EBD 1º Tri 2010 - Lição 09 - 28022010 - Subsídio

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Com o titulo “O PRINCÍPIO BÍBLICO DA GENEROSIDADE”, o Ev. Valter Borges procura contribuir com a compreensão deste assunto. O estudo procura enfatizar sobre o significado e a fonte originária da generosidade, e responde as seguintes questões:Quem é o nosso próximo?A quem devemos proporcionar toda nossa generosidade?Quais os momentos em que somos chamados à expressar apoio às pessoas?Será que, de fato, temos feito algo significativo para aliviar o sofrimentos das pessoas, e, assim, demonstrar Cristo a elas?Nosso evangelismo não seria mais eficaz com demonstrações de generosidade?Bons estudos!!

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O PRINCÍPIO BÍBLICO DA GENEROSIDADE

Resumo

O subsídio desta semana (Lição 9 – 1º Trimestre de 2010 - de 28/02/2010) da Revista “Lições Bíblicas” de Jovens e Adultos, que está abordando o tema “Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas”, (um estudo na 2ª epístola de Paulo aos Coríntios), traz o assunto da Generosidade, com o título “O Princípio Bíblico da Generosidade”. O texto áureo desta lição está registrado em 2ª Co 9.7, que diz “Cada um contribua segundo propôs no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”. O comentarista, Pr. Elienai Cabral, extraiu do texto base (2 Co 8.1-5; 9.6, 7, 10 e 11), a seguinte verdade prática “A generosidade é um princípio que deve preencher o coração alcançado pela graça de Deus”. Este subsídio tem o objetivo de explorar profunda e exaustivamente este assunto; não sendo, de forma alguma, a última palavra num assunto tão amplo. Espera-se contribuir, assim, com os objetivos listados na lição bíblica que é: “conscientizar-se de que o princípio da generosidade está fundamentado na idéia de doar e não de ter; compreender que atender ao pobre em suas necessidades é um preceito bíblico; e, saber que a graça de contribuir está fundamentada no princípio de que mais ‘bem-aventurada coisa é dar do que receber’”.1 Bons estudos!!!

Palavras-Chaves: Generosidade; Princípio; Amor; Social; Voluntariedade

Introdução

A igreja é instrumento de Deus para abençoar a vida das pessoas, entretanto, observa-se uma resistência muito forte no que diz respeito a auxiliar o próximo. John Stott disse que “o recente debate sobre os méritos rivais do evangelismo e da responsabilidade social nunca são necessários”.2 Esse debate expressa, nas palavras de Stott “um dualismo anti-bíblico entre corpo e alma, este mundo e o porvir”.3 Veja que o evangelismo e a responsabilidade social “em qualquer caso somos chamados tanto para testemunhar como para servir; ambos são parte de nosso ministério e missão cristã”.4 Quem é o nosso próximo? A quem precisamos

1 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 1º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 57 p. 2 STOTT, John R. W. Evangelismo e Ação Social. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/

evangelismo/stott_evangelismo_acao.htm, acessado em 21/02/2010, às 16h25 3 STOTT, John R. W. Evangelismo e Ação Social. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/

evangelismo/stott_evangelismo_acao.htm, acessado em 21/02/2010, às 16h25 4 Idem.

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proporcionar toda nossa generosidade? Quais os momentos em que somos chamados à expressar apoio às pessoas? Será que de fato temos feito algo significativo para aliviar o sofrimento das pessoas, e, assim, demonstrar Cristo a elas? Nosso evangelismo não seria mais eficaz com demonstrações de generosidade? Vamos procurar responder essas e outras questões no decorrer deste subsídio.

Exemplos de Ações Generosas

O apelo à generosidade dos irmãos da igreja de Corinto teve como objetivo auxiliar os irmãos da Judéia, que padecem devido à grande fome que se abateu sobre aquela região. Paulo lembra os irmãos coríntios que as igrejas da Macedônia tão solícitos no auxílio, e, mesmo com poucos recursos, se comparados à abundância da igreja de corinto, não “arredaram pé” e, mesmo, sem possibilidades financeiras, de tudo fizeram a fim de auxiliar os irmãos da Judéia. “Havia uma competição com a Macedônia, que é o critério de comparação”.5 As lutas diárias e as dificuldades financeiras, e, ainda assim, pobres, os macedônios não se eximiram da responsabilidade de contribuir para melhorar a qualidade de vida de pessoas que, talvez, eles nunca houvessem visto, embora sendo irmãos. “...Eles têm sido muito mais generosos do que poderiam, e sem reclamações... Eles até imploravam e pediam que lhes concedêssemos o privilégio de doar... Além disso, suas doações não eram casuais, mas um ato de devoção ao Senhor”.6 Paulo reconhece, também, a boa vontade dos irmãos de Corinto quanto à generosidade, embora entenda que deva lembrar-lhes dessa virtude cristã tão elementar.

Paulo apela aos coríntios, demonstrando a lei da semeadura, mas ao mesmo tempo demonstra a preocupação de que a doação em si não seja forçada, mas de coração. Vemos aqui a preocupação com “o estado interno do doador, e não apenas com o ato de doar”.7 Hoje, em muitas igrejas, há apenas a preocupação com o ato de doar, e não com o estado interno do doador. Com isso estamos criando uma geração de cristãos materialistas, pois entendem a doação como uma forma de investimento, aguardando um retorno financeiro, apenas!!! A contribuição deve ser impulsionada pela graça de Deus, num ato voluntário, e, não pelo retorno que a atitude generosa (?) pode proporcionar. “A Nova Aliança enfatiza as duas coisas: a condição interna e a ação externa. O estado interno não é criado pela própria pessoa, mas por Deus”.8 Além disso, ao doar, permitimos para aqueles que recebem “uma razão para louvar a Deus, pois tiveram as necessidades supridas por intermédio de vocês... e o resultado é que eles vão orar a Deus por vocês”.9 Qual é o fundamento dessa generosidade? Qual é a fonte originária dessa atitude?

5 STERN, David H. Jewish New Testament Commentary. Título em Português: Comentário Judaico do Novo Testamento. Tradução: Regina Aranha, Lena Aranha, Valéria Lamim, Pedro Bianco, Marson Guedes, Edinal Rocha, Celia Clavello. Supervisão Editorial: Marcos Simas. São Paulo: Didática Paulista. Belo Horizonte: Editora Atos, 2008. 552 p. 6 Idem. 552 p. 7 Ibdem. 553 p. 8 Ibdem. 553 p. 9 Ibdem. 553 p.

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Exortação ao espírito generoso para contribuir

Vejamos a questão das igrejas e o atendimento social, hoje. A resposta das igrejas, na atualidade, diante das mazelas, misérias e sofrimentos da vida, através das ações sociais, tem sido muito tímida. Salvo raríssimas exceções, as mesmas apenas auxiliam, e, ainda assim, muito pouco, e, somente, os domésticos na fé. Mas, é somente esses o alvo do amor de Deus? Não!! Na verdade a igreja é chamada para servir seus membros, bem como a comunidade ao seu redor.

O discurso corrente nos templos das igrejas desavisadas acerca de lei da semeadura, na qual “o que semeia pouco, pouco também ceifará; e o que semeia em abundância em abundância também ceifará” (2 Co 9.6), está sendo dirigido aos crentes sem a devida responsabilidade, onde a interpretação errônea é aquela doação egoísta, isto é, na qual espera--se retorno de alguma forma – melhor ainda se for financeiro. Assim o sentido de doar-se que caracteriza o amor, se perde. E o sentido de ganhar e se promover ás custas do sofrimento do outro, acaba por caracterizar uma atitude mesquinha, que não é diferente de quem não ajuda. Estes não receberam o favor de Deus! Paulo tinha o cuidado de não transformar doações em investimentos de longo prazo. Ele disse: “Cada um contribua segundo propôs em seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria”. Dar com alegria, independente do retorno é o verdadeiro sentido, mesmo tendo consciência das bênçãos divinas. Ação Social não se faz esperando retorno, nem financeiro, nem de gratidão, é uma atitude de coração transformado, que doa. Embora muitas igrejas, querem ter retornos dos investimentos sociais que fazem, o Senhor Jesus nos informa que precisamos ter a mesma atitude que Ele teve com tantas pessoas que necessitavam de sua generosidade no amor, na cura, na atenção, enfim. Está correto quando certa religiosa quando escreveu “Não quero que deis da vossa fartura: quero que deis até doer”. Isto é, que seu envolvimento não seja superficial, fácil, que doa aquilo do que está sobejando, mas, ao contrário, que seu envolvimento seja tão intenso quanto a disposição que aquela viúva teve, quando doou apenas 2 moedas, sendo essa doação tudo o que ela tinha. Jesus nos afirma, que essa saiu justificada. Ela foi ainda mais radical quando afirmou “Quem não vive para servir não serve para viver”. A necessidade é tão grande que não dá para pensar em si próprio. Veja a preciosidade do texto abaixo:

À medida que se consegue dar, fica-se mais rico... Em um mundo em que o ter supera, muitas vezes, o ser, o sentimento de generosidade aparece contaminado por enfoques de doações materiais e estas, embora certamente ajudem , não alimentam a alma humana. A generosidade é filha do amor que, desligado de pré-conceitos e de interesses ocultos, abre as portas de nosso coração para que nos comuniquemos com o outro, de um modo mais solto, mais fácil e aberto. A generosidade é irmã da amizade que une e solidariza os homens, possibilitando o ultrapassar de suspeitas e de distâncias sociais e raciais. Seus maiores inimigos serão o egoísmo, que nos cega, e o sentimento de posse, que não admite perdas ou concessões. Por outro lado, quando se consegue ser generoso com alguém, estados mentais positivos se instalam, estados que nos enriquecem por nos conduzirem a uma melhor saúde mental e à sensação de felicidade. Refletindo sobre generosidade, lembrei-me do texto ‘O último discurso’ de Charles Chaplin, em que ele diz: "Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar - se possível - judeus, gentios... negros... brancos.

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Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo - não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.”10

Leon Tolstoi afirma que “Não há senão um modo de sermos felizes: viver para os outros”. Entretanto, os homens preferiram desprezar o outro. Segundo Paulo Geraldo:

Os homens descobriram há muitos séculos que o amor é o mais importante de tudo; que é ele que move o mundo; que é ele que guia os passos dos humanos; que nada mais interessa. Mas temos assistido a uma mudança subterrânea: continuaram a dar a mesma importância ao amor, mas mudaram sutilmente o conteúdo da palavra. Chamaram amor a outras coisas, à superfície do amor, à escória do amor. Construíram uma mentira gigantesca. Têm chamado amor a coisas nas quais não conseguimos descobrir senão egoísmo, equilíbrio de egoísmos, negócio.

Precisamos alertar com urgência a igreja contemporânea para a gravidade da situação. Tomás de Aquino concorde com as Escrituras quando diz: “A melhor coisa que se pode fazer a alguém é levá-lo do erro à verdade”, embora, muitos prefiram ficar e permanecer no erro. E, pior, preferem continuar alienados da realidade, distante da concretude da vida. Veja como o ser humano é egoísta, e só pensa em si:

Eu sei: tens medo de que não te retribuam; achas que se pensares nos outros eles não pensarão em ti; que poderás ficar diminuído por seres sempre tu a ceder... Mas quem foi que te disse que o amor era um negócio? Onde aprendeste que era uma atividade centrada em ti mesmo, destinada a dar-te satisfação? O amor é um mau negócio: é, como escreveu Camões num soneto lindíssimo, ‘cuidar que se ganha em se perder’. É uma loucura que leva a acreditar que enriquecemos quando nos damos; que só somos nós mesmos quando não queremos saber de nós. E, descansa, nenhum outro comportamento é tão contagioso. (Paulo Geraldo)

Não, definitivamente, o que nos move não é a lei da semeadura, mas, sim, a liberalidade para com as necessidades alheias. Somente neste ponto (2 Co. 9.6) é que “o apóstolo Paulo começa a mostrar que as doações são um benefício mútuo”.11 Ele afirma que

10 Disponível em http://www.elisabethsalgadoencontrandovoce.com/generosidade.htm, acessado em 20/02/2010, às 10h14 11 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, Volume III, 1995. 384p.

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a “ajuda àqueles que estão em necessidade e provoca a bênção divina sobre aquele que dá; por isso mesmo tal crente não pode sofrer perda, financeira ou espiritual”.12

Em tudo isso, entretanto, jamais devemos tomar uma atitude cobiçosa, pensando em esperar lucro pessoal. Por isso é que um homem generoso disse de certa feita: ‘Tenho amado mãos do que tenho sido amado. Tenho confiado mais do que têm confiado em mim; mas o peso da balança continua pendendo para meu lado’. Assim, pois, aquela lei espiritual e natural permanece de pé: Colhemos aquilo que tivermos semeado.13

“A qualidade da misericórdia não é forçada, Goteja como a chuva suave dos céus,

Sobre o lugar mais abaixo; é duplamente bendita; Abençoa quem dá e também quem recebe”.14

Kruse afirma que “a fim de reforçar sua exortação para que os coríntios contribuíssem com generosidade, Paulo cita textualmente umas palavras do Salmo 111.9 (LXX), 112.9 (ARA)”.15 No verso 10, Paulo está dizendo que o “Deus que provê a semente ao semeador multiplicará tal ‘sementeira’, e aumentará a colheita, os frutos”.16

Os princípios da Generosidade

A Generosidade é resultante da graça de Deus. A palavra amor é um termo que no grego tem quatro significados. Precisamos definir, portanto, estes significados. São eles: Eros, Philia, Storge e Agape. “Eros” diz respeito ao “amor de um rapaz para com uma jovem,; sempre há um lado predominantemente físico, e sempre envolve amor sexual”.17 “Philia” é uma palavra que descreve “um relacionamento caloroso, íntimo e tenro do corpo, mente e espírito... inclui o lado físico do amor... pode significar acariciar e beijar”.18 É a paixão, que é intensa, mas logo murcha e esfria. “Storge” é o termo usado para significar o “amor no lar, do amor dos pais para com os filhos e dos filhos para com os pais, para o amor entre irmãos, irmãs e parentes”.19 Finalmente, temos mais uma palavra, no grego, que significa amor, é o termo “Agape”. Barclay citando R. C. Trench, informa que “‘Agape’ é uma palavra que nasce no seio da religião revelada”.20 É o cristianismo!! “... é uma palavra nova que

12 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, Volume III, 1995. 384p. 13 Idem. 384 p. 14 Ibdem. 384 p. 15 KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 177 p.. (Série Cultura Bíblica). 16 Idem. 178p. 17 BARCLAY, William. Flesh and Spirit. Titulo em Português: As Obras da Carne e o Fruto do Espírito. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. 60 p. 18 Idem. 61p. 19 Ibdem. 61p. 20 Ibdem. 61 p.

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descreve uma qualidade nova, uma palavra que indica uma atitude nova para com os outros, uma atitude nascida dentro da comunidade, é impossível sem a dinâmica cristã”.21

Como, pois, devemos determinar o significado de agape? Podemos determinar melhor seu significado tendo por fundamento a maneira de o próprio Jesus falar dele. A passagem básica é Mt. 5.43-38. Ali, Jesus insiste em que o amor humano deve seguir o padrão do amor de Deus. E qual é a grande característica do amor de Deus? Deus faz vir chuvas sobre justos e injustos, e faz nascer o sol sobre maus e bons. Logo, o significado de agape é a benevolência invencível, a boa vontade que nunca é derrotada. Agape é o espírito no coração que nunca procurará outra coisa senão o sumo bem do seu próximo. Não se importa com o tratamento que recebe do seu próximo, nem com a natureza dele; não se importa com a atitude do próximo para com ele, nunca procurará outra coisa a não ser o sumo bem do próximo, o melhor para ele. Quando se vê isto, imediatamente surgem algumas verdades vitais... No amor cristão a idéia do mérito não deve ser levada em conta... O amor cristão... é uma benevolência que abrange a todos. Agostinho disse a respeito de Deus que ele ama a todos como se houvesse uma só pessoa para Ele amar; o amor cristão deve moldar-se no amor de Deus... Na realidade, tem sido dito que, em pelo menos um dos seus aspectos, agape é a capacidade, o poder e a determinação de: amar as pessoas das quais não gostamos. É certamente verídico que este amor cristão não e uma coisa fácil e sentimental; não é uma resposta emocional automática e não procurada. É uma vitória sobre o eu. A pura verdade é que este amor cristão é o fruto do Espírito; é algo totalmente impossível sem a dinâmica de Jesus Cristo... O amor cristão se importa. O amor cristão é o próprio inverso dos princípios elementares da filosofia pagã. O filósofo pagão dizia: ‘Ensina-te a não te importar’. A mensagem cristã dizia: ‘Ensina-te a importar-te apaixonada e intensamente com os homens’. O filósofo pagão dizia: ‘Não deves, em circunstância alguma, ficar pessoal e emocionalmente envolvido na situação humana’. A mensagem cristã diz: ‘Deves entrar na situação humana de tal maneira que vejas, penses e sintas com os olhos, a mente e o coração da outra pessoa na sua profunda identificação com os outros’. A mensagem cristã oferecia o caminho para a felicidade naquela mesma atitude que o filósofo pagão considerava como o caminho da infelicidade... O amor é generoso (2 Co. 8.24). Há dois tipos de amor – o amor que exige e o amor que dá. O amor cristão é o amor que dá, porque é uma cópia do amor de Jesus (Jo 13.34), e tem seu motivo principal no amor generoso de Deus (1 Jo 4.11). O amor é prático (Hb 6.10; 1 Jo 3.18). Não é meramente um sentimento bondoso, não se limita aos melhores votos piedosos; é amor que resulta em ação... o amor cristão manifesta-se quando Cristo é novamente encarnado através de uma pessoa que se entregou totalmente a Ele.22 (BARCLAY, 1992)

Temos, aqui, três fundamentos importantes: (a) o amor ágape é originário em Deus; (b) é generoso; e, (c) é prático. Segundo o dicionário Michaelis23 o termo “generosidade” é a “qualidade de generoso”; “é uma ação generosa”; “liberalidade” , cujo antônimo é

21 BARCLAY, William. Flesh and Spirit. Titulo em Português: As Obras da Carne e o Fruto do Espírito. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. 61 p. 22 Ibdem. 60-64; 74-75 p. 23 WEISZFLOG, Walter. Michaelis - Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos. São Paulo, 1998-2007. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php? lingua=portugues-portugues&palavra=generosidade, acessado em 20/02/2010, às 16h22

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“mesquinhez”. O mesmo dicionário informa que uma pessoa generosa é “dotada de caráter nobre”; “que tem qualidades ou sentimentos nobres”; “que tem grandeza de alma”; “liberal” ; “franco” ; “benevolente”; “grandioso” ; “sublime” . O antônimo [isto é, o contrário] de generoso é “mesquinho”. Temos, então, que uma pessoa generosa não é uma pessoa mesquinha. Uma pessoa mesquinha é aquela que, entre outras coisas, é “avarenta” ; “miserável”; “pouco generosa”; “sem qualidades de grandeza”; “desditosa”; e, “infeliz” .

Diante desse quadro, como uma pessoa qualificada como cristã pode ser mesquinha? Jesus nunca foi mesquinho, ao contrário, Ele foi generoso em tudo, tendo seu fundamento no amor agape, doador. E, se, anunciamos, com todas as letras, que não vivemos mais nós, mas que Cristo vive em nós, não podemos ser avarentos, miseráveis, e sem qualidades e sentimentos nobres. Temos de, ao contrário disso, sermos generosos, dotados de caráter nobre e benevolente. Como podemos ser tudo isso? Na prática. O amor sem a prática é mentiroso, individualista e egoísta. O apóstolo Tiago, meio-irmão de Jesus e dirigente da igreja de Jerusalém, martirizado em 62 d. C., segundo o historiador judaico Flavio Josefo, é considerado o autor da epístola que leva seu nome. Tiago demonstra em sua epístola um tema prático: “A fé manifesta-se pelas obras”.

O amor é generoso (doador) e prático (não meramente sentimento bondoso). Tiago 1.27 diz que: “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como sincera e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e, especialmente, não se deixar corromper pelas filosofias mundanas”24. A essência do relacionamento com Deus não está nos ritos litúrgicos. Tiago procura demonstrar isso ao afirmar que o verdadeiro contato com Deus se dá no cotidiano, no dia-a-dia, nas relações interpessoais, no atendimento às pessoas, principalmente, às mais necessitadas, ou menos-favorecidas.

Vamos analisar dois ensinamentos de Cristo registrados em Mateus 7.21-23 e 25.31-46. Esses dois discursos o Senhor Jesus enfatiza as percepções falsas que os homens possuem acerca do que significa a verdadeira religião; ou, a verdadeira forma de se relacionar com Deus. Em Mateus 7.21-23, Jesus demonstra quem serão aqueles que entrarão no Reino dos céus. Ele enfatiza que são aqueles que “faz a vontade de meu Pai, que está nos céus”. Os homens, que pensavam em estar fazendo a vontade do Pai, imaginando que o exercício profético e sacerdotal seria aprovação de Deus; e, que, isso era suficiente para garantir sua entrada no Reino dos céus, na verdade, se enganaram!! Muitos pensam que o sucesso ministerial é garantia de vida eterna. Profetizar em nome de Jesus, Expulsar demônios e fazer maravilhas em nome de Jesus, são credenciais ministeriais, mas que para a salvação, de nada valem, pois são operações miraculosas que Deus realiza, pois o alvo dele são as pessoas beneficiadas. Lembre-se, Jesus veio libertar os cativos. Então as manifestações miraculosas são exteriores ao agente por intermédio de quem o Senhor age, e não credencia para a salvação. Muitos estão equivocados, e continuam amando a si próprios, praticando iniqüidade, e imaginando que a cada “show” miraculoso que realizam é porque Deus os perdoou. Não, não é isso! Champlin vai mais fundo na questão:

24 BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada (KJA). São Paulo, Abba Press, 2007.

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Jesus não nega que grandes obras foram feitas ou possam ser feitas, e nós também não precisamos negar o fato. As pesquisas sobre os fenômenos psíquicos demonstram a capacidade de certas pessoas em prever o futuro, curar, falar línguas estrangeiras sem nenhum estudo, expulsar maus espíritos e exercer outros poderes espantosos, mesmo fora de qualquer seita religiosa, ou como demonstração de muitas e diferentes religiões... Tais atos podem ser feitos pelo poder dos demônios, que também são seres espirituais, em geral dotados de mais poder do que os homens. A grande lição é que o sucesso que o mundo vê não serve de ‘critério legítimo’ sobre o conhecimento que alguém tem de Cristo, e nem mesmo da relação que mantém com Ele. Pesquisas feitas sobre essa questão mostram que tais poderes sempre foram comuns a todas as civilizações, mesmo as separadas de qualquer fé cristã. Portanto, cabe aqui uma palavra de cautela, dirigida a todos: a própria existência dos fenômenos de natureza verdadeiramente sobrenatural, não é prova de cristianismo autêntico, pois esses fenômenos podem ter várias fontes, ou seja, a própria personalidade humana, em sua porção espiritual, o poder dos demônios e o poder do Espírito de Deus... É possível que alguém realize milagres e curas, preveja o futuro, expulse demônios, e, no entanto, não esteja fazendo a vontade de Deus. Os falsos profetas fizeram (e fazem) tais milagres. Talvez os “frutos” dos falsos profetas e de seus discípulos incluam milagres. Geralmente, entre os homens, o ato milagroso automaticamente serve de prova da presença da mão de Deus (sic), mas Jesus mostra que tais coisas podem estar fora da ‘vontade’ de Deus.25

Ora, então qual é a forma de entrar no Reino dos céus? Somente através do novo nascimento, que proporciona um milagre interior, uma mudança radical na vida do ser humano. Então concluímos que os atos sobrenaturais, que são exteriores, não representam, necessariamente, a vontade de Deus; mas, precisamos primeiramente SER26 crente para depois FAZER 27 as coisas de crente, que é fazer a vontade do Pai.

Vejamos, então, na sequencia dessa análise, o que as Escrituras nos diziam em Mateus 25.31-46, para entender o que Tiago classifica como verdadeira religião. Mais uma vez Jesus nos informa as credenciais de um verdadeiro cristão. O pano de fundo desta cena, demonstra um lugar e época distinta da nossa, depois da Grande Tribulação e antes do Milênio. Ele fará a separação entre o ímpio e os justos. Nesse caso, a igreja estará já com o Senhor. Mas a ênfase aqui não está na época e lugar, mas nos critérios e, é a isso que nos prenderemos para análise. A compreensão da verdadeira religião perpassa pelas atitudes que temos diante das pessoas nas suas misérias, males e sofrimentos. As expressões do verso 35 e 36 são emblemáticas demonstrando o sofrimento das pessoas e as atitudes do servo de Deus diante do sofrimento. “porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me” (MATEUS 25.35-36). Veja a explanação de Champlin acerca desses versos:

Mediante essas expressões encontramos a diversificada gama de males e sofrimentos que sobrevêm aos homens. Aqui temos indicações sobre a sorte

25 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, Volume I, 1995.

335p. 26 Grifo meu 27 Grifo meu

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do homem e sobre o ‘problema do mal’. As reivindicações desses famintos, destituídos e estranhos clamam de forma universal, exigindo ação da parte dos homens, ação essa baseada em nossas sensibilidades e no nosso senso de ‘humanidade comum’. Temos uma sucessão de males – cada vez mais graves – entre os homens. Alguns podem estar padecendo sede e fome sem estarem totalmente destituídos, por más que sejam essas manifestações. Outros, porém, são destituídos de tudo, vagueando sem lares e sofrendo de solidão, enfermidade e futilidade da pior espécie. Não há que duvidar que os tais, ao mesmo tempo, padecem de fome. Alguns vivem tão destituídos das possessões comuns da vida que nem ao menos possuem vestes apropriadas. Outros, por falta de uma alimentação equilibrada, enfermam. Outros têm sofrido injustiça às mãos das autoridades, e mofam nas prisões. Assim é que existem graus sucessivos de desgraças. A cada uma dessas desgraças, o verdadeiro discípulo do reino precisa reagir. Heubner (in loc.) diz: ‘Os atos de amor aqui citados não são tais que requeiram mera doação de dinheiro; mas são tais que envolvem também o sacrifício de tempo, de forças, de descanso e de conforto...’. Outros têm observado que esses atos de bondade não envolvem necessariamente a cura da enfermidade ou a soltura da prisão, mas envolve certamente a visita como expressão de simpatia, de atenção, de presentes de misericórdia, de palavras de compreensão. Essas expressões resultam da graça do Espírito atuando no íntimo. A caridade e o amor são filhos da fé, e a fé é um dom do Espírito; todavia, está disponível para todos, porquanto essa é a provisão de Deus para todos os crentes. Os rabinos têm um lema que é paralelo a esta passagem: ‘Todas as vezes que um pobre apresentar-se diante de tua porta, o Deus santo e bendito está à sua direita: se lhe deres uma esmola, sabe que aquele que está à sua direita te recompensará. Porém, se não lhe deres uma esmola, aquele que está à sua direita te castigará’ (Vaiyikra Rabba, s. 34, fol. 178).28

As duas passagens analisadas conjuntamente nos dão uma noção pormenorizada da religião que Jesus nos afere. Ela não é resultante de atos sobrenaturais (Mateus 7.21-23), nem medida pelo sucesso ministerial. A verdadeira religião diz respeito ao ser cristão; e, não, isoladamente ao fazer e nem ao ter. A verdadeira religião está diretamente ligada ao fato de fazer a vontade do Pai. E qual é a vontade do Pai? Adam Clarke escreveu o seguinte:

Enquanto escrevo isto (seu comentário sobre esta passagem, em 13 de novembro de 1978), ouço os sinos que repicam fortemente em comemoração ao aniversário de E. Colson, Esq., um nativo desta cidade (Bristol), que passou uma longa vida e gastou uma imensa fortuna procurando aliviar as misérias dos aflitos. Seu trabalho continua a louvá-lo às portas; seu nome é reverenciado, e o seu aniversário é considerado uma data sacra, entre os habitantes da cidade. Quem já ouviu os sinos repicarem em comemoração do aniversário de qualquer herói ou rei falecido? De muito maior valor, até mesmo aos olhos das multidões, é uma vida de utilidade pública do que uma vida de glória mundana ou de posição secular exaltada. Porém, qual não deve ser a exaltada posição de tal pessoa aos olhos de Deus, a qual quando Cristo, na pessoa de seus representantes, teve fome, deu-lhe de comer; quando sedento, deu-lhe de beber; quando nu,

28 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, Volume I, 1995. 582p.

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vestiu-o; quando enfermo ou encarcerado visitou-o! Vinde, benditos de meu Pai (Na Bhagvar Geet – par. 46).”29

A verdadeira religião é aquela na qual somente a pessoa que nasceu de novo pode transmitir ao próximo, a saber, o amor ágape, aquele que se importa. O amor doador e prático. O Deus supremo é apresentado a dirigir-se à humanidade com as seguintes palavras: “Aqueles que preparam seu alimento só para si mesmo, come o pão do pecado”30. Assim, voltando ao texto de Tiago 1.27 que diz: “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como sincera e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e, especialmente, não se deixar corromper pelas filosofias mundanas”31, verificamos que a vontade do Pai é manifestar seu amor que doa, que sente, que se importa, ou seja, que é generoso e prático32. Que também se manifesta no texto de Tiago 2.15, 16, que diz: “Se um irmão ou uma irmã estiverem necessitados de roupa e passando privação do alimento de cada dia, e qualquer dentre vós lhes disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e comei até satisfazer-vos’, porém sem lhe dar alguma ajuda concreta, de que adianta isso?33 A ajuda concreta aqui é a generosidade originada no amor de Deus. Tiago continua, 2.17: “Deste modo em relação a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta”34. Certamente que o amor do Pai não habita em quem age assim.

Importantíssima em seu alcance é a lição deste texto; e também um tanto perturbadora para uma igreja que tem de tal maneira enfatizada a justificação pela fé que tem perdido de vista o fato de que aquilo que praticamos também se reveste de vasta importância. A ausência de tais obras é prova da ausência de fé. A presença e o desenvolvimento dessas obras, que operam através do princípio do amor, neste texto, são considerados como prova de que a pessoa pertence ao grupo das ‘ovelhas’, que ela é um filho autêntico do reino, e que aquele grande e bendito reino será a sua herança. É realmente estranho que Jesus pouco diga aqui sobre dogmas, crenças, etc., os quais parecem tão importantes para nós hoje em dia, ao mesmo tempo que nos olvidamos que a verdadeira fé em Cristo resulta na expressão do mesmo tipo de vida que Ele viveu. Jesus andou fazendo o bem, curando as enfermidades, e de toda forma mostrava a sua simpatia para com os que padeciam não só de necessidades espirituais, mas também de necessidades físicas. O Senhor espera que nossas ações sejam idênticas, que expressemos o mesmo amor. De fato, essa vida é o terreno de provas onde se desenvolve a natureza moral que Jesus teve, e isso certamente inclui qualidade morais positivas, como a gentileza, [a generosidade]35, o amor e a simpatia. A importância da encarnação tem um de seus alicerces aqui. Ele viveu a fim de mostrar-nos ‘como se deve’ viver. Ele exerceu o amor do Pai; e, na qualidade de seus irmãos, espera-se de nós que façamos outro tanto. Ele é ‘o Caminho’, mas também é o ‘pioneiro’ do caminho. Ele palmilhou pela estrada que nos compete atravessar, e nos

29 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, Volume I, 1995. 583p. 30 Idem. 583 p. 31

BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada (KJA). São Paulo, Abba Press, 2007. 32 Grifo meu 33 Idem. 34 Ibdem.. 35 Grifo meu

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ensinou como se anda por essa estrada. O princípio que se aplica tudo é o ‘amor’. A fé é a mãe do amor. A fé que não é acompanhada pelo amor está morta; tal fé não pode salvar a ninguém.36

Ao contrário da atitude pós-moderna onde impera o individualismo e o egoísmo, a generosidade inclui sempre o outro, seja ele quem for. Porquanto a generosidade é a graça de Deus em ação, é o ato de doar, que nunca despreza o outro e suas necessidades, mas envolve-se de tal forma a supri-las, pois é, prático. O que dizer das igrejas da atualidade? Estão, de fato, sendo espirituais, ao compreender o sentido da verdadeira religião, expresso através das linhas da epístola de Tiago 1.27? Temos sido, na verdade, voluntariosos acerca das necessidades do outro? Quem são esses outros? É o que veremos a seguir.

Quem é o meu próximo?

Citando mais uma vez Stott, “nossa negligência evangélica do interesse social até os anos recentes, e todo o argumento sobre o evangelismo e a ação social, tem sido tanto inadequada como desnecessária”.37

Certamente os cristãos evangélicos têm totalmente o direito de rejeitar o assim chamado 'evangelho social' (que substitui as boas novas da salvação com uma mensagem de aperfeiçoamento social), mas é incrível que nós jamais deveríamos ter colocado a obra evangelística e social, uma contra a outra, como alternativas. Ambas deveriam ser expressões autênticas de amor ao próximo. Pois quem é o meu próximo, para que eu o ame? Ele não é uma alma sem corpo, nem um corpo sem alma, nem um indivíduo privado divorciado do envolvimento social. Deus fez o homem um ser físico, espiritual e social. Meu próximo é um corpo e alma em comunidade. Eu não posso reivindicar amar meu próximo se estou realmente preocupado com apenas um aspecto dele, seja sua alma ou seu corpo, ou sua comunidade. (Extraído “Ande Sob os Seus Pés” - London: IVP, 1975, p. 16). Há um modo de expressar a relação entre o evangelismo e a ação social, na qual, creio, ser verdadeiramente cristã, a saber, de que a ação social é ‘uma parceira do evangelismo’. Como parceiros os dois pertencem um ao outro e, todavia, são independentes um do outro. Cada um permanece de pé por si mesmo e em seu próprio direito ao lado do outro. Nem é algum deles um meio para o outro, ou nem mesmo uma manifestação do outro. Porque cada um é um fim em si mesmo. Ambos são expressões de amor genuíno. (Extraído “A Missão Cristã no Mundo Moderno” - London: Falcon, 1975, p. 27)

O reino de Deus não é delimitado por uma região geográfica, nem nele há estrutura política de esferas executivas, legislativas ou judiciárias, não está envolta num emaranhado de sistemas como na nossa sociedade. Não, definitivamente, não!! Também, não é uma

36 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, Volume I, 1995. 583p. 37

STOTT, John R. W. Evangelismo e Ação Social. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/ evangelismo/stott_evangelismo_acao.htm, acessado em 21/02/2010, às 16h25

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sociedade cristianizada. Reino de Deus é “a regra divina nas vidas daqueles que reconhecem Cristo” .38 O reino é resultante da atitude do servo de Deus para que se faça a vontade de Deus aqui na terra. E sem um novo nascimento é impossível vê-lo, muito menos entrar nele. Stott afirmou que:

“Aqueles que o recebem como uma criança, contudo, encontram-se a si mesmos como membros de uma nova comunidade do Messias, que é chamada para exibir os ideais de Seu governo do mundo e assim apresentar ao mundo uma realidade social alternativa. Esta mudança social do evangelho do reino é totalmente diferente do 'evangelho social'. Quando Rauschenbusch39 deu um caráter político ao o reino de Deus, é compreensível (embora lamentável) que, em reação a ele, os evangélicos se concentraram no evangelismo e na filantropia social, e se afastaram da ação sócio-política”. (Extraído “Assuntos que Confrontam os Cristãos Hoje” - London: Collins/Pickering, 1990, p. 7)

A responsabilidade social torna-se um aspecto não somente da missão cristã, mas também da conversão cristã. É impossível ser verdadeiramente convertido a Deus sem ser através disso convertido ao nosso próximo. Lembre-se do que João disse:

Amados, amemo-nos uns aos outros, porque a caridade é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é caridade. Nisto se manifestou a caridade de Deus para conosco: que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos. Nisto está a caridade: não em que nos tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus assim nos amou, também nós devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se nós amamos uns aos outros, Deus está em nós, pois que nos deu do seu Espírito, e vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo. Qualquer que confessar que Jesus é o Filho de Deus, Deus está nele e ele em Deus. ... Nós amamos porque Ele nos amou primeiro. Se alguém diz: Eu amo a Deus e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? E dele temos este mandamento: que quem ama a Deus, ame também seu irmão. (1 João 4.1-15, 19-21)

Stott disse que “a cruz é uma revelação da justiça de Deus tanto como de Seu amor. Isto é o porquê a comunidade da cruz deveria se concentrar tanto com a justiça social como com a filantropia amorosa”.40 Uma pergunta: o agravamento da calamidade vista no Haiti é resultante tão somente por conta dos abalos sísmicos? A exagerada destruição de casa não seria, também, resultante da falta de uma estrutura mais resistente e adequada? Ora, os noticiários nos informam que a destruição mais terrível ocorreu no lado pobre da cidade, e, embora o lado rico, também, foi atingido, suas casas ficaram quase que intactas. Então

38 STOTT, John R. W. Evangelismo e Ação Social. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/

evangelismo/stott_evangelismo_acao.htm, acessado em 21/02/2010, às 16h25 39

Walter Rauschenbusch (1861-1918) - Pastor batista americano; pai do evangelho social; ensinou no Seminário Teológico de Rochester; tentou alcançar as pessoas do Hell's Kitchen; escreveu Cristianismo e a Crise Social e Uma Teologia para o Evangelho Social. [Nota do tradutor]. 40 Extraído de “A Cruz de Cristo” (Leicester and Downers Grove: IVP, 1986), p. 292.

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concluímos que, por conta da corrupção, as pessoas vivem na miséria, e, quando ocorre um cataclisma, a situação piora.

Muito bem!!! Onde entra o Evangelho aí? Entra na questão citada por Stott quando escreveu: “Nunca é suficiente ter piedade das vítimas de injustiça, se não fazemos nada para mudar a situação dos injustiçados... os bons samaritanos sempre serão necessários para socorrer aqueles que são assaltados e roubados; todavia, seria bem melhor libertar a estrada de Jerusalém-Jericó de salteadores”.41 É uma questão de implementar os valores do Reino de Deus através de ações sócio-políticas. Mas aí é uma questão macro!! Uma questão de saber realmente o que é o Evangelho em sua pureza, compreendê-lo e colocá-lo em prática.

Nós somos enviados ao mundo, como Jesus, para servir. Porque isto é a expressão natural de nosso amor aos nossos próximos. Nós amamos. Nós vamos. Nós servimos. E nisto não temos (ou não deveríamos ter) nenhum motivo escondido. É verdade, o evangelho carece de visibilidade se meramente o pregamos, e carece de credibilidade se nós, que o pregamos, estamos interessados somente nas almas, e não temos interesse sobre o bem-estar dos corpos, situações e comunidades das pessoas. Todavia, a razão de nossa aceitação da responsabilidade social não é para dar primariamente ao evangelho uma visibilidade, nem uma credibilidade, nem mesmo para suprir alguma outra carência; mas, ao invés disso, para simplesmente demonstrar uma compaixão genuína. O amor não precisa se justificar. Ele meramente se expressa no serviço, não importa quando ele se mostre necessário. (Extraído de “A Missão Cristã no Mundo Moderno” -London: Falcon, 1975, p. 30)

No ministério de Jesus palavras e obras, pregação do evangelho e serviço misericordioso, anda de mãos dadas. Suas obras expressam suas palavras, e suas palavras explicam suas obras. Deve ser o mesmo conosco. As palavras são abstratas, elas necessitam serem incorporadas em feitos de amor. As obras são ambíguas, elas necessitam serem interpretadas pela proclamação do evangelho. Guarde as palavras e as obras juntas no serviço e no testemunho da Igreja.42

Conclusão

O evangelismo é o maior instrumento de mudança social. Porque o evangelho muda pessoas, e pessoas mudadas podem mudar a sociedade. Os seguidores de Jesus são otimistas, mas não utópicos. É possível melhorar a sociedade; mas uma sociedade perfeita espera o retorno de Jesus Cristo.

Ao urgir para que evitemos a escolha ingênua entre evangelismo e ação social, eu não estou implicando que todo cristão individualmente deva estar igualmente envolvido em ambos. Isto seria impossível. Além do mais, devemos reconhecer que Deus chama pessoas diferentes para ministérios

41 Extraído de “A Cruz de Cristo” (Leicester and Downers Grove: IVP, 1986), p. 292.

42 Extraído de “Evangelismo e Responsabilidade Social”, Southern Cross (Outubro de 1980), p. 23.

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diferentes e capacita-os com dons apropriados aos seus chamados... Embora todo cristão de uma forma individual deva descobrir como Deus o chamou e dotou, eu me aventuro a sugerir que a igreja local como um todo deva estar envolvida com a comunidade secular local como um todo. (Extraído de “Cristianismo Equilibrado” -London: Hodder and Stoughton, 1975, p. 46)

Há a necessidade de um reconhecimento triplo sobre o evangelismo e a ação social: (a) Um reconhecimento de que os dois são parceiros na missão cristã... parceiros 'distintos, todavia iguais'; (b) Um reconhecimento de que ambos são responsabilidades de todo cristão como um indivíduo; e, (c) Um reconhecimento de que, embora ambos seja parte dos deveres da igreja e dos cristãos, todavia, Deus chama pessoas diferentes para ministérios diferentes e as capacita com dons apropriados. (Extraído de “Evangelismo, Salvação e Justiça Social”, de R. J. Sider com uma resposta de John Stott - 2nd edn. Nottingham: Grove Books, 1979, p. 22).

Somos verdadeiramente livres, quando somos alcançados pela graça de Deus. Essa graça é transformação real de vida, na qual o ser humano passa a desfrutar da liberdade em Cristo. Essa liberdade, conduzida pelo amor, leva-nos a importar-nos com o outro, em sua realidade, sofrendo junto, lutando para transformar realidades, produzindo seguidores de Cristo, e não, apenas, adeptos de determinadas igrejas. Onde há necessidade humana, aí é um campo missionário, o que nos leva a outro ponto, no método de evangelização. A evangelização não é feita somente por métodos, mas por vida; não em horários marcados, mas contínuo, fazendo parte integrante da vida da pessoa. Não somos cumpridores de obrigações religiosas, mas somos envolvidos com Cristo de tal forma, que, ao se importar com o próximo, sofrendo, chorando, alegrando-se, dando de comer, beber e acobertar-se, Ele, Jesus, na verdade, se encarna em nós, e através de nós, Ele alcança as pessoas pela nossa vida integral, de discípulo e servo, em todo instante, em todo lugar.

Referências BARCLAY, William. Flesh and Spirit. Titulo em Português: As Obras da Carne e o Fruto do Espírito. Tradução: Gordon Chown. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992 BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James Atualizada (KJA). São Paulo, Abba Press, 2007. Grifos meus. CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, 1995. JONES, Martyn Lloyd. Estudos no Sermão do Monte [Studies in the Sermon on the Mount]. São José dos Campos – SP: FIEL, 1992

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KRUSE, Colin G. The Second Epistle of Paul to the Corinthians – An Introducion and Comentary. Tradução de Oswaldo Ramos. Revisão Liege Marucci, João Guimarães, Theófilo Vieira. Coordenação editorial e de produção: Vera Villar. SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, 1994. 145 p.. (Série Cultura Bíblica). BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 1º Trimestre de 2010. CPAD, 2010 MILNE, Bruce. Know the Truth. Título em português “Estudando as Doutrinas da Bíblia”. Tradução de Neyd Siqueira. Revisão Rosa Maria Ferreira. ABU Editora S/C, 5ª ed. 1996. STERN, David H. Jewish New Testament Commentary. Título em Português: Comentário Judaico do Novo Testamento. Tradução: Regina Aranha, Lena Aranha, Valéria Lamim, Pedro Bianco, Marson Guedes, Edinal Rocha, Celia Clavello. Supervisão Editorial: Marcos Simas. São Paulo: Didática Paulista. Belo Horizonte: Editora Atos, 2008.

STOTT, John R. W. Ande Sob os Seus Pés - London: IVP, 1975. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004.

STOTT, John R. W. A Cruz de Cristo. Leicester and Downers Grove: IVP, 1986. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

STOTT, John R. W. A Missão Cristã no Mundo Moderno. London: Falcon, 1975. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

STOTT, John R. W. Assuntos que Confrontam os Cristãos Hoje. London: Collins/Marshall Pickering, 1990. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

STOTT, John R. W. Cristianismo Equilibrado. London: Hodder and Stoughton, 1975. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

STOTT, John R. W. Evangelismo e Responsabilidade Social - Southern Cross (Outubro de 1980). Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

SIDER, R. J. Evangelismo, Salvação e Justiça Social, com uma resposta de John Stott. 2nd edn. Nottingham: Grove Books, 1979. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

STOTT, John R. W. Que é o Homem? London: National Prayer Breakfast Committee, 1989. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

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STOTT, John R. W. Sua Confirmação - rev. edn. London: Hodder and Stoughton, 1991. Os textos deste autor citados neste subsídio foram traduzidos por Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 24 de agosto de 2004

WEISZFLOG, Walter. Michaelis - Moderno Dicionário de Língua Portuguesa. Editora Melhoramentos. São Paulo, 1998-2007. Disponível em http://michaelis.uol.com.br/mo-derno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues& palavra=acordo, acessado em 18/02/2010, às 21h43.

São Bernardo do Campo, 23 de fevereiro de 2010.

Valter Borges dos Santos43

43 Evangelista, pastor AD Thelma. E-mail: [email protected]