Efeitos da respiração aérea sobre o balanço ácido-base no ... · te oxigenado. Eles cairiam em...

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Efeitos da respiração aérea sobre o balanço ácido-base no cascudo Hypostomus sp. (*) Stephen C. Wood (') Roy E. Weber ( J ) Bonnie J. Davis ( 3 ) Resumo O cascudo (Hypostomus sp.) induzido por água hipóxica a respirar ar apresentou o mesmo pH (7,39 a 30°C) que os peixes mantidos em água bem oxigenada e dependentes apenas da ventilação bran- quial (pH 7,41). Ocorreu retenção do C0 2 (aumen- to da PÇQZ de 3 para 20 torr) no grupo hipóxico indicando troca gasosa aquática reduzida, porém ela foi completamente compensada por um aumen- to no bicarbonato plasmático (de 2 a 13 mmol/L). Este padrão do balanço ácido-base é semelhante àqueles encontrados em comparações prévias entre espécies diferentes de vertebrados com respiração aquática e aérea. O teor mais elevado de bicarbo- nato plasmático de peixes aclimatados à hipoxia é considerado vantajoso na tamponação de ácidos metabólicos produzidos pelo matabolismo anaeró- bico. INTRODUÇÃO Vários problemas acompanharam os bene- fícios da respiração aérea durante a transição evolutiva da vida aquática para a terrestre. Um problema maior, a dessecação foi aliviada (exceto nos anfíbios) pela queratinização da pele. Isto contribuiu para um outro problema, ex., a retenção do dióxido de carbono. Outros fatores favorecendo a retenção do C0 2 foram (1) a redução drástica na ventilação permitida pela maior disponibilidade de oxigênio e (2) o fato de que o C 0 2 é 28 vezes mais solúvel em água (20°C) do que o 0 2 . Conseqüente- mente a Pc02 na superfície de troca gasosa em organismos de respiração aérea aumentará ape- nas 1/28 mm Hg cada 1 m m H g d e diminuição na Pccfc (cf. Rahn, 1967). No ar, entretanto, um decréscimo na P02 de 1 m m H g resulta num aumento in Pcc? de 1 mm (se a razão de troca respiratória= 1). Como foi discutido por Howell (1970), a solução para esta acidóse respiratória potencial durante a respiração aérea foi um aumento de HCO~ 3 no plasma. Uma comparação de peixes modernos (Howell, 1970) mostra a transição clara de Pcc* baixa em peixes de respiração aquática obrigatória, para Peo elevada, HCO "3 elevada em peixes de respiração aérea obrigatória. Uma transição similar é evidente entre peixes, anfíbios e répteis. Assim, para uma dada temperatura, a relação entre HCO" 3 e PQCK, e portanto, o pH, é constante . As mudanças no Pcc* e no bicarbonato que acompanharam a transição da respiração bran- quial para a pulmonar foram observadas previa- mente na ontogenia de anfíbios (Erasmus, Howel e Rahn, 1970) e durante a transição en- tre a respiração aérea e aquática no caranguejo interdidal (Truchot, 1975). O presente estudo indica que ocorre uma constância ácido-base similar no cascudo (Hypostomus sp.) induzido (por água hipóxica) a respirar o ar. MÉTODOS E MATERIAIS ANIMAIS E ACLIMATAÇÃO — Os CaSCUdOS Hypostomus sp., foram capturados por meio de tarrafa próximo a Manaus, Brasil. Porme- nores da aclimatação são fornecidos em outro lugar (Weber ef a/., 1977). Sucintamente um grupo (N = 5) foi mantido em água oxigenada (P(>2> 120 mm Hg), enquanto outro grupo (N = 5) foi mantido em água hipóxica (Poz<25 mm Hg). Os peixes em água bem arejada ventilaram suas branquias e não vieram à superfície para respirar. Em contraste, os peixes em água hipóxica vieram à superfície para respiração (•) Versäo original Inglesa publicada em Comp. Biochem Physiol. 62 A (1). 1979 ( 1 ) — Department of Physiology, University of New Mexico Albuquerque, New Mexico 87131. (2) Department of Zoophyslology, Aarhus University, Aarhus, Denmark. (3) Department of Biology, San Francisco State University, San Francisco, California 94132. SUPL. ACTA AMAZÓNICA 8(4) : 247-250. 1978 247

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Efeitos da respiração aérea sobre o balanço ácido-base no cascudo Hypostomus sp. (*)

Stephen C. Wood (') Roy E. Weber ( J) Bonnie J. Davis ( 3)

Resumo

O cascudo (Hypostomus sp.) induzido por água hipóxica a respirar ar apresentou o mesmo pH (7,39 a 30°C) que os peixes mantidos em água bem oxigenada e dependentes apenas da ventilação bran­quial (pH 7 ,41) . Ocorreu retenção do C 0 2 (aumen­to da PÇQZ de 3 para 20 torr) no grupo hipóxico indicando troca gasosa aquática reduzida, porém ela foi completamente compensada por um aumen­to no bicarbonato plasmático (de 2 a 13 mmol/L). Este padrão do balanço ácido-base é semelhante àqueles encontrados em comparações prévias entre espécies diferentes de vertebrados com respiração aquática e aérea. O teor mais elevado de bicarbo­nato plasmático de peixes aclimatados à hipoxia é considerado vantajoso na tamponação de ácidos metabólicos produzidos pelo matabolismo anaeró­bico.

INTRODUÇÃO

V á r i o s p r o b l e m a s a c o m p a n h a r a m os bene­

f í c i o s da r e s p i r a ç ã o a é r e a d u r a n t e a t r a n s i ç ã o

e v o l u t i v a da v i d a a q u á t i c a pa ra a t e r r e s t r e .

U m p r o b l e m a m a i o r , a d e s s e c a ç ã o f o i a l i v i ada

( e x c e t o nos a n f í b i o s ) pe la q u e r a t i n i z a ç ã o da

p e l e . Is to c o n t r i b u i u para u m o u t r o p r o b l e m a ,

e x . , a r e t e n ç ã o do d i ó x i d o de c a r b o n o . O u t r o s

f a t o r e s f a v o r e c e n d o a r e t e n ç ã o do C 0 2 f o r a m

(1) a r e d u ç ã o d r á s t i c a na v e n t i l a ç ã o p e r m i t i d a

pe la m a i o r d i s p o n i b i l i d a d e de o x i g ê n i o e (2)

o f a t o de que o C 0 2 é 28 vezes m a i s s o l ú v e l

e m água (20°C) d o que o 0 2 . C o n s e q ü e n t e ­

m e n t e a Pc02 na s u p e r f í c i e de t r o c a g a s o s a e m

o r g a n i s m o s de r e s p i r a ç ã o aérea a u m e n t a r á ape­

nas 1 /28 m m Hg cada 1 m m H g de d i m i n u i ç ã o

n a Pccfc ( c f . Rahn, 1 9 6 7 ) . No ar, e n t r e t a n t o ,

u m d e c r é s c i m o na P02 de 1 m m H g r e s u l t a n u m

a u m e n t o in Pcc? de 1 m m (se a razão d e

t r o c a r e s p i r a t ó r i a = 1 ) . C o m o f o i d i s c u t i d o

po r H o w e l l ( 1 9 7 0 ) , a s o l u ç ã o para e s t a ac i dóse

r e s p i r a t ó r i a p o t e n c i a l d u r a n t e a r e s p i r a ç ã o

a é r e a f o i u m a u m e n t o de HCO~ 3 no p l a s m a .

U m a c o m p a r a ç ã o de p e i x e s m o d e r n o s ( H o w e l l ,

1970) m o s t r a a t r a n s i ç ã o c l a r a de P c c * ba i xa

e m p e i x e s de r e s p i r a ç ã o a q u á t i c a o b r i g a t ó r i a ,

para P e o e l e v a d a , HCO"3 e l e v a d a e m pe i xes

de r e s p i r a ç ã o a é r e a o b r i g a t ó r i a . U m a t r a n s i ç ã o

s i m i l a r é e v i d e n t e e n t r e p e i x e s , a n f í b i o s e

r é p t e i s . A s s i m , pa ra u m a dada t e m p e r a t u r a ,

a r e l ação en t r e HCO" 3 e PQCK, e p o r t a n t o , o p H ,

é c o n s t a n t e .

A s m u d a n ç a s no P c c * e no b i c a r b o n a t o que

a c o m p a n h a r a m a t r a n s i ç ã o d a r e s p i r a ç ã o b ran­

qu ia l para a p u l m o n a r f o r a m o b s e r v a d a s p rev ia ­

m e n t e na o n t o g e n i a de a n f í b i o s (E rasmus ,

H o w e l e Rahn , 1970) e d u r a n t e a t r a n s i ç ã o en­

t r e a r e s p i r a ç ã o aérea e a q u á t i c a no ca rangue jo

i n t e rd i da l ( T r u c h o t , 1 9 7 5 ) . O p r e s e n t e es tudo

ind ica que o c o r r e u m a c o n s t â n c i a ác ido-base

s i m i l a r no c a s c u d o (Hypostomus sp . ) i nduz ido

(por água h i p ó x i c a ) a r e s p i r a r o a r .

MÉTODOS E MATERIAIS

ANIMAIS E ACLIMATAÇÃO — O s CaSCUdOS

Hypostomus sp . , f o r a m c a p t u r a d o s por m e i o

de t a r r a f a p r ó x i m o a M a n a u s , B r a s i l . Porme­

n o r e s da a c l i m a t a ç ã o são f o r n e c i d o s e m o u t r o

lugar ( W e b e r e f a / . , 1 9 7 7 ) . S u c i n t a m e n t e u m

g r u p o ( N = 5) f o i m a n t i d o e m água o x i g e n a d a

(P(>2> 120 m m H g ) , e n q u a n t o o u t r o g r u p o

( N = 5) f o i m a n t i d o e m água h i p ó x i c a ( P o z < 2 5

m m H g ) .

O s p e i x e s e m água b e m a re jada v e n t i l a r a m

suas b ranqu ias e não v i e r a m à s u p e r f í c i e para

r e s p i r a r . Em c o n t r a s t e , os p e i x e s e m água

h i p ó x i c a v i e r a m à s u p e r f í c i e para r e s p i r a ç ã o

( • ) — Versäo or ig inal Inglesa publ icada em Comp. Biochem Physiol. 62 A ( 1 ) . 1979 ( 1 ) — Depar tment o f Physiology, Univers i ty of New Mex ico A lbuquerque , New Mex ico 87131. ( 2 ) — Depar tment o f Zoophyslo logy, Aarhus Univers i ty , Aarhus , Denmark . ( 3 ) — Depar tment of Biology, San Francisco State Un ivers i ty , San Francisco, Cal i fornia 94132.

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aérea e m i n t e r v a l o s de ( a p r o x i m a d a m e n t e ) 5

m i n u t o s , e a v e n t i l a ç ã o das b r a n q u i a s não f o i

o b s e r v a d a . A p ó s 4-7 d ias , os p e i x e s f o r a m cap­

t u r a d o s c o m rede e i m e d i a t a m e n t e s a n g r a d o s .

MEDIDAS DO SANGUE — O sangue f o i o b t i d o

por punção c a r d í a c a . A t é c n i c a i d e a l , a m o s ­

t r a g e m de sangue a r t e r i a l d e cânu las i m p l a n t a ­

das , f o i e x c l u í d a pe lo p e q u e n o t a m a n h o ( p e s o

100 g ) dos p e i x e s . E n t r e t a n t o , d a d o o f a t o

de es ta e s p é c i e , ao c o n t r á r i o da m a i o r i a dos

p e i x e s , s e r f a c i l m e n t e m a n u s e a d a ( c o m p o u c a

ou n e n h u m a r e s i s t ê n c i a ) , as p u n ç õ e s c a r d í a ­

cas p o d e m se r e x e c u t a d a s r a p i d a m e n t e . Con ­

s e q ü e n t e m e n t e , e s t e m é t o d o d e v e r i a f o r n e c e r

va lo res de pH r a z o a v e l m e n t e p r ó x i m o s aos va­

lo res de e q u i l í b r i o e s t a c i o n á r i o " n o r m a i s " ( c f .

Rahn & B a u m g a r d n e r , 1 9 7 2 ) .

PROCEDIMENTOS ANALÍTICOS — U m m i c r o e -

l e t rodo de pH ( R a d i o m e t e r BMS-2) c o m t e m ­

pe ra tu ra c o n t r o l a d a a 30°C f o i usado para me­

d i r o pH do sangue In vivo e o pH do sangue

e q u i l i b r a d o c o m a r ou 5 , 6 % C 0 2 . A c o n c e n t r a ­

ção de b i c a r b o n a t o f o i c a l c u l a d a a p a r t i r do

pH e da Pee» c o m a equação d e H e n d e r s o n -

H a s s e l b a l c h , H C O - 3 m M / L = 10 (pH-pK' ) . oc

PcOí, u s a n d o os v a l o r e s de S e v e r i n g h a u s

(1971) para a s o l u b i l i d a d e do C 0 2 (cc) e p K ' .

A capac idade t a m p ã o é d e f i n i d a c o m o A H C O 3 /

A p H .

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O pH In vivo não f o i a f e t a d o po r e x p o s i ç ã o

à água h i p ó x i c a e r e s p i r a ç ã o a é r e a s u b s e q ü e n ­

t e (Tab. 1 ) . E n t r e t a n t o , os v a l o r e s (7,39 e

7,41) são c e r c a de 0,2 u n i d a d e s m a i s b a i x o s

d o que os r e f e r i d o s po r Rahn e G a r e y (1973)

para o sangue a r t e r i a l ( c o l h i d o de c a t e t e r i m ­

p lan tado ) d e e c t o t é r m i c o s da A m a z ô n i a ( p H

m é d i o = 7,61 pa ra 14 e s p é c i e s a 2 8 ° C ) . Eles

o b s e r v a r a m que o p H d o sangue o b t i d o po r

p u n ç ã o ca rd íaca de u m bagre (Pharactocepha-

lus hemiliopterus) e r a c e r c a de 0,2 u n i d a d e s

m a i s ba ixo do que o do sangue a r t e r i a l .

Os r e s u l t a d o s m a i s i n t e r e s s a n t e s d e s t e

e s t u d o são a p r e s e n t a d o s na f i g u r a 1 • O g r u p o

de c o n t r o l e t e m u m a c u r v a t a m p ã o t í p i c a de

p e i x e s de r e s p i r a ç ã o a q u á t i c a , ex . , ba i xa Pcc» in vivo ( c e r c a de 3 m m H g ) e ba i xa c o n c e n t r a ­

ção de HCO~3 ( c e r c a de 2 m M ) , dando u m pH

sangü íneo de 7,39. O s p e i x e s m a n t i d o s e m

água h i p ó x i c a t ê m o m e s m o p H s a n g ü í n e o po­

r é m c o m v a l o r e s m u i t o m a i s e l e v a d o s de Pco

( c e r c a de 20 m m Hg) e H C O _

3 ( c e r c a de 13

m M ) . O s v a l o r e s de pH in vivo e s t ã o co loca ­

dos na l i nha t a m p ã o pa ra sangue c o m p l e t a m e n ­

t e o x i g e n a d o . Eles c a i r i a m e m rea l i dade so­

bre u m a l i nha pa ra le la e m a i s a c i m a do que

e s t a s , v i s t o que a s a t u r a ç ã o in vivo e r a m e n o s

de 1 0 0 % . Es tes r e s u l t a d o s i m p l i c a m que ocor-

TABELA 1 — Balanço ácido-base no cascudo Hypostomus sp., durante a respiração aquática e aérea (hipo­

xia aclimatada).

História da Aclimatação

P C 0 2 mmHg Sangue Oxigenado

nM/L pH MOO-,

Sangue desoxigenado PH H c 0 3

nM/L

pH in vivo

Agua 0.22 7.54 0.21 7.68 0.30 7.39 Aerificada (air) .06 .03 .07 .06 .09 ( P Q J 125 mmHg)

( N = 5 ) 40.90 6.89 9.0 7.04 11.5

5.6% COj) ± .05 .36 .04 .48

Agua 0.22 8.19 1.24 8.37 1.88 7.41 Hipóxica .06 .17 .06 .05 .06 ( P Q J 25 mmHg)

( N = 5 ) 40.90 7.18 16.1 7.21 17.3 -4- .02 .9 .04 1.4

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re r e t e n ç ã o de C 0 2 no g r u p o h i p ó x i c o a p e s a r

da o p o r t u n i d a d e pa ra t r o c a s gasosas a q u á t i c a s .

Em o u t r a s pa lav ras , a t r o c a g a s o s a d e v e se r

reduz ida ou a u s e n t e d u r a n t e i n t e r v a l o s en t r e

as v i n d a s à s u p e r f í c i e para o b t e n ç ã o de a r .

I s to p o d e r i a r e s u l t a r da v e n t i l a ç ã o b ranqu ia l

d i m i n u í d a ( c o m o f o i o b s e r v a d o ) ou da g rande

d i m i n u i ç ã o da p e r f u s ã o b ranqu ia l d e v i d a à va ­

s o c o n s t r i ç ã o h i p ó x i c a ( c f . S a t c h e l l , 1 9 7 1 ) .

U m a o u t r a i m p l i c a ç ã o dos r e s u l t a d o s , t r a d u z i d a

pe lo n o m e de c a s c u d o , é que a t r o c a g a s o s a

c u t â n e a é i n s u f i c i e n t e pa ra e v i t a r a r e t e n ç ã o

do CO2 quando c e s s a a v e n t i l a ç ã o b r a n q u i a l .

I s to pode t a m b é m se r v a n t a j o s o para a p r e v e n ­

ção de perdas c u t â n e a s de O2 do sangue pa ra

a água h i p ó x i c a .

~3 E E

8

4

0

r — i 1 i 1 —

t-< 20

T 1 1 r

\ / 15

- P „

, V / 10 C0 2

5

/ 2

i i j 1 I 1 1 1 1 1 "

7.0 7.4 7.8 8.2 P H

Pig. 1 — Curvas tampão para sangue oxigenado em grupos controle (círculos fechados) e grupos hipóxicos (quadrados fechados). O pH in vivo do sangue de punção cardíaca está indicado pelos sím­bolos abertos. (Veja o texto para discussão).

A s capac idades t a m p ã o (A H C G V A p H )

de 13,5 ( c o n t r o l e ) e 14,7 m m o l / L / p H ( h i p ó x i ­

ca) são s e m e l h a n t e s àque las re la tadas pa ra

o u t r a s e s p é c i e s a m a z ô n i c a s (Rahn & Garey ,

1 9 7 3 ) . E n t r e t a n t o , a p e s a r de s e m e l h a n t e s in ­

c l i n a ç õ e s t a m p ã o , é e v i d e n t e na f i g u r a 1 q u e

o g r u p o h i p ó x i c o t e m u m a r e s e r v a t a m p ã o m u i ­

t o m a i o r do que o g r u p o c o n t r o l e . Este n í v e l

m a i s a l to de H C O 3 p o d e r i a se r u m a v a n t a g e m

c la ra no t a m p o n a m e n t o do á c i d o l ác t i co ou

o u t r o s á c i d o s m e t a b ó l i c o s p r o d u z i d o s du ran te

p e r í o d o s a p n e i c o s ( c f . Rahn & Garey , 1 9 7 3 ) .

O e f e i t o d a o x i g e n a ç ã o na c o n c e n t r a ç ã o do

CO2 no sangue ( e f e i t o Ha ldane ) é m e d i d o pe la

d i f e r e n ç a no CO2 t o t a l ( c a r b a m i n o e b ica rbo­

na to ) s o b a Pc02 = 40 m m H g en t re sangue

c o m p l e t a m e n t e d e s o x i g e n a d o e c o m p l e t a m e n ­

t e o x i g e n a d o (c f . D e j o u r s , 1 9 7 5 ) . A s s i m , o

d e s v i o nas c u r v a s t a m p ã o (Tabe la 1) é par­

c i a l m e n t e e x p l i c a d o pe io e f e i t o H a l d a n e . O

CO2 t o t a l não fo i m e d i d o no p r e s e n t e e s t u d o ,

p o r é m a m u d a n ç a no b i c a r b o n a t o do p l a s m a

r e s u l t a n t e da o x i g e n a ç ã o s o b a P e o = 40,9

f o i 2,5 m m o l / L pa ra o g r u p o c o n t r o l e e 1,2

m m o l / L para o g r u p o h i p ó x i c o ( d i f e r e n ç a não

s i g n i f i c a t i v a ) . Para o sangue h u m a n o a 37°C,

o e f e i t o Ha ldane é e m t o r n o de 2,4 m m o l / L

( D e j o u r s , 1 9 7 5 ) .

AGRADECIMENTOS

Este e s t u d o fo i apo iado pe la b o l s a PCM75-

06451 da " N a t i o n a l S c i e n c e F o u n d a t i o n " para

e s t u d o s a bo rdo do R / V " A l p h a H e l i x " .

A g r a d e c e m o s o s b r a s i l e i r o s po r sua a juda e

pe r t o r n a r p o s s í v e l a e n t r a d a d o R /V " A l p h a

H e l i x " no a l t o A m a z o n a s . B . J . D . ag radece o

f i n a n c i a m e n t o de v i a g e m do Fundo J o s e p h

H e n r y M a r s h da N a t i o n a l A c a d e m y o f S c i e n c e s

e da San F r a n c i s c o S t a t e U n i v e r s i t y .

SUMMARY

Armoured catfish (Hypostomus sp.) induced by hypoxic water to breathe air had the same blood pH (7.39 at 30°C) as fish kept in well-aerated water and relying solely on gill ventilation (pH 7.41). COj retention occurred (P^Oz increased from 3 to 20 torr) in the hypoxic group indicating reduced aquatic gas exchange, but it was fully compensated by an increase in plasma bicarbonate (from 2 to 13 mmol/L). This pattern of acid-base balance is similar to those found in previous interspecies comparisons of water and air-breathing vertebrates. The higher plasma bicarbonate of hypoxia-acclimated fish is beleived to be benefitial in buffering metabolic acids produced by anaerobic metabolism.

Efeitos da. — 249

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