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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
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O ENSINAR E O APRENDER NO CADERNO DE “GEOGRAPHIA” DE RACHEL DE QUEIROZ1
LÍVIA DE OLIVEIRA2
TIAGO VIEIRA CAVALCANTE3
RESUMO O Caderno de “Geographia” é um raro tesouro pedagógico e geográfico redigido de próprio punho, no início do século 20, pela insigne escritora cearense, Rachel de Queiroz (1910-2003). Diante dessa preciosidade, nos propusemos a desenvolver uma análise que vai se prender ao conteúdo do caderno, isto é, o que fora ensinado aos alunos na época, mas também à sua forma, ou seja, como este conteúdo teria sido aprendido por esses alunos. Palavras-chave: Ensinar; Aprender; Caderno de “Geographia”; Rachel de Queiroz. ABSTRACT The Caderno de "Geographia" is a pedagogic and geographic rare treasure written in his own hand, in the early 20th century by the eminent writer from Ceará Rachel de Queiroz (1910-2003). Faced with this jewel, we proposed to develop an analysis that will hold the contents of the “Caderno”, namely what was taught to students at the epoch, but also to its form, in other words, how this content would have been learned by these students. Keywords: Teach; Learn; Caderno de “Geographia”; Rachel de Queiroz.
1 - Folheando o Caderno de “Geographia”
Esta (a Geographia) não é somente a discripção da superficie da terra como definem quasi todos os autores é o estudo systematico e racional do conjuncto de condições phisicas e políticas que formam o meio dentro do qual vive o homem. Sob o ponto de vista desta definição e o que o ensino geographico deve ser encarado para melhorar a comphensão da materia.
(QUEIROZ, 1922, p. 02-03)
Tivemos a feliz oportunidade de nos deparar com um Caderno de
“Geographia”, contendo as anotações das aulas dessa disciplina e com a assinatura
da insigne escritora, brasileira, sertaneja e cearense Rachel de Queiroz. Para nós, o
encontro, além da surpresa, foi a descoberta da raridade deste tesouro pedagógico
e geográfico. De um lado, a sua datação de 20 de outubro de 1922. De outro, poder
ler o manuscrito redigido de próprio punho pela jovem estudante do Colégio da
Imaculada Conceição, em Fortaleza.
1 Este trabalho tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.
2 Professora Titular e Emérita – UNESP - Rio Claro. E-mail: [email protected]
3 Doutorando em Geografia – UNESP - Rio Claro. E-mail: [email protected]
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Por muitos anos Rachel guardou este caderno e com ele, posteriormente,
presenteou o amigo, conterrâneo e bibliófilo José Bonifácio Câmara, conhecido
colecionador das obras da escritora. Hoje, este documento histórico e geográfico,
ilustrativo de um momento singular de sua vida, mas também de uma geografia
escolar de outrora, pode ser encontrado no Acervo de Obras Raras da Biblioteca
Pública Governador Menezes Pimentel em Fortaleza, Ceará.
Diante desta preciosidade, nos propusemos a desenvolver uma análise sobre
o ensinar e o aprender Geografia daquela época. Análise que vai se prender ao
conteúdo geográfico do caderno, isto é, o que fora ensinado aos alunos, mas
também se ocupará com a forma, ou seja, o como este conteúdo teria sido
aprendido pelos alunos.
Nosso exame terá como escopo a tentativa de desvelar as relações
estabelecidas entre os aspectos geográficos e a didática pedagógica, buscando
relacionar o saber com o fazer, ou seja, os procedimentos do ensino embutidos no
aprender da geografia, obtendo as implicações educacionais entre escola, aluno,
professor e disciplina escolar. Para isso, antes conheceremos mais das vivências
que Rachel teve no Colégio da Imaculada Conceição, entendendo o contexto em
que o Caderno de “Geographia” foi escrito.
2 - Rachel de Queiroz e o Colégio da Imaculada Conceição
O Colégio da Imaculada Conceição existe desde 1865 e é dirigido por freiras
da Congregação São Vicente de Paulo. Inicialmente, tinha como princípio a
caridade, abrigando e educando meninas órfãs, mas depois ampliou seu campo de
ação e clientela (MENDES, 2012), tendo, por isso, que ser transferido, no ano de
1867, para o prédio hoje localizado na Avenida Santos Dumont no55 em Fortaleza.
Pelo fato dos seus pais, Daniel e Clotilde, não serem afeitos à educação
formal e religiosa, somente aos dez anos de idade Rachel é matriculada no Colégio
da Imaculada Conceição, o que acontece por insistência de sua avó paterna, Rachel
Alves de Lima, que não se conformava de a neta ainda não ter recebido uma
educação, sobretudo, religiosa (CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA, 1997).
No exame de admissão para ingressar no referido colégio, e saber em qual
classe estudaria, Rachel revela grandes conhecimentos de geografia aprendidos
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principalmente pelas páginas literárias (CUNHA, 2010). Nesta ocasião, segundo
Cunha & Figueiredo (2010, p.334), “[...] uma irmã indagou-a como poderia fazer para
dar a volta ao mundo. A menina, esnobou, respondendo se ela gostaria de ir pelo
Estreito de Magalhães ou pelo Canal do Panamá”. Socorro Acioli, também destaca
algumas curiosidades desse instante:
A partir disso, o exame transformou-se em uma deliciosa viagem da menina de dez anos com sua professora. Escolheram começar a volta ao mundo pelo Cabo Horn, por sugestão de Rachel. Assim evitariam tempestades e ainda poderiam apanhar pérolas nos mares das ilhas do Sul (ACIOLI, 2007, p. 37).
Apesar de possuir conhecimentos sobre geografia e história, ela foi um fiasco
no restante do exame, quando teve que mostrar o que sabia de matemática,
gramática, ciências e catecismo. Mesmo assim, a freira Maria de Ascenção Simas, a
irmã Apolline, que gostara muito de Rachel, usou de sua autoridade para que ela
permanecesse na segunda classe (ACIOLI, 2007). Em 1925, aos quinze anos,
Rachel sai com o diploma de professora primária, normalista. Vale dizer que esta foi
a única educação formal que ela teve.
No ano de 1965 o Colégio da Imaculada Conceição completou cem anos e os
seus dirigentes organizaram um livro – Colégio da Imaculada Conceição: do Gênese
ao Apocalipse – para celebrar essa data. Nesse tempo Rachel era uma escritora
consagrada e, como uma ex-aluna ilustre, escreveu sobre os espaços, as pessoas e
os instantes que marcaram sua vida neste local que ela carinhosamente chamava
de Santa Gaiola. No capítulo denominado Livro de Rachel, em alusão aos livros que
compõem a bíblia sagrada, lemos:
Nossa Santa Gaiola, agora centenária. Tentei captá-lo num livro [As Três Marias], mas não consegui. Como lhe apanhar a essência íntima, aquele perfume de convento e jardim, de mocidade e clausura, de arrebatamento e misticismo? Lá nos moldaram a alma. Por mais que o mundo, depois, nos batesse e arrastasse, nos seduzisse e açoitasse – o velho molde ficou, irredutível. É uma espécie de irmandade que nos identifica a todas e que reconhecemos imediatamente, seja qual for o tempo e a distância, como um sinal maçônico.
[...] A sala de costura e os bordados de seda matizada, para a exposição do fim do ano. Sexta-feira era dia de bacalhau – e sabem que ainda hoje tento reconstituir o molho de azeite e vinagre que nos serviam junto – mas nunca o consegui. Jardins fechados, onde pela primeira vez na vida colhi lírios gêmeos, plantados por minha mão. As rezas em francês, „Oh Marie conçue sans péché!‟; e os dias de boletim, quando o colégio inteiro se reunia na sala do catecismo, e a Irmã Superiora nos estropiava invariavelmente os nomes; mas era tal o respeito que inspirava, que nós não ousávamos
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sequer sorrir. „Angelique Elerrí Barère!‟ Era minha amiga Angélica Barreira. „Estelá Pitá‟! A mim me chamava „Raxel‟ e eu surnuosamente passei a me assinar Rakel, com k. [...] Mas nem tudo era rezas, havia os recreios ruidosos; e os passeios em dias de feriado, que as internas adoravam – não sei por que. Aquela longa fila de meninas, de uniforme azul e meias pretas; íamos sempre a algum lugar deserto, sempre a pé. Só uma vez, num inesquecível passeio à praia, Irmã Angela deixou que tirássemos os sapatos e puséssemos os pés nus na areia úmida. Ah, a louca sensação de liberdade, quase de pecado! [...] O jardim da irmã Jeanne, onde conheci boninas, lembrando Inês de Castro: „Assim como a bonina que cortada...‟ E a rouparia que cheirava a goma e manjericão. Os chuveiros onde, mesmo nos cubículos fechados, tomávamos banho em camisola de brim, para não ofender a modéstia (QUEIROZ, 1999, p. 163-164).
É neste colégio, entre amizades e descobertas, que ela aprende as lições de
Geografia que podemos ler no caderno. Lições que ao tempo que revelam a
geografia que era ensinada na época, desvelam um pouco de sua trajetória escolar.
3 - O conteúdo geográfico
Nesta parte do trabalho em que revelamos o conteúdo geográfico do Caderno
de “Geographia”, tomamos o cuidado de paginá-lo, pois o mesmo apresenta folhas
pautadas sem paginação. Além disso, as transcrições que fazemos de partes desse
conteúdo respeitam tanto a grafia da época, como a escrita de Rachel.
Ao o folhearmos, podemos ler: a definição de geografia e o modo como deve
ser ensinada, a divisão da geografia, as relações entre o meio e o homem, a
cosmografia e a forma da terra, o relevo submarino, a classificação das ilhas, a
classificação do clima e, a flora e a fauna do globo.
A definição de geografia que consta no caderno é aquela da epígrafe que
anuncia este trabalho: “[...] o estudo systematico e racional do conjuncto de
condições phisicas e politicas que formam o meio dentro do qual vive o homem. Sob
o ponto de vista desta definição e o que o ensino geographico deve ser encarado
para melhorar a comphensão da materia” (QUEIROZ, 1922, p. 03). Junto a esta
definição, os mapas, as cartas e os compêndios são tidos como simples auxiliares
de um ensino geográfico que deve ser racional e sistemático, devendo assim
orientar o espírito humano, tornando o ensino da disciplina suave e ameno.
Quanto à divisão da geografia, esta é dividida em física e política, onde:
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Aquella estuda a terra, seus accidentes naturaes, o relevo do solo com os seus multiplos aspectos, enfim o meio em que vive o homem. Esta considera a Terra como um theatro onde os homens vivem agrupados em sociedade munidos pelos vinculos sociaes de linguas, costumes, religião governo etc (QUEIROZ, 1922, p. 05).
Mas também em astronômica, metereologica, geológica, econômica, histórica,
industrial e comercial. Rachel ainda escreve que existem muitas outras divisões e
subdivisões, mas que “se fossemos enumeral-as todas seria um nunca acabar pois
essas divisões e subdivisões correspondem ao objecto de que trata” (QUEIROZ,
1922, p. 07).
No que diz respeito à relação entre o meio e o homem, em primeiro lugar a
parte física da Terra tem de ser estudada, para que assim o meio onde o homem
habita possa ser compreendido. Isto, porque:
A influencia exercida pela natureza sobre o homem é enormissima. Este, isolado da sociedade longe do convivio dos seus similhantes, vivendo no meio onde não possa receber os olhares rutillantes da resplandecente aurora da civilização, distante do progresso e da sciencia para resolver os magnos problemas da sua evolução atravez dos tempos e das gerações que se succedem, torna-se um escravo submisso e humílimo da natureza (QUEIROZ, 1922, p. 08-09).
Entretanto, o homem civilizado:
[...] instruido moral e intellectualmente relacionando-se com os seus semelhantes formando grupos sociaes e conhecendo a maneira de empregar a sciencia nos diversos ramos de trabalho reage sobre a natureza e produz obras gigantescas que assombram, inventa o telegrapho e o telephone a imprensa e a locomotiva... [...] (QUEIROZ, 1922, p. 09-10).
Essa imponência do homem frente ao meio, também pode ser lida na parte do
caderno dedicada à Cosmografia: “a sciencia que estuda a origem hipothetica da
Terra” (QUEIROZ, 1922, p.12). Cosmografia que é relacionada à cosmogonia
teológica na explicação sobre a origem da Terra: “Estribando-nos na sciencia
moderna, podemos diser desassombradamente, que para a formação do nosso
planeta foram precisas 6 epocas que correspondem aos 6 dias do livro de Moysés”
(QUEIROZ, 1922, p. 13). No primeiro dia a Terra se materializa e toma forma, no
segundo surgem a água, os mares, os continentes e os animais invertebrados, no
terceiro aparecem os animais vertebrados, mas ainda há ausência de mamíferos, no
quarto os dinossauros dominam a Terra, no quinto espalham-se pela superfície os
mamíferos e pelas águas os peixes e, no sexto e último dia:
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[...] depois de tudo preparado quando a Terra já se achava referta de seres organizados; quando a puresa do ar e o grau de calor atmospherico permitiam no seu ambiente a vida humana; quando tudo era belleza, encanto formosura e poesia, o homem, o mais intelligente e o mais perfeito de todos os seres, o fim maravilhoso e sublime da grandiosa e gigantesca obra da creação do mundo, a imagem e semelhança de Deus fez a sua entrada triumphal no orbe terraqueo destinado pelo onipotente para ser o rei absoluto da natureza (QUEIROZ, 1922, p. 16-17).
Ainda em relação a esta peculiar cosmografia, depois de lermos sobre o que
os gregos e os egípcios pensavam sobre a forma da Terra, ora como “[...] uma
grande mesa circular, repousando sobre doze columnas [...]”, ora como “[...] um
globo imenso repousando sobre enormes elephantes de bronze [...] (QUEIROZ,
1922, p. 17), entre outras teorias fantásticas “[...] de uma epoca de imaginações as
mais extravagantes [...]”, apreendemos que a Terra “[...] tem a forma de espheroide
ligeiramente achatado nos polos, por causa da rotação em torno do seu eixo”
(QUEIROZ, 1922, p. 18).
Ainda no Caderno de “Geographia” temos uma minuciosa caracterização do
planeta, iniciada pelo relevo submarino. Rachel faz anotações sobre a
oceanografia, indicando que é “A parte da geographia que estuda os diversos
oceanos precisando a sua profundidade, o seu relevo, a sua composição chimica de
suas aguas, os seus diversos movimentos, a sua temperatura e as suas cores
diversas, sua fauna sua flora [...] (QUEIROZ, 1922, p. 20). E sobre as diversas
expedições que exploraram as profundezas do oceano buscando conhecer o relevo,
solo, temperatura, densidade, salinidade, profundeza, fauna, flora e velocidade de
suas correntes: “Essas expedições exploradoras recolheram as mais importantes
observações sobre o elemento liquido que envolve parcialmente o exterior do nosso
planeta, os quaes foram verdadeiras surprezas para os geographos” (QUEIROZ,
1922, p. 22-23).
Nesse mesmo contexto temos a classificação das ilhas. No caderno a ilha
“é uma massa de terra firme, menor do que um continente e rodeada d‟agua por
todos os lados” (QUEIROZ, 1922, p. 36). Quando aglomeradas são denominadas de
arquipélago. Podem ser costeiras ou litorâneas; marítimas ou oceânicas; fluviais ou
lacustres, de aluviões, vulcânicas e madreporicas. Os exemplos de cada tipo são
variados, desde a Ilha de Marajó, ilha costeira localizada no estado do Pará, até
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Fernando de Noronha que é um arquipélago de origem vulcânica, localizado na
costa de Pernambuco.
Em meio a tantas classificações e explicações detalhadas, defrontamo-nos
com um singular “Questionário dos pontos de Geographia” com questões que
parecem exigir o mesmo detalhamento (QUEIROZ, 1922, p. 46):
1ª Questão – Que sabeis sobre a forma e a estructura da Terra? 2ª Questão – Quantos são os movimentos da Terra e quaes os principaes e sua velocidade num segundo de tempo?
É após tais questões que nos deparamos com a classificação do clima.
Sobre isso Rachel anota em seu caderno que a umidade, as correntes aéreas e
marítimas, a altitude e a latitude, entre outros fatores geográficos, desempenham um
papel importantíssimo na variação climática de regiões e países. Sendo os climas
classificados “[...] quanto à temperatura em quentes, temperados e frios; quanto ao
estado hygrometrico do ar em climas humidos e seccos. Lapparent, porem,
classifica-os em duas cathegorias apenas climas maritimos e continentaes”
(QUEIROZ, 1922, p. 54). O clima marítimo caracteriza-se pela pouca amplitude
térmica entre o inverno e o verão, enquanto o clima continental, ao contrário, possui
grande amplitude térmica em relação às referidas estações.
Ainda sobre o clima, a temperatura média pode ser obtida com o uso de
termômetro e a partir do cálculo aritmético de diferentes medições que podem ser
diárias, mensais ou anuais. Já as linhas isotérmicas, linhas que foram propostas por
Alexander von Humboldt e “[...] unem diversas regiões que possuem a mesma
temperatura media” (QUEIROZ, 1922, p. 61). Contudo, em relação ao clima, uma
das partes mais interessantes diz respeito às suas influências sociais:
Os climas exercem uma influencia extraordinaria sobre a destribuição dos animaes e dos vegetaes na superficie do globo. O clima excessivamente quente torna o homem preguiçoso e indolente, ao passo que o temperado, torna o homem trabalhador, activo, alegre e emprehendedor. O clima frio faz do homem um taciturno, um pensador profundo, dado aos estudos da natureza. Um clima agradavel, um céu puro e límpido a serenidade do ar e a belleza do meio physico, faz do homem um folgazão, um typo talhado para as grandes conquistas das sciencias, das bellas artes, do commercio. As tonalidades variadas das zonas temperadas, a mudança das estações, obrigam o homem a se precaver contras as eventualidades tornando-o operoso, activo e trabalhador.
As suas faculdades intelectuaes e a energia da sua actividade physica ahi se desenvolvem consideravelmente. Em resumo o clima quente torna o
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homem indolente, o frio enerva-o, a insalubridade enfraquece-o, o clima nebuloso traz-lhe a melancholia e a tristeza; mas em compensação torna-o reflectivo e ponderado. Do exposto concluimos que do clima dependem a riqueza ou a pobreza do reino animal e vegetal, o grau de habitabilidade das regiões, a saude de seus habitantes, a actividade do homem o desenvolvimento e o progresso das industrias, do commercio e da agricultura, a evolução das sciencias e das artes e das diversas nações do globo (QUEIROZ, 1922, p. 62-64).
Após essa exposição reveladora, Rachel ainda anota sobre a flora e a fauna
do globo. Sobre a flora “[...] seres organizados que vivem sobre a superfície do
nosso planeta, como também na superfície dos mares e nas suas profundezas [...]”
(QUEIROZ, 1922, p. 71), e como a temperatura, a umidade, a luz, o solo, a altitude e
a latitude são elementos importantes para compreendermos a sua diversidade.
Quanto à fauna, escreve sobre a sua diversidade, explicando que o número de
indivíduos diminui de tamanho, de número e de espécie à medida que caminhamos
do equador para os polos e que cada espécie ocupa uma zona geográfica chamada
de habitat.
Diante dessa geografia física que foi estudada por Rachel, ilustrativa de parte
do conteúdo de Geografia que era ensinado em escolas do início do século 20,
agora será analisada a forma, isto é, o modo como este conteúdo teria sido
aprendido pelos alunos da época.
4 – A análise didática
O verdadeiro educador é um libertador de consciências, que a educação para a obediência é coisa do passado e que eles não devem ser apenas adestrados, mas formadores de indivíduos livres e conscientes (BOMFIM, 1920).
No Caderno de “Geographia” com anotações de sala de aula feitas por
Rachel de Queiroz, deparamos na página 03 com a indicação do nome de M.
Bomfim com a seguinte citação: “Do conjuncto de condições phisicas como diz M.
Bomfim a parte mais importante é a própria terra” (QUEIROZ, 1922, p. 03).
Com esta informação procuramos levantar dados sobre M. Bomfim. Através
de duas publicações nos inteiramos das atividades do professor e educador. A
primeira foi a tese de doutorado de Terezinha Alves de Oliva, O Pensamento
Geográfico em Manoel Bomfim, defendida em 1998, no Programa de Pós-
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Graduação em Geografia, da UNESP, de Rio Claro, sob a orientação do professor
doutor Silvio Carlos Bray. E a segunda foi o livro Lições de Pedagogia, Theoria e
Prática da Educação, de autoria de M. Bomfim, 2ª edição, da Livraria Francisco
Alves, do Rio de Janeiro, 1920, 440p.
Na primeira publicação, Oliva (1998) nos fornece dados relevantes sobre o
médico sergipano Manoel Bomfim (1868-1932) que tinha por preocupação a
identidade, o caráter da nação brasileira politicamente. Foi republicano, abolicionista
e jornalista. Seus textos revelam cores nacionalistas, porém não ufanistas. Não
possuía uma especialização. Seus conhecimentos eram gerais, suas atitudes eram
vanguardistas, suas posições admitiam as condições de nação mestiça e assumia a
educação como integradora do país. Sua visão sobre o Brasil era de um nativo e
não de um estrangeiro. Vivera na virada do século 20 e escrevera inserido na
sociedade da belle époque carioca. Suas colocações intelectuais eram de cientista-
militante, condenava a imigração, pois a considerava como um elemento
“perturbador e embaraçoso” para o momento histórico vivido pelo país. Considerava
que o problema brasileiro não era racial, mas muito mais cultural.
Sua filiação às ideias de Auguste Comte foi notória. Em relação ao
pensamento geográfico revela a preocupação constante da relação do homem com
o meio ambiente, especialmente na América Latina e no Brasil: “Para Bomfim, a
consciência humana realiza-se em correspondências com as necessidades de
adaptação ao meio social, enquanto a adaptação ao meio físico é obra da
sociedade. É esta ação coletiva que garante ao homem a supremacia na natureza”
(OLIVA, 1998, p. 78).
No entanto, para o nosso estudo interessa mais Bomfim, o educador que se
revelou através de inúmeros livros, artigos e matérias jornalísticas. Assim, vamos
nos deter sobre sua obra seminal, que marcou dezenas de anos sobre educação,
pedagogia e psicologia. Este é um tratado sobre Lições de Pedagogia, Theoria e
Prática da Educação. Seus conteúdos estão dirigidos para o curso de Pedagogia da
Escola Normal, sobre “Pedagogia e Methodologia” para a quarta série. Com suas
próprias palavras, o autor lembra que:
Num curso normal, a cadeira de Pedagogia devera ser a discussão systematica da Doutrina da Educação, isto é, a applicação racional dos princípios scientificos – biologia, psychologia, sociologia... à arte da
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educação. A parte de methodologia, propriamente dita, seria feita no curso das respectivas disciplinas (BOMFIM, Prefácio, p. 06).
Em seu índice geral são apresentados 24 capítulos, em cinco partes: a
primeira, Introdução, com o capítulo I, A pedagogia: objeto e definição. A segunda,
Doutrina Geral da Educação, com os capítulos II, Formação da personalidade e
educação e; III, O processo educativo. Imitação e invenção. Habitos e correcção; Na
terceira, Educação do Organismo, com os capítulos IV, Cultura physica e hábitos
hygienicos e; V, Cultura gymnastica. Na quarta, Educação Intellectual e
Methodologia, com os capítulos VI, Methodos e processos geraes em pedagogia;
VII, A instrucção primária. Funcção da escola; VIII, Pedagogia do conhecimento; IX,
Condições da actividade mental. Pedagogia; X, Pedagogia da linguagem; XI,
capítulo faltante ou junto a outro; XII, Methodologia da Mathematica; XIII,
Methodologia da Geographia; XIV, Methodologia da Historia; XV, Methodologia das
sciencias physicas e naturaes; XVI, Methodologia das lições de cousas; XVII,
Methodologia dos trabalhos práticos e; XVIII, Methodologia dos trabalhos manuaes;
XIX. A quinta, Educação Moral, com os capítulos XIX, A moralidade. A escola e a
formação moral; XX, A vida affectiva. Moralidade e egoísmo; XXI, Cultura dos
sentimentos desinteressados; XXII, Educação da vontade e constituição do caracter;
XXIII, Apuro do caracter e organização do proceder e; XXIV, Dor e prazer na
educação. E uma Conclusão com o título: O problema de felicidade.
A riqueza histórica e pedagógica dos temas contidos no compêndio as Lições
de Pedagogia é impressionante por sua abrangência, pelo detalhamento das
proposições e pela intenção de cobrir todo o campo da Educação. Isto tudo,
incluindo um leque variado de assuntos desde moral, noções de higiene, ginástica,
pedagogia e metodologias para diversas disciplinas.
Ficamos tentados a explorar essa preciosidade pedagógica, porém nosso
interesse no momento é no Caderno de “Geographia” de Rachel de Queiroz, em
seus aspectos metodológicos da Geografia do início do século 20.
No capítulo XIII, Methodologia da Geographia, Bomfim (1920, p. 231-249)
tece considerações sobre o ensino e o aprendizado da ciência geográfica. Divide o
capítulo em cinco itens, variando desde a definição da ciência, recomendando o
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ensino de mapas, até recorrendo às noções de História, Astronomia, Física,
Química, como auxiliares nas explicações geográficas.
Item I: “Objecto da Geographia: sua definição. Deficiencia da didactica
geralmente adoptada na instrucção da Geographia. Utilidade real dos
conhecimentos geographicos. Como simples descripção, a Geographia se
transforma num peso morto para memória” (p. 231-234).
Para a Escola Primária, o autor se inspira diretamente em dois aspectos: “O
que é Geographia” e; sua “utilidade effectiva”. Quanto ao primeiro, lembra que a
disciplina não é apenas a “descripção da Terra” sem “[...] connexão racional de
principios, sem systematisação scientifica dos factos [...]”. Com esta definição
simplória a Geografia se torna uma disciplina “[...] insípida, estéril e incompleta
enumeração de dados topographicos e estatísticos, sem valor mental sinão o da sua
utilização immediata, para elucidação de circumstancias materiaes”. A didática
aplicada a esta Geografia conduz o aluno a incompatibilizar sua inteligência, se
desinteressando da disciplina. Disciplina essa que contem “[...] um ensino
interessante, curioso e racional [...]” e “[...] de grande valor educativo [...]”. Mais
adiante, Bomfim reitera que “[...] o ensino da Geographia tem por fim fazer conhecer
o meio, de forma que o individuo possa relacionar-se convenientemente com elle, e
comprehenda a sua situação civil e política”. Dá ênfase ao ensino do “[...] mundo
physico com a vida moral e social[...] ”. As lições de Geographia devem integrar um
conhecimento do Brasil colonial do “norte” com o cultivo da cana-de-açúcar e no
“sul” com a mineração.
Item II: “Estudo dos factos geographicos. Relação de causa e effeito em
Geographia. Valor descriptivo das cartas. Como deve se ensinar a physiographia da
America do Sul e do Brazil. Importancia dos massiços montanhosos, na constituição
dos continentes” (p. 234-239).
Os fatos, os fenômenos e as causas que são tratados pela Geografia devem
se referir às relações dos aspectos naturais. As explicações são apresentadas pelas
localizações, direções, configurações a partir do uso de mapas. Bomfim chama
atenção que “[...] a criança decora palavras e nas cartas decora graphicos [...]”, tanto
apelando a “memoria verbal” quanto a “visual”. A instrução geográfica recorre mais à
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imaginação “[...] uma manifestação essencialmente activa da intelligencia –
esforçando-se por imaginar e conceber cada um dos aspectos topographicos [...]”.
Apresenta como exemplo de fato geográfico a orografia, pois “Um continente
depende da disposição dos seus massiços montanhosos, porque a montanha, é,
finalmente, o esqueleto das terras”. Esta geografia física será a base do estudo
político. Com detalhes descreve o continente sul-americano, com seus três maciços
montanhosos: o brasileiro, a Cordilheira dos Andes e o das Guianas. As descrições
se prendem às direções, localizações e formas, não fazendo alusão a estrutura e
gênese geológicas. “Desse caracter básico, resultam multiplas consequencias, que
explicam e definem toda a physiographia sul-americana [...]”, tais como os oito
enumerados: 1) a direção dos Andes; 2) a oposição do maciço brasileiro aos Andes;
3) as Guianas com terras mais baixas; 4) a configuração triangular do continente; 5)
as águas continentais correm para o interior formando três bacias entre os três
maciços; 6) o oceano a oeste não recebe nenhum grande rio; 7) pelas três grandes
planícies interioranas correm grandes rios e; 8) além desses rios, só o São
Francisco deságua diretamente no mar.
Espera-se, assim que o aluno tenha aprendido a fisiografia da América do Sul
pela orientação, forma, distribuição das terras, direção dos rios e natureza das
costas. Este “methodo descriptivo” aplicado para o estudo do Brasil, acrescentando-
se a “orientação das fronteiras” e “distribuição e natureza dos portos”. Reitera outras
consequências como localizar estados, reconhecê-los a configuração e o aspecto
físico.
Item III: “Methodisação racional das descripções geographicas. Analyse dos
agentes nos factos geographicos. Relações da Geographia com as outras sciencias:
valor educativo da Geographia. Material a empregar no estudo da Geographia” (p.
240-242).
Os mesmos processos de descrição são aplicados a todos os continentes,
procurando comparar os traços gerais comuns, através de interrogações conduzindo
a aprendizagem dos alunos: “Porque é que certos accidentes apresentam tal ou qual
forma?... Quaes os agentes que os determinaram?... Como se explica a acção
desses agentes?... Como se combinam as influencias dos diversos agentes – ventos
e chuvas, humidade e calor?” E assim por diante, chamando atenção para a
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localização, diferenças, determinação, com “considerações elementares” de
Astronomia, Metereologia, História, História Natural, Física, Química, chegando à
conclusão que a Geografia é a disciplina mais educativa do programa, por relacionar
todos estes conhecimentos.
Na “instrucção” da Geografia é preciso englobar todos estes saberes com a
distribuição, formação, movimento, relação, classificação, ação, todos os aspectos
físicos de acordo com os climas e topografias, com a população, raças, vias de
comunicação, produção, enfim, “[...] acção do homem sobre a natureza, reflexo da
natureza sobre o homem”.
Todo este processo de análise requer o emprego de “todos os recursos
representativos”. São enumerados os materiais a serem aplicados: o globo terrestre,
coleções de mapas, de rochas e minerais, ilustrações e gráficos, fotografias,
modelos em relevo. Tudo isto não deixando de lado a memorização de nomes, cifras
e gráficos, mediante a “[...] systematização racional de conhecimentos [...]”.
Item IV: “Iniciação intuitiva da instrucção geographica. As lições de cousas
em Geographia. Valor da technologia geographica. Preparo para a comprehensão
dos mappas e das cartas. Da observação na Geographia” (p. 243-246).
A “instrucção” da Geografia é identificada com as “lições das cousas”,
apoiadas nas “noções intuitivas”. A criança, aos 8, 9 anos de idade, deve estar
preparada para três sentidos: valorizar a descrição da Terra, entender as relações
“sideraes” da Terra, e, por fim decifrar o uso de mapas e gráficos. Segue-se a
aquisição e a observação de noções e de fatos, tanto na Geografia como na
História.
Como todas as ciências a Geografia possui sua “technologia”. É necessário
atentar para os “factos” e “accidentes”. Para a “convenção”, como latitude, longitude,
orientação, horizonte, polos, meridianos, paralelos, eclíptica. Infelizmente muitos
compêndios iniciam a “instrucção geographica” por estas noções abstratas. Ao
contrário deveriam começar pela “lição de cousas”, que são concretas, como ilhas,
rio, cabo, península, vale, montanha, que podem ser observados direta ou
indiretamente.
As “noções intuitivas” são complementadas com as observações “quanto às
formas e aos accidentes”, devendo começar pelo relevo, as montanhas, os solos, as
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vegetações, seguindo-se pela escola, seus terrenos adjacentes, depois o bairro, a
cidade, até atingir o país e o planeta. Quanto aos “caracteres artificiaes”, ruas,
praças, casas, considerar tanto a distribuição e localização da população, dos
distritos urbanos e rurais, quanto às estradas, jardins, pontes, procurando determinar
os limites entre a cidade e o campo. Se for iniciados “instrucção” servindo-se de
mapas e cartas lembrar a noção de escala.
Principiar com a representação da sala de aula, em duas dimensões, com os
móveis, em seguida, o plano do edifício da escola, os jardins, o pátio, usando
desenhos. Após estas indicações passar para o plano da cidade, com a localização
dos pontos de referência, usando cores.
Item V: “Applicação do methodo inductivo-deductivo à Geographia; papel da
imaginação na representação dos factos e das formas geographicas. Importancia do
estudo das bacias hydrographicas para a apreciação geral do território” (p. 246-249).
Ao concluir estas considerações, Bomfim aponta que “[...] ao estudo da
Geographia se deve applicar o methodo normal de observação – o methodo
inductivo-deductivo, porque, como todas as outras disciplinas, a Geographia offerece
ao estudo factos e principios geraes”. Ao dar ênfase aos “factos”, lembra a extensão
no tempo e espaço de suas ocorrências e a impossibilidade de observação direta
pela criança. Por isso que esta disciplina pode correr o risco de ser reduzida a
simples descrição terrestre e a simples memorização. Daí, a necessidade de se
recorrer à imaginação e à representação, levando o aluno à organização intelectual
evocando os acidentes geográficos.
A criança ao trabalhar com rio, planalto relacionar com bacias hidrográficas ou
cadeias montanhosas. Destaca a frase: “[...] o rio é a forma mais sensível da
dynamica geographica; é a expressão mais eloquente na definição das
configurações”. Estas configurações são reunidas, desde as nascentes nas
montanhas, “[...] os despojos incessantemente carregados para a planície e para o
mar [...]”, as povoações ao longo das margens, os cruzamentos das estradas, o
estabelecimento das relações comerciais. Pode-se usar como recurso o estudo de
uma ou duas bacias.
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Talvez “[...] um dos importantes problemas na instrucção geographica é este –
levar a criança a comprehensão do valor e da significação real do território do seu
paiz”. O auxílio da imaginação será “a contemplação das cartas em relevo”.
Nestas condições, a descripção geographica será um factor importantíssimo de educação intellectual, e uma fonte incomparavel de conhecimentos racionaes quanto às relações do homem com o mundo onde vive (BOMFIM, 1920, p. 249).
5 - Decorrências geográficas e didáticas
O valor pedagógico, geográfico e histórico deste Caderno de “Geographia”, é
nos revelar como outrora teriam sido as aulas de Geografia.
Para a época, apesar de ser uma escola confessional e particular, podemos
concluir, por este exemplar que dispomos, o seguinte:
a Geografia já gozava de uma posição de destaque na grade curricular.
os conteúdos geográficos ensinados eram os mais atuais do momento.
as formas didáticas aprendidas eram baseadas em recursos e materiais da tecnologia daquele tempo.
a Geographia para Rachel de Queiroz fora uma disciplina de encantamento e imaginação.
6 - Referências
ACIOLI, Socorro. Rachel de Queiroz. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2007. 135p.
BOMFIM, Manoel. Lições de pedagogia, theoria e pratica da educação. 2ªed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1920. 440p.
CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA. Rachel de Queiroz. São Paulo, Instituto Moreira Salles, n.4, set. de 1997. 129p.
CUNHA, Cecília Maria. Iniciação literária de Rachel de Queiroz. In: COUTINHO, Fernanda (org.). Rachel de Queiroz: uma escrita no tempo. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2010. p. 55-73.
CUNHA, Cecília Maria; FIGUEIREDO, Madalena. Memória Encadernada. Revista da Academia Cearense de Letras. Fortaleza, v. 115, n. 71, p. 334-336, 2010.
MENDES. Eluziane Gonzaga. História da formação do pensamento geográfico cearense: entre o saber, o conhecimento científico e a docência (1887-1947). 2012. 364f. Tese (Doutorado em Educação Brasileira) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2012. OLIVA, Teresinha Alves de. O Pensamento Geográfico em Manoel Bomfim. 1998. 189f. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociência e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1998.
QUEIROZ, Rachel de. Geographia [manuscrito], 1922. 88p.
QUEIROZ, Rachel de. Livro de Rachel. In: Colégio da Imaculada Conceição: do Gênese ao Apocalipse. Fortaleza: Tiprogresso, 1999. p. 163-165.