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E agora, Venceslau? – como deixar de ser um líder explosivo – Sonia Jordão Belo Horizonte 2007

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E agora, Venceslau?– como deixar de ser um líder explosivo –

Sonia Jordão

Belo Horizonte

2007

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Todos os direitos reservados.

Bibliotecário responsável: Rinaldo de Moura Faria

Copyright © SONIA JORDÃO

Capa e ilustraçõesRONALDO LAZZAROTTI

RevisãoTÂNIA DIAS JORDÃO

JORDÃO, Sonia.E agora Venceslau ? : como deixar de ser um líder explosivo /

Sônia Jordão . — Belo Horizonte : Tecer Liderança ; Contagem :Santa Clara Editora , 2007.96 p. il.

1.Administração de empresas. 2.Liderança. 3.Gerência. I.Título.

CDU 658658.012.4

J82e

E agora, Venceslau?– como deixar de ser um líder explosivo –

CONTATOS:e-mail: [email protected]

site: www.soniajordao.com.br

A REPRODUÇÃO DESTA OBRA PODE SER FEITA,DESDE QUE CITADA A FONTE.

IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

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A meu pai, Nemes Jordão.Com muito amor.

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Agradeço a meus amigos e amigaspor existirem em minha vida. É maravilhoso

poder partilhar minhas emoçõescom cada um de vocês.

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Só se aprende o novo quando ascertezas velhas caem.

Rubem Alves

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Prefácio 9

O acontecimento 11

Perdendo o controle 25

Descobrindo o problema 37

E agora, Venceslau? 55

Valeu a pena? 77

Linha direta com a autora 95

SUMÁRIO

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E AGORA, VENCESLAU?

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PREFÁCIO

Este livro começou a ser escrito nas primeirasexperiências de vida da autora. Vem amadurecendoatravés de sua existência. Só agora é que foi transcritopara o papel. É um livro já vivido.

Ao ler este livro, encontrei uma históriaenvolvente, que nos remete ao dia-a-dia da nossa vidapessoal e profissional. Quantas situações como essanão vêm ocorrendo, ultimamente, bem perto dagente?... Se você quer crescer, progredir, vencer,então encontrou um bom caminho a trilhar.

Gostaria de destacar, inicialmente, um aspectoda nossa vida que é fortemente enfocado no livro –somos cercados de mudanças a todo o momento. Sãosituações que vêm das outras pessoas, do nossoambiente de convivência, nos levando a toda hora aescolhas e decisões fora daquilo de pretendíamos.Como não temos o poder de controle de tudo, temosque mudar-nos, pouco ou muito, mas somosobrigados a mudar. Muitas vezes é doloroso enfrentarisso. É o caso do nosso amigo e protagonistaVenceslau.

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E AGORA, VENCESLAU?

A autora, ao idealizar seu personagem, depurousua experiência de vida profissional trazendo um lequede situações, rico de ensinamentos, nos levando a umaaprendizagem gradativa e agradável. Ela nos mostraum quadro quase real de uma pessoa explosiva emsuas atitudes, assim como as conseqüências disso. Eé muito interessante você vivenciar fatos, sentimentose pensamentos através da leitura deste livro.

Todos esperamos e queremos um final feliz. Paratal, depois de muitos problemas é preciso havermudanças para atingirmos nossos objetivos. Primeironos pensamentos, depois nas atitudes. E isso aconteceneste livro. Após uma sucessão de mudanças pessoais,a paz e o equilíbrio voltam a reinar. Isso é real, éconcreto. É a nossa vida quando decidimos enfrentá-la como precisa ser.

Tudo que neste livro é apresentado, de fato, estámuito próximo de nós. Embarque nessa história, coma mente e o coração, e boa viagem. Você vai gostar.

Márcio Pereira Primo.

Administrador, Economista e Contador.

Diretor executivo de uma indústria de médio porte.

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O ACONTECIMENTO

– Venceslau, você está demitido!– Mas, como?! – perguntei admirado.Augusto, presidente da empresa, me explicou:– Os resultados não andam conforme precisamos.

No futebol os técnicos são demitidos muito maisrapidamente que nas indústrias quando não atingemas metas, e a Telucar não pode esperar mais. Já sepassou mais de um ano sem você conseguir atingir asmetas traçadas.

E continuou:– Quando o contratei

como diretor comercial,minha expectativa erade que as vendasaumentassem. No início,até parecia que isso iaacontecer, mas, com opassar do tempo, osresultados alcançadosestão cada dia mais

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E AGORA, VENCESLAU?

distantes das metas, e precisamos de resultadospositivos. Nossa equipe tem hoje mais de 900funcionários, com isso existem mais de 3000 pessoasque dependem da empresa. Gosto de você, Venceslau.Sei que é um profissional comprometido, que veste acamisa da empresa. Sei também que é trabalhador,além de confiável e responsável, mas infelizmentetudo isso não é suficiente, o mercado não permiteque as empresas vacilem. A concorrência está aí enovas estratégias precisam ser preparadas sequisermos sobreviver. Estou sentido, mas não vejoalternativa a não ser colocar outra pessoa em seu lugar.

Fui para casa bem abatido. Procurava refletir sobreos acontecimentos. Entrei intempestivamente comohá muito não fazia.

– Conceição! Conceição!– O que aconteceu, meu querido?– Estou muito aborrecido. Você não é capaz de

imaginar o que me aconteceu. – Sentei-me, afundandoa cabeça entre as mãos e já me sentindo todo dolorido,de tanta tensão. Conceição aguardava em silêncio,ansiosa. Enfim, pude dizer quase num fio de voz:

– Augusto me demitiu!– Mas, por quê?– Por causa dos resultados da empresa. Mais um

mês sem atingir as metas!O sangue já fervilhava em meu rosto, podia sentir

a alteração em meu semblante.

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– Calma, Venceslau. Em breve você conseguiráum novo emprego. Quem sabe até melhor que esse,com menos estresse. Fique tranqüilo, afinal aqui emcasa você não é sozinho para arcar com as despesas.A escolinha não dá grandes lucros, mas com o queganho podemos sobreviver. É só evitarmos gastossupérfluos até você conseguir outro emprego. E aindatem o nosso fundo de reserva...

– Sorte sua que escolheu ser pedagoga. Comcrianças não precisa pensar em resultados.

– Que idéia, Venceslau! Já pensou se nãocuidarmos bem das crianças, não nos preocuparmoscom a qualidade de nossos profissionais, com oatendimento às crianças e aos seus pais? A Ciranda

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E AGORA, VENCESLAU?

Feliz é uma escola pequena, mas também é umaempresa. E precisa ser bem gerenciada, senão fechaigual a muitas que vemos por aí. E olha que nossosprincipais clientes nem sabem o que querem, porqueàs vezes nem sabem falar.

– Desculpe, Conceição, estou um pouco nervoso.Não quis desmerecer seu trabalho. É que é muitodifícil ser demitido. Trabalhar com afinco e nãoconseguir os resultados que esperam da gente já éduro, mas quando nos dispensam é terrível. Quandoo Augusto conversou comigo, parecia que o chãofaltava sob meus pés. Fiquei até sem fala.

– Agora é pensar positivamente. Lembrar-se dosseus empregos anteriores, em que era reconhecido.

– É verdade, fui um profissional de sucesso. Foium bom tempo naquelas duas grandes empresas.Inclusive uma multinacional! E eu consegui excelentesresultados. Você se lembra da minha empolgação?Mas agora, Conceição, essa é a segunda empresa daqual eu fui demitido após trabalhar pouco tempo, emais uma vez porque não consegui bons resultados.Qual será o problema? Na empresa anterior trabalheidez meses e estava na Telucar há apenas um ano etrês meses.

– Infelizmente não tenho condições de descobririsso por você. Acredito que só você consiga entendero que aconteceu de fato. Vale a pena, querido, refletir

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sobre isso. Quantas pessoas aproveitam uma pedrano meio do caminho para construírem um degrau...

– Sinto que meus pensamentos estão fervilhando.Vou tentar descansar um pouco e depois pensar oque posso fazer. Ter você ao meu lado já é um grandeconsolo.

Queria, de fato, descansar, sentir-me menospesado com tudo aquilo, mas não conseguia deixarde me perguntar o que estava acontecendo. Por queas atitudes que sempre deram certo, agora nãofuncionavam mais? Porque não conseguia fazercom que aqueles garotosfizessem o que eumandava? Por que nãoalcancei as metasplanejadas?

Procurei não mesentir um fracassado.Tinha lido que pessoasque se mostram assimtêm mais dificuldade em arranjar emprego, e a mimainda restavam boas coisas a mostrar em minhatrajetória profissional.

Disse a mim mesmo:– Cara, pra frente é que se anda! Não, você não

terá dificuldades para conseguir outro emprego.Então... Você sabe que bons profissionais não ficam

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E AGORA, VENCESLAU?

desempregados, não é? Vamos lá! Com você não serádiferente!

Estava consciente de meu valor. Durante todaminha vida procurei desenvolver-meprofissionalmente. Formei-me em engenharia civil,seguindo a indicação de meu avô, mas com o tempodescobri que gostava mesmo era da área comercial.Aí procurei me especializar e fiz o curso de pós-graduação em Marketing. Quando assumi a gerênciapela primeira vez, senti que precisava de mais bagageme busquei uma das melhores escolas do país para meespecializar em Gestão Empresarial. Falofluentemente inglês e espanhol, além de já ter moradomais de um ano no exterior. Também, tenho bonsconhecimentos na área de informática. – Tudo issopassava pela minha mente, de forma acelerada.

Continuei analisando a situação. – Tenho umgrande diferencial no mercado: tanto pela experiênciaquanto pelo bom conhecimento teórico. Gosto daárea de vendas e de lidar com pessoas. Tenho muitoprazer quando trabalho em uma dessas coisas. Gostotambém de fechar negócios, independentemente dotamanho. Na época em que fiz faculdade e até mesmoquando cursei meu primeiro curso de pós-graduação,consegui ganhar um bom dinheiro com vendas.Trabalhei com vários produtos, incluindo cotas declubes, anúncios em lista telefônica, jóias e atéenciclopédias. Durante um período, participei de

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sistemas de marketing de redes e tive dificuldades paraingressar pessoas na minha rede, mas não tivedificuldade nenhuma em vender os produtos.

Finalmente fui trabalhar como engenheiro devendas e comecei a usar meus conhecimentosteóricos. Aí senti que estava unindo o útil ao agradável.Até que fui promovido a gerente, e então passei acuidar de grandes negócios e a ser um suporte para aequipe de vendas, tanto na área comercial quanto naárea técnica.

Lembrei-me de que meu pai era um grandevendedor e parecia que eu havia herdado dele essegosto por vendas. Quando era criança vivia ajudandomeu pai. Nem me lembrava quando tinha começado,só sabia que gostava muito do que fazia. Quandovinha da escola, na pequena cidade do interior ondevivíamos, ia logo para o armazém de meu pai. Preferiafazer isso a ir brincar com meus amiguinhos. Aindanem conseguia alcançar o balcão e subia em umbanquinho para atender as pessoas.

Foi então que veio à minha mente o fato de tervisto, há um tempo atrás, o cofre do armazém daépoca em que era criança. Lembrava-me desse cofrecomo algo enorme, e no primeiro momento nemacreditei que era o mesmo. Agora entendia que o cofrenão era tão grande nada, eu é que devia ser muitopequeno na época.

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E AGORA, VENCESLAU?

Como passado e presente se mesclam de formatão inusitada dentro da gente... Lembrar-me dainfância conseguiu me apaziguar um pouco. E então,internamente, trabalhei a necessidade de ficartranqüilo até conseguir novo emprego. Mesmo quedemorasse alguns meses.

Sabia que na maioria das vezes em que disputeialguma vaga, meu currículo era o melhor, inclusiveporque demonstrava boa experiência profissional e,ainda, os bons resultados nas duas grandes empresasonde trabalhara durante mais de doze anos. Quandonão conseguia algum emprego, descobria que eraporque meu currículo era considerado tão bom que aempresa achava que eu não iria ficar por muito tempo,ou então não estavam em condições de pagar o queeu merecia.

Estava claro, porém, que esse segundo resultadonegativo certamente abalaria minha boa performance,

refletiria numa próxima seleção. Precisava criar umaestratégia eficiente para conseguir nova colocação.

Assim, preparei-me para procurar um novoemprego. Atualizei meu currículo seguindo asrecomendações que ouvira de um consultor na área:“ao fazer um currículo é importante pensar em quemvai lê-lo. É preciso que quem o ler fique com a vontadede saber mais sobre você e lhe dê a chance decontinuar no processo de seleção. É bom tambémmostrar os resultados positivos alcançados”. Depois

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disso, fiz uma lista com nomes de pessoas de minharede de relacionamentos que poderiam me indicar emalguma empresa. Cadastrei meu currículo em algunssites e comecei a pesquisar as ofertas que apareciam.

Poucos dias depois, um amigo indicou-me parauma empresa – a DJP Máxima. Claro que, antes de irpara a entrevista, procurei entrar no site da empresa,assim iria para a entrevista me sentindo maispreparado. Foi então que fiquei sabendo que era umaindústria com pouco mais de 100 funcionários e maisde 15 anos no mercado. Além disso, ficava num bairronão muito distante de minha atual residência, o quefacilitaria o meu deslocamento. Procurei tambémsaber como tinha surgido a vaga e descobri que o

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cargo que estava disponível era antes ocupado pelodono da empresa, que havia falecido, o Sr. JamilPeixoto. Fiquei sabendo que ele cuidava das vendas,das compras e ainda que era o responsável pelaindústria. Ele havia sofrido um infarto fulminante hápouco tempo, em função do grande estresse da vidaexecutiva. Sabia que essas informações seriamimportantes no contato com a pessoa que meentrevistaria.

Sua esposa, Dirce, já cuidava da parteadministrativa e financeira antes da tragédia, mas nãogostava da área comercial e nem teria tempo paracuidar de tudo com competência.

A entrevista transcorreu tranqüilamente. Dircequestionou-me sobre meus trabalhos anteriores,minhas habilidades e minha facilidade em lidar comclientes. Perguntou-me também sobre o fato de gostarou não de lidar com pessoas. A conversa foi longa,mas bastante produtiva. Aproveitei para demonstrarminha experiência e – claro! – minha vontade detrabalhar e ajudar a DJP Máxima a se manter nomercado e, se possível, crescer. Dirce pareceu-me terficado convencida de que eu era a pessoa certa para ocargo, mesmo assim pediu-me um tempo para medar uma resposta. Provavelmente iria conversar commais alguns candidatos. Depois da conversa, solicitouque eu fosse a um psicólogo, que fazia testespsicotécnicos para a empresa.

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Quinze dias se passaram desde que fora demitidoda Telucar. Enfim, Dirce me ligou informando queeu estava contratado. Solicitou que eu começasse noinício da semana seguinte, já que coincidiria tambémcom o início do mês.

Como eu tinha sido indicado por um amigo emcomum, entrei com carta branca na empresa erapidamente demonstrei minha competência trazendonovos e importantes clientes, além de aumentar asvendas para aqueles clientes já existentes. Dirceconfiava plenamente em mim, que a cada diaprocurava retribuir com muito trabalho e dedicação.Eu não queria ficar pouco tempo nesse empregotambém. O tempo passava e os resultados de meutrabalho iam além do esperado. Estava conseguindoresultados positivos, novamente. Eu me mostravamuito motivado e isso se refletia em minhas atuações.

Quando acertei com Dirce as condições detrabalho, decidimos que meus rendimentos seriamrelacionados com meus resultados. Isso era comumna área comercial, portanto não me surpreendia.Foram propostas comissões sobre os lucros, e nãosobre as vendas. Isso para mim era novidade, masaceitei de bom grado. Com isso eu não mais mepreocuparia somente com as vendas, trabalhariatambém objetivando menores custos.

Aproveitei a oportunidade para colocar em práticao que tinha aprendido em meu último curso de pós-

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E AGORA, VENCESLAU?

graduação: Gestão Empresarial. Isso me deixavamuito contente porque trazia a possibilidade de provarpara os outros, e para mim mesmo, que não terconseguido bons resultados nas duas últimas empresasonde havia trabalhado não era motivo suficiente paraeu me desanimar. Eu sou persistente, e não mediriaesforços para demonstrar minha competência. Iriaaproveitar a chance porque, se não desse certo dessavez, minha carreira correria sérios riscos. Porém,continuava com aquela dúvida, que tanto meincomodava: – por que fracassei nas duas últimasempresas onde trabalhei?

Acostumado a desafios pessoais e profissionais,eu possuía uma vontade muito grande de aprender, eessa era uma oportunidade de ouro. Depois de

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trabalhar em grandes empresas, onde geralmente osprofissionais cuidam somente de uma área de atuação,agora estava assumindo uma empresa de médio porte,onde existia a possibilidade de cuidar de mais de umaatividade, o que me proporcionaria um crescimentomaior, principalmente porque tenho muita vontadede aprender. Eu estava feliz com meu trabalho. Agoragerenciava as áreas de compras, vendas e marketing,além de colaborar no gerenciamento das áreasindustriais e de assistência técnica.

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PERDENDO O CONTROLE

Fiquei sabendo que, mais uma vez, haviam erradonaquele serviço. Alfredo, da Siderúrgica Cartevali, meuamigo há quase 10 anos, ligou reclamando de umfornecimento. Eu já tinha explicado com detalhes aosfuncionários como fazer a tarefa. À medida que iarelembrando do acontecimento fui ficando nervosoe pensando em como recuperar aquele prejuízo e,principalmente, em como não perder o cliente. Osprodutos seriam devolvidos para serem consertados.As despesas de transporte correriam por conta daMáxima e, ainda, precisaríamos arcar com horas extrasdo pessoal para tentar minimizar o problema edevolver os equipamentos rapidamente após a revisão.

Aquele acontecimento era tudo o que eu nãoqueria. Depois que comecei a trabalhar na DJPMáxima, eu consegui aumentar significativamente asvendas para a Cartevali. Como já conhecia bem oAlfredo e o Custódio, gerentes da Cartevali, tinhadestes a total confiança. Eles sabiam que eu cuidariade seus interesses, que não iria simplesmente deixar

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E AGORA, VENCESLAU?

qualquer problema que surgisse se agravar. Sabiamque eu defendia os interesses da Máxima junto a eles,para que não tivéssemos prejuízo, mas que tambémconseguia defender os interesses deles junto aMáxima. Conheciam meu jogo de cintura. Já tínhamosnegociado diversas vezes, quando eu trabalhara emoutras empresas.

A Siderúrgica Cartevali havia se tornado nossoprincipal cliente. Porém, os concorrentes não iriamficar parados. Aliás, o próprio Custódio havia mecontado que um desses concorrentes tinha mudadorecentemente sua estratégia de atendimento paratentar reverter o quadro a favor deles novamente. Porisso, também, era importante manter um atendimentodiferenciado e especial. Agora acontecia aquelareclamação, e o pior: era procedente!

Enquanto eu refletia sobre tudo isso, fui vendo orisco que estávamos correndo. Esse não tinha sido oprimeiro erro acontecido com a Cartevali e eu sabiaque teria muito trabalho para minimizar asconseqüências. Tinha consciência de que o problemase agravaria se não resolvesse essa reclamação compresteza. Então, resolvi ir até a fábrica para informaro que havia ocorrido e preparar o pessoal para quecorrigissem o problema.

Chamei algumas pessoas da equipe de produçãopara discutirmos a melhor solução e, à medida queexplicava o que aconteceu, ia ficando cada vez mais

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nervoso. Não conseguia entender como haviamcometido o mesmo erro pela segunda vez, ejustamente com a Cartevali. Sem conseguir dominarmeus sentimentos, quando menos se esperava griteicom o Gustavo, que euacreditava ter cometido oerro. Depois de dizer oque acreditava serimportante, acalmei-meum pouco e voltei paraminha sala.

Mais tarde, Frederico,supervisor da fábrica, foiaté meu escritório. Pareciaque primeiro queria ver seeu estava mais calmo, poissabia que o problema tinhamexido comigo. Quandosentiu minha tranqüilidadecomeçou a dizer:

– Preciso conversar com você, Venceslau.– Pois não, pode falar. – Frederico era bem

ponderado, e eu iria ouvi-lo com toda a atenção.Porém, o que ouvi não foi nada agradável.

– Você cometeu um grande engano, Venceslau!Gustavo não errou. No dia que o problema aconteceuele nem sequer estava aqui. Estava realizando umtrabalho externo de assistência técnica.

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– Não foi ele???– Não. E o pior de tudo é que agora ele resolveu

sair da Máxima. Você sabe que ele é um de nossosmelhores funcionários e uma peça-chave no processode produção. Será difícil encontrar outro profissionalcom sua competência e precisamos fazer de tudo paranão perdê-lo.

– Disso, eu não tenho dúvidas.– Quando conversou comigo ele alegou que já

estava cansado de suas explosões, Venceslau. O pioré que, além de nos fazer muita falta, se ele for trabalharna concorrência também nos incomodará bastante.A saída dele nos trará uma série de contratempos.Isso sem dizer que achar um novo funcionário parasua função nos dará um grande trabalho, além de serrepresentativo o custo de contratação de um novoprofissional para o cargo. Tudo isso sem contar apossibilidade de se contratar erradamente e, ainda,do tempo de treinamento com o novo funcionário.Você sabe... Talvez Gustavo possa reconsiderar suadecisão de deixar a empresa, se você reconhecer queerrou nesse caso.

Eu me sentia cada vez mais desconcertado comas observações de Frederico, tão pertinentes. Sem sepreocupar com o que eu estivesse sentindo, eleprosseguiu:

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– Já tentei conversar e minimizar o problema,mas Gustavo parece irredutível. Ele disse que sabeque você tem um bom coração e em muitosmomentos parece boa gente, mas quando explodefala coisas que ofendem profundamente as pessoas.Quer saber o que mais ele me disse? Que ficapensando como pode alguém ser assim. Que ele tematé a impressão de que são duas pessoas diferentes:uma bem agradável e outra extremamentedesagradável. Só que ele não quer mais agüentar esseseu lado desagradável, Venceslau. Disse que estádecidido, e que essa foi a última vez que você o tratouassim. Essa foi a gota d’água. Minha esperança éque você consiga reverter essa decisão

Eu já sabia que Gustavo era uma pessoaresponsável e dedicada, além de muito inteligente.Certa vez, eu o escutei dizendo que havia aprendidoa fazer de cada erro um aprendizado, já que seu paisempre o motivava a tentar novamente, e que o lemade seu pai era: “todos cometem erros, o que não sepode é cometer o mesmo erro duas vezes”. Assim,sem medo de errar ia aprendendo as formas de acertar.Ele dizia também que, além de fazer tudo da melhorforma possível, sempre procurava achar uma maneiramelhor, mais econômica ou mais rápida de fazer asatividades. Isso o tornava o mais criativo da equipe.Sempre que precisávamos pensar em alguma

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inovação, Gustavo era chamado. Diziam que pareciaque ele tinha uma luzinha acesa dentro dele, já que,virava e mexia surgia com uma nova e brilhante idéia.

Enquanto pensava isso tudo, escutei Fredericodizendo:

– Gustavo me afirmou que não está gostandomais do trabalho como antes. Aliás, desde que vocêcomeçou na empresa as coisas mudaram bastante paraele, segundo diz. Toda vez que ele comete algum errovocê chama sua atenção na frente de seus colegas ede uma forma que nem lhe permite se justificar. Opior de tudo é que o medo de errar já começou afazer parte de sua rotina e com isso ele deixa tambémde tentar fazer coisas novas.

– Mas eu sempre tento valorizar suas idéias...– Desculpe, Venceslau, mas não é o que ele sente.

Aliás, em função do modo como é tratado por vocêestá evitando tomar novas atitudes, tentar inovar. Tudoporque, se cometer qualquer erro, acabará vendo umaexplosão sua, e não está a fim disso. E sabe o quemais, Venceslau? Gustavo disse que, cada repreensãoque recebe de você o deixa arrasado. E ele acreditaque dessa vez foi demais e quer dar um basta nasituação. Afirmou que a Máxima era uma empresamuito agradável de trabalhar antigamente. Agora, jánão desperta nele aquele prazer que tinha de vir parao trabalho.

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Depois de ouvir Frederico, conclui,evidentemente, que eu estava errado. Procurei, então,por Gustavo e pedi desculpas. Usei vários argumentos,mas ele estava decidido, não ficaria mais na empresa.

O pedido de demissão de Gustavo repercutiu emtoda a Máxima. Isso fez com que Dirce refletisse sobreo meu comportamento. No fim do dia ela me chamoupara conversar.

– Venceslau, não é a primeira vez que euobservo como você trata as pessoas e isso tem medeixado bastante triste. Não era assim que Jamil eeu agíamos normalmente e eu não gosto de suaforma de tratar as pessoas quando erram.

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E AGORA, VENCESLAU?

Nossos colaboradores precisam ser tratados comrespeito, e quando você os trata dessa maneira nãoestá agindo de acordo com nossos valores. Acreditoque é possível conseguir resultados positivos semimpor nada, sem mandar as pessoas fazerem. Antesde você não se ouviam gritos na empresa, e vendermuito, mesmo com boa lucratividade, não ésuficiente para você permanecer na Máxima. Aqui oclima que reina é de harmonia e eu não tolerarei outraexplosão sua.

Eu fiquei sem saber o que responder. Vendominha atitude ela disse:

– Você sabe que aqui na Máxima temos oprograma de Participação nos Lucros e Resultadospara toda a equipe de colaboradores, não é?Acreditamos que com o PLR as pessoas sãoincentivadas a produzir mais e melhor. É isso quealmejamos. E outra coisa, Jamil possuía o hábito depedir ao invés de mandar os outros fazerem. E sempreconseguiu o que queria simplesmente pedindo. Pensenisso também!

Como já é sexta-feira, sugiro que você use ofim de semana para refletir sobre o que aconteceue pense em formas de se controlar.

Os acontecimentos pegaram-me de surpresa,já que nem por um momento imaginei que issofosse acontecer. O pior de tudo é que eu nemsoube o que responder, mesmo sendo um homem

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da área comercial,acostumado a argu-mentar e defender meuspontos de vista.

Saí da conversacom Dirce, sim-plesmente arrasado.Não podia perderaquele emprego. Claroque Conceição, comosempre, me apoiaria,mas, e meus doisfilhos? O que iria dizera eles se fosse demitidomais uma vez? Seria aterceira demissão se-guida. Que exemplosdaria a meus filhoscom mais esse fra-casso? Será que preci-

saria passar por mais essa lição? Ou será que era avida me dando mais uma oportunidade para euaprender?

À noite, em casa, minha esposa tentou em vãodescobrir o que me atormentava:

– O que aconteceu, Venceslau? Por que estáassim pensativo? Posso ajudá-lo?

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E AGORA, VENCESLAU?

– Infelizmente, não. Acredito que, mais uma vez,eu tenha de resolver esse problema sozinho. Preciso,primeiro, digerir tudo o que aconteceu, para, depois,conseguir falar sobre o assunto. Aconteceu umepisódio muito ruim na Máxima, e eu ainda não seiqual a melhor atitude a tomar. Fui, inclusive,chamado a atenção pela Dirce. Quero descobrir oque fazer!

Naquele momento eu precisava era me isolar.Queria pensar no acontecimento em si, tentarentender como agir. Como Conceição me entendiabem, sabia que eu iria ficar assim até encontrar umaresposta para meus questionamentos. Além de nãome perturbar, escutei que dizia para os nossos filhos:

– Diego e Rafael, por que vocês não vão passar ofim-de-semana na praia, na casa de sua tia Mariana?Quer que eu ligue para ver se ela vai estar em casa?

– Que é isso, mãe? Vai perguntar pra macaco sequer banana? É claro que queremos.

Pensei, então: que mulher maravilhosa eu tenho!Além de não me perturbar ainda tira os rapazes decasa para que eu tenha mais sossego. Vou descobrirqual é o problema. Será que o acontecido tem algo aver com minhas duas últimas demissões?

Aquele foi um dos piores fins-de-semana queeu já passei. Isolei-me tentando entender oproblema. Possuía um bom raciocínio lógico,como é comum aos engenheiros, mas não

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conseguia ver nenhuma lógica no fato. Era difícilaceitar o que estava acontecendo. Uma enormeangústia foi tomando conta de mim. Passei o fim-de-semana todo refletindo e não cheguei aconclusão nenhuma.

Na segunda-feira fui trabalhar, mas já não era maiso mesmo. O medo passou a ser minha companhiaconstante. Já não era aquele líder altivo e dono demim mesmo, estava com medo de gritar com alguéme ser demitido. De uma hora para outra me torneicabisbaixo e com a aparência de um derrotado. Assimpermaneci no trabalho e em casa. Em algunsmomentos me dava uma vontade enorme de chorar,mas não queria parecer fraco. Aprendi que homemnão chora, que isso é coisa de pessoas fracas, só quesentia que precisava fazer isso. O pior é que nãoconseguia...

Na terça-feira, procurei Dirce e conversei comela. Sabia que ela era uma pessoa extremamentecompreensiva e esperava que me entendesse.

– Dirce, quero que saiba que estou disposto amudar. Farei o possível para não gritar com maisninguém aqui na Máxima. Preciso de seu crédito deconfiança porque não quero sair da empresa agora.Ainda não sei como, mas farei de tudo para mecontrolar. Você não irá se decepcionar comigo.Tenho passado por diversas mudanças e sei que

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E AGORA, VENCESLAU?

elas são uma constante em nossas vidas. Ireidescobrir a melhor forma de resolver esse problema.

– Tudo bem, Venceslau, eu confio em você!Também quero que você permaneça entre nós,só que suas atitudes não condizem com nossosvalores. Precisava mostrar-lhe isso.

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DESCOBRINDO O PROBLEMA

Na quinta-feiraseguinte ao episódioacontecido entre mim eGustavo, resolvi pro-curar ajuda externa.Sabia que ter amigosé um dos bens mais

preciosos que alguém pode possuir,e eu, sozinho, não estava encontrando a solução parameu problema. Já havia se passado quase uma semanasem que nem ao menos eu compreendesse totalmenteo que precisava fazer. O pior é que se eu ficassenervoso de novo estaria demitido. Não poderia correresse risco, precisava entender melhor a situação.Também não poderia continuar com aquele medoterrível.

Esperava que o acontecimento fosse só maisuma pedra na minha trajetória rumo ao sucessoprofissional. Uma das minhas filosofias de vida é

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E AGORA, VENCESLAU?

que “quando se busca o cume da montanha, não sedá importância às pedras do caminho”. O detalhe éque essa pedra não era pequena e não dava parachutar ou simplesmente retirar dali. Acreditava queera normal encontrar obstáculos, porém, nesse caso,cheguei à conclusão de que não era algo simples deresolver. Senti que em função do tipo da pedratambém não dava simplesmente para contornar ouescalar. Por isso, resolvi buscar o apoio de amigospara ajudar-me a tirar essa pedra do meu caminho.Ou, quem sabe?, como dizia Conceição, transformá-la em um imenso degrau...

Depois de pensar em quem poderia me ajudar,liguei para Henrique, meu amigo desde antes dafaculdade e que agora tinha se tornado empresário.Fiquei feliz quando soube do sucesso que ele estavatendo em seu empreendimento e contei rapidamenteo que havia acontecido na Máxima e nas outras duasempresas em que trabalhei antes. Depois dediscutirmos um pouco o assunto, programamos passaro fim-de-semana juntos. Decidimos ir para o sítio doHenrique, que ficava nos arredores de uma cidadepróxima. Como a segunda-feira seguinte seriaferiado, teríamos três dias para descansar e discutiro problema.

Henrique gostou imensamente dapossibilidade de nos encontrarmos. Falou-me quetambém andava precisando discutir algumas coisas

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com alguém de sua confiança. Ser empresário eramuito bom, mas a solidão no momento de tomardecisões era uma constante e estar comigo seriauma oportunidade ótima para compartilharalgumas idéias.

Liguei também para Conceição, contei a conversacom Henrique e pedi que ela combinasse a viagemcom Júlia, esposa de Henrique. Sabia que elas iriamgostar da idéia, já que também eram amigas desdeantes de nos casarmos. Já fazia um bom tempo quenão se encontravam em função de morarmos emcidades diferentes e do corre-corre da vida. Seriaótimo um fim-de-semana juntos.

Todos nós sabíamos que seriam momentosespeciais. Conhecíamo-nos há muitos anos e orespeito e companheirismo eram uma constante emnossos relacionamentos. Entre nós não existiammeias-palavras e nos conhecíamos o suficiente parasaber que qualquer coisa que fosse dita seria decoração e visando ajudar o outro. E isso era tudo oque eu precisava no momento.

Conforme havíamos previsto, Conceição e Júliaadoraram a idéia. Cuidaram de tudo para que aquelefinal de semana fosse especial. Conceição contoupara a amiga que eu andava com problemasprofissionais e que acreditava que meucomportamento como líder era o responsável porisso. Porém, ela não sabia o que fazer para me

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E AGORA, VENCESLAU?

ajudar. Esperava que juntos encontrássemos umasaída para o que andava acontecendo. Ela sentiaque eu estava ameaçado de ser demitido, pelaterceira vez consecutiva. Combinaram ir para osítio sem levar nossos filhos, já adolescentes, paraficarmos mais à vontade.

Henrique me contou que, quando chegou à suacasa, foi logo dizendo para Júlia:

– Precisaremos ajudar o Venceslau. O que seráque ele anda fazendo de errado? Pelo que conheçodele, o problema não está na sua competência...

– Eu não tenho a menor idéia do que possa ser,Henrique. Tomara que no final de semana consigamosentender.

Na sexta-feira, no início da noite, chegamos aosítio. A conversa transcorreu tranqüilamente entremim e Henrique na varanda, e entre as duas amigasna sala. Henrique partilhou comigo alguns problemasque tinha em sua empresa e eu o ajudei com idéiasque ele considerou ótimas. Prometeu implantartodas elas e esperava que surtissem bonsresultados.

Já era bem tarde, quando Henrique sugeriu queno dia seguinte fizéssemos uma mesa redonda, comofazíamos no tempo de estudantes. Era uma épocaótima aquela em que brincávamos com o “jogoda verdade”. Só que agora seria diferente, íamosdiscutir o meu problema. Quatro cabeças

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buscando uma solução. E como Júlia era psicóloga,e trabalhava na área de recursos humanos em umagrande empresa, provavelmente sua experiênciaajudaria na busca de uma melhor solução.

Sentamo-nos, e os pensamentos nos levaram devolta aos tempos de estudantes universitários, quandoa semana era para estudar e trabalhar. Lembramo-nos que na sexta-feira à noite, após colocarmos acerveja para gelar e prepararmos a carne para ochurrasco do sábado, ficávamos horas jogandobaralho, war ou jockey até quase amanhecer. Eram bonstempos, quando cinco jovens casais se encontravampelo menos uma vez ao mês, na cidade do interioronde morávamos.

Com o nascimento de nossos filhos e, ainda, ofato de termos nos mudado para cidades diferentes,já fazia muitos anos que não passávamos um final desemana juntos, só os amigos, sem as crianças. Agora,com os filhos já adolescentes, tivemos condiçõesde nos reunirmos daquela forma.

Nós quatro estávamos excitados com aoportunidade de estarmos novamente juntos epodermos discutir alguma coisa. Tínhamos umproblema e queríamos resolvê-lo. Parecia até queo problema era de outra pessoa e não meu.Sentimos que éramos jovens como no tempo deestudantes. Resolvemos que, após o almoço dosábado, tiraríamos uma soneca, e assim que

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E AGORA, VENCESLAU?

acordássemos começaria a discussão para ver sechegávamos a um resultado satisfatório. Todosnós confiávamos que sim.

Durante a manhã daquele sábado voltamos notempo. Veio à lembrança de todos nós a história docasamento de Henrique e Júlia que aconteceu antesmesmo de se formarem. Rimos muito quando noslembramos que alguns amigos e eu roubamos a noivae o noivo e os levamos em direções diferentes. Só seencontraram algumas horas mais tarde em umachurrascaria onde comemoramos seu casamento.Como não teria festa, impedimos que elesviajassem no dia do casamento para a lua-de-mel.Outras lembranças vieram à tona e isso fez comque o grupo ficasse ainda mais unido e serviu paraselar a amizade que existia entre nós.

Conforme havíamos combinado, no fim datarde nos reunimos na sala, após tirarmos umgostoso cochilo. Era inverno e a temperatura erabastante amena. Henrique e eu, durante a manhã,preparamos a lareira para acendermos quando anoite chegasse. Havíamos visto a previsão dotempo que mostrava a chegada de uma frente frianaquela tarde, na região, e como estávamos emuma área montanhosa, sabíamos que o frio seriaintenso. Certamente, a lareira acesa faria oambiente ficar ainda mais aconchegante.

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Sentamo-nos confortavelmente com o objetivode pensarmos no meu problema. Apesar de estarmosem casa, Henrique sugeriu que usássemos algumatécnica para solução de problemas. Pensamos emalgumas, e quando Júlia sugeriu uma sessão debrainstorming. Henrique e eu concordamos, deimediato, que seria o mais indicado para a situação.Foi então que Conceição perguntou:

– Como é isso? Como funciona?– É uma “ferramenta da qualidade” e, serve para

entender algum problema ou para gerar idéias. Apalavra brainstorming quer dizer tempestade de idéias.Todos os participantes falam o que pensam, unspegam carona no que os outros dizem e, assim, seconsegue um grande número de idéias. Depois seanalisa o que foi dito. Na maioria das vezes seconsegue chegar à causa fundamental dos problemasusando essa técnica.

– Essa eu não conhecia, Júlia. Interessante!– Conceição, você pode anotar para nós? Assim,

depois, Venceslau poderá ler e analisar melhor.Estando escrito, não se esquecerá.

– Claro. Assim aprendo mais ainda.– Mas suas idéias também são importantes, não

deixe de dá-las. Afinal, ninguém aqui me conhececomo você, meu amor. Falei entusiasmado com asituação.

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E AGORA, VENCESLAU?

– Tudo bem, Venceslau. Mas, imagino que vocêvai ter de tomar cuidado para não querer se justificar,cada vez que alguém falar alguma coisa.

– É isso aí, Conceição. Isso será fundamentalpara o sucesso deste brainstorming.

– E qual será a questão a ser discutida?– O que acham de: quais atitudes no

comportamento de Venceslau podem estar lheprejudicando como líder?

– Boa idéia. Concordei.– Vamos fazer o possível para descobrir quais as

causas, para conseguirmos chegar à melhor solução.– Precisamos encarar a situação de forma

aberta e sincera.– Como sei que aqui todos gostam de mim, eu

prometo que não ficarei zangado com nenhumcomentário. Podem dizer o que quiserem.

– Seria o cúmulo se você ficasse chateado com agente, Venceslau. Afinal, você é quem precisa de nósneste momento – Conceição falou, sorrindo.

Assim selamos um pacto de fazermos o possívelpara entendermos o porquê de minhas últimasdemissões.

Não foi uma sessão de brainstorming comum, dotipo que estávamos acostumados a fazer, porque,sendo um problema pessoal, acabou tomando outrasdimensões. Para começar, contei o que aconteceu nasemana anterior, na Máxima, e os problemas nas

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outras empresas, das quais fui demitido. Depoisdisso, procuramos nos lembrar de situações quepoderiam ter sido problemáticas, durante nossoperíodo de relacionamento. As lembranças foramuma constante durante todo o tempo. Osresultados foram acima de qualquer expectativa.Relacionamos várias atitudes e situações e, depois,todos nós concordamos que o problema era meutemperamento: eu era muito explosivo. Outracausa provável era o fato de eu ainda liderar nabase do “comando e controle”.

Como não poderia deixar de ser, tenteijustificar minhas atitudes.

– Não se esqueçam que, sempre que estourocom alguém sem motivos, eu peço desculpas.

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E AGORA, VENCESLAU?

Conceição aproveitou a oportunidade edesabafou:

– Venceslau, você já fez isso muitas vezes comigoe pedir desculpas minimiza o problema, mas nãoresolve. Posso até desculpar porque gosto de você,mas esquecer é diferente. Vou me lembrar de suaatitude ainda por muito tempo. Outro detalhe é quemuitas vezes parece que você nem percebe que trataos outros agressivamente. Por muitas vezes foramnossos filhos que ajudaram para que eu o aceitasse,assim como é.

– É. Estou me lembrando. Uma vez seu irmãoestava me ajudando a colocar uma cortina e, fezum buraco enorme na parede. Então, eu brigueicom ele e você até me chamou de ignorante.

– É claro! – ela comentou desarmando-me: –Ele estava lá para ajudar, e você simplesmente viuo erro dele e não mediu palavras. Foi logodescarregando sua fúria. Você não aceita os errosdos outros, Venceslau!

Estava começando a entender o que vinhaacontecendo, e isso começou a mexer comigo.

Foi então que Henrique comentou sobre ofato de que atualmente a liderança na base do“comando e controle” não conseguia obter omesmo resultado de há alguns anos atrás. Eleexplicou que as empresas adotaram esse tipo deliderança porque funcionava muito bem nas forças

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armadas. Durante um bom tempo deu certo tambémnas empresas, mas à medida que entravam nomercado de trabalho esses jovens que foram criadossem autoritarismo, era preciso buscar novos estilosde liderança. Inclusive comentou sobre o sucessoda liderança servidora, que havia sido o estilo usadopor Jesus Cristo e que atualmente estava sendoestudada por vários líderes.

Júlia então se lembrou de um texto e contou paratodos nós. Ela desconhecia o autor, mas imaginavaque me faria refletir em relação a minhas atitudes.O texto se chamava “A cerca” e era mais ou menosassim:

“Era uma vez um menininho que possuía ummau temperamento. Seu pai lhe deu um saco cheiode pregos e lhe disse que cada vez que perdesse acalma, ele batesse um prego na cerca dos fundosda casa.

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E AGORA, VENCESLAU?

No primeiro dia, o menino tinha pregado 37pregos na cerca. Porém, gradativamente o númerofoi diminuindo. O garotinho descobriu que era maisfácil controlar seu gênio do que pregar pregos nacerca. Finalmente chegou o dia que o menino nãoperdeu a calma nem uma vez. Ele então falou a seupai sobre isto que lhe sugeriu que ele agora tirasse dacerca um prego para cada dia que ele fosse capaz decontrolar seu gênio e não perder a calma.

Um bom tempo se passou e o menininho estavafinalmente pronto para dizer a seu pai que tinharetirado todos os pregos da cerca. O pai, então, opegou pela mão e foram até a cerca. E lhe disse:

– Você fez muito bem, meu filho, mas, veja sóos buracos que restaram na cerca. A cerca nuncamais será a mesma! Quando você fala algumascoisas com raiva, elas deixam cicatrizes nas pessoascomo estes buracos aqui. Você pode esfaquearalguém e retirar a faca em seguida. Não importaquantas vezes você peça desculpas, a ferida aindaestará lá. Um ferimento verbal é a mesma coisaque um ferimento físico.”

Quando Júlia terminou de contar o caso,percebeu o quanto havia mexido comigo. Eu játinha recebido essa historinha pela internet, e lido,mas não havia percebido sua profundidadeanteriormente. Eu nunca parei para pensar noassunto, muito menos achava que meu pedido de

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desculpas poderia não ser suficiente para apagar amágoa que havia causado. O pior de tudo foiperceber que muitas vezes eu nem pedi desculpaspor minha atitude, porque achava que nãoprecisava, em função do outro ter realmentecometido algum erro. Naquele momento entendi que,nem mil erros de outra pessoa justificavam um erromeu.

Sabia que estava com pessoas que gostavam demim e que não estavam ali para acusar-me de nada,mas minha consciência estava pesada e eu fiqueisem saber o que fazer depois daquelasconstatações. Henrique sugeriu que mudássemosde assunto, já que havíamos chegado à causaprincipal do problema. Todos nós concordamos.Se sentíssemos necessidade, voltaríamos ao temano dia seguinte pensando no que fazer. O maisimportante é que todos nós acreditávamos quetínhamos detectado qual era o problema.

O frio estava começando a incomodar eHenrique foi acender a lareira e abrir um vinho.Júlia e Conceição foram para a cozinha prepararalgo para comermos. Sem que ninguém precisassefalar nada, todos tiveram atitudes semelhantes.Resolveram deixar que eu absorvesse minhadescoberta: Era explosivo e independentementede ter ou não razão em relação ao erro do outro,não poderia tratar ninguém daquela forma. O que

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E AGORA, VENCESLAU?

mais me preocupou foi constatar que minhasatitudes já estavam tão enraizadas que eu as tomavade forma automática. Eu já havia absorvido essemeu comportamento de tal forma que na maioriadas vezes agia sem notar. Naquele sábado, eu estavatomando consciência de coisas que nunca tinhaimaginado a respeito de meu comportamento.

Não conseguia nem me levantar das almofadas.Fui me encolhendo cada vez mais. Meus pensamentosfervilhavam. Parecia que um filme estava passandodiante de mim. Lembrei-me de várias situações emque havia sido explosivo, tanto em meu trabalhoquanto em família, e pensava na história da cerca enaqueles tais “buracos” que poderia ter deixado naspessoas. Naquele momento esqueci-me de todas asvirtudes que possuía. Não conseguia me lembrar dossucessos alcançados, nem dos inúmeros elogios quejá havia recebido. Por algum tempo me senti a piordas criaturas e cai em prantos. Chorei, nem sei porquanto tempo. Os três deixaram que isso acontecesse.Entendiam o que estava acontecendo comigo erespeitavam. Fiquei assim até adormecer, ali na salamesmo, deitado nas almofadas.

Tentando entender minhas atitudes, comecei aperceber que acabava explodindo quando aconteciaalgum problema mais sério, ou quando me encontravasob grande pressão. Eu não aceitava os erros denenhum membro da equipe, principalmente

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quando isso pudesse prejudicar outras pessoas ou aempresa. Não importava se os acertos daquela pessoahaviam sido muitos até o momento. Quando ficavanervoso, eu só focava o erro. Trabalhar em vendasfez com que eu houvesse adquirido o dom deargumentar com as pessoas, de defender meus pontosde vista. À medida que refletia, fui descobrindo quena hora de chamar a atenção de alguém conseguiatantas razões, que geralmente deixava o interlocutorarrasado.

No domingo e segunda, nem a presença depessoas tão queridas conseguia me fazer ficar alegre,nem por um momento sequer. E logo eu, que souuma pessoa tão positiva, otimista, entusiasmada coma vida e bem-humorada. Agora era o momento dechegar a minhas próprias conclusões e resolver o quefazer. Seria uma decisão pessoal, já que quem teria demudar o comportamento seria eu, e meus amigos nãoestariam juntos no meu dia-a-dia para lembrar-me daimportância do autocontrole.

Mesmo ainda me sentindo muito mal, procureiJúlia para conversar. Pensava que sua formação eexperiência poderiam me ajudar.

– Mudar a sua personalidade é algo raríssimo,mas o seu comportamento é possível mudar. Bastaque você queira, Venceslau! A primeira providênciaa ser tomada é você tomar consciência danecessidade de mudança em suas atitudes, enxergar

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E AGORA, VENCESLAU?

que está agindo de forma errônea. Parece que isso jáestá acontecendo... Não é, meu amigo? Depois,buscar em seu interior os motivos para querer mudare aí iniciar vigiando seus pensamentos. Isso porque,quando pensar diferente, conseguirá falar outrascoisas e agir de outras formas, o que acabará tornandoesse novo comportamento um hábito. Você nãoconseguirá resultados diferentes se continuar a agirda mesma forma que vem agindo até agora.

– Claro, Júlia.– Sugiro que procure um bom profissional para

tentar se conhecer melhor e descobrir o que precisaser feito. Acredito que uma psicoterapia possa ajudarvocê a descobrir suas principais características maisrapidamente que se o fizer sozinho. Conhecendo seuspontos fortes, você poderá potencializá-los e, ainda,encontrar em sua equipe pessoas que tenhamcaracterísticas opostas às suas como pontos fortes,para que possam complementar aqueles que sejamseus pontos fracos. Isso levará a equipe que estiverliderando a conseguir melhores resultados. Afinal,esse é o seu grande desafio: conseguir bonsresultados em curto prazo!

– Será que vou conseguir, Júlia?– Fique tranqüilo, Venceslau, porque muitos

homens bem-sucedidos na vida sofreram derrotastemporárias e as superaram, além de terem se tornadomental e espiritualmente mais fortes. Você terá mais

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dores de estômago se tiver que corrigir os resultadosde uma explosão, do que se engolir palavras cruéisque deixou de dizer. E ainda, em um momento defúria, sua pressão poderá subir e acabará tendo algumproblema grave com sua saúde.

Júlia lembrou-me do que ela havia lido em A

Arte de Liderar sobre a importância de se elogiar empúblico e se fazer críticas em particular. Ela explicou:

– Quando você explode com alguém, outraspessoas presenciam e vêem que você está chamandoa atenção daquele que cometeu algum erro e issoacaba por deixar a pessoa repreendida com a auto-estima baixa. Ninguém gosta que de ter seus errosmostrados na frente de outras pessoas. Aconseqüência disso pode ser a diminuição damotivação. Como você pode querer obter bonsresultados com uma equipe desmotivada? Talvez issojustifique os resultados negativos que provocaram suaúltima demissão. Além de controlar suas explosões,você precisará buscar aprender técnicas de passarfeedback para as pessoas.

– Quanta coisa para mudar, minha amiga...– Pois é, querido, no mundo de hoje está cada

vez mais para baixo aquela figura autoritária a quemse deve obedecer sem questionar, seja na vidaprofissional ou até mesmo na política, na religiãoou na vida familiar. As pessoas precisam entenderos porquês para, assim, melhorar.

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E AGORA, VENCESLAU?

Observe como vem criando seus filhos e pensena forma como foi criado. Provavelmente verá queos jovens de hoje não são educados para aceitar líderesautoritários. Os jovens não vão para o mercado detrabalho para ficar ali até se aposentarem, comoantigamente. A quantidade de informações que têmà disposição faz com que busquem novasoportunidades quando não se sentirem satisfeitos.Tudo isso torna a liderança cada vez mais difícil edesafiadora.

– Vamos lanchar, gente?– Ah, Conceição... Sinto como se não pudesse

mais reagir diante de nada. Acho que tenho queaprender a ficar calado.

– Ainda está tudo muito forte para você, meuquerido. Mas, não é nada disso. Nem gritar, nem calar.Tudo nos extremos é prejudicial. O importante é sabercomo falar.

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E AGORA, VENCESLAU?

Após aquele fim-de-semana eu estava decidido:não iria perder meu emprego, principalmente apóster tomado consciência dos motivos que poderiamme levar a perdê-lo. Durante anos eu busquei serum profissional melhor e agora entendi que, paraisso, precisava, primeiro, me tornar uma pessoamelhor. Sabia que não seria nada fácil, mas eu fariao possível para que esse fosse só mais um desafioa ser vencido. Aprendi que não era possível fazeras mesmas coisas e conseguir resultados diferentes,por isso buscaria novos métodos de controle. Amudança precisava começar por mim mesmo e éisso que iria acontecer. Lembrei-me de uma frasede Aristóteles “Somos o que repetidamentefazemos. A excelência, portanto, não é um feito,mas um hábito”. Então eu iria fazer o possível paraadquirir um novo hábito – ter um novocomportamento e, principalmente, não gritar comas pessoas.

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E AGORA, VENCESLAU?

Enquanto refletia sobre o acontecido no finalde semana, lembrei-me de uma pergunta que umamigo me fez há alguns anos atrás e que meincomodou, mas que, na época, não dei a devidaimportância:

– Venceslau, como você consegue se controlar enão explodir com seus clientes, mesmo quando eleso provocam tanto, e não consegue se controlarcom as pessoas de quem você mais gosta?

Agora essa pergunta não saía da minha cabeça.E como doía! Estava dando a meus clientes maisimportância que a minha família? Portanto, precisavamudar meu comportamento junto à minha famíliatoda. Quantas vezes eu tinha explodido com meusfilhos? Nem me lembrava. Quantas vezes eu tinhatratado Conceição com grosseria? Várias.

A partir de agora eu faria o possível para tratarminha esposa e filhos, meus irmãos e todos da minhafamília, os colaboradores da empresa onde trabalhavae outras pessoas com as quais convivia, assim comoeu tratava meus clientes. Não iria explodir com maisninguém! Sabia que à medida que fosse praticando, oautocontrole ficaria mais fácil. Estava conscientedas dificuldades que iria enfrentar, mas precisavame superar e melhorar meu comportamento.

Recomecei a semana de trabalho me sentindorenovado. Não havia recuperado ainda minha alegriahabitual, mas o tempo me ajudaria. Sabia que esse

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é, normalmente, um bom aliado. Faria tudo que fossepossível para ser uma nova e melhor pessoa.

Comecei a estudar como resolver meu problema.Li alguns artigos sobre o assunto e procurei conversarcom outras pessoas que eu achava que poderiam meajudar. Perguntei também a alguns amigos seconheciam um bom terapeuta para trabalharclinicamente meu problema. Precisava entenderporque ficava nervoso a ponto de explodir daquelaforma. Minha primeira reação foi a de continuarauto-suficiente como até então, mas não teria maisoportunidade para errar. Então, a ajuda de umprofissional parecia a melhor solução. Sabia que omercado é implacável com quem erra mais de umavez.

No primeiro dia de terapia, escutei que o primeiropasso era saber que há deficiências a serem superadas.Hélio, o terapeuta, me disse:

– Se você não reconhece o problema, como vaireconhecer a cura? Esse conhecimento é a base detudo. Você deve estar continuamente se analisandoe sendo ajudado, por outras pessoas, a se analisar.Muitos profissionais não mudam porque não sabemque precisam mudar. O questionamento é a chavepara a melhoria contínua. É preciso aprender a sequestionar: Se estou vendo isso dessa forma, porquenão vejo de outra? Mudar o foco, como o artista queolha a mesma paisagem sob diversos ângulos.

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E AGORA, VENCESLAU?

Aprender a fazer as perguntas certas para si mesmoe para os outros. O processo pelo qual você passoucom seus amigos foi a base, agora será mais fácil.

– É; já me haviam dito que só muda quem sentenecessidade de mudar...

– Pois é, mas a incapacidade de observar nossosverdadeiros sentimentos nos deixa à mercê deles. Aspessoas mais seguras acerca de seus própriossentimentos são os melhores pilotos de suas vidas.Quando uma pessoa está nervosa, ela olha semver e escuta sem ouvir. Serenamente controlada,seu cérebro funciona melhor.

Saí da terapia com uma vontade maior aindade mudar minhas atitudes. Entendi que oimportante naquele momento era procurarrecomeçar. Também precisava perdoar-me pelos

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fracassos e erros que cometera até então, procuraraprender com eles e programar minhas próximasações. Tinha consciência de que não poderia meiludir, achando que seria possível fazer tudo numdia só.

Pesquisando para tentar entender melhor oque acontecia comigo, descobri que ter um QIelevado, uma boa inteligência lógica matemática,era fundamental para aprender coisas novas eainda para conseguir um bom emprego, mas o queme levaria a atingir bons resultados e a serpromovido era desenvolver minha inteligênciaemocional. Então, descobri que precisavaaprender a controlar e gerenciar minhas emoçõese ainda gerenciar as emoções dos outros. Tentarsair de mim mesmo de tempos em tempos paraconseguir enxergar em que estava errando. Tomei,então, consciência de que minhas atitudes seriamresponsáveis pela minha permanência ou não noemprego.

Em minha nova fase de crescimento mudeiminhas leituras. Passei a dedicar-me mais aosestudos de liderança na busca de entender melhoras pessoas. Queria entender os outros e tambéma mim mesmo.

Em outra sessão de terapia fiquei sabendo que,em um ramo da psicologia, classificam as pessoasem função de seu temperamento e, aquele que

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E AGORA, VENCESLAU?

predominava em mim, tinha o nome de colérico.Hélio explicou-me que nosso temperamento é oque nos faz agir de uma forma ou de outra, namaioria das situações. Disse também que,normalmente, todos nós temos características dequatro elementos: colérico, sanguíneo, fleumáticoe melancólico, mas há a tendência de um delespredominar na personalidade. Que todos ostemperamentos têm pontos positivos e negativos,assim como tudo na vida.

Quando ouvi o termo colérico, fiquei assustado.Lembrava cólera, raiva. Tinha a impressão que issoera algo muito feio. Para mim, pessoas coléricas eramas que matavam outras, por não se controlarem.

Naquela noite, na primeira oportunidade que tive,entrei na internet e fui pesquisar sobre o tema. Então,descobri que cada pessoa, em função do seutemperamento, reage de uma forma quando enfrentauma situação qualquer. Vi um exemplo que me fezentender um pouco melhor: era a explicação de comoreagíamos quando víamos o caminho bloqueado poruma pedra. As pessoas chamadas “coléricas” selançam contra a pedra para esmurrá-la. Enquantoque no caso dos “sanguíneos”, eles imediatamentepulam o obstáculo, como se ele não existisse. Jáos “fleumáticos” param, sentam e ficam analisandoa decisão a tomar, para contornar o obstáculo. E,

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por fim, os chamados “melancólicos” não se contêm,apenas choram e lamentam a situação.

Na busca de entender a mim mesmo, descobrique as pessoas de temperamento colérico se destacampor ser aquelas de emoções fortes. Na sua maioria,são explosivas, impacientes, agressivas, orgulhosas,auto-suficientes e autoritárias. Olhando o lado positivodo temperamento descobri que, geralmente, tambémsão ousadas, dinâmicas, autoconfiantes, práticas,decididas, otimistas e, ainda, na maioria das vezes, nãose amedrontam diante das adversidades. Elasconsideram os problemas como desafios e, quandonão têm o que fazer, inventam. Boa parte dosrevolucionários e dos grandes empreendedores temesse temperamento. Possuem paixão pelodesconhecido, gostam de estar em ação enormalmente não se cansam facilmente. E, emmuitos casos, tornam-se grandes líderes. Assim,depois de entender um pouco do taltemperamento colérico, me senti melhor vendoque não são só características negativas.

Como cada temperamento possui aspectospositivos e negativos, não existe um que possa serconsiderado superior ou inferior em relação aosdemais. O que existe é um temperamento bom deacordo com uma determinada situação oucircunstância. Pensei, então:

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E AGORA, VENCESLAU?

– Ainda bem que, no decorrer de nossa vida,podemos buscar alcançar uma harmonia, visando ocrescimento do nosso equilíbrio pessoal. Precisobuscar ser um pouco mais dócil na forma de lidarcom as pessoas. Como em minha personalidadeexistem várias características positivas, irei fazer omáximo para potencializá-las, enquanto meesforço para que minhas emoções não mandemem mim. Sou eu quem tem que “comandar”minhas emoções, por mais fortes que sejam. Afinalsou racional... Não posso descartar esse dom deDeus. Assim, conseguirei alcançar o equilíbrio.

Em um domingo, quando lia o jornal, acheiinteressante uma reportagem que dizia que algunsatletas são altamente treinados, mas, às vezes,fracassam devido a algum problema emocionalcomo autoritarismo, ambição exagerada econflitos com colegas de trabalho. A reportagemfalava de um jogador de futebol que, mesmo sendoum goleador, não foi para a copa do mundo emfunção de suas atitudes, seu comportamento, suasbrigas com os colegas. Refleti sobre o assunto econclui que esse era um problema até bemcomum, mas nem por isso menos preocupante.

Em minhas pesquisas verifiquei que muitosindivíduos inteligentes não sabem trabalhar suasemoções. Descobri que não estava sozinho, mas issonão seria desculpa para minhas ações. Não queria

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63ser “mais um”, queria ser “alguém”. Então, precisavaagir diferentemente das outras pessoas. O erro dosoutros não poderia ser desculpa para mim mesmo.Quando sentisse muita raiva, iria tentar primeiropensar porque o outro disse algo ou agiu assim,refletir sobre o acontecimento e fazer o possível paranão me deixar dominar pela raiva.

Buscando fatos que poderiam ajudar a meconhecer, lembrei-me de uma reunião decondomínio que participei, na qual um doscondôminos estava extremamente nervoso. Elebrigou de tal forma com o síndico que conseguiuobter a antipatia dos participantes, incluindo aminha, ao invés de conseguir que entendessem seuproblema. Consegui me enxergar naquela situaçãoe ver que a explosão do condômino com o síndico

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E AGORA, VENCESLAU?

obteve um resultado contrário ao que ele precisava.Refleti um pouco mais e voltei a várias situaçõesnas quais eu explodi. Tentei também me lembrar dasvezes que tinha visto alguém agindo daquela forma.Conclui que o resultado é diferente do que se esperae agora eu enxergava que, na maioria das vezes, euera o responsável pelo resultado ruim, já que haviacausado em meu liderado não o que pretendia, masum sentimento diferente, às vezes até de raiva.

Numa conversa de boteco, num fim de tarde,Frederico, de quem cada dia me aproximava mais,comentou:

– Venceslau, você já pensou que talvez suasatitudes sejam porque tenha o “sangue quente”, porser descendente de italianos?

Este comentário foi fundamental em meuprocesso na busca do autoconhecimento. Identifiqueique na minha família outras pessoas, incluindomeu pai, a quem eu admirava muito, são tambémexplosivas. Claro! Foi isso que fez com que eucrescesse acreditando que esse comportamento eranormal! Conhecia muitas pessoas que eram tambémtemperamentais assim como eu. Porém, agora sabiaque eu estava errado, e não iria permanecer dessejeito. Existem muito mais pessoas que nãopossuem esse temperamento colérico. Mesmoentre meus oito irmãos não éramos todos iguais.

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E, a partir de agora, eu queria passar a fazer parte dogrupo dos não-explosivos.

Como possuía uma visão otimista da vida, nãoiria ficar me justificando. Antes, iria procurar encontrarformas de vencer a mim mesmo. Eu queria ser umvencedor na vida, não poderia ficar procurandodesculpas para justificar meus atos.

Comecei a discutir a situação com várias pessoasde meu relacionamento, principalmente comConceição, que se mostrava cada dia mais feliz comminha mudança. Descobri que, para vencer a mimmesmo, a primeira atitude era começar a seguir oconselho de Sócrates, retomado por Peter Druker,duas “feras do pensamento”: “Conheça a ti mesmo”.Sabia que só assim conseguiria descobrir quais eramminhas características e, com isso, saber quais eramminhas principais virtudes e defeitos. O quê poderiaser usado como pontos fortes e o quê precisavaser trabalhado, para não se tornar pontos fracos.Iria trabalhar não somente minhas explosões, mastambém outras características para ser um lídermelhor e chegar ao sucesso neste novo cenáriodo mercado de trabalho.

Entendi também que os jovens atuais nãoestavam habituados com atitudes como as que eutivera com Gustavo. A maioria deles tem pais queconversam com eles, que respondem a seusporquês e não os obrigam a fazer alguma coisa.

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E AGORA, VENCESLAU?

Antes, procuram mostrar as razões pelas quais precisaser realizada alguma atividade. Agora compreendiaporque aqueles jovens não faziam o que eu mandava– eles não estavam acostumados a ser “mandados”,queriam entender o que deveria ser feito e nãosimplesmente fazer porque alguém determinava.

Compreendi que as gerações anteriores nãodavam explicações aos próprios filhos, não respondiaà maioria das suas perguntas. Simplesmente diziam:façam porque eu estou mandando! E os filhosprecisavam obedecer aos pais para evitar sercastigados. Não se explicava quase nada, mas secastigava por quase tudo. Isso fez com que, quandopais, buscassem uma nova forma de criar seus filhos.Então, passaram a explicar os porquês de cada nãoque diziam.

Provavelmente, isso contribui para que osjovens que hoje entram no mercado de trabalho,não queiram trabalhar com líderes autoritários, dotipo “manda quem pode, obedece quem temjuízo”. Os jovens dessa nova geração não aceitam,absolutamente, se enquadrar na forma que lhes éimposta. Eles querem ser participativos, se sentirúteis e responsáveis. E, principalmente, não sesubordinam a quem os agride verbalmente. Dizemque nem seus pais os tratam assim. O fato é quenão estão dispostos a aceitar isso das chefias em

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seus locais de trabalho, o que, certamente, denotaum crescimento da nossa sociedade.

Procurei me lembrar dos membros de minhasequipes que pediram demissão ao longo de minhacarreira de líder e entristeci-me com o fato de não tercompreendido isso antes. Eu descobri que nasempresas em que fora demitido, havia perdido algunsexcelentes profissionais. E agora sabia que nãoconsegui mantê-los em minha equipe em função demeu temperamento. Talvez não tivesse sido o motivoprincipal da demissão de cada um, mas com certezafoi um ponto forte na hora deles decidirem sair.

Era difícil aceitar que o modo de liderar na basedo “comando e controle” não funcionava mais nasempresas. Aliás, por muitas vezes até funcionava. Oque descobri foi que as pessoas que fazem suasatividades após terem sido mandadas não sãoaquelas com maior produtividade. Através dessaforma de liderar, se consegue bons resultadosimediatos. Entretanto, quando se pensa em médioe longo prazo, isso levava os liderados a buscaroutros empregos, por se sentirem intimidados enão motivados. A exceção fica para os casos emque os membros da equipe não têm alternativas,em função do seu pouco desenvolvimentoprofissional. Esses, por medo de perderem oemprego, até aceitam serem subjugados.

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Passei a investir uma boa parte de meusrendimentos em livros, e muito de meu tempodisponível passava na internet “devorando” tudo quepodia sobre mudança de comportamento. Tudo o queaprendia procurava colocar em prática. Isso porqueacreditava que poderia ser um líder melhor e isso é oque importava naquele momento. Estava conscientede que minha mudança faria com que eu me tornasseuma pessoa melhor e provavelmente mais feliz.

Vários textos que li me impressionaram e mefizeram refletir. Sentia que não era o único a passarpor uma grande transformação no comportamento.Prometi para mim mesmo que iria procurar algumaspessoas com idade mais avançada para compreenderum pouco mais sobre a essência do ser humano. Euque sempre desenvolvi habilidades na área lógica,agora estudava e tentava compreender as pessoas.Aquele assunto despertava meu interesse cada diamais.

Em uma de minhas incursões à internet,descobri que mau humor mata. Que aumentasignificativamente os riscos de um ataque cardíaco.Fiquei sabendo que pesquisadores da Universidadeda Carolina do Norte, nos EUA, descobriram que aspessoas que se irritam intensamente, e comfreqüência, têm três vezes mais probabilidades desofrer um infarto do que aquelas que encaram asadversidades com mais serenidade. Achei

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interessante saber que isso ocorre porque, a cadaepisódio de raiva, o organismo libera uma cargaextra de adrenalina no sangue. A concentraçãodesse hormônio no corpo aumenta o número debatimentos cardíacos e, ainda, estreita os vasossangüíneos, o que eleva a pressão arterial.

– Preciso me cuidar. Esse é mais um motivopara aprender a me controlar; para mudar meucomportamento. Não quero morrer ainda. Estoumuito novo para isso e gosto muito de viver.

Descobri também sobre a importância de sedividir as angústias com outras pessoas em vez deguardá-las até explodir. Estava provado que “paviocurto” faz mal ao coração, por isso também erapreciso usar de toda sabedoria para dominar meuestado emocional.

Foi numa dessas buscas para me conhecer edominar meu temperamento, que li uma velhahistória japonesa bastante interessante:

“Certa vez, um guerreiro samurai desafiou ummestre zen a explicar o conceito de céu e deinferno. Mas o monge respondeu-lhe comdesprezo:

– Não passas de um rústico... Não voudesperdiçar meu tempo com gente da tua laia!Considerando-se atacado na própria honra, osamurai teve um acesso de fúria e, sacando aespada da bainha, berrou:

– Eu poderia te matar por tua impertinência.

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– Isso – respondeu calmamente o monge – é oinferno.

Espantado por reconhecer como verdadeiroo que o mestre dizia acerca da cólera que odominara, o samurai acalmou-se, embainhou aespada e fez uma mesura, agradecendo ao mongepela revelação.

– Isso – disse o monge – é o céu.A súbita consciência do samurai sobre o seu

estado de agitação ilustra a crucial diferença entrealguém se sentir preso a um sentimento e tomarconsciência de que está sendo arrebatado por ele.Rapidamente era possível mudar de um estado decólera a um estado de tranqüilidade.”

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À medida que o tempo passava, mesmoentendendo que isso era muito importante na minhavida, descobria que não era nada fácil me controlar.Por várias vezes me vi tratando alguém de maneiraáspera. Não era o que queria, mas em situações degrande pressão, agia impulsivamente.

Era muito difícil vencer um hábito de tantos anos,assim, rapidamente. Tomar consciência de que eraexplosivo foi fundamental, mas não suficiente.Analisando minha vida, percebi que era assim desdea infância. Lembrei-me de que Conceição ficavachateada comigo sempre que eu explodia com alguéme que inclusive havia me alertado sobre a possibilidadede ter algum problema naqueles momentos. Eladizia:

– Algumas vezes você fica vermelhinho, vaiacabar tendo um infarto. Tome cuidado.

Agora, por várias vezes me isolava quando ficavacom vontade de brigar com alguém. Se eu sentia queestava começando a ficar nervoso, saía do local paratentar me acalmar, principalmente em família. Assimfui conseguindo não explodir, até que chegou o diado casamento de minha irmã e eu fui embora da festadeixando a família sem entender nada do que estavaacontecendo. No dia seguinte, Conceição conversoucomigo e juntos chegamos à conclusão de que seafastar não era a melhor solução. Eu precisavaarrumar outra forma de me controlar. Eu não

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explodia, mas meu isolamento também não era amelhor alternativa. Demonstrava, às vezes, falta deeducação. Ela me contou que, quando fui emborado casamento de minha irmã, meus pais ficaram bemchateados porque as fotos da família não ficaramcomo queriam, com todos os irmãos juntos. Eu nãoestava presente nas fotos.

Algumas vezes, ficava com a impressão de que asoutras pessoas não me entendiam. Eu falava que nãogostava de alguma coisa e mesmo assim elas faziamaquilo, parecia que era só para me irritar. Resolvi levaresse problema para discutir com Hélio e aí entendique as pessoas, às vezes, nem se lembravam deque eu não gostava disso ou daquilo. Simplesmentequeriam algo por razões próprias. Entendi queprecisaria me controlar independentemente de qualsituação fosse e de quem estivesse por perto.

O tempo foi passando e, certo dia, apósfecharmos um grande pedido, Frederico, Dirce e eufomos tomar uma cervejinha após o horário detrabalho, para comemorarmos. Como havíamosnos tornado grandes amigos, conversávamos deforma descontraída, quando o assunto passou aser a minha mudança. Dirce aproveitou paradesabafar:

– Sabe, Venceslau, um dos momentos maisdifíceis por que já passei como empresária foiaquele em que chamei sua atenção sobre suas reações.

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Foi terrível ter de ameaçar dispensar uma pessoa queeu sabia que faria uma falta imensa na DJP Máxima.

– Pois é, Dirce, se isso não tivesse acontecido,se você não tivesse me ameaçado, talvez aindaestivesse agindo como sempre e, provavelmente, nãoestaríamos aqui comemorando. Talvez até já tivessesaído da empresa em função de resultados ruins.

Concluí, como se estivesse falando para mimmesmo:

– É sempre útil aprender com nossos próprioserros. É uma pena que precisemos vivenciar coisastão desagradáveis para aprender. O que aconteceu foio pontapé inicial de uma grande mudança em meucomportamento. Está sendo muito difícil, masespero nunca mais repetir outra situação comoaquela que gerou a repreensão pela qual passei.

– E como você está conseguindo se controlar?– De várias formas, Fred. Entre elas, aprendi a

fazer uma pequena prece que tem me ajudado muito.Ela é assim: “Conceda-me, Senhor, a serenidadepara aceitar aquilo que não posso mudar, acoragem para mudar o que precisa ser mudado e asabedoria para distinguir uma coisa da outra”. Essaprece ajuda-me a ser mais sereno e,conseqüentemente, menos explosivo.

– Realmente, uma bela oração. Não acha,Frederico?

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E AGORA, VENCESLAU?

– Certamente. E profunda.– Pois é, meus amigos. Ela realmente faz-me

bem. E, aproveitando que estamos juntos, voulhes pedir uma coisa: Gostaria que me ajudasseme entendessem que, se em algum momento eu tiveruma recaída, será sem querer. Estou me esforçandopara evitar isso. Como durante muitos anos temsido assim, é muito difícil criar este novo hábito,tratar as pessoas sem agressividade. O pior é que amaioria das vezes que acontece de eu ficarexplosivo é em momentos quando não tenho nemtempo para pensar. Isso torna minha vigilânciaainda mais necessária.

Quando escutou a palavra vigilância, Fredericocomentou:

– Ah, agora estou entendendo o porquêdaquela palavra, que você colocou debaixo dovidro de sua mesa.

– A palavra “vigie”, escrita diversas vezes, emletras bem grandes e coloridas? Foi idéia daConceição e serve para ajudar a não me esquecerde vigiar meu comportamento. Para que eu melembre como devo agir, procurei escrever tambémo comportamento que precisa ser melhorado.

– Na verdade, eu achava muito estranho verpalavras opostas, tais como: arrogância ehumildade, agressividade e mansidão, rigidez eflexibilidade.

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– Você se esqueceu, Fred, das palavras: explodire controlar, falar e ouvir, franqueza e tom de vozbaixo, e, ainda, de perfeccionismo e somos humanos.

– É você quem vê as palavras todos os dias,Venceslau. Por isso não me lembrei de todas.

– É verdade. Essa vigilância tem me ajudadomuito. Hoje eu ainda me vejo algumas vezes tratandoas pessoas de forma agressiva, mas nunca mais griteicom alguém como fazia antigamente. Nem notrabalho, nem em casa. Tenho a esperança de que,até completar 50 anos de idade, tenha aprendido ame controlar totalmente.

– Mas precisa de tanto tempo?– Durante 42 anos agi de uma forma, agora

estou me dando mais 8 anos para tentar mudarcompletamente.

Dirce, que já estava com mais de 50 anos,concluiu:

– Conte comigo, admiro muito sua coragemem admitir que não é fácil e que ainda terá umalonga caminhada pela frente. Mas, acredite, valeráa pena. Eu também já passei por grandesmudanças no meu comportamento.

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E AGORA, VENCESLAU?

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VALEU A PENA?

Depois de um bom tempo sem nos vermos,marcamos um novo encontro no sítio de Henrique eJúlia. Nossos filhos já não queriam mais sair com agente, e acharam ótimo poder ficar sozinhos em casa.Assim que chegamos, Henrique e eu fomos logoacender a churrasqueira. O fim-de-semana prometiaser ótimo. Quando estávamos reunidos Júliacomentou:

– Henrique chegou todo contente, depois deconversar com você na semana passada,Venceslau.

– Claro! Depois que fiquei sabendo que elecontinua na Máxima, que está conseguindo secontrolar e ainda que agora é um estudioso deliderança? Você queria que eu ficasse como?Quanto tempo faz, desde que começou o seuprocesso de mudanças, Venceslau?

– Acho que já tem uns quatro anos, ou mais...O que eu sei é que esse processo não tem maisvolta.

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E AGORA, VENCESLAU?

– Eu achei ótima a idéia de nos reunirmosnovamente. Rever Conceição e, ainda, aprender comvocê sobre mudança de comportamento. Estoucuriosa para saber de tudo, Venceslau. Não nosprive de nenhum detalhe que julgar importante.

– Agora, além de aprender com meus erros,quero aprender também com os de outras pessoas.

– Vocês não imaginam como Venceslau estámudado, e nosso casamento parece que se renovou,está muito melhor. Nossos filhos também andam bemmais tranqüilos. O comportamento de Venceslaureflete em toda família.

– Fico muito feliz por ouvir isso, Conceição.Henrique e eu também estamos em uma fase ótima,agora que nossos filhos estão na faculdade. Comorequerem menos nossa atenção, podemos nos darmais um ao outro.

– E com menos problemas na empresa, tenhocondições de dar mais atenção aos problemasdomésticos. Júlia e eu estamos conseguindo sairmais vezes e nos curtir mais. Aquele final desemana não foi importante só para você,Venceslau. Minha empresa hoje está muito maissólida e com melhor lucratividade. Implantei todasas sugestões que você me deu.

– Que bom, Henrique!– Mas, e você? Estava falando de sua

aprendizagem...

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– Pois é. Vocês nem imaginam a quantidade decoisas que descobri. A primeira delas foi que existemvárias pessoas que agem assim como eu agia. Sabemo que dizem dessas pessoas? Que são grosseiras esem educação. Elas chegam a ser consideradasprofissionais incapazes de respeitar o próximo, porquetratam os outros mal. Às vezes são até donos deempresas. Eu tenho certeza que não agia sempreassim, mas mesmo sendo de vez em quando queexplodia, já era suficiente para deixar uma marcanegativa e ter o “rótulo” de grosso. Mas estoumudando isso. Não sou garrafa de cerveja, nemlatinha de atum. Não quero rótulos. Muito menosum rótulo negativo. Gente se modifica, se transforma.Cresce...

– Que bom, Venceslau. Tenho certeza quevalerá a pena!

– Claro que sim, Henrique. Aliás, já estávalendo. E como!

– É como já dizia Fernando Pessoa: “tudo valea pena se a alma não é pequena”.

– Pois é, minha querida. Mas, vocês não têm idéiado que me aconteceu nesse tempo. À medida quefui me conhecendo, entendia que, assim como muitasoutras pessoas, eu agia como se estivesse no controleda situação, mas estava era camuflando umadificuldade de lidar com meus desajustes pessoais.Percebi que não passava dos limites apenas com

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meus subordinados. Até superiores hierárquicos jáforam alvos de minhas grosserias. E o pior é que, namaioria das vezes, não percebia que havia passadodos limites. Esse era um comportamento queacreditava ser normal, era a forma que aprenderacomo certa. Eu me comportava assim porque nãosabia fazer de outra maneira, nem percebia o malque fazia aos outros. Meus familiares também sofriamcom isso, principalmente Conceição e nossos filhos,não é, querida?

Em alguns momentos, mesmo não levantando avoz, colocava os outros para baixo com minhasatitudes. Descobri que até o jeito como jogava umrelatório na mesa de um colaborador era umaforma de mostrar grosseria. Aprendi também quea pressão constante por resultados e a cargaexagerada de trabalho, tão comuns no mundocorporativo, eram responsáveis por muitas deminhas explosões. Só que isso poderia atéjustificar uma explosão num dia mais difícil, masvirar rotina já era um grave problema.

– Fico muito feliz com o que estou ouvindo,principalmente porque gosto muito de você. Algumasvezes Henrique e eu conversávamos sobre seutemperamento e ficávamos na torcida para que vocêconseguisse se controlar. Afinal, existem pontospositivos em ser assim como você é. Suasexplosões também o levam a acelerar muitos

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processos, a conseguir que as pessoas ajam maisrapidamente em muitas situações.

– Você está certa, Júlia. Mas, mesmo que osproblemas gerados pelo temperamento difícil sejammenores do que os aspectos positivos de uma pessoa,a carreira dela pode correr sérios riscos. Descobri que,muitas vezes, o comportamento pode pesar mais queo desempenho na hora de se demitir alguém.

– É, meu amigo, você cresceu muito em poucotempo! Estou orgulhoso de você. De verdade!

– Há muito a modificar em mim ainda, Henrique.Agora, por exemplo, estou aprendendo a canalizarminha agressividade para o bem. Entendi tambémque, em alguns casos, as tais grosserias, além decomprometerem a carreira e as relações pessoais,podem até parar em algum tribunal, já que umamanifestação de desrespeito pode virar um caso deassédio moral, desde que se torne repetitiva eevidencie a intenção de constranger e humilhar.

– Sério?!– É. E o interessante é perceber que, na maioria

das vezes, eu falava sem pensar e magoava os outros.Imagine que você amasse uma folha de papel, assimcomo uma bolinha... depois, se quiser desamassar, elavai continuar com muitas dobras. Assim acontece comas pessoas. Pode ser que guardem a mágoa parasempre. Estou aprendendo a ser maiscompreensivo e mais paciente. A impressão que

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E AGORA, VENCESLAU?

deixamos nas pessoas é impossível de apagar. Equando magoamos alguém com nossas ações oucom nossas palavras, pode não ser possívelconsertar o erro. Pode ser tarde demais...

– Gente! Olhem o que encontrei.– Que bom que você trouxe o war, Júlia! “Guerra”

agora, só no jogo. Chega de agressividade...Júlia encontrou o jogo em seus guardados, e o

trouxe para que nos lembrássemos dos tempos denossa juventude. Todos nós gostamos da idéia.Estava uma noite agradável, a cerveja estava natemperatura ideal e a carne do churrasco muitogostosa. Assim ficamos até altas horas da madrugada.O assunto passou a ser referente aos nossosencontros de quando ainda éramos solteiros.Sentimos saudades do tempo de estudantes nafaculdade. Apesar de bem menos dinheiro, aspreocupações também eram menores e existiam maisalegrias.

No sábado, após o tradicional cochilo datarde, nos sentamos na varanda e minhasmudanças voltaram a ser o assunto. Júlia eHenrique queriam saber tudo o que haviaacontecido comigo.

Contei para meus amigos que tivera um encontrocom um ex-colega da pós-graduação, o Marcílio, eque a experiência dele foi um marco para conseguirmudar ainda mais minhas atitudes. Depois de

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entender o que ele estava fazendo, eu adotei umcomportamento parecido com o seu e estava obtendoótimos resultados. Marcílio me contou que descobriuque seu maior problema para conseguir que as outraspessoas fizessem o que ele queria era em função deseu ego, de seu orgulho. Era difícil para ele deixarque os outros pensassem que tomavam as decisões,quando ele sabia que era o autor da idéia. E, muitasvezes, as pessoas precisavam primeiramenteamadurecer a idéia, para então adotá-la. Só que assim,sem perceber, vinham com sugestões que ele já haviadado. Quando conseguiu entender que o maisimportante era influenciar os outros a fazerem oque ele queria, sem se preocupar em saber de quemera a idéia, foi possível deixar seu orgulho de lado.Aí ficou bem mais fácil conseguir os resultadosque queria.

Na prática funcionava assim: Ele fazia oplanejamento do que queria obter e, a partir daí,aceitava até deixar que outros pensassem que estavammandando nele.

Ele comentou que na empresa onde trabalhavaexistia um gerente, um tal de Gilberto, ao qualprecisava se reportar antes de tomar qualquer atitude.Muitas vezes precisava “pedir” para fazer coisas quenão teria o menor sentido pedir autorização, masGilberto precisava achar que era ele quem tomavaas decisões. Então, Marcílio preparava as ações e

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E AGORA, VENCESLAU?

ia a esse gerente e perguntava se podia fazer. Nocomeço era muito difícil, mas depois parecia quaseuma brincadeira. Gilberto achava que “deixava”ele fazer algo, mas ele simplesmente estava fazendoo que queria, sem ter a interferência de Gilberto.No final, praticamente tudo o que queria fazer eleconseguia. E, quando a tarefa era executada atempo e com bons resultados, naturalmente adireção geral reconhecia seu mérito. Porém,Gilberto se sentia orgulhoso, porque Marcílioconseguiu obter bons resultados, mas ele achavaque havia “permitido” que Marcílio fizesse.

Marcílio contou-me que uma vez escutou de ummembro de sua equipe: – Você não vai fazer nada?Vai deixar esse gerente ficar pensando que estámandando em você? Você não precisa disso, temacesso direto à diretoria. Foi um momento difícil.Como fazer um membro da sua equipe, entenderque o mais importante era cumprir suas metas,ver a equipe sair vitoriosa? Isso era o que o deixavafeliz. Ele acabou se reunindo com toda a equipeem um barzinho, num fim de tarde, para discutiro problema. Como ele conhecia bem a todos,conseguiu mostrar que, para ele, oreconhecimento da equipe era o que importava.Procurou mostrar para a equipe que cada um alipoderia contar com ele para montar as estratégiasque fossem necessárias para atingir seus objetivos.

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Ele também me contou que estava praticando aliderança servidora junto a sua equipe, que procuravaajudar a todos os membros naquelas dificuldades quepossuíam e, os resultados eram ótimos. Cada dia mais,as pessoas o procuravam para sanar qualquerdificuldade e, juntos, sempre achavam as melhoressoluções.

Quanto a mim, estava começando a estudar essetema e a praticar esse estilo de liderança junto a minhaequipe, em alguns casos. Não era nada fácil, masos resultados eram bastante interessantes.

Mostrei, enfim, para os amigos, um texto quepreparei e que procuro ler sempre que possível.Coloquei o texto debaixo do vidro de minha mesa,no trabalho, e ainda afixei no guarda-roupa emminha casa. Isso me ajuda a não me esquecer decomo era meu comportamento anteriormente.Assim me mantenho em vigília e ainda adquironovas forças para continuar na busca de ser umapessoa melhor.

Expliquei-lhes que entendi que mudar a mimmesmo não é nada fácil, que isso requer disciplina.Mas eu estava disposto a não voltar a ser explosivocomo antes. Como eu acreditava muito no poder daminha mente, sabia que ler o texto me ajudaria a fixaraquilo e ainda fazer do que estava escrito umhábito:

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E AGORA, VENCESLAU?

“O problema está dentro de mim, na minhaforma de agir. E, ninguém será capaz de me mudara não ser eu mesmo. Acredito que a vitória maisbela que obterei será vencer a mim mesmo,libertando-me de um hábito ruim. Sei que aqueleque conquista a si mesmo pode se tornar invencível.E como é preciso subir degrau por degrau para chegarao alto da escada, também cuidarei de um dia decada vez.

A solução dos meus problemas começou nomomento em que tomei consciência deles. Na horado desespero tentarei contar até três, até mil sefor necessário. Vou respirar fundo e manter o focono que for mais importante.

Como a raiva é um ladrão que pode roubarbons momentos, farei o possível para não meirritar. Meu crescimento requer a substituição develhos hábitos por novos e é o que farei.Retornarei sempre que necessário, não meimportando quão longe eu tiver andado nocaminho errado. Se eu encarar cada momentoruim que passar daqui para frente como umaprendizado, ele valerá a pena. Aprenderei comcada falha que cometer e, ainda, tentarei descobriro modo de fazer a coisa certa. Como posso nãoter tempo de passar a limpo, é melhor que nãofaça da minha vida um rascunho. Chega de perdertempo lamentando erros passados!

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Sei também que tem coisas que nunca voltamatrás e, por isso, preciso ter mais cuidado com oque digo, porque uma palavra pronunciada é comoo tempo perdido: não tem volta. E, como osúnicos demônios deste mundo são aqueles queestão em nossos próprios corações e mentes, é aíque travarei todas as minhas batalhas, para evitarque me irrite com coisas sem importância.

Como sou obrigado a colher o que plantar, vouescolher bem o que vou semear. Por isso, farei comque a minha conduta seja irrepreensível, issotambém servirá como exemplo para meus filhose meus liderados. Lembrar-me-ei do que disseChico Xavier: ‘Você não pode voltar atrás e fazerum novo começo, mas você pode começar agorae fazer um novo fim’. Assim, conquistarei a mimmesmo melhorando meu comportamento, diaapós dia.”.

Quando terminei de ler, vi que Júlia estavaemocionada. Depois de se refazer um pouco elacomentou:

– Que coisa linda, Venceslau. Agradeço quetenha me mostrado. Posso ficar com essa cópia?É que gostaria de encaminhar para um gerente lána empresa. Quem sabe ele também melhora.Aliás, Venceslau, você se lembra de algumasituação em que precisou se controlar e que tenhaconseguido?

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E AGORA, VENCESLAU?

É claro que me lembrava de vários casos. Penseiem um que fosse mais relevante e contei:

– Há pouco mais de um ano foi contratada, naMáxima, a Srta. Tâmara para implantar a norma ISO9001, um sistema de gestão da qualidade. No mêspassado, a Máxima conseguiu a certificação na normae, na festa de confraternização, a Tâmara estavaconversando com o Frederico e comentou sobreo fato de nunca ter me visto brigar com algumcolaborador, mesmo em situações críticas. Então,o Frederico me chamou e repetiu o que ela disse.Tâmara não acreditou quando Frederico falou queeu não era assim antes e que inclusive a Máximaperdeu um excelente funcionário por causa demeu jeito explosivo. Depois me fez elogios pelaminha mudança de comportamento e disse queme admirava muito por eu estar conseguindo mecontrolar.

Vocês não têm idéia do quanto esse momentofoi importante para mim. Nem dá descrever o queeu senti. Acreditem em uma coisa: esse é umprocesso sem volta. Pode ser até que em algummomento eu trate alguém com alguma rispidez,mas isso está acontecendo cada vez com menorfreqüência e eu faço questão de pedir desculpasimediatamente. Sei que não resolve o problema,mas pelo menos minimiza minha culpa e diminuia raiva das outras pessoas.

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Eu acredito que estou me transformando numapessoa melhor e sei que isso reflete tanto em casaquanto no meu trabalho. Agora eu pratico o Kaizen,uma filosofia oriental em que se busca melhorar umpouquinho todo dia. Assim, dando um passo por vezeu chegarei ao final da minha caminhada. Estouaprendendo a viver um dia de cada vez. Assim osanos serão mais fáceis de serem vividos.

Outra coisa – na verdade, excelente! – que querocontar a vocês é o fato de ter sido procurado poruma pessoa, que se disse um caça-talentos, no mêspassado. Ela me fez um convite para assumir adireção de uma grande empresa em São Paulo. Éque sabia dos resultados que eu estava conseguindona Máxima e inclusive que a empresa haviaacabado de construir um novo galpão e contratarmais alguns colaboradores.

Conceição e eu conversamos e discernimos osprós e contras da proposta: a qualidade de vida, aescolinha da Conceição e a faculdade dos nossos filhosforam os pontos positivos que me levavam a quererficar na Máxima, e a parte financeira era o ponto fortepara sair. A oferta era quase irrecusável. Então, euresolvi conversar com a Dirce.

Preferi contar-lhe toda a verdade, incluindo osporquês de querer continuar lá. O ótimo ambientede trabalho, que estávamos construindo, tambémpesava bastante. Após ouvir tudo, ela me pediu um

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E AGORA, VENCESLAU?

tempo para pensar e ver se era possível melhoraralguma coisa na parte financeira, porque não queriame perder. Como eu havia pedido uma semana paradar a resposta ao tal headhunter, não seria problemaalgum esperar.

Dois dias depois, Dirce chamou-me ao seuescritório:

– Venceslau, a empresa hoje depende muitode você e eu o admiro muito como profissional, emais ainda após ver a grande mudança pela qualvocê passou. Estudei o que posso fazer. Como aempresa está com um faturamento bem maior emfunção, principalmente, de seu trabalho, a partirde hoje, se permanecer conosco, mudarei opercentual de seus ganhos e ainda assumirá o cargode diretor geral da Máxima.

Como podem ver meus amigos, agora eu souum novo homem. O que ganho na Máxima não éo mesmo que ganharia em São Paulo, mas olhandoo todo valeu a pena ficar. Hoje sou uma pessoaque acredita que a melhoria contínua é o maiordesafio do ser humano, por isso não vou parar deme vigiar e descobrir a cada dia como ser mais feliz.Claro que tendo amigos assim como vocês e coma Conceição permanecendo ao meu lado, tudoisso fica muito mais fácil!

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Anoitecia. Mas mesmo em meio às trevas agoraeu só podia ver o brilho das estrelas. Silêncio eesperança caminhavam juntos naquelas montanhas.E Conceição com aquele seu cheiro gostoso...

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E AGORA, VENCESLAU?

Leia, da mesma autora:

A Arte de Liderar – Vivenciando mudanças num

mundo globalizado. Um verdadeiro manual sobreliderança!

Resenha publicada no jornal “Diário doComércio” em 08 de julho de 2006, sobre A Arte

de Liderar:

“Diariamente, muitas empresas enfrentamo problema de perderem o foco de atuaçãoquando o líder ‘desaparece’. O líder é tãoimportante que muitas são as organizações queo valorizam com a mesma intensidade que aseu próprio patrimônio, uma vez que seusdiretores sabem que, sem ele, o patrimôniotambém pode ‘sumir’ e com a mesma rapidez.

Foi justamente por presenciar esse cenáriocomum nas organizações que a consultoraSonia Jordão, conferencista e especializada emliderança empresarial, escreveu o livro A Arte

de Liderar, abordando justamente a influênciado líder.

‘Com freqüência, observava dois grandesproblemas nas empresas em relação aos líderes: essaspessoas precisam conhecer a si mesmas e aos

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membros da sua equipe, revela’. A autora teve apreocupação de redigir numa linearidade tal que oleitor possa consultar qualquer dos seus tópicosisoladamente.

Dessa forma, os capítulos são independentes osuficiente para que o tema analisado em cada umseja esgotado ao final do texto. ‘Desde o início, oobjetivo foi tornar o livro fonte para pesquisas,facilitando o acesso a informações, com rapidez eprecisão’.”

Brevíssimos comentários

de quem já leu A Arte de Liderar:

• Como ser um líder que atinge resultados emotiva os colaboradores? Para Sonia Jordão, eledeve, antes de mais nada, gostar de lidar compessoas. (Jornalista Miriam Novaes – RevistaVencer, Nov. 2003).

• O livro A Arte de Liderar contribui de formaexcepcional para o crescimento daqueles queocupam ou almejam ocupar posições degestores em seus negócios. (Eng. GilbertoChiarelli).

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• Recomendo sua leitura para profissionais de todasas áreas, estudantes e quaisquer pessoas quequeiram ser melhores, tornando-se artistas daliderança. (Prof. Júlio Miranda).

• Belíssimo livro de Liderança. Garanto que suacontribuição é enorme, uma bela síntese e temassuper atuais. (Prof. Paulo Villamarim).

• Em especial considero de grandiosacontribuição os itens: Funções da liderança eComo se desenvolver como líder. (Dra. SelmaFrança S. Costa).

• A engenheira escreve com competência sobreliderança e conseguiu organizar material didáticode qualidade em conteúdo provocador.(Jornalista Jefferson da Fonseca – Jornal Estadode Minas, outubro de 2006).

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site: www.soniajordão.com.br

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Linha direta com a autora

Querido(a) leitor(a):

A sua opinião é muito importante!Agradeço de coração àqueles que enviarem suas

contribuições: sejam elas críticas, comentários ou sugestões de

melhorias. Através delas poderei ajudar mais pessoas a cresceremnesta arte que é a liderança e ainda melhorar meu trabalho.

Visite o site: www.soniajordao.com.br, nele você poderá

encontrar muitas das frases de minha coleção, artigos de outrosautores e meus, modelos de documentos para organizações, linksinteressantes e muito mais. Esse site é a ferramenta usada para

ajudar os profissionais a serem melhores.Se gostar do site, me ajude a divulgar. Se não gostar, me

conte o por quê. Aproveite!

Missão Pessoal:

Fazer a minha parte para que o Brasil seja um país cadavez melhor. Para tanto, ajudar a capacitar os profissionais deforma a agirem com mais ética e motivação, tornando as

organizações melhores; assim, poderão gerar novos empregos emanter os atuais.

Sonia Jordão

Endereço: Rua dos Bandolins, 215/505 – Cj Califórnia I30850-470 – Belo Horizonte – MGTel: 0xx31-3417 1915

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