Educação inclusiva

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CENTRO DE FORMAÇÃO E EXTENSÃO EDUCAÇÃO INCLUSIVA PROFESSOR (A):_______________ NÚCLEO DE EXTENSÃO:________________________________________ 1

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CENTRO DE FORMAÇÃO E EXTENSÃO

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

PROFESSOR (A):_______________

NÚCLEO DE EXTENSÃO:________________________________________

ALUNO: _____________________________________

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SUMÁRIO

Inclusão escolar: definição e procedimentos de intervenção

Definição de inclusão

Movimentos internacionais e nacionais a favor da inclusão

História da educação especial no Brasil e políticas públicas

O aluno com altas habilidades

Avaliação psicológica de alunos com altas habilidades

O papel da família no desenvolvimento de altas habilidades e

talentos

O papel da escola na estimulação do talento criativo

O aluno com deficiência intelectual

Definição de deficiência intelectual ou mental

Classificação

Causas da deficiência intelectual ou mental

O aluno com deficiência visual

Os olhos

Mecanismo da visão

Saúde da visão

Definição de deficiência visual

Classificação

Causas da deficiência visual

O aluno com deficiência auditiva

Os ouvidos

Mecanismo da audição

Saúde auditiva

Definição de deficiência auditiva

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Classificação

Causas da deficiência auditiva

O aluno com deficiência física e motora

Problemas de saúde física

Deficiência física

Deficiência motora

Definição de deficiência motora

O aluno com problema de aprendizagem

Definição de problema de aprendizagem

Diagnóstico do problema de aprendizagem

Tratamento do problema de aprendizagem

Distúrbios de linguagem

Referências

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INCLUSÃO ESCOLAR: DEFINIÇÃO E PROCEDIMENTOS DE

INTERVENÇÃO

Definição de inclusão

De acordo com Leny Mrech,1 o objetivo da educação inclusiva (inclusão) é incluir as

crianças deficientes no ensino regular e romper com preconceitos e estereótipos que

envolvem a exclusão escolar de crianças com qualquer tipo de deficiência.

A inclusão escolar foi sugerida pela UNESCO em 1968, mas só se concretizou em

1986, nos EUA, quando crianças com deficiências leves e moderadas foram inseridas

nas classes regulares comuns. Segundo Mrech, pais, professores, especialistas e

instituições trabalharam contra todos os tipos de preconceito para que a educação

inclusiva pudesse atingir mais de 5,8 milhões de deficientes americanos, em todos os

níveis de ensino.

No Brasil, devido às intervenções do MEC, já existem escolas que realizam o mesmo

trabalho. No entanto, ainda há o preconceito de muitos profissionais que afirmam que as

crianças devem ser separadas das demais e colocadas em classes ou escolas especiais.

Nesse sentido, os estereótipos relacionados aos deficientes são muito fortes,

contribuindo para a exclusão social e escolar.

Ainda conforme Mrech, as crianças com deficiências mentais, físicas, visuais, auditivas,

com distúrbios de aprendizagem ou emocionais conseguem inúmeros progressos em

classes de ensino regular. Isso é possível porque elas têm a possibilidade de conviver

em um contexto mais amplo, assimilando novas experiências. Segundo a professora,

(...) vídeos comparativos entre o desenvolvimento de deficientes em escolas especiais e

os que estão em escolas de ensino regular demonstram o alto grau de progresso desses

últimos. A linguagem é acelerada e eles aprendem novos conceitos brincando com as

outras crianças.

Nosso objetivo é tentar romper com todos os processos de estigmatização, fazendo com

que as crianças não sejam mais avaliadas apenas através dos testes de QI, mas pelo

próprio potencial que elas apresentam. Isto porque esses testes medem o que ela não

tem, em vez de lidar com aquilo que ela poderia utilizar no contexto escolar (Leny

Mrech).

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A inclusão escolar é prevista pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº 9.394 de

20/12/1996, da Constituição Federal Brasileira. Esse foi um fato histórico, conquistado

após muitos anos de questionamentos sobre o tema. A lei é um instrumento importante

para garantir a inclusão, visto que ela delineia a educação brasileira e apresenta um

capítulo especialmente dedicado à educação especial.

Três aspectos da lei são destacados:

Educandos com necessidades especiais são aqueles que possuem necessidades

incomuns e, portanto, diferentes dos outros no que diz respeito às aprendizagens

curriculares compatíveis com suas idades. Em razão desta particularidade, estes alunos

precisam de recursos pedagógicos metodológicos próprios (Capítulo III / Artigo 4º).

Entende-se por educação especial, para efeitos desta lei, a modalidade de educação

escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com

necessidades especiais (Capítulo V / Artigo 58).

Professores com especialização adequada, em nível médio ou superior, para

atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para

integração desses educandos nas classes comuns (Capítulo V / Artigo 59).

De acordo com essa lei, o alunado de educação especial pode ser classificado como:

• portadores de deficiência: alunos que apresentam deficiência mental, física, auditiva,

visual ou múltipla;

• portadores de condutas típicas: alunos com comportamentos típicos de portadores de

síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos com repercussão sobre

o desenvolvimento e comprometimento social;

• crianças de alto risco: alunos que têm o desenvolvimento fragilizado em decorrência

de fatores como gestação inadequada, alimentação imprópria, nascimento prematuro,

etc.;

• portadores de altas habilidades: alunos também chamados de superdotados, pois

apresentam elevada potencialidade intelectual, aptidão acadêmica específica,

capacidade criativa produtiva, alta performance em liderança, elevada capacidade

psicomotora, talento especial para artes.

Movimentos internacionais e nacionais a favor da inclusão

Os movimentos internacionais a favor da inclusão são:

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Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, em Jomtiem (Tailândia), em 1990,

em defesa da equidade social nos países mais pobres e populosos.

Declaração de Nova Delhi, em 1993, em defesa do atendimento à demanda de

universalização do ensino básico.

Declaração de Salamanca, 1994, quando da realização da Conferência Mundial sobre

Necessidades Educacionais Especiais, na cidade de Salamanca, Espanha.

Embora o Brasil, apesar de ter sido convidado, não tenha participado, esse documento

influenciou fortemente a política e a gestão da educação, sobretudo da educação

especial em nosso país.

A Linha de Ação Sobre Necessidades Educacionais Especiais, da Declaração de

Salamanca, almeja a definição da política e a inspiração da ação de governos,

organizações não governamentais e outras instituições na implementação de princípios,

políticas e práticas em educação especial. Tal linha de ação representa para a política

educacional, em âmbito nacional e internacional, um marco na definição de diretrizes

para o planejamento de ações responsivas a necessidades educacionais especiais.

Essa Declaração repercutiu em mudanças significativas nas concepções de educação e,

consequentemente, na compreensão da escola pública e da função social que exerce na

sociedade contemporânea. No cenário educacional brasileiro, a LDB nº 9.394/96, o

Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/01) e as Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica (Resolução CNE/SEB nº 02/01) incorporaram

os princípios e as orientações da Declaração de Salamanca.

As principais orientações da Declaração são as seguintes:

• a urgência de novas ideias sobre necessidades educacionais especiais;

• a atenção a fatores escolares como a flexibilidade dos programas de estudos, a gestão

escolar, a produção de informação e pesquisa, a formação de pessoal docente, a oferta

de serviços externos de apoio, etc.;

• maior disponibilidade de recursos para a construção de escolas inclusivas;

• maior participação da comunidade escolar – interna e externa.

Diante dessas proposições, os sistemas de ensino são pressionados a rever muitos dos

paradigmas que deram – e ainda dão – sustentação às suas práticas no atendimento

educacional de grupos historicamente excluídos do acesso à educação e à cultura em

geral – as pessoas com deficiência.

O termo necessidades educacionais especiais refere-se a todas as crianças ou aos jovens

cujas necessidades vêm da capacidade ou da dificuldade de aprendizagem. Cabe à

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escola encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, incluindo aquelas que

possuem desvantagens severas.

Dito isso, pode-se afirmar que o desafio dos sistemas de ensino é a construção de uma

escola diferente da que se configura atualmente, ou seja, busca-se um espaço menos

segregativo e mais acolhedor, que procure se adaptar às necessidades dos alunos, e não

o contrário; que reconheça as possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem nos

alunos em vez das limitações que eles encontram em algumas condições temporárias ou

permanentes.

Não se trata de buscar pertencimentos, inserções e estereótipos no campo cultural para

categorizar indivíduos e coletividades, procurando integrá-los à cultura vigente; trata-se

de compreender a cultura da diversidade como questionamento e desafio à cultura

hegemônica, como forma de combater os processos de segregação.

Reconhecer e valorizar a diferença devem ser os pontos de partida e de chegada para

construir uma base político-pedagógica que garanta uma educação na e para a

diversidade. Para isso, faz-se necessário, dentre outras tantas mudanças, redimensionar

as estruturas e a dinâmica dos sistemas de ensino, visando à construção de uma escola

que contemple e compreenda as diferentes formas de ser, fazer, aprender e conviver que

se manifestam no contexto escolar, como a própria manifestação da diversidade

humana.

História da educação especial no Brasil e políticas públicas

Embora o atendimento educacional a cegos, surdos, deficientes intelectuais e físicos

tenha se iniciado no Brasil por volta do século XIX, somente no século XX, no final dos

anos 50 e início da década de 60, ocorrerá na política educacional brasileira a inclusão

da educação especial, da educação de deficientes ou da educação de excepcionais.

De acordo com Mazzotta (2001), podemos dividir dois períodos na evolução da

educação especial no Brasil:

• (1º) Período de 1854 a 1956: iniciativas oficiais e particulares isoladas.

• (2º) Período de 1957 a 1993: iniciativas oficiais de âmbito nacional.

Período de 1854 a 1956

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12 de setembro de 1854: primeira iniciativa de atendimento escolar especial aos

portadores de deficiência concretizada por D. Pedro II através do Decreto Imperial nº

1.428 na cidade do Rio de Janeiro, com a criação do Imperial Instituto dos Meninos

Cegos. Em 17 de maio de 1890, passou a se chamar Instituto Nacional dos Cegos e, em

24 de janeiro de 1891, a denominar se Instituto Benjamin Constant (IBC). A educação

consistia em oficinas de aprendizagem de ofícios: tipografia e encadernação para

meninos cegos e tricô para as meninas.

26 de setembro de 1857: D. Pedro II também irá fundar no Rio de Janeiro o Imperial

Instituto dos Surdos-Mudos, pela Lei nº 839. Cem anos depois, em 6 de julho de 1957,

pela Lei nº 3.198, passou a se chamar Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).

Desde seu início, caracterizou-se pela educação literária e pelo ensino profissionalizante

de meninos surdos-mudos com idade entre sete a quatorze anos, por meio de oficinas de

sapataria, encadernação, pautação e douração.

Dezembro de 1883: embora houvesse, na época, 15.848 cegos e 11.595 surdos, somente

eram atendidos no IBC e INES 35 cegos e 17 surdos. Isso levou à discussão sobre a

educação dos portadores de deficiência no 1º Congresso de Instrução Pública,

convocado pelo Imperador D. Pedro II, sendo então discutida, entre outros temas, a

organização de currículo e a formação de professores para cegos e surdos.

Em 1874: Hospital Estadual de Salvador, hoje chamado Hospital Juliano Moreira,

iniciou o atendimento médico pedagógico aos deficientes mentais. No começo do século

XX, são publicados trabalhos científicos e técnicos indicando o interesse pela educação

dos portadores de deficiência. Em 1950, havia 54 estabelecimentos de ensino regular e

11 instituições especializadas mantidos pelo Poder Público (federal e estadual) que

prestavam serviço de atendimento especial a deficientes mentais, físicos, visuais e

auditivos.

De acordo com Mazzotta (2001), algumas instituições destacaram-se pela sua

importância ao longo da história e por isso estão aqui relacionadas.

Atendimento a deficientes visuais • Instituto Benjamin Constant – IBC (Rio de Janeiro).

• Instituto de Cegos Padre Chico (São Paulo).

• Fundação para o Livro do Cego no Brasil (FLCB) ou Fundação Dorina Nowill para

Cegos (São Paulo).

Atendimento a deficientes auditivos

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• Instituto Santa Terezinha (São Paulo).

• Escola Municipal de Educação Infantil e de 1º Grau para Deficientes Auditivos Helen

Keller (São Paulo).

• Instituto Educacional São Paulo (IESP) ou Divisão de Educação e Reabilitação dos

Distúrbios da Comunicação (DERDIC) – PUC/São Paulo.

Atendimento a deficientes físicos

• Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (São Paulo).

• Lar-Escola São Francisco – convênio com a Secretaria da Educação do Estado e com a

Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) – São Paulo.

• Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) – São Paulo.

Atendimento a deficientes mentais

• Instituto Pestalozzi de Canoas (Rio Grande do Sul).

• Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (Belo Horizonte).

• Sociedade Pestalozzi do Estado do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro).

• Sociedade Pestalozzi de São Paulo (São Paulo).

• Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Rio de Janeiro (Rio de

Janeiro).

• Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo (São Paulo).

Período de 1957 a 1993

De acordo com Mazzotta (2001), o atendimento educacional à criança com necessidades

especiais iniciou-se em nível nacional com a criação de campanhas especificamente

voltadas para esse fim. Abaixo, estão relacionadas cada uma delas:

Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro (CESB): em 03 de dezembro de 1957,

instalada no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de Janeiro, tinha

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como objetivo promover medidas necessárias à educação e à assistência ao surdo em

todo o território nacional.

Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão: em 01 de

agosto de 1958, no Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro.

Campanha Nacional de Educação de Cegos (CNEC): em 31 de maio de 1960, pelo

gabinete do ministro da Educação e Cultura e direção da professora Dorina Nowill.

Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais (CADEME):

em 22 de setembro de 1960, pelos movimentos liderados pela Sociedade Pestalozzi e

pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, ambas no Rio de Janeiro, e com o

apoio do Ministério da Educação e Cultura.

Em 03 de julho de 1973, com a finalidade de promover, em todo o território nacional, a

expansão e a melhoria do atendimento aos excepcionais, foi criado o Centro Nacional

de Educação Especial (CENESP). Com sua criação, foram extintas a Campanha

Nacional de Educação de Cegos e a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de

Deficientes Mental, além das Campanhas do Instituto Benjamin Constant e Nacional de

Educação de Surdos.

Em 1983, o CENESP foi transformado em Secretaria de Educação Especial (SESPE),

manteve a estrutura anterior e sua coordenação foi transferida do Rio de Janeiro, onde

estava localizada, para Brasília.

Em 25 de março de 1990 foi extinta a SESPE, e as atribuições relativas à educação

especial passaram a ser da Secretaria Nacional de Educação Básica (SENEB).

Em 08 de dezembro de 1990, inclui-se como órgão da SENEB o Departamento de

Educação Especial (DESE), com competências específicas em relação à educação

especial.

No final de 1992, após a queda do presidente Fernando Collor de Mello, houve

reorganização dos ministérios e reapareceu a Secretaria de Educação Especial (SEESP),

como órgão específico do Ministério da Educação e do Desporto.

A partir da reconstrução da trajetória da educação especial no Brasil, Mazzotta (2001)

concluiu afirmando que:

Alguns homens e mulheres, ao longo da história, desempenharam importante papel de

impulsionadores do movimento de organização institucional ao atendimento de pessoas

com deficiências e/ou necessidades especiais. De maneira pessoal ou coletiva, fizeram-

se agentes individuais desse processo e que, se fossem outros, muito provavelmente

teria sido outra trajetória da educação especial em nosso país. Vale destacar que suas

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propostas e ações políticas estiveram pautadas pelas condições sociais, econômicas e

políticas historicamente determinadas.

Os pais de crianças com necessidades especiais têm sido uma importante força para as

mudanças no atendimento aos portadores de deficiência.

O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES

Existem algumas crianças que aprendem mais depressa, lembram-se de mais coisas e

resolvem problemas com maior eficiência do que as outras. Ao longo da história, essas

crianças foram chamadas de superdotadas ou talentosas e, atualmente, são denominadas

portadoras de altas habilidades. Crianças denominadas como deficientes geralmente

apresentam perda em uma ou mais áreas do desenvolvimento; as crianças com altas

habilidades são o único grupo com excedente de capacidades ou talentos.

Quem são os sujeitos com altas habilidades?

Aluno portador de altas habilidades: aluno cujas aptidões biopsicológicas estão acima

dos padrões de desenvolvimento culturalmente aceitos e cientificamente reconhecidos

para a faixa etária correspondente. Aluno portador de necessidades especiais: aluno que

apresenta limitações de ordem física (auditiva, visual, mental, motora), psicológica ou

emocional, relativamente à sua faixa etária e aos padrões vigentes.

Avaliação psicológica de alunos com altas habilidades A avaliação dos sujeitos com

altas habilidades deve ser feita o mais cedo possível, a fim de atender suas necessidades,

capacidades e ajustamento sócio-emocional.

A simples rotulação do aluno como superdotado não tem valor algum se não for

contextualizada em um planejamento pedagógico ou com uma orientação educacional.

Da mesma forma, a avaliação deve ser enriquecida por outras fontes de identificação,

que permitam uma visão sistêmica e global do indivíduo, e não apenas sua inteligência

superior medida por meio de testes de inteligência. Uma metodologia de avaliação da

inteligência atual é feita de maneira abrangente e multidimensional levando em

consideração o contexto sócio-histórico do sujeito, suas habilidades na área da

linguagem e do pensamento lógico e suas características de criatividade, aptidão

artística e musical, liderança, entre outras.

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Portanto, é de fundamental importância que a avaliação permita ao sujeito reconhecer e

entender o que se passa consigo mesmo, ter uma ideia mais clara e coerente de seu

potencial e de suas habilidades e de como se desenvolver de forma mais harmoniosa.

Avaliação psicológica é o processo científico, limitado no tempo, realizado por um

psicólogo, que procura compreender o indivíduo em sua globalidade, utilizando técnicas

de entrevista, de observação e de testes psicológicos que permitam a obtenção do

funcionamento psíquico do sujeito que está inserido em um contexto sócio-histórico.

O conjunto de informações obtidas pelo psicólogo junto ao aluno, à escola e à família

mapeará as condições cognitivas, sociais e afetivas desse aluno, na tentativa de orientar

e conduzir ações em direção a uma melhor qualidade de vida.

Não se trata de uma ação isolada nem de uma proposta de solução mágica, mas de um

trabalho interdisciplinar que visa a um apoio a um planejamento educacional mais

eficaz.

De acordo com Fleith e Alencar (2007), é importante ressaltar que o principal objetivo

da avaliação psicológica não é identificar se o aluno apresenta ou não altas habilidades,

e sim avaliar seus interesses, pontos fortes e necessidades e sugerir caminhos que

possibilitem seu crescimento saudável.

Alfred Binet (1857-1911), pedagogo e psicólogo francês, em 1905 publicam, por

solicitação do governo francês, junto com Theodore Simon (1873-1961), uma escala

métrica para avaliação da inteligência, sendo considerado, por isso, o inventor do

primeiro teste de inteligência. Essa escala tinha como objetivo mensurar o

desenvolvimento da inteligência de crianças de acordo com a idade mental, e este

trabalho foi o ponto de partida para a criação de outros testes psicométricos,

especialmente os que medem o quociente intelectual (QI).

Lewis Terman (1877-1956) dedicou maior parte de sua vida ao estudo de crianças com

altas habilidades, procurou em escolas públicas crianças superdotadas e as acompanhou

durante 35 anos, até a sua morte.

A classificação proposta por Lewis Terman era a seguinte: QI acima de 141: genialidade

121 - 140: inteligência muito acima da média

110 - 120: inteligência acima da média

90 - 109: inteligência normal (ou média)

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80 - 89: embotamento

70 - 79: limítrofe

50 - 69: cretino

Em 2005, o teste de QI mais usado no mundo foi o Raven Standard Progressive

Matrices. O teste individual mais usado é o WAIS-III. O teste de QI individual mais

administrado em pessoas de seis a dezesseis anos é o WISC-III (Escala de Inteligência

Wechsler para Crianças), originalmente desenvolvido em 1949 e revisado em 1974

(WISC-R), 1991 (WISC-III) e 2003 (WISC-IV).

Tanto o WAIS quanto o WISC foram criados por David Wechsler (1896-1981). A

última versão do WAIS consiste em quatorze subtestes destinados a avaliar diferentes

faculdades cognitivas. O WISC é constituído por treze subtestes. Os subtestes são

subjetivamente estratificados em dois grupos:

Escala verbal e escala de execução (também chamada escala performática); contudo, os

estudos objetivos, baseados em análise fatorial, não oferecem respaldo à classificação

subjetiva em vigor.

A classificação originalmente proposta por Davis Wechsler era a

seguinte:QI acima de 127: superdotação

121 - 127: inteligência superior

111 - 120: inteligência acima da média

91 - 110: inteligência média

81 - 90: embotamento ligeiro

66 - 80: limítrofe

51 - 65: debilidade ligeira

36 - 50: debilidade moderada

20 - 35: debilidade severa

QI abaixo de 20: debilidade profunda

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O papel da família no desenvolvimento de altas habilidades e talentos

As maiores queixas e preocupações dos pais estão no descompasso entre o

desenvolvimento intelectual avançado e o emocional, compatível com a faixa etária. É

necessário que a família acompanhe o desempenho do aluno no contexto educacional,

ofereça atendimento às suas necessidades e receba orientação para ajudá-lo em seu

processo de adaptação às circunstâncias.

O papel da escola na estimulação do talento criativoDepois do próprio aluno, o professor é o principal agente pedagógico no contexto

escolar. Por isso, a identificação das altas habilidades deve iniciar na sala de aula, a

partir do professor, que, munido de recursos adequados, pode realizar suas observações

e anotações sobre aqueles alunos que se destacam, estimulando-os e facilitando seu

desenvolvimento. Descobrir o interesse do aluno consiste na questão central para torná-

lo motivado, abrindo espaço para que demonstre seu potencial e sua criatividade. Além

disso, cabe ao professor possibilitar ao aluno a socialização com os colegas de classe.

O ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Definição de deficiência intelectual ou mental

A deficiência mental (DM) refere-se ao funcionamento intelectual geral

significativamente abaixo da média (escore em testes de inteligência inferior a 85) que

coexiste com falhas no comportamento adaptador (independência e responsabilidade

social esperado para o grupo etário e cultural) e se manifesta durante o período de

desenvolvimento infantil. As crianças deficientes mentais são acentuadamente mais

lentas do que seus companheiros da mesma idade para usar a memória com eficácia,

associar e classificar informações, raciocinar e fazer julgamentos adequados (Kirk;

Gallagher, 2000).

Não existe, na literatura, um consenso em relação ao conceito de deficiência mental. Os

sujeitos que apresentam um baixo nível intelectual são classificados de deficientes

mentais ou retardados mentais, variando também a designação a partir do quociente

intelectual (QI) ou da idade mental (IM).

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Alfred Binet elaborou testes de inteligência na França, no início do século XX, com

objetivo de avaliar a inteligência das crianças francesas em idade escolar e, com isso,

encontrar alunos que não fossem capazes de responder ao programa escolar tradicional.

Dessa forma, classifica as crianças deficientes mentais pelo quociente intelectual (QI)

em quatro categorias:

idiota,

imbecil,

débil e

retardada.

A definição e os procedimentos para classificação de deficiência mental sofrem

modificações quando se menciona o fator de adaptabilidade.

Comportamento adaptador: são os fatores externos à criança; consistem no quadro

ambiental em que o sujeito se desenvolve. Se um determinado ambiente cria mais

condições do que outro, podemos ter uma criança deficiente mental em uma

comunidade, mas não em outra, na escola e não na vizinhança, durante uma época da

vida, mas não em outra.

Dessa forma, embora existam controvérsias sobre a possibilidade de modificação no

desenvolvimento intelectual, todos os autores concordam que o comportamento

adaptador das crianças deficientes mentais pode ser influenciado por treinamento. Em

outras palavras, dependendo das circunstâncias, é possível minimizar a deficiência

mental e até a incapacidade educacional por meio de uma programação educacional ou

modificações no ambiente social do sujeito.

Classificação

Uma das maiores consequências da deficiência mental é a perda da capacidade

intelectual, e são os testes de inteligência que irão determinar seu grau. Ao mesmo

tempo, é importante salientar que o diagnóstico da DM, como qualquer outro, é

extremamente complexo por isso, não pode ser reduzido a um número expresso em QI –

quociente intelectual.

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As escalas de David Wechsler permitem avaliar a inteligência a partir do escore dos

níveis de QI, sendo 100 considerado na média da distribuição – acima de 100 estão os

superdotados, e abaixo de 100 estão os infra-dotados.

Essa forma de avaliação da inteligência proposta por Binet e Wechsler provocou críticas

de vários autores contemporâneos (Piaget, Vygotsky, Luria, Sternberg, Feuerstein, entre

outros), que colocaram em dúvida a avaliação da capacidade intelectual por testes

psicológicos.

De acordo com González (2007), em psicologia e pedagogia, temos uma maneira mais

atual de avaliar a deficiência mental. O autor propõe três parâmetros que possibilitam

um diagnóstico mais eficaz e adequado para as necessidades dos deficientes mentais.

Esses paradigmas são:

• o déficit na inteligência e o grau de deficiência: determinados basicamente pelo QI ou

pelos estádios piagetianos de desenvolvimento;

• as dificuldades na conduta adaptativa;

• o grau de educabilidade (educáveis e treináveis) que determinam as possíveis ações ou

intervenções psicopedagógicas.

Dessa forma, é considerada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais (DSM-IV) como um transtorno generalizado do desenvolvimento,

caracterizado por:

• ter um funcionamento intelectual geral significativamente inferior à média;

• estar ligado a déficits significativos no funcionamento adaptativo;

• ter início antes dos dezoito anos de idade cronológica.

Funcionamento da DM de acordo com a classificação (DSM-IV):

Deficiente mental leve: corresponde a 85% de toda a população com DM; são

conhecidos também como “educáveis” e, na infância, desenvolvem habilidades sociais e

de comunicação.

Possuem poucas dificuldades sensório-motoras, muitas vezes não são diferenciados de

outras crianças até em idades mais avançadas e conseguem atingir até a sexta série do

ensino fundamental.

Deficiente mental moderado: corresponde a 10% de toda a população com DM; são

conhecidos como “treináveis”.

Durante a infância, podem aprender a falar e a se comunicar, mas dificilmente passarão

da segunda série do ensino fundamental.

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Deficiente mental grave: corresponde a 3 a 4% da população afetada por DM.

Apresentam dificuldade no desenvolvimento motor; se conseguirem se comunicar por

meio da linguagem, a compreensão e a expressão serão muito pequenas. Na primeira

infância, podem aprender uma linguagem rudimentar e adquirir hábitos de higiene

básica, com prejuízo nas áreas da alfabetização e matemática.

Deficiente mental profundo: corresponde a 1 a 2% da população afetada por DM.

Durante a infância, têm um funcionamento sensório-motor mínimo e exigem cuidados

até o fim da vida.

Causas da deficiência intelectual ou mental

De acordo com Kirk e Gallagher (2000), podemos identificar nove disposições

principais como agentes causadores da deficiência mental:

- infecção e intoxicação;

- trauma ou agente físico;

- metabolismo ou nutrição;

- doença cerebral grave;

- influência pré-natal desconhecida;

- anomalia cromossômica ou genética;

- distúrbios de gestação;

- retardo decorrente de distúrbio psiquiátrico;

- influências ambientais.

Fatores genéticos

Na formação de um novo ser humano, o pai e a mãe do futuro bebê contribuem com 23

cromossomos cada e, dessa forma, centenas de genes permanecem na posição certa em

cada cromossomo, desempenhando o processo químico exato para produzir um novo ser

humano. Mas, algumas vezes, esse processo pode deturpar-se, ocorrendo anormalidades

genéticas humanas, resultando, frequentemente, em aborto espontâneo.

Quando não ocorre o aborto, a gravidez ocorre normalmente e, muitas vezes, somente

no momento do parto é que os pais tomam conhecimento da patologia genética de seu

filho.

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Dois distúrbios genéticos específicos, dos mais de cem já identificados, serão aqui

mencionados:

- síndrome de Down;

- fenilcetonúria.

Síndrome de Down

Esse termo surgiu com John Langdon H. Down, em 1866, que estudou essa

anormalidade genética e batizou de “mongolismo” devido à semelhança física que esses

sujeitos apresentam com a raça oriental. Tal condição leva o sujeito à deficiência mental

moderada ou leve, acrescida de vários problemas de audição, formação do esqueleto,

hipotonia muscular e coração. A aprendizagem é lenta, assim como suas respostas, por

isso a estimulação precoce, o currículo e os programas específicos podem amenizar os

problemas que as crianças apresentam.

A causa da síndrome de Down é uma alteração cromossômica que ocorre de forma

acidental e mecânica durante a divisão celular, ou seja, a presença de 47 cromossomos

nas células ao invés de 46, que é o normal. Dessa forma, ocorre a presença de um

cromossomo extra no par 21, por isso essa anomalia é chamada de síndrome de Down

ou trissomia do 21.

É importante saber o número de células que foram afetadas.

Elas podem se apresentar de duas maneiras: global, quando todas as células foram

afetadas, e mosaico, quando somente algumas foram afetadas. Nesse segundo caso, o

embrião, se chegar até o final, terá os traços morfológicos menos evidentes do que no

primeiro caso. Detectar as diferenças entre os distintos casos é importante para a

intervenção educacional (González, 2007).

Fenilcetonúria

Outra condição causada por anomalias genéticas é a fenilcetonúria, ou seja, defeito em

um único gene, que leva ao retardo mental grave. É a incapacidade que a estrutura do

gene tem de quebrar uma partícula química, a fenilalanina, acumulada em grande

quantidade no sangue, resultando em dano severo ao cérebro em formação. Embora seja

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um distúrbio genético, pode ser prevenida por meio de uma dieta com baixos teores

defenilalanina durante os primeiros anos de desenvolvimento da criança.

Fatores teratógenos

Fatores relacionados ao ambiente no qual o sujeito vive; podem estar relacionado aos

distúrbios em seu desenvolvimento, como, por exemplo, ingestão de drogas pela mãe

durante a gravidez, bem como doenças que possa contrair durante esse período;

situações de carência nutricional e alimentar e doenças que a criança possa adquirir nos

primeiros anos de vida.

Existem dois tipos de fatores que podem levar à DM, especificamente à síndrome de

Down:

Fatores intrínsecos – genéticos• Determinados pela herança genética, ou seja, filhos de Down nascidos de mães Down

ou várias crianças Down na mesma família. Quando, em uma família, existe um caso de

Down, é bem possível que apareçam mais casos em gerações posteriores;

• idade avançada, tanto do pai quanto da mãe: idade da mãe passa dos 35 anos e no caso

do envelhecimento acelerado da mãe jovem.

Fatores extrínsecos – teratogenos• Determinados tipos de irradiações;

• doenças maternas (problemas viróticos – rubéola, encefalite –, agentes imunológicos,

falta de vitaminas, fundamentalmente da vitamina A);

• excesso de ingestão de álcool pela mãe durante a gestação;

• envenenamento por chumbo, encontrado em algumas tintas de parede e colocado na

boca por crianças pequenas.

Até o final do século passado, o diagnóstico da síndrome de Down, bem como de outras

patologias, só era feito quando do nascimento da criança ou até mais tarde. O

desenvolvimento de técnicas diagnósticas permitiu um avanço nessa área e o

diagnóstico precoce.

• Teste screening bioquímico-materno antes da gravidez detecta se a mãe é portadora da

síndrome.

• Ultrassonografia do feto a partir da 16ª semana de gravidez observando-se a dobra ou

a espessura da nuca.

19

• Aneuploidias fetais e amniocentese: retirada de um pouco do líquido da placenta ou

líquido amniótico para biópsia das células do feto encontradas nesse líquido. Assim,

logo no início da gravidez, os pais de alto risco podem saber se terão ou não um filho

deficiente.

Esses procedimentos médicos podem gerar um problema moral de graves

consequências, pois os pais teriam o direito de interromper a gravidez quando recebem a

informação de que terão uma criança deficiente?

Para alguns autores, esses sujeitos mudam a vida de seu ambiente familiar de imediato,

por isso afirmam que é importante detectar precocemente a síndrome, para evitar

ansiedades desnecessárias. Quando os pais conhecem a situação, precisam de um tempo

para se recuperar e assimilar a nova realidade e as dificuldades que irão enfrentar. Por

isso, devem receber informação clara e precisa sobre tudo o que devem fazer e também

sobre a forma como podem motivar e estimular seu filho para conseguir os melhores

resultados possível.

O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL

Os olhos

Os olhos, órgãos da visão, estão alojados nas cavidades orbitárias, que lhes dão proteção

e os mantêm próximos ao sistema nervoso central, de que são verdadeiros

prolongamentos exteriorizados. Possui forma esférica, o que lhes garante maior

mobilidade.

O globo ocular é formado por três envoltórios:

Esclera ou esclerótica: membrana mais externa e mais resistente do globo ocular. É o

chamado “branco do olho”; sua parte anterior se torna fina, transparente e delicada,

formando uma saliência que constitui a córnea – que permite a entrada de luz no olho.

Coroide: é uma membrana intermediária, rica em vasos sanguíneos e pigmentos. Em

sua parte anterior, torna-se visível pela transparência da córnea. Tal área recebe o nome

de íris – responsável pela cor dos olhos.

No centro da íris há um orifício chamado pupila, conhecido como “menina do olho”,

que tem como função controlar a quantidade de luz no globo ocular.

A luz que chega aos olhos sofre refração ao passar pela córnea, pelo humor aquoso, um

líquido claro, por uma lente gelatinosa (cristalino) e por um líquido bastante viscoso

20

(humor vítreo). Esse conjunto funciona como um sistema de lentes convergentes que

formam uma imagem na parte sensível do olho: a retina.

Retina: membrana interna do globo ocular. Ela é composta por neurônios

especializados; na parte posterior, apresenta uma pequena depressão, próxima ao nervo

ótico, denominada mácula, região mais sensível à luz e por onde as imagens são vistas

com maior nitidez.

As células fotossensíveis são de dois tipos: cones e bastonetes.

Os cones percebem as radiações luminosas, diferenciando as cores;

Os bastonetes também percebem as radiações, mas não distinguem as cores – captam

imagens mesmo com pouca luz, sendo importantes para a visão na obscuridade.

Estruturas auxiliares do olho:

Pálpebras: são duas pregas móveis, uma superior e outra inferior, que protegem o

globo ocular contra impurezas, traumas etc.; ao se fecharem, possibilitam ao globo

ocular o descanso, impedindo a entrada de luz; espalham as lágrimas na frente do olho,

lubrificando-o. As pálpebras e a esclera são revestidas por uma membrana fina e

transparente chamada conjuntiva.

Cílios: são pelos distribuídos nas margens das pálpebras, que protegem o globo ocular

de agentes agressores.

Glândulas lacrimais: órgãos responsáveis pela produção de lágrimas. A lágrima

facilita o deslizamento das pálpebras, promove a remoção de impurezas e germes,

participa da nutrição e oxigenação da córnea.

Sobrancelhas: pelos dispostos na margem superior de cada órbita, protegendo o globo

ocular do suor.

Músculos motores: são os músculos reto superior, reto inferior, reto lateral, reto

medial, oblíquo superior e oblíquo inferior que permitem ao globo ocular movimentos

em várias direções.

21

Mecanismo da visão

Raios de luz refletidos de um objeto entram nos nossos olhos, atravessam as estruturas

oculares – a córnea, a pupila, os humores, o cristalino – e chegam ao fundo do olho, até

a retina, onde existem células sensíveis à luz.

A imagem transformada em impulsos nervosos é enviada através do nervo ótico ao

cérebro. No cérebro, as informações (cor, forma, tamanho e posição) são

“interpretadas”, fazendo com que a imagem do objeto em foco seja vista na posição

correta.

Saúde da visão

Todo mundo tem alguém na família ou pelo menos conhece alguém que usa óculos.

Geralmente, pensam-se logo nos nossos avôs, pois a maioria dos idosos tem dificuldade

para enxergar.

Entretanto, ao contrário do que se pensa, os problemas de visão ocorrem na infância e

na adolescência.

Pesquisas revelam que uma em cada cinco crianças em idade escolar sofre de problemas

de visão. Uma criança não tem como comparar se está enxergando bem ou não e

dificilmente vai se queixar, o que pode trazer sérios problemas para o aprendizado e

para a saúde.

Os sintomas podem ser:

• dificuldade de leitura: quando você lê um livro, preste atenção se precisa aproximá-lo

dos olhos ou se é necessário afastá-lo. Observe se as letras ficam meio embaçadas,

como se tivesse uma nuvem de fumaça sobre seus olhos;

• piscamento: observe se você pisca muitas vezes ao focalizar algum objeto ou durante a

leitura;

• sensibilidade exagerada à luz: em ambientes claros, não se consegue abrir os olhos

totalmente, os quais, em seguida, começam a lacrimejar;

• terçol frequente: é uma inflamação geralmente localizada nas pálpebras, como se fosse

uma espinha grande, deixando a região avermelhada e inchada;

• dores de cabeça: geralmente durante ou após a leitura ou ao assistir à televisão;

• tonteiras: também são frequentes durante a leitura.

22

Definição de deficiência visual

A deficiência visual é uma perda na área da visão que pode ser do tipo cegueira – total

incapacidade para enxergar – ou do tipo deficiência visual – alterações no sistema visual

– e, nesse sentido, o sujeito perde a acuidade visual, a capacidade de distinguir imagens,

requerendo a utilização de prótese. Quando um sujeito não tem associado outro tipo de

incapacidade, além da falta de visão, irá compensar com outros sentidos, como tato,

audição e olfato.

Classificação

A literatura apresenta duas categorias de problemas visuais: deficiências totais e

deficiências parciais.

Deficiências totais

Cegueira ou perda da visão: caracteriza-se pela incapacidade de enxergar. Existem dois

tipos de cegueira:

• absoluta: quando o sujeito cego é incapaz de distinguir alguma coisa; em alguns casos,

pode reconhecer um pouco de luz, mas é impossível adquirir conhecimentos por meio

da vista;

• parcial: quando o sujeito cego pode distinguir luz, sombras e contornos.

Deficiências parciais

Deficiência visual: caracteriza-se por defeitos óticos e ambliopia, problemas de refração

no olho, manifestado por visão nebulosa. Entre esses, pode-se citar miopia,

astigmatismo e hipermetropia, que podem ser corrigidos sem dificuldade com pequenas

intervenções cirúrgicas ou pelo uso de lentes.

Na ambliopia, existe uma sensibilidade imperfeita na retina, sem lesão orgânica do olho,

levando a uma diminuição da visão de dois tipos:

• sujeitos com baixa visão, que, com auxílio de material adequado e especialistas,

podem desenvolver uma aprendizagem normal;

• sujeitos limitados visuais, que, com lentes ou aparelhos especiais, podem realizar sua

aprendizagem normal.

Distúrbios e anomalias visuais mais comuns:

23

Hipermetropia, Miopia, Astigmatismo, Estrabismo, Heterotropia, Nistagmo, Albinismo,

Catarata.

Causas da deficiência visual

Os problemas visuais podem surgir por interferências na formação de imagens na retina

ou na transmissão destas ao cérebro: erros óticos, defeito nos olhos, doenças, síndromes

e condições que afetam a visão em maior ou menor extensão.

No passado, as maiores causas da deficiência visual eram a sífilis, a meningite ou a

escarlatina, e medidas como lavar os olhos do recém-nascido e o uso de vacinas

conseguiram eliminar a maioria dessas causas. Hoje as infecções intrauterinas, como

rubéola e toxoplasmose, junto com malformação no desenvolvimento do aparelho visual

do feto são as causas mais comuns de deficiência congênita.

De acordo com González (2007), existem oito grupos diferentes de causas devido às

quais um sujeito é cego:

1º grupo: sujeitos cegos que sofreram anomalias congênitas porque a mãe teve alguma

doença durante os primeiros meses de gravidez, como rubéola ou toxoplasmose, e

sujeitos que apresentam cegueira devido à herança genética.

2º grupo: sujeitos cegos por problemas de refração, como a miopia.

3º grupo: sujeitos cegos que sofreram traumatismo nos olhos durante a prática de

esportes, casos de queimadura ou, ainda, acidentes domésticos.

4º grupo: sujeitos cegos por lesões no globo ocular.

5º grupo: sujeitos cegos por lesões no nervo ótico, no quiasma e nos centros corticais.

6º grupo: sujeitos cegos por alterações próximas aos olhos, como pálpebras ou canais

lacrimais.

7º grupo: sujeitos cegos por doenças gerais, que podem ser infecciosas, intoxicações

ou, ainda, transtornos do tipo endócrino (diabetes, sífilis, glaucoma, ceratite, rubéola).

8º grupo: sujeitos cegos cuja causa é determinada por parasitas.

Os dois principais profissionais mais indicados no diagnóstico dos problemas visuais

são o médico oftalmologista, especializado na avaliação e no tratamento dos defeitos e

doenças dos olhos, e o optometrista, que examina, mede e trata certos defeitos

funcionais de visão por meio de métodos que não exigem formação em medicina.

24

Além disso, os pais e o professor, por meio da observação, podem detectar as

deficiências visuais apresentadas pelas crianças, por meio dos seguintes indicadores:

• ter dificuldade para ler o quadro-negro;

• ter dores de cabeça;

• esfregar os olhos;

• apresentar olhos avermelhados e com lágrimas;

• confundir e inverter letras e palavras;

• trocar de linha ao escrever;

• piscar e fazer esforços para ler;

• apresentar incômodos excessivos causados pela luz.

Pesquisadores têm estudado de que maneira as outras funções sensoriais podem ser

afetadas pela deficiência visual.

Há um grupo de teóricos que acredita na teoria da compensação sensorial: se uma

avenida sensorial, como a visão, é deficiente, os outros sentidos automaticamente são

reforçados; por exemplo, parte-se da hipótese de que o deficiente visual tem a

capacidade de ouvir melhor e tem mais memória que indivíduos com visão.

No entanto, outros pesquisadores apresentam um ponto de vista alternativo, de que a

deficiência numa área de desenvolvimento pode ter um efeito negativo em outras áreas.

Isso significa que um defeito funcional em uma área retarda ou perturba o

desenvolvimento de outras áreas intactas.

O ALUNO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Os ouvidos

Chama-se de orelha (do latim aurícula) ou pavilhão auricular (ou pavilhão auditivo

externo ou, ainda, ouvido) a parte externa cartilaginosa do aparelho auditivo, ligada

diretamente ao canal do ouvido externo. Os ouvidos são os órgãos da audição.

Mecanismo da audição

De acordo com Cláudia Mara Damian, a estrutura fisiológica do órgão da audição, ou

seja, o ouvido possui três grandes divisões:

25

Ouvido externo: capta o som e, através do conduto auditivo, que funciona como um

ressonador, amplifica duas ou três vezes as ondas sonoras. O tímpano é o divisor do

ouvido externo e do ouvido médio.

Ouvido médio: possui três ossículos, martelo, bigorna e estribo, que transmitem as

vibrações produzidas pelo tímpano, o qual reage em função das ondas sonoras a uma

membrana que cobre uma abertura chamada janela vestibular ou oval, a qual separa o

ouvido médio (cheio de ar) do ouvido interno (cheio de líquidos).

Ouvido interno: fechado num recipiente ósseo, possui três canais semicirculares, que

não interferem no sentido da audição, mas oferecem o sentido de equilíbrio, e o caracol

(cóclea). A cóclea, com seu formato de caracol, é a ponte de ligação entre o sistema

mecânico de percepção do som e o sistema elétrico de envio da mensagem ao cérebro,

através das vias neuronais.

Segundo Damian, com o movimento da bigorna, em função da ação do martelo, é

acionado o movimento da janela oval; esta, por sua vez, está presa à bigorna. Portanto,

sempre que a bigorna agir, a janela oval movimentar-se-á de forma reflexa. A janela

redonda transmite as mensagens que chegam ao ponto de expansão e retração do fluido

contido na cóclea. A importância da janela redonda está em que é ela que contém as

informações referentes à frequência e à intensidade de um som. O sistema nervoso

solicitará da janela redonda todos os dados a respeito do som captado.

Até a janela redonda o processo é mecânico e sofre defasagem no tempo. A partir daí,

do sistema nervoso ao centro do cérebro responsável pela sensibilidade sonora,

praticamente não há lapso temporal, porque a mensagem é enviada por pulsos elétricos

infinitamente mais rápidos que os mecânicos.

Saúde auditiva

Os cuidados para evitar a surdez na infância começam antes mesmo de a criança nascer.

Durante a gravidez, é necessário que a mãe faça o pré-natal, não tome remédios sem a

aprovação do médico e, se houver necessidade de fazer um exame de radiografia, é

necessário comunicar o médico sobre a gravidez.

Após o nascimento do bebê, os pais devem ser orientados a não usar cotonetes durante a

higiene, nunca deixar que a criança brinque com botões, tampinhas, grão de feijão ou

objetos pequenos, pois ela mesma pode colocar esses objetos no ouvido; da mesma

26

forma, os pais devem evitar ambientes com alta sonoridade, pois isso pode prejudicar a

audição da criança.

Os pais devem ser orientados a vacinar o bebê contra sarampo, caxumba, meningite e

rubéola, pois essas doenças podem causar surdez.

Definição de deficiência auditiva

A deficiência auditiva (DA) refere-se à incapacidade do sujeito de ouvir e falar; é o

aluno que não pode utilizar os recursos naturais da sala de aula. Assim, uma criança é

surda quando não percebe os sons nem mesmo com a ajuda de amplificadores.

De acordo com González (2007), quando falamos em deficiente auditivo, referimo-nos

a sujeitos que têm uma perda auditiva de maior ou menor grau. Quando a perda é total,

falamos de surdos; quando a perda é parcial, falamos de hipoacusia. Esta pode ser leve,

moderada ou severa, em função do grau de decibéis que o sujeito é capaz de perceber.

Assim, para o autor, temos as seguintes definições:

• deficiência auditiva: termo genérico que indica uma incapacidade que pode ter nível

de intensidade de médio a profundo; inclui os termos “surdo” e “limitado de ouvido”.

• limitado de ouvido: pessoa que, geralmente, com o uso de auxílio auditivo, tem

bastante audição residual para ser capaz de processar informação linguística pela

audição;

• surdo: indivíduo cuja incapacidade auditiva impossibilita o processamento da

informação pela audição.

Do ponto de vista educacional, podemos classificar as crianças com déficit auditivo em

duas amplas categorias:

• hipoacústicos: crianças com audição deficiente, por isso têm alterações na articulação,

na reestruturação da linguagem ou, ainda, no léxico, mas, com ajuda de uma prótese

auditiva, podem desenvolver uma vida normal — portanto, a característica fundamental

dessas crianças é adquirir a linguagem oral por via auditiva;

• surdos profundos: crianças que têm uma perda auditiva total; a informação não chega

até elas em nível auditivo, embora tenham uma boa amplificação, por isso, a informação

é recebida pelo visual. Portanto, a característica fundamental dessas crianças é a

impossibilidade de adquirir a linguagem oral por via auditiva.

27

A literatura atual considera que uma perda auditiva total é muito rara, pois parece existir

um grau de audição residual; por isso o termo deficiência auditiva, e não surdez.

Classificação

A deficiência auditiva (DA) pode ser classificada de acordo com três critérios:

1. Natureza ou quantidade de audição que a criança perdeu.

2. Detecção da lesão ou localização da parte do ouvido lesionada.

3. Momento da perda auditiva.

Natureza da perda auditiva ou quantidade em decibéis de audição perdida.

Para isso, os autores se baseiam no Índice Haig, estabelecido pelo Comitê Internacional

de Audiologia.

De acordo com Kirk e Gallagher (2000), para determinar o nível de audição de um

sujeito, é necessário saber a intensidade de som que precisa ser ouvida pelo ouvinte. O

audiômetro de puro-som, um instrumento-chave para medir a acuidade auditiva, é

utilizado para apresentar ao indivíduo sons de frequência e intensidade conhecidas.

Pede-se ao indivíduo que responda quando ouvir o som do audiômetro, e a audição em

cada ouvido é registrada separadamente, sendo o nível de audição registrado em um

audiograma que mostra a perda em decibéis. Um nível auditivo de trinta decibéis indica

uma leve perda de audição; um nível de noventa decibéis indica uma perda auditiva

profunda.

Com isso, temos a seguinte classificação:

• Crianças com audição normal: audição inferior a 20 dB, por isso percebe a fala e os

sons perfeitamente.

• Crianças com DA leve: audição entre 20 e 40 dB; não costumam ter problemas para

ouvir, mas, quando se encontram em lugares com barulhos, podem ter dificuldade para

perceber mensagens, sobretudo se forem utilizados expressões ou termos pouco

conhecidos; por isso costumam ter dificuldade na escola, uma vez que esses dois fatores

se unem: barulhos próprios da escola e linguagem acadêmica. Para que o aluno tenha

uma escolaridade normal, é necessária a utilização de prótese e fonoterapia, para

trabalhar a articulação.

• Crianças com DA média: audição entre 40 e 70 dB; com uso de prótese, é possível

adquirir a linguagem oral por via auditiva e conversação de forma normal.

28

• Crianças com DA severa: audição entre 70 e 90 dB; podem perceber apenas palavras

amplificadas, e a aprendizagem da linguagem oral não ocorre de maneira espontânea.

Por isso, é imprescindível o uso de prótese, treino auditivo e fonoterapia para conseguir

ampliar o vocabulário, uma linguagem estruturada e fala inteligível.

• Crianças com DA profunda: audição superior a 90 dB; não podem perceber a

linguagem por via oral e precisam de intervenção especializada.

• Cofose: perda total da audição; não existem resíduos auditivos e seu patamar está

abaixo de 120 dB. Esse tipo de surdez não é frequente.

Localização da lesão

Detecção da lesão ou localização da parte do ouvido lesionada. De acordo com os

autores, dependendo da parte do ouvido que a lesão afeta, pode-se classificar a DA.

Assim, temos a seguinte classificação:

• Surdez de condução ou transmissão: afeta o percurso do som até o ouvido interno e se

deve a obstáculos que ocorrem no ouvido externo ou médio, por alterações na cadeia,

tumores, otites e malformações, e o tratamento envolve medicação ou intervenção

cirúrgica. A perda auditiva não ultrapassa 60 dB, sendo considerada uma surdez média.

• Surdez neurossensorial ou de percepção: as estruturas do ouvido interno e as vias de

acesso ao cérebro foram atingidas (canal auditivo), por isso não é possível conseguir

audição, já que a quantidade e a qualidade estão afetadas, sendo o caso de surdez

propriamente dita. A intervenção envolve cirurgias com implantes cocleares.

• Surdez mista: ocorre quando os ouvidos externo, médio e interno são afetados. O

tratamento é cirúrgico e educacional.

Momento da perda auditiva• Surdos pré-locutivos: surdez anterior à aquisição da fala, isto é, entre zero e cinco

anos. Nesses casos, deve se utilizar um programa para que a criança adquira a

linguagem – oralismo e/ou sinais.

• Surdos pós-locutivos: surdez após a aquisição da fala, a partir de cinco anos, quando já

contam com as estruturas da linguagem. Nesses casos, deve-se controlar e conservar o

adquirido e tornar a criança consciente de seu déficit, a fim de contornar alterações em

suas relações pessoais e sociais.

29

Causas da deficiência auditiva

Kirk e Gallagher (2000) apresentam cinco causas principais para a surdez infantil:

hereditariedade, rubéola materna, nascimento prematuro, meningite e incompatibilidade

de sangue entre a mãe e a criança.

A DA menos grave é causada por otite média, uma infecção comum do ouvido médio

na infância, mas muitos casos estão na categoria “causa desconhecida”.

Sendo assim, temos as seguintes causas para a deficiência auditiva:

Causas pré-nataisRubéola materna, hereditariedade, nascimento prematuro, incompatibilidade de Rh,

desconhecidas.

Causas pós-nataisMeningite, encefalite, desconhecidas.

Surdez de transmissãoOuvido externo: malformações que afetam o conduto auditivo ou ausência do pavilhão

auditivo; traumatismos ou inflamações no ouvido externo leve e severo ou tampões de

cera. Essas alterações não impedem a audição, mas os sons são mal-discriminados, com

efeito transitório, uma vez que podem ser eliminados.

Ouvido médio: a deficiência auditiva nessa região é mais grave, embora possa ser

corrigida por cirurgia. A infecção de origem é a otite média, mais frequente na infância,

e pode afetar dois terços das crianças nos primeiros anos de vida (6 a 36 meses), sendo

mais comum no verão do que no inverno.

Surdez de percepção ou neurossensorialOuvido interno: a deficiência auditiva nessa região é ocasionada por lesões cocleares ou

disfunções que afetam a maior parte da audição. Muitos casos de surdez pré-linguística

são desse tipo; é mais grave e costuma ser permanente. Seu prognóstico é mais

complicado do que o da surdez por transmissão.

30

A causa pode ser por problemas genéticos, processos infecciosos e malformação

congênita: pré-natal (rubéola na mãe durante a gestação); perinatal (hipóxia ou falta de

oxigenação no parto); ou pós-natal (doenças infecciosas como meningite ou encefalite).

O problema também pode ocorrer em crianças prematuras, por incompatibilidade de Rh

e por traumatismos provocados após o nascimento (barulho ou traumatismo craniano).

Em adultos também pode levar a DA por deterioração progressiva do nervo, tumores

intracranianos, hemorragias cerebrais, exposição à alta intensidade de sons, alteração da

pressão e dos líquidos do labirinto (síndrome de Menière).

Surdez genéticaOcorre nas crianças que têm pais surdos ou membros da família surdos; em seu

histórico podem existir problemas de consanguinidade.

Surdez por causas desconhecidasGonzález (2007) afirma que a porcentagem, normalmente, é muito alta dos casos em

que se desconhece com exatidão a origem da deficiência auditiva, que pode acontecer

em qualquer momento da vida, podendo ser por envelhecimento, por traumatismos

acústicos, etc.

As dificuldades que uma criança surda tem em seu processo de aprendizagem são

determinadas pela falta de comunicação oral com o professor e com os colegas. Cabe ao

professor buscar uma forma de contato com o aluno, levando em consideração suas

características intelectuais, afetivas e sociais, valorizando suas habilidades ou pontos de

destaque.

A qualidade de vida do DA depende de três fatores: realização acadêmica, modificação

social e pessoal e modificação profissional.

O ALUNO COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E MOTORA

Problemas de saúde física

São considerados sujeitos com problemas de saúde física aqueles que apresentam

epilepsia, asma, febre reumática e diabete, levando à dificuldade de mobilidade,

vitalidade física e autoimagem.

31

Classificação

Asma ou bronquite: distúrbio marcado por contrações espasmódicas dos brônquios

que causam um encurtamento na respiração. A criança apresenta dificuldade para

respirar, postura curvada, mobilidade afetada, dificultando a vitalidade física.

Fibrose cística: doença hereditária caracterizada por disfunção geral do pâncreas,

resultando em problemas pulmonares sérios. Vitalidade física prejudicada.

Epilepsia: conjunto de distúrbios que resultam em ataques ou convulsões periódicas.

Vitalidade física prejudicada.

Joe, um menino de nove anos, com epilepsia, tinha periodicamente convulsões, caía no

chão e se retorcia inconsciente, experiência assustadora para os colegas de classe que

não estavam preparados. O professor conversou com os alunos sobre os problemas de

Joe, que ele poderia ter convulsões e que não é prejudicial para ele ou para os outros.

Nesse sentido, orientou os alunos a ajudarem Joe nesses momentos, tirarem parte dos

móveis do caminho para que ele não batesse e se machucasse. A abordagem direta do

tema com os alunos permitiu o enfrentamento dos problemas da vida, esclareceu sobre o

tema e naturalmente colocou Joe numa relação de maior respeito (Kirk; Gallagher,

2000).

Diabete: distúrbio metabólico dos carboidratos caracterizado por deficiência de

insulina; pode levar a coma, a não ser que o doente receba medicação. Vitalidade física

prejudicada.

Febre reumática: doença infecciosa que resulta em lesão do coração e redução de

sua função. Vitalidade física prejudicada.

Assim, a febre reumática é uma rara inflamação do coração e de outras partes do corpo

(articulações, sistema nervoso e pele) que, geralmente, resulta de uma faringite séptica

(infecção na garganta).

Deficiência física

É a disfunção ou interrupção dos movimentos de um ou dos dois membros: superiores,

inferiores ou ambos; dependendo do grau do comprometimento ou tipo de

acometimento, fala-se em paralisia ou paresia.

O termo paralisia refere-se à perda da capacidade de contração muscular voluntária por

interrupção funcional ou orgânica em um ponto qualquer da via motora, podendo ir do

32

córtex cerebral até o próprio músculo; paralisia é quando todos os movimentos em tais

proporções são impossíveis.

Já o termo paresia refere-se ao movimento que está apenas limitado ou fraco. Esse

termo vem do grego paresis e significa relaxação, debilidade. Nos casos de paresias, a

motilidade se mostra apenas num padrão abaixo do normal, no que se refere à força

muscular, à precisão do movimento, à amplitude do movimento e à resistência muscular

localizada; refere-se a um comprometimento parcial, a uma semiparalisia.

Classificação das paralisias

Dependendo do número e da forma como os membros são afetados pela paralisia, temos

a seguinte classificação:

Monoplegia: condição rara em que apenas um membro é afetado.

Diplegia: quando são afetados os membros superiores.

Hemiplegia: quando são afetados os membros do mesmo lado.

Triplegia: condição rara em que três membros são afetados.

Tetraplegia/quadriplegia: quando a paralisia atinge todos os membros, sendo que a

maioria dos pacientes com esse quadro apresenta lesões na sexta ou sétima vértebra.

Paraplegia: quando a paralisia afeta apenas os membros inferiores; pode ser resultante

de uma lesão medular torácica ou lombar. Esse trauma ou doença altera a função

medular e produzem como consequências, além de déficits sensitivos e motores,

alterações viscerais e sexuais.

Causas diversas ou desconhecidas

Paralisia cerebral: deficiência da função motora devido a uma lesão cerebral no

momento do parto. A criança pode apresentar níveis de mobilidade prejudicada e pode

ter sua vitalidade e aparência física comprometidas.

A causa pode ser: prematuridade, anóxia perinatal, desnutrição materna, rubéola,

toxoplasmose, trauma de parto, subnutrição, outras.

Hemiplegias: por acidente vascular cerebral, aneurisma cerebral, tumor cerebral e

outras.

33

Lesão medular: por ferimento por arma de fogo, ferimento por arma branca, acidentes

de trânsito, mergulho em águas rasas, traumatismos diretos, quedas, processos

infecciosos, processos degenerativos e outros.

Amputações: causas vasculares, traumas, malformações congênitas, causas metabólicas

e outras.

Distrofia muscular: fraqueza progressiva e atrofia dos músculos do esqueleto. Afeta a

mobilidade, vitalidade física e aparência comum (autoimagem).

Malformação congênita: condição presente no nascimento pode ser definida como

qualquer defeito na constituição de algum órgão ou conjunto de órgãos que determine

uma anomalia morfológica estrutural presente no nascimento por causa genética,

ambiental ou mista. Essa definição abrange todos os desvios em relação à forma,

tamanho, posição, número e coloração de uma ou mais partes do corpo (OPAS, 1984).

A malformação da criança poderá ser decorrente de uma programação genética

imperfeita ou porque fatores ambientais alteraram o trabalho de formação ou, ainda,

pela existência simultânea das duas coisas. Por isso, as malformações são classificadas

em três grandes grupos: de causa genética, de causa ambiental e de causa

multifatorial.

As primeiras são hereditárias e podem repetir-se na família; as segundas ocorrem

esporadicamente, e as últimas são como que uma situação intermediária entre as duas.

Há 17 anos, nenhum caso de paralisia infantil é registrado no Brasil Alessandra Bastos

— Repórter da Agência Brasil www. radiobras.gov.br

Brasília — A estratégia brasileira contra a paralisia infantil (poliomielite) completa 26

anos em 2006 e há 17 anos nenhum caso da doença é registrado no país. Para continuar

mantendo a pólio erradicada, foi lançada ontem (10) a primeira etapa da Campanha

Nacional de Vacinação Infantil.

Para este ano, a meta é vacinar 17 milhões de crianças com até cinco anos de idade.

Com isso, o governo quer atingir o mínimo de 95% de cobertura em pelo menos 80%

dos municípios. Para tanto, o Brasil adquiriu 26,6 milhões de doses da vacina, enviadas

aos 117 mil postos de saúde espalhados pelo país. O investimento foi de R$ 10,1

milhões, sendo que outros R$ 6,2 milhões foram repassados a estados e municípios para

operacionalizar a campanha.

Em 1994, o continente americano recebeu da Organização Mundial de Saúde (OMS) o

reconhecimento pela erradicação da doença. Os países do Pacífico Ocidental receberam

essa certificação em 2000 e a Europa, em 2002.

34

Restam no mundo três regiões que ainda não receberam o reconhecimento: África,

Sudeste da Ásia e Mediterrâneo Oriental. Daí a importância de manter a vacinação, já

que o fluxo de viajantes por todo o mundo pode propagar o vírus transmissor da doença.

Embora haja problemas de mobilidade e vitalidade física, a maior parte das crianças é

capaz de frequentar a escola regular, mas algumas permanecem presas ao lar e precisam

receber instrução especial em casa, por telefone ou por meio de professores particulares.

Por que tantas pessoas recuam e parecem pouco à vontade quando vêem uma criança

com paralisia cerebral ou com um membro deformado ou faltando? Talvez a condição

da criança deficiente nos lembre de nossa própria vulnerabilidade (Kirk; Gallagher,

2000).

De acordo com Kirk e Gallagher (2000), um dos maiores problemas que a criança ou o

adulto com deficiência física precisa enfrentar é a repulsa e o retraimento que as pessoas

manifestam quando vêem sua condição.

Os avanços da ciência têm reduzido ou eliminado muitos desses problemas físicos e de

saúde, por meio de tratamento terapêutico e medicamentoso, mas isso não impede,

muitas vezes, a ocorrência de problemas educacionais, por malformação docente ou

ambiente escolar inadequado.

A incidência da poliomielite foi reduzida pelo desenvolvimento e pelo uso da vacina

com campanhas nacionais de vacinação, e a epilepsia tem sido controlada pelo

desenvolvimento de medicamentos que diminuem a incidência de ataques convulsivos

em crianças, o que dificultava as oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento

social.

Deficiência motora

Desenvolvimento motor é o resultado da maturação de alguns tecidos nervosos,

aumento em tamanho e complexidade do sistema nervoso central, crescimento de ossos

e músculos.

O desenvolvimento motor ocorre naturalmente durante o ciclo vital a partir dos

estímulos que a criança recebe em seu ambiente. Em caso de privação dessa estimulação

ou ocorrência de distúrbios e doenças, esse desenvolvimento estará comprometido,

acarretando em perdas para a criança.

35

Durante o primeiro ano, a rapidez do desenvolvimento da criança é extraordinária. Ao

nascer, o bebê conta apenas com os reflexos hereditários; no entanto, ao final do

primeiro ano, entre outros comportamentos, será capaz de colocar-se na posição de pé e

caminhar alguns passos sem apoio, compreender o significado de várias palavras e

obedecer a ordens simples.

O professor deve estar atento às etapas do desenvolvimento motor da criança para poder

acompanhar sua evolução, assim como detectar algum distúrbio ou atraso e fazer os

encaminhamentos adequados. Esse roteiro auxilia também na elaboração de atividades

pedagógicas a serem desenvolvidas nos planejamentos em sala de aula, bem como em

orientação aos pais.

Etapas do desenvolvimento motor

É importante destacar que a separação do desenvolvimento da criança em etapas é

apenas didática, uma vez que esse desenvolvimento ocorre em um processo que

acompanha o homem através de toda a sua existência, abrange aspectos fisiológicos,

psicológicos e ambientais contínuos, relacionados entre si.

De acordo com Portage Guide to Early Education,3 temos as seguintes etapas do

desenvolvimento motor infantil:

0 a 1 ano

• Movimenta a cabeça e é capaz de levantá-la ligeiramente quando deitada de costas ou

de bruços.

• Estende os braços para os lados, sem direção.

• Dá pontapés com forças quando deitada em decúbito dorsal.

• É capaz de projetar tanto os braços como as pernas para frente, de forma que, quando

de bruços, parece tentar arrastar-se.

• Mexe a cabeça quando deitada em decúbito ventral, para cima, de um lado para o

outro.

• Mantém a cabeça levantada quando em decúbito ventral, durante alguns segundos.

• Controla a cabeça e ombros quando sentada, apoiada em almofada ou travesseiro.

• Tenta pegar objetos acerca de 20 cm à sua frente.

• Agarra objetos mantidos 10 cm à sua frente.

36

• Retém objetos, usando preensão palmar durante alguns segundo, soltando

involuntariamente.

• Tenta alcançar e agarrar com preensão objeto à sua frente.

• Tenta alcançar objeto predileto.

• Coloca objetos na boca.

• Mantém a cabeça ereta e firme quando carregada em pé.

• Deitada de bruços sustenta cabeça e peito, apoiada nos antebraços.

• Vira de bruços para o lado.

• Rola de bruços para de costas.

• Estando de bruços, tenta se movimentar para frente.

• Rola de costas para o lado.

• Vira de costas para de bruços.

• Puxa para se sentar quando agarrada nos dedos do adulto.

• Passa de bruços para posição sentada.

• Senta-se sem apoio de mão.

• Atira objetos para todos os lados.

• Balança para trás e para frente apoiada sobre mãos e joelhos.

• Transfere objetos de uma para outra mão em posição sentada.

• Retém dois cubos de 3 cm em uma das mãos.

• Coloca-se em posição de joelhos.

• Coloca-se em posição de pé.

• Usa preensão radial para pegar objetos.

• Engatinha.

• Bate palmas.

• Caminha com mínimo de auxílio.

• Dá alguns passos sem apoio.

1 a 2 anos

• Engatinha escada acima.

• Sobe em cadeira de adulto, vira-se e senta-se.

• Coloca aros num pino.

• Tira e coloca pinos grandes de uma prancha.

• Constrói torre de três cubos.

• Senta-se em cadeira pequena.

• Curva-se na altura da cintura para apanhar objetos sem cair.

37

• Empurra e puxa brinquedos enquanto anda.

• Usa cavalo de balanço.

• Sobe escada com ajuda.

• Fica de cócoras e volta a ficar em pé.

• Segura o lápis em preensão radial.

• Imita movimento circular.

2 a 3 anos• Vira trincos e maçanetas de portas.

• Salta sobre dois pés.

• Salta o último degrau da escada com um pé na frente do outro.

• Caminha para trás.

• Desce escadas com ajuda.

• Constrói torre de cinco a seis cubos.

• Vira páginas, uma de cada vez.

• Dobra papel, imitando.

• Desparafusa brinquedos de encaixe.

• Dá pontapés em bolas grandes.

• Faz bolas de argila.

• Dá cambalhotas para frente, com ajuda.

3 a 4 anos

• Junta quebra-cabeça de três peças ou prancha de formas.

• Corta com tesoura.

• Pula de uma altura de 24 cm com os dois pés unidos.

• Dá pontapé em bola grande quando rolam para ela.

• Anda na ponta dos pés.

• Corre dez passos com movimentos de braços coordenados.

• Pedala triciclo.

• Marcha.

• Agarra bola com as duas mãos.

• Usa molde.

• Recorta 1/4 de uma linha de 20 cm.

• Segura lápis entre o polegar e o indicador, descasando no terceiro dedo.

4 a 5 anos

38

• Fica apoiada num pé só, sem ajuda, por quatro a cinco segundos.

• Corre mudando a direção.

• Caminha sobre tábua de equilíbrio.

• Pula para frente dez vezes sem cair.

• Pula para trás.

• Bate e agarra bola grande.

• Faz formas de argila compostas de duas a três partes.

• Parafusa objeto rosqueado.

• Desce escadas com pés alternados.

• Pedala triciclo virando esquina.

• Pula sobre um dos pés cinco vezes sucessivas.

5 a 6 anos• Abre bem os dedos tocando o polegar em cada dedo.

• Sobe degraus de escada íngreme.

• Bate com martelo em prego.

• Dribla bola com direção.

• Usa apontador de lápis.

• Segura bola macia ou saco com areia com uma das mãos.

• Capaz de pular corda sozinha.

• Bate na bola com bastão ou vareta.

• Apanha objeto do chão enquanto corre.

• Anda de bicicleta.

• Caminha ou brinca na água até a cintura, na piscina.

• Dirige vagão dando impulso com o pé.

• Pula de altura de doze polegadas e cai sobre a ponta dos pés.

• Permanece num pé só, sem apoio, com olhos fechados, durante dez segundos.

• Se segura por alguns segundos a uma barra horizontal, apoiando o próprio peso nos

braços.

Definição de deficiência motora

De acordo com Santos, dantas e Oliveira (2004), aquisição das habilidades motoras

básicas ocorre de acordo com uma sequência previsível de desenvolvimento no que diz

39

respeito ao que é possível adquirir apesar da diversidade devido aos fatores

socioculturais.

Porém, existem situações em que a variabilidade ultrapassa os limites do

desenvolvimento dito normal, adquirindo características de desvio. É isso que os autores

chamam de deficiência motora.

O que é uma deficiência motora?

É um atraso excessivo (assumido como sintoma de desordem orgânica) na aquisição de

habilidades motoras básicas. Além do atraso, muitas vezes, essas habilidades acabam

não se desenvolvendo plenamente. As razões dessa condição são múltiplas, e seus

processos, particulares.

Segundo Santos, Dantas e Oliveira (2004), As dificuldades motoras são muitas vezes

descritas como algo concomitante a muitas desordens psicológicas ou neurológicas.

Entretanto, existem condições em que essas dificuldades motoras manifestam-se de uma

maneira isolada (até onde se sabe no momento), isto é, sem estar acompanhada por

nenhum diagnóstico claro com base em evidências de ordem psicológica ou

neurológica.

Para essas crianças, a utilização de habilidades fundamentais como correr, andar,

receber, etc., assim como de habilidades funcionais típicas do cotidiano infantil

(escrever, vestir-se, etc.) são vivenciadas como um sério transtorno.

Uma criança que apresente essa condição pode ser vista como alguém que, até certo

grau, aprendeu as habilidades motoras básicas (locomotoras, equilíbrio ajuste postural,

manipulativas). Entretanto, o necessário desenvolvimento dessas habilidades, ou seja,

sua reconstrução na forma de habilidades funcionais, que permitam a criança interagir

plenamente com seu ambiente natural e social, não ocorreu.

A criança que apresenta essas dificuldades é classificada como:

• criança atrapalhada ou desajeitada (clumsy);

• criança com dificuldade motora (children with motor difficulties);

• criança com disfunção perceptivo-motora (perceptual motor-dysfunction);

• criança com déficit em atenção, controle motor e percepção (DAMP);

• criança com dispraxia (dyspraxia).

40

Somente na década de 80 a Associação de Psiquiatria Americana (APA) e a

Organização Mundial da Saúde (OMS) identificaram essa deficiência, e a sua

denominação técnica passou a ser Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação

(TDC).

De acordo com a APA (DSM-IV), podemos classificar o TDC pelos seguintes sintomas:

• comprometimento do desempenho de atividades diárias tendo por base a idade

cronológica e a inteligência;

• propensão para deixar cair objetos;

• baixo desempenho em atividade desportivo;

• grafia insatisfatória;

• rendimento escolar tende a ser afetado de forma significativa;

• fraco desempenho de rotinas diárias.

F82 Transtorno específico do desenvolvimento motor:

A característica essencial é um comprometimento grave do desenvolvimento da

coordenação motora, não atribuível exclusivamente a um retardo mental global ou a

uma afecção neurológica específica, congênita ou adquirida. Na maioria dos casos, um

exame clínico detalhado permite sempre evidenciar sinais que evidenciam imaturidade

acentuada do desenvolvimento neurológico, por exemplo, movimentos cuneiformes dos

membros, sincinesias e outros sinais motores associados; assim como perturbações da

coordenação motora fina e grosseira. Debilidade motora da criança.

Na publicação do CID-10 (OMS, 1993), o TDC é chamado de transtorno específico do

desenvolvimento da função motora.

A principal característica é o grave comprometimento da coordenação motora, cuja

causa não está diretamente ligada ao retardo intelectual global ou a qualquer transtorno

neurológico congênito ou adquirido. Acarreta em comprometimento de tarefas

cognitivas viso-espaciais e resulta em dificuldades no desempenho acadêmico, além de

problemas sociais e emocionais.

O TDC é uma deficiência eminentemente motora, cuja causa ainda é desconhecida,

levando a consequências negativas no cotidiano da criança: por um lado, porque a

ausência de sinais neurológicos clássicos leva a uma atitude de incredulidade diante do

problema, negligenciando-se a sua existência; por outro, existe a crença de que as

crianças naturalmente irão recuperar-se do estado de dificuldade motora.

41

Os autores alertaram sobre o perigo da visão otimista (dificuldade desaparece

espontaneamente) difundida nos meios profissionais, pois pode se constituir em um

obstáculo para os pais conseguirem ajuda para o tratamento dessa desordem motora.

Qual é o prognóstico em termos de desenvolvimento motor para as crianças

diagnosticadas com TDC? Será que elas se livram de suas dificuldades

espontaneamente?

Existem duas grandes tendências no estudo do desenvolvimento motor em crianças com

TDC:

Área médica: busca investigar precocemente os determinantes que podem levar à

ocorrência do problema, por meio de quatro indicadores:

a. os antecedentes ou fatores presentes nos momentos iniciais da vida;

b. condições no nascimento (peso, idade de gestação, asfixia perinatal, etc.);

c. as condições do recém-nascido durante as primeiras semanas;

d. o desenvolvimento até, geralmente, o início da escolarização.

Área psicológica e pedagógica: procura investigar o impacto do TDC, nos primeiros

anos escolares, sobre o futuro escolar durante a adolescência.

Tanto em uma área como na outra, os autores são unânimes ao afirmarem que as

crianças portadoras de TDC não se recuperam de seus transtornos motores

espontaneamente. Pode haver, com o passar dos anos, uma diminuição natural desses

problemas, mas não a sua eliminação, levando-as a receber rótulos e apelidos e a um

comprometimento de sua autoestima.

Por isso, é necessário que os professores estejam atentos ao desenvolvimento motor do

aluno desde os primeiros anos da infância, a fim de realizar diagnósticos, fazer

encaminhamentos e propor atividades pedagógicas direcionadas às dificuldades das

crianças.

Intervenção educacional

No momento em que nasce uma criança que apresenta uma deficiência, ocorre na

família, em especial nos pais, uma “morte simbólica”. Os projetos e as fantasias que

haviam sido idealizados sobre o bebê antes do nascimento precisam agora ser

reelaborados e novas perspectivas devem ser construídas.

42

Nem sempre os pais estão preparados, por isso é necessário o apoio teórico-afetivo de

uma equipe especializada (médicos, psicólogos, pedagogos, etc.).

Atitudes de ansiedade e angústia do meio familiar e reações de curiosidade, piedade e

rejeição do meio social, durante a primeira infância, podem acarretar em uma

fragilidade afetiva na criança com desarmonia motora.

A criança começa seu percurso vital com grande defasagem em relação às outras

crianças consideradas “normais”, pois quando a área motora ou sensorial não se

desenvolve de forma esperada, as outras áreas podem ser afetadas em diversos graus.

Segundo González (2007), as bases da personalidade dos deficientes motores se

organizam, em qualquer caso, com dificuldade e atraso. Para esse autor, os objetivos da

intervenção educacional, tanto no âmbito familiar quanto escolar, devem ser:

• dotar a criança da máxima independência pessoal, mediante o desenvolvimento físico,

a aquisição de destrezas motoras, hábitos higiênicos e habilidades sociais;

• proporcionar à criança meios de expressão eficientes e claros que possibilitem fácil

comunicação com os demais;

• favorecer a criação de hábitos de estudo e de trabalho;

• oferecer uma sólida formação humanística integral que a familiarize com sua realidade

social e cultural;

• impulsionar a capacidade de apreciação e expressão estética por meio da criação

artística;

• preparar a criança para o exercício responsável da liberdade inspirada no conceito

democrático da vida e o fomento do espírito de convivência.

O ALUNO COM PROBLEMA DE APRENDIZAGEM

Definição de problema de aprendizagem

A definição sobre distúrbio, transtorno, dificuldade e/ou problema de aprendizagem é

uma das mais difíceis e problemáticas para aqueles que atuam no diagnóstico, na

prevenção e na reabilitação do processo de aprendizagem, pois envolve uma vasta

literatura fundamentada em concepções nem sempre coincidentes ou convergentes.

43

De acordo com a definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Committee for

Learning Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados

Unidos da América,

(...) distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas.

Segundo Collares e Moysés (1992, p. 32), Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo

e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central. Apesar de um

distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições

desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou

emocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução

insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto dessas condições

ou influências.

Uma das questões mais sérias no reconhecimento de alterações na aprendizagem dá-se

pela falta de informação específica nas escolas. Capacitar os professores para o

reconhecimento de sinais é a grande estratégia, para buscarmos juntos o diagnóstico

precoce, pois quanto mais cedo o fizermos, maiores serão as chances desta criança de

risco se reabilitar.

Da mesma forma, cabe ao professor entender como as crianças aprendem e, assim,

possibilitar a inclusão das mesmas no processo escolar, proporcionando aos pais

orientação adequada.

Segundo Graciele Girardelo (2008), devemos considerar:

• problemas no rendimento escolar que não sejam explicados por fatores intelectuais,

sensoriais ou outras incapacidades físicas;

• dificuldades em estabelecer e manter relações sociais com colegas, professores ou

familiares;

• reações comportamentais ou sentimentos inapropriados diante de situações

corriqueiras;

• tristeza e depressão contínuas;

• tendência a desenvolver sintomas físicos ou medos associados a problemas comuns.

44

Diagnóstico do problema de aprendizagem As crianças começam a apresentar

dificuldades para aprender na escola como um sintoma cuja causa pode estar nela

mesma ou no ambiente escolar, inicialmente identificado pelo professor.

Por isso, cabe ao professor saber identificar: caso seja um problema de ordem exógena

(escolar, social), deve procurar melhorar o ambiente de aprendizagem do aluno

auxiliando em suas dificuldades. Caso seja um problema de ordem endógena, deve ser

avaliado por profissionais habilitados, numa avaliação multidisciplinar (fonoaudiólogo,

neurologista, psicólogo, neuropsicólogo, psiquiatra).

Tratamento do problema de aprendizagem

De acordo com Graciele Girardelo (2008),

(...) a maioria das crianças necessita de intervenção neuropsicológica e/ou fonoaudiológica e deve continuar participando das aulas convencionais oferecidas pela escola. Porém, existem casos em que o grau do transtorno exige que a criança passe por programas educativos individuais e intensivos. Independentemente do caso é importante que a criança continue a assistir e a participar das atividades escolares normais.

O profissional que acompanha a criança ou adolescente deve realizar contatos com a

escola a fim de estabelecer uma maior qualidade do processo de aprendizagem, através

da inter-relação dos aspectos exigidos pela escola e do que a criança é capaz de oferecer

para suprir tais necessidades.

O tratamento farmacológico deve ser dirigido por um psiquiatra ou neurologista, sendo

indicado, por exemplo, em casos nos quais as capacidades de atenção e concentração da

criança encontram-se debilitadas.

O relatório do UNICEF mostra que mais de um bilhão de crianças sofrem pelo menos

um tipo de privação, o que representa cerca da metade das crianças no mundo vivendo

na pobreza. Esse relatório mostra que milhões de crianças vivem em condições

subumanas, sem saneamento básico, sem acesso à educação ou a serviços de saúde. A

situação é mais crítica na África subsariana.

Os autores identificam dois grandes fatores que podem levar aos problemas de

aprendizagem no cotidiano escolar: os distúrbios de linguagem e os distúrbios de

comportamento.

45

Vamos, a seguir, estudar cada um deles e as consequências dos mesmos no processo de

aprendizagem do aluno.

Distúrbios de linguagem

O que é linguagem?

A linguagem corresponde a um conjunto de símbolos e instrumentos utilizados pelo

sujeito para comunicar sentimentos, pensamentos e ideias. É uma função de

representação do pensamento e pode ser expressa por meio de gestos, olhares, mímica e

pela fala. Em outras palavras, a fala é uma das formas de linguagem utilizadas pelo

homem.

O desenvolvimento da linguagem depende tanto de fatores ambientais como de fatores

biológicos:

• fatores ambientais: o ambiente em que a criança se desenvolve fornecerá o clima

emocional, os modelos verbais e as experiências em que o sujeito irá se apropriar dos

códigos de representação do pensamento e sentimentos.

Nesse sentido, o meio influencia desde muito cedo, e seus efeitos são duradouros.

Ambiente descontraído, segurança afetiva, modelos verbais com qualidade influenciam

de maneira positiva; escassez ou exageros, construções gramaticais e articulações

inadequadas desfavorecem o desenvolvimento;

• fatores biológicos: a hereditariedade e o estado de saúde também influenciam o

desenvolvimento da linguagem. A hereditariedade fornece o potencial para a

aprendizagem, ou seja, representa as diferenças individuais do sujeito para aprender. O

estado de saúde é fundamental principalmente até os três anos, uma vez que doenças e

carência alimentar (privação protéica e vitamínica) nesse período podem prejudicar a

aquisição da linguagem no sujeito.

Processo de desenvolvimento da linguagem (José; Coelho, 2000):

• 0 a 3 meses: a fala se manifesta por meio de gritos e choro.

• 4 a 5 meses: fase do balbucio. O bebê emite sons, ouve e repete seus próprios gritos

em uma espécie de ”jogo vocal”. As crianças se expressam do mesmo modo, qualquer

que seja o idioma.

• 5 a 10 meses: período pré-linguístico. Vocaliza e escuta suas vocalizações,

compreende palavras e ordens simples.

46

• 10 a 12 meses: período linguístico. Pronuncia uma ou mais palavras (não, mamã,

papa). É capaz de empregar palavras isoladas.

• 12 a 15 meses: fase da dominação. Repete palavras, usa frases sem verbo (mamãe

bola). Associa duas palavras.

• 15 a 16 meses: período da representação. É capaz de representar mentalmente objetos

ausentes e repete canções.

• 16 a 21 meses: a criança faz perguntas, possui cerca de vinte palavras, gosta de ouvir

histórias, obedece a ordens simples. Usa orações curtas.

• 2 a 4 anos: linguagem estruturada. Apresenta linguagem compreensível. Usa frases

com verbos, advérbios, etc. Domina de quinhentas a seiscentas palavras. Muitas vezes, a

criança apresenta erros na fala, mas isso é normal, já que os órgãos de fonação estão em

desenvolvimento.

• 5 anos em diante: linguagem já se apresenta totalmente estruturada, por isso não é

esperada qualquer deformação. A criança fala muito, apresenta monólogo, inventa e

reproduz histórias; é capaz de dialogar, começa a dominar plurais e verbos futuros.

O que é distúrbio de linguagem?

A linguagem é defeituosa quando se desvia do modo de falar de outras pessoas a tal ponto que chega a chamar a atenção para ela; quando prejudica a comunicação ou quando faz com que a pessoa se torne desajustada no grupo (Van Riper apud José; Coelho, 2000).

De acordo com José e Coelho (2000), existe um problema de linguagem em uma

criança quando sua maneira de falar interfere na comunicação, distraindo a atenção do

ouvinte sobre o que ela diz para enfocá-la no como ela diz, ou quando a própria criança

se sente excessivamente tímida e/ou apreensiva com seu modo de falar.

Segundo esses autores, são várias as causas dos distúrbios de linguagem:

• defeitos anatômicos ou funcionamento fisiológico anormal dos maxilares, da língua e

do véu palatal;

• sentimentos, emoções ou atitudes perturbadoras;

• conceitos inadequados do eu;

• hábitos de linguagem defeituosos;

• dificuldade de adaptação ao ambiente.

47

Tipos de distúrbios de linguagem

A. Atraso na linguagem, B. Dislalia, C. Dislexia, D. Disgrafia, E.

Disortografia, F. Discalculia, G. Linguagem tatibitate, H. Rinolalia, I.

Gagueira ou tartamudez, J. Mudez ou mutismo.

A. Atraso na linguagem

Definição: é quando a criança não apresenta uma linguagem até por volta dos três

anos. Muitas vezes, esse atraso é superado de maneira natural; em outras, por meio de

tratamento especializado (fonoaudiológico).

Causas: problema específico de articulação, problemas de audição, problemas

emocionais (traumas, carência afetiva, super-proteção, uso de outro idioma em casa).

Crianças mimadas, cujos desejos são atendidos prontamente, não se expressam porque

não querem ou porque não precisam, e crianças que vivem em orfanatos ou hospitais

não se expressam por não terem quem as escute, nem estímulo para falar.

B. DislaliaDefinição: a dislalia (do grego dys + lalia) é um distúrbio da fala, caracterizado pela

dificuldade de articular as palavras. Consiste na má pronúncia das palavras por omissão,

substituição, distorção ou acréscimo de sons na palavra falada.

Dessa forma, o distúrbio articulatório (ou dislalia) é o nome dado para as trocas de sons

na fala ou para as alterações, dificuldades e/ou modificações na produção desses

fonemas. Tal distúrbio articulatório pode se caracterizar por distorções (por exemplo,

sapo/xapo), trocas (como jipe/tipe) e omissões (bicicleta/bicikéta; prato/pato) e pode

estar associado a outras alterações, como deglutição atípica, respiração oral e distúrbios

de aprendizagem. De acordo com a fonoaudióloga Regina Nicolósi, quando isso

ocorrer, a criança deve ser encaminhada para tratamento fonoaudiológico.

Causas: é uma falha de articulação cuja origem pode ser orgânica ou funcional.

• Causa orgânica: dificuldade na pronunciação das palavras devido à afecção

orgânica (lesão, malformação) ou à perturbação funcional dos órgãos da fonação:

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língua, lábios, abóbada palatina, laringe, defeitos na arcada dentária, lábio leporino,

freio da língua curto, língua de tamanho acima do normal. Resulta das malformações ou

de alterações de inervação da língua, da abóbada palatina e de qualquer outro órgão da

fonação. Encontra-se em casos de malformações congênitas, tais como o lábio leporino

ou como consequência de traumatismos dos órgãos fonadores. Por outro lado, certas

dislalias são devidas a enfermidades do sistema nervoso central.

• Causa funcional: quando não se encontra alteração física, ocorre a dislalia

funcional. Nesses casos, a causa pode ser hereditária, imitação ou alterações emocionais

e, entre essas, é comum em sujeitos com diagnóstico de hiperatividade. Nos deficientes

mentais pode ser observado um quadro de dislalia, e o sujeito, muitas vezes, só

consegue ser compreendido pelo grupo familiar.

Até os quatro anos, os erros na linguagem são normais, mas depois dessa fase a criança

pode ter problemas se continuar falando errado no relacionamento social (os colegas

podem caçoar da criança), como no momento da alfabetização (fala errado e escreve

errado). Alguns fonoaudiólogos consideram que a dislalia não seja um problema de

ordem neurológica, mas de ordem funcional.

O diagnóstico pode ser feito durante a educação infantil. Fique atento se seu aluno

apresentar dispersão, fraco desenvolvimento da atenção, atraso no desenvolvimento da

fala e da linguagem, dificuldade em aprender rimas e canções, fraco desenvolvimento

da coordenação motora, dificuldade com quebra-cabeça e/ou falta de interesse por livros

impressos.

C. Dislexia

Definição: distúrbio de aprendizagem relacionado à linguagem. Refere-se a vários

sintomas que resultam em dificuldades com a linguagem, especialmente a leitura.

Pessoas com dislexia geralmente têm problemas na escrita, na pronúncia e na soletração

de palavras. A dislexia afeta a aprendizagem dos alunos das mais diversas maneiras,

mas, com tratamento adequado e apoio especial, os disléxicos podem levar uma vida

normal.

De acordo com Flávia Fontes, pesquisas realizadas em vários países mostram que entre

5 e 17% da população mundial sofre do problema:

O disléxico tem a área específica de seu hemisfério cerebral lateral-direito mais

desenvolvido do que leitores normais. Condição que, segundo estudiosos, justificariam

49

a grande relação à sensibilidade, artes, atletismo, mecânica, visualização em três

dimensões, criatividade na solução de problemas e habilidades intuitivas. Embora exista

disléxico ganhador de medalha olímpica em esportes, a maioria deles apresenta

imaturidade psicomotora. Como, por exemplo, não ter domínio motor que lhe dê a

capacidade de apertar um simples parafuso.

Causas: não há consenso em relação a sua causa. Estudos comprovam que há

diferenças na anatomia e no funcionamento do cérebro dos disléxicos. Muitas pessoas

descobrem o problema durante a alfabetização, quando não conseguem associar uma

letra a seu som. A dislexia de maneira alguma se relaciona à falta de inteligência ou ao

desejo de aprender. Com técnicas apropriadas disléxicos podem desenvolver a escrita e

a leitura com sucesso.

Uma vez que o disléxico tem dificuldade em ler e escrever, toda a sua aprendizagem

está comprometida, se não houver o tratamento adequado. Além disso, a autoestima

tende a ser baixa, já que a pessoa pode se sentir incapaz de realizar certas atividades.

Características: As dificuldades mais usuais da dislexia são:

• leitura (lenta, cochichada ou com o auxílio do dedo);

• escrita (lenta, invertida, embaralhada, letras em espelho e troca de letras com sons

parecidos);

• memorização (memorização de fatos, números, imagens. Disléxicos têm dificuldades

em montar quebra-cabeças, por exemplo);

• relacionar som e letra (sabem os nomes das letras, mas não conseguem relacioná-los à

grafia);

• pronúncia (trocam fonemas de sons parecidos, p/b,t/d, etc.).

Diagnóstico: apenas uma avaliação multidisciplinar, formada por pedagogo,

psicólogo, neurologista e fonoaudiólogo, pode diagnosticar a dislexia. Entretanto,

muitos profissionais, com base em informações disponibilizadas em livros, na Internet e

na mídia em geral, acabam por diagnosticar a dislexia erroneamente.

Tratamento: a dislexia é uma condição que não apresenta cura. Mas, com o apoio

especializado, o disléxico pode aprender a ler e escrever sem problemas. O uso de

técnicas que valorizem as inteligências múltiplas e o aprendizado sistematizado pode

auxiliar bastante o disléxico. Na escola, as atividades devem ser adaptadas para a

utilização da modalidade oral de exercícios e provas. Além disso, é importante que o

50

disléxico tenha suas qualidades ressaltadas e que a motivação seja constante por parte

da família e da escola.

D. DisgrafiaDefinição: perturbação na escrita por distúrbios neurológicos. Crianças com disgrafia

têm dificuldade para escrever letras e números.

A Disgrafia é também chamada de “letra feia”. Isso acontece devido a uma

incapacidade de recordar a grafia da letra e por tentar se lembrar este grafismo, a criança

escreve muito lentamente, o que acaba unindo inadequadamente as letras, tornando a

letra ilegível.

ClassificaçãoPodemos encontrar dois tipos de disgrafia:

• disgrafia motora (discaligrafia): a criança consegue falar e ler, mas encontra

dificuldades na coordenação motora fina para escrever as letras, palavras e números,

disgrafia perceptiva: não consegue fazer relação entre o sistema simbólico e as grafias

que representam os sons, as palavras e frases. Tem as características da dislexia, sendo

que esta está associada à leitura e a disgrafia está associada à escrita.

E. DisortografiaDefinição: refere-se, no âmbito da psicolinguística, ao aprendizado e ao domínio das

regras ortográficas, associada à dislexia na ausência de qualquer deficiência intelectual.

A característica principal de uma pessoa com disortografia são as confusões de letras,

sílabas de palavras e trocas ortográficas conhecidas e já trabalhadas pelo professor.

Fobia escolarIncapacidade total ou parcial de frequentar a escola ocorre com crianças

independentemente de níveis sociais, de graus de escolaridade e de níveis de

inteligência.

Manifesta-se por meio de ansiedade, pânico, náuseas, vômitos, diarréia, dores de cabeça

e de barriga, falta de apetite, palidez, febre.

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Orientações:• estimular a memória visual por meio de quadros com letras do alfabeto, números,

famílias silábicas;

• não propor exercícios de cópia e repetição (por exemplo, “Escreva vinte vezes a

palavra pipoca”);

• não utilize medidas punitivas (verbal e/ou física); isso só irá agravar a situação

psicológica da criança.

F. Discalculia

Definição: a discalculia é um dos transtornos de aprendizagem que causa a

dificuldade na matemática. Este transtorno não é causado por deficiência mental,

déficits visuais ou auditivos ou por má escolarização. O portador de discalculia comete

erros diversos na solução de problemas verbais, nas habilidades de contagem, nas

habilidades computacionais, na compreensão dos números.

Orientações: o professor deve dar atenção especial ao aluno que apresenta essas

dificuldades, evitando ressaltar o que não consegue fazer, diferenciando-o dos demais,

como, por exemplo, corrigindo-o na frente dos colegas.

G. Linguagem tatibitate

Definição: é um distúrbio de articulação e também de fonação em que o sujeito

conserva voluntariamente a linguagem infantil. Normalmente, esse defeito de fala é

utilizado pela criança em função da reação dos adultos que se encantam com expressões

erradas que a criança utiliza por não saber articular corretamente as consoantes. Alguns

adultos até repetem as mesmas expressões ao se dirigirem à criança, por exemplo:

“Minha tilidinha” (para minha queridinha) / “Té totolate” (para quer chocolate).

Orientações: esse problema de linguagem pode ser corrigido por meio de jogos e

brincadeiras que visem estimular a criança a pronunciar corretamente as palavras.

Nunca se deve repetir as palavras erradas ditas pelas crianças, e sim sempre oferecer o

modelo verbal correto, sem corrigi-la.

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H. Rinolalia

Definição: ressonância nasal maior ou menor do que a normal no ato de falar. Pode ser

causada por problemas nas vias nasais, na adenoide, lábio leporino ou fissura palatina.

Comumente, o sujeito é chamado de “fanho”.

Orientações: a criança que tem rinolalia pode ser ridicularizada pelos colegas de

escola, o que poderá gerar problemas de relacionamento e escolarização. Quando é

muito acentuado, esse distúrbio torna a fala incompreensível, fazendo com que a criança

emudeça por perceber que não é compreendida.

I. Gagueira ou tartamudez

Definição: a gagueira ou tartamudez é uma das principais formas de distúrbio de

ritmo ou disfluência e pode ocorrer por volta dos três e quatro anos, aos sete anos e com

retorno na puberdade. É mais frequente em meninos.

Este é um distúrbio do ritmo normal da fala, o qual envolve bloqueios, hesitações,

prolongamentos e repetições de sons, sílabas ou frases.

Causa: anomalia de causas múltiplas, podendo ser:

• orgânica: distúrbio familiar cuja causa é genética; mais frequente entre canhotos; está

associada a nascimentos múltiplos (gêmeos) e à prematuridade; perturbações no

aparelho fonador;

• neurológica: traumas de nascimento (acidentes de fórceps); infecções por encefalite,

meningite e epilepsias;

• glandular: aumento ou diminuição da função das glândulas sexuais e da suprarrenal;

• funcionais: perda de um ente querido, acidente ou quando a pessoa é severamente

repreendida; a gagueira pode estar associada à forte pressão social (entrada na escola,

adolescência);

Orientações: o professor deve cuidar do aluno que apresenta esse distúrbio de

linguagem para que não seja humilhado, criticado ou ridicularizado pelo grupo de

amigos, pois isso só irá agravar a sua situação.

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J. Mudez ou mutismoDefinição: é a incapacidade de articular palavras, decorrente de transtornos do sistema

nervoso central, atingindo a formulação e a coordenação de ideias e impedindo a

transmissão em forma de comunicação verbal.

Lábio leporino, dentição mal implantada e rinolalia também podem apresentar esse

distúrbio, pois, ao perceberem que não são compreendidas, param de falar,

configurando um quadro de mutismo de ordem psicológica.

Outra forma é a mudez psicológica ou emocional, ou mudez eletiva, que se caracteriza

pela negação da criança em falar somente em certas situações e com determinadas

pessoas ”escolhidas” por ela.

Orientações: caso o professor observe que a criança está utilizando algum tipo de

mutismo na escola, deve evitar situações nas quais ela tenha que se expressar

verbalmente e encaminhá-la a um especialista, que fará o diagnóstico e o tratamento

adequado.

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