EDUCAÇÃO: UM PROCESSO SOCIAL - Pós-Graduação SANTOS DE OLIVEIRA.pdf · “Os pensamentos do...
-
Upload
truonghuong -
Category
Documents
-
view
213 -
download
0
Transcript of EDUCAÇÃO: UM PROCESSO SOCIAL - Pós-Graduação SANTOS DE OLIVEIRA.pdf · “Os pensamentos do...
Universidade Candido Mendes PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
EDUCAÇÃO: UM PROCESSO SOCIAL
Por:
Vladimir Santos de Oliveira
Orientador:
Prof. Marco Antonio Chaves
Rio de Janeiro, RJ, abril/2001
Universidade Candido Mendes PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
EDUCAÇÃO: UM PROCESSO SOCIAL
Trabalho Monográfico
apresentado como requisito
parcial para obtenção do
Grau de Especialização em
Psicopedagogia
Rio de Janeiro, RJ, abril/2001
Agradeço, em primeiro lugar e em especial, a Deus; depois à minha mãe, Maria José
e à minha futura esposa, Maria Beatriz, pela força e dedicação.
Agradeço também aos professores que
enriqueceram meu universo cultural, às colegas de turma, pelo companheirismo e cooperação,
ao meu colega Antônio e a todos que, direta ou indiretamente,
me ajudaram na execução deste trabalho.
Dedico este trabalho de pesquisa aos professores, educadores e
aos homens que comandam este país, para que eles repensem a educação
como um meio de reduzir as diferenças sociais, e para que todos
tenham a oportunidade de fazer um Brasil novo.
“A morte e a vida estão no poder da língua; e aquele que a ama comerá do seu fruto.”
“O que adquire entendimento ama a sua alma;
o que conserva a inteligência achará o bem.”
“Muitos propósitos há no coração do homem, mas o conselho de SENHOR permanecerá.”
“Os pensamentos do diligente tendem à abundância,
mas os de todo apressado, tão-somente à pobreza.”
“Cessa, filho meu, ouvindo a instrução, de te desviares das palavras do conhecimento.”
(Provérbios de Salomão)
S U M Á R I O
pág.
RESUMO .................................................................................................. 7
1 O HOMEM NA SOCIEDADE .................................................................. 8
2 EDUCAÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO ............................................
11
2.1 A EDUCAÇÃO GREGA ...........................................................................
12
2.2 A EDUCAÇÃO ROMANA .......................................................................
15
2.3 A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS ............................................. 16
2.4 A NOVA EDUCAÇÃO .............................................................................. 19
3. A EDUCAÇÃO COMO PROCESSO SOCIAL ......................................... 21
3.1 A EDUCAÇÃO COMO TRANSFORMAÇÃO E CONSERVAÇÃO SOCIAL
24
3.2 A EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA ....................................
27
4 A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NA SOCIEDADE BRASILEIRA ...........
30
5 A EDUCAÇÃO ESCOLAR INTEGRANDO COMUNIDADE ................. 34
CONCLUSÃO ............................................................................................ 36
ANEXOS .................................................................................................... 39
BIBLIOGRAFIA .........................................................................................
40
RESUMO
O presente trabalho buscou construir, por meio de reunião de informações nos
textos disponíveis de diversos autores de diferentes livros, e em textos de revistas e
jornais, uma compreensão de colocações a respeito de como a educação pode ser um
fator primordial para o processo social. Embora não tenha sido possível uma exposição
mais profunda, procurou-se dar uma finalidade de reflexão aos assuntos abordados,
discutindo questões relacionadas ao problema educacional e à sociedade.
Começa-se a refletir sobre a educação como fonte de um processo social do
homem. Retoma-se a problemática desde os primórdios da educação das sociedades
gregas e romanas, contando-se um pouco da história da educação e sua evolução; a nova
educação reproduz a realidade da educação atual. O principal objetivo desta pesquisa
foi tentar estabelecer uma fluidez das relações educação-sociedade e escola-
comunidade, partindo do princípio de que toda educação começa no âmbito familiar,
procurando refletir na sociedade a vida em família, e partindo daí para as outras
instituições.
A conclusão de fato se apega neste princípio e espera-se corresponder às
expectativas, a partir das teorias elaboradas. Procurou-se também utilizar uma
linguagem simples, com citação de diversos exemplos e textos.
Sendo assim, acredita-se que a educação pode ser uma das vias que pode levar
um indivíduo a ser uma vítima ou um herói da sociedade.
1. O HOMEM NA SOCIEDADE
“O Homem é um animal social”. Esta frase de Aristóteles traduz a essência do
Homem, como indivíduo, dentro da Sociedade. Existe uma afirmativa dentro da
psicologia e pedagogia modernas que explicita que o homem precisa ser preparado para
viver em sociedade. Para isto, é necessário que se construa no seu espírito os
mecanismos necessários à aquisição do conhecimento, dentro dos moldes sociais,
políticos, morais e religiosos da sociedade em que vive.
O egoísmo, o isolamento pessoal e a falta de cooperação têm sido fatores de
sofrimentos e infelicidades do homem. Atualmente o homem é considerado
instintivamente associal; diz-se que o homem é egoísta por natureza, que possui
tendências de destruição e que não se adapta à vida em comunidade, a não ser quando
ele é movido por paixões próprias, de interesse egoisticamente pessoal que se basta a si
mesmo.
Desse modo, o homem precisa coagir a sua própria personalidade a adaptar-se,
muito artificialmente, às circunstâncias do meio, não correspondendo às suas tendências
naturais, sem vontade própria. E a cooperação vem sendo considerada uma grande
terapia, que pode inibir esses sofrimentos e infelicidades, males que afetam tanto o
homem - como indivíduo - quanto a família, a profissão e a sociedade como um todo.
Na realidade, atualmente vem sendo considerado que o homem só é humano porque
vive em sociedade. “É a sociedade que nos lança fora de nós mesmos, que nos obriga a
considerar outros interesses que não os nossos, que nos ensina a dominar as paixões, os
instintos, a dar-lhes lei, ensinando-nos o sacrifício, a provação, a subordinação de
nossos fins individuais a outros mais elevados”.
Esta teoria de que a cooperação abranda a parte egoísta da natureza humana tem
sido bastante discutida e amplamente aceita. O progresso individual só se consegue pela
redução da competição entre os indivíduos, contribuindo para um maior
desenvolvimento da inteligência e prolongando a expectativa de vida. Mas não é pela
melhoria de vida material e nem pela elevação da vida social que o homem tem se
tornado mais humano e mais feliz. Pelo contrário. Através de pesquisas e experiências
de dezenas de anos de trabalho, médicos e psicólogos têm observado fatos que se
repetem de maneira quase invariável: na parte mais pobre da sociedade atual, de
grandes famílias e poucos recursos, encontram-se indivíduos que são mais felizes e
naturalmente mais satisfeitos. Somente pelo fato de eles compreenderem melhor seus
semelhantes, há, consequentemente, uma maior cooperação entre eles, participando de
suas dores, compartilhando suas alegrias, sacrificando seus interesses em prol de uma
melhor vivência no seio da sociedade.
Os estudiosos dizem que a luta, a agressividade e a destruição são concebíveis.
Uma vez que sejam somente para conservação do indivíduo, das suas necessidades, as
de sua família e as da sociedade em que se vive e para preservação da espécie, elas são
absolutamente necessárias. Mas deverá haver competição entre os indivíduos dentro da
própria sociedade? A escritora inglêsa Rebeca West diz: “Não deve haver distinção de
classe de nenhuma espécie. Não se pode olhar para a vida sob o prisma da distinção de
classes e vê-la em termos artísticos. Essas duas coisas são incompatíveis”.
A utilidade da ação do homem na sociedade se faz necessária até mesmo quando
não está palpável. O homem, com o seu conhecimento adquirido durante a sua
existência, contribui positiva ou negativamente para a comunidade. De alguma forma,
essa ação se fará útil: ou a sociedade se apropria dessa ação, se for positiva, ou, se for
negativa, apreende esta ação, canaliza-a e a torna, de alguma forma, útil para si.
Todos os animais mamíferos têm uma força ao redor de si que o impulsiona: a
sociabilidade. Assim também acontece com a criança. Todos esses instintos de maldade,
de ferocidade, de egoísmo, de competição de que tanto têm falado os psicanalistas,
deveriam constituir a natureza humana. Esses deveriam ser os sentimentos das crianças
quando nascem, pois que seriam herdados dos animais. Mas desde o seu nascimento,
assim como os animais, elas são fortemente protegidas e encontram ao redor de si toda
uma defesa de seus interesses, compreensão de desejos, necessidades, vontades. Tudo
isso, e muito mais, sociabiliza a criança desde muito cedo, pois que também ela é fruto
do desejo de seus pais e da sociedade, pois a família é uma sociedade dentro da
sociedade. Dentro de todo este clima de socialização, a criança também revela
sensibilidades. A criança sente quando ela é condenada ou apoiada em determinados
atos. Desse modo, diz-se que se pode até dirigir a criança de acordo com os interesses
dos adultos, direcionando-a em direções já pré-estabelecidas.
Os instintos fundamentais do homem não se revelam somente animalescos, de
luta, de agressividade. Paralelamente a esses instintos, caminham outros, com a mesma
significação de preservação da espécie, da família, da sociedade, que faz com que o
homem procure uma companheira sexual e crie os filhos com dedicação e amor
naturais. E é este amor e dedicação que a criança encontra quando nasce. E isso implica
que a criança tenha uma confiança natural nos adultos, identificando seus interesses
com os interesses dos pais e dos outros, tornando-a mais sociável. O seu interesse se
incorpora aos interesses da sociedade, pois tudo ao seu redor lhe pertence, tomando para
ela o mundo dos outros. Dewey esclarece: “A criança não traça uma linha divisória
entre os negócios dos outros como inteiramente alheios e os próprios como
exclusivamente seus. Seus pais, seus irmão, sua casa, seus amigos são “dela”:
pertencem à idéia que faz de si mesma”. A criança projeta seus desejos, suas emoções,
suas necessidades nos outros. E mesmo depois que a criança cresce e se torna adulta,
essa projeção ainda se faz presente, porém um pouco menos intensa, é bem verdade, e
com outros contextos. E isso é bastante natural em todos os indivíduos; natural,
biológico e obrigatório.
O homem adulto cria o seu filho recém-nascido protegendo-o, auxiliando-o,
dispensando-lhe toda atenção, afeição e dedicação. Por outro lado, a criança se coloca
sob esta proteção natural, construindo o seu próprio mundo de prazer e vendo seus
desejos e interesses sendo satisfeitos, onde ela se sente dona deste domínio. Assim, há,
naturalmente, um interesse mútuo que se completa e se manifesta de ambos os lados na
preservação da espécie, do indivíduo, da sociedade.
Há realmente uma certa rudeza nos instintos naturais do homem, como já foi
dito. Mas se a criança, nos primeiros anos, tem tendência à destruição, deve ser porque
é mais fácil destruir do que construir. Além disso, provavelmente a criança deva sentir
um enorme prazer em destruir, e talvez até um certo sentimento de poder. Entretanto,
ela logo aprende a ir até seus limites, não desrespeitando os limites dos seus vizinhos.
Desde cedo, aprende até onde pode atuar suas ações, pois que fica marcada pela reação
daqueles que a rodeiam. Mais uma vez observado, se a criança, no início, possui essa
capacidade de destruição, é simplesmente movida pelos instintos naturais. Mas, mais
tarde, a própria razão abrandará esta parte animal de sua natureza e traduzirá, para ela,
um mundo de maior sociabilidade, mais humano e despertará o desejo de construção.
Dessa forma, a criança virá a ser o homem na sociedade.
2. EDUCAÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO
O que é Educação? Muito já se discutiu e ainda há muito o que se discutir sobre
Educação. O fato é que a educação sempre existiu. Onde quer que houvesse sociedade,
a educação estava aí presente. Diante de várias discussões, eis alguns relatos de algumas
pessoas da população brasileira a respeito do que eles pensam sobre a Educação e a arte
de “educar”: “Educação é o processo pelo qual a sociedade adquire conhecimentos
gerais ou específicos com o objetivo de desenvolverem capacidades e aptidões. Educar
é transmitir conhecimento e orientar a prática educativa”. Outro indivíduo da sociedade
disse o seguinte: “Educação é a forma de convívio no círculo de amizade e o seu
conhecimento teórico adquirido na sala de aula, que faz com que o ser humano se
integralize na sociedade”. Por último, uma estudante do Ensino Médio de uma escola da
Baixada Fluminense do Estado do Rio de Janeiro relatou o seguinte: “Educação é tudo
de “bom” que uma pessoa consegue absorver durante toda a sua vida; educar é o ato de
instruir “bem” um aprendente”.
Este último relato foi bastante interessante, pois, ficou um questionamento no
ar. Será que o ato de educar é somente ensinar tudo de bom que o aprendente quer
aprender ou ensinar tudo de bom que o ensinante quer ensinar? Tudo de bom para
quem? Ou será que o aprendente filtra tudo o que aprende, deixando passar somente o
“tudo de bom”? E educar? Seria realmente o ato de ensinar bem o aprendente? O que
seria “ensinar bem”? “Bem” para quem? Para o ensinante? Para o aprendente? Para a
sociedade?
Existe um tipo diferente de educação para cada sociedade. Cada sociedade tem
um modo de educação para o tipo de homem, de indivíduo, de personalidade que deseja
formar para atuar dentro dela. A educação tem a sua forma e seu conteúdo. Desde o
princípio, desde que se tem notícia de civilização, a educação teve uma forma diferente
de atuar; dependendo do tipo de sociedade, a educação iria ter uma determinada forma
de processo.
Dessa forma, se a sociedade quer que seus indivíduos sejam meros repetidores, a
educação ministrada será na base do “decoreba”, como por exemplo, a educação da
sociedade chinesa. Neste tipo de sociedade, a educação tinha como principal
característica a preservação e conservação do passado mediante decoração e imitação.
Portanto, quando a sociedade quer formar homens de guerra, a educação será orientada
nesta forma. E assim por diante, a educação se encarregará de formar pensadores,
políticos, filósofos, burocratas, justos, injustos, honestos, desonestos, etc., para o tipo de
indivíduo que a sociedade desejar para si.
Deseja-se uma educação livre, mas a educação estará sempre presa aos moldes
da sociedade. Dessa forma, a educação pode influenciar tanto no sentido “bom” da
sociedade, do modo como relatado acima pela estudante, como no sentido “ruim”.
Como se diz, a educação tanto pode “educar” como pode “deseducar”. Educação é
principalmente o processo ou o conjunto de mecanismos que pode fazer do indivíduo
um ser útil à sociedade, transformando mundos, ampliando fronteiras; cada indivíduo
trabalhando para o bem da coletividade, cooperando e projetando a sociedade de acordo
com a sua imagem ou com imagem que se quer obter dela.
2.1 A EDUCAÇÃO GREGA
Alguns dos ideais que hoje em dia se tem da educação foram originários das
idéias gregas. Os ideais gregos eram: liberdade política e moral, desenvolvimento
intelectual e racionalidade. Na Grécia Antiga, a principal característica da educação era
o desenvolvimento da individualidade; por isso, diz-se que, a partir do momento em que
os gregos começaram a questionar a individualidade no seu desenvolvimento filosófico,
foi aí que começou a surgir um novo conceito de educação: é a educação que até aos
dias atuais é chamada de educação liberal. Como diz Monroe, a educação liberal “é a
educação digna do homem livre, que o habilita a tirar proveito de sua liberdade ou dela
fazer uso. Mais do que qualquer outro povo do passado, foi com os gregos que o
problema da educação surgiu com as características mais semelhantes das que adquiriu,
para nós, nos séculos XIX e XX”. Porém, eles mesmos não conseguiram colocar todos
os seus ideais em prática, pois, esta era uma educação somente para os homens livres,
visto que 90% da população grega eram de escravos.
Somente a partir do século IX a .C. foi que surgiu a educação organizada e
controlada pelo Estado. Foi em Esparta com Licurgo. Licurgo percebeu a importância
do Estado para a Educação. Assim, toda a sociedade de Esparta passou a participar
ativamente da Educação, com os mais velhos educando os mais jovens. Entretanto, a
educação de Esparta era voltada para a atividade física, formando bravos guerreiros,
soldados com coragem e obediência às leis espartanas. Assim, o homem espartano
diferiu do homem ateniense no que diz respeito à sua formação. Em Atenas, além de
forma física, o homem grego tinha que esbanjar um alto nível de formação intelectual,
tendo uma educação também voltada para as artes, literatura e filosofia.
Em Atenas a educação da criança até os sete anos de idade era feita pela família.
Aí também difere a educação de Esparta da educação de Atenas. Em Atenas os filhos
eram deixados aos cuidados de amas e escravos para ministrar-lhes educação, enquanto
que em Esparta, a criança era educada pela sua própria mãe, dando-lhe um grande
potencial físico e moral. Em Atenas, a partir dos catorze anos, a criança saía de debaixo
dos cuidados da ama e passava para as mãos do pedagogo. Os pedagogos eram outros
escravos ou servos que eram responsáveis por conduzirem as crianças à escola. Eles não
educavam as crianças, apenas levavam-nas para a escola. Daí que vem a origem da
palavra “pedagogo”. Pais, paidós = criança; agein = conduzir. É a partir deste instante
que começa a educação de fato a que os gregos chamavam de paidea, dando à esta
palavra o sentido de formação do homem para a vida na polis (cidade).
Sempre se conservou entre os educadores gregos da época a idéia de que a
educação, para ser melhor assimilada, dependia de um relacionamento interpessoal,
físico e afetivo entre os membros da sociedade. Carlos Rodrigues Brandão diz: “Assim,
a pederastia acaba sendo considerada em Esparta como a forma mais pura e mais
completa de educação entre os homens livres e iguais. Em toda a Grécia a formação do
nobre guerreiro apenas desenrola ao longo dos anos uma seqüência de trocas entre um
mestre e seus discípulos”.
Já nesta época já se notava bem latente a diferença na educação das classes
sociais. A partir do ano 600 a . C. surge a escola primária em Atenas. Devido à
democratização da cultura e do saber, todos os meninos livres da cidade-estado podiam
freqüentar a escola. Antes a escola era restrita e particular a pouquíssimos cidadãos
gregos. O menino escravo não freqüentava escola; ele aprendia com o trabalho. O
menino livre e pobre freqüentava a escola, mas não chegava a freqüentar os altos graus
de educação que estava proposta a formar o modelo ideal de homem educado da
sociedade grega. Sólon, legislador grego, cita: “As crianças devem, antes de tudo,
aprender a nadar e a ler; em seguida, os pobres devem exercitar-se na agricultura ou em
uma indústria qualquer, ao passo que os ricos devem se preocupar com a música e a
equitação, e entregar-se à filosofia, à caça e à freqüência aos ginásios”.
Depois dessa pequena história da educação grega, talvez o que se possa colocar
em questionamento seria um dos ideais gregos cujo conceito é o seguinte: “a idéia de
que a educação é a preparação para a cidadania”. Como seria possível entender a
educação e os seus ideais provenientes da Grécia Antiga que ainda estão em voga?
Talvez se compreenda que a educação grega é um processo pelo qual se propusesse a
fundir a cultura da cidade em cada indivíduo da comunidade, cujo resultado seria o de
formar o homem adulto ideal educado. Desse modo, conclui-se que a educação grega
não era voltada para a liberdade de ser da criança, e sim aprisionava-a a uma
transmissão de saber que visava torná-la o homem mais moralmente perfeito aos olhos
da sociedade da época. Era uma educação liberal, mas que deixava de fora desse ideal
os escravos e os pobres livres, e produzia o rico na sua tradicional forma de educar. Isto
vem mostrar que a educação do homem está condicionada à elocução do meio
sociocultural sobre cada indivíduo da sociedade. A Educação, mais do que uma
transmissão de saber, é a convivência em sociedade. Assim, é a educação que determina
os rumos da sociedade. Ou seja, é a própria sociedade que indica o caminho a seguir. A
partir do modus vivendi da Grécia Antiga, pode-se apreender que é a sociedade,
qualquer sociedade, que mostra como a educação deve ser conduzida através da
convivência e através da escola, para a formação da criança no adulto idealizado pela
própria sociedade.
2.2 EDUCAÇÃO ROMANA
Em Roma, no princípio, a educação era baseada no método da imitação: o filho
aprendia com o pai os ofícios de seu trabalho. Ele tinha que possuir valores morais
adquiridos pela observação e imitação de seu pai e de outras pessoas do meio social
romano. O ideal de homem a ser formado pela educação para a sociedade romana é o
homem respeitável, corajoso, honesto, capaz de renunciar a si próprio e se devotar à
comunidade. A educação primitiva de Roma correspondeu a um período de 753 a 250 a
.C., e era uma educação voltada para o trabalho, pois as crianças e jovens romanos eram
educados para o serviço que iriam desempenhar na sociedade, tendo uma concepção
muito rígida de direitos e deveres.
A educação romana era considerada mais prática do que a educação grega. Era
centrada na formação do caráter moral do indivíduo e por isso mesmo, a educação das
crianças possuía um caráter mais familiar. A mulher tinha um papel fundamental na
educação dos filhos. As crianças e os jovens romanos eram educados com a finalidade
de serem moldados segundo um modelo de preservação e apropriação dos valores dos
ancestrais da família.
No período final da educação primitiva de Roma, surgiram as escolas
elementares, cuja função era ministrar as primeiras noções das artes de ler, escrever e
contar. O mestre-escola dessas escolas elementares era chamado de ludi-magister e as
escolas de ludi. O menino, após completar 7 anos de idade, e depois de findar a
educação pela mãe, o pai se coloca no direito de educá-lo nos moldes da sociedade,
apesar de já existir o mestre-escola para esta função.
Por volta de 146 a .C., quando Roma conquistou a Grécia, a cultura grega
passou a influenciar bastante a cultura romana. Francisco Larroyo escreve: “Os
militares, comerciantes e diplomatas necessitavam do conhecimento da língua grega
para melhor desempenho de seus empreendimentos; a guerra e a política se tornaram
cada vez mais complexas e difíceis; a jurisprudência foi se convertendo numa disciplina
que exigia certos conhecimentos não mais suscetíveis de serem aprendidos pela audição
das dissertações públicas; por fim, a arte oratória chegou a ser o meio mais eficaz para
ocupar as magistraturas ou influir poderosamente na vida social”.
“Como se pode compreender, a velha escola do ludi-magister já não podia mais
satisfazer por si mesma as novas exigências; junto dela se foi gerando um novo tipo de
instituições”.
Diante do que foi exposto e com o início do império, pouco a pouco a educação
romana vai deixando de ser familiar e vai se tornando uma espécie de mercadoria; a
educação deixa de ser prática para todas as pessoas e se torna fazedora de políticos,
homens de guerra, funcionários públicos do Império. O Estado romano não tomou para
si a responsabilidade pela Educação cuja instrução ficou a cargo do mestre-escola - e
outros particulares - que “vendiam” a educação para aqueles que desejassem entrar no
mundo do saber.
A educação que a escola de Roma fez começou a separar as classes. Surgiram as
universidades que só foi possível com o florescimento das escolas de filósofos e dos
institutos helenísticos. Houve dois tratamentos diferentes para a educação: Um é o que
se chama de oficina de trabalho, onde estudavam os filhos de escravos, dos servos e dos
artesãos; outro que se chama escola livresca, para filhos do homem livre, funcionário ou
dirigente do Estado.
Assim, a Educação romana começou a declinar. E o motivo principal foi porque
houve uma guinada grande no seu rumo: a educação romana se dedicou
demasiadamente à classe mais alta da sociedade, deixando de lado os menos
favorecidos. Roma assimilou e espalhou a cultura grega por todos os lugares onde
guerreou. E com o declínio da educação romana, a educação da igreja cristã primitiva
foi substituindo pouco a pouco esta decadente educação.
2.3 A EDUCAÇÃO ATRAVÉS DOS TEMPOS
A educação de todo o povo europeu na Idade Média esteve a cargo da Igreja
Cristã. Era um tipo de educação que tinha como característica principal a moral do
indivíduo. Portanto, durante este longo período da Idade Média, a educação tinha como
ideal o amor e a caridade, que seria a expressão mais completa da pessoa humana. A
educação cristã se opôs à educação liberal e individualista dos gregos e à educação
prática e social dos romanos.
No final da idade média entrou no contexto o “Renascimento”, que foi um
movimento que visava “renascer” as formas e os ideais da Antigüidade clássica, uma
volta ao passado. A principal conseqüência deste movimento foi a busca de uma nova
educação que tinha como característica principal a arte das línguas e das literaturas
gregas e romanas, pois acreditava-se que, partindo-se do aprendizado destas artes,
poder-se-ia compreender e modificar os aspectos e demais setores da atividade humana.
Assim, seria uma educação voltada mais para o lado humano do homem.
No início da Idade Moderna iniciou-se um movimento de oposição à Igreja
Católica. Este movimento ficou conhecido como “protestantismo”, e, como o próprio
nome indica, era um protesto contra as leis e o que se ponderava ser um desmando da
Igreja Católica. Era um movimento de reforma profundamente religiosa. Assim, de
acordo com essa reforma, a educação deveria subordinar-se ao Estado e não mais à
Igreja, pois somente dessa forma o ensino poderia ser alcançado por todas as classes
sociais: nobres, plebeus, ricos, pobres, meninos, meninas, artesãos. Nos Estados onde o
protestantismo se desenvolveu, a escola foi organizada de maneira sistemática,
passando o próprio Estado a controlar as antigas escolas monacais e paroquiais, que
eram controladas pelas Igrejas Católicas.
Principalmente nos Estados alemães, a partir da segunda metade do século XVI,
o sistema educacional foi implantado com maior dedicação. Foram instaladas escolas
vernáculas em todas as aldeias, onde ensinavam leitura, escrita, religião e música sacra.
Nas cidades e vilas foram construídas escolas de latim e depois as escolas superiores de
latim que, posteriormente, e junto às escolas elementares de latim, passaram a formar o
ginásio. Em seguida foram organizados os estudos universitários.
Diante destes fatos, a Igreja Católica reagiu, e com o movimento de contra-
reforma, criou novas ordens, dando atenção especial ao ensino. Estas ordens, de âmbito
religioso, controlaram a educação nos países onde o catolicismo predominou. A
principal conseqüência dessas novas ordens religiosas foi a criação da Companhia de
Jesus, que tinha por objetivo principal a educação de jovens líderes, portanto deixando
de lado as escola elementares.
Há de se destacar nesta época, as contribuições deixadas por Bacon, Galileu e
Descartes para a Educação, segundo a qual o aluno alcançava a descoberta do
conhecimento através do método de indução. Destaque-se também as contribuições de
Comênius, que foi considerado o mais importante pensador educacional do século
XVII. Através de sua Didacta Magna, ele escreve suas principais idéias a respeito da
educação, cujo ponto de maior importância a ser assinalado é o que cita sobre a
finalidade da educação, que seria “ajudar a alcançar o último fim do homem, que é a
felicidade eterna com Deus. Entretanto, tal fim não seria alcançado através da
destruição dos desejos naturais, instintos e emoções como até então vinha sendo feito,
mas em consonância com a natureza. O fim religioso seria conseguido pelo
conhecimento de si mesmo, que inclui o conhecimento de todas as coisas. O
conhecimento, a virtude e a piedade são os fins da educação. O conhecimento leva à
virtude e esta à piedade”.
Comênius ainda propôs que o método de ensino deveria ser de modo indutivo,
em conformidade com a natureza; ensino direto, prático e sistemático, começando pelo
mais simples.
A Educação passou por várias configurações e conteúdos através dos tempos.
Foram várias as formas de se pensar Educação. A Educação que hoje se discute é
apenas o reflexo dos pensamentos sobre Educação que se projetou no transcorrer da
história das sociedades. E pelo que se pode perceber, a educação tem favorecido
sempre, de uma forma ou de outra, uma determinada classe da sociedade em detrimento
de outra. Observa-se que sempre se teve uma educação “boa” para uns poucos
privilegiados e uma educação superficial ou nenhuma para a maioria. E o que se pode
concluir é que houve uma marginalização da educação sistematizada. Pode-se perceber
isto no discurso do cardeal de Richelieu, primeiro-ministro de Luiz XIII: “Assim como
um corpo que tivesse olhos em todas as suas partes seria monstruoso, da mesma forma
um Estado o seria, se todos os seus súditos fossem sábios; ver-se-ia aí tão pouca
obediência, quanto o orgulho e a presunção seriam comuns”. (Apud Nunes, Ruy A . da
C. História da educação no século XVII. São Paulo, EPU, 1981, p. 18).
Por outro lado, houve educadores e filósofos que, com suas contribuições,
tiveram grande influência na educação ulterior. Um nome exemplo dentre esses
educadores e filósofos foi Rousseau. Para Paul Monroe, as principais cooperações de
Rousseau para a educação foram: educação natural, ou seja, educação como um
processo puramente natural, através dos instintos do Homem, dissecando-se as forças
impostas externamente. Segundo Rousseau, “aconteça o que acontecer, abandonai tudo
o que torne penosa a tarefa da criança, porque só é de importância que ela nada faça
contra a sua vontade e não que aprenda muito.”; educação como processo, isto é, uma
educação como processo de desenvolvimento natural da criança para toda a vida, com
liberdade e equilíbrio; simplificação do processo educativo, assim, simples de acordo
com a natureza. Palavras de Rousseau: “Em geral, nunca substituir a coisa pela
representação, salvo quando é impossível mostrar a coisa, porque a representação
absorve a atenção da criança e a faz esquecer a coisa representada.”; e a importância da
criança, a criança deve ser do jeito que é, natural, sem ser considerada como um objeto,
uma imagem do adulto, mas uma imagem de si mesma, da natureza, com todas a suas
tendências naturais, sentimentos, desejos, pensamentos. Foi Rousseau quem teve a
precedência da psicologia do desenvolvimento, que defendia uma educação para cada
fase de desenvolvimento e crescimento da criança, sempre em conformidade com a sua
natureza.
Pela teoria de Rousseau, é função da educação moldar o Homem de acordo com
a sociedade, aniquilando a sua natureza originariamente má. Eis o que diz ele em seu
livro Emílio: “Tudo é bom ao sair das mãos do autor da natureza; mas tudo se degenera
nas mãos do homem”.
2.4 A NOVA EDUCAÇÃO
Talvez o maior problema da sociedade não seja a miséria, nem a guerra e nem a
delinqüência. Ou talvez nem sejam as pessoas que produzem estes males. O filósofo
Olavo de Carvalho, em sua crônica semanal da Revista Época, escreve que o maior
problema é dar uma função socialmente útil a essas pessoas a fim de pararem de
produzir esses males. Mas como dar uma função socialmente útil a elas? É aí que a
Nova Educação entra no contexto.
Talvez o maior problema da sociedade seja o maior problema da educação.
Como dar um educação igual para todos sem marginalizar o gênio que nasce no meio de
uma sociedade racista, egoísta e injusta? Nascendo o gênio, como pode ele sobreviver
sendo asfixiado pela tendência de um sistema que rejeita personalidades vernáculas? É
aí que este gênio, não encontrando espaço na sua própria sociedade, rasga-o, e se planta
nos lugares obscuros da própria sociedade, mascarando sua inteligência para mesclar
tendências destrutivas. Se fossem acolhidos numa sociedade comum, poderiam ser
Homens de personalidade construtivista. Sendo rejeitados, tornam-se o câncer da
sociedade, do mundo, pois que estão sempre inventando novas idéias geniais - de
destruição.
O que, pois, é significativo para o aprendente? Qual é o ideal da Nova
Educação? Diferentemente do que está exposto no questionamento sobre Educação, a
discussão aqui gira em torno de uma teoria que diz que “instruir” e “educar” estão
aglutinados numa só palavra: Socioeducação. Não existe diferença no que tange a dar
conhecimento intelectual ou preparar um tipo de personalidade para viver em sociedade.
Tudo é educação. E um dos propósitos da educação seria o de dar igualdade de
condições para todos, não só adequando o indivíduo ao mundo em que vive, mas
também tendo a capacidade de transformar este mundo, contribuindo para o progresso
do indivíduo e da sociedade. “A educação é o método fundamental do progresso e da
ação social” e “o professor ao ensinar não só educa indivíduos, mas contribui para
formar uma vida social justa”. (Apud Abbagnano, N. & Visalberghi, A . Historia de la
Pedagogía. México, Fondo de Cultura Económica, 1964. p. 644.).
Ora, cabe à sociedade interferir no processo educacional, sempre visando o
aperfeiçoamento do mesmo, intencionando a harmonia dos aspectos psicológico, moral
e social, sem interferência exterior. A família, a escola, a igreja, o trabalho, todas as
instituições sociais devem retratar a realidade da sociedade para a criança, para o
indivíduo. A vida em família deve ser tão real quanto seria na escola, no trabalho, na
igreja, etc. Desse modo, há a necessidade da integração família-escola, igreja-escola,
família-igreja; ou seja, toda sociedade deveria integrar uma socioeducação.
A socioeducação seria, portanto, o Homem contribuindo para a harmonia, o
progresso e o sucesso da sociedade e a sociedade visando à felicidade, o triunfo e o
bem-estar do Homem. Tudo isso se faz por intermédio da educação. A educação seria
então o caminho para a socioeducação. A finalidade da educação é a socioeducação.
Durkheim cita: “A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as
gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social; tem por objeto
suscitar e desenvolver na criança certo número de estados físicos, intelectuais e morais
reclamados pela sociedade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança,
particularmente, se destina”. Mas pode-se compreender a educação de uma forma mais
socioeducativa. A educação também pode abrir espaço na sociedade para o
desenvolvimento da criatividade do gênio - os gênios vernáculos que vivem à margem
da sociedade. Ao invés de ser o câncer da sociedade, a educação poderia contribuir para
que esses gênios fossem a cura deste câncer. A educação é o caminho para diminuição
das desigualdades sociais; a socioeducação é a verdade para que essas pessoas parem de
produzir aqueles males. Esta é a finalidade da Nova Educação: Educação para todos,
sem limite, sem diferenças. E este é maior problema do mundo: a não educação ou
educação desigual para todos.
3. A EDUCAÇÃO COMO PROCESSO SOCIAL
Uma outra definição de Educação segundo Stuart Mills: “É tudo aquilo que
fazemos por nós mesmos, e tudo aquilo que os outros intentam fazer com o fim de
aproximar-nos da perfeição de nossa natureza. Em sua mais larga acepção, compreende
mesmo os efeitos indiretos, produzidos sobre o caráter e sobre as faculdades do homem,
por coisas e instituições cujo fim próprio é inteiramente outro: pelas leis, formas de
governo, pelas artes industriais, ou ainda, por fatos físicos independentes da vontade do
homem, tais como o clima, o solo, a posição geográfica”. Esta é uma concepção mais
ampla do significado de educação. Há uma diferença entre os resultados obtidos em
decorrência da preponderância das coisas sobre os homens e os resultados assimilados
devido ao modo de atuar dos indivíduos sobre os outros. Em contrapartida,
provavelmente não há diferença entre a educação da sociedade sobre ou para o
indivíduo, e a educação do adulto sobre a criança; não deverá haver diferença nos
resultados, mas há de existir e de se questionar a diferença no processo de educação.
Para Kant, “o fim da educação é desenvolver, em cada indivíduo, toda a
perfeição de que ele seja capaz”. Desenvolver toda a perfeição é desenvolver todos
valores morais, intelectuais, naturais e espirituais do homem em perfeita harmonia. Ou
seja, a finalidade da educação seria “tirar o sumo” das faculdades do Homem,
aproveitando seus valores para a atuação dentro da sociedade.
As dimensões cultural e histórica têm que ser levadas em consideração quando
se analisa objetivamente a educação na sociedade. Provavelmente não há uma educação
ideal, mas cada sociedade caracteriza o seu ideal de educação, pois é a sociedade “que
cria o clima, proporciona os meios e determina os objetivos e a orientação desse
processo. O indivíduo educa-se sempre para determinada situação, por meio de uns
tantos recursos técnicos materiais e humanos que a sociedade lhe prepara
cuidadosamente. Nesse sentido é que devemos falar nos aspectos sociais da educação,
considerada como processo social”. (RIBEIRO, José Querino. “Formas do processo
educacional”. In: PEREIRA, Luís, e Foracchi, Marialice M. Educação e Sociedade. São
Paulo, Nacional, 1964, p. 70).
Analisando historicamente o sistema educacional, percebe-se que, em cada etapa
do seu desenvolvimento, houve uma dependência da religião, da organização política,
do grau de desenvolvimento das ciências e outros fatores. Essa dependência parece
assentar-se em uma necessidade teórica de superação de uma divisão artificial da
sociedade, fundamentando uma compreensão bastante fragmentada da função
educacional. As situações concretas da atividade humana, objeto de interesse da
sociedade, também pedem uma redução da divisão de interesses particulares. As lacunas
que estão sendo criadas tornam-se palpáveis e óbvias e estão abrindo feridas na
sociedade, que só a educação consegue curar e fechar. Começando-se um novo
processo, de interesses mútuos e comuns, e renovando-se a educação, pode-se perceber,
num momento seguinte, uma nova sociedade com resultados reais.
É interessante notar, porém, que Durkheim suscita uma nova finalidade para a
educação. Ele afirma que o homem é constituído de dois seres: um ser individual,
constituído de estados mentais que só se relacionam consigo mesmo e com os
instrumentos de sua vida pessoal; e um ser social, que é o conjunto de idéias, hábitos,
fundamentos psicológicos da linguagem que exprimem nele a imagem e a personalidade
do grupo ou grupos de que ele faz parte. Portanto, segundo Durkheim, esta seria a
finalidade da educação: não desenvolver uma perfeição harmônica, mas constituir, em
cada indivíduo, o ser social. Para ele, a educação “cria no homem um ser novo”.
O homem não tinha necessidade do saber até a sociedade sentir que já era hora
de fazê-lo. Quando essa hora chegou, a vida em sociedade já se tornara por demais
complexa e a curiosidade acerca dos fenômenos que circundavam o homem já se
manifestara na forma da ciência. Por isso a cultura científica veio à tona com caracteres
indispensáveis. A sociedade sentiu a necessidade de um pensamento explicado e mais
esclarecido pela ciência, e impôs esta cultura a seus indivíduos, o mesmo acontecendo
com as qualidades morais e físicas.
Assim, Durkheim esclarece: “Se os indivíduos, como mostramos, só agem
segundo as necessidades sociais, parece que a sociedade impõe aos homens insuportável
tirania. Na realidade, porém, eles mesmos são interessados nessa submissão; porque o
novo ser que a ação coletiva, por intermédio da educação, assim edifica, em cada um de
nós, representa o que há de melhor no homem, o que há em nós de propriamente
humano”.
Além dos pressupostos mais gerais de sua teoria mencionados, Durkheim
elabora que todas as idéias fundamentais, do ponto de vista intelectual, encontram-se
sempre em evolução. Além disso, a aprendizagem de uma linguagem é a aquisição de
toda uma biblioteca histórica, cultural, organizada e classificada, que cada geração
herda, aplicando ao seu ego as idéias gerais e específicas da sociedade.
Dessa forma, para que a herdade de cada geração possa se conservar e progredir,
é necessário que exista um instrumento moral durável que enlace uma geração à outra
dentro de um meio. O meio é a sociedade e o caminho, a educação. Portanto, segundo
Durkheim, “bem longe de estarem em oposição, ou de poderem desenvolver-se em
sentido inverso, um do outro - sociedade e indivíduo são idéias dependentes uma da
outra. Desejando melhorar a sociedade, o indivíduo deseja melhorar a si próprio”.
3.1. A EDUCAÇÃO COMO TRANSFORMAÇÃO E CONSERVAÇÃO SOCIAL
De fato, o fim da educação são as exigências da sociedade para a formação de
indivíduos reais, não só induzindo o saber, mas fabricando tipos sociais com tendências
criativas e de cooperação, segundo aspectos culturais e históricos. Mas essas tendências
têm claras ligações com as funções representadas pela educação. Nos lugares onde a
sociedade são normalmente isoladas, a cultura tende a ficar estagnada, ou com
desenvolvimento lento, conservando-se num único processo, devido à falta de diluição
de substâncias simples de outras culturas. Por outro lado, desenvolvem-se mais
rapidamente, as sociedades em cujas culturas estão inseridas novas idéias, novos
conceitos, novas substâncias das culturas de outras sociedades.
O conceito de educação também está claramente associado à criação de
condições de conservação ou transformação da sociedade, ou seja, a educação como
processo de transformação e conservação social. A educação aqui deve ser vista como
um componente global da sociedade, e não como uma função especificamente da
escola. São claras as mudanças que acontecem na sociedade; em algumas de maneira
bem rápida e com bastante receptividade; em outras um pouco mais lenta e menos
radical. Mas as mudanças nunca são regressivas e sempre conservam algum resíduo de
situações histórico-culturais passadas.
Os estudiosos afirmam que a educação da escola tuteia nas transformações, indo
a favor ou contra a História da sociedade, desempenhando um importante papel de
transformação da situação atual da sociedade, se for contra a História, ou de
conservação, se for a favor. No caso de atuar como fator de conservação, a História
adiantar-se-á com ou sem a educação escolar, ou, se for preciso, até irá de encontro à
dialética da escola, enquanto que a escola estará sempre subordinada à História da
sociedade.
Por isso a educação não deve ser especificamente uma função escolar. Ela deve
ter um papel profundo na codificação e decodificação das informações histórico-
culturais da sociedade e também na regulamentação do seu próprio comportamento. As
impressões que chegam até ela vindas do mundo exterior devem ser submetidas a uma
completa e complexa análise e recodificadas com classes apreendidas e adquiridas como
resultado das suas próprias experiências, e sua idéia acerca do mundo exterior
transforma-se em uma idéia concreta e específica, mudando em cada fase sucessiva do
desenvolvimento histórico e cultural da sociedade. Ao mesmo tempo, a sociedade deve
ser capaz de articular propósitos complexos, de implementar programas de ação e
submeter seu comportamento a esses programas. Assim diz Brookover: “as escolas não
funcionam como algo à parte, que pode moldar a sociedade. Não são agências extra-
societárias: encontram-se inseridas no sistema social, e não acima e sobre ele”.
Na verdade, atualmente, o que em geral se observa, principalmente no Brasil, é
que sentimentos e crenças referentes às instituições sociais e às suas funções são
passíveis de serem afetados pelas transformações tecnológicas da sociedade atual.
Dessa forma, a educação, mantida pela cultura da sociedade, pode exercer certa
influência sobre ela, devido à estimulação dessa transformação tecnológica. E a
sociedade presume da educação que ela concentre sua ação na transformação
tecnológica e, paralelamente, se conserve a idéia de que os padrões atuais de relações
familiares permaneçam inalterados, que se instrua o respeito à propriedade privada e
que estimule a crença de que os ricos são trabalhadores e os pobres são farristas,
festeiros e mandriões. Ou seja, na sociedade moderna brasileira, deseja-se uma
educação que estimule uma transformação científica e tecnológica, mas que obstrue
uma transformação social.
Não há coerência residente no fato de que uma sociedade possa desejar um
mundo melhor, desenvolvendo uma educação que não estimule uma transformação nas
relações sociais. Neste sentido, a transformação começaria dentro da família, passando,
então, por outras instituições sociais onde haveria um reflexo de cada uma das outras
instituições. Se um indivíduo for bem relacionado dentro da família, então acarreta que
o mesmo deverá sê-lo dentro de cada grupo social à qual pertença, e conseqüentemente,
dentro sociedade. Seria a própria essência da sociedade que se veria refletida na
educação, constituída por uma inter-relação dinâmica entre os indivíduos, e em
transformação no decorrer do desenvolvimento, entre homem e sociedade; um controle,
exercido pela sociedade, dos próprios processos educacionais na transformação
tecnológica, científica, moral e social.
Muitos educadores e estudiosos acham que o sistema de educação,
principalmente o brasileiro, poderia ser orientado no sentido de construção de uma
nova sociedade. Mas analisando-se as forças e os grupos sociais que dominam e
controlam a educação da sociedade brasileira, detona um questionamento sobre a
possibilidade deste ato. A formação de uma nova sociedade demanda uma concordância
desses grupos dominantes em relação ao tipo de sociedade que se quer construir. Mas o
interesse deles é o de preservar a sociedade e, conseqüentemente, a educação do jeito
que ela é, por que isto, de alguma forma, favorece a eles. Se não há muita esperança de
que estes grupos concordem com os educadores reformadores, muito menos esperança
há para que eles concordem com o modelo de transformação que se deseja.
Mas algumas pessoas podem solucionar que os professores têm a possibilidade
de dar início a essa transformação, sem a inconveniente intromissão desses grupos
sociais dominantes conservadores. Porém, os professores também são parte da
sociedade, e podem internalizar as idéias e os objetivos daqueles grupos, e suas
reformas produziriam pouco ou nenhum efeito. E os ideais ora em voga permaceriam
inalterados e conservados. Magaret Mead escreve: “Não se constroi um novo mundo
trocando o ‘existente’ pelo ‘antiquado’ do professor em exercício, mas pode-se fazê-lo
permitindo-se ao imaturo ‘formar’ a sua geração de acordo com a nova perspectiva ou
‘visão’ desta”. (Margaret Mead, “Our Educational Emphasis in Primitive Perspective”,
American Journal of Sociol., Vol. 48, 1943, p. 633).
Desse modo, é realmente difícil e remota a possibilidade de construção de uma
nova ordem social pela escola. Mas a escola pode muito na transformação desse
processo, com sua contribuição e cooperação. Tudo depende da sociedade como um
todo. Por exemplo, na Alemanha de Hitler e na Rússia Soviética, o grupo dominante
utilizou a escola como meio de transformação revolucionária. Taí a demonstração do
sistema educacional como processo de transformação social.
Tudo começa com a criatividade, solidariedade, união e cooperação. A
sociedade não é só um determinado grupo dominante. A sociedade é a união de todos os
grupos sociais. A sociedade é todo o povo. E a educação não deve ser dominada por
apenas um determinado grupo. Se a sociedade almeja o seu próprio bem-estar, também
deverá desejar controlar a educação. É daí que começa a transformação nas relações
sociais: com toda a sociedade participando ativamente, elaborando o modelo de
educação ideal que pretende para os seus membros.
3.2 A EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE BRASILEIRA
A questão de transformação e a questão de controle da sociedade a partir de
situações de inter-relacionamento remetem à questão da mediação testamental do
pensamento educacional e, conseqüentemente, à importância da linguagem no
desenvolvimento cultural do homem e da sociedade. Uma das idéias centrais de
Durkheim é que deveria haver “educação ideal, perfeita, apropriada a todos os homens,
indistintamente”. Mas talvez esse pensamento possa fornecer conceitos próprios de
apenas alguns setores da sociedade, pois segundo Carlos Rodrigues Brandão, “cada
tipo de sociedade real, histórica, cria e impõe o tipo de educação do que necessita”. E
pergunta: “Já que cada tipo de sociedade inventa e faz a sua educação ou as suas
educações, nos sistemas mais oficiais, mais organizados em projetos e programas
pedagógicos, são pensados a partir das idéias fundamentais de todos os tipos de
pessoas? As mesmas escolas servem ao operário, ao engenheiro, e ao capitalista
imobiliário do mesmo modo (como as leis brasileiras de ensino garantem que sim e os
professores críticos garantem que não)? Uma educação ensina o saber da ‘comunidade
nacional’ a todos, para os mesmos usos sociais, e segundo os mesmos direitos
individuais de todas a categorias de seus ‘adultos educados’?”.
Ora, o Brasil é um país capitalista. E assim como todas as sociedades
capitalistas, o Brasil considera e trata a educação com base nas conferências políticas e
econômicas. Sendo assim, um pequeno grupo da sociedade brasileira dimensiona a vida
social de interesses capitalistas, com uma visão puramente gananciosa, antagonizando e
dividindo a sociedade em dois grupos: o dos ricos e poderosos, com uma “boa”
educação para o “trabalho dominante”, e o dos pobres com uma educação voltada para
o “trabalho subalterno”.
Carlos Rodrigues Brandão escreve a respeito da sociedade capitalista americana:
“Apesar de ser...um projeto teórico de reprodução da igualdade, a educação da
sociedade capitalista avançada reproduz na moita e consagra a desigualdade social, sem
esquecer de fazer alarde em festa de formatura quando algum filho de operário
consegue sair formado da Faculdade de Engenharia”.
Então esta educação dita “democrática” é que determina o tipo de homem adulto
para a sociedade brasileira. Como já foi dito acima, a educação brasileira está nas mãos
de uns poucos que não desejam uma mudança na sociedade ou que a desejam apenas
nos setores que lhes interessem. A sociedade brasileira fica assim então dividida. E a
educação fica direcionada num ponto sem valor, determinando um caminho antagônico,
falso, corrupto, doente.
Este modelo de educação não serve para uma sociedade que deseja um mundo
mais justo. Ele faz parte de um universo estranho em que o próprio pensamento lógico
se distancia do domínio da razão. Embora a questão política não esteja em discussão,
cabe aqui uma observação de Carlos Rodrigues Brandão. Ele cita que, na sociedade
capitalista e, acrescente-se, na brasileira, “a educação vale como um bem de mercado, e
por isso às vezes custa caro. Vale como um instrumento cujos segredos se programam
nos gabinetes onde estão os emissários dos intermediários dos interesses políticos
postos sobre a educação. Esta é a sua dupla dimensão de valor capitalista: a) valer como
alguma coisa cuja posse se detém para uso próprio ou de grupos reduzidos, que se
vende e compra; b) valer como um instrumento de controle das pessoas, das classes
sociais subalternas, pelo poder de difusão das idéias de quem controla o seu exercício”.
As estatísticas mostram que houve realmente um aumento de alunos
matriculados nas escolas de Ensino Fundamental (antigo 1o. grau) e de Ensino médio
(antigo 2o. grau) desde a década de 20. No Ensino Superior também houve um aumento
de matrículas desde a década de 60 até os dias atuais, porém com uma evolução
percentual menor. A taxa de analfabetismo também caiu de 56,17% em 1940 para
18,78% em 1989. Isto indica que houve uma certa democratização da educação, pelo
menos no aspecto quantitativo.
Por outro lado, no aspecto qualitativo a educação brasileira deixa muito a
desejar. As mesmas estatísticas mostram que muitos alunos matriculados são excluídos
antes de terminarem os estudos. A maioria de baixa renda. Para se ter uma idéia de
como caminhou educação brasileira no decorrer dos anos, acompanhe-se a tabela
abaixo:
SELETIVIDADE DA ESCOLA BRASILEIRA
GRAU SÉRIE Geração 1967-78 Geração 1978-89
Ano Alunos % Ano Alunos %
1a. 1967 5 408 429 100.0 1978 6 502 323 100.0
2a. 1968 2 456 733 45.4 1979 3 597 460 55.3
3a. 1969 1 984 679 36.7 1980 3 005 227 46.2
4a. 1970 1 590 311 29.4 1981 2 417 984 37.2
1o. 5a. 1971 1 771 510 32.8 1982 2 503 902 38.5
6a. 1972 1 152 601 21.3 1983 1 886 347 29.0
7a. 1973 954 529 17.6 1984 1 510 988 23.2
8a. 1974 868 002 16.0 1985 1 190 912 18.3
1a. 1975 885 349 16.4 1986 1 388 911 21.4
2o. 2a. 1976 687 226 12.7 1987 973 458 15.0
3a. 1977 571 746 10.6 1988 767 983 11.8
3o. 1a. 1978 401 977 7.4 1989 382 221 5.9
Fonte: Brasil. Ministério da Educação. Secretaria da Administração Geral. A Educação no Brasil
na década de 80. Brasília. 1990.
A educação é, assim, um problema familiar e político, sempre requerendo-se
uma interpretação com base nos fatores sociais e extra-sociais. “Mas sequer as pessoas a
quem a educação serve, em princípio, são de algum modo consultadas sobre como ela
deveria ser. A educação que chega à favela, chega pronta à escola, no livro e na lição.
Os pais favelados dos alunos são convocados a matricular os seus filhos, como se aquilo
fosse um posto de recrutamento. Não são convocados, por exemplo, a debaterem com os
professores como eles pensam que a escola da favela poderia ser uma verdadeira
agência de serviços à sua gente. Mesmo que fossem, as suas idéias por certo não sairiam
do caderno de anotações da diretoria”. (Carlos Rodrigues Brandão).
Longe de pretender ser um “utopista social”, tenta-se aqui demonstrar que a
educação tem o poder de transformar a sociedade, de formar homens conscientes,
internalizando o tipo de sociedade que se deseja.
Que caminho a sociedade brasileira poderá trilhar? É bem duro e cheio de
espinhos este que ela está seguindo. Isto é visível. Portanto, por que não tentar escrever
a história da sociedade brasileira de uma outra forma? Afinal, por que existe a
educação? Para quê ela serve? Qual é o tipo de homem educado que a sociedade
brasileira quer formar?
Pelos números, observa-se que somente uns poucos alunos conseguem galgar as
várias séries que compõem a escola brasileira e se formar num curso superior.
Normalmente, com poucas exceções, estes alunos são originários de famílias com
melhores condições econômicas. Os pobres são marginalizados e excluídos. Assim, esta
é a educação da sociedade brasileira: escola “boa” para ricos e escolas precárias e com
poucos recursos para os pobres, que são a grande maioria do povo brasileiro. É
desejável para quem esta desigualdade?
4. A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NA SOCIEDADE BRASILEIRA
A questão da educação, enquanto processo de constituição da sociedade, e a
questão da construção do indivíduo envolvem um aspecto particularmente relevante
para a compreensão da abordagem do papel universal da inteligência humana.
Independe de uma maior ou menor concentração da inteligência intelectual, no sentido
de conservação ou transformação social, para um melhor ou pior desempenho no
emprego habitual da inteligência. O essencial é que se consiga discernir a demanda da
situação e em que proporção ela é deferida pelos comportamentos colocados em prática.
Florestan Fernandes escreve que “cada sistema social possui um nível ótimo de
liberação e de utilização positiva das qualidades e energias intelectuais criadoras do
homem; os limites dentro dos quais tais qualidades e energias são exploradas do forma
socialmente construtiva dependem do modo pelo qual se estrutura e se organiza o
horizonte cultural dos agentes humanos”. O importante é canalizar e desenvolver essas
qualidades e energias. O meio pelo qual se pode fazer isso é através da socioeducação.
Dentro do processo da socioeducação, o valor da ação, da linguagem deve ser
considerado. E a família tem uma função de extrema relevância neste processo, pois ela
deve procurar complementar, estimular e envolver o imaturo em atividades e situações
que deverão constituir o padrão de comportamento que ele deverá desempenhar, quando
adulto, na sociedade, refletindo aí os elementos essenciais da sociedade.
A criança, ao nascer, possui imperativos inconscientes, agindo instintivamente,
isento de marcas e impressões. Estas serão adquiridas ao longo do tempo e agirão sobre
este pequeno indivíduo. As marcas e impressões mais primitivas ficam profundamente
assinaladas, formando núcleos para onde afluem novas aquisições. É dessa forma que os
estudiosos compreendem porquê as primeiras impressões, as primeiras experiências têm
uma preponderância bem clara e decisiva sobre o desenvolvimento intelectual do
indivíduo, direcionando e influenciando o caráter de todas as suas realizações. A
psicologia moderna tem demonstrado o quanto é de suma importância os primeiros anos
de vida do indivíduo e o quanto representam as primeiras marcas e todo o seu
desenvolvimento na repercussão dos seus motivos e atitudes. E é nesse sentido que
também é de suma importância o papel da família na formação dessas primeiras
impressões.
Fica determinado então, que a criança, desde os seus primeiros anos de vida, vai
procurando achar o seu lugar dentro do tempo e do espaço em que ela vive. Através do
choro, que é sua principal arma, ela se vai dando conta da sua importância e do seu
poder, adquirindo e garantindo a predominância dentro do seio da família. É dessa
maneira que se pode entender o processo de criação e educação da criança. Quando a
criança se torna jovem, ela se apresenta como um potencial que está preparado para
qualquer direção da sociedade. Karl Mannheim diz que “até a fase da puberdade, o
imaturo vive principalmente na família e suas atitudes são na maior parte, moldados
pelas tradições emocionais e intelectuais aí prevalecentes”. Talvez aí esteja a razão pela
qual a sociedade deva ser estruturada através dos moldes da família.
É muito fácil teorizar, como o faz Watson, que “o resultado final será uma
criança feliz, livre como o ar, porque consegue dominar as exigências elementares da
sociedade; uma criança independente porque, durante o seu treinamento, foi ensinada a
brincar e a trabalhar sozinha uma parte do tempo, obrigada a vencer as dificuldades,
pelo esforço próprio; uma criança que se encontra e brinca com as outras, francamente,
abertamente, tranqüilamente, sem timidez ou sentimentos de inferioridade; uma criança
original, porque a sua perfeita adaptação ao meio lhe concede tempo para
experiências!”. Entretanto não se pode antever com precisão se este é realmente o modo
essencial de educação de uma criança.
Segundo os psicanalistas, lá pela idade dos três anos aproximadamente, “já estão
lançadas as bases da vida sentimental da criança e suas emoções já se fixaram”. E ainda
afirmam que “nessa idade já determinaram os pais se a criança se transformará num
adulto feliz, sadio e bem humorado, ou se virá a ser um choramingas, um nevropata, um
arrebatado, um vingativo ou um angustiado”. Não está em discussão aqui os fatores
hereditários ou psicológicos e nem o lugar que a criança ocupa dentro da família. Tenta-
se apenas demonstrar, questionar e refletir o quão importante é o aspecto
socioeducacional da família no processo de educação da criança para a sociedade.
Os próprios educadores têm afirmado que ainda não encontraram uma norma
determinada e ideal para a criação da criança. Porém, sabe-se, pela observação, que as
crianças tendem a internalizar as normas e condutas, por imitação, da primeira vivência
em sociedade: a família.
A educação infantil brasileira caminha a passos regressivos. Um estudo feito
pela Unesp e pela USP revelou que, entre 1996 e 1999, houve uma redução de 70.510
matrículas na educação infantil da rede pública. Na rede particular, houve um aumento
de 30.377 matrículas. Estes dados estatísticos vêm demonstrar que o atendimento às
crianças só é possível a quem pode pagar uma escola particular para seus filhos? O que
o governo está fazendo para aumentar este atendimento? Muito debate, muito estudo e
pouca ação por parte destes intelectuais e políticos que detêm o poder sobre a educação
brasileira.
O descaso com a educação infantil no Brasil é desalentador, cruel. Já foi
provado que o abandono da educação infantil produz efeitos desastrosos numa
sociedade onde milhões de crianças são resultados de comunidades aprisionadas a um
anel com tendências deformadoras da baixa ou nenhuma escolaridade e da pobreza. E
este abandono também vem demonstrar uma outra causa: que sem a devida assistência à
educação infantil, a sociedade tende a falhar na formação do homem adulto educado.
Pesquisa efetuada pelo Ministério da Assistência e Previdência Social, em
parceria com a PUC/SP, mostrou que em 618 instituições de 26 estados brasileiros,
43,7% dos professores não têm o ensino médio e 11,7% não têm o ensino fundamental.
Também ficou constatado que 64,7% dos recursos das instituições são gastos com
salários, 21,8% com material pedagógico, 19,5% em alimentação e apenas 0,39% na
formação e capacitação de funcionários.
O Projeto Abecedário, dos Estados Unidos, acompanhou dois grupos de
crianças carentes desde o seu nascimento e verificou que as crianças que receberam
cuidados de 0 a 5 anos de idade tiveram, durante toda a sua vida escolar, um
aproveitamento superior ao normal em seu meio. O Programa de Saúde e
Desenvolvimento Infantil, do Banco Mundial, também assistiu mil crianças com peso
baixo ao nascer e observou a sua evolução até os 27 anos de idade, e historiou uma
diminuição da criminalidade e um aumento da escolaridade. E no Brasil, o Ipea
divulgou que, para filhos de pais analfabetos, um ano de pré-escola significa 0,6 anos a
mais de educação e 12,5 % a mais na renda futura.
Magno de Aguiar Maranhão, Presidente da Associação Nacional dos Centros
Universitários, do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro arremata,
escrevendo: “A expansão do Ensino Fundamental levou às escolas crianças que,
maiores de 7 anos, mal sabem se expressar. Sete anos é demais para a criança
subalimentada, subestimulada e mal compreendida. Se há o propósito de diminuir
disparidades sociais, o Estado deve dividir com as famílias (assumindo a maior parte) a
tarefa de educar seus filhos a partir do momento em que articulam o primeiro som e
tentam interagir com o ambiente - do qual se tornarão vítimas ou agentes
transformadores. A segunda opção só será possível por meio de uma política abrangente
e eficaz de assistência à criança”.
A leitura é fundamental para o desenvolvimento da criança. O papel da
estimulação da literatura infantil também deve ser assumido pela família, e não só pela
escola. E se os pais desenvolverem essa dinâmica no seio familiar, isto se tornará rotina
na vida da criança, despertando a curiosidade dela e desenvolvendo, com isso, a
criatividade que será aplicada mais tarde na formação da sociedade ideal.
Dessa forma, analisa-se a literatura infantil como fonte de desenvolvimento de
inteligência criativa da criança, canalizando este potencial para a formação do homem
adulto educado. Álvaro Ottoni de Menezes, autor de vários livros infantis afirma: “O
professor, assim como o pai, tem que ser um artista. Despertar a imaginação tanto do
aluno quanto a sua própria. E mais: transformar aquelas folhas de papel em prazer e
fazer pensar. Há inúmeras atividades artísticas que podem ser desmembradas de um
simples livro. Uma história pode levar, por exemplo, à produção de uma peça teatral ou
de uma música”.
Por isso é primordial essas impressões originárias que ficam e marcam a criança.
Portanto, a criança que lê mais, quando se tornar adulta, terá maior possibilidade de
criar e inventar novas idéias para a melhoria da sociedade em que vive, obtendo assim,
uma maior bagagem cultural da sociedade, levando-a ao próprio indivíduo. Dessa
forma, ele mesmo terá mais condições de discernir a demanda da situação, criar
mecanismos e elaborar programas que determinem um comportamento prático que
visem ao bem-estar individual e social.
5. A EDUCAÇÃO ESCOLAR INTEGRANDO COMUNIDADE
Conhecer a comunidade é o ponto inicial para uma boa integração da escola na
comunidade. Já que o termo mais propagado atualmente é “globalização”, por que não
“globalizar” a escola junto à comunidade? Aprender é conhecer. Conhecer é aprender.
Portanto, primeiramente será necessário que a escola tenha um conhecimento global da
comunidade. Diretores, coordenadores, professores, todos os educadores pesquisariam
de forma conjunta os aspectos históricos, culturais e científicos da comunidade,
coletando e organizando dados, obtendo todas as informações possíveis do local.
Depois, deverá haver visitas a cada família - da comunidade e dos alunos -
fazendo um intercâmbio entre a escola e a comunidade. Mas este trabalho tem que ser
conjunto, ou seja, educadores e alunos executando cada tarefa lado a lado, convidando
cada pessoa - homens, mulheres, crianças - a participar da escola, criticando,
sugestionando, construindo, colaborando com novas idéias para o progresso da escola,
da comunidade e de cada pessoa desta integração.
É necessário que todas as informações obtidas, e outras novas que tiverem sido
coletadas e organizadas, sejam discutidas e debatidas. Comércio, indústria, família,
alunos, educadores, todos da comunidade idealizarão como e onde aplicar estas
informações e como utilizar a aquisição do conhecimento para a melhoria da educação
dos alunos.
A escola deverá abrir espaço para reuniões mensais para discussão dos
problemas não só da educação na escola, mas também da própria comunidade, com o
fim de aglutinar as idéias e obter o melhor resultado para todos.
Os alunos farão visitas, ajudarão na manutenção ou na melhoria da comunidade
em todos os aspectos, sempre visando ao desenvolvimento social e cultural da
comunidade e da escola.
Eis alguns exemplos:
♦ Atividades artísticas - teatro, pinturas, festivais de poesias, etc.
♦ Atividades ecológicas - Acampamentos em florestas, praias, cachoeiras.
♦ Atividades culturais - Encontros literários, festivais de música, exposição de
quadros, visitas a museus, etc.
♦ Atividades técnicas- visitas às indústrias, etc.
♦ Atividade esportivas - jogos, brincadeiras, etc.
♦ Atividades que reforcem os valores humanos.
A comunidade é a sociedade em miniatura; e a escola, a ação da educação na
comunidade. Assim, no aspecto social, a escola estará mobilizando, junto com os alunos
e educadores, seus esforços, atuando no sentido do desenvolvimento moral, intelectual,
cultural e espiritual de cada indivíduo da comunidade e da escola, tornando a
comunidade mais forte, mais coesa, mais unida, mais saudável em prol de todos e em
detrimento de fatores externos como drogas, roubos, delinqüências. Como a escola em
questão é voltada para a educação infantil, as crianças, ao ingressarem no ensino
fundamental, já estariam revestidas da couraça individual da coletividade, raciocinando
no sentido de cooperação.
CONCLUSÃO
A exploração do lugar do homem na sociedade, nos textos apresentados, torna-
se particularmente interessante pelo fato de que quando o homem se torna consciente de
sua função dentro da sociedade, ele passa a ter uma visão de reciprocidade em relação à
mesma e ao ambiente em que vive, e poderia ser considerado responsável direto pela
situação; e a sociedade, responsável direta pela educação.
A educação é simplesmente inevitável. E a sociedade capitalista, através dos
ricos empresários e burgueses, tratou de organizar a educação de acordo com os seus
moldes, tirando da esfera do conhecimento o lugar do gênio independente. E isso fez
com que se ampliasse cada vez mais as diferenças entre as esferas da economia e da
educação e, conseqüentemente, as desigualdades sociais. Os empresários, procurando
cada vez mais enriquecer, e os empregados, procurando segurança e penhor social,
revelando a atitude dominante e egoísta do primeiro em detrimento de conquistas
sociais do segundo, estabeleceram assim, uma diferença bem latente dos tipos sociais.
Não há como um indivíduo criativo se conformar com essa situação. Isto não é
característico de sua alma e é incompatível com a sua natureza. Não se pode conceber
que esses gênios refluam para a esfera da destruição. Já que a sociedade sabe organizar
tão bem a educação para produzir a desigualdade, é possível que ela saiba também
utilizar a mesma educação para, ao invés de construir os gênios que aumente essa
desigualdade, constituir um modo eficaz de transformar esses gênios a fim de exercerem
uma função realmente social.
Nos tempos atuais, a educação só tem processado gênios individualistas,
injustos, unilaterais, dinâmicos para produzir uma sociedade dividida, constituída sobre
uma base réflua de saber e de cooperação. Esta sociedade desigual é sustentada por uma
estrutura própria de educação muito complexa e muito eficiente para os interesses de
um determinado grupo que monopoliza, racionaliza e organiza as diversas esferas de
poder da sociedade, sempre atendendo às vontades das elites e evidenciando a intenção
política de privatização da educação.
A sociedade é quem determina o modelo de homem a formar através da
educação. Mas é um pequeno grupo da sociedade quem controla e determina o tipo de
educação que irá formar o tipo de homem para a sociedade. Como mudar esse quadro?
Como processar a transformação da sociedade por meio da educação? A sociedade,
como um todo, deve estar consciente de que ela é responsável por ela mesma, ou seja, é
ela quem decide o rumo que irá tomar a sua história cultural. Dessa forma, ela será
responsável pela formação de seus futuros homens educados. Ora, se ela é responsável
pelos homens que irão moldá-la, acarreta que ela deverá ser responsável pela educação
deles, assim como a família é responsável pela educação de seus filhos.
A educação deve atender às necessidades da sociedade; ela precisa dar à
sociedade uma base científica e um alicerce moral, procurando alternativas para a
preservação do meio ambiente, buscando dar uma função social estruturadora -
produtiva para cada um dos seus indivíduos e visando a melhoria e a conservação da
saúde dos homens.
Portanto, que tipo de homem a sociedade quer formar? Homens que sejam
individualistas, radicais, materialistas, rancorosos, sem compaixão, que modelam uma
sociedade dura, desigual e injusta? Ou homens criativos, cooperadores, onde possam
idealizar uma sociedade mais justa, mais igual? Que tipo educação poderá servir como
processo social?
Uma pequena história: Um jovem escritor saiu para passear na praia. Olhando
ele ao longe, viu um vulto que se movia na areia, na beira da praia. Ao chegar mais
perto, notou que o vulto não era nada senão um rapaz que se abaixava para colher
estrelas-do-mar e lançava-as de volta ao mar. O escritor, muito curioso, quis saber do
rapaz porquê ele se propunha a fazer aquilo, já que cada vez que ele jogava uma estrela-
do-mar, o mar devolvia outras estrelas à praia. O rapaz respondeu: “Estou salvando a
vida destas estrelas-do-mar”. “Mas como você pode pretender salvar a vida de todas
estas estrelas, se cada vez que você joga uma, o mar lança muitas outras à praia? Você
não conseguirá salvar a vida de todas elas.”, disse o escritor. “Sim, é verdade, eu não
conseguirei salvar a vida de todas elas”, retrucou o rapaz. “Mas para aquela estrela que
eu devolvi ao mar, eu fiz a diferença”.
Portanto, cada educador, cada professor, cada profissional da educação poderá
fazer a sua parte, dando a sua colaboração para a educação, no sentido de começar o
processo de transformação social, sem esquecer a função primordial da família neste
processo. Cabe a cada educador se perguntar e definir que tipo de sociedade ele deseja
para o futuro; que tipo de homem desejará ele educar para o processo do tipo ideal de
sociedade. Cabe a cada indivíduo da sociedade determinar o tipo de vida que ele quer
para si. Cabe à sociedade determinar o tipo ideal de educação que quer organizar. Se
cada um fizer a sua parte, pelo menos para aquele determinado educando se fará a
diferença. A vida de um gênio e da sociedade terá sido salva. De fato, a educação é um
dos caminhos que leva ao processo social.
ANEXOS
01 (UM) INGRESSO DE TEATRO - CENTRO CULTURAL MARIA DE LA
COSTA - CAMAS REDONDAS, CASAIS QUADRADOS
01 (UM) INGRESSO DO CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL - ANIMA
MUNDI
02 (DOIS) CUPONS DE VISITAÇÃO AO MUSEU NACIONAL DE HISTÓRIA
NATURAL E ANTROPOLOGIA
01 (UM) CUPOM DO EVENTO CULTURAL SALA LIMA BARRETO - CENTRO
CULTURAL SÃO PAULO - SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA DA
CIDADE DE SÃO PAULO
01 (UM) CUPOM DA 2A. BIENAL DA UNE
01 (UM) CUPOM DO EVENTO CULTURAL DO CANECÃO - SHOW DO ZECA
BALEIRO
01 (UMA) DECLARAÇÃO DE COMPROVAÇÃO DE ESTÁGIO COM CARGA
HORÁRIA TOTAL DE 80 H.
BIBLIOGRAFIA
BUENO, Francisco da Silveira et alli. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 11a.
Ed. Rio de Janeiro: FENAME, 1980. 1262 p.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Educação? . 33a. Ed. São Paulo: Brasiliense,
1995. 118p.
CARVALHO, Olavo de. O maior Problema do Mundo. Opinião. Revista Época, Rio de
Janeiro, n.137, p.56, jan. 2001.
FONTOURA, Amaral. Sociologia Educacional. 28a. Ed. Rio de Janeiro: Aurora, s.d.
263p.
FORACCHI, Maria Alice Mencarini et alli. Educação e Sociedade. 6a. Ed. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1973. 449p.
MELLO, A . da Silva. O Homem. 4a. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956. 496p.
PILLETI, Claudino et elli. Filosofia e História da Educação. 15a. Ed. São Paulo: Ática,
s.d. 264p.
PILLETI, Nelson. Sociologia da Educação. 16a. Ed. São Paulo: Ática, 1997. 264p.
SALVADOR, A . D. Cultura e Educação Brasileiras. 4a. Ed. Petrópolis: Vozes, 1976.
257p.