Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e...

22
PONTES, Williane Juvêncio. Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções sobre a cidade de João Pessoa, PB. Sociabilidades Urbanas Revista de Antropologia e Sociologia, v.1, n.2, p. 85-105, julho de 2017. ISSN 2526-4702. Artigo http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/ Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções sobre a cidade de João Pessoa, PB. Emotions and urban sociabilities: A comprehensive and historical analysis of the GREM Research Group on Anthropology and Sociology of Emotions about the city of João Pessoa, PB. Williane Juvêncio Pontes Resumo: Este artigo mergulha na memória institucional do GREM Grupo de pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções para apresentar e discutir um balanço analítico da sua produção acadêmica sobre a cidade de João Pessoa, Paraíba, entendida como um mosaico científico sobre o urbano e o urbanismo estudados. Enfatiza, no âmbito de uma produção de mais de três décadas, o projeto de pesquisa Medos Corriqueiros, a partir do qual busca comprender o processo de transformação das sociabilidades urbanas da cidade sob a ótica da Antropologia das Emoções e das tensões entre indivíduo, sociedade e cultura. Palavras-chave: memória institucional, GREM Grupo de pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções, cidade de João Pessoa, Projeto Medos Corriqueiros, emoções Abstract: This article immerses in the institutional memory of the GREM Group of research in Anthropology and Sociology of Emotions to present and discuss an analytical balance of its academic production on the city of João Pessoa, Paraíba, understood as a scientific mosaic about the studied urban and urbanism. It emphasizes, within a production of more than three decades, the research project Medos Corriqueiros, from which it seeks to understand the process of transformation of the urban sociabilities of the city from the perspective of the Anthropology of Emotions and the tensions between individual, society and culture. Keywords: institutional memory, GREM Research Group on Anthropology and Sociology of Emotions, city of João Pessoa, Medos Corriqueiros Project, emotions Este trabalho resulta de um balanço analítico da pesquisa Balanço comparativo da produção acadêmica da UFPB, Campus I, sobre a cidade de João Pessoa, Paraíba, 1992-2012, com ênfase para o subprojeto que realiza uma análise compreensiva da produção acadêmica do GREM sobre a cidade de João Pessoa, a partir do projeto Medos Corriqueiros: A construção social da semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na contemporaneidade 1 . A pesquisa Balanço Comparativo, que teve início no ano de 2012 e encontra-se em sua 5ª fase de desenvolvimento 2 , é coordenada pelo Prof. Dr. Mauro Guilherme Pinheiro Koury. 1 A partir de agora denominado de Medos Corriqueiros ou MC. Neste balanço objetiva-se traçar um esboço da trajetória teórico-metodológica da pesquisa maior através do seu subprojeto. Busca-se discutir a trajetória e os resultados obtidos no decorrer desses 03 anos de atuação da pesquisa ligado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/CNPq-UFPB, dos anos de 2014 a 2017, que redundou na defesa de uma monografia de término do curso de Ciências Sociais da UFPB em 2017. 2 As fases analíticas da pesquisa são configuradas por ano, conformando 05 vigências de desenvolvimento científico organizadas dos anos de 2012-2013, de 2013-2014, de 2014-2015, de 2015-2016 e de 2016- 2017. Esta pesquisa terá mais uma fase teórico-metodológica que apreenderá a vigência de 2017-2018, em processo de julgamento na seleção de bolsas PIBICs/CNPq pela Pró-Reitoria de Pós-graduação - PRPG.

Transcript of Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e...

Page 1: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

PONTES, Williane Juvêncio. Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do

GREM Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções sobre a cidade de João Pessoa, PB.

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia, v.1, n.2, p. 85-105, julho de 2017. ISSN

2526-4702.

Artigo

http://www.cchla.ufpb.br/sociabilidadesurbanas/

Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e

histórica do GREM Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia

das Emoções sobre a cidade de João Pessoa, PB.

Emotions and urban sociabilities: A comprehensive and historical analysis of the GREM Research Group on Anthropology and Sociology of Emotions about the city of João

Pessoa, PB.

Williane Juvêncio Pontes

Resumo: Este artigo mergulha na memória institucional do GREM Grupo de pesquisa em

Antropologia e Sociologia das Emoções para apresentar e discutir um balanço analítico da

sua produção acadêmica sobre a cidade de João Pessoa, Paraíba, entendida como um

mosaico científico sobre o urbano e o urbanismo estudados. Enfatiza, no âmbito de uma

produção de mais de três décadas, o projeto de pesquisa Medos Corriqueiros, a partir do

qual busca comprender o processo de transformação das sociabilidades urbanas da cidade

sob a ótica da Antropologia das Emoções e das tensões entre indivíduo, sociedade e cultura.

Palavras-chave: memória institucional, GREM Grupo de pesquisa em Antropologia e

Sociologia das Emoções, cidade de João Pessoa, Projeto Medos Corriqueiros, emoções

Abstract: This article immerses in the institutional memory of the GREM Group of

research in Anthropology and Sociology of Emotions to present and discuss an analytical

balance of its academic production on the city of João Pessoa, Paraíba, understood as a

scientific mosaic about the studied urban and urbanism. It emphasizes, within a production

of more than three decades, the research project Medos Corriqueiros, from which it seeks to

understand the process of transformation of the urban sociabilities of the city from the

perspective of the Anthropology of Emotions and the tensions between individual, society

and culture. Keywords: institutional memory, GREM Research Group on Anthropology

and Sociology of Emotions, city of João Pessoa, Medos Corriqueiros Project, emotions

Este trabalho resulta de um balanço analítico da pesquisa Balanço comparativo

da produção acadêmica da UFPB, Campus I, sobre a cidade de João Pessoa, Paraíba,

1992-2012, com ênfase para o subprojeto que realiza uma análise compreensiva da

produção acadêmica do GREM sobre a cidade de João Pessoa, a partir do projeto Medos

Corriqueiros: A construção social da semelhança e da dessemelhança entre os

habitantes urbanos das cidades brasileiras na contemporaneidade1. A pesquisa

Balanço Comparativo, que teve início no ano de 2012 e encontra-se em sua 5ª fase de

desenvolvimento2, é coordenada pelo Prof. Dr. Mauro Guilherme Pinheiro Koury.

1A partir de agora denominado de Medos Corriqueiros ou MC. Neste balanço objetiva-se traçar um

esboço da trajetória teórico-metodológica da pesquisa maior através do seu subprojeto. Busca-se discutir

a trajetória e os resultados obtidos no decorrer desses 03 anos de atuação da pesquisa ligado ao Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/CNPq-UFPB, dos anos de 2014 a 2017, que

redundou na defesa de uma monografia de término do curso de Ciências Sociais da UFPB em 2017. 2 As fases analíticas da pesquisa são configuradas por ano, conformando 05 vigências de desenvolvimento

científico organizadas dos anos de 2012-2013, de 2013-2014, de 2014-2015, de 2015-2016 e de 2016-

2017. Esta pesquisa terá mais uma fase teórico-metodológica que apreenderá a vigência de 2017-2018,

em processo de julgamento na seleção de bolsas PIBICs/CNPq pela Pró-Reitoria de Pós-graduação -

PRPG.

Page 2: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

86

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

Conta, atualmente, com a participação de 01 assistente de pesquisa, de 02 bolsas PIBICs

e de 01 voluntário PIVIC3. Esta pesquisa busca realizar um balanço comparativo da

produção acadêmica dos pesquisadores da UFPB I sobre a cidade de João Pessoa, com

base temporal analítica de 1992 a 2012, com acréscimo para o ano de 2016. São

analisadas as trajetórias teóricas, temáticas e metodológicas que se desenvolveram na

academia local para compreender como a cidade é apreendida pelos pesquisadores desta

universidade.

A produção acadêmica da UFPB é submetida a uma avaliação crítica com o

intuito de desvendar e identificar o que se discute e se desenvolve nas diversas áreas de

conhecimento que produz sobre a cidade, compreendendo os caminhos teórico-

metodológicos percorridos pelos pesquisadores e os recortes a que a cidade foi

submetida. Objetiva-se construir um banco de dados que comporte a produção desta

universidade sobre a cidade de João Pessoa, integrando-a a uma política de visibilidade,

viabilidade e acessibilidade, de modo a ampliar a discussão sobre a cidade e o urbano no

Brasil Contemporâneo. Bem como incentivar o diálogo entre os pesquisadores da

universidade e contribuir com a eficácia e a eficiência do fazer científico da UFPB.

Esta pesquisa, atualmente, possui três subprojetos em desenvolvimento4, no

entanto, neste balanço será discutido o caminho teórico-metodológico do subprojeto que

realizou uma análise da produção do GREM, sobre a cidade de João Pessoa, dentro da

linha de pesquisa Emoções e Sociabilidade Urbana - ESU e, mais especificamente,

dentro do projeto Medos Corriqueiros.

Neste subprojeto a produção acadêmica do grupo foi analisada com o intuito de

verificar a trajetória teórico-metodológica do GREM a partir do projeto MC, na busca

de desvendar a cultura emotiva, o mosaico científico (BECKER, 1993) e os mapas

simbólicos construídos sobre a cidade de João Pessoa sob a ótica dos medos

corriqueiros. A realização deste subprojeto possibilitou a construção de uma história do

GREM no interior de uma linha de pesquisa – ESU – e de um projeto específico – MC –

, se debruçando sobre o recorte analítico dos medos corriqueiros. Esta análise contribui

para a compreensão da cidade a partir de um olhar específico da Antropologia e da

Sociologia das Emoções. Bem como auxilia na discussão sobre a relação entre medo e

sociabilidade através da análise do imaginário social do medo do homem comum

urbano.

Este balanço analítico do subprojeto se organiza em 03 tópicos de discussão: o

“Balanço da literatura teórico-metodológica”, a “Trajetória metodológica” e a “Análise

dos dados”. No primeiro tópico será brevemente discutida a literatura auxiliar e as

pretensões da pesquisa, de modo a indicar o diálogo entre a pesquisa e a literatura. O

segundo tópico aborda os caminhos metodológicos percorridos para o desenvolvimento

das atividades de pesquisa. E no terceiro tópico é realizado uma sistematização analítica

dos resultados obtidos no decorrer destes anos de atividades científica, de 2014 a 2017.

3 Desde o seu início esta pesquisa já contou com a participação de 09 alunos, bolsistas ou voluntariados.

4São eles: o subprojeto Análise compreensiva e histórica do GREM - Grupo de Pesquisa em Antropologia

e Sociologia do CCHLA – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFPB, Campus I, sobre a

cidade de João Pessoa-PB, tendo como eixo analítico a produção da pesquisa Medos Corriqueiros, da

linha de pesquisa, Emoções e Sociabilidade Urbana; o subprojeto Análise compreensiva da produção

docente e discente da Graduação e do Programa de Pós-Graduação em Geografia do CCEN – Centro de

Ciências Exatas e da Natureza da UFPB Campus I, sobre a cidade de João Pessoa,-PB, entre 1992-

2016; e o subprojeto Análise compreensiva da produção docente e discente da Graduação e do PPGAU –

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do CT – Centro de Tecnologia da UFPB

Campus I, sobre a cidade de João Pessoa-PB, entre 1992-2016.

Page 3: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

87

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

Balanço da literatura teórico-metodológica

Para auxiliar o desenvolvimento da pesquisa, e de seus respectivos subprojetos, é

necessário um arcabouço teórico-metodológico (T-M) que sensibilize o olhar do

pesquisador e o desperte para diálogos com outros autores, levando em consideração à

temática, à teoria, à metodologia e aos seus objetivos de pesquisa.

A literatura trabalhada se debruça sobre o mapeamento da produção acadêmica,

a cidade, o urbano, o lugar e o espaço, a memória social e a memória institucional, a

pesquisa estado da arte, o mosaico científico e a etnografia cooperativa. Este balanço,

assim, é realizado levando em consideração os trabalhos que foram mais presentes na

discussão do subprojeto.

Uma das primeiras discussões realizadas foi em relação a atividade de

mapeamento da produção acadêmica temática, temporal e espacialmente localizada

(MOLINA e GARRIDO, 2010; PATO et al, 2009). O elemento do mapeamento é um

instrumento necessário para a construção de uma identidade, bem como para a

compreensão de tendências temáticas e de trajetórias teórico-metodológicas. As

atividades de mapear a produção abrem possibilidades para a análise de enfoques e

perspectivas de um campo de conhecimento através de um balanço do estado da arte

(FERREIRA, 2002).

O mapeamento é uma atividade que possibilita dá visibilidades e acessibilidade à

produção acadêmica através da criação de um banco de dados, ressaltando a

preservação da memória institucional (AYELLO et al, 2008). Este mapeamento é um

mecanismo essencial para a realização do trabalho de campo da pesquisa e para a

consecução dos objetivos de pesquisa. Isso porque é o mapeamento da produção

acadêmica do GREM que permite desvendar os caminhos teóricos, metodológicos e

temáticos dos pesquisadores, de modo a compreender como a cidade de João Pessoa é

apreendida a partir dessa produção.

A produção acadêmica da UFPB I constitui a sua memória institucional, que é

acessada através do mapeamento, já que a universidade não disponibiliza um acesso

fácil a sua produção de conhecimento. A pesquisa procura (re)construir a memória da

universidade a partir de um banco de dados que viabilizará estes trabalhos científicos

sobre a cidade de João Pessoa, ampliando o diálogos entre os pesquisadores da

acadêmica, de modo a favorecer a eficácia, a eficiência e a efetividade no fazer

científico da UFPB, bem como para contribuir com a discussão sobre cidade.

A construção do banco de dados para a produção acadêmica da UFPB I constitui

o que Pierre Nora (1993) denominou como lugar de memória material, isto é, um

depósito de arquivos que preserva uma determinada memória. A produção da

universidade compõe um acúmulo de conhecimento sobre a cidade de João Pessoa de

1992 a 2016 – recorte analítico da pesquisa – que conforma uma memória social (BOSI,

1993) e uma memória institucional (AYELLO et al, 2008).

De acordo com Ecléa Bosi (1993), as formas de memória social são processos

normativos relacionados ao campo de significações da vida do sujeito que recorda. Os

trabalhos nesse campo de pesquisa permitem um mapeamento da rememorização dos

caminhos trilhados, onde os próximos pesquisadores possam ser auxiliados por estes

trabalhos. Ação que favorece o diálogo entre os pesquisadores da UFPB, bem como na

academia em geral.

Por trabalhar em um campo voltado para a memória social (GONDAR, 2005;

ABREU, 2005; DOBEDEI, 2005), as atividades de pesquisa atentam para uma reflexão

sobre a importância e os sentidos atribuídos às memórias de docentes universitários e a

produção do conhecimento (SANTOS, 2009), levando em consideração as políticas

educacionais para o ensino superior (SILVA, 2009). Atuando no campo da memória,

Page 4: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

88

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

este subprojeto sistematiza e disponibiliza um acúmulo de conhecimento sobre a cidade

de João Pessoa a partir da perspectiva dos medos corriqueiros, onde a cidade apreendida

sob diversos aspectos e ângulos peculiares que comportam histórias específicas em cada

lugar, sejam os bairros, as ruas e os parques.

As literaturas trabalhadas trazem uma reflexão sobre a discussão de memória e

cidade, pois aborda a memória institucional da universidade, aqui, particular, a do

GREM, através das produções que enfocam a cidade de João Pessoa como universo de

pesquisa. É nessa reflexão sobre memória, história e cidade que Sandra Pesavento

(2008) desenvolve seu trabalho, mediante uma análise dos lugares que são pontos de

ancoragem de significados e lembranças, criando um imaginário social. A cidade e a

centralidade urbana se colocam como o espaço para a inserção e compreensão dos

lugares de memória e de história.

A cidade e a centralidade urbana também foram discutidas por Dayse Martins

(2013), que toma a cidade de João Pessoa como universo de pesquisa. Martins analisa a

formação de novas centralidades na cidade, onde as compreende enquanto uma mistura

de questões econômicas, políticas e sociais norteadas por um sistema de ocupações

diferenciadas entre os segmentos da população da capital paraibana, onde as classes

média-alta e alta se fixam no setor litorâneo da cidade, que forma uma nova

centralidade. Este processo de constituição de novas centralidades é estabelecido

mediante a expansão urbana pela qual a cidade passa, levando, com isso, o

deslocamento do comércio e de certos serviços básicos do centro histórico para outras

localidades (MARTINS, 2013).

O centro da cidade parece entrar em um processo de decadência após o

descobrimento da orla marítima como lugar de moradia, comércio e lazer, tornando-se

uma nova centralidade. No entanto, este lugar de centralidade urbana não consegue

substituir completamente o centro da cidade devido a sua significação histórica para os

habitantes e para a cidade em si (MARTINS, 2013). A cidade, assim, também é um

elemento central de análise, logo que há uma pretensão de compreendê-la através da

produção, a fim de desvendar os mapas simbólicos lançados sobre ela. Neste caminho,

são utilizados para reflexão os trabalhos sobre a questão do urbano (ANTUNES, 2014),

tais como: a vida mental na metrópole (SIMMEL, 1967), teorias sobre o urbanismo

(WIRTH, 1967) e a organização industrial e a ordem moral da cidade (PARK, 1967),

disponibilizando um campo de pensamento acerca da relação com o urbano

contemporâneo, com o uso da cidade (DIÓGENES, 2016) e as tensões que envolvem o

indivíduo e a sociedade.

Nesta discussão sobre a cidade também foi trabalhado um conjunto de artigos

que analisam os estudos urbanos na Antropologia. Trabalhos estes, como o de Gilberto

Velho (1980), que objetivaram abrir caminho para a realização de estudos urbanos, na

própria cidade. Bem como aqueles que articulam reflexões e buscam construir caminhos

para uma antropologia da cidade, com a compreensão do fenômeno urbano, que possui

relação com princípios mais abrangentes (FRÚGOLI JR, 2005). Na pretensão de

construir essa lógica mais ampla, de uma antropologia da cidade, também se posiciona o

autor José Magnani (2002), que explora como a etnografia auxilia na compreensão do

fenômeno urbano, com ênfase na dinâmica cultural e nas formas de sociabilidade nas

grandes cidades contemporânea. As literaturas, assim, apresentam-se importantes

quanto à temática trabalhada, abordando a cidade e suas configurações como totalidade

e diversidade que apresentam relações tensas, mas também de acomodação e invenção.

Michel de Certeau (1998) também discute a cidade, tendo em vista o ato de

caminhar e a questão do lugar e do espaço. O ato de caminhar é visto como um ato de

enunciação que faz do lugar um espaço e se relaciona com a cidade através dos seus

Page 5: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

89

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

movimentos. Em diálogo com este historiador, se faz interessante, entre outros, a

discussão sobre a conceitualização de lugar e espaço. O espaço é considerado um lugar

praticado, ele possui um sentido específico. Enquanto que o lugar é um espaço

simbólico vivido. Os lugares são identificados, permitem uma memória e um sentido de

pertencimentos e reconhecimento, pois a história do lugar está impregnada por aqueles

que o fazem. Os lugares são os movimentos, dotados de sentidos, das pessoas no

espaço. É o lugar leva a possibilidade de criação de um espaço. Portanto, o lugar é uma

configuração instantânea de posições que implica uma indicação de estabilidade,

imperando a lei do próprio. Enquanto que o espaço é um lugar praticado que leva em

consideração os vetores de direção, da quantidade e velocidade e da variável tempo, não

possuindo uma univocidade nem a estabilidade de um próprio (CERTEAU, 1998).

Discutir sobre o conceito de lugar e de espaço é importante para o exercício

reflexivo do subprojeto, visto que a produção do GREM analisa a cidade de João Pessoa

a partir dos seus lugares, compondo, no conjunto, uma compreensão geral da cidade sob

a ótica dos medos e dos medos corriqueiros. As noções de “mosaico científico” e de

“etnografia cooperativa”, de Becker (1993) e de Hannerz (2015), servem como um

espelho por onde se desenvolverá a análise compreensiva dos trabalhos desenvolvidos

pelo grupo. Nele, pesquisadores e alunos se colocam em atividades perceptivas de

apreensão coletiva da cidade como um todo, ou em universos e temáticos singulares,

mas que, juntos, formam um quadro geral do guarda-chuva estudado.

A ideia de mosaico científico proposta por Becker, – para análise da experiência

de pesquisa pela Escola de Chicago, tendo a cidade de Chicago como universo

sistemático de análise, – parte da noção da imagem de um mosaico científico, onde cada

trabalho desenvolvido contribui para a compreensão do quadro analisado como um

todo. O conjunto de produção acadêmica que constitui o projeto Medos Corriqueiros se

apresenta enquanto peças singulares que compõem a pesquisa, e indicam o seu contexto

geral e, ao mesmo tempo, dentro deste contexto, se assentam as suas descobertas

singulares e específicas do seu recorte analítico.

Na discussão traçada por Becker, é salientado o acúmulo de conhecimento sobre

um determinado lugar, de modo a indicar as suas singularidades e conexões no processo

formativo do mosaico científico, que implicaria em uma condensação de experiência

solidária e produtiva do fazer social. Ao se partir da ideia de mosaico científico enseja-

se o pressuposto analítico de que a produção acadêmica do projeto guarda-chuva MC

possui um acúmulo de conhecimento sobre a relação entre emoções, cultura emotiva,

moralidades e sociabilidade urbana na cidade de João Pessoa, com ênfase nos medos e

os medos corriqueiros. Este conhecimento acumulado forma um mosaico científico da e

sobre a cidade, apreendendo-a a luz dos medos corriqueiros.

Em diálogo com Howard Becker, Hannerz (2015) desenvolve a ideia de uma

etnografia cooperativa. Ideia esta que contribui para uma leitura contextual da totalidade

analítica do projeto e da cidade, universo de pesquisa maior do GREM. Os trabalhos

etnográficos, portanto, enquanto elementos cooperativos estão em constante

colaboração interna entre seus pesquisadores e formandos, levando a uma compreensão

ampla sobre um determinado lugar, temática, teoria ou metodologia, de uma forma

singular. Forma singular esta onde cada um usa o conjunto de achados de todos e, ao

mesmo tempo, amplia o conhecimento comum, e a singularidade do seu próprio

universo e tema trabalhados.

Ao levar em consideração a noção de etnografia cooperativa, onde a produção

acadêmica de um auxilia a compreensão do contexto geral da pesquisa, faz-se

necessário o constante exercício de estranhamento (VELHO, 1978 e DA MATTA,

1978) em relação à produção, aos subprojetos e ao projeto de pesquisa, para que se

Page 6: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

90

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

possa identificar e traçar as redes de particularidades, de semelhanças e diálogos que

entrelaçam a produção. De modo que cada produção e cada subprojeto sejam

interpretados sempre como possibilidades, como algo novo que pode levantar novas

questões em relação ao exercício reflexivo de analisar e compreender o projeto de

pesquisa MC. Esta análise permite entender como os diálogos se estabelecem no interior

da pesquisa MC e do GREM, e como se constituem as particularidades da produção e

dos subprojetos, e, qual e como o sentido de cidade é construído nesta trajetória.

Este balanço T-M da literatura, por fim, buscou traçar conexões analíticas que

são importantes para a compreensão e o desenvolvimento da pesquisa Balanço

Comparativo e do seu subprojeto. Esse exercício de diálogo teórico-metodológico

salienta uma questão importante levantada por esta pesquisa: o fazer científico é

coletivo, e sua efetividade e eficácia se dão através do constante diálogo com outros

pesquisadores, seja a partir de temáticas, de teorias ou metodologias aproximadas. Uma

pesquisa é única por seu caminho analítico, no entanto, ela compõe uma rede de

pensamento na academia.

A literatura T-M é fundamental para o desenvolvimento de uma pesquisa, o que

transpassa a necessidade de que os estudos tenham visibilidade e acessibilidade para

todos, seja da academia ou da comunidade em geral. Aspecto que ressalta a importância

da realização de uma pesquisa como a Balanço Comparativo, que busca inserir a

produção da UFPB I em uma política de visibilidade, fomentando a discussão

acadêmica no fazer científico.

Trajetória Metodológica

A trajetória metodológica deste subprojeto se apoia em 03 fases teórico-

metodológicas que está organizada de acordo com a lógica anual do Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PBIC/CNPq-UFPB, com início no ano

de 2014 e conclusão no ano de 2017. Este balanço é realizado com base nestas 03 fases

de desenvolvimento do subprojeto, que contemplam as vigências 2014-2015, 2015-2016

e 2016-2017. A discussão está sistematizada a partir de cada vigência, de modo a

indicar o caminho metodológico, os instrumentos utilizados e os resultados obtidos no

desenvolvimento das atividades de pesquisa.

A trajetória metodológica da pesquisa Balanço Comparativo e deste subprojeto

se configura através de estágios de pesquisa que condensam os objetivos de cada

vigência, mapeando a complexificação e o afunilamento do subprojeto. Neste sentido,

os objetivos de cada fase se organizam da seguinte maneira:

1. Vigência 14-15: Análise compreensiva e histórica de dois grupos de pesquisa

antigos e ainda em atuação no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes –

CCHLA da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Campus I, entre 1992-2012.

2. Vigência 15-16: Análise compreensiva e histórica do GREM – Grupo de

Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções do CCHLA da UFPB,

Campus I, sobre a cidade de João Pessoa-PB, entre 1992-2012 [acrescido o ano de

2016].

3. Vigência 16-17: Análise compreensiva e histórica do GREM do CCHLA da

UFPB, Campus I, sobre a cidade de João Pessoa-PB, tendo como eixo analítico a

produção da pesquisa Medos Corriqueiros, da linha de pesquisa, Emoções e

Sociabilidade Urbana, entre 1992-2016.

A vigência 14-15 marca a minha entrada como bolsista de iniciação científica na

pesquisa Balanço Comparativo, bem como e o início do subprojeto e suas preocupações

Page 7: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

91

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

analíticas5. Neste período as primeiras atividades realizadas foram de mapeamento do

CV Lattes de Koury, sendo um trabalho experimental, feito em conjunto com outra

bolsista, para o desenvolvimento das demais atividades do subprojeto.

Nesta fase a proposta era analisar o GREM e o GREI – Grupo Interdisciplinar de

Estudos em Imagem, dois grupos de pesquisas antigos e ainda em atuação no CCHLA.

No entanto, devido a grande quantidade de produção acadêmica do GREM, este foi

escolhido para análise compreensiva e histórica da produção e da sua trajetória.

As principais atividades desenvolvidas nesta vigência foram de levantamento e

de mapeamento da produção acadêmica, das linhas de pesquisa, dos pesquisadores e dos

alunos ligados ao GREM. A princípio foi realizado o levantamento dos membros que

compõe o grupo, tendo como base o Diretório de Grupos de Pesquisa – DGP e o CV

Lattes, ambos os instrumentos disponíveis na Plataforma Lattes.

Com a obtenção dos dados foi possível construir sistematizações analíticas para

auxiliar o desenrolar dos objetivos da pesquisa. Os pesquisadores, por exemplo, foram

divididos em 02 categorizações: os pesquisadores internos, com um total de 04, e os

pesquisadores externos, com um total de 13. Os pesquisadores externos foram

classificados em outras 02 categorias: aqueles que integram outros Departamentos da

UFPB I, com 02 membros, e aqueles que pertencem a outras Instituições de Ensino

Superior, com 11 membros. Neste sentido os pesquisadores internos são aqueles que

integram o Departamento de Ciências Sociais e o Programa de Pós-Graduação em

Antropologia da UFPB I, enquanto que os pesquisadores externos são aqueles que

integram outros Departamentos da universidade ou outras instituições.

Outra sistematização foi as fases de desenvolvimento do GREM em sua

trajetória acadêmica. O grupo aponta para 02 fases teórico-metodológicas: a primeira

data de sua formação, no ano de 1994, até o ano de 2009. Durante esse período o grupo

possuía um único pesquisador, concentrando a produção acadêmica sobre Koury e seus

orientandos. A segunda fase tem início no ano de 2010, quando há uma abertura do

grupo para novos pesquisadores e estudantes, ampliando as perspectivas analíticas, os

diálogos e o desenvolvimento de trabalhos coletivos. O desenvolvimento e a

sistematização dessas atividades permitiram a construção de uma pequena história sobre

o GREM e sua organização interna. De modo a apresentar um panorama geral da sua

trajetória acadêmica e contribuição na área da Antropologia e Sociologia das Emoções.

Esta vigência 14-15 marca o afunilamento analítico do subprojeto em direção à análise

compreensiva da cidade de João Pessoa a partir do grupo de pesquisa.

A vigência 15-16 se debruça na separação da produção acadêmica sobre a cidade

de João Pessoa e na busca destes arquivos em formato PDF ou impresso para a

composição do banco de dados sobre a cidade, e, assim, para a preservação da memória

institucional. Aqui, o principal obstáculo foi encontrar a produção de Monografias e

Dissertações na Biblioteca Central e nos sites de pós-graduação da UFPB. Além da

dificuldade de achar os artigos em periódicos publicados a mais de 10 anos. Nesta

segunda fase teórico-metodológica do subprojeto o foco foi a produção sobre a cidade,

mapeando-a de acordo com as linhas de pesquisa, os projetos e os pesquisadores do

GREM. Devido à concentração da produção sobre a cidade de João Pessoa se

concentrar nos pesquisadores internos, estes foram escolhidos para análise da produção.

Com essa separação da produção através do seu universo sistemático de pesquisa

optou-se ampliar o recorte temporal do subprojeto e da pesquisa Balanço Comparativo,

compreendendo na análise o ano de 1992 até 2016. Este elemento resultou na realização

de um segundo mapeamento que se debruçou na produção sobre a cidade de João

5 A criação deste subprojeto é resultado do afunilamento teórico-metodológico da pesquisa, que inicia

suas atividades no ano de 2012.

Page 8: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

92

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

Pessoa. A partir deste mapeamento foi escolhida para análise a linha de pesquisa ESU,

tendo em vista o seu grande fluxo de produção sobre a cidade, em comparação as outras

linhas do grupo. Dentro da linha ESU, foram selecionados 03 projetos de pesquisa:

Fotografia, cidade e a percepção dos produtores culturais da cidade (1993-2000);

Medos Corriqueiros: A construção social da semelhança e da dessemelhança entre os

habitantes urbanos das cidades brasileiras na contemporaneidade e Mídia e

Moralidade: Uma análise sociológica do pânico moral e das concepções de justiça

desenvolvidas a partir dos noticiários de TV. Os primeiros projetos são coordenados

pelo Prof. Dr. Mauro Koury, enquanto que o último é coordenado pela Profa. Dra.

Simone Brito.

Com a seleção destes projetos deu-se início as primeiras leituras da produção, de

modo a construir fichas resumos e resenhas que objetivam auxiliar a sistematização do

trabalho analítico. Nessas fichas constam informações técnicas, tais como: o título, o

autor, os orientados, o ano de defesa, a titulação, a linha de pesquisa e a banca. Bem

como informações específicas: o assunto principal, o objeto, os objetivos, as hipóteses,

os resultados, a literatura, a metodologia e as referências. Além das informações gerais:

o universo de pesquisa, o resumo, as palavras-chave, as fichas unitermos, a trajetória

teórica, metodológica e temática do trabalho, com o intuito de facilitar a acessibilidade

às informações. Cada ficha-resumo também recebe um número para sua identificação.

Com o início das leituras e dos fichamentos da produção, considerando o grande

fluxo de trabalhos sobre a cidade, foi escolhida para análise a produção acadêmica do

projeto Medos Corriqueiros, onde os trabalhos dos outros dois projetos supracitados

entram como instrumentos de diálogo e apoio para as reflexões produzidas no interior

do projeto selecionado.

No período 2016-2017 a atividade de análise compreensiva da produção

acadêmica do GREM sobre a cidade de João Pessoa encontra-se mais afunilada.

Adentra-se na leitura da produção de artigos em periódicos e anais, de livros e de

capítulos de livros. Nesta vigência resulta na construção de um Trabalho de Conclusão

de Curso – TCC. O mapeamento da produção do projeto MC disponibiliza um

panorama analítico sobre os subprojetos que compõe este projeto maior, denominado de

projeto guarda-chuva. A pesquisa MC é considerada guarda-chuva por ser um projeto

amplo que tem, em si, a possibilidade de aninhar em seu interior vários projetos

específicos que, ao mesmo tempo em que permitem o desenvolvimento autônomo, mas

interdependente de cada tema singular, permite uma constante verificação de uma

totalidade imersa nos cruzamentos das diversas facetas dos subprojetos entre si e no

interior do projeto maior.

Neste sentido, o projeto guarda-chuva MC é composto por 07 subprojetos6, que

subprojetos condensam o desenvolvimento e a complexificação teórico-metodológica

do projeto, apresentando um acúmulo de conhecimento sobre a cidade de João Pessoa.

Cidade que é analisada a partir de voos compreensivos da cidade em seu todo, mas

também se deu bairros, ruas, parques e grupos específicos. Nesta vigência foram

realizadas as leituras e os fichamentos da produção acadêmica medos corriqueiros sobre

a cidade. A análise da produção fez-se com o objetivo de desvendar como os conceitos

utilizados na pesquisa foram se complexificando no decorre do seu desenvolvimento,

6Os subprojetos do Projeto MC são os seguintes: O vínculo ritual: um estudo sobre sociabilidade e modos

de vida entre jovens no urbano brasileiro contemporâneo; Parque Solon de Lucena: espaço público,

potencial de urbanidade e desenvolvimento da cidade; Bairro do Roger: história, memória e estigma;

Sujeira e imaginário urbano; Confiança e vergonha: uma análise do cotidiano da moralidade;

Sociabilidade e conflito nos processo de interação cotidiana sob intensa pessoalidade; e Observatório

sobre medos.

Page 9: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

93

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

bem como compreender a trajetória teórico-metodológica do projeto MC. E assim

descortinar como a cidade se inter-relaciona através da produção acadêmica, de modo a

identificar o mosaico científico construído sobre a cidade.

A esquematização dos dados obtidos nesta última fase teórico-metodológico

permitiu sistematizar e construir um mapa conceitual da pesquisa, onde é possível

acompanhar o surgimento e a complexificação dos conceitos na trajetória do projeto

guarda-chuva. Esta sistematização dos dados, través de esquemas conceituais, de

tabelas, de gráficos e dos fichamentos, permite desvendar a trajetória teórico-

metodológica do projeto MC, de modo a compreender os diversos recortes a que a

cidade foi submetida pelo grupo dentro do projeto. Bem como escrever uma história da

atuação do GREM dentro de uma linha, Emoções e Sociabilidade Urbana, e de um

projeto de pesquisa, Medos Corriqueiros.

O procedimento metodológico realizado no desenvolvimento deste subprojeto e

da pesquisa Balanço Comparativo possibilitou mapear, organizar e sistematizar a

produção acadêmica do GREM, de modo a demarcar o afunilamento analítico deste

subprojeto. Neste sentido, as 03 vigências teórico-metodológicas da pesquisa, 14-15,

15-16 e 16-17, apontam para as fases de complexificação temática, teórica e

metodológica, que resultou na conclusão do subprojeto e na confecção de um TCC.

Análise dos dados

As atividades de pesquisa desenvolvidas neste subprojeto resultaram em uma

análise compreensiva e histórica do GREM, que compreende a trajetória temática,

teórica e metodológica do grupo. Discute-se o processo de formação e desenvolvimento

deste grupo, tomando 2016 como o ano base de análise. O grupo é apresentado dentro

de uma análise que se afunila para a linha de pesquisa ESU e para o projeto guarda-

chuva MC, no âmbito do qual se busca compreender como o GREM apreende a cidade

de João Pessoa, análise que é realizada sob a ótica dos medos e dos medos corriqueiros.

O Grupo de Pesquisa em Antropologia e Sociologia das Emoções

O GREM foi fundado em 1994 com o intuito de analisar a “emergência da

individualidade e do individualismo no Brasil urbano contemporâneo, enfatizando a

questão da formação das emoções, enquanto cultura emocional” (KOURY, 2014,

p.847). É o grupo mais antigo na área da Sociologia e Antropologia das Emoções,

contribuindo ativamente na luta pela consolidação das Emoções como subárea da

Sociologia e da Antropologia na academia brasileira.

Este grupo nasceu do fenômeno das emoções como subárea disciplinar da

Sociologia e Antropologia. As discussões e análises na composição de um campo

analítico da Antropologia e da Sociologia das Emoções têm início nos Estados Unidos

nos anos de 1970, e chega ao Brasil nos anos de 1990. Quatro anos depois, sob

influência deste campo, ocorre à migração de Koury, que voltava seus estudos para o

trabalho e sindicalismo, passando a adentrar cada vez mais no campo da subjetividade

até se firmar no campo das emoções, cultura e sociedade, com a criação do GREM.

O grupo desenvolve estudos que buscam analisar e compreender os modos e

estilos de vida, bem como as representações e o imaginário social constituído pelas

formas de sociabilidade emergentes no urbano contemporâneo brasileiro e ocidental

(KOURY, 2016). Neste sentido, agrega pesquisadores e estudantes de pós-graduação e

de graduação que tem o interesse de estudar a relação entre Emoções, Sociedade e

Cultura7.

7 O GREM publica a RBSE – Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, editada por Koury, e por

Koury e Barbosa a partir do volume 16. Conta com um conselho editorial de vinte e um pesquisadores,

Page 10: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

94

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

A produção acadêmica desenvolvida integra as suas linhas de pesquisa, assim

como cada pesquisador e estudante nele atuantes. O grupo possui, atualmente, 04 linhas

de pesquisa, a saber: Estudos Teóricos em Antropologia e Sociologia das Emoções

(ETASE), Emoções e Consumo (EC), Emoções, Moralidade e Gênero (EMG) e

Emoções e Sociabilidade Urbana (ESU).

A linha de pesquisa ETASE intenta desenvolver estudos teóricos sobre a relação

Emoções, Cultura e Sociedade. Busca divulgar, aprofundar e refinar o campo analítico

da Antropologia e da Sociologia das Emoções na academia brasileira, contribuindo para

o debate e para a luta pela consolidação das Emoções como subárea da Antropologia e

da Sociologia nas Ciências Sociais mundial. A linha de pesquisa EC tem a preocupação

de analisar como o consumo, entendido enquanto espaço de produção cultural e

simbólica, tornou-se uma esfera de configuração e reconfiguração das formas de

expressão de emoções, identidades e subjetividades dos agentes sociais na

contemporaneidade.

EMG é uma linha de pesquisa do GREM que objetiva analisar e compreender a

cultura emotiva e suas relações com a produção de moralidade em uma dada

sociabilidade, o comportamento desviantes nos homens comuns no urbano brasileiro e

as implicações morais nas relações de gênero. ESU é outra linha de pesquisa que tem

por finalidade analisar a emergência de uma nova cultura emotiva no urbano

contemporâneo brasileiro, principalmente a partir da década de 1970, quando o Brasil

ganha uma predominância urbana. Nesta linha se desenvolvem discussões sobre os

processos interacionais na cidade, os modos e estilos de vida e as formas de viver, sentir

e narrar à cidade.

ESU é a linha de pesquisa do GREM que mais produziu trabalhos sobre a cidade

de João Pessoa, como universo sistemático de pesquisa. Esta linha surge nos primeiros

anos de atuação acadêmica do grupo de pesquisa, e desenvolve estudos sobre a

sociabilidade urbana, o ideal de progresso, as fotografias do urbano e o sentimento de

pertença, bem como sobre a emoção luto, o sentimento de perda, a noção de morte e de

morrer, a emoção medo, constituindo a cidade de João Pessoa sob a perspectiva da

relação entre emoções e sociabilidade urbana na contemporaneidade brasileira.

A linha de pesquisa ESU

Três projetos foram acolhidos na linha ESU, estes se debruçam sobre a análise

da capital paraibana: Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores

culturais da cidade (1994-2000), Luto e Sociedade no Brasil (1994-2003) e MC (1999-

atual).

Fotografia, pobreza, cidade e a percepção dos produtores culturais da cidade

foi um projeto de pesquisa que buscou discutir o homem comum pobre na cidade da

Parahyba, atual João Pessoa, entre os anos de1890 a 1920 (KOURY, 1986, 1988, 2003),

e os ideais de progresso e de desenvolvimento urbano na cidade da Parahyba, através

das fotografias dos anos de 1870 a 1930 (BARRETO, 1996). Bem como analisar a

fotografia na cidade, de 1850 a 1950 (LIRA, 1997), com o intuito de acompanhar o

itinerário dos fotógrafos que ali atuavam e de entender como a cidade foi construída a

sendo dezesseis nacionais e cinco internacionais. A RBSE pode ser acessada no endereço eletrônico:

http://www.cchla.ufpb.br/rbse/. Como elemento de continuidade, o GREM fundou recentemente uma

nova revista, Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia. É uma revista que tem o

objetivo de ser um espaço de discussão e reflexão sobre o urbano contemporâneo, trazendo análises sobre

cidade, urbanismos e urbanidades. Sociabilidades Urbanas foi fundada no ano de 2017 e teve sua primeira

publicação no mês de março. Pode ser acessada no endereço eletrônico:

http://www.cchla.ufpb.br/grem/sociabilidadesurbanas/. O GREM também publica a Coleção Cadernos

do GREM, com 10 números editados.

Page 11: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

95

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

partir do olhar fotográfico da época. O projeto levantou, ainda, a discussão sobre a

percepção da cidade de João Pessoa pelos seus produtores culturais, nos anos de 1980 a

1990 (HONORATO, 1999). Este projeto esteve em desenvolvimento no GREM dos

anos de 1994 a 2000 e produziu trabalhos que se debruçam sobre fotografia, cidade,

modernização, sociabilidade urbana e sentimento de pertença, trazendo os primeiros

apontamentos sobre a emoção medo e sua influencia nas configurações urbanas e nas

formas de sociabilidade. O projeto serviu como uma pré-fase organizativa do que veio a

se tornar mais tarde o projeto MC.

Luto e Sociedade no Brasil foi o projeto que marcou a transição do grupo para o

campo analítico das Emoções, na Antropologia e na Sociologia. Foi o período da

criação e consolidação do GREM. Este foi um dos primeiros projetos do grupo de

pesquisa e teve por objetivo analisar e compreender as transformações no

comportamento urbano de classe média, na contemporaneidade brasileira, a partir do

processo de luto. Este projeto realizou coleta de dados nas 27 capitais do Brasil com a

finalidade de compreender o imaginário social em relação ao luto e a dor da perda, onde

os indivíduos elaboram definições sobre o sentimento de luto, da perda, da dor e

identificam as mudanças e as permanências nos costumes e nos rituais da morte e do

morrer. Assim, o projeto faz um balanço das percepções sociais sobre o trabalho de luto

no urbano contemporâneo brasileiro. Luto e Sociedade analisou as atitudes em relação

ao fenômeno do luto no Brasil urbano contemporâneo. Teve por objetivo entender o

significado social do luto e o processo de individuação daquele que o sofre, de modo a

desvendar os processos de mudança de valores e mentalidades em relação ao luto e a

morte, apontando para a emergência de uma nova sensibilidade na sociedade brasileira

urbana (KOURY, 2010b).

O projeto MC foi construído através do refinamento analítico de questões

levantadas em ambos os projetos anteriores. A pesquisa MC busca analisar a construção

do imaginário social sobre o medo do homem comum urbano na contemporaneidade

brasileira, a fim de compreender as transformações na construção social da semelhança

e da dessemelhança entre os habitantes da cidade, orientando as formas de sociabilidade

urbana. Neste projeto, os medos, - enquanto medos corriqueiros, - são entendidos como

emoções fundamentais para a elaboração do cotidiano do homem comum urbano. O

medo é compreendido como podendo paralisar, aprimorar ou transformar as trocas

materiais e simbólicas dos indivíduos no processo de interação social. O medo é

entendido, assim, como um elemento social significativo para a configuração e

reconfiguração das formações societárias, pois é uma emoção que está presente em toda

e qualquer relação social, se apresentando como uma força motivadora desse social.

O projeto MC se encontra em desenvolvimento no GREM desde o ano de 1999.

Desde então, vem colaborando com a discussão teórico-metodológica sobre a relação

entre medo e sociedade no Brasil e no ocidente, enfatizando a construção do imaginário

social sobre o medo, e os medos corriqueiros, no homem comum urbano das cidades

brasileiras na contemporaneidade. Este projeto de pesquisa se preocupa em analisar e

compreender as formas de sociabilidade que se desenvolvem sob a ótica dos medos

corriqueiros na cidade de João Pessoa. Leva em consideração as modificações na

estrutura e na organização urbana e societal da cidade e dos seus habitantes.

Apesar de suas singularidades teórico-metodológicas, os três projetos de

pesquisa traçam diálogos sobre o urbano, a pobreza, a cidade, o progresso, as emoções,

a semelhança e a dessemelhança, identificando as transformações na organização

societal da sociedade brasileira, com a emergência de uma nova sensibilidade que

influencia as formas de sociabilidade urbana do país, a partir da década de 1970. Esta

linha de pesquisa pressupõe um olhar específico do GREM sobre a cidade de João

Page 12: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

96

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

Pessoa. Olhar este configurado a partir da discussão sobre a relação entre emoções e

sociabilidade urbana.

O projeto de pesquisa Medos Corriqueiros

O projeto guarda-chuva MC é a pesquisa do GREM que possui a maior

quantidade de trabalhos orientados sobre a cidade de João Pessoa8. Com início no ano

de 1999, o projeto encontra-se em desenvolvimento e rende uma ampla produção

acadêmica sobre a discussão entre medo e sociedade, inaugurando uma nova esfera de

investigação no grupo. O projeto guarda-chuva analisa a construção do imaginário

social do medo no homem comum habitante da cidade de João Pessoa, com o intuito de

desvendar como o medo se propaga no cotidiano dos habitantes urbanos na

contemporaneidade. O medo é entendido como um elemento social significativo para a

configuração e reconfiguração das formações societárias, encontrando-se presente em

toda relação social e se mostrando como uma força motivadora desse social (KOURY,

2002). O medo não é entendido apenas como um elemento de subordinação, retraimento

e repulsa, mas também como um aspecto transgressor, inovador, organizador e criador

de novas sociabilidades.

O projeto MC propõe compreender a construção social da semelhança e da

dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na

contemporaneidade (KOURY, 2002). O elemento da semelhança e da dessemelhança

apresenta-se como um aspecto fundamental de análise para pensar as novas formas de

sociabilidade que se desenvolvem no urbano contemporâneo. A produção acadêmica do

projeto MC disponibiliza um acúmulo de conhecimento sobre a cidade de João Pessoa,

apreendida a partir da emoção medo. A produção constrói diálogos e cria uma rede de

8 Este projeto tem uma ampla produção acadêmica, entre elas encontram-se os livros Medos Corriqueiros

e Sociabilidade (KOURY, 2005), O Vínculo Ritual: Um estudo sobre sociabilidade entre jovens no

urbano brasileiro contemporâneo, (KOURY, 2006) e De que João Pessoa tem medo? Uma abordagem

em Antropologia das Emoções, (KOURY, 2008). Esses livros analisam e discutem os resultados obtidos

no desenvolvimento da pesquisa, publicizando os trabalhos desenvolvidos no âmbito do GREM. A

pesquisa também produz artigos em periódicos, capítulos de livros, artigos e resumos em anais de

congressos, entre outros. Estes trabalhos apresentam-se como mecanismos que viabilizam as análises e

reflexões desenvolvidas no grupo e que permitem pensar e discutir os conceitos e as categorias

trabalhadas, possibilitando aprimorá-las e refiná-las. Além disso, a publicação desses trabalhos incorpora

a política de visibilidade e acessibilidade que se desenvolve no interior do grupo, abrindo caminho para o

diálogo com outros pesquisadores, contribuindo para a discussão acerca do tema na academia e para a

eficiência e efetividade do fazer científico. É importante salientar que a produção acadêmica do projeto

Medos Corriqueiros selecionada para análise nesta monografia se divide, ainda, em Trabalhos de

Conclusão de Curso (TCC) e Dissertações de Mestrado. Entre os TCCs se encontram: Medo na cidade:

Uma experiência no Proto do Capim (VILAR, 2001), Tambiá – medo, cultura e sociabilidade: Um

estudo sobre o bairro de Tambiá, João Pessoa-PB (SILVA, 2003), Uma Análise do Bairro de Cruz das

Armas Sob a Ótica do Medo (SOUZA, 2003), Tambaú: Pertença e fragmentação sob uma ótica do medo

(SOUSA, 2004), Sob a ótica do medo: Um estudo de caso no bairro dos Estados, João Pessoa-PB

(SILVA, 2004), Convívio e interação social: os códigos de afeição e de estranhamento, os medos

corriqueiros e a sociabilidade em uma rua (CAVALCANTE FILHO, 2005), Sociabilidade, pertença e

medos corriqueiros: Estudo de uma rua no bairro de Valentina de Figueiredo, João Pessoa – Paraíba

(ALMEIDA, 2005), João Pessoa à noite: Um estudo sobre vida noturna e sociabilidade, 1920 a 1980

(SOUZA, 2005), Memória social e sentimento de pertença: Um estudo sobre o Parque Solon de Lucena,

João Pessoa – PB (SILVA, 2006) e Sociabilidade, Medo e Estigma no contexto urbano contemporâneo:

o bairro do Roger na cidade de João Pessoa – PB (CAMPOS, 2008). Enquanto que as Dissertações de

Mestrado em análise são compostas pelos seguintes trabalhos: Imagens da Cidade: A ideia de progresso

nas fotografias da cidade da Parahyba (1870-1930) (BARRETO, 1996), Fotografia na Paraíba: Um

inventário dos fotógrafos através do retrato (1850-1950) (LIRA, 1997), Se essa cidade fosse minha... A

experiência urbana na perspectiva dos produtores culturais de João Pessoa (HONORATO, 1999) e

Medos Corriqueiros e Vergonha Cotidiana: uma análise compreensiva do bairro do Varjão/Rangel, João

Pessoa, PB (BARBOSA, 2015).

Page 13: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

97

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

conhecimento sobre o universo analisado, isto é, a cidade de João Pessoa. Este acúmulo

de conhecimento da produção do projeto MC do GREM sobre João Pessoa contribui

para a composição da imagem de um mosaico científico da cidade (BECKER, 1993). A

produção acadêmica colabora de maneira singular para a compreensão do todo analítico

da cidade de João Pessoa, em que cada estudo é visto como uma peça que constitui este

mosaico científico de onde a cidade é apreendida para análise.

O mosaico científico comporta a produção de estudos que se conectam e

dialogam, permitindo múltiplas comparações de um determinado universo de pesquisa.

No mosaico científico, os estudos que nele se desenvolvem trabalham de forma

cooperativa (HANNERZ, 2015), permitindo, ao mesmo tempo, uma leitura e análise

contextual do todo e de suas partes. O mapa simbólico também apreende os estudos

específicos, em cooperação analítica, para a constituição de uma rede de significados

sobre a cidade, universo de pesquisa, elaborando uma visão geral que condensa as

conexões da produção acadêmica, e as conectam em suas particularidades. A construção

deste mosaico científico sobre a cidade é possível devido a configuração guarda-chuva

do projeto, que apreende no seu interior diversos subprojetos. Esta configuração

complexa do projeto MC foi possível a partir do seu afunilamento teórico-

metodológico. Afunilamento este que tem início nas fases pré-organizativas do projeto,

que percorre dos anos de 1983 a 1999.

Fases pré-organizativas do projeto MC

A pré-fase do projeto guarda-chuva apreende 16 anos de trajetória acadêmica, de

1983 a 1999, onde a figura de Koury é considerada uma peça chave para a compreensão

do GREM e do projeto MC. Esta fase pré-organizativa foi esquematizada em 02

momentos: o primeiro comporta os anos de 1983 a 1994, período que dará surgimento

ao grupo de pesquisa. O segundo contempla os anos de 1994 a 1999, período que

antecede a criação do projeto guarda-chuva. De forma sintética, o primeiro momento se

debruça sobre o campo da subjetividade, onde é tomado como foco analítico o projeto

Fontes para a História da Industrialização do Nordeste: 1889-1980. Este projeto

objetivava resgatar e preservar a memória e a produção do conhecimento científico

sobre o Nordeste brasileiro, com relação ao trabalho e a indústria. Buscou-se

compreender a evolução do trabalho e da indústria na região Nordeste e a sua relação

com a urbanidade, as manifestações políticas do empresariado e o papel que o Estado

tomava em relação a este empresariado, bem como, a formação da classe trabalhadora

na região, levando em consideração suas condições de vida e de trabalho e suas

manifestações de reivindicação e política.

Neste período Koury desenvolvia seus estudos voltados para a questão de classe,

do trabalho, da disciplina, do sindicalismo, dos movimentos sociais, da problemática do

trabalho sob o capital, da cidadania e das graves rurais. No início dos anos de 1990

inicia-se o processo de passagem de Koury, lançando diálogos entre a subjetividade e as

emoções – com as emoções ainda subsumidas no contexto mais amplo da subjetividade

–, com discussões sobre luto e sociedade no Brasil urbano, mas ainda relacionados com

o trabalho e o associativismo. Os principais conceitos discutidos neste primeiro

momento são os de homem comum pobre, de discurso modernizador, de trabalho, de

disciplina, de classe trabalhadora, de luto e morte, de industrialização e de sindicalismo.

Este arcabouço conceitual norteia as análises nesta fase teórico-metodológica que se

processam até o ano de 1994.

A influência dos estudos no campo das emoções vai aos poucos remodelando os

problemas de pesquisa e o arcabouço T-M de Koury, que se firma no campo com a

criação do GREM. Este elemento marca o segundo momento da fase pré-organizativa

Page 14: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

98

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

do projeto, que se desenvolve dos anos de 1994 a 1999. Neste momento é discutida a

trajetória acadêmica com ênfase na influência da Antropologia e da Sociologia das

Emoções, de modo a traçar um panorama dos aspectos temáticos, teóricos e

metodológicos desta fase. São analisadas duas linhas de pesquisa centrais para o GREM

nesta fase: a linha Fotografia, Cidade e Pertença (FCP) e Processo de Luto e Morte no

Brasil Urbano Contemporâneo(PLMBUC). Os estudos desenvolvidos pelo grupo se

concentravam no interior destas duas linhas de pesquisa, que dão base à constituição do

projeto guarda-chuva MC. Na linha de pesquisa FCP se discute questões relacionadas à

cidade e a fotografias, conformando as preocupações analíticas do projeto Fotografia,

pobreza, cidade e a percepção dos produtores culturais da cidade. Na linha PLMBUC

se discute questões sobre o processo de luto, a morte, o morrer e a dor da perda,

condensando os objetivos e análises do projeto Luto e Sociedade no Brasil.

Neste segundo momento o arcabouço conceitual de análise é constituído pelos

conceitos de cidade, de pobreza, do ideal de progresso, da modernização urbana, da

pertença, da memória, do homem comum, do sentimento de perda, do luto, da dor, da

morte, do morrer e da nova sensibilidade urbana. Estes conceitos apontam para uma

complexificação da primeira fase e redundam em uma nova complexificação que leva

ao surgimento do projeto MC. Estes dois momentos que configuram as fases pré-

organizativas são responsável pelo afunilamento e complexificação temática e teórico-

metodológica que resultou na criação do projeto guarda-chuva MC, que apreende os

anos de 1999 a 2016. Nestes 17 anos de atuação acadêmica, a trajetória do projeto

aponta para fases T-M que marcam a sua complexificação e a constituição do seu

arcabouço conceitual.

As fases T-M do projeto é norteada pelos seus subprojetos, que elaboram um

caminho teórico-metodológico singular para analisar a cidade de João Pessoa, de modo

a indicar particularidades e, ao mesmo tempo, cooperando para a construção do projeto

guarda-chuva e a compreensão da cidade. O projeto guarda-chuva MC possui, em sua

trajetória teórico-metodológica, 03 fases de desenvolvimento analítico: 1) a construção

e consolidação de um arcabouço conceitual para análise, demarcando a primeira fase

acadêmica, de 1999 a 2008; 2) o refinamento temático, teórico e metodológico da

pesquisa, com o surgimento de novos conceitos e subprojetos, que identificam a

segunda fase, de 2009 até os dias atuais; 3) e a necessidade de sistematização dos

resultados do projeto, através de um balanço analítico, na composição de um

observatórios sobre medo e cidade, compondo a terceira fase, de 2012 até os dias de

hoje.

A pesquisa MC possui um leque conceitual que indica o surgimento, o processo

de desenvolvimento, a complexificação e os desusos dos conceitos na sua trajetória

teórico-metodológica. O conceito medos corriqueiros é o eixo central de análise do

projeto, dialogando com outros conceitos e categorias que se apresentam como

importantes na e para a sociabilidade urbana contemporânea dos habitantes da cidade de

João Pessoa. Os conceitos de medos, de medos corriqueiros e de pertença perpassam

toda a produção do projeto guarda-chuva. Mesmo quando não aparece enquanto foco

analítico, os medos corriqueiros se manifestam no diálogo com outros conceitos. Os

medos e os medos corriqueiros, assim, dialogam com categorias que se apresentam

como importantes para compreender as formas de sociabilidade e o imaginário social

sobre medo, dos habitantes da cidade de João Pessoa. Neste sentido, as categorias de

memória, de mídia (online, impressa ou televisiva), de violência, as estatísticas policiais

e a juventude são discutidas no interior da sua produção.

O arcabouço conceitual do projeto guarda-chuva indica o desenvolvimento

teórico-metodológico da pesquisa, marcada pelos seus subprojetos, e aponta, assim,

Page 15: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

99

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

para as transformações, o refinamento e a complexificação analítica do projeto MC

durante a sua trajetória acadêmica. O leque conceitual do projeto é composto por um

conjunto de conceitos considerados principais para a análise da pesquisa, indicando as

particularidades, as semelhanças e os diálogos que se desenvolve no interior do projeto

e dos seus subprojetos. Este projeto desenvolve sua análise a partir dos conceitos de

medo, de medos corriqueiros, de pertença, de homem comum, de pessoalidade, de

individualismo, de individualidade, de nova sensibilidade urbana, de confiança, de

confiabilidade, de lealdade, de cultura emotiva, de fidelidade, de segredo, de traição, de

coragem, de semelhança, de dessemelhança, de controle social, de sujeira, de

sentimento de segurança, de amizade, de estranhamento, de pânico moral, de estigma,

de embaraço, de vergonha, de constrangimento, de fofoca, de ressentimento, de

estratégias de evitação e de fronteira. As pesquisas individuais e os subprojetos onde se

encontram inseridas indicam cada fase teórico-metodológica do projeto MC. A análise

desta produção acadêmica permite, deste modo, desvendar e compreender o

desenvolvimento e o refinamento conceitual e analítico do projeto guarda-chuva. De

modo a acompanhar o andamento e a complexificação desta pesquisa.

Discussão geral do mosaico científico sobre a cidade de João Pessoa

A produção acadêmica do projeto guarda-chuva MC se apresenta como um

conjunto de etnografia cooperativa (HANNERZ, 2015) para a compreensão e leitura

contextual da cidade de João Pessoa, sob a ótica dos medos corriqueiros. Esta produção

disponibiliza um mosaico científico sobre a cidade e seu desenvolvimento urbano

contemporâneo, a partir do imaginário social dos medos. Permite pensar a cidade, as

suas remodelações espaciais e sociais e as formas de sociabilidade emergentes nesse

processo de configuração e reconfiguração urbana.

Analisar a produção é se inserir na memória institucional do GREM, através do

projeto MC, de modo a identificar como o grupo compreende a relação entre emoções e

sociabilidades urbanas na cidade de João Pessoa. Apresenta uma reflexão sobre a cidade

e uma contribuição para a discussão sobre medos e sociedade no urbano contemporâneo

brasileiro. Analisar a cidade de João Pessoa sob a ótica dos medos corriqueiros é

compreender os contornos que a cidade pode assumir através de suas formas de

sociabilidade e cultura emotiva. Formas de sociabilidade e cultura emotiva este que

caracterizam os lugares e a cidade como um todo: entrecruzando lugares e espaços

sociais, como os bairros, as ruas e os parques, e configurando-os em um ambiente de

tensão e pertença que caracterizam os lugares em si e os lugares no interior da cidade.

As análises desenvolvidas no interior do projeto MC identificaram a emergência

de uma nova sensibilidade no urbano contemporâneo brasileiro com ênfase para a

cidade de João Pessoa (KOURY, 2009). Nova sensibilidade que vem se desenvolvendo

a partir da década de 1970. Esta emergência de uma nova sensibilidade se dá de forma

simultânea com o crescimento do processo de individualidade e individualismo na

sociabilidade brasileira urbana, rompendo ou transformando as formas de sociabilidades

baseadas em laços tradicionais de pessoalidade e semelhança. A cidade, de acordo com

o projeto, vive um processo de individualização crescente, principalmente nos bairros

de classe média e média alta, o que parece ter aumentando a solidão, a dessemelhança, a

indiferença e a ocorrência de uma valorização do espaço privado em detrimento do

espaço público (KOURY, 2008). No entanto, a cidade também vivencia formas de

sociabilidades pautadas em modelos de solidariedade afetivas que se baseiam na

pessoalidade e na semelhança, com intensa interação relacional no ambiente público,

principalmente nos bairros populares (BARBOSA, 2015; KOURY, 2016a).

Page 16: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

100

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

As formas de sociabilidades da cidade de João Pessoa mesclam elementos

tradicionais e modernos de maneira ambivalente e tensa. Em geral, mas apresentando-se

enquanto inadequação e tensão, nos bairros de classe média e média alta se desenvolve

uma crescente individualização, enquanto que nos bairros populares as relações são

pautadas em certa solidariedade, sem escaparem, também, da emergência de relações

baseadas na impessoalidade, mas em um grau menor do que nos lugares que as classes

abastadas residem. O processo de modernização na cidade de João Pessoa parece

fomentar relações baseadas no medo do outro, agora estranho, que começa compartilhar

os espaços que os habitantes que se consideram tradicionais na cidade (KOURY, 2008).

O projeto MC analisa o imaginário social dos habitantes da cidade de João

Pessoa a partir do seu lugar de fala, que norteia a sua experiência. Os sujeitos figuram o

seu imaginário sobre medo na cidade de acordo com o bairro onde moram e o lugar que

frequentam, de modo a possibilitar várias visões sobre a cidade, e imersões no seu

interior. Há várias experiências sobre medos e medos corriqueiros de acordo com o

lugar analisado, onde o imaginário social do sujeito é configurado seja como de vítima

potencial da violência crescente na cidade, devido ao crescimento urbano desordenado,

seja a partir dos aglomerados subnormais na cidade. Seja, ainda, como vítima direta do

imaginário social da cidade sobre o bairro em que moram, sendo categorizados como

mais ou menos violento, fomentando estratégias de salvaguardar a face do bairro e de

seus moradores, e indicando o outro como a fonte do caos (KOURY, 2010).

Analisar as representações sociais sobre o medo dos habitantes da cidade de

João Pessoa permite, assim, compreender a sua configuração e reconfiguração na

sociedade local, de modo a desvendar como são construídos os significados de

pertencimento e exclusão, as transformações dos lugares e as formas de sociabilidade e

interação entre os indivíduos neles inseridos, o que leva a análise da conformação tensa

de cada lugar e de como os indivíduos e grupos foram afetados pelas transformações

sofridas no urbano contemporâneo da cidade.

O projeto MC faz uma ampla análise sobre a cidade de João Pessoa a partir da

ótica dos medos corriqueiros. Para isso faz uso de um leque conceitual imprescindível

para a análise das formas de sociabilidade pautadas nos medos corriqueiros que se

desenvolvem na cidade. A trajetória conceitual do projeto de pesquisa é essencial para o

seu desenvolvimento, bem como para a compreensão do mapa simbólico traçado pelo

projeto, de modo a desvendar a cultura emotiva da cidade e seus códigos de moralidade.

A produção acadêmica do projeto MC constitui um mapa simbólico sobre a cidade de

João Pessoa, isto é, uma forma específica de estudar a cidade e seus lugares a partir de

uma determinada temática. O mapa simbólico é a síntese das reflexões do GREM sobre

João Pessoa, apreendida, recortada e estudada, pelo projeto em análise nesta

monografia, a partir da ótica dos medos corriqueiros.

Através do projeto se apreende a cidade de João Pessoa a partir dos pequenos

enfretamentos cotidianos dos seus habitantes, seja entre os moradores do próprio bairro

ou rua, de outros bairros ou da cidade como um todo (KOURY, 2016a). A análise do

projeto MC permite compreender como os medos e os medos corriqueiros se propagam

no cotidiano dos habitantes da cidade de João Pessoa. Nele, a cidade é apreendida sobre

diversos aspectos e ângulos peculiares que comportam histórias específicas em cada

lugar, sejam as ruas, os bairros e os parques. A cidade de João Pessoa é composta por

lugares singulares que interagem entre si e com outros no cotidiano da cidade, e onde os

habitantes configuram o jogo de interações individuais e grupais que tecem as formas de

sociabilidade, de memória e de história. A produção acadêmica do projeto MC compõe

uma rede significados sobre a cidade de João Pessoa, apresentando um acúmulo de

conhecimento sobre ela. A partir da análise desta produção acadêmica, este subprojeto

Page 17: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

101

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

buscou compreender a forma como a cidade é apreendida pelo GREM, a fim de

identificar as mudanças sócio-espaciais da cidade, principalmente a partir da década de

1970, e a constituição do imaginário social sobre o medo do homem comum urbano,

bem como sua relação com as formas de sociabilidade que se desenvolvem na capital

paraibana.

João Pessoa é uma cidade que sofre um processo de modernização e

transformação urbana que modifica as suas formas de sociabilidade. Modificação que se

dá devido à emergência de uma nova sensibilidade urbana que mescla elementos

tradicionais e modernos, mas que acaba por romper com alguns laços afetivos da

solidariedade tradicional, aumentando a individualização nas relações sociais. O projeto

guarda chuva MC, assim, se apresente como um arcevo de conhecimento científico

sobre a cidade de João Pessoa a partir da perspectiva dos medos e dos medos

corriqueiros, apreendendo, em sua produção acadêmica, elementos do passado e do

presenta da cidade.

Considerações Finais

Neste trabalho buscou-se realizar um balanço analítico deste subprojeto que

integra a pesquisa Balanço Comparativo, apreendendo os 03 anos de atividades de

pesquisa, de 2014 a 2017, desenvolvidas junto ao GREM e a PRPG, através da bolsa

PIBIC/CNPq-UFPB. Este balanço sistematiza a trajetória teórico-metodológica do

subprojeto e os seus resultados de pesquisa, que deu corpo a um TCC, defendido no dia

31 de maio de 2017. A pesquisa maior que este subprojeto integra objetiva realizar um

balanço comparativo da produção acadêmica Universidade Federal da Paraíba, Campus

I, sobre a cidade de João Pessoa, abordando os anos de 1992 a 2016. Pretende

compreender como a cidade é apreendida pelos pesquisadores da instituição,

desvendando os mapas simbólicos construídos sobre e através dela. Com o intuito de

desenvolver uma análise de como as diferentes áreas acadêmicas da universidade

revisita a cidade, cruzando como esses diversos olhares se interligam, se cruzam e se

diferenciam, apreendendo as redes de significados criadas pela instituição sobre a

cidade.

Este subprojeto desenvolveu uma análise compreensiva e histórica do GREM,

sobre a cidade de João Pessoa, a partir da linha de pesquisa Emoções e Sociabilidade

Urbana, com ênfase para o projeto guarda-chuva Medos Corriqueiros. O balanço

compreensivo da produção do grupo disponibiliza uma análise da cidade, de modo a

descortinar as suas mudanças no decorrer dos anos e a construção de mapas simbólicos

sobre ela, desvendando a cultura emotiva da cidade. Objetivou-se realizar uma

avaliação crítica da produção do GREM com enfoque analítico nos medos corriqueiros,

a fim de desvendar os caminhos teóricos e metodológicos traçados pelo projeto MC no

seu desenvolvimento, com o intuito de compreender as mudanças analíticas, conceitual

e de método pela qual o projeto passou no decorrer dos anos, descortinando a que

recortes a cidade de João Pessoa foi submetida e como ela é apreendida pelo grupo.

A produção acadêmica deste projeto de pesquisa discute o papel dos medos, dos

medos corriqueiros, da pertença, da violência, da semelhança e dessemelhança, da

amizade, da vergonha, da fronteira, da fofoca, do segredo, da confiança, da

confiabilidade, da lealdade, da traição, do conflito social, da individualidade, da

impessoalidade, entre outros. Este leque conceitual da pesquisa possibilita uma ampla

visão da cidade, bem como a compreensão das formas de sociabilidade que nela se

desenvolvem, tendo como pando de fundo as representações sociais sobre a cidade de

João Pessoa e os medos corriqueiros do homem urbano contemporâneo local,

constituindo um mosaico científico (BECKER, 1993) sobre a cidade a partir da

Page 18: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

102

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

perspectiva dos medos corriqueiros. O acúmulo de conhecimento que o projeto guarda-

chuva possui sobre a cidade de João Pessoa indica as singularidade e conexões da

cidade através de seus bairros, das ruas, dos parques e dos circuitos de lazer. Constitui a

cultura emotiva da cidade, é o que acaba por constituir o mosaico científico beckeriano.

No mosaico científico (BECKER, 1993) tem-se a produção de estudos que se conectam

e dialogam, permitindo múltiplas comparações, com a possibilidade de integrar um

projeto mais amplo, seja uma teoria, uma temática ou uma pesquisa, como é o caso do

projeto MC, aqui em análise.

Este subprojeto mergulhou na memória institucional (AYELLO et al, 2008) do

GREM como forma de elaborar uma análise compreensiva sobre a totalidade do projeto

MC, e, assim, desenvolver uma avaliação crítica da produção acadêmica do projeto e do

GREM como forma de analisar o processo de surgimento, desenvolvimento e

complexificação teórico-metodológico do projeto de pesquisa MC. A memória

institucional do grupo foi acessada através do levantamento, mapeamento, leitura e

fichamento da produção, em que se corporifica a sua trajetória acadêmica. Esta análise

da memória do GREM foi feita com ênfase no projeto MC, que possibilitou desvendar a

trajetória conceitual e teórico-metodológica do grupo a partir da perspectiva do projeto.

Analisar a produção acadêmica do projeto MC é se inserir na memória institucional do

GREM e compreender a sua dinâmica e trajetória acadêmica, bem como a maneira

como o grupo apreende e recorta a cidade de João Pessoa nos seus estudos. Este grupo

de pesquisa desenvolve seus trabalhos sobre a relação entre emoções, cultura e

sociedade, e se debruça na análise da lógica do cotidiano, da cidade e das emoções. De

modo a entender as formas de sociabilidade no/do urbano contemporâneo e discutir as

relações sociais no/do cotidiano do homem comum urbano brasileiro.

Referências

ABREU, Regina. Chiclete eu misturo com banana? Acerca da relação entre teoria e

pesquisa em memória social. In: Vera Dobedei et al (Orgs.). O que é memória social?

Rio de Janeiro: Contracapa/PPGMS-UERJ, 2005, p. 27-42.

ALMEIDA, Alexandre Paz. Sociabilidade, Pertença e Medos Corriqueiros: Estudo de

uma rua no bairro de Valentina de Figueiredo João Pessoa – Paraíba. TCC. João

Pessoa: CCS/UFPB, 2005.

ANTUNES, Henrique Fernandes. O modo de vida urbano: pensando as metrópoles a

partir das obras de Georg Simmel e Louis Wirth. Ponto Urbe, 15, 2014, p. 2-12.

AYELLO, M. A. B. et al. A abordagem da produção científica como memória

institucional: o caso da biblioteca do Instituto de Geociências da USP. São Paulo: Anais

do XIV Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias, 2008.

BARBOSA, Raoni Borges. Medos Corriqueiros e Vergonha Cotidiana: Uma análise

compreensiva do Bairro do Varjão/Rangel, João Pessoa, PB. Dissertação. João Pessoa:

PPGA/UFPB, 2015.

BARRETO, Maria Cristina Rocha. Imagens da Cidade: A ideia de progresso nas

fotografias da cidade da Parahyba (1870-1930). Mestrado. João Pessoa: MCS/UFPB,

1996.

BECKER, Howard. Métodos de pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Editora

HUCITEC, 1993.

BOSI, Ecléa. A pesquisa em memória social. Psicologia USP, São Paulo, 4 (1/2), p.

277-284, 1993.

Page 19: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

103

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

CAMPOS, Ricardo Bruno Cunha. Sociabilidade, Medo e Estigma no contexto urbano

contemporâneo: o bairro do Roger na cidade de João Pessoa – PB. TCC. João Pessoa:

CCS/UFPB, 2008.

CAVALCANTE FILHO, Francisco de Assis Vale. Convívio e interação social: os

códigos de afeição e de estranhamento, os medos corriqueiros e a sociabilidade em

uma rua. TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2005.

CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Editora Vozes, 3ª ed.,

1998.

DAMATTA, Roberto. O ofício do Etnólogo, ou como ter “Anthropological Blues”. In:

Edson de Oliveira Nunes (Org). A aventura sociológica. Objetividade, Paixão,

Improviso e Método na Pesquisa Social. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978, p. 23 a

35.

DIÓGENES, Glória. Fortaleza, uma cidade em busca dos afetos perdidos. Entrevista

concedida a Paula Lima e Mateus Dantas: O Povo Online – Jornal de Hoje, Fortaleza,

11 de abril de 2016, goo.gl/Pff87N, lido em 11/04/2016.

DOBEDEI, Vera. Memória, circunstância e movimento. In: Vera Dobedei et al (Orgs).

O que é memória social?. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria. Programa de Pós-

Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, p.

43-71, 2005.

FERREIRA, Norma Sandra De Almeida. As pesquisas denominadas “Estado da Arte”.

Educação & Sociedade, ano XXIII, n° 79, 2002.

FRÚGOLI JR, Heitor. O urbano em questão na antropologia: interfaces com a

sociologia. Revista de Antropologia, São Paulo, USP, v. 48, n. 1, 2005, p. 133-165.

GONDAR, Jô. Quatro posições sobre memória social. In: Vera Dobedei et al (Orgs.). O

que é memória social? Rio de Janeiro: Contracapa/PPGMS-UERJ, 2005, p. 11-26.

HANNERZ, Ulf. Explorando a Cidade: Em busca de uma antropologia urbana.

Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

HONORATO, Rossana Cristina. Se Essa Cidade Fosse Minha... A Experiência Urbana

na Perspectiva dos Produtores Culturais de João Pessoa. Mestrado. João Pessoa:

MCS/UFPB, 1999.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Trabalho e disciplina: os homens pobres nas

cidades do Nordeste: 1889-1920. In: Hardman, F.F. et al. Relações de trabalho e

relações de poder: mudanças e permanê3ncias, v. 1. Fortaleza: Ed.UFC, p. 134-149,

1986.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Diferenciação entre o bem e o mal: pobreza,

violência e justiça, Anais do Seminário Nordeste, o que há de novo?. Natal: EdUFRN,

p. 147-150, 1988.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Medos Corriqueiros: A construção social da

semelhança e da dessemelhança entre os habitantes urbanos das cidades brasileiras na

contemporaneidade. Projeto de Pesquisa, João Pessoa: GREM, 2002.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. O local enquanto elemento intrínseco da pertença.

In: Claudia Leitão. (Org.). Gestão Cultural - significados e dilemas na

contemporaneidade. Fortaleza: Banco do Nordeste, p. 75-87, 2003.

Page 20: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

104

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Sujeira e Imaginário Urbano no Brasil. Política &

Trabalho (UFPB. Impresso), v. 24, n. 27-30, p. 15-34, 2009.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. De que João Pessoa tem Medo? Uma abordagem

em Antropologia das Emoções. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, Coleção

Cadernos do GREM, N°6, 2008.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Pertencimento, medos corriqueiros e redes de

solidariedade. Sociologias (UFRGS. Impresso), v. 12, p. 286-311, 2010.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Ser Discreto: Um estudo sobre o processo de luto

no Brasil urbano no final do século XX. RBSE. Revista Brasileira de Sociologia da

Emoção (Online), v. 9, n. 25, p. 09-95, 2010b.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Quebra de confiança e conflito entre iguais:

Cultura emotiva e moralidade em um bairro popular. Recife; João Pessoa: Bagaço;

Edições do GREM, 2016.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Cultura emotiva e processo social: medos

corriqueiros, risco e sociabilidade. RBSE. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção

(Online), v. 15, p. 22-34, 2016a.

LIRA, Bertrand de Souza. Fotografia na Paraíba: Um inventário dos fotógrafos através

do retrato (1850-1950). Mestrado. João Pessoa: MCS/UFPB, 1997.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. De parto e de dentro: notas para uma etnografia

urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 17, n. 49, p.11-28, 2002.

MENDOZA, Edgar S. G. Donald Pierson e a escola sociológica de Chicago no Brasil:

os estudos urbanos na cidade de São Paulo (1935-1950). Sociologias, Porto Alegre, ano

7, n. 14, p. 440-470, 2005.

MARTINS, Dayse Luckwu. Novas centralidades e fragmentação urbana: João Pessoa –

PB como estudo de caso. Anais dos Encontros Nacionais da ANPUR, v. 15, p. 1-12,

2013.

MOLINA, Rinaldo & GARRIDO, Elsa. A produção acadêmica sobre Pesquisa-Ação

em Educação no Brasil: mapeamento das dissertações e teses defendidas no período

1966-2002. Formação Docente. Belo Horizonte, v. 02, n. 02, p. 27-40, 2010.

NORA, Pierre. Entre memória e história: A problemática dos lugares. Proj. História,

São Paulo. (10), 1993.

PARK, Robert Ezra. A cidade: Sugestões para a investigação do comportamento

humano no meio urbano. Trad. Sérgio Magalhães Santeiro. In: O Fenômeno Urbano.

Otávio Guilherme Velho (Org). Rio de Janeiro, 1967.

PATO, Claudia; SÁ, Laís Mourão & CATALÃO, Vera Lessa. Mapeamento de

tendências na produção acadêmica sobre educação ambiental. Educação em Revista,

Belo Horizonte, v.25, n.02: p.213-233, dez. 2009.

PESAVENTO, Sandra Jatahy. História, memória e centralidade urbana. Rev. Mosaico

científico, v.1, n.1, p. 3-12, 2008.

SANTOS, Claudia O. Memórias de docentes universitários e a produção do

conhecimento no PPGE/UFMG. Tese. Belo Horizonte: UFMG, 2009. SIMMEL,

Georg. A metrópole e a vida mental. Trad. Sérgio Marques dos Reis. In: O Fenômeno

Urbano. Otávio Guilherme Velho (Org). Rio de Janeiro, 1967.

Page 21: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

105

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702

SILVA, Andréia Vieira da. Sob a ótica do medo: Um estudo de caso no bairro dos

Estados, João Pessoa – PB. TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2004.

SILVA, Patrick Cézar da. Memória social e sentimento de pertença: Um estudo sobre o

Parque Solon de Lucena, João Pessoa – PB. TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2006.

SILVA, Rivamar Guedes da. Tambiá – medo, cultura e sociabilidade: Um estudo sobre

o bairro de Tambiá, João Pessoa-PB. TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2003.

SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. Trad. Sérgio Marques dos Reis. In: O

Fenômeno Urbano. Otávio Guilherme Velho (Org). Rio de Janeiro, 1967.

SOUSA, Anne Gabriele Lima. Tambaú: Pertença e fragmentação sob uma ótica do

medo. TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2004.

SOUZA, Alessa Cristina Pereira de. Uma análise do bairro de Cruz das Armas sob a

ótica do medo. TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2003.

SOUZA, Leandro Cunha de. João Pessoa à noite: Um estudo sobre vida noturna e

sociabilidade, 1920 a 1980. TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2005.

VILAR, Márcio da Cunha. Medo na cidade: Uma experiência no Porto do Capim.

TCC. João Pessoa: CCS/UFPB, 2001.

VELHO, Gilberto. O Desafio da Cidade. Novas perspectivas da Antropologia

brasileira. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1980.

VELHO, Gilberto. Observando o Familiar. In: Edson de Oliveira Nunes (Org). A

aventura sociológica. Objetividade, Paixão, Improviso e Método na Pesquisa Social.

Rio de Janeiro: Zahar Editores, p. 36-46. 1978

WIRTH, Louis. O urbanismo como modo de vida. In: Otávio Guilherme Velho (Org.).

O Fenômeno Urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

Page 22: Emoções e sociabilidades urbanas. Uma análise compreensiva e … PONTESartigo.pdf · Emoções e sociabilidades urbanas: Uma análise compreensiva e histórica do GREM Grupo de

106

Sociabilidades Urbanas – Revista de Antropologia e Sociologia v1 n2 julho de 2017 ISSN 2526-4702