Edição 01

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www.jornalcomunicacao.ufpr.br jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr - edição 01 | março de 2011 SOCIEDADE PÁG. 6 Conflito entre estudantes da UFPR e a Guarda Municipal no Parque São Lourenço ESPORTES PÁG. 10 Torneio da Suburbana revela paixão que move o futebol amador Professores e alunos em descompasso Co::: unicação Falta de diálogo prejudica rotina universitária CULTURA PÁG. 12 O cenário que não se exibe no Festival de Teatro de Curitiba

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Professores e alunos em descompasso Polícia repressora é herança dos governos autoritários Conselhos Comunitários de Segurança unem comunidades locais Comércio nos terminais conquista consumidores fiéis Rock colorido é hostilizado por fãs de outros gêneros Estudantes e guardas municipais entram em conflito no Parque São Lourenço Vida nos terminais Prédio do DANC deve receber reforma estrutural Peneira da Suburbana é primeiro passo para a vitrine Para atletas, medo de dentista é coisa do passado Por trás dos panos do Festival de Curitiba

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jornal laboratório do curso de jornalismo da ufpr - edição 01 | março de 2011

Sociedade

pág. 6

Conflito entre estudantes da UFPR e a Guarda Municipal no Parque São Lourenço

eSporteS

pág. 10

Torneio da Suburbana revela paixão que move o futebol amador

Professores e alunos em descompasso

Co:::unicação

Falta de diálogo prejudica rotina universitária

cultura

pág. 12

O cenário que não se exibe no Festival de Teatro de Curitiba

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Com a mudança de gestão no governo do estado do Paraná após as eleições do ano passa-do, 2011 traz novas promessas para diversas áreas, incluindo a segurança. De acordo com a Se-cretaria de Estado da Segurança Pública (SESP), está sendo reali-zada uma atualização dos cadas-tros dos Conselhos Comunitá-rios de Segurança (Consegs), a fim de identificar os mais ativos.

O presidente do Conseg Ju-vevê, César Luiz Pereira, expli-ca que todos os membros são voluntários e que a receita do Conselho vem de colaborações de comerciantes do bairro. Além disso, os trabalhos são divididos entre os próprios integrantes da gestão. “O sucesso das ações do Conseg se dá em grande parte por esse não envolvimento po-lítico-partidário”, afirma Pereira.

Como exemplo, ele cita que, antes da criação do Conseg, a média de ocorrências cataloga-das no bairro por mês era de 180, número que caiu para aproxima-damente 60 após sua implanta-ção. Fazendo jus ao “comunitá-rio” do nome, a filial do Juvevê conta com uma média de 15 a 20 moradores presentes nas reu-niões, que ocorrem mensalmen-te. Segundo o vice-presidente, Norberto Voss, a proposta é ser uma interface entre a sociedade e os diversos organismos esta-tais. “Quanto maior a participa-ção da comunidade, melhores as soluções”, defende. E elas não se resumem a pedir por mais viatu-ras policiais nas ruas.

Não se trata apenas de segurança

Para o coordenador do Cen-tro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos

Enquanto Consegs mobilizam cidadãos

a construir a segu-rança da cidade,

políticas públicas correm atrás do tempo perdidoGuilherme Magalhães

editorial

(CESPDH) da UFPR, professor Pedro Bodê de Moraes, os Con-segs apresentam duas funções: a propositiva e a fiscalizadora. De acordo com ele, as reclamações anteriores acabavam por exigir apenas mais polícia nas ruas. “Um ‘mais do mesmo’, quando tem que se pensar novas estra-tégias para a produção de segu-rança”, aponta o professor. Es-tratégias como a realizada pelo Conseg Juvevê no caso da Praça Vivian Braga, objeto de frequen-tes acidentes de trânsito. Ações junto ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curiti-ba (IPPUC) e a Urbanização de Curitiba (URBS) levaram a uma reformulação da praça, com a instalação de semáforos e a con-sequente redução do número de acidentes.

A experiência educativa no Juvevê também deu certo. “Há dois anos, foi feita uma palestra para porteiros e zeladores com a intenção de habilitá-los me-lhor em termos de segurança”, comenta Pereira. Em 2011, uma nova palestra já está agendada, devido ao sucesso da primei-ra. Para o tesoureiro do mesmo Conseg, Dante Takashina, o trabalho voluntário não tem se-

gredos. “O Conselho tem de ter a cara do bairro. [Realizar] ações simples e prazerosas que con-quistem a comunidade”, afirma. Como exemplo, cita o dia em que, na saída das aulas, crianças do Colégio Stella Maris aborda-ram os motoristas com panfle-tos a respeito da segurança no trânsito: “O resultado foi muito positivo”.

Potencial dos Consegs

Michele Lourenço, da Coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança da SESP, declara que está havendo uma rees-truturação na Coordenadoria. “Vamos incluir um capitão da Polícia Militar e um inves-tigador da Polícia Civil em nosso quadro, além da criar perfis no Facebook e Twitter, que democratizam bastante o acesso à informação e podem nos ajudar nesse processo de atualização”, diz Michele.

O professor Pedro Bodê enxerga forte potencial nos Consegs. Segundo ele, cria-ram uma espécie de maior proximidade entre as comuni-dades e os órgãos do Estado, tornando-se assim instrumen-tos fundamentais na democra-cia participativa. Porém, ainda não foi atingida a mudança que Bodê vê como necessária para uma segurança pública de qualidade. “O paradigma das atuais polícias já não se mostra eficiente, pois o siste-ma de segurança pública bra-sileiro sofreu apenas mudan-ças cosméticas nos últimos 20

anos. As ações dos Consegs são a chave para a moderniza-ção desse sistema que, hoje, é arcaico”, aponta o professor.

Outros bairros

O Conseg do Batel traba-lha numa direção semelhante à do Juvevê. Com um ar um pouco mais empresarial, o ob-jetivo é o mesmo: a segurança do bairro. No Batel, porém, o foco é a educação. São várias as ações que objetivam tirar as crianças das ruas e do tráfico de drogas, como o Projeto Si-nal Verde para a Educação. Em parceria com alunos do curso de Pedagogia da UFPR, são ofertados cursos de informá-tica e aulas das mais variadas disciplinas no contraturno es-colar.

O presidente do Conseg Batel, Acef Said, destaca tam-bém ações afirmativas para capacitação de deficientes fí-sicos visando ao mercado de trabalho, e o Projeto de Res-socialização de Apenados, que busca reintegrar à sociedade ex-detentos por meio de au-las conceituais. Ele cita como exemplos temas tais quais a sustentabilidade, gestão am-biental, créditos de carbono, aquecimento global e demais temas ligados ao meio am-biente. Novamente, uma auto-nomia com relação ao Estado se faz importante. “Nossa for-ma de atuação autônoma é o motivo do sucesso de nossas ações. Tanto que, em breve, estaremos instalando câmeras de segurança por todo o bair-

ro, graças a uma parceria com a iniciativa privada”, afirma Said. Para o professor Bodê, este é um dos caminhos. “Quanto menos os conselhos são autônomos, mais eles se tornam aparelhos estatais e não conseguem nada, pois fi-cam presos na burocracia”.

Outro Conseg bem atuan-te em Curitiba é o do Bairro Alto. Para o presidente Marcos Murilo Holzman, uma calçada em bom estado, sinalização de trânsito, ações educativas que visem tirar as crianças da marginalidade também são questões de segurança públi-ca. Nesse sentido, o conselho do Bairro Alto desenvolveu o Programa Educacional In-tegrado de Introdução a Se-gurança (PROEIIS), no qual as crianças de uma escola do projeto Comunidade Escola, da Prefeitura de Curitiba, con-versaram durante uma semana sobre a segurança do bairro, as ações contra as drogas, dentre outros assuntos.

“O estabelecimento de uma pequena Feira de Arte-sanato no bairro também con-tribuiu para retirar as pessoas do âmbito da marginalidade, dando a elas uma forma de sustento”, declara Holzman. Mais recentemente, ele foi o relator da Lei dos Consegs, projeto de lei que pretende re-gulamentar as ações dos diver-sos Conselhos. Atualmente, esse projeto se encontra esta-cionado na Assembleia Legis-lativa do Estado do Paraná (Alep), devido a divergências políticas:::

Conselhos Comunitários de Segurança

O primeiro deles data de 1982 e foi criado na cidade de Londri-na. Somente 21 anos depois, em setembro de 2003, os diversos Conselhos foram regulamentados por decreto do então gover-nador Roberto Requião, e hoje são registrados como OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público. Só em Curitiba existem 52 dessas organizações.

Aprendendo a ser gente grande

Março foi um mês explosivo. Seja em uma perspectiva mundial, em que catástrofes afetaram estruturas físicas e po-líticas, seja entre nós, que fazemos o Comunicação, que senti-mos o impacto dos conflitos internos do nosso curso refletido na produção do jornal. Essa edição é o primeiro impresso da nova equipe e, com certa ousadia, aproveitamos a impressão garantida depois de um ano e meio de instabilidade (culpa da burocracia da UFPR) para arriscar uma publicação mensal de 12 páginas, quatro a mais que o formato dos anos anteriores. Mas além do trabalho extra e da preocupação em produzir um jornal com conteúdo em todas as páginas, a greve de estudantes de Comunicação Social bagunçou nossa rotina e nos apresen-tou a novas faces do jornalismo, carregadas de dilemas éticos, corridas pelo furo e lições de como encarar as consequências.

Nossa reportagem de capa foi produzida cuidadosamente, para não criar mais polêmica e desgastar a relação já hostil que, de alguma forma, se instalou entre professores e alunos do De-partamento de Comunicação Social e que se repete em vários cursos, daqui a Palotina. Antes irritados, pautamos a reporta-gem com certa sede vingativa após um lamentável episódio de hostilização de um professor contra um aluno da nossa equipe – consequência da postura, no jornal, de apoio à greve. Mas no decorrer da produção, com clareza e coerência, reformulamos o enfoque e apresentamos uma nova proposta, mais saudável e amadurecida que a anterior: professores e alunos devem dialo-gar e se unir por interesses comuns.

A partir do intenso aprendizado desse primeiro mês de produção, descobrimos a importância de uma relação cordial entre docentes e discentes. A luta é de todos, a Universidade é de todos e é de interesse coletivo que o ensino seja de quali-dade, que os equipamentos funcionem, que um prédio receba manutenção adequada para que não desabe repentinamente sobre professores e alunos em sala de aula. A greve foi nossa enquanto estudantes de Comunicação, mas também pertence a qualquer membro da UFPR que busque uma Universidade pública de qualidade e socialmente referenciada.

Junte-se a nós nessa proposta, e esperamos que cada uma das doze páginas dessa edição seja uma experiência de leitura tão agradável quanto foi agradável para nós produzi-las.

Polícia repressora é herança dos governos autoritários

Sociólogo comenta a postura da polícia

brasileira, e destaca a tolerância como pala-vra-chave para resol-

ver conflitos

Carolina Goetten

O Comunicação é um jornal laboratório produzido por alunos do curso de Jorna-lismo da Universidade Federal do Paraná, nas disciplinas Laboratório de Jornalismo Impresso e Produção e Edição II.

Professor orientador: toni andre scharlau Vieira. (jornalista resPonsáVel – rP/Mt 6680 - rs) editora-chefe: carolina Goetten

secretaria de redação (iMPresso): helen anacleto, PhilliPe trindade e rafael neVes

secretaria de redação (on-line): ana claudia cichon, dalane santos e ViVian faria

chefe de rePortaGeM: Professora rosânGela strinGari

editores: coMPortaMento: olíVia Baldissera e alan Pazian. cultura: luiza Barreto e Maria eduarda siMonard. esPortes: Bruno BaGGio e nílton Kleina. Política: Bruno zerMiani e GuilherMe soBota. sociedade: jéssica Maes e Maria eduarda lass. ufPr: allexandra Monteiro, cássia MarocKi e juliana BluMe. tuBo de ensaio: jéssica Maes e luiza Barreto. fotoGrafia: déBora MülBeier, Mariana cruz, Marina feldMan

caPa: Mariana cruz

Projeto Gráfico: juliana KarPinsKi

diaGraMação: luan Galani

diretor de arte: Piercarlo Melatti

relações PúBlicas e diVulGação: luísa Bonin, luciana fonseca e fernanda Passoni

endereço: Rua Bom Jesus, 650 – Juvevê – Curitiba-PRtelefone: (41) 3313-2017

e-Mail: [email protected] site: www.jornalcomunicacao.ufpr.br

tiraGeM: 3 mil exemplares iMPressão: Imprensa Universitária da UFPR

expediente

2::: março de 2011

opinião 3:::março de 2011

política

Conselhos Comunitários de Segurança unem comunidades locais

Reunião no Conseg do Centro, um dos 52 Conselhos Comunitários de Segurança de Curitiba: participação ativa da comunidade

Am

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cipal, a cultura do diálogo e busca da conciliação sem necessariamente usar a força de forma abusiva.

Comunicação: Uma polícia bem pre-parada é garantia de segurança? Ramos: Sim. No Brasil prepara-se o policial para preservar a ordem social e enfrentar bandidos, mas não se prepara para dialogar e resolver conflitos de na-tureza social ou até mesmo individual. Resguardar a ordem pública! Que or-dem? Estudantes não fazem parte da or-dem pública. O que se entende por de-sordem? Manifestação popular ou até mesmo comemoração são vistas como perturbadoras da ordem pública. Eu diria que o conflito e as manifestações de estudantes, jovens, trabalhadores e

GM

C

Da Guarda Municipal à Polícia Federal: conheça o papel das diferentes polícias

A Constituição Brasileira no seu art. 144 diz que “a segurança é um dever do Estado, direito do cidadão e responsabilidade de todos”. A quem compe-te colocar em prática esse dever do Estado e direito do cidadão? O professor Naldson Ramos explica que, no âmbito da legislação federal, o dever compete às polícias federal, rodoviária federal, ferroviária federal; nos estados, compete à Polícia Militar fazer o policiamento preventivo, ostensivo e repressivo. “Já a Polícia Judiciária tem papel investigar, caracterizar o que é crime crime e o que não é, colher provas e montar processo criminal para oferecer ao Ministério Público”, explica Ramos. Para complementar as atividades da Polícia Militar, os municípios podem organizar as Guardas Municipais, fazendo a segurança do patrimônio público municipal e também zelando pela segurança dos ci-dadãos.

polícias e denunciado toda e qualquer forma de abuso policial. As Acade-mias de formação têm que incorporar durante todo o tempo da formação o modelo do Estado democrático e de uma concepção de polícia cidadã, que respeite e promova os direitos humanos numa sociedade marcada por desigualdades sociais e culturais. Lidar com conflito significa ter tole-rância e saber usar adequadamente, de acordo a ocorrência encontrada, o uso progressivo da força tendo como instrumento primeiro e último a busca do consenso e preservação da integri-dade física do infrator ou suspeito. A tolerância é palavra chave, porque a in-tolerância é palavra geradora de tantas violências, incluindo a policial. Toda

Em 19 de março, estudantes foram surpreendidos, num churrasco, por via-turas da Guarda Municipal (leia mais na página 6), o que acabou em conflito e agressão mútua. O episódio sugere um debate controverso sobre o uso da força pela polícia e alternativas para garantir a segurança.

O doutor em Sociologia Política Naldson Ramos da Costa ressalta, em entrevista ao Comunicação, a importân-cia de uma polícia cidadã. “Falta às nos-sas polícias a cultura do diálogo e busca da conciliação”, diz o professor. Naldson Ramos é coordenador do Núcleo de Estudos da Violência e da Cidadania (NIEVCi) e professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Fe-deral do Mato Grosso (UFMT).

Jornal Comunicação: Em que casos se justifica o uso da força pela polícia?Naldson Ramos: Todas as polícias, in-cluindo as guardas municipais, devem fazer o uso progressivo da força, que consiste na seleção adequada a cada abordagem que se fizer. Qualquer uso desmedido, ou a seleção inadequada da força, ao invés de resolver o problema pode tumultuar ainda mais a situação. Boa parte dos problemas relacionados com o abuso da autoridade policial, também conhecida como brutalidade e violência policial, dizem respeito à ausência de reflexão sobre o emprego e sobre como empregar a força. A polí-cia e suas atividades de controle social pressupõem o uso comedido da força durante todas as atividades de aborda-gem policial, que devem se pautar sem-pre pela legalidade e legitimidade do uso da força.

Comunicação: Em Curitiba, tivemos um caso grave de violência policial contra um grupo de estudantes no úl-timo mês, mas a polícia alega que a agressão partiu dos estudantes. Nesse caso, a polícia tinha razão em fazer uso da força?Ramos: Qualquer tipo de violência deve ser condenada, principalmente partindo de quem deveria dar proteção ao cidadão. Pessoas que se encontram desarmadas, não representam uma ameaça ou um perigo para a população e para o policial, não devem ser tratadas de forma agressiva e abusiva, como é o caso da “comemoração” em praça pú-blica realizada pelos estudantes (confira a matéria na página 6). Falta às nossas polícias, incluindo a Guardas Muni-

até pessoas que não oferecem qualquer risco para a sociedade ou para a polícia são vistos como inimigos da sociedade e, portanto, da ordem e da “paz social”. Somente numa visão positivista, mar-cada pelo olhar quase cego do direito criminal repressivo, é que se enxerga o conflito como algo extremamente per-turbador. Não há sociedade sem confli-to. A polícia deveria entender que ele faz parte das relações humanas, e que não se pode resolver um conflito criando outro ainda maior, como é o caso da violência e a brutalidade policial.

Comunicação: Como garantir uma polícia bem preparada a serviço dos ci-dadãos, que lide com a criminalidade sem ser repressora ou agressiva? Ramos: Preparando melhor nossas

ação policial abusiva deve ser denun-ciada, investigada de forma transpa-rente e punida, para que não impere a impunidade.

Comunicação: Como o senhor anali-sa a polícia brasileira? Ramos: A postura da nossa polícia brasileira tem a ver com nosso passado do Brasil: nas relações entre o Estado (e seus agentes) e a sociedade, somos marcados pelo autoritarismo e pe-los governos ditatoriais. Ainda hoje, mesmo depois da conquista da demo-cracia em 1988, nossas policias atuam no controle da criminalidade vendo o crime e os movimentos sociais como inimigos do Estado e, portanto, da polí-cia. Polícia é para defender sempre a ci-dadania, e não apenas a lei e a ordem:::

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Postura da polícia brasileira tem origem na herança autoritária dos tempos da ditadura

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março de 2011 5:::março de 2011

comportamento

Rock colorido é hostilizado por fãs de outros gêneros

Quem ouve o firme discurso da estudante Camila Ferronato até duvida da pouca idade da fã declarada da banda Restart. No alto dos seus 14 anos, ela acred-ita que os carinhosamente apel-idados como “Garotos da Ban-da” fazem música de qualidade e com mensagens positivas. “Já vi muitas pessoas se tornarem melhores depois de ouvir algu-mas mensagens que os garotos pregam”, defende. A estudante conta que fãs do grupo paulista até deixaram as drogas graças à música que muitos desprezam.

Dentre os que gostam do lado mais pesado do rock está o estudante da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, Wil-lian Guimarães, 18. Ele tem um grande portfólio de ban-das de rock na sua playlist, que começa com The Beatles, passa por Scorpions e AC/DC e vai até Os Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho – o estilo dark por vezes chama atenção. Wil-lian inclusive aceita a classifica-ção da música “colorida” como rock, mas à base de duras críti-cas. “A parte visual se torna cada vez mais importante do que a própria música, ou seja, rock vazio, mas rock”, comenta.

Mesmo tendo preferências e comportamento totalmente diferentes dos de Camila, o estudante de música tem uma posição bastante clara quanto ao preconceito que ela e a galera dos coloridos sofrem. “Com-preendo a vontade das pessoas de expressarem sua anti-

Onda dos coloridos faz lembrar a des-

confiança que ron-dava o Punk Rock e seu movimento questionador na

década de 70 Leonardo Müller

patia pelo rock colorido, mas é triste agredir o outro pelo sim-ples fato da diferença de gosto. Esse estranhamento inicial com uma cultura diferente, mesmo que seja simples, como no caso do rock colorido, é uma atitude meio irracional e selvagem”, acredita.

Hostilidade antiga

Não é a primeira vez que uma nova vertente do rock é hostilizada – o que acontece hoje com os coloridos aconte-cia com os punks na década de 1970. O punk-rock também foi alvo de muitas críticas e pre-conceitos desde que surgiu.

O historiador e especialista no movimento Punk, Everton Moraes, conta que existem ba-sicamente quatro gerações des-ta vertente do rock’n roll. A pri-meira e mais extravagante delas queria dar um grande choque na sociedade de sua época. O visual “podre”, como classifica Moraes, pretendia acabar com os padrões estéticos e de com-portamento. Mesmo derruban-do tabus, os primeiros punks não tinham uma preocupação política muito desenvolvida – o que seria, mais tarde, a marca do movimento. Como o trab-alho de “chocar visualmente” já tinha sido feito, a segunda geração inverteu a importância das preocupações dos pioneiros dos punks, tornando-se mais politizada. Eram os anarco-punks, que seguiam um pensa-mento anarquista e tinham o desejo de parecerem mais séri-os e politicamente coerentes.

A década de 1990 foi a do

hardcore, a terceira geração, que criticava as anteriores tentando reconstruir toda a imagem for-mada até então. “O hardcore tenta fazer uma espécie de re-visão do punk, como se tentasse limpar sua postura das esquisi-tices e das loucuras do antigo movimento”, comenta Moraes.

O emocore nasce como uma variação do hardcore mais contida no individuo. Segundo o historiador, esta quarta gera-ção trata da ligação entre o in-divíduo e a política. “A atitude individual passa a ser o foco. Ela deve ser mudada, para que de-pois se mude o mundo”, explica. Moraes ressalta que, quando o emo se tornou popular, o vi-sual depressivo foi preservado, porém as letras das músicas já não expressavam necessaria-mente a tristeza com o mundo; na maioria das vezes, tratam de relacionamentos amorosos.

Mais de 60 anos e com tudo em cima

Não é fácil encaixar no mesmo quebra-cabeça person-alidades tão diferentes, uma que segue o estilo happy rock (rock feliz) e outra que tem o heavy metal (metal pesado) na veia. Como duas pessoas de estilos e comportamentos tão diferentes têm um denominador comum? A resposta está nos mais de 60 anos de história de um dos rit-mos mais revolucionários dos últimos tempos. O rock não apenas inaugurou uma nova linha técnica para a música, mas transformou e ainda transforma a maneira como a sociedade enxerga o jovem, ontem e hoje.

“Eu prefiro o terminal porque tem mais segurança”, diz Maria do Rocio.

Lucro certo

O lucro também é um atra-tivo para os comerciantes. Dona da distribuidora de doces “Casa de Doces” desde 1988, Maria Aparecida prefere trabalhar no terminal a abrir sua loja em algum bairro curi-tibano. Ela já teve uma distri-buidora no bairro Fazendinha e assegura que o lucro que consegue em seu ponto atual é maior do que teria em outra localidade. “Aqui vem gente de todos os cantos. O fluxo de pessoas é maior”, defende. Prova disso é que um de seus filhos conseguiu comprar um sobrado graças ao comércio

Terminais já contam com lojas

de conveniência tão completas quanto

as dos grandes centros comerciais

Carla Cavagnolli

A cabeleireira Maria do Ro-cio atende, todos os dias, uma vasta clientela no seu salão de beleza. Uma atividade comum, não fosse a localização do ponto comercial: o terminal de ônibus do Portão. “Eu tenho clientes desde que abri aqui, há nove anos. Clientes fiéis, como dentistas e advogados”, conta. Maria segue uma tendência que já é recorrente na capi-tal: muitos comerciantes já deixaram os seus bairros em busca de lucro nos terminais de ônibus, onde milhares de pessoas passam apressadas a caminho do trabalho ou de volta pra casa.

Se a ideia de abrir um co-mércio em um local onde to-dos vivem correndo para pegar o ônibus parece loucura, os comerciantes explicam que é justamente a correria do co-tidiano que leva as pessoas a buscar meios mais rápidos para comprar o que precisam. Além, é claro, de os terminais serem pontos estratégicos, uma vez que por ali passa gente vinda de todas as regiões da capital.

que administra no Terminal do Pinheirinho.

As lojas estão localizadas em regiões populares e o valor dos produtos não é muito dife-rente do comércio de bairro, mas isso não diminui o movi-mento. Durante todo o dia a circulação de consumidores nos terminais é intensa, com ápice ao meio-dia e no final da tarde – horários de início e té-rmino do período de aulas es-colares e fim do expediente no trabalho.

De um corte de cabelo até pagar as contas

Andar no Terminal do Pin-heirinho, por exemplo, é como estar dentro de um pequeno Shopping Center. É possível ir à lotérica para pagar algu-

ma conta, passar em uma das lanchonetes se bater aquela fome e, se o salto quebrar, as lojas de calçados resolvem o problema. O imprevisto acaba se tornando um dos fa-tores determinantes para o lucro dessas lojas. “Uma vez, um rapaz veio comprar uma camisa para trabalhar porque tinha sujado a sua na lancho-nete aqui do lado”, lembra a vendedora Rosana Martins, funcionária de uma loja de roupas e acessórios. Indepen-dente dos motivos que levam alguém a usufruir dos serviços pela primeira vez – falta de tempo, imprevisto, correria –, há quem faça questão de aproveitar e já se tornou cli-ente fiel. Maria do Rocio diz que alguns dos seus fregueses chegam a pagar o valor da pas-sagem só para cortar o cabelo com ela.

Dona Areni trabalha de manhã como zeladora em um edifício e à tarde cuida do neto. Para ela sobra, então, o horário do meio-dia para fazer suas compras, momento em que, coincidentemente, a ze-ladora está no terminal. Dona Areni aproveita para comprar no Mercadão o que está fal-tando na geladeira ou passa na loja de doces para levar al-gum mimo pro neto. “Às vez-es, comprar aqui é mais caro, ás vezes é mais barato. Mas esse comércio todo é bom pra

quem não tem tempo de ir ao centro, como eu”, diz Areni.

Ressalvas do público

O comércio do terminal tem vantagens, mas comer-ciantes da área alimentícia e estética ainda sofrem certa dificuldade para aumentar a freguesia. Muitos dos possíveis clientes têm ressalvas quanto à qualidade dos serviços e há o preconceito quanto ás condições de higiene. “Prefiro não aproveitar as lanchonetes dos terminais, porque parece que esses lugares não são tão limpos”, diz a estudante Gabri-ella Mariana. A única vez que Gabriella, que sofre de hipo-glicemia, consumiu alguma coisa dentro do terminal foi para comprar um refrigerante, quando não se sentia bem.

Comprar ou não vai da von-tade do freguês. A inspeção da Vigilância Sanitária nas lojas dos terminais é tão rigorosa quanto no comércio dos bair-ros: todas as normas de higiene devem ser seguidas à risca, como em qualquer outro pon-to comercial. Quem perdeu o ônibus e vai ter que esperar pelo próximo pode aproveitar o tempo livre para cortar o ca-belo, enganar a fome com um crepe ou pipoca e admirar as vitrines. Hoje, em Curitiba, es-perar pelo ônibus não precisa ser perda de tempo:::

Gostou da ideia?

Abrir um comércio no terminal não é tão simples e há um pro-tocolo definido pela URBS (Urbanização de Curitiba S/A). Primeiro é necessário criar um cadastro por meio do órgão e a aguardar até que apareça uma vaga ou ponto livre. Quando surge a oportunidade, é necessário desembolsar um valor de até R$ 100 mil reais, dependendo do tamanho do ponto comercial – esse ponto não é hereditário e tem um custo de aluguel, pago todo mês. O expediente é fixo: não se pode abrir ou fechar a loja de acordo com a própria vontade. “Tenho que trabalhar das 9, às 19h. Se virem que eu fechei fora do horário do expediente, levo multa”, diz a cabeleireira Maria do Rocio.

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Comércio nos terminais conquista consumidores fiéis

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gnolliQuem perdeu o ônibus pode aproveitar o tempo livre para fazer compras e aproveitar o comércio

Confira galeria sobre o cotidiano nos terminais de

ônibus - Pág. 7

Sucesso instantâneo O Bubblegum é um estilo bastante heterogêneo, que

consiste em alguns grupos ou bandas que emplacam algum grande sucesso repentino, normalmente com aquelas músi-cas que grudam na cabeça e insistem em vir à tona a todo momento. Ainda assim preservam alguns traços de rock, mas estritamente voltado para o consumo. Os Jackson 5 são o exemplo mais vivo no imaginário popular, mas isto não os torna necessariamente o maior ícone. Exemplos mais efême-ros são os The Partidge Family e Tommy Roe.

Novas vertentes do rock’n roll sofrem a rejeição das gerações antigas e o preconceito se perpetua através do tempo. O recente rock colorido é o alvo da vez

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Na história do rock fica bem clara a divisão em vários segui-mentos e períodos, mas é difícil afirmar com exatidão quando começa e termina uma dessas fases. Até hoje as características de cada uma delas se somam e perduram nas várias formas de ser e de tocar rock atualmente.

No início tudo era blues: o ritmo nasceu nos Estados Uni-dos pela fusão da cultura negra e europeia naquele país, e com o passar do tempo sofreu algu-mas transformações. Surgiu o “rhythm and blues”, uma versão mais agitada do blues. A partir daí, com as influências da músi-ca branca, o country estadun-idense, nasce a primeira forma do rock’n roll.

Ainda engatinhando, o novo estilo já fazia muito ba-rulho principalmente entre os jovens, que na década de 1950 sofriam influências totalmente antagônicas: as maravilhas consumistas e progressistas do capitalismo, e o forte idealismo romântico do comunismo. Só isso já era o suficiente para tirar a sanidade de muita gente, e aos que ainda dispunham dela so-

brou contestar a sociedade em que viviam: eram os famosos rebeldes sem causa.

Mas não era só de idealismo que se alimentava o rock. Se-gundo a professora de História da UFPR e especialista em História Contemporânea, Kar-ina Kosicki Belotti, o rock sem-pre teve dois lados, o que gritava e o que divertia. “É preciso ter em mente que o ideal de um El-vis Presley era fazer todo mundo se divertir, o que não é diferente do rock atual”, explica. Para ela, é inevitável a coexistência entre essas duas vertentes, até porque sempre estiveram presentes. “O rock teve artistas com mensa-gens e com preocupação social, mas o ‘bubblegum’ também sempre fez parte dele”. Karina conta ainda que a ideia original sempre foi a revolucionária: “O rock surge como sinônimo de rebeldia de uma geração que quer ser diferente dos seus pais e avós”. Mas como não podia deixar de ser, também foi coop-tado pela indústria fonográfica e pela propaganda – ou seja, vi-rou mercadoria. É daí que surge o rock sem o antigo ideal:::

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Estudantes e guardas municipais entram em conflito no Parque São Lourenço

Saldo do atrito:estudantes agre-didos, detenção,

guarda com braço fraturado e muitas

controvérsias

O tradicional churrasco promovido pelos estudantes de História da Universidade Fe-deral do Paraná no Parque São Lourenço, em 19 de março, ter-minou em fratura, hematomas e processo judicial. Por volta das 20h30, os três guardas responsá-veis pelo posto da Guarda Mu-nicipal do parque abordaram o grupo de aproximadamente 30 pessoas que participavam da confraternização e solicitaram que elas se retirassem do local, atitude que gerou revolta por parte de alguns dos estudantes. A Guarda chamou reforços e, em poucos minutos, formou-se um conflito violento entre alu-nos e a polícia, deixando uma

Letícia Paiva

guarda com o braço quebrado, oito estudantes feridos de forma mais grave e um aluno detido e processado por lesão, resistên-cia e desacato à autoridade.

Hellen Cris Leite de Lima, aluna do curso e integrante do Centro Acadêmico de Histó-ria (CAHIS), conta que, já na abordagem, a única mulher dentre os três policiais estava bastante exaltada. De acordo com a estudante, a guarda não quis conversar e estava pedin-do reforços, que chegaram dentro de cinco minutos. Uma nova viatura trouxe três poli-ciais armados e então o confli-to teria iniciado, tornando-se mais grave conforme novas viaturas chegavam e cercavam a churrasqueira.

De acordo com os alunos, a reação dos guardas a qualquer tipo de conversa era violen-ta. Os oficiais teriam feito uso indiscriminado de spray de pimenta, apontado armas de fogo e lançado mão de cassete-tes para impedir qualquer co-

municação via celular ou regis-tro de imagens. Os estudantes alegam, ainda, que os guardas não usavam identificação na farda. “Tinha muita gente cho-rando, muita gente em choque. Fomos pegos de surpresa no churrasco, pois só estávamos cantando e tocando violão, sem incomodar ninguém”, lem-bra Hellen, ressaltando que o parque estava quase vazio e as casas mais próximas ficavam a 200 metros de distância do local.

Um dos estudantes mais fe-ridos pela ação dos guardas foi Fábio Cardoso, de 29 anos (foto). No meio da confusão, o aluno es-tava carregando um isopor para fora da área das churrasqueiras do parque e, ao perguntar a um dos guardas menos nervosos quem estava no comando da operação, recebeu como resposta de outro policial uma borrifada de spray de pimenta no rosto e uma panca-da nas costas. O aluno do quinto período Vágner Santana de Melo acrescenta que alguns policiais pareciam alheios à situação e que agiam de forma desorientada.

Antonio Diogo Greff de Frei-tas, também do quinto período, foi detido e levado para o 8° Dis-trito de Polícia Civil do Paraná, sob alegação de ter quebrado o braço de uma guarda com um chute. Os alunos negam que isso tenha acontecido e afirmam que a agressão pode ter sido inventada, para que Freitas fosse indiciado por lesão corporal. Eles ressaltam também que não foi dada ordem de prisão e que, na denúncia, não constava o motivo para detê-lo.

7:::março de 2011

galeria - comportamento6::: março de 2011

sociedade

Vida nos terminais

Segundo sociólogo, o uso da força pela polícia deve ocorrer em casos de desvantagem numérica, por exemplo, mas respeito aos direitos humanos é primordial

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Versão da Guarda

O diretor da Guarda Muni-cipal, Odgar Nunes Cardoso, declarou que os acontecimen-tos referentes a esse dia ainda estão sendo apurados em sin-dicância, mas que o estudante teria, sim, acertado um chute no braço da policial Analiz Costa (foto) e provocado a fra-tura que causou o afastamento temporário da guarda. Analiz chegou em uma das viaturas que foram chamadas quando o conflito já estava acontecendo, e alega que quem não queria conversa eram os alunos: “Eles não queriam nem saber, esta-vam ‘aloprados’ e havia muita bebida lá. O menino [Freitas] estava revoltado e nos ofen-deu, dizendo que nem policiais nós éramos, e sim ‘guardinhas’. Na delegacia, ele ainda ficou discutindo de forma mal edu-cada com o delegado. Não era uma atitude que esperávamos de estudantes”.

Os guardas responsáveis pelo parque já teriam tentado

orientar os estudantes duas vezes, pois, segundo a Guarda, moradores próximos reclama-ram do barulho e uso de pala-vras de baixo calão. A detenção do aluno teria servido para agravar ainda mais a revolta dos seus colegas.

Nunes afirma que a ausên-cia de identificação no uni-forme está sendo investigada e que, caso a apuração aponte irregularidades, os guardas se-rão punidos. “Nós, da Guarda, temos que ser transparentes, não podemos passar a mão na cabeça quando acontece esse tipo de coisa. A identificação é obrigatória”, diz. Os guardas ouvidos reiteram que a iden-tificação e a apresentação na hora da abordagem são indis-pensáveis e afirmam que, na-quele momento, os uniformes estavam dentro dos padrões.Agressão mútua: guarda municipal sofre fratura do braço, enquanto

estudantes mostram hematomas. Equilíbrio de forças?

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Como proceder em casos de abuso de autoridade?

A advogada Raquel Regina Bento Farah esclarece algu-mas questões:

• De acordo com a Constituição, a polícia somente pode fazer uso da força quando houver tentativa de fuga, desobe-diência ou resistência por parte do detido;

• Havendo abuso de autoridade, a vítima deve represen-tar-se por meio de petição, dirigida à autoridade ou ao órgão do Ministério Público que tiver competência para punir ou iniciar processo contra a autoridade culpada;

• Quando houver lesão corporal, a vítima deve solicitar ao delegado uma guia de lesões corporais. Caso esteja pre-sa, o delegado deve determinar a sua remoção ao complexo médico para que os exames sejam feitos.

Repercussão

O professor Pedro Bodê, do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR, aponta que qualquer tipo de violência gratuita é inaceitável e que a polícia deve sempre colo-car-se da forma mais equilibrada possível. “A polícia deve saber se defender, especialmente quando está em desvantagem numérica, mas os direitos humanos devem ser respeitados acima de tudo”, destaca. Quando a força precisa ser empregada, os guardas devem seguir um protocolo e adotá-la progressivamente: primeiro uma ordem, depois recorrer ao spray de pimenta, para só então usarem um cassetete, ou, em casos extre-mos, armas de fogo.

A ouvidoria da Guarda Mu-nicipal já recebeu e protocolou uma denúncia do advogado que está representando Antonio de Freitas. O profissional está reu-nindo provas e documentos para serem encaminhados para a cor-regedoria, que ouvirá os policiais envolvidos, para, então, encami-

nhar o processo. Costa afirma que nunca houve um problema dessa natureza com estudantes, principalmente da UFPR, e que é de interesse da Guarda não abalar a boa relação com a UFPR.

Além da denúncia, que tam-bém foi entregue na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Ministério Público, na Assembléia Legislativa do Paraná (Alep) e na Prefeitura Municipal de Curi-tiba, os estudantes escreveram uma moção de repúdio à ação da Guarda Municipal. No dia 1° de abril, eles realizaram uma mani-festação com objetivo não só de chamar a atenção para o episódio do churrasco e exigir a anulação do processo sofrido por Freitas, mas também para condenar a criminalização da juventude, das manifestações culturais e dos mo-vimentos sociais, entre outras reivindicações:::

Mariana Cruz

Page 5: Edição 01

8::: março de 2011

ufprPrédio do DANC deve receber reforma estrutural

Espaço que abriga o Centro Acadêmico

de Medicina tem fios expostos e proble-

mas no encanamen-to dos banheiros

Sujeira, móveis usados há muito tempo e infiltrações são problemas comuns nos centros acadêmicos da UFPR. Mas o pré-dio do Diretório Acadêmico Nilo Cairo (DANC), que representa os alunos de Medicina, chegou a condições de uso deploráveis e, depois de uma notificação da Vigilância Sanitária, deve ser in-terditado para uma reforma geral.

Há muito tempo os alunos

Paulo Ferracioli

convivem com irregularidades do edifício Garcez do Nascimen-to, sede do DANC, que só fo-ram tratadas paliativamente pela Universidade. Por todo o prédio, que é antigo – foi construído em 1917 –, são visíveis trechos de fiação exposta e banheiros com problemas no encanamento. A realização de reuniões e festas no local também não oferece condi-ções de segurança, uma vez que o prédio não possui ventilação adequada nem saída de emergên-cia. Pontos de água parada, que podem se transformar em focos de dengue, e elevadores que não recebem manutenção são outros dos muitos problemas. “Já faz muito tempo que esse prédio está em péssimas condições e nunca foi feito algo efetivo pra melhorar essa situação”, diz o membro do DANC, Luis Gastão.

Intimação da Vigilância Sanitária

O laudo feito pela Vigilância Sanitária em setembro de 2010 parece ter despertado a atenção da Universidade. Depois de vis-torias realizadas por representan-tes da Pró-Reitoria de Adminis-tração (PRA) e da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), a Prefeitura da Cidade Universi-tária determinou em outubro do ano passado que, além das medi-das apontadas no laudo, seja rea-lizada uma reforma completa no edifício. Estruturada em quatro fases, as mudanças envolvem a re-cuperação do telhado, a regulari-zação das redes elétrica e hidráu-lica e uma reforma externa, com a instalação de um para-raios.

Para garantir a integridade física dos alunos e possibilitar o andamento mais rápido da re-forma, os órgãos responsáveis in-

centivam a evacuação do prédio. “Não admitimos a possibilidade de aciden-te, seja com alunos ou

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Por dentro do DANC O Diretório Acadêmico Nilo Cairo surgiu em 1917 para

representar os estudantes do curso de Medicina da recém--constituída UFPR. Em meados da década de 50, o prédio Garcez do Nascimento, localizado na Rua Ébano Pereira (região central da cidade) foi doado à universidade para ser utilizado como uma policlínica que oferecesse atendimento à população. Paralelamente a esse serviço, o DANC se alojou em alguns andares do prédio. Quando, anos depois, foi sus-pensa a realização de atividades médicas no local, o diretório passou a ocupar todo o prédio sozinho. O edifício, excluído o sexto andar que guarda pertences da Associação Médica do Paraná e não está liberado para os estudantes, tornou-se palco de festas e encontros do movimento estudantil, área em que o DANC se empenha desde sua criação.

As instalações servem de espaço também para encontros realizados por outros centros acadêmicos, além de ser usado por movimentos sociais que ali promovem suas discussões.

Edifício Garcez do Nascimento, sede do DANC: após inspeção, a Vigilância Sanitária apontou a necessidade de uma reforma completa

com a comunidade externa”, afirma o vice-diretor do Setor de Ciências da Saúde, Nelson Luis Barbosa Rebellato.

O DANC se mantém firme em não abandonar o edifício, mesmo que órgãos universitários recomendem a evacuação. Se-gundo os estudantes, há o risco de que, após a reforma, o prédio seja utilizado para outros fins e o DANC seja movido para outra sede. “Queremos garantir que o edifício continue a serviço dos estudantes”, ressalta Gastão. O professor Nelson Rebellato es-clarece que não é intenção da direção do Setor retirar definiti-vamente os estudantes daquele espaço. “O diretório acadêmico é uma instituição fundamental para o bom funcionamento da fa-culdade e pode, sim, permanecer no prédio”, reforça Rebellato.

Enquanto o edifício Garcez do Nascimento estiver interdi-tado aos alunos, será disponibi-lizada para o DANC uma sala nos fundos do Setor de Ciências da Saúde, que anteriormente era ocupada pelo Centro Acadêmico de Enfermagem. “É um espaço pequeno, especialmente se com-parado ao prédio inteiro do qual os estudantes dispunham, mas é uma condição apenas temporá-ria”, ressalta a Pró-Reitora de As-suntos Estudantis, Rita de Cássia Lopes. Os alunos reclamam, além do espaço restrito, da localização prejudicada da sala. “Como está atrás da biblioteca e do Hospital de Clínicas, não é possível con-versarmos em volume mais alto ou realizarmos atividades como o ensaio da bateria”, aponta Gastão.

Impasse e soluções

Uma Comissão de Estu-dos Alternativos, com repre-sentantes da Direção do Se-tor de Ciências da Saúde, da PRA, da PRAE e dos alunos, foi instituída para encontrar

uma alternativa para a reabi-litação do espaço e sua futura destinação. A possibilidade de transformar o edifício em uma policlínica que ofereça aten-dimento médico à população em geral é defendida por do-centes e discentes, mas nunca foi encontrada uma manei-ra de viabilizar esse projeto. “Tentamos um convênio com a prefeitura de Curitiba para instalar um centro de atendi-mento no local, mas não hou-ve progresso nas conversas”, informa a chefe de secretaria da PRA, Luci Santos. Uma decisão praticamente certa é a de que um andar do prédio, que possui um auditório, terá sua utilização dividida pelo diretório e pelo Setor.

Angariar fundos para a re-alização da reforma é outro ponto crucial a ser discutido pela comissão. Os recursos da UFPR não têm sido suficien-tes para prosseguir a reforma, e uma das soluções apontadas foi conseguir apoio de uma empresa privada que, poste-riormente, como pagamento, possa utilizar alguns andares do edifício. “As fazendas ex-perimentais do Setor de Ci-ências Agrárias seguem um exemplo parecido e funcio-nam perfeitamente”, exempli-fica o professor Rebellato.

Essa proposta é rejeitada pelos membros do DANC, que são contra a aplicação de investimentos privados na universidade pública. “A partir do momento em que o DANC passa a existir no mesmo espa-ço que uma instituição parti-cular, toda nossa discussão so-bre financiamento privado da universidade fica seriamente prejudicada”, afirma Gastão.

“O Movimento Estudantil não pode estar ligado a nenhuma empresa, para garantir a isenção do debate de ideias”, conclui:::

9:::março de 2011

ufpr

Falhas na comunicação entre professores e alunos dificultam a vida acadêmica

Jorge*, aluno do curso de História da Universidade Federal do Paraná (UFPR), solicitou as atas das últimas reuniões do Colegiado do curso para consultar o que havia sido deliberado e quais professores estavam partici-pando dos encontros. Ciente de que tem o direito de livre acesso aos docu-mentos, o aluno relata que a secretaria não lhe negou as atas, mas colocou alguns empecilhos ao acesso a elas. “Disseram que não podiam disponibi-lizar as atas e que eu precisava do aval de outros integrantes da coordenação para acessá-las, mas eu sei que não de-via funcionar assim”, conta.

A advogada e professora do curso de Direito da UFPR, Ângela Cássia Costaldello, afirma que toda reunião deliberativa necessita de uma ata para fins de registro, já que pode ser con-testada a legitimidade de alguma de-cisão. “A produção e a divulgação das atas devem acontecer por questão de segurança jurídica e, por serem docu-mentos públicos, devem estar dis-poníveis a qualquer pessoa que deseje consultá-las”, enfatiza Costaldello.

É nas reuniões do órgão Cole-giado que são debatidos assuntos de interesse comum da Coordenação e dos alunos. Todo encontro tem uma representação estudantil, cujo número de integrantes varia de acordo

Transparência é fundamental para

manter um bom relacionamento entre

docentes e discentes

Vinícius Nogueira

com o curso. Os representantes dos estudantes participam das decisões, têm direito a voto e podem sugerir pautas para serem analisadas. Como são decisões que interferem e influen-ciam diretamente na vida acadêmica, é fundamental que haja transparência no debate, e que as decisões sejam divulgadas aos estudantes – aí entra a importância da publicação das atas de plenárias departamentais, colegiados e assembleias.

A vice-coordenadora do curso de História, Joseli Nunes Mendonça, afirma que a produção das atas das reuniões do Colegiado se dá normal-mente, e que os documentos ficam disponíveis a quem quiser consultá-los. A respeito de como se dá a troca de informações entre a coordenação e os alunos, Joseli ressalta que poderia ha-ver maior participação estudantil. “Por aqui, a disposição de manter uma boa comunicação está mais do lado dos professores que dos estudantes”, diz.

Quando a relação é hostil... A estudante Patricia Herman está

no quinto período de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e diz que tentou acessar as últimas atas das reuniões do Colegiado do curso no início de março. “Solicitei as atas por meio de um formulário formal, com o prazo de 48 horas para obten-ção de resposta, mas não entraram em contato comigo”, ressalta.

A secretaria do curso afirmou que algumas atas não estavam disponíveis porque seriam aprovadas na reunião seguinte. Mas, segundo a estudante, uma das atas que ela solicitou se refere

a uma reunião do início de dezembro do ano passado – o que, na opinião dela, prejudica a credibilidade do conteúdo. “As informações sobre a reunião estão disponíveis agora por insistência nossa, mas, por terem sido feitas muito tempo depois da reunião, não penso que sejam totalmente con-fiáveis”, diz.

Na mesma época foi lançada, no campus de Comunicação, a cam-panha “Floresta de pernas pro ar” (Floresta é como o campus é conhe-cido). A manifestação visava ques-tionar e debater assuntos internos que, na opinião dos alunos, precisavam ser reavaliados: um regimento de estágio que não correspondia à realidade dos alunos, inserção arbitrária de pré-req-uisitos em disciplinas, alterações cur-riculares impostas sem que estivessem formalmente oficializadas, licenças médicas do corpo docente e recur-sos para compra de equipamentos estavam na pauta da campanha, que incluiu uma greve de sete dias. De 17 a 24 de março, os estudantes não foram às aulas e mobilizaram uma série de manifestações no período, para pres-sionar e conseguir que a Universidade notasse os problemas do curso.

Patricia, que é membro do Centro Acadêmico de Comunicação Social (CACOS), procurou as atas para maiores esclarecimentos do debate entre os professores. “A ata é uma das formas de comunicação entre a coor-denação e os alunos. Um novo regi-mento de estágio tinha sido aprovado e eu queria saber de que maneira ele foi debatido”, diz Patrícia. A represen-tação estudantil não compareceu à re-união que aprovou o novo regimento

de estágios, o que fazia da ata o único meio de que ela dispunha para se in-formar sobre a decisão.

O coordenador do curso de Comunicação Social, Jair Antônio de Oliveira, concorda que as atas deveriam estar disponíveis. Oliveira não estava no cargo de coordenador na época, mas, para ele, as informa-ções devem fluir e estar muito claras. “Professores e alunos devem ter um diálogo recorrente de formação e de informação. Pretendemos criar um portal na internet, para que possam ser disponibilizadas com rapidez as atas, as resoluções e os regimentos do curso”, informa.

Com diálogo e bom relacio-namento, todo mundo

sai ganhando

A equipe do Comunicação in-terrogou outras coordenações dos cursos da UFPR a respeito da dis-ponibilidade das atas das reuniões do Colegiado. Os cursos de En-genharia Ambiental, Educação Física, Engenharia de Bioproces-sos e Biotecnologia, Engenharia Cartográfica, Letras, Gestão da In-

formação, Odontologia, Química e Medicina informaram que a as atas estavam disponíveis.

De acordo com a técnica em assuntos acadêmicos, Eloísa Ma-ria Souza, as atas das reuniões do Colegiado de Medicina levam em média dois dias para serem en-viadas aos alunos do curso. “A ata é redigida e repassada a todos os que participaram da reunião. Eles aprovam, apontam possíveis cor-reções a serem feitas e, depois, é disponibilizada virtualmente aos estudantes”, conta. Ela redigiu as atas do curso de Medicina no período de 2004 a 2010.

Segundo Eloísa, cerca de 80% dos alunos participam da avalia-ção semestral do curso, promovi-da pela coordenação. São analisa-das as disciplinas, os professores em estágio probatório e a estrutu-ra de ensino. Por último, é pedido aos alunos que eles deixem uma mensagem para os próximos que entrarão no curso:::

*O estudante preferiu não se identificar. Jorge é um nome fictício.

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’Orn

elasFalta de diálogo entre professores e alunos, no curso de Comunicação Social, foi um dos motivos que levaram à greve de sete dias dos estudantes

Atas são documentos que registram resumidamente as ocorrên-cias, resoluções e decisões de uma reunião ou assembléia deliberati-va. Devem ser produzidas de maneira que não seja possível qualquer modificação posterior. De acordo com o Art.17 do regimento geral da UFPR, cada reunião de órgãos colegiados da Universidade deve ser registrada em ata, que deverá ser aprovada na reunião seguinte. Após a aprovação, deve ficar acessível a qualquer pessoa que deseja consultá-las, segundo a Lei 11.111 do Con-gresso Nacional.

Page 6: Edição 01

10::: março de 2011

esportes

Peneira da Suburbana é primeiro passo para a vitrine

Jovens tentam entrar no futebol

amador, ao mesmo tempo em que os já

amadores tentam uma chance no

profissional

A tarde estava gelada e o vento fazia com que todos tremessem. Mas isso não esfriou os ânimos dos quase 30 meninos que partici-param da peneirada da Sociedade Operária Beneficente Esportiva Iguaçu: garotos de 17, 18 e 19 anos foram para essa seleção em busca da visibilidade que o time da Suburbana de Curitiba, com sete títulos no currículo, pode oferecer. Em jogo, o sonho de se tornarem profissionais no merca-do da bola. “Eu vim tentar uma chance aqui. Todos queremos ser profissionais”, diz Eraldo Júnior, um dos aspirantes à vaga no time de juniores.

“Esses meninos não ganham nada, a única coisa que damos é um lanche depois dos treinos e dos jogos”, conta o técnico Mário Ramos. Mesmo sabendo das con-dições, o jogador Daniel Pech foi tentar sua sorte na peneirada do time amador. “Eu não estou jogan-do por um salário, estou jogando por um futuro melhor, pra melho-rar a vida da minha família”.

Na peneirada, cada jogador tem a chance de jogar e mostrar o que sabe por 35 minutos. Depois dos jogos, o técnico escolhe 15 meninos para jogar contra o time oficial. “A gente erra muito nas escolhas durante a peneira. Faço esse jogo depois pra ver se eu erro menos”, comenta Ramos. São 30 aspirantes e apenas cinco vagas, já

Giovanna Jambersi

que o time está quase completo: 13 garotos foram selecionados no ano passado e três vieram convi-dados de outros times.

A seleção decorreu em clima de nervosismo por parte dos ava-liados e muitas firulas, com claro intuito de impressionar a comis-são técnica. As posições também foram sendo gradativamente dei-xadas de lado pelos jogadores – a partir de certo momento, pegar na bola parecia ser o único objetivo do jogo. Apesar do clima indivi-dualizado da partida, o técnico pediu algumas vezes para que seus próprios jogadores fossem até o campo descobrir o nome dos as-pirantes que tinham agradado.

Depois da primeira exibição de futebol, o técnico escolheu al-guns para jogar com seu elenco definido no ano passado. Mas essa participação no amistoso não garantia que conseguiriam a vaga, nem a exclusão definitiva para quem não foi pré-selecionado. O resultado final só seria enviado mais tarde, por e-mail, e o time ainda dá a chance para um não--selecionado voltar a treinar com o grupo um mês depois, em busca de uma nova oportunidade. Os jovens que não foram escolhidos para jogar ficam cabisbaixos, mas não se deixam abater por muito tempo. Sabiam das chances remo-tas de entrar para o time. ”Vou con-tinuar tentando! Eu sou de 1993, e se tiver mais peneiras eu estarei lá”, garante Pech, que não foi escalado para fazer parte do Iguaçu.

Os antigos

No time de 2010, só três jo-gadores moram em Curitiba, en-quanto os outros dez moram na região metropolitana da capital. “Sou de Mandirituba e demoro uma hora e vinte pra chegar aqui”

diz Jansen de Oliveira, goleiro do Iguaçu, cujo estádio fica em Santa Felicidade. Mesmo com as difi-culdades, é raro que algum deles falte o treino. O principal motivo de estar ali é o amor pelo futebol, mas o sonho de um dia jogar num time grande também é razão para enfrentar a distância e participar dos treinos.

Morador do Campo Largo, o jogador Felipe Soares diz que joga por lazer, mas não deixa de pensar no profissional. “Primei-ro de tudo tem que gostar. Nem sempre existe ajuda de custo, mas tem que se virar, tem que ralar”, acredita o jogador. Já Jansen, mes-mo ganhando o “Bola de Ouro em 2009” (que premiou o melhor jogador daquela temporada da Suburbana), conta que tentou ser profissional, mas não pensa mais nisso. “Agora só jogo por lazer”, diz Jansen, que não tem nenhuma ex-pectativa grande em conseguir se firmar num time de ponta. Joel de Oliveira, pai do garoto, relata que Jansen foi chamado para o Paraná Clube, mas recusou o convite por-que ficaria no banco de reservas do profissional. Se aceitasse, não jogaria nem no time grande e nem no amador.

O convite ressalta a tese do técnico de que a Suburbana tem, de fato, bastante crédito no fute-bol. Ramos e o preparador físico do time, Manoel Nogueira, tam-bém não recebem salário – só uma pequena ajuda de custo para gasolina. A motivação dos dois estarem todos os sábados longe da família é o mesmo motivo dos seus comandados: querem ter vi-sibilidade. Pelo trabalho que fez no time, Ramos conseguiu uma vaga para trabalhar na Escola do Grêmio de Porto Alegre. “É uma vitrine pra gente também”, afirma o treinador.

Na contramão

Leomar Leiria foi até a Co-reia e o Japão para disputar a Copa das Confederações com a camiseta da seleção brasilei-ra em 2001. Convocado por Leão, ele era capitão do time no último jogo do Brasil nes-se torneio e que terminou em quarto lugar. Também jogou em times nacionalmente gran-des como o Botafogo, Atlético--PR e Sport, mas nos últimos três anos vestiu a camisa do Iguaçu.

Depois de vários proble-mas físicos, Leomar não tinha mais condições de jogar na ca-tegoria profissional. “Eu não deveria ter deixado o futebol profissional, mas por causa das contusões não conseguia

mais”, lembra. Como os treinos do campeonato da Suburbana são menos desgastantes, deci-diu entrar no torneio em 2007 para não parar de jogar bola.

Desses quatro anos em que está de volta ao mundo ama-dor, o jogador destaca a ami-zade entre os jogadores. Prova do companheirismo é que Le-omar não jogará mais no Igua-çu porque o técnico do time, Altevir Sales, mudou-se para o Vila Hauer e convidou o meia e amigo para ir com ele. “Estou com 39 anos, acredito que vou jogar mais um ou dois anos”, diz Leomar, que ainda não pen-sa em pendurar as chuteiras. “É o que eu falo: vai prosseguindo na carreira, vai pro adulto, de-pois pro quarentinha, cinquen-tinha...”, conclui:::

A SuburbanaDesde 1917 há torneios para times das varzeanos em Curiti-

ba, mas a Suburbana só começa a realmente existir 30 anos de-pois, quando a Federação Paranaense de Futebol (FPF) começou a organizá-la.

Há cerca de quatro anos, por falta de arbitragem da FPF, o torneio de times amadores foi transferido para o segundo semes-tre do ano. A reclamação foi geral. “Os times não gostaram disso, porque uma das únicas fontes de renda deles são as vendas do bar. Com o torneio mudado pro inverno, é mais difícil vender sorve-te e cerveja”, explica Ramos. As outras formas de uma equipe se manter na competição são as propagandas dos comerciantes do bairro e o dinheiro desembolsado pelos dirigentes, já que a Subur-bana tem por tradição não cobrar ingresso dos torcedores.

Atualmente, a primeira divisão conta com 12 times e a segun-da com 20. Para disputar a série principal, a equipe deve ter um time júnior e um time de adultos. Os juniores jogam as prelimina-res dos adultos, duas horas antes do time principal. Mas os adultos recebem pra jogar, diferente da realidade dos jovens jogadores.

O “professor” dos juniores ainda conta que às vezes a Subur-bana pode ser mais fanática que um campeonato profissional. “Teve um jogo que estávamos na casa do adversário e meu agasa-lho ficou cheio de cuspe!”, lembra Ramos.

No estádio do Iguaçu, em Santa Felicidade, garotos tentam uma vaga no mercado da bola: “Estou jogando por um futuro melhor”

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11:::março de 2011

esportes

Para atletas, medo de dentista é coisa do passado

Embora ainda engatinhe no país do futebol, a Odontologia Es-portiva ganha e faz muito jogador deixar o medo do consultório de lado para melhorar seu desem-penho. E Curitiba é pioneira nessa atitude, pois vai receber o primeiro curso de pós-graduação em Odon-tologia Esportiva do país, iniciado em 7 de abril e oferecido pela Uni-versidade Positivo (UP).

O curso possui um caráter mul-tidisciplinar e alia o conhecimento odontológico com outras áreas da saúde, como fisiologia do exercí-cio, psicologia do esporte e a parte cardiorrespiratória. Apesar de a especialização ganhar destaque apenas recentemente, a procura é grande. Estudante de Odontologia da UP, Mônica Kozminski é um ex-emplo de quem une a paixão pelos esportes com sua futura profissão e acredita que o curso representa uma oportunidade para desbravar uma área recentemente descobe-rta. “O curso é uma grande ini-ciativa. Sendo uma especialidade considerada nova, ainda se tem um campo grande para pesquisas e também um bom mercado de trabalho para ser explorado”, diz a estudante, que possui uma coluna sobre o tema no site Coxanautas.

Esportiva X Tradicional

Um profissional que precisa do corpo para trabalhar necessita de um cuidado médico específico. Por isso, a Odontologia aplicada ao esporte possui algumas particu-laridades em relação à que estamos

Acompanhamento médico específico

evidencia importân-cia da odontologia

para atletas e traz a Curitiba o primeiro

curso da área no paísGuilherme Mattar

acostumados. O professor da Uni-versidade Positivo e cirurgião-den-tista do Coritiba, Eli Luis Namba, explica que a diferença começa na alimentação. “Um triatleta tem um alto consumo de carboidratos. Enquanto a dieta de uma pessoa normal inclui de 2 mil a 3 mil calo-rias por dia, a do triatleta chega a 10.000 calorias/dia”, afirma.

Essa quantidade de alimento, normalmente pastoso, facilita a proliferação de bactérias como a Streptococcus mutans, causadora da cárie. Isso explicaria o porquê dos triatletas terem uma incidên-cia desse problema bem maior do que em outras pessoas.

Os dentistas acreditam que um problema dentário pode interferir em contusões sofridas pelo atleta, influenciando no tempo de recu-peração. Segundo Namba, bactéri-as bucais rapidamente se espalham pela corrente sangüínea, atingindo todo o corpo. “Se o esportista ti-ver uma higienização adequada da boca, a recuperação tende a ser melhor e mais completa em con-traste com alguém que não faça tratamento dentário”, informa o cirurgião.

Para isso, uma equipe médica realiza uma bateria preventiva de exames bucais para verificar lesões que agravem um problema que o profissional já enfrentava. “Não queremos que o atleta au-mente seu rendimento, mas sim que não tenha interferência de um problema dentário dentro na sua performance”, explica Namba. E não é uma análise isolada: a preo-cupação vai desde as categorias de base até o grupo profissional da equipe, analisando o histórico de modo individual para um melhor tratamento, pois é mais simples re-solver o problema de saúde com o atleta ainda jovem.

Equipamentos

Os estudos na área são recen-tes e foi o desenvolvimento tec-

nológico que permitiu os avanços vistos hoje. No passado, havia pouca preocupação científica, apenas empírica. “Os profission-ais pediam aos atletas para usa-rem protetores bucais, mas não se preocupavam com o fato de isso diminuir rendimento ou causar fraturas na mandíbula por sua má composição material”, relata Nam-ba. Estudos recentes demonstram que alguns protetores bucais, em exercícios de alta pressão, podem reduzir a produtividade do espor-tista em até 20%.

Outro caso especial envolve o tratamento é o doping odon-tológico, que muitas vezes ocorre pelo despreparo dos profissionais da área. Ao tratar esportistas como pacientes comuns, eles ministram substâncias proibidas sem per-ceber. Um exemplo são os cor-ticóides, utilizados por dentistas em cirurgias de pequeno e médio porte. Caso um atleta receba um corticóide, deve ficar afastado de sua atividade por um período de 3 meses para não cair no exame anti-doping.

Futebol: só para dentes fortes

Beisebol, rugbi, boxe e futebol americano são esportes conhe-cidos pela grande quantidade de traumas sofridos pelos jogadores. Mas quando o assunto é acidente, nenhum deles chega perto do futebol.

Parte disso tem origem na cul-tura futebolística. No boxe, um trauma pode inclusive encerrar uma luta. “Caso o dentista do lu-tador ache que o problema possui gravidade elevada, a luta se encerra no ato”, explica Namba.

No futebol americano, a at-enção é redobrada. Os jogadores utilizam várias proteções, como capacete e protetor bucal (ob-rigatório nesse caso e no boxe). Já no futebol, não há o costume do uso de proteção contra traumas bucais.

Quando esses traumas ocor-rem, as conseqüências são mais graves. Um exemplo ocorreu com o jogador Leandro Donizete, vo-lante do Coritiba. Em 2009, em partida contra o Santos, Donizete levou uma cotovelada e perdeu al-guns dentes – o uso de um prote-tor teria evitado o problema.

Situação no estado

No Brasil, os clubes possuem psicólogos, nutricionistas, médi-cos e fisioterapeutas, mas poucos empregam cirurgiões-dentistas. Uma ideia defendida pelos profis-sionais da saúde é que um dentis-ta fique sempre de prontidão nas partidas de futebol, para atender eventuais traumas. “E, quando têm [um trauma], muitas vezes

ele não está preparado para at-ender um atleta”, afirma Namba.

Os clubes da capital não têm um atendimento odontológico plenamente desenvolvido. O Atlético-PR possui seu serviço médico terceirizado através de um convênio. Já o Coritiba ini-ciou um projeto em 2008, mas seu desenvolvimento ainda está em um estágio inicial. O Paraná Clube, por sua vez, não conta com acompanhamento na área.

E os jogadores?

Os esportistas também têm receio em sentar na cadeira do dentista. Mas, ao saberem que o tratamento pode beneficiar o desempenho, resolvem ceder à pressão dos médicos. Preparador físico da equipe infantil de fute-bol da UP, Fernando Prado foi atleta das categorias de base do Atlético-PR entre 2004 e 2006.

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Segundo ele, o clube reco-mendava o tratamento. “Eu não gostava, mas não cheguei a sofrer muito, já que usava aparelho e larguei dele rapida-mente”, conta Prado. Sobre o acompanhamento, ele é só elo-gios. “É ótimo, já que, ao mel-horar o trato dos dentes, pode se ter um ganho de 30% na respiração”, diz o ex-jogador.

Adriano Lara, atleta do Atlético-GO, também tem re-latos sobre o tratamento no clube. “Na chegada, todos pas-sam por uma avaliação. Caso haja necessidade de tratamen-to, os médicos encaminham às consultas”, revela Lara. Quan-tos aos benefícios, ele também se mostra favorável. “Gostar eu não gosto. Mas sei que, se não fizer nada, a falta de trato nos dentes pode piorar algumas lesões e piorar o desempenho”, aponta o jogador:::Aplicada ao esporte, a odontologia exige cuidados específicos para man-

ter a saúde e o bom desempenho dos atletas

Rufin

o La

saosa

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Enquanto espetáculos da Mostra Oficial recebem tratamento de luxo, grupos do Fringe têm que driblar problemas técnicos e improvisar alojamento

psicóloga Maria Cristina acre-ditam que os valores do ano passado deveriam ser mantidos. Marlene reclama que a escolha das peças não foi fácil. “Este ano o festival está abarrotado, tem opções demais. Acho que podia ser mais restrito”, pondera.

O Fringe é uma mostra aberta: qualquer grupo pode se inscrever e participar. Para o diretor de teatro e assessor ar-tístico e pedagógico do teatro Cena Hum, Humberto Gomes, o evento deveria ter uma cura-doria, devido à quantidade e qualidade das peças. Gomes participa do Festival de Curiti-ba desde que chegou à cidade, há sete anos, e garante que o evento é muito conceituado no resto do país. “Algumas coisas mudaram, este ano o festival parou para observar seus pólos negativos e positivos” observa o diretor. Ele cita problemas como a falta de comunicação e de estrutura, mas acha que a tendência, no futuro, seja a su-peração dessas falhas.

Gomes ainda considera justo o preço médio de um ingresso – entre R$15 e R$20, nessa edição do Festival. “Se em um final de semana você gasta 14 reais com cinema, por exemplo, acho que é justo pagar 20 reais um trabalho de meses de duração. Mesmo as-sim, não penso que seja um va-lor popular”, argumenta. Valores de ingressos à parte, ele acredita que o Festival é uma ótima opor-tunidade para divulgação de tra-balho e troca entre o público e a diversidade dos grupos.

A assessoria do Festival de Curitiba foi contatada pelo Co-municação, mas não se manifes-tou sobre os assuntos tratados nesta matéria:::

volto a me interessar ”,

encerra.

Acesso ao Festival

O número de montagens que fazem parte do Festival de Curitiba faz com que ele seja um espaço plural nas artes cê-nicas, em que muitos cidadãos têm seu primeiro contato com o teatro. Com quase 40 opções de teatros de rua, o Festival pro-porcionou espetáculos gratui-tos para a população. Os preços de algumas peças pagas, no en-tanto, não permitem que qual-quer um tenha acesso a elas.

O motorista Ricardo e sua namorada Patrícia assistiram a uma peça com ingressos re-cebidos como cortesia de uma empresa. O casal não tem o cos-tume de ir ao teatro e foi pres-tigiar as atrações pela primeira vez. “Eu acho o Festival muito legal, mas o valor ultrapassa nosso orçamento”, diz Patrícia. O preço do ingresso para o es-petáculo que o casal assistiu era de R$50, o valor mais alto da Mostra.

Quem já esteve presente em outras edições tem opinião semelhante. A designer de in-teriores Marlene Fafailov e a

Por trás dos panos do Festival de Curitiba

Bastidores do maior evento de

teatro da América Latina expõem fa-

lhas na organização e descaso com a

mostra alternativa

O Festival de Curitiba ga-nha mais adeptos a cada ano, mas poucos espectadores co-nhecem as dificuldades que grupos e companhias de teatro passam dos ensaios até a apre-sentação. Grande parte das equipes que integram a Mostra Oficial recebem privilégios, as-sistência e estrutura de ponta para os espetáculos. Enquanto isso, as peças do Fringe (mos-tra alternativa do evento) são deixadas literalmente na “mar-gem”, como sugere o nome em inglês.

Em sua 20ª edição, o festival contou com 31 espetáculos na Mostra Oficial e com a inédita marca de 373 peças no Fringe. Toda essa diversidade cultural que acontece em Curitiba atrai um grande público e críticos do país e do exterior, mas nem todos se enchem de elogios ao falar do evento.

Com quê se podecontar?

A maioria dos grupos de teatro que participam do Frin-ge não possui espaços próprios para a apresentação e, quando

Stephanie D’Ornelas

conseguem um local, são às vezes encaixados em horários ruins. Em outros casos, não recebem estrutura adequada e têm que lidar com problemas técnicos, como falhas na ilumi-nação. “Algumas peças acabam comprometidas por esses fato-res”, aponta o diretor de teatro Alexandre Bonin.

Outra dificuldade é o aloja-mento. Enquanto grupos con-vidados a participar da Mostra se hospedam confortavelmen-te nos dias do evento, algumas companhias vêm com poucos recursos e improvisam como podem. Os grupos maranhen-ses Factual e Caco, por exem-plo, se acomodaram no último andar do DCE da UFPR, um modesto espaço de 15m² du-rante duas semanas.

Há quem não necessite di-retamente do apoio do Festival para mostrar seu trabalho. A diretora teatral Marina Macha-do, dona do teatro de mesmo nome, participa do evento des-de sua primeira edição e conta que nunca fez questão de se apresentar na Mostra. Como tem seu espaço, Marina con-ta que tem independência do Festival, mas considera que falta organização. “O FC ganha muito dinheiro e poderia me-lhorar os espaços. Os guias tra-zem erros de datas e horários. Tudo isso dificulta o contato do público conosco”, aponta.

Informações equivocadas no guia do Festival tem sido outro empecilho comum. No ano passado, a peça Enigma, do Teatro Barracão EnCena,

não apareceu no guia. O mes-mo problema aconteceu agora com o grupo Teatro Pé no Pal-co. O drama Marat-Sade foi pu-blicado na seção de comédia, e a peça A Busca não constava entre as atrações – apenas na parte reservada aos anúncios pagos, e simplesmente porque desembolsou o valor.

E as reclamações não ficam apenas em torno do Fringe. Apesar de os participantes da Mostra Oficial receberem ca-chê, esse valor é considerado insuficiente pelos artistas. Para Alexandre Bonin, não é pos-sível se apresentar no Festival esperando bom retorno finan-ceiro. “Na verdade, eu, como artista, não vejo vantagem em participar do Festival. Mas é bom para quem está começan-do, como um incentivo a mais”, ressalta o diretor, que comanda o grupo de teatro Todo Mundo Nu.

Mesmo na Mostra, os dife-rentes grupos não são tratados todos da mesma forma. “Existe uma diferença enorme no tra-tamento dado aos espetáculos de Curitiba, pois há os curitiba-nos famosos e os não-famosos. A atenção ao grupo também muda se os participantes são de fora ou não”, relata o diretor teatral Mauro Zanatta, que já participou do Fringe e da Mos-tra Oficial. Com pouco retor-no, dinheiro e apoio do Festi-val de Curitiba, Mauro diz que perdeu o interesse pelo evento. “Quando ele [o Festival] se tornar um instrumento que potencialize os atores daqui, eu

12::: março de 2011

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Fringe, que em inglês significa “franja” ou “margem”, é inspira-do no maior festival de artes do mundo, o Festival Internacional de Edimburgo, na Escócia. Lá, o Fringe surgiu espontaneamente em 1947, quando companhias escocesas e inglesas que não esta-vam na programação do evento resolveram virar a mesa e criar uma “fenda” pra eles. O Fringe deu certo e aqui a receita foi repe-tida com a mesma função.

No Brasil o Fringe está presente no Festival de Teatro de Curi-tiba desde a 7a edição, em 1998. O Fringe é um espaço aberto. Isso oportuniza termos num mesmo Festival, trabalhos inovadores e montagens de textos consagrados. Por ter seus trabalhos expostos à crítica especializada reunida para o evento, muitas companhias, atores e diretores, são contratados para apresentar seus trabalhos em outros locais, mostras e festivais em função da participação no Fringe.