duchamp_o ato criador_citação do BATTCOCK, Gregory. A nova arte. Coleção “Debates”

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    Marcel Duchamp

    O ato criador (1965)Sobre osreadymades(1961)

    O caso R. Mutt (1917)

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    O ato criador Marcel Duchamp. 1965

    nota da publicao original (em BATTCOCK, Gregory. A nova arte. Coleo Debates)

    A escolha de um ensaio de Marcel Duchamp para se incluir neste livro refletea importncia contnua da sua obra em relao arte contempornea. Em seuartigo sobre Duchamp em The New Yorker (6 de fevereiro de 1965), CalvinTomkins cita Willem de Kooning:. "Duchamp um movimento artstico feitopor um nico homem, mas um movimento para cada pessoa, e aberto a todomundo". Trabalho apresentado Conveno da Federao Americana de Artes, em Houston,Tens, abr. 1957.

    Consideremos dois importantes fatores, os dois plos da criao artstica: de um lado o artista, do outro, opblico que mais tarde se transforma na posteridade.

    Aparentemente, o artista funciona como um ser medinico que, de um labirinto situado alm do tempo e do

    espao, procura caminhar at uma clareira.Ao darmos ao artista os atributos de um mdium, temos de negar-lhe um estado de conscincia no planoesttico sobre o que est. fazendo, ou por que o est fazendo. Todas as decises relativas execuo artstica doseu trabalho permanecem no domnio da pura intuio e no podem ser objetivadas numa auto-anlise, falada ouescrita, ou mesmo pensada.

    T. S. Eliot escreve em seu ensaio sobre Tradition and Individual Talents: "Quanto mais perfeito o artista,mais completamente separados estaro nele o homem que sofre e a mente que cria; e mais perfeitamente a menteassimilar e expressar as paixes que so o seu material".

    Milhes de artistas criam; somente alguns poucos milhares so discutidos ou aceitos pelo pblico e muitomenos ainda so os consagrados pela posteridade.

    Em ltima anlise, o artista pode proclamar de todos os tc;:lhados que um gnio; ter de esperar peloveredicto do pblico para que a sua declarao assuma um valor social e para que, finalmente, a posteridade oinclua entre as figuras primordiais da Histria da Arte.

    Sei que esta afirmao no contar com a aprovao de muitos artistas que recusam este papel medinico eque insistem na validade da su conscientizao em relao arte criadora - contudo, a Histria da Arte tempersistentemente decidido sobre as virtudes de uma obra de arte, atravs de consideraes completamentedivorciadas das explicaes racionalizadas do artista.

    Se o artista, como ser humano, repleto das melhores intenes para consigo mesmo e para com o mundointeiro, no desempenha papel algum no julgamento do prprio trabalho, como poder ser descrito o fenmenoque conduz o pblico a reagir criticamente obra de arte? Em outras palavras, como se processa esta reao?

    Este fenmeno comparvel a uma transferncia do artista para o pblico, sob a forma de uma osmoseesttica, processada atravs da matria inerte, tais como a tinta, o piano, o mrmore.

    Antes de prosseguir, gostaria de esclarecer o que entendo pela palavra "arte" - sem, certamente, tentar umadefinio.

    O que quero dizer que a arte' pode ser ruim, boa ou indiferente, mas, seja qual for o adjetivo empregado,

    devemos cham-la de arte, e arte ruim, ainda assim, arte, da mesma fomia que a emoo ruim ainda emoo.Por conseguinte, quando eu me referir ao "ioeficiente artstico", dever ficar entendido que no me refirosomente grande arte, mas que estou tentando descrever o mecanismo subjetivo que produz a arte em estadobruto - l' tat brut - ruim, boa ou indiferente.

    No ato criador, o artista passa da inteno realizao, atravs de uma cadeia de reaes totalmentesubjetivas. Sua luta pela realizao uma srie de esforos, sofrimentos, satisfaes, recusas, decises que

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    tambm no podem e no devem ser totalmente conscientes, pelo menos no plano esttico.

    O resultado deste conflito uma diferena entre a inteno e a sua realizao, uma diferena de que oartista no tem conscincia .

    Por conseguinte, na cadeia de reaes que acompanham o ato criador falta um elo. Esta falha que representaa inabilidade do artista em expressar integralmente a sua inteno; esta diferena entre o que quis realizar e o quena verdade realizou o "coeficiente artstico" pessoal contido na sua obra de arte.

    Em outras palavras, o "coeficiente artstico" pessoal como que uma relao aritmtica entre o que

    permanece inexpresso embora intencionado, e o que expresso no-intencionalmente.A fim de evitar um mal-entendido, devemos lembrar que este "coeficiente artstico" uma expresso

    pessoal da arte I' tat brut, ainda num estado bruto que precisa ser "refinado" pelo pblico como o acar puroextrado do melado; o ndice deste coeficiente no tem influncia alguma sobre tal veredicto. O ato criador tomaoutro aspecto quando o espectador experimenta o fenmeno da transmutao; pela transformao da matriainerte numa obra de arte, uma transubstanciado real processou-se, e o papel do pblico o de determinar qual opeso da obra de arte na balana esttica.

    Resumindo, o ato criador no executado pelo artista sozinho; o pblico estabelece o contato entre a obrade arte e o mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualidades intrnsecas e, desta forma, acrescenta suacontribuio ao ato criador. Isto torna-se ainda mais bvio quando a posteridade d o seu veredicto final e, svezes, reabilita artistas esquecidos

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    Sobre os readymades Marcel Duchamp. 1961Em 1913 tive a feliz idia de juntar uma roda de bicicleta a um banco de cozinha e v-la rodarAlguns mesesdepois comprei uma reproduo barata de uma apisagem noturna de inverno, a que chamei de "Pharmacy",depois de acrescentar dois pequenos pontos, um vermelho e um amarelo, no horizonteEm Nova York, em 1915,

    comprei numa loja de equipamentos uma p de neve na qual escrevi "In Advance of the Broken Arm"Foi poresta poca que a palavra "readymade" me veio a mente para designar esta forma de manifestaoGostaria dedeixar bem claro que a escolha destes "readymades" jamais foi ditada por deleite estticoA escolha foi feita combase em uma reao de indiferena visual e ao mesmo tempo em uma total ausncia de bom ou mal gosto. Defato uma completa anestesia Uma caracterstica impportante a breve frase que eu ocasionalmente inscrevo no"readymade"Esta frase, em vez de descrever o objeto como um ttulo, pretende conduzir a mente do espectadorpara outras regies mais verbaisAlgumas vezes adiciono um detalhe grfico de representao, o qual, parasatisfazer minha necessidade de aliteraes, se chamaria "readymade aided"Em outro momento, desejando expra antimonia bsica entre Arte e Readymade, imaginei um "Readymade Recproco" : usar um Rembrandt comouma tbua de passar!Eu percebi muito cedo o perigo de repetir indiscriminadamente esta forma de expresso, e decidi limitar a aproduo dos Readymades a um pequeno grupo anual. Eu estava consciente na poca de que, para o espectadormais do que para o artista, arte uma droga que cria o hbito, e eu queria proteger meus Readymades deste tipo

    de contaminao.

    Outro aspecto do Readymade a falta de unicidade... A rplica de um Readymade diz sempre o mesmo. Naverdade, a quase totalidade dos Readymades existentes hoje no original no sentido tradicionalUma ltimaobservao para este discurso egomanaco: j que tubos de tinta usados pelos artistas so manufaturados eprodutos "readymade", poderamos concluir que todas as pinturas do mundo so"readymades aided", bem comotrabalhos de assemblage

    O caso Richard Mutt"Marcel Duchamp. 1917publicado originalmente na revista Blind Man(New York) 2 (1917)

    Dizem que qualquer artista que pague 6 dlares pode participar da exposio. O Sr. Richard Mutt mandou umafonte. Sem discusso, este objeto desapareceu e no foi mostrado. Quais foram os fundamentos da recusa dafonte do Sr. Mutt?

    1. Alguns argumentaram que era imoral, vulgar2. Outros, que era plgio, uma simples pea de banheiro

    A fonte do Sr. Mutt no imoral, isso absurdo, no mais do que una banheira imoral. um objeto que se vdiariamente nas vitrines das lojas de encanamento.

    Quanto a se o Sr. Mutt fez ou no a fonte com suas prprias mos, isso no tem importncia. Ele a ESCOLHEU.Tomou um artigo comum da vida, o arranjou de forma a que seu significado utilitrio desaparecesse sob umnovo ttulo e um novo ponto de vista - criou um novo pensamento para este objeto