Educação Ambiental Natureza vira nova ‘sala’ de aula · 12 primeiro caderno EDUCAÇÃO...

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12 primeiro caderno valeparaibano | DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009 EDUCAÇÃO Beatriz Rosa São José dos Campos Educadores de São José estão levando recursos da natureza para ensinar biologia e ciências na sala de aula. De uma maneira irreverente, estudantes de São José estão aprendendo educação ambiental em uma linguagem di- nâmica e interativa. Ações que, segundo os educa- dores, estão aproximando os es- tudantes da realidade ambiental da região. Esse é o caso do pro- fessor de biologia Paulo José de Sawaya, o Zezio, que buscou em uma reserva da Mata Atlântica, em Natividade da Serra, experi- mentos para tornar a aula mais interativa. Professor há 18 anos, ele traba- lha atualmente na educação de 400 alunos do Colégio Poliedro. E para atrair a atenção da garotada, decidiu passar três dias em mata fechada para montar uma coleção botânica com 200 amostras de es- pécies da Mata Atlântica. O material foi colocado em pe- quenos frascos e preservado em álcool. São espécies de plantas, raízes, fungos, líquens, sementes, cascas de árvores, pedras e solo em decomposição —todas espé- cies removidas do chão e já mor- tas, que serão utilizadas durante as aulas. Segundo ele, o livro será o guia e as amostras espécies reais para aproximar o estudante do Educação Ambiental Natureza vira nova ‘sala’ de aula Para melhor absorção da teoria, professores optam por realizar vivências ao ar livre Paulo Sawaya/divulgação Thiago Leon Saiba Mais Algumas atividades da rede de S. José Oficinas de foguetes, experimentos es- paciais, observações em microscópios, revitalização de nascentes, visitas à ins- titutos de pesquisas, entre outros Atividades lúdicas e interativas pontuais de alguns professores Expedições ao Banhado, Pedaladas-am- bientais à Represa de Paraibuna, aulas ao ar livre, uso da terra e de frutos como pig- mentos de coloração, teatros com perso- nagens da natureza e um banco de dados com espécies vegetais, entre outros Fonte: Reportagem Os alunos estão imediatistas e informados. Para cultivá-los é preciso usar a criatividade. Essa aproximação do aluno com o real é bem aceita na sala de aula e torna o conhecimento mais interessante Paulo Sawaya, professor de biologia Rede municipal aposta na fórmula São José dos Campos Experimentos espaciais e pro- jetos ambientais são as apostas da rede municipal de educação no aprendizado dos cerca de 57 mil estudantes da rede de São José dos Campos. Segundo a orientadora de ciências da rede, Elisa Farinha, desde 2006 a rede vem trabalhan- do na formação de professores nas áreas de ciências e geografia em parceria com a AEB (Agência Espacial Brasileira). Formação que é revertida em aulas práticas de astronomia e astronáutica. “Oficinas de lançamento de fo- guete, maquetes e palestras com profissionais das áreas estão es- timulando nos professores e alu- nos”, disse Elisa. Em parceria com o Programa de Microgravidade, outras cinco escolas da rede já desenvolvem um novo experimento espacial que será lançado a um ambiente de microgravidade em um fogue- te de sondagem VSB-30 em data ainda a ser confirmada. Alunos de outras 13 escolas da rede estão aprendendo a impor- tância da mata ciliar na preserva- ção de nossas águas com o proje- to de Revitalização das Nascentes da Secretaria de Meio Ambiente. verdadeiro cenário ambiental da Mata Atlântica. Zezio também documentou es- pécies da fauna e da flora local por meio de 600 fotografias. As imagens futuramente serão utili- zadas em um livro. INCURSÃO - As amostras foram co- letadas em uma área de mata fe- chada na cidade de Natividade da Serra. Durante três dias, Zezio fez uma imersão na mata na com- panhia de um grupo de estudio- sos —um agrônomo, um ambien- talista e um mateiro. Foram 32 quilômetros de caminhada den- tro da mata. O material morto coletado no chão da Mata Atlântica foi utiliza- do na montagem de um banco de dados botânico. As amostras se- rão levadas em um carrinho de mão, denominado Estação Char- les Darwin. A estação do saber de Zezio. LÚDICO - O biólogo e professor do Colégio Técnico Opção, Taciano Gonçalves também aposta no lú- dico e nas aulas ao ar livre para ensinar biologia e ciência. Entre alguns de seus projetos se destacam a expedição pelo Rio Paraíba, na região do Banha- do em São José, acompanhado de seus alunos e de ações comu- nitárias como a produção de mini-hortas e mini-jardins. Gonçalves, que também de- senvolve projetos ambientais destinados para 520 alunos do Colégio Natural Vivência, aposta em um novo projeto destinado à ala infantil. O projeto ‘Tintas da Terra’, tem o objetivo de mostrar que a terra e frutos da natureza como o aça- frão e o urucum podem ser utiliza- dos como pigmentos naturais na pintura de casas de forma susten- tável. Outro projeto de Gonçalves consiste em produzir peças tea- trais, nas quais os alunos são per- sonagens da natureza. “A interatividade faz com que os alunos visualizem a impor- tância de preservar os recursos naturais. Abordar questões so- bre meio ambiente brincando transforma aulas em shows. To- dos gostam de shows. Eu elabo- ro minhas aulas pensando em como o aluno gostaria de ver e sentir.” AVALIAÇÃO - Segundo o professor- doutor em História da Educação, Mauro Castilho Gonçalves, da Unitau (Universidade de Tauba- té), durante a formação do pro- fessor, ele é incentivado a inves- tir em atividades práticas que fa- voreçam o contato direto do alu- no com o conteúdo do ensino. Mas, ele alerta:. “É essencial mesclar prática com exercícios de reflexão. Juntas, elas garan- tem o verdadeiro conhecimento científico.” AO AR LIVRE Em trecho da Mata Atlântica em Natividade da Serra, alunos coletaram espécies de plantas, raízes, fungos, líquens e sementes para a coleção botânica ; ao lado , Paulo Sawaya apresenta a Estação Charles Darwin

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12 primeiro caderno valeparaibano | DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009EDUCAÇÃO

Beatriz RosaSão José dos Campos

Educadores de São José estãolevando recursos da naturezapara ensinar biologia e ciênciasna sala de aula. De uma maneirairreverente, estudantes de SãoJosé estão aprendendo educaçãoambiental em uma linguagem di-nâmica e interativa.

Ações que, segundo os educa-dores, estão aproximando os es-tudantes da realidade ambientalda região. Esse é o caso do pro-fessor de biologia Paulo José deSawaya, o Zezio, que buscou emuma reserva da Mata Atlântica,em Natividade da Serra, experi-mentos para tornar a aula maisinterativa.

Professor há 18 anos, ele traba-lha atualmente na educação de400 alunos do Colégio Poliedro. Epara atrair a atenção da garotada,decidiu passar três dias em matafechada para montar uma coleçãobotânica com 200 amostras de es-pécies da Mata Atlântica.

O material foi colocado em pe-quenos frascos e preservado emálcool. São espécies de plantas,raízes, fungos, líquens, sementes,cascas de árvores, pedras e soloem decomposição —todas espé-cies removidas do chão e já mor-tas, que serão utilizadas duranteas aulas.

Segundo ele, o livro será o guiae as amostras espécies reais paraaproximar o estudante do �

Educação Ambiental

Natureza vira nova ‘sala’ de aulaPara melhor absorção da teoria, professores optam por realizar vivências ao ar livre

Paulo Sawaya/divulgação

Thiago Leon

Saiba Mais

Algumas atividades da rede de S. José

Oficinas de foguetes, experimentos es-paciais, observações em microscópios,revitalização de nascentes, visitas à ins-titutos de pesquisas, entre outros

Atividades lúdicas e interativaspontuais de alguns professores

Expedições ao Banhado, Pedaladas-am-bientais à Represa de Paraibuna, aulas aoar livre, uso da terra e de frutos como pig-mentos de coloração, teatros com perso-nagens da natureza e um banco de dadoscom espécies vegetais, entre outros

Fonte: Reportagem

Os alunos estãoimediatistas einformados. Paracultivá-los é precisousar a criatividade.Essa aproximação doaluno com o real é bemaceita na sala de aulae torna o conhecimentomais interessantePaulo Sawaya, professorde biologia

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Rede municipal aposta na fórmulaSão José dos Campos

Experimentos espaciais e pro-jetos ambientais são as apostasda rede municipal de educaçãono aprendizado dos cerca de 57mil estudantes da rede de SãoJosé dos Campos.

Segundo a orientadora deciências da rede, Elisa Farinha,desde 2006 a rede vem trabalhan-do na formação de professores

nas áreas de ciências e geografiaem parceria com a AEB (AgênciaEspacial Brasileira). Formaçãoque é revertida em aulas práticasde astronomia e astronáutica.

“Oficinas de lançamento de fo-guete, maquetes e palestras comprofissionais das áreas estão es-timulando nos professores e alu-nos”, disse Elisa.

Em parceria com o Programade Microgravidade, outras cinco

escolas da rede já desenvolvemum novo experimento espacialque será lançado a um ambientede microgravidade em um fogue-te de sondagem VSB-30 em dataainda a ser confirmada.

Alunos de outras 13 escolas darede estão aprendendo a impor-tância da mata ciliar na preserva-ção de nossas águas com o proje-to de Revitalização das Nascentesda Secretaria de Meio Ambiente.

� verdadeiro cenário ambientalda Mata Atlântica.

Zezio também documentou es-pécies da fauna e da flora localpor meio de 600 fotografias. Asimagens futuramente serão utili-zadas em um livro.

INCURSÃO - As amostras foram co-letadas em uma área de mata fe-chada na cidade de Natividadeda Serra. Durante três dias, Zeziofez uma imersão na mata na com-panhia de um grupo de estudio-sos —um agrônomo, um ambien-talista e um mateiro. Foram 32quilômetros de caminhada den-tro da mata.

O material morto coletado nochão da Mata Atlântica foi utiliza-do na montagem de um banco dedados botânico. As amostras se-rão levadas em um carrinho demão, denominado Estação Char-les Darwin. A estação do saberde Zezio.

LÚDICO - O biólogo e professor doColégio Técnico Opção, TacianoGonçalves também aposta no lú-dico e nas aulas ao ar livre paraensinar biologia e ciência.

Entre alguns de seus projetosse destacam a expedição peloRio Paraíba, na região do Banha-do em São José, acompanhadode seus alunos e de ações comu-nitárias como a produção demini-hortas e mini-jardins.

Gonçalves, que também de-senvolve projetos ambientaisdestinados para 520 alunos doColégio Natural Vivência, apostaem um novo projeto destinado àala infantil.

O projeto ‘Tintas da Terra’, temo objetivo de mostrar que a terra efrutos da natureza como o aça-frão e o urucum podem ser utiliza-dos como pigmentos naturais napintura de casas de forma susten-tável. Outro projeto de Gonçalvesconsiste em produzir peças tea-trais, nas quais os alunos são per-sonagens da natureza.

“A interatividade faz com queos alunos visualizem a impor-tância de preservar os recursosnaturais. Abordar questões so-bre meio ambiente brincandotransforma aulas em shows. To-dos gostam de shows. Eu elabo-ro minhas aulas pensando emcomo o aluno gostaria de ver esentir.”

AVALIAÇÃO - Segundo o professor-doutor em História da Educação,Mauro Castilho Gonçalves, daUnitau (Universidade de Tauba-té), durante a formação do pro-fessor, ele é incentivado a inves-tir em atividades práticas que fa-voreçam o contato direto do alu-no com o conteúdo do ensino.Mas, ele alerta:. “É essencialmesclar prática com exercíciosde reflexão. Juntas, elas garan-tem o verdadeiro conhecimentocientífico.”

AO AR LIVRE Em trecho da Mata Atlântica em Natividadeda Serra, alunos coletaram espécies de plantas, raízes,fungos, líquens e sementes para a coleção botânica ; ao

lado , Paulo Sawaya apresenta a Estação Charles Darwin