EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O JOGO COMO … · integralmente das atividades em sala de aula no ......

24
1 EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O JOGO COMO FERRAMENTA DIDÁTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESPORTE Tânia Ludinete Celeti da Silva Bela 1 RESUMO Este estudo pretendeu apontar algumas possibilidades pedagógicas para o desenvolvimento do esporte nas aulas de Educação Física, considerando as características lúdicas do jogo. Para tanto, primeiramente foi aplicado um questionário aos alunos e professores, a fim de identificar aspectos pedagógicos e metodológicos que são priorizados e utilizados pelos professores para trabalhar com o Esporte nas aulas de Educação Física. Constatou-se, na análise das respostas dos questionários que a proposta de se tratar o esporte ludicamente é algo ainda muito distante das aulas de Educação Física. Posteriormente o projeto foi desenvolvido numa escola da Rede Pública Estadual de Ensino, com alunos de 5ª e 6ª séries, no qual foram priorizados os Jogos Cooperativos para o desenvolvimento dos conhecimentos básicos do esporte. Foi possível constatar que a integração proporcionada pela atuação em duplas ou equipes apresentou-se, para os alunos, como a melhor forma de se alcançar resultados positivos, além de despertar a noção de comprometimento de uns com os outros. Foi necessário utilizar várias estratégias diferenciadas como a adaptação das regras, do espaço, do número de jogadores entre outras, não havendo distinção entre os alunos em relação a habilidades e aptidões de qualquer natureza. Embora no início do projeto alguns alunos da 6ª série tenham apresentado certa resistência, no seu desenvolvimento todos acabaram participando das atividades propostas com entusiasmo e alegria. Assim, o esporte com enfoque lúdico apresentou-se como uma possibilidade metodológica viável e indispensável a uma formação crítica para o desenvolvimento da cidadania. PALAVRAS-CHAVE: esporte, ludicidade, jogos cooperativos, integração, formação. 1 Professora PDE – 2007, atua na rede pública estadual de ensino do Paraná há 29 anos.

Transcript of EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O JOGO COMO … · integralmente das atividades em sala de aula no ......

1

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O JOGO COMO FERRAMENTA DIDÁTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESPORTE

Tânia Ludinete Celeti da Silva Bela1

RESUMO

Este estudo pretendeu apontar algumas possibilidades pedagógicas para o desenvolvimento do esporte nas aulas de Educação Física, considerando as características lúdicas do jogo. Para tanto, primeiramente foi aplicado um questionário aos alunos e professores, a fim de identificar aspectos pedagógicos e metodológicos que são priorizados e utilizados pelos professores para trabalhar com o Esporte nas aulas de Educação Física. Constatou-se, na análise das respostas dos questionários que a proposta de se tratar o esporte ludicamente é algo ainda muito distante das aulas de Educação Física. Posteriormente o projeto foi desenvolvido numa escola da Rede Pública Estadual de Ensino, com alunos de 5ª e 6ª séries, no qual foram priorizados os Jogos Cooperativos para o desenvolvimento dos conhecimentos básicos do esporte. Foi possível constatar que a integração proporcionada pela atuação em duplas ou equipes apresentou-se, para os alunos, como a melhor forma de se alcançar resultados positivos, além de despertar a noção de comprometimento de uns com os outros. Foi necessário utilizar várias estratégias diferenciadas como a adaptação das regras, do espaço, do número de jogadores entre outras, não havendo distinção entre os alunos em relação a habilidades e aptidões de qualquer natureza. Embora no início do projeto alguns alunos da 6ª série tenham apresentado certa resistência, no seu desenvolvimento todos acabaram participando das atividades propostas com entusiasmo e alegria. Assim, o esporte com enfoque lúdico apresentou-se como uma possibilidade metodológica viável e indispensável a uma formação crítica para o desenvolvimento da cidadania.

PALAVRAS-CHAVE: esporte, ludicidade, jogos cooperativos, integração, formação.

1 Professora PDE – 2007, atua na rede pública estadual de ensino do Paraná há 29 anos.

2

INTRODUÇÃO

Jogo e Poesia

Lucinea Aparecida de Rezende

Quem joga o jogo?

Quem joga, joga o jogo

de quem joga. Que jogo?

o jogo de aprender a ser,

de saber, conhecer,

reconhecer, ganhar, perder,

desafiar, fiar no tempo, sem tempo... Quem joga?

Quem quer jogar? Quem sabe jogar? Quem pode jogar?

O que ensina quem ensina a quem quer aprender jogar?

O que aprende quem quer aprender (jogar)?

Aprende a aprender? A ganhar e a perder?

Aprende de fato, Ou isso é boato?

Joga o jogo, reinventa a lógica! Descubra todo dia

a beleza do brincar! Afinal, qual o jogo de quem joga

Com quem quer jogar?

A Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED), com o objetivo

de proporcionar a formação continuada dos professores da Rede Pública de

Ensino, criou o Plano de Desenvolvimento Educacional – PDE2, estabelecendo

um trabalho integrado com os professores das Instituições de Ensino Superior e

da Rede Pública Estadual através de atividades teórico – práticas orientadas

proporcionando aos professores que atuam na escola subsídios teóricos

2 Maiores informações: www.pde.pr.gov.br

3

metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais que resultem na

produção de conhecimentos e mudanças qualitativas na prática escolar.

O processo inclui os professores que fazem parte do Quadro Próprio do

Magistério (QPM), da Rede Pública Estadual do Paraná, e que foram aprovados

no processo de seleção da SEED, os professores PDE foram então dispensados

integralmente das atividades em sala de aula no ano de 2007 para que pudessem

se dedicar aos trabalhos que o subsidiariam na elaboração de material didático.

No ano de 2008, os objetivos foram desenvolver um projeto de intervenção na

escola e implementar o trabalho, pelo Grupo de Trabalho em Rede (GTR)3, na

ocasião os professores foram dispensados em 25% de sua carga horária. A

discussão com o GTR proporcionou a troca de experiências e conhecimentos

entre os professores colaborando para subsidiar teórica e metodologicamente a

elaboração de um artigo versando sobre o tema escolhido para a pesquisa.

Professora de Educação Física atuando na Educação Básica, no Ensino

Fundamental, Ensino Médio e Profissionalizante, a autora deste trabalho tem

observado, ao longo de vinte e nove anos de docência, a importância que assume

o Esporte como conteúdo das aulas de Educação Física e o quanto o professor

precisa refletir sobre sua ação docente quando trabalha com esse fenômeno

social.

Patrimônio da cultura corporal de movimento, o Esporte tem assumido

uma dimensão muito significativa em todo mundo, podendo ser entendido como

um fenômeno histórico extremamente ligado às relações socioculturais do ser

humano, ao mesmo tempo em que desperta emoções e paixões, também

desperta interesses diversos a grupos bastante distintos.

Sabe-se que o esporte sempre despertou grande interesse dos governantes,

sendo muitas vezes utilizado como objeto para estratégias de ação política e ao

mesmo tempo dando a idéia de que sua prática promoveria saúde às pessoas,

melhorando a qualidade de vida da população. (FINCK, 1995).

Assim sendo, foi difundido como sendo “direito de todo cidadão e dever do

estado”, como consta na Carta Internacional de Educação Física e Esportes

(UNESCO, 1978/79), no seu artigo 1º, que determina: o esporte é direito de todos.

3 Grupo de estudos e discussões composto por professores da rede pública estadual, cuja tutoria é de responsabilidade do professor PDE, efetivado no ambiente Moodle (WWW.e-escola.pr.gov.br).

4

Nesse sentido o Ministério Extraordinário dos Esportes (BRASIL, 1996a) também

estabelece que toda população deva ser contemplada com a prática desportiva,

apontando três grupos com objetivos e características diferenciadas, que são:

esporte de rendimento, esporte de lazer e esporte educacional. (FINCK, 1995).

Finck (1995) lembra que nesse período, a Educação Física na escola ficou

subordinada às políticas esportivas, e o esporte passa a ser desenvolvido de

acordo com os parâmetros de rendimento satisfazendo, assim, os interesses do

Estado.

A referida autora afirma que esses aspectos, entre outros, contribuíram

para que o esporte se tornasse o conteúdo predominante das aulas de Educação

Física, ocupando um lugar de destaque nessas aulas e tem sido, ao mesmo

tempo, objeto de estudo e preocupação de muitos pesquisadores pela forma

como vem sendo tratado no ambiente escolar.

Como ressalta Finck: O Esporte é um dos elementos constitutivos da

Educação Física. Expandiu-se de tal forma tornando-se um dos maiores

fenômenos sociais deste século, refletindo na prática da Educação Física

Escolar”. (1995, pg. 59).

Nesse sentido, a autora ratifica que é possível perceber na escola

resquícios de uma prática do esporte mais voltada para a realização de gestos e

movimentos, com ênfase na técnica e tática, e evidencia que a abordagem do

esporte na escola deva estar voltada para o desenvolvimento de objetivos

educacionais, sendo estes também a base para a prática do esporte como

rendimento e lazer.

Freire (1989) quando fala da educação das crianças, ressalta que na

escola seria necessário considerar o conhecimento e as experiências que a

criança já possui. Paes (2001, p. 32), ao se referir à aprendizagem do esporte,

também destaca essa necessidade, ou seja, “uma pedagogia do esporte, para o

ensino fundamental, deve ser pensada tendo em conta as habilidades que o

aluno, até mesmo de forma natural, adquiriu fora da escola”.

O professor deve abordar os conhecimentos referentes ao esporte, nas

aulas de Educação Física, de forma refletida e planejada, objetivando subsidiar o

aluno para que enfrente suas dificuldades e limitações, criando também

possibilidades para que ele possa se superar, aceitar regras e limites, tornando-se

assim responsável e capaz.

5

Dessa forma, a vivência e o conhecimento que o aluno terá sobre o esporte

poderão contribuir para a formação de sua cidadania, de maneira que possa ser

exercida efetivamente.

Nas aulas de Educação Física, o aluno deve ter oportunidades para

participar na construção do conhecimento, e, para que isto ocorra, é necessário

que o professor crie situações pedagógicas que possibilitem o envolvimento

desse aluno. Ele precisa conhecer, entender, construir e agir, para que possa

realmente aprender e internalizar essas ações e, dessa forma, interferir sobre sua

realidade. (FINCK, 1995).

De acordo com Bregolato (2003, p. 111):

O esporte educacional é democrático. Prepara o aluno para exercer a cidadania porque ele participa da construção da sua realidade, e mais, vivencia a autonomia da liberdade: a pessoa só é livre quando constrói sua realidade, podendo interferir nela, e o exercício da cidadania é construído mediante a participação, que é a mola propulsora da democracia.

Mediante essas considerações, buscou-se investigar quais os

procedimentos didáticos e metodológicos possíveis e adequados para ensinar o

esporte na escola. Isto posto, se fez necessário analisar e refletir sobre o esporte

enquanto conteúdo pedagógico, as necessidades dos alunos e a prática

pedagógica do professor, para que pudéssemos, então, apontar

encaminhamentos metodológicos possíveis para o desenvolvimento do esporte

nas aulas de Educação Física.

Assim, mais algumas questões foram relevantes e nortearam, também, o

desenvolvimento deste trabalho, são elas:

A formação do professor influencia na abordagem sobre o esporte nas

aulas de Educação Física? A metodologia utilizada, nas aulas de Educação

Física, quando o professor trabalha com o conteúdo “esporte” tem cumprido sua

finalidade educativa? Quais as condições que a escola pública oferece para o

professor de Educação Física desenvolver seu trabalho? Como promover

mudanças na prática pedagógica do professor de Educação Física? Que

encaminhamentos metodológicos poderão ser priorizados para redimensionar os

conteúdos e o conhecimento nas aulas de Educação Física?

6

Com bases nessas questões, os estudos empreendidos tiveram como

objetivo analisar a prática pedagógica e metodológica que o professor utiliza para

abordar o esporte nas suas aulas.

Dessa forma, pretendeu-se apontar, neste trabalho, possibilidades

metodológicas para o ensino do esporte nas aulas de Educação Física, com o

desenvolvimento dos Jogos Cooperativos, tendo em vista um ensino com

características envolventes, inclusivas e que incentivem a participação de todos

os alunos.

O ESPORTE COMO CONTEÚDO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

As aulas de Educação Física não podem ser desenvolvidas numa

concepção de performance, visando o treinamento esportivo e a busca de atletas,

e também não podemos excluir o esporte das aulas, pois é um fenômeno

histórico, social e cultural, e deve ser abordado na escola de forma ampla,

significativa e contextualizada. (FINCK, 1995).

O esporte, como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve ser analisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de esporte “da” escola e não como o esporte “na” escola. ( SOARES, 1992, pg. 70).

Numa prática sistematizada, criativa e consciente pode se desenvolver

a motivação, o interesse, e a participação efetiva dos alunos, bem como

qualidades, capacidades físicas e morais. Paes afirma “que o ensino do

esporte na escola poderá tornar-se uma atividade prazerosa, participativa, de

fácil compreensão e motivadora; aspectos considerados por nós, como de

extrema importância para que o aluno aprenda”. (2001, pg. 32).

7

O grande interesse dos alunos pela prática, durante as aulas, leva o

esporte a se constituir num instrumento pedagógico de grande valor educativo.

É um fenômeno histórico extremamente ligado às relações socioculturais,

ocupando um lugar de destaque nas aulas, pelas contribuições indispensáveis

à formação do aluno.

Nas 5ª e 6ª séries os alunos iniciam o aprendizado do esporte de forma

sistematizada, o professor deve possibilitar-lhes a vivência de várias

modalidades esportivas, organizando as aulas de maneira que todos possam

participar e aprender. “Assim o esporte, como conteúdo de Educação Física,

deve estar acessível em igualdade de condições para todos os alunos.“ (DCEs,

2006, pg. 23).

O esporte, praticado de forma consciente e sistematizada, além de

aprimorar as capacidades físicas, poderá desenvolver no aluno o conhecimento

do próprio corpo bem como valores éticos, podendo assim contribuir na

formação de sua personalidade.

Busca-se que o aluno tenha um entendimento crítico das manifestações esportivas, as quais devem ser tratadas de forma ampla; isto é, desde sua condição técnica, tática, seus elementos básicos, até o sentido da competição esportiva, a expressão social e histórica e sua significação cultural como fenômeno de massa”. (DCEs, 2006, pg, 23).

Por ser um fenômeno social e tema da cultura corporal, como já destacado,

é preciso repensar a sua prática. “Propiciar aos alunos o direito ao acesso à

prática esportiva e adaptar o esporte à realidade escolar devem ser ações

cotidianas na rede pública” (DCEs,2006).

Conforme Finck afirma:

A maneira como o Esporte é desenvolvido na escola, é que lhe dá os contornos enquanto atividade da Educação Física, e quem mediatiza esse processo é o professor, através da definição dos objetivos político-pedagógicos no planejamento de ensino, pois eles antecedem e orientam a prática docente. (1995, pg. 74).

8

Segundo PAES (2001, p.18), “o esporte é aquilo que fazemos dele”.

Acredita-se que a escola seja o espaço mais importante para a educação formal,

onde se concebe novos conhecimentos, se realiza novas experiências e também

onde o educador pode avaliar o processo de ensino aprendizagem, objetivando a

educação de qualidade.

Dessa forma, é preciso haver a organização de um trabalho pedagógico

com base no que os alunos já conhecem e sabem sobre movimento, uma vez que

eles aprendem, por meio de experiências, vivências, jogos e brincadeiras na rua,

nas escolinhas, na televisão, trazendo esse conhecimento para o ambiente

escolar.

Muitos fatores tornam o esporte o conteúdo predominante nas aulas de

Educação Física, mas ao mesmo tempo contribui para que a maioria dos alunos

não participe ativamente do processo de ensino aprendizagem. Os princípios

básicos da Educação Física na escola deveriam ser a inclusão e a participação.

Segundo FINCK (1995, pg.112), “Nas aulas de Educação Física Escolar, o

Esporte rendimento deveria dar lugar ao jogo que o aluno deseja. A disciplina

imposta deveria ser banida, dando lugar a indagações, espontaneidade e

criatividade, o lúdico ao invés da técnica.”

Não há dúvidas de que, considerando o grande valor educativo do Esporte,

o grande interesse que desperta nos alunos, e as possibilidades que o jogo

oferece através de seus componentes lúdicos, o professor pode oportunizar aos

alunos uma gama maior de possibilidades para o aprendizado do Esporte nas

aulas de Educação Física. (FINCK, 1995; PAES, 2001).

Entretanto, segundo Carvalho apud Paes (2001), existe um discurso sobre

o esporte escolar diferente da realidade na escola. Na maioria das vezes, os

“habilidosos” são privilegiados enquanto a maioria é privada da participação nas

aulas em que se trabalha o esporte.

Portanto, para o desenvolvimento do esporte, atendendo a princípios

lúdicos, o jogo oferece as condições necessárias, pois possibilita adaptação das

regras, do espaço, e material, o número de participantes, além de ser uma

atividade prazerosa.

9

“A capacidade que o ser humano tem de pensar, ensaiar e planejar

conforme LEONARDO (2008)4 está atrelada à sua capacidade de ensaiar

cognitivamente inúmeras situações cotidianas vivendo neste nível de consciência,

experiências que serão transferidas para sua vida através de suas atitudes.

Quando a criança realiza, sem necessidade, um ato já conhecido, deve estar

fazendo por prazer. A essa conduta chamamos de jogo. Por conseguinte, o

trabalho com o jogo estimula a capacidade cognitiva e a ludicidade ,fazendo com

que o individuo planeje, discuta com os outros uma ação, lembrando-lhe de

situações já vividas no seu dia a dia, sendo a forma mais comum de levá-lo à

escolha da melhor solução naquele momento, para atingir os objetivos do jogo.

Para FREIRE (1991, p.117), “o jogo de regras” é uma característica do ser

suficientemente socializado, que pode, portanto, compreender uma vida de

relações mais amplas. Enquanto joga, o aluno representa e apresenta habilidades

e condutas a que os adultos se submetem quando vivem em sociedade, mas que

para a criança, livre de pressões, servirá de suporte para atingir habilidades de

nível mais alto, quando necessário. São as regras impostas pelo grupo na qual

ele pertencerá quando for para a escola.5

Para o aluno, jogar não é um ato descomprometido com a realidade, pois

ele leva em consideração quem joga com ele, os objetos, o local. A cada jogo há

uma adaptação com os elementos com os quais ele se relaciona. A cada jogo

haverá um novo desafio e ele terá que se esforçar ao máximo para que, individual

ou coletivamente, seja capaz de atingir os objetivos.

O jogo, contextualizado ludicamente, transforma o ambiente de ensino-

aprendizagem em um momento extremamente produtivo e criativo, estimulando a

autonomia dos alunos. Para FREIRE, (1991, p.119) “num contexto de educação

escolar, o jogo proposto como forma de ensinar conteúdos às crianças aproxima-

se muito do trabalho”, dado à característica de ser uma brincadeira que tem

regras e exige o comprometimento de quem participa. Não é um jogo qualquer, e

sim aquele comprometido com a formação do aluno.

4A criança vivenciou experiências antes de colocá-las em prática na vida real, graças a habilidade de jogo consigo mesmo. 5 Para PIAGET (p. 148) in FREIRE (1991 regra é a característica principal das relações dos indivíduos e sociedade, os quais, quando jogam o fazem socialmente.

10

A origem e o desenvolvimento do jogo estão estreitamente ligados às

relações socioculturais, constituindo-se em um fenômeno histórico. Nas atividades

lúdicas é despertado o prazer, a alegria e a socialização, podendo também ser

utilizada para a iniciação desportiva.

Freire, (1991, pg. 117), acredita que “todas as formas de jogo aparecem,

com maior ou menor predominância, em todos os períodos de vida, também as

funções dos jogos são semelhantes em qualquer uma delas”.

O jogo proposto como conteúdo aproxima-se do trabalho dado à

característica de ser uma brincadeira que tem regras e exige o comprometimento

de quem participa.

Segundo Freire (1991), o jogo e o esporte abordados como conteúdo na

escola deve ser aquele que se inclui num projeto que tem objetivos educacionais.

Por isso, o professor, utilizando o jogo para iniciar o aprendizado do esporte

organizado e sistematizado, deve saber o que vai desenvolver e quais objetivos

pretende alcançar, tornando a atividade prazerosa sem se preocupar com

desempenho.

Uma metodologia adequada deverá estar relacionada à formação do aluno,

pois no ambiente lúdico é que podem ser obtidos os melhores resultados nos

aspectos da integração, da expressão, da criação, do desenvolvimento de

atitudes e habilidades. O resgate dos jogos tradicionais e a adaptação de regras

feitas pelos próprios alunos, bem como um trabalho organizado são fatores que

colaboram para que haja a participação e interesse de todos os alunos tornando a

atividade mais prazerosa.

Paes (2001, p. 82) nos aponta o jogo possível como sendo um recurso

facilitador que dá ao aluno a oportunidade de conhecer e desenvolver os

fundamentos básicos do esporte de forma agradável.

DA QUESTÃO À REFLEXÃO: UMA PROPOSTA NECESSÁRIA NA ESCOLA

(...) o lúdico na escola poderia tornar real a construção de um

projeto revolucionário, pois daria aos sujeitos envolvidos

neste contexto (...), mesmo que esporádica e momentaneamente,

oportunidade de reapropriação e posse de suas vidas,da

11

história e de sua cultura.( GARIGLIO, J.A.,1995,p.30)

Além de encontros de leituras, reflexões, análises, pesquisas e seleção de

referencial teórico-metodológico, seminários, debates, tutoria online do Grupo de

Trabalho em Rede (GTR), promovidos pela SEED no processo de formação

continuada, exigiu-se também que o professor PDE desenvolvesse uma proposta

de intervenção no espaço escolar de onde atuasse.

Tal proposta teve como pressuposto as Diretrizes Curriculares da Rede

Pública de Educação Básica do Estado do Paraná (DCEs), no que se referem ao

conteúdo estruturante Manifestações Esportivas, apontando como elemento

articulador o corpo que brinca e aprende: manifestações lúdicas, destacando-se

as possibilidades pedagógicas do jogo como atividade corporal nas aulas de

Educação Física.

Objetivou-se considerar o sentido da práxis pedagógica e analisaram-se os

fundamentos teórico-metodológicos que o professor utiliza para abordagem do

esporte nas aulas de Educação Física. A partir da análise crítica dos fundamentos

da prática efetiva do professor nas aulas de Educação Física, buscou-se

possibilidades para a elaboração de materiais a serem utilizados para a

abordagem do Esporte, assim como correspondentes estratégias e técnicas de

ensino.

O trabalho foi organizado e desenvolvido tendo os Jogos Cooperativos

como eixo norteador para a abordagem do esporte nas aulas de Educação Física

na 5ª e 6ª séries. Foram desenvolvidas leituras pertinentes à temática

considerando-se as condições de espaço e material disponível na escola assim

como a formação profissional do professor PDE, proponente do projeto.

Segundo NÓVOA (2002, p.23), “o desafio dos profissionais da área

escolar é manter-se atualizado sobre as novas metodologias de ensino e

desenvolver práticas pedagógicas eficientes”.

O trabalho de intervenção iniciou-se no final do ano de 2007, com um

questionário aplicado aos professores nas três escolas onde a autora deste

trabalho estava lotada: Escola Estadual Margareth M. Mazur, Escola Estadual

Brasílio Antunes da Silva (ambas localizada no Distrito de Itaiacoca – Ponta

Grossa) e também na Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki ( Jardim Paraíso –

12

Ponta Grossa).* Foram entrevistados cinco professores, dos quais três eram os

que substituíam a professora PDE proponente do projeto.

O questionário foi organizado com dez perguntas (anexo I), e aplicado aos

professores, embora as respostas tenham sido escritas de forma bastante

resumida, foi possível constatar que o esporte é o conteúdo que predomina nas

aulas de Educação Física, não importando o tempo de atuação do professor na

escola ou o ano de conclusão da Graduação.

Um fato chamou a atenção: em duas das escolas, os professores alegaram

que não tinham tempo para responder ao questionário, levando-o para casa,

porém não o devolveram no prazo determinado, afirmando que haviam deixado

em casa. Acredita-se que isto aconteceu porque, na maioria das vezes, os

professores não querem falar sobre sua prática pedagógica, temendo

comprometerem-se ou temendo serem ridicularizados ou menosprezados pelo

trabalho que desenvolvem.

A PRIORIDADE NAS AULAS: O ESPORTE

“O que o professor de Educação Física prioriza nas aulas com seus alunos de 5ª

e 6ª séries” A resposta a esta pergunta é o subtítulo que abre a análise das

respostas dadas por professores das escolas já citadas. Algumas vezes, a ginástica aparece, mas como preparação para o

esporte.

Quando perguntado para o professor sobre qual o conteúdo que os alunos

se interessam e gostam mais, a resposta supracitada, de modo geral, se repete:

“Jogar, esporte e qualquer atividade que tenha competição”.( Professor da Escola A)

“Jogos que tenham regras e esportes competitivos”. ( Professor de outro turno da escola A)

“Aulas práticas, esporte, regras básicas e competição”. (O mesmo professor na escola B e C)

“Aulas práticas”. ( Escola B).

“Queimada – iniciação a jogos”

Interessante destacar que quando os professores responderam “aulas

práticas”, deixaram claro que essas aulas significam o mesmo que esportes.

Ao serem questionados sobre a forma como o professor organiza e efetiva

o trabalho docente, as respostas foram variadas:

13

“Planejamento bimestral, dentro das possibilidades que a escola oferece,modificando

conforme a

situação” (Escola A)

“Divido as aulas em teórico e prática, fazendo a ligação entre as duas”. (Escola A)

“Trabalho regras táticas, fundamentos, jogos, brincadeiras, qualidade de vida, postura

alimentação.

(Escola B e C).

“Com fundamentos e prática nos esportes”. (Escola B).

Instigados a responder, também, quais eram os principais objetivos da

Educação Física na visão deles, da mesma forma, as respostas evidenciaram as

aulas como espaço para a técnica e o rendimento, destacando-se a busca por

atletas em potencial.

São apresentadas, na seqüência, algumas respostas e um relato, que embora

esteja fora do questionário, ilustra a reflexão acima:

“Coordenação motora.Uma criança com uma boa coordenação motora terá facilidade em

toda

e qualquer atividade que envolva movimento” (Escola A).

“ Desenvolver o gosto pela atividade física, melhorar o vocabulário motor dos alunos e

tentar

melhorar a qualidade de vida dos alunos através das atividades físicas”.( Escola A).

“Reconhecer a importância da atividade física ,tomar consciência de valores morais e

éticos,desenvolver a sociabilização, desenvolver atividades esportivas e rítmicas,noções

de higiene e saúde.

A conversa descrita a seguir, ocorrida em outra escola, de modo informal, a

qual não estava no roteiro de pesquisa, se fez importante, como registro neste

trabalho, pelo contexto do relato dos alunos que, livremente, vieram até mim,

confirmando a análise acima, e que me surpreendeu naquele momento:

Os alunos de uma sexta série estavam em vários espaços da quadra, a maioria sem fazer nada e uns poucos

separados em quatro grupos, um com uma bola de basquete, uma de futsal, outra com vôlei e alguns na

mesa de tênis, armada num canto. O espaço para todas essas atividades era menor do que uma quadra de

futsal. Enquanto esperavam pelo professor, alguns alunos de outra turma de 6ª série se aproximaram e

perguntaram se eu ia dar aula para eles, porque “o professor não dá nada, assim é muito ruim, porque todo

14

mundo fica misturado; é sempre assim”. Fiquei intrigada; como é possível estarem revoltados se os alunos

daquela escola sempre participavam dos jogos escolares e várias vezes a escola ficava bem classificada? - “Só vai para os jogos quem ele quer (o professor). Só quem treina. Os alunos que vão, são aqueles que

treinam fora da escola, na escolinha e antes dos jogos o professor pega uns dias pra treinar eles”.

Não podemos dizer que essa forma de trabalhar o esporte seja o esporte

educacional. Aquele tratado como um conteúdo da disciplina, explicitando seus

objetivos, estratégias, etc. e nem que seja uma prática “esportivizada” (PAES,

2001, p.31), pois as maiorias dos alunos não estavam nem se valendo dos gestos

das modalidades esportivas, uma vez que eles não freqüentavam nenhuma

“escolinha” e na aula não haviam aprendido.

A famosa “escolinha” estava fazendo o papel do professor (bem ou mal,

não sabemos), no entanto, ficou claro que os alunos só “brincavam” na aula. Para

o aluno, jogar não é um ato descomprometido com a realidade, pois ele

consideração quem joga com ele, os objetos, o local. A cada jogo há uma

adaptação com os elementos com os quais ele se relaciona. A cada jogo há um

novo desafio e terá que se esforçar ao máximo para que, individual ou

coletivamente, ele seja capaz de atingir os objetivos. Mas ali naquele momento,

qual era o objetivo? Qual era o papel da escola? E do professor?

Dentre tantas outras, talvez sejam essas dúvidas as motivadoras da

preocupação de muitos pesquisadores, diretores de instituições educacionais e

também de professores.

Não somos contra o esporte rendimento, muito menos contra incentivar os

alunos que possuem aptidão esportiva e que freqüentam clubes, associações e

escolinhas, para representar a escola nos jogos, muito pelo contrário, pois uma

das funções do esporte é a função sócio-cultural, mas e os outros alunos?

Segundo o INDESP (1996)6 o esporte educacional se baseia em alguns

princípios dos quais destaco o princípio da participação, onde o “objetivo é

promover a participação de todos os alunos nas atividades propostas, e não

apenas aqueles com maior aptidão, ou seja, todos têm a mesma oportunidade de

receber os benefícios educativos que a prática esportiva promove”.

6 Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte. PROGRAMA ESPORTE EDUCACIONAL- Ministério Extraordinário dos Esportes – Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte, 1996.

15

Quanto aos alunos pesquisados no final do ano de 2007 totalizaram

trezentos e dezenove crianças com idade entre 10 e 17 das 5ª e 6ª séries das três

escolas:

Escola Estadual Margareth M. Mazur – 61 alunos

Escola Estadual Brasílio Antunes da Silva – 59 alunos

Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki – 319 alunos

No ano de 2008 o mesmo questionário foi aplicado a mais 143 alunos das

5ª séries da Escola Padre Pedro, onde a proposta de intervenção foi realizada. O

motivo da realização de mais esse questionário foi para comparar as respostas,

uma vez que eram meus alunos e a maioria nunca tivesse tido aulas de Educação

Física com um professor da área, pois na maioria das escolas municipais é o

professor regente quem ministra as aulas. Houve algumas reclamações por parte

dos alunos repetentes, pois já haviam respondido no ano passado.

No questionário aplicado aos alunos (anexo II) havia questões relacionadas

às aulas de Educação Física; os conteúdos já aprendidos, os gostos dos alunos e

as mudanças que gostariam que fossem feitas em relação às aulas.

Quanto às questões aplicadas, a maioria das respostas se completava com

formas diferentes de os alunos se expressarem, mas demonstrando que gostam

mesmo é do esporte, principalmente quando todos jogam juntos.

Na questão 1 – Você gosta das aulas de Educação Física? Por quê? Apenas um

aluno disse não gostar, pois teria que fazer alongamento. Algumas respostas

dadas pelos alunos questionados em 2007.

“Gosto por que aprende muito”

“Por que aprende muito; aprende jogar.”

Joga bola; (aqui eles se referem ao futsal)”

“Gosta de jogar; joga basquete, futsal, vôlei.”

Comparando com as resposta dadas pelos alunos das 5ª séries do ano de

2008, todos gostam das aulas, mas as respostas têm outro enfoque e o esporte

não aparece com tanta freqüência.

“Porque é legal”,

“São boa”

16

“ Divertida e alegre”

“Tem jogo”

“Não é só jogar bola”

Quando questionados sobre como são as aulas de Educação Física,

responderam que “são boas alegres e tem esporte”.

Quando se referem ao que mais gostam nas aulas de Educação Física,

também é o esporte a resposta que mais aparece e o que menos gostam são

aulas teóricas assim como o xadrez predominou como resposta negativa em uma

das escolas. Talvez porque a quadra estivesse em construção e disseram ter

ficado muito tempo na sala de aula.

Se consideradas as respostas analisadas até aqui seria necessário relatar o

resultado sobre o que mais aprendem nas aulas? Sem dúvida nenhuma, a

resposta foi “esporte”. De um modo geral, na questão 6 (anexo II) que os

provocava a escolher modalidades esportivas já estudadas , os alunos marcaram

todos os esportes que foram sugeridos,mesmo na escola em que a quadra estava

em construção. Talvez nem precisássemos perguntar sobre o que mais gostam

nas aulas, porque evidentemente é o esporte e, conseqüentemente, assinalaram

que já aprenderam todas as modalidades assim como todos os fundamentos.

“Mas o que chamou a atenção foi o fato de não quererem que mudasse nada nas

aulas,” que ficasse assim mesmo”.

Após levantamento e análise dos dados, chegamos à conclusão de que, embora as realidades das escolas seja bem diferentes, devido à localização das mesmas, o que predomina nas aulas de Educação Física é o esporte.

A IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA: APRENDER ESPORTE JOGANDO

O segundo passo das atividades do PDE foi o desenvolvimento de um

plano de ação para a intervenção na Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki.*.

Considerando as características da escola e da comunidade, se propôs

uma metodologia alternativa com atividades coletivas, priorizando a ludicidade.

Sem negar o esporte como conteúdo específico, buscando tornar a prática

do esporte mais prazerosa, democrática e significativa organizamos nosso

trabalho tendo como eixo norteador o jogo. De acordo com Paes (2001, p.77),

17

O jogo tem uma função mágica, pois ao mesmo tempo que acentua acentua a

ludicidade de uma prática que visa ao aprendizado de fundamentos, pode

acentuar exigências técnicas,proporcionando melhor execução de movimentos.

Para nós, não há hipótese de sinalizarmos para uma pedagogia do esporte sem

levarmos em conta o jogo como recurso.

Buscou-se desenvolver atividades em que as ações, os movimentos e as

estratégias fossem comuns aos Esportes coletivos tais como: passe (cooperação,

divisão das responsabilidades); organização de espaço (decisões individuais e em

grupo, interação); atacar e defender (ações coletivas); estratégias de finalização

(decisões do grupo); ênfase no desenvolvimento de valores (cooperação, respeito

às limitações individuais e dos outros. superação dos obstáculos, persistência,

resiliência). O enfoque metodológico priorizado na proposta foi a dos Jogos

Cooperativos, pois se considera de suma importância no processo de ensino do

esporte coletivo.

Considerando o jogo um fenômeno cultural, concordamos com Orlick

(1978, p.182), quando apresenta uma face importante do jogo, ou seja, a

cooperação. Segundo o autor, aproximar pessoas, desenvolver valores humanos

é a função dos jogos cooperativos.

O trabalho prático iniciou-se no mês de maio, seguindo um roteiro de plano

de aula e um cronograma elaborado com antecedência, que logo na primeira

semana sofreu algumas alterações, pois a escola não possui quadra coberta para

a realização das atividades nos dias de chuva e muito frio. Algumas atividades

que surgiram durante o período da implementação do projeto, fazendo com que o

cronograma fosse refeito constantemente no mês de setembro.

Durante a aplicação prática dos Jogos Cooperativos cuidou-se para que não

fossem sempre as mesmas equipes garantindo, assim, a participação de todos.

Alternamos o tipo de material usado e também os tipos de jogos cooperativos: de

resultados coletivos, jogos semicooperativos e jogos de inversão.

JOGOS DE RESULTADOS COLETIVOS: O trabalho das equipes

determina um resultado tão satisfatório que permite que todos

joguem ,todos passem e todos marquem gol ou que os membros

mudem de equipe para atingir um objetivo comum sem a

18

preocupação de marcar pontos. Como por exemplo, os jogos

Volençol, Queimada sem perdedor, Passe e corra Queimada

divertida, Revezamento com bolas, e outros.

JOGOS INVERSÃO: Pode ser em forma de rodízio, ou com troca de

pares ou de equipe, e também com a troca de pontuação. Neste

caso, os pontos marcados vão para a outra equipe. Observa-se que,

neste caso, mesmo que os pontos sejam computados para a outra

equipe, não há rivalidade, pois estão constantemente mudando as

posições como nos jogos Futpar, Queimada de quatro cantos, Rede

Viva, Futebol de Três campos, Revezamento com Troca de Bola etc.

Baseando-se no princípio da co-educação para desenvolver esses jogos,

na qual procurou-se integrar os alunos, indiferentemente do sexo, idade e

habilidades, o gordinho, o magrinho, a menina, o menos hábil, o portador de

necessidades especiais, enfim, todos que, por uma razão ou outra, não

participam das aulas. Na realidade, geralmente, são esses alunos que precisam

mais de atenção. Esse processo proporcionou a todos os alunos a

oportunidade de se conhecerem melhor, aprender, tomar gosto pelo jogo e

manter o interesse pela aula.

Nas respostas dadas ao questionário, verifica-se que o esporte desperta um

grande interesse mesmo nos alunos que não participam ativamente nas aulas.

Por isso, desenvolveu-se uma prática de forma mais criativa garantindo a

participação de todos, visto que o princípio básico do jogo na escola é a inclusão.

Às vezes o menos hábil, o mais quietinho é o que tem boas idéias e pode vir a

contribuir com o grupo de várias formas.

Todos os dias, no início das aulas, era realizada uma conversa rápida sobre

o objetivo da aula e o que eles sabiam daquela atividade. Muitas vezes, deram

opinião de como poderia ser feito ou porque não faziam de outro jeito. Da mesma

forma, todas as vezes que se fez necessário discutir sobre algumas regras, ou dar

sugestões sobre outras formas de desenvolver aquela atividade, os grupos foram

bastante participativos. Todas as opiniões expressas eram discutidas e avaliadas

se eram viáveis ou não para aquele momento. No final da aula era constituída a

19

“roda da avaliação” com questionamentos sobre o jogo, comentários, dúvidas,

opiniões e, principalmente, no que aquela atividade contribuiu para o

conhecimento do grupo.

Mesmo com todas as explicações sobre o desenvolvimento da atividade,

e da importância dos Jogos Cooperativos, nos primeiros dias da implementação,

houve reclamações por parte de alguns alunos repetentes; queriam “jogar bola” e

também alguns se afastavam durante a aula, pois diziam que era “jogo de

criança”. Essa situação aconteceu com mais freqüência em uma turma de 6ª série

do período da manhã em que a maioria dos alunos, tanto do sexo feminino como

masculino, estava fora da faixa etária. Reclamavam muito, com xingamento; não

deixavam os menores jogar e sem motivo algum, saíam da quadra. Nas outras

turmas de 6ª série, alguns alunos que treinam em escolinhas de futebol, tentavam

tumultuar a aula com vaia e zombaria. Alguns ficavam de fora retrucando:

(...) as meninas não correm; os meninos não passam a bola; só tem “fominha”, no jogo. (...)

desse jeito não dá pra fazer jogo, sempre os mesmos é que querem mandar e ficam zombando dos outros,

(...) era bom jogar “bola” porque a gente já sabe,

Em alguns momentos foi preciso chamar à atenção e até mesmo separá-los

de um lado da quadra para que os demais, que eram a maioria, pudessem

participar do jogo. O grupo sugeriu que se eles não quisessem jogar, “que

ficassem de fora”.

Do ponto de vista de Soler (2005, p. 52)

Os Jogos Cooperativos buscam a participação de todos, sem que alguém

fique excluído o objetivo e a diversão de tais jogos estão centrados em

metas coletivas e não em metas individuais.,

O que aconteceu nos mostrou uma situação em que a meta a ser alcançada

era do grupo, não apenas de alguns e, para os alunos, aquele que não coopera

com o grupo ou não se adapta a determinada regra, deve se afastar. Os jogos

cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas. Esse processo resulta em

um envolvimento total, em sentimentos de aceitação e vontade de continuar

jogando.

20

Mediante isso, com as turmas de 5ª séries não houve nenhum problema que

“atrapalhasse” as aulas. Embora os alunos tenham relutado um pouco em

compreender a participação cooperativa efetivada, aos pares ou em grandes

grupos, que não eram aqueles com os quais estavam acostumados a “jogar bola”,

por exemplo, como sinônimo de “jogar futebol”,os alunos tomaram consciência de

que nas atividades realizadas cooperativamente o resultado traz um grau de

satisfação maior do que aquele atingido individualmente. Eis algumas dessas

impressões colhidas dos alunos:

“Se todos cooperam dá para recuperar os pontos perdidos.”

“Dá pra recuperar o tempo porque é equipe.”

“Quando joga em três tem que combinar o que vai fazer.”

“Não é pra parar nem se intimida com as vaias.”

“O grupo tem que participar.”

“Quando não alguém não colabora o grupo sai prejudicado.”

“Não fazer bagunça não fazer tonguice não fazer gracinha na aula de Educação Física é um ponto

positivo.”

“Jogar em dupla às vezes é bom porque eles passam a bola.”

“É bom quando todos cooperam fica tudo mais legal.”

“Quando nós jogamos juntos nós ganhamos pontos.”

“Eu adoro jogar em dupla”.

Como descreve Soler, (2003, p. 51), os Jogos Cooperativos possuem

algumas características próprias:

Os participantes jogam uns com os outros e não uns contra os outros.

Joga-se para superar desafios e não para derrotar alguém.

Busca-se atingir um objetivo comum e não fins mutuamente exclusivos.

Aprende-se a considerar o outro, que joga como um parceiro, um

solidário, em vez de se tê-lo como temível adversário.

A pessoa que joga passa a ter consciência dos próprios sentimentos.

Colocam-se uns no lugar dos outros, priorizando o trabalho em equipe.

Joga-se para se gostar do jogo, pelo prazer de jogar com os outros.

Reconhece-se que todos os jogadores são importantes para se alcançar

o objetivo final.

21

Não há comparação de habilidades, muito menos de performances

anteriores.

O referido autor, escolhido não por mero acaso, endossa o que se

constatou no depoimento das crianças e na experiência por elas vivenciada e

levada a sério, de tal maneira produtiva que, nos intervalos para o recreio, os

alunos, por si só passaram a se organizar, não havendo a necessidade de um

“inspetor” a observar a fim de que se evitassem desentendimentos agressivos.

Essa organização gerou uma tabela de jogos, de equipes mistas (integrando

meninos e meninas); os que não jogavam se dispuseram a arbitrarem os jogos,

distribuírem os materiais (bolas, camisas, apitos etc), recolhendo-os ao final dos

jogos. E os demais que não se integrarem nas modalidades esportivas (vôlei,

basquete, futsal), tiveram a oportunidade de formar outras equipes para jogarem

queimada.

CONCLUSÃO

“O esporte, como prática social que institucionaliza

temas lúdicos da cultura corporal se projeta numa dimensão

complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e

significados da sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve

ser analisado nos seus variados aspectos para determinar a

forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido

de esporte “da” escola e não como o esporte “na” escola.” (SOARES, 1992, p. 70)

22

O Esporte, historicamente, demarca interesses de vários segmentos sociais,

em especial o político. E na escola, a disciplina de Educação Física foi submetida

a estratégias desse segmento, destacando sua importância como promotora de

melhorias da saúde da população, sendo que todos deveriam ser contemplados

com a prática desportiva. Neste contexto, destacou-se o Esporte dentro de três

grupos com objetivos e características diferenciadas, que são: esporte de

rendimento, de lazer e educacional, predominando, mesmo na escola, o grupo

esporte de rendimento.

Entretanto, na escola, a abordagem do esporte deve estar voltada para o

desenvolvimento de objetivos educacionais, sendo esta também a base para a

prática do esporte como rendimento e lazer. As aulas de Educação Física não

podem ser desenvolvidas numa concepção de performance, visando o

treinamento esportivo e a busca de atletas e também não podemos excluir o

esporte das aulas, pois é um fenômeno histórico, social e cultural que deve ser

abordado na escola de forma ampla, significativa e contextualizada.

Numa prática sistematizada, criativa e consciente, orientada pelo lúdico,

pode-se desenvolver o interesse e a participação efetiva dos alunos bem como

qualidades, capacidades físicas e morais.

As grandes dificuldades do professor de Educação Física começam pela

herança histórica enquanto disciplina que, sem possuir um programa que se

segue, como possuem as outras disciplinas, é a mais “querida” dos alunos, pois

numa mesma escola, para as mesmas séries, há distintos planos docentes,

inexistindo referencial impresso para a disciplina. O professor, na maioria das

vezes, não dispõe de infra-estrutura mínima para o desenvolvimento de seu

trabalho, e, quando possui, os alunos não querem “aulas” no que elas têm de

sistematização, de comprometimento, de aprendizagem.

Assim, o interesse em participar do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE – adveio da necessidade de, além de atualizar conhecimentos

teóricos, buscar um tempo maior do que o disponível quando se está em sala de

aula, para efetivar estudos e elaborar um programa de atividades que contribuísse

para a reflexão e uma possível contribuição para um redimensionamento da

prática pedagógica nas aulas de Educação Física. Isto se deu de modo

satisfatório, uma vez que as atividades desenvolvidas – Jogos Cooperativos –

deram aos alunos de 5ª e 6ª séries a oportunidade de integrarem-se.

23

O entusiasmo dos alunos, durante a realização das atividades, não foi

menor que o da professora, autora deste trabalho. Dos pedidos de repetição das

aulas à organização dos alunos para o desenvolvimento das atividades por meio

da discussão de regras, houve participação geral, pois os alunos, mesmo aqueles

resistentes de início, perceberam a importância de se atuar em equipe, de se ter o

outro como aliado com o objetivo de que melhores resultados fossem alcançados.

Além disso, houve maior espontaneidade dos alunos, os quais se tornaram

mais receptivos, com o avanço das atividades, respeitando a opinião dos demais

colegas, estando mais alegres dispostos a cooperarem entre si, mostrando-se

responsáveis, expressando seus pensamentos e desejos, sendo neste contexto, o

professor o elo mais forte, intermediando, (re) orientando, sistematizando as

regras, os passos, a caminhada de seus alunos rumo a uma vivência esportiva

saudável emocional e fisicamente, sem que haja, como nas competições,

ameaças de toda ordem.

Se durante as aulas, o objetivo for o rendimento, fatalmente haverá

exclusão de muitos. O esporte nessa concepção é inviável nas aulas de

Educação Física, pois ocorreria uma padronização dos movimentos, onde a

individualidade de cada um não seria levada em conta. Se os alunos ficassem

esperando para jogar, o que comumente acontece numa aula de 40 a 50 min.

provavelmente, os menos habilidosos participariam menos, reforçando-se, dessa

maneira, a exclusão, e, por conseqüência, levando-os ao afastamento das

atividades. Qual entendimento crítico do esporte terá esse aluno?

O trabalho que ora se conclui, mas que não se encerra, indica que o ideal é

a utilização de Jogos Cooperativos, pois estes possibilitam a participação de

todos os alunos, promovendo a partilha, a confiança em si mesmo e no outro,

eliminando comportamentos destrutivos, aproximando alunos e professores num

ambiente de alegria e espontaneidade.

REFERÊNCIAS

BREGOLATO, R. A. Cultura Corporal do Esporte: livro do professor e do aluno. São Paulo: Icone, 2003.

24

DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DO PARANÁ. Educação Física. Secretaria de Estado de Educação. Curitiba, 2006.

FINCK, S. C. M. Educação Física e esporte: uma visão na escola pública. Dissertação (Mestrado em Educação) UNIMEP,Piracicaba,1995.135p.

FREIRE, J.B.(1991). Educação de Corpo Inteiro: Teoria e prática da educação física. 2ª Ed. São Paulo. Editora scipione.

“GARIGLIO, J. A. A ludicidade no “jogo” de relações trabalho/escola”. Movimento: Porto Alegre, UFRGS, 1995 - ano 2 ,n.3,PP.27-33.

LEONARDO, L. Influência da Ludicidade na Aprendizagem esportiva- Metodologia das Atividades Jogadas. Disponível em:

HTTP//pedagogiadohandebol.wordpress.com/2008/03/10/influencia-da-ludicidade-na-aprendizagem-esportiva-metodologia-das-atividades-jogadas. Acessado em 01/12/2008.

NÓVOA, A. (org.) Os novos pensadores da educação. Revista Nova Escola. Agosto, 2002.

ORLICK, T. Vencendo a competição. Círculo do Livro: São Paulo, 1987.

PAES, R. R. Educação Física escolar: o esporte como conteúdo pedagógico do ensino fundamental. Canoas: Ed. ULBRA. 2001

SOARES, C. L. Educação Física Escolar: conhecimento e especificidade. São Paulo: Revista Paulista de Educação Física. Suplemento 2, LOCAL, nº 2, 1996.

SOLER, R. Brincando e aprendendo com os jogos cooperativos. Rio de Janeiro: Sprint ,2003.