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CONFISSÕES DO DNA Como a polícia recolhe os rastros de culpa em crimes que poderiam ser insolúveis Um talento incalculável desponta no Jaconi | Na saúde e na doença, o esquadrão grená avança unido | Renato Henrichs conversa sobre as folias do Carnaval caxiense | Roberto Hunoff analisa a redução da jornada de trabalho Caxias do Sul, março de 2010 | Ano I, Edição 16 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet. |S20 |D21 |S22 |T23 |Q24 |Q25 |S26 Maicon Damasceno/O Caxiense O acesso à tecnologia é apenas o ponto de partida. Há muito a se fazer para que o computador sirva à toda sociedade OS PASSOS DA INCLUSÃO DIGITAL

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O acesso à tecnologia é apenas o ponto de partida. Há muito a se fazer para que o computador sirva à toda sociedade

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CONFISSÕES DO DNA

Como a polícia recolhe os rastros de culpa

em crimes que poderiam ser insolúveis

Um talento incalculável desponta no Jaconi | Na saúde e na doença, o esquadrão grená avança unido | Renato Henrichs conversa sobre as folias do Carnaval caxiense | Roberto Hunoff analisa a redução da jornada de trabalho

Caxias do Sul, março de 2010 | Ano I, Edição 16 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.|S20 |D21 |S22 |T23 |Q24 |Q25 |S26

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O acesso à tecnologia é apenas o ponto de partida. Há muito a se fazer para que o computador sirva à toda sociedade

OS PASSOS DAINCLUSÃODIGITAL

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Índice

Expediente

Assine

A Semana | 3Um resumo das notícias que foram destaque no site

Roberto Hunoff | 4Os números de admissões e demissões dobimestre comprovam a força da recuperação econômica

História nos trilhos | 5De prédios em ótimo estado a outros em ruínas, o patrimônio da Rede Ferroviária aguarda revitalização

Ciência contra o crime | 7Polícia usa armas de ponta, como a análise de DNA, para solucionar crimes de difícil investigação

Caminhos digitais | 9O que está sendo feito para socializar o avanço da tecnologia entre os caxienses

Guia de Cultura | 12Suspense de Scorsese e concertos de blues no Teatro Municipal

Cena cultural | 14Sala de cinema do Ordovás traça novo roteiro para buscar mais público

Artes | 16O insaciável desejo de ser amado e a infatigável capacidade de amar

Festa gauchesca | 17Peões se exibem na lida campeira e reverenciam a tradição nos Pavilhões

Percalços grenás | 18Diante de dificuldades e desfalques, só a união salva

Guia de Esportes | 20Motociclistas tomam o terreno dos peões em campeonato de velocidade

Cálculos alviverdes | 21Hiago, o jovem que adora matemática, faz o Ju sonhar com outros números

Renato Henrichs | 23Elói Frizzo responde sobre o enredo deste e dos próximos Carnavais

TWITTER(Acompanhe em www.twitter.com/ocaxiense)

Anglo Americano |@anglocaxias @ocaxiense Obrigada ao jornal O Caxiense pelo apoio! Aula inaugural de Pós-Graduação contou com a informação precisa de @ocaxiense.Anglo Americano Caxias, em 18 de março

15ª edição |@jandirangeli Tchê! @ocaxiense tá melhorando a cada edição. Suces-so!Jandir Angeli Filho, em 18 de março

@camillanegri Meu apoio total e irrestrito ao @ocaxiense. Vida inte-ligente no jornalismo de Caxias.

Camilla Negri, em 17 de março

@rtommaso @ocaxiense Sempre em cima da notícia! Raphael Di Tommaso, em 17 de março

@danieldalsoto Ouvindo o podcast do jornal @ocaxiense. Trilha sonora boa de novo, e o podcast está muito bom também! Parabéns!

Daniel Dalsoto, em 15 de março

@juvirginiana O Caxiense, um jornal feito para caxienses! Bom demais!

Jussara C. Godinho, em 16 de março

@JAMURBETTONI Agora alimentar a mente, no cardápio, @oca-xiense.

Jamur Bettoni, em 15 de março

@Dj_Danuza Isso sim que é jornal!!! Danuza Formentini, em 14 de março

@jubs_lp Como sempre a capa do @ocaxiense está linda!Juliana Vieira, em 14 de de março

O Caxiense no Alfredo Jaconi |@CJovemJuventude @ocaxiense Ótima iniciativa de vocês! Parcerias assim que precisamos! Sucesso para nós!

Conselho Jovem do Juventude, em 14 de março

SER Caxias |@evilfun @ocaxiense ótima reportagem sobre a saída de Bindé do Caxias ! Parabéns!!

Saulo Campagnolo, em 18 de março

PODCAST(Acompanhe em www.ocaxiense.com.br/multimidia)

l O site do jornal O Caxiense tem dois podcasts semanais. Na sexta-feira, a Redação comenta algumas das principais notícias que repercutiram na cidade. No começo da semana é publicado o podcast sobre a dupla CA-JU com os jornalistas Fabiano Provin e Marcelo Mugnol. Escute!

Agradecemos | Maicon Rafael Borelli, Douglas Vagner Borelli, Luís Eduardo da Rocha, Mateus Boff e Jefferson Soares.

Erramos | Na página 10 da última edição (Hora de decidir), publi-camos equivocadamente que a votação para a reitoria da UCS se iniciaria “segunda-feira, 15 de novembro” – a data certa era 15 de março. | Na página 11 da última edição (Os Pavilhões viram pampas), afirmamos erroneamente que a Festa Campeira do Rio Grande do Sul (Fecars) abriria na “quarta-feira (18)” – o correto: “quinta-feira (18)”.

ORKUT

15ª edição | Um grande passo para (o trem) sair do

papel é a população (maior beneficiada) manifestar-se e decidir onde o governo deve investir nosso dinheiro. E parabéns ao fotógrafo que expressou na imagem a situação.

J.M. Costa, em 15 de março

www.OCAXIENSE.com.br

Redação: Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), Graziela Andreatta, José Eduardo Coutelle, Maicon Damasceno, Marcelo Aramis, Marcelo Mugnol, Paula Sperb (editora do site), Renato Henrichs, Roberto Hunoff e Valquíria Vita Comercial: Leandro TrintinagliaCirculação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues de OliveiraAdministrativo: Luiz Antônio BoffImpressão: Correio do Povo

Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para [email protected]. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120

Jornal O Caxiense Ltda.Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471Fone 3027-5538 | E-mail [email protected]

2 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .20 a 26 de março de 2010O Caxiense

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MÚLTIPLA ESCOLHA

Comunidade acadêmica decide quem

deverá comandar a UCS até 2014

A Festa da Uva em números | Carnaval 2010: menos luxo, mais esforço | Tradicionalistas laçam e jogam nos Pavilhões | Zico, o torcedor papo que se fecha no vestiário | Bindé, o lateral que foi saído antes de sair do Caxias

Caxias do Sul, março de 2010 | Ano I, Edição 15 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.|S13 |D14 |S15 |T16 |Q17 |Q18 |S19

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A união de municípios, entidades e lideranças, o novo estudo de viabilidade e a promessa de recursos federais aceleram a marcha pela retomada do transporte ferroviário na região

CONFISSÕES DO DNA

Como a polícia recolhe os rastros de culpa

em crimes que poderiam ser insolúveis

Um talento incalculável desponta no Jaconi | Na saúde e na doença, o esquadrão grená avança unido | Renato Henrichs conversa sobre as folias do Carnaval caxiense | Roberto Hunoff analisa a redução da jornada de trabalho

Caxias do Sul, março de 2010 | Ano I, Edição 16 | R$ 2,50 Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.|S20 |D21 |S22 |T23 |Q24 |Q25 |S26

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O acesso à tecnologia é apenas o ponto de partida. Há muito a se fazer para que o computador sirva à toda sociedade

OS PASSOS DAINCLUSÃODIGITAL

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A SemAnAConsulta para reitoria da UCS mobiliza comunidade acadêmica, que pode votar mais de uma vez

SEGUNDA | 15 de março

TERÇA | 16 de março

Estação Férrea

Hospital Pompéia

Evento

Convênio entre Caxias e União deve ser renovado

Reforma do pronto-socorro deve ficar pronta em maio

Caxias recebe Salão Gaúcho de Turismo

O convênio entre o município e a União para possibilitar que sejam feitas intervenções na área da Estação Férrea deve finalmente ser renovado. O contrato venceu ainda em outu-bro de 2006 e o pedido de renovação estava sendo feito pela prefeitura desde julho daquele ano. O processo tramitava em Brasília, sem resultado positivo para o município. O secre-tário municipal de Cultura, Anto-nio Feldmann, conta que recebeu a notícia de uma das coordenadoras da Secretaria de Patrimônio da União, Ana Tulia de Macedo. Com assinatu-ra desse convênio, a prefeitura poderá retomar os projetos de restauração dos prédios localizados na Estação. Além disso, poderá intervir nos pedidos judiciais de reintegração de posse das construções e terre-nos pertencentes à União, mas que hoje são utilizados por residências ou estabelecimentos comerciais.

O bairro São Pelegrino perdeu no último mês uma de suas residências mais tradicionais. Talvez por não estar no nível da calçada da Avenida Itália, a demolição da Casa Paroquial, ao lado da igreja, não tenha chamado tanto a atenção. Mas o certo é que o atual canteiro de obras dará lugar ao espaço que vai abrigar tanto o atendimento dos fiéis quanto a nova moradia dos dois padres da congre-gação: o pároco Mario Pedrotti e o vigário Joone Fachinelli – desde fevereiro, os religiosos ocupam um apartamento provisório no Edifício

A 5ª edição do Salão Gaúcho de Turismo ocorre em Caxias até domingo. O evento é promovido pela Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer em parceria com a prefeitura de Caxias do Sul no Parque da Festa da Uva. Pela primeira vez o evento é realizado fora de Porto Alegre. Nesta edição será realizado o Encontro Estadual de Prefeitos e de Secretários Municipais de Turismo e o I Encontro Nacional dos Coordenadores Regio-nais de Serviços Turísticos de 2010. O Salão Gaúcho do Turismo oferece aos visitantes a oportunidade de circular por uma exposição com os atrativos das 23 microrregiões turís-ticas gaúchas, conhecendo e obtendo informações sobre o Rio Grande do Sul, além de espaços temáticos de ecoturismo e aventura, apresenta-ções artísticas, feira de artesanato, mostra de turismo rural e recreação

QUARTA | 17 de março

Eleição UCS

Igreja

Comunidade acadêmica pode votar mais de uma vez

São Pelegrino vai ganhar uma nova Casa Paroquial

de urgências e emergências. Quando os trabalhos estiverem concluídos, o pronto-socorro terá 349 metros quadrados e o dobro da estrutura atual. O arquiteto que elaborou o projeto, Marcos Schio, explica que o número de leitos com equipamentos de UTI passará de dois para quatro, os leitos de observação subirão de 10 para 20, e serão criadas salas de iso-lamento, de curativo e de gesso, que hoje não existem. O superintendente operacional do hospital, Walter Beck, acrescenta ainda que a mudança, além de deixar o espaço maior, trará mais qualidade para o atendimen-to. Os recursos para as obras estão vindo de duas fontes. As reformas serão financiadas com R$ 317,55 mil provenientes de uma emenda parla-mentar do deputado federal Pepe Var-gas (PT-RS). E a parte nova, orçada em R$ 153,48 mil, será construída com recursos do próprio hospital.

O pronto-socorro do Hospital Pompéia está em obras. Uma área atual de 278 metros quadrados, incluindo todo o pronto-socorro atual mais algumas salas, está sendo reformada e um novo espaço de mais 71 metros quadrados será construído para ampliar o local de atendimento

É possível votar mais de uma vez na consulta para a reitoria da Uni-versidade de Caxias do Sul (UCS). Os nomes de alunos de graduação que ao mesmo tempo estão matriculados no Programa de Línguas Estrangeiras (PLE), por exemplo, estão em dois pontos de votação diferentes. O mes-mo pode acontecer com funcionários da UCS que estão cursando gradu-ação ou pós-graduação na entidade. Segundo a Comissão Eleitoral, o voto é de responsabilidade de cada pessoa, que deve optar por votar em uma categoria. Fora a consciência ética de cada eleitor, não há nesta consul-ta uma forma de impedir que uma mesma pessoa vote mais de uma vez. Estão aptos a votar até o meio-dia de sábado alunos de graduação, pós-gra-duação, PLE, cursos de Tecnólogo e Universidade da Terceira Idade (UTI), além de professores e funcionários.

“Previmos que isso (a votação dupla) poderia acontecer, tem profes-sores que também são alunos e não tem como tirar de uma das listas”, explica a presidente da Comissão Eleitoral, Fernanda Maria Francis-chini Schmitz. Cerca de 30% dos alunos do PLE (o equivalente a 479) são também alunos da UCS em outras modalidades. “Proibida de votar mais de uma vez a pessoa não está, mas recomendamos que ela exerça a ética.”

QUINTA | 18 de março

SEXTA | 19 de março

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Pronto-socorro do Pompéia é ampliado, Igreja São Pelegrino ganha nova Casa Paroquial e UCS ouve alunos, professores e funcionários

Francisco Oliva, defronte à igreja. O novo domicílio vai contemplar três dormitórios, sala, cozinha, banheiros, escritório, biblioteca e duas salas para atendimento pastoral. Como justifica-tiva para a retirada, o padre argumen-ta que a antiga construção de madeira começou a funcionar como Casa Pa-roquial há 70 anos, em 1940, mas foi erguida muito antes.Madeiras infesta-das de cupim, estruturas apodrecidas e instalações elétrica e hidráulica de-ficientes também pesaram na decisão.

Os custos serão cobertos por uma reserva da igreja, que vinha prevendo a obra há 10 anos.

infantil. Para o secretário municipal de Turismo de Caxias do Sul, Jaison Barbosa, a interiorização do evento representou uma vitória para Caxias.

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Roberto [email protected]

Os empreendedores Marco Auré-lio Leis Trindade e Rafaele Frasson Amalcaburio investiram na ideali-zação do Espaço Fitness Marco Leis, que será apresentado no dia 23, às 19h30. A academia foi erguida em área de 300 metros quadrados do Villaggio Iguatemi e abriu seis vagas de trabalho. Com capacidade para 350 alunos, atenderá das 6h às 22h.

Emprendimento IIResultado de investimento de

R$ 100 mil, a Cacau Show abriu, na quarta-feira, dia 17, sua segun-da franquia em Caxias do Sul. O novo espaço, de 48 metros qua-drados, localizado no piso térreo do Prataviera Shopping, é admi-nistrado pelos franqueados Luís Ernesto Webber e Salete Webber. Fundada em 1988, a Cacau Show tem 750 franquias e quatro fá-bricas, onde produz anualmente 10 mil toneladas de chocolates.

A empresária Eroni Mazzoc-chi Koppe assume na sexta-feira, dia 26, a presidência do Centro Empresarial de Flores da Cunha para o biênio 2010-2011 em subs-tituição a Deunir Argenta. A so-lenidade ocorrerá no Clube In-dependente de Flores da Cunha.

Organizada pelo Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Ben-to Gonçalves, a Movelsul Brasil deverá atrair em torno de 35 mil visitantes no período de 22 a 26 de março. A feira, que espera ge-rar US$ 300 milhões em negó-cios, alta de 10% sobre a edição de 2008, ocorrerá no Parque da Fenavinho, em Bento Gonçalves.

Dentre as dezenas de novidades incorporadas, uma estreitará re-lações e proporcionará parcerias entre o setor moveleiro e a constru-ção civil brasileira. Com o Projeto Móveis e Imóveis, criado pela dire-toria da Movelsul Brasil, serão re-alizadas rodadas de negócios entre expositores da feira e grandes cons-trutoras do país para encontrar as melhores condições de comerciali-zação e adequações orçamentárias.

Os supermercadistas do Rio Grande do Sul es-peram um incremento de 13,5% nas vendas de Páscoa na comparação com a data do ano pas-sado. A pesquisa da Associação Gaúcha de Su-permercados (Agas) apontou que o gasto médio do consumidor deverá ficar em R$ 162,60. Tam-bém mostrou que 70% dos entrevistados pre-tendem fazer suas compras nos supermercados.

Pela ordem, os produtos de maior venda-gem, conforme o levantamento da Agas, de-verão ser refrigerantes, peixes, ovos de cho-colate, bombons e chocolates. A população gaúcha responde pelo consumo de 9 milhões de ovos de chocolates, o equivalente a 12% do total da produção nacional – e algo próximo a uma receita de R$ 72 milhões para o setor.

Já a expectativa dos lojistas locais, conforme uma pesquisa informal realizada pelo Sindicato do Comércio Varejista de Caxias do Sul (Sindi-lojas), é de vender 10% a mais do que no mesmo período do ano passado. Os chocolates devem liderar as vendas, mas outros produtos já to-mam espaço entre os presentes de Páscoa, como brinquedos e jogos. Os preços dos chocolates terão elevação de 2% a 3% sobre o ano passado.

O primeiro bimestre do ano, cer-tamente, superou as mais otimistas estimativas de recuperação da econo-mia. Basta avaliar o comportamento do mercado de trabalho em Caxias do Sul. No período foram criadas 5.345 novas vagas, das quais 3.650 na indús-tria. Em fevereiro, mês tradicional-mente mais fraco por causa do Carna-

val e de menos dias úteis de trabalho, as contratações cresceram 36% sobre janeiro, chegando a 3.086, das quais 1,9 mil na indústria. No mesmo mês do ano passado o saldo foi negativo em 731 vagas. Nos últimos 12 meses foram criados 6.735 postos, cresci-mento de 4,5% na comparação com o período imediatamente anterior.

Empreendimento I

Mudança

Show de móveis

Páscoa gorda

Em franca recuperação

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Representantes do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs) e da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC) integraram a comitiva de 60 industriais gaúchos que mani-festou, em Brasília, contrariedade à Proposta de Emenda Constitucional que reduz a jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais e ele-va o adicional na hora extra de 50% para 75% do valor da hora trabalhada. O empresariado reuniu-se com líderes partidários e deputados da bancada federal gaúcha. A partir dos contatos mantidos, o diretor executivo do Simecs, Odacir Conte, avalia que a matéria deve ser apreciada somente em 2011. Acrescenta que, se aprovada, a proposta elevará os custos de produção e provo-cará perda de competitividade.

A favorNa Câmara Municipal, o vereador Assis Melo

(PC do B) sustentou que a proposta em tramita-ção no Congresso Nacional tem potencial para gerar mais de 2,5 milhões de postos de trabalho. Para o também presidente do Sindicato dos Tra-balhadores Metalúrgicos, a redução é necessária e possível de ser feita sem causar maiores danos. Ele defendeu a mobilização dos trabalhadores para garantir a sua aprovação. A grande questão nesta polêmica é que mais uma vez não se dis-cute a essência do problema. O governo coloca setores da sociedade em conflito para que não se debata o que é realmente necessário: reformas trabalhista, previdenciária e, principalmente, a tributária. É hora de capital e trabalho enxerga-rem que existem outros interesses, mais fortes, poderosos e corporativistas, nesta discussão.

O Restaurante Dolce Itália, que funciona junto à Escola de Gastro-nomia UCS-ICEF, passa a servir al-moço diariamente à comunidade, mudando a estratégia até agora ado-tada de somente abrir à noite, com reserva, para grupos de, no míni-mo, 20 pessoas. A medida é positiva

porque permite que a população em geral tome conhecimento e usufrua do trabalho realizado em Flores da Cunha. O espaço, com capacidade para atender 78 pessoas, funcionará de segunda a sexta, das 12h às 14h. À noite segue a política de oferecer jan-tares para grupos mediante reserva.

Contra

Medida correta

A informação não é oficial, mas tudo se encaminha para que, em bre-ve, o Aeroporto Hugo Cantergiani seja servido por mais uma companhia aé-rea. A WebJet estaria avaliando a pos-

sibilidade de incluir a cidade, como escala, em um de seus novos horários para Congonhas, em São Paulo. O voo partiria de Porto Alegre e faria escalas em Caxias do Sul, Joinville e Curitiba.

Novo voo

A gerente regional do Sebrae/RS, Andrea Balbinot, palestra para alunos da graduação e pós-graduação da Ftec e empreendedores de Caxias do Sul e região na próxima segunda-feira, dia 22, às 19h, no auditório da instituição em Caxias. Andrea abor-dará a importância da atualização e da construção de alianças para quem quer empreender com sucesso.

A titular da Delegacia para Mulher, Thais Norah Sartori Posti-glione, abrirá o ciclo de palestra do evento Café com Informação, iniciati-va do Conselho da Mulher Empresá-ria/Executiva da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul. O encontro será no dia 25 de março, no restaurante do subsolo da entida-de, das 8h30 às 10h.

O Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade de Ca-xias do Sul e Região Nordeste mar-

cou para 26 de março, sexta-feira, a posse festiva da diretoria para a ges-tão 2010/2011. O evento ocorrerá às 19h30 no restaurante da CIC Caxias. O contador Fernando Spiller assu-mirá a presidência em substituição a Gervazio Parizotto. Dentre suas me-tas está a de buscar nova sede para o sindicato e ampliar a atuação em toda base territorial de 33 cidades.

O ex-governador gaúcho Ger-mano Rigotto será o palestrante da reunião-almoço desta segunda-feira, dia 22, da Câmara de Indústria, Co-mércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul. O político caxiense – pré-candi-dato a uma vaga no Senado – falará sobre o tema O Brasil e o novo ciclo de desenvolvimento.  Após deixar o governo do Estado, em dezembro de 2006, Rigotto  foi nomeado membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República.

Curtas

Mercado de trabalhoFonte: Caged/Ministério do trabalho

Fev/2009

Saldo: -731 Saldo: 3.086

AdmissõesDemissões

Saldo: -975 Saldo: 5.345

Fev/2010 Acumulado 2009 Acumulado 2010

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por GRAZIELA [email protected]

ntender o significado da Estação Fér-rea para Caxias é mais do que simples-mente passar pelo local e olhar para ele. Há quem faça isso todos os dias sem conseguir enxergar além do pré-dio amarelo com a sigla V.F.R.G.S. no alto e algumas casas velhas ao redor. Muitos sequer observaram a inscrição lá na frente e não sabem que ela signifi-ca Viação Férrea do Rio Grande do Sul.

Para enxergar além de paredes é necessário visitar o lugar com a pre-disposição de surpreender-se, com curiosidade. O exercício de se deixar impressionar não é difícil para quem visita o prédio, porque tudo está quase exatamente como era quando foi inau-gurado, em 1910, há cem anos, para ser a estação do trem que ligava Caxias à capital Porto Alegre.

O prédio fica no centro de um grupo de quatro construções históricas que compõem o chamado Largo da Esta-ção Férrea – além da Estação de Passa-geiros, tem a Casa do Administrador, o Depósito de Cargas e o Depósito de Locomotivas. As construções formam o único conjunto arquitetônico com valor histórico que restou em Caxias do Sul, diferente dos museus Munici-pal e da Casa de Pedra.

Na Estação de Passageiros, cinco lances de uma escada de pedra dão acesso a duas portas imensas de ma-deira e vidro que se abrem para receber a claridade e os visitantes. A recepção

é iluminada por janelas altas, envidra-çadas e divididas em duas partes que se abrem para dentro, assim como as portas – reflexos da arquitetura de um tempo em que não havia energia elé-trica, que só chegou a Caxias em 1913, e era preciso aproveitar a luz externa.

Aquele lugar que em 1950 fervilhava hoje é quase só silêncio – uma irôni-ca contradição para uma cidade cuja população mais do que dobrou de ta-manho desde então. Em vez do bur-burinho e da agitação das pessoas que circulavam nesse espaço, alguns pai-néis colocados recentemente tentam contar em palavras essa história.

A plataforma de embarque e desembarque está tão preservada – até os trilhos estão inteiros – que ao fechar os olhos é quase possível escutar o api-to do trem chegando. Neste local, em vez do movimento de carros da Rua Augusto Pestana e da grande quanti-dade de veículos estacionados, o que se vê são os trilhos, grama e os outros três prédios históricos desse conjunto arquitetônico cercados por vegetação e tranquilidade.

A Estação de Passageiros passou por uma restauração para poder abrigar a Secretaria Municipal de Cultura. Da sua plataforma é possível ver as outras três construções que compõem o con-junto arquitetônico, infelizmente, não tão bem-cuidadas. À direita da porta de acesso à plataforma é visível o an-tigo Depósito de Locomotivas. É uma casa aparentemente em ruínas, que

pode ser notada por quem passa de carro ou a pé pelas ruas que cercam a antiga gare central. Seu projeto de res-tauração está orçado em R$ 450 mil, mas não foi executado porque o muni-cípio não tem autorização para mexer no lugar, que é patrimônio da União. Ali perto, uma pequena habitação era usada como Casa do Administrador. Há gerações uma família ocupa a re-sidência sem autori-zação oficial. Do lado oposto do Depósito de Locomotivas está o an-tigo Depósito de Car-gas, que foi usado por uma empresa durante anos, depois por cata-dores de lixo, até ser transformado em um centro cultural onde são realizadas oficinas e projetos especiais da Secretaria da Cultura.

O abandono desses espaços históricos pode ser explicado por uma sucessão de equívocos e desatenção com o patrimônio cultural. Ao longo dos anos, os prédios foram sofrendo com as ações do tempo e da falta de zelo, primeiro da extinta Rede Ferro-viária Federal, que nunca fez questão de modernizar o espaço, e mais tarde da União, que deixou as construções como estavam, sem se preocupar com sua conservação.

O descuido se intensificou a partir de 1977, com a realização da última via-

gem de passageiros para Porto Alegre, e só aumentou depois de 1994, com a desativação definitiva das locomotivas, que até aquele ano ainda eram usadas para transportar cargas. A ferrovia perdia a função e, consequentemente, seus prédios também.

Em 2001, todo o complexo situado na área foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do

Estado (IPHAE). In-dependentemente de quem fosse o dono dos imóveis ou estivesse utilizando-os, ficava proibido intervir nos prédios sem autoriza-ção específica e acom-panhamento técnico. A medida tenta impedir que os imóveis anti-gos fossem abaixo ou dessem lugar a edifícios mais modernos, como aconteceu em outras

regiões da cidade. A Rede Ferroviária foi completa-

mente extinta em 2007, depois de um longo processo de privatização de al-guns trechos, aqueles que eram ainda comprovadamente viáveis. Após a li-quidação do que restou da empresa, o patrimônio foi transferido ao governo federal. Em 2004, a prefeitura de Ca-xias fez um convênio com a Rede Fer-roviária, que ainda existia apesar das condições precárias, para cuidar do patrimônio da viação férrea na cidade. Foi o que possibilitou com que o mu-

Patrimônio Histórico

“Existe uma questão social nesse processo também. Não dá simplesmente para tirar as pessoas de lá”, diz a procuradora Caroline

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É longo o caminho a se trilhar para revitalizar a herança do trem em Caxias

O Depósito de Locomotivas, nos fundos da Secretaria Municipal da Cultura, é um dos imóveis tombados da antiga Rede Ferroviária na cidade

A PRÓXIMA PARADA DAESTAÇÃO FÉRREA

Page 6: Edição 16

nicípio iniciasse o processo de revita-lização do Largo da Estação e a restau-ração do prédio que sedia a Secretaria da Cultura. O convênio teve duração de apenas dois anos. Em julho de 2006, três meses antes de vencer o contrato, o Município entrou com um pedido de renovação, mas a Rede já estava em fase final. Era necessário inventariar o patrimônio em todo o Brasil e a reno-vação não ocorreu.

Somente na semana passada, o secre-tário municipal da Cultura, Antônio Feldmann, recebeu a primeira sinali-zação positiva depois de quase quatro anos esperando por uma autorização oficial que permita ao município con-tinuar a restauração. Em reunião com uma das coordenadoras da Secretaria de Patrimônio da União, Ana Tulia de Macedo, ele recebeu a notícia de que o pedido caxiense estava sendo repas-sado finalmente ao Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para que seja firmado o con-vênio com o Município.

“O problema é que a gente não tem como saber quando isso vai realmen-te chegar aqui. Adoraríamos que isso acontecesse este ano, quando se com-pleta o centenário da chegada do trem. Mas quem ficou quatro anos esperan-do fica com receio de fazer previsões muito positivas”, pondera o secretário. Feldmann lembra que tudo é demora-do em se tratando das tratativas com a União, que sequer tinha os bens da Estação Férrea regis-trados em cartório. Foi só em 12 de fevereiro de 2010 que o Minis-tro do Planejamento, Paulo Bernardo Silva, publicou no Diário Oficial da União uma portaria determinando o registro dos imóveis, processo que ainda tra-mita. Feldmann conta que até então a posse daqueles prédios esta-va registrada apenas na ata de uma assembleia geral extraordi-nária realizada em 30 de dezembro de 1968, na qual foram subscritos todos os bens da Rede Ferroviária Federal.

Os bens da Rede Ferroviária Federal incluem, além dos prédios do Largo, a primeira estação de parada de passageiros que vinham de Farrou-pilha em direção a Caxias, localizada em Forqueta, que hoje é usada como moradia. Também faz parte a segunda parada, no bairro Desvio Rizzo, que quase não existe mais. O prédio está praticamente em ruínas. “Acredito que de lá dê para aproveitar somente a pa-rede onde está a placa indicando a data de fundação do lugar”, diz Feldmann.

Há ainda as invasões na faixa de do-mínio da via férrea, que é de 30 metros em toda a extensão da estrada de ferro – 15 metros para cada lado dos trilhos. Um levantamento superficial aponta para a existência de 6 mil moradias construídas irregularmente na área da rede ferroviária.

A Advocacia Geral da União (AGU) fez um estudo jurídico sobre o que po-deria ser feito para retirar as famílias da área. A pesquisa ainda está sendo analisada: “Existe uma questão social

nesse processo também. Não dá sim-plesmente para tirar as pessoas de lá”, lembra a procuradora seccional da União em Caxias, Caroline Busetti.

Caroline diz que instaurou centenas de procedimentos administrativos a respeito de ocupações irregulares na área. Em alguns casos houve acordo entre as partes. As situações mais gra-ves que não terminaram em consenso foram transformadas em ações judi-ciais. Uma delas é o caso de um con-junto de moradias instaladas na região da extinta Pedreira Guerra. A União conseguiu a reintegração de posse e as famílias tiveram que deixar o local. O caso dos Guinchos Kabika aguarda sentença.

A procuradora acredita que o con-vênio que está para ser firmado en-tre o município e o IPHAN para que possam ser feitas intervenções na área da estação férrea pela prefeitura pode ajudar no andamento dos processos e também na tomada de decisões a res-peito do que fazer com os imóveis pri-vados instalados na área pública. “São casos complicados, porque existem ca-sas construídas dentro de um terreno considerado histórico.”

O projeto que resultou no tom-

bamento dos quatro prédios da Esta-ção Férrea de Caxias incluiu também o terreno onde essas construções estão localizadas, desde a Rua Augusto Pes-tana até a Marechal Floriano. Todo o

espaço que hoje é usa-do como rua e também como estacionamento deveria estar, por lei, sendo usado apenas com fins culturais, ca-tegoria na qual não está inserida a função de passagem ou parada de veículos.

“Não vamos ser ra-dicais e proibir, de uma hora para a outra, o es-tacionamento naquele local, mas isso, mais

cedo ou mais tarde, vai ter que acabar acontecendo”, diz Feldmann.

O arquiteto Carlos Eduardo Pedone lembra que o Plano Diretor de Caxias do Sul protege as áreas históricas da cidade e também em redor. Significa que, além de restaurar aqueles prédios antigos e retirar carros do terreno tom-bado, a prefeitura terá que pensar em uma maneira de melhorar os arredores do Largo da Estação, por segurança do patrimônio e também uma questão es-tética. “As áreas de interesse histórico possuem regras para o seu entorno. O trânsito de veículos pode abalar as es-truturas e um grande estacionamento destoa do visual histórico.”

Uma locomotiva está sendo constru-ída para circular pelos trilhos da Esta-ção Férrea nas festas do centenário da chegada do trem em Caxias, em junho. Outras intervenções, como a constru-ção de um museu virtual que conte a história do trem no Depósito de Lo-comotivas ou a retirada de trânsito e estacionamento do local precisarão esperar. A expectativa é que todos es-ses planos e iniciativas se concretizem a partir da assinatura do convênio que dará à prefeitura autorização para in-tervir na região da Estação.

Uma locomotiva está sendo construída para circular pelos trilhos da Estação Férrea nos festejos do centenário da chegada do trem

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De cima para baixo: Casa do Administrador, estação de Forqueta e ruínas do Rizzo

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por GRAZIELA [email protected]

m detalhe imperceptível, que passaria batido pelo mais ardiloso bandido, pode ser suficiente para colocá-lo na mira da polícia. Em tempos de novas metodologias científicas, descobertas químicas e genéticas e equipamentos avançados, qualquer distração do ban-dido está sujeita a se transformar em prova incontestável contra ele. Um fio de cabelo, um rastro de sangue ou um resíduo de saliva são suficientes para solucionar até o crime aparentemente perfeito.

Parece ficção, seriado de tevê, fil-me americano. Mas aconteceu no Rio Grande do Sul. E não foi uma vez. Foram duas só nos últimos 15 dias. A descoberta do assassino do secretá-rio de Saúde de Porto Alegre, Eliseu Santos, 63 anos, e a prisão do médico traumatologista de Caxias Paulo dos Santos Dutra, 50 anos, foram possíveis graças a exames de DNA realizados por peritos da polícia civil gaúcha.

No caso do médico de Caxias, o que o colocou na cadeia foram a saliva encontrada no seio de uma paciente adolescente e resíduos de uma relação sexual (forçada, segundo a polícia) no corpo de uma agricultora de 49 anos. Amostras de DNA coletadas nas duas mulheres coincidiram com as encon-

tradas na escova de dentes de Dutra.No caso do secretário Eliseu Santos,

foram amostras de sangue do assassino coletadas no local do crime. Embora tenha matado o secretário, o crimi-noso, também chamado Eliseu, de so-brenome Pompeu Gomes, tinha sido ferido deixara rastros de sangue antes de fugir.

Os crimes investigados na Capital e em Caxias do Sul são completamente diferentes. O primeiro deles é homicí-dio; o segundo, abuso sexual. Mas eles possuem um detalhe em comum. Em ambos os casos, os suspeitos deixaram vestígios orgânicos que possibilitaram aos peritos coletar amostras de DNA. É o que bastou para a ciência entrar no jogo – e para ganhar.

Os crimes sexuais são os que mais dão trabalho ao setor de genéti-ca forense do Laboratório do Institu-to Geral de Perícias (IGP) do Estado, localizado em Porto Alegre, para onde vão todas as amostras de DNA colhi-das no Rio Grande do Sul. Segundo a perita Trícia Albuquerque, cerca de 40% de toda a demanda do laboratório de genética são as agressões sexuais.

Para esse laboratório que foram en-caminhadas as provas recolhidas do corpo da adolescente e da agricultora que denunciaram o médico Paulo dos Santos Dutra. A coleta foi feita no De-

partamento Médico Legal (DML) de Caxias, quando elas fizeram o exame de corpo de delito.

O odontolegista Lúcio André Eber-le, do DML de Caxias, explica que a amostra é colhida do corpo da vítima com um equipamento chamado swab, uma espécie de cotonete. Ele é friccio-nado contra o local que pode conter resíduos de DNA do suposto crimino-so, depois colocado em um envelope de papel – não pode ser plástico, pois poderia haver alguma reação química – e enviado ao Laboratório de Perícias do IGP, em Porto Ale-gre, onde é encaminha-do para análise genéti-ca junto com diversos outros materiais cole-tados em cenas e situa-ções de crime em todo o Rio Grande do Sul.

“Qualquer fragmento orgânico que possa ser analisado é coletado e encaminhado para análise, desde que haja uma soli-citação do delegado”, explica Eberle.

Conseguir o DNA do médico para poder compará-lo com o encontrado no corpo da adolescente e no da agri-cultora foi um pouco mais difícil do que a coleta nas vítimas. O suspeito não quis ceder nenhuma amostra es-

pontaneamente, o que por lei é possí-vel, já que ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo. A juíza Sonáli da Cruz Zluhan precisou expedir um mandado de busca e apre-ensão de uma escova de dentes na casa do traumatologista.

Em 16 anos de carreira, Sonáli já ti-nha determinado apreensões de mui-tos objetos, mas nunca de uma escova de dentes. “Já trabalhamos com vestí-

gios em casos de cri-mes. Mas com a escova de dentes, para mim, foi a primeira vez”.

A escolha do objeto do médico que seria analisado pelo IGP era fundamental para que a amostra retirada dele fosse perfeita. A perita Trícia, que foi quem re-cebeu o material, expli-ca que a escova de den-tes é um dos melhores objetos para investiga-

ção genética. “De todas as outras coisas que são

usadas pelas pessoas, essa é a que tem menos chance de ser compartilhada com outros. Portanto, as possibilida-des de se encontrar mais de um DNA nela são mínimas, o que faz com que o exame seja certeiro.” E foi exatamente o que aconteceu. O perfil identificado

Detetive tecnológico

“Já trabalhamos com vestígios em casos de crimes. Mas com a escova de dentes, para mim, foi a primeira vez”, afirma a juíza Sonáli

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A coleta de perfil genético é feita com instrumentos simples, com o swab, uma espécie de cotonete usado para recolher amostras, antes de passar por uma análise complexa

A ciência tem sido uma das principais aliadas da polícia gaúcha na elucidação de crimes, principalmente os sexuais

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nessa escova era idêntico ao encontra-do no corpo das vítimas, o que possibi-litou a prisão do médico.

Trícia explica que o material genético pode ser identificado a partir de qualquer amostra orgânica do corpo da pessoa, até de um fio de cabelo. “A única dificul-dade do fio de cabelo é que o núcleo do DNA está somente na raiz”, ressalva. Quando se consegue fazer a aná-lise, o resultado é sem-pre perfeito, sem deixar dúvidas. “Ela é feita por um aparelho que transforma as regiões do DNA analisadas em uma espécie de gráfico. Se as amostras forem da mesma pessoa, os gráficos se-rão exatamente iguais. Por isso esse é um exame tão preciso.”

E também muito seguro, em todos os sentidos. O material coletado não é apenas analisado com cuidado. Recebe um tratamento especial de armazena-mento, em que as condições ambien-tais e a segurança são fundamentais. “Todas as amostras ficam em um free-zer identificadas por códigos, aos quais apenas algumas pessoas têm acesso. Então, qualquer indivíduo que não seja autorizado a trabalhar com essas amostras jamais saberá de quem elas são, o que elimina as chances de mani-pulação”, diz Trícia.

Além disso, os freezers são cadeados, e há guardas que garantem que somen-te funcionários autorizados acessem o prédio onde funciona o Laboratório de Perícias do IGP. “Mesmo que houves-se um arrombamento de cinema, não adiantaria, porque o arrombador não conseguiria identificar as amostras.”

Trícia conta que o IGP faz, em média, 30 análises de DNA por mês, embora algumas vezes a quantidade de pedidos ultrapasse esse número. Ao todo, seis peritos trabalham diariamente apenas no setor de genética forense e, mesmo assim, eles nem sempre conseguem dar conta da demanda. “E nós só fazemos a análise quando existe um suspeito.

Ou seja, não se analisa o DNA de uma vítima se não houver o de um suposto agressor para comparar”, explica.

O Rio Grande do Sul foi o pri-meiro Estado brasileiro a adotar os

exames de DNA nas investigações, e tem feito isso desde 2000. É também o líder em quantidade de análises genéticas, ganhando até de São Paulo.

O delegado que in-vestiga a morte de Eliseu Santos, Bolívar dos Reis Llantada, que trabalhou anos em Ca-xias, explica que isso acontece porque a so-licitação desse exame

já entrou na rotina policial gaúcha. Sempre que ficam vestígios orgânicos nas vítimas ou nas cenas dos crimes é possível recorrer ao recurso científico do DNA. E ele vale mesmo quando o suspeito não está ao alcance da polícia. No caso Eliseu, como o bandido estava foragido, foram feitas análises do DNA da mãe e de um dos irmãos dele, o que já bastou como prova.

“Se o criminoso foi ferido na cena do crime e deixou no cenário dos fatos o seu sangue, então o exame em pauta se torna viável. Outra situação é quando a vítima lutou com o agressor antes de morrer. Colhe-se, então, material genético embaixo de suas unhas para confrontá-lo com o do suspeito. Cabe também em crimes sexuais”, diz Bolí-var.

E esse não é o único recurso cientí-fico do qual a polícia se utiliza para a elucidação de crimes. No Laboratório de Perícias do IGP, além da divisão de genética, há dois setores que também trabalham com análises químicas e científicas. Um deles é o de toxicolo-gia, onde são analisadas amostras de sangue e urina para detectar se um criminoso estava sob efeito de drogas e apontar qual substância teria sido usada. O mesmo tipo de exame pode ser feito para esclarecer crimes de en-venenamento. Em caso de cadáveres, são usadas partes do corpo retiradas

no DML durante a necropsia. O outro setor do laboratório é o de

química forense, que realiza exames para descobrir se há resíduos de chum-bo, bário ou antimônio – elementos químicos presentes em projéteis de ar-mas de fogo – na mão de um provável criminoso. É usado, por exemplo, em casos de supostos suicídios nos quais o delegado suspeita de que possa ter ocorrido, na verdade, um homicídio. Como esses resíduos só ficam nas mãos de quem atira, é possível saber a partir deles quem foi o atirador.

E há ainda recursos nem tão cientí-ficos ou complexos, mas que também são usados rotineiramente pela polícia, como o do luminol, que combina o uso de um produto químico com uma es-pécie de lanterna para revelar vestígios de sangue. “Houve um caso em Caxias em que a mulher matou o companhei-ro com ajuda do enteado, porque ele estaria abusando de uma das filhas dela. O corpo foi guardado dentro de uma van e queimado, e o local onde o crime ocorrera foi lavado. Quando isso acontece, não tem como arreca-dar material genético, tipo sanguíneo, fator Rh etc. que possam servir para teste de DNA. Mas restam outras pro-vas subsidiárias. Nesse caso, usamos o luminol, que identifica as manchas de sangue mesmo depois que ele é lavado, e provamos que o homicídio ocorrera dentro da casa”, conta Bolívar.

O delegado regio-nal de Polícia, Paulo Roberto Rosa da Silva, lembra que há ainda uma série de análises e exames mais comuns, mas que também usam técnicas e tecnologias especializadas e são igualmente importan-tes na investigação. “Nós temos o exame de balística, por exemplo, que é muito esclarece-dor em casos de homicídio e tentativas de homicídio. É feita uma análise do projétil retirado do corpo da vítima. Com um mandado de busca e apre-ensão na casa do suspeito, se nós con-

seguirmos localizar a arma, teremos condições de comparar se o projétil saiu daquela arma ou não.”

Há, ainda, o teste de impressões digi-tais das palmas das mãos ou das pontas dos dedos. Elas são colhidas nos locais de crime e depois podem ser compara-das com as dos suspeitos. O delegado conta que já existe um banco de dados eletrônico de impressões digitais no qual estão colocados os registros de todas as pessoas que tiveram alguma passagem recente pela cadeia ou da-quelas que fizeram a carteira de identi-dade depois que o documento passou a ser confeccionado no computador.

“Infelizmente, o IGP não conseguiu ainda digitalizar todas aquelas iden-tidades feitas quando o sistema ainda era manual. Mas quando esse banco de dados estiver concluído, nós teremos condições de colher as impressões no local do crime, lançá-las num sistema e, em seguida, por meio de um pro-grama de computador, identificar de quem são aquelas impressões”, projeta o delegado regional.

Um banco semelhante está sendo organizado com amostras de DNA. O objetivo é digitalizar perfis de DNA de criminosos colhidos dos próprios sus-peitos ou dos corpos de suas vítimas para que, em caso de reincidência, eles sejam facilmente identificados. Isso deve ajudar, principalmente, na solu-ção de crimes sexuais, tipo de delito

em que os agressores costumam agir mais de uma vez.

O delegado Paulo afirma que o uso de re-cursos científicos tem sido fundamental para o trabalho policial. Ele conta que uma série de casos relacionados a abuso e estupro tem sido elucidados na re-gião graças às técnicas modernas de investiga-ção. “Nós ainda temos

muito para evoluir. Mas o IGP do Rio Grande do Sul é um dos melhores do país, e grande parte desse reconheci-mento vem das tecnologias e metodo-logias científicas de que dispomos.”

O IGP do RioGrande do Sul foi o primeiro ausar os exames de DNA nasinvestigações, e é consideradoum dos melhoresdo país

Um banco de amostras de DNA colhidas de criminosos está sendo organizado para auxiliar na resolução dos casos de reincidência

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Amostras de DNA colhidas durante o exame de corpo de delito, realizado do DML, têm ajudado a esclarecer uma série de casos na região

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por JOSÉ EDUARDO [email protected]

omputadores mais baratos, multipli-cidade de aplicativos, velocidades de conexão mais altas, profusão de novos sites, redes sociais que não param de crescer. A primeira década do século XXI intensificou a digitalização do dia a dia do homem em um ritmo irrefreá-vel. Entretanto, uma grande parcela da sociedade, por motivos econômicos ou culturais, ainda não faz parte do uni-verso binário. O mundo digital torna-se cada dia mais acessível, mas não é, ainda, um mundo de todos.

Assim como nas décadas anteriores uma das principais metas governa-mentais era erradicar o analfabetismo, desde a última década as atenções se voltam para o desafio de fazer com que o maior número de pessoas tenha acesso ao correio eletrônico, consiga navegar na internet ou simplesmente aprenda a usar um computador. Mui-tos projetos foram e estão sendo desen-volvidos nessa área, inclusive em par-cerias de diferentes esferas de governo.

Um bom exemplo pode ser encon-trado no bairro Reolon. É a Casa Bra-sil. Inicialmente, o governo federal investiu na adequação das instalações, na compra dos computadores e no pagamento dos funcionários por um período de dois anos. Hoje, o espaço é mantido pela prefeitura, via Fundação

de Assistência Social (FAS). A oportu-nidade de ter acesso ao mundo virtual afetou a vida de muitos moradores da comunidade, começando pelos pró-prios monitores. A coordenadora da unidade, Cristiane Ferreira, conta que boa parte dos colegas não acreditava que receberia uma chance de cresci-mento – um pessimismo que a inicia-tiva da Casa Brasil deixou no passado com aqueles a quem abrigou.

Patrick Medeiros é monitor do tele-centro da Casa Brasil, responsável por assessorar mais de 1 mil pessoas que utilizam os computadores ali todos os meses. Patrick conta que a maioria de-las busca os equipamentos para criar ou atualizar currículos, isto é, usa a in-formática como ferramenta para con-seguir trabalho e, por consequência, o sustento. Cristiane confirma o relato do colega com alegria, fazendo uma rá-pida estimativa: das últimas 15 pessoas que a haviam procurado para enviar currículos, 10 saíram empregadas.

O telecentro tem 18 computado-res, sendo quatro destinados exclusi-vamente à realização de trabalhos e pesquisas escolares. Todos os usuários preenchem uma ficha com nome e escolaridade na entrada e têm acesso livre para navegar por até 30 minu-tos. Para quem for realizar trabalhos, o tempo é indeterminado, e não é ne-cessário fazer o registro. O laborató-rio conta ainda com impressora, que

é disponibilizada gratuitamente. Para os jovens e crianças, os frequentado-res mais assíduos, são oferecidos jogos educativos – diversão e instrução a um só tempo. Essa é uma das finalidades do telecentro. Não apenas disponibili-zar o computador, mas oferecer o que fazer com ele.

Em uma sala contígua ao telecentro, o técnico em multi-mídia Jerônimo Cruz oferece o serviço de criação de arte para empreendedores lo-cais. “É comum donos de mercadinhos, pada-rias ou mecânicas vi-rem para criar cartões de visita, cartazes, in-formativos ou folders”, explica. Neste semes-tre, uma outra fatia da comunidade será contemplada com cur-sos de edição de imagem em softwares livres.

A vida do próprio Jerônimo foi al-terada com o ingresso na Casa Brasil, há dois anos. Antes, trabalhava como metalúrgico. Integrado à equipe da instituição, fez cursos, aprendeu a usar diversas ferramentas de informática, produziu um curta-metragem e deve coordenar um projeto interno de rádio web ainda este ano.

Descendo as escadas em direção ao

subsolo, chega-se ao laboratório de manutenção da Casa. Lá são reuni-dos computadores e monitores com problemas de funcionamento que são doados à instituição. O técnico do la-boratório, Douglas Machado, conta que normalmente é preciso usar três máquinas avariadas para montar uma que funcione. “Em 2009, consegui

montar 15 computado-res, que foram doados para usuários do tele-centro”, relata. O ma-terial que Douglas não consegue aproveitar é transformado em peças decorativas estilizadas – e o restante vai para a reciclagem.

Um outro projeto

social, coordenado pela Secretaria Municipal do Desenvolvimen-

to Econômico, Trabalho e Emprego, abrange diversas regiões de Caxias. São os 14 Centros de Inclusão e Alfabetiza-ção Digital (Ciad), que proporcionam acesso gratuito aos computadores e à internet.

O distrito de Vila Cristina está apro-ximadamente a 30 quilômetros do Centro, seguindo pela BR-116 em di-reção a Nova Petrópolis. Após ingres-sar em uma pequena estrada vicinal, atrás da nuvem de poeira levantada

Questões tecnológicas

“É comum donos de mercadinhos e mecânicas virem para criar cartões de visita, cartazes, informativos ou folders”, diz Cruz, da Casa Brasil

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Pulverizada em diversas iniciativas, públicas e privadas, a inclusão digital é um desafio emergente na cidade

Conhecimento passado adiante: Mateus Barcarolo, 16 anos, que faz curso de programação e manutenção de computadores, é monitor do Ciad de Vila Cristina

O ACESSOÉ Só O COMEÇO

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pelo contínuo tráfego de carros e ca-minhões, se encontra a subprefeitura, que abriga o Ciad da localidade. Carlos Ramon, funcionário público e presi-dente da Associação Comunitária do distrito, é responsável pela segurança do local. Essa política é aplicada em todos os demais Ciads: o município cuida das despesas e uma instituição da comunidade se encarrega da preser-vação do espaço. O resultado pode ser observado através dos números: em três anos de funcionamento dos Ciads, houve apenas o furto de um computa-dor, na unidade do bairro Santa Fé.

Logo após o almoço, a pequena sala com 12 computadores e iluminada por uma grande janela basculante já está repleta de jovens, principalmente meninas, que trocam informações em

sites de relacionamento. Um rapaz se destaca no meio do burburinho das adolescentes. Mateus Barcarolo, 16 anos, ocupa a função de monitor no período da tarde, turno inverso ao que estuda. “Estou no segundo ano do en-sino médio e pretendo trabalhar aqui até me formar”, adianta Mateus, que também faz cursos de programador e de manutenção de computadores.

O Ciad de Vila Cristina fica aber-to das 13h às 18h. Ramon conta que, nesses três anos de funcionamento do laboratório junto à subprefeitura, muitos moradores da região tiveram oportunidade de aprender a trabalhar com algumas ferramentas digitais. E para atender um público ainda maior, o presidente da Associação diz que está providenciando cursos para adultos em horários alternativos, possivelmen-te aos sábados pela manhã.

Além de promover a inclusão digital da comunidade – e servir aos viajantes da BR-116, que aproveitam uma para-da na viagem para acessar e-mails no Ciad –, o telecentro oferece os compu-tadores como ferramenta de trabalho e estudo para os professores e alunos da Escola Estadual Dr. Renato Del Mese, que ainda não possui laboratório pró-prio. Muitas vezes, relata Ramon, é lá que os professores pesquisam e elabo-ram suas provas.

Fatos como esse ainda são co-muns em pequenas escolas estaduais distantes dos centros urbanos. Mas a titular da 4ª Coordenadoria Regio-nal de Educação (CRE), Marta Fatto-ri, afirma que nos últimos três anos o governo estadual tem dado prioridade para a inclusão digital. Um dos progra-mas com esse fim é o Sala de Aula Di-gital, que visa a construir ou atualizar os laboratórios já existentes das escolas com mais de 100 alunos em todo o Es-tado. Pelo projeto, cada colégio recebe 10 computadores e R$ 11,5 mil para custear as instalações.

Mesmo com a infraestrutura neces-sária, o empecilho para que os alunos usem os laboratórios de informática pode estar nos próprios professores, entre os quais também há uma parcela

de excluídos digitais. Estes precisam se adaptar à nova realidade tecnológica e aprender a transmitir seus conteúdos valendo-se das inúmeros ferramentas que os computadores oferecem. A ca-pacitação desses profissionais vai, aos poucos, ganhando dimensão. Até o fim do ano passado, dos 4 mil professores da rede estadual na região, 1,4 mil ha-viam recebido treina-mento do Núcleo Tec-nológico do Estado. Além disso, 300 alu-nos foram capacitados como monitores para prestar auxílio nos la-boratórios.

Esse esforço recen-te também ajudará a equilibrar o nível de conhecimento tecno-lógico em escolas com experiências distintas, das mais avançadas às mais atrasadas. Em 2011 fará 20 anos que o primeiro com-putador foi instalado nas escolas esta-duais de Caxias. Em meados de 91, a escola Professor Apolinário Alves dos Santos tornou-se pioneira na infor-matização do seu banco de dados. Os velhos arquivos foram substituídos por um computador, destinado a armaze-nar a vida escolar dos alunos. Quase

uma década depois, em 2000, o colégio Rachel Grazziotin inaugurou um dos primeiros laboratórios da rede estadu-al na cidade, e em 2002 foi implantada a conexão de banda larga. Por sua vez, o Imigrante foi um dos primeiros a ter correio eletrônico, em 2000. A 4ª Co-ordenadoria não informa exatamente quantas das escolas estaduais de Ca-xias disponibilizam computadores aos estudantes. Na rede municipal, das 85 escolas, 58 contam com laboratório de informática.

Inclusão digital, ou atualização tecnológica, naturalmente, não é tema de casa apenas para professores. Mui-tos outros profissionais precisam disso. E outros, mesmo que não tenham essa necessidade, manifestam a vontade.

Ter um domínio básico do computa-dor passou a ser o desejo de muitos adultos, que agora procuram cursos privados de alfabetização digital como o desenvolvido pela Topdown Infor-mática.

Um dos alunos da escola é Paulo José Pezzi, empresário do setor de combus-tíveis. Paulo, 65 anos, esteve rodeado

por tecnologia por qua-se toda a vida. Iniciou vários cursos de gradu-ação, mas foi adminis-trando postos de gaso-lina que se encontrou profissionalmente. Para seus negócios, comprou dezenas de computado-res e máquinas de leitu-ra de cartões de crédito. Informatizou todos os seus postos, e ainda as-sim não sabia mandar um e-mail. “Quando comecei a trabalhar, eu

usava máquina de escrever. Sei dati-lografar com todos os dedos”, lembra, com orgulho, simulando o movimento dos dedos no ar. Mas o receio de Pau-lo era o mesmo de muitas pessoas que têm ressalvas de aprender algo novo que julgam ser complicado: as aulas teóricas e as intermináveis leituras. O que Paulo queria era um curso práti-

co. “Esperava sentar na frente do com-putador e já fazer alguma coisa, e não ficar lendo apostilas.” E foi exatamente o que ele encontrou. No primeiro dia de aula já aprendeu as noções básicas e acessou um site.

Atualmente, Paulo usa o computa-dor, entre outras atividades, para en-viar mensagens à sua lista de contatos do e-mail. Ele aconselha a todos fazer um curso e aprender a usar o compu-tador. “As pessoas não podem ter ver-gonha de não saber mexer num com-putador. Elas devem fazer um curso e aprender. Isso é um investimento. Até meus frentistas tinham de saber mexer no computador e eu não sabia. Não há mais limite de idade para aprender.”

O caso de outra aluna, a dona de casa Marisa Frare Rech, 52 anos, é um pou-

co diferente. A necessidade de apren-der a manejar o computador surgiu em busca de uma alternativa mais barata de comunicação. Aconteceu quando o marido dela foi trabalhar na Argenti-na e os dois perceberam que a internet seria a ferramenta mais viável para se falarem. “Eu tomei a iniciativa. Ten-tei fazer outro curso antes, mas não aprendi nada. Aqui, todas as pessoas têm as mesmas dificuldades e apren-dem juntas”, diz a persistente Marisa. Com poucos meses de currículo no mundo digital, ela já usa MSN, Orkut e e-mail para se comunicar com amigos e parentes.

O diretor da Topdown, Luiz Antônio Kuyava, ressalta que o curso tem como objetivo fazer do computador uma ferramenta de comunicação, e não de trabalho. “Aprendemos como tratar as pessoas que têm medo de computador. Os alunos trabalham em conjunto. Os que têm mais facilidade ajudam os re-tardatários. Toda a turma trabalha uni-da”, explica.

No curso Normal do colégio Cristóvão de Mendoza também se en-sina a usar as ferramentas da internet, só que aplicadas ao conteúdo escolar. A idealizadora do projeto foi a pro-fessora de matemática e especialista em informática Terezinha Bernarde-

“As pessoas nãopodem ter vergonha de nãosaber mexer numcomputador. Devem fazer um curso e aprender”, diz o empresário Paulo Pezzi

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Atualização de currículos, pesquisas escolares e acesso a redes sociais são os usos mais frequentes nos Ciads

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te Motter. O trabalho dela consistiu na aplicação de uma metodologia de aprendizagem específica. “A turma foi dividida em grupos, e cada um tinha a missão de desenvolver um site sobre um tema determina-do. Elas começavam criando pastas, depois pesquisando imagens e textos e em seguida publicavam o material”, conta a professora. A iniciativa rendeu os prêmios Professor do Brasil e Educador Ino-vador Microsoft, além da terceira colocação no Educador América Latina para Bernardete.

Outro programa ino-vador é o do professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Gilson Schwartz. Ele lançou na última quarta-feira (17) um projeto que pre-tende aliar inclusão digital e ensino de forma lúdica, por meio de um jogo de computador. O conceito ainda é novo no Brasil, mas na Europa e nos Estados Unidos já está bem disseminado. O se-rious game, como é chamado, é uma ferramenta para cativar o aluno a que-rer aprender mais. O jogo de Schwartz chama-se Conflitos Globais América Latina. Assumindo o papel de um jor-nalista investigativo, o jogador deve escrever uma reportagem sobre um assunto de risco social. Assim, além de aprender e explorar o uso do compu-tador, o estudante direciona-o para a geração de conhecimento. “Você entra no game e a missão é construir con-teúdo. A partir daí são geradas redes sociais entre professores e alunos, e as melhores reportagens são premiadas”, detalha o pesquisador. Para ele, a in-clusão digital é algo muito maior do

que somente oferecer o acesso. “Alguns anos atrás, inclusão significava ter acesso. Ainda há muito a se fazer nes-sa área. Mas hoje, a grande questão é o acesso a um conteúdo digital. Incluir

as pessoas em debates sob plataformas onli-ne”, acredita.

Mas o acesso, e mais especificamente o acesso à internet, ain-da são aspectos longe de serem superados. A maioria das cidades ainda engatinha em políticas públicas de distribuição de sinal. Muitas à espera do desenrolar do deba-

te sobre um sinal público de internet, semelhante ao que ocorre com a TV aberta e o rádio. Algumas cidades gaú-chas já tiveram experiências nesta área. O caso mais próximo de Caxias é o de Flores da Cunha.

Em 2008, torres foram instaladas em locais estratégicos dos bairros e no Cen-tro e ofereceram o sinal wireless para os moradores da cidade vizinha. Os usuários precisaram apenas comprar o equipamento de recepção e solicitar uma senha de acesso na prefeitura, pa-gando uma taxa de R$ 25. O resultado foi um número de conexões superior à capacidade da rede. Depois da última eleição, a nova administração resolveu mudar o sistema. O atual secretário da Administração, Sérgio Dal’alba, conta que o sinal continua em funcionamen-to, mas a distribuição de novas senhas foi cancelada. O sinal será privatizado, e a “internet gratuita”, como chegou a ser chamada, se tornará uma internet barata. “Estamos concluindo o edital, e acredito que em maio já teremos uma

empresa vencedora. As pessoas terão uma internet mais veloz e com um preço mais acessível. Legalmente, não parecia correto a prefeitura agir como provedor”, justifica.

Em Porto Alegre, tida como referên-cia no país em projetos de inclusão di-gital, desde 2006 os parques Moinhos de Vento e Farroupilha (Redenção) e as praças da Alfândega e Esplanada da Restinga contam com sinal wireless aberto para que qualquer pessoa que tiver um equipamento, seja celular, notebook ou netbook, possa acessar a internet. Outra inciativa da Capital, realizada de forma experimental, foi a utilização da tecnologia Power Line Communications (PLC), que trans-mite dados pela rede elétrica. Uma parceria entre a Companhia de Pro-cessamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa) e a CEEE resultou num projeto-piloto que ali-mentou todo o bairro da Restinga com banda larga.

Entretanto, conforme o diretor-presidente da Pro-cempa, André Imar Kulczynski, no fim de 2009 a Anatel regula-mentou o serviço, e o projeto, que tinha fim de pesquisa, teve de ser cancelado. Atualmen-te, nenhuma empresa comercializa o serviço no Brasil. “As redes de energia elétrica preci-sam de um grande in-vestimento para poder oferecer o serviço, e so-mente as empresas de telecomunicação podem fornecê-lo. Então, quem fará o investimento?”, questiona.

Em Caxias, coube a algumas institui-ções privadas dar os primeiros passos

em direção à liberação do sinal. O sho-pping Iguatemi oferece a rede wireless aos clientes há três anos, e em outubro de 2009 o serviço se tornou gratuito. Em dezembro do ano passado, a Uni-versidade de Caxias do Sul disponibili-zou o sinal para alunos e funcionários. “Temos mais de 120 pontos em todas as unidades, que tem a capacidade de atender 2,5 mil alunos simultanea-mente. Colocamos o sinal nas áreas de convivência, de trânsito, bibliotecas e principais auditórios”, diz o supervisor do Núcleo de Processamento de Dados da UCS, Heitor Strogulski. Esse inves-timento inicial custou cerca de R$ 550 mil. Conforme Heitor, a universidade deve realizar a segunda etapa do pro-jeto ainda no segundo semestre deste ano, aumentando o número de pon-tos de internet, e, em 2011, concluir a terceira etapa, que contemplará toda a universidade com o sinal.

Na prefeitura, o movimento mais recente é a criação do Comitê Muni-cipal de Inclusão Digital (Cmid), em

outubro de 2009, com o objetivo de unificar e ampliar todas as políti-cas de inclusão digital da cidade. O projeto segue sob coordenação do secretário munici-pal do Planejamento, Paulo Dahmer. O as-sessor técnico da secre-taria, Peterson Danda, informa que o edital de criação de uma Cidade Digital está em fase de confecção. “Todos os

órgãos públicos serão interligados com conexão de banda larga. Além disso, o Parque dos Macaquinhos também deve receber o sinal”, antecipa Peter-son.

“Alguns anos atrás, inclusão significava ter acesso. Hoje, a grande questão é o acesso a um conteúdo digital”, afirma o professor Schwartz

“Todos os órgãos públicos serão interligados com conexão de banda larga. O Parque dos Macaquinhos também deve receber o sinal”, adianta Peterson

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Mais de 1 mil pessoas utilizam os computadores da Casa Brasil, no bairro Reolon, todos os meses

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l A vida Íntima de Pipa Lee | De quinta a domingo, 20h | Ordovás

Mulher de 50 anos dedica a vida aos filhos e ao marido, 30 anos mais velho. Ao se mudarem para um bairro afas-tado, ela começa a se descobrir ao co-nhecer um rapaz, o que a faz lembrar de momentos difíceis de sua história. Dirigido por Rebecca Miller. Com Ro-bin Wright-Penn, Keanu Reeves e Ju-lianne Moore. 93 min., leg..

l Como água para Chocolate | Drama. Quinta (25), 15h. Entrada franca | Ordovás

Moça se apaixona por rapaz, mas não pode se envolver por conta da tra-dição. Ele então casa com a irmã dela para poder ficar por perto. Dirigido por Alfonso Arau. Com Marco Le-onardi e Lumi Cavazos. 14 anos, 105 min., leg.. Matinê às 3.

l O Livro de Eli | Ação. De sábado a quinta, 14h30, 17h, 19h30 e 22 | Iguatemi

Em futuro pós-apocalíptico, herói solitário protege livro sagrado que pode conter segredo para salvação da humanidade. Dirigido por Albert e Allen Hughes. Com Denzel Washing-ton e Gary Oldman. 16 anos, 118 min., leg..

l vírus | Suspense. De sábado a quinta, 14h, 16h30, 19h20 e 21h10 | Iguatemi

Um vírus mortal se espalhou pelo mundo. Quatro jovens viajam ao Gol-fo do México para sobreviver, mas seus planos começam a dar errado quando carro quebra em uma estra-da isolada. Dirigido por Alex e David Pastor. Com Chris Pine e Piper Pera-bo. 12 anos, 84min., leg.

AINDA EM CARTAZ - Alvin e os Esquilos 2. Comédia. De sábado a quinta, 14h40. Iguatemi. De sábado a quinta, 16h. UCS | Amor Sem Esca-las. Comédia romântica. De sábado a quinta, 18h. UCS | Avatar. Ficção científica. De sábado a quinta, 18h20 (dub.). Iguatemi. De sábado a quinta, 20h (dub.). UCS | Idas e vindas do

Amor. Comédia Romântica. De sá-bado a quinta, 16h40, 19h10 e 21h50. Iguatemi | Lembranças. Romance. De sábado a quinta, 16h20, 18h50 e 21h30. Iguatemi | Percy Jackson: o Ladrão de Raios. Aventura. De sábado a quin-ta, 13h50. Iguatemi | Simplesmente Complicado. Comédia romântica. De sábado a quinta, 13h40, 16h e 21h20. Iguatemi.

INGRESSOS - Iguatemi: Segunda e quarta-feira (exceto feriados): R$ 11 (inteira), R$ 7,50 (Movie Club Prefe-rencial) e R$ 5,50 (meia entrada, crian-ças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). Terça-feira: R$ 6,50 (promocional). Sexta-feira, sábado, domingo e feriados: R$ 13 (inteira), R$ 10 (Movie Club Preferencial) e R$ 6,50 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). RSC-453, 2.780, Distrito Industrial. 3209-5910 | UCS: R$ 10 e R$ 5 (para estudantes em geral, sênior, professo-res e funcionários da UCS). Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Galeria Univer-sitária | Ordovás: R$ 5, meia entrada R$ 2. No projeto Matinê às 3, entrada franca. | Luiz Antunes, 312, Panazzo-lo. 3901-1316

l Semana do Teatro | De sábado (20) a sábado (27)

Em comemoração a duas datas teatreiras, o Dia Internacional do Teatro para Infância e Juventude (20 de março) e Dia Internacional do Teatro e do Circo (27 de março), nasceu a Semana do Teatro. Até o próximo sábado, dia 27, o tema será debatido, apresentado, ensaiado e o que mais for possível. Não será uma semana somente de peças distribuídas em horários diversos para atender a diferentes tipos de público e de todas as idades. O objetivo é engrandecer a arte do teatro com o diálogo. Além de uma oficina e da descentralização de espetáculos, apresentados pelos bair-ros da cidade, destacam-se os debates que serão realizados, um impulso à qualificacação do teatro na cidade.OFICINA: Quarta (24), quinta (25)

e sexta (26), das 18h às 21h. R$ 30. Casa das Oficinas – Estação Férrea. Augusto Pestana, s/n, São Pelegrino. 3901-1316 | DEBATES - Teatro para a infância e a juventude. Sábado, 14h. Teatro Municipal | Do teatro popular à descentralização. Terça (23), 19h30. Teatro do Sesc

l Maldito coração me alegra que tu sofras | Sexta (26), 21h |

Com texto de Vera Karam e direção de Mauro Soares, a peça apresenta a atriz Ida Celina interpretando uma mulher de meia-idade que relata o co-tidiano de sua vida amorosa.Tem gente teatrandoR$ 10 (público em geral) e meia-entrada (classe artística, estudantes e sênior) | Olavo Bilac, 300, São Pelegri-no | 3221-3130

l Mamãe, como eu nasci? | Sába-do, 16h30 |

Peça infantil do companhia carioca ACB Teatral trata com bom humor o tema da educação sexual.Casa da CulturaR$ 5 | Dr. Montaury, 1.333, Centro | 3221-3697

l Inscrições para o 12° Caxias em Cena | Até 14 de maio |

O festival recebe inscrições de gru-pos e companhias interessadas em participar do evento, que devem en-viar ficha de inscrição, ficha técnica, currículo do espetáculo, necessidades técnicas, material de divulgação, cli-pping e DVD/Vídeo do espetáculo na íntegra. O material pode ser entregue pessoalmente ou pelo e-mail [email protected]. Regulamento e ficha de inscrição estão disponíveis no site www.caxias.rs.gov.br.Unidade de Teatro da Secretaria Municipal de CulturaLuiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316

l Paisagens cósmicas | De terça a sexta, das 8h às 11h30 e das 13h30 às 18h |

A exposição conta com 21 painéis que mostram imagens reais de obje-

12 20 a 26 de março de 2010 Semanalmente nas bancas , diar iamente na internet .O Caxiense

CINEMA

[email protected] de CulturA

Cinema | ilha do medo

Paranoia cercada de água

TEATRO

EXPOSIÇÕES

Teddy Daniels (Leonardo Di Caprio) é um agente em missão num hospital de pacientes perigosos

por CÍNTIA HECHER

Filmes sobre jogos mentais que colocam o espectador em dúvida quanto ao que é real ou não na trama não são novidade, mas sempre podem ser bem trabalhados. Com o diretor Martin Scorsese de timoneiro, o navio de Ilha do Medo atravessa com sucesso o oce-ano dessa linha do suspense com Leonardo Di Caprio interpretando Teddy Daniels, membro da polícia federal americana. Seu novo parceiro é Chuck Aule (Mark Ruffalo). Os dois desembarcam na Ilha Shutter, local desolado que abriga uma instituição psiqui-átrica para criminosos. A ala A mantém os homens, a B, as mulheres. A C guarda os mais perigosos habitantes da ilha, não devendo ser visitada sem acompanhamento policial e de um dos psiquiatras de lá, Dr. Cawley (Ben Kingsley). No extremo do território, repousa um misterioso farol, que observa a ação.

Em meio a uma tempestade que os mantém ilhados, literalmente, os federais se aproximam do porquê de estarem lá: o desaparecimento de uma das prisioneiras, Rachel. “Paciente”, como gosta de frisar Dr. Cawley. Ela estava lá por ter matado seus três filhos afogados, mas vivia na ilusão de estar em casa, com os filhos na escola. A busca por essa fugitiva se transfor-ma num contínuo desvelar de cortinas que, ao invés de esclarecer, apimentam ainda mais uma história de paranoia, perseguição e loucura.

Teddy tem motivos especiais para ter escolhido aquele serviço: lá estava preso o homem que ateou fogo no prédio onde mora-va sua esposa (Michelle Williams). O jovem viúvo insiste na crença de que ela morreu sufocada com a fumaça, e não queimada. “É importante saber disso”, ele diz. E é mesmo, ao descobrirmos a verdade com o desenro-lar do filme. Ele vê a esposa em seus sonhos, fala com ela, que lhe aponta direções e, ao contrário do que se espera de quem morreu no meio do fogo, aparece molhada pedindo que ele a deixe ir. Ele não pode. E a chave da compreensão do filme é esse comportamento.

Os artifício da trama não são novos, mas sur-gem em um viés diferenciado. Claro que, para que não se estrague porventura nenhuma sur-presa, não se deve comentar muito sobre um filme de suspense. Basta lembrar, então, que esse é um gênero que Scorsese sabe manipular muito bem, vide Cabo do Medo. Ninguém vai ficar entediado na sala de cinema, isso é certo.

A questão é: melhor viver como um mons-tro ou morrer como um bom homem? Cada qual tem sua cota de insanidade a cumprir ou a esconder. Em Ilha do Medo, a afirmação de Teddy de que loucura não é contagiosa pare-ce não ser de grande valia. Lá, confundem-se os sãos com os perturbados. Porque, no fundo, todos somos um pouco de cada.

l Ilha do medo | Suspense. De sábado a quinta, 13h30, 16h10, 19h e 21h40 | Iguatemi

Dupla de agentes federais investiga de-saparecimento de fugitiva de hospital que abriga maníacos criminosos. Dirigido por Martin Scorsese. Com Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo. 14 anos, 138 min., leg..

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Estrelas do blues no teatro

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tos celestes, como planetas e galáxias. Entre eles, um painel maior descreve a evolução do universo desde o Big Bang.Museu de Ciências Naturais da UCSEntrada franca | Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Petrópolis

AINDA EM EXPOSIÇÃO - Corina, elegância e tradição nos figurinos da Festa da Uva . De segunda a sex-ta, das 9h às 17h. Museu Municipal. 3221-2423 | Mulheres nos trilhos da história de Caxias do Sul. De segunda a sexta, das 9h às 12h; sábado e domin-go, das 15h às 21h. Ordovás. 3901-1316 | Simbiose. De segunda a sexta, das 8h30 às 18h e sábados das 10h às 16h. Galeria Municipal. 3221-3697

l Noite Latina | Sábado, 22h |Antes de a banda La Soleá animar

a festa, haverá pocket-aula de dança com o professor Giovani Monteiro.Clube BallroomR$ 15 (feminino), R$ 20 (masculino) e R$ 30 (casal) | Coronel Flores, 810, sala 107, São Pelegrino | 3223-2159

l Donaldo Schüler | Sextas e sábados, de março a junho |

Escritor gaúcho oferece três cursos com aulas mensais.NESTA SEMANA - Finnegans Wake de James Joyce. Sexta (26), das 16h às 18h. Tema: A mulher, geradora do uni-verso cósmico e verbal | Eros nas artes e na literatura. Sexta (26), das 19h às 21h. Tema: Eros e Amor desde a Idade Média | Poesia moderna: liberdade, fragmentação e protesto. Sábado (27), das 10h às 12h. Tema: William Blake. | Inscrições: Livraria Do Arco da Velha. 3028-1744.Hotel BergsonR$ 250 cada curso, em até 3 parcelas | Os 18 do Forte, 1.818, Centro | 3214-1122

l Inscrições para o 44° Concur-

so Anual Literário de Caxias do Sul | Até 15 de abril |

Concurso premia melhores obras literárias, contos, crônicas e poesias. Regulamento e ficha de inscrição na Biblioteca Pública Municipal.Biblioteca PúblicaDr. Montaury, 1333, Centro | 3214-5937 ou 3221-1118

l A viagem do som – música con-tra o crack | Domingo, 16h |

Bandas caxienses Stellar, Multiver-so, Ladrões de Diamante e Exilados tocam músicas próprias e alguns co-vers em evento do Projeto Pôr-do-Sol, que beneficia a Fundação de Assistên-cia Social (FAS).OrdovásEntrada franca | Luiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316

TAMBÉM TOCANDO - Sábado: A4. Pop Rock. 23h. Pepsi Club. 3419-0900 | Blue Label. Anos 80. 23h30. Roxx Rock Bar. 3021-3597 | Blues Heads. Blues. 22h. Leeds Pub. 3238-6068 | Braicon & Arnaldo. MPB e pop rock. 22h30. Badulê American Pub. 3419-5269 | Caô. Pagode. 23h. Europa Lounge Garden. 3536-2914 ou 8401-2029 | DJ Iziquiel Carraro. Pop/mú-sica eletrônica. 23h. La Boom Snooker. 3221-6364 | Double Dose Johnnie Walker Red. Música eletrônica. 23h. Nox Versus. 3027.1351 | Festa Latina. Música latina. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | Giovani Furlan & Banda. Pop rock. 23h. Portal Bowling – Martcen-ter. 3220-5758 | Ladies on the dance floor. Música eletrônica. 22h. Havana Café. 3215-6619 | Libertá. Nativista e outros gêneros. 22h30. Libertá Dan-ceteria. 3222-2002 | O diabo veste prada. Música eletrônica. 23h. Stu-dio54Mix. 9104-3160 | Pura Ousadia e Alto Astral. Pagode. 22h. Expresso Pub Café. 3025-4474 | Puta Madre. Pop rock. 23h. La Barra. 3028-0406 | Domingo: Club.Com. Pagode. 20h. Europa Lounge Garden. 3536-2914 ou 8401-2029 | Terça (23): Pedro Stras-ser e banda. Blues. 22h30. Mississippi

Delta Blues Bar. 3028-6149 | Quarta (24): Pagode Junior e DJ Rodrigo Salvador. Pagode. 22h. Expresso Pub Café. 3025-4474 | Só Batidão. Sertane-jo Universitário. 22h. Portal Bowling – Martcenter. 3220-5758 | The Head-cutters. Blues. 22h30. Mississippi Del-ta Blues Bar. 3028-6149 | Quinta (25): CXRS. Rock. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | Sexta (26): Sunset Riders. Rock/Anos 80. 22h30. Roxx Rock Bar. 3021-3597 | Bob ShuT. Indie rock. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | A4. Pop rock. 23h. Portal Bowling – Martcenter. 3220-5758 |

l 22ª Festa Campeira do Rio Grande do Sul (Fecars) | Sábado e domingo |

Sábado: Provas campeiras. Provas de laço patrão, veterano, vaqueano, ra-paz, guri, piá, capataz ou posteiro, pai e filho, prenda, diretor campeiro de RT, coordenador regional e peão; pro-va de pealo paleta, sobrelombo e bol-cado; prova de cura de terneiro; pro-va de chasque; gineteada. 8h | Jogos Tradicionalistas. Truco cego; truco de amostra; jogo de solo; jogo da tava; bocha campeira. 8h | Seminário Es-tadual de Prendas e Peões. 9h | Laço vaca parada. 14h | Mano Lima. Nati-vista. 21h30 | Domingo: Provas cam-peiras. Desempate das provas de laço; laço peão equipe, prova Braço de Dia-mante; prova Braço de Ouro; finais do laço de vaca parada. 8h | Seminário de Cultura Campeira. 9h | César Olivei-ra e Rogério Mello. 18h | Encerramen-to e entrega de troféus. 19h |

l Inscrições para o Iv Clic Am-biental | Até 30 de abril |

Concurso da Secretaria Municipal de Meio Ambiente que tem como tema os 100 anos da chegada do trem. O ob-jetivo é conscientizar ecologicamente a população. Regulamento e inscri-ções no site www.caxias.rs.gov.br. SemmaRubem Bento Alves, 8.308 | 3901-1445

LITERATURA

TRADICIONALISMO

DANÇA

MÚSICA

FOTOGRAFIA

Dos Estados Unidos para o Brasil, Mitch Kashmar se apresenta na Casa da Cultura

por CÍNTIA HECHER

Grandes atrações do blues ganham o palco do Teatro Municipal Pedro Parenti, na Casa da Cultura, no Mississippi in Con-cert. Dos Estados Unidos, Mitch Kashmar traz sua gaita e sua voz potente, ambas elogiadas por grandes blueseiros, dentre eles William Clarke. O norte-americano começou cedo, no início dos anos 80, com uma banda que percorreu o sul california-no e apresentou-o aos ouvidos de diversos músicos do gênero. Com 19 anos, já cha-mava atenção, por exemplo, de gente como Kim Wilson, do Fabulous Thunderbirds.

Kashmar tocou com nomes consagrados do blues, como John Lee Hooker, Johnny Adams, Big Joe Turner e outros. Inclusi-ve, dividiu palco com Stevie Ray Vaughan, que se convidou para tocar com ele. Um grande elogio, certamente. Mas nem só desse ritmo é que se vive. Em uma pausa, Kashmar mostrou seus dotes para o rock, excursionando com a nova formação de uma banda de rock e funk dos anos 70 chamada War. Em 2008, um show reuniu a banda e o músico Eric Burdon, do The Animals. Em Caxias, é o blues nacional quem orgu-lhasamente divirá o palco com Kashmar.

Direto de Itajaí (SC), o harmonicista e vocalista Joe Marhofer e sua banda, The He-adcutters, juntam-se ao americano para uma parceria inédita. Joe emociona-se com mais esta oportunidade se apresentar ao lado de um nome reconhecido. “É sempre bom tocar com pessoas mais experientes, músicos com muita bagagem. É o tipo de experiência que agrega à nossa carreira, nos dando motivação desenvolver nosso próprio caminho”, explica o catarinense. A Headcutters, já conhecida do público caxiense, é banda reconhecida nacionalmente e de estilo clássico, com-binando o figurino de chapéus e gravatas com muita energia e paixão pelo blues.

Junto com essas atrações vem o gaitis-ta Flávio Guimarães (“mestre do blues no Brasil”, elogia Joe), da banda Blues Etílicos, referência e vanguarda nacional do blues. Influência para muito brasi-leiro trabalhando com o som gringo.

Com uma carreira de mais de 20 anos e sete álbuns solo, Guimarães faz blues com pegada brasileira. Já demonstrou sua virtuose na harmônica em gravações de artistas ecléticos como Cássia Eller, Ed Motta, Rita Lee e até o rapper Gabriel, o Pensador. Seu álbum mais recente, The Blues Follow Me, é um tributo ao bluesman Little Water e à classica gravadora Chess, de Chicago, famosa nos anos 50 e 60.

Com a qualidade de estrelas, o Mississippi in Concert certamente irá agradar a qual-quer um que queira conhecer, apreciar ou viajar no blues. Difícil vai ser conseguir ficar parado na cadeira do Teatro Municipal.

l Mitch Kashmar, Flávio Guima-rães, Joe Marhofer e Headcutters | Blues. Terça (23), 20h30 |

Os músicos se apresentam no Mississippi in Concert. Quem for ao espetáculo tam-bém ganha ingresso para o show de Pedro Strasser e banda, logo depois, no Mississippi Delta Blues Bar.Casa da Cultura R$ 40 e R$ 20 (meia-entrada) | Dr. Mon-taury, 1333, Centro | 3221-3697

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por CÍNTIA [email protected]

m livro de visitas aguarda assinaturas na companhia de revistas ultrapassa-das em uma mesa no saguão do Cen-tro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, que foi tomado pelo frio da noite de terça-feira. As 100 pol-tronas de estofado vermelho da Sala de Cinema Ulysses Geremia também aguardam visita para acomodar os cinéfilos que assistirão aos filmes em cartaz no 6º Festival de Verão do RS de Cinema Internacional. Antes das luzes se apagarem para o começo da sessão das 20h, que exibe o filme alemão Os Dispensáveis (2009), 13 telespectado-res se acomodam nas cadeiras.

Para Gilmar Marcílio, coordenador da sala de cinema desde abril de 2009, este pequeno número de espectadores não é negativo. “Trabalhamos com a expectativa de 20 a 30 pessoas por ses-são. Somos realistas”, diz Marcílio. Isso porque o objetivo não é lucratividade ou lotações esgotadas, mas divulgar filmes que estejam fora do circuito co-mercial. Estão fora de questão obras que se encontram em DVD e em cir-cuitos paralelos – outras salas de cine-ma da cidade. O intuito é exclusividade e ineditismo.

A Ulysses Geremia, segundo Marcí-

lio, compete com qualquer sala do gê-nero, seja de Porto Alegre ou São Pau-lo, no quesito qualidade. Ainda mais agora, depois de aproximadamente R$ 7 mil gastos em adequações de lentes e lâmpadas. “As condições técnicas estão perfeitas”, afirma o coordenador.

Porém, a sala, administrada pela prefeitura de Caxias do Sul por meio da Secretaria de Cultura, tem outras despesas. Para exibir um filme é necessário negociar com distribuido-ras nacionais. Os filmes são alugados por certo período de tempo e o valor varia de acordo com a época do lança-mento.

A coordenação aguarda um hiato entre exibição e lançamento em DVD, o que diminui o preço dos filmes. O valor requisitado varia de R$ 800 a R$ 1,2 mil para disponibilizar a obra por 15 dias. “Não temos como bancar ou-tros valores. Pegamos o que consegui-mos pagar”, justifica Marcílio. Quem faz o contato com as distribuidoras é a produtora e assessora da coordenação, Sheila Zago, funcionária terceirizada e escolhida pela experiência e relação com o local, do qual já foi coordena-dora. Agora atua como curadora, aju-dando Gilmar Marcílio na escolha e pesquisa das próximas exibições, além de mediar a negociação entre distri-

buidora e cinema. O estagiário Con-rado Hernandes de Oliveira também colabora com o trabalho.

Mesmo com pouco público, o di-nheiro recolhido na bilheteria vai para o Fundo Especial de Cultura (FEC), da prefeitura, e acaba voltando para a sala de cinema. Segundo Marcílio, a média de gastos do cinema mensalmente fica em torno de R$ 2 mil, entre filmes e projecionista. A pala-vra “gastos” é rejeitada efusivamente pelo dire-tor geral da Secretaria Municipal de Cultura, João Tonus. “Gasto não, isso é investimento”, define. De acordo com ele, o espaço é essencial para levar ao público iniciativas e criações independentes, além de filmes alternativos ao circuito comercial tra-dicional.

Para ele, a reflexão e o debate pro-porcionados pelo local são fundamen-tais. “É investimento cultural. O obje-tivo não é fechar planilha financeira, senão não seria incentivo à cultura”, diz Tonus. A sala de cinema tem mérito e importância na diversidade cultural da cidade.

Filmes escolhidos para agregar cul-turalmente e ingressos de baixo valor, quando não entrada franca – que é aplicada com frequência –, não têm bastado para atrair o público. Para tentar modificar essa cena, o projeto da coordenação em 2010 é captar es-pectadores para suas sessões, que nor-malmente ocorrem às 20h, de quinta a domingo. Uma das atitudes já toma-das foi a adequação ao mundo virtu-

al. Munida de contas no Orkut e no Twitter, este último contando, até semana passada, com 327 seguidores, além de um blog, a Ulysses Geremia vem sendo mais divulgada. A escolha dos filmes também está passando por critérios diferentes. Agora, são levadas em consideração obras em que apareçam atores consagrados ou filmes

pouco conhecidos de bons diretores, que assegurem qualidade. Mas tudo passa pelo crivo de Gilmar Marcílio, que ressalva: “gente conhecida não é aval para boas produções”.

Os próximos filmes em cartaz serão Nova York, Eu Te Amo, que é

Dilemas culturais

“Trabalhamos com a expectativa de 20 a 30 pessoas por sessão. Somos realistas”, diz o coordenador do espaço, Gilmar Marcílio

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Há, em Caxias, audiência interessada em assistir filmes estrangeiros e obras de diretores consagrados, mas este número poderia aumentar

Sala de cinema do Ordovás luta pela sobrevivência em meio a blockbusters e falta de reconhecimento

À PROCURA DE PÚBLICO

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uma colagem de doze curta-metragens em que os cineastas falam de amor na cidade norte-americana. No elenco, nomes conhecidos como Natalie Port-man (que assina a dire-ção de um dos curtas), Kevin Bacon e Christi-na Ricci, entre outros. Em negociações, está a exibição de A Fita Branca, filme vence-dor da Palma de Ouro, prêmio principal do Festival de Cannes de 2009 e concorrente ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano. Teoricamente, isso chamaria público.

“A escolha não é aleatória”, diz Mar-cílio, que completa: “É um processo demorado, onde se depura os filmes. Sou um verdadeiro cinéfilo, assisto até 10 filmes por semana. Vou pesquisar futuras projeções nos cinemas de Por-to Alegre, por exemplo”. Tudo para que o resultado exposto na tela não resulte em um olhar arrogante. “A proposta é mais eclética, para que contemple mais gostos.”

Além da escolha de bons fil-mes, há a ideia de parceria com cursos de ensino superior, escolas de ensino médio e empresas. A ação envolveria a divulgação da sala para esses esta-belecimentos, oferecendo o espaço

gratuitamente para eventuais sessões de cinema. Uma troca que não traria somente dividendos positivos para as instituições em si, mas principalmen-

te para o público a ser atraído. Isso porque, de acordo com Marcílio, o cinema do Ordovás é um perfeito desconhe-cido para muitas pesso-as na cidade.

Entretanto, há quem usufrua da programa-ção do cinema, prin-cipalmente a diurna. Projetos como Matinê às 3 e CineKids atraem bom público nas tardes do Ordovás. Com fil-

mes escolhidos pela direção do Centro, algumas sessões lotaram a sala. Nestes dois casos, a opção foi por filmes em DVD. Com uma simples autorização das distribuidoras, sucessos podem ser exibidos gratuitamente. Isso porque o público a ser atingido é outro. “Esses filmes têm apelo mais fácil. A Matinê é voltada mais para clubes de mães, se-nhores, pessoas disponíveis no horário das 15h. O CineKids só acontece du-rante as férias, para a gurizada”, explica Marcílio.

O público esperado pela coordena-ção existe. “É difícil traçar perfil. É ec-lético em idade, tem estofo intelectual, maior relação com literatura, artes”, arrisca Marcílio. Para ele, o número é

pequeno porque o que está sendo bus-cado é a formação de espectadores.

De acordo com Marcílio, a maioria dos caxienses está habituada a assistir filmes de fácil compreensão e apelo comercial. “Não que Avatar ou Se beber não case não tenham seu valor como entretenimento. Claro que têm. Mas existem outras opções”, diz o coordenador.

Para ele, o que aconteceu é que o público acabou se tornando “intelectu-almente preguiçoso e se limita a obras que não exigem reflexão.” O jeito de reverter isso é mostrar que filmes com mais conteúdo são acessíveis e podem trazer tanta diversão quanto um blockbus-ter. “A formação é lenta, o processo é aos pou-cos”, entende Marcílio. O que deve se atingir é uma densidade analítica maior, sem preconceito com filmes “de pensar”. Para o coordenador, o objetivo final de toda a estratégia “não é inte-lectualizar, mas sim tra-zer reflexão”.

Ele sabe que, pela proposta cultural que a sala Ulysses Geremia carrega, nunca lotará a sala em uma sessão. E admite: gera frus-tração. “Só quem está neste ramo sabe como ele é difícil, mas é o que amo fa-

zer”. Ampliar o público é a meta a ser conquistada. De acordo com o coorde-nador, desde a abertura, há nove anos, a média de público não variou, o que, de certa forma, o tranquiliza.

Quando questionado qual será a al-ternativa se as ações de divulgação da nova cara do cinema do Ordovás não surtiram efeito, Marcílio é taxativo: “Funciona! Com certeza”.

Um impulso que é realizado de tem-pos em tempos é o projeto Cinema no Bairro, onde a Secretaria de Cultura leva telão, projetor, caixas de som e DVD player para exibir filmes nos cen-tros comunitários de Caxias. “É mon-tado um pequeno cinema. Isso propi-

cia acesso e estímulo”, explica o diretor geral da Secretaria de Cul-tura.

A opção de fechar a Sala de Cinema Ulys-ses Geremia por falta de público, asseguram todos, não existe. O contrário é o que deve ser estimulado. “Deve-se brigar para que es-paços assim cresçam. São lugares de divul-gação, ainda mais pelo

processo de crescimento de produção do gênero”, diz João Tonus. O espaço para cinema fora dos padrões, mas ain-da assim atrativo e que traga entreteni-mento, está garantido.

“A escolha não é aleatória. É um processo demorado, onde se depura os filmes. Assisto até 10 por semana”, conta Marcílio

“Deve-se brigar para que espaços assim cresçam. São lugares de divulgação, ainda mais pelo crescimento de produção”, defende Tonus

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Abrigada no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, a Sala Ulysses Geremia existe há nove anos

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Sérgio Lopes| Sem título |

Existe uma espécie de amigo que está sempre dis-ponível ao afeto, alegra-se a cada reencontro, é com-preensivo e nunca faz cobranças. Também perdoa com facilidade e costuma ser mais amistoso com a espécie humana do que com a sua. A esses amigos de verdade, os parceiros de estimação, Sérgio Lopes dedicou a mostra Uns e Outros, em técnica mista. Em painéis cobertos por densas camadas de pigmentos com aspecto de cimento, cães e gatos são retratados em poses de gente. As obras brincam com a incondi-cionalidade do amor dos animais de estimação, ca-racterística que, cada vez mais, dá a eles status para substituir amigos humanos. Elegantemente vestidos de terno e trajes militares, os bichos de grife de Sér-gio Lopes encarnam personagens de uma nobreza incomum aos animais. Comportam-se assim para questionar os valores e as relações da raça humana, uma espécie carente de afetos.

PARA QUEM SOUBE ENSINAR

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por NATALIA BORGES POLESSO

pensou, ser amada era o suficiente. Foi adulada e admirada incondicio-nalmente. Com o tempo sentiu que isso não bastava. Então, ela decidiu que amar era o suficiente, amar por dois ou três, quem sabe. Entregou-se até a última gota de si e teve prazer em doar-se assim. Com o tempo ela sen-tiu que aquilo não bastava. Então ela decidiu que queria amar e ser amada. E o fez. Com o tempo ela percebeu que aquilo também não bastava. Tão triste e incrédula que estava, resolveu mor-rer. Jogou-se de um prédio e de forma bem dramática pousou na calçada, toda quebrada. Percebeu que aquilo não adiantava. Era uma grande bestei-ra morrer. Então, reviveu, mas aquela dor, aquela dor não passava. Então, foi a um psiquiatra. Ele receitou compri-midos muito fortes que a faziam mor-rer em vida. Ela gostou daquele estado por um tempo, mas viu que aquilo não bastava. Então, ela foi a um banco. E aplicou todo seu dinheiro em ações.

Ficou rica num instante. Esbanjou como pôde e quis e ainda sobravam cifras imensuráveis. Com o tempo ela viu que aquilo não bastava. Então, ela foi a uma vidente. A mulher lhe disse coisas assombrosas. Ela ouviu atentamente, deu-lhe toda a sua for-tuna e matou uma galinha. Tingiu-se do sangue e esperou por seu destino. Nenhuma mudança ocorreu, a não ser ter ficado pobre. Viveu na rua por um tempo, roubando e usando drogas ba-ratas para poder suportar aquela dor, aquela dor que não passava. Chegou a condições sobre-humanas, sim, so-bre. E ali permaneceu desfrutando de sua sina. Com o tempo viu que aqui-lo não bastava. Então, ela pegou uma carona e foi viver no campo. Achou trabalho em uma estância. Não falava. Achavam que ela era muda ou louca. Ou muda e louca. Cega não era, por certo. Nem surda. Seu voto de silên-cio levou-a a intrincados conceitos de vida e modo de vida. E quando abriu a boca pela primeira vez em tantos anos, desatou a falar. Foi um tratado

sobre a existência, um tratado filosó-fico sobre. Pediram que repetisse aos amigos e parentes dos estancieiros. Ela o fez. Pediram que repetisse mais uma vez, ela sem pestanejar, o fez. E assim muitas vezes. Com o tempo viu, aque-le lero-lero não bastava. Então, ela re-solveu publicar um livro. Para tanto, voltou a seu silêncio e abandono do externo e de uma só vez, escreveu tudo e como se não bastasse ainda escreveu mais um tratado. Saiu junto com o pri-meiro. Das coisas pequenas e simples. Quando ia engatar uma terceira obra, viu que aquilo não bastava. Então, ela foi vender os livros. Muitas pessoas compraram, muitas pessoas reprodu-ziram as suas ideias. Um filme foi feito e ela foi convidada a participar. Com o tempo ela viu que aquilo não bastava. Então, ela comprou um telefone, mas não tinha pra quem ligar, e também, não poderia conversar com uma pes-soa àquela altura da vida. Logo, ela jo-gou o telefone no lixo. E comprou um microfone e um amplificador. Agora sim, não precisaria falar a uma pessoa,

poderia falar a ninguém e a todos os interessados, ao mesmo tempo. E fa-lou, falou, falou tanto que sua língua secou e paralisou. E então ela voltou ao silêncio, mesmo tendo um microfone, um amplificador e uma plateia. Ficava no meio de tudo, acima de todos com a língua inútil e os olhos mansos. Assim foi por incontáveis dias. Com o passar do tempo ela percebeu que aquilo não bastava. Então ela decidiu esquecer tudo. E como quem apaga um poema feio, escrito a lápis, ela se desfez de to-das as memórias que tinha. O que res-tou foi um grande espaço em branco. Um enorme e envolvente vácuo. Um mar de folhas contínuas, uma igual à outra. Um espaço sucedendo o outro. Ela corria para um lado e acabava no mesmo sem deixar vestígio algum, e sem achar qualquer sinal de lembran-ça vivida ou mesmo inventada. O va-zio foi ficando dolorido e aquela dor, aquela dor não passava. Com o tempo ela entendeu que aquilo não bastava. Então ela teve uma ideia. E pensou, ser amada era o suficiente.

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por JOSÉ EDUARDO [email protected]

cenário que há poucos dias contem-plava a história do colonizador italiano ganhou, desde a última quinta-feira, um novo foco: as tradições gauches-cas. Os Pavilhões da Festa da Uva fo-ram tomados por milhares de peões e prendas das 30 regiões tradicionalistas do Estado que vieram fazer parte da 22ª Festa Campeira do Rio Grande do Sul (Fecars) – veja a programação, até domingo, no Guia de Cultura. De botas, bombacha e chapéu, as pessoas não se diferenciam muito umas das outras, confundindo a hierarquia de organizadores, diretores, peões e visi-tantes. O cheiro de terra e excremento dos cavalos não chama mais atenção do que os gritos entoados pelo narra-dor do evento próximo da cancha de carreira. “Está na hora. Já passamos cinco minutos. Que comece a prova de laço Executivos Municipais, que reúne prefeitos e vices de diversas cidades.” Às 18h05, a competição começa. No lombo dos cavalos, administradores públicos perseguem os bois com o laço rodopiando no ar. O vice-prefeito de Caxias, Alceu Barbosa Velho, se prepa-ra para a primeira das cinco rodadas. Montado sobre a sua égua, persegue o boi que não tem para onde escapar. Observa os movimentos do animal e

atira o laço. “Deu boa a armada”, anun-cia o narrador pelas caixas de som.

A entrada gratuita reforça o convite. O bosque ao lado da cancha coberta está repleta de barracas montadas en-tre as árvores. Elas dividem o espaço com os principais personagens do tor-neio: os cavalos. O narrador chama a atenção da plateia, que a segunda ro-dada está prestes a começar. Os prefei-tos ficam a postos, no lado esquerdo da cancha de rodeio. O boi é liberado e novamente Alceu vai em sua perse-guição. Desta vez o animal corre junto da cerca divisória. O ruído cortante do laço girando no ar pode ser ouvido pe-las pessoas mais próximas. Ele atira e consegue acertar as aspas do boi, nova-mente dominado.

Em seguida, uma ambulância esta-ciona de frente para a cancha. O socor-rista Adelar Lima confere a corrente que prende o portão de entrada para o local onde os peões estão disputan-do a prova. Ele pede que seja retira-da. “Precisamos estar a postos e agir rápido caso aconteça algum acidente. Nunca se sabe quando alguém vai cair do cavalo”, conta Adelar, que estará, ao lado da técnica em enfermagem Ivone Colete, de plantão até o último dia do evento, neste domingo.

A terceira e a quarta rodada ocorrem da mesma forma. Alceu se destaca dos demais competidores. É o único a ter

acertado as quatro laçadas. No lado oposto da arquibancada, a comissão avaliadora analisa atentamente todos os lances dos peões. Um pequeno in-tervalo é feito para que os bois sejam levados ao brete de partida. É a pausa ideal para sorver a principal bebida do gaúcho. Em uma banca na entrada da cancha, Luiz Ceron distribui gratuitamen-te água quente e erva-mate. “Hoje foram 200 litros de água. E olha que começamos tarde, às 17h30”, contava na quinta-feira. Luiz é re-presentante em Caxias da erva-mate Vier, que vai a todos os eventos promovidos pelo MTG. Ao lado dele sempre está Maurício Guerini, que o auxilia na preparação do chimar-rão. Para este sábado, a estimativa deles era fornecer 500 litros de água quente.

O intervalo se encerra com o cha-mado do locutor para a última rodada. Muitos peões já não disputam o título e vão para a volta final apenas cumprir tabela. As luzes começam a ser acesas na arena coberta. Para ser campeão, Alceu Barbosa Velho precisa acertar a sua última laçada. O narrador chama o seu nome. O portão é aberto e o boi

sai em disparada. Alceu o persegue de olhos atentos. A torcida, apreensiva, se levanta. Com um movimento preciso, o laço atinge diretamente o pescoço do animal. Alceu ergue o braço para o céu e comemora o bicampeonato da com-petição. “Ganhar aqui é muito bom”,

diz o vice-prefeito, que vinha se preparando para o torneio. “Nin-guém ganha do nada. É preciso treino.”

Em outro ponto dos Pavilhões, onde pre-valece o sossego, está instalada a Estância da Leitura. O projeto, realizado pela Biblio-teca Pública, reúne mais de 400 livros so-bre a cultura gaúcha. A bibliotecária Marta Troian Pulita conta que

a mini-biblioteca montada no parque desperta o interesse de gente das mais variadas idades. “Faço uma roda no chão e eu e as crianças nos sentamos. Os pais costumam ficar nas poltronas enquanto faço conto histórias e lendas do folclore gaúcho para seus filhos.” O objetivo, explica Marta, é resgatar a cultura da transmissão de histórias orais. Histórias que os visitantes da Fe-cars neste fim de semana terão de so-bra, para ouvir e passar adiante.

Pampa na cidade

“Precisamos estar a postos e agir rápido. Nunca se sabe quando alguém vai cair do cavalo”, diz o socorrista Adelar

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Nas provas de laço, que estreiam em cancha coberta, cavaleiros disputam quem é melhor na captura dos animais

FESTA PARA HONRARA TRADIÇÃOPeões habilidosos, prendas garbosas, chimarrão e lida campeira preservam costumes na 22ª Fecars

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por MARCELO [email protected]

á quem diga que tudo é mais difícil para o Caxias. Talvez por isso só as pessoas de bom coração, com o per-dão do trocadilho, aguentam assis-tir aos jogos no Centenário. Se até os corações mais regulados sofrem de uma estranha arritmia que dura exa-tos 90 minutos, imagine quem usa marca-passo. Uns chamam isso de so-frimento, outros acham que essa dor no coração é fruto de uma paixão que só acomete os grenás. Mas essa triste sina de vencer desafios e num piscar de olhos chover outra penca de desa-fios é o que deixa muito grená enlou-quecido, ou como diz o mais positivo, porém eufemista: “essas dificuldades que aparecem de repente são o tem-pero na vida de um torcedor grená”. E que tempero esse, hein? Como diz o irônico, sentado no banco da pra-ça: “tempero nos olhos dos outros é refresco”. E não é que o treinador e o auxiliar do Caxias acabaram sendo acometidos desse estranho refresco que só é bom no olho do outro? Pri-meiro foi Julinho Camargo. Desde a semana retrasada o treinador do Ca-xias está tratando de uma conjuntivite que pegou em cheio os olhos do sem-

pre atento falcão grená. Nada passara até então pelos olhos bem treinados de Julinho. Nem que fosse o menor dos detalhes. Nada passava batido. Estranhamente, como se do dia para a noite, a bandeira grená acordasse verde e branca, Julinho foi impedido de estar próximo dos seus jogadores e colegas da comissão técnica. E pra piorar – e confirmar a estranha sina de sofrer que o Caxias traz consigo – o time grená enfrentaria no início da semana se-guinte, o Pelotas, fora de casa. Num confronto que o Caxias não vencia desde 2000. Sem Julinho Camargo na beira do gramado, restou ao auxiliar técnico Ivan Soares a missão de assu-mir a bronca.

Tudo planejado. Nenhuma ação de Ivan, nem mesmo durante os treina-mentos da semana retrasada, vinha de improviso, como se o auxiliar fosse um músico de jazz. Na verdade, Ivan, nem mesmo era o maestro desta or-questra. Ivan sabia apenas que tinha de fazer o time continuar a jogar por música como Julinho vinha fazendo. Espetacularmente, no jogo contra o Pelotas, o time superou até os mais otimistas. Jogando bem, ao natural – mesmo sem o capitão Marcelo Costa e o comandante Julinho Camargo – o time venceu por 3 a 2. Os dois gols

do Pelotas, não fosse uma desaten-ção pontual, nem teriam ocorrido. Assim como se o Caxias tivesse uma pontaria perfeita, a sacola já teria co-meçado ainda no primeiro tempo. Além de estrear como treinador, Ivan, como a referência na casamata gre-ná, ajudou e foi ajudado pelo elenco a derrubar um tabu que andava pior do que disco arranhado. O Caxias fez 3 no Pelotas e venceu, assim como havia feito em 2000, quan-do também aplicou 3. Quer ainda outro dado interessante? Naquele 2000 o Caxias acabou Campeão Gaúcho. Mas como nem tudo são flo-res nessa trilha grená, não tardou, e logo veio outro ramo de espi-nhos. Ivan, o escudeiro de Julinho, que vinha fazendo tudo como idealizara o mestre, mesmo afastado do dia a dia do clube, acabou sendo também acometido pela mesma pimenta nos olhos, e que não tem nada de refresco. Ivan descobriu no início da semana passada que também estava com con-juntivite. Julio Soster, o gerente de fu-tebol grená, tentava explicar ao repór-

ter da rádio Caxias, a diferença entre uma conjuntivite e outra. “A conjunti-vite do Julinho é viral, é transmissível. Mas a do Ivan é bacteriana, não pega assim no convívio”. Ao final da entre-vista, Soster olhou para o assessor de imprensa, Luiz Carlos Erbes, coçou a cabeça e disse: “Falei certo? Ficou bem explicado, né?”. Erbes fez sinal positi-vo, acenando para Soster.

Na verdade, essa tal de conjuntivite pe-gou de jeito até quem não foi acometido por ela. Felizmente, não é o principal assunto dentro de campo, nem mesmo nos treinamen-tos, que no meio da se-mana passada estavam sob comando do pre-parador físico Fabiano Vieira e do preparador de goleiros, Rogério Maia. Mas fora de cam-

po tem gente já matutando e ficando paranóico que diz sentir uma estranha coceira no olho. Da torcida o que mais se ouve é uma estranha teoria cons-piratória, que deixaria até os roteiris-tas da Globo boquiabertos. Dizem os mais fervorosos torcedores que isso é

O avesso das coisas

“Não trabalho com quem eu não confio. Gosto de ter pessoas competentes do meu lado”, afirma Julinho Camargo

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Estranha combinação de fatores acabou unindo ainda mais o grupo do Caxias

Afastado dos trabalhos dos últimos dias por doença oftalmológica, Julinho destaca unidade do grupo grená

SUPERAÇÃO GRENá

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tudo praga de Argel Fucks, ex-treinador do Caxias, e que hoje divide seu tempo treinando o São José no Gauchão e son-dando atletas para montar elenco no Cri-ciúma, time que vai comandar na série C. Como se dizia lá no início do texto, as coi-sas nunca são fáceis pro Caxias. Mas es-miuçando este estranho tema, pelo menos obtuso ao fabuloso mundo da bola, é possí-vel extrair poesia do meio da m****. Todos esses inconvenientes, do longo afastamen-to de Julinho, do médio afastamento de Ivan, e da necessidade de tocar a vida mes-mo sem a presença do comandante grená, comissão técnica (os que não estão com conjuntivite, que são muitos e todos com-petentes) e o elenco (responsável e fechado com o clube) abraçaram a causa e honraram o nome da agremiação, antes de mais nada. “Nossa responsabilidade não é maior sem o Julinho. Precisamos ter a mesma respon-sabilidade como se ele estivesse na beira do gramado com a gente”, defende Marce-lo Costa, camisa 10 do time e capitão, que deve voltar a atuar contra o São José, no sábado, dia 20. “Ter o Ivan na beira do gra-mado e trabalhando no dia a dia com ele estreitou ainda mais a relação dele com o elenco”, valoriza Itaqui, volante do Caxias. Enquanto concedia entrevista ao Caxiense, o presidente Osvaldo Voges interrompeu o papo, brevemente, para cobrar de Ita-qui um gol de falta. “Vai sair, presidente, anda passando perto”, retrucou o volante.

Como se vê, o clima com ou sem Ju-linho na beira do gramado e comandando os treinamentos é o mesmo – sem des-merecer é claro, a importância do técnico. “Sempre preguei aqui no clube uma coisa: nosso trabalho nunca foi personalista. O importante é que o clube tenha um traba-lho forte. Tu fortaleces o todo, não sendo personalista”, justifica Julinho Camargo. E prossegue, em entrevista por telefone,

é claro: “Não trabalho com quem eu não confio. Gosto de ter pessoas competentes do meu lado. Não gosto daquele tipo de treinador que se cerca de pessoas incom-petentes para que ele se evidencie. O gran-de treinador é o que está cercado de pes-soas competentes”. Precisa explicar mais? Mas tem ainda um outro fato que reve-la como esse grupo está focado nos seus objetivos. Rebobina a fita. A cena se pas-sa em Pelotas, Metade Sul do estado do Rio Grande do Sul. Mais precisamente, no vestiário do time visitante, no estádio da Boca do Lobo. Ivan andava preocupa-do. Não sabia como andava o sentimen-to dos jogadores, minutos antes de mais uma partida decisiva deste segundo tur-no do Gauchão. O auxiliar técnico, pro-movido a técnico momentâneo pensou, pensou e montou uma palestra especial. “Minha preocupação era com o foco de-les. Na preleção, comecei com esse tópi-co, mas nem consegui terminar, porque os jogadores me interromperam dizendo que osso nem precisava falar porque eles estavam fechados com o clube e queriam ir pro jogo”, revela Ivan. No entanto, antes de atravessarem o túnel da Boca do Lobo, os jogadores pediram cinco minutos pra con-versar sozinhos: “Eles disseram assim: ‘Nós somos uma família aqui no Caxias. Então vamos lutar pela nossa família”, recorda Fa-biano Vieira, preparador físico do Caxias.

Superação parece ser a palavra de ordem nessa família grená. E que ve-nham os próximos confrontos, porque se depender da união desse grupo, pode mandar chover canivete, vendar os jogado-res, amarrar as mãos do goleiro, que nada vai parar esses caras. Maior reverência a esses guerreiros seria ver a torcida lotar o estádio nesses últimos desafios do returno, sábado dia 20, contra o São José, e domin-go, dia 28, contra o Inter.

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Itaqui garantiu que gol de falta sairá logo

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l Caxias x São José | Sábado, 19h30min |

Depois de uma semana atribulada, sem a presença do treinador Julinho Camargo, que ainda tratava da conjun-tivite, foi a vez do auxiliar técnico Ivan Soares ser acometido da mesma doen-ça. Mesmo com parte dos treinamentos tendo ficado sob orientação de Fabia-no Vieira, preparador físico, a rotina de trabalho não foi alterada – Julinho manteve contato diário com o clube. É assim, desfalcado na comissão téc-nica, que o esquadrão grená recebe o São José em casa, para mais um con-fronto direto por melhores posições na tabela e quem sabe encaminhar bem a classificação para as finais do segun-do turno. Depois de vencer o Pelotas fora de casa, o Caxias está com moral. Marcelo Costa, recuperado de dores musculares, está de volta ao time e vai ostentar a braçadeira de capitão.

O Caxias deve começar a partida com o goleiro Fernando Wellington; os laterais Edu Silva (esquerdo) e Álisson (direito), a dupla de zaga Anderson Bill e Neto; no meio-campo, Marcos Rogé-rio, Itaqui, Edenílson e Marcelo Costa; no ataque, Cristian Borja e Everton. O São José, do treinador Argel Fucks, assim como o Caxias, está com sete pontos. Mas o São José tem melhor saldo de gols. Por isso, é essencial ven-cer o Zequinha, ainda mais jogando no Centenário.

Estádio Francisco Stedile (Cente-nário)Ingressos a R$ 10. Acompanhante de sócio, R$ 15. Cadeira, R$ 20. Estudan-tes e pessoas acima de 60 anos, R$ 5. Mulheres não pagam. Sócios com men-salidade em dia não pagam ingresso. Torcedores do São José, R$ 20 e R$ 10 (estudantes com comprovante e pessoas acima de 60 anos) | Rua Thomas Bel-trão de Queiroz, 898, Marechal Floria-no

l Novo Hamburgo x Juventude | sábado, 20h30 |

O Juventude tem a difícil missão de vencer o Novo Hamburgo, time fi-nalista da Taça Fernando Carvalho e

ainda invicto no returno, na casa do adversário. O zagueiro Jorge Felipe estava sob observação médica e era dúvida para o jogo. O técnico Osmar Loss deve iniciar a partida com Carlão (Sílvio Luiz); Fred, Victor e Bressan; Luiz Felipe, Tiago Renz, Gustavo, Ro-berson e Calisto; Amoroso e Marcos Denner.

Estádio do valeIngresso a R$ 15 | Rua Santa Teresa, 420, Liberdade | Novo Hamburgo

l Copa União | sábado, 13h30 |Neste sábado será realizada a tercei-

ra rodada da Copa União, nas catego-rias sênior e juvenil. O campeonato é amador e abrange todas as regiões de Caxias.

Jogos na categoria juvenil, 13h30: Bevilacqua x São Francisco, São Cristóvão x Botafogo, Forqueten-se x Pedancino | Categoria sênior, 15h30: Conceição x Bevilacqua, Pe-dancino x São Virgílio, Botafogo x São Franciso, Canarinho x Diamantino, São Cristóvão x Juvenil. Entrada gratuita

l Campeonato Municipal de Futebol | sábado, 14h, e domingo, 13h15 e 15h15 |

O Campeonato Municipal começa neste sábado. O jogo de abertura será entre o Às de Ouro e o Fiorentina, no Estádio Municipal, às 14h. No mesmo dia, pela manhã, será reinaugurado o campo de futebol, que passou por uma grande reforma. A primeira rodada do campeonato segue no domingo à tar-de, em diversos campos da cidade.Estádio Municipal Antônio Barroso FilhoEntrada gratuita | Av. Circular Pedro Mocelin, ao final da Av. Júlio de Casti-lhos, Cinquentenáriodomingo, 13h15: Unidos x Mundo Novo (Enxutão), União Industrial x Fonte Nova (Municipal 1), Kayser x Bom Pastor (Sta. Corona), Vera Cruz x Esperança (S. Família), Ouro Verde x R. Unidos da Esperança (De Lazzer) e Uruguai x Águia Negra (Fátima) | Domingo, 15h15: Vindima x Cristal (Enxutão), União de Zorzi x Guarani (Municipal 1), Século XX x Goiás (Sta. Corona), XV de Novembro x

Londrina (S. Família), São Victor Cohab x União Reolon (De Lazzer) e Hawai x Atlético (Fátima).

l Campeonato Sesi Futebol Sete Livre Série A | sábado, 14h15, 15h15 e 16h15 |

Neste sábado será realizada a tercei-ra e última rodada da primeira fase da competição organizada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi).

Jogos às 14h15: Mundial x Voges, Agrale x Madal | 15h15: Agritech La-vrale x Guerra, Randon x Marcopolo | 16h15: Suspensys x PisaniQuadras da Mundial, Agrale e RandonEntrada gratuita | Mundial: BR-116, Km 145, 500, São Ciro | Agrale: BR-116, Km 145, 15.104 | Randon: Estrada dos Imigrantes, s/n°, 3ª Légua

l Circuito Caxiense de Futebol Sete Society | domingo, 14h |

A última rodada do campeonato será realizada neste domingo. As 16 equipes concorrentes disputam as va-gas para a fase final, programada para o dia 28. A entrada é franca. Entre-tanto, é necessária a apresentação do ingresso, que é distribuído gratuita-mente. Ele pode ser obtido no Ginásio Arena ou no Departamento de Espor-tes do Sindicato dos Metalúrgicos, localizado na Rua Bento Gonçalves, 1.513.Sede do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do SulEntrada gratuita | Linha Rádio Nordeste, Capela Nossa Senhora das Dores, Travessão Cavour, Flores da Cunha | Informações: 9999-1705. Falar com Jair Oliveira

l veranópolis x Caxias | quinta-feira (25), 17h | Estádio Municipal Antônio David Farina Ingressos a R$ 10. Torcedores do Caxias, R$ 20 | Rodovia RST-470, na entrada do bairro Medianeira | Veranópolis

l Juventude x Porto Alegre | quarta-feira (24), 19h30Estádio Alfredo JaconiIngressos: R$ 15 (arquibancadas), R$ 7

(idosos e estudantes com comprovan-te), R$ 40 (cadeira para não sócio), R$ 30 (cadeira para sócio), R$ 12 (cadeira para menores de 12 anos) e R$ 15 (tor-cida adversária). Menores de 12 anos e associados com a mensalidade em dia não pagam | Hércules Galló, 1.547, Centro | Informações: 3027-8700

l Superliga de vôlei | sábado, 11h |

A equipe de Caxias enfrenta o São Caetano pela 14ª rodada do campeona-to, no Ginásio Poliesportivo da UCS. O time treinado por Jorginho Schimdt venceu as expectativas iniciais no tor-neio e se encontra na faixa de classifi-cação para a fase dos playoffs, em 6º lugar. Com poucas possibilidades no campeonato, o São Caetano não deve ser um adversário que imponha muita resistência ao time caxiense.Ginásio Poliesportivo da UCSIngressos: R$ 4 (funcionários da UCS e estudantes em geral mediante iden-tificação) e R$ 8 (público em geral) | Francisco Getúlio Vargas, s/nº, Vila Olímpica da UCS, Petrópolis

l 1ª Etapa do Campeonato de Arrancada de Motos em Pista de Terra | domingo, 10h |

O Campeonato de Arrancadas en-volve diversas categorias de motos, de acordo com a potência. O objetivo dos pilotos é percorrer os 200 metros da pista de terra no menor tempo. As ins-crições podem ser realizadas na hora. A organização espera a participação de pelo menos 120 pilotos. Em de-zembro do ano passado, a realização de uma prova experimental reuniu 84 competidores. A infraestrutura do evento conta com praça de alimenta-ção, área para churrasco, banheiros e estacionamento gratuito.Parque de Rodeios vila OlivaR$ 5 | BR-116, Km 145, nº 1.410, distri-to de Vila Oliva | Informações com a Sozo Eventos Automotores: 3224-5613 ou 9112-0972

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Parque de Rodeios de Vila Oliva vira cancha reta para motos no Campeonato de Arrancada, neste domingo

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FUTEBOL

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por MARCELO [email protected]

arde de sol neste fim de verão caxiense. Hiago não está em casa. Na verdade, procura uma nova morada. “Vai ser melhor morar sozinho porque assim vou poder dormir mais cedo”, defende Hiago de Oliveira Ramiro, um garoto de 18 anos, revelado na Copa São Pau-lo de Futebol Junior e que luta por um espaço no time de Osmar Loss. O meia, que tem virado atacante nas mãos do treinador alviverde, está com moral no clube. Tanto que teve a permissão da diretoria para deixar a concentração, onde mora com dezenas de outros as-pirantes a jogador de futebol.

Hiago não esconde o jeito mole-que, nem por isso, é displicente ou imaturo. Seu papo é de gente grande, de quem reconhece e valoriza os mais velhos e experientes. Seja quando fala da mãe, Hilda de Oliveira Ramiro, 50 anos, que segundo ele, “ensina que eu seja sempre humilde”, ou de colegas de time, por assim dizer mais roda-dos, como Marcos Denner, Lauro e Sílvio Luiz. No entanto, impossível não esconder que é ainda um garoto quando fala de suas referências. Hia-go, assim como uma penca de jovens que sonham com a carreira de joga-dor, admira ídolos como Kaká, Ronal-dinho Gaúcho e Cristiano Ronaldo. E por que seria diferente? Ninguém es-perava que Hiago tivesse como ídolos

Didi, Zizinho ou ainda Leônidas. Não se admira o que não se conhece. E nes-se mundo multimídia conhecer é ver pela televisão. O que se vê é Robinho lançar moda usando brinco. Hiago também usa. A diferença é que, talvez, o de Robinho seja de brilhante, já o de Hiago, com certeza não é. Pela tele-visão, com os recursos de dezenas de câmeras espalhadas pelos gramados, é possível perceber o piscar de olhos do atacante, a gota de suor escorrer pela testa, ou ainda, o minucioso detalhe com que um craque sempre visado pelas lentes, como Cristiano Ronaldo, bate na bola.

De olho cravado nos jogos dos cam-peonatos mundo afora, transmitidos pela televisão, é que se fazem jogadores dessa safra do Hiago. Não só assim, é claro. Nada extinguirá a relação entre jogador e treinador, ou mesmo entre jovens e experientes atletas. Ou ain-da, aprender desde cedo a lidar com a pressão de uma torcida. Porque só ver um cara fazer um golaço, é como jogar futebol pelo videogame. É bom, mas nem tanto. Mas é preciso reconhecer, utilizando do lulês, que nunca antes na história desse mundo da bola a televi-são teve tanta importância quanto hoje. “Quando eu jogava de meia, presta-va mais atenção no Kaká, que parte muito rápido com a bola do meio em direção ao gol. Ou então, o Ronaldi-nho Gaúcho que tem um jeito dife-rente de lançar a bola e sempre certi-

nho. Hoje em dia, como me passaram pra atacante, vejo mais o Cristiano Ronaldo”, revela Hiago. O jogador, destaque na Copinha, com seis gols (cinco deles de pênalti), que amanhe-ce dentro do clube, bate-bola no gra-mado verde do Jaconi e aprendeu a respeitar os símbolos do Ju, não tira os olhos de Madrid, capital da Espanha. Pode prestar atenção quem ainda não percebeu. Hiago ajeitando a bola para cobrar uma falta mos-tra-se um discípulo de Cristiano Ronaldo. O atacante do Ju copia os mesmos trejeitos, a mesma postura antes de cobrar uma falta ou mesmo na hora da arrancada, sem a bola. Boas referências não fazem mal a ninguém. E melhor do que isso é perceber que o ga-roto sabe muito bem aonde quer chegar e de que forma. “Eu quero ser reconheci-do, quem sabe ser tão falado como o Adriano e o Robinho...”, deixa escapar o garoto. De bate-pronto, como se desse uma finta no zagueiro, Hiago comple-tou sorrindo: “Não pelas coisas extra-campo. Mas ser reconhecido como um bom jogador, sim”. Também neste caso, Hiago mostra que tem aprendido bem com a televisão. Não pretende copiar a vida desvairada fora de campo de caras

como Robinho e Adriano. Mas preten-de que outros garotos cresçam dese-jando ser tão habilidosos como Hiago.

Sucesso é uma palavra que pa-rece ter sido rasurada do dicionário. E talvez aqui tenha sim uma crítica à televisão. Porque do dia pra noite, um guri ou uma guria, podem virar cele-bridade. E nem por isso, o que dizem e fazem pode ser considerado sequer

substrato para enri-quecer a grama e tor-ná-la ainda mais verde. Hiago não falou em nenhum momento de sucesso. Mas falou em vencer. Falou em ser visto e lembrado. Falou em melhorar de vida. Se pouco mais de seis meses depois de chegar ao Jaconi, o garoto já ganhou a possibilida-de de morar sozinho em um apartamento, é

sinal de que a vida tem sido generosa com ele. Mas Hiago quer ainda mais. “Quero poder ajudar a minha família. Quem sabe comprar uma casa pra ela, ou trazê-la pra cá.” No meio do cami-nho desse garoto que amadureceu cedo pode pintar até casamento. Hiago na-mora com Mainy, de 19 anos, que ele co-nheceu há quatro anos, em Americana. Na mão direita, uma aliança dourada assegura que o namoro é coisa séria.

Equações futebolísticas

“Quando jogava de meia, prestava mais atenção no Kaká. Hoje, como me passaram pra atacante, vejo mais o Cristiano Ronaldo”, diz Hiago

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Hiago, artilheiro do Ju na Copinha, busca seu lugar ao sol, agora, entre os profissionais

Meia-atacante de origem, posicionado mais à frente pelo técnico Osmar Loss, Hiago é a nova promessa alviverde

SOMAR SONHOS,SUBTRAIR TRISTEZAS

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“Antes de eu ir pra Copinha, ela me disse que a gente tinha que noivar. Ela disse assim: ‘Vai que tu vá jogar em ou-tro time, em outro lugar, e aí, como é que eu fico?’”, recorda, sorrindo, o jo-vem Hiago. O plano do atacante do Ju é trazer a noiva Mainy para morar com ele. “Minha sogra disse que não tem problema, desde que a gente passe an-tes num cartório pra casar”, diverte-se.

O assunto toma conta da sala de imprensa Dante Andreis, onde Hiago concede entrevista para O Ca-xiense. Nem assim o garoto intimida-se. É calmo, tranquilo, de fala mansa, mas não é acuado. Temperamento que se revela da mesma for-ma em campo. Hiago é franzino e tem cara de garoto, aparenta ser ainda mais novo, mas não tem medo de cara feia, nem de zagueiro com mais de 30. “Tem um lado bom e ruim de ser mais leve. É ruim às vezes quando o zaguei-ro usa muito o corpo, mas eu ganho na ve-locidade, na movimentação”, explica. Hiago amadureceu rápido, porque era preciso. Com 11 anos saiu de casa, em Ariquemes, em Rondônia, para jogar futebol em São Paulo. Deixou para trás pai e mãe. Tudo em nome de um so-nho. “Ninguém na minha família foi jogador, nunca vi tio meu ou mesmo meu pai jogando bola. Meu pai sem-pre me apoiou, é meu fanzão, mas era minha mãe quem ia comigo comprar chuteira ou fazer teste nos times”, con-ta. Nelson Brites dos Santos, com 52 anos, está desempregado. A mãe, Hil-da, é professora do ensino fundamen-tal. “Eu terminei o segundo grau, mas minha mãe sempre me cobra quan-do vou começar a fazer faculdade”. Hiago tem driblado a mãe. Sem fi-rulas, claro, mas não foi a nenhuma faculdade ainda. “Penso em fazer educação física. Mas quem sabe fazer contabilidade”, revela. Contabilidade? “É que eu sempre gostei de matemá-tica, sempre fui bem no colégio, gosto de números, cálculos, e tem uma tia minha que tem um escritório de con-tabilidade e acho que me daria bem”, explica. Hiago diz que a habilidade com os números lhe traz algumas fa-

cilidades em campo. “Tenho um racio-cínio rápido. Entendo fácil as questões táticas que o treinador passa e também consigo decidir rápido o que fazer em campo, acho que é por causa dessa minha facilidade com a matemática.”

Quem diria, o jovem Hiago, além de um promissor jogador de fu-tebol, é ainda matemático. Garoto nota 10 que anda lutando para sustentar nas costas o número 10 do Juventu-de. Mesmo sem perceber, Hiago segue praticando matemática. Porque dentro de campo ele será avaliado pelo núme-ro de passes corretos que der, número

de gols, número de jo-gadas pela linha de fun-do, número de pênaltis e faltas convertido em gol, número de jogos que disputou, núme-ros, números, números. Falando ainda em nú-meros, o que ele pre-tende que aumente ain-da mais com o passar do tempo e por mereci-mento é o salário. Sem revelar qual foi o au-mento que teve em fun-

ção de ter subido para os profissionais, Hiago diz apenas: “É melhor do que eu ganhava antes claro, aumentou um pouquinho”. E aqui cabe outro detalhe que revela um pouco mais sobre essa nova safra de aspirantes a jogador de futebol. Hiago também tem empresá-rio. Na verdade, ele tem dois: Bismarck Barreto Faria, o ex-jogador e pra sem-pre ídolo vascaíno, e Jorge Machado. “Eu tenho contrato com o Juventude até janeiro de 2011, quero ficar aqui, quero crescer aqui. Mas o meu empre-sário, o Bismarck, acha que eu me da-ria muito bem no futebol carioca, ele acha que tenho um jeito de jogar que daria certo lá. Quem sabe.” A torcida do Ju talvez prefira vê-lo desenvolver seu futebol aqui mesmo, e quem sabe, ficar um pouco mais e jogar mais do que Zezinho, que deixou um gostinho de quero mais na torcida. Um desejo de ver um garoto que vai ser lapidado pelo clube, mas que possa dar alegrias aqui mesmo, no Alfredo Jaconi. É pre-ciso agora somar os desejos do clube aos de Hiago, da comissão técnica e di-retoria. O resultado? Subir para a série B, com Hiago como artilheiro. Tá bom assim, torcedor?

“Eu sempre gostei de matemática, sempre fui bem no colégio, gosto de números, cálculos”, lembrao garoto do Ju

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eAtleta se prepara para outro compromisso: casar-se

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O senhor vai ser presidente da Liga do Carnaval?

O pessoal que ajudou na organização do carnaval deste ano resolveu montar uma chapa para disputar a Liga, com a minha parti-cipação e de vereadores, como Denise Pessôa, Geni Peteffi e Mauro Pereira. Ou se resolve as pendências das escolas com a prefeitura ou a festa corre sério risco. Por causa dessas pendências, por exemplo, nenhuma escola consegue certidão negativa para ter apoio de empresas ou entidades. A nova direção da Liga poderá trabalhar para dar condições às escolas buscarem patrocínios e outros tipos de apoio. Em Porto Alegre, por exemplo, só uma cervejaria entra com um patrocínio de 150 mil reais no Carnaval. Por que não pode existir algo semelhante aqui? Estamos estudando todas essas coisas para ajudar a superar essa fase que o Carnaval caxiense enfrenta há dois anos. Chamamos inclusive aquelas escolas que queriam montar uma nova associação para se unirem a essa proposta, a essa chapa de consenso. Eu poderia ser o presidente dessa chapa. Afinal, temos que buscar a união e encontrar saídas para o impasse. A proposta é realizar um grande seminá-rio, em maio, para definir essas coisas todas, buscar leis de incentivo, rediscu-tir o número de escolas...

O Carnaval deste ano custou mais de R$ 300 mil, dinheiro bancado pela prefeitura – ou seja, pelo contribuin-te. Não é muito dinheiro?

Está na média. A prefeitura sempre ofereceu a infraestrutura. Este ano

manteve as arquibancadas da Festa da Uva, licitou aquele pessoal do carro de som, pagou o show do Neguinho da Beija-Flor. Só que eles (o pessoal da

Liga) achavam que ia dar mais gente no show. De qualquer forma, o público não foi tão pequeno como o divulgado, mas foi menor do que o esperado. Nessas horas, as estima-tivas de público revelam um grande preconceito da imprensa, assim como acontece em relação ao próprio Carnaval. Não há como negar que o

Carnaval continua sendo a festa mais popular do país. Mesmo em Caxias ele é importante. No sábado à noite, mes-mo com ameaça de chuva, havia mais de 10 mil pessoas na Sinimbu. Existe o preconceito, mas temos que trabalhar também para que ele seja superado. Caxias não pode mais fazer de conta que essa manifestação cultural legítima e multiétnica não existe. E todas as ma-nifestações culturais precisam do apoio do poder público.

A nova chapa é favor do Carnaval fora de época?

Temos que retomar as datas certas. Só precisamos jogar com os dias, para não coincidir com os desfiles do Rio e outras cidades. Aliás, a concorrência da televisão foi predatória. O público fica em casa assistindo os desfiles pela TV. Precisamos retomar a idéia dos blocos, para desfilarem na praça, oferecer alternativas populares, envolver a co-munidade. Nem os clubes tradicionais realizam mais seus bailes de salão. Só sobrou o Águas de Março, do Recreio da Juventude. E ele é fora de época.

Renato [email protected]

Tenho certeza de que o prefeito, com sua sensibilidade, dará encaminhamento

a essa iniciativa

vereador Daniel Guerra (PSDB), ao anunciar futuro projeto em parceria com a FAS, voltado aos menores de rua e flanelinhas

O vereador do PSB está disposto a encontrar saídas para o Carnaval caxiense

perguntas paraÉdio Elói Frizzo

Com tantas pedras pelo caminho rumo ao almejado Senado Federal (Eliseu Padilha, Ana Amélia Lemos e outros menos votados), o ex-governa-dor Germano Rigotto (PMDB) vive um dilema. Não seria melhor buscar uma – a essa altura garantida – vaga na Câmara dos Deputados, como recomendam alguns amigos?

Enquanto reflete sobre isso, Rigotto mantém um roteiro de palestras por todo o país. Nesta segunda-feira, será a vez da CIC caxiense ouvi-lo falar sobre um tema um tanto quanto governista: o Brasil e o novo ciclo de desenvolvimento.

Do ex(?)-presidente do PMDB ca-xiense Guerino Pisoni Neto a respeito de nota publicada aqui sobre o espaço multicultural, o Alceuzão:

“O Alceu Barbosa Velho não teve participação nenhuma na cobertura da cancha de rodeios da Festa da Uva. A ideia é do presidente da Festa da Uva. Gelson Palavro conversou comigo para cobrir a cancha de lona. Custava R$ 350 mil, um absurdo. Dis-se a ele que deveria pensar em fazer a cobertura definitiva. Fomos fazer um orçamento e a estrutura colocada custava R$ 1,1 milhão. Tivemos a autorização do prefeito e o trabalho foi feito. O Alceu ficou sabendo do assunto muito tempo depois”.

No segundo encontro de vereadores nos bairros, sábado passado, havia mais parlamentares e assessores do que propriamente moradores, o que esvazia a proposta de uma aproxima-ção Legislativo-comunidade. E mais: as cobranças feitas por presidentes de associações de bairros, os mais en-tusiastas da iniciativa, podem causar apenas frustração.

Fica claro que as reivindicações dos presidentes de bairros devem ser direcionadas a prefeito, secretários municipais ou Orçamento Comunitá-rio. Os vereadores não têm poder para resolver os problemas apresentados.

O Ministério Público tem boas razões para a interdição do presídio regional de Caxias do Sul. Afinal, a Su-perintendência dos Serviços Peniten-ciários (Susepe) havia assinado acordo se comprometendo a substituir a cerca e construir um muro para tornar a casa de detenção inaugurada em se-tembro de 2008 menos vulnerável. O descumprimento ao acordo já durava cinco meses quando houve a fuga de três presos.

Mas há um detalhe que também precisa ser considerado: o MP não deveria ter fiscalizado e exigido o cumprimento desse acordo antes do ocorrido?

A obrigatoriedade de os idosos passa-rem pela catraca nos ônibus é resultado de um termo de ajustamento assinado em 30 de setembro do ano passado entre a Visate e a Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade Urbana.

A desculpa oficial é a necessidade de registrar quantas pessoas circulam pelos ônibus sem pagar passagem, item utilizado para calcular o valor da tarifa. A empresa sabe apenas que tem 31.328 idosos cadastrados para usufruir do transporte gratuito.

Esse dado já não basta? A pergunta permeou o encontro realizado quinta-feira na Câmara para discutir a obriga-toriedade do uso da catraca. Sobraram críticas a todos os envolvidos no tema. E a constatação de que é preciso um pouco mais de sensibilidade para lidar com o público da terceira idade.

As comemorações do 35º ano da Codeca fizeram justiça à sua trajetória. Da valorização dos mais de 1 mil funcionários à abrangência das áreas de atuação, não foram esquecidos os referenciais de história (algo que muitas vezes quem está no poder quer negar). A homenagem aos acionistas fundadores – empresários e gestores públicos –, na última quinta-feira, foi marcante e oportuna. Focada em resultados e um salutar ambien-te de trabalho, a Codeca cumpre e amplia sua missão, além de ter, reconhecidamente, motivos para comemo-rar.

A definição das candidaturas do PDT caxiense à Assembleia Legislativa não terminou com a reunião do diretório municipal. Realizado na quarta-feira, o encontro culminou com a indicação do vice-prefeito Alceu Barbosa Velho como candidato a deputado estadual. Mas o nome de Alceu não é consenso. Os outros dois concorrentes – Vini-cius Ribeiro e Gustavo Toigo – não se convenceram com o resultado, e ainda querem ser candidatos ao posto. Para isso, Toigo apelará à Coordenadoria Regional. Vinicius quer formar do-bradinha com Juliana Brizola, neta do ex-líder pedetista, com indicação da Juventude Trabalhista.

Embora bem intencionado, o presidente Moisés Paese (PDT) come-teu uma imprudência ao revelar sua intenção de contratar apenados do semiaberto, em regime de progressão de pena, para atuarem como estagiários em serviços burocráticos na Câmara de Vereadores.

As resistências são grandes, mesmo que a pretensão seja a ressocialização dos apenados – necessidade defendida por qualquer pessoa de bom senso. Muitos vereadores entendem porém que, ao anunciar o projeto, Paese sub-meteu os presos a uma exposição públi-ca antecipada que prejudica a proposta.

Desenvolvimentista

Pai da criança

Direcionados

Só agora?

Razão sensível

Justa comemoração

3 candidatos

Imprudência

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