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Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Departamento de Biologia Animal Efeitos da dimensão e distância de fragmentos de habitats não-matriz para a diversidade de mamíferos do montado de sobro da Serra de Grândola Margarida Vicente Dissertação orientada pela Prof. Doutora Margarida Santos-Reis Mestrado em Biologia da Conservação 2008

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Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências

Departamento de Biologia Animal

Efeitos da dimensão e distância de fragmentos de habitats não-matriz para a diversidade de mamíferos do montado de sobro da Serra de

Grândola

Margarida Vicente

Dissertação orientada pela Prof. Doutora Margarida Santos-Reis

Mestrado em Biologia da Conservação

2008

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ÍNDICE

Agradecimentos 3

Resumo 4

Summary

Introdução 7

Região mediterrânica

Montado

Heterogeneidade da paisagem e qualidade do habitat

Pequenos mamíferos

Carnívoros

Objectivos

Área de estudo 14

Metodologia 17

Pequenos mamíferos

Carnívoros

Análise de dados

Resultados 20

Riqueza específica e diversidade

Pequenos mamíferos

Carnívoros

Discussão dos resultados 33

Riqueza específica e diversidade

Pequenos mamíferos

Carnívoros

Considerações Finais 38

Bibliografia 40

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AGRADECIMENTOS

À orientadora, Professora Doutora Margarida Santos-Reis por tornar

possível a realização deste projecto, pela disponibilidade, apoio e transmissão

de conhecimentos.

Ao CBA por permitir a utilização das suas instalações na estação de

campo da Herdade da Ribeira Abaixo.

À Sara pela companhia, apoio e amizade.

Ao Miguel Rosalino pela disponibilidade e ajuda.

Ao João pela paciência e ajuda preciosa no campo.

Ao Marco e ao Fernando pela ajuda no campo.

À Alice e restantes companheiros da herdade pela animação.

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RESUMO

A bacia do Mediterrâneo é considerada um “hotspot” da biodiversidade

mundial devido à sua elevada riqueza específica e à presença de espécies

endémicas, em particular, plantas e vertebrados (Myers et al. 2000). O

montado é um ecossistema tipicamente mediterrânico e constitui o maior

sistema agro-silvo-pastoril da Europa, sustentando uma elevada biodiversidade

(Diaz et al. 1997).

A heterogeneidade e configuração da paisagem, juntamente com a

qualidade do habitat são condições determinantes na distribuição, diversidade

e estrutura das comunidades faunísticas. A fragmentação do habitat, aliada à

redução da heterogeneidade, constitui, actualmente, uma das maiores

ameaças à conservação da biodiversidade (Wilcox & Murphy 1985, Paniagua

et al. 2004).

O objectivo deste trabalho foi avaliar a participação dos vários tipos de

habitat na diversidade e abundância de mamíferos na paisagem do montado.

Pretendeu-se analisar se a existência de fragmentos de diferentes tipos de

habitat teria algum efeito sobre a abundância e diversidade de mamíferos; e

também se a utilização das manchas pelos mamíferos estaria relacionada com

o tipo de habitat, a distância entre manchas e a dimensão das mesmas.

Em geral, pode-se concluir que o montado por si só não garante a

conservação de mamíferos em ecossistemas mediterrânicos, são os

fragmentos de habitat não-matriz que asseguram a abundância e diversidade

das espécies. Constatou-se que as galerias ripícolas dão um importante

contributo para a riqueza específica e diversidade de mamíferos, pelo que, é

fundamental contemplar este tipo de habitat nos planos de conservação em

regiões mediterrânicas.

No sentido de conservar a diversidade de mamíferos típica do montado

é ainda necessário considerar o tamanho e distância entre as manchas de

habitat não-matriz, uma vez que é fundamental maximizar a área (em especial

das manchas cultivadas) e minimizar a distância aos restantes fragmentos.

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Palavras-chave: Biodiversidade; heterogeneidade; pequenos mamíferos;

carnívoros; montado

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SUMMARY

The Mediterranean basin is considered a world biodiversity hotspot due

to its high specific richness and to the presence of endemic species, particularly

plants and vertebrates (Myers et al. 2000). The montado is a mediterranean

environment and constitutes the largest system of lands for agriculture, forestry

and pasture in Europe, sustaining a high level of biodiversity (Diaz et al. 1997).

The landscape heterogeneity and configuration, along with habitat quality

play determinant roles in distribution, diversity and structure of faunistical

communities. The habitat fragmentation, along with heterogeneity reduction, is

nowadays one of the biggest threat do biodiversity conservation (Wilcox &

Murphy 1985, Paniagua et al. 2004).

The aim of this project was to evaluate the participation of several kinds

of habitat in the diversity and abundance of mammals in the montado

landscape. We intended to analyse if the existence of different habitat patches

would have some effect on the abundance and diversity of mammals; and if the

use of the patches would be related to the habitat type, the distance between

patches and its dimension.

We concluded that montado on its own does not guarantee mammals

conservation in mediterranean environments, the abundance and diversity of

mammals are provided by the patches of non-matrix habitat. Riparian areas are

important for mammals specific richness and diversity, so it is crucial to take

these patches into account when promoting conservation actions in

mediterranean areas.

To promote the diversity of mammal species in the montado it is also

important to consider the size and distance between patches of non-matrix

habitat, since it is essential to maximize the area and minimize the distance to

other patches.

Keywords: Biodiversity; heterogeneity; small mammals; carnivores; montado

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INTRODUÇÃO

Este estudo insere-se no projecto “Valor aditivo dos fragmentos não

matriz para a biodiversidade do montado de sobro: implicações

conservacionistas e de gestão” (FCT - POCI/BIA-BDE/61122/2004), cujo

principal objectivo é demonstrar a contribuição de fragmentos de habitat não-

matriz para a biodiversidade total das paisagens de montado de sobro.

Região Mediterrânica

A bacia do Mediterrâneo é considerada um “hotspot” da biodiversidade

mundial devido à sua elevada riqueza específica e à presença de espécies

endémicas, em particular, plantas e vertebrados (Myers et al. 2000). Para este

facto contribuiu a elevada heterogeneidade da paisagem mediterrânica, a nível

geológico, climático e fitossociológico, assim como factores históricos, tais

como a ocorrência de espécies de outras regiões e a especiação in situ (Del

Bove & Isotti 2001). O sudoeste da Península Ibérica é disso exemplo, uma vez

que aí convergem espécies originalmente provenientes do norte da Europa e

de África, sendo o limite meridional das primeiras e o limite setentrional das

segundas (Lawton 1993, Borralho et al. 1995).

No entanto, a forte influência humana tem contribuído para o aumento

de variabilidade nas áreas mediterrânicas, consequência de mudanças

drásticas causadas, por exemplo, por fogos e conversão de terrenos para

exploração agrícola, pecuária ou silvícola (Corominas 2004), com

consequências nefastas a nível da biodiversidade (Pereira & Fonseca 2003).

Montado

O montado é o sistema agro-silvo-pastoril mais extenso da Europa,

estando contemplado no Anexo I da Directiva Habitats da União Europeia (nº

92/43/EEC), devido à elevada biodiversidade que sustenta (Diaz et al. 1997). É

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um exemplo de integração da natureza e da sua utilização por parte do Homem

(Pereira & Fonseca 2003), uma vez que consiste no maquis original que foi

sendo gradualmente alterado para o tornar adequado a actividades de cariz

antropogénico (Pinto-Correia 2000).

Estando bem adaptado às características da região mediterrânica (Diaz

et al. 2003), o montado é um dos usos do solo dominante em Portugal,

especialmente no sul, podendo dividir-se em 2 tipos: montado de sobro

(dominado pelo sobreiro Quercus suber) e montado de azinho (dominado pela

azinheira Quercus ilex), presentes junto à costa e no interior do país,

respectivamente (Pinto-Correia 2000).

É um biótopo que suporta uma elevada biodiversidade, sendo esta

reconhecidamente superior à suportada por ecossistemas naturais e

humanizados em separado (Diaz et al. 2003, Plieninger et al. 2003). A

justificação deste facto reside na heterogeneidade típica da paisagem do

montado, com manchas de bosque, pasto e áreas cultivadas, o que permite a

sobrevivência de espécies com requisitos muito diferentes (Diaz et al. 1997,

Diaz et al. 2003, Plieninger et al. 2003). Aparentemente, a intervenção humana

tem um papel benéfico, aumentando a variedade de recursos disponíveis.

Vários estudos comprovam que o montado é uma das áreas com maior

biodiversidade animal em Portugal (Santos-Reis & Correia 1999, Rosalino et al.

2005), nomeadamente, no que se refere às aves (Pereira & Fonseca 2003) e

aos carnívoros (suporta 70% dos carnívoros de porte médio - Santos-Reis et al.

1999), sendo inclusivamente o biótopo onde foi encontrado o último indício de

presença do felídeo mais ameaçado do mundo (Nowell & Jackson 1996), o

lince (Lynx pardinus) em Portugal (Santos-Reis 2003).

Uma vez que a paisagem do montado é caracterizada por um

diversificado mosaico de biótopos em que a abundância de recursos é variada

e sazonal, os carnívoros que vivem neste ecossistema são, maioritariamente,

omnívoros (e. g. Rosalino et al. 2004, Santos et al. 2007).

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Heterogeneidade da Paisagem e Qualidade do Habitat

A heterogeneidade e configuração da paisagem, juntamente com a

qualidade do habitat (sensu fonte de recursos para as comunidades animais)

são factores determinantes na diversidade, estrutura e funcionamento das

comunidades faunísticas, pelo que é essencial conhecer e prever a resposta

das espécies a alterações destes factores (Law & Dickman 1998, Dauber et al.

2003, Corbalán 2005, Tabeni et al. 2005).

A heterogeneidade da paisagem deve-se às características do solo,

topografia e factores microclimáticos, que determinam o(s) tipo(s) de formação

vegetal e, consequentemente, o tipo de habitat disponível (Law & Dickman

1998).

Vários estudos têm abordado a heterogeneidade dos habitats e o seu

impacto na diversidade, tendo sido desenvolvida a Hipótese da

Heterogeneidade do Habitat (Simpson 1949, MacArthur & Wilson 1967, Lack

1969), que tem como pressuposto que os habitats mais complexos suportam

uma maior variedade de nichos e, consequentemente uma diversidade mais

elevada (Bazzaz 1975, August 1983, Burel et al. 1998), o que foi comprovado

num estudo em que se detectou uma diversidade florística mais elevada em

paisagens com maior grau de heterogeneidade (Bazzaz 1975).

Enquanto que algumas espécies dependem unicamente de um tipo de

habitat, outras necessitam de vários recursos, por exemplo durante diferentes

fases do ciclo de vida, pelo que é importante que consigam aceder a diferentes

habitats numa área relativamente pequena (Law & Dickman 1998).

O meio físico regula a distribuição dos animais de duas formas:

constituindo a fonte de alimento e sendo o meio através do qual se dispersam.

Assim, adicionalmente às características das manchas de diferentes habitats

(coberto vegetal, área, grau de isolamento e tipo de solo), a composição da

matriz onde estas se dispõem, também contribui para a presença das espécies,

tal como demonstrado em estudos de comunidades de insectos (Dauber et al.

2003). Dependendo das características físicas e da biologia da espécie em

causa, a matriz pode funcionar como barreira, aprisionando os indivíduos num

fragmento de habitat adequado, ou ter qualidade suficiente para permitir a

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dispersão, caso inclua algumas fontes de alimento e/ou locais de refúgio

(Antongiovanni & Metzger 2004, Revilla et al. 2004).

A distribuição dos animais é fruto da selecção do habitat, ou seja, do

mecanismo através do qual um animal escolhe entre os recursos de habitat

que encontra disponíveis (Orrock et al. 2000). Segundo a Teoria da Selecção

do Habitat (Fretwell & Lucas 1972), os indivíduos tendem a estabelecer-se em

habitats que lhes conferem fitness e sobrevivência óptimos (Corbalán et al.

2006); assim pode-se assumir que as densidades mais elevadas ocorrem nos

habitats de maior qualidade (Corbalán et al. 2006).

Em paisagens muito heterogéneas alguns fragmentos de habitat podem

funcionar como estruturas keystone, ou seja, locais que proporcionam recursos

para determinada espécie; a identificação destas estruturas é muito útil para

direccionar esforços de conservação (Tews et al. 2004). Existem evidências de

que áreas cultivadas e ripícolas possam, frequentemente, desempenhar esta

função (Hellegers, Virgós 2001, Marshall et al. 2006), sendo habitats aos quais

os animais não estão restringidos mas que são regularmente utilizados,

nomeadamente como local de alimentação e/ou refúgio (Martin 2002).

A fragmentação do habitat, juntamente com a redução da

heterogeneidade, constitui, actualmente, uma das maiores ameaças à

conservação da biodiversidade (Wilcox & Murphy 1985, Paniagua et al. 2004).

Para isso contribui também o aumento da sensibilidade e diminuição da

capacidade de resposta a alterações ambientais por parte das espécies, que é

função de vários factores: redução da área de habitat adequado (Paniagua et

al. 2004), aumento do grau de isolamento das manchas de habitat favorável

(Paniagua et al. 2004), reduzido tamanho da população (Lande 1993), reduzida

variabilidade genética e elevado inbreeding (Lacy 1993, Saccheri et al. 1998),

alterações na dinâmica intra e inter-populacional (Temple & Cary 1988,

McCarthy et al. 1994, Paton 1994, Lacy 2000) e alterações em processos

ecológicos essenciais para a manutenção de populações viáveis (Klein 1989).

Apesar da fragmentação do habitat ter, em geral, um impacto negativo,

as paisagens fragmentadas oferecem um mosaico de habitats diferentes para a

fauna (Gascon et al. 1999), o que pode ser benéfico, nomeadamente, para

espécies generalistas, que assim têm na mesma área uma maior diversidade

de recursos tróficos para explorar (Bright 1993, Virgós 2002). Andrén (1994)

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detectou uma maior densidade de corvos (Corvus corax) em paisagens mistas

de zonas cultivadas e floresta do que em qualquer dos dois habitats

isoladamente.

Finalmente, a disposição dos recursos em mosaico afecta o

comportamento dos indivíduos, a Optimal Foraging Theory (Emlen 1966,

MacArthur & Pianka 1966) evidencia que este varia em função da fome,

disponibilidade, distribuição e qualidade do alimento e que os animais tendem a

agir de forma maximizar os ganhos, minimizando os custos. Adicionalmente, a

Patch Foraging Theory (Hassell & Southwood 1978) demonstra que, apesar da

busca de alimento se iniciar numa direcção aleatória, verifica-se uma tendência

dos indivíduos para centralizar as trajectórias dos movimentos em apenas um

sentido (Kareiva 1985, Fromm & Bell 1987, Bell 1990, Bell 1991, Cartar & Real

1997, Cresswell 1997, McIntyre & Wiens 1999).

Pequenos Mamíferos

Os pequenos mamíferos desempenham um papel muito importante no

funcionamento dos ecossistemas, através do consumo e dispersão de

sementes, por um lado, e como fonte de alimento essencial para muitos

predadores, tanto mamíferos como aves, por outro (Diaz 1992, Blanco 1998,

Corominas 2004, Converse et al. 2006).

Apesar de ser um grupo heterogéneo, as espécies de pequenos

mamíferos partilham as características biológicas definidas pelo seu tamanho

reduzido, elevada taxa metabólica e territórios de pequena dimensão

(Corominas 2004).

A distribuição espacial e a estrutura da comunidade de pequenos

mamíferos são fortemente dependentes de características do habitat, tais como

a cobertura vegetal que, além de ser fonte de alimento, condiciona o refúgio e a

facilidade de fuga aos predadores (Gonnet 1998, Corbalán 2005, Tabeni &

Ojeda 2005, Corbalán et al. 2006). Assim, a abundância e riqueza específica

dos pequenos mamíferos são superiores em habitats com elevada cobertura

vegetal, pois proporcionam melhores refúgios e mais fontes de alimento, como

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folhas, frutos, sementes ou insectos (Kotler et al. 1994, Gonnet & Ojeda 1998,

Corominas 2004).

Existem estudos que comprovam que as espécies de pequenos

mamíferos têm a capacidade de distinguir os principais tipos de habitat num

mosaico (Gonnet & Ojeda 1998, Tabeni & Ojeda 2005) e em paisagens

heterogéneas conseguem sobreviver em manchas pequenas ou percorrer

grandes distâncias para encontrar habitat adequado (Burel et al. 1998).

Na região mediterrânica, o número de espécies de pequenos mamíferos

é reduzido, com preponderância de espécies ubíquas e generalistas

(Corominas 2004). As comunidades são formadas usualmente por um

insectívoro generalista (e.g. Crocidura russula), um generalista

granívoro/insectívoro (e.g. Apodemus sylvaticus) e um granívoro de meios

abertos (e.g. Mus spretus) (Corominas 2004).

Carnívoros

Os papéis dos carnívoros no ecossistema são variados. Entre outros,

funcionam como reguladores das populações de presas (Blanco 1998,

Paniagua et al. 2004), podendo induzir-lhes mudanças ao nível do

comportamento e nas regiões onde complementam a dieta com frutos

favorecem o transporte e dispersão das sementes (Paniagua et al. 2004).

Os carnívoros constituem um grupo vulnerável, encontrando-se grande

parte das espécies com problemas de conservação devido à perseguição e

destruição do habitat (Gittleman et al. 2001), cujos efeitos são ampliados pelo

tamanho relativamente grande das espécies (Virgós et al. 2002). No entanto, o

estudo e monitorização destas populações têm vários constrangimentos:

Reduzida densidade, o que diminui a probabilidade de captura, além de

aumentar a vulnerabilidade a acontecimentos estocásticos (Paniagua et al.

2004, Christophersen et al. 2005, Rosalino et al. 2005)

Comportamento secretivo (Paniagua et al. 2004, Rosalino et al. 2005)

Taxas reprodutivas reduzidas, o que resulta numa reacção lenta às

alterações no ambiente (Christophersen et al. 2005)

Tamanho dos territórios elevado (Christophersen et al. 2005)

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Os carnívoros, na sua maioria, têm hábitos tróficos generalistas,

alimentam-se de pequenos mamíferos, quando estes estão disponíveis, mas

têm capacidade de explorar outros recursos (Corominas 2004), o que se

verifica em zonas de montado, onde consomem uma grande quantidade de

frutos (Santos 1998). Ainda assim, a selecção do habitat por parte dos

carnívoros é claramente influenciada pela abundância de pequenos mamíferos

(Murray et al. 1994).

Objectivos

O objectivo deste trabalho foi avaliar a contribuição de vários tipos de

habitat para a diversidade e abundância de mamíferos na paisagem de

montado de sobro típica da região mediterrânica. Pretendeu-se analisar se a

existência de manchas de diferentes tipos de habitat teria algum efeito sobre a

comunidade de mamíferos e ainda se a utilização das manchas pelos

mamíferos estaria relacionada com o tipo de habitat, distância entre manchas e

dimensão das mesmas. Finalmente, pretendeu-se compreender a importância

dos fragmentos de áreas cultivadas, de forma a poder desenvolver e

implementar medidas que promovam a conservação dos mamíferos em regiões

com características semelhantes.

Foi também objectivo confirmar a hipótese de que a ocorrência de

manchas de habitat não-matriz promove a abundância e diversidade de

mamíferos no ecossistema mediterrânico, sendo o seu contributo proporcional

à área de cada mancha e inverso à distância entre as mesmas.

Seleccionaram-se os mamíferos como modelo de estudo devido à

variedade de nichos tróficos e ecológicos que realizam, à sua intervenção na

sustentabilidade do montado e à sua sensibilidade a perturbações ambientais e

antropogénicas.

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ÁREA DE ESTUDO

O trabalho de campo teve lugar na Serra de Grândola. A topografia é

moderada, variando as elevações entre 150 e 240m acima do nível do mar

(Correia & Santos-Reis 1999).

O clima característico é mediterrânico com influências atlânticas. A

sazonalidade é bastante marcada (Blondel & Aronson 1999), sendo o Verão

quente e seco e o Inverno frio e húmido; a temperatura e precipitação médias

são 15.6ºC e 500mm/ano, respectivamente (Correia & Santos-Reis 1999).

A região faz parte de uma das maiores áreas de montado de Portugal,

sendo caracterizada por sobreiro (Quercus suber) ao qual se associa por vezes

a azinheira (Quercus ilex) e o carvalho-cerquinho (Quercus faginea), existindo

também pequenas áreas de eucalipto (Eucalyptus globulus) e pinheiro bravo

(Pinus pinaster). A nível do subcoberto marcam presença a esteva (Cistus

spp.), o rosmaninho (Lavandula stoechas), o medronheiro (Arbutus unedo) e a

urze (Erica spp.) (Correia & Nisa 1999). Para além da matriz de montado

existem fragmentos de hortas e olivais de pequenas dimensões dispersos pela

paisagem, maioritariamente abandonados. Para além da oliveira (Olea

europaea), encontram-se nestas manchas árvores de fruto, sendo as mais

frequentes a figueira (Ficus carica), a nespereira (Eriobotrya japónica), a

laranjeira (Citrus sinensis) e o marmeleiro (Cydonia oblonga).

Existem também algumas galerias ripícolas, onde estão presentes 0

amieiro (Alnus glutinosa), o choupo (Populus nigra), o salgueiro (Salix

atrocinerea), o freixo (Fraxinus angustifolia) e silvas (Rubus ulmifolius).

Observam-se ainda áreas de pasto com aira-cariofilia (Aira caryophyllea) e

bole-bole (Briza spp) (Correia & Nisa 1999). A água disponível varia

sazonalmente, no Verão a maioria dos cursos de água está seca, enquanto

que no Inverno, é possível encontrar água em todos.

Apesar da densidade populacional ser reduzida e dispersa em poucos

núcleos urbanos, sendo o principal Santa Margarida da Serra, ocorrem várias

actividades humanas causadoras de impacto como extracção de cortiça,

pastorícia e caça.

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Figura 1 – Distribuição do montado de sobro em Portugal (sombreado) e

localização da área de estudo (ponto) (Adaptado de dados de 1995 do Instituto

Florestal)

A fauna local de pequenos mamíferos é constituída pelo musaranho-de-

dentes-brancos - Crocidura russula (Hermann, 1780), o musaranho-anão-de-

dentes-brancos - Suncus etruscus (Savi, 1822), a rata-de-água - Arvicola

sapidus (Miller, 1908), a toupeira - Talpa occidentalis (Cabrera 1907), o rato de

Cabrera - Microtus cabrerae (Thomas, 1906), o rato-cego-mediterrânico -

Microtus duodecimcostatus (Sélys-Longchamps, 1839), o rato-do-campo -

Apodemus sylvaticus (Linnaeus, 1758), o rato-preto - Rattus rattus (Linnaeus,

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1758), a ratazana - Rattus norvegicus (Berkenhout, 1796) e o rato-das-hortas -

Mus spretus (Lataste, 1883) (Cabral et al. 2005).

Entre estes, o único com estatuto de ameaça em Portugal é o rato de

Cabrera. (Cabral et al. 2005).

As espécies mais abundantes na área de estudo são o rato-do-campo, o

rato-das-hortas e o musaranho-de-dentes-brancos (Mathias & Ramalhinho

1999).

Quanto aos carnívoros, verifica-se a ocorrência de raposa - Vulpes

vulpes (Linnaeus, 1758), doninha - Mustela nivalis (Linnaeus, 1766), toirão -

Mustela putorius (Linnaeus, 1758), fuinha - Martes foina (Erxleben, 1777),

texugo - Meles meles (Linnaeus, 1758), lontra - Lutra lutra (Linnaeus, 1758),

geneta - Genetta genetta (Linnaeus, 1758) e sacarrabos - Herpestes

ichneumon (Linnaeus, 1758) (Cabral et al. 2005).

As espécies mais abundantes na área de estudo são a doninha, a

fuinha, a geneta e o sacarrabos (Santos-Reis et al. 1999).

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METODOLOGIA

Para a realização deste estudo optou-se por uma área de estudo tão

extensiva quanto possível tendo para tal sido seleccionadas as cartas militares

506 e 517. A selecção dos locais de amostragem foi feita com recurso a

fotografias aéreas e ao software ArcView 3.1 GIS (ESRI 1996) e respectivas

extensões, e posterior verificação no local. Os critérios tidos em conta para a

selecção das manchas de habitat a amostrar foram os seguintes: tipo de

habitat (montado, galeria ripícola e terreno cultivado), área, distância a outras

manchas e reduzida influência de auto-correlação espacial.

Pequenos mamíferos

Os métodos directos, além de invasivos, são também mais laboriosos,

exigindo mais tempo e recursos. No entanto, a armadilhagem é o método mais

fiável na inventariação de pequenos mamíferos, pois são difíceis de observar

devido ao pequeno tamanho e hábitos nocturnos e secretivos (Jones et al.

1996, Corominas 2004).

Para amostrar a diversidade e abundância de pequenos mamíferos,

entre Janeiro e Julho de 2007, foram realizadas sessões de captura, com

permissão do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade

(ICNB), através de armadilhas de caixa (modelo Sherman) de dois tamanhos.

Estas continham algodão e isco (mistura de sardinha em lata e flocos de

aveia). Foi realizada uma sessão de amostragem (7 noites consecutivas) em

cada local, sendo as armadilhas verificadas todas as manhãs e os animais

capturados anestesiados, identificados à espécie, medidos, pesados, verificado

o sexo, marcados por corte do pêlo e libertados no respectivo local de captura.

Para possibilitar a comparação dos resultados, utilizou-se o mesmo

número (50) e disposição de armadilhas (dispostas em cruz a partir do centro

do fragmento e distando em média 10m entre si) em cada local de

amostragem, independentemente da sua dimensão do fragmento (Pardini et al.

2005).

17

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Foram armadilhados 25 locais (15 áreas cultivadas, 6 galerias ripícolas e

4 zonas de montado).

Carnívoros

Para prospectar os carnívoros utilizou-se o método dos transectos, pois

a troca de informação entre os indivíduos é um aspecto muito importante da

sua estratégia social, e é realizada através de várias formas: visual, auditiva e

olfactiva, sendo a última a mais frequente (Macdonald 2005, Espírito-Santo et

al. 2007). Este método permite analisar áreas relativamente grandes (Virgós

2001, Virgós et al. 2002) e em tipos de habitats variados (Sadlier et al. 2004) e

está comprovada a boa relação entre os indícios detectados e a densidade

populacional (Cresswell et al. 1989, Cavallini 1994, Staender 1998, Virgós et al.

2002, Wemmer et al. 1996).

Uma vez que o método utilizado é menos laborioso, foi possível procurar

indícios de presença de carnívoros nos mesmos locais onde se realizou a

armadilhagem de pequenos mamíferos e ainda aumentar número de manchas

amostradas com este método.

Entre Janeiro e Julho de 2007, foram prospectados os indícios de

presença de carnívoros ao longo de transectos de 1,5km de extensão, tendo

por base a rede existente de caminhos de terra batida (Virgós et al. 2002,

Paniagua et al. 2004), padronizando assim a probabilidade de detecção dos

indícios nos diferentes habitats. De forma a minimizar os erros de identificação,

utilizaram-se várias características distintivas na identificação dos indícios

(morfologia, comprimento, largura, diâmetro, odor), e foram excluídos os de

identificação dúbia (Kendall et al. 1992, Sadlier et al. 2004).

Para avaliação da diversidade e abundância de carnívoros realizaram-se

47 transectos (25 em áreas cultivadas, 14 em galerias ripícolas e 8 em zonas

de montado).

18

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Análise de dados

Calculou-se a riqueza específica e a diversidade (Índice de Shannon-

Wiener – Krebs 1989) de mamíferos para os 25 locais onde se prospectaram

pequenos mamíferos e carnívoros.

Calculou-se a abundância de pequenos mamíferos e de carnívoros em

cada local amostrado e a média e desvio padrão do mesmo índice por tipo de

habitat (montado, galeria ripícola e cultura).

Para verificar a ocorrência de diferenças na abundância média entre as

três distintas categorias de manchas recorreu-se à ANOVA não paramétrica

(Zar 1996).

Para averiguar a associação entre a comunidade de pequenos

mamíferos e de carnívoros e as manchas de habitat amostradas, efectuou-se

uma análise de correspondências.

Tendo as características das manchas de habitat (área, perímetro,

distância à horta/olival mais próximo, mediana das distâncias às hortas/olivais

mais próximos e distância à galeria ripícola mais próxima) como variáveis

independentes, e os índices de diversidade e abundância, como variáveis

dependentes, um modelo de regressão múltipla permitiu averiguar a

contribuição de cada um dos descritores considerados na respectiva

diversidade e abundância de pequenos mamíferos ou carnívoros.

Todas as análises estatísticas foram realizadas com recurso ao software

STATISTICA 7 (StatSoft).

19

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RESULTADOS

Riqueza Específica e Diversidade de Mamíferos

Não se verificam diferenças significativas na riqueza específica entre os

3 habitats considerados (Kruskal-Wallis H (2, N=25) = 2,485; p= 0,289); no

entanto, observa-se que as galerias ripícolas apresentam riqueza específica

superior aos restantes habitats (Figura 1).

Mean Mean±0,95 Conf. Interval

C GR M

Habitat

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Riq

ueza

esp

ecífi

ca

Figura 1 – Média e desvio padrão da riqueza específica por habitat (C-Cultura,

GR-Galeria Ripícola, M-Montado).

A nível local, a riqueza específica evidencia uma grande variabilidade

entre os locais de amostragem nas culturas e no montado, verificando-se locais

com riqueza específica de mamíferos muito elevada e muito reduzida (Figura

2); nas galerias ripícolas os valores de riqueza são relativamente mais

homogéneos entre os vários sítios amostrados.

20

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Os locais que apresentam riqueza específica mais elevada (C2 e C3)

são culturas abandonadas, com coberto vegetal denso, situadas junto a cursos

de água, características apelativas para vários mamíferos, pelas

potencialidades a nível de refúgio e de fontes de alimento. Quanto à zona

ripícola (GR4), trata-se de uma ribeira permanente, com galeria relativamente

desenvolvida, pelo que, constitui também habitat adequado para várias

espécies. Quanto à amostra com menor riqueza específica (C13), trata-se de

uma horta de pequena dimensão, bem cuidada e com coberto vegetal

praticamente inexistente, além de se situar junto a uma casa e a uma estrada

com alguma utilização.

0123456789

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9C10 C11 C12 C13 C14 C15 GR1

GR2GR3

GR4GR5

GR6M1 M2 M3 M4

Local

R. E

spec

ífic

Riq

ueza

Esp

ecífi

ca

Figura 2 – Riqueza específica de mamíferos nos locais amostrados (C-Cultura,

GR-Galeria Ripícola, M-Montado).

Tal como é explícito na figura 3, a diversidade de mamíferos nos locais

prospectados não é significativamente diferente nas zonas cultivadas, galerias

ripícolas e montado (Kruskal-Wallis H (2, N=25) = 3,031; p= 0,2197). Ainda assim,

o índice de diversidade é semelhante nas áreas cultivadas e no montado,

apresentando um valor mais elevado nas galerias ripícolas.

21

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Mean Mean±0,95 Conf. Interval

C GR M

Habitat

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

2,8Ín

dice

de

dive

rsid

ade

Figura 3 – Média e desvio padrão do índice de diversidade (índice de Shannon-

Wiener) por habitat (C-Cultura, GR-Galeria Ripícola, M-Montado).

A figura 4 ilustra uma grande variabilidade do índice de diversidade

dentro de cada tipo de habitat, sendo mais evidente nos locais de culturas e de

montado.

O valor de diversidade mais elevado corresponde a uma área cultivada

(C2) o que pode dever-se ao facto de a área em causa ser um olival

abandonado, com vegetação densa e com uma galeria ripícola associada, pelo

que, apresenta condições adequadas a uma grande variedade de espécies.

Quanto aos locais com menor índice de diversidade (C6, C7 e C13), o primeiro

situa-se junto à casa da Herdade da Ribeira Abaixo, pelo que é uma zona com

elevado grau de perturbação humana; o segundo é uma zona de pastoreio

intensivo de vacas, o que diminui a cobertura vegetal, tornando o local não

aprazível, nomeadamente para os pequenos mamíferos; finalmente o C13 é

uma horta de pequena dimensão, bem cuidada e com coberto vegetal

praticamente inexistente, além de se situar junto a uma casa e a uma estrada.

22

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0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9C10 C11 C12 C13 C14 C15 GR1

GR2GR3

GR4GR5

GR6M1 M2 M3 M4

Local

Índi

ce d

e Di

vers

sida

Índi

ce d

e D

iver

sida

de

Figura 4 – Índice de diversidade (índice de Shannon-Wiener) de mamíferos nos

locais amostrados (C-Cultura, GR-Galeria Ripícola, M-Montado).

Apesar dos resultados não serem significativos (Tabela 1), o factor que

mais influencia a diversidade de mamíferos nos fragmentos de habitat não-

matriz é a dimensão dos mesmos, seguida da distância à horta mais próxima; o

factor com menos influência é a mediana das distâncias às hortas mais

próximas.

Tabela 1 – Efeito da dimensão e distância entre fragmentos não-matriz na

diversidade de mamíferos (análise de regressão múltipla).

Variável independente Coeficiente

Beta p

Área 0,320 0,480

Perímetro -0,115 0,841

Distância horta + próxima 0,227 0,460

Mediana hortas + próximas -0,070 0,841

Distância GR + próxima -0,165 0,665

23

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Pequenos mamíferos

Capturaram-se 417 pequenos mamíferos de 5 espécies: musaranho-de-

dentes-brancos, rato-do-campo, rato-preto, ratazana e rato-das-hortas, sendo o

último o mais abundante (61,4%) e rato-preto o menos abundante (0,7%).

De uma forma geral, a figura 5 mostra uma abundância de pequenos

mamíferos muito reduzida na matriz, para todas as espécies, sendo

musaranho-de-dentes-brancos e rato-das-hortas as únicas espécies presentes

neste habitat. É evidente a diferença entre as espécies do género Rattus e as

restantes; enquanto que as primeiras são mais abundantes nas galerias

ripícolas, as últimas estão mais presentes nas hortas/olivais.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

C. russula M. spretus A. sylvaticus R. rattus R. norvegicus

Abun

dânc

i

CulturaG. ripícolaMontado

Abu

ndân

cia

Figura 5 – Abundância de pequenos mamíferos por espécie e por habitat

Não se verificam diferenças estatisticamente significativas na

abundância de pequenos mamíferos entre os 3 tipos de habitat (Kruskal-Wallis

H (2, N=25) = 3,848; p= 0,146). No entanto, em geral, o gráfico mostra

abundâncias bastante mais reduzidas nos locais de montado e as abundâncias

mais elevadas registadas pertencem a áreas cultivadas (Figura 6).

24

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Mean Mean±0,95 Conf. Interval

C GR M

Habitat

-20

0

20

40

60

80

100

120

140Ín

dice

de

abun

dânc

ia

Figura 6 – Média e desvio padrão dos índices de abundância de pequenos

mamíferos em cada habitat (C-Cultura, GR-Galeria Ripícola, M-Montado).

À semelhança do observado para o índice de diversidade, também a

abundância de pequenos mamíferos variou de forma notória nos vários locais

amostrados para cada tipo de habitat, especialmente nas áreas cultivadas, que

incluem os locais respectivamente com maior e menor abundância de

pequenos mamíferos (Figura 7).

25

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0

50

100

150

200

250

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9C10 C11 C12 C13 C14 C15 GR1

GR2GR3

GR4GR5

GR6M1 M2 M3 M4

Local

Abun

dânc

iA

bund

ânci

a

Figura 7 – Índice de abundância de pequenos mamíferos por local de

amostragem (C-Cultura, GR-Galeria Ripícola, M-Montado).

A análise de correspondência gerou 2 eixos factoriais que, em conjunto,

explicam cerca de 87% da variância total da abundância de pequenos

mamíferos. Observa-se uma clara associação entre rato-preto e ratazana,

sendo ambos fortemente influenciados pelo eixo 1. As restantes espécies estão

mais correlacionadas com o eixo 2; verifica-se ainda uma associação entre

musaranho-de-dentes-brancos e rato-das-hortas.

As espécies do género Rattus encontram-se associadas a galerias

ripícolas e zonas urbanizadas. O rato-do-campo está associado a áreas

cultivadas e o rato-das-hortas e o musaranho-de-dentes-brancos estão

predominantemente ligados a dois tipos de habitat, culturas e montado.

26

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2D Plot of Row and Column Coordinates; Dimension: 1 x 2Input Table (Rows x Columns): 25 x 5

Standardization: Row and column profiles

Row.Coords Col.Coords

C1

C2

C3

C4C5

C6C7

C8C9 C10

C11

C12

C13

C14

C15

GR1

GR2GR3GR4GR5GR6

M1

M2

M3

M4

C. russula

M. spretus

A. sylvaticus

R. rattusR. norvegicus

-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Dimension 1; Eigenvalue: ,41447 (63,73% of Inertia)

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

Dim

ensi

on 2

; Eig

enva

lue:

,153

74 (2

3,64

% o

f Ine

rtia)

Figura 8 – Espaço factorial (eixos 1 e 2), incluindo espécies de pequenos

mamíferos e locais de amostragem (C-Cultura, GR-Galeria Ripícola, M-

Montado).

A abundância de pequenos mamíferos não é influenciada

significativamente por nenhum dos factores em análise (Tabela 2). No entanto,

os dados indicam que as características da mancha que mais afectam a

abundância são o perímetro e a distância à galeria ripícola mais próxima, que

estão relacionadas negativamente, e a distância à horta mais próxima, que tem

uma relação positiva. A variável que menos afecta a abundância de pequenos

mamíferos é a área das manchas de habitat não-matriz.

27

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Tabela 2 – Efeito da dimensão e distância entre fragmentos não-matriz na

abundância de pequenos mamíferos (análise de regressão múltipla).

Variável independente Coeficiente

Beta p

Área -0,001 0,998

Perímetro -0,499 0,350

Distância horta + próxima 0,325 0,255

Mediana hortas + próximas 0,006 0,985

Distância GR + próxima -0,324 0,356

Carnívoros

Foram recolhidos 182 indícios de presença de sete espécies de

carnívoros: sacarrabos, fuinha, lontra, geneta, raposa, texugo e doninha; a

espécie mais detectada foi a fuinha (28,0%) e a com menor número de registos

foi a doninha (2,2%).

A abundância de carnívoros, não difere significativamente consoante o

tipo de habitat (Kruskal-Wallis H (2, N=25) = 2, 326; p= 0,3125); no entanto o

montado apresenta a média mais reduzida, enquanto que o habitat com

abundância média de carnívoros mais elevada é a galeria ripícola (Figura 9).

28

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Mean Mean±0,95 Conf. Interval

C GR M

Habitat

0

1

2

3

4

5

6Ín

dice

de

dive

rsid

ade

Figura 9 – Média e desvio padrão da abundância de carnívoros nos 3 habitats

(C-Cultura, GR-Galeria Ripícola, M-Montado)

Observa-se uma elevada variabilidade dos níveis de abundância

encontrados individualmente em cada habitat (Figura 10), sendo que os três

valores mais elevados de abundância representam os três habitats em análise.

O local com maior abundância (GR1) corresponde a uma das maiores

ribeiras permanentes da área de estudo, com galeria ripícola muito

desenvolvida e o valor deve-se principalmente à presença de lontra. A cultura

com abundância mais elevada (C3) é um olival abandonado junto a uma galeria

pouco desenvolvida e o maior contributo é da geneta, confirmando a sua

preferência por olivais e vegetação ripícola (Calzada 2002), provavelmente

existe uma latrina nas imediações. O principal responsável pela abundância

encontrada no montado (M4) é a raposa, o que é justificado pelos seus hábitos

generalistas, podendo sobreviver da exploração de variadas fontes de alimento

e pelo facto das áreas de montado não serem muito extensas, pelo que, pode-

se inferir que as áreas vitais da raposa incluem habitat matriz e não-matriz.

29

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O facto de ocorrerem vários locais de amostragem com resultados nulos

pode dever-se ao facto de serem áreas cultivadas situadas nas proximidades

de habitações e estradas.

0

2

4

6

8

10

12

C1 C3 C5 C7 C9C11 C13 C15 C17 C19 C21 C23 GR2

GR4GR6

GR8GR10

GR12GR14 M2 M4 M6 M8

Local

Abu

ndân

c

Abu

ndân

cia

Local

Figura 10 – Índice de abundância de carnívoros em cada local amostrado (C-

Cultura, GR-Galeria Ripícola, M-Montado).

Os dois primeiros eixos factoriais da análise de correspondências

relativa à abundância de carnívoros justificam aproximadamente 50% da

variabilidade. As espécies mais correlacionadas com o eixo 1 são o sacarrabos

e a fuinha, enquanto que, a raposa, o texugo e a geneta se encontram

associadas ao eixo 2.

A lontra está fortemente associada às galerias ripícolas amostradas.

Verifica-se um agrupamento das restantes espécies de carnívoros, à excepção

da doninha.

30

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2D Plot of Row and Column Coordinates; Dimension: 1 x 2Input Table (Rows x Columns): 36 x 7

Standardization: Row and column profiles

Row.Coords Col.Coords

C1

C2

C3C4C5C6

C7

C8

C9C10C13

C16

C17C18

C21C22C23

GR1GR2

GR3

GR4

GR5

GR7GR8

GR9

GR10

GR11

GR12GR13M1

M2

M3M4

M6

M7

M8

H. ichneumon

M. foina

L. lutra G. genetta

V. vulpes

M. meles

M. nivalis

-3,0 -2,5 -2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5

Dimension 1; Eigenvalue: ,57398 (30,56% of Inertia)

-2,0

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Dim

ensi

on 2

; Eig

enva

lue:

,358

79 (1

9,10

% o

f Ine

rtia)

Figura 11 – Diagrama da análise de correspondência dos eixos 1 e 2, incluindo

espécies de carnívoros e locais de amostragem (C-Cultura, GR-Galeria

Ripícola, M-Montado).

Pela análise da tabela 3 verifica-se que a mediana da distância às hortas

mais próximas é a característica que mais afecta negativamente a abundância

de carnívoros, seguida da distância à galeria mais próxima, apesar de

nenhuma revelar valores significativos. O factor com menos influência na

abundância de carnívoros é a dimensão de fragmentos de habitat não-matriz.

31

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Tabela 3 – Efeito da dimensão e distância entre fragmentos não-matriz na

abundância de carnívoros (análise de regressão múltipla).

Variável independente Coeficiente

Beta p

Área 0,027 0,928

Perímetro 0,080 0,816

Distância horta + próxima 0,151 0,515

Mediana hortas + próximas -0,313 0,202

Distância GR + próxima -0,189 0,475

32

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Riqueza Específica e Diversidade de Mamíferos

Os resultados relativos tanto à riqueza como à diversidade de mamíferos

revelam valores semelhantes para culturas e montado, o que pode dever-se ao

facto das manchas de culturas apresentarem, em geral, pequenas dimensões e

se encontrarem dispersas na matriz de montado, a riqueza específica

correspondente às galerias ripícolas é ligeiramente superior, tal como era

esperado, visto que os mamíferos utilizam frequentemente as zonas ripícolas

como fonte de água, alimento e refúgio (Martin 2002). Estes resultados são

concordantes com as conclusões obtidas noutros trabalhos realizados na

mesma área (Santos-Reis et al. 2004, Pinto 1998, Pinheiro 2006).

O facto de não serem detectáveis diferenças estatisticamente

significativas nos três habitats em análise deve-se ao facto dos mamíferos

utilizarem mais frequentemente as galerias ripícolas mas não estarem

exclusivamente restritos a este habitat, utilizando também os restantes (Martin

2002).

O factor que mais influencia a diversidade de mamíferos nos fragmentos

de habitat não-matriz é a dimensão dos mesmos, verificando-se uma

proporcionalidade positiva entre área da mancha e diversidade de mamíferos,

tal como esperado (Virgós et al. 2002). A importância da distância à horta mais

próxima justifica-se, pois numa menor área há uma maior concentração de

diferentes fontes de alimento, que patrocina a sobrevivência de uma maior

diversidade de espécies.

Pequenos mamíferos

As espécies mais abundantes no montado (musaranho-de-dentes-

brancos e rato-das-hortas) são as expectáveis uma vez que estão

tradicionalmente associadas a zonas de vegetação mediterrânica (Blanco

1998). O musaranho-de-dentes-brancos é frequente em áreas cultivadas e

33

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aproxima-se de núcleos urbanos (Blanco 1998, López-Fuster 2002); já o rato-

das-hortas utiliza espaços abertos, com vegetação herbácea, condições

encontradas nas zonas de cultivo (Palomo 2002). O rato-do-campo é uma das

espécies de pequenos mamíferos mais consumida por predadores, pelo que,

prefere zonas com boa cobertura arbustiva, onde encontra maior

disponibilidade de refúgio (Jubete 2002).

É evidente a diferença entre as espécies do género Rattus e as

restantes; enquanto que as primeiras são mais abundantes nas galerias

ripícolas, as últimas estão mais presentes nas hortas/olivais. O rato-preto

ocupa habitats muito diversos, inclusive pequenos núcleos urbanos desde que

tenha cobertura vegetal suficiente (Blanco 1998, Zamorano & Palomo 2002). Já

a ratazana é fortemente comensal, habitando meios urbanos e rurais e está

também muito ligada à presença de água (Blanco 1998, Rojas & Palomo 2002).

A média da abundância de pequenos mamíferos não difere

significativamente entre os três habitats pois, quando em reduzida densidade, a

distribuição dos indivíduos é aleatória e, portanto, não é afectada pela

qualidade do habitat (Corominas 2004).

A reduzida abundância de pequenos mamíferos no montado pode dever-

se ao facto da maior parte destas áreas se encontrar praticamente desprovida

de subcoberto, devido ao pastoreio e de forma a facilitar a extracção da cortiça,

não proporcionando assim o refúgio essencial para os pequenos mamíferos. Os locais com maior abundância de pequenos mamíferos são olivais

situados perto de zonas urbanas, o que é justificado pelo carácter generalista e

oportunista destas espécies (Blanco 1998), principalmente o rato-preto e a a

ratazana. Outro factor que contribui para as preferências por parte destes

animais é a existência de coberto vegetal denso (que se verifica

frequentemente em olivais abandonados e galerias ripícolas) pois promove a

alimentação e o refúgio (Gonnet & Ojeda 1998, Corominas 2004, Converse et

al. 2006).

O contexto multivariado mostra uma clara associação entre rato-preto e

ratazana e musaranho-de-dentes-brancos e rato-das-hortas. As espécies do

género Rattus encontram-se associadas a galerias ripícolas e zonas

urbanizadas, que são os habitats geralmente mais utilizados por estes

mamíferos (Blanco 1998, Rojas & Palomo 2002, Zamorano & Palomo 2002).

34

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Neste caso, as galerias ripícolas estão associadas a ribeiras permanentes e as

culturas são olivais de grandes dimensões.

O rato-do-campo está associado a olivais abandonados, o que é

explicado, além da disponibilidade de alimento, pela densidade de coberto

vegetal que proporciona melhor refúgio contra os predadores, necessidade que

é maior nesta espécie do que nos restantes insectívoros devido às suas

dimensões superiores.

Quanto ao rato-das-hortas e ao musaranho-de-dentes-brancos, estão

predominantemente ligados a dois tipos de habitat, cultura e montado; o

primeiro está associado a ambientes tipicamente mediterrânicos e espaços

abertos, como o montado, e, adicionalmente, tem escassos requerimentos

hídricos (Blanco 1998, Palomo 2002); enquanto que o segundo prefere habitats

abertos e campos de cultivo e frequenta as proximidades de núcleos urbanos

(Blanco 1998, López-Fuster 2002).

Os dados indicam que as características dos fragmentos de habitat não-

matriz que mais afectam a abundância de pequenos mamíferos são o

perímetro e a distância à galeria ripícola mais próxima, ambas relacionadas

negativamente com a variável resposta. Assim, a abundância de pequenos

mamíferos é menor em fragmentos com maior perímetro, o que se deve ao

efeito de margem, pois está documentado que os predadores terrestres caçam

com maior eficácia ao longo das orlas dos habitats (Lidicker 1999); estudos

com roedores demonstram que estas espécies utilizam menos as margens do

terreno do que o seu interior, uma vez que na margem se encontram mais

vulneráveis aos predadores (Bowers & Dooley 1999). Tal como esperado, a

abundância de pequenos mamíferos é tanto mais elevada quanto menor for a

distância a galerias ripícolas.

A distância à horta mais próxima tem uma relação positiva pois

influencia directamente a abundância de pequenos mamíferos, o que está

relacionado com o facto de estes animais apenas terem capacidade para

percorrer distâncias pequenas, a dispersão média daria não excede os 100m

(Blanco 1998), e assim conseguirem uma maior variedade de fontes de

alimento a uma curta distância.

A dimensão do fragmento constitui o factor menos importante para a

ocorrência de pequenos mamíferos; tal como verificado em trabalhos

35

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anteriores, a densidade de pequenos mamíferos não é mais elevada em

fragmentos de dimensão superior (Arvicola ssp., Microtus ssp., Foster & Gaines

1991). Está também demonstrada a capacidade dos pequenos mamíferos de

viver em manchas pequenas, quando os habitats são heterogéneos (Andrén

1994, Burel et al. 1998). Carnívoros

Visto que os carnívoros ocupam vastos territórios, excedendo

geralmente 3km2 (Elmeros et al. 2005, Rountree 2004) era já esperado que

utilizassem regularmente diversos fragmentos dispersos na matriz (Paniagua et

al. 2004; Virgós et al. 2002), não se verificando diferenças significativas na

abundância média de carnívoros nos três habitats em estudo. Ainda assim, o

habitat com abundância média mais alta é a galeria ripícola, pois os carnívoros

utilizam frequentemente este habitat como refúgio e/ou fonte de alimento, tal

como detectado em estudos anteriores (Naiman et al. 1993, Virgós 2001,

Martin 2002, Macdonald 2005), provavelmente devido à contribuição para

amenizar o clima localmente (Virgós 2001); adicionalmente, e em particular na

área de estudo, está documentado que os carnívoros predam lagostim

americano, Procambarus clarkii, que é muito comum nos cursos de água da

região (Santos et al. 2007).

As espécies generalistas (sacarrabos, fuinha, geneta, raposa e texugo)

estão associadas a culturas e montado, onde estas estão inseridas,

proporcionando uma enorme variedade de fontes de alimento; pelo contrário,

as espécies especialistas estão claramente afastadas deste habitat mais

humanizado. Tal como esperado, verifica-se uma forte associação entre a

lontra e as galerias ripícolas; assim como, entre as restantes espécies (à

excepção da doninha) e as manchas cultivadas ou de montado.

A doninha está associada a uma ribeira (GR7) e a uma cultura numa

zona urbanizada (C8), locais onde ocorrem frequentemente pequenos

mamíferos, principal fonte de alimento deste carnívoro (Gisbert & Santos-Reis

2002, Paniagua et al. 2004).

36

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A mediana da distância às hortas mais próximas é o descritor que mais

afecta a abundância de carnívoros, seguido da distância à galeria mais

próxima, ambos de forma negativa. Estes resultados são contrários ao que era

esperado face às extensas áreas vitais que caracterizam este grupo de

mamíferos; seria de esperar que a abundância aumentasse quando a distância

a outras hortas é reduzida, ou seja quando o seu território inclui várias hortas

próximas; mais ainda, como já foi referido, era esperado que a abundância

estivesse também relacionada com as galerias ripícolas, o que não se verifica.

Talvez estes resultados se devam ao facto do método utilizado permitir apenas

distinguir espécies e não indivíduos, o que pode fazer com que a abundância

detectada num determinado local seja na verdade superior à real, uma vez que

o mesmo indivíduo pode ser responsável por vários indícios. O factor que menos importância tem para a abundância de carnívoros é

a dimensão da mancha de habitat não-matriz o que é coerente uma vez que

um animal da dimensão destas espécies não está restrito a uma única mancha,

incluído várias no seu território. Finalmente, os resultados obtidos permitem corroborar a hipótese em

análise, uma vez que se confirma o papel preponderante das manchas de

habitat não-matriz na biodiversidade de mamíferos encontrada na paisagem

típica do montado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho padece de algumas limitações, sendo a principal o

reduzido intervalo de tempo disponível para a realização da amostragem, razão

pela qual os dados dos diferentes locais, apesar de recolhidos num intervalo de

tempo heterogéneo, terem sido tratados e comparados como se reportassem à

mesma época, o que implica erros pois a utilização do espaço por parte dos

animais difere, nomeadamente, em época seca/húmida, época de

reprodução/não reprodução. Seria mais exacto proceder às amostragens na

mesma época em anos consecutivos.

Outra das limitações evidentes é a não detecção de algumas espécies

de mamíferos dadas como presentes na área de estudo, nomeadamente o

musaranho-anão-de-dentes-brancos, a rata-de-água, o rato de Cabrera, o rato-

cego-mediterrânico e o toirão; mais uma vez devido aos constrangimentos de

tempo, optou-se por utilizar apenas métodos não selectivos de modo a detectar

o maior número de espécies possível, no entanto, estes métodos têm alguns

problemas conhecidos.

O método dos transectos apresenta vários inconvenientes que podem

mascarar os resultados, tais como, a imprecisão que confere ao cálculo de

abundâncias, a dependência das condições atmosféricas e do substrato, a

influência da dieta e do comportamento social na produção de dejectos

(Paniagua et al. 2004, Sadlier et al. 2004), além do que, o padrão encontrado

numa única visita por fragmento pode não reflectir a utilização regular do

mesmo (Virgós 2001). Entre as limitações da armadilhagem, destaca-se o possível

enviesamento nos dados obtidos devido ao clima, ao tipo de armadilha e isco

utilizado (Corominas 2004). Uma vez que o tamanho da amostra é relativamente reduzido, as

análises estatísticas efectuadas devem ser interpretadas com precaução, tendo

em conta os possíveis factores causadores de erros, tais como os referidos

anteriormente. Apesar de ser reconhecido que os recursos se distribuem no

ecossistema de forma heterogénea, o grau de heterogeneidade e a dimensão e

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forma como as diferentes manchas (fragmentos) se distribuem no espaço pode

influenciar os resultados obtidos. Em particular na área de estudo, as manchas

de habitat não-matriz são de tamanho médio reduzido e encontram-se muito

dispersas na paisagem, pelo que, era de esperar que os mamíferos, sendo

espécies com elevada mobilidade, frequentem vários habitats, mascarando

assim as diferenças de abundância e diversidade. Adicionalmente, em locais

altamente heterogéneos verifica-se uma elevada dispersão diária por parte dos

animais (Jager et al. 2006), neste tipo de ambiente e tratando-se

maioritariamente de mamíferos generalistas, os animais adoptam um

comportamento oportunista, frequentando os locais com maior vantagem em

determinado momento (Law & Dickman 1998).

Quanto aos pequenos mamíferos presume-se que, tendo menos

capacidade de dispersão do que os carnívoros, em épocas de abundância

reduzida, a sua distribuição é menos afectada pelo habitat, podendo mesmo

ser aleatória (Corominas 2004).

Em geral, pode-se concluir que o montado de sobro por si só não

garante a conservação de mamíferos em ecossistemas mediterrânicos, são os

fragmentos de habitat não-matriz que asseguram a abundância e diversidade

das espécies. Constatou-se que as galerias ripícolas dão um importante

contributo para a riqueza específica e diversidade de mamíferos, pelo que, é

fundamental contemplar este tipo de habitat nos planos de conservação em

regiões mediterrânicas. Em particular, a abundância de pequenos mamíferos

está muito dependente das áreas cultivadas, assim, a preservação destes

fragmentos é essencial para assegurar ecossistemas equilibrados e saudáveis,

não sujeitos às consequências duma diminuição da abundância de presas.

No sentido de conservar a diversidade de mamíferos típica do montado

é ainda necessário considerar a dimensão e distância entre as manchas de

habitat não-matriz, uma vez que é fundamental maximizar a área (em especial

das manchas cultivadas) e minimizar a distância aos restantes fragmentos.

Assim, é necessário um plano de gestão da paisagem típica do montado

que tenha em conta a manutenção de um grau moderado de humanização da

paisagem, de forma a favorecer uma comunidade diversificada de mamíferos.

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