Efésios 3 - O Mistério Revelado

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Efésios 3 - Livro de estudos das comunidades da Igreja Batista Liberdade, em Araraquara.

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O Mistério Revelado!

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Pertenço a:

Copyrigth C 2014 Igreja Batista Liberdade - Araraquara

Copyrigth C 2014 by Wilson Porte Junior

A Igreja de Jesus Cristo – Antes, durante e depois da história

Parte 3 - Estudo de Efésios 3

O Mistério Revelado

Livro de estudo para as Comunidades

Edição: Ministério de Comunicação e Internet

Projeto Gráfico: WebMais Comunicação

1a Edição - Dezembro de 2014

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Wilson Porte Jr

A Igreja de Jesus CristoAntes, durante e depois da história

Parte 3

Estudo de Efésios

O Mistério Revelado!

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Dedico em amor à Igreja Ba-tista Liberdade, “pela graça e para a glória de Deus”, fundada em 11 de dezembro de 2010.

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Introdução

Neste livro, está comentado o capítulo 3 da Epístola de Paulo aos Efésios. Nele, Paulo aborda o “Mistério Revelado” (Capítulo 3) no qual trata do grande amor de Deus não apenas pelos judeus, mas por gente de toda a língua, tribo, etnia e nação.

Paulo conclui seu pensamento sobre o amor de Deus (sobre o qual escreveu nos capítulos 1 e 2) e começa a falar sobre a unidade na igreja e sobre o modo como a esta vive.

Que o Senhor Deus use cada palavra para a edificação de quem lê.

Seu servo,

Wilson Porte Jr.

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Versículo 1

A quem ou a quê você está ligado? Todos estamos amarrados a algo ou a alguém. Até mesmo aqueles que se consideram livres e que não estão presos a nada, enganam-se não percebendo que são escravos de uma falsa liberdade que não os levará a nada. Um falso senso da liberdade escraviza ignorantes ingênuos que supõe que a liberdade é um estado. Liberdade não é e nunca será um estado. Liberdade é uma pessoa!

Paulo aqui expõe algo sobre esta verdadeira liberdade que encontramos quando, paradoxalmente, nos tornamos prisioneiros de Jesus Cristo. Em Ef 3.1, Paulo diz:

Efésios 3.1: Por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios,

Compreendamos tais palavras passo a passo.

Por esta causa

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A causa sobre a qual Paulo escreve está ligada ao amor de Deus que ultrapassa o tempo e a história e ao poder de Deus em trazer à vida pessoas sem esperança e salvação, libertando--as de sua morte espiritual.

A causa da preocupação de Paulo era trazer os efésios para mais perto de Deus e afastá-los de tudo o que apenas co-operava para distanciá-los cada vez mais do soberano Deus que os salvou e protegia em meio às aflições que os cristãos no mundo todo passavam por aqueles dias.

Todos vivem por uma causa. Cristãos ou não-cristãos, todos vivem e morrem sobre uma causa. Consciente ou incons-cientemente, todos compram, orçam, relacionam-se, sonham, agem, baseados em uma causa que, nem sempre, é clara e apa-rente aos tais.

É neste sentido que a causa de Paulo é Cristo. Cristo é o fundamento sobre o qual ele está. Em suas palavras anterio-res aos efésios, Paulo comentou sobre o fundamento dos após-tolos e profetas sobre o qual toda igreja está construída. Paulo, como mais um membro deste grande corpo e edifício, também tem sua vida construída sobre Jesus.

É por causa de Cristo, e pela causa de Cristo, que Paulo agora lhes escrevia. Não apenas por ter sido alcançado por este amor imerecido e liberto pelo poder desta misericórdia, mas também pela certeza de que o Senhor havia o chamado para espalhar a mensagem deste amor.

E foi em amor que Paulo lhes escreveu. A causa está re-lacionada a este amor, tanto por Cristo quanto pelos efésios e todos os demais gentios. Por causa deste amor por eles e da pregação deste evangelho, Paulo agora estava preso.

A ‘razão’ também está relacionada com o novo plano em que judeus e gentios agora estão colocados. E a razão dessa união e inseparabilidade entre os convertidos se dá pelo fato do Senhor ter os escolhidos desde antes da fundação do mun-

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do.1 Eles são obra de Deus, fruto do poder de Deus. A graça de Deus é abundante também sobre os gentios. Eles nunca deve-riam se esquecer disso.

eu, Paulo, sou o prisioneiro

Paulo estava preso em Roma por causa de seu serviço no reino de Deus, e mais especificamente por causa de seu ser-viço entre os gentios (2Tm 1.11-12). Muitos judeus se levan-taram contra Paulo por causa de sua pregação. Vinha dos ju-deus a maior parte das acusações falsas sobre o apóstolo, as quais incitavam governos e “forças policiais” a se levantarem contra Paulo para prenderem-no. A força da oposição dos ju-deus contra Paulo acabou ocasionando um ataque contra sua pessoa na cidade de Jerusalém e consequente prisão que o levou primeiramente a Cesaréia e depois a Roma, de onde es-creveu esta carta.2

A prisão de Paulo não o fazia sofrer por causa dela em si. A aflição trazida pela prisão não significou tristeza para Paulo. Embora não deixasse de ser tribulação, havia paz em sua alma. Por isso Paulo não reclama, embora recorde de sua situação de prisioneiro. Assim, textos como os seguintes ser-vem para nos recordar o que nossos irmãos quando sofriam ti-nham em mente:

Apocalipse 2.10: Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez

1 Harold W. Hoehner, “Ephesians”, in The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures, ed. J. F. Walvoord e R. B. Zuck, vol. 2 (Wheaton, IL: Victor Books, 1985), 628.

2 Idem

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dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.Colossenses 4.3: Suplicai, ao mesmo tempo, também por nós, para que Deus nos abra porta à palavra, a fim de fa-larmos do mistério de Cwristo, pelo qual também estou al-gemado;

Embora, a aflição seja certa, nenhum deles a trocaria pela paz e alívio deste mundo, momentâneos, mas que se dissipam com o tempo. O foco deles estava na eternidade. Era nela que eles pensavam. Os sofrimentos do tempo presente não se podem comparar com o que estava preparado para eles em seu futuro:

Romanos 8.18: Porque para mim tenho por certo que os so-frimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós.

Paulo se via como um prisioneiro, mas não prisioneiro de um império, e sim prisioneiro de um homem, Jesus Cristo. Assim ele continua:

de Cristo Jesus,

Paulo estava ligado a Cristo, amarrado a Jesus, atado com laços de amor, a ponto de se considerar um escravo (δοῦλος) de nosso Senhor. Estar ligado dessa forma a Cristo é estar verda-deiramente liberto. Só quem está preso a Cristo é verdadeira-mente livre. Quem supostamente está “livre” de Cristo são os que verdadeiramente estão escravos de seus vícios e pecados. Só Cristo nos liberta. Ele é a verdade que nossa alma tanto an-seia e busca em tantas coisas e pessoas. Só nele encontramos verdadeiro e pleno descanso.

Paulo se considera um prisioneiro de Cristo Jesus. E isso é razão da liberdade de Paulo, da plena alegria em sua vida e história. Se alguém não está ‘acorrentado’ a Cristo, como um

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prisioneiro ou escravo, tal pessoa está acorrentada a outro se-nhor ou prisão. Consciente ou inconscientemente, todos estão presos a algo ou alguém. E só as correntes que nos atam a Cris-to nos trazem paz e liberdade.

por amor de vós, gentios,

Literalmente, Paulo escreveu: “Por causa de vós, das et-nias”. As etnias aqui descritas dizem respeito aos gentios que tanto sofriam por causa do preconceito dos judeus. Agora, todas as etnias do mundo seriam alcançadas pelo Evangelho.

O amor de Paulo pelo Senhor Jesus o levou a morrer para si e para o mundo levando o Evangelho a todos os não-judeus. Isso fez com que ele encontrasse a prisão em várias ocasiões. Quando estamos atados a Cristo, amando-o com todo o nosso coração e alma, estamos sempre prontos a falar dessa paz a todos que nos perguntam sobre ela.

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Versículos 2 a 7

A união entre judeus e gentios foi algo totalmente ocul-to aos judeus do Antigo Testamento. Paulo, nas palavras que seguem, irá explicar como a ele foi revelado tal conhecimento e como isso trouxe Paulo a um estado de alegria e satisfação nunca antes experimentado por ele.

Embora o apóstolo explique resumidamente o mistério desta união entre judeus e gentios que tornou ambos os povos co-herdeiros, membros de um mesmo corpo, e co-participantes das bênçãos, vitórias e promessas de Cristo Jesus.

O Evangelho faz o que nada mais é capaz. Ele restaura e une o que ninguém jamais imaginou. Se Deus é capaz de fazer isso de um modo tão surpreendente, e se ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente, imagine a alegria que vem de saber que Deus sempre terá algo bom para nos surpreender? E ele sem-pre nos surpreende!

Apenas a distância dele é que nos priva do desfrutar de suas surpresas. Vejamos nas palavras do próprio Paulo sobre esta graça bendita que lhe encheu o coração de alegria e surpresa.

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Efésios 3.2-7: se é que tendes ouvido a respeito da dispensa-ção da graça de Deus a mim confiada para vós outros; pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, con-forme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo, o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus san-tos apóstolos e profetas, no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo corpo e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho; do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder.

se é que tendes ouvido a respeito da dispensação da graça de Deus

O que é dispensação? A palavra nos remete a uma dispen-sa que precisa ser administrada. Seja uma dispensa pequena, seja uma dispensa grande, a correta e prudente administração da mesma se faz mais do que necessário para aquele que a pos-sui. Deus possui muito, embora seja, em si, simples. O que vem dele, todavia, não é simples. Pelo menos, não para nós.

É nesse sentido que aquilo que dele vem a nós precisa ser corretamente administrado e “dispensado” a fim de que recebamos com entendimento.

Da palavra “dispensação» em grego se tira a palavra por-tuguesa para “economia”. A expressão toda que originalmen-te Paulo escreveu foi esta: τὴν οἰκονομίαν τῆς χάριτος τοῦ θεοῦ τῆς (tēn oikonomian tēs charitos tou theou tēs). A segunda pala-vra, οἰκονομίαν (oikonomian), é a palavra traduzida por dis-pensação. Trata-se da junção de duas palavras, oikos e nomos (casa e lei). Assim, economia — ou, dispensação — diz respei-to às regras ou leis que governam e administram uma casa. É nesse sentido que Paulo se vê como um administrador do mis-tério que Deus lhe revelou.

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Em que sentido a graça de Deus é dispensada sobre nós? A graça de Deus é bem conhecida do leitor de Paulo. Ele, nos dois primeiros capítulos, explicou o que significa para si este amor leal e fiel reconhecido também pela palavra graça. Graça não está relacionado apenas a algo gratuito, mas a algo gra-cioso, amoroso que, ao mesmo tempo, vem a nós em completa gravidade.

A graça de Deus é dispensada de modo amoroso e não opressivo sobre os efésios. Sobre a graça de Deus, Paulo falou no início desta epístola, o que também já comentei no início destes comentários em Efésios.

a mim confiada para vós outros;

Deus confiou a Paulo o administrar da dispensação de Sua graça entre os não-judeus. Deus, literalmente, deu a Paulo o que ele deveria dar aos não-judeus. Ele recebeu a “confian-ça” de Deus (Deus confiou a ele) para cuidar daquilo que seria dado aos gentios, abrindo-lhes a porta do Evangelho. Sua seria a responsabilidade tanto de pregar quanto de ensinar as Boas Novas recebidas.3

O que é dado com confiança foi transmitido com fidelida-de. O que foi dado a Paulo era para “vós outros” — os efésios e todos os gentios. Paulo foi apenas um mensageiro, um inter-locutor. E deveria ser fiel. Veja que sua fidelidade lhe custou a prisão. Pensa que Paulo em algum momento se arrependeu? Nunca. Sua alegria estava em compartilhar ou dispensar com fidelidade e sabedoria aquilo que lhe havia sido confiado.

3 Kenneth S. Wuest, Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader (Grand Rapids: Eerdmans, 1997), Ef 3.2.

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pois, segundo uma revelação,

Deus confiou a Paulo a dispensação de Sua graça entre os gentios quando ele estava a caminho de Damasco, com autori-zação para prender os cristãos e arrastá-los a Jerusalém. No meio do caminho, o próprio Senhor Jesus lhe apareceu, conver-teu e revelou a razão de sua eleição para um ministério entre os gentios.

Revelação é trazer algo oculto à luz. A palavra para “re-velação” é ἀποκάλυψιν (apokalypsin), de onde nos vem a pala-vra apocalipse. A melhor definição é realmente esta, trazer à luz algo que estava oculto. O que estava oculto? O mistério da união entre gentios e judeus em um só corpo compondo a “fa-mília de Deus”, como já dito em versos anteriores.

Revelação não é algo que se dá o tempo todo, indiscrimi-nadamente. Trata-se de algo elementar, fundamental, sobre o qual tudo o mais se constrói. É a base de qualquer pensamen-to que se constrói. Não se pode lançar fundamento de um edi-fício enquanto ele se constrói. Assim, o que foi dado a Paulo foi a base sobre o que não somente aquela igreja foi construída, mas todas as igrejas em todos os tempos nos milênios seguin-tes também o foram.

A revelação que foi dada a Paulo no caminho de Damasco foi de uma natureza extraordinária. Ela não acontece ou acon-tecerá com outros da mesma maneira. Foi única. Foi para ele. Recebendo-a, foi fiel a ela até o dia de sua morte. Obviamente, não se tratava de uma revelação como Paulo receberia tempos depois, como a própria autoridade para escrever esta epístola aos Efésios, inspirada pelo Espírito Santo. Tal revelação tam-bém foi uma realidade em sua vida.

Todavia, esta foi de uma outra natureza, pois estava rela-cionada ao descobrir da razão de sua existência neste mundo. Deus o havia predestinado para ser um vaso de honra entre

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os gentios, um vaso que seria usado para levar o evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo a povos distantes na geografia, na língua, na cultura, nos hábitos, nas festas, nas alianças, e em tudo o mais. Deus, em sua rica misericórdia, revelou a Paulo que ele seria o portador da mensagem do fim dessa separação e distância.

me foi dado conhecer o mistério,

Paulo recebeu como um presente a possibilidade de co-nhecer algo que ninguém havia conhecido antes dele. Nenhum profeta no Antigo Testamento havia suposto que a chegada dos gentios à aliança aconteceria da maneira como aconteceu no Novo Testamento.

Não preciso esclarecer em detalhes isto aqui, visto que Paulo tratará do mesmo assunto em detalhes no decorrer dessa carta.

Apenas destaco suas palavras “foi me dado”. Paulo, mais uma vez, é passivo no processo. O mistério que lhe foi dado veio como um presente, uma dádiva não merecida. Assim como tudo que Deus nos dá e faz por nós, recebemos de um modo passivo e imerecido, ficando encantados e constrangidos com tanto amor derramado sobre nós.

conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo,

Paulo já havia escrito no final do capítulo dois acerca do mistério. Resumidamente, falou sobre algo grandioso e imper-ceptível aos hebreus do Antigo Testamento: a união dos gen-tios nas alianças dos judeus no Novo Testamento.

Obviamente, como já comentei, não em todas as alianças.

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Um estudo cuidadoso das alianças faz com que percebamos isso. Não se faz necessário explicar aqui que algumas alianças são exclusivas à Israel, enquanto outras são para todos os eleitos. Um exemplo: a aliança relacionada à terra prometida de Canaã, da qual a igreja hoje não participa, muito menos reivindica.

Paulo, ao falar sobre o mistério da inclusão dos gentios no mesmo “corpo” em que os judeus já estavam, explica que ele já havia falado sobre o assunto resumidamente. Logo, seu foco aqui não é ser exaustivo. No decorrer da carta, ele citará outras coisas relacionadas a esta união mística entre os povos com Cristo e, através de Cristo, com a Santíssima Trindade.

Paulo não se preocupa em explicar em detalhes esta união por, provavelmente, tratar-se de algo muitíssimo claro a todos os gentios efésios. Eles experimentavam esta união de modo prático e vívido. Não precisava-se explicar. Eles a sentiam. A paz, as bênçãos, a presença do Espírito, o perdão, a união, a nova aliança através do sangue do Cordeiro judeu sacrificado para salvar a todos que nele cressem, tudo isso fazia com que tal união mística fosse algo maravilhoso e vivo para eles.

o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas,no Espírito, a saber, que os gentios são co-herdeiros,membros do mesmo corpo e co-participantesda promessa em Cristo Jesus por meiodo evangelho;

Aqui, então, o apóstolo Paulo irá deixar clara esta união. Em outras gerações, diz respeito ao tempo do Antigo Tes-

tamento, quando a revelação bíblica era dada aos homens atra-vés dos profetas. Naquele tempo, nenhum deles jamais supôs muito menos escreveu nada sobre o tempo da igreja, o tempo

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desta união mística conhecida por Paulo e passada dele para outros através de revelação, pregação, ensino e escritos, inspi-rados ou não. O que chegou a nós são apenas seus escritos ins-pirados (que estão na Bíblia) através dos quais podemos saber o que Paulo recebeu de Cristo como revelação e pregou em seu tempo de vida.

Agora, diz respeito ao tempo em que Paulo vivia quan-do apóstolos e profetas recebiam, através da ação do Espíri-to Santo em suas vidas, a revelação relacionada a esta união.

Toda herança espiritual prometida aos judeus agora era dada aos gentios. Estes últimos também se tornaram herdeiros. Quem imaginava isso antes de Cristo? Que de dois povos, Deus faria um, colocando-os dentro e debaixo da mesma aliança? Mem-bros do mesmo corpo?! Ninguém jamais imaginou algo assim.

Este mistério que estava oculto até a vinda de Cristo e sua revelação é agora, através de Paulo, comunicado ao mundo. Através do Evangelho, tal união tornou-se possível. Sem o Evangelho, a inimizade permanece. Sem o Evangelho, o que fica é a competição, a traição e a mentira. Com o Evangelho, todas as barreiras são desfeitas pois o novo-convertido apren-de que nenhum pecado deve ser deixado sem perdão. Apren-de que deve perdoar as ofensas de outros assim como suas pró-prias ofensas foram um dia perdoadas pelo próprio Deus.

Sobre o Evangelho, Paulo conclui falando com alegria sobre o presente que Deus havia lhe dado de se tornar minis-tro do mesmo.

do qual fui constituído ministro conforme o dom da graça de Deus a mim concedida segundo a força operante do seu poder.

Paulo reconhece que, até mesmo o fato de ter sido chama-do para ser um pregador do Evangelho foi um ato da misericór-

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dia e da graça de Deus. Não foi algo planejado, sonhado, pen-sado por Paulo. Foi algo que caiu sobre ele. Veio a ele, sem que o mesmo pudesse ter tempo para pensar no que entraria. Já dentro, percebeu que tal convite nada mais foi do que um pre-sente gracioso, sinal do amor de Deus por ele.

Foi, portanto, concedido a Paulo este privilégio como po-deria ter sido concedido a qualquer outra pessoa. O ponto, por-tanto, não é Paulo, mas a graça. Uma graça poderosa e sobera-na que age (e sempre agirá) onde quer que intente Deus trazer transformação e restauração. Esta graça é poderosa para trazer as maiores transformações que o ser humano pode imaginar. Sem ela, ele está perdido. Com ela, nunca cessam as surpresas das maravilhas que o Senhor concederá para os que estão nele.

No texto seguinte, Paulo continuará a tratar da graça en-volvida na revelação deste mistério mas, antes de seguir, gos-taria de chamar sua atenção para o que tudo isso transmite a nós, leitores do século XXI, milênios depois de Paulo.

Quem pode imaginar os planos de Deus para si? Que igre-ja pode imaginar os planos de Deus para ela? Por mais que nos esforcemos, jamais compreenderemos os planos de Deus para os seus, seja na igreja, seja na família, seja em sua vida pesso-al, presente e futuro.

Com estas palavras de Paulo, o que fica muito claro é que o Senhor sempre surpreende o seu povo. Por mais que suas bênçãos nos deixem felizes, ele sempre tem mais, sempre algo “escondido” esperando pelo tempo certo em que tal bênção há de ser trazida à luz. Quando revelada, explode o coração e a alma de qualquer um que esteja debaixo de sua bondade. Não somos capazes de imaginar nem mesmo de pedir por aquilo que nos seja melhor. Deus sempre terá algo infinitamente me-lhor preparado para nós.

Nem sempre entenderemos este melhor. Outro problema nosso é que, quase sempre não teremos paciência para esperar

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pelo melhor. O que queremos, queremos agora. Ou, para ama-nhã. Mas que não demore muito. Isso cria ansiedade dentro de nós. E esta ansiedade só nos distancia.

O que deveríamos fazer então? Deveríamos ouvir estas palavras reveladas e inspiradas de Paulo e agarrarmos cada uma delas com toda a força de nossa alma e atravessarmos o momento de aparente silêncio de Deus confiando nesta certeza de que ele sempre surpreendeu o seu povo.

Agarre bem firme tais verdades, abrace-as com força e fé, sem a qual é impossível agradar a Deus. Permaneça fiel, certo de que Ele sempre tem o melhor para os seus.

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Versículo 8

No comentário anterior, vimos o encanto de Paulo pela surpresa que Deus lhe deu, bem como a todos os efésios e gen-tios, inserindo-os na nova aliança, fazendo também deles co--herdeiros com Cristo, desfazendo toda e qualquer barreira de separação que havia entre os judeus, o povo historicamente em aliança com o Senhor, conhecido como Povo de Deus, e os gen-tios, conhecidos historicamente como ímpios, pagãos, povos de fora da aliança, distantes de Deus e de suas promessas.

Agora, aqueles que estavam longe, estão perto. Foram in-seridos à aliança, à nova aliança. Isto, como bem descreveu Paulo, nunca havia sido revelado a ninguém no Antigo Testa-mento.Tal mistério revelado através de Paulo nada mais fez do que demonstrar a grandeza da graça de Deus em Cristo.

A compreensão de tal mistério trouxe uma enorme ale-gria ao apóstolo Paulo. Nos versos e capítulos já analisados e co-mentados, Paulo revela sua gratidão e surpresa pela bondade de Deus em fazê-lo conhecedor de todas estas coisas bem como o portador e despenseiro deste conhecimento aos povos que vi-

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viam fora das fronteiras israelitas, os assim chamados gentios.No entanto, a revelação de um outro mistério certamen-

te alcançou Paulo em seu encontro com a graça de Deus. Este outro mistério que, penso eu, Paulo nunca imaginou que des-cobriria, é o de sua real natureza. Em sua conversão na estra-da de Damasco, Paulo não pôde apenas conhecer a Deus, mas a si mesmo. A real conversão produz um profundo e correto co-nhecimento de Deus e de si mesmo.

É isso que vemos nas palavras de Paulo em Efésios 3.8:

Efésios 3.8: A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondá-veis riquezas de Cristo

Aqui subjaz um conceito bíblico de humildade. Em outras palavras, aqui está uma pequenina visão bíblica sobre o homem e como ele deve se ver. Qual deve ser a compreensão de alguém sobre si mesmo? Vejamos a resposta nas palavras de Paulo.

A mim,

Qual visão de si mesmo deve ter um cristão? Ἐμοὶ (emoi) é a forma dativa do pronome pessoal de primeira pessoa sin-gular. Paulo estava falando de si. Quanto a “si”, ele não estava se lembrando de algo acontecido em um passado distante, mas de algo que continuava a ser em sua vida. Não é o caso dele ter sido o menor dentre todos os santos, mas dele continuar a sê-lo. Esta sempre foi sua visão de si mesmo, e que transparece em várias de suas cartas. Veja:

1Timóteo 1.15–16: Fiel é a palavra e digna de toda acei-tação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os peca-dores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o

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principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longa-nimidade, e servisse eu de modelo a quantos hão de crer nele para a vida eterna.

1Coríntios 15.9: Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois perse-gui a igreja de Deus.

Paulo sabia quem ele era. Humanamente falando, Paulo sabia de sua grandeza. Espiritualmente falando, com os olhos de um novo homem regenerado, Paulo sabia que não passava de um pequeno vaso escolhido para servir ao seu Senhor.

O menor de todos os santos, e o menor dentre todos os apóstolos. Alguém que não é digno de receber o que recebeu.

Paulo possuía uma visão de si mesmo. Todos devemos ter. O grande perigo de nossos dias é que boa parte da psicologia moderna, sem falar de boa parte das pregações modernas — bastante influenciadas por uma visão incorreta de certos con-ceitos da psicologia —, acabam transmitindo uma visão sobre o ser humano diferente daquela que Bíblia tem sobre ele.

Todos devemos ter uma visão sobre nós mesmos. Você precisa ter uma visão de si, quem você é, quão importante (ou não) você é, etc. Consciente ou inconscientemente, você nutri-rá em seu interior uma visão sobre si. Todos temos. A questão é: esta é uma visão correta ou errada de si mesmo? Uma visão honesta ou uma visão romântica? Uma visão bíblica ou uma visão distorcida, transmitida a você por alguém cheio de boas intenções, todavia sem dizer a verdade?

Via de regra, seres humanos não gostam de ouvir a ver-dade. A mentira agrada mais. É por isso que tantos pregam e aconselham o que você quer ouvir, mas não o que você precisa-ria ouvir a fim que chegasse até a verdade sobre quem você é. Lembre-se, saber a verdade, sempre liberta. Abraçar a menti-ra, sempre perturbará, e nunca lhe dará descanso.

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o menor de todos os santos,

O que significa reconhecer-se como “menor”? Era essa compreensão que Paulo tinha de si mesmo. Ele sabia, uma vez convertido, que aos olhos de Deus ele era um servo. Esta era a verdade sobre si. E esta verdade lhe trouxe prazer e libertação. Paulo tornou-se um servo do Evangelho (Ef 3.6-8). Servo não no sentido de sujeição, como um escravo, mas no sentido de um “diakonos”, alguém que está servindo a outros.

A base deste serviço é a graça de Deus, o dom da graça de Deus. Segundo Paulo, é o poder de Deus que o mantém neste serviço. Paulo serve não pelo seu próprio poder, mas pelo poder de Deus. Paulo é pequeno, a despeito de todo conhecimento e fama que tivesse. O que importa são os olhos de Deus. E, dian-te desses, Paulo sabia de sua pequenez e fragilidade.4

Como escreveu em 1Tm 1.15, “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”. Ainda que, aos olhos dos demais homens de seu tempo, Paulo pare-cesse um pouco exagerado em sua colocação, para ele mesmo, tais palavras faziam todo sentido. Aliás, é sempre assim que alguém se vê quando alcançado sobrenaturalmente por esta graça soberana e transformadora.

Em 1Co 15.9, escreveu que era “o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo”. No mesmo verso, Paulo dá a razão de tal consideração. O fato dele ter sido um perseguidor da Igreja Cristã tornou-o consciente de uma indignidade.

Obviamente, o ponto aqui não é discutir se alguém é digno ou não. Todos são indignos. O ponto é o destaque dado

4 Harold W. Hoehner, “Ephesians”, in The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures, ed. J. F. Walvoord e R. B. Zuck, vol. 2 (Wheaton, IL: Victor Books, 1985), 629–630.

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àquele que teve um encontro com a graça que mudou comple-tamente a visão que ele tem de si mesmo. Não mais “o cara”, mas “o último”.

Conforme comenta o teólogo Robert Utley, a expressão “menor de todos” é um comparativo de um superlativo.5 A anti-ga vida agora o humilhava. Sua religiosidade alicerçada sobre uma auto-justificação pessoal e uma perseguição agressiva con-tra a Igreja de Jesus Cristo fazia dele, antes da conversão, um homem bem visto pela comunidade religiosa judaica. Agora, convertido, tudo aquilo que antes era motivo de sua fama, é mo-tivo de sua humilhação. Agora, Paulo não estava mais diante dos olhos dos homens, mas dos olhos de Deus. E isso o humilha-va. Os olhos de Deus quando postos sobre alguém sempre farão com que esta pessoa se sinta como a última, a menor. Não há es-paço algum para auto-estima. Os olhos de Deus destróem toda a auto-estima. Destrói para começar a construir em você uma visão correta sobre a estima que vem do alto.

Este verso nos dá um ótimo exemplo de quão humilde-mente Paulo falava de si mesmo. Quão pouco falava de si, e quão ricamente falava de Cristo. Ele era, em suas próprias pa-lavras, em sua própria estima pessoal, o menor que poderia ser. O que pode ser inferior ao menor? É impressionante como pessoas a quem Deus elevou demais honrando-as em sua obra, primeiramente fez com que elas tivessem uma nova visão sobre si mesmos. Para que Deus use alguém, primeiro ele abre os olhos desse alguém. Ou, como bem disse Søren Kierkegaard, “Deus cria tudo do nada — e tudo o que Deus vai usar, Ele pri-meiro reduz a nada.”

Com estas palavras, Deus usa Paulo para nos informar

5 Robert James Utley, Paul Bound, the Gospel Unbound: Letters from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, then later, Philippians), vol. Volume 8, Study Guide Commen-tary Series (Marshall, TX: Bible Lessons International, 1997), 100.

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que um fiel ministro de Cristo pode ser muito humilde e pen-sar muito pouco de si mesmo, até mesmo enquanto ele pensa e fala de modo grandioso e honrado de sua sagrada função.6

me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo

Mais uma vez, Paulo fala sobre o pregar do Evangelho. A conclusão de palavras tão lindas sobre sua nova e correta visão de si mesmo é coroada com a lembrança de que em seu atual momento da vida, o servir através da pregação do Evangelho é algo extremamente poderoso.

Aqui, ele é chamado de o Evangelho das insondáveis ri-quezas de Cristo. Essa “riqueza” contrasta com a “pobreza” sobre si mesmo. Cristo é tudo, ele é nada. Cristo cresce, ele di-minui.7 Esta visão sobre Cristo e sobre Deus (e, por que não dizer, sobre si mesmo) não pode ser alcançada por meio de um esforço pessoal. Trata-se de uma revelação do próprio Deus.8

Esta expressão “riquezas de Cristo” é uma das favori-tas de Paulo.9 As riquezas de Deus-Pai sobre as quais Paulo falou no capítulo 1, agora são transferidas para o Deus-Filho.10 Paulo passa a falar grandiosamente sobre aquele a quem ele

6 Matthew Henry, Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: complete and un-abridged in one volume (Peabody: Hendrickson, 1994), 2311.

7 Biblical Studies Press, The NET Bible First Edition Notes (Biblical Studies Press, 2006), Ef 3.8.

8 Robert James Utley, Paul Bound, the Gospel Unbound: Letters from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, then later, Philippians), vol. Volume 8, Study Guide Commen-tary Series (Marshall, TX: Bible Lessons International, 1997), 100.

9 Confira Ef 1.7,18;2.4,7;3.8,16.

10 Robert James Utley, Paul Bound, the Gospel Unbound: Letters from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, then later, Philippians), vol. Volume 8, Study Guide Commen-tary Series (Marshall, TX: Bible Lessons International, 1997), 100.

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odiou e que, um dia, mesmo depois de morto, lhe apareceu no caminho de Damasco.

Paulo compreendeu que há em Cristo um tesouro po-derosíssimo de misericórdia, graça e amor, como afirmou o puritano Matthew Henry.11 As riquezas do Evangelho são as ri-quezas do próprio Cristo. Estas riquezas não podem ser perse-guidas, descobertas ou alcançadas. Elas estão ocultas aos seres humanos. Somente Deus, pela graça, pode revelá-las a quem ele quiser. Agora, então, Paulo se empregava diariamente de pregar este “evangelho das insondáveis riquezas de Cristo” aos gentios de Éfeso e tantas outras cidades.

Enquanto tantos ainda permaneciam pobres sem o co-nhecimento da riqueza deste Evangelho, os efésios — e todos nós também — deveriam louvar e agradecer a Deus por tê-los permitido ver e experimentar este favor e graça de serem enri-quecidos com o Evangelho. Talvez, muitos aqui se perguntem: “Mas, com o que o Evangelho enriquece?” E a resposta a todos estes é: “O Evangelho enriquece o ser humano de esperança, de perdão, de paz e de segurança de salvação”.

Aquele que é cheio desta paz que só a boa mensagem de Cristo pode dar também se torna rico do próprio Evangelho po-dendo compartilhá-lo com outros livre e abundantemente, por onde for.

Graças a Deus, todos os não judeus, ou seja, todos os gen-tios — todos nós — podemos ser ricos das bênçãos de Cristo e ricos da graça e misericórdia de Deus. Mas, para isso, é neces-sário que voltemos para Cristo, deixando de lado toda arrogân-cia e vaidade, todo pensamento errado e demasiadamente ele-vado de si mesmo. Não somos mais do que pecadores, grandes pecadores, e Cristo, pela graça de Deus, é um grande Salvador.

11 Matthew Henry, Matthew Henry’s commentary on the whole Bible: complete and un-abridged in one volume (Peabody: Hendrickson, 1994), 2311.

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Todos precisamos dele, todos devemos olhar e correr para ele. Só assim saberemos quem realmente somos e quem realmen-te ele é.

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Versículos 9 a 13

Já lhe ocorreu a possibilidade de que a sua salvação tam-bém tenha sido uma evidência da graça e misericórdia de Deus a anjos e demônios? Seria possível que você tenha sido escolhi-do também com o propósito de manifestar a riqueza do amor e paciência nas regiões celestiais?

Pois bem. Parte do que o apóstolo Paulo trata nesta pe-quena porção está relacionado a isso. Sem fugir da linha mes-tra de sua epístola, sobretudo nesta seção (a maravilha da re-velação do mistério divino), Paulo irá relacionar o mistério com os anjos e demônios aqui.

Efésios 3.9–13: e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potesta-des nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que es-tabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ou-sadia e acesso com confiança, mediante a fé nele. Portanto, vos peço que não desfaleçais nas minhas tribulações por vós, pois nisso está a vossa glória.

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e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas,

Isso já foi explicado quando Paulo escreveu sobre o misté-rio da salvação dos gentios, da inclusão na família de Deus de pessoas de todas as etnias, de todas as línguas e nações. Aqui-lo que estava restrito apenas aos judeus agora é apresentado como algo a ser oferecido a todos os povos.

Paulo, então, foi escolhido e preparado por Deus para dis-pensar este mistério, o mistério do amor e salvação de Deus através da obra de Cristo aos efésios e demais gentios.

Paulo, mais uma vez, destaca aqui que este aspecto do amor de Deus a ser derramado sobre todos os povos perma-neceu oculto durante todos os séculos. Quando Deus estava criando todas as coisas, ele já possuía em sua sabedoria que aquele seria o tempo em que todos os gentios, estrangeiros ao povo de Abraão, ao povo da aliança, seriam convidados a parti-ciparem das promessas e da salvação.

Na Epístola aos Efésios, Paulo não esconde em nenhum momento sua imensa alegria por saber desse mistério agora revelado e por ser ele o portador dessa mensagem. Paulo não considerava digno de levar essa mensagem, e é isso que ele disse no verso anterior (Ef 3.8).

Continuando sua mensagem, Paulo irá em seguida expli-car uma das razões da manifestação do Evangelho.

para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida,

É através da igreja que Deus se torna conhecido. A mul-tiforme sabedoria de Deus só pode ser conhecida pela igreja (apesar de seus erros e negligencias). É pela igreja, esse coleti-

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vo de vasos tão frágeis e, até mesmo, previsíveis. Não é difícil descobrir-se com facilidade suas maiores fragilidades e suscep-tibilidades. Mas, também, serão estes simples vasos que terão a responsabilidade de portar tão maravilhoso e precioso tesou-ro diante das nações.

“Pela igreja”, um grupo de pessoas chamadas para fora deste mundo. A palavra igreja vem de ἐκκλησία, ou seja, a to-talidade de todas os cristãos que já existiram e um dia ainda existirão neste mundo. São todos estes que comporão a ma-ravilhosa e grandiosa igreja de Cristo no final dos tempos. A raiz da palavra ἐκκλησία é a palavra καλεω, ou seja, “chamar”. Neste sentido, a igreja são os que foram “chamados”. A expres-são ἐκ presente no início da palavra ἐκκλησία aponta para os que foram chamados “de dentro para fora” de algum lugar.

Esta palavra era muito usada para caracterizar um grupo de pessoas que se reuniam na antiga Grécia com o objetivo de opinar e decidir sobre questões públicas. Todos os homens honrados participavam destas ἐκκλησίας. Quem não participa-va era imediatamente chamado de “idiota”, que vem de ἴδιος, ou seja, algo relacionado a alguém, particular desse alguém, “individual”. Pensar somente em si fazia das pessoas “idiotas”, visto que as pessoas honradas viviam “fora de si” como cha-mados para também serem responsáveis pelo que pertence ao outro e, consequentemente, à comunidade.12

Os cristão, agora, são chamados por Jesus e por Paulo de ἐκκλησία. Um grupo chamado para fora do império das trevas para viver dentro do reino do filho amado de Deus-Pai. Um grupo de pessoas pecadoras perdoadas, vivendo fora de si mes-mas, transformadas, pessoas que morreram para este mundo e nasceram de novo para uma nova vida com Deus.

12 Johannes P. Louw e Eugene Albert Nida, Greek-English lexicon of the New Testament: based on semantic domains (New York: United Bible Societies, 1996), 122.

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São estas pessoas perdoadas que formam a Igreja de Jesus Cristo, de todos os tempos e de todas as eras. E é por meio dela que a multiforme sabedoria de Deus se torna conhe-cida até mesmo dos principados e das potestades.

A palavra “multiforme” nos recorda que esta graça sal-vadora não possui uma única forma. Isso não tem nada a ver com o conteúdo que é simples e sempre o mesmo, mas tem a ver com a forma como este conteúdo atesta a grandeza e rique-za da misericórdia de Deus. Segundo o Dicionário da Bíblia Al-meida, o verbete multiforme designa aquilo que possui rica va-riedade.13 E é exatamente assim que sempre encontraremos o Senhor agindo, de formas diferentes, mas sempre marcadas por uma muito rica graça.

A palavra “sabedoria”, obviamente, está ligada à mente, pensamento e decretos do Senhor. Não há nada que ele faça que não seja alicerçado em sua rica sabedoria. Ele é a própria fonte de toda sabedoria e suas ações são todas realizadas de-baixo de tão rica sabedoria.Não há nada que seja feito ou fala-do por Deus que não seja sábio, correto. Tudo o que vem dele é e será o melhor, o mais certo.

Assim, ciente de que esta sabedoria é multiforme, Paulo expõe que a igreja será a agente dessa rica sabedoria. Sempre a igreja.

.agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais,

O interessante é notar aqui de quem essa sabedoria mul-tiforme era alvo na mente de Paulo. O foco dele neste momento é demonstrar que a multiforme sabedoria não era apenas alvo

13 Kaschel, Werner, e Rudi Zimmer. Dicionário da Bíblia de Almeida 2a ed. Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

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dos homens, dos seres humanos espalhados por todo o Império Romano. Ao comunicar o Evangelho, aquilo que era revelado aos gentios também o era aos demônios e anjos.

A expressão “principados e potestades nos lugares celes-tiais” designam seres não humanos que, de certo modo, tinham contato com seres humanos. Ao ser revelado aos homens a ver-dade bíblica, a mesma também o era aos espíritos, demoníacos ou angelicais.

A exposição do Evangelho a potestades e principados demonstra que a glória do Evangelho que revela a miseri-córdia e graça da Santíssima Trindade foi capaz de restau-rar à condição de santos aqueles que, à semelhança de mui-tos demônios, haviam se desviado rebeldemente dos cami-nhos para os quais foram criados. Por motivos desconheci-dos, não houve deliberação eterna entre Pai, Filho e Espíri-to Santo para o resgate, redenção e salvação de anjos caídos. Mas, aos seres humanos foi dado o sacrifício do Cordeiro de Deus, por razões igualmente desconhecidas — embora com-preensíveis.

Assim, a pregação do Evangelho evidencia a riqueza da misericórdia também a seres não humanos que veem e, em certa medida, “convivem” com os seres humanos, pecadores, perdoados e resgatados. A igreja é uma testemunha, então, desta misericórdia diante de homens e anjos.

segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor,

Tudo isso tem origem em uma eterna decisão da Trinda-de e que se cumpriu com a vinda e com a vida de Cristo. Mas, o que seria o “eterno propósito” aqui mencionado?

Este é o propósito da eternidade mencionado no capítulo 1. E, para ficar completa (ou quase) nossa visão, é necessário

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que compreendamos o papel de Gênesis 1-3 como parte inte-grante do eterno propósito de Deus para o homem.

Deus criou o homem segundo sua imagem para a comu-nhão. Tal comunhão foi totalmente destruída quando os pri-meiros pais se rebelaram. Na restauração desta imagem é res-taurada também a comunhão com a humanidade decaída (ju-deus e gentios). Assim, dentro do propósito eterno percebemos não apenas a vinda de Cristo, mas a vinda de Cristo para res-taurar a comunhão, que é parte essencial do eterno propósito de Deus para o homem.14 O objetivo final é visto desde o início:

Gênesis 3.15: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabe-ça, e tu lhe ferirás o calcanhar.

E é completada com a vinda e obra do Espírito Santo em nossas vidas:

João 16.8–14: Quando ele vier convencerá o mundo do pe-cado, da justiça e do juízo: do pecado porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está jul-gado. Tenho ainda muito que vos dizer, mas vós não o po-deis suportar agora; quando vier, porém o Espírito da ver-dade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão de vir. Ele me glorificará, porque há de re-ceber do que é meu e vo-lo há de anunciar.

Graças à ação do Espírito Santo em nossas vidas, passa-mos a viver não mais em rebeldia, mas em comunhão, restau-

14 Robert James Utley, Paul Bound, the Gospel Unbound: Letters from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, then later, Philippians), vol. Volume 8, Study Guide Commen-tary Series (Marshall, TX: Bible Lessons International, 1997), 101.

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rados para buscar a Deus assim como nossos primeiros pais, Adão e Eva, o faziam.

pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele.

Com a vinda de Cristo, podemos com segurança e paz acessar este propósito e participarmos dele. A palavra usada por Paulo é παρρησία, ou seja, a completa ausência de cons-trangimento, medo ou dúvida. Graças ao sacerdócio de Cristo, somos levados até ao Pai. Não vamos, somos levados. Somos chamados a ir, mas, na verdade, é ele que tem nos sustenta-do do início ao fim. Nossa segurança ao orar não vem da certe-za de que estamos apegados a Deus, mas da certeza de que ele nos segura e nos apega de tal modo que nunca soltará. A ver-dade sobre esta aproximação entre rebeldes arrependidos e o seu Criador também pode ser vista nas seguintes passagens bíblicas:

Efésios 2.18: porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito.

Romanos 5.2: por intermédio de quem obtivemos igual-mente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.

1Pedro 3.18: Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito,

1Timóteo 2.5: Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem,

Após essa certeza do acesso ser relembrada por Paulo, assim ele conclui:

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Portanto, vos peço que não desfaleçaisnas minhas tribulações por vós, pois nissoestá a vossa glória.

Diante disso, Paulo os exorta a não se entristecerem pela prisão e tribulações que vivia. Estes sofrimentos só existiam por que Deus havia usado sua vida para levar o Evangelho aos efésios. Não fosse sua disposição de servi-los com o Evange-lho, eles não possuiriam a glória de conhecer o caminho de sal-vação. Se, no entanto, eles conheciam o Caminho, deviam isso a Paulo, que estava naquele momento preso exatamente por causa da pregação do Evangelho.

Paulo não reclama, pois não desfalecia em sua prisão. Havia muita alegria em suas algemas. Elas lhes lembravam de que muitos estavam salvos. Elas eram em certa medida, uma memória da salvação que foi fruto da pregação de Paulo aos efésios.

Assim, se Paulo estava feliz, os efésios não tinham razão para não estarem felizes também. Afinal, se não fosse a tribu-lação de Paulo, seria a de outro. No tempo de então, não era possível evangelização sem tribulações. Uma estava intima-mente relacionada à outra.

Assim, se compreendermos esta pequena passagem do final para o início, teremos o seguinte:

; Paulo espera que nenhum deles se entristeça por sua prisão. Afinal, ela era o motivo da salvação de cada um deles. Mesmo sabendo do sofrimento que lhe aguarda-ria, Paulo optou por pregar o Evangelho pois isso seria mais glorioso do que toda e qualquer coisa que pudes-se lhe sobrevir;

; O fato de Paulo ter lhes apresentado a Cristo e a este crucificado não era o motivo de sua salvação. Se os efé-

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sios estavam salvos, deviam isso exclusivamente a Cristo Jesus. É ele quem nos leva das trevas para a luz. É ele, e somente ele, que nos conduz em misericór-dia e graça para a presença de Deus, o Pai;

; E, por fim, Paulo apresenta mais uma informações im-pressionante, óbvia, mas impressionante: o eterno pro-pósito de Deus de nos salvar não é apenas um testemu-nho ao mundo, mas também aos anjos e demônios que nos assistem durante nossa peregrinação.

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Versículos 14 a 17

Porque os cristãos se ajoelham? Você já se fez esta per-gunta? Há razões mais específicas pelas quais devemos nos co-locar de joelhos? Ou será que todas as orações deveriam ser fei-tas de joelhos? Seria hipocrisia orar de joelhos? O que a Bíblia diz sobre isso?

Nesta porção de Paulo aos Efésios, o mesmo comenta sobre sua própria experiência nos ajudando a entender pelo menos um bom motivo pelo qual se pôr de joelhos.

Muitas outras religiões mantêm essa prática. Muitos, como os muçulmanos, entendem que todas as orações devem ser feitas de joelhos. Não querendo entrar no mérito do por-que as outras religiões encontram razões para colocarem-se de joelhos perante seus deuses, vejamos razões bem claras pelas quais devemos nos colocar diante de nosso Deus.

Efésios 3.14–17: Por esta causa, me ponho de joelhos dian-te do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra, para que, segundo a riqueza da sua gló-ria, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, median-

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te o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerça-dos em amor, Se você é alguém que já sofreu muito na vida desejando encontrar paz em algo ou em alguém, mas se de-sesperou ao perceber que nada lhe trouxe paz, saiba que a razão de você não ter a encontrado se dá pelo único fato de você não ter procurado no lugar certo.

Sim, há uma razão especial pela qual devemos nos por de joelhos diante de Deus-Pai. Poucas são as vezes em que Paulo afirma que fará tal coisa. Orar é sempre um ato de in-timidade entre o cristão e a Santíssima Trindade. Mas, o pôr--se de joelhos sempre teve uma razão específica e especial por detrás de tal atitude.

Não é comum vermos as pessoas ajoelhando-se para falar com Deus. A orações eram feitas de muitas maneiras no tempo bíblico. No entanto, quando se fala que uma pessoa se pôs de joelhos para orar, sempre alguma razão especial está atrelada a isso.

Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai

Obviamente, Paulo não estava de joelhos no momento exato em que escrevia estas palavras. Trata-se apenas de uma figura simples relacionada à mais sincera oração.

Paulo não estava preocupado com sua vida, com seus pro-blemas. Sua preocupação estava ligada aos efésios. É por eles que Paulo se ajoelhou. Ele se ajoelha “diante do Pai”, para quem dirige sincera e amorosamente sua oração.15

Pense por um momento neste fato. Paulo, em nenhuma

15 Kenneth S. Wuest, Wuest’s word studies from the Greek New Testament: for the English reader (Grand Rapids: Eerdmans, 1997), Ef 3.14.

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de suas epístola diz que se ajoelha por si mesmo, mas sem-pre por outras pessoas. Será que o Espírito Santo não deseja nos ensinar algo com isso? Será que não deveríamos nós tam-bém nos ajoelharmos quando estivermos clamando pela vida de outra pessoa?

Como veremos abaixo, não foi apenas Paulo que fez isso. Muitos outros antes dele também se colocaram de joelhos para pedir por outros. Vejamos:

Salmos 95.6–8: Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhe-mos diante do SENHOR, que nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Hoje, se ou-virdes a sua voz, não endureçais o coração, como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto,

Neste texto, o povo é convidado a orar suplicando por for-ças para que não voltem a cair no mesmo pecado que seus an-tepassados um dia caíram. Eles se põem de joelhos para clamar a Deus que os ajudasse a não terem o mesmo coração duro que seus pais tiveram nos tempos do deserto.

Não havia uma preocupação individual. O foco é no cole-tivo. Eles se prostrariam, se ajoelhariam, para pedir uns pelos outros, uns pelas vidas dos outros. O foco não estava no que era particular, mas no que estava relacionado à vida dos outros.

Outro texto que vemos é este:

Mateus 17.14–15: E, quando chegaram para junto da mul-tidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na água.

Neste texto, temos um homem se pondo de joelhos para pedir pela vida de seus filho. Seu filho tinha problemas apa-rentemente mentais, os quais, todavia, se revelaram como

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fruto de possessão demoníaca. O foco do texto, no entanto, não é o problema do filho, mas a atitude do pai. Ele foi até Jesus e, diante dele, ajoelhou-se para pedir por outro.

Aqui também o foco não é pedir por si. O foco daquele que procurou Jesus e se ajoelhou diante dele era outra pessoa. Um pai clamando socorro e libertação por seu filho. Um pai de joe-lhos clamando pela salvação de seu filho.

Outro texto é este:

2 Crônicas 6.13-14, 21: Porque Salomão tinha feito uma tribuna de bronze, de cinco côvados de comprimento, cinco de largura e três de altura, e a pusera no meio do pátio; pôs--se em pé sobre ela, ajoelhou-se em presença de toda a con-gregação de Israel, estendeu as mãos para o céu e disse: Ó SENHOR, Deus de Israel, não há Deus como tu, nos céus e na terra, como tu que guardas a aliança e a misericórdia a teus servos que de todo o coração andam diante de ti … Ouve, pois, a súplica do teu servo e do teu povo de Israel, quando orarem neste lugar; ouve do lugar da tua habitação, dos céus; ouve e perdoa.

Neste texto, o rei Salomão se ajoelha para orar pelo povo. Após algumas palavras de adoração, Salomão intercede pelo povo, para que todas as orações que eles fizessem naquele lugar fossem ouvidas e atendidas pelo Senhor. Ele não pede por si, mas pelo povo, para que não só fossem ouvidas suas oração, mas também para que seus pecados fossem perdoados quando ali confessados.

Outra vez, o foco de quem ora não está em si mesmo, mas em outras pessoas que estão ao seu redor. Outros estão em sua mente quando seus joelhos tocam o chão.

Não lhe parece curioso este fato? São apenas alguns epi-sódios bíblicos. Em todos eles, quem se ajoelha o faz para pedir pelo outro. Seria errado se ajoelhar para pedir por si mesmo?

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Qual seria a forma de orarmos por nós mesmo?Na verdade, não há nada de errado em ajoelhar-se para

orar por si mesmo. O ponto não é este, mas apenas destacar que, quando homens de Deus se ajoelhavam não era apenas para pedir pelos seus próprios problemas, mas também pelos outros.

Normalmente, nos ajoelhamos com o objetivo de clamar por uma situação que nos saiu do controle, um pecado que co-metemos, uma viagem que faremos, etc. O foco está sempre em nós mesmos. Aqui, com Paulo e todos estes demais textos, aprendemos que nossas orações de joelhos não devem ter ape-nas nossos pedidos como o centro da oração. É saudável que também nos ajoelhemos a fim de orar apenas pelos outros.

de quem toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,

O verso 15 nos apresenta outro fato maravilhoso. Assim como um pai dá um nome para um filho e para uma família, Deus dá um nome para todos que formam sua família, tanto no céu quanto na terra.

Dar um nome equivale-se a dar um título.16 Você o leva para onde for e todos o reconhecerão por este nome. Não ape-nas lhe chamarão por ele, mas também lhe honrarão.

Deus nos dá a honra de sermos seus filhos e filhas e de le-varmos o seu nome em nossas vidas. Como filhos amados, re-cebemos dEle esta graça.

Paulo aqui faz uma brincadeira com as palavras. No final do verso anterior, ele citou o πατέρα de quem toda a πατριὰ toma o nome. Pater e Patria, pai e família. Nesta brin-

16 Johannes P. Louw e Eugene Albert Nida, Greek-English lexicon of the New Testament: based on semantic domains (New York: United Bible Societies, 1996), 402.

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cadeira, Paulo reforça a identidade do nome entre a família com seu Pai.17

para que, segundo a riqueza da suaglória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor,

No verso 16, Paulo nos recorda que Deus nos dá poder no homem interior. Este poder é o que nos capacita a agirmos com maturidade diante de todas as situações da vida. Não há nada impossível para quem caminha cheio desse poder. Tudo pode-mos naquele que nos fortalece.

É segundo a riqueza de sua glória que ele nos enche de graça e de poder. É por esta graça que Ele nos faz fortes. É por esta graça que cegos veem e fracos são capazes de lutar contra o impossível. É por esta graça que você e eu não temos motivos para desistir nunca e em nenhum momento de nossas vidas quando estivermos diante de tribulações e angústias.

No verso 17, Paulo trata de uma verdade muito cara aos cristãos: “habite Cristo no vosso coração”. Todos amamos esta expressão. Ensinar a crianças e adultos sobre Cristo estar pre-sente em nossos corações é tão precioso.

No entanto, o que Paulo está fazendo aqui é ligar a rique-za de sua glória ao habitar de Cristo em nossos corações.

Pela fé (que é um dom de Deus, segundo informações re-veladas nesta mesma Epístola) é que recebemos a Cristo em

17 Robert James Utley, Paul Bound, the Gospel Unbound: Letters from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, then later, Philippians), vol. Volume 8, Study Guide Commen-tary Series (Marshall, TX: Bible Lessons International, 1997), 102.

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nossos corações e assim passamos a estar estabelecidos e fir-memente arraigados em Cristo. O poder de Deus faz com que Cristo habite no coração. O poder de Deus é o que faz com que esta habitação seja indestrutível e eterna. Até quando ele ha-bitará em nossos corações? Até que entremos definitivamen-te em sua presença no novo céu e nova terra. Lá, então, não se fará mais necessária esta atual e interna habitação. Na verda-de, lá seremos nós que habitaremos nele, conforme nos aponta o livro de Apocalipse.

Algo interessante a ser notado aqui também é o desta-que à ação da Trindade em todo o processo. “Pai… Espírito… Filho”. No verso 14, a pessoa do Pai é mencionada. No verso 16, a pessoa do Espírito Santo é mencionada. E, no verso 17, a pes-soa de Cristo é mencionada. Se separássemos tudo o que está no meio, as palavras de Paulo nesta porção ficariam assim:

“Me ponho de joelhos diante do Pai,… para sejais forta-lecidos mediante o seu Espírito,… e, assim, habite Cristo em vosso coração”.

Note que o Pai é quem recebe a oração que fazemos ajo-elhados. Quem opera na resposta a nosso pedido é o Espírito. É Ele quem opera em nós no tempo da igreja. É pela obra do Espírito segundo a vontade do Pai que o Filho habita em nos-sos corações fazendo com que conheçamos e experimentemos “a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade18” do amor de Cristo, conforme veremos no comentário dos versos seguintes.

Assim, não nos esqueçamos de que a presença de Cristo em nossos corações é o que nos fortalece, que o Espírito Santo

18 Ef 3.18

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continua operando no coração de homens e mulheres segun-do a vontade do Pai. E, acima de tudo, não nos esqueçamos de quão importante é nos colocarmos de joelhos para clamar pela vida das pessoas a quem amamos e desejamos livramentos, curas e, principalmente, salvação.

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Versículos 18 a 21

É muito difícil descrever o que é o amor. É mais difícil ainda quando tentamos definir o que é o amor de Deus em re-lação a nós. Embora seja algo possível de se experimentar, não é algo possível de se esgotar, tal como uma fonte da qual se é possível beber sem que a mesma venha um dia a secar.

Assim é o amor de Deus. Ainda que seja impossível des-crevê-lo plenamente como ele é, creio que o Espírito Santo usou Paulo nesta pequena porção para nos apresentar de um modo humanamente perfeito e incorrigível o que é o amor de Deus “por todos os seus santos”.

Paulo encerra este trecho de sua epístola com uma reve-lação sobre o amor de Deus que é incrível. Poucas vezes na Sa-grada Escritura o conhecimento do amor de Deus é descrito com tanta profundidade e gratidão.

Aqui, Paulo é usado por Deus para nos apresentar, na medida em que podemos compreender, a grandeza impressio-nante do amor e da obra de Deus em nossas vidas. Vejamos:

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Efésios 3.18–21: a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a al-tura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que ex-cede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensa-mos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!

a fim de poderdes compreender,

O entendimento sempre foi um tema especial na Palavra de Deus. A Bíblia não é para não ser compreendida. A Palavra do Senhor não diz respeito a um livro oculto que foi dado com o objetivo de não ser compreendido. É até absurda esta ideia.

Assim, também é absurda a ideia de que o Senhor deixou verdades ocultas que são essenciais para nossa salvação e con-forto. Não questiono o fato de que existam verdades de difícil compreensão e que não estejam completamente reveladas — como a verdade da segunda vinda de Jesus Cristo. Todos sa-bemos que ela acontecerá, mas não exatamente como. A Bíblia nos fala que isso acontecerá, mas não dá detalhes precisos re-lacionados a dia, hora, etc.

O mesmo não se dá com temas relacionados ao amor de Deus por nós, tema tratado por Paulo nesta porção de sua Epístola. Não somente aquilo que está relacionado ao amor de Deus, mas também tudo o que está relacionado com o confor-to e consolo dos cristãos foi muito em revelado a fim de que pu-déssemos descansar em momentos de crise.

A palavra escolhida por Paulo para “compreender” é a pa-lavra καταλαμβάνω — chegar ao entendimento de algo que não

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era entendido ou percebido previamente.19 Há um sentido tam-bém em que esta palavra significa algo que é abraçado, algo sobre o que você estende os braços e toma para si, compreen-dendo a dimensão de tal coisa.20

Assim, fica claro que o assunto que será tratado por Paulo não deveria ficar distante do conhecimento fácil dos efésios. Deveria ser algo sobre o que eles poderiam facilmente estender suas mãos, tocar, sentir, aprender e apreender.

com todos os santos,

Com estas palavras, fica claro que o que deve ser compre-endido não deve ficar fechado a um grupo exclusivo de pesso-as. É clara a expressão “todos os santos”. Estes são aqueles que deverão alcançar a compreensão. Nenhum santo deve ficar de fora.

Isto, por si só, já confronta o que os gnósticos diziam nesta mesma época influenciando muitos cristãos. Eles diziam que havia um conhecimento secreto que deveria ser conhecido a fim de que a salvação pudesse ser obtida. No entanto, apenas um grupo pequeno tinha o privilégio de conhecer esta verdade oculta sobre si mesmos e sobre o universo.

Com a expressão “com todos os santos”, Paulo mostra que o Evangelho não era destinado a um grupo de homens mais in-teligentes que outros, ou um grupo de homens mais esforçados que outros. Todos os santos conheceriam esta verdade.

Mas, quem são “todos os santos”? Sempre que Paulo fala dos santos ele os trata de modo plural. Ser santo é ser parte

19 Johannes P. Louw e Eugene Albert Nida, Greek-English lexicon of the New Testament: based on semantic domains (New York: United Bible Societies, 1996), 381.

20 Warren W. Wiersbe, The Bible exposition commentary, vol. 2 (Wheaton, IL: Victor Books, 1996), 33.

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de uma comunidade.21 Obviamente, não uma comunidade local específica, mas uma comunidade espalhada por todo o mundo, composta de pessoas vivas e mortas, visíveis e invisíveis, que estão na terra e no céu.22 E Deus trabalha o tempo todo com esta comunidade que Ele chama de seu “corpo”. Esta é a Igre-ja de Jesus Cristo.

qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.

Esta é, enfim, a verdade a ser conhecida: o amor de Cristo (ἀγάπην τοῦ Χριστοῦ). A palavra “amor” (ἀγάπην) aqui usada diz respeito a um amor por algo ou alguém baseado em uma since-ra apreciação e grande entrega. Não é nunca algo egoísta, mas sempre abnegado e altruísta. Não é difícil de imaginar o amor de Jesus por nós desta maneira. É exatamente assim que ele amou a cada uma de suas ovelhas. Ele não somente as conhe-ce pelo nome, mas sinceramente as ama. Por cada uma delas ele deu a sua vida. Há tanto amor na pessoa bendita de nosso Senhor Jesus Cristo que não é nem mesmo possível compreen-dermos racionalmente a magnitude desse amor.

Todavia, em algum sentido estranho a nós, Paulo afirma que abraçaremos (compreender) este amor. Nossas mãos (per-cepção) alcançariam a largura, o comprimento, a altura e a profundidade deste amor.

21 Robert James Utley, Paul Bound, the Gospel Unbound: Letters from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, then later, Philippians), vol. Volume 8, Study Guide Commen-tary Series (Marshall, TX: Bible Lessons International, 1997), 103.

22 E esta é uma das ideais principais por trás da palavra Católica.

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A palavras de Paulo apontam para algo que ultrapassa nossa capacidade de compreender. Mas isso não significa que não podemos compreender. Significa apenas que vai além do que podemos.

A expressão “e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento” (γνῶναί τε τὴν ὑπερβάλλουσαν τῆς γνώσεως ἀγάπην τοῦ Χριστοῦ, ἵνα πληρωθῆτε εἰς πᾶν τὸ πλήρωμα τοῦ θεοῦ23) poderia ser também traduzida desta forma: “E conhecer o ultrapassar do conhecimento, o amor de Cristo, a fim de vós sejais tomados plenamente de toda a plenitude de Deus24”.

O que significa “o ultrapassar do conhecimento”? Res-posta: o amor de Cristo. O amor de Cristo é o “ultrapassar do conhecimento”. Conhecer o amor de Cristo significa conhecer algo que ultrapassa o conhecimento. Quando conhecemos este amor, somos tomados pelo mesmo que nos dá a impressão de que estamos sendo tomados pela plenitude de Deus.

Uma tradução do texto grego acima bem próxima do literal seria exatamente esta: “conhecer o ultrapassar do conhecimen-to”. Nela, fica clara a impossibilidade de se alcançar em plenitude aquilo que é infinito. Ou seja, sendo a plenitude de Deus infinita, jamais pode ser totalmente abraçada por quem é finito e mortal.

No entanto, o amor de Cristo é derramado de tal modo sobre nossos corações que nos permite compreender no máxi-mo que podemos, no limite de nossa capacidade humana, este amor. Ele nos preenche de tal modo que temos a impressão de que o abraçamos plenamente. Todavia, abraçamos apenas aquilo que somos capazes de abraçar — bebemos somente da-quilo que somos capazes de sorver. Sem dúvida, a fonte desta água possui muito mais do que eu jamais poderei beber.

23 Eberhard Nestle et al., The Greek New Testament, 27th ed. (Stuttgart: Deutsche Bibelge-Eberhard Nestle et al., The Greek New Testament, 27th ed. (Stuttgart: Deutsche Bibelge-sellschaft, 1993), Ef 3.19.

24 Minha tradução.

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Assim também é o amor de Cristo. Ele é totalmente su-ficiente para mim, e totalmente suficiente para você. Assim como é suficiente para satisfazer e preencher a todos os santos que o conhecem e dele experimentam.

A expressão final desta porção afirma “para que sejais to-mados de toda a plenitude de Deus”, ou, como traduzi acima, “a fim de vós sejais tomados plenamente de toda a plenitude de Deus”. Esta expressão também é muito forte.

É quase inimaginável ilustrarmos tal expressão. Como é possível que sejamos “tomados plenamente de toda plenitude de Deus”? Deus não cabe em nós, diria alguém. Exatamente. Ele não cabe em nós como em lugar ou coisa alguma. Nada nem ninguém o comporta. Todavia, ele revela que de alguma maneira nos tomaria plenamente de si mesmo.

É impossível que alguém seja tomado pela pessoa bendi-ta de nosso Deus e não sinta nada. O encontro com o amor de nossas almas sempre causa um impacto inesquecível e inde-lével. Deus deseja nos tomar para si, não apenas comprando--nos, mas ocupando-nos. Não apenas cercando-nos, mas inva-dindo-nos.

Após escrever sobre o amor de Deus e a maneira como esse amor nos invade e nos preenche, Paulo encerra com uma palavra de adoração:

Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!

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Esta é uma das mais belas doxologias25 do Novo Testa-mento. O texto começa com as palavras que destinam a Deus todo o louvor. Só Ele é digno de louvor. Continuando, Paulo afirma o que este Deus é capaz de realizar em nós, ou seja, tudo. Ele é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo.

Pare e medite, por um breve momento, sobre estas pa-lavras: “poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos”.

Há uma profundidade indescritível nestas palavras. Sim-plesmente não é possível imaginar o que Deus não possa fazer pelos seus. Ele os ama de um modo tão impressionante que não há nada que o Senhor possa lhes negar (obviamente, se não forem pecaminosas).

O texto continua afirmando “conforme o seu poder que opera em nós”. No grego original, Paulo fala de um poder que está dentro de nós. Ligue isso ao que foi dito anteriormente — fomos plenamente tomados pela plenitude de Deus. Agora, cheios de Deus, ou, do Espírito Santo, temos tal poder que opera dentro de nós.26

Isto mostra o quão diferente a Nova Aliança é da Anti-ga. Na Nova Aliança (Novo Testamento), o Espírito do Senhor habita permanentemente entre seu povo, diferentemente de como era na Antiga Aliança. Esta presença é o que garante permanentemente este poder dentro de nós.

Paulo encerra este capítulo louvando a Deus na pessoa bendita de nosso Senhor Jesus Cristo, capaz de tudo, e a quem devemos adorar. A ele seja a glória. Só ele é digno, e ninguém os amará ou cuidará como ele. Ele é antes de todas as coisas, e

25 Uma expressão de louvor a Deus.

26 Robert James Utley, Paul Bound, the Gospel Unbound: Letters from Prison (Colossians, Ephesians and Philemon, then later, Philippians), vol. Volume 8, Study Guide Commen-tary Series (Marshall, TX: Bible Lessons International, 1997), 103–104.

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superior a todos e todas as coisas. Só a ele os santos — todos os santos — rendem louvor.

“A ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus”. Sendo a glória dada exclusivamente a Deus, note-se que esta glória (ou, fama) é conhecida através de Cristo e de seu corpo, a igreja. É nela que a fama de Cristo continua a ser espalhada em toda a Terra. A fama de seu nome é espalhada por todo o mundo via todos os santos, aqueles cujas vidas estavam cheias do Espíri-to Santo.

Paulo termina com a expressão “por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!” Havia no coração paulino um dese-jo de que tal ação de Deus no coração humano trouxesse a Deus não só a gloria devida ao seu nome, mas uma glória que fosse re-conhecida pelos séculos dos séculos, para todo o sempre.

Com a expressão “amém”, Paulo encerra com esta expres-são tão famosa no seio cristão. Do grego ἀμήν, esta expressão sig-nifica uma forte confirmação ou concordância com algo dito ime-diatamente antes. Assim, Paulo encerra afirmando quão firme-mente ele cria em todas as coisas que havia acabado de dizer.

Esta é a mesma convicção que se espera de todo aquele que experimenta o amor de Deus e é tomado pelo mesmo.

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