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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÂO EM EDUCAÇÂO INFANTIL EDUCAÇÂO INFANTIL E LITERATURA: UMA AÇÃO CONJUNTA por Nitiê Silva Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÂO EM EDUCAÇÂO INFANTIL

EDUCAÇÂO INFANTIL E LITERATURA:

UMA AÇÃO CONJUNTA

por

Nitiê Silva

Rio de Janeiro

2004

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NITIÊ SILVA

EDUCAÇÂO INFANTIL E LITERATURA:

UMA AÇÃO CONJUNTA

Trabalho apresentado como requisito parcial para a

obtenção do grau em especialista em Educação infantil,

ao Projeto AVM da UCAM, tendo como orientadora a

professora Mary Suee Pereira.

Objetivo: Analisar a importância da Literatura na

Educação Infantil no mundo contemporâneo.

Rio de Janeiro

2004

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus parentes, amigos,

professores e namorado por terem me

apoiado e incentivado nessa importante

trajetória.

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DEDICATÓRIA Dedico minha monografia as crianças, pois

sem elas nada disso teria sentido.

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RESUMO

Em qualquer reflexão que se faça a respeito da educação, deparamo-nos

com a extrema complexidade que é a formação de um indivíduo, principalmente ao se

objetivar a formação de um sujeito capaz de interagir com seu meio social ajustando-se de

forma eficaz e completa, feliz consigo mesmo e, sobretudo, consciente do universo ao qual

pertence. Há aspectos inerentes à educação e ao seu exercício que precisam ser

considerados, discutidos e ampliados para que problemas existentes venham a ser

solucionados. No presente estudo, destacamos a Literatura Infanto-juvenil como um

relevante aspecto educacional, tendo em vista a importância da leitura para a constituição

do caráter e a conseqüente evolução e o desenvolvimento do indivíduo. Sabemos que uma

das fases mais importantes do desenvolvimento humano é a infância e os cientistas vêm

comprovando que esta importância é iniciada ainda na vida intra-uterina. A partir de um

determinado momento da gestação, o bebê já absorve estímulos e a partir daí pode-se

iniciar sua formação enquanto sujeito. Então, compreender a importância da leitura desde a

gestação, ou seja, a literatura possa ajudar a formar um bom leitor a partir do momento que

a mãe conte histórias para seu filho ainda na vida uterina, familiarizando-o com sua voz e o

prazer de ouvir histórias. A mulher grávida que leve aos sentidos do bebê a sua vivência do

maravilhoso estará inserindo o novo ser no universo do maravilhoso também. Por isso, uma

das ocupações deste trabalho é observar como pode ser feita a escolha do material, no caso

dos livros, a serem lidos e a serem oferecidos para a leitura.

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METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica foi escolhida para este estudo enquanto

metodologia adotada. Assim, primeiramente foi realizado um levantamento bibliográfico –

neste momento foi feito seleções a respeito de obras que condizem ao tema. Em seguida, a

revisão de arquivos foi feita – dentre as obras selecionadas será efetuada a revisão de

textos que serão utilizados como auxílio para futura redação. Por conseguinte a análise da

bibliografia, fichamento de textos. Para a realização da redação monográfica foi realizado o

entrecruzamento das análises bibliográficas e por fim, a redação e distribuição das mesmas

nos capítulos, finalizando com a conclusão e constatação das questões norteadoras.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................08

2. A IMPORTANCIA DA LEITURA NO MUNDO MODERNO............................11

3. RELACIONANDO EDUCAÇÃO INFANTIL E LEITURA.................................20

4. A LITERATURA INFANTIL HOJE......................................................................30

5.CONCLUSÃO..........................................................................................................38

6. BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................41

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1. INTRODUÇÃO

A educação representou, representa e sempre representará um papel de

extrema relevância perante a sociedade e principalmente, para cada indivíduo

particularmente, tornando-se um tema complexo e merecedor de destaque.

Nesse sentido, ao se referir à complexidade da educação depara-se com

diversos aspectos inerentes à mesma e essencialmente importantes ao seu fazer, devendo

estes ser também considerados, discutidos e por vezes quando encarados como conflitos,

solucionados.

Neste presente estudo, o aspecto destacado trata-se da literatura infantil,

pois além de representar um relevante aspecto educacional que merece ser destacado visto a

importância da leitura para o mundo e seus homens, trata também de uma modalidade da

educação, isto é, da educação infantil, que apesar de ser velha conhecida de todos, visto a

natureza crescente do desenvolvimento humano, somente nesses últimos tempos vem

recebendo atenção por parte da legislação brasileira.

Assim, a literatura infantil, faz parte do processo de comunicação,

socialização e representação social existentes nas organizações sociais humanas. Tais

processos são essenciais para que a educação aconteça e conseqüentemente a literatura

infantil, que a partir de então se torna imprescindível à educação, à vida humana, ao homem

social.

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Escolher um livro, um texto é exercer a cidadania, a comunicação, a

socialização, pois, todas às vezes que, através da leitura, penetramos no pensamento e na

idéia de um autor, estamos nos comunicamos com ele, com o mundo, com as idéias.

Atravessamos uma folha de papel onde está gravado o código da escrita, as imagens, para

captar a mensagem que ele transmite e que nos lança a distância e também permite

interagirmos com a realidade, trabalhar com a representação social, projetar-se no mundo,

enfim ser cidadão.

Sendo assim, desde o momento em que símbolos saltam do papel para

dentro da mente, ganhando vida, cor, som, forma, calor, movimento, invadindo a

sensibilidade, os sentimentos, invocando lembranças, imaginação e nos tornando uma

pessoa diferente do que éramos antes, instantes atrás, fazendo crescer, incorporando-se a

individualidade, tornando-se mais uma informação, mais uma experiência, emoção,

conhecimento, pode-se então afirmar que a leitura se efetivou.

A leitura enquanto linguagem que exterioriza sentimentos, idéias,

opiniões, precisa ser valorizada dentro da escola, no aspecto literário do texto e de sua

importância. Esta valorização deve se dá desde a educação infantil, a fim de se formar

leitores e conseqüentemente cidadãos capazes de ler o mundo, capazes de apropriar-se de

sua cultura e, por conseguinte questionar, criticar, interagir com o mundo que lhes pertence.

Dessa forma, vale ressaltar que a educação deve perceber, entender e

fazer com que a leitura não seja considerada somente o ato de decifrar códigos escritos.

Leitura é sentido, símbolo, representação social. Muito mais do que isso, a leitura possui

um papel histórico-social e sem ela o mundo não seria o que é e nem tão pouco se

transformaria.

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Portanto, este estudo procura não só ressaltar a importância da literatura

infantil para a educação, mas também esclarecer a importância de se inserir a leitura desde

a educação infantil no contexto escolar.

Sendo assim, adotando como metoologia a pesquisa bibliográfica,

analisando os principais aspectos da inserção da literatura infantil na educação este trabalho

inicia-se através desta respectiva introdução.

Seguindo, no capítulo II será apresentado a relação da leitura com o

mundo moderno.

No capítulo III é feita uma explanação sobre a infância, especificamente,

dando ênfase à educação infantil enquanto modalidade de ensino inicial e também

fundamental ao desenvolvimento integral do aluno, a fim de se chegar à importância da

literatura infantil.

Já no capítulo IV será estabelecida a relação entre educação, literatura

infantil e representação social, a fim de melhor compreender a relevância do presente

estudo.

Por fim, será então apresentado às considerações finais e recomendações.

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2. A LEITURA NO MUNDO MODERNO

Ao longo dos séculos, a leitura foi perdendo gradativamente seu caráter

público e sonoro, transformando-se juntamente com o mundo, passando a ganhar uma

forma dinâmica, silenciosa e íntima, possibilitando ao leitor se divertir, se informar, se

orientar, imaginar, criar, refletir, participar.

Atualmente, com o mundo moderno, recheado de descobertas científicas

e tecnológicas, com significativas transformações sociais e conseqüentes mudanças de

paradigmas, a leitura garantiu seu espaço na vida humana, porém, diante da explosão da

informação, o leitor abandonou velhos hábitos remanescentes de uma era e desenvolveu

estratégias diversificadas da leitura, tornando-se um leitor múltiplo e seletivo. Nesse caso, a

diversidade costuma enriquecer, oferecer possibilidades, ampliar horizontes.

O livro no mundo moderno, como suporte da escrita, compete com

jornais periódicos, cartazes publicitários, rótulos, embalagens, letreiros luminosos, mídia

digital, etc, que convidam o leitor, cotidianamente, ao exercício da leitura.

Sendo assim, o ato de ler assumiu novas dimensões, estabelecendo novos

parâmetros para a constituição do leitor atual e com certeza a escola, enquanto instituição

educacional não pode ficar de fora. Essas transformações ocorreram, provavelmente, em

virtude da explosão da informação, do acúmulo do conhecimento humano, da necessidade

do homem de se comunicar cada vez mais com um maior número de pessoas, da rapidez do

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seu progresso, das mudanças e ampliações da função da escrita na sociedade

contemporânea.

Chega-se a um ponto em que pessoas são levadas a ler a penas uma pequena parcela dos textos que lhes chega às mãos, na medida em que o leitor tende a destacar os segmentos relevantes para obter a informação que deseja. A necessidade de conhecimento e ampliação de suas possibilidades através da escrita mobilizou o homem em direção a novos vôos. E continua em ritmo alucinado rumo às estrelas. Enquanto isso, os olhos se deslocam de uma página impressa para a tela de uma TV...

(BARBOSA, 1991, p.23)

Contudo, Leitura do mundo moderno passa essencialmente pela

comunicação.

2.1 Leitura e Comunicação

A Leitura é uma arte construída pelo homem através de sua história,

possibilitando a comunicação, a informação e a interação entre os homens, tornando-se

instrumento de coesão entre idéias e ideais, afirmando a condição social que o ser humano

necessita para sua existência e sobrevivência. No entanto, seu(s) conceito(s) se diferenciam

conforme o momento histórico e o contexto social, tornando-se um tema merecedor de

destaque e contínua reflexão, devido a sua influência e importância para com as sociedades.

Ler é codificar, decifrar, organizar, encontrar o sentido oculto das aparências e fragmentos dos seres, dos objetos e do mudo. Ler é perceber, num primeiro nível, o que está acontecendo entre nós e, num segundo nível, organizá-lo, situá-lo dentro de um conjunto maior, dentro de um espaço e, tempo determinados, dentro de uma evolução histórica completa. Ler é perceber, sentir, entender e compreender. Ler é sentir,

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é emocionar-se, sensibilizar-se com esse mundo que se desvela diante de nós.

(MORAN, 1993, p. 29)

Analisando a citação acima é possível compreender a amplitude da

Leitura para a vida humana, estando a mesma diretamente relacionada ao pensamento, ao

conhecimento, ao homem e sua essência. Numa primeira instância, afinal não se pode

prever o futuro, fica difícil para o homem entender a vida humana sem a leitura,

principalmente ao se levar em conta seus aspectos afetivos, psíquicos e sociais e a

influência que a leitura possui em relação a estes e ao mundo como um todo. No entanto, a

leitura acompanha o homem em relação a sua história, necessitando muitas vezes destituir-

se de paradigmas e criar novos para continuar sua caminhada e estar atualizada.

Hoje, percebe-se que a leitura é um processo complexo e contínuo, pois

pode ser aprofundado, refeito, construído, reconstruído, dando espaço a novas descobertas e

novas interações.

Após a leitura o sujeito já não é mais o mesmo de antes, pois se envolve

num processo de compreensão abrangente, onde ele interage com suas capacidades a fim de

apreender formas de expressão humanas e existenciais, interferindo no mundo também de

forma diferenciada a partir de então.

Assim, leitura é aprendizagem constante. O que seria do homem sem a

busca do saber. Desde os tempos socráticos, o homem busca o saber. O homem tem

necessidade de cada vez mais conhecer e saber, sobre si, sobre o outro, enfim, se entender.

A leitura é sempre um ato, o ato da produção de sentido que não está nem no texto nem no homem, mas na interação leitor-texto. É no ato da leitura que o sentido é produzido e o texto ganha existência para o leitor

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que dele se apossa. O sentido é um valor de que a leitura investe no texto.

(CARDOSO-SILVA, 1997, p.24)

Ao se falar em sentido, conseqüentemente fala-se de subjetividade. A

subjetividade do ato de ler dispõe aos leitores dupla dimensão, ou seja, a leitura do texto

dito e a leitura do texto interdito, que por sua vez propõe relações intratextuais

estabelecidas e projetadas. Essa complexidade do ato de ler é que leva o ser humano a

tentar entender cada vez mais e de formas variadas o texto lido, buscando o sentido, o

símbolo, a idéia de quem escreveu o que foi lido.

Nesse sentido, aprender a ler nada mais é do que desenvolver o sentido

das funções da linguagem escrita e da linguagem falada, buscando significado entre elas,

principalmente para si.

Ler requer aprendizagem, não somente a aprendizagem de decodificação

de códigos, mas de compreensão do texto com relação a si e ao mundo, tornando-se tarefa

complexa, mas intrínseca a natureza humana. O que seria do homem sem a complexidade

da vida.

Dessa forma, aprender a ler implica o desenvolvimento de estratégias

para obter sentido do texto, implicando assim o desenvolvimento de esquemas múltiplos

com relação à constituição bio-psíqica-social do sujeito e também acerca da informação que

é representada nos textos. No entanto, a relação entre leitor e autor por intermédio do texto

escrito no momento da leitura é bastante ampla, pois é na verdade uma relação distanciada,

visto que não há troca direta entre ambos, que conseqüentemente não se tem à

compreensão do sentido dado pelo autor no ato de sua construção, permitindo a

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interpretação do leitor conforme sua relação com o tema e com o mundo, tornando-se o

texto múltiplo em relação ao sentido compreendido.

Assim, leitura pressupõe compreensão, e compreender também é

subjetivo, ampliando ainda mais a noção de sentido.

Dessa forma, o ato de compreender é considerado por Kleiman (1989), como complexo e múltiplo, por envolver um conjunto de processos, atividades, recursos e estratégias metais próprio do ato e que constitui a atividade em que o leitor se engaja para construir o sentido do texto escrito.

(CARDOSO-SILVA, 1997, p. 32)

Sendo assim, a leitura acontece na medida em que existe a interação de

diferentes níveis de conhecimento, tais como o lingüístico, o textual e o de mundo,

permitindo assim que o leitor consiga construir o sentido do texto lido, além de exercitar a

compreensão, interpretação e interação.

Com as transformações a qual o mundo vem enfrentado ao longo de sua

história, todas as esferas humanas conseqüentemente sofrem, incluindo então a leitura. No

entanto, como já foi dito anteriormente, a leitura acompanha o homem em sua história,

sendo já algum tempo inserida e influenciada pelos meios de comunicação.

Enfim, ultimamente a leituras dos meios de comunicação vem se

destacando, devido à velocidade com a qual as tecnologias e a ciência vêm avançando e

contribuindo para as transformações do mundo e da leitura.

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2.2 A Leitura dos Meios de Comunicação

As transformações do mundo que acarretam a mudança de paradigma

com relação à leitura ramifica-se com relação a suas formas, possibilidades e

aplicabilidades, no entanto, vem sendo relacionada com os meios de comunicação.

Ler a comunicação é perceber a realidade da

palavra preferida, mesmo na situação

predominante de “receptor”. Ler é propor

formas novas de expressão, de participação

social.

(MORAN, 1993, p.36)

A leitura dos meios comunicação pode ser vista como um conjunto de

instrumentos tecnológicos de sistemas que transportam mensagens que proporcionam uma

leitura específica, onde o mundo pode ser interpretado, onde ideologias estão presentes,

onde a realidade é retratada de forma especial.

Leitura da comunicação é uma leitura especial, uma parte do todo. É a leitura das trocas sociais, das relações entre pessoas e das relações simbólicas, é a leitura das expressões culturais. É o desvendamento das relações ideológicas, da trama de significações culturais do tecido social, principalmente das veiculadas pelos meios de comunicação. É encontrar sentido para as expressões culturais, para as formas de expressar-se e de relacionar-se dos seres humanos. É interpretar o mundo do conhecimento, do saber conceitual e do saber vivencial, que se expressam de formas tão variadas na comunicação humana.

( MORAN, 1993, p.35)

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Assim, a leitura dos meios de comunicação envolve a tecnologia e as

informações, afetando, portanto, as relações entre indivíduos, grupos e classes sociais, e a

sociedade como um todo, além de interferir nas opiniões, crenças, hábitos, atitudes e

valores.

Os meios de comunicação e conseqüentemente as leituras respectivas são

um campo de atuação da ideologia, que apesar de se apresentar de forma não intencional,

de forma sutilmente sedutora atinge um número considerável de pessoas.

Nesse sentido, a leitura crítica faz-se necessária para melhor compreensão

e apreensão do mundo.

A comunicação contribui de forma efetiva para a formação do cidadão e

sua apropriação da cidadania.

Os meios de comunicação são considerados como instrumentos de difusão sem muita preocupação com suas características específicas ( especificidade das suas linguagens), mantendo os mesmos conteúdos, veiculando uma nova forma.

(MORAN, 1993, p. 48)

Assim, a leitura crítica dos meios de comunicação encontra espaço,

possuindo na verdade uma dimensão pedagógica e política.

Política, pois decodifica a ideologia transmitida, rompendo com seu

caráter sutil, dando ao indivíduo capacidade de ler através de si e de seus ideais, sem

persuasão inconsciente.

Ler a comunicação é decifrar as várias codificações, como se estabelecem as relações de poder de interclasses, grupos e pessoas. Ler é desenvolver junto com as pessoas e grupos essa percepção das materializações da ideologia e das relações de poder a partir de diversos procedimentos metodológicos participativos e propor também participativamente caminhos mais adequados para expressar novas visões de mundo e expressar novas relações de poder.

(MORAN, 1993, p. 52)

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Propõe uma dimensão pedagógica, pois alfabetiza em um nível mais

amplo do que o aprender a “ler” e a “escrever tradicional. Aliás alfabetizar-se é uma

constante, porque a leitura e a escrita diferenciam-se em momentos diferentes da vida, isto

é, ler e escrever na educação básica é diferente com relação a graduação, que por sua vez é

diferente do mestrado e assim por diante, e também fora das grades acadêmicas.

Paulo Freire e outros educadores da educação popular perceberam

algumas das dimensões da leitura de comunicação no processo de alfabetização como

participação de grupo, desenvolvendo alguns aspectos da alfabetização, dando competência

a codificação e decodificação verbal, porém esquecendo de aspectos significativos de

outras linguagens, como a da audiovisual, não dando importância o desenvolvimento da

competência instrumental e deixando de afirmar a importância que a tecnologia pode

oferecer ao homem, principalmente a educação. No entanto, enfrenta-se uma nova era,

podendo, portanto, ampliar a leitura crítica às novas tecnologias. Assim, ensinar a ler

criticamente continua a ser uma operação rica e complexa do que comumente possa

aparentar, no entanto, nos dias atuais, envolve o domínio da linguagem falada, escrita e

audiovisual.

Assim, o objetivo principal da educação para propor uma leitura crítica

da comunicação é transformar a relação básica dos indivíduos diante a comunicação, mas

especificamente diante dos grandes meios, auxiliando portanto, a desenvolver em cada

sujeito a percepção ativa, atenta, consciente e de acompanhamento do que significa viver

em consonância com o mundo, alcançando formas de comunicação mais fortes e intensas,

autênticas, expressivas, significativas, ricas que superem o reducionismo empobrecedor das

formas tradicionais de relacionamento. Assim, consequentemente, o indivíduo poderá

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desenvolver uma consciência de classe maior, um desejo de participação constante e

inserir-se mais eficazmente nas diversas organizações sociais existentes.

Assim, a leitura se faz importante na vida do homem e como tal merece

destaque por parte dos educadores, fazendo-se então uma contínua e progressiva reflexão,

análise e exposição de novas idéias. É preciso ver a leitura no cotidiano das pessoas e por

conseguinte no contexto escolar, a fim de situa-la e atualiza-la para com as novas demandas

do mundo contemporâneo.

Enfim, além de lidar com a leitura dos meios de comunicação existentes,

também deve existir a preocupação com uma leitura crítica dos mesmos, para que a

literatura detenha a importância que merece e a tecnologia auxilie os indivíduos nessa

empreitada, e não simplesmente sirva de manutenção do status quo.

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3. RELACIONANDO LETERATURA E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Após explicar a importância da literatura para a vida do indivíduo na

sociedade e também dissertar sobre as mudanças ocorridas ao longo da história da

sociedade com relação a mesma, é importante mencionar que a inserção da leitura se dá

desde a mais tenra idade.

É na educação infantil que o indivíduo tem acesso ao mundo literatura,

porém essa literatura é específica ao grau de compreensão e desenvolvimento, chega-se

portanto, a literatura infantil.

Relacionar infância e literatura não é um caminho fácil. Existe a

necessidade de se conhecer a história para melhor entende-la e compreende-la no contexto

atual.

A idéia de infância não é a mesma no transcurso da história.

Transcorrendo a história contata-se que na sociedade feudal, a criança

exercia um papel produtivo direto e na sociedade burguesa, a criança é alguém que precisa

ser cuidada, escolarizada, e preparada para uma atuação futura.

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Sendo assim, o conceito de infância é determinado historicamente pela

modificação das formas de organização da sociedade. Portanto, o homem vem

determinando ao longo de sua história que a importância da infância deve ter na sociedade.

A idéia de uma infância universal, foi divulgada por um modelo padrão de

criança, porém a realidade não comporta esta transposição de modelo, levando-se em conta

a heterogeneidade das sociedades presentes no mundo, onde existe uma diversidade de

aspectos sociais, culturais e políticos, que interferem na formação do homem.

Assim, torna-se ingênuo e simplista falar de uma natureza infantil universal,

pois é um conceito abstrato que não considera os diversos segmentos sociais, cada um com

sua realidade.

... A concepção homogênea de infância é abstrata, está se analisando a criança como natureza infantil, distanciando-a de suas condições objetivas de vida e como estas fossem desvinculadas das relações de produção existente na realidade.

(KRAMER, p.16, 1984).

Um trabalho consciente com crianças não pode prescindir o conceito de uma

definição que era, e que ainda se encontra, o conceito de infância no interior das diferentes

e complexas sociedades existentes. Deve-se então, partir do princípio de que as crianças

têm modos de vida e de inserção social completamente diferentes umas das outras, devido

as características individuais e diferenciadas que o ser humano possui por natureza, que

correspondem aos diferentes graus de valorização da infância pelo adulto, a partir de suas

condições econômicas, sociais e culturais, além do papel social que esta criança exerce

dentro da sua comunidade.

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Na atualidade, a criança vem tendo seu ingresso na escola cada vez mais

cedo, devido a inúmeros fatores que vem transformando a sociedade contemporânea. Assim

a educação infantil vem crescendo substancialmente em quantidade e qualidade, para

atender as crianças desde a mais tenra infância.

Sendo assim, a Educação infantil vem recebendo cada vez mais atenção por

parte das autoridades competentes, educadores, etc., enfim, pelo homem.

Dentro do contexto educacional infantil institucionalizado, a criança se

enriquece, se complexifica, enquanto ser em desenvolvimento, devendo merecer o respeito

necessário. Durante este período, é notável o progresso da criança quanto às habilidades

motoras, linguagem, funcionamento cognitivo, afetividade e interações sociais. Partindo

destes dados apresentados até então, a educação infantil por estar cada vez mais inserida na

sociedade contemporânea e conseqüentemente na vida da criança, deve oferecer um espaço

capaz de propiciar de maneira qualitativa e satisfatória, o desenvolvimento integral de sua

clientela, tendo então a necessidade de se relevar a educação infantil institucionalizada.

3.1 Concepção de Infância

As primeiras idéias sobre a Educação Infantil estão registradas em

documentos por Platão, onde esta modalidade da educação era passada no lar, com o

objetivo de preparar o homem para o exercício futuro da cidadania e do conhecimento.

Com o passar do tempo, pouco a pouco, a educação infantil começou a ser

oferecida fora do lar, e, até hoje, o objetivo permanece ligado a mesma filosofia.

Desde então, muita coisa mudou, mas para entender melhor é preciso fazer

um retorno ao início. Esta realidade não aconteceu de uma hora para outra.

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Assim, retomando a história da Educação e principalmente de infância,

pode-se voltar à Idade Medieval e dar início a um breve histórico da educação infantil

desde o seu início até os dias atuais.

Na era medieval a infância era ignorada, quando não banalisada pelo mundo,

não ocupando espaço entre os que pensavam educação.

Na sociedade medieval, que tomamos como ponto de partida, o sentimento da infância não existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade do que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por essa razão, assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes (...)

(ARIÉS, 1981, p. 26)

Acompanhando os rumos da história, pode-se ver que, no século XVIII, as

condições gerais de saúde e higiene eram precárias. As crianças pequenas eram muito

frágeis e a mortalidade infantil alcançava números muito elevados, chegando a ser

assustadores.

Quando as crianças conseguiam atingir uma certa idade, ou seja, quando

deixavam de ser consideradas bebês, passavam a ter identidade própria, e, então, sendo

consideradas indivíduos na comunidade social a qual pertenciam, e isto significava fazer

coisas semelhantes àquelas executadas pelo adulto.

Assim, não podendo compreender as crianças e seu desenvolvimento,

colocou-se um padrão de adulto para poder fazer julgamentos, ao invés de procurar

entender e aceitar as diferenças das crianças, seu modo de pensar etc. Simplesmente, eram

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consideradas como “páginas em branco” a serem preenchidas, preparadas para a vida

adulta. Porém aos poucos as coisas foram mudando.

Tratava-se de despertar na criança a responsabilidade do adulto, o sentido de sua dignidade. A criança era menos oposta ao adulto, (embora se distinguisse bastante dele na prática), do que preparada para a vida adulta. Essa preparação não se fazia de uma vez só, brutalmente. Exigia cuidados e etapas, uma formação. Esta foi a nova concepção da educação, que triunfaria no século XIX. (ARIÉS, 1981, p. 29)

Surge então a expansão do Comércio, a Burguesia foi crescendo enquanto

classe social, ocupando cada vez mais espaços e fazendo exigências pertinentes a realidade

vivida..

Chega-se à Revolução Francesa, quando as pessoas do povo e os

comerciantes tomaram de assalto as instituições aristocráticas. A burguesia entra no poder.

Para os burgueses, a educação dos filhos tornou-se muito importante, na medida em que

acreditavam que, através dela, seus filhos quando adultos poderiam levar adiante os

estabelecimentos comerciais, ou conseguir galgar posições sociais mais favoráveis.

As escolas assumiram o papel de ponte para o futuro, de etapa preparatória

para a vida e o trabalho, preparando crianças para assumir funções adultas.

Com a Revolução Industrial, (séc. XIX), e o crescimento das cidades,

tornou-se cada vez maior a necessidade de mão-de-obra para trabalhar nas indústrias. Um

grande número de mulheres, que anteriormente moravam nos campos e dedicavam-se a

casa e aos cuidados com as crianças, passou a ter de trabalhar nas cidades, fora do lar, nas

indústrias. A sociedade encarregou-se do cuidado com as crianças, que permaneciam o dia

em creches ou instituições, destinadas a guarda de filhos das mulheres que trabalhavam fora

de casa, que deram origem à pré-escola dos dias atuais.

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Sendo assim, novas concepções surgiram e, com isso, alguns estudiosos

contribuíram com suas idéias para a evolução da educação infantil, dentre eles, pode-se

destacar Fröebel, por ter criado o primeiro Jardim de Infância em 1837. Os primeiros

Jardins de Infância foram criados com a intenção de guardar e proteger as crianças.

Focalizando a gora o Brasil, podemos destacar que, em 1943, Getúlio Vargas

criou uma legislação específica (CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas), que

regulamenta, até hoje, a relação entre patrões e empregados. Dentre outros benefícios

criados pela Lei, estava a criação de berçários pelas Empresas, com isto abriu-se um espaço

para a criação de creches particulares, as quais prestariam seus serviços. E isso, a

Constituição de 1988 trouxe, em seu texto, a forma de gratuidade e não mais existindo o

sentido de benemerência. (Art. 7º, XXV – Constituição Federal/88).

Nas décadas de 60 e 70, com o aumento da miséria e da falta de cidadania, a

educação infantil ganhou uma importância de destaque. A pobreza começa a ser vista não

como problema individual, mas como característica social e cultural de determinada

população, que se julgava não estar adaptada à vida e à ascensão social.

Então, aparecem as “teorias da privação cultural”, baseadas em teorias

americanas e trazidas para o Brasil, buscando um conceito de “criança ideal”. Com isso, a

criança na fase pré-escolar desperta interesses e começa a ser muito estudada: testes

psicológicos são aplicados, questionários às famílias são feitos, etc.

Finalmente, chega-se a uma caracterização dessa criança, como desprovida

de desenvolvimento cognitivo, afetivo, com falta de estímulos no lar, enfim, em falta ou

sendo deficiente em relação a um padrão que se adota como modelo, normalmente o

padrão da classe média.

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Tomando por base concepções sobre a marginalidade cultural das camadas

mais pobres e a teoria da carência das crianças brasileiras, definiu-se um atendimento

antecipatório a entrada da criança na escola, com o objetivo de evitar o fracasso escolar.

Dessa forma, as crianças das classes sociais dominadas, ou seja,

economicamente desfavorecidas, foram consideradas como “carentes”, “inferiores”, à

medida que não correspondem ao padrão estabelecido, que parte de um modelo de infância

único. Essa concepção pressupunha um padrão médio, único e abstrato de comportamento e

desempenho infantil.

Assim, com o objetivo de diminuir as diferenças educacionais e sócio-

culturais, foi oferecido às crianças das camadas populares, nas creches, um programa

compensatório com a finalidade de suprir suas carências nas áreas da saúde, nutrição e

conhecimento. A intenção maior desse programa era de evitar, ou pelo menos diminuir, o

fracasso escolar desses alunos quando ingressassem na escola.

(...) o conceito de educação compensatória, enfatizando como um antídoto para a privação cultural, ter-se-ia originado no pensamento de Pestalozzi e Fröebel, sendo mais tarde expandido por Montessori e McMillan. Seriam estas suas origens remotas: Fröebel iniciando os Jardins de Infância nas favelas alemãs (Berlim), em pleno surgimento da Revolução Industrial; Montessori, ao final do século XIX e início deste século, desenvolvendo trabalhos de educação Pré-escolar voltados para crianças pobres de favelas italianas; McMillan, contemporânea de Montessori, enfatizando a necessidade de assistência médica e dentária, bem como de estimulação cognitiva, para compensar as deficiências das crianças. A Pré-escola era encarada, por esses educadores, como uma forma de superar a miséria, a pobreza, a negligencia das famílias.

Mas existiam movimentos isolados desse tipo, foi somente após a Segunda Guerra Mundial que diferentes fatores se combinaram, acarretando a valorização e a expansão da Pré-escola, já com nítidas características de programas compensatórios.

(KRAMER, 1996, p. 37)

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Considerava-se que o atendimento à criança em creches, possibilitaria a

superação das precárias condições sociais a que estavam sujeitas, através de uma “educação

compensatória”.

Com esse movimento, houve um crescimento do número de creches e

escolas de educação infantil. Em razão disso, começaram a elaborar propostas de trabalho

nessas instituições, defendendo a estimulação cognitiva e o preparo para a alfabetização.

Enquanto as crianças das camadas sociais menos privilegiadas freqüentavam

instituições que tinham como objetivo suprir as carências e deficiências, as crianças com

melhor condição financeira e social estudavam em ambiente estimulador, tendo como

processo dinâmico de vivência e de desenvolvimento.

Essas diferenças são encontradas até hoje, pois as crianças mais humildes

estudam em escolas e creches, muitas vezes mal aparelhadas, com deficiência de

funcionários, enquanto as crianças que vivem em situações de favorecimento financeiro

um pouco melhor, são privilegiadas e têm, desde cedo, recebido estímulos, seja por

brinquedos ou freqüentando instituições de ensino com grande potencial de estimulação e

desenvolvimento da criança. Encontramos aí tanto a discriminação social, quanto à

discriminação cultural, onde deveria haver igualdade de oportunidades a todas as crianças.

A década de 80 foi o período de aparecimento do movimento de avaliação

sobre a função da creche para a sociedade moderna. A partir deste período, as creches

passaram a ser pensadas e reivindicadas como lugar de educação e cuidados coletivos das

crianças de zero a seis anos.

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A Constituição de 1988 reflete o movimento de repensar as funções sociais

da creche. Ela reconhece a creche como sendo uma instituição educativa conforme

inicialmente estabelece o artigo 205, que nos traz:

A educação, direito de todos, e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho( Art. 205 – Constituição Federal/88)

Essa concepção opõe-se à visão tradicional de creche e escola de educação

infantil, como uma dádiva, um favor prestado à família e à criança.

Com o advento da Constituição Federal de 1988 fica assegurado esse direito

a todas as crianças, com o significativo avanço, além de oferecer cuidados também passa a

ter um compromisso educacional.

3.2 Educação infantil e literatura

A creche ou escola de educação infantil deve propiciar um ambiente

favorável ao desenvolvimento físico, social, intelectual e emocional da criança. Através de

incentivo às investigações, indagações, experiências científicas, atividades criadoras, jogos

e principalmente o lúdico.

Por isso, deve-se ter um olhar especial para as crianças dentro e fora da

escola de educação infantil, incluindo-se nesse momento a literatura em seu ambiente de

aprendizado e aproximação com o mundo.

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Toda criança tem o direito de ter uma infância saudável e feliz e a sociedade

deve se responsabilizar para tal feito, dando-lhe o que sua própria cultura lhe reserva para

com a literatura. Dessa forma, a Literatura e a Educação Infantil encontram seu espaço

conjuntamente, assegurado junto a sociedade contemporânea, cabendo agora determinar

seus objetivos de forma que possam entrar em consonância com a contribuição efetiva para

a formação do cidadão consciente do mundo que vive, crítico dos fatos que acontecem

nesse mundo e participante, a fim de que transforme aquilo que não possa ser considerado

um bem a coletividade.

Enfim, hoje, após anos de tentativas e conquistas, a Literatura Infantil vem

gradativamente mostrando sua importância e determinando assim seu papel na sociedade de

hoje, não podendo ficar de fora das instituições dedicadas a Educação Infantil.

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4. A LITERATURA INFANTIL HOJE

Assim como a infância, literatura infanto-juvenil vem tomando novos

rumos nos últimos tempos. Essa afirmação se dá ao fato de se encontrar no mercado

literário um número cada vez maior de livros infanto-juvenis, abordando diversos assuntos

e principalmente, atingindo com maior expressividade um público novo, ou seja, os jovens

e as crianças.

Assim sendo, a educação, mas especificamente a escola, precisa estar

atenta à evolução das diversas modalidades e considerar a existência da diversificação da

leitura e escrita, visto sua importância, e conseqüentemente da linguagem para os olhos no

mundo atual, uma vez que ler é atribuir significados a um texto escrito.

Ao longo do tempo, verifica-se que a estratégia utilizada pela escola é a

oralização da escrita, no entanto, percebe-se que este enfoque tem-se tornado muito pouco

eficaz para as necessidades da leitura do mundo moderno, onde a tecnologia e globalização

vem dando abertura a novos paradigmas educacionais.

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Ler nos dias de hoje ultrapassa a decodificações de símbolos escritos, isto

é, na verdade há muito tempo. No entanto, com a velocidade a qual o mundo vem se

transformando e a gama cada vez maior de informações e de idéias, verifica-se a

necessidade de se entender como se deve dar a leitura, visto que é desde a infância que o

ser humano tem acesso e convive com o mundo letrado.

Não entendemos a leitura como um simples ato de decodificação de signos, num processo mecanicista comandado por estímulos e respostas, processo que não leva a leitura mas,apenas, ao soletrar enfadanho de sílabas e palavras, sem ligação alguma com a realidade. Não a entendemos como a sonorização mecânica de sílabas, palavras e frases, desconexas e fora do contexto real onde elas têm origem.Ao contrário, a leitura é um ato simples, inteligente, reflexivo e característico do ser humano, porque ela nada mais é do que um ato de compreensão do mundo, da realidade que nos cerca e em meio à qual vivemos.(LUCKESI, 1991, p. 122).

Nesse sentido, muito se tem a refletir sobre os aspectos da leitura no

cotidiano humano. Ler pressupõe inúmeras reflexões. Ler atribui a escola interpretações

sobre a forma de educar e de aprender de acordo como momento histórico-econonômico-

social.

A leitura e sua importância para a vida humana possibilita o

conhecimento, ou melhor, a popularização do conhecimento adquirido pelo homem através

do tempo, seja ele científico, tecnológico ou até mesmo histórico-cultural. Portanto, ler é

antes de mais nada apropriar-se do mundo a qual todos estão inseridos.

Efetivamente, cada um de nós sempre busca conhecer com maior ou menor profundidade o mundo que nos cerca, e normalmente relatamos de forma oral os nossos conhecimentos e experiências; contudo, muitas vezes os fazemos por escrito ou por meio dos mais variados sinais e códigos que temos à nossa disposição. De uma maneira ou de outra, para que possamos tomar conhecimento e usufruir da riqueza histórica construída e transmitida pelos homens de todos os tempos, em termos de conhecimento, é fundamental e imprescindível a prática da leitura.

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(LUCKESI, 1991, p. 121)

Assim, torna-se necessário estar alerta para no mínimo dois pressupostos

básicos sobre os quais deve-se estruturar um novo conceito de leitura na educação nos dias

de hoje.

O primeiro é de que o educador precisa possuir antes de tudo o hábito de

ler e por conseguinte um conhecimento global sobre o objeto que ensina, no caso a leitura

sugerida ou mesmo advinda da realidade dos alunos aos quais pretende desenvolver um

trabalho sério e compromissado. Ainda sob esse mesmo pressuposto, pode-se perceber

algumas dimensões envolvidas nesse processo: iniciando pela dimensão psicológica

implicada no ato de ler, que envolve todos os atores e a forma pela qual é a transmitida a

leitura; a dimensão lingüística uma vez que se lê e se aprende a ler um objeto lingüístico,

tratando-se portanto de se ensinar o caminho da decodificação de sinais da escrita e chegar-

se a leitura; a dimensão discursiva, já que se aprende a ler através de discursos escritos,

selecionando através de posições tomadas pelo educador quanto a importância da literatura

e seus autores e a dimensão sócio-histórico-política resultante das tensões que envolvem o

ato de ler e de aprender a ler na sociedade brasileira dos dias de hoje, caminhando-se por

realidades vividas e não distantes.

O segundo pressuposto diz respeito às condições em que o educador pode

buscar essa articulação entre diferentes e contraditórias pesquisas sobre a leitura. Incentivar

a leitura exige pesquisa prévia da realidade e da inserção de novas leituras. O educador

pode e deve estar atento ao que acontece no mundo da literatura, a fim de poder selecionar

e até mesmo conhecer o que vem acontecendo no mundo e assim fazer a ponte com a

comunidade que vai desenvolver o seu trabalho.

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Partindo, portanto, do entendimento da complexidade da leitura no

contexto escolar chega-se a literatura infantil que pode-se dizer é o ponto de partida da

leitura realizada pelo ser humano dentro e fora da escola. Isso porque é desde a infância que

o indivíduo possui a oportunidade de se deparar com a escrita e a leitura conseqüentemente.

No entanto, a leitura vem se ampliando e se modificando ao longo dos anos, assim como o

mundo como um todo.

Da década de 70 pra cá, a literatura Nacional passou a ser um destacado instrumento para o ensino da língua portuguesa. Aberto o mercado escolar, as editoras lançaram uma enxurrada de livros infantis e juvenis e assediam escolas e professores com suas propagandas. Atualmente, vende-se mais de 10 milhões de livros do gênero, mas a maioria deles não tem qualidade. E, apesar da importância que a literatura ganhou, não existe até hoje uma política nacional de leitura nem bibliotecas suficientes.

(ROSA, 2001, p. 10)

Nunca se vendeu tanto livro infanto-juvenil no país. O número se situa na

casa da dezena de milhão, sem cifras precisas. Quantidade, porém, não significa qualidade.

Mas a que se deve o aparecimento desse filão milionário para as editoras? Provavelmente,

deve-se a uma conjunção de fatores advindos da necessidade de inserir o indivíduo a era do

conhecimento tão esperada e discutida pela maioria dos que pensam o mundo nos dias de

hoje. Certamente, não se pode ignorar também o sistema capitalista ao qual muitas

sociedades e inclusive a sociedade brasileira vem se permeando.

Coincidência ou não, o parque gráfico brasileiro vem se modernizando a

cada dia, preparando-se cada vez mais para explorar esse mercado promissor. As editoras

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abriram-se para novos autores e montaram um esquema sem precedentes de divulgação e

venda de suas publicações, cujo alvo principal é a escola. O estouro de vendas ocorreu em

tal progressão que hoje milhões de exemplares são comercializados por ano, tornando-se o

ato de ler além de necessário, mas um status.

O boom no setor e o novo status ganho pela leitura permitiram até mesmo

a reabilitação do grande pioneiro da literatura infantil brasileira, Monteiro Lobato.

Ironicamente, Lobato, banido das escolas nos anos 30 pela ditadura de Getúlio Vargas, teve

sua célebre frase – um país se faz com homens e livros – elevada a condição de verdade

indiscutível justamente durante outra ditadura. Da década de 30 em diante, a proibição

contra Lobato era tão forte que seus livros chegaram a ser queimados em praça pública na

Bahia. Não interessava nem ao regime e nem às elites um escritor como ele, que, mesmo

através de uma boneca, a Emília, implantava na literatura infantil o senso crítico diante da

realidade, e também, um escritor engajado politicamente com o progressismo, como a

campanha o “Petróleo é nosso”. No meio dos anos 70, porém, ao ares começaram a se

modificar e aos poucos os militares começavam a ceder às pressões sociais e “concediam” a

abertura política até se extinguirem, mesmo que aparentemente, dos governos brasileiros.

Paralelamente à reabilitação de Lobato, foram surgindo escritores e

ilustradores inventivos. Seus personagens emitem crianças mais capacitadas e

conscientizadas, além de muito críticas, possuindo além de maior poder de decisão,

consciência de seu papel de futuro cidadão. Pode-se destacar sem nenhuma intenção de se

resumir, autores como: Ana Maria Machado, Eva Funari, João Carlos Marinho, Lygia

Bojunga Nunes, Gian Calvi, Regina Yolanda, Ruth Rocha, Ziraldo e outros.

A literatura infantil brasileira deu dois grandes saltos: em quantidade,

suplantou a estrangeira; em qualidade, superou à si mesma e a estrangeira, a ponto de

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também conquistar o mercado internacional, na forma de traduções e distinções a autores

nacionais, como Lygia Bojunga Nunes, ganhadora do Prêmio Hans Christian Andersen,

espécie de Nobel da literatura infantil.

O que dá um caráter distinto à literatura surgida com o boom, é a

descoberta da potencialidade da criança, principalmente no que diz respeito a sua

capacidade de compreender o que acontece a sua volta e exprimir suas opiniões e

indagações a cerca do mundo infantil e do mundo adulto. Percebe-se nesse momento a nova

concepção de infância do mundo. A partir de então a criança passou a ser um ser social e na

mais um projeto futuro.

No entanto, se considerar a quantidade de novos autores incorporados ao

mercado e a enxurrada de publicação das editoras, os bons escritores surgidos nas últimas

décadas ocupam ainda espaço pequeno e muito do se chama de literatura não passa de

lições morais carregadas de ideologias de manutenção do status quo.

A pesquisadora Flúvia Rosemberg (1989), analisou 626 histórias infantis

lançadas e relançadas entre a década de 70 e 80 e encontrou na maioria delas o intuito de

transmitir ensinamento moral. Caso, nos dias atuais forem analisadas outras 626 histórias

talvez, quase que certamente, a conclusão será a mesma, pois a grande parte da produção

trata o leitor infanto-juvenil como público menor, protegendo-o, não permitindo que sua

inocência e sensibilidade sejam ultrajadas, não dando direito ao saber, selecionando através

de um olhar adulto e muito conservador do que ela realmente pode apropriar-se durante sua

infância.

De certo é o adulto quem seleciona e até mesmo oferece a literatura a ser

utilizada pela criança, porém, este mesmo adulto deve estar atento a concepção de infância

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que entende a criança enquanto ser social em desenvolvimento, portanto, munidos de

capacidade e potencialidades inerentes a sua natureza.

É profundamente distorciva e discriminatória, por conseguinte, a afirmação superficial de que sabem ler apenas os que foram alfabetizados ou freqüentaram a escola, nos seus mais variados níveis e graus; como é também distorciva e discriminatória a afirmação de que são ignorantes e incultos os que não aprenderam a decodificação das palavras, muito embora sejam, na maioria das vezes, mais capazes de decodificar a realidade que os decodificam mecanicamente a palavra. Essas afirmações manifestam toda uma manipulação política e ideológica, instrumento grandemente eficaz na manutenção do estado atual de coisas.

(LUCKESI, 1991, p. 123)

Sendo assim, a leitura primeira é aquela que cada um faz de sua realidade,

através de sua experiência refleitida, incluindo neste aspecto a criança. Somente após esta

primeira leitura é que surge e se justifica a leitura da palavra.

A leitura da palavra, refere-se às leituras várias já realizadas por muitos e

para cada um sobre o seu próprio mundo; além do mais, deve conduzi-lo, novamente, a

uma leitura direta, primeira e mais profunda, de sua própria realidade e de seu próprio

mundo. Assim, significa dizer que a leitura da escrita é um instrumento capaz de

estabelecer o contato entre pessoas, grupos e povos, a respeito do que conhecem e acerca

do homem e da vida. Nesse sentido, a leitura da escrita enquanto instrumento não se

justifica em si mesma e não possui, de si para si, sentido pleno. Tem e terá sentido somente

quando capaz de orientar o homem ao conhecimento mais profundo do mundo que lhe

pertence.

O homem ao escrever deseja na verdade registrar e comunicar-se com os

demais sobre experiências e conhecimentos adquiridos, como cultura, valores e história.

Escreve-se porque a palavra escrita retém e veicula mais facilmente idéias , mensagens e

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ideais, marcando tempo e história, sendo gravada e não mais perdida. A escrita permanece,

as palavras voam, dizem os antigos. Assim, o que é escrito é mais facilmente analisado,

questionado, complementado. Presta-se, portanto, a um processo maior de história e de seu

aperfeiçoamento. Sendo este objetivo da palavra escrita, percebe-se que sua finalidade é a

de fazer entrar em contato com a experiência, com os valores, com a cultura, com a história

de quem escreve, seja qual for a época em que ele se situa, no espaço e no tempo.

Dessa forma, ao se referir à leitura, por conseguinte, faz-se referência a

um processo realizável em dupla dimensão:inicialmente a de ler a própria realidade, as

circunstâncias do mundo em que se vive, as suas solicitações, provocações e valores numa

linha de reflexão e crítica; posteriormente, a de decodificação da palavras escrita, que nada

mais é que a comunicação e transmissão desta primeira leitura da realidade e do mundo.

(...) a prática da leitura é imprescindível aos homens e aos povos: sem ela não haveria progresso, acumulação de conhecimento, transmissão e evolução do saber, registro da história dos homens. Por isso é que um povo que não lê é um povo isolado no processo da história; isolado das conquistas já realizadas por outros povos desde o início dos tempos; isolado das raízes e origens de sua própria realidade histórica e cultural e, por isso mesmo, impossibilitado de conhecer mais profundamente o seu hoje, a razão mais profunda de seus problemas e, conseqüentemente, de resolve-los, construindo para si e para os outros um mundo mais mundo.

(LUCKESI, 1991, p. 125)

Assim, a importância da leitura se dá e sem dúvida inicia-se na educação

infantil, merecendo portanto, a literatura infantil maior ênfase por parte dos educadores.

Parece que a maioria concorda que é nas histórias infantis que se dá a formação do leitor. O

interesse pela leitura pode ter seu começo na infância e como tal a escola e educadores

devem estar atentos.

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Enfim, a literatura infantil é importante a criança e a educação infantil,

porém antes de tudo deve-se se encarar as crianças como seres sociais capazes de criticar de

se posicionar com respeito as coisas que lhes dizem respeito, como por exemplo um livro

infantil.

5. CONCLUSÃO

O presente estudo vislumbrou uma abordagem da literatura infantil e sua

importância para a educação.

O tema educação é gerador de polêmica seja em que época for, afinal

tudo que diz respeito ao homem e sua vida social suscita reflexão contínua, dada suas

complexidades, visto a natureza humana. Assim, a escola possui relevante papel social

numa dada sociedade e como tal merece atenção por todos os integrantes da mesma, para

que cumpra seus objetivos principais. O mesmo ocorre com seus múltiplos aspectos

educacionais e no caso do presente estudo a literatura infantil.

A literatura infantil suscita também uma profunda análise e reflexão por

parte de educadores, responsáveis e autoridades, visto sua importância e poder de influência

perante as crianças, que diga-se de passagem estão formando suas personalidades e

principalmente sua cidadania.

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A história da literatura infantil é relativamente recente assim como a

concepção humanista de infância que trata a criança como um ser em desenvolvimento,

resguardando sua importância, capacidades e direitos junto a sociedade a qual pertence,

diferente de antes, quando era encarada como um adulto mirim, sem necessidades

específicas e por conseguinte, atenção diferenciada.

Assim, educação, infância e literatura modificaram-se ao longo da

história da humanidade. Aliás é sempre importante destacar que o ser humano e portanto,

sua história são contínuas, progressivas, constantes, isto é, o homem do passado mais

longíquo não é o mesmo de ontem, nem de hoje, muito menos de amanhã.

Hoje, com a efetivação da educação infantil, a infância conquista seu

espaço e o amplia na sociedade a cada dia, abrindo novas portas, possibilidades e

oportunidades, com isso a literatura infantil passa a ter também um novo espaço e a ser

questionada, analisada, criticada e repensada. Refletir, analisar, questionar, são critérios

para se fazer educação com qualidade. Certamente, a idéia de neutralidade em educação já

está descartada, devido ao entendimento se não de todos, pelo menos da maioria, que a

subjetividade das ações humanas são uma realidade que não pode ser ignorada, incluindo

nesse aspecto as ações educacionais que acontecem no contexto escolar. No entanto, ao se

questionar, analisar e criticar a literatura infantil assim como outras práticas pedagógicas

realizadas na escola, percebe-se a possibilidade de se respeitar a criança enquanto ser

social, com capacidades e potencialidades em desenvolvimento. Respeitar o ser humano

desde a infância é nada mais nada menos um exercício de contínuo respeito, fazendo-se

portanto valer a cidadania tão sonhada.

Ao respeitar a infância, a literatura infantil toma um novo corpo perante a

educação, especificamente a educação infantil, pois além de enveredar o aluno para a

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formação de uma leitor, posteriormente um leitor crítico e consciente, faz também com que

este faça uso de um direito, que é o de se apropriar do conhecimento humano, repensando-o

e avaliando. Certamente, o processo de aquisição e construção do conhecimento é

gradativo, ou seja, crescente, porém deve iniciar-se na educação infantil, sendo esta a

primeira modalidade da educação do cidadão em formação. O ser humano nasce cidadão

enquanto direitos e deveres primários, porém conforme vai avançando em idade este

processo amplia-se e torna-se cada vez mais complexo, estando na verdade em constante

formação e a escola por sua vez não pode abarcar essa tarefa toda para si, porém é fato que

possui importante papel no que diz respeito a contribuir para essa formação.

Dar ênfase a educação infantil, significa antes de mais nada, tratar o

indivíduo como um ser integral, ou seja, que tem início, meio e fim, afinal desde seu

nascimento sua educação se inicia seja formal ou não. A escola deve ter consciência de sua

importância para o desenvolvimento integral do ser humano, tornando-se um espaço de

especial relevância, assumindo a grandeza dessa responsabilidade.

Assim, privilegiar a leitura através e desde a literatura infantil é dar

possibilidade do indivíduo inserir-se a vida social desde sua mais tenra idade, respeitando

portanto, sua cidadania.

A literatura infantil no Brasil, hoje, merece antes de tudo uma política de

leitura, dando assim, um sentido mais amplo e eficaz ao emprego da literatura no ensino da

língua portuguesa e trazendo vida aos programas de distribuição e divulgação de livros à

rede escolar desde a educação infantil, pública e particular.

As iniciativas no sentido de alterar o quadro de apropriação e divulgação

da cultura brasileira devem ser incentivados pelas autoridades, a fim de que melhore-se a

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cada dia a formação e o desempenho do professor, formando um público leitor e fornecer

material interessante de leitura, desde a literatura infantil.

Incentivo e financiamento de obras literárias, inclusive para infância

devem acontecer de forma mais eficaz e contínua, a fim de se crescer e se fazer um país de

leitores, com autores sérios e embuídos na tarefa de se fazer literatura infantil de qualidade.

A seleção e avaliação de obras literárias infantis deve ser alvo dos

educadores, responsáveis e autoridades, afim de garantir qualidade e capacidade de

transformação.

Por fim, a literatura infantil deve merecer maior destaque neste país

chamado Brasil, onde grandes escritores e belíssimas obras se produz.

6. BIBLIOGRAFIA

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_______________ . Creches. São Paulo: Cortez, 1979. _______________. Teorias de gênero e subordinação de idade: um ensaio. Pro-posições.

Vol. 7, n.3 (21), p.17-23, nov.1996

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................08

2. A IMPORTANCIA DA LEITURA NO MUNDO MODERNO............................11

2.1 Leitura e Comunicação..........................................................................................12

2.2 A Leitura dos Meios de Comunicação...................................................................16

3. RELACIONANDO EDUCAÇÃO INFANTIL E LEITURA.................................20

3.1 Concepção de Infância...........................................................................................22

3.2 Educação infantil e literatura.................................................................................28

4. A LITERATURA INFANTIL HOJE......................................................................30

5.CONCLUSÃO..........................................................................................................38

6.REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.....................................................................41

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