EDUCAÇÃO INFANTIL A RELAÇÃO DA MÚSICA

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EDUCAÇÃO INFANTIL: A RELAÇÃO DA MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DO ENSINO APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA Rayane Carla B. da Silva ([email protected]/ UERN) 1 Maria Cleonice Soares ([email protected] / UERN) 2 Márcia Betânia Oliveira ([email protected] / UERN)³ RESUMO: O presente artigo emerge da busca de um processo ensino-aprendizagem que envolva as crianças através das brincadeiras cantadas, ou seja, da música, proporcionando o desenvolvimento da linguagem escrita e oral. Diante disso e em meio às discussões acerca da disciplina Ensino de Língua Portuguesa, no curso de Pedagogia da UERN, buscou-se desenvolver um projeto que utilizasse a música como metodologia de ensino. Assim, o objetivo deste é propor um breve resgate às cantigas de roda, a fim de enaltecer a relevância de se utilizar as brincadeiras cantadas para proporcionar o ensino-aprendizagem na educação infantil, além de tratar a relação dessas atividades lúdicas, com experiências significativas, tanto de linguagens escrita e oral, como para a produção e correção de textos pelos alunos. Respaldamo-nos teoricamente em BRITO (2003); BRASIL (1997); CUNHA (2001); e em pesquisas feitas nas escolas onde se realizou o Estágio Supervisionado do curso de Pedagogia. Constatamos que a musicalidade das brincadeiras cantadas proporciona ao aluno o contato com a leitura, a escrita e as expressões orais, atribuindo sentido e significado às atividades realizadas. Concluímos que através da música e das brincadeiras cantadas, as crianças desenvolvem melhor as habilidades de oralidade e escrita, e ainda trabalham as expressões corporais. Visto que elas se apropriam da melodia com mais facilidade e podem acompanhar as letras das músicas, o que facilitou na hora da correção de textos utilizando-as. Palavras-Chaves: Música, leitura e escrita, ensino-aprendizagem. INTRODUÇÃO O presente estudo surgiu da elaboração de um projeto de ensino desenvolvido na disciplina Ensino de Língua Portuguesa, no curso de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN, e teve como objetivo buscar o resgate das brincadeiras cantadas (cantigas populares) na vida escolar dos alunos da educação infantil, e mostrar a relevância de se utilizar a música como forma metodológica, no processo ensino-aprendizagem às crianças da educação infantil. Além de relacionar essas atividades lúdicas com experiências significativas, tanto que digam respeito às linguagens escrita 1 Aluna da graduação do curso de pedagogia da Faculdade de Educação FE/UERN e bolsista voluntária do PIBIC (Programa de Iniciação Científica), mantido pelo CNPQ. 2 Aluna da graduação do curso de pedagogia da Faculdade de Educação FE/UERN e bolsista do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) mantido pela CAPES. ³ Professora Mestra em Educação, lotada na Faculdade de Educação FE/UERN, ministrante da disciplina Ensino de Língua Portuguesa.

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EDUCAÇÃO INFANTIL: A RELAÇÃO DA MÚSICA NO DESENVOLVIMENTO DO ENSINO APRENDIZAGEM DA LEITURA E ESCRITA

Rayane Carla B. da Silva ([email protected]/ UERN)1 Maria Cleonice Soares ([email protected] / UERN)2 Márcia Betânia Oliveira ([email protected] / UERN)³

RESUMO: O presente artigo emerge da busca de um processo ensino-aprendizagem que envolva as crianças através das brincadeiras cantadas, ou seja, da música, proporcionando o desenvolvimento da linguagem escrita e oral. Diante disso e em meio às discussões acerca da disciplina Ensino de Língua Portuguesa, no curso de Pedagogia da UERN, buscou-se desenvolver um projeto que utilizasse a música como metodologia de ensino. Assim, o objetivo deste é propor um breve resgate às cantigas de roda, a fim de enaltecer a relevância de se utilizar as brincadeiras cantadas para proporcionar o ensino-aprendizagem na educação infantil, além de tratar a relação dessas atividades lúdicas, com experiências significativas, tanto de linguagens escrita e oral, como para a produção e correção de textos pelos alunos. Respaldamo-nos teoricamente em BRITO (2003); BRASIL (1997); CUNHA (2001); e em pesquisas feitas nas escolas onde se realizou o Estágio Supervisionado do curso de Pedagogia. Constatamos que a musicalidade das brincadeiras cantadas proporciona ao aluno o contato com a leitura, a escrita e as expressões orais, atribuindo sentido e significado às atividades realizadas. Concluímos que através da música e das brincadeiras cantadas, as crianças desenvolvem melhor as habilidades de oralidade e escrita, e ainda trabalham as expressões corporais. Visto que elas se apropriam da melodia com mais facilidade e podem acompanhar as letras das músicas, o que facilitou na hora da correção de textos utilizando-as.

Palavras-Chaves: Música, leitura e escrita, ensino-aprendizagem. INTRODUÇÃO O presente estudo surgiu da elaboração de um projeto de ensino

desenvolvido na disciplina Ensino de Língua Portuguesa, no curso de

Pedagogia da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-UERN, e teve

como objetivo buscar o resgate das brincadeiras cantadas (cantigas populares)

na vida escolar dos alunos da educação infantil, e mostrar a relevância de se

utilizar a música como forma metodológica, no processo ensino-aprendizagem

às crianças da educação infantil. Além de relacionar essas atividades lúdicas

com experiências significativas, tanto que digam respeito às linguagens escrita

1 Aluna da graduação do curso de pedagogia da Faculdade de Educação FE/UERN e bolsista voluntária do PIBIC (Programa de Iniciação Científica), mantido pelo CNPQ. 2 Aluna da graduação do curso de pedagogia da Faculdade de Educação FE/UERN e bolsista

do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) mantido pela CAPES. ³ Professora Mestra em Educação, lotada na Faculdade de Educação FE/UERN, ministrante da disciplina Ensino de Língua Portuguesa.

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e oral, como para exercitar a produção e correção de textos escritos pelas, e

ainda destacar o papel do educador no desenvolvimento das mesmas. Essa

discussão passou a existir a partir de uma investigação desenvolvida em duas

escolas situadas no município de Mossoró/RN, onde foi realizado o II Estágio

curricular do curso de Pedagogia da FE/UERN, em 2011. Para melhor

identificação, e preservação dos direitos autorais, as escolas serão nomeadas

como I e II.

Para a construção do mesmo recorremos à nossa experiência escolar

nas, então, séries iniciais, que se deu nos anos 90 do século passado, a fim de

demonstrar a importância das brincadeiras livres e de forma espontânea, e

ainda para se trabalhar o letramento a partir das mesmas e de músicas

populares que enaltecem a cultura de nossa região. Para tanto, recorremos a

autores como BRITO (2003); BRASIL (1997); DINELLO (2007); Cunha (2001);

cujos trabalhos evidenciam a importância do letramento, de trabalhar a

linguagem numa perspectiva lúdica, onde os alunos podem ter experiências

significativas; e ainda enaltecem a questão de que o brincar não é somente o

brincar por brincar, mas que tem importância por permitir que a criança se

desenvolva melhor, exercitando seus potenciais.

Nessa perspectiva, destacamos que a brincadeira proporciona o

desenvolvimento de habilidades sociais e cognitivas, além de estimular e

contribuir para a mudança de comportamento e pensamento das crianças,

onde são trabalhadas atitudes egocêntricas, infiéis, dentre outras. Vale

salientar ainda, que tais mudanças são de extrema importância para o

enriquecimento da leitura de mundo das crianças.

A RELEVÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES LÚDICAS E DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Durante o processo de desenvolvimento das brincadeiras cantadas na

educação infantil, as crianças vão construindo fundamentos de compreensão e

de utilização do sistema simbólico como exemplam a brincadeira do faz-de-

conta ou da imitação, onde são trabalhadas a imaginação, a criatividade e a

confiança um no outro. No meio social, em cada experiência vivida no dia-dia,

as crianças internalizam a linguagem advinda da brincadeira, sendo capaz de

criar e recriar. Para tanto, é importante que a criança utilize seu corpo, seus

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movimentos e sua autonomia para escolher a brincadeira. Assim, a habilidade

cognitiva desenvolvida pela criança no ato do brincar, possibilita-lhe uma

compreensão cada vez mais complexa de mundo, resultando em um

comportamento mais integrado socialmente. (CUNHA, 2001).

Através das brincadeiras lúdicas por nós realizadas em salas de aula,

durante o Estágio Curricular Supervisionado, percebemos que, embora haja um

discurso favorável por parte dos professores que fazem a escola sobre a

necessidade de promover tais momentos de ludicidade, as brincadeiras não

estão sendo inseridas no meio escolar de forma adequada. Constatamos na

escola I que as crianças não participam de atividades lúdicas como deveriam, e

que as cantigas populares são postas em evidência apenas na data

comemorativa que corresponde ao folclore. Pôde-se perceber que durante o

período em que fora trabalhada a musicalidade como recurso pedagógico, as

crianças sentiam-se mais estimuladas a desenvolver as atividades solicitadas.

Tal fato, infelizmente, está presente na maioria das escolas brasileiras, nas

quais as brincadeiras não fazem parte do cotidiano escolar de forma planejada,

de modo que se tornem um recurso pedagógico favorável à aprendizagem,

muito embora a fala dos professores, percebida durante o período de

observação nas escolas, quanto à sua utilização indique o contrário.

As brincadeiras cantadas são capazes de proporcionar às crianças,

experiências tanto sociais quanto pedagógica, uma vez que exercitam a

comunicação e a expressão corporal, bem como a socialização, e assim a

inclusão. Com elas, o professor pode apropriar-se por meio das músicas, das

palavras, das letras integradas à cultura popular, e desenvolver atividades

como produção e correção de textos.

De acordo com o Referencial Nacional para a Educação Infantil – RCNEI

(1998), o fazer musical é uma forma de comunicação e expressão que

acontece por meio da improvisação, da composição e da interpretação. No

entanto, ao desenvolver na educação infantil, atividades no aspecto musical, os

conteúdos deverão ser organizados de forma que a percepção e o

desenvolvimento da criança sejam respeitados, atentando ainda para a

diferenciação sociocultural presente em cada região.

O RCNEI mediante a consideração da pouca formação dos professores

de educação infantil, em se tratando da formação específica em música,

recomenda que cada educador reflita sob o aspecto do respeitar e do entender

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como as crianças se expressam musicalmente em cada fase, para só então,

poder desenvolver a capacidade de expressão que cada uma possui.

As cantigas de rodas, as parlendas e diversos tipos de brincadeira que

envolva músicas têm grande relevância na educação infantil, pois é por meio

da interação da musicalidade que as crianças desenvolvem um repertório que

lhes permitirá comunicar-se pelos sons, e ainda favorece o desenvolvimento

afetivo e cognitivo, e a relação com os adultos. Vejamos:

Pesquisadores e estudiosos vêm traçando paralelos entre o desenvolvimento infantil e o exercício da expressão musical, resultando em propostas que respeitam o modo de perceber, sentir e pensar, em cada fase, e contribuindo para que a construção do conhecimento dessa linguagem ocorra de modo significativo. O trabalho com Música proposto por este documento fundamenta-se nesses estudos, de modo a garantir à criança possibilidade de vivenciar e refletir sobre questões musicais, num exercício sensível e expressivo que também oferece condições para o desenvolvimento de habilidades, de formulação de hipóteses e de elaboração de conceitos. (BRASIL, 1998, p. 46).

A partir desse aspecto, podemos entender a música como uma

linguagem e um acesso ao conhecimento, estando presente no dia-dia da

criança com acuidade, através do rádio, internet, televisão, dentre outros. Vale

salientar, que a postura do educador diante desse processo é de fundamental

importância para o avanço do mesmo, uma vez que, é necessário que o

professor possa observar e respeitar a maneira que as crianças exploram essa

nova ‘natureza’. Segundo Brito:

[...] respeitar o processo de desenvolvimento da expressão musical infantil não deve se confundir com a ausência de intervenções educativas. Nesse sentido, o professor deve atuar – sempre – como animador, estimulador, provedor de informações e vivências que irão enriquecer e ampliar a experiência e o conhecimento da criança, não apenas do ponto de vista musical, mas integralmente, o que deve ser o objetivo prioritário de toda proposta pedagógica, especialmente na etapa da educação infantil. (BRITO, 2003, p. 46)

Contudo, é importante levar em consideração a maneira como a criança

relaciona-se com os sons, para que a descoberta do seu conhecimento possa

acontecer de maneira expressiva, atentando para o questionamento, a

elaboração de ideias, as experiências etc. Vale ressaltar, que esse processo

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acontece com todas as crianças, sejam com necessidades especiais ou não.

Assim, o RCNEI nos mostra que:

O trabalho com música deve considerar, portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentem necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. (BRASIL, 1998, p. 49).

Em se tratando de conteúdos, segundo BRASIL (1998) é necessário que

a organização dos trabalhos para serem desenvolvidos na educação infantil,

acima de tudo, respeite o nível de percepção e desenvolvimento (musical e

global) das crianças em cada fase, bem como as diferenças socioculturais

entre o grupo de crianças das muitas regiões do país. Além de serem

trabalhados os conteúdos com conceitos em construção, organizado num

processo contínuo e integrado, que deve abranger os seguintes elementos:

a exploração de materiais e a escuta de obras musicais para propiciar o

contato e experiências com matéria- prima da linguagem musical: o som (e

suas qualidades) e o silêncio;

a vivência das organizações dos sons e silêncios em linguagens

musicais pelo fazer e pelo contato com obras diversas;

a reflexão sobre a música como produto cultural do ser humano .

Outra atividade a ser desenvolvida na educação infantil está relacionada

ao desenvolvimento dos jogos (improvisados ou não), que podem também ser

realizados com materiais diversos, inclusive, produzidos pelas próprias

crianças os quais liberem diferenciados sons: do corpo, da voz etc. O RCNEI

detalha que o professor possa aproveitar situações de interesse do grupo,

transformando-as em improvisações musicais que envolvam as crianças de um

modo geral, e ainda estimulem a memória auditiva e musical, assim como a

percepção da direção do som no espaço. Há ainda a sonorização de histórias,

que permite ser trabalhadas a discriminação e a classificação de sons (altura,

duração, intensidade etc.), sendo assim uma proveitosa opção se relacionar

com as crianças.

O PAPEL DO EDUCADOR NO DESENVOLVIMENTO DA BRINCADEIRA CANTADA

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Uma das importantes incumbências do educador infantil é ensinar,

orientar e oferecer aos seus alunos oportunidades de contato com as

atividades lúdicas/cantadas, onde são desenvolvidas situações de

descontração, de interação entre o professor e a turma, bem como de estímulo,

para que a criança possa desenvolver com mais entusiasmo o conhecimento

adquirido para sua leitura e escrita.

Para se trabalhar com a produção de texto utilizando a música, é

necessário que o material utilizado já venha acompanhado de tal

intencionalidade, e que estabeleça relação com o assunto que o professor

deseje desenvolver no momento. Para tanto, o educador precisa deter o

conhecimento e possuir habilidades didáticas e pedagógicas para tornar o

momento divertido e oportuno de aprendizagem, além de ser necessário fazer

com que o aluno se sinta à vontade, seguro e com desejo de realizar tal

atividade. Para DINELLO:

Devemos pensar naquilo que a criança espera de nós e também reconhecer aquilo que a criança traz. Atualmente, em crise de “desemprego”, chegamos muitas vezes a situações aberrantes onde a criança é o cliente que justifica postos de trabalho e esquecemos assim de organizar a atividade em função das necessidades da criança. Em vê de pensar na sua expectativa para se desenvolver brincando, administra-se sua presença no nosso estabelecimento, de maneira que se cuida mais do que se educa. (DINELLO, 2007, p.45).

O professor não pode pensar apenas na questão de ter os alunos

presentes na sala ou, ainda, em suas notas. É imprescindível que o mesmo

escute as crianças com atenção, mudando, de certa forma, a concepção de

aluno (receptor do saber) que é apresentada por grande parte dos educadores.

Muitos deles acreditam que, para os alunos serem considerados bons precisam

ficar parados, calados, quietos e fazer tudo que o professor mandar, sendo

impossível um diálogo com trocas de informações, experiências. Por outro

lado, os alunos que não querem ou não conseguem desenvolver a atividade

proposta pelo professor, são vistos como aborrecíveis, os quais devem ser

encaminhados à direção da escola.

No decorrer das observações, por nós realizados, nas salas da

educação infantil percebemos que é preciso levar em considerações os

conhecimentos prévios dos alunos para que sejam desenvolvidas atividades

que tenham maior sentido para as crianças, havendo assim maior estímulo e

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interação entre professor e aluno. Na experiência que vivenciamos, as

atividades desenvolvidas acerca das brincadeiras cantadas apresentaram boa

participação dos alunos, além de motivá-los até o final da aula, conseguindo

com isso, bons resultados no que diz respeito ao desempenho de suas

competências. As atividades aconteceram de maneira dinâmica, propondo aos

alunos um momento de laser bem como de aprendizagem.

A RELAÇÃO DA BRINCADEIRA CANTADA NO EXERCICIO DA LEITURA, DA ESCRITA E DA PRODUÇÃO DE TEXTOS

Durante o período da educação infantil as crianças não se sentem muito

motivadas pela leitura por vários fatores: um deles, pode se dar pelo fato de

que ainda não dominam as letras e sentem dificuldades e, por esse motivo

acham a leitura chata. Outro ponto relevante que pode acarretar tal falta de

motivação é a prevalência de meios de comunicação, como por exemplo, a

internet e a televisão sobre o acesso aos livros impressos.

Na verdade, segundo CELIS (1998) o aluno está cansado de ser um

leitor passivo. Quando o leitor deixa de ser passivo no processo de construção

do conhecimento, a leitura passa a ter uma significação no processo de ensino

aprendizagem, pois ser coautor, ou até mesmo autor confere ao leitor uma

participação autônoma no processo, despertando no mesmo o interesse e o

prazer em ler e escrever.

Assim as atividades realizadas com os alunos da educação infantil

devem ser atividades que utilizem recursos diversos, onde seja possível a

viabilização de uma prática de leitura e produção textual, implicante em uma

perspectiva de ensino-aprendizagem de língua portuguesa que considere o

aluno como sujeito ativo do processo. Ao propor atividades de leitura aos

alunos, os professores devem levar em conta quais tipos de gêneros textuais

irá trabalhar.

A criança é um ser “brincante” e, brincando, faz música, pois assim se relaciona com o mundo que descobre a cada dia. Fazendo música, ela, metaforicamente, “transforma-se em sons”, num permanente exercício: receptiva e curiosa, a criança pesquisa materiais sonoros, “descobre instrumentos”, inventa e imita motivos melódicos e rítmicos e ouve com prazer a música de todos os povos (BRITO, 2003, p. 35).

Durante o Estágio, objetivando propor para as crianças situações de

produção de texto utilizando a música, buscamos trabalhar com a música

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impressa da música. Ou seja, as crianças manipulavam a letra da música, uma

vez que elas já dominavam a melodia, elas conseguiam identificar mais

facilmente as palavras. Com isso realizamos várias atividades, entre elas, a de

correção de texto, nessa atividade, podemos juntar o texto, ou seja, deixá-lo

sem segmentação, para que a criança, ao manipulá-lo fizesse a correção.

[...] pois é por meio das interações que lhes permitirá [as crianças] Nesse sentido, as cantigas de ninar, as canções de roda, as parlendas e todo tipo de jogo musical têm grande importância, pois é por meio das interações que lhes permitirá comunicar-se pelos sons; os momentos de troca e comunicação sonoro-musicais favorecem o desenvolvimento afetivo e cognitivo, bem como a criação de vínculos fortes tanto com os adultos quanto com a música (BRITO, 2003, p. 35).

Com a turma dividida em pequenos grupos realizamos brincadeiras,

onde as letras das músicas estavam fragmentadas em pedaços, e as crianças

deveriam montar como se fosse um quebra cabeça; assim, percebemos que,

motivados pela brincadeira os alunos, se subdividiam e montavam a letra da

música, trocando experiência e construindo a aprendizagem juntos, mediados

pelo professor.

O domínio da língua possibilita a relação plena de participação social e

política na sociedade, pois é por meio dela que os homens se comunicam, têm

acesso à informação, expressam e defendem pontos de vista, partilham ou

constroem visões de mundo, produzem conhecimentos. Essa é uma questão

já posta por autores como Paulo Freire (1988) e Ana Teberosky (2003) dentre

outros. No entanto, sabe-se que fica muito distante a garantia do letramento de

grande parte da população brasileira, pois permanecem os altos índices de

repetência dos alunos nos anos iniciais do ensino fundamental, diretamente

ligados às dificuldades que a escola tem de ensinar a ler e a escrever.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em meio às observações aqui evidenciadas, constatamos que a música,

através das brincadeiras cantadas, auxilia no processo ensino- aprendizagem,

pois possibilita que os alunos sejam sujeitos ativos e participativos, além de

motivá-los a interagir com a turma e com o professor. Percebemos que a

música utilizada, como recurso didático-pedagógico, estimula as crianças a

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desenvolver as atividades solicitadas com mais empenho e cooperação quando

estas são em grupo.

Diante disso, as crianças sentem mais curiosidade e atração pela leitura,

uma vez que esta é desenvolvida de maneira mais dinâmica, e despertando um

maior prazer em ler e escrever. A música possibilita às crianças manipularem

os textos musicais, na interação com o outro, e na brincadeira de procurar de

ler as palavras, escrevê-las e produzir pequenos textos. O material, por sua

vez, precisa conter intencionalidade além de significado, para assim ser bem

aceito pelas crianças.

O educador mediante o processo das brincadeiras cantadas como

proposta metodológica, precisa estar atento para fazer com que esse momento

seja, não apenas um momento lúdico, mas que possua uma transposição

didática de conhecimento que contribua significativamente para o ensino-

aprendizagem.

Por fim, entendemos que a música contribui no desenvolvimento do

processo de escrita, de leitura e de produção de texto, de maneira diferenciada,

bem como no desenvolver da expressão corporal e oral da criança, uma vez

que a mesma influencia na desenvoltura e na percepção dos alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL – Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares

Nacionais: Língua Portuguesa. Volume 2. Brasília, MEC/SEEF, 1997.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil. Ministério da Educação: Brasília, 1998. BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo:

Peirópolis,2003.

CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. 3 ed.,

São Paulo, Vetor Editora Psico-Pedagógica Ltda, 2001.

DINELLO, Raimundo Ángel. Pedagogia da Expressão. Trad.: Luciana F.

Cauhí Salomão. Ed. rev. Uberaba, MG: Universidade de Uberaba, 2007.

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se

completam. 22ª ed. São Paulo: Cortez, 1988.

TEBEROSKY, Ana; COLOMER, Teresa. Aprender a ler e a escrever: uma

proposta construtivista. Porto Alegre, Artmed, 2003.