Edificios de Escritorios Na Cidade de Sao Paulo (1)

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ROBERTO NOVELLI FIALHO Edifícios de escritórios na cidade de São Paulo Tese apresentada à FAUUSP para obtenção do título de doutor Área de concentração: Projeto de Arquitetura Orientador: Prof. Dr. Rafael A. C. Perrone SÃO PAULO 2007

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  • ROBERTO NOVELLI FIALHO

    Edifcios de escritrios na cidade de So Paulo

    Tese apresentada FAUUSP para obteno do ttulo de doutor

    rea de concentrao: Projeto de Arquitetura

    Orientador: Prof. Dr. Rafael A. C. Perrone

    SO PAULO

    2007

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    ASSINATURA: E-MAIL: [email protected]

    Fialho, Roberto Novelli F438e Edifcios de escritrios na cidade de So Paulo / Roberto Novelli Fialho. - - So Paulo, 2007. 385 p. : il. Tese (Doutorado rea de Concentrao: Projeto de Arquitetura) FAUUSP. Orientador: Rafael Perrone. 1.Edifcios de escritrios 2.Projeto de arquitetura I.Ttulo CDU 725.23(816.11)

  • Agradecimentos

    A minha famlia, pela compreenso irrestrita e apoio

    incondicional em todos os momentos, pelas alegrias e tristezas

    que enfrentamos juntos, sempre.

    Aos professores que contriburam para o

    desenvolvimento deste trabalho, especialmente Rafael Perrone,

    Lus Antonio Jorge e Carlos Alexandre, pela ateno,

    comentrios e sugestes.

    Ao Marcinho, pela reviso e pelos palpites.

    A companheira de sempre Valria, por tudo.

  • Resumo

    O trabalho se prope a compilar material de referncia e registrar

    a produo de edifcios destinados ao trabalho burocrtico (de escritrio)

    na cidade de So Paulo, dos primeiros, datados do incio do sculo XX,

    at aqueles recentemente construdos. Entre as questes discutidas

    esto: as implicaes da legislao; as relaes entre dimenses do lote,

    legislao e viabilidade econmica; a identificao de uma distribuio

    espacial na cidade refletindo momentos especficos desta produo; as

    configuraes espaciais mais freqentes e a influncia das inovaes

    tecnolgicas no desenvolvimento dos projetos estudados. Em seu

    contedo, discorre brevemente sobre a histria da torre de escritrios,

    identificando origens e aspectos fundamentais de sua evoluo, e aborda

    aspectos da urbanizao relacionados verticalizao da cidade. A partir

    deste contexto, apresenta, num relato cronolgico, os edifcios pioneiros

    desta trajetria, os desenvolvidos sob a influncia do movimento moderno

    a partir da dcada de 1940 e, a seguir, a produo do perodo iniciado em

    1972, com a substituio do Cdigo de Obras Arthur Saboya pela Lei de

    Zoneamento. O resultado final da pesquisa apresenta, alm deste

    panorama geral, com aproximadamente 200 obras registradas, o estudo

    detalhado de 100 edifcios, que tem como objetivo identificar as diferentes

    tipologias implantadas na cidade e a diversidade de configuraes e

    combinaes possveis a partir de opes de partido arquitetnico,

    sistema estrutural, condicionantes de legislao, localizao geogrfica,

    sistema construtivo e tipo de uso. Estes estudos de caso esto

    organizados em 5 percursos - Centro, Paulista, Faria Lima, Berrini e Itaim

    - que os agrupam geograficamente e explicitam a distribuio espacial de

    diferentes momentos de verticalizao da cidade. Complementa este

    conjunto um grupo formado por 11 edifcios isolados, significativos por

    compreenderem uma diversidade de solues que exemplificam a

    heterogeneidade da ocupao fsica a partir do uso do solo. Em suas

    concluses, o trabalho discute a influncia decisiva da legislao sobre a

    configurao dos edifcios e sua viabilidade, a localizao dos

    empreendimentos na cidade, sua relao com o delineamento de vetores

    de expanso, sua influncia na alterao das infra-estruturas urbanas e,

    ainda, o uso e influncia dos componentes tecnolgicos no projeto dos

    edifcios. Finalmente, identifica a crescente opo por construes

    flexveis, a busca pelo aproveitamento mximo de rea til dos

    empreendimentos e a valorizao do conceito de edifcio inteligente.

    Complementando o contedo, esto includos no trabalho 3 anexos: o

    anexo I apresenta um resumo visual da evoluo dos edifcios de

    escritrios que faz um contraponto entre a experincia internacional e os

    principais edifcios construdos na cidade (linha do tempo); o anexo II, um

    diagrama comparativo da volumetria dos edifcios analisados, tambm

    organizados cronologicamente; e o anexo III, ndices organizados por

    data, autor e edifcio, para facilitar a consulta isolada das diversas obras

    apresentadas no trabalho.

    Palavras chave: arquitetura, edifcios de escritrio, projeto.

  • Abstract

    The research sets a compilation of reference material and

    registers the production of office buildings in the city of So Paulo, from

    the first ones dated from the beginning of the 20th century, to those

    recently built. Among the discussed issues are: legislative implications;

    the relations between plot dimensions, legislation and economical

    feasibility; the identification of a spatial distribution in the city according to

    specific moments of the production; the most common spatial

    configurations and the influence of technological innovations in the

    projects' development. In its content there is an overview on the history of

    the office tower, identifying its origins and fundamental aspects of its

    evolution and it analyses aspects of urbanism related to the city's

    verticalization. From this context, it presents in a chronological line the

    pioneer constructions, then the ones developed from the 1940's under the

    influence of the modern movement and, finally, the production after 1972,

    when the Arthur Saboya Building Code was substituted by the Zoning

    Law. Besides this general background with approximately 200 buildings

    registered, the research presents a detailed survey of 100 buildings,

    aiming the identification the different typologies developed in the city and

    the diversity of possible configurations and combinations derived from the

    options on architectural conception, structural system, legislation issues,

    geographic situation, building system and use type. These case studies

    are organized in 5 itineraries - Center, Paulista, Faria Lima, Berrini and

    Itaim - that sets a geographical organization and shows the spatial

    distribution of the city's different growth phases. In addition to this, there is

    another group formed by 11 isolated buildings that become meaningful as

    a sample of the diversity of solutions obtained from the physical

    occupation of the city. In its conclusion, the research deals with the

    decisive influence of the legislation over the buildings' configuration and

    its viability, the location of investments within the city, its relation with the

    setting of growth vectors, its influence on the alteration of urban

    infrastructures, as well as the use and influence of technological

    components in the buildings projects. Finally, it identifies the tendency of

    choice for flexible constructions, the search for maximum use of floor area

    rates and the valuation of the concept of intelligent buildings. As a

    complement, there are three appendixes: the first one presents a timeline

    as a visual summary of the office tower's evolution, establishing a

    counterpoint between the international experience and the most important

    buildings in the city; the second one is a comparative diagram of the

    analyzed building's mass also in chronological order; the third one

    comprehends indexes organized per time, author and building, in order to

    make the data search easier.

    Key-words: architecture, office buildings, project.

  • Lista de figuras Captulo 2 01. Galleria degli Uffizi - Florena (1565) ( pg.025) (www.abcfirenze.com) 02. First Leiter Building (1879) (pg.026) (www.ou.edu/class/arch4443/Skyscraper) 03. Maison du Peuple Bruxelas (pg.026)

    (http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:20051004MaisonDuPeuple.jpg) 04. Guaranty Building (pg.027) (www.buffalohistoryworks.com) 05. Rookery Building ( pg.028) (www.hellochicago.com) 06. Reliance Building ( pg.028) (www.ci.chi.il.us) 07. Wainwright Building ( pg.029) (www.takotron.com) 08. Equitable Life Insurance (pg.030) (www.ou.edu/class/arch4443/Skyscraper) 09. Flatiron Building ( pg.030) (www.nyc-architecture.com) 10. Singer Building and Tower ( pg.031) ( www.wikipedia.org) 11. Chicago Tribune Tower: projetos de Gropius e Hood and Howells (pg.031)

    (JONG, C.; MATTIE, E. Architectural Competitions: 1792 Today. Benedikt Taschen.1994)

    12. Chanin Building ( pg.033) ( www.bc.edu) 13. Chrysler e o Empire State (pg.034) ( www.wikipedia.org) 14. Rockfeller Center (pg.034) ( www.wikipedia.org) 15. Cena do filme the Fountainhead (Vontade Indmita 1949) (pg.035)

    (www.trondheim-filmklubb.no) 16. Desenho da Ville Radieuse (pg.036) ( www.thigsmagazine.net) 17. Larkin Building (1904) e Johnson Wax Company (1936) (pg.038) (HASCHER,

    R. JESKA, S. KLAUCK, B. Atlas de edifcios de oficinas. Gustavo Gili. Barcelona. 2002.)

    18. Columbushaus ( pg.039) (www.essential-architecture.com) 19. Palcio Capanema ( pg.040) (www.vitruvius.com.br) 20. Lever House ( pg.041) (www.thecityreview.com) 21. Seagram Building ( pg.043) (www.skyscraper.org) 22. Torre Pirelli , Milo ( pg.044) (www.xtec.es) 23. Equitable Life Insurance (pg.045) ( www.wikipedia.org) 24. Railway Exchange Building ( pg.046) (www.skyscraper.org) 25. Daily News Building (pg.046) (www.skyscrapercity.com) 26. Lever House ( pg.047) (www.skyscraper.org) 27. AT&T Building (pg.047) ( www.achpaper.com) 28. Hong Kong Shangai Bank ( pg.048) (www.fosterandpartners.com) 29. Interior e planta do Edifcio Larkin (pg.050) 30. Interior do Edifcio Johnson Wax (pg.051) 31. Exemplo de organizao espacial por cubculos (pg.052)

    (Figs 29 a 31: HASCHER, R. JESKA, S. KLAUCK, B. Atlas de edifcios de oficinas. Gustavo Gili. Barcelona. 2002.) Captulo 3 32. Calado da Rua Boa Vista (pg.067) (www.prodam.sp.gov.br) 33. Palcio das Indstrias e Vale do Anhangaba (pg.068) (www.mosteiro.org.br) 34. O conjunto nacional na Avenida Paulista (pg.069) (www.ccn.com.br) 35. Edifcio Sampaio Moreira (pg.070) (www.piratininga.org) 36. Edifcio Martinelli (pg.071) (www.piratininga.org) 37. Edifcio Mackenzie (pg.072) (www.piratininga.org) 38. Banco Francs e Italiano ( 1919) (pg.074) (www.piratininga.org) 39. O antigo (1923) e o novo Viaduto do Ch (1940) (pg.076)

    (www.aprenda450anos.com.br) 40. Edifcio Saldanha Marinho e Edifcio Joo Brcola (pg.077)

    (www.vivaocentro.org.br) 41. Detalhe do Edifcio Banco de So Paulo (pg.078) (www.vivaocentro.org.br) 42. Edifcio Sulacap So Paulo (pg.078) (www.novomilenio.inf.br) 43. Edifcio Anhumas e Edifcio Jaragu (pg.080) (Revista Acrpole n34 e 40) 44. Edifcio Matarazzo (pg.080) (www.skyscrapercity.com) 45. Edifcio Banespa Praa Antonio Prado (pg.081) ( Revista Acrpole n116) 46. Edifcio Esther (pg.082) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A. Arquitetura

    Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 47. O edifcio Vicente Filizola (pg.083) (www.arcoweb.com.br) 48. Edifcio O estado de So Paulo (pg.084) ( Revista Acrpole n181) 49. Edifcio Jaatuba (pg.085) (www.vitruvius.com.br) 50. Edifcio Gibraltar (pg.085) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A.

    Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 51. Maquete do edifcio do IAB (pg.086) (Revista Acrpole n121) 52. Edifcio Esplanada-CBI (pg.087) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A.

    Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 53. Edifcio da Mesbla (pg.089) (Revista Acrpole n33) 54. Edifcio Lenidas Moreira (pg.089) (Revista Acrpole n53) 55. Edifcio da Secretaria da Fazenda (pg.089) (Revista Acrpole n33) 56. Edifcio Central (pg.090) (Revista Acrpole n47) 57. Edifcio Souto de Oliveira (pg.090) (Revista Acrpole n89) 58. Edifcio dos Andradas (pg.090) (Revista Acrpole n95) 59. Edifcio Cofermat (pg.091) (Revista Acrpole n102) 60. Edifcio Severo Vilares (pg.091) (Revista Acrpole n97) 61. Edifcio Cavaru (pg.091) (Revista Acrpole, maio de 1947) 62. Edifcio Praa das Bandeiras (pg.092) (Revista Acrpole n123) 63. Edifcio Thomas Edison (pg.092) (Revista Acrpole n121) 64. Edifcio de escritrios Rua 7 de abril (pg.092) (Revista Acrpole, set.1947)

  • 65. Banco Paulista de Comercio (pg.098) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A.

    Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 66. Edifcio Banco do Brasil (pg.098) (Revista Acrpole n 201) 67. Edifcio Itlia (pg.099)(Revista Acrpole n 210 e www.piratininga.org.br) 68. Banco London e South Amrica (pg.099) (CORONA, E.; LEMOS, C.;

    XAVIER, A. Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 69. Edifcio Conde Prates (pg.101) (www.vitruvius.com.br) 70. Edifcio Baro de Iguape (pg.102) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A.

    Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 71. Palcio do Comrcio (pg.102) (Revista Acrpole n 224) 72. Conjunto Nacional (pg.103) (Revista Acrpole n 222) 73. Edifcio Quinta Avenida (pg.104) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A.

    Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 74. Edifcio Naes Unidas (pg.105) (Revista Acrpole n 262) 75. Galeria R. Monteiro (pg.105) 76. Galeria Metrpole (pg.106)

    (Figs 75 e 76: CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A. Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 77. Edifcio Banco de Boston (pg.106) (Revista Acrpole n 269) 78. Emissoras Associadas (pg.107) (Revista Acrpole n 271) 79. Edifcio Plavinil Elclor (pg.107) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A.

    Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 80. Edifcio Wilton Paes de Almeida (pg.108) (CORONA, E.; LEMOS, C.;

    XAVIER, A. Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 81. Edifcio e garagem Bolsa de Cereais (pg.108) (Revista Acrpole n 275) 82. Edifcio Andraus (pg.108) (Revista Acrpole n 283) 83. Banco do Estado de So Paulo projeto original e edifcio executado

    (pg.109) (Revista Acrpole n 283 e foto do autor) 84. Sede do Sindicato (pg.109) (Revista Acrpole n 298) 85. Edifcio Wilson Mendes Caldeira (pg.109) (Revista Acrpole n 299) 86. Banco Lar Brasileiro (pg.109) (Revista Acrpole n 304) 87. Edifcio Nestl (pg.110) (Revista Acrpole n 315) 88. Edifcio Avenida Paulista (pg.110) (Revista Acrpole n 320) 89. Banco Amrica do Sul (pg.111) (CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A.

    Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 90. Edifcio Sulamericano (pg.112) (www.vitruvius.com.br, foto: Nelson Kon) 91. Banco Portugus do Brasil (pg.112) (Revista Acrpole n 355) 92. Edifcio sede da CBPO (pg.113) 93. Edifcio sede da FIESP- configurao original (pg.113) 94. Edifcio sede da IBM (pg.114) 95. Edifcio sede da TELESP (pg.114)

    (Figs. 92 a 95: CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A. Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.)

    96. Cia. Paulista de Fora e Luz (pg.115) (Revista Acrpole n 387) 97. Edifcio Parque Iguatemi (pg.115) 98. Edifcio Torre do Espigo (pg.116)

    (Figs. 97 e 98: CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A. Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) Captulo 4 99. Edifcio Barros Loureiro (pg.119) 100. Edifcio Capitnea (pg.120) 101. Edifcio Asahi (pg.120) 102. Sindicatos de hotis (pg.121) 103. Edifcio Josepha Daccache (pg.121) 104. Edifcio Rizkallah (pg.122)(Revista AU n 56) 105. Edifcio Saint James Park (pg.122) 106. Edifcio Morumbi (pg.123) 106a. Edifcio Naes Unidas (pg.123) ( foto do autor) 107. Edifcio Acal (pg.124) 108. Edifcio Concorde (pg.124) 109. Centro do Professorado Paulista (pg.125) 110. Centro Operacional do Ita (pg.125)

    (figs 99 a 103 e 105 a 110: CORONA, E.; LEMOS, C.; XAVIER, A. Arquitetura Moderna Paulistana . Ed. Pini. So Paulo. 1983.) 111. Edifcio Alpargatas (pg.126) (Revista Projeto n 26) 112. Citicorp Center Citibank (pg.126) (Revista Projeto n 78 e 97) 113. Ita Lapa (pg.127) (Revista Projeto n 70) 114. Grupo Volkswagen (pg.127) (Revista Projeto n 64) 115. Philips do Brasil (pg.128) (Revista Projeto n 62) 116. Sindicato da Indstria da construo (pg.128) (Revista Projeto n 65) 117. Banco Exterior de Espanha (pg.129) (Revista Projeto n 63) 118. Sede da ECT (pg.129) (Revista Projeto n 71) 119. Banca Commerciale (pg.130) (Revista Projeto n 78) 120. BCN Higienpolis (pg.130) (Revista Projeto n 97) 121. Centro Administrativo do Po de Acar (pg.131) (Revista Projeto n 85) 122. Terra Brasilis (pg.000) (Revista Projeto n 106) 123. Edifcio Brasilinterpart (pg.131) (Revista Projeto n 103) 124. Edifcio Oswaldo Bratke (pg.132) (Revista Projeto n 103) 125. Edifcio Uchoa Borges (pg.133) (Revista Projeto n 103) 126. Banco Mitsubishi (pg.133) (Revista Projeto n 106) 127. Centro Comercial Vergueiro (pg.134) (Revista AU n 56) 128. Sudameris (pg.134) (Revista Projeto n 78) 129. Ncleo empresarial Faria Lima (pg.135) (Revista Projeto n 95) 130. Ita Conceio (pg.135) (Revista Projeto n 110)

  • 131. Centro Empresarial do Ao (pg.136) (www.bottirubin.com) 132. Condomnio So Luis (pg.136) (Revista Projeto n 123) 133. Edifcio Keiralla Sarhan (pg.137) (Revista Projeto n 132) 134. Centro Empresarial Transatlntico (pg.137) (Revista Projeto n 139) 135. Edifcio Porto Seguro (pg.138) (www.arcoweb.com.br) 136. Edifcio Atrium (pg.138) (Revista Projeto n 139) 137. Corporate Plaza (pg.139) (Revista Projeto n 148) 138. Casa das Rosas (pg.139) (Revista Projeto n 148) 139. ITAUSA (pg.140) (Revista Projeto n 150) 140. Deutsche Bank (pg.140) (Revista Projeto n 153) 141. Banespa Praa da Repblica (pg.141) (Revista Projeto n 158) 142. Crystal tower (pg.141) (Revista Projeto n 164) 143. Edifcio Alameda Santos (pg.142) (Revista Projeto n 164) 144. Delta Plaza (pg.143) (Revista Projeto n 164) 145. Philips Centro Administrativo (pg.143) (Revista Projeto n 139) 146. Aurlia Office Tower (pg.144) (Revista Projeto n 177) 147. Centro Empresarial Iudice (pg.144) (Revista Projeto n 139) 148. Centro Empresarial do Morumbi (pg.145) (Revista Projeto n 177) 149. Executive Tower (pg.145) (Revista Projeto n 181) 150. Torres do Ibirapuera (pg.146) (Revista Projeto n 174) 151. Morumbi Square (pg.146) (Revista Projeto n 173) 152. Edifcio Davilar (pg.147) (foto do autor) 153. Conselho de Contabilidade de So Paulo (pg.147) (Revista Projeto n 192) 154. Edifcio Bandeirantes (pg.148) (Revista Projeto n 186) 155. Edifcio CBS (pg.148) (Revista Projeto n 193) 156. Edifcio Atrium III (pg.149) (Revista Projeto n 201) 157. Parque Paulista (pg.149) (Revista Projeto n 193) 158. Paulista Boulevard (pg.150) (Revista Projeto n 196) 159. Plaza Centenrio (pg.151) (Revista Projeto n 193) 160. World Trade Center (pg.152) (Revista AU n 53) 161. Birmann 21 (pg.152) (Revista Projeto n 205) 162. Berrini Lavras (pg.153) (Revista Projeto n 204) 163. Bolsa de Imveis (pg.154) (Revista Projeto n 204) 164. Birmann 11 e 12 (pg.154) (Revista Projeto n 205) 165. Faria Lima Business Center (pg.155) (Revista Projeto n 209) 166. gua Branca edifcio concludo( pg.156) ( www.aflaloegasperini.com.br) 167. Edifcio Princeton (pg.156) (Revista Projeto n 223) 168. Centro Empresarial Naes Unidas (pg.157) ( www.bottirubin.com.br) 169. Sede do Sebrae (pg.158) (Revista Projeto n 235) 170. Edifcio So Luis Gonzaga (pg.158) (Revista Projeto n 244) 171. Edifcio nix (pg.159) (Revista Projeto n 204) 172. America business Park (pg.160) ( www.bottirubin.com.br) 173. International Trade Center (pg.160) (Revista Projeto n 252)

    174. Office Tower Itaim (pg.161) (Revista Projeto n 252) 175. Times Square Cosmopolitan Mix (pg.161) (Revista Projeto n 252) 176. Attilio Tinelli (pg.162) (Revista Projeto n 252) 177. Edifcio Tomie Ohtake (pg.162) (Revista Projeto n 259) 178. JK Financial Center (pg.163) (Revista Projeto n 259) 179. Conselho Regional de Qumica (pg.163)(Revista Projeto n 269) 180. Central Towers Paulista (pg.164) (Revista Projeto n 271) 181. Head Office (pg.164) (Revista Projeto n 272) 182. JBG Building (pg.165) (Revista Projeto n 272) 183. Edifcio New Century (pg.165) (Revista Projeto n 279) 184. Higienpolis Classic Work (pg.166) (Revista Projeto n 279) 185. Birmann 31 (pg.166) (Revista Projeto n 283) 186. Edifcio Maria Ceclia Lara Campos (pg.167) (Revista Projeto n 283) 187. Faria Lima Financial Center (pg.167) (Revista Projeto n 283) 188. Edifcio Ronaldo Sampaio Ferreira (pg.168) (Revista Projeto n 283) 189. Torre CYK (pg.168) (Revista Projeto n 283) 190. Torre Eudora (pg.169) (Revista Projeto n 283) 191. Brascan Century Plaza (pg.170) (Revista Projeto n 285) 192. Edifcio Axis (pg.170) (Revista AU n 113) 193. Vila Nova Building (pg.171) (Revista AU n 112) 194. Duquesa de Gois (pg.171) (Revista AU n 120) 195. Edifcio Maria Santos (pg.172) (Revista Projeto n 295) 196. Millenium Office (pg.172) (Revista Projeto n 295) 197. Continental Square Faria Lima (pg.173) (Revista Projeto n 299) 198. Frum Trabalhista de So Paulo (pg.174) (Revista Projeto n 291) 199. Federao do Comrcio de So Paulo (pg.174) (Revista Projeto n 122) 200. Edifcio Mineapolis (pg.175) (Revista AU n 132) 201. Edifcios Plaza I e II (pg.175) (Revista Projeto n 306) 202. Edifcio Atrium VI (pg.176) (Revista Projeto n 299) 203. Centro Empresarial JDA (pg.177) (Revista Projeto n 309) 204. E Tower (pg.178) (Revista Projeto n 311) 205. Quadra Hungria (pg.178) (Revista Projeto n 315) 206. Edifcio Paddock 1 (pg.179) (Revista Projeto n 315) Captulo 5

    Neste captulo as figuras (fotos, desenhos e diagramas) no

    recebem numerao seqencial e esto identificadas ( legendas e fontes

    no prprio corpo das fichas de trabalho.

  • Grficos e Tabelas 1. Nmero de edifcios publicados por dcada ( grfico) (pg.180) 2. Distribuio geogrfica dos edifcios por regies (1972/2005) ( tabela)

    (pg.180) 3. Distribuio geogrfica dos edifcios por regies (1972/2005) (grfico)

    (pg.181) 4. Nmero de pavimentos dos edifcios (pg.181) 5. rea construda (pg.182) 6. Grfico 6: volumetria dos edifcios ( configuraes da base e torre)

    (pg.182) 7. Tipo de planta (pg.183) 8. Ocupao dos espaos (pg.183) 9. Tipo de planta e ocupao dos espaos (pg.183) 10. Tipo de planta e ocupao dos espaos (pg.183) 11. Materiais e revestimentos das fachadas (pg.184) Mapas 1. Centro (pg.199) 2. Paulista (pg.233) 3. Faria Lima (pg.259 4. Berrini (pg.275) 5. Itaim (pg.293)

  • SUMRIO

    Captulo 1 Introduo 1.1 Justificativas e contexto ...............................................017

    1.2 Contedo ......................................................................019

    Captulo 2 Preliminares 2.1 Sobre a evoluo da torre de escritrios ......................025

    2.2 O espao de trabalho nos edifcios de escritrios.........048

    Captulo 3 Preldio 3.1 Aspectos da verticalizao da cidade de So Paulo ....065

    3.2 Os pioneiros .................................................................070

    3.3 Os edifcios de escritrios e o movimento moderno em

    So Paulo: 1940 1950 ........................................................................082

    3.4 Expanses: a verticalizao em So Paulo entre 1950 e

    1960 .......................................................................................................093

    3.5 Edifcios 1960/1972 ......................................................106

    Captulo 4 Panorama 4.1 A legislao de 1972 ....................................................119

    4.2 Edifcios 1972 / 1980 ....................................................119

    4.3 Edifcios 1980 / 1990 ....................................................126

    4.4 Edifcios 1990 / 2000 ....................................................136

    4.5 Edifcios 2000/2005 ......................................................158

    4.6 Grficos ........................................................................179

    Captulo 5 Percursos 5.1 Sobre a organizao dos percursos .............................187

    5.2 Centro ...........................................................................197

    5.3 Paulista ........................................................................ 231

    5.4 Faria Lima ................................................................... 257

    5.5 Berrini ...........................................................................173

    5.6 Itaim ............................................................................. 291

    5.7 Edifcios Isolados ........................................................ 307

    Captulo 6 Concluses ......................................................................................323

    Bibliografia Livros............................................................................ 331

    Peridicos..................................................................... 334

    Outras fontes ............................................................... 334

    Anexos

    I Linha do tempo ............................................................ 337

    II Diagrama ..................................................................... 347

    III ndices ..........................................................................369

  • Captulo 1 Introduo

  • Captulo 1

    16

  • Introduo

    17

    1.1 Justificativas e contexto:

    Os museus e centros culturais so encargos exigentes e de

    prestgio, os estdios esportivos e os hospitais esto reservados a

    especialistas, at mesmo a construo de habitaes exige certo

    potencial criativo, que em alguns casos esbarra no experimental e se

    configura como tema de prestgio, objeto de estudos e reflexes e

    encargos desejados pelos profissionais.

    Os edifcios de escritrios, aqueles em que passamos grande

    parte de nossas vidas, com freqncia recebem escassa ateno

    arquitetnica e por muitas vezes os profissionais que a eles se dedicam

    so citados, pejorativamente, como arquitetos do mercado. Essa

    inverso de valores extremamente prejudicial e totalmente

    injustificada, pois o tema do edifcio de escritrios oferece

    desdobramentos to ricos quanto qualquer outro no campo da

    arquitetura.

    Se, infelizmente, boa parte da produo direcionada para este

    mercado tem visto seus padres de qualidade diminuir progressivamente,

    sobretudo em nossas metrpoles, principalmente porque justamente as

    questes arquitetnicas perderam sua fora mediante fatores de carter

    financeiro extremamente imediatistas.

    Leon Krier dizia que o problema dos edifcios de escritrios no

    era a altura das torres, mas o nmero de pavimentos, e que seria

    possvel construir bons edifcios de quase qualquer altura, contando que

    o nmero de pavimentos fosse exatamente o mesmo (seis). A evidente

    provocao do autor chamou ateno a um aspecto constrangedor do

    projeto para edifcios de escritrios: a tirania e monotonia da repetio

    vertical, que combinada ainda com a adoo de p-direito mnimo entre

    pavimentos-tipo para reduo de custos, diminui drasticamente a

    qualidade dos edifcios e seus espaos.

    Por certo, a banalidade dominante na arquitetura comercial tem

    deixado o tema de fora de discusses mais srias no meio especializado,

    sendo esta produo tratada como fenmeno de razes

    predominantemente financeiras, resultado de foras determinantes do

    mercado e, portanto, de menor interesse nos meios acadmicos.

    Ainda assim, os escritrios configuraram-se como o espao de

    trabalho do sculo XX, da mesma forma que as fbricas marcaram o

    sculo XIX. Estas eram tambm vistas como banais por diversos autores,

    com raras excees, mas recentemente encontraram posio de

    destaque na histria da arquitetura.

    Do ponto de vista ambiental, muitos edifcios duraram um perodo

    bastante curto de tempo, consumindo energia em excesso e revelando

    serem inadequados a adaptaes bem sucedidas. As regras da

    construo leve, com mxima eficincia estrutural e mnimos volumes,

    falharam em produzir edifcios flexveis, adaptveis e duradouros. Os

    mesmos tornam-se descartveis, bem como a energia neles

    desperdiada.

    Apesar de a energia ser atualmente um elemento de

    preocupao real, preciso levar em considerao a utilizao de

    pavimentos mais profundos que requerem solues mais criativas e

    servios de qualidade no comumente encontrados em muitos edifcios.

  • Captulo 1

    18

    No basta mais dirigir os projetos baseados apenas na penetrao da luz

    natural e na otimizao da ocupao do espao por ilhas de trabalho.

    Entretanto, parece haver um novo esprito no desenho de

    escritrios, em resposta a idias em transformao sobre o que fazemos

    quando "vamos para o trabalho". Os melhores projetos recentes, alguns

    combinando paisagismo com solues de projeto mesclando interior e

    exterior, criam ambientes agradveis, onde o trabalho pode adquirir

    diversas formas.

    Mesmo que os ocupantes entupam a rea disponvel com

    estaes de trabalho buscando o mximo aproveitamento possvel, h

    ainda possibilidade de melhoramento posterior, sobretudo se o projeto

    arquitetnico for desenvolvido com critrios apurados e competncia

    tcnica.

    A histria do escritrio como um tipo de edificao

    verdadeiramente fascinante e os captulos agora sendo escritos merecem

    ateno pelo que se espera que sero os motivos ambientais e

    experimentais corretos. Da a importncia em se debruar sobre o tema,

    entender a evoluo do processo que envolve a produo destes

    edifcios, suas finalidades, usurios e nveis de produtividade alcanados,

    entre outros aspectos.

    Neste contexto, esta pesquisa se prope a compilar material de

    referncia e registrar a produo de edifcios destinados ao trabalho

    burocrtico (de escritrio) na cidade de So Paulo, desde os pioneiros

    edifcios implantados na cidade com esta funo, nas primeiras dcadas

    do sculo XX, at os dias de hoje (2006).

    O olhar sobre esta especfica produo, possibilita a discusso

    de algumas questes fundamentais, que sero aprofundadas no

    desenvolvimento do presente trabalho, so elas:

    Quais as implicaes da legislao no desenvolvimento dos

    projetos dos edifcios de escritrios na cidade de So Paulo? Em que

    momentos esta interferncia se deu de maneira mais contundente?

    possvel identificar uma distribuio espacial na cidade,

    refletindo segmentos e momentos especficos desta produo ou, ainda,

    existe a possibilidade de se encontrar num mesmo recorte territorial

    diversos momentos retratados lado a lado?

    Existe a predominncia de algum tipo de volumetria em

    detrimento das outras, ou estas so adotadas como conseqncia do que

    determina a relao lote x legislao x viabilidade?

    Quais as configuraes espaciais mais freqentes neste tipo de

    edifcio e de que forma interagem e influenciam no uso dos espaos

    propostos?

    Qual a influncia das inovaes tecnolgicas no desenvolvimento

    dos projetos estudados?

    Procedimentos:

    O desenvolvimento do trabalho se apoiou na coleta,

    sistematizao e anlise do material publicado sobre edifcios de

    escritrios construdos na cidade de So Paulo, elegidos a partir de

    critrios de relevncia, abrangncia e temtica. Outro critrio adotado

  • Introduo

    19

    para incluso dos edifcios neste levantamento foi a publicao dos

    mesmos em revistas ou compndios de arquitetura editados no Brasil,

    dentro do limite temporal estabelecido.

    A pesquisa se deu a partir da coleta de informaes nos

    peridicos especializados publicados no perodo, complementada ainda

    pela consulta bibliografia existente (livros e outros trabalhos

    acadmicos) e ainda, por vezes, pela visita aos edifcios. As principais

    fontes de coleta de dados utilizadas foram o acervo da Revista Acrpole

    (publicada de 1939 a 1977), as revistas Projeto (posteriormente Projeto

    Design) e AU Arquitetura e Urbanismo, ambas editadas em So Paulo),

    e ainda, um roteiro de arquitetura, o livro Arquitetura Moderna Paulistana,

    de CORONA , LEMOS e XAVIER.

    Os dados levantados inicialmente foram organizados em fichas

    de pesquisa contendo dados de identificao (data de construo,

    autores, fontes consultadas), tipolgicos e quantitativos (nmero de

    pavimentos, subsolos, elevadores e escadas), desenhos e fotos

    disponveis e, ainda, observaes gerais sobre o edifcio.

    Este levantamento inicial objetivava sistematizar referncias

    sobre o perodo de estudo especfico da pesquisa e serviu de base para o

    desenvolvimento e organizao do material aqui apresentado.

    O resultado final da pesquisa apresenta um panorama geral dos

    edifcios de escritrios na cidade, com aproximadamente 200 obras

    catalogadas. A partir do registro desta produo e da sistematizao dos

    dados colhidos, o trabalho partiu para sua etapa analtica, na qual elegeu

    como estudos de caso 100 edifcios.

    Para a eleio das obras estudadas, foram levadas em

    considerao caractersticas que conferissem ao edifcio notoriedade e

    relevncia em relao produo de edifcios de escritrio na cidade no

    momento especfico de sua implantao, levando em considerao sua

    posio geogrfica e participao na conformao dos vetores de

    expanso e verticalizao da cidade, sua importncia como exemplo da

    mudana na legislao em determinado perodo e as questes

    tecnolgicas envolvidas em sua concepo, entre outros aspectos.

    A classificao destes edifcios tem como objetivo identificar e

    relacionar as diferentes tipologias de edifcios de escritrios implantadas

    na cidade, assim como identificar a diversidade de configuraes e

    combinaes possveis a partir de um leque de opes de partido

    arquitetnico, sistema estrutural, condicionantes de legislao,

    localizao geogrfica, sistema construtivo, tipo de uso e outros fatores

    subseqentes.

    1.2 Contedo

    Em sua introduo, o trabalho define objetivos, justificativas e

    apresenta as hipteses levantadas, assim como seu encaminhamento,

    trata do material estudado e dos procedimentos adotados para tanto e

    discorre sobre o tratamento do material coletado, desde os critrios para

    eleio dos estudos de caso at o mtodo de anlise pretendido.

    O captulo 2 discorre brevemente sobre a evoluo da torre de

    escritrios e caracteriza o objeto de estudo a partir da identificao de

    suas origens e dos aspectos fundamentais de sua evoluo. Ainda neste

  • Captulo 1

    20

    captulo o trabalho aborda a configurao do espao de trabalho nos

    edifcios de escritrios, discutindo aspectos da ocupao dos espaos e a

    relao com a evoluo das relaes produtivas e de diviso de tarefas

    ocorridas em diversos momentos histricos.

    O captulo 3 apresenta e discute aspectos da verticalizao da

    cidade de So Paulo. Inicialmente, trata dos aspectos da urbanizao

    relacionados verticalizao da cidade e da influncia da legislao, do

    desenvolvimento da infra-estrutura urbana, dos eixos de ocupao

    delineados em perodos especficos do desenvolvimento da cidade e

    demais fatores relevantes para a implantao de edifcios de escritrios.

    A partir deste contexto, apresenta, num relato cronolgico, os edifcios

    pioneiros desta trajetria, para depois se debruar sobre os edifcios

    desenvolvidos sob a influncia do movimento moderno nas dcadas de

    1940 e 1950, assim como aqueles construdos entre as dcadas de 1950

    e 1960. Deste perodo, ainda so destacados as leis e empreendimentos

    que influenciariam o processo de verticalizao da cidade. Neste contexto

    destacam-se a conformao do eixo da Avenida Paulista e a construo

    dos grandes conjuntos realizados sob forte influncia dos princpios

    corbusianos e do International Style.

    O captulo 4 discute a produo do perodo iniciado a partir de

    1972, com a substituio do antigo Cdigo de Obras Arthur Saboya pela

    Lei de Zoneamento. O captulo se organiza a partir de um relato

    cronolgico, no qual so tecidos comentrios sobre os edifcios

    relevantes implantados no perodo. Finalizando este captulo os dados

    so organizados em uma srie de grficos e tabelas que sistematizam as

    informaes coletadas, como nmero de edifcios publicados por dcada;

    distribuio geogrfica dos edifcios por regies, nmero de pavimentos

    dos edifcios; rea construda dos empreendimentos, classificao da

    volumetria e configuraes da base e torre dos edifcios; tipo de planta e

    ocupao dos espaos; materiais mais utilizados nas construes.

    A partir do relato elaborado nos captulos 2, 3 e 4 e dos dados

    colhidos neste panorama, o trabalho parte para os estudos de caso,

    desenvolvidos no captulo 5, que trata da identificao e classificao das

    solues adotadas nos edifcios, em seus aspectos espaciais, funcionais,

    formais e tecnolgicos, entre outros, e discute a evoluo da tipologia do

    edifcio de escritrios na cidade a partir da organizao de percursos que

    agrupam geograficamente as experincias mais relevantes. Elege, para

    tanto, 100 edifcios, apresentados em fichas resumo e divididos em 5

    percursos: Centro, Paulista, Faria Lima, Berrini e Itaim. Acrescenta ainda

    a esta leitura 11 exemplos isolados, considerados significativos por

    apresentarem uma diversidade de configuraes espaciais e solues

    tecnolgicas que, mesmo no fazendo parte de um percurso adensado,

    expem a heterogeneidade da ocupao espacial a partir do uso do solo

    na cidade. Aborda, desta maneira, a distribuio espacial dos diferentes

    momentos de verticalizao na cidade.

    O rebatimento dos dados obtidos na pesquisa global e a

    distribuio dos edifcios na malha urbana indicaram as manchas que

    configuraram os percursos que tm como objetivo facilitar a leitura da

    evoluo da tipologia a partir de uma srie de passeios pela cidade e

    permitem ao leitor / observador uma viso crtica das diferenas

    existentes em cada conjunto de edifcios. A possibilidade de visualizao

    dos percursos nos mapas e as informaes contidas nas fichas compem

  • Introduo

    21

    um sistema de informao que permite o trato comparativo em diversos

    aspectos.

    Em suas concluses (captulo 6) o trabalho busca a resposta s

    argumentaes iniciais. Discute a influncia decisiva da legislao sobre

    a configurao dos edifcios e sua viabilidade, assim como o rebatimento

    na localizao dos edifcios na cidade e no delineamento de vetores de

    expanso. Ainda sobre a localizao dos empreendimentos estabelece

    relaes entre a oferta de novos espaos e o rebatimento na alterao

    das infra-estruturas urbanas. Discute ainda o uso e influncia dos

    componentes tecnolgicos no projeto dos edifcios, identificando

    materiais e processos construtivos mais freqentes, assim como discute

    o porqu de determinadas opes serem mais freqentes que outras,

    refletindo sobre herana projetual e tradio construtiva.

    Finalmente, discute a evoluo dos espaos criados identificando

    a crescente opo por edifcios flexveis e a busca pelo aproveitamento

    mximo de rea til dos empreendimentos. Ainda neste escopo identifica

    a crescente valorizao dos conceitos de edifcios eficientes e

    inteligentes e que, de certa maneira, vem trazendo para o mercado

    profissional, cada vez mais, a participao de profissionais estrangeiros,

    que, em parceria com escritrios nacionais, trabalham na incorporao de

    conceitos globalizados para os edifcios.

    Complementando o contedo o trabalho so apresentados 3

    anexos. O anexo I apresenta um resumo visual da evoluo dos edifcios

    de escritrios elaborado a partir dos dados coletados, no qual aborda a

    questo a partir de edifcios emblemticos organizados cronologicamente

    dentro do perodo elegido e, faz um contraponto entre a experincia

    internacional e os principais edifcios construdos na cidade de So Paulo

    dados organizados na forma de uma "Linha do Tempo". O anexo II

    apresenta um diagrama comparativo da volumetria dos edifcios

    estudados, tambm organizados cronologicamente. O anexo III apresenta

    ndices organizados por data, autor e edifcio, para facilitar a consulta

    isolada aos diversos edifcios apresentados no trabalho.

  • Captulo 2 Preliminares

  • Captulo 2

    24

  • Preliminares

    25

    2.1 Sobre a evoluo da torre de escritrios

    Um dos primeiros registros escritos relacionados arquitetura

    dos edifcios de escritrios aparece em uma correspondncia de Giorgo

    Vasari, na qual ele descreve a encomenda feita pelos Medici de Florena

    para a Galleria degli Uffizi, um edifcio destinado a treze magistrados civis

    de sua cidade. (FUJYOKA, 1996)

    Galleria degli Uffizi - Florena (1565) ( fig.01)

    Sua posterior transformao em museu no surpreende, pois o

    edifcio estava projetado para receber generosas ventilao e iluminao

    naturais, para atender s necessidades dos amplos sales de escritrios.

    O novo conjunto arquitetnico gerava tambm um contexto urbano de

    grande impacto ao criar uma nova via definida pelas elevaes dos dois

    edifcios, proporcionando um respiro fsico e visual entre a Piazza Della

    Signoria e a margem do rio.

    Se o edifcio de escritrio para a administrao comercial surgiu

    como consequncia da revoluo mercantilista, a torre verticalizada de

    escritrios pode ser considerada um produto da necessidade de

    centralizao administrativa da produo e gerenciamento de servios

    criados pela Revoluo Industrial e pelo advento do capitalismo moderno.

    A escola de Chicago:

    Os primeiros prdios comerciais de escritrios e sedes

    administrativas surgiram nos pases europeus, pioneiros da

    industrializao, mas a torre vertical de escritrios s apareceria de fato

    nos Estados Unidos, aps a Guerra de Secesso. O cenrio de sua

    concepo Chicago, durante o boom de expanso da cidade para o

    Oeste, seguindo o caminho aberto pelas estradas de ferro, que forjaram

    uma ligao continental permanente entre a costa do Atlntico e a do

    Pacfico. O stio era ideal para que a cidade se convertesse em centro de

    trfego rural, lacustre e, mais tarde, ferrovirio e, portanto, ideal para o

    desenvolvimento dos edifcios dedicados ao trabalho burocrtico.

    A cidade, por volta de 1870, j contava com 300.000 habitantes e

    exercia importante papel como terminal de comrcio internacional,

    sobretudo devido presena de uma eficiente rede ferroviria que fazia

    chegar cidade toda a colheita de cereais do Meio-Oeste, que ali se

    armazenavam em silos beira do Lago Michigan e dali eram

    transportados pelo Rio So Loureno, pelo qual alcanavam o Atlntico e

    as cidades da Costa Leste dos EUA, Inglaterra e a Europa Continental. A

    pradaria convidava ao arruamento em retcula quadriculada, que poderia

    ser ampliada indefinidamente. O Grande Incndio de 1871 destruiu todo o

    bairro comercial, preservando apenas os poucos prdios construdos com

  • Captulo 2

    26

    paredes externas de alvenaria, com os pilares e vigas de ferro fundido

    revestidos de concreto e gesso, marcando um caminho lgico a ser

    seguido no futuro.

    Com o First Leiter Building (1879), de William LeBaron Jenney

    (1832-1957), inicia-se um perodo de prolfica inovao arquitetnica,

    conhecida como Escola de Chicago. Uma parcela das cargas das

    paredes externas descarregada nos elementos de ferro fundido, quase

    maneira de um esqueleto estrutural. As janelas e os fechamentos em

    alvenaria tm o mesmo desenho a cada piso, indicando a natureza

    repetitiva da arquitetura do pavimento-tipo e do sistema estrutural

    independente, em oposio ao sistema tradicional de paredes portantes,

    no qual as paredes tornam-se mais espessas perto do solo.

    First Leiter Building (1879), de William LeBaron Jenney ( fig.02)

    A introduo sistemtica do elevador, igualando os preos do

    metro quadrado dos andares-tipo dos edifcios comerciais, anulou de uma

    vez os valores econmicos consolidados. Criou-se, assim, novas e

    excepcionais formas de renda.

    A Escola de Chicago constitui uma vertente arquitetnica

    essencial para a compreenso da arquitetura vertical do sculo XX, e em

    particular, para o estudo da primeira fase de verticalizao de So Paulo.

    Colin Rowe destaca uma citao de Louis H. Sullivan na qual fica claro

    que a revoluo estrutural deflagrada pelo Chicago Frame foi concebida

    sem maiores suportes tericos, ao contrrio, por exemplo, de

    experimentos como a Maison du Peuple, em Bruxelas, de Victor Horta

    (1897).

    Maison du Peuple Bruxelas ( fig.03)

    "A atividade de Chicago em erigir edifcios altos (de alvenaria macia)

    finalmente atraiu a ateno dos gerentes de venda local dos moinhos do Leste.

    Foram estes gerentes que conceberam a idia do esqueleto estrutural portante,

    que sustentaria toda a carga do edifcio, a partir de suas experincias na

    construo de silos e galpes. A evoluo do steel frame era apenas uma

    questo de viso em salesmanship, baseado em engenharia imaginativa e

  • Preliminares

    27

    tcnica. Desta maneira, a idia do steel frame foi apresentada aos arquitetos de

    Chicago, tendo em vista a necessidade de amplos espaos iluminados e

    ventilados e o custo do terreno". (ROWE)

    Os arquitetos de Chicago aceitaram estas exigncias impostas

    pelo especulador sem alternativas tendo em vista a concorrncia, o

    aspecto competitivo entre os escritrios de projeto e a necessidade de

    manter uma reputao de arquiteto "pragmtico". Os profissionais em

    atividade na cidade tinham conscincia de que o arquiteto de Chicago

    que sacrificasse a rea til de um piso em funo de exigncias

    assumidas de arquitetura, como ocorria em Nova York, dificilmente

    obteria outra encomenda de edifcio comercial. Os clientes no estavam

    preparados para fazer qualquer tipo de sacrifcio por um conceito

    espacial. No requeriam o tipo flagrante de simbolismo arquitetnico que

    os arranha-cus de Nova York comeavam a manifestar, como

    expresso das linguagens das Beaux-Arts.

    O esqueleto de metal ou de concreto viria a se tomar a imagem

    definitiva da arquitetura moderna. A natureza neutra de uma grelha

    tridimensional estabelece relaes, define uma disciplina, gera forma e

    abre todo um leque de novas possibilidades de arranjos espaciais. A

    estrutura torna-se catalisadora da arquitetura e torna-se tambm

    arquitetura e o espao construdo contemporneo quase inconcebvel

    na ausncia da estrutura independente.

    Os resultados construdos da Escola de Chicago ainda hoje so

    insuperveis pela economia e elegncia. Sem dvida, o processo de

    design visava a atender necessidades funcionais, com espaos racionais

    e a construo industrializada. Mas, ao contrrio dos racional-

    funcionalistas e outros grupos do sculo XX, os edifcios contm pouca

    retrica ideolgica, mesmo no caso dos edifcios de Sullivan, em que

    realmente existe uma tentativa de se criar algo novo.

    Guaranty Building, Buffalo, NY. Projeto de Louis Sullivan ( fig.04)

    Os edifcios da Escola de Chicago surpreendem o observador

    pela economia de elementos e consistncia de temas. Apresentam uma

    superfcie trabalhada, exibindo uma estrutura racionalmente integrada e

    bem-proporcionada. A estrutura no consistia necessariamente em um

    veculo para expresso espacial tal como a entendemos hoje (como

    arquitetura de Oscar Niemeyer ou do International Style). No entanto,

    eles tambm estavam abertos s inovaes tecnolgicas de uma poca

    revolucionria.

  • Captulo 2

    28

    O Rookery Building, projeto de Burham and Root (1885/86), pode

    ser considerado um dos primeiros edifcios a alojar um misto de lojas e

    escritrios, ao redor de uma praa interna semi-coberta. O edifcio se

    caracteriza como um palimpsesto de tcnicas construtivas no qual

    elementos de pocas distintas podem ser lidos, incluindo inovaes

    tcnicas, como o skeleton framing, elevadores, revestimento prova de

    fogo, combinados ao uso tradicional de paredes portantes de pedra e

    alvenaria de tijolo aparente. Suas paredes externas so portantes, mas

    um esqueleto estrutural foi utilizado no trio central, aberto para permitir

    aberturas nas paredes internas dos pavimentos-tipo para iluminao e

    ventilao naturais. A estrutura metlica consistia em colunas de ferro

    fundido, com vigas arqueadas, vazadas, de ferro batido e alumnio. Vigas

    de ao foram usadas para sustentao de pisos e paredes divisrias

    internas.

    Rookery Building ( fig.05)

    O Reliance Building, tambm de Burham and Root (1895),

    considerado por Benvolo como o mais belo arranha-cu da Escola de

    Chicago, pelas inovaes tcnicas e pelo desenho das fachadas,

    destacando o efeito multiplicador de vidraas contnuas e faixas

    horizontais decoradas, no havendo tentativa de forar uma gradao de

    perspectiva no sentido vertical, com larga proporo de superfcies

    envidraadas em relao aos cheios, quase caracterizando um curtain-

    wall. Os panos de vidro e as bay windows tornaram-se uma necessidade

    bsica de projeto, para captar o mximo de luz das estreitas ruas de

    Chicago.

    Reliance Building ( fig.06)

    O elevado nvel de tecnologia e industrializao dos EUA j

    permitia a aplicao de alguns processos industriais e um mnimo de

  • Preliminares

    29

    racionalizao da produo no canteiro de obras, configurando o

    progresso que faria do pas o mais avanado e inovador no setor da

    indstria da construo civil. As novas tcnicas proporcionavam maior

    rapidez e preciso de execuo, implicando prazos menores e reduo

    do custo total da obra.

    Em seu ensaio The Tall Building Artistically Considered (1986),

    Louis H. Sullivan criticou o maneirismo classicista com que muitos

    arquitetos, especialmente em Nova York, abordavam o problema da

    arquitetura dos arranha-cus. Sullivan defendia a adoo de uma

    linguagem arquitetnica prpria para um momento novo da arquitetura e

    da tcnica. O arranha-cu americano representava a aplicao de uma

    nova era industrial e democrtica arquitetura e, portanto, necessitava

    de uma linguagem prpria ao invs de adaptar estilos especficos

    construo em pedra ou alvenaria, como era o caso das torres nos estilos

    dos revivals (gtico e clssico) que proliferavam em Nova York.

    Os edifcios de escritrios de Sullivan no se destacam por uma

    expresso sofisticada da planta, j que o programa requeria apenas um

    mnimo de planejamento dos espaos internos, com ateno particular

    quanto a iluminao e ventilao naturais de ambientes, circulao, WC,

    elevadores e escadas de emergncia. Neste contexto, a estrutura

    metlica realmente se apresentaria como soluo estrutural ideal para um

    programa bsico simples. O processo de projeto era racionalizado, com

    mximo aproveitamento de rea til de escritrio por janela, circulao e

    expresso arquitetnica das fachadas. Rowe tambm atribui s poucas

    oportunidades de projeto o fato dos arquitetos de Chicago no

    desenvolverem todas as possibilidades espaciais oferecidas pela

    estrutura independente, que seriam exploradas pela avant-garde do

    Movimento Moderno.

    A primeira grande torre de escritrios de Louis Sullivan/ Adler and

    Sullivan Architects, o Wainwright Building (1890/91), no foi construda

    em Chicago, mas em St. Louis, Missouri. Um edifcio composto de trreo,

    sobreloja, 7 andares-tipo, cobertura e 4 elevadores. Frank Lloyd Wright,

    projetista-chefe do escritrio entre 1887/93, descreve a manh em que

    Sullivan adentrou a sala de desenho, com a soluo desenhada, como o

    momento em que surgiu o verdadeiro skyscraper. Sullivan procurava

    deixar explcito na fachada o carter vertical e independente do esqueleto

    de ao, no suavizando a verticalidade por meio de faixas horizontais

    reminiscentes de uma estrutura tradicional "empilhada", criando um efeito

    espetacular de perspectiva.

    Wainwright Building ( fig.07)

  • Captulo 2

    30

    Manhattan:

    A conformao do arranha-cu nova-iorquino do sculo XIX foi

    resultado da grelha ortogonal de ruas e avenidas definido pelo primeiro

    plano urbanstico de Manhattan (consolidado entre 1773 e 1811), que

    dividiu a parte habitada da ilha em retngulos delimitados, no sentido do

    comprimento por avenidas, que cruzavam do sul para o norte, e no

    sentido da largura, por ruas, em quadras que se subdividiram em lotes de

    8x30m. O primeiro edifcio com elevadores, em Manhattan, foi o Equitable

    Life Insurance, projeto de George H. Post, concludo entre 1868 e 1870.

    Equitable Life Insurance, George H. Post, 1868/70. (fig.08)

    O exemplar mais antigo de arranha-cu de Nova York, ainda de

    p, o Flatiron Building (1902), projeto de Daniel H. Burham,

    originalmente denominado The Fuller Building, ganhou este nome devido

    volumetria conformada pelos ngulos das ruas que criam uma

    perspectiva dramtica, lembrando um ferro de passar. O edifcio com

    estrutura de ao, como a maioria dos prdios pblicos aps a Exposio

    Mundial de Chicago 1893, apresenta fachadas com um tratamento em

    estilo Renascena Florentina, bem resolvido nas escalas do pedestre e

    da paisagem urbana e foi revestido de calcrio detalhado maneira de

    um palazzo florentino, com as pilastras ornamentadas com basties

    (baixo-relevos com representaes de animais) e uma cornija saliente de

    coroamento.

    Flatiron Building (fig.09)

    Entre os projetos mais interessantes desta primeira fase de

    verticalizao da cidade, est o Singer Building and Tower (projeto de

    Ernest Flagg, 1908) com 180m de altura, 47 andares.

  • Preliminares

    31

    Singer Building and Tower ( fig.10)

    Art Dco

    Em 1922, Chicago foi palco de um polmico concurso

    internacional de arquitetura para a sede do Chicago Tribune Tower.

    Gropius e Adolf Meyer concorrem com um belo edifcio de estrutura de

    ao, no qual a volumetria proposta procura quebrar a monotonia da

    grelha com balces e terraos, criando efeitos de luz, sombra e textura,

    organizado por uma planta rigorosamente dimensionada e funcional. O

    desenho desta proposta influenciaria toda a arquitetura de arranha-cus

    aps a Segunda Guerra Mundial at os anos 80.

    As diversas propostas apresentadas serviram de combustvel

    para o debate sobre o futuro da arquitetura vertical nos anos seguintes.

    Porm, as idias da vanguarda europia no sensibilizam o pblico ou

    mesmo o jri, que declara vencedor o projeto de uma torre neogtica do

    escritrio nova-iorquino Hood and Howells, e em segundo lugar premia a

    proposta escalonada e romntica do finlands Eliel Saarinen, que

    tambm obteve bastante divulgao.

    O debate sobre o concurso Chicago Tribune levou mais tarde ao

    consenso de que o edifcio de escritrios moderno seria um dos

    elementos-base da cidade proposta pelo Movimento Moderno.

    Chicago Tribune Tower: projeto apresentado por Gropius no concurso e o projeto

    vencedor de Hood and Howells ( fig.11)

    Raymond M. Hood (1881-1934) foi um dos maiores arquitetos de

    arranha-cus do perodo entre guerras, junto com o escritrio Holabird

  • Captulo 2

    32

    and Root de Chicago. Ambos passariam do perodo do Classic and

    Gothic Revival para o Art-Dco, nos anos 20/30.

    Apesar da leve inspirao gtica, os arquitetos perceberam que o

    design heterodoxo liberava o arranha-cu da estrita obedincia aos

    estilos/ histricos e sugeria uma alternativa de volumes mais limpos e

    simples, com ornamentao mais sutil e discreta, antevendo as

    possibilidades plsticas estudadas pelo Art-Dco .

    Eva Weber, em seu levantamento Art-Dco in Amrica (Exeter

    Books, Nova York, 1983), considera que a forma dos arranha-cus do

    Art-Dco e outros estilos nos anos 20/30 foi determinada por dois valores:

    a proposta de Eliel Saarinen para o Chicago Tribune e o cdigo de

    zoneamento da cidade de Nova York de 1916, que ordenava o

    escalonamento dos andares superiores conforme a largura da rua.

    Nova York foi a primeira cidade dos EUA a adotar uma legislao

    de zoneamento, que permaneceria em vigor at os anos 60, e

    influenciaria regulamentos similares em vrias outras cidades, da a

    importncia em mencionarmos aqui alguns de seus condicionantes.

    Conforme Muhlstein, estas regras definiam que:

    - A cidade seria dividida em zonas ou distritos de uso comercial,

    industrial ou residencial.

    - A classificao determinaria o tipo de atividade ou edifcio autorizado

    no setor;

    - A altura do prdio obedeceria a um conjunto de prescries. Portanto,

    em certos bairros, a altura do prdio no poderia ultrapassar a largura

    da rua defronte ao lote. Em outros bairros, seria permitido construir

    duas vezes e meia esta dimenso. Em alguns casos, uma vez

    atingida esta altura, o arquiteto deveria criar recuos para no privar

    de luz as construes vizinhas. Em outra regra especfica, se o

    edifcio, graas a estes recuos ocupasse apenas um quarto da

    projeo de sua rea construda no solo, poderia crescer sem mais

    nenhuma limitao. Como regra geral o volume em metros cbicos

    de um prdio no poderia ultrapassar em doze vezes sua superfcie

    em metros quadrados.

    O Art-Dco tambm foi influenciado pelos conceitos de

    arquitetura e ornamentao de Louis Sullivan e pelos desenhos do

    arquiteto Hugh Ferriss, cujas perpectivas visionrias com tratamento

    grfico abstrato e romntico de edifcios, ajudavam a vender projetos

    para clientes e influenciavam a aceitao de conceitos arquitetnicos de

    vanguarda, popularizando-os atravs de jornais e revistas. Exerceu papel

    importante sobretudo na primeira fase de verticalizao de So Paulo, e

    portanto, vale discutir aqui, brevemente, alguns de seus aspectos.

    Segundo Weber (2003), genericamente, pode ser dividido em trs

    vertentes principais:

    - Zigzag Moderne: Procura abstrair e recombinar motivos decorativos

    do imaginrio da era industrial e da arte primitiva egpcia, oriental e

    pr-colombiana, interpretadas por arquitetos treinados pela cole des

    Beaux Arts. Influncias da Exposition des Arts Dcoratifs (Paris,

    1925), da Wiener Werkstatte, e da arquitetura e dos cenrios

    cinematogrficos do expressionismo alemo.

  • Preliminares

    33

    - Classical Moderne: Combina formas classicistas simplificadas com

    uma ornamentao interna e externa mais abstrata. Foi influenciada

    por JosefHoffinann, Peter Behrens e Sir Edwin Lutyens.

    - Streamlined Moderne: Caracteriza-se pela inspirao mecanicista-

    expressionista, com nfase nas curvas, coberturas planas, tijolos de

    vidro, caixilharias de motivos nuticos, superfcies lisas e estriadas,

    cores fortes. Recebe influncia de Antonio Sant'Elia e dos

    expressionistas alemes.

    Os edifcios destacam-se pelo cuidado com que eram projetados

    os espaos de convvio coletivo, como os halls de circulao, lobbys de

    elevadores e corredores. Tanto as fachadas quanto os lobbys recebiam

    uma ornamentao altamente elaborada e todo este conjunto procurava

    exaltar com otimismo a imagem do homem, seu lugar no universo e sua

    confiana no controle da mquina e eram executados lanando mo de

    uma grande variedade de revestimentos. Novos materiais foram

    utilizados, como vitrolite (painis de esmalte recozido), vidro preto,

    alumnio, plsticos e iluminao de neon. Afrescos monumentais,

    freqentemente combinados com baixo-relevos e esculturas, cobriam

    paredes de dois ou mais ps direitos de altura, com a ornamentao

    fazendo parte de um sistema coordenado de design de interiores.

    Em Nova York, os trs principais arquitetos do Art-Dco e das

    especulaes de vanguarda foram Raymond T. Hood, Ely Jacgues Kahn

    e William Van Allen, todos com passagem pela cole des Beaux Arts.

    Mas o primeiro arranha-cu em Art-Dco Zigzag Moderne foi o Chanin

    Building (1927/29), projeto do escritrio Sloan e Robertson, com 204m de

    altura e 56 andares, e considerado por muitos autores como o melhor

    exemplar do Art-Dco da cidade.

    Chanin Building ( fig.12)

    William Van Allen projetou o Chrysler Building (1930), com

    319,43m de altura, que foi por alguns meses o mais alto edifcio ento

    construdo. O projeto se caracteriza pelo jogo de volumes escalonados,

    que correm em uma sucesso de planos verticais at se unirem em uma

    seqncia de arcos escalonados, que arrematam a volumetria, em um

    coroamento em forma de pinculo. O tratamento decorativo das paredes

    de alvenaria varia em cada escalonamento, incluindo grgulas em forma

    de tampa de radiador, abstraes com motivos automobilsticos e

    padronagens em xadrez, tpicos do Zigzag Moderne. O lobby recebeu

  • Captulo 2

    34

    tratamento grfico e plstico de ao cromado e mrmore e os arcos de

    arremate receberam um revestimento pioneiro de lminas de ao

    inoxidvel e janelas triangulares, iluminadas noite por uma coroa

    fluorescente.

    Concludo poucos meses aps o Chrysler, o Empire State, projeto

    do escritrio Shreve, Lamb and Harmon (1931), representou o ltimo

    grande momento do Art-Dco em Zigzag Moderne. Planejado durante o

    crescimento econmico dos anos 20, foi por muito tempo o mais alto

    edifcio construdo, com 381m de altura, 102 andares e 67 elevadores.

    O Chrysler e o Empire State ( fig.13)

    Raymond T. Hood foi autor, com vrios associados, do projeto de

    vrias torres de escritrios do perodo Gothic Revival e Art-Dco em Nova

    York, como o American Radiator Building (1924), e o McGraw-Hill

    Building (1931) e ainda participou do projeto do Rockfeller Center, que

    para muitos constitui um divisor de guas da arquitetura dos edifcios de

    escritrios do sculo XX, fruto de uma iniciativa pessoal do magnata do

    petrleo John Rockfeller.

    Os 21 prdios que compe o conjunto esto organizados em

    torno de duas ruas particulares. A primeira, leste-oeste, uma via para

    pedestres com canteiro central, terminando no rinque de patinao, no

    centro do conjunto; a segunda, norte-sul, paralela s avenidas, interliga

    os prdios contguos ao centro. No nvel inferior o conjunto interligado

    por galerias subterrneas providas de lojas, bancos, agncias de viagem.

    Rockfeller Center ( fig. 14)

  • Preliminares

    35

    Os empreendedores envolvidos em sua construo acreditavam

    que a ornamentao artstica do edifcio deveria servir para atrair o

    pblico e ainda fornecer boa publicidade para a empreitada, da parte a

    iniciativa de integrar esculturas de Paul Manship e Hildreth Meiere e

    afrescos de Jos Maria Sert e Frank Brangwyn. Desde a Segunda Guerra

    Mundial, tomou-se o local preferido para exposies e eventos pblicos,

    em uma bem-sucedida campanha de relaes pblicas, que o mantm

    constantemente em evidncia. Enquanto torre de escritrios, o Rockfeller

    Center sempre se esforou para acompanhar os progressos tcnicos,

    para impedir qualquer incio de deteriorao, como a adaptao ao uso

    de sistema de ar-condicionado e adaptaes nos sistemas de iluminao

    das salas.

    Muhlstein afirma que o tamanho, apesar de tudo, nunca foi um

    elemento de sucesso determinante na cidade de Nova York e coloca que

    mesmo no caso do imponente Empire State, se o transeunte no olhasse

    para cima, no chegaria a tomar conhecimento de sua presena. Coloca

    ainda que a presena do edifcio em nada contribui para impedir a

    deteriorao da Fifth Avenue, alm de congestionar o trnsito da rea.

    J o Rockfeller Center deve seu xito s qualidades humanas

    das vias de circulao, atrao do rinque de patinao e do caf ao ar

    livre, escala da rua particular, comodidade de suas lojas, elementos

    que favorecem a circulao no de veculos, mas de homens.

    Com seu programa de espaos coletivos no nvel do solo o

    Rockfeller Center est mais prximo das concepes racional-

    funcionalistas da vanguarda europia do que do Art-Dco. At certo

    ponto, talvez tenha sido o primeiro grande conjunto da arquitetura

    moderna em Nova York.

    Este perodo que antecedeu a Segunda Guerra Mundial assistiu

    tambm popularizao do tema do arranha-cu no imaginrio popular

    norte-americano como smbolo otimista de progresso tecnolgico e

    social, mesmo diante da Depresso de 1929 e a prolongada crise

    econmica subseqente. Esta popularizao repercutiria em vrios

    pases, inclusive o Brasil, atravs do cinema.

    J em 1927, o futuro das cidades verticalizadas poderia ser

    vislumbrado atravs dos impressionantes cenrios do filme de Fritz Lang,

    Metropolis. O arranha-cu e a prpria cidade norte-americana

    verticalizada serviriam de cenrio para numerosos filmes dos anos 30/40.

    Cena do filme the Fountainhead (Vontade Indmita 1949) (fig.15)

  • Captulo 2

    36

    O arranha-cu no movimento moderno

    O edifcio-torre, tal como proposto por Mies van der Rohe, era

    considerado na Europa dos anos 20/30 muito mais como um cone do

    que um objeto de uso - um smbolo de uma Amrica otimista que antevia

    o seu desenvolvimento futuro; enquanto que para os europeus era um

    smbolo de uma sociedade "ideal" apoiada nos benefcios da tcnica.

    Enquanto isso, nos EUA, o skyscraper tornava-se um fato das cidades,

    em funo de sua realidade econmica e industrial.

    Os arranha-cus da avant-garde europia por muito tempo

    existiram apenas no papel em funo das dificuldades econmicas do

    perodo ps-Primeira Guerra Mundial.

    Le Corbusier apresenta em 1922, sua Ville Contemporaine, plano

    de cidade para 3 milhes de habitantes, com um ncleo de 24 arranha-

    cus de escritrios. Os edifcios de planta cruciforme, utilizada para

    permitir um mximo de insolao e ventilao naturais ao ambiente de

    trabalho, com ncleo central de circulao e servios, seriam repetidos no

    Plano Voisin, para Paris (1922/1930).

    Rowe observa que os arranha-cus da Ville Radieuse,

    apresentada por Corbusier em L'Urbanisme des Trois Etablissements

    Humains , no so resultado de nenhum clculo programtico, mas de

    uma mente preocupada com a ordem ideal das coisas. Para a avant-

    garde europia o arranha-cu era visto como uma funo abstrata de

    uma estrutura, um instrumento da ideologia modernista de salvao

    social pela renovao da cidade em crise. Desta maneira, a estrutura

    independente passou, de uma resposta para um problema especfico -

    escritrios e sedes administrativas - para a soluo de um problema

    universal: a prpria arquitetura da cidade industrial.

    Desenho da Ville Radieuse (fig.16)

    O International Style desenvolveria uma equao entre as

    demandas do espao e as da estrutura. No Loop de Chicago o mundo

    era aceito tal como era e isto significou o fim da evoluo da Escola, pois

    no se propunha nenhuma cidade do futuro, mas a resoluo imediata

    das necessidades de uma poca. Assim, o arranha-cu que proliferaria

    aps a Segunda Guerra Mundial conceitualmente diferente da tipologia

    definida pela Escola de Chicago, pois est inserido nas propostas dos

    congressos CIAM 1928/1933 e da Carta de Atenas (1941).

    Dentro da viso do CIAM, o arranha-cu faria parte de uma nova

    ordem urbana, onde no mais existiria um limite claro entre o pblico e o

    privado, semi-pblico ou semi-privado.

    O conceito de elevao frontal ou de fundos passa tambm a no

    existir, na medida em que a quadra europia fechada tradicional se

  • Preliminares

    37

    fragmenta, tornando-se um agregado ordenado de volumes

    independentes, dispostos ao longo de ruas, espalhados em uma ampla

    rea livre e de espaos ajardinados, com caminhos de pedestres e

    centros comerciais, teatros e cinemas entre os prdios.

    O rompimento com a tradio possibilitou uma sucesso de

    experimentalismos formais. O "experimentalismo" do Movimento Moderno

    visava libertao da arquitetura do dogma acadmico, mas nunca se

    chegou a definir o projeto racionalista como sendo nada alm de cincia

    e tcnica. Isto apesar de Hannes Meyer ter definido a arquitetura como

    funo x economia, reduzindo-a a um sistema que exclui todos os

    valores, a priori, restringindo-se a necessidades de programa que

    pudessem ser testados de forma cientfica ou emprica. O

    experimentalismo definia que o impulso principal deveria ser uma

    abertura para a realidade tcnica e social, com nfase na relao entre

    forma e funo e, neste contexto, a arquitetura vertical, em funo de sua

    relao dinmica de escala com a paisagem urbana, constitua um objeto

    ideal para estas experincias.

    No final do sculo XIX, alm do evidente esgotamento dos

    estilos, a civilizao industrial comeava a impor a idia de espaos

    especializados, o que levaria reformulao do conceito de tipologia

    arquitetnica, de equipamento urbano, de prottipo, assim como das

    atividades especficas a serem previstas no edifcio.

    As transformaes tcnicas e polticas desta movimentada poca

    j tinham levado a movimentos to distintos quanto o Ecletismo, o Art-

    Nouveau, o Classical and Gothic Revival.

    A introduo da estrutura de ao nas torres comerciais de

    Chicago, nos 1880s, pode ser considerada a primeira aplicao, em

    escala urbana, da pesquisa cientfica emprica do uso de novos materiais.

    A importncia desta pesquisa j fora comprovada na obra do Crystal

    Palace, de Joseph Paxton (1851) onde, pela primeira vez foi executada

    em grande escala um conceito industrial de design, com peas pr-

    moldadas em srie, e construo racionalizada. No Chicago Frame, por

    sua vez, os elementos construtivos so determinados mais pelas

    necessidades de produo do que pela lgica construtiva, com a adoo

    um sistema padronizado que minimizava as diferenas, como no caso

    das juntas, pontos de conexo, elementos de apoio e sustentao.

    As diversas tendncias da avant-garde da transio do sculo j

    no aceitavam a interpretao histrica positivista de Viollet-le-Duc,

    defendendo um rompimento radical com a Histria, diante da

    necessidade de reformular a cidade tradicional, superpopulosa e

    sufocada pela industrializao. Nesta nova viso funcionalista, uma

    necessidade interna substitui a analogia, como geradora de formas

    expressivas, atravs do programa ou do sistema estrutural. Esta

    necessidade interna seria uma interpretao "idealista" (abordagem

    espiritual voltada para uma causalidade material) ou "cientfica" (causas

    eficientes e investigaes empricas).

    O edifcio de escritrios, aps a Segunda Guerra, adquiriu como

    funo-tipo uma importncia muito maior do que a prevista pelos

    vanguardistas. As torres corporativas foram as primeiras a incorporar a

    tecnologia desenvolvida durante a guerra e permaneceram, desde ento,

    como a vanguarda das solues estruturais na construo civil.

  • Captulo 2

    38

    A Amrica j dispunha da mais avanada indstria da construo

    e racionalizao de canteiro e foi natural que tomasse a dianteira.

    Mas as torres comerciais acabaram no assumindo a forma

    uniforme, tal como a teoria funcionalista a teria imaginado em suas

    propostas, com seus centros de negcios racionalmente segregados. A

    uniformidade da cidade racionalista, presente nas vises de Mart Stam,

    J.J.P. Oud ou Ludwig Hilberseimer, acabou por no se concretizar, pela

    natureza descontnua do empreendimento capitalista, pela variedade de

    formas, solues tcnicas, programas e mesmo linguagem.

    Frank Lloyd Wright, em Modern Architecture (Princeton University

    Press, 1931) afirma, em tom jocoso, que Michelangelo inventou o

    primeiro arranha-cu ao jogar o Panteo por cima do Partenon, e o Papa

    denominou a obra de So Pedro. o ponto de partida para sua critica

    arquitetura norte-americana do Classical e Gothic Revivals, lamentando o

    esquecimento no qual caram os inovadores da Escola de Chicago.

    Wright construiu poucos edifcios comerciais, em sua prolfica carreira,

    com destaque para dois deles: o Larkin Building, em Buffalo, N.Y. (1904)

    e o Johnson Wax Company, em Racine, Wisconsin (1936).

    Este ltimo, por caracterizar um prdio horizontal com escritrios

    e laboratrios, escapa do mbito do estudo das torres de escritrios; mas

    o Larkin causa interesse por constituir uma inovao espacial e tcnica,

    inclusive rompendo com vrios preceitos da Escola de Chicago.

    Larkin Building (1904) e Johnson Wax Company (1936) ( fig.17)

    Em Wright, assim como em Le Corbusier, a planta antes de

    tudo, geradora de forma. Mas o Larkin, com seus espaos dispostos

    como os de uma catedral ou de uma igreja romnica, no explora as

    possibilidades da estrutura de ao at as ltimas conseqncias. O

    aspecto macio dos volumes do Larkin tem uma finalidade: proteo

    contra a elevada poluio sonora e atmosfrica do distrito industrial de

    Buffalo. As quatro torres perifricas nos cantos do edifcio, abrigam tubos

    pneumticos de comunicao, maquinrio de ar-condicionado e

  • Preliminares

    39

    aquecimento, bem como as escadas de circulao e fuga; liberando o

    andar-tipo para escritrios e reforando a segurana contra incndios.

    Uma caracterstica importante no projeto o papel desempenhado pelo

    trio central como elemento de ventilao e iluminao natural, um trio

    fechado na cobertura por uma iluminao zenital, ao contrrio daquele

    visto no The Rookery em Chicago, aberto em relao aos pavimentos-

    tipo, cobrindo apenas o pavimento superior do embasamento.

    Entre os precursores da torre comercial racionalista, est a

    Columbushaus, na Potsdamerplatz, Berlim (1932).

    Columbushaus ( fig.18)

    Trata-se de um edifcio comercial, com trreo para lojas,

    sobreloja e primeiro andar para restaurante, 7 andares-tipo para

    escritrios e restaurante panormico, na cobertura, no qual o andar-tipo

    concebido como um espao aberto desobstrudo e com mxima

    flexibilidade de lay-out, pois no se poderia especificar com antecedncia

    as dimenses e programa dos escritrios. Da a utilizao de uma

    estrutura de ao, com pilares recuados 1,50m do alinhamento da

    fachada, desobstruindo as paredes externas para as vidraas contnuas.

    O ritmo das fachadas ditado pelas faixas horizontais dos parapeitos

    revestidos de pedra e pelas janelas horizontais. Este grafismo e a leve

    curvatura do volume movimentam a composio de maneira mais

    tranqila do que as experincias anteriores de Mendelsohn.

    A Segunda Guerra Mundial paralisaria as experincias do

    Movimento Moderno na Europa e nos EUA e assim, ironicamente, o

    primeiro arranha-cu de porte da nova arquitetura, e tambm a primeira

    torre de escritrios a seguir os cnones do racional-funcionalismo de

    corrente corbusiana, surgiria no Rio de Janeiro, nos anos 40.

    Lcio Costa, em entrevista a H.V. Sabbag e A.L. Nobre (Revista

    AU, nmero 38, out-nov/91), reafirma ser o Palcio Capanema (sede do

    MEC - Ministrio da Educao e Cultura) a primeira torre de escritrios do

    Movimento Moderno. Na mesma poca de sua construo no havia

    ainda nos Estados Unidos nenhum arranha-cu envidraado, todos

    vieram depois que o Ministrio estava em construo, em 1938. Se o

    movimento comeou na Europa, foi num pas como o Brasil que surgiu a

    possibilidade de concretizar suas idias, e justamente durante o perodo

    de guerra, quando toda a tecnologia estava voltada para a destruio,

    este prdio otimista, feito por arquitetos jovens e inexperientes, ia se

    erguendo no Rio de Janeiro, num pas distante dos centros tradicionais

    de irradiao de novas idias.

    O MEC no propriamente uma torre comercial de escritrios

    pois foi concebido como uma sede institucional, projetado para ser sede

    do ento Ministrio de Educao e Sade. A autoria do projeto do

    grupo de arquitetos formado por Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo

  • Captulo 2

    40

    Reidy, Carlos Leo, Jorge Machado Moreira e Ernani Vasconcellos,

    liderados por Lcio Costa, com consultoria de Le Corbusier, autor do

    trao original da primeira fase. Le Corbusier, consultor da fase inicial de

    projeto, por muito tempo advogaria para si a autoria do projeto.

    O conjunto construdo formado por dois blocos em altura

    desigual, em um arranjo em forma de "T', que dividem a quadra em dois

    espaos abertos. A perna do "T" o prisma retangular vertical, elevado

    sobre pilotis de 10 metros de altura, com 14 pavimentos-tipos de

    escritrios. O bloco horizontal abriga o escritrio e o salo de exposies,

    parcialmente apoiado em uma colunata de pilotis. O projeto pode ser

    descrito, de maneira simplificada, como uma caixa retangular penetrada

    por um volume trapezoidal, com o eixo de simetria desse volume

    coincidindo com o eixo longitudinal da caixa.

    A implantao proposta permite a liberao da quadra fechada do

    Plano Urbanstico Agache, criando ao redor do prdio espaos pblicos

    amplos, dentro do esprito da Carta de Atenas, rompendo a quadra

    tradicional e criando um espao urbano fludo e contnuo ao longo dos

    jardins e dos pilotis.

    Todo o iderio racional-funcionalista corbusiano aplicado: a

    liberao do solo, o terrao-jardim, a cortina de vidro, o brise-soleil, a

    planta livre do pavimento-tipo, e a isso se soma a expressividade da

    Escola Carioca, presentes nos volumes curvos azuis da cobertura, no

    revestimento de colunas e trechos da fachada com granito, nos painis

    de azulejos desenhados por Portinari, e nos jardins de Burle-Marx.

    Palcio Capanema, Rio de Janeiro ( fig.19)

    Com o final da guerra, os imensos meios de produo industrial,

    desenvolvidos at os limites no esforo de guerra, foram reconvertidos

    para o uso civil. A indstria da construo civil exibia novos materiais,

    tcnicas e processos de racionalizao. Os arquitetos europeus da

    corrente racional funcionalista, egressos das perseguies nazistas e da

    guerra, encontraram no EUA um ambiente propcio pregao

    modernista, graas ao parque tecnolgico disponvel, tradicional

    vocao americana para a inovao tcnica e ao esprito pragmtico do

    investidor, disposto a construir edifcios com o mximo de eficincia,

    rapidez e aproveitamento do terreno.

    O marketing da arquitetura sempre foi importante na natureza de

    toda empreitada imobiliria e a imagem corporativa da empresa estaria

    associada de agora em diante tecnologia futurista. Para Amrica dos

    anos 50, a tcnica parecia oferecer solues para todos os problemas,

    criando-se uma nova iconografia do streamline: avies supersnicos de

    asas enflechadas e de fuselagens curvilneas, carros com frisos

  • Preliminares

    41

    cromados e "rabo de peixe", o uso da energia nuclear e a corrida

    espacial. Dentro deste clima otimista, surgiram os trs primeiros arranha-

    cus racionalistas em Nova York: a Lever House, o Seagram Building e a

    Assemblia Geral da ONU, confirmando a adoo dos norte americanos

    ao International Style trazido pelos profissionais egressos da Bauhaus e

    de outros movimentos de vanguarda: Mies van der Rohe, Breuer,

    Gropius, Schindler e Neutra, entre outros.

    Lever House ( fig.20)

    A Lever House foi um dos primeiros arranha-cus construdos em

    estrutura de ao com curtain wall, com projeto de Gordon Bunshaft e

    Skidmore, Owings and Merrill, de 1952. Consiste em uma delgada lmina

    vertical de 18 pavimentos-tipo, dois de cobertura destinados maquinaria

    do edifcio, um andar de transio e uma lmina horizontal, composta de

    trreo e sobreloja com um subsolo.

    Grande parte da expressividade do edifcio do MEC advinha do

    tratamento sensual dos volumes, com suas mltiplas texturas, cores, e

    sombras criadas pelos brises, os azulejos e os volumes curvos e a sua

    construo representou ainda o esforo de uma indstria da construo

    civil incipiente e da mo-de-obra artesanal em produzir uma arquitetura

    de ideologia industrial. J a Lever House, planejada para abrigar 1200

    empregados, assume sem esforo sua vocao tecnolgica, pelo uso

    adequado da tcnica disponvel no mercado. A composio alcanada

    permanece ainda hoje delicada e transparente, com volumes

    perfeitamente proporcionados e com seus 24 andares no oprime os

    prdios vizinhos. O respiro criado pela lmina horizontal permite que o

    edifcio possa ser apreciado tanto na escala do pedestre como na escala

    urbana.

    O lote de desenho irregular, com abertura para trs ruas, mede

    60,96 x 47,24 e 58,62 metros. Se ocupasse toda a projeo do terreno, o

    bloco teria oito andares, sem necessidade de escalonamento pois a lei de

    zoneamento vigente poca de sua construo permitia que extensas

    reas internas de trabalho fossem localizadas longe de janelas, mas isto

    implicaria uma diminuio de produtividade e eficincia dos empregados,

    porm, altos custos de construo e a possibilidade da construo de um

    arranha-cu no lote vizinho que obstruiria a passagem de luz

    desencorajavam a adoo deste tipo de soluo e decidiu-se ento tirar

    partido de um dispositivo da lei de zoneamento que permitiria a

  • Captulo 2

    42

    construo de uma torre de qualquer altura, desde que no se ocupasse

    mais do que 25% da projeo do lote.

    A rea total do edifcio de 26.904,70m, com 12.170,20m de

    rea de escritrios e um subsolo que abriga 50 vagas para automveis.

    Seu pavimento trreo aberto, com o piso liberado pela colunata de

    pilotis, possibilitando ao pedestre um espao de passagem e circulao

    por dentro do lote. Um auditrio de 200 lugares, reas de desembarque,

    showroom demonstrativo, e lobby envidraado com caixilharia de ao

    inoxidvel marcam, nos fundos, a entrada do edifcio. O bloco horizontal

    vazado por um trio que prov iluminao natural para os ambientes

    internos e para o jardim. O primeiro pavimento abriga o setor recreativo

    dos empregados, enfermaria, a sala de correspondncia, a central de

    estenografia e uma sala especial para os imensos computadores da

    poca. O terceiro pavimento constitui-se do andar de transio entre

    lminas horizontal e vertical. O piso abriga uma cafeteria voltada para o

    jardim de cobertura do embasamento.

    A Lever Brothers considerou o uso comercial do terreno, mas as

    lojas exigiriam espaos de armazenagem, como subsolo e sobreloja e,

    alm disso, poderiam destruir a elegante impresso de que a lmina

    horizontal est flutuando acima do cho.Um recuo em relao ao

    alinhamento cria uma faixa sombreada, proporcionando outro efeito de

    flutuao, como se o prisma vertical levitasse acima do bloco horizontal.

    O ncleo de circulao vertical, com escadas, depsitos e banheiros, est

    posicionado nos fundos do lote, com cinco elevadores.

    Os regulamentos de incndio da New York Fire Department

    exigiram que as escadas de incndio fossem contidas dentro de um shaft

    de tijolos, nico elemento de alvenaria macia do prdio.

    A estrutura de ao foi pensada de modo a no interromper a

    continuidade das superfcies de vidro e, para tanto, as colunas esto

    recuadas 45,7cm da linha de janelas da torre, e 30,48m do limite da

    lmina horizontal no alinhamento da Park Avenue. Isto significou

    considervel reduo de custos na fundao, pois as estacas estariam

    fundadas diretamente na rocha, sem interferir na estrutura subterrnea

    sob a Park Avenue. Pisos celulares de ao pouparam perto de 30% do

    peso do piso sobre outros sistemas convencionais e foram construdos

    com maior rapidez. O pavimento-tipo mede 54,86 x 15,24m, tendo 3,76m

    de piso a piso e o espao de escritrio foi dimensionado de modo que

    nenhuma mesa de trabalho ficasse a mais de 7,62m de uma janela.

    O controle acstico foi obtido graas ao uso de forros

    absorventes de ladrilhos acsticos, metal perfurado e placas de gesso. O

    edifcio completamente selado, dependente de uma rede central de

    calefao e ar condicionado do tipo split-system, com unidades

    individuais perifricas de gua/ar de alta presso e um sistema de duto

    central que distribui o ar por difusores no teto. Os pavimentos-tipo

    tambm esto equipados com um sistema de comunicao por tubo de

    alta velocidade, ligada ao mail-room do primeiro andar. A curtain-wall

    composta de perfis de ao inoxidvel que sustentam pano fixo de vidro

    temperado, em tons de verde, selados para evitar qualquer intruso.

    Janelas mveis convencionais tornariam os custos de

    obra/manuteno/limpeza muito caros em relao ao consumo de

  • Preliminares

    43

    energia para ar condicionado e calefao em ambiente fechado, segundo

    dados da poca. Em cada andar, uma faixa contnua de vidro opaco atua

    como spandrel, ocupando mais da metade da altura do p-direito, tendo

    sido utilizado um vidro temperado verde-escuro denominado spandralite,

    que chega a absorver 45% do calor da luz solar contra 10% do vidro

    normal, contribuindo para a diminuio dos custos de ar condicionado.

    A Lever House caracterizou uma inovao arquitetnica e urbana

    ao dissolver a idia de lote fechado e fragmentar a torre macia em duas

    lminas, uma horizontal, e outra, vertical. O projeto introduziu tambm o

    conceito de jardim interno aberto ao pblico, que se tomaria uma das

    caractersticas dos arranha-cus nova-iorquinos dos anos 60 em diante,

    encorajados sobretudo por uma legislao de uso do solo generosa

    quanto a criao de espaos pblicos, to raros em Manhattan na poca.

    Logo que inaugurada, tornou-se atrao turstica e durante muitos anos,

    utilizou-se o termo leverish para designar qualquer coisa que tivesse

    uma elegncia sutil, limpa e high-tech.

    Se a Lever House marcou poca com este n