Educação e arte - Escola Interativa · po da Arte, que se nota a grande distância entre teoria e...

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Lauda sobre o Livro : Educação e arte–as linguagens artísticas na formação humana” 1 Educação e ar te as linguagens ar tísticas na formação humana Celdon Fritzen e Janine Moreira, em seu livro “Educação e arte – as linguagens artísticas na formação humana”, retratam que a arte constan- temente abre portas para um caminho em que o impossível não existe. Afirmam que trabalhar a arte dá possibilidades de improvisar, transformar, ir além da superficialidade, entrelaçar os conhe- cimentos, em suma, entrar no terreno criativo da condição humana. Esta manifestação dinâmica confere à arte uma importância que vai além de disciplina no currí- culo escolar, pois é produto íntimo da formação humana. O sujeito percebe a sensibilidade da hu- manidade quando tem a arte como algo significa- tivo em sua educação. Parte integrante da civilização, a arte já era pre- sente quando ainda não se fazia uso da lingua- gem textual. Nas cavernas, nas edificações, nos templos, nas pinturas, nas esculturas, haverá sempre de representar uma linguagem universal, catalogando períodos, culturas e manifestações. Ressalta-se ainda que a arte contribuiu para a formação do ser humano, enfatizando-se que as linguagens, as artes e a educação geraram um movimento que tem provocado discussões e re- flexões nas diversas instâncias políticas, educa- cionais e administrativas. Essas discussões são impulsionadas pelas mudanças nas legislações que regem o sistema educacional brasileiro. Em decorrência dessas mudanças, desenca- deiam-se ações que buscam uma prática peda- gógica condizente com os pressupostos que nor- teiam a formação educacional almejada. Para tanto, é necessário reelaborar e/ou aperfeiçoar conceitos e redimensionar metodologias de ensi- no da arte que, verdadeiramente, colaborem para Por: Silvia Castilho Assessora Educacional CEEE - Organização Educacional Expoente

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Educação e arteas linguagens artísticas na formação humana

Celdon Fritzen e Janine Moreira, em seu livro “Educação e arte – as linguagens artísticas na formação humana”, retratam que a arte constan-temente abre portas para um caminho em que o impossível não existe. Afi rmam que trabalhar a arte dá possibilidades de improvisar, transformar, ir além da superfi cialidade, entrelaçar os conhe-cimentos, em suma, entrar no terreno criativo da condição humana.

Esta manifestação dinâmica confere à arte uma importância que vai além de disciplina no currí-culo escolar, pois é produto íntimo da formação humana. O sujeito percebe a sensibilidade da hu-manidade quando tem a arte como algo signifi ca-tivo em sua educação.

Parte integrante da civilização, a arte já era pre-sente quando ainda não se fazia uso da lingua-gem textual. Nas cavernas, nas edifi cações, nos

templos, nas pinturas, nas esculturas, haverá sempre de representar uma linguagem universal, catalogando períodos, culturas e manifestações.

Ressalta-se ainda que a arte contribuiu para a formação do ser humano, enfatizando-se que as linguagens, as artes e a educação geraram um movimento que tem provocado discussões e re-fl exões nas diversas instâncias políticas, educa-cionais e administrativas. Essas discussões são impulsionadas pelas mudanças nas legislações que regem o sistema educacional brasileiro.

Em decorrência dessas mudanças, desenca-deiam-se ações que buscam uma prática peda-gógica condizente com os pressupostos que nor-teiam a formação educacional almejada. Para tanto, é necessário reelaborar e/ou aperfeiçoar conceitos e redimensionar metodologias de ensi-no da arte que, verdadeiramente, colaborem para

Por: Silvia CastilhoAssessora Educacional

CEEE - Organização Educacional Expoente

Celdon Fritzen e Janine Moreira, em seu livro

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a formação de indivíduos críticos e participativos. Trata-se de sujeitos de seu entorno social, que usufruem e constroem condições de vida melho-res para si e seus semelhantes.

Compreender a imprescindível junção entre arte e educação remete-nos inevitavelmente à analise das práticas educativas. Tal verifi cação deve con-siderar que as referidas práticas surgem de mo-bilizações sociais, pedagógicas, fi losófi cas e, no caso especifi co de arte, também artísticas e es-téticas. Quando caracterizadas em seus diferen-tes momentos históricos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação com a própria vida.

Ao longo dos anos, fala-se e escreve-se muito so-bre a necessidade da inclusão da arte na escola, de maneira mais efetiva. Desde 1971, pela Lei 5.692, a disciplina Educação Artística tornou-se parte dos currículos escolares. Por um lado, muitas experiências têm acontecido acerca desse fato. Por outro, o contato direto com professores, diretores de escola e coordenadores pedagógicos aponta para um caminho interessante. Contudo, é no confronto com a prática pedagógica, no cam-po da Arte, que se nota a grande distância entre teoria e prática. Neste contexto, muitos equívocos são cometidos, e a questão passa despercebida na maioria das vezes em que se questionam as vivências com a Arte.

Este quadro vem reforçar a postura inadequada de que o contato com o universo mágico da arte é importante, mas desnecessário. Esta contradição

vem sendo objeto de refl exão e prática por parte dos arte-educadores, interessados em reverter a situação a favor de uma escola que valorize os aspectos educativos contidos no universo da arte. Daí a preocupação dos autores com a formação de profi ssionais que vão exercer as funções na for-mação e orientação de crianças, jovens e adultos.

Aceitar que o fazer artístico e a fruição estética contribuem para o desenvolvimento de crianças, de jovens e adultos é ter a certeza da capacidade que eles têm de ampliar o seu potencial cogniti-vo, concebendo e enxergando o mundo de modos diferentes. Esta postura deve ser absorvida pelos educadores, a fi m de que a prática pedagógica te-nha coerência. Tal iniciativa possibilitará ao edu-cando conhecer seu repertório cultural e entrar em contato com outras referências, sem que haja a imposição de uma forma de conhecimento so-bre outra, sem dicotomia entre refl exão e prática.

A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desen-volve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto ao apre-ciar e conhecer – nas diferentes culturas – formas produzidas por ele, pelos colegas e pela natureza.

A educação estética associa-se à educação da vi-são e à observação das imagens, o que permite a leitura do mundo por intermédio dos elementos das artes visuais. O envolvimento estético é um dos fatores relevantes na construção do conheci-

e educação remete-nos inevitavelmente à analise das práticas educativas. Tal verifi cação deve con-siderar que as referidas práticas surgem de mo-bilizações sociais, pedagógicas, fi losófi cas e, no bilizações sociais, pedagógicas, fi losófi cas e, no caso especifi co de arte, também artísticas e es-téticas. Quando caracterizadas em seus diferen-tes momentos históricos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação com a própria vida.

Ao longo dos anos, fala-se e escreve-se muito so-bre a necessidade da inclusão da arte na escola, de maneira mais efetiva. Desde 1971, pela Lei 5.692, a disciplina Educação Artística tornou-se parte dos currículos escolares. Por um lado, muitas experiências têm acontecido acerca desse fato. Por outro, o contato direto com professores, diretores de escola e coordenadores pedagógicos aponta para um caminho interessante. Contudo, é no confronto com a prática pedagógica, no cam-po da Arte, que se nota a grande distância entre teoria e prática. Neste contexto, muitos equívocos são cometidos, e a questão passa despercebida na maioria das vezes em que se questionam as vivências com a Arte.

Este quadro vem reforçar a postura inadequada de que o contato com o universo mágico da arte é importante, mas desnecessário. Esta contradição

das práticas educativas. Tal verifi cação deve con-siderar que as referidas práticas surgem de mo-bilizações sociais, pedagógicas, fi losófi cas e, no

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mento do aluno. Por este motivo, ele deve ser es-timulado a apreciar esteticamente e refl etir sobre a obra produzida por artistas, bem como por ele e pelos colegas.

A educação é comunicação e signifi cação, e não simples transmissão de informações ou estímu-los. É um processo em que ações com intenções educativas podem ser decodifi cadas, recriadas e assimiladas pelo sujeito da aprendizagem. As formas de comunicação das mídias podem ser trabalhadas pela construção de um espírito críti-co e de uma visão lúcida. É importante que essa postura desenvolva as aptidões de julgamento e autonomia, quando o aluno tiver capacidade para realizar análise comparativa entre experiência de baixa qualidade e experiência de boa qualidade artística e estética.

Os autores nos convidam a pensar que há “con-fi gurações cognitivas específi cas” para a efeti-vação da chamada “transposição didática” dos saberes próprios da cultura (erudita ou popular) para o ambiente educacional. Não há a preten-são ou a intenção de que a escola seja capaz de apropriar-se desses conhecimentos e mobilizar-se em função do surgimento de expoentes da música, do cinema, do teatro, da pintura, da dança,... O que não se deve deixar de fazer é recorrer necessariamente aos elementos da pro-dução cultural humana nas escolas, agregando porções selecionadas desse vasto arsenal de composições aos currículos escolares. Assim, objetiva-se tornar mais perene e constante a re-lação entre os agentes educacionais e a cultura.

Ampliando esse raciocínio, deve-se esperar que a cultura não seja somente distribuída pela es-cola, mas aprendida, compreendida, analisada e interpretada. É interessante que, a partir do exame e apreensão de seus elementos, também se fomente o surgimento de novas expressões, produções e, até mesmo, escolas culturais em suas variadas vertentes e espaços específi cos de produção e criação.

Utilizam-se, em geral, fi lmes, músicas, peças de teatro ou obras de arte como pinturas e esculturas para propor temas, sensibilizar, argumentar ou dis-cutir questões previstas nos currículos. Normalmen-te, a exploração desses recursos pretende ampliar o raio de visão dos alunos e sintonizá-los com outras linguagens. Essas outras formas de expressão de-vem também ser compreendidas e utilizadas para que os estudantes percebam a riqueza e a comple-xidade dos conteúdos, fazendo, consequentemente, a leitura desse material, por meio de diversos seg-mentos de produção cultural da humanidade.

Nesse cenário, o contato sistematizado com o uni-verso artístico e suas linguagens – artes visuais, teatro, dança, música e literatura – deve articular-se com a produção de conhecimentos como pro-cesso criador e lúdico no cotidiano educacional.

A obra de Fritzen e Moreira enfatiza a arte e a foto-grafi a, concedendo à primeira um lugar na imagi-nação criativa e na sensibilidade humana, própria à essência da alma; à segunda, reserva-se o papel de instrumento de uma memória documental da realidade, concebida em toda sua amplitude.

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A memória é entendida como elemento funda-mental na formação das identidades cultural, in-dividual e coletiva, na instituição de tradições e no registro de experiências signifi cativas. Portan-to, deve ser valorizada e preservada. Preservar a memória cultural de uma sociedade não signifi ca atrelá-la ao passado e impedir o seu desenvol-vimento, mas sim conservar seus pilares cons-tituintes, a fi m de não perder conhecimentos e identidades.

À medida que avançam a ciência e a tecnolo-gia – e novas ordens sociais se instauram com novos paradigmas, valores e linguagens –, a rup-tura com o passado torna-se inevitável. O esfa-celamento da memória cultural e das tradições desvincula o homem de suas raízes, aliena-o da realidade objetiva. Impossibilita-o de compreen-der como e por que se dão as transformações econômicas, políticas, sociais e culturais, porque lhe faltam os elos que dão sentido aos aconteci-mentos, tornando-o, dessa forma, presa fácil de manipulação e dominação.

No papel de mediadores do conhecimento, os educadores oportunizam e apresentam aos alu-nos inúmeras possibilidades de leitura do mun-do a partir do ensino da arte, explorando-se di-versas linguagens. Uma forma de conduzir uma aproximação às distintas linguagens artísticas é o exercício de construção e leitura da encenação teatral. Num sentido mais amplo, o entendimento que temos dos processos de encenação consiste em trabalhar com as linguagens artísticas, que concentram a Arte do Espetáculo Vivo.

Defi ne-se o artista do espetáculo vivo como aque-le que traz em seu próprio corpo sua obra de arte.

É uma arte do momento presente e do corpo em movimento. Assim são a dança, o teatro, a ópera, o circo... Pode-se incluir nesse universo o concer-to musical ao vivo, realizado por músico intérpre-te ou criador. Neste aspecto, o que importa é o fe-nômeno espetacular, do acontecimento de tocar.

Os autores propõem as vivências estéticas e as re-fl exões sobre diferentes manifestações artísticas. Visam ampliar o repertório dos educadores, tan-to em termos de conhecimentos sistematizados quanto em percepções sensoriais, de modo que, ao estarem em contato com experiências estéticas e artísticas, possam ampliar sua formação cultu-ral e as capacidades de percepção e imaginação.

A formação dos educadores a partir de uma pos-tura indagativa tem se mostrado como um dos pilares para a melhoria qualitativa dos saberes docentes necessários ao desenvolvimento do trabalho pedagógi co. Neste caso, o processo de conscientização desperta a percepção de que saberes dessituados aportam-se como inócuos e abstratos para a concretude educacional. Isso acontece porque, como se sabe, a educação as-sume a tarefa social de despertar no homem a consciência de si e do outro no mundo. Contribui signifi cativamente para seu crescimento forma-tivo e informativo, favorecendo o exercício ativo em todos os processos de sua história. Portanto, a formação do professor como agente facilitador do processo ensino-aprendizagem viabiliza o des-

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pertar dos sujeitos participantes deste processo. Possibilita, por meio da prática, a realização de inovadoras leituras de mundo e contribuições signifi ca tivas para a vida.

Assim, o educador precisa perceber a busca do sa-ber como algo prazeroso, que lhe proporcione um olhar diferente do que tinha antes. A pesquisa tem papel ativo no ensino e é por meio dela que se dará o processo de investigação. Para tanto, o educador pesquisador deve estar sempre em busca de novos horizontes, de novos conhecimentos, de análises refl exivas, enfi m, de um novo saber. Por meio da pesquisa, os futuros educadores podem compreen-der e melhorar seu cotidiano escolar.

Os autores relatam que muitos teóricos trouxeram relevantes pesquisas sobre a utilização do lúdico no processo de ensino e aprendizagem. Conclu-íram que os alunos desenvolvem a responsabi-lidade, a autoexpressão e a cognição. A criança sente-se estimulada e, sem perceber, vai se de-senvolvendo e construindo seu conhecimento.

A abordagem do gênero poesia revela que a leitura e a escrita são vivenciadas como práticas expressi-vas, atravessadas pelas experiências socioculturais do aluno. Assim, o contato com a poesia desdobra-se em possibilidades estéticas: objetos transforma-

ram-se em palavras, palavras geraram movimen-tos etc. Ao mesmo tempo em que mergulham no acervo poético, as crianças vão sendo mobilizadas por diferentes estilos e modos de produção que passaram a compor seus trabalhos e suas próprias poesias. Enfi m, percorrem caminhos da linguagem plástica à poesia ou do gesto à palavra. Expe-rimentam a linguagem como a concretização do pensamento e a produção de signifi cados, perme-ada pelo afeto e pelas interações sociais.

Neste contexto, a escola busca conhecer e de-senvolver na criança as competências da leitu-ra e da escrita, investigando como a literatura pode infl uenciar de maneira positiva neste pro-cesso motivador e desafi ador. Assim, ela é capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem, que sabe compreender o meio em que vive e modifi cá-lo de acordo com a sua necessidade.

Pode-se dizer, de modo geral, que a educação e a arte são compreendidas como a atividade huma-na vinculada a manifestações de ordem estética, criadas a partir de percepções, emoções e ideias. A abordagem desses temas na escola é um fi o condutor da imaginação e da criatividade, inven-tando elementos, expressando sentimentos e ma-nifestando diferentes formas de entender a vida.

o processo de investigação. Para tanto, o educador pesquisador deve estar sempre em busca de novos horizontes, de novos conhecimentos, de análises refl exivas, enfi m, de um novo saber. Por meio da pesquisa, os futuros educadores podem compreen-der e melhorar seu cotidiano escolar.

Os autores relatam que muitos teóricos trouxeram relevantes pesquisas sobre a utilização do lúdico no processo de ensino e aprendizagem. Conclu-íram que os alunos desenvolvem a responsabi-lidade, a autoexpressão e a cognição. A criança sente-se estimulada e, sem perceber, vai se de-senvolvendo e construindo seu conhecimento.

A abordagem do gênero poesia revela que a leitura e a escrita são vivenciadas como práticas expressi-vas, atravessadas pelas experiências socioculturais do aluno. Assim, o contato com a poesia desdobra-se em possibilidades estéticas: objetos transforma-