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360EDIÇÃO 36 • OUTUBRO DE 2019

Empresas nacionais gastam mais de R$ 65 bilhões por ano só para calcular e pagar impostos

IR PARAPÁGINA 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42

Burocracia e carga tributária elevada

prejudicam a saúde

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O Senado Federal concluiu, em 23 de outubro, a votação da reforma da Previdência. Trata-se de uma decisão muito aguardada pelo governo, investidores e sociedade, pois ela abre um bom caminho para que outras reformas importantes para o desenvolvimento econômico e social do país sejam debatidas e implementadas. A refor-ma da Previdência ocupou o centro dos debates durante quase todo o ano de 2019 e a expectativa era a promulgação das novas regras previdenciá- rias até 19 de novembro. Vamos começar 2020, portanto, com uma boa luz no horizonte.

Em dez anos, a economia que as novas regras da Previdência trarão ao país são da ordem de R$ 800 bilhões, inferior, portanto, ao R$ 1,2 trilhão al-mejado inicialmente pelo governo. É óbvio que a reforma da Previdência por si só não vai resolver todos os problemas do Brasil, mas ela dá um bom fôlego e permite que uma agenda focada na mo-dernização e no desenvolvimento avance. Agora, temos que debater as reformas tributária e admi-nistrativa. E isso também não será tarefa simples, pois há muitos interesses em pauta.

Estados e municípios ficaram de fora da re-forma da Previdência, mas há uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) paralela que pre-vê a possibilidade de ambos aderirem às novas regras de aposentadoria e pensão no país. A Co-missão de Constituição e Justiça do Senado deve votar a PEC ainda em novembro, e ela precisa passar em dois turnos no Senado (são necessá-rios 49 votos) e depois ter o aval da Câmara dos

Deputados, com 308 votos a favor. A medida ge-raria uma economia esperada de aproximada-mente R$ 350 bilhões em dez anos e resolveria um grande problema para os Estados: o rombo em seus regimes de aposentadoria, que atingiu R$ 100 bi em 2018.

A aprovação da reforma da Previdência enalte-ceu algumas lideranças, como a dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, e o bom senso. Mas, como cidadãos, precisamos estar vi-gilantes, pois ao mesmo tempo em que a reforma previdenciária caminhava, os fundos partidários receberam boa injeção de dinheiro público e a aprovação da distribuição dos recursos do leilão do pré-sal foi condicionada à Previdência. A velha política anda sempre à espreita.

Temos problemas urgentes para enfrentar, como a questão tributária, o grave desequilíbrio fiscal de estados e municípios, a baixa produtivi-dade da economia e a enorme desigualdade de renda e de oportunidades. Na área da saúde, uma iniciativa que certamente trará melhoria signifi-cativa nos indicadores sociais, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é um programa nacional de saneamento básico e tratamento de água, em parceria com a iniciativa privada. Sim, uma agenda positiva nos espera. É hora de arre-gaçar as mangas e trabalhar pelo crescimento sustentável.

Yussif Ali Mere JrPresidente

A hora do crescimento sustentável

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ÍNDICE 050608

O peso dos impostos e da burocracia na Saúde

CAPA 18

Seja um representado e amplie oportunidades de negócios

FEHOESP na luta contra o câncer

A vice-presidente do Conselho Regional de Contabilidade fala sobre o papel dos sindicatos

Evento debate a importância da população 50+ para a economia

Artigo aborda Ansiedade e Burnout

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Porque ser representado

Destaque on-line

Na seção de Notas, veja algumas iniciativas novas da FEHOESP, SINDHOSP e IEPAS

Boletim Econômico FEHOESP mostra a movimentação dos leitos

Como envelhecer com qualidade de vida

A oncologista Nise Yamaguchi lança livro sobre o processo de cura do câncer12

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PORQUE SER REPRESENTADO

A

Os desafios econômicos

e políticos pedem uma

representatividade

eficiente

tualmente, no Brasil, existem entre 16 mil e 17 mil sindicatos, sendo que aproximadamente cinco mil são de empregado-res, segundo dados do jornal O Estado de S. Paulo. Desse total, milhares encerraram suas atividades nos últimos dois anos, por dependerem quase que na totalidade da contri-buição sindical, extinta em novembro de 2017, na reforma trabalhista.

O SINDHOSP, sindicato que defende os interesses dos es-tabelecimentos de saúde privados no Estado de São Paulo desde 1938, também sofreu impactos com o fim da contri-buição sindical, mas está mantendo os serviços que sempre ofereceu ao setor. “O SINDHOSP foi criado antes da Consoli-dação das Leis do Trabalho – CLT. Ele nasceu em 1938 e a CLT data de 1º de maio de 1943. Portanto, temos em nosso DNA a semente da livre associação. Não surgimos a partir de um im-posto obrigatório. Somos o maior sindicato patronal da área da saúde na América Latina e isso é fruto de muito trabalho e representatividade nas três esferas de governo”, afirma o pre-sidente do SINDHOSP e da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr.

Muitas foram as mudanças econômicas e no setor da saúde enfrentadas pelo país nos últimos anos, principal-mente após a reforma trabalhista e, atualmente, com a previdenciária. São esperadas ainda outras mudanças im-portantes no atual governo, como um programa de priva-tizações e a reforma tributária. “Estamos acompanhando o avanço nas negociações da reforma tributária, para que nossos associados tenham suas atividades simplificadas e não sejam prejudicados com aumento de carga tributária. Ano passado, o SINDHOSP conseguiu frear aumento do PIS/COFINS para a saúde. Em tempos de mudanças tão profun-das o setor precisa estar unido, fortalecido. E é importante que os estabelecimentos de saúde percebam isso”, finaliza Yussif Ali Mere Jr.

E sua empresa, já é representada pelo SINDHOSP ou por outro sindicato ligado à FEHOESP? Não perca tempo.

DA REDAÇÃO

seja um representado! acesse

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DESTAQUE ON-LINE

As mudanças no Programa Médicos pelo Brasil, instituído como nova versão e uma espécie de reformulação do antigo Programa Mais Médicos, vem chamando atenção da classe médica e desagradando o setor. Esse tema foi um dos des-taques on-line do Portal FEHOESP 360. Emendas na Medida Provisória 890/19, que instituiu o Médicos pelo Brasil, deram origem ao Projeto de Lei de Conversão 25/2019, que está tramitando na Câmara dos Deputados. Entre os pontos criti-cados pela Associação Paulista de Medicina (APM) estão re-validação de diplomas por faculdades privadas de medicina no Brasil; admissão direta de médicos cubanos do progra-ma Mais Médicos e possibilidade de os estados executarem isoladamente o programa sem uma unidade nacional.

De acordo com a Associação, após a apreciação da Co-missão Mista, formada por deputados e senadores, o texto teve 36 emendas enxertadas e outras 82 parcialmente aca-tadas. Com as alterações aprovadas em 25 de setembro, a MP transformou-se no Projeto de Lei de Conversão 25/2019, encaminhado à Câmara dos Deputados para votação em plenário, o que também ocorrerá no Senado. “Houve uma sinalização do novo governo no sentido de fazer correções e corrigir distorções, mas quando esse projeto chegou no Congresso Nacional ele foi contaminado por uma série de emendas que o desfiguraram completamente. Por isso, en-tregamos nosso protesto aos parlamentares do Estado de São Paulo para mostrar que as mudanças propostas não vão ajudar em nada”, alerta José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM. Após toda a tramitação e emendas, a Medida Provisória foi encaminhada para publicação no dia 7 de outubro.

Médicos pelo BrasilSegundo Amaral, tornou-se um “bom negócio” criar fa-

culdades de Medicina no Brasil, ainda mais com a proposta de permitir revalidação de diplomas conquistados no exte-rior por entidades particulares quando o mais adequado é ter o respaldo de instituições públicas com o apoio das entidades médicas. Por tudo isso, a entidade enviou sua posição oficial a congressistas em Brasília destacando que é urgente revisar o número de vagas oferecidas no país, in-terromper a autorização de novos cursos até que sejam re-almente cumpridas regras que constam das Diretrizes Cur-riculares do Ensino Médico e a introdução imediata de um exame obrigatório a todos os formandos das faculdades de medicina do país, fazendo com que apenas médicos apro-vados obtenham seus diplomas e que essa prova probatória faça parte do processo de revalidação de diplomas obtidos no exterior.

PesquisaA APM realizou uma pesquisa com 695 médicos de todo o Brasil sobre a necessidade de validação de diplomas de profissionais que se formam dentro e fora do país. Para 91,7% dos médicos, uma prova de revalidação de di-plomas de médicos forma-dos fora do Brasil deve ser

José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM

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PORTAL FEHOESP 360

Confira no Portal:

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aplicada tanto a brasileiros quanto a estrangeiros. Em rela-ção a médicos recém-formados tanto fora quanto dentro do país, 69,4% responderam que apenas os egressos que forem aprovados devem obter o registro profissional. Para 18,5%, a realização deve ser obrigatória, mas não como condição para o registro profissional. O levantamento foi feito pela plataforma eletrônica SurveyMonkey entre os dias 23 a 30 de setembro de 2019 e os resultados foram divulgados em uma entrevista coletiva, em São Paulo.

A entidade explica que decidiu, por meio do estudo, entender o que pensam os médicos e firmar uma posição sobre o tema, por considerar que o aumento expressivo no número de faculdades de Medicina no Brasil e o ingresso de brasileiros em cursos nas fronteira da América do Sul, especialmente Argentina, Paraguai e Bolívia, vem se tornan-do um grave problema para a qualidade da assistência no país. “Estamos preocupados porque nas últimas décadas houve uma degradação progressiva na assistência e a me-dicina como profissão vem sofrendo um desgaste enorme em função de más políticas educacionais”, destaca José Luiz Gomes do Amaral, presidente da APM.

De acordo com dados divulgados pela Associação, exis-tem cerca de 65 mil alunos brasileiros de Medicina no Exte-rior, entre Argentina, Bolívia e Paraguai que são atraídos por preços mais baixos das mensalidades: enquanto no Brasil elas variam entre R$ 5 mil e 12 mil, em outros países custam de R$ 700 a R$ 2 mil. Além disso, nenhuma faz vestibular e a concorrência é baixa. No Brasil, o quadro tem similaridades em relação à precariedade da formação porque há 336 fa-culdades de Medicina em operação, formando mais de 24 mil médicos ao ano, sete mil apenas no Estado de são Paulo. Segundo estimativas da APM, haverá 1,5 milhão de profis-sionais em atividade nos próximos 15 anos.

ÍNDICE DE INFLAÇÃO

Índice de Inflação dos Serviços de Saúde FEHOESP – IISSF – setembro 2019

% Índice Indicador Cálculo

Salários e encargos 55,00 INPC-IBGE -0,0500% -0,0275%

Materiais médicos de uso do paciente 20,00 IPC-FIPE -0,1180% -0,0236%

Materiais de consumo geral 2,00 IPCA-FIPE -0,0400% -0,0008%

Serviços de nutrição e dietética 4,00 IPCA-FIPE Alimentação -0,9889% -0,0396%

Manutenção de edifício e equipamentos 4,00 IGPM-FGV -0,0100% -0,0004%

Limpeza 3,00 INPC-IBGE -0,0500% -0,0015%

Despesas gerais 12,00 IGPM-FGV -0,0100% -0,0012%

Total -0,0237%

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Preparados para uma nova era digital, com mais tecnolo-gia, interação e conexões, o SINDHOSP, FEHOESP e IEPAS reestruturam suas mídias sociais para que seus associados e todos os internautas possam interagir melhor com as mar-cas, conhecendo os serviços oferecidos por cada entidade e acompanhando passo a passo essa transformação nas plataformas. “A FEHOESP deixa de ser marca única nas re-des sociais. Agora cada entidade – Federação, SINDHOSP e IEPAS – possui sua própria rede e vai se comunicar de for-ma mais assertiva com o mercado”, adianta o presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr, lembrando que ainda há muitas novidades a caminho.

Com uma equipe especializada em redes e mídias so-ciais, o SINDHOSP, FEHOESP e IEPAS buscam atingir um pa-

SINDHOSP, FEHOESP e IEPAS lançam redes sociais integradas

08

NOTAS

Novos podcasts FEHOESP

tamar de comunicação transparente e unificado, apresen-tando em tempo real informações atualizadas, relevantes e o melhor: com interação. Agora, associados e profissionais da saúde podem interagir com as entidades pelo Instagram, Facebook e Linkedin. “Nosso objetivo é o de potencializar o propósito de cada entidade, que é o de estar cada vez mais perto dos seus stakeholders”, afirma Yussif Ali Mere Jr.No site da FEHOESP, é possível ter acesso a um teaser de lançamento das novas redes sociais. Clique e assista.

A FEHOESP retomou recentemente o projeto de podcasts. No site da entidade é possível ter acesso a todos os pro-gramas que já foram produzidos. “Em média divulgamos um programa por semana. É mais uma maneira de interagir e levar informação e orientação aos nossos representados”, afirma o presidente da FEHOESP, Yussif Ali Mere Jr.

O crescimento 50% maior no volume de empregos na área da saúde é o tema do Podcast FEHOESP divulgado na semana de 21 a 25 de outubro. Foram criados 63.255 empre-gos no setor em todo o país, demonstrando que esse seg-mento é um importante gerador de emprego e renda para a economia nacional.

De acordo com Yussif Ali Mere Junior, presidente da Fede-ração, esse aumento de vagas é significativo e muito impor-tante para mostrar para toda a população e para o governo a relevância da saúde. “O investimento em saúde é um bom negócio, pois é uma área que usa mão de obra especializada e que criou 15% de todos os empregos surgidos no Brasil entre janeiro e agosto deste ano”, explica ele. Para Yussif, não apenas os profissionais e gestores da área se beneficiam com os bons resultados da saúde, mas a população, que passa a ter atendimento de melhor qualidade.

Embora o setor privado tenha trazido resultados po-sitivos, é importante destacar que a saúde pública ainda

caminha a passos lentos. De acordo com o presidente da FEHOESP, a área pública precisa de mais financiamento para entregar o que as pessoas precisam. Outros podcasts FEHOESP abordaram temas como a campanha contra o sarampo, a importância da vacinação, o problema do afastamento de gestantes, entre outros. Acesso o site da FEHOESP e ouça os podcasts.

Acesse, siga e interaja com:FEHOESP - @fehoespSINDHOSPoficial - @sindhospoficialIEPASoficial - @iepasoficial

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BOLETIM ECONÔMICO

Edição nº 7 - agosto de 2019 Dados de janeiro a junho de 2019 09

egundo dados do Datasus, o Sistema Único de Saúde (SUS), em junho de 2019, contabili-zou 328.653 leitos, divididos entre leitos gerais e complementares. Ao comparar junho de 2019 com dezembro de 2018, nota-se o fechamento de 2.341 leitos SUS, o que significa uma redução

Cai número de leitos SUS e privados crescem

de 0,7% no número total de leitos, segundo o Ca-dastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Quanto aos leitos que não atendem SUS, no país nota-se a abertura de 4.458 novos, com crescimento de 2,8% no primeiro semestre deste ano.

S

Leitos

SUS Não SUS

Saldo no semestre Variação % Saldo no semestre Variação %

Jun19 Dez18 Jun19/Dez18 Jun19 Dez18 Jun19/Dez18

Leitos gerais 297.716 300.280 -0,9% 135.854 132.508 2,5%

Cirúrgicos 74.667 74.744 -0,1% 42.599 41.926 1,6%

Clínicos 107.482 107.812 -0,3% 47.698 46.617 2,3%

Obstétricos 39.117 39.535 -1,1% 13.227 13.075 1,2%

Pediátricos 38.873 39.302 -1,1% 10.327 10.271 0,5%

Outras Especialidades 32.511 33.640 -3,4% 15.925 15.075 5,6%

Hospital/Dia 5.066 5.247 -3,4% 6.078 5.544 9,6%

Leitos complementares 30.937 30.714 0,7% 28.503 27.391 4,1%

Unidade intermediária 5.066 4.964 2,1% 3.899 3.711 5,1%

Unidade intermediária neonatal 500 530 -5,7% 25 25 0,0%

Unidade isolamento 3.203 3.203 0,0% 1.129 1.088 3,8%

UTI adulto 14.450 14.371 0,5% 16.326 15.646 4,3%

UTI pediátrica 2.535 2.504 1,2% 2.226 2.036 9,3%

UTI neonatal 4.764 4.722 0,9% 4.202 4.209 -0,2%

UTI de queimados 158 164 -3,7% 80 75 6,7%

UTI coronariana tipo II e III 261 256 2,0% 616 601 2,5%

Total de leitos 328.653 330.994 -0,7% 164.357 159.899 2,8%

Tabela - Brasil: Leitos hospitalares por especialidades e complementares - SUS e Não SUS

Fonte: Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES) - Consulta 16/07/2019

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Envelhecer não é apenas deixar o tempo passar e aceitar as mudanças físicas e psicológicas que o tempo deixa em nossos corpos. Para especialistas em gerontologia e geria-tria, e para as próprias pessoas longevas que conseguem in-dependência, é viver ativamente, cuidar de si e agir para ter boa qualidade de vida no presente e no futuro. “A longevida-de é um fenômeno mundial do qual o Brasil participa e essa população tem uma força econômica e inovadora, por isso cada vez mais é preciso preparar a educação das atuais ge-rações para o autocuidado”, afirma Elton Freitas, presidente da Seguros Unimed.

Essa preocupação precisa realmente fazer parte da reali-dade das pessoas porque o Brasil brevemente será conside-rado um país envelhecido. De acordo com a Sociedade Bra-

Longevidade

não é velhice e começa agora

COBERTURA ESPECIAL

10

POR ELENI TRINDADE

O segredo para qualidade de vida em idades mais avançadas é viver o presente preparando-se para o futuro

sileira de Geriatria e Gerontologia (SBBG), citando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000 os idosos com mais de 60 anos eram 14,5 milhões de pes-soas, um aumento de 35,5% ante os 10,7 milhões de 1991. Hoje são mais de 29 milhões e a expectativa é que, até 2060, este número suba para 73 milhões com 60 anos ou mais, o que representa um aumento de 160%.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica um país como envelhecido quando 14% da sua população tem mais de 65 anos. De acordo com a SBBG, na França esse processo de envelhecimento levou 115 anos. Na Suécia, 85. No Brasil, levará pouco mais de duas décadas, passando a ser consi-derado um país velho em 2032, quando 32,5 milhões dos mais de 226 milhões de brasileiros terão 65 anos ou mais.

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“O envelhecimento ativo é um processo que dura a vida toda”, explica Edgar Nunes Morais, diretor de Geriatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e consultor do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde. De acordo com o médico, é fundamental as pessoas entenderem que a ida-de cronológica não deve ser a determinante nas decisões das pessoas. “O mais importante é o índice de funcionali-dade, pois em diferentes países foram definidas idades dife-rentes para o que é ou não idoso. É apenas uma convenção. Na Itália, é quem tem 75 anos ou mais”, exemplifica. De acor-do com ele, o que mais importa é a vitalidade da pessoa, a capacidade funcional. “Só vamos colher o que plantarmos agora, por isso é preciso agir nesse sentido”.

É sabido que a idade traz algumas limitações físicas, mas isso não pode ser considerado sinal de decadência. É o que explica Linamara Rizzo Battistella, professora titular do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica, Medicina Social e do Trabalho da Faculdade de Medicina da Univer-sidade de São Paulo e presidente do conselho de médicos da Rede Lucy Montoro. “A pessoa pode estar em um anda-dor, mas se ela ainda decide sobre ir ou não ir e com quem quer estar, tem autonomia. Existem algumas ‘ajudas’ para dar segurança. Se usamos óculos, podemos usar bengala, andador e aparelho auditivo sem preconceito”, explica ela. Maturidade traz mudanças e hoje já é uma realidade viver mais tempo. De acordo com Lina Mara, se o tempo é indi-cador do que fazemos – “30 anos de carreira”, “10 anos ca-sados” ou “50 anos da empresa” – por que não seria da vida que vivemos? “É preciso abordar a questão do tempo com a importância que ela tem”, destaca ela.

Para Morais, da UFMG, é preciso combater o preconceito com a idade. “Pelo fato de serem mais velhos não podem ser mais felizes? A felicidade não depende disso, mas de aproveitar a passagem do tempo para evoluir. Idosos que se comportam como crianças não aproveitaram essas opor-tunidades”, destaca o médico. A longevidade é uma grande conquista, salienta ele, mas as pessoas não devem buscar ficar bem de maneira ilusória, tomando vários remédios. Em vez disso, é muito mais importante buscar um médico de confiança que possa conhecer todo o indivíduo e não apenas suas doenças. “Excesso de remédio é um sinal de alerta importante e a maioria dos idosos vive assim: to-mando oito ou mais por dia, o que é um risco porque um componente pode se misturar com outro e causar pro-blemas”, destaca. A individualidade no cuidado é o mais importante para essa faixa etária. “Há muita diferença entre indivíduos de 80 anos, a heterogeneidade é enorme, por isso um médico de referência que entenda o envelhecimento, já que o organismo muda com o tempo, é muito mais eficaz.”

Em paralelo ao cuidado individualizado, os mé-dicos recomendam para os longevos que vivem processos de doenças crônicas e qualquer outra dificuldade física, que podem e devem recorrer à espiritualidade e ao autoconhecimento para su-perar desafios cotidianos, sejam eles pequenos ou grandes. “Buscar ter uma vida com propósito e ser uma pessoa evoluída com um jeito mais aber-to de olhar a vida facilita o processo de ser feliz”, destaca Lina Mara. Esse processo não diz respei-to apenas à religiosidade, mas a práticas como a meditação. “A meditação ajuda na redução da pressão, a ter menos dor e mais resiliência por-que o corpo responde ao estímulo da felicidade e fica mais fortalecido. Desenvolver a capacidade de olhar as coisas de forma positiva ajuda muito”, explica ela.

Com 92 anos de jornada de vida e 77 anos de carreira, a atriz Laura Cardoso sintetiza de manei-ra direta o que acha fundamental para uma vida longeva mais plena. “A minha dica é amar a vida e até os altos e baixos que ela traz. A vida deve ser amada. Eu amo a vida. Amo errar, amo acer-tar. Se caio, eu levanto”, afirma. Para ela, a nossa existência deve ser vivenciada com propósito e a pessoa deve sempre respeitar a si mesma e todos ao redor. “Além de se esforçar para ter atividade mental ativa, como ler e conhecer novos mundos e novos sonhos, a pessoa deve conhecer seus limites, saber o que quer e sempre ter gente ao redor e uma vida social, pois não fazemos nada sozinhos”, ensina a atriz.

Vida e autoconhecimento

Laura Cardoso, atriz

Linamara Rizzo Battistella, professora titular da FMUSP e

presidente do conselho de médicos da Rede Lucy Montoro

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espaço do Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, reuniu mais de 300 con-vidados para o lançamento do livro “O ser humano diante do câncer e sua vontade de curar”, com grande procura pelos exemplares. A autora incentiva no livro o desejo de curar e ser curado, reunindo experiências médicas e viven-ciais de muitos anos.

Nise Yamaguchi, membro da Socie-dade Brasileira de Cancerologia, em conversa com a Revista FEHOESP 360,

contou que quis inspirar jovens médi-cos, profissionais da saúde e pacien-tes na luta contra o câncer. A médica acredita que a cura é um conjunto de energias positivas e que o livro traz luz em um assunto tão denso. Na opinião dela, é possível que haja uma melhora na qualidade da saúde com a integra-ção entre os sistemas público e priva-do. Na entrevista, ela detalha como é o processo da oncologia personaliza-da e analisa o atual sistema de saúde

brasileiro, com opiniões pessoais bem fundamentadas e defendendo a huma-nização como chave para o tratamento eficiente dos pacientes. Acompanhe a entrevista na íntegra:

FEHOESP 360: Fale um pouco sobre a oncologia personalizada.Nise Yamaguchi: Oncologia persona-lizada é a forma mais moderna de se trabalhar dentro da precisão para ofe-recer melhor qualidade de vida ao pa-

O

ENTREVISTA

sobre o câncer Uma reflexão

12

POR ELOISA MATSUDA E VIVIAN MARTINS

Com a proposta de reunir experiências e vivências

de sua trajetória como médica, a oncologista

Nise Yamaguchi lançou o livro “O ser humano

diante do câncer e sua vontade de curar”

e o sistema de saúde brasileiro

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ise M

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ciente. Ela leva em consideração aspec-tos gerais do paciente, relacionados ao seu desenvolvimento biopsicossocial, como o seu organismo se desenvolve, suas emoções, inserção em seu am-biente, trabalho, entre outros, levando em consideração aspectos genéticos e moleculares. Por exemplo, famílias inteiras que têm câncer precisam ser cuidadas de uma maneira absoluta-mente diferenciada. São famílias que precisam ter um cuidado maior com relação à exposição ao sol, no caso de um xeroderma pigmentoso (doença genética rara, que confere hipersen-sibilidade aos raios solares). Quando elas têm uma deficiência de P53 e mui-ta sensibilidade à radiação, é preciso evitar fazer tantas tomografias, mesmo radiografias podem ser extremamente deletérias, levando a mais formação de tumores, do tipo sarcomas, carcino-mas, linfomas. Essas são famílias que precisam ser tratadas de uma maneira diferenciada desde crianças. Famílias que possuem polipose familiar (onde o intestino cria pólipos), os jovens pre-cisam fazer acompanhamento com colonoscopia para evitar problemas de câncer mais tarde, quando essa pessoa já possuir genes mutantes, por exem-plo BRCA 1, BRCA 2. São famílias com grande incidência de câncer de mama, ovário, pâncreas e próstata. O acompa-nhamento precisa ser personalizado. O conhecimento da personalização do indivíduo frente aos genes e ao caráter da sua forma de eliminação de medi-

camentos vai impactar também na for-ma como serão administrados antibió-ticos, remédios para pressão, remédios para coagulação, porque cada pessoa vai eliminá-los de uma forma diferente.

FEHOESP 360: O SUS consegue, tem condições de prestar essa assistência oncológica personalizada?Nise Yamaguchi: Uma medicação personalizada já existente no SUS, em oncologia, é a inibição de um receptor chamado c-erb-B2. O que isso signifi-ca: as mulheres que tem essa mutação no câncer de mama, que normalmen-te traria um tumor muito agressivo, hoje em dia, através de um anticorpo monoclonal (que é como se fosse um míssil teleguiado contra essa partícula) tem o dobro da sobrevida relacionada a uma paciente que não tenha sido tra-tada. Isso significa que esses pacientes custam menos para o SUS, primeiro porque não vão usar quimioterapias desnecessárias, segundo porque vão receber tratamentos mais personaliza-dos, e depois vão evoluir para melhor, não necessitando de internação, UTI, cirurgias desnecessárias, e muitas ve-zes substituindo transplante de medu-la, como é o caso da leucemia mieloide crônica. Os desafios, entretanto, são os custos dos diversos novos medica-mentos de medicina personalizada de precisão. Eu acredito que nós tenha-mos que trazer todos os players para a discussão, para que seja possível uma diminuição dos custos dos medica-mentos e, dessa maneira, tornar mais acessível o acesso à medicina perso-nalizada de precisão. Os exemplos que eu dei são recentes no SUS e já fazem a diferença no sistema suplementar tam-bém. Isso significa que a evolução da medicina busca realmente trazer quali-dade de vida para os pacientes.

FEHOESP 360: Há avanços tecnológi-cos para pacientes com câncer?

Nise Yamaguchi: Destacando as tec-nologias que já estão presentes no SUS, eu quero lembrar uma questão histórica: antigamente, não havia re-ceptores hormonais nos tumores de mama, nem pesquisa de receptor de estrogênio, de progesterona, ou de c-erb-B2. Tratava-se todas as pacien-tes da mesma maneira, com quimio-terapia. Hoje, sabemos que várias pa-cientes vão se beneficiar de inibição de hormônio e que essas pacientes que possuem, por exemplo, um tu-mor chamado lobular, ou um tumor de baixa agressividade, não precisam receber quimioterapia adjuvante. E ainda vemos muitos casos no Brasil re-cebendo quimioterapia desnecessaria-mente. Então, testes moleculares, que chamamos prognósticos, diminuem a quimioterapia em um terço das pa-cientes com câncer de mama inicial. Admirável o custo disso, em termos de investimentos que são feitos para pacientes que estão nesse momento fazendo quimioterapia desnecessaria-mente, além do custo moral e emocio-nal. Muitas vão morrer das toxicidades cardíacas, ocasionadas pelos tumores, vão ter ainda infecções, septicemias, e imagine o custo para uma família com a perda de uma mãe em idade fértil. É preciso entender que alguns testes que são usados hoje, os moleculares, para a predição de pacientes que não vão precisar de quimioterapia, deveriam ser imediatamente apoiados pelo SUS e pelo sistema suplementar, porque, claro, à medida que mais pessoas rece-bem esse tipo de testagem, mais dimi-nuição dos custos. Antigamente havia de potássio, ureia e creatinina somente para poucas pessoas. O hemograma não era feito com a frequência de hoje. Esses exames estão disponíveis em au-tomação, isso significa que a ciência precisa descobrir uma maneira eficien-te de encontrar soluções plausíveis em oncologia personalizada, pois algumas

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ENTREVISTA

tante. Outra questão são as prevenções e os cuidados. Os pacientes que pos-suem famílias com maior quantidade de tumores precisam ter cuidados es-

peciais. Isso vai diminuir a doença, quando ela vem de uma forma mais intensa ou mais avançada.

FEHOESP 360: A prevenção hoje é, de fato, realizada?Nise Yamaguchi: O esclarecimento à população é sempre necessário e deve trazer consigo uma forma de encarar o câncer com menor medo, com uma mudança de paradigmas e de visão sobre a agressividade. Cân-cer é curável e precisa ser tratado precocemente. Somos um dos países com mais mamógrafos e temos um sistema de saúde de família fantásti-co. Nós defendemos que a medicina de família e os agentes comunitários de saúde ajudem os pacientes da rede básica a fazer os seus testes de prevenção e biópsias no caso de ma-

mografias alteradas, e que o sistema tenha mais sabedoria para buscar es-sas pacientes de uma forma ativa. Isso também é uma individualização, diga-mos assim, da forma como nós vamos fazer a prevenção.

FEHOESP 360: A oncologia personali-zada, ou terapia-alvo, tem viabilidade financeira no Brasil? Parece que os cus-tos são muito altos.Nise Yamaguchi: Importante observar que alguns sistemas de saúde mun-diais têm feito estudos sobre custo/eficiência e demonstraram que o custo de se fazer uma medicina mais correta, desde que diminuam os valores co-brados pelos medicamentos e pelos procedimentos, é bastante eficiente, quando temos mais certeza do que es-tamos fazendo. Às vezes, disponibilizar um tratamento caro a um paciente que não deve ser tratado daquela maneira também é danificante. Esse custo/efici-

ência é muito importante. Por que nós achamos que, ao conscientizar o pú-blico antes dele ficar doente, teremos vantagem? Porque o câncer é implacá-vel e muito rápido. E a pessoa, muitas vezes, quando começa um tratamen-to, ou uma jornada terapêutica, sem nenhuma informação ou consciência, ou com informações errôneas tiradas da internet, vai ter muito mais erros do que acertos. É nosso papel enquanto sociedade civil organizada orientar os pacientes adequadamente. Uma outra coisa importante com relação a esse custo/eficiência é uma avaliação detalhada de quais são os melhores tratamentos que podem ser oferecidos a uma população com variações espe-cíficas. Nós sabemos, por exemplo, que pacientes com câncer de pulmão que tem uma mutação chamada ALQ, que são mulheres não fumantes e jovens, precisam realmente de medicações orais que ainda não estão disponíveis em todos os lugares. Essas pacientes vão morrer muito rapidamente se não receberem os seus tratamentos indi-vidualizados. Isso também não pode ser ignorado e precisamos pensar que, acima de tudo, devemos buscar aquilo que é melhor para o paciente. Esses re-médios não são mais caros (especifica-mente de ALQ) do que as quimiotera-pias, ou do que as toxicidades oriundas dos tratamentos desnecessários, ou cirurgias que não deveriam ser feitas, ou radioterapias, que vão precisar ser feitas se a paciente evoluir tomando re-médios que não são os melhores para elas. Hoje existem condições de avaliar uma série de coisas sobre como pode-mos construir um novo paradigma. Nós não devemos ter crenças limitantes de que não é possível, mas devemos bus-car, sim, congruências de fatores que possam trazer essa medicação perso-nalizada para mais perto do público, de forma acessível, mais clara e trans-parente, com menor conflito de inte-

medicações orais são melhores do que quimioterapias, e trazem a possibilida-de de uma vida com qualidade, sem muitas toxicidades.

FEHOESP 360: Seria o caso de promo-ver uma campanha popular para escla-recer o que é oncologia personalizada? De que forma isso seria importante para a população, visto que o acesso ao tra-tamento é difícil?Nise Yamaguchi: As sociedades médi-cas precisam esclarecer para a popula-ção alguns mitos e fatos. Existem mui-tas crenças infundadas sobre o tipo de tratamento personalizado que deve ser feito para os pacientes. O tratamen-to, em determinadas circunstâncias, como em câncer de pulmão, no SUS, com tratamentos com EGFR, são muito melhores do que quimioterapia. Ainda existe um mito de que os tratamentos antigos são melhores, porém, isso não é verdade. Por exemplo, no Outubro Rosa, saber que pacientes com câncer de mama inicial podem não precisar de quimioterapia, dependendo de uma série de técnicas que podem ser estruturantes, também é muito impor-

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Precisamos discutir

com todos os players

para diminuir

os custos dos

medicamentos e

tornar a medicina

personalizada

mais acessível"

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resses para que possamos ter o melhor para a nossa população em geral.

FEHOESP 360: Você é oncologista es-pecializada em quer tipo de tumor? Nise Yamaguchi: Em algum lugar foi dito que eu sou especializada em cân-cer de pulmão. Eu diria que eu tenho uma formação ampla em diversos tipos de tumores, porque desde muito cedo a medicina não era tão focada em uma única especialidade. E cada vez mais o câncer é multidisciplinar. Então, eu tra-to muito câncer de mama, próstata, in-testino, pâncreas, pulmão, melanoma, sarcoma e toda parte de imunologia de tumores. Também organizo congres-sos, trabalho junto às entidades não governamentais e filantrópicas. Procu-ro doar parte do meu tempo para as aulas de medicina personalizada e para outras ações na área de saúde.

FEHOESP 360: Duas vantagens da on-cologia personalizada amplamente di-vulgadas pela mídia são a diminuição dos efeitos colaterais e a cura do cân-cer, até em estágios mais avançados. Isso procede?Nise Yamaguchi: Nós temos que to-mar muito cuidado quando falamos

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em cura para os pacientes. Claro, todos desejamos a cura com a eliminação total da doença. Eu vejo a cura como algo mais amplo, uma possibilidade de resposta completa, duradoura, que é possível hoje em vários tipos de me-lanoma quando se utiliza alvos mole-culares, ou mesmo a imunoterapia. A imunoterapia é um outro grande de-safio, porque é nesse caso específico dos melanomas que não temos bons tratamentos. Métodos como hormo-nioterapia, radioterapia não são muito eficientes, nem mesmo uma cirurgia resolve as metástases e nem a quimio-terapia é indicada. Então, só resta para esses pacientes tratamentos que hoje são inacessíveis. E é muito angustian-te quando você tem pacientes na rede pública ou na privada sem condições de receber tratamentos que podem le-var a respostas duradouras e a possibi-

lidades terapêuticas incontestáveis. Então, como fazer para que esses pacientes possam ter acesso e custar menos? Eu insisto: quando o pacien-te não é tratado, ele também custa, e esse custo acaba impactando os hospitais e a rede pública de saúde. Quando há um paciente sofrendo, isso impacta toda a cadeia produtiva, já que essa pessoa não vai poder tra-balhar, consumir, ou fazer a engrena-gem socioeconômica se movimen-tar, além de precisar de um cuidador ao seu lado. Assim, como podemos avaliar esse custo para a população e ainda deixar de dar um tratamento que já está disponível e é indicado? Acredito que devemos refletir sobre isso e não descansar enquanto não

conseguirmos melhorar essas con-dições e integrar esse conhecimento dentro de uma abordagem prática, onde os custos diminuam e exista uma possibilidade de indicação mais efi-ciente de quem precisa desse tipo de tratamento. Como mencionado ante-riormente, alguns tipos de melanoma

tem uma mutação BRAF e alguns pa-cientes com a mutação se beneficiam do tratamento, outros não. Isso signifi-ca que podemos ter uma gama de pes-soas com tratamentos desnecessários. Eu tenho tido a preocupação de tra-balhar em conhecimento e educação médica continuada, educação popu-lacional e anseio por esclarecimentos que venham de encontro às necessida-des sociais do nosso país. Precisamos saber de que maneiras vamos debater esse assunto e de que forma vamos tra-zer para a população um novo modelo de tratamento possível e estruturado, para que possamos ter a continuidade da capacidade instalada que apresen-tamos hoje, dentro da medicina suple-mentar, por exemplo.

FEHOESP 360: O Brasil tem uma boa capacidade instalada de saúde, apesar das disparidades regionais. O que é pre-ciso para que prevenção, diagnóstico e tratamento ocorram no tempo certo? Nise Yamaguchi: Somos mais de 200 milhões de pessoas. O câncer de mama, por exemplo, é uma das doen-ças mais prevalentes, são 60 mil novos casos por ano. Não temos ainda uma capacidade instalada, falta um pouco de fluxo. Eu acredito que uma inteli-gência maior que integre a prefeitura, estados e a União pode resolver bas-tante essa dificuldade que a paciente tem de entrar em um sistema de saúde que comece com a biópsia, o ultrassom e o estadiamento rapidamente. Nós te-mos certeza de que o desejo está aí. Os governos estão querendo trabalhar em conjunto, mas o modelo operacional ainda não existe. O sistema de infor-mática ainda não está integrado. E o sistema público muitas vezes não iden-tifica a prevenção e a detecção precoce como um eixo essencial do tratamento do câncer no país. Acredito que, cada vez mais, devemos tecer a barra do co-nhecimento para perto da população

Algumas

medicações orais

são melhores do

que quimioterapias

e trazem uma vida

com qualidade, sem

muitas toxicidades"

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ENTREVISTA

tam engajadas nessa jornada do ser humano diante das doenças. O cân-cer é uma das metáforas, é a doença do momento. Porém, poderia ter sido a tuberculose de 100 anos atrás ou a sífilis. Precisamos compreender o ser humano frente a todas as suas vicissi-tudes. O desgaste existente na luta do médico pelo paciente também pode ser superado quando ele se motiva na relação humana, quando toca verda-deiramente na essência do seu querer curar, da vontade de ajudar. Eu tenho uma experiência de quase 40 anos cui-dando de pacientes dia e noite e com muito amor, com todas as dificulda-des e posso dizer que sou uma pessoa muito mais rica interiormente a partir do momento em que resolvo me en-volver com cada paciente. E a minha preocupação com o sistema público é fazer o paciente se sentir protegido. Eu também sei que tudo aquilo que vivemos, que somos, se torna parte in-tegrante do nosso ser. Uma das coisas mais importantes que eu aprendi é a força da organização social. Quando lutamos contra o tabagismo no país, lutamos para que todos os ambientes fossem livres de tabaco, para que no-vas leis fossem geradas num Congres-so Nacional de um país que é o maior exportador mundial de tabaco, não sabíamos que conseguiríamos o su-cesso. Mas hoje, olhando para trás, somos um país modelo nessa área, e eu tive o privilégio de fazer parte des-sa luta. Então, esse livro é uma tra-jetória, um reconhecimento a todos que me inspiraram ao longo dessa carreira.

FEHOESP 360: O que é a “vontade de curar”?Nise Yamaguchi: A vontade de curar deve ser nutrida dentro de nós, diaria-mente, para que não percamos essa energia positiva. Também implica em tentar curar o sistema de saúde, ten-

tar ver e fazer a nossa parte, ajudar as pessoas a estruturarem melhor o fluxo dos pacientes dentro da rede pública e melhorar a saúde suplementar. Me preocupo em participar de fóruns, de-bates, comitês, grupos operacionais, onde possamos pensar juntos, con-tando com a capacidade instalada, de grandes profissionais que temos no país. Pensar novos modelos, novas estratégias e fazer com que uma po-pulação imensa de pessoas longevas possa envelhecer com mais qualidade. Para tanto, é indicado exercício e dieta, que são coisas baratas. Fazer exercício e dieta custa menos para o sistema. Inclusive, uma paciente com câncer de mama, que se exercita e faça die-ta depois do diagnóstico, vai ter uma chance muito maior de cura e isso precisa ser trabalhado numa popula-ção que envelhece de forma bastante avessa aos exercícios e comendo cada vez mais. Vamos também mudar as rotulagens, pois precisamos avisar a nossa população sobre o que ela está comendo, se ela está ingerindo açúcar ou sal demais e procurar estimular a alimentação mais orgânica e natural, com menos quantidade de doces, car-boidratos e calorias, pois isso faz toda a diferença.

para que ela também possa participar através dos seus conselhos de saúde, induzir uma nova mudança e ajudar na integração do sistema, que traga uma detecção precoce mais rápida.

FEHOESP 360: A sra acredita que o Brasil está se preparando para essa in-tegração, para vencer esses desafios?Nise Yamaguchi: O Brasil, quando comparado a países da América Latina, da África e alguns países da Ásia, tem muito mais tratamentos disponíveis do que a maioria. Temos muito mais mamógrafos, aparelhos de radiotera-pia e centros de alta complexidade. O desafio de tratarmos os pacientes de uma forma precoce passa não só pela saúde básica, mas também pela saúde de alta complexidade. Então, precisa-mos integrar melhor o nosso sistema e trazer uma consciência para a popula-ção para que também possa participar de uma maneira proativa. Sabemos que, se a paciente muitas vezes não vai buscar o resultado da sua mamografia, é por falta de consciência, de prepa-ro individual, às vezes uma negação também, logo no início do processo. Eu tenho tido casos de pacientes que viram a mama se deformar, endurecer, e não tomaram atitudes por medo. Essa população precisa ser acolhida e cuidada, para que nós possamos ter uma evolução na detecção precoce do câncer, que é o grande objetivo de todo nosso trabalho frente à Socieda-de Brasileira de Cancerologia.

FEHOESP 360: Seu livro tem uma visão humanista e fala com quem quer ser curado e quem cura, que são os médi-cos e os paramédicos. Fale um pouco sobre isso.Nise Yamaguchi: O livro traz uma série de dados e informações para os médicos em formação e para os médicos já atuantes. É também uma inspiração para que as pessoas se sin-

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O desafio de tratar

os pacientes de

forma precoce

passa não só pela

saúde básica, mas

também pela de

alta complexidade"

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FEHOESP 360: O que precisaria mudar na oncologia brasileira?Nise Yamaguchi: A saúde pública pre-cisa de investimento maior, pois está com cortes fenomenais no orçamento. Acho que é importante que o Brasil, à medida que se restabeleça economica-mente, possa destinar fundos maiores para a saúde. É impossível gerenciar um país desse tamanho com a quan-tidade de dinheiro que a saúde tem. Porém, é importante ter mais monito-ramento de tudo que está sendo feito, porque muito dinheiro se perde em re-trabalho. Sabemos que pacientes aca-bam repetindo exames de forma des-necessária e, nesse sentido, o sistema público precisa se integrar melhor. Pre-cisamos de mais competências, acre-ditar que um olhar mais apurado vai fazer a diferença. Podemos trabalhar em conjunto, em parcerias público-pri-vadas, em sociedade civil organizada junto ao governo, e que os conselhos comunitários de saúde possam fazer a diferença. O Conselho Nacional de Saúde trabalha de uma forma bastante intensa e precisamos ter mais partici-pação na área política. Criamos a Fren-te Parlamentar de Cancerologia, há cerca de 20 anos, quando fizemos uma audiência pública na Câmara dos De-putados e todos os deputados que ti-nham câncer ou que tinham familiares com a doença vieram e aderiram. Eram 230 deputados, depois senadores, para tentar melhorar a saúde no país. Eu acredito que a nossa Frente Parla-mentar de Cancerologia hoje já está bastante ativa, mas precisa também de instrumentos, de informações e uma força tarefa envolvendo cidadãos conscientes, estruturas e instituições, todas as organizações que trabalham com câncer no país. A nossa área de re-gulação precisa de um fluxo melhor, as informações precisam fluir dentro do sistema e gerar proatividades, novas ações, novas portarias, determinações,

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para que possamos ter, por exemplo, uma diminuição de sal, açúcar, do con-sumo de álcool. Aqui, cabe uma ob-servação: é inacreditável termos essas propagandas de álcool em horário no-bre na televisão. Precisamos tratar de uma forma melhor o nosso jovem para que ele não seja assediado e achar que é normal ingerir bebidas alcoólicas, mesmo com moderação. Devemos ter cuidados em relação à propaganda. FEHOESP 360: Qual é o papel do mé-dico hoje dentro do sistema de saúde e qual mensagem você deixa para os médicos formados e os estudantes de medicina?Nise Yamaguchi: O médico deve ter uma consciência maior do seu papel integrador das equipes de saúde. Deve valorizar o conhecimento que recebeu em seis anos de formação, dois a três anos de residência e mais alguns anos de especialização. Em primeiro lugar: nunca deixe de se atualizar e estudar. Em segundo lugar: acredite no seu pa-pel regulador do sistema. Você tem a capacidade de enxergar as necessida-des atuando diretamente com os pa-cientes, então, acredite que você é um vetor de transformações e que pode impactar a vontade de todos os inte-grantes das equipes multidisciplinares. Esteja presente nos debates, discus-sões sociais, comitês, ou seja, atue de uma maneira bastante intensa. Exami-ne as pessoas, não deixando de fazer aquilo que nós aprendemos na fa-culdade e que muitas vezes não colocamos em prática. Um exemplo é o exame clínico, que tantas informações traz. Também converse com os pacientes so-bre seus sintomas, si-

tuações sociais, familiares, porque isso vai determinar os tratamentos e a for-ma como os pacientes vão aderir aos tratamentos. Nós sabemos que a ética é essencial e que devemos ser indiví-duos munidos dela em relação às nos-sas dúvidas, necessidades e buscas. Vamos então trabalhar em conjunto com toda a comunidade para que pos-samos, enquanto médicos, trazer essa observação mais esmiuçada de como o nosso sistema público pode funcio-nar melhor. Eu acredito nessa união de força. Esse livro já nasce com uma grande missão: trazer luz ao mundo, esperança às pessoas, capacidade de reação, e mais do que tudo: a cura da própria alma. Que nós possamos ser curados dentro da nossa verdadeira missão, para que possamos ser o me-lhor de nós mesmos.

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Estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) mostra como o atual sistema tributário

brasileiro abocanha a saúde, comprometendo o papel social que esse setor deveria desempenhar no país

POR ANA PAULA BARBULHO

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Com a aprovação da reforma da Previdência, o Congresso Nacional já começa a debater propos-tas para a reforma tributária. O principal objetivo do governo e dos parlamentares com as propos-tas que estão sendo discutidas, de acordo com o que foi divulgado até o momento, é o de simpli-ficar o atual cipoal legislativo que rege os 63 tri-butos existentes no país, entre impostos, taxas e contribuições, além das 97 obrigações acessórias. “Há pouco mais de um ano, o Banco Mundial di-vulgou estudo que mostrava o Brasil como o país onde mais se gasta tempo calculando e pagando impostos. O custo dessa burocracia para as em-

O Leão engole a Saúde

presas é gigante e inibe o investimento estrangei-ro. Precisamos de um sistema tributário mais jus-to e simples. Não podemos aprovar uma reforma tributária que eleve ainda mais a já pesada carga para empresas e cidadãos”, defende o presidente da FEHOESP e do SINDHOSP, Yussif Ali Mere Jr.

De fato, a pesquisa do Banco Mundial citada pelo dirigente foi divulgada no final de 2017 e mostra que as empresas nacionais gastam, em média, 1.958 horas por ano para cumprir todas as regras do Fisco. Na mesma época, o IBPT divul-gou estudo mostrando que a estrutura de tecno-logia e recursos humanos que as empresas preci-

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sam montar para lidar com a burocracia tributária consome cerca de 1,5% do faturamento anual, um gasto de aproximadamente R$ 65 bilhões apenas para calcular e pagar impostos.

A quantidade de normas editadas no Brasil desde a promulgação da Constituição de 1988, em 30 anos, também foi levantada pelo IBPT e o resultado mostra o tamanho da burocracia bra-sileira. Até setembro de 2018, das quase 5,9 mi-lhões de normas editadas desde então, 390 mil foram de ordem tributária (31 mil federais, 123 mil estaduais e 235 mil municipais). Das 390 mil, 6,9% (ou 27 mil) estavam em vigor em setembro do ano passado. “É insano para qualquer empresário acompanhar tantas mudanças. Diariamente são publicadas novas normas que mudam a forma de operar. Isso aumenta drasticamente o custo de empreender no Brasil”, ressalta Yussif Ali Mere Jr.

Mas, afinal, quanto o atual sistema tributário prejudica o desenvolvimento do setor de saúde no país? Trata-se, realmente, de um setor muito tri-butado? Para responder a estas questões e tentar traçar uma diretriz para as discussões que nortea-rão a reforma tributária no Congresso Nacional, o IBPT realizou um estudo, a pedido da Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), intitulado Reali-

dade Tributária da Rede Hospitalar Brasileira, que mensura a carga tributária incidente sobre toda a cadeia da saúde entre os anos de 2014 a 2018.

O levantamento considera os tributos (impos-tos, taxas e contribuições) que oneram direta e indiretamente o setor, considerando as arreca-dações tributárias das três esferas de governo. Os dados utilizados são de fontes oficiais, como Receita Federal, secretarias de Fazenda dos prin-cipais estados, dados econômicos e setoriais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informações do Ministério do Trabalho, Mi-nistério da Saúde, Conselho Federal de Medicina (CFM), Organização Mundial de Saúde (OMS), en-tre outras, através da Lei de Acesso à Informação.

Para o estudo, o IBPT considerou as seguin-tes CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas: 8610-1 (Atividades de Atendimento Hospitalar); 3250-7 (Fabricação de Instrumentos e Materiais para Uso Médico e Odontológico e de Artigos Ópticos); 2121-1 (Fabricação de Medica-mentos Para Uso Humano); 4664-8 (Comércio Ata-cadista de Máquinas, Aparelhos e Equipamentos Para Uso Odonto-Médico-Hospitalar - Partes e Pe-ças); 8630-5 (Atividades de Atenção Ambulatorial Executadas por Médicos e Odontólogos); 8640-2 (Atividades de Serviços de Complementação Diagnóstica e Terapêutica); 6520-1 (Seguros-Saú-de); e 6550-2 (Planos de Saúde). “Não podemos esquecer que saúde é um direito fundamental e constitucional. Precisamos criar um ambiente de negócios e desenvolvimento que garanta acesso aos serviços, integração e qualidade. Nesse cená-rio, o papel da iniciativa privada é importante em vários aspectos, principalmente na capacitação dos profissionais e no investimento em infraes-trutura e tecnologias”, defende o presidente da FEHOESP e do SINDHOSP.

O tamanho do setorAntes de analisar a carga tributária, é importante conhecer o tamanho do mercado prestador de serviços de saúde. A sétima edição do Boletim Econômico da FEHOESP, que compila dados do

primeiro semestre deste ano, mostra a existência de 338.121 estabelecimen-

tos de serviços de saúde no Brasil, segundo o Cadastro Nacional de Es-

CAPA

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tabelecimentos de Saúde (CNES), dados de junho de 2019. Em comparação com dezembro de 2018 houve crescimento de 2,19% no número de esta-belecimentos no país (em dezembro de 2018 exis-tiam 330.696). No Estado de São Paulo o número atual é de 81.762 estabelecimentos de saúde, dos quais 1.991 novos. (Tabela 1)

Apesar do crescimento no número total de estabelecimentos de saúde, o IBPT aponta que entre 2010 e 2019 foram fechados 2.127 hospitais privados no país, e outros 1.567 foram abertos. A

elevada carga tributária, associada à crise eco-nômica, estão entre as justificativas para o mo-vimento dos números. Atualmente, as empresas privadas com fins lucrativos têm uma dívida de mais de R$ 6 bilhões com o Fisco, e as sem fins lucrativos devem mais de R$ 10 bi. Do estoque de débitos tributários federais, a dívida dos hospitais brasileiros é de R$ 16,6 bi junto à Secretaria Espe-cial da Receita Federal do Brasil, segundo o IBPT. Dos 338.121 estabelecimentos de saúde do país, 246.339 são privados, ou 72,85%. (Tabela 2)

Por tipoBrasil São Paulo Variação %

Jun19 Dez18 Jun19 Dez18 BR SP

Hospitais (Especializado, Geral e Dia) 6.723 6.687 1.078 1.083 0,5% -0,5%

Clínicas e Ambulatórios especializados 51.149 50.612 11.248 11.375 1,1% -1,1%

Consultórios 168.134 163.118 52.896 51.517 3,1% 2,7%

Home Care 812 736 195 180 10,3% 8,3%

Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia 25.591 25.219 4.646 4.568 1,5% 1,7%

Policlínica 8.867 8.055 2.436 2.016 10,1% 20,8%

Pronto Atendimento Geral* 1.222 1.201 305 290 1,7% 5,2%

Prontos-Socorros Geral e Especializado 421 425 145 145 -0,9% 0,0%

Centro de Atenção Psicossocial - Caps 3.043 3.013 538 529 1,0% 1,7%

Outros 72.159 71.630 8.275 8.068 0,7% 2,6%

Total 338.121 330.696 81.762 79.771 2,2% 2,5%

Tabela 1 - Brasil e São Paulo: Estabelecimentos de saúde totais | Em número e em variação %

Fonte: Boletim Econômico FEHOESP nº 7 Ministério da Saúde - Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES) - Consulta dia 16/7/2019

*Pronto Atendimento Geral incluem as UPAS, que atendem complexidade intermediária, compondo a rede com a atenção básica e a hospitalar

Por tipoBrasil São Paulo Variação %

Jun19 Dez18 Jun19 Dez18 BR SP

Hospitais (Especializado, Geral e Dia) 2.443 2.402 418 420 1,7% -0,5%

Clínicas e Ambulatórios especializados 43.370 42.837 9.605 9.711 1,2% -1,1%

Consultórios 166.171 161.149 52.410 51.023 3,1% 2,7%

Home Care 769 703 182 169 9,4% 7,7%

Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia 23.268 22.922 4.259 4.184 1,5% 1,8%

Policlínica 6.805 6.092 2.013 1.644 11,7% 22,4%

Pronto Atendimento Geral* 92 82 47 40 12,2% 17,5%

Prontos-Socorros Geral e Especializado 109 114 36 34 -4,4% 5,9%

Centro de Atenção Psicossocial - Caps 1 1 - - 0,0% N/D

Outros 3.311 3.034 537 418 9,1% 28,5%

Total 246.339 239.336 69.507 67.643 2,9% 2,8%

Tabela 2 - Brasil e São Paulo: Estabelecimentos de saúde privados | Em número e em variação %

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22

A saúde, por se tratar de um setor altamente dependente de mão de obra especializada, vem registrando aumento no número de postos de trabalho, apesar da crise econômica e do de-semprego. O Boletim Econômico número 7 da FEHOESP mostra que, no primeiro semestre deste ano, o número de contratações atingiu 63.255 vagas. Em junho de 2019, o Brasil registrou

2.298.165 trabalhadores na área da saúde. Entre as atividades, destaca-se a criação de 32.620 pos-tos de trabalho na atividade atendimento hospi-talar e a geração de 10.718 vagas de trabalho na atividade médica ambulatorial. “Isso mostra a pujança do setor da saúde e a importância que ele tem no cenário econômico nacional”, acredita Yussif Ali Mere Jr. (Tabela 3)

Fonte: Boletim Econômico FEHOESP nº 7 Caged/MTE e Rais 2017 | Elaboração Websetorial

*Gestão de saúde, onde estão incluídos: administração de hospitais, centrais de regulação, consultoria, assessoria e fundações de pesquisas

**Idosos, deficientes físicos, imunodeprimidos e convalescentes prestadas em residências coletivas e particulares

Categoria

Brasil São Paulo

Jun19

Saldo dascontratações Variação %

Jun19

Saldo dascontratações Variação %

Jun19/Dez18 Jun19/Dez18 Jun19/Dez18 Jun19/Dez18

Atendimento hospitalar 1.251.965 32.620 2,7% 405.448 7.289 1,8%

Serviço móvel de urgência 9.836 80 0,8% 3.654 86 2,4%

Serviço móvel de remoção de pacientes 1.992 -59 -2,9% 816 -15 -1,8%

Atividade médica ambulatorial 368.162 10.718 3,0% 129.161 2.343 1,8%

Laboratório, diagnóstico e exames 258.049 4.502 1,8% 74.667 1.769 2,4%

Profissionais da área de saúde 86.590 2.886 3,4% 23.130 697 3,1%

Gestão de saúde* 97.329 7.522 8,4% 12.263 1.555 14,5%

Ativ. de atenção à saúde humana não esp. anteriormente 91.530 880 1,0% 42.443 1.071 2,6%

Atividades de assistência a pacientes especiais** 65.051 1.432 2,3% 33.065 555 1,7%

Fornecimento de infraestrutura 17.502 1.059 6,4% 5.659 736 15,0%

Assistência psicossocial 16.927 620 3,8% 5.905 -52 -0,9%

Assistência social 33.232 965 3,0% 15.508 425 2,8%

Total 2.298.165 63.225 2,8% 751.719 16.459 2,2%

Tabela 3 - Evolução do emprego no setor no Brasil e no Estado de São Paulo

CAPA

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Arrecadação aumenta

O gráfico 1 mostra que, apesar do processo de impeachment da ex-presidente Dilma e da crise econômica, a arrecadação tributária total (fede-ral, estaduais e municipais) vem crescendo no Brasil desde 2014.

Já a carga tributária oscilou no país no mesmo período, considerando a metodologia de cálculo desenvolvida pelo IBGE. Acompanhe a evolução da carga tributária brasileira de 2014 a 2018, no Gráfico 2.

23

O sistema tributário brasileiro é criticado por especialistas e considerado injusto por tributar excessivamente o consumo, em detrimento da tributação sobre a renda e o patrimônio, como acontece na maioria dos países desenvolvidos. 65% de toda a arrecadação tributária nacional é proveniente de tributos que incidem direta ou in-diretamente sobre o consumo, o que acaba pena-lizando a população de baixa renda. Os produtos voltados para a saúde também são muito tributa-dos no Brasil, como mostra a Tabela 4.

Gráfico 1 - Arrecadação tributária total (federal, estaduais e municipais - em trilhão R$)

0,0

0,51,0

1,5

2,0

2,5

3

2,5

2

1,5

1

0,5

0

Fonte: IBPT

2014 2015 2016 2017 2018

1,95 22,13 2,24

2,4

Gráfico 2 - Evolução da carga tributária brasileira por ano - em %

Fonte: IBPT

2014 2015 2016 2017 201805

10

15

20

25

30

35

40

36

35,5

35

34,5

34

33,5

33

32,5

32

35,42

33,36

34,13 34,25

35,21

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24

CAPA

Produtos Tributos (%) Produtos Tributos (%)

Abaixador de língua 29,75 Esparadrapo 28,86

Agulha 33,78 Eletrocardiógrafo 27,51

Ambulância 35,56 Gaze 29,44

Andador 19,27 Implantes expansíveis (stents) 26,44

Aparelho de cintilografia 37,11 Inalador 35,54

Aparelho de pressão 33,83 Lâmina para microscópio 33,90

Aparelho de raio-x 29,10 Luva cirúrgica 29,68

Aparelhos de raio ultravioleta ou infraver-melhos 40,30 Maca 34,48

Aparelho para mamografia 29,10 Marca-passos cardíacos (exceto partes e acessórios) 26,44

Aparelho tomógrafo computadorizado 29,10 Máscara cirúrgica 30,16

Aparelhos de diagnóstico por visualização de ressonância magnética 27,99 Medicamento de uso humano 33,87

Avental médico 30,63 Medidor de glicose 29,92

Balão de borracha (bexiga) 34,00 Mertiolate/mercúrio 34,95

Band-aid (curativo) 30,39 Muleta 39,59

Bisturi 39,59 Partes e acessórios de marca-passos cardíacos 26,44

Bolsa térmica 37,48 Pipeta de laboratório 34,13

Cadeira de rodas 18,04 Seringa 29,92

Cama hospitalar 42,78 Sonda aspiração traqueal 20,56

Cateter 29,57 Sonda uretral 34,35

Coletor de urina 19,98 Soro 30,05

Comadre/papagaio 34,48 Termômetro 38,93

Desfibrilador 34,65 Tipoia 19,51

Desfibrilador externo (operação modo automático) 31,18 Válvulas cardíacas 26,44

Ducha higiênica 35,24 Xarope 34,80

Tabela 4 - A carga tributária incidente em produtos da área da saúde

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25

No período, a correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) foi de 25,64%. Por-tanto, o crescimento real da arrecadação de tribu-tos federais chegou a 12,72%, de 2014 a 2018. Na atividade hospitalar, por exemplo (CNAE 8610-1), a arrecadação de tributos federais saltou de R$ 13,5 bilhões em 2014 para R$ 18,4 bi, em 2018. Os tributos federais que têm maior relevância nessa atividade são a Contribuição Previdenciá-ria, que representou no ano passado 31,82% dos tributos federais; seguida pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS (23,98%); Imposto de Renda Pessoa Jurídica - IRPJ (23,46%); e PIS/Cofins (9,40%).

A atividade de serviços de complementação diagnóstica e terapêutica (CNAE 8640-2) também apresenta crescimento na arrecadação de tribu-tos federais, de R$ 3,7 bi, em 2014, para R$ 5,2 bi,

Dados da Receita Federal compilados pelo IBPT, de acordo com os CNAEs do estudo, mostram que tem crescido a arrecadação tributária federal do setor da saúde. O Gráfico 3 apresenta o cresci-mento arrecadatório de 2014 a 2018, apenas de tributos federais. Com exceções dos CNAEs 4664-8 (Comércio atacadista de máquinas, aparelhos e equipamentos para uso odonto-médico-hospita-lar; partes e peças) e do 6520-1 (Seguro-Saúde) todas as demais atividades mostram aumento na arrecadação de tributos federais no período analisado.

A arrecadação da Saúde

Gráfico 3 - Arrecadação de tributos federais da Saúde (em bilhões)

em 2018. A participação relativa dos tributos fede-rais nessa atividade, no ano passado, mostrou-se da seguinte forma: a Contribuição Previdenciária, com 37,99%; FGTS (17,52%); IRPJ (16,81%); e ou-tros tributos (13,89%).

Em âmbito estadual, a arrecadação de tributos registrou crescimento nominal de 15,66% de 2014 a 2018, ficando abaixo do crescimento do IPCA do mesmo período. Cálculos do IBPT mostram um decréscimo de 9,98% na arrecadação de tributos estaduais. Já nos municípios, o crescimento real da arrecadação foi de 16,54% no mesmo período.

O estudo também analisou a arrecadação total de tributos do setor de saúde nas três esfe-ras governamentais, de 2014 a 2018. O resultado mostra um aumento significativo na arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais pagos pelo setor. (Gráfico 4)

Gráfico 4 - Arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais pelo setor da Saúde - em bilhões de R$

80

70

60

50

40

30

20

10

0 010

20

30

40

50

60

70

80

Fonte: RFB e IBPT

2014 2015 2016 2017 2018

53,557,7

62,166,4

74

020

40

60

80

100

120

120

100

80

60

40

20

0

Fonte: IBPT

2014 2015 2016 2017 2018

77,783,8

89,795,9

103,6

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26

CAPA

Para calcular a carga tributária que incide sobre um segmento econômico, é preciso medir o total da arrecadação tributária do setor dividido pela riqueza por ele gerada na economia nacional, o chamado valor adicionado. Pelas características do sistema de saúde brasileiro, formado por en-tidades públicas, filantrópicas e privadas lucrati-vas, cada segmento destes participa de forma di-ferente no Produto Interno Bruto (PIB) da Saúde, calculado em R$ 378,4 bilhões em 2018. Segundo o IBPT, no ano de 2018, a saúde pública represen-tava 28,12% (R$ 106,4 bilhões) do PIB do setor, enquanto as empresas privadas com fins lucrati-

PIB da saúde x carga tributária

vos representavam 65,89% (R$ 249,3 bilhões) e, as entidades filantrópicas, tinham uma participação de 5,99% (R$ 22,6 bilhões) no PIB da Saúde.

Embora representem 65,89% do PIB Saúde, as empresas privadas contribuíram, em 2018, com 95,11% do total da arrecadação tributária do setor, as filantrópicas tiveram uma arrecada-ção tributária de 2,96% do total e, o setor público de saúde, contribui com 1,92% do total arrecada-do. Dessa forma, nota-se que a carga tributária incidente sobre as empresas privadas com fins lucrativos é de 39,55%, contra 13,56% das filan-trópicas e de 1,87% das entidades públicas. Veja a incidência da carga tributária para as instituições públicas, privadas e filantrópicas entre os anos de 2014 e 2018. (Tabela 5)

2014 2015 2016 2017 2018

CT Setor Saúde 25,47% 25,22% 27,77% 26,34% 27,40%

CT Empresas Privadas 38,05% 37,97% 40,73% 38,44% 39,55%

CT Filantrópicas 16,24% 12,78% 13,25% 11,94% 13,56%

CT Saúde Pública 2,47% 1,15% 2,30% 2,76% 1,87%

Tabela 5 - Carga tributária (CT) do setor Saúde

“Para um setor tão relevante para o desenvolvimento do país e para

a melhoria da qualidade de vida da população é inadmissível

arcar com uma carga tributária de quase 40%. É por isso que a FEHOESP e o SINDHOSP já estão debatendo com parlamentares uma reforma que traga mais justiça social e desonere as empresas e os produtos da saúde”, defende Yussif Ali Mere Jr. Acompanhe no site da FEHOESP as atividades políticas realizadas em defesa do setor de saúde. Seja um representado!

Yussif Ali Mere Jr, presidente da FEHOESP

e do SINDHOSP

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27

PORQUE SER REPRESENTADO

C

Por um novo

ambiente de negócios

om a aprovação da reforma da Previdência, o Congresso Nacional já começa a se debruçar so-bre outros importantes temas que devem ocupar os debates no próximo ano: as reformas tributária e administrativa. “Por se tratar de um ano de elei-ções municipais, muitos políticos acreditam que a reforma administrativa possa avançar com mais rapidez, frente às mudanças tributárias, que afe-tam os três entres da Federação: União, estados e municípios. Ambas são fundamentais para que possamos criar no Brasil um ambiente propício ao desenvolvimento social e econômico. A área da saúde precisa estar muito bem representada nesses debates para que não saia prejudicada. Por isso, precisamos que as empresas se cons-cientizem e colaborem conosco”, adianta o presi-dente da FEHOESP e do SINDHOSP, maior sindi-cato patronal da saúde na América Latina, Yussif Ali Mere Jr.

A equipe econômica do governo já sinalizou que pretende implementar um amplo programa

de privatizações. “Nesse processo a saúde tam-bém será beneficiada. Podemos enterrar, definiti-vamente, a velha ideologia que vigorou – e ainda vigora em alguns locais – de que ser rentável em saúde é pecado. Esse programa de privatizações pode abrir um leque enorme de novas possibili-dades de negócios à iniciativa privada da saúde. Estamos atuando, participando dos debates e to-dos os estabelecimentos de saúde precisam estar atentos”, lembra o dirigente.

O foco do SINDHOSP, da FEHOESP e dos de-mais sindicatos que compõem a Federação, é criar um ambiente de negócios promissor e trans-parente, com regras claras, e um novo sistema tributário que desonere as empresas e seja mais simples, ou menos burocrático.

Você concorda com as propostas que estão sendo defendidas pelo seu sindicato? Ele precisa da sua colaboração.

DA REDAÇÃO

acesse e seja um representado!

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Graças à tecnologia médica, às pesquisas e à disseminação de informações de maneira rápida e ampla, falar em câncer hoje em dia continua sendo um assunto complicado para a maioria das pessoas, mas já não é mais uma sentença de morte como era no passado. O conhecimento e o estudo proporcionado por milhares de profissio-nais de saúde ao longo do tempo mostram que a grande maioria dos tipos de neoplasias podem ser prevenidas ou tratadas em seu início, com melhora na qualidade de vida e chances de cura.

De acordo com os médicos, mudar hábitos de alimentação, praticar exercícios físicos e cortar práticas nocivas ao organismo – como tabagis-mo e excesso de álcool -, são medidas eficazes e cientificamente comprovadas para diminuir o nú-mero de casos e salvar vidas. De acordo com a Or-ganização Mundial de Saúde (OMS), um terço das mortes por câncer se devem aos cinco principais riscos comportamentais e alimentares: alto índi-ce de massa corporal, baixo consumo de frutas e vegetais, falta de atividade física e uso de álcool e tabaco.

É nesse contexto de conscientizar cada vez mais pessoas e realmente fazer com que as infor-mações surtam o efeito desejado que surgiram importantes campanhas sazonais lembradas por cores que recebem adesão de vários representan-tes da sociedade como, por exemplo, o Outubro Rosa e o Novembro Azul.

Sem entrar no mérito de qual cor é a adequa-da ou a “certa” para cada gênero, esses esforços públicos têm boa adesão entre vários represen-tantes da sociedade e já fazem parte do calen-

PREVENÇÃO

28

POR ELENI TRINDADE

Campanhas e eventos de conscientização do câncer visam alertar o maior número de pessoas para a prevenção

Esforço contínuo

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dário de empresas, Organizações Não Governa-mentais (ONGs), eventos, artistas, entre outros. O movimento foi criado no início da década de 90 pela Fundação G. Komen for the Cure (entidade norte-americana) para conscientizar a população sobre o câncer de mama e teve adesão mundial. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) aderiu oficialmente à campanha em 2010. Já o movimento Novembro Azul começou em 2003, na Austrália, para chamar a atenção para a pre-venção e o diagnóstico precoce de doenças da população masculina.

Todo ano é preciso lembrar e se conscientizar, pois os dados relativos ao câncer são expressivos. De acordo com o INCA, são estimados 59.700 no-vos casos de câncer de mama e 68.220 novos ca-sos de câncer de próstata (ambos os números de casos para cada ano) no biênio 2018/2019.

Em 2018, o Brasil foi o segundo maior país com incidência de câncer de mama, com 62,9 casos a cada 100 mil mulheres. Em torno de 25% dos pacientes morrem devido à doença no país e no mundo todo essa taxa gira em torno de 10%. Já o câncer de próstata, alvo principal da campanha Novembro Azul, atinge em sua maioria (75%) dos casos homens acima de 65 anos, mas quando a detecção é feita em estágio inicial do problema, o prognóstico de cura é de 90%. Daí a importância da prevenção e da realização de exames como o tradicional PSA e alguns mais precisos, como o Ín-dice de Saúde da Próstata (phi), que mede o grau de agressividade do tumor.

As estimativas para câncer infanto-juvenil são de 420 mil novos casos de câncer em dois anos – o número é maior porque reúne vários tipos de neoplasias que atingem essa faixa etária. Segundo o INCA, na faixa etária de 1 a 19 anos, o câncer é

a principal doença fatal, mas aproximadamente 80% dos pacientes podem ser curados se diagnos-ticados e tratados precocemente. Os principais ti-pos que atingem essa faixa são as leucemias, linfo-mas e tumores do sistema nervoso central.

No mundo, de acordo com o documento “Fo-lha Informativa Câncer”, da OMS, a doença é a se-gunda principal causa de morte e responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018, 1 em cada 6 mor-tes são relacionadas a essa enfermidade e 70% dos falecimentos por câncer ocorrem em países de baixa e média renda.

Prevenção

A prevenção para evitar a doença, explica Arn Migowski, médico sanitarista, epidemiologista e chefe da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do INCA, é baseada na di-minuição da exposição a fatores de risco. No caso do câncer de mama, algumas causas que podem ser citadas são obesidade na pós-menopausa e consumo de bebidas alcoólicas. “Existe uma es-timativa de que quase 30% dos casos de câncer de mama poderiam ser prevenidos com base no controle desses fatores de risco. Outro fator de risco é a terapia de reposição hormonal – princi-palmente se feita por cinco anos ou mais – e, por isso, os riscos e benefícios de seu uso devem ser avaliados caso a caso por um médico”, destaca o especialista.

Arn Migowski, médico sanitarista, epidemiologista e chefe da Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede do INCA

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30

De acordo com Migowski, outra medida impor-tante para evitar a manifestação da doença é “es-timular fatores de proteção, como o aleitamento materno e a promoção da saúde, por meio de hábitos de vida saudáveis, com prática de ativida-de física e dieta saudável”. Já os exames, como a mamografia de rotina em mulheres sem sintomas ou o check-up, são recomendados para descobrir a doença em estágio inicial. “Nesse caso, só existe comprovação científica conclusiva de redução de mortalidade por câncer de mama quando ela é realizada na faixa etária de 50 a 69 anos. Por isso, a recomendação do INCA é que o rastreamento com mamografia seja feito de 50 a 69 anos, uma vez a cada dois anos”, afirma. De acordo com o médico Arn Migowski, repetir o exame anualmen-te, “além de provavelmente não trazer nenhum benefício adicional, traz riscos desnecessários, pois os riscos aproximadamente dobram quando comparados à periodicidade bienal“.

As campanhas ajudam muito nas causas e tra-zem informações básicas para a população, mas, na opinião de Migowski, é fundamental sempre tirar dúvidas com um médico. “A difusão da cam-panha é muito grande, mas é muito comum que as recomendações vinculadas não sejam as mais adequadas do ponto de vista científico. É preciso qualificar as informações com base nas melhores evidências científicas disponíveis”, destaca ele.

O número de pesquisas sobre câncer em todo o mundo vem crescendo ao longo dos anos porque os casos diagnosticados anualmente se mantêm

expressivos: segundo estimativas da Agência In-ternacional de Pesquisas em Câncer da OMS, o mundo terá 22 milhões de novos casos de câncer até 2030. De acordo com a entidade mundial, o impacto econômico da doença é enorme e vem aumentando: o custo anual total da doença em 2010 foi estimado em aproximadamente US$ 1,16 trilhão. Segundo a revista The Economist, os estu-dos de medicamentos oncológicos em desenvol-vimento clínico cresceram 45% na última década.

Eles vêm tanto da indústria farmacêutica – que recebe milhões de dólares de investidores para suas pesquisas – quanto das universidades. Hoje, de acordo com Gustavo Zamperlini, oncopediatra da Rede de Hospitais São Camilo, os tratamentos disponíveis para o câncer, tanto de adultos quan-to crianças, são parecidos: quimioterapia, radio-terapia, transplante de medula óssea e cirurgia com destaque para a imunoterapia (em que cé-lulas de defesa do organismo, como os linfócitos, atacam o tumor), que vem sendo o foco principal das pesquisas científicas atuais. “Na pediatria, os principais métodos são os anticorpos bi-especí-ficos e as chamadas CAR-T cells, método ainda inédito no país, que modifica geneticamente os linfócitos da criança ou de um doador para ata-carem o tumor. Essas medicações ajudam a re-duzir os efeitos colaterais da quimioterapia, mas ainda quase todos os tipos de câncer necessitam, em algum momento, receber as terapias tradicio-nais”, salienta o médico.

Um exemplo recente e efetivo de como as pesquisas avançam e são esperança de uma me-lhor sobrevida para os pacientes, é uma terapia inédita utilizada por médicos da Universidade

PREVENÇÃO

Tratamentos personalizados

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de São Paulo (USP). Os profissionais brasileiros aplicaram pela primeira vez uma imunoterapia que usa células T do paciente para tratar linfo-ma gravíssimo, dando sobrevida com qualidade para pacientes terminais. No caso, o paciente já havia feito toda a sequência de radioterapia e quimioterapia para tratar um linfoma de Hodkins em estado avançado, quando os estudiosos con-seguiram autorização para testar a terapia CAR-T cell, uma técnica norte-americana que significa célula T com receptor de antígeno quimérico, que consiste no uso de células geneticamente mo-dificadas para fazer o tratamento. “Os tratamen-tos têm melhorado muito e esse com as células CAR T é um dos mais promissores que existe no momento. É recurso terapêutico disponível em poucos países”, afirmou o médico hematologis-ta Dimas Tadeu Covas, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP, e coordenador do Centro de Terapia Celular (CTC), Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fun-dação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), sediado na USP.

Nos Estados Unidos, de acordo com o cien-tista, o uso da terapia já está liberado para uso comercial, mas a grande dificuldade para o Brasil é o alto custo. Para os norte-americanos, a pro-dução das células e as despesas hospitalares, juntas, chegam a custar US$ 1 milhão (mais de R$ 4 milhões) por tratamento. Mesmo assim, Covas acredita que o estudo brasileiro pode reduzir o custo do tratamento em até 20 vezes. De acordo com informações da universidade, a terapia levou à remissão total da doença no paciente citado.

Driblando o câncer

Como a conscientização precisa ser contínua, a FEHOESP apoia uma nova companha: Driblando o Câncer. Lançada em 22 de agosto na Assem-bleia Legislativa de São Paulo, a iniciativa traz uma série de ações preventivas em lugares públi-cos da Capital, como clubes e sistema metroviá-rio, para alertar a população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce dos mais variados tipos de câncer, além de divulgação en-tre parceiros do projeto e imprensa.

O objetivo é que pacientes, familiares e amigos de doentes, mídia, autoridades, instituições de

saúde, ONGs e entidades beneficentes, empresas e empresários se unam para ajudar no combate ao câncer.

Para marcar a campanha, no dia 15 de dezem-bro, às 14 horas, será realizado um jogo de fute-bol com várias celebridades no Sport Club Co-rinthians, sede do Parque São Jorge. A proposta é lançar mão de uma das paixões nacionais dos brasileiros, o futebol, para reunir o maior número de pessoas para a causa. Entre os jogadores par-ticipantes do evento estão: Cafu, Müller, Veloso, Biro Biro, Júnior (pentacampeão), Aloísio (sele-ção brasileira), Luizão (seleção), Amaral (seleção), Edilson (seleção), Gustavo Nery, Pavão (São Pau-lo Futebol Clube), Zenon (Corinthians), Zé Carlos (seleção brasileira), Dinei (Corinthians), César Sampaio (seleção), Gilmar (Palmeiras) e Ademir da Guia.

Além da FEHOESP, o projeto tem a parceria da Abrale - Associação Brasileira de Linfoma e Leu-cemia; Unaccam - União de Apoio e Combate ao Câncer; Combat Social; Rosa Mulher; Tribo do Bem; Instituto Quimioterapia e Beleza; OBME – Organização Brasileira de Mulheres Empresárias; Projeto Divas e Associação Recomeçar é Possível.

Estão à venda dois kits para participar do even-to: 1) Ingresso (cadeira) e camiseta promocional (R$ 70,00); e 2) Ingresso (arquibancada) e camise-ta do evento (R$ 60,00). Também é possível com-prar ingressos avulsos por R$ 20 (cadeira) ou R$ 10 (arquibancada). Mais informações no site.

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o Brasil, em razão de sua estru-tura jurídica, muitas profissões regu-lamentadas têm por lei o exercício fis-

calizado por um conselho profissional. No caso dos contadores, o Conselho Federal de Contabilidade e os Conse-

lhos Regionais, existentes em todos os estados da Federação e Distrito Federal, são entidades de registro que

N

ENTREVISTA

reforma trabalhista

32

POR VIVIAN MARTINS

Cibele Pereira Costa, vice-presidente do Conselho

Regional de Contabilidade de São Paulo (CRCSP), em

conversa com a Revista FEHOESP 360, fala sobre as

principais mudanças da reforma trabalhista e

o papel dos sindicatos como representantes das

empresas, principalmente frente aos desafios

impostos pelo atual cenário político e econômico

O papel dos sindicatos após a

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fiscalizam o exercício desses profissio-nais. Em São Paulo, existe o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRCSP), que conta com Cibele Pereira Costa como vice-pre-sidente. Técnica em contabilidade e advogada, com MBA em Controladoria e Gestão Estratégica de Negócios pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Cibele é empresá-ria contábil da área de legalizações de empresas e atuante na Junta Comer-cial do Estado de São Paulo (Jucesp), na gestão 2016-2019.

Em entrevista à Revista FEHOESP 360, a vice-presidente esclareceu que os conselhos regionais, no geral, in-dependente da profissão, têm o papel de registrar e fiscalizar os profissionais daquela área, diferente do papel dos sindicatos, que defendem os direitos de seus representados. Para ela, há uma confusão com relação às com-petências de cada um. Cibele ressalta que o fato de os sindicatos terem seus pagamentos facultativos é algo posi-tivo, pois dá a eles a oportunidade de mostrar que realizam um trabalho bem feito. Para saber mais sobre o ponto

de vista da profissional sobre este e outros temas, acompanhe a entrevista completa:

FEHOESP 360: A reforma trabalhis-ta, sancionada em 11 de novembro de 2017, gerou as maiores mudanças na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) desde 1943, ano em que foi promulga-da. Essas mudanças impactam direta-mente as relações de trabalho no Brasil. Como a reforma trabalhista impactou no trabalho do CRCSP? Quais foram as principais mudanças e os pontos positi-vos e negativos?Cibele Costa: A reforma trabalhista pouco impactou no trabalho do CRCSP. Nossas contratações só podem ser feitas por meio de concurso público e as dispensas através do PAD (Processo Administrativo Disciplinar). Muitas das mudanças que a reforma trouxe não são aplicáveis ao Conselho.

FEHOESP360: Um dos pontos conside-rados mais polêmicos da reforma traba-lhista é a possibilidade de terceirização da atividade-fim de uma empresa. Isso afetou os escritórios de contabilidade? E os clientes desses escritórios? Quais as orientações do CRCSP nessa questão?Cibele Costa: Pouco afetou as em-presas de contabilidade. O trabalho contábil/fiscal é algo complexo. Para treinarmos um colaborador para uma determinada área demoramos por vol-ta de um ano e, geralmente, os colabo-

radores que atendem aos clientes das empresas de contabilidade ficam espe-cializados naqueles clientes, naqueles ramos de atividades, tamanha a diver-sidade tributária/fiscal em nosso país. É difícil para as empresas de contabi-lidade contratar terceirizados com a expertise desejada. Para os clientes das empresas de contabilidade, dependen-do da sua atividade, a possibilidade de terceirização da atividade-fim é algo possível, mas realmente as atividades- meio ainda são as mais procuradas pelas empresas. Não chegam para o CRCSP demandas de orientação sobre a reforma trabalhista porque o papel do Conselho enquanto “braço do gover-no” na fiscalização dos profissionais da contabilidade é de registrar, fiscalizar e promover a educação continuada aos profissionais da área de contabilidade. FEHOESP 360: Qual é a atual realida-de dos contadores e escritórios de con-tabilidade se comparada às atividades antes da reforma trabalhista? O setor está se reinventando para manter es-truturas e prestação de serviços?Cibele Costa: Acredito que o desafio maior na atualidade é a robotização de alguns processos, tornando-os “au-tomáticos”. O profissional da contabili-dade está se reinventando muito mais por causa da tecnologia do que pela reforma trabalhista.

FEHOESP 360: Falando de sindicatos, durante o primeiro ano da reforma tra-balhista houve uma queda significativa na arrecadação da contribuição sin-dical e até o fechamento de sindicatos e federações. Como o CRCSP enxerga isso? O órgão foi ou é favorável ao fim da contribuição sindical?

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ENTREVISTA

FEHOESP 360: Sabemos que os sin-dicatos representam fortemente seus associados politicamente e que seria muito difícil para as empresas luta-rem individualmente com a força que têm coletivamente, com o apoio dos sindicatos. A classe contábil possui essa consciência? Qual o posiciona-mento do CRCSP sobre a manutenção e/ou sustentabilidade da representa-ção sindical?Cibele Costa: Sim, temos essa consciência, tanto que nos reuni-mos a cada 45 dias para discutir os rumos da nossa profissão frente os acontecimentos diários. Além

disso, na solenidade CRCSP + Você (onde homenageamos os profissio-nais com mais de 50 anos de registro profissional, sem nenhuma autuação ético-disciplinar e entregamos aos novos profissionais suas carteiras pro-fissionais), que ocorre mensalmente na sede do CRCSP, com cerca de 250 pessoas, divulgamos e orientamos os profissionais a se filiarem e frequen-tarem as atividades dos sindicatos. Nessa solenidade vem um represen-tante do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo (Sindcont-SP) e do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Asses-soramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP), que fazem a apresen-tação do trabalho da entidade e sor-teiam cursos para os profissionais que estão recebendo suas carteiras. No Sindcont-SP, por exemplo, tem atividade todos os dias e grupos de estudo específicos às terças-feiras na área fiscal; às quartas-feiras é o Cen-tro de Estudos, que existe há mais de 70 anos, tirando dúvidas dos pro-fissionais, e, às quintas-feiras, sobre o IFRS. Para participar é necessário se associar e manter a contribui-ção sindical e confederativa em dia. Outro bom exemplo é o Sescon-SP,

que tem um selo de qualidade para as empresas de contabilidade, chamado PQEC. É um programa, parecido com a ISO, onde as empresas são orientadas a ter uma melhor gestão, com foco em resultados, para a fidelização dos seus clientes. Entre os requisitos para parti-cipar deste programa é ser associado ao Sescon-SP e estar com o pagamen-to em dia da contribuição sindical. No Sescon-SP, quem paga a contribuição sindical tem desconto na contribuição confederativa. Além disso, ambas as entidades têm uma gama de serviços. O Sescon-SP presta serviços que faci-litam e muito a vida das empresas de contabilidade de pequeno porte. Os sindicatos não precisam ter receio do fim da obrigatoriedade do pagamen-to da contribuição sindical. Precisam mudar o foco e entender quais são os problemas daquela categoria e lutar para ajudar. Se este trabalho for bem feito, os profissionais e empresas re-conhecerão e pagarão a contribuição sindical, mesmo ela sendo facultativa.

Cibele Costa: Muitas pessoas con-fundem o papel dos sindicatos. Estes têm a missão de defender os direitos de seus representados. Já os conse-lhos regionais, no geral, independente da profissão, têm o papel de registrar e fiscalizar os profissionais daquela área. Infelizmente, no Brasil, houve um crescimento desenfreado de en-tidades sindicais. Existem mais de 16 mil sindicatos no país, entre patronais e de empregados, e nem todos cum-prem efetivamente o seu papel de defender os direitos de seus represen-tados. Nós entendemos e reconhece-mos a importância dos sindicatos, tanto que no Estado de São Paulo existe o congraçamento das entidades contábeis, onde a cada 45 dias nos reunimos para discutir os assuntos do momento e encaminharmos os pleitos, cada entidade com o seu pa-pel, para que o melhor seja feito. Não houve o fim da contribuição sindical, o que houve foi a transformação do pa-gamento obrigatório em facultativo. E sempre que temos a oportunidade mostramos aos profissionais da con-tabilidade o quanto é importante esta contribuição ao sindicato, para que ele tenha a possibilidade de continuar lutando pelos direitos de seus repre-sentados.

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Não houve o fim da

contribuição sindical,

o que houve foi a

transformação do

pagamento obrigatório

em facultativo"

Mostramos aos

profissionais de

contabilidade como

é importante a

contribuição ao

sindicato, para que ele

tenha a possibilidade

de continuar lutando

pelos direitos de

seus representados"

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EVENTO

O

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Silver Economy

reúne economistas em São Paulo

evento reuniu economistas de renome que palestraram sobre as mudanças e os impactos da longevidade na economia e sociedade. Estiveram presentes Eduardo Giannetti – economista, escri-tor e professor da USP e do Insper; Carlos Kawall – economista-chefe do Banco Safra; Ricardo Amo-rim - linkedin influencer, considerado pela Forbes o economista mais influente do Brasil; Yasushi Noguchi – consul Geral do Japão em São Paulo; e Waldemar De Carli – prefeito de Veranópolis/RS, cidade eleita Amiga do Idoso pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Eduardo Giannetti apresentou os impactos da demografia, tema que também foi bastante

O fenômeno da economia prateada foi tema do seminário Silver Economy, que aconteceu em

setembro durante a feira Longevidade Expo+Fórum, no Expo Center Norte, em São Paulo

POR VIVIAN MARTINS

explorado ao longo do evento. “Estou aqui para contextualizar a longevidade, o que significa en-tender a transição demográfica pela qual nós estamos passando no mundo e especialmente no Brasil. Demografia é um tema que não figura nas manchetes dos jornais e é pouco discutido socialmente, mas é extremamente impactante na vida humana. Para mim, o acontecimento mais importante da nossa geração de brasileiros é essa transição, que resulta de três vetores poderosos de mudança: explosão populacional, queda da taxa de fecundidade e aumento da expectativa de vida. A longevidade, portanto, é uma conquis-ta humana de viver mais e almejar viver melhor”.

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Gianetti afirmou que se fosse ques-tionado sobre qual o aconteci-mento mais importante na geração

atual de brasileiros, não teria dúvida em responder que é a transição de-

mográfica. “Tudo o que há de relevante para uma existência humana passa pela

transição demográfica: ramificações de ordem econômica, social, médica, cultural e existencial”, afirmou o economista, que também fez suas con-siderações sobre a reforma da Previdência. “O desafio da Previdência está diretamente ligado à demografia. Se nós já estamos gastando, em pleno bônus demográfico, 13% do PIB brasileiro em benefícios previdenciários, não dá nem para imaginar o que gastaremos no futuro se não mu-darmos as regras da Previdência agora no Brasil. Não resolve o problema, mas é um passo impor-tante na direção certa. O Brasil está fora da cur-va no que diz respeito à Previdência, somos um país demograficamente jovem que já gasta com aposentadorias como um país europeu maduro. É uma conta que não fecha”, finalizou.

Carlos Kawall iniciou sua palestra afirmando que o tema longevidade está afetando o cená-rio econômico de maneira marcante. Para ele, o

melhor a se fazer é poupar mais. “É preciso fa-zer um esforço maior de poupança para termos a condição de nos sustentar no futuro. A própria longevidade e a transição demográfica estão fa-zendo com que a taxa de juros de equilíbrio da economia mundial seja muito mais baixa. Portan-to, a ideia é poupar mais, pois viveremos mais”, contextualizou. O economista também traçou um panorama com as expectativas de crescimento, concluindo que há uma desaceleração do cresci-mento econômico global. “Nós estamos nos inse-rindo no contexto global de menor crescimento econômico, aumento de taxa de poupança, gera-ção de poupança adicional e queda dos juros de equilíbrio”. Kawall afirmou que, com a aprovação da reforma da Previdência, há uma estimativa en-tre R$ 850 bilhões e R$ 900 bi de gastos a menos nos próximos dez anos. Ele finalizou argumentan-do sobre a importância da educação financeira. “Teremos que observar a possibilidade de ativos que têm maior riscos: devo colocar dinheiro na Bolsa de Valores? Investir em imóveis? Participar de investimentos ligados ao empreendedorismo? Sim, são possibilidades a serem consideradas”, finalizou.

O economista Ricardo Amorim iniciou sua apresentação dizendo que há 60 anos chamá-vamos de idoso quem tinha 60 anos ou mais. “Quem tinha essa idade, realmente era idoso, hoje não mais. Precisamos mudar, pois se a gente não muda como chama, a gente não muda como vê. E como a gente vê é o que determina o que a gente faz. Está na hora de mudar, inclusive em re-lação a expectativa de aposentadoria, mas não só. Expectativas de contribuição no trabalho, de par-ticipação na sociedade e com o mercado consu-midor”, concluiu. Ele também apresentou dados

EVENTO

Eduardo Giannetti, economista e escritor

Ricado Amorim,economista

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atualizados sobre a atual economia global e finali-zou dizendo que o mercado da longevidade ainda é muito pouco valorizado. “Uma das coisas que mais me impressiona é como o mercado dos lon-gevos não recebe a devida atenção, seja do mer-cado publicitário ou das próprias empresas, o que é uma loucura. Não apenas esse mercado hoje é gigante e cresce muito mais que os outros, como o poder aquisitivo é maior nessa média do que em qualquer outra faixa etária", afirmou Amorim.

O cônsul Yasushi Noguchi apresentou dados sobre a longevidade da população japonesa, com uma das menores taxas de nascimento. Na opinião dele, o Brasil em 2050 será como o Japão de hoje, com a população envelhecida e poucos nascimentos. “A população do Japão em 2018 era de 126.433.000 residentes, 263.2000 residentes a menos em comparação com o ano passado. O número de idosos acima de 100 anos em 1988 era de 3.078 pessoas, número que passou em 2018 para 71.238 pessoas, sendo que 88.1% de-les são mulheres”. O cônsul afirmou que o efeito disso é a diminuição da demanda interna, a falta de mão de obra e problemas sociais. “O princi-pal problema é a falta de mão de obra no Japão,

que está sendo resolvida com a tecnologia e a inteligência artificial para ocupar postos

de trabalho. Outro triste problema é a solidão dos idosos que passam dos

100 anos, pois eles acabam tendo pouco contato com a comunida-de local. A polícia, o governo e a

comunidade, juntos, têm feito esforços em ativi-dades de proteção, atuando na prevenção dos casos”, concluiu.

O último palestrante foi Waldemar de Carli, prefeito de Veranópolis, no Rio Grande do Sul, reconhecida como a cidade em que se vive mais e melhor no Brasil pela OMS. Com 26 mil habi-tantes, é a cidade brasileira mais bem preparada para receber os idosos, inclusive no turismo. De Carli afirmou que conseguiu essa conquista in-vestindo na acessibilidade e mobilidade urbana, modificando esquinas e ruas principais, na segu-rança, disponibilizando cercamento eletrônico nas entradas e saídas da cidade, que são ligadas à Brigada Militar, polícia civil e corpo de bombei-ros e em serviços eficientes, como cultura, saúde, educação, desenvolvimento econômico, desen-volvimento social e longevidade. “No turismo e comércio treinamos os empreendedores a como receber o idoso, a logística do seu comércio, mo-bilidade com bancos, preços visíveis e outras di-cas. Na saúde, temos selo do Hospital Amigo do Idoso no Hospital Comunitário, sendo que todo o estabelecimento está adaptado para que eles se-jam bem atendidos e, no final do ano, será inau-gurado o Instituto da Longevidade, que vai ter um atendimento multidisciplinar para o idoso, com psicologia, odontologia, fisioterapia e outros". O prefeito apontou os fatores da longevidade dos moradores da cidade: níveis de estresse menores, atividade física dos longevos mais intensa, refei-ções regulares e equilibradas, ingestão moderada de vinho tinto caseiro e consumo de muitos vege-tais da própria horta.Yasushi Noguchi, cônsul do Japão

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S

com a ansiedade do grupo que ele lidera. Ele é a referência desse grupo, e uma de suas funções é administrar essa teia de situações potencialmente ansiógenas que permeiam a dinâmica da equipe.

O líder precisa ser capaz de ter autocontrole, autoconhe-cimento e experiência para transmitir tranquilidade e dire-ção ao grupo, em todo tipo de situação. Muitas vezes, só um trabalho psicoterápico permite que ele se conheça mais a fundo e se desenvolva emocionalmente, de modo a saber lidar com suas próprias ansiedades e as da equipe.

Se o transtorno de ansiedade não for tratado, gestor e a sua equipe podem caminhar para um “naufrágio”. Neste sentido, ele “afunda” sua carreira, pois não terá condições de gerenciar adequadamente as situações de tensão que certamente ocorrem no ambiente corporativo. Daí, além da ansiedade, virá o sentimento de frustração, decorrente de uma expectativa não realizada, de uma sensação de inca-pacidade ou da percepção de que “não sou tão competente quanto imaginava”.

Para tornar o cenário ainda mais complexo, vale lembrar que a imagem de um profissional não permite tantos “des-lizes” como no âmbito social/pessoal. O mercado é compe-titivo, principalmente no atual momento em que vivemos, e qualquer erro ou demonstração de instabilidade pode acar-retar sua substituição por outro profissional que tenha mais equilíbrio emocional.

Síndrome de Burnout – o mal do século XXI

A síndrome de Burnout vem aparecendo cada vez mais em diversas profissões, sendo consequência do excesso ou so-brecarga de trabalho. Como o próprio nome diz, a pessoa se sente literalmente exausta, esgotada física e psicologica-mente, seja por causa do número de horas trabalhadas, seja pelo estresse provocado pelas condições de trabalho.

ELAINE DI SARNO

ARTIGO

egundo pesquisa da empresa de recrutamento Robert Half, os profissionais brasileiros são os mais estressados do mundo. A empresa entrevistou quase 1.800 gestores de Recursos Humanos (RH) em 13 países e constatou que o profissional brasileiro é o que mais sofre com a pressão e o excesso de trabalho. De acordo com a pesquisa, 52% dos entrevistados reclamaram da alta carga de trabalho, e 44% sentem falta do reconhecimento de seus esforços.

Não é à toa que muitos profissionais acabam desen-volvendo transtornos de ansiedade. Os mais comuns são: transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pâni-co, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático, fobia social e fobias específicas.

A posição de liderança demanda bastante do gestor e este, se não estiver preparado para lidar com as demandas e conflitos do grupo, tende a se desequilibrar, o que pode ser um dos impulsionadores da ansiedade. No entanto, aspec-tos emocionais, especialmente a capacidade de lidar com a inteligência emocional, impactam bastante. O gestor deve saber captar, absorver e conduzir a ansiedade e a expecta-tiva do grupo, orientando-os e intervindo quando julgar ne-cessário.

Na realidade, todos esperam que um gestor tenha ma-turidade emocional (ou “quociente emocional”) e consiga gerenciar e controlar sua própria ansiedade, além de lidar

Ansiedade e Burnout: quando transtornos impactam o gestor

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Além das condições adversas e estressantes de trabalho, algumas características da personalidade são consideradas importantes para o aparecimento da síndrome de exaustão. Pessoas muito competitivas, ambiciosas, com dificuldade para delegar, absorvendo tudo para si, fazendo do traba-lho sua única atividade tem maior chance de desenvolver exaustão. Por outro lado, pessoas inseguras, necessitadas de reconhecimento pelos outros, com dificuldade de co-locar limites e abrindo mão de suas próprias necessidades também estão mais vulneráveis ao Burnout.

E o que fazer para prevenir a síndrome de exaustão? A pri-meira e óbvia recomendação é descanso físico e mental. O equilíbrio entre o trabalho e as atividades físicas, de lazer, o encontro com os amigos, por exemplo, é o primeiro passo. Mudanças de atitudes, de expectativas, de hábitos de vida podem também auxiliar na prevenção.

Nos casos em que a síndrome de Burnout já está instala-da, recomenda-se buscar auxílio médico especializado para avaliação do quadro e orientação quanto ao tratamento. Especialmente no caso das pessoas cujas características de personalidade as tornam mais propensas ao Burnout, a psi-coterapia é um complemento importante, pois o problema está muitas vezes dentro da pessoa, e não tanto em suas condições de trabalho.

Caso aconteça alguma situação que tenha saído do con-trole do gestor, será necessário um esforço grande e de lon-go prazo para que ele tenha nova oportunidade para mos-trar que reviu suas posições e aprendeu a lidar com suas próprias ansiedades. Como já dito, às vezes esse amadure-cimento emocional só é obtido com um trabalho psicoterá-pico específico. O importante é buscar ajuda ao menor sinal de que algo não vai bem.

*Elaine Di Sarno, Psicóloga com especialização em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica; e Terapia Cognitivo Compor-tamental, ambas pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas – FMUSP. É pesquisadora e colaboradora do PROJESQ (Projeto Esquizofrenia) do IPq-HC-FMUSP

O uso crescente de recursos tecnológicos e da informáti-ca mudou o modo de trabalhar; a aceleração da velocidade de comunicação e a integração global trouxe a demanda por muitas horas de trabalho, em geral sob forte pressão de desempenho. Nestas condições surge novamente a exaus-tão, caracterizada pelo desânimo, dificuldade de raciocínio, ansiedade, preocupação, irritabilidade, sensação de incapa-cidade ou inferioridade, diminuição da motivação e da cria-tividade, aparecimento de transtornos mentais e doenças físicas.

Já a privação do sono gera a síndrome de Burnout por vários fatores: quando o profissional não dorme o suficiente para ser produtivo; quando ele faz hora extra até tarde da noite, prejudicando a rotina do sono; quando viaja muito a trabalho para diferentes países, desregulando seu relógio biológico; ou até mesmo quando muda repentinamente de cargo, e precisa alterar o turno da tarde para o turno da noi-te, por exemplo. Isso resulta em uma extrema exaustão, pois o organismo, que já está habituado com um determinado padrão de sono, sofre um forte impacto, precisando de tem-po e resistência para se readequar à nova rotina profissional.

Uma consequência frequente é o uso de drogas (álcool, tabaco, além das drogas ilícitas) como forma de alívio. É im-portante estar alerta a esta situação que agravará ainda mais a condição física e mental do indivíduo. O mesmo pode ser dito da automedicação.

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Se o transtorno de

ansiedade não for tratado,

gestor e a sua equipe

podem caminhar

para um “naufrágio”

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CHARGE

A Revista FEHOESP 360 é uma publicação da FEHOESP, SINDHOSP,

SINDJUNDIAÍ, SINDMOGI, SINDPRUDENTE, SIND- RIBEIRÃO, SINDSUZANO e IEPAS

Periodicidade: mensal

Correspondência: Rua 24 de Maio, 208, 9º andar - República - São Paulo - SP - [email protected]

Gerente de Comunicação e editoraAna Paula Barbulho (MTB 22170)

Secretária de redação: Daniele Ortega

RedaçãoAna Paula Barbulho, Eleni Trindade e Vivian Martins.

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Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da revista.

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Presidente - Yussif Ali Mere Junior

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1º Diretor Secretário - Rodrigo de Frei-tas Nóbrega

2º Diretor Secretário - Luiz Augusto Te-nório de Siqueira

1º Diretor Tesoureiro - Luiz Fernando Ferrari Neto

2º Diretor Tesoureiro - Paulo Roberto Grimaldi Oliveira

Diretores Suplentes - Elucir Gir, Hugo Ale-xandre Zanchetta Buani, Carlos Eduardo Lich-tenberger, Armando de Domenico Junior, Lui-za Watanabe Dal Ben, Jorge Eid Filho e Michel Toufik Awad

Conselheiros Fiscais Efetivos - Antonio Car-los de Carvalho, Ricardo Nascimento Teixeira Mendes e João Paulo Bampa da Silveira

Conselheiros Fiscais Suplentes - Maria He-lena Cerávolo Lemos, Fernando Henriques Pin-to Júnior e Marcelo Rodrigo Aparecido Netto

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