e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

download e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

of 8

Transcript of e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    1/8

    Jeroen DewulfFaculdade de Letras da Universidade do Porto; [email protected]

    E se todas as lnguas fossemconsideradas crioulas?Um olhar ps-colonial sobre a lingustica*

    1492 no s um ano histrico por causa da descoberta da Amrica, tambm oano em que aparece a primeira gramtica da lngua espanhola. Em resposta perguntada rainha Isabel, que queria saber para que podia servir uma tal gramtica, o bispo de

    vila disse-lhe as palavras mgicas: Serve para governar, Vossa Majestade. Por maisdistintos que estes dois acontecimentos possam parecer, na verdade tm muito a verum com o outro. Com a descoberta da Amrica, a Espanha passou a ser a primeirapotncia mundial, tornou-se num imprio orgulhoso, convicto da sua misso de espa-

    lhar pelo mundo todo os seus valores, a sua religio e...a sua lngua. De facto, a his-tria de uma lngua sempre o espelho da histria poltica de uma regio. Dito doutraforma, a histria de uma lngua tem tudo a ver com poder.1 Nada exemplifica melhoresta realidade do que a famosa expresso emJiddisch, segunda a qual uma lngua no mais do que um dialecto com um exrcito.

    Na lingustica contempornea, o poder tem-se tornado numa questo fundamental.Isto enquanto durante vrias dcadas, a lingustica tradicional tentava a todo o customanter uma posio objectiva e apoltica. Para designar a razo desta viragem signifi-cativa na lingustica, costuma-se recorrer expresso inglesa: The Others speak back.

    A expresso refere-se quelas pessoas, que desde o incio do colonialismo tinhamsido condenadas passividade, mas que recentemente tm tomado a palavra paraquestionar o que nunca dantes tinha sido questionado. A primeira cincia a sentiras consequncias desta viragem ps-colonial nas cincias humanas foi a antropologia,a criada do colonialismo como Claude Lvi-Strauss alguma vez lhe chamou. Depois

    305

    *A presente comunicao insere-se no projecto literatura e identitades do Instituto de LiteraturaComparada Margarida Losa, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Unidade I & D, financiadapela Fundao paraa Cincia e a Tecnologia no mbito do Programa Operacional Cincia, Tecnologia eInovao (POCTI) do Quadro Apoio III.

    1 Cfr. Ashcroft: One of the main features of imperial oppression is control over language. The impe-rial education system installs a standard version of the metropolitan language as the norm, and margi-nalizes all variants as impurities. (Ashcroft et al., 1989:7)

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    2/8

    seguiram-se a histria, a sociologia, os estudos literrios e, recentemente, tambm a lin-gustica.

    De facto, o tempo em que a lingustica era o monoplio de cientistas brancos, oriun-dos quase exclusivamente de pases ocidentais, pertence definitivamente ao passado.Sobretudo universidades norte-americanas tm, nos ultimos anos, seguido uma polticano sentido de diversificar a origem tnica dos seus docentes e no por acaso que as

    vozes mais crticas em relao lingustica tradicional, que tanto medo tinha em abordarquestes ligadas ao poder, tm surgido fundamentalmente a partir dos Estados Unidos.

    Ilustrativo neste contexto foi o que aconteceu no mbito de uma conferncia sobrecrioulismo na Universidade de Chicago em Outubro de 1999. Numa discusso que seseguiu a uma das palestras ali apresentadas surgiu a questo se a diferena entre ln-

    guas consideradas crioulas e lnguas no-crioulas no se baseava, afinal, num modeloocidental, imperialista e racista.2

    Estas dvidas no so novas. J h algum tempo, certos linguistas tm insistido nofacto de que a lingustica no oferece critrios objectivos que permitam distinguir entrelnguas crioulas e no-crioulas. Assim, em Language Creation and Language Change(2001) Michel de Graff escreveu que [...] any property found in creole languages is [...]also found in some noncreole language. In Halls words, There are no structural crite-ria which, in themselves, will identify a creole as such, in the absence of historical evi-dence. (DeGraff, 2001:11) Tem-se tornado cada vez mais forte a convico de que estadistino na realidade no se faz com base em critrios cientficos, mas antes com baseem convenes, que, de uma forma ou outra, tm a ver com poder. Em The Ecologyof Language Evolution (2001) Salikoko Mufwene defende, por isso, que [...] creoleshave been grouped together and distinguished from other languages more because of

    similarities in the sociohistorical conditions of their development than for any otherconvincing reason. (Mufwene, 2001: XII)

    Portanto, se ns distinguimos entre uma lngua crioula e no-crioula, baseamo-nosem primeiro lugar em condies scio-histricas; os critrios lingusticos, por sua vez,s aparecem em segundo plano, devidamente adaptados situao. Mufwene vai atmais longe ao afirmar que estas tais condies scio-histricas so na prtica nadamais nada menos que a etnicidade dos falantes: The main implicit criterion [to iden-tify some new colonial vernaculars as creoles] which is embarrassing for linguistics buthas not been discussed, is the ethnicity of their speakers. (Mufwene, 2001: XIII)

    Essas teorias ps-coloniais que pem em questo teorias que ainda h poucas dca-das pareciam indiscutveis, tm tido consequncias fora da lingustica. interessante

    ver, por exemplo, como o antroplogo sueco Ulf Hannerz escreve que there are anumber of English-based creole languages in the world, yet hardly anybody would

    seriously argue that the English language is historically pure. (Hannerz, 1996: 67) Veja-mos tambm o escritor douard Glissant, oriundo da ilha de Martinique, que defendeo seguinte: Quand on tudie raisonnablement les origines de toutes langues donnes,

    y compris de la langue franaise, on saperoit que toute langue ses origines est unelangue crole. (Glissant, 1996: 21)

    306

    JEROEN DEWULF

    2 Cfr. Http://clos.uchicago.edu/txtonly/regthemes/mest.html

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    3/8

    Com esta sua tese, Glissant coloca uma bomba debaixo de toda a lingustica tradi-cional. O que faz defender que todas as lnguas, sejam elas o portugus, o neerlan-ds, o papiamento ou o japons,3 poderiam ser consideradas lnguas crioulas, j quecada uma delas , no fundo, o resultado de um processo secular de contacto e de mistura.

    um facto que at h meio sculo atrs, os linguistas teimosamente ficavam presosao mito da pureza das lnguas e que por causa da obsesso com a pureza admica ecom a estruturao e fixao geogrfica e histrica das lnguas4 no se queria aceitarque as mais variadas influncias estrangeiras tm sido fundamentais para o desenvol-

    vimento de qualquer lngua. Uma cultura em que a alegada pureza da lngua chegoua ter um estatuto quase mtico a alem. Nos seus famosos Discursos Nao Alem(1808), o pai do romantismo alemo, Gottlieb Johann Fichte, sublinhava a importncia

    da pureza da lngua alem e o perigo que parte de qualquer tipo de influncia estran-geira, j que esta levaria inevitavelmente a uma decadncia.5 Erradamente, Fichte con-siderava o facto de a lngua alem no ser de origem latina como uma prova da suapureza; por consequncia, a presena de tropas napolenicas em territrio germnicoera muito mais que uma simples humilhao era vista como um primeiro e irrevers-

    vel passo em direco degenerao. A iluso da alegada pureza alem conseguiumanter-se durante vrios sculos e culminou com a chegada da ditadura nazi, na qualse usava constantemente a lngua para provar a pureza da cultura alem e a impu-reza das outras. O linguista nazi Wilhelm Blaschke, por exemplo, argumentava que aortografia inglesa reflectia o escndalo racial da lngua e do esprito ingls.6 Quandoento Mussolini decidiu tomar medidas para purificar o italiano, tambm na Alemanhase intensificaram os apelos para se avanar com uma purificao da lngua. Em conse-quncia, o ministrio alemo da cultura ficou repleto de listinhas de palavras, enviadas

    por professores que pretendiam contribuir para a nobre causa da purificao da lngua aparentemente sem que ningum se desse conta que nem a palavra Ministerium,nem Kultur so de origem germnica. A obsesso era tal que o ministro no tevealternativa seno proibir por lei a publicao de artigos crticos sobre a ortografia aleme o ministro de propaganda, Joseph Goebbels, chegou mesmo a acusar os zelosos pro-fessores de germanomania. (cfr.Birken-Bertsch, 2000: 44)

    Contudo, reaces contra influncias estrangeiras nas lnguas parecem ser de todosos tempos. A lngua portuguesa no excepo. Veja-se, por exemplo, a cruzada contrapalavras de origem estrangeira do linguista brasileiro Antnio de Castro Lopes (1827--1901), que as designava de vcios de raa. Castro Lopes pretendia, por isso, substi-tuir turista por lunmbulo, reclame por preconcio, massagem por premagemou avalanche por runimol. Para a lngua inglesa podem ser referidas aqui as tenta-tivas de William Barnes no sentido de purificar a lngua inglesa da influncia francesa

    307

    ESE TODAS AS LNGUAS FOSSEM CONSIDERADAS CRIOULAS? UM OLHAR PS-COLONIAL

    3 Glissant menciona explicitamente linguistas japoneses que defendem a teoria segunda a qual alngua japonesa pudesse ser considerada uma lngua crioula. (cfr. Glissant, 1996: 28f.)

    4 Cfr. Labov: Orthodox linguistic theory deals exclusively in terms of static models. (Labov, apudAshcroft et al., 1989: 46)

    5 Cfr. Die ersten, ursprnglichen und wahrhaft natrlichen Grenzen der Staaten sind ohne Zweifelihre innern Grenzen. [...] Ein solches kann kein Volk andrer Abkunft und Sprache in sich aufnehmen undmit sich vermischen wollen [...]. (Fichte, 1943: 206f.)

    6 Cfr. Die englische Orthographie ist ein Zeichen der Rassenschande der englischen Sprache unddamit des englischen Geistes. (Blaschke, apudBirken-Bertsch, 2000: 46)

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    4/8

    ao substituir music por gleecraft, enthusiasm por faithheat ou photograph porsunprint. Na sua obraMinima Moralia (1951), o filsofo alemo Theodor W. Adornochamou as palavras de origem estrangeira os judeus da lngua. Neste contexto, o lin-guista norte-americano Thomas Y. Levin acusou os planos do governo francs em 1994,que visavam proibir o uso de palavras estrangeiras na linguagem oficial, de reflectiremuma atitude de anti-semitismo lingustico. (cfr. Levin, 1995: 87) De facto, os planosfranceses de 1994 s podem ser explicados com base num pensamento imperialista eahistrico, que considera uma fase especfica dentro de um processo histrico comoideal e, por isso, inaltervel. Ora, quem quiser mesmo purificar a lngua francesa aca-bar por voltar a escrever em latim e ter de constatar que mesmo o latim clssico jestava cheio de influncias estrangeiras.

    importante, no entanto, sublinhar que essas teorias de uma crioulizao global nalingustica fazem parte de uma corrente geral nas cincias humanas. Assim escrevePnina Werbner:

    Organic, unconscious hybridity is a feature of the historical evolution of all languages.Applying it to culture and society more generally, we may say that despite the illusion ofboundedness, cultures evolve historically through unreflective borrowings, mimetic appro-priations, exchanges and inventions. There is no culture in and of itself. (Werbner, 1997: 4f.)

    Estas novas correntes de pensar so claramente o resultado da crescente globaliza-o do mundo. De facto, vivemos hoje num mundo no qual passou a ser cada vezmenos bvio que algum aceite viver no mesmo lugar onde por acaso nasceu. Porm,como demonstrou James Clifford na sua obra Routes (1997), durante sculos a cincialimitou-se a mostrar interesse por aqueles que decidiram sempre permanecer em casa.

    Isto inevitavelmente causou uma srie de imagens fixas, uma delas a ideia estranhade que as lnguas tm razes. Em Rhizome (1976), os franceses Gilles Deleuze e FlixGuattari monstraram os resultados catastrficos desta obsesso com razes. Como alter-nativa, propuseram um pensamento nomadista, no mbito do qual razes passivas sosubstitudas por rixomas activos.

    Este tipo de pensamento nomadista e crioulo tem-se tornado popular nos ltimosanos, embora nas mais variadas designaes. Nstor Garcia Canclini fala em CulturasHbridas, Serge Gruzinski em La pense mtisse, douard Glissant usa a expressoCrolisation, Wilson Harris Cross-Culturality, Ulf Hannerz Transnational Connections,Hugo Loetscher Mulattisierung, Roger Bromley Syncretism, Jan Nederveen PieterseGlobal Mlange enquanto Franois Laplatine e Alexis Nouss falam em Mtissage.Divertida neste mbito a expresso Ps-Neoltico, usada pelo filsofo Vilm Flusser,segundo o qual a humanidade s agora se est lentamente a afastar do ideal da cultura

    sedentria do neoltico. Segundo Flusser, os valores tradicionais, como a posse deterra, a inferioridade da mulher ou a defesa da ptria s agora esto a ser desvendadoscomo funes primrias de sociedades sedentrias e agrcolas. (Flusser, 1992: 248)

    No queria debater aqui as diferenas s vezes bastante pequenas entre estasexpresses;7 mais interessante parece-me considerar a sua perspectiva comum de que

    308

    JEROEN DEWULF

    7 Glissant rejeita a expresso mtissage. Na sua opinio, o crioulismo d sempre origem a conse-quncias desconhecidas, enquanto o resultado final de uma mistura pode ser previsto. (cfr. Glissant, 1996:

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    5/8

    um pensamento baseado em razes j no capaz de oferecer solues para os pro-blemas do sculo XXI.8

    Se ultimamente o apelo para que haja novas lnguas se tem feito sentir com cadavez mais frequncia, seja por Salman Rushdie que procura new languages to unders-tand the world (Rushdie, 1991: 130), pelo escritor suo Hugo Loestscher, que sonhacom uma lngua cclica que se orienta pelo globo e j no pelo mapa (Loetscher, 1988:40), douard Glissant que diz procurar uma lngua na qual todas as lnguas do mundose reflectem (Glissant, 1996: 27), por Frederic Jameson, que defende a necessidade deum novo vocabulrio j que as lnguas que antigamente eram necessrias para falar dacultura e da poltica deixaram de ser adequadas para o presente momento histrico(Jameson, apudMarcus, 1994: 49) ou por Iain Chambers, que prope a recriao da

    gramtica e da lngua do pensamento moderno (Chambers, 1994: 110), uma respostacrioula talvez possa ser til. De facto, a soluo que ela apresenta simples: no pre-cisamos tanto de novas lnguas, precisamos sim de uma nova conscincia lingustica,uma conscincia hbrida, sem razes, que parte do princpio que todas as lnguas e cul-turas so profundamente crioulas,9 tal como defende o socilogo holands Jan Neder-

    veen Pieterse ao dizer: The West itself may be viewed as a mixture and Western cul-ture as a creole culture. (Pieterse, 1995: 54)

    Admito voluntariamente que uma maneira crioula de pensar sobre cultura contmpor sua vez uma certa ingenuidade em relao s estruturas de poder, j que so rarosos casos de contacto cultural de igual para igual, pois (quase) sempre h uma culturaque domina em relao outra. Todavia, considero que uma crioulizao universal um processo natural, un processus perptuel, como afirma douard Glissant. O piorerro que se pode fazer num processo destes, ficar parado no mesmo lugar.10 De

    facto, aceitar o pensamento crioulo significa necessariamente rejeitar todas as formasde verdades absolutas e considerar qualquer teoria como relativa e transitria. umtipo de pensamento que se reflecte bem no seguinte pensamento do escritor suoPeter Bichsel acerca da evoluo lingustica: Ficaria muito contente se o texto queestou agora a escrever deixasse de ser legvel daqui a cem anos, uma vez que a lngua

    309

    ESE TODAS AS LNGUAS FOSSEM CONSIDERADAS CRIOULAS? UM OLHAR PS-COLONIAL

    19) Canclini vira-se contra as palavras sincretismo e mestizaje porque, na sua opinio, lembramdemasiado as teorias racistas do sc. XIX. (Canclini, 1995: 11). Bromley, por sua vez, defende exacta-mente o oposto e rejeita a expresso hybridity por ter surgido no mbito de teorias racistas. (Bromley,2000: 189) Pieterse considera que creolism e mestizaje esto demasiado ligados colonizao do con-tinente americano no sc. XVI (Pieterse, 1995: 54) enquanto Laplantine e Nouss rejeitam mlange,mixit, hybridit e syncrtisme porque, na sua opinio, estes termos consistem em la dissolutiondes lments dans une totalit unifie. (Laplantine & Nouss, 2001: 7)

    8Veja Okwui Enwezor na sua introduo ao Workshop Platform 3 Creolit and Creolization da 11Documenta, organizado em St. Lucia, em Janeiro de 2002 : Trans-national, trans-urban, trans-diasporic,

    trans-cultural practices are deeply transforming the ways in which we understand the world. The notionsof Creoleness and Creolization offer a strategy of reading the configurations that are emerging today.(http://www.documenta.de/data/english/platform3/index.html)

    9 Esta viso parecida com o apelo de Ulf Hannerz por uma nova conscincia social a nvel mun-dial: There were always interactions, and a diffusion of ideas, habits, and things, even if at times wehave been habituated to theories of culture and society which have not emphasized such truths. (Han-nerz, 1996: 18)

    10 Cfr. Laplantine & Nouss: Ne pas rester en place, tre en marge, tre en marche. tre mtis dansle rapport la pense des autres mais non moins par rapport sa propre pense. (Laplantine & Nouss,2001: 192)

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    6/8

    teria de tal modo evoludo. Mas infelizmente, professores puristas devero estragar asminhas esperanas.11

    Talvez esta ideia da crioulizao do mundo no seja mais do que um sonho, ummito ao lado de tantos outros. Mas mesmo se for um sonho, de certeza um sonhobonito, quase to bonito como aquele que contado por Hugo Loetscher, um conter-rneo de Peter Bichsel, no seu romance Die Augen des Mandarin (1999), onde a criou-lizao global foi formulada de uma maneira genial atravs de uma histria sobre o

    Ano Novo:

    A cada Ano Novo, as pessoas fazem promessas. Poucas semanas depois, j deixaram deas cumprir e ento preciso esperar muitos meses at que, no Ano Novo seguinte, se possamfazer novas promessas. No seria assim se, trs ou quartro semanas aps o primeiro de Janeiro,

    no Ano Novo chins, j se pudessem fazer novas promessas e, depois disso, bastaria esperarpelo Ano Novo budista, para renovar as promessas que entretanto se tenham deixado de cum-prir. E, assim sendo, as promessas feitas no Ano Novo muulmano e que no forem cumpri-das, podero ser renovadas no Ano Novo judeu, podendo-se comear mais uma vez no pri-meiro de Janeiro seguinte e assim por diante. Chammos a isto de a Ciranda do Recomeoou, menos poeticamente, o Ano Novo Cclico.12

    O que poderamos desejar mais ao mundo de hoje que um tal Ano Novo Cclico eCrioulizado?

    310

    JEROEN DEWULF

    11 Cfr. Ich wrde mich sehr freuen darber, wenn dieser Text den ich hier schreibe in hundertJahren nicht mehr lesbar wre, weil die Sprache inzwischen gewachsen wre. Aber leider werden das

    schulmeisterliche Sprachpuristen verhindern. (Bichsel, 2000: 145)12 An jedem Neujahr fasst man Vorstze, nach einigen Wochen sind sie gebrochen, und man muss

    viele Monate warten, bis man an einem neuen Neujahr neue Vorstze fasst. Das ist anders, wenn manschon drei bis vier Wochen nach dem ersten Januar am chinesischen Neujahr von neuem Vorstze fasstund man nur bis zum buddhistischen Neujahr zu warten braucht, um zu erneuern, was man inzwischengebrochen hat ja, was man sich am Neujahr der Muslime vorgenommen und woran man sich hinte-rher nicht gehalten hat, das knnte am jdischen Neujahr erneuert werden, und das, was von jenen Vor-stzen nicht eingehalten wird, knnte man am ersten Januar erneuern, dessen gebrochene Vorstze wie-derum... Wir nannten dies den Reigen des Neuanfangs und weniger poetisch das runde Neujahr(Loetscher, 1999: 332)

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    7/8

    BIBLIOGRAFIA

    ASHCROFT, Bill et al. (orgs.) (1989), The Empire Writes Back: Theory and Practice inPost-Colonial Literatures, London & New York, Routledge.

    BICHSEL, Peter (2000), Alles von mir gelernt, Frankfurt am Main, Suhrkamp.BIRKEN-BERTSCH, Hanno (2000), Rechtschreibreform und Nationalsozialismus: Ein

    Kapitel aus der politischen Geschichte der deutschen Sprache, Gttingen, WallsteinVerlag.

    BROMLEY, Roger (2000), Multiglobalismen Synkretismus und Vielfalt in der Popu-lrkultur, in Robertson, Caroline Y. & Carsten Winter (orgs.), Kulturwandel undGlobalisierung, Baden-Baden, Nomos Verlagsgesellschaft, pp. 189-205.

    CANCLINI, Nstor Garca (1995), Hybrid Cultures: Strategies for Entering and LeavingModernity, Minneapolis, Univ. of Minnesota Press.

    CHAMBERS, Iain (1994), Migracy, Culture and Identity, London, Routledge.CLIFFORD, James (1997), Routes: Travel and Translation in the Late Twentieth Cen-

    tury, Harvard, Harvard University Press.DEGRAFF, Michel (org.) (2001), Language Creation and Language Change: Creoliza-

    tion, Diachrony, and Development. Cambridge & London, MIT Press.DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Felix (1976), Rhizome: Introduction, Paris, Les ditions

    de Minuit.DEWULF, Jeroen (1999), Hugo Loetscher und die portugiesischsprachige Welt Wer-

    degang eines literarischen Mulatten, Bern, Peter Lang.FICHTE, Gottlieb Johann (1943 [1808]),Reden an die deutsche Nation, Stuttgart, Alfred

    Krner Verlag.

    FLUSSER, Vilm (1992), Bodenlos. Eine philosophische Autobiographie, Bensheim &Dsseldorf, Bollmann Verlag.

    GLISSANT, douard (1996),Introduction une potique du divers, Paris, Gallimard.GRUZINSKI, Serge (1999),La Pense Mtisse, Paris, Fayard.HALL, Stuart (1996), When was the postcolonial? Thinking at the limit, in Chambers,

    Iain (org.), The Post-colonial Question: Common Skies, Divided Horizons, London,Routledge, pp. 242-260

    HANNERZ, Ulf (1996), Transnational Connections: Culture, People, Places, London &New York, Routledge.

    HARRIS, Wilson (1983), The Womb of Space: The Cross-Cultural Imagination, Westport,Greenwood Press.

    LAPLANTINE, Franois e NOUSS, Alexis (2001),Mtissages, Paris, Pauvert.LEVIN, Thomas Y. (1995), Nationalitten der Sprache Adornos Fremdwrter: Multi-

    kulturalismus und bzw. als bersetzung, in Kessler Michael & Jrgen Wertheimer,Multikulturalitt: Tendenzen, Probleme, Perspektiven im europischen und inter-

    nationalen Horizont, Tbingen, Stauffenburg, pp. 77-90.LOETSCHER, Hugo (1983), Der Waschkchenschlssel oder Was wenn Gott Schwei-

    zer wre, Zrich, Diogenes.LOETSCHER, Hugo (1999),Die Augen des Mandarin. Zrich, Diogenes.LOETSCHER, Hugo (2000),A nice accent: On impurities in language. Zrich: Vontob-

    bel.

    311

    ESE TODAS AS LNGUAS FOSSEM CONSIDERADAS CRIOULAS? UM OLHAR PS-COLONIAL

  • 7/29/2019 e Se Todas as Linguas Fosses Considradas Crioulas

    8/8

    MARCUS, George E. (1994), After the Critique of Ethnography: Faith, Hope, and Cha-rity, But the Greatest of These is Charity, in Robert Borofsky (org.),Assessing Cul-tural Anthropology, New York, Mc Graw-Hill, pp. 40-53.

    MUFWENE, Salikoko S. (2001), The Ecology of Language Evolution, Cambridge, Cam-bridge University Press.

    PIETERSE, Jan Nederveen (1995), Globalization as Hybridization, in Featherstone,Mike et al. (orgs.), Global Modernities, London, Sage Publications, pp. 45-65.

    RUSHDIE, Salman (1991), Imaginary Homelands, London, Granta Books.SAID, Edward W. (1993), Culture and Imperialism, New York, Vintage Books.

    VEER, Peter van der (1997), The enigma of arrival. Hybridity and authenticity in theglobal space, inWerbner, Pnina & Tariq Modood (orgs.),Debating cultural hybri-

    dity;multi-cultural identities and the politics of anti-racism, London & New Jerzey,Zed Books, pp. 90-105.

    WERBNER, Pnina e MODOOD, Taricq (orgs.) (1997), Debating Cultural Hybridity:Multi-Cultural Identities and the Politics of Anti-Racism, London & New Jersey,Zed Books.

    312

    JEROEN DEWULF