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ISSN 1808-7191 ANO 22 - Nº 130 - JUL/AGO 2019 A REVISTA DO MÉDICO VETERINÁRIO Indexação Qualis Eficácia do maleato de oclacitinib no tratamento de generalizada juvenil em um cão: relato de caso COLUNAS: Dicas do Laboratório Nutrição Animal Comportamento Felino Bem-Estar Animal Conhecimento Compartilhado Medicina Felina Med. Trad. Chinesa Anclivepa Direct Gestão & Marketing Neurologia Comportamento Empresarial Fisioterapia Odontologia Endocrinologia Leishmaniose Nutrição & Bem-Estar Entre Clínicas Terapia Celular • Utilização do Meloxicam na espécie canina • Atendimento emergencial do paciente felino politraumatizado • Carcinoma mamário e hiperplasia mamária concomitantes em felino: relato de caso • Tratamento endodôntico e restaurador pós-fratura de canino em leões: relato de caso • Sarcoma pós-traumático ocular, tipo fusiforme, em gato de um ano e meio de idade: relato de caso ..................................................... ..................................................... www.revistanossoclinico.com.br

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ISSN 1808-7191

ANO 22 - Nº 130 - JUL/AGO 2019

A REVISTA DO MÉDICO VETERINÁRIO

Indexação Qualis

Eficácia do maleatode oclacitinibno tratamento de

generalizadajuvenil em um cão:relato de caso

COLUNAS:Dicas do Laboratório • Nutrição Animal

Comportamento Felino • Bem-Estar AnimalConhecimento Compartilhado • Medicina Felina

Med. Trad. Chinesa • Anclivepa Direct • Gestão & MarketingNeurologia • Comportamento Empresarial • Fisioterapia

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• Utilização do Meloxicam naespécie canina

• Atendimento emergencial dopaciente felino politraumatizado

• Carcinoma mamário ehiperplasia mamáriaconcomitantes em felino: relatode caso

• Tratamento endodôntico erestaurador pós-fratura de caninoem leões: relato de caso

• Sarcomapós-traumáticoocular, tipofusiforme, emgato de um anoe meio de idade:relato de caso

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Desde o início do ano, a ARCA Brasil - Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal -vem acompanhando notícias da ocorrência de casos de leishmaniose visceral canina (LVC) em Santos,SP. O fato não nos causou surpresa, já que a LVC é endêmica no litoral norte do estado. O que realmentechamou nossa atenção, foram as medidas adotadas pela maior cidade do litoral paulista para manter adoença sob controle, sem aderir ao extermínio de animais.

Em entrevista à ARCA, o Dr. Laerte Carvalho (foto),responsável técnico do setor de zoonoses de Santos, explicacomo funciona a "Estratégia integral de combate à LVC" adotadaconjuntamente pelas secretarias Municipais de Saúde e do MeioAmbiente, com o envolvimento de vários setores da sociedade,e que poderá inspirar novas abordagens pelo país.

Para a ARCA, o médico-veterinário também é protagonista no enfrentamento da LVC, a principalzoonose no Brasil. Além de disseminar informações sobre medidas preventivas – vacina, coleira, medidassanitárias etc. – e atuar no diagnóstico e no tratamento da doença, o profissional é o principal agentedo controle populacional de cães e gatos, uma das ações mais efetivas para o combate à LVC.

Desde 1997, a ARCA Brasil trabalha na conscientização sobre a Leishmaniose, inclusivepressionando e promovendo debates com as autoridades de Saúde sobre a importância de investir empolíticas públicas de prevenção e de tratamento da LVC. Em 2012, criamos a campanha "Prevenção é amelhor solução – O Cão não é o Vilão" www.ocaonaoeovilao, a maior plataforma de informações sobrea LVC do país.

Marco CiampiPresidente / ARCA BrasilAssociação Humanitária

de Proteção e Bem-Estar [email protected]

Combate à LVC em Santos:uma abordagem humanitária em sintonia com o primeiro mundo

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MEDICINA VETERINÁRIA PARA ANIMAIS DE COMPANHIA

S U M Á R I O ANO 22 - N° 130 - JULHO / AGOSTO 2019

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1998 - 2008, 1-112019, 22 (n.130 - jul/ago 2019)

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Eficácia do maleato de oclacitinib no tratamentode Dermatopatia isquêmica generalizada jovenilem um cão: relato de caso

Sarcoma pós-traumático ocular, tipo fusiforme, emgato de um ano e meio de idade: relato de caso

Atendimento emergencial do paciente felinopolitraumatizado

Meloxicam na espécie canina: revisão

Carcinoma mamário e Hiperplasia mamáriaconcomitante en felino: relato de caso

Tratamento endodôntico e restaurador pós-fraturade canino em Leões (Phanthera leo Linnaeus,1758): relato de caso

Colunas: Especialidades42

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RESUMO: As dermatopatias isquêmicas são dermatoses raras nos cães, muitas vezes apresentando um desafioterapêutico para os clínicos, principalmente os casos refratários aos tratamentos convencionais. O presentetrabalho relata uma cadela sem raça definida, com idade de um ano e sete meses, não castrada, diagnosticadacom dermatopatia isquêmica generalizada juvenil, tratada com maleato de oclacitinib (Apoquel®, Zoetis) nadose 0.5 mg/kg via oral a cada 12 horas por 44 dias e 0.5 mg/kg a cada 24 horas como dose de manutenção.A escolha de oclacitinib, baseou-se na ausência de resposta clínica satisfatória da paciente às medicaçõescomumente utilizadas para tratamento das dermatopatias isquêmicas em cães e na compreensão da possívelpatogenia e tratamento das dermatopatias isquêmicas na medicina humana como a dermatomiosite, uma vezque a literatura acerca dessa patologia em cães é escassa. A resposta clínica ao oclacitinib foi muito boa, alémde ter sido bem tolerado. Este relato sugere que o maleato de oclacitinib pode ser uma modalidade de tratamentoalternativa para as dermatopatias isquêmicas no cão refratárias aos tratamentos convencionais. Estudoscontrolados com maior número de cães são necessários para confirmar a eficácia de oclacitinib nas dermatopatiasisquêmicas canina e compreender seu efeito na patogenia da doença no cão.Unitermos: maleato de oclacitinib, dermatopatia isquêmica, cão jovem

ABSTRACT: Ischemic dermatopathies are rare dermatoses in dogs, often presenting a therapeutic challengefor clinicians, especially cases refractory to conventional therapies. This report presents an intact female mongreldog of one year and seven months of age diagnosed with generalized ischemic dermatopathy, treated withoclacitinib maleate (Apoquel®, Zoetis) in the dose 0.5 mg/kg orally every 12 hours for 44 days and 0.5 mg/kgevery 24 hours as maintenance dose. The selection of oclacitinib was based on the absence of satisfactoryclinical response to the medications commonly used for the treatment of ischemic dermatopathies in dogs andthe understanding of the possible pathogenesis and treatment of ischemic dermatopathies in human medicinesuch as dermatomyositis, once that the literature on this pathology in dogs is scarce. The clinical response tooclacitinib was very good and well tolerated. This report suggests that oclacitinib maleate may be an alternativetreatment modality for ischemic dermatopathies in dogs refractory to conventional therapies. Controlled studieswith a larger number of dogsare necessary to confirm the efficacy of oclacitinib in ischemic canine dermatopathiesand to understand its effect on the pathogenesis of the disease in dogs.Keywords: oclacitinib maleate, ischemic dermatopathy, young dog

RESUMEN: Las dermatopatías isquémicas son dermatosis raramente encontradas en los perros, muchas vecespresentan um desafio terapéutico para los veterinários clínicos, principalmente los casos refractarios a lostratamientos convencionales. El presente trabajo relata el caso de uma perra sin raza definida, de un año y sietemeses de edad, no castrada, diagnosticada con dermatopatía isquémica generalizada juvenil, tratada con maleatode oclacitinib (Apoquel, Zoetis®), en la dosis 0,5 mg/kg vía oral, cada 12 horas durante 44 días y 0,5 mg/kg cada24 horas como dosis de mantenimiento. La elección de oclatinib se basó en la ausencia de respuesta clínicasatisfactoria de la paciente a las medicaciones comúnmente utilizadas para tratamiento de las dermopatíasisquémicas en perros y en la comprehensión de la posible patogenia y tratamiento de las dermatopatíasisquémicas en la medicina humana, como la dermatomiositis; puesto que la bibliografía acerca de esa patologíaen perros es escasa. La respuesta clínica al maleato de oclacitinib fue muy positiva, además del medicamentohaber sido bien tolerado. Este relato sugiere que el maleato de oclacitinib puede ser una modalidad alternativade tratamiento para las dermatopatías isquémicas en perro refractarias a las terapias convencionales. Estudioscontrolados con mayor número de animales son necesarios para confirmar la eficacia del oclatinib en lasdermatopatías isquémicas en caninos y comprehender su efecto en la patogenia de la enfermedad en el perro.Palabras clave: maleato de oclacitinib, dermatopatía isquêmica, perro joven

Eficácia do maleatode oclacitinibno tratamento de

generalizadajuvenil em um cão:relato de caso

“Efficacy of oclacitinibmaleate in the treatmentof generalized juvenileischemic dermatopathyin a dog: case report”

“Eficacia del maleato deoclacitinib en eltratamiento dedermatopatía isquémicageneralizada juvenil enun perro: relato de uncaso”

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Marcia Rimoli Antunes*([email protected])Médica Veterinária Autônoma

Sandra Nogueira Koch([email protected])DVM, MS, DACVDCollege of Veterinary MedicineUniversidade de Minnesota

* Autora para contato

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Nosso Clínico, Ano XXII,n.130, p.6-8, 2019

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IntroduçãoDermatopatia isquêmica é uma designação geral para múlti-

plas vasculopatias cutâneas que possuem características clínicase histopatológicas semelhantes. Este grupo inclui: (1) Dermato-miosite familiar canina (DM), observada predominantemente noscães Pastor de Shetland e Collie, mas também relatada em outrasraças; (2) Cães com dermatopatia isquêmica de início juvenil queé idêntica à DM, mas sem predileção comprovada na raça e, por-tanto, sem predisposição familiar conhecida; (3) Vasculite pós-vacinação antirrábica; (4) Cães com doença associada à vacinaçãoantirrábica, mas de forma generalizada e mais severa, denomina-da dermatopatia isquêmica generalizada induzida por vacina; e(5) Cães com dermatopatia isquêmica generalizada de início adul-to, mas sem um histórico que correlacione à probabilidade deindução vacinal. O último grupo (5) é denominado “dermatopa-tia isquêmica generalizada idiopática”2.

O prognóstico dessas enfermidades é geralmente reservado,variando de acordo com a severidade clínica. No que se refere aotratamento, utilizam-se fármacos que melhoram a perfusão san-guínea como a pentoxifilina ou medicamentos imunomoduladorescomo micofenolato, ciclosporina, azatioprina e mais frequente-mente os glucocorticoides3-5.

Muitas vezes os casos são refratários às terapias convencio-nais ou exigem altas doses de glucocorticoides por períodos pro-longados apresentando frequentemente efeitos colaterais indese-jados6.

O objetivo dessa publicação é relatar a eficácia do maleatode oclacitinib (Apoquel®, Zoetis) no tratamento de um caso dedermatopatia isquêmica severa em um cão jovem, refratária aostratamentos convencionais.

A escolha “off label” do oclacitinib neste caso baseou-se nacorrelação com relatos na medicina humana de uso de outras dro-gas para o tratamento de dermatopatias isquêmicas, capazes deinibir o janus kinase, como tofacitinib e ruxolitinib.

Relato de CasoFoi atendida em um consultório particular, uma cadela sem

raça definida, com idade de um ano e sete meses, não castrada,com peso de 6,5 kg, apresentando queixa de lesões cutâneas quenão se resolviam após diversos tratamentos. Na anamnese a tuto-ra relatou que o início da doença ocorreu por volta de 45 dias deidade. Não houve correlação temporal descrita com o uso de vaci-nas. O quadro apresentou-se inicialmente com lesões periocu-lares alopecicas, crostosas, com pequenas áreas ulceradas, queforam progredindo para toda a face e pescoço, além de lesões emmembros com mesmo padrão e ausência de prurido. O animalapresentava também disfagia.

Na época a paciente foi atendida em outra clínica onde foirealizado exame histopatológico apontando dermatite de inter-face e segundo a tutora não houve diagnóstico firmado e o quadrofoi conduzido como doença autoimune.

Diversos tratamentos foram empregados anteriormente, cominsucesso, entre eles: prednisolona via oral na dose 2,2 mg/kg acada 12 horas durante 11 meses, minociclina via oral na dose11,5 mg/kg a cada 24 hs por 21 dias e micofenolato mofetil nadose 20,8 mg a cada 12 horas por 30 dias. A prednisolona foimantida durante o tratamento com minociclina e micofenolato.Nenhum dos tratamentos resultou em resposta clínica satisfatória.

Ao exame clínico a cadela apresentava alopecia, eritema edespigmentação, lesões crostosas e cicatriciais em face, cabeça,

membros e face interna do pavilhão auricular. Além dos achadosdermatológicos, a cadela apresentava apatia extrema e sinais co-laterais do uso prolongado de glucocorticoide como atrofia mus-cular e calcinose em pele e língua.

Devido à gravidade do quadro e a ausência de resposta aostratamentos anteriormente empregados, optou-se por repetir oexame histopatológico, da pele afetada além de coleta de amostradas lesões na língua. A amostra histopatológica da pele da cabeçarevelou na epiderme moderada vacuolização e apoptose de quera-tinócitos basais, ulceração focal associada a restos celulares eneutrófilos. A derme exibia dermatite de interface e discreta ho-mogenização de colágeno. Os folículos pilosos exibiam teloge-nização e atrofia folicular. Estes achados, aliados ao quadro clíni-co, confirmaram o diagnóstico de dermatopatia isquêmica. Aamostra da língua confirmou calcinose circunscrita. Biópsia oueletromiografia de músculo não foram realizadas.

Diante do quadro, optou-se por fazer desmame do gluco-corticoide devido à ausência de resposta clínica satisfatória eaos efeitos colaterais observados. Na mesma ocasião foi prescri-to pentoxifilina na dose oral 25 mg/kg a cada 12 horas, pois éuma droga preconizada nesses casos que ainda não havia sidoempregada.

Após 70 dias do uso da pentoxifilina, o cão apresentava umapequena melhora nas lesões, mas a paciente continuava apática ecom dificuldade de se alimentar. Após 90 dias do uso de pentoxi-filina o quadro permanecia praticamente estacionado, apenas comum pouco menos de inflamação, e a cadela continuava apática.Segundo a tutora a mesma ficava deitada ao longo do dia semlatir ou brincar e ainda era necessário forçar a alimentação e água.

Em busca de um tratamento alternativo e embasado pela lite-ratura humana que aponta os inibidores de janus quinase comoalternativa potencial de tratamento, iniciou-se oclacitinib oral nadose 0,5 mg/kg a cada 12 horas. Após 10 dias de início do oclaci-tinib a tutora se mostrava muito animada, pois além da melhoraevidente das lesões era a primeira vez que a cadela latia e apre-sentava mais energia, com disposição para brincar e alimentar-sede forma espontânea.

No retorno, após 30 dias do uso do oclacitinib, era nítida aresposta clínica do cão quanto às lesões cutâneas e, no que serefere à qualidade vida.

Foram realizados hemograma e exames bioquímicos parachecar possíveis alterações subclínicas associadas ao uso prolon-gado de oclacitinib na dose 0,5 mg/kg a cada 12 horas por 44dias, por ser diferente da indicação da bula. Os resultados dostestes encontravam-se normais.

Como o quadro clínico apresentava uma melhora significa-tiva, a dose do oclacitinib foi reduzida para 0,5 mg/kg a cada 24horas. Por não haver alteração no quadro clínico com a reduçãoda dose após 62 dias, manteve-se o oclacitinib nesta dose comotratamento contínuo, juntamente à pentoxifilina na dose inicial.Após sete meses do início do tratamento com maleato de oclaci-tinib, a paciente se apresenta estável, não havendo recidivas clíni-cas nem alterações hematológicas ou bioquímicas.

DiscussãoNo caso aqui descrito, fica nítida a melhora clínica do quadro

após o uso do oclacitinib, não somente com relação às alteraçõescutâneas, mas também quanto à qualidade de vida do cão.

O manejo das dermatopatias isquêmicas pode ser umdesafio ao clínico. A resposta terapêutica pode ser lenta e a

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percepção da resposta subjetiva2. A necessidade de agentes quediminuam o emprego de glucocorticoides em doenças imunome-diadas levou ao aumento do uso de agentes imunomoduladores,como a ciclosporina A, metotrexato e azatioprina7. Entretanto hácasos refratários à terapias como o caso aqui exposto, que nãorespondeu ao glucocorticoide usado em dose imunossupressora eapresentou efeitos colaterais indesejáveis.

Rondelli et all. 2011, relatou um caso sem resposta ao glu-cocorticoide em dose imunossupressora e com importantes efeitoscolaterais, porém responsivo a ciclosporina.

A opção pelo oclacitinib deveu-se à ausência de respostasatisfatória às drogas preconizadas para o tratamento das dermato-patias isquêmicas em cães e por sugestão com descrições de trata-mentos semelhantes para dermatomiosite na literatura humana8.

A patogenia das dermatopatias isquêmicas, sobretudo no quese refere à imunopatogênese, ainda não está bem elucidada, prin-cipalmente no cão. Em seres humanos pode ser detectado aumen-to dos níveis de interferons (INF) do tipo I, citocinas produzidaspor linfócitos Th1, e seus produtos de transcrição, nas amostrasde tecidos e soro de pacientes com dermatomiosite, sugerindoum papel relevante destes INF na resposta inflamatória desta der-matopatia. Em humanos, inibidores de janus quinase, semelhanteao oclacitinib, entre eles tofacitinib e ruxolitimib, foram reporta-

dos com sucesso clínico em casos de dermatomiosite13. Os inibi-dores de janus quinase podem ser capazes de regular os sinaisinflamatórios responsáveis pela dermatomiosite através, entreoutros possíveis fatores, da modulação de INF do tipo I por ini-bição dos receptores janus quinase tipo 1 - dependentes10.

Baseado nos conhecimentos dos autores, tem-se apenas doisestudos publicados em seis cães com dermatopatia isquêmica re-latando boas respostas clínicas ao maleato de oclacinitb11,12. Otratamento da cadela deste relato ocorreu antes do conhecimentode tais estudos, no entanto, as doses inicialmente utilizadas (0,4-0,7 mg/kg a cada 12 horas) e o tempo de remissão clínica (2-4semanas) foram semelhantes ao caso aqui descrito. Com relaçãoàs doses de manutenção, no caso deste relato foi possível reduzira dose de oclacitinib para 0,5 mg/kg a cada 24 horas sem piora doquadro clínico mas nos casos relatados nos estudos descritos aci-ma, 2/6 casos precisaram ser mantidos na dose alta inicial de ocla-citinib11,12. A maioria (4/6) dos cães descritos nestes estudos ne-cessitou de tratamento inicial concomitante com glucocorticoides,no entanto em todos os cães relatados o glucocorticoide foi dis-continuado dentro de 8 semanas após o início do tratamento comoclacitinib11,12, semelhante ao que ocorreu no caso aqui descrito.

O caso deste relato e os estudos recentemente publicadossugerem um papel potencial do maleato de oclacitinib no trata-mento das dermatopatias isquêmicas canina, todavia, estudos con-trolados com maior número de cães são necessários para confir-mar estes resultados, determinar as doses ideais a serem utiliza-das, avaliar a resposta clínica e segurança a longo prazo, além dedeterminar o mecanismo de ação do oclacitinib na patogenia des-ta dermatose no cão.

Referências

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Antes do tratamento com oclacitinib

Depois (após 30 dias do uso do oclacitinib).......................................................................................................................

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IntroduçãoA oncologia oftálmica tem alcançado cada vez

mais relevância na medicina veterinária, muitoembora a incidência de neoplasias oculares emfelinos ainda seja rara (1.8% dos tumores encon-trados nesta espécie)16, todavia, esta característicapode estar associada à falta de diagnósticoscerteiros ou precoces.

Juliana Moreira Rozolen([email protected])Médica Veterinária AutônomaEspecialista Cirurgia

Evandro Martins Peres([email protected])Médico Veterinário especializadoem Anestesiologia e Cardiologia

Hugo Enrique Orsini Beserra([email protected])Residente em Patologia AnimalUNESP/Araçatuba, SPMestre em Patologia AnimalUNESP/Botucatu, SPDognostic Centro Diagnostico

Rodolfo Malagó(veteriná[email protected])Pós-graduado em Oftalmologiapela ANCLIVEPADoutorando cirurgia UNICAMPProf. Me. Fundação de Ensino ePesquisa Itajubá, MG

Tarso Felipe Teixeira*([email protected])Prof. Dr., Universidade UNIP(Campi SJC) / UninoveUniversidade Brasil

* Autor para contato

pós-traumáticoocular, tipofusiforme, em gatode um ano e meiode idade:Relato de caso

“Post-traumatic ocularsarcoma, fusiform type,in a one-and-a-half-year-old cat: Case report”

“Sarcoma post-traumático peri-orbital,tipo fusiforme, en gatode unaño y medio deedad: Relato de caso”.........................................

Entre as principais patologias oftálmicas degatos, as neoplasias são as mais comuns, pois 39%das doenças que acometem os globos oculares nestaespécie, são de tumores malignos3, o que pode le-var na sua maioria, ao desconforto do paciente, dorintermitente, perda da visão, algumas vezes poden-do invadir tecidos adjacentes, e se disseminar paraórgãos distantes (metástase).

RESUMO: Um gato macho, de um ano e meio de idade, foi atendido, com um tumor periocular esquerdo,sem sinais de trauma ou processos inflamatórios locais prévios. Foram realizadas a radiografia de tórax eultrassonografia de abdômen, ambas negativas para pesquisa de metástases, e tomografia computadorizadade crânio que evidenciou lise dos ossos nasais, lacrimais e aumento de volume dos linfonodos retrofaríngeoe submandibular. O paciente foi submetido à enucleação, e a análise histológica sugeriu tumor maligno denervo periférico, sendo o diagnóstico confirmado pela imuno-histoquímica como sarcoma ocular pós-traumático, tipo fusiforme. O paciente veio a óbito após uma semana da cirurgia. Este tipo de câncer é deocorrência rara, principalmente em animais jovens, e sua patogenia ainda permanece desconhecida, nãosendo possível definir se existe fator relacionado a lesões prévias. Este parece ser o primeiro trabalho areportar um gato de um ano e meio a desenvolver a doença, e já com metástase em linfonodos regionais.Unitermos: radiografia, ultrassonografia, linfonodos, retrofaríngeo, imuno-histoquímica

ABSTRACT: A male cat, one and a half years old, was treated with a left periocular tumor, with no signs oftrauma or previous local inflammatory processes. Chest x-ray and abdominal ultrasonography were performed,both of which were negative for metastasis investigation, and computed tomography of the skull revealed lysisof the nasal bones, lacrimal lesions, and enlargement of the retropharyngeal and submandibular lymph nodes.The patient was submitted to enucleation, and the histological analysis suggested a malignant peripheralnerve tumor. The diagnosis was confirmed by immunohistochemistry as a post-traumatic ocular sarcoma,fusiform type. The patient died after a week of surgery. This type of cancer is rare, especially in young animals,and its pathogenesis remains unknown, and it is not possible to determine if there is a factor related to previouslesions. This seems to be the first work to report a cat of a year and a half to develop the disease, and alreadywith regional lymph node metastasis.Keywords: radiography, ultrasonography, lymph nodes, retropharyngeal, immunohistochemistry

RESUMEN: Un gato macho, de un año y medio de edad, fue atendido, con un tumor periocular izquierdo, sinsignos de trauma o procesos inflamatorios locales previos. Se realizó la radiografía de tórax y ultrasonografíade abdomen, ambas negativas para investigación de metástasis, y tomografía computarizada de cráneo queevidenció lisis de los huesos nasales, lagrimales y aumento de volumen de los ganglios linfáticos retrofaríngeoy submandibular. El paciente fue sometido a la enucleación, y el análisis histológico sugirió un tumor malignode nervio periférico, siendo el diagnóstico confirmado por la inmuno-histoquímica como sarcoma ocular post-traumático, tipo fusiforme. El paciente vino a la muerte después de una semana de la cirugía. Este tipo decáncer es de ocurrencia rara, principalmente en animales jóvenes, y su patogenia aún permanece desconocida,no siendo posible definir si existe factor relacionado a lesiones previas. Este parece ser el primer trabajo enreportar un gato de un año y medio a desarrollar la enfermedad, y ya con metástasis en los ganglios linfáticosregionales.Palabras clave: radiografía, ultrasonografía, ganglios linfáticos, retrofaríngeo, inmuno-histoquímica

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Quanto à origem histológica, os tumores orbitários podemser primários, oriundos de tecido epitelial, desde células neu-roepiteliais, da Iris, corpo ciliar, retina, endotélio vascular, ou, dotecido conjuntivo propriamente dito, músculo liso, e de elemen-tos neurais mesenquimais4. De acordo com o Laboratório Ameri-cano referência em patologias oculares (COPLOW)3, anatomica-mente os tumores primários podem atingir principalmente o glo-bo ocular (82%), seguidos pela conjuntiva (12.3%), pálpebra(4.4%) e órbita (1.15%)3. Já os secundários, são tumores forma-dos a partir de metástases, das neoplasias malignas primárias9.

Entre os tipos de cânceres que acometem o globo ocular degatos, os de origem mesenquimal, tal como sarcoma pós-traumáti-co felino (SPTF), alvo de nosso estudo, é uma neoplasia malignarara, tendo sido pouco diagnosticada6, e cuja patogenia aindapermanece desconhecida14, embora, hipóteses atribuam seu de-senvolvimento a algum tipo de trauma prévio, seja ou não per-furante, e com ou sem ruptura da lente15, contudo, outros autorestêm associado a sua patogenia somente a proliferação de célulaspluripotentes8,11,14, ou de células epiteliais da lente13.

Ele é considerado um câncer de alto grau de malignidade,com histórico de metástase em linfonodos regionais e órgãos dis-tantes, além de potencialmente invasivo para tecidos adjacentes.Ao que diz respeito aos estudos epidemiológicos, há maior pre-dileção por gatos machos ao contrário de outras neoplasias ocu-lares que acometem preferencialmente fêmeas e animais idosos3,não havendo estudos comprobatórios quanto à predisposição ra-cial9. Entre as características macroscópicas, pode se notar au-mento de volume na região ocular, acometendo ou não todo glo-bo, e algumas vezes tornando-o de aparência opaca, abaulada efirme, capaz de levar na maioria das vezes ao processo infla-matório crônico, ou glaucoma5. Morfologicamente, os SPTF(s),podem ser classificados em três tipos histológicos distintos, entreeles: os de células fusiformes, (70% dos casos), seguidos pelascélulas redondas (24% dos casos) e finalmente o osteossarcomaou condrossarcoma, tipos mais raros (ocorrem em 6% dos ca-sos)3. Em todos eles, é possível notar as células em formato defuso, com contornos mal delimitados, além de se assemelharem aoutros tipos de tumores mesenquimais, tais como tumor malignode nervo periférico e fibrossarcomas, sendo muitas vezesnecessário, lançar mão da técnica de imuno-histoquímica, para sedefinir a histogênese. Este estudo tem como objetivo principal,relatar um caso raro de SPTF em um gato macho, de ano e meiode idade, sem histórico prévio de trauma, e cujo tumor invadia oseio para-nasal, osso frontal e lacrimal, com presença de metástaseem linfonodos regionais.

Descrição de CasoNo presente estudo, relata-se o caso de um felino macho,

sem raça definida, de um ano e meio de idade. O paciente foiatendido em clinica veterinária particular, com histórico de au-mento de volume em globo ocular esquerdo, tendo evoluído háaproximadamente duas semanas, e sem histórico prévio de trau-ma, pois não havia sinais da ruptura de lente, ou úlcera de córnea.Após exame físico, constatou-se a presença de um tumor séssil,não ulcerado, sem processos inflamatórios associados, mas ade-rido a todo o globo ocular, com dimensões macroscópicas que seestendiam à cavidade nasal. Foram solicitadas radiografia de tóraxem três projeções (laterais direita, esquerda e ventro-dorsal), eultrassonografia abdominal, sendo ambos os exames negativospara pesquisa de metástase em órgãos distantes. Posteriormente,

foi realizada a tomografia computadorizada de crânio, que de-monstrou um aumento de volume na cavidade nasal, seio parana-sal frontal e região retrobulbar esquerdas, além do aumento doslinfonodos submandibular e retrofaríngeo. O paciente foi sub-metido ao procedimento cirúrgico para ressecção parcial do tu-mor, a fim de se trazer alívio e definir o diagnóstico para trata-mento adjuvante. Inicialmente, o histopatológico foi compatívelcom tumor maligno de nervo periférico, e posteriormente após arealização da imuno-histoquímica confirmou-se o diagnóstico deSPTF. O paciente veio a óbito duas semanas após a realização doprocedimento cirúrgico, por causas não definidas.

Resultados e DiscussãoUm animal da espécie felina, macho, sem raça definida, foi

atendido em clínica veterinária particular, e as principais queixasda tutora se referiam a hiporexia, manifestada há alguns dias, e aoaumento de volume em globo ocular esquerdo, com evolução deduas semanas, além de opacidade da córnea. Após a realizaçãodo exame físico, constatou-se a formação de um tumor, séssil,aderido à região retrobulbar esquerda, sem margens delimitadas,que se estendia ao seio nasal e osso frontal esquerdo (Figura 1);o animal não parecia sentir dor durante a manipulação.

Figura 1: Foto macroscópica, do tumor acometendo toda a regiãodo globo ocular esquerdo (circulo amarelo)........................................................................................................................

Pelo exame oftálmico, o reflexo pupilar a luz, estava pre-sente somente no globo ocular direito, não havia hiperemia empálpebra, região bulbar e conjuntiva esquerda, não havia protrusãoda terceira pálpebra, e embora a córnea se apresentasse opacifi-cada, não havia presença de úlcera. Foi realizada a radiografia detórax, em três projeções e ultrassonografia de abdômen para es-tadiamento clínico do tumor, sendo os exames negativos para pes-quisa de metástase em órgãos distantes. Posteriormente, foi real-izada a tomografia computadorizada (TC) de crânio para plane-jamento cirúrgico, que indicou o aumento de volume em cav-idade nasal, seio paranasal frontal e região retrobulbar esquerda,com sinais de perda de tecido ósseo adjacente, caracterizadas porosteólise nasal, de seio paranasal frontal esquerdo e porção ros-tro-lateral esquerda do calvário (Figuras 2A e B), além do au-mento de linfonodos submandibular e retrofaríngeo, compatívelcom metástase.

Baseado nos exames de imagem e pré-cirúrgicos, todos nor-mais para espécie e idade, o paciente foi submetido à intervenção

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cirúrgica para enucleação e ressecção parcial do tumor (Figura 3),a fim de se compreender a natureza morfológica e instituir o melhortratamento adjuvante. O material retirado foi imediatamente fixadoem formaldeído 10%, e encaminhado ao serviço de patologia ani-mal, para confecção das lâminas e coloração em H/E.

Figura 2: Imagem de Tomografia Computadorizada de Crânio. (A)Vista Frontal em 3D; Visualiza-se lise óssea, com perda do limite ós-sea a porção rostral e lobo frontal esquerdo e a região retrobulbar(asterisco branco), com deslocamento lateral do globo ocular. (B)Corte Transversal: Visualiza-se reação óssea lítica em osso nasal,parte lacrimal e rostro lateral do osso frontal esquerdo, em lâminacrivosa da cavidade nasal esquerda e em porção lateral esquerdarostral do calvário. O aumento de volume retrobulbar projeta-se parao calvário deslocando o loco frontal cerebral esquerdo medialmente,Linfonodos retrofaríngeos e mandibulares hipoatenuantes e hiper-captantes, apresentando aumento de dimensões em ambos osantímeros (mensuraram respectivamente até 0,58cm e 0,38cm delargura)........................................................................................................................

Figura 3: Foto macroscópica de procedimento cirúrgico após a enu-cleação.

Figuras 5: Foto microscópica. Técnica de imuno-histoquímica, comsistema de detecção por polímero, cromógeno DAB, e contra-colo-ração Hematoxilina de Harris. (A) Marcador utilizado, Vimentina, sendopositivo para marcação citoplasmática; Barra = objetiva 20x. (B)Marcador utilizado proteína S100, sendo positivo para marcação ci-toplasmática; Barra = objetiva de 20X.

Figura 4: Foto microscópica. Presença de células, com aspecto fusi-forme, exibindo citoplasma escasso, eosinofílico e fibrilar, com nú-cleo alongado e arredondado, grande e central, com cromatinagrosseiramente agregada a vesicular, e nucléolo pequeno e basofíli-co; Observa-se discreta a moderada anisocitose e anisocariose. Di-agnóstico morfológico de neoplasia mesenquimal fusocelular mali-gna, compatível com tumor maligno de nervo periférico. Barra =Objetiva 20X corado em H/E.

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O diagnóstico inicial do histopatológico foi compatível comneoplasia mesenquimal fusocelular, sugestivo de tumor malignode nervo periférico (Figura 4), entretanto, a fim de se definir ahistogênese, e confirmar o diagnóstico, o material foi submetidoa uma nova análise, pela técnica de imuno-histoquímica. Paratanto, os cortes de tecidos processados rotineiramente para his-tologia e incluídos em parafina, foram devidamente preparados einseridos sobre lâminas silanizadas, onde após ter sido realizadaa recuperação antigênica, foram incubados com anticorposprimários overnight, e posteriormente corados por DAB. O painelde anticorpos utilizado foi positivo para a marcação de célulasmesenquimais (Vimentina) e proteína S-100, (Figuras 5A e B), enegativo para os demais anticorpos tais como: filamento inter-mediário (Desmina), músculo liso (1A4), citoqueratinas(AE1AE3); anti-actina de músculos (HHF35); proteína glial fi-brilar ácida (GFAP); rabdiomiossarcoma (MyoD10) e CocktelMelanoma, quadro este que se confirmou como Sarcoma Pós-Traumático Felino.

O paciente veio a óbito duas semanas após o procedimentocirúrgico, não sendo possível definir a causa mortis.

A oftalmologia oncológica tem se tornado uma especialidadede relevância na medicina veterinária, embora ainda sejam rarasem gatos, (0.34%)11, as neoplasias oculares têm sido diagnostica-das com mais frequência nos últimos tempos. Para alguns au-tores, o SPTF tem sido considerado a segunda neoplasia intra-ocular mais comum7, mas para Dubielzig et al. (2010) tendo sidoconsiderada a terceira neoplasia mais comum, todavia sua incidên-cia ainda permanece rara, de acordo com Dubielzig (2010), das9000 amostras de patologias oculares estudadas, 4800 eram neo-plasias, e destas, somente 234 foram diagnosticadas como sarco-mas pós-traumáticos. Embora existam relatos deste câncer emalgumas espécies, tais como coelhos e macacos ainda não foramdiagnosticadas em cães14, fato este que pode comprometer o en-tendimento da sua patogenia. Embora para alguns autores, existauma relação direta do surgimento do tumor ao histórico de trau-mas prévios locais, sendo tanto os processos degenerativos, quantoos inflamatórios, importantes precursores ao desenvolvimento dossarcomas intraoculares15, esta assertiva não compactua com esteestudo, pois há um período de latência que varia entre 5 meses a11 anos, entre o trauma e o surgimento da doença11,17. O animalem questão se tratava de um paciente muito jovem, sendo poucoprovável que ele tenha passado por um período de latência apósalgum trauma, esta assertiva pode ser corroborada pelo exameoftalmológico realizado, pois não foram observados restos in-tralesionais, ou ruptura da lente e cápsula; fatos estes que poderi-am ter sido interpretados como evidências de traumas oculares, epossivelmente aumentar os riscos do desenvolvimento de um sar-coma intraocular13; além do que pela análise histológica realiza-da posteriormente, não foram encontradas alterações tais comocélulas inflamatórias ou degenerações, compatíveis com traumasou lesões. Este relato de caso, corrobora com Laus (2009) queadvoga que o SPTF pode ter origem em células pluripotentes elevando ainda em consideração que o tipo condrossarcoma nãoestá relacionado ao trauma prévio em gatos2, reforçando a teoriade que este tumor surge naturalmente de células pluripotentes.Embora ainda, não existam estudos que comparem as diferençasentre os tipos histológicos e seus comportamentos, os autorescorroboram com o Allgower (2009), quando a mesma advogaque o tipo fusiforme apresenta rápida infiltração em todo globoocular, e tem alta capacidade de disseminar pelos linfonodos re-

gionais, pois é possível visualizar na TC o aumento de dimensõesem ambos os linfonodos retrofaríngeo e submandibular, o quepode caracterizar metástase regional, discordando de Wilcock eNjaa (2016), que advogam as metástases como raras. Geralmenteeste tipo histológico, também tem a capacidade de invadir o encé-falo5, corroborando com este estudo, pois baseado na imagem daTC de crânio, já existe invasão no encéfalo. Ao que diz respeitoao tratamento, a enucleação, ainda parece ser a melhor escolha,mesmo tendo ciência que é uma forma paliativa de se controlar adoença, sem necessariamente prolongar a sobrevida do paciente10,todavia, ainda parece ser a única maneira de trazer mais confortoao paciente, e de se definir o diagnóstico morfológico e prognós-tico. A maioria dos pacientes morre alguns meses após a enucle-ação3, discordando deste estudo em que o paciente veio a óbitoalguns dias após a intervenção cirúrgica. Embora os sarcomasintraoculares, sejam considerados extremamentes malignos, in-dependentemente de seu tipo histológico, a sua patogenia aindapermanece desconhecida, embora pareça seguir o mesmo meca-nismo dos sarcomas de aplicação em gatos13 e este fato pode es-tar associado a sua raridade ou falta de diagnóstico.

ConclusãoO sarcoma intraocular pós-traumático em gatos, é um cân-

cer raro, com grande potencial para invadir tecidos adjacentes erealizar metástase, e cuja patogenia pode não estar diretamenterelacionado ao fator pré-traumático.

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15Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

16 Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

Ricardo de Almeida Souza([email protected])M.V.: Clínica Veterinária RicardoMairinque/S.P; M.V.: CastramóvelPrograma SAMU Animal

Josué Gomes Janque([email protected])M.V.: SAMU Animal; M.V.: CastramóvelM.V.: D.P.B.E.A. (Depto. de Proteçãoe Bem-Estar Animal)

Naíra Ribeiro de Novais*([email protected])M.V., Pós-Graduada em Clínicae Cirurgia de Pequenos Animais;M.V.: D.P.B.E.A. (Depto. de Proteçãoe Bem-Estar Animal);M.V.: Castramóvel; M.V.: SAMU Animal

Eliane Ferraz Santos([email protected])Mestre e Doutorado em Zoologia pelaUNESP Campus Rio Claro; Bióloga doD.P.B.E.A. (Depto. de Proteção eBem-Estar Animal); Conselheira doConselho Municipal de Proteção Animal -Câmara de Campinas

Paulo Anselmo([email protected])Dr., Prof. UNIP; Mestre em genética eBiologia Molecular UNICAMP;Dr. em genética e Biologia MolecularMicrobiologia - UNICAMP;M.V.: Diretor D.P.B.E.A. (Depto. deProteção e Bem-Estar Animal)Programa SAMU Animal

* Autora para contato

RESUMO: O atendimento emergencial consiste no conjunto de procedimentos que visa a sustentaçãoda vida . O traumatismo causado por atropelamento em animais abandonados é relativamente frequentena medicina veterinária causando lesões traumáticas severas que resulta em fraturas irreparáveis. Oobjetivo desse trabalho é descrever o relato de um felino, sem raça definida, macho, aproximadamente4 anos de idade, pesando 2,500 kg que foi atropelado e teve fratura exposta no MPE, com perda detecidos moles e exposição de tecido ósseo, o qual já estava totalmente destruído e necrosado. Oanimal foi atendido em caráter de urgência no serviço do SAMU ANIMAL de Campinas, sendoencaminhado para DPBEA (Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal), onde recebeu atendimentode médicos veterinários e foi realizado tratamento clínico e cirúrgico. O resultado foi satisfatório,mantendo a vida do paciente e oferecendo qualidade de vida.Unitermos: SAMU Animal, DPBEA, atendimento emergencial

ABSTRACT: Emergency care consists of a set of procedures aimed at sustaining life. The traumacaused by running over abandoned animals is relatively frequent in veterinary medicine causing severetraumatic injuries resulting in irreparable fractures. The objective of this work is to describe the reportof a feline, male and female, about 4 years old, weighing 2,500 kg, who was run over and had a fractureexposed in the MPE, with loss of soft tissues and exposure of bone tissue, which was already completelydestroyed and necrotic. The animal was attended on an emergency basis at the SAMU ANIMAL servicein Campinas, and was referred to DPBEA (Department of Animal Welfare and Protection), where itreceived care from veterinarians and clinical and surgical treatment was performed. The result wassatisfactory, maintaining the patient’s life and providing quality of life.Keywords: SAMU Animal, DPBEA, emergency care

RESUMEN: La atención de emergencia consiste en el conjunto de procedimientos que apuntan a lasustentación de la vida. El traumatismo causado por atropellamiento en animales abandonados esrelativamente frecuente en la medicina veterinaria causando lesiones traumáticas severas que resultaen fracturas irreparables. El objetivo de este trabajo es describir el relato de un felino, sin raza definida,macho, aproximadamente 4 años de edad, pesando 2,500 kg que fue atropellado y tuvo fracturaexpuesta en el MPE, con pérdida de tejidos blandos y exposición de tejido óseo, el cual ya estabatotalmente destruido y necrosado. El animal fue atendido en carácter de urgencia en el servicio delSAMU ANIMAL de Campinas, siendo encaminado a DPBEA (Departamento de Protección y BienestarAnimal), donde recibió atención de médicos veterinarios y se realizó tratamiento clínico y quirúrgico.El resultado fue satisfactorio, manteniendo la vida del paciente y ofreciendo calidad de vida.Palabras clave: SAMU Animal, DPBEA, atención de emergencia

“Emergency care ofpolytraumatized feline patient”

“Atención de emergencia delpaciente felino politraumatizado”

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Atendimento

do pacientefelinopolitraumatizado

Figura 1: Felino macho,com fratura exposta no MPE

com perda de tecidos moles eexposição de tecidos ósseos

destruído e necrosado

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Nosso Clínico, Ano XXII,n.130, p.16-20, 2019

17Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

IntroduçãoNa medicina veterinária, principalmente em cães e gatos o

objetivo para a realização de uma amputação é manter a vida dopaciente, quando acometido por lesões que evoluem para necro-se, neoplasias malignas, lesões distais irreparáveis, entre outras13.A amputação é a retirada cirúrgica ou traumática, parcial ou total,de um segmento corpóreo1, sendo este o procedimento cirúrgicomais antigo já apontado3. Porém hoje em dia, a amputação é menosfrequente que no passado, devido a grandes avanços no reparo defraturas e no tratamento de tecidos moles, entretanto, ainda sãonecessárias em determinadas circunstâncias12. Antes de realizaruma amputação em algum animal, devem ser considerados al-guns aspectos importantes, como a capacidade de adaptação dopaciente11.

As indicações de amputação de um membro podem ser portrauma, necrose, isquemia, infecção ortopédica intratável, inca-pacidade grave decorrente de artrite intratável, paralisia, defor-midade congênita, neoplasias9,11,19, doença vascular e fístulas ar-teriovenosas17. Além das indicações clínicas para a prática deamputação, os cirurgiões também devem levar consideração àadaptabilidade e adequação de cada animal a esse tipo de inter-venção, bem como a aceitação do proprietário com relação à possede um animal deficiente19.

Segundo Johnson e Hulse (2005), as fraturas também po-dem ser definidas como uma solução de continuidade que podecomprometer o córtex ósseo e o canal medular, desequilibrandoa integridade óssea, e podem ser classificadas em fraturas abertasou fechadas, completa ou incompleta, por avulsão e por impac-tação. Na maioria das vezes, as fraturas devem-se a processostraumáticos resultantes de acidentes automobilísticos, porém po-dem ocorrer devido a projéteis balísticos, brigas e quedas6. Asfraturas abertas são classificadas em: 1) O mecanismo de per-furação; 2) A gravidade da lesão de tecidos moles, variando de Ia III. No presente relato de caso clínico, a lesão foi classificadacomo uma fratura aberta de grau III. Uma fratura aberta de grauIII apresenta fragmentação óssea severa associada à extensa lesãode tecidos moles, com ou sem perda de pele (Johnson, 2014,p.2967). As complicações das fraturas podem ser divididas emcomplicações de manejo e as resultantes do tratamento em si. Emrelação ao manejo podem estar associadas a fraturas expostas eàs avulsões de nervos. Como complicações resultantes dos trata-mentos, pode-se citar a união retardada e não união, osteomielite,má união e doença de fratura4, que em alguns casos não tratáveisindica-se a amputação4,6. Daly (2005) e Weigel (2007) conside-ram a amputação de membro uma cirurgia traumática e cruenta,recomendando avaliação pré-operatória minuciosa, tendo em vistaque a provável perda sanguínea seja maior que os demais proce-dimentos cirúrgicos de rotina. Quando um paciente sofre am-putação, independentemente de sua causa, sempre deve ser reali-zada a sua avaliação detalhada, sendo importante determinar to-das as incapacidades resultantes e a capacidade funcional do in-divíduo para orientar o tratamento de reabilitação mais precocepossível14. A grande maioria dos animais se adapta bem e conse-gue andar em três patas em aproximadamente 30 dias11,15.

Relato de Caso ClínicoFoi atendido em caráter de urgência no serviço do SAMU

ANIMAL de Campinas (Figura 1) um paciente felino, S.R.D,macho, aproximadamente 4 anos de idade, peso: 2,500 kg, tem-peramento dócil, com fratura exposta no membro pélvico esquer-

do, com perda de tecidos moles e exposição de tecidos ósseo, oqual já estava totalmente destruído e necrosado.

O animal foi encaminhado para o DPBEA (Departamentode Proteção e Bem-Estar Animal), onde recebeu atendimento poruma equipe de médicos veterinários no exame físico, observou-se movimentos respiratórios eram de tipo costo-abdominal, comrelação inspiração-expiração de 1:1, temperatura retal 39,1ºC, amucosa oral estava hipercoradas, o tempo de repleção capilar in-ferior a 2 segundos e a prega da pele persistia durante 3 segun-dos, estimando-se um grau de desidratação de 6-8%, FC 180 BPM,FR 32 movimentos/minutos, secreção ocular branca, no membropélvico esquerdo tem uma lesão classificada segundo Johnson,2014 como fratura aberta de grau III com fragmentação ósseasevera associada à extensa lesão de tecidos moles. Durante a pal-pação do membro pélvico esquerdo o animal demonstrou dor.Como exames complementares realizou-se hemograma e perfilbioquímico, foi observado alteração compatível com infecção edesidratação. Sendo assim o animal recebeu tratamento clínico.As radiografias evidenciaram ausência de contusão pulmonar/pneumotórax e integridade diafragmática, no membro pélvicoesquerdo o osso do fêmur está preservado, mas tem luxaçãotraumática na articulação tibio-társica, fratura cominutiva com-pleta da tíbia e fíbula com acentuado desvio de eixo ósseo.

O animal estava debilitado, então antes de realizar o pro-cedimento cirúrgico foi feito tratamento de suporte, sendo estecomposto por: Fluidoterapia NaCl 0,9% + glicose 5% + 20 mEq/litros KCI a uma taxa de 17ml/h durante as primeiras 24 horas e,quando resolvida a desidratação, à taxa de manutenção de 6 ml/h;Antibioterapia - Metronidazol 10 mg/kg IV BID, Cefalexina Sus-pensão 30 mg/kg PO BID; Antiemético - Citrato de Meropitant1 mg/kg SC SID; Protetor gástrico - Ranitidina 2 mg/kg SC BID;Meloxicam 0,1mg/kg SC SID. Alimentação forçada com seringa,durante os dois primeiros dias de internamento. Após estabiliza-ção clínica do animal e diante dos resultados dos exames pré-operatórios, o felino foi encaminhado para cirurgia de amputaçãodo membro pélvico esquerdo sendo a colocefalectomia. Comomedicação pré-anestésica, foi administrada acepromazina (0,1 mg/kg) e cloridrato de tramadol 2 mg/kg, ambos por via intramuscu-lar. Após 15 minutos foi realizada a punção de veia cefálica comcateter, sendo instituída fluidoterapia de manutenção com soluçãofisiológica NaCl 0,9% , em seguida foi realizada a tricotomia e ahigienização da região da cirurgia. A indução anestésica foi ad-ministrada, por via intravenosa, com propofol 2 mg/kg e ma-nutenção anestésica com isoflurano. O felino foi posicionado emdecúbito lateral direito realizou-se antissepsia prévia em seguidaprocedeu-se uma incisão semicircular em toda face lateral domembro, bem como na face medial. Nesta, é dissecada a pelepara secção e ligação da artéria e veia femorais, cranialmente aomúsculo pectíneo (Figura 2).

Na face lateral, caudalmente ao osso fêmur, são seccionadosos músculos bíceps femoral, semimembranoso, semitendinoso egrácil. Nesta região encontra-se ainda o nervo ciático e artériafemoral distal. O tendão do quadríceps é seccionado próximo àpatela e logo após o sartório, expondo o osso fêmur distal. Sec-ciona-se ainda o músculo adutor para expor a diáfise proximal,onde é feita a seção concluindo a amputação (Figura 3). O quadrí-ceps é revertido caudalmente, sobre o fragmento de osso e sutu-rado aos músculos restantes. A musculatura foi reaproximada comfio de ácido poliglicólico n°0, com pontos interrompidos paraproteger a extremidade distal do fêmur. A redução do tecido

18 Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

subcutâneo foi realizada com sutura contínua simples e fio deácido poliglicólico n°2-0 e a dermorrafia com sutura simples se-parado com fio nylon n°2-0.

No pós-operatório imediato foi realizada uma bandagemacolchoada com algodão ortopédico e ataduras crepons que per-maneceram por cinco dias, data do primeiro retorno para realiza-ção da troca de curativos e limpeza da ferida cirúrgica (Figura4). Foi prescrito Cefalexina Suspensão 30 mg/kg/PO/BID 10 dias,Metronidazol 10 mg/kg/PO/BID 7 dias, Meloxicam 0,1 mg/kg/PO/SID 5 dias, Tramadol 2 mg/kg/PO/SID 3 dias. Durante osprimeiros dias de pós-operatório, foi realizado exercícios terapêu-ticos com o ato de levantar e caminhar, para auxiliar o animal a seadaptar ao novo centro de gravidade.

Após 10 dias foi feita a retirada dos pontos, houve completacicatrização da lesão (Figura 5a/b).

No caso do felino, por ser um animal leve e ágil, a adaptaçãoocorreu rapidamente, sendo que aos 50 dias de pós-operatório opaciente (Figura 6a/b) foi reavaliado, demonstrando completaadaptação, agilidade em seus movimentos.

Figura 2:Transoperatório

de um felino,realização da

dessecação dapele para secção eligação da artéria e

veia femoral

Figura 5a/b: Felino após a retirada dos pontos.......................................................................................................................

Figura 4: Felino no 6o dia do pós-operatório para a realização de umnovo curativo no membro posterior esquerdo

Figura 6a/b: Felino com 50 dias de pós-operatório, demonstrandocompleta recuperação.......................................................................................................................

Figura 3:Transoperatório deum felino,procedimento decolocefalectomia

Resultados e DiscussãoO presente relato, apresenta um caso clínico de fratura aberta

no membro pélvico esquerdo de um felino. A equipe de médicosveterinários avaliou a lesão presente no membro do animal paraque a melhor conduta terapêutica pudesse ser estabelecida e apósa estabilização do paciente, optou-se pela amputação do membroque estava necrosado e com impotência da funcionalidade.

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A classificação das fraturas auxilia o planejamento do tratamentoadequado.

Em animais domésticos, amputação do membro é indicadaquando o prognóstico para o retorno funcional do membro afeta-do é desfavorável, como nas lacerações graves, em que a cirurgiareconstrutiva não é possível16,18. A técnica de amputação do membro pélvico pode ser realiza-da na articulação coxofemoral ou na diáfise do fêmur, sendo aprimeira técnica e preconizada pelos autores, permitindo a retira-da do membro pélvico todo2, tendo sido essa a técnica escolhidapela equipe que realizou a cirurgia. A realização do tratamentoclínico e cirúrgico favoreceu a sobrevivência e o restabelecimen-to do animal.

Conclusão A escolha pela amputação e a técnica cirúrgica adotada demons-trou-se satisfatória tendo promovido a completa recuperação ereabilitação do felino. O procedimento não apenas garantiu a so-brevivência do animal, mas também contribuiu para o bem-estardo mesmo, que foi adotado e encontra-se muito bem.

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21Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

22 Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

MV. Prof. Dr. Raul José Silva Girio*([email protected])MV. Profa. Dra. Camila Dias Porto([email protected])MV. Profa. Dra. Letícia Peternelli da Silva([email protected])MV. Prof. Dr. Rodolfo Cláudio Spers([email protected])Docentes do curso de Medicina Veterinária,Universidade de Marília, SP

MV. Profa. Dra. Thaís Marino Silva Girio([email protected])MV. Profa. Dra. Gisele Maria de Andrade([email protected])Médicas Vetrinárias, UCBVET - SaúdeAnimal - Jaboticabal, SP

* Autor para contato

IntroduçãoOs anti-inflamatórios não esteroides AINEs constituem uma

das classes de fármacos mais prescritas em todo mundo26. Nomercado farmacêutico existem mais de 50 diferentes tipos deAINEs, que são utilizados no tratamento da dor aguda, moderadae crônica decorrente de processo inflamatório2.

Na medicina veterinária, em especial na clínica de pequenosanimais os anti-inflamatórios têm sido amplamente utilizados no

Utilização do

“Use of Meloxicam in dogs: a Review”

“Uso del Meloxicam en la especie canina: Revisión”

RESUMO: Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) constituem uma das classes de fármacosmais prescritas em todo mundo. Agindo no processo de redução da reação inflamatória, inibindo aliberação de prostaglandinas, na atuação de etapas preestabelecidas na via do ácido araquidônico.Os AINEs possuem três tipos de ações diferentes: Anti-inflamatória, Analgésica e Antipirética. Esseprocesso ocorre devido à inibição da enzima cicloxigenase (COX) que é responsável pela hidrólise doÁcido Araquidônico (AA) tornando-o diversos mediadores lipídicos denominados de prostaglandinas(PGs) e Tromboxanos (TX2), essas substâncias têm importante função no equilíbrio da proteção damucosa gástrica, fisiologia renal, gestação e agregação plaquetária. O Fármaco da subclasse dosMeloxicam é um inibidor preferencial de COX-2, utilizado em tratamento de dor musculoesquelética,inflamação e no manejo pós-operatório. Possui alta ligação a proteínas, é metabolizado no fígado e éeliminado especialmente pelas fezes. Atua inibindo preferencialmente a COX-2, PGA2 e na síntese deprostaglandinas. Tem efeitos analgésico, anti-inflamatório e antipirético, com boa atuação no alívio dador e inflamação em casos de osteoartrite.Unitermos: anti-inflamatórios não esteroides, meloxicam, cães, tratamento

ABSTRACT: Non-steroidal anti-inflammatory drugs (NSAIDs) are one of the most commonly prescribedpain medications in the world. NSAIDs have analgesic, anti-inflammatory and antipyretic actions byinhibiting the production of prostaglandins by inhibiting primarily the action of cyclooxygenase (COX)enzymes, which are responsible for the production of prostaglandins (PGs) and thromboxanes (TX2)from hydrolysis of arachidonic acid (AA) in phospholipid cell membranes. These substances play animportant role in gastroprotection renal physiology, pregnancy and platelet aggregation. Meloxicam isa member of the oxicam family of NSAIDs, and a COX2 selective inhibitor, used in the treatment ofmusculoskeletal pain, inflammation and post-surgical pain management. It has high protein binding,and it is metabolized in the liver and eliminated especially by feces. Meloxicam works preferentiallyinhibiting COX-2, PGA2 and prostaglandin synthesis. It has analgesic, anti-inflammatory and antipyreticactions and one of the most common uses in osteoarthritis.Keywords: non-steroidal anti-inflammatory drugs, meloxicam, dogs, treatment

RESUMEN: Los antiinflamatorios no esteroideos (AINEs) constituyen una de las clases de fármacosmás recetadas en todo el mundo. Actuando en el proceso de reducción de la reacción antiinflamatoria,inhibiendo la liberación de prostaglandinas, en la actuación de las etapas prestablecidas en la vía delácido araquidónico. Los AINEs pose en tres tipos de acciones diferentes: Antiinflamatoria, Analgésicay Antipirética. Este proceso ocurre debido a la inhibición de la enzima cicloxigenasa (COX) que es laresponsable por la hidrolisis del ácido araquidónico (AA) tornándolo en diversos mediadores lipídicosdenominados prostaglandinas (PGs) y tromboxanos (TX2), estas sustancias tienen una funciónimportante en el equilibrio de la protección de la mucosa gástrica, fisiología renal, gestación y agregaciónplaquetaria. El fármaco de la subclase Meloxicam, es un inhibidor preferencial de la COX-2, PGA2 y enla síntesis de prostaglandinas. Tiene efectos analgésico, antiinflamatorio y antipirético, con buenaactuación en el alivio del dolor e inflamación en los casos de osteoatritis.Palabras clave: antiiflamatorios no esteroideos, meloxicam, perros, tratamiento

na espécie canina: Revisão

tratamento de diversos pacientes. O principal efeito dos anti-in-flamatórios não esteroidais (AINES) é a inibição da cicloxigena-se (COX) que bloqueia a conversão do ácido araquidônico paraprostaglandinas. O mercado disponibiliza fármacos cuja eficáciae efeitos colaterais estão relacionados à da inibição específica ounão da atividade das enzimas cicloxigenases (COXs)31,32. Existemduas isoenzimas, a cicloxigenase 1 (COX-1) que atua como cons-tituinte e a cicloxigenase 2 (COX-2) enzima induzida, relacionada

Nosso Clínico, Ano XXII,n.130, p.22-24, 2019

23Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

à formação de prostaglandinas presentes no processo infla-matório35,14,17. Suas principais ações benéficas são analgésicas,antipiréticas e anti-inflamatórias e dentre os efeitos colaterais es-tão as lesões na mucosa gástrica e rins1. Mediante a gama de anti-inflamatórios, o Meloxicam é um AINE desenvolvido em 1977por Boehringer Ingelheim, na Germânia24, um fármaco de baixocusto que atualmente vem sendo mais bem aproveitado por terafinidade a inibir preferencialmente COX-215. O Meloxicam podeser utilizado em casos de osteoartrite (AO) em cães, com boaatuação no alívio da dor e inflamação24,33. O Meloxicam é dose-dependente e tem uma pequena margem terapêutica, sendo a dose0,2 mg/kg/dia preconizada para cães, que quando administradapor um período de 16 dias sem nenhum protetor gástrico podecausar lesões gástricas, emese e diarreia1,4. Caso a dose não sejarespeitada o animal pode vir a óbito, conforme relata Alencar etal.1 em terapias de 1 e 2 mg/kg/VO/dia. O presente estudo trata-se de uma revisão de literatura dos últimos 26 anos com o intuitode entender da melhor forma a aplicabilidade do Meloxicam, prin-cipalmente em cães.

MetodologiaO presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, rea-

lizado no período de 1994 a 2018, por meio de levantamento emlivros, monografia, tese, dissertações e artigos científicos, dis-poníveis nas bases de dados, como: Biblioteca Virtual em Saúde(BVS) e Scientific Eletronic Library (SCIELO). Os critérios deinclusão foram periódicos publicados entre os anos de 1992-2018,coerentes com os temas pesquisados disponíveis nas plataformascientíficas.

Resultados e DiscussãoO Meloxicam é um AINE classificado como inibidor prefe-

rencial de COX 2, é derivado do ácido enólico, da classe dosOxicans. O Meloxicam é 12 vezes mais efetivo na inibição daatividade da COX-2 do que a COX-113,14. Em cães o Meloxicamé bem absorvido por via oral, tem boa palatabilidade e alta tole-rância, e ainda apresenta uma grande afinidade pelas proteínasplasmáticas. Possui estreita margem terapêutica, sendo reporta-da ulceração gastrointestinal com apenas a dobro da dose in-dicada21.

Mundialmente, o AINE é mais popularmente utilizado nomanejo da dor pós-operatória em animais é o Meloxicam27, ape-sar de Pereira; Marques20 apontarem que o Meloxicam não teveuma analgesia tão boa quando comparado ao tratamento de mor-fina e xilazina no controle da dor pós-OVH convencional. Porém,o estudo de Junior et al.11 demonstram que em cirurgias ortopédi-cas o Meloxicam pode ser eficaz no tratamento da inflamação eda dor, podendo haver necessidade de resgate analgésico, assimcomo Oliveira et al.18, os quais afirmam que o uso de Meloxicamé apropriado no controle da dor pós-operatória de cadelas sub-metidas à OVH videoassistida com dois portais, mas que tambémpode haver a necessidade de resgate analgésico30. Outros estu-dos, como o de Teixeira et al.19, ao comparar os efeitos de trama-dol sozinho ou combinado com dipirona ou Meloxicam em mas-tectomia unilateral com ou sem OVH, mostra que os fármacossão eficazes29, tendo como melhor combinação tramadol comMeloxicam28.

Além do uso para manejo da dor no pós-operatório, o seuemprego para o tratamento de osteoartrite é muito difundido, tan-to em cães como em equinos7. Quando utilizado para tratar

osteoartrite em cães, tanto o Meloxicam como o celecoxib se mos-traram eficazes, pois além do efeito anti-inflamatório tambémapresentaram analgesia desde os primeiros minutos da adminis-tração, porém ambos apresentaram efeitos colaterais no trato gas-trointestinal, como diarreia, perda de peso, além de lesões mi-croscópicas e macroscópicas ao exame histopatológico, sem lesõesrenais ou hepáticas16.

Pimpão et al.22 utilizaram Meloxicam como antipirético e aocompará-lo com carprofeno e dipirona, foi constatado que a di-minuição de temperatura que Meloxicam e carprofeno geraramfoi a mesma, sendo ambos considerados eficazes, apesar da di-minuição da temperatura ter sido maior com dipirona.

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) também sãoutilizados no tratamento de afecções oftalmológicas, como auveíte24. Os animais tratados com Meloxicam pela via subcutâneaapresentaram uma diminuição de 17% na concentração de pro-teínas no humor aquoso25. Resultados semelhantes foram obtidosapós a paracentese da câmara anterior do olho em cães que rece-beram Meloxicam por via oral10.

Fusco et al.9 relatam uma possibilidade de aumento daPressão Intraocular (PIC) e desenvolvimento de glaucoma poruso de anti-inflamatórios com base em estudos humanos, porémo Meloxicam não foi capaz de gerar o aumento da PIC nos cães.Os autores ainda afirmam que com o período de uso (cinco dias)do fármaco utilizado no estudo, não seria possível levantar essesdados com exatidão ou a dose de 0,2 mg/kg/dia seguido de 0,1mg/kg/dia é baixa e que talvez a via de administração oral não gereesse aumento da PIC. Segundo Costa et al.4 os AINES são asso-ciados com vários efeitos adversos. O trato gastrintestinal é omais frequentemente acometido. Em segundo lugar, aparecem osistema urinário e as discrasias sanguíneas. De acordo com Zanuz-zo et al.35, quando avaliaram a agregação plaquetária relacionadaao uso de AINES, a dipirona inibiu agregação plaquetária du-rante três horas, enquanto o Meloxicam não apresentou alterações,porém quando utilizados juntos, ambos apresentaram um aumentode três para cinco horas de inibição da agregação plaquetáriaquando comparado a dipirona isolada. Nem a dipirona isolada oucombinada com Meloxicam apresentaram riscos para animais sa-dios sem histórico de distúrbios hemostáticos. Monteiro et al.17

relatam que os efeitos adversos dos AINES poderiam ser maioresse os estudos fossem realizados em cães geriátricos ou doentes eque os efeitos dos AINES nesses pacientes deve ser melhor ex-plorado. Enquanto, Karademir et al.12 observaram que animaisque passaram por um trauma como a cirurgia, tem uma menordistribuição do fármaco para os tecidos, podendo aumentar osefeitos adversos, devido a um provável aumento da concentraçãode Meloxicam no plasma. No trato gastrointestinal pode causarvômitos, úlceras, hemorragia difusa, diarreia sanguinolenta, des-truição do epitélio, edema, espessamento da submucosa, enteriteulcerativa e necrose, tendo uma variação conforme a dose uti-lizada e o período de administração, sugerindo um cuidadonecessário com o fármaco1, porém, Costa et al.4 ao utilizarem dose0,2 mg/kg/dia numa primeira administração seguido da diminuiçãopara 0,1 mg/kg/dia durante 21 dias, apontam animais sem nenhu-ma alteração clínica. Nesse estudo, ao exame endoscópio os ani-mais apresentaram lesões leves, pouco significantes localizadasna região do antro pilórico e piloro, porém o autor não ignora ofato de que os animais estavam clinicamente saudáveis e que numanimal debilitado as lesões possam ser mais intensas. Com relaçãoaos efeitos colaterais no rim, o Meloxicam mostrou-se mais seguro

24 Nosso Clínico, Ano XXII, n.130, julho/agosto, 2019

administrado por um período de dez dias em animais saudáveis,na dose de 0,2 mg/kg seguida de 0,1 mg/kg/dia, não gerando al-terações significativas para a função renal, quando comparado animesulida e ao cetroprofeno, os quais geraram alterações renais3.Molina et al.16 ao administrar Meloxicam por 30 dias não nota-ram alterações renais. No entanto, Carneiro et al.6, após 15 diasde testes, afirmaram não haver alterações em sinais clínicos, porémos exames laboratoriais apresentaram alterações significantes nacreatinina eureia, apresentando uma quantidade acima do normalquando comparado com o fisiológico, sugerindo que numa ad-ministração crônica possa vir a gerar sinais clínicos. O Meloxi-cam é um AINE com excelentes propriedades antipirética e anal-gésica, sendo usado para o tratamento de afecções muscu-loesqueléticas, bem como pré-cirurgicamente. Na dose re-comendada 0,2 mg/kg de peso no primeiro dia e 0,1 mg/kg apartir do segundo, apresenta atividade inibidora seletiva da enzi-ma cicloxigenase-2 (COX-2), mediador químico fundamental parao desenvolvimento do processo inflamatório. Sua baixa ação emCOX-1 minimiza o potencial de danos ao trato gastrintestinal,reveladas por vômito, diarreia, inapetência e em casos severospela ocorrência de perfuração de úlcera duodenal5, com conse-quente peritonite, hepatoxicidade e morte8. Além disso, é rapida-mente eliminado do organismo, mas persiste em locais inflama-dos ou com danos teciduais34. Esse fármaco é indicado para trata-mento da inflamação associada à dor e doença musculoesqueléti-ca, aguda ou crônica. Em cães que possuem osteoartrite (AO)diagnosticada radiograficamente, tem resultado favorável ao se-rem tratados com Meloxicam, pois apresentam redução signifi-cativa dos sinais clínicos, da concentração de prostaglandina E2e metaloproteases23.

Considerações FinaisConforme a revisão, podemos verificar a grande aplicabi-

lidade do Meloxicam em cães em situações variadas, além de suaeficácia. Eles agem diminuindo o edema, a hiperemia, a febre, e ador, melhorando a condição de qualidade de vida do paciente. Aterapêutica da OA é um desafio, pois vários mecanismos estãoenvolvidos. Seu tratamento baseia-se no controle da inflamação,controle da dor e desaceleração da progressão da doença. Tambémpodem concluir que existe a necessidade de atentarmos aos efeitoscolaterais e que estes podem comprometer a integridade do ani-mal, devido a isso devemos respeitar a margem de segurança dofármaco, dose e tempo de tratamento para cada afecção.

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IntroduçãoA hiperplasia mamária felina também co-

nhecida como hiperplasia fibroepitelial é umacondição benigna1, não neoplásica, caracteriza-da por uma rápida hipertrofia e hiperplasia ou pro-liferação do estroma e epitélio ductal das mamas2,que resulta em aumento de volume de uma oumais glândulas mamárias3. Conforme Foster4 eLittle5, grande parte dos felinos acometidos sãofêmeas jovens, não ovariectomizadas e cíclicas,porém, também pode ocorrer em gestantes, ma-chos ou fêmeas tratadas com progestinas.

O desenvolvimento dessa doença ocorredevido ao estímulo hormonal da progesterona,que pode ser de origem endógena ou exógena6.Sendo que os progestágenos sintéticos geralmentesão utilizados como métodos contraceptivos, paradistúrbios do comportamento e doenças de pele7.

De acordo com Vasconcellos1, em casos dehiperplasia mamária, as glândulas acometidas po-

“Mammary carcinoma and mammary hyperplasia concomitants in feline: Case Report”

“Carcinoma mamario e hiperplasia mamaria concomitantes en felino: Relato de caso”

concomitantes em felino: Relato de caso

Jéssica Chiogna Ascoli([email protected])Médica Veterinária Autônoma,graduada pela Universidade Regionaldo Noroeste do Estado do RioGrande do Sul - UNIJUÍ

Luísa Priscila Santos Dürks([email protected])Graduanda do curso de MedicinaVeterinária da Universidade Regionaldo Noroeste do Estado do RioGrande do Sul - UNIJUÍ

Raquel Baumhardt([email protected])Médica Veterinária da UniversidadeFederal de Santa Maria - UFSM

Maurício Borges da Rosa([email protected])Médico Veterinário Autônomo,graduado pela Universidade Federalde Santa Maria - UFSM

Rafael Lukarsewski([email protected])Médico Veterinário da UniversidadeRegional do Noroeste do Estado doRio Grande do Sul - UNIJUÍ

Maria Andréia Inkelmann([email protected])Profa. Dra. da Universidade Regionaldo Noroeste do Estado do RioGrande do Sul - UNIJUÍ

Gabriele Maria Callegaro Serafini*([email protected])Profa. Dra. da Universidade Regionaldo Noroeste do Estado do RioGrande do Sul - UNIJUÍ

* Autora para correspondência

dem estar edemaciadas, doloridas e quentes, po-dendo haver lesões mais graves como necrose,ulceração e inflamação. O diagnóstico pode serrealizado clinicamente a partir do histórico e si-nais clínicos do paciente, entretanto, o diagnósti-co definitivo é determinado através da análise his-topatológica.

O tratamento dessa enfermidade varia con-forme sua etiologia, porém, consiste na retiradado estímulo hormonal endógeno ou exógeno8,9,ou seja, as gatas inteiras devem ser castradas epacientes que estiverem em tratamento comprogestinas deve-se suspender a terapia5. Outraopção terapêutica é a administração do bloquea-dor do receptor de progesterona, o aglepristone,que atua inibindo o estímulo para o crescimentodas glândulas mamárias10. A mastectomia, comoforma de tratamento, só deve ser indicada a fimde evitar recidivas e se houver lesões com necro-se tecidual ou ulcerações1,11.

RESUMO: A hiperplasia mamária felina é uma condição benigna, caracterizada por um aumento exacerbadodas glândulas mamárias, cujo tratamento se dá pela ovariohisterectomia (OVH). O carcinoma mamário éuma neoplasia maligna, com riscos de formação de metástases, em que o tratamento imposto deve ser amastectomia. O objetivo desse trabalho é descrever os aspectos clínicos e cirúrgicos de uma gata acometidapor ambas as enfermidades, cujo diagnóstico definitivo se deu pelo exame histopatológico e o tratamentoseguiu o recomendado pela literatura. Salienta-se também, nesse trabalho, a importância da diferenciaçãoentre as duas doenças visto levarem a tratamentos diferentes.Unitermos: progestágenos; hormônios; gata; glândula mamária

ABSTRACT: Feline mammary hyperplasia is a benign condition, characterized by an exacerbated increaseof the mammary glands, which is treated by ovariohysterectomy (OVH). Breast carcinoma is a malignantneoplasm, with risks of metastasis, in which the treatment must be mastectomy. The objective of this workis to describe the clinical and surgical aspects of a cat affected by both diseases, whose definitive diagnosiswas by histopathological examination and the treatment followed the recommended in the literature.It isalso highlighted, in this work, the importance of the differentiation between the two diseases since they leadto different treatments.Keywords: progestogen; hormones; cat; mammary glands

RESUMEN: La hiperplasia mamaria felina es una condición benigna, caracterizada por un aumentoexacerbado de las glándulas mamarias, cuyo tratamiento se da por la ovariohisterectomía (OVH). Elcarcinoma mamario es una neoplasia maligna, con riesgos de formación de metástasis, en que el tratamientoimpuesto debe ser la mastectomía. El objetivo de este trabajo es describir los aspectos clínicos y quirúrgicosde una gata acometida por ambas enfermedades, cuyo diagnóstico definitivo se dio por el examenhistopatológico y el tratamiento siguió lo recomendado por la literatura. Se destaca también, en este trabajo,la importancia de la diferenciación entre las dos enfermedades y a que traen diferentes tratamientos.Palabras clave: progestágenos; hormonas; gato; glándula mamaria

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Em relação às neoplasias na espécie felina, o tumor mamárioé o terceiro mais comum, depois dos tumores de pele e linfo-mas12. Ocorrem com menor frequência em gatos, quando com-parados a cães, porém 90% dos casos são malignos13. De acordocom Goldschmidt14 muitos gatos têm uma ou mais massas discre-tas nas glândulas mamárias.

A etiologia das neoplasias mamárias em felinos ainda não ébem compreendida15, porém, muitas são hormônio-dependente13

e o uso de medicamentos contraceptivos nessa espécie aumentasignificativamente o risco de desenvolver tanto neoplasia beni-gna como maligna16. Grande parte dos felinos acometidos porcarcinomas são fêmeas não castradas e que apresentam cios re-gulares17,18,19.

O diagnóstico presuntivo de carcinoma mamário pode serrealizado através da anamnese e exame físico, onde o pacientepode apresentar edema e secreção mamária anormal. O tratamen-to de eleição para os tumores de glândulas mamárias é a remoçãocirúrgica, o qual também permite o diagnóstico definitivo atravésdo exame histopatológico13.

O diagnóstico diferencial para carcinoma mamário incluimastites, hiperplasia fibroepitelial e cistos20,21. Os fatores prog-nósticos em felinos estão ligados ao tamanho do tumor, a exten-são da cirurgia e as características histológicas do neoplasma17. Orisco de surgimento de metástase aumenta e o tempo de sobrevi-da diminui com o crescimento do tumor primário13.

O presente relato tem por objetivo descrever o caso clínicoe cirúrgico de uma felina acometida por carcinoma mamário ehiperplasia mamária concomitantes, ressaltando a importância dadiferenciação entre uma doença e outra visto necessitarem de trata-mentos distintos.

Relato de casoFoi atendida, no Hospital Veterinário da Unijuí, uma felina,

SRD, de 13 anos de idade, pesando 4 kg. A paciente apresentavaaumento gradativo das mamas há, aproximadamente, dois anos.Já havia tido gestações ao longo da vida e recebia progestágenosa cada seis meses, não sabendo precisar o início do tratamento.

Durante exame clínico observou-se que as mamas não apre-sentavam secreções ou feridas e as massas tinham aspecto maismacio nas mamas torácicas e mais firmes nas mamas abdominaise inguinais, sugerindo-se hiperplasia e neoplasia mamárias con-comitantes.

Diante disso, o animal foi submetido a exame radiográficodo tórax e coleta de sangue para hemograma e bioquímico e, pos-teriormente encaminhado à mastectomia total e ovariohisterecto-mia (OVH).

Após jejum sólido e líquido de 12 e 6 horas, respectiva-mente, o paciente foi pré-medicado para o procedimento cirúr-gico com morfina 1% na dose de 0,5 mg.kg-1 IM. Procedeu-se avenopunção cefálica com cateter 22G sendo mantido em fluido-terapia de NaCl 0,9% a 10 ml.kg-1.hora-1. Foi administrada cefa-zolina 1g 30 mg.kg-1 IV como antibiótico profilático, dipirona50% na dose de 25 mg.kg-1 IV e 0,2 mg.kg-1 SC de meloxicam0,2% contribuindo para analgesia. Realizou-se a indução anestési-ca administrando-se o propofol 1% 5mg.kg-1 IV, intubação comtraqueotubo n°3,0 e manutenção anestésica com isofluorano emvaporizador universal a 200 ml.kg-1.min-1 de oxigênio em venti-lação espontânea. Colaborando para a anestesia e analgesia multi-modal realizou-se o bloqueio locorregional no espaço epidural-lombossacro associando-se morfina 1% 0,1 mg.kg-1 e bupivacaí-

na 0,5% com epinefrina na dose de 1 mg/kg. Após a remoção dasmamas torácicas, foi instilada, diretamente na ferida cirúrgica,lidocaína 2,0% na dose de 3 mg/kg diluída em 0,5 ml de NaCl0,9%.

Posteriormente, a paciente foi posicionada em decúbito dor-sal, efetuou-se antissepsia em área previamente tricotomizada,colocaram-se os panos de campo (Figura1) e realizou-se umaincisão em elipse em torno das duas cadeias mamárias, exceto namama torácica cranial esquerda (M1). Procedeu-se com a disse-cação romba e remoção das cadeias mamárias e da musculaturaadjacente às mamas torácicas. Os vasos, previamente pinçados,foram ligados com fio poliglecrapone 3-0.

Após nova paramentação da equipe e trocado material ci-rúrgico conduziu-se com a OVH. Durante o procedimento, ob-servou-se um cisto no ovário direito (Figura 2), medindo cercade 1,5 cm, e aumento de volume uterino. As ligaduras dos pedícu-los ovarianos e coto uterino foram realizadas com fio poligle-crapone 3-0.

Figura 1: Campo cirúrgico preparado para a cirurgia de mastectomiatotal bilateral em uma felina, SRD, 13 anos, acometida por neoplasiae hiperplasia mamária

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Figura 2: Presença de cisto no ovário direito em felina, SRD, 13 anos,acometida por neoplasia e hiperplasia mamária.......................................................................................................................

Em sequência, realizou-se a síntese da linha alba com poli-glecrapone 3-0 em sutura contínua simples, a aproximação dosubcutâneo com o mesmo fio com pontos em Sultam seguido deuma nova camada com contínua simples, e por fim a dermorrafiacom mononáilon 4-0 em Sultam. A ferida foi limpa e coberta comgazes vaselinadas e compressa, seguida de atadura fixada comesparadrapo. As cadeias mamárias excisadas (Figura 3) e o úteroforam encaminhados para a análise histopatológica.

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Medicou-se a paciente no pós-cirúrgico com: morfina 1,0%0,3 mg.kg-1 SC QID nas primeiras 24 horas seguido de tramadol5% 4 mg.kg-1QID, dipirona 50% 25 mg.kg-1 IV BID, meloxicam0,2% 0,1 mg.kg-1 SC SID, cefazolina 1G 30 mg.kg-1 IV TID emantido em fluidoterapia com NaCl 0,9% a taxa de 70 ml.kg-1.dia-1. Manteve-se a alimentação com ração seca e pastosa asso-ciada a suplemento vitamínico via oral Glicolpet 2,0 ml BID.

Em função da inapetência da paciente e da dificuldade emforçar a alimentação pastosa via oral, no quarto dia de pós-ope-ratório submeteu-se a mesma a esofagostomia. Após seis horasdo procedimento cirúrgico ocorreu a parada cardiorrespiratóriado felino sem sucesso na reanimação. Respeitando a opção dotutor, não foi realizada a necropsia.

DiscussãoDurante o exame clínico, as glândulas mamárias da paciente

em questão foram inspecionadas e palpadas minuciosamente; es-pecialmente, porque a hiperplasia e o carcinoma mamários apre-sentam aspectos macroscópicos semelhantes5. Observou-se queas mamas torácicas e abdominais apresentavam-se com aspectomais macio e cístico, caracterizando sinais compatíveis com hi-perplasia mamária1, já as mamas inguinais encontravam-se maisfirmes, sugerindo-se a presença simultânea de neoplasma21. Comisso, salienta-se a importância de um exame físico criterioso, vis-to que essas doenças possuem tratamentos distintos2.

Com relação a causa dessas duas enfermidades, possivel-mente esteja relacionada ao uso de progestágenos, os quais a pa-ciente recebia semestralmente. Nas espécies canina e felina, aprogesterona exógena estimula a síntese de hormônio do cresci-mento (GH) na glândula mamária com proliferação lóbulo-alve-olar e consequentemente hiperplasia de elementos mioepiteliaise secretórios, induzindo a formação de nódulos benignos22.

No caso das neoplasias, segundo Nardi18 o uso prévio deprogestágeno sintético ou associações com estrógeno tem altarelação no aparecimento de neoplasias de mama benignos ou ma-lignos, sendo as fêmeas inteiras e cíclicas com maior incidência.Isso se deve ao fato que 50% dos tumores malignos e 70% dostumores benignos possuem receptores para estrógeno e ou proges-terona13.

Davis e Stone17 ressaltam a importância das radiografiastorácicas para a avaliação de metástases pulmonares em casos decarcinoma, as quais devem ser feitas, preferencialmente, em três

projeções18. Quando as metástases estão presentes, possuem umaspecto difuso, com infiltrados pulmonares mal definidos17. Al-guns felinos desenvolvem doença metastática pulmonar, poden-do apresentar fluido pleural13. Na paciente relatada essas ca-racterísticas radiográficas não foram observadas.

Segundo Hedlund13 exames laboratoriais não são específi-cos para neoplasias mamárias, contudo, são importantes para iden-tificar problemas geriátricos e síndromes paraneoplásicas con-comitantes. O exame bioquímico da paciente não apresentou al-terações, enquanto o hemograma demonstrou leucocitose por neu-trofilia com desvio a esquerda regenerativo, caracterizando umexame inflamatório, provavelmente, devido às lesões mamárias.Sabendo que o desenvolvimento dessas doenças depende de es-tímulo hormonal, a ovariohisterectomia é importante para reduziros riscos de ocorrência23. Hedlund13 afirma que gatas castradasantes do seis meses de idade apresentam 9% de risco de desen-volver tumores mamários e as ovariectomizadas entre seis e 12meses apresentam risco de 14% comparando com gatas inteiras.

Na paciente relatada a OVH foi realizada por ser o trata-mento de eleição para a hiperplasia mamária5, pois ao removeros ovários, cessa-se o estímulo hormonal regredindo assim, otamanho das mamas17. No caso do carcinoma, a castração nãotem poder de prevenção na formação de novos tumores, mas aoeliminar a influência hormonal, estabilizam-se as possíveismetástases13,24.

Recomenda-se que a OVH seja feita antes da mastectomiapara evitar que as células tumorais caiam na cavidade abdominal,mas se os tumores estiverem ulcerados, contaminando o campocirúrgico ou o paciente não resista há uma cirurgia extensa, osprocedimentos podem ser invertidos20. Outra opção é a castraçãopelo flanco25. Nesse caso a OVH foi realizada pela linha médiaventral, posteriormente à mastectomia, devido ao aumento exa-cerbado das mamas, que impedia esse acesso antes da remoçãodas cadeias mamárias. O acesso pelo flanco não foi uma alterna-tiva em consequência da mastectomia ser bilateral, que provoca-ria muita tensão para aproximar os tecidos e tracionaria a feridacirúrgica do flanco. Além disso, como o útero estava aumentadode volume dificultaria sua exposição por esse acesso.

Conforme Hedlund13 é aceitável a combinação de diferentestécnicas se houverem massas nas duas cadeias mamárias e casonão seja possível uma excisão completa em um único procedi-mento, uma segunda cirurgia pode ser realizada em até quatrosemanas após. No animal em questão, optou-se pela remoção deambas as cadeias em um momento só, pois os nódulos, conside-ravelmente aumentados, invadiam de uma cadeia a outra.

A mama torácica cranial esquerda não foi retirada nesse mo-mento, pois impossibilitaria o fechamento da ferida cirúrgica ten-do em vista que a região torácica é a região de maior tensãocutânea. Devido a isso, essa mama seria removida em outro pro-cedimento.

De modo geral, o diagnóstico histopatológico é feito sobretodo o tumor, pois a excisão cirúrgica é o tratamento de eleição16.A análise histopatológica é a técnica empregada para definir odiagnóstico e deve ser realizada sempre em casos de neoplasiasmamária. Além disso, estabelece um prognóstico preciso10 e apartir das características microscópicas é possível determinar seé maligno ou benigno26. A paciente teve como resultado histopa-tológico carcinoma túbulo-papilar e hiperplasia fibroepitelial. Essetumor é descrito como maligno e é o tipo morfológico mais fre-quente em gatas.

Figura 3: Cadeias mamárias excisadas de uma felina, SRD, 13 anos,com neoplasia e hiperplasia mamária.......................................................................................................................

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