Elucubrações e Caraminholas sobre a adoção de palavras estrangeiras pela língua portuguesa,...

15
Elucubrações e caraminholas sobre a adoção de palavras estrangeiras pela língua portuguesa, desde a invasão moura Betty Vidigal Um projeto de lei de autoria do então deputado Aldo Rebelo (PC do B) pretendia punir, com multas ou com a imposição de serviços à comunidade, o uso de palavras estrangeiras em produtos, nos veículos de comunicação e na publicidade. Segundo reportagem no jornal O Estado de S. Paulo (26 de março de 2000), o deputado alegava que "corremos o risco de comprometer, quem sabe até truncar, a comunicação oral e escrita com o nosso homem simples do campo, não afeito às palavras e expressões importadas." Eu gostaria muito de ver um homem simples do campo tentando entender esta afirmação, em que nenhuma palavra estrangeira foi usada. Acho bem mais provável que esse homem simples saiba o que é um gol, do inglês goal, palavra que adotamos quando ninguém tinha preocupações xenófobas e pôde, portanto, se ajustar à nossa língua, assumir grafia nossa e tornar-se mais utilizada e compreendida em qualquer canto do Brasil que muito vocábulo de origem latina, africana ou indígena. Quando José Saramago esteve em São Paulo, abriu sua palestra no SESC Vila Mariana contando que, ao chegar ao hotel em que estava hospedado, disseram-lhe que iriam checar a reserva do apartamento que ocuparia. Saramago já tinha detectado no trajeto entre o aeroporto e o hotel uma influência excessiva da língua inglesa nos nossos... out- doors, e ficara impressionado. Em Portugal ninguém usa o verbo checar. Lá não se checa nada: verifica-se. Eu, que esperava que ele fosse dar como exemplo da influência estrangeira expressões escancaradamente inglesas, como as tão criticadas delivery e fast- food, também fiquei impressionada. Uso checar com a mesma naturalidade com que uso garagem ou garçom, sem nem me lembrar, quando as uso, que uma tem origem inglesa e as outras duas vieram do francês. Chegando em casa, fui... checar. Comecei pelo guru Eduardo Martins, opinião que respeito muitíssimo. No Manual de Redação e Estilo do Estado de S. Paulo, de sua autoria, a palavra checar aparece entre aspas, com a advertência: “anglicismo a evitar”. (Ninguém considera garçom galicismo a evitar). Depois fui ao Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Hollanda, onde checar consta como “brasileirismo”. Curiosamente, no verbete checagem, o exemplo citado por Aurélio é

description

Reflexões sobre pretensas medidas de proteção à língua portuguesa.

Transcript of Elucubrações e Caraminholas sobre a adoção de palavras estrangeiras pela língua portuguesa,...

  • Elucubraes e caraminholas sobre a adoo de palavras estrangeiras pela

    lngua portuguesa, desde a invaso moura

    Betty Vidigal

    Um projeto de lei de autoria do ento deputado Aldo Rebelo (PC do B) pretendia

    punir, com multas ou com a imposio de servios comunidade, o uso de palavras

    estrangeiras em produtos, nos veculos de comunicao e na publicidade. Segundo

    reportagem no jornal O Estado de S. Paulo (26 de maro de 2000), o deputado alegava que

    "corremos o risco de comprometer, quem sabe at truncar, a comunicao oral e escrita

    com o nosso homem simples do campo, no afeito s palavras e expresses importadas."

    Eu gostaria muito de ver um homem simples do campo tentando entender esta afirmao,

    em que nenhuma palavra estrangeira foi usada. Acho bem mais provvel que esse homem

    simples saiba o que um gol, do ingls goal, palavra que adotamos quando ningum tinha

    preocupaes xenfobas e pde, portanto, se ajustar nossa lngua, assumir grafia nossa e

    tornar-se mais utilizada e compreendida em qualquer canto do Brasil que muito vocbulo

    de origem latina, africana ou indgena.

    Quando Jos Saramago esteve em So Paulo, abriu sua palestra no SESC

    Vila Mariana contando que, ao chegar ao hotel em que estava hospedado, disseram-lhe que

    iriam checar a reserva do apartamento que ocuparia. Saramago j tinha detectado no trajeto

    entre o aeroporto e o hotel uma influncia excessiva da lngua inglesa nos nossos...out-

    doors, e ficara impressionado. Em Portugal ningum usa o verbo checar. L no se checa

    nada: verifica-se. Eu, que esperava que ele fosse dar como exemplo da influncia

    estrangeira expresses escancaradamente inglesas, como as to criticadas delivery e fast-

    food, tambm fiquei impressionada. Uso checar com a mesma naturalidade com que uso

    garagem ou garom, sem nem me lembrar, quando as uso, que uma tem origem inglesa e as

    outras duas vieram do francs. Chegando em casa, fui... checar. Comecei pelo guru

    Eduardo Martins, opinio que respeito muitssimo. No Manual de Redao e Estilo do

    Estado de S. Paulo, de sua autoria, a palavra checar aparece entre aspas, com a advertncia:

    anglicismo a evitar. (Ningum considera garom galicismo a evitar). Depois fui ao Novo

    Dicionrio da Lngua Portuguesa, de Aurlio Buarque de Hollanda, onde checar consta

    como brasileirismo. Curiosamente, no verbete checagem, o exemplo citado por Aurlio

  • tirado justamente de outro jornal paulista, a Folha de S.Paulo: ...ao final do processo de

    checagem, com absoluta segurana de sua veracidade. No Caldas Aulete de 1958,

    entretanto, checar est desacompanhado de ressalvas. Pelo jeito, em 58, ainda se podia

    checar qualquer coisa sem peso na conscincia.

    claro que ningum precisa dizer a um brasileiro de onde vem essa palavra. Sua

    raiz bvia: to check, em ingls, escancara-se diante de ns. No entanto, a palavra aceita

    em Portugal e no Brasil (como no resto do mundo) para designar aquele pedacinho de papel

    que autoriza um banco a tirar dinheiro de nossa conta e transferi-lo para outrem cheque,

    que tambm, como nos informa o Aurlio, vem do ingls cheque e do norte-americano

    check (assim como h brasileirismos, distinguindo o portugus falado e escrito aqui do

    portugus de Portugal, h americanismos, em que os colonizados se distinguem dos

    colonizadores ingleses. Sim, americanos tambm so colonizados!). Por que ser que

    cheque palavra legtima em Portugal, tendo chegado l tambm do mesmo idioma ingls?

    Por que repudiar checar e sancionar cheque? Onde fica o limite entre o que aceito,

    consensualmente, em Portugal e no Brasil, e o que espantoso, para Saramago, e deve ser

    evitado, segundo Eduardo Martins?

    Ser que a nica coisa que faz de cheque a palavra certa para designar uma ordem

    de pagamento vista e de checar um estrangeirismo tolo o fato de que um termo pegou

    em Portugal e o outro s no Brasil? Se for isso, teremos que nos manter constantemente

    antenados (outro neologismo, pelo menos com essa conotao) com a matriz, para saber

    como falar. A matriz sendo, no caso, Portugal.

    Em 1958, quando aquele Caldas Aulete foi publicado, nossos avs ainda

    pronunciavam chauffeur, restaurant e ballet com sotaque francs. Hoje dizemos chofer,

    restaurante e bal. No me lembro de jamais ter ouvido, dos defensores da lngua, a

    exigncia de que digamos motorista, comedouro ou... como ser que se diz bal sem usar

    estrangeirismo?

    Hotel, palavra difundida internacionalmente, a francesa. htel. Mas diz-se e

    escreve-se hotel nos pases de lngua inglesa, sem complexos, e tambm a palavra que se

    usa em Portugal, embora haja palavras em portugus que a substituiriam perfeitamente

    (assim como verificar substitui checar): hospedaria, por exemplo. Abat-jour foi

  • transformada em abajur sem que nenhuma voz nacionalista protestasse contra o

    desaparecimento de quebra-luz. quase como se a origem francesa revestisse de charme

    uma palavra, autorizando seu uso, mas a origem inglesa fosse pecaminosa.

    Charme, alis, uma excelente palavra para se analisar. Francesa, no mesmo? Os

    sinnimos que o Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa de Aurlio Buarque de Hollanda

    nos d para charme so modestos: atrao, encanto, seduo, simpatia. Convenhamos: nada

    disso tem as conotaes... charmosas... que charme tem. Ser que no temos palavra para

    isso na nossa lngua? Ah, sim. Conotaes glamurosas (para usar a grafia que aparece no

    Aurlio. Eu esceveria glamourosas.). Mas glmur (tambm usando a grafia do Aurlio:

    observem o circunflexo sobre o a) outra palavra estrangeira. Francesa? No! Um

    pedantismo s avessas transformou glmur em glamr, pronunciada como se fosse, sim,

    francesa e rimasse com lamour. Mas glamour palavra inglesa. De origem escocesa.

    Por que ser que sua pronncia se alterou? Ainda h poucos anos todos diziam

    glmur: na Sociedade Harmonia de Tnis, em So Paulo, havia anualmente o baile da

    Glamour Girl, em que uma moa era escolhida como representante dessa qualidade

    intraduzvel em palavras da nossa lngua, e nessa poca ningum dizia glamr, como

    dizem hoje os estilistas e os pretensos gr-finos, fazendo biquinho.

    Ser que no temos, mesmo, palavra nenhuma que expresse isto, o charme e o

    veneno da mulher brasileira? Quarenta anos atrs dizia-se que ela tinha it. Outra palavra

    inglesa. Parece que no temos, mesmo, nada que substitua os estrangeirismos, pelo menos

    neste campo. Impossvel imaginar de onde veio esse uso de it: do ingls que no foi.

    Provavelmente a pessoa que pela primeira vez usou esta expresso estava traduzindo ao p

    da letra she has it, que significa ela tem como ela tem it. Mais uma vez vamos ao

    Aurlio: it. [Ingls], [gria], substantivo masculino, magnetismo pessoal, encanto. Este

    significado jamais ocorreu aos organizadores dos dicionrios ingleses. It, em ingls,

    significa muita coisa, mas decididamente no sinnimo de glamour. Numa construo do

    tipo she has it, o Oxford Dictionary define o uso de it como vague object, with transitive

    verbs. Vague object, objeto vago, figura gramatical inexistente em portugus, e por

    isso mesmo a expresso she has it intraduzvel.

  • Voltemos ao glamour. Se os escoceses antigos tivessem com relao aos

    estrangeirismos os mesmos pruridos que tem o deputado, a palavra no existiria. Porque ela

    chegou... do latim! Traduzindo diretamente do Websters Word Histories:

    Glamour - Na antigidade clssica, os ancestrais gregos e latinos da palavra inglesa grammar eram usados no s para indicar o estudo da linguagem mas tambm o estudo da literatura em seu sentido mais amplo. No perodo medieval, o significado da palavra latina grammatica e de seus derivados foi ampliado para assumir o significado de aprendizado, de um modo geral. J que todo aprendizado era feito numa linguagem que a populao iletrada no falava nem compreendia, acreditava-se que assuntos como magia e astrologia deveriamser includos nesse sentido mais amplo de grammatica. Os eruditos eram vistos com uma mescla de respeito e desconfiana pelos outros homens, posio que certamente tornou mais plausvel s platias dos teatros o comportamento do Dr. Fausto, de Christopher Marlowe, e de Roger Bacon, de Robert Greene, personagens que lidavam com o demnio e dominavam a magia negra.A conexo entre gramtica e magia aparece em diversas lnguas e, na Esccia, por volta do sculo XVIII, a forma grammar foi alterada para glamer ou glamour,com o significado de feitio ou encantamento. Ao difundir-se o uso de glamour, a palavrapassou a significar uma atrao ilusria, misteriosa e excitante, que estimula aimaginao e nos atrai pelo inconvencional, o inesperado, o extico. Hoje osignificado simplesmente o de uma fascinante capacidade pessoal de atrair.

    Se os escoceses tivessem pensado em multar quem usasse palavras estrangeiras

    (latinas!), ns hoje nem teramos como designar essa fascinante capacidade de atrao.

    Observo que mesmo nos filmes americanos a palavra glamour freqentemente

    pronunciada como se rimasse com lamour, em geral por algum personagem caricatural,

    acompanhada de floreios de mo. Os prprios anglo-saxes esquecem-se de que a palavra

    inglesa: ela tem cara de francesa. Enquanto charm, de origem francesa, foi adotada pelos

    ingleses com o significado, segundo o Oxford, de objeto que tem poder oculto de atrair

    amor ou admirao; quiquilharia usada como amuleto. Como verbo transitivo, to charm

    significa sujeitar a um feitio, enfeitiar, proteger por magia.

    Nos dicionrios franceses de 40 anos atrs a palavra glamour no aparece. Nos

    atuais, aparece como sendo de origem inglesa. Os franceses, portanto, pelo menos, sabem

    que a palavra no lhes pertence.

    Mas parece-me que os puristas que gostariam de multar quem usa termos

    estrangeiros incomodam-se no tanto com essas palavras quase literrias, legitimadas pelos

    muitos anos de uso, mas principalmente com os termos tcnicos utilizados em economia e

    em informtica, ou com as palavras que indicam uma american way of life. Nesta ltima

  • categoria incluir-se-iam fast-food, delivery, sale, 50 percent off, world music, dance music,

    house music, techno, pop, jazz.

    Vamos dar uma olhada nessa lista de estrangeirismos. Techno vem do grego tchne-

    es (quem diria! Os gregos antigos j tinham tecnologia!)... No deve, portanto, ser banida!

    Ou deve? At onde deve ir o nosso purismo? Devemos chegar ao ponto de extirpar do

    vocabulrio as palavras gregas? Ou ser que os romanos que deveriam ter feito isto,

    sculos atrs, para proteger sua lngua? Music chegou aos anglo-saxes vinda do nosso

    latim (musica-) e dance, diz o Oxford, do francs. O Aurlio no menciona nenhuma

    origem estrangeira para dana. Mas antes da ltima reforma ortogrfica e como estragou

    o portugus, cada uma das reformas ortogrficas! dana, substantivo, escrevia-se com

    cedilha, e dansar, verbo, com s. Exemplo: De um lado, a eterna estrla, / e do outro a

    vaga incerta, // meu p dansando pela / extremidade da espuma / e meu cabelo por uma /

    plancie de luz deserta. (Ceclia Meireles, Cano Quasi Inquieta, Vaga Msica, Pongetti,

    1942. Mantive a grafia da edio original, e o grifo meu.). Seria muito til que se

    mantivesse essa distino numa lngua como a nossa, que tem a figura do sujeito oculto

    (que no existe nem em ingls nem em francs, assim como o objeto vago no existe em

    portugus), para podermos simplesmente dizer Dansa. Ou Dana. sabendo que se trata,

    no primeiro caso, da descrio do que algum est fazendo ou de uma ordem dada a quem

    se tuteia e, no segundo caso, da arte que consiste em interpretar msica atravs de

    movimentos do corpo. Afinal, temos ainda o substantivo viagem e tambm viajem, terceira

    pessoa do subjuntivo do verbo viajar. (Um professor de russo, que considera o portugus

    lngua dificlima, disse certa vez: subjuntivo, senhora, s para eruditos). E pop? Pop vem

    de popularis-e, latim. Aparentemente, os anglo-saxes no tm e no tiveram a

    preocupao ranosa da pureza da lngua, e isto talvez tenha sido o que tornou a lngua

    deles to mais rica que a nossa. Gostamos de acreditar que nossa lngua riqussima, mas

    no se pode discutir com nmeros. O vocabulrio ingls tem quase 3 vezes mais palavras

    que o nosso.

    Um exemplo? Ns, povos de lngua portuguesa, sorrimos... e pronto. No h

    nuances. Podemos rir, podemos gargalhar, mas um sorriso apenas um sorriso: se for mais

    que isso precisaremos descrev-lo com muitas palavras. Em ingls h uma palavra para

    cada tipo de sorriso, fora o simples smile: h sneer, que no Exitus Dictionary of the English

  • and Portuguese Languages, de Antonio Houaiss e Catherine B. Avery, figura como sorriso

    zombeteiro ou desdenhoso; smirk, sorriso afetado ou ftuo (no mesmo dicionrio); grin,

    sorriso largo, arreganhando os dentes (idem). E assim como h uma palavra para cada

    tipo de sorriso, h em ingls palavras para indicar nuances de sentimentos, filigranas que

    faltam na nossa lngua. Certamente o fato de que o ingls recebeu sem preconceitos todos

    os vocbulos que lhe foram do latim e de outras lnguas contribuiu largamente para essa

    riqueza.

    Tom Jobim, quando verteu para o ingls a letra de guas de Maro, props-se um

    exerccio de linguagem: no utilizar nenhuma palavra de origem latina. No fcil. O

    ingls tem praticamente um sinnimo vindo do latim para cada palavra anglo-saxnica.

    Essa convico de que palavras francesas so sofisticadas e portanto autorizveis,

    enquanto quase se pedem desculpas por usar as inglesas, est to arraigadamente embutida

    nas conscincias dos redatores brasileiros que certamente nem notam quando cometem

    alguns disparates preconceituosos. A Veja no 1651, de 31 de maio, por exemplo, diz, pg.

    90, num mesmo pargrafo: ...a sedutora Tatiana de Uga Uga conta com uma personal

    stylist encarregada de escolher seu guarda-roupa. e ... no d um passo sem acionar uma

    entourage de fazer inveja a muita princesinha europia. Por que personal stylist est em

    itlico e entourage no? Talvez porque entourage esteja no Aurlio? Entretanto, j que no

    se pronuncia como se escreve, e sim anturrj (a grafia da pronncia tambm est no

    dicionrio), no seria o caso de ser classificada entre os execrados estrangeirismos e,

    portanto, receber caracteres em itlico?

    Se for para multar a m utilizao da lngua, que se multem erros gramaticais,

    comeando pelas vrgulas que separam estapafurdiamente o sujeito do verbo, como, por

    exemplo, no slogan do Shopping Jardim Sul: O Shopping que voc sempre quis, existe.

    (No escrevi slogan em itlico, acima, porque consta do Aurlio. Talvez tenha sido essa a

    justificativa para entourage no estar em itlico na Veja.) Aquela vrgula entre o sujeito

    o shopping que voc sempre quis e o verbo resultado da equivocada tradio de se

    ensinar s crianas, nas escolas primrias, como dica de boa leitura, que se deve respirar a

    cada vrgula. Aliada incapacidade de perceber o que , afinal, o sujeito de uma sentena,

    quando ele se compe de mais de uma palavra, essa regrinha faz um belo estrago. Fazendo

  • o raciocnio inverso, brasileiros pouco letrados inserem uma vrgula sempre que acham que

    gostariam de respirar.

    Multem-se, depois das vrgulas intrusas, as crases indevidas.E os erros de

    ortografia: multe-se concertar com c, como est em 8 de junho na Folha de S. Paulo, no

    caderno Folha Equilbrio, pg. 2 Se o problema for com meu carro, mando concertar; e

    multe-se o uso de palavra cujo significado o autor do texto desconhece, como hegemonia,

    no Estado de 31 de maio, em chamada para a matria em que Lauro Machado Coelho fala

    sobre falta de homogeneidade na apresentao dos cantores lricos Richard Leech e Maria

    Guleghina. Quem escreveu a chamada achou que hegemonia e homogeneidade so

    sinnimos. Folha Ilustrada de 9 de junho, pg. 2: Gil foi farrear na pr-estreia de Eu Tu

    Eles, do qual autor da linda trilha. Custava usar um cujo? A construo correta : De

    cuja linda trilha autor. Cujo coisa misteriosa para muito brasileiro. Na mesma

    Ilustrada, no interessante artigo Harvard discute a Internet, aparece: Entre as palestras

    que assisti.... Ser que nem mesmo quem escreve bem sabe quando deveria dizer a que

    assisti?

    Diante de tantos erros de portugus, por que multar o plurilingismo? Bem melhor

    usar corretamente palavras estrangeiras, associadas a um portugus correto, a escrever

    monoglotamente em um portugus cheio de erros. Devemos punir os poliglotas? Parece

    bastante medireview, isso de se punir o conhecimento, dando ignorncia uma aura de

    santidade. Punir o uso de palavras estrangeiras para que o homem simples do campo

    entenda o que dizemos a quilmetors de distncia, na parte cosmopolita do Brasil,

    enquanto, nas reas rurais, sob as barbas desse homem simples, os fazedores de leis

    estendem-se em discursos verborrgicos que o mesmo homem do campo no compreende

    H palavras que eram erradas e deselegantes h poucos anos e agora constam do

    Aurlio. Exemplo: desconfortvel. O antnimo de confortvel inconfortvel. Mas dizia-

    se, vulgarmente, desconfortvel, palavra horrorosa, que parece referir-se a coisa que j foi

    confortvel e deixou de s-lo. Antes ainda podamos argumentar que desconfortvel no

    consta do dicionrio. Agora no se pode mais: passou a constar. Tenho ouvido chamar

    nvoa de neve, e aviso prvio de aviso breve. A maioria dos brasileiros hoje diz tinha

    pego, em vez de tinha pegado, que seria o correto. J que se diz foi pego, fica difcil

  • fazer o homem simples do deputado entender por que razo tinha pego errado. Pior:

    inventaram um famigerado tinha chego, por analogia. Nada disso, no entender do

    deputado, merece multa. Mas um restaurante que se chame Thank God Its Friday, por

    exemplo, provoca-lhe indignao.

    Enquanto isso, h palavras sendo criadas, no pelos brasileiros que passam frias

    em Miami, mas pelos que nem sequer vo escola. Outro dia surpreendi-me com a palavra

    beta, utilizada de forma inesperada por uma criana, num documentrio sobre o

    analfabetismo no Brasil. Logo em seguida, no mesmo filme, outra pessoa usou a mesma

    palavra. Percebi ento que ela est difundida em determinado segmento da nossa sociedade,

    embora ainda no tenha chegado a ns, os alfabetizados. Infelizmente no me lembro de

    nenhum dado concreto que identifique esse documentrio: nem o ttulo, nem o nome do

    autor e nem sequer qual o canal de TV que o exibiu. Mas a criana, uma menina

    encantadora, dizia, olhando sria para a cmera: Minha me me colocou na escola, mas

    no me leva. E eu quero ser...... beta, quando crescer... Ali, diante dos nossos olhos, uma

    nova palavra estava sendo registrada: beta, aquele que no analfa... Mas logo em seguida

    vi que aquilo no era novidade: uma mulher de meia-idade tambm dizia acho lindo ser

    beta, eu queria ser.. Certamente logo esta ser uma palavra legtima, e no h nada errado

    nisso: lngua coisa dinmica mesmo, e mais freqente que evolua a partir do assim

    chamado povo do que a partir da elite (embora a elite tambm seja povo, queiram ou no).

    Se nada podemos contra esses neologismos, se sero mesmo incorporados nossa lngua,

    mais cedo ou mais tarde, por que a resistncia a outros neologismos, aos que vm de fora,

    principalmente quando se referem a coisas que no existiam h dez anos? Para coisas

    novas, palavras novas! E se adotamos tecnologia desenvolvida por estrangeiros, por que

    no usar as palavras que eles criaram para designar as inovaes que nos trazem?

    Assim se faz, ento, a evoluo de uma lngua: em parte atravs do uso errado de

    uma palavra, que se divulga e se generaliza; em parte pela influncia das lnguas dos povos

    com os quais se tem contato; e em parte com neologismos criados para designar coisas

    novas, que acabaram de ser inventadas (nestas, o sculo que passou foi prdigo). Por que

    impedir esse processo, pretendendo engessar o portugus do Brasil?

  • Tornar-nos-emos o nico pas a escrever endereos de internet precedidos derg

    em vez de www? Rede Global em vez Worldwide Web? Tomei um exemplo talvez

    drstico, mas com a finalidade de mostrar o disparate dessa posio purista. Afinal, no

    seria a primeira vez que estaramos em posio deexceo: somos o nico pas de lngua

    latina onde a Sndrome da Imuno-Deficincia Adquirida se chama AIDS, inglesa. Nos

    outros, SIDA. Claro que isso no ocorreu por sermos colnia dos Estados Unidos, mas

    para proteger as muitas Cidas brasileiras. Gentileza que ningum pensou em ter para com

    os Brulios, gratuitamente expostos ao ridculo, mas isto outra estria.

    Sou uma internauta, tanto quanto se pode ser alguma coisa deste tipo. Claro que

    dizer sou internauta no como dizer sou mulher ou sou morena, atributos que tenho

    desde que nasci e no deixareide ter enquanto for viva. E claro que dentro de 10 anos

    ningum dir de si mesmo sou um internauta , assim como ningum diz que um

    ouvinte por ouvir rdio. Mas, hoje, minha afirmativa tem sentido. Ainda so poucos,

    relativamente, os internautas. Liguei-me rede em 97; conecto-me todos os dias e hoje,

    com cable modem, fico conectada o dia todo. Nesse ambiente, usam-se palavras inglesas o

    tempo todo. Por que deveramos inventar palavras portuguesas para designar coisas que j

    tm um nome que todos os usurios conhecem? E vamos nos desfazer dos verbos

    abrasileirados que surgiram a partir de palavras inglesas? Como diremos clicar? Quero

    continuar atachando arquivos, quando necessrio. Sei que posso anex-los: mas entre

    atachar e anexar, tenho certeza de que o homem simples do campo escolheria atachar:

    mais fcil de pronunciar.

    Sejamos sensatos. Deixemos que a lngua se adapte. Podem ter a certeza de que no

    estamos falando ingls: o modo como usamos as palavras inglesas, transformando os

    advrbios e adjetivos dos britnicos em substantivo, j faz um abrasileiramento grande.

    Exemplos? Outdoor.Est no Aurlio: vem de outdoor advertising. Outdoor, sozinho, nos

    Estados Unidos ou na Inglaterra, no tem o mesmo significado que tem entre ns;no

    designa os cartazes coloridos que se vem nas ruas: significa qualquer coisa que no esteja

    entre quatro paredes. E Shopping? L, ningum vai ao shopping, por que no um

    substantivo, como ficou sendo aqui. Shopping no um lugar. Ou um qualificativo do

    tipo de Center a que nos referimos, ou gerndio do verbo to shop. S tem o sentido que

  • lhe damos aqui se for usado como Shopping Center. Mas l ningum diz isso: l, a palavra

    utilizada para designar esses centros de compras mall.

    O gramtico Evanildo Bechara nos tranqiliza, no Estado, ao dizer que "o sistema

    lingstico no feito apenas do vocabulrio, ele composto tambm pela concordncia,

    pela conjugao de verbos, pela ordem das palavras. Podemos at adotar algumas palavras

    do vocabulrio estrangeiro, mas nos apropriamos delas e fazemos algumas alteraes."

    O lingista americano Steven Fischer diz, em entrevista Veja, que em 300 anos o

    portugus desaparecer, por influncia do espanhol. mero exerccio de futurologia, sem

    risco nenhum, j que no estaremos aqui para constatar a concretizao dessa profecia. Se

    posso escolher, prefiro desaparecer sob influncia de uma lngua com mais recursos que a

    minha, no uma que quase igual. Mas tenho enorme dificuldade em acreditar que o

    portugus desaparecer. Mais fcil crer que ser diferente, mais rico, mais amplo.

    Hoje, as palavras que usaremos daqui a 10 anos para nos referir comunicao pelo

    cyberspace (espao ciberntico?) ainda esto se formando. Ns as estamos criando.

    Neste momento, a rebeldia dos puristas concentra-se na luta contra o uso de e-mail e

    de site. Propem que digamos endereo eletrnico, correio eletrnico, stio. No mundo todo

    se diz e-mail. Seremos o nico pas forando seus habitantes a usar uma longa e incmoda

    expresso por questo de orgulho nacional. verdade que em Portugal dizem rato em vez

    de mouse, e tapete do rato em vez de mousepad. Por outro lado, l o @ dos e-ndereos

    (gosto de chamar os endereos de e-mail de e-ndereos; uma inveno minha, mas por

    que no?afinal, tudo novo nesse campo e por enquanto ainda tem de ser permitido

    inventar, at que as palavras se sedimentem e consolidem) pronuncia-se tanto como at

    quanto como arroba, como dizemos aqui. No mundo todo se diz at, e o smbolo @ j

    significava isso em ingls h muito tempo; no se trata de novidade criada pela internet. S

    no Brasil dizemos arroba. Ou seja: para algumas coisas usam-se em Portugal palavras

    inglesas; para outras, ns que as usamos. A verdade que o ingls uma lngua mais

    compacta quase sempre. E ns, humanos, temos essa tendncia de fazer o que mais

    fcil, usar o caminho mais curto. A famosa lei do menor esforo, que nenhum deputado

    precisou escrever. mais fcil dizer e-mail que dizer correio eletrnico, assim como mais

    fcil dizer Era uma vez uma velhinha... do que dizer Once upon a time there was little

  • old lady... Pela lei do menor esforo, no corremos o menor risco de que a influncia

    inglesa venha a alterar a linguagem dos contos infantis, mas a globalizao talvez leve os

    povos de lngua inglesa dizer Era uma vez, daqui a 300 anos, assim como tenho ouvido

    americanos e ingleses residentes no Brasil dizerem aproveitar no meio de uma frase em

    ingls, simplesmente porque muito mais prtico do que dizer to take advantage of.

    Consultei amigos portugueses sobre o uso de expresses inglesas em Portugal: uma

    moa que esteve em So Paulo h pouco tempo disse-me que viu aqui menos cartazes em

    ingls do que l. Anotei alguns depoimentos, em resposta minha pergunta: Usam-se

    expresses inglesas a?. Respostas: No Algarve usa-se demais! (afirmativa a que outro

    portugus retrucou dizendo Mas o Algarve no Portugal, provocando muito riso).

    Outra: Vocs no Brasil utilizam muito menos... Mas h palavras do vosso vocabulrio,

    estrangeirismos, que aqui ns no usamos, temos palavra prpria.. E esta: Olha, entrando

    num liceu, a gente ouve a malta falar e deduz. Passas nos restaurantes e vs os cartazes com

    estrangeirismos: palavras, mas no frases, em ingls. Usa-se muito, sim. Por exemplo:

    VENDE-SE FOR SALE. Sabes como o povinho l? Vende-se fora a SALA

    Estas respostas foram dadas num chatroom (ai, como deveremos passar a chamar os

    chatrooms? Salas de bate-papo?). Uma das moas portuguesas que estava conversando

    comigo despediu-se dizendo: Vou dar de frosques....Tenho imenso trabalho. Dar de

    frosques?! Que ser isso? Deduzi que deve ser algo como dar o pira, que um

    brasileirismo. Mas se podemos ter brasileirismos como dar o pira, por que no podemos

    ter brasileirismos como checar? Se a preocupao com a unidade da lngua portuguesa, a

    ameaa para essa unidade a mesma, num caso ou noutro. Deveramos passar a dar de

    frosques, em nome da unidade?

    Exijo que minha lngua seja usada corretamente; fao questo de reclamar quando

    no o . Mas, noque diz respeito a novas palavras, quero liberdade para experiment-las,

    rol-las na lngua e no papel, digit-las e pronunci-las como for mais conveniente no

    momento, na certeza de que em breve o portugus falado no Brasil as acomodar como

    legtimas e ento tero uma grafia padronizada e tambm na esperana de que, assim

    como dizemos futebol e no ludopdio, e sequer nos lembramos que o nome para esse

    esporte to brasileiro veio de football, poderemos algum dia reloudar (e no recarregar)

  • uma pgina de internet (ou de internete, como tenho visto, s vezes; mas, por favor, no de

    interrede). E reloudar ser um verbo to brasileiro quanto eu sou brasileira (e isto ser

    muito brasileiro!). Tambm no tenho nada contra a grafia imeil, como tenho visto s

    vezes. Afinal, se penalty transformou-se em pnalti, por que no? (Enquanto penalty em

    ingls significa genericamente penalidade, aqui pnalti aplica-se exclusivamente a um

    determinado tipo de penalidade, dentro de um determinado tipo de jogo...) Reclama-se

    tanto de deletar! Ora, deletar simplesmente um verbo que nossa lngua esqueceu-se de

    ter, j que o delete ingls veio de deleo-ere, latim. Ainda tempo de corrigir esse nosso

    esquecimento. Deletar tem um som muito mais bonito que apagar. verdade que apagar

    perfeitamente utilizvel em todas as situaes em que se usa deletar, mas que mal faz um

    sinnimo a mais? enriquecedor. O que incomoda, no jargo da informtica, no so os

    estrangeirismos, mas as tradues ruins e j sacramentadas, como salvar um arquivo,

    quando deveramos dizer arquivar. Contra esta lutei muito, mas em vo: j est em todas

    as tradues e programas da Microsoft para o portugus, como submenu de Arquivo, e

    agora tarde. E, pensando bem, que dizer de menu, hein? Palavra francesa. Usada nos

    Estados Unidos e na Inglaterra, tanto quanto aqui. Vale a pena ler no Websters a origem de

    menu, mas no vou me estender tanto.

    E quanto a fast-food, delivery, self-service? Como diz-las em bom portugus? Ah,

    sim. Subtituir fast-food por refeio rpida parece ruim: to ruim quanto substituir e-mail

    por correio eletrnico. Para fast-food temos uma excelente palavra: lanche. Que, alis,

    tambm palavra inglesa.S que faz tanto tempo que a usamos que j foi redimida do

    pecado de ser inglesa e teve a grafia lunch aportuguesada. Se esse o problema, s

    passarmos a escrever festefude, e ficamos acertados. Lembrando que, como em tantos

    outros casos, lunch mais uma palavra cujo significado modificamos, ao adot-la. Em

    ingls significa almoo, e no lanche.. A uma refeio rpida, eles chamam snack.

    Merenda. (Vamos merendar? Que tal?)

    Self-service tem sofrido uma transfomao curiosa: quem freqenta restaurantes no

    interior do Brasil, em que alguns garons semi-alfabetizados tm dificuldade em dizer

    servir, e dizem selvir, j deve ter ouvido chamarem o servio de buf (buffet, francs),

    o auto-servio, enfim, de selve-selve. ( mais ou menos o mesmo mecanismo que

    transformou a chave disjuntora tipo quick-lag, em clic-clec, no jargo dos eletricistas.)

  • E delivery? Vamos proibi-la, sabendo que seremos agredidos por entrega

    domiclio em cada folheto de pizzaria? Ou ser mais sensato esperar que os anos

    transformem-na, aos poucos, em delveri? Ou delivere, seguindo a regra que quer que

    digamos recorde? (Segundo o falecido Napoleo Mendes de Almeida, ao povo repugnam

    as forma proparoxtonas, razo que ele considerava suficiente para que se imponha

    recorde em vez de rcorde, e para procurar estender esta regra a outras palavras: tquete,

    por exemplo. Dizia ele que deveramos dizer tiquete, paroxtona, assim como dizemos

    soquete. Ora, soquete veio do francs soquette, o que torna razovel que seja paroxtona.

    Mas tquete nos veio do ingls (e foi para o ingls do teutnico, v. Oxford. O Oxford

    distingue origem teutnica de origem germnica). Soquette transformou-se em socket, em

    ingls, apesar de a lmpada eltrica no ter sido inventada por um francs. Mas socket em

    ingls tem outros significados, como, por exemplo, a cavidade em que se encaixa o olho. A

    curiosidade que soquette gerou duas palavras, em portugus, com pronncias diferentes:

    se se trata do soquete de uma lmpada, pronunciamos a slaba tnica como , fechado,mas

    no caso das meias soquete o e se torna aberto. Ah, a falta que fazem os antigos acentos que

    diferenciavam as palavras! le e ele. Olho e lho. Leste e lste. Parece-me que toda vez que

    leis mexem com a lngua pioram alguma coisa, a pretexto de simplificar, de facilitar a vida

    dos pouco instrudos. Mas, voltando ao que dizia: argumentei com o professor Napoleo, a

    respeito da pretensa repugnncia do povo s proparoxtonas, que logco que o povo acha

    otmo que os gramatcos tenham como unca preocupao essas questes grafcas.

    Acentuei as palavras s para chamar a ateno; j que na grafia contempornea no se

    acentuam palavras paroxtonas, a no ser em casos raros como o das que terminam em u ou

    i, ou num caso como o de pra... E fiz questo de brincar com palavras que qualquer

    brasileiro usa sem dificuldade, enquanto conversa na fila do nibus: lgico, timo,

    nico....).

    Qual ser o procedimento que a xenofobia recomenda que se adote com relao s

    palavras que nos vieram de dialetos africanos, e que no se usam em Portugal? Vamos

    bani-las, tambm, em nome da unidade da lngua? Ou essas, por questo de correo

    poltica, so intocveis? E as que chegaram ao portugus na poca da dominao moura?

    Vamos ter que viver sem palavras como almofada, alface, alicate? Ou ser o caso de definir

    uma data a partir da qual vocbulos advindos de lnguas estrangeirasdeixam de ser

  • permitidos, mas antes disso pode tudo? Ou ainda, por outro lado, ser o caso de determinar

    que apenas palavras inglesas devem ser multveis, numa atitude de rebeldia contra a nao

    mais poderosa do planeta? H at quem defenda que o tupi seja adotado como lngua

    oficial, com todos os seus 450 vocbulos.

    E que vamos fazer com palavras de origem alem, italiana, ou mesmo que vieram

    do snscrito? Blitz, ciao, mantra? Ciao j assumiu grafia brasileira: tchau. At pouco tempo

    essa grafia s aparecia em textos informais, mas agora adquire adquire status de grafia

    oficial: consta do Aurlio. Meu aparelho de som, ao ser ligado, exibe na tela de cristal

    lquido o cumprimento Como vai? e ao ser desligado despede-se: Tchau.

    Meu livro Contos para a Happy-hour, que, ao ser traduzido para a edio

    portuguesa, teve reao transformada em reaco, seqela em sequela, irnico em irnico;

    teve um brasilerismo como marreteiro traduzido para ferro-velho.Mas a ningum ocorreu

    mudar happy-hour para hora do aperitivo nem hora dos drinques. E, pensando bem, de

    onde foi mesmo que veio drinque?

    Tenho certeza de que, se a deixarmos em paz, nossa bela lngua se enriquecer e em

    breve teremos palavras de origem inglesa to brasileiras quanto um bom forr, que, como

    todos sabem, veio de for all, aquelas festas que os engenheiros ingleses das estradas de

    ferro promoviam para todos os trabalhadores.

    Minha lngua minha ptria, mas purismo exacerbado pode ser mais letal que a

    permissividade, mumificando uma lngua em vida.Bibliografia: Abuso de estrangeirismos

    causa polmica, Ligia Formenti, O Estado de S. Paulo, 26 de maro de 2000 Folha de S.

    Paulo de 8 e 9 de junho de 2000 O Estado de S. Paulo de 31 de maio de 2000 Manual de

    Redao e Estilo, Eduardo Martins, OESP, 3a ed. Novo Dicionrio da Lngua Portuguesa,

    Aurlio Buarque de Hollanda, 2a ed. Revista e ampliada, Nova Fronteira, 1998 Dicionrio

    Caldas Aulete, 1958 Dicionrio Latino-Portugus, Nicolau Firmino, 5a ed. revista e

    ampliada, Melhoramentos The Pocket Oxford Dictionary of Current English, 4th edition,

    Oxford, 1953 Vaga Msica, Cecilia Meireles, Pongetti, 1942 Websters Word Histories,

    Merriam-Webster Inc. Publishers, 1989 Gramtica da Lngua Portuguesa,Celso Ferreira da

    Cunha,11a ed., 2a tiragem, Ministrio da Educao, 1986. Langenscheidts Taschen-

    wterbuch, Deutsch-Portugiesisch, Ersten Teil, Langenscheidt Nouveau Dictionaire

  • Franais-Portugais, Mathieu Valadier, Portucalense Editora, Porto, 1953 The Exitus

    Dictionary of the English and Portuguese Languages, Antonio Houaiss and Catherine B.

    Avery, Prentice-Hall Inc., 1983