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  • EFEITO DO PROCESSAMENTO SOBRE AS PROPRIEDADES

    TRMICAS E ESPUMANTES DE CLARA DE OVOS

    F.C.O. Santana1, C.M.O. Mller

    2

    1-Departamento de Cincia e Tecnologia de Alimentos Universidade Federal de Santa Catarina, Laboratrio de

    Frutas e Hortalias CEP: 88034-001- Florianpolis SC Brasil, Telefone: 3721-5370 - Fax: (48) 3721 9943 - e-mail: ([email protected]).

    2-Departamento de Cincia e Tecnologia de Alimentos Universidade Federal de Santa Catarina Laboratrio

    de Frutas e Hortalias - CEP: 88034-001- Florianpolis SC Brasil, Telefone: 3721-5370-Fax: (48) 3721

    9943 - e-mail: ([email protected]).

    RESUMO . Clara fresca (F), pasteurizada lquida (P) e desidratada (S) so amplamente utilizadas na

    indstria de alimentos devido a sua capacidade de formao de espuma, entretanto poucos estudos

    abordam o efeito do processamento sobre sua funcionalidade. Neste trabalho claras F, P e S, foram

    avaliadas quanto ao teor de protenas, umidade, pH, cor, propriedades trmicas e propriedade

    espumante. Os teores de umidade, protena e pH esto de acordo com o reportado na literatura. A

    anlise de cor indicou que o processamento torna as claras mais escuras. Os termogramas apontaram 4

    picos de desnaturao, com menor entalpia de desnaturao para claras desidratadas. As medidas de

    overrun mostraram reduo significativa na capacidade espumante das claras P e S, e que claras S so

    estatisticamente menos estveis do que F e P.

    ABSTRACT Fresh egg white (F), egg white pasteurized liquid (P) egg White powder (S) are

    extensively used in the food industry due to their foaming ability; however, few studies approach the

    effect of processing on their protein functionality. This study the egg white F, P and S, were evaluated

    according to protein content, moisture, pH, color, thermal properties and foaming property. The

    moisture, protein and pH are in accordance with the literature. The color analysis indicated that termal

    processing becomes egg whites darker.The thermograms indicated 4 peaks of denaturation with lower

    enthalpy for denaturation dried egg white. The overrun measurements showed a significant reduction

    in foaming capacity of P and S egg white, and that S is statistically less stable than F and P.

    PALAVRAS-CHAVE: clara de ovos; espumas; protenas

    KEYWORDS: egg white; foam; protein

    1. INTRODUO

    As propriedades funcionais associadas s protenas afetam o comportamento dos sistemas

    alimentares durante o processamento, estocagem, preparo e consumo, e so responsveis pela textura,

    cor e sabor nos alimentos, tendo grande influncia na qualidade sensorial dos mesmos (Ustunol,

    2015). As protenas presentes na clara (albmen) so consideradas de elevado valor biolgico e na

    indstria alimentcia, so classificadas como ingredientes de grande importncia devido,

    principalmente, a sua capacidade de formao de espumas (Strixner e Kulozik, 2011). As espumas se

    destacam por sua contribuio na textura de alimentos, onde a incorporao de ar causa a reduo da

    densidade e aumento do volume, sendo fundamental em produtos como sorvetes, chantilly, massas de

  • bolo e merengues (Sahin e Sumnu, 2006). Na indstria, a clara pode ser utilizada na forma fresca,

    desidratada, pasteurizada lquida e congelada. Dentre os tratamentos, a pasteurizao um pr-

    requisito exigido pela legislao brasileira para ovoprodutos (Brasil, 1990). A pasteurizao e a

    secagem permitiram um aumento significativo da vida til de ovos, mantendo seu valor nutricional.

    Alm disso, apresentam outras vantagens que incluem armazenagem e transporte a baixo custo,

    padronizao, fcil manuseio e incorporao. Entretanto, mudanas nas propriedades estruturais e,

    portanto, nas propriedades funcionais das protenas, podem ser ocasionadas pelas temperaturas e

    parmetros de processo empregados na pasteurizao e na secagem que causam a desnaturao

    proteica e reao de Maillard (Landfeld et al., 2008; Rannou et al., 2013; Shibao e Bastos, 2011).

    Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito do processamento em claras de ovos sobre

    as propriedades trmicas, reolgicas, capacidade de formao e estabilidade de espuma.

    2. MATERIAL E MTODOS

    As claras frescas (F) foram obtidas do comrcio local a partir de 115 ovos tipo grande

    vermelho. Os ovos foram higienizados, a clara separada, peneirada e homogeneizada. A clara

    pasteurizada lquida (P) foi obtida do comrcio local e a clara desidratada (S) foi disponibilizada pela

    empresa Sohovos, ao qual foi reconstituda na concentrao de 10 % protena (w/v) para os ensaios.

    As amostras foram caracterizadas, em triplicata, quanto a umidade (AOAC mtodo 926.12),

    protena (AOAC mtodo 991.20), pH e cor. O pH foi medido aps o preparo das amostras a 25 C. Os

    parmetros de cor foram determinados em colormetro (Minolta, CR-400),(iluminante D65 e ngulo

    10), utilizando a escala de cor CIELab. A partir dos valores de L*a*b* foi determinado o ndice de

    Escurecimento (IE) conforme (Okpala, Piggott, e Schaschke, 2010). Ensaios de Calorimetria

    Exploratria de Varredura (DSC) foram conduzidos em DSC-50 (Shimadzu) para analisar as

    temperaturas de desnaturao (Td) e variao de entalpia de desnaturao (Hd) das protenas contidas

    na clara. As condies foram: ~18 mg de amostra, panela de alumnio, panela de referncia, faixa de

    temperatura de 0 C a 100 C; taxa de aquecimento de 2 C.min-1

    ; atmosfera de nitrognio e vazo de

    50 mL.min-1

    . Por fim, avaliou-se a propriedade espumante das claras (F,P,S) atravs de ensaios, em

    triplicata, de capacidade espumante (% overrun) e de estabilidade (% DR), conforme Phillips, Haque e

    Kinsella (1987), com modificaes. Os ensaios foram registrados por microscpio ptico (MOTIC). A

    anlise estatstica de cor, viscosidade, % overrun (overrun mx) e % DR (nos tempos: 30, 60 e 120

    min) foram realizadas por teste de Tukey, com diferena significativa de 5% entre os valores aps a

    anlise de varincia (ANOVA), em software Statistica 7.0.

    3. RESULTADOS E DISCUSSO

    As claras F e P apresentaram valores similares quanto a umidade (88 % e 87 %) e teor de

    protena (b.u) (10 % e 11 %), respectivamente, enquanto a clara S apresentou valores 6,7 % (umidade)

    e 83 % (b.s) (protena), estando esses resultados de acordo com USDA (2016). As claras F, P e S

    apresentaram valores prximos de pH, entre 9,1 e 9,5 corroborando os valores encontrados na

    literatura. Em claras frescas o pH encontrado em de torno de 7,6-7,9. Durante o perodo de

    estocagem, devido a mudanas fsico-qumicas, esses valores podem ficar prximos a 9,7 e,

    consequentemente, interferir nas suas propriedades funcionais dessas claras Belitiz, Grosch,

    Schieberle (2009).

  • As trs amostras diferiram significativamente (p0,05) na cor em todos os parmetros

    avaliados. Os parmetros a* (F= -3,03; P= -0,44; S= -0,78) e b

    * (F= 16,72; P= 15,10; S=19,81)

    indicaram que todas as claras possuem cor com tendncia a amarelo esverdeado, podendo estar

    associado presena de riboflavina. Os valores de L* foram significativamente maiores (p0,05) para

    clara F (53,69), indicando que as claras P (42,24) e S (38,95) so mais escuras. Essa perda da

    luminosidade pode estar relacionada ao efeito do processamento trmico que favoreceu a reao de

    Maillard, uma vez que alm da temperatura o pH alcalino tambm favorece essa reao (Rannou et

    al., 2013; Shibao e Bastos, 2011; Silva, Pinto, Freitas, e Pinto, 2015). Estes resultados corroboram os

    valores o ndice de escurecimento (IE) que revelaram um escurecimento das claras na medida em que

    foram submetidas a mais etapas de processamento (F= 31,49; P= 41,66; S=65,48).

    Os ensaios de DSC (Figura 1), evidenciaram curvas com picos endotrmicos tipicamente

    associados desnaturao proteica (Ferreira, Hofer, e Raemy, 1997). As amostras apresentaram picos

    endotrmicos na faixa de temperatura de 56 C a 85 C, associados desnaturao das principais

    protenas da clara: ovotransferrina, lisozima, ovalbumina e S-ovalbumina, conforme reportado pela

    literatura(Donovan, Mapes, Davis, e Garibaldi, 1975; Talansier et al., 2009). Alguns estudos mostram

    que o tratamento trmico causa reduo das reas dos picos e/ou seu desaparecimento, bem como, a

    ocorrncia de sobreposio entre picos, especialmente, entre a ovotransferrina e a lizosima (Nemeth et

    al., 2010).

    Figura 1 Calorimetria diferencial de varredura das claras fresca (a), pasteurizada (b) e

    desidratada (c)

    20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

    Flu

    xo d

    e c

    alo

    r (m

    W.m

    g-1)

    Temperatura (C)

    (c) S

    (b) P 85C

    85C

    (a) F Entalpia - 8,71 J/g

    Entalpia - 3,34 J/g

    Entalpia - 0,70 J/g

    62C

    80C

    69C

    80C

    71C

    85C

    80C

    69C

    56C

    Endo

    Os valores da variao de entalpia de desnaturao (Hd) foram gradativamente menores

    conforme intensificou o processamento trmico. Alguns trabalhos associam a reduo Hd com a

    perda parcial da estrutura conformacional das protenas em decorrncia do processamento trmico (

    Van Der Plancken; Van Loey; Hendrickx, 2006). As claras P e S apresentaram menores valores de

    entalpia, uma vez que aps o tratamento trmico parte das protenas j se encontravam desnaturadas

    fazendo com que a energia gasta na anlise calorimtrica fosse menor do que nas claras frescas.

    A anlise de % Overrun mostrou que a clara F apresentou valor de overrun mximo em 18