EcoDigital

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Numa tiragem estipulada em mil exemplares, EcoDigital poupou o corte de quatro árvores de médio porte. Uma revista da disciplina de Jornalismo Ambiental

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A revista online EcoDigital recebeu o IV Prêmio de Responsabilidade Ambiental, na categoria Educação Ambiental. Nas suas páginas desfilam ambientalistas da primeira geração como Augusto Carneiro, e também a nova geração, que inclui o eco-jornalistas Reges Schwaab, o jornalista e professor de Jornalismo Ambiental, André Trigueiro. Projetos na área da educação ambiental, incluindo a reciclagem do óleo de cozinha com entrevistas a donas de casa, bem como a situação das praças e parques de Porto Alegre, são temas que integram a pauta da EcoDigital, uma referência nas questões ambientais em nosso Estado.

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Numa tiragem estipulada em mil exemplares, EcoDigital poupou o corte de quatro árvores de médio porte.

Uma revista da disciplina de Jornalismo Ambiental

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Alunos da 1ª turma de Jornalismo Ambiental

Lisete GhiggiJornalista e professora

de Jornalismo Ambiental

Carlos Tibusrki Editor Gráfico

Mariceia BenettiCoordenadora do

curso de Jornalismo

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índice

Editorial ............................................................................................................................................................5 85 anos de história ................................................................................................................................7Uma verdade inconveniente ................................................................................................ 17Partido Verde e as questões ambientais ............................................................... 19Porto Alegre é a capital que possuimais praças e parques no mundo ................................................................................... 25Charge ............................................................................................................................................................. 30Comer carne é um crime contra o meio ambiente? ................................... 31Reciclando a cidadania ............................................................................................................... 37A ordem é desligar o motor ................................................................................................... 42

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índice

Óleo de fritura causa problemas ao meio ambiente? ............................ 47A década da destruição ............................................................................................................... 55Olimpíadas de Pequim versus poluição ................................................................... 61Girando na contra-mão ............................................................................................................... 65Reges Schwaab, apaixonado pelas questões ambientais .................................................................................................... 70Olhos abertos para o futuro .................................................................................................. 73O valor da água para vida sustentável ..................................................................... 76GM de Gravataí e o meio ambiente .............................................................................. 86Jornalismo ambiental por um planeta sustentável................................. 92

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Aqui está a 1ª edição da EcoDigital, uma produção da turma pioneira do curso de Jornalismo e da disciplina de Jornalismo Ambiental, do Centro Universitário Metodista do IPA. Trata-se de uma revista que, ao descartar o papel e a tinta, substitui o corte de inúmeras árvores por um espaço de acesso universal na

Internet, imprimindo um novo conceito de sustentabilidade. É claro, como toda a produção jornalística, demandou energia e um custo que a revolução digital impõe, porém muito menor do que privar árvores de sobreviver, abrigar e sustentar os animais, além de garantir a vida com a produção do oxigênio.

Este é o resultado da interatividade dos “pioneiros” com as suas fontes. Uma relação que se estreitou ao longo do semestre e que permitiu aos alunos efetuar contatos com diferentes profissionais interessados na pauta socioambiental, como André Trigueiro, jornalista e autor da obra O Mundo Sustentável, uma

editorial

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editorial

das referências bibliográficas da disciplina de Jornalismo Ambiental. Nas páginas da EcoDigital estão reportagens e entrevistas históricas, como a que relata a trajetória do movimento ambiental em nosso Estado, com Augusto César Carneiro, 85 anos. Também é possível conhecer um pouco do trabalho do cineasta e ativista

inglês, Adrian Cowell, 73 anos, autor do documentário “A Década da Destruição”, resultado de 30 anos de filmagens, que lhe rendeu inúmeros prêmios ao mostrar a devastação da floresta amazônica e as suas conseqüências. Também desfilam nas páginas da EcoDigital, donas de casa, autoridades, políticos, educadores, profissionais da saúde, engenheiros e pilotos. Em

comum está o propósito de todas as fontes: contribuir para preservar o nosso ambiente natural.

Privamos os nossos leitores do contato com o papel, mas compensamos com os sons da natureza.

Boa leitura!

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Augusto CésarCarneiro, um dos

maiores ambientalistas brasileiro, começou cedo

a militância políticae a luta em defesa ao meio ambiente

85 anos dehistória

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Quando tinha 11 anos de idade, Carneiro dizia aos amigos que estava namorando uma menina que morava ao lado de sua casa. Ela pertencia a uma família afrodescendente. Mas, seu pai, ao descobrir a história, deu-lhe uma surra, pois jamais aceitaria que seu filho namorasse uma “negra”. A história era apenas uma brincadeira de criança. O

ambientalista nunca havia nem chegado perto da menina.

Porém, a partir daquele momento, descobriu que sua

vocação era lutar contra o preconceito. Então, tornou-se integrante

do Partido Comunista, do qual foi expulso quando denunciou as atrocidades cometidas por Stalin.

O interesse pelo meio ambiente surgiu na

década de 50, a partir da leitura das crônicas de Henrique Roessler, um dos primeiros ativistas ambientais, no Suplemento Rural do Correio do Povo. Ao ver a luta de Roessler em defesa dos animais, Carneiro, decidiu que também iria se engajar na causa. De lá pra cá, muitas foram as conquistas de um dos mais respeitados ambientalistas do país.

EcoDigital - Como surgiu o interesse pela causa do meio ambiente?Augusto Carneiro - Foi no final da década de 50, a partir das crônicas de Henrique Roessler, no Suplemento Rural do Correio do Povo. Aderi logo às suas idéias. Vi que o ambiente era a política do futuro. Antes de ser cronista, Roessler era uma ativista ambiental. Foi o primeiro ecologista do Brasil. Naquela época já existiam defensores dos

valkíria schotkis

lucianne lourega

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animais em muitos lugares do mundo, mas para ser ecologista tu precisas juntar animal, vegetal e poluição. E o Roessler se interessava por tudo isso. Ele defendia os cavalos, por exemplo. Dizem que hoje se maltrata os cavalos, mas perto do que faziam antigamente isso não é nada. Ele também atuava como fiscal de caça no Estado, multando caçadores e curtumes. Até que um dia os donos dos curtumes se reuniram com o governador e o convenceram a caçar todos os direitos do Roessler. Disseram que os seus autos de infração não tinham valor nenhum. Mas, mesmo sem credencial, ele continuou a autuar no grito.

EcoDigital - O senhor manteve contato com Roessler? Carneiro - Não. Tentei ir atrás dele em São Leopoldo, mas era difícil naquela época. E, quando aprendi a guiar minha moto,

ele já tinha morrido do coração, com apenas 50 e poucos anos. Conheci o filho dele que prometeu continuar o trabalho do pai, só que ele não cumpriu a promessa. Então eu decidi seguir o trabalho da UPAN - União Protetora da Natureza, criada por Roessler. Mas a entidade acabou morrendo com ele.

EcoDigital - Isso o desestimulou na luta pela preservação do meio ambiente?Carneiro - Nem um pouco. Logo depois encontrei Lutzemberger, em uma reunião sobre naturismo. Nessa época eu já era formado em Direito e pedi para ele me procurar no meu escritório de advocacia. Resolvemos formar uma associação. Eu quis colocar

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o mesmo nome (UPAN) na associação de São Leopoldo, mas o Lutzemberger não concordou. Quando ele voltou da Europa com a família, eu já estava com tudo pronto. Tinha visitado todos os ex-sócios de Roessler, feito duas reuniões preparatórias em São Leopoldo e em Porto Alegre. Formamos, então, a AGAPAN - Associação Gaúcha de Proteção

ao Ambiente Natural de São Leopoldo, em 27 de abril de

1971. Hoje, chamada de UPAN - União Protetora do

Ambiente Natural.

EcoDigital - Como foi o início da AGAPAN? Carneiro – Nós vivemos quase clandestinamente durante um ano. Até que recebi uma proposta de um engenheiro, que construiu a

vila do IAPI, e que na época era presidente da Sociedade dos Orquidófilos. Ele perguntou se queríamos compartilhar uma sede com capacidade para 200 pessoas. Em troca teríamos que pagar o condomínio. Aceitei na hora e fiquei responsável pelo pagamento. Fazíamos reuniões semanais, todas as segundas-feiras. O Lutzemberger gostou tanto da sede que mandou fazer um plano de reunião. Uma senhora aposentada abria às 13 horas e eu fechava à meia-noite. Nunca faltamos um dia.

EcoDigital - Como funcionava o trabalho da Associação? Carneiro - Recebíamos delegações de todas as partes do Brasil e do mundo. A freqüência era de 50 pessoas em média. Por duas vezes chegamos a receber 200 pessoas. A maior parte era formada por curiosos que queriam assistir às exposições com os slides do

“Batalhamos juntos pela criação e manutenção devárias unidades de conservação no Estado. Integramos o grupo dos cinco criadores da Estação Ecológica do Lami, em Porto Alegre. Ajudamos a consolidar o Parque Estadual de Itapuã e o Parque Estadual Delta do Jacuí. Lutzemberger também administrou e implantou o Parque da Guarita, em Torres”

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Lutzemberger. A presença dele era fundamental. Uma vez houve uma situação muito interessante. O grupo de oposição convidou um italiano para participar das reuniões. Ele se impressionou com as palestras de Lutzemberger e disse que tínhamos que fazer comissões. Sugeri então a criação da Comissão de Defesa das Baleias e escolhi um jovem de 13 anos que estava freqüentando os encontros com o pai. Hoje, ele é uma das pessoas mais importantes deste Brasil, o José Truda Palazzo Júnior, diretor do Projeto Baleia Franca. Ele percorreu o mundo inteiro defendendo as baleias.

EcoDigital - Qual era a principal discordância entre vocês e o grupo de oposição da AGAPAN? Carneiro - Nós tínhamos uma orientação diferente de muitos lugares do Brasil que sofreram a influência da esquerda predatória e são contra o trabalho manual

ou prático. Nós éramos a favor do trabalho prático, direto, como as criações de parques, participação nas fiscalizações e palestras de conscientização. Com a intervenção do grupo esquerdista, fundei juntamente com o Truda e o jornalista João Batista Santafé Aguiar, a PANGEA - Associação Ambientalista Internacional.

EcoDigital - Como era a sua relação com José Antônio Lutzemberger?Carneiro - Ele era um grande amigo e um grande mestre. Batalhamos juntos pela criação e manutenção de várias Unidades de Conservação no Estado. Integramos o grupo dos cinco criadores da Estação Ecológica do Lami, em Porto Alegre. Ajudamos a consolidar o Parque Estadual

“Em 1956, descobri que Stalin era bandido,

que matava milhares de pessoas por

maldade, inclusive seus companheiros. Então, aderi ao grupo contra Stalin e o partido me colocou pra rua. Tive

que entregar a livraria”

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de Itapuã e o Parque Estadual Delta do Jacuí. Lutzemberger também administrou e implantou o Parque da Guarita, em Torres. Sempre encontramos dificuldades financeiras. Muitas vezes não pagavam nem passagem para Lutzemberger ministrar as palestras. Mas eu sempre estive na retaguarda.

EcoDigital - Existe hoje no Brasil alguém com a mesma influência

de Lutzemberger?Carneiro - Não existem

mais ambientalistas como antigamente, com o conhecimento

de Lutzemberger. A turma nova da Agapan se esforça, mas a capacidade intelectual deles não é suficiente. O Chico Mendes tinha uma boa orientação, mas cometeu a loucura de se expor.

Temos hoje o Paulo Nogueira Neto que, mesmo com 88 anos, ainda está em plena militância.

EcoDigital - O senhor também está em plena militância. Quais as atividades que realiza atualmente?Carneiro - Eu distribuo materiais sobre Meio Ambiente todos os anos na Feira do Livro e em qualquer encontro que participo. Também estou fazendo paisagismo na Fundação Gaia, dirigida pela Lara, filha do Lutzemberger, que ganha apenas uma subvenção pequena da Alemanha. Estou pagando do meu bolso essa obra. Quero valorizar o sítio porque ele realiza um importante papel de educação ambiental.

EcoDigital - O senhor foi um dos fundadores da Feira do Livro de Porto Alegre, com a banca Livraria Farroupilha. Nesta época já

“Não existem mais ambientalistas como antigamente, com o conhecimento de Lutzemberger”

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trabalhava com livros sobre Meio Ambiente?Carneiro - Não. A banca era do partido comunista, do qual eu era filiado. Só vendíamos livros comunistas. Em 1956, descobri que Stalin era bandido, que matava milhares de pessoas por maldade, inclusive seus companheiros. Então, aderi ao grupo contra Stalin e o partido me colocou para a rua. Tive que entregar a livraria.

EcoDigital - Como ingressou no partido comunista?Carneiro - Desde muito jovem eu soube e ouvi muitas conversas sobre revoluções. E também participei de todas as manifestações possíveis e imagináveis da guerra. Tenho até uma cicatriz de uma vez que quebrei uma vitrine numa manifestação. Eu acompanhei e vi de perto a Revolução de 30. Morreu um comandante que

era pai de um amigo meu. Em 34, com a invasão da Etiópia pelo Mussolini, comecei a tomar partido contra os fascistas. Nessa época tinha apenas 12 anos. Em 1937, já com 15, acompanhei a invasão da Espanha pelos soldados marroquinos do general espanhol Francisco Franco, a famosa Guernica. Eu comecei a odiar os fascistas e nazistas, pois eram criminosos soltos. Cheguei a me mobilizar para ir para lá, mas a guerra terminou em fevereiro de 1939, não deu tempo. Em 1945, ingressei no partido Comunista e, então, iniciou uma nova vida para mim.

EcoDigital - Chegou a se alistar no exército?Carneiro - Sim, estive duas vezes no exército. Fiz o curso de cabo e concurso de funcionário.

“Sou um homem contra os fascistas,

os racistas e os destruidores da

natureza”

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A única coisa que eu fiz de importante foi ajudar a constituir o Batalhão Suez. O primeiro saiu daqui do Rio Grande do Sul. Juntei as carteiras deles, mandei a circular para cada um, mas nunca vi nenhum deles. Não fui para a grande guerra por motivos familiares. Como filho mais velho tinha que pagar a hipoteca da casa da minha mãe.

EcoDigital - Além do comunismo, lutou por outros

ideais durante a juventude?Carneiro - Lutei contra

o racismo. Eu tinha 11 anos quando uma

menina negra se mudou para a vizinhança. Por brincadeira, inventei que estava namorando ela. Todos a ridicularizaram. Um dia meu tio me viu conversando com ela na rua e contou

para meu pai. Ganhei uma surra de cinta. Desde então passei a ser militante do movimento negro. Enfim, sou um homem contra os fascistas, os racistas e os destruidores da natureza.

EcoDigital - O senhor foi homenageado no II Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, realizado entre 10 e 12 de outubro de 2007, em Porto Alegre. Como analisa o papel atual da imprensa na luta pela preservação da natureza?Carneiro - Infelizmente acho que não temos apoio suficiente da imprensa. Perdemos este apoio desde a Rio-92. A partir do dia em que a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento chegou ao fim, os jornalistas de todo o Brasil romperam com os ambientalistas. De um dia para o outro deixaram de divulgar o nosso trabalho. E não pergunte por que isto

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aconteceu, não tenho idéia.

EcoDigital - O mundo inteiro discute as conseqüências do desequilíbrio ambiental. O povo está mais consciente de sua responsabilidade com o meio ambiente?Carneiro - Existe uma organização geral, tanto das entidades como do governo. Mas não há a conscientização necessária. Os cientistas resolveram dizer agora que a situação do mundo é perigosa. Algo que já dissemos há 30 anos. O efeito estufa está aí e o povo não se mexe, apenas confiam nos governantes, que também não se mobilizam. Logo poderá acontecer o degelo. Primeiramente, os habitantes das margens vão perder as suas casas. São coisas que a gente adivinha, mas, além disso, deve ocorrer muitos prejuízos. É preciso mais fiscalização, como no caso dos incêndios. O fogo é sempre

criminoso. Eu e o Lutzemberger lutávamos contra os incêndios. No princípio deste ano houve dois, um na Grécia e outro na Austrália. Eles não sabiam quem eram os autores. Porque lá há menos queimadores do que aqui. Não tinham provas contra ninguém. Porém, ao investigar, a polícia da Grécia pegou 23, quase todas crianças. Na Austrália também descobriram os autores.

EcoDigital - Como a população pode contribuir para inverter essa situação?Carneiro - Através de medidas simples, como plantar árvores e evitar a poluição. A falta de água é um perigo que assombra, mas ainda pode ser evitada com a purificação ao tratá-la com produtos químicos. Há uma coisa ainda

“Os cientistas resolveram dizer

agora que a situação do mundo é

perigosa. Algo que já dissemos há 30

anos. O efeito estufa está aí e o povo não

se mexe”.

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mais violenta e prejudicial para a natureza: o lixo. Ele pode diminuir 50% em seis meses. Por isso, considero injusta a luta do DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) contra os catadores. Um deveria ajudar o outro. Só com a ajuda mútua podemos enfrentar os problemas ambientais.

Augusto César Carneiro com livro publicado

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umaverdadeinconveniente

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ao empregar trechos emocionais de questões pessoais, conseguiu enfatizar e direcionar os problemas abordados no documentário. O ex-vice-presidente dos EUA refere-se à dificuldade ambiental como uma questão moral, além de política. Assim, num exame apropriado, ao falar em moral e meio ambiente, o documentário mostra que as nossas ações individuais, quando somadas a certas posturas éticas, são incluídas na salvação do planeta, independente das atitudes dos governantes. Ao confrontar a política com a proteção da natureza e ao incluir dicas de como individualmente podemos ajudar a solucionar

o problema, o documentário mostra o descaso dos quem detêm o poder para as soluções do aquecimento. Dessa forma, Al Gore consegue inclusive apontar que a moral está além da política. Além de conter dados assombrosos e precisos sobre as circunstâncias do meio ambiente, o filme do ex-vice é sucesso por deflagrar o papel da moral e incluir valores mencionados diariamente e que visam melhorar o mundo, seja com postura dos grandes parlamentares ou dos pequenos cidadãos.

Palestras longas normalmente são cansativas. Porém, ao analisar o documentário vencedor do Oscar 2007, “Uma verdade inconveniente”, percebe-se que Al Gore, em suas apresentações, faz uso de passagens comoventes e tiradas engraçadas, conseguindo amenizar o discurso sério sobre o tema importante que é o aquecimento global. Embora tenha transformado o debate em uma mostra de seu lado político, como um candidato preocupado e engajado com os transtornos da humanidade, Gore,

aline souza

Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA

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OPINIãO

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Partido Verde e asquestões ambientais

“Falta de éticaplanetária. As pessoas

só enxergam seu umbigo e olha lá!”

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No dia 16 de fevereiro de 2005, o Protocolo de Quioto se transformou em tratado internacional. Foi um acordo sem

precedentes na história e que pretende resolver o mais grave problema ambiental do século 21: o aquecimento global.

O professor Antônio Libório Philomena, graduado em Oceanologia pela FURG/RS e doutor em Ecologia pela

University of Georgia (USA), é pré-candidato à prefeitura de Rio Grande, pelo Partido Verde. Em entrevista à EcoDigital dá idéias e sugere soluções para o nosso meio ambiente.

Também aborda questões polêmicas, como a negativa do EUA em ratificar o Tratado de Quioto e a política ambiental

do governo Lula. Philomena acredita que os brasileiros se preocupam com os problemas ambientais, mas reitera que

o mundo ainda necessita de mais ética, principalmente quando trata das questões ambientais.

andrei haigert conrado gallo jorge fuentes

Philomena em Beijin, na China

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EcoDigital - O PV tem algum projeto que visa a implantação de transporte alternativo para Porto Alegre?Antônio Libório Philomena - Apesar de não estar envolvido com as questões diretamente ligadas a POA, lembro que o PV propôs um trem-bala, inicialmente, da capital até Tramandaí, e posteriormente até Torres. Os objetivos eram desafogar o crescimento para o litoral, diminuir o número de carros na Freeway e economizar combustível fóssil. O trem-bala poderia ser movido com eletricidade proveniente dos cataventos e, ainda, entrar no programa do Tratado de Quioto (diminuição das emissões de CO2). Uma ótima idéia!

EcoDigital - Os EUA não querem ratificar o tratado de Quioto. O que o PV pensa sobre esta posição?Philomena - Mesmo que os USA não queiram assinar o Tratado, mais de 20 estados norte-americanos já estão com os objetivos do Quioto em andamento.

“O PV vê a gestão Bush como típicas

representações das companhias

de petróleo e, como tal, fósseis”!

O PV vê a gestão Bush como típicas representações das companhias de petróleo e, como tal, fósseis. A desculpa deles de que prejudica a economia é uma farsa, pois só os custos da guerra no Iraque já são maiores que os custos do tratado do Quioto.

EcoDigital - Você acredita que os brasileiros dão importância às questões ambientais?Philomena - Conforme um trabalho do Ministério do Meio Ambiente, 90% dos brasileiros prefere mais proteção ambiental e menos poluição, mesmo

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que isto envolva a perda de trabalho.

EcoDigital - Na sua opinião, qual o principal o problema ambiental do planeta Terra?Philomena - Falta de ética planetária. As pessoas só enxergam seu umbigo e olha lá!

EcoDigital - Como você encara a possibilidade do Brasil construir mais uma nova usina nuclear?Philomena - O PV desde o início é contra Angra dos Reis. Energia nuclear significa: corrida armamentista, alto risco sócio-ambiental, ineficiência de distribuição elétrica, contas bancárias fantasmas e corrupção envolvendo altos valores.

EcoDigital - Como você avalia a política ambiental do governo Lula? Philomena - O governo Lula tem apresentado uma política ambiental sofrível, ao atender mais o interesse econômico de

grandes empresas. A ministra do Meio Ambiente não representa os segmentos ambientalistas nem suas reivindicações, prova é que assuntos como transgênicos, hidrelétricas, florestas público-privadas, agribusiness, biodiesel, etc., não foram tratados com a devida competência. Possivelmente, será o governo que mais destruirá a natureza no Brasil. Aliás, o Sr. Lula já disse: ”índios, quilombolas e ambientalistas travam o desenvolvimento do país“.

EcoDigital - O PV certamente deve estar preocupado com a Floresta Amazônica? Como se manifesta esta preocupação? Philomena - Resumidamente nos preocupamos em desenvolver

“Os gaúchos são uma utopia”.

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uma economia adaptada à Amazônia. A economia atual é destruidora. Na Amazônia, mais ainda, pois o homem só sabe tirar. Como não há fiscalização é a verdadeira casa da mãe Joana, inclusive com a participação estrangeira. Uma vergonha nacional!

EcoDigital - Como você avalia o nível de consciência ambiental dos gaúchos?Philomena - O povo gaúcho foi mais consciente ambientalmente na década

de 60, 70e 80. Aí perdeu a linha por conta de maus gestores estaduais e municipais. Hoje, apesar de tudo, ainda tem estruturas, mas em deterioração. O governo

estadual está claramente desmanchando as

poucas estruturas do Estado. Por

exemplo: quer

municipalizar as questões ambientais; tem colocado pessoas sem expressão nos pontos chaves para tocar os projetos neoliberais, sem a devida discussão e desmontou os setores, como por exemplo, a FEPAM e os comitês de bacias.

EcoDigital – A partir das campanhas do PV e dos resultados das eleições, é possível perceber um crescimento do interesse da população nas questões ambientais?Philomena - O PV é o terceiro partido mais bem quisto no país, tendo como eixo temas atuais e estratégicos, como a sobrevivência planetária e, por isso, estamos fincados na sociedade de uma maneira natural e para sempre! O partido, inclusive, discute bem como traduzir isso em votos. Mas os gaúchos são uma utopia: fazem parte do primeiro estado com consciência ambiental do Brasil, contam com primeira ONG ambientalista do Brasil, além de vários ícones da ecologia,

“Como não há fiscalização, é a verdadeira casa da mãe Joana, inclusive com a participação estrangeira. Uma vergonha nacional!”

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porém não conseguem eleger

um deputado, um prefeito!

EcoDigital - Como o PV se posiciona em relação às energias renováveis. No Brasil seria uma boa saída?Philomena - O PV como partido internacional é caracterizado por sempre batalhar pelas energias renováveis, mas com boa discussão com a sociedade, com escala pequena e média, descentralizada e ecologicamente factível.

EcoDigital – Se você fosse o Prefeito de Porto Alegre, quais seriam as principais mudanças que o senhor faria em relação ao meio ambiente?

Philomena - Maior arborização da cidade, transformação do Arroio Dilúvio, construção de 60 Km de ciclovia, distribuição de linhas do Aeromóvel, além de limitar o número de andares de edifícios. Também incluo redes descentralizadas de geração de energia (renovável), descarbonização das atividades urbanas e o IPTU e ICMS ecológicos. A reciclagem total, o controle da população fixa e transitória, a recuperação das ilhas e pântanos, a criação de pomares urbanos e o reaproveitamento das águas e dos resíduos, também fazem parte do meu programa de mudanças. “A desculpa deles (EUA) de que prejudica a economia é uma farsa, pois só os custos da guerra no Iraque já são maiores do que os custos do Tratado de Quioto”.

Philomena nos Estados Unidos

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Porto Alegre é acapital que possui

mais praças eparques no mundo

Luiz Alberto Carvalho Júnior

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débora vives de souza

juliana morgenstein

da cidade. Mas é um número muito grande: 540 praças. EcoDigital - A Smam recebe muitas denúncias sobre irregularidades e vandalismos nos locais?

Luiz Alberto - Sim, constantemene recebemos denúncias. A Secretaria de Segurança Pública criou o Disk Pichações (153). Vários delinqüentes já foram presos por causar danos às praças. EcoDigital - Qual é o custo das pichações e reparações dos parques e das praças para o governo e para a comunidade? Luiz Alberto - Embora responsável

reservados para a plantação de árvores e plantas. Ele afirma que o maior cuidado vem da população, e não do governo.

Segurança e melhorias

EcoDigital - Como é feita a manutenção, bem como as vistorias para que as praças estejam sempre em boas condições, bem como as vistorias ?

Luiz Alberto Carvalho Júnior - Diariamente fazemos vistorias e manutenções em diversas praças

Depois de caminhar pelo Parque Farroupilha - a Redenção - e analisar as árvores do local, o supervisor de Parques e Praças da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre, Luiz Alberto Carvalho Júnior, senta em um banco e fala da situação dos dez parques e das 540 praças da capital gaúcha. Para Luiz Alberto, a cidade já é destaque nacional por ser uma das mais arborizadas e ter um grande número de espaços urbanos

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pelos monumentos, a SMAM nunca teve recursos orçamentários para restauros. Cada restauro custa em média 40 mil reais, é muito caro. Firmamos convênio com um ateliê que conserva 13 monumentos da cidade. EcoDigital - Qual a sua posição sobre os projetos para cercar os principais parques de Porto Alegre?

Luiz Alberto - É tudo muito relativo. Não temos uma posição oficial, mas uma simples grade não afugenta os delinqüentes.

Cultivo de árvores

EcoDigital - Qual o número de árvores que se planta anualmente e quais as mais recomendadas para o plantio?

Luiz Alberto - Plantamos dez mil árvores por ano, se incluirmos as compensações vegetais, oriundas de emreendimentos e multas por determinação da SMAM. Existe uma relação com cerca de 100 espécies de árvores e o seu plantio deve considerar dois aspectos: o local e o porte.

EcoDigital - Quais as espécies de árvores que estão sendo plantadas em Porto Alegre?

Luiz Alberto - Açoita-cavalo, Guabijus, Guajuviras, Ipês, entre outras 100 espécies nativas. EcoDigital - Qual a espécie de árvore que mais seqüestra carbono?

Luiz Alberto - Não temos a comprovação científica da espécie nativa que mais seqüestra carbono. Isso está relacionado com a velocidade de crescimento e a capacidade de transformar carbono em lenho (madeira).

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EcoDigital - Quais são os projetos para neutralizar a emissão de CO2 com o plantio de árvores?

Luiz Alberto - A SMAM estimula e executa plantios de árvores que servem também para este fim, mas não tem nenhum projeto específico. EcoDigital - Para quem quiser plantar uma árvore, qual é o procedimento

Luiz Alberto - Deve ligar para o número 156 e solicitar o pedido. Temos técnicos especializados que seguem o plano diretor de arborização urbana.

Cuidados e dedicação

EcoDigital - Por que o Parcão é o Parque mais cuidado? É por que a população do entorno é exigente, ou por ser de outro nível social e, portanto, mais educada para a preservação dos espaços e menos sujeita a vandalismo?

Luiz Alberto - Na verdade, todos os parques da cidade recebem o mesmo nível de atenção e esforços, porém o Parcão é o único parque adotado entre os oito da cidade. Recebe um investimento de 120 mil reais por ano.

EcoDigital - Onde as praças e parques são mais cuidados: nas vilas, bairros ou nas áreas centrais? Luiz Alberto - O que temos são praças menos ou mais cuidadas pela comunidade. Se a SMAM faz manutenção de limpeza uma vez por semana em uma praça, por exemplo, e essa praça todos os dias é suja pelas pessoas, é claro que vamos ter uma praça feia e suja. Existe um projeto da SMAM chamado “Diálogo na Praça”, onde a comunidade, preocupada com a praça, solicita reunião na área. Estabelecemos uma agenda para melhorias, mas também um comprometimento da comunidade do entorno para preservá-la.

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Porto Alegre e o meio ambiente

EcoDigital - Como Porto Alegre se insere no contexto nacional ou mundial em relação ás praças e parques?

Luiz Alberto - Porto Alegre é a capital que possui mais praças e parques no mundo e está entre as duas mais arborizada do Brasil. EcoDigital - O que falta para chegarmos a uma posição de destaque?

Luiz Alberto - Na minha opinião já estamos nesta posição. EcoDigital - O que se pensa para o futuro em relação a parques, praças e jardins? Porto Alegre tem novos projetos de espaços verdes ou esta questão é secundária?

Luiz Alberto - Porto Alegre tem hoje 540 praças e esse número cresce a cada ano. Isto é fruto da obrigação legal da criação de um novo loteamento. A necessidade da criação de uma nova praça é algo muito importante para democratizar o uso de

espaços públicos para toda a cidade.

EcoDigital - Como incentivar a população a preservar o meio ambiente?

Luiz Alberto - Através da educação ambiental, levamos à comunidade a preocupação com a questão ambiental. Sempre que possível fazemos também reuniões e palestras

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Vovô, o que o senhor estava falando sobre aquecimento global?

Nada, meu neto, nada...

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Marly Winckler em palestra sobre vegetarianismo

Comer carneé um crime contra o meio ambiente

??

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Marly Winckler

“A dieta alimentar com

base na carne tem um impacto muito negativo”

larissa viana

Não é de hoje que se fala sobre o aquecimento global e as suas causas. Sabe-se que o desmatamento da Amazônia e o uso exacerbado de combustíveis fósseis contribuem para a elevação das temperaturas. Então, a criação de bovinos que ocupa espaços das florestas também é responsável pelo aquecimento do planeta? Tratar sobre este tema é algo bastante delicado. E é o que faz Marly Winckler, socióloga catarinense, vegetariana desde 1982, e defensora do vegetarianismo, um regime alimentar baseado fundamentalmente em alimentos de origem vegetal. Para ela que preside a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), o vegetarianismo é uma postura ética e filosófica engajada com o meio ambiente. “Nossos hábitos de consumo necessitam de reflexão, pois quem se preocupa com os problemas ambientais do planeta também

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deve se preocupar com a construção saudável do mesmo. Quem quer mundo melhor deve estar envolvido em sua construção”. Mas, para os que não abrem mão do consumo de carne, Winckler enfatiza a necessidade de avaliar, entre outros aspectos, a sua procedência. Também destaca a importância de verificar se o animal que origina o bife a ser consumido tenha sido criado com dignidade, pois “a dieta alimentar com base na carne tem um impacto muito negativo”. O vegetarianismo ganha adeptos e conquista espaços. Em Porto Alegre são contabilizados 27 restaurantes vegetarianos, sendo que 12 abriram suas portas no último ano.

Para a presidente da SVB, adotar a postura de substituir o consumo de produtos de origem animal por vegetais deixou de ser apenas um regime alimentar e passou a ser “uma preocupação com o meio ambiente, com o próximo e com o planeta”. Quem resolve parar de consumir produtos animais, deixa de consumir couro, ovo, leite, cosméticos e todos os produtos que necessitam de matéria animal para serem produzidos. Hoje, o sabonete que usamos, o alimento que comemos e a roupa que vestimos, carregam o sofrimento do animal e implicam no desmatamento da Amazônia, entre outras barbáries.

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Mas, a socióloga catarinense enfatiza que falar neste assunto mexe no bolso de muita gente e não é fácil, pois grande parte dos governantes no Congresso Nacional é constituída de ruralistas e donos de grandes criações de gados. O tema também é considerado de difícil abordagem pelo jornalista ambiental, idealizador e apresentador do programa “Cidades e Soluções”, da Globo News, André Trigueiro. Para ele, o fato do consumo de carne não ser citado como um problema ambiental e uma das causas do aquecimento global, mexe com a tradição e costumes das pessoas.

Trigueiro relata que, de acordo com os dados do IBGE e do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), 16% da mata nativa da Amazônia já

André Trigueiro

“O fantasma da Amazônia não é a soja, é a pecuária.

Nossa carne pode ter cheiro de floresta

queimada”.

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desapareceu. Deste número, mais de 80% é decorrente das criações de bovinos. Tais dados, complementa, serão utilizados pelo Ministério da Integração Nacional para definir o planejamento territorial na região. Também com base nos dados do IBGE, 34,667 milhões de hectares da Amazônia foram ocupados com a pecuária, entre 1990 e 2005. Outros 5,405 milhões foram usados com a produção de soja, seguida do milho (930 mil hectares), arroz (508 mil) e algodão (432 mil). “O fantasma da Amazônia não é a soja, é a pecuária. Nossa carne pode ter cheiro de floresta queimada”, diz. O coordenador-geral de Planejamento

e Gestão Territorial (CGPT), Julio Miragaya, ligado ao Ministério da Integração Nacional, revela que Rondônia e Acre registraram em 15 anos o crescimento mais acelerado na criação de boi na Amazônia Legal: 560% e 478%, respectivamente. Mato Grosso e Pará incrementaram suas criações em 200%, cada um. Amazonas, Tocantins e Maranhão foram os únicos que registraram expansão de pecuária abaixo dos 100%, no período de 1990 e 2005. “As criações em outras áreas do país estão em declínio e crescem na Amazônia em decorrência da facilidade de adquirir terras baratas, férteis e, na maior parte das vezes, derivadas de grilagens”, enfatiza Miragaya.

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Quanto ao fato da carne ocupar um lugar central na dieta do ser humano, Marly Winckler revela que é novo na história da humanidade. Sem ir muito longe, explica que não havia nem como estocar, pois não existiam geladeiras, salvo em lugares com geleiras. Agora com tantas facilidades para conservar, o consumo de carne aumentou. Também informa que muitos consumidores internacionais do produto brasileiro já se comprometeram a não consumir

grãos e gado produzidos em áreas desmatadas do bioma amazônico, o que “já é um passo”. E para a construção de um planeta sadio e natural, enfatiza que há necessidade de refletirmos sobre todas as questões que prejudicam o meio ambiente, pois não há como fazer parte dessa mudança sem conhecer todas as causas. Para ela, a mudança se faz através de um conjunto de ações praticadas por um grande número de pessoas.

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Reciclando a cidadania Um projeto com

escolas e comunidades

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Falar sobre os perigos que os seres humanos estão sofrendo por causa do aquecimento global tornou-se um alerta constante. A ONG “Redecriar” prepara crianças e adultos para melhorar a relação com o meio ambiente. De acordo com a presidente da ONG Marilize Pacheco Alves, o projeto “reciclando a cidadania em rede interdisciplinar” parte do conceito de sustentabilidade, de forma que seja aplicado no cotidiano de escolas publicas e associações comunitárias, como um meio de enfrentar as demandas sócio-ambientais educativas e econômicas, relacionadas a cada realidade onde o projeto é executado.

fernanda alves

paula de mattos

viviane sales

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No início do mês de novembro de 2007, a ONG, promoveu um encontro na escola Escola Estadual Gema Angelina Belia para os alunos de primeira a oitava serie, com o propósito de alertar sobre as ações que agridem o meio ambiente, bem como as formas de preservá-lo, com ênfase nas mudanças de hábitos. Foram projetados vídeos sobre a poluição da água e do ar, seguidos de debates, com o objetivo de formar uma consciência sobre a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Para a presidente da ONG Redecriar, ensinar os pequenos é a melhor forma de educar os adultos. Também ressalta que dentre as formas ideais de combate a poluição do ar é escolher o transporte coletivo como meio de locomoção, tentar mudar alguns hábitos domésticos e, para aqueles que não tem como trocar o carro pelo transporte coletivo, o conselho é mantê-lo sempre funcionando em ótimas condições. E isto se consegue ao fazer revisões periódicas. A presidente destaca a importância de compartilhar o carro com amigos e colegas, como forma de poupar energia e descongestionar o trânsito. Segundo a bióloga da ONG, Andreza Sulzbach Faria,

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as causas da poluição são os resíduos que as pessoas descartam nos locais impróprios bem como os restos das indústrias que beiram os rios e lagos. A bióloga também ressalta que é função da ONG ensinar a diminuir a poluição das águas com a mudança de hábitos domésticos, principalmente em relação ao ato de separar corretamente os resíduos, incluindo óleos de cozinha, pilhas, baterias, além de mostrar a importância de estar por dentro da legislação. Também apontou a necessidade de cobrar das empresas atitudes ecologicamente corretas, e dentre elas menciona a destinação correta dos seus rejeitos. Para a bióloga, é importante denunciar para os órgãos fiscalizadores quando se observam irregularidades no trato com o meio ambiente. Reciclagem de objetos se converte em renda

A ONG também realiza trabalhos com as comunidades dos bairros, onde desenvolve o projeto com as crianças. Os participantes aprendem a produzir a partir de material reciclável em diferentes oficinas em um período de seis meses. Os produtos são comercializados

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e se convertem em renda. As reuniões ocorrem em escolas de diversas regiões de Porto Alegre em parceria com a secretaria de educação e o grupo Gerdau. Conforme moradores do bairro Jardim Carvalho, que participaram das oficinas que foram realizadas com a comunidade, elas entram para o grupo graças aos seus filhos que estudam na Escola Estadual Gema Angelina Belia. Eles aprendem a fazer guirlandas, fuxicos e cadeiras de garrafas pet e depois ensinam o que aprenderam às vizinhas na comunidade, gerando uma renda extra.

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A ordem é desligar o motor

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maria

carolina borne

Decorridos 10 anos do Tratado de Kyoto, responsável por traçar metas de redução dos

gases poluentes, percebemos que ainda não estamos conscientes da necessidade de agir para preservar o

ambiente natural.Prova disso é o aquecimento global que enfrentamos, em boa parte provocado pelos automóveis,

responsáveis por40% dos poluentes lançados na atmosfera.

A renda da maioria dos brasileiros não é suficiente para adquirir um imóvel. Em contrapartida, as revendas de automóveis

oferecem inúmeras condições para financiar um veículo: taxas cada vez menores, prestações a perder de vista e o

usado como entrada. Enfim, onde sobra facilidade para a aquisição do carro, falta consciência

ecológica. Puro comodismo que aumenta cada vez

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OPINIãO

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mais a freqüência dos engarrafamentos nas auto-

estradas e ruas das cidades, na famosa hora do rush.

No fim dos anos 90, mais precisamente em 1997, a cidade francesa de La Rochelle foi a primeira a lançar a campanha

“Na Cidade Sem Meu Carro”. Hoje, a iniciativa francesa se espalha mundo afora e se propõe a alertar a população sobre os problemas relacionados ao uso do automóvel, incluindo a quantidade e também a diversidade de gases poluentes que afetam a saúde humana e ambiental. Em fevereiro de 2000, mais

de 14 países da União Européia se envolveram na ação. No Brasil, o resultado foi positivo, com 12 cidades em 2001 e

70 em 2006.

A versão brasileira, “Na cidade sem Meu Carro”, da qual Porto

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Alegre faz parte, consiste em atribuir às prefeituras

a responsabilidade de delimitar um perímetro urbano onde não haja circulação de

automóveis. Neste espaço, no dia 22 de setembro, em horários definidos, só poderão circular veículos que

prestam serviços essenciais, além de ônibus, bicicletas, táxis e pedestres. É um dia especial para que a população desperte

sua consciência para o uso racional e solidário do seu veículo, combatendo a poluição e reduzindo os gastos públicos.

Estimular o desenvolvimento de novas tecnologias é fundamental para encontrar novas alternativas de locomoção sem agredir o

meio ambiente. Mas, aderir ao uso do transporte coletivo, além da locomoção através da bicicleta ou mesmo

a pé, são algumas formas de apoiar a iniciativa municipal e melhorar a qualidade do ar

que respiramos.

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Num país, como o nosso, onde 5 milhões de novos carros

são lançados nas vias públicas, conforme dados da Associação Nacional de Transporte

Público – ANTP, é imprescindível que se busquem alternativas sustentáveis de mobilidade no planejamento

urbano e uso de combustíveis renováveis e não poluentes.

Porém, se não houver um esforço educacional, seja ele individual, coletivo, e vontade política de cooperação, toda a ação global perderá o sentido. Cabe a cada um de nós fazer a sua parte para salvar o planeta.

Artigo publicado na página 3 do jornal Correio do Povo.

Porto Alegre, em 22 de setembro de 2007.

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Óleo de fritura causa problemas ao

Mei

o Am

bien

te

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Quando as donas de casa desejam fazer pratos deliciosos que necessitam de fritura como os pastéis, bolinhos e batatas fritas, usam o famoso óleo vegetal, ou simplesmente, óleo de cozinha. Mas depois da degustação é que chega o problema.

O que fazer com o óleo já usado na fritura?

O resultado é que, na maioria das vezes, esse óleo é jogado na pia, no ralo ou mesmo no lixo comum. Seja qual for a opção escolhida, custará caro ao meio ambiente. O despejo indevido na rede de esgoto ou nos lixões contamina água, solo e facilita a ocorrência de enchentes.

Os óleos vegetais são extraídos de plantas chamadas oleaginosas, em geral de seus frutos. São retirados de uma forma bruta e passam por processos químicos e físicos de refinação para serem consumidos como alimento.

O grande problema é o óleo depois de usado em frituras. Segundo Jussara Kalil Pires, ex-diretora e atual primeira secretária da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES-RS), o destino do óleo pode prejudicar e muito a natureza. “Chega a ser assustador como existem pessoas que ainda jogam o óleo pelo ralo da pia, são inúmeras as conseqüências que pode causar. São as tubulações entupidas, é a camada gordurosa que deixa nos rios,

fernando cunha

daniel moura

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residências. A existência desta caixa de retenção é, inclusive, uma exigência para instalação da primeira ligação de esgoto em alguns ramos de atividade, a exemplo de restaurantes, lanchonetes, padarias, supermercados e shoppings, entre outros previstos na legislação.

O óleo que chega intacto aos rios e as represas, flutua sobre a água - já que é mais leve e não se mistura - e pode impedir a entrada da luz que alimentaria os fitoplânticos, organismos essenciais para a cadeia alimentar aquática. Além disso, de acordo com estimativas apresentadas no site ‘Planeta Sustentável’ ,“um litro de óleo em contato com rios pode contaminar um milhão de litros de água, o equivalente ao consumo de uma pessoa em 14 anos. No contato com o solo, o óleo tem a capacidade de impermeabilizá-lo, dificultando o escoamento de água das chuvas e propiciando o local para enchentes.

que faz com que ocorram problemas na oxigenação. Além de trazer problemas para seu próprio dia a dia, ainda prejudica os peixes e o solo”.

Jogado pelo ralo o acúmulo de óleo e gorduras nos encanamentos pode causar entupimentos, refluxo de esgoto e até rompimentos nas redes de coleta, além de provocar graves problemas de higiene e mau cheiro.

Em São Paulo, para minimizar tais riscos, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) ressalta a importância da instalação de caixas retentoras de gordura nas

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A dona de casa Ana Nerva mudou a forma com que se desfaz do óleo usado. “Antes eu jogava na pia, depois fiquei sabendo que isso prejudica o meio ambiente. Então, fomos avisados sobre o que deveria ser feito. Hoje, quando vou jogar fora coloco numa garrafa de plástico e separo no lixo do condomínio.”

O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) lançou em julho de 2007 o Projeto de Reciclagem de Óleo de Fritura. Trata-se de uma parceria entre o órgão e três empresas que darão um destino ambientalmente correto aos óleos. A população poderá entregar o óleo de fritura usado acondicionado em uma garrafa plástica ou recipiente de vidro em um dos 36 postos do Departamento, distribuídos em todas as regiões da cidade.

A engenheira química responsável pelo projeto, Marina Reis, acredita que

os números de recolhimento devem aumentar nos próximos meses. “Já arrecadamos cerca de seis mil litros de óleo de cozinha. Muita gente ainda não sabe destes pontos que temos. Estamos tentando divulgar ao máximo os pontos de recolhimento, para que vire hábito de todos entregarem o seu óleo aqui.”

As empresas Celgon Agroindustrial Ltda., Faros - Indústria de Farinha e Ossos Ltda e a Oleoplan SA recolherão os óleos dos postos do DMLU e os encaminharão para reciclagem.

Dentre as diversas possibilidades de reciclagem do óleo de fritura destacam-se a produção de resina para tintas, sabão, detergente,

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Jussara Kalil Pires, da ABES-RS, compartilha a mesma idéia, de que somente a divulgação pode conscientizar. “Os problemas deveriam estar na boca de todos e serem mais divulgados na imprensa. A população muitas vezes nem fica sabendo desta possibilidade de entrega do óleo nos postos do DMLU. O ato de não jogar em qualquer lugar o óleo usado deveria ser divulgando na mídia em geral, jornais de bairro e internet.”

Enquanto a população não se conscientiza por completo, os problemas causados pelo óleo de cozinha jogado no meio ambiente continuam. Mais informações sobre os postos do DMLU, pelo telefone: 3289-6999.

Reciclar óleo de cozinha contribui para diminuir aquecimento global

A simples atitude de não jogar o óleo de cozinha usado direto no lixo ou

glicerina, ração para animais e biodiesel, entre outras finalidades.

Segundo Paulo Ricardo Guimarães, contínuo do DMLU, só a divulgação pode fazer com que a população se conscientize sobre o mal ao meio ambiente que podem estar causando. “Esta informação deve chegar à população das mais diversas maneiras. A divulgação nos jornais, na TV, em todas as mídias é o melhor jeito para se atingir a todos. No DMLU, vamos às escolas explicar o mal que pode estar sendo feito em suas próprias casas e as crianças acabam falando para seus pais fazerem o correto. Continuaremos divulgando o projeto de recolhimento, para que a entrega seja cada vez maior em nossos postos.”

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no ralo da pia pode contribuir para diminuir o aquecimento global.A decomposição do óleo de cozinha emite metano na atmosfera. O metano é um dos principais gases que causam o efeito estufa, que contribui para o aquecimento da terra. O óleo de cozinha que muitas vezes vai para o ralo da pia, acaba chegando ao oceano pelas redes de esgoto, em contato com a água do mar, esse resíduo líquido passa por reações químicas que resultam em emissão de metano, através de uma ação anaeróbica (sem ar) de bactérias.

Agricultor adapta carro para usar óleo de cozinha

Paulo Roberto Lenhardt, 52 anos, agricultor de Montenegro, adaptou sua caminhonete a usar óleo de cozinha como combustível. O motor funciona com dois sistemas paralelos. O primeiro com óleo diesel, para dar o arranque, logo depois é girada a chave para o carro andar apenas com

o óleo de cozinha. Segundo Lenhardt, as adaptações necessárias no veículo custaram em média R$ 3 mil e o desenvolvimento e a capacidade do motor não são alteradas.

Apelidado de ‘pasteleira’, pelo cheiro que solta que no ar, a caminhonete de Lenhardt faz pelo menos dez quilômetros com um litro de óleo de fritura. Já são mais de 100 mil quilômetros rodados! Portanto, mais de 10 bilhões de litros de água dos rios escaparam da poluição, só com a ajuda da “pasteleira”do agricultor.

A produção do combustível20 dias é o tempo que demora o óleo de cozinha na linha de

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e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam). Produzido pelos alunos de Química, o combustível abastece veículos coletores de lixo em praças e parques de Porto Alegre.

De acordo com o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Beto Moesch, o biodiesel será utilizado nos 24 tratores que recolhem lixo nas praças e parques da Capital. A intenção, segundo ele, é estender o uso a todos os veículos a diesel da Smam e, depois, a toda a frota da prefeitura.

A professora coordenadora do projeto, Jeane Dullius, destacou que o gás carbônico gerado pela queima do biodiesel é reabsorvido pelas oleaginosas. Ao se combinar com a energia solar, ele realimenta o ciclo, neutralizando suas emissões. Este processo contribui para a redução do efeito estufa e da poluição atmosférica.

produção para a reciclagem. Começa com duas semanas de repouso, para decantar os resíduos. Mais uma, misturado com água, para separar o sal. Por fim, uma fervura, para evaporar essa água e está pronto. Assim, ele fica mais fino, mais parecido com o diesel original. O motor a diesel nasceu a óleo de amendoim. Foi a indústria do petróleo quem adaptou para o óleo diesel. Lenhardt faz o inverso. Ao todo são 15 restaurantes da cidade, que lhe entregam o óleo usado. Com esses fornecedores fixos o agricultor garante combustível para outra caminhonete e mais dois tratores.

Smam segue o exemploSemelhante a este processo, foi a parceria firmada entre PUCRS

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Sabão é uma alternativa

Material utilizado- 5 litros de óleo comestível usado- 2 litros de água- 200 ml de amaciante- 1 kg de soda cáustica em escama

(NaOH)

Passo-a-passo

1 - Coloque a soda em escamas no balde cuidadosamente.

2 - Coloque, com cuidado, a água fervendo. Mexa até diluir todas as escamas da soda.

3 - Adicione o óleo cuidadosamente. Mexa.

4 - Adicione o amaciante. Mexa novamente.

5 - Mexa até formar uma mistura homogênea.

6 - Jogue a mistura em uma fôrma e espere secar bastante.

7 - Corte as barras e pronto!

Uma receita pode produzir até 42 pedras de sabão. O preço médio de venda unitário é de R$ 0,50 que pode render até R$ 21 para quem fabrica. As despesas com os ingredientes não ultrapassam R$ 6, o que representa um lucro de R$ 15 por receita.

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A década dadestruição

Documentarista britânico Adrian Cowell

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No mês de outubro de 2007, a cidade de Porto Alegre foi sede de um importante evento para comunicadores e ambientalistas do país. Entre os dias 10 e 12, ocorreu, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o 2º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA). As diversas atividades, palestras e eventos tiveram como tema principal o Aquecimento Global: um desafio para a mídia. E entre tantos convidados, o documentarista britânico Adrian Cowell, mundialmente conhecido ao produzir uma série de documentários na Amazônia, intitulada A Década da Destruição, ganhou um destaque especial.Quem participou das suas palestras pôde

conferir, na Sala de Cinema Redenção da UFRGS, o primeiro dos quatro filmes da série, “Na trilha dos Uru-eu Wau Wau”, filmado por um longo período entre as décadas de 80 e 90. A série é composta ainda pelos capítulos: O Caminho do Fogo; Nas Cinzas da Floresta e As Tempestades na Amazônia. Algumas de suas imagens foram apresentadas durante a palestra de Cowell, por ocasião da abertura do 2º CBJA.

Adrian Cowell e sua trajetória O documentarista, de 73 anos, veio ao Brasil no ano de 1957, através de um projeto das Universidades de Oxford e Cambridge. Em 1958, participou de uma expedição à reserva do Xingu, onde decidiu permanecer por sete meses. Ao longo desse período, tornou-se próximo do índio Raoni, com quem aprendeu a falar a língua portuguesa. Personagem de um dos documentários de Cowell, Raoni é um dos caciques mais conhecidos do Brasil. Projetou-

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manoel canepa

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se ao percorrer o mundo e ao abrir diálogo com diversos líderes políticos internacionais. Raoni também conseguiu atrair a atenção e arrecadar verbas para as causas indígenas do Xingu e da Amazônia, através de parcerias com personalidades internacionais, com os mesmos interesses, entre elas o cantor Sting.

No ano de 1962, substituindo um jornalista, Cowell realizou uma cobertura de um golpe de estado na Birmânia (atual Miamnar), para a rede de televisão britânica BBC, iniciando, então, sua trajetória. Em janeiro de 1980, retornou à Amazônia para iniciar seu projeto de documentários e, durante cerca de 30 anos, Cowell e sua equipe desenvolveram a série A Década da Destruição na selva amazônica.

A série completa, que recebeu diversos prêmios mundo afora, juntamente com outras filmagens da Amazônia, realizadas para a Televisão Central de Londres e para

a rede de televisão inglesa BBC, foram recentemente doadas por Cowell para a Universidade Católica de Goiás. Trata-se de uma doação histórica dos 50 anos de gravações do documentarista na floresta amazônica, equivalente a 16 toneladas de filmes. E em troca a Universidade terá de financiar a manutenção desses filmes.

Na trilha dos“Uru-eu Wau Wau”

Na trilha dos “Uru-eu Wau Wau”, conta a história de um pai que buscou incessantemente seu filho, supostamente seqüestrado e mantido em posse da tribo Uru-eu Wau Wau. Após um ataque, o seringueiro teve dois de seus filhos mortos pela tribo e o terceiro desaparecido. Arrasados com as perdas e inconformados com o desaparecimento do terceiro filho, pai e mãe dos meninos iniciaram uma duradoura caçada, crentes de que o filho sobrevivente crescia na tribo. A busca

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durou longos anos e foi alimentada por diversas informações das mais diferenciadas fontes, até chegar ao seu desfecho. Além do tema central que conduz o documentário, o diretor aborda o processo de civilização ocorrido na Amazônia. Favorecido pelo extenso tempo decorrido, do início até a finalização do projeto, ele conseguiu registrar no filme desde a chegada das Frentes Pioneiras de Civilização, onde ocorreram os primeiros conflitos, até a aproximação entre os índios e os seringueiros na floresta amazônica. Cowell mostra não apenas o que o processo de civilização acarretou à floresta, mas também as alterações sofridas pelas tribos “Uru-eu Wau Wau”, após a absorção da cultura do “homem branco”. O contato com os extrativistas ocasionou diversos danos aos índios, entre eles o enfraquecimento de sua cultura original e as doenças.

Amigos Vicente RiosO cinegrafista Cowell contou com a colaboração do brasileiro Vicente Rios, com quem divide a autoria de dos filmes. Ele também é co-produtor dos filmes realizados na Amazônia e acompanhou, ao longo dos tempos, junto com o britânico, as transformações ocorridas na floresta amazônica. Hoje, Rios é responsável pelo material doado para a Universidade Católica de Goiás.

Chico MendesEm sua série de documentários, além de abordar a relação entre os seringueiros e os índios, o diretor britânico documentou também a batalha de Chico Mendes pela preservação da floresta amazônica. Mendes foi um líder político e ambientalista do Acre, com destaques

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nacional e internacional. Lutou para unir os interesses dos índios, seringueiros, castanheiros e pescadores através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta, além de ser instrumento de reforma agrária desejada pelos seringueiros. Ele foi assassinado no ano de 1988 por dois fazendeiros.

Lutzemberger O documentarista trabalhou também, durante 10 anos, com outro ambientalista mundialmente conhecido, o gaúcho José Lutzemberger, agrônomo, ecologista e um combatente pela conservação e preservação ambiental. Foi criador da Fundação Gaia, importante entidade ambientalista que atua até hoje. Lutz, como era conhecido, teve rápida passagem também como secretário-especial do Meio Ambiente, entre os anos de 1990 e 1992. O ambientalista, após a

saída do governo de Fernando Collor, disse não ter se orgulhado muito de sua investida como político. Faleceu no ano de 2002, em Porto Alegre.

Ibama e Funai

Os órgãos brasileiros que atuam na floresta amazônica não escaparam das lentes do diretor. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) , também é personagem dos documentários de Cowell. Em sua série mostra uma investida do Ibama barrada por seringueiros, que impediu o cumprimento de sua meta.Outro órgão enfocado por Cowell é a Fundação Nacional do Índio (Funai). O documentarista mostra a difícil tarefa de administrar os interesses dos índios e dos extrativistas. A Funai é o órgão federal responsável por estabelecer e executar as políticas indigenistas no Brasil desde 1967.

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Idéias e Pensamentos

Cowell acredita que os políticos são grandes responsáveis pelo desmatamento no mundo. E destaca como “ato de egoísmo” quando os governos pensam em políticas para seu povo e não pensam no contexto geral, referindo-se à Amazônia. Ele não aceita que a geração de empregos e a renda justifiquem o desmatamento da floresta.

Em relação ao governo brasileiro, o documentarista considera que a criação de políticas drásticas para diminuir o desmatamento seja a ação principal e urgente para conter o superaquecimento

global. Cowell analisa a política de combustíveis como “complexa e lenta”.

De acordo com o ambientalista, o desmatamento corresponde a aproximadamente 25% de todo o superaquecimento global. A derrubada de árvores na Amazônia seria o principal agente causador desse número. Apesar do nome da série, A Década da Destruição, Cowell não pensa que está tudo perdido. Otimista, acredita que não estamos tão longe de uma solução, e vê no debate franco entre políticos, ambientalistas, empresários e até jornalistas um bom caminho para se diminuir os efeitos do superaquecimento global.

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Olimpíadas de Pequim versus Poluição

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Os efeitos que a poluição pode causar nos atletas durante as olimpíadas de Pequim, na China, em 2008, é um tema que passa a ganhar destaque na mídia. Em pesquisa divulgada pela France Presse, em 2005, foi apontado que 400 mil chineses morrem por ano em decorrência de problemas causados pela poluição do ar.

Esse número

alarmante tende a crescer

na medida em que o país se transforma

numa potência econômica cada vez mais forte. Só em

Pequim, terra da Olimpíada, circulam diariamente três mil automóveis, o que coloca a capital chinesa em segundo lugar no funesto ranking de cidades mais poluídas do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Baseado nestes dados, o doutor em Fisiologia do Exercício pela UFRGS e professor do Centro Universitário Metodista IPA, Jerri Ribeiro, especialista em Pneumologia, responde questões

referentes às dificuldades que os atletas podem encontrar numa competição em um lugar tão poluído. EcoDigital - A poluição tem efeito no desempenho de atletas? Jerri Ribeiro - Pode ter sim, porque os componentes da poluição, principalmente o monóxido de carbono, aumentam o stress e a produção de radicais livres, que são agentes que destroem as células e podem diminuir o desempenho dos atletas. EcoDigital - Devido aos altos índices e poluição em Pequim, como você acredita que será o desempenho dos atletas nas próximas olimpíadas?

alexandre paz

rodrigo vieira

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Ribeiro - Eu acredito que haverá menos quebras de recordes, afinal uma competição num lugar tão poluido tende a diminuir o rendimento dos atletas. EcoDigital - Quais as principais modalidades prejudicadas neste contexto? Ribeiro - Atletismo, Maratona, Futebol, Vôlei de Praia e qualquer modalidade disputada ao ar livre, mas como o atleta vai conviver no seu dia a dia com a poluição e até mesmo treinar no meio dela, o rendimento vai ser inferior até mesmo em locais fechados.

EcoDigital - Além de resultados inferiores aos que podem

ser alcançados, que outros problemas os atletas podem enfrentar ao competir em um ambiente adverso como o de Pequim? Ribeiro - O exercício para quem não está preparado é uma agressão ao corpo e o treinamento físico desenvolve uma proteção. A poluição é uma agressão extra que o atleta não está preparado. Se o nível de poluição for alto e o calor muito intenso no ambiente, aumentam as chances de um competidor passar mal, sofrer desidratação ou hipertermia (aumento da temperatura corporal). Outros problemas que poderão surgir são os

relacionados às vias respiratórias, principalmente dos brônquios, pois a poluição desencadeia o processo alérgico e a asma pode vir muito violenta. EcoDigital - Que atitudes a organização do evento pode tomar para preservar a integridade dos atletas?

Ribeiro - Como é difícil diminuir

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os índices de poluição em tão pouco tempo, a comissão organizadora da competição deve preparar uma equipe multidisciplinar com médicos, fisiologistas, educadores físicos e nutricionistas, especializados nos efeitos que a poluição pode trazer para o desempenho e saúde dos atletas. Jerri Ribeiro, doutor em Fisiologia

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Gira

ndo na contra-mão

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Um mal assola a todos. Dá medo só de ouvir. Chamam de aquecimento global. Geleiras derretem, provocam inundações, não há mais estações definidas e os animais ou fogem ou morrem. Talvez nada disso estivesse acontecendo se ainda vivêssemos em uma floresta, sem tecnologias e nos mantendo apenas para o próprio sustento. Cada um no seu canto. Quem mora em Paris, fica em Paris, afinal um avião emite muito gás carbônico. E, por conseqüência, quem mora no Brasil, ou seja lá onde for, nunca vai conhecer Europa, os EUA, e muitos menos o Japão, que fica do outro mundo. Nascemos em um lugar e lá é que devemos ficar.

A aviação é a fonte emissora de CO2 que cresce de maneira mais rápida no mundo. Num vôo Rio-Manaus, por exemplo, cada passageiro é responsável pela emissão de 0,48 tonelada de CO2. Num único vôo transatlântico, de Londres a Nova York, um avião gasta 60 mil litros de combustível, o equivalente ao

felipe ravizon

de jesus

uso de um automóvel por 50 anos. Isso gera 140 toneladas de gás carbônico, o principal responsável pelo aquecimento do planeta. O invento de Santos Dumont produz, ainda, 750 quilos de outro gás, o óxido de nitrogênio. Lançado a 10 mil metros de altitude,

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OPINIãO

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aquecimento global pode ser um ato de rebeldia. O dinheiro e os lucros também falam mais alto do que a consciência ecológica quando sabemos que os EUA se negam a contribuir na redução de gases de efeito estufas, o que abre possibilidades para o nosso lar entrar em erupção. Está na contra mão do progresso americano obrigar a diminuir a emissão de gases, pois acarretaria o fechamento de fábricas, ou seja, a perda de milhares de empregos e, conseqüentemente, de lucros. Ao mesmo tempo, países “em desenvolvimento”, não querem assumir a responsabilidade e nem tampouco parecem estar disposto a parar de despejar gases nocivos, pois alegam não ter participado da grande massa poluidora no início da Revolução Industrial. Haja fôlego e complacência por parte da mãe natureza!

De acordo com dados publicados pelo jornalista André Trigueiro, em “O Mundo Sustentável”, a posição do governo brasileiro, em sintonia com o bloco dos países emergentes, é de que 90% dos gases acumulados na atmosfera, desde o início da revolução industrial, são de

tal óxido provoca reações químicas na atmosfera e também ajuda a esquentar a Terra.

Por querermos cada vez mais conforto sem respeitar o ambiente natural, já percebemos reações. E o

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responsabilidade dos países industrializados.

Assim, revela o autor, se resgatássemos o passivo das emissões de CO2 nos últimos 150 anos, a cota de poluição do Brasil, comparada a de todos os países em desenvolvimento, é de apenas de 1%. 77% do gás lançado na atmosfera têm origem nas queimadas. A Amazônia detém grande parte deste percentual, o Brasil é um dois seis maiores poluentes do mundo e a China não quer nem saber, quer crescer e ponto final; tudo na base da queima de carvão mineral.

Com sucessivos recordes de crescimento em seu PIB, a terra da língua mandarim, já seria o segundo maior emissor de gases-estufas do globo terrestre, ficando apenas atrás dos EUA, que emite sozinho 25% do total de gases-estufas. Quase por uma questão de merecimento, os EUA sofrem com as respostas da natureza, entre furações, cataclismos e tempestades, que deixam 2,5 milhões de moradores desabrigados, como foi o caso do furacão denominado “Francis”, na

Flórida, sem contar as reações da economia.

No mundo tudo tem um preço. Assim, as escolhas, o crescimento e a industrialização também têm o seu preço. O pior de tudo é que se continuarmos neste

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ritmo de descaso, nem teremos para onde ir. Pelo menos, não, até que se descubram outros locais para viver. Mas, enquanto isso, proseguimos como inquilinos de um planeta, sem qualquer responsabilidade sobre ele. É hora de parar para pensar, mudar procedimentos, agir individualmente e com responsabilidade em relação ao meio ambiente, além de cobrar mudanças; é hora de reagir.

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Reges Schwaab, apaixonado

pelas questões ambientais

“Pode-se traduzir o desenvolvimento sustentável a partir da idéia de garantir a sobrevivência da nossa geração, sem afetar as futuras gerações”.

Eduardo Purper entrevista Reges Schwaab na Rádio IPA

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Reges Schwaab é jornalista e integra o NEJ/RS – Núcleo de Eco-jornalista do Rio Grande do Sul. Doutorando do PRGCOM/UFRGS, dedica-se às questões ambientais desde 2000. Participou da Comissão Organizadora do 2º Congresso de Jornalismo Ambiental e concedeu entrevista ao programa “A palavra é Sua”, do aluno de Jornalismo, Eduardo Purper.

EcoDigital – Quando surgiu a paixão pelo meio ambiente?

Reges Schwaab – Durante a faculdade fui estagiar numa assessoria de imprensa e eles tinham um projeto sobre reflorestamento. A partir daí, comecei a ter contato com o tema. Meu primeiro projeto foi então ligado ao meio ambiente e ao reflorestamento nas áreas rurais, no Noroeste do Estado, incluindo oito municípios. Fazíamos jornais, vídeos e programas de rádios sobre o reflorestamento e o cuidado com as matas ciliares, que ficam à beira dos rios e arroios. De tanto trabalhar com o tema, e já formado, acabei ganhando

a responsabilidade de fazer um programa semanal na Rádio da Universidade de Ijuí sobre o meio ambiente.

EcoDigital – Qual foi o teu primeiro trabalho de pesquisa na área ambiental?

Schwaab – No final do curso de jornalismo, em 2002, fiz uma monografia que falava sobre a comunicação nos trabalhos de educação ambiental.

EcoDigital – Como tu vês o jornalismo ambiental de hoje. Há isenção?

Schwaab – As pessoas que trabalham mais tempo nesta área dizem que não há como ter isenção num problema tão grave. A gente precisa, na verdade, é mostrar a gravidade do problema, e tentar, através do trabalho do jornalismo investigativo e do lado educativo do jornalismo, mostrar as soluções e os caminhos que hoje são possíveis de serem adotados para que os problemas sejam resolvidos. Geralmente, não recebemos informações na faculdade, mas estão ocorrendo mudanças. O IPA é uma das faculdades que trabalham com o Jornalismo Ambiental na graduação, assim como a UFGRS e a PUC-RJ. Cada vez mais se exige a qualificação dos jornalistas para abordar temas voltados ao meio ambiente. O jornalista tem que ter uma visão de

eduardo purper

daniel miranda

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mundo e entender os problemas ambientais.

EcoDigital – O que é o desenvolvimento sustentável?

Schwaab – Na verdade, a gente ouve falar todo dia sobre o desenvolvimento sustentável, seja no rádio,

na TV ou lendo os jornais. Mas dificilmente a gente pára para pensar o que realmente significa. Pode-se traduzir o desenvolvimento sustentável a partir da idéia de garantir a sobrevivência da nossa geração, sem afetar as futuras gerações.

EcoDigital – Como surgiu a idéia de organizar o Congresso de Jornalismo Ambiental?

Schwaab – Essa idéia não é nova. Dá para se dizer que ela tem mais de 15 anos. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), desde os anos 90, tem insistido para que os Estados organizem núcleos com grupos de jornalistas a fim de discutir o tema ambiental e como trabalhar com ele. Isso já foi cumprido por alguns Estados, e o Rio Grande do Sul é um deles. Devido ao grande número de profissionais criou-se o congresso, com um grupo de São Paulo. A primeira cidade

a sediar foi Santos. E, em 2007, Porto Alegre acolheu o 2º Congresso de Jornalismo Ambiental (CBJA). O evento ocorreu em outubro, na Reitoria da Ufrgs.

EcoDigital – Como funciona o NEJ/RS – Núcleo de Eco-jornalista do Rio Grande do Sul?

Schwaab – Nós temos um núcleo de eco-jornalistas que mantém um portal de notícias, chamado Ecoagência. E nós contamos com um número grande de pessoas que tentam trabalhar da forma mais correta e mais ambiental possível as pautas. Todas as notícias estão disponíveis para no portal www.ecoagencia.com.br.

EcoDigital – Na tua opinião qual a mensagem para quem quer ser um bom jornalista ambiental?

Schwaab – Ser um bom jornalista ambiental é uma questão de atitude; é um compromisso. Devemos encarar com seriedade a profissão e buscar qualificação. É preciso desenvolver uma sensibilidade em relação às questões ambientais e que deve estar acompanhada de um olhar crítico sobre a realidade.

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Olhos abertos para o

futuroEduardo Mauer, facilitador da Corsan

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Quando se fala em saúde pública e educação ambiental, logo vêm à cabeça dois elementos fundamentais: o abastecimento de água e o tratamento de esgotos. Encarados como fatores de desenvolvimento econômico e de inclusão social, a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), impõe como desafio atualizar as técnicas de gestão e, cada vez mais, incorporar o atendimento às questões sócio-ambientais ao planejamento de suas atividades.

Na última década o engajamento e o compromisso assumido pela Corsan no campo da responsabilidade social corporativa aumentaram sensivelmente. Para tornar real estas

ações foi instituída a tarifa social, como meta principal de inclusão, o que beneficia famílias de baixa renda, inscritas em programas governamentais, com o objetivo de contribuir para a redução das desigualdades. As famílias vulneráveis passam a receber o subsídio de 60% sobre o valor do consumo, ao mesmo tempo em que a empresa destaca o princípio indispensável ao desempenho de qualquer serviço público: o da eqüidade.

A partir do ano de 2001, a Corsan passou a difundir, em todas as regiões do nosso Estado, programas especiais voltados à divulgação de conceitos e práticas de conservação, incluindo o consumo racional da água, noções de saneamento básico e de desenvolvimento sustentável de qualidade. Tais ações estão sob a responsabilidade do Departamento de Educação Ambiental que integra a Superintendência de Recursos Hídricos, da Companhia Riograndense de Saneamento.

Desde 2005, o agente de tratamento de água e efluentes da Corsan, Eduardo Mauer, participa como voluntário ao divulgar os projetos ambientais de inclusão social da Companhia junto às escolas das regiões metropolitana e carbonífera do Estado (Arroio dos Ratos, Barão do Triunfo, Butiá, Charqueadas, General Câmara, Minas do Leão e São Jerônimo).

Além de Mauer, atuam junto às áreas técnicas, em rede de integração com as nove superintendências regionais da empresa, 290 facilitadores voluntários da Companhia. Os voluntários que

maria carolina borne

tiago dias

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recebem material didático direcionado para os cursos de aperfeiçoamento, operam em conjunto com escolas, universidades, prefeituras, secretarias municipais de educação, cultura, meio ambiente, instituições públicas e privadas, promovendo ações sistemáticas de mobilização pela preservação e conservação dos recursos naturais. “Antes de qualquer diligência procura-se linkar os conteúdos do currículo regular de cada série ao que se vai abordar”, ressalta Mauer.

Dentre as atividades promovidas, pela Companhia, através dos facilitadores, o

agente destaca as visitas orientadas à Estação de Tratamento (Eta), a Gincana do Meio Ambiente, Pedalando Pela Vida com a Corsan (passeio ciclístico), e projetos como: Uma Mão Aquece a Outra e Óleos Para o Futuro.

Através de palestras em centros comunitários, os voluntários trabalham com o objetivo de educar e informar à comunidade sobre a coleta e o tratamento dos efluentes.“No caso do óleo, estamos pesquisando como verificar a média de geração dos resíduos por habitante”, diz Mauer. Ele conta que durante as exposições que ocorrem nas escolas é feito o cadastramento dos alunos e a eleição de pontos de coleta obrigatória de óleo. Como tarefa, cada estudante fica responsável por prospectar outras duas pessoas, entre amigos e vizinhos da comunidade, para participar da atividade.

Voluntários da Corsan Entre as campanhas bem-sucedidas adotadas pela Corsan também estão

os mutirões de limpeza em rios, açudes e barragens, caminhadas ecológicas, apresentações teatrais, oficinas de arte, atividades lúdicas e pedagógicas envolvendo principalmente crianças e adolescentes. “O trabalho com crianças é sempre muito gratificante, pois existe grande envolvimento e disposição para as tarefas propostas”, explica o agente.

Quando o assunto é a crise ambiental, Mauer não hesita em afirmar que discorda em parte. |Pare ele, a grande responsável pela problemática do meio-ambiente é a crise comportamental. “Acredito que a educação ambiental é a ferramenta mais eficaz para a quebra de paradigmas e mudança de hábitos de consumo do homem moderno”, completa.

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O valor da água para vida

sustentável

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Sérgio Wolff, engenheiro elétrico pós-graduado em gestão ambiental, trabalha diariamente com operações de manutenção na Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). Ele expõe suas experiências com o tratamento da água e ressalta que ela é ainda um benefício de fácil acesso, mas pode se tornar o mais precioso bem entre os gigantes mundiais. Wolff aponta as difíceis resoluções políticas e econômicas em torno da água, do petróleo e das fontes de energia e menciona alguns costumes simples, dos quais teremos que aderir, sem escolha, para ajudar no mundo sustentável, como o uso e reuso da água.

Sérgio Wolff

“Se o Brasil não tem acesso a água potável, não é devido à inexistência de água, e sim por uma questão de

estrutura, de investimento e

de política”

aline rodrigues

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EcoDigital – Especialistas estão afirmando que a água será o próximo “petróleo” e o pivô das próximas guerras. O senhor concorda com esse alerta?

Sérgio Wolff – Concordo. Hoje existem várias áreas com grande falta de água, principalmente nos locais de muita população. A carência de água em grandes povoamentos acaba influindo nesses conflitos. Com certeza a água será motivo de disputas no futuro. No Oriente Médio já são usados processos para dessalinizar a água do mar. São processos muito caros, mas lá há viabilidade no custo, porque é uma necessidade. Outros lugares que ainda não têm essa aplicação também podem ter a tecnologia da dessalinização, sem necessidade de uso com água em abundância, como é o caso do Brasil.

EcoDigital – O Brasil possui a maior reserva de água doce do planeta. Mesmo assim, 40 bilhões de brasileiros não têm acesso à água. O senhor vê medidas políticas e sociais acessíveis para combater a deficiência?

Wolff – Se o Brasil não tem acesso à água potável, não é devido à inexistência de água, e sim por uma questão de estrutura, de investimento e de política. Entra nesse contexto a ação dos investimentos

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privados. Privatizar a água para ter investimentos, ou não? É uma questão no momento. O que o governo fará para poder investir pesadamente no abastecimento de toda a população sem ter o dinheiro?

EcoDigital – Em relação à água, o senhor pode dar um exemplo de como tornar acessível no dia-a-dia a palavra sustentabilidade?

Wolff – A sustentabilidade implica em desenvolver ações para o melhorar o aproveitamento da água, como o seu reuso, por exemplo. Faríamos do aproveitamento um circuito fechado, em que tenha água que você mesmo trata e limpa para que ela volte a ser usada. Seria como usar na sua casa a água do tanque, do chuveiro para poder utilizá-la depois na descarga. Existe um sistema de filtração que tira o material mais grosseiro dessa água utilizada e que poderia ser aplicado no reaproveitamento. Estão à venda alguns equipamentos portáteis para fazer isso, no entanto ainda são equipamentos caros.

EcoDigital – Malária, leptospirose, cólera e outras doenças relacionadas à água, atingem 80% das mortes em países pobres. A ausência de água potável mata, até mesmo, 70% das pessoas internadas em

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hospitais. Quais seriam as melhores soluções para essa dificuldade crônica?

Wolff – Nesse caso, estamos falando da água servida e dos esgotos sanitários. As doenças surgem em decorrência da baixa coleta e falta tratamento de esgotos na maioria das cidades. Para solucionar esse problema, teria que existir um grande investimento em construção de uma rede de coleta de esgoto e tratamento. Ambos diminuiriam os índices precários. Tratando os esgotos, teríamos um duplo benefício: além da melhora em saúde pública, teríamos uma água de melhor qualidade também para o meio ambiente. O rio que recebe a água mais limpa oferece melhores condições de captação e consumo. Quanto menor a quantidades de poluentes na água, mais fácil será seu tratamento. Em conseqüência, a água apresentaria mais qualidade de consumo. EcoDigital – O desperdício de água no Brasil alcança 40%. Por que isso acontece? Há alguma alternativa para esse problema?

Wolff – As perdas de água são mesmo elevadas no nosso país. Do que se produz, se perde 40%, porque temos redes sucateadas, velhas e falta de manutenção para a busca de vazamentos. Uma

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estação de tratamento que produz determinada quantidade de água tem índices de perda na distribuição até chegar às residências. Se 100% de água é tratada, efetivamente 60% é consumida e normalmente o restante é perdido em vazamentos. Isso se deve à baixa manutenção dessas redes, que são antigas e obsoletas. Precisaríamos de um investimento maior na substituição e na manutenção. É a enorme a dificuldade das empresas estatais, que carecem de investimentos no setor. Uma das tentativas para a melhora seriam as parcerias público-privadas. Recorreríamos ao capital privado para investimentos, entretanto, sem perder a autonomia para decisões do Estado..

EcoDigital – O Governo Federal busca a melhor maneira de fazer a transposição do Rio São Francisco e levar água ao nordeste. O senhor acha viável a modificação da natureza para atender uma necessidade social?

Wolff – Esse projeto está em andamento. Estão sendo avaliadas todas as questões ambientais que a transposição pode causar. Tirar água de uma região e passar para outra, não se limita apenas no trabalho de remoção, envolve inúmeros impactos ambientais. Vai mudar a cadeia biológica, a fauna

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e flora. Todos os lugares onde a água for retirada e onde for recebida, devem ocorrer mudanças ambientais. Seria uma solução para o nordeste, mas poderiam surgir outros problemas na nascente do rio. O Rio São Francisco é muito grande, ele termina entre o Rio de Janeiro e São Paulo, uma região densamente povoada. Será que essa água não fará falta nesses estados? Nos períodos de maior seca, não vai comprometer mais o leito do rio? Fazendo a ação de transposição, poderiam ser criados outros problemas, como de navegação e de pesca. Resolveria a dificuldade de uma região criando problema em outra. Mas, se bem avaliado e fugindo, inclusive, dos interesses meramente econômicos a transposição poderia ser feita.

EcoDigital – O senhor falou que alguns países já utilizam a água salgada para consumo, o que não era possível há pouco tempo. O sistema de extrair o sal da água, não poderia ser uma solução para a escassez mundial?

Wolff – No futuro, com certeza, a água do mar será utilizada para consumo. Provavelmente existirão outros processos mais baratos para a limpeza da água extraída do mar. Até mesmo em função do grande consumo que será exigido. É a velha história:

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quanto mais usamos, mais barato fica. Temos vários exemplos disso, como os equipamentos eletrônicos que eram caríssimos e depois se tornaram baratos. A água do mar já é utilizada para consumo em alguns países com escassez. Israel já faz esse sistema de dessalinização.

EcoDigital– Há novas e diversas formas de energias como o etanol, o biodiesel, as energias eólica, solar e nuclear. O senhor pode comentar sobre essas alternativas energéticas?

Wolff – Temos várias alternativas de combustíveis do futuro em desenvolvimento que ainda não foram lançadas no mercado, por causa das questões econômicas e políticas em torno do petróleo. Há inúmeras soluções tecnológicas sustentáveis e não há dúvida de que as oleaginosas, a cana de açúcar e o carro elétrico são soluções. Já existe até o carro movido a hidrogênio, por meio da dissolução da água. A energia nuclear não tem ainda o que fazer com seu lixo. Contudo, não dá para dizer que em 50 anos não haverá uma aplicação para esse lixo. Materiais que hoje são um estorvo e uma preocupação, podem tornar-se uma nova fonte de energia. As pesquisas e o desenvolvimento de produtos podem torná-los viáveis como fontes de

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energias. A biomassa, a partir do excremento de animais é um exemplo disso, gerando o gás metano e por fim energia. Poucos anos atrás, ninguém sabia o que fazer com os pneus dos automóveis e agora podemos transformá-los em asfalto. As cinzas provenientes da queima de carvão em termoelétricas, também não tinham emprego nenhum e atualmente são usadas para fazer tijolos ecológicos. Com a pesquisa científica em evolução, pode-se descobrir algum fundamento para um resíduo químico que não tinha nenhuma aplicação.

EcoDigital – As leis brasileiras estão de acordo com a atual consciência para a sustentabilidade?

Wolff – Nossa legislação atua cada vez mais nos setores ambientais. A Legislação Ambiental no Brasil é uma das mais completas do mundo no enquadramento dos crimes ambientais, como nas queimadas, na extração de madeira e na poluição. Mesmo com leis avançadas, as pessoas não sabem interpretar adequadamente esse assunto que está em pauta. Até para questões judiciais, administrativas e jornalísticas, entre outras, é preciso conhecer o tema.

EcoDigital – Como o senhor destaca o significado da

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educação Ambiental?

Wolff – O futuro exige que se aprenda a economizar a água. Também se espera que tenhamos atitudes corretas em relação ao uso da água ao evitar desperdícios, uma vez que não teremos outras opções. Devemos divulgar as atitudes simples, com o banho mais rápido no chuveiro ou o escovar dentes com torneira fechada. Situações que as pessoas não estão acostumadas a perceber porque a falta de água nunca foi um problema para elas. O custo da água é ainda insignificante. Um litro de água é muitas vezes mais barato do que um litro de cachaça. Isso precisa mudar. Se não nos educarmos, a conscientização se fará através do bolso, e a água vai nos custar muito cara.

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GM de Gravataí e omeio ambiente “Nós começamos a operar na fábrica usando 3200 litros de água por carro e atualmente consumimos 1500 litros A próxima meta é chegar a 1300. Nesses 10 anos, aperfeiçoamos o sistema de uso da água e estamos usando menos da metade de água”.

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Cseslaw Siwik é engenheiro do Departamento de Manutenção Central da montadora de veículos General Motors (GM), de Gravataí (RS). Atua há 33 anos na empresa e iniciou sua carreira na área da construção, em São Paulo, inicialmente em São Caetano do Sul e depois em São José dos Pinhais. Ele se caracteriza como um homem de fábrica, de trabalho e de construção. Siwik é responsável por toda a estrutura física e pela área ambiental relacionada à GM de Gravataí. Em entrevista, para a

revista EcoDigital, relatou como a unidade gaúcha da GM, a mais moderna da empresa, trata as questões ambientais.

EcoDigital – Qual foi o procedimento da GM em relação ao impacto ambiental gerado pela implantação da fábrica em Gravataí?

Cseslaw Siwik – Em 1997, quando convidado para vir a Porto Alegre, a minha primeira tarefa foi ver onde nós iríamos trabalhar. Lembro que pensei: como vão construir uma fábrica aqui? Mas, se é esse o destino, então vamos executar o projeto. Através de mesas redondas começamos a fazer os planos e o projeto da fábrica. O interessante é que quando iniciamos as reuniões, o primeiro item referiu-se ao impacto ambiental. Contratamos uma empresa paulista que tinha engenheiros trabalhando aqui e juntos desenvolvemos o projeto durante meses. Para se ter uma idéia, até o trajeto de um passarinho é preciso ser acompanhado. Em Gravataí, encontramos ninhos com ovinhos e esperamos os filhotes nascerem para seguirmos o planejamento

diéli fontoura

manoel canepa

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que previa desviar o curso do rio. Também havia no local, milhares de figueiras que não podíamos tirar. Contratamos uma carreta com guincho para retirar as árvores e depois replantá-las. E para compensar o impacto gerado pela construção da fábrica criamos uma reserva ambiental.

EcoDigital – Além da preocupação com o impacto ambiental na construção, que tipo de preocupação relacionado à água GM tem?

Siwik – Nós somos abastecidos pelo Rio Gravataí e a Companhia Riograndense de Saneamento, (Corsan), possui uma estação de tratamento de água que beneficia a GM e a comunidade. Além disso, há na fábrica três poços artesianos, para situações de emergência.

EcoDigital – Em números, qual o volume de água que é usada pela GM na montagem dos carros?

Siwik – O processo de pintura é o que mais usa água. Nós começamos a operar na fábrica usando 3200 litros de água por carro e

atualmente consumimos 1500 litros A próxima meta é chegar a 1300. Nesses 10 anos, aperfeiçoamos o sistema de uso da água e estamos usando menos da metade de água. EcoDigital – Qual o consumo de água diário da GM?

Siwik – Na realidade a GM consome em torno de 800 mil litros de água por dia. Se dividíssemos esta quantidade por 20 mil litros, que é o que comporta uma carreta de 20 toneladas, teríamos aproximadamente 40 caminhões enfileirados de água por dia.

EcoDigital – Depois de usar essa água, ela é jogada fora ou é reaproveitada?

Siwik – A água utilizada passa

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por diversos estágios. Ela precisa ser limpa e desmineralizada. Nós a usamos, tratamos e a reutilizamos.

EcoDigital – Quem efetua este tratamento ?

Siwik – O tratamento de efluentes é realizado no próprio Complexo Automotivo pela empresa CORSAN, contratada para garantir o tratamento adequado aos efluentes, a fim de que esteja de acordo com os parâmetros de emissão. Em algumas unidades da GM temos estações próprias de tratamento.

EcoDigital – Em quantas etapas da montagem de carro a água está presente como fator determinante para a execução de tarefas?

Siwik – Depois de montada, a carcaça (estrutura metálica) do automóvel é submetida a uma lavagem e, após um processo especial de tratamento, é utilizada no último teste que é o de vedação ou teste dinâmico. O carro fica dentro de uma cabina e vai sendo bombardeado por jatos de água, por baixo e por cima, para verificar se há possibilidades de entrar água. Todos passam pela dinâmica e, se algum apresenta vazamento, tem de ser corrigido. Após esta etapa a água vai sofrer um processo diferenciado de tratamento, pois como ela não é uma água industrial por ser oleosa, necessita de um método especial para purificá-la na estação de tratamento, de onde deverá sair potável.

EcoDigital – A GM têm um custo maior com isto?

Siwik – Na empresa de Gravataí, a grande parte dos serviços foram contratados. Portanto quanto mais contratados melhor para este modelo de fábrica.

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EcoDigital – Esse sistema está dando certo?

Siwik – Sim. Está muito bom. Se nós optamos por ele é por que trás mais benefícios tanto à GM quanto à Corsan.

EcoDigital – A GM têm um programa entre os funcionários de conscientização para racionar a água?

Siwik – Nesses 10 anos, aperfeiçoamos o sistema de uso da água e estamos usando menos da metade de água. A meta é continuar trabalhando, porque na realidade essa é uma luta incansável. Para alcançar os objetivos são realizadas campanhas de sensibilização e conscientização dos empregados, em datas especiais relacionadas ao Meio Ambiente e também no dia-a-dia, através de conversações, treinamentos, cartazes, etc.

Combustíveis

EcoDigital – Quais são os projetos futuros da GM em relação aos combustíveis alternativos?

Siwik – Planejamento eu diria que existe, mas ainda não está aberto. Ouço comentários, mas a GM é extremamente preocupada com os novos tipos de combustíveis os quais estão sendo analisados pela empresa. Além da gasolina, a GM já produz carros a álcool há algum tempo.

EcoDigital – E o carro movido a hidrogênio?

Siwik – Automóveis desse modelo já estão em desenvolvimento. Certamente há testes, mas não posso garantir nada, pois isto é confidencial.

EcoDigital – Com relação à energia, que fontes são utilizadas pela GM? Siwik – Nós trabalhamos aqui

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no sul com 34% da energia proveniente do gás e 43% da energia elétrica. O gás natural é uma ótima fonte de energia. Com medidas internas de economia, nossa fábrica conseguiu diminuir o uso de energia em 20%. Deixamos de usar certos equipamentos, desligamos as luzes e fazemos treinamentos para que todos os funcionários assumam a responsabilidade de poupar.

EcoDigital – Que comprometimento vocês têm com a localidade em que instalam uma nova fábrica?

Siwik – Toda a vez que planejamos nos instalar em algum lugar seguimos as regras que o estado nos impõe. Fazemos um estudo do impacto ambiental, extremamente importante ao considerar que a movimentação

de caminhões, que levam e trazem cargas, bem como os carros fabricados, geram mudanças ambientais as quais precisam ser consideradas. Nós fabricamos em média 850 carros por dia, e cada carreta comporta 12 carros. Apesar do impacto, buscamos promover o desenvolvimento do local onde nos instalamos. Se vocês lembrarem como era Gravataí há 10 anos atrás e como está hoje, é possível dimensionar. A General Motors é um jogo de ganha X ganha; todos precisam ter vantagens e ganhar benefícios. Assim como a GM, a comunidade e o estado onde ela se instala devem ser beneficiados.

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Jornalismo ambiental por um planeta sustentável

“A informação pode muito, mas não pode tudo”.

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De 10 a 12 de outubro de 2007, Porto Alegre foi sede do 2º Congresso de Jornalismo Ambiental, organizado pelo Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul. O tema central foi o aquecimento global como desafio para a mídia. Entre os participantes, o jornalista André Trigueiro, ambientalista, repórter, escritor e apresentador da Globo News, que participou da conferência sobre “Cidades Sustentáveis”. Na semana que antecedeu o evento, Trigueiro contou um pouco da sua trajetória na preservação e proteção do meio-ambiente, em entrevista à EcoDigital, por telefone.

EcoDigital - Há quinze anos, na ECO 92, foi lançado o primeiro alerta sobre a crise ambiental que o planeta enfrenta hoje. Por que a mídia não deu a devida atenção ao assunto naquela época, e qual a explicação para a dificuldade de despertar uma consciência ambiental nas pessoas, uma vez que existem tantos céticos e pessimistas em relação a este tema?

André Trigueiro - Não se muda hábito e comportamento por decreto. A ciência ambiental, assim chamada, é nova. O diagnóstico de uma crise ambiental sem precedentes, do ponto de vista histórico, também é recente e há uma resistência das pessoas. Elas se sentem normalmente incomodadas quando percebem que, em defesa de uma nova atitude, na direção da sustentabilidade, se sugere que haja uma mudança de comportamento. Então, quando você está invadindo - entre aspas - a privacidade, a intimidade, o suposto direito de consumir o que você deseja, do jeito que quiser, sem prestar contas

maria carolina

borne

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a ninguém, isto não soa bem para algumas pessoas. Por exemplo, muitos acham extremamente antipático falar de pegada ecológica, uma metodologia que vai traduzir, em hectares do planeta, o quanto o seu estilo de vida demanda de matéria e energia. Então, as pessoas reagem de forma diferente a uma informação que, invariavelmente, remete a uma reeducação, um outro olhar sobre a realidade que nos cerca e uma forma sustentável de viver.

EcoDigital - A questão é cultural, e decorre de uma mudança de paradigmal?

Trigueiro - É uma mudança que ocorre numa ordem de grandeza superlativa, ela é estrutural e não soa bem pra algumas pessoas. É fato, então, que a informação pode muito, mas não pode tudo. Na verdade esse alerta veio antes, com o livro “Primavera Silenciosa”, da americana Rachel Calson, editado em 1962, que é reconhecido como um marco no movimento ambientalista, e também na obra “Os Limites do Crescimento”, editada pelo Clube de Roma em 1972, e debatida na Conferência das Nações Unidas de Estocolmo, naquele mesmo ano.

Mas, quando a Rio 92 aconteceu havia clareza sobre o modelo de desenvolvimento, descrito no seu relatório final, como ecologicamente predatório, socialmente perverso e politicamente injusto. Eu cobri a Rio 92 e posso falar com alguma tranqüilidade disso. Nós, jornalistas não estávamos preparados no Brasil, por exemplo, para entender o que é biodiversidade, desenvolvimento sustentável e nem porque era tão importante falar do uso inteligente dos recursos, do consumo consciente ou sustentável. Na época, as redações tiveram que

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buscar na figura dos especialistas, biólogos, cientistas e ecologistas, o auxílio luxuoso para escrever o que estava acontecendo, porque os jornalistas não estavam à vontade, não compreendiam, na a importância da conferência. Então, a mim me parece que houve um deslumbramento, um espaço maravilhoso na mídia: suplementos especiais, cadernos especiais, programas de televisão e de rádio especiais, etc. Agora isso não se sustentou, porque não havia esse entendimento mais apurado de como esta questão deveria estar presente, não apenas num momento de crise,

ou de grandes e espetaculares conferências. Como é que você, no dia-a-dia, no varejão dos assuntos do cotidiano, poderia abrir espaços para discutir inúmeros temas rotulados de ambientais, de uma forma interessante e criativa? Esta questão não estava colocada. Eu acho que na época da Rio 92 houve um boom, uma explosão de notícia ambiental e isso não se sustentou. Mas,de lá pra cá vem crescendo a demanda por este tipo de informação na sociedade, e também a necessidade das escolas de jornalismo oferecer esses conteúdos aos estudantes.

EcoDigital - Nos últimos anos os jornais têm aberto mais espaços para a editoria de ambiente. Aqui no Estado o espaço existe, mas é tratado como subeditoria. Você percebe se o espaço está ganhando ampliação para falar sobre esse assunto no Brasil?

Trigueiro - Eu não tenho nenhuma dúvida. Agora é importante observar que quando se fala de editoria, subeditoria, se fala de administração da notícia, de gestão de uma redação, e eu não estou nenhum pouco preocupado com isso, enquanto profissional de imprensa, porque

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pra mim isso é uma questão menor. Particularmente não vejo com muito interesse a existência de uma editoria ou uma subeditoria de meio ambiente. A questão ambiental é transversal, ela alcança indistintamente todas as áreas do saber e do conhecimento. Estou emprestando a esse assunto uma função de coringa do baralho, ela se encaixa perfeitamente em todas as editorias e deveria ser percebida como importante em todas as editorias. Ela cabe na editoria de economia, de política, de relações internacionais, de cidade, de cultura, de esporte, de turismo, de lazer, onde você estiver

existe o recorte ambiental no gênero de assunto que você está trabalhando. Isso é muito simples e é interessante como, às vezes, há confusão quando você tem a redação muito segmentada.

Certos assuntos não cabem numa editoria. Por exemplo: aquecimento global. Você tem inúmeras possibilidades de cobrir. Há diferentes gêneros de acontecimentos que são relacionados ao aquecimento global e alcançam todas as editorias Por exemplo: o problema causado pela mudança do ciclo da chuva na produção de energia

hidrelétrica ou na agricultura. Se não está chovendo ou estamos perdendo a capacidade de prever quando vai chover, isso tem um impacto econômico e vai pra editoria de economia. Se a editoria ambiental existisse poderia ir pra lá. Mas este é um assunto econômico com recorte ambiental. Outro exemplo: todas as conferências internacionais do clima, o próprio Tratado de Kioto, as negociações com o governo americano, são assuntos para a editoria internacional, mas tem origem no problema ambiental e envolve diplomacia. Você pode também falar em Jogos

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Olímpicos de inverno, agora com o fenômeno do degelo e elevação da temperatura média do planeta. Temos problemas de logística envolvendo a escolha da cidade sede, se haverá gelo suficiente pra sustentar inúmeras competições, porque você já não tem gelo perene em alguns lugares do planeta. É um assunto de esporte, mas com recorte ambiental. Aprendemos lendo Edgar Morin ou Fritjof Capra o que é visão sistêmica.

E a visão sistêmica preconiza que o universo encontra-se interligado a um conjunto de

fenômenos que interagem e que são interdependentes. Assim, tudo o que existe está de alguma maneira, interligado. Portanto, o meio ambiente não é um assunto que caiba numa editoria. Melhor seria se todos os jornalistas e editorias compreendessem que meio ambiente não é sinônimo de fauna e flora, bichinho e floresta e que, quando nele se fala, no século XXI, se fala em modelo de desenvolvimento e de projeto de civilização. EcoDigital - As pessoas têm a tendência de não se incluírem no meio ambiente?

Trigueiro - Na maioria das vezes, no caso do Brasil, isso já foi cientificamente apurado em quatro pesquisas intituladas “O que brasileiro pensa sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável”, da professora Samira Crespo do ISER - Instituto Superior de Educação Relacional - Foram quatro pesquisas, caríssimas, porque tem uma amostragem de aproximadamente 2 mil entrevistados, de todos os andares da pirâmide social brasileira. E o resultado é que a maioria dos entrevistados não se considera parte do meio ambiente.

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EcoDigital - E qual é a função social do jornalista ambiental hoje, qual a dimensão deste profissional no futuro? O jornalismo ambiental é uma área que tende a crescer ainda?

Trigueiro – Confesso que não gosto muito da expressão ‘jornalista ambiental’ porque assim como eu não defendo uma editoria de meio ambiente, acho que não é muito simpático e não me soa bem. Eu não sou jornalista ambiental. Sou jornalista e me sinto à vontade pra falar de economia, política, relações internacionais, percebendo o meio ambiente. A

função do jornalista é mostrar o que não funciona, o que não dá certo, ele sempre terá esse lado xereta de denunciar o que está errado, mas - e cada vez mais - também sinalizar rumos e perspectivas. No caso dos assuntos ambientais, não basta dizer que o aquecimento global, a escassez de recursos hídricos, a desertificação do solo, a produção monumental do lixo, a questão dos transgênicos, o crescimento desordenado das cidades e a destruição voraz da biodiversidade...estão acontecendo. É importante dizer que isso está acontecendo, mas para cumprir a função social, o

jornalista que se interessa pelos assuntos ambientais deve mostrar qual é a saída e quais são as soluções.

EcoDigital - Do ponto de vista doméstico, hoje em dia, se vê muita gente lavando calçadas com água potável. Como é que se pode ‘arrastar’ essas pessoas para o uso racional da água, e que tipo de dica você daria?

Trigueiro - São duas questões diferentes que você está me perguntando. A primeira é como é que você faz chegar a informação de forma que remeta a uma nova

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atitude, isso é o dia-a-dia da gente. Não basta informar, tem que seduzir. O discurso ambientalista não pode ser o discurso do repressor. Ele tem que ser o discurso que demonstra como a pessoa que faz isso ganha. Essa é uma estratégia inteligente, a meu ver.

Na outra questão você me pergunta sobre dicas. Em primeiro lugar é importante separar água bruta de água nobre. Água nobre é a água potável, é uma água escassa, rara, cada vez mais cara, e a gente precisa se dar conta deste processo e procurar saber o seu custo. Outra questão é a justiça

fiscal, é eu pagar pelo que eu uso. Eu não posso, num condomínio, ter um só relógio medindo o consumo de todos e a conta rateada, porque eu vou premiar o infrator. Quem economizou paga menos, quem fez uso perdulário paga mais. Há cidades como São Paulo, Rio e Curitiba que têm legislação específica regulamentando a captação, o armazenamento e o uso de água de chuva para fins não nobres. Essa água de chuva já deveria estar sendo usada. O Rio Grande do Sul que passou nestes dois últimos anos por estiagens horrorosas que geraram enormes prejuízos, tanto no campo quanto

na cidade, já deveria ter aprendido a lição da captação da água da chuva para fins não nobres.

Quando você tem a possibilidade de estocar a água da chuva e usar, o problema é minimizado. Você usa essa água para vaso sanitário, rega de jardim, lavagem de pisos e janelas, brigada de incêndio, desentupimento de bueiro e limpeza do asfalto depois da feira. Temos múltiplos usos onde não há necessidade da água clorada, fluoretada, inodora, transparente. Aqui, por exemplo, no Rio de Janeiro, há um lugar chamado “Cidade do Samba”, onde você

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reúne os barracões de todas as escolas do grupo especial, na zona portuária. É o maior reservatório de água de chuva numa área pública do Brasil. Eu visitei e vi de perto a escala com que isso se resolve, porque tem mais de 10 mil metros quadrados de telhado. E toda vez que chove você enche fácil o reservatório e o relógio da companhia de abastecimento não roda. Você deixa de pagar para companhia de abastecimento.

Tem uma conta interessante feita pelo Instituto Akatu, para o consumo consciente, em São Paulo, dando conta de que, se todos os 20

milhões de habitantes da Grande São Paulo resolvessem fechar a torneira na hora de escovar os dentes, a economia de água expressa nesse gesto simples, equivaleria a nove minutos ininterruptos nas Cataratas do Iguaçu. Esse número é revelador da força que cada um de nós tem, e que poderia usar para fazer a diferença. E a gente tem um nível de cobrança maior em relação à necessidade, à urgência de se tratar esgoto. O drama do Brasil é falta de saneamento. É o drama da saúde e da depredação dos mananciais nascentes e do estado em que se encontram os 12 mil rios e córregos

desse país. Não conseguimos ainda entender a urgência do saneamento. Estão lançando da maior parte dos esgotos dos brasileiros ”in natura”, nos rios, custa muito caro. Temos doenças literalmente medievais, que países do hemisfério norte já não têm e que são de veiculação hídrica. Tem gente que ainda morre neste país de diarréia, de hepatite e de febre tifóide. A maior parte das internações na rede pública de saúde, o SUS, ocorre em função das doenças veiculação hídrica, é uma vergonha. Tem muito a ser feito. Ficaria a noite toda dizendo pra

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você o tamanho da encrenca que é viver num país que não aprendeu a tratar de seus esgotos.

EcoDigital - Isso é uma coisa muito difícil de incutir na cabeça da sociedade, justamente por causa do ceticismo das pessoas: “Ah, não existe aquecimento global, esse tipo de coisa já aconteceu com a Terra antes, é normal”.

Trigueiro - É, mas não é todo mundo. A gente tem que ter muito cuidado com as generalizações. Há um avanço de consciência. É cada vez maior o número de pessoas que está preocupada com isso. Eu

não tenho uma visão pessimista, não. Eu acho que a gente está avançando. EcoDigital - E o André cidadão, que atitudes toma no seu dia-a-dia para proteger o meio ambiente?

Trigueiro - Bom, a lista é grande, eu vou resumir. Primeiro cuidado: ser um consumidor consciente e não se esbaldar na farra consumista. Exercer uma postura vigilante no sentido de que tudo o que se consome tem matéria-prima e energia embutida. Quando não temos critério pra comprar sapato, roupa, relógio, celular, óculos, o que

seja, levamos para casa matéria-prima e energia. Se você tem necessidade de usar e vai ser útil no dia-a-dia, isso pode ser considerado um objeto de consumo. O consumo favorece a vida, não há problema. Mas se você compra para colecionar e não vai usar no dia-a-dia, isso é excesso, consumismo, e tem um impacto ambiental voraz. Separar o lixo, mas antes de separar, não gerar. Quando você consome pouco, apenas o necessário, você não produz lixo e isto vai reduzir o volume. Em sendo inevitável produzir resíduo, separe aquilo que tem serventia. É necessário fazer uso inteligente de energia:

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comprar equipamento eletro-eletrônicos com selo Procel, de preferência com a letra A, que tem baixo consumo de energia, além de priorizar o transporte público e andar de bicicleta ou a pé em lugar dos automóveis. Também, ao fazer compras de certos produtos como madeira ou carne, procurar identificar a origem, porque você pode estar retro-alimentando, por exemplo, a destruição da Amazônia, ao comprar madeira clandestina ou carne de boi que é criado em área de floresta pública derrubada para plantar capim. É a postura do consumidor consciente que devemos ter. Eu ficaria nesses

pontos que eu acho os mais importantes. Mas, o consumo consciente e sustentável da água, encabeça qualquer lista de Eco-dicas.

EcoDigital - Para o jornalista, o mais grave problema ambiental do Brasil é a falta de saneamento. Podemos considerar que o maior problema ambiental no Brasil é o desmatamento da Amazônia?

Trigueiro - Nós já tivemos assassinatos covardes de Chico Mendes e irmã Dorothy, que chocaram a comunidade brasileira e internacional. Com justiça, então,

eu reconheço que a Amazônia é um grande desafio, mas acho que hoje, o maior problema ambiental do Brasil é o estado de depredação e sucateamento de seus recursos hídricos, e isso também alcança a Amazônia. E o desflorestamento entra na questão da falta de saneamento e cuidado com os rios. Sem árvores não temos a proteção das matas ciliares, nem a recarga dos aqüíferos e a produção de chuvas, porque as árvores entram na contabilidade das precipitações. Portanto está tudo interligado, mas eu considero essa questão da água no Brasil uma bomba-relógio que está explodindo.

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EcoDigital - Estamos à beira de apagão hídrico, praticamente?

Trigueiro - Em alguns lugares, sim. Curitiba, no ano passado, teve racionamento. São Paulo, há mais de dez anos importa água da Bacia do Piracicaba, que fica a mais de 100 quilômetros de distância. O Rio de Janeiro escapou, em 2003, de um apagão hídrico porque nove milhões de pessoas dependem de um único manancial, que é o Rio Guandu, um braço do Paraíba do Sul, o qual se encontra em péssimo estado de conservação; quer dizer, o novo governador que assumiu esse ano, determinou

como prioridade o plantio de mais de um milhão de mudas de árvores, onde não há vegetação para proteger as matas ciliares do Guandu. São gastos o equivalente a 50 milhões de reais por ano, apenas na compra de produtos químicos para bombardear as águas fétidas e barrentas do Guandu e torná-la potável. Agora, a tecnologia não pode sempre assegurar a potabilidade da água, então existem interrupções na estação de tratamento que eles monitoram online. E dependendo da forma como a água está chegando, deixam que ela passe direto, porque não há o que fazer.

Recife é uma cidade que está afundando pela forma como está se exaurindo o lençol freático com poços artesianos. Quando se fala que o Brasil é detentor de 12% de toda água doce superficial do planeta, deve-se considerar que mais de 70% desta água está concentrada na bacia do Rio Amazonas, onde vivem 6% da população brasileira. No resto do país, você tem déficit hídrico. Em cidades como São Paulo, esse déficit hídrico per capita é pior do que no semi-árido nordestino. Mas São Paulo tem dinheiro, o semi-árido nordestino, não. Então a Sabesp é uma empresa rica,

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porque consegue operar, num cenário de extrema escassez, a captação de água que vem de longe, um tratamento sofisticado; o subsídio cruzado, que é cobrar de quem mora em Higienópolis ou nos Jardins e não cobrar, ou cobrar uma tarifa simbólica, de quem recebe essa água no Jardim Ângela, na favela. Então vão sendo feitos malabarismos para tornar o abastecimento, mas é uma loucura. É complicado. O pessoal da Sabesp tem que providenciar, a cada quatro anos, mais água doce e limpa para mais um milhão de pessoas. Isso é um malabarismo.

Currículo

André Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor do livro Mundo Sustentável - “Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação” (Editora Globo, 2005), coordenador editorial e um dos autores do livro “Meio Ambiente no século XXI”, (Editora Sextante, 2003). Repórter e apresentador do “Jornal das Dez”, da Globo News, desde 1996, o jornalista é também o

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responsável pela produção, roteiro e apresentação de programas especiais sobre os problemas sócio ambientais como “Fogo na floresta: o país das queimadas” (1997), “Planeta estufa” (2001), “Rio + 10: o planeta em foco” (2002) “Água: o desafio do século 21” (2003), “Kioto: O protocolo da Vida” e “A nova energia do mundo”,ambos lançados em 2005. Na Globo News é também o editor-chefe do programa semanal “Cidades e Soluções”, que recebeu,

entre outros, o prêmio Ethos de Jornalismo, na categoria mídia eletrônica – TV (2007). É comentarista da Rádio CBN (860 KWZ) e apresenta o quadro “Mundo Sustentável”, onde aborda questões relevantes sobre ecologia, meio ambiente e sustentabilidade, tanto no Brasil quanto no mundo. Para conhecer umpouco mais, acesse o sitewww.mundosustentavel.com.br

Jornalista André Trigueiro

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“A tarefa é imensa e incerta. Não podemos nossubtrair nem à desesperança, nem à esperança.

A missão e a demissão são igualmente impossíveis. Precisamos nos armar de uma ‘ardente paciência’.

Estamos às vésperas não da luta final, mas da luta inicial”. (Edgar Morin)