Edição nº 257

20
JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA a cabra JOEL SARAIVA Os saldos finais do primeiro man- dato de Ricardo Morgado foram aprovados na semana passada em Assembleia Magna. No que toca a despesas relevantes tocam-se pon- tos como a homenagem ao Dr. Luzio Vaz, avaliada em mais de 9 mil euros, a entrega de prémios Sal- gado Zenha também avultada e o facto de só dois pelouros terem saldo positivo no balanço. Ainda assim, há contas que ficam por ex- plicar e a certeza de que todo o mo- delo de gestão da casa tem de ser repensado. Face ao ano de 2011, que apresentou um saldo positivo, esta direção apresenta um défice no exercício. RELATÓRIO E CONTAS AAC Défice nos números em relação a 2011 PÁG. 5 Os prémios Salgado Zenha reconhe- cem anualmente o que de melhor é feito pelas secções desportivas da aca- demia e este ano não foi exceção. A XVI Gala Francisco Salgado Zenha realizada no dia 25 de fevereiro pre- miou as melhores secções entre as 26 secções desportivas. Apesar do ânimo que estes galardões pretendem dar ao desporto, as dificuldades financeiras da maioria das secções desportivas é notória. Os bons resultados vão sendo alcançados mas com muito esforço dos seccionistas. PRÉMIOS SALGADO ZENHA Desporto da casa reconhecido PÁG. 10 E 11 Mais informação em acabra. net @ João de Melo “O Cego da Ilha” MICROCONTO PÁG. 17 ENTREVISTA: JOÃO QUEIRÓ SECRETÁRIO DE ESTADO DO ENSINO SUPERIOR VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA “O conhecimento adquirido na universidade pode ser posto em prática na criação de uma ‘start-up’” PÁG.12 Viviane Reding PÁG.2 E 3 5 DE MARÇO DE 2013 ANO XXIII N.º 257 QUINZENAL GRATUITO DIRETORA ANA DUARTE • EDITORA-EXECUTIVA ANA MORAIS RAFAELA CARVALHO Nem o recente mau tempo abalou a beleza e a tranquilidade do Jardim Botânico da UC PÁG.9 DANIEL ALVES DA SILVA

description

Edição nº 257 do Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA

Transcript of Edição nº 257

Page 1: Edição nº 257

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

acabra

JOEL SARAIVA

Os saldos finais do primeiro man-dato de Ricardo Morgado foramaprovados na semana passada emAssembleia Magna. No que toca adespesas relevantes tocam-se pon-tos como a homenagem ao Dr.Luzio Vaz, avaliada em mais de 9mil euros, a entrega de prémios Sal-gado Zenha também avultada e ofacto de só dois pelouros teremsaldo positivo no balanço. Aindaassim, há contas que ficam por ex-plicar e a certeza de que todo o mo-delo de gestão da casa tem de serrepensado. Face ao ano de 2011,que apresentou um saldo positivo,esta direção apresenta um défice noexercício.

RELATÓRIO E CONTAS AAC

Défice nos númerosem relação a 2011

PÁG. 5

Os prémios Salgado Zenha reconhe-cem anualmente o que de melhor éfeito pelas secções desportivas da aca-demia e este ano não foi exceção. AXVI Gala Francisco Salgado Zenharealizada no dia 25 de fevereiro pre-miou as melhores secções entre as 26secções desportivas. Apesar do ânimoque estes galardões pretendem dar aodesporto, as dificuldades financeirasda maioria das secções desportivas énotória. Os bons resultados vão sendoalcançados mas com muito esforçodos seccionistas.

PRÉMIOS SALGADO ZENHA

Desporto da casa reconhecido

PÁG. 10 E 11

Mais informação em

acabra.net@

João de Melo“O Cego da Ilha”

MICROCONTO

PÁG. 17

ENTREVISTA: JOÃO QUEIRÓSECRETÁRIO DE ESTADO DO ENSINO SUPERIOR

VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA

“O conhecimento adquirido na

universidade podeser posto em práticana criação de uma

‘start-up’”PÁG.12

Viviane Reding

PÁG.2 E 3

5 DE MARÇO DE 2013 • ANO XXIII • N.º 257 • QUINZENAL GRATUITODIRETORA ANA DUARTE • EDITORA-EXECUTIVA ANA MORAIS

RAFAELA CARVALHO

Nem o recente mautempo abalou a beleza e a tranquilidade do

Jardim Botânico da UCPÁG.9

DANIEL ALVES DA SILVA

Page 2: Edição nº 257

2 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

DESTAQUE

Aquando da sua vinda às comemorações dos 500 anos da Biblioteca da Universidade de Coimbra, no dia 22 de fevereiro, o Secretário de Estado do Ensino Superior (ES),João Queiró, partilhou a sua visão sobre o estado do ES,desde o regulamento de atribuição de bolsas até à reforma da rede de ensino. Por Ana Duarte e Daniel Alves da Silva. Fotografias por Rafaela Carvalho

“As IES têm tido um dinamismo enorme paracaptar receitas próprias”

Os últimos dados apontadospelas várias universidades de-monstram que um em cadatrês pedidos de bolsa é recu-sado. Também referem umaredução do número de alunos.Este paradigma não indicauma necessidade de revisão doregulamento de bolsas?Fizemos, no Ministério [da Educa-ção e Ciência] (MEC), um esforçoenorme no campo das bolsas, emvários planos. Um deles foi no pró-prio dinheiro disponível. A verbaorçamentada para bolsas para esteano subiu em relação ao ano ante-rior. Mas o problema não é só de di-nheiro. Como se observou em anosanteriores, um problema quase tãoimportante é o da velocidade daanálise das candidaturas. No ano le-tivo de 2010/2011, antes de chegara Secretário [de Estado], o tempomédio de análise era de 106 dias.No primeiro ano letivo que lá estive,

o tempo médio de análise foi de 90dias. Este ano letivo desceu para 52dias. Em fevereiro, o número debolsas aprovadas é de mais de 53mil. No ano passado, por esta al-tura, era 38 mil. Qual é aqui a nossaobrigação? A garantia de que os sis-temas funcionem o melhor possível.O artigo 32 [do novo Regulamentode Atribuição de Bolsas] permite aoestudante solicitar a revisão do seuprocesso se a situação económica dafamília mudar. No que se refere àAção Social direta, fizemos umgrande esforço para esta infraestru-tura de apoio a estudantes ser sus-tentada, garantimos ofinanciamento europeu para as bol-sas deste ano letivo todo e para opróximo. Foi um processo que de-correu na primeira metade do anopassado, na reprogramação estraté-gica do Quadro de Referência Es-tratégico Nacional, que termina nofim de 2013.

Page 3: Edição nº 257

5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 3

DESTAQUE

Relativamente aos própriosServiços de Ação Social (SAS),existe previsão de um reforçofinanceiro dessas estruturas?Na realidade dos SAS da Uni-versidade de Coimbra, verifi-camos que algumas cantinasestão fechadas, a lavandaria,as próprias residências nãosão em número suficiente paratodos os bolseiros, e o seu es-tado físico não é o melhor…Estamos na universidade cujos SASsão maiores. Estes SAS são os “maisricos do país”. O outro extremo é doInstituto Politécnico do Cávado e doAve, onde a dotação por estudanteé muito baixa. Também tem a vercom o facto de serem os mais anti-gos [os SASUC], portanto, prestamserviços muito mais amplos e gene-ralizados do que a maior parte dosSAS. Em julho do ano passado,quando se calcularam as dotaçõesseguimos o seguinte princípio: nãovamos baixar a dotação, em termosabsolutos, de nenhum SAS. Mas osque têm a capitação mais baixa,vamos subir um bocadinho. Subirera impossível para todos.

Independentemente do re-forço da Ação Social, há váriasInstituições de ES (IES) quecontinuam a sofrer um sufocofinanceiro. Não será necessá-rio um aumento efetivo do or-çamento para o ES?Agora falamos das dotações globais.Aí, o ES, nos dois orçamentos emque intervim, acompanhou a ten-dência geral do país. A despesa pú-blica sofreu grandes reduções, e nãosó pela via das reduções salariais,que são muito substanciais, nemdos aumentos dos encargos. Em2013 ainda houve uma redução masjá não foi tão pronunciada.

E com esses cortes que o ESsofre, que alternativas sugerepara o seu financiamento?A estrutura do financiamento dasIES portuguesas é muito pouco co-nhecida. Um dos problemas do ESé a falta de informação que há nasociedade sobre ele. Nas universi-dades é muito frequente haver umcenário em que a dotação do Orça-mento do Estado já só cobre umaparte, que pode às vezes já estarperto dos 50 por cento da despesatotal, sendo o resto da despesa as-segurado por receitas próprias. Háas propinas, que são uma grandeparte, e depois há a investigação. AsIES têm tido um dinamismoenorme para captar receitas pró-prias.

Mas que soluções mais ime-diatas propõe para ajudar asuniversidades, que não passepelo aumento da propina?A propina tem o aumento anualpela inflação. A propina no ES pú-blico, de primeiro ciclo e mestradointegrado, tem um valor mínimo:1,3 do salário mínimo nacional, eum máximo que é a propina de1941, atualizada pela inflação. Noorçamento para 2013 houve um au-mento de encargos, com a CaixaGeral de Aposentações e com a rein-trodução do subsídio de Natal. Esse

aumento acabou por ser equivalentea um corte. Depois de grandes con-versações, entre outubro e novem-bro, corrigiu-se em grande parte, ehá menos de uma semana, esse re-forço foi feito às universidades. Istopermite aliviar um pouco a pressãoorçamental que as universidadesatravessam.

Sobre a reestruturação da redede ES, quais são as medidasque estão em cima da mesapara a sua realização?A racionalização da rede, que inter-preto como a racionalização daoferta de formação que há no ES, éum processo contínuo. Já fecharammuitos cursos, muitos delesaquando do Processo de Bolonha,onde as universidades tiveram dereorganizar a sua oferta e apre-sentá-la à Direção-geral do ES(DGES). Aconteceu por todo o paíse foi uma coisa espontânea. Depoishá o trabalho da Agência de Avalia-ção e Acreditação do ES, que come-çou a trabalhar em 2009 e quetambém já levou ao encerramentode muitos cursos. Outros mecanis-mos são os despachos anuais sobrevagas. A lei diz que todos os anos, oGoverno tem de produzir orienta-ções sobre o número de vagas doscursos da rede pública. Por exem-plo, no despacho deste ano letivo,introduziu-se, pela primeira vez,embora de forma muito ténue, otema da empregabilidade. Isto écontroverso em si. Há pessoas queacham que a questão da empregabi-lidade não devia desempenhar ne-nhum papel na questão dos cursosque abrem ou não, há outras quepensam o oposto.

Por outro lado, essa indexaçãodo curso à empregabilidadenão pode, de alguma maneira,instrumentalizar o ES, umavez que os estudantes se esta-rão a formar para ser “técni-cos” de uma profissão?Qualquer jovem que queira prosse-guir estudos tem interesses, voca-ção, gostos. E o Estado reconheceisso como um valor. Outro valor:três quartos dos estudos dos estu-dantes são pagos pelo Estado. Háainda um terceiro valor: é ou não éda responsabilidade do Estado darsinais aos jovens sobre a possívelutilização dos seus cursos? Nãoestou a dizer que é uma determi-nante. O que ficou no despacho foi oresultado de uma ponderação de vá-rios aspetos. O gosto do estudante éum valor que o Estado reconhece.Se a ponderação dada a isso fossezero, quantos cursos tinham fe-chado já em Portugal? Muitos. Eisso é que é ter uma visão do EScomo algo puramente ao serviço daeconomia num sentido lato. Não foiisso que se passou.

O MEC vai criar uma novaoferta para os Institutos Supe-riores Politécnicos (ISP) comuma duração menor e com ointuito de ser uma forma deatrair mais jovens para estenível de ensino…Esse anúncio tem um dia ou dois. Acriação de cursos se calhar já estava

no Processo de Bolonha, os chama-dos “short courses”, cursos não con-ferentes de graus. A diferença aqui éque se está a pensar em cursos pré-licenciatura. Há um quadro de qua-lificações que tem vários números:o oito é o doutoramento, o sete é omestrado, o seis é a licenciatura, osecundário é o três, o quatro são oscursos profissionais. Isto seria parao nível cinco. Se se vier a avançar,será uma coisa parecida com algoque já existe, os cursos de especiali-zação tecnológica. São maneiras deter formações além do secundário eque aumentam as suas qualifica-ções.

Ambas as partes estão comvontade de seguir essa me-dida?A reunião que houve é muito re-cente. Creio que ainda é cedo paraver claro quais é que vão ser as rea-ções. Houve uma reação genéricaque me pareceu positiva da partedos politécnicos, na primeira vezque se falou do assunto e agora nareunião. Numa reunião anteriorcom o Conselho Coordenador dosInstitutos Superiores Politécnicos,creio que em janeiro ou fevereiro,falou-se desta informação generica-mente.

Há um ano afirmou numa entre-vista à Associação das Universi-dades de Língua Portuguesa que“possuir qualificações superio-res continua a ser uma vanta-gem. O salário dos diplomados émais alto, o tempo de procura deemprego é menor”. Vê, então, aformação superior como algoutilitário do ponto de vista indi-vidual para obtenção de rendi-mentos mais elevados?A vocação e o interesse de um estu-dante é, em si, um valor que a so-ciedade considera positivo. Voucitar uma frase que vai ao centro da-quilo que estamos a discutir. O se-gundo presidente dos EUA, finaisdo século XVIII, escreveu à mulher,no período da Guerra da Indepen-dência: “nós estudamos guerra epolítica para os nossos filhos pode-rem estudar ciências e engenhariaspara os nossos netos poderem estu-dar arte, música e literatura”. Elevê, como um progresso da socie-dade, passar-se de estudar guerra epolítica para estudar engenharias ecoisas aplicadas e acabar a estudarartes. Para países com os recursossuficientes, o que não é exatamenteo caso de Portugal neste momento,as sociedades civilizadas veemcomo um bem que as pessoas sigamos seus interesses e vocações. Igno-rar totalmente a questão do retornoseja pessoal ou coletivo também éum bocadinho estranho. Estas per-guntas partem de uma perspetivade branco e preto. Mas não são asvisões de branco e de preto que en-formam as decisões políticas e so-ciais. Está-se permanentemente aponderar valores e recursos, equando os recursos faltam, ainda émais grave e mais necessário pen-sar bem no que se está a fazer.

Entrevistas na íntegra em

cabra net@

Page 4: Edição nº 257

Subfinanciamento estatal obriga IES a ir buscar verbas à investigaçãoOs ‘overheads’ já remontam a 2004 na Universidade de Coimbra.Porém, o Ensino Superiorsubfinanciado faz com queesta forma de gerar receitaprópria seja determinante

“Muitos reitores e diretores de fa-culdades podem também não gostarda prática, o problema é que a neces-sidade ao fim de cada mês e a pres-são é maior”, deixa no ar o elementoda direção do Sindicato Nacional doEnsino Superior (SNEsup), RomeuVideira. O também docente fala emrelação aos custos indiretos decor-rentes da execução dos projetos deinvestigação científica - os chamados

‘overheads’.Prática comum a todas as univer-

sidades nacionais, os ‘overheads’ cor-respondem às verbas absorvidas pelauniversidade aquando do financia-mento atribuído a um projeto de in-vestigação. E esta necessidade advémdas parcas verbas provindas porparte do Orçamento do Estado: “é aúnica forma que a universidade en-contra para se manter ativa e comqualidade”, explica o representantedo terceiro ciclo no Conselho Geralda UC, Nelson Coelho. Para o estu-dante conselheiro, trata-se de “retiraruma parcela do montante que é atri-buído a estes projetos, guardá-la e in-vesti-la a título geral na universidadee na sua qualidade”. Para mais é umaforma de compensar o uso das infra-estruturas e equipamentos utilizadospelos investigadores e docentes dosespaços da universidade.O regulamento previsto para esta

afetação de verbas por parte da UC

vem desde 2004. A partir disso, “res-peitam-se gastos gerais, diretos ou in-diretos, resultantes da execução dostrabalhos”. Os valores corresponden-tes em projetos de investigação cien-tífica têm a aplicação de um‘overhead’ de 20 por cento, e os pro-jetos de prestação de serviços têm‘overhead’ de 30 por cento. Por gas-tos gerais entende-se o ressarcimentopor “gastos relacionados com a ele-tricidade, com gás, com água e even-tualmente com outros ramosespecíficos, como a reprografia eequipamentos que necessitem dessascoisas”, atesta Romeu Vicente. A cap-tação desses 30 por cento ficam nosaldo da universidade. Como se deum bolo total fossem posteriormentedistribúidas pelas unidades orgânicase de investigação em causa. NelsonCoelho exemplifica: “imaginemosque estamos a falar de cem euros,trinta ficam logo retidos na universi-dade, os outros setenta vão para a fa-

culdade”. No entanto, o problema re-side em saber em concreto o que éque a universidade faz com esse di-nheiro.

O modelo que já não é experimentalOs ‘overheads’ alcançam protago-nismo nas receitas que as universida-des portuguesas conseguemarrecadar. O relevo assume-se, já queas instituições “procuram desdobrar-se nos seus mecanismos para apro-veitarem as suas receitas próprias”,lembra Romeu Vicente. Para o mem-bro do SNEsup, a via mais facilitadaseria aumentar as propinas, mas taltraria “sempre consequências gravese contestação”, atesta o docente.Assim, a outra possibilidade resideem aumentar as receitas própriasprovenientes dos projetos, ou seja,dos ‘overheads’.“A UC acaba por captar essa receita

porque não tem outra hipótese de se

financiar”, lamenta o estudante con-selheiro. O membro da direção doSNEsup alerta para o facto de as Ins-tituições de Ensino Superior já nãoconcederem a principal verba para osprogramas nos ciclos de estudo:“tudo o que os estudantes gastam épatrocinado pelos docentes dos pro-jetos de investigação financiados pelaFundação para a Ciência e Tecnolo-gia e esse tipo de instituições”.O escape para esta fonte de finan-

ciamento própria reside no cenáriode a UC estar entre a “espada e a pa-rede. Ou pede mais dinheiro ao Es-tado e este não dá, ou pede maisdinheiro aos estudante e ficamos semeles porque já não têm muito mais di-nheiro para dar”, frisa Nelson Coelho.O vice-reitor para a Investigação

Científica, Relações com APSFLs eBibliotecas, Amílcar Falcão, não sequis pronunciar sobre o assunto,adiantando que dará esclarecimentosainda esta semana.

A prática de mobilizar caloiros na UC está maisvigiada. Com novas alterações, o CV clarificaas proibições e tenta evitar atropelos à integridade dos praxados

As proibições estão agora regula-mentadas. O código de praxe daUniversidade de Coimbra (UC)prevê para este segundo semestre al-terações tais como a proibição dapraxe em situações que perturbem o

“natural funcionamento das ativida-des da UC” e também a mobilizaçãodos caloiros e novatos dentro do ho-rário letivo. Tal deve-se, segundo oDux Veteranorum, João Luís Jesus,à “falta de bom senso em algumas si-tuações da aplicação da praxe desdehá alguns anos para cá”. A última re-visão ao código fez-se em 2008. Narevisão deste ano, tentam-se comba-ter algumas das mais graves viola-ções à integridade física epsicológica do caloiro. Relembre-sea exemplo a suspensão da praxe de-sencadeada pela agressão a duas ca-loiras no ano letivo passado.“Fez-se dois em um: corrigir e re-

gulamentar praxes que, apesar doespírito já estar presente no código,

não estavam explícitas”, explica oDux Veteranorum do Conselho deVeteranos (CV). A fiscalização certi-ficar-se-á com a delegação de cônsu-les que estarão pelos vários polos edepartamentos a verificar se os pre-ceitos académicos são devidamentecumpridos: “o sistema de funciona-mento do Senadus Praxis foi alte-rado e é competência dessas pessoaseleitas em CV estarem atentas e to-marem as ações necessárias para asimpedir”, sustenta João Luís Jesus.Do outro lado da questão está o

chefe da maior tertúlia e comissãode praxe da Escola Superior de Co-municação Social (ESEC), AmílcarNeves. O também denominadoMocho Real acrescenta que se tra-

tam de “medidas tardias e insufi-cientes”. Na ESEC, as presentes al-terações – proibição de pinturas,mobilização no horário letivo e evi-tar que o caloiro seja ofendido -, jáestão em prática há alguns anos, se-gundo Amílcar Neves. Quanto a in-cidentes, estes já estão protegidospelo diálogo esporádico com as pes-soas – “sabem que andamos a averi-guar se cumprem ou não o código dapraxe”, atesta Amílcar NevesJoão Luís Jesus garante que a

praxe da UC deve, a par das normas,estar principalmente protegida pelanão perturbação das atividades.Resta saber se desta forma não sevoltam a repetir os incidentes do anopassado.

Mais fiscalização na praxe coimbrã

O problema reside em saber em concreto o que é que a universidade faz com as receitas provenientes dos 'overheads'

Liliana Cunha

Liliana Cunha

ARQUIVO - RAFAELA CARVALHO

ARQUIVO - STEPHANIE SAYURI PAIXÃO

ENSINO SUPERIOR4 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

Page 5: Edição nº 257

5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 5

ENSINO SUPERIOR

a base do Relatório eContas da Direção-geralda Associação Académica

de Coimbra 2012 (DG/AAC) estãovários montantes aos quais aindanão foi dada a última justificaçãopossível. Para isso, conta detetaras verbas de certo modo avultadaspara cada pelouro em questão. Otermo da análise ao relatório rela-tivo ao primeiro mandato de Ri-cardo Morgado terá de ser feitocomparativamente ao do seu ante-cessor – Eduardo Melo. O pri-meiro valor a destacar será odiferencial do resultado do exercí-cio. Enquanto no ano de 2011 estefoi positivo – no valor de quase105 mil euros, no ano de RicardoMorgado o exercício foi negativo -deu um prejuízo, e de 163 mileuros negativos.Depois de muito se falar da tar-

dia chegada dos números finais re-lativos a 2012, o destaque vem emgrande parte no que toca à admi-nistração. Sendo usual o setor darsaldo positivo - o que se verificoude novo – existem despesas quechamam mais à atenção. Todavia,ainda antes disso, chega a polé-mica verba de 9728, 92 euros, re-lacionada com o busto e o torneioem homenagem ao Dr. Luzio Vaz,que remonta à decisão de EduardoMelo mas que entrou já nas contasde 2012. “Não me vou pronunciarse foi certo ou errado. Não fui euque tomei essa decisão, mas a ver-dade é que o busto não está total-mente feito, falta a fundição”,explica o presidente da DG/AAC.Ricardo Morgado afirma que sesuspendeu a conclusão do bustoporque não se dão as condiçõespara dar o dinheiro que resta –“não há hipótese”, certifica. Paracom a administração, vem a verbade 1228,35 euros só com um anún-cio nas Páginas Amarelas, a contade telemóveis em cerca de 29 mileuros, uma conta de telefones emque ficam 13 mil euros por expli-car e os trabalhos especializadosem 65 mil euros que, mais umavez, não são descriminados e ex-plicados na totalidade.

Um edifício “mesmo muito velho”Reportam-se, segundo RicardoMorgado, nos trabalhos especiali-zados, “custos para a manutençãodo edificio, eletricidade. Da maispequena obra, como a reparaçãode um arrombamento de porta, àsobras nas caleiras do telhado até àscasas de banho”. O tesoureiro domandato anterior, Ricardo Bem-Haja, reforça a justificação, masnada mais adianta a não ser evi-denciar que o “edifício é mesmomuito velho, requer manutenção -casas de banho, gabinetes, tudo re-

quer despesas”. Na verdade, o edi-fício número 1 da Padre AntónioVieira apenas tem cerca de 50anos, como afirmou Ricardo Mor-gado na última Assembleia Magna(AM). “Este ano o valor foi maiselevado pelas obras da requalifica-ção da fachada que obrigaram a in-tervenções que não se estava àespera, como a questão de chover

no piso dois”, enuncia o presidenteda DG/AAC. No entanto, a verbadisponibilizada para a requalifica-ção é inferior em dez mil euros àmanutenção do edifício. RicardoMorgado é o primeiro a declararque “para se perceber, era neces-sário que esses valores estivessemdiscriminados”.O valor relativo às comunicações

da casa também gera incerteza.Atribui-se uma verba à utilizaçãode telefones fixos de cerca de 16

mil euros e no que toca à receita,as secções apenas pagam poucomais de 3 mil euros à DG/AAC.Sobra uma fatia de 13 mil eurosque nem o tesoureiro nem o presi-dente sabem explicar: “isso é o queo centro de custos me dá. A maiorparte das secções paga-nos, masnão é a totalidade”, tenta explicar otesoureiro. Já Ricardo Morgadonão sabe justificar o diferencial.Pondera apenas que “ou nãoforam despesas cobradas ou dizemrespeito à DG/AAC – o que era im-possível, ninguém usa os telefonesexaustivamente e ainda mais quea casa toda”.Pese embora só o Pelouro da

Ação Social e o das Relações Ex-ternas apresentarem um resultadopositivo, persistem as despesasinexplicáveis, à primeira vista, emoutros departamentos daDG/AAC. Torna-se interessanteconstatar que no Pelouro da Co-municação e Imagem, no ano de2011, foram gastos dez euros. Em2012, mais de seis mil euros. En-tram o site da AAC e gastos compublicidade e propaganda. Ri-cardo Morgado refere que destafeita foram canalizados para osquase cinco mil euros em publici-dade “sobretudo meios de divulga-

ção transversais à DG/AAC, como‘roll-ups’, ‘outdoors’, ‘merchandi-sing’ e outros”. O site, questão an-tiga, voltou a dar despesa de 1800euros. O presidente afirma queeste está feito, mas que houve pro-blemas com a migração de servi-dores. “Irá para o ar logo que ascoisas estiverem afinadas. Vamosencontrar a altura certa para o lan-çar”, justifica.

Fórum AAC e prémios Salgado ZenhaA realização do Fórum AAC emGouveia, pela segunda vez, geraestranheza pelo facto de rumar aoutro local quando toda a estru-tura associativa está em Coimbra.Ricardo Morgado atesta que é umaforma de ninguém se dispersar,mas os cerca de 2500 euros gastosem alojamento dão que pensar.“Admitiu-se pensar numa redução

e num formato que seja em Coim-bra, se bem que acho que não teráos mesmos resultados”, justifica opresidente da DG/AAC. Quanto àtomada de posse - não inscrita norelatório -, chega mais de dois mileuros.Os prémios Salgado Zenha me-

recem um último destaque. Afinal,o valor inscrito no relatório não é ocusto final da entrega dos prémios(9250 euros). É o dobro. “ Oacordo que tinha sido feito era de50/50 – Conselho Desportivo(CD/AAC) e DG/AAC. Acho quenão temos de fazer grandes janta-res e grandes galas. Foi o dobro dodinheiro”. Ricardo Morgadoadianta que o modelo a seguir nãoserá o mesmo - “Os Salgado Zenhaque eu realmente realizei são de2013, que vai ser sem custos por-que é o CD/AAC que cobre tudo”.Restarão sempre incertezas a

certos valores, mas por certo todosos sócios têm a possibilidade deconfirmar os dados com a tesoura-ria. Ricardo Morgado acredita queseria “interessante uma auditoriaà AAC”. Porém, para o presidenteda DG/AAC, o grande desafio nãoé o de procurar o “que correu male pagar um grande custo por isso”.É “procurar soluções”.

O Relatório e Contas de 2012 foi aprovado com 83 votos a favor, 33 abstenções e 25 contra.

Uma análise ao relatório da DG/AAC 2012 conta com prejuízo em relação ao ano anterior e com despesas queainda geram confusão por não estarem discriminadas. Conta-se, ainda, um Fórum AAC que teima em não serem Coimbra e valores relativos às comunicações da casa que continuam por explicar. Por Liliana Cunha

ANA MORAIS

N

Ficam valores por explicar no relatório

“O edifício é mesmomuito velho, requermanutenção, casas de banho, gabinetes,despesas”

“A verdade é que o busto não está totalmente feito, falta a fundição”, frisa Ricardo Morgado

Page 6: Edição nº 257

CULTURA6 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

cápor

13MAR

cineMacasa Das calDeiras18h30 e 21h30enTraDa liVre

cultura

TeaTroTaGV

23h303€

TeaTroTaGV - exTerior

Vários horários • 1€

Músicacasa-Museu Bissaya BarreTo22h005€ c/DesconTos

cineMaTaGV

21h304€ c/DesconTos

Por Daniel Alves da Silva

Músicasalão Brazil22h005€

8MAR

MúsicaciTac22h005€

MúsicaoMT22h005€

cineMaTaGV

21h304€ c/DesconTos

MúsicaTaGV

21h3010€

18MAR

RODRIGO AMADO/GABRIEL

FERRANDINI + GO SUCK A FUCK

CRYPTOMETRIA JAPONICA

"CONCERTO COIMBRA

SOLIDÁRIA 2013"

6

15MAR

MAR

"O TEATRO MAIS PEQUENO DO MUNDO"

NICE WEATHER FOR DUCKS

"BARBARA"

CANZANA

"GONGER"

TIAGO SOUSA

"A ÚLTIMA VEZQUE VI MACAU"

11MAR

14MAR

7MAR

9MAR

Secções culturais reativadas: balanço até à dataA Associação Académicade Coimbra apresentaneste momento as suas 16 secções culturais a funcionar. O GE/AAC, aSESLA e a SG/AAC já têmatividades

O Grupo Ecológico (GE/AAC), pre-sidido por Miguel Barreira, realizouuma atividade de sensibilização sobreo corte de pinheiros, em dezembro. Opresidente do GE/AAC refere algu-mas atividades “planeadas para fazer”em conjunto com a Queima das Fitas,com o intuito de dinamizar a secçãojunto da comunidade estudantil,sendo realizados alguns concursosque podem, por exemplo, envolver re-ciclagem de materiais e cujos prémiosserão bilhetes para as noites do Par-que. Miguel Barreira explica tambémque será realizada uma ação para sen-sibilizar as pessoas a não utilizarpapel nos tabuleiros das cantinas, queconsidera ser “completamente desne-cessário”. “Conseguimos falar comuma corticeira que nos forneceu gra-tuitamente painéis de cortiça”, acres-centando que serão pirogravadasmensagens nesses painéis, posterior-mente espalhados pelas cantinas daUniversidade de Coimbra.A presidente da Secção de Escrita e

Leitura (SESLA), Sara Vitorino, su-blinha que “a secção tem atraído bas-tantes pessoas”. Refere os ‘workshops’de “Como escrever uma tese”, inicial-mente pensados como uma “atividadesimbólica, um pequeno workshop”para assinalar o arranque da secção,mas que continuaram e vão agora nasétima turma. E algumas dessas pes-

soas vão entrando para a secção. SaraVitorino indica ainda a realização deparcerias, “com entidades de Coimbracom o mesmo âmbito” da SESLA,como a Casa da Escrita ou a editoraAlma Azul, acrescentando que “aspessoas têm muitas ideias” de cadavez que uma entidade é contactada.Existem planos para ter um “clube deleitura”, a surgir em março, bemcomo aulas de conversação em inglêse português, “a um preço acessível ede uma forma informal”. “Estamosnum bom caminho”, resume a presi-dente da secção.A Secção de Gastronomia

(SG/AAC), é também procurada porestudantes ERASMUS, pois “é uma

porta para conhecer mais um bocadi-nho daquilo que é a cultura portu-guesa”, elucida o seu presidente,Gustavo Rocha. A SG/AAC tem umadireção composta, maioritariamente,por ex-membros da Comissão daQueima das Fitas, assevera o presi-dente, Gustavo Rocha. Considerandoque a SG/AAC ainda está “numa fasede criar estruturas”, aponta como ob-jetivos “tentar criar condições paraque os sócios, no futuro e as próximasdirecções, consigam fazer atividades”.Apesar disso, aponta a participaçãona Gala dos 125 Anos da AAC, comum “show cooking” e o jantar ‘low-cost’, no Natal, como atividades quemostram o trabalho da secção ao pú-

blico. Já existem “projetos na calha”,como um ‘workshop’ de comida sau-dável a baixo custo e um exercíciochamado “Degustação histórica”, pre-vista para abril, que, como explica opresidente, pretende “mostrar à ci-dade como era a degustação greco-la-tina”, onde será recriado “o ambientedessa época”.Gustavo Rocha refere a ausência de

uma sala com um fator que dificulta acaptação de novos sócios, para alémdaqueles que surgem das recomenda-ções “boca-a-boca”. Apesar do pro-blema estar a ser corrigido, graças àcedência de uma sala, pelo Centro deInformática da AAC, a quem o presi-dente da SG/AAC agradece.

O CMUC volta a organizaro E.I.C.U., cuja décima terceira edição se realizaentre os dias 13 e 16 demarço. O último encontrodecorreu há três anos

A décima terceira edição do En-contro Internacional de Coros Uni-versitários (E.I.C.U.), marcada de13 a 16 de março, conta com a par-ticipação de grupos corais univer-sitários portugueses einternacionais. O concerto de en-cerramento decorrerá no TeatroAcadémico de Gil Vicente, queunirá o Coro Misto da Universi-dade de Coimbra (CMUC) ao

grupo “Vozes da Rádio”. Umevento que também se encontraincluído na programação da XVSemana Cultural da Universidadede Coimbra (UC).A primeira noite do encontro

inicia-se com a atuação do CMUC,que dará depois lugar ao Colle-gium Musicum da Universidade deBona, oriundo da Alemanha. Nodia seguinte é o Coro Clássico doOrfeão Universitário do Porto, queantecede a atuação do Kyiv Stu-dent Choir, da Universidade Téc-nica da Ucrânia. No dia 15 será avez da atuação do coro eCOROmia,da Faculdade da Economia doPorto, bem como o brasileiroGrupo Vocal Luiz de Queiróz, daUniversidade de São Paulo.O primeiro Encontro Interna-

cional de Coros Universitários rea-lizou-se em 1986, aquando do 30º

aniversário do CMUC. Como ex-plica a atual presidente do CMUC,Filipa Oliveira, “sentiu-se a neces-sidade de levar a cabo uma inicia-tiva destinada a colmatar umalacuna existente na área da músicacoral”, apontando também a von-tade de “combater a indiferençapelo trabalho realizado pelos corosuniversitários”.Foram vários os coros universi-

tários que passaram por Coimbra,desde a primeira edição do eventoque já se tornou uma marca regis-tada do CMUC. Desde o Ave Vita,da Lituânia, o inglês Choir of theQueen’s College, de Oxford e oCoro Académico da Universidadede Varsóvia, polaco, bem comocoros húngaros, italianos, espa-nhóis e checos.Para a presidente do CMUC, este

género de eventos é “importante

para a troca de experiências musi-cais e culturais entre os partici-pantes”. Filipa Oliveira ressalvatambém a relevância de “levar onome de Coimbra e da UC alémfronteiras”, conseguida através daparticipação dos coros internacio-nais. “Serve, igualmente, paramostrar várias das atividades daacademia”, refere ainda a presi-dente, acrescentando que duranteos vários dias do evento se fazem“pequenas demonstrações do tra-balho de outros grupos ligados àAAC”.O concerto de encerramento, no

TAGV, tem preços entre os 9 e os12 euros, enquanto que os restan-tes concertos são de entrada livre.Esses espetáculos deverão decor-rer no Seminário Menor de Coim-bra, em Celas, segundo informaçãoreferida pela presidente do CMUC.

O reencontro das tradições corais em Coimbra

DANIEL ALVES DA SILVA

As secções reativadas procuram, apesar de alguns problemas, retomar atividades

Daniel Alves da Silva

Daniel Alves da Silva

6 e 7MAR

Page 7: Edição nº 257

5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 7

DESPORTOCORTA-MATO NACIONAL 2012/2013

AAC alcança triunfo na prova coletivaRealizada, no passado dia2, no Parque da Canção,a prova contou com apresença de mais de 1000 pessoas de váriasinstituições escolares e de Ensino Superior

Organizado pela Direção-Geral dosEstabelecimentos Escolares - Dire-ção de Serviços da Região Centro, oCorta-Mato Nacional assume-secomo uma das principais provas docalendário desportivo anual do Pro-grama do Desporto Escolar. Reali-zada nas margens do Mondego, aatividade trouxe delegações despor-tivas das mais diversas partes dopaís ao Parque da Canção.Com a presença de mais de 80

atletas do campo universitário,foram vários os que representaram aSecção de Atletismo da AssociaçãoAcadémica de Coimbra (SA/AAC)nas diversas provas individuais e co-letivas. O triunfo deu-se na provacoletiva masculina, com os estudan-tes de Coimbra a chegarem ao pri-meiro lugar do pódio. OCoordenador-Geral do Desporto daAAC, Hugo Rodrigues, afirma que avitória no título coletivo mostra quea AAC é “muito forte a nível do des-porto e muito forte a nível do atle-tismo”. Ainda que a expetativa anível individual fosse maior, houveuma queda da primeira posição doano passado para a quinta. HugoRodrigues realça que foi cumprida amarca traçada para a competiçãocoletiva.Também o atleta da SA/AAC,

João Bernardo, nota a importânciada conquista do título coletivo. Oatleta, que se mostra orgulhoso porrepresentar a instituição pelo se-gundo ano consecutivo, confessa

que a prova surge na fase final deuma época de inverno, depois dealgum desgaste. João Bernardo re-conhece que a nível universitário acompetição foi mais forte, o que tor-nou a prova “muito mais exigente”.Ambos os representantes daSA/AAC apostam na conquista dopódio em provas individuais e cole-tivas nas próximas competições depista ao ar livre.

O Corta-Mato Nacional, no con-junto de várias instituições escola-res e universitários, juntou um totalde mais de 1100 alunos e professo-res de diversos pontos de Portugalcontinental e ilhas.

A importância do espaçoO diretor desportivo da FederaçãoAcadémica do Desporto Universitá-rio (FADU), Paulo Oliveira, valoriza

a oportunidade de organizar oevento juntamente com o desportoescolar e com a Federação Portu-guesa de Atletismo. “Estarmos asso-ciados a um grande evento dá-nosuma logística que não éramos capa-zes de ter sozinhos”, acrescentaPaulo Oliveira.O diretor desportivo da FADU co-

menta também as vantagens e des-vantagens da utilização do espaço

do Parque da Canção. Para PauloOliveira, o Corta-Mato realizou-senum “sítio emblemático, com umenquadramento muito interes-sante”. O realce dá-se também pelaimportância da cidade como polouniversitário, que tem especial im-portância para a comunidade uni-versitária que participa nacompetição. Paulo Oliveira reco-nhece também as facilidades ofere-cidas a nível de infraestruturas, queafirma não serem comuns neste tipode eventos. No lado negativoprende-se a regularidade do terreno,que pela falta de elevações não apre-sentou dificuldades que seriamideais para a realização deste tipo deprática desportiva.No que toca aos resultados, o pa-

norama apresenta-se diferente doano anterior, ainda que Paulo Oli-veira considere que não tenha ha-vido grandes surpresas. A provaindividual feminina contou com arevalidação do título da atleta daUniversidade do Porto, Carla Sa-lomé Rocha. Já na prova individualmasculina, o atleta da SA/AAC, Da-niel Gregório, não chegou além doquinto lugar, não tendo conseguidorevalidar o título conquistado naépoca passada. O primeiro lugar dopódio coube assim ao atleta da As-sociação de Estudantes do InstitutoSuperior de Engenharia de Lisboa,João Nuno Brás. A nível coletivo,para além da vitória da AAC na com-petição masculina, coube à Univer-sidade do Porto a vitória na divisãofeminina. A apuração para a provaresultou ainda da realização de duasprovas anterior: a Fase Escola e aFase CLDE, que envolveu cerca de300 000 alunos a nível nacional.A prova contou também com o

apoio da Câmara Municipal deCoimbra, da Federação Portuguesade Atletismo e da Associação Distri-tal de Atletismo de Coimbra, entreoutros, que contribuíram para a or-ganização do evento.

RAFAELA CARVALHO

Os atletas da AAC conquistaram o primeiro lugar do pódio na prova coletiva de masculinos

João Valadão

RAFAELA CARVALHO

Page 8: Edição nº 257

Na sombra de um futuro amargo

sto não é para futuro,é para não deixar es-tragar, e vem para aajuda das sardinhas”,

conta a vendedora Maria CoráliaGrande. A princípio, a banca pa-rece abandonada, mas assim quesentem uma presença estranha oscães começam a ladrar e ouve-seo portão a ranger um pouco antesde se ver Corália a subir lenta-mente a pequena rua que separa asua casa da estrada.É durante os meses de inverno

que nas bermas da Estrada daBeira se encontram as vendedo-ras de laranjas. São cerca de onzequilómetros entre a ponte da Por-tela e a aldeia de Segade que pin-tam de cor-de-laranja asgeralmente verdes margens doRio Ceira.A lábia de vendedor contrasta

com o desânimo de quem já fazisto há muitos anos, mas vê o ne-gócio a definhar. “Antes era me-lhor do que agora, éramos muitosa vender mas tudo vendia”, re-lembra Corália. Também SilvinaSantos Lopes invoca a crise parajustificar o estado do negócio. “Hásemanas que nem para ninguém”,desabafa. Depois de se reformar,montou banca à porta de casapara vender as próprias laranjas elaranjeiras. “Como estou em casavendo eu o meu produto”, sus-tenta.Nem dois metros ao lado está a

sua mãe, Maria da ConceiçãoSantos, com a mestria de umavida. “Se a minha reforma esti-vesse melhor não estava aqui”,partilha a vendedora entre lágri-mas.Até porque para quem vende à

beira da estrada, as fragilidadessão constantes. Aliado ao frio dosmeses de inverno, o perigo ine-rente de assaltos está cada vezmais presente. “Se algum dia meassaltarem que dêem cabo demim de uma vez”, deixa escaparConceição, com desespero.

Sem tratamentos artificiaisComo a maioria da produção agrí-cola portuguesa, a cultura da la-ranja não escapou impune aotemporal que se abateu sobre ter-ritório nacional no passado mêsde janeiro. Maria Corália explicaque “cada vez que vem uma cheiamuito grande dá prejuízo às árvo-res”, o que tem sido constante nosúltimos meses. “E se vier a geadaacaba com o resto”, teme a pro-prietária apontando para o quin-tal adjacente à sua residência.No entanto, nem oito nem oi-

tenta. Se em alguns anos o pro-blema é o excesso de chuva, nos

outros é a falta dela. As laranjei-ras de Silvina, em São Frutuoso,na encosta do Ceira, não têm sis-tema de regas, nem outros artifí-cios. “Só bebem a água que DeusNosso Senhor manda. Quando

não chove ficam torcidinhas”, ex-plica.Porém, apesar das dificuldades,

as três vendedoras nunca procu-raram o apoio do Estado para co-brir prejuízos ou alavancar o

negócio. “Se fossemos viveiristasjá tinha posto os pés a caminho ejá tinha pedido a alguém que meajudasse”, refere Silvina Lopes.Todo o trabalho é feito por

“conta própria” explica Corália

Grande, cujo marido zela pelasterras e pelos laranjais uma vezque não há mais ninguém para ofazer: “já não há quem trate”.

Quem vende pelo MercadoQuando questionada sobre a pos-sibilidade de vender no mercado,Silvina é perentória ao afirmar: “aminha idade também já não dá”.Por sua vez, Albertina de Jesus,desafiando os conselhos do pró-prio filho, ruma de Lordemão aoMercado Municipal Dom PedroV, em Coimbra, para vender assuas laranjas. “Venho poucoagora. Não querem que euvenha”, partilha. Albertina contamesmo que no verão, o seu filhonão lavra as terras para que elanão trabalhe.Algumas bancas mais à frente,

num mercado preenchido, encon-tra-se José Luís. Vindo de Sobralde Ceira, onde é proprietário hámais de 12 anos de cerca de ses-senta laranjeiras, o vendedor nãomostra muita motivação. “Ficabonito e gosto de ver. Mas não éque me compense muito”, con-fessa.Albertina de Jesus encontra na

qualidade das terras da bacia hi-drográfica do Rio Mondego a jus-tificação para a qualidade daslaranjas. Opinião partilhada porJosé Luís: “os laranjais do Mon-dego tinham fama”. Mas, o ven-dedor não se inibe de críticas e vaimais longe. “A zona até à ponte daPortela podia estar melhor do queestá, cheia de acácias que não dãonada. Podia dar laranjas”, desa-bafa ao acrescentar que “ninguémliga, só querem a fruta do Al-garve”.

“Uns vão outros vêm”Albertina de Jesus, ConceiçãoSantos, Corália Grande, José Luíse Silvina Lopes, com idades entreos quarenta e os oitenta, herda-ram dos pais esta prática. Toda-via, mostram-se apreensivos. Afalta de continuidade para o ne-gócio da venda da laranja é enca-rada por todos como algo semfuturo.Ainda assim, José Luís, do ful-

gor dos seus 44 anos, acalenta aesperança de algum dia encontraralguém que abrace a tarefa. “Unsvão outros vêm”, enfatiza acres-centando que “pode ser que al-guém mais tarde queiracontinuar”.Por sua vez, apoiado na bengala

o marido de Silvana, ao espreitaras vendas da mulher já não sorriao olhar o futuro cada vez maiscurto: “depois de eu morrer épegar fogo àquilo tudo!”

Todos os invernos, o ciclo repete-se. Colher o fruto e vender. As margens verdes dos rios Ceira e Mondegopautam-se do cor-de-laranja dos citrinos da época. Das bermas da estrada às bancas do mercado repete-se a tradição de uma venda que já conheceu dias mais soalheiros. Por Rafaela Carvalho e Ana Morais

ANA MORAIS

“I

ANA MORAIS

ANA MORAISANA MORAIS

LARANJAIS DO MONDEGO

CIDADE8 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

Page 9: Edição nº 257

JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

ituado numa das principaise mais movimentadas arté-rias da cidade, na Alameda

Júlio Henriques, está o Jardim Botâ-nico da Universidade de Coimbra(UC). Embora a circulação de veícu-los seja constante por aqui, quementra para o jardim sente e respira,de imediato, a calma e a pureza típicade um ambiente onde a naturezaprevalece. No quadrado central, umdos espaços mais característicos dojardim, a atmosfera é envolvente: hápessoas que se estendem pelos ban-cos a ler, outras apenas como formade escapar à rotina do dia-a-dia, e hátambém românticos a namorar.O quadrado central, o “berço” do

jardim, não teve sempre a disposiçãoque hoje conhecemos. Apesar de a

data de formação ser consideradapela própria equipa do jardim como“dúbia”, os primeiros registos datamde 1772. Ao início, este espaço estavaao dispor do estudo da ciência e damedicina. Ainda hoje, o Jardim man-tém uma parceria para estudos me-dicinais com a Faculdade deFarmácia da UC. Contudo, a belezado jardim começou por atrair pes-soas, que utilizavam este espaçotambém para lazer. Com esta mu-dança, o quadrado foi sujeito a umanova remodelação de forma total-mente geométrica. Um lado é exata-mente simétrico ao outro, apesar decada um dos lados representar espé-cies vindas do este e do oeste do pla-neta. Uma exceção à regra é o casoda Leguminosae, que conta com

mais de 200 anos. A árvore centená-ria tem a particularidade de ser oca,no entanto, permanece viva e dá flor.Ainda assim, a Metasequoia glyp-

tostroboides e o Liriodendro são asespécies mais conhecidas do jardim.A primeira necessita de espaço e deágua, o seu enorme porte faz comque as raízes cresçam a partir dacopa da árvore para fixar o seu co-lossal tronco. As suas raízes expan-dem-se na horizontal e quandocontactam outras árvores “abraçam-nas” até à sua asfixia total. Relativa-mente ao Liriodendro, esta floresceem maio, altura do ano antes mar-cada pela época de exames. É, assim,conhecida por árvore de ponto, sinal

que o estudo deveria começar, já queos exames estavam próximos.

O temporalTambém o Jardim sofreu com o mautempo que assolou o país no final dejaneiro. 12 árvores foram derrubadase uma das principais zonas afetadasfoi o Jardim Garcia da Horta, comespécies de todo o mundo, vindas daExpo 98. O jardim foi mesmo encer-rado ao público durante duas sema-nas para trabalhos de limpeza eintervenção. Entretanto já reabriu aopúblico ainda com duas áreas inter-ditas.Para mostrar a envolvência de

quem por cá trabalha, uma história

de emoções. Um dos jardineirosmais antigos do jardim ficou devas-tado com os estragos. A equipa cons-tituída por cinco homens não temqualquer formação específica de es-pécies exóticas (patentes nas estu-fas), ainda assim a mestria com quemexem nestas terras demonstramum conhecimento profundo do es-paço.

Metas a atingirSegundo o diretor do Jardim Botâ-nico, Paulo Trincão, o espaço serásubmetido a uma nova reorganiza-ção de um conjunto de estruturascriadas anteriormente, apostandonuma maior dinamização e divulga-ção. “Estamos a dar o contributopara que se atraia mais investigaçãocientífica feita sobre plantas do jar-dim”, esclarece o diretor como sendoum dos principais objetivos. “Trans-formar o conhecimento científico deforma a poder ser entendido pelaspessoas de uma maneira geral” éuma das metas a atingir, explicaPaulo Trincão. Outra componenteque está a ser estudada é a de carizturística, visto que atualmente o Jar-dim não faz parte do circuito turís-tico da universidade. O que podecontribuir para uma melhor divulga-ção do jardim, bem como a mediaçãode atividades promovidas pelosagentes culturais da cidade. Por fim,o jardim está a ser financiado por umQuadro de Referência EstratégicoNacional com o fim da reabilitaçãodas estufas, mobiliário urbano, rea-bilitação sinalética e ainda monitori-zação do CO2 e o H2O no Jardim. Odiretor do espaço conta que em 2014estas mudanças “estarão claramentevisíveis”.Os trilhos naturais chegam ao fim,

mas a paz e a tranquilidade de quemrespira um espaço verde bem no cen-tro da cidade permanecem paraquem o visite.

Assolado pelo último temporal, o JardimBotânico não perdeu a sua identidade. Caracterizado como um dos mais emblemáticos espaços verdes da cidade, o jardim apresenta a sua essência na panóplia de espécies vindas de todomundo e que os demais podem contemplar. Por Ana Morais e Joel Saraiva

Pela históriados trilhos naturais

S

JOEL SARAIVA

JOEL SARAIVA

5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 9

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Page 10: Edição nº 257

Apesar

“Este prémio vem no seguimentode vários outros que têm sido atri-buídos ao longo dos anos e é maisum que entra no espólio da secção”,refere com orgulho o presidente daSecção de Atletismo, Mário Rui. Asecção contemplada com o troféude Prémio Dedicação pelo trabalhodo atleta António José Oliveira, nãofoge ao padrão. E apesar dos bonsresultados competitivos, os esforçospartem dos atletas e dirigentes de-vido à escassez de apoios externos.“A nível financeiro, neste mo-

mento, poderá considerar-se umaautêntica desgraça”, afirma semmedo Mário Rui, ao explicar que sãoos próprios diretores, atualmente, afinanciar as deslocações, refeições ealojamentos dos atletas. “Os nossosêxitos não se devem à AAC propria-mente dita, devem-se aos dirigentes,

aos atletas. E quando isto entra nestasituação está muito mal”, enfatiza opresidente. Ainda assim, os resulta-dos competitivos estão a ser alcan-çados quer a nível individual quer anível coletivo.Dedicado à academia há cerca de

25 anos, o atleta António José Oli-veira, vê no prémio conquistado oreconhecimento de “muitos anos detrabalho, não só em termos de treinoe dedicação, mas também na relaçãocom os atletas e no desenvolvi-mento da secção”. Ainda assim, oatleta não deixa de evocar a falta definanciamento. “Devia dar-se maisatenção às secções que estão a pas-sar por um mau momento”, partilha.Por sua vez, Mário Rui mostra-se cau-teloso em relação ao futuro: “estoupreocupado com o desenrolar daépoca”.

SECÇÃO DE ATLETISMO

Sem contar com qualquer pré-mio estava a Secção de Badminton.O presidente, Elso Baía, explicaque foi com alguma surpresa quereceberam o Prémio Melhor Trei-nador para o seccionista DélioGonçalves.“Somos considerados uns dos

melhores a nível nacional. Nosvinte primeiros lugares, a nível na-cional, temos dez atletas”, reiteraElso Baía, para evidenciar os recen-tes feitos alcançados pelos atletasdesta secção. Integrado na secçãohá 12 anos, Délio Gonçalves co-

meçou como atleta e acabou porficar como treinador ao mesmotempo que é jogador. “Treinamostodos os dias e é um premio para otrabalho feito ao longo de váriosanos”, refere o treinador.Apesar de os resultados compe-

titivos serem dos mais prósperosda academia, os aspetos financei-ros parecem não ajudar. “As sec-ções, em termos financeiros, estãotodas em baixa, os próprios atletasé que estão a pagar as saídas e onosso treinador não recebe um tos-tão”, faz questão de frisar Elso Baía.

SECÇÃO DE BADMINTON

Os dois prémios que contempla-ram a Secção de Ginástica são en-carados pela presidente da secção,Ana Bastos, como “importante,apesar de remeterem ao ano pas-sado e é o resultado do trabalhodesenvolvido pela secção e umamensagem à direção anterior”. Apresidente considera o Eurogymdo passado julho, em Coimbra,como o evento que permitiu o Pré-mio Secção.

Na Secção de Ginástica desde ossete anos, o ginasta Nuno Silvanofoi galardoado com o Prémio Me-lhor Atleta Formação. “A secçãosempre me apoiou e tem ajudadoimenso no suporte de gastos”, rei-tera o jovem atleta. Contudo a pre-sidente, mostra como esta secçãonão foge à regra, ao referir quetenta “ter uma gestão o mais orga-nizada possível”, apesar das difi-culdades.

SECÇÃO DE GINÁSTICA

A estagiar na Alemanha para sepreparar para as próximas compe-tições está Ana Sousa. A judoca daSecção de Judo foi contempladacom o Prémio Melhor Atleta e écom “grande orgulho” que encaraeste reconhecimento sem esquecero papel que as restantes secçõesocupam no desporto nacional e in-ternacional. Vendo a secção como“um contributo para a formaçãocomo atleta”, Ana Sousa não es-quece o outro troféu dado à sec-ção: Prémio Melhor EquipaSeniores Feminina, que contemplao esforço coletivo. “O prémio deequipa foi muito importante, alem

de histórico”, ressalva.O presidente da secção, Rui Fon-

seca, explica que “a secção dejudo está a ser reconhecida pelotrabalho que tem feito”. Aindaassim, relembra a situação poucoestável que ultrapassa a nível de fi-nanciamento: “temos dificuldadese temos de fazer uma grande ra-cionalização das verbas”. Contudo,o presidente mostra a vontade queos seccionistas têm de ultrapassaro problema ao mostrar os esforçosque têm sido feitos: “muitas vezesos próprios atletas têm de pagar asdeslocações e estamos a falar deidas ao estrangeiro”.

SECÇÃO DE JUDO

Não tanto para contemplar o atualmomento da Secção de Basquete-bol mas sim para enfatizar a histó-ria e o percurso feito por quem lápassou foi o galardão de PrémioPrestígio atribuído ao reconhecidoatleta e treinador Carlos Portugal.O presidente da secção, CarlosGonçalves, vê no prémio ganho“um motivo de satisfação pelo pas-sado e pelo presente que CarlosPortugal não só como atleta mastambém como treinador”. O con-tributo do atleta para a modali-dade é ainda hoje reconhecido por

muitos.Considerando a época atual

como “muito positiva”, Carlos Gon-çalves, ressalva o facto de este anoterem conseguido vários atletas nasseleções distritais e nacionais.Ainda assim, mais uma vez os con-tratempos financeiros evidenciamas dificuldades. “Situação muito di-fícil”, é desta forma que o presi-dente classifica o atual estadofinanceiro da secção. Ainda assim,Carlos Gonçalves evidencia os es-forços que têm sido feitos para“levar a secção a bom porto”.

SECÇÃO DE BASQUETEBOL

10 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

PRÉMIOS DESPORTO

Page 11: Edição nº 257

Apesar das dificuldades os Salgado Zenhasão um alento para o desportoO desporto sempre foi um marco da Associação Académica de Coimbra (AAC) e os tempos atuais não são exceção. O mérito e os resultados alcançados pelos quepraticam desporto com a camisola da academia foram mais uma vez premiados. AXVI Gala Francisco Salgado Zenha reconheceu várias secções desportivas da casa,que apesar das dificuldades, sobretudo económicas, veem nestes prémios algumânimo para continuar. Por Ana Morais

ntre as 26 secções despor-tivas da AAC, as 30 moda-lidades praticadas na

academia e os mais de cinco milatletas a vestir a camisola preta ebranca estão os melhores do des-porto. A premiá-lo está a XVI GalaFrancisco Salgado Zenha, dando onome do líder e dirigente históricoSalgado Zenha aos prémios para odesporto da academia. Em ceri-

mónia solene no passado dia 25 defevereiro, o Conselho Desportivo(CD) atribuiu 11 prémios às me-lhores secções da casa como formade motivar mais conquistas.

Todavia, o panorama de contra-riedades é geral. Todas as secçõesda AAC parecem passar por váriasdificuldades, sobretudo financei-ras. Alguns atletas e seccionistastêm mesmo que pagar do próprio

bolso para poderem competir. Asculpas nunca são diretamente atri-buídas, mas as falhas da CâmaraMunicipal de Coimbra (CMC), ascontrovérsias da distribuição deverbas do CD, e ainda a falta depatrocínios são as razões mais in-vocadas.

Mas são as conquistas que estassecções proporcionam à academiaque servem de reconhecimento e

motivo de prémio. Assim, os Sal-gado Zenha são um alento para odesporto. Desta forma, é dada vozàs secções premiadas.

De ressalvar, ainda, um prémio,a título póstumo, atribuído a JorgeCosta. Esta homenagem a um dospresidentes da Secção de Nataçãofoi o considerado um dos maisemotivos, ao ser atribuído comoPrémio Conselho Desportivo.

E

A secção contemplada com doisprémios Salgado Zenha mostra, àsemelhança das restantes secções,algumas dificuldades financeirasdevido a incumprimentos de ter-ceiros. “Se recebêssemos o di-nheiro que nos estão a dever,teríamos uma situação equilibrada”,explicita o presidente da secção,Rui Freire. Dificuldades com a ob-tenção de patrocínios, os apoiosescassos da AAC e as dificuldadescom o financiamento da CMC sãoapontadas por Rui Freire como asprincipais razões para o estadoatual da Secção de Patinagem.Contudo, o cenário competitivo

é mais motivador. “A nível despor-tivo, as coisas estão bem, temosmais de 180 atletas”, conta o presi-dente. Os bons resultados conse-guidos pelas várias equipas dasecção são enumerados com orgu-lho por Rui Freire, que evidencia avontade de atrair mais atletas:

“temos conseguido cativar muitosmiúdos para virem para o nossodesporto.”Ligado à AAC desde 1965 está

Jorge Carvalho, o contempladocom o Prémio Carreira. Apesar derever neste prémio o esforço cole-tivo, o desportista não deixa delembrar como tudo começou. “Éum prémio com significado paramim, individualmente, mas tambémpara as duas secções”, reitera. NaSecção de Patinagem há cerca deseis anos está João Rodrigues, ga-lardoado com o Prémio Melhor Di-rigente. “Os últimos três anosforam bastante complicados, foinecessário um grande esforço”, de-sabafa o dirigente. Ainda assim,deixa a ressalva: “o reconheci-mento que foi feito é um grandeorgulho e tem ainda mais valorquando se trabalha no seio de umaassociação que é tão rica em bonsdirigentes”.

SECÇÃO DE PATINAGEM

“Premeia o esforço de uma épocae é isso que motiva as pessoaspara continuarem.” É desta formaque o vice-presidente da Secçãode Voleibol, Manuel Leal encarao galardão de Prémio ProfessorAlfredo Robalo atribuído a estasecção. Este prémio que contem-pla o desporto universitário foiatribuído à equipa masculina uni-versitária de voleibol.Quando questionado sobre a

situação financeira atual, ManuelLeal é perentório: “a secção estáfalida como a maioria das sec-ções da AAC. Não nos deramqualquer apoio esta época”.Apesar de lamentar a falta deapoios não atribui culpas e invocaos feitos competitivos das equi-

pas da secção: “temos feitoaquilo que nos é possível com osobjetivos que delineámos no iní-cio da época, a manutenção dasequipas seniores masculina e fe-minina”. Contudo, não deixa delamentar: “não podemos fazermais porque não temos capaci-dade para fazer”.O então capitão da equipa uni-

versitária, João Oliveira, evidenciaa formação de excelência queobteve na Secção de Voleibol,apesar de muitas vezes não terqualquer treinador a orientá-lo.Todavia, o espírito de equipa per-mitia a conquista de bons resul-tados: “já nos conhecíamos e eramais fácil para nos organizarmosdentro e fora do campo”.

SECÇÃO DE VOLEIBOL

PRÉMIOS DESPORTO5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 11

Page 12: Edição nº 257

PAÍS12 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

De visita a Portugal para umdebate com os cidadãos, avice-presidente da ComissãoEuropeia, Viviane Reding,traz uma mensagem de es-perança para os próximostempos e fala de uma novamaneira de fazer política,que fortaleça a ligação exis-tente entre o cidadão e o in-divíduo político. Ementrevista ao Jornal ACabra, a também comissáriada Justiça, Direitos Funda-mentais e Cidadania co-menta a importância daeducação e do Ensino Supe-rior no crescimento econó-mico e da sua ligação aosetor empresarial.

No relatório “Education andTraining Monitor 2012”, é ditoque a educação é parte da solu-ção para ultrapassar o impactoda crise, mas apenas se o inves-timento for eficiente. Em Por-tugal, as instituições de EnsinoSuperior (ES) têm sofrido su-cessivos cortes no financia-mento. O governo portuguêsestá a por em risco a estruturaeducacional do país?Portugal tem universidades muitoboas e a de Coimbra é um exemplo.Mas também tem uma enorme crisee toda a gente está a sofrer. Nós es-

tamos a fazer tudo para que este pe-ríodo não dure muito tempo e esta-mos convencidos que uma boaformação é a base para que se pos-sam construir as suas estruturas eco-nómicas de forma independente.

Mas, de acordo com este relató-rio, apenas Portugal e a Romé-nia baixaram o investimento noES.Não conheço esse relatório, mas seique vários países estão sobre pressãoeconómica. O sistema educacionalestá também a sofrer. Sempre disseque, se não houver dinheiro, deve-sesempre investir dinheiro em três coi-sas: educação, educação e educação.A educação é um investimento no fu-turo e, se não fizermos esse investi-mento, temos um verdadeiroproblema.

Nos objetivos da estratégia Eu-ropa 2020, pretende-se que apercentagem de indivíduosentre os 30 e os 34 anos comformação superior suba para40. Em 2001, em Portugal, essapercentagem chegava apenasaos 26,1, sendo que o abandonoescolar no ES tem subido de-vido aos problemas financeirosdas famílias. Ainda é realistaapontar para esse número?É uma meta e, quaisquer que sejamos problemas, nunca se devem es-quecer esses objetivos. Talvez nãoatinjam as metas de uma vez, masisso não quer dizer que não seja para

onde Portugal deve ir. Registamosmuitos abandonos no nosso sistemaeducacional. Isto é muito prejudicial.Há muitos elementos que os minis-tros da Educação têm que ver paraque sejam alcançados melhores re-sultados, porque isso será a base parao futuro desenvolvimento do país.

Na Europa, o desempregojovem atinge uma taxa de 23por cento. Ouvimos políticos afalar sobre a urgência e a ne-cessidade de resolver esta ques-tão mas, especificamente, o queé que não tem sido feito conve-nientemente?É extraordinariamente negativo paraas pessoas, para a sociedade e para aeconomia que as pessoas comecem asua vida adulta sem serem precisas.Os jovens devem sentir-se necessá-rios, valiosos, cativados. No fundo,quem cria empregos não é a legisla-ção mas sim as indústrias, as compa-nhias. Temos que ajudar essascompanhias a ter capacidade de criarpostos de trabalho. No último ano, acomissão fez um projeto piloto emoito estados membros, inclusive emPortugal, partindo de fundos que nãotinham sido utilizados, para investir7,5 biliões de euros e criar 460 600postos de trabalho. O Conselho Eu-ropeu tomou a decisão de criar umprograma específico, o que dá umagarantia aos jovens. Um jovem commenos de 25 anos que esteja por ummínimo de quatro meses desempre-gado e que não esteja a estudar rece-

berá educação suplementar, forma-ção ou ocupação, algo para fazer.

Mas esses programas funcio-nam?O programa piloto tem funcionadodesde o ano passado. Criou 460 000postos de trabalho em oito países. Ooutro foi aprovado e deve, no decursodeste ano, ser posto em prática.

Falando em indústria, pensaque o futuro dos jovens passa

por uma maior conexão entreas universidades e as empre-sas?Julgo que a Universidade de Coim-bra mostrou que criar uma incuba-dora é o modo correto de proceder.Isso significa que o conhecimentoque é adquirido na universidadepode ser posto em prática na criaçãode uma ‘start-up’ e dar uma oportu-nidade aos jovens de utilizar esse co-nhecimento e talento. Há muitasuniversidades que têm criado estacapacidade de desenvolver ‘start-ups’, dando-lhes uma casa para quepossam fazer experiências – talvezfuncione, talvez não – mas é muitoimportante esta ligação entre univer-sidade e capacidade de criação.

No Porto disse que “as pessoasneste país sentem que as coisasestão a ir na direção certa”.Mesmo com o regresso aosmercados, se a economia nãocresce, com a recessão, as taxasde desemprego estão mais altasque nunca, como é suposto queas pessoas sintam que as “coi-sas estão a ir na direção certa”?As pessoas neste país estão a sofrer,é verdade. Mas devem saber que ascoisas estão a ir realmente na direçãocerta. O simples facto de que Portu-gal tenha voltado aos mercados sig-nifica que já não depende mais dasolidariedade para receber fundos, econquistou a confiança dos investi-dores, é importante. Nos próximosmeses, os ministros das Finanças doEurogrupo terão uma sessão especialdedicada a Portugal e à Irlanda, paraanalisar o panorama e para que pos-sam sair dos programas. Os investi-mentos ainda não estão a regressartanto ao país, mas as exportaçõesestão a crescer. Será preciso chegar-mos a 2014 para que os portuguesessintam realmente a sua vida a me-lhorar.

Passaram quase cinco anosdesde o início da crise. Mesmocom os programas de austeri-dade implementados em váriospaíses, os governos e a UniãoEuropeia parecem falhar emsuperar os problemas financei-ros. De que forma é que estesencontros com os cidadãospodem ajudar a arranjar umasolução?Não é para arranjar uma solução queestou a sentar-me com os cidadãos,mas para os ouvir. Os políticos nor-malmente fazem um grande discursoe vão-se embora. É muito importanteo diálogo entre o político e o cidadão.É importante saber no que acreditamos cidadãos, o que é que eles pensam,quais são os seus sonhos para o fu-turo. Também é importante que osjovens falam sobre as suas aspira-ções.

DANIEL ALVES DA SILVA

VIVIANE REDING • VICE-PRESIDENTE DA COMISSÃO EUROPEIA

“As pessoas devem saber que as coisas estão a ir na direção certa”

Camilo SoldadoJoão Valadão

“Será precisochegarmos a2014 para que os portugueses sintam realmentea sua vida a melhorar”

Page 13: Edição nº 257

Direitos de autor nãoprotegem o utilizadorO Direito de Propriedade Intelectual protege o responsável dacriação intelectual. A realidade de hoje evidencia as dificuldades em proteger esses direitos e a fazer frente àsredes de partilha mundiais. Novas formas de licenciamentosurgiram, sem resolver o problema. Por António Cardoso

estabelecimento dasgrandes redes informáti-cas universais sobressai

como veículo. Este tem uma pro-funda repercussão no conjunto deprerrogativas que visam a proteçãodo autor e de todos os que com elesão responsáveis pela criação daobra. O fenómeno é visível: um nú-mero considerável de obras prote-gidas encontram-se hojedisponíveis na internet, pondo emcausa a propriedade intelectual deuma obra.A realidade atual está a ter re-

percussões na forma de pensar o li-cenciamento das criaçõesintelectuais. “Uma das primeirasmudanças foi, sem dúvida, a ado-ção, por parte de projetos comer-ciais, do modelo de licenciamentoaberto”, afirma a advogada espe-cialista em propriedade intelec-tual, Teresa Nobre, que aponta aorganização de licenciamento

Creative Commons como “um dosexemplos em que se tenta resolvero problema da partilha de ficheirosa um nível global“.As novas licenças de uso mun-

dial como General Public Licenceou Creative Commons surgem “de-vido à natureza não rival da infor-mação e ao aumento, para muitosjulgado como excessivo, da prote-ção intelectual”, confirma o pro-fessor catedrático de Teoria daInformação e dos Sistemas, naUniversidade Lusófona de Huma-nidades e Tecnologias, AntónioMachuco Rosa. Estas formas de li-cenciamentos são representantesde uma nova oportunidade para oacesso e partilha do conhecimentoque, segundo Teresa Nobre, estãoa formar “novos conceitos como: acultura ou publicações científicasde acesso livre (open access) e osmovimentos como o acesso adados governamentais (open go-vernment)”.

Bem público versus exploração comercialO conflito entre aqueles que veema criação intelectual como um bem

público destinado a ser partilhadoe aqueles que o encaram do pontode vista comercial é outra dasgrandes problemáticas em tornodo protecionismo autoral. A su-posta proteção dos direitos doautor obriga muita das vezes a“custos administrativos de gestãocoletiva com um caráter tão grandeque acaba por não compensar de-vidamente os autores”, e essa é, decerta forma, nas palavras de TeresaNobre, “motivo descontentamentoface a estas sociedades e ao seumodelo de gestão de direito auto-ral pouco transparente”.“A internet elimina a necessi-

dade de existir um intermediárioentre o autor da obra e o utilizador,proporcionando aos artistas publi-cidade de forma gratuita”, reiterao fundador do movimento do Par-tido Pirata Português, André Rosa.O movimento, à semelhança dosseus congéneres noutros países,afirma ser “um defensor intrínsecodo direito ao anonimato, da legali-zação da partilha de ficheiros parafins não comerciais, da reduçãodos direitos de autor para fins co-merciais, da abolição do sistema depatentes e defensores de políticastransparentes em relação a todosos assuntos da atividade governa-tiva”.“A falta de profissionais na área

das Tecnologias da Informação naelaboração das leis” é um dos mo-tivos apontados pelo ativista queacredita que essa é uma das gran-des razões para a desadequaçãodas leis em termos globais. A vi-gência dos Códigos de DireitoAutor e das Leis da Cópia Privadaem vários países, como Portugal,preveem efetivamente que se possafazer uma utilização privada daobra, mas quando se trata de umambiente público - “público” nãosignifica “comercial”. No entanto,a jurista especializada em proprie-dade intelectual tem dúvidas “emtermos de fins não comerciais, odireito de autor não devia ser tãorestrito”.

A baía dos piratasO expoente máximo da controvér-sia dos direitos de autor a nívelmundial tem sido o Pirate Bay, omaior site de partilha de ficheirosdo mundo tem há muito sido alvode várias tentativas de encerra-mento. O site tem sofrido pesadosreveses por parte dos gigantes daindústria do entretenimento, que

tem conseguido através campa-nhas antipirataria e de processosjudiciais em vários países dificul-tar a atividade do site. Em 2006, osservidores localizados na Suéciaforam apreendidos, mas o site con-tinuou a existir. Em 2009, os fun-dadores do serviço foramcondenados por violar os direitosde autor. No entanto, o site temconseguido manter-se operacional.O professor catedrático, Ma-

chuco Rosa, diz ser incapaz denegar as vicissitudes da internet,no acesso livre à informação masconsidera que “deveria existir umsistema de remuneração” e acre-dita que “a preços razoáveis, amaioria das pessoas, pagaria.” Otambém professor da Faculdade deLetras da Universidade do Portoassevera que “sítios como o PirateBay exploram comercialmente asobras através da publicidade. Issoé em certa medida inaceitável”.

Diferente opinião tem TeresaNobre, que, conhecendo pessoal-mente um dos fundadores do Pi-rate Bay, Peter Sunde, partilha dealguma das suas ideias em matériade reequilíbrio de direitos de autor.“É chocante que o fornecedor deum serviço seja responsabilizadocriminal e não civilmente, por esseserviço ter utilizado, ilegalmente,obras protegidas por direitos deautor.”A proteção legal das obras é re-

legada para a proteção do artistaou criador intelectual da obra, semque a maioria das vezes previna osabusos e raramente é contempladaa proteção dos utilizadores noacesso aos bens que são protegidospor esses direitos. “Há muitas ins-tituições a nível internacional atentar equilibrar este paradigma,por isso, de certa forma, tenho es-perança. Mas abolir por completoo Direito de Propriedade Intelec-tual não acho que venha a aconte-cer, pois continua a serindispensável”, são estas as con-vicções da jurista especializada empropriedade intelectual.

com Pedro Martins

O

“É chocante que ofornecedor do serviçoseja responsabilizadocrimanal e não civilmente”

“A internet elimina anecessidade de existirum intermediárioentre o autor da obrae o utilizador”

5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 13

MUNDOFOTOMONTAGEM POR CAMILO SOLDADO

Page 14: Edição nº 257

ARTES14 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

en Affleck sempre teve umacarreira de altos e baixos.Como ator, sempre recorda-

remos os falhanços de “Gigli”, “JerseyGirl” ou mesmo “Surviving Chris-tmas”. Apesar de já ter passado quaseuma década após esses filmes, notou-se sempre a ambição de Ben Affleck,de se fazer querer notar e deixar delado a aparência. Temos “Good WillHunting”, onde inclusive foi laureadocom o Óscar de Melhor ArgumentoOriginal, “State of Play” ou “TheTown”. Todos estes filmes estão se-parados por um grande hiato tempo-ral, por isso o percurso de Affleck nãoé constante. Nem a sua atuação/rea-lização – não querendo com isto dizerque é boa ou má. É, apenas, incons-tante.“Argo” é um filme político, e bem

sabemos que a Academia tem especialatenção a isso. Exemplo disso foi opremiado “Milk”, de Gus Van Sant(2009) e as estatuetas para “The HurtLocker”, de Kathryn Bigelow, em2010. Filmes que abordam temas dis-

tintos (“Milk” fala sobre Harvey Milk,o primeiro homossexual eleito paraum cargo público norte-americano, e“The Hurt Locker” é um filme quetem como fundo a Guerra do Iraque)mas que, de alguma forma, perpe-tuam a história dos EUA e as suasações. Assim é “Argo” que ganhouagora o óscar de Melhor Filme. BenAffleck agarrou no livro de TonyMendez, ex-agente da CIA, “The Mas-ter of Disguise: My Secret Life in theCIA” e retratou-o na tela.Affleck é precisamente Tony Men-

dez, o agente da CIA que, na décadade 80, comanda uma missão para re-tirar reféns norte-americanos do Irão,durante a revolução. Perante as pres-sões do mundo ocidental, nomeada-mente dos EUA, os iranianoscomeçam uma verdadeira “caça àsbruxas” aos norte-americanos que láse encontram, levando os funcioná-rios da embaixada dos EUA a refu-giarem-se junto do embaixadorcanadiano. “Argo” é o nome da mis-são: a simulação de um filme de fic-

ção científica com esse nome fez comque Tony Mendez tivesse sucesso, aoconseguir fazer passar os seis refénspor ‘staff’ de produção e realização ci-nematográficos, com a desculpa defilmar em terras iranianas.Não há uma característica que de-

fina o trabalho de Ben Affleck, não háuma marca de direção que lhe asso-ciemos. Mas há um trabalho limpo ecuidado, há a preocupação em dar aopúblico uma história bem contada eretratada. E num filme destes issobasta. O elenco faz jus a cada perso-nagem – temos John Goodman eAlan Arkin a mostrar o que aindavalem (e fazem-no muito bem) etemos Ben Affleck, eterna faceta de‘bad boy’ que aqui saiu bem.Prémios à parte (porque a discus-

são sobre a vitória de “Argo” não éconsensual), este é um filme que fazos EUA olharem para trás (assimcomo “Django Unchained”, por ra-zões diferentes, claramente, e quetambém estava nomeado). É precisomais disto.

Argo

CIN

EM

A

Missão (quase) impossível

CRÍTICA DE BÁRBARA RODRIGUES

DEBEN AFFLECK

COMBEN AFFLECK

JOHN GOODMAN

BRYAN CRANSTON

2012

ão sete dias na mortede Nasser-Ali (Mat-hieu Amalric). Uma se-

mana em que este violinistafrustrado pela perda do seumelhor amigo – o violino subs-tituto de um amor impossível– se encerra num mundo desonhos esperando que a mortetenha piedade da sua autoco-miseração.Para quem viu e gostou do

anterior “Persepolis” da duplade realizadores Marjane Sa-trapi & Vicent Paronnaud, “Ga-linha com Ameixas” não encheas medidas. A dimensão polí-tica, que fez do primeiro ofilme de culto que é hoje, é re-legada para uma ínfima partedo argumento nesta segundalonga-metragem. Na verdade,

não é mais do que um meroacessório de contextualizaçãojá que a narração tem comopano de fundo Teerão nos anos1950.“Galinha com Ameixas” é

uma história cómica, com o in-tuito simples de aligeirar a des-graça alheia, muito ao jeito doFabuloso Destino de AméliePoulain de Jean-Pierre Jeunet.Uma história que gira à voltado embaraço de um homemfracassado que desistiu de umavida de más escolhas, nemsempre tomadas por si.E já que - como nos dizem a

certa altura - “o aborrecimento éo melhor fertilizante para os pen-samentos absurdos”, Satrapi eParonnaud levam à letra a pre-missa e apresentam-nos uma

versão extraordinariamente tea-tral deste drama: peitos gigantes,simulações de morte, fantasmase até Azrael, o Anjo da Morte. Etoda esta teatralidade vê o seuauge em cenas como a acesabriga entre o casal Nasser-Ali eFaringuisse (Maria de Medeiros– a coqueluche portuguesa do ci-nema francês) ou uma enervanteviagem de autocarro com um ca-traio extremamente incomoda-tivo. Infelizmente, todas elasainda antes da primeira meiahora de filme.Não é uma obra de arte como

se poderia chamar a “Persepo-lis”, mas é entretenimento sau-dável como nos tem habituadoo bom cinema francês. Daqueleque não faz mal à inteligência.

Crónica de umamorte desejada

Galinha com Ameixas”

RAFAELA CARVALHO

“ B

S

VE

R

Artigo disponível na:

FILME

DEMARJANE SATRAPI

VICENT PARONNAUD

EDITORA

MIDAS

2012

Page 15: Edição nº 257

FEITAS5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 15

hazwick Bundick estámais velho – é esta aprincipal conclusão que

se retira ao fim da primeira au-dição de “Anything in Return”.Em seis anos desde que se es-

treou neste meio da criação mu-sical, o produtor por detrás doprojecto Toro Y Moi parece terdeixado a pressão da ideia chill-wave e abraçou definitivamenteo seu verdadeiro eu para criarum dos álbuns mais completosde 2013.Expliquemos então. Entre

2009 e 2010, Bundick andouagarrado a uma das concepçõesmais fracas do milénio, a chill-wave. O resultado andou sempreentre o bom e o sofrível, com ho-menagens e abordagens interes-santes à samplagem a 33 rpm(“Causers of This”), a que se se-guiu “Underneath the Pine”,uma electrónica a meio gás, depouco interesse e divertimento.Espanta, por isso, que “Anything

in Return” funcione como a verdadeira afirmação de confortode Toro Y Moi – e ainda bem que assim é.Numa ponte perfeita entre os anos 80 e os 00, Bundick re-

vela-se ao mundo, sem vergonha de recorrer aos tons dançá-veis da disco-soul para criar música policromática (“Say That”é o melhor single de 2013), que sustenta o seu balanço na es-tética da electrónica mais pura (vide “High Living”). Basta,aliás, um relance da capa para reparar no mais brilhante e des-carado piscar de olho aos Chick de Giorgio Moroder.Foi, de resto, o disco de Bundick que levou mais tempo a

produzir e gravar (dois anos ao todo), o que explica a cerebra-lidade aparentemente aplicada durante o processo de desco-berta pessoal e musical de Bundick. O resultado é umaprodução orgânica, com uma produção tão quente que já soaa intemporal.Acima de tudo, Bundick parece saber aquilo que quer: di-

vertir-se e fazer os outros divertirem-se, ainda que as suas le-tras cantem histórias de amor dúbias ou relatem a história deum coração humildemente partido. O importante, como nosanos 80, é poder e saber dançar independentemente domundo que nos rodeia.

OUVIR

DETORO Y MOI

EDITORACARPARK

2013

Anything in Return”

ANTÓNIO MATOS SILVA

Artigos disponíveis na:

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

Maturação Sentida Cuitas pessoas queixam-se deque os livros estão cheios depalavras, de frases, enfim,

queixam-se de que os livros exigem o es-forço de ser lidos. Pois bem, eis um livrodiferente. Desde logo, ao pegarmos nolivro, salta-nos à vista a eloquente foto-grafia da capa: cabras a pastar num ca-minho rural que vai dar a um gigantescobloco de betão, que logo reconhecemoscomo sendo uma barragem. É esta foto-grafia que vai dar o mote a “Vida noCampo”, nas palavras do seu autor, “umametáfora sobre a perda do Portugal rurale um antídoto contra o mau viver pelodespovoamento e abandono, ou, noutroregisto, pela profunda metamorfose quevai lavrando pelo país dos (ex)agriculto-res com o desaparecimento das suas prá-ticas ancestrais, modos de vida, territórioe paisagens. Paisagens de lamentações...”É de perda, de destruição, de transfor-mação que nos fala este belo livro de Ál-varo Domingues. É de nostalgia,também, a dor do regresso a um lugarque nunca existiu como o imaginávamos,mas esteve sempre lá à nossa espera. Éessa a sensação que temos quando nospomos a olhar para as fotografias queilustram esta viagem ao Portugal rural,numa maravilhosa edição da editoraDafne, especializada em arquitectura econtando já com um catálogo admirável.O autor deste livro constrói uma obra

múltipla e original, seguindo os passosdo seu anterior “Rua da Estrada”, onde aimagem ocupa o lugar central mas onde

as palavras vêm enquadrar aquilo queestá para lá do enquadramento fotográ-fico e de que a fotografia não nos podefalar. Propõe-nos também um novomodo de ler. Podemos dizer que umaimagem vale mais do que mil palavras,mas também que a este conhecido pro-vérbio falta acrescentar a pergunta: masque palavras? Essas palavras surgem nolivro de Álvaro Domingues de inúmerasformas: ou como legenda da fotografia,ou como poema, ou como citação de di-versas obras que vêm ajudar a ilustrarmelhor o corpo da reflexão central dolivro, cuja força advém de ser um textoque nos ajuda a pensar e não a lamentar.Como sucede com os bons livros, este

livro é também uma viagem. Aqui, os lu-gares por onde viajamos são-nos fami-liares. Todos nós já vimos estes lugares,estas construções grotescas algures: um“arado voador” aqui, um complexo in-dustrial abandonado ali, uma autoes-trada deserta a cruzar uma quinta, umarotunda no meio do nada, em suma, es-tamos habituados a esta paisagem. Mas oque nos propõe o autor é que aprenda-mos a ler a paisagem, pede-nos paraabandonar os nossos hábitos e convida-nos a segui-lo.Ao terminar lemos: “é difícil, sobre-

tudo, controlar as emoções acerca do queacontece. Estamos a um passo de umacrise total de sentido.” Resta-nos acolheresta obra como um precioso guia nomeio da escuridão.

rysis 3” poderia ser o jogoperfeito para aquele agre-gado doentio de jogadoresinveterados, que, da clau-

sura a que se obrigam, apenas conhe-cem a forma do sol por algum pixelefémero. Numa Nova Iorque que se ar-rastou uns 20 anos sobre o penúltimocapítulo da série, a paisagem distópicade uma selva urbana abandonada deulugar a uma amálgama de betão everde, que mais se assemelha a umaqualquer descrição de Richard Mathe-son (onde não faltam os veados, e de-mais fauna, a correr por entre adesmesurada erva verde). Valeria porsi só, esta possibilidade de se poderaventurar pela expansão de um cená-rio onde todos os detalhes, a precisãode cada movimento, o jogo de planos ede cores e cada efeito sonoro resultanuma imediacia transparente, na in-consciência de estarmos perante umecrã.“Crysis 3” poderia ser o jogo perfeito

para esta gente. Mas “Crysis 3” conse-gue passar mais depressa do que a filade espera para a Secretaria Geral. Anarrativa enfadonha e barata conju-gada com uma jogabilidade para lá dofácil, uma inteligência artificial quedeve esse nome a uma convenção se-mântica (a certo momento, torna-se

mais fácil disparar sobre um inimigodo que tirar uma foto com um pseudo-famoso no Bairro Alto) e a multifun-cionalidade de um fato, que por pouconão joga o jogo por nós, confluemnuma experiência breve e suscetível decair rapidamente no esquecimento.Mas onde o modo de jogo individual

falha redondamente, o modo ‘multi-player’ consegue tirar a melhor. Tudoaquilo que nos faria odiar o formato decampanha é argumento de defesa domodo coletivo. Aqui o fato biónico, amarca da trilogia, impera em toda alinha, através das funções de escudo einvisibilidade. A parafernália de ócu-los tecnológicos exponenciam a expe-riência de jogo. Até a interação com osvários elementos fixos do mapa confe-rem uma plenitude acima de qualquer‘first-person shooter’ futurista. E de-pois há escolha de arsenal. Um semfim de armas e combinações, capaz decalar o adepto mais entusiasta de “Bor-derlands 2”, onde qualquer escolha ealteração não depende de um menutreteiro que interrompe a ação. Tudoacontece no momento.No final sobra a ideia de um desfe-

cho diegético simpático, mas a certezade que uma série como “Crysis” mere-ceria uma conclusão mais digna.

DEÁLVARO DOMINGUES

EDITORADAFNE EDITORA

2012

MVida no campo”

JOÃO MIRANDA

BRUNO CABRAL

Crysis 3 - Xbox360”

JOGAR

Um mundopleno numbreve instante

LER

A vida semcampo

PLATAFORMA DISPONÍVEISPS3, XBOX 360, PC

EDITORACRYTEK/EA

2012

“C

Page 16: Edição nº 257

No momento difícil queo país vive, o desafioque me colocaram –

“Uma ideia para o ensino supe-rior” - é especialmente complexo.Um olhar sobre o ensino su-perior, leva-me a equacionarmuitos e diversos problemas,evidenciando a pouca capaci-dade que temos reveladopara a reflexão que os tem-pos exigem. Decidi destacaralguns desses problemas, ar-riscando identificar o que, do meuponto de vista, poderia ser priori-tário na perspectiva de análise ereforma do ensino superior. Façoeste exercício reconhecendo ante-cipadamente que podem ser ou-tras as prioridades, em função doângulo e dos pressupostos da aná-lise.É evidente que a evolução de-

mográfica do país colocauma forte pressão sobre todaa rede de ensino superior, emespecial sobre as instituições uni-versitárias localizadas em territó-rios mais afectados pela perda depopulação jovem, mas outras si-tuações, como a dificuldade eco-nómica das famílias ou ainsuficiência de resposta do mer-cado de trabalho, representamuma evidente adversidade para aprocura universitária. Por outrolado, o próprio ensino en-frenta desafios importantes,que obrigam a reconfigurarpermanentemente a meto-dologia de ensino, e a capaci-dade das universidades paraatraírem estudantes. Quandoas grandes universidades domundo apostam de forma

agressiva nos conteúdos lectivosdigitais e no ensino à distância,temos que perceber comonos ajustaremos de formacompetitiva a esta mudançaprofunda do próprio paradigmade ensino. Este desafio é especial-mente importante para as univer-sidades portuguesas, se estaspretenderem ter algum protago-nismo no universo lusófono.Mas distinguir as priorida-

des para a renovação do en-sino superior português, nãopode deixar de contemplarum modelo de apoio inequí-voco ao mérito, e aos estudan-tes quequerempro-

gredir na sua formação acadé-mica, mas que não têm meios,nem pode esquecer a responsabi-lidade no apoio efectivo ao desen-volvimento económico, através doconhecimento e inovação, que sãohoje ferramentas essenciais paratornar competitivo o tecido pro-dutivo nacional. Esta reflexão temainda que abranger a rede de ins-tituições de ensino superior, eajustar a oferta à procura, semdesprezar na equação a coesãoterritorial e social. Precisamosde todas as instituições uni-versitárias de igual forma?Devemos manter ou patrocinar

a profusão de cursos e instituiçõeslectivas no ensino superior pú-blico? E se decidirmos e assu-mirmos que há excesso,devemos compor a oferta ousimplesmente eliminar oque é redundante? Vale apena manter instituiçõesque têm um papel impul-sionador do conheci-mento e da cultura nosterritórios mais despo-voados e mais frágeis dopaís? Deixo natural-mente estas questõesem aberto, mas estoupreparada para as-sumir as minhasrespostas, e re-ceptiva a umamudança queé urgente.

SOLTAS16 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

UMA IDEIA PARA O ENSINO SUPERIOR

HELENA FREITAS • VICE-REITORA PARA AS RELAÇÕES INSTITUCIONAIS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRAAMEAÇA EM

MOVIMENTO

Num espetáculo tão curto (apenas 40 minutos), de nome “Um gestoque não passa de uma ameaça”, no passado dia 20 de fevereiro, SofiaDias e Vitor Roriz produzem uma miscelânea de ações distintas, comapenas um fundo verde floral, que nos faz lembrar uma floresta tro-pical, juntamente com uma mesa e duas cadeiras.Neste cenário minimal, conjugando a fala, o canto e o movimento fí-

sico, a dupla consegue captar a atenção do espetador, apesar da sim-plicidade da ‘performance’, que acaba por torná-la especial e única.Com jogos de palavras, em que as palavras são como um corpo, e

numa espécie de desconstrução e degeneração das mesmas, atravésdo som de cada uma, os ‘performers’ repetem as palavras, muitasvezes, em várias línguas. De uma forma exaustiva, saltando, pouco de-pois, para outras, de som semelhante, recorrendo, em alguns casos,ao canto, conferindo-lhes o poder. Não há propriamente um sentidona forma como as palavras vão mudando o seu significado “não im-porta”, até porque acaba por “se perder”. Só a sua sonoridade e flexi-bilidade importam, a forma como se relacionam com a fisicalidade,com todo o seu processo de formação, que acaba por ser um poucocaótica e despojada de sentido.Mais tarde, começa a decomposição dos movimentos de cada um

dos dois, que os fragmentam, de forma robótica, passo a passo, avan-çando um pouco, de cada vez, e voltando sempre “à estaca zero”.Acompanha-os, neste momento, uma música de fundo, de estilo mi-nimal, que acaba por ser uma continuidade de toda a índole do espe-táculo “Mês da Dança”, no Teatro Académico de Gil Vicente.Fazendo parte do mês da dança, este espetáculo tem uma capaci-

dade evolutiva, desde o momento em que se entra na sala, até que sesai, marcando-se pelo seu carácter singular.

Por Beatriz Barroca

A REFORMA DO ENSINO SUPERIOR

CRITIC’ARTE

Lembro-me do massacre de Santa Cruz, em Timor-Leste. A comunidade de timorenses aqui era espetacular, todos pequenininhos, como são todos, mas todos ali a chorarno jardim, porque queriam saber notícias da família. E quem tinha telemóvel ajudava. Havia um espírito de solidariedade entre as secções, toda a gente estava preocupadacom o que estava a acontecer lá. Os timorenses estavam preocupados com as famílias, com o que estava a acontecer. Morreram familiares de estudantes aqui de Coimbra.

Nós temos cá estudantes que estavam lá nesse dia. Eles não nos eram nada, eram “compatriotas” do outro lado do mundo, mas era como se estivesse a acontecer aqui em baixo e nósnão pudéssemos lá chegar. Notava-se espírito de solidariedade entre toda a gente, entre os estudantes e a Direção-geral, os organismos, estavam todos preocupados, iam conversarcom eles para ver como é que estavam. Quem tinha telemóveis melhores tentava contactar a Austrália, foram momentos bonitos. Alguns dos meus melhores amigos aqui em Coim-bra, que mais gostam de mim, são timorenses. Porque eu pressenti as dificuldades deles e estava sempre disposto a ajudá-los.

(…)

Antes pedia sempre férias na semana da Queima das Fitas, pois davam-me a possibilidade de meter férias aqui e ir para lá trabalhar. Ia lá ganhar uns trocos extra. Quando era horade contratar procurava dar sempre prioridade a dois ou três, pois sabia que tinham dificuldades, dizia-lhes: “Olha, as inscrições já estão abertas, vai-te lá inscrever!”. Eles ficavam-me sempre muitos gratos, mais ninguém aqui se preocupava. Antes não havia zona VIP, mas já havia um ‘backstage’, a Direção-geral tinha um espaço reservado a convidados. Então,os timorenses não tinham dinheiro para ir à festa e o pouco que tinham dava para entrar lá dentro um dia, mas depois não tinham nada para beber. Aí, punha-me à porta do ‘backs-tage’ e quando passavam os timorenses pegava neles e metia-os lá, às vezes metia uns 10 ou 15. Fazia isto para que eles também pudessem disfrutar da festa e beber à borla.Nunca me disseram nada sobre isso, mas se dissessem entrava por aqui e saía por acolá. Não é por isso que alguma vez deixo de ajudar alguém, não admito isso a ninguém. Tal-

vez tenha havido, num momento ou outro, alguma “piçada” de algum menino. Foi graças a essas atitudes solidárias que sei que se for a Timor não morro à fome, porque há de haveralguém que me vai dar uma casa e comida. É uma comunidade completamente diferente das outras, se estão em grupo falam em tom moderado. Isto porque eles lá não podiam “es-pingardar” nenhuma, senão levavam nas orelhas dos indonésios. Eles sofriam em silêncio. Nunca vi nenhum timorense a ser espalhafatoso, são um povo muito tranquilo. Como éque um povo pode sofrer tanto e calar assim?

Entrevista por João Valadão

AACTestemunhos e outras curiosas histórias de Francisco Linhares

“COMO É QUE UM POVO PODE SOFRER TANTO E CALAR ASSIM?”

D.R.

D.R.

Page 17: Edição nº 257

cego era um vagabundo defora da cidade e a quem nin-guém conhecia casa nem fa-

mília. Entrava ao acender-se a luz dodia, ia-se antes de os caminhos se tor-narem solitários e perigosos. Nãoexistia outro em toda a ilha. Vivia aoacaso da noite e do dia, morando al-gures, para além das últimas casas daavenida - após a curva que abria e fe-chava a entrada e a saída da cidade.Dormia onde calhasse, comendo doque lhe dessem: bocados de pão duroe algum conduto que guardava numasaca de lona. Vestia roupas que dei-xavam de servir, aceitava uma ououtra moeda. Quando nada lhedavam, comia do que encontrassenos vazadouros dos quintais ou na li-xeira a céu aberto da cidade. Um diaalguém teve a ideia de mandar umabrigada ver o que se passava com ospobres da ilha: um padrezinho degestos suaves chamado Amadeu, amédica Florinda, a assistente social,o psicólogo, o técnico do município.Foi quando se detiveram à beira deum fojo: uma criatura, presa da suaincrível desumanidade, sentava-se nochão, ao lado de um cão que tremiade frio.Ora, o particular deste cego estava

no facto de o não parecer. Possuíauns olhos perfeitos, embora descren-tes como os seus ombros descaídos.Olhos que escutavam o mundo e lhedevolviam o desencanto. A brigadaocupou-se do cego, levando-o ao hos-pital, onde foi desparasitado. Numexame sumário, a médica verificouque a cegueira parecia de somenos:uma cirurgia a raios laser, e recupe-raria o que perdera na infância: a luz,as cores, a beleza e a fealdade daspessoas que até aí eram vozes que osaudavam à pressa; e a visão das ruas

por onde os seus passos se orienta-vam pelo tato e pela memória.Internaram o cego e guardaram o

cão. Operaram-no. Ao retirarem-lhea venda e os pensos, notou ele que omundo se alargava em volta: os mé-dicos e as enfermeiras já não eramvozes que se moviam, mas vultos ilu-minados ao passarem perto da janela,ao alcance da luz. Tudo nele se tor-nou grato a Deus e à cirurgiã. Ne-nhuma gratidão lhe parecia bastantepara agradecer à sua redentora: pen-sou, lembrou-se do seu amigo, ofere-ceu-o à médica. Tratava-se de umbelo animal: o guia perfeito, a doçuraobediente à voz do dono. Ela levou-opara casa, passou-o aos cuidados domarido (que, cheio de ternura pelosolhos do animal, deu-lhe um banhoquente, alimentou-o, comprou-lheuma alcofa para ele dormir e pôs-lheum nome a preceito: «Noël» - em ho-menagem ao espírito do Natal).

O cego recuperou a visão. Reco-lheram-no numa instituição de cari-dade, exibiram-no a quem o quis verpara que acreditassem no milagre.Encorajaram-no a ir pelas ruas, apassear, para que o povo visse essaobra de Deus e os prodígios da Medi-cina. Mas o cego verificou que não lheera possível orientar-se numa cidadeque ele só conhecia com os dedos,com o olfato, com a pele. Perdera acapacidade de “ver” à sua maneira:apalpando as esquinas para saberonde devia virar, contando os passosnos percursos rotineiros de outrora.Sentia-se num mundo estranho queo deprimia: um país estrangeiro paraa sua linguagem, uma realidade irrealque desconhecia.Imaginou uma maneira de se sal-

var dessa perdição. Fingir-se outravez de cego! Foi a casa da médica,

armou o seu banzé, exigiu-lhe que lhedevolvesse o cão. Havia em si umconflito de duas pessoas na penum-bra em que a luz se fundia com asombra, a alegria com o desespero e afé com a descrença. Deprimido, dei-xou de comer e de dormir. Vieram asdoenças. A mente parecia corroídapor um sentimento de culpa que as-sumia o remorso como vontade deperdão. O pior é que o cego experi-mentou algo que sempre lhe fora des-conhecido: a solidão. Não obstante acegueira, nunca se sentira um sozi-nho na vida nem na cidade. Agora,

descia de patamar em patamar den-tro de si e afundava-se na melanco-lia. Decidiu pois voltar ao princípio.Passou a andar de olhos fechados. Decada vez que encontra um obstáculo,voltava a cerrar os olhos e recorria aotato para se orientar no mundo an-tigo que lhe pertencia. Voltou-lhe aalegria. Limitava-se a seguir a voz in-terior que antigamente o levava paraa frente de todos os perigos e aventu-ras e superava na sua alma cada obs-táculo, cada novo desafio da cegueira.Não há melhor cego do que aqueleque não quer ver.

SOLTAS5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 17

O CEGO DA ILHAPor João de Melo MICRO-CONTO

Natural da Achadinha, nos Açores,João de Melo é um homem multifa-cetado. Aos 18 anos, já tinha publi-cado o seu primeiro conto, no DiárioPopular e por volta dessa altura, rumaa Lisboa para prosseguir os seus estu-dos. Esses são, mais tarde, interrompi-dos pela malfadada Guerra Colonial,onde serve como furriel enfermeiro,tendo estado mobilizado em Angola,entre 1971 e 1974.Essa experiênciamarca fortemente o escritor em termospessoais e literários, sendo tema de vá-rios dos seus livros. Regressa a Portu-gal e retoma os estudos, terminando alicenciatura em Filologia Românica, naFaculdade de Letras da Universidadede Lisboa. Sucede-lhe uma carreiracomo professor do ensino secundário,mas não só – editor e crítico literário.

Depois de retornado da Guerra, em1975, publica a sua primeira obra(“Histórias da Resistência”). Entretanto,continuou com a publicação, não sóde ficção, mas também ensaios e cró-nicas. “Gente Feliz Com Lágrimas” foi aobra que lhe trouxe o reconhecimentoe que lhe valeu vários galardões, entreeles o Prémio Eça de Queirós da Ci-dade de Lisboa.

Ana Duarte

JOÃO DE MELO64 ANOS

O

ILUSTRAÇÃO POR JOÃO PEDRO FONSECA

e há uns tempos a estaparte, o nosso Mundovem girando, tu não me

digas uma coisa dessas ó xicoae-cheperto, pensarão acertada-mente os caros leitores,descontado eu a pouca eloquênciada vossa hipotética interjeição.Com efeito, e tanto quanto sabe-mos, o mundo gira há já umtempo considerável, pelo menosdesde dos tempos do Cavaco, ga-rante-me a minha vizinha, gentesempre bem informada, queacrescenta: “até acho que houveum programa disso feito com odinheiro dos camones, mais oumenos no tempo das ipês”.

Que o Mundo sempre girou, jásabemos. Contudo, e agora vem apremissa que se pretende estabe-lecer, depois de um primeiro pará-grafo absolutamente desnecessárioe desta frase perfeitamente con-descendente, parece que agora giramais rápido. Bem sei que será sóimpressão, tonturas de tensãobaixa, um cisco na vista, vá-se lá

saber, o que é certo é que me pa-rece que este globo contraiu e ace-lerou, esfarela agora a toda avelocidade no seu frenesim pós-moderno.

Os maias enganam-se, o Papademite-se, a primeira dama ame-ricana roça a bunda em come-diantes, andamos todos a comercavalo. Se mais provas fossem ne-cessárias, anda meio mundo a veroutro meio ter ataques epilépticosacompanhados de ecléctica bandasonora, evocando simultanea-mente o bairro de Harlem, a co-munidade latina americana e unsgenéricos terroristas. Não hánada mais frenético nem maispós-moderno que isto.

Neste rectângulo à beira marplantado, não passámos ao ladodesta estranha efervescência.Tanto se ouve o doutor Relvastrautear alegremente temas que,a todos os níveis, desconhece,como se ouve um tal de Gaspar,este não fantasma, não por issomenos brincalhão, exaltar a he-

rança marítima do povo portu-guês. Gaspar fala-nos de barcos,diz que a crise é tempestade,aguentaremos a meteorologia,afirma, porque “somos um povode marinheiros, capaz de superaras piores tormentas”. E notável foi este último episó-

dio, pelo inusitado calor vindo daspalavras do senhor ministro dasFinanças. Quase se coloriu onegro das olheiras, quase se esva-ziaram os inflados papos, quasese escapulia um sorriso e surgiauma comovente faísca bailandona íris. Gaspar revelou-se: poeta

enclausurado na fria aparência,aprisionado nos áridos terrenosdas finanças, entre toda aquelachapa fria de ‘robot’ bate umquente coração, compassadopelas redondilhas de Camões, ecantando ele espalharia por todaa parte, não fosse o destino guar-dar-lhe outros planos.Quis o destino que o poeta fosse

soterrado em números e fórmu-las, talvez por isso os versos gas-parianos sejam anedóticos,precisa de praticar este ministropoeta, de se dedicar a tempo in-teiro às odes, de deixar a sua en-fadonha ligação com as finançasdo país, essa atribulada relaçãoque, como um qualquer casa-mento sem chama, os destrói mu-tuamente. E que nos destrói anós, habitantes do tal Mundo emfrenesim, gerido por poetas em‘part-time’, cegos a tempo-inteiro.

*Por escolha do autor este textonão segue as regras do novoAcordo Ortográfico da LínguaPortuguesa.

ENTRE A ARREGAÇA E O CALHABÉPor Bacharel Jorge Gabriel

DD.R.

DO DESCONCERTO DO MUNDO A VÓS OUTROS QUE BUSCAIS REPOUSO CERTO

Page 18: Edição nº 257

OPINIÃO18 | a cabra | 5 de março de 2013 | Terça-feira

PUBLICIDADE

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

A Cabra errou: Na edição nº256, no artigo referente à práticade capoeira na Escola de ArtesMarciais – Coimbra MMA -, foiomisso, por lapso, o nome dacompanhia que administra os trei-nos - “Farol da Ilha”. Aos visados,o nosso pedido de desculpas.Na edição nº256, na rubrica

Portaria AAC - Testemunhos e ou-tras curiosas histórias de Fran-cisco Linhares, a ex-presidente daAssociação Académica de Coim-bra Zita Henriques foi, errada-mente, mencionada como ZitaSeabra. Aos visados, o nosso pe-dido de desculpas.

BREVES

SIDA Médicos atestaram a curado vírus VIH num bebé. Apeli-dam-na de “cura funcional” numacriança que tem cerca de doisanos. A mãe que a deu à luz nãosabia que estava infectada, desco-brindo-o apenas quando proce-deu às análises básicas na criança.A equipa que fez o tratamentoacredita que tudo se deveu aofacto de o rastreio se ter iniciadotão cedo. O caso foi revelado an-teontem, na Conferência sobreRetrovírus e Infeções Oportunis-tas, a decorrer em Atlanta, nosEstados Unidos.DN

Euro O ministro francês da In-dústria acusa Mário Draghi, pre-sidente do Banco CentralEuropeu, de estar inerte em rela-

ção à crise e à forma como os ci-dadãos europeus estão a ser afe-tados. Propôs por isso umadesvalorização da moeda se sequiser “crescer”. Arnaud Monte-bourg defende que o BCE não sepreocupa com o crescimento enão liga aos desempregados. Diá-rio Económico

Espanha Uma sondagem reali-zada pelo diário EL PAÍS dá porcerto que mais de 80 por centodos espanhóis pensam que LuisBarcenas, ex-tesoureiro do Par-tido Popular, está a chantagear oprimeiro-ministro espanhol. Ma-riano Rajoy é suspeito de estarenvolvido na corrupção dentro dopartido onde se branqueava di-nheiro e circulavam montantes

extraordinários em contas suiças.Jornal de Negócios

Atletismo A atleta portuguesaSara Moreira sagrou-se campeãeuropeia de 3000 mil metros empista coberta, numa prova reali-zada, no passado domingo, emGotemburgo, na Suécia. A portu-guesa conseguiu manter a vanta-gem ao longo da prova,afastando-se das concorrentesnas duas últimas voltas com vá-rios metros de distância e com otempo de 8m58,50s. A atleta, quejá tinha ganho uma medalha deprata em 2009 em Turim, à qualjunta agora uma medalha deouro. Público

Suiça Os suíços aprovaram, este

fim-de-semana, em refendo, me-didas legislativas que limitam osaltos salários de grandes executi-vos. A iniciativa, proposta porThomas Minder, presidente deuma companhia de pasta de den-tes, teve a adesão de 68 por centodos votantes, segundo projeçõesda SF1. A proposta garante tam-bém o direito aos helvéticos devotarem anualmente na renume-ração paga à gestão e prevê ocumprimento de uma pena deprisão até três anos para quemviolar as regras. Expresso

Venezuela Centenas de pessoascontra Hugo Chávez manifesta-ram-se em Caracas para exigirem“a verdade” sobre a condição desaúde do chefe de Estado, que

luta há três meses contra um can-cro. Cerca de cinquenta jovensapresentaram-se acorrentadospara pedirem a demissão do líder.Apesar das poucas aparições pú-blicas de Hugo Chávez, o vice-presidente Nicolas Madurogarantiu que o presidente estácom “a moral elevado”. Diáriode Notícias

Igreja Católica Envolvido numescândalo sexual, o escocês KeithO’Brien, que se demitiu do cargode arcebispo, admitiu ter tido um“comportamento sexual” inapro-priado. O caso resulta do facto deduas acusações contra o cardealse terem tornado públicas. KeithO’Brien é acusado de, nos anos80, ter molestado três padres eum ex-padre. Apesar de inicial-mente ter negado as acusações, oreligioso pediu a demissão e re-nunciou também à participaçãono conclave para eleger o pró-ximo Papa. TSF

Por Liliana Cunhae João Valadão

Page 19: Edição nº 257

OPINIÃO5 de março de 2013 | Terça-feira | a cabra | 19

Secção de Jornalismo,Associação Académica de Coimbra,Rua Padre António Vieira,3000 - CoimbraTel. 239410437 e-mail: [email protected]

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores Rafaela Carvalho (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Su-perior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), António Cardoso (País & Mundo) Paginação António Car-doso, Ian Ezerin, Rafaela Carvalho Redação Ana Marques Francisco, Beatriz Barroca, Daniela Proença, Ian Ezerin, JoãoMartins, Joel Saraiva, Luís Azevedo, Pedro Martins, Tiago Rodrigues Fotografia Stephanie Sayuri Paixão, Ana Morais, DanielAlves da Silva, Joel Saraiva, Rafaela Carvalho Ilustração Carolina Campos, Joana Cunha, João Pedro Fonseca, Tiago DinisColaboradores permanentesAntónio Matos Silva, Bruno Cabral, Bárbara Rodrigues, Camila Borges, Camilo Soldado, Car-los Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, JoãoRibeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Lourenço Carvalho, Manuel Robim, Ricardo Matos,Rui Craveirinha, Tiago Mota, Torcato Santos Publicidade António Cardoso - 914647047 Impressão FIG - Indústrias Grá-ficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: [email protected] Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jor-nalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos HelenaFreitas, João de Melo, Francisco Linhares

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

EDITORIAL

O INSUSTENTÁVEL PESO DA INCERTEZA

No passado dia 22 de fevereiro,o Secretário de Estado do EnsinoSuperior (ES), João Queiró, esteveem Coimbra para as comemora-ções dos 500 anos da Biblioteca daUniversidade de Coimbra (UC).Uma visita sem grande impacto,um pouco ofuscada pela presençada vice-presidente da ComissãoEuropeia, Viviane Reding, numacerimónia que se deu na Sala dosCapelos, na parte da manhã. Al-guns estudantes marcaram pre-sença para mostrar indignação,esquecendo-se de um pormenor: éJoão Queiró, e não Viviane Re-ding, que assegura uma pasta quediretamente os afeta.Voltemos ao assunto. Em entre-

vista ao Jornal Universitário deCoimbra – A CABRA, o Secretáriode Estado do Ensino Superior pro-move as ações do Ministério daEducação e Ciência (MEC) no quetoca à não descida das dotações

para os Serviços de Ação Socialdas Instituições de ES (IES). Subi-ram as dos SAS mais fracos, paraaproximar da média. Até aqui,tudo bem. Mas, quando questio-nado sobre medidas, a curtoprazo, para a situação de sufoco fi-nanceiro das IES, João Queiró nãoconseguiu responder, “esqui-vando-se” à pergunta. Contudo,afirma: “a estrutura do financia-mento das IES portuguesas émuito pouco conhecida”. Se calharnão há mesmo e as universidadestêm de continuar a arranjar for-mas alternativas de autofinancia-mento – como os afamados‘overheads’. Contudo, Queiró con-gratula as IES pelo seu dina-mismo. Por outro lado, poderá servisto como “último recurso”. Tudo

depende da perspetiva.No meio de tanta incerteza fi-

nanceira, os estudantes, e as uni-versidades, precisam deorientação: com que é que podemcontar? Como? Quando? São pre-cisas respostas, da parte do MEC.Para já. Essas dúvidas que os es-tudantes e as suas famílias enfren-tam a cada dia que passa começama tornar-se insustentáveis.Nas comemorações dos 723

anos da Universidade de Coimbra,João Gabriel Silva tentou dar o seumelhor para responder àquelasquestões. Analisa o corte de qua-tro mil milhões de euros que seabateu no país e aponta duras crí-ticas ao Estado, aliciando tambéma sociedade a fiscalizar os custosfinanceiros. Está provado que oreitor está “do nosso lado”. É pre-ciso que também estejamos dolado dele. Numa cerimónia matu-tina, contavam-se pelos dedos os

estudantes presentes.Quanto aosmembros da Direção-geral da As-sociação Académica de Coimbra,não se encontrava nenhum.Não basta apregoar que se per-

tence “à melhor universidade deCoimbra” e “Coimbra é nossa e háde ser”. É inútil fazer barulho àporta da reitoria, de tempos a tem-pos, quando o reitor apela ao bomsenso da sociedade, mais concre-tamente à dita “massa crítica dopaís”, e ela não está lá para o ouvir.Ainda para mais, quando João Ga-briel Silva se mostrou tão frontalquanto sincero, sem hesitar naspalavras. Se calhar era demasiadocedo, já que a sexta-feira sucede àafamada “quinta-feira acadé-mica”.

Ana Duarte

No meio de tanta incerteza financeira,os estudantes, e as universidades, pre-cisam de orientação: com que é que

podem contar? Como? Quando?“

PUBLICIDADE

Page 20: Edição nº 257

acabra.netRedação:Secção de JornalismoAssociação Académica de CoimbraRua Padre António Vieira3000 CoimbraTelf: 239 41 04 37

e-mail: [email protected]

Conceção e Produção:Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Mais informação disponível em

PUBLICIDADE

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

UM PAÍS DE RUAS DE PERNAS PARA O AR POR LOURENÇO CARVALHO 200X 100Não causa grande admiração

percorrer as ruas de qualquer ci-dade portuguesa e ser obrigadoa pisar lama e pedras soltas. Ouaté contornar máquinas, bura-cos ou cercas de alumínio. Nunca se sabe muito bem se

se deve agradecer pela constantemanutenção do espaço públicoou se rogar pragas aos milharesde engenheiros que irão discutir- para desespero dos operários -se o passeio há de ter dois, trêsou quatro metros. Ou até se astampas de saneamento devemlevar com uma carrada de as-falto para cima, impossibili-tando os serviços especializadosde acederem a elas. Ainda bem que, lá muito de

vez em quando, alguém nosbrinda com o seu humor agu-çado e se desculpa por desgraçasalheias.

A Secção de Altletismo da Asso-ciação Académica de Coimbra con-quistou o primeiro lugar coletivo demasculinos no Corta-Mato Nacio-nal de 2012/2013, realizado, nopassado dia 2, no Parque da Can-ção. A vitória representa uma con-quista importante para o desportono seio da AAC, numa altura emque as secções desportivas passampor várias dificuldades financeiras.No final da época de inverno, os ob-jetivos, a nível do atletismo, passamagora pela conquista futura de lu-gares do pódio nas várias competi-ções individuais e coletivas em queos estudantes competem, nomea-damente em provas de pista ao arlivre. J.V.

Secção deAltetismo

Universidade de Coimbra

Gerar receitas próprias é cada vezmais necessário por parte das Insti-tuições de Ensino Superior. No en-tanto, as verbas captadas em relaçãoaos projetos de investigação ou oschamados ´overheads´ estão asubir. A Universidade de Coimbraprepara-se para afetar cerca detrinta por cento do financiamentoprestado por cada projeto. Há umsubfinanciamento do ensino e ob-riga-se a universidade a administraruma margem de manobra cada vezmais estreita. Não se verificou aindase a verba estará a ser devidamentecanalizada para melhorar o ensinoou se apenas serve para tapar o bu-raco financeiro que o Orçamentonão cobre. L.C.

PUBLICIDADE

Secretaria de Estado do ES

João Queiró passou por Coimbrano dia 22 do mês passado e passoudespercebido. A massa estudantil pa-rece que não se apercebeu que o Se-cretário de Estado do ES, para seubem.Também foi discreto no discurso

das comemorações dos 500 anos daBiblioteca da UC. Ainda que se tenhacentrado nela, poderia ter dado umapalavra acerca do estado atual do ES.Diz que as universidades têm sido di-nâmicas. Mas onde estão as soluçõesconcretas para resolver o problemado subfinanciamento? Para já parecenão haver. Entretanto subiram as do-tações para a Ação Social das insti-tuições que mais sofriam. Já não émau. A.D.PÁG. 7 PÁG. 4 PÁG. 2