Ed65 Fasc Aterramentos Cap6

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    A ABNT NBR 15749, denominada Medio de

    resistncia de aterramento e de potenciais na superfcie

    do solo em sistemas de aterramento, foi publicada em

    agosto de 2009 e, finalmente, estabelece os critrios

    e mtodos de medio de resistncia de sistemas de

    Captulo VI

    Mtodos normalizados para mediode resistncia de aterramentoJobson Modena e Hlio Sueta *

    Figura 1 Tenses que podem aparecer em uma instalao.

    aterramento e de potenciais na superfcie do solo, bem

    como define as caractersticas gerais dos equipamentos

    que podem ser utilizados nas medies, assuntos

    que se apresentam como polmicos, interessantes

    e incrivelmente desconhecidos pela maioria dos

    profissionais que atua na rea.

    Quando h injeo de corrente eltrica na terra, seja

    pela ocorrncia de uma falta na instalao ou por raios, as

    correntes dispersas pelo sistema de aterramento provocam

    o surgimento de diferenas de tenso entre pontos da

    superfcie do solo (tenses superficiais). Dependendo

    da forma com que essas tenses forem referenciadas,

    aplicam-se os conceitos de tenso de passo e de toque,

    embora, conceitualmente ou no, os riscos oferecidos

    por esse fenmeno sempre sero considerveis.

    H ainda o risco para os circuitos que, de alguma

    forma, estejam ligados ao sistema de aterramento e a

    pontos distantes da superfcie do solo ou a outros sistemas

    de aterramento afastados (por potencial transferido).

    Para determinao dos parmetros com finalidade

    de pesquisa, verificao de nveis de segurana

    em instalaes em funcionamento ou, ainda, no

    comissionamento de instalaes novas, os ensaios

    de campo so uma forma eficiente para obteno

    dos valores da resistncia hmica do eletrodo de

    aterramento e dos valores dos potenciais de passo e

    toque calculados em projeto. Portanto, a resistncia

    do eletrodo de aterramento associada aos potenciais

    na superfcie do solo de uma instalao eltrica so

    grandezas a serem medidas, visando a:

    Legenda:Ie Corrente de ensaio (A)Ve Elevao de potencial da malha de aterramento (V)Et Tenso de toque (V)Ep Tenses de passo (V)h Profundidade da malha de aterramento (m)

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    verificar a eficincia do eletrodo em dispersar corrente eltrica

    no solo em que est inserido;

    detectar tenses superficiais que ofeream risco aos seres vivos

    e equipamentos;

    determinar a elevao de potencial do sistema de aterramento

    em relao ao terra de referncia.

    Alm dos mtodos da queda de potencial e da queda de

    potencial com injeo de alta corrente, a ABNT NBR 15749

    normaliza o mtodo sncrono frequncia industrial; o mtodo

    do batimento; o mtodo de injeo de corrente com ampermetro,

    voltmetro e wattmetro adicional; e mtodos alternativos de

    medio com as instalaes energizadas. Trata ainda dos seguintes

    assuntos decorrentes: compensao capacitiva, especificao de

    equipamentos para execuo dos ensaios e informaes sobre o

    terrmetro alicate.

    De forma geral, no importando o mtodo escolhido o que

    depender da situao de ensaio encontrada certas regras tcnicas

    e de segurana so recomendadas:

    utilizar calados e luvas com nvel de isolamento compatvel com os

    importante ressaltar que o valor da resistncia hmica

    do eletrodo no determina a sua integridade fsica, uma

    vez que os resultados obtidos dependem, alm do eletrodo,

    das condies do solo em que este foi inserido.

    valores mximos de tenso que possam ocorrer no sistema sob medio;

    evitar a realizao de medies sob condies atmosfricas

    adversas, tendo em vista a possibilidade de ocorrncia de descargas

    atmosfricas;

    impedir que pessoas estranhas ao servio e animais se aproximem

    dos eletrodos utilizados na medio;

    utilizar aparelhos compatveis aos especificados no Anexo C da

    ABNT NBR 15749 a fim de garantir a segurana dos operadores e

    fidelidade dos resultados. A utilizao de equipamentos de medio

    em desacordo com os requisitos do Anexo C torna necessria a

    adoo de medidas de segurana adicionais, tais como aquelas

    utilizadas para trabalhos em reas energizadas.

    Medio de resistncia de aterramento utilizando o mtodo da queda de potencial

    Este mtodo recomendado para medies por meio de

    equipamentos especficos, por exemplo, o terrmetro. O

    mtodo consiste basicamente em fazer circular uma corrente

    por meio de um circuito compreendido pela malha de

    aterramento que queremos saber o valor da resistncia hmica

    de aterramento, um trecho da terra e um eletrodo auxiliar de

    corrente. Simultaneamente deve-se medir a tenso entre a

    malha e o terra de referncia (terra remoto) por meio de uma

    sonda ou eletrodo auxiliar de potencial. A Figura 2 mostra, de

    forma esquemtica, como feita a medio.

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    Figura 2 Mtodo da queda de potencial.

    Figura 3 Curva caracterstica terica da resistncia de aterramento de um eletrodo pontual.

    Figura 4 Curvas tpicas de resistncia de aterramento em funo das posies relativas dos eletrodos auxiliares de potencial e de corrente.

    Legenda: I Corrente de ensaioS Borne para a sonda ou eletrodo auxiliar de potencialH Borne para o eletrodo auxiliar de correnteE Borne para a malha de aterramento sob medio

    Legenda:X rea de influncia do sistema de aterramento sob medio EY Zona de patamar de potencialZ rea de influncia do eletrodo auxiliar de corrente H Rv Resistncia de aterramento do sistema sob medio (valor verdadeiro da resistncia de aterramento do sistemaa,b,c Curvas de resistncia de aterramento em funo do espaamento e posio relativa dos eletrodos auxiliares de potencial e de corrente

    Legenda:R: Resistncia obtida variando a distncia da sonda desde a distncia d = D at d = 0 (o eletrodo a medir)RV: Valor verdadeiro do aterramento

    Os eletrodos auxiliares de corrente e de tenso so constitudos

    cada um deles por uma ou mais hastes metlicas interligadas

    e cravadas no solo, de forma a garantir a menor resistncia de

    aterramento do conjunto.

    A sonda, ou eletrodo auxiliar de tenso (tambm chamado de

    eletrodo de potencial), deve ser deslocada (geralmente em uma reta

    entre a malha de aterramento e o eletrodo de corrente) a partir

    da periferia do sistema de aterramento sob ensaio em intervalos

    regulares de medio iguais a 5% da distncia d mostrada na

    Figura 1. Dessa forma, possvel obter uma curva (Resistncia X

    distncia), conforme mostrado na Figura 3.

    Esta curva caracterstica terica (Figura 3) apresenta duas

    partes curvas que so zonas de influncia mtua entre a malha,

    o eletrodo auxiliar de corrente e a terra, e uma zona chamada

    de patamar de potencial, onde se pode encontrar o valor

    verdadeiro de aterramento.

    A Figura 4 mostra curvas tpicas de resistncia de

    aterramento em funo das posies relativas dos eletrodos

    auxiliares de potencial e de corrente.

    Esta curva caracterstica terica (Figura 3) apresenta duas

    partes curvas que so zonas de influncia mtua entre a malha,

    o eletrodo auxiliar de corrente e a terra, e uma zona chamada de

    patamar de potencial, onde se pode encontrar o valor verdadeiro

    de aterramento.

    A Figura 4 mostra curvas tpicas de resistncia de aterramento

    em funo das posies relativas dos eletrodos auxiliares de

    potencial e de corrente.

    As curvas a e b, apresentadas na Figura 4, mostram a

    configurao do resultado quando o deslocamento do eletrodo de

    potencial foi coincidente com a direo e o sentido do eletrodo de

    corrente. Na curva c, o sentido do eletrodo de potencial foi contrrio

    ao do eletrodo de corrente. Desta anlise tambm podemos verificar

    que nas curvas a e c temos o patamar que corresponde ao valor da

    resistncia de aterramento da malha sob ensaio. No caso da curva b,

    o eletrodo de corrente est em uma distncia insuficiente, sendo que as

    zonas de influncia do sistema de aterramento e do eletrodo de corrente

    podem estar se sobrepondo, no sendo possvel obter um valor confivel

    da resistncia de aterramento. Neste caso, para viabilizar o ensaio,

    necessrio um afastamento do eletrodo de corrente ainda maior que o

    utilizado para a medio. Esse expediente pode ser utilizado tambm

    para obteno das curvas a e c dependendo das condies do local.

    Tomemos como referncia a Figura 2. Em geral, a distncia d da

    periferia da malha de aterramento sob ensaio at o eletrodo de corrente

    deve ser de, no mnimo, trs vezes a maior dimenso da malha. Para

    verificar o trecho horizontal da curva (patamar em que deve ser

    tomado o valor da resistncia de aterramento), devem ser tomadas

    algumas medies variando a posio do eletrodo de potencial em

    5% de d para a direita (S1) e para esquerda (S2) do ponto de medio

    inicial S. Se este ponto no estiver na rea de sobreposio das reas

    de influncia e a porcentagem entre a diferena dos valores medidos

    com o eletrodo de potencial em S1 e S2 e o valor medido em S no

    ultrapassar 10%, podemos tomar o valor de resistncia medido em S

    como a resistncia de aterramento da malha.

    Uma medida importante para evitar erros na medio verificar

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    os as influncias externas no local de instalao do eletrodo de corrente. muito importante que entre este eletrodo e o sistema de aterramento sob ensaio no existam condutores metlicos enterrados, tubulaes

    metlicas, contrapesos de linhas de transmisso ou armaes de

    fundaes de edificaes. Assim, torna-se muito difcil, na maioria das

    vezes, impossvel a medio por meio deste mtodo em locais em que

    haja reas urbanas densamente ocupadas ou indstrias com eletrodos

    de aterramento interligados, etc.

    Em relao ao sentido de movimentao do eletrodo de potencial,

    existem vantagens e desvantagens nas duas formas de medio. Na

    teoria, o deslocamento do eletrodo de potencial no mesmo sentido

    do eletrodo de corrente apresenta, para um determinado ponto S, o

    valor verdadeiro da resistncia do sistema de aterramento sob ensaio.

    Assim, como referncia, temos que, para solos homogneos, sistemas

    de aterramentos considerados pequenos (maior dimenso inferior a 10

    metros) com distncia de afastamento d adequada entre o sistema

    (ponto E) e o eletrodo de corrente (ponto H), o ponto S dista de E

    aproximadamente 62% da distncia d.

    Em solos no homogneos ou em sistemas de aterramento

    complexos, a determinao adequada de S mais difcil. A norma

    ABNT NBR 15749 apresenta um exemplo (Figura 5) para sistemas de

    aterramento pequenos (para fins tericos, um eletrodo hemisfrico) por

    meio de um grfico relacionando p/d (em valores percentuais) com h/d

    (sendo h a profundidade da primeira camada do solo no homogneo)

    para diversos valores do coeficiente de reflexo K, dado por:

    A movimentao do eletrodo de potencial S em sentido contrrio

    ao eletrodo de corrente H apresenta, teoricamente, valor de

    resistncia inferior ao verdadeiro, denominado como limite inferior

    da resistncia real. Apesar disso, este valor pode ser perfeitamente

    aceitvel, desde que H esteja adequadamente afastado de E, uma

    vez que o valor da resistncia dentro dos procedimentos globais de

    anlise dos sistemas pode ser considerado com alguma aproximao.

    A grande vantagem deste procedimento a minimizao dos efeitos

    Figura 5 Posio do eletrodo auxiliar de potencial para um solo de duas camadas.

    de acoplamento entre os circuitos de corrente e potencial, sendo

    esta, em muitas situaes, a nica alternativa prtica vivel pelo

    mtodo de queda de potencial. Para os sistemas maiores (dimenses

    superiores a 10 metros), no se recomenda este procedimento

    e, assim, as medies devem ser executadas com os eletrodos de

    corrente e de potencial alinhados e na mesma direo e sentido.

    Para sistemas de aterramento com valores de resistncia muito

    baixos, o efeito do acoplamento entre os cabos de interligao

    dos circuitos de corrente e potencial um fator importante nas

    medies, principalmente nos sistemas de grande porte, pois estes

    necessitam de cabos com grandes comprimentos.

    Em muitas medies necessrio o aumento da corrente de ensaio. A

    forma mais simples quando se usa equipamento que no permite variao de

    corrente reduzir a resistncia de aterramento do eletrodo de corrente, o que

    pode ser feito diminuindo a resistncia de contato entre o eletrodo auxiliar e o

    solo, aumentando-se o nmero de hastes em paralelo, utilizando-se hastes de

    maior comprimento ou diminuindo-se a resistividade do ponto de instalao

    do eletrodo auxiliar de corrente. O valor mximo admissvel da resistncia

    de aterramento de cada eletrodo auxiliar geralmente especificado pelos

    fabricantes dos instrumentos de medio.

    Outro problema que pode interferir seriamente nas medies com

    instrumentos de corrente contnua so os potenciais galvnicos, polarizao

    e correntes contnuas parasitas. De forma geral, os instrumentos utilizam

    corrente alternada. Mesmo estes podem ser afetados por correntes parasitas

    que circulam no solo, no sistema de aterramento ou nos circuitos sob

    ensaio. Como uma forma de minimizar este problema, pode-se utilizar

    uma frequncia de ensaio diferente das frequncias das correntes parasitas.

    Alguns instrumentos permitem variar a frequncia da tenso aplicada sendo

    mais adequada, para estes casos, a utilizao de filtros. Instrumentos de

    banda estreita so alternativas viveis.

    Como vimos, o mtodo apresentado bastante limitado e no

    deve ser utilizado indiscriminadamente. importante lembrar que em

    qualquer tipo de ensaio um dos fatores que mais contribuem para o

    seu sucesso a experincia e o bom senso de quem o realiza. Outros

    mtodos para medies de resistncia de hmica em eletrodos de

    aterramento sero apresentados em captulos futuros.

    Jobson Modena engenheiro eletricista, membro do Comit brasileiro

    de eletricidade (Cobei), Cb-3 da abnT, em que participa atualmente como

    coordenador da comisso revisora da norma de proteo contra descargas

    atmosfricas (abnT nbR 5419). diretor da Guismo engenharia.

    Hlio sueTa engenheiro eletricista, mestre e doutor em engenharia eltrica,

    diretor da diviso de potncia do iee-usP e secretrio da comisso de estudos que

    revisa a abnT nbR 5419:2005.

    Continua na prxima edioConfira todos os artigos deste fascculo em www.osetoreletrico.com.br

    Dvidas, sugestes e comentrios podem ser encaminhados para o e-mail [email protected]

    Regra prtica:

    - os problemas de acoplamento so desprezveis nas

    medies de resistncias de aterramento acima de 10 ;

    - so importantes para as medies abaixo de 1 ; e

    - so passveis de anlise, caso a caso, nas medies

    envolvendo valores entre 1 e 10 .