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1. (Fuvest 2013) São Paulo gigante, torrão adorado Estou abraçado com meu violão Feito de pinheiro da mata selvagem Que enfeita a paisagem lá do meu sertão Tonico e Tinoco, São Paulo Gigante. Nos versos da canção dos paulistas Tonico e Tinoco, o termo “sertão” deve ser compreendido como a) descritivo da paisagem e da vegetação típicas do sertão existente na região Nordeste do país. b) contraposição ao litoral, na concepção dada pelos caiçaras, que identificam o sertão com a presença dos pinheiros. c) analogia à paisagem predominante no Centro-Oeste brasileiro, tal como foi encontrada pelos bandeirantes no século XVII. d) metáfora da cidade-metrópole, referindo-se à aridez do concreto e das construções. e) generalização do ambiente rural, independentemente das características de sua vegetação. 2. (Unicamp 2016) Morro da Babilônia À noite, do morro descem vozes que criam o terror (terror urbano, cinquenta por cento de cinema, e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua Geral). Quando houve revolução, os soldados espalharam no morro, o quartel pegou fogo, eles não voltaram. Alguns, chumbados, morreram. O morro ficou mais encantado. Mas as vozes do morro não são propriamente lúgubres. Há mesmo um cavaquinho bem afinado que domina os ruídos da pedra e da folhagem e desce até nós, modesto e recreativo, como uma gentileza do morro. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.19.) No poema “Morro da Babilônia”, de Carlos Drummond de Andrade, a) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de modo indireto, metonimicamente, pela referência ao Morro da Babilônia. b) o sentimento do mundo é representado pela percepção particular sobre a cidade do Rio de Janeiro, aludida pela metáfora do Morro da Babilônia. c) o tratamento dado ao Morro da Babilônia assemelha-se ao que é dado a uma pessoa, o que caracteriza a figura de estilo denominada paronomásia.

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1. (Fuvest 2013) São Paulo gigante, torrão adoradoEstou abraçado com meu violãoFeito de pinheiro da mata selvagemQue enfeita a paisagem lá do meu sertão

Tonico e Tinoco, São Paulo Gigante.

Nos versos da canção dos paulistas Tonico e Tinoco, o termo “sertão” deve ser compreendido como a) descritivo da paisagem e da vegetação típicas do sertão existente na região Nordeste do país. b) contraposição ao litoral, na concepção dada pelos caiçaras, que identificam o sertão com a presença dos

pinheiros. c) analogia à paisagem predominante no Centro-Oeste brasileiro, tal como foi encontrada pelos bandeirantes no

século XVII. d) metáfora da cidade-metrópole, referindo-se à aridez do concreto e das construções. e) generalização do ambiente rural, independentemente das características de sua vegetação. 2. (Unicamp 2016) Morro da BabilôniaÀ noite, do morrodescem vozes que criam o terror(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na línguaGeral).

Quando houve revolução, os soldadosespalharam no morro,o quartel pegou fogo, eles não voltaram.Alguns, chumbados, morreram.O morro ficou mais encantado.

Mas as vozes do morronão são propriamente lúgubres.Há mesmo um cavaquinho bem afinadoque domina os ruídos da pedra e da folhageme desce até nós, modesto e recreativo,como uma gentileza do morro.

(Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.19.)

No poema “Morro da Babilônia”, de Carlos Drummond de Andrade, a) a menção à cidade do Rio de Janeiro é feita de modo indireto, metonimicamente, pela referência ao Morro da

Babilônia. b) o sentimento do mundo é representado pela percepção particular sobre a cidade do Rio de Janeiro, aludida pela

metáfora do Morro da Babilônia. c) o tratamento dado ao Morro da Babilônia assemelha-se ao que é dado a uma pessoa, o que caracteriza a figura de

estilo denominada paronomásia. d) a referência ao Morro da Babilônia produz, no percurso figurativo do poema, um oxímoro: a relação entre terror e

gentileza no espaço urbano. 3. (Fgv 2016) Leia a charge.

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Na fala da personagem, a concordância verbal está em desacordo com a norma-padrão da língua portuguesa.

a) Explique por que a concordância na frase está em desacordo com a norma-padrão, esclarecendo o que pode levar os falantes a adotá-la.

b) Escreva duas versões da frase da charge: na primeira, substitua a expressão “a gente” por “Nosso clube é um dos que”; na segunda, substitua o verbo “ter” pela locução “deve haver” e passe para o plural a expressão “uma proposta irrecusável”.

4. (G1 - ifba 2016) Os textos publicitários utilizam, de modo geral, uma linguagem específica para atingir, de forma diferenciada, aos seus propósitos comunicativos. Observe o texto a seguir e indique a alternativa correta.

a) O enunciado “Coloque estes patinhos na lagoa” apresenta um sentido denotativo tal como em “Ele tem um

coração de pedra”. b) O enunciado “Coloque estes patinhos na lagoa” apresenta um sentido conotativo tal como em “Ele tropeçou numa

pedra na rua”. c) O enunciado “Coloque estes patinhos na lagoa” apresenta sentido denotativo tal como em “A pedra foi

arremessada na cabeça da criança”. d) O enunciado “Coloque estes patinhos na lagoa” apresenta um sentido denotativo tal como em “Aquele menino é

uma pedra em meu sapato”. e) O enunciado “Coloque estes patinhos na lagoa” apresenta um sentido conotativo tal como em “Ultrapassarei todas

as pedras do caminho e resolverei as minhas pendências”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

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5. (Uerj 2016) O personagem presente no último quadrinho é um ácaro, um ser microscópico. Suas falas têm relação direta com seu tamanho. No contexto, é possível compreender a imagem do personagem como uma metonímia.Essa metonímia representa algo que se define como: a) invisível b) expressivo c) inexistente d) contraditório TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Se não quiser adoecer

Por Dr. Dráuzio Varela

"Fale de seus sentimentos"Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. Com o tempo, a repressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados. O diálogo, a fala, a palavra é um poderoso remédio e excelente terapia."Busque soluções"Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença."Aceite-se"A rejeição de si próprio, a ausência de autoestima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia."Não viva SEMPRE triste!"O bom humor, a risada, o lazer, a alegria recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive."O bom humor nos salva das mãos do doutor". Alegria é saúde e terapia.

(Trechos retirados de Pensador.uol.com.Br/autor/dr_drauzio_varela. Acesso em 11 de abril de 2015, às 11h.)

6. (G1 - epcar (Cpcar) 2016) Sobre figuras de linguagem é correto afirmar que, no período a) “Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão.”, a metáfora corrobora a ideia de que pensamento

negativo não soluciona problemas.

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b) “A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive.”, a metonímia traduz a ideia de que quem está feliz é capaz de levar esse sentimento a outras pessoas do seu convívio social.

c) “O diálogo, a fala, a palavra é um poderoso remédio e excelente terapia.”, a gradação e o eufemismo reforçam a ideia de que emoções e sentimentos reprimidos causam doenças possíveis de serem tratadas.

d) “O bom humor nos salva das mãos do doutor”, a catacrese explicita a ideia de que quem não se previne com atitudes positivas diante da vida acaba por precisar de atendimento médico.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

A EDUCAÇÃO PELA SEDA

Vestidos muito justos são vulgares. Revelar formas é vulgar. Toda revelação é de uma vulgaridade abominável.Os conceitos a vestiram como uma segunda pele, e pode-se adivinhar a norma que lhe rege a vida ao primeiro olhar.

Rosa Amanda StrauszMínimo múltiplo comum: contos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.

7. (Uerj 2016) Os conceitos a vestiram como uma segunda pele,O vocábulo a é comumente utilizado para substituir termos já enunciados. No texto, entretanto, ele tem um uso incomum, já que permite subentender um termo não enunciado.Esse uso indica um recurso assim denominado: a) elipse b) catáfora c) designação d) modalização TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

É possível fazer educação de qualidade sem escola

É possível fazer educação embaixo de um pé de manga? Não só é, como já acontece em 20 cidades brasileiras e em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Decepcionado com o processo de “ensinagem”, o antropólogo Tião Rocha pediu demissão do cargo de professor da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) e criou em 1984 o CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento).

Curvelo, no Sertão mineiro, foi o laboratório da “escola” que abandonou mesa, cadeira, lousa e giz, fez das ruas a sala de aula e envolveu crianças e familiares na pedagogia da roda. “A roda é um lugar da ação e da reflexão, do ouvir e do aprender com o outro. Todos são educadores, porque estão preocupados com a aprendizagem. É uma construção coletiva”, explica.

O educador diz que a roda constrói consensos. “Porque todo processo eletivo é um processo de exclusão, e tudo que exclui não é educativo. Uma escola que seleciona não educa, porque excluiu alguns. A melhor pedagogia é aquela que leva todos os meninos a aprenderem. E todos podem aprender, só que cada um no seu ritmo, não podemos uniformizar.”

Nesses 30 anos, o educador foi engrossando seu dicionário de terminologias educacionais, todas calcadas no saber popular: surgiu a pedagogia do abraço, a pedagogia do brinquedo, a pedagogia do sabão e até oficinas de cafuné. Esta última foi provocada depois que um garoto perguntou: “Tião, como faço para conquistar uma moleca?” Foi a deixa para ele colocar questões de sexualidade na roda.

Para resolver a falência da educação, Tião inventou uma UTI educacional, em que “mães cuidadoras” fazem “biscoito escrevido” e “folia do livro” (biblioteca em forma de festa) para ajudar na alfabetização. E ainda colocou em uso termos como “empodimento”, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: “Pode [fazer tal coisa], Tião?” Seguida da resposta certeira: “Pode, pode tudo”.

Aos 66 anos, Tião diz estar convicto de que a escola do futuro não existirá e que ela será substituída por espaços de aprendizagem com todas as ferramentas possíveis e necessárias para os estudantes aprenderem.

“Educação se faz com bons educadores, e o modelo escolar arcaico aprisiona e há décadas dá sinais de falência. Não precisamos de sala, precisamos de gente. Não precisamos de prédio, precisamos de espaços de aprendizado. Não precisamos de livros, precisamos ter todos os instrumentos possíveis que levem o menino a aprender.”

Sem pressa, seguindo a Carta da Terra e citando Ariano Suassuna para dizer que “terceira idade é para fruta: verde, madura e podre”, Tião diz se sentir “privilegiado” de viver o que já viveu e acreditar na utopia de não haver mais nenhuma criança analfabeta no Brasil. “Isso não é uma política de governo, nem de terceiro setor, é uma questão ética”, pontua.

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(Qsocial, 09/12/2014. Disponível em http://www.cpcd.org.br/portfolio/e_possivel_fazer_educacao_de_qualidade_100_escola/.)

8. (Unicamp 2016) Em relação ao trecho “E ainda colocou em uso termos como ‘empodimento’, após várias vezes ser questionado pelas comunidades: ‘Pode [fazer tal coisa], Tião?’ Seguida da resposta certeira: ‘Pode, pode tudo’”, é correto afirmar: a) A expressão “Seguida da resposta certeira” indica a elipse de uma outra expressão. b) A criação da palavra “empodimento” é resultado de um processo: sufixação. c) A repetição do verbo no enunciado “Pode, pode tudo” exemplifica o estilo reiterativo do texto. d) O discurso direto presente no trecho tem a função de dar voz às comunidades. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

VAGABUNDO

Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,Fumando meu cigarro vaporoso;Nas noites de verão namoro estrelas;Sou pobre, sou mendigo e sou 1ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiroMas tenho na viola uma riqueza:Canto à lua de noite serenatas,E quem vive de amor não tem pobreza.(...)

Oito dias lá vão que ando cismadoNa donzela que ali defronte mora.Ela ao ver-me sorri tão docemente!Desconfio que a moça me namora!...

Tenho por meu palácio as longas ruas;Passeio a gosto e durmo sem temores;Quando bebo, sou rei como um poeta,E o vinho faz sonhar com os amores.

O degrau das igrejas é meu trono,Minha pátria é o vento que respiro,Minha mãe é a lua macilenta,E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,De painéis a carvão adorno a rua;Como as aves do céu e as flores purasAbro meu peito ao sol e durmo à lua.(...)

Ora, se por aí alguma belaBem doirada e amante da preguiçaQuiser a 2nívea mão unir à minha,Há de achar-me na Sé, domingo, à Missa.

Álvares de AzevedoObra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000.

1ditoso − feliz2nívea − branca

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9. (Uerj 2016) Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso! (v. 4)

O verso acima reúne dois traços que podem ser considerados inconciliáveis.

Explicite esses traços e nomeie duas figuras de linguagem que reforçam o significado do verso. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto a seguir para responder à(s) questão(ões).

SOMOS TODOS ESTRANGEIROS

Volta e meia, em nosso mundo redondo, colapsa o frágil convívio entre os diversos modos de ser dos seus habitantes. 1Neste momento, vivemos uma nova rodada 2dessas com os inúmeros refugiados, famílias fugitivas de suas guerras civis e massacres. Eles tentam entrar na mesma Europa que já expulsou seus famintos e judeus. Esses movimentos introduzem gente destoante no meio de outras culturas, estrangeiros que chegam falando atravessado, comendo, amando e rezando de outras maneiras. Os diferentes se estranham.

Fui duplamente estrangeira, no Brasil por ser uruguaia, em ambos os países e nas escolas públicas por ser judia. A instrução era tentar mimetizar-se, falar com o menor sotaque possível, ficar invisível no horário do Pai Nosso diário.

Certamente todos conhecem esse sentimento de sentir-se estrangeiro, ficar de fora, de não ser tão autêntico quanto os outros, ou não ser escolhido para o que realmente importa. Na 3infância, tudo é grande demais, amedronta e entendemos fragmentariamente, como recém-chegados. Na puberdade, perdemos a familiaridade com nossos familiares: o que antes parecia natural começa __________ soar como estrangeiro. 4Na 5adolescência, sentimo-nos estranhos __________ quase tudo, andamos por aí enturmados com os da mesma idade ou estilo, tendo apenas uns aos outros como cúmplices para existir.

O fim desse desencontro deveria ocorrer no começo da vida adulta, quando trabalhamos, procriamos e tomamos decisões de repercussão social. Finalmente 6deveríamos sentir-nos legítimos cidadãos da vida. 7Porém, julgamos ser uma fraude: 8imaginávamos que os adultos eram algo maior, mais consistente do que sentimos ser. Logo em seguida disso, já começamos a achar que perdemos o bonde da vida. O tempo nos faz estrangeiros __________ própria existência.

Uma das formas mais simples de combater todo esse 9mal-estar é encontrar outro para chamar de diferente, de inadequado. 10Quem pratica o bullying, quer seja entre alunos ou com os que têm hábitos e aparência distintos do seu, conquista momentaneamente a ilusão da legitimidade. Quem discrimina arranja no grito e na violência um lugar para si.

Conviver com as diferentes cores de pele, interpretações dos gêneros, formas de amar e casar, vestimentas, religiões ou a falta delas, línguas faz com que todos sejam estrangeiros. Isso produz a mágica sensação de inclusão universal: 11se formos todos diferentes, ninguém precisa sentir-se excluído. Movimentos migratórios misturam povos, a eliminação de barreiras de casta e de preconceitos também. Já pensou que delícia se, no futuro, entendermos que na vida ninguém é nativo. 12A existência de cada um é como um barco em que fazemos um trajeto ao final do qual sempre partiremos sem as malas.

Texto adaptado de Diana Corso, publicado em 12 de setembro de 2015. Disponível em: <http://wp.clicrbs.com.br/opiniaozh/2015/09/12/artigo-somos-todos-estrangeiros/?topo=13,1,1,,,13>. Acesso em: 19

out. 2015

10. (G1 - ifsul 2016) Na frase “A existência de cada um é como um barco em que fazemos um trajeto ao final do qual sempre partiremos sem as malas” (ref. 12), ocorre uma a) metáfora. b) metonímia. c) comparação. d) hipérbole. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto com atenção e responda à(s) questão(ões) proposta(s):

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A CRISE DO FUTEBOL BRASILEIROPor Oliver Seitz*

Quando Getúlio Vargas idealizou a Copa de 50, a ideia era mostrar ao mundo pós-guerra a força da nova potência mundial chamada Brasil. Não deu certo. A seleção perdeu, o Brasil não era tudo aquilo que se achava, e tudo continuou na mesma.

Em 2007, quando Lula idealizou a Copa de 2014, a ideia era mostrar ao mundo em crise a força da nova potência mundial chamada Brasil. Não deu certo. A seleção perdeu, o Brasil não era tudo aquilo que se achava, e tudo continuou na mesma.

1Esqueça os 7 a 1. O futebol brasileiro está em crise desde 1950. Isso porque foi mais ou menos nessa época que assumimos para nós mesmos que somos o país do futebol. 2A pátria de chuteiras. E, como nunca conseguimos de fato satisfazer essa expectativa, entramos em crise.

3Os problemas que são atribuídos ao futebol de hoje pouco variam dos problemas que começaram a ser atribuídos a ele a partir da metade do século passado: dificuldade em segurar jogadores no país, dificuldade de pagar salário, dificuldade na manutenção dos estádios, dificuldade em conter a violência, dificuldade, dificuldade, dificuldade.

A estabilidade dessas dificuldades impressiona. Elas são tão estáveis ao longo do tempo que talvez não devessem nem ser mais conhecidas como dificuldades, mas sim como características.

Somos, por exemplo, um país que não vai a jogos de futebol tanto assim. Nos grandes jogos, nos decisivos, claro que vamos. Nesses todo mundo quer ir. Mas nos pequenos, onde a força da relação do torcedor com o clube é realmente colocada à prova, nem tanto. Assim como as dificuldades, a média de público do Campeonato Brasileiro também é surpreendentemente estável. Desde o seu começo, flertamos com as 15 mil pessoas por jogo. Às vezes um pouco mais, às vezes um pouco menos. Mas sempre por aí. A média de 1967 a 2014? 14.937. A média nos últimos 10 anos? 15.259. A média em 2015 até o momento? 14.762.

Isso em si já derruba muitos dos argumentos da decadência do futebol brasileiro, tão alardeados após o 7 a 1. Afinal, se os estádios não eram mais cheios antigamente, isso quer dizer que os estádios vazios não são um sinal de crise. Se em quase 50 anos a média é de 15 mil pessoas, por que acreditar que todo estádio novo tem que ser para 45 mil pessoas? E o que leva a acreditar que um estádio com capacidade 3 vezes maior que a demanda histórica se paga? Obviamente, os estádios estão vazios e abandonados. Mas isso não é crise. É viver uma ilusão irracional. Um sonho inalcançável.

Estádios vazios reduzem a demanda e geram maiores custos de manutenção, reduzindo significativamente a capacidade dos proprietários em manter outros compromissos. E ainda que 4as receitas dos clubes tenham crescido significativamente nas últimas décadas, elas não conseguem acompanhar 5a bola de neve de pendências financeiras acumuladas desde o dia em que alguém nos cunhou com o terrível fardo de acharmos que somos o país do futebol. Gastamos mais do que podemos porque achamos que podemos muito. Assim, os estádios 6ficam às moscas, os salários dos jogadores – com valores tão irreais quanto a capacidade das arenas – invariavelmente atrasam e o número de processos trabalhistas inevitavelmente cresce. A bola de neve só aumenta.

A solução para desenvolver o futebol brasileiro não é simples. Nem rápida. Mas existe. Passa pela necessidade de um choque coletivo de realidade que se propague pelo governo, clubes, federações, associações e atletas. Todos necessitam compreender o seu verdadeiro posicionamento dentro da indústria e o papel que precisam desempenhar para que o futebol brasileiro se torne, pela primeira vez, uma operação minimamente viável e possa crescer ao invés de ficar parado no tempo.

Enquanto não aceitarmos que o que vivemos não é uma fase ruim, mas sim que o nosso futebol é um mercado de somente 15 mil pessoas por jogo e não essa ilusão megalomaníaca que um dia inventamos, ou inventaram, para nós mesmos, jamais sairemos do lugar. Continuaremos a acreditar que estamos passando por uma surpreendentemente estável crise, mas que no fundo é apenas a nossa verdadeira pequena e limitada realidade.

*Oliver Seitz é PhD em Indústria do Futebol pela Universidade de Liverpool e Professor da University College of Football Business de Londres.

(BLOG DO JUCA KFOURI. 7 de julho de 2015. Disponível em: http://blogdojuca.uol.com.br/2015/07/a-crise-do-fubebol-brasileiro/)

11. (G1 - cftrj 2016) No 4º parágrafo do texto (referência 3), o efeito de sentido provocado pela repetição da palavra “dificuldade” é: a) criar uma noção de permanência para os problemas do futebol brasileiro. b) reforçar a ideia de que os problemas do futebol brasileiro são crescentes. c) mostrar que o futebol brasileiro está modificado em inúmeros aspectos. d) demonstrar que o autor do texto não domina a norma padrão da língua portuguesa.

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: TEXTO I

CLIII

Criou a Natureza damas belas,Que foram de altos plectros celebradas;Delas tomou as partes mais prezadas,E a vós, Senhora, fez do melhor delas.

Elas diante vós são as estrelas,Que ficam com vos ver logo eclipsadas.Mas se elas têm por sol essas rosadasLuzes de sol maior, felizes elas!

Em perfeição, em graça e gentileza,Por um modo entre humanos peregrino,A todo belo excede essa beleza.

Oh! Quem tivera partes de divinoPara vos merecer! Mas se purezaDe amor vale ante vós, de vós sou digno.

(CAMÕES, Luís de. Rimas: Segunda parte, Sonetos. In:Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 529.)

TEXTO II

34.

Seu João, perdido de catarata negra nos doisolhos:– Meu consolo que, em vez de nhá Biela, vejouma nuvem.

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12. (Ufjf-pism 3 2016) As referências à Senhora de Camões (texto I) e à nhá Biela de Dalton Trevisan (texto II) têm em comum: a) as antíteses reiteradas. b) a comparação aos deuses. c) a metáfora celeste. d) a aliteração sibilante. e) a hipérbole da beleza. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto para responder à(s) questão(ões).

A Peleja da Covardia contra a Senhora Educação (fragmento)

Isaac Luna e Inácio Feitosa

IV

Até mesmo na escolaLugar de cidadaniaDo respeito às diferençasPalco da democraciaHá o bullying escolarUma tremenda covardia

V

Isso mesmo meu amigoSe atualize sem demoraPreste muita atençãoAo que vou dizer agoraO Bullying também ocorreNo chão das nossas escolas!

VI

E é sobre esse último casoQue agora vou falarA terrível violênciaQue vive a nos rodearPrincipalmente a que ocorreNo ambiente escolar

VII

A discriminação é a baseDo assédio praticadoCom o intuito de humilharO sujeito atacadoConstranger ou meter medoPra deixá-lo acuado

VIII

Também há o preconceitoComo chave desse malSeja ele de estéticaOu de classe socialDe racismo deslavado

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Ou de escolha sexual

IX

Apelidos humilhantesXingamentos raciaisPalavrões e ameaçasAtitudes imoraisEsses são alguns exemplosMais existe muito mais…

X

O importante é entenderQue bullying é covardiaÉ o ato do valentãoPraticado dia a diaContra aquele que é mais fracoOu que está em minoria

XI

A violência se apresentaDe maneira variadaPode ser psicológicaQuase sempre com piadasOu então pode ser físicaNa base da cassetada

XII

O resultado é a dorE o sofrimento da criançaO afastamento socialE a perda da esperançaPra dar basta a essa moléstiaÉ preciso haver mudança.

(Fonte: http://cordelparaiba.blogspot.com.br/2013/05/o-tema-bullying-em-literatura-de-cordel.html.Acessado em 27/08/2015)

13. (G1 - cp2 2016) No verso “Como chave desse mal” (estrofe VIII), a palavra “chave” foi empregada de modo figurado.

Assinale a alternativa que apresenta a figura de linguagem em questão. a) Antítese. b) Hipérbole. c) Metáfora. d) Metonímia. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Nostalgia do futuro

Em uma fazenda americana, nos anos 60, o garoto Frank Walker (Thomas Robinson) persegue o sonho de inventar uma engenhoca capaz de fazê-lo voar. O pai lhe dá uma bronca por perder tempo com tal sandice. Seu primeiro teste revela-se um doloroso anticlímax. Nem por isso Frank desanima. “Não vou desistir nunca”, diz. O filete de autoajuda contido na frase é uma premonição do gosto que restará na garganta do espectador ao fim de Tomorrowland (Estados Unidos, 2015). Na produção da Disney em cartaz no país, o personagem sonhador surge, já

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adulto, na pele de George Clooney, para narrar os estranhos fatos que se seguiram à apresentação de sua máquina na Feira Mundial de Nova York, em 1964. Na ocasião, o garoto é humilhado pelo chefe da comissão de novas invenções do evento, Nix (Hugh Laurie). Mas a enigmática menina Athena (Raffey Cassidy) vê tudo e percebe que está diante de alguém especial. O rumo da vida de Frank muda quando ela lhe dá de presente um item prosaico – um broche com a letra T. Ao passear em um brinquedo que parece saído dos parques de diversões da Disney, ele atravessa o portal para outra dimensão: na Tomorrowland do título, os cidadãos voam em versões modernosas de seu propulsor e aerotrens cruzam os ares em meio à selva de edifícios high-tech. Corta para o começo dos anos 2000. Filha de um engenheiro da Nasa ameaçado de perder o emprego com o ocaso da indústria espacial, a adolescente Casey Newton (Britt Robertson) vai para a cadeia após invadir a base de Cabo Canaveral, na Flórida. Por vias misteriosas, um broche como o de Frank cai em suas mãos. Da mesma forma que ocorrera com o garoto décadas antes, o artefato a transportará para a cidade futurista. Com um empurrão da mesma menina enigmática, Casey se conecta ao adulto Frank, ao lado de quem tentará impedir um cataclismo relacionado àquele mundo paralelo.

Tomorrowland deriva da ala futurista homônima que se pode visitar em vários parques da Disney – cujo espírito também está na base do Epcot, em Orlando. A ideia de um futuro de arquitetura sinuosa e modalidades flamantes de transporte era fixação do fundador da companhia, Walt Disney (1901-1966). No momento em que seu primeiro parque está para completar sessenta anos, é curioso notar como envelheceu aquela noção de futuro – assim como tantas outras desde os livros do francês Júlio Verne, que descreviam, com as lentes do século XIX, um mundo por vir. Apesar do frenesi de videogame, Tomorrowland cheira a um compêndio de design retrô, com seus robôs e naves malucas. Como fica explícito em sua ode à era da corrida espacial, o filme expressa um paradoxo: a nostalgia do futuro. Até porque o futurismo dos parques da Disney foi assimilado na arquitetura pós-moderna de cidades como Dubai, Xangai ou Las Vegas. Disney, enfim, ajudou a moldar o mundo de hoje – só que, no processo, seu futurismo virou item de museu.

Na verdade, o componente nostálgico é um fator de empatia do filme. O deslize está em outro detalhe: a indecisão existencial. Tomorrowland fica a meio caminho entre a aventura juvenil e a distopia tecnológica à la Matrix. Para os jovens, a pirotecnia não compensará o enfado com tanto papo-cabeça – o que talvez explique por que a produção de 180 milhões de dólares decepcionou nas bilheterias americanas. Para os adultos, a causa da frustração será diversa: sob a casca futurista, há um artigo requentadíssimo – a mensagem edificante de que as pessoas não devem se deixar anestesiar diante da ameaça do aquecimento global e das guerras. Com essa conversa para robô dormir, nem os cabelos grisalhos de George Clooney fariam algum filme ter futuro.

Marcelo Marthe. Veja, ed. 2429, ano 48, nº 23, 10 de jun. 2015. p. 110-111. Adaptado.

14. (Upe-ssa 2 2016) No segundo parágrafo, o autor afirma que “o filme expressa um paradoxo: a nostalgia do futuro”. Esse paradoxo (ou contradição) também é assinalado fortemente pelo autor no trecho: a) “Tomorrowland deriva da ala futurista homônima”. b) “A ideia de um futuro de arquitetura sinuosa (...) era fixação de Walt Disney”. c) “Tomorrowland cheira a um compêndio de design retrô”. d) “O futurismo dos parques da Disney foi assimilado na arquitetura pós-moderna”. e) “no processo, seu futurismo virou item de museu.”. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O anjo RafaelMachado de Assis

Cansado da vida, descrente dos homens, desconfiado das mulheres e aborrecido dos credores, 1o dr. Antero da Silva determinou um dia despedir-se deste mundo.

Era pena. O dr. Antero contava trinta anos, tinha saúde, e podia, se quisesse, fazer uma bonita carreira. Verdade é que para isso fora necessário proceder a uma completa reforma dos seus costumes. Entendia, porém, o nosso herói que o defeito não estava em si, mas nos outros; cada pedido de um credor inspirava-lhe uma apóstrofe contra a sociedade; julgava conhecer os homens, por ter tratado até então com alguns bonecos sem consciência; pretendia conhecer as mulheres, quando apenas havia praticado com meia dúzia de regateiras do amor.

O caso é que o nosso herói determinou matar-se, e para isso foi à casa da viúva Laport, comprou uma pistola e entrou em casa, que era à rua da Misericórdia.

Davam então quatro horas da tarde.O dr. Antero disse ao criado que pusesse o jantar na mesa.– A viagem é longa, disse ele consigo, e eu não sei se há hotéis no caminho.Jantou com efeito, tão tranquilo como se tivesse de ir dormir a sesta e não o último sono. 2O próprio criado

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reparou que o amo estava nesse dia mais folgazão que nunca. Conversaram alegremente durante todo o jantar. No fim dele, quando o criado lhe trouxe o café, Antero proferiu paternalmente as seguintes palavras:

3– Pedro, tira de minha gaveta uns cinquenta mil-réis que lá estão, são teus. Vai passar a noite fora e não voltes antes da madrugada.

– Obrigado, meu senhor, respondeu Pedro.– Vai. Pedro apressou-se a executar a ordem do amo.O dr. Antero foi para a sala, estendeu-se no divã, abriu um volume do Dicionário filosófico e começou a ler.Já então declinava a tarde e aproximava-se a noite. A leitura do dr. Antero não podia ser longa. Efetivamente

daí a algum tempo levantou-se o nosso herói e fechou o livro.Uma fresca brisa penetrava na sala e anunciava uma agradável noite. Corria então o inverno, aquele benigno

inverno que os fluminenses têm a ventura de conhecer e agradecer ao céu.4O dr. Antero acendeu uma vela e sentou-se à mesa para escrever. 5Não tinha parentes, nem amigos a quem

deixar carta; entretanto, não queria sair deste mundo sem dizer a respeito dele a sua última palavra. Travou da pena e escreveu as seguintes linhas:

Quando um homem, perdido no mato, vê-se cercado de animais ferozes e traiçoeiros, procura fugir se pode. De ordinário a fuga é impossível. Mas estes animais meus semelhantes tão traiçoeiros e ferozes como os outros, tiveram a inépcia de inventar uma arma, mediante a qual um transviado facilmente lhes escapa das unhas.

É justamente o que vou fazer.Tenho ao pé de mim uma pistola, pólvora e bala; com estes três elementos reduzirei a minha vida ao nada.

Não levo nem deixo saudades. Morro por estar enjoado da vida e por ter certa curiosidade da morte.Provavelmente, quando a polícia descobrir o meu cadáver, os jornais escreverão a notícia do acontecimento,

e um ou outro fará a esse respeito considerações filosóficas. Importam-me bem pouco as tais considerações.Se me é lícito ter uma última vontade, quero que estas linhas sejam publicadas no Jornal do Commercio. Os

rimadores de ocasião encontrarão assunto para algumas estrofes.O dr. Antero releu o que tinha escrito, corrigiu em alguns lugares a pontuação, fechou o papel em forma de

carta, e pôs-lhe este sobrescrito: Ao mundo.Depois carregou a arma; e, para rematar a vida com um traço de impiedade, a bucha que meteu no cano da

pistola foi uma folha do Evangelho de S. João.Era noite fechada. O dr. Antero chegou-se à janela, respirou um pouco, olhou para o céu, e disse às estrelas:– Até já.E saindo da janela acrescentou mentalmente:– Pobres estrelas! Eu bem quisera lá ir, mas com certeza hão de impedir-me os vermes da terra. Estou aqui,

e estou feito um punhado de pó. É bem possível que no futuro século sirva este meu invólucro para macadamizar a rua do Ouvidor. Antes isso; ao menos terei o prazer de ser pisado por alguns pés bonitos.

Ao mesmo tempo que fazia estas reflexões, lançava mão da pistola, e olhava para ela com certo orgulho.6– Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cárcere, disse ele.7Depois sentou-se numa cadeira de braços, pôs as pernas sobre a mesa, à americana, firmou os cotovelos, e

segurando a pistola com ambas as mãos, meteu o cano entre os dentes.Já ia disparar o tiro, quando ouviu três pancadinhas à porta. Involuntariamente levantou a cabeça. Depois de

um curto silêncio repetiram-se as pancadinhas. O rapaz não esperava ninguém, e era-lhe indiferente falar a quem quer que fosse. Contudo, por maior que seja a tranquilidade de um homem quando resolve abandonar a vida, é-lhe sempre agradável achar um pretexto para prolongá-la um pouco mais.

O dr. Antero pôs a pistola sobre a mesa e foi abrir a porta.

15. (G1 - ifce 2016) A linguagem usada em “Aqui está a chave que me vai abrir a porta deste cárcere” (referência 6) é a) conotativa. b) denotativa. c) literal. d) informativa. e) inapropriada. 16. (Unifesp 2015) Leia o soneto de Cruz e Sousa.

Silêncios

Largos Silêncios interpretativos,

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Adoçados por funda nostalgia,Balada de consolo e simpatiaQue os sentimentos meus torna cativos;

Harmonia de doces lenitivos,Sombra, segredo, lágrima, harmoniaDa alma serena, da alma fugidiaNos seus vagos espasmos sugestivos.

Ó Silêncios! Ó cândidos desmaios,Vácuos fecundos de celestes raiosDe sonhos, no mais límpido cortejo...

Eu vos sinto os mistérios insondáveisComo de estranhos anjos inefáveisO glorioso esplendor de um grande beijo!

(Cruz e Sousa. Broquéis, Faróis, Últimos Sonetos, 2008.)

A análise do soneto revela como tema e recursos poéticos, respectivamente: a) a aura de mistério e de transcendentalidade suaviza o sofrimento do eu lírico; rimas alternadas e sinestesias se

evidenciam nos versos de redondilha maior. b) o esforço de superação do sofrimento coexiste com o esgotamento das forças do eu lírico; assonâncias e

metonímias reforçam os contrastes das rimas alternadas em versos livres. c) a religiosidade como forma de superação do sofrimento humano; metáforas e antíteses reforçam o negativismo da

desagregação existencial nos versos livres. d) a apresentação da condição existencial do eu lírico, marcada pelo sofrimento, em uma abordagem transcendente;

assonâncias e aliterações reforçam a sonoridade nos versos decassílabos. e) o apelo à subjetividade e à espiritualidade denota a conciliação entre o eu lírico e o mundo; metáforas e

sinestesias reforçam o sentido de transcendentalidade nos versos de doze sílabas. 17. (G1 - cps 2015) Leia o fragmento da letra da música “Encontros e despedidas”, de Milton Nascimento.

“E assim chegar e partirSão só dois ladosDa mesma viagemO trem que chegaÉ o mesmo trem da partidaA hora do encontroÉ também despedidaA plataforma dessa estaçãoÉ a vida desse meu lugar (...)É a vida...”

<http://tinyurl.com/p7qwjr6> Acesso em: 27.03.2015. Adaptado.

A figura de linguagem predominante nesse trecho da letra da música é a) eufemismo, pois o eu lírico se revolta contra a tristeza e a dor da separação. b) catacrese, pois a palavra trem foi empregada em sentido próprio para designar meio de transporte. c) hipérbole, pois faz referência aos inúmeros trens que chegam e que partem da estação. d) antítese, pois há referência aos encontros e às despedidas, situações opostas que fazem parte da vida. e) anáfora, pois o compositor evita repetir vocábulos a fim de dar mais fluidez e lirismo aos versos. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O ARRASTÃO

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Estarrecedor, nefando, inominável, infame. Gasto logo os adjetivos porque eles fracassam em dizer o sentimento que os fatos impõem. Uma trabalhadora brasileira, descendente de escravos, como tantos, que cuida de quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte para o trabalho às quatro e meia das manhãs de todas as semanas, que administra com o marido um ganho de mil e seiscentos reais, que paga pontualmente seus carnês, como milhões de trabalhadores brasileiros, é baleada em circunstâncias não esclarecidas no Morro da Congonha e, levada como carga no porta-malas de um carro policial a pretexto de ser atendida, é arrastada à morte, a céu aberto, pelo asfalto do Rio.

Não vou me deter nas versões apresentadas pelos advogados dos policiais.1Todas as vozes terão que ser ouvidas, e com muita atenção à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, antes das versões, o fato é que esse porta-malas, ao se abrir fora do script, escancarou um real que está acostumado a existir na sombra.

O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que, se o porta-malas não se abrisse como abriu (por obra do acaso, dos deuses, do diabo), esse seria apenas “mais um caso”. 2Ele está dizendo: seria uma morte anônima, 3aplainada pela surdez da 4praxe, pela invisibilidade, uma morte não questionada, como tantas outras.

5É uma imagem verdadeiramente surreal, não porque esteja fora da realidade, mas porque destampa, por um “acaso objetivo” (a expressão era usada pelos 6surrealistas), uma cena 7recalcada da consciência nacional, com tudo o que tem de violência naturalizada e corriqueira, tratamento degradante dado aos pobres, estupidez elevada ao cúmulo, ignorância bruta transformada em trapalhada 8transcendental, além de um índice grotesco de métodos de camuflagem e desaparição de pessoas. 9Pois assim como 10Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo.

O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo do que não pudemos ver no caso do desaparecimento de Amarildo. A sua passagem meteórica pela tela é um desfile do carnaval de horror que escondemos. 11Aquele carro é o carro alegórico de um Brasil, de um certo Brasil que temos que lutar para que não se transforme no carro alegórico do Brasil.

José Miguel WisnikAdaptado de oglobo.globo.com, 22/03/2014.

3 aplainada − nivelada4 praxe − prática, hábito6 surrealistas − participantes de movimento artístico do século 20 que enfatiza o papel do inconsciente7 recalcada − fortemente reprimida8 transcendental − que supera todos os limites10 Amarildo − pedreiro desaparecido na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, depois de ser detido por policiais

18. (Uerj 2015) Pois assim como Amarildo é aquele que desapareceu das vistas, e não faz muito tempo, Cláudia é aquela que subitamente salta à vista, e ambos soam, queira-se ou não, como o verso e o reverso do mesmo. (ref. 9)

Neste trecho, para aproximar dois casos recentemente noticiados na imprensa, o autor emprega um recurso de linguagem denominado: a) antítese b) negação c) metonímia d) personificação TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: A(s) questão(ões) refere(m)-se ao livro Aos 7 e aos 40, de João Anzanello Carrascoza.

19. (Cefet MG 2015) A passagem em que NÃO há a figura de linguagem indicada é: a) “... éramos também paisagem, e, enquanto isso, as plantações davam voltas em torno de nós.” (METÁFORA) b) “... a realidade como uma lava, vazava espessa e rija, petrificando suas lembranças” (METONÍMIA) c) “... a chuva logo se encolheu, fechou-se igual um zíper ...” (COMPARAÇÃO) d) “... no vento que fervia a cabeleira do capim gordura” (PROSOPOPEIA) e) “... o silêncio ecoava no mormaço da tarde” (PARADOXO)

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TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

O nome de Emir quase nunca era mencionado nas horas das refeições ou nas conversas animadas por baforadas de narguilé, goles de 1áraque e lances de gamão. 2Os filhos de Emilie éramos proibidos de participar dessas reuniões que varavam a noite e terminavam no pátio da fonte, aclarado por uma luz azulada. Era um momento em que os assuntos, já peneirados, esgotados e fartos de serem repetidos, 3davam lugar a 4confidências e 5lamúrias, 6abafadas às vezes pela linguagem dos pássaros, e entremeadas por exclamações e vozes que pronunciavam o nome de Deus. Era como se a manhã – 7como uma intrusa que silencia as vozes calorosas da noite – 8dispersasse o ambiente festivo, 9arrefecendo os gestos dos mais exaltados, chamando-os ao ofício 10que se inicia com a aurora. 11Mas, em algumas reuniões de sextas-feiras, o 12prenúncio da manhã não os dispersava. Eu acordava com berros dilacerantes, gemidos terríveis, ruídos de trote e 13uma algazarra de alimárias que 14assistiam à agonia dos carneiros que possuíam nomes e 15eram alimentados pelas mãos de Emilie.

HATOUM, Milton. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Companhia das Letras, 2008, pp. 50 e 51.

20. (Udesc 2015) Assinale a alternativa correta em relação à obra Relato de um certo Oriente, Milton Hatoum, e ao texto. a) O uso do sinal gráfico da crase é opcional em “abafadas às vezes” (referência 6), assim como em “davam lugar a

confidências” (referência 3). b) Em “Os filhos de Emilie éramos proibidos de participar dessas reuniões” (referência 2) há a figura de linguagem

chamada silepse de pessoa. c) As palavras “áraque” (referência 1), “confidências” (referência 4), “lamúrias” (referência 5) e “prenúncio” (referência

12) são acentuadas por serem paroxítonas terminadas em ditongo. d) Infere-se da leitura da obra, que o nome de Emir, filho mais novo de Emilie, quase nunca era mencionado nos

encontros familiares porque há muito abandonara a família, causando mágoa. e) Infere-se da leitura da obra, que os empregados, principalmente as mulheres, eram tratados com muita regalia,

pois participavam de todos os encontros e de todas as atividades festivas da família de Emilie. 21. (Uepa 2014) Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,Depois da luz se segue a noite escura,Em tristes sombras morre a formosura,Em contínuas tristezas a alegria.

Gregório de Matos Guerra

Assinale a alternativa que contém uma característica da comunicação poética, típica do estilo Barroco, existente no quarteto acima. a) Reflexão sobre o caráter humano da divindade. b) Associação da natureza com a permanência da realidade espiritual. c) Presença da irreverência satírica do poeta com base no paradoxo. d) Utilização do pleonasmo para reforçar a superioridade do cristianismo sobre o protestantismo. e) Uso de ideias contrastantes com base no recurso da antítese.