Druidas

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Brathair Edição Especial 1, 2007: 26-37. ISSN 1519-9053 http://www.brathair.com 26 Os Druidas e a Religiosidade Celta: Os Sacrifícios Humanos na Gália Pré-romana Prof. Ms. Filippo Lourenço Olivieri 1 Doutorando em História CEIA -UFF [email protected] Resumo O objetivo deste artigo é debater o sacrifício humano na Gália pré-romana. De acordo com as narrativas clássicas, os druidas eram os responsáveis pelos sacrifícios. O sacrifício humano era um dos temas mais comuns associados aos costumes bárbaros. A pesquisa arqueológica recente tem investigado santuários e túmulos que revelaram práticas rituais que sugerem sacrifícios humanos. Os celtas tinham crenças sobre a alma que pretendemos articular com os rituais de imolação de seres humanos. Palavras-chave: Sacrifícios humanos, druidas, Gália pré-romana Abstract This article aims to debate the human sacrifice in pre-roman Gaul. According to the classic narratives, the Druids were those responsible for performing sacrifices. Human sacrifice was one of the most common issues associated to barbarian costumes. Recent archaeological research has investigated sanctuaries and some burial sites that unveiled ritual practices which suggest the existence of human sacrifices. The Celts had beliefs about the soul, which we intend to articulate with the ritual practices of immolation of human beings. Keywords: Human sacrifice, Druids, Pre-roman Gaul

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    Os Druidas e a Religiosidade Celta:

    Os Sacrifcios Humanos na Glia Pr-romana

    Prof. Ms. Filippo Loureno Olivieri1

    Doutorando em Histria

    CEIA -UFF [email protected]

    Resumo O objetivo deste artigo debater o sacrifcio humano na Glia pr-romana. De acordo com as narrativas clssicas, os druidas eram os responsveis pelos sacrifcios. O sacrifcio humano era um dos temas mais comuns associados aos costumes brbaros. A pesquisa arqueolgica recente tem investigado santurios e tmulos que revelaram prticas rituais que sugerem sacrifcios humanos. Os celtas tinham crenas sobre a alma que pretendemos articular com os rituais de imolao de seres humanos.

    Palavras-chave: Sacrifcios humanos, druidas, Glia pr-romana Abstract This article aims to debate the human sacrifice in pre-roman Gaul. According to the classic narratives, the Druids were those responsible for performing sacrifices. Human sacrifice was one of the most common issues associated to barbarian costumes. Recent archaeological research has investigated sanctuaries and some burial sites that unveiled ritual practices which suggest the existence of human sacrifices. The Celts had beliefs about the soul, which we intend to articulate with the ritual practices of immolation of human beings.

    Keywords: Human sacrifice, Druids, Pre-roman Gaul

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    INTRODUO O tema dos sacrifcios2 humanos era um dos mais citados pelos autores clssicos. Muitas citaes eram baseadas em repeties de autores do perodo anterior conquista da Glia por Roma. Na verdade, trata-se de um clich sobre o suposto barbarismo dos celtas. Autores como Ccero, entre outros, utilizaram este tema como uma forma de propaganda para desqualificar os celtas, realando a viso de que eram inimigos da civilizao romana. A prtica dos sacrifcios humanos serviu para realar o carter no civilizado, e particularmente inimigo da cultura romana. As pesquisas arqueolgicas modernas tm tido dificuldade em caracterizar de forma inquestionvel os sacrifcios humanos atravs dos restos humanos encontrados em stios encontrados no domnio celta. Entretanto, este tema extremamente relevante para compreendermos a dinmica da sociedade celta na Antiguidade antes da conquista dos territrios celtas por Roma. Para alm dos clichs dos autores clssicos, devemos empreender uma pesquisa que nos permita abordar tal tema e o seu lugar no sistema de crenas dos celtas. Este sistema de crenas era capitaneado pelos druidas.

    OS SACRIFCIOS HUMANOS: AS PRINCIPAIS FONTES CLSSICAS E OS INDCIOS ARQUEOLGICOS

    Um dos relatos mais repetidos, chegando a ser um clich, pelos autores clssicos diz respeito aos sacrifcios humanos realizados pelos povos celtas na Glia. Uma vez que muitos so os autores que relatam a pratica dos sacrifcios humanos, citaremos aquelas que consideramos relevantes: Csar nos fornece a descrio mais importante e completa sobre esses sacrifcios:

    Todos os povos gauleses so imoderadamente dados s coisas da religio (dedita religionibus), por esta razo todos aqueles que so acometidos doenas graves, aqueles que se encontram frequentemente em combates expostos a graves perigos, tomam homens como vtimas sacrificiais ou fazem voto de fazer tais sacrifcios; para esses sacrifcios eles fazem uso do ministrio dos druidas (sacrificia druidibus utuntur); eles crem que s podem acalmar os deuses imortais somente oferecendo a vida de um homem por outra vida humana eles fizeram desse gnero de sacrifcios de instituies pblicas. Outros tm representaes de uma grandeza colossal feitas com vime tranado e enchem-no de homens vivos; metem, ento, fogo e os homens envoltos nas chamas encontram a morte. Os suplcios daqueles que esto sob algum voto ou que cometem crime so os mais agradveis aos deuses; mas quando no h esse tipo de homens, eles acabam por sacrificar os inocentes (Csar, VI, 13-14).

    Em Diodoro Sculo temos o seguinte relato:

    costume entre eles (os gauleses) no realizar qualquer sacrifcio sem a presena de um druida. Eles dizem, com efeito, que necessrio oferecer sacrifcios de ao de graas aos deuses por intermdio desses homens que conhecem a natureza divina e falam, por assim dizer, a mesma lngua dos deuses; eles pensam que somente atravs deles (os druidas) que se devem fazer pedidos aos deuses (...) (DIODORO, V, 31). (...) Conforme a sua natureza selvagem, eles so extremamente mpios a respeito aos seus sacrifcios; para os seus criminosos, eles mantm

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    prisioneiros durante cinco anos e, ento, os penduram em honra aos seus deuses, dedicando a eles juntamente vrias oferendas como as primeiras frutas colhidas e constroem piras de grande tamanho. Cativos so tambm vtimas para sacrifcios em honra aos deuses. Certos entre eles, por outro lado, matam, juntamente com seres humanos, os animais que so tomados na guerra, ou os queimam de outra forma vingativa (DIODORO, V, 32).

    Outra referncia de suma importncia provm de Estrabo:

    (...) eles observavam os pressgios atravs das convulses de um homem, designado como vtima, que eles golpeavam nas costas com uma espada. Eles jamais sacrificavam sem que um druida estivesse presente. Sabe-se tambm de outras formas de sacrifcios humanos entre eles: por exemplo, matam certas vtimas com flechas, ou os suspendiam nos templos, ou ainda confeccionavam uma efgie gigante de palha e de madeira e, aps ench-la de gado e animais selvagens de todo gnero e de homens, fazem ento um holocausto (ESTRABO, I, 4).

    O esquema abaixo mostra alguns tipos de sacrifcios relatados pelas principais fontes clssicas acerca do tema. Alm dos autores citados neste trabalho, temos Plutarco (Plutarco 13) e os Scholiastes (Scholiastes I, 445-446) Farslia de Lucano.

    Csar Diodoro Estrabo Pom. Mela Plutarco Scholiastes

    Queimados X X X X X Pendurados X X

    Espada X X Flechas X

    Afogados X Enforcados X Degolados X

    A identificao dos sacrifcios humanos um dos desafios mais persistentes da arqueologia que envolve a pesquisa sobre os celtas. Miranda Green considera a dificuldade:

    Com exceo das armas, como flechas, lanas ou adagas, associadas com restos humanos, geralmente difcil de identificar uma morte 'penetrante', com exceo das condies de conservao, como aquelas obtidas nos corpos em turfeiras, onde as partes de carne podem ficar intactas. Em se tratando somente de esqueletos, existem poucas circunstncias em que um ritual de morte possa ser estabelecido, embora o contexto da morte possa ser sugerido (Green 2002: 87).

    Outra questo que envolve a identificao segura da prtica dos sacrifcios humanos a diferenciao entre uma vtima conduzida viva at o recinto sagrado e, ento, ser sacrificada. Aps a morte em combate, o corpo seria conduzido para receber um tratamento ritual no recinto sagrado. Como ressalta Jean-Louis Brunaux que defende o fato de que certos restos humanos em santurios so, na verdade, trofus:

    (...) Mas os restos descobertos em recinto sagrado no pode por este nico contexto ser forosamente considerado como de vtimas sacrificiais. A priori, nada os distingue de oferendas, do tipo trofu, ou

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    seja, de corpos recolhidos no campo de batalha com as armas que os equipavam (Brunaux 2006: 110-111).

    Todavia, existem fortes indcios arqueolgicos de que sacrifcios humanos tenham sido praticados na Glia pr-romana. Contudo, importante ressaltar que a identificao dessas prticas na maioria das vezes problemtica, uma vez que nem sempre um esqueleto encontrado apresenta marcas que possam ser remetidas aos sacrifcios. Alm disso, acreditamos que a maioria dos sacrifcios humanos era realizada via cremao, fato que dificultaria ou mesmo inviabilizaria a identificao desta prtica. Vale notar, que o tipo de sacrifcio mais relatado nas fontes clssicas era pelo fogo. Acreditamos que o principal tipo de sacrifcio humano fosse perpetrado atravs da cremao. Uma vez que esta preferncia pode ter acompanhado, a partir do sculo III a.C., a mudana nas prticas funerrias na qual a cremao tornou-se mais comum que a inumao. O corte das cabeas era uma prtica onipresente nos relatos sobre os celtas. Mesmo em relao a outros povos como os citas, os relatos so semelhantes como cortar e transportar a cabea dos inimigos e fix-las aos seus cavalos e o orgulho que os guerreiros citas demonstravam em portar tais trofus. Um dos stios mais conhecidos o santurio do oppidum de Entremont, na Provena (Frana). Este local, atribudo aos salvios, notabilizou-se por apresentar uma iconografia com representaes de guerreiros sentados na conhecida posio da flor-de-ltus e que costumam ser datados no sculo IV e III a.C. Vrios traos indicam uma forte influncia celta, tanto no armamento como na presena de torques no pescoo dos guerreiros. H a divergncia de tratar-se de divindades ou heris. As reconstituies mais atuais mostram que uma dessas esttuas estaria ostentando cabeas cortadas sobre os seus joelhos e pernas, s vezes, empilhados como se fossem trofus. Num caso, as duas mos da divindade estariam assentadas sobre duas cabeas. Nesse mesmo contexto, no santurio de Roquepertuse, encontram-se pilares do portal do santurio com nichos onde crnios humanos estavam encaixados nesses buracos.

    A iconografia tambm apresenta imagens de cabeas humanas fixadas aos pescoos de cavalos, como isto em um fragmento de um vaso encontrado na regio dos arvernos, em Aulnat (Auvrnia) e uma estela do sul da Glia (Green 2002: 93-110). Encontra-se o mesmo tema em uma fbula da iconografia ligada aos celtiberos (Lenerz-de Wilde 1997: 540). Em relao s cabeas decepadas e fixadas existem outros indcios que no devem ser desprezados como os furos encontrados em fragmentos de crnios. Tais furos evocam o relato de Diodoro (V, 29) sobre os aristocratas celtas fixarem os crnios dos inimigos nas portas de suas casas. Entre os exemplos temos crnios encontrados na Frana em Roissy-em-France (Oise), no territrio dos belovacos e datado do sculo IV a.C., um crnio no rio Sane, leste da Frana, e na Esccia, em Hillhead (Green 2002: 103-104). Os furos no so acidentais e tm contornos bastante precisos, e certamente fixavam os crnios com pregos. A pesquisa arqueolgica tambm tem encontrado restos humanos em poos teriam sido usados como silos para armazenamento de cereais3 (Delattre 2002: 70-77). Estes silos serviriam de depsito par corpos humanos aps o fim do seu uso. No raro, mais de um esqueleto est presente nos silos encontrados. Estes silos costumam ser comuns na Bacia parisiense e em Danebury (Hampshire), no sul da Britnia.

    Todavia, um dos mais impressionantes vestgios de esqueletos humanos que podem se relacionar com sacrifcios humanos foi encontrado em Ribebemont-sur-Ancre e Gournay-sur-Aronde (Picardia). Trata-se de dois santurios no territrio dos belovacos que apresentam traos notveis de restos humanos. Ambos datam de La Tne Mdia, em torno do sculo III a.C., contudo, o seu uso prolongou-se at o perodo de Augusto.

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    Em Gournay, havia ossos nos fossos que circundavam o santurio. Em Ribemont, as pesquisas trouxeram luz uma enorme quantidade de ossos humanos empilhados formando uma espcie de altar. A pesquisa tcnica chegou concluso de que os ossos teriam pertencido a homens jovens, cujos corpos estariam suspensos em uma espcie de galpo. O aprofundamento da pesquisa deixou claro que corpos de homens sem cabea - uma vez que essas no foram encontradas foram colocados perfilados, como se os administradores do recinto sagrado quisessem reproduzir o exrcito quando este estava vivo. Os corpos foram mantidos em p atravs de uma amarrao s vigas de madeira que atravessavam o topo do galpo. Juntamente com os corpos, o armamento completo estava ao lado de cada guerreiro morto, tais como escudos e espadas na cintura. O galpo, por sua vez, estava coberto. No mesmo santurio, um altar retangular, cujas margens foram construdas com ossos humanos longos (Brunaux 2006: 109). Outro stio, na mesma regio, tambm revelou interessantes traos associados aos sacrifcios humanos. No santurio de Gournay, os ossos humanos foram encontrados no fosso que circundava o recinto cultual. Juntamente com esses ossos, foram depositados restos de armas propositalmente destrudas. J nos fossos rituais situados no centro do santurio foi encontrada uma grande quantidade de ossos de bois com idade bem avanada e com marca de golpe de objeto perfurante na testa.

    Todavia, o mais notvel indcio da prtica de sacrifcios humanos o chamado Homen de Lindow (Inglaterra), encontrado em 1984, em uma turfeira (pntano com carncia de oxignio) e cuja datao costuma ser situada entre os sculos III a.C. e I d.C. Outros exemplos deste tipo de depsitos de corpos humanos em turfeiras so encontrados na Europa do norte, em particular na Dinamarca, Alemanha e Inglaterra. Ele teve o que Miranda Green (Green 2002: 87) chama de trs formas de morte Ele foi garroteado, recebeu duas fortes pancadas na cabea e sua garganta foi cortada de um lado a outro. Por fim, foi o corpo foi atirado no pntano de Lindow Moss (James 1998: 96-97). O garrote foi to forte que deslocou o pescoo provocando a morte clnica do indivduo. A vtima era um homem jovem, em torno de 24 anos e gozando de boa sade. Suas unhas eram bem tratadas o que afasta a idia de se tratar de um campons. Neste caso, a conservao de grande parte da carne deste indivduo permitiu que se observassem os elementos sacrificiais diretamente sobre as partes no sseas do cadver. OS SACRIFCIOS HUMANOS E O LUGAR DOS DRUIDAS Depois da degola das cabeas dos inimigos, o sacrifcio humano talvez seja o tema mais recorrente em relao aos celtas. Na verdade, muitos textos se repetem, simplesmente apontando para a prtica sem dar maior explicao. Em Amiano Marcelino acerca dos escordistos4, temos:

    O territrio dos escordistos notadamente, fazendo parte (da Trcia), e ele faz parte de uma provncia que distante. Nos anais, ns vemos que eles tinham a brutal ferocidade dessa raa, que sacrificavam seus prisioneiros a Marte e Belona, e bebiam com prazer o sangue dos crnios humanos (Amiano Marcelino XXVII, 4).

    Esta idia de matar o prisioneiro de guerra e beber-lhe o sangue ou alguma bebida na calota craniana tambm narrada por Tito Lvio acerca da derrota do cnsul Postmio derrotado pelos boios numa floresta chamada Litana, no norte da Itlia, no sculo III a.C. O crnio do cnsul teria sido usado para libaes:

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    (...) depois a cabea (de Postmio) foi limpa e, segundo o seu costume, o crnio foi folheado em um crculo de ouro e serviu de vaso sagrado para oferecer as libaes nas festas. E foi assim pelos pontfices e dos sacerdotes do templo, e aos olhos dos gauleses, a presa no foi menor que a vitria (Tito Lvio XXII, 24).

    Os autores clssicos utilizaram este tema como um clich que realava o barbarismo dos celtas. Esse barbarismo estaria associado aos druidas uma vez que eram procurados para realizar os sacrifcios (administrisque ad ea sacrificia druidibus utuntur). Contudo, em Diodoro, so os adivinhos, na verdade os vates de Estrabo, que realizam o sacrifcio propriamente dito e fazem pressgios a partir da observao dos pssaros. Mas, a presena dos druidas necessria. Em Estrabo (IV, 4), os vates se ocupam das cerimnias religiosas e praticam as cincias da natureza. Aqui, estamos trabalhando com um nico grupo, os druidas. Na verdade, o relato de Csar ainda que no fale de bardos e vates, rene todos sob a denominao de druidas. Segundo Csar, todos os que esto doentes ou vo combater buscam o servio dos druidas. Estes, obrigatoriamente tinham que estar presentes o ofcio dos sacrifcios. Ora, temos ento os druidas que sacrificam, ou seja, os druidas detinham o monoplio da interpretao dos sacrifcios. Seguramente, somente os nobres podiam solicitar o sacrifcio de seres humanos, uma vez que a eles pertenciam os guerreiros feitos prisioneiros nas batalhas, e somente a eles era admitida a tutela sobre os criminosos. O povo, por sua vez, deveria solicitar sacrifcios com animais de suas criaes. Diodoro faz uma revelao de suma importncia. Segundo ele, era necessrio oferecer sacrifcios de ao de graas aos deuses e que somente cabia aos druidas intermediar estas cerimnias. Isso se dava pelo fato da crena de que os druidas seriam conhecedores da natureza divina e falar a mesma lngua dos deuses. Como afirmam Csar e Diodoro, a populao estaria submetida aos vaticnios drudicos. Isso acontecia dessa forma, por que segundo Estrabo a populao considerava os druidas como os mais justos dos homens. Os bardos tambm deviam ter algum tipo de papel durante tais cerimnias, pois segundo Lucano:

    Vocs tambm, poetas cujos discursos conduzem as almas para a imortalidade as almas dos corajosos mortos na guerra. Vocs tm dirigido, sem medo, numerosos cantos, bardos, e vocs, druidas, vocs tm retomado as armas, seus ritos brbaros e o costume sinistro dos sacrifcios (Lucano I, 445).

    Este trecho de Lucano deixa entrever que os bardos teriam alguma participao

    nos ritos ligados aos sacrifcios. Ao que parece, com seus cantos, os bardos conduziam as almas. Dessa forma, temos que os principais relatos se complementam, e podemos entender que os druidas eram procurados por pessoas doentes e que temiam pelas suas segurana nas batalhas. Logo, que tinham os seus corpos ameaados pela doena ou ferimentos e tinham suas vidas em jogo. Para sanar tais perigos, deviam sacrificar vtimas humanas. E somente os druidas podiam dar o aval sobre como proceder durante a cerimnia. Assim, o grupo religioso-poltico mantinha o controle sobre a plebe atravs do monoplio dos dogmas, procedimentos e interpretao dos sacrifcios. Enquanto que o acesso doutrina, ou seja, ao conhecimento esotrico ficava a cargo somente do grupo religioso. Como Csar (VI, 14) aponta, a preferncia pela transmisso oral mantinha e no pela escrita mantinha a doutrina afastada o conhecimento popular. Tal escolha devia acentuar mais ainda a exclusividade sobre os sacrifcios. Este controle tambm se dava pela interdio dos sacrifcios (sacrificiis interdicunt) como afirma Csar (VI, 13), e que seria a pior pena perpetrada pelos druidas. Aqueles sob essa penalidade ficavam

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    radicalmente excludos da sociedade e eram desprezados por todos. A ascendncia sobre a plebe assegurava tambm forte influncia sobre a nobreza, uma vez que esta prescindia de clientes, os ambactos, para assegurar a sua supremacia sobre outros da mesma hierarquia social. O sacrifcio deveria tambm ser um elemento de status para o chefe guerreiro, algo como um tipo de afirmao de sua coragem em combate. Talvez por isso, as moedas de chefes como Dumnorix representem estes chefes brandindo uma cabea decepada.

    No perodo do imprio, os sacrifcios humanos perpetrados pelos celtas foram abolidos pelas autoridades romanas. Contudo, a associao desta prtica com os druidas foi sempre colocada (Chadwick 1997: 69-83). A ALMA SEGUNDO OS DRUIDAS: AS CABEAS DECEPADAS

    A concepo da alma ditada pelos druidas parece ter intrigado os autores

    clssicos, pelo menos, no que tange s idias sobre a sobrevivncia do esprito aps a morte. As concepes sobre a alma foram associadas doutrina de Pitgoras. Certamente, devido principalmente a isso, Diodoro classifica os druidas como telogos e filsofos e os associa a Pitgoras: (...) a crena de Pitgoras prevalece entre eles, que as almas dos homens so imortais e que aps um nmero de anos, elas comeam uma nova vida, a alma entra em um outro corpo (Diodoro V, 28). Digenes Larcio chega mesmo a relatar que o estudo da filosofia teria se originado entre os brbaros:

    Alguns afirmam que o estudo da filosofia teria comeado entre os brbaros. Os magos a praticavam entre os persas, os caldeus entre os babilnios ou assrios, os gymnosofistas entre os habitantes da ndia, assim como entre os celtas e gauleses aqueles que so chamados de druidas ou semnotes (literalmente, deuses venerveis); isso dito de acordo com a autoridade de Aristteles em seu livro A Magia e em Sotio, no seu vigsimo terceiro livro, A Sucesso dos filsofos. (Diognes Larcio I, PRLOGO 1).

    Obviamente, que temos aqui uma distoro quanto origem da filosofia. Quanto

    semelhana com a doutrina pitagrica, trata-se de certas semelhanas que alguns autores clssicos viram na concepo da alma, mas no h qualquer prova concreta de inspirao pitagrica na doutrina drudica, o que no impede supor que os druidas tivessem certos conhecimentos matemticos articulados com a prtica da astronomia (Verdier et Goudineau 2006: 27-78)5. Mas, os druidas provavelmente foram os idealizadores do seu prprio sistema de crenas (Perrin 2000: 10). Csar endossa que o ponto principal da doutrina dos druidas versa acerca de concepes sobre a alma humana. O cnsul relata que:

    (...) Os druidas em primeiro lugar (In primi hoc volunt) tentam ensinar que as almas no perecem, mas que aps a morte passam de um corpo para outro; eles acreditam que esta crena serve para serve para incitar a coragem (virtutem excitari), para que no tenham medo da morte (mortis neglecto) (Csar VI, 14).

    Pompnio Mela relata de forma semelhante a Csar, dando destaque a indestrutibilidade das almas e faz um relato com conotao escatolgica:

    (...) Um dos ensinamentos que eles divulgam ao povo comum (in vulgus), para que eles tenham mais coragem na guerra, que as almas

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    so eternas e que h outra vida entre os mortos. por isso que eles queimam ou enterram com os mortos tudo que era caro aos vivos. Os livros de contas e de dvidas eram enviados ao mundo subterrneo, e havia aqueles que, com prazer, se jogavam s fogueiras fnebres dos seus parentes, como se quisessem continuar a viver ao seu lado (Pompnio Mela III, 2).

    Talvez o tema mais recorrente presente tanto nos relatos clssicos como na

    literatura irlandesa e fortemente presente na pesquisa em stios arqueolgicos seja o costume do corte das cabeas. Alm dos relatos que j foram apresentados, temos tambm: Em Diodoro, a importncia da manipulao da cabea dos inimigos vencidos descrita de forma clara:

    (...) Quando os seus inimigos so vencidos eles (os gauleses) cortam as suas cabeas e as fixam nos arreios dos seus cavalos; e entregam para os seus atendentes (ambactos) as armas dos seus oponentes, tudo coberto de sangue, eles os carregam como trofu, cantando uma cano de vitria, e os primeiros frutos das suas batalhas eles prendem com pregos nas suas casas, como alguns homens fazem quando caam, com as cabeas dos animais que caaram. As cabeas dos mais distintos inimigos eles embalsamam em leo de cedro e preservam cuidadosamente em um cofre que eles exibem aos estrangeiros (...). E h entre eles aqueles que se orgulham de no aceitar (pelas cabeas) o mesmo peso em ouro pela cabea que mostram. Mostram um tipo de grandeza de alma brbara; no vender o que constitui o testemunho da prova do seu valor como uma coisa nobre, mas para continuar a lugar contra dos da sua prpria raa, aps a morte, que os coloca ao nvel de bestas (Diodoro V, 29).

    A doutrina da alma na concepo dos celtas era disseminada pelos druidas como afirmam os textos clssicos. O lugar da alma com certeza seria uma questo importante e articulada com os sacrifcios humanos. Muitas vezes, partes do corpo so associadas presena de uma alma. o que encontramos num dos dilogos de Plato, o Timeu (Plato 69). Nesta obra, o filsofo faz uma sntese das crenas dos pr-socrticos, e oferece a descrio da localizao da alma no corpo. Plato discorre sobre dois tipos bsicos de almas. Uma superior, imortal, que um princpio imortal de um animal mortal. Esta se localiza no crnio e teria uma forma esfrica condizente com a calota craniana. O outro tipo de alma (na verdade, subdividindo-se em trs tipos) so as almas consideradas inferiores. Uma delas se situaria no baixo trax, acima do diafragma. Esta alma responsvel pelo furor guerreiro e pela clera.

    Vale notar que Diodoro Sculo, em sua descrio dos hbitos dos celtas, cita os sacrifcios humanos perpetrados pelos druidas. Um desses sacrifcios consistia em escolher um homem e golpe-lo com uma espada na regio do diafragma, o druida, ento, faria suas interpretaes a partir das contores e do fluxo do sangue que flua da vtima sacrificada. Jean-Louis Brunaux (2000: 64-66) articula a informao contida no Timeu acerca da alma do furor guerreiro localizar-se no diafragma e a regio do golpe no sacrifcio drudico ser relativos mesma regio do corpo, ou seja, a regio do baixo trax, e se no haveria uma mesma origem para as crenas envolvidas. Gregos e celtas poderiam estar compartilhando de uma mesma herana indo-europia. possvel que ao golpearem a vtima na regio do diafragma, os druidas estivessem interessados na alma do furor guerreiro, associado s paixes violentas. Na verdade, o que est em questo que a parte inferior do corpo, onde esto localizadas s vsceras, sempre associada a emoes tidas como inferiores. Tanto a melancolia, no caso da teoria dos humores, como na clera, no caso da teoria da localizao das almas no Timeu, a parte baixa do

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    trax ou o abdmen esto ligadas s emoes que se opem razo. O furor guerreiro est presente em vrios relatos irlandeses e relacionados ao heri Cuchulainn.

    A afirmao de Csar de que uma alma substitui a outra em outro mundo h muito tempo origem de debate sobre o tipo de doutrina acerca das almas que animava as crenas professadas pela ideologia dos druidas6. Para Claude Sterckx (2005: 116-121), os celtas situavam a alma na cabea. Mais precisamente, no crebro. Da que o corte da cabea provocaria a morte imediata do inimigo, e justificaria o tratamento do crnio que so relatados em algumas fontes. O autor tambm postula que os celtas associariam a cabea ao falo e acreditariam que o crebro seria o depositrio do smen, devido semelhana deste com o lquido cefalorraquidiano, da o smen desceria pela espinha at o pnis. A mesma idia poderia estar presente em algumas esttuas do Hermes grego onde eram representados somente a cabea do deus e o falo. Logo, o corte da cabea implicaria uma interrupo da circulao do lquido gerador de vida no qual a alma estaria. Isso explicaria, segundo o autor, porque a reconstituio das esttuas em santurios do sul da Glia, como Entremont, onde divindades na posio da flor-de-ltus ostentam cabeas decepadas sobre suas coxas. Isso poderia assegurar a virilidade dos jovens. Num episdio de O Conto do porco de Mac Dath, o heri Conall Cernach gaba-se durante a disputa pela coxa do porco durante um festim de jamais ter dormido sem uma cabea decepada de um guerreiro do Connaught em contato com suas coxas. Este relato pode se articular com as esttuas relatadas:

    (...) Eu juro pelo que o meu povo jura que desde que eu pude pegar numa lana, que no se passou um nico dia sem que eu no tenha matado um conatiano, um nico dia sem que eu no tenha destrudo com fogo, e nunca tenha dormido sem uma cabea de um conatiano abaixo dos meus joelhos (...). (Ganz 1981: 186).

    A concepo das almas se articula com a concepo escatolgica celta do fim dos tempos. possvel que a conservao dos prisioneiros de guerra durante cinco anos antes de serem sacrificados, como afirma Diodoro, fosse um ciclo de renovao das almas, ou seja, o sacrifcio implicaria na manuteno da circulao e do equilbrio das almas entre os corpos. importante ressaltar que no Calendrio de Coligny esto representados justamente cinco anos, que podem expressar um ciclo ritual ligado aos sacrifcios, como salienta Diodoro. Numa passagem de Estrabo relatado que uma comitiva de Alexandre, o Grande dirigiu-se at um povo celta que estaria estabelecido em algum lugar na Trcia, e que seria proveniente das proximidades do Adritico, provavelmente os taurcios. O encontro teria se dado em 335 a.C.:

    (...) Ptolomeu, filho de Lagos, conta que durante esta campanha (expedio de Alexandre na Trcia em 335 a.C.) os celtas estabelecidos nas proximidades do Adritico vieram encontrar Alexandre para obter dele benesses de relaes de amizade e hospitalidade. O rei lhes recebeu calorosamente e durante do festim pergunta-lhes no que eles tinham mais medo, persuadido que eles diriam que era dele. Mas eles responderam que no temiam ningum, e que temiam somente que o cu casse sobre as suas cabeas, mas eles estimavam a amizade de um homem acima de tudo (Estrabo VII, 3).

    Um relato semelhante a esse encontrado na literatura irlandesa pr-crist. Durante uma batalha o rei do Ulster Conchobar diz:

    (...) A menos que o firmamento no caia com uma chuva de estrelas sobre a superfcie da terra, que a terra no rache com um sacudir de terra, ou que o mar com suas margens azuis no venha sobre a cabeleira do mundo. Eu reconduzirei cada mulher e cada vaca ao seu repouso, ao seu

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    recinto, sua casa e ao seu prprio domiclio, aps a vitria da batalha, do combate e da luta (Guyonvarch 1994: 221).

    Aristteles (III, 7) j havia comentado sobre o fato dos celtas no temerem nem os terremotos nem as ondas. Na verdade, o filsofo toma tal fato como um ato de loucura ou insensibilidade. O relato de Estrabo, em particular, costuma ser tomado como uma anedota, todavia, trata-se de um relato que se articula com uma concepo escatolgica dos celtas. Como relata este mesmo autor, as almas e o universo seriam imortais, mas o fogo e a gua prevaleceriam um dia. Na verdade, acreditamos que se trata de uma concepo de equilbrio entre os mundos, ou seja, articulando com o relato de Csar, um equilbrio entre este mundo e aquele para onde as almas iriam. Uma vez que no fica claro no relato cesariano se estes corpos permutados pelas almas estariam neste ou em outro mundo. No final dos tempos o rodzio de almas atingiria o seu termo e o cu desabaria sobre a cabea dos homens. O fato dos celtas temerem tal evento, no devia se dar somente pelo fato da runa do universo, mas devido ao fato de que quando esse momento mtico chegar, os sacrifcios seriam incuos para conter tal destino. Na narrativa de Diodoro haveria certo nmero de anos para que as almas iniciassem uma nova vida, numa passagem para um outro corpo. Esse tempo deve ser de cinco anos, o mesmo que autor relata para a manuteno dos prisioneiros de guerra entre eles. CONCLUSO Apesar de inmeras fontes relatarem que os celtas, particularmente os gauleses, praticavam sacrifcios humanos, a pesquisa arqueolgica no encontrou vestgios numerosos sobre essa prtica. Os restos humanos em santurios escavados em solo francs demonstram que tais sacrifcios eram realizados, contudo, numa dimenso bem menor que as fontes clssicas deixam supor. Talvez, tal prtica fosse realizada esporadicamente e em ocasies especiais. possvel que parte do discurso dos autores clssicos fosse parte de uma propaganda para realar o barbarismo dos celtas. Porm, acreditamos que a maioria dos sacrifcios se dava pela cremao, que deixa poucos restos passveis de anlise conclusiva. Assim, no significa que fossem espordicos. Talvez a caracterizao desse tipo de sacrifcio ainda esteja por ser mais bem demonstrada. O papel dos druidas na prtica dos sacrifcios humanos era vital para a sua realizao. Tal fato foi um dos pontos que a Ordem Romana realou na represso aos druidas aps a conquista da Glia e posteriormente da Britnia. Os druidas eram os nicos que podiam versar acerca da doutrina que regulava os sacrifcios. Tal fato lhes assegurava uma grande influncia sobre a sociedade. Acreditamos que o estudo dos sacrifcios humanos deve ser articulado com as teorias celtas acerca das almas. Geralmente, esta anlise no realizada, todavia, os sacrifcios deviam seguir a preceitos associados ao destino das almas. J na Antiguidade, os autores clssicos no entenderam bem o sistema de crenas versado pelos druidas acerca da alma. A associao com as crenas de Pitgoras demonstra a tentativa de compreenso atravs de comparaes com crenas helnicas.

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