Dr. Jorge Trindade (Presidente da SBPJ) Dra. Fernanda...

7
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA JURÍDICA www.sbpj.org - [email protected] Rua Mostardeiro, 120/1002 - Moinhos de Vento Porto Alegre / RS - Brasil (51) 3026.8613 II CONFERÊNCIA INTERNACIONAL IGUALDADE PARENTAL NO SÉCULO XXI REFLETIR E AGIR EM PROL DA PARENTALIDADE O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR Dr. Jorge Trindade (Presidente da SBPJ) Dra. Fernanda Molinari (Vice-Presidente da SBPJ) Coimbra, junho de 2013. Apoio

Transcript of Dr. Jorge Trindade (Presidente da SBPJ) Dra. Fernanda...

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA JURÍDICAwww.sbpj.org - [email protected]

Rua Mostardeiro, 120/1002 - Moinhos de VentoPorto Alegre / RS - Brasil

(51) 3026.8613

II CONFERÊNCIA INTERNACIONAL IGUALDADE PARENTAL NO SÉCULO XXI

REFLETIR E AGIR EM PROL DA PARENTALIDADE

O DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIARDr. Jorge Trindade (Presidente da SBPJ)

Dra. Fernanda Molinari (Vice-Presidente da SBPJ)

Coimbra, junho de 2013.

Apoio

1

II CO

NFE

RÊN

CIA

INTER

NACIO

NAL

IGU

ALD

AD

E PA

REN

TAL

NO

SÉC

ULO

XXI

REF

LETI

R E

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M P

RO

L D

A P

ARE

NTA

LID

AD

E

O D

IREI

TO

À C

ON

VIV

ÊNCIA

FAM

ILIA

R

Dr.

Jor

ge T

rind

ade

(Pre

side

nte

da S

BPJ)

Dra

. Fe

rnan

da M

olin

ari (V

ice-

Pres

iden

te d

a SB

PJ)

Coi

mbr

a, j

unho

de

2013

.

12

Refe

rência

s Bib

liográ

ficas

DIA

S, C

arlo

s A

mar

al.

A B

on

da

de

e o

Pe

rdã

o:

ensa

io p

sica

nal

ític

o s

ob

re a

lgu

mas

qu

alid

ades

do

bo

m o

bje

to in

tern

o. C

oim

bra

: Esc

her

, S.A

. 198

7.

DR

UM

ON

D, C

arlo

s (d

e A

nd

rad

e). A

lgu

ma

po

esi

a. S

ão P

aulo

: Ed

içõ

es P

ind

ora

ma,

193

0.

GR

EEN

, A

nd

ré.

Cit

ado

po

r: F

IGU

EIR

EDO

, Eu

rico

. In

: N

o r

ein

o d

e X

an

tum

. O

s jo

ve

ns

e o

Co

nfl

ito

de

Ge

raçõ

es.

Po

rto

: Ed

içõ

es A

fro

nta

men

to, 1

985

.

PÉG

UY,

Ch

arle

s. E

scri

tor,

po

eta

e fi

lóso

fo f

ran

cês

(18

73

-191

4).

A f

ábu

la n

o c

on

text

o a

qu

i

uti

lizad

o a

par

ece

em C

YRU

LNIK

, B

ori

s. E

l a

mo

r q

ue

no

s cu

ra.

Bu

eno

s A

ires

: G

edis

a Ed

ito

rial

,

200

5.

PES

SOA

, Fer

nan

do

. Ob

ras

com

ple

tas.

Men

sage

m, I

Par

te. R

io d

e Ja

nei

ro: N

ova

Agu

illar

, 198

6.

SAN

TOS,

Bo

aven

tura

So

usa

. Um

dis

curs

o s

ob

re a

s ci

ên

cia

s. P

ort

o: A

fro

nta

men

to, 1

987

.

TRIN

DA

DE,

Jo

rge.

Ma

nu

al

de

Psi

colo

gia

pa

ra o

pe

rad

ore

s d

o D

ire

ito

. 6

ª ed

ição

. P

ort

o A

legr

e:

Livr

aria

do

Ad

voga

do

, 201

2.

11

fam

iliar

não

rep

itam

o a

band

ono

com

a p

róxi

ma

gera

ção,

por

que,

con

hece

ndo

a do

r da

fal

ta d

e co

nviv

ênci

a fa

mili

ar,

tam

bém

se

torn

a po

ssív

el c

ompr

eend

er

a ne

cess

idad

e de

am

ar e

ser

am

ado.

uma

cate

dral

e u

ma

luz

no m

eio

do

cam

inho

...

Nes

se a

spec

to –

rep

ita-

se -

é n

eces

sári

o qu

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dire

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devo

lva

a

pala

vra

ao a

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. O

u, c

omo

diss

e Ant

onio

Ged

eão,

“Ele

s não sa

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, nem

sonham

, que o

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om

anda a

vid

a.

Que s

em

pre

que u

m h

om

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o

mundo p

ula

e a

vança

com

o b

ola

colo

rida e

ntr

e a

s m

ãos

de u

ma c

riança

7”.

7 GED

EÃO

, An

ton

io. A

pe

dra

fil

oso

fal.

19

96

.

2

JO

RG

E T

RIN

DA

DE

Pós-d

outo

rado e

m P

sic

olo

gia

Fore

nse.

Liv

re d

ocente

em

Psic

olo

gia

Jurí

dic

a.

Douto

r (PhD

) em

Psic

olo

gia

Clínic

a.

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r em

Ciê

ncia

s S

ocia

is p

ela

Univ

ers

idade T

écnic

a d

e

Lis

boa.

Especia

lista

em

Psic

olo

gia

Jurí

dic

a.

Gra

duado e

m

Direito

e

Psic

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gia

. P

rofe

ssor

Titula

r na

Univ

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Lute

rana d

o B

rasil.

Pre

sid

ente

da S

ocie

dade B

rasile

ira d

e

Psic

olo

gia

Jurí

dic

a.

Direto

r do

Rio

G

rande

do

Sul

da

Associa

ção B

rasile

ira C

riança F

eliz

. D

ireto

r do IB

DF

AM

.

FER

NA

ND

A M

OLIN

ARI

Advogada.

Psic

analis

ta

Clínic

a

(em

fo

rmação

pela

Socie

dade S

ul B

rasile

ira

de P

sic

anális

e).

Douto

randa e

m

Psic

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gia

Fore

nse e

do

Teste

munho p

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Univ

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Fern

ando

Pessoa

(Port

o).

E

specia

lista

em

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ireito

de

Fam

ília

e

Psic

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gia

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dic

a.

Media

dora

de

Conflitos

pela

C

LIP

. V

ice

-Pre

sid

ente

da S

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dade B

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Psic

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gia

Jurí

dic

a.

Direto

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io G

rande do S

ul

da

Associa

ção B

rasile

ira C

riança F

eliz

. D

ireto

ra d

o I

nstitu

to

Bra

sile

iro d

e D

ireito d

e F

am

ília

- I

BD

FA

M.

3

O D

ireit

o à

Conviv

ência

Fam

ilia

r

Jorg

e T

rin

da

de

Fe

rna

nd

a M

oli

na

ri

Saudação d

e a

bert

ura

É um

a gr

ande

al

egri

a oc

upar

mos

es

se

espa

ço

de

inte

rcâm

bio

e

apre

ndiz

agem

. G

osta

ríam

os q

ue a

s id

eias

que

esb

oçam

os a

qui

desp

erta

ssem

sua

mot

ivaç

ão e

inte

ress

e,

e,

pelo

m

enos

, qu

e um

a da

s no

ssas

pa

lavr

as

pude

sse

ser

espe

cial

e t

ocar

o c

oraç

ão d

e ca

da u

m d

e m

anei

ra q

ue s

aíss

emos

com

alg

uma

idei

a ou

sen

tim

ento

nov

o.

Des

ejam

os,

por

fim

, qu

e to

dos

tenh

am u

ma

exce

lent

e Con

ferê

ncia

!

1. In

trodução:

O R

egis

tro P

sicoló

gic

o

D

o po

nto

de

vist

a ps

icol

ógic

o,

a co

nviv

ênci

a fa

mili

ar

ocup

a,

por

qual

quer

ref

eren

cial

teó

rico

que

se

adot

e, d

esde

a p

sica

nális

e cl

ássi

ca a

té o

mod

erno

neu

ro-c

ogni

tivi

smo

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ológ

ico,

pap

el i

gual

men

te f

unda

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tal

para

o de

senv

olvi

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to e

moc

iona

l sa

udáv

el d

a cr

ianç

a.

Com

o re

fere

And

Gre

en,

a

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ília

é

(...

) o

esp

aço

tr

ágic

o

por

exce

lênci

a,

porq

ue o

s nós

do ó

dio

e d

o a

mor

são n

ela

os

pri

meir

os

em

data

e

import

ânci

a1.

1 GR

EEN

, A

nd

ré.

Cit

ado

po

r: F

IGU

EIR

EDO

, Eu

rico

. In

: N

o r

ein

o d

e X

an

tum

. O

s jo

ve

ns

e o

Co

nfl

ito

de

Ge

raçõ

es.

Po

rto

: Ed

içõ

es A

fro

nta

men

to, 1

98

5, p

. 31

.

10

enco

ntra

um

seg

undo

hom

em q

ue t

ambé

m s

e de

dica

ao

trab

alho

de

queb

rar

pedr

as.

Obs

erva

, po

rém

, qu

e se

u ro

sto

é se

reno

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arm

onio

so,

e, a

o se

r

ques

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ado,

res

pond

e qu

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uilo

não

é e

xata

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te o

que

gos

tari

a de

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er,

mas

ao

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os é

um

tra

balh

o ao

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livre

, e

isso

o a

grad

a, a

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de

ser

um m

eio

de c

onse

guir

lev

ar s

uste

nto

segu

ro e

hon

esto

a s

ua f

amíli

a. M

ais

adia

nte,

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indo

sua

cam

inha

da,

enco

ntra

um

ter

ceir

o ho

mem

a q

uebr

ar p

edra

s, m

as

esse

par

ece

radi

ante

de

felic

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e. S

orri

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ada

golp

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sfer

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ntra

a

roch

a, e

, ao

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per

gunt

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sobr

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que

está

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endo

, lo

go r

espo

nde:

eu?

Eu

esto

u co

nstr

uind

o um

a ca

tedr

al!

N

ão

dúvi

da

algu

ma

que

todo

s nó

s ir

emos

qu

ebra

r pe

dras

na

traj

etór

ia d

a vi

da.

Poré

m,

quem

car

rega

um

a ca

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al n

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beça

tra

nsfo

rma

o

sent

ido

da p

edra

e a

cede

ao

enle

vo e

à b

elez

a (C

yrul

nik,

200

5) q

ue p

ossu

i a

imag

em

de

uma

cate

dral

. En

tret

anto

, en

quan

to

algu

ns

cons

troe

m

uma

cate

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, ou

tros

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egue

m v

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ra q

ue e

xist

e no

mei

o do

cam

inho

.

“N

o ca

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ho ti

nha um

a pedra

, ti

nha um

a pedra

no ca

min

ho” (

Dru

mon

d)6 ,

mas

tin

ha t

ambé

m u

ma

luz

que

vinh

a do

cam

inho

do

cora

ção.

A a

trib

uiçã

o de

sen

tido

– q

ue p

assa

e p

erpa

ssa

pelo

que

é s

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do –

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pré-

requ

isit

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disp

ensá

vel

para

da

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orte

ao

s tr

aum

as

de

uma

infâ

ncia

care

nte

de

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ivên

cia

fam

iliar

am

oros

a.

Ond

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quan

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a cr

ianç

a nã

o

cons

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des

lum

brar

um

sen

tido

, a

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ncia

se

perd

e e

fica

con

vert

ida

em

mer

o re

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. Po

rém

, qu

ando

a v

ida

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-sig

nifi

cada

, e

outr

o se

ntid

o se

tor

na

poss

ível

, lo

go

se

desc

obre

po

rque

fo

i pr

ecis

o vi

vê-l

a (C

yrul

nik,

20

05).

Des

cobr

e-se

tam

bém

a im

port

ânci

a de

que

as

cria

nças

pri

vada

s da

con

vivê

ncia

6 DR

UM

ON

D, C

arlo

s (d

e A

nd

rad

e). A

lgu

ma

po

esi

a. S

ão P

aulo

: Ed

içõ

es P

ind

ora

ma,

19

30

.

9

H

oje

sabe

mos

qu

e aq

uele

s qu

e pa

dece

ram

de

um

tr

aum

a af

etiv

o

prim

ordi

al n

a in

fânc

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btêm

gra

ndes

ben

efíc

ios

ao r

ealiz

ar o

tra

balh

o in

teri

or

de r

econ

stru

ção

de v

íncu

los.

Em

out

ras

pala

vras

, is

so s

igni

fica

pre

cisa

men

te

proc

eder

a u

ma

re-s

igni

fica

ção

de s

enti

do a

post

eri

ori

, em

bora

a

man

eira

com

que

se

cont

inua

a i

mpa

ctar

os

fato

s gu

arde

rel

ação

com

a f

erid

a qu

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fico

u gr

avad

a na

his

tóri

a. E

m t

odos

os

aspe

ctos

, na

con

vivê

ncia

fam

iliar

dos

prim

eiro

s an

os d

e vi

da o

u, n

a su

a im

poss

ibili

dade

, na

quel

e qu

e ai

nda

pode

acon

tece

r do

s an

os p

oste

rior

es,

não

há a

tivi

dade

mai

s ín

tim

a e

evol

uída

do

que

o tr

abal

ho d

e re

-atr

ibui

ção

de s

enti

do.

As

carê

ncia

s af

etiv

as d

a co

nviv

ênci

a fa

mili

ar h

avid

as n

a in

fânc

ia f

azem

um e

co n

as r

epre

sent

açõe

s si

mbó

licas

pos

teri

ores

de

mod

o qu

e es

se s

enti

do,

ou m

elho

r, e

sse

não-s

enti

do -

que

por

si

só c

arre

ga u

m s

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do,

o ab

ando

no -

,

pers

iste

com

o pa

no d

e fu

ndo

na s

aga

da e

xist

ênci

a.

6.

Segunda C

onclu

são:

a f

ábula

de P

éguy

Pa

ra s

imbo

lizar

ess

a re

alid

ade,

cit

o de

mem

ória

a f

ábul

a de

Cha

rles

Pégu

y5 . I

ndo

ele

em d

ireç

ão a

Cha

tres

, no

int

erio

r ca

mpe

sino

da

Fran

ça,

enco

ntra

na

estr

ada

um h

omem

que

, co

m u

m p

esad

o m

acha

do,

se e

ncon

tra

a

queb

rar

pedr

as.

Ao

ser

inda

gado

o q

ue e

le e

stá

faze

ndo,

o h

omem

, co

m u

ma

pesa

da e

xpre

ssão

de

raiv

a no

ros

to l

he d

iz:

é o

trab

alho

que

me

rest

ou,

pois

nada

con

sigo

da

vida

sen

ão q

uebr

ar e

ssas

dur

as p

edra

s. M

ais

adia

nte,

Pég

uy

5 PÉG

UY,

Ch

arle

s. E

scrito

r, p

oeta

e f

ilósofo

fra

ncês

(1873-1

914).

A f

ábula

no c

onte

xto

aqui utilizado

apare

ce e

m C

YRU

LN

IK, Boris.

El am

or

que n

os c

ura

. Buenos A

ires:

Gedis

a E

ditorial, 2

005,

p.3

2.

4

As

cria

nças

pri

vada

s de

afe

to n

os p

rim

eiro

s an

os d

e vi

da s

ão a

ltam

ente

vuln

eráv

eis

para

des

envo

lver

a S

índr

ome

de D

epre

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Ana

clít

ica:

seu

s ol

hos

perd

em

o br

ilho,

fi

cam

op

acos

; fi

tam

o

nada

, m

iram

o

infi

nito

; nã

o

cons

egue

m c

resc

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seu

pes

o fi

ca i

nfer

ior

à m

édia

, m

as p

rinc

ipal

men

te n

ão

cons

egue

m r

espo

nder

ao

gest

o de

ent

rega

e d

e ap

ego.

Não

apr

ende

m a

se

entr

egar

, po

rque

têm

med

o de

não

ser

em a

colh

idas

, de

ser

em r

ejei

tada

s.

Essa

s cr

ianç

as

torn

am-s

e ex

cess

ivam

ente

tr

iste

s,

sisu

das,

rias

, ad

ulto

s

seri

opát

icos

. El

as f

icar

am p

riva

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tan

to d

a sa

tisf

ação

ess

enci

al a

que

se

refe

re

o pr

incí

pio

do

praz

er,

quan

to

do

prin

cípi

o da

re

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ade,

m

as,

sobr

etud

o,

devi

do

às

expe

riên

cias

pr

ivat

ivas

de

af

eto,

o co

nhec

em

o

sent

imen

to d

e al

egri

a.

A se

mio

logi

a da

fa

lta

de co

nviv

ênci

a fa

mili

ar se

ex

pres

sa em

um

a

cria

nça

solit

ária

e m

edro

sa.

Um

a cr

ianç

a qu

e nã

o in

tera

ge c

om s

eus

igua

is e

mui

to

men

os

com

os

di

fere

ntes

, in

capa

cita

da

de

aces

sar

o m

undo

da

ludi

cida

de.

Ela

não

sabe

rá b

rinc

ar,

nem

con

tar

hist

ória

s.

A

cria

nça

que

tem

co

nviv

ênci

a fa

mili

ar

se

dive

rte

e br

inca

co

m

tam

pinh

a de

gar

rafa

, co

m b

ola

de p

ano,

com

api

to d

e ta

quar

a, p

orqu

e o

afet

o

que

rece

be é

tran

quili

za-d

or

e tr

ansf

orm

a-dor.

El

a si

mbo

liza

a pa

rtir

de

qual

quer

obj

eto

e dá

sen

tido

ao

lúdi

co.

Lo

nge

do m

undo

dos

afe

tos

todo

s os

obj

etos

per

dem

a c

orre

spon

dênc

ia

sem

ânti

co-a

feti

va.

Os

obje

tos

sem

pai

e s

em m

ãe f

icam

des

titu

ídos

de

sent

ido

emoc

iona

l. T

odos

se

torn

am c

inze

ntos

, se

m a

ton

alid

ade

dos

afet

os.

Nen

hum

IPO

D,

IPAD

, ou

qua

lque

r do

s m

ais

extr

aord

inár

ios

brin

qued

os i

nven

tado

s pe

la

5

tecn

olog

ia,

cons

egue

m s

upri

r a

falt

a da

con

vivê

ncia

fam

iliar

, a

carê

ncia

de

afet

o e

de c

arin

ho p

rove

nien

te d

a co

nste

laçã

o pr

imár

ia q

ue f

raca

ssou

na

tran

smis

são

inau

gura

l do

am

or,

e qu

e nã

o de

pend

e de

ne

nhum

a ou

tra

qual

idad

e qu

e nã

o se

ja a

sua

inco

ndic

iona

lidad

e.

2.

O a

vô d

e S

ara

mago

A

prop

ósit

o,

José

Sa

ram

ago

cont

ava

que

a pe

ssoa

m

ais

sábi

a qu

e

conh

eceu

na

vida

era

ana

lfab

eta:

seu

avô

pat

erno

, um

cri

ador

de

porc

os d

a

alde

ia o

nde

nasc

eu.

Esse

hom

em,

que

não

sabi

a ne

m l

er n

em e

scre

ver,

foi

quem

lh

e en

sino

u tu

do

sobr

e lit

erat

ura,

po

rque

lh

e co

ntav

a hi

stór

ias.

His

tóri

as s

obre

o c

éu e

sob

re a

s es

trel

as,

sobr

e lu

gare

s di

stan

tes

que

sequ

er

conh

ecia

. Q

uand

o se

u av

ô in

tuiu

a p

roxi

mid

ade

da m

orte

, ve

stiu

-se

a ri

gor,

saiu

par

a o

páti

o, a

braç

ou a

s ár

vore

s, a

s fl

ores

e o

s an

imai

s, d

espe

dind

o-s

e da

natu

reza

, de

pois

se

deit

ou n

a ca

ma,

e f

echo

u os

olh

os p

ara

sem

pre.

Foi

ess

e

cria

dor

de p

orco

s qu

e lh

e en

sino

u o

sonh

o, a

ilu

são,

a f

anta

sia,

e o

am

or.

E,

desd

e a

Cav

erna

, o

olei

ro a

mas

sa e

sse

barr

o de

que

é f

eito

o h

omem

. Es

se é

o

mit

o, é

o n

ada q

ue é

tudo,

de q

ue igu

alm

ente

fal

a Fe

rnan

do P

esso

a2 .

Se

a c

rian

ça n

ão t

iver

a p

ossi

bilid

ade

de c

onví

vio

fam

iliar

(pa

i, m

ãe,

irm

ãos,

pri

mos

, ti

os,

avós

, vi

zinh

os,

amig

os..

.),

ela

não

cheg

ará

a se

r cr

ianç

a

no

sent

ido

plen

o de

ssa

etap

a ps

icos

soci

al

impr

esci

ndív

el

para

o

dese

nvol

vim

ento

hum

ano,

nem

, de

pois

, um

adu

lto

de v

erd

ade.

Ser

á se

mpr

e

qual

quer

coi

sa s

ó pe

la m

etad

e, a

lgum

a co

isa

entr

e. “

Sou o

inte

rvalo

entr

e o

2 PES

SOA

, Fer

nan

do

. Ob

ras

com

ple

tas.

Men

sage

m, I

Par

te. R

io d

e Ja

nei

ro: N

ova

Agu

illar

, 19

86

, p.6

.

8

tudo q

ue n

os

rodeia

, o m

ais

ínti

mo d

e n

ós

mesm

os.

” É

just

amen

te n

o en

tret

er

da c

onvi

vênc

ia f

amili

ar q

ue s

e te

ce e

sse

mis

téri

o.

En

tret

anto

, se

iss

o pa

rece

r m

uito

abs

trat

o e

nece

ssit

arm

os d

e ev

idên

cia

empí

rica

, co

mo

Tom

é so

bre

as c

haga

s de

Cri

sto,

bas

ta e

voca

r a

ciên

cia

para

veri

fica

r qu

e, s

e nã

o ti

verm

os r

efor

ços

de a

mor

na

infâ

ncia

, os

sis

tem

as d

e

sero

toni

na d

o no

sso

cére

bro

não

se d

esen

volv

em a

dequ

adam

ente

. A f

alta

de

conv

ivên

cia

amor

osa

na i

nfân

cia

afet

a os

pro

cess

os n

euro

psíq

uico

s, g

eran

do

form

açõe

s de

pres

siva

s e

um

sist

ema

nerv

oso

sim

páti

co

hipe

rati

vo.

Ao

cont

rári

o,

quan

do

uma

pess

oa

cres

ce

em

uma

fam

ília

amor

osa,

su

a

capa

cida

de p

ara

tole

rar

sent

imen

tos

dolo

roso

s é

extr

emam

ente

alt

a.

Até

hoj

e te

m s

ido

difí

cil

expl

icar

par

a as

est

rutu

ras

soci

ais

e po

lític

as

que

a ca

rênc

ia a

feti

va n

a in

fânc

ia c

ondu

z a

pato

logi

as d

o af

eto

com

o ta

mbé

m

a co

mpo

rtam

ento

s an

tiss

ocia

is e

del

inqu

ênci

as n

a ad

oles

cênc

ia.

A c

arên

cia

do

conv

ívio

fam

iliar

am

oros

o co

mpr

omet

e o

dese

nvol

vim

ento

psí

quic

o, s

ocia

l e

mes

mo

físi

co,

mas

pri

ncip

alm

ente

sub

trai

da

cria

nça

a ca

paci

dade

de

atri

buir

sent

ido.

A c

arên

cia

afet

iva

dos

prim

eiro

s an

os d

e vi

da t

orna

a c

rian

ça u

m s

er

agon

izan

te.

Para

su

pera

r es

sa

falt

a bá

sica

em

se

u de

senv

olvi

men

to

é

nece

ssár

io

real

izar

um

lo

ngo

trab

alho

de

re

-atr

ibui

ção

de

sent

ido.

N

ão

esqu

eçam

os:

o se

ntid

o pa

ssa

e pe

rpas

sa p

elo

que

é se

ntid

o.

5.

Pri

meir

a C

onclu

são:

a necess

idade de re

-sig

nif

icar

as

experi

ência

s

de p

rivação

7

Adu

ltos

pe

rtur

bado

s,

emoc

iona

lmen

te

com

prom

etid

os,

são

sem

pre

pess

oas

com

co

nviv

ênci

a fa

mili

ar

dani

fica

da,

suje

itos

qu

e nã

o se

reco

ncili

aram

com

sua

inf

ânci

a, q

ue n

ão c

onse

guir

am p

erdo

ar s

eus

pais

, pa

is

sim

bólic

os,

inte

rnos

e e

tern

os,

que

não

irão

mor

rer

nunc

a!

Esse

é o

pes

o qu

e no

s em

purr

a pa

ra a

doe

nça

e pa

ra a

dor

.

4.

A B

ondade e

o P

erd

ão

A b

onda

de e

o p

erdã

o, p

rova

velm

ente

, fa

rão

part

e da

s as

as q

ue n

os

espe

ram

qua

ndo

fina

lmen

te c

onse

guir

mos

ser

liv

res

(Dia

s, 1

987)

.

N

a fa

míli

a, a

int

ersu

bjet

ivid

ade

é le

i, p

orqu

e é

na c

onvi

vênc

ia f

amili

ar

que

se f

unda

, pe

la v

ez p

rim

eira

, a

poss

ibili

dade

do

enco

ntro

com

o o

utro

, o

esta

r-co

m (

mit

sein

), a

rel

ação

eu-

tu (

Mar

tin

Bube

r).

Aqu

ele

que

falt

ou

ou

foi

priv

ado

dess

e en

cont

ro

orig

inal

, de

ssa

onto

gêne

se e

ssen

cial

, nã

o se

rá c

apaz

de

enco

ntra

r a

bond

ade

e o

perd

ão-

sint

omas

rev

elad

ores

do

triu

nfo

do a

mor

sob

re o

ódi

o -

que

são

os p

arad

igm

as

da s

aúde

men

tal e

da a

firm

ação

int

empo

ral da

s qu

alid

ades

bás

icas

de

esta

r no

mun

do,

que

se i

naug

ura

na c

onvi

vênc

ia f

amili

ar.

Bond

ade

e pe

rdão

- q

ue

pode

m s

er u

ma

refe

rênc

ia e

stra

nha

em a

lgum

con

text

o se

ctár

io -

mas

que

nada

pos

suem

de

mís

tico

e r

elig

ioso

, po

rque

, pa

rafr

asea

ndo

Boav

entu

ra S

ousa

Sant

os4 ,

nad

a m

ais

dize

m d

o qu

e “n

oss

o d

ese

jo d

e h

arm

onia

e c

om

unhão c

om

4 SA

NTO

S, B

oav

entu

ra S

ou

sa.

Um

dis

curs

o s

ob

re a

s ci

ên

cia

s. P

ort

o: A

fro

nta

men

to, 1

98

7.

6

que d

ese

jo s

er

e o

que o

s outr

os

fize

ram

de m

im.

Ou m

eta

de d

ess

e i

nte

rvalo

,

porq

ue t

am

bém

há v

ida.

Sou i

sso,

enfi

m..

.3”.

Qua

nto

mui

to,

mai

s ta

rde,

um

ad

ulto

si

sudo

, pe

sado

, to

rpor

izad

o,

inca

paz

de

amar

e

ser

amad

o,

o qu

e m

anté

m

o cí

rcul

o vi

cios

o da

inco

mpl

etud

e.

3.

O s

enti

do p

ass

a p

elo

que é

senti

do

É

da c

onvi

vênc

ia f

amili

ar q

ue n

asce

a p

ossi

bilid

ade

de f

azer

tra

nsit

ar o

s

afet

os,

a tr

oca

de c

arin

ho,

os g

esto

s, o

s sí

mbo

los

e os

sin

ais

amor

osos

. O

afe

to

fam

iliar

é o

pri

mei

ro i

nsta

urad

or d

e se

ntid

o pr

ópri

o e

do m

undo

. Pa

ra u

ma

cria

nça

amad

a, u

ma

cois

a nu

nca

é so

men

te u

ma

cois

a. U

m t

oco

de m

adei

ra

pode

se

tran

sfor

mar

em

um

avi

ãozi

nho,

em

um

sub

mar

ino,

em

um

a es

pada

ou

em u

m c

arri

nho

de c

orri

da,

em q

ualq

uer

cois

a, p

orqu

e a

sua

imag

inaç

ão

cria

tiva

é a

trib

utiv

a de

sig

nifi

cado

s. O

sen

tido

pas

sa e

per

pass

a pe

lo q

ue é

sent

ido.

Se

não

é se

ntid

o, e

ntão

não

tem

sen

tido

.

É

just

amen

te o

afe

to d

as p

rim

eira

s re

laçõ

es d

a cr

ianç

a no

sei

o fa

mili

ar

que

atri

bui

sent

ido

a to

das

as c

oisa

s. N

esse

asp

ecto

, é

nece

ssár

io q

ue o

dire

ito

devo

lva

a pa

lavr

a ao

afe

to.

Na

orig

em,

está

o a

feto

que

, qu

ando

não

pode

ser

exp

ress

o co

mo

um s

enti

men

to a

mor

oso

ou o

dios

o, e

ncar

na n

a fo

rma

de p

alav

ra.

Por

isso

é u

rgen

te d

evol

ver

a pa

lavr

a ao

afe

to.

3 Pes

soa,

Fer

nan

do

. O

bra

s co

mp

leta

s. P

oes

ias

de

Álv

aro

de

Cam

po

s. R

io d

e Ja

nei

ro:

No

va

Agu

illar

, 198

6, p

.34

7.