Apostila de Economia e Mercado 2009

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5/24/2018 ApostiladeEconomiaeMercado2009-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/apostila-de-economia-e-mercado-2009 1/68 UNIVERSIDADE PAULISTA CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA CAMPI ANCHIETA / CHÁCARA / PINHEIROS E CONOMIA &  M ERCADO  Prof. Rodrigo Marchesin (Organizador) www.rodrigomarchesin.spaces.live.com São Paulo 2009

Transcript of Apostila de Economia e Mercado 2009

  • UNIVERSIDADE PAULISTA CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA

    CAMPI ANCHIETA / CHCARA / PINHEIROS

    ECONOMIA & MERCADO

    Prof. Rodrigo Marchesin (Organizador)

    www.rodrigomarchesin.spaces.live.com

    So Paulo 2009

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    APRESENTAO1

    At o ano de 1615, o conjunto de conhecimentos dessa cincia era denominado simplesmente

    Economia, nome ainda preferido, conforme veremos mais adiante. Nesse mesmo ano, pela primeira

    vez, usou-se um nome mais extenso: Economia Poltica. Foi o autor francs Antoine de Montchrtien

    (1575-1621) quem acrescentou a palavra poltica expresso economia, em seu clebre livro Trait de

    lconomie politique, o qual afirmou: A cincia da aquisio da riqueza comum ao Estado e famlia.

    Em seu entender, no era conveniente, em nenhum caso, a separao do adjetivo poltica do

    substantivo economia, na designao dessa disciplina. Como a denominao economia poltica tem

    sido criticada, propuseram-lhe outros nomes em substituio, uns mais antigos, como, por exemplo,

    crematstica (do grego Khrema - riqueza - cincia da riqueza), plutologia (do grego PLOUTOS =

    riqueza, cincia da riqueza), catalactica (do grego Katallactein - cincia das trocas) e outros mais

    recentes, como economia nacional, economia social, econmica (com a desinncia empregada na

    denominao de outras disciplinas - Fsica, Botnica, Qumica) e economia (excluindo o adjetivo

    poltica, que implica estudo dos fatos pertencentes cincia do governo de um pas) etc.

    Ao examinarmos a expresso tradicional economia poltica, vamos verificar, primeiramente,

    que temos nela um substantivo e um adjetivo qualificativo. A expresso economia tem origem na

    palavra grega oikos, que significa casa, fortuna, riqueza, e na palavra nomos (tambm grega), que quer

    dizer lei, regra ou administrao.

    No por outra razo que um dos majores gnios da Idade Mdia e o maior filsofo da Igreja

    dizia que ecnomos eram aqueles que administravam os bens, as rendas e as despesas da casa ou

    do lar. Ainda hoje, encontramos as pessoas encarregadas da administrao de certos estabelecimentos

    da Igreja, isto , os ecnomos das casas, dos colgios e conventos religiosos. Como se v, continua

    sendo usada a palavra ecnomos, de acordo com sua origem.

    O adjetivo poltica vem do latim, representado pela palavra politicus (remotamente do grego

    polis), que significa cidade, pas ou nao (Estado). A palavra grega polis tambm tem o significado de

    cidade, pois muito usada, ainda hoje, na terminao do nome de algumas cidades brasileiras, como,

    por exemplo: Florianpolis, Terespolis, Martinpolis etc. Portanto, poltica significa cidade, pas ou

    ao (Estado). Ou, por outras palavras, a arte de governar a cidade, o pas ou nao (Estado).

    Caso adotssemos a opinio de acordo com a origem das palavras, teramos um objeto falso

    da Economia Poltica, porque ento ela seria as leis, as regras ou a administrao de uma casa, e, por

    extenso, as leis ou as regras de uma cidade, sociedade ou pas. Sabemos que isto no verdade,

    pois compete a outras cincias o estudo das leis ou regras de uma cidade ou pas, no Economia.

    1 Centro Universitrio Monte Serrat (UNIMONTE).

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    No devemos abandonar o nome economia, como propem muitos autores, porque, se

    examinarmos as outras denominaes, nelas vamos encontrar os mesmos defeitos. Podemos manter a

    expresso mais extensa economia poltica, ou ento usar a ltima denominao proposta economia -

    o que ser prefervel, porque, alm de tradicional, de uso geral e adotada pela maioria dos

    economistas, apesar de sua origem etimolgica significar a administrao da casa.

    Assim como outras cincias so denominadas por uma nica palavra (este o argumento de

    alguns autores), usa-se apenas o termo economia, que tem a vantagem de ser uma expresso breve.

    Uma vez conhecidas as razes do nome desse ramo do conhecimento humano, passaremos ao estudo

    de sua definio e de seu objeto.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ECONOMIA 6

    1. CONCEITO 6 2. SISTEMAS ECONMICOS 6 3. OS PROBLEMAS ECONMICOS FUNDAMENTAIS 6 4. FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO: FLUXOS REAIS E MONETRIOS 8 5. BENS DE CAPITAL, BENS DE CONSUMO, BENS INTERMEDIRIOS E FATORES DE PRODUO 9 6. INTER-RELAO DA ECONOMIA COM OUTRAS REAS DO CONHECIMENTO 10

    2 HISTRIA DO PENSAMENTO ECONMICO 11

    1. INTRODUO 11 2. PRECURSORES 11 3. PENSAMENTO MARXISTA 15 4. A TEORIA NEOCLSSICA (FINS DO SC. XIX AO INCIO DO SC. XX) 16 5. O KEYNESIANISMO (DCADA DE 1930) 17

    3 DINMICA DOS MERCADOS E SEUS IMPACTOS NAS ORGANIZAES 19

    1. MICROECONOMIA 19 2. DEMANDA, OFERTA E EQUILBRIO DE MERCADO 20 3. INTERFERNCIA DO GOVERNO NO EQUILBRIO DE MERCADO 23

    4 ESTRUTURAS DE MERCADO 24

    1. INTRODUO 24 2. ESTRUTURA DO MERCADO DE FATORES DE PRODUO 25

    5 INTRODUO MACROECONOMIA 27

    1. MACROECONOMIA 27 2. INSTRUMENTOS DE POLTICA MACROECONMICA 28 3. ESTRUTURA DE ANLISE MACROECONMICA 30

    6 O MERCADO MONETRIO 32

    1. HISTRIA DA MOEDA 32 2. FUNES DA MOEDA 34 3. A OFERTA DE MOEDA 35 4. O BANCO CENTRAL 38 5. A DEMANDA DE MOEDA 41 6. RELAO ENTRE MOEDA E NVEL DE PREOS 44

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    7 O SETOR EXTERNO 48

    1. FUNDAMENTOS DO COMRCIO INTERNACIONAL: A TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS 48 2. DETERMINAO DA TAXA DE CMBIO 49 3. A INFLAO INTERNA E SEUS EFEITOS SOBRE A TAXA DE CMBIO 50 4. A ATUAO GOVERNAMENTAL NO MERCADO DE DIVISAS: POLTICAS EXTERNAS 50 5. A ESTRUTURA DO BALANO DE PAGAMENTOS 50 6. ORGANISMOS INTERNACIONAIS 51 7. O BALANO DE PAGAMENTOS NO BRASIL 52

    8 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONMICOS 54

    1. PLANO CRUZADO 54 2. PLANO BRESSER 54 3. MALSON DA NBREGA DA POLTICA DO FEIJO-COM-ARROZ AO PLANO VERO 55 4. PLANO COLLOR 56 5. PLANO REAL 63

    REFERNCIAS 68

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    CAPTULO 1

    INTRODUO ECONOMIA

    1. Conceito

    uma cincia social que estuda como o indivduo e a sociedade decidem empregar recursos

    produtivos escassos na produo de bens e servios, de modo a distribu-los entre as pessoas e

    grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.

    Em qualquer sociedade, os recursos ou fatores de produo so escassos; contudo as

    necessidades humanas so ilimitadas, e sempre se renovam. Isso obriga a sociedade a escolher

    entre alternativas de produo e de distribuio dos resultados da atividade produtiva aos vrios

    grupos da sociedade.

    2. Sistemas Econmicos

    Pode ser definido como sendo a forma poltica, social e econmica pela qual est organizada

    uma sociedade.

    Os elementos bsicos de um sistema econmico so:

    Estoques de Recursos Produtivos ou Fatores de Produo: recursos humanos (trabalho e

    capacidade empresarial), o capital, terra, reservas naturais e a tecnologia.

    Complexo de unidades de produo: constitudo pelas empresas.

    Conjunto de instituies polticas, jurdicas, econmicas e sociais: que so base da

    organizao da sociedade.

    Os sistemas econmicos podem ser classificados em:

    Sistema capitalista, ou economia de mercado, aquele regido pelas foras de mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produo.

    Sistema socialista ou economia centralizada, ou ainda economia planificada, aquele

    em que as questes econmicas fundamentais so resolvidas por um rgo central de

    planejamento, predominando a propriedade pblica dos fatores de produo.

    3. Os Problemas Econmicos Fundamentais

    Da escassez dos recursos ou dos fatores de produo, associa-se s necessidades ilimitadas

    do homem, originando problemas econmicos fundamentais:

    O qu e quanto produzir: dada a escassez de recursos de produo, a sociedade ter de

    escolher, quais produtos sero produzidos e em que quantidades.

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    Como produzir: a sociedade ter de escolher ainda quais recursos de produo sero

    utilizados para a produo de bens e servios, dado o nvel tecnolgico existente.

    Para quem produzir: a sociedade ter tambm que decidir como seus membros

    participaro da distribuio dos resultados de sua produo (demanda, oferta,

    determinao de salrios, das rendas das terras, dos juros etc).

    Em economias de mercado, esses problemas so resolvidos pelos mecanismos de preos

    atuando por meio da oferta e da demanda. Nas economias centralizadas, essas questes so

    decididas por um rgo central de planejamento, a partir de um levantamento dos recursos de

    produo disponveis e das necessidades do pas, e no pela oferta e demanda no mercado.

    3.1. Curva de Possibilidades de Produo (ou curva de transformao)

    um conceito terico com o qual se ilustra, como a questo da escassez impe um limite

    capacidade produtiva de uma sociedade, que ter que fazer escolhas entre alternativas de produo.

    Devido escassez de recursos, a produo total de um pas tem um limite mximo, onde todos os

    recursos disponveis esto empregados.

    Suponhamos uma economia que s produza mquinas (Bens de Capital) e alimentos (Bens

    de Consumo) e que as alternativas de produo de ambos seja as seguintes:

    Alternativas de Produo

    Mquinas (milhares)

    Alimentos (toneladas)

    A 25 0

    B 20 30

    C 15 45

    D 10 60

    E 0 70

    Na primeira alternativa (A) todos os fatores de produo seriam alocados para a produo de

    mquinas;na ltima (E) seriam alocados somente para a produo de alimentos; e nas alternativas

    intermedirias (B, C e D) os fatores de produo seriam distribudos na produo de um ou de outro

    bem.

    3.2. Conceito de Custo de Oportunidade

    A transferncia dos fatores de produo de um bem A para produzir um bem B implica um

    custo de oportunidade que igual ao sacrifcio de se deixar de produzir parte do bem A para se

    produzir mais do bem B. O custo de oportunidade por representar o custo da produo alternativa

    sacrificada, reflete em um custo implcito.

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    4. Funcionamento de Uma Economia de Mercado: Fluxos Reais e Monetrios

    Para entender o funcionamento do sistema econmico, vamos supor uma economia de

    mercado que no tenha interferncia do governo e no tenha transaes com exterior ( economia

    fechada ).

    Os agentes econmicos so as famlias e as empresas. As famlias so proprietrias de

    fatores de produo e os fornecem s empresas, atravs do mercado dos fatores de produo. As

    empresas, atravs da combinao dos fatores de produo, produzem bens e servios e os fornecem

    s famlias por meio do mercado de bens e servios.

    4.1. Fluxo Real da Economia

    MERCADO DE BENS E SERVIOS

    DEMANDA OFERTA

    FAMLIAS EMPRESAS

    OFERTA DEMANDA

    MERCADO DE FATORES DE PRODUO

    No entanto, o fluxo real da economia s se torna possvel com a presena da moeda, que

    utilizada para remunerar os fatores de produo e para o pagamento dos bens e servios. Desse

    modo, paralelamente ao fluxo real temos um fluxo monetrio da economia.

    4.2. Fluxo Monetrio da Economia

    PAGAMENTO DOS BENS E SERVIOS

    FAMLIAS EMPRESAS

    REMUNERAO DOS FATORES DE PRODUO

    4.3. Fluxo Circular de Renda

    Unindo os fluxos real e monetrio da economia, temos o chamado Fluxo Circular de Renda:

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    MERCADO DE BENS E SERVIOS

    DEMANDA DE BENS E SERVIOS

    OFERTA DE BENS E SERVIOS

    O QUE E QUANTO PRODUZIR

    FAMLIAS COMO PRODUZIR EMPRESAS

    OFERTA DE SERVIOS DOS FATORES DE PRODUO

    PARA QUEM PRODUZIR DEMANDA DE SERVIOS DOS FATORES DE PRODUO

    MERCADO DE FATORES DE PRODUO

    Fluxo Monetrio Fluxo Real (Bens e Servios)

    5. Bens de Capital, Bens de Consumo, Bens Intermedirios e Fatores de Produo

    5.1. Bens de Capital

    So aqueles utilizados na fabricao de outros bens, mas que no se desgastam totalmente

    no processo produtivo. Exemplo: Mquinas, Equipamentos e Instalaes.

    5.2. Bens de Consumo

    Destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades humanas. De acordo com sua

    durabilidade, podem ser classificados como durveis (geladeiras, foges, automveis) ou como no

    durveis (alimentos, produtos de limpeza).

    5.3. Bens Intermedirios

    So aqueles que so transformados ou agregados na produo de outros bens e que so

    consumidos totalmente no processo de produtivo (insumos, matrias-primas e componentes).

    5.4. Fatores de Produo

    So constitudas pelos recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), terra, capital e

    tecnologia. Cada fator de produo corresponde a uma remunerao, a saber:

    Fator de Produo Tipo de Remunerao Trabalho Salrio Capital Juro Terra Aluguel

    Tecnologia Royalty Capacidade empresarial Lucro

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    6. Inter-Relao da Economia com Outras reas do Conhecimento

    Apesar de ser uma cincia social, a Economia limitado pelo meio fsico, dado que os

    recursos so escassos, e se ocupa de quantidades fsicas e das relaes entre as quantidades, como

    a que se estabelece entre a produo de bens e servios e os fatores de produo utilizados no

    processo produtivos.

    A Economia apresenta muitas regularidades, sendo que algumas relaes so inviolveis.

    Por Exemplo: O consumo nacional depende diretamente da renda nacional. A quantidade

    demandada de um bem tem uma relao inversamente proporcional com o seu preo. As

    exportaes e as importaes dependem da taxa de cmbio.

    A rea que est voltada para quantificao dos modelos a Econometria, que combina

    Teoria Econmica, Matemtica e Estatstica.

    Economia e Poltica so reas muito interligadas, tornando-se difcil estabelecer uma relao

    de casualidade entre elas. A estrutura poltica se encontra muitas vezes subordinadas ao poder

    econmico. Citemos alguns exemplos: poder Econmico dos latifundirios, poder dos oligoplios e

    monoplios, poder das corporaes estatais.

    Economia e Histria: a pesquisa histrica extremamente til e necessria para Economia,

    pois ela facilita a compreenso do presente e ajuda nas previses para o futuro com base nos fatos

    do passado. As guerras e revolues, por exemplo, alteraram o comportamento e a evoluo da

    Economia.

    Economia e Geografia: a Geografia no o simples registro de acidentes Geogrficos e

    climticos. Ela nos permite avaliar fatores muito teis anlise econmica, como as condies

    geoeconmicas dos mercados, a concentrao espacial dos fatores produtivos, a localizao de

    empresas e a composio setorial da atividade econmica.

    Economia, Moral, Justia e Filosofia: na pr-economia, antes da Revoluo Industrial do

    sculo XVIII, que corresponde ao perodo da Idade Mdia, a atividade econmica era vista como

    parte integrante da Filosofia, Moral e tica. A Economia era orientada por princpios morais e de

    justia.

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    CAPTULO 2

    HISTRIA DO PENSAMENTO ECONMICO

    1. Introduo

    O pensamento econmico passou por diversas fases, que se diferenciam amplamente, com

    muitas discrepncias e oposies. No entanto, a evoluo deste pensamento pode ser dividida em

    dois grandes perodos: Fase Pr- Cientfica e Fase Cientfica Econmica.

    A fase pr-cientfica composta por trs subperodos. A Antigidade Grega, que se caracteriza

    por um forte desenvolvimento nos estudos poltico- filosficos. A Idade Mdia ou Pensamento

    Escolstico, repleta de doutrinas teolgico- filosficas e tentativas de moralizao das atividades

    econmicas. E, o Mercantilismo, onde houve uma expanso dos mercados consumidores e,

    consequentemente, do comrcio. Como iremos tratar de um pensamento econmico que nos

    influencia at hoje s trataremos da fase cientfica.

    A fase cientfica pode ser dividida em Fisiocracia, Escola Clssica e Pensamento Marxista.

    Esta primeira pregava a existncia de uma "ordem natural", onde o Estado no deveria intervir (laissez-

    faire, laissez-passer) nas relaes econmicas. Os doutrinadores clssicos acreditavam que o Estado

    no deveria intervir para equilibrar o mercado (oferta e demanda), atravs do ajuste de preos ("mo-

    invisvel"). J o marxismo criticava a "ordem natural" e a "harmonia de interesses" (defendida pelos

    clssicos), afirmando que tanto um como outro resultava na concentrao de renda e na explorao do

    trabalho.

    Apesar de fazer parte da fase cientfica, convm ressaltar que a Escola Neoclssica e o

    Keynesianismo, diferenciam-se dos outros perodos por elaborar princpios tericos fundamentais e

    revolucionar o pensamento econmico, merecendo, portanto, destaque. na Escola Neoclssica que

    o pensamento liberal se consolida e surge a teoria subjetiva do valor. Na Teoria Keynesiana, procura-

    se explicar as flutuaes de mercado e o desemprego (suas causas, sua cura e seu funcionamento).

    2. Precursores

    2.1. Fisiocracia (Sc. XVIII)

    Doutrina de ordem natural: O Universo regido por leis naturais, absolutas e imutveis e

    universais, desejadas pela Providncia divina para a felicidade dos homens.

    A palavra fisiocracia significa governo da natureza. Isto , de acordo com o pensamento

    fisiocrata as atividades econmicas no deveriam ser reguladas de modo excessivo e nem guiadas por

    foras "antinaturais". Deveria-se conceder uma maior liberdade a essas atividades, afinal "uma ordem

    imposta pela natureza e regida pelas leis naturais" governaria o mercado e tudo se acomodaria como

    tivesse que ser.

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    Na fisiocracia a base econmica a produo agrcola, ou seja, um liberalismo agrrio, onde a

    sociedade estava dividida em trs classes:

    a classe produtiva, formada pelos agricultores.

    a classe estril, que engloba todos os que trabalham fora da agricultura (indstria,

    comrcio e profisses liberais);

    a classe dos proprietrios de terra, que estava ao soberano e aos recebedores de

    dzimos (clero).

    A classe produtiva garante a produo de meios de subsistncia e matrias primas. Com o

    dinheiro obtido, ela paga o arrendamento da terra aos proprietrios rurais, impostos ao Estado e os

    dzimos; e compra produtos da classe estril - os industriais. No final, esse dinheiro volta classe

    produtiva, pois as outras classes tm necessidade de comprar meios de subsistncia - matrias

    primas. Dessa maneira, ao final, o dinheiro retorna ao seu ponto de partida, e o produto se dividiu entre

    todas as classes, de modo que assegurou o consumo de todos.

    Para os fisiocratas, a classe dos lavradores era a classe produtiva, porque o trabalho agrcola

    era o nico que produzia um excedente, isto , produzia alm das suas necessidades. Este excedente

    era comercializado, o que garantia uma renda para toda a sociedade. A indstria no garantia uma

    renda para a sociedade, visto que o valor produzido por ela era gasto pelos operrios e industriais, no

    criando, portanto, um excedente e, conseqentemente, no criando uma renda para a sociedade.

    O papel do Estado se limitava a ser o guardio da propriedade e garantidor de liberdade

    econmica, no deveria intervir no mercado ("laissez-faire, laissez-passer" que quer dizer deixe-se

    fazer, deixe-se passar.), pois existia uma "ordem natural" que regia as atividades econmicas.

    2.1.1. Franois Quesnay

    O fundador da escola fisiocrata, e da primeira fase cientfica da economia, foi Franois

    Quesnay (1694-1774), autor de livros que at hoje so inspirao para economistas atuais, como por

    exemplo Tableau conomique. No se pode falar em fisiocracia, sem citar seu nome. Quesnay foi

    autor de alguns princpios, como o da filosofia social utilitarista, em que deveria se obter a mxima

    satisfao com um mnimo de esforo; o do harmonismo, no obstante a existncia do antagonismo

    das classes sociais, acreditava-se na compatibilidade ou complementaridade dos interesses pessoais

    numa sociedade competitiva; e, por fim, a teoria do capital, onde os empresrios s poderiam comear

    o seu empreendimento com um certo capital j acumulado, com os devidos equipamentos.

    Em seu livro Tableau conomique foi representado um esquema de fluxo de bens e despesas

    entre as diferentes classes sociais. Alm de evidenciar a interdependncia entre as atividades

    econmicas e mostrou como a agricultura fornece um "produto lquido" que repartido na sociedade.

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    Com o advento da fisiocracia surgiram duas grandes idias de alta relevncia para o

    desenvolvimento do pensamento econmico. A primeira diz que h uma ordem natural que rege todas

    as atividades econmicas, sendo intil criar leis organizao econmica. A segunda se refere a

    maior importncia da agricultura sobre o comrcio e a indstria, ou seja, a terra a fonte de todas as

    riquezas que mais tarde faro parte destes dois campos econmicos.

    2.2. A Escola Clssica (Fins do Sc. XVIII e incio do sc. XIX)

    A base do pensamento da Escola Clssica o liberalismo econmico, ora defendido pelos

    fisiocratas. Seu principal membro Adam Smith, que no acreditava na forma mercantilista de

    desenvolvimento econmico e sim na concorrncia que impulsiona o mercado e conseqentemente

    faz girar a economia.

    A teoria clssica surgiu do estudo dos meios de manter a ordem econmica atravs do

    liberalismo e da interpretao das inovaes tecnolgicas provenientes da Revoluo Industrial. Todo

    o contexto da Escola Clssica est sendo influenciado pela Revoluo Industrial. caracterizada pela

    busca no equilbrio do mercado (oferta e demanda) via ajuste de preos, pela no- interveno estatal

    na atividade econmica, prevalecendo a atuao da "ordem natural" e pela satisfao das

    necessidades humanas atravs da diviso do trabalho, que por sua vez aloca a fora de trabalho em

    vrias linhas de emprego.

    De acordo com o pensamento de Adam Smith, a economia no deveria se limitar ao estoque

    de metais preciosos e ao enriquecimento da nao, pois, segundo o mercantilismo, desta nao fazia

    parte apenas a nobreza, e o restante da populao estaria excluda dos benefcios provenientes das

    atividades econmicas. Sua preocupao fundamental era a de elevar o nvel de vida de todo o povo.

    Em sua obra Wealth of Nations (Riqueza das Naes), Adam Smith estabelece princpios para

    anlise do valor, dos lucros, dos juros, da diviso do trabalho e das rendas da terra. Alm de

    desenvolver teorias sobre o crescimento econmico, ou seja, sobre a causa da riqueza das naes, a

    interveno estatal, a distribuio de renda, a formao e a aplicao do capital.

    Alguns crticos de Smith afirmam que ele no foi original em suas obras, devido ao seu

    mtodo, que se caracteriza por percorrer caminhos j trilhados, buscando, assim, segurana, utilizar

    elementos j existentes. No entanto, sabe-se que suas obras foram grandiosas para o

    desenvolvimento do pensamento econmico, devido a sua clareza e ao esprito equilibrado.

    2.2.1. Adam Smith (1723-1790)

    Filsofo, terico e economista, nascido na Esccia em 1723, dedicou-se quase que

    exclusivamente ao magistrio. considerado o pai da Economia Poltica Clssica Liberal. Seu

    pensamento filosfico e econmico encontra-se, basicamente, em a Teoria dos Sentimentos Morais

    (1759) e em a Riqueza das Naes (1776), respectivamente. Os crticos a essas duas importantes

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    obras de Smith, afirmam haver um paradoxo entre ambas: Na Teoria, Smith teria como sustentao

    de sua concepo tica o lado simptico da natureza humana; enquanto na Riqueza das Naes

    reala a idia do homem movido pelo egosmo, constituindo-se este, na fora motriz do

    comportamento humano. Crtica essa repudiada e apontada como um falso problema, no havendo

    descontinuidade de uma obra para outra.

    As idias liberais de Adam Smith, em a Riqueza das Naes aparecem, entre outras, na sua

    defesa a liberdade irrestrita do comrcio, que deve, no s ser mantida como incentivada, por suas

    inegveis vantagens para a prosperidade nacional. Ao Estado caber manter uma relao de

    subordinao entre os homens e, por essa via, garantir o direito da propriedade.

    Para Adam Smith as classes se constituem em: classe dos proprietrios; classe dos

    trabalhadores, que vivem de salrios e a classe dos patres, que vivem do lucro sobre o capital. A

    subordinao, na sociedade, se deve a quatro fatores: qualificaes pessoais, idade, fortuna e bero.

    Este ltimo pressupe fortuna antiga da famlia, dando a seus detentores mais prestgio e a autoridade

    da riqueza aos mesmos.

    Smith afirmava que a livre concorrncia levaria a sociedade perfeio uma vez que a busca

    do lucro mximo promove o bem-estar da comunidade. Smith defendia a no interveno do Estado na

    economia, ou seja o liberalismo econmico.

    2.2.2. Thomas Malthus (1766 1834)

    Tentou colocar a economia em slidas bases empricas. Para ele, o excesso populacional era

    a causa de todos os males da sociedade (populao cresce em progresso geomtrica e alimentos

    crescem em progresso aritmtica). Malthus subestimou o ritmo e o impacto do progresso tecnolgico.

    2.2.3. David Ricardo (1772 1823)

    Mudou, de modo sutil, a anlise clssica do problema do valor: Ento, a razo, pela qual o

    produto bruto se eleva em valor comparativo porque mais trabalho empregado na produo da

    ltima poro obtida, e no porque se paga renda ao proprietrio da terra. O valor dos cereais

    regulado pela quantidade de trabalho empregada em sua produo naquela qualidade de terra, ou

    com aquela poro de capital, que no paga aluguel. Ricardo mostrou as interligaes entre expanso

    econmica e distribuio de renda. Tratou dos problemas do comrcio internacional e defendeu o livre-

    cambismo.

    2.2.4. John Stuart Mill (1806 1873)

    Introduziu na economia preocupaes de justia social. Suas idias refletem diversas

    influncias de outros pensadores contemporneos, apresentando em sua evoluo uma srie de

    contradies, a ponto de ser considerado um integrante do liberalismo clssico por alguns autores e

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    15

    um pr-socialista por outros. Ele prprio chegou a se autodefinir um socialista. Nessa tentativa de

    conciliao de idias socialistas com seus fundamentos utilitaristas ele fez uso de uma relao entre

    a religio e a moral, na qual admitiu que o aperfeioamento intelectual do homem serve de base ao

    desenvolvimento social. Da a principal crtica de Marx a esse tipo de ecletismo do qual Mill o

    melhor intrprete. Para Marx, isto prova inconteste de ingenuidade ou uma tentativa de conciliao

    dos inconciliveis.

    2.2.5. Jean Baptist Say (1768 1832)

    Deu ateno especial ao empresrio e ao lucro; subordinou o problema das trocas diretamente

    produo, tornando-se conhecida sua concepo de que a oferta cria a procura equivalente, ou

    seja, o aumento da produo transformar-se em renda dos trabalhadores e empresrios, que seria

    gasta na compra de outras mercadorias e servios.

    Lei de Say a lei dos mercados. A oferta cria sua prpria procura.

    Partindo do pressuposto de que o mecanismo da economia funcione de modo perfeito e

    harmnico que tudo se governa de modo eficiente e sutil, o todo no problema e apenas as partes

    mereciam estudo e ateno.

    Foi o economista francs Jean Baptist Say que deu formulao definitiva a esta corrente de

    idias em sua clebre Lei dos Mercados, a qual depois se transformou em dogma indiscutvel e

    aceito sem restries.

    De acordo com ela, a superproduo impossvel, pois as foras do mercado operam de

    maneira tal que a produo cria sua prpria demanda.

    Nestas condies os rendimentos criados pelo processo produtivo sero fortemente gastos na

    compra desta mesma produo. Tal opinio arraigou-se profundamente no sculo atrasado.

    3. Pensamento Marxista

    A principal reao poltica e ideolgica ao classicismo foi feita pelos socialistas, mais

    precisamente por Karl Marx (1818-1883) e Frederic Engels. Criticavam a "ordem natural" e a "harmonia

    de interesses", pois h concentrao de renda e explorao do trabalho.

    O pensamento de Marx no se restringe unicamente ao campo da economia, mas abrange,

    tambm, a filosofia, a sociologia e a histria. Preconizava a derrubada da ordem capitalista e a

    insero do socialismo. Convm esclarecer que Marx no foi o fundador do socialismo, pois este j

    vinha se formando durante os perodos ora citados, tendo por incio a obra "A Repblica", onde Plato

    demonstra sinais de ideologia socialista. No entanto, as obras anteriores ao Karl Marx, estiveram

    destitudas de sentido prtico e nada mais fizeram do que contrapor-se s prticas comerciais

    realizadas poca.

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    16

    Em contraposio aos clssicos, Marx afirmava que erraram ao afirmar que a estabilidade e o

    crescimento econmico seria efeito da atuao da ordem natural. E explica, dizendo que "as foras

    que criaram essa ordem procuram estabiliz-la, sufocando o crescimento de novas foras que

    ameaam solap-la, at que essas novas foras finalmente se afirmem e realizem suas aspiraes".

    Ao afirmar que "o valor da fora de trabalho determinado, como no caso de qualquer outra

    mercadoria, pelo tempo de trabalho produo, e conseqentemente reproduo, desse artigo em

    especial", Marx modificou a anlise do valor-trabalho (teoria objetiva do valor). Desenvolveu, tambm,

    a teoria da mais- valia (explorao do trabalho), que a origem do lucro capitalista, de acordo com o

    pensamento marxista. Analisou as crises econmicas, a distribuio de renda e a acumulao de

    capital.

    No decorrer da evoluo do pensamento econmico, Marx exerceu grande impacto e provocou

    importantes transformaes com a publicao de duas conhecidas obras: Manifesto Comunista e Das

    Kapital. Segundo sua doutrina, a industrializao vinha acompanhada de efeitos danosos ao

    proletariado, tais como, baixo padro de vida, longa jornada de trabalho, reduzidos salrios e ausncia

    de legislao trabalhista.

    4. A Teoria Neoclssica (Fins do sc. XIX ao incio do sc. XX)

    A partir de 1870, o pensamento econmico passava por um perodo de incertezas diante de

    teorias contrastantes (marxista, clssica e fisiocrata). Esse perodo conturbado s teve fim com o

    advento da Teoria Neoclssica, em que se modificaram os mtodos de estudo econmicos. Atravs

    destes buscou-se a racionalizao e otimizao dos recursos escassos.

    Conforme a Teoria Neoclssica, o homem saberia racionalizar e, portanto, equilibraria seus

    ganhos e seus gastos. nela que se d a consolidao do pensamento liberal. Doutrinava um sistema

    econmico competitivo tendendo automaticamente para o equilbrio, a um nvel pleno de emprego dos

    fatores de produo.

    A principal preocupao dos neoclssicos era o funcionamento de mercado e como se chegar

    ao pleno emprego dos fatores de produo, baseada no pensamento liberal.

    4.1. Alfred Marshall (1842-1924)

    Alfred Marshall, um dos grandes fundadores da teoria Neoclssica no sc. XIX, no processo de

    sua construo, procurou apoiar-se em dois paradigmas de cincia que no se combinam

    confortavelmente: o mecnico e o evolucionrio.

    Conforme o primeiro, a economia real entendida como um sistema de elementos

    (basicamente, consumidores e firmas) que permanecem idnticos a si mesmos exteriores uns aos

    outros, e que estabelecem relaes de trocas orientados unicamente pelos preos. Estes ltimos tem a

    funo de equilibrar as ofertas e demandas que constituem os mercados .Na economia como um

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    17

    sistema mecnico preciso notar, todo movimento reversvel e nenhum envolve qualquer mudana

    qualitativa.

    Conforme o segundo, a economia real compreendida como um sistema m permanente

    processo de auto- organizao que apresenta propriedades emergentes. Os elementos do sistema

    evolucionrio podem se transformar no tempo. Influenciando-se uns aos outros, relacionando-se entre

    si de vrias formas, as quais tambm podem mudar. Ao contrrio do que ocorre no sistema mecnico,

    neste ltimo o movimento acompanha a flecha do tempo e aos acontecimentos so irrevogveis.

    Para Marshal preciso tomar um caminho evolucionrio e este caminho hoje est aberto

    mesmo o plano do formalismo j que a era do computador permite o desenvolvimento de modelos com

    base em dinmicas complexas.

    5. O Keynesianismo (Dcada de 1930)

    Quando a doutrina clssica no se mostrava suficiente diante de novos fatos econmicos,

    surgiu o economista ingls John Maynard Keynes que, com suas obras, promoveu uma revoluo na

    doutrina econmica, opondo-se, principalmente, ao marxismo e ao classicismo. Substituindo os

    estudos clssicos por uma nova maneira da raciocinar na economia, alm de fazer uma anlise

    econmica reestabelecedora do contato com a realidade.

    Seus objetivos eram de, principalmente, explicar as flutuaes econmicas ou flutuaes de

    mercado e o desemprego generalizado, ou seja, o estudo do desemprego em uma economia de

    mercado, sua causa e sua cura.

    Opondo-se ao pensamento marxista, Keynes acreditava que o capitalismo poderia ser

    mantido, desde que fossem feitas reformas significativas, j que o capitalismo houvera se mostrado

    incompatvel com a manuteno do pleno emprego e da estabilidade econmica. Recebendo, portanto,

    muitas crticas dos socialistas no que se refere ao aumento da inflao, ao estabelecimento da uma lei

    nica de consumo, ignorando as diferenas de classes. E, por outro lado, algumas de suas idias

    foram agregadas ao pensamento socialista, como por exemplo, a poltica do pleno emprego e a do

    direcionamento dos investimentos.

    Keynes defendia a interveno moderada do Estado. Afirmava que no havia razo para o

    socialismo do Estado, pois no seria a posse dos meios de produo que resolveria os problemas

    sociais, ao Estado compete incentivar o aumento dos meios de produo e a boa remunerao de

    seus detentores.

    Roy Harrod acreditava que Keynes tinha trs talentos que poucos economistas possuem.

    Primeiramente a lgica, para assim poder ter se transformado num grande especialista na teoria pura

    da Economia. Dominar a tcnica de escrever lcida e convincentemente. E, por fim, possuir um senso

    realista de como as coisas se realizaro na prtica.

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    18

    Suas obras estimularam o desenvolvimento de estudos no s no campo econmico, mas

    tambm nas reas da contabilidade e da estatstica. Na evoluo do pensamento econmico, at

    agora, no houve nenhuma obra que provocasse tanto impacto quanto a Teoria Geral do Emprego, do

    juro e da moeda de Keynes.

    O pensamento Keynesiano deixou algumas tendncias que prevalecem at hoje no nosso

    atual sistema econmico. Dentre as principais, os grandes modelos macroeconmicos, o

    intervencionismo estatal moderado, a revoluo matematizante da cincia econmica...

    Os Keynesianos admitiram que seria difcil conciliar o pleno emprego e o controle da inflao,

    considerando, sobretudo, as negociaes dos sindicatos com os empresrios por aumentos salariais.

    Por esta razo, foram tomadas medidas que evitassem o crescimento de salrios e preos. Mas a

    partir da dcada de 60os ndices de inflao foram acelerados de forma alarmante.

    A partir do final da dcada de 70, os economistas tem adotado argumentos monetaristas em

    detrimento daqueles propostos pela doutrina Keynesiana; mas as recesses em escala mundial, das

    dcadas de 80 e 90 refletem os postulados da poltica econmica de Jonh Maynard Keynes.

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    CAPTULO 3

    DINMICA DOS MERCADOS E SEUS IMPACTOS NAS ORGANIZAES

    1. Microeconomia

    A Microeconomia, ou Teoria Geral dos Preos, analisa a formao de preos no mercado, ou

    seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preo e a quantidade de um

    determinado bem ou servio em mercados especficos. A microeconomia estuda o funcionamento da

    oferta e da procura na formao do preo no mercado, isto , o preo sendo obtido pela interao do

    conjunto dos consumidores com o conjunto de empresas que fabricam um dado bem ou servio.

    1.1. Pressupostos Bsicos da Anlise Microeconmica

    A hiptese coeteris paribus (tudo o mais permanece constante): o foco de estudo dirigido

    apenas quele mercado, analisando o papel que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que

    outras variveis interfiram muito pouco, ou que no interfiram de maneira absoluta.

    1.1.1. Papel dos preos relativos

    Na anlise microeconmica, so mais relevantes os preos relativos, isto , os preos dos

    bens em relao aos demais, do que os preos absolutos ( isolados) das mercadorias. Exemplo: se o

    preo do guaran cair 10%, mas tambm o preo da soda cair em 10%, nada deve acontecer na

    demanda dos dois bens, mas se cair apenas o preo do guaran, permanecendo inalterado o preo

    da soda, deve-se esperar um aumento na quantidade procurada de guaran e uma queda na soda.

    Embora no tenha havido alterao no preo absoluto da soda, seu preo relativo aumentou, quando

    comparado com o guaran.

    1.1.2. Princpio da Racionalidade

    Por esse princpio, os empresrios tentam sempre maximizar lucros condicionados pelos

    custos de produo, os consumidores procuram maximizar sua satisfao no consumo de bens e

    servios ( limitados por sua renda e pelos preos das mercadorias).

    1.2. Aplicaes da anlise microeconmica

    A teoria microeconmica no um manual de tcnicas para a tomada de decises do dia-a-

    dia, mesmo assim ela representa uma ferramenta til para esclarecer polticas e estratgias, dentro

    de um horizonte de planejamento, tanto em nvel de empresas quanto de nvel de poltica econmica.

    Para as empresas, a anlise microeconmica pode subsidiar as seguintes decises:

    polticas de preos da empresa.

    previso de demanda e faturamento.

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    previso de custos de produo.

    decises timas de produo (melhor combinao dos custos de produo).

    avaliao e elaborao de projetos de investimentos (anlise custo/benefcio)

    poltica de propaganda e publicidade.

    localizao da empresa.

    Em relao da poltica econmica, pode contribuir na anlise e tomada de decises das

    seguintes questes:

    efeitos de impostos sobre mercados especficos.

    poltica de subsdios.

    fixao de preos mnimos na agricultura.

    controle de preos

    poltica salarial

    polticas de tarifas pblicas. (gua, luz, etc.).

    2. Demanda, Oferta e Equilbrio de Mercado

    Os fundamentos da anlise da demanda ou procura esto alicerados no conceito subjetivo

    de utilidade. A utilidade representa o grau de satisfao que os consumidores atribuem aos bens e

    servios que podem adquirir no mercado. Como est baseada em aspectos psicolgicos ou

    preferncias, a utilidade difere de consumidor para consumidor (uns preferem usque, outros preferem

    cerveja etc.).

    2.1. Demanda de Mercado

    A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um determinado bem ou

    servio que os consumidores desejam adquirir em determinado perodo de tempo.

    A procura depende de variveis que influenciam a escolha do consumidor. So elas: o preo

    do bem e servio, o preo dos outros bens, a renda do consumidor e o gosto ou preferncia do

    indivduo. Para estudar-se a influncia dessas variveis utiliza-se a hiptese do coeteris paribus, ou

    seja, considera-se cada uma dessas variveis afetando separadamente as decises do consumidor.

    H uma relao inversamente proporcional entre a quantidade procurada e o preo do bem.

    a chamada Lei Geral da Demanda.

    Essa relao pode ser observada a partir dos conceitos de escala de procura, curva de

    procura ou funo demanda.

    A relao preo/quantidade procurada pode ser representada por uma escala de procura,

    conforme apresentada a seguir:

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    Alternativa de preo ($) Quantidade Demandada

    1,00 12.000

    3,00 8.000

    6,00 4.000

    8,00 3.000

    10,00 2.000

    Se o preo de um bem aumenta, a queda da quantidade demanda ser provocada por esses

    dois efeitos somados:

    a) Efeito substituio: se um bem possui um substituto, ou seja, outro bem similar que

    satisfaa a mesma necessidade, quando seu preo aumenta, o consumidor passa

    adquirir o bem substituto, reduzindo assim sua demanda. Exemplo: Fsforo.

    b) Efeito renda: quando aumenta o preo de um bem, o consumidor perde o poder aquisivo,

    e a demanda por esse produto diminui.

    2.1.1. Elasticidade

    Cada produto tem sua prpria sensibilidade com relao s variaes dos preos e da renda.

    Essa sensibilidade ou reao pode ser medida atravs da elasticidade. Genericamente, a elasticidade

    reflete o grau de reao de uma varivel quando ocorrem alteraes em outra varivel, coeteris

    paribus.

    2.1.1.1. Elasticidade-preo da Demanda

    a resposta relativa da quantidade demandada de um bem X s variaes de seu preo.

    Pode ser:

    Demanda elstica: os consumidores de um determinado produto tm grande reao ou

    resposta nas quantidades a eventuais variaes de preos.

    Demanda inelstica: os consumidores tendem a reagir em menor escala s variaes de

    preos.

    Fatores que influenciam o grau de elasticidade da demanda:

    a) Disponibilidade de bens substitutos: quanto mais substitutos houver para um bem, mais

    elstica ser sua demanda;

    b) Essencialidade do bem: se o bem essencial, ser pouco sensvel variao do preo;

    c) Importncia do bem, quanto ao gasto no oramento do consumidor: quanto mais

    importante o gasto referente a um determinado bem, em relao ao oramento, mais

    sensvel torna-se o consumidor a alteraes de seu preo, ou seja, a demanda mais

    elstica. Comparativamente, por exemplo, a carne tende a ter a elasticidade-preo da

    demanda mais elevada que o fsforo, em funo da relao do preo da carne junto ao

    oramento domstico.

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    2.2. Oferta de Mercado

    Pode-se conceituar oferta como as vrias quantidades que os produtores desejam oferecer

    ao mercado em determinado perodo de tempo. Da mesma maneira que a demanda, a oferta

    depende de vrios fatores; dentre eles, de seu prprio preo, dos demais preos, dos preos dos

    fatores de produo, das preferncias do empresrio e da tecnologia.

    Diferentemente da funo demanda, a funo de oferta mostra uma correlao direta entre a

    quantidade ofertada e nvel de preos. a chamada Lei Geral da Oferta.

    Podemos expressar uma escala de oferta de um bem X, ou seja, dada uma srie de preos,

    quais seriam as quantidades ofertadas a cada preo:

    Alternativas de Preo ( $ ) Quantidade Ofertada

    1,00 1.000

    3,00 5.000

    6,00 9.000

    8,00 11.000

    10,00 13.000

    A relao direta entre a quantidade ofertada de um bem e o preo desse bem deve-se ao fato

    de que, coeteris paribus, um aumento do preo no mercado estimula as empresas a produzirem mais,

    aumentando sua receita.

    2.3. Equilbrio de Mercado

    A interao das curvas de demanda e de oferta determina o preo e a quantidade de

    equilbrio de um bem ou servio em um dado mercado.

    Veja o quadro a seguir representativo da oferta e da demanda do bem X:

    Quantidade

    Preo ($) Procurada Ofertada Situao de Mercado

    1,00 11 1 Excesso de procura (escassez de oferta)

    3,00 9 3 Excesso de procura (escassez de oferta)

    6,00 6 6 Equilbrio entre oferta e procura

    8,00 4 8 Excesso de oferta (escassez de procura)

    10,00 2 10 Excesso de oferta (escassez de procura)

    Como se observa na tabela, existe equilbrio entre oferta e demanda do bem X, quando o

    preo igual a 6,00 unidades monetrias.

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    3. Interferncia do Governo no equilbrio de mercado

    O governo intervm na formao de preos de mercado, a nvel microeconmico , e quando

    fixa impostos e subsdios, estabelecem critrios de reajustes do salrio mnimo, fixa preos mnimos

    para produtos agrcolas decreta tabelamentos ou ainda congelamento de preos e salrios.

    3.1. Estabelecimento de Impostos

    sabido que quem recolhe a totalidade do tributo a empresa, mas isso no quer dizer que

    ela quem efetivamente paga. Assim, saber sobre quem recai efetivamente o nus do tributo uma

    questo da maior importncia na anlise dos mercados.

    Os tributos se dividem em impostos, taxas e contribuies de melhoria. O impostos dividem-

    se em:

    Impostos Indiretos: impostos incidentes sobre o consumo ou sobre as vendas. Exemplo:

    Imposto sobre Circulao de Mercadorias (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados

    (IPI).

    Impostos Diretos: Impostos incidentes sobre a renda. Exemplo: Imposto de Renda.

    3.2. Poltica de preos mnimos na agricultura

    Trata-se de uma poltica que visa dar garantia de preos ao produtor agrcola, com propsito

    de proteg-lo das flutuaes dos preos no mercado, ou seja, ajud-lo diante de uma possvel queda

    acentuada de preos e conseqentemente da renda agrcola. O governo, antes do incio do plantio,

    garante um preo que ele pagar aps a colheita do produto.

    3.3. Tabelamento

    Refere-se interveno do governo no sistema de preos de mercado visando coibir abusos

    por parte dos vendedores, controlar preos de bens de primeira necessidade ou ento refrear o

    processo inflacionrio, como foi adotado no Brasil (Planos Cruzado, Bresser etc.), quando se aplicou

    o congelamento de preos e salrios.

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    CAPTULO 4

    ESTRUTURAS DE MERCADO

    1. Introduo

    Nas aulas anteriores vimos, quais variveis afetam a demanda e a oferta de bens e servios,

    e como so determinados os preos, supondo sem interferncias, o mercado automaticamente

    encontra seu equilbrio. Implicitamente, estava sendo suposta uma estrutura especfica de mercado,

    qual seja, a de concorrncia perfeita.

    As vrias formas ou estruturas de mercados dependem fundamentalmente de trs

    caractersticas:

    a) nmero de empresas que compe esse mercado;

    b) tipo do produto ( se as firmas fabricam produtos idnticos ou diferenciados);

    c) se existem ou no barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado.

    A maior parte dos modelos existentes pressupe que as empresas maximizam o lucro total,

    especificamente para o caso de estruturas oligopolistas de mercado, veremos que existe uma teoria

    alternativa, que pressupe que a empresa maximiza o mark-up, que margem entre a receita e os

    custos diretos ( ou variveis )de produo.

    1.2. Concorrncia pura ou perfeita

    um tipo de mercado em que h um grande nmero de vendedores ( empresas ), de tal

    sorte uma empresa, isoladamente, por ser insignificante, no afeta os nveis de oferta do mercado e,

    consequentemente, o preo de equilbrio.

    Nesse tipo de mercado devem prevalecer ainda as seguintes premissas:

    produtos homogneos: no existe diferenciao entre os produtos ofertados pelas

    empresas concorrentes;

    no existem barreiras: para o ingresso de empresas no mercado;

    transparncia do mercado: todas as informaes sobre lucros, preos etc. so

    conhecidas por todos os participantes do mercado.

    1.3. Monoplio

    O mercado monopolista se caracteriza por apresentar condies diametralmente opostas s

    da concorrncia perfeita. Nele existe, de um lado, um nico empresrio (empresa) dominando

    inteiramente a oferta e, de outro, todos os consumidores. No h, portanto concorrncia, nem produto

    substituto ou concorrente. Nesse caso, ou os consumidores se submetem s condies impostas pelo

    vendedor, ou simplesmente deixaram de consumir o produto.

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    Nessa estrutura de mercado, a curva de demanda da empresa a prpria curva de demanda

    do mercado como um todo. Ao ser exclusiva no mercado, a empresa no estar sujeita aos preos

    vigentes. Mas isso no significa que poder aumentar os preos indefinidamente.

    Para a existncia de monoplios, deve haver barreiras que praticamente impeam a entrada

    de novas firmas no mercado. Essas barreiras podem advir das seguintes condies: Monoplio puro,

    elevado volume de capital, patente e controle de matrias-primas bsicas, existem ainda, os

    monoplios institucionais ou estatais em setores considerados estratgicos ou de segurana nacional

    (petrleo, energia, comunicao).

    1.4. Oligoplio

    um tipo de estrutura normalmente caracterizada por um pequeno nmero de empresas que

    dominam a oferta de mercado. Pode caracterizar-se como um mercado em que h um pequeno

    nmero de empresas, como a indstria automobilstica, ou ento onde h um grande nmero de

    empresas, mas poucas dominam o mercado, como a indstria de bebidas. O setor produtivo no Brasil

    altamente oligopolizado, sendo possvel encontrar inmeros exemplos: montadoras de veculos,

    setor de cosmticos, indstria de papel, indstria farmacutica etc.

    Nos oligoplios, tanto as quantidades ofertadas quanto os preos so fixados entre as

    empresas por meio de cartis. O cartel uma organizao formal ou informal de produtores dentro de

    um setor que determina a poltica de preos para todas as empresas que a ele pertencem.

    Podemos caracterizar tambm tanto oligoplios com produtos diferenciados (como a indstria

    automobilstica) como oligoplios com produtos homogneos (alumnio).

    1.5. Concorrncia monopolista

    Trata-se de uma estrutura de mercado intermediria entre a concorrncia perfeita e o

    monoplio, mas que no se confunde com o oligoplio, pelas seguintes caractersticas:

    a) nmero relativamente grande de empresas com certo poder concorrencial, porm com

    segmentos de mercados e produtos diferenciados, seja por caractersticas fsicas,

    embalagem ou prestao de servios complementares (ps-venda).

    b) margem de manobra para fixao dos preos no muito ampla, uma vez que existem

    produtos substitutos no mercado.

    Essas caractersticas acabam dando um pequeno poder monopolista sobre o preo de seu

    produto, embora o mercado seja competitivo (da o nome concorrncia monopolista).

    2. Estrutura do Mercado de Fatores de Produo

    At aqui identificamos as estruturas de mercados de bens e servios. O mercado de fatores

    de produo mo de obra, capital, terra e tecnologia tambm apresenta diferentes estruturas.

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    26

    2.1. Concorrncia Perfeita no mercado de fatores

    um mercado onde existe oferta abundante do fator de produo, por exemplo, mo de obra

    no especializada, o que torna o preo desse fator constante. Os ofertantes ou fornecedores, como

    so em grande nmero, no tm condies de obter preos mais elevados por seus servios.

    2.2. Monopsnio

    Trata-se de uma forma de mercado na qual h somente um comprador para muitos

    vendedores dos servios dos insumos. o caso da empresa que se instala em uma determinada

    cidade do interior e, por ser a nica, torna-se demandante exclusiva da mo de obra local e das

    cidades prximas, tendo para si a totalidade da oferta de mo de obra.

    2.3. Oligopsnio

    um mercado onde existem poucos compradores que dominam o mercado para muitos

    vendedores. Exemplo: indstria de laticnios. Em cada cidade existem dois ou trs laticnios que

    adquirem a maior parte do leite dos inmeros produtores rurais locais. A indstria automobilstica,

    alm de oligopolista no mercado de bens e servios, tambm oligopsonista na compra de

    autopeas.

    2.4. Monoplio bilateral

    O monoplio bilateral ocorre quando um monopsonista, na compra de um fator de produo,

    defronta-se com um monopolista na venda deste fator. Por exemplo, s a empresa A compra um tipo

    de ao que produzido apenas pela siderrgica B. A empresa A monopsonista, porque s ela

    compra esse tipo de ao, e a siderrgica B monopolista, porque s ela vende este tipo de ao.

    Nesses casos, a determinao dos preos de mercado depender no s de fatores

    econmicos, mas do poder de barganha de ambos: o monopsonista tentando pagar o preo mais

    baixo (usando a fora de ser o nico comprador), e o monopolista tentando vender por um preo mais

    elevado (usando o poder de ser o nico fornecedor).

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    27

    CAPTULO 5

    INTRODUO MACROECONOMIA

    1. Macroeconomia

    A macroeconomia estuda a economia como um todo, analisando a determinao e o

    comportamento de grandes agregados, tais como: renda e produto nacionais, nvel geral de preos,

    emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balana de pagamentos e taxa de

    cmbio.

    1.2. Metas de Poltica Macroeconmica

    Alto nvel de emprego;

    Estabilidade de preos;

    Distribuio de renda socialmente justa;

    Crescimento econmico.

    1.2.1. Alto Nvel de Emprego

    Desde a Revoluo Industrial, em fins do sculo XVIII, at o incio do sculo XX, o mundo

    econmico parece ter funcionado sobre o pensamento liberal, que acreditava que os mercados, sem

    interferncia do Estado, conduziam a Economia ao pleno emprego de seus recursos, como se

    guiados por uma mo invisvel, determinariam os preos e a produo de equilbrio, e, desse modo,

    nenhum problema surgiria no mercado de trabalho. Entretanto, a evoluo da economia mundial

    trouxe em seu bojo novas variveis, como o surgimento de sindicatos de trabalhadores, os grupos

    econmicos e o desenvolvimento de mercado de capitais e do comrcio internacional, de sorte a

    complicar e trazer incertezas sobre o funcionamento da economia.

    A ausncia de polticas econmicas levou quebra da Bolsa de Nova York em 1929, e uma

    crise de desemprego atingiu todos os pases do mundo ocidental nos anos seguintes. Com a

    contribuio de Keynes, fincaram-se as bases da moderna Teoria Econmica, e da interveno do

    Estado na economia de mercado, que nos passa qual o grau de interveno do Estado na economia

    e em que medida ele deve ser produtor de bens e servios. A corrente dos economistas liberais (hoje

    neoliberais), prega a sada do governo da produo de bens e servios.

    1.2.2. Estabilidade de Preos

    Define-se inflao como um aumento contnuo e generalizado no nvel geral de preos. Por

    que inflao um problema? Primeiramente, porque a inflao acarreta distores, principalmente

    sobre a distribuio de renda, sobre as expectativas dos agentes econmicos e sobre o balano de

    pagamentos.

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    28

    importante salientar que, enquanto nos pases industrializados o problema central o

    desemprego, nos pases em via de desenvolvimento o foco mais importante de anlise o da

    inflao. Esse tema de difcil abordagem, dado que as causas da inflao diferem entre pases

    (deve-se levar em conta, por exemplo, o estgio de desenvolvimento e a estrutura dos mercados), e

    num dado pas, diferem no tempo.

    1.2.3. Distribuio Eqitativa de Renda

    A economia brasileira cresceu razoavelmente entre o fim dos anos 60 e a maior parte da

    dcada de 70. Apesar disso, verificou-se uma disparidade muito acentuada de nvel de renda, tanto a

    nvel pessoal coma a nvel regional. Isso fere, evidentemente, o sentido de eqidade ou justia.

    No Brasil, os crticos do milagre argumentavam que haviam piorado a concentrao de

    renda no pas, nos anos 1967-1973, devido a uma poltica deliberada do governo baseada em

    crescer primeiro para depois distribuir (chamada Teoria do Bolo).

    A posio oficial era de que um certo aumento na concentrao de renda seria inerente ao

    prprio desenvolvimento capitalista, dada as transformaes estruturais que ocorrem (xodo rural,

    com trabalhadores de baixa qualificao, aumento da proporo de jovens etc.). Nesse processo

    gera-se uma demanda por mo de obra qualificada, a qual por ser escassa, obtm ganho extra.

    Assim o fator educacional seria a principal causa da piora distributiva.

    1.2.4. Crescimento Econmico

    Se existe desemprego e capacidade ociosa, pode-se aumentar o produto nacional atravs de

    polticas econmicas que estimulem a atividade produtiva. Mas, feito isso, h um limite quantidade

    que se pode produzir com os recursos disponveis. Aumentar o produto alm desse limite exigir:

    um aumento nos recursos disponveis;

    ou um avano tecnolgico (melhoria tecnolgica, novas maneiras de organizar a

    produo, qualificao da mo de obra).

    Quando falamos em crescimento econmico, estamos pensando no crescimento da renda

    nacional per capita, ou seja, colocar disposio da coletividade uma quantidade de mercadorias e

    servios que supere o crescimento populacional. A renda per capita considerada um razovel

    indicador o mais operacional para se aferir melhoria do padro de vida da populao, embora

    apresente falha (os pases rabes tm as maiores rendas per capita, mas no o melhor padro de

    vida do mundo).

    2. Instrumentos de Poltica Macroeconmica

    A poltica macroeconmica envolve a atuao do governo sobre a capacidade produtiva e

    despesas planejadas, com objetivo de permitir que a economia opere a pleno emprego, com baixas

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    29

    taxas de inflao e uma distribuio justa de renda. Os principais instrumentos para atingir tais

    objetivos so as polticas fiscais, monetrias, cambiais e comerciais, e de rendas.

    2.1. Poltica Fiscal

    Refere-se a todos os instrumentos que o governo dispe para arrecadao de tributos e o

    controle de suas despesas. Alm da questo do nvel de tributao, a poltica tributria, por meio da

    manipulao da estrutura e alquotas de impostos. utilizada para estimular (ou inibir) os gastos de

    consumo do setor privado.

    Se o objetivo da poltica econmica reduzir a taxa de inflao, as medidas fiscais

    normalmente utilizadas, so a diminuio de gastos pblicos e/ou o aumento da carga tributria (o

    que inibe o consumo). Ou seja, visam diminuir os gastos da coletividade. Se o objetivo um maior

    crescimento e emprego, os instrumentos fiscais so os mesmos, mas em sentido inverso, para elevar

    a demanda agregada.

    2.2. Poltica Monetria

    Refere-se atuao do governo sobre a quantidade de moeda e de ttulos pblicos, os

    instrumentos disponveis para tal so:

    a) emisses;

    b) reservas compulsrias;

    c) open market (compra e venda de ttulos pblicos);

    d) redescontos (emprstimos do Banco Central aos bancos comerciais).

    As polticas monetrias e fiscal representam meios alternativos diferentes para as mesmas

    finalidades. A poltica econmica deve ser executada atravs de uma combinao adequada de

    instrumentos fiscais e monetrios. Pode-se dizer que a poltica fiscal apresenta maior eficcia quando

    o objetivo uma melhoria na distribuio de renda, tanto na taxao s rendas mais altas como pelo

    aumento dos gastos do governo com destinao a setores menos favorecidos.

    2.3. Polticas Cambial e Comercial

    A poltica cambial refere-se atuao do governo sobre a taxa de cmbio. O governo, atravs

    do Banco Central, pode fixar a taxa de cmbio, ou permitir que ela seja flexvel e determinada pelo

    mercado de divisas.

    A poltica comercial diz respeito aos instrumentos de incentivos s exportaes e/ou estmulo

    ou desestmulo s importaes, ou seja, refere-se aos estmulos fiscais (crdito - prmio do ICMS, IPI

    etc.) e creditcios (taxas de juros subsidirias) s exportaes e ao controle de importaes (via

    tarifas e barreiras quantitativas sobre importaes).

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    30

    2.4. Poltica de Rendas

    A poltica de rendas refere-se interveno direta do governo na formao de renda

    (salrios, aluguis), atravs de controle e congelamentos de preos. A caracterstica especial que,

    nesses controles, os preos so congelados, e os agentes econmicos no podem responder s

    influncias econmicas normais de mercado.

    3. Estrutura de Anlise Macroeconmica

    Tradicionalmente, a estrutura bsica do modelo macroeconmico compe-se de cinco

    mercados:

    Mercado de Bens e Servios;

    Mercado de Trabalho;

    Mercado Monetrio;

    Mercado de Ttulos;

    Mercado de Divisas.

    3.1. Inflao

    definida como um aumento persistente e generalizado dos ndices de preos, ou seja, os

    movimentos inflacionrios so aumentos contnuos de preos, e no podem ser confundidos com

    altas espordicas de preos, devidas s flutuaes sazonais, por exemplo.

    As fontes de inflao costumam diferir em funo das condies de cada pas, como por

    exemplo:

    a) tipo de estrutura de mercado (oligopolista, monopolista, etc.);

    b) grau de abertura da economia ao comrcio exterior: quanto mais aberta economia

    competio externa, maior a concorrncia interna entre fabricantes, e menores os preos

    dos produtos;

    c) estrutura das organizaes trabalhistas: quanto maior o poder de barganha dos

    sindicatos, maior a capacidade de obter reajustes de salrios acima dos ndices de

    produtividade, e maior presso sobre os preos.

    3.2. Efeitos Provocados por Taxas Elevadas de Inflao

    Uma das distores mais srias provocadas pela inflao diz respeito reduo relativa do

    poder aquisitivo das classes que dependem de rendimentos fixos, com prazos legais de reajustes.

    Nesse caso esto os assalariados que, com o passar do tempo, vo ficando com seus oramentos

    cada vez mais reduzidos, at a chegada de um novo reajuste. Os comerciantes, industriais e o

    prprio Governo tm condies de repassar os aumentos de custos provocados pela inflao,

    garantindo, assim, a participao de sua parcela no produto nacional.

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    A distoro provocada por altas taxas de inflao, afeta tambm o balano de pagamentos.

    As elevadas taxas de inflao, em nveis superiores ao aumento de preos internacionais encarecem

    o produto nacional relativamente ao produzido externamente. Assim devem provocar um estmulo as

    importaes e um desestmulo as exportaes, diminuindo o saldo da balana comercial,

    normalmente lanam mo de desvalorizaes cambiais, as quais, tornando a moeda nacional mais

    barata relativamente moeda estrangeira, podem estimular a colocao de nossos produtos no

    exterior, ao mesmo tempo em que desestimulam as importaes.

    Nas finanas pblicas, a inflao tende a corroer o valor da arrecadao fiscal do governo,

    pela defasagem existente entre o fato gerador e o recolhimento efetivo do imposto. Maior a inflao,

    menor a arrecadao real do governo.

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    CAPTULO 6

    O MERCADO MONETRIO

    1. Histria da Moeda

    1.1. Origem da Moeda: o Escambo e o Desenvolvimento da Atividade Econmica

    Os primeiros grupos humanos, em geral nmades, no conheciam a moeda e recorriam s

    trocas diretas de objetos (chamada de escambo) quando desejavam algo que no possuam. Esses

    grupos, basicamente, praticavam uma explorao primitiva da natureza e se alimentavam por meio da

    pesca, caa e coleta de frutos. Num ambiente de pouca diversidade de produtos, o escambo era

    vivel.

    O escambo apresenta alguns problemas no que se refere ao desenvolvimento das atividades

    econmicas de uma maneira geral. Ele exige uma dupla coincidncia de desejos, porque quem

    pescasse e quisesse, por exemplo, um machado, teria que achar uma outra pessoas que fabricasse

    machados e quisesse, exatamente, peixes. Outro problema diz respeito indivisibilidade dos objetos

    nas trocas diretas. Montoro Filho (1992) exemplifica esse problema salientando a dificuldade que um

    fabricante de canoas teria se quisesse tomar um cafezinho.

    A primeira revoluo agrcola foi modificando o sistema baseado no escambo. A vida nmade

    foi gradativamente cedendo lugar para sedentria e a produo passou a diversificar-se com a

    introduo de utenslios de trabalho. A diviso social do trabalho comea a se manifestar e os

    integrantes do grupo ganham funes especficas como guerreiros, agricultores, pastores, artesos e

    sacerdotes Dessa maneira, a diviso do trabalho provocou sensveis mudanas na vida social. A

    atividade econmica tornou-se mais complexa; o numero de bens e servios exigidos para satisfao

    das necessidades do grupo aumentou, por consequncia, a "dupla coincidncia de desejos" torna-se

    mais difcil; a troca torna-se fundamental para a sobrevivncia do grupo social

    A partir de ento, alguns bens de aceitao so eleitos como intermedirios de trocas,

    exercendo, portanto, funo de moeda.

    A moeda pode ser conceituada como um intermedirio de trocas

    "que serve como medida de valor e que tem aceitao geral. (...) esta aceitao geral um fenmeno essencialmente social. Alm disso, como a moeda representa um poder de aquisio, desde o momento em que recebida at o momento em que dada em pagamento de outra transao, ela tambm se caracteriza como uma reserva de valor" (LOPES e ROSSETTI, 1991: 18).

    1.2. Evoluo Histrica da Moeda

    As primeiras moedas foram mercadorias e deveriam ser suficientemente raras, para que

    tivessem valor, e, como j foi dito, ter aceitao comum e geral. Elas tinham, ento, essencialmente

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    33

    valor de uso; e como esse valor de uso era comum e geral elas tinham, conseqentemente, valor de

    troca). O abandono da exigncia do valor de uso dos bens, em detrimento do valor de troca, foi

    gradativo.

    Entre os bens usados como moeda esto o gado, que tinha a vantagem, de multiplicar-se entre

    uma troca e outra mas, por outro lado, o sal na Roma Antiga; o dinheiro de bambu na China; o

    dinheiro em fios na Arbia.

    "As moedas-mercadorias variaram amplamente de comunidade para comunidade e de poca

    para poca, sob marcante influncia dos usos e costumes dos grupos sociais em que circulavam" .

    Assim, por exemplo, na Babilnia e Assria antigas utilizava-se o cobre, a prata e a cevada como

    moedas; na Alemanha medieval, utilizavam-se gado, cereais e moedas cunhadas de ouro e prata; na

    Austrlia moderna fizeram a vez de moeda o rum, o trigo e at a carne.

    Com o tempo, as moedas-mercadorias foram sendo descartadas. As principais razes para

    isso foram:

    elas no cumpriam satisfatoriamente a caracterstica de aceitao geral exigida nos

    instrumentos monetrios. Alm disso, perdia-se a confiana em mercadorias no

    homogneas, sujeitas ao do tempo (como no caso dos gados citado acima), de difcil

    transporte, diviso ou manuseio;

    a caracterstica valor de uso e valor de troca tornava o novo sistema muito semelhante ao

    escambo e suas limitaes intrnsecas.

    Os metais preciosos passaram a sobressair por terem uma aceitao mais geral e uma oferta

    mais limitada, o que lhes garantia um preo estvel e alto. Alm disso, no se desgastavam,

    facilmente reconhecidos, divisveis e leves. Entretanto, havia o problema da pesagem.

    Em cada transao, os metais preciosos deveriam ser pesados para se determinar seu valor.

    Esse problema foi resolvido com a cunhagem, quando era impresso na moeda o seu valor. Muitas

    vezes, entretanto, um soberano recontava as moedas para financiar o tesouro real. Ele recolhia as

    moedas em circulao e as redividia em um nmero maior, apoderando-se do excedente. Esse

    processo gerava o que conhecemos como inflao, uma vez que existia um maior nmero de moedas

    para uma mesma quantidade de bens existentes

    Os primeiros metais utilizados como moeda foram o cobre, o bronze e, notadamente, o ferro.

    Por serem, ainda, muito abundantes, no conseguiam cumprir uma funo essencial da moeda que

    servir como reserva de valor. Dessa maneira, os metais no nobres foram sendo substitudos pelo

    ouro e pela prata, metais raros e de aceitao histrica e mundial.

    O desenvolvimento de sistemas monetrios demandaram o surgimento de um novo tipo de

    moeda: a moeda-papel. A moeda-papel veio para contornar os inconvenientes da moeda metlica

    (peso, risco de roubo), embora valessem com lastro nela. Assim surgem os certificados de depsito,

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    emitidos por casas de custdia em troca do metal precioso nela depositado. Por ser lastreada, essa

    moeda representativa poderia ser convertida em metal precioso a qualquer momento, e sem aviso

    prvio, nas casas de custdia A moeda-papel abre espao para o surgimento da moeda fiduciria, ou

    papel-moeda, modalidade de moeda no lastreada totalmente. O lastro metlico integral mostrou-se

    desnecessrio quando foi constatado que a reconverso da moeda-papel em metais preciosos no

    era solicitada por todos os seus detentores ao mesmo tempo e ainda quando uns a solicitavam,

    outros pediam novas emisses. A passagem da moeda-papel para o papel-moeda tida como uma

    das mais importantes e revolucionrias etapas da evoluo histrica da moeda A falncia do sistema

    privado de emisses (quando, em diversos momentos da Histria, todos resolviam reconverter seus

    papis-moeda em metais preciosos) levou o Estado a controlar o mecanismo das emisses e a

    exercer seu monoplio. Aps o uso de diversos sistemas de converso que se mostraram

    fracassados, os sistemas monetrios de quase todos os pases, depois da Grande Depresso gerada

    pela crise de 1929-33, com a exceo dos Estados Unidos que mantiveram o lastro metlico

    proporcional at 1971 , adotaram o sistema fiducirio. Hoje, esses sistemas apresentam

    inexistncia de lastro metlico, inconversiblidade absoluta e monoplio estatal das emisses

    Desenvolve-se, juntamente com a moeda fiduciria, a chamada moeda bancria, escritural (porque

    corresponde a lanamentos a dbito e crdito) ou invisvel (por no ter existncia fsica). O seu

    desenvolvimento foi acidental (LOPES e ROSSETTI, 1991), uma vez que no houve uma

    conscientizao de que os depsitos bancrios, movimentados por cheques, eram uma forma de

    moeda. Eles ajudaram a expandir os meios de pagamento atravs da multiplicao de seu uso. Hoje

    em dia, a moeda bancria representa a maior parcela dos meios de pagamento existentes.

    Criada pelos bancos comerciais, essa moeda corresponde totalidade dos depsitos vista e

    a curto prazo e sua movimentao feita por cheques ou por ordens de pagamento instrumentos

    utilizados para sua transferncia e movimentao Atualmente, as duas formas de moeda utilizadas

    so a fiduciria e a bancria, que tm apenas valor de troca.

    2. Funes da Moeda

    Para aprofundar as utilizaes da moeda descritas acima, quando foi feita a sua conceituao,

    esto, a seguir, as principais funes da moeda relacionadas por Cavalcanti e Rudge:

    Intermediria de trocas: Superao do escambo, operao de economia monetria,

    melhor especializao e diviso social do trabalho, transaes com menor tempo e esforo,

    melhor planejamento de bens e servios;

    Medida de valor: Unidade padronizada de medida de valor, denominador comum de

    valores, racionaliza informaes econmicas constri sistema agregado de contabilidade

    social, produo, investimento, consumo, poupana;

    Reserva de valor: Alternativa de acumular riqueza, liquidez por excelncia, pronta

    aceitao consensual;

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    35

    Funo liberatria: Liquida dbitos e salda dvidas, poder garantido pelo Estado;

    Padro de pagamentos: Permite realizar pagamentos ao longo do tempo, permite crdito

    e adiantamento, viabiliza fluxos de produo e de renda;

    Instrumento de poder: Instrumento de poder econmico, conduz ao poder poltico, permite manipulao na relao Estado-Sociedade.

    3. A Oferta de Moeda

    Vamos nos concentrar agora nos fatores que determinam a oferta de moeda. Vimos que a

    oferta de moeda realizada tanto pelas autoridades monetrias, por meio da emisso de notas e

    moedas metlicas, quanto pelos bancos comerciais que, apesar de no poderem emitir, podem, no

    entanto, criar ou destruir moeda. Iremos inicialmente estudar a oferta de moeda dos bancos

    comerciais e posteriormente analisar os instrumentos disponveis pelas autoridades para controlarem

    a oferta total de moeda.

    3.1. O Sistema Bancrio - Criao e Destruio de Moeda

    De incio, convm definir o que venha a ser criao ou destruio de moeda. Na seo

    anterior definimos moeda como sendo a soma do papel-moeda em poder do pblico (inclusive

    moedas metlicas) e dos depsitos vista nos bancos comerciais. A primeira parecia chamada

    moeda manual ou moeda corrente, e, a segunda, moeda escritura[ ou bancria. Haver criao de

    moeda quando houver um aumento desta soma, ou seja, ~o aumenta o volume da soma de moeda

    corrente e de moeda escritural. De outra parte haver destruio de moeda quando se reduzir o

    volume de meios de pagamento. Alguns exemplos esclarecem estes aspectos:

    a) um indivduo efetua um depsito vista. No h criao nem destruio de moeda e,

    sim, uma transferncia entre moeda manual e moeda escritural;

    b) um indivduo efetua um depsito a prazo. Existe destruio de meios de pagamento, pois

    depsitos a prazo no so considerados meios de pagamento;

    c) um banco compra ttulos da dvida pblica possudos pelo pblico, pagando em moeda

    corrente: h criao de meios de pagamento, pois aumenta o volume de moeda manual

    em poder do pblico (estas operaes so chamadas Mercado Aberto ou Open Market).

    A criao (ou destruio) de moeda manual corresponde, assim, a um aumento (ou

    diminuio) do papel-moeda em poder do pblico, enquanto para a moeda escritural a

    sua criao (ou destruio) se d quando h um acrscimo (ou decrscimo) dos

    depsitos vista ou a curto Prazo nos bancos comerciais. Portanto nossa preocupao,

    no momento, verificar como os bancos podem aumentar ou diminuir os depsitos

    vista.

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    36

    3.2. Mecanismo de Expanso dos Meios de Pagamento

    A criao de moeda por meio dos bancos comerciais se faz, atualmente, de forma anloga

    apresentada na seo anterior, quando se tratou da moeda fracionalmente lastreada. A substncia

    a mesma. Somente uma parte do total dos depsitos exigida, ao mesmo tempo, para pagamento.

    De fato, um depsito vista num banco comercial representa um direito que o depositante

    possui sobre uma determinada quantia. Em outras palavras, quando um banco recebe um depsito

    vista, ele promete pagar a quantia depositada ou uma parte desta, quando para tal for solicitado.

    Normalmente esta solicitao feita por meio de cheques. Ocorre, entretanto, que a todo instante

    existem depsitos e saques, de tal forma que somente uma parcela do total dos depsitos

    necessria para atender ao movimento. Esta parcela normalmente pequena, 10%, e desta forma o

    banco comercial pode fazer . promessas de pagar" em um valor mltiplo do total de depsitos iniciais

    e usar os fundos assim obtidos para efetuar emprstimos. Um exemplo esclarece melhor.

    Suponhamos que seja 10% a parcela do total dos depsitos que normal mente (em mdia) exigida.

    Caso o banco tenha em caixa, como reserva, 10%, ele poder fazer promessas de pagar num total de

    10 vezes suas reservas, ou seja, 1.000.

    3.2.1. Um nico Banco Comercial

    Vamos analisar este exemplo com maior ateno e verificar como o banco pode criar moeda

    ou depsitos. Para tal fim vamos fazer inicialmente algumas hipteses simplificadoras. Em primeiro

    lugar, suponhamos que exista apenas um nico banco comercial. Em segundo lugar, que o pblico

    esteja satisfeito com a quantidade de papel-moeda em seu poder, de tal forma que qualquer volume a

    mais seja depositado nos bancos. Nestas condies vamos analisar o que ocorre quando feito um

    novo depsito de $ 10o,0o, em moeda, neste nosso banco monopolista.

    A tabela a seguir mostra como esta transao ser transcrita nos livros do banco:

    Tabela 1

    Ativo Passivo

    Encaixe 100 Depsitos 100

    Nesta primeira etapa no houve criao de moeda e, sim, uma transferncia de moeda

    manual para moeda escritural. Ocorre, entretanto, que o banco no precisa conservar 100% de

    reservas para garantir seus depsitos. A experincia mostra que uma parcela, pequena, suficiente,

    vamos supor 10%.

    Com $ 100,00 de reservas o banco pode prometer pagar $ 1.000,00 (de depsitos). Assim ele

    poder, por exemplo, emprestar $ 500,00 para a empresa X, e emprestar $ 400,00 ao indivduo A,

    cobrando juros em ambas; as operaes. Em contrapartida o banco permite ao indivduo A preencher

  • Prof. Rodrigo Marchesin Economia & Mercado

    37

    cheques at o montante do emprstimo e abre um crdito na conta da empresa X no valor de $

    500,00. A tabela 2 mostra como estas transaes aparecero nos livros do banco.

    Tabela 2

    Ativo Passivo

    Encaixe 100

    Emprstimo para X 500

    Emprstimo para A 400

    Depsitos 1.000

    1.000 1.000

    O ativo do banco agora inclui os $ 100,00 do depsito inicial, e os $ 900,00 de emprstimos

    efetuados. O passivo, por sua vez, aumentou para $ 1.000,0o, sendo $ 100,00 dos depsitos iniciais,

    $ 500,00 de depsitos criados para a empresa X e $ 400,00 criados para o indivduo A. Note-se que

    por simples lanamentos contbeis o banco criou $ 900,00 de novos depsitos, ou seja, moeda

    escritural. Seus encaixes agora representam 10% de suas obrigaes (depsitos).

    de se esperar que tanto a empresa X como o indivduo A gastem o seu dinheiro. Na maioria

    dos casos eles o faro por meio de cheques. Como estamos supondo que exista um nico banco e

    que o pblico no deseje conservar quantias adicionais de moeda em forma de moeda manual, os

    indivduos, ou empresas, que receberem os cheques, iro deposit-los no nosso banco. O banco,

    ento, reduzir a conta corrente de quem preencheu o cheque e aumentar a conta de quem o

    recebeu. No haver, assim, qualquer alterao no total dos seus depsitos, e a situao permanece

    a mesma que foi descrita pela Tabela 2, com modificaes apenas na composio interna dos

    depsitos.

    3.2.2. Vrios Bancos Comerciais

    No raciocnio exposto acima, fizemos duas hipteses simplificadoras. Vamos agora alterar o

    raciocnio, eliminando-as. Em primeiro lugar, vamos supor a existncia de muitos bancos, hiptese

    esta que corresponde realidade brasileira. Neste caso, cada banco, isoladamente, no pode

    esperar que os cheques lanados por seus clientes sejam recebidos por outros seus clientes e

    novamente depositados no banco. de se esperar que estes cheques sejam depositados em outros

    bancos, ao menos a maioria. Assim, cada banco individualmente no poder se comportar da forma

    que foi exposta no caso de um nico banco.

    Podemos, entretanto, pensar no sistema em conjunto, ou seja, raciocinarmos com todos os

    bancos agregadamente. Nestas condies, o raciocnio o mesmo. De fato, para o sistema como um

    todo, vale a hiptese feita de que todos os cheques sero novamente depsitos no sistema. E, assim,

    o mecanismo de expanso exatamente igual ao apresentado. O sistema bancrio pode criar

    depsitos num valor mltiplo dos depsitos iniciais.

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    38

    4. O Banco Central

    Os bancos que acabamos de analisar so bancos comerciais, ou seja, bancos privados, cujo

    comportamento ditado pela regra de maximizar os lucros, ou motivados em seu funcionamento

    pelos lucros a serem alcanados.

    Alm destes bancos, encontramos, em quase todos os pases, Bancos Centrais, cuja funo

    primordial regular o fluxo da moeda e do crdito na economia. O Banco Central uma agncia das

    autoridades monetrias por meio da qual realizada a poltica monetria. Em outras palavras, o

    Banco Central o instrumento pelo qual o governo realiza sua poltica monetria.

    A estrutura administrativa e jurdica dos diversos Bancos Centrais varia largamente entre

    pases. No Reino Unido, o Banco Central o Banco da Inglaterra. Nos Estados Unidos, encontramos

    o Sistema Federal de Reserva. No Brasil, as funes do Banco Central so desempenhadas pelo

    Banco Central do Brasil e pelo Banco do Brasil. Entretanto, em que pese as diferenas institucionais,

    as funes dos diversos bancos centrais so as mesmas. Neste sentido, vamos nos concentrar no

    estudo das funes gerais de um banco central.

    4.1. Banco dos Bancos

    Os bancos comerciais podem querer depositar seus fundos em algum lugar e necessitam de

    um mecanismo para transferir fundos de um banco para outro. O Banco Central cumpre este papel.

    Recebe depsitos dos bancos comerciais e t