EJA Prisional - 09-05

download EJA Prisional - 09-05

of 14

Transcript of EJA Prisional - 09-05

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    1/14

    O PROFESSOR DA EJA QUE ATUA NO AMBIENTE PRISIONAL1

    Cristiana Righez2Delcio Antnio Agliardi3

    Resumo

    Este artigo sobre a atuao do professor da EJA no ambiente prisional resulta de pesquisa comprofessores de um Centro de Atendimento Socioeducativo CASE, localizado na regio serrana doEstado do Rio Grande do Sul, os quais atuam com jovens privados da liberdade, buscando

    compreender os anseios e expectativas no que tange a insero destes alunos na sociedade, bemcomo os desafios encontrados no dia a dia na sala de aula. Para a compreenso terica utiliza-se apesquisa bibliogrfica com autores que dissertam a respeito do tema para maior compreenso. Sabe-se que a formao pedaggica de um docente para atuar com alunos privados de liberdade, namaioria das vezes, insuficiente, justificando a formao continuada. A afetividade e a autoestimados alunos deve ser instigada e o professor, dentro deste contexto, pelo contato direto com o aluno,possui papel de vital importncia na construo dessas relaes. O ambiente prisional deprimente.Procurar saber como os profissionais da educao agem numa escola inserida em ambiente prisionale como constri as relaes de afetividade, buscando o resgate da autoestima dos jovens em regimesocioeducativo de atendimento, o objeto deste texto.

    Palavras-Chave: Formao de professores da EJA. Educao na priso.

    Introduo

    A educao um direito fundamental de todas as pessoas, de todas as raas,

    de todas as idades, no mundo todo. Cada ser humano, criana, jovem ou adulto,

    deve ter condies de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para

    satisfazer suas necessidades bsicas de aprendizagem.

    Neste sentido, a atuao do educador em ambiente prisional, tem relevncia

    e importncia para alcanar os objetivos propostos. O papel do educador na EJA,

    que atua no sistema prisional, tem assumido no decorrer dos tempos uma nova

    compreenso.

    1 O texto traz os resultados do Trabalho de Concluso de Curso, realizado no curso de

    Especializao em EJA, vinculado ao Projeto Ler e escrever o mundo: a EJA no contexto daeducao contempornea, oportunizado atravs de acordo de cooperao entre Universidade deCaxias do Sul e Ministrio da Educao, em parceria com Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. 2 Professora da Rede Estadual de Ensino. Aluna do Curso de Especializao em EJA daUniversidade de Caxias do Sul, vinculado ao projeto Ler e escrever o mundo: EJA no contexto daeducao contempornea, oportunizado atravs de convnio firmado entre O ministrio daEducao e a UCS, em parceria com a Prefeitura Municipal de Caxias do Sul.3Professor orientador. Doutorando em Letras. Mestre em Educao. Docente do Centro de Filosofiae Educao da UCS.

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    2/14

    2

    A partir do entendimento de que o educador encontra enormes desafios na

    atuao junto ao sistema prisional, a formao pedaggica deve prepar-lo para tal

    situao, bem como as prticas a serem alcanadas para que ele possa desenvolver

    um ensino e aprendizagem favorvel ao jovem ou adulto privado da liberdade.

    Justifica-se a escolha do tema desta em decorrncia destes desafios

    encontrados na convivncia em sala de aula no dia a dia pelos professores que

    esto envolvidos no processo de ensino e aprendizagem de jovens e adultos

    privados da liberdade.

    O trabalho terico tem aporte na pesquisa bibliogrfica e confrontao

    emprica em questionrios aplicados a professores do CASE, visando o

    levantamento de informaes sobre as prticas pedaggicas, bem como os desafiosque encontram no que tange as especificidades em trabalhar com jovens e adultos

    privados de liberdade.

    A abordagem, no decorrer deste trabalho, se amplia nas situaes sobre a

    educao de jovens e adultos no sistema prisional na relao com o histrico do

    direito educao, segundo o sistema jurdico vigente no pas para pessoas

    privadas da liberdade.

    Recortes do histrico da educao prisional

    De acordo com o pressuposto de que a educao um direito de todos e um

    dever do Estado, devendo ser promovida e incentivada, como condio do sistema

    democrtico do pas. Assim, conforme o parecer CNE/CEB n11/2000, a EJA

    Educao de Jovens e Adultos -, compreendida como uma dvida social no

    reparada para os que no tiveram acesso e nem domnio da escrita e leitura comobens sociais na escola ou fora dela, e ainda pela Lei de Diretrizes e Bases da

    Educao Nacional (Lei 9.394/96). A Educao de Jovens e Adultos a modalidade

    de ensino destinada aos que no tiveram acesso ou no concluram a educao

    bsica na idade prpria.

    Salienta-se, ainda, que os artigos 1 e 2 do Decreto Presidencial n 7.626 de

    24/11/2011, institui o Plano Estratgico de Educao no Sistema prisional, quando

    tratam:

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    3/14

    3

    Art. 1 - Fica institudo o Plano Estratgico de Educao no mbito doSistema Prisional - PEESP, com a finalidade de ampliar e qualificar a ofertade educao nos estabelecimentos penais.Art. 2o O PEESP contemplar a educao bsica na modalidade deeducao de jovens e adultos, a educao profissional e tecnolgica, e a

    educao superior (DECRETO PRESIDENCIAL N 7.525/2011).

    A educao no sistema penitencirio iniciada a partir da dcada de 1950.

    Na Constituio Federal de 1988, no artigo 208, diz que dever do Estado

    proporcionar a educao para todos, inclusive para os que no tiveram acesso na

    idade prpria. Da mesma maneira, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional, Lei Federal n. 9394, de 20 de dezembro de 1996, no artigo 1, incentiva a

    criao de propostas de educao para promover igualdade de condies para o

    acesso e a permanncia do aluno no processo educativo. O Artigo 5 reza que o

    Ensino Fundamental um direito pblico subjetivo de todos os cidados. E, o Artigo

    37, especfico para a EJA, que expressa que a Educao de Jovens e Adultos ser

    destinadas queles que no tiveram acesso ou continuadas os estudos no Ensino

    Fundamental e Mdio na idade prpria.

    Educador no contexto prisional

    Em um mundo globalizado, como se apresenta na atualidade, em que as

    pessoas buscam cada vez mais seus direitos, a atividade poltico e pedaggico do

    professor no contexto prisional se apresenta como desafio, gerando anseios e

    expectativas, pois nem sempre esses educadores possuem uma formao

    pedaggica, pois convivem com diferenas, alunos com falta de afetividade e a

    expectativa de um futuro que os prepare para viver em sociedade novamente.

    Educadores prisionais vivem inconformados com o descaso dos rgosresponsveis pela educao no mbito prisional. A mesma se apresenta como um

    problema social grave que est longe de encontrar um norte adequado, para que o

    ensino aprendizagem seja de forma satisfatria.

    Desta forma, a busca de valores para que a pessoa possa viver em harmonia

    mister promover os direitos reconhecidos por lei, e que cada ser humano saiba do

    que lhe devido e que perante a lei pertence.

    Conforme o artigo 5 da Constituio Federal, todos so iguais perante a lei,

    sem distino de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    4/14

    4

    residentes no Pas a individualidade do direito vida, liberdade, igualdade,

    segurana e a propriedade.

    Neste contexto, o professor de EJA no sistema prisional deve ter uma

    formao especfica e continuada. O educador do sistema prisional lida com as

    expectativas e anseios do jovem e adulto que por motivos diversos esto

    impossibilitados de um dos bens mais preciosos do ser humano que a liberdade e

    ao mesmo tempo sendo atingidos em sua dignidade humana.

    Para Gadotti (2005, p. 61), educar para o sistema prisional que acolhe a EJA

    significa:

    Educar para pensar globalmente. Na era da informao, diante davelocidade com que o conhecimento produzido e envelhece, no adianta

    acumular informaes. preciso saber pensar. pensar a realidade. Nopensar pensamentos j pensados. Da a necessidade de recolocarmos otema do conhecimento, do saber aprender, do saber conhecer, dasmetodologias, da organizao do trabalho na escola. (GADOTTI, 2005, p.61).

    Portanto, educar a base para formar um ser humano e, principalmente,

    fazer o ser humano pensar, seja em seus atos, seja para viver melhor em sociedade.

    Gadotti prossegue:

    Os professores que trabalham na Educao de Jovens e Adultos, em quasesua totalidade, no esto preparados para atuarem no campo especficodessa modalidade de ensino. Em geral, so professores leigos oupertencentes ao prprio corpo docente do ensino regular. Na formao deprofessores no se tem observado uma preocupao referente ao campoespecfico da Educao de Jovens e Adultos. (Idem, p. 69):

    Nesse sentido, os educadores devem avaliar constantemente suas prticas

    pedaggicas, buscar aprofundar teoricamente aspectos ligados educao de

    jovens e adultos, resgatar, em primeiro lugar, a conscincia sobre as seguintes

    questes: quem so os educandos, como eles pensam, como dimensionam seu

    tempo, quais seus interesses, como percebem o mundo a sua volta, quais suas

    necessidades, como constroem o conhecimento e outras mais.

    O educador de jovens e adultos precisa munir-se de bases tericas, ou seja,

    referncias que fundamentem e alicercem seu conhecimento e mtodo, alm de

    auxili-lo em suas dificuldades, preparo de suas atividades e aprimoramento da sua

    prtica docente como verdadeiro educador na EJA.

    O educador deve ter sensibilidade e crer no ser humano e em suacapacidade de regenerao, compreendendo-o como um ser inacabado,

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    5/14

    5

    que tem potencialidade e vivncia a serem consideradas segundo adialtica freireana, e ao pensar na educao do homem preso, no se podedeixar de considerar que o homem inacabado, incompleto, que seconstitui ao longo de sua existncia e que tem a vocao de ser mais, opoder de fazer e refazer, criar e recriar. (FREIRE,1983, p.81).

    Buscar a educao humanizadora nas prises no uma tarefa fcil. A

    realidade que ainda vivemos em um sistema educacional tradicionalista e vertical

    que, apresentam mudanas significativas, porm, permanece com uma ao

    pedaggica voltada para o passado. Considera-se esta situao como conscincia

    bancria da educao na qual h uma passividade diante dos conhecimentos

    adquiridos pelos educandos. Dessa forma impossvel humanizar, solidarizar e

    reverter o quadro social que se assiste atualmente sobre a educao de mulheresem prises. Muitos professores no esto comprometidos com a educao no

    crcere, cumprindo apenas sua carga horria e sem nenhuma didtica inovadora

    nas poucas escolas que existem nas prises brasileiras.

    Na medida em que se pe em xeque a legitimidade de certas normas evalores que regulam os processos de interao social, em que se questionaa justia na distribuio de recursos valiosos e escassos entre as vriascamadas e grupos sociais da sociedade e em que se discute a validade demanter inalteradas certas instituies sociais, balizadoras dos

    comportamentos socialmente desejadas, pode-se afirmar que o sistemasocial no mais est cumprindo sua funo na satisfao das metas sociais(RODRIGUES, 1999, p. 290).

    Os docentes para trabalhar em um sistema prisional necessitam ter um

    preparo especfico para que o ensino, alm de conhecimentos adquiridos possa

    tambm exercer a funo social enquanto se prepara cidados para retornar a uma

    sociedade excludente que se apresenta na atualidade.

    O estudo da prtica no mbito da filosofia moral remonta Antiguidade, ouseja, s prprias origens da construo consciente do saber, objetivo que foidas preocupaes de Scrates, Plato e Aristteles. Desde ento, areflexo sobre a justia acompanha a prpria histria do pensamentohumano. Qual o verdadeiro significado da justia? O que deve ser julgadocomo justo ou injusto, em termos absolutos de tempo e lugar? possvelavaliar a justia como um padro idealizado, uma regra de conduta vlida ecorreta em sim mesma? Quais so as origens das ideias de justia noshomens e nas sociedades? Como pensar em justia para indivduos, grupose sociedades? Indagaes dessa ordem constituem questes centrais que afilosofia moral e poltica, ao longo dos sculos, vem tentando responder(RODRIGUES, 1999, p. 289).

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    6/14

    6

    No h motivao para essas reclusas, o que permite que a esperana de

    tornar um dia melhor que o outro se torne distante. Por isso a busca da autoestima

    faz-se necessria, pois:

    [...] uma pessoa com autoestima abalada pode se convencer de que nomerece uma educao de bom nvel, trabalhos decentes, moradias idem,alm de um perverso e difuso sentimento de inferioridade, que seacompanhado por sentimentos de culpa, pode lev-la a uma situao dedesamparo e sofrimento. (RODRIGUES, 1999, p. 157).

    Conhecer um pouco do seu cotidiano, seus sonhos, seus engajamentos

    culturais, sociais e polticos, nos aproxima cada vez mais deles e nosso olhar antes

    restrito vai se transformando em um novo olhar, mais rico e interessante, pois opapel do educador prisional o de olhar a pessoa marcada por suas aes

    impensadas, com um olhar respeitoso, um olhar diferenciado.

    De acordo com Freire:

    No possvel respeito aos educandos, sua dignidade, a seu serformando-se, sua identidade fazendo-se, se no se levam emconsiderao as condies em que eles vem existindo, se no sereconhece a importncia dos conhecimentos de experincia feito com quechegam escola (FREIRE,2004,p.64).

    Somente quando o preso sente a amizade sincera do educador, destas que

    no exige retorno, que se inicia o processo de autoconfiana, aqui que se d

    dialgica, revitalizando os seus prprios valores.

    Esse tipo de educao no se insere as expectativas de uma prxis

    humanizadora e sim uma relao de sociedade contra estado que

    (...) no deve ser corrompida por interesses e controles sociais, pode ocultaro interesse poltico de usar a educao como uma arma de controle, e dizerque ela no tem nada a ver com isso. Esse tipo de educao nunca foi enem ser adequada para as mulheres que vivem aprisionadas e muitomenos contribuir para o desenvolvimento de aptides das mesmas emnenhum sentido cognitivo (BRANDO, 2004, p. 73).

    O sistema penitencirio necessita de uma educao que se preocupe

    prioritariamente em desenvolver a capacidade crtica e criadora do educando, capaz

    de alert-lo para as possibilidades de escolhas e a importncia dessas escolhas

    para a sua vida e consequentemente a do seu grupo social. Isso s possvel

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    7/14

    7

    atravs de uma ao conscientizada a capaz de instrumentalizar o educando para

    que ele firme um compromisso de mudana com sua histria no mundo.

    Nesse aspecto, Gadotti salienta a necessidade de trabalhar no reeducando:

    O ato antissocial e as consequncias desse ato, os transtornos legais, asperdas pessoais e o estigma social. Em outras palavras, desenvolver noseducandos a capacidade de reflexo, fazendo-os compreender a realidadepara que de posse dessa compreenso possam ento desejar suatransformao (GADOTTI, 1999, p. 62).

    A formao de professores deve ser concebida como um dos componentes

    da mudana, em conexo estreita com outros setores e reas de interveno, e no

    como uma condio prvia de mudana. A formao no se faz antes da mudana,

    faz-se durante, produz-se nesse esforo de inovao e de procura de melhores

    percursos para a transformao da escola. essa perspectiva ecolgica de

    mudana interativa dos profissionais e dos contextos que d um novo sentido s

    prticas de formao de professores centradas nas escolas. (NVOA,1995).

    Uma das prxis pedaggicas mais satisfatrias nos presdios lidar com os

    presos com amor, com delicadeza, agindo com naturalidade, mas com sinceridade ,

    elogiando os quando for oportuno, procurando dialogar sempre que sentirem a

    necessidade e estimul-los com palavras otimistas de modo que possam sentir-se

    valorizados.

    Nesse sentido, acredita-se que o conhecimento trazido pelo afetivo, o

    preso aprende bem o que lhe causa interesse, numa atmosfera de aula que lhe

    parea segura, com um professor que sabe criar afinidades. A transmisso de

    conhecimento e, consequentemente, a aprendizagem acontece simultaneamente

    com a compreenso e valorizao das pessoas envolvidas no processo educativo,

    pois deve haver um entrelaamento entre educao e vida.

    Fazer parte desse novo processo educativo diferenciado um desafio que

    se coloca a todos os educadores. Em parte sabendo-se de que todos,

    indistintamente, passam a viver em um mundo desconhecido. No caso dos (re)

    educandos/ presos esta situao mais especfica. atravs do contato dirio com

    os alunos/presos que se diferencia dos demais alunos do mundo normal. Ento,

    acreditar nesse novo papel de ser professor de Jovens e Adultos do sistema

    prisional crer que o convvio atravs das aulas oferece melhores condies de

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    8/14

    8

    compreenso do aprendizado adquirido na escola e a permanncia dele aps, bem

    como a possibilidade de prosseguimento dos estudos e de compreenso do mundo:

    Os professores no so anjos nem demnios. So apenas pessoas (e jno pouco!). Mas pessoas que trabalham para o crescimento e aformao de outras pessoas. O que muito. So profissionais que nodevem renunciar palavra, porque s ela pode libert-los de cumplicidadese aprisionamentos. duro e difcil, mas s assim cada um pode reconciliar-se com sua profisso e dormir em paz consigo mesmo. (NVOA, 2003, p.14).

    O profissional docente deve avaliar e refletir sobre a sua profisso. Saber da

    realidade que ir enfrentar nos primeiros momentos de um lugar que ainda no

    conhece, a expectativa inicial provoca incertezas, dvidas, a no aceitao e oprprio repdio de colegas, familiares, quando ao questionar o papel de lecionar

    dentro de uma cadeia para presos.

    A educao oferecida no mbito do sistema penitencirio pode contribuir

    muito no processo de reinsero social dos presos. Lidar com pessoas que

    necessitam de uma educao especial, uma educao que o faa refletir, se

    restaurar dos estigmas da sociedade. Em uma escola regular o profissional docente

    desempenha suas atividades de uma maneira especfica, dentro de um contextoprisional o educador j tem uma funo mais ampla, alm de um transmissor de

    conhecimentos adquire outras funes as quais no est preparado, pois ele passa

    a ser psiclogo, assistente social, amigo. Para que isso ocorra, preciso

    conscincia terica de ampla aceitao social para compreender essas

    especificidades.

    Educao de jovens e adultos no mbito prisional

    O aluno da EJA diferenciado dos demais porque as suas experincias de

    vida diferem muito dos alunos de classe regular, levando em conta os motivos pelos

    quais necessitaram optar por este tipo de ensino.

    Neste contexto, Gadotti diz que pela educao, queremos mudar o mundo,

    a comear pela sala de aula, pois as grandes transformaes no se do apenas

    como resultantes dos grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e

    persistentes(GODOTTI, 2001, p. 65).

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    9/14

    9

    O ambiente prisional vai muito alm do espao fsico, sala de aula, pois este

    espao educativo nem sempre suficientemente valorizado. Pode eventualmente o

    ambiente prisional favorecer aprendizagens corrosivas ndole do indivduo, como:

    a represso, ameaas, maus tratos, brigas, furtos, drogas.

    A sociedade dos encarcerados no s fisicamente comprimida, mas

    tambm psicologicamente, visto que eles vivem em uma intimidade forada, na qual

    o comportamento de cada homem est sujeito tanto inspeo constante dos

    colegas cativos quanto vigilncia dos administradores.

    A interao por meio do dilogo e da socializao entre professor e aluno,

    demonstra que ambos so pessoas atuantes dentro de uma mesma sociedade e faz

    com que esse relacionamento seja amadurecido cada vez mais, valorizando oeducando com suas experincias de vidas e, tambm, o educador, como um

    intermediador no processo de ensino e aprendizagem.

    Por meio dele, foi possvel constatar que o educador precisa ser marcante a

    atuar como referncia na vida dos seus educandos; ser um diferencial para os

    alunos, que, mesmo possuindo anos de experincia e tendo adquirido algum

    conhecimento de vida, muitos deles no possuem uma viso crtica sobre a

    realidade na qual esto inseridos, no sendo capazes de reivindicar seus direitos ecumprir seus deveres como cidados pertencentes a uma sociedade.

    No caso dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa necessrio,

    igualmente, que todos esses valores sejam conhecidos e vivenciados durante o

    atendimento socioeducativo, superando-se prticas ainda corriqueiras que resumem

    a adolescente ao ato a ele atribudo. Assim, alm de garantir acesso aos direitos e

    s condies dignas de vida, deve-se reconhec-lo como sujeito pertencente a uma

    coletividade que tambm deve compartilhar tais valores.Assim proporcionar o direito a um adulto ou adolescente que est inserido em

    um presdio ou cumprindo uma medida socioeducativa valoriz-lo como ser

    humano que e tem o direito novamente de ingressar na sociedade.

    Alguns resultados da pesquisa

    A pesquisa foi desenvolvida num Centro de Atendimento Scio-Educativoque tem capacidade para 40 adolescentes internos de origem da regio sob a

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    10/14

    10

    jurisdio do Juizado Regional da Infncia e da Juventude de Caxias do Sul. Na

    Unidade funciona uma a Escola Estadual de Ensino Fundamental. A escola conta

    com 13 professores, em sua maioria com curso de ps-graduao. Sua clientela

    composta de jovens e adultos que possuem a idade entre 12 e 21 anos de idade.

    Foram entrevistadas 13 professoras que atuam nesta Escola Estadual de

    Ensino Fundamental. Foi aplicado um questionrio com dez perguntas sobre os

    desafios encontrados na atuao docente em um contexto prisional, suas

    expectativas e anseios ao trabalhar com este tipo de aluno.

    A pesquisa revela que os professores entrevistados possuem a seguinte

    escolaridade:

    Ao serem indagadas as professoras do Centro de Atendimento

    Socioeducativo, no quesito escolaridade, obteve-se a seguinte resposta: 77%

    possuem curso de Ps-Graduao perfazendo um total de 10 e 23% responderam

    que possuem apenas curso de Graduao com um total de 3 professoras. Percebe-

    se nas respostas das entrevistadas que possuem um grau de escolaridade bastante

    satisfatrio compreendendo que as mesmas investem em qualificao, conforme

    grfico abaixo:

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    11/14

    11

    Nota-se que em relao ao quesito preparo profissional 85% dosprofessores responderam no estarem preparados com relao ao aluno do

    contexto prisional com um total de 11, e 15% responderam estarem preparados

    perfazendo um total de 2.

    Pelo exposto, grandes so as dificuldades que um professor perpassa em

    sua carreira como docente ao lidar com jovens e adultos a especificidade no

    trabalho pedaggico torna-se de vital importncia para que as expectativas tanto do

    aluno como do prprio professor satisfaam a ambos os lados,como mostra o grficoabaixo:

    Quando questionadas sobre os anseios e expectativas em sua profisso foi

    unnime a resposta das entrevistadas com um total de 100%. Assim, verifica-se a

    falta de preparo que as mesmas possuem com relao ao atendimento de um aluno

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    12/14

    12

    no contexto prisional, pois lidar com um aluno privado de liberdade para muitos

    educadores desafiante, pois no somente envolve a transmisso de conhecimentos

    como a autoestima dos alunos que por estarem em uma situao delicada fica

    abalada em toda a sua conjuntura.

    Percebe-se nas respostas das docentes entrevistadas que mesmo tendo um

    curso de Ps-Graduao, porm no sendo na rea especfica para lidar com este

    tipo de aluno, os anseios e expectativas do prprio professor ficam demasiadamente

    frustrados tambm como profissionais da rea da educao.

    CONSIDERAES FINAIS

    Este artigo mostra resultados sobre alguns aspectos da formao de

    professores que atuam em unidade de atendimento socioeducativo. Entendo que a

    educao possui funo socializadora: sua natureza social nos faz conhecer e nos

    apropriar de valores, normas, prticas e estratgicas de conhecimentos prprios do

    grupo onde est inserido. A educao aqui entendida em sentido amplo, e no se

    restringe somente escolarizao.Por meio das experincias educativas, os indivduos tornam-se membros

    ativos e participativos do seu grupo, medida que vai compartilhando a cultura. Ao

    mesmo tempo, as aprendizagens que realizam, porque assim lhe permitem as

    experincias em que se v imerso, constituem o motor por meio do qual se

    desenvolve em todas as suas capacidades-afetivo-relacionais, de equilbrio pessoal,

    de insero social, cognitivas e motoras.

    A educao pode e deve contribuir para a formao de jovens e adultos,

    homens e mulheres justos e competentes, cidados autnomos e capazes de agir

    em sociedade de forma positiva. Deve preocupar-se com indivduos preparando-os a

    assumir seu papel no trabalho e na sociedade. Quando se fala em ensino, se fala

    em relaes de sujeito para sujeito, de sujeito com a vida, de formao bsica e de

    formao tecnolgica.

    Neste prisma ser educador em um contexto prisional traz a necessidade de

    aprimoramento que seja condizente com o tipo de alunado a qual se vai atender,

    porm somente o educador no consegue isto, faz-se necessrio alicerce atravs de

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    13/14

    13

    polticas pblicas para que o ensino seja alcanado em sua plenitude capaz de

    trazer de volta a esses alunos a condio de viver em sociedade.

    A educao pode e deve contribuir para a formao de jovens e adultos,

    homens e mulheres justos e competentes, cidados autnomos e capazes de agir

    em sociedade de forma positiva. Deve preocupar-se com indivduos preparando-os a

    assumir seu papel no trabalho e na sociedade. Quando se fala em ensino, se fala

    em relaes de sujeito para sujeito, de sujeito com a vida, de formao bsica e de

    formao tecnolgica.

    Neste prisma buscou-se com este artigo demonstrar o professor que atua

    com EJA no contexto prisional seus anseios e desafios no dia a dia e a sua prtica

    pedaggica em trabalhar com um aluno diferenciado.

    REFERNCIAS

    BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives G. Comentrios Constituio do Brasil.Vol. 1, cap. 25. So Paulo: Saraiva, 1988

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988.Presidncia daRepblica.

    BRASIL. Parecer CNE/CEB N 4/2010. Diretrizes Nacionais para a oferta deeducaode jovens e adultos em situao de privao de liberdade nosestabelecimentos penais.Braslia, DF: MEC/CNE/SECAD, 2010.

    BRANDO, Carlos R. O que educao. So Paulo: Brasiliense, 2004.

    FREIRE, Paulo. Poltica e educao. So Paulo: Cortez, 1995.

    ____________ Educao como prtica da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

    1983.

    FREINET, Celestin. Ensaio de Psicologia Sensvel. Traduo de CristianeNascimento e Maria Ermantina Galvo G. Pereira. So Paulo: Martins Fontes, 1998.

    DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento cientfico. So Paulo: Atlas,2000.

    FRIGOTO, Gaudncio. Educao e formao humana: ajuste conservador ealternativa democrtica. In: GENTILI, Pablo A. A., DA SILVA, Tomaz Tadeu.Neoliberalismo, qualidade total e educao. 11. ed. Petrpolis: Vozes, 2002.

  • 7/26/2019 EJA Prisional - 09-05

    14/14

    14

    FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 24 ed. Petrpolis, RJ : Vozes, 1987.

    GADOTTI, Moacir. Histria das ideias pedaggicas. So Paulo: tica, 2005.

    GADOTTI, M. Palestra de encerramento. In: Maida, M. J. D. (Org.) Presdios eeducao. So Paulo: Funap, 1993. pp.121 -148.

    FREIRE, Paulo, Pedagogia da Autonomia: Saberes necessrios prticaeducativa. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1996.

    GADOTTI, Moacir e ROMO, Jos E. (Org.). Educao de jovens e adultos:teoria, prtica e proposta. 3 ed. So Paulo: Cortez; Instituto PauloFreire, 2001.

    LOURO, Guacira Lopes. Gnero, sexualidade e educao: uma perspectiva ps/estruturalista. Petrpolis, RJ: Vozes, 1997.

    NVOA, Antnio. Cmplices ou refns?IN: Revista Nova Escola, Maio, 2003.

    __________. 1995 a. Vidas de professores.Porto: Ed. Porto.

    RODRIGUES, A. et al. Preconceito, esteretipo e discriminao. 18. Ed. In:CAMPOS, R. H. de F. Psicologia Social Comunitria: da solidariedade autonomia. Petrpolis: Vozes, 1999, p. 147-176.