Economia e Mercado

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IESC – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ DISCIPLINA: ECONOMIA E MERCADO PROFª: NAGILANE PARENTE AULA 1 1) O CONCEITO E O OBJETO DA ECONOMIA Um dos princípios que caracterizam a elaboração da teoria econômica é que o sistema econômico oferece limites para a obtenção dos objetivos perseguidos pelos agentes econômicos. Esses limites consistem na escassez relativa dos recursos produtivos ou fatores de produção (terra, capital, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial) diante das necessidades dos agentes. Essa hipótese adotada é chamada de lei da escassez. Assim, podemos afirmar que a Economia diz respeito ao estudo de um fenômeno chamado escassez e dos problemas dela decorrentes. Se uma quantidade infinita de cada bem pudesse ser produzida, se os desejos humanos pudessem ser completamente satisfeitos, não importaria que uma quantidade excessiva de certo bem fosse produzida. Nem importaria que os recursos disponíveis fossem combinados irracionalmente para a produção de bens. Não havendo o problema da escassez, não faz sentido falar em desperdício ou em uso irracional dos recursos. Escassez significa que não podemos satisfazer todos os nossos desejos. A escassez dos recursos disponíveis acaba por gerar a escassez dos bens econômicos. Por exemplo, as jazidas de minério de ferro são abundantes, mas o minério pré-usinável, as chapas de aço e o automóvel são bens econômicos escassos. Logo, o conceito de escassez econômica deve ser entendido como a situação gerada pela precisão de produzir bens com recursos limitados, a fim de satisfazer às ilimitadas necessidades humanas. Todavia, somente existirá escassez se houver uma demanda para aquisição do bem. Poder-se-ia perguntar: por que os bens são procurados (desejados)? A resposta é relativamente simples: um bem é demandado porque é útil. Por utilidade entende-se a capacidade que um bem tem de satisfazer uma necessidade humana. Bem é tudo aquilo capaz de

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IESC – INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁDISCIPLINA: ECONOMIA E MERCADOPROFª: NAGILANE PARENTE

AULA 1

1) O CONCEITO E O OBJETO DA ECONOMIA

Um dos princípios que caracterizam a elaboração da teoria econômica é que o sistema econômico oferece limites para a obtenção dos objetivos perseguidos pelos agentes econômicos. Esses limites consistem na escassez relativa dos recursos produtivos ou fatores de produção (terra, capital, trabalho, tecnologia e capacidade empresarial) diante das necessidades dos agentes. Essa hipótese adotada é chamada de lei da escassez. Assim, podemos afirmar que a Economia diz respeito ao estudo de um fenômeno chamado escassez e dos problemas dela decorrentes.

Se uma quantidade infinita de cada bem pudesse ser produzida, se os desejos humanos pudessem ser completamente satisfeitos, não importaria que uma quantidade excessiva de certo bem fosse produzida. Nem importaria que os recursos disponíveis fossem combinados irracionalmente para a produção de bens. Não havendo o problema da escassez, não faz sentido falar em desperdício ou em uso irracional dos recursos.

Escassez significa que não podemos satisfazer todos os nossos desejos. A escassez dos recursos disponíveis acaba por gerar a escassez dos bens econômicos. Por exemplo, as jazidas de minério de ferro são abundantes, mas o minério pré-usinável, as chapas de aço e o automóvel são bens econômicos escassos. Logo, o conceito de escassez econômica deve ser entendido como a situação gerada pela precisão de produzir bens com recursos limitados, a fim de satisfazer às ilimitadas necessidades humanas. Todavia, somente existirá escassez se houver uma demanda para aquisição do bem.

Poder-se-ia perguntar: por que os bens são procurados (desejados)? A resposta é relativamente simples: um bem é demandado porque é útil. Por utilidade entende-se a capacidade que um bem tem de satisfazer uma necessidade humana. Bem é tudo aquilo capaz de atender uma necessidade humana. Eles podem ser materiais (aos quais podemos atribuir características físicas de peso, forma e dimensão como, por exemplo, automóvel, relógio, sapato, computador, etc.) e imateriais (possuem um caráter abstrato como, por exemplo, aulas ministradas, hospedagens, serviços de vigilância, etc.).

Os bens econômicos são aqueles escassos em quantidade, dada sua procura, e apropriáveis. Os bens econômicos têm como característica a utilidade, a escassez e a possibilidade de transferência. Os bens livres, por outro lado, são aqueles disponíveis em quantidade suficiente para satisfazer a todo o mundo;

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são, portanto, ilimitados em quantidade ou muito abundantes e não são apropriáveis.

Como citado anteriormente, os bens econômicos são aqueles que possuem uma raridade relativa, ou seja, possuem um preço. Estes bens econômicos, quando se destinam à satisfação direta de necessidades humanas são chamados bens de consumo ou bens finais. São todos aqueles bens que já estão aptos a serem consumidos sem que haja necessidade de qualquer outra transformação. Os bens de consumo podem ser divididos em bens de consumo durável, que podem ser utilizados por um período mais prolongado – automóvel, geladeira -; e os bens de consumo não durável, que devem ser consumidos imediatamente ou são utilizados apenas uma vez ou poucas vezes, como alimentos e roupas.

Os bens que são destinados à fabricação de outros bens e que são absorvidos pelo processo de produção são chamados de bens intermediários. Estes bens sofrem novas transformações antes de se converterem em bens de consumo ou de capital, e possuem um ciclo curto no processo produtivo, sendo totalmente consumidos no processo produtivo. Como exemplo de bens intermediários podemos citar as matérias-primas em geral.

Os bens de capital também são utilizados na geração de outros bens, mas não se desgastam totalmente no processo produtivo, ou seja, não são absorvidos no processo de produção. Uma característica importante destes bens é que contribuem para a melhoria da produtividade da mão-de-obra. São exemplos de bens de capital as máquinas, equipamentos e instalações. Os bens de capital, como não são consumidos no processo de produção, também são bens finais.

Mas o que seriam então as necessidades humanas? Este poderia ser um conceito relativo, vago e filosófico, já que os desejos dos indivíduos não são fixos. Mas para a economia as necessidades humanas relevantes são aqueles desejos que envolvam a escolha de um bem econômico capaz de contribuir para a sobrevivência ou para a realização social do indivíduo.

As necessidades podem ser classificadas em:

a) Básicas ou primárias: são aquelas indispensáveis para nossa sobrevivência ou que sem as quais nossa vida seria insuportável. Exemplos: alimentação, saúde, habitação, vestuário, entre outras.

b) Necessidades secundárias: são aquelas desejadas pelo convívio social. Exemplos: educação, transporte, lazer, turismo.

A partir do exposto, torna-se fácil entender que Economia é uma ciência que estuda a melhor forma de empregar os recursos escassos, que se prestam a usos alternativos, entre os bens e serviços econômicos diversos. Tal definição mostra de forma explícita que o objeto da ciência econômica é o estudo da

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escassez.

2) LEIS ECONÔMICAS

Dentro das Ciências Econômicas nos deparamos com uma grande diversidade de leis. Entre elas podemos citar a lei da escassez, da oferta e da demanda, dos rendimentos decrescentes, do preço único, etc.

De acordo com a lei da demanda, por exemplo, a quantidade demandada de um bem varia inversamente em relação ao seu preço. Isto é, quanto maior for o preço de uma mercadoria menor deverá ser a quantidade demandada da mesma.

As leis econômicas são hipotéticas e probabilísticas. Hipotéticas porque só se verificam se forem reunidas as hipóteses e condições previamente estabelecidas para sua formulação. A realidade só se comportará segundo a forma prevista quando não houver a interferência de causas que possam perturbar a reprodução constante das relações de causa e efeito determinadas. E são também probabilísticas porque se referem ao resultado global de uma infinidade de fatos que se distribuem ao acaso.

3) A CONDIÇÃO CETERIS PARIBUS

O caráter hipotético e probabilístico das leis econômicas sugere que estas devem ser entendidas como válidas dentro dos limites definidos pelo conjunto das condições simplificadoras adotadas. O exemplo citado anteriormente, o da lei da demanda é, tipicamente, uma simplificação da realidade. Tal lei se fundamenta não apenas nas reações de um único e isolado agente econômico observado, mas no resultado estatístico da observação de como se comportou um grande número de agentes. Se observássemos apenas um deles, não teríamos elementos suficientes para a realização de generalizações.

A generalização e a validação exigem um número estatisticamente significativo de observações. Algumas dessas observações poderão ser atípicas, não refletindo o comportamento de normalidade típico do conjunto. Alguns consumidores, por exemplo, poderão manter inalteradas as quantidades procuradas de determinado bem econômico ainda que seu preço sofra sucessivas alterações para mais ou para menos. No entanto, é importante saber que comportamentos e verificações atípicas não invalidam as conclusões e os enunciados resultantes de observações consideradas significativas, válidas.

É justamente com base nos resultados de observações consideradas significantes pela estatística que se formulam leis econômicas e todas as demais relações entre variáveis da microeconomia e da macroeconomia.

Deve-se ter presente, porém, que diversas relações que se formulam no campo da economia, como a exemplificada anteriormente, são influenciadas por

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diversas causas. As quantidades demandadas foram dadas como dependentes dos preços. Essa função é, obviamente, uma simplificação da realidade. Há certamente outros fatores que podem influenciar quantidades procuradas como, por exemplo, a preferência e o próprio clima em que vivemos. Assim, muitos fatores causais, alguns dos quais até imprevisíveis, podem interferir na intensidade do movimento e na direção dessas variáveis.

Isto significa que a validade das leis e dos modelos econômicos implica que sejam mantidos constantes todos os demais fatores que podem interferir no comportamento das variáveis sob observação. É exatamente a esta particularidade que os economistas querem referir-se quando empregam a expressão latina ceteris paribus. Ela significa mantidos inalterados todos os demais fatores ou, então, tudo mais permanecendo constante.

Rigorosamente falando, o exemplo que utilizamos deveria ser enunciado da seguinte forma: as quantidades procuradas dependem do preço, ceteris paribus. Ocorre, porém, que esta expressão não é, a cada momento, acrescentada a cada uma das leis e relações econômicas. Mas é admitida como uma condição subentendida que os economistas têm em seu trabalho acadêmico, na interpretação da realidade pesquisada, na formulação de pesquisa e na elaboração de cenários.

4) PROBLEMAS ECONÔMICOS BÁSICOS

Nas bases de qualquer sociedade encontra-se sempre a seguinte tríade de problemas econômicos:

O que produzir e quanto produzir? - Isso significa quais produtos deverão ser produzidos e em que quantidades deverão ser colocados à disposição dos consumidores.

Como produzir? - Ou seja, por quem serão produzidos os bens e serviços, com quais recursos e de que maneira ou processo técnico.

Para quem produzir? - Isto é, para quem se destinará a produção.

E fácil compreender que tais indagações não seriam consideradas problemas se os recursos utilizáveis fossem ilimitados. No entanto, na realidade existem necessidades ilimitadas e recursos e processos de produção limitados. Fundamentada nessas restrições, a Economia deve optar dentre os bens a serem produzidos e os processos técnicos capazes de transformar os recursos escassos em produção.

4.1) CURVA OU FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO

A análise conjunta da escassez dos recursos e das ilimitadas necessidades humanas conduz à conclusão de que a Economia é uma ciência ligada a problemas de escolha. Com a limitação do total de recursos capazes de produzir

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diferentes mercadorias impõe-se uma escolha para a produção entre mercadorias relativamente escassas.

Para melhor entendimento, suponha uma economia em que haja certo número de indivíduos, certa técnica de produzir, certo número de fábricas e instrumentos de produção e um conjunto de recursos naturais (terra, matérias-primas e outros). Considerem-se todos esses dados como constantes, isto é, que não se alteram durante a análise.

Ao decidir "o que" deverá ser produzido e "como", o sistema econômico terá realmente decidido como alocar ou distribuir os recursos disponíveis entre as milhares de diferentes possíveis linhas de produção. Quanta terra destinar-se-á ao cultivo do café? Quantas à pastagem? Quantas fábricas para a produção de camisas? Quantas para o automóvel? Analisar todos esses problemas simultaneamente é por demais complicado. Para simplificar, suponha que somente dois bens econômicos deverão ser produzidos: camisas e automóveis. Haverá sempre uma quantidade máxima de automóveis (camisas) produzida anualmente, quando todos os recursos forem destinados à sua produção e nada à produção de camisas (automóveis). A quantidade exata depende da quantidade e da qualidade dos recursos produtivos existentes na economia e do nível tecnológico que sejam combinados. Evidentemente, fora das quantidades máximas existem infinitas possibilidades de combinações intermediárias entre automóveis e camisas a serem produzidos.

Tabela 4.1.1) Possibilidades de Produção para uma Economia Hipotética.

Bens

Quantidade Máxima de Automóveis

Possibilidades Intermediárias

Quantidade Máxima de Camisas

Pontos no GráficoOA A B C D OC

Automóveis

(milhares) 150 140 120 90 50 0

Camisas (milhões) 0 10 20 30 40 50

Unindo-se os pontos, obtém-se a chamada curva ou fronteira de possibilidades de produção (curva de transformação), à medida que se passa do ponto OA para A, de A para B e assim por diante até OC, em que se estarão transformando automóveis em camisas. É óbvio que a transformação não é física, mas sim transferindo-se recursos de um processo de produção para outro.

A curva ou fronteira de possibilidades de produção mostra as diversas combinações de produto – neste caso, automóveis e camisas – que a economia pode produzir potencialmente, dada a tecnologia e os fatores de produção disponíveis para as empresas que transformam esses insumos em bens.

A Figura 4.1.1 é um exemplo de fronteira de possibilidades de produção.

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Nesta economia, se todos os recursos forem usados pela indústria de camisas, a economia produzirá 50 milhões de camisas e nenhum automóvel. Se todos os recursos forem utilizados pela indústria automobilística, serão obtidos 150 mil automóveis e nenhuma camisa. Os dois pontos finais da fronteira de possibilidades de produção representam estas possibilidades extremas.

Cada ponto sobre a curva apresenta níveis eficientemente produzidos de dois bens. Nesse caso a economia está operando no pleno emprego (situação em que os recursos disponíveis estão sendo plenamente utilizados na produção de bens e serviços, garantindo o equilíbrio econômico das atividades produtivas).

O que acontecerá se houver desemprego geral de fatores: homens desocupados, terras inativas, fábricas ociosas? Para esses casos, os pontos de produção não se encontrarão sobre a curva, mas sim abaixo da mesma, o que representa uma ineficiência.

Pontos acima da curva são considerados inatingíveis, visto que com a tecnologia e com todos os recursos disponíveis, é impossível atingir tal nível de produção.

Um aumento na quantidade disponível de fatores de produção considerados constantes determinará um deslocamento da curva para a direita e vice-versa (ver Figuras 4.1.2 e 4.1.3). Quanto maiores forem as disponibilidades de recursos produtivos da economia mais afastada da origem estará a curva (e vice-versa).

Variações tecnológicas iguais para os processos de produção dos dois bens deslocarão a curva para a direita e paralelamente (ver Figura 4.1.4). Porém, se a variação tecnológica for maior para o processo de produção de camisas, por exemplo, maior será o deslocamento em relação a esse eixo (ver Figura 4.1.5).

A fronteira de possibilidades de produção mostra um tradeoff que se apresenta à sociedade. Uma vez alcançados os pontos eficientes sobre a fronteira, a única maneira de se obter mais de um bem é obtendo menos do outro. Quando a sociedade se move do ponto A para o ponto B, por exemplo, produz menos automóveis e, em compensação, mais camisas. Tal fato explica a inclinação descendente da fronteira de possibilidades de produção.

A fronteira de possibilidades de produção conduz ao conceito de custo de oportunidade. O custo de oportunidade de um bem é aquilo de que se abre mão para obtê-lo. A fronteira mostra o custo de oportunidade de um bem em termos de outro bem. Quando a sociedade realoca alguns dos fatores de produção da indústria automobilística para a indústria de camisas, deslocando a economia do ponto A para o ponto B, ela abre mão de 20 mil automóveis para obter mais 10 milhões de camisas.

A fronteira de possibilidades de produção é côncava (arqueada para dentro), ou seja, sua inclinação aumenta em magnitude à medida que mais

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camisas são produzidas. Para descrever esse fato, definimos a taxa marginal de transformação de automóveis por camisas (TMgT) como a magnitude da inclinação da fronteira em cada um de seus pontos. A TMgT mede a quantidade de automóveis de que se deve desistir para produzir uma unidade adicional de camisa.

Assim, temos:

TMgT = - (∆ automóveis) ∆ camisas

TMgT (ponto A para ponto B) = - (-20) = 2 10

TMgT (ponto B para ponto C) = - (-30) = 3 10TMgT (ponto C para ponto D) = - (-40) = 4 10

Observe que quando elevamos a produção de camisas, percorrendo a fronteira de possibilidades de produção, a TMgT vai aumentando. Isso ocorre porque a produtividade de cada um dos fatores de produção é diferente quando os mesmos são utilizados para produzir automóveis ou camisas.

Em outras palavras, à medida que se está produzindo pouco de um bem, o sacrifício de produzir menos ainda é muito grande. Esse fenômeno dos custos crescentes surge em virtude da transferência de recursos adequados e eficientes de uma atividade para outra, em que eles se apresentam ineficientes e inadequados. Assim, havendo insistência somente na produção de camisas, será necessário recorrer aos soldadores de chapas de aço para passarem a pregar mangas de camisas, ainda que poucos consigam fazê-lo.