Economia Criativa Numa Perspectiva Do Sul

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    Lala Deheinzelin- Polticas Culturais, Economia Criativa e Desenvolvimento

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    ECONOMIA CRIATIVA , UMA VISO DO HEMISFRIO SUL

    Lala Deheinzelin

    Estruturo este artigo em cinco partes. Na primeira delas explico porque adoto este

    termo e no Indstria Criativa. Em seguida abordo alguns fatores chave na construode polticas culturais pr desenvolvimento e quais premissas so necessrias para queestas polticas sejam eficazes. Finalizo com alguns exemplos, escolhidos pela inovao esintonia com tendncias de futuro. Optei por abordar um nmero maior de questes,sem detalh-las, para que estas sirvam de material para discusses e reflexes futuras ede terceiros. importante ressaltar que minha viso resultado de experincia prtica:sou uma fazedora. Meu ponto de vista vem da prtica, no sou pesquisadora nemespecialista terica sobre o assunto. No pretendo nada alm de compartilhar reflexesoriginadas pela minha experincia.

    1)CULTURA,INDSTRIA CRIATIVA,ECONOMIA CRIATIVA

    Quero inicialmente explicar porque adoto o termo Economia e no Indstria Criativa econvid-los a adotar o mesmo termo, caso a perspectiva que os interesse seja a doDesenvolvimento. Muito se fala sobre Economia Criativa, porm ainda no se sabe bemo que ela significa... Como disse, enquanto fazedora sinto-me confortvel para ousarum pouco e propor coisas que podem no ser condizentes com o que se tem falado arespeito at ento. Atrevo-me ento a propor uma srie de caractersticas que podemajudar a visualizar o que este setor, que tem sido considerado uma grande (talvez a

    maior...) estratgia de desenvolvimento para o sculo XXI.Economia Criativa um conceito ainda em formao para designar um setor que inclui,porm extrapola, a Cultura e as Indstrias Criativas. Vamos ento ver um pouco destestrs setores e o que tem em comum.

    A Cultura tem interseces com a Indstria e a Economia Criativas, porm vai alm, poisnem tudo que ela engloba pode ter um vis econmico (a no ser que se consideretambm economia numa perspectiva ecolgica e mais abrangente, j que tem a mesmaraiz: oikos, casa). Em minha opinio (desculpem-me economistas ortodoxos...) a Cultura o setor mais abrangente, se considerarmos cultura em seu sentido antropolgico eamplo (e no a confundirmos com produo artstica, confuso muito comum). Nestesentido, adoro uma frase do escritor Jos Saramago, algo como a Cultura como aatmosfera: no a percebemos porque estamos imersos nela. Cunhei uma definio,curtinha e prtica, do que para mim ela representa: Cultura tudo aquilo que cria,e portanto transforma, mentalidades (o que pensamos) e hbitos (comofazemos).

    Isso porque acredito que o mundo feito de (pelo menos...) duas dimensessobrepostas, simultneas e interdependentes: o mundo tangvel - nossoecossistema fsico (bastante conhecido e reconhecido) e o mundo intangvel -

    nosso ecossistema cultural (ainda no reconhecido e estudado de forma integrada esistmica). Um depende da biodiversidade, outro da diversidade cultural. Proponho que

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    A Economia Criativa favorece a diversidade cultural ao incluir o uso deconhecimentos e tcnicas tradicionais numa perspectiva contempornea. Esse umaspecto fundamental para pases em desenvolvimento, j que ns temos geralmenteenormes recursos culturais ainda pouco aproveitados. So saberes e fazeresoriginrios das vrias etnias que nos compem, de nossas prticas tradicionais e

    (algo novo e muito rico) de todas as populaes perifricas que, nas adaptaesexigidas por seu cotidiano, desenvolvem prticas criativas e organizacionaisinovadoras.

    A Economia Criativa tem um largo espectro de formas de organizao: do mercadoinformal, pequenas e micro empresas at grandes corporaes multinacionais. Incluirestes vrios nveis organizacionais no apenas necessrio (impossveldesconsiderar o enorme volume da informalidade e o papel das MPEs) como conduza novos modelos organizacionais mais adequados sociedade e economia do futuro,como economia solidria, cooperativismo, gesto compartilhada.

    A Economia Criativa, por sua multidimensionalidade, um fator de integrao desetores e dimenses da sociedade. Essa integrao fundamental para quemudanas realmente profundas possam ser efetuadas e para obter maior eficincia.O desperdcio de recursos, tempo e credibilidade causado pela falta de atuaoarticulada um dos fatores mais nefastos na conduo de processos dedesenvolvimento.

    A Economia Criativa no est necessariamente ligada a gerao de PropriedadeIntelectual, mesmo porque este um conceito que requer alteraes profundas.Enquanto ele fazia sentido no sculo XX, deixa cada vez mais de fazer sentido no XXI,num cenrio de convergncia tecnolgica, de criaes baseadas em outras criaes,de intenso compartilhamento de contedos. Um cenrio que exige um equilbrio mais

    racional entre os direitos do autor e os direitos da sociedade e onde precisoateno para reas fortes da Economia Criativa (como o artesanato), que tem duplopapel, econmico e social, e no geram PI.

    Em sntese, o grande diferencial da Economia Criativa que ela promovedesenvolvimento sustentvel e humano e no mero crescimento econmico.Todas as caractersticas acima permitem que, ao promover a incluso de segmentosperifricos da populao mundial, ela tambm forme mercados. Afinal, no maispossvel s brigar por fatias de um mercado que engloba apenas 30 a 40% dapopulao mundial. preciso fazer com que os 60 a 70% restantes adquiram cidadaniade fato, conquistando entre outros papis mais importantes tambm seu papelcomo consumidor.

    Uma vez esclarecido o porqu da adoo do termo Economia Criativa (e no Indstria)passo para uma breve exposio de caractersticas atuais da poltica cultural no Brasilpara logo em seguida partir para uma viso de futuro (compartilhvel com outrospases), que o que mais me interessa. Afinal, a realidade deve ser ponto de partida,no de chegada. E, como diz Peter Drucker, a melhor maneira de prever o futuro cri-lo.

    2)BRASIL E POLTICAS CULTURAIS

    O povo sabe o que quer, mas tambm quer o que no sabe

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    Gilberto Gil

    Primeiramente, vejamos algumas caractersticas das polticas culturas no Brasil.

    O fato de, nos anos 70/80, termos sado de uma ditadura poltica para uma ditadura de

    mercado causada pela liberalizao, fez com que nunca tivssemos gestores culturaispropriamente ditos. O resultado que ainda confundimos produtores culturais comgestores e incentivo fiscal para cultura com poltica cultural. Apenas nos ltimos anosisso comea a mudar, com a intensificao da formao especfica para gestores e aprofissionalizao da gesto cultural tanto em nvel governamental quanto empresarial.

    Uma situao gravssima que enfrentamos a falta de credibilidade nos governos (salvoraras excees), uma conseqncia sria das sucessivas mudanas polticas maladministradas. A cada mudana governamental ocorrem mudanas at o quarto ouquinto escalo. Assim no existe continuidade nos processos, nem gesto dos

    conhecimentos acumulados. Alm do gigantesco desperdcio, eis alguns resultados: Maiores dificuldades em estabelecer parcerias pblico privadas. Esta dificuldade

    agravada pela extrema burocracia brasileira, por sua vez originria de tentativas deconter a corrupo (que muitas vezes acabam tendo efeito contrrio, pois quaseobrigam a busca de mecanismos ilegais para conseguir viabilizar o que deve serfeito).

    A sociedade civil organizada assume grande papel como agente de desenvolvimentoe mais recentemente as empresas tambm comeam a ficar mais cientes de suarelao de interdependncia com a comunidade, portanto de seu dever para com ela.

    Um fenmeno muito bem vindo e salutar a mudana de foco dos grandes centros paraa periferia. A necessidade e a cooperao fazem com que da surjam as experinciasmais inovadoras, criativas e com formas de gesto que podem constituir modelos para ofuturo.

    Onde estvamos e para onde vamos

    Fazendo um comparativo entre o que acontecia no passado e o que se espera do futurochegamos ao quadro abaixo, auto explicativo. Aprofundar-se nas questes levantadasem cada linha no o objetivo deste artigo, que visa dar uma viso geral do tema epropor algumas estratgias para lidar com ele.

    POLTICAS CULTURAIS - COMPARATIVO

    PASSADO FUTUROPBLICO ALVO Empreendedores Culturais Comunidade

    COMO Eventos ProcessosRELAO Passiva Ativa

    RECURSOS Pulverizados para atender demanda Foco em aes planejadasSELEO Influncia/ atende interesses pessoais e

    partidriosCritrios/ atende interesses da

    comunidadeRESULTADO Efmero, paliativo Deixa resduos, gera desdobramentos

    GESTO Alta rotatividade, empreguismo Profissionalizada, especialistasPLANEJAMENTO Por demanda, escolhas pessoais Segue plano gestor democrtico

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    TEMPO Descontnuo: tempo da gesto Continuidade, segue o Plano propostoARTICULAO No h, por falta de credibilidade, mediadores e

    mtodos transversaisCredibilidade e mediadores permitemao transversal e articulada

    AO Reativa, atendendo a demandas e portandono estruturante

    Indutiva, portanto gera inovao esustentabilidade

    OTIMIZAO Infrutfero, alto grau de desperdcio de recursose conhecimento gerados Sistematizao permite multiplicao derecursos e de prticas de sucesso.

    Gesto Gilberto Gil

    Sinteticamente, gostaria de destacar os seguintes avanos:

    Mudanas conceituais fundamentais na gesto de Gilberto Gil: O Ministrio deixou de ser um Ministrio das Artes para ser efetivamente da

    Cultura, numa viso mais abrangente. Seu foco de atuao tambm mudou: deixa de atender principalmente aos

    interesses de artistas e empreendedores culturais para atender aos interesses dacomunidade (da mesma forma que um Ministrio da Sade no tem mdicos comofoco...).

    Cultura tornou-se direito constitucional, aps aprovao de emenda constitucional emagosto de 2005. Para que este direito seja garantido esto sendo criados: Sistema Nacional de Cultura (SNC) Viabiliza a instituio de polticas culturais

    verdadeiramente abrangentes pois integra as instncias estaduais e municipais aoSistema Federal de Cultura, que por sua vez articula as vrias instituies vinculadasao Ministrio da Cultura, as quais funcionavam muitas vezes de forma isolada. 1

    Plano Nacional de Cultura (PNC), plurianual , que faz com que a Cultura seja questode estado. Isso excelente, pois deixa de ser questo de governo e portantosujeitas s (demasiadas) oscilaes a cada mudana de governo. A prtica comum,at ento, que cada novo governo (nas esferas municipal , estadual e federal) nod continuidade aos trabalhos do anterior e em geral desmonta o que foi construdo.Esse Plano est sendo construdo democraticamente, pela sociedade civil, atravs deconferncias municipais, estaduais e federais.

    Conselho Nacional de Cultura (CNC), reunindo gestores pblicos e representantes dasociedade civil como o rgo que subsidia e supervisiona a criao e aplicao doPNC e o funcionamento do SNC.

    O Programa que mais merece destaque o Cultura Viva2, concebido como uma redeorgnica de criao e gesto cultural, mediado pelos Pontos de Cultura, sua principalao. A implantao do programa prev um processo contnuo e dinmico e seudesenvolvimento semelhante ao de um organismo vivo, que se articula comorganizaes da sociedade civil pr-existentes. Em lugar de determinar (ou impor) aese condutas locais, o programa estimula a criatividade, potencializando desejos e criandosituaes de encantamento social. Tem como misso resgatar, incentivar e preservar acultura brasileira, com especial ateno para as manifestaes que ocorrem longe dosgrandes centros.

    1http://www.cultura.gov.br/programas_e_acoes/gestao_da_politica_de_cultura/sistema_nacional_de_cultura2http://www.cultura.gov.br/programas_e_acoes/cultura_vivaehttp://www.cultura.gov.br/sys/skins/cultura_viva_capa/img/cartilha_cultura_viva_pt-br.pdf

    http://www.cultura.gov.br/programas_e_acoes/gestao_da_politica_de_cultura/sistema_nacional_de_culturahttp://www.cultura.gov.br/programas_e_acoes/cultura_vivahttp://www.cultura.gov.br/sys/skins/cultura_viva_capa/img/cartilha_cultura_viva_pt-br.pdfhttp://www.cultura.gov.br/sys/skins/cultura_viva_capa/img/cartilha_cultura_viva_pt-br.pdfhttp://www.cultura.gov.br/programas_e_acoes/cultura_vivahttp://www.cultura.gov.br/programas_e_acoes/gestao_da_politica_de_cultura/sistema_nacional_de_cultura
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    Atua em vrias frentes, a partir dos Pontos de Cultura: Agentes Cultura Viva(primeiro emprego para jovens), Cultura Digital (ferramenta que integra todos osprojetos), Escola Viva (interface entre os Pontos e as escolas da comunidade) e Gris(valorizao dos saberes tradicionais).

    Os Pontos de Cultura so resultado de parcerias entre organizaes da sociedadecivil e o Ministrio da Cultura e a idia do governo , em vez de utilizar verbas parainiciar novos projetos, destinar recursos para atividades j em andamento. Asdemais atividades se originam nos Pontos de Cultura, que se integram em redeatravs de equipamentos de informtica e audiovisuais recebidos pelas instituiesselecionadas.

    A formao da rede serve como base para alcanar o objetivo de todo o Programa -tornar os Pontos auto-sustentveis, o que reforado atravs de uma relao muitointeressante entre estes Pontos de Cultura e formas de gesto ligadas EconomiaSolidria.

    3)FATORES CH AVES

    Comparando experincias e vises de vrios empreendedores culturais de sucesso,conclui que existem alguns fatores chave para formulao de polticas culturais quefavoream o desenvolvimento, sobretudo aquele que vem atravs da Economia Criativa.Ressalto novamente que sero apresentados de forma sinttica, indicativa.

    Tecnologias para o Intangvel: tecnologias culturais

    Prefiro considerar que estamos na era da Criatividade no na Era da Informao, poisest cada vez mais claro que no basta apenas a informao, preciso saber comoacess-la e como compreender e criar a partir dela. Este momento caracteriza-se poruma crescente virtualizao e pela maior valorizao de tudo que intangvel, ummomento que requer tecnologias tambm intangveis, imateriais. Chamo-as de tecnologias culturais, pois trabalham mudana de mentalidade, hbitos,relacionamento e valores.

    Estas tecnologias tornam-se ainda mais necessrias num contexto em que a Economiada Experincia ganha cada vez mais espao como componente econmico. A Economiada Experincia prope que, depois de matria prima, produtos e servios, agora a vezda experincia, principalmente experincia que leve a transformao, como fator quemovimenta negcios.

    Fluxo

    A natureza j nos demonstra que fluxo garantia de sade e onde existe estagnaosurge a doena. Alm disso, se a Economia Criativa estratgica, a chave de seucontrole est na distribuio e acessibilidade, razo pela qual estas reas devem servistas como um ncleo de peso. fundamental fomentar as vrias formas possveis dedistribuio e circulao de conhecimento, produtos servios e pessoas. Algumas aes

    que favorecem este fluxo:

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    Capacitao de profissionais mediadores, com formao multidisciplinar, que possamexercer a funo de interface entre as vrias etapas que compem a CadeiaIntegrada da Economia Criativa: formao, criao, produo, distribuio, acesso,gesto de conhecimento e memria.

    Constituio de redes que favoream e otimizem estas vrias etapas. Centros que exeram a funo de hub recebendo e distribuindo informaes e

    produtos. Circuitos de distribuio e intercmbios realizados de forma alternativa, com base em

    princpios de economia solidria: permuta, hospedagem solidria, intercmbio dehabilidades como moeda de troca.

    Circuitos de distribuio e centros de inteligncia utilizando estruturas pr existentes,como escolas e universidades.

    Visibilidade

    Num mundo com brutal quantidade de informaes, como o nosso, estratgico saberquem faz o qu, aonde e como. Algumas sugestes para isso:

    Bancos de dados (sourcing) que permitam acesso a estas informaes, bilnge eabrangendo as vrias etapas do Ciclo de Desenvolvimento da Economia Criativa.

    Criao de veculos independentes e alternativos, como alternativa aos (muitas vezesinacessveis) veculos de massa. Um exemplo genial O Forninho, jornal deatividades culturais do estado do Esprito Santo, impresso em sacos de po e,portanto distribudo em padarias. 3

    Intensificar uso de novas mdias e novas tecnologias, de fcil uso e baixo custo.Estas tambm se prestam s tendncias de futuro onde temos a Personal Mdia(onde a pessoa escolhe o qu, e como quer receber informao) como contraponto Mdia de Massa.

    importante tambm sensibilizar a mdia sobre seu papel na formao (oudeformao...) de mentalidades, hbitos e pblicos. Depois preciso gerarcontedos para alimentar a mdia, evitando vises deturpadas originrias dahegemonia de fontes, geralmente vindas de umas poucas agncias de notcias.

    Articulao

    Projetos articuladores, sistmicos, onde a cultura desempenha seu papel transversal,integrando empreendedores criativos, setores privados e pblicos.

    Ampliar o capital social, desenvolvendo a organizao do setor e o associativismo. Para isto importante trabalhar na busca de solues comuns para problemas que

    so comuns s vrias reas que integram a Economia Criativa, evitando nfasedemasiada em suas diferenas.

    Tendo em vista a existncia de um ecossistema cultural interdependente com oecossistema fsico, importante incluir aspectos culturais, intangveis, nos programase certificaes ligados desenvolvimento sustentvel e responsabilidade socialcorporativa.

    4)PREMISSAS E N ECESSIDADES

    3http://www.forninho.com.br

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    Qual o ambiente e as condies necessrias para que a Economia Criativa possa de fatopromover desenvolvimento ? Boas sementes no florescem se o terreno no for propcioe preparado. Cito de forma rpida, alguns ingredientes para que o caldo criativo sejafrtil:

    Transversalidade

    caracterstica essencial da economia criativa e da cultura e portanto deveriacaracterizar todos os processos a elas relativos. Porm, no encontramos circunstnciaspropcias uma vez que nenhuma esfera institucional tem a estrutura transdisciplinarnecessria para o exerccio desta transversalidade. O resultado disso a falta deprofissionais transdisciplinares, necessrios para atuar como formuladores e mediadoresda economia criativa como estratgia transversal de desenvolvimento, criando umcrculo vicioso.

    Evidncias

    Esta uma palavra adotada pelos ingleses, que acentuam a importncia de setrabalhar baseados em evidncias: dados, estatsticas, indicadores, resultados. Na buscade evidncias importante atentar para os seguintes aspectos: Cultura e criatividade so multidimensionais, incluem aspectos tangveis e intangveis.

    Utilizar os mesmos parmetros adotados para outras reas como tentar medirlitros com uma rgua: no possvel. Precisamos desenvolver novos indicadores quetambm sejam multidimensionais. Isso comea no prprio clculo da riqueza das

    naes, que no futuro dever incluir recursos intangveis como solidariedade ecapital cultural. Para medir os resultados da economia Criativa preciso mensurar tambm seu

    impacto. Por exemplo: quando vale a reduo de violncia alavancada por umprocesso cultural?

    Ao mensurar a amplitude da Economia Criativa, devemos incluir tambm suasinterfaces. O que seria dos shoppings centers ou da indstria de eletrnicos semproduo audiovisual?

    tica

    Eis aqui um ingrediente bsico para um caldo criativo frtil. Temos facilidade emapontar a falta de tica de terceiros e dificuldade em reconhecer onde ela pode estarpresente em pequenas atitudes e corrupes de nosso prprio cotidiano. E,principalmente, para que a tica possa ser praticada preciso mudar o ponto de vistaem relao poltica. Confundimos politagem (em defesa dos interesses de poucos)com poltica de fato, aquela que tem na polis (palavra que designa diversidade) a suaorigem de mecanismo para defender os interesses de muitos. Nem tica nem polticaverdadeira so possveis num ambiente onde a impunidade a regra, e o resultado mais incompetncia e desperdcio.

    Inovao

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    preciso inovar em dois campos: o dos negcios criativos e da criatividade nosnegcios. Novos negcios criativos. Inovando nas aplicaes, formato, pblico e linguagem.

    Para que essa inovao seja possvel necessrio foment-la atravs de editais desuporte ao desenvolvimento de novas idias; capacitao para formatao de

    projetos e planos de negcios alm de mais incubadoras criativas. Alguns exemplosde inovao ( com nfase na interface com terceiro setor):

    Teatro para treinamentos de sade pblica, saneamento e segurana4 ; Kabum! Escola Telemar de Arte e Tecnologia oferece uma formao de

    qualidade em linguagem multimdia para a juventude popular urbana dasgrandes cidades.5

    Moda artesanal, com bordados de temticas brasileiras,feita atravs decooperativas de mulheres 6

    Projetos partem do levantamento cultural de comunidades para criar deenciclopdias para uso didtico at resorts comunitrios que propiciam ao

    turista cultural a oportunidade de viver junto a comunidades para conhec-las;7 Restauro de patrimnio histrico atravs da capacitao de jovens infratores

    em regime de liberdade assistida8 Contadores de estrias fomentando leitura 9; Design utilizando matrias primas inusitadas; 10 Culinria a um real a receita, usando materiais normalmente desprezados; 11 Exemplos interessantssimos de novas formas de produo musical podem ser

    vistos na excelente matria A Msica fora do Eixo de Pedro AlexandreSanches12

    Criatividade nos negcios. A tendncia que tanto produtos quanto servios tornem-se cada vez mais iguais, e sua sobrevivncia vai depender de possurem diferenciaisque os distingam. Estes diferenciais vem de fatores intangveis como: a associaocom elementos culturais; a cultura da empresa; a relao da empresa com suacomunidade; formas de gesto e produo mais criativas. Neste sentido, diversidadecultural passa a ser tambm um fator de competitividade. Exemplos:

    O aougue T-Bone, de Braslia (DF), possui biblioteca e promove eventosculturais, mostrando que cultura tambm bom negcio para pequenasempresas. 13

    4http://www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=materias&controle=112 ou http://www.relacionais.org.br

    5 http://www.institutotelemar.org.br/social/oficinas.asp6 http://secis.mct.gov.br/index.php?action=/content/view&cod_objeto=183037 http://www.viamagia.org/centro8 www.comunitas.org.br/docs/comunitas_lores.pdf9http://www.lereumaviagem.com.br

    10 http://www.campanas.com.br/11http://www.sesisp.org.br/home/destaques/alimente/alimente.html

    12

    http://www.cultura.gov.br/foruns_de_cultura/cultura_digital/na_midia/index.php?p=14097&more=1&c=1&tb=1&pb

    =1

    http://www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=materias&controle=112http://www.relacionais.org.br/http://www.lereumaviagem.com.br/http://www.sesisp.org.br/home/destaques/alimente/alimente.htmlhttp://www.sesisp.org.br/home/destaques/alimente/alimente.htmlhttp://www.lereumaviagem.com.br/http://www.relacionais.org.br/http://www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=materias&controle=112
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    Exemplo de grande empresa que tem seu diferencial baseado em intangveis(valores, sustentabilidade, uso de ativos naturais tradicionais) a empresa decosmticos Natura14

    Clusters criativos, por exemplo, os bairros de Vila Madalena em So Paulo,Santa Tereza no Rio de Janeiro ou Jaragu em Macei, que se organizam

    como espaos surgidos pela interseco entre arte e entretenimento com odiferencial da cara brasileira.

    O Programa Caras do Brasil, do grupo Po de Acar de supermercados, queoferece produtos diferenciados com valor cultural agregado, abrindo um novocanal de vendas para as pequenas comunidades existentes no Brasil. 15

    Os Doutores da Alegria trabalham com palhaos em hospitais, como atividadeauxiliar em tratamentos de sade. Sua forma de gesto e sua capacidadeempreendedora so to eficientes e criativas que eles agora capacitamexecutivos e assessoram empresas, nestes assuntos. 16 Para dar uma idia:de 216 grupos que tem trabalho semelhante, 180 esto no Brasil.

    Barbacena, cidade do estado de Minas Gerais, era uma cidade estigmatizadapor possuir um manicmio com passado trgico. Alm da reformulaomanicomial organizou recentemente um grande evento cultural: o Festival daLoucura, transformando (de forma bem humorada) o problema em diferencial.17

    Concluso

    As oportunidades para o Desenvolvimento Sustentvel oferecidas pela Economia Criativaso muitas, porm pressupem uma mudana de ponto de vista em relao ao papel e

    impacto da cultura e criatividade, alm do desenvolvimento de mecanismos eprofissionais com perfil transdisciplinar. Mais complexo ainda o contexto onde tudoisso est inserido: parece-me que est ficando cada vez mais claro que os modelospolticos vigentes no so adequados. Assim como em um momento da histriapassamos da monarquia para a repblica, est na hora de pensarmos um novo modeloe neste novo modelo a ecologia cultural certamente ter papel central.

    13 http://www.premiovp.com.br/scripts/participantes/cases_info.asp?idcase=17614

    http://www.natura.net15www.grupopaodeacucar.com.br/carasdobrasil16www.doutoresdaalegria.org.br17www.cartacapital.com.br/index. php?funcao=exibirMateria&id_materia=4473 - 50k -