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3 EDUCAÇÃO FÍSICA REVISTA DE ISSN 0102 - 8464 ARTIGO ORIGINAL EFEITOS AGUDOS DO TREINAMENTO COM PESOS NA GLICEMIA: COMPARAÇÃO ENTRE TRÊS PROTOCOLOS PARA INICIANTES Acute effects on blood glucose after weight training: comparison of three protocols for beginners Ricardo Yukio Asano 1; João Bartolomeu Neto 1; Marco Antonio Freitas Sousa 1; Eduardo Fernandes de Miranda 1 1 Departamento de Educação Física do Centro Universitário UNIRG – Gurupi – TO, Brasil. Resumo: Os estudos relacionados aos efeitos do exercício no controle da glicemia, relatam adaptações positivas para saúde de sedentários e diabéticos, porém os efeitos agudos do exercício podem causar hipoglicemia principalmente em iniciantes.. Além disso, os estudos dos efeitos de exercícios especícos sobre a glicemia, como o treinamento com pesos são escassos. Portanto, o objetivo do presente estudo foi determinar os efeitos do treinamento com pesos na glicemia de sedentários, e comparar a alteração entre três protocolos para iniciantes em programas de treinamento com pesos. Metodologia: foram selecionados onze homens aparentemente saudáveis, com idade 24,5 ± 8 anos, peso 70,4 ± 8,1kg, estatura 171,2 ± 5,1cm, índice de massa corpórea (IMC) 23,9 ± 1,9, porcentagem de gordura 15,3 ± 3,6%. Os sujeitos realizaram três protocolos de treinamento com pesos: hipertroa, resistência muscular localizada (RML) e força, com intervalo de duas semanas entre as sessões. Antes e após a realização dos protocolos foram coletas a glicemia, freqüência cardíaca e percepção subjetiva de esforço. Resultados: Em relação aos valores de repouso (82,8 ± 4 mg/dL), a glicemia diminuiu signicantemente (p<0,05) em todos os protocolos. O protocolo de hipertroa obteve diminuição signicativa da glicemia (64,3± 2,5 mg/dL), quando comparado com os protocolos de força (74,6 ± 5,2 mg/dL) e RML (70 ± 3,7 mg/ dL). Conclusão: O treinamento com pesos pode induzir indivíduos sedentários à hipoglicemia, principalmente o protocolo de hipertroa utilizado neste estudo. Palavras-chave: treinamento com pesos, glicemia, hipoglicemia. Abstract: Studies of the effects of exercise on glycemic control, reported positive adaptations to health and sedentary diabetics, but the acute effects of exercise can cause hypoglycemia especially in beginners .. Furthermore, studies of the effects of specic exercises on blood glucose, and weight training are scarce. Therefore, the objective of this study was to determine the effects of strength training on glucose sedentary, and compare the change between the three protocols in programs for beginners weight training. Methodology: We selected eleven apparently healthy men, aged 24.5 ± 8 years, weight 70.4 ± 8.1 kg, height 171.2 ± 5.1 cm, body mass index (BMI) 23.9 ± 1.9 , fat 15.3 ± 3.6%. The subjects performed three protocols of weight training hypertrophy, muscular endurance (RML) and strength, with an interval of two weeks between sessions. Before and after the implementation of the protocols were collected on blood glucose, heart rate and perceived exertion. Results: In relation to resting values (82.8 ± 4 mg / dL), blood glucose decreased signicantly (p <0.05) in all protocols. The protocol of hypertrophy achieved a signicant decrease in blood glucose (64.3 ± 2.5 mg / dL) compared with the protocols of force (74.6 ± 5.2 mg / dL) and RML (70 ± 3.7 mg / dL). Conclusion: Weight training can induce sedentary individuals to hypoglycemia, especially the hypertrophy protocol used in this study. Keywords: training with weights, blood glucose, hypoglycemia. INTRODUÇÃO Diminuição da glicemia é um evento comum durante o exercício com pesos (1) . Os músculos esqueléticos utilizam o glicogênio armazenado no processo de glicólise e metabolismo oxidativo para ressíntese do ATP. Posteriormente a diminuição da concentração de glicogênio durante o esforço físico implica na captação de glicose do sangue. O sistema neuroendócrino controla os níveis de glicemia em repouso e durante o esforço, buscando a prevenção da hipoglicemia principalmente a níveis de esforço acima do limiar anaeróbio, e ocorre por sincronização dos sistemas neural e endócrino que agem no fígado e no tecido adiposo (2,3) . Contudo em exercícios com pesos moderados a intensos, a glicemia pode apresentar valores reduzidos, caso o volume de treinamento seja excessivo (1) . Os sintomas de uma redução signi cativa da glicose sanguínea (hipoglicemia) induzem fraqueza, fome e vertigem, que afetam o desempenho nos exercícios e podem explicar parcialmente a fadiga Aceito em 27/10/2008 - Rev. Educ. Fís. 2010 - 03-09. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

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EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

ISSN 0102 - 8464

ARTIGO ORIGINAL

EFEITOS AGUDOS DO TREINAMENTO COM PESOS NA GLICEMIA: COMPARAÇÃO ENTRE TRÊS PROTOCOLOS PARA INICIANTES

Acute effects on blood glucose after weight training:comparison of three protocols for beginners

Ricardo Yukio Asano1; João Bartolomeu Neto1; Marco Antonio Freitas Sousa1; Eduardo Fernandes de Miranda1

1Departamento de Educação Física do Centro Universitário UNIRG – Gurupi – TO, Brasil.

Resumo: Os estudos relacionados aos efeitos do exercício no controle da glicemia, relatam adaptações positivas para saúde de sedentários e diabéticos, porém os efeitos agudos do exercício podem causar hipoglicemia principalmente em iniciantes.. Além disso, os estudos dos efeitos de exercícios específi cos sobre a glicemia, como o treinamento com pesos são escassos. Portanto, o objetivo do presente estudo foi determinar os efeitos do treinamento com pesos na glicemia de sedentários, e comparar a alteração entre três protocolos para iniciantes em programas de treinamento com pesos. Metodologia: foram selecionados onze homens aparentemente saudáveis, com idade 24,5 ± 8 anos, peso 70,4 ± 8,1kg, estatura 171,2 ± 5,1cm, índice de massa corpórea (IMC) 23,9 ± 1,9, porcentagem de gordura 15,3 ± 3,6%. Os sujeitos realizaram três protocolos de treinamento com pesos: hipertrofi a, resistência muscular localizada (RML) e força, com intervalo de duas semanas entre as sessões. Antes e após a realização dos protocolos foram coletas a glicemia, freqüência cardíaca e percepção subjetiva de esforço. Resultados: Em relação aos valores de repouso (82,8 ± 4 mg/dL), a glicemia diminuiu signifi cantemente (p<0,05) em todos os protocolos. O protocolo de hipertrofi a obteve diminuição signifi cativa da glicemia (64,3± 2,5 mg/dL), quando comparado com os protocolos de força (74,6 ± 5,2 mg/dL) e RML (70 ± 3,7 mg/dL). Conclusão: O treinamento com pesos pode induzir indivíduos sedentários à hipoglicemia, principalmente o protocolo de hipertrofi a utilizado neste estudo. Palavras-chave: treinamento com pesos, glicemia, hipoglicemia.

Abstract: Studies of the effects of exercise on glycemic control, reported positive adaptations to health and sedentary diabetics, but the acute effects of exercise can cause hypoglycemia especially in beginners .. Furthermore, studies of the effects of specifi c exercises on blood glucose, and weight training are scarce. Therefore, the objective of this study was to determine the effects of strength training on glucose sedentary, and compare the change between the three protocols in programs for beginners weight training. Methodology: We selected eleven apparently healthy men, aged 24.5 ± 8 years, weight 70.4 ± 8.1 kg, height 171.2 ± 5.1 cm, body mass index (BMI) 23.9 ± 1.9 , fat 15.3 ± 3.6%. The subjects performed three protocols of weight training hypertrophy, muscular endurance (RML) and strength, with an interval of two weeks between sessions. Before and after the implementation of the protocols were collected on blood glucose, heart rate and perceived exertion. Results: In relation to resting values (82.8 ± 4 mg / dL), blood glucose decreased signifi cantly (p <0.05) in all protocols. The protocol of hypertrophy achieved a signifi cant decrease in blood glucose (64.3 ± 2.5 mg / dL) compared with the protocols of force (74.6 ± 5.2 mg / dL) and RML (70 ± 3.7 mg / dL). Conclusion: Weight training can induce sedentary individuals to hypoglycemia, especially the hypertrophy protocol used in this study.Keywords: training with weights, blood glucose, hypoglycemia.

INTRODUÇÃO

Diminuição da glicemia é um evento comum durante o exercício com pesos(1). Os músculos esqueléticos utilizam o glicogênio armazenado no processo de glicólise e metabolismo oxidativo para ressíntese do ATP. Posteriormente a diminuição da concentração de glicogênio durante o esforço físico implica na captação de glicose do sangue. O sistema neuroendócrino controla os níveis de glicemia em repouso e durante o esforço, buscando a prevenção

da hipoglicemia principalmente a níveis de esforço acima do limiar anaeróbio, e ocorre por sincronização dos sistemas neural e endócrino que agem no fígado e no tecido adiposo(2,3). Contudo em exercícios com pesos moderados a intensos, a glicemia pode apresentar valores reduzidos, caso o volume de treinamento seja excessivo(1).

Os sintomas de uma redução signifi cativa da glicose sanguínea (hipoglicemia) induzem fraqueza, fome e vertigem, que afetam o desempenho nos exercícios e podem explicar parcialmente a fadiga

Aceito em 27/10/2008 - Rev. Educ. Fís. 2010 - 03-09. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

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do sistema nervoso central associado ao exercício com pesos(4). Segundo Murray e Hackney(5) a concentração de 70 mg.dL-1 de sangue ou valores abaixo, são considerados estado de hipoglicemia. Mas, o efeito hipoglicemiante do exercício físico, pode estimular adaptações crônicas positivas ao organismo. Estudos recentes comprovam os efeitos positivos do exercício na glicemia, principalmente em portadores de diabetes tipo I e tipo II e no aspecto da prevenção a essa doença(6, 7, 8, 9).

Algumas pesquisas foram direcionadas para determinar os efeitos do exercício com pesos nos mecanismo de controle da glicemia, na frequência cárdia e a percepção subjetiva de esforço. Os resultados encontraram adaptações crônicas positivas nos valores da glicemia no estado de repouso, na sensibilidade dos receptores musculares à insulina e na tolerância à glicose(10, 4, 11). Outra abordagem sobre exercício e glicemia a se considerar é a hipoglicemia induzida pelo exercício em iniciantes. Na revisão sobre hipoglicemia e exercício com pesos realizada por Brun(1), foi observado que em indivíduos destreinados o risco de hipoglicemia no exercício é eminente. Hipoglicemia induzida pelo exercício é um exemplo de alterações fi siológicas do organismo que podem causar desconforto, e em caso de atletas diminuição da performance1. Porém, esta desordem pode acarretar adaptações ao organismo que podem ser benéfi cas, como o aumento da sensibilidade dos receptores de insulina na musculatura esquelética.

Estudos pesquisaram os efeitos de exercícios físicos específi cos nos mecanismos de controle da glicemia. Como o treinamento com pesos, que parece diminuir a glicemia em repouso, aumentar estoques de glicogênio muscular, e apresentar efeitos agudos positivos para o portador de diabetes(12,2).

Portanto, o objetivo do presente estudo foi comparar as alterações na glicemia, frequência cardíaca e na percepção subjetiva de esforço em sedentários aparentemente saudáveis e não diabéticos em três metodologias de treinamento com pesos.

METODOLOGIA

População estudadaForam selecionados onze homens

aparentemente saudáveis, com idade 24,5 ± 8 anos, peso 70,4 ± 8,1kg, estatura 171,2 ± 5,1cm, índice de massa corpórea (IMC) 23,9 ± 1,9, porcentagem

de gordura 15,3 ± 3,6% (TABELA 1). A seleção dos sujeitos incluiu indivíduos normotensos, não-diabéticos, não-atletas e que não praticaram nenhum treinamento físico regular nos últimos doze meses. Os sujeitos selecionados formaram um único grupo experimental. Os indivíduos foram informados sobre o objetivo dos testes e assinaram termo de consentimento livre esclarecido, conforme determina a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Fundação UnirG sob o protocolo no.0053/2009.

Tabela 1 – Medidas antropométricas da amostra

*IMC – Índice de massa corpórea

Procedimentos metodológicos O grupo experimental realizou três protocolos

diferentes de treinamento com pesos, com intervalo de duas semanas sem nenhum tipo de exercício físico entre os protocolos. O intuito do intervalo foi minimizar o efeito da adaptação ao exercício nos participantes da pesquisa(13). Os protocolos foram baseados nas recomendações do American College of Sports Medicine para treinamentos com pesos para iniciantes e consistiam em: protocolo de força, protocolo de resistência muscular localizada (RML) e protocolo de hipertrofi a respectivamente (TABELA 2)(14). Os exercícios foram os mesmos nos três protocolos: Supino vertical, Fly máquina, Pulley, Voador, Hack horizontal, Flexão de perna, Extensão de perna, Panturrilha máquina, Máquina bíceps, Máquina tríceps.

O teste de 1 repetição máxima (1 RM) foi realizado para todos os exercícios, sendo que o procedimento se iniciou com um aquecimento geral de 4 a 5 minutos, seguido de um alongamento estático de baixa intensidade. O aquecimento específi co foi iniciado no aparelho, com carga aproximadamente de 50% de 1 RM prevista. O teste foi iniciado dois minutos após o aquecimento especifi co. Foram orientados para executar duas repetições, caso fossem cumprisse as duas repetições na primeira tentativa, ou não completasse uma repetição. Uma

Peso

(kg)

Estatura

(cm)

IMC*

(Kg/m2)

% Gordura Idade

(anos)

Média 70,4 171,1 23,9 15,3 24,5

Desvio padrão 8,1 5,1 1,9 3,6 8

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segunda tentativa era iniciada após um intervalo de recuperação de três a cinco minutos com uma carga superior (primeira possibilidade) ou inferior (segunda possibilidade) àquela empregada anteriormente. Foi repetido uma terceira e ultima tentativa, caso ainda não se tivesse determinado a carga referente a uma única repetição máxima. No entanto, a carga anotada como 1RM foi aquela na qual foi possível ao sujeito executar somente uma única repetição. O intervalo de transição entre os exercícios foi de três a cinco minutos.

Após o procedimento de coleta de 1 RM, foi realizado 8 repetições e em seguida a carga foi ajustada a 70% de 1 RM prevista e realizado 3 repetições. Os levantamentos subseqüentes foram realizados com apenas um movimento com cargas progressivas até a fadiga. A carga máxima foi considerada a maior carga com o movimento completo e realizado de forma correta. O intervalo de descanso entre as séries e as tentativas compreendeu entre 3 a 5 minutos(15).

A composição corporal foi determinada por meio do índice de massa corpórea (IMC), que foi calculada pelo peso corporal (Kg) dividido pela estatura ao quadrado (m2)(16). O peso corporal foi obtido em balança tipo plataforma, com capacidade de 180 kg d=50g, uma balança digital da marca G-TECH de uso pessoal, estando às pessoas descalças e com o mínimo de roupa possível. Para aferição da estatura utilizou-se o antropômetro livre da marca Sanny com precisão em centímetros, sendo mantida a pessoa em posição ortostática, com os pés juntos.

O percentual de gordura corporal (%GC) foi obtido pelo somatório de 3 pregas cutâneas (peitoral, abdominal e coxa) de acordo com o proposto por Jackson e Pollock (1978 e 1980)(9). Considerou-se %GC elevado valores acima de 20% para os sexos masculino(10). As medidas das pregas foram obtidas utilizando-se o equipamento Lange Skinfold Caliper, sendo que cada uma foi verifi cada três vezes,(11) trabalhando-se com a média dos dois valores mais próximos ou dos dois maiores quando os três valores eram consecutivos.

A alimentação das 12 horas que antecederam os testes foi padronizada por uma nutricionista para não alterar de forma sensível os valores habituais da glicemia em repouso. Duas horas antes do evento, os sujeitos realizaram uma refeição de 200 a 400 calorias dependendo da tolerância do indivíduo, com comidas habituais e ingestão de água.

Antes e imediatamente após os protocolos, foram determinados a glicemia, freqüência cardíaca e a percepção subjetiva de esforço.

Tabela 2 – Protocolo dos modelos de treinamento de força utilizados no estudo

Fonte: American College of Sports Medicine14

A glicemia foi mensurada antes e após os protocolos. A coleta de sangue foi no dedo por perfuração e analisado pelo glicosímetro Prestigie System que possui validade de r=0,99 com teste direto de glicemia Yellow Springs Instrument modelo 23ª(17).

A freqüência cardíaca foi mensurada em repouso e após o término dos protocolos, através de freqüêncímetro da marca Polar.

A determinação da percepção subjetiva do esforço foi aplicado após o término dos protocolos. No momento da aplicação da escala (escala revisada de Borg), a tabela foi posicionada a frente do sujeito, e foi questionado qual o esforço percebido naquele momento(18).

Análise estatísticaPara a análise das variáveis dependentes

(glicemia, percepção de esforço e freqüência cardíaca) e independentes (protocolos de força, hipertrofia e RML), utilizou-se do método estatístico ANOVA e teste LSD de Fisher ao nível de p < 0,05. Primeiramente foi verificada a homogeneidade das variâncias através do teste Levene (p = 0,118). Utilizou-se o aplicativo estatístico Bioestatistic 4.0.

RESULTADOS

A glicemia alterou significantemente (p < 0,05) nos protocolos de hipertrofia, força e RML, em relação aos valores de repouso.

Modelo

Intensidade

(% 1RM)

Volume

(repetições)

Tempo de

recuperação

(minutos)

Velocidade

de contração

Hipertrofia 70% 10 a 12 1:30 Lenta

Força 75% 6 a 8 2:30 Moderada

RML 60% 15 1:00 Moderado

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A percepção subjetiva de esforço (escala de Borg) foi medida em escala numérica de um a dez, demonstrou que os participantes do estudo relataram sensação de maior esforço nos modelos hipertrofi a e RML em relação ao treino de força. Mensurada imediatamente após treino a média percepção de esforço foi de 4,9 (± 0,9) para RML, 4,9 (± 0,9) no treino de hipertrofi a e 3,5 (± 0,5) para força (FIGURA 3).

No treino de hipertrofia houve a maior diminuição (64,3±2,5 mg.dL-1) em relação aos níveis de repouso (82,8 ± 4 mg/dL), chegando a níveis hipoglicêmicos. Protocolo de hipertrofia teve diminuição significativa (p < 0,05), quando comparado com protocolos de força (74,6 ± 5,2 mg/dL) e RML (70 ± 3,7 mg/dL). Já o protocolo de RML demonstrou diferença significativa (p < 0,05) quando comparado com protocolo de força, que menos alterou seus valores em relação aos níveis de repouso (FIGURA 1).

Figura 1 - Glicemia, em miligramas por decilitros (mg/dL), de sujeitos destreinados em treinamento com pesos, determinada em repouso e logo após o último exercício dos protocolos de RML, hipertrofi a e força. Os resultados estão expressos como, média ± desvio padrão, (n = 11), utilizando o nível de signifi cância de p < 0,05, em comparação entre os protocolos.

# - diferença signifi cativa (p < 0,05), de repouso.* - diferença signifi cativa (p < 0,05), de força.Δ - diferença signifi cativa (p < 0,05), de RML.

[ - diferença signifi cativa (p < 0,05), de RML.

Na freqüência cardíaca após treino, determinada imediatamente após o úl t imo exercíc io dos protocolos, ver i f icou-se através do teste LSD que apenas não há di ferença signi f icat iva (p > 0,05) entre as medidas de freqüência cardíaca, entre os protocolos de força (98 ± 5,3 bpm) e RML (95 ± 4,9 bpm). O protocolo de hipertrof ia (121,2 ± 7,4 bpm) obteve freqüência cardíaca signi f icantemente maior quando comparado com RML e força (FIGURA 2). Protocolo de hipertrof ia demonstrou aumento s igni f icat ivo da freqüência cardíaca (p < 0,05), quando comparado com repouso, protocolo de força e protocolo de RML.

0.010.020.030.040.050.060.070.080.090.0

100.0

Repouso Força Hipertrofia RML

Glic

emia

em

mg.

dl

[ # # #

0

20

40

60

80

100

120

140

Repouso Força Hipertrofia RML

Freq

uênc

ia c

ardí

acas

em

BPM

# # * #

Figura 2- Freqüência cardíaca, em batimentos por minuto (bpm) de sujeitos destreinados em treinamento com pesos, determinada logo após o último exercício dos protocolos de RML, hipertrofi a e força. Os resultados estão expressos como, média ± desvio padrão, (n = 11), utilizando o nível de signifi cância de p < 0,05, em comparação entre os protocolos.

# - diferença signifi cativa (p < 0,05), de repouso.* - diferença signifi cativa (p < 0,05de força.Δ - diferença signifi cativa (p < 0,05), de RML.

0123456789

10

Repouso Força Hipertrofia RML

Esca

la d

a P

erce

pção

sub

jetiv

a de

es

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# # * # *

Figura 3 - Percepção subjetiva de esforço, de sujeitos destreinados em treinamento com pesos, determinada logo após o último exercício dos protocolos de RML, hipertrofi a e força. Os resultados estão expressos como, média ± desvio padrão, (n = 11), utilizando o nível de signifi cância de p < 0,05, em comparação entre os protocolos.

# - diferença signifi cativa (p < 0,05), de repouso.* - diferença signifi cativa (p < 0,05), de força.

DISCUSSÃO

Os protocolos de hipertrofi a, RML e força, apresentaram diminuição da glicemia dos

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indivíduos em relação aos valores de repouso. O protocolo de hipertrofi a comparado com os protocolos de força, RML e repouso apresentou diminuição signifi cativa, alcançando valores considerados hipoglicêmicos.

Corroborando com os resultados do presente estudo, Brun et al(1) relata que em sedentários a produção de glicose hepática não é sufi ciente para manter níveis normais de glicemia pelo alto consumo de glicose pela musculatura esquelética, já que os principais substratos para exercício moderado para alta intensidade, são as vias da glicólise. A produção de glicose hepática em sedentários parece estar debilitada para situações como o exercício. Outros fatores de regulação da glicemia, também podem infl uenciar entre a produção e utilização de glicose pela musculatura esquelética, como por exemplo fatores hormonais, bioquímicos, transportadores de glicose na membrana muscular (GLUT 4) e duração do exercício.

Ferreira, Morel e Braga(12) também encontraram diminuição da glicemia após treinamento com pesos com intensidade de 65 % 1RM, que é correspondente ao protocolo de RML do nosso estudo, os indivíduos da pesquisa eram portadores de diabetes tipo I e a diminuição da glicemia após o treino foi de 22,2 ± 3% em relação a glicemia antes o treino.

Oliveira et al(2) realizaram um estudo com objetivo de analisar a possibilidade de determinar o limiar glicêmico e limiar de lactato utilizando exercícios resistidos. Os sujeitos da pesquisa realizaram exercícios com incrementos de carga progressiva, a glicemia diminui nas cargas iniciais até atingir o menor valor por volta de 30 a 36% de 1RM (limiar glicêmico), e nas cargas posteriores a glicemia iniciou uma elevação. Os autores relacionaram o aumento da glicemia em cargas acima do limiar glicêmico com o aumento da glicogenólise e gliconeogênese induzida pelos hormônios adrenalina e glucagon, além da inibição de enzimas como a hexoquinase em função da diminuição do Ph. Em contrapartida, nosso estudo utilizou as cargas relativas ao 1RM de 60% para RML, 70% para hipertrofi a e 75% para força,. Comparando com os resultados do estudo citado, os protocolos estavam

acima do limiar glicêmico (menores valores da glicemia) para treinamento com pesos, quando os mecanismos de controle da glicemia estão mais ativos, mesmo assim os treinos com pesos apresentaram diminuição da glicemia quando comparados com os valores de repouso. A explicação na discrepância nos resultados, pode estar no fato da pesquisa de Oliveira et al.(2) ter utilizado um esforço progressivo até a exaustão e em nosso estudo o esforço foi intervalado com intensidade (carga) contínua.

Pascoe e Gladen(19), detectaram um aumento na taxa de ressíntese de glicose de 15.1 mMol.kg-1.min-1 para 33.6 mMol.kg.min, no treinamento com pesos. Esse tipo de exercício eleva substancialmente a utilização da glicose como fonte de energia. Com isso, a hipoglicemia pode ser um evento comum em iniciantes em programas de treinamento com pesos. Porém, as adaptações crônicas do treinamento com pesos podem ser positivas no controle da glicemia em repouso. Castaneda(20)

verifi cou que em indivíduos idosos após o período de treinamento com pesos realizado durante 16 semanas, houve diminuição da glicemia e aumento dos estoques de glicogênio muscular.

Os resultados do presente estudo apontam que os protocolos de RML e força, como esforços que menos alteram a glicemia de indivíduos destreinados em treinamento com pesos. Essa afi rmação é importante em relação à prescrição do treinamento para iniciantes no sentido de minimizar o estresse induzido pelo exercício no início do programa de exercícios com pesos.

Já os efeitos do exercício físico em relação ao diabetes, as pesquisas demonstraram efeitos positivos no controle da glicemia(21).

Willey e Singh (2003)(4) realizaram uma revisão bibliográfi ca sobre os efeito do exercício nos mecanismos de controle da glicemia e consideraram que o exercício aeróbio aumenta a sensibilidade à insulina e o controle da glicemia em pessoas idosas que possuem diabetes tipo II.

Kaln et al.(11) demonstraram aumento da sensibilidade à insulina, mas não ocorreu mudança no controle da glicemia durante

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treinamento aeróbio.Sobre os efeitos do treinamento com pesos,

Maiorana et al.(22) demonstraram efeitos positivos no controle da glicemia em diabéticos tipo II, após treinamento em circuito com exercícios de força, que consistia em exercícios de baixa intensidade curto período de repouso e alto volume, juntamente com exercícios aeróbios.

Em relação aos efeitos agudos do treinamento, os efeitos hipoglicemiantes, também podem ser benéfi cos para o portador de diabetes tipo II(23). Porém o estudo de Valle et al.(24) alerta para os efeitos agudos do exercício para o diabético tipo II, em relação aos esforços realizados acima do limiar glicêmico, como o aumento abrupto da freqüência cardíaca e pressão arterial.

No presente estudo, todos os protocolos de treinamento com pesos testados diminuíram signifi cantemente os valores da glicemia em relação ao estado de repouso. Portanto os dados sugerem que esses protocolos podem ser úteis em programa de exercícios físicos para portadores de diabetes. O protocolo de hipertrofi a foi o que mais diminui os valores da glicemia, demonstrando que o consumo de glicose nesse modelo de exercício é elevado, principalmente quando comparado com os protocolos de força e RML.

Baseado nos estudos citados acima, podemos afi rmar que o treinamento com pesos podem ser benéfi co no mecanismo de captação de glicose pelos músculos esqueléticos, principalmente o protocolo de treinamento de hipertrofi a, que neste trabalho consistiu em esforço de 70% de 1-RM, 10 a 12 repetições tempo de recuperação entre as séries de 1 minuto e velocidade de contração lenta. Porém os resultados da freqüência cardíaca e percepção subjetiva de esforço apontam o protocolo de hipertrofi a como o maior esforço quando comparado com outros protocolos de força testados(25). Essa informação é importante na prescrição do programa de treinamento com pesos para portadores de diabetes, uma vez que o perfi l dessa população é em geral de baixa aptidão física e estilo de vida sedentária. Ou seja, os protocolos de treinamentos com pesos podem ser manipulados pelo profi ssional

de Educação Física de forma a realizar uma progressão gradativa do esforço e aumentar a efi ciência do programa.

Algumas variáveis foram fatores limitantes da pesquisa, como a impossibilidade de informações sobre os efeitos crônicos do treinamento com pesos na glicemia, pois a metodologia utilizada foi do método transversal e a não mensuração de mais variáveis dependentes, por exemplo alterações hormonais. Porém os resultados demonstraram a efi ciência do músculo esquelético em difundir glicose do sangue para o interior de fi bras musculares, que consiste no principal mecanismo debilitado do portador de diabetes, seja por insufi ciência de insulina, ou a diminuição da sensibilidade à insulina dos receptores celulares. Portanto mais pesquisas podem ser realizadas no intuito de avançar esse conhecimento para otimizar e maximizar os programas de exercícios físicos para portadores de diabetes e minimizar os efeitos hipoglicemiantes em iniciantes em programas de treinamento com pesos.

CONCLUSÃO

A glicemia diminuiu signifi cativamente nos três protocolos de treinamento em relação ao repouso, portanto a hipoglicemia em iniciantes de treinamento com pesos é eminente.

Dentre os protocolos estudados, o treinamento de hipertrofi a foi o que mais induziu a hipoglicemia em sedentários, quando comparados com os protocolos de força e RML. Demonstrando que a prescrição e a periodização do treinamento com pesos devem levar em consideração as alterações metabólicas agudas, sendo assim o modelo de hipertrofi a estudado deve ser inserido no programa de treinamento com pesos com maiores cuidados para iniciantes, ou em momentos mais avançados do planejamento.

Por fi m, observou-se que em sedentários submetidos no treinamento com pesos, os valores diminuem signifi cativamente ao fi nal de uma sessão, porém o efeito hipoglicemiante dos treinamentos com pesos estudados podem ser benéfi cos para diabéticos.

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Endereço para correspondência: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] tel – (63) 8112-8108 ou (63)33122317- Coordenação de Educação Física UNIRG (63)3612-7612End – Rua C-7, quadra 15 lote 02, Setor Canaã, Gurupi - TO, CEP 77400-000

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ISSN 0102 - 8464

ARTIGO ORIGINAL

MOVIMENTO DA ARTICULAÇÃO DO TORNOZELO DURANTE TESTES DE CONTRAÇÃO VOLUNTÁRIA MÁXIMA ISOMÉTRICA DE

FLEXÃO PLANTAR

Movement of the ankle joint during isometric maximal voluntarycontraction tests of plantar fl exion

Francisco Xavier Monteiro Bezerra do Nascimento¹; Marco Túlio Baptista²;Leandro Kegler Nardes³; Cesar Ferreira Amorim4; Liliam Fernandes de Oliveira5

1 Escola de Educação Física do Exército – Rio de Janeiro – RJ – Brasil.2 Instituto de Pesquisa da Capacitação Física do Exército – Rio de Janeiro – RJ Brasil.

3 Diretoria de Pesquisa e Estudos de Pessoal – Rio de Janeiro – RJ – Brasil.4 University Of New Brunswick

5 Escola de Educação Física e Desportos/UFRJ – Rio de Janeiro – RJ – Brasil.

Resumo: A execução de contrações voluntárias máximas (CVM) isométricas é uma prática comum em estudos de mecânica muscular, particularmente para normalização de sinais eletromiográfi cos. Nesses testes, é importante a estabilização dos segmentos corporais, para uma leitura precisa do torque aplicado. Durante testes de CVM isométrica de fl exão plantar, ocorre uma inevitável rotação da articulação do tornozelo, em função da deformação dos tecidos periarticulares do tornozelo, com a elevada magnitude do torque produzido. O propósito deste estudo foi verifi car o movimento ocorrido na articulação do tornozelo durante a contração voluntária máxima isométrica de fl exão plantar, observando sua relação com o torque. Um grupo de 15 homens (18,4+0,6 anos; 67,2+6,4 kg; 174,0+9,1 cm) executou testes de CVM isométrica nas posições de joelho estendido (JE) e joelho fl etido (JF) em um dinamômetro isocinético Cybex. O pé direito foi fi xado fi rmemente ao adaptador do dinamômetro e fi lmado durante as contrações. Um pino aderido à face posterior do calcanhar apontou um deslocamento médio de 1,92+0,85 cm na posição JE, correspondente a um torque de 98,04+20,16 Nm e de 1,32+0,64 cm na posição JF, correspondente a um torque de 73,52+18,44 Nm. O teste de Wilcoxon foi utilizado para determinar as diferenças nos valores de deslocamento e de torque nas duas posições. Foram encontradas diferenças para as duas variáveis (p<0,05) e a correlação entre o torque produzido na fl exão plantar e o deslocamento observado no calcanhar foi de 0,56 (p<0,05). Os dados sugerem que a articulação do tornozelo sofre um movimento angular durante contrações voluntárias máximas ditas “isométricas” e que a amplitude deste movimento está relacionada com a magnitude do torque fl exor plantar produzido no esforço.Palavras chave: Flexão plantar; Contração voluntária máxima; Tríceps sural.

Abstract: The performance of isometric maximal voluntary contraction (MVC) is a common practice in studies of muscle mechanics, particularly for electromyographic signal normalization. In these tests, the stabilization of body segments is important, for an accurate reading of the applied torque. During isometric MVC plantar fl exion tests, there is an inevitable rotation of the joint, due to the deformation of the periarticular tissues of the ankle, with the high magnitude of torque produced. The purpose of this study was to verify the movement occurred in the ankle joint during an isometric maximal voluntary plantar fl exion contractions, noting their relationship to the torque produced during the effort. A group of 15 subjects (18.4+0.6 years, 67.2+6.4 kg, 174.0+9.1 cm) performed tests of isometric MVC at the extended knee (JE) and knee fl exed (JF) positions, on a Cybex isokinetic dynamometer. The right foot was fi rmly fi xed to the adapter of the dynamometer and recorded during contractions. A pin attached to the back of the heel showed an average calcanei displacement of 1.92+0.85 cm in the extended knee position, corresponding to a torque of 98.04+20.16 Nm and 1.32+0.64 cm in the fl exed knee position, corresponding to a torque of 73.52+18.44 Nm. The Wilcoxon test was used to verify the differences in displacement and torque values. Differences were found for both variables (p<0.05) and the correlation between the torque produced in plantar fl exion and the displacement observed in the calcanei was 0.56 (p<0.05). The data suggest that the ankle has an angular movement during maximal voluntary contractions called “isometric” and that the extent of this movement is related to the magnitude of the plantar fl exor torque produced in the effort.Key words: Plantarfl exion; Maximal voluntary contraction; Triceps surae.

INTRODUÇÃO

Estudos sobre as propriedades mecânicas do músculo tríceps sural in vivo, realizados através das

técnicas de ultrassonografi a e eletromiografi a de superfície, têm observado alterações na arquitetura muscular e na atividade mioelétrica deste grupamento durante contrações isométricas submáximas(1). A

Aceito em 23/10/2009 - Rev. Educ. Fís. 2010 - 10-14. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

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metodologia correta para a utilização da técnica de eletromiografi a prevê que sejam realizados testes de contração voluntária máxima (CVM), para que o nível de atividade mioelétrica em diferentes tarefas seja normalizado com sua atividade máxima(2). Um problema metodológico verifi cado nos testes de CVM em fl exão plantar é que ocorre uma inevitável e indesejável rotação articular do tornozelo durante a execução da CVM isométrica, mesmo com a devida fi xação do pé do indivíduo no adaptador do dinamômetro(3). Magnusson et al.(4) afi rmaram que é extremamente difícil evitar completamente a rotação da articulação do tornozelo durante uma CVM de fl exão plantar, que produz elevados valores de torque. Esta alteração no ângulo articular, por sua vez, provoca uma redução no comprimento dos fascículos musculares e um aumento no ângulo de penação das fi bras que modifi cam as propriedades mecânicas dos fl exores plantares(3). Kawakami et al.(5) observaram que uma fl exão plantar passiva de 15º provoca uma redução de 7,0 mm no comprimento dos fascículos do músculo gastrocnêmio medial e um aumento de 3º em seu ângulo de penação, concluindo que o torque gerado por um músculo é infl uenciado por fatores como a relação comprimento-tensão das fi bras, bem como por sua arquitetura muscular.

Estudos recentes mostram rotações de até 17º no ângulo articular do tornozelo durante fl exões plantares “isométricas”(1,3,6,7). Tais rotações podem infl uenciar de maneira signifi cativa as medidas da arquitetura muscular do tríceps sural em testes de CVM. O grau de rotação da articulação também deve ser levado em consideração nas medidas de complacência dos tendões, evitando que a deformação dos mesmos durante uma CVM seja superestimada(4).

Os estudos que medem a rotação do tornozelo em CVM de fl exão plantar utilizam metodologias complexas e onerosas, como pode ser observado nos trabalhos de Karamanidis et al.(3) e Arampatzis et al.(1), que utilizam sistemas de cinemetria com oito câmeras sincronizadas com sinais de pressão plantar.

O objetivo do presente estudo é verifi car o movimento articular do tornozelo em tarefas de contração voluntária máxima isométrica, por meio de uma metodologia simples e de baixo custo, observando sua relação com a magnitude do torque obtido durante a fl exão plantar.

METODOLOGIA

Quinze voluntários do sexo masculino (idade: 18,4 + 0,6 anos; massa corporal: 67,2 + 6,4 kg; estatura: 174,0 + 9,1 cm; circunferência da perna: 36,5 + 1,6 cm) participaram do presente estudo. Os participantes assinaram o termo de consentimento e o projeto foi aprovado no CEP do HUCFF/UFRJ. Os indivíduos foram posicionados em decúbito ventral em um dinamômetro isocinético Cybex Norm®. Um sapato tipo tênis de solado plano foi fi xado ao adaptador do dinamômetro (footplate), por meio de uma peça de metal. A articulação do tornozelo foi mantida na posição neutra (90°) e seu eixo – defi nido pelo ponto mais central do maléolo lateral do indivíduo – foi cuidadosamente alinhado com o eixo de rotação do dinamômetro. Para uma melhor fi xação, o pé dos indivíduos era envolvido por uma tira de velcro rígida, presa ao adaptador do dinamômetro com a máxima tensão possível, sempre pelo mesmo avaliador, com o objetivo de restringir o deslocamento da parte posterior do pé.

Após um período de aquecimento, que consistia de cinco fl exões plantares submáximas, os indivíduos foram instruídos a executar duas CVM na posição de joelho estendido (JE) e duas CVM na posição de joelho fl etido (JF), sendo registrado o torque máximo obtido no dinamômetro Cybex Norm®. Para a posição de joelho fl etido, os indivíduos se posicionaram em quatro apoios (mãos e joelhos), com a articulação dos joelhos fl exionada em 90°. A duração de cada CVM foi de quatro segundos, seguida de um intervalo de dois minutos. A sequência das posições de joelho foi defi nida aleatoriamente.

Para medir o deslocamento da parte posterior do pé dos indivíduos, o sistema pé/adaptador do dinamômetro foi fi lmado por uma câmera Sony Handcam 490X. Um pino de 5 cm foi fi xado ao calcanhar dos indivíduos e uma régua milimetrada posicionada logo acima do calcanhar, perpendicularmente ao pino. O deslocamento do calcanhar do indivíduo foi representado pela distância percorrida pela extremidade do pino durante a CVM, medida utilizando-se o software de análise de vídeos Dartfi sh 4.0®, conforme pode ser observado na FIGURA 1.

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FIGURA 1ANÁLISE DO DESLOCAMENTO DO

CALCANHAR DOS INDIVÍDUOS

Para verifi car as possíveis diferenças no deslocamento do calcanhar observado nos testes de JE e JF, bem como a diferença na magnitude do torque medido nas duas posições, foi utilizado o teste de Wilcoxon para duas amostras dependentes. O nível de signifi cância estabelecido foi de p<0,05. A relação entre o deslocamento do calcanhar e o torque, medidos durante a fl exão plantar, foi verifi cada através de uma correlação de Pearson.

RESULTADOS

O torque resultante, produzido durante a CVM em fl exão plantar, na posição de joelho estendido, foi de 98,04 + 20,16 Nm, com um deslocamento correspondente do calcanhar de 1,92 + 0,85 cm, representando a rotação da articulação do tornozelo durante o esforço. A CVM na posição de joelho fl etido apresentou uma redução estatisticamente signifi cativa (p<0,05) nos valores de torque (73,52 + 0,64 Nm) e do deslocamento correspondente do calcanhar (1,32 + 0,64 cm), como pode ser observado nos GRÁFICOS 1 e 2. O deslocamento do calcanhar apresentou correlação signifi cativa com a magnitude do torque de fl exão plantar (r=0,56; p<0,05; GRÁFICO 3).

GRÁFICO 1VALORES MÉDIOS (+ DP) DE TORQUE NAS

POSIÇÕES JE E JF.

* Diferença estatisticamente signifi cativa (p<0,05) entre as posições JE e JF

GRÁFICO 2 VALORES MÉDIOS (+ DP) DO DESLOCAMENTO

DO CALCANHAR NAS POSIÇÕES JE E JF.

* Diferença estatisticamente signifi cativa (p<0,05) entre as posições JE e JF

GRÁFICO 3CORRELAÇÃO ENTRE O TORQUE (Nm) E O

DESLOCAMENTO DO CALCANHAR (cm).

DISCUSSÃO

Durante a fl exão plantar isométrica máxima, a articulação do tornozelo sofreu uma rotação no sentido da fl exão plantar cuja magnitude foi relacionada com o torque produzido.

Diversos estudos mediram o deslocamento angular da articulação do tornozelo durante a CVM de fl exão plantar, utilizando técnicas distintas como a eletrogoniometria(1,6,8) e a cinemetria(1,3,7,9,10). Nos trabalhos de Karamanidis et al.(1,9) a fi lmagem do movimento articular foi feita através do sistema Vicon®, utilizando 8 câmeras de vídeo simultâneas, operando a 120 Hz. A análise dos vídeos foi feita pelo sistema SIMI®, que permite o registro preciso dos ângulos observados na articulação do tornozelo durante a fl exão plantar, de maneira sincronizada com o registro de outras variáveis.

No presente estudo, as imagens foram

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13Revista de Educação Física 2010; 10-14. Rio de Janeiro (RJ) - Brasil

analisadas através do sistema Dartfi sh®, que calculou o deslocamento linear do calcanhar. Embora com técnicas diferentes, o presente estudo confi rma trabalhos anteriores, que mostram alterações de 3,4° até 17° no ângulo do tornozelo durante a fl exão plantar “isométrica”(1,3,4,6).

Arampatzis et al.(10) e Karamanidis et al.(3) encontraram diferenças signifi cativas nos ângulos da articulação do tornozelo medidos em diferentes níveis de torque fl exor plantar. Naqueles estudos, os indivíduos seguiram uma rampa gradual de torque e tiveram o ângulo do tornozelo medido em intervalos correspondentes a um aumento percentual no torque de fl exão plantar. Partindo da posição inicial neutra (90°), o ângulo médio do tornozelo dos sujeitos aumentou para 98,8° a 45% da CVM e atingiu 107,3° a 100% da CVM(10).

O presente estudo também observou diferenças signifi cativas no deslocamento do calcanhar dos indivíduos, registrado em diferentes níveis de torque. As posições de joelho empregadas permitiram a execução de contrações voluntárias máximas que produzissem diferentes níveis de torque. Kawakami et al.(5) afi rmaram que a relação entre ângulos articulares e o torque é infl uenciada por fatores como a relação comprimento-tensão do músculo e pela arquitetura muscular de suas fi bras. Observaram também, que a fl exão do joelho a 90º provoca a redução do comprimento dos fascículos dos músculos gastrocnêmios (lateral e medial), colocando-os em condição desvantajosa para a produção de força.

De fato, a posição de joelho fl etido provocou uma redução signifi cativa na magnitude do torque fl exor plantar e do correspondente deslocamento do calcanhar dos indivíduos, de forma que o comportamento das duas variáveis apresentou uma correlação signifi cativa (r=0,56; p<0,05). Arampatzis et al.(1) compararam diferentes posições de joelho e tornozelo e observaram que nas posições de joelho mais fl exionado e tornozelo em maior grau de fl exão plantar, produziu-se menos força e a rotação da articulação do tornozelo foi menor.

Embora signifi cativa, a correlação observada não explica totalmente o movimento da articulação do tornozelo. Segundo Karamanidis et al.(3), o movimento articular do tornozelo ocorrido durante a CVM pode ser infl uenciado pelo dinamômetro utilizado. Os autores argumentam, no entanto,

que mesmo utilizando-se os mecanismos corretos de fi xação, o pé dos indivíduos não pode ser considerado um corpo rígido. Foi observado no presente estudo, que a cuidadosa fi xação do pé não impediu o deslocamento do calcanhar. A complacência do sistema pé/adaptador do dinamômetro, a deformação dos tecidos moles do pé, bem como o movimento entre a parte anterior e posterior do pé já foram observados em outros estudos(1,11) e podem ter infl uenciado parte do movimento articular ocorrido nos testes.

Cabe ressaltar que, antes do início de cada teste, o eixo da articulação do tornozelo foi cuidadosamente alinhado com o eixo do dinamômetro. A execução da CVM, no entanto, provocou o movimento articular, que acabou por desalinhar os eixos. Segundo Arampatzis et al.(10), esse desalinhamento infl uencia signifi cativamente os torques resultantes da fl exão plantar.

CONCLUSÃO

Os resultados do presente estudo sugerem que a articulação do tornozelo sofre um deslocamento angular durante contrações voluntárias máximas ditas “isométricas” e que a amplitude deste movimento está relacionada com a magnitude do torque fl exor plantar produzido no esforço. Portanto, cuidados devem ser adotados no sentido de minimizar este movimento.

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Endereço para correspondência: Francisco Xavier Monteiro Bezerra do NascimentoEndereço: Av. João Luis Alves, s/nº, Fortaleza de São João, Urca, Rio de Janeiro, RJTel: 2586-2234 / 2586-2248Email: [email protected]

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ARTIGO ORIGINAL

CORRELAÇÃO ENTRE FORÇA DE PREENSÃO MANUAL, DISTÂNCIA DA PREGA PALMAR MÉDIA E CIRCUNFERÊNCIA DE

ANTEBRAÇO.

Correlation between handgrip strength, palmar medial folddistance and forearm circunference

Bibiano Madrid1,2, Jeeser Alves de Almeida1, Glauber Flores Silva3, Rafael dos Santos Cruz3,Marcelo Magalhães de Sales1, Suliane Beatriz Rauber3

1 Programa de Pós-graduação em Educação Física, Universidade Católica de Brasília (UCB), Taguatinga-DF, Brasil.2 Laboratório de Avaliação Física e Treinamento (LAFIT-UCB).

3 Programa de Graduação em Educação Física – UCB.

Resumo: A força de preensão manual tem estado associada à mortalidade, limitações funcionais, incapacidade e estado nutricional. Porém, o dinamômetro sem ajuste de empunhadura, amplamente utilizado na literatura, poderia estar infl uenciando nos resultados obtidos. O objetivo do presente estudo foi correlacionar à força de preensão manual (FPM) em dinamômetro sem ajuste de empunhadura com a circunferência de antebraço e também com a distância da prega palmar média até a extremidade distal do dedo médio, verifi cando a infl uência desta última variável sobre a melhor empunhadura e sobre a utilização adequada ou não do dinamômetro de preensão manual sem ajuste para empunhadura em estudantes de educação física. A amostra foi composta de 17 estudantes de Educação Física (22,76±3,38 anos; 1,79±0,06 m; 73,95±9,11 kg; 23±2,32 kg/m2), que foram submetidos a medidas antropométricas (massa corporal, estatura, e circunferência do antebraço) e teste de força de preensão manual, realizando duas tentativas (com dois minutos de intervalo entre elas). Foi utilizada análise descritiva através de média, desvio padrão, valores máximos e mínimos. Também foi empregada correlação de Pearson, adotando-se p<0,05 e o software utilizado foi o Instat 3.0. A força de preensão manual (51,65±6,23 kgf) se correlacionou signifi cativamente com circunferência de antebraço (27,68±1,84 cm) (r=0,72), mas não mostrou correlação com a distância da prega palmar média (12,55±0,64 cm) (r=0,46). Verifi cou-se correlação signifi cativa entre a força de preensão manual e circunferência de antebraço, confi rmando a hipótese de que o maior perímetro de antebraço determinaria um maior nível de força de preensão manual. Em relação à força de preensão manual e distância da prega palmar média não se observou correlação signifi cativa, não confi rmando a hipótese de que o tamanho da mão infl uenciaria diretamente nos resultados de preensão manual em avaliação com dinamômetro sem ajuste de empunhadura.Palavras-chave: Força da Mão, Dinamômetro de Força Muscular, Mãos, Força Muscular.

Abstract: The handgrip has been associated with mortality, functional limitations, and disability status. However, the dynamometer without adjustment handle, widely used in literature, could be infl uencing the results The aim of this study was to correlate the handgrip (FPM) on dynamometer without adjustment of grip with the circumference of the forearm and also with the away from the middle palmar crease to the distal end of the middle fi nger, checking the infl uence of that variable on the best grip and the proper use or otherwise of the handgrip dynamometer without adjustment for grip in physical education students. The sample consisted of 17 physical education students (22.76±3.38 years, 1.79±0.06 m, 73.95±9.11 kg, 23±2.32 kg/m2), who underwent measures Anthropometric (body weight, height and circumference of the forearm) and test of grip strength, making two attempts (with two minute interval between them). Descriptive analysis was used as mean, standard deviation, maximum and minimum values. Was also used Pearson correlation, adopting p <0.05 and the software used was Instat 3.0. The grip strength (51.65±6.23 kg) correlated signifi cantly with forearm circumference (27.68±1.84 cm) (r=0.72), but showed no correlation with the distance from the middle palmar crease (12.55±0.64 cm) (r=0.46). There was signifi cant correlation enters the grip strength and forearm circumference, confi rming the hypothesis that the largest circumference of forearm determine a higher level of grip strength. Regarding grip strength and distance from the palmar crease mean there was no signifi cant correlation, not confi rming the hypothesis that the size of the hand directly infl uence the results of handgrip dynamometer in the evaluation without adjustment for grip.Keywords: Hand Strength, Muscle Strength Dynamometer, Hand, Muscle Strength.

INTRODUÇÃO

A mão é o segmento terminal do membro superior, continuação do punho e que termina distalmente

Aceito em 17/02/2010 - Rev. Educ. Fís. 2010 - 15-19. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

com os dedos. Seu limite proximal é dado por um plano horizontal que passa pelo pisiforme e pelo escafóide. Ela tem como elementos extraordinários, a preensão e a sensibilidade, comandadas pelo córtex

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cerebral. Descrevendo anatomicamente podemos dividi-la em duas regiões: ventral e dorsal. Na parte ventral encontram-se três pregas cutâneas, que são conseqüências de movimentos fi siológicos, como fl exão, extensão, e oponência. Estas pregas têm como referência uma fi gura em formato da letra “M” com sua base voltada para o lado ulnar. A prega palmar média (fi gura 1) está localizada cerca de 2,5 cm distal do arco arterial profundo e 1,5 cm distal do arco palmar superfi cial(1).

A força de preensão manual (FPM), mensurada por dinamometria, é uma importante variável relacionada ao crescimento e desenvolvimento biológico, que sofre drásticas alterações morfológicas com o passar dos anos, especialmente na segunda década de vida(2). A FPM tem sido um importante marcador da força total do indivíduo, sendo empregada em testes de aptidão física. Além disso, Barbosa et al.(3) associaram os níveis de FPM à mortalidade, limitações funcionais, incapacidade e estado nutricional.

Uma das variáveis que infl uenciam os níveis de força, especialmente a FPM, é a área de secção transversa da musculatura do antebraço, que estaria relacionada com o desenvolvimento global de força(4). Nesse sentido, Franchini et al.(4) demonstraram forte correlação entre a FPM e a circunferência do antebraço em lutadores de jiu-jítsu (r = 0,724). Já Bertuzzi et al.(5) realizaram um estudo relacionando o nível de FPM com variáveis antropométricas e observaram uma forte correlação somente com a circunferência do antebraço (r = 0,74). Além deste, Esteves et al.(6) atribuem melhores performances da FPM as proporções da mão dos avaliados que tinham a melhor empunhadura da distância da palma da mão até a articulação entre a primeira e segunda falanges, necessitando de mais estudos para confi rmações.

A utilização de dinamômetro com empunhadura ajustável para força de preensão manual necessita de recursos fi nanceiros maiores e, em função disto, modelos de dinamômetros sem esse artifício de ajuste são amplamente utilizados na literatura. Sendo assim, esse tipo de limitação de equipamento pode infl uenciar nos resultados obtidos e conseqüentemente numa avaliação incorreta do que se pretende mensurar.

Logo, o objetivo do presente estudo foi correlacionar a FPM em dinamômetro sem ajuste de empunhadura com a circunferência de antebraço (CA) e com a distância da prega palmar média até a extremidade distal do dedo médio (DPPM), verifi cando a infl uência desta última variável sobre a melhor empunhadura e

sobre a utilização adequada ou não do dinamômetro de preensão manual sem ajuste para empunhadura em estudantes de Educação Física.

METODOLOGIA

A amostra foi composta por 17 voluntários do sexo masculino (22,76 ± 3,38 anos; 1,79 ± 0,06 m; 73,95 ± 9,11 kg; 23 ± 2,32 kg/m2), acadêmicos do curso de Educação Física, recrutados por conveniência. Antes de iniciar as coletas todos os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.

Inicialmente a massa corporal foi mensurada em uma balança eletrônica (Toledo 2096 PP, com precisão de 50 gramas) e a estatura foi medida em um estadiômetro (Sanny Standard, com escala de dois mm). A circunferência do antebraço (CA) foi mensurada no antebraço dominante, com o braço relaxado e estendido ao longo do corpo, considerando CA a porção do membro que possuísse o maior perímetro. A prega palmar média foi tomada no arco arterial profundo (fi gura 1). A DPPM foi medida da prega palmar média até a extremidade distal do dedo médio da mão dominante. Essa variável foi mensurada com o cotovelo fl exionado, dedos estendidos e a mão em posição supina (Trena antropométrica Sanny, com escala de 0,10 mm).

FIGURA 1LOCALIZAÇÃO DA PREGA PALMAR MÉDIA

TOMADA NO ARCO ARTERIAL

Para aferição da força de preensão manual (FPM) o instrumento utilizado foi um dinamômetro (Crown - calibrado com escala de 0 a 100 Kgf), onde o voluntário fi cava na posição em pé, com o braço dominante estendido ao longo do corpo empunhando o dinamômetro. Ao sinal do avaliador o voluntário realizava uma preensão máxima voluntária (conforme descrito pelo fabricante).

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Após dois minutos o procedimento era repetido, foi adotado como a FPM o maior valor absoluto das duas tentativas para cada indivíduo, conforme utilizado por Madrid et al.(7).

Para descrição dos dados foi utilizada análise descritiva através de média e desvio padrão (DP) e valores máximos e mínimos. Foi empregada correlação de Pearson e o software Instat versão 3.0 para verifi car signifi cância, adotando-se p<0,05.

RESULTADOS

Os valores de força de preensão manual (FPM), distância da prega palmar média (DPPM) e circunferência do antebraço (CA) estão apresentadas na TABELA 1 em média, desvio-padrão (DP), mínimo e máximo.

FPM

(kgf)

DPPM

(cm)

CA

(cm)

Média 51,65 12,55 27,68

DP 6,23 0,64 1,84

Mínimo 44,5 11,0 24,2

Máximo 69,0 13,6 31,5

TABELA 1RESULTADOS PRINCIPAIS EM MÉDIA,

DESVIO PADRÃO

Força de preensão manual (FPM), distância da prega palmar média (DPPM) e circunferên-cia do antebraço (CA).

Na TABELA 2 estão apresentados os valores de correlação de Pearson entre FPM, DPPM e CA (p < 0,05), onde se obteve correlação signifi cativa somente entre a FPM e CA (r = 0,72).

TABELA 2MATRIZ DE CORRELAÇÕES ENTRE FORÇA DE PREENSÃO MANUAL (FPM), DISTÂNCIA

DA PREGA PALMAR MÉDIA (DPPM) E CIRCUNFERÊNCIA DE ANTEBRAÇO (CA).

DPPM CA

FPM r = 0,46 r = 0,72*

*Diferença signifi cativa (p<0,05)

DISCUSSÃO

O objetivo do presente estudo foi correlacionar a força de preensão manual (FPM) utilizando um dinamômetro sem ajuste de empunhadura, com a

circunferência de antebraço (CA) e a distância da prega palmar média até a extremidade distal do dedo médio (DPPM) em estudantes de educação física. Encontramos correlação signifi cativa para a relação da FPM com a CA (r = 0,72), mas não obtivemos correlações signifi cativas entre a FPM e a DPPM (r = 0,46). O teste de preensão manual mede a força da musculatura fl exora dos dedos da mão e pode ser aplicado em ambos os sexos, com boa fi dedignidade (r = 0,90)(8).

Nossos resultados de FPM (51,65 ± 6,23 kgf) são similares aos de Franchini et al.(4) em lutadores de jiu-jítsu (54,2 ± 6,7 kgf), porém, superiores aos de Pasetti et al.(9) com mulheres obesas submetidas a 17 semanas de treinamento de corrida em piscina profunda (31,52 ± 6,55 kgf), assim como os de Madrid et al.(7) em idosas com idade entre 60 e 69 anos e entre 70 e 79 anos praticantes de musculação (26,88 ± 4,19 kgf e 25,06 ± 3,11 kgf, respectivamente).

Watts et al.(10) verifi caram que a FPM de escaladores competitivos não diferiram entre fi nalistas e semifi nalistas de uma etapa da Copa do Mundo de Escalada Esportiva Indoor. Contudo, comparados a sujeitos sedentários, os valores apresentados por esses atletas eram superiores demonstrando de forma prática que o método de avaliação da FPM caracteriza, com confi ança, os níveis de condicionamento e de força de membros superiores.

Moreira et al.(11), utilizando atletas de jiu-jítsu, correlacionaram à preensão manual com a circunferência de antebraço, encontrando uma baixa correlação (r = 0,54), ao passo que, Franchini et al.(4) com a mesma população encontraram correlação idêntica a nossa (r = 0,72). Os valores de CA do nosso estudo em estudantes de Educação física (27,68 ± 1,84 cm) foram similares aos escaladores de elite (26,6 ± 1,2 cm), recreacionais (26,5 ± 0,9 cm)(12) e judocas (28,6 ± 1,9)(13). Em contrapartida inferiores aos de culturistas (31,85 ± 1,83 cm)(14), possivelmente em função de treinamentos específi cos e probabilidade de benefícios advindos de recursos ergogênicos, comumente utilizados nessa população.

Em um estudo similar, porém em outra população, autores analisaram as dimensões antropométricas da mão e a força de preensão palmar em 189 jogadores de handebol e basquetebol de 10 a 17 anos, e não foi observada correlação signifi cativa(15). Os autores asseguraram que o tamanho da mão não exerce infl uência na força de preensão. Eles utilizaram

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três valores antropométricos relacionados à mão: extensão, comprimento dos dedos e perímetro da mão, a força de preensão foi medida com a mão dominante, usando-se o dinamômetro Lafayette®. Concluíram que os parâmetros antropométricos gerais, como peso e altura, foram mais importantes para dimensionar a força máxima de preensão palmar. Em outro estudo, Ruiz-Ruiz et al.(16), constataram que o tamanho da mão exercia infl uências na força de preensão em mulheres adultas.

Não haver correlação signifi cativa entre os valores de DPPM e a FPM nos mostra que possivelmente a utilização de um dinamômetro de preensão manual sem ajustes não seja um fator que altere os resultados de maneira direta, pois a hipótese de quanto maior a mão do avaliado maior a força gerada foi rejeitada no presente estudo. Os valores de FPM e CA encontrados em nosso estudo estão de acordo com o documentado na literatura. Já quanto a DPPM não foram encontrados valores de referência.

A fi m de ampliar o conhecimento acerca dos achados no presente artigo, sugerem-se estudos com amostras maiores, diferentes populações, bem como a comparação dos valores de FPM obtidos em dinamômetros com e sem ajustes de empunhadura.

CONCLUSÃO

A força de preensão manual (FPM) foi positivamente correlacionada com a circunferência de antebraço (CA), confi rmando a hipótese de que quanto maior o perímetro do antebraço, maiores são os níveis de FPM. Já para correlação entre a FPM e DPPM não se observou correlação signifi cativa, rejeitando assim a hipótese de que o tamanho da mão infl uenciaria diretamente nos resultados de preensão manual em avaliação com dinamômetro sem ajuste de empunhadura. O que nos faz sugerir que para a população estudada o dinamômetro sem ajuste de empunhadura não interfere diretamente nos resultados de FPM.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Endereço para correspondência:UCB – LAFITQS 07, Lote 01, S/N, Bloco G, Sala 120 D.Cep: 71966-700. Bairro Areal. Taguatinga-DF.Telefones: (61) 3356-9044.Fax: (61) 3356-9350.e-mail: [email protected]

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ARTIGO ORIGINAL

EFEITO DA MASSOTERAPIA NOS SINTOMAS DA DORMUSCULAR TARDIA

Effects of massage on delayed-onset muscle sorenessJuliane Cabral Silva1, Charles de Souza Vieira1, Lucas Pereira Lopes de Souza1, Rodrigo Cappato de Araújo1

1 Universidade de Pernambuco, Petrolina/PE

Resumo: A dor muscular tardia está associada a exercícios não-acostumados principalmente de natureza excêntrica, tendo seu pico entre 24-72h e caracteriza-se pelo aparecimento de dor, rigidez, edema e redução na amplitude de movimento (ADM). O estudo tem como objetivo observar os efeitos da massoterapia sobre os sintomas da dor muscular tardia. Vinte voluntários foram divididos de forma aleatória em dois grupos contendo dez pessoas cada, onde ambos realizaram 3 séries com 10 contrações excêntricas sub-máximas do músculo tríceps sural, sendo um grupo controle e outro submetido a um protocolo de massoterapia logo após o exercício. Foram avaliadas ADM de joelho e tornozelo, perimetria da perna e a dor através da escala visual analógica. Essas avaliações ocorreram antes, após, 24, 48 e 72 horas após o protocolo de exercício. A análise estatística foi feita por meio do teste ANOVA pos hoc Tukey, com nível de signifi cância de 5%. O grupo controle e o grupo de massoterapia apresentaram pico de dor 48 horas após o exercício. O grupo controle ainda apresentou diminuição do movimento de extensão ativa da articulação do joelho, enquanto o grupo que sofreu a intervenção não apresentou alterações signifi cantes na amplitude de movimento. Conclui-se que a técnica é efi caz para evitar a redução de amplitude de extensão ativa do joelho, porém não reduz a dor após um exercício excêntrico não acostumado. Palavras-chave: Dor muscular tardia, massoterapia, exercício excêntrico.

Abstract: Delayed on-set muscle soreness is associated with unaccustomed exercise mainly eccentric nature, the intensity of soreness increases during the fi rst 24-72 hours and it is characterized by appearance of pain, stiffness, swelling and reduction in range of motion (ROM). The objective of this study was to observe the effect of the massage on the symptoms of delayed on-set muscle soreness. Twenty volunteers were randomly assigned to either a massage or control group. The volunteers realized 3 sets of 10 submaximal eccentric contractions of the triceps sural muscle. ROM of knee and ankle, perimetry of the leg and pain were evaluated. These evaluations occurred before, after, 24, 48 and 72 hours after the exercise protocol. The statistics analysis was evaluated by ANOVA and Tukey pos hoc test. Statistical signifi cance was set at p < 0.05. The control and massage groups presented peak of pain 48 hours after the exercise. The group control still presented reduction of the movement of active extension of the knee joint, while the group that suffered the intervention did not present signifi cant alterations in the range of motion. The massage technique is effi cient to prevent the reduction of range of active knee extension, however does not reduce pain after an unaccustomed eccentric exercise.Key-words: Delayed muscle soreness, massage, eccentric exercise.

INTRODUÇÃO

Dor muscular tardia (DMT) é um desconforto no músculo esquelético após exercícios excêntricos(1,2,3,4) ou isométrico intenso(2). É classificada como um tipo de lesão por tensão muscular(5), apresentando redução da amplitude de movimento articular(6,7,8), edema(9) e sensibilidade ou rigidez a palpação e/ou movimento(5). A intensidade do desconforto aumenta nas primeiras 24 horas após o término do exercício, apresentando um pico nas 48 horas, diminuindo e eventualmente desaparecendo entre 5-7 dias pós-exercício(10,

11,12).

Aceito em 22/10/2009 - Rev. Educ. Fís. 2010 - 20-26. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

0O fenômeno da dor muscular tardia é explicado como sendo uma tensão mecânica gerada no tecido muscular e no tecido conectivo durante as contrações excêntricas por uma diminuição na atividade das unidades motoras causando microlesões que desencadeiam um influxo de íons cálcio do interstício para o interior da fibra muscular, bem como a marginação de neutrófilos. O excesso desse íon antecipa uma fase autogênica, resultando uma lesão progressiva das miofibrilas e da membrana plasmática, gerando uma reação inflamatória local(13), conseqüentemente o aparecimento do edema, que irá comprimir as terminações nervosas gerando dor(14),

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reduzindo a amplitude de movimento e a capacidade de gerar força(15).

Com o surgimento destes sintomas, haverá uma alteração biomecânica nos músculos e articulações afetados, limitando a funcionalidade dessas estruturas e conseqüentemente a execução das atividades de vida diária em indivíduos que praticam exercícios físicos por lazer, bem como, pode acarretar impacto negativo no desempenho de atletas submetidos às intensas temporadas de treinamentos e competições. Por isso, são importantes estudos que busquem minimizar os sintomas relacionados a este quadro, a fim de melhorar a qualidade de vida da população e o desempenho dos atletas(15).

Várias estratégias de tratamento para o alivio dos sintomas da DMT tem sido testadas por diferentes pesquisadores, sempre com o objetivo de restaurar a função máxima do músculo o mais precoce possível e reduzir a magnitude da lesão inicial. Para isso, os estudos tem utilizado a crioterapia(16), o exercício de alongamento muscular antes e/ou pós-exercicio(5), administração de drogas anti-inflamatórias(17), aplicação do ultra-som(18) e outras correntes elétricas, assim como a massoterapia(8). A massagem muscular pode ser uma terapia alternativa, já que é popular e possivelmente efetiva por aumentar a quantidade de fluxo sanguíneo oxigenado e linfático para a área lesionada, diminui produção de edemas e reduz tônus muscular(19). Estudos referem diminuição da DMT quando a massagem é aplicada 2 horas após exercício(20,21,22), porém não há referência quanto a evitar redução de amplitude de movimento, nem a aplicação da técnica apenas imediatamente após o exercício excêntrico. Quanto às técnicas mais utilizadas temos a Petrissage e Effleurage, variando no tempo de aplicação de cada uma.

Então associando estas técnicas e o alisamento superficial durante 30 minutos, este estudo diferencia-se dos demais quanto ao início da aplicação da massagem, bem como no tempo de cada técnica utilizada; e objetiva analisar os efeitos da massagem no edema, na redução da amplitude de movimento e dor, os quais são sinais e sintomas presentes após a realização de tarefas excêntricas intensas.

METODOLOGIA

SujeitosTrata-se de um estudo clínico randomizado

controlado, que foi realizado em 20 voluntários de ambos os sexos, com idade variando entre 18 e 30 anos, todos sedentários e que foram divididos em dois grupos: Grupo Controle composto por 10 indivíduos, os quais não sofreram intervenção, mas participaram de todas as etapas de avaliação; e Grupo Massoterapia composto por 10 indivíduos, estes foram submetidos a um protocolo de massoterapia. Foram incluídos os voluntários que não estivessem participando de nenhum programa de exercício ou qualquer outra atividade física há pelo menos três meses e excluídos os que apresentaram história de lesões musculoesqueléticas e/ou cirurgias nos membros inferiores. Todos os voluntários receberam informações para participar do estudo, leram e assinaram um termo de consentimento, segundo a resolução nº 196/96 do Conselho Nacional da Saúde. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade de Pernambuco.

ProcedimentosInicialmente, cada voluntário foi submetido

a uma avaliação física, na qual foram colhidos dados pessoais e antropométricos, abordando questões relacionadas à história de traumas prévios nos membros inferiores, além de um questionamento sobre as atividades físicas realizadas pelos voluntários. Após isso, mensurou-se a dor através do método EVA, escala visual analógica, que é composta por uma reta medindo 10 centímetros, na qual o indivíduo marca um ponto de acordo com a intensidade de sua dor, sendo zero, ausência de dor e dez a máxima dor referida.

A amplitude de movimento passiva e ativa das articulações do joelho e tornozelo foi avaliada por meio de um goniômetro universal de 360º da marca CARCI. No movimento de fl exão do joelho o voluntário encontrava-se inicialmente em decúbito ventral com os joelhos estendidos, com o goniômetro posicionado no eixo da articulação do joelho, o braço fi xo posicionado em paralelo ao fêmur e o braço móvel acompanhava movimento de fl exão da perna. A extensão do joelho foi avaliada com o voluntário em decúbito

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ventral com o membro inferior estendido, com goniômetro posicionado no eixo da articulação do joelho, o braço fi xo e móvel foram colocados em paralelo à coxa e à perna, respectivamente e solicitado que o voluntário realizasse a extensão máxima do joelho. Para a mensuração dos movimentos de dorsi-fl exão e na fl exão-plantar do tornozelo, cada voluntário foi avaliado em decúbito ventral com o joelho fl etido a 90º e o tornozelo em neutro (posição anatômica), com goniômetro posicionado no eixo da articulação, o braço fi xo paralelo à fíbula e o braço móvel na direção do quinto metatarso. Todas as medições foram realizadas por um único avaliador e repetidas três vezes para que se obtivesse um valor médio.

Para a avaliação da presença de edema na região da perna, foi utilizada a técnica de perimetria, utilizando uma fi ta métrica para a mensuração do diâmetro de seis pontos com cinco centímetros de distância entre eles, partindo da tuberosidade da tíbia até o maléolo lateral. A avaliação da dor, amplitude de movimento e edema foi feita antes, logo após e 24h, 48h e 72h após o exercício.

Após a avaliação o voluntário foi submetido a um protocolo de indução de dor para a musculatura do tríceps sural direito. Para a prática desse protocolo, foi calculada a resistência máxima do indivíduo através do teste de RM onde, 1RM é defi nido como a maior carga que pode ser movida por uma amplitude específi ca de movimento uma única vez e com execução correta; após ter sido defi nido a 1RM, foram calculados 90% da mesma, defi nindo assim a carga máxima a ser utilizada no exercício.

Os voluntários realizaram o exercício no aparelho da marca Nakagym, modelo Smith Machine 1.18 NK6020, ficando em posição ortostática com os pés apoiadas sobre uma plataforma declinada a 15 graus e com a carga apoiada nos ombros. Inicialmente, foi realizado com apoio bipodal a contração concêntrica do músculo tríceps sural (FIGURA 1A), posteriormente, foi realizada com apoio unipodal direito, a contração excêntrica (FIGURA 1B). Foram realizadas três seções de dez repetições desse exercício a fim de provocar as microlesões necessárias para o aparecimento da dor muscular tardia.

FIGURA 1. FASE CONCÊNTRICA DO MOVIMENTO REALIZADA COM APOIO

BIPODAL (A) E FASE EXCÊNTRICA REALIZADA COM APOIO UNIPODAL (B).

Nos voluntários do Grupo Massoterapia foram realizados 30 minutos de massagem, sendo aplicada, 5 minutos da técnica de alisamento superfi cial, realizada de forma lenta e suave e em qualquer direção; em seguida foram aplicados 15 minutos de manipulações de Pétrissage, nessa técnica estão incluídos os movimentos de amassamento, torcedura e rolamento da pele. O amassamento com os polegares, aplicado durante 5 minutos, foi realizado em um movimento circular e de forma lenta, sendo a pressão aplicada durante metade do movimento e liberada durante a outra metade, para que ocorresse o relaxamento da pressão. Na torcedura, os polegares assumiram uma posição de grande abdução em relação aos dedos, os tecidos foram agarrados com ambas as mãos, levantados e em seguida comprimidos entre os dedos e os polegares da mão oposta; as mãos operaram transversalmente às fi bras musculares, aplicada com uma velocidade de lenta a média e por 5 minutos. O rolamento foi feito de forma lenta, durante 5 minutos, e consistiu em produzir uma prega de pele entre os dedos e os polegares, os polegares comprimiram os tecidos na direção dos dedos, rolando-os em um movimento ondular, e afastando-os do terapeuta. Para encerrar foram aplicados 10 minutos da técnica effl eurage, administrada na direção do fl uxo venoso e linfático com movimentos suaves e rítmicos direcionando para os linfonodos poplíteos e que consiste em manobras de deslizamento superfi cial realizada com a região palmar e dedos.

Todos os procedimentos de avaliação, bem como a realização de todas as técnicas

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23Revista de Educação Física 2010; 20-26. Rio de Janeiro (RJ) - Brasil

de massagem foram realizados pelo mesmo fi sioterapeuta, em todos os voluntários da pesquisa.

Análise EstatísticaTodos os procedimentos estatísticos foram

realizados por meio do programa SPSS versão 11.0. Antes da análise de cada variável, a normalidade na distribuição dos dados foi verificada por meio do teste de Kolmogorov-Smirnov. As comparações dos dados da EVA e perimetria foram realizadas por meio de uma análise de variância (ANOVA) e pos hoc Tukey, enquanto que os dados de amplitude de movimento foram analisados com o ANOVA de Friedman e pos hoc Dunn. Em todas as situações foi utilizado um nível de significância de p≤0,05.

RESULTADOSO GRÁFICO 1 apresenta os escores da

escala visual analógica (EVA) para os dois grupos avaliados. A comparação intragrupo demonstrou um aumento significativo (p<0,01) dos níveis de dor 48 horas após a realização do exercício em ambos os grupos. No entanto, a análise intergrupo não apresentou diferença estatística, sugerindo ineficácia das técnicas utilizadas na prevenção da dor muscular tardia nesse tipo de exercício e no grupo muscular analisado.

As TABELAS 1 e 2 apresentam os resultados absolutos, identificando os valores de amplitude articular de movimento e perimetria, respectivamente. Em relação à análise da perimetria, não foi possível observar

GRÁFICO 1. COMPORTAMENTO DOS VALORES DA ESCALA VISUAL ANALÓGICA

(EVA) AO LONGO DAS PRIMEIRAS72 HORAS APÓS A REALIZAÇÃO DO

PROTOCOLO DE EXERCÍCIO.

a presença de edema em nenhum dos dois grupos ao longo do estudo. Já os valores de goniometria demonstraram uma diminuição da amplitude movimento de extensão do joelho no grupo controle, 48 horas após o exercício (p= 0,029), quando comparado aos valores pré-exercício. No entanto, o grupo submetido à técnica de massoterapia não apresentou diminuição da amplitude de movimento das articulações do joelho e tornozelo.

Pré-exercício

Pós-exercício 24 horas 48 horas 72 horas

Grupo Controle

Flexão joelho 130,7 ± 7,1 131,2 ± 5,2 132,9 ± 5,8 133,5 ± 9,7 133,4 ± 7,7

Extensão joelho 180,4 ± 1,2 180,4 ± 1,2 180,3 ± 1,3 178,7 ± 1,6* 179,6 ± 0,8

Flexão Plantar 57,8 ± 15,6 61,2 ± 16,6 61,1 ± 14,9 62,2 ± 12,4 62,6 ± 15,4

Dorsi Flexão 14,1 ± 5,4 15,2 ± 5,1 15,1 ± 4,3 16,6 ± 6,2 16,6 ± 5,0

Grupo Massoterapia

Flexão joelho 132,7 ± 6,0 130,3 ± 6,0 133,4 ± 6,8 129,9 ± 5,9 130,5 ± 8,7

Extensão joelho 180 ± 0 180 ± 0 180 ± 0 178,9 ± 2,4 178,8 ± 2,1

Flexão Plantar 53,9 ± 13,3 53,2 ± 12,2 54,9 ± 12,3 54,2 ± 14,5 55,6 ± 15,2

Dorsi Flexão 14,2 ± 6,3 14,4 ± 6,3 16,6 ± 7,4 15,4 ± 7,3 15,5 ± 7,3

* diferença significativa em relação à medida pré-exercício

TABELA 1. MÉDIA E DESVIO-PADRÃODOS VALORES DE AMPLITUDE DE

MOVIMENTO DAS ARTICULAÇÕES DE JOELHO E TORNOZELO.

TABELA 2. MÉDIA E DESVIO-PADRÃODOS VALORES DE PERIMETRIA

DA PERNA AVALIADA.

Pré Pós 24 horas 48 horas 72 horas

Grupo Controle

Ponto 1 33,3 ± 1,97 33,4 ± 1,92 33,3± 2,01 33,3 ± 2,05 33,2 ± 2,04

Ponto 2 33,9 ± 1,87 34,5 ± 2,03 34,1 ± 1,91 34,3 ± 2,07 34,2 ± 2,1

Ponto 3 32,6 ± 1,89 33,2 ± 2,10 32,5 ± 2,02 32,8 ± 2,08 32,6 ± 2,19

Ponto 4 28,9 ± 1,99 29,0 ± 1,94 28,6 ±1,96 28,9 ± 1,99 28,8 ± 1,95

Ponto 5 24,9 ± 1,69 25,0 ± 1,83 24,5 ± 1,73 24,9 ± 1,85 24,9 ± 1,95

Ponto 6 21,8 ± 1,23 21,9 ± 1,29 21,7± 1,27 21,8 ± 1,45 21,8 ± 1,35

Grupo Massoterapia

Ponto 1 32,9 ± 2,67 33,0 ± 2,21 32,4 ± 2,15 32,4 ± 2,06 32,4 ± 2,22

Ponto 2 33,8 ± 2,18 34,4 ± 2,21 33,9 ± 2,01 34,0 ± 2,1 33,9 ± 2,24

Ponto 3 32,6 ± 2,31 33,1 ± 2,28 32,8 ± 2,25 32,9 ± 2,1 32,8 ± 2,43

Ponto 4 28,8 ± 2,41 29,1 ± 2,32 29,0 ± 2,30 28,9 ± 2,2 29,0 ± 2,8

Ponto 5 24,8 ± 2,11 24,9 ± 2,08 24,8 ± 2,05 24,8 ± 1,83 24,9 ± 2,1

Ponto 6 21,6 ± 1,56 21,6 ± 1,56 21,5 ± 1,45 21,6 ± 1,42 21,6 ± 1,48

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DISCUSSÃO

O principal objetivo do presente estudo foi investigar o efeito da massoterapia nos sintomas da dor muscular tardia. Para isso, foram aplicados 30 minutos de massagem realizada imediatamente após o exercício excêntrico, sendo avaliada a amplitude de movimento, a presença do edema e a intensidade da dor. Os resultados sugerem que o protocolo foi efi caz na prevenção da redução da amplitude do movimento de extensão ativa do joelho, entretanto, o mesmo não foi efi caz na diminuição da dor.

O protocolo de massagem realizado neste estudo parece ter sido efi caz na redução da perda de amplitude de movimento, visto que a pressão mecânica aplicada sobre o músculo tríceps sural diminuiu a rigidez músculo-tendínea(23) permitindo a manutenção da fl exibilidade tecidual. Entretanto, alguns estudos questionam a efi cácia da massagem na manutenção da ADM após a indução da dor muscular tardia, isso se deve as limitações metodológicas e técnicas utilizadas(7, 8). Neste estudo fazendo o uso do deslizamento superfi cial, petrissage e effl eurage durante 30 minutos logo após o exercício parece ter evitado a perda de amplitude de movimento, contrastando com o trabalho de Hilbert et al(7) que aplicou 2 horas após o exercício 20 minutos de effl eurage, tapotagem e petrissage; e o de Zainuddin et al(8) que aplicou 3 horas após o exercício 10 minutos das técnicas de effl eurage, fricção e petrissage e não obtiveram diminuição da perda de amplitude de movimento. Os resultados obtidos devem estar relacionados às técnicas utilizadas, já que o presente estudo não fez uso da técnica de tapotagem, devido à mesma estimular uma ação refl exa do fuso muscular(24), o que poderia aumentar a rigidez muscular; e nem da fricção que tem como objetivo quebrar adesões de lesões antigas(25), o qual não se encaixa no tratamento da dor muscular tardia que é causada por microlesões recentes. As demais técnicas utilizadas têm como principais objetivos o relaxamento e mobilização do tecido muscular e subcutâneo(26).

No entanto, os resultados encontrados na literatura e no presente estudo podem ter sido infl uenciados pela variabilidade inerente da medida goniométrica manual. Sugerindo assim, a realização de estudos que utilizem instrumentos

mais precisos, afi m de elucidar realmente o efeito de tais recursos na minimização da redução de ADM em casos de dor muscular tardia.

Segundo nossos resultados, o grupo controle apresentou evolução da dor como encontrado na literatura, com picos de 48 horas(10,11,12), mostrando que o protocolo de exercício para indução de dor foi positivo neste estudo. A massagem utilizada logo após o exercício excêntrico não obteve resultados favoráveis quanto à redução da dor, isto possivelmente se deve ao fato de que a massagem aplicada imediatamente agiu como um fator pró-infl amatório, devido a uma vasodilatação inicial pela estimulação do sistema nervoso parassimpático(26), conseqüentemente um aumento da circulação sanguínea(1), bem como da permeabilidade destes vasos facilitando a migração de células infl amatórias ao local das microlesões que ao liberarem prostaglandinas aumentaram a sensibilidade dos receptores de dor(4). Já ao iniciar a massagem 2 horas após o exercício, mesmo com duração de aplicação diferentes, estudos comprovaram a efi cácia da massagem na redução da dor, tendo Smith et al (22) aplicado 30 minutos de massagem, enquanto Rodenburg et al(27), aplicou 15 minutos de massagem obtendo resultados em comum, como a redução da dor muscular tardia e da creatina quinase, mostrando que de acordo com o tempo que a massagem é iniciada, ela age de maneira diferente no processo infl amatório, podendo contribuir ou reduzir com a infl amação.

Logo, a massagem pode ser efetiva na redução da dor muscular tardia, dependendo do tempo que se inicia a aplicação da técnica, bem como na prevenção da diminuição da amplitude de movimento, estando os efeitos relacionados às técnicas utilizadas; sendo, portanto, importante que novos estudos verifi quem a efi cácia do protocolo de massagem utilizado neste artigo aplicado algumas horas após o exercício excêntrico.

CONCLUSÃO

No tratamento de dor muscular tardia, a massoterapia aplicada logo após o exercício excêntrico parece ser efi caz na redução da perda de amplitude de movimento de extensão ativa do joelho; porém não reduz a dor que

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25Revista de Educação Física 2010; 20-26. Rio de Janeiro (RJ) - Brasil

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tem o seu pico em 48 horas. Entretanto, é necessária a realização de novos estudos que avaliem diferentes grupos musculares, em outras populações e que principalmente utilizem métodos mais precisos que o goniômetro manual para fi nalmente determinar os verdadeiros efeitos da massoterapia na manutenção da ADM na presença da dor muscular tardia.

AGRADECIMENTOS

Nós agradecemos à direção da academia Espaço Fitness por disponibilizar os aparelhos e o espaço para a realização dessa pesquisa e aos voluntários que foram importantes instrumentos para o desenvolvimento da mesma.

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Endereço para correspondência:Prof. Rodrigo Cappato de AraújoUniversidade de Pernambuco – Campus PetrolinaBR 203 Km2 S/NVila Eduardo – Petrolina – PECEP 56.300-000Email: [email protected] [email protected]@[email protected]

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EDUCAÇÃO FÍSICAREVISTA DE

ISSN 0102 - 8464

ARTIGO DE ORIGINAL

ASSOCIAÇÕES ENTRE AUTO-CONCEITO FÍSICO E MOTIVAÇÃO PARA O EXERCÍCIO EM ADOLESCENTES: INTERACÇÕES COM O

NÍVEL DE PRÁTICA E O GÉNERO

Associations between physical-self and exercise motivation in adolescents: interactions with physical activity level and gender

Mónica Silva 1; António Labisa Palmeira1

1 Centro de Estudos e Intervenção em Educação e Formação

Faculdade de Educação Física e DesportoUniversidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

Resumo: Este estudo analisou o auto-conceito físico e a importância atribuída ao auto-conceito em adolescentes, estudando a sua associação com a motivação para a prática de actividade física e verifi cando se varia consoante o nível de actividade física e género. Método: Participaram neste estudo 460 estudantes (223 do sexo feminino e 237 do sexo masculino, M=16.60 e DP=1.18 anos). Utilizaram-se os instrumentos Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire - 2 (BREQ-2, Palmeira et al, 2007, .58<alfa<.83), para avaliação motivação para o exercício e o Physical Self-Perception Profi le R (PSPP-R, Palmeira et al, 2009, .75<alfa<.89), para avaliação do auto-conceito físico. O estudo comparativo foi realizado através da MANOVA, enquanto que o estudo correlacional foi efectuado através da correlação de Pearson. Resultados: Os adolescentes que praticam desporto federado tem valores signifi cativamente superiores aos restantes grupos (desporto não federado e só Educação Física) na maioria das di-mensões do auto-conceito físico, importância atribuída às dimensões de auto-conceito e motivação. Os moços registaram valores mais elevados no auto-conceito físico (com excepção do corpo atractivo onde não se registaram diferenças) e motivação quando comparados com as moças (p<.05). No entanto, as moças e moços do grupo que pratica desporto federado apresentam valores muito próximos de auto-conceito físico e motivação. As regulações motivacionais menos auto-determinadas apresentaram associações negativas com o auto-conceito físico, enquanto que as mais auto-determinadas revelaram associações positivas (p<.05). Conclusões: Este estudo sugere que quanto maior o nível de prática, mais elevados são os valores de auto-conceito físico, importância atribuída às dimensões do auto-conceito e motivação, o que deve promover a manutenção da prática de actividade física no longo-prazo.Palavras Chave: auto-conceito físico; auto-estima; motivação para o exercício; actividade física; adolescentes.

Abstract: Purpose: This study focused on adolescent’s physical-self, analyzing its association with the motivation for physical activity while verifying if it changes in function of gender and level of activity. Method: Participants were 460 adolescents (223 girls and 237 boys, M=16.60, SD=1.18 years). Exercise motivation was measured with the Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire - 2 (BREQ-2, Palmeira et al, 2007, .58<alpha<.83) and the physical-self was assessed with the Physical Self-Perception Profi le - R (PSPP-R, Palmeira et al, 2009, .75<alpha<.89). The comparisons were evaluated through a MANOVA, whilst Pearson correlations were used for the correlation analysis. Results: The adolescents that compete at the federation level had higher scores on most dimensions of the physical-self, perception of importance for the physical-self and exercise motivation, when compared with the adolescents that did not compete or only did the physical education. Boys had higher values of the physical-self (except body attractiveness) and motivation when compared to girls (p<.05). Notwithstanding, boys and girls’ values of physical-self and motivation were similar on the group that played competitive sport. The less self-determined behavioral regulations where negatively associated with the physical-self. Conversely, the most self-determined had positive association (p<.05). Conclusions: This study suggests that the higher levels of engagement with physical activity (e.g., competitive sport) are associated with self-determined motivations and physical-self, which should benefi t the long-term maintenance of the physical activity engagement. Key Words: physical self; self-esteem; exercise motivation; physical activity; adolescents.

INTRODUÇÃO

Os benefícios da actividade física na saúde são amplamente conhecidos e representam um importante mecanismo de promoção da saúde pública, especialmente importante numa fase de desenvolvimento tão acentuada como a

Aceito em 25/05/2010 - Rev. Educ. Fís. 2010 - 27-36. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

adolescência(1). Estes benefícios são evidentes em todas as dimensões da saúde, sejam elas de âmbito fi siológico, psicológico ou social, sendo estas últimas, no entanto, menos trabalhadas na literatura científi ca e, por isso mesmo, com menor evidência disponível acerca dos mecanismos pelos quais a actividade física regular pode promover

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28 Revista de Educação Física 2010; 27-36. Rio de Janeiro (RJ) - Brasil

este tipo de benefícios psicossociais(2).Pese embora este reconhecimento, os níveis

de prática de actividade física regular entre os adolescentes não parece sufi ciente para que se possam usufruir dos seus benefícios. Recentemente, foi efectuado um levantamento dos níveis de aptidão física e de composição corporal numa amostra representativa da população adolescente portuguesa. A amostra foi constituída por 22 048 crianças e adolescentes (11 373 moças e 10 675 moços) entre os 10 e os 18 anos de idade. Os resultados deste estudo mostraram que 59.3% das moças estão dentro da zona saudável da aptidão cardio-respiratória. No entanto, verifi cou-se que estes valores decresciam nos escalões etários mais elevados. Nos moços verifi cou-se que 63.1% são considerados aptos na aptidão cardio-respiratória, não se registando uma assimetria tão acentuada como nas moças nos diferentes escalões etários. No que respeita à composição corporal, verifi cou-se que 22.4% apresentam excesso de peso ou obesidade (17,2% de excesso de peso e 5,2% obesidade), sendo que 21.1% das moças e 23.3% dos moços têm excesso de peso ou obesidade(3).

Estes resultados colocam a população adolescente portuguesa entre as que apresentam maiores prevalências de excesso de peso e obesidade da Europa, valores que são acompanhados pelos resultados abaixo da média na aptidão cardiorespiratória e níveis de actividade física(4), revelando que, potencialmente, os efeitos benéfi cos da prática regular de actividade física não estarão a ser alcançados pela maior parte dos jovens portugueses.

Paradoxalmente, nesta fase da adolescência regista-se um desenvolvimento acelerado das estruturas biológicas do corpo humano, que são acompanhadas pela defi nição de diversos aspectos das características psicossociais que acompanharam o jovem para o resto da sua vida(1). É nesta fase que o corpo dos moços naturalmente ganha massa muscular e que adquirem conhecimentos de idealização de uma imagem corporal muscular ideal, enquanto que as raparigas ganham mais massa gorda e idealizam a imagem corporal de um corpo elegante(5), pelo que a prática da actividade física poderia potenciar um desenvolvimento mais consistente dos nossos jovens. Adicionalmente, a sociedade actual exerce

cada vez mais pressão nos indivíduos relativamente à idealização da imagem corporal(6), pelo que importa conhecer as associações que se estão a criar entre a actividade física e o desenvolvimento psicossocial dos jovens, num cenário onde existe uma prevalência de inactividade acentuada, contrastando com alguns jovens que, porventura, se integram em actividades desportivas com maior regularidade (por exemplo, em desporto federado ou escolar – competitivo - ou desporto de lazer, sem um quadro competitivo defi nido mas com uma prática regular – surf, caminhadas, natação por lazer).

Na revisão de literatura efectuada, duas variáveis salientaram-se como mecanismos que potencialmente irão ter um papel na procura de conhecer as associações entre a actividade física e o desenvolvimento psicossocial. Elas foram o auto-conceito corporal(7) e a motivação para a prática de actividade física(8).

O auto-conceito é referenciado na literatura como um tema de interesse nas últimas décadas, sendo necessário cada vez mais tomar conhecimento da percepção que cada um tem de si próprio, especialmente pertinente na adolescência - etapa fundamental do nosso desenvolvimento(7, 9). As pesquisas no tema do auto-conceito devem-se ao desenvolvimento de instrumentos que respeitam o modelo hierárquico multidimensional do auto-conceito(10), como o Physical Self-Perception Profi le (PSPP) acompanhado pelo Perceived Importance Profi le (PIP). O PIP foi desenvolvido para avaliar a importância que os indivíduos atribuem às quatro dimensões do PSPP, competência desportiva, condição física, corpo atraente e força física(11).

Os estudos realizados com adolescentes têm revelado que os valores mais elevados de auto-conceito estão associados aos níveis mais elevados de actividade física(12, 13) e, em estudos experimentais, ao aumento de prática de actividade física(14). Esta temática apresenta um interesse crescente, devido às pressões sociais a que cada vez mais os adolescentes estão sujeitos, o que pode condicionar o seu desenvolvimento harmonioso(6).

Dada a natureza física do exercício, seria surpreendente se a percepção corporal não infl uenciasse os motivos de participação que os indivíduos adoptam. A literatura científi ca mostra associações entre a imagem corporal e os motivos

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de participação na actividade física(15, 16). Mais recentemente, Ingledew e Sullivan(17), elaboraram um estudo com o objectivo de examinar as diferenças nos efeitos da massa corporal e imagem corporal entre idade e género e motivos para a prática de exercício, com uma amostra de 180 adolescentes de ambos os sexos, comparando dois grupos de adolescentes, mais novos(11-13 anos) e mais velhos(17-19 anos), através da análise de vários elementos: participação no exercício, motivos para o exercício, percepção corporal e forma corporal ideal, peso e estatura, chegando à confi rmação de que as diferenças entre géneros são notórias durante a adolescência. Noutro trabalho, objectivou-se examinar o modelo teórico da auto-estima global incorporando constructos das teorias da orientação motivacional e da auto-determinação nas aulas de educação física, com uma amostra de 634 estudantes com idades compreendidas entre os 11e os 15 anos(18). Os resultados sugeriram que as orientações motivacionais infl uenciam a auto-estima afectando a motivação conseguida pela autonomia. Este facto é consistente com a teoria que sugere que as experiências relacionadas com a motivação intrínseca são o mecanismo pelo qual a orientação motivacional global é transformada em efeitos adaptados como a auto-estima. Os resultados sugerem ainda que para os professores de educação física aumentarem a auto-estima das crianças nas suas aulas, devem proporcionar um bom clima de aula que suporte a autonomia dos alunos e orientar os alunos tanto para a tarefa como para o ego(18). Por último, Wilson e Rodgers(19), num estudo efectuado com o propósito de examinar as relações entre os motivos para o exercício e a auto-estima corporal, utilizando uma amostra de 114 indivíduos do sexo feminino, todas praticantes de exercício físico regular, verifi caram que as mulheres que apresentaram valores mais elevados de motivação por regulação identifi cada e intrínseca indicaram ter percepções mais elevadas da sua auto-estima corporal.

Estes conceitos associados à motivação utilizados nos últimos trabalhos apresentados, resultam da teoria da auto-determinação(20), que é um racional teórico usado extensamente na literatura e que a motivação intrínseca assume um papel essencial na manutenção da prática de actividade física a longo prazo. Mas poucos estudos têm sido efectuados com adolescentes,

verifi cando-se que os principais resultados sugerem que se o exercício for realizado apenas por razões extrínsecas, sem prazer e interesse pela actividade escolhida difi cilmente se a conseguirá manter com a regularidade necessária para a obtenção dos benefícios que lhe são reconhecidos(21, 22). Esta teoria prevê que a qualidade da motivação é essencial, proporcionando diferentes formas de regular o comportamento, resultando de um continuum motivacional (amotivação – extrínseca – intrínseca). Esta tendência é facilitada quando o próprio ambiente social proporciona suporte para as três necessidades psicológicas básicas, autonomia, competência e relação. Por conseguinte, a mensagem que envolve a promoção do exercício é de que providenciando esse suporte irá encorajar os indivíduos(20).

A teoria da auto-determinação discute ainda a relação entre a auto-estima global e o comportamento motivacional e sugere que a auto-estima pode ser desenvolvida através de comportamentos regulados autonomamente e que proporcionem sentimentos de competência e de relação(23). No entanto, a teoria não discute a relação entre a auto-estima corporal e comportamento motivacional, mas os autores Thogersen-Ntoumani e Ntoumanis(24), acreditam que as regulações motivacionais da auto-determinação podem estar relacionadas positivamente com a auto-estima corporal, baseados nos argumentos de Fox(7) que indicou que a auto-determinação pode actuar como um mecanismo mediador na relação entre exercício e auto-estima corporal.

Sendo esta uma temática recorrente na literatura internacional, que não tem, segundo a nossa pesquisa, paralelo na população lusófona, considerámos interessante efectuar um estudo com adolescentes que analise o auto-conceito, a importância que estes atribuem às dimensões do auto-conceito e também a motivação para a prática de actividade física, tendo em conta o nível de prática de actividade e o género.

Objectivo do EstudoCom este estudo pretendemos analisar o

auto-conceito e a importância atribuída ao auto-conceito em adolescentes, estudando a sua associação com a motivação para a prática de actividade física e verifi cando se varia consoante o nível de actividade física e género.

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MÉTODO

AmostraParticiparam neste estudo 460 adolescentes

de ambos os sexos, 223 do sexo feminino e 237 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos (M=16.60 e DP=1.18). Todos os indivíduos deste estudo eram estudantes do ensino secundário de uma escola na região de Lisboa (ver TABELA 1).

TABELA 1. Características demográfi casda amostra do estudo.

Feminino Masculino

N (%) 237

(51.5%) 223

(48.5%)

Idade (M±DP) 16.49±1.04 16.71±1.31

EF EFMNF EFD EF EFMNF EFD

N (%) 150

(32.6%) 50 (10.9%) 37 (8.0%) 91 (19.8%) 59 (12.8%) 73 (15.9%)

Idade (M±DP) 16.45±1.05 16.58±1.03 16.51±1.07 16.80±1.31 16.61±1.46 16.68±1.15

Nota: EF – Educação Física; EFMNF – Educação Física mais Modalidade Desportiva Não Federada; EFD – Educação Física mais Desporto (ver texto para mais informações)

Os adolescentes foram divididos em grupos de prática conforme: a) realizavam só a disciplina de Educação Física na escola (obrigatória em Portugal nestes anos de ensino); b) realizavam a Educação Física mais uma modalidade desportiva não federada (enquadrámos aqui os praticantes de modalidades desportivas sem quadro competitivo, em que a prática está associada ao lazer e à promoção da saúde: surf, academias de fi tness, etc); e c) realizavam a Educação Física e uma modalidade desportiva federada, com quadro competitivo (com uma regularidade de treino e exigência superior, portanto).

Instrumentos Caracterização dos estudantes A primeira parte do questionário foi elaborada

especifi camente para este estudo, com o propósito de caracterizar os estudantes com questões relacionadas com a idade, peso, altura, ano de escolaridade, género, quantas vezes tem educação física por semana, qual a duração de cada aula e qual foi a nota de educação física no período passado. No questionário entregue aos alunos que praticavam apenas educação física e/ou outra modalidade não federada questionou-se ainda: se pratica alguma actividade física regularmente; se sim, qual; quantas vezes por semana; qual a

duração de cada sessão/treino e há quantos anos pratica. No questionário entregue aos alunos, que para além da educação física ainda praticavam desporto escolar ou desporto federado foram ainda efectuadas as seguintes questões: faz parte de uma equipa de desporto escolar; se sim, de que modalidade; quantas vezes por semana; qual a duração dos treinos, há quantos anos pratica; pratica algum desporto federado; se sim, qual a modalidade; qual o nível competitivo; quantas vezes por semana; qual a duração dos treinos e há quantos anos pratica.

Motivação –Behavioural Regulation in Exercise Questionnaire - 2 (BREQ-2)

Na segunda parte do questionário, foi utilizado o instrumento Behavioral Regulation in Exercise Questionnaire-2 (BREQ-2), elaborado por Markland e Tobin(25), traduzido para a língua portuguesa(26) e é originalmente composto por dezanove itens relativas à motivação, com uma escala de Likert de 5 pontos, avaliando 5 dimensões: amotivação, regulação externa, regulação introjectada, regulação identifi cada e motivação intrínseca. Cada um dos itens foi respondido de zero a quatro, em que o zero signifi ca “não é verdade para mim” até “muitas vezes é verdade para mim”. A consistência interna das dimensões na aplicação no nosso estudo foi satisfatória (amotivação, α= 0.67; regulação externa, α=0.68, introjectada, α=0.64; identifi cada, α=0.58; motivação intrínseca, α=0.83).

Auto-conceito – Physical Self-Perception Profi le R (PSPP-R)

E por fi m, na terceira parte, o instrumento Physical Self-Perception Profi le Revised (PSPP-R), traduzido para a língua portuguesa(27) e que tem por base o questionário original de Fox(11). Constituído por setenta e quatro itens relativos ao auto-conceito, para avaliar as 6 dimensões do auto-conceito, competência desportiva, condição física, corpo atraente, força física, auto-estima corporal e auto estima global e avaliar a importância que os indivíduos atribuem às quatro dimensões, competência desportiva, condição física, corpo atraente e força física. Exemplo dos itens: “Eu faço bem todos os tipos de desportos”. “Para si, o grau de importância que tem fazer bem todos os tipos de desportos é”, cada um dos itens foi respondido numa escala Likert de quatro opções, nada verdadeiro, pouco verdadeiro, de certo modo verdadeiro ou realmente verdadeiro. A consistência

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interna das dimensões do auto-conceito foi boa (competência desportiva, α=0.85; condição física, α=0.83; corpo atraente, α=0.87; força física, α=0.85; auto-estima corporal, α=0.89; auto-estima global, α=0.86, importância da competência desportiva, α=0.75; importância da condição física, α=0.76; importância do corpo atraente, α=0.82; importância da força física, α=0.82; importância da auto-estima corporal, α=0.82; importância da auto-estima global, α=0.81).

ProcedimentosPara a selecção dos indivíduos foi contactado

inicialmente o Conselho Executivo, para explicar o objectivo do estudo e autorizar a recolha de dados. O estudo foi aceite pela Comissão de Ética da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, pelo que posteriormente foram contactados os professores do departamento de educação física, no sentido de defi nir a forma mais efi caz de aplicar os instrumentos a todas as turmas do ensino secundário da escola. Foi escolhida a semana de aplicação dos questionários e os professores disponibilizaram cerca de 30 minutos da aula de Educação Física. Os estudantes foram informados sobre o propósito do estudo, de que era de sua livre vontade participarem neste estudo. Após o seu consentimento para a participação, foi salientada a importância de respostas sinceras e de que estas seriam confi denciais e anónimas.

Análise estatísticaDepois de aferida a normalidade dos dados,

efectuou-se uma análise correlacional com a técnica produto-momento de Pearson, avaliando a o grau da associação entre a motivação e o auto-conceito. Para as comparações (e.g., género e grupos de prática – educação física, desporto escolar e desporto federado) foi efectuada uma MANOVA. Os valores das variáveis foram expressos através da média e desvio padrão. A signifi cância estatística foi estabelecida para p < 0.05. A análise estatística foi realizada com a aplicação informática SPSS 16.0.

RESULTADOSA primeira análise avaliou o grau de associação

entre as variáveis da motivação e auto-conceito, através do produto momento de Pearson, chegando-se aos resultados da Tabela 2.

Feminino Masculino

N (%) 237

(51.5%) 223

(48.5%)

Idade (M±DP) 16.49±1.04 16.71±1.31

EF EFMNF EFD EF EFMNF EFD

N (%) 150

(32.6%) 50 (10.9%) 37 (8.0%) 91 (19.8%) 59 (12.8%) 73 (15.9%)

Idade (M±DP) 16.45±1.05 16.58±1.03 16.51±1.07 16.80±1.31 16.61±1.46 16.68±1.15

TABELA 2. Correlação de Pearson para análise da associação entre as dimensões da

motivação e auto-conceito

Nota: * p < .05; **p < .01; *** p < .001

Verifi ca-se que as dimensões da motivação associadas aos factores mais extrínsecos (regulação externa), apresentaram valores de correlação negativos com o auto-conceito, no sentido em que os maiores valores de regulação externa estão associados aos menores valores de auto-conceito. Um cenário diametralmente oposto verifi ca-se com os tipos de motivação mais auto-determinados, com os maiores valores do auto-conceito a estarem associados aos maiores valores das motivações identifi cada e intrínseca. Por último, verifi ca-se que a regulação introjectada se associa principalmente às dimensões da importância do auto-conceito.

Para analisar se existem diferenças no auto-conceito em função dos grupos em estudo, foi efectuada uma MANOVA (Género x Grupo de Prática), chegando-se aos resultados desenhados na tabela 3.

TABELA 3. Média, desvio padrão e MANOVA para análise da interacção entre o género e o

grupo de prática nas dimensões do auto-conceito

* p < .05; **p < .01; *** p < .001. EF – Educação Física; EFMNF – Educação Física mais Modalidade Desportiva Não Federada; EFD – Educação Física mais Desporto

a) EF b) EFMNF c) EFD Género Grupo Género x Grupo

Variáveis M DP M DP M DP F F F Competência Desportiva Sexo feminino 16.28 3.45 16.42 3.28 19.79 3.14 58.80*** 20.87*** 4.15*** Sexo masculino 19.28 3.20 20.14 3.32 20.94 3.08 Condição Física Sexo feminino 16.87 3.51 17.90 3.61 21.09 2.96 47.60*** 36.32*** 2.39 Sexo masculino 19.60 3.22 21.11 3.02 22.35 3.32 Corpo Atraente Sexo feminino 18.88 4.88 18.25 4.90 21.08 4.32 14.17*** 2.60 3.43* Sexo masculino 20.83 4.10 21.67 4.15 21.12 4.86 Força Física Sexo feminino 14.64 3.47 14.94 3.51 17.74 3.44 63.95*** 13.45*** 4.11* Sexo masculino 17.78 3.40 19.23 3.86 19.18 3.67 Auto-estima Corporal Sexo feminino 22.06 5.24 21.04 5.98 25.33 4.00 13.94*** 10.07*** 3.37* Sexo masculino 23.90 4.00 24.61 3.89 25.45 4.43 Auto-estima Global Sexo feminino 18.67 3.48 17.41 4.20 20.17 2.73 3.57 6.56** 3.84* Sexo masculino 18.93 3.13 19.42 2.65 19.81 2.84

Os resultados revelam que os moços apresentam valores mais elevados de auto-conceito corporal em todas as dimensões do PSPP-R (todos p<0.001), exceptuando a

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auto-estima global, onde não se registaram diferenças em função do género. Já nas comparações conforme o grupo de prática, verificou-se que os adolescentes que praticam desporto apresentam valores superiores de auto-conceito corporal quando comparados com os adolescentes dos restantes grupos (todos p<0.01, teste post-hoc de Tukey), com excepção da dimensão corpo atraente, onde não se registaram diferenças. Quando se analisou a interacção entre as variáveis independentes, verificou-se uma interacção significativa entre o género e o grupo de prática nas variáveis competência desportiva (F(2, 443)=4.15, p< 0.05), corpo atraente (F(2,443)=3.43, p<0.05), força física (F(2,443)=4.11, p<0.05), auto-estima corporal (F(2,443)=3.37, p<0.05) e auto-estima global (F(2,443)=3.84, p<0.05). Apenas não se verificou interacção na dimensão condição física. Nas dimensões competência desportiva, corpo atraente, força física, auto-estima corporal e auto-estima geral esta interacção diz-nos que as diferenças são evidentes entre género em todos os grupos de prática, à excepção do grupo de desporto em que existe uma aproximação dos valores entre indivíduos do sexo masculino e feminino (ver FIGURA 1 para exemplo deste efeito interactivo).

Figura 1 – Interacção entre o género e o grupo de prática na dimensão auto-estima corporal

Seguidamente foi efectuada uma análise da interacção entre o género e o grupo de prática nas variáveis da importância do auto-conceito, chegando-se aos resultados desenhados na tabela 4.

TABELA 4. Média, desvio padrão e MANOVA para análise da interacção entre o género

e o grupo de prática nas variáveis daimportância do auto-conceito

a) EF b) MNF c) D Género Grupo Género x Grupo

Variáveis M DP M DP M DP F F F Importância da Competência Desportiva

Sexo feminino 15.40 2.90 15.44 2.89 17.46 2.68 8.13** 13.78*** 1.59 Sexo masculino 16.01 3.22 17.14 3.02 17.81 3.02 Importância da Condição Física

Sexo feminino 17.38 2.77 17.94 2.65 19.57 2.41 0.22 22.74*** 0.26 Sexo masculino 17.27 3.09 18.29 2.80 19.74 2.86 Importância do Corpo Atraente

Sexo feminino 18.94 4.10 19.68 4.21 19.31 3.17 1.26 2.65 0.56 Sexo masculino 17.99 4.22 19.12 3.89 19.40 4.10 Importância da Força Física

Sexo feminino 13.69 2.91 13.59 2.90 15.16 2.09 37.28*** 5.59** 0.90 Sexo masculino 15.55 3.85 16.26 3.33 16.69 3.25

Nota: **p < .01; *** p < .001. EF – Educação Física; EFMNF – Educação Física mais Modalidade Desportiva Não Federada; EFD – Educação Física mais Desporto

A análise das diferenças da importância dada às dimensões do auto-conceito corporal em função do género, verifi cou-se que os moços consideram mais importante a competência desportiva e força física (p<0.01) comparativamente às moças. Os praticantes de desporto deram mais importância à competência desportiva, condição física e força física do que os adolescentes dos restantes grupos de prática (p<0.001, teste post-hoc Tukey). Nas dimensões relacionadas com a importância do auto-conceito não se verifi caram interacções signifi cativas.

Seguidamente, foi efectuada uma análise semelhante às anteriores, mas tendo a motivação como variável dependente (TABELA 5).

TABELA 5. Média, desvio padrão e MANOVA para análise da interacção entre o género e o grupo de prática nas variáveis da motivação

Nota: *p < .05; **< .01; *** p < .001, EF – Educação Física; EFMNF – Educação Física mais Modalidade Desportiva Não Federada; EFD – Educação Física mais Desporto

pVariáveis M DP M DP M DP F F F Amotivação Sexo feminino 0.88 2.09 0.69 1.62 0.40 1.19 0.60 4.94** 0.94 Sexo masculino 1.41 2.92 0.68 1.84 0.38 1.45 Regulação Externa Sexo feminino 1.74 2.40 2.12 2.19 0.94 1.93 0.01 5.09** 0.64 Sexo masculino 1.95 2.88 1.72 2.28 1.08 1.68 Regulação Introjectada Sexo feminino 3.31 2.72 3.63 2.84 4.56 3.20 2.25 4.97** 0.09 Sexo masculino 2.94 2.85 3.29 2.72 3.91 3.14 Regulação Identificada Sexo feminino 10.24 2.83 11.49 3.00 13.14 2.21 13.97 37.30*** 0.06 Sexo masculino 10.60 2.78 12.02 3.04 13.42 2.19 Motivação Intrínseca Sexo feminino 11.10 3.70 12.12 3.23 15.17 1.50 3.46 40.91*** 4.48* Sexo masculino 11.81 3.29 13.93 2.47 14.42 1.95

Não se registaram diferenças nos tipos de motivação conforme o género. Pelo contrário, o grupo de adolescentes que pratica desporto apresentou valores inferiores de amotivação e regulação externa, e superiores de motivação

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introjectada quando comparado com os restantes grupos (p<0.05, teste post-hoc Tukey). Na motivação intrínseca e regulação identifi cada verifi cou-se que o grupo de adolescentes que pratica desporto apresentou os valores mais elevados de todos os grupos, e que o grupo que pratica modalidades não federadas apresentou valores mais elevados do que o grupo que só faz Educação Física (p<0.001, teste post-hoc Tukey). Não se verifi caram interacções signifi cativas entre o género e o grupo de prática nas variáveis relacionadas com a motivação, à excepção da variável motivação intrínseca (F(2, 443)=40.91, p< 0.05). Esta interacção na dimensão motivação intrínseca diz-nos que existe uma aproximação de valores entre género no grupo educação física (FIGURA 2). No grupo dos adolescentes que praticam modalidade não federada a motivação intrínseca é superior nos indivíduos do sexo masculino comparativamente aos do sexo feminino, enquanto que no grupo de desporto esta situação inverte-se, já que agora são os indivíduos do sexo feminino que apresentam maior motivação intrínseca.

Figura 2 – Interacção entre o género e o grupo de prática na variável da motivação intrínseca

DISCUSSÃO

Com este estudo pretendemos analisar o auto-conceito e a importância atribuída ao auto-conceito em adolescentes, estudando a sua associação com a motivação para a prática de actividade física e verifi cando se varia consoante o nível de

actividade física e género. Através dos resultados do nosso estudo

verifi camos que quanto maior o nível de prática, mais elevado é o auto-conceito, a importância atribuída às dimensões do auto-conceito e à motivação. O grupo de indivíduos que praticam desporto tem valores signifi cativamente superiores aos restantes grupos na competência desportiva e importância atribuída, força física e importância atribuída, auto estima corporal e auto-estima global, talvez devido ao grupo de desporto ser constituído por um conjunto de indivíduos que por estarem num nível competitivo já foram seleccionados por serem melhores a nível desportivo, tendo assim valores superiores de competência, força e importância atribuída ou pelo facto de treinarem com mais frequência semanal devido ao nível onde se encontram, proporcione melhorias nestas dimensões, visto que o aumento da actividade física tem um impacto positivo na auto percepção do domínio atlético(14). Parece-nos uma consequência lógica que os valores elevados obtidos nas dimensões de competência desportiva e força física contribuam para os valores elevados de auto-estima corporal que está num patamar superior, pois refere-se ao modo como os indivíduos se sentem em relação à sua dimensão física em geral e por sua vez infl uencia positivamente a auto-estima global. Estes resultados são semelhantes ao estudo de Schneider et al, onde se verifi cou que a realização de actividade física melhorou a auto-estima corporal dos participantes(14).

No entanto, nos outros dois grupos, o grupo de indivíduos que só fazia educação física e o que praticava modalidade não federada, não se encontraram diferenças signifi cativas nas dimensões referidas anteriormente, competência desportiva e importância atribuída, força física e importância atribuída, auto-estima corporal e auto-estima global, o que talvez possa ter ocorrido devido à modalidade não federada ser vista pelos indivíduos como mais uma actividade além da Educação Física, que apenas realizam com 1 ou 2 vezes semanalmente e que por isso não provoque diferenças na sua competência desportiva ou força física, bem como auto-estima corporal e auto-estima global. No entanto, esta suposição já não é válida para a dimensão da condição física, pois os resultados indicam diferenças em todos os grupos de prática, apresentando o grupo de desporto

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valores mais altos e o grupo de educação física os valores mais baixos, o que de acordo com os princípios do treino nos parece evidente, quem treina com mais regularidade tem melhor condição física e talvez por esse motivo os indivíduos tenham uma auto-percepção correcta da sua condição física.

Os nossos resultados mostraram que os adolescentes que praticam desporto estão mais motivados por regulação identifi cada e motivação intrínseca do que os que praticam modalidades não federadas, que por sua vez estão mais motivados por regulação identifi cada e motivação intrínseca que os que apenas praticam educação física. Segundo a literatura, os motivos intrínsecos estão associados a consequências psicológicas positivas e grande adesão ao exercício(28), o que nos leva a sugerir que a maioria dos indivíduos pertencentes ao grupo de desporto no nosso estudo, para se encontrarem motivados positivamente, realizam o desporto com prazer e tentam a superação deles próprios(21) e também por serem ainda adolescentes, talvez tenham também uma boa estrutura social e ambiental à volta da actividade física (ex. acesso facilitado ao desporto, encorajamento positivo por parte dos pais e professores) e maior apoio das pessoas envolventes, que possam contribuir para uma maior motivação(21).

Por sua vez, o grupo de indivíduos que apenas pratica educação física e o grupo de indivíduos que pratica uma outra modalidade não federada apresentaram valores elevados de amotivação e regulação externa. Esta ausência de motivação poderá signifi car que estes indivíduos se sintam incompetentes para a realização da actividade ou porque não têm vontade da realização da mesma, ou porque como a Educação Física é uma disciplina obrigatória em Portugal possa comprometer a motivação intrínseca, dado que os alunos não possuem possibilidades de escolha(22). Em relação ao grupo de indivíduos que também praticam uma outra modalidade não federada, os valores elevados de amotivação e motivação por regulação externa poderão predizer que realizam a actividade, não como uma forma de divertimento ou prazer, mas como um modo de obter recompensas ou evitar consequências negativas(21, 22, 24, 28).

Estes resultados levam-nos a sugerir que existe uma relação entre estes constructos, como indicam os autores Moreno e Cervelló(13), quanto

maior o nível de actividade física melhores as auto-percepções corporais. Também num estudo efectuado com o propósito de examinar as relações entre os motivos para o exercício e a auto-estima corporal, os autores verifi caram que os indivíduos que apresentaram valores mais elevados de motivação por regulação identifi cada e intrínseca indicaram ter percepções mais elevadas da sua auto-estima corporal(13), o que apoia os resultados do nosso estudo, pois verifi cámos que os maiores valores do auto-conceito se encontram associados aos maiores valores das motivações identifi cada e intrínseca.

Verifi cámos também que os indivíduos do sexo masculino apresentam valores superiores de auto-conceito corporal, de importância atribuída às dimensões do auto-conceito e motivação em relação aos indivíduos do sexo feminino, o que vai de encontro aos resultados de outros autores(12). Provavelmente, esta situação verifi ca-se devido às dimensões do auto-conceito focarem competências específi cas (como por exemplo competência desportiva, condição física, força física) onde os indivíduos do sexo masculino são vistos como tendo mais competências físicas que as moças(7). Por outro lado, a ausência de diferenças na importância dada ao corpo atraente podem derivar das alterações corporais características da adolescência, levando a que ambos os géneros, embora por razões opostas (ganho de massa muscular nos moços – com um sentido positivo face a um ideal corporal masculino; e ganho de massa gorda nas moças – com um sentido negativo face ao ideal feminino), indiquem valores semelhantes nas suas respostas(5, 6).

Verifi cámos que a percepção corporal estava associada aos tipos de motivação para a participação que os indivíduos adoptam. Wilson e Rodgers(19), verifi caram que os indivíduos que apresentaram valores mais elevados de motivação por regulação identifi cada e intrínseca indicaram ter percepções mais elevadas da sua auto-estima corporal. Em vários estudos foi reportado que entre os indivíduos do sexo feminino, a prática de exercício como objectivo de aparência corporal/manutenção do peso corporal está associada a um grande descontentamento corporal, menor satisfação corporal, a um maior distúrbio da imagem corporal e a efeitos corporais negativos(15, 16).

Consideramos importante assinalar que

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este estudo teve como limitações a utilização do questionário PSPP-R que, embora apresente excelentes características psicométricas nos trabalhos prévios de validação, ainda não se encontra publicado (foi submetido a uma revista internacional e foi aceite propondo-se pequenas revisões). Ainda relativo aos questionários saliente-se que o BREQ-2 apresentou características psicométricas abaixo das que resultaram do estudo de validação, pese embora possam ser consideradas aceitáveis com reservas, visto que cada dimensão inclui um número pequeno de items (o valor de �>.60 tem sido sugerido para estas situações como aceitável(29). A criação dos grupos de estudo poderá ser igualmente considerada uma limitação, pois considerámos a prática de desporto sem olharmos para os diferentes níveis competitivos, obviamente associados a cargas de treino e envolvimento diferenciados. O mesmo poderá ter acontecido com o grupo de modalidades não federadas, pois não se conseguiu diferenciar o envolvimento dos sujeitos na prática, tendo-se verifi cado uma grande dispersão de modalidades referidas pelos adolescentes, que obviamente representam um contexto e vivências diferenciadas que podem infl uenciar de forma díspar o auto-conceito corporal e a qualidade da motivação.

Concluindo, verifi cámos através dos resultados do nosso estudo, que quanto maior o nível de prática, mais elevados são os valores de auto-conceito, importância atribuída às dimensões do auto-conceito e motivação, bem como os indivíduos do sexo masculino apresentam valores superiores nestes parâmetros estudados face aos indivíduos do sexo feminino. O que nos leva a realçar a importância de proporcionarmos uma boa estrutura social e ambiental à volta da actividade física desde tenra idade, permitindo o acesso facilitado à actividade física e ao desporto, um encorajamento positivo por parte da família, educadores, professores e treinadores e tentar que a actividade seja realizada com prazer, aumentando a motivação e contribuindo para uma melhor auto-estima.

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Universidade Lusófona de Humanidades e TecnologiasFaculdade de Educação Física e DesportoCampo Grande, 3761749-024, Lisboa - PortugalTlf: +351 2175155580Mónica Silva – e-mail: [email protected]ónio Labisa Palmeira (autor para correspondência) e-mail: [email protected]

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ISSN 0102 - 8464

ARTIGO DE REVISÃO

ALONGAMENTO ESTÁTICO E TREINAMENTO DE FORÇA:UMA BREVE REVISÃO DE LITERATURA

Static stretching and strength training: a brief review of literature

Gustavo Barquilha1,2

1 Instituto de Ciências da Atividade Física e Esporte - Universidade Cruzeiro do Sul2 Grupo de Estudos e Pesquisa em Exercício Físico e Fisiologia Aplicada - Unifi eo

Resumo: A busca pela maximização dos resultados obtidos com um protocolo de treinamento de força vem levando a uma discussão sobre uma possível interferência do alongamento antes de um treinamento de força. Nesse sentido, o objetivo deste estudo de revisão foi investigar a infl uência aguda do alongamento estático no desempenho em um protocolo de treinamento de força. Foram utilizadas como fontes as bases de dados PUB-MED e SCIELO, assim como livros especializados no assunto. Na base de dados PUBMED foram utilizadas as palavras “stretching and strength”, e na base de dados SCIELO as palavras-chave “alongamento e força”. Foram encontrados, ao todo, 1026 artigos. Como critérios de inclusão foram escolhidos apenas artigos na língua inglesa ou portuguesa, publicados em um período de até 15 anos (entre 1994 e 2009), que utilizassem alon-gamentos estáticos em sua metodologia, além de um grupo controle e uma amostra com um numero de participantes compatíveis com o objetivo do trabalho. Considerados tais critérios, foram selecionados 31 artigos. Analisando a literatura escolhida, foram encontrados indícios de que o alongamento pode interferir no desempenho em um treinamento de força, principalmente quando referido alongamento é realizado em alto volume. Entretanto, a razão da existência dessa interferência ainda é um tema controverso, fazendo-se necessários novos estudos para elucidar a questão. Palavras Chave: Alongamento; Força; Desempenho.

Abstract: The search for the maximization of the results obtained with a strength training protocol has led to a discussion about a possible interfe-rence of stretching before strength training. In this sense, the objective of this review study was to investigate the infl uence of acute static stretching on performance in a strength training protocol. Were used as sources the databases PUBMED and SCIELO, as well as specialized books on the subject. The keywords searched were “stretching and strength” both writen in english at PUBMED and in portuguese at SCIELO. There were found 1026 articles. Inclusion criteria were selected only articles in English or Portuguese language, published in a period of up to 15 years (between 1994 and 2009), who used static stretches in its methodology, and a control group and one sample with a number of participants compatible with the ob-jective of the work. Considered such criteria, we selected 31 items. When studying the selected literature, evidences that stretching can interfere on performance during a strength training were found, especially when stretching is performed at high volume. However, the reason for the existence of such interference is still a controversial issue, making necessary further studies to elucidate the issue.Key Words: Stretching, Strengh, Performance.

INTRODUÇÃO

Estudos têm demonstrado que o treinamento de força pode provocar efeitos positivos em patologias como hipertensão(1), diabetes(2), obesidade(3), osteoporose(4), entre outras, além de proporcionar aumentos na força(5) e potência muscular(6), sendo essas duas últimas adaptações importantes também para atletas de alto rendimento. Para se obter melhores resultados com o treinamento, é necessária uma correta prescrição das variáveis envolvidas com o treinamento, como, por exemplo, o intervalo de descanso, intensidade e volume do treinamento, tipo de exercício, entre outros(7).

Aceito em 23/10/2009 - Rev. Educ. Fís. 2010 - 37-41. Rio de Janeiro - RJ - Brasil

Geralmente, o treinamento de força é realizado depois de um protocolo de exercícios de aquecimento, sendo freqüentemente utilizados exercícios de alongamento como forma de aquecimento antes do início da sessão. O aquecimento serve, em tese, para elevar a temperatura corporal, aumentar a demanda de oxigênio para o organismo através do aumento do fl uxo sanguíneo, aumentar a lubrifi cação das articulações melhorando a viscosidade dos tendões, aumentar a velocidade das reações metabólicas, dentre outras adaptações(8).

Entretanto, o alongamento pode acarretar alterações morfológicas no tecido conectivo e

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nas fi bras musculares, com a ativação de órgãos sensoriais e microlesões, principalmente quando não estruturado corretamente(9,10). Neste sentido, o alongamento deixa de ser apenas um exercício de aquecimento e passa a acarretar modifi cações importantes no organismo. Sendo assim, o objetivo deste estudo de revisão foi investigar a infl uência aguda do alongamento no desempenho em um protocolo de treinamento de força. Foram utilizadas como fontes as bases de dados PUBMED e SCIELO, assim como livros especializados no assunto. O presente estudo de revisão concentra-se nos estudos que analisaram os efeitos agudos de sessões de alongamento realizadas antes de uma sessão de treinamento de força.

REVISÃO DE LITERATURA

Infl uência do alongamento no desempenho em exercícios de força

Os estudos sobre o tema alongamento antes da realização de um treinamento de força ainda são um tanto controversos. Diversos estudos têm demonstrado queda no rendimento quando se aplica um alongamento antes de um treinamento de força(11-13). Outros, porém, não encontraram interferência do alongamento na produção de força(14,15).

Arruda et al(16) encontraram uma redução signifi cante no desempenho em teste de 10 RM no exercício supino em um grupo que alongou antes dos testes, sendo que não foram encontradas diferenças estatísticas em um grupo que aqueceu no próprio aparelho antes de fazer os testes. Já Tricoli e Paulo(11) realizaram um estudo em que o objetivo foi investigar o efeito agudo dos exercícios de alongamento estático no desempenho de força máxima. Onze voluntários realizaram um teste de 1 RM com e sem alongamento antes dos testes. Para o grupo que alongou, foram realizados seis exercícios com três repetições de 30 segundos cada. Já para o teste sem alongamento, o grupo realizou o teste de 1RM após um breve aquecimento. Foram encontradas reduções signifi cativas para o grupo que realizou alongamento antes do teste, tendo os autores concluído que uma sessão de alongamento pode reduzir o desempenho em um protocolo de força. Recentemente, Endlich et al(17) realizaram um estudo com o intuito de analisar o efeito agudo do alongamento com diferentes

tempos no desempenho da força dinâmica de membros superiores e inferiores em homens jovens. 14 voluntários participaram do estudo realizando um teste de 10RM em três situações distintas: condição sem alongamento, aquecimento específi co seguido do teste de 10-RM; condição com oito minutos de alongamento (AL-8), uma sessão de alongamento estático com oito minutos de duração, seguido do aquecimento e teste de 10RM; e a condição alongamento 16 minutos (AL-16), 16 minutos de alongamento seguidos dos procedimentos descritos anteriormente. Os testes foram feitos no supino reto e leg-press 45°, e os alongamentos foram selecionados de forma a atingir as musculaturas solicitadas nos respectivos exercícios. Os autores encontraram redução da força muscular dinâmica de membros superiores e membros inferiores, tendo os autores concluído que sessões de alongamentos estáticos efetuados antes de atividades que envolvam força dinâmica possuem a capacidade de alterar negativamente o desempenho dessa qualidade física, acarretando pior rendimento em longos períodos de alongamento. Costa et al(18) realizaram um estudo que tinha como objetivo verifi car a infl uência aguda do alongamento estático no desempenho de força máxima de 20 atletas de jiu-jitsu, tendo os autores concluído que o protocolo de alongamento utilizado gerou efeito deletério na geração de força máxima dos atletas avaliados. Também recentemente, Souza et al(19) verifi caram o efeito agudo de intervalos passivos e do alongamento estático entre as séries sobre o número de repetições máximas (RM), percepção subjetiva de esforço (PSE) e volume total (VT) do número de repetições em um protocolo de séries múltiplas, com sobrecarga ajustada pelo teste de 8RM. Participaram deste estudo 14 homens divididos em duas situações experimentais: teste de 8RM com intervalo passivo e teste de 8RM com exercício de alongamento. Foram realizadas três séries no supino reto e no agachamento, tendo os autores concluído que o alongamento estático entre as séries também pode provocar diminuição no desempenho da força em 8RM.

Contrariando os resultados apresentados acima, Yamaguchi e Ishii(20) realizaram um estudo em que onze voluntários realizaram três diferentes protocolos: uma sessão com cinco exercícios de alongamento estático e uma sessão

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sem alongamento, ambos antes do exercício leg press. Não foram encontradas reduções na produção de força com o grupo que realizou o alongamento estático e com o grupo que não alongou. Ribeiro et al(14) também não encontraram diferença estatisticamente signifi cante no teste de 10RM realizado no exercício leg press. Foram realizados dois protocolos de exercícios, um com alongamento durante 30 segundos e outro com um aquecimento específi co de 20 repetições leves antes de realizar o exercício selecionado. Provavelmente, estes resultados se devem ao baixo volume do alongamento realizado antes dos exercícios de força, indicando que exercícios de alongamento com baixo volume não interferem em exercícios de força. Sendo assim, um fator importante a ser considerado é o volume dos protocolos de treinamento de alongamento. Estudos têm demonstrado que quanto maior for o volume (tempo) de alongamento, maior a probabilidade de se encontrar uma infl uência negativa na produção de força após a realização desse alongamento(21,22).

Possíveis mecanismos envolvidos É controverso ainda o real mecanismo que

leva a redução na produção de força decorrente do alongamento. Uma das possíveis causas da interferência do alongamento na produção de força pode ser o aumento da atividade do sistema parassimpático após a sua realização, ocasionando assim um relaxamento muscular(23). Porém essa ativação do sistema parassimpático com a realização do alongamento parece ocorrer acima de 15 minutos de pratica de alongamento. Essa pode ser também a razão para alguns estudos com baixo volume de exercícios de alongamento não encontrarem interferência no desempenho em testes de exercícios resistidos.

O alongamento pode desencadear mecanismos neurais que estimulam o órgão tendinoso de golgi e dos receptores de dor, o que pode desencadear a inibição de força(24,25). Alguns autores citam que o alongamento possui a capacidade de modifi car as propriedades viscoelásticas da unidade músculo-tendão, reduzindo assim a tensão e rigidez da unidade motora. É bom salientar que uma das funções dos tendões é a de transferir a força produzida pelo músculo esquelético para articulações e ossos, sendo que uma unidade músculo-tendão mais rígida pode transmitir de

maneira mais efi ciente as alterações de tensão no músculo(26,27). Outro fator além da redução na rigidez músculo-tendínea, são possíveis decréscimos na ativação das unidades motoras e da musculatura esquelética como um todo(24) pode ser também um dos fatores responsáveis pela queda no desempenho de força após a realização de exercícios de alongamento.

Marek et al(28) observaram uma diminuição da atividade elétrica do músculo após a realização de alongamento estático, ocorrendo assim uma diminuição da força e potência muscular. Esses achados corroboram um estudo de revisão publicado por Shrier(29). O alongamento realizado agudamente pode infl uenciar positivamente a economia de movimento, porém ainda assim a força e a velocidade de contração são diminuídas, possivelmente pelo fato de ocorrer um maior prejuízo à fi bra muscular(30). Esses resultados vão de encontro com a hipótese de que a diminuição da força muscular após um protocolo agudo de alongamento seja causada pela diminuição da ativação das unidades motoras (28)

.CONCLUSÃO

São contraditórias as informações envolvendo alongamento e treinamento de força, sendo os diferentes protocolos utilizados nos experimentos uma das possíveis causas para a contradição entre os resultados. É importante salientar ainda que alguns atletas alongam antes de uma sessão de força com o intuito de diminuir os riscos de lesões decorrentes da sessão de treinamento, porém estudos demonstram que o alongamento não necessariamente diminui os riscos de lesões provenientes do treinamento (31,32).

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Endereço para correspondênciaUniversidade Cruzeiro do Sul – Instituto de Atividade Física e EsporteRua Galvão Bueno, 868 – 13° Bloco B Liberdade – São Paulo – SPCep 01506-000Email: [email protected]