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Área 3 – SMA Ferreira, F. et. al. – EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUSTENTBILIDADE ... Área: 3 – Sociedade e Meio Ambiente Educação Ambiental: sustentabilidade nas atividades apícolas na Serra do Tabuleiro Elisete Ferreira Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Marilene Vilhena De Oliveira Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Antonio Villaca Torres Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Maclovia Corrêa da Silva Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Eloy Fassi Casagrande Júnior Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected]

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Área 3 – SMA Ferreira, F. et. al. – EDUCAÇÃO AMBIENTAL: SUSTENTBILIDADE ...

Área: 3 – Sociedade e Meio Ambiente

Educação Ambiental: sustentabilidade nas atividades apícolas na Serra do Tabuleiro

Elisete Ferreira Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Marilene Vilhena De Oliveira Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Antonio Villaca Torres Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Maclovia Corrêa da Silva Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected] Eloy Fassi Casagrande Júnior Programa de Pós-Graduação em Tecnologia Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Rua Sete de Setembro, 3165 CEP80230-901, Curitiba, PR Telefone/Fax (041) 3310-4711 e 3310-4712 [email protected]

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Resumo: Os Municípios de Paulo Lopes, Imbituba, Imaruí, Garopaba, Laguna, Palhoça, Santo Amaro da Imperatriz, Águas Mornas, São Bonifácio e São Martinho, todos integrantes do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, no Litoral Sul de Santa Catarina, mantinham atividades de agricultura intensiva e de apicultura. Com o passar dos anos, nesses municípios, em função das atividades econômicas, houve uma diminuição da mata nativa, fato que prejudicou sobremaneira as atividades de coleta de mel feita pelos apicultores. A empresa ELETROSUL em parceria com a Organização Não Governamental denominada Associação dos Apicultores e Agricultores Orgânicos do Vale do Rio D’Una- APIVALE, promoveu o replantio de árvores melíferas em projeto de educação ambiental junto às escolas da região, fomentando a sustentabilidade e uso racional de áreas adjacentes às linhas de transmissão de energia. O estudo objetivou analisar a experiência de parceria ocorrida entre profissionais, empresas e ONG, para solução de uma problemática socioambiental, ou seja, a escassez de vegetação na região atingida no entorno da mata atlântica forçando a diminuição das espécies melíferas. A metodologia de trabalho consistiu em realizar mapeamento das escolas da Serra do Tabuleiro para promover a participação dos alunos, das terceiras e quartas séries do primeiro grau, no desenvolvimento de atividades de educação ambiental. Confeccionou-se material didático, composto por cartilhas, jogos, cartazes, confecção de fantoches (Belinha e Belão). Estruturou-se ainda, teatros nas escolas para os alunos e palestras para os agricultores associados da APIVALE, além do plantio simbólico de espécies melíferas nas escolas. Como resultados das ações de educação ambiental, obteve-se um grande envolvimento das crianças, e de seus familiares, nas atividades. As escolas estiveram receptivas à participação e adoção da proposta em seus currículos, colaborando para incrementar a sensibilização da comunidade.

Palavras-chave: Apicultura; Educação Ambiental; Sustentabilidade

INTRODUÇÃO As experiências vividas com as crianças da área rural focando Educação Ambiental (EA)

durante o Projeto Mel e Energia1, partiram da realidade adquirida de seus familiares, principalmente

de seus avós. Essas experiências apontam para a valorização dos produtos das abelhas, como o mel, o pólen, o própolis, a geléia real, a cera, a apitoxina, a organização nas colméias, a polinização, além da preservação das pastagens apícolas e preservação da Mata Atlântica.

Na região em que foram desenvolvidas as atividades de EA - Parque Estadual da Serra do Tabuleiro - em 10 escolas de área rural, a maioria das famílias é de agricultores que desenvolvem também apicultura em suas propriedades como atividade de sustentabilidade nos períodos de baixa produção agrícola.

A pesquisa em si, além do embasamento teórico, apresenta o relato de atividades práticas. Estas atividades podem ser aplicadas em qualquer região do País, como atividades de Ensino Informal, criadas, planejadas e executadas por ONG's, desenvolvidas no espaço do Ensino Formal.

As atividades desenvolvidas nas escolas foram extremamente importantes em todas as suas etapas, pois se identificaram com os anseios da comunidade escolar, professores e alunos, assegurando ao Projeto Mel e Energia,uma acolhida ímpar.

A Educação Ambiental apresentada neste trabalho, usa como estratégia metodológica de ensino as atividades lúdicas, que incluem o uso de fantoches, jogos e atividades práticas de plantio de árvores melíferas, as quais possibilitam que as crianças e os seus familiares assimilem com maior facilidade os conhecimentos trabalhados.

METODOLOGIA

No primeiro momento, elaborou-se o Planejamento das atividades do Projeto Mel e Energia,

definindo a Metodologia, o material a ser distribuído e as estratégias de apresentação dos temas escolhidos para as crianças e seus familiares. Com relação às estratégias, optou-se pelo lúdico com

1 Projeto – MEL E ENERGIA: Consciência Ambiental e Plantio Sustentável de Espécies Melíferas. APIVALE e ELETROSUL, abril de 2004.

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inclusão de jogos, fantoche e o plantio simbólico, por tratar-se de atividades descontraídas e diferentes das atividades de sala de aula.

No segundo momento, foram realizadas visitas às 10 escolas para explicar sobre os detalhes do Projeto, sensibilizando os professores da importância do trabalho a ser desenvolvido, a importância da participação da comunidade escolar, e a definição dos horários e das turmas de terceira e quarta séries que iriam participar do projeto. Também se definiu o espaço físico e os equipamentos que seriam utilizados nas atividades. A partir das informações obtidas e da localização das escolas, construiu-se o Mapa de Execução das Atividades.

No terceiro momento, que compreende a execução do projeto, fez-se palestras, teatro de fantoches e plantio simbólico no jardim de cada escola, com quatro espécies de árvores melíferas da mata nativa. Essas atividades culminaram com a entrega de material didático produzido (fôlder com jogo) e certificação à escola e às crianças responsáveis por cuidar das plantas.

No quarto momento, foram desenvolvidas palestras com os familiares (agricultores) e cadastramento daqueles que tinham interesse em receber mudas das espécies melíferas para plantarem em suas propriedades.

No quinto e último momento, foram entregues as mudas para as famílias, totalizando seis mil mudas e, também os insumos para realizar o plantio.

1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Opção de ensino informal para o formal A Educação Ambiental (EA), segundo o conceito definido na Conferência de Tibilisi,

UNESCO, em 1977, é um processo contínuo no qual todos tomam consciência de seu ambiente e adquirem o conhecimento, os valores, as habilidades, as experiências e a determinação que os tornem aptos a agir e resolver os problemas ambientais presentes e futuros (DIAS, 2002, p.66). Para o NEMA (Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental, do Rio Grande do Sul), “é querer um mundo diferente, com cidadania, paz, alegria, comida, educação, emprego, liberdade,... É buscar ações de transformação para uma vida melhor no presente e no futuro”. Apesar de se conceituar EA nessa perspectiva holística, a realidade apresentada na educação formal é bastante antagônica. Paula Brügger (1999, p.78) ao falar sobre a EA “[...] pressupõe o reconhecimento de que a educação tradicional não tem sido ambiental. Conseqüentemente, o ‘ambiental’ deveria ser parte intrínseca da educação e não modalidade ou uma de suas dimensões...”.

No olhar da autora, a EA é focada apenas como estudo de problemas isolados, como se o ambiental fosse uma lista desses problemas. A EA passa a ser um ramo de estudo de desgraças e a busca para as soluções é externa a nós, colocando-nos numa posição de meros observadores e não como participantes e responsáveis do processo.

Brugger (1999, p. 78) ainda afirma que: A compartimentalização do “ambiental” ou a inserção de uma dimensão ambiental, levando o meio ambiente a uma perspectiva instrumental e o elenco de “problemas ambientais” se reduz à poluição, escassez de recursos naturais, diminuição da biodiversidade, etc. A educação ambiental vista dessa forma não ultrapassa as fronteiras da velha educação conservacionista e não faz jus, portanto ao adjetivo a que se propõe...

A abertura dada pela Lei 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), não obriga nem garante, mas facilita as práticas inovadoras. Ainda assim, há uma grande lacuna na formação dos professores que os impedem de mudanças. Esses profissionais precisam ser inseridos num processo de capacitação e, para isso, é importante a criação de espaços de trocas entre professores e alunos, e mudanças nos materiais didáticos.

Portanto, buscar compreender o meio ambiente através de outras atividades de educação informal, é uma importante estratégia e um dos caminhos para aprender a preservá-lo. A escola precisa mudar para gerar condições de compreender o “meio” onde está inserida e deixar de ser a instituição das generalizações. As estratégias de ação nas escolas implicam em inovação. Para Almeida e Fonseca Jr (2000, p.21),

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O que empobrece muito o ato de educar é a quase ausência de propostas que impliquem atividades dos alunos. Eles fazem muito pouco. Em geral, só lhes cobram repetições. Lêem, captam as idéias centrais, escrevem o que entenderam dos autores. E quanto mais seus pensamentos forem iguais aos dos autores famosos, melhor! Não se avalia o que os alunos fazem, mas sua capacidade de imitar e repetir os pensamentos que estão nos livros e os dos mestres. Aprender fazendo, agindo, experimentando é o modo mais natural, intuitivo e fácil de aprender. Isso é mais do que uma estratégia fundamental de aprendizagem: é um modo de ver o ser humano que aprende. Ele aprende pela experimentação ativa do mundo.

A EA inicia-se muito antes dos primeiros contatos com a escola, e conseqüentemente, com a educação formal. A leitura do ambiente dá-se no momento em que a criança começa a desenvolver sua percepção de mundo. Assim sendo, a construção dos valores que implica numa nova racionalidade ambiental requer, em sua prática, numa constante preparação através de debates, estudos e experiências vividas, tanto no ambiente escolar quanto no ambiente familiar e social.

2 O PÚBLICO ALVO: observações para o desenvolvimento de atividades de EA Para se obter êxito nas atividades desenvolvidas de EA , a escolha do público alvo é muito

importante, quando se trata de atividades numa perspectiva de educação participativa, com envolvimento de crianças. Para isso, é preciso fazer um diagnóstico da faixa etária das crianças para compreender as suas operações mentais e também definir algumas características próprias da EA. Além disso, é preciso quebrar alguns paradigmas da prática pedagógica convencional e estabelecer novos parâmetros para uma atuação pedagógica mais significativa. Nessa perspectiva, Telles et al. (2002, p.34-35) listam algumas características da EA nos estágios em que se encontram os estudos e práticas nos dias atuais:

Dinâmico Interativo: A EA como definiu-se na Conferência de Tibilisi. Transformador: A EA possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades capazes de

induzir a mudança de atitude. Objetiva a construção de uma nova visão das relações do homem com o seu meio, e a adoção de novas posturas individuais e coletivas em relação ao ambiente. A consolidação de novos valores, conhecimentos, competências, habilidades e atitudes, refletirão na implantação de uma nova ordem ambientalmente sustentável.

Participativo: A EA atua na sensibilização e conscientização do cidadão, estimulando a participação individual nos processos coletivos.

Abrangente: A importância da EA extrapola as atividades internas da escola tradicional e deve ser oferecida continuamente em todas as fases do ensino formal, envolvendo ainda a família e a coletividade.

Globalizador: A EA deve considerar o ambiente em seus múltiplos aspectos e atuar com visão ampla de alcance local, regional e global.

Permanente: A EA tem um caráter permanente, pois a evolução do senso crítico e a compreensão da complexidade dos aspectos que envolvem as questões ambientais se dão de modo crescente e contínuo, não se justificando sua interrupção. Despertada a consciência, ganha-se um aliado para a melhoria das condições do planeta.

Contextualizador: A EA deve atuar diretamente na realidade de cada comunidade, sem perder de vista a sua dimensão planetária.

Telles et al. (2002), considera as Operações do Pensamento de acordo com os Períodos de Desenvolvimento Intelectual da Criança por Faixa Etária, como: observar, comparar, classificar, organizar, associar, ordenar, seriar, combinar, argumentar e generalizar . Considera também que as séries ideais para se trabalhar a EA, são terceiras e quartas séries, uma vez que os alunos já estão alfabetizados.

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3 MEL E ENERGIA: Projeto sócio-ambiental para área rural O Projeto Mel e Energia foi idealizado a partir da necessidade de promover o replantio de árvores melíferas em atividades de educação ambiental junto às escolas da área rural, fomentando a sustentabilidade e o uso racional de áreas adjacentes às linhas de transmissão de energia elétrica. Através da ONG APIVALE, em parceria com a ELETROSUL, pôde-se concretizar tal idéia. Desenvolveu-se um trabalho de EA com alunos de escolas da área rural e com seus familiares, do entorno do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, focando os seguintes temas: a polinização, preservação das pastagens apícolas (conjunto de plantas de uma área ou região que produz flores e fornecem néctar, pólen e resina para as abelhas), os produtos das abelhas (cera, pólen, própolis, geléia real, apitoxina), a comercialização de abelhas rainhas, aluguel de colméias para a polinização agregando a isto, o aumento da produção de café, soja, laranja, caju e guaraná, a organização da comunidade das abelhas nas colméias (rainha, operária e zangão), além da valorização da profissão de apicultor como um dos atores importantes para o desenvolvimento das atividades agrícolas na região. O Projeto apresentou objetivos traçados e conectados dentro da realidade e necessidades das comunidades alcançadas, tendo como ponto principal, a participação de todos esses atores.

No contato com as comunidades e com as escolas, pôde-se refletir sobre a realidade do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro que, apresenta-se como uma região de preservação permanente, em que a apicultura torna-se uma atividade de contribuição para a preservação de seu ecossistema. Além disso, a apicultura possui respaldo legal, por tratar-se de ser a única atividade a ser desenvolvida dentro de áreas de preservação permanente. Essa realidade, fortalece as atividades de educação ambiental na região.

Nas atividades de EA do Projeto, com as famílias de agricultores/apicultores, evidenciou-se a importância da consciência ambiental para o aproveitamento sustentável e racional das áreas adjacentes às Linhas de Transmissão de Energia e das áreas de preservação permanente. O desenvolvimento das atividades, deu-se através de palestras, com uso de materiais e de metodologias adequadas ao público alvo, culminando no plantio de mudas de espécies de árvores melíferas (arbóreas de pequeno porte e também frutíferas) da Mata Atlântica, nas escolas e nas propriedades rurais.

Dessa forma, o Projeto promoveu uma interação do ensino formal e informal, ou seja, possibilitou-se a entrada de uma ONG no espaço da escola e da família, destacando a importância da atividade desenvolvida pelo apicultor, como colaborador da polinização e, principalmente, da necessidade da combinação da atividade de apicultura com a agricultura familiar.

4 ATIVIDADES REALIZADAS: um relato das experiências

As atividades realizadas durante a execução do Projeto Mel e Energia, foram diversificadas.

Apresentou-se às crianças o lúdico (jogo impresso e fantoche) e textos, além do plantio simbólico de árvores melíferas.

Durante a execução das atividades lúdicas em sala de aula ou em auditório, refletiu-se também sobre as condições ambientais que as abelhas estão vivendo. Situação gerada devido às posturas erradas de grandes agricultores, freqüentemente, de pessoas não pertencentes à comunidade, e de seus familiares, avós ou pais, que desenvolvem a atividade agrícola sem buscar uma interação harmônica dos ecossistemas inseridos. Enfatizou-se a imprudência ao manejar a floresta do entorno da plantação e do próprio espaço utilizado para o plantio, que poderia ter uma vegetação mais diversificada, utilizando-se a terra não só para o plantio de monocultura rotativa, mas também para o plantio permanente de flores e frutos que contribuiriam na polinização da própria monocultura rotativa. Isso possibilitaria um aumento na produção de mel e enriqueceria o ecossistema da propriedade agrícola.

Foram feitas muitas denúncias pelos alunos sobre a postura incorreta diante da natureza de vizinhos e familiares ao manejarem a terra, inclusive com queimadas muito freqüentes. Denúncias de áreas que não seriam usadas para o plantio, assim como desmatamentos desnecessários sem planejamentos, poluição de rios e riachos com agrotóxicos,dentre outros. Observou-se, também, a satisfação dos alunos em relatar situações em que seus familiares ou vizinhos contribuíram para a

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preservação do ambiente, como se evidenciam neste relato: “... meu avô sempre deixou um monte

de árvores ao redor do rio.” ou “...minha avó sempre teve muitas flores junto com a plantação, e

frutas também! E fazia muitos doces com as frutas maduras (laranja, mamão, banana, goiaba,

caju,...)”. Apresenta-se a seguir, o material didático elaborado e utilizado para o desenvolvimento das

atividades.

4.1 O fantoche A utilização do fantoche representou a porta de acesso ao universo das crianças, sendo o

facilitador e o tradutor da intermediação entre os participantes do projeto. Foram criados os personagens Belinha (a abelha operária), Belão (o zangão) e a sua Colméia-flor (Fig.1). Esses personagens dialogavam trocando muitas experiências com as crianças. A Belinha, apesar de ser uma abelha vivida, fazia muitos questionamentos ao público, filhos e netos de apicultores, que por serem conhecedores do mundo das abelhas, trocaram informações e refletiram sobre os aspectos ambientais relatados pela abelha. Os fantoches foram feitos com material de alta resistência, garantindo a interação das crianças com esses personagens, que foram passando de grupo em grupo, de alunos, no momento em que o texto tomava forma e o diálogo tornava-se mais real. Nesses momentos vinham à tona relatos de experiências das crianças e de seus familiares com a comunidade das abelhas, experiências alegres, criativas e muito importantes.

No diálogo com as crianças pode ser destacado inúmeras formas de anular o efeito da apitoxina (toxina da picada da abelha), que podem ser realizadas por seus familiares e por eles mesmos, através do uso de faca, com lâmina deitada, amassando a picada. O uso de alho amassado, amarrando o local e fazendo um curativo e o gelo, usado como compressa, dentre outras práticas.

Também se deu oportunidade à troca de informações sobre a formação da comunidade das abelhas, tempo de vida, viagem nupcial, caixas de abelhas clandestinas e comercialização de mel falsificado, uma informação trazida pelas crianças. Com os fantoches em mãos, as crianças se sentiam autorizadas em dar vida às informações, socializando os saberes trazidos de conversas informais no ambiente doméstico.

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 1 – Belão, Belinha e Colméia-Flor: Interação na Escola...

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4.2 Os Textos e Jogos Impressos Os textos foram feitos cada um, em uma face da folha. De um lado, o jogo e, do outro, o

texto, com o objetivo de ser o feed-back do trabalho realizado. Neles, mostram-se os produtos das abelhas, suas necessidades e utilidades, e apresenta-se a importância da atuação do apicultor, ou seja, a proposta de associar a apicultura à agricultura com suas vantagens econômicas e ambientais. Essa combinação de atividades apícolas e de agricultura diversifica o ecossistema, gerando uma atuação na sustentabilidade do ambiente. Além disso, os textos mostram um pouco sobre a história e os trabalhos ambientais desenvolvidos pela ONG APIVALE e pelo colaborador ELETROSUL (Fig. 2).

Nos jogos foi utilizado o princípio do Ludo, com um dado personalizado e fichas coloridas, ambos de papel. Os conceitos principais trabalhados nas palestras foram reforçados nesse momento (Figs. 3, 4 e 5).

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 2 – Parte informativa do folder.

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 3 – O Jogo: parte lúdica do folder

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Fonte: elaborado pelos autores

Figura 4 – o Kit do Jogo

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 5 – Integração: alunos jogando

4.3 O Plantio Simbólico

Nas 10 escolas onde o projeto foi implantado realizou-se o plantio simbólico de árvores, após as palestras. No momento do plantio, foram escolhidos três ou quatros alunos para executar o plantio de mudas de espécies melíferas da Mata Atlântica. Essas espécies eram próprias do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. As escolas e os alunos receberam os Certificados "Escola Amiga da Mata Atlântica" e “Aluno Amigo da Mata Atlântica”, ficando este aluno escolhido, responsável pelo acompanhamento do desenvolvimento das árvores nos seus primeiros sessenta dias. Coube a ele regar a planta, observando qualquer tentativa de vandalismo ou brincadeiras próximas à muda que pudessem prejudicar o seu desenvolvimento (Figs. 6 e 7).

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 6 – Plantio Simbólico

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Fonte: elaborado pelos autores

Figura 7 – Certificado “Escola Amiga da Mata Atlântica” e certificação “Aluno Amigo da Mata Atlântica”

4.4 O plantio como forma de reflorestamento da Mata Atlântica

Esta atividade foi realizada em sessenta propriedades rurais, depois da realização de um cadastramento de agricultores nas escolas e pela APIVALI. Os agricultores cadastrados eram preferencialmente, os que possuíam em suas propriedades a Linha de Transmissão de Energia, e que desenvolviam a apicultura, ou tinham a intenção de desenvolvê-la após capacitação .

Ocorreu o fornecimento médio de cem mudas para agricultores/apicultores das regiões de abrangência da APIVALE, totalizando uma doação de seis mil mudas. Essa atividade teve como objetivo principal garantir o aumento do potencial da flora ou pastagem apícola da região (Fig. 8).

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 8 – Plantio nas propriedades agrícolas

4.5 As palestras

As palestras realizadas com os agricultores/apicultores foram importantes, receptivas e calorosas, tanto quanto as realizadas nas escolas. Nesses espaços foi possível fazer reflexões sobre as atitudes e posturas dos agricultores de gerações anteriores e os impactos causados por tais práticas. Ressaltou-se o uso inadequado da terra com a transformação de florestas em pastagens,

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tendo por conseqüência mudanças climáticas locais e regionais, com aumento da temperatura local e a diminuição da umidade (Fig. 9).

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 9 – Palestra na Assembléia Geral da APIVALE - Imbituba/ SC

Cartazes e Banners foram alguns dos recursos utilizados durante as palestras para a

divulgação das muitas facetas do Projeto, trazendo várias informações para a comunidade agrícola local (Fig.10 e 11).

Fonte: elaborado pelos autores

Figura 10 – Cartaz

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Fonte: elaborado pelos autores

Figura 11 – Banners usados durantes as palestras

RESULTADOS

Trabalhar com projetos, particularmente com aqueles que trazem às comunidades de regiões

carentes, capacitação e compreensão da relação do homem com a natureza, possibilita a interação entre escolas de diferentes esferas e a população do entorno, trazendo contribuições pedagógicas, sociais e ambientais para todos. Este projeto, um “Projeto Ecológico”, na medida em que propiciou um maior entendimento do meio ambiente através das atividades executadas, criou melhores formas de garantir a preservação da natureza.

Os projetos podem ser vistos como oportunidades excepcionais para as escolas, porque possibilitam um arranjo diferente nas dinâmicas de aprendizagem. Propõem o contato com o mundo fora da sala de aula, fora dos muros da escola, na busca de conhecer a realidade das lutas sociais. Pressupõem a ação dos alunos na busca e seleção de informações e experiências.

No Projeto Mel e Energia pôde-se vivenciar experiências ímpares, com a utilização de diversos materiais didáticos e diferentes estratégias de ensino. A proposta de trabalho do Projeto possibilitou levar informações importantes sobre a EA e, em particular, sobre a organização das abelhas, às crianças e aos seus familiares.

A metodologia aplicada durante a execução do Projeto, baseada em observações e trocas de conhecimentos através das palestras, das visitas e, das atividades lúdicas, resultou num trabalho interativo que possibilitou a construção de um diálogo aberto com os alunos e com os seus familiares. A problemática ambiental precisa de ações que venham respaldar a formação da consciência ambiental.

Nas atividades, pôde-se notar que os agricultores entenderam a importância das abelhas, das pastagens apícolas, e principalmente, da biodiversidade, compreendendo o funcionamento sistêmico da fauna e da flora e a necessidade de equilíbrio entre os seres vivos que habitam o planeta terra.

Durante o tempo de implementação do projeto, pôde-se verificar a importância não só de acolher nas escolas projetos ambientais, mas também fazer valer as leis da natureza, entendendo o sentido verdadeiro da vida.

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Ainda são poucas as oportunidades de ambientalistas levarem às escolas as idéias, os esclarecimentos, as definições e os conceitos que ajudam a construir e reconstruir significados para a natureza, e previnem ações que desconstrõem a recomposição e a continuidade das espécies.

Essa realidade, que pasma, precisa de lapidação, de trabalho, de produção intelectual, de convívio social, e uma incansável luta pela defesa do meio e do ambiente, e pela qualidade de vida para nós e para as gerações futuras. É preciso transformar, como se faz com a pedra bruta, as contradições em valores, os quais ainda pouco se entende mas muito se escreve.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1999. DIAS, Geraldo de Freire. Iniciação à temática Ambiental, São Paulo: Editora Gaia, 2002. ________. Elementos para capacitação em educação ambiental. Ilhéus: Editora da CESC, 1999. ESPINDOLA, E. A. et al. Curso profissionalizante de apicultura. Florianópolis: EPAGRI, 2002.

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Educação Ambiental para Escolas, Parques, Praças e Zoológicas. São Paulo: Sá Editora, 2002. CADMA 2006 3