Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de...

14
327 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003 Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Resumo Os avanços e a disseminação do uso das tecnologias de infor- mação e comunicação (TIC) descortinam novas perspectivas para a educação a distância com suporte em ambientes digitais de aprendizagem acessados via internet. Considerando-se que a distância geográfica e o uso de múltiplas mídias são caracterís- ticas inerentes à educação a distância, mas não suficientes para definirem a concepção educacional, discute-se a educação a distância (EaD) não como uma solução paliativa para atender alunos situados distantes geograficamente das instituições edu- cacionais nem apenas como a simples transposição de conteú- dos e métodos de ensino presencial para outros meios e com suporte em distintas tecnologias. Os programas de EaD podem ter o nível de diálogo priorizado ou não segundo a concepção epistemológica, tecnologias de suporte e respectiva abordagem pedagógica. Este artigo pretende discutir as abordagens usuais da educação a distância, destacando o uso das TIC para o de- senvolvimento de um processo educacional interativo que pro- picia a produção de conhecimento individual e grupal em pro- cessos colaborativos favorecidos pelo uso de ambientes digitais e interativos de aprendizagem, os quais permitem romper com as distâncias espaço-temporais e viabilizam a recursividade, múl- tiplas interferências, conexões e trajetórias, não se restringindo à disseminação de informações e tarefas inteiramente definidas a priori . Palavras-chave Educação a distância Tecnologias de informação e comunicação Interação. Correspondência: Maria Elizabeth B. de Almeida Rua dos Franceses, 498 apto. 31F 01329-010 - São Paulo - SP e-mail: [email protected]

description

Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem

Transcript of Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de...

Page 1: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

327Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003

Educação a distância na internet: abordagens e contribuiçõesdos ambientes digitais de aprendizagem

Maria Elizabeth Bianconcini de AlmeidaPontifícia Universidade Católica de São Paulo

Resumo

Os avanços e a disseminação do uso das tecnologias de infor-mação e comunicação (TIC) descortinam novas perspectivas paraa educação a distância com suporte em ambientes digitais deaprendizagem acessados via internet. Considerando-se que adistância geográfica e o uso de múltiplas mídias são caracterís-ticas inerentes à educação a distância, mas não suficientes paradefinirem a concepção educacional, discute-se a educação adistância (EaD) não como uma solução paliativa para atenderalunos situados distantes geograficamente das instituições edu-cacionais nem apenas como a simples transposição de conteú-dos e métodos de ensino presencial para outros meios e comsuporte em distintas tecnologias. Os programas de EaD podemter o nível de diálogo priorizado ou não segundo a concepçãoepistemológica, tecnologias de suporte e respectiva abordagempedagógica. Este artigo pretende discutir as abordagens usuaisda educação a distância, destacando o uso das TIC para o de-senvolvimento de um processo educacional interativo que pro-picia a produção de conhecimento individual e grupal em pro-cessos colaborativos favorecidos pelo uso de ambientes digitaise interativos de aprendizagem, os quais permitem romper comas distâncias espaço-temporais e viabilizam a recursividade, múl-tiplas interferências, conexões e trajetórias, não se restringindoà disseminação de informações e tarefas inteiramente definidasa priori.

Palavras-chave

Educação a distância Tecnologias de informação e comunicação Interação.

Correspondência:Maria Elizabeth B. de AlmeidaRua dos Franceses, 498 apto. 31F01329-010 - São Paulo - SPe-mail: [email protected]

Page 2: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003328

Distance learning on the internet: approaches andcontributions from digital learning environments

Maria Elizabeth Bianconcini de AlmeidaPontifícia Universidade Católica de São Paulo

Abstract

The advances and dissemination of the use of information andcommunication technology (ICT) open up new perspectives fordistance learning based on digital learning environments accessedthrough the Internet. Considering that geographical distance andthe use of new media, although inherent features of distancelearning (DL), do not suffice to define this educational conception,DL is here discussed neither as a makeshift solution to cater forstudents geographically isolated from educational institutions, norjust as a simple transposition of contents and methods of presenceteaching to other media supported by various technologies. DLprograms can have their level of dialogue prioritized or notaccording to the epistemological conception, support technologiesand pedagogical approach. This article intends to discuss the usualapproaches to DL, highlighting the use of ICT in the developmentof an interactive education process that promotes the productionof individual and group knowledge in collaborative processesfavored by the use of digital and interactive learning environments,which allow to break from time and space distances and makefeasible recursiveness, multiple interferences, connections andtrajectories, not restricting itself to the dissemination of informationand tasks entirely defined a priori.

Keywords:

Distance learning Information and communication technology Interaction.

Contact:Maria Elizabeth B. de AlmeidaRua dos Franceses, 498 apto. 31F01329-010 - São Paulo - SPe-mail: [email protected]

Page 3: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

329Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003

A educação a distância — EaD, comomodalidade educacional alternativa para trans-mitir informações e instruções aos alunos pormeio do correio e receber destes as respostasàs lições propostas, tornou a educação conven-cional acessível às pessoas residentes em áre-as isoladas ou àqueles que não tinham condi-ções de cursar o ensino regular no períodoapropriado. A associação de tecnologias tradi-cionais de comunicação como o rádio e a te-levisão como meio de emissão rápida de infor-mações e os materiais impressos enviados viacorreios trouxeram um novo impulso à EaD,favorecendo a disseminação e a democratizaçãodo acesso à educação em diferentes níveis,permitindo atender grande massa de alunos.Porém imputou à EaD a reputação de educaçãode baixo custo e de segunda classe.

A integração entre a tecnologia digitalcom os recursos da telecomunicação, que ori-ginou a internet, evidenciou possibilidades deampliar o acesso à educação, embora esse usoper si não implique práticas mais inovadoras enão represente mudanças nas concepções deconhecimento, ensino e aprendizagem ou nospapéis do aluno e do professor. No entanto, ofato de mudar o meio em que a educação e acomunicação entre alunos e professores se rea-lizam traz mudanças ao ensino e à aprendiza-gem que precisam ser compreendidas ao tem-po em que se analisam as potencialidades elimitações das tecnologias e linguagens empre-gadas para a mediação pedagógica e a apren-dizagem dos alunos.

O presente artigo constitui uma elabo-ração teórica a respeito dos estudos desenvol-vidos no Programa de Pós-graduação em Edu-cação: Currículo, da PUC/SP, explicitando asabordagens usuais da educação a distância, ascontribuições do uso das TIC e distintas lingua-gens de comunicação e representação do pen-samento no processo educacional, bem como opotencial de interatividade das TIC (Silva, 2000)para concretizar a interação entre pessoas (alu-no–aluno e professor–aluno), objetos de apren-dizagem e recursos hipermediáticos dos am-

bientes virtuais e interativos de aprendizageme a produção de conhecimento individual egrupal nesses ambientes.

Abordagens da educação adistância

Conforme Nunes (1993-1994), é co-mum conceituar a educação a distância a par-tir de referências da educação convencional de-senvolvida com a presença física de professo-res e alunos em um mesmo espaço segundodeterminada abordagem educacional. Keegan(1991) analisa os conceitos atribuídos à EaDpor autores que estudam essa modalidade edu-cacional sob ângulos diversos, evidenciandoque alguns se embasam nas característicascomunicacionais, outros na organização doscursos, e há ainda aqueles que analisam a se-paração física entre alunos e professores ou otipo de suporte utilizado.

A utilização de determinada tecnologiacomo suporte à EaD “não constitui em si umarevolução metodológica, mas reconfigura ocampo do possível” (Peraya, 2002, p. 49). As-sim, pode-se usar uma tecnologia tanto natentativa de simular a educação presencial como uso de uma nova mídia como para criar novaspossibilidades de aprendizagem por meio daexploração das características inerentes àstecnologias empregadas.

A integração de meios de comunicaçãode massa tradicionais – rádio e televisão –associada à distribuição de materiais impressospelo correio provocou a expansão da educaçãoa distância a partir de centros de ensino e pro-dução de cursos, os quais emitem as informa-ções de maneira uniforme para todos os alunos,que recebem os materiais impressos com con-teúdos e tarefas propostas, estudam os concei-tos recebidos, realizam os exercícios e os reme-tem aos órgãos responsáveis pelo curso paraavaliação e emissão de novos módulos de con-teúdo. Essa abordagem da EaD apresenta altosíndices de desistência, mas encontra-se disse-minada em todas as partes do mundo, devido

Page 4: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

330 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...

à sua potencialidade de atender a crescenteparcela da população que demanda pela forma-ção (inicial ou continuada) a fim de adquirircondições de competir no mercado de trabalho.

Nessa abordagem de educação a dis-tância, conta-se com a presença do professorpara elaborar os materiais instrucionais e plane-jar as estratégias de ensino e, na maioria dassituações, com um tutor encarregado de res-ponder as dúvidas dos alunos. Quando o pro-fessor não se envolve nas interações com osalunos, o que é muito freqüente, cabe ao tutorfazê-lo. Porém, caso esse tutor não compreendaa concepção do curso ou não tenha sido de-vidamente preparado para orientar o aluno,corre-se o risco de um atendimento inadequa-do que pode levar o aluno a abandonar a úni-ca possibilidade de interação com o tutor, pas-sando a trabalhar sozinho sem ter com quemdialogar a respeito de suas dificuldades ou ela-borações.

O advento das tecnologias de informa-ção e comunicação (TIC) reavivou as práticasde EaD devido à flexibilidade do tempo, que-bra de barreiras espaciais, emissão e recebimen-to instantâneo de materiais, o que permite rea-lizar tanto as tradicionais formas mecanicistasde transmitir conteúdos, agora digitalizados ehipermediáticos, como explorar o potencial deinteratividade das TIC e desenvolver atividadesà distancia com base na interação e na produ-ção de conhecimento.

Conforme Prado e Valente (2002, p. 29)as abordagens de EaD por meio das TIC podemser de três tipos: broadcast, virtualização da salade aula presencial ou estar junto virtual. Naabordagem denominada broadcast, a tecnologiacomputacional é empregada para “entregar ainformação ao aluno” da mesma forma queocorre com o uso das tecnologias tradicionaisde comunicação como o rádio e a televisão.Quando os recursos das redes telemáticas sãoutilizados da mesma forma que a sala de aulapresencial, acontece a virtualização da sala deaula, que procura transferir para o meio virtualo paradigma do espaço–tempo da aula e da

comunicação bidirecional entre professor e alu-nos. O estar junto virtual, também denominadoaprendizagem assistida por computador (AAC),explora a potencialidade interativa das TIC pro-piciada pela comunicação multidimensional, queaproxima os emissores dos receptores dos cur-sos, permitindo criar condições de aprendizageme colaboração. Porém, é preciso compreenderque não basta colocar os alunos em ambientesdigitais para que ocorram interações significativasem torno de temáticas coerentes com as inten-ções da atividades em realização, nem tampoucopode-se admitir que o acesso a hipertextos e re-cursos multimediáticos dê conta da complexida-de dos processos educacionais.

Utilizar as TIC como suporte à EaD ape-nas para pôr o aluno diante de informações,problemas e objetos de conhecimento pode nãoser suficiente para envolvê-lo e despertar neletal motivação pela aprendizagem levando-o acriar procedimentos pessoais que lhe permitamorganizar o próprio tempo para estudos e par-ticipação das atividades, independente do horá-rio ou local em que esteja. Conforme Almeida(2000, p. 79) é preciso criar um ambiente quefavoreça a aprendizagem significativa ao aluno,“desperte a disposição para aprender (Ausubelapud Pozo, 1998), disponibilize as informaçõespertinentes de maneira organizada e, no mo-mento apropriado, promova a interiorização deconceitos construídos”.

Inserir determinada tecnologia na EaDnão constitui em si uma revolução metodológica,mas reconfigura o campo do possível.

A leitura de um texto não linear (hiper-texto) na tela do computador está baseada emindexações, conexões entre idéias e conceitosarticulados por meio de links (nós e ligações)que conectam informações representadas em di-ferentes linguagens e formas tais como palavras,páginas, imagens, animações, gráficos, sons, clipsde vídeo, etc. Dessa forma, ao clicar sobre umapalavra, imagem ou frase definida como um nóde um hipertexto, encontra-se uma nova situa-ção, evento ou outros textos relacionados. Por-tanto, cada nó pode ser ponto de partida ou de

Paulo
Realce
Paulo
Realce
Page 5: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

331Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003

chegada, originar outras redes e conexões, semque exista um nó fundamental.

A representação de informações emhipertextos com o uso de distintas mídias e lin-guagens permite romper com as seqüências es-táticas e lineares de caminho único, com início,meio e fim fixados previamente. O hipertextodisponibiliza um leque de possibilidades infor-macionais que permitem ao leitor interligar asinformações segundo seus interesses e necessi-dades, navegando e construindo suas própriasseqüências e rotas. Ao saltar entre as informa-ções e estabelecer suas próprias ligações e asso-ciações, o leitor interage com o hipertexto epode assumir um papel mais ativo do que naleitura de um texto do espaço linear do mate-rial impresso.

Apesar das possibilidades do aprendizdesenvolver a leitura e a escrita com o uso dehipertextos, escolhendo entre um leque de li-gações preestabelecidas ou criando novas liga-ções e percursos não previstos pelo autor dohipertexto (Lévy, 1999), a exploração de hiper-textos não dá conta da complexidade dos pro-cessos educacionais, cujas atividades se desen-volvem com o uso desses materiais de suportee, sobretudo, com a interação entre os alunose entre estes e os formadores, que na EaD,pode ser o professor ou o tutor.1

A EaD é uma modalidade educacionalcujo desenvolvimento relaciona-se com a admi-nistração do tempo pelo aluno, o desenvolvi-mento da autonomia para realizar as atividadesindicadas no momento em que considere ade-quado, desde que respeitadas as limitações detempo impostas pelo andamento das atividadesdo curso, o diálogo com os pares para a trocade informações e o desenvolvimento de produ-ções em colaboração. A par disso, o “estar jun-to virtual” indica o papel do professor comoorientador do aluno que acompanha seu desen-volvimento no curso, provoca-o para fazê-lorefletir, compreender os equívocos e depurarsuas produções, mas não indica plantão integraldo professor no curso. O professor se faz pre-sente em determinados momentos para acompa-

nhar o aluno, mas não entra no jogo de corpoa corpo nem tem o papel de controlar seu de-sempenho. Caso contrário, criará a dependên-cia do aluno em relação às suas consideraçõese perpetuará a hierarquia das relações aluno–professor do ensino instrucional, mais sofistica-do nos ambientes digitais de aprendizagem,perpetuando uma abordagem de ensino que emsituações tradicionais de sala de aula já se mos-traram inadequadas e ineficientes.

Ambientes digitais deaprendizagem

Ambientes digitais de aprendizagem sãosistemas computacionais disponíveis na internet,destinados ao suporte de atividades mediadaspelas tecnologias de informação e comunicação.Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens erecursos, apresentar informações de maneiraorganizada, desenvolver interações entre pessoase objetos de conhecimento, elaborar e socializarproduções tendo em vista atingir determinadosobjetivos. As atividades se desenvolvem no tem-po, ritmo de trabalho e espaço em que cadaparticipante se localiza, de acordo com umaintencionalidade explícita e um planejamentoprévio denominado design educacional2 (Cam-pos; Rocha, 1998; Paas, 2002), o qual constituia espinha dorsal das atividades a realizar, sendorevisto e reelaborado continuamente no anda-mento da atividade.

Os recursos dos ambientes digitais deaprendizagem são basicamente os mesmos exis-tentes na internet (correio, fórum, bate-papo,conferência, banco de recursos, etc.), com avantagem de propiciar a gestão da informaçãosegundo critérios preestabelecidos de organiza-ção definidos de acordo com as características

1. O uso da denominação tutor pode escamotear a presença de um pro-fissional responsável pelas interações com os alunos, com qualificaçãoinferior às exigidas do professor.2. Optei pelo uso do termo design educacional adotado por diversos autorespor considerá-lo mais adequado e amplo porque abarca distintas concep-ções de ensino e aprendizagem. Outros autores utilizem a denominaçãodesign instrucional, o qual traz subjacente a concepção de treinamento.

Paulo
Realce
Page 6: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

332 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...

de cada software. Possuem bancos de informa-ções representadas em diferentes mídias (textos,imagens, vídeos, hipertextos), e interligadascom conexões constituídas de links internos ouexternos ao sistema.

O gerenciamento desses ambientes dizrespeito a diferentes aspectos, destacando-sea gestão das estratégias de comunicação emobilização dos participantes, a gestão daparticipação dos alunos por meio do registrodas produções, interações e caminhos percor-ridos, a gestão do apoio e orientação dos for-madores aos alunos e a gestão da avaliação.

Os ambientes digitais de aprendizagempodem ser empregados como suporte para sis-temas de educação a distância realizados exclu-sivamente on-line, para apoio às atividadespresenciais de sala de aula, permitindo expan-dir as interações da aula para além do espaço–tempo do encontro face a face ou para supor-te a atividades de formação semipresencial nasquais o ambiente digital poderá ser utilizadotanto nas ações presenciais como nas ativida-des à distância.

A fim de melhor compreender as diversasmetodologias com as quais se desenvolve a edu-cação a distância, com suporte em ambientes di-gitais de aprendizagem, é importante especificar osignificado de alguns termos freqüentemente em-pregados como equivalentes, mas que possuemespecificidades relacionadas com as formas comoesses ambientes são incorporados ao processoeducacional, quer se realizem nas modalidadestradicionais do ensino formal, quer sejam ativida-des livres ou relacionadas a programas de forma-ção continuada.

Educação on-line, educação a distân-cia e e-Learning são termos usuais da área,porém não são congruentes entre si. A educa-ção a distância pode se realizar pelo uso dediferentes meios (correspondência postal oueletrônica, rádio, televisão, telefone, fax, com-putador, internet, etc.), técnicas que possibi-litem a comunicação e abordagens educacio-nais; baseia-se tanto na noção de distânciafísica entre o aluno e o professor como na fle-

xibilidade do tempo e na localização do alu-no em qualquer espaço.

Educação on-line é uma modalidade deeducação a distância realizada via internet, cujacomunicação ocorre de forma sincrônicas ouassincrônicas. Tanto pode utilizar a internetpara distribuir rapidamente as informaçõescomo pode fazer uso da interatividade propici-ada pela internet para concretizar a interaçãoentre as pessoas, cuja comunicação pode sedar de acordo com distintas modalidades co-municativas, a saber:

• comunicação um a um, ou dito de outraforma, comunicação entre uma e outra pes-soa, como é o caso da comunicação via e-mail,que pode ter uma mensagem enviada paramuitas pessoas desde que exista uma listaespecífica para tal fim, mas sua concepção éa mesma da correspondência tradicional, por-tanto, existe uma pessoa que remete a infor-mação e outra que a recebe;• comunicação de um para muitos, ou seja,de uma pessoa para muitas pessoas, comoocorre no uso de fóruns de discussão, nosquais existe um mediador e todos que têmacesso ao fórum, enxergam as intervenções efazem suas intervenções;• comunicação de muitas pessoas para mui-tas pessoas, ou comunicação estelar, quepode ocorrer na construção colaborativa deum site ou na criação de um grupo virtual,como é o caso das comunidades colabo-rativas em que todos participam da criação edesenvolvimento da própria comunidade erespectivas produções.

O e-Learning é uma modalidade deeducação a distância com suporte na internetque se desenvolveu a partir de necessidades deempresas relacionadas com o treinamento deseus funcionários, cujas práticas estão cen-tradas na seleção, organização e disponi-bilização de recursos didáticos hipermediá-ticos. Porém, devido ao baixo aproveitamentodo potencial de interatividade das TIC na cria-

Paulo
Realce
Paulo
Realce
Paulo
Realce
Page 7: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

333Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003

ção de condições que concretizem a interaçãoentre as pessoas, a troca de experiências einformações, a resolução de problemas, a aná-lise colaborativa de cenários e os estudos decasos específicos, profissionais envolvidos como e-Learning vêm denunciando a falta deinteração entre as pessoas como fator dedesmotivação, de altos índices de desistênciae baixa produtividade.

Assim, o e-Learning originado no treina-mento corporativo segundo a perspectiva de trei-namento começa a incorporar práticas voltadasao desenvolvimento de competências por meio dainteração e colaboração entre os aprendizes.3

Considerado no momento a solução para superaras dificuldades de tempo, deslocamento e espa-ço físico que comporte muitas pessoas reunidas,o e-Learning está sendo apontado como a ten-dência atual de treinamento, aprendizagem eformação continuada no setor empresarial.

Na EaD em meio digital, pode-se obser-var que existe um foco central em determinadoaspecto, diretamente relacionado com a aborda-gem educacional implícita, o qual pode ser:

• O material instrucional disponibilizado, cujaabordagem está centrada na informação fo-rnecida por um tutorial ou livro eletrônicohipermediático. Essa abordagem se assemelhaà auto-instrução e distribuição de materiais,chegando a dispensar a figura do professor.• O professor, considerado o centro do pro-cesso educacional, o que indica abordagemcentrada na instrução fornecida pelo profes-sor, que recebe distintas denominações deacordo com a proposta do curso.• O aluno, que aprende por si mesmo, emcontato com os objetos disponibilizados noambiente, realizando as atividades propostasa seu tempo e de seu espaço.• As relações que podem se estabelecer entretodos os participantes evidenciando um pro-cesso educacional colaborativo no qual todosse comunicam com todos e podem produzirconhecimento, como ocorre nas comunidadesvirtuais colaborativas.

Em um mesmo curso à distância, con-forme as características da atividade, pode existiralternância entre focos, sendo possível lançarmão de diferentes meios e recursos, tais comohipertextos veiculados em CD-Rom, distribuiçãode material impresso via correios, vídeos,teleconferências, etc. Porém, sempre há um focoque se sobressai entre os demais e uma concep-ção educacional subjacente. Autores que se de-dicam a estudar EaD, principalmente no setorcorporativo, indicam o blended learning4 (DaNova, 2003)5 como uma tendência potencial daEaD, apontando para a capacidade de um mes-mo sistema integrar diferentes tecnologias emetodologias de aprendizagem com o intuito deatender necessidades e possibilidades das orga-nizações, considerar as condições de aprendiza-gem dos aprendizes visando potencializar aaprendizagem e o alcance dos objetivos. Tam-bém denominado e-Learning híbrido, pode en-globar auto-formação assincrônicas, interaçõessincrônicas em ambientes virtuais, encontros ouaulas e conferências presenciais, outras dinâmi-cas usuais de aprendizagem e diversos meios desuporte à formação, tanto digitais como outrosmais convencionais.

A distância geográfica e o uso de múl-tiplas mídias são características inerentes à edu-cação a distância, mas não são suficientes paradefinirem a concepção educacional. A par dis-so, a ótica presente na regulamentação do artigo80 da LDB, do Decreto nº 2.494 de 10/02/98, in-dica como característica da educação a distânciaa auto-aprendizagem mediada por recursos didá-ticos, sem salientar o papel do aluno e do profes-sor, bem como as respectivas interações e in-tencionalidades implícitas em todo ato pedagó-gico voltado ao desenvolvimento de competên-cias, habilidades e atitudes.

A noção de proximidade é relativa à abor-dagem educacional adotada, a qual subjaz a todo

3. A esse respeito, consultar Lucena (2003).4. O termo blended em Inglês significa mistura, ou seja, uma combina-ção com o objetivo de atingir melhores resultados.5. Disponível em: <http://morpheus.led.ufsc.br:18080/portal/revista_materias.jsp?id_secao=6&id_materia=2971>

Paulo
Realce
Page 8: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

334 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...

ato educativo, presencial ou à distância. Além disso,a educação presencial também pode fazer uso derecursos hipermediaticos. A amplitude da distânciaé dada pela concepção epistemológica e respecti-va abordagem pedagógica, a qual separa ou apro-xima professor e alunos. Existe um conjunto deaspectos indicadores da coerência com a concep-ção epistemológica que interferem na distância edireção comunicacional criada entre professor ealunos, os quais se fazem presente tanto na edu-cação presencial como na educação a distância. Adistância, que pode afastar ou aproximar as pes-soas, se refere à mediação pedagógica, sendo de-signada por Moore como “distância transacional”,cuja amplitude pode ser medida pelo nível dodiálogo educativo que pode variar de baixo a fre-qüente e pelo grau da estrutura variável entre rí-gida e flexível (Bouchard, 2000, p. 76).

Cada recurso mediático empregado naeducação a distância contém característicasestruturais específicas e níveis de diálogos pos-síveis de acordo com a própria mídia, os quaisinterferem no nível da distância transacional.Da mesma forma, em um ambiente de sala deaula o nível de diálogo e participação dos alu-nos é propiciado pela abordagem pedagógicaassumida pelo professor e respectivas estra-tégias e mediações pedagógicas. Bouchard(2000, p. 78) prefere tratar da “latitude” ine-rente a determinada mídia “em função das es-truturas e do diálogo que ela autoriza ou nãoautoriza, ao invés do grau absoluto de distân-cia intrínseca da mídia”.

Portanto, EaD não é apenas uma solu-ção paliativa para atender alunos situados dis-tantes geograficamente das instituições educa-cionais nem trata da simples transposição deconteúdos e métodos de ensino presencial paraoutros meios telemáticos.6 Os programas deEaD podem ter o nível de diálogo priorizado ounão segundo a concepção epistemológica erespectiva abordagem pedagógica.

Entretanto, mesmo com o uso de recur-sos das TIC, observa-se com maior freqüência aocorrência de programas de EaD centrados nadisponibilidade de materiais didáticos textuais ou

hipertextuais, cabendo ao aprendiz navegarpelos materiais, realizar as atividades propostase dar as respostas, muitas vezes isolado, semcontato com o formador ou com os demaisparticipantes do programa. Nesse caso, o exer-cício da autonomia pelo aprendiz incita-lhe atomada de decisão sobre os caminhos a seguirna exploração dos conteúdos apresentados e adisciplina nos horários de estudos. Os recursosdas TIC podem ser empregados para controlar oscaminhos percorridos pelo aprendiz, automatizaro fornecimento de respostas às suas atividadese o feedback em relação ao seu desempenho.

Participar de um ambiente digital seaproxima do estar junto virtual (Prado e Valen-te, 2002), uma vez que atuar nesse ambientesignifica expressar pensamentos, tomar deci-sões, dialogar, trocar informações e experiên-cias e produzir conhecimento. As interações pormeio dos recursos disponíveis no ambientepropiciam as trocas individuais e a constituiçãode grupos colaborativos que interagem, discu-tem problemáticas e temas de interesses co-muns, pesquisam e criam produtos ao mesmotempo que se desenvolvem (Almeida, 2001).

Desde modo, formam-se as redes deaprendizagem que empregam Computer Me-diated Communications (CMC) para aprenderem conjunto por meio da interação, comunica-ção multidirecional e produção colaborativa(Baranauskas et al., 1999), com suporte emambientes digitais de aprendizagem, nos quaiscada pessoa busca as informações que lhe sãomais pertinentes, internaliza-as, apropria-sedelas e as transforma em uma nova represen-tação, ao mesmo tempo em que se transformae volta a agir no grupo transformado e trans-formando o grupo.

Ensinar em ambientes digitais e inte-rativos de aprendizagem significa: organizar si-tuações de aprendizagem, planejar e proporatividades; disponibilizar materiais de apoio como uso de múltiplas mídias e linguagens; ter umprofessor que atue como mediador e orientador

6.Telemáticos: originário do grego tele, que significa “longe”, “distante”.

Paulo
Realce
Page 9: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

335Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003

do aluno, procurando identificar suas represen-tações de pensamento; fornecer informações re-levantes, incentivar a busca de distintas fontesde informações e a realização de experimenta-ções; provocar a reflexão sobre processos eprodutos; favorecer a formalização de conceitos;propiciar a interaprendizagem e a aprendizagemsignificativa do aluno.

Aprender é planejar; desenvolver ações;receber, selecionar e enviar informações; estabelecerconexões; refletir sobre o processo em desenvol-vimento em conjunto com os pares; desenvolver ainteraprendizagem, a competência de resolver pro-blemas em grupo e a autonomia em relação àbusca, ao fazer e compreender. As informações sãoselecionadas, organizadas e contextualizadas se-gundo as expectativas do grupo, permitindo esta-belecer múltiplas e mútuas relações, retroações erecursões, atribuindo-lhes um novo sentido queultrapassa a compreensão individual.

Com o uso de ambientes digitais deaprendizagem, redefine-se o papel do professorque finalmente pode compreender a importân-cia de ser parceiro de seus alunos e escritor desuas idéias e propostas, aquele que navega juntocom os alunos, apontando as possibilidades dosnovos caminhos sem a preocupação de ter ex-perimentado passar por eles algum dia. O pro-fessor provoca o aluno a descobrir novos signi-ficados para si mesmo ao incentivar o trabalhocom problemáticas que fazem sentido naquelecontexto e que possam despertar o prazer daescrita para expressar o pensamento, da leiturapara compreender o pensamento do outro, dacomunicação para compartilhar idéias e sonhos,da realização conjunta de produções e do de-senvolvimento de projetos colaborativos. Desen-volve-se a consciência de que se é lido paracompartilhar idéias, saberes e sentimentos e nãoapenas para ser corrigido.

Para desenvolver a educação a distânciacom suporte em ambientes digitais e interativos deaprendizagem torna-se necessária a preparação deprofissionais que possam implementar recursostecnológicos (software) condizentes com as neces-sidades educacionais, o que implica estruturar

equipes interdisciplinares constituídas por educa-dores, profissionais de design, programação e de-senvolvimento de ambientes computacionais paraEaD, com competência na criação, gerenciamentoe uso desses ambientes.

Assim, a educação a distância em am-bientes digitais e interativos de aprendizagempermite romper com as distâncias espaço-tem-porais e viabiliza a recursividade, múltiplas in-terferências, conexões e trajetórias, não se res-tringindo à disseminação de informações e ta-refas inteiramente definidas a priori. A EaD assimconcebida torna-se um sistema aberto, “commecanismos de participação e descentralizaçãoflexíveis, com regras de controle discutidas pelacomunidade e decisões tomadas por gruposinterdisciplinares” (Moraes, 1997, p. 68).

Ressalta-se que um ambiente digital deaprendizagem constitui uma ecologia da informa-ção (Nardi, 1999), criada na atividade de todos osparticipantes desse contexto, os quais à medidaque interagem, transformam a forma de represen-tar o próprio pensamento e se transformam mu-tuamente na dinâmica das inter-relações queestabelecem entre si, ao mesmo tempo em quealteram o próprio ambiente. Na ecologia da infor-mação o foco não é a tecnologia, mas a ativida-de em realização, caracterizada pela diversidade,inter-relação entre razão e emoção, evoluçãocontínua experienciada com o uso de múltiplase diversas tecnologias incorporadas aos recursosdigitais, induzindo o surgimento de outra lógi-ca e de novas percepções de temporalidade elocalidade.

A representação e a apropriação deconhecimentos nesse espaço permitem o de-senvolvimento de novas formas de raciocínio,as quais não excluem as formas lineares e hie-rárquicas da representação linear do texto im-presso, mas a extrapolam pela ênfase na vari-edade de linguagens de representação, registro,recuperação e comunicação, englobando as-pectos racionais e emocionais, em que as “ins-tituições e percepções sensoriais são utilizadaspara a compreensão do objeto de conhecimen-to em questão” (Kenski, 2003, p. 46).

Page 10: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

336 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...

O sentido de localidade diz respeito aoespaço digital ou ciberespaço, cujas condiçõessão continuamente contextualizadas nas açõesem desenvolvimento neste espaço, que fun-cionam também como ferramenta para a memó-ria. As ações realizadas no ciberespaço sãoregistradas e recuperadas a qualquer momentoe de todos os lugares com acesso à internet, oque permite refletir, apreender pensamentos eações representados, descontextualizá-las doespaço e tempo originários, apropriar-se destasações e contextualizá-las em outras situações eecologias. Dessa forma, evidenciam-se novasperspectivas para refletir e avaliar ações, repre-sentações de pensamentos, significados expres-sos e ecologias criadas.

Avaliação em educação adistância com suporte emambientes digitais de interaçãoe aprendizagem

Conforme Almeida (2002), é importantedestacar o potencial da EaD com suporte emambientes digitais e interativos de aprendiza-gem para a representação do pensamento doaprendiz e a comunicação de suas idéias, assimcomo para a produção individual e coletiva deconhecimentos. Devido à característica das TICrelacionada com o fazer, rever e refazer contí-nuos, o erro pode ser tratado como objeto deanálise e reformulação. Dito de outra forma, oaprendiz tem a oportunidade de avaliar conti-nuamente o próprio trabalho individualmenteou com a colaboração do grupo e efetuar ins-tantaneamente as reformulações que conside-re adequadas para produzir novos saberes, as-sim como pode analisar as produções dos co-legas, emitir feedback e espelhar-se nessas pro-duções. Nesse sentido, Almeida e Prado (2003)analisam uma experiência de resolução de pro-blemas em grupos colaborativos que interagemexclusivamente por meio de um ambiente digitalde interação e aprendizagem e evidenciam opotencial desses ambientes para a avaliação pro-cessual e auto-avaliação.

Ressalta-se o desafio da avaliação ten-do em vista que os alunos se localizam emdiferentes espaços e têm acesso ao ambienteem tempos distintos. Mais uma vez, o uso dasTIC em EaD traz uma contribuição essencialpelo registro contínuo das interações, produ-ções e caminhos percorridos, permitindo recu-perar instantaneamente a memória de qualqueretapa do processo, analisá-la, realizar tantasatualizações quantas forem necessárias e de-senvolver a avaliação processual no que dizrespeito a acompanhar o desenvolvimento doaprendiz e respectivas produções ou analisar aatividade em si mesma. A par disso, mesmoapós a conclusão das interações, é possívelrecuperar as informações, rever todo o processoe refazer as análises mais pertinentes em termosde avaliação.

Nesse sentido, o Projeto Nave (Almeida,2001), desenvolvido por pesquisadores do Pro-grama de Pós-Graduação em Educação: Currícu-lo, da PUC/SP, evidenciou a possibilidade detransformar a avaliação em um processo quepermite compreender o desenvolvimento do alu-no e simultaneamente analisar a atividade emrealização de modo a identificar avanços e difi-culdades a fim de redirecionar ações. Diante dadisponibilidade de acesso aos registros dasinterações e produções, o próprio aluno teve aoportunidade de realizar a auto-regulação dasua aprendizagem.

Conforme Almeida & Almeida (2003), aconcepção de conhecimento, ensino e aprendi-zagem implícita no design educacional de umcurso à distância fornece o balizamento para aavaliação. Esta poderá direcionar-se para o con-trole do desempenho do aluno de forma maiseficiente do que em atividades presenciais, umavez que os ambientes digitais de aprendizagemfornecem estatísticas sofisticadas sobre os cami-nhos percorridos pelo aluno e respectivas pro-duções. Por outro lado, o registro da participa-ção do aluno e suas respectivas produções per-mitem também acompanhá-lo, identificar suasdificuldades, orientá-lo, propor questões quedesestabilizem suas certezas inadequadas, enca-

Paulo
Realce
Page 11: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

337Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003

minhar situações que possam ajudá-lo a desen-volver-se e orientar suas produções e desenvol-ver processos avaliativos participativos. Assim, oaluno tem a oportunidade de compreender oque já sabe, o que precisa aprender e como vemse desenvolvendo ao longo do curso. Atribuirum conceito que reflita a evolução do aluno nocurso é apenas a conseqüência de sua participa-ção e desenvolvimento, devidamente registradose analisados pelo grupo em formação.

Integração de diferentestecnologias em educação adistância

Atualmente os programas de televisãoem canal aberto criam roteiros tal que ostelespectadores têm a sensação de serem par-ticipantes ativos no desenrolar das ações. De-corre daí as inúmeras chamadas para votaçãovia telefone ou e-mail, de modo que os teles-pectadores decidam o final da história ou ovencedor de determinada situação. Essa inte-ração não leva à tomada de decisão em relaçãoà própria aprendizagem e caracteriza uma par-ticipação ilusória. O que se pretende em edu-cação é uma interação que permita ao apren-diz representar as próprias idéias e participar deum processo construtivo.

As redes de televisão educativa como aTVE – TV Educativa da Fundação Roquete Pintodo MEC, TV Cultura da Fundação PadreAnchieta de São Paulo, Canal Futura das Orga-nizações Globo de Televisão, desenvolvem pro-gramas com finalidades educativas e não ape-nas de entretenimento, veiculando atividadesmais inovadoras em termos de aprendizagem einteração, segundo as características do meio.

O programa “Um Salto para o Futuro”da TV Escola – TVE vem mudando sua estrutu-ra e aumentando a participação à distância daspessoas que o assistem a partir de diferentespartes do Brasil. Anteriormente, era destinadomaior tempo do Programa para a apresentaçãode filmes e análise de especialistas, ficando umpequeno bloco para a inserção de perguntas

dos participantes remotos, as quais eram res-pondidas ao vivo pelos especialistas. Hoje, in-verteu-se a situação. Os filmes têm pequenaduração, as considerações dos especialistasproblematizam a situação apresentada pelo fil-me e os participantes têm maior tempo parafazer perguntas e receber respostas. As pergun-tas não respondidas ao vivo, podem ser respon-didas posteriormente via telefone, e-mail oufax, caracterizando uma integração entre dife-rentes tecnologias e mídias com a finalidade depromover interação.

O Programa Nacional de Informática naEducação, ProInfo, do Ministério da Educação,dedica quase metade de seus recursos à forma-ção de professores para a inserção das TIC naprática pedagógica dentro de uma ótica deinteração e construção de conhecimento. Paradar suporte a esse trabalho, uma lista de e-mailspara a interação e troca de experiências entre osprofessores-multiplicadores funciona há aproxi-madamente três anos e subsidia a formação con-tinuada. Atualmente, os professores que atuam emlocais onde existe suporte tecnológico adequado,participam de projetos de formação à distânciaatravés das TIC.

No momento, os programas ProInfo eTV Escola, ambos da Secretaria de Educação aDistância do MEC, aproximam-se e realizamprojetos que integram diferentes tecnologias naformação de educadores, na prática pedagógicae na gestão escolar, apontando uma tendênciapromissora de convergência entre mídias, lin-guagens e metodologias que deverá influir nadisseminação da EaD nos próximos anos.

Nesse sentido, o Fórum Nacional dePró-Reitores de Graduação das UniversidadesBrasileiras – ForGrad (2002, p. 14), salienta quea educação a distância pode contribuir para abusca de novos paradigmas educacionais nosentido de deslocar-se da concepção “de edu-cação como sistema fechado, voltado para atransmissão e transferência, para um sistemaaberto, implicando processos transformadoresque decorrem da experiência de cada um dossujeitos da ação educativa”.

Paulo
Realce
Page 12: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

338 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...

Educação a distância emambientes digitais de interaçãoe aprendizagem, leitura eescrita

A educação a distância com suporteem ambientes digitais numa perspectiva deinteração e construção colaborativa de conhe-cimento favorece o desenvolvimento de com-petências e habilidades relacionadas com aescrita para expressar o próprio pensamento,interpretação de textos, hipertextos e leitura deidéias registradas pelo outro participante. Decor-re daí o grande impacto que o uso dessesambientes na EaD poderá provocar não só nosistema educacional, mas também no desenvol-vimento humano e na cultura brasileira, de tra-dição essencialmente oral, tradição esta impostapela colonização e escravatura aliadas à morale à fé cristã, o que impediu o acesso da popu-lação brasileira à educação, bem como aomundo da leitura e da escrita e à conseqüenteformação de leitores e escritores (Cury, 2001).

Participar de um curso à distância emambientes digitais e colaborativos de aprendi-zagem significa mergulhar em um mundo vir-tual cuja comunicação se dá essencialmentepela leitura e interpretação de materiais didáti-cos textuais e hipertextuais, pela leitura daescrita do pensamento do outro, pela expressãodo próprio pensamento por meio da escrita.Significa conviver com a diversidade e a singu-laridade, trocar idéias e experiências, realizarsimulações, testar hipóteses, resolver problemase criar novas situações, engajando-se na cons-trução coletiva de uma ecologia da informação,na qual valores, motivações, hábitos e práticassão compartilhados.

Cada participante do ambiente tem aoportunidade de percorrer distintos caminhos,nós e conexões existentes entre informações,textos, hipertextos e imagens; ligar contextos,mídias e recursos; tornar-se receptor e emissorde informações, leitor, escritor e comunicador;criar novos nós e conexões, os quais represen-tam espaços de referência e interação que pode

ser visitado, explorado, trabalhado, não carac-terizando local de visita obrigatória.

Devido à diversidade da realidade brasi-leira e à dificuldade ou até impossibilidade deacesso às TIC por parcela considerável da popu-lação, a educação a distância no Brasil conti-nuará convivendo com as diferentes abordagens.Enquanto se procuram mecanismos para demo-cratizar a educação em todos os níveis, o gran-de contingente de pessoas alijadas do acesso àsTIC continuará participando de cursos à distân-cia por meio de tecnologias convencionais. Po-rém, esses cursos podem tornar-se mais interativose assumir uma abordagem mais próxima do estarjunto virtual a partir do envolvimento dos forma-dores em um programa de sua própria formaçãocontinuada por meio das TIC que os leve a refletirsobre as contribuições dessas tecnologias à prá-tica pedagógica.

O uso das TIC na EaD poderá levar à to-mada de consciência sobre a importância da par-ticipação de professores e tutores em todas asetapas da formação, a qual implica compreender oprocesso do ponto de vista educacional, tecno-lógico e comunicacional. Daí a possibilidade detransferir tal percepção para a EaD convencional ebuscar alternativas que favoreçam a interação entreos participantes e a representação do pensamen-to do aprendiz, o que começa a se evidenciar nosmeios de comunicação convencionais.

Tendo em vista a necessidade de fluênciatecnológica para que a pessoa possa participar deatividades à distância com suporte no meio digi-tal, fica explícita a intrínseca conexão entre EaD,alfabetização e inclusão digital, mas isso não sig-nifica ser esta última pré-requisito para EaD e simque há necessidade de trabalhar o desenvolvimentode competências relacionadas com a alfabetizaçãoe inclusão digital quando as pessoas se propõema participar de cursos à distância. A par disso,observa-se que os cursos à distância em ambien-tes digitais e interativos de aprendizagem incitamo desenvolvimento da expressão do pensamentopela representação escrita quando o aprendiz tema oportunidade de discutir, expressar-se livremen-te e desenvolver produções individuais e grupais.

Paulo
Realce
Page 13: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

339Educação e Pesquisa, São Paulo, v.29, n.2, p. 327-340, jul./dez. 2003

Referências bibliográficas

ALMEIDA, M. E. B. Incorporação da tecnologia de informação na escola: vencendo desafios, articulando saberes, tecendo a rede.In: MORAES, M. C. (Org.). Educação a distância: fundamentos e práticas. Campinas, SP: NIED/Unicamp, 2002.

______. Formando professores para atuar em ambientes virtuais de aprendizagem. In: ALMEIDA, F. J. (Coord). Projeto Nave.Educação a distância: formação de professores em ambientes virtuais e colaborativos de aprendizagem. São Paulo: [s.n.],2001.

______. O computador na escola: contextualizando a formação de professores. 2000. Tese (Doutorado em Educação)_ PontifíciaUniversidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.

ALMEIDA, F. J.; ALMEIDA, M. E. B. Educação a distância em meio digital: novos espaços e outros tempos de aprender, ensinar eavaliar. Virtual Educa2003, Miami, USA, 2003.

______. Aprendizagem colaborativa: o professor e o aluno ressignificados. In: ALMEIDA, F. J. (Coord). Projeto Nave. Educação adistância: formação de professores em ambientes virtuais e colaborativos de aprendizagem. São Paulo: [s.n.], 2001.

ALMEIDA, M. E. B.; PRADO, M. E. B. B. Criando situações de aprendizagem colaborativa. In: VALENTE, J. A.; ALMEIDA, M. E. B.;PRADO M. E. B. (Org.). Internet e formação de educadores a distância. São Paulo: Avercamp, 2003.

BARANAUSKAS, C. et al. Uma taxonomia para ambientes de aprendizado baseados no computador. In: VALENTE, J. A. Ocomputador na sociedade do conhecimento. Campinas, SP: UNICAMP/NIED, 1999.

BOUCHARD, P. Autonomia e distância transacional na formação a distância. In: ALAVA, S. (Org.). Ciberespaço e formaçõesabertas. Porto Alegre: Artmed, 2000.

CAMPOS, F.; ROCHA, A. R. Design instrucional e construtivismo: em busca de modelos para o desenvolvimento de software. In:CONGRESSO RIBIE, 4., 1998. Brasília, DF, 1998. Disponível em: <http://www.niee.ufrgs.br/ribie98/ TRABALHOS/250M.PDF>.

CURY, C. R. J. Desafios da educação escolar básica no Brasil. Minas Gerais: PUC, 2001. Mimeografado.

Da NOVA, F. Quais as novas opções tecnológicas do blended learning? UFSC: LED, 2003. Disponível em: <http://morpheus.led.ufsc.br:18080/portal/revista_ materias.jsp?idsecao=6&idmateria=2971>. Acesso em: 4 nov. 2003.

FÓRUM NACIONAL DE PRÓ-REITORES DE GRADUAÇÃO DAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS. Educação a Distância (EAD) nagraduação: as políticas e as práticas. Curitiba, 2002.

KEEGAN, D. Foundations of distance education. 2. ed. Londres: Routledge, 1991.

KENSKI, V. M. Tecnologia e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, 2003.

LEVY, P. Cibercultura. Rio de Janeiro: Ed. 34. 1999.

LUCENA, B. O design no e-learning. [s.d.]. Disponível em: <http://www.timaster.com.br/revista/artigos/main artigo.asp?codigo=664>Acesso em: fev. 2003.

MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. Campinas: Papirus, 1997.

NARDI, B. A.; O’DAY, V. L. Information ecologies. 2. ed. Cambridge: MIT Press, 1999.

NUNES, I. B. Noções de educação a distância. Revista Educação a Distância, Brasília, n. 4/5, p. 7-25, dez./abr. 1993-1994.

PAAS, L. Design educacional. UFSC: LIED, 2001. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disc/tecmc/designedu.html> Acessoem: set. 2002.

Page 14: Educação a distância na internet: abordagens e contribuições dos ambientes digitais de aprendizagem - Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida

340 Maria Elizabeth B. de ALMEIDA. Educação a distância na Internet:...

PERAYA, D. O ciberespaço: um dispositivo de comunicação e de formação midiatizada. In: ALAVA, S. Ciberespaço e formaçõesabertas: rumo a novas práticas educacionais? Porto Alegre: Artmed, 2002.

PRADO, M. E. B. B.; VALENTE, J. A. A. Educação a distância possibilitando a formação do professor com base no ciclo da práticapedagógica. In: MORAES, M. C. Educação a distância: fundamentos e práticas. Campinas: Unicamp/NIED, 2002.

SILVA, M. Sala de aula interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.

Recebido em 10.11.03Aprovado em 26.11.03

Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida é professora da PUC/SP, Departamento Ciência da Computação e Programa dePós-Graduação em Educação. Doutora em Educação, PUC/SP. Autora de publicações sobre tecnologia e formação deeducadores. Co-organizadora das obras: Educação a distância via Internet; Gestão Educacional e Tecnologia, da ColeçãoFormação de Professores (Avercamp - 2003).