desse esforço heróico, que vem desde o estabelecimnto da autoridade portuguesa, criando no areal, à beira do mar, o primeiro Posto Mi l i ta r do A R U Â N -GUA, no recuado ano de 1887!

Era de tal modo inóspita a região à volta do Posto Mi l i ta r , numa periferia de algumas dezenas de quilómetros, que A N T Ó N I O ENES dissera num seu relatório acerca da Beira :

«Custa-me a crer que a Beira fosse aquilo, areia e mangal debruando um enorme lameiro líquido, em que o PÚNGUÈ e o BÚZI vão dissolver as próprias margens laceradas por correntes, que fazem perder o pé aos hipopótamos!»

Nem A N T Ó N I O ENES, nem os homens que defendiam no Posto de ARUÂNGUA a soberania portuguesa, puderam jamais pensar que daquelas terras houvesse a possibilidade de nelas construir e fazer surgir uma urbe bela e moderna, como é no presente, a segunda cidade da Província!

Não podemos querer mal a esse extraordinário homem, que foi A N T Ó N I O ENES, nem àqueles heróicos mil i tares de 1887, que defendiam o seu Posto, nas mais precárias condições!

Era natura l , naquela época recuada, que descressem das possibilidades futuras da Beira, embora eles, já por si, encarnassem o símbolo da tenacidade e da têmpera portuguesa.

Outros como eles, cheios de vontade e de fé em melhores dias vieram, e à custa dos maiores sacrifícios, f izeram uma cidade!

E dela, aqui f ica arquivado, imagens do passado e do presente da Beira, cidade do fu turo !

Iluminações no centro da cidade, quando a Beira comemorou

o seu cinquentenário

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Três aspectos da Beira actual

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ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA

Aprovou os primeiros Estatutos com que esta Associação se consti tuiu sob a denomina­ção da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA, a ordem nº 167, de 14 de Setembro de 1893, do Governo do Terr i tór io, subscrita pelo Governador, General Joaquim José Machado.

Constam aqueles Estatutos de 49 art igos, e vêm publicados no seguimento daquela ordem, Boletim n.° 18, de 2 de Outubro de 1893, do Governo do Terr i tór io sob administração da COM­P A N H I A DE MOÇAMBIQUE. Ainda hoje, passados sessenta e oito anos, são as mesmas, nas suas linhas gerais as regras por que se governa a ASSOCIAÇÃO. Após algumas modificações de detalhe, veio o decreto de 25 de Janeiro de 1904, a aprovar a forma def in i t iva que então t ive­ram os Estatutos.

Tem-se considerado q Carta Régia, decreto de 25 de Janeiro de 1904 acima citado, como sendo a data oficial da fundação da ASSOCIAÇÃO, porque, na verdade, só naquela data o Governo Central lhe deu existência com a sua aprovação. Tomou a ASSOCIAÇÃO parte act iva, constante, em grande número de problemas de ordem económica emergentes do gradual desen­volvimento da cidade da Beira e do Terr i tór io, depois DISTRITO DE M A N I C A e SOFALA, desde o recuado ano de 1893 até esta segunda metade do Século.

Fundada dois anos depois do decreto de 11 de Fevereiro de 1891, que concedeu poderes majestáticos à C O M P A N H I A DE MOÇAMBIQUE para a Administração do Terr i tór io de M A N I ­CA E SOFALA, acompanhou int imamente o evoluir do cidade e do Terr i tór io e prestou a sua colaboração em todos os actos em que a mesma se tornou oportuna e ú t i l . Seria longo descrever, ainda que mui to resumidamente, tudo quanto consta dos seus arquivos a tal respeito. Entre aqueles muitos problemas avul tam questões do mais al to interesse, como foram os estudos, informações e representações sobre licenças, tar i fas, caminhos de ferro, encargos do porto, foros e contribuições, concessões de terrenos, mão-de-obra indígena, direitos aduaneiros, impostos de selo e outros, e t c , etc.

Edifício da Associação Comercial da Beira

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A sua fundação apenas dista seis anos da data da ocupação destas terras — 2 0 de Agosto de- 1 8 8 7 — dia em que desembarcou nas praias da baía de M A Z A N Z A N I a pequena força que consti tuiu o POSTO DE ARUÂNGUA, dando início à actual cidade da Beira, e sucedeu, apenas, em pouco mais de dois anos, a criação do Governo do Terr i tór io pela COMPANHIA DE MO­ÇAMBIQUE, conforme acima se diz.

Nestes últ imos anos a actividade da ASSOCIAÇÃO desenvolveu-se consideravelmente. Além dos serviços de Secretaria, que se mantêm em função durante as horas comuns de expediente em cada dia, foram criadas diversas secções, a saber : Madeiras; Ferragens e Materiais de Construção; Importadores de Automóveis e Garagistas; Construção Civ i l ; Tur ismo; Transitórios; Agentes de Transportes; Comissionistas; Papelaria; Mercearias, etc.

A função destas secções tem sido utilíssima porque tende a coordenar e orientar as res­pectivas actividades, buscando melhor serviço ao público e melhor defesa dos seus interesses.

A ASSOCIAÇÃO construiu a sua primeira sede em 1923, e substi tuiu-a em 1960 pelo sump­tuoso edifício que orna, presentemente, a PRAÇA GAGO COUTINHO a oeste e PRAÇA DO COMÉRCIO a leste.

Desde 8 de Março de 1962 que foi eleito Presidente da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, SAUL BRANDÃO, tendo sido reeleito em 1964. São vice-presidentes : Eng/58 JOÃO DE MENESES CAIADO CABRAL e M A N U E L SOARES DE RESENDE.

Fazem parte do Conselho Director : DR. A R M I N D O DE BRITO, de «A M U N D I A L DE MOÇAMBIQUE»; DR. M A N U E L GAMITO, de ENTREPOSTO COMERCIAL DE MOÇAMBIQUE; FREDERICO MARQUES M A N O , da f i rma «STEIA»; MÁRIO ROCHA DE ALMEIDA, da f i rma G. B. BUCCELLATO; M A N U E L SALEMA, da f i rma SALEMA & CARVALHO; e FRANCISCO SA­RAIVA BARRETO, da f i rma SIMEL, LDA. É Presidente da Assembleia Geral o Eng.° JORGE PEREIRA J A R D I M , Administrador-Delegado da LUSALITE DE MOÇAMBIQUE.

A ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA é galardoada com as seguintes condecorações : COMENDA DA ORDEM DE MÉRITO INDUSTRIAL; MEDALHA DE OURO DO CINQUENTENÁ­RIO DA CIDADE; MEDALHA COMEMORATIVA DE 27 - IV -1953 ; MEDALHA DE OURO DO INSTITUTO DE SOCORROS A NÁUFRAGOS e SÓCIO DE HONRA DA C Â M A R A DE COMÉR­CIO DE S. FRANCISCO DA CALIFÓRNIA.

E para terminar a história da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA, vamos transcrever o pedido de aprovação dos Estatutos, que foi formulado por nove indivíduos — d o s quais só um era português — a t í tu lo de curiosidade :

«Ordem n.° 167 :

Tendo A. SHELDRICK, J. D. M A R T I N I , E. A M A V E T , H. HANSING, W. DIEPWEEN, JOSEPH V A N PRAAGH, EDENBOROUGH & BAR, M A N U E L DE JESUS FILHO e JOSEPH ROBBERT, requerido a este Governo a aprovação dos Estatutos que formularam para uma Asso­ciação que pretendem constituir e que se denominará Associação Comercial da Beira.

Considerando que esta Associação tem por f im a protecção ao comércio e indústria que mui to convém auxi l iar e cujo desenvolvimento produzirá benéficos resultados concorrentes para o progresso deste terr i tór io.

Tendo em atenção o parecer do Dr. Delegado do Procurador, da Coroa e Fazenda desta Comarca, dado sobre tal assunto em Ofício n.° 50 de 12 do corrente.

Hei por conveniente aprovar os referidos Estatutos que contêm 49 artigos e baixam assi­nados pelo Conselheiro Secretário-Geral.

Secretaria do Governo do Terr i tór io de Manica e Sofala, no Beira, 14 de Setembro de 1893.

O Governador, J. Machado.»

O actual edifício da ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DA BEIRA foi inaugurado em 1961 pelo então Min is t ro do Ul t ramar, Dr. Adr iano Morei ra, quando da sua visita a Moçambique.

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BIOGRAFIA DOS IRMÃOS LOPES, FUNDADORES DA EMPRESA COMERCIAL DE MEGAZA

O português João Lopes, natural do Concelho da Sertã, em 1900, tomou a resolução de ir até à Província de Moçambique, mesmo sem possuir qualquer conhecimento naquela Província, que lhe facilitasse ali a sua colocação. Seu espírito era intrépido e aventureiro.

Chegado a Moçambique, colocou-se na cidcde da Beira, onde se empregou no comércio. Constando-lhe que seria bom negócio comprar gado aos indígenas da Zambézia, para depois ser negociado no V i la de Manica — q u e então se chamava de Macequece — terra situada no f ron­teira com a Rodésia, e próximo da cidade rodesiana de Untá l i , em cuja região havia mui ta fal ta de gado, João Lopes tomou a resolução de ir verif icar pessoalmente, como era, sendo acom­panhado de um outro português, de nome Faria.

Aspecto parcial do edifício da Empresa Comercial de Megaza, Lda. na Beira

O primeiro negócio fez-se, tendo sido bem sucedidos. É necessário esclarecer, que da região zambeziana, onde iam comprar o gado, até à Vi la de Manica, ia uma distância enorme, que era necessário percorrer, através da selva inóspita, levando as manadas pelo seu pé, pois não havia outra forma de transporte, o que além de demorar mui to tempo, sujeitavam o gado a gra­ves perigos e inconvenientes. Na segunda viagem que empreenderam foi tão mal sucedida, que o gado morreu todo pelo caminho, f icando os dois homem arruinados, pois t inham empregado todo o seu dinheiro na compra daquela manada.

João Lopes, empregou-se, em seguida, em Lourenço Marques, indo depois para Tete, onde trabalhava como recrutador de nativos para as Minas do Rand, na Áf r ica do Sul. Em determi­nada al tura o recrutamento foi proibido com a saída de uma nova lei, e por essa ocasião o seu Acampamento da Organização, era em Megaza, povoação junto à fronteira com a Niassalôndia — hoje M A L A W I — isto sucedia no ano de 1909. Então, no ano seguinte, João Lopes, resolveu

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dedicar-se à agricul tura — t a l v e z prevendo e pressentindo a riqueza enorme do solo zambe-ziano, fért i l sob vários aspec tos— cult ivando fei jão e uma pequena área de algodão.

No f im do ano de 191 1, João Lopes mandou vir da Metrópole um seu irmão mais novo, que t inha nessa al tura 21 anos, chamado António, para com ele trabalhar. Porém, no ano se­guinte, houve uma seca tão grande, que as colheitas perderam-se todas, f icando sem nada os dois irmãos. Por esse motivo abandonaram as suas terras em busca de trabalho, na esperança de mais tarde poderem voltar a cult ivá-las, deixando o gado que ainda possuíam e as alfaias agrícolas entregues ao cuidado de um empregado nativo.

Assim, o João empregou-se numa plantação de algodão, situada na região do Charre, na circunscrição de Mutara ra , e o António na organização açucareira SENA SUGAR, onde perma­neceu seis anos, ali grangeando muitas amizades, pois era um jovem honesto, trabalhador e enérgico.

Depois, o João, com algum dinheiro amealhado, voltou às suas terras de Megaza, para as voltar a cult ivar, enquanto o seu irmão António continuava na SENA SUGAR, enviando para o irmão tudo quanto podia economizar e se destinava a custear as despesas do cult ivo e pro­gresso das terras, que iam alargando, e que algumas vezes o obrigou a fazer empréstimos que se destinavam ao mesmo f im , amortizando-os ou pagando-os com as colheitas.

Entretanto, já t inha vindo para a Província mais outro irmão, de nome Sebastião, que se encontrava colocado em Lourenço Marques. A SENA SUGAR, que mui to apreciava António Lo­pes, pelos seus dotes de trabalho e carácter, sabendo que estava em Lourenço Marques outro irmão, de nome Sebastião, ofereceu-lhe emprego junto de seu irmão António, o que foi aceite. Deste modo, tudo quanto os dois irmãos ganhavam era enviado para o irmão que estava em Megaza a dir igir as propriedades. Para isso sacrif icavam tudo quanto lhes era possível para o fazerem em benefício das suas terras, que sucessivamente iam aumentando e valorizando-se. Em dada a l tura , como o movimento em Megaza aumentasse consideravelmente, o Sebastião abandonou a SENA SUGAR para ir ajudar o irmão, continuando o António empregado, indo juntar-se aos irmãos em 1918.

Como as propriedades —concessões ag r í co las— haviam sido pedidas ao Estado em nome do irmão João —o mais velho e o i n i c i ado r— resolveram entre si, que dividissem as conces­sões em três partes iguais, tantos quantos eram os irmãos Lopes, e por uma escritura feita em 1919, deram o nome à sua organização agrícola de «EMPRESA AGRÍCOLA», que passou a denominar-se LOPES & IRMÃOS, LDA.

Como a organização foi sempre aumentando e progredindo — hoje é uma das maiores organizações moçamb icanas— criaram uma outra empresa, denominada «EMPRESA COMER­CIAL DE M E G A Z A » , que é formada pelos sócios da f i rma Lopes & Irmãos, Lda.

Dos três irmãos pioneiros, morreram os dois mais velhos : o João e o Sebastião. Na actual idade, os fi lhos e netos do Sebastião, são também sócios da empresa.

Os irmãos Lopes f izeram uma obra colonizadora notável, pois ajudaram a fomentar a agr icul tura no riquíssimo Vale da Zambézia, f inanciando os pequenos agricultores do Vale do Chinde.

Também na circunscrição de Morrumbala, no Distr i to de Quelimane, a colonização efec­tuada naquela região foi totalmente fe i ta pelos irmãos Lopes, que providenciaram para que muitos dos seus conterrâneos viessem para Moçambique e se pudessem ali f ixar , tendo-lhes dado todo o apoio mater ia l , fornecendo-os e f inanciando-os em tudo quanto necessitavam, para poderem promover o progresso agrícola e comercial, e que, graças ao seu esforço, é hoje um dos centros mais importantes da Zambézia.

Mui tos dos europeus que vieram fixar-se a l i , são parentes dos irmãos Lopes, que deste modo, os quiseram agregar à sua expansão colonizadora e económica.

Igualmente, os irmãos Lopes, fazem parte dos primeiros pioneiros que iniciaram a cultura de algodão em Moçambique.

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Actualmente, a organização possui as seguintes propriedades agrícolas : EMPRESA AGRÍ­COLA DE MEGAZA; FÁBRICA DE ARROZ, em Nante, na circunscrição de M A G A N J A DA COSTA; uma FÁBRICA DE CHÁ, no Narre, circunscrição de Vi la Junqueiro, no GÚRUÈ.

A empresa também construiu um prédio na cidade da Beira, com vários andares, onde possui todas as secções de escritório, bem como um «stand» de exposição de automóveis, co­nhecido pelo nome de Prédio Megaza, cuja inauguração se efectuou em 1959.

A empresa criou, na Beira, um pequeno posto de rádio, para, diar iamente, poder comuni­car com todas as suas f i l iais dispersas pelos Distritos da Zambézia e de Tete.

As Organizações Lopes & Irmãos têm a sua sede na Beira; f i l ia l em Megaza — Zambé­z ia ; sucursais — a i n d a na Z a m b é z i a — em : Mur i re ; Silva; Chirombe; Morrumbala; Pinda; Móne e Derre; no Distr i to de Manica e Sofala, em : Baué; Missuássua; Sinjal e Chindio.

As duas empresas agrícolas de chá produzem, anualmente, cerca de 750 toneladas de chá, que exportam para Inglaterra, Holanda, Áf r ica do Sul e Portugal Metropol i tano.

A fábrica de arroz produz cerca de mil toneladas anuais, e é consumido pela Província. As Organizações Lopes Cr Irmãos ainda englobam Importação, Exportação, Representações — Comércio Geral e Agr icu l tura.

Empregam cento e oi tenta empregados europeus, e nativos, dois mi l .

Possui seis acampamentos nativos, em alvenaria, com capacidade para dois mil trabalhado­res. Possui assistência médica.

Paga em salários anuais : quinze mil e cem contos. Gasta com alimentação e assistência médica aos trabalhadores, cerca de três mil e quinhentos contos anuais.

Antón io Lopes, o único pioneiro vivo, dos três irmãos, teve quatro fi lhos : ARTUR, ANTÓ­NIO, FERNANDO e ALEXANDRE. Ao f i lho primogénito quis pôr o nome do seu amigo Ar tur Paiva Raposo — q u e foi gerente geral da SENA S U G A R — como prova de amizade e para o homenagear.

A biografia destes pioneiros foi-nos contada por Antón io Lopes, cuja vivacidade física e espiritual nos dá uma ideia do homem extraordinário que ele foi e ainda é.

Curvamo-nos em sentida homenagem a ele e seus irmãos, que de forma tão notável, num esforço verdadeiramente heróico, contr ibuíram para a civi l ização e progresso económico das terras de Moçambique!

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"LUSALITE DE MOÇAMBIQUE"

Fachada principal da complexa fabril da LUSALITE

Na vi la do Dondo, a cerca de 30 quilómetros da cidade da Beira — num local onde apenas existia pântano e f l o r e s t a — aí foi iniciada e erguida, em 1949, aquela que é hoje uma grande unidade fabri l ao serviço da Província de Moçambique : a LUSALITE DE MOÇAMBIQUE.

Inicialmente, a Lusalite principiou com um investimento de 60 mil contos, fe i to pela «Cor­poração Mercant i l Portuguesa» e pela «Sociedade Portuguesa de Fibrocimentos», que foram os fundadores do que vir ia a ser a «Lusalite de Moçambique», a qual ocupa uma área de 5 000 000 de metros quadrados, que hoje estão totalmente uti l izados pela empresa.

A escolha do local para este empreendimento foi propositada, pois o Dondo é um entron­camento ferroviário de mui ta importância, com ligações para todos os territórios circunvizinhos e a poucos quilómetros da cidade da Beira — centro geográfico de Moçambique, servida por porto de mar demandado por barcos de todos os calados e de todas as nacionalidades.

Dois anos foram necessários e gastos na construção da unidade fabr i l , iniciando-se a labo­ração em 1951. Ao historiarmos a vida desta grande empresa, imprescindível se torna assinalar os nomes daqueles que mais de perto contr ibuíram para a sua concretização : Raul Abecassis, Dr. Manuel José Lucas de Sousa; Conde de A l t o Mear im ; Eng.° José Abudharan Abecassis; Eng.° José João Roque de Pinho e Otto Barbosa da Silva. A primeira Administração era cons­t i tuída por três elementos : Miguel de Oliveira, Manuel Joaquim Récio e Maximiano Baptista Leiria. Teve como primeiro Director Técnico o Eng.° Sousa Monteiro.

Na actual idade, a Lusalite tem uma Administração em Lisboa e um Administrador-Dele-gado no Dondo, exercido pelo Eng.° Jorge Pereira Jard im; um Director-Técnico, Maximiano Baptista Leiria e um Director-Administrat ivo, Carlos Duarte Silva.

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Aspecto interior da fábrica

A Lusalite tem dedicado a sua actividade à fabricação de materiais de construção civil e artefactos de uti l idade doméstica, à base do f ibrocimento — uma mistura sabiamente estu­dada de cimento e amianto desfibrado. O cimento ut i l izado é produzido na Província e os amiantos adquiridos na Rodésia, extraídos de minas de que a própria «Corporação Mercant i l Portuguesa» é a proprietária.

A seguir enumeramos alguns dos principais produtos fabricados pela Lusalite : Tubos para pressão, rega, esgotos e drenagens, chapas onduladas, lisas e complementares de cobertura, casas pré-fabricadas e armazéns curvos, mobílias para jard im, reservatórios para água, de qualquer medida e capacidade. É interessante focar, que as casas pré-fabricadas em f ibroci­mento, desmontáveis e funcionalmente estudados para resolver, imediatamente, a instalação do agregado fami l iar , são saudáveis, higiénicas e refractárias ao calor ou ao f r io , resistentes ao sol e à chuva. A Lusalite ut i l iza essas casas para habitação do seu pessoal menor.

Armazéns da fábrica

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Laboratór ios

O bairro residencial da Lusalite ocupa cerca de 100 mil metros quadrados. Cuidado com gosto, é um jardim pleno de cor, pela profusão de flores, num ambiente de tranquil idade repou-sante! O arranjo dos jardins de cada residência é objecto de concurso anual , com prémios pecuniários estabelecidos pela Administração da empresa, com vista ao melhor t ratamento de relvados, arranjo no al inhamento, embelezamento e conservação dos canteiros, bem como do aproveitamento dos quintais.

Casa do Bairro Operário

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Casa do Bairro Residencial

No bairro vivem cerca de 300 pessoas. Este possui Campo de Futebol; Campo de Ténis; Campo de Voleibol ; Ringue, de Pat inagem; Parque In fan t i l ; «Stand» de Ti ro aos Pratos; Car­reira de Ti ro ao A lvo ; um acampamento permanente para as práticas escutistas; e um Campo de Aviação. No bairro, ainda existem dois edifícios próprios para convívio social, com salas de festa, cinema, palco, bar, salas de bilhar e pingue-pongue, e outro constituído pela sede do movimento escutista, de carácter part icular.

Na parte desportiva, praticam-se as seguintes modalidades : Hóquei em Patins; T i ro aos Pratos; T i ro ao A lvo ; Patinagem Ar t ís t ica ; Ténis; Futebol; Vole ibol ; Futebol de Salão; Pingue--Pongue. Há, ainda, uma Escola de Pilotagem, funcionando como uma secção do Aero-Clube da Beira.

Edifício da Sede do Clube

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Sala de Jogas da Clube

Os grupos desportivos da Lusalite têm conquistado numerosos troféus e taças, ganhas em competições em que têm part icipado.

Na área ocupada pela Lusalite há estradas que somam cerca de oito quilómetros. A fábrica tem 400 empregados; cerca de 15 por cento destes estão ocupados na manutenção da Acção Social. A empresa gasta em salários anuais, sete mil contos; com a Assistência Social, mil e quinhentos contos anuais. As vendas, também anuais, oscilam entre os 30 e 40 mil contos.

A Lusalite tem delegações em Lourenço Marques, Vi la Pery, Quelimane e Nampula, além de numerosos agentes espalhados por toda a Província.

Taças disputadas no Torneio de Tiro aos Pratos

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Na actual idade, a fábrica produz somente um pouco mais de um terço da sua capacidade, pois foi construída, logo de início, com capacidade de produção tendo em vista um futuro de maior expansão.

A visi ta, longa e pormenorizada, que fizemos a esta empresa, deixou-nos as melhores impressões, sob todos os aspectos, pois na Lusalite nada foi descurado. Os seus dirigentes têm sempre presente o lema, de que «trabalha melhor quem vive melhor». Assim, a Lusalite de Moçambique desempenha um papel importantíssimo no desenvolvimento da economia moçambi­cana, realizando simultaneamente, uma vasta acção de ccrácter social de repercussão presente e fu tu ra , que mui to contr ibuirá para o progresso de Moçambique.

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JOSÉ E MANUEL LOPES BULHA

Os pioneiros JOSÉ e M A N U E L LOPES BULHA são naturais da freguesia de Teixoso, pró­ximo da Covilhã, onde eram comerciantes.

José Lopes Bulha foi o primeiro a vir pare a Província de Moçambique, fixando-se na Beira no ano de 1926. O que incitou José Lopes Bulha a vir conhecer Moçambique, com a intenção de se f ixar, foram as boas referências que lhes haviam sido feitas na Metrópole. Em 1928, tomou a f i rma CAEIRO, LDA., que se encontrava quase em liquidação, e criaram uma nova f i rma, que passou a denominar-se ALVES CORREIA & BULHA, LDA.

Em Dezembro de 1929, chegou à Beira seu irmão Manuel Lopes Bulha, para a ele se juntar. Desenvolvendo sempre uma grande actividade comercial, os dois irmãos vão prosperando e aumentando as suas actividades, criando novas organizações que, à cidade e àTrovínc ia trazem os benefícios de progresso e riqueza.

Assim, do velho estabelecimento — d e um só piso de madeira e zinco, como eram todas as antigas construções — ergueram um prédio próprio, de três andares, que foi inaugurado em 1952, construído no coração da cidade, e cujo rés-do-chão f icou totalmente ocupado pelos Es­tabelecimentos Bulha, possuindo várias secções, entre elas, modas e confecções para senhora, homem e criança, não fal tando a secção de perfumarias e do «pronto a vestir». Numa parte do primeiro andar do prédio f icaram os escritórios da f i rma ALVES CORREIA & BULHA, LDA. Os restantes andares são ocupados por escritórios, consultórios médicos e «f lats».

Os irmãos Bulha criaram em 1950 a SOCIEDADE DE CONFECÇÕES DA BEIRA, onde são confeccionadas todas as confecções apresentadas nos seus estabelecimentos, de roupas para se­nhora homem e criança.

Edifício da CASA BULHA

Criaram ainda uma outra f i rma, que se dedica ao comércio geral por junto , denominada BULHAS, LDA. Os irmãos BULHA são, igualmente, os sócios fundadores da Empresa Portu-guera de Madeiras, Lda., de que são proprietários, com fabrica de contraplacado, situada na Manga.

A f i rma ALVES CORREIA & BULHA, LDA. possui ainda sucursais nas cidades de QUELI-M A N E e TETE.

Os estabelecimentos ALVES CORREIA & BULHA, LDA., bem como a SOCIEDADE DE CONFECÇÕES DA BEIRA — i n t i m a m e n t e l igadas—possuem actualmente, cinquenta emprega­dos europeus e nativos cento e cinquenta.

A f i rma pagou em salários, no ano f indo — incluindo a fábrica de confecções — três mi l e quinhentos contos.

Por estes números se concluiu do valor económico que representam as actividades dos irmãos Bulha, fomentando riquezas com que têm contribuído para aumentar o progresso da ci­dade da Beira, sua economia e, consequentemente, da Província.

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" C E L M O Q U E "

FABRICA DE CONDUTORES ELÉCTRICOS DE MOÇAMBIQUE

A Fábrica de Condutores Eléctricos de Moçambique — C E L M O Q U E — é uma das mais modernas unidades industriais de toda a Província.

Nasceu da compreensão e do espírito de iniciat iva dos homens da Fábrica Nacional de Condutores Eléctricos — CEL — e Cabos Armados e Telefónicos, Lda. — CAT — que a fun ­daram.

Em 1960, a CELMOQUE iniciou a sua prcdução, embora ainda em fase experimental. Em Maio de 1961, teve lugar a inauguração of icia!, com a fábrica já em laboração.

Vista parcial da fábrica "CELMOQUE"

O conjunto arquitectónico das suas instalações, embora simples, modernas e funcionais, é notável, como é digno de nota o seu moderníssimo complexo electromecânico.

Construída no parque industrial da Manga, a CELMOQUE é uma empresa que se impôs no mercado moçambicano pelos seus produtos, pois não goza de qualquer protecção, nem possui exclusivo para o caudal da sua produção. A sua contribuição para o equilíbrio da balança de Moçambique é importante, para o que basta aientar-se no estancamento de divisas que a sua actividade representa para a Província, facto que signif ica uma valiosa contribuição ao nosso plano económico, e ainda, a satisfação de fazer colocar em Moçambique pessoal especializado, que veio criar raízes de famíl ia, e assim, contr ibuir para um Moçambique melhor.

A CELMOQUE iniciou a sua produção com 15 máquinas fabris e grande número das mais diversas máquinas auxil iares e de of ic ina, trabalhando no fabrico de fios e cabos eléctricos apropriados para transmissão de luz e energia, sinalização, rádio e T.S.F., automóveis, reclames luminosos, telégrafos, telefones e telecomunicações, instalações térmicas, etc. Estes fios e cabos são revestidos a substâncias termo-plásticas sintéticas e conforme as exigências da sua aplica­ção, sujeitos aos mais variados acabamentos. Uma vez terminada a sua fase de fabrico e antes de serem enviados aos mercados, passam por variadas provas de ensaio que confirmarão a sua

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Aspecto geral da secção de expedição

eficiência. Para este f i m , a CELMOQUE dispõe de um laboratório equipado com o que há de melhor na técnica moderna, onde os seus produtos são submetidos a ensaios mecânicos, térmi­cos, de resistência de isolamento, resistência eléctrica, a l ta tensão, etc. A CELMOQUE está, deste modo, equipada com condições de satisfazer, inteiramente, os mercados de Moçambique, com produtos de primeira qualidade.

Pormenor da fabricação de cabos eléctricos

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Tal como as grandes indústrias europeias, a CELMOQUE desenvolve uma acção social de grande valor. Os salários dos seus empregados, sem distinção de raças ou de credos, são, em muito, superiores aos mínimos estabelecidos pelas leis em vigor. As normas de segurança do pessoal são rigorosas, e as condições de reparação dos acidentes no trabalho, são das mais van­tajosas. A lém do fornecimento de fatos de trabalho a todo o pessoal fabr i l , os empregados têm direito a transporte em autocarros da empresa, férias pagas e no f im de cada ano, pelo Nata l , são-lhes atribuídas gratif icações equivalentes a um mês de salário, e numa festa realizada para tal f im , são distribuídos brinquedos aos seus fi lhos.

Equipa de futebol da fábrica "CELMOQUE"

A CELMOQUE possui, também, uma secção desportiva e recreativa, com campos de jogos, sala de leitura e cant ina. O Grupo Desportivo da Celmoque tem-se fei to representar em diver­sas actividades desportivas : Futebol, Futebol de Salão, Voleibol, Ténis e Ti ro a Chumbo.

Dada a fase de desenvolvimento e progresso que a Província atravessa, a CELMOQUE pro­jecta ampliar as suas instalações fabris, armazéns e expedição. Essa ampliação fazer-se-á em três fases : a pr imeira, num valor global de três mil contos; a segunda, que orçará por dois mi l contos e a terceira e ú l t ima fase, constará de mais um pavilhão, com um grupo de cinco máquinas, que at ingirá o valor de dois mil e quinhentos contos. Esta ampliação prevê-se rea­lizada num espaço de cinco anos.

A CELMOQUE tem delegações em Lourenço Marques e Quelimane. A Administração é em Lisboa. O seu Director-Geral, na Beira, é A r tu r Silva de Almeida Mar t ins , e o Director Técnico, o Eng.° Borges Coelho.

A CELMOQUE exporta para a Áf r ica do Sul e Malawi .

Na laboração e outros serviços, na Beira, tem 50 empregados nativos e 25 europeus. Salá­rios anuais despendidos : dois mil e quinhentos contos. Despesa anual , com assistência médica aos empregados : cento e cinquenta contos. Vendas anuais : entre doze e treze mil contos.

Por tudo quanto f ica exposto, verifica-se que a CELMOQUE é uma empresa que se impôs pela qífalidade dos seus produtos, cuja iniciat iva é um exemplo.

São realizações como esta, que valorizando c patr imónio da Província, a fazem caminhar na senda do progresso.

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PIONEIRO MANUEL XAVIER DA GAMA LOBO SALEMA

MANUEL XAVIER DA GAMA LOBO SALEMA no seu gabinete de trabalho

O pioneiro M A N U E L XAVIER DA G A M A LOBO SALEMA nasceu em Lisboa e veio para Lourenço Marques com seus pais e irmãos, todo? na primeira infância. Foi na capital da Pro­víncia que iniciou os estudos tendo-os completado em Joanesburgo. Depois, iniciou a sua act i ­vidade trabalhando em diversas f i rmas comerciais de Lourenço Marques até ao ano de 1929, altura em que veio para a cidade da Beira e se estabeleceu de sociedade com o pioneiro BEN­J A M I M ZAFRANY, em 1930.

Em 1940, a posição deste sócio foi tomada pela f i rma de Lourenço Marques, J. A. CAR­VALHO & C O M P A N H I A , LDA. — d o n o s da MINERVA C E N T R A L — pioneiros do livro em Moçambique.

A pequena f i rma nascida no ano de 1930 — h o j e denominada M. SALEMA & CARVA­LHO, LDA. — converteu-se na florescente organização que hoje é, tendo a sua sede no Largo Luís de Camões, onde se encontram as secções de t ipograf ia, papelaria e equipamentos de Es­critório, e da sucursal, situada na Praça A lmi ran te Gago Coutinho, ocupando uma vasta área do prédio da Associação Comercial da Beira, onde tem os ramos de l ivraria, material fotográ­fico e escolar. A finsna, igualmente possui uma sucursal em Vi la Pery.

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Um aspecto do estabelecimento da moderna livraria «M. SALEMA & CARVALHO»

M A N U E L XAVIER DA G A M A LOBO SALEMA casou com uma f i lha do seu primeiro sócio, o pioneiro BENJAMIM ZAFRANY — q u e viera para a Beira nos f inais do século passado — aqui tendo nascido dele três qeracões. Hoje, um dos actuais sócios da f i rma, JOSÉ GONÇAL­VES, é genro de M A N U E L SALEMA.

Aqu i arquivamos —a traços l a r g o s — a obra de um pioneiro, que a Moçambique e ao seu progresso tem dedicado toda uma vida!

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O pioneiro CAETANO LOPES nasceu na Sertã, terra metropol i tana, que cedo deixou, para ir em busca de melhores e mais rasgados horizontes onde o seu precoce espírito empreendedor começava já a demonstrar o que vir ia a ser, pois quando abandonou a casa paterna, em direc­ção à capital do Império, t inha apenas 12 anos! Aí trabalhou e estudou, até que em 1919 veio de abalada até Moçambique, coloa.ndo-se na Beira, no comércio geral, como empregado da f irma «F. L. Simões & Companhia».

Aí permaneceu durante seis anos, saindo para se estabelecer no comércio, juntamente com outro pioneiro —JOSÉ C A R D O S O — nascendo assim a f i rma CARDOSO, LOPES, LDA., que ainda hoje existe em florescente laboração.

Após onze anos dedicando-se ao comércio, Caetano Lopes, sempre activo e empreendedor, leva a sua sociedade comercial a dedicar-se, também, à indústria de madeiras. Assim, em 1937, a sua f i rma associa-se a um cidadão i tal iano, que possuía uma serração, laborando com ele cerca de três anos. Após esse período, a serração pcssa a ser tota lmente da sociedade CARDOSO, LOPES, LDA., e à frente dela, gerindo-a, CAETANO LOPES.

Em 1945, l igaram-se à serração, ingleses residentes na Áfr ica do Sul, a l tura em que é criada a nova f i rma denominada SERRAÇÕES DO INHANSATO, LDA. — nome que lhe é dado pelo local onde existe.

Na nova f i rma, Caetano Lopes, tal qual como anter iormente, continua a exercer as fun­ções de gerente, sendo um dos sócios principais. Nas suas funções de gerente, só é substituído, quando vai de férias para a Europa, em que toma o seu lugar, o sócio Diamantino Galamba Vieira.

As Serrações do Inhansato estão instaladas em plena f loresta, formando, cada uma delas, sua aldeia, onde pulsa um r i tmo febri l e constante de t rabalho!

As serrações situam-se nas terras do «RÉGULO G A L I N H A » , na circunscrição de CHERIN-GOMA, a oi tenta quilómetros da cidade da Beira As suas instalações são modelares, possuindo dezenas de camiões, tractores, caterpilares e outros maquinismos.

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CAETANO LOPES

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As Serrações do Inhansato são especialistas no fabrico de travessas para os caminhos de ferro e «parquet», produzidas nas melhores madeiras. A empresa fornece, além dos Caminhos de Ferro de Moçambique e da Trans-Zambezia Railways, grandes e importantes empresas da Beira, Rodésia e Áf r ica do Sul. Na Europa, fornece para : Inglaterra, Alemanha, Irlanda e Holanda.

As Serrações do Inhansato possuem escritórios na Beira e em Joanesburgo. Oitenta por cento da sua produção é exportada, e o restante gasto na Província. As suas concessões flores­tais são, aproximadamente, de cerca de oitenta quilómetros quadrados, sendo servidas por mais de duzentos quilómetros de estradas bem traçadas, ut i l izando pontes de madeira, construídas com toda a segurança.

A empresa tem ao seu serviço operários nativos, que oscilam entre seiscentos e mi l , e tendo seis empregados mistos e cinco europeus. Aos empregados é dada toda a assistência médica, tendo um médico privativo e enfermeiros, possuindo cada aldeia um posto de socorros perma­nente. Cada aldeia possui, também, uma escola, cujas frequências oscilam entre setenta e oi tenta alunos.

São despendidos em salários anuais, dois mil oitocentos e quarenta contos, e em assistên­cia médica, vestuário, al imentação, e t c , mil trezentos e oi tenta e cinco contos.

Todo o pessoal está bem instalado, em casas t ipicamente construídas de madeira, que fazem lembrar as construções de alguns países europeus onde caem grande nevões. Por dentro, são confortáveis, e qualquer europeu ali passaria umas óptimas férias, em contacto com a beleza selvagem da f loresta, que o deixaria maravilhado, fazendo-o esquecer a civi l ização!

Nas Serrações do Inhansato, em plena região florestal de Manica e Sofala, todos os dias se arranca riqueza à floresta imensa, que não se cansa de dar-se ao homem, que a mut i la , e que, mesmo assim, f ica ainda plena de seiva e de arvoredo.

Não nos admira, que homens como o pioneiro CAETANO LOPES se prendessem às belezas das terras de Moçambique, que são, ao mesmo tempo, fonte de inesgotável beleza e riqueza imensas, que extasiam e prendem aqueles que com ela tomam contacto!

Assim, CAETANO LOPES tem já uma permanência na Província de cinquenta e um anos, que o seu génio empreendedor e trabalhador, ajudou a progredir e a civi l izar!

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SAUL BRANDÃO

SAUL BRANDÃO é natural de Argan i l , tendo vindo para a Beira no ano de 1936, colo-cando-se como funcionário da COMPANHIA DE MOÇAMBIQUE, onde permaneceu alguns anos, após o que se dedicou ao comércio.

Desenvolvendo notável act ividade, trabalhando com af inco, fez progredir as suas act iv ida­des comerciais, que lhe f izeram alcançar uma posição de destaque na Província, posição con­quistada com o seu esforço e dotes de carácter.

Pleno de inic iat iva, a ele se deve a criação dos Serviços de Viação denominados «AUTO--TRANSPORTES, LDA.», que servem a área urbana da cidade e seus bairros suburbanos.

Juntamente com portugueses residentes na Beira, criou uma sociedade destinada à explo­ração de madeiras, denominada Sociedade de Transportes Lenha, Lda. Igualmente foi o fun­dador da f i rma «AUTO- INDUSTRIAL, LDA.» , que se dedica ao ramo de automóveis, assim como fundou também a f i rma denominada «PREDIAL U L T R A M A R I N A » , que se dedica à cons­trução civi l .

Fundou ainda uma nova organização, com a f inal idade de agrupar as várias coutadas existentes no Distr i to de Manica e Sofaia, dedicadas aos SAFARIS, e em conjunto serem administradas, tendo em vista dar um maior incremento ao Turismo Cinegético e levar ao conhecimento dos grandes centros europeus e americanos, a riqueza cinegética de Moçambi­que, nomeadamente, neste distr i to, tendo Saul Brandão sido convidado para exercer as funções de Administrador-Delegado dessa organização, c que foi dado o nome de «SOCIEDADE DE SA­FARIS DE MOÇAMBIQUE, LDA.».

Também o maior hotel da cidade da Beira é um empreendimento de Saul Brandão, dotando--a com uma magníf ica unidade hoteleira, que é o HOTEL EMBAIXADOR.

Situado no centro da cidade, de linhas modernas e todos os requisitos modernos, para bem servir aqueles que visi tam a Beira. O edifício tem seis andares; uma acolhedora «boite», fun­cionando todas as noites; ampla sala de jantar, situada no 5.° andar, bem como o bar e salas de leitura.

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O belo edifício do Hotel Embaixador

Ao HOTEL EMBAIXADOR f icam ligados muitos dos actos sociais da cidade, pois é nas suas salas que se realizam com bastante frequência, jantares, almoços, «cocktails» e com grande movimento de viajantes em trânsito.

0 HOTEL EMBAIXADOR abriu as suas portas a 13 de Agosto de 1958.

E porque tem interesse biográfico, vamos falar de alguns hotéis que exist iram na Beira de outros tempos — pois foi sempre um centro de grande movimento de viajantes em trânsito que o seu porto de mar e as várias terminais de linhas férreas f izeram convergir.

Bar do Hotel Embaixador

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Os hotéis mais antigos e de fama foram o «QUEENTS HOTEL» — talvez o maior de há cinquenta anos, que apesar de ser de madeira e zinco, possuía três andares! — e o «VITORIA HOTEL», existindo na mesma época, do qual oferecemos uma imagem.

A Beira, de ano para ano, cresce e embeleza-se, graças ao esforço de um punhado de portugueses de ri ja têmpera e espírito progressivo e empreendedor, que aqui se f ixaram, como Saul Brandão, cujas iniciativas f icam ligadas ao seu nome e ao progresso da Beira.

Além de ter sido o Presidente da Associação Comercial da Beira, Saul Brandão pertenceu também ao Conselho Legislativo de Moçambique, onde part icipou activamente.

Saul Brandão faleceu quando esta obra se encontrava no prelo.

«ROYAL HOTEL» com tradições na Beira de há meio século

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COMPANHIA DE SEGUROS "A MUNDIAL DE MOÇAMBIQUE"

ALGUMAS NOTAS SOBRE A FUNDAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO

DA COMPANHIA

O moderno edifício da Companhia de Seguros «A MUNDIAL DE MOÇAMBIQUE»

Por escritura pública lavrada em 12 de Dezembro de 1956, foi def in i t ivamente constituída a Companhia de Seguros «A Mundia l de Moçambique» e foram seus accionistas fundadores a Companhia de Seguros «A Mund ia l» , os senhores Diamant ino Galamba Vie i ra , Eng.° Jorge Pereira Jardim, Eng.° Fernando António da Veiga Frade, Saul Brandão, José Alexandre Marques, Fernando Ferreira Duarte, Caetano Lopes, Manuel da Veiga Frade, Alberto Alves, António Queirós da Cunha e Manuel da Maia Júnior.

Com a orientação de «A Mund ia l» , deu a ainda jovem Companhia os seus primeiros pas­sos no ano de 1957 que consti tuiu o seu primeiro exercício.

Dos seus Conselhos de Administração têm fe i to parte : Eng.° Jorge Jardim, Eng.° Fernando Frade, Gastão de Moura , Diamant ino Galamba Vie i ra, Saul Brandão, Manuel Frade, Mar ino Moreira e Eduardo Ferreira.

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E é à competente administração destes homens que a Companhia deve não só o extra­ordinário desenvolvimento que se vem processando através dos seus 13 anos de idade como o enorme prestígio que goza no mercado segurador de Moçambique. Poderá, com efeito, fazer--se uma ideia do que tem sido a evolução de "A Mundial de Moçarmbique», se atentarrmos em que até hoje foram reguladas indemnizações em montante superior a 70 000 contos e as suas reservas técnicas ultrapassam os 50 000 contos.

Correspondendo cabalmente à esperança com que Moçambique viu constituir mais uma companhia, «A Mundia l de Moçambique» aqui tem aplicado todas as suas reservas, contribuindo para o seu progresso económico, orientação que aliás foi tomada desde o começo. E é conso­lador ver hoje o imponente e moderno imóvel, onde está instalada a sua sede na Beira e poder af i rmar que, em empréstimos para construções, concedeu a Companhia aos inúmeros mutuários mais de 50 OCO contos.

Sem prejuízo para a justa remuneração do capital accionista, com a distribuição de div i ­dendos (a part i r de 1961), foi possível já , mercê de sóiida administração, destinar 2000 contos de capital (exercício de 1963 e 1964) para amort izar o capital ainda não realizado pelos se­nhores accionistas. E assim se pensa conseguir a liberação das acções.

Na sua sede e nas suas delegações de Lourenço Marques, Inhambane, Vi la Pery, Queli-mane e Nampula, «A Mundia l de Moçambique» dá trabalho a muitas dezenas de portugueses, e através de uma rede de agentes idóneos, espalhados por toda a Província, cria a confiança de todos os seus segurados.

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COMPANHIA TÊXTIL DO PÚNGUÈ

A COMPANHIA TÊXTIL DO PÚNGUÈ surgiu de um desejo manifestado pelo Governo, fe i to aos industriais metropolitanos para criarem grandes indústrias em Moçambique, nomeada­mente naquelas regiões mais propícias a determinadas culturas. O grupo CUF, dando realidade a essa sugestão, resolveu criar a COMPANHIA TÊXTIL DO PÚNGUÈ, na Beira, que teve início em 1956, sendo uma Sociedade Anónima.

Em 1957 teve início a construção da fábr ica, que se dedicaria ao fabrico de artefactos de ju ta e f ibras similares, entre elas, o kenaf, subst i tuto da ju ta . A fábrica iniciou a sua labo­ração em 1958, estando apetrechada com a mais moderna maquinaria de fiação e tecelagem, ocupando uma área to ta l , as suas instalações na Manga, de doze mil metros quadrados.

A Companhia dispõe de uma exploração agrícola no Vale do Púnguè, Distr i to de Manica e Sofa'a, que é o centro da sua produção de f ibras, onde desenvolve a cultura de sucedâneos da ju ta , nomeadamente o kenaf, que é de grande alcance e valor económico.

A C O M P A N H I A TÊXTIL DO PÚNGUÈ tem agricultados 4600 hectares de cultura anual , o que constitui a maior área de cultura deste t ipo, do Continente Afr icano.

Em relação ao kenaf, houve anteriormente à existência da Companhia, uma tentat iva para lançar a sua produção, mas fei ta sem continuidade e não apoiada numa organização agro-- industr ial que lhe assegurasse o êxito.

A C O M P A N H I A TÊXTIL DO PÚNGUÈ aproveitando a experiência que o grupo CUF já t inha adquirido em Angola, foi quem promoveu o início da expansão das fibras que hoje tem Moçambique.

As áreas cultivadas para produção da f ibra e semente, por agricultores estranhos à Com­panhia, têm evoluído consoladora e progressivamente, desde a campanha de 1958-59, que foi de cento e sessenta e três hectares.

Para a presente campanha estão cultivados 7 mi l hectares. Nos mesmos períodos, agr icul­tores interessados, foram em 1958-59, apenas um europeu. Em 1968-69, o número ascendeu a 121 agricultores europeus e 403 afr icanos, num total de 524.

Vista geral da fábrica

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Por estes dados se conclui que a COMPANHIA TÊXTIL DO PÚNGUÈ tem sido a fomen­tadora da cultura das fibras têxteis —próp r i as para o fabrico de s a c a r i a — nomeadamente, do kenaf, não só através dos seus serviços de assistência técnica, como por meio de difusão de instruções escritas sobre métodos de cult ivo; com visitas repetidas aos agricultores; com pare­ceres técnicos sobre a escolha de terrenos e aquisições de alfaias e fornecimentos de sementes comprovadas. Tem t ido, ainda, inf luência decisiva, na expansão da cul tura, o auxíl io f inanceiro prestado pela COMPANHIA TÊXTIL DO PÚNGUÈ a todos os agricultores, indist intamente, que dela carecem.

Coube à C O M P A N H I A TÊXTIL DO PÚNGUÈ realizar e promover em Moçambique e no cidade da Beira, a «IV REUNIÃO DA COMISSÃO TÉCNICA DO INSTITUTE EUROPEAN POUR L'ÉTUDE DES FIBRES INDUSTRIELLES». Esta reunião, a primeira realizada no Continente Afr icano, teve a participação de t r in ta e oito delegados, representando treze países e três con­tinentes. A sua realização teve lugar de 29 de Março a 3 de Abr i l de 1965, e constituiu uma jornada plena de interesse.

Parece-nos interessante darmos aqui uma explicação sumária do que é o kenaf e qual o seu valor económico, dado que Moçambique, a esta data, é o primeiro produtor de kenaf do Continente Afr icano.

O kenaf —Hibiscus cannabirtus, L . — pertence à famíl ia das malváceas. Planta herbá­cea, anual , desenvolvendo-se entre oi tenta a cento e cinquenta dias, conforme a variedade e época de sementeira. Caules erectos, simples, mais ou menos lisos, pilosos, podendo at ingir quatro metros de al tura. A f ibra encontra-se encerrada na casca que envolve o caule, sendo extraída por diferentes processos, sendo o mais generalizado, o de maceração bacteriológica, que pode ter lugar em qualquer exploração agrícola.

Os sacos de ju ta — o u dos seus similares e der i vados— constituem a embalagem mais corrente e própria — p o r t a n t o a mais procurado e u t i l i z a d a — para o transporte e comercial i­zação de uma enorme e variada gama de produtos, nomeadamente os agrícolas.

Os sacos de ju ta eram, até há meia dúzia de anos, importados na sua total idade, da Pe­nínsula Industânica — a índia é o maior produtor mundial .

Um aspecto parcial do complexo fabril

A C O M P A N H I A TÊXTIL DO PÚNGUÈ, com o seu conjunto agro- industr ial , modif icou essa situação ni t idamente desfavorável, prevendo hoje, prat icamente, ao integral abastecimento de Moçambique.

A cultura do kenaf em Moçambique apareceu como um substi tuto da ju ta , de fácil adap­tação às diversas regiões da Província, com seguras possibilidades de garant ir o abastecimento de matér ia-pr ima à nossa indústria têxt i l de sacarias e grossarias e de vir a tornar-se um sólido esteio de exportação.

O kenaf constitui um valor económico de grande interesse para Moçambique, onde encon­tra condições ecológicas ideais para a sua cul tura.

Originário da índia, o kenaf cultiva-se em diversas regiões do mundo, principalmente na Tailândia (designado por ju ta do Sião), V ietname, China, Rússia, Pérsia, Egipto, Cuba, Espa­nha, Brasil e, agora, em Moçambique, já o maior produtor afr icano em cultura planif icada.

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Secção de tecelagem da fábrica

A importância do kenaf justif ica-se na medida em que se t ra ta de uma planta boa produtora de f ibra e menos exigente, em solo e cl ima, que a ju ta .

A cultura do kenaf é do mais al to interesse para a lavoura de Moçambique. Facilmente adaptável a uma grande variedade de condições ecológicas; de cultura fác i l ; mui to resistente a pragas e doenças — o kenaf garante ao agricultor uma certeza de êxito.

Ao agricultor evoluído, dispondo de meios que permitam uma mecanização quase to ta l , o kenaf garante largas perspectivas; para o pequeno agricultor, é uma rentabil idade assegu­rada; para o agricultor autóctone, pela faci l idade e natureza que requer, o kenaf pode considerar-se a cultura fami l iar ideal.

A Companhia eleva a sua produção anual de artefactos a oi to mi l e quinhentas toneladas. Consome nove mil toneladas de f ibra por ano. Tem ao seu serviço cento e dez empregados europeus e três mil operários africanos. Os seus investimentos actuais são de cerca de cem mil contos, sendo setenta e dois mil na parte industrial e vinte e oi to mi l no sector agrícola.

À frente desta grande organização encontram-se dois obreiros, cujos nomes é justo salien­tar. Em primeiro lugar mencionamos o DR. FREDERICO DA CRUZ RODRIGUES — o Presidente

Outra secção de tecelagem —• Tear automático

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do Conselho de Administração da COMPANHIA TÊXTIL DO P Ú N G U È — que presidiu aos al i ­cerces da sua fundação, orientando e conduzindo a Companhia durante os primeiros anos da sua actividade. Na Beira, o Eng.° ANTÓNIO SEROMENHO, que exerce as funções de Admi ­nistrador-Delegado.

Por tudo quanto fica exposto se verif ica que a COMPANHIA TÊXTIL DO PÚNGUÈ — pioneira neste sec to r— é uma grandiosa realidade ao serviço da economia da Província de Moçambique e de todo o terr i tór io nacional.

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SAMI COEN

SAMI COEN, cidadão i ta l iano, nasceu na Ilha de Rhodes. Com doze anos foi para Paris com seus pais, onde se f ixaram, e aí, na capital da França, fez os seus estudos. Em 1939, SAMI COEN decide-se a ir até à Rodésia do Sul, onde t inha famí l ia , e onde permanece alguns me­ses. Não gostando do ambiente, vai para a cidade da Beira, onde rapidamente faz amizades, e de tal modo lhe agradou o ambiente português, que o decidiu a fixar-se em Moçambique, na cidade da Beira.

SAMI COEN no seu gabinete de trabalho

De então para cá, SAMI COEN dedicou-se à indústria da madeira, tendo-se associado em 1942 à f i rma SERRAÇÃO DA COTA, LDA., organização que fundou juntamente com alguns portugueses residentes na Beira.

A serração situa-se na circunscrição de Cheringoma.

Desde que a sua organização, juntamente com mais três, fundaram a Fábrica de Contra­placados em 1955, denominada" «INDÚSTRIAS PORTUGUESAS DE MADEIRA, LDA.», SAMI COEN passou a dedicar-se à indústr ia dos contraplacados.

Em 1960, por sua exclusiva in ic iat iva, iniciou a construção de uma fábrica de «parquet» — de que é proprietário ú n i c o — tendo começado a laboração da mesma em 1963, com carác­ter experimental. Após dois anos de laboração, c fábrica exporta para alguns países africanos, vizinhos de Moçambique, e também para a Europa, e em breve será para quase todo o mundo.

A fábrica foi dado o nome de «MOZAMBO» e ao «parquet» a marca de «PARQUET M O Z A M B O » , cuja a l ta qualidade de madeiras com que é produzido lhe confere a posição de ser considerado como um dos melhores do mundo.

Para mais amplo conhecimento das vantagens que advêm da sua exportação, é interessante esclarecer que as encomendas de «parquet» vão directas e acabadas para os mercados consumi­dores europeus, já não como matér ia-pr ima.

Em épocas recuadas, as madeiras, bem como muitas outras matérias-primas produzidas em Áf r ica , eram exportadas em bruto —e ainda s ã o — enquanto que o «parquet» segue pronto a ser aplicado sem a necessidade de mais manufacturação.

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A fábri ca «MOZAMBO» emprega duzentos operários nativos e doze europeus, e as suas instalações fabris ocupam uma área de dois hectares, sendo a área coberta de quatro mil metros quadrados. A sua produção anual está prevista para duzentos mil metros quadrados, com certezas de aumento para os próximos anos.

Vista aérea das instalações da M O Z A M B O

Os salários despendidos anualmente pela organização elevam-se a dois mil e quatrocen­tos contos, igualmente com tendência para aumentar.

Deste resumo da vida e actividade do pioneiro SAMI COEN se conclui rapidamente da sua notável contribuição para o progresso e enriquecimento da Província de Moçambique, e que c tornou um pioneiro no sector das suas actividades industriais.

Esta organização part icipou na Feira Internacional de Mi lão de 1964, onde obteve grande êxito.

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A "IMPAL" — INDÚSTRIAS PORTUGUESAS DE MADEIRAS, LDA

A f i rma INDÚSTRIAS PORTUGUESAS DE MADEIRAS, LDA. tem as suas instalações fa ­bris de folheados, contraplacados, carpintaria e marcenaria mecânicas, a dez quilómetros da cidade da Beira, possuindo, também, uma serração no Panja, concelho do Búzi. No seu género, a « IPMAL» é uma pioneira.

Esta empresa foi criada no ano de 1948 — em cuja primeira fase de organização, apenas possuía a carpintar ia e mobil iário, bem como a serração do Panja, no Búzi, ampliando mais tarde, com as secções que hoje possui.

Vista geral da « IMPAL»

A empresa surgia da fel iz iniciat iva das f irmas «MADEIRAS COLONIAIS, LDA.», «EXPLO­RAÇÃO FLORESTAL DA BEIRA, LDA.», «SERRAÇÃO DA DOTA, LDA.» e «ALVES CORREIA & BULHA, LDA.», que pretenderam, com o seu empreendimento, dotar a Província de uma uni­dade industr ial cuja lacuna estava por preencher.

A t é então, os toros de madeira eram exportados para a Rodésia e Áf r ica do Sul, que, por seu turno, devolviam a madeira trabalhada. É evidente que tal processo, além de anacró­nico, era anti-económico, trazendo imensos inconvenientes.

Foi em Abr i l de 1955 que fo i , f ina lmente, inaugurada a fábrica de contraplacados, com a presença do Senhor Min is t ro do Ul t ramar, que se havia deslocado à Província de Moçambique.

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A fábrica e suas instalações possuem uma área de cem mil metros quadrados, sendo uma grande parte coberta. Está inteiramente equipada com maquinaria de origem alemã, do mais recente fabrico, sendo considerada, no género, a mais importante unidade industrial ao Sul do Equador. A lém de satisfazer as exigências do mercado interno, a «IPMAL» exporta em grande escala para a Rodésia, Zâmbia, Áfr ica do Sul, Malawi e Suazilândia; acidentalmente tem ex­portado para as Ilhas Maurícias e a Bechuanalândia, isto no que diz respeito a contraplacados, pois igualmente exporta madeiras para os países africanos, vizinhos de Moçambique. Na Euro­pa, fornecem, pr incipalmente, a Alemanha e a Inglaterra, de madeiras serradas.

No campo social, a empresa tem desenvolvido grande acção, dispondo de instalações para europeus e nativos, a quem é dada toda a assistência médica e englobadas as respectivas famí­lias. Possui um posto de socorros, com enfermeiros permanentes. Ainda dentro do plano de assis­tência, a empresa possui escolas para os operários indígenas, de ensino gratu i to.

A «IPMAL» possui central eléctrica pr ivat iva, instalações de vapor e t ratamento de águas, e um desvio privat ivo, em ligação com o Caminho de Ferro da Beira e a Trans-Zambezia Railways.

Um aspecto da serração

A empresa emprega cerca de mil operários nativos e t r in ta e cinco empregados europeus. Despende com a assistência social e médica, anua l , trezentos contos. Paga, anualmente, de salá­rios, seis mil e quinhentos contos. Capitais investidos : t r in ta mil contos.

Criando a indústria de contraplacados, a «IPMAL» veio incentivar de forma notável, a construção civ i l , o que estimulou o progresso nos ramos de carpintaria naval e civi l , assim como a fabricação de mobi l iár io, tornando possível o aproveitamento e divulgação de espécies, que até então permaneciam desconhecidas no seio da floresta.

No Distr i to de Manica e Sofala, rico de potencialidades de vária espécie, a « IPMAL» veio contribuir em grande escala, para o progresso e desenvolvimento não só deste distr i to como de toda a Província de Moçambique.

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ENG.° JOÃO MENESES CAIADO CABRAL

O Eng.° João Meneneses Caiado Cabral nasceu na Ilha da Madeira, na linda povoação de Santa Cruz. Cedo par t iu para a Metrópole, para prosseguir nos seus estudos, tendo-se formado err Engenharia Civ i l , na Faculdade de Engenharia do Porto.

No ano de 1944 veio para Moçambique, fixando-se na cidade da Beira, para onde veio contratado pelo Gabinete de Estudos do Plano de Urbanização da Beira. Terminado esse con­t ra to foi chefiar a Repartição Técnica da Câmara Munic ipa l , durante cerca de três anos. Em 1949 montou um escritório técnico de engenharia, com uma secção especializada em elaboração de projectos e cálculos, e outra secção de empreitadas de construção civi l .

Em 1962, o Eng.° João Cabral deu realidade a um seu empreendimento industrial de grande interesse económico, inaugurando a sua fábrica de plásticos, com uma área de dois mil metros quadrados, e possuindo, em continuação, uma área de terreno de seis mi l metros, para a expansão da fábr ica, no futuro. Esta possui três secções de fabrico : extruzão; injecção e soldagem a al ta frequência. Em fins de 1965 foi montada uma nova linha de fabrico, da secção de extruzão, para fabricar folha plástica para a confecção de sacos.

Actua lmente, a fábrica tem empregado em máquinas, ferramentas e moldes, o capital de três mi l e seiscentos contos. Tem ao seu serviço sete empregados europeus e vinte e sete em­pregados nativos. Paga de salários anuais, cerca de seiscentos e cinquenta contos. A sua pro­dução anual é de cerca de três mil contos, com tendência para aumentar. Por enquanto, toda a produção é para abastecer a Província.

Um pormenor da fabricação de plásticos

Neste género de indústr ia, a FÁBRICA DE PLÁSTICOS DE MOÇAMBIQUE é a pioneira no Distr i to de Manica e Sofala, ficando-se a dever esta iniciat iva ao Eng.° João Meneses Caiado Cabral, que exerce ainda o cargo de vice-presidente da Associação Comercial da Beira e a gerência de algumas f irmas comerciais.

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CARLOS FERRÃO

O pioneiro Carlos Ferrão nasceu em Lisboa, tendo vindo para Moçambique em 1922, com a idade de 16 anos.

Como t inha em Lourenço Marques uns tios, a sua ida para Moçambique foi proposta por eles, que o colocaram numa propriedade agrícola que possuíam conjuntamente com uma can­t ina. Situava-se no Bilene — h o j e local f a m o s o — cujo percurso entre a capital da Província e o Bilene se faz, actualmente, em três horas, levava, então, três dias!

O baptismo no mato, deste pioneiro, foi estar isolado pelas águas, durante dois meses, devido às cheias de verão. A té 1924 manteve-se a trabalhar com seus tios.

Em 1925 colocou-se numa f i rma — e n t ã o i ng l esa— «Delagoa Plantations», aí se conser­vando até 1928. No ano seguinte, colocou-se na f i l ia l de Inhambane da f i rma lourenço-mar-quina «Delagoa Bay Agency», onde permaneceu até Dezembro de 1938, indo depois para a sede da f i rma, onde se conservou até 1947, a l tura em que pediu a demissão do seu lugar para se estabelecer.

Na capi ta l , associou-se a uma f i rma já existente, hoje mui to conhecida, a Agência Mer­cant i l , Lda., à qual deu grande impulso.

Em Janeiro de 1955, Carlos Ferrão, sempre fremente de actividade, foi para a cidade da Beira gerir a sucursal da f i rma, que então t inham criado naquela cidade.

Alguns anos depois, Carlos Ferrão comprou a sucursal, que deixou de pertencer à f i rma de Lourenço Marques, passando a denominar-se «VULCANO MERCANTIL , LDA.». A lém desta, o pioneiro Carlos Ferrão é sócio da f i rma beirense «CASA NOVA, LDA.». Em 1965 fundou, junta­mente com outros sócios, uma indústria na Beira, a que foi dado o nome de «FUNDIÇÃO DA BEIRA, LDA.», que iniciou a sua laboração no f inal desse ano.

Durante a sua longa permanência em Moçambique — 4 5 a n o s — apenas se deslocou à Metrópole, em férias, duas vezes!

Carlos Ferrão é mais um pioneiro de vontade férrea, que tem contribuído para o pro­gresso e valorização da Província de Moçambique!

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ARMANDO DIAS MONTEIRO

O pioneiro A R M A N D O DIAS MONTEIRO nasceu na freguesia de Lavos, próximo da Fi­gueira da Foz. Seu pai veio para Moçambique nos princípios deste século.

Em 1912, A R M A N D O DIAS MONTEIRO foi mandado por seu pai para Bombaim, índia, onde frequentou uma escola, ali permanecendo três anos, ao f im dos quais veio para a cidade da Beira, onde seu pai se t inha f ixado. O primeiro emprego que teve Armando Dias Monteiro foi no Nat ional Bank of South A f r i ca , hoje o actual Barclays Bank. Ao f im de um ano ingres­sou na Companhia de Moçambique, na secção comercial, tendo t ido outros empregos, um dos quait foi na f i rma East Af r ica Shiping Agency, onde se manteve até se dedicar ao ramo de exploração de cinemas, em 1928.

0 Cinema Nacional da Beira

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Os primeiros cinemas que exist iram na Beira foram o «Vitor ia Hall» e o «Edison Hal l». O primeiro ardeu em 1918, e era construído de madeira e zinco — u m b a r r a c ã o — e a sua cons­trução fora fei ta em 1901, sendo então explorado pelos pioneiros — j á fa lec idos— Barreiros e Crusse Gomes. Existiu no mesmo local onde hoje se situa o C INEMA OLYMPIA , o «Edison Hall». Na mesma época do cinema «Olympia» existia o cinema «Excelsior», que funcionou num prédio ant igo, e foi mais tarde adaptado para uma dependência dos Correios. Também foi edificado um pequeno cinema, já com condições próprias, que continuou com o mesmo nome, explorado pelo pioneiro Antón io Moreira.

Esse cinema veio a arder no ano de 1931. Nessa a l tura, a cidade f icou privada de cinema durante seis meses. Foi então que A R M A N D O DIAS MONTEIRO se decidiu a adaptar o Pavi­lhão de Desporto do Sport Lisboa e Beira, para exibição de f i lmes, e adaptando, mais tarde, umas dependências da Câmara Munic ipa l , legadas pelo pioneiro Dr. Lacerda, e onde se mante ve até 1940, ano em que iniciou a construção do actual C INEMA OLYMPIA, que foi inaugu­rado em 1942, e por ele explorado. Em 1942 outro cinema foi inaugurado —o C INEMA REX — hoje também convertido em repartições dos Correios. Alguns anos depois, um grupo de cidadãos gregos, constituído por seis irmãos — j á naturalizados portugueses, de nome PARASKEVA — construíram um cinema a que foi dado o nome de SÃO JORGE», com capacidade para cerca de mil e duzentos lugares, fe i to em moldes modernos, de belas linhas arquitectónicas. Na mesma altura, a Empresa de Edificações da Beira, Lda. construía outro cinema, a que foi dado o nome de NACIONAL . O SÃO JORGE e o N A C I O N A L foram inaugurados, respectivamente, em 1954 e 1956.

O moderno Cinema S. Jorge

Assim, exist iam na Beira três empresas exploradoras, que em 1957 decidiram fundir-se numa só organização, a que deram o nome de «CINEMAS DA BEIRA, LDA.» que administra todos os cinemas existentes. Essa organização é dir igida por três representantes dos capitais investidos, um dos quais é o pioneiro Armando Dias Montei ro, que vive na Beira há quarenta e oito anos, tendo sido ele quem trouxe à Beire o primeiro f i lme sonoro, chamado RIO RITA.

A vida do pioneiro Armando Dias Montei ro está ligada à história das empresas explorado­ras de cinema, na Beira, de que ele foi um dos principais obreiros; proporcionando aos bei-renses essa agradável diversão, em terras de tão exíguas distracções.

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AERO-CLUBE DA BEIRA

UMA AGREMIAÇÃO AO SERVIÇO DE PORTUGAL, EM MOÇAMBIQUE

Entre as agremiações beirenses, uma das mais destacadas pela sua acção é, sem dúvida alguma, o Aero-Clube da Beira.

Fundado em 1936 por alguns entusiastas, entre os quais o Comandante Armando de Robo­redo e Saul Nogueira, teve os seus Estatutos aprovados por alvará de 30 de Novembro de 1936, do Governo do Terr i tór io de Manica e Sofala (Companhia de Moçambique).

Em 8 de Janeiro de 1937 teve lugar a suo primeira assembleia geral para eleição dos corpos gerentes, que f icaram assim constituídos :

Assembleia Geral : Dr. Fernando Nunes da Silva, José Rodrigues, Manuel Magalhães, João Moinhos e Carlos Silva.

Direcção : Dr. José Maldonado Horta do Vale, Fernando Félix de Faria, Saul Nogueira W. X. Braancamp e Manuel V. Dias dos Santos.

Conselho Técnico : Comandante Armando Roboredo, Carlos Picolo e Telmo Nogueira. Conselho Fiscal : Dr. Joaquim Gomes Rascão, Elísio R. de Carvalho e Eurico Santos. Bem recebida a formação desta agremiação, não tardou que à sua volta se juntasse ele­

vado número de entusiastas, logo se pensando HG compra de um avião. Lançada a ideia, foi ela bem acolhida e mercê do auxíl io da Companhia de Moçambique, Câmara Municipal da Beira, Notícias da Beira, Sport Lisboa e Beira, Cinema Olímpia, sócios, comércio local e de uma maneira geral a população da Beira, conseguiu-se o montante necessário para a compra do primeiro avião.

Bênção do primeiro avião adquirido pelo Aero-Clube

Este, um «Tiger -Moth», com o número de série 3606, foi adquir ido em Salisbúria, t r ipu­lado pelo Comandante Roboredo e como navegador Saul Nogueira, chegou à Beira em 23 de Setembro de 1937.

Em homenagem à cidade que contr ibuiu para a sua compra, o avião que recebeu a ma­trícula CR-AAG foi baptizado — c e r i m ó n i a a que se deu então o devido relevo, como aliás merecia — com o nome de Beira, tendo-se mant ido ao serviço por quase 1 1 anos, até que, com 1664 horas de voo, f icou destruído num acidente em Maio de 1948.

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Ainda em 1937 abriu o Aero-Clube da Beira a sua primeira Escola de Pilotagem, sob a direcção do Comandante Armando de Roboredo, assistido pelo piloto instrutor Saul Nogueira, f icando a cargo de Manuel V. Dias dos Santos e Joaquim Picardo.

Logo 25 interessados se inscreveram, mas por haver um só instrutor, houve que fazer-se um sorteio, para ver quem seriam os três primeiros alunos, cabendo a honra a José de Maga­lhães, Antón io Mar ia da Silva Ramos e D. Olímpia do Espírito Santo, mas nenhum destes con­seguiu ser brevetado.

Da segunda escola de pi lotagem, que começou a funcionar em 1938, f izeram já parte 10 alunos, e dela saíram os dois primeiros brevetados do Aero-Clube da Beira : Eng.° Sérgio Medeiros e Alber to Garizo, a que se seguiu pouco depois Francisco Dias dos Santos.

Com a ideia em mais e melhor, o Aero-Clube da Beira não mais parou, adquirindo mais aparelhos, e continuando a formar pilotos civis, tendo nestes 33 anos brevetado cerca de 150 pilotos.

Mas a sua acção não se l imi tou somente a formar pilotos, foi também cultural e altruísta. Mercê do entusiasmo e dedicação do então seu presidente da Direcção, Abí l io Antunes dos

Santos, também radioamador, ofereceu este o seu posto emissor, nascendo assim a Emissora do Aero-Clube da Beira, que através do éter tem levado a voz da Beira além-fronteiras.

Os seus aviões onde quer que sejam necessários têm estado presentes, quer em buscas, lançando medicamentos e víveres ou buscando feridos.

Por tudo, o Aero-Clube da Beira, uma agremiação que honra a Beira, honrando Moçambi­que e Portugal, se não é, no género a mais importante, certamente é das mais importantes.

A sua apreciável f rota aérea, forma actualmente a Força Aérea Voluntár ia n.° 3 0 1 , agre­gada à Base Aérea n.° 10.

Continua assim o Aero-Clube da Beira, hoje como ontem, e agora mais do que nunca, mantendo bem alto e vivo o seu lema : SERVIR VOANDO.

A AVIADORA MAIS JOVEM DO AERO-CLUBE DA BEIRA

A jovem «breverada» junto de seu pai. o Eng." Jorge Jardim

após ter sido homenageada com flores

Isabel Mar ia de Sousa Pereira Jardim é a mais jovem «brevetada» do Aero-Clube da Beira, tendo sido «largada» em voo no dia 28 de Março de 1964, e em Dezembro de 1965 fez o exame para receber o «brevet» de pi loto.

A simpática jovem é f i lha primogénita do Engenheiro Jorge Pereira Jardim, personalidade bem conhecida.

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Desde pequenina que se habituou a voar, tornando-se uma adepta da Aviação. Voava amiudadas vezes com seu pai , que possui avião part icular, vindo daí o seu entusiasmo e interesse.

Parecida, física e espir i tualmente, com seu pai, irrequieta, inteligente e de irradiante sim­pat ia, Isabel Mar ia confidenciou-nos o seu desejo de se formar em Engenharia Química, para c que ia ingressar na Universidade, uma vez que já t inha concluído o 7° ano do Liceu.

É muito natural que o exemplo e entusiasmo desta jovem sirva de estímulo a outras jovens moçambicanas. O saber não ocupa lugar e o «brevet» de pi loto pode, às vezes, ser út i l num momento de emergência.

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MANUEL RODRIGUES PINHO

DESPORTISTA, JORNALISTA E HISTORIADOR

Manuel Rodrigues Pinho nasceu em Ovar, a 1 de Outubro de 1918, tendo ido para a Beira com a idade de 15 meses, onde seus pais se radicaram. Até à terceira classe estudou na Beira, seguindo, depois, para a Metrópole, onde permaneceu até concluir o Curso dos Liceus. Em 1936 regressa à Beira e pouco depois coloca-se na Shell, onde continua a ser funcionário.

Praticou desporto até aos 24 anos, abandonando-o por motivos de força maior. No entanto, continuou ligado a ele e aos seus problemas. Assim, entre 1941 e 1960, ocupou, em diversas Associações, elevados cargos, fazendo também parte de inúmeras comissões para elaboração de Estatutos e Regulamentos.

Paralelo a este período, iniciou em 1946 a sua colaboração no jornal «Notícias», na sec­ção da Beira. Principiou por escrever sobre assuntos desportivos, passando, depois, a colaborar diariamente e sobre outros assuntos. Conjuntamente, começou a interessar-se pela História da Beira e do seu Distr i to. Durante dois anos consecutivos escreveu artigos int i tulados : «Subsí­dios para a História da Beira», «A Beira de Outros Tempos», «A Beira Pr imi t iva», «Poeira dos Arquivos», «Coisas de Tempos Idos», e t c , contr ibuindo de modo notável para a conservação e conhecimento da História daquele Distr i to, que em alguns casos, sem a sua interferência, se teriam perdido.

Manuel Rodrigues Pinho, homem recto, de curioso espírito, e um grande coração sempre pronto a dar-se a boas obras, tem tido sempre uma vida muito act iva, mult ipl icando-se. De Abr i l de 1957 a Maio de 1960 foi presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Ferroviários de M ó ­nica e Sofala e do Pessoal do Porto da Beira, precisamente num período agudo, em que teve de despender grandes esforços para que a secretaria desses sindicatos desse determinadas rega­lias para o seu pessoal, as quais se impunham e eram de toda a just iça, o que conseguiu.

Em 1963, Manuel Rodrigues Pinho foi convidado para o cargo de vereador da Câmara M u ­nicipal da Beira, que aceitou com a condição de ser suplente. No f im desse ano teve de passar à efectividade, o que cont inua, na actualidade. Por ú l t imo, em 1965, foi investido no cargo de presidente da Comissão Adminis t rat iva dos Serviços Municipal izados, cargo que, por força de lei, t inha de ser ocupado por um dos membros da Câmara, razão pela qual foi levado a ter de aceitar mais essa espinhosa tarefa.

Resta ainda dizer que Manuel Rodrigues Pinho é um inveterado coleccionador, possuindo colecções de moedas, notas, autógrafos e outras curiosidades valiosas.

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JOSÉ PÁDUA

UM ARTISTA PLÁSTICO BEIRENSE

José Pádua nasceu na Beira, no ano de 1934. A sua primeira exposição individual foi em 1960, na Beira, com o patrocínio do Centro de Cultura e Ar te e o Cine-Clube da Beira. Nessa primeira exposição, apresentou-se com gravuras, desenhos e óleos, exposição que constituiu o seu primeiro sucesso.

Depois, em conjunto com outros art istas, expôs em 10 exposições, em Áfr ica.

Em princípios de Fevereiro de 1964, a Case dos Estudantes do Império, em Lisboa, orga­nizou numa das suas salas uma exposição do art ista moçambicano JOSÉ PÁDUA, composta por desenhos e pinturas, que consti tuiu um êxito.

José Pádua junto de um seu trabalho

O «Diário de Notícias» de Lisboa, de 13 de Fevereiro, pela pena de Már io de Oliveira, diz, referindo-se a JOSÉ PÁDUA : «Felicitamos sinceramente a fel iz in ic iat iva, porquanto aquela casa dos Estudantes Ultramarinos, por onde passaram alguns dos valores mais representativos da nossa actual cul tura, compreendeu, e mui to bem, que é ainda pelas actividades estéticas, que melhor se pode entender a l inguagem universal do fenómeno humano».

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Continuando a referir-se a JOSÉ PÁDUA, o mesmo jornalista diz : «Tivemos oportunidade de tomar contacto com um dos melhores desenhadores, não só de Moçambique, como também da Metrópole. O que mais nos impressiona nos trabalhos de PÁDUA é o seu entendimento da unidade do seu mundo emocional, onde a inspiração di tada, como é lógico, pelos diversos esta­dos de espírito, nos dá em cada obra um tão forte sentimento humano aue é capaz de levar qualquer observador atento a dizer : A obra de arte é, a f ina l , uma ponte de matéria entre uma alma e outra».

E o jornalista termina, dizendo : «Temos esperanças de que a Fundação Gulbenkian, a «Testa de Ponte» da revolução do ambiente cultural português, a quem se deve já em Mo­çambique, uma grandiosa obra de acção cu l tu ra l , chame a si mais esta realidade artística moçambicana, que é, incontestavelmente, JOSÉ PÁDUA, já hoje um dos melhores desenhadores portugueses».

Também o jornal «Artes e Letras», de 12 de Fevereiro, se refere a essa exposição de JOSÉ PÁDUA, numa crítica de Al f redo Margar ido : «Os problemas propostos por José Pádua são, efectivamente, uma visão profunda e sem l imites, tanto da própria p intura, como de uma reali­dade humana, a realidade de um homem negro moçambicano, considerado já não como elemento exótico, mas antes como único elemento que importa à visão do pintor. Pádua el imina volunta­riamente qualquer presença supérflua para se defrontar apenas com o homem, com os proble­mas que lhe são sugeridos por esse homem e cujc resolução plástica vai tentando. José Pádua não procura, em nenhum momento, seduzir-nos com uma representação de um mundo falsa­mente exótico, pois que o mundo por ele considerado, é um mundo completamente normal, o seu mundo».

E a terminar, diz ainda : «A participação do Ar t is ta nesse mundo f ica assim bem patente, e é impossível de destrinçar deste conjunto de desenhos. Uma participação primeiramente afec­t iva, depois combativa, na medida em que lhe importa, acima de tudo, reflectir e interpretar uma verdade humana, que não pode ser ocultada nem traída pelo t ra jo, pela paisagem ou pela cor da pele. Eis porque se deve sondar em José Pádua não só um extraordinário desenhador, mas também um art ista conscientemente moçambicano».

Por estas críticas metropol i tanas, se avalia do real valor deste jovem art ista beirense, ainda no limiar da sua carreira art íst ica, mas já francamente prometedora. Em Maio de 1965, JOSÉ PÁDUA voltou a expor individualmente no Centro de Arte e Cultura da Beira, com êxito. O crí­tico do jornal «Diário de Moçambique» af i rma a propósito desta exposição de Pádua : «José Pádua é um art ista plástico de acentuada sensibilidade, o que lhe permite apreender a beleza do mundo em que vive, f ixando-a na tela. Esta exposição permit iu constatar que o art ista evoluiu no sentido de um maior número de temas. Mas há, assim mesmo, uma linha de continuidade na sua obra — os grandes movimentos que focam o homem, colectivamente; os trabalhos que exigem a coordenação de muitos braços, a união de muitas vontades. O art ista interpreta esses fenómenos transmit indo um sentimento trágico, comunicando a angústia que existirá na base desses movimentos e trabalhos. Gostámos desta exposição, sobretudo o seu esforço no sentido de uma evolução que pode traduzir-se por vi tal idade, por um dinamismo válido, que af i rma ao mesmo tempo a sua capacidade criadora e a sua potencialidade estética».

Nesta exposição de que damos alguns passos da crít ica, muitos dos trabalhos expostos nos impressionaram fortemente, destacando desses, «MÃE» e « INFÂNCIA» .

JOSÉ PÁDUA é t ímido. Sentimos nas suas palavras, uma ânsia enorme, um desejo pre­mente de se expandir, de se comunicar por meio da sua pintura, da sua Ar te . Porém, o mundo restrito em que vive, cerceia, de certo modo, os seus voos! Merecia uma ajuda, de modo a per-mit i r - lhe ir conhecer os grandes centros artísticos mundiais, que lhe abrir iam novos horizontes.

Já alguns quadros seus foram levados para a América do Norte, onde serão expostos, e isso dá-lhe esperanças . . . O seu grande desejo seria conseguir uma Bolsa de Estudo, que lhe permitisse ir aperfeiçoar-se, estudar, em escolas europeias e contactar com outros artistas plásticos.

JOSÉ PÁDUA é um valor jovem na vida cultural de Moçambique.

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CENTRO DE CULTURA E ARTE DA BEIRA

O Centro de Cultura e Ar te da Beira é já uma bela realidade no plano cultural da cidade da Beira, mercê do esforço e boa vontade de alguns beirenses. Este teve início em Novembro de 1959. Foi seu primeiro presidente da Assembleia Geral, o Dr. Joaquim Nunes de Carvalho, e como secretários, D. Mar ia Emília Pomba Delgado Baltazar e capitão Antón io Octávio Dias Machado.

À Assembleia Geral presidiu o Dr. João Afonso dos Santos, tendo como secretários, João Peixe Dias e Valdemiro Brito Dias. A Direcção era composta por : Presidente, Jaime Salinas de Moura ; Vice-Presidente, Padre Manuel Ferreira da Silva; e Secretário, Már io Isaac.

Na primeira assembleia efectuada, foi proclamado sócio honorário n.° 1 o coronel de A r t i ­lharia Alber to Macedo Pinto, então Governador do Distr i to de Manica e Sofala.

Actualmente é presidente da Assembleia Geral o Dr. Adol fo Arez da Silva; presidente do Conselho Fiscal, o Dr. Tomé dos Santos Júnior, e presidente da Direcção, o Arqui tecto Paulo de Melo Sampaio.

O Centro de Cultura e Ar te da Beira tem promovido conferências, exposições de arte plás­t ica, espectáculos culturais de teatro, música, poesia, etc.

Numerosas personalidades no mundo das Letras, da Ar te e da Música têm passado pelo Centro, desde o seu início até hoje.

O Centro, além destas actividades, mantém cursos de Escultura, Desenho, «Bal let», Pintura e Música. O Centro também mantém contactos com outras organizações culturais portuguesas e estrangeiras.

O Centro de Cultura e Ar te da Beira junta a sua acção cultural a muitas outras mani ­festais de progresso, de que a Beira tem sido fé r t i l , pois é uma cidade com pouco mais de cinquenta anos, cujo progresso e desenvolvimentc tem bases na tenacidade e na iniciat iva auda­ciosa dos seus habitantes, que umas vezes secundando, outras precedendo até as iniciativas oficiais, numa antecipação que tem o seu quê de alucinante, têm levado por diante projectos e realizações do mais diverso teor, que além de serem a mais legít ima consagração e perpetua­ção dos heróicos pioneiros do velho A R U Â N G U A , são cinda os criadores daquela vida e da­quele esforço luso-tropical que há-de ser sempre a característica mais saliente da nossa lusita-nidade, nestas terras que crescem dia-a-dia, mercê de um esforço contínuo e colectivo.

Por isso, estamos certos de que, os dirigentes actuais do Centro de Ar te e Cultura da Beira, continuarão no seu caminho para um maior progresso e alargamento espiritual em terras de Manica e Sofala, principalmente.

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RÁDIO PAX

EMISSORA CATÓLICA DA BEIRA

RÁDIO PAX —a primeira Estação Emissora Católica de radiodifusão do Ultramar Portu­g u ê s — completa em Outubro próximo, 16 anos. Com efeito, ela nasceu nos vãos de uma escada cia Escola de Artes e Ofícios da Beira, em 1954, onde foram montados dois emissores de 50 e 375 watts, respectivamente.

A iniciat iva part iu do Rev. Padre Afonso Simões, então pároco de Nossa Senhora do Rosário —a Catedral da B e i r a — que viu numa emissora o único meio de levar Cristo a muitas regiões do interior da Província, aonde não chegasse a actividade missionária.

Embora a fundação da Emissora tivesse sido solicitada ao Governo-Geral, em 31 de Julho de 1953, só a 4 de Outubro de 1954 começaram as emissões experimentais.

Vista aérea da CATEDRAL, onde funciona a RÁDIO PAX

A sua inauguração teve lugar a 30 de Outubro, com a presença das autoridades da Beira, tendo pronunciado uma saudação, no acto, o seu fundador Rev. Padre Afonso Simões, bem como o saudoso Bispo da Beira, que era então D. Sebastião Soares de Resende.

As emissões iniciaram-se com duas horas por dia, havendo ao domingo, de manhã, a trans­missão da Missa para os doentes. Hoje, conta com 9 horas de emissão diária e com 16 horas de emissão aos domingos e feriados. A programação é variada, criteriosamente distribuída e esco­lhida, de forma a satisfazer os mais variados gostos.

O problema mais di f íc i l de resolver, no início, foi a fa l ta de receitas. De princípio, todas as despesas foram suportadas pela Ordem Franciscana. Depois, foi criada a Liga dos Amigos do RÁDIO PAX, e vieram, também, outros auxílios. A té 1959 deram a sua colaboração gratu i ta­mente, técnicos e locutores.

São dignos de especial relevo na obra de RÁDIO PAX, o seu fundador pr incipal , Rev. Pa­dre Afonso Simões — q u e fo i , depois, o Delegado Provincial dos Franciscanos em Moçambique — o Rev. D. Ernesto Costa, depois Bispo de Inhambcne; o Rev. Padre António Gonçalves — q u e à RÁDIO PAX se dedicou vários a n o s — e Carlos Costa, colaborando como programador, monta­dor, e t c , que mui to contr ibuíram para o desenvolvimento e progresso.

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A RÁDIO PAX tem, diar iamente, desde Agosto de 1964, um programa nat ivo, falado nos dialectos «Xissena» e «Maxangane», composto de variadas rubricas : Formação Cristã, Des­porto, Higiene, Medicina Social, Noticiários, etc. Esta emissão at inge o f im em vista, pois é muito escutada pelas populações nativas.

O actual director de RÁDIO PAX é o Rev Dr. Manuel dos Reis Mi randa, que foi um dos locutores da primeira hora da vida da Emissora Católica beirense, assumindo a Direcção em Outubro de 1963. Como subdirector e chefe de produção encontra-se o Padre Manuel Carreira das Neves, que o assumiu em 1964, desenvolvendo notável acção e servindo-a com o maior carinho.

A emissora possui um terreno para construção do seu futuro edifício, onde serão instaladas todas as secções necessárias à sua missão, principalmente cristã e cul tura l , da RÁDIO PAX. Por enquanto t rabalham em instalações provisórias, nas dependências da Escola de Artes e Ofí­cios da Beira.

RÁDIO PAX t inha um subsídio do Governo-Geral de 600 contos anuais, que em 1965 baixou para 300.

O «sonho» do Padre Manuel Carreira das Neves é que RÁDIO PAX se faça ouvir na Europa, numa evocação diár ia, lembrando a acção civi l izadora de Portugal em Áf r ica , neste simples «slogan» :

«Aqui Beira, Moçambique! Província de Portugal, na Á f r i ca ! Estão a escutar a RÁDIO PAX, Emissora Catól ica!» O RÁDIO PAX é obra dos Missionários Franciscanos, cuja acção civi l izadora desnecessário

se torna encarecer.

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MOTEL ESTORIL — UM VALOR TURÍSTICO DA CIDADE DA BEIRA

O MOTEL ESTORIL é um empreendimento turístico notável, que muito veio contr ibuir para valorizar a zona da beira-mar da cidade da Beira.

Esta grande obra de aproveitamento turíst ico, deve-se a CARLOS BRITO, que por simples acaso, construiu a sua habitação part icular na zona marí t ima do Macú t i , frente ao mar, local aprazível da Beira. Isto aconteceu em 1956. Como aquele local é ópt imo, pois tem uma enorme extensão de praia, os rodesianos em especial, sentiam-se atraídos por esta parte da Beira, cuja extensa praia lhes proporcionava belas férias.

Assim, CARLOS BRITO começou por alojar em sua casa amigos estrangeiros, que preten­diam passar fins-de-semana junto ao mar, porque os hotéis f icam distantes — no centro da c i d a d e — o que decerto modo era incómodo. Junto à praia nada havia, no capítulo de aloja­mentos.

Aspecto do MOTEL ESTORIL

Esses estrangeiros sugeriram a CARLOS BRITO — h o m e m de ideias l a r g a s — que edi f i ­casse um hotel , a l i , junto do mar. Em 1958 estava construída uma casa ao lado da sua, pos­suindo 14 quartos — e que seria, a f ina l , o princípio de uma grande unidade hoteleira. Ut i l izando as duas habitações simultaneamente, fazia do rés-do-chão da ant iga moradia, o escritório, a recepção e a sala de jantar , e no 1.° andar, uma elegante e requintada «boite». Como cada vez era maior a afluência de turistas, fez um acampamento próprio para os turistas que t raz iam as suas «roulotes», que foi aumentando progressivamente —e continua a aumentar, porque o af luxo de turistas não p á r a — até ser o que hoje já é, com duzentas casinhas airosas e colo­ridas, possuidoras de tudo quanto é necessário para se passarem umas boas férias! É um acampamento moderno, embelezando a orla da extensa praia.

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Em fins de 1958, foi dado início à primeira fase da parte maior do novo motel — r é s - d o --chão e três pisos — onde f icam situados os Apartamentos, modelarmente decorados, num total a'e duzentos. No rés-do-chão do edifício situam-se o restaurante, o «self-service», o «snack-bar», café e esplanada, tabacarias, pequenos estabelecimentos de «souvenirs».

Presentemente, o MOTEL ESTORIL tem um movimento anual de quarenta e dois mil tur is­tas, vindos, pr incipalmente, da Rodésia, do Malawi e da Áfr ica do Sul.

O MOTEL ESTORIL tem ao seu serviço permanente, cinquenta empregados europeus e cem nativos.

Com esta obra turíst ica, muitíssimo valorizada f icou a zona da beira-mar da progressiva e bonita cidade da Beira — q u e pela tenacidade e vontade dos por tugueses— nasceu e cresceu dos pântanos, como por mi lagre!

O af luxo turístico é cada vez maior, pois a Beira é o centro da grande Província, cujo porto serve a continuação das rotas terrestres dos paízes vizinhos.

CARLOS BRITO merece a consideração de todos pela obra já realizada, que muito veio fomentar o turismo em Moçambique, na capital de Manica e Sofala.

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A CINEGÉTICA NO DISTRITO DE MANICA E SOFALA

O DISTRITO COM MAIOR NÚMERO DE COUTADAS-SAFARIS

A Caça desde sempre que consti tuiu diversão mui to apreciada por ambos os sexos, embora com predomínio no homem. É em Áfr ica que a Cinegética atinge o seu ponto a l to, onde a possibilidade de caçadas emocionantes são fáceis de efectuar, em virtude da riqueza da fauna em conjunto com um «habitat» pródigo de belezas. Deste modo tudo se conjuga para oferecer aos praticantes da caça momentos inesquecíveis.

Em Moçambique, muitos pioneiros dedicaram os seus primeiros tempos de adaptação à prática da caça; uns por prazer, outros fazendo dela profissão. Nenhum, porém, se lembrou de aproveitar a cinegética-turismo, para fomentar riqueza.

Por informações colhidas, podemos dizer que a ideia do turismo cinegético par t iu , em primeiro lugar, de Gustav Gueix, que embora nunca o tivesse praticado a sério, foi ele, todavia, quem a incut iu no espírito de outro pioneiro — A l b e r t o Novaes de Sousa A r a ú j o — d a n d o - l h e sugestões para tal in ic iat iva, fanzendo-lhe ver as vantagns normes que daí podiam advir.

Pousada do Acampamento de «KANGA N'THOLE»

Assim, poderá dizer-se que o pioneiro da cinegética turíst ica em Moçambique foi Alberto Novaes de Sousa Araújo. Seguidamente vamos traçar uma sumária biografia deste pioneiro.

Nasceu na Metrópole, vindo com seus pais para Moçambique em 1905, apenas com 5 anos. Seu pai t inha sido colocado na Beira com as funções de Comandante da Polícia, e também, no Serviço Urbano da Cidade, que nessa época correspondia ao cargo actual de Presidente da Câmara. Os primeiros estudos foram feitos em Lourenço Marques, seguindo, depois, para a Áfr ica do Sul, frequentando os colégios de Joanesburgo.

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O Almirante Sarmento Rodrigues num «Safari» com Alberto Araújo

A cinegética bem cedo o a t ra iu , iniciando-se na sua prát ica aos 16 anos, e tão-sòmente pelo prazer que lhe proporcionava.

Alber to Novaes de Sousa Araújo iniciou a sua vida de trabalho em 1919, como funcio­nário dos Caminhos de Ferro da Beira, cuja concessionária era uma companhia inglesa. Mais tarde, em 1940, foi convidado pelo Governador do Distr i to, para Superintendente da «Trans--Zambezia Railways», onde permaneceu durante 19 anos.

Foi em 1951 que ele fundou o primeiro safari de cinegética turíst ica numa coutada situada na região de Inhaminga, no local denominado Cheringoma. Ao safari foi dado o nome de KANGA N T H O L E SAFARI — u m a denominação indígena, que quer dizer «galinha do mato azul da f loresta». Este safari possui um acampamento com edifícios e acampamentos móveis. Como caçador, este pioneiro tem os seguintes palmarés : matou 99 leões; 141 leopardos; 103 elefantes; umas largas centenas de búfalos e outras espécies. Igualmente foi um grande at irador de chumbo, tendo morto algumas centenas de perdizes, pombos verdes, rolas, galinhas do mato, coelhos e narcejas.

Há já muitos anos atrás, um dos seu divert imentos, era ir nos fins de semana para as planícies da Munhava, caçar narcejas. Acompanhava-o, muitas vezes, outro pioneiro, o advo­gado Dr. Joaquim Teles da Silva Palhinha, que na Beira vive há muitos anos.

A lber to Novaes de Sousa Araújo foi sempre um bom atirador, part ic ipando, uma vez por outra, em caçadas. Hoje, a sua coutada faz parle da Sociedade de Safaris de Moçambique, Lda.

Faleceu quando este livro se encontrava no prelo.

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SOCIEDADE DE SAFARIS DE MOÇAMBIQUE, LDA.

E OUTRAS ORGANIZAÇÕES SIMILARES

J. Simões com o Dr. Beck, num «Safari» em 1957

Manica e Sofala tem no seu distr i to quinze coutadas dedicadas ao Turismo Cinegético. Até 1965 eram todas independentes. Porém, a part i r daquele ano, o Banco Nacional Ultramarino tomou a decisão de formar uma sociedade constituída por todos os proprietários de coutadas que a ela quisessem associar-se, f icando o Banco como principal accionista. Das coutadas exis­tentes, duas f icaram a trabalhar independentemente. São as de A. Fajardo e Amílcar Coelho. Treze ingressaram na Sociedade de Safaris de Moçambique, Lda., de que fazem parte : Alberto Novaes de Sousa Araújo , José Joaquim Simões, Garcia, Vie i ra, D. Armanda, Francisco Salzoni e Agência de Viagens e Turismo, Lda.

OS CONDES DE C I N Z A N O — Pai e Filho — e m 1959

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Todas as coutadas se encontram opt imamente apetrechadas, por forma a servirem o me­lhor possível o f im a que se destinam.

Justo é salientar aqu i , José Joaquim Simões — g r a n d e caçado r— possuidor de três cou­tadas, que tem sido um activo impulsionador da cinegética turística em Moçambique, que mui to lhe deve já. Grande entusiasta da caça, José Joaquim Simões tem um grande palmarés.

Em 1959 bateu o recorde de caça, de todo o mundo, abatendo os animais mais corpulentos.

0 período de caça no Distr i to de Manica e Sofala ínicia-se a 1 de Abr i l estendendo-se até 31 de Dezembro, todos os anos. Um turismo bem organizado poderá levar, em cada época, mais de uma centena de turistas a todas as coutadas.

O valor de divisas que tal incremento pode trazer à Província, desnecessário se torna encarecê-lo, por tal forma é visível.

A MARQUESA DE VILAVERDE e SENHORA AZNAR, em 1964

A terminar, diremos que altas personalidades estrangeiras têm part icipado em safaris moçambicanos, predominando os americanos, seguidos dos espanhóis.

De entre esses visitantes, citaremos ao acaso alguns nomes que nos ocorrem : Marqueses de V i la Verde, Duquesa de A lba, uma irmõ e cunhado do Xá da Pérsia, o conhecido toureiro espanhol Luis Miguel Dominguin, o actor de cinema americano Henry Fonda, D. Juan Carlos, f i lho dos Condes de Barcelona.

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O PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA

Em 2 de Março de 1921, foi criada na região da Gorongosa, uma reserva de caça, hoje conhecida pela denominação de Parque Nacional de Caça da Gorongosa, com o f im de assegu­rar a conservação das valiosíssimas fauna e f lora, ali existentes.

O cuidado posto na protecção às espécies existentes na Província, fez com que, sob a jurisdição dos Serviços de Veter inár ia, fossem criados em Moçambique, mais quatro Reservas de Caça, onde o visitante não pode caçar, mas encontra motivos de grande interesse. As Reser­vas são : a dos TANDOS, em Marromeu, no Distr i to de Manica e Sofala; e da circunscrição de Marrupa, e a Reserva dos Elefantes, do Maputo , no Distr i to de Lourenço Marques.

A área da Reserva da Gorongosa, era de início, de mil quilómetros quadrados. Em 1935, com a publicação do Decreto n.° 26 076, a área foi aumentada para 5300 quilómetros quadra­dos. Está situada no Distr i to de Manica e Sofala, próximo da estrada internacional Beira--Umtá l i . Dispõe de uma via de fácil acesso. Da Beira à Reserva e ao seu Acampamento — denominado do C H I T E N G O — são 156 quilómetros, 100 dos quais são de estrada asfaltada. No parque existe um aeródromo muito ut i l izado por aviões ligeiros, assim como aviões de t ipo DC-3. Para poder proporcionar uma extensa visi ta, o parque é atravessado por uma rede de «picadas», em número de 15, com 560 quilómetros, permit indo admirar os mais variados contrastes : f loresta, planície, lagoas e rios, podendo-se admirar, igualmente, uma abundante e variadíssima fauna. O Parque Nacional da Gorongosa é considerado o «melhor parque de Áf r ica», por possuir a maior concentração de animais bravios de todo o mundo!

Acampamento do CHITENGO

A sede do parque é no Acampamento do Chitengo, situado num local muito aprazível. É constituído por um amplo restaurante — c o m esp lanada— tendo serviço de bar, agradavel­mente decorado com troféus de caça e artesanato indígena; um pavilhão para leitura, festas, jogos, e t c , e uma piscina. As moradias-dormitórios — e m número de 8— são construídas à moda das palhotas indígenas, estendendo-se por vasta área ajardinada, possuindo todas elas o conforto moderno, com dois quartos cada e quarto de banho, providos de electricidade e água corrente. Há quartos simples, de luxo, e ainda quatro casas t ipo «bungalow». O Acampamento tem duas lojas de artesanato indígena e dispõe de serviço telefónico e postal.

A quarenta quilómetros deste Acampamento foi construído outro, denominado por Bela Vis ta, que é formado por quatro edifícios, dê quatro quartos cada, e dispondo de facilidades

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IMAGENS DA GORONGOSA

para os visi tantes; possui cozinhas ao ar livre, loja para aquisição de géneros de primeira necessidade e «snack-bar».

A f i rma concessionária do parque é a Agência de Viagens e Turismo da Beira, que junta mente com o Estado tem colaborado em todos os melhoramentos efectuados, valorizando-o de modo notável, e servindo assim, um dos cartazes turísticos de maior valia de Moçambique.

O Parque Nacional da Gorongosa é mui to visitado por estrangeiros de todos os pontos do mundo, e com mui ta frequência, por sul-africanos e rodesianos. O parque possui reservas inte­grais, só para estudos. A sua época turística estende-se de 1 de Maio a 31 de Outubro. As suas datas de abertura e fecho não são absolutamente exactas porque dependem das chuvas.

O Parque Nacional da Gorongosa, por possuir uma grande riqueza de fauna e f lora, e uma ópt ima situação geográfica, bem como belos panoramas, é justamente considerado uma das mais belas Reservas de Caça de todo o continente afr icano, proporcionando um espectáculo emocionante e inesquecível a quem o visi ta.

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COMPANHIA DO BUZI

Uma das mais antigas companhias moçambicanas, com larga projecção na Província, é, sem dúvida, a C O M P A N H I A COLONIAL DO BÚZI , constituída por escritura pública de 13 de Setembro de 1898, com o f im de pôr em execução o contrato celebrado entre a f i rma Arr iaga & Ca. e a Companhia de Moçambique, datado de 1 de Abr i l de 1898. Os seus Estatutos foram aprovados por decreto de 3 de Setembro do mesmo ano.

Do contrato realizado com a Companhia de Moçambique, por iniciat iva do Dr. Guilherme de Oliveira Arr iaga, colonial a cujas invulgares qualidades rendemos o preito das nossas devo­tadas homenagens, resultaram para a COMPANHIA DO BÚZI direitos e privilégios de que foi detentora até ao dia 18 de Julho de 1942.

1.° — O direi to de demarcar dentro da circunscrição do Búzi todos os terrenos que preten­desse, mediante o foro de $ 0 1 , ouro, por hectare.

2 . ° — O direi to de cobrar o imposto de palhota, de cuja total idade lhe ficou pertencendo 60 por cento, sendo os restantes 40 por cento entregues à Companhia de Moçambique;

3.° — A preferência quanto a serem desempenhados por empregados seus os cargos oficiais exercidos na área da subconcessão, que abrangia toda a circunscrição do Búzi.

4.° — O livre exercício da agr icul tura, comércio e indústr ia, em toda a área da sub­concessão;

5.° — A livre exploração de todas as florestas da circunscrição do Búzi em terrenos não concedidos a terceiros;

6." — O direi to exclusivo de caça em toda a circunscrição.

As concessões demarcadas no Búzi pela Companhia, nos terrenos do seu contrato, e as que adquir iu to ta l i zam, no Búzi, 135 200 hectares.

Além daquelas concessões, a Companhia possui as seguintes :

Na circunscrição de Mocoque 311 hectares Na circunscrição de Sofala 3 250 hectares Na circunscrição do Govuro 16 550 hectares

A C O M P A N H I A DO BÚZI foi constituída com o capital de 450 000$, ouro, representado por 100 000 Acções de £ 1 cada, capital que foi sucessivamente aumentando.

Busto, erigido em Vila Guilherme Arriaga, em memória do fundador da Companhia Dr. Guilherme de Oliveira Arriaga

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A C O M P A N H I A DO BÚZI pode considerar-se como a mais importante e mais completa de todas as organizações agrícolas e industriais, de nacionalidade portuguesa, de Moçambique.

Tem a caracterizá-la a particularidade de, em 1920, ter absorvido, por compra, uma impor­tante companhia inglesa congénere que, sob a denominação de «ll lovo Sugar Estates», se havia estabelecido na margem direita do rio Búzi, no local onde hoje, precisamente, se encontra Vi la Guilherme Arr iaga.

Em virtude de tal transacção, a COMPANHIA DO BÚZI passou a dispor de uma fábrica açucareira com capacidade para produzir 12 mil toneladas por campanha, além da fábrica que já possuía em Nova Lusitânia, com capacidade para 5 mil toneladas, que mais tarde foi transferida para a propriedade de Nossa Senhora da Graça, na circunscrição de Govuro, junto a margem direi ta do rio Save.

A fábrica adquirida à companhia inglesa foi depois ampliada e aperfeiçoada, de modo que em 1942 t inha uma capacidade de 20 mil toneladas por campanha.

A C O M P A N H I A DO BÚZI tem contribuído de modo notável para o progresso e desen­volvimento económico do Distr i to de Manica e Sofala.

Criou importantes núcleos de actividades agrícolas e industriais; abriu estradas e instalou caminhos de ferro; montou fábricas, centrais eléctricas, oficinas e estaleiros, centrais eleva­tórias, etc. — de tal modo transformando em centros de progresso terras outrora inóspitas, incultas e completamente alheias à civil ização.

Vamos dar, em resumo, algumas indicações de carácter geral, das diversas actividades a que se dedica esta importantíssima organização moçambicana pioneira :

CIRCUNSCRIÇÃO DO BÚZI Indústria açucareira :

Cana sacarina Extracção do açúcar

Outras indústrias : Destilaria Moagem Cerâmica Fornos de cal

SERVIÇOS DE SAÚDE Serviços auxil iares :

Oficinas gerais Centrais eléctricas Construção civil Construção naval Explorações florestais Serração mecânica de madeiras, carpintar ia e marcenaria Transportes e comunicações

As oficinas que a COMPANHIA DO BÚZI possui são as mais completas da Província.

Actividades diversas : Zona algodoeira Pecuária Cult ivo de milho e algodão Águas-de-colónia Refrigerantes Fabrico de gelo Abastecimento do pessoal

A circunscrição do Búzi, onde a Companhia principalmente exerce a sua actividade, tem cerca de 4940 quilómetros quadrados de superfície. As povoações mais importantes são :

NOVA LUSITÂNIA, na margem esquerda do rio Búzi, onde a Companhia inicialmente se estabeleceu e onde teve a sede até 1943, bem como a sede da circunscrição, tendo esta passado para Vi la Guilherme Arr iaga.

Pouco mais de um quilómetro a jusante de Nova Lusitânia encontra-se a povoação comer­cial Feira, uma das mais importantes do interior do distr i to.

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V I L A GUILHERME ARRIAGA, na margem direi ta do rio Búzi, fronteira a Nova Lusitânia, é o centro industrial da Companhia, pois nela está a maior parte das suas instalações, como fábricas, oficinas, estaleiros, armazéns, habitações do pessoal, etc.

A vila possui também uma capela, erigida pela Companhia, onde os reverendos Padres Missionários, periodicamente, celebram Missa.

A circunscrição dispõe de uma regular rede de estradas que proporcionam comunicações com Lourenço Marques, Beira, Nova Sofala, Neves Ferreira, Chimoio, Mossurize e Manica e, através destas três úl t imas, com a Rodésia. Mas tais estradas são apenas uti l izáveis durante a estação seca.

O rio Búzi const i tui , porém, a mais importante via de comunicação, através da qual tem lugar importante tráfego de mercadorias. Com as marés, o rio é navegável até Nova Lusitânia, para batelões de trezentas toneladas de carga ou mais.

Para montante, desde Nova Lusitânia até ao Grudja, apenas é acessível a pequenas embarcações de fundo raso e, mesmo assim, em condições tão precárias que deixa de ser económica a sua ut i l ização para qualquer género de transportes.

Possui a fauna própria dos rios africanos do seu t ipo e é abundante em peixe de ópt ima qualidade, especialmente nos pontos em que o leito é constituído por areia ou pedra.

Há na circunscrição do Búzi vários agricultores europeus e a agricultura indígena tem apresentado nos últ imos anos incremento apreciável.

Destacam-se, como culturas principais, o milho, a mapira e o algodão, este ú l t imo produ­zido sob o regime de zona algodoeira de que a Companhia é concessionária.

Há na circunscrição florestas com madeiras preciosas e também abundante quantidade de trepadeiras «Landolphia» que noutros tempos foram exploradas em larga escala para obtenção de borracha.

Não é conhecida a existência de jazigos de minério. Apenas a Companhia explora pedrei--as de calcário na sua propriedade da Estaquinha, para fabrico de cal e para aplicar em construções.

A caça é abundante e variada.

SERVIÇOS DE SAÚDE

A Companhia do Búzi possui um hospital em alvenaria, denominado «Hospital Conselheiro Almeida», em homenagem àquele seu ant igo e ilustre director.

O hospital está localizado em Nova Lusitânia e compreende um pavilhão principal e dois pavilhões-enfermarias, um ao norte, outro ao sul, de um recinto ocupando uma área de 13 mil metros quadrados.

Na parte sul do pavilhão principal estão instalados o consultório médico, secretaria e aceitação de doentes, laboratório, farmácia e sala de operações; na parte norte, funciona o banco de curativos, havendo além disso o depósito de medicamentos, arrecadação, dois quartos particulares e instalações sanitárias.

O pavi lhão-enfermaria sul consta de duas salas; uma que pode comportar quarenta doentes de cirurgia e tem anexo um compart imento pare curativos; a restante sala dispõe de t r in ta e cinco camas para hospitalização de doentes pulmonares.

O pavi lhão-enfermaria norte, com setenta camas, tem uma sala para infecções intestinais e outra para doenças infecto-contagiosas.

Anexas a estes pavilhões, há cozinhas para europeus e indígenas. Junto da enfermaria sul, um balneário para indígenas.

Em Vi la Guilherme Arr iaga há um posto de socorros, em alvenaria, com sala de curativos, um quarto para doentes e instalações sanitárias.

Distribuídos por vários centros agrícolas e industriais, há dez postos volantes de socorro, cada um dos quais tem ao serviço um enfermeiro indígena e dispõe de material sanitário para curativos ligeiros e socorros de urgência.

Os serviços clínicos da Companhia e os de saúde são dirigidos por um médico privativo da Companhia. No hospital t rabalham um enfermeiro europeu, que desempenha, também, as funções de ajudante de Farmácia, quatro enfermeiros indígenas, e três enfermeiros ajudantes. I

TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES

Caminhos de ferro — A Companhia possui duas redes servindo as propriedades das duas margens do rio Búzi.

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A frota da Companhia, cujo valor excede dois mil contos, é principalmente destinada ao transporte das suas mercadorias, entre Vi la Guilherme Arr iaga e Beira.

Telefones — A rede telefónica tem cerca de oi tenta quilómetros de extensão e, abrangen­do as duas margens do rio, serve vinte postos telefónicos destinados a estabelecer comunicações entre todos os serviços da Companhia.

Aeródromos — A Companhia do Búzi possui em Vi la Guilherme Arr iaga um campo de aterragem com as dimensões de 800 X 250 metros, acessível a aviões da DETA e frequente­mente visitado pelos aviões do Aero-Clube da Beira, que foi completado, em segunda fase, com uma nova faixa de aterragem perpendicular à inicial.

Na Companhia do Búzi t rabalham duas centenas de empregados europeus e assimilados, incluindo um médico, três engenheiros, um agrimensor, um químico e dois comercialistas.

Ao seu pessoal indígena tem a Companhia dedicado os melhores cuidados. Construiu acam­pamentos de alvenaria, dotados com cozinhas e amplos refeitórios; um balneário, instalações sanitárias, etc. Presta assistência médica gratu i ta a todos os indígenas da circunscrição; e com os meios de transporte de que dispõe, sempre tem atendido prontamente a todos os pedidos de socorro provenientes do interior da circunscrição.

A Companhia concede ao seu pessoal licenças periódicas na Metrópole, com 50 por cento dos ordenados, e, além disso, as seguintes regalias : habitação, água, luz, lenha, assistência médica e medicamentos, bem como açúcar.

Edifício «CASA Z A M B É Z I A » , construído em 1899 , na Beira. Era propriedade da Companhia do Búzi, mas já não existe

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ALGUNS NÚMEROS REFERENTES AO ANO DE 1964

CULTURAS EUROPEIAS (CANA SACARINA) — Esta Companhia colheu das suas planta­ções 120 938 965 quilos de cana e adquir iu ainda a plantadores particulares 87 973 193 quilos no valor de 19 mil contos. O total de 208 912 158 quilos de cana, produziram na nossa fábrica as seguintes quantidades de açúcar :

Açúcar branco . . . 14 982 870 quilos Açúcar amarelo 11 703 650 quilos

26 686 520 quilos

REGA — Mantém-se em actividade 5 estações elevatórias e um grupo de rega por aspersão.

INDÚSTRIA TRANSFORMADORA : CAPACIDADE

1 — F á b r i c a de açúcar ( a ) — 4 5 000 ton. por campanha — 26 686 520 kgs. 1 — F á b r i c a de álcool ( b ) — 2 000 000 Its. por ano 674 859 kgs. 1 — F á b r i c a de t i jo lo ( c ) — 4 500 000 unidades por ano — não laborou 1 — Fábrica de moagem (d) — 3500 ton. por ano (farinha) — não laborou 1 — Fábrica de descaroça-

mento e prensagem de algodão (e) — 8800 quilos em 8 horas — 1 852 841 kgs.

1 —Serração de madeiras (f) — 6500 m3 por ano — 5015,5 m3

a) — Para consumo na Província e Metrópole. b) — Para consumo na Província.

c) e d) — Labora consoante as necessidad2s do consumo interno. Não negoceia a sua pro­dução.

e) — Para consumo da Província e Metrópole. f) — Para consumo interno e exportação.

VENDAS DE PRODUTOS Metrópole :

Açúcar branco 996 480 kgs. @ 3$75 3 736 800$00

4 400 280 kgs. @ 4$40 19 361 232$00

Açúcar amarelo

1 685 015 kgs. @ 2$85 4 802 292$75 9 002 580 kgs. @ 3$35 30 158 643$00

Outros destinos : Açúcar branco Angra do Heroísmo 59 940 kgs. @ 3$25 194 805$00 79 920 kgs. @ 3$90 311 688$00

Consumo a bordo (Navios de longo curso) 17 100 kgs. @ 3$65 62 415$00 20 340 kgs. @ 4$30 87 462$00

Melaço Para a Holanda 2 701 500 kgs. @ $8,40 dólares/lOOOkgs 655 587$25

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Província Açúcar branco 1854 759 kgs. @ 3$45 6 398 918$55 8 649 231 kgs. @ 4$10 35 461 847$ 10

Acócor amarelo 3 000 kgs. @ 2$68,64 8 059$20

12 350 kgs. @ 3$18,64 . 39 352$04

Me!aco 25 231 kgs. @ $65 16 404$05

PESSOAL EUROPEU—Grupo «A» 205 empregados — Vencimentos pagos em 1954 9 745 813$90

PESSOAL AUTÓCTONE — Grupos «B», «C», «D>: Total de trabalhadores — 4510 Total dos salários pagos 14 414 835$42

Por tudo quanto f ica exposto se pode avaliar do papel que esta Companhia pioneira repre­senta na economia e progresso da Província de Moçambique.

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VILA PERY — A CIDADE MAIS NOVA DE MOÇAMBIQUE

Em 17 de Julho de 1969 que foi elevada a cidade, o que foi motivo de grande regozijo pcra todos os seus habitantes.

É a mais jovem cidade de Moçambique — situada no Planalto do Chimoio, o seu clima é óptimo, e belas as paisagens circundantes. É uma terra que sempre progrediu desde a nascença.

O seu nome foi- lhe dado para homenagear um ilustre oficial do Exército, que foi Governa­dor do Distrito de Manica e Sofaia e muito fez por ela, cujo nome era Pery-de-Linde. Daí dar ao tão lindo rincão moçambicano, o nome de V I L A PERY.

Avenida principal

A cidade é hoje um centro urbano de linhas modernas, com belos edifícios, bonitos esta­belecimentos comerciais, colégios, uma Escola Comercial e Industr ial , uma Escola de Regentes Agrícolas, Hospital, Cinema, Clube, Bancos, etc.

V I L A PERY fica a caminho da Rodésia, sendo, por isso, um ponto de paragem para quem viaja. A cidade do Planalto cresce e alinda-se dia a dia, com os olhos postos no fu tu ro !

Monumento aos pioneiros

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SOCIEDADE HIDROELÉCTRICA DO REVUÈ

A SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ, S.A.R.L. foi constituída em Lisboa, a 1 de Julho de 1946. Teve a sua origem num pedido de concessão da Sociedade Algodoeira de Por­tugal , com sede no Porto, para al imentação da fábrica têxt i l que iria instalar em Vi la Pery. 0 Min is t ro das Colónias de então, Professor Doutor Marcelo Caetano, entendendo, em face do alto interesse público que oferecia o aproveitamento das águas do rio Revuè, antevendo a larga projecção e a enorme influência que tal empreendimento vir ia a ter no fomento da região central de Moçambique, decidiu que o Estado devia tomar parte activa em realizações como esta, ligadas à polít ica da energia do Ul t ramar Português, e, por isso, f ixou as condições em que poderia ser outorgada a respectiva concessão.

O capital inicial fo i , assim, de 30 mil contos, subscrito em partes iguais pelo Estado Por­tuguês e pela Sociedade Algodoeira de Portugal, acompanhada por um grupo financeiro ligado à mesma Sociedade.

Pelo Decreto n.° 35 744, de 10 de Julho de 1946, foi outorgado à SOCIEDADE HIDRO--ELÉCTRICA DO REVUÈ o aproveitamento da energia do rio Revuè e seus afluentes, entre as curvas de nível de 100 e 700 metros, vindo mais tarde a ser-lhe igualmente atribuído o esta­belecimento e a exploração de subestações e de linhas de transporte de energia, pelo Decreto n° 39 237, de 6 de Junho de 1953.

Assim se ut i l izou o desnível de, aproximadamente, 200 metros existente na zona de rápi­dos denominada «Quedas do Revuè», imediatamente a jusante da foz do seu af luente, o rio Mavuz i , cujo nome passou a designar a Central Eléctrica ali instalada.

Desenho da Barragem da Chicamba Real

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Concluídas em 1953 as obras desta primeira fase e construída a l inha de transporte a 66 KV, com 47 quilómetros de extensão, entre a Central do Mavuzi e a Subestação de Vi la Pery, foi possível iniciar, no f im daquele ano, a al imentação da fábrica da Sociedade Algodoeira e, seguidamente, fornecer energia ao concelho do Chimoio.

Não só porque o elevado custo das obras realizadas o exigia, como para levar a cabo mais rapidamente a obra de fomento económico na região de Manica e Sofala que justif icara as concessões outorgadas, diligenciou-se obter colocação para a energia disponível, noutros mercados.

Para este f im construiu-se uma nova linha com 172 quilómetros de extensão para o trans­porte da energia à tensão de 1 10 KV até à cidade da Beira, onde foi localizada uma subestação equipada com dois transformadores de 12,5 M V A cada um, iniciando-se no ano de 1956 o forne­cimento à cidade e ao porto da Beira, hoje ampliado por meio de uma linha de 22 KV através da zona industrial da Manga e do concelho do Dondo até à central elevatória de abastecimento que logo se verif icou corresponder inteiramente às esperanças nele depositadas.

Ao mesmo tempo, indo de encontro aos desejos manifestados pela «Electricity Supply Commission» —o organismo oficial que, na Federação das Rodésias e da Niassalândia, supe­rintende na produção e distr ibuição da energia eléctrica — encetaram-se negociações com vista à exportação de grandes quantidades de energia para abastecimento da cidade e região de Umtá l i , as quais concluíram pela assinatura, em 1955, na cidade de Lisboa, de um contrato para um fornecimento da ordem dos 1500 GWh de energia, sem prejuízo das necessidades da Província, correspondendo a uma receita bruta de 300 000 contos, ao longo de dez anos.

Com base nos projectos elaborados pelo Gabinete de Estudos da Hidro-Eléctrica do Zêzere, foi construída uma barragem na garganta denominada «Chicamba Real», destinada à regularização inter-anual dos caudais do Revuè, e foi ampliada a central do Mavuzi para insta­lação de três novos grupos turbogeradores, de 12 MW cada um.

Da grande barragem —a que foi dado o nome de «Oliveira Salazar», em homenagem ao Presidente do Conselho, que tornou possível a realização de empreendimentos de tão grande vulto por tcdo o país —está construída apenas a primeira fase, com 53 metros de al tura, asse­gurando um armazenamento da ordem dos 450 milhões de metros cúbicos de água, considerados suficientes para ocorrer às necessidades dos anos mais próximos. Está, porém, prevista a sua elevação em mais 20 metros, o que fará subir a capacidade da albufeira para cerca de 2000 milhões de metros cúbicos, bem como a construção de uma central de pé de barragem que poderá at ingir a potência de 35 M W .

Na zona do ant igo aproveitamento foi aumentada a capacidade de embalse do açude, sob c qual foi construída uma ponte, a que foi dado o nome de «Marcelo Caetano» — o ministro que promoveu a constituição da empresa e lhe assegurou condições de bem poder cumprir a sua m i s s ã o — instaladas novas condutas e os grupos turbogeradores já referidos.

Para a efectivação de tão vasto programa, que deixa a perder de vista as previsões mais optimistas dos primeiros tempos da sua actividade, houve que elevar sucessivamente o capital da SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ, por emissões de acções e de obrigações até ao montante de Esc. 420 000 000$00 que correspondem ao actual valor do investimento.

Ao analisar, retrospectivamente, a evolução da actividade da SOCIEDADE HIDRO-ELÉC­TRICA DO REVUÈ, há que acentuar a quase chocante aceleração com que os empreendimentos têm sido realizados. Enquanto que 20 milhares de metros cúbicos de betão se colocaram peno­samente no pr imit ivo açude, ao longo de alguns anos, o r i tmo das últ imas betonagens da Barra­gem da Chicamba chegou a exceder dez mil metros cúbicos por mês; de igual modo surpreende a comparação do tempo despendido na montagem da l inha de Umtá l i , a qual foi projectada e construída em menos de um ano, com o que foi gasto na montagem da linha de al ta tensão destinada à al imentação de Vi la Pery.

Também na exploração, a energia vendida quase tr ip l icou de 1956, at ingindo aproximada­mente o dobro em 1958. Em relação ao início da exploração e durante os cinco anos já decor­ridos, é de 20 vezes o aumento verif icado.

Assim, é lógico admit ir-se que a potência máxima solicitada à central do Mavuz i , cujo valor de ponta at ing iu os 20 MW no período de 1957-58, venha nos próximos anos a sofrer

# u m acréscimo da ordem dos 1 1 % ao ano, motivo por que o actual sistema terá de ser am­pliado novamente dentro de alguns anos.

Em breve haverá, portanto, que iniciar novos escalões, razão por que já está prevista a construção da central de pé de barragem da Chicamba, que f icará equipada com 35 M W , c prosseguem os estudos para determinar as soluções economicamente mais vantajosas para um futuro mais distante.

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Ponte açude «Marcelo Caetano»

Admite-se ainda a hipótese de intercalar entre quaisquer destes empreendimentos o apro­veitamento das águas do rio Púnguè, que corre próximo da área da concessão da SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ e que pelas suas características oferece perspectivas de certo modo complementares das facultadas pelo Revuè.

Ao cabo de 17 anos de intenso labor, a SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICA DO REVUÈ pode contemplar com legítimo desvanecimento o caminho percorrido e, certa de haver correspondido à confiança dos poderes pfúblicos que lhe outorgaram concessões e tornaram viável a sua actuação bem como à das entidades particulares que prontamente acorreram a demonstrar-lhe a melhor compreensão e interesse por tão grande empreendimento, continua empenhada com redobrado entusiasmo, em contribuir tão largamente quanto lhe seja possível para o fomento económico da região de Manica e Sofala, que consti tuiu o seu campo de acção.

Esperamos que, de fu turo, tal como até agora, não haja pedido viável que se não atenda, necessidade que se não satisfaça, iniciat iva que se não anime ou auxi l ie, acompanhando a SOCIEDADE HIDRO-ELÉCTRICÀ" DO REVUÈ, atodo o momento, o progresso da Província de Moçambique, ao mesmo tempo que continue aprestar colaboração eficaz para a satisfação das necessidades e para um maior desenvolvimento dos territórios vizinhos, numa af irmação con­creta de quanto vale a amizade e o bom entendimento entre as nações.

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ZEMBE PLANTATIONS, LTD.. PIONEIROS DO SISAL

ZEMBE PLANTATIONS é uma organização agrícola que foi criada pelo pioneiro Otto Schneebeli, e também o seu primeiro director, no ano de 1930, com capitais suíços, no valor de dez mil contos.

A ZEMBE PLANTATIONS dedica-se à plantação de sisal, na região de Vi la Pery, onde se si tuam as plantações, sendo uma no Vale de Ceres e a outra no lugar da Boa Vista, e pertencem ao Distr i to de Manica e Sofala.

Na época da sua fundação, era gerente das plantações um irmão do fundador da orga­nização. Mais tarde sucedeu-lhe, como gerente, o cidadão suíço Gustav Linck, que permaneceu na gerência durante quinze anos.

As plantações foram sempre progredindo, quer em tamanho, quer em produção, de ano para ano, graças ao emprego de sistemas mais actual izados: A área total das plantações é de seis mil trezentos e noventa e dois hectares. A empresa possui duas fábricas, diversos arma­zéns, escritórios, uma cantina para abastecimento dos seus empregados, acampamentos para trabalhadores nativos e residências para todo o restante pessoal. As plantações possuem estra­des, pontes e linhas «décauville». A ZEMBE PLANTATIONS exporta para os mercados da Ho­landa, França, Alemanha, Bélgica, América do Norte e Japão.

Actualmente, a produção anual das plantações é calculada em duas mil toneladas de sisal, com tendência para aumentar. A venda to ta l , no ano de 1964, foi de onze mil e cem contos. A despesa anual , com salários, é de cinco mil e duzentos contos.

Todos os empregados da empresa têm assistência médica gratu i ta . Em construção estão uma escola e uma igreja. Todos os empregados com direito a férias na Europa, têm passagens pagas, bem como a sua famí l ia , e os empregados usufruem o seu vencimento por inteiro.

A empresa emprega nas suas plantações, entre oitocentos e mil operários nativos, e sete empregados europeus portugueses e um holandês.

Plantação de Sisal

f Nos últ imos dois anos, as plantações têm estado a produzir mais, devido ao emprego de métodos recentes. Por esse facto, do qual t iveram conhecimento os sisaleiros do norte da Pro­víncia, alguns deslocaram-se à ZEMBE PLANTATIONS para tomarem conhecimento desses no­vos métodos e, assim, poderem aumentar as suas produções de sisal.

A actual gerência das plantações é dir igida pelo cidadão holandês A. C. Leenhouts. A ZEMBE PLANTATIONS é uma das grandes empresas agrícolas da região de V i la Pery

que mui to contr ibui para o engrandecimento e progresso agrícola não só de Manica e Sofala como da Província de Moçambique.

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EDMUNDIAN INVESTIMENTS. LDA.

Eng. Bettencourt Dias

Situada na serra da Isitaca, a 13 quilómetros da histórica V i la de Manica — n a fronteira de Moçambique com a Rodésia — existe uma mina de cobre, que esteve abandonada durante quarenta e dois anos e encontrada pelo Eng." Bettencourt Dias, em 1963.

A mina foi abandonada no ano de 1922, quando o preço do cobre baixou nos mercados mundiais, de 180 para 25 libras por tonelada.

É devido ao espírito empreendedor e activo do Eng.0 Bettencourt Dias — a l i a d o a profundos conhecimentos adquiridos em curso especializado nos Estados Unidos, após a sua formatura em Portugal — que a abandonada mina é explorada.

Trata-se de um empreendimento de grande vul to, que só foi possível graças ao auxílio f inanceiro que o Eng.0 Bettencourt Dias obteve junto de entidades sul-afr icanas, que a ele se associaram, permit indo, deste modo, a exploração da enorme riqueza do subsolo, naquela re­gião que é part icularmente rica de outros minérios nos quais se inclui o ouro.

Nesta mina existem sulfuretos de cobre, em filões verticais, que se estendem lateralmente por cerca de quatrocentos metros, e em profundidade, já reconhecidos, até 280 metros abaixo da superfície, com maior desenvolvimento no fundo da mina.

Já foram iniciados pelos técnicos que prestam serviço na E D M U N D I A N INVESTIMENTS, LDA., os trabalhos de geoquímica, que indicam que além dos filões já conhecidos e explorados pelos antigos proprietários, há grandes probabilidades de se encontrarem outros filões de mi ­nérios que não af loram à superfície, mas que apresentam regularidade e persistência em exten­são. A actual empresa vai efectuar sondagens para estabelecer as riquezas dos novos filões.

Trata-se, como faci lmente se conclui, de um empreendimento de grande envergadura, que vai , sem dúvida, ter grande projecção fu tura na vida económica e industrial do Distr i to de Manica e Sofala, que se transformará em grande fonte de riqueza.

Ao entusiasmo, intel igência, saber e dinamismo do Eng.0 Bettencourt Dias, ficamos a dever esta importantíssima iniciat iva.

A bonita e progressiva V i la de Manica será, por certo, uma das primeiras beneficiadas com o incremento que a E D M U N D I A N INVESTIMENTS, LDA. lhe proporcionará.

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TEXTAFRICA UMA GRANDE ORGANIZAÇÃO PIONEIRA

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Vista geral do complexo fabril, em Vila Pery

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O seu «Time» de futebol e treinadores

Piscina do Grupo Desportivo e Recreativo da TEXTÁFRICA

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PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE QUELIMANE

Manuel Danilo Fernandes da Costa, há já alguns anos à frente dos destinos da Câmara Munic ipal de Quelimane, nasceu em Lourenço Marques.

Seus pais — D . Adel ina Fernandes e Virgí l io Fernandes— são metropolitanos, tendo vindo para a Província em 1923, fixando-se em Lourenço Marques, onde o pai se dedicou à indús­tr ia de barbearia, assim como à agr icul tura.

M A N U E L DANILO FERNANDES DA COSTA, uma vez concluídos os seus estudos, ingres­sou no Quadro Adminis t rat ivo da Província, em 20 de Outubro de 1945, tendo inicialmente prestado serviço nos Distritos de Tete, Inhambane e Lourenço Marques.

Ascendeu à categoria de Chefe de Posto em 21 de Junho de 1949, prestando serviço no Distr i to de Tete, donde, por promoção a Secretário de Circunscrição, em 19 de Janeiro de 1953, foi transferido para o Distr i to de Manica e Sofala.

Foi louvado pelo Governador do Distr i to de Manica e Sofala, em 8 de Março de 1956, por desempenho das funções de Secretário e Administrador, interino, na circunscrição do Báruè.

Durante quatro anos trabalhou na repartição de pessoal, da Direcção dos Serviços de Administração Civi l .

Promovido a Administrador de Circunscrição em 26 de Novembro de 1960, foi designado para exercer o cargo de Secretário Distr i tal de Administração Civil da Zambézia, cargo que desempenhou durante cerca de ano e meio do qual transitou para 'a Administração do Concelho de Quelimane.

Foi louvado pelo Governador do Distr i to da Zambézia, em 5 de Fevereiro de 1962, pelo desempenho das funções de Secretário Distr i ta l .

Nos concursos do Quadro Administ rat ivo a que teve de se submeter, obteve sempre as melhores classificações.

Foi louvado pelo Governador do Distr i to da Zambézia, em 28 de Abr i l de 1964, pelo desempenho das funções de Administrador do Concelho de Quelimane.

Nesta mesma data, tomou posse do cargo de Presidente da Câmara Munic ipal de Quelimane.

Desde a sua investidura, que larga actividade tem desenvolvido em prol do progresso da cidade, procurando com o maior interesse resolver os múlt iplos problemas do seu município.

Câmara Municipal

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HISTÓRIA DE QUELIMANE

A vetusta QUELIMANE já constituía povoação quando o fu turo Conde de Vidigueira mo­lhou ferro nas águas que ele próprio apelidou de Rio dos Bons S ina is—22 de Janeiro de 1498.

Mal decorrera um século e já os portugueses saídos desse Tejo glorioso se haviam fixado em Quelimane, aquela Quelimane que ao tempo da carta de D. José —9 de Maio de 1761 — era, depois de Moçambique, o maior centro de toda a costa moçambicana.

Nela começava a aventura do misterioso Zambeze — a grande via de penetração até ao Zumbo; e por ele se lançavam na milenária quimera do oiro os que imaginavam beijados pelas suas águas os territórios onde se situavam os filões que proporcionaram as aurifulgentes colunas do tempo salomónico e as gemas magníficas que adornam o diadema da rainha do Sabá no dia longínquo em que foi gerado — d i z a l e n d a — o primeiro rei da Etiópia.

A té onde a imaginação das «Donas -—as celebradas «Donas de Q u e l i m a n e » — foi a t i ­çada pela fama das riquezas e grandezas de antigos monarcas, de governadores poderosos que f icaram nas lendas tanto pela sua sabedoria como pelo seu fausto?

Os «festins zambezianos» não seriam o derradeiro eco daquele reboar da lenda?

Sempre enorme na sua força, no seu potencial económico, nas suas lendas, esta persona­lizada Zambézia, com os seus «Prazos da Coroa», uma das suas formas e fontes de v i ta l i ­dade, tem em Quelimane o seu Salão Nobre e o seu celeiro previdente, onde as linhas do futuro hão-de fazer acorrer, para todo o Moçambique e para todo o mundo, as riquezas do seu ferti l íssimo ventre. Quelimane, cidade desde 21 de Agosto de 1842, é a capital de um dis­t r i to onde, mercê do esforço de alguns, muitas vezes sem grandes ajudas ou facil idades, se conseguiu dar que fazer a muitos através de um sem-número de realizações sobretudo no aspecto agrícola e comercial.

Vista aérea do porro e da cidade

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Se consultarmos o mapa demográfico da Província, constatamos que o Distr i to da Zam-bézia é, depois do Distr i to de Moçambique, o que conta maior número de almas. Tal concorre para que a densidade populacional na área circundante da cidade de Quelimane, num raio de 150 quilómetros, aproximadamente, a t in ja um dos valores mais altos em toda a Província de Moçambique : mais de 40 habitantes por qui lómetro quadrado. É óbvio que tal densidade re­sulta das necessidades de pessoal afecto à indústr ia, comércio, habitação e à zona portuária e às actividades que com esta se relacionam, mas sobretudo da fert i l idade das baixas da Zambézia às culturas essenciais à al imentação da população que nela habita.

Palácio do Governo

Nestes factores — a elevada densidade demográfica e a riqueza das terras do seu «interland» — há que «fi lhar» a maior ocupação terr i tor ia l , quer por africanos, continentais ou indianos, com raízes de séculos no solo zambeziano.

Com esta f ixação à terra obteve-se, e obtém-se, o desenvolvimento de várias culturas que podemos classificar de ricas verbi grat ia e copta, em todo o l i toral dos distritos — perto da Maganja da Costa situa-se o maior Palmar do m u n d o — o chá no Guruè, no Socone, no Tacuane e em Mi lange; o açúcar nas margens do Zambeze (Luabo, Marromeu e Mopeia); o algodão na Morrumbala, em Mocuba, em Mocubela, no A l to Ligonna e no Gilé; o sisal em Naciáia e em Mocuba; e outras mais pobres a constituírem a base da al imentação da maior parte da população : o mi lho, a mandioca, o arroz, a batata-doce, o fei jão, etc.

A par destas culturas, o aproveitamento das madeiras da região e a exportação do subsolo, no extracção de minérios que abundam na A l ta -Zambéz ia , constituem fontes de riqueza que muito contribuem para uma valorização económica, não só a nível distr i tal mas até a nível nacional.

O desenvolvimento da cidade de Quelimane é pois consequência do que se fez e do que se fizer no interior do distr i to até porque o porto que a serve, agora com a sua ponte acostável ampliada e melhorada a zona portuár ia, é o escoamento natural de grande parte dos produtos da Zambézia. Pena é que o caminho de ferro existente seja só um troço de 145 quilómetros, estabelecido entre Quelimane e Mocuba, sendo também certo que se apoia numa rede de camionagem automóvel com centro em Mocuba donde irradia para outros pontos do distr i to.

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A pecuária é outro valor económico que já avulta na economia da Zambézia que prat ica­mente se iniciou e desenvolveu por iniciat iva de algumas empresas radicadas na exploração dos palmares e com vistas fundamentalmente à fert i l ização das terras afectas à cultura do coco.

Hoje, porém, já se dedicam à pecuária, com carinho, vários criadores europeus e africanos.

A fauna afr icana, sobretudo certas espécies concentradas em determinados pontos do dis­t r i to , pode consti tuir um motivo de atracção turíst ica e, consequentemente, uma boa fonte de receita.

A indústr ia, porém, ainda está em fase inicial. Se bem que existam iá algumas instala­ções industriais, salientando-se a de transformação de produtos extraídos à terra (açúcar, chá, algodão (descaroçamento), copra, amêndoa, óleos e f ibra) , mi lho, mandioca, madeiras, argi la (cerâmica) e extracção de minérios, muitas mais se poderiam aqui instalar não só como apoio a uma agr icul tura, por ora bastante rot ineira, mas sobretudo para aproveitar os imensos recur­sos em que a Zambézia é pródiga, incorporando sobretudo nos produtos exportados, obtidos de produções primárias, o maior volume possível de trabalho humano.

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Cinema Águia

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Paço do Bispo

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Os dois grandes pilares necessários ao desenvolvimento de qualquer terr i tór io — energia eléctrica e boas vias de comunicação — têm sido o verdadeiro "Calcanhar de Aqu i les" a vencer.

Tem a Zambézia pugnado pela resolução def in i t iva da sua rede v iár ia; muito há que rea­lizar ainda para alcançar razoável satisfação da i suas imensas necessidades. Esperancemo-nos, no entanto, que num período próximo as principais vias de comunicação tenham o arranjo def in i t ivo que o seu tráfego já just i f ica, encarando-as como meio de rentabil idade indirecta.

Edifício «Ferreira & Faria»

O problema da energia eléctrica está a ser estudado com afinco e interesse, dado que o sua solução é vi tal para o desenvolvimento de Quelimane e, simultaneamente, de toda a Zam­bézia e importante para a economia da Província.

Recorrendo-se, como sucede actualmente em quase toda a Zambézia, a centrais térmicas al imentadas a diesel, que aqui chega a preços mui to elevados, não pode, cie forma alguma, obter-se energia barata, e consequentemente o rápido desenvolvimento agrícola e industrial de que tan to se carece.

Como resultado de estudos recentes, encara-se a hipótese da construção de aproveita­mentos hidroeléctricos, neste distr i to, e l imite com o Distr i to de Nampula, alguns dos quais — conjunto Luo-Lugela e sistema L ú r i o — , tem já adjudicados os respectivos anteprojectos à f i rma SOFRELEC (Société Française d'Études et Réalizations Électriques-Paris) pela impor­tância de escudos 33 320 000$00.

Ul t imamente, e mercê talvez do propósito demonstrado em encontrar-se uma solução para o problema de produção e fornecimento de energia eléctrica, a par do reconhecimento mais profundo das potencialidades do terreno para diversas culturas, há já f i rmas constituídas com capitais portugueses e estrangeiros interessadas em estabelecer na Zambézia, mui to próximo de Quelimane, o que redundará em benefício para a cidade.

No campo do ensino, teve a cidade nestes últ imos anos um grande impulso com a criação de um Liceu — com frequência de cerca de 340 alunos, hoje já com os três ciclos em funciona­mento — uma Escola Técnica em edifício próprio e moderno — com frequência de cerca de 810 alunos.

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Edifício Monteiro e Giro

Além destes estabelecimentos de ensino continua em funcionamento o Colégio Nuno Álvares com leccionação até ao 5.° ano dos Liceus e com a frequência de cerca de 300 alunos; e está já em construção um outro colégio para rapazes.

O r i tmo de construção não acompanhou a evolução social do meio, lutando-se ainda com bastante fa l ta de habitações, sobretudo para as classes média e economicamente débeis, que recorrem, quase exclusivamente, à habitação do t ipo tradicional — casas de madeira revestidas a argi la e cobertas a folha de palmeira, o que, aliás, as preserva do calor.

A resolução do abastecimento de energia eléctrica à cidade em melhores condições de preço, será sem dúvida o factor determinante do seu desenvolvimento, tal como sucedeu na cidade da Beira.

Hotel Vera Cruz

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HISTÓRIA DOS DISTRITO DA ZAMBÉZIA

Quelimane, capital do Distr i to da Zambézia, está situada na margem esquerda do Rio dos Bons Sinais, a 18 milhas da barra do Tangalane. Em 9 de Maio de 1761, por carta régia dir igida ao Governador e Capitão-General da Praça de Moçambique, Calisto Rangel de Sá, foi a povoação elevada à categoria de vi la. Em 1942 foi elevada a cidade por portaria do Minist ro do Ultramar.

Quelimane, um dos centros populacionais mais vastos e antigos de Moçambique, conser­vando as suas tradições de uma já mui to longa integração entre as raças que ali vivem, não se deixou paralisar na contemplação do seu passado pitoresco. É hoje uma cidade moderna e em constante desenvolvimento, atravessada por boas artérias e possuidora de construções de vulto, destacando-se o grandioso edifício da f i rma Monteiro & Giro, que talvez possa ser considerado o maior de toda a Província.

Rodeada de grandes bosques de palmeiras, a cidade de Quelimane é o centro de uma região de grande interesse turístico.

Quelimane é o ponto de convergência das riquezas do distr i to e as suas condições actuais permitem que os habitantes vivam com todo o conforto da vida moderna : possui cinema uma piscina, campos de ténis, futebol e outros desportos e numerosos clubes sociais e desportivos.

Existem no distr i to quatro portos naturais : Quelimane, Chinde, Macuse e Pebane — todos frequentados pela navegação costeira.

A cidade possui já um cais acostável com 120 metros de extensão e 1 5 de largura, presen­temente sofrendo ampliação; a construção foi terminada em 1954 e permite a acostagem a embarcações até 18 pés de calado. O cais, depois de concluídas as obras, deverá ficar com 210 metros de extensão.

Entre as associações e clubes, registamos a Associação de Fomento, o Clube Ferroviário, o Sport Quelimane e Benfica e o Sporting Clube de Quelimane, além de outros.

O distr i to tem as seguintes divisões administrat ivas : Quelimane, Chinde, Mocuba, A l to Molócuè, Gúruè, He, Lugela, Magan ja , Mi lange. Mopeia, Morrumbala, Namacurra, Namarrói e Pebane.

Quase todos os centros possuem pequenos aeródromos, escalados pelos aviões de uma Empresa de Aero-Táxis, além dos aviões da DETA, que servem Quelimane.

A Zambézia é uma região agrícola de notável r iqueza, possuindo os maiores palmares do mundo! É o segundo dist r i to da Província em população, e de solo riquíssimo.

No Distr i to da Zambézia cult ivam-se o chá, algodão, sisal, açúcar, milho e castanha de caju. Tem a copra e o coco.

No sector da pecuária tem : gado bovino, caprino e suíno.

A Zambézia é o distr i to que maior número de divisas dá à Província.

Quelimane, sua capi ta l , é uma cidade em constante progresso e desenvolvimento, incluindo o urbanístico.

O actual Governador do Distr i to da Zambézia é o Tenente-Coronel Beça Múrias.

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SOCIEDADE AGRÍCOLA DO MADAL

Instalações da M A D A L

A SOCIEDADE AGRÍCOLA DO M A D A L , estabelecida em Quelimane desde 1903, teve como fundadores, o Príncipe Alber to de Mónaco — bisavô do Príncipe Rainier, do Mónaco — e conjuntamente, capitais marselheses.

A Sociedade, actualmente, dedica-se às seguintes actividades : agrícola, pecuária, comer­cial e industr ia l , no Distr i to da Zambézia, nos concelhos de Quelimane, Chinde e Mocuba e nas circunscrições da Maganja da Costa e do Lugela, ut i l izando cerca de 200 empregados com carácter permanente e empregando 5000 trabalhadores rurais.

Nas áreas dos concelhos de Quelimane e Chinde, nos postos de Inhassunge e Micaune e na circunscrição da Maganja da Costa, no posto do Bajone, como agricultor de copra, possui a empresa 1 464 166 palmeiras das quais 980 551 em produção plena, como criador de gado e nas mesmas divisões administrat ivas mantém a Sociedade 13 390 cabeças de gado bovino além de outras espécies, pretendendo aumentar para 25 mil cabeças.

Como produtor de chá, na circunscrição do Lugela e no posto do Tacuane, cult iva a em­presa uma área de 750 hectares, dos quais mais de 500 em produção e com uma média, por hectare, considerada recorde em Moçambique.

A actividade comercial, central izada em Quelimane, na sede da Sociedade, estende-se às f i l iais de Mocuba, Micaune e Inhassunge e exerce, além da exportação dos artigos da sua produção, também a importação dos mais diversos artigos.

É Agente Distr ibuidor, no distr i to, dos produtos Ford, Nestlé, Mob i l , Cuf, Basf, Michel in e outros, e ainda como Agente de Navegação Mar í t ima e Aérea na praça de Quelimane, bem como o Agente de Seguros em representação das Companhias Império e Lloyds, sendo também Agente Transi tár io, no porto de Quelimane.

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Como industr ia l , a M A D A L possui uma fábrica de chá no Tacuane, dotada de maquinaria de mais moderna, estando projectada a construção de uma outra unidade. Possui várias oficinas de serralharia e de reparação de veículos, em Quelimane, Inhangulue, Micaune e Matu lune, e uma oficina de reparações navais em Marrubune. Várias moagens para consumo próprio, com instalações todas dotadas de geradores próprios de energia eléctrica, e no Tacuane está a pro­ceder à montagem de uma central hidroeléctrica, nos melhores moldes de técnica, segurança e economia, para abastecimento de energia a todas as suas actividades daquela área.

Para os seus serviços agrícolas, dispõe a empresa de diversos parques de maquinaria e alfaias, integrados de 40 tractores, 40 atrelados basculantes e f ixos, niveladoras, escavadoras, bem como centenas de alfaias como charruas, grades, ceifeiras e o mais diverso material .

Para transportes por terra, de pessoas e mercadorias, possui a Sociedade cerca de 35 camiões e camionetas, «jeeps» e «land-rovers», quase uma centena de motos e motorizadas e ainda vários centos de carros de bois.

Os transportes f luviais, entre as várias propriedades, são feitos por um conjunto de duas dezenas de lanchas de ferro, com uma tonelagem de quase 1000 toneladas de deslocação, para o que dispõe de 7 rebocadores movidos a diesel, bem como instalações para armazenagem de combustíveis e óleo, espalhadas por diversos locais.

Distribuídos pelas várias propriedades da empresa, possui a Sociedade quase uma centena de armazéns de alvenaria, 42 estufas para secagem da copra, mais de uma centena de poços de bebedouro para gado, diversos currais de t ratamento de gado, 20 tanques carracicidas, etc.

Para instalação dos empregados, dispõe a Sociedade de mais de uma centena de residên­cias, bem como para cima de um milhar de pequenas moradias para o pessoal eventual, to­das em alvenaria.

Para garant ia de comunicações entre os vários sectores da empresa, além da estrada e da via f luv ia l , mantém a empresa 4 campos de aviação, servidos, quase que diariamente, por aviões com quem a Sociedade mantém avenças, estando as sedes das diversas plantações ligadas cem Quelimane por 7 postos de rádio, além do telefone, quando existente.

No campo social, a Sociedade possui diversos postos médicos, servidos por 6 enfermeiros diplomados, dirigidos por um médico contratado pela empresa e por 3 médicos avençados e duas enfermeiras regionais; nos pontos de maior concentração, com maternidades e mais instalações sanitárias apropriadas.

O Conde de Babone junto de alguns elementos da equipa de futebol da Madal .

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Para educação dos filhos dos seus empregados e até para as crianças das populações rurais limítrofes das suas actividades, são mantidas pela empresa, 15 escolas primárias, com professores habilitados nas Missões Católicas, e frequentadas, actualmente, por mais de 1000 crianças.

Em Quelimane, e para os filhos dos empregados vivendo no interior, não servido por esco­las oficiais, possui a empresa dois internatos para albergar crianças, de ambos os sexos, que frequentam na cidade o ensino primário e o secundário oficiais, pagando os empregados uma pequena verba.

A empresa mantém cerca de 20 campos de jogos, mormente para futebol , cujas equipas são orientadas por empregados com alguns conhecimentos desportivos, sendo de sua conta o fornecimento de todo o equipamento desportivo e os transportes, a quando das competições inter-regionais.

Finalmente, organiza a Sociedade, por vezes, festivais desportivos e recreativos, com exi­bições do agrado das populações, exibições de cinema e folclore regionais, etc.

As principais exportações da SOCIEDADE AGRÍCOLA DO M A D A L são a copra e o chá. Este é exportado para a Europa, sendo na sua maior parte para a Inglaterra, seguida da Ale­manha. Uma pequena parte da produção é exportada para os Estados Unidos da América.

A copra é exportada para o Médio Oriente, isto é, para Israel.

O valor dessas exportações anuais oscila entre 75 a 80 mil contos.

Na sede da empresa, na cidade de Quelimane, há dois Administradores : o português João Bobone e o suíço Henri Hubert, que se radicou na Província de Moçambique há 33 anos. Há, a inda, um terceiro Administrador, que se encontra na fábrica de chá, em Tacuane, que é de nacionalidade inglesa.

Por tudo quanto f ica descrito acerca desta grande e prestigiosa organização moçambi­cana, se avalia o seu contr ibuto para o progresso económico e social da Zambézia, e da Pro­víncia, em geral.

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PIONEIRO DA INDÚSTRIA AÇUCAREIRA EM MOÇAMBIQUE

JOHN PETER HORNUNG

Portugal, que podia honrar-se de ter sido precursor da cultura e da industrial ização da cana sacarina em terras do Ocidente; primeiro a Madeira, a seguir os Açores, depois S. Tomé e por f i m , o vastíssimo Brasil ; Portugal que se bastara a si próprio e fora exportador para as refinações da Inglaterra, Flandres e A lemanha; Portugal, que t ivera na Madeira os mais aprecia­dos açúcares, fora decaindo na produção, não só devido ao progresso da cultura na América Cen­t ra l , como também, pela independência do Brasil, e vira-se passar de exportador a importador.

Em fins do século X I X eram já a Inglaterra, a Alemanha e a França, como a Áustr ia e o Egipto, quem, longe de receber os nossos açúcares, fornecia o mercado interno português. E já então a importação subia a mais de 27 mil toneladas.

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Era necessário reatar a tradição açucareira portuguesa. A essa tarefa, com arrojo e inte­l igência, meteu ombros JOHN PETER HORNUNG, denodado batalhador e pioneiro.

Tarefa quase sobre-humana impôs a si mesmo, a de desbravar a selva, plantando cana, acarretando materiais, reunindo o capital esquivo, de então, para em luta contra o meio, contra o c l ima, o tempo e o espaço, montar em Mopeia, a 120 q u i l ó m e t r o s — e m linha r e c t a — d a costa, a primeira fábrica açucareira de Moçambique, o que em 1893 já exportava para a Me­trópole o açúcar ali produzido. Estava, assim, iniciado, num reatamento da tradição açucareira portuguesa, o ciclo do açúcar moçambicano.

Chegou à Zambézia por alturas de 1890 JOHN PETER HORNUNG, aquele que vir ia a ser o pioneiro da indústria açucareira em Moçambique.

Unido pelo casamento com a ilustre senhoru D. Laura de Paiva Raposo — f a m í l i a portu­guesa de nome bem conhecido na ocupação da Z a m b é z i a — traz consigo todo o dinamismo, todo o entusiasmo pelo progresso daquela terra lusitana, a que o ligava já o sentimento e a que em breve quereria como se a sua própria terra natal fosse.

Pelo notável esforço despendido e pela obra que ia criando, JOHN PETER HORNUNG recebeu os maiores louvores das autoridades portuguesas, tendo sido condecorado pelo Gover­no com a Ordem Mi l i t a r de Cristo, como reconhecimento pelo seu notável empreendimento, que tanto veio valorizar a Província de Moçambique e a economia nacional.

A produção de Moçambique vir ia a ser decisiva na nacionalização da produção e do con­sumo do açúcar português.

Escritórios no Luabo

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Clube do Luabo

A tudo preside hoje com o mesmo entusiasmo e dinamismo o neto do fundador : Coro­nel J. D. HORNUNG, OB. ; E, M.C., como já anter iormente o f izera, durante longos anos, seu pai, o Coronel CHARLES HORNUNG, grande impulsionador da empresa, cujo nome todos ainda recordam como grande amigo de Portugal.

Do que hoje vale o empreendimento sob os aspectos económico e social de Moçambique, dão ideia, ainda que bastante incompleta, os seguintes quadros :

Campa de aviação

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DESPESAS COM RECREIO :

Clubes, cinema e desporto : golfe, ténis, futebol — 390 000$00.

Trabalhadores i nd ígenas—1964 .

Número m é d i o — 18 594.

Vencendo : Salários e gratif icações — 49 150 873$00.

Hospital do Luabo

Vestuário — 3 340 895$00

Alo jamento — 4 691 012$00.

Al imentação — 44 241 780$00.

Recrutamento e transportes — 21 097 450$00.

Num tota l de 122 521 010$00.

Assistência médica e farmacêutica— 1964

Hospitais centrais — Luabo e Marromeu.

Hospitais regionais — Luabo, Marromeu e Mat i lde .

Enfermarias e postos sanitários em todos os acampamentos.

Despesa em 1964 — 6 274 848$00.

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Transportes e mecânica agrícola— 1964

Caminhos de ferro — 350 quilómetros.

30 locomotivas e automotoras, 2000 vagões e zorras diversas.

Frota do Zambeze — 9 vapores com os respectivos batelões.

No porto do Chihde — Rebocadores, dois pontões, estaleiros, oficinas de reparações.

Apetrechamento mecânico :

109 tractores, 13 locomotivas a diesel, 30 charruas e grades de discos e valadores.

24 locomotivas a vapor, 5 escavadoras, 2 grupos motobombas, 2 dragas, alfaias, espa

dores de adubos, etc.

Comunicações telefónicas ou radiofelefánicas privativas :

Entre as diversas propriedades e acampamentos.

Outras actividades em exploração— 1964

Copra — Palmar na Mat i lde .

Capacidade de produção :

À data do Decreto-Lei n.° 38 701 (Março de 1 9 5 2 ) — 6 5 000 toneladas.

1 9 6 4 — 1 3 0 000 toneladas

Área plantada

1964 — 21 359 hectares

Área cortada

1 9 6 4 — 16 211 hectares com 805 838 toneladas de cana.

Açúcar produzido

Em 1964 — 96 794 toneladas.

D i s t r i bu i ção— 1964 (ano civil) :

Vendido na Província — 41 471 toneladas.

Embarcado para a Metrópole e outras Províncias Ultramarinas — 60 380 toneladas.

Pessoal civi l izado ( 1 9 6 4 ) — 6 0 0 empregados com 1450 famil iares.

Vencimentos pagos — 33 500 000$00.

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Benefícios de carácter social no valor de Escudos 19 700 000$00.

Total de Escudos 53 200 000$00.

Capitação média mensal — Escudos 8 800$00.

Pessoal civi l izado :

Benefícios de carácter social •— 1964.

Subsídios de famíl ia — 5 215 0C0$00.

Subsídio de e s t u d o — 1 410 000$00.

Despesas de alojamento (casa mobilada) —2 084 300$>00.

Despesas de viagem (férias, etc.) — 5 154 000$00.

Gado :

Exploração pecuária — Caoxe, Mopeia, Mat i lde e Marromeu.

Caminho de ferro :

Marromeu-Caia, em ligação com o Trans-Zambezia.

Refinaria em Lisboa.

Por tudo que atrás fica apontado se depreende o lugar de relevo que a SENA SUGAR ESTATES, LTD ocupa, não só na economia de Moçambique, como também da Nação, marcando lugar de destaque na l inha avançada das grandes açucareiros mundiais e o primeiro lugar entre as empresas açucareiros portuguesas, orgulhandc-se a SENA SUGAR ESTATES de haver reatado ft servido a longa tradição açucareira lusitana.

Sempre adaptada às condições de vida nacional, atravessou todas as crises do país neste extenso período, seguindo os altos e baixos da indústria açucareira, reconstituída na esteira das ousadas iniciativas dos pioneiros zambezianos.

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O novo barco «Zomba» na doca do Chinde

Formada para servir o público português, no quadro da soberania, da política e da admi­nistração portuguesa, nunca deste objectivo se afastou e a ele permanece f iel .

Procurou ser no Ul t ramar um elemento ú t i l , pelo desenvolvimento ininterrupto das suas actividades agrícolas e industriais, pelo largo investimento dos capitais que o mercado recla­mava e reclama, pelo emprego dos mais avançados processos técnicos de cultura e fabrico, pelo exemplar cumprimento dos deveres que a sua posição de colonizadora lhe impunha perante as populações indígenas.

Procurou sempre, com cuidado e pert inácia, fazer das suas povoações, plantações e fábricas, centros de irradiação da vida e da cultura portuguesa.

Casa do Director e escritório, no Chinde

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Interior da fábrica do açúcar, no Luabo

Seguiu sempre, nos seus laboratórios e campos de experiências, os avanços da técnica agrícola e fabri l açucareiros, para os aplicar, com sentido prát ico, na sua produção, sem que, contudo, se deixasse levar por inovações que muitas vezes seduzem os teóricos, apenas por­que trazem a graça da novidade.

Soube corresponder ao que dela exigira o Decreto-Lei n.° 38 7 0 1 , aumentando em mais de cinquenta por cento a sua produção efectiva.

Integrada no momento que passa, sabe perfeitamente que, mais do que do interesse ime­diato, o fu turo de todas as-empresas depende do rigoroso desempenho do seu dever nacional e social : não se afastará deste para at ingir , no contacto com as populações nativas, as formas de vida superior que vão ganhando direi to e, pela perfeição dos processos de trabalho, a qual i­dade e quantidade de um produto que, num alto nível de civi l ização, o público deve consumir.

Neste ano de 1966, a SENA SUGAR ESTATES sente poder declarar-se apetrechada moral e mater ia lmente, para continuar o seu esforço na l inha da sua orientação de sempre : «ABAS­TECER PORTUGAL COM AÇÚCAR PORTUGUÊS»!

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EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA

A história desta organização mineira teve o seu início num conjunto de parcelamentos explorados, mais propriamente denominados por «claimes», cuja sociedade por quotas se cha­mava Empresa Mineira do Naipa, Lda. Esta empresa, fundindo-se e sendo ampliada com novos sócios, por escritura de 6 de Setembro de 1947, passou a denominar-se EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA, LDA., com o capital de 10 mil contos.

Os primeiros sócios foram : Dr. Calisto Mart ins Baptista, Ernesto Porfírio de Araújo e Adrião de Faria Gonçalves.

A Sociedade t inha por objectivo principal a lavra e exploração dos jazigos existentes na mina de Naipa, concessão t i tu lada a favor de Faria Gonçalves.

Foi desta Sociedade que part iu a ideia da constituição da EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA. Foram aqueles sócios que, em conjunto com Estêvão Guerreiro de Almeida Lima e Jacinto Mar ia Ribeiro, combinaram formar a nova empresa com a incorporação das conces­sões t i tuladas a favor destes últ imos e da t i tu lada a favor de Adrião de Faria Gonçalves.

A administração da nova Sociedade passou a ser exercida pelos sócios Estêvão Guerreiro de Almeida Lima, Adrião de Faria Gonçalves e Ot to Barbosa da Silva, que f icaram sendo gerentes até novo mandato dado por Assembleia Geral. Por decreto publicado em 9 de Dezembro de 1946 pelo Ministér io do Ul t ramar, a empresa obtém, em 4 de Janeiro de 1947, a concessão de exclusivo e o direi to de exploração e aproveitamento de todos os jazigos minerais — c o m excepção de petróleos e quaisquer óleos minerais, produtos betuminosos e gases hidrocarbona-dos que os acompanhem — existentes na Circunscrição do A l to Molócuè, Distr i to da Zambézia.

Essa concessão foi celebrada em Lisboa na Secretaria-Geral do Cartório Ultramarino. Ao elevar o seu capital social para t r in ta mil contos, a empresa deixou de ser uma sociedade por quotas para se transformar em sociedade anónima de responsabilidade l imitada.

No ano de 1948 foi aumentado o capital para quarenta mil contos, fazendo-se uma emis­são de 10 mil acções, no valor nominal de mil escudos cada, tendo sido adquiridas cerca de quatro mil acções.

A EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA explora os seguintes minérios :

Berilo industr ial , berilo transparente, berilc cristal izado, bismuto, cristais de quartzo, cassiterite, lepidolite, monazite, mica, ouro, polucite, lamarskite, Columbo, tanta l i te e turma-linas.

As turmalinas exploradas por esta empresa mineira são de mui to boa qualidade, e já muito conhecidas nos mercados da Alemanha e da Suíça.

As vendas de minérios at ing i ram em 1961 a importância líquida de sete mil e oitocentos e cinquenta contos, aproximadamente.

Actualmente, o número de empregados nas minas e na sede é de dezasseis europeus e trezentos indígenas.

Desde 1 de Janeiro de 1963 que o presidente do Conselho de Administração é o General Carlos Alberto Barcelos do Nascimento e Silva, administrador da empresa por parte do Estado, no mesmo Conselho.

São vogais : Dr. Lorindo Adél io dos Santos Garcia, Dr. Antón io A lmi ro do Vale e Manuel Nunes; o Eng.° Antón io Balbino Ramalho Correia, como delegado do Governo.

A EMPRESA M I N E I R A DO ALTO LIGONHA foi a primeira no seu género, que se cons-Yítuiu com possibilidades de cont inuidade, laborando há 23 anos consecutivos.

Em 1906 teve início a montagem da primeira estação hidroeléctrica do rio Tristão, no Distr i to de Manica e Sofala. Supõe-se que esta foi a primeira no seu género, em terr i tór io português. A sua ut i l ização destinava-se a trabalhos de exploração mineira, sobretudo mine­ração do ouro. Essa primeira tentat iva de exploração ter ia durado uma década.

Deste modo, a EMPRESA MINEIRA DO ALTO LIGONHA deve considerar-se a pioneira.

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GRÉMIO DOS PLANTADORES DE CHÁ DO DISTRITO DA ZAMBÉZIA

O GRÉMIO DOS PLANTADORES DE CHÁ DO DISTRITO DA Z A M B É Z I A tem a sua sede na capital do distr i to — Q u e l i m a n e — , tendo sido aprovados os seus Estatutos em Dezembro de 1954. O Grémio só iniciou as suas actividades em Fevereiro de 1956.

A missão do Grémio, entre outras, é a de zelar pelos interesses dos produtores e planta­dores de chá, com a inclusão da promoção de vendas nos mercados internacionais, em que tem lugar de relevo o mercado londrino. O Grémio publica, iodos os anos, estatísticas sobre a pro­dução do chá, vendas, preços dos mercados internacionais, e t c , pelas quais são elucidados todos os interessados.

Um belo aspecto do Gúruè

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Alguns números que revelam, concretamente, a importância da produção do chá nas quatro importantes regiões :

Gúruè : Produção por hectares, em 1964 — 696 312. Por quilos — 6 468 744. Área plantada — 9290 hectares.

Milange : Produção por hectares, em 1964 — 7 7 8 2 7 7 . Por q u i l o s — 1 4 3 5 9 2 1 . Área p l a n t a d a — 1 8 4 5 hectares.

Socone : Produção por hectares, em 1964 — 451 853. Por q u i l o s — 1 164 877 Área plantada — 2578 hectares.

Tacuane : Produção por hectares, em 1964 — 8 1 3 0 5 5 . Por quilos — 996 806. Área p l a n t a d a — 1 2 2 6 hectares.

Exportação (por destinos) :

Portugal — Metrópole, Angola, Cabo Verde, S. Tomé e Madeira. Es t range i ro—Ing la te r ra , Ir landa, Austrá l ia Nova Zelândia, Holanda, Alemanha, Estados

Unidos da Amér ica, Somali lândia, Canadá, Tunísia, Quénia, França, Áf r ica do Sul, Singapura, Sudão, Malásia, Japão, Ma law i , Escandinávia, Dinamarca, Ceilão, Tai lândia, e outros.

Nestes anos de existência, o Grémio tem procurado at ingi r os fins para que foi criado, cont inuando, estamos certos, a dedicar-se com o maior interesse aos problemas da produção do chá e daqueles que à sua produção se dedicam, pois trata-se de um sector económico que mui to pesa na balança da economia da Província.

À Direcção do GRÉMIO DOS PLANTADORES DE CHÁ e ao seu secretário, Sr. Sequeira, agradecemos penhorados todas as genti lezas recebidas e as facilidades proporcionadas para uma visita às regiões do chá, nomeadamente a do Gúruè, sem as quais a nossa missão f icaria incompleta.

A todas as pessoas que nos acompanharam nas regiões do chá, aqui patenteamos, também, os nossos agradecimentos.

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MANUEL SARAIVA JUNQUEIRO

UM DOS MAIORES PIONEIROS DA CULTURA DO CHÁ NO GÚRUÈ

Deixar de mencionar o nome de M A N U E L SARAIVA JUNQUEIRO, numa obra dedicada aos pioneiros, seria imperdoável.

Durante a nossa visita às Plantações de Chá do Gúruè, observámos, entre outras de grande projecção, as plantações criadas por Manuel Saraiva Junqueiro — que uma tarde já longínqua tivemos ocasião de conhecer num encontro ocasional na redação de um jornal de Lourenço Marques. M A N U E L SARAIVA JUNQUEIRO, ainda mui to novo, encontrou a morte num desastre de aviação em 1951, precisamente numa al tura em que a vida lhe sorria, cheia de esperanças, depois de anos de árdua luta e labor, entremeados de horas de desânimo e esperança, em que teimosamente ia sempre caminhando em frente, até que encontrou o t r iunfo, tal como aconteceu com tantos outros pioneiros, grandes batalhadores e vencedores das terras de Gúruè.

Um acampamento indígena

Continuando a historiar a vida deste pioneiro, diremos que iniciou as suas plantações de chá em 1929. A área cult ivada em 1964, era de 1150 hectares. A produção de chá, nesse mesmo ano, foi de 1 051 736 quilos. Na mão-de-obra, a organização emprega, diar iamente, 2200 nativos, tendo nos escritórios e outras secções, 23 empregados europeus. Os seus em­pregados e trabalhadores têm toda a assistência médica, que lhes é ministrada por um médico privat ivo, bem como medicamentos para todo o pessoal, incluindo suas famílias.

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A organização possui uma enfermaria, uma escola e uma creche, parque de desportos e in fan t i l , além de cinema periódico. Os Acampamentos do pessoal nativo são todos de alvenaria.

As plantações são servidas por duas fábricas, uma das quais funcionando nos mais mo­dernos sistemas. A organização dedica-se, também, à produção de aleurites e à pecuária, pos­suindo 800 cabeças de gado bovino.

O chá produzido pelas plantações é exportado para a Metrópole e mercados da Inglaterra, Estados Unidos da América, Canadá, Áfr ica do Sul, Quénia, Holanda e Ir landa. As PLANTA­ÇÕES M A N U E L SARAIVA JUNQUEIRO, por morte do seu dono e fundador, passaram a ser pertença da viúva, sua f i lha e genro. Em homenagem à memória de M A N U E L SARAIVA J U N ­QUEIRO, a V i la do Gúruè passou a denominar-se V i la Junqueiro, perpetuando assim o nome de um dos grandes pioneiros que desbravaram as terras do Gúruè, contribuindo para a sua valo­rização, economia e civi l ização, que f izeram delas a «Suíça de Moçambique»!

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UM GRANDE PIONEIRO DO GÚRUÈ — JOSÉ FARINHA MIGUEL

Natural da Sertã, f i lho de agricultores, JOSÉ FARINHA MIGUEL veio para Moçambique em 1921, tendo 19 anos de idade. Fixou-se em princípio em Lourenço Marques, mas devido a crise de emprego foi até ao Chai-Chai em busca de emprego, não sendo mais afortunado. Foi então que decidiu tentar a sorte pela costa, o que fez, tomando uma velha lancha que o levou até Tete. Pouco tempo depois colocava-se em Megaza, na f i rma Lopes & Irmãos, que então iniciava as suas actividades. Mais tarde, JOSÉ FARINHA MIGUEL fixou-se no Ile', como fun ­cionário. Foi ali aue conheceu o pioneiro Amér ico Colaço Felizardo, que era empregado de Manuel Saraiva Junqueiro, e um seu companheiro de trabalho, José Aires Esperança Ferreira, com quem fez sociedade, ao f im de quatro anos. Essa sociedade adoptou o nome de AGRÍCOLA DE MOGADE», que era no Ile, e se iniciou em 1929.

A criação desta sociedade só foi possível em virtude de nesse ano terem terminado em Moçambique todas as Companhias Majestát icas, que usufruíam grande monopólio, o que d i f i ­cultava a criação e estabelecimento de agricultores individuais ou de pequenas sociedades. Américo Colaço Felizardo possuía plantações de tabaco e dedicava-se, também, à criação de gado.

Quando em 1929 criaram essa sociedade, t inham em vista dedicar-se à plantação de chá na região do Gúruè, onde fundaram uma f i l ia l . Mais tarde, porque as plantações de tabaco lhes estavam a dar prejuízo por fa l ta de poder de compra, resolveram dedicar-se só às plantações de chá, e criaram uma nova sociedade, a que deram o nome de CHÁ MOÇAMBIQUE, LDA., cujo início foi em 12 de Abr i l de 1936. No primeiro ano iniciaram as plantações com 20 hecta­res; no segundo ano com 50 hectares no terceiro ano com 100 hectares e no quarto ano com 130 hectares. Só no quinto ano de trabalho é que obtiveram a primeira colheita de chá, ven-

Vista aérea da fábrica

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Preparação da chá

dendo-a à Companhia da Zambézia, que foi a primeira organização Agrícola do Gúruè a possuir uma fábrica. Foram aumentando sempre as plantações até que em 1939 foi iniciada a construção da fábr ica, f icando concluída em 1940, laborando já com as colheitas obtidas nesse ano. De então para cá, a fábrica tem sido continuamente aumentada. Hoje a organização cul­t iva dois mil hectares de chá, incluindo plantações novas, ainda sem dar colheita. CHÁ MO­ÇAMBIQUE produz, anualmente, cerca de mil quilos de chá, por hectare. O seu total eleva-se a mil e setecentas toneladas.

Para aqueles que desconhecem, elucidamos que cada plantação nova que se faz leva cinco anos até começar a produzir chá, isto é, colheitas. Em 1955 a quota de José Aires Esperança Ferreira foi comprada pelos outros dois sócios. Anter iormente, em 1951, entrou para a socie­dade, o pioneiro Manuel Nunes. A organização emprega nas plantações e na fábr ica, cerca de três mil nativos e t r in ta europeus. Exporta para Inglaterra, Holanda, Alemanha, Austrál ia, Estados Unidos, Canadá e Áfr ica do Sul. O valor dessas exportações anuais oscila entre 45 a 50 mil contos. As despesas anuais elevam-se a mais de t r in ta mi l contos. Nestes números estão englobados os salários, despesa de al imentação com o pessoal, incluindo roupas, assistência médica, etc.

É interessante acrescentar, que os pioneiros de chá foram os primeiros europeus a f ixarem--se naquela região, e a população nativa somente se f ixara nos cumes dos montes, porque as zonas baixas eram infestadas de leões. As dif iculdades que inicialmente t iveram foram muito grandes e de toda a ordem, desde o desbravar a densa meta, como serem os próprios técnicos da fábr ica, tendo t ido que ensinar os trabalhadores nativos, um por um, na cultura do chá.

A JOSÉ FARINHA MIGUEL e seus companheiros se deve todo este admirável empreendi­mento agrícola da A l t a Zambézia, criando uma das mais belas e vastas plantações de chá do mundo. Só com mui to sacrifício, dedicação e persistência esta obra foi possível! JOSÉ FARI­N H A MIGUEL esteve agarrado à sua plantação mais de vinte anos, sem gozar quaisquer férias, nc Província ou na Metrópole! Bem hajam pela riqueza que fomentaram, que não é só deles, mas também de todos nós, portugueses!

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COMO NASCEU A COOPERATIVA AGRÍCOLA DO GÚRUÈ E A FABRICA DE CHÁ

O edifício actual da fábrica

Cooperativa e fábrica foram concluídas há dois anos. A construção da fábrica de chá foi fe i ta a expensas do Estado e entregue a funcionar à Cooperativa dos pequenos agricultores da região. É um edifício amplo, com capacidade para uma produção mensal de 140 toneladas de folha verde. Está delineada, no entanto, de forma a receber mais maquinismos, de maneira a poder operar maior tonelagem de chá para exportação.

Pormenor do edifício

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A fábrica começou a laborar em 22 de Dezembro de 1964. O chá, depois de manipulado, é enviado para Londres, onde aguarda venda. Depois desta efectuada e apurados os resultados líquidos, estes são distribuídos proporcionalmente pelo valor das colheitas dos seus associados.

O coeficiente líquido em sobra é encontrado após as percentagens atribuídas à manipula­ção da fo lha, despesas de conservação, laboração, depreciação, etc. Quando o agricultor entrega a sua folha verde à pesagem, é-lhe creditado em conta especial «x» escudos por quilo, impor­tância que pode ser levantada na sua total idade, se assim o desejar.

O PRESIDENTE DA COOPERATIVA AGRÍCOLA DO GÚRUÈ DR. HENRIQUE DE OLIVEIRA JÚNIOR

0 GRANDE IMPULSIONADOR DA COOPERATIVA

O Dr. Henrique Augusto de Oliveira Júnior é natural da Figueira da Foz, tendo cursado Medicina na Universidade de Coimbra. Veio para Moçambique, colocado como médico na Com­panhia da Zambézia — n o G ú r u è — em 1943.

Afeiçoando-se à terra, desde então que ali se conserva a exercer a sua actividade como médico. Possui uma plantação de chá, de sociedade com mais quatro irmãos.

Tendo adquir ido vastos conhecimentos no Gúruè, no que respeita à agr icul tura da região, e estando a par dos seus problemas económicos, o Dr. Henrique de Oliveira Júnior foi uma das pessoas que mais influência teve na organização da COOPERATIVA DO GÚRUÈ, cuja função principal é agrupar e ajudar os pequenos plantadores de chá da região, fabricando o chá com a folha colhida e promovendo o f inanciamento e também a colocação nos mercados.

Da Direcção da Cooperativa fazem parte, ainda, José Correia Alemão, como tesoureiro, e Joaquim Francisco Pereira, como secretário.

A criação desta Cooperativa mui to veio beneficiar os pequenos agricultores, possibili­tando uma mais ampla e próspera cultura do chá, uma das maiores riquezas daquela região zambeziana.

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OS COLONATOS DE ALVERCA E MANGONE

SÃO EXEMPLOS ESTIMULANTES DA FORMA COMO O HOMEM SE F IXA À TERRA

Sob a direcção da Brigada do Povoamento da Cultura do Chá, estas duas aldeias alber­gam cerca de duas dezenas de fogos, estando nelas incluídas, dois casais nativos, com nume­rosa prole.

Cada concessão tem uma área de 50 hectares, previsto para as culturas do chá e outras culturas anuais, como o milho, fei jão e quenafe, cujas produções têm colocação assegurada através dos serviços comerciais da Brigada.

Casas de Colonos

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Militares construindo as suas futuras residências

Além das culturas, são distribuídas a cada colono quatro cabeças de gado bovino, além de outras espécies, como a caprina, ovina e porcina, que alguns colonos já possuem para sustento do lar.

Donos de uma bela casa em alvenaria, tendo três salas, cozinha e sanitários, com os requisitos necessários, servida por um depósito privat ivo de água e respectiva fossa séptica. Estas habitações dão um encanto especial, fazendo lembrar aldeias metropolitanas.

Alguns rapazes que foram prestar serviço mi l i tar para Moçambique, f ixaram-se a l i , pre­ferindo as terras prometedoras da A l t a Zambézia a regressarem à Metrópole.

Uma grande parte das casas dos colonatos de Alverca e Mangone foram construídas por soldados destacados no Gúruè, conforme documenta a fotograf ia que ilustra este apontamento.

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ALBERTO PINTO CARNEIRO

ALBERTO PINTO CARNEIRO é natural de Resende, chegando a Moçambique em 1938. Iniciou as suas actividades na região de Quelimane, colocando-se numa serração no mato, no Licuóri, circunscrição de Namacurra. Aí se manteve até 1940.

Depois empregou-se numa organização agrícola, transitando, mais tarde, para a Compa­nhia do Mada l , onde se conservou durante 15 anos.

Em 1955 foi para o Gúruè, colocado como gerente da f i rma Felizardo, onde se manteve até à inauguração da sua pousada, que se efectuou em Agosto de 1963. Anexo à parte da pousada, ALBERTO PINTO CARNEIRO possui, também, um estabelecimento dedicado ao comér­cio indígena, e ainda uma sapataria e uma barbearia, cuja exploração não é sua.

Um aspecto geral da Pousada

ALBERTO PINTO CARNEIRO, homem cheio de tenacidade e inic iat iva, deliberou dotar a vila do Gúruè —a que foi dado o nome de V i la Junqueiro, o nome desse grande pioneiro das terras do Gúruè, em homenagem à sua memória — de uma pousada moderna, que acolhesse 3 recebesse confortavelmente quem visitasse as terras do chá. Assim, como já dissemos, em Agosto de 1963, a vi la passou a contar com a POUSADA MONTEVERDE, em edifício cons­truído para o efeito. A Pousada possui 16 quartos, com quarto de banho privat ivo, quatro sem quarto de banho. Tem ampla sala de jantar, sala de estar e jogos, bar e uma esplanada.

ALBERTO PINTO CARNEIRO dedica-se exclusivamente à exploração da sua Pousada, sen­do ajudado por seu f i lho, Antón io Pinto Carneiro

Graças à iniciat iva deste pioneiro, a l inda terra do chá pode receber, confortavelmente, todos aqueles que a v is i tam, quer seja em viagem de negócios, quer seja para admirar as suas belezas.

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CLUBE DO GÚRUÈ

O CLUBE DO GÚRUÈ, simpática agremiação da gente de Vi la Junqueiro, é o ponto de reunião dos seus residentes, que se reúnem para descansar e se distraírem, quer praticando variados jogos e desportos, quer reunindo-se em alegres repastos.

É também no salão de festas do CLUBE DO GÚRUÈ que se realizam as sessões de cine­ma, dirigidas por Gilberto Rodrigues, enquanto não se constrói um edifício próprio.

Este pioneiro tomou o encargo de construir um cinema em Vi la Junqueiro, em modernos moldes e com todos os requisitos, capaz de bem servir a progressiva vi la, indo, assim, preencher uma lacuna que tanto se faz sentir.

É uma iniciat iva digna de louvores.

Uma Plantação de Chá na maravilhosa paisagem do Gúruè

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PIONEIROS DA INDÚSTRIA DO CHÁ EM MOÇAMBIQUE

SOCIEDADE AGRÍCOLA DO MILANGE E SOCIEDADE CHÁ ORIENTAL

Padrão comemorativo da Ocupação de Milange feita por JOÃO DE AZEVEDO

C O U T I N H O . Soldados Landins fazem a «Guarda de Honra», quando em 1943

visitou a Província, o Ministro das Colónias, Dr. Francisco Vieira Machado.

Para falarmos destas empresas, que tanta projecção têm hoje na vida económica da Zambézia, é necessário recuarmos no tempo, e fazer um pouco de história.

A EMPRESA AGRÍCOLA DO LUGELA, LDA., sociedade por quotas, explorava outrora os «prazos» de Mi lange, Lugela e Lomué, de que era arrendatária. Na al tura em que estes «pra­zos» foram devolvidos ao Estado, em 1928-29, o empresa resolveu restringir as suas explora­ções agrícolas à cultura do chá em Mi lange.

Como se sabe, na região do Malawi — a n t i g a N iassa lând ia—, que confina com o nosso actual concelho de Mi lange, separada daquela pelo rio Melosa, encontram-se florescentes plan­tações de chá.

Sendo o regime de chuvas do nosso Mi lange quase análogo ao da região de Mi lange no Ma law i , era de calcular que se o chá se dava bem para além do nosso Melosa, o mesmo sucederia aquém do mesmo rio. E assim, a EMPRESA DO LUGELA, LDA. começou a explo­rar a cultura do chá, no local onde se encontrava a actual plantação, e para esse objectivo começou a fazer viveiros, em 1915. Em 1916 havia 20 hectares de chá plantado e em 1932 este número subiu para 270 hectares.

A preparação do chá foi iniciada em Novembro de 1924, e na campanha de 1924-1925 fabricaram-se, aproximadamente, 43 toneladas de chá, quase todo exportado para Londres.

Desde 1924 a 1932, a produção aumentou de 45 toneladas a 115 toneladas com excepção de algum ano em que a fa l ta de chuvas se tenha fe i to sentir.

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Acampamento de trabalhadores indígenas

A EMPRESA AGRÍCOLA DO LUGELA, LDA foi a primeira a cult ivar e a preparar várias qualidades de chá na Áf r ica Oriental Portuguesa, tendo conseguido impor as suas marcas em todos os terr i tórios nacionais e no exigente mercado de Londres, e tudo isto devido ao cuida­doso critério com que são feitas as respectivas selecções e misturas.

Em 1933 esta empresa é ex t in ta , passando as plantações para a SOCIEDADE CHÁ ORIENTAL, que se tornou, assim, a sua sucessora na exploração do chá. Em 1953, A SOCIE­DADE CHÁ ORIENTAL entra num acordo, de parceria agrícola com a SOCIEDADE AGRÍCOLA DO MILANGE, estando, na actual idade, a explorar em conjunto as plantações de chá exis­tentes em Mi lange e Melosa.

A área destas plantações orça por 810 hectares, e nela estão instaladas duas grandes fábr i ­cas, ef icientemente apetrechadas.

Cerca de dois mil nativos t rabalham, regularmente, nesta cultura e dezenas de europeus também, desde o pessoal técnico ao dos escritórios, que al i têm a sua actividade assegurada.

A produção de 1933-34 a 1941-42 teve um enorme incremento. De 166 toneladas subiu para 396 toneladas. Este progresso continuou nos anos seguintes. Só em 1953 houve uma redu­ção sensível na produção devido à circunstância de naquele ano se ter registado uma seca sem precedentes.

Assim, em 1964, a produção foi de 1052 toneladas. O chá vendido para Portugal Met ro­pol i tano adoptou o nome de «Chá Celeste» e o chá para venda exclusiva na Província de Moçambique o de «Chá Oriental».

A empresa continua a modernizar as suas fábricas, no sentido de obter as melhores qual i ­dades, ao mesmo tempo que continua a aumentar, gradualmente, as áreas plantadas com chá.

Assim, a SOCIEDADE AGRÍCOLA DO MILANGE e a SOCIEDADE CHÁ ORIENTAL con­t inuam a sua marcha de progresso, numa notável contribuição para a economia de Moçambique.

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GOVERNADOR DO DISTRITO DE TETE

Inspector António Carlos Craveiro Lopes

O Governador do Distr i to de Tete era o Inspector Adminis t rat ivo A N T Ó N I O CARLOS CRAVEIRO LOPES quando visitámos aquele distr i to.

Nascido em Lisboa, iniciou a sua vida no funcionalismo em Junho de 1927, tendo sido colocado como Secretário da Circunscrição da Chupanga, seguindo pouco tempo depois para a Circunscrição de Neves Ferreira.

Serviu várias circunscrições, incluindo quase todas as do Distr i to de Manica e Sofala. Em Dezembro de 1942 foi promovido a Administrador de 2." classe, e em 1948 promovido a Adm i ­nistrador de 1 .a classe. Nesse ano foi chefiar a Circunscrição da Angónia e em 1951 para c. de Cheringoma.

É em Fevereiro de 1955 que o Inspector CRAVEIRO LOPES é colocado na Intendência de Tete, cargo que exerceu até 1956 e promovido em Junho desse ano a Intendente do Distr i to. Em Dezembro de 1957 é colocado na Secretaria Distr i ta l da Administração Civil de Manica e Sofala. No ano seguinte inicia as funções de Encarregado do Governo de Manica e Sofala, cargo que desempenhou até Março de 1959.

Em 1960 foi para Tete, tendo sido nomeado Governador Interino do Distr i to. No ano seguinte foi promovido a Inspector Admin is t ra t ivo e colocado em Angola, tendo continuado, porém, a exercer o cargo de Governador do Distr i to de Tete, onde a sua acção lhe grangeou muitas amizades.

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Escola Pnmária Baptista Coelho

O Inspector A N T Ó N I O CARLOS CRAVEIRO LOPES foi numerosas vezes louvado e conde­corado. Recebeu a Medalha de Prata e Medalha de Ouro de assiduidade de serviço no Ultramar

tm Junho de 1949 foi louvado pela acção desenvolvida na Angónia «por ter demonstrado uma rara actividade, grande espírito de discipline e aprumo moral , inexcedível competência e grande patr iot ismo demonstrado na forma como se houve na preparação para a realização da integração completa da nossa Administração dos territórios que vão'desde M'Phat i ao 'monte Capnuta e desde este à balsa com a Circunscrição da Macanga».

Um dos últ imos louvores recebidos foi em 1961 «pela competência, zelo e dedicação inte­ligência e bom senso notáveis e perfeita lealdade com que tem exercido o carqo de Gover­nador do Distr i to de Tete».

A acção notável que o Inspector CRAVEIRO LOPES desenvolveu em prol de Tete e do seu Distr i to foi v ibrantemente af i rmada pela gente de Tete, que o homenageou signif icat ivamente quando em 1965 se despediu, abandonando a chefia do seu cargo para passar à reforma

Palácio do Governo

Sucedeu-lhe na chefia do distr i to, o Coronel CECÍLIO GONÇALVES, que, tal como o seu antecessor, tem despendido valiosa acção para o progresso do distr i to, que se encontra numa fase de grande desenvolvimento, a que veio juntar-se a obra grandiosa de Cabora-Bassa.

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PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE TETE

E ADMINISTRADOR DO CONCELHO

FERNANDO DE SOUSA LADEIRA fo i , s imultaneamente, o Presidente da Câmara Munic i ­pal de Tete e o Administrador do Concelho.

É natural de Lisboa, tendo vindo para Moçambique com seus pais, aos 10 anos. Em 1942 ingressou no Quadro Adminis t rat ivo de Moçambique, sendo colocado na V i la da Manhiça como aspirante.

Presidente da Câmara Municipal

Em 1959 foi promovido a administrador, servindo, seguidamente, vários Postos da Província.

De 1957 a 1959, foi Secretário do Governador de Manica e Sofala, o então Coronel Macedo Pinto. Em 1960 foi colocado como Administrador de Morrumbala, onde permaneceu até 1962, a l tura em que foi ocupar o lugar de Administ rador de Concelho da cidade de Tete.

Desde Julho de 1964, a pedido do Governador do Distr i to Inspector Antón io Carlos Cra­veiro Lopes, passou a exercer também o cargo de Presidente da Câmara de Tete.

No presente é Administrador do Concelho da Manhiça.

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HISTÓRIA DO DISTRITO DE TETE

O Distr i to de Tete tem a capital na cidade do mesmo nome e é l imitado ao norte pela Rodésia do Norte e Ma law i ; a este pelo Malawi e pelo rio Chire; a sul pelos rios Zambeze e Luenha; a oeste pela Zâmbia e pela Rodésia. O relevo do distr i to é acentuado, tendo regiões saudáveis e planált icas a mais de 1500 metros acima do nível do mar. São as seguintes as divisões administrat ivas do Distr i to : Tete, Angónia, Macanga, Mágoè, Maráv ia, Moat ize, M u ­tarara e Zumbo.

A penetração destas regiões pelos portugueses data do começo do século X V I . Em meados desse século, assinala-se a presença de missionários que acompanham as expedições de Fran­cisco Barreto. No século X V I I , Tete era o centro da penetração comercial para o interior.

O Distr i to de Tete, que estava integrado na ant iga província da Zambézia, fo i , por decreto de Abr i l de 1942, incorporado em Manica e Sofala. Em Outubro de 1954, um decreto restituiu o distr i to à sua anterior posição, com governo próprio.

Um aspecto parcial da cidade

Pelo censo de 1960, a população do distr i to era de 474 024 indivíduos, predominando os seguintes grupos étnicos e suas subdivisões : Munguno ou Angone, Tonga, Ansenga e Nhúngué.

O dist r i to conta com 2864 quilómetros de estradas. O caminho de ferro que liga Moatize a Mutarara deu impulso económico à região e possibil i tou, em grande parte, o transporte do carvão das minas de Moat ize até ao l i toral .

Pelo arrolamento de 1962, a existência pecuária era a seguinte : gado bovino, 125 224 ; caprino, 79 856 ; suíno, 14 038.

A agr icul tura empresarial é mui to reduzida, mas na agr icul tura tradicional salientam-se os seguintes números referentes a produção comprados durante 1962 : algodão em caroço, 6100 ton . ; mi lho, 5800 ton.

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A potencialidade enorme de recursos da bacia do rio Zambeze levou o Governo a encarar, com prioridade, o estudo do plano de desenvolvimento regional da zona, designada generica­mente por «Vale do Zambeze». Em 1957 foi criada a Missão de Fomento e Povoamento do Zambeze para proceder ao reconhecimento e inventariação dos recursos existentes com vista à programação do desenvolvimento da região. Já se procedeu ao levantamento topográfico de todo o vale, por métodos aerofotogrométricos e estudou-se a região no seu aspecto pedológico; paralelamente efectuou-se o estudo cl imático, encontrando-se concluídos os reconhecimentos dos recursos silvícolas e pecuários. Foram iniciadas as bacias hidrográficas e os locais para eventual construção de barragens e seleccionados zonas que se apresentam como mais propícias à existência de jazigos mineiros.

O aproveitamento hidroeléctrico do Zambeze permit i rá uma produção total de energia eléctrica da ordem dos 30 a 35 X IO9 Kwh anuais. Nos recursos do Zambeze há a destacar os do escalão de Cabora-Bassa, que só por si permit i rá a produção anual de 1 5 X IO9 Kwh a custo extremamente baixo. Localizaram-se ocorrência.-; de carvão, considerando-se de primordial im­portância a bacia carbonífera que se estende entre a Chicoa e o Zumbo e que deixa prever a existência de enormes reservas. Localizaram-se também jazigos de t i tano-magnet i tes na zona de Machédua-Massamba e um promissor jazigo de ferro em Muende, além da existência de ferro verif icada na região de Messeca-Fingoé. Existem também jazigos de cobre em Massamba--Chidué e reconheceu-se a presença de f luori te e de jazigos de manganês, níquel, crómio e asbestos.

A área em estudo abrange, além da bacia hidrográfica portuguesa do Zambeze, várias zonas co-interessadas que, com a pr imeira, to ta l izam mais de 182 000 km2, ou seja, um quarto da superfície de Moçambique ou duas vezes Portugal Metropol i tano, beneficiando deste pro­jecto todo o Distr i to de Tete e parte dos Distritos da Zambézia e de Manica e Sofala. O es­quema de arranque por investimento público total izará 5 350 000 contos.

Museu Biblioteca Municipal Franco Rodrigues

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Tete, capital do distr i to do mesmo nome, f ica situada na margem direita do rio Zambeze e foi elevada à categoria de cidade pela portaria de 21 de Março de 1959.

Estabelecida sobre solo agreste e penhascoso, Tete apresenta hoje um aspecto bem dife­rente daquele de há uns anos atrás e que lhe grangeou reputação pouco invejável, em especial entre aqueles que por força de serviço, para lá eram transferidos.

Pelo esforço dos seus habitantes, Tete é hoje uma cidade de agradável aspecto, esten-dendo-se até aos areais do Zambeze, asseada e arrumada. É centro de uma região mineira de fu turo mui to prometedor e dispõe de um bom hotel , excelente local de repouso ou de escala para quem efectua o percurso entre a Niassalândia e a Rodésia, consideravelmente encurtado através do terr i tór io de Moçambique.

A região possui atractivos que lhe conferem um interesse turíst ico apreciável : as ruínas de Sena e curiosos monumentos, como o forte de D. Luís I, a Praça de S. Tiago Maior , etc.

A população do concelho, pelo censo of ic ial de 1960, era de 66 700 almas.

A cidade dispõe de um aeródromo servido por carreiras regulares da DETA.

Estão em actividade as seguintes associações : Associação de Comércio e Indústria de Tete, Clube de Tete, Grupo Desportivo de Tete, Associação Indo-Maometana, Centro Afr icano de Tete e Aero-Clube de Tete, fundado pela população da cidade.

Lar da Criança

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Rio Zambeze — Local onde será construída

a Barragem de «CABORA BASSA»

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VICENTE RIBEIRO DE CASTRO

O pioneiro Comendador VICENTE RIBEIRO E CASTRO nasceu na Metrópole, em Vi la Nova de Famalicão, risonha vi la minhota.

Mu i t o jovem ainda, resolveu tomar o rumo de Moçambique, onde chegou em 1928. Iniciou a sua vida de trabalho, nesta Província, como comerciante em Lourenço Marques.

Aí permaneceu até 1932. Depois foi para a cidade sul-afr icana de Joanesburgo, onde se conservou durante cinco anos, para depois se voltar a f ixar em Moçambique. Desta vez foi para o Distr i to de Tete. Era o ano de 1937. Nessa rica região, possuiu minas de urânio e ouro, que explorou durante 10 anos, desistindo da sua exploração por fa l ta de apoio. Também possuiu 5 estabelecimentos, no mato, que mais tarde vendeu.

VICENTE RIBEIRO E CASTRO, homem de iniciat iva e poder combativo, al iado a um ca­rácter bondoso, ocupou vários lugares de carácter of ic ia l .

VICENTE RIBEIRO E CASTRO e sua Esposa

Foi presidente do Clube de Tete — agremiação cultural das mais antigas da cidade —, vogal da Câmara Munic ipal de Tete e seu vereador de 1961 a 1962.

Em 1958 era Governador do dist r i to Franco Rodrigues — d e quem se af i rma mui to ter contr ibuído para o progresso daquele d i s t r i t o — , que foi grande amigo e admirador da obra construtiva de VICENTE RIBEIRO E CASTRO.

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Tete, nesse ano de 1958, ainda não possuía um hotel condigno, que pudesse receber conve­nientemente quem visitasse a cidade. Era necessário que alguém, de iniciat iva, tomasse sobre si tal encargo.

O Governador Franco Rodrigues, conhecendo bem o seu amigo Ribeiro e Castro, sabendo do que ele era capaz, pediu-lhe que fosse ele a construir o hotel , de que tanto necessitavam. O pedido foi aceite — conforme o Governador já esperava —, iniciando-se a sua construção. Chamar-se-ia HOTEL ZAMBEZE. A obra era grande e, por isso, teria de ser fe i ta em várias fases.

Hotel Zambeze

A morte veio surpreender o grande pioneiro, em 1962, sem ter podido ver concluída a sua obra. Mas alguém f icou para a continuar, prestigiando a sua memória.

VICENTE RIBEIRO E CASTRO casou com uma senhora de nacionalidade austríaca, que viera para Moçambique em 1922, ainda mui to jovem, fixando-se na capital de Moçambique. Aí se conheceram e se enamoraram. O casal teve três fi lhos : dois rapazes e uma rapariga.

A senhora D. Wi lhe lmina Castro foi uma companheira dedicadíssima, passando ao lado de seu marido as horas boas e más. É esta senhora a continuadora da obra iniciada pelo marido, tendo junto dela um dos seus f i lhos, que quis seguir as pisadas de seu pai, devo-tando-se ao engrandecimento da terra onde nasceu. E assim, com muitas lutas e canseiras, o HOTEL ZAMBEZE foi concluído nos fins de 1965, valorizando a fisionomia da cidade, com o seu traçado moderno, e passou a contr ibuir para o progresso turístico do distr i to.

À viúva de VICENTE RIBEIRO E CASTRO prestemos, também, a nossa homenagem, nela englobando o seu f i lho. É que a senhora D. Wi lhe lmina podia ter regressado à sua terra natal — país bem conhecido pelas suas belezas naturc is, a Áustr ia — e descansar das lutas já sofri­das! Mas tal não aconteceu, preferindo lutar e sofrer mais, se tanto fosse necessário, para concluir a obra que fora iniciada — sonho de dois homens combativos e bons : seu marido e o Governador Franco Rodrigues, também falecido quase ao mesmo tempo que o seu amigo.

Estamos certos que a gente de Tete lhe está grata pela conclusão do HOTEL ZAMBEZE, que f icará a perpetuá-los e a uni-los pelos tempos fora!

Resta ainda dizer que, quando o Presidente Craveiro Lopes esteve em Tete, na viagem que efectuou pela Província em 1956, agraciou VICENTE RIBEIRO E CASTRO com a Comenda de Mér i to Industr ia l .

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AGOSTINHO LOPES REGO

O pioneiro Comendador AGOSTINHO LOPES REGO é natural de Vi la Nova de Gaia, vindo para Moçambique em 1926 e fixando-se em Lourenço Marques, onde esteve até 1930.

Nesse ano empreendeu nova jornada, passando algum tempo no Distr i to de Manica e Sofala. Porém, o seu espírito irrequieto fê-lo ir mais além, e, assim, ainda no ano de 1930, foi f ixar-se no Furancungo, sede da Circunscrição da hAacanga, no Distr i to de Tete, iniciando nessa a l tura, naquela localidade, a sua vida comercial, abrindo um estabelecimento com o nome de FURANCUNGO COMERCIAL, LDA.

Desenvolvendo continuamente grande actividade, abr iu, mais tarde, três outros estabele­cimentos na área da Macanga.

No ano de 1947 foi f ixar-se na Angónia, na povoação de Entaca, fazendo aí a sede da sua vasta rede comercial. Espalhadas por essa área, abr iu , tempos depois, oi to estabelecimen­tos, mantendo em Entaca a sede até 1961. Nesse ano, deixou aquela região para se ir f ixar na cidade de Tete. A í , construiu um prédio no centro da cidade, onde passou a ser a nova sede de toda a sua grande organização comercial.

No rés-do-chão desse imóvel situam-se o estabelecimento comercial e escritórios. O primeiro e segundo pisos são constituídos por apartamentos para habitação.

Alargando sempre o círculo das suas actividades, o Comendador AGOSTINHO LOPES REGO construiu um edifício na V i la de Caldas Xayier, onde possui um estabelecimento de comércio geral com loja e armazéns.

Agostinho Lopes a ser condecorado pelo General Craveiro Lopes

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Em Tete, além do estabelecimento de comércio geral, também possui um outro dedicado somente a artigos eléctricos.

A inda em Tete possui outro estabelecimento de panif icação, que construiu.

Em 1962 passaram a fazer parte da f i rma os seus quatro fi lhos.

Quando o General Craveiro Lopes, na qualidade de Presidente da República, visitou of ic ia l ­mente a Província de Moçambique, em 1956, muitos pioneiros foram agraciados pelo mais a l to Magistrado da Nação pela grande obra de progresso e civil ização por eles efectuada, como obreiros intrépidos e desbravadores da selva moçambicana!

AGOSTINHO LOPES REGO foi um dos agraciados, sendo concedida a Comenda de Mér i to Industr ial .

Justo prémio a quem deu valiosa contribuição para o desenvolvimento da terra mo­çambicana!

Foram, e são, estes homens de vontade inquebrantável, de r i ja têmpera, que, como AGOSTINHO LOPES REGO, tornaram possível o desenvolvimento e civi l ização da rica e bela Província de Moçambique!

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EMÍLIO MENDES CEREJO

O pioneiro Comendador EMÍLIO MENDES CEREJO nasceu na Metrópole, na cidade de Santarém, tendo vindo para Moçambique em Março de 1920, como mi l i tar , integrado numa comissão de serviço na Província, durante dois anos, tendo sido colocado em Tete.

Mais tarde passou para o Quadro Adminis t rat ivo, sendo colocado na ant iga Intendência de Báruè, como Chefe de Posto. Daí transitou para a Circunscrição da Chicôa, no Posto de Mágoè. Em 1927 pediu a exoneração do seu cargo, vindo a iniciar a sua vida de comer­ciante em princípios de 1928.

Em 1930 abriu a sua casa comercial, em Tete, que ainda hoje existe no mesmo local do seu início, estabelecimento esse que é dedicado ao comércio geral.

EMÍLIO MENDES CEREJO tem exercido vários cargos of ic ia is : foi Vogal da Câmara M u n i ­c ipal , por várias vezes; foi por duas vezes Presidente da Câmara Munic ipa l , efectivo; Vice--Presidente e Presidente da União Nacional , de 1957 a 1964; 1.° Vogal eleito pelo Distr i to de Tete e reeleito para a 2.a Legislatura. Também fez parte do Conselho Ul t ramarino para estudo das alterações à Carta Orgânica das Províncias Ultramarinas. Presentemente é Vogal eleito da Junta Distr i tal de Tete.

EMÍLIO MENDES CEREJO foi agraciado pelo Presidente Craveiro Lopes, quando visitou Moçambique, em 1956, com a Comenda de Mér i to Industr ial , premiando a acção notável por ele desenvolvida.

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GOVERNADOR DO DISTRITO DE MOÇAMBIQUE

Quando visitámos o distr i to, era seu Governador o Inspector JOÃO GRANJO PIRES, que nasceu na cidade de Bragança, na freguesia da Sé. Foi em 1930 que iniciou a sua car­reira administrat iva na Província de Moçambique, como aspirante interino, lugar que ocupou durante quatro anos.

Em 1935 foi- lhe concedida uma licença para estudos, tendo ido para a Metrópole frequen­tar a Escola Superior Colonial, concluindo o curso em 1939. Ao mesmo tempo que frequentava aquele estabelecimento de Ensino Superior, e durante os últ imos anos de curso, foi também professor auxi l iar daquela escola.

Ao Governador GRANJO PIRES foi ainda concedida uma bolsa de estudo pelo British Council e pelo Inst i tuto para a A l t a Cul tura, permanecendo em Inglaterra de 1939 até Junho de 1940. Em Setembro do mesmo ano regressou a Moçambique, retomando o seu lugar de aspirante até novo concurso para promoção.

Em Julho de 1942 foi promovido a Chefe de Posto Estagiário, tendo sido colocado no Posto de Uanetze, na Província do Sul do Save.

Sempre em ascensional carreira administrat iva, em Março de 1943 foi nomeado secretário interino e promovido, def in i t ivamente, em Agosto do mesmo ano.

Hospital EGAS M O N I Z , em Nampula

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Ainda em 1943, entrou de licença i l imitado para se dedicar a uma actividade de carácter part icular. Em Agosto de 1945, o Governador GRANJO PIRES voltou ao Quadro Administra­t ivo, ocupando o posto de Secretário em Inhaminga.

Depois, em fins de 1947, é nomeado Administrador, inter ino, da circunscrição de Sena, lugar que ocupou até 1948, data em que foi promovido a Administrador e colocado na circuns­crição da Macanga, no Distr i to de Tete.

Em Março de 1950 part icipa na Conferência do Trabalho, em Elisabettvil le, como dele­gado representante da então Colónia de Moçambique.

Em Maio de 1951 é nomeado para a Comissão de Rectificação de Fronteiras com a Niassalândia, hoje Ma lawi , e ainda chamado a Lisboa para part icipar nas Conversações sobre a Rectificação da mesma frontei ra, em Março de 1953, a l tura em que é promovido a admi­nistrador de 2.a classe, tendo sido transferido para a circunscrição de Marracuene, em Julho de 1954. O Governador GRANJO PIRES tomou parte, também, na Conferência Inter-Afr icana de Trabalho, na cidade da Beira, em 1955, e foi nomeado 1.° Assistente do Centro de Estu­dos Políticos e Sociais das Juntas das Missões do Ul t ramar, para proceder ao estudo do Absen­tismo e Assiduidade ao Trabalho.

Em Novembro de 1958, o Governador GRANJO PIRES foi nomeado administrador de 1 .* classe. Entre outros, fez parte do concurso para Chefes de Posto, Secretários e Administradores de Circunscrição, nos anos de 1957, 1958 e 1960.

É nomeado Administrador do Concelho de Lourenço Marques no ano de 1960.

Foi louvado pelos Governadores de Manica s Sofala e Lourenço Marques, em 1954 e 1959, respectivamente. É promovido a Intendente em Setembro de 1961, e nomeado Inspector da Acção Psico-Social em 29 de Dezembro de 1961.

A 26 de Setembro de 1962 é nomeado Governador do Distr i to de Moçambique, em comis­são, tomando posse def in i t iva a 14 de Dezembro de 1962.

Durante o período em que dir ig iu os destinos do seu distr i to, o Governador GRANJO PIRES desenvolveu grande acção contra a nudez e o pé descalço. Só numa campanha, vende-ram-se, numa circunscrição a do E r á t i — mais de oitenta e seis mi l pares de sapatos! Esta é uma forma de levar os nativos a trabalhar, criando-lhes necessidades.

Palácio do Governo

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Igualmente a sua acção se fez sentir noutros sectores do seu distr i to, no campo da indús­t r ia , do desenvolvimento rodoviário, na construção de edifícios escolares, etc.

Promoveu a construção de cento e dez pontes e passagens de água, feitas com os recursos do distr i to, assim como dedicou a sua melhor atenção às obras do novo hospital de Nampula, que foram iniciadas em 1961, e com a sua conclusão, f icou a ser um dos melhores hospitais da Província. Igualmente se procedeu à construção de casas para régulos.

Murrupula — Residência do Regedor NAMPUIO

Nampula possui uma Escola Técnica moderna, concluída em 1962, com uma população escolar de oitocentos alunos, em 1965; um Liceu, com ensino até ao 5.° ano; dois colégios--liceus, para cada sexo, onde são ministradas aulas nocturnas, gratu i tamente, e três escolas primárias, com dezasseis salas de aula.

Escola Técnica

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ALGUMAS NOTAS SOBRE O DISTRITO

Nampula é a primeira cidade do interior dei Província. O Distr i to de Moçambique é aquele onde o municipal ismo está mais desenvolvido, tendo três câmaras municipais, oito comissões municipais e dezasseis juntas locais.

Este distr i to tem quatro núcleos populacionais grandes : Nampula, capital do distr i to; Vi la de Antón io Enes; a Vi la de Nacala; e a cidade de Moçambique, que deu o nome à Província e foi sua capital até 1898.

Nampula possui um Museu Etnográfico, único na Província, denominado FERREIRA DE ALMEIDA.

Museu FERREIRA DE ALMEIDA

A capital do distr i to t inha, em 1965, cerca de doze mi l habitantes, e a cidade de Mo­çambique cerca de dez m i l , quase constituída por nativos, havendo várias misturas de raças. Este d ist r i to é essencialmente agrícola, sendo o principal produtor de toda a Província de : sisal, algodão, castanha de caju, amendoim e mandioca. É igualmente rico em minérios, havendo grandes esperanças, num futuro próximo, de riquezas minerais, na área do Eráti, onde existe um jazigo de ferro, calculado em mais de dez milhões de toneladas, assim como da possibilidade da existência de cobre e mercúrio. Existem, também, algumas pegmatites de berilo, bem como pedras semi-preciosas, mui to prometedoras.

O porto de Nacala será, num fu turo próximo, uma fonte de riqueza, saindo daquela cidade e porto de mar, num troço de caminho de ferro, que se estende de Nacala até à f ron­teira da ant iga Niassalândia — hoje Estado do Malawi — e que uma vez concluído irá fomen­tar o tráfego e o escoamento de mercadorias e produtos moçambicanos, bem como o tráfego entre a nossa Província e o Ma lawi , fomentando de forma considerável o intercâmbio comer­cial entre a nossa Província e os países vizinhos.

É ainda no Distr i to de Moçambique que mais largamente se encontra representado o passado, presente e fu turo , pois tem a cidade de Moçambique, que é vasto repositório das relíquias históricas, assim como no seu aspecto humano.

Camões, de passagem para a índia, permaneceu algum tempo na maravilhosa I lha, cujas românticas paisagens lhe inspiraram alguns dos seus Sonetos.

Também o brasileiro Tomás Antón io Gonzaga, que pertencia ao grupo dos «Inconfiden­tes», por lá passou.

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Junto da vetusta Fortaleza —presença permanente do nosso passado na época das Des­cobertas —existe uma capelinha, situada entre o mar e a fortaleza, denominada NOSSA SENHORA DO BALUARTE, no estilo manuelino, que foi construída pelos primeiros navegadores, companheiros de Vasco da Gama.

Na Ilha existem ourives, que confeccionam as pulseiras-talismã, mui to usadas pelas nat i ­vas, sendo tradicional usarem sete pulseiras num só braço, assim como sete anéis num só dedo.

Aspecto da Fortaleza e Capela de NOSSA SENHORA DO BALUARTE

Também é à volta da Ilha que são apanhados os belos búzios, com os quais se confeccio­nam os famosos camafeus, que artíf ices ital ianos t rabalham, transformando os pedaços de búzio em verdadeiras jóias artísticas, apreciadas em todo o mundo, e constituindo o seu comér­cio uma fonte de riqueza.

É de mencionar uma excepção curiosa que se verif ica na Ilha de Moçambique : em toda a Áf r ica o homem domina a mulher, sendo esta que cult iva a terra, trabalhando para o marido. Na I lha, as mulheres é que dominam o homem, que têm de trabalhar para elas, que vivem para usar as mais bonitas «toilettes» e jóias, entre elas, as sete pulseiras, os sete anéis e os colares confeccionados com libras de ouro.

Em traços largos falamos do Distr i to de Moçambique, e em síntese, traçamos a carreira administrat iva do homem que presidiu aos destinos daquele distr i to —o Governador GRANJO P IRES— que ao seu engrandecimento e progresso se devotou, e que é o mais populoso de todo o mundo português, contando mais de um milhão e meio de habitantes.

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Palácio de S. Paulo e estátua de Vasco da Gama

Em contraste com as modernas cidades da Província — sempre em crescimento — a de Moçambique — que foi ant iga capital — permanece com uma fisionomia mui to própria, que nos transporta aos tempos idos dos grandes navegadores da época de Quinhentos.

A l i , na Ilha de Moçambique, pressente-se em tudo que olhamos e nos rodeia, as vozes do passado . . . e no ar, perpassam nas brisas acariciantes os versos de Camões, que pelo entardecer afagam a velha cidade.

Cidade t ípica, que nos transporta a um passado longínquo, onde o «Riquexó» põe uma nota oriental e românt ica, nesta bonita parcela da terra moçambicana!

O "Riquexó", transporte típico da Ilha

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Vista aérea da Ilha de Moçambique

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PEDRO BAESSA

PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE NAMPULA

Foi Presidente da Câmara Munic ipal de Nampula PEDRO BAESSA, natural de Lourenço Marques, onde nasceu a 18 de Junho de 1903. Frequentou o Liceu Sá de Miranda, da ci dade de Braga, de 1915 a 1922.

Seu pai era natural da Ilha de Santiago, do Arquipélago de Cabo Verde, onde foi com­panheiro e amigo do grande mi l i tar Major Neutel de Abreu, pacificador do Niassa.

PEDRO BAESSA foi eleito vogal da Câmara Munic ipal de Nampula em Fevereiro de 1962. A part i r de Março do mesmo ano, PEDRO BAESSA, em virtude de ser o vogal mais velho em exercício, f icou a desempenhar as funções de substituto do Presidente da Câmara, na ausência deste, em férias graciosas, na Metrópole.

Em 1964, PEDRO BAESSA foi nomeado Presidente da Câmara Munic ipal de Nampula, e em 1965 visitou of ic ialmente o Ma law i , a convite do Min is t ro do Interior daquele país, seu amigo pessoal.

A inda em 1965, PEDRO BAESSA foi um dos representantes dos municípios do Distr i to de Moçambique no Colégio que elegeu o Senhor Presidente da República. PEDRO BAESSA ocupa ainda o cargo de vogal do Conselho Económico e Social da Província, e de membro da Junta Distr i tal de Moçambique.

Em 1964 recebeu uma al ta condecoração do Governo Espanhol, tendo sido condecorado pelo Generalíssimo Franco com a Comenda da Ordem do Mér i to Civi l .

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APONTAMENTO HISTÓRICO SOBRE NEUTEL DE ABREU

Escrito pelo Inspector Administrativo João Barros Peralta

NEUTEL MARTINS SIMÕES DE ABREU, f i lho legítimo de Domingos António Simões e de D. Mar ia das Dores Ferreira de Abreu, nasceu no lugar de Várzea Redonda, Concelho de Fi­gueiró dos Vinhos, a 3 de Dezembro de 1871, e alistou-se como voluntár io na Arma de Infan­tar ia contava apenas 17 anos de idade.

Concluída a instrução mi l i tar , seguiu para a Província de Macau em 1890 e dal i , por mo­tivos de saúde, para a de Angola, no ano imediato, onde foi contemporâneo de Ar tu r de Paiva, Paiva Couceiro, Silva Porto, Lourenço Justiniano Padrel e Trigo Teixeira, e dos feitos do Bié, Humbe e Moxico, factos que não podiam ter deixado de influenciar profundamente a sua formação de soldado. Volvidos quatro anos regressa à terra nata l , mas a saudade arrasta-o de novo a Angola.

Com 25 anos e o posto de sargento, conquistado nas fi leiras degrau em degrau, NEUTEL pediu e obteve a transferência de Angola pare S. Tomé, e aí veio a adoecer gravemente, o que originou o seu repatriamento.

Em 1898, estando em serviço no Ministér io da Mar inha e Ul t ramar, oferece-se-lhe a opor­tunidade de vir servir em Moçambique, e para aqui embarca nesse ano, mas uma biliosa impôs--Ihe, pouco depois, o retorno à Mãe-Pátr ia. De novo voltou a esta Província em 1899, desta vez para f icar e prestar-lhe altos e relevantes serviços.

A braços com os problemas da ocupação e pacificação do imenso terr i tór io, Moçambique vivia nessa época um dos períodos mais agitados da sua história. No sul, Mouzinho, após o fei to heróico de Macontene, resgatara para Portugal o rico Distr i to de Gaza, até então teatro de lutas sangrentas. No norte e centro, não obstante o sucesso das expedições, era precário ainda o exercício da nossa soberania. Mercê de auxíl io vindo do estrangeiro, mormente da nossa principal al iada, tribos insubmissas mant inham a sua tradicional autonomia no interior do sertão, praticando atrocidades, reduzindo à escravidão povos indefesos. Desde os descobri­mentos que a Ilha de Moçambique se tornara a capital da jovem colónia, mas o continente f ronteiro, as «terras firmes» como ao tempo se diz ia, não obedeciam às leis do Governo de Lisboa. Namarrais e Macuas, há séculos girando na órbita da polít ica árabe, opunham-se de azagaia em punho a que os portugueses avançassem da costa para o interior.

Certo é que afoitos negreiros e comerciantes, zelosos missionários e destemidos aventu­reiros percorriam a corta-mato o lendário país da Macuana, contactando superficialmente com os seus naturais. Todavia, foram infrutíferas durante consecutivos anos as tentat ivas que se f izeram para at ingir o ubérrimo «hinterland» dos actuais Distritos de Moçambique, Niassa e Cabo Delgado. A primeira dessas tentat ivas deve-se a Mouzinho, que em 1897 instalava, por meios pacíficos, o posto mi l i tar de Itoculo, a 25 quilómetros do l i tora l , e que por bastante tempo foi o mais avançado baluarte de Portugal no norte de Moçambique, como que uma seta apontada a Nampula, coração da Macuana. Em 1904 já se falava das capitanias do Mos-suril e da Macuana, esta ú l t ima com sede no Itoculo, mas só dois anos mais tarde é que se reconhecia a necessidade de tornar positiva a nossa autoridade para além das estreitas zonas de inf luência que ocupávamos, graças aos postos mil i tares instalados ao longo das linhas de penetração, quase todos numa tímida faixa da zona costeira.

Num desses postos —o do Mongincual — vamos encontrar NEUTEL DE ABREU em mea­dos de 1900, como comandante, e comandante exemplar foi ele que logo no f im desse ano era galardoado com um louvor por importantes serviços prestados. Com efeito, o jovem coman­dante do posto mi l i tar do Mongincual em menos de seis meses, conseguia ligar entre si, por meio de estradas, diversas povoações do interior, todas de inegável interesse estratégico, o que em mui to vir ia faci l i tar futuras operações. No ano imediato ascende ao posto de alferes,

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e no seguinte novos e honrosos louvores i lustram a sua folha de serviço, o ú l t imo dos quais alude ao bom e enérgico procedimento no comando de uma pequena força em terras de Napipe, onde se conduziu de «forma a fazer respeitar a nossa soberania e aumentar o exercício do nosso domínio».

Nas operações de Matadane, em que part ic ipou como comandante do comboio e chefe dos serviços administrat ivos, houve-se por forma que o Comandante Eduardo Lupi escrevesse no seu relatório : «Nunca vi homem que o excedesse em desembaraço, actividade, disciplina e serena coragem». Em Macucha, no comando dos auxil iares, NEUTEL distingue-se uma vez mais contr ibuindo por forma decisiva para a derrota das forças de Farelay, o insubmisso agitador do Parapato e grande «inimigo da gente portuguesa». Referindo-se a este acontecimento, e ao comportamento do brioso oficial, diz no seu relatório o Governador Forjaz : «Distinguiu-se, pela sua mui ta coragem, energia e impassibil idade, sendo por isso —a meu v e r — digno da Medalha de Valor M i l i ta r , o alferes do quadro acidental NEUTEL MARTINS SIMÕES DE ABREU, oficial do maior prestígio no Mongincual , a quem o Governo deve já o exercício da nossa autoridade em toda a região de Namuco e Quinga, que comanda — h á uns 4 anos — com mui ta sensatez, com dil igência exemplar e com honradez inatacável, of icial este, adjunto do comando de auxil iares, mui to concorreu para o bom resultado das operações e movimentos de combate de Macuana pela sua reconhecida coragem, intrepidez e valent ia, t e n d o — a meu v e r — jus à Medalha de Valor M i l i t a r» . A ordem do Distr i to de Moçambique, de 3-5-1904, louva NEUTEL «pelo seu mui to valor e coragem, energia e intrepidez como se portou sempre debaixo de fogo vivíssimo do inimigo na coluna organizada para reconstituir a coluna de operações na Mat ibane . . .». A 25 de Julho desse mesmo ano foi promovido a tenente e colo­cado em Angola, mas mant ido em Moçambique por conveniência de serviço, pois, de novo, no Posto M i l i t a r de Mongincual , revelou-se um administrador de grandes recursos, trabalhador in­cansável e estudioso apaixonado dos usos e costumes dos negros, predicados que em breve haviam de fazer dele um dos maiores sertanejos do seu tempo.

Em 1905 recebe dois novos louvores da Capi tania-Mor do Mossuril a que estava subor­dinado, al tamente elogiosos, e é dist inguido com a nomeação para comandante mi l i tar do Mon­gincual , que tantos e tão importantes melhoramentos lhe devia já. O nome de NEUTEL torna--se conhecido, admirado e respeitado em toda a colónia, e os pretos, pasmados do seu com­portamento em combate e da sua extraordinária capacidade de realizador, começaram a tecer em sua volta uma teia de lendas, em que geralmente aparecia como herói. Alcunharam-no, então, de Mahon, e foi com o prestígio deste nome gentí l ico que montou sem dificuldades, os postos mil i tares de Ligúria, entre o Mongincual e Liúpo, e Corrane. Aqu i , entregando-se voluntar iamente a um r i to t radic ional , celebrou com Mucapera uma valiosa al iança, que tanto havia de fac i l i tar a ocupação e pacificação do norte da Província.

O velho sonho de Mouzinho, esboçado em 1897, de conquistar a Macuana pelo sistema da ocupação por zonas sucessivas de irradiação, vai ter f inalmente continuidade 9 anos depois, mas obedecendo a um novo plano : o das linhas de penetração paralelas, levadas no sentido da profundidade.

Formaram-se, assim, três linhas : a do Norte, a do Centro e a do Sul, que seguiriam, respectivamente, estes rumos : I toculo-Rainho- lmala; Mossuri l -Jagaia-Meconta-Oti tane e Mon -gincual-Liúpo-Corrane-Nampula, ao mesmo tempo que se criava a Capi tania-Mor de Memba, encurtando a do Mossuri l . As linhas do Norte e Centro, apesar de vitoriosas, são detidas uma em Imala, outra em Ot i tane, onde montam postos mil i tares, ao passo que a do Sul, comandada pelo Capitão NEUTEL DE ABREU, mercê das suas notáveis qualidades, em que sobressaem a habil idade e serena energia, realizou a conquista pacífica de um vasto terr i tór io em que passou desde logo a exercer benéfica inf luência.

A ocupação de Nampula, pouco depois centro da expansão polít ica irradiando até Ribáuè e Mur rupu la , proporcionou o avanço de 1912 para as regiões ignoradas do norte e oeste, os golpes mortais inf l ingidos em potentados como o Napaua, Nacavala, Cobula e Xeque de San-gage, temíveis mentores da resistência ao avanço das nossas forças. Mucapera e o salutar exemplo de obediência da sua gente contr ibuíram decerto para aplanar muitas dif iculdades que NEUTEL enfrentou ao instalar-se em Nampula e empreender a ocupação efectiva do terr i tór io circunvizinho.

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Já como Capitão-Mor da Macuana e nesse ano de 1912 part iu o destemido oficial para Malerna, onde fundou um posto mi l i tar , que distava já 390 quilómetros do l i toral e 108 do posto de Ribáuè.

No ano imediato montou o posto do Mu tuá l i . Regressando do norte, foi encarregado pelo Governador Duarte Ferreira das operações contra o Régulo Napaua, senhor do Mucubúri e Imala, responsável pelo desassossego na Capitania de Memba, gozando de uma fama lendária de valent ia, de ferocidade sanguinária, desde que detivera em Rainho e Imala a coluna do capitão José Augusto da Cunha.

Esse rebelde foi destroçado no primeiro combate que ofereceu a NEUTEL e veio a morrer quando, pouco depois em fuga para os territórios da Companhia do Niassa, tentava atravessar o rio Lúrio. No seu trajecto para Imala, a coluna de NEUTEL DE ABREU ainda submeteu os régulos Chapala, Ampuaia e Nácar, parceiros do Napaua na sua obstinada resistência à ocupa­ção portuguesa, e fundou o posto de Mucubúr i .

Louvado pela submissão do Régulo Tutua e montagem do posto de Ribáuè, em 1908, no ano seguinte recebe a Medalha Mi l i ta r de Pratc da classe de comportamento exemplar.

Massano de Amor im propôs-lhe a Comenda da Torre e Espada, em 1910, pela sua acção decisiva na guerra contra o Farelay e seus apaniguados de Angoche e Mogovolas. Nesse mesmo ano foram-lhe atribuídas as medalhas de prata da Rainha D. Amél ia , comemorativa da ocupa­ção de Angoche, e da classe de assiduidade de serviço no Ultramar. Em Agosto é promovido a Capitão. No impedimento do Capitão Cunha, ausente na Metrópole, NEUTEL exerceu inter i ­namente as funções de Capitão-Mor do Mossuri l , em 1915, mas um ano depois voltava à Macuana. Novos louvores enriquecem a sua já bri lhante folha de serviço, e uma nova conde­coração vem constelar o seu peito : a medalha de ouro da classe de serviços distintos ou rele­vantes no Ultramar.

No ano de 1917, NEUTEL DE ABREU, comandando um contingente de auxiliares macuas, seguiu para Mocímboa da Praia, incumbido de abrir uma estrada de 143 quilómetros através do terr i tór io Maconde, povoado de gente al t iva e aguerrida, que bravamente havia resistido a outras tentat ivas do género.

O trabalho gratu i to e o pagamento de impostos repugnavam ao sentimento de indepen­dência que caracteriza esse povo de art istas, facto que tornou sobremaneira espinhosa a missão do famoso Capitão-Mor da Macuana. Mui tos e renhidos foram com efeito os combates travados entre os auxil iares Macuas e os guerreiros Macondes, diversas as dificuldades a vencer, mas a boa estrela de NEUTEL mais uma vez t r iunfou de todas as vicissitudes, e ao f im e ao cabo os Macondes estavam submetidos.

Isso lhe valeu a nomeação para comandante mi l i tar da Macuana, a dispensa do tirocínio para o posto de Major e mais um honroso louvor em que as suas excelsas qualidades foram destacadas com o merecido relevo.

A sua bri lhantíssima carreira termina praticamente com a promoção a Major , o que se deu em Agosto de 1918, contava 47 anos de idade e 30 de intensa vida nas fi leiras. Novas e altas condecorações lhe foram concedidas, nomeadamente a Comenda da Torre e Espada, de valor, lealdade e méri to, a Medalha da Vi tór ia , a Medalha Mi l i ta r de Ouro da classe de comportamento exemplar.

Dois anos depois, a Junta de Saúde julgava o herói incapaz de todo o serviço. Aposen­tado, recebeu o grau de Comendador da Ordem Mi l i ta r de Av iz , e foi f ixar-se no Mongincual, onde arrastou vida dif íci l como agricultor.

A 8 de Dezembro de 1945, numa pequena casa de Figueiró dos Vinhos, NEUTEL DE ABREU morria tão modesto como t inha nascido.

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MAJOR NEUTEL DE ABREU

7 de Fevereiro é o dia festivo da cidade de Nampula, por ali ter chegado, nessa data, em

1907, NEUTEL DE ABREU

Daquele matagal inóspito, sem condições de sobrevivência, nasceu uma das mais bonitas cida­des de Moçambique!

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ANTÓNIO MARQUES

A N T Ó N I O MARQUES é natural de Lisboa, nascido na freguesia dos Anjos, vindo para Moçambique em 1949. Foi na cidade da Beira que primeiro se f ixou, empregando-se na Com­panhia de Moçambique, na secção do contencioso da f i rma.

Mais tarde, foi convidado para a gerência do Hotel Lumbo, que pertence aos Caminhos de Ferro de Moçambique, lugar que aceitou, vindo depois a ser o concessionário da explo­ração do hotel. Alguns anos depois, tornou-se o proprietário da Pousada Moura, em Nampula.

Em 1960 inaugurou-se em Nampula um grande hotel, a que foi dado o nome de Hotel Portugal, cu ;a total direcção e concessão de exploração foi dada a A N T Ó N I O MARQUES, e em 1961 tornou-se, também, o concessionário da Pousada de Moçambique, na Ilha de Mo­çambique.

Pousada da Ilha de Moçambique

Em 1962 torna-se concessionário de mais um hotel, o Hotel de Nacala, no porto do mesmo nome.

Na progressiva cidade de Nampula, construiu em 1962, na parte nova da cidade, na Praça do Infante D. Henrique, um café-restaurante, com salas de bilhares, a que deu o nome de Infante D. Henrique.

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Hotel Portugal, em Nampula

Hotel do Lumbo

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JOÃO FERREIRA DOS SANTOS

O MAIOR PIONEIRO DO NIASSA (MOÇAMBIQUE)

O CRIADOR DE UMA OBRA — ORGULHO PARA PORTUGAL

A história de um pioneiro, a sua obra, é fácil de ser contada em palavras breves, quando ela já ultrapassou há muito a fase das dif iculdades, da luta heróica, dos sacrifícios, de toda o sorte de obstáculos que venceu de punhos cerrados, mas coração generoso, mesmo quando os outros, a famíl ia até, lhe suplicavam que desistisse, pois dedicava a sua mocidade a uma obra por demais gigantesca.

Mas JOÃO FERREIRA DOS SANTOS —é dele que se t r a t a — sabia que estava a fazer história, história autênt ica e tão diferente da que hoje se faz por toda a Á f r i ca !

Sim, é fác i l , depois da vi tór ia, sorrir e registar factos . . . mas quão difíci l é relatá-la com os termos próprios, mencionar os desgostos, os desenganos, as arrelias, as injustiças; falar da vi tór ia incerta, do caminhar lento, da desesperança e, especialmente, quando esse pioneiro conseguiu sê-lo da maneira mais arrojada, mais digna, mas «espectacular», num «pontinho» de Áf r ica , «pontinho» que ele ajudou a ser conhecido, a ser grande, a ser respeitado, a ser portu­guês, quando para isso, largou a vida, talvez fác i l , cómoda por certo, dos prazeres garantidos de Lisboa, rumando direito a uma Áfr ica desconhecida.

E na data em que o fez decorria o ano de 1897. O que era Áfr ica então? Mu i to di fe­rente daquilo que qualquer cidadão hoje poderá pensar, ou sequer imaginar!

Prédio das Organizações João Ferreira dos Santos — António Enes

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Foi aí, na Áf r ica , no seu coração negro,impiedoso, selvagem, virgem, por desbravar, que as mãos, o pensamento e o coração de um português, se entregaram de corpo e alma.

Os anos passaram e as iniciais JFS f icaram de todos conhecidas como símbolo de tena­cidade, coragem e patr iot ismo. Mesmo aqueles que anos depois, até à sua morte, nunca com ele t iveram o prazer de contactar, sabiam, como se sabe ainda hoje, que o seu nome era, e é, preservado para todo o sempre, o exemplo vivo de uma vontade férrea, de uma inteligência br i lhante, de uma coragem sem limites e de uma persistência que era como uma obstinação.

JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, um nome que é uma lenda em Moçambique e fora desta Província Portuguesa, desde mui to novo ambicionava sair da sua terra natal para conhecer Áf r ica.

E ele, que nascera no Bombarral a 7 de Julho de 1877, a 17 de Dezembro de 1896 saiu de Lisboa a bordo do «Zaire», tendo chegado a Moçambique em 24 de Janeiro de 1897. Reali­zava assim, aos 19 anos, o seu sonho, a sua ambição, numa idade em que hoje, tanto como ontem, os jovens desejam divertir-se sem preocupações, esquecendo o curso da História, os seus problemas, as suas obrigações e responsabilidades para com a nação que os serve.

Filho de gente humilde, JOÃO FERREIRA DOS SANTOS não par t iu , evidentemente, com capital a estabelecer-se nesta Província. A única importância que trazia consigo eram vinte mi l réis. E a comprová-lo, foi durante algum tempo, após a sua chegada, empregado de comér­cio. Depois, tomou de trespasse o próprio negócio que o empregara. Depois, JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, numa luta férrea, mas pacífica, a lutar sempre pelo progresso, mas nunca em­pregando armas para vencer, pois tratava-se de uma batalha ordeira, de príncipos sãos, de orgulho, tenacidade e honradez, viu satisfeito parte do seu desejo bem patr iót ico : o alarga­mento e povoamento do norte de Moçambique.

É a conquista da terra inexplorada e contra as armas traiçoeiras dos indígenas, contra as febres e tantas outras doenças tropicais, era uma empresa deveras d i f íc i l , fat igante e peri­gosa. Bastará dizer que na a l tura, Mouzinho de Albuquerque, mudava a sua atenção para as vastas terras do Niassa. Portanto, empresa arriscada essa, em que se jogava a vida dia a dia no comerciar com os nativos.

As primeiras encomendas da Metrópole começaram por chegar e cada vez em maior volu­me. Ao progredir o seu negócio, progredia paralelamente o desenvolvimento das terras do Niassa, pois JOÃO FERREIRA DOS SANTOS não se importava em amealhar dinheiro para regressar rapidamente à Metrópole e gastá-lo em prazeres, ou numa velhice assegurada, que ninguém, aliás, poderia negar que ele o merecesse, depois da luta travada e da almejada con­quista. Pelo contrário, a sua visão e intel igência fomentavam novos ramos de actividade. Era uma força imparável de saber querer. Por isso, quando os anos rolaram, sobre a sua grande obra de pioneiro e um dia a cidade de Moçambique recebeu a visita do Governador-Geral da Província — comandante Gabriel Teixeira — proferiu as seguintes palavras, frente a JOÃO FERREIRA DOS SANTOS : «Neste momento estou a falar com prazer, porque falo perante um homem diante do qual o Governador-Geral se curva respeitoso : um português daqueles que têm lutado como uns bravos, daqueles que f izeram um Impér io»!

Já em 1939, o então Presidente da República, Marechal Antón io Óscar de Fragoso Car­mona, ao visitar Moçambique, consagrou os seui altos serviços, agraciando-o com a Comenda de Mér i to Agrícola e Industr ial . Durante a cerimónia, que teve lugar no salão nore dos Paços do Concelho, escutou JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, publ icamente, e da boca dessa vene­randa f igura do Estado, as mais homenageantes palavras, pela magnitude das suas qualidades, pelo intel igente e denodado esforço que sempre dedicou a esta parcela do Império, numa época sobretudo em que a emigração portuguesa prevalecia para as ricas terras do Brasil.

Mui tas foram as homenagens públicas que em vida recebeu, e mui to justamente mereceu JOÃO FERREIRA DOS SANTOS. Uma delas aconteceu em 24 de Janeiro de 1947, dia da passa­gem do cinquentenário da sua chegada a Moçambique. A lém de homenagens públicas, e várias foram, entre elas, a que lhe foi prestada pelas forças vivas de Moçambique, dando a Câmara

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O Presidente da República, Marechal Carmona, condecorando João Ferreira dos Santos, em 1939

Municipal dessa cidade o seu nome a uma das ruas da I lha, e considerou-o cidadão honorário da cidade de Moçambique.

JOÃO FERREIRA DOS SANTOS ocupou também, em Moçambique, lugares da maior pro­jecção, tendo sido, por largos anos, membro do Conselho do Governo.

T inha completado o seu sonho, um sonho grandioso, fe i to de persistência, coragem e hon­radez, aquele rapazinho de 19 anos, que um dia deixara Lisboa, embarcando para Moçambique. Um sonho que teve sempre a ocupar-lhe o espírito moço e tenaz até à própria morte, ocorrida em 1957, porque ele não morreu jamais! Como um símbolo daqui lo que um homem pode chegar, f icará como uma legenda e um exemplo bem vivos para os que vieram depois dele usufruir os benefícios da sua própria luta.

Hoje as organizações JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, directamente administradas pelos seus filhos — D r s . João Domingues Ferreira dos Santos e José Luís Ferreira dos Santos — dignos continuadores da obra de seu pai , exercem a sua actividade nos mais diversos ramos de comércio, da indústria e da agr icul tura, em toda a região do Niassa. Mantém a sua sede na cidade de Moçambique e possuem sucursais importantes em Porto Amél ia , Nacala, Nampula c Antón io Enes, todas em edifícios próprios das organizações.

Merecem especial referência, na agr icul tura, as enormes plantações de sisal, em Geba e Muchel ia, e as plantações de coqueiros e cajueiros de Saua-Saua, Meza, Muchel ia , Namet i l , Geba, Napela e Melu l i .

Foram concessionários de zonas algodoeiras e orizícolas das importantes zonas algodoei­ras de Geba e Saua-Saua, que compreendem as áreas das circunscrições de Memba, Nacala, Mossuri l , Mogincual e hoje são importantes industriais de descaroçamento de algodão e des­casque de caju.

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As zonas orizícolas são, talvez, as que marcam o lugar de maior destaque, compreendendo as áreas do concelho de Nampula, das circunscrições de Meconta, Mucubúr i , Mossuril, Nacala e Memba.

Nos centros de cada zona orizícola possuem fábricas de descasque e polimento de arroz.

Prédio de Nacala

Entre outras indústrias dedicam-se, também, aos ramos de padaria, tabacos, cordoaria, e t c , sendo agentes de variadíssimas e importantes companhias, tanto nacionais como estrangeiras, exercendo igualmente cargos de agentes distribuidores e tendo, englobadas nas suas organiza­ções, muitas outras fortes empresas moçambicanas.

As organizações JOÃO FERREIRA DOS SANTOS nunca abandonaram o amparo e promoção social dos seus empregados, quer europeus quer nativos, contr ibuindo com bairros, residências, escolas, hospitais, farmácias, laboratórios, parques infant is e campos para a prática de jogos desportivos, entre outras iniciativas de vulto.

Oficinas e Estação de Serviço FORD — Nampula

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Em vida, JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, não esqueceu nunca os pobres. Para além de todas as dádivas, sempre generosas e volumosas, antes de falecer legou dezoito mil contos a uma insti tuição de beneficência em Lourenço Marques, que tem o seu nome.

A Associação Beneficiente João Ferreira dos Santos mantém bolsas de Estudo para cursos superiores, subsídios de invalidez, viuvez e doença. A muitos dos seus empregados e colabora­dores, deixou-lhes um legado, pelo que estes c imortal izaram com a colocação de um busto em bronze de Mestre Leopoldo de Almeida, na sede das organizações, junto à secretaria onde tanto trabalhou para engrandecimento da sua tão bela obra!

Uma das descrições mais comoventes e mais sinceras e ternas, elucidativas sobre a f igura de JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, deu-a seu f i lho, o Dr. João Ferreira dos Santos, ao descer­rar, em 26 de Abr i l de 1956, o retrato de seu pai e fundador da organização nos escritórios da sede, em Moçambique. Foram palavras de um elogio recto, preito de um homem a outro d outro homem, e através dela se avalia, conscientemente, o seu perf i l .

«Convidámos a reunirem-se connosco os empregados que se encontram ao serviço desta f i rma, em Moçambique, com a f inal idade de assistirem à colocação, numa das paredes desta sala de trabalho, do retrato de meu pai, pintado por Henrique Medina. Nesta mui to simples homenagem, procurarei apenas focar algumas das facetas que mais marcadamente se encon­t ram na sua invulgar personalidade e que devem servir de exemplo a todos nós. A lição que este homem nos deixou, deve ser frequentemente lembrada por todos aqueles que o conhece­ram na pujança das suas faculdades. Út i l será, também, que os nossos filhos a oiçam, e, ao recordarmos a sua vida, junto destes, teremos sempre alguma coisa de novo a aproveitar, pela mui ta grandeza de todo o seu trabalho repleto e cheio de sacrifícios. Este homem que ali vedes, nasceu pobre, part iu do nada e fez-se inteiramente por si próprio. Como instrução, teve apenas o 2.° grau, t i rado numa escola de ensino gratu i to. Tendo sido, por coincidência, número um da pauta, foi também o número um na classificação f ina l . Aluno dist into, assim continuou quando, como mestre, nos ensinou, com o seu exemplo, e no permanente trabalho do dia a dia a engrandecermos a vida e a projectá- la, f i rmemente, para além da linha do horizonte. Homens como o meu pai jamais morrerão, pois mesmo quando a sua presença física desaparecer da terra, sentiremos que a sua vida exemplar não se perdeu, e ela conti­nuará a acompanhar-nos, tal como aquelas estrelas que, mesmo após o seu desaparecimento, continuam ainda a i luminar. João Ferreira dos Santos, quando embarcou para a Áf r ica, não procurava grandeza nem for tuna. Esta, foi a consequência natural das suas faculdades de intel igência, de seriedade e de trabalho que jamais conheceu fronteiras ou cansaços. Posso dizer que ao embarcar para esta Província, apenas desejava encontrar trabalho onde exercer a sua actividade. Após a sua chegada à Ilha de Moçambique foi colocado num pequeno bar que possuía um bilhar. O movimento era mui to pequeno, l imitando-se a uma meia dúzia de fregueses por dia — à s vezes nem t a n t o s ! — que tomavam qualquer bebida ou pediam que lhes estendessem as bolas no bilhar. Aborrecido da forçada inactividade durante uma grande parte das horas de cada d ia, resolveu demit i r-se, justamente sob o pretexto da fa l ta de movi­mento. 0 patrão disse-lhe : «—Se queres mais trabalho, então, porque também tenho um talho, poderás t ratar dele, mas, para isso, terás de levantar-te às quatro horas da madrugada e porque o bar encerra tarde as suas portas, poucas horas dormirás por noite».

«A sua ânsia de trabalho út i l não conhecia l imites. Acei tou de bom grado sobrecarre-gar-se com mais aquele serviço. Espírito extremamente económico, a pouco e pouco criou as condições para se estabelecer com uma pequena casa de negócio. E, para isso, foi ainda aux i ­liado monetariamente com um empréstimo que contraiu. Assim se estabeleceu a ponte no começo da luta pela realização das suas aspirações. Envolvido sempre em trabalho que mais o entusiasmava quanto mais dif iculdades houvessem a vencer, assim fez ele toda a sua vida. João Ferreira dos Santos, posso dizê-lo, nasceu sob o signo da vi tór ia. Pertenceu a um raro grupo de eleitos, eu ia a dizer sacrificados, que nasceram para fazer uma OBRA e, com ela, dar um exemplo bri lhante de uma vida recta, que devemos conservar permanentemente em nosso espírito e nos nossos corações. A lém das virtudes e qualidades, evidenciou, permanente­mente, um elevado espírito humani tár io e de solidariedade para com os outros. Nunca nin­guém lhe pediu trabalho que ele negasse, mesmo que não tivesse necessidade de mais empre­gados. Através das suas tremendas crises económicas, e muitas foram elas, jamais recorreu à solução de reduzir o pessoal nos seus quadros. Conservou sempre o maior respeito por todos

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os que desejavam ganhar honestamente o pão de cada dia. Posso af i rmar que, João Ferreira dos Santos não foi um homem de sorte. A sorte que teve, se tivéssemos que fazer a sua vida de permanente renúncia e sacrifício, certamente que a não desejaríamos para nós. Apesar de tudo, foi sem dúvida um homem fel iz, na medida em que cumpriu largamente a sua missão. Foram muitas as preocupações e os problemas que teve de resolver, mas eu posso assegurar--vos que estes nunca foram problemas de consciência. Desejo dizer-vos, também, que o dinheiro nunca o serviu a ele, na satisfação dos prazeres materiais da vida, antes pelo contrário, ele é que serviu o dinheiro, fazendo-o com seriedade e dignidade, na medida em que o lançou à terra, fomentando riqueza, contr ibuindo para a melhoria das condições sociais, e formando uma f i rma que emprega algumas centenas de europeus e milhares de indígenas. Entre todos os que trabalharam no dia a dia com João Ferreira dos Santos, estou certo não ter havido ninguém que tivesse sentido o mesquinho sentimento de inveja pela for tuna que ele possuía. Encontramos, através da história do capital ismo, que os inimigos deste foram sempre de dois tipos : ou por egoísmo, levados unicamente pela má compreensão da prosperidade alheia, ou então —e para estes existe, da minha parte, larga compreensão— por culpa apenas daque­les que, possuindo os meios de for tuna, os não sabem ut i l izar. João Ferreira dos Santos simbo­l izou, no mais elevado grau, as virtudes do capitalismo. Este é, em traços rápidos, o retrato do homem que fundou esta f i rma e viveu essa obra durante decénios. Os alicerces são fortes porque foram constantemente envolvidos com o seu sangue, suor e lágrimas. Perante a extra­ordinária grandeza do homem que foi João Ferreira dos Santos, que Deus nos ajude, a todos nós, seus colaboradores, não estarmos à a l tura dele ou ao seu nível, porque isso seria imo-déstia e representaria o desconhecimento das suas qualidades e da grandeza de que a sua vida se revestiu, mas a mantermos, sempre, através de todo o nosso trabalho e colaboração, o permanente respeito à sua memória. Será isto exigir demais? Eu penso que não.»

JOÃO FERREIRA DOS SANTOS, por tudo quanto atrás f ica expresso, foi um dos maiores pioneiros de Moçambique, cujo nome f icará gravado a letras de oiro nas páginas da sua Histór ia!

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JOÃO RIBEIRO DE PAIVA

Não sabemos ao certo a data exacta em que JOÃO RIBEIRO DE PAIVA chegou a Moçam bique, mas sabemos que em 191 1 residia em Lourenço Marques, de onde foi expulso por mot i ­vos políticos e mandado para outro ponto da Província. JOÃO RIBEIRO DE PAIVA — um perse­guido p o l í t i c o — foi desterrado para Tete, onde se conservou, exercendo as funções de aspirante dos Correios e Telégrafos, até Março de 1912, data em que pôde regressar a Lourenço Marques, sendo nomeado, por portaria do Governador-Geral, Dr. Al f redo Magalhães, amanuense da cir­cunscrição civil de Zavala, lugar de que não quis tomar posse.

JOÃO RIBEIRO DE PAIVA, poli t icamente foi sempre um avançado, um republicano de gema, e antes da implantação da República já pertencia ao Centro Republicano Dr. Couceiro da Costa, de que era secretário quando foi expulso.

Em Lourenço Marques, foi director do jornal «A Voz do Caixeiro»; em Tete do «Radical» — que ele e um seu companheiro de infortúnio t iveram necessidade de compor, por fa l ta de pessoal espec ia l izado—; e em Moçambique foi director de «O Norte».

Devido ao seu esforço, à sua inteligência e ao seu incontestado dinamismo, aliados a uma inigualável força de vontade, JOÃO RIBEIRO DE PAIVA chegou a ser um dos maiores comer­ciantes e industriais do Distr i to de Moçambique, onde teve 32 lojas comerciais. Interessou-se também bastante pela agr icul tura, tendo criado na área de Angoche a bela propriedade de Namapiza, onde, além das esplêndidas habitações que nela construiu, plantou para cima de 100 000 pclmeiras e 50 000 cajueiros, hoje em plena produção.

Em determinada a l tura, porém, a sorte abandonou-o e devido a circunstâncias alheias à sua acção e à sua vontade, tudo perdeu!

Mas, apesar de todas as ingratas contrariedades, JOÃO RIBEIRO DE PAIVA não esmoreceu e a sua dinâmica força de vontade não encontra barreiras, continuando insanamente na luta de recuperar o perdido!

A primeira fábrica de tabacos que se montou na cidade de Moçambique — s e u s ant i ­gos sonhos— foi JOÃO RIBEIRO DE PAIVA que a estabeleceu.

Foi ele, também, quem primeiramente empreendeu no Distr i to de Moçambique o descas­que e preparação da castanha de caju.

Finalizamos a sua biografia com as afirmações de E. Pinto Soares, insertas num art igo dedicado ao pioneiro, publicado num jornal da Província :

«João Ribeiro de Paiva foi um homem às direitas e que merece, mais que recordado, ser imitado em suas ati tudes de exemplar patr iota.»

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" S O C A J U "

A SOCAJU foi a primeira organização a instalar em Nacala uma unidade fabri l de grande envergadura e projecção económica para laboração de castanha de caju e extracção de óleo.

A primeira fábrica montada pela SOCAJU, iniciou a sua laboração em Março de 1968. É, portanto, recente, mas por ser a primeira no seu género, em Nacala, just i f ica a sua inclu­são neste livro.

A SOCAJU tem um capital social de 120 mil contos, sendo constituída somente por accio­nistas portugueses.

Inicialmente, esta unidade fabri l tem uma capacidade de laboração para 15 mil toneladas anuais de castanha de caju, devido à ut i l ização de uma máquina que foi concebida e desenvol­vida por técnicos portugueses. Essa máquina encontra-se patenteada pela f i rma portuguesa Sodescal, e o seu desenvolvimento, para entrar em nível de produção industr ia l , só foi possível mercê do apoio f inanceiro do Banco Nacional Ul t ramarino, que desde o primeiro momento lhe dispensou o maior interesse, bem como o Centro de Investigação da Cuf, que lhe deu assis­tência técnica.

Esta fábrica foi totalmente concebida e fei ta por técnicos portugueses, e paralelamente com o descasque da castanha, dispondo de instalações adequadas para a extracção do óleo (C.N.S.L.) da mesma.

As suas infra-estruturas estão já dimensionadas para uma imediata duplicação da capaci­dade fabr i l , para o que dispõe de uma área de terreno própria para o efeito.

O vajor anual da SOCAJU, nesta primeira fase, ultrapassará os cem mil contos, empre­gando, entre funcionários e operários, um número superior a mil e quinhentos.

Este empreendimento industrial mui to veio contr ibuir para o desenvolvimento económico e- social de Nacala, que se encontra numa fase de grande desenvolvimento, e cujo magníf ico porto de mar virá a fazer da vila uma grande e moderna urbe!

A SOCAJU, fomentando a indústr ia, veio contr ibuir de forma notável para o engrandeci­mento desta região e da Província.

1

Aspecto da unidade fabril «Socaju»

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GOVERNADOR DO DISTRITO DO NIASSA

Governou durante vários anos, com invulgar capacidade de inteligência e apurado tacto polít ico, o vasto Distr i to do Niassa, o Major CARLOS DA COSTA MATOS, oficial dist into do nosso Exército, natural da Província de Moçambique, onde o seu pai, Capitão Rodrigo Albano de Matos exerceu, de 1907 a 1940, funções mil i tares e civis, tendo-se dist inguido na Campa­nha do Niassa durante a I Grande Guerra.

O Major Costa Matos no seu gabinete de trabalho

O Major COSTA MATOS — como mais afectuosamente é conhecido pela população que governou — iniciou os seus estudos em Lourenço Marques — onde nasceu — na ant iga Escola 1.° de Janeiro, tendo fe i to o curso secundário no Colégio M i l i ta r , onde foi aluno dist into. Ti rou ainda os preparatórios na Universidade de Coimbra, mas, atraído pela carreira das Armas, que seu pai servira com tanta distinção, ingressou na Escola do Exército. Da sua bri lhante folha de serviços constam 12 Louvores (dos quais 7 que lhe foram conferidos por Oficiais-Generais e 5 por Comandantes de Unidades onde serviu). É condecorado com a Ordem Mi l i t a r de Av iz , Me­dalha de Mér i to M i l i t a r e Medalha Comemorativa da Expedição à índia, onde serviu nos anos mais cruciantes da agitação ant i-portuguesa, lançada pela União Indiana, ou seja de 1948 a 1952.

Durante esse período percorreu, em missões delicadas de serviço, todo o terr i tór io de Goa, que conhece de ponta a ponta, tendo estudado cuidadosamente os seus problemas. Frequentou, posteriormente, o Curso do Estado Maior , exercendo funções de Subchefe do Estado Maior no Comando Mi l i ta r dos Açores.

Integrado em missões de Estado Maior , visitou os estabelecimentos mil i tares na Alemanha e na Bélgica. Fez ainda parte da Missão M i l i t a r portuguesa que se deslocou à Argél ia em obser­vação, tendo frequentado o Curso de Pacificação e de Contra-Guerri lha. Teve, deste modo, ensejo de famil iar izar-se com os métodos de guerra subversiva e no combate à subversão.

Esta síntese biográfica do homem que esteve alguns anos à frente dos destinos do Distr i to do Niassa, dos mais expostos de Moçambique a possíveis infi l trações de agentes inimigos que nos incomodam em Áf r i ca , tomou-se necessária para se aqui latar da verdadeira estatura mi l i tar e polít ica do Major COSTA MATOS, que se mul t ip l icou em actividades em benefício do progresso do dist r i to que lhe esteve confiado e segurança das populações, que nele inteiramente conf iaram.

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É dif íc i l — c o n f e s s a m o s — fazer-se o cômputo perfeito dos anos de governo do incansável Governador COSTA MATOS, tão vasta é a sua obra, nos mais diversos campos de acção. Sob a sua superior orientação fez-se o estudo do reajustamento administrat ivo do vasto distr i to, para uma mais efectiva ocupação administrat iva. Fez-se o estudo e implantação da rede de Radioco­municações. Cada Posto Adminis t rat ivo dispõe de tractores para a manutenção e conservação das estradas e outros serviços. Electrif icaram-se todos os Postos Administrat ivos. Fez-se a distr i­buição e f ixação em condições próprias, de colonos, que vieram para trabalhar a terra, com o esforço produtivo do seu braço. Construíram-se aeródromos, estradas, pontes completadas.

Palácio do Governo

Foram iniciadas as obras de abastecimento de água a Marrupa. Com verdadeiros «mila­gres» de boa vontade do dinâmico Governador, sempre atento aos problemas prementes do dist r i to e sempre presente em locais onde a sua pessoa se tornava necessária, realizaram-se no vasto campo de acção social e educativa, trabalhos de al to sentido de oportunidade, que f izeram ainda mais respeitado o seu nome e o de sua esposa, senhora D. Isabel Costa Matos, que da cepa das antigas damas portuguesas, que jun to de seus maridos realizavam obra salu­tar em benefício das populações, ela também se dedicou, com sacrifício do seu bem-estar, a obras de promoção social e de benemerência para elevação do nível de vida e de civilização das populações mais atrasadas. Ela soube ser, deste modo, um digno prolongamento da acção governativa de seu marido e seu verdadeiro amparo nas horas difíceis de governação.

Não há dúvida de que com o Major COSTA MATOS, o grande Distr i to do Niassa veio a conhecer um novo surto de progresso em todos os ramos de actividade humana, estabelecendo, pelo seu bom cr i tér io, sentido de oportunidade, intel igência e f i rmeza de decisão, em ocasiões que tal se torna cessário, um exemplo a seguir.

Pelo que observamos, directamente, sob o seu governo austero e justo, as populações viviam confiantes e tranqui las, prontas a encarar o fu turo com determinação f i rme, que lhes soube inspirar o Chefe do Distr i to.

Não queremos terminar estas l inhas, com as quais pretendemos prestar o t r ibuto de jus­t iça que é devido ao Major COSTA MATOS, a quem admiramos, desde que, directamente observamos a obra extraordinária de valorização do Niassa, que realizou com acerto e elevado sentido de patr iot ismo, sem uma referência especial.

Ela reflecte a sua preocupação honesta de acertar e honrar a distinção que mereceu, de vir governar um distr i to de uma Província onde nasceu e que, por isso mesmo, mais pesa­das se tornam as suas responsabilidades, pois sobre si incidiram as atenções, não só dos que

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dirigem o Governo da Nação e da Província, como os milhões de naturais de Moçambique, para quem foi grata homenagem poder contar com o primeiro Governador do Distr i to, natural de Moçambique.

Essa af i rmação sua encontramo-la em declcrações que fez, então, para a Imprensa mo­çambicana, nas quais s intet izou, desta maneira, as suas preocupações governativas :

«A situação actual do Niassa, no sempre delicado ccmpo das relações humanas é franca­mente boa, não só pelos sentimentos que animam toda a população como também pela recta e isenta polít ica social, que se está traçando e ainda pela intensa actividade de contactos que se têm estabelecido entre todos os sectores das populações. Isto é bem visível a quem visite o Niassa como já o têm fe i to entidades estrangeiras que me têm abertamente transmit ido as suas agradáveis impressões por tudo que têm visto. Esta situação mui to contr ibui , portanto, para que se processe nas melhores condições o progresso de uma terra, que tudo dará, desde que homens de boa vontade a ela se dediquem af incadamente, como está sucedendo.»

Numerosos melhoramentos caracterizaram o governo do MAJOR COSTA MATOS, de que destacamos : a elevação à categoria de cidade Vi la Cabral, capital do Distr i to do Niassa; cria­ção da Escola Técnica Elementar; renovação total da electrif icação da capi ta l , cujas ruas foram asfaltadas durante o ano de 1965. Promoveu à criação da praia de Porto Arroio, nas margens do Lago Niassa, local mui to apreciado por moçambicanos e rodesianos; à urbanização de Me-tangula, e à criação da Diocese de Vi la Cabral.

Mu i t o teríamos ainda a dizer da obra extraordinária de valorização e progresso realizada por este Governador, que, amando entranhadamente a terra onde nasceu, com o pensamento f ixo na Pátria, realizou uma tarefa por todos compreendida e aplaudida.

O Niassa, essa região maravilhosa de Moçambique, esteve por mui to tempo votada ao esquecimento. Graças à acção desenvolvida pelo Governador COSTA MATOS, ela encontra-se em franco desenvolvimento, vindo, assim, contr ibuir para a valorização económica da Província e do próprio Niassa.

Tudo quanto nos foi dado ver e apreciar nos deixou as melhores impressões.

1963 — 1 . ' Exposiçãa-Feira de Vila Cabral

Sucedeu-lhe na chefia do distr i to, o coronel Nuno de Melo Egídio, que igualmente tem dado o melhor do seu saber e esforço, continuando e valorizando a obra de ressurgimento in i ­ciada pelo seu antecessor.

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HISTÓRIA DO DISTRITO DO NIASSA

Os territórios do Niassa, que estavam sob a administração da Companhia do Niassa, fo­ram reintegrados na administração directa do Estado, e separados em dois distr i tos, em Setem­bro de 1929. Assim f icaram constituídos os Distr i tos de Cabo Delgado e do Niassa.

Vi la Cabral, capital do Distr i to do Niassa, está situada a cerca de 1300 metros de alt i tude e a meia centena de quilómetros do Lago Niassa O atraente e progressivo centro dos nossos dias teve a sua origem na ant iga povoação de Lichinga, pertencente à Circunscrição de Meto-nia. Em 17 de Novembro de 1945, recebeu of ic ia lmente a designação de Vi la Cabral, numa homenagem ao ant igo Governador-Geral, Coronel José Ricardo Pereira Cabral. Por portaria de 23 de Setembro de 1962 foi elevada à categoria de cidade, em reconhecimento do progresso verif icado e da tenacidade de todos os que, com a sua presença e trabalho perseverante, con­tr ibuíram para o desenvolvimento da capital do distr i to.

Hospital de Vila Cabral

Vi la Cabral , pelo cl ima ameno e pela sua situação geográfica, mereceu a distinção que lhe foi conferida. O arranque de desenvolvimento posto em execução pelo Governo tem justif icado as esperanças postas nestes distr i tos, geográfica e economicamente importante. O Estado tem al i erguido várias construções, sendo de destacar o Palácio das Repartições, a Escola Técnica e a Aerogare; por sua vez, a iniciat iva part icular tem colaborado com entusiasmo.

Com a extensão do caminho de ferro de Catur até à capital do distr i to, mais um passo decisivo foi dado para a valorização da jovem cidade e do Concelho, cuja população era, pelo censo of ic ial de 1962, de 81 763 indivíduos.

De Vi la Cabral irradiam as estradas que a l igam com Metangula e Maniamba e que en­troncam na estrada que segue para Port Johnson, no Malawi . De Vi la Cabral, as estradas estabelecem também ligação para Nova Freixo, Nampula e l i tora l , que f ica a cerca de 800 qui­lómetros de distância.

Pode dizer-se, do Distr i to do Niassa, que é «uma terra nova que se encontra na fase do arranque para o progresso». O distr i to é receptivo às mais variadas actividades agrícolas : do algodão, em Omaramba e Marrupa, ao t r igo nos planaltos, ao café, tabaco, leguminosas e fruteiras, estando a ser efectuados ensaios com sojas, trigos e milhos.

Dentro deste plano de arranque, foram já projectados os seguintes trabalhos : estudo do reajustamento administrat ivo do d is t r i to ; estudo e ampliação da rede Radiocomunicações; electrif icação dos Postos Administ rat ivos; compra de tractores e alfaias para auxíl io da assistên­cia técnica ao agricultor.

Está a ser encorajada, dadas as condições favoráveis de que se reveste, a instalação de pequenas indústrias : enlatados de f ru ta , salsicharia e lacticínios. Neste campo, prevê-se o apro­veitamento industrial do Lago Niassa, em especial com a criação duma indústria de pesca que

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Praia c!e Porto Arroio — Lago Niassa

terá os seus pontos de apoio em Metangula e Porto Arroio, respectivamente a 120 e 160 qui­lómetros de V i la Cabral.

Está a ser incentivada em grande escala a construção de escolas e postos sanitários em vários pontos do distr i to e foram instalados nc sede delegações do Inst i tuto dos Cereais, da Junta de Comércio Externo e dos Serviços de Agr icul tura.

Barcos na Base Naval de Metangula

Metangula , no Lago Niassa, possui hoje uma Capitania de Portos com boas instalações, of icinas, plano incl inado, etc. Entretanto, procura-se desenvolver Porto Arro io (também nas margens do Lago) principalmente sob o ponto de vista turístico.

Desenvolve-se na região conhecida por Nova Madeira um colonato formado por famílias madeirenses. Coda agricultor tem a sua casa sendo tecnicamente auxi l iado pelos organismos do Estado.

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ABÍLIO DE SOUSA CRISTINA

ABÍL IO DE SOUSA CRISTINA é natural de Loulé, província do Algarve. Iniciou a sua vida no Ul t ramar, em Comissão de Serviço, como mi l i tar , em Macau, com a patente de 1.° Sargento, onde se manteve durante seis anos, após o que voltou à Metrópole.

Em nova Comissão de Serviço, veio para Moçambique, onde esteve durante seis anos, re-formando-se nessa a l tu ra , em 1946.

AB ÍL IO DE SOUSA CRISTINA, conhecedor do Niassa, vendo que havia grandes possibili­dades de f ixação, resolveu fixar-se em Vi la Cabral, dedicando-se à profissão de caçador. Mais tarde, em vir tude da região ser fecunda em caça, vieram muitos outros caçadores. SOUSA CRISTINA deu por f inda a sua vida de caçador.

Estabelecimento de Sousa Cristina

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Como nessa época não existiam lojas no mato, a não ser nas povoações grandes, e como espírito de iniciat iva não lhe fa l tava, resolveu montar, com o que dispunha, construindo casas de «pau-a-pique» — g é n e r o de construção p r i m i t i v a — montando, assim, quatro lojas em diver­sos pontos da região do A l to Niassa, em pleno mato.

Anos antes de ABÍL IO DE SOUSA CRISTINA ter tomado esta iniciat iva, havia saído uma lei que favorecia a abertura dessas lojas, lei com que o Estado procurava ajudar a f ixação dos colonos.

Iniciou a sua actividade comercial em 1947, adquir indo, para poder vigiar o seu negócio, um automóvel usado, marca «Ford», que nessa época lhe custou sete mil e quinhentos escudos, e com ele percorria, através de «picadas», as distâncias que mediavam entre as suas várias lojas. Sempre prosperando, acabou por possuir doze lojas, todas dispersas pelo mato.

ABÍL IO DE SOUSA CRISTINA possui, actualmente, sete lojas no mato e duas em Vi la Ca­bral, sendo a maior a sede «do seu comércio.

Votou-se de alma e coração à terra virgem mas fecunda, desta bela região do A l to Niassa, que ama mais do que a sua província natal do Algarve.

SOUSA CRISTINA é um pioneiro convicto e fel iz. Nada mais desejando do que continuar a sua vida de comerciante, e de verif icar com os seus próprios olhos, numa romagem de saudade, o progresso do Algarve, e regressar, depois, às terras do Niassa, que passaram a ser parte integrante dele próprio, que ama, e ajudou com o seu esforço, a civi l izar e a progredir.

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VALIMAMADE JAMAL

V A L I M A M A D E J A M A L é f i lho de pais paquistaneses, que se f ixaram próximo da Ilha de Moçambique, numa área do Mossuri l , chamada Motomonho, tendo-lhe sido dada por seus pais a nacionalidade portuguesa. Nasceu a 15 de Agosto de 1927. Seus pais são comerciantes.

V A L I M A M A D E J A M A L quis seguir a vida de comerciante, estabelecendo-se em Vi la Ca­bral , no ano de 1953, no comércio geral e a retalho.

Caso Comercial de Valimamade Jamal

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Iniciou a sua vida de comerciante com um estabelecimento. Presentemente possui três. Um, é dedicado ao comércio para indígenas; outro a artigos orientais e para indígenas;

e o terceiro a armazéns por atacado. V A L I M A M A D E J A M A L trabalhou, procurando economizar para se poder estabelecer, o que

fez pelos seus próprios meios, sem a ajuda dos pais.

Casa Jamal

Em 1953, casou com uma portuguesa da região do lapala, no Distr i to de Moçambique. Tem, actualmente, três f i lhos.

V A L I M A M A D E J A M A L é um espírito progressivo, homem trabalhador, que pretende con­t inuar a aumentar a sua vida comercial, sentindo-se satisfeito por se ter f ixado nesta região do A l to Niassa, que atravessa um período de grande desenvolvimento.

A esposa de V A L I M A M A D E J A M A L colabora com seu marido, encontrando-se à frente de um dos seus estabelecimentos, a atender a cl ientela.

O prédio onde se encontram os armazéns por atacado é sua propriedade, e foi concluído em Janeiro de 1964, contr ibuindo com o seu esforço e perseverança para o progresso da c i ­dade de Vi la Cabral.

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JOSÉ ALVES COTRIM DA SILVA GARCEZ

JOSÉ ALVES COTRIM DA SILVA GARCEZ nasceu na Metrópole, na freguesia de Rio Ci­meiro, concelho de Ferreira do Zêzere.

Veio para Moçambique com 25 anos de idade, empregando-se nas Obras Públicas, como assalariado, em Namapa, Distr i to de Moçambique.

Após um ano de trabalho nas Obras Públicas, colocou-se numa f i rma comercial, em Ma-lema, onde se manteve durante nove anos. De Malema veio para Vi la Cabral, onde comprou uma quota numa f i rma existente, tornando-se por esta forma sócio dessa f i rma.

Sete anos volvidos, JOSÉ GARCEZ comprava as restantes quotas, f icando a pertencer-lhe c f i rma.

As suas actividades comerciais não f icaram por aí, dividindo-se por vários sectores, dedi-cando-se ao comércio geral, vendas a retalho para europeus e indígenas. Possui, também, um talho e uma padaria.

Igualmente se dedica à pecuária, possuindo mais de quatrocentas cabeças. JOSÉ GARCEZ é casado com uma metropol i tana, nascida na mesma freguesia de Rio Ci­

meiro, tendo cinco fi lhos. Para este pioneiro das terras do Niassa, Moçambique é a sua terra, a quem vota um

amor de f i lho, que tudo tem fei to para o seu progresso e desenvolvimento, sonhando sempre em vê-la cada vez mais engrandecida.

É um homem que tem dado tudo por tudo, e revela, constantemente, esse amor à terra moçambicana, que ele adoptou como sua, dela falando com entusiasmo e carinho.

Casa Comercial de José Garcez

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Não é homem de letras, mas exprime nas suas palavras simples e claras, que sabe dizer o que sente e o que quer. É um homem rude mas de alma sensível, manifestando de forma inequívoca o seu portuguesismo.

Tem sido com homens da têmpera de JOSÉ GARCEZ, de espírito empreendedor, de sacrifí­cio e amor pátr io, de autênticos pioneiros, que as nossas Províncias Ultramarinas se construí­ram e ergueram, e serão pelos tempos fora um padrão imortal da gente lusa!

JOSÉ GARCEZ construiu um prédio para habitação, comércio e indústr ia, empreendimento com o qual mui to valorizou a cidade de Vi la Cabral.

Prédio Garcez

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MANUEL BRAZ DA COSTA

MANUEL BRAZ DA COSTA nasceu na província do Alentejo, em Santo António das Areias, no concelho de Marvão.

Veio de Lisboa para Moçambique. Estivera empregado na capital e t inha então 23 anos. Fixou-se na cidade da Beira, colocando-se na serração de um tio. Volvidos seis meses,

BRAZ DA COSTA estabeleceu-se, passando a trabalhar por sua conta, comerciando em madei­ras que eram vendidas para as Rodésias.

Nove anos depois, veio fixar-se no Niassa, na intenção de continuar o comércio de madei­ras, mas em virtude das dificuldades que então exist iam, sobretudo nas comunicações, e tam­bém as grandes distâncias existentes, passou a dedicar-se à caça. Assim, foi caçador profissional durante nove anos.

Propriedade Agrícola Braz da Costa

Foi em Dezembro de 1958 que obteve uma concessão de trezentos hectares para fomento agrícola. M A N U E L BRAZ DA COSTA cult iva : mi lho, fei jão e tr igo.

Igualmente se dedica à pecuária, possuindo cento e t r in ta cabeças de gado bovino, bem como lanígero, com sessenta cabeças.

BRAZ DA COSTA tem sido um verdadeiro pioneiro do Niassa, mui to contr ibuindo com a sua actividade para o desenvolvimento agrícola e económico deste distr i to.

1963 — l. ; i Exposição-Feira de Vila Cabral

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ÁLVARO PASSOS PORTUGAL

O pioneiro ÁLVARO PASSOS PORTUGAL nasceu na freguesia de Avelar, Distr i to de Leiria. Em 1931 foi em comissão mi l i tar para a Ilha de Fernando Pó, onde se manteve até regressar à Metrópole, em 1936.

Foi em Maio desse ano que se veio f ixar na Província de Moçambique, empregando-se na Companhia dos Algodões, que nesse tempo era uma empresa luso-luxemburguesa, onde traba­lhou durante quatro anos.

Depois, colocou-se noutra f i rma, como gerente, que se dedicava à serração de madeiras, aí se mantendo durante cinco anos.

Estação de Serviço de Passos Portugal

Foi no ano de 1945 que veio para o Niasso, Vi la Cabral, onde se estabeleceu com comér­cio geral e uma plantação de tabaco, em regime de sociedade.

ÁLVARO PASSOS PORTUGAL, actualmente possui duas lojas de comércio geral e uma garagem com estação de serviço e oficinas.

Durante estes anos que tem permanecido em Moçambique, apenas foi uma vez à Metró­pole, no ano de 1959. Casou em 1940, tendo duas f i lhas; a mais velha, já casada, fixou-se em Moçambique, e a mais nova é estudante.

A f i rma de ÁLVARO PASSOS PORTUGAL tem a designação de «Queiroz & Portugal, Lda.».

Este é um dos homens que igualmente tem contribuído com o seu esforço para o pro­gresso da Província, e, nomeadamente, no Distr i to do Niassa, na cidade de Vi la Cabral, onde se f ixou há mais de duas dezenas de anos.

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JOAQUIM ROBALO SALVADO

JOAQUIM ROBALO SALVADO é natural da freguesia de Medel im, concelho de Idanha-a--Nova. Veio para Vi la Cabral em Março de 1953, com a idade de 24 anos.

A sua primeira colocação foi como empregado comercial na f i rma de Álvaro Cruxinho, em Vi la Cabral, onde se manteve durante seis anos, ao f im dos quais se estabeleceu sozinho, no comércio geral.

Iniciou a sua vida comercial com um estabelecimento que arrendou, desdobrando, sucessi­vamente, com mais três estabelecimentos, sendo um, dedicado exclusivamente a material eléctrico.

Faz parte do seu comércio, uma casa de modas, uma mercearia e papelaria, uma de fer­ragens e materiais de construção.

É agente de : Sonap de Moçambique; Companhia de Segundos «A Mund ia l» ; máquinas de costura Singer; pneus «Mabor» e relógios «Omega» e Tissot». É distr ibuidor de : rádios «Philips» e fr igoríf icos «Electrolux».

Tem a trabalhar, como seu colaborador, um irmão, além de sete empregados europeus JOAQUIM ROBALO SALVADO é casado, tendo dois fi lhos. I gualmente pertence ao Conselho Legislativo de Vi la Cabral.

Fachada do Estabelecimento de Robalo Salvado

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MANUEL FRANÇA DE LIMA

M A N U E L FRANÇA DE L I M A nasceu na Ilha da Madeira, em 1922. Veio para Moçambi­que em 1950. É casado, tendo quatro fi lhos nascidos na Província. 0 primeiro lugar que teve, quando chegou a Moçambique, foi como feitor agrícola, durante dois anos, no Distr i to de Lourenço Marques. O seu sonho, no entanto, era tornar-se agricultor por conta própria.

Procurando melhor oportunidade, part iu para a Zambézia, onde trabalhou durante cinco anos, procurando economizar durante esse tempo o necessário para poder realizar os seus sonhos.

Em 1957, ouvindo falar nas possibilidades do planalto de Vi la Cabral, deixou a Zambézia com destino ao Niassa, onde se f ixou na propriedade da f i rma Socigel, passando, alguns meses depois, para uma concessão que pedira, e assim se estabeleceu como agricultor, seu desejo de sempre.

Propriedade Agrícola de França de Lima

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Os três primeiros anos foram mui to duros, de grandes lutas. Após seis meses de iniciados os trabalhos agrícolas, já FRANÇA DE L I M A t inha esgotado as suas economias, que eram quarenta e seis contos. Esta quantia t inha sido gasta só nos trabalhos de derruba e capinagem dos terrenos.

Devido à sua enorme persistência e grande força de vontade, auxil iado por uns e encora­jado por outros, conseguiu vencer todas as grandes dificuldades que se lhe depararam, passando, após negros anos de lutas, que a muitos quebraria o ânimo e desejo de prosseguir, a t irar, f inalmente, os frutos da sua propriedade e do seu labor.

A princípio trabalhou a terra à enxada, depois, a lavrá-la com uma junta de bois, o que tornava as culturas bastante oneradas, com o pouco rendimento desse sistema. Hoje, com um tractor e respectivas alfaias, cult iva 100 hectares,: com culturas de tr igo, mi lho, grão, batata e outros.

1." Exposição Feira de Vila Cabral, em 1963

Há dois anos antes, o rendimento da propriedade, não ia além de oitenta contos. Actua l ­mente, possui, também, um estabelecimento comercial e tem uma moagem de milho e res­pectivos armazéns.

M A N U E L FRANÇA DE L I M A foi um homem mui to trabalhador e honesto, considerado no meio agrícola do Niassa, não só pelos europeus como pelos nativos.

Foi um verdadeiro pioneiro das terras do Niassa, que mercê do seu espírito empreendedor, conseguiu vencer todas as dificuldades que se lhe depararam, trazendo com o seu esforço, o progresso e o desenvolvimento agrícola a esta região da Província de Moçambique, onde sucum­biu, por grave desastre, já depois de escrita a sua biografia.

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PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PORTO AMÉLIA

O tenente T ITO XAVIER, actual Presidente da Câmara Municipal de Porto Amél ia , é um jovem oficial nascido na Metrópole, que ao vir para Moçambique em 1957, cumprir o serviço mi l i tar , se enamorou da terra moçambicana.

0 Presidente da Câmara Municipal de Porto Amélia, Tenr. Tiro Xavier quando assinava um contrato com o Banco de Fomento

O tenente T ITO XAVIER cursou o Colégio Mi l i ta r , e com a patente de alferes foi man­dado para Nampula, onde esteve a prestar serviço durante oito meses, sendo em seguida trans-ferido para Porto Amél ia , onde permaneceu quatro anos, após o que regressou à Metrópole, em vir tude de ter terminado a sua comissão. Porém, Áf r ica f icara-lhe no coração e mui to pr in­cipalmente Porto Amél ia , cujas belezas naturais tanto o cat ivaram.

Assim, pouco tempo se deteve na Metrópole, desejoso de voltar a Moçambique, de que, rapidamente, f icou saudoso. Pouco depois é nomeado Ad jun to Mi l i ta r do Governador, bem como Comandante da O.P.V., em Cabo Delgado, e é com esses novos cargos que volta à Província.

Actua lmente, o tenente T ITO XAVIER, além de Presidente da Câmara Munic ipal de Porto Amél ia , é o comandante da Guarda Fiscal e comandante da F.A.V. 304, pois possui o «brevet» de piloto.

Em Abr i l de 1968 é convidado para Presidente da Câmara Munic ipa l , lugar que aceita e pouco depois assume, o qual tem desempenhado com o maior zelo e devoção.

Quando o tenente T ITO XAVIER voltou a Porto Amél ia , o terrorismo t inha começado a deflagrar no norte da Província, e desde logo se viu l igado, por força das circunstâncias, aos variados problemas surgidos por tal facto. De então para cá, tem desenvolvido acção notável em todos os sectores a que se encontra l igado, c que tem merecido justos elogios.

Ele nos af i rmou : — «Desde que assumi a presidência na Câmara, tudo tenho fei to para que a população viva, sinta e concorra nos problemas da sua terra. Não quero uma Câmara isolada mas a viver no meio das pessoas. Graças a Deus, tenho sido correspondido e a cidade vai andando lenta mas segura».

Todos são unânimes em af i rmar que, sob a égide do seu mandato, a cidade de Porto Amél ia mui to tem progredido. É, ainda, o dinâmico e jovem Presidente da Câmara quem nos af i rma : — «Tenho dois fi lhos aqui nascidos e o pai quer que tenham uma cidade mui to mais maravilhosa do que ele conheceu».

Não pomos dúvida de que assim venha a suceder, tal qual como não duvidamos, tam­bém, de que ele será mais um metropol i tano cujo nome e obra de progresso vão f icar, para sempre, ligados à obra civi l izadora de todos quantos têm, de qualquer maneira, contribuído para o seu engrandecimento!

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HISTÓRIA DO DISTRITO DE CABO DELGADO E SUA CAPITAL — PORTO AMÉLIA

Vista aérea do porto e da cidade

Na História de Porto Amél ia f igura, com primacial relevo, o Tenente da Armada Portu­guesa Jerónimo Romero, que iniciou a ocupação da Baía de Pemba — s e u nome primit ivo — a 8 de Dezembro de 1857, desembarcando da escuna «Angra» e hasteando a bandeira portu­guesa no lugar de Metuge, junto à foz do rio Muagide.

Com Jerónimo Romero desembarcaram sessenta colonos, de ambos os sexos, que vinham da Metrópole na escuna «Angra», tendo sido a instâncias suas que foi publicada a portaria de 7 de Fevereiro de 1857, pelo Min is t ro da Mar inha e Ul t ramar, que era, então, o Visconde de Sá da Bandeira.

Depois de escolhido o local, os colonos estabeleceram-se na margem ocidental da baía para se dedicarem à agr icul tura, local esse chamado Paquitequete, que era de mais fáci l acesso.

Nos princípios de 1858, Jerónimo Romero construía, à entrada da baía, um forte, para sua defesa, que f icou a ser conhecido pelo «Forte Romero» e que, em 1943, foi considerado Monumento Nacional .

Construídos alguns barracões para acomodação dos colonos e guarda dos materiais, inau-gurou-se a ocupação nesse dia 8 de Dezembro de 1857 — d i a da Padroeira de P o r t u g a l — , f icando, por esse facto, a denominar-se o «8 de Dezembro».

Depois, a escuna «Angra» continuou ali para proteger os colonos, por ordem do Governo da Província, seguindo para a Ilha do Ibo, um pouco mais para cima da Baía de Porto Amél ia, Jerónimo Romero.

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Palácio do Governo

O Distr i to de Cabo Delgado tem uma área de 78 374 quilómetros quadrados. É l imitado : ao norte, pelo rio Rovuma (fronteira com o Tanganhica); ao sul, o rio Lúrio, que serve de fronteira com o Distr i to de Moçambique; a leste o Oceano Índico (canal de Moçambique); a oeste, os rios Lugenda, Lucinge e Munguaca.

As divisões administrat ivas do distr i to compreendem : Porto Amél ia , Ibo, Mocímboa da Praia, Montepuez, Macomia, Macondes, Mecúf i , Palma e Quissanga. A população do distr i to era, pelo censo oficial de 1960, de 546 648 indivíduos, pertencentes aos ramos macua, maconde, suáhili, agáua, muage, chaca, medo, maravi, maca e andonde.

Parte do distr i to esteve sob a administração da Companhia do Niassa desde 1891, vol­tando à administração directa do Estado em 27 de Outubro de 1929. Nessa a l tura, o Governo dividiu a região do Niassa em dois distritos : Cabo Delgado e Niassa, dando-lhes governo comum, governo que foi separado um ano depois.

O distr i to conta com cerca de 3100 quilómetros de estradas.

Existem campos de aviação servidos por carreiras regulares (Porto Amél ia e Mocímboa de Praia), além de outros campos servidos por aeronaves de menor envergadura.

A agr icul tura tem vindo a desenvolver-se lentamente.

O Distr i to de Cabo Delgado é mui to pobre em pecuária, em grande parte devido à inci­dência da mosca tsé-tsé, que tem vindo a ser combatida peia Missão de Combate às Tripanos-somíases, com uma divisão de trabalhos instalados em diversos pontos da região.

No campo de etnografia e do folclore, destaca-se, no Distr i to de Cabo Delgado, o povo maconde, cuja escultura em madeira constitui um dos índices mais interessantes de arte a f r i ­cana em todo o Continente.

No distr i to cultiva-se o sisal, arroz, algodão, gergel im, mandioca, amendoim e castanha de caju.

Porto Amél ia — h o j e capital do Distr i to de Cabo De lgado—, cuja cidade vai crescendo alindada por bonitos bairros residenciais, a mirar-se nas águas azuis de uma das mais belas baías do m u n d o ! — tem-se desenvolvido com mui ta lentidão. Assim, só em 1934 —a 19 de D e z e m b r o — passou a ser uma vi la, e a cidade em 18 de Outubro de 1958.

Foi com a criação do Governo do Distr i to, em 1956, que Porto Amél ia se começou a de­senvolver, sofrendo, de então para cá, um grande surto de progresso e desenvolvimento.

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Porque deixou a Baía de Pemba de ser designada pelo seu nome nativo?

Foi a Companhia do Niassa — uma Companhia Majestát ica — que quis prestar homenagem às altas virtudes de Sua Majestade a Rainha D. Amél ia , pedindo que fosse autorizado a cha­mar àquela povoação PORTO AMÉLIA , o que foi concedido por assinatura, no Paço de Lisboa, a 22 de Novembro de 1899.

Porto Amél ia tem condições excepcionais de beleza, fazendo lembrar as famosas Ilhas do Haway, pois a l i , a natureza é rica de cores e amena de cl ima.

Se se fomentar o tur ismo, Porto Amél ia poderá tomar-se numa cidade de linhas moder­nas, maravilhosa, aproveitando-se as suas condições magníficas e naturais que possui e a circun­dam, fazendo, ou podendo fazer-se, de Porto Amél ia um «paraíso» de férias!

A sua beleza deslumbra a quem lá vai . A inda sobre o turismo nesta região, queremos aqui deixar expresso algumas notas acerca de um art igo publicado em 1965, no jornal de Salisbúria, o «The Rhodesie Herald», que se referia com destaque, ao facto de Porto Amélia ir ter em breve uma pousada, o que a poderia transformar num dos mais aprazíveis locais de turismo da costa oriental afr icana. Referindo-se ainda à grandiosidade da Baía de Pemba —a terceira do M u n d o — aquele jornal rodesiano termina af i rmando «que Porto Amél ia , devido à sua magníf ica praia do Imbe, tem condições para vir a ser um dos mais importantes centros do turismo de Áf r ica».

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Aspecto da Praia

No Ibo, a Comissão Munic ipal daquela histórica v i la, pretende construir ali uma pousada para quantos se deslocam a Porto Amél ia possam ir às Quirimbas gozar a maravilhosa paisa­gem e apreciar as relíquias-monumento que atestam os primeiros passos da nossa colonização naquelas paragens. Em toda aquela região as águas são cristalinas, sendo óptimas para a prá­tica da pesca submarina.

Estamos crentes que Porto Amél ia vai continuar a progredir, não só para chamar a si os turistas e enriquecer a sua economia, como também para engrandecimento e progresso da Pro­víncia de Moçambique, cuja orla marí t ima é um manancial inesgotável de belezas!

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SOCIEDADE AGRÍCOLA ALGODOEIRA — SAGAL

A SOCIEDADE AGRÍCOLA ALGODOEIRA — S A G A L — foi constituída em 15 de Dezem­bro de 1933, tendo a sua sede em Porto Amél ia , capital do Distr i to de Cabo Delgado, com o capital social de t r in ta mil contos.

De acordo com os seus estatutos, a SAGAL tem por objectivo a exploração agrícola e industrial do algodão ou de quaisquer outras culturas nas Províncias Ultramarinas, podendo, igualmente, subscrever com capital ou part icipar, por qualquer forma, noutras empresas.

Aspecto da edifício da Sede da «SAGAL» em Porta Amélia

A SAGAL possui fábricas de descaroçamento e prensagem em Montepuez e Maate. Tem plantações de sumaúma em Namara, Meloco, Balama, Mesa e Namuno.

Em 31 de Outubro de 1963, a SAGAL desistiu da sua actividade como concessionária de zonas algodoeiras, passando a ser produtora autónoma; comerciante e industrial de descaroça­mento e prensagem de algodão, nos termos da nova legislação que, então, foi posta em vigor quanto ao sector algodoeiro da Província de Moçambique.

É larga a projecção económica da SAGAL, em Cabo Delgado, onde a produção algodoeira constitui a mais importante cultura de rendimento do distr i to e o seu mais elevado valor de exportação.

Além da sua actividade no sector algodoeiro, a SAGAL é também produtora-exportadora de sumaúma e Agente comercial e representante de empresas nacionais e estrangeiras, como por exemplo, de : combustíveis e lubrif icantes «Caltex»; Companhia de Seguros «Lusitana»; Companhia Colonial de Navegação; pneus e câmaras-de-ar «Mabor».

A SOCIEDADE AGRÍCOLA ALGODOEIRA é uma das mais importantes do Distr i to de Cabo Delgado, que mui to contr ibui para o progresso económico da Província.

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A PIONEIRA MAIS ANTIGA DE MOÇAMBIQUE

D. MARIA DA CONCEIÇÃO NEVES

Fomos encontrar em Porto Amél ia , a pioneira senhora D. M A R f A DA CONCEIÇÃO NEVES, simpática senhora de 86 anos de idade — porventura a mais ant iga residente moçambicana nascida na Metrópole, de onde veio em 1907, ano em que chegou a Lourenço Marques, vindo acompanhada de seu marido, que era mi l i tar , e vinha para Moçambique em missão de serviço, para a Companhia do Niassa, que mais tarde passou para o Estado.

A senhora D. M A R I A DA CONCEIÇÃO NEVES chegou a Porto Amél ia em 9 de Abr i l de 1909, exercendo o mister de professora, na Companhia do Niassa. Actualmente vive na com­panhia de uma f i lha, que é também viúva, com 63 anos de idade. A senhora D. M A R I A DA CONCEIÇÃO tem vários netos e bisnetos. Ume sua bisneta —a mais v e l h a — é aluna da Faculdade de Letras de Lisboa.

A senhora D. M A R I A DA CONCEIÇÃO NEVES, que nasceu a 8 de Dezembro, conserva perfeita lucidez, falando-nos de factos antigos que se passaram no distr i to e em Porto Amél ia, onde já reside há 66 anos!

Esta senhora é uma das muitas portuguesas que, valentes e resolutas, vieram com sua presença acompanhar e ajudar os seus maridos na tarefa de civi l izar!

Mulheres a quem foi necessária mui ta coragem e sacrifício, de que as gerações modernas são, no presente, as beneficiárias e as continuadoras da sua obra!

Aqui prestamos homenagem a esta senhora, uma pioneira da terra moçambicana.

A senhora D. M A R I A DA CONCEIÇÃO NEVES faleceu em fins de Junho de 1969, quando esta obra se encontrava no prelo.

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CLUBES DESPORTIVOS DE PORTO AMÉLIA E GRUPO CÉNICO

DE PORTO AMÉLIA

Porto Amél ia possui alguns clubes desportivos. O Clube Desportivo de Porto Amél ia , onde se pratica Futebol, Futebol de Salão, Basquete

feminino, Voleibol e Ténis.

O Clube Vasco da Gama tem duas equipas de futebol e pat inagem da classe in fant i l .

A Associação Desportiva de Pemba, que se dedica ao futebol e possui um rinque de pat i ­nagem. Existe, ainda, o Estádio Munic ipa l .

O Grupo Cénico de Porto Amél ia estreou-se a 9 de Fevereiro de 1963.

A criação deste grupo cultural deve-se a José Silvestre Cortez e a Rafael de Bulhão Pato — descendente do célebre escritor português, Bulhão Pato.

Revista «PÓ, CALOR . . . E MARESIA»

Deram também a sua valiosa colaboração as senhoras D. Mar ia Helena Lago Ferreira e Fernanda Soares Guilherme, que representaram.

Igualmente fazem parte do Grupo Cénico, dois médicos : Dr. Manuel Simões Coelho e Dr. Camilo de Araújo. Actuaram na direcção musical do primeiro espectáculo e, ainda, um como autor e outro como encenador.

A primeira peça chamava-se «O Doido e a Mor te» , de Raul Brandão, e a revista de sabor local «Pó, Calor . . . e Maresia».

No segundo espectáculo, o Grupo apresentou a peça «O Urso», de An ton Tchekov, e a revista de sabor local «Atracou o Troça Nova», que se efectuou em Março de 1964. 0 terceiro espectáculo foi dado em Agosto de 1964.

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Pescador desportivo exibindo o belo exemplar pescado

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ÍNDICE

DISTRITO DE LOURENÇO MARQUES

A razão por que se fez este livro 3 Um Agradecimento 4 Áfr ica 5 Governador-Geral 6 Presidente da Câmara Munic ipa l de Lourenço Marques 8 Vice-Presidente da Câmara Munic ipa l de Lourenço Marques 10 Lourenço Marques 11 Estudos Gerais Universitários 18 Sociedade de Estudos de Moçambique 22 Rodrigues Júnior 24 Conchita Breton 27 Poetas d e Moçambique . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 8 Histor iador, Escritor e Jornalista A l f redo Pereira de Lima 30 Marrabenta 33 Rádio Clube de Moçambique 35 Associação dos Velhos Colonos 41 Grupo Desportivo 1.° de Maio 46 Clube Ferroviário de Moçambique 48 Clube Naval de Lourenço Marques 52 Clube de Golfe da Polana 55 Sporting Clube de Lourenço Marques 57 Clube de Pesca Desportiva de Lourenço Marques 60 Clube Mar í t imo de Desportos 63 António Melo Pereira 64 João Terramoto 65 Manuel Augusto Rodrigues 66 Capitão Manuel Simões Vaz 69 Transportes de Moçambique 7.2 Banco Nacional Ul t ramar ino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 0 Empresa Pecuária do Sul do Save, Lda 84 Abel Acácio de Azevedo 88 Breyner & W i r t h 91 Firma Mar tha da Cruz e Tavares 94 Companhia de Seguros Naut icus 97 Lar Moderno 99 Os Pioneiros da Indústria Cervejeira em Moçambique 102 Companhia Industr ial da Mato la 105 Casa Coimbra . 110 Filipe Dicca 113 Sociedade Agrícola de Tabacos, Lda 115 Vassilis Gianouris 117 Pendray & Sousa • 119 Giuseppe Buffa Buccelatto 121 Sorabjee Ginwala 124 Minerva Central 126 Protal 130 Júlio Gomes Ferreira 133 Empresa das Águas d e Montemor . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 António Augusto Gemelgo 138 Manuel Nunes 140 Fábrica Nacional de Moagem e Massas Al imentíc ias, Lda 142

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«SIPAQ» —Soc iedade Industr ial de Produtos Al imentícios Químicos, Lda 143 Justo Menezes 144 Hotel Polana 145 Aida Sorgentini 149 Cooperativa dos Criadores de Gado 152 FACOBOL — Fábrica Colonial de Borracha 154 Laurent ino Borges 156 Casa Eduardo Silva 157 Um Casal de Pioneiros 159 Reserva de Elefantes do Mapu to 160 A Coutada de Chicualacuala 162 A visita do Presidente do Conseího 164 DISTRITO DE GAZA

Mouzinho de Albuquerque 168 Governador do Distr i to de Gaza 169 Hélder Flores 174 O Colonato do Vale do Limpopo 177

DISTRITO DE I N H A M B A N E

Governador d o Distr i to d e Inhambane . . . . . . . . . . . . . . . . 185 Al f redo Lopes Tomé 190 Joaquim Alves . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192

DISTRITO DE MAN1CA E SOFALA

Governador d e Man ica e Sofalg . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196 Imagens da Beira 197 Associação Comercial da Beira 204 Biografia dos Irmãos Lopes 206 Lusalite de Moçambique 209 José e Manuel Lopes Bulha 215 Celmoque 216 Manuel Xavier da Gama Lobo Salema 219 Caetano Lopes 221 Saul Brandão 223 Companhia de Seguros — «A Mund ia l de Moçambique» 226 Companhia Têxt i l do Púngoè 228 Sami Coen 232 A « IPMAL» — Indústria Portuguesa de Madeiras, Lda 234 Eng.° João Meneses Caiado Cabral 236 Carlos Ferrão 237 Armando Dias Monte i ro 238 Aero-Clube da Beira 240 Manuel Rodrigues Pinho 243 José Pádua 244 Centro de Cul tura e A r te da Beira 246 Rádio Pax 247 Mote l Estoril 249 A Cinegética no Distr i to de Manica e Sofala 251 Sociedade de Safaris, Lda 253 O Parque Nacional da Gorongosa 255 Companhia do Búzi 257 V i l a Pery 2 5 8 - A Hidro-Eléctr ica do Revuè 258-B Zembe Plantations 258 -C Edmundian Investments, Ltd 258 -D Textá f r ica 258-E

DISTRITO DA Z A M B É Z I A

Presidente da Câmara Munic ipa l de Quelimane 259 História de Quelimane 260 História do Dist r i to do Zambézia 265 Sociedade Agrícola do Mada l 266 Pioneiro d a Indústria Açucareira e m Moçambique — John Peter Hornung . . . . . . . . 269 Empresa Mine i ra do A l t o Ligonha 277 Grémio dos Plantadores d o Distr i to d a Zambézia . . . . . . . . . . . . . . 278 Manuel Saraiva Junqueiro 280 José Farinha Migue l 282

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Cooperativa Agrícola do Gúruè 284 O Presidente da Cooperativa do Gúruè 2 8 5 Os Colonatos de Alverca e Mambone 2 8 6 Alber to Pinto Carneiro 288 Clube do Gúrué 2 8 9 Pioneiros da Indústria do Chá em Moçambique 290

DISTRITO DE TETE

Governador do Distr i to de Tete 292 Presidente da Câmara Munic ipa l de Tete 294 História do Distr i to de Tete 295 Vicente Ribeiro de Castro 299 Agostinho Lopes Rêgo 301 Emílio Mendes Cerejo 303

DISTRITO DE MOÇAMBIQUE

Governador do Distr i to de Moçambique 304 Algumas Notas sobre o Distr i to 307 Pedro Baessa 311 Apontamento Histórico sobre Neutel de Abreu . 312 António Marques . . . 316 João Ferreira dos Santos . . . 318 João Ribeiro de Paiva 324 « SOCAJU » 325

DISTRITO DO NIASSA

Governador do Distr i to do Niassa .' . . . 326 Histór ia do Dist r i to do Niassa 329 Val imamade Jamal 333 José Cot r im da Silva Garcez 335 Manuel Braz da Costa 337 Álvaro Passos Portugal 338 Joaquim Robalo Salvado 339 Manuel França de Lima 340

DISTRITO DE CABO DELGADO

Presidente da Câmara Munic ipa l de Porto Amél ia 342 Histór ia do Dist r i to de Cabo Delgado e sua Capital 343 SAGAL . . . . 346 D. Mar ia da Conceição Neves 347 Clubes Desportivos e Grupo Cénico 348